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UNIVERSIDADE BRASIL

DIREITO BACHARELADO

MARIA EDUARDA BUZINARO

DIREITO PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

FERNANDÓPOLIS

2024
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................4
2 LEI PENAL NO TEMPO........................................................................................5
2.1 Considerações prévias......................................................................................... 5
2.2 Irretroatividade da lei penal...............................................................................5
2.3 Retroatividade e ultratividade da lei mais benigna............................................6
2.4 Conflito de leis penais no tempo.......................................................................6
2.5 Lei intermediária e conjunção de leis................................................................7
2.6 Lei temporária e excepcional............................................................................8
2.7 Princípio da continuidade normativa típica.......................................................8
2.8 Conflito aparente de normas.............................................................................9
2.8.1 Elementos necessários.................................................................................9
2.8.2 Princípios que solucionam o conflito aparente de normas............................9
2.9 Revogação da lei penal...................................................................................10
2.9.1 Revogação total e parcial............................................................................10
2.9.2 Execução da revogação..............................................................................11
2.10 Tempo do crime...............................................................................................11
2.10.1 Teoria da atividade.......................................................................................11
2.10.2 Teoria do resultado......................................................................................12
2.10.3 Teoria mista ou da ubiquidade.....................................................................12
2.10.4 Exceções à regra.........................................................................................12
2.10.4.1 Crime continuado.....................................................................................12
2.10.4.2 Crime permanente...................................................................................12
2.11 Irretroatividade da lei processual e da norma penal em branco.....................13
3 LEI PENAL NO ESPAÇO....................................................................................14
3.1 Considerações prévias....................................................................................14
3.2 Princípios preponderantes..............................................................................14
3.3 Conceito de território nacional........................................................................16
3.4 Lugar do crime................................................................................................17
3.5 Extraterritorialidade.........................................................................................17
3.6 Princípio nos bin in idem.................................................................................19
3.7 Extradição, deportação e expulsão.................................................................19
3.8 Tribunal Penal Internacional............................................................................20

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3.9 Eficácia da sentença estrangeira....................................................................21
4 CONCLUSÃO.....................................................................................................22
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................23

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1 INTRODUÇÃO

Esta monografia de pesquisa tem como objetivo analisar o direito penal no


tempo e no espaço, tendo como principal objeto de estudo o próprio código penal e
as leis que nele se manifestam. Diante dessa lógica, é indispensável compreender
os fundamentos acerca do tempo e local do crime antes mesmo de aplicar a lei ao
caso concreto, uma vez que se trata do destino de pessoas reais e estas não devem
ser prejudicadas em decorrência da lei, haja vista que compete ao Direito Penal
julgar as liberdades individuais com tamanha severidade e rigorosidade, a fim de
que haja segurança jurídica e coexistência com as regras do contrato social. Nesse
viés, antes de adentrar a temática, faz-se necessário discorrer sobre os princípios
primordiais da aplicação da lei penal.
Primordialmente, destaca-se o princípio da legalidade, o qual prevê a lei como
a gênese para a criação de crimes e suas respectivas penas – Art. 1°, CP/40: “Não
há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.” –,
sendo esta sua única fonte para concepção. Ademais, salienta-se que, para se tratar
de crime e culminar penas, somente se emanada por um órgão competente (União)
delegado pela Constituição Federal, tal como é estipulado pelo seu Art. 22, inciso I.
Todavia, é importante ressaltar que tudo aquilo que a lei não proíbe ou é omissa, isto
é, não há previsão legal, o indivíduo tem a permissão de realizar (Art. 5°, II, CF/88:
“Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
da lei.”). Desse modo, percebe-se a duplicidade da qual esse princípio é composto:
I. Anterioridade da lei: a lei precisa ser anterior a conduta, ou seja, o
crime e a pena devem estar definidos em lei anterior ao fato cuja punição se
pretende, uma vez que a lei só produz efeito a partir de sua entrada em vigor;
II. Reserva legal: tudo o que é matéria penal, principalmente crime e
pena, irá se reservar unicamente a lei. Não cabe a criação de crimes e penas por
decreto, ato legislativo estadual ou municipal, analogia, costumes ou pelo arbítrio
judicial.
Destarte, esses princípios garantem a limitação do poder do Estado no que
concerne a sua interferência na esfera das liberdades individuais, bem como serve

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de garantia constitucional dos direitos do homem e o protege do abuso e
arbitrariedades advindas do poder estatal.
2 LEI PENAL NO TEMPO

2.1 Considerações prévias

Sobre a lei penal no tempo, destaca-se a seguinte abordagem preliminar do


tema:

