Caderno de Resumos SEMP

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 88

0

CADERNO DE RESUMOS

VII SEMINÁRIO DE ESTUDOS MEDIEVAIS DA PARAÍBA


Narrar a vida: Representações de si e do Outro

05, 06 e 07 de dezembro de 2023

João Pessoa

2023
1
COMISSÃO ORGANIZADORA

Profa. Dra. Luciana Eleonora de F. Calado Deplagne (UFPB) – Coordenação Geral


Prof. Dr. Guilherme Queiroz (UFPB)
Prof. Dr. Juan Ignacio Centurión (UFPB)
Profa. Dra. Maria Graciele de Lima (UFPB)
Profa. Dra. Cláudia Brochado (UnB)

COMISSÃO CIENTÍFICA

Profa. Dra. Ana Miriam Wuensch (UnB)


Profa. Dra. Adriana Zierer (UEMA)
Prof. Dr. Bruno Álvaro (UFS)
Prof. Dr. Bruno Uchoa (UFPE)
Profa. Dra. Carmem Druciak (UFBA)
Profa. Dra. Cláudia Brochado (UnB)
Prof. Dr. Felipe Ribeiro (UFPE)
Profa. Dra. Fernanda Cardoso (UECE)
Prof. Dr. Guilherme Queiroz (UFPB)
Profa. Dra. Isabela Albuquerque (UPE/Garanhuns)
Profa. Dra. Karine Simoni (UFSC)
Prof. Dr. Juan Ignacio Centurión (UFPB)
Prof. Dr. Luciano Vianna (UPE/Petrolina)
Prof. Dr. Marco Valério Classe Colonnelli (UFPB)
Profa. Dra. Maria Graciele de Lima (UFPB)
Profa. Dra. Maria Simone Marinho Nogueira (UEPB)
Profa. Dra. Raquel Parmegiani (UFAL)
Prof. Dr. Renan Birro (UPE/Mata Norte)
Profa. Dra. Renata Nascimento (UFJ-UEG-PUC)
Prof. Dr. Yuri Caribé (UFPE)
Prof. Dr. Willy Paredes (UFPB)
2

CAPA: François Deplagne

ARTE DA CONTRACAPA: Ana Luiza Romão Braz

MONITORES

Amanda Maranhão de Souza

Ana Luiza Romão Braz

Aniely Walesca Oliveira Santiago

Anne Marques Winter

Antony Marcos Cruz Santana

Claudio Kuievinny Duarte

Gilbéria Felipe Alvez Diniz

Joana Antonino da Silva Rodrigues

Júlia Ribeiro Pimentel

Kaylany de Lima Paulino

Lucas Aranha de Aquino

Lucicleiton Ferreira da Silva

Márcio Vinícius Medeiros de Santana

Maristella Da Silva Xavier

Nathalia Marques Bandeira

Nathalie Carvalho Ramos

Sofia Fidélis de Lisboa

Sufia Gomes Dantas

Vinícius Gomes Marinho

Yasmin de Andrade Alves


3

ORGANIZAÇÃO DO VOLUME
Luciana Deplagne
Yasmin Andrade
Amanda Maranhão
Kaylany de Lima
Guilherme Queiroz

CAPA
François Deplagne

DIAGRAMAÇÃO
Luciana Deplagne
Yasmin Andrade
Amanda Maranhão
Kaylany de Lima
4

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .................................................................................05

PROGRAMAÇÃO GERAL DO EVENTO ...............................................07

RESUMOS DAS MESAS REDONDAS................................................. 19

RESUMOS DOS MINICURSOS............................................................ 38

RESUMOS DAS SESSÕES DE COMUNICAÇÃO.................................42


5
APRESENTAÇÃO

Prezado/a participante,

A Comissão Organizadora do VII Seminário de Estudos Medievais na


Paraíba. Narrar a vida: Representações de si e do Outro tem o prazer de anunciar
a programação geral e os resumos das palestras, minicursos e sessões de
comunicação desta sétima edição do SEMP. Este ano o evento voltará a ser realizado
de forma presencial na Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa-PB, entre
os dias 05 e 07 de dezembro de 2023.
O Seminário de Estudos Medievais na Paraíba é um evento promovido pelo
Grupo Christine de Pizan, vinculado ao diretório de grupos de pesquisa do CNPq e à
linha de pesquisa Estudos Clássicos e Medievais do PPGL/UFPB, em parceria com
outros grupos de pesquisa na área dos estudos medievais no Brasil. Desde 2019, a
comissão organizadora do evento é coordenada também pelo GRADALIS, grupo de
pesquisa também registrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPq vinculado
ao Departamento de História da UFPB.
O objetivo do evento é estimular o debate multidisciplinar e interinstitucional
sobre o período medieval em torno de eixos temáticos pré-estabelecidos, buscando o
intercâmbio de ideias, parcerias acadêmicas entre grupos de pesquisas, entre
pesquisadoras e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento que acreditam na
importância de avançar na desconstrução de uma Idade Média obscurantista, de
extrema decadência e misoginia, através de investigações de fontes ainda pouco
exploradas, como é o caso de obras escritas por mulheres.
Nesta edição foram propostos 7 eixos temáticos, sob a coordenação de
pesquisadores e pesquisadoras de diversas instituições:

