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Direito Financeiro

Material teórico
Receita Pública e Despesa Pública

Responsável pelo Conteúdo:


Profª. Rossana Perillo
Receita Pública e Despesa
Pública

O ensino semipresencial exige do aluno disciplina ao


gerenciar seu estudo, então organize seu tempo, leia o
material didático e não deixe para fazer na última hora as
atividades inseridas na plataforma Blackboard.

Nesta Unidade II os temos seguintes objetivos:

• Dotar os estudantes de conhecimentos básicos sobre as


receitas públicas, conceituando-as e classificando-as.
Veremos ainda todos os estágios da execução das
Receitas Públicas.
• Dotar os estudantes de conhecimentos básicos sobre as
despesas públicas, em especial acerca classificação,
execução, limites e técnicas de realização.
• Dotar os estudantes de conhecimentos básicos sobre
Restos a Pagar, sua classificação, pagamento,
cancelamento e prescrição.

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
Contextualização

O Estado, para que possa suportar seu funcionamento e atender as necessidades


públicas, necessita de recursos. Para obter esse montante o Estado se utiliza de diversos meios,
tais como cobrança de tributos, as operações de crédito e a as rendas produzidas pelos bens e
empresas do Estado, entre outros.

Durante o processo de elaboração do


orçamento, o Poder Executivo, com base na
estimativa das receitas elaborada pela
Receita Federal do Brasil, determina onde as
receitas auferidas serão gastas, ou seja,
determina as despesas públicas para o
exercício.

Quando falamos em despesas públicas, pensamos em gastos. E é isso mesmo, no


sentido mais amplo, despesa pública é todo pagamento efetuado a qualquer título pelos
agentes pagadores.

Nesta Unidade estudaremos os pontos mais relevantes sobre a Receita Pública e a


Despesa Pública.

No estudo das Receitas veremos o seu conceito, classificações e estágios de realização.

No tocante às Despesas Públicas iremos estudar seu conceito, classificações e estágios


da execução orçamentária e financeira, além do conceito, classificação, inscrição, pagamento,
cancelamento e prescrição dos Restos a Pagar.

A relevância do estudo desses tópicos se dá na transparência que o conhecimento


desses instrumentos proporciona ao cidadão para acompanhar as arrecadações das receitas e
as aplicações feitas pelos governos. Como exemplo, possibilita a análise da natureza dos
gastos previstos para saúde, educação, entre outras.
Material Teórico

1. RECEITA PÚBLICA

1.1. INTRODUÇÃO

Conforme vimos na primeira unidade, o Estado necessita de recursos para manter seu
funcionamento e atender as necessidades públicas. Para que isso se efetive, o Estado, segundo
Aliomar Baleeiro, se utiliza de alguns meios senão vejamos:

“Para auferir o dinheiro necessário à despesa pública, os governos, pelo


tempo afora, socorrem-se de uns poucos meios universais:

a) realizam extorsões sobre outros povos ou deles recebem doações voluntárias;


b) recolhem as rendas produzidas pelos bens e empresas do Estado;
c) exigem coativamente tributos ou penalidades;
d) tomam ou forçam empréstimos;
e) fabricam dinheiro metálico ou de papel”.

Hodiernamente o Estado não se utiliza de extorsões a outros povos ou de venda do seu


patrimônio como forma de angariar recursos para suprir suas necessidades financeiras.
1.2. CONCEITO DOUTRINÁRIO

Encontramos na doutrina brasileira diversos conceitos sobre receita pública, senão vejamos:

Na definição de Aliomar Baleeiro receita pública “é a entrada que, integrando-se ao


patrimônio público sem quaisquer reservas, condições ou correspondência no passivo, vem
acrescentar o seu vulto, como elemento novo e positivo”.

Na definição de Ricardo Lobo receita “é a soma de dinheiro recebida pelo Estado para fazer
face à realização dos gastos públicos”.

Já nos dizeres de Marlos Vargas Ferreira, receita “é o ingresso de proventos arrecadados de


tributos, do Tesouro Nacional e de outras fontes de recursos financeiros que passe a integrar e
incorporar o patrimônio do Estado, e que permita custear as despesas decorrentes da
prestação de serviço público e investimentos patrimoniais.”

Segundo o Manual de Receitas Públicas da Secretaria do Tesouro Nacional-STN, “Receitas


Públicas são todos os ingressos de caráter não devolutivo auferidas pelo Poder Público, em
qualquer esfera governamental, para alocação e cobertura das despesas públicas.”