“Assim como nenhuma forma de manifestação de vida consegue evitar


a ação corrosiva e implacável do tempo, a lei penal também nasce, vive
e morre. E, desde que uma lei entra em vigor, ela rege todos os atos
abrangidos por sua destinação, até que cesse a sua vigência. A lei
anterior, como regra, perde sua vigência quando entra em vigor uma lei
nova regulando a mesma matéria. E, como diz Damásio de Jesus,
‘entre estes dois limites — entrada em vigor e cessação de sua
vigência — situa-se a sua eficácia.’ Não alcança, assim, os fatos
ocorridos antes ou depois dos dois limites extremos: não retroage,
nem tem ultratividade. É o princípio tempus regit actum. Em outros
termos, a lei aplicável à repressão da prática do crime é a lei vigente ao
tempo de sua execução. Essa é uma garantia do cidadão: além da
segurança jurídica, garante-se-lhe que não será surpreendido por leis
ad hoc, criminalizando condutas, inclusive a posteriori, que até então
não eram tipificadas como crime.” (BITENCOURT, 2023, 29ª ed., p. 490-
492)

2.2 Irretroatividade da lei penal

O princípio da irretroatividade da lei penal é uma das mais importantes


garantias fundamentais da ordem jurídica, embasado na ideia de segurança jurídica,
dado que as normas incriminadoras não podem se modificar após as execuções em
prejuízo ao réu. Desse modo, o legislador é limitado a criminalizar novas condutas,
já praticadas pelo réu, que, desconhecendo tal circunstância, não teria como prever
e evitar sua prática.

“Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos
penais da sentença condenatória.” (Art. 2° do Código Penal).

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Parafraseando, esse fenômeno ocorre quando uma nova lei torna atípica uma
conduta até então prescrita como criminosa, extinguindo as execuções das penas
referentes ao crime e os efeitos das sentenças penais condenatórias já proferidas
(extinção da punibilidade). Nesse sentido, a lei não pode retroagir com o intuito de
prejudicar o infrator.

2.3 Retroatividade e ultratividade da lei mais benigna

Em regra, sabe-se que a lei penal não pode retroagir. Entretanto, há exceção,
uma vez que a lei poderá retroagir somente em benefício ao réu. Desse modo, é
imperioso investigar a lei mais favorável ao indivíduo tido como infrator, a fim de que
este não seja prejudicado em decorrência da lei.

“A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.” (Art. 5°, XL,
CF/88).
“A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se
aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória
transitada em julgado.” (Art. 2°, Parágrafo único, CP/40).

Nesse sentido, a retroatividade é quando a lei posterior é mais benéfica em


relação à lei anterior, fazendo com que ela retroaja para alcançar os fatos cometidos
antes de sua vigência. Em contrapartida, a ultratividade se dá quando a lei anterior é
mais benéfica ao réu em comparação à lei posterior, fazendo com que ela prevaleça
ao mesmo tempo da vigência da lei nova, apesar de sua revogação.
Aplicação: o fundamento de que a lei não pode retroagir, salvo para
beneficiar o acusado, restringe-se às normas de caráter penal. A lei processual, por
exemplo, não se submete ao princípio da retroatividade em benefício do agente.

2.4 Conflito de leis penais no tempo

I. Abolitio criminis: a lei posterior deixa de considerar crime o fato


anteriormente tipificado como ilícito penal, ou seja, a lei nova retira a punibilidade de
uma conduta predeterminada como incriminadora pela lei antiga. Nesse sentido, o

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abolitio criminis cessa todos os efeitos penais, mesmo em fase de execução.
Consequentemente, os processos são imediatamente trancados e extintos e, se já
houve sentença condenatória, cessam imediatamente sua execução e todos seus
efeitos penais subsequentes;
II. Novatio legis incriminadora: conduta que anteriormente não era
tipificada como ilícito penal passa a ser criminosa pela lei nova, isto é, ela considera
crime um fato antes não incriminado. Vale destacar que esta é irretroativa e não
pode ser aplicada a fatos praticados antes de sua vigência (nullum crimen, nulla
poena sine previa lege = não há crime, nem pena, sem prévia lei);
III. Novatio legis in pejus: refere-se ao caso de que a lei posterior é
considerada mais severa do que a lei anterior (lex gravior – lei menos benigna), uma
vez que ela agrava a situação do infrator. Nesse viés, a lei antiga, por ser mais
benigna, pode retroagir, todavia, a lei nova, devido a sua severidade, não retroagirá;
IV. Novatio legis in mellius: refere-se ao caso de que a lei posterior é
mais benéfica e favorável ao ser em comparação a antiga (lex mitior = lei mais
benigna). Vale salientar que, mesmo com a sentença condenatória em execução,
prevalece a lex mitior que, de qualquer maneira, favoreça o sujeito.
Além disso, é imperioso ponderar que compete a autoridade judiciária aplicar
a lei penal mais benéfica ao réu.