⚫ Eixo 1: Escritas de si na Idade Média: Autobiografias, correspondências,


memórias, confissões, autoficção.
Coordenadoras: Maria Graciele de Lima (UFPB) e Paloma Oliveira (UFPB)
⚫ Eixo 2: Biografar: Hagiografias, vidas de Cristo, vidas de trovadores e
trobairitz, biografias.
6
Coordenadoras: Cláudia Brochado (UFPB) e Maria Simone Marinho Nogueira
(UEPB)
⚫ Eixo 3: Narrar o Outro: crônicas, literatura de viagem, contos, lais, reescrita
de mitos clássicos na Idade Média.
Coordenadores: Luciano José Vianna (UPE) e Juan Ignacio Centurión (UFPB)
⚫ Eixo 4: O eu e o outro na tradução de textos clássicos e medievais.
Coordenador/a: Marco Colonnelli (UFPB) e Fernanda Cardoso Nunes (UECE)
⚫ Eixo 5: A obra de Christine de Pizan: textos autobiográficos, biografias,
reescrita de mitos clássicos, ditiés.
Coordenadoras: Luciana Calado Deplagne (UFPB) e Ana Miriam Wuensch (UnB)
⚫ Eixo 6: Performance, musicalização e teatralização da vida: Mistérios,
Milagres, Cantigas de Santa Maria, Personagens do teatro vicentino.
Coordenador/a: Roberto Pontes (UFC) e Elizabeth Dias (UFC)
⚫ Eixo 7: A(u)tores medievais e suas representações textuais e iconográficas.
Coordenadores: Guilherme Queiroz de Souza (UFPB) e Bruno Alvaro (UFS).

Os resumos apresentados neste caderno nos dão um avant-goût do que iremos


desfrutar durante os três dias de evento e confirmam o caráter transdisciplinar e a
diversidade de estudos que estão sendo realizados no Brasil por diferentes grupos de
pesquisa que estarão aqui reunidos em dezembro.
Agradecemos a direção do Centro de Ciências Humanas, Letras e Arte da
UFPB, ao Programa de PPGH e ao PPGL CHLA, pelo apoio. Agradecemos
igualmente aos coordenadores e coordenadoras de grupos de pesquisa sobre Idade
Média, oriundos de diversas instituições do país, pela presença e incentivo a seus e
suas discentes a participarem do evento, compartilhando suas pesquisas e
contribuindo assim com uma profícua troca de conhecimentos.
Desejamos uma boa leitura e esperamos com ansiedade a presença de todos
e todas no VII SEMP para o debate transdisciplinar em torno do “Narrar a vida:
Representações de si e do Outro”.

Comissão organizadora
7

VII SEMINÁRIO DE ESTUDOS MEDIEVAIS NA PARAÍBA


Narrar a vida: Representações de si e do Outro
(5-7 de dezembro de 2023)

PROGRAMAÇÃO

5 de dezembro
CONFERÊNCIA DE ABERTURA
(09h00) - Auditório do CE (Centro de Educação)
Julia Rüthemann (EHESS-CRH, França) - Le « Je » féminin chez Christine de
Pizan et Hadewijch d’Anvers

Mesa 1 - Grupo Christine de Pizan. Escritoras medievais na Querelle des


femmes
(10h00-12h00) - Auditório do CE (Centro de Educação)

Coordenação: Guilherme Queiroz (UFPB)


Ana Miriam Wuensch (UnB) - A cidade das damas como espaço de cuidado e cura
das mulheres
Cláudia Brochado (UnB) - Qual a surpresa? Ou como Teresa de Cartagena contesta
o espanto pela qualidade de seu livro e com isso entra na batalha da querela das
mulheres

Luciana Calado Deplagne (UFPB) – Le Ditié de Jeanne D´Arc (1429): um poema


épico de Christine de Pizan e a “querelle des femmes”
8
(14h00-16h00) - Auditório do CE (Centro de Educação)

Oficina: Introdução à Paleografia


Josinaldo Sousa de Queiroz (UEPB)

(16h00-18h00) - Auditório do CE (Centro de Educação)

Minicurso: Mulheres místicas medievais: repensando a questão do sujeito


Simone Marinho (UEPB)

Sessão de abertura
(18h30-19h30) - Auditório do CE (Centro de Educação)

Coordenação do PPGL, PPGH, Comissão organizadora


Lançamento de livros
Apresentação cultural: Grupo Verso de Boca (UFC)

6 de dezembro
Mesa 2 - Narrar a si e aos outros: crônicas e ensino de História Medieval
(9h00-10h30) - Auditório da SEAD (Secretaria de Educação à Distância - em
frente ao estacionamento da Reitoria)