Como podemos perceber, nos diversos conceitos atribuídos a receita pública, verifica-
se que em alguns se fala em entrada e em outros em ingressos, isso porque na doutrina
brasileira encontramos algumas divergências sobre a utilização indiscriminada dos termos
entrada, ingresso e receita pública como sinônimos.

Alguns autores, como Aliomar Baleeiro e Kioshi Harada defendem que todo ingresso
de dinheiro nos cofres públicos são considerados entradas, ao passo que o termo receita se
volta somente para as entradas que venham aumentar o patrimônio público. Entendem que
os ingressos normalmente que são meros movimentos de caixa, e só podem ser considerados
como receita quando não possuírem caráter devolutivo.

Então podemos dizer que o conceito de receita pública em sentido amplo é qualquer
recolhimento de numerário aos cofres públicos, ou seja, todas as quantias recebidas pelos
cofres públicos. Já em sentido restrito, considera-se receita pública somente as entradas ou
ingressos de recursos que é incrementada de forma definitiva ao patrimônio público sem
compromisso de devolução posterior.

Vale ressaltar que a Lei 4320/64 utiliza o sentido amplo de receita, isto é, qualquer
ingresso de numerário aos cofres públicos, o que é condenado pela doutrina majoritária.

1.3. CLASSIFICAÇÃO DAS RECEITAS PÚBLICAS

Na doutrina pátria existem várias formas de classificação da Receita, porém vamos nos
ater somente as mais utilizadas.

1.3.1. Quanto à natureza: Receita Orçamentária e Extra orçamentária

As receitas orçamentárias são aquelas que integram o orçamento do Estado. Decorrem


da execução da Lei Orçamentária Anual-LOA, correspondem à arrecadação de recursos
financeiros autorizados pela Lei Orçamentária e que serão aplicados na realização dos gastos
públicos. Dividem-se em duas categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital
(veremos um pouco mais a frente).

As receitas extra orçamentárias são as que não constam na lei do orçamento,


abarcando as entradas em dinheiro ou créditos de terceiros de que o Estado é devedor como
depositário ou como agente passivo da obrigação. Compreende o recolhimento de valores
que, em princípio, não pertencem ao Erário. O Estado atua apenas como depositário dos
recursos. Ex.: depósito em caução, depósitos judiciais, salários não reclamados, Operações de
créditos por antecipação de receita- ARO, entre outras. Vale ressaltar que o pagamento das
receitas extra orçamentárias não está sujeito a autorização legislativa.

Informação

Fique ligado: ARO são empréstimos de curto prazo que se destinam a atender insuficiência de
caixa, insuficiência financeira. Só podem ser contraídos a partir de 10 de janeiro e tem que ser
quitado até 10 de dezembro. Não podem ser contraídos no ultimo ano de mandato.
1.3.2. Quanto à origem: Receita Originária e Receita Derivada.

A receita originária decorre da exploração, pelo Estado, de seus próprios bens (advém
do patrimônio público do Estado). São receitas voluntárias, ou seja, o Estado não exerce seu
poder de império. São exemplos as provenientes de aluguéis, de venda de bens, etc. Podem
ser Patrimoniais: provenientes de rendas de aluguéis, venda de bens, dividendos,
participações e pagamento de royalties pela exploração do patrimônio e estatal; e
Empresariais: provenientes das atividades do Estado como empresário, ou seja, no âmbito
comercial, industrial ou de prestação de serviços.

A receita derivada provém do constrangimento sobre o patrimônio do particular


(provém do patrimônio dos particulares). Aqui o Estado exerce seu poder de império, isto é, é
proveniente do exercício do poder de tributar os rendimentos ou o patrimônio da coletividade.
É composta dos tributos e das sanções.

Alguns autores acrescentam nesta classificação as receitas transferidas decorrem dos


artigos 157 a 162 da Constituição. São aquelas que decorrem de transferências orçamentárias
voluntárias ou compulsórias, de um orçamento estatal para outro (de um ente político para
outro), no âmbito do denominado “federalismo cooperativo” ou “orçamento
federativo/fiscal”. Temos como exemplo as transferências constitucionais obrigatórias,
transferências legais obrigatórias e transferências orçamentárias voluntárias.

1.3.3. Quanto à categoria econômica: Receita Corrente e Receita de


Capital.

São classificadas na categoria Receitas Correntes aquelas receitas que decorrem do poder
impositivo do Estado, cuja arrecadação será utilizada no orçamento de custeio do Estado,
servirão para fazer face às despesas correntes. De acordo com o art. 11 § 1° e § 4° da Lei
4320/64, divide-se em:

Receitas Tributárias:

É resultante da arrecadação de impostos, taxas e contribuição de melhoria. Devem estar


previstas em lei. Teoricamente as receitas tributárias são utilizadas para arcar com as despesas
derivadas da prestação de serviço público e suas necessidade de investimento. Ex. IPTU,
IPVA, IPI, e IR.

