Aula 1 - Bloco 1
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— Sim, pode ser reparado. Uma rapariga nova... Diz que o senhor
pároco é ainda novo... Vossa senhoria sabe o que são as línguas do
mundo".
Aqui é o trecho em que o cônego vai decidir onde o Amaro vai morar. E
ele diz "olha, estou pensando em colocá-lo para morar ali no quarto na casa
da senhora Joaneira" e o coadjutor olha para ele e fala "ôh cônego, é o seguinte:
na casa da senhora Joaneira tem a filha dela. Lá você vai encontrar a filha
dela, a Ameliazinha. Ela é nova e o padre que está chegando é novo. E você
sabe como são as línguas deste mundo". E destaquei esse trecho para dizer a
você que é preciso evitar as línguas deste mundo, mas, principalmente, é
preciso evitar as tentações deste mundo. Quer dizer, ele é novo, ela é nova, na
mesma casa, o dia inteiro, dorme lá, enfim. Para quê isso? E você percebe que a
racionalidade ela tem que se manifestar neste momento, a prudência tem que
se manifestar neste momento. É muito mais fácil uma pessoa super prudente
dizer aqui "olha, como há uma mulher nova, e vai um padre novo, não vou
colocá-los na mesma casa, vai morar em outra casa" e isso sem traumas, sem
brigas, sem tentações, sem nada. Agora, dizer "não, mas o padre vai morar lá e
ele vai conseguir resistir à tentação", quer dizer, para quê eu vou colocar uma
pessoa em tentação? E isso vale para nós também. A prudência ela evita a
tentação. A prudência evita a chance da queda. Porque alguém diz "olha, mas a
oração é não me deixar cair em tentação", pois é.
Mas há uma outra recomendação bíblica para que oremos para que não
entremos em tentação. Então, a ideia é: naquilo que a sua sabedoria permitir,
não namore o erro. Não chegue próximo do erro. "Decidi parar de beber porque
eu me percebi alcoólatra", tudo bem. Decidi parar de beber. Na minha casa não
deve haver álcool, nenhuma bebida de nenhuma natureza. "Ah, não, mas
quando recebo visitas", as visitas devem saber que, na minha casa, não há
álcool. E se eu for servir alguma coisa, eu compro para aquele dia, para aquela
ocasião. Só e tão somente isso. O que fiz aqui? Eu me ajudei a não entrar em
tentação. Há várias atitudes nossas que nos impedem de cair. Não se apoie na
sua própria força para resistir ao mal. Mas afasta-te do mal. Afaste-se do mal.
Veja que aqui há uma oportunidade de evitar um milhão de problemas. E a
gente já começa a ver, nessa primeira parte da obra, que o padre Amaro tinha
uma questão. Ele não sabia realmente se ele queria ser padre. Ele gostava muito
de mulher e ele sofre uma tentação ao ver a Ameliazinha. Quer dizer, para quê
colocar esse padre nessa situação? Este é o nosso primeiro ponto.
Avancemos, por assim dizer. E você que está com a mesma edição que a
minha, abra na página 28. A obra, diz aqui na página 28, na primeira metade, o
seguinte:
"Falaram do seminário.
"— Que eu agora, dizia o padre Amaro, ando mais forte. Louvado
seja Nosso Senhor Jesus Cristo, tenho saúde, tenho!
— Ai, Nosso Senhor lha conserve, que nem sabe o bem que é!
exclamou a S. Joaneira. — Contou imediatamente a grande
desgraça que tinha em casa, uma irmã meio idiota entrevada
havia dez anos! Ia fazer sessenta anos... No Inverno viera-lhe um
catarro, e desde então, coitadinha, definhava, definhava".
Quem não tem saúde percebe a bênção que é tê-la. Agradeça a sua
saúde. Agradeça a Deus a sua saúde. Sei que a gente fala "agradeça a Deus por
sua saúde; agradeça pelo trabalho", mas segundo o português formal não seria
"pelo", "por", mas seria diretamente o artigo, "agradeça a saúde a Deus",
"agradeça o trabalho ao Senhor", então você agradece a alguém alguma coisa.
De qualquer sorte, não é o português o nosso tema aqui, é a bênção que é ter
saúde. E você percebe essa bênção muito forte quando você encontra alguém
sem saúde ou quando você se queda enfermo, fica doente. Aí você percebe a
bênção que é ter saúde. Esse já é um motivo para você escrever no seu caderno
das coisas boas que lhe acontecem hoje. Por exemplo, ter saúde. "Hoje não
estou doente, hoje estou são". Essa é uma bênção muito grande.
Ele perde com 5 anos o pai, ele perde com 6 anos a mãe. Órfão de pai e
mãe. Pobre, criado na casa do patrão dos pais. Deu a sorte - ou a misericórdia -
de ter uma mulher que era a patroa de sua mãe que decidiu, de certa forma, a
cuidar dele. Mas por que destaquei isso? As pessoas que você vê têm uma
história que você não vê. Não seja tão duro com elas. As pessoas que você
conhece passam por lutas que você desconhece. Seja gentil com elas. Às vezes,
uma pessoa no seu trabalho, está sentado do seu lado, o dia inteiro, e você não
sabe a amargura no coração daquela pessoa, o problema pelo qual ela tem
passado. Às vezes, é um parente doente, às vezes é um divórcio, às vezes é a
descoberta de uma traição, às vezes é uma mentira, é um aperto, é uma
pressão, é uma ameaça. Você não sabe. Às vezes é a história de vida. A pessoa
está lá e você não sabe de onde ela vem, às vezes ela perdeu o pai com 5 anos,
perdeu a mãe com 6. Às vezes ela nunca conheceu o pai. E você está ali com ela,
você diz que a conhece, mas a pessoa que você conhece tem uma história que
você desconhece. Ou a pessoa que você conhece está passando por uma
situação que você desconhece. Porque você não é Deus. E você pode me dizer
"é claro que desconheço porque não sou Deus", mas a minha recomendação
não é que você seja Deus, é que você seja filho de Deus. E, sendo filho de Deus,
ame o próximo como a si mesmo. E, sendo filho de Deus, aprendei de mim, diz
o Senhor, que sou manso e humilde de coração. Porque todo o embasamento
do cristianismo vai dizer "se alguém lhe der uma tapa na face, ofereça a outra",
"se alguém lhe tomar a túnica, dê-lhe, também, a capa", "se alguém lhe
obrigar a andar uma milha, vai com ele duas", o que significa dizer que não
preciso compreender a luta na vida do outro para ser gentil, para ser educado,
para ser cortês, para ser solidário, para ser amigo, para ser um imitador do Cristo,
para aqueles que são cristãos. Para aqueles que não são, tudo isso é aplicável,
ainda que filosoficamente. As pessoas que você conhece passam por dores, por
dificuldades que você desconhece.
Então a mulher que casou com o tio, casou com ele porque queria sair da casa
do pai.
Destaquei esse tema para dizer a você que, às vezes, o casamento é uma
fuga. Às vezes o casamento é uma fuga. Não é por amor, nem por nada, é por
sobrevivência. O que o Eça de Queirós está nos dizendo aqui? Ele está dizendo
que essa mulher casou com esse cara, ela nem queria se casar. Ela nem gostava
dele. Ela tinha até nojo dele. Uma mão peluda, um cara meio asqueroso. E ela
topa. E ela topa para fugir da casa do pai. Porque lá a mesa era escassa, ela tinha
que arrumar a sua cama e não podia ir ao teatro. Mesa escassa, ou seja, ela
passava fome. Tinha que arrumar sua casa significa que ela tinha que fazer os
trabalhos domésticos. Passava fome, tinha que fazer os trabalhos domésticos e
não podia ir ao teatro. Ou seja, não tinha um momento de lazer, um momento
de cultura, nada. E ela se casa para fugir daquele ambiente. Casamento pode
ser uma fuga. O casamento pode ser a fuga de alguém que morava em um lar
completamente desestruturado, com violência moral, psicológica, por vezes
física. Ou em condições paupérrimas. E que encontrou no casamento um meio
de se salvar. A gente só torce para que, quando isso ocorrer, ocorra o que Mrs.
Oswald diz em "a mão e a luva", de Machado de Assis": o amor pode nascer da
convivência. Então, que o amor, para esses casos, nasça da convivência - o que
não foi o caso aqui.
Quer dizer, a boa paróquia tem que ser uma retribuição ao serviço
prestado pelo pároco. E o conde vai dizer que tudo bem, mas é um serviço
prestado à igreja, um serviço profissional, um serviço religioso, não um serviço
prestado ao governo, não a uma politicagem.