2unidade - 2 Elementos Formadores Das Línguas Românicas

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Elementos formadores das

Línguas Românicas:
Substratos, Adstratos e Superstratos
P RO FA . DRA . L I L I A NE B A RRE I RO S
(P P G E L / UE FS )
Formação das Línguas Românicas
Os fenômenos externos mais relevantes que
favoreceram a dialetação do latim vulgar e consequentemente
a formação das Línguas Românicas:
 Substrato
 Superstrato
 Adstrato
Substrato
SUB + STRATUM = “camada de baixo”
Denominação atribuída por Graziadio Isaia Ascoli

São marcas linguísticas do povo vencido deixadas na língua


de maior prestígio.

Influência de baixo para cima


Substrato
A língua de maior prestígio cultural e político tende a se
impor naturalmente sobre a outra, que perde seus falantes.

A ação do substrato depende de causas sociais, políticas,


históricas e até estilísticas (tendências populares à simplicidade ou
ao descuido, ou mesmo cultas em busca de aprimoramento ou de
purismo).
Substrato
A grande diversidade de povos da Itália antiga explica a grande
quantidade de substratos (oscos, umbros, sabinos, celtas etc.).

Itália central e meridional: substrato osco-umbro


Assimilações:
nd > nn
expandere > spanne (estender; explicar);
infundere > nfonne (infundir; inculcar)
mb > mm
palumba > palomma (pomba)
Substrato
Norte da Itália: substrato celta
Mantêm os grupos consonânticos (nd > nn; mb > mm) – (fronda > fronna;
piombo > piommo), porém o /u/ e o /a/ latino passam a /ü/ e /e/
como no francês.
Substrato
Era natural que os povos vencidos, ao falar latim, aplicassem
a essa língua os hábitos linguísticos próprios de seus idiomas.
Substrato
Maiores registros no léxico e na fonética

Ex.: léxico português – topônimos Coimbra, Lima; nomes comuns cama,


lousa.
PB – tupi (designações da fauna, flora e utensílios)

OBS.: A inclusão definitiva de um fato linguístico modificado na


língua receptora pode levar séculos.
Superstrato
SUPER + STRATUM = “camada de cima”
Termo criado por Walther von Wartburg

É utilizado para designar os vestígios e as influências de um povo dominador no idioma


do dominado, idioma esse que passa a ser usado por ambos, já que a língua do
dominador político deixa de ser falada.

Influência de cima para baixo


Superstrato
As línguas germânicas no território da România, com as invasões
bárbaras, constituíram superstratos do latim.

Ex.: guerra, trégua, estribo, espora, feudo; adjetivos – branco, morno,


rico; verbos – roubar, falar, agasalhar.
Bilinguismo
Dominadores e dominados continuam a usar seu próprio
idioma por período de tempo muito variável (BASSETTO, 2005, p.
152).

Osco / latim – território romano


Celta / latim – Gália
Ibérico / latim – Ibéria
Árabe / dialeto siciliano – Sicília

Não é comum a manutenção do bilinguismo.


Adstrato
É toda língua que vigora ao lado de outra, num território dado, e
que nela interfere como manancial permanente de empréstimos.

Para caracterizar uma situação de adstrato, basta que dois povos de


idiomas diferentes sejam vizinhos e mantenham relacionamento de
qualquer tipo.
Adstrato
A noção de adstrato tem a ver com a coexistência de línguas
em situação de bilinguismo.

Para a formação das línguas românicas foi importante a


presença constante do grego e até mesmo do latim literário,
especialmente com relação aos empréstimos lexicais.
Adstrato
A causa pode ser invasão ou conquista.
Ex.: Adstrato Árabe na Península Ibérica (a partir de 711) –
quase 8 séculos de convivência ao lado do romanço.
Moçárabes (nativos românicos que assimilaram a cultura árabe e
eram bilíngues).

Aljamia “língua estrangeira” – textos escritos em romance com


caracteres árabes.
Adstrato
1492 - Os árabes foram expulsos e a população
românica continuou a falar o seu dialeto, apenas
enriquecido por numerosos empréstimos.
Resumo das definições
A definição dos termos substrato, superstrato e adstrato varia bastante, assim
como o que cada autor abrange com cada termo (Mattoso Câmara Jr., Wilton Cardoso
e Celso Cunha e Martinet)

1) Substrato – língua nativa desaparecida de um povo dominado, que


adotou a língua do dominador;
2) Superstrato – língua nativa de um povo dominador desaparecida, em
virtude de este povo ter adotado a língua do povo dominado;
3) Adstrato – qualquer língua que conviveu ou convive em pé de
igualdade (bilinguismo) com outra língua.
Questões de Substrato, Superstrato
e Adstrato no PE e no PB
G A RCI A , A FRÂ NI O DA S ILVA . O PO RT UG UÊ S DO BRA S I L Q UE S TÕ E S
DE S UB S T RATO, S UP E RS T RATO E A DS T RATO . I N: S O L ET RA S , A NO
I I , Nº 0 4 . S Ã O GONÇA L O : UE RJ, JUL . / DE Z . 2 0 0 2 .
Substrato
Línguas ibéricas, anteriores à conquista romana.