2.5 Lei intermediária e conjunção de leis

Primeiramente, a conjunção ou combinação de leis refere-se a união entre


duas ou mais normas jurídicas, as quais sucedem, de forma contrária, no tempo – lei
nova e lei anterior –, com o intuito de beneficiar o réu. É uma faculdade conferida ao
juiz para a determinação de uma lei mais benigna, na qual ele recolhe critérios
favoráveis da lei posterior e anterior, conjugando-os de forma a aplicá-los ao caso
concreto. Entretanto, tal fenômeno foi vedado pelo Superior Tribunal de Justiça
(STJ) na Súmula 501:

“É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o


resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais
favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976,
sendo vedada a combinação de leis.” (Súmula 501).

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Em segunda análise, a lei intermediária representa aquela lei que não era
vigente à época do fato, tampouco vigorava no tempo da prolação da sentença,
porém, vigorou durante o processo criminal: ela surge no intervalo de tempo entre o
fato criminoso e o julgamento e prevalecerá, caso seja mais favorável, às demais
leis.
À exemplo prático, suponha que determinada conduta foi praticada na
vigência da Lei X – conduta acarreta pena de 1 a 4 anos – e no decorrer do
processo, sobre a mesma conduta, adveio a Lei Y, de forma benigna, estabelecendo
uma pena para a conduta de 6 meses a 2 anos. Todavia, no momento da sentença
condenatória, é editada uma Lei Z, sendo mais severa, sobre a mesma situação,
prevendo pena de 2 a 5 anos. Considerando que a Lei Y (intermediária) é a mais
favorável ao réu dentre as demais, ela deverá ser aplicada ao caso concreto. Desse
modo percebe-se a duplicidade dos efeitos da lei intermediária, uma vez que, em
relação a Lei X, ela é retroativa, já que ela retroage para atingir os fatos ocorridos na
vigência da Lei X, contudo, no que concerne à Lei Z, ela é ultra-ativa, já que, mesmo
revogada, a Lei Y continuará tendo efeito, justamente por ser mais benéfica ao réu.

2.6 Lei temporária e excepcional

“A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua


duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se
ao fato praticado durante sua vigência.” (Art. 3° do Código Penal).

a. Lei temporária: são aquelas cuja vigência é predeterminada pelo


legislador, isto é, é a lei que criminaliza um fato dentro do tempo no qual ela perdura
(prazo de vigência determinado). À exemplo disso, postula-se a Lei Nº 12.663, de 5
de junho de 2012, a qual dispõe sobre as medidas relativas à Copa do Mundo da
FIFA;
b. Lei excepcional: são aquelas que vigoram durante situações
transitórias de caráter anormal e urgente, editadas para reger fatos ocorridos
durante esses eventos, como guerras, pandemias e/ou epidemias, desastres
naturais, entre outros. Elas perduram enquanto existir o estado de emergência do
qual elas surgiram.

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2.7 Princípio da continuidade normativa típica

Nesse sentido, decidiu o STJ:


"O princípio da continuidade normativa típica ocorre quando uma
norma penal é revogada, mas a mesma conduta continua sendo crime
no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal continua tipificada
em outro dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente
diverso do originário.” (STJ. HC 204.416 / SP).

Em outras palavras, aplica-se esse princípio quando uma lei é revogada, mas
a conduta nela tipificada como crime é mantida em outro dispositivo legal da nova
lei, ou seja, ocorre o deslocamento do conteúdo criminoso para outro tipo penal. É
uma exceção à regra do abolitio criminis, uma vez que, nesse caso, a lei revogadora
extingue o crime previsto pela lei revogada, diferentemente do princípio da
continuidade normativa típica, no qual o fato típico previsto como crime se mantém,
só que em outro dispositivo penal.

2.8 Conflito aparente de normas

Acerca de sua conceituação, infere-se que o conflito de normas é aquele que


se estabelece entre duas ou mais normas incriminadoras que são aparentemente
aplicáveis ao mesmo fato e igualmente vigentes na época.

2.8.1 Elementos necessários

a) unidade do fato (há somente uma infração penal);


b) pluralidade de normas (duas ou mais normas que podem regulá-la);
c) aparente aplicação de todas as normas à espécie (aplicabilidade de
todas as normas ao caso é tão somente aparente);
d) efetiva aplicação de somente uma delas (somente uma é aplicável, por
isso o conflito é aparente).

