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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

AULA – 1

DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM,
ASPECTOS GERAIS

Prezado,
As dificuldades de aprendizagem são um conjunto diversificado de
condições que podem afetar a aquisição e o uso de habilidades relacionadas à
leitura, escrita, raciocínio e matemática. Essas dificuldades não podem ser
atribuídas a deficiências intelectuais, transtornos mentais ou neurológicos, mas sim
a diversos fatores, como adversidades psicossociais, problemas de visão ou
audição não corrigidos e falta de proficiência na língua usada para instrução.
O termo "dificuldades de aprendizagem" não se refere a uma única causa,
mas sim a uma variedade de disfunções que podem impactar diferentes áreas do
desempenho acadêmico. Esta unidade explorará alguns aspectos gerais dessas
dificuldades, incluindo suas causas, manifestações e implicações educacionais.

Bons estudos!
1. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM, ASPECTOS GERAIS

O termo amplo "dificuldade de aprendizagem" refere-se a um conjunto


diversificado de condições que resultam em problemas ao adquirir e usar habilidades
de leitura, escrita, raciocínio ou matemática. Essas dificuldades podem ocorrer
temporariamente durante a vida. As dificuldades de aprendizagem não podem ser
atribuídas a deficiências intelectuais, transtornos mentais ou neurológicos, mas sim a
fatores como adversidades psicossociais, problemas de visão ou audição não
corrigidos, ou falta de proficiência na língua usada para instrução acadêmica. Além
disso, elas podem ser resultadas da falta de oportunidades educacionais adequadas
ou de uma educação escolar insuficiente (APA, 2015).
Uma criança com dificuldade de aprendizagem apresenta um desempenho
abaixo da média em relação à faixa etária das crianças consideradas "normais". No
entanto, isso não significa necessariamente que ela tenha uma deficiência ou
distúrbio. No contexto educacional, ela exibe um conjunto de comportamentos
significativamente divergentes em relação à população escolar em geral (FONSECA,
2016).
Embora se tenha avanços nas pesquisas sobre o assunto nos últimos anos,
ainda há um baixo nível de compreensão sobre elas por parte do público via de regra.
As informações sobre tal tema, têm se disseminado lentamente, resultando em
equívocos até mesmo entre docentes e outros profissionais da área educacional. A
confusão em torno do assunto é compreensível.
Portanto, o termo "dificuldades de aprendizagem" não se refere a um único
distúrbio, mas sim a uma série de disfunções que podem comprometer várias áreas
do desempenho acadêmico. Raramente essas dificuldades podem ser atribuídas a
uma única causa, pois diversos fatores podem afetar a performance do cérebro e o
bem-estar psicológico dessas crianças. Frequentemente, tais problemas são
influenciados, em certa medida, pelo ambiente familiar e escolar, além de aspectos
como personalidade e estilos de aprendizagens. As dificuldades de aprendizagem
podem ser categorizadas em tipos gerais, mas, devido à frequente ocorrência de
combinações e à grande variação em termos de gravidade, é desafiador identificar o
que esses estudantes têm em comum sob essa denominação.
Na verdade, essas dificuldades geralmente são tão sutis que essas crianças
não parecem ter problemas aparentes. Surgem as seguintes perguntas: como uma
criança pode compreender sobre um jogo virtual e complexo aos 5 anos, entretanto,
não conseguir aprender o alfabeto? Qual explicação se dá quando um discente que
lê três anos à frente do seu nível escolar conclui um trabalho escrito completamente
incompreensível? Como uma criança pode ler um parágrafo em voz alta perfeitamente
e, instantes depois, não se recordar do seu conteúdo? Não é incomum que essas
crianças sejam frequentemente rotuladas como desatentos, não cooperativos ou
desmotivados.
Essa discrepância entre o que se espera que a criança seja apta a executar e
o que ela de fato consegue realizar é uma característica desse tipo de déficit. O que
as crianças com dificuldades de aprendizagem têm em comum é o desempenho
abaixo do esperado. Na maioria das vezes, elas agem conforme seria esperado de
sua competência intelectual e de sua experiência familiar e educacional, mas quando
são apresentadas a determinados tipos de atividades, seus cérebros parecem
"travar". Resultando em um rendimento escolar inconsistente, acompanhando ou até
mesmo superando seus colegas em algumas áreas, mas ficando para trás em outras.
Ainda que os danos neurológicos afetem áreas do desempenho cerebral, as
limitações que mais causam limitações acadêmicas são aquelas relacionadas à
percepção visual, desenvolvimento da linguagem, habilidades motoras finas e
capacidade de concentração. Mesmo déficits menores nessas áreas (muitas vezes
não são percebidas em casa), acarretam grandes prejuízos quando a criança inicia
sua vida escolar.
Muitas dessas crianças também enfrentam desafios comportamentais que
complicam ainda mais suas dificuldades na escola. Um dos mais conhecidos é a
hiperatividade, uma inquietação imensa que atinge em média 25% dessas crianças,
conforme aponta Smith e Strick (2012), alguns outros comportamentos problemáticos
geralmente observados em adolescentes com dificuldades de aprendizagem
conforme o Quadro 1, incluem:
Quadro1. Comportamentos observados em adolescentes com dificuldades de
aprendizagem

Fonte: adaptada de Smith e Strick (2012).