Receitas de Contribuições:

São provenientes de contribuições sociais e econômicas. Sociais: COFINS, Salário


Educação, CPMF, Contribuições sobre Receitas de Concursos de Prognósticos, Contribuições
para os Serviços Sociais Autônomos – SESI, SESC, SENAI etc, PIS/PASEP, CSLL etc.
Econômicas: Cota-parte do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante,
Contribuição sobre a Receita das Empresas Prestadoras de Serviços de Telecomunicações,
CIDE-Combustíveis etc).

Receitas Patrimoniais:

São receitas obtidas da exploração do patrimônio estatal. Podem ser provenientes de


receitas imobiliárias (aluguéis, foros, laudêmios) e receitas de valores mobiliários (juros de
títulos de renda, dividendos, participações etc.); receitas de concessões e permissões (outorga
de serviços públicos etc.).

Receitas Agropecuárias

Receitas que resultam da exploração direta, por parte do Estado, de operações comerciais
que decorrem das atividades agropecuárias. Incluem-se nessa classificação as receitas
advindas da exploração da agricultura (cultivo do solo), da pecuária (criação, recriação ou
engorda de gado e de animais de pequeno porte) e das atividades de beneficiamento ou
transformação de produtos agropecuários em instalações existentes nos próprios
estabelecimentos.

Receitas Industriais

Resultantes da exploração direta, por parte do Estado, de operações comerciais que


decorrem de atividades industriais.

Receitas de Serviços

Resultantes de serviços executados pelo Estado, tais como serviços de transporte, saúde,
comunicação, portuário, armazenagem, de inspeção e fiscalização, judiciário, etc.

Transferências correntes
Provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou
privado, destinados ao atendimento das despesas correntes. Ex. Recurso transferido pela
União ao Município para aquisição de medicamento (despesa corrente). Para União trata-se
de uma despesa corrente/transferência corrente e para o Município é uma receita
corrente/transferência corrente.

Outras Receitas correntes

Resultam de cobrança de multas, juros de mora, cobrança da dívida ativa, restituições,


etc. As multas em geral são classificadas nessa rubrica.

As categorias econômicas se subdividem em Subcategorias Econômicas e fontes de


receitas, estas, por sua vez, se subdividem em subfontes (indicadas, respectivamente, por
rubricas e sub-rubricas).

As Receitas de Capital, segundo o Manual de Receitas Públicas “São os ingressos de


recursos financeiros oriundos de atividades operacionais ou não operacionais para aplicação
em despesas operacionais, correntes ou de capital, visando ao alcance dos objetivos traçados
nos programas e ações de governo.” De acordo com o art. 11 § 2 da Lei 4320/64, divide-se
em:

Operações de Crédito:

São receitas que decorrem de empréstimos e financiamentos, tais como emissão de


títulos da dívida interna e externa. Tem como objetivo a cobertura do déficit
orçamentário.

Alienação de Bens:

Recursos recebidos da venda de bens do Estado.

Amortização de Empréstimos

Recursos provenientes de retorno de valores anteriormente emprestado a outras


entidades, ou seja, parcela referente ao recebimento de parcelas (amortização) de
empréstimos ou financiamentos concedidos.

Transferências de Capital:
Recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando
destinados a atender despesas de capital. Ex. Convênio entre União e estado para
construção de Posto de Saúde. Para União trata-se de uma despesa de
capital/transferência de capital e para o estado classifica-se como receita de
capital/transferências de capital.

Outras Receitas de Capital:

Trata-se de classificação e englobará as demais receitas de capital não previstas nas


classificações anteriores.

Informação
Fique ligado: O Superávit do Orçamento Corrente é a diferença positiva entre a Receita
Orçamentárias/Receitas Corrente e as despesas orçamentárias/despesas correntes do exercício
financeiro. É classificada como Receita de Capital/Outras Receitas de Capital, porém não é
considerado uma receita orçamentária.

1.3.3.1 Codificação da Receita Orçamentária por Categoria Econômica

A Lei 4320/64, em seu art.8º § 1º define que os itens da discriminação da


receita serão indentificados por números de código decimal. Este código
recebeu o nome de natureza de receita. A natureza de receita busca classificar
a receita indentificando a origem do recurso segundo seu fato gerador que
originou a entrada da receita nos cofres públicos.
Devido a necessidade de constante atualização e melhor identificação dos ingressos aos
cofres públicos, o código identificador da natureza de receita é desmembrado em níveis.
Assim, na elaboração do orçamento público a codificação econômica da receita orçamentária
é composta dos níveis abaixo:

A.B.C.D.EF.GH
A – Categoria Econômica
1-Receitas Correntes
2- Receitas de Capital
B – Fonte de Receita
1.1 – Receita Tributária
1.2- Receita de Contribuição
1.3- Receita Patrimonial
1.4- Receita Agropecuária
1.5- Receita Industrial
1.6- Receita de Serviços
1.7- Transferências Correntes
1.9- Outras Receitas Correntes
2.1 – Operações de Crédito
2.2- Alienações de Bens
2.3- Amortização de Empréstimos
Concedidos
2.4-Transferências de Capital
2.5. – Outras Receitas de Capital
C- Subfonte
D- Rubrica
EF- Alínea
GH- Subalíneas
1.3.4. Quanto à regularidade: Receitas Ordinárias e Receitas
Extraordinárias
As receitas públicas ordinárias são as receitas carreadas ao erário com regularidade,
auferidas no desenvolvimento normal da atividade estatal, sendo assim fonte regular e
permanente de recursos financeiros que permitem a consecução das atividades fins do Estado,
como pro exemplos as receitas tributárias.

Já as receitas públicas extraordinárias possuem caráter excepcional, são receitas que


não têm características de continuidade. Visam acautelar situação excepcional no plano
institucional, como, por exemplo, o empréstimo compulsório (art. 148, III, CF) e do imposto
extraordinário, nos termos do artigo 154, inciso II da Carta Magna.

1.3.5. Quanto à afetação patrimonial: Receitas Efetivas e Receitas Não-


efetivas.

Alguns autores acrescentam a classificação quanto à afetação patrimonial.

Receitas efetivas são aquelas que se integram ao patrimônio sem qualquer


contrapartida de aumento de passivo ou diminuição do ativo, contribuindo, assim, para o
aumento do patrimônio líquido. É o caso onde o Estado “fica mais rico” sem dar nada em
troca, não perde nada de seu patrimônio. Ex. recebimento de impostos, dividendos, multas,
juros, etc.

As receitas não-efetivas ou por mutação patrimonial são aquelas oriundas de


mutações que nada acrescem o patrimônio líquido, constituindo simples entradas ou
alterações nos elementos que o compõem. O Estado não “fica mais rico”, ou seja, há um
ingresso no caixa público, mas o Estado perde alguma coisa de seu patrimônio. Ex. venda de
um bem público: entra um valor no caixa, mas em contrapartida o Estado perde a
propriedade do bem.
1.4. ESTÁGIOS DAS RECEITAS PÚBLICAS

Há divergência entre a Lei 4320/64 e os Doutrinadores quanto os estágios das receitas


públicas. Para Lei são estágios: Lançamento, Arrecadação e Recolhimento. Para os
Doutrinadores são estágios: Previsão, Lançamento, Arrecadação e Recolhimento. Para que o
estudo fique mais completo, veremos agora os estágios das receitas segundo os doutrinadores.
Importante ressaltar que somente as Receitas Orçamentárias conseguem percorrer todos os
estágios (previsão, lançamento, arrecadação e recolhimento), tendo em vista que no caso das
Receitas Extra orçamentárias não é possível fazer a previsão.

1.4.1. Previsão:

Dá-se com o estudo feito pela Fazenda Pública visando indicar quanto se pretende
arrecadar no exercício financeiro

1.4.2. Lançamento:

É o ato da repartição competente que verifica a procedência do crédito fiscal, a pessoa que
lhe é devedora e inscreve o débito desta.

1.4.3. Arrecadação

É o ato pelo qual os contribuintes comparecem perante os agentes arrecadadores e


liquidam os seus compromissos para com o tesouro. Nesse estágio a receita é considerada
executada

1.4.4. Recolhimento

É o ato pelo qual os agentes arrecadadores transferem, diariamente, o produto da


arrecadação ao Tesouro. É nesse estágio que se verifica o Princípio da Unidade de Tesouraria.
Todo valor arrecadado é recolhido à Conta Única do Tesouro.
2. DESPESAS PÚBLICAS

2.1. INTRODUÇÃO

Conforme estudamos, o Estado necessita de obter dinheiro para atender e cumprir seus
objetivos. Depois de arrecadar esses recursos (receita pública), o Estado tem que verificar a
melhor forma de aplicá-los, sempre tendo como foco o bem comum.

Antigamente, observava-se que o Estado não necessitava de recursos, propriamente


ditos, para satisfação de suas necessidade, pois isso se resolvia por meio de requisições de
serviços ou bens. O Estado para satisfação de necessidade como construção de um
monumento apenas ordenava que seus súditos o fizesse (requisição de serviço) ou no caso de
necessidade de alimentação para a corte, determinava a entrada da colheita ou de animais
(requisição de bens). Nesse momento os interesses individuiais não eram observados.

Contudo, com as conquistas democráticas e politização da população o Estado passa


ficar impossibilitado de ferir a liberdade pessoal dos indivíduos, bem como de proceder a
requisição de seus bens, a não ser nos limites determinads na Constituição.

Hoje ainda existem alguns tipos de funcionamento de serviços públicos sem que haja
despesa pública, tais como nos casos de prestação de serviços gratuitos como os membros de
mesas apuradoras de eleições, membros do Júri, membros do conselho penitenciário, etc.
Porém, isso hoje é exceção.

2.2. CONCEITO DOUTRINÁRIO

Segundo Aliomar Baleeiro, Despesa Pública é a “Aplicação de certa quantia, em


dinheiro, por parte da autoridade ou agente público competente dentro de uma autorização
legislativa, para execução de fim a cargo do Governo”

Já Hely Lopes Meireles define que “despesa é todo dispêndio que a Administração faz
para o custeio de seus serviços, remuneração dos servidores, aquisição de bens, execução de
obras e serviços e outros empreendimentos necessários à consecução de seus fins.”
Como podemos observar a despesa, no sentido da palavra, significa gasto. Sendo
assim, despesa pública é o instituto que tem por objetivo a verificação dos gastos efetuados
pela Administração Pública direcionado ao atendimento das necessidades públicas.

Quando em falamos de despesas públicas não podemos esquecer que a decisão de


gastar é fundamentalmente política, pois o Administrador elabora qual será seu plano de
governo, qual sua prioridade de atendimento, insere no orçamento apontando os recursos
disponíveis para atender seu plano de governo e depois efetua o gasto. Por isso notamos
variações de um governo para outro, pois por meio da decisão política o governante pode
priorizar o que ele tem convicção que é melhor para a população.

Vale ressaltar que essa decisão política sofre limitações constitucionais. Podemos citar
alguns exemplos dessas limitações se refere ao mínimo que deve ser aplicado em saúde (EC
29/200), em educação (art. 212, caput, CF), entre outras.

2.3. CLASSIFICAÇÃO DA DESPESA

Na doutrina brasileira são muitas as formas de classificar as despesas e por isso não se
pode dizer que uma classificação é certa ou errada. Porém para o estudo desta Disciplina nos
ateremos às principais classificações.

Quanto à natureza as Despesas Públicas se dividem em orçamentárias e extra


orçamentárias.

2.3.1. Quanto à natureza: Despesas Orçamentárias e Despesas Extra-


orçamentárias

Orçamentárias são aquelas despesas que dependem de autorização legislativa


e não podem ser realizada sem o crédito correspondente. Dividem-se em duas categorias
econômicas: Despesas Correntes e Despesas de Capital.
Segundo o disposto nos art. 14 e 15 da Lei 4320/6, a discriminação da despesa
se fará, no mínimo, por elementos. Entendendo-se por elementos o desdobramento da
despesa com pessoal, material, serviços, obras e outros meios de que se serve a administração
pública para consecução dos seus fins.
Despesas extra orçamentárias são pagamentos que não necessitam de autorização
legislativa, pois são pagas a margem da lei orçamentária. São provenientes das receitas extra
orçamentárias e não passam valores que o Estado recebeu como mero depositário. Temos
como exemplos o pagamento de restos a pagar, consignações recolhidas, cauções devolvidas,
etc.

2.3.2. Quanto à categoria econômica: Despesas Correntes e Despesas


de Capital

Segundo a Lei 4320/64, Despesas Correntes são aquelas que não causam acréscimo
ao patrimônio estatal. E por não ter caráter econômico reprodutivo, são utilizadas apenas para
a manutenção de atividades de cada órgão/atividade ou para execução dos serviços públicos.
Subdividem-se em Despesas de custeio e transferências correntes.

Despesas de Custeio: são aquelas destinadas a manutenção de serviços que já


foram criados, incluindo obras de conservação e adaptação de bens imóveis.
Quando falamos em serviços previamente criados podemos incluir no rol as
despesas com aquisição de materiais de consumo, tais como os materiais de
expediente, material de limpeza, etc.