2.8.2 Princípios que solucionam o conflito aparente de normas

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a) Especialidade: a lei especial prevalece sobre a geral, a qual deixa de
incidir sobre aquela hipótese. É aparente pelo fato de possuir todos os elementos da
norma geral, contudo, possui particularidades a mais;
b) Subsidiariedade: há subsidiariedade entre duas leis penais quando se
trata de estágios ou graus diversos de agravo a um mesmo bem jurídico, de forma
que o agravo mais amplo e dotado de maior gravidade, descrita pela lei primária,
absorve a menos ampla e menos grave, contida na subsidiária, ficando a
aplicabilidade desta condicionada à não incidência da outra;
c) Alternatividade: se aplica quando a lei penal prevê um crime tipificado
por várias condutas em seus vários núcleos, isto é, são crimes de ação múltipla e
conteúdo variado. Todavia, salienta-se que a prática de todas as condutas previstas
no dispositivo acarreta um só crime, logo, uma só pena.
d) Consunção: acontece quando um fato mais amplo e mais grave
absorve outros fatos menos amplos e graves, que funcionam como fase normal de
preparação ou execução ou como mero exaurimento. Em outras palavras, um delito
consome outro delito, o mais grave absorve a ocorrência do menos grave.

2.9 Revogação da lei penal

A revogação equivale à morte de uma lei, é quando esta perde sua vigência e
deixa de ser eficaz nas situações que anteriormente regulava, seja pelo decurso do
tempo (temporária) ou pelo desuso dela (excepcional). Nesse viés, a lei só se
mantém em vigor até ser revogada por outra lei, uma vez que sua supressão
extingue a obrigatoriedade da lei antiga. Ademais, é imperioso destacar que
somente a lei tem poder de revogar outra lei.

2.9.1 Revogação total e parcial

Ab-rogação: consiste na supressão integral da norma anterior, ou seja, é a


revogação da lei em toda a sua totalidade, uma vez que foi editada por uma lei nova
que irá abranger todos os critérios nos quais a lei antiga era composta;
Derrogação: consiste na supressão parcial da norma anterior, isto é, parte da
lei continua em vigor, enquanto a parte restante é extinta por consequência da

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publicação de uma nova lei que expressamente declare revogado determinados
critérios.

2.9.2 Execução da revogação

1. Expressa: a lei posterior declara expressamente em seu texto os


dispositivos dos quais foram revogados por ela;
2. Tácita: a lei posterior não declara expressamente em seu texto a
revogação dos dispositivos da lei anterior, sendo elas incompatíveis;
3. Global: a lei posterior regula inteiramente os dispositivos nos quais a
lei anterior abrangia em sua matéria.

2.10 Tempo do crime

É necessária a identificação do momento em que se considera praticado o


crime, para que se opere a aplicação da lei penal ao infrator, uma vez que o tempo é
o fator imprescindível na análise da imputabilidade do agente quando a infração
penal foi executada. Nesse sentido, há três teorias buscam inferir o tempo em que o
crime é cometido.

2.10.1 Teoria da atividade

Essa teoria defende a ideia de que é considerado praticado o crime no


momento em que a conduta foi realizada pelo agente, seja ela de caráter comissiva
ou omissiva, pouco importando o momento em que se teve o resultado. A teoria da
atividade foi acolhida pelo Código Penal Brasileiro em seu Art. 4°:

“Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão,


ainda que outro seja o momento do resultado.” (Art. 4°, CP/40).

Dessa forma, a identificação do tempo do crime é dada pelo momento em que


a conduta foi praticada. Nesse sentido, a aplicação dessa teoria possui
consequências relevantes para a lei penal, tal como:

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a) aplica-se a lei em vigor ao tempo da conduta, exceto se a do tempo do
resultado for mais benéfica;
b) a imputabilidade é apurada ao tempo da conduta;
2.10.2 Teoria do resultado

Essa teoria é o contrário daquilo que é defendido pela teoria da atividade,


uma vez que os doutrinadores consideram praticado o crime no momento em que se
produziu o resultado lesivo, isto é, a consumação de sua conduta, sendo irrelevante
a ocasião em que a conduta foi realizada pelo agente.

2.10.3 Teoria mista ou da ubiquidade

Essa teoria busca conciliar a existência de ambas as teorias, a teoria da


atividade e a do resultado. Para ela, o crime é praticado tanto no momento da
realização da conduta pelo agente quanto no momento em que esta se consumou e
produziu resultado.

2.10.4 Exceções à regra

2.10.4.1 Crime continuado

Crime continuado é aquele que se caracteriza por duas ou mais ações do


agente, o qual pratica dois ou mais crimes da mesma espécie – delitos parcelares –,
sendo estes considerados semelhantes pela condição de tempo, lugar, modo,
execução, dentre outros, e tidos, consequentemente, como continuação dos outros.
Nesse cenário, quando confirmada esta hipótese, a pena aplicada será a prevista
para apenas um dos crimes, caso estes sejam idênticos. Todavia, se forem crimes
divergentes, será aplicada a pena prevista para aquele considerado mais grave.

2.10.4.2 Crime permanente

Crime permanente é aquele cujo momento consumativo se prolonga no


tempo, segundo a vontade do sujeito ativo do delito. Nesses crimes, a situação ilícita

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continua a produzir efeitos mesmo após efetivação da ação inicial, isto é, a infração
não se concretiza somente em um único ato, de modo que o agente tem o domínio
sobre o momento consumativo do crime até que este seja interrompido.
2.11 Irretroatividade da lei processual e da norma penal em branco

“Em outros termos, toda lei penal, seja de natureza processual, seja de
natureza material, que, de alguma forma, amplie as garantias de
liberdade do indivíduo, reduza as proibições e, por extensão, as
consequências negativas do crime, seja ampliando o campo da licitude
penal, seja abolindo tipos penais, seja refletindo nas excludentes de
criminalidade ou mesmo nas dirimentes de culpabilidade, é
considerada lei mais benigna, digna de receber, quando for o caso, os
atributos da retroatividade e da própria ultra-atividade penal. Por outro
lado, toda lei penal (material ou processual) que, de alguma forma,
represente um gravame aos direitos de liberdade, que agrave as
consequências penais diretas do crime, criminalize condutas, restrinja
a liberdade, provisoriamente ou não, reduza os meios de defesa,
simplifique os procedimentos penais, ou limite a produção de provas,
caracteriza lei penal mais grave e, consequentemente, não pode
retroagir.” (BITENCOURT, 2023, 29ª ed., p. 547-549)

Essa temática é abordada de inúmeras controvérsias doutrinárias, em que


uma parcela defende que, tanto a lei processual como a norma penal em branco,
não há o princípio da retroatividade, já outros doutrinadores defendem que elas
podem retroagir, salvo para beneficiar o réu, tal como as demais leis penais do
ordenamento.
Acerca da lei processual, destaca-se princípio geral do tempus regit actum, ou
seja, a lei processual aplica-se de imediato, sem efeito retroativo, respeitando,
portanto, a validade dos atos praticados sob a vigência da lei processual anterior.

“A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da


validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.” (Art. 2°,
CPP).

Nesse sentido, a irretroatividade da lei penal se limita àquelas de caráter


material, entre as quais existe as que, de algum modo, vá contra o direito
fundamental do cidadão ou restringem sua liberdade. Em qualquer caso em que
uma lei tida como processual, posterior à prática do crime, determine a diminuição
de garantias ou de direitos fundamentais ou implique qualquer forma de restrição de

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liberdade, não terá vigência o princípio de regra tempus regit actum, aplicando-se,
nessas hipóteses, a legislação vigente na época do crime.
Em segunda análise, salienta-se que as leis penais em branco não são
revogadas quando seus complementos são revogados. Elas apenas se tornam
temporariamente inaplicáveis por falta de um elemento essencial para configurar a
tipicidade. No entanto, elas recuperam sua validade e eficácia como uma nova
norma integradora, que, sendo mais grave, não pode retroagir para alcançar um fato
ocorrido antes de sua existência. Ademais, faz-se a ressalva de que a norma
integradora não pode modificar ou ultrapassar os limites estabelecidos pelo preceito
da norma penal em branco, alterando o comando legal reservado a lei penal, que é a
incriminadora.
Em suma, alguns doutrinadores lecionam que as normas complementares,
por mais que sejam mais benéficas ao réu, não possuem efeito retroativo, ficando
este possível apenas para as leis, pois só estas podem modificar ou alterar, de
forma que são irrelevantes as modificações realizadas por complementos, já que
são inconstitucionais e fere o princípio da reserva legal.

3 LEI PENAL NO ESPAÇO

3.1 Considerações prévias

“A lei penal, em decorrência do princípio de soberania, vige em todo o


território de um Estado politicamente organizado. No entanto, pode
ocorrer, em certos casos, para um combate eficaz à criminalidade, a
necessidade de que os efeitos da lei penal ultrapassemos limites
territoriais para regular fatos ocorridos além de sua soberania, ou,
então, a ocorrência de determinada infração penal pode afetar a ordem
jurídica de dois ou mais Estados soberanos. Surge, assim, a
necessidade de limitar a eficácia espacial da lei penal, disciplinando
qual lei deve ser aplicada em tais hipóteses.” (BITENCOURT, 2023, 29ª
ed., p. 555-557)

3.2 Princípios preponderantes

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1. Princípio da territorialidade: aplica-se a lei penal brasileira aos fatos
puníveis praticados no território nacional, independentemente da nacionalidade do
agente, da vítima ou do bem jurídico lesado;

“Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e


regras de direito internacional, ao crime cometido no território
nacional.” (Art. 5° CP/40).

