A Dinamica Urbana Do Recife
A Dinamica Urbana Do Recife
A Dinamica Urbana Do Recife
MANGUEBEAT
Larissa Zuque Mosage1
RESUMO: Conhecido em escala nacional, o Manguebeat surgiu como uma cena local no
Recife-PE, na década de 1990. Misturando ritmos musicais – maracatu, ciranda, coco, rock, hip
hop, funk, música eletrônica etc. —, as bandas não são identificadas por uma sonoridade
padronizada, mas por uma estética que dialoga diretamente com o resgate de manifestações
culturais pernambucanas. Além disso, problematizações sobre a cidade do Recife e sua relação
com os manguezais são bastante evocadas pelos seus maiores expoentes: Chico Science e Nação
Zumbi (CSNZ) e Mundo Livre SA (MLSA). O presente artigo pretende apreender um olhar
crítico sobre a produção do espaço urbano do Recife, evidenciando as contradições implicadas
nas produções do Manguebeat na criação de um circuito local que ressignifica problemáticas e
representações enraizadas sobre a cidade.
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Graduanda do curso de Licenciatura em Geografia no Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de São Paulo – IFSP. Bolsista de iniciação científica pelo PIBIFSP sob orientação do prof. dr.
Paulo Roberto de Albuquerque Bomfim. Email: [email protected]
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"Estuários do Rios Goiana/Megáo, do Rio Itapessoca, do Rio Jaguaribe, do Canal de Sana Cruz, do Rio
Timbó, o Rio Paratibe, do Rio Beberibe, do Rio Capibaribe, dos Rios Jaboatão/Pirapama, do Rios
Sirinháem e Maracaíbe, do Rio Fomoso, do Rio Carro Quebrado e do Rio Una" (SILVA, ano, p. 123)
O Recife é uma cidade sereia: tem encantos anfíbios a quem muita gente de
fora vem sucumbindo. Encantos de suas águas de mar a que se juntam as
águas dos rios. Encantos das suas frutas: dos seus cajus, das suas mangas, dos
seus sapotis, dos seus abacates. Encanto das suas areias de praia e das
sombras das suas arvores. O maior de seus conquistadores, o Conde Maurício
de Nassau, terminou conquistado por êsses encantos. Tanto que há quem
pense ter sido sonho do ilustre alemão fundar no Brasil um principado, do
qual o Recife teria sido a capital. Nassau, nesse caso, aqui teria permanecido.
Com que resultado? Germanizando esta parte do Brasil? É pouco provável. É
possível que êle, Nassau, viesse a se abrasileirar de tal modo em recifense,
que até côr morena viesse a adquirir ao sol das praias do seu principado
tropical. O Recife recorda-se de Nassau como de um quase recifense. Como
um homem de fora que se tornou no Brasil quase de casa. Como conquistador
que se transformou em conquistado. E o Brasil que conquistou Nassau foi
principalmente o Recife. (FREYRE, 1967, p. 16).
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O ‘ciclo do marisco’ é uma realidade social nos dias atuais. Até hoje, quem disponha de pachorra para
rondar as margens do Capibaribe, nos arredores do Recife, verá nas marés baixas, quando ficam
descobertas as coroas de areia e lodo, um verdadeiro exército de gente pobre desenterrando mariscos para
sua alimentação. É um verdadeiro formigueiro humano arrancado da lama a sua subsistência. (CASTRO,
1984, p. 150).
REFERÊNCIAS
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