Essas condutas aparecem das mesmas condições neurológicas que
desencadeiam os problemas de aprendizagem. Infelizmente, quando não são
compreendidos como tal, apenas servem para atestar aos pais e professores de que
a criança não está se esforçando para aprender ou não presta a devida atenção. Até
mesmo os estudantes veem esses comportamentos como falhas de personalidade.
Embora muitas dessas crianças se sintam e bem adaptadas, algumas
apresentam disfunções emocionais. Esses alunos se sentem tão fracassados
tentando fazer coisas que não conseguem, que acabam desistindo de aprender e
começam a desenvolver estratégias para evitar o fracasso. Eles duvidam da sua
própria inteligência e começam a se convencer de que não podem ser assistidos.
Muitos sentem raiva e expressam essa frustração de forma física, enquanto outros se
tornam ansiosos e deprimidos.
Como resultado, eles tendem a se afastar do meio social e frequentemente
enfrentam solidão e baixa autoestima. Além disso, os problemas secundários
associados às dificuldades de aprendizagem podem se tornar mais evidentes e graves
do que a própria dificuldade em si. No caso de adolescentes, eles não apenas têm
mais chances de deixar a escola, mas também, apresentam um risco maior de abuso
de substâncias, envolvimento em atividades criminosas e até mesmo suicídio,
conforme apontado por Smith e Strick (2012).
Os pais desses alunos geralmente enfrentam muitos dilemas. Seus filhos
aparentam ser capazes intelectualmente, entretanto encontram vários obstáculos
durante a aprendizagem. Eles podem ser curiosos e ter vontade de aprender, mas
sua inquietação e dificuldade em prestar atenção dificultam a compreensão das
explicações. Essas crianças têm boas intenções quando se trata de lições e tarefas
de casa, mas no meio do trabalho, elas esquecem as instruções ou o objetivo. Muitas
têm dificuldades em fazer amizades. Suas oscilações emocionais podem causar
turbulência em toda a família. Além disso, essas crianças frequentemente se sentem
infelizes por não corresponderem às expectativas dos pais e não conseguirem
alcançar seus próprios objetivos pessoais. Muitas vezes, elas se culpam por todas
essas dificuldades, dizendo coisas como "sou burro", "não há cura para mim" ou "as
pessoas não gostam de mim", e podem se tornar reprimidas e derrotistas.
1.1 As causas das dificuldades de aprendizagem

Embora os estudantes com dificuldades de aprendizagem sejam o grupo com


necessidades especiais mais amplo e em rápido crescimento, os pais muitas vezes
não conseguem obter respostas claras para suas perguntas mais urgentes quando
um problema de aprendizagem é identificado: "Como isso aconteceu?", "O que deu
errado?", "As crianças podem superar as dificuldades de aprendizagem?", "Existe
uma cura para isso?".
Essas questões podem ser difíceis de responder, pois múltiplos fatores
contribuem para as dificuldades de aprendizagem. É importante ressaltar, como
apontado por Smith e Strick (2012), que o desenvolvimento individual das crianças é
fortemente influenciado por sua família, escola e ambiente da comunidade. Embora
as dificuldades de aprendizagem tenham uma base biológica, muitas vezes é o
ambiente da criança que determina a gravidade do impacto da dificuldade. A ciência
ainda não oferece muitas opções de tratamento médico, mas a experiência de longo
prazo tem mostrado que a modificação do ambiente pode fazer uma diferença
impressionante no progresso educacional de uma criança.
De acordo com Smith e Strick (2012), os fatores biológicos que contribuem para
as dificuldades de aprendizagem podem ser divididos em quatro categorias gerais:
lesão cerebral, erros no desenvolvimento cerebral, desequilíbrios neuroquímicos e
hereditariedade. Na próxima aula, abordaremos cada um desses fatores
separadamente e discutiremos como uma variedade de fatores ambientais também
influencia a aprendizagem e o desenvolvimento. Como não existem testes
neurológicos definitivos para as dificuldades de aprendizagem, a determinação da
causa desses problemas ainda é uma questão de julgamento clínico informado.
Ao examinar o ambiente familiar de uma criança, as situações na escola e obter
uma história detalhada, geralmente um ou mais fatores discutidos até aqui, se
destacam. No entanto, devemos admitir que, às vezes, a única resposta honesta para
a pergunta "Por que uma criança tem dificuldades de aprendizagem?" é que não há
uma resposta definitiva. Acredita-se que pesquisas futuras nesta área oferecerão
novas maneiras de avaliar essas dificuldades e localizar a origem dos problemas
individuais de aprendizagem em um futuro próximo.
1.1 Processos de aprendizagem humana