A partir do exposto acima, infere-se que o ordenamento jurídico brasileiro


adotou o princípio da territorialidade, todavia, este não ocorre de maneira absoluta,
uma vez que comporta exceções previstas em tratados e convenções internacionais,
e regras do direito internacional, sendo estas, portanto, características da
territorialidade temperada. Diante desse pressuposto, permite-se a aplicação de
outros dois princípios subjacentes:
a. Intraterritorialidade: aplicação de lei estrangeira a fato praticado em
território brasileiro;
b. Extraterritorialidade: aplicação de lei brasileira a fato praticado em
território estrangeiro.

2. Princípio real, de defesa ou de proteção: aplica-se a lei penal


nacional do bem jurídico lesado (ou colocado em risco), independentemente do local
em que o crime foi executado ou da nacionalidade do agente. Nesse sentido,
protege-se determinados bens jurídicos, os quais o Estado considera fundamentais;

3. Princípio da nacionalidade ou personalidade: aplica-se a lei penal


da nacionalidade do agente, pouco importando o local em que o crime foi praticado.
O Estado tem o direito de exigir que o seu nacional no estrangeiro tenha
determinado comportamento.
a. Personalidade ativa: considera somente a nacionalidade do autor do
delito;
b. Personalidade passiva: considera-se a hipótese de que o lesado é
ser nacional;

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4. Princípio da justiça penal universal ou justiça cosmopolita: as leis
penais devem ser aplicadas a todos os indivíduos, independentemente de onde se
encontram. Esse princípio é característico da cooperação penal internacional, pois
permite que, todos os Estados membros, punam os crimes que são objeto de
tratados e convenções internacionais. A lei nacional aplica-se a todos os fatos
puníveis, sem considerar o local do delito, a nacionalidade do agente ou do bem
jurídico lesado;

5. Princípio da representação, do pavilhão, da substituição ou da


bandeira: aplica-se a lei nacional do Estado em que está registrada a aeronave ou
embarcação, cuja bandeira ostenta aos delitos praticados em seu interior.

3.3 Conceito de território nacional

O conceito de território nacional, em sentido jurídico, refere-se à delimitação


de um espaço físico sujeito ao poder soberano do Estado. Este inclui a superfície
terrestre (solo e subsolo), as águas territoriais (rios, lagos e mares interiores) e o
espaço aéreo correspondente. Além disso, as embarcações e aeronaves também
são consideradas parte do território nacional, seja de forma extensiva ou flutuante.
Em sentido estrito, o território abrange o solo e subsolo contínuo e delimitado, as
águas interiores, o mar territorial ‒ incluindo sua respectiva plataforma continental ‒
e o espaço aéreo correspondente.
Acerca do conceito de território nacional, existem duas ressalvas importantes
para o direito penal brasileiro:
1. Mar territorial: compreende uma faixa de doze milhas marítima de
largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular (Lei Nº
8.617, de 4 de janeiro de 1993 – Art. 1°)
2. Navios e aviões: podem ser classificados em público ‒ de guerra,
serviços militares, polícia marítima, alfândega ou a serviço do Presidente da
República e dentre outros representantes diplomáticos ‒ e privado, isto é, aqueles
em serviço comercial e mercantil ou de turismo. Os navios e aviões públicos,
independentemente de estarem no espaço aéreo correspondente e mar territorial –

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ou em alto-mar – brasileiro ou estrangeiro, são considerados parte do território
nacional. Portanto, qualquer crime cometido dentro desses veículos, pouco
importando o local onde se encontram, deve ser julgado pela Justiça brasileira.
Analogamente, os crimes praticados em navios e aviões públicos estrangeiros, em
espaço aéreo e águas brasileiras, serão julgados de acordo com a lei da bandeira
que ostentam. Todavia, um marinheiro de um navio ou avião público que
desembarcar em um território internacional e neste cometer um crime, será
processado de acordo com a lei nacional do Estado em que se situa.
3.4 Lugar do crime

“Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou


omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria
produzir-se o resultado.” (Art. 6°, CP/40).

Esse dispositivo refere-se à teoria mista ou da ubiquidade adotada no Brasil


para inferir o local em que o crime foi praticado, a fim de que se possa investigar o
caso concreto com a apuração dos vestígios e indícios presentes no lugar do crime
que seriam, posteriormente, relevantes para o processo penal. Desse modo, o ponto
de partida da investigação criminal é o exame do locus delicti commissi (local em
que o delito foi praticado). Para essa teoria, o local do crime pode ser tanto como o
local em que a conduta foi praticada pelo agente, quanto onde ocorreu a
consumação do ato, isto é, onde o resultado foi produzido.
Além dessa teoria, existe a teoria do resultado, a qual foi adotada pelo Código
Processual Penal brasileiro.

