Canudos - Bismarck Carneiro Sena

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA – UEFS

DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES – DALET


COLEGIADO DE LETRAS VERNÁCULAS – COLET

BISMARCK CARNEIRO SENA

REDAÇÃO – CANUDOS: UM CRIME IMPUNE

FEIRA DE SANTANA – BA
2024
BISMARCK CARNEIRO SENA

REDAÇÃO – CANUDOS: UM CRIME IMPUNE

Redação apresentada à disciplina DLA155 –


Tópicos especiais em estudos literários, como
requisito de nota parcial do semestre letivo de
2024.1, do curso de Letras Vernáculas.

Orientador: Aleilton Santana da Fonseca


FEIRA DE SANTANA - BA
2024
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A guerra de Canudos foi um evento histórico Brasileiro ocorrido entre novembro de


1896 e outubro de 1897, nele, um grupo de aproximadamente 25 mil sertanejos foram mortos
pelo Exército Brasileiro. O vilarejo de Canudos ou Belo monte, como foi nomeado por seus
habitantes, era liderado por Antônio Conselheiro, um líder religioso, Belo monte - Canudos
foi atacada e destruída pelo exército com a justificativa de que seus moradores eram jagunços,
desordeiros, inimigos da paz e que Conselheiro seria um falso profeta monarquista, na época,
essa visão dos moradores era tida como a verdadeira pelos jornais e políticos, porém, com o
passar do tempo, descobrimos que não foi bem assim, portanto, vamos destrinchar o evento
como ele realmente aconteceu, começando pelo seu contexto histórico.
Em 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca e seus militares derrubam
o Visconde de Ouro Preto, e, com a ajuda de José do patrocínio, proclamam a república,
saltando alguns anos após a tão aclamada proclamação da nossa república, temos um povo
que continuava nas mesmas condições péssimas de vida e trabalho, e com a recém baixa dos
engenhos e das plantações de cana de açúcar, o povo brasileiro, e, em especial, o povo do
sertão da Bahia estava sem dinheiro e sem trabalho, somando isso aos povos escravizados
recém livres, porém, sem nenhum apoio para viver ou se manter sozinhos, temos uma massa
de trabalhadores desempregados e totalmente negligenciados pela república, e é nesse
contexto que entra Antônio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro.
Nascido do dia 13 de março de 1830, Antônio Vicente Mendes Maciel começou sua vida
como professor, mas com a morte do pai, problemas no casamento e insatisfação com a sua
vida profissional, Antônio passa a vagar pelo sertão pregando suas críticas políticas, religiosas
e sociais, passado-se um tempo de peregrinação, tendo ganhado esperança e vontade de mudar
com as pregações de Conselheiro, e, revoltados com a república, um pequeno grupo de
sertanejos foi se formando numa espécie de rebanho, tendo Antônio Conselheiro como seu
pastor. No inicio da década de 1870, Conselheiro já era amplamente conhecido como uma
figura que vaga pelo sertão e dá “conselhos” de cunho político e religioso, tendo como tema
central a esperança e uma terra prometida.
O grupo de conselheiro vagava pelas cidades do sertão, contribuindo com a organização
de eventos e na construção e reforma de obras públicas, fazendo com que, Conselheiro e seu
grupo fossem regularmente recebidos de braços abertos pelos moradores, porém, em meados
da década de 1870, conselheiro passou a aparecer em jornais locais como uma ameaça a
ordem pública, já que, possuía muito carisma e liderança política, chegando até a ser preso em
1876 até ser solto e continuar sua peregrinação.
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Em contrapartida, o sertão sofria com a grande seca de 1877, deixando mais pessoas
desamparadas que se uniam ao grupo de Conselheiro, para ouvir suas pregações que
forneciam esperança para um povo que há muito tempo, não a tinha. Somando esses fatos à
separação do estado e da religião, além da crescente de impostos vindo da república, que
irritava Conselheiro e seus apoiadores, chegando a serem chamados até mesmo de
monarquistas pelos republicanos, já que eles reclamavam que além do estado fazer quase nada
pela população, ainda tirava o pouco que eles tinham. Conselheiro não só era contra o excesso
de impostos, como liderava movimentos de rua contra essa imposição tributária.
Após 20 anos de peregrinação pelo sertão e litoral baiano, em 1983, Conselheiro e seu
grupo se firmam numa região que decidem chamar de Belo monte, onde constroem uma
cidade que aceitava qualquer um que precisasse, sem impostos, e com casas construídas pelos
moradores para quem necessitasse, desde que, entendesse que todos ali eram iguais, Surge
assim, Belo monte, situada no povoado de Canudos no interior da Bahia. Belo monte tinha
igrejas, escolas, fortificações e casas de barro, além de doações de comidas e roupas para
famílias que precisassem de apoio para se ajeitar por um tempo, seguindo esse modelo e com
a liderança de conselheiro, Canudos foi crescendo exponencialmente, recebendo doações de
apoiadores e admiradores do trabalho de Conselheiro e dos moradores, o que era plantado era
dividido igualmente conforme a necessidade de cada um. Belo monte - Canudos reuniu cerca
de 15 mil pessoas, dentre elas, o povo pobre, índios, ex-escravos, trabalhadores empobrecidos
e todo tipo de pessoa excluída da sociedade, Canudos passou a ser uma ameaça para as
lideranças políticas, já que, tirava parcelas da população de seu lugar de dominado e as levava
para Belo monte, a cidade contava com uma guarda armada de cerca de 1.200 homens, com
coordenação militar uniformizada, mostrando que ali havia uma organização social e de
autodefesa avançadas.
Infelizmente, a república Brasileira não poderia aceitar uma comunidade que ignorava a
sua existência e dava lugar para o povo que ela mesma abandonou, Canudos oferecia :
moradia, dignidade, alimento, igualdade e fé para seus moradores e todos que se unissem à
comunidade, sendo uma espécie de oásis para o povo nordestino, e não bastando a república,
a igreja católica também se colocava contra Conselheiro e seu grupo, já que, por ser um
pregador leigo, porém, muito influente, ele apresentava uma ameaça ao poder de influencia da
igreja. Tendo seu controle ameaçado, o governo republicano passou a popularizar a imagem
dos habitantes de Belo monte como a de um povo bárbaro e fanático que trabalhava para a
família real visando a volta do regime monárquico ao pais, claramente, nada disso era
verdade, porém, como na época ninguém sabia das verdadeiras intenções da república, foi o
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bastante para que a população urbana se colocasse contra a comunidade e desse brecha para
que um levante armado pudesse ser posto contra a sua existência.
Em 1895, membros da igreja são enviados para Canudos para observar a situação e
informar o governo, ao retornarem, concluem que uma intervenção do governo é necessária,
já que, uma intervenção acontecia na comunidade para o não pagamento dos impostos, o
governo, temia que Belo monte se tornasse um exemplo para outras cidades do interior, e que
assim, ameaçasse o seu poder e influência.
Em 1896, Belo monte encomenda madeira em Juazeiro para a construção de uma igreja,
tendo até mesmo, pagado adiantado, com o atraso da entrega, o boato de que o grupo de
conselheiro invadiria a cidade e a saquearia é espalhado, sendo o pretexto para tropas
estaduais irem à Juazeiro defender a cidade do suposto ataque, sendo assim, o estopim para o
conflito.
Em novembro de 1896, pouco mais de 100 homens armados são enviados à Belo monte
para confrontar os conselheiristas que estavam a caminho de Juazeiro, no meio do caminho,
combatentes ligados à Belo monte interceptam a tropa, no combate, morrem cerca de 150
sertanejos e dez soldados, que recuam para Juazeiro derrotados, assustando assim, a
população. Em janeiro de 1897, usando esse “ataque” de Canudos como pretexto, as forças
policiais da Bahia, em conjunto com o exército, enviam uma tropa de mais de 600 soldados
liderada pelo Major Febrônio Pereira de Brito, para atacar Belo monte, porém, mais uma vez,
interceptados por seguidores de Conselheiro, são derrotados e forçados a recuar.
Em fevereiro de 1897, outra expedição é montada, dessa vez pelo governo federal, com
cerca de 1600 soldados liderados pelo Coronel Antônio Moreira Cézar, o “Cortador de
cabeças”, a tropa possuía 15 milhões de cartuchos e 6 canhões, prontos para arrasar a região,
Moreira Cézar, ao avistar o arraial de Canudos, com toda a sua soberba diz a famosa frase
“Vamos almoçar em Canudos” e decide atacar usando de baionetas, o resultado é mais uma
derrota para o exército Brasileiro e um ferimento que acaba sendo letal para o “Cortador de
cabeças”, que, acaba morrendo horas depois, as tropas, já derrotadas, acabam fugindo e
deixando parte de seus armamentos para o povo de Belo monte.
Contando agora com 3 derrotas para o que diziam ser “bárbaros fanáticos monarquistas”
os republicanos não poderiam se deixar falhar mais uma vez, então, em junho de 1897, uma
quarta expedição é organizada sob o comando do general Arthur Oscar de Andrade
Guimarães. A expedição contava com cerca de dez mil soldados fortemente armados, além de
um canhão apelidado de “A matadeira”, usado durante o ataque, após meses de confronto, em
22 de setembro de 1897, em uma Canudos já devastada pelo massacre, morre Antônio
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Conselheiro, derrotados, em 2 de outubro de 1897, os poucos sobrevivente do ataque,


negociam uma rendição com o exército que aparentemente concorda em poupá-los, porém,
todos aqueles que se entregaram acabam sendo friamente assassinados, sendo em sua maioria,
mulheres e crianças, Em 5 de outubro, Belo monte é enfim tomada e tem todas as suas casas
incendiadas, restando apenas mulheres e crianças que se entregaram, e dois homem, um
menino e um idoso que não se entregaram até o fim.
Acompanhando a última expedição, estava Euclides da Cunha, que foi para o arraial
esperando encontrar os bárbaros e fanáticos que tanto falavam, mas ao ver de perto, percebeu
que o verdadeiro confronto era entre Governo e população pobre, Euclides foi um dos
primeiros a denunciar o crime cometido pelo governo Brasileiro em seu livro “Os sertões”, é
notável a mudança de ponto de vista do autor conforme se aproxima do arraial, e toda ela foi
documentada em seus textos, ao longo da sua obra, Euclides percebe que não há quaisquer
diferença substancial entre os “jagunços” que eram combatidos e os soldados que os
combatiam.
A guerra de Canudos, deixou cerca de 25.000 vítimas, vitimas essas que por muito tempo
ainda foram tidas como bárbaros, fanáticos e monarquistas por seus algozes, e, enquanto “Os
Sertões” para a época foi responsável por contar “A verdadeira história de Canudos”, hoje,
mais de 120 anos depois, a forma com que o exército ainda é aclamado, e os moradores de
Belo monte são animalizados na obra, pede uma visão crítica e aprofundada, e sem sombra de
dúvidas, não pode ser tratado como “A verdadeira história de Canudos” como foi em seu
lançamento.
O evento histórico ocorrido entre novembro de 1896 e outubro de 1897, deixa ainda hoje
suas marcas, na música, na literatura e no cinema, com álbuns, livros, documentários, ensaios
e filmes dedicados a contar seus pormenores, e por isso deve ser reforçada a pesquisa e o
interesse nesse acontecimento que deixou uma poça de sangue no sertão baiano, e que,
muitas vezes é esquecido ou reduzido a “uma guerra que aconteceu no nordeste”, o massacre
ocorrido no arraial de Canudos, onde um exército de um país se vira contra seu próprio povo,
abandonado por seus governantes, deveria ser lembrado, sem dúvida, como um dos atos mais
cruéis da nossa história.

REFERÊNCIAS

HISTORIAR-TE. GUERRA DE CANUDOS - Resumo Desenhado. Youtube, 19 de


agosto de 2019, Disponível em : https://www.youtube.com/watch?v=UCicCcFJPns.
Acesso em: 08 de maio de 2024
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BRASIL DOX: DOCUMENTÁRIOS SOBRE O BRASIL. Documentário: Guerra de


Canudos | História do Brasil. Youtube, 1 de dezembro de 2022, Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Qi1mesXHuq8&t=636s. Acesso em: 08 de maio de
2024.

BUENAS IDEIAS. GUERRA DE CANUDOS | EDUARDO BUENO. Youtube, 17 de


janeiro de 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=f4DT0-
gvs6c&t=22s. Acesso em: 08 de maio de 2024.

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