1) Ibérico - mais ou menos trinta palavras. As mais importantes são:


barro, baía, bezerro, balsa, cama, esquerdo, garra, manto e sapo.

2) Celta - sua influência é maior, compreende palavras incorporadas ao


latim antes da conquista da Península Ibérica e depois. As mais
importantes são: bico, cabana, caminho, camisa, carro, cerveja, gato,
gordo, lança, légua, peça e touca. As mais recente: menir, dólmen,
druida e bardo.
Substrato
3) Fenício e púnico - é quase nula, a única palavra é barca, enquanto as
palavras de origem púnica são: mapa, mata e saco.

4) Grego – inúmeras palavras, porém raras são as que se pode atribuir,


sem margem de dúvida, ao período de dominação grega na Península
Ibérica, anterior à conquista romana. São elas: bolsa, cara, corda, calma,
caixa, ermo, governar, golfo e órfão.
Superstrato
Palavras de origem germânica, introduzidas pelos visigodos,
suevos e vândalos.
A maioria, são ligadas à vida militar e aos costumes próprios dos germanos,
tais como a guerra e o saque.
As mais importantes são: acha, arauto, arreio, agasalho, albergue, anca, aspa,
barão, banco, banho, branco, brasa, brandir, dardo, esgrimir, espiar, elmo,
espeto, estaca, estribo, espora, estampar, escarnecer, feudo, fato, feltro, fralda,
fresco, ganso, garbo, guarda, grupo, galardão, guia, lata, lasca, liso, marco,
morno, rico, roupa, roubar, saga, sopa, tirar, trepar, trégua.

e os pontos cardeais: norte, sul, leste, oeste.


Adstrato
1) Árabe - grande influência no léxico. As palavras de origem árabe são
compostas pelo artigo invariável al, quer inalterado ou reduzido a a,
quando antes de x, z, c e d: arroz, azeite, açougue e aduana.

Os nomes árabes mais frequentes, relacionam-se a:


a) Plantas: algodão, alecrim, alface, alfafa, alfazema, açafrão,
açucena, alcachofra, benjoim e bolota.
b) Instrumentos variados: alaúde, tambor, alicate, alfanje,
algema, aljava, almofariz e gaita.
Adstrato Árabe
c) Ofícios e oficinas: alcaide, alfaiate, alferes, almoxarife, califa,
emir; aduana, alcova, aldeia, armazém, arrabalde e arsenal.

d) Alimentos e bebidas: aletria, acepipe, álcool, almôndega e


xarope.

e) Medidas: alqueire, arroba e quintal.


Adstrato Árabe
f) Palavras de significação vária: álcali, alarde, alarido, alcunha,
algazarra, álgebra, azulejo, alvará, almofada, alcatéia,
azeviche, azar, cáfila, javali, cifra e zero;
g) Os adjetivos: garrido, forro, mesquinho e baldio;
h) Poucos verbos, como por exemplo, alcatifar;
e a interjeição oxalá (proveniente do árabe “in sha Allah”).
Adstrato
2) Provençal - concentra-se, basicamente, em vocábulos relacionados
com a vida nas cortes, tais como: alba, balada, bedel, coxim, cadafalso,
estandarte, homenagem, jogral, justa, paliçada, refrão, sirventês, trova,
truão, tropel, vassalo e vianda.
Além dessas, temos algumas palavras de uso mais geral, como:
alegre, anel, artilharia, salitre, rouxinol e viagem.
Questões de Substrato e Adstrato no
Português do Brasil
Havia duas diferentes línguas de intercurso
(simplificadas) para entendimento mútuo
1) A língua geral, uma versão simplificada do tupi, que era usada pelos
brancos e mamelucos (filhos de índia com branco) em seus contatos
com os aborígenes. Também usada pelos índios da tribo tupi como
meio de comunicação com as demais tribos de famílias linguísticas
diferentes, que falavam as famosas línguas travadas.