Coordenação: Bruno Álvaro (UFS)

Bruno Álvaro (UFS) – A guerra senhorial na Chronica Adefonsi Imperatoris


Felipe Ribeiro (UFPE) – Narrar a si e aos outros: as crônicas e a etnografia na
tradição historiográfica de Montecassino (séculos VIII-XII)
Renan Birro (UPE/Mata Norte) - Idade MediAR: um estudo de caso sobre o uso de
realidade aumentada no Ensino de História Medieval

Mesa 3 – Tradução de textos medievais


(9h00-10h30) - Auditório do PAPGEF (Programa de Pós-Graduação em
Educação Física e Fisioterapia - em frente ao estacionamento da Reitoria)

Coordenação: Karine Simoni (UFSC)

Karine Simoni (UFSC) - Poetas e legisladoras: leituras de vidas e traduções


possíveis das escritas de mulheres da península itálica (séculos XIII e XIV)
9

Carmem Druciak (UFBA) - A tradução como “continuidade da vida” das Cent


Ballades de Christine de Pizan

Mesa 4 – Tradução de textos clássicos


(10h30-12h00) – Auditório da SEAD (Secretaria de Educação à Distância -
em frente ao estacionamento da Reitoria)

Coordenação: Marco Valério Colonnelli (UFPB)

Marco Valério Colonnelli (UFPB) - Tradução para o ensino de língua grega:


estágios tradutórios

Willy Paredes (UFPB) - Tradução e ensino do Latim

Priscilla Gontijo (UFPB) - Tradução coletiva: contribuições de uma historiadora

Mesa 5 – O eu e o outro na tradução de textos medievais


(10h30-12h00) – Auditório do PAPGEF (Programa de Pós-Graduação em
Educação Física e Fisioterapia- em frente ao estacionamento da Reitoria)

Coordenação: Fernanda Cardoso (UECE)

Fernanda Cardoso (UECE) - As Revelações de Juliana de Norwich no Brasil:


análise comparada de três traduções para a língua portuguesa.

Yuri Caribé (UFPE) - Presença queer na literatura medieval irlandesa: tradução


do microconto Níall Frassach’s Act of Thruth

Comunicações
(14h00-16h00)
Auditório do CA e Auditório da SEAD

Sessão 1
Auditório do CA (Central de Aulas-Bloco C)
A obra de Christine de Pizan: perspectivas literárias e filosóficas

Coordenadora: Profa. Dra. Ana Miriam Wuensch (UnB)


10

A Cidade das Damas como espaço de cuidado e cura


Aylanne Sousa Vaz (UnB/Grupo Christine de Pizan)

Uma Análise da Auto-Representação de Christine de Pizan em A Cidade


Das Damas
Gizelda Ferreira do Nascimento Lima (UEPB/Grupo Christine de Pizan)

As damas de Christine: Um olhar decolonial sobre a condição feminina e a


escrita de si
Yasmin de Andrade Alves (UFPB/Grupo Christine de Pizan)
Aniely Walesca Oliveira Santiago (UFPB/Grupo Christine de Pizan)

Safo de Pizan
Vanessa Di Giorno Costa (UnB/Grupo Christine de Pizan)

Dido na Cidade das Damas


Aline Cristina de Souza Santos (UFPB)
Priscila Carvalho de Almeida Rodopiano (UFPB)

A fala insubmissa em Cidade das Damas de Christine de Pizan


Victória Pereira Vasconcelos de Abreu (UFC/Residualidades)

Sessão 2
Auditório da SEAD (Secretaria de Educação à Distância - em frente ao
estacionamento da Reitoria)
Literatura medieval ibérica: modalidades e performances

Coordenador: Profa. Dra. Elizabeth Dias (UFC)

Análise da figura feminina nas cantigas de Santa Maria e de amigo: Uma


perspectiva social
Maria Clara Alves de Castro (UFC/Residualidades)

O modo Sirvêntes e a poesia insubmissa de Arievaldo Viana: Resíduo


medieval no âmbito da cordelística de temática social
João Otávio Costa Martins Mota (UFC/Residualidades)

A poesia dos romances Ibéricos: Seu caráter tradicional, performático e


tentativas de definição
Carlos Henrique Peixoto de Oliveira (UFC/Residualidades)

O papel das personagens religiosas na comédia vicentina: Um diálogo com


11
a espiritualidade medieval
Karla Thamiris do Nascimento Costa (UFC/Residualidades)

As adaptações audiovisuais de obras medievais: um estudo sobre a


residualidade entre a performance medieval e a ficção moderna
Luana Moreira Rodrigues (UFC/Residualidades)

Minicursos
(16h00-18h00)
Auditório do CA e Auditório da SEAD

Auditório do CA (Central de Aulas)


As provas acerca da existência de Deus

Ministrante: Prof. Dr. Anderson D’Arc Ferreira (Departamento de Filosofia –


CCHLA – UFPB)

Auditório da SEAD (Secretaria de Educação à Distância - em frente ao


estacionