Casa Vogue #458 - Fev24

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A CARA DE
CADA UM
JOÃO VICENTE DE CASTRO E OUTRAS
PERSONALIDADES EXPRESSAM
SUA IDENTIDADE EM CASAS SINGULARES
CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL APROXIMADA 5,15%
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S U E L E N PA R I ZOT TO M O S T R A A RT E FAC TO C U R I T I BA 2 0 2 3
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B R U N O C A RVA L H O MOSTRA BEACH&COUNTRY 2023


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fevereiro 2024
10 EXPEDIENTE
11 COLABORADORES
12 EDITORIAL
14 CASA VOGUE AMA Formação contínua Valores culturais
e históricos definem as novidades do mês
20 EM CASA COM Manuela Xavier A psicanalista
e comunicadora abre as portas do apartamento
em São Paulo preenchido por experiências pessoais
e coletivas – e muitos objetos afetivos
26 DESIGN Forma olímpica Eleito designer do ano
da Maison&Objet, Mathieu Lehanneur coleciona criações
multidisciplinares, como a tocha dos Jogos de Paris 2024
32 URBANISMO Terra em transe Uma investigação
sobre as medidas urbanísticas necessárias para combater
os efeitos da crise climática no Brasil e no mundo
38 DESTINO Questão de tempo O primeiro hotel
desenhado pelo arquiteto Bjarke Ingels fica na Suíça
e engloba elementos da tradição relojoeira do país
43 UNIVERSO CASA VOGUE
44 Luz, câmera, João O novo lar do ator João Vicente
de Castro, no Rio de Janeiro, combina conforto, fluidez
e materiais naturais
54 Vidas passadas Em Roma, o estilista Alessandro
Michele ocupa um palácio de 800 anos que exala
séculos de história por meio de uma profusão de objetos
64 Twist afinado A influenciadora Anna Fasano
e o chef Antonio Mendes vivem com descontração
e leveza em uma casa de vila paulistana
74 Autorretrato Mix de estampas e referências à
ancestralidade assinalam a vibrante morada habitada
pela modelo, atriz e ativista Adwoa Aboah, em Londres
86 Mano a mana Afeto fraterno e a paixão pelo design e pela
arte conduziram o projeto de Valdomiro Favoreto para
o apartamento da irmã, Jana Favoreto, em Londrina, PR

74
96 ENDEREÇOS
98 LAST LOOK Entre Brasis Assinado pelo designer
Gustavo Jansen, o Baixo Gastronômico, em São Paulo,
é a nova empreitada do chef Ivan Santinho

NOSSA CAPA
O ator João Vicente de Castro,
com camisa e calça Handred, no living
de sua casa, no Rio de Janeiro ESTA EDIÇÃO É CARBON NEUTRAL
Estilo Lucas Freitas Compensamos nossa emissão de CO2
Foto Fran Parente por meio da recomposição florestal

No app Globo+, a revista


em versão mobile, em PDF,
e com updates diários
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Diretor de Conteúdo GUILHERME AMOROZO

Diretora de Estilo ADRIANA FRATTINI


Redatora-Chefe MARIANA CONTE

REDAÇÃO
Editores NICOLY BERNARDES (Decoração) e RAFAEL BELÉM (Digital)
Editores-Assistentes CAMILA SANTOS (Design) e GUSTAVO FRANK (Digital) Produtor de Conteúdo JONATHAN PEREIRA
Estagiária MARIA MESQUITA Produtora Executiva ADRIANA MORI Analista de Produção LUCAS FREITAS

ARTE
Editor JEFF LEAL Designer THAIS ARAÚJO FIGUEIREDO

COLABORADORES
ANDRÉ KLOTZ, ANOUSHKA DANIELLE, BUSOLA EVANS, CARMEN DI MARCO, CAROL BITTENCOURT, CAROL DA MATA, CAROL SCOLFORO,
CHIARA BARZINI, DANI AREND, DANIELA MÔNACO, DECO CURY, DINHO NETTO, FRAN PARENTE, FRANÇOIS HALARD,
GIANLUCA LONGO, GIULIANA CAPELLO, JAZ LANYERO, JOSÉ AMÉRICO JUSTO (REVISÃO), KIKA NOVAES, LARA MUNIZ, MAHA ALSELAMI,
MANU FIGUEIREDO, MAURO MARCOS, MICHELLE CLASS/LMC WORLDWIDE, MIMMO LASERRA,
RENATA BARROS, RICARDO GODEGUEZ (ARTE), ROBERTA TOZATO, SARA MATHERS, SÉRGIO OLIVEIRA, SIMON UPTON,
SIMONE RAITZIK, TANJA FRISCIC, VITORIA MOURA GUIMARAES, WESLEY DIEGO EMES

Diretora-Geral PAULA MAGESTE

Assistente Executiva MARCIA CAETANO

PUBLICIDADE PUBLICIDADE CENTRALIZADA PARANÁ R2 CONECTA com Rodrigo Rocha


Diretora de Negócios ANITA CASTANHEIRA Diretor Nacional de Negócios ([email protected])
([email protected]) RICARDO RODRIGUES SANTA CATARINA | RIO GRANDE DO SUL
Gerente de Publicidade FLAVIA GOZOLI ([email protected]) JAZZ REPRESENTAÇÕES com Claudia Weber
([email protected]) Diretor de Desenvolvimento Comercial ([email protected]), Patrícia Koops
TIAGO AFONSO (51) 3557-6111 | (51) 99792-9898,
ESTÚDIO DE CRIAÇÃO Coordenadora de Marcas RENATA DIAS Adalberto Neto (51) 99252-7955
Gerente de Projetos Especiais Diretores de Negócios Multiplataforma NORTE E NORDESTE A G HOLANDA
MARINA CHICCA EMILIANO MORAD HANSENN, LUCIO CIELLO, COMUNICAÇÃO LTDA com Agimiro Holanda
([email protected]) OLIVIA BOLONHA ([email protected])
BAHIA | SERGIPE MUSA MÍDIA
MARKETING | NOVOS NEGÓCIOS PUBLICIDADE RIO DE JANEIRO E BRASÍLIA E PLANEJAMENTO com Diana Falcão Franco
Gerente DANIELA LAURENTI Diretor de Negócios Multiplataforma ([email protected]), GROW
MARCELO LIMA DA CUNHA MATTOS ([email protected])
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EVENTOS DARLENE BASTOS CAMPOS, MONICA MONNERAT
Diretor de Negócios LONDRES OBERON MEDIA com Mr. Leonardo
Diretora CAROLINA CARVALHO CORRÊA Careddu ([email protected])
([email protected]) LUIZ FERNANDO DE ALMEIDA MANSO
NOVA YORK | MIAMI CONDÉ NAST
Analista MAYARA DA SILVA SOUTO INTERNATIONAL com Mr. Alessandro Cremona
([email protected]) PUBLICIDADE REGIONAL
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SÃO PAULO | INTERIOR E LITORAL
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H2F MÍDIA com Humberto Vicentini
Amelia Guercio ([email protected])
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MINAS GERAIS ON E OFF MÍDIA com Rodrigo
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Longuinho ([email protected])
GOIÁS W/VERISSÍMO COMUNICAÇÃO CHRISTIANE CLARE MACK, FREDERIC ZOGHAIB
com Walison Veríssimo KACHAR, JASON MILES, LEONARDO DIB,
([email protected]) MANUELA U.C. DE MATTOS, RAFAEL MENIN
SORIANO E TIAGO AFONSO

CASA VOGUE BRASIL é uma publicação das Edições Globo Condé Nast S.A. Av. Nove de Julho, 5229 Tel. +55 (11) 2322-4600 CEP 01407-907 São Paulo, SP
Atendimento e assinaturas: Tel. 4003-9393 | WhatsApp e Telegram (11) 4003-9393 | www.assineglobo.com.br
Horário de atendimento: de segunda-feira a sábado, das 8 às 15h

ESTA EDIÇÃO É CARBON NEUTRAL


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colaboradores

Ponte aérea
Responsável pela capa
deste mês, o fotógrafo
Fran Parente foi ao
Rio de Janeiro para captar
a essência da convidativa
morada do ator João
Vicente de Castro (pág. 44),
reformada pelo Estúdio
Orth. Também é dele
o clique do Baixo
Gastronômico, em São Paulo.
Localizada em uma antiga
vila de casas, a nova
empreitada do chef Ivan
Santinho é tema
do Last look (pág. 98)

Elos da vida
A delicadeza ímpar da repórter Lara Muniz traduz

fora de
a poesia de uma relação fraternal no editorial
Mano a mana (pág. 86). Por meio de uma narrativa
detalhada, ela apresenta o projeto do apartamento
da designer de moda Jana Favoreto, em Londrina, PR,
assinado pelo irmão, Valdomiro Favoreto

SÉRIE
PARCEIROS DE LONGA DATA,
ESTES FOTÓGRAFOS E JORNALISTAS
NOS AJUDAM A CONTAR HISTÓRIAS
ÚNICAS COM SEUS OLHARES
E REPERTÓRIOS ABSOLUTAMENTE Sempre em frente
Ninguém melhor do que
PARTICULARES Giuliana Capello para
esmiuçar as soluções
urbanísticas e
arquitetônicas viáveis
voltadas ao combate aos
efeitos da crise climática.
Em Terra em transe
(pág. 32), a jornalista lança
luz sobre as alternativas
já em curso e os caminhos
Fotos: acervo pessoal (Deco Cury, Giuliana Capello e Lara Muniz),

a serem seguidos para


que a humanidade possa
Paula Giolito (Simone Raitzik) e Pedro Russo (Fran Parente)

amenizar os danos
causados ao planeta

Aquele abraço
Nossa fiel aliada em terras cariocas, a jornalista
Simone Raitzik sabe como descrever a atmosfera
residencial de modo cativante. Desta vez, ela
Em quadro
nos brinda com sua prosa envolvente no editorial Luz,
Com profissionalismo e leveza, o fotógrafo Deco Cury retrata todas as
câmera, João (pág. 44), sobre o lar contemporâneo
camadas do apartamento da psicanalista e comunicadora Manuela Xavier,
e integrado à natureza do ator João Vicente de Castro
que se mudou recentemente para a capital paulista. Permeada pelas
relações da moradora com outras pessoas e consigo mesma, sua trajetória
– e sua morada – é contada no Em casa com (pág. 20)

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editorial
GENTE É PRA BRILHAR
Uma discussão tão divertida quanto inócua, que
vira e mexe surge na redação (e transborda para
o mercado, segundo ouço...), é se faz sentido ter-
mos figuras humanas na capa da Casa Vogue. Há,
de um lado, os argumentos mais puristas, que
recorrem ao gigantesco inventário de fotogra-
fias de casas que já estamparam a portada da re-
vista para defender a ausência de pessoas – e que
amam apontar um suposto “populismo” nosso
ao tirar partido da presença de celebridades; e,
de outro, a corrente mais voyeur, que ama des-
cobrir, pelo nosso olhar, como vivem os famosos
em geral e os expoentes da arquitetura e do de-
sign. Digo inócua porque, se existe um funda-
mento que sustenta a linha editorial deste veícu- GUILHERME AMOROZO
lo desde 1975, é o de que as casas que decidimos Diretor de conteúdo
mostrar sejam aquelas que melhor retratem, nas
escolhas de móveis, objetos, obras de arte, mate-
riais e estilos, a personalidade tanto dos autores
dos projetos quanto dos moradores a quem eles Na escala coletiva, a preservação da humani-
se destinam. Casa, para nós, é identidade. dade como espécie é foco da necessária investi-
Disso decorre que, com certa frequência, gação comandada por Giuliana Capello em
temos buscado abrir as portas de personagens Terra em transe (pág. 32), que levanta o que cida-
mais midiáticos, cujos interesses e conhecimen- des do Brasil e do mundo têm feito para mitigar
tos de decoração e design costumam surpreen- as emissões de gases de efeito estufa e, princi-
der a quem só acompanha suas figuras públicas. palmente, se adaptar aos eventos climáticos ex-
João Vicente de Castro, protagonista da atual tremos que ocorrem de forma cada vez mais fre-
capa, é um desses casos. Tão peculiar em seus quente. De volta à esfera individual, não há
hábitos e idiossincrasias, levou intermináveis nesta primeira edição de 2024 reportagem me-
cinco anos para conseguir materializar numa lhor do que Forma olímpica (pág. 26), perfil do
residência no Rio de Janeiro (pág. 44) o seu mo- designer Mathieu Lehanneur brilhantemente
do de viver. Alessandro Michele, por sua vez, é traçado por Vitoria Moura Guimaraes. Autor
capaz de incorporar à sua riquíssima história da tocha que carregará a chama dos Jogos de
pessoal as memórias de incontáveis famílias Paris deste ano, o francês afirma inspirar seu
que já habitaram o palazzo onde mora em Roma trabalho justamente nas relações humanas e nas
(pág. 54), um edifício de apenas 800 anos de emoções que elas despertam. “O caráter de co-
idade. Para ele, não há nostalgia, é tudo parte nexão espiritual dos objetos me fascina – o fogo
do presente. Os demais personagens que nos re- sagrado da tocha olímpica é um excelente exem-
velam seus lares este mês trazem, inevitavel- plo. Acredito que alguns objetos têm o poder de
Foto: Filippo Bamberghi

mente, suas respectivas individualidades im- nos transformar”, declara, numa síntese quase
pressas em cada livro da estante, em cada vaso perfeita daquilo que buscamos na Casa Vogue: a
sobre a mesa, em cada tecido escolhido para re- humanidade por trás de tudo o que se constrói e
vestir móveis ou paredes. É o elemento huma- se produz. Gente é o lugar – espelho da vida, do-
no, afinal, que nos interessa. ce mistério. Boa leitura! ●

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casa vogue ama

FORMAÇÃO
CONTÍNUA CRIAÇÕES IMBUÍDAS DE VALORES CULTURAIS
E HISTÓRICOS, QUE CONTRIBUEM PARA A
CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS VERDADEIRAMENTE
ORIGINAIS, MARCAM A SELEÇÃO DO MÊS
POR CAMILA SANTOS

COREOGRAFIA NATURAL
Apontada pela trend forecaster Lidewij Edelkoort como um dos talentos em
ascensão da última edição da Maison&Objet, feira que movimentou Paris entre 18 e
22 de janeiro, a francesa Aurelie Hoegy estreita as fronteiras entre arte e design ao
esculpir mobiliários com rattan. Como uma dança harmônica e hipnotizante, seus
projetos valorizam a conexão entre corpo humano, objeto e espaço, relação visível
na chaise Wild Fibers Joali, concebida para um resort nas Maldivas. Feito com
fibras naturais ecológicas coletadas na Indonésia, o artigo foi inspirado nas formas
da Ilha de Joali, onde o empreendimento está situado, e no deslocamento
das faixas de areia impactadas pelo Oceano Índico. aureliehoegy.com

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FEITO DE AZUL
Parte da coleção Cruise 2024 da Gucci,
a já conhecida estampa Herbarium, destaque
na linha de tableware da marca, ganha
uma nova versão em tom de azul.
Os desenhos remetem ao icônico tecido toile
de jouy, típico da França nos sécs. 18 e 19,
e retratam borboletas, ramos, folhas
e flores de cerejeira. São cerca de 20 peças,
entre jogos de xícaras com pires (abaixo),
travessas, jarras e pratos executados
com porcelana de alta qualidade
pela empresa florentina Richard Ginori,
fundada em 1735. No Brasil, a novidade
está disponível na loja do Shops Jardins,
em São Paulo. gucci.com
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marcas do tempo
Uma referência às sacolas de papel
que amassam durante o uso, os vasos Kami,
idealizados por Kristian Sofus Hansen
& Tommy Hyldahl, da 101 Copenhagen,
exprimem beleza por meio das superfícies
irregulares e rachaduras na cerâmica.
Ao escolherem o nome da peça, que significa
papel em japonês, os designers
homenageiam notáveis artes milenares que
utilizam o material, a exemplo dos tradicionais
origamis. Disponível em três tamanhos,
o objeto está à venda na Casual Móveis.
casualmoveis.com.br

À MODA DE ALAGOAS
O estilista alagoano Antonio Castro, da marca Foz,
empregou elementos significativos de sua terra natal ao planejar
a coleção de moda Alambique Fantasia, apresentada na última
São Paulo Fashion Week, em novembro. A cana-de-açúcar,
planta recorrente na paisagem do estado, foi representada
por imagens de cachaça e acompanhada por cobras
e caranguejos em ilustrações do artista Cleyton Almeida.
Fora das passarelas, o modelo de jacquard ecológico,
elaborado em parceria com a EcoSimple, atualiza o estofado
da poltrona Bombom (acima), idealizada pelo designer
Paulo Alves em 2017. ateliefoz.com.br e pauloalves.com.br

ilha das conchas


Projetado por Roberto Cimino e Nelson Amorim para a Artefacto Beach & Country, o sofá Fort Lauderdale (acima)
aceita mais de 20 composições. Tudo isso graças aos módulos versáteis que podem ser dispostos em configurações
convencionais ou na versão ilha, com o posicionamento de um encosto comum para assentos dos dois lados.
Seus volumes sinuosos repousam sobre pés de cedro em formato de concha. artefacto.com.br/beach-country

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envolvente
Altas doses de conforto e acolhimento. Esses
são os principais atributos da poltrona Maxx (abaixo),
desenhada pela arquiteta e designer Fernanda
Marques para a Breton. Desenvolvido para compor
a vitrine da marca no showroom de Dubai, nos Emirados
Árabes, com inauguração prevista para março,
o assento dispõe de curvas generosas que abraçam
as formas do corpo. breton.com.br

GRÃO NA TERRA
Em parceria com a Etel, a artista Maria Thereza Alves
produziu a mesa lateral Minus (acima) especialmente
para a exposição LABINAC: O Que Sempre Fizemos,
em cartaz até 24 de fevereiro na Casa Zalszupin,
em São Paulo. A mostra aborda a atuação do coletivo
que se posiciona em defesa dos direitos e da cultura
dos povos originários. Nesse projeto, a paulista,
que é uma das fundadoras do grupo, coletou sementes
e folhas da flora invasora da Mata Atlântica para criar
um tampo feito de resina 70% de origem renovável,
executado pela Vallvé. A concepção da peça também
reaproveita matéria-prima da marcenaria da Etel.
casazalszupin.com

LOCAL E GLOBAL
Conhecido por realizar trabalhos que abordam a questão da memória, o Estudio Campana foi
convidado pela galeria indiana æquō a materializar a cultura do país asiático por meio do design. Diante
da provocação, Humberto Campana concebeu o gabinete Atuxuá, feito com palha sabai, fibra nativa
da Índia cuidadosamente arrematada com fios de latão, como um fardo de grama agrupado
para o comércio local. O móvel único foi executado com a oficina Frozen Music, e nomeado em
homenagem às máscaras indígenas brasileiras presentes em rituais de cura. aequo.in
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PEGA-VARETAS
A Aman Interiors, divisão do grupo homônimo de hotéis ultraluxuosos destinada à concepção de mobiliário
e projetos de design de interiores, fez seu début na última edição da feira Design Miami, em dezembro.
Responsável por assinar a primeira colaboração da marca, o arquiteto japonês Kengo Kuma propôs a linha Migumi,

Fotos: Ana Pigosso (Lucas Recchia), Denilson Machado/MCA Estúdio (Estúdio Mais Alma), Felipe Protti
composta por cadeira e mesa de jantar. Com tons neutros e materiais naturais, como o carvalho-branco
e o mármore Calacatta, as estruturas projetam sombras mutáveis à medida que a iluminação solar
se transforma ao longo do dia. aman.com/interiors

(Prototype), Felipe Russo (Foz), Fernando Laszlo (Dpot e Etel) e divulgação


LUCIO COSTA, DESIGNER
Um dos pioneiros da arquitetura moderna brasileira
e responsável pelo Plano Piloto de Brasília, o arquiteto Lucio
Costa (1902-1998) também construiu uma trajetória profícua
no design de mobiliário. Entre as realizações assinadas
pelo mestre, a Poltroninha (abaixo), fabricada no início
dos anos 1960 pela loja Oca, de Sergio Rodrigues (1927-2014),
tem como protagonista a simplicidade de configuração
e materiais. Desde o fim do ano passado, passou
a ser reeditada e comercializada pela Dpot. dpot.com.br

sistema solar
Aprofundando suas pesquisas sobre técnicas de
produção artesanal, o designer Lucas Recchia apresenta
a coleção Distorção Material, composta por mesas,
vaso, bandeja, espelho, aparador e pendente (acima).
Novidade que coroa a abertura do estúdio
do designer em Pinheiros, São Paulo, a linha é guiada
pelos formatos dos módulos de bronze – ora mais
arredondados, ora mais retangulares – que emolduram
os vidros coloridos. instagram.com/studio.cas
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déco
indígena
Imaginada pela designer
Gabriela Campos, do
estúdio carioca Mais Alma,
a coleção-cápsula
de móveis Raízes une
a geometria do movimento
art déco, estilo artístico
europeu que atingiu seu
ápice na década de 1920,
e o grafismo indígena.
Formado por duas mesas
e dois bancos, sendo um
FAROESTE ATUALIZADO deles o modelo Arco (foto),
Os filmes que retratam o Velho Oeste dos Estados o lançamento conta com
Unidos, em meados do séc. 19, serviram como tecidos de algodão pintados
fio condutor para o arquiteto e designer Felipe Protti, à mão por mulheres do
da Prototype, elaborar a poltrona de balanço Trevo. povo asurini, do Alto Xingu.
O artigo, que aparece com frequência na ficção estudiomaisalma.com.br
em frente às cabanas da época, recebeu toques
modernistas e urbanos. Já o encosto para repousar
a cabeça traz uma releitura das mantas de selas
de cavalo dos caubóis. prototypesp.com.br

FALANDO GREGO
Novidade no portfólio da galeria de design Casiere, a empresa de
iluminação francesa DCWéditions aposta em artigos que equilibram
atemporalidade e aspectos instigantes. Assinada pelo designer
Clément Cauvet, a luminária Tau (à esq.), de concreto e aço, segue
essa premissa ao aplicar nome e formas de uma letra do alfabeto grego,
acenando a um aspecto essencial da linguagem. casiere.com

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Manuela Xavier
Recém-chegada a São Paulo, a comunicadora vê seus
caminhos, criações e redescobertas refletidos nos
cenários do seu cotidiano – ora junto, ora só, mas sempre
bem acompanhada de si mesma
TEXTO NICOLY BERNARDES FOTOS DECO CURY PRODUÇÃO LUCAS FREITAS

Manuela Xavier veste Patu e posa ao lado de Kira e


Leona no living decorado com quadro Olhudas,
de Isabella Manhães (ao fundo), vasos Cumbuca,
design Rosenbaum e O Fetiche para a Vasap, sofá
da Tok&Stok e, sobre ele, almofadas Sol, da Ask
the Mask, no Casa Vogue Living Market – no piso,
tapete Linhas Impulse, da Moriah Tapetes
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D
urante a mudança para São Paulo, há pouco Acima, no living, o sofá da Muma, com almofadas Camogli,
da Trousseau, é amparado pela mesa lateral Eme, da Oppa Design,
menos de um ano, Manuela Xavier trouxe na com vaso Catimbó, da Potira Pottery, no Casa Vogue Living Market,
bagagem “um sonho, as cachorras, obras de e pela mesa de centro decorada com escultura Barquinho,
de Rafael Mayer, e escultura Mamilos de Parede, de Paola Vilas
arte e um amigo”. Natural de Campos dos – na parede ao fundo, da esq. para a dir., quarteto de ilustrações
Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro – de Rafael Mayer, ilustração de Willian Santiago e ilustrações de Fel;
e, abaixo, outro canto do living recebeu bufê da Muma, e, sobre
onde morou com os pais até os 18 anos, quando saiu de casa ele, escultura da coleção Olhudas, de Isabella Manhães, e copos
para cursar psicologia –, a psicanalista e comunicadora habi- Mini Bumbum e Mini Nude, da Hanna Englund Ceramics –
na parede, máscaras de Liebert Pinheiro
tou outros endereços em solo fluminense, como Niterói, Joá
e Copacabana, até escolher a capital paulista para viver com
o produtor Dinho Netto, seu amigo de longa data e parceiro
de trabalho, e as mascotes Leona e Kira.
As simbologias que permeiam a fala, a carreira e a pele Styling: Dinho Netto. Beleza: Carol da Mata. Assistente de produção: Sérgio Oliveira

de Manu – como é conhecida por seu quase meio milhão de


seguidores no Instagram, com os quais compartilha suas
interpretações sobre gênero, arte, beleza e comportamen-
to a partir da psicanálise – percorrem, ainda, as paredes de
seu apartamento. “Minha casa é a extensão do meu corpo.
Entre minhas tatuagens há um vaso de antúrio, meus bi-
chos e desenhos de olhos. Por estes espaços também.”
Foram os olhos arregalados espalhados pelos ambientes –
peças que integram a série Olhudas, de autoria da artista
plástica Isabella Manhães – que a salvaram da cegueira pa-
ra si e para o outro. “Estou olhando para onde?”, questio-
nou pela primeira vez, quando findou uma relação abusiva,
e por infinitas outras que a levaram a compreender pa-
drões que já não faziam sentido. “Abri os olhos e não dava
para ‘desver’. Percebi como era fácil não enxergar. Tatuei
os braços e pendurei as obras para nunca esquecer.”

22 casavogue.com.br
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Essas inquietações perpassam o campo do morar, como na


quebra do paradigma de que a completude de uma mulher só é
alcançada ao tornar-se mãe e esposa. “‘Mas… você vai morar so-
zinha?’, perguntaram enquanto eu buscava meu novo lar. Qual a
estranheza?” Entre os companheiros de casa já passaram ami-
gos, namorado e marido, até chegar à atual configuração. “O que
colocamos entre quatro paredes configura uma família. Não é
um local de transitoriedade, é um lugar de permanência.”
Como um reflexo do movimento constante de sua mora-
dora, a casa de Manu se transformou em cenário para o no-
vo projeto de trabalho: o programa E Você?, no YouTube,
com entrevistas de mulheres influentes como Gabriela
Prioli, Manu Gavassi e Bruna Tavares. “São conversas tera-
pêuticas, que costumamos ter em off, com temas e estética
íntimos, e para isso precisava ser na minha casa.”
Quase sempre preenchido por pessoas, e com destaque
para o estimado acervo de arte, o apartamento narra as rela-
ções da moradora com os outros e consigo. Um dia perfeito,
para ela, é aquele com passos vagarosos, café da manhã demo-
rado e solitude no próprio quarto – seu espaço preferido na
casa. “Acordo com calma, escolho uma música, não tiro o pi-
jama e sinto o tempo. São Paulo ativou em mim essa necessi-
dade de recolhimento. Deixo-me olhar para mim. Se eu não
olhar para mim, eu vou me perder.” Nesse pano de fundo de
histórias, trocas e criações, embalada pelos versos de Tiê e
inspirada por incontáveis olhares, Manu tem tudo e todos de
que precisa para se encontrar cada vez mais. ●

“Minha casa é a extensão do meu corpo. Entre minhas tatuagens há um vaso


de antúrio, meus bichos e desenhos de olhos. Por estes espaços também”

Acima, o quarteto na parede é composto pelos bordados do cão


Poc (in memoriam) e da cadela Leona, ambos de A Victória Que Faz,
escultura Bocejo, de Ivanildo, e ilustração Bumbum, de Rey Silva; à
esq., sobre a mesa de centro do living, escultura Mamilos de Parede,
de Paola Vilas, livro Proud South, de Lidewij Edelkoort e Lili Tedde,
no Casa Vogue Living Market, placas de mesa de Ge Beauty e Pingo
Studios, cerâmicas de Laís Vasconcellos, bandeja Taguá (dourada),
design Cris Bertolucci, no Casa Vogue Living Market, e, ao fundo,
banco Onça, de seu Gervásio; e, no alto, hall de entrada composto
por espelho da Casa Domo, luminária de mesa Octavia, de Paola
Vilas, e, na parede, quadro Forame Magno, de Rafael Mayer, e vasos
de parede, design Mana Bernardes para a Tok&Stok

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Em sentido horário, a partir da foto acima, no quarto, cama Rise, da


Luuna, cabeceira da Westwing, roupa de cama da Trousseau, almofada
rosa de ráfia natural da Trousseau + Nannacay, almofada bordô Mosú,
do Adriana Fiche Atelier, e, sobre a mesa lateral, quadro Os Amantes,
de Arthur Damasceno; em outro canto do quarto, Manu veste Misci e
repousa na cadeira da Menu Casa, ao lado do espelho Orgânico, da Casa
Domo, e do aparador da Westwing, decorado com luminária de mesa
Theta, da Zaff Design, no Casa Vogue Living Market – no piso, tapete
Orgânico, da Moriah Tapetes; no living, detalhe com mesas laterais
da Tok&Stok (laranja) e da Oppa Design (madeira), e, sobre a última, vaso
Catimbó, da Potira Pottery, no Casa Vogue Living Market; e, no banheiro,
ilustração de Fernanda Bornancin para a Zebradaa, vela design Mana
Bernardes para a Tok&Stok e castiçal Henri, de Paola Vilas

“O que colocamos entre quatro paredes configura uma família. Não é um local
de transitoriedade, é um lugar de permanência”

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As obras da coleção Olhudas, de Isabella


Manhães, e as dobraduras de cerâmica, de Laís
Vasconcellos, criam o pano de fundo da sala de
jantar com mesa Haya, da Muma, cadeira Onda
(em primeiro plano), de Ilse Lang, da Faro Design,
e fruteira Cerâmica, da Potira Pottery, ambas
no Casa Vogue Living Market – tudo sob
pendente de fibra de bambu da Casa Mind
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A Maison des Métiers d’Art,


em Giverny (vilarejo de Claude
Monet), na Normandia, totalmente
redesenhada por Mathieu
Lehanneur – o espaço é um misto
de ateliê e loja conceito, onde é
possível conhecer o trabalho e
adquirir criações do florescente
artesanato local. Na pág. seguinte,
Mathieu em ação no seu ateliê
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FORMA
OLÍMPICA
DESIGNER DO ANO DA MAISON&OBJET E RESPONSÁVEL
PELA CRIAÇÃO DA TOCHA DOS JOGOS DE PARIS, O FRANCÊS
MATHIEU LEHANNEUR MULTIPLICA PROJETOS, INJETANDO
MAGIA EM TUDO QUE TOCA TEXTO VITORIA MOURA GUIMARAES
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design

D
ifícil permanecer impassível diante dela. Improvável também não querer segurá-la. A tocha olímpi-

Fotos: Felipe Ribon (retratos de Mathieu Lehanneur, Maison des Métiers d’Art, Inverted Gravity, tocha olímpica, Factory, instalação Outonomy,
ca, símbolo da tradição secular dos Jogos Olímpicos e responsável por dar o start à contagem regres-
siva para o início da competição, está logo ali, na nossa frente, exibida como um troféu. Estamos em
meados de janeiro e a Factory (a referência à Factory de Andy Warhol não é mera coincidência), no-
vo endereço de 800 m² do designer francês Mathieu Lehanneur nos arredores de Paris, está a todo
vapor. A poucos dias da edição 2024 da Maison&Objet (a feira aconteceu na capital francesa entre
18 e 22 de janeiro), que elegeu o profissional como designer do ano, ele e sua equipe estão às voltas com a instalação
que será apresentada no evento: uma nova proposta de habitação inspirada pelas teorias de sobrevivência, mas com
um viés otimista. Outonomy é uma cabana amarela monocromática, ultratecnológica, ecológica e autossuficiente,
concebida para viver em total autonomia e em sintonia com a natureza. “É um projeto que une design e tecnologia e
que estamos começando a montar para a abertura do salão. Dá um frio na barriga, mas, como Picasso bem disse, ‘se
sabemos exatamente o que vamos fazer, para que fazê-lo?’”, questiona com humor.
O designer multiplica também os compromissos e aparições graças à sua mais recente e célebre criação: a já

Igreja de Saint Hilaire e escultura Pocket Ocean) e Michel Giesbrecht (Liquid Marble)
mencionada tocha olímpica dos Jogos de Paris. “É uma grande honra e uma emoção. Vai ser difícil segurar as
lágrimas”, conta ele, que fará parte do revezamento com início em Olímpia, na Grécia, marcado para o dia 16
de abril (onde a tocha será acesa por meio dos raios de sol) e término em Paris, em 26 de julho, data da abertu-
ra oficial dos Jogos Olímpicos de 2024. “A parte mais desafiadora do projeto foi desenvolver um sistema de
acendimento à prova de vento, chuva, tempestade, e praticamente invisível para não comprometer o design”,
explica. Mathieu se inspirou no tema da igualdade, palavra-chave da edição parisiense dos Jogos, que darão a
mesma importância às competições Paralímpicas e terão, pela primeira vez, o mesmo número de atletas ho-
mens e mulheres. As águas do Rio Sena, palco da cerimônia de abertura, também serviram de referência para
criar o objeto feito de aço reciclado, cuja cor lembra uma mistura de ouro, prata e bronze – apesar de não ser in-
tencional, a forma oblonga da tocha, com duas partes perfeitamente simétricas, faz lembrar o curso do rio
quando ele se abre na Île de la Cité e depois afunila novamente.
Em paralelo, Mathieu prepara a inauguração de seu pied-à-terre americano (um showroom para se aproximar
da sua clientela internacional) no topo de um arranha-céu em Manhattan, Nova York, e uma exposição no
Denver Art Museum, ambos nos Estados Unidos. Um verdadeiro percurso atlético. “Mas eu sou péssimo em es-
portes. Gosto assim, à distância”, diverte-se, mostrando a vista da janela do seu escritório na Factory, que dá para
um campo de futebol. “Sou mais ciências”, continua o designer, que sonhava em se tornar médico. Mas o destino
agiu e seu caminho acabou enveredando para o das artes, e ele descobriu no design o compromisso perfeito. “A

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Mathieu Lehanneur em seu escritório na


recém-inaugurada Factory, espaço de
800 m² nos arredores de Paris onde suas
criações ganham vida. Na pág. anterior, à
esq., a série Inverted Gravity, na qual bolhas
de vidro sustentam grandes blocos de
mármore; e, à dir., a tocha olímpica, cuja
simetria evoca a igualdade, palavra-chave
dos Jogos Olímpicos de Paris, e as
ondulações, o Rio Sena – outra inspiração
do designer para o projeto
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arte pode ser muito solitária. Eu preciso de gente, de relações humanas e de saber que minhas criações têm uma
função, que serão tocadas, que podemos colocar um copo em cima ou que crianças possam correr em torno de-
las”, conta Mathieu, cuja inspiração vem justamente das relações humanas e das emoções decorrentes delas. “O
caráter de conexão espiritual dos objetos me fascina – o fogo sagrado da tocha olímpica é um excelente exemplo.
Acredito que alguns objetos têm o poder de nos transformar”, reflete. Se ele possui um talismã ou amuleto da sor-
te? “Não, mas tenho sempre um pequeno artefato no bolso. Pode ser uma pedra, uma dobradiça… A verdade é
que preciso sempre ter algo entre os dedos para sentir e mexer. É algo que me tranquiliza.”
O hábito, com certa conotação infantil, diz muito sobre o designer. Suas obras incutem justamente uma por-
ção irracional, quase onírica, herança dos contos de fada que marcaram sua infância (principalmente Barba Azul):
é o caso das séries Inverted Gravity, cuja proeza é apoiar uma grande peça de mármore sobre bolhas de vidro, for-
mando mesas e aparadores, por exemplo, e Ocean Memories, em que a pedra (em forma de bancos e mesas) se
transforma em uma superfície líquida e oceânica em uma passagem do inerte ao vivo. A pesquisa, resultado do seu
apetite pela ciência e pela tecnologia, é indissociá-
vel à sua criação e apareceu cedo: Objets
Thérapeutiques (2001), seu trabalho de conclusão ”O CARÁTER DE CONEXÃO ESPIRITUAL
de curso da École Nationale Supérieure de DOS OBJETOS ME FASCINA – O FOGO SAGRADO
Création Industrielle (ENSCI-Les Ateliers), foca
DA TOCHA OLÍMPICA É UM EXCELENTE
na parte psicológica dos medicamentos (efeito pla-
cebo) e na desdramatização deles quando necessá- EXEMPLO. ACREDITO QUE ALGUNS OBJETOS
rios para melhorar a relação paciente/doença, e TÊM O PODER DE NOS TRANSFORMAR”
chamou a atenção do MoMA, em Nova York, que
o incluiu na sua coleção permanente. Em 2008, ele
cocriou com o professor David Edwards, de Harvard, com base em observações da Nasa, Andrea, um purificador
de ar usado para fortalecer a capacidade natural de filtragem das plantas e capturar partículas tóxicas dos ambien-
tes interiores. Touche-à-tout (expressão em francês que define uma personalidade multidisciplinar), Mathieu
Lehanneur recusa a zona de conforto para se aventurar em diferentes campos, da arquitetura (como o coro da
Igreja de Saint Hilaire, em Melle, na França) ao produto (foi nomeado chief designer da marca chinesa Huawei em
2015), passando por soluções urbanas (como Clover, projeto de iluminação urbana alimentado por energia solar e
apresentado durante a COP21). Incansável, em 2024 ele completa seus 50 anos, sem perder o brilho dos olhos de
uma criança e a vontade de injetar um pouco de magia no mundo. ●

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A instalação Outonomy, apresentada na Maison&Objet


do mês passado, uma nova proposta de habitação
inspirada nas teorias de sobrevivência, ultratecnológica,
ecológica e autossuficiente; abaixo, à esq., o coro
da Igreja de Saint Hilaire, em Melle, na França; e, abaixo,
à dir., na parede, a escultura Pocket Ocean, edição Gold.
Na pág. anterior, à esq., a série Liquid Marble, no jardim
do Château de Chaumont-sur-Loire, na França; e, à dir.,
Mathieu Lehanneur no seu ateliê, cercado por diferentes
materiais que utiliza em suas obras
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urbanismo

Em Nanchang, na China,
o projeto do Fish Tail Park,
conduzido pelo escritório
Turenscape, idealizador
do conceito de Cidade
Esponja, tornou o município
mais resiliente às mudanças
do clima ao transformar a
antiga paisagem degradada
em uma floresta flutuante
de 55 hectares que regula
as águas pluviais na região,
evitando inundações,
fornecendo habitat para
a vida silvestre e conectando
a população à natureza

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TERRA

EM
TRANSE
COM A INTENSIFICAÇÃO DA CRISE CLIMÁTICA, AS
CIDADES PRECISAM ACELERAR O PASSO NA DIREÇÃO DA
REDUÇÃO DAS EMISSÕES DE CO2 E DE MEDIDAS
URBANÍSTICAS CAPAZES DE TORNÁ-LAS MAIS ADAPTADAS
E RESILIENTES A EVENTOS EXTREMOS. A BOA NOTÍCIA
É QUE ISSO JÁ ESTÁ ACONTECENDO (AINDA DEVAGAR, É
VERDADE) EM ALGUNS CANTOS DO BRASIL E DO MUNDO
TEXTO GIULIANA CAPELLO
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urbanismo

U
ma pesquisa divulgada no fim de 2023 o economista e doutorando em ciências ambientais Rodrigo Perpétuo, se-
pelo Instituto Pólis revelou que sete cretário-executivo da ONG internacional ICLEI – Governos Locais para a
em cada dez brasileiros já vivenciaram Sustentabilidade. São Paulo, por exemplo, lidera no Brasil a urgente transi-
ao menos um evento extremo associa- ção para a frota eletrificada no transporte público, com a meta de inserir 2,6
do à emergência do clima, e que 98% mil ônibus elétricos nas ruas até o final deste ano, contando com mais de 2,5
estão preocupados com novas ocor- bilhões de reais financiados pelo Banco Mundial e Banco Interamericano de
rências do gênero. “As pessoas estão Desenvolvimento (BID). Já Salvador e Curitiba esperam eletrificar 30% da
vislumbrando uma espécie de ‘novo frota coletiva ainda este ano e até 2030, respectivamente. “Amedida reduz a
normal’ com o qual terão que aprender emissão de GEEs e deve ser priorizada mais do que os carros individuais elé-
a conviver e se adaptar”, afirma o advo- tricos, que não resolvem o problema do trânsito”, frisa Henrique Frota.
gado Henrique Frota, diretor-executivo do instituto. Outra estratégia interessante na linha da mitigação é requalificar o
Diante disso, ele diz, é preciso ressaltar a responsabili- centro das cidades para ter mais residências. “A prefeitura do Rio de
dade das cidades pelo clima, afinal, 85% da população Janeiro tem se destacado ao recuperar prédios abandonados no centro
brasileira vive nos centros urbanos, cada vez mais como uma ação climática, porque isso traz as pessoas para mais perto do
adensados, desiguais e escassos de natureza. Nesses trabalho, reduz viagens, emissões de CO2 e a demanda por novos prédios
territórios, as transformações são mais urgentes, con- em áreas mais afastadas”, avalia Cuperstein, referindo-se ao conceito de
siderando que o curto intervalo de tempo (entre a Cidade de 15 Minutos, do urbanista Carlos Moreno, pelo qual as necessi-
chance de reversibilidade e o mais completo caos cli- dades da população devem estar acessíveis a 15 minutos a pé ou de bicicle-
mático) é nosso maior desafio – e que inclusive as metas ta – modelo que tem inspirado e mobilizado Paris a se tornar mais susten-
do Acordo de Paris (compromisso climático assinado tável e resiliente. Entre 2021 e 2022, o programa carioca Reviver Centro
por 185 países em 2015 visando manter o aquecimen- resultou em 1.317 unidades habitacionais na região e outras 471 em análi-
to global até o final do século abaixo de 2 °C em rela- se, somando mais do que o volume dos dez anos anteriores.
ção aos níveis pré-industriais, com esforços para nos Para o arquiteto Gustavo Cedroni, sócio-diretor do escritório Metro
limitarmos a 1,5 °C) já têm sido consideradas insufi- Arquitetos, à frente de quatro projetos de retrofit no centro de São Paulo,
cientes pela Organização das Nações Unidas. esse tipo de urbanismo que mistura moradia, trabalho, serviços e lazer es-
Para estancar o problema, especialistas reforçam a tá alinhado ao desafio climático e existe boa oferta de imóveis com poten-
importância de as cidades elaborarem planos de ação cial para uso residencial em quase todas as capitais. “Mas, para ser uma me-
climática, em duas linhas de frente complementares: dida mais inclusiva, as prefeituras devem criar programas que incentivem
mitigação, que consiste em adotar estratégias de redu- a habitação popular no centro, porque o mercado imobiliário, de olho no
ção de gases de efeito estufa (GEEs), e adaptação, com lucro, não vai regular isso por conta própria”, alerta.
mudanças mais visíveis na paisagem urbana, especial- Em tempo, quando o assunto é emergência climática, a mobiliza-
mente em termos de uso e ocupação do solo, áreas ver- ção dos governos locais é fundamental. Em Florianópolis e no Rio de
des e drenagem de águas de chuva. “Primeiro, cada ci- Janeiro, as prefeituras aderiram ao programa Cidades Eficientes, do
dade precisa realizar um inventário das emissões de Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) com patrocí-
GEEs e identificar as áreas que apresentam maior vul- nio do Instituto Clima e Sociedade, criado para auxiliar o poder pú-
nerabilidade e que devem receber intervenções”, ex- blico em ações de redução de gases de efeito estufa. “O estoque de
plica o internacionalista Ilan Cuperstein, mestre em edifícios públicos das prefeituras, entre escolas, creches, hospitais,
meio ambiente e desenvolvimento pela London unidades de saúde e assistência social, oferece grande potencial para
School of Economics e diretor da C40 na América a redução de emissões de CO2 a partir de medidas simples como prio-
Latina, rede de municípios que apoia prefeituras na rizar lâmpadas de LED e treinar servidores para desligarem compu-
construção de soluções para a emergência do clima. tadores do modo stand-by e usarem o ar-condicionado corretamen-
te”, ressalta a engenheira civil Clarice Degani, diretora-executiva do
REDUÇÃO DE DANOS CBCS. “O programa agora precisa conquistar visibilidade para ga-
“Nos últimos cinco anos tivemos uma intensificação nhar escala e beneficiar outras cidades”, considera a arquiteta Maria
dessa pauta e, hoje, pelo menos, mil municípios brasi- Andrea Triana, doutora em eficiência energética e conforto ambien-
leiros têm alguma ação endereçada ao clima”, pontua tal e coordenadora técnica do projeto.

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Projetado pelo arquiteto modernista Oswaldo Bratke (1907-1997)


em 1956 para uso comercial, o histórico edifício Renata Sampaio Ferreira,
no centro de São Paulo, passou recentemente por um retrofit (realizado
pelo Metro Arquitetos, com gestão da Planta.Inc) para abrigar
apartamentos residenciais. Obras desse tipo têm sido incentivadas em
algumas capitais como medida de mitigação das emissões de CO2
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urbanismo
AS CIDADES PRECISAM ELABORAR PLANOS DE
AÇÃO CLIMÁTICA EM DUAS FRENTES: MITIGAÇÃO,
ADOTANDO ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE
GASES DE EFEITO ESTUFA, E ADAPTAÇÃO, COM
MUDANÇAS NA PAISAGEM URBANA EM TERMOS DE
USO E OCUPAÇÃO DO SOLO, ÁREAS VERDES E
DRENAGEM DE ÁGUAS DE CHUVA

Também no campo da redução de GEEs, capitais de Pequim já desenvolveu mais de mil projetos do gênero em mais de 250
como São Paulo e Curitiba têm investido na constru- cidades. “Em escala urbana e comunitária, a ideia é dar mais espaço à água
ção de pátios de compostagem para evitar a emissão e retê-la no local, desacelerando o fluxo e adaptando-se aos diferentes ní-
de metano, gás de efeito estufa liberado na atmosfera veis de água, integrando áreas verdes, solos permeáveis e sistemas inova-
com o descarte incorreto dos resíduos orgânicos. “São dores de gestão da água”, esclarece o criador do conceito. “Dessa forma, é
locais apropriados para receber esses resíduos de feiras possível mitigar significativamente as inundações urbanas, melhorar a
livres, principalmente, e transformá-los em adubo pa- qualidade da água e aumentar a biodiversidade e a resiliência”, relata. Seu
ra plantas, doado à população. Isso ainda fortalece a projeto referência é o Dong’an Wetland Park, em Sanya, sul da China,
agricultura urbana, as hortas comunitárias e a seguran- com 68 hectares de infraestrutura verde multifuncional, composta por di-
ça alimentar nas cidades”, afirma o engenheiro am- ques, lagoas, uma rede de caminhos para pedestres sob a copa das árvores
biental Felipe Maia Ehmke, diretor do Departamento e três camadas de paisagem que permitem uma experiência imersiva aos
de Mudanças Climáticas da Secretaria Municipal de visitantes e são um local de rica biodiversidade.
Meio Ambiente de Curitiba, capital que aprovou em Aqui no Brasil, um conceito semelhante vem ganhando visibilidade,
2020 seu plano de ação climática (PlanClima). Um dos as chamadas Soluções Baseadas na Natureza (SBN). “Elas podem ser
destaques do documento é o Bairro Novo da Caximba, desde um telhado verde em uma residência até os mais de 200 jardins
maior projeto socioambiental da história do municí- de chuva instalados em São Paulo para reduzir enchentes e os parques

Fotos: Fran Parente (edifício Renata Sampaio Ferreira), Ondrej Cech/Getty Images (rua de Paris) e divulgação/Turenscape (Fish Tail Park)
pio, responsável por reassentar 1.147 famílias que vi- lineares com lagos que funcionam como bacias de contenção das águas
viam em região com alto risco de inundação, às mar- da chuva, entre outras soluções de bioengenharia”, explica a bióloga
gensdoRioBarigui.“Asfamíliasestãosendorealocadas Juliana Ribeiro, gerente de projetos de SBN da Fundação Grupo
a apenas umas poucas centenas de metros, para uma Boticário de Proteção à Natureza. Um simples teto verde faz diferença.
área mais segura e em casas mais dignas”, diz Ehmke. “Ameniza bastante o calor. Na minha casa, depois de testes feitos por
Além disso, o projeto vai regularizar 546 imóveis, re- pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, descobrimos
cuperar áreas de preservação permanente e implantar que a diferença de temperatura chega a 15 °C em relação ao meu vizi-
um parque linear e um dique de contenção de cheias. nho, que não tem telhado verde”, observa Luis Cassiano Silva, ativista
ambiental e produtor cultural, morador da favela carioca do Arará.
NATUREZA COMO INFRAESTRUTURA Um bom exemplo de SBN é o premiado Parque Orla Piratininga, em
Tal intervenção ilustra bem a urgência de voltar o Niterói, RJ, com 35 mil m² de jardins filtrantes, mais de 10 km de ciclovias
olhar para as águas das cidades. Segundo dados da e estruturas de esporte, lazer e apoio à pesca artesanal que mudaram a pai-
C40, mais de 90% dos desastres globais estão rela- sagem da região. “Antes era uma área inóspita, poluída, usada como lixão.
cionados a esse recurso. Todos os dias, mais da me- Hoje é um jardim fluido e biodiverso, que trata a água antes de ela chegar
tade da população mundial enfrenta inundações ou às bacias dos rios locais e, ao mesmo tempo, funciona como lazer para a
secas. Curiosamente, após décadas construindo es- população”, comenta a geógrafa Dionê Marinho Castro, coordenadora do
truturas de engenharia que retificaram rios, aterra- Programa Região Oceânica Sustentável, da prefeitura local. “Com mais
ram matas ciliares, derrubaram florestas e imper- biodiversidade, tornamos essa região muito mais resiliente”, conclui.
meabilizaram o solo, pesquisadores e urbanistas Projetos assim têm mobilizado a Associação Brasileira de Desen-
têm apostado que a maneira mais eficiente de evi- volvimento (ABDE), que reúne 34 instituições financeiras, entre Banco
tar os efeitos de eventos climáticos extremos é fa- do Brasil, BNDES, Finep, BRDE, Caixa e outras. “Temos a linha de fi-
zer as pazes com a natureza: renaturalizar os cen- nanciamento Cidades Mais Resilientes, com taxas de juros bem abaixo da
tros urbanos e permitir que as áreas verdes e azuis média do mercado, para atender prefeituras e empresas com projetos que
(cursos d’água) sejam parte da infraestrutura dedi- respondam às mudanças do clima”, afirma Celso Pansera, presidente da
cada à regulação, contenção e drenagem das águas. ABDE. “Só o BNDES e a Finep vão disponibilizar 106 bilhões de reais
Essa é a essência do conceito de Cidade Esponja, nos próximos quatro anos”, ressalta. É tempo de pesquisar e inserir os ser-
criado pelo arquiteto paisagista chinês Kongjian Yu, viços ecossistêmicos da natureza nas cidades, como remediação e prote-
cujaequipenoescritórioTurenscapeenaUniversidade ção ao que vem por aí. Antes tarde do que mais tarde. ●

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Saem os carros, entram as bicicletas


e as caminhadas: modais de transporte
ativo e mais sustentável são parte
do atual plano de Paris para reduzir
drasticamente suas emissões de gases
de efeito estufa – iniciativa inspirada
na ideia da Cidade de 15 Minutos, do
urbanista Carlos Moreno, para direcionar
ações climáticas na capital francesa

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destino

QUESTÃO
DE TEMPO
Ponto de encontro para amantes de arquitetura, natureza e relojoaria,
o primeiro hotel idealizado pelo arquiteto-estrela Bjarke Ingels,
na Suíça, revela uma nova faceta da cultura da haute horlogerie,
em que tradição, inovação e hospitalidade caminham no mesmo ritmo
TEXTO RAFAEL BELÉM, DE LE BRASSUS*
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Encantado pela Floresta


Risoud, que contorna o
Vale de Joux, Bjarke Ingels
concebeu o Hôtel des
Horlogers para que todos os
quartos oferecessem vistas
únicas da região, graças às
lajes em zigue-zague que
descem gradualmente em
direção aos campos
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destino

N
a famosa pintura A Persistência da Memória,
de Salvador Dalí, o tempo é representado
por relógios derretidos, pendurados à seme-
lhança de toalhas encharcadas, por onde as
horas escorrem. Já no primeiro hotel ideali-
zado pelo arquiteto dinamarquês Bjarke
Ingels, ele é traduzido de outra forma: uma inclinação constante
e labiríntica. A construção em zigue-zague, localizada no vilarejo
de Le Brassus, oeste da Suíça, provoca devaneios tão alucinantes
quanto as obras do pintor surrealista espanhol. Afinal, estaria a
vida escorrendo pelas rigorosas rampas do espaço-tempo?
O assunto é levado a sério nas bandas do Vale de Joux, ber-
ço da alta relojoaria suíça, onde o Hôtel des Horlogers está si-
tuado, a poucos minutos da fronteira com a França. Plácida e
pacata (o silêncio é interrompido somente por tilintadas do si-
no do pasto mais próximo), a região é conhecida por sua cultu-
ra singular: nenhum outro lugar no planeta abriga tantos co-
nhecimentos relojoeiros concentrados numa área tão pequena.
Devido à altitude elevada – cerca de 1.000 m acima do nível do
mar –, o vale remoto permanece infrutífero durante os inver-
nos longos e rigorosos, o que fez a população local dedicar-se à
fabricação de relógios em vez da agricultura. A tradição, pas- Acima, a espiral desenhada pelo BIG integra perfeitamente o
sada magistralmente entre gerações há quase 300 anos, resul- Musée Atelier Audemars Piguet à paisagem do vale. Na pág. seguinte,
em sentido horário, a partir da foto acima, a decoração sóbria
tou nas peças mais engenhosas e cobiçadas da Terra. Audemars assinada pelo estúdio AUM privilegia a vista livre com janela do piso
Piguet, Blancpain, Jaeger-LeCoultre e Patek Philippe são al- ao teto; balcão do Bar des Horlogers, onde os hóspedes podem
provar bebidas da região, como absinto, Williamine e Appenzeller
gumas das grifes nascidas ou desenvolvidas por ali. Alpenbitter; e o lobby combina superfícies de madeira local
Inaugurada em 2022, a hospedagem ocupa a mesma área e concreto liso com um conjunto dramático de galhos de árvores
que parecem plantadas no teto, uma homenagem à Floresta Risoud
onde, no séc. 19, fundou-se o Hôtel de France, pouso mais
procurado por trabalhadores e comerciantes da indústria re-
lojoeira por também sediar uma agência de correios. Sucessivas
crises o levaram à decadência, até a Audemars Piguet, cuja se- um hotel cosmopolita onde se hospeda gente de todo o mundo.
de era vizinha de porta, decidir arrematá-lo em 2003. Anos Aqui se reúnem pessoas muito diferentes. Atletas convivem
mais tarde entram em cena o arquiteto dinamarquês e sua com exploradores, artistas, empresários e crianças. Muitas lín-
premiada equipe do BIG, requisitados para conceber um no- guas podem ser ouvidas nos bares, salões e restaurantes”, resu-
vo, tecnológico e sustentável hotel boutique. Tudo sem aban- me André Cheminade, diretor-geral do hotel. “Cada um o ex-
donar o legado que tanto orgulha os combières, como são cha- perimenta no seu próprio ritmo. Famílias, casais, viajantes solo
mados os habitantes do Vale de Joux. e amigos se juntam para compartilhar bons momentos.”
Bjarke Ingels é conhecido por desenhar edifícios a partir de Dois restaurantes e um bar, dirigidos por Emmanuel
volumes retorcidos, quase ilusórios. O Hôtel des Horlogers não Renaut, chef com três estrelas Michelin, complementam a
é exceção. Sua geometria é milimetricamente pensada para in- imersão na cultura local. O menu da Brasserie Le Gogant,
tegrar o edifício à paisagem colorida por prados de montanha e com capacidade para 80 pessoas, assim como o do mais reser-
pela Floresta Risoud. Os 50 quartos disponíveis, dispostos ao vado La Table des Horlogers, apresenta ervas, frutas e vege-
longo de um passeio arquitetônico, serpenteiam pelo terreno. O tais cultivados no jardim do estabelecimento; no Bar des
Fotos: Iwan Baan (Musée Atelier Audemars Piguet) e divulgação.

projeto, executado pelo escritório suíço CCHE, é protagoniza- Horlogers, coquetéis exclusivos são elaborados com insumos
do por cinco rampas em forma de Z. Virtuosas e acessíveis aos da floresta e servidos sob luminárias inspiradas nas grandes
hóspedes, elas fazem com que as lajes desçam gradualmente em formações rochosas que margeiam o vale.
*O jornalista viajou a convite da Audemars Piguet

direção ao vale, uma referência à jornada sinuosa que os relojo- A poucos passos dali, um pavilhão de vidro se camufla na
eiros enfrentavam para levar seus produtos ao mercado: o grama. A estrutura em espiral que brota do chão (também fruto
Chemin des Horlogers, rota histórica do Vale de Joux até da mente de Bjarke Ingels) é uma espécie de altar para colecio-
Genebra. Já os interiores, assinados por Pierre Minassian, do es- nadores ou meros admiradores da haute horlogerie: cerca de 300
túdioAUM, privilegiam materiais locais, como pedra e madeira, peças, entre joias raras, protótipos e modelos históricos, eviden-
a fim de transportar os visitantes para o mundo exterior. ciam a forte veia relojoeira da comunidade no Musée Atelier
A natureza está sempre à espreita: seja nas vistas proporcio- Audemars Piguet, conectado ao hotel por uma charmosa trilha.
nadas pelas janelas salientes das suítes, seja nos pormenores da “Arelojoaria, assim como a arquitetura, é a arte de revigorar uma
decoração (o teto do lobby é decorado com galhos de árvores matéria inanimada com inteligência e movimento para trazê-la
quase brancas em homenagem à mata vizinha). “Mas ainda é à vida na forma de contar o tempo”, filosofa Bjarke. ●

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Foto: François Halard (detalhe da casa do estilista Alessandro Michele, mostrada a partir da pág. 54)

Um livro de cabeceira, louças passadas de geração em geração, um quadro


garimpado na lua de mel: cada peça das moradas a seguir é um fragmento
de seus habitantes. A expressão da identidade extravasa o próprio corpo
para se materializar nos lares em São Paulo, Rio de Janeiro, Londrina, Roma
e Londres – como na casa de vila com itens colecionados sem pressa,
na construção vitoriana que reverbera a ancestralidade de sua moradora
e no castelo com 800 anos de história que pulsa excentricidade
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LUZ,
NO JARDIM BOTÂNICO CARIOCA,
A CASA DO ATOR JOÃO VICENTE
DE CASTRO, COM REFORMA
RECÉM-FINALIZADA PELO ESTÚDIO
ORTH, FICOU EXATAMENTE
DO JEITO QUE ELE IMAGINAVA:
CONFORTÁVEL, CONVIDATIVA
E CONTEMPORÂNEA
TEXTO SIMONE RAITZIK FOTOS FRAN PARENTE
ESTILO LUCAS FREITAS PRODUÇÃO DANI AREND

CÂMERA,
JOÃO
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João veste camisa Ori Rio e calça Gilda
Midani e posa sobre a escada moldada em
blocos de pedra Cristallo, da Pettrus –
mesmo material das chapas do piso –, que
funciona como uma escultura flutuante no
living, complementado com quadro do
pintor baiano Rubem Valentim ao lado do
banco Máximo, do Estúdio Orth
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TEXTURAS NEUTRAS NAS PAREDES E NOS


ESTOFADOS FORAM DEMANDAS DE JOÃO,
NA EXPECTATIVA DE UM ESPAÇO PARA RECEBER
SUA COLEÇÃO DE ARTE

Acima, no living, o sofá Máximo, amparado pela mesa lateral Rino III, ambos do Estúdio Orth, dialoga com a
poltrona vintage Presidente, de Jorge Zalszupin. Na pág. seguinte, em sentido horário, a partir da foto do alto,
à esq., outro ângulo do living, composto por poltronas Mapá e mesas de centro Rino, uma de pedra
Patagônia e outra de madeira imbuia – sobre esta, cacho de prata garimpado no Pátria Amada Escritório de
Arte –, tudo emoldurado no paisagismo com espécies nativas do Jardim Botânico, assinado por Luiz Carlos
Orsini, com participação de Alex Lerner, amigo de João; na sala de jantar, a tela de Maxwell Alexandre
estampa a parede forrada de pedra Épidus Green, da Pettrus, como pano de fundo para a mesa Mendes e as
cadeiras Van Gogh, sob os pendentes Totem, tudo do Estúdio Orth; uma pequena prateleira na alvenaria
da parede do living serve de apoio para as obras de arte: do lado esq. da tela de Rubem Valentim, quadro
que emoldura pertences do pai de João, Tarso de Castro – “Tudo o que estava no bolso da calça dele, quando
morreu, virou essa montagem afetiva feita por minha mãe”, revela; e, em outro canto do living, estante e
parede de quartzito Épidus Green, da Pettrus, exibem objetos e obras de arte do acervo pessoal do ator,
como o abajur Meia-Lua, do Estúdio Orth, e o tatu “de estimação” que o acompanha de outras moradas
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F
oram três anos de busca, dois anos de
obra e muitos desejos envolvidos. A casa
tinha que se voltar para o horizonte, com
direito a piscina ensolarada, jardim ao re-
dor e uma área social ampla para receber
amigos com conforto. Porque João Vicente
de Castro, ator e um dos fundadores do ca-
nal Porta dos Fundos, é um anfitrião nato,
que adora reunir gente interessante e co-
nectar pessoas. “Sou festeiro mesmo, e
queria ter sala e varanda integradas, com uma circulação
fluida que ligasse os ambientes internos e externos. Tudo
com transparência e muito verde.”
Para adaptar o projeto a todas as expectativas, alguns con-
tratempos surgiram no caminho. Mas tudo começou a fluir A escolha criteriosa de materiais – pedra, metal e madeira
quando João resolveu convidar os designers Seba Orth e Luísa – foi o ponto de partida do projeto de interiores. “Pensamos
Bianchetti, ambos do Estúdio Orth, para assumir a empreita- em poucas variações. Apostamos em uma aparência brutalis-
da. “Fui percebendo que precisava de parceiros que me co- ta nas texturas, mas com uma estética minimalista”, resume

Stylist: Roberta Tozato. Produção de moda: Carol Bittencourt. Assistência de moda: Kika Novaes. Camareira: Renata Barros
nhecessem bem para entender o que faria sentido. Queria al- Seba, que desenhou, ao lado de Luísa, a maioria dos móveis
go muito pessoal e nada convencional. O Seba é meu amigo que preenchem os cerca de 500 m² de área construída, in-
de longa data e ficamos completamente à vontade para criar, cluindo uma academia de ginástica completa, voltada para a
juntos, cada detalhe. Eu tinha uma certa dificuldade de visu- piscina. “Não falei que era uma casa muito pessoal? Quem en-
alizar a planta com as mudanças propostas. Precisei de vários tra aqui logo entende meu jeito de viver: saio da ginástica e
desenhos gráficos para entender tintim por tintim e eles tive- mergulho na piscina. Bom demais”, narra João.
ram toda a paciência do mundo comigo.” No segundo piso, a área íntima conta com três quartos,
Filho da estilista Gilda Midani e do jornalistaTarso de Castro incluindo a ampla e confortável suíte do morador, com direi-
– um dos criadores do lendário Pasquim –, afilhado de Caetano to à impressionante vista do Jardim Botânico e um closet jun-
Veloso e Paula Lavigne, João conviveu, desde cedo, com um sen- to ao banheiro. “João tem mais de 400 pares de sapatos. Na
so estético apurado à sua volta. Logo que teve chance, começou antiga residência, alguns ficavam pela escada. Aqui tivemos
a colecionar arte, focando em novos talentos. Quando iniciou o que dar um jeito para organizá-los. Até o módulo da cabecei-
projeto da sua casa, definiu, portanto, que as paredes teriam tex- ra da cama, feito sob medida, encaixa atrás um armário para
turas neutras para receber as obras, com o branco sendo o tom os tênis”, explica Seba. Um ponto em que os dois divergiam
predominante, ao lado do cru e do couro natural nos estofados. diz respeito à televisão: João adora, Seba odeia. “Mas a casa é
O toque de sofisticação veio do uso das pedras, que cobrem piso, minha, né? Então ele teve que se virar para deixar a telona ca-
bancadas, escada, estante e parte das alvenarias. “Fomos visitar o muflada ao lado dos quadros, na sala, e colocar outra grande
berço das jazidas da Pettrus, na Bahia, e selecionamos cada peça. no meu quarto, em frente à cama. No final, acho que se deu
Queríamos que os desenhos das rochas funcionassem como uma por vencido. E ficou ótimo”, brinca o ator, que está em plena
estampa natural”, conta o artista, que faz questão de frisar que lua de mel com cada detalhe e confessa que, no momento, tem
escolheu apenas fornecedores nacionais, certificados, com res- sido bem difícil tirá-lo de casa. “Ficou exatamente do jeito
ponsabilidade social e respeito ao meio ambiente. “Não fazia ne- que eu sonhava e nem imaginava que um dia conseguiria rea-
nhum sentido eu colocar um elefante branco no meio de um lu- lizar”, arremata, de olho em Luiz, o cachorro de 6 meses, que
gar tão lindo como o Jardim Botânico. Tinha que ser coerente se mudou com ele para o novo endereço. “Estamos nos conhe-
com o entorno e com o que acredito.” cendo, mas o relacionamento promete.” ●

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A varanda funciona como uma continuação


do living e segue o estilo minimalista da decoração,
com a mesa Trio, as cadeiras Van Gogh e o pendente
Miçanga, tudo do Estúdio Orth. Na pág. anterior,
o tapete Coral, feito de rede de pesca reciclada, cria
uma base para o ambiente de estar com poltronas
Mapá e mesa lateral Renda, de pedra Crocodilo, tudo
do Estúdio Orth – ao fundo, sobre a prateleira, quadro
de Rubem Valentim e abajur Max, do Estúdio Orth
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Neste canto da suíte de João, vestido de Burberry e ao lado do mascote


Luiz, a janela ampla com vista para o Jardim Botânico recebeu cortinas
leves de cambraia de linho e emoldura a poltrona Mole, de Sergio
Rodrigues – sobre o aparador, dois ex-votos figurativos do Pátria Amada
Escritório de Arte. Na pág. seguinte, em sentido horário, a partir da foto
do alto, à esq., a cabeceira da cama, de freijó ripado, tem estofado de
lona crua para maior conforto – a arandela Sino e a mesa de apoio Rino III
são do Estúdio Orth; no banheiro, bancada de quartzito Botanic Wave,
da Pettrus; na fachada, revestida com textura mineral off-white da
Terracor, as quinas são levemente arredondadas para suavizar o visual;
e, no pátio do segundo piso, destaque para a cadeira Duas Tábuas,
que remete ao desenho de uma prancha, do Estúdio Orth

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Como uma caixa, a entrada da casa é toda revestida de quartzito Épidus Green,
da Pettrus, e o quadro O Abraço, de Luísa Bianchetti, saúda as visitas, assim
como Luiz. Na pág. seguinte, a piscina, de pedra Épidus Green, da Pettrus, é
cercada por piso de pedra portuguesa, e, no estar da varanda, composição
com sofá Balo, do Estúdio Orth, e mesa de centro Água, com base de papelão
reciclado e tampo de cristal, desenho de Domingos Tótora

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TONS CLAROS, MATERIAIS


ORGÂNICOS E MUITA
TRANSPARÊNCIA DEFINEM
O PROJETO DE REFORMA,
QUE SE INTEGRA À
VARANDA E À PAISAGEM
DO JARDIM BOTÂNICO
DO RIO DE JANEIRO
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Alessandro Michele em
frente à estante com alguns
dos incontáveis objetos
de seu acervo, como garrafas
de farmácia e porcelana
italiana antiga
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VIDAS
PASSADAS
Oito séculos de história são

narrados nas paredes, nos móveis

e no acervo de arte do palácio italiano

habitado pelo estilista

Alessandro Michele, em Roma

TEXTO CHIARA BARZINI

FOTOS FRANÇOIS HALARD

ESTILO GIANLUCA LONGO

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Na segunda área de estar,


um par de lustres em forma
de galho de carvalho pende
do teto: “Nunca acendo
meus lustres, os uso como
peças de mobiliário. Gosto
de vê-los no espaço”,
atesta o morador. Na pág.
anterior, a lareira coberta
por peças de porcelana
aquece o hall de entrada
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“OS 800 ANOS DESTAS PAREDES SÃO O
MOMENTO ATUAL PARA MIM. POR ISSO NÃO
SOU NOSTÁLGICO. TODO MUNDO DEIXA
RASTROS FORTES” ALESSANDRO MICHELE

Acima, os tradicionais azulejos holandeses de Delft


dão ainda mais personalidade à cozinha, que
teletransporta os visitantes para a Itália renascentista,
com a arquitetura majestosa do séc. 14 como pano
de fundo. Na pág. anterior, ângulo mais aberto
do cômodo mostra o mix de padronagens com a
presença do piso hexagonal em tons neutros

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“ROMA SEDUZ E AVISA: ‘ESTAR COMIGO É DIFÍCIL.
POSSO PARECER LINDA, MAS SOU CANSATIVA.
EU NÃO TRABALHO E TORNAREI SUA VIDA
IMPOSSÍVEL’. ISSO ME DÁ A PERSPECTIVA CERTA”
ALESSANDRO MICHELE

Acima, o cenário dos jantares é cercado por obras


que narram a história da arte italiana. Na pág.
seguinte, vasos áticos, apulianos, etruscos
e de Delft, cachorros de porcelana de Staffordshire
e um boi de cerâmica figuram sobre o bufê

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A
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lessandro Michele insígnias papais, flores-de-lis dos reis da


procura um lar em cada cidade que visita. E França e um escudo com o símbolo da famí-
tem um carinho especial por belezas desbo- lia Della Rovere. Alessandro passou horas
tadas, lugares degradados repletos de histó- nos andaimes. “Fiquei amigo de cada centí-
ria e grandezas perdidas – fato que o fez em- metro daquele teto, embora provavelmente
barcar na empreitada quixotesca de renovar também tenha causado um colapso nervoso
um dos edifícios mais icônicos e misteriosos na equipe de restauração.”
de Roma: o Palazzo Scapucci. Atravessamos a sala de jantar, onde a mesa
Ainda adolescente, no início dos anos está repleta de canetas e livros, incluindo uma
1990, o designer de moda passeava pela Cidade espessa antologia da falecida poeta e musicólo-
Eterna com um olhar solitário e concentrado. ga Amelia Rosselli. Depois, chegamos ao quar-
Enquanto seus colegas ficavam até tarde nas ra- to, com uma bela moldura de porta veneziana
ves e se reuniam nas praças centrais para beber, que foi retrabalhada e transformada em cabe-
Alessandro observava os telhados e cúpulas, es- ceira. Em seguida está o estúdio povoado por
perando que os edifícios falassem com ele. caixas e arquivos perfeitamente organizados de
“Roma enfeitiça você. Acolhe todos de forma antigas pinturas de vidro indianas e marione-
desgrenhada”, diz. Esse fascínio foi transferido tes. Subimos várias escadas e passamos por
para objetos, arte, livros e, obviamente, roupas. mais salas do que Alessandro pode me mostrar.
Grande parte da maneira com que revolucio- “É interminável”, diz, enquanto saímos para o
nou a Gucci ao longo de seus quase oito anos terraço. Através das folhas das plantas exube-

Beleza: Tanja Friscic. Cabelo: Carmen Di Marco e Mimmo Laserra. Tradução: Adriana Mori
como diretor de criação teve a ver com um inte- rantes, das roseiras e das bananeiras, vislum-
resse desprovido de malícia em relação a histó- bramos os transeuntes nas ruas abaixo.
rias não contadas, incursões ao passado de obje- A cozinha luminosa, coração de qualquer
tos, monumentos e pessoas antigas. casa italiana, é inundada pela luz do meio-dia
“Sou médico de casas feridas e dilapida- de Roma, iluminando a bela coleção de azulejos
das”, conta. “Compro lugares que acho que holandeses de Delft e antigos armários de ma-
podem precisar de mim, que foram desfigu- deira e vidro. Um lance de degraus de mármore
rados ou abandonados.” Cerca de oito meses nos leva a um estúdio de trabalho e biblioteca:
depois de sua saída da grife italiana, ele tem a “Ocômodomaisbonitodacasa”.Ultimamente,
expressão calma de alguém que viu tudo e fez Alessandro tem entrado sorrateiramente ali e
tudo e está feliz em dar uma pausa, embora tirado livros de poesia das prateleiras. É uma
não seja seguro dizer que trabalhar com uma espécie de meditação enquanto pondera sobre
equipe de restauração em um edifício de 800 seus próximos passos e seu próprio momento
anos conte como pausa. de suspensão. “É óbvio que preciso de oxigênio
Quando visitou o espaço pela primeira agora e é irônico que, ao ler todas essas cole-
vez, era um lugar escuro e sem lógica, com te- ções de poesia, eu tenha ficado tão interessado
tos baixos de isopor e nada atraente. “Estava no espaço em branco da página e no que ele re-
cheio de salas abarrotadas que se abriam para vela sobre as palavras que o habitam.” ●
salas mais abarrotadas e pequenas janelas,
mas eu continuava voltando e observando da
calçada. Quando me apaixono, não cortejo as
casas, eu as vigio.” Ele, então, conheceu os pro-
prietários, três personagens romanos perfeita-
mente bizarros: um tio, um sobrinho e um
contador que usava o imóvel como escritório e
uma espécie de refúgio para amigos. “Já tinha
esse carma de pertencer a várias pessoas. Era
um lugar para a vida comunitária.”
Uma das muitas coisas incríveis que acon- À dir., uma antiga porta veneziana
teceram na obra que se seguiu foi a descober- foi transformada em cabeceira
no quarto de Alessandro Michele,
ta da cobertura original sob o teto suspenso. que adormece sob os afrescos
Estava repleta de gravuras, afrescos, aquelas descobertos durante a restauração

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Na bay window, Antonio e Anna, vestida de Louis Vuitton, posam com a cachorra Farofa no sofá
produzido pela Marcenaria Pimentel, forrado com buclê da Cosy Home e executado pela Vera Ray
Cortinas, em composição com banquinho de palha, da Zara Home, poltrona Bumbo, design Lilly
e Renata Sarti para a Breton, e banco Mocho, de Sergio Rodrigues, na Ben-Hur Antiguidades,
tudo sobre tapete da By Kamy – na parede da janela (ao lado de Anna), escultura de cabeças
Entre Amigos, de Ana Bornhausen, na Ara Cerâmica, e na parede com tom de rosa Velho-Oeste,
da Coral, destaque para o espelho e o aparador na Legado Antiguidades, as três obras de Sérgio
Marzano e a escultura Delicadeza, de Shirley Paes Leme, na galeria Carbono
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Objetos afetivos, obras de arte e itens de


garimpo contam histórias e, despretensiosamente,
encontram seu lugar na casa de vila em
São Paulo que expressa a diversão e a leveza dos
dias de Anna Fasano e Antonio Mendes
TEXTO CAROL SCOLFORO FOTOS ANDRÉ KLOTZ PRODUÇÃO MANU FIGUEIREDO
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“À TARDE, ENTRA UMA LUZ LINDA NA SALA.


TEM ESSE ASTRAL GOSTOSO DE
UMA CASA COM CORES, SEMPRE ALEGRE
E CHEIA DE GENTE” ANNA FASANO

Acima, a obra Troca-Troca, de Estela Sokol, na galeria Carbono, colore a parede da sala de TV, enquanto a estante
é decorada com vasos Esferas e Piemonte (verde), da Tania Bulhões, caixa de som da Marshall, Mickey de madeira, da Casa
Mix, e quadros de acrílico da Mercatto Casa, entre itens trazidos de viagem. Na pág. seguinte, o espaço gourmet revela
mesa de junco da Kasa 57, com cadeiras garimpadas no Jardin Velharia, e, na estante de madeira produzida pela Marcenaria
Pimentel, figuram o vaso (rosto) do Studio Bergamin, a placa Eat, da Storehouse, e o relógio da Mutate –
a bancada de mármore foi executada pela Defriuli Mármores
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Em sentido horário, a partir da foto acima, à esq., o lavabo revestido com papel de parede Roger, design Lorenzo Castillo para a Gastón y Daniela,
na Safira Tecidos, e decorado com espelho Selfie, da Fleux, trazido de viagem, e pendente da West Elm; sobre a mesa de centro do living,
na Legado Antiguidades, placa Só Vai, da Marché Art de Vie, e telefone da BG 27; canto do living composto por mesa lateral de mármore
da Pedras Bellas Artes, poltrona Bumbo, design Lilly e Renata Sarti para a Breton, e quadro de Marco Mariutti; e, na transição entre o living
e o espaço gourmet, estante do Antiquário Cristiano Ross decorada com obras Love e Fuck, do Studio Pedrazzi, coração vermelho de A Menor Loja
do Mundo, cápsulas Ego, da Oui Design, murano (rosa) de Paula Bassini e acrílico da By Gabs. Na pág. seguinte, à frente dos quadros
de Marcelo Catalano, Anna, com look Louis Vuitton, confere o arranjo da Galeria Botânica em vaso da Tania Bulhões, sobre a mesa da Breton,
com cadeiras Paglia, de Marisa Grossklauss, na GP Life Decor, tudo sob pendente Canoa, design Ana Neute para a Itens

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P és descalços, camiseta branca, coque


baixo e voz suave. Na sala, Marisa Monte, Jack
Johnson e Bill Withers embalam os dias. Se na vitrine
midiática Anna Fasano é a influencer dos vestidos lon-
gos e acessórios poderosos, dentro de casa mergulha
antiquários rendem bons achados, assim como os tra-
balhos manuais brasileiros. “Amo fazer essa mistura
porque torna a casa única, especial.” Não à toa, ouve
elogios de suas seguidoras sobre essa habilidade em
expressar sua identidade no décor.
em calmaria. Ao contrário do que se poderia esperar A estante da sala é outra prova disso – e para onde se
da herdeira de um dos principais grupos hoteleiros do olhe há histórias vindas de algum país, agrupadas por
país, ela leva uma vida confortável e sem excessos nes- cores análogas ou não, em uma setorização que é como
ta casa de vila de 330 m², em São Paulo. “Sempre pro- um hobby. “Os itens que garimpo e os presentes de casa-
curei um lugar prático e funcional para viver, em vez mento têm muito significado.” Caso da obra de arte dis-
de um espaço muito grande, com vários funcioná- posta na sala de jantar, com a qual eles se presentearam
rios”, pontua logo de cara. Sua família é avessa a os- para marcar o início da vida juntos, e da luminária de co-
tentações, característica expressa até na simplicidade ração que ela recebeu ao ser pedida em casamento. “É
do nome. “Meus pais não queriam apelido.” um clima moderno-divertido, gosto muito de coisas co-
Destinado à mesma objetividade estava o encontro loridas e de fazer um twist entre o novo e o antigo, que
com o chef Antonio Mendes, oito anos atrás. À época, tira aquele ar de ‘tudo com a mesma cara’. Amo produzir
ele morava na França havia quase uma década e passava a casa aos poucos, não comprar tudo de uma vez.”
férias no Rio de Janeiro. Ela desembarcava na Cidade Acima do anexo de jantar, um terraço que sintoni-
Maravilhosa para uma festa de amigos em comum, sem za terracota nas paredes e amarelo no mobiliário é pa-
imaginar que aquela noite dividiria águas. “Dez dias ra onde todos sobem aos fins de semana. Com chuvei-
depois fomos para a Bahia juntos. Então, ele voltou pa- rão e sofás sob o céu azul, o espaço sintetiza o lado
ra a Europa e eu fui para a Semana de Moda de Paris. solar da dupla. “Realizei minha vontade de ter um lu-

Styling: Daniela Mônaco. Beleza: Mauro Marcos


Lá, o convenci a morar no Brasil”, lembra. Antonio dei- gar aberto em São Paulo. Sou carioca, o sol e a água me
xou Paris diretamente para o apartamento dela. movem. Quando morávamos em um apartamento, eu
Em 2021, já em dupla, surgiu a vontade de mo- me sentia sufocado. Agora temos nosso cantinho ao ar
rar em uma casa de vila – na infância, Anna habitou livre e isso muda qualquer astral”, comenta Antonio.
uma morada do tipo e desejava resgatar a sensação. Sem pressa, com graça e leveza, a casa se abre e se reve-
Quando saltou um anúncio na rede social com as la às pessoas queridas. “Para mim, o luxo verdadeiro é
fotos desta residência, ela foi rápida. No ano passa- estar com a família, poder viajar com os amigos, com
do, os dois se casaram e a mudança aconteceu. meu pai e minha mãe, conciliando o tempo livre de to-
“Amamos receber. Ele cozinha, eu monto as mesas. dos juntos. De preferência, off-line”, conclui Anna. ●
Por isso, sempre idealizamos um espaço como este,
que agrega os convidados.”
No jeito de morar do casal, a palhinha das memó-
rias afetivas contrasta com objetos coloridos estilosos
– alguns deles irreverentes, em um agridoce que tem-
pera bem a rotina. Nos quartos, o conforto do algo-
dão e o mix de estampas nas almofadas são importan-
tes para Anna. “No fim do dia, adoro as luzes de
abajures acesas, e só elas.” Assim como faz com a mo-
da, vestindo peças-desejo, transpõe sua personalida- Na pág. seguinte, o quarto do casal
de para o que compõe seu lar. Nas viagens pelo mun- expressa a paixão de Anna pela
palhinha trançada, presente no banco
do, as visitas a museus, feiras de antiguidades e da Velha Bahia e na cabeceira da cama
Joá, design Giácomo Tomazzi para a
Breton, coberta com colcha de tecido
da Donatelli executado pela Casa com Z
– a meia-parede verde foi produzida
pela Marcenaria Pimentel, os tapetes
de fibra natural são da Leroy Merlin
e a fotografia na parede é de Kiolo

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“EM VEZ DE UMA CASA
MUITO GRANDE, COM VÁRIOS
FUNCIONÁRIOS, SEMPRE
BUSQUEI UM LAR PRÁTICO
E FUNCIONAL” ANNA FASANO
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O solário, contornado por charmosos
cobogós Tartan, da Manufatti, possui
piso Toscana, da Colormix, fio de luz
da Legado Antiguidades, mobiliário
da DonaFlor Mobília e banco Sittable,
design Felipe Protti para a Prototype.
Na pág. anterior, do espaço gourmet
se vê a escada que dá acesso ao solário,
executada pela Serralheria Baltieri –
o ventilador é da Gerbar
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AUTOR R
E Cores vibrantes, toques pessoais e muito

T
conforto traduzem numa casa vitoriana em
Londres a personalidade da modelo,
atriz e ativista Adwoa Aboah. Sob sua
orientação, o projeto foi realizado pela
designer de interiores Beata Heuman e

R
pelo arquiteto Lewis Kane
TEXTO BUSOLA EVANS FOTOS SIMON UPTON ESTILO SARA MATHERS

A
T
O
Na pág. seguinte, sob o teto
azul brilhante da biblioteca, o lustre
francês ilumina mesa vintage,
cadeiras Eiffel, de Charles e
Ray Eames, lareira do Architectural
Forum e tapete bicolor de juta
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À dir., uma extensa


tela da artista Ariana
Papademetropoulos
ocupa uma das
paredes do living,
com sofás e pufe de
autoria de Beata
Heuman, luminária de
piso vintage e tapete
berbere marroquino
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A
entrada da casa de Adwoa Aboah é ilu- cinco anos atrás. Buscava seu novo endereço na região pró-
sória. A construção da era vitoriana, xima à residência de seus pais, no oeste de Londres, mas ne-
com a porta pintada de preto, dá poucos nhuma das opções era “a escolhida”. No papel, também não
indícios da decoração que há por trás seria aquela: além de não ter instalação elétrica nem aqueci-
dela, e sugere, talvez, uma moradora mento, havia sido dividida aleatoriamente em cinco unida-
com uma queda pelo simples. Ao entrar des. “Quando nós entramos, olhamos um para o outro e sim-
no hall, entretanto, toda a sua persona- plesmente soubemos”, lembra. “Estava desmoronando, mas
lidade se revela. Pendurado em uma parede banhada de rosa eu pensei: ‘Esta é a minha casa’.”
suave, longe de qualquer rastro de minimalismo, um estan- Adwoa, estrela de capas de revistas como a Vogue britâni-
darte vintage exibe arte africana simbólica de Asafo – uma ca e de campanhas publicitárias para grifes como Chanel e
homenagem à herança ganense e inglesa da modelo, atriz e Burberry, sempre teve uma visão clara. “Não queria morar em
ativista nascida no Reino Unido – e recebe os visitantes. “Fiz um cenário. Cresci em um lar cheio de cores e estampas, onde
questão de colocá-lo aqui, logo na entrada, para dar o tom”, nada combinava. Era despretensioso e confortável. E era isso
justifica Adwoa sobre o objeto. “Nós colecionamos essas o que eu queria.” O trabalho começou pela restauração, com o
bandeiras há muito tempo – eu, meu pai e minha irmã.” arquiteto Lewis Kane. Mas a agenda agitada da britânica, que
Adwoa estava com o pai, Charles, e a irmã, Kesewa, divide seu tempo entre Londres e Los Angeles, exigia mais al-
quando viu a casa de tijolos vermelhos de quatro andares, guém na reforma. Entra em cena Beata Heuman, decoradora

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A colagem de Zora Sicher
protagoniza a área de estar da
Legenda pitae con cozinha, decorada ainda com
poremqu istrum mesa lateral Tribeca, de Julian
simpore puditae dissit Chichester, e arandela italiana
landllatium que dos anos 1950. Na pág. anterior,
repudici qui od est in a sala de jantar é composta
panit quia dolorem por banco de Beata Heuman,
fugiam con cus, ilis revestido de couro da Whistler
ulpa is ulpa is ulpa is Leather, e cadeiras de Niels Otto
ulpa praturi omnihil Møller, estofadas com veludo
itatium autem non non Panthera, da Scalamandré – ao
perchic to eium vera fundo, pintura de Gideon Appah
que et audae pavel ipis
ex et que la nimin nesti
10 x 20 cm
jojgoisfngaue la nimin
nesti 10 x 20 cm
jojgoisfnga

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Maquiagem: Maha Alselami (com produtos Laura Mercier). Cabelo: Jaz Lanyero. Assistente: Anoushka Danielle. Unhas: Michelle Class/LMC Worldwide. Tradução: Adriana Mori
À dir., a cozinha foi
equipada com armários
amarelos de compensado
de bétula feitos sob
medida com bancada de
mármore Carrara,
eletrodomésticos da
Smeg, ladrilhos da
Mosaic Factory e
luminárias de parede de
Hector Finch – sobre a ilha
customizada, luminária
pendente da Pure White
Lines. Na pág. seguinte, o
hall de entrada exibe
cabideiro da Gebrüder
Thonet e estandarte Asafo,
feito pelo povo fante e
comprado por Adwoa em
Gana – a escada que
leva ao pavimento
superior recebeu
passadeira desenhada
por Beata Heuman

sueca radicada em Londres, conhecida por sua estética ousa- é um tesouro de curiosidades ecléticas (incluindo sua própria
da e excêntrica. “Adorei que ela não tinha medo de correr cer- boneca Barbie), fotografias raras e pessoais, obras de arte
tos riscos em termos de cores, estampas e formas.” (uma tapeçaria de parede feita por sua irmã como parte de seu
Para Beata e a chefe de design de interiores de seu escri- curso de arte está pendurada em um local de destaque) e li-
tório, Fosca Mariani, estava claro que seria um processo co- vros colecionados ao longo dos anos. A sala de estar foi proje-
laborativo. “Adwoa tem um senso de estilo muito forte, seu tada em torno de uma tela em grande escala de Ariana
objetivo sempre foi encontrar alguém que entendesse isso. Papademetropoulos. “Uma amiga me apresentou o seu traba-
Trata-se de interpretar quem ela é. Foi ótimo trabalhar com lho e me apaixonei completamente”, conta a modelo.
uma cliente tão focada.” A designer ajudou a evocar a versão Uma nova extensão lateral na cozinha permitiu uma série
urbana de um country inglês descontraído, com chita envol- de armários de compensado de bétula, cuidadosamente pin-
vendo peças feitas sob medida e achados vintage. “Não que- tados de amarelo. A maioria das peças é solta, incluindo o
ria que parecesse tão controlado, mas é bastante pondera- banco verde que fica sob uma obra do artista ganense Gideon
do”, explica Beata sobre o projeto. Appah. “Não queria nada fixo. E se eu quiser dar uma festa?”
Lembranças da vida da moradora preenchem os espaços e Adwoa acredita que, com a ajuda de Beata, sua morada
conferem à casa um caráter afetivo. Por ali, estão espalhadas as oferece muito mais do que aparenta. “Amigos disseram que se
colaborações criativas de familiares e amigos – até o jardim foi pudessem imaginar uma casa que me descrevesse, seria esta.
projetado por sua tia, a paisagista Sarah Husband. A biblioteca Me sinto muito em paz aqui. É meu santuário.” ●

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“Cresci em um lar cheio de cores


e estampas, onde nada combinava.
Era despretensioso e confortável.
E era isso o que eu queria”
ADWOA ABOAH

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No quarto principal, ao pé da cama, banco gustaviano da
década de 1920, penteadeira art déco e banco revestido
com tecido da Madeleine Castaing – para compor o mix de
estampas, papel de parede e cortinas Posy, da Whiteworks,
e tapete floral personalizado. Na pág. anterior, Adwoa
Aboah, de pijama Turnbull & Asser, posa na sala de banho
com banheira e metais da Edwins e cadeira de Beata
Heuman com tecido floral da Le Manach
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Acima, tapeçaria vermelha de Kesewa Aboah e fotos de família expostas


na biblioteca. Na pág. seguinte, no terraço com vista para o jardim
projetado pela tia de Adwoa, a paisagista Sarah Husband, cadeiras vintage
ArtProg figuram ao redor da mesa da Mena Woodwork

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“Sempre fui colecionadora e gosto de
exibir minhas posses, não de escondê-las”
ADWOA ABOAH
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O pilar marca o limite agora dissolvido entre o estar, à esq., e a antiga


varanda, à dir., dando origem a um amplo living, composto por
diversas ambientações: da esq. para a dir., escrivaninha da Móveis
Cimo, com luminária de Isamu Noguchi, poltrona de Jorge Zalszupin,
poltrona de Geraldo de Barros, ao lado de mesa de apoio de
Valdomiro Favoreto, mesmo autor das duas esculturas brancas
ao fundo e da mesa de centro quadrada com tampo de granilite,
acompanhada ainda por banco de madeira da Casa Atica – próximos
à janela, luminária de piso da Casa Teo e par de cadeiras S34 Cantilever,
de Mart Stam, em torno de mesa Saarinen, de Eero Saarinen
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MANO
AMANA Purista por excelência, o multicriador
Valdomiro Favoreto abre mão
da profusão de cores em favor das muitas
texturas para compor o apartamento
em Londrina, no Paraná, concebido
por ele para a irmã, a designer
de moda Jana Favoreto
TEXTO LARA MUNIZ FOTOS WESLEY DIEGO EMES PRODUÇÃO LUCAS FREITAS
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“GOSTO DE USAR AS TENDÊNCIAS DE UMA
FORMA MENOS EXPLÍCITA. ALGO COMO JOGAR
UM POUCO DE PERFUME NO AR E DEIXAR
O AROMA OCUPAR O ESPAÇO” VALDOMIRO FAVORETO

Este canto do living é composto por mesa de centro


de jacarandá dos anos 1950 e outra, redonda, da
Menu Casa, bufê da Desmobilia com puxadores
substituídos por pedras portuguesas e poltrona de
Zanine Caldas – a mesa de apoio com tampo de
ametista, a luminária de piso, a fruteira de cerâmica
(sobre o bufê) e o centro de mesa bicolor são
criações de Valdomiro Favoreto. Na pág. anterior,
outro vislumbre a partir do estar em direção à antiga
varanda exibe sofá da Menu Casa, amparado por
mesa de apoio com desenho de Valdomiro Favoreto
e abajur garimpado na Feira do Bixiga, em São Paulo
– atrás do sofá, no espaço usado como escritório,
escultura de Valdomiro Favoreto, escrivaninha da
Móveis Cimo original de época e, sobre ela,
luminária de mesa de Isamu Noguchi
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N uma lista absolutamente aleatória de coi-


sas que possuem em comum, Jana e Valdomiro Favoreto po-
dem incluir a mãe, o trabalho como designers e o apreço por
viver em meio à arte. Os irmãos mantêm os laços firmemente
atados – e veio daí a vontade da designer de moda de entregar
o projeto de decoração da sua nova morada aos cuidados do
O layout original pouco mudou. A própria varanda já ha-
via sido incorporada ao estar quando Jana pegou as chaves,
mas uma alteração trouxe o toque de modernidade que falta-
va: ao converter a churrasqueira original em uma lareira em
formato de cubo, com bar de apoio, o living ficou mais acolhe-
dor. É ali que amigos e familiares se reúnem. Coube ao bege,
familiar. “Cultivo um pensamento cênico ao lidar com decora- surpreendentemente, dar o impacto visual do projeto. O mes-
ção. A Jana tem uma identidade forte, inovadora e cheia de mo azulejo terracota de 25 x 25 cm reveste piso, ilha da cozi-
frescor. Planejar esse apartamento para ela foi uma delícia”, nha e paredes das áreas molhadas – além da própria lareira –,
contaValdomiro.Aamiga arquitetaAna Paula Brunetto parti- comprovando que a unidade visual pode mesmo se revelar um
cipou da empreitada cuidando da parte técnica e dos dese- deleite. “Meu trabalho é baseado em linhas, formas e texturas
nhos de marcenaria e afins, completando o time. e acredito que isso se reflete muito na decoração e nos objetos

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Na sala de jantar, a mesa desenhada por
Valdomiro Favoreto é acompanhada por cadeiras
da Thonet e banco 60, de Alvar Aalto, tudo
sob pendente de linho garimpado – na cozinha
integrada, frontão e prateleira de mármore
Paraná, e arandelas de vidro leitoso, na Leroy
Merlin. Na pág. anterior, Jana Favoreto posa
ao lado da tela do irmão junto ao arco que dá
acesso à área íntima do apartamento
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Acima, à esq., detalhe da lareira que um dia foi churrasqueira, decorada com luminária de latão presenteada por uma amiga, busto
francês do Antiquário M Simões, castiçal e adornos de Valdomiro Favoreto – na parede, quadro de Irene Anizelli, e, em primeiro
plano, chaise LC4, de Le Corbusier, Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand, amparada por mesa de apoio de Valdomiro Favoreto; e,
acima, à dir., na área do bar, vaso de Valdomiro Favoreto, taças de prata do acervo da moradora e quadro de Irene Anizelli. Na pág.
seguinte, tons de mostarda aparecem no quarto do casal, tanto na marcenaria da cabeceira quanto no acolchoado de veludo – o
ambiente é preenchido ainda por cadeira de Robert Mallet-Stevens para a Villa Cavrois, com almofada Joo, luminária de latão dos
anos 1980, mesa lateral e obras de Valdomiro Favoreto, cesta de cerâmica vintage e espelho de mesa de Caberlin+Neto

que compomos – e seguimos compondo, porque a casa, para resulta divertida e ultrapassa rapidamente a dezena: aço inox,
mim, é algo que não para nunca de mudar”, reflete Jana, que buclê, cerâmica, granilite, latão, linho, madeira, mármore,
divide o lar com o marido, engenheiro agrônomo. prata, palhinha, veludo, entre outros tantos… “Penso que o
A riqueza de materiais bebe na fonte das décadas de 1980 design está em constante evolução. Eu pesquiso arte, histó-
e 90, que já são referência para os trabalhos dos dois irmãos ria, moda e tecnologia – e cada fonte distinta informa e enri-
em seus diferentes campos de atuação. Enquanto Jana mer- quece a outra”, pondera Valdomiro. A frieza dos minerais,
gulha nas inúmeras possibilidades do alumínio reciclado, sua que aparece também nas muitas rochas ornamentais que
principal matéria-prima para a produção de acessórios de pontuam os móveis do projeto, contrasta com a natureza do
moda, Valdomiro toma partido do aço inox e da prata, metais entorno. O imóvel, localizado a três pavimentos do chão,
que têm outro rol de acabamentos, igualmente rico e pouco abre-se para a copa das árvores numa região alta da cidade de
convencional. A tentativa lúdica de enumerar texturas dis- Londrina, sem obstáculos visuais e com horizonte livre – as-
tintas presentes nos 235 m² do apartamento de três suítes sim como a visão dos irmãos Favoreto. ●

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“MEU IRMÃO SOUBE TRADUZIR
MINHA PERSONALIDADE NO PROJETO,
E SUA PRESENÇA EM MÓVEIS E OBJETOS
AUTORAIS PREENCHE O ESPAÇO COM
MUITA MEMÓRIA AFETIVA” JANA FAVORETO
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Outro canto do living composto por poltrona LC1 (em primeiro plano), original
de época, de Le Corbusier, Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand, estante
branca e luminária de latão garimpadas em uma feira de rua em São Paulo,
mesa de apoio Saarinen, de Eero Saarinen, com vaso de Valdomiro Favoreto,
sofá tubular de Geraldo de Barros, cadeira de madeira da Casa Atica, ambos
decorados com almofadas da Joo, espelho da Casa Atica e mesa de apoio de
Valdomiro Favoreto – entre as obras de arte, da esq. para a dir., escultura de
corações de Jacque Faus, escultura (verde) de Luiza Navarro Guedes,
escultura bicolor de Valdomiro Favoreto e escultura de piso de Irene Anizelli
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“A PALETA É MESMO BEM PURISTA, MAS A


COMBINAÇÃO DE TEXTURAS OFERECE UMA
AMOSTRA DOS MUITOS MATERIAIS COM
QUE EU E A JANA TRABALHAMOS NA NOSSA
ROTINA DE DESIGNERS” VALDOMIRO FAVORETO
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ENTRE
BRASIS
Uma dúzia de casas de vila
transformada em um endereço
que reverencia a culinária
e a arquitetura brasileiras. Essa
é a história do Baixo Gastronômico,
nova empreitada do chef Ivan
Santinho, já conhecido pela
rotisseria La Cura e prestes
a explorar um formato intimista
na capital paulista. A brasa do fogão
a lenha permanece acesa – agora,
entre as mesas e ainda mais perto
nos almoços e jantares presenciais
que vai promover por ali.
“Estamos próximos aos produtores,
honrando elementos caipiras
e a expressividade dos ingredientes”,
conta Ivan sobre o cardápio com
moqueca, bobó, picadinho e outros
pratos tradicionais, incluindo
versões vegetarianas e sem glúten.
O espaço leva a assinatura
do designer Gustavo Jansen, que
foi à Bahia buscar itens regionais
e simbólicos para a composição:
de Maragogipinho, o maior polo
de cerâmica do país, trouxe
o artesanato feito com a argila
da beira do rio da cidade. Garimpos
das feiras do Bixiga e da Benedito
Calixto, em São Paulo, também
integram o mobiliário restaurado
do local, que funcionará por meio
de reservas e conta com acessibilidade
para pessoas com mobilidade
reduzida. Bons ventos – e sabores
– levam à Vila Madalena.
instagram.com/baixogastronomico

TEXTO Nicoly Bernardes


FOTO Fran Parente

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