Onde Estão As Moedas

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“Onde estão as moedas” ou sobre o quanto buscamos fora o que está dentro

“Se podes ver, repara.” (José Saramago)

“Será essa a pessoa que tem as moedas que mereço? (...)”

Joan Garriga Bacardí narra uma singela história em que apresenta dois personagens centrais:
um bem-aventurado e um desventurado. Num dia qualquer, em um lugar qualquer, eles
sonham que os pais lhes entregaram moedas. Não se sabe quantas nem de que material eram
feitas. Daí surge o inesperado, decorrente das diferentes atitudes reveladas pelos
protagonistas.

Num cenário inicial, um dos homens sente-se feliz com o presente dado pelos pais,
preenchido, valorizado. Ao acordar, vai até eles e expõe sua profunda gratidão, reconhecendo
que as moedas lhe são suficientes e as melhores que podia ganhar para que siga sua jornada.
Valoriza, assim, a vida e as moedas herdadas dos genitores que, por sua vez, sentem-se felizes,
valorizados e dispostos a doar mais. Esse homem, por estar integrado com suas origens, tem
uma vida pródiga, que flui. Sente-se merecedor, capaz e sabe que tem o que precisa para
seguir adiante.

Entretanto, em circunstância adversa, o outro personagem faz o percurso inverso: tem o


mesmo sonho, mas sente-se constrangido, incomodado, desvalorizado e, por fim, magoado
com as moedas que recebera dos pais. Diante disso, vai até eles dizer do sonho que tivera e da
sua mágoa, pois não tinha moedas suficientes nem adequadas para seguir sua vida. Tristes
ficaram sentindo-se diminuídos e desestimulados em continuar doando o que tinham. O
homem nutria, assim, uma relação de falta, mágoa e prepotência em relação aos pais. Com
eles, aliás, cortara relações e decidira seguir sozinho, buscando em outras pessoas as moedas
de que sentira falta para ocupar o vazio e a dor que aninhara na alma.

Então, aí está a beleza da narrativa: este homem insatisfeito projeta inconscientemente nos
outros o que procura preencher em si: na amante, no filho... e, sem se dar conta, sobrecarrega
o outro que, agora, tem a cruel e infrutífera tarefa de corresponder às suas expectativas, ou
seja, entregar as moedas que ele tanto busca... Cansado de procurar e de se frustrar, por fim ,
com a sábia ajuda da psicóloga, consegue encontrar a chave: ”Sei onde estão as moedas.
Continuam com meus pais”. Assim, na posição de filho, pequeno diante da grandeza dos pais e
consciente do que recebeu deles, vai até a cada dos genitores e pede desculpas, explicando o
quanto esteve equivocado até ali. Finalmente, enxergou e reconheceu que as moedas que
recebeu são suficientes e as certas para ele. Os pais, felizes, o abençoaram e sentiram-se
capazes de continuar ofertando o que tinham de melhor: mais e mais moedas... Agradece,
também, às pessoas com quem convivia mais proximamente e as liberta do peso de satisfazer
às suas exigências. Daí em diante, sentiu-se leve, forte e sua vida flui...
Quantas vezes esperamos do outro o que ele nunca poderá nos ofertar simplesmente porque não
tem?

Até quando procuraremos fora o que já está em nós?

Como o vitimismo opera contra nosso desenvolvimento pessoal?

Aluna: Adriana Moura Salles – fevereiro/ 2021

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