2) O semicrioulo português, usado pelos portugueses na comunicação


com os negros escravos e, também, com os índios e mestiços.
Havia duas diferentes línguas de intercurso
(simplificadas) para entendimento mútuo
À exceção dos padres jesuítas e dos mercadores de escravos e
tripulantes de navios negreiros, praticamente nenhum português entrou
em contato direto com qualquer outra língua que não fosse a língua geral
ou o semicrioulo português.
Como podem ser conceituadas:
Substrato ou Adstrato? Por quê?
Adstrato
Os índios brasileiros, salvo raríssimas exceções, jamais
abandonaram sua língua para adotar a do conquistador; pelo
contrário, no começo da colonização, a língua geral era mais
falada do que a portuguesa, devido à grande superioridade
numérica dos mamelucos e índios sobre a população branca.
A língua geral só deixou de ter importância pelo fato de os
portugueses terem chacinado seus falantes, “um documento
jesuítico nos diz que as 40 mil almas... estavam reduzidas a
400.” (Serafim da Silva Neto).
Adstrato
Os negros também não abandonaram seu português crioulo
para aprenderem a língua portuguesa padrão. O principal
motivo disto foi que o Brasil, profundamente escravocrata e
racista, não fornecia qualquer tipo de educação aos negros; a
estes, bastava que soubessem o português crioulo, para que
pudessem entender as ordens e cumpri-las.
A língua geral teve influência, quase que exclusivamente,
sobre o léxico e o semicrioulo português exerceu,
basicamente, sobre a morfologia e a fonologia.
Influência da língua geral sobre o PB
1) Animais - araponga, arara, capivara, curió, cutia, gambá, jibóia, jacaré,
jararaca, juriti, lambari, paca, piranha, quati, sabiá, saúva, tamanduá, tatu
e urubu.
2) Plantas - abacaxi, capim, carnaúba, cipó, imbuia, ipê, jabuticaba,
jacarandá, jequitibá, mandioca, peroba, pitanga, sapé, taquara e tiririca.
3) Utensílios - arapuca e jacá.
4) Alimentos - moqueca e pipoca.
5) Fenômenos naturais - piracema e pororoca.
6) Crendices - saci, caipora e curupira.
7) Doenças - catapora
Influência do semicrioulo português sobre o PB
1) Fonológico - apresentando os seguintes casos:
a) redução de ditongo a vogal: dotô por doutor; isquêro por
isqueiro;
b) transformação do lh em iode: muié por mulher; oiá por olhar;
c) assimilação dos grupos consonantais em nasal: tomano por
tomando; quano por quando; tamém por também;
d) queda do r final: amô por amor; muié por mulher; fazê por fazer;
e) queda do l final: generá por general; papé por papel.
Influência do semicrioulo português sobre o PB
2) Morfofonológico - apresentando os seguintes casos:
a) queda da primeira sílaba do verbo estar, como em eu tô:
b) aglutinação fonética, como em zóio por olhos; zunha por
unhas; e zoreia por orelhas.
Influência do semicrioulo português sobre o PB
3) Morfológico - manifesto por:
a) simplificação da flexão verbal, reduzida a somente duas
pessoas, como em:
“eu compro” / “tu/você compra” / “ele/ela compra”
“nós compra” / “vocês compra” / “eles/elas compra”
b) queda da flexão de número do determinado, como ocorre em:
“as muié” por “as mulheres”; “esses home” por “esses homens”.
Influência do semicrioulo português sobre o PB
3) Lexical
a) Religião: macumba, mandinga, candomblé, babalaô e orixá;
b) Comida: tutu, angu, abará, cachaça e vatapá;
c) Instrumentos: agogô, samba, maracatu e ganzá;
d) Doenças: caxumba, calombo, calundu e banzo;
e) Objetos de uso: cachimbo, carimbo, miçanga e tanga;
f) Animais e plantas: camundongo, marimbondo, inhame, chuchu, jiló,
maxixe e quiabo;
g) Locais: mocambo, quilombo e senzala;
h) Pessoas e relações pessoais: moleque, mucama, milonga, molambo,
muxoxo, quizília e dengo.
Conclusão
1) A influência do substrato no português resume-se ao léxico.

2) A influência do superstrato, apesar de maior, é resumida


também ao léxico e muito especializada, sendo que muitas
de suas formas tornaram-se obsoletas ou excessivamente
restritas.
Conclusão
3) A influência do adstrato é a mais importante de todas. Com exceção do
provençal, todas as línguas que conviveram com o português, quer em
Portugal: o árabe, quer no Brasil: a língua geral e o semicrioulo
português, penetraram bastante no nosso léxico, sendo que o
semicrioulo português serviu, ainda, para intensificar o processo de
evolução já existente, de uma maneira muito mais intensa, é claro, nas
populações de baixo nível de escolaridade e instrução.
Referências:
BASSETTO, Bruno F. A formação das Línguas Românicas. In: ______.
Elementos de filologia românica: história externa das línguas. Vol. 1. São Paulo:
EDUSP, 2001, p. 152-176.
BASSO, Renato Miguel. GONÇALVES, Rodrigo Tadeu. A România e a
formação das línguas românicas. In: ______. História concisa da língua
portuguesa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014, p. 65-101.
GARCIA, Afrânio da Silva. O português do Brasil questões de substrato,
superstrato e adstrato. In: SOLETRAS, Ano II, nº 04. São Gonçalo: UERJ,
jul./dez. 2002.
ILARI, Rodolfo. Fatores de dialetação do latim vulgar. In: ______. Lingüística
românica. São Paulo: Ática, 2001, p. 135-149.

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