“A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se


consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for
praticado o último ato de execução.” (Art. 70, CPP)

Tal como previsto pelo dispositivo, essa teoria defende que o local do crime é
aquele no qual o crime se consumou, isto é, onde se produziu os resultados, pouco
importando a ação ou intenção do agente infrator.
Além das expostas acima, existem doutrinadores que postulam a existência
de outras teorias, mesmo que não sejam válidas para o ordenamento jurídico

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brasileiro, sendo elas a teoria da atividade, teoria da intenção, teoria do efeito
intermédio, teoria da ação a distância e teoria limitada da ubiquidade.

3.5 Extraterritorialidade

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no


estrangeiro:

I - os crimes:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;

b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de


Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de
economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;

c) contra a administração Pública, por quem está a seu serviço;

d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no


Brasil;

§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira,


ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.

Esse dispositivo refere-se à extraterritorialidade incondicionada, apresentando


todas as hipóteses em que aplicar-se-á a lei penal aos crimes cometidos em
território internacional sem a exigência de quaisquer condicionantes. Desse modo,
ela comporta crimes nos quais deve haver uma proteção maior conferida pela lei
brasileira, em razão da gravidade e interesse do Estado brasileiro em puni-los, a fim
de que sua soberania seja exercida.

II - os crimes:

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a


reprimir;

b) praticados por brasileiro;

c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras,


mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro
e aí não sejam julgados.

Já o dispositivo exposto acima refere-se à extraterritorialidade condicionada,


uma vez que prevê as hipóteses em que, atendidas determinadas condições, haverá

18
aplicação da lei brasileira aos crimes cometidos em território internacional. Somente
há interesse do Estado em punir o agente de crime cometido em território
internacional se preenchidas as condições descritas no art. 7.º, § 2.º, a, b, c, d, e, e §
3.º, do Código Penal.

§ 2º - Nos casos do inciso lI, a aplicação da lei brasileira


depende do concurso das seguintes condições:

a) entrar o agente no território nacional;

b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;

c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei


brasileira autoriza a extradição;

d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí


cumprido a pena;

e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro


motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por


estrangeiro contra brasileira fora do Brasil, se, reunidas as condições
previstas no parágrafo anterior:

a) não foi pedida ou foi negada a extradição;

b) houve requisição do Ministro da Justiça.

3.6 Princípio nos bin in idem

“A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo


mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando
idênticas.” (Art. 8°, CP/40)

Esse dispositivo legal regula a aplicação do princípio nos bin in idem, o qual
prevê que jamais uma pessoa será punida pelo mesmo fato duas vezes, ele impede
de que haja uma dupla punição para um fato cometido no exterior e território
nacional. Nesse sentido, se um indivíduo praticou um crime no estrangeiro e neste
cumpriu pena, no Brasil, se estas forem idênticas, será feito a computação entre
essas duas penas, retirando do total o que já foi anteriormente cumprido no exterior
e o restante será cumprido no Brasil. Em caso de penas diversas, a pena será
atenuada na medida do possível.

19
3.7 Extradição, deportação e expulsão

A extradição é um instrumento de cooperação internacional do qual ocorre


quando um Estado entrega um indivíduo de seu território à outro Estado soberano, a
fim de que ele seja julgado ou cumpra a pena predeterminada. Vale ressaltar que é
necessário que haja entre esses dois Estados um tratado internacional, seja ele
bilateral ou multilateral, e, caso não haja, deve existir, ao menos, reciprocidade de
tratamento pelo Estado requerente. Além disso, deve existir dupla tipicidade, ou seja,
o crime cometido pelo agente deve ser considerado crime em ambos Estados, tanto
naquele em que o crime ocorreu, como naquele em que ele está sendo extraditado.
A extradição só pode ser feita por meio de solicitação e autorização do
Supremo Tribunal Federal (STF), e o chefe de Estado é o responsável por realizar
esse fenômeno. Outrossim, é imperioso destacar que cidadãos natos não podem ser
extraditados, somente os naturalizados em caso de crime comum, praticado antes
da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes
e drogas afins.
Já a deportação ocorre quando um estrangeiro, que entra ou permanece
irregularmente no território de outro Estado, é devolvido compulsoriamente ao seu
país de origem ou nacionalidade. A deportação pode ocorrer por inúmeras razões,
incluindo a entrada ilegal no país, a permanência além do período permitido ou a
violação de outras leis de imigração. Destaca-se que esse ato é competência da
Polícia Federal.
Por fim, a expulsão é aplicável ao estrangeiro que de qualquer forma atentar
contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou
moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo à
conveniência e aos interesses nacionais. Também é aplicável ao estrangeiro que
utiliza fraude para fins de permanência no país (Art. 65 da Lei Nº 6.815/80). Nesse
sentido, a expulsão é quando um estrangeiro é obrigado a deixar o território nacional
devido à prática de um crime cometido no Brasil ou por conduta incompatível com os
interesses nacionais. Após a expulsão, o estrangeiro não pode retornar ao país, a
menos que a Portaria que determinou a medida seja revogada. Destaca-se que esse
ato é competência do Presidente da República.