Conforme Illeris (2013), o conceito de aprendizagem tem sido amplamente


discutido por várias perspectivas teóricas ao longo dos séculos. Desde o século XIX,
várias teorias surgiram para explicar esse fenômeno. Algumas dessas teorias foram
superadas, atualizadas e transformadas em novas perspectivas. No entanto, é
evidente que, na atualidade, muitas dessas teorias coexistem, o que confere ao
conceito uma característica multiparadigmática. Isso significa que existem diferentes
abordagens para compreender o mesmo fenômeno, cada uma enfocando em diversos
modos.
Rotta, Bridi Filho e Bridi (2016) enfatizam que a aprendizagem é objeto de
estudo em diversas disciplinas, incluindo a psicologia, a pedagogia e a neurologia.
Isso se deve à importância da aprendizagem para a cultura, uma vez que todos os
seres humanos precisam aprender, seja de forma formal ou informal. Atualmente, a
educação formal e a aquisição de conhecimento sistematizado são consideradas
obrigatórias em nossa sociedade, o que tem levado a um maior foco nesses processos
de aprendizagem.
Segundo Gazzaniga, Heatherton e Halpern (2018), a aprendizagem pode ser
compreendida, de forma ampla, como uma alteração relativamente duradoura no
comportamento humano que resulta de uma experiência. Da mesma forma, Illeris
(2013), define aprendizagem como um processo que leva a uma transformação
permanente na capacidade de qualquer organismo vivo, excluindo mudanças
resultantes apenas do amadurecimento biológico ou do envelhecimento.
É importante ressaltar, de acordo com Gazzaniga, Heatherton e Halpern
(2018), que a aprendizagem acontece quando uma experiência deixa o indivíduo mais
bem preparado ou adaptado para enfrentar situações futuras. Isso significa que nem
toda mudança pode ser considerada aprendizagem; ela deve resultar em uma
melhoria na adaptação ou preparação para lidar com algo ou alguma situação. Em
outras palavras, a aprendizagem requer um aprimoramento.
Nesse sentido, a capacidade de aprender é essencial para o ser humano,
determinando desde o desenvolvimento de habilidades básicas, como andar e falar,
até habilidades complexas, como se relacionar com outras pessoas.
Desde o momento do nascimento, os seres humanos já estão predispostos a
aprender. No entanto, os bebês passam por um processo de aprendizagem inicial
mais simples, conhecido como habituação. Isso envolve a adaptação a estímulos,
como quando um bebê vê um brinquedo colorido pela primeira vez. Nesse momento,
o estímulo (brinquedo) chama muito a atenção do bebê, mas com o tempo, esse
estímulo deixa de ter o mesmo impacto, ou seja, o bebê se adapta ou se habitua a
essa informação. Os adultos também continuam experimentando o processo de
habituação, mas a aprendizagem ocorre de maneiras mais complexas para eles.

Para complementar essa ideia, Illeris (2013), destaca três dimensões ou


esferas da aprendizagem conforme apresentado no Quadro 2.

Quadro 2. Dimensões ou esferas da aprendizagem

Fonte: adaptada de Illeris (2013)

Continuando essa compreensão, Illeris (2013), também enfatiza dois processos


essenciais na aprendizagem, acompanhe no Quadro3.
Quadro 3. Os dois processos essenciais na aprendizagem

Fonte: adaptada de Illeris (2013)

Para Illeris (2013), esses processos ocorrem em toda forma de aprendizagem,


contudo, algumas teorias se dedicam mais à compreensão e explicação de um ou de
outro processo. Por exemplo, teorias cognitivistas costumam se dedicar mais aos
processos internos, enfatizando os aspectos mentais. Já as teorias de aprendizagem
social tendem a destacar mais os processos externos, de interação do indivíduo com
o meio. Destaca-se, nesse sentido, que ambas as teorias contribuem para o
desenvolvimento da compreensão do conceito através de uma abordagem
diversificada, demonstrando a característica multiparadigmática da aprendizagem.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico e


estatístico de transtornos mentais – DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.

FONSECA, V. Dificuldades de aprendizagem: abordagem neuropsicopedagógica.


5. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2016.

GAZZANIGA, M. S., HEATHERTON, T., & HALPERN, D. Ciência Psicológica.


Porto Alegre: Artmed. 2018.

ILLERIS, K. Uma compreensão abrangente sobre a aprendizagem humana. In:


Teorias contemporâneas da aprendizagem. Porto Alegre: Penso, 2013.

OTTA, N; BRIDI FILHO, C; BRIDI, F. (Org.). Neurologia e aprendizagem:


Abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2016.

SMITH, C; STRICK, L. Dificuldades De Aprendizagem de A – Z. Guia completo


para educadores e pais. Tradução: Magda França Lopes. Porto Alegre : Penso,
2012.

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