Canudos - Bismarck Carneiro Sena
Canudos - Bismarck Carneiro Sena
Canudos - Bismarck Carneiro Sena
FEIRA DE SANTANA – BA
2024
BISMARCK CARNEIRO SENA
Em contrapartida, o sertão sofria com a grande seca de 1877, deixando mais pessoas
desamparadas que se uniam ao grupo de Conselheiro, para ouvir suas pregações que
forneciam esperança para um povo que há muito tempo, não a tinha. Somando esses fatos à
separação do estado e da religião, além da crescente de impostos vindo da república, que
irritava Conselheiro e seus apoiadores, chegando a serem chamados até mesmo de
monarquistas pelos republicanos, já que eles reclamavam que além do estado fazer quase nada
pela população, ainda tirava o pouco que eles tinham. Conselheiro não só era contra o excesso
de impostos, como liderava movimentos de rua contra essa imposição tributária.
Após 20 anos de peregrinação pelo sertão e litoral baiano, em 1983, Conselheiro e seu
grupo se firmam numa região que decidem chamar de Belo monte, onde constroem uma
cidade que aceitava qualquer um que precisasse, sem impostos, e com casas construídas pelos
moradores para quem necessitasse, desde que, entendesse que todos ali eram iguais, Surge
assim, Belo monte, situada no povoado de Canudos no interior da Bahia. Belo monte tinha
igrejas, escolas, fortificações e casas de barro, além de doações de comidas e roupas para
famílias que precisassem de apoio para se ajeitar por um tempo, seguindo esse modelo e com
a liderança de conselheiro, Canudos foi crescendo exponencialmente, recebendo doações de
apoiadores e admiradores do trabalho de Conselheiro e dos moradores, o que era plantado era
dividido igualmente conforme a necessidade de cada um. Belo monte - Canudos reuniu cerca
de 15 mil pessoas, dentre elas, o povo pobre, índios, ex-escravos, trabalhadores empobrecidos
e todo tipo de pessoa excluída da sociedade, Canudos passou a ser uma ameaça para as
lideranças políticas, já que, tirava parcelas da população de seu lugar de dominado e as levava
para Belo monte, a cidade contava com uma guarda armada de cerca de 1.200 homens, com
coordenação militar uniformizada, mostrando que ali havia uma organização social e de
autodefesa avançadas.
Infelizmente, a república Brasileira não poderia aceitar uma comunidade que ignorava a
sua existência e dava lugar para o povo que ela mesma abandonou, Canudos oferecia :
moradia, dignidade, alimento, igualdade e fé para seus moradores e todos que se unissem à
comunidade, sendo uma espécie de oásis para o povo nordestino, e não bastando a república,
a igreja católica também se colocava contra Conselheiro e seu grupo, já que, por ser um
pregador leigo, porém, muito influente, ele apresentava uma ameaça ao poder de influencia da
igreja. Tendo seu controle ameaçado, o governo republicano passou a popularizar a imagem
dos habitantes de Belo monte como a de um povo bárbaro e fanático que trabalhava para a
família real visando a volta do regime monárquico ao pais, claramente, nada disso era
verdade, porém, como na época ninguém sabia das verdadeiras intenções da república, foi o
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bastante para que a população urbana se colocasse contra a comunidade e desse brecha para
que um levante armado pudesse ser posto contra a sua existência.
Em 1895, membros da igreja são enviados para Canudos para observar a situação e
informar o governo, ao retornarem, concluem que uma intervenção do governo é necessária,
já que, uma intervenção acontecia na comunidade para o não pagamento dos impostos, o
governo, temia que Belo monte se tornasse um exemplo para outras cidades do interior, e que
assim, ameaçasse o seu poder e influência.
Em 1896, Belo monte encomenda madeira em Juazeiro para a construção de uma igreja,
tendo até mesmo, pagado adiantado, com o atraso da entrega, o boato de que o grupo de
conselheiro invadiria a cidade e a saquearia é espalhado, sendo o pretexto para tropas
estaduais irem à Juazeiro defender a cidade do suposto ataque, sendo assim, o estopim para o
conflito.
Em novembro de 1896, pouco mais de 100 homens armados são enviados à Belo monte
para confrontar os conselheiristas que estavam a caminho de Juazeiro, no meio do caminho,
combatentes ligados à Belo monte interceptam a tropa, no combate, morrem cerca de 150
sertanejos e dez soldados, que recuam para Juazeiro derrotados, assustando assim, a
população. Em janeiro de 1897, usando esse “ataque” de Canudos como pretexto, as forças
policiais da Bahia, em conjunto com o exército, enviam uma tropa de mais de 600 soldados
liderada pelo Major Febrônio Pereira de Brito, para atacar Belo monte, porém, mais uma vez,
interceptados por seguidores de Conselheiro, são derrotados e forçados a recuar.
Em fevereiro de 1897, outra expedição é montada, dessa vez pelo governo federal, com
cerca de 1600 soldados liderados pelo Coronel Antônio Moreira Cézar, o “Cortador de
cabeças”, a tropa possuía 15 milhões de cartuchos e 6 canhões, prontos para arrasar a região,
Moreira Cézar, ao avistar o arraial de Canudos, com toda a sua soberba diz a famosa frase
“Vamos almoçar em Canudos” e decide atacar usando de baionetas, o resultado é mais uma
derrota para o exército Brasileiro e um ferimento que acaba sendo letal para o “Cortador de
cabeças”, que, acaba morrendo horas depois, as tropas, já derrotadas, acabam fugindo e
deixando parte de seus armamentos para o povo de Belo monte.
Contando agora com 3 derrotas para o que diziam ser “bárbaros fanáticos monarquistas”
os republicanos não poderiam se deixar falhar mais uma vez, então, em junho de 1897, uma
quarta expedição é organizada sob o comando do general Arthur Oscar de Andrade
Guimarães. A expedição contava com cerca de dez mil soldados fortemente armados, além de
um canhão apelidado de “A matadeira”, usado durante o ataque, após meses de confronto, em
22 de setembro de 1897, em uma Canudos já devastada pelo massacre, morre Antônio
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REFERÊNCIAS