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3.8 Tribunal Penal Internacional

O Tribunal Penal Internacional, estabelecido pelo Estatuto de Roma, é o


primeiro e único tribunal penal internacional permanente vigente. Sua fundação
ocorreu em 1998 durante a Conferência de Roma, e entrou em vigor em 1º de julho
de 2002, após receber 60 ratificações. Seu propósito é submeter a processo e
julgamento os maiores responsáveis pela prática dos chamados “crimes contra a
paz”, os mais graves crimes que põem em risco a paz, a segurança e a
sobrevivência da humanidade.
"instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas
responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance
internacional': com caráter "complementar às jurisdições penais
nacionais" (Art. 1°)

O Tribunal Penal Internacional tem competência para processar e julgar


crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes de
agressão. Além disso, é importante ressaltar que ele só poderá intervir quando o
Estado com jurisdição sobre o caso não estiver em condições de investigar e
eventualmente julgar o acusado, ou não revelar disposição de fazê-lo.

3.9 Eficácia da sentença estrangeira

A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na


espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil
para:
I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros
efeitos civis;
II - sujeitá-lo a medida de segurança.
(Art. 9°, CP/40)

Esse dispositivo é uma assertiva referente a eficácia da sentença estrangeira


no território brasileiro, o qual busca conferir executoriedade interna e externa a
sentenças proferidas em outro país, consoante as seguintes condicionantes:
a) a lei brasileira deve produzir as mesmas consequências da lei exterior;

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b) é necessário o trânsito em julgado da sentença estrangeira, isto é, a
sentença e o processo devem ter terminado no país de origem, estando esta não
passiva de recurso.
Nesse sentido, a sentença penal estrangeira só pode ser homologada no
Brasil para consequência civis e aplicação de medida de segurança sendo quase
impossível a utilização desse dispositivo. Destaca-se que esse ato é competência do
Superior Tribunal de Justiça.
Em suma, esse artigo prevê a homologação da sentença estrangeira, com o
intuito de que ela não tenha aplicação somente no país no qual foi proferida,
garantindo a justiça universal e restringindo que o infrator fuja para outro país para
livrar-se do cumprimento da pena.
4 CONCLUSÃO

Em suma, a análise do tempo e do lugar do crime no direito penal revela a


importância da precisão e da contextualização na aplicação da justiça. O
entendimento desses elementos não apenas determina a competência dos órgãos
jurídicos, mas também influencia diretamente nas consequências legais para os
envolvidos. A evolução das normas e das interpretações jurisprudenciais reflete a
busca por um equilíbrio entre a segurança jurídica e a necessidade de adaptação às
demandas sociais. É crucial, portanto, que o sistema penal esteja sempre atento às
nuances temporais e espaciais dos delitos, garantindo assim a efetivação dos
princípios fundamentais da justiça.
Nesse sentido, a análise do tempo do crime é de suma importância para a
determinação de consequências legais ao indivíduo, uma vez que, conhecendo o
tempo em que a ação ou omissão foi cometida pelo agente, é possível inferir a
imputabilidade do ser e garantir que esta seja coerente com os âmbitos de justiça e
legalidade, bem como assegura a segurança jurídica ao indivíduo, para que ele não
cumpra nada além daquilo que foi cometido sob consciência e vontade, e não seja
prejudicado em decorrência da lei. Analogamente, a análise do local do crime, tanto
consoante a territorialidade como a extraterritorialidade, é fundamental para o
combate à criminalidade interna e, também, atende à necessidade de que os efeitos
da lei penal ultrapassem limites territoriais para regular fatos ocorridos além da
soberania individual de cada território em que vige. Desse modo, conhecer o espaço

22
no qual o crime foi praticado e consumado, é crucial para a determinação legal de
uma sentença, de forma que não ultrapasse a justiça e determinações previstas em
lei, uma vez que é possível apurar vestígios e indícios do crime, os quais permitem a
exatidão dos fatos e a conclusão da prolação da sentença.
Assim, ao considerarmos o tempo e o lugar do crime, não apenas
reconhecemos a complexidade do sistema jurídico, mas também reafirmamos o
compromisso com a equidade e a legalidade na aplicação das leis.

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