Transferências correntes: são aquelas despesas orçamentárias para as quais não


corresponde uma contraprestação direta de bens ou serviços, inclusive para
contribuições e subvenções de destinadas a manutenção de outras entidades de
direito público ou privado. As subvenções podem ser:

Sociais que se destinam a cobrir despesas de custeio de instituições públicas ou


privadas, de caráter social ou cultural, sem finalidade lucrativa. Temos como
exemplo a decisão de transferir recursos a uma Santa Casa (hospital) para
atendimento ao SUS ao invés de construir, equipar manter um hospital público,
o governo transfere. Importante ressaltar que essas subvenções só podem ser
transferidas às instituições sem fins lucrativos, tem que haver proporcionalidade
em relação à atividade social exercida pela entidade beneficiada.

Econômicas que se destinam a cobrir despesas de custeio de empresas públicas


de caráter industrial, comercial, agrícola ou pastoril. São utilizadas para cobrir
déficit econômico das empresas estatais: PETROBRÁS, BB, CEF. Servem
também para subsidiar preço de determinadas mercadorias. Estas subvenções
devem ter previsão legal na lei orçamentária e em lei especial.
Também são classificados como transferências correntes os Auxílios, que são
transferências correntes previstas na liberdade orçamentária, enquadram-se na tipologia de
transferências orçamentárias voluntárias; e as Contribuições financeiras que são transferências
orçamentárias obrigatórias, por força da lei ou da Constituição. Ex: fundo de participação dos
estados e dos Municípios. Quota estadual e municipal do salário-educação.

De acordo coma a Lei 4320/64, as Despesas de Capital são aquelas que contribuem
diretamente para formação ou aquisição de um bem de capital, ou seja, caracterizam
crescimento do patrimônio público. Dividem-se em Despesas de Investimento, Inversões
Financeiras e Transferências de Capital:

Despesas de Investimento: como próprio nome diz, são aquelas que se destinam ao
aumento do patrimônio público e do PIB. São classificadas como investimento as
dotações para planejamento e execução de obras, aquisição de imóveis considerados
necessários à realização de obras, bem como para aquisição de equipamentos e
material permanente e, ainda, para constituição ou aumento do capital de empresas
que não sejam de caráter comercial ou financeiro.

Inversões Financeiras: são dotações destinadas à aquisição de imóveis, ou bens de


capital já em utilização, que aumentam o patrimônio público, porém não o PIB. Temos
ainda a aquisição de títulos de empresas que não importe no aumento do capital social
da mesma, compra de ação que aumenta o capital social de empresa comercial e
financeira e para constituição ou aumento do capital de entidades ou empresas que
visem a objetivos comerciais ou financeiros, inclusive operações bancárias ou de
seguros.

Transferências de Capital: dotações transferidas a outras entidades que devem realizar


investimentos ou inversões financeiras. Essas transferências denominam-se auxílios ou
contribuições. Incluem-se entre as despesas de transferências de capital aquelas
destinadas à amortização da dívida pública.

Informação
Fique ligado: Em 2001 foi editado a Portaria Interministerial n 163 com intuito de aprimorar a
consolidação das contas públicas. Todos os entes da federação devem classificar suas receitas e
despesas de acordo com esta Portaria e as outras que posteriores a esta. As Despesas de Custeio
conforme Portaria Interministerial nº 163/2001 se subdividem em Pessoal e Encargos Sociais, Juros e
Encargos da Dívida e Outras Despesas Correntes. Já as Despesas de Capital se subdividem em
investimentos, Inversões Financeiras e Amortização da Dívida.
2.3.3. Quanto à Regularidade: Despesas Ordinárias e Despesas
Extraordinárias.

Despesas Ordinárias são aquelas previstas na Lei Orçamentária que são gastas na
manutenção dos serviços públicos. São renovadas a cada ano, pois são despesas constantes.
Ex. pessoal, material de consumo, serviços de terceiros..

Despesas extraordinárias são aquelas esporáticas provocadas por situações


excepcionais e por isso nem todos anos aparecem na Lei do Orçamento. Ex. Recurso que foi
enviado à Santa Catarina quando houve a catástofre natural das enchentes.

2.3.4. Quanto à afetação patrimonial: Despesas Efetivas e Despesas Não


efetivas

As despesas efetivas são aquelas que contribuem para o decréscimo do patrimônio


líquido do Estado. Ex. Despesas com pessoal, transferencias de capital que não sejam
referente à amortização da dívida pública, serviços de terceiros, juros da dívida pública, etc.

As despesas não-efetivas ou por mutação patrimonial são aquelas que não diminuem o
patrimônio líquido, constituindo simples saídas ou alterações compensatórias nos elementos
que o compõem. Ex. Aquisição de um automóvel, aquisição de um imóvel, concessão de
empréstimos, etc.

Interessante observar que, com exceção das aquisições de materiais para formação de
estoques, todas as demais despesas correntes provocam diminuição patrimonial (despesa
efetiva) e que todas as despesas de capital, com exceção das transferências de recursos
financeiros repassados a outras instituições, para realizarem despesa de capital, constituem
fatos permutativos, ou seja, despesa não-efetiva.

2.4. ESTÁGIOS DAS DESPESAS PÚBLICAS

O art. 167 da Constituição Federal de 1988 veda expressamente que haja despesa sem
que haja a receita correspondente. Isso importa que para que qualquer despesa deve haver
previamente um crédito orçamentário que comporte a referida despesa.
Quando estudamos a execução da despesa já temos que ter em mente que antes de
iniciar sua realização já houve a aprovação da Lei Orçamentária Anual (estudaremos na
próxima undidade), onde estão estimadas as receitas e fixadas as despesas para o exercício.

De acordo com a Lei 4320;64, as despesas públicas orçamentárias, para sua realização,
percorre alguns estágios, que são:Empenho, Liquidação e Pagamento. Porém, vários
doutrinadores acrescentam a Fixação como primeiro estágio da execução da despesa. Diante
da divergência, estudaremos a forma mais ampla de execução da despesa.

2.4.1. Fixação

Refere-se à estimativa de quanto o poder público irá alocar em cada dotação, sendo
este montante o limite a ser gasto, visando o atendimento das necessidades públicas.

2.4.2. Empenho

É o ato emanado pelo poder competente que cria ao Estado a obrigação de


pagamento pendente ou não de implemento condição. O empenho, por si só, não cria a
obrigação de pagar, podendo ser cancelado ou anulado unilateralmente. Representa o
comprometimento de parte do orçamento com determinada despesa. O empenho se formaliza
com a emissão da nota de empenho, na que conterá a identificação do credor, a dotação que
se vincula a despesa, bem como a dedução desta do saldo da dotação própria.

O empenho passa por três fases: Licitação ou sua dispensa, Autorização e


Formalização.

A Licitação é a escolha da proposta mais vantajosa. A autorização é o ato por parte do


ordenador de despesa. A formalização é a emissão da nota de empenho.

Informação

Fique ligado: A formalização corresponde à emissão da Nota de Empenho que pode ser
dispensada em alguns casos previstos na legislação, tais como em caso de despesa com pessoal,
juros, etc.

O ato de empenho é a autorização da execução da despesa e o comprometimento do crédito


orçamentário, ou seja, é a dedução do crédito disponível. O ato de empenho não pode ser
Existem três modalidades ou tipos de empenho: Ordinário, Estimativa ou
Global.

Ordinário é aquele destinado a atender a despesa cujo pagamento se processe de uma só vez
(Ex. compra de um carro à vista). Estimativa ocorre quando visa atender despesas para as
quais não se possa previamente determinar o valor exato (despesas mensais com água, luz,
telefone, etc.). Empenho Global é aquele destinado a atender a despesas parceladas, cujo o
montante possa ser determinado (despesa com serviços de segurança executado por uma
empresa contratada).

2.4.3. Liquidação

É a verificação do direito adquirido pelo credor, tendo por base os títulos e documentos
comprobatórios do respectivo crédito. Essa verificação tem por finalidade observar a origem e
o objeto que se tem de pagar, a importância exata a pagar e a quem se deve pagar para que
se extinga a obrigação. Está previsto no art. 63, § 1 da Lei 4320/64. Em caso de liquidação de
despesa por fornecimentos feitos ou serviços prestados terá por base o art. 63, § 2 da Lei
4320/64.

2.4.4. Pagamento

Entre a liquidação e o pagamento encontramos a Ordem de Pagamento que se resume


no despacho da autoridade competente determinando o pagamento da despesa. Por fim vem
o pagamento, último estágio da despesa. Corresponde ao desembolso financeiro em favor do
credor, e será efetuado por tesouraria ou pagadoria regularmente instituída, por
estabelecimentos bancários credenciados e, em casos excepcionais, por meio de adiantamento
ou suprimento de fundos.

Vale ressaltar que alguns autores consideram a Ordem de pagamento como estágio da
despesa pública.
3. RESTOS A PAGAR

Constituem Restos a Pagar as despesas empenhadas, mas não pagas, até 31 de


dezembro. Essas despesas são divididas em processadas e não-processadas. As processadas
são aquelas despesas que já passaram pelo estágio da Liquidação, ou seja, quando o credor já
cumpriu com sua obrigação. E as não processadas são aquela em que houve o empenho, mas
o credor ainda não cumpriu com sua obrigação.

3.1. CLASSIFICAÇÃO

3.1.1. Restos a pagar processados

Ocorre quando a despesa já foi liquidada, ou seja, o credor já cumpriu com a sua
obrigação. Os Restos a Pagar processados não podem ser cancelados, pois o fornecedor de
bens/serviços já cumpriu com a obrigação de fazer e a administração não poderá de cumprir
com a obrigação de pagar. Se ocorrer o cancelamento a administração ferirá os Princípio da
Moralidade, previstos no art. 37 da CF, que rege a administração pública e ainda incorrerá em
enriquecimento ilícito.

3.1.2. Restos a pagar não processados

Ocorre quando a despesa ainda não foi liquidada.

3.2. INSCRIÇÃO EM RESTOS A PAGAR

Ocorre na data em que se encerra o exercício financeiro de emissão da nota de


empenho. Esta inscrição tem validade até 31 de dezembro do ano subsequente, e é vedada a
reiscrição. Conforme estudamos a inscrição de Restos a pagar é uma receita Extra
Orçamentária, pois o Estado aqui só figura como depositário do recurso disponibilizado em
um exercício que irá ser pago no outro.

Vale ressaltar que as despesas feitas de forma parcelada deverão observar o Princípio
da Anualidade Orçamentária, devendo ser empenhadas e contabilizadas no exercício
financeiro se a execução for realizada até 31 de dezembro. As parcelas remanescentes deverão
ser registradas em Contas de Compensação e incluídas na previsão orçamentárias para o
exercício financeiro em que tiver prevista a competência da despesa.
3.3. PAGAMENTO

O pagamento dos Restos a Pagar é feito no ano seguinte a sua inscrição. Assim como a
inscrição é uma Receita Extra Orçamentária, o pagamento se figurará uma Despesa Extra
Orçamentária.

No momento do pagamento de Restos a Pagar referente à despesa empenhada pelo


valor estimado, verifica-se se existe diferença entre o valor da despesa inscrita e o valor real a
ser pago. Se houver diferença e essa diferença for superior ao valor inscrito, o valor faltante
deverá ser empenhado a conta de despesas de exercícios anteriores. Agora se o valor inscrito
em Restos a Pagar for superior ao valor que realmente deve ser pago, o saldo existente deverá
ser cancelado.

3.4. CANCELAMENTO

Os Restos a Pagar não pagos até 31 d edezembro do ano subsequente a sua inscrição
serão cancelados.

3.5. PRESCRIÇÃO

Os Restos a Pagar prescrevem após 5 anos da data de sua inscrição. Lembrando


que falamos aqui de Restos a Pagar Processados.

Fique ligado: A Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu art. 42 veda o


titular de Poder ou órgão referido no art. 20, nos últimos dois
quadrimestres do seu mandato, contrair obrigação de despesa que não
possa ser cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha parcelas a
serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente
disponibilidade de caixa para este efeito.
Material Complementar

ARAÚJO, Eugênio Rosa de. Resumo de Direito Financeiro. Rio de Janeiro: Impetus,
2008.

CREPALDI, Silvio Aparecido; CREPALDI, Guilherme Simões. Direito Financeiro. Rio de


Janeiro: Forense, 2009.

JARDIM, Eduardo Marcial Ferreira. Manual de direito financeiro e tributário. 6. ed. São
Paulo: Saraiva, 2003.

PETTER, Lafayete Josúe. Direito Financeiro. 3. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2008.

Manual Técnico de Orçamento- MTO 2010 disponível no endereço


eletrônico:

https://bit.ly/3G3ORYR/

Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público:

https://bit.ly/3sDShMi

Manual da Despesa Nacional, disponível no endereço eletrônico:

https://bit.ly/3wdN3sJ
Referências

ARAÚJO, Eugênio Rosa de. Resumo de Direito Financeiro. Rio de Janeiro: Impetus,
2008.

HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

NASCIMENTO, Edson Ronaldo; DEBUS, Ilvo. Lei complementar 101/2002 – entendendo


a lei de responsabilidade fiscal. 2. ed. Brasília: Ministério da Fazenda. 2002.

OLIVEIRA, Régis Fernandes de. Curso de direito financeiro. 2. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008.
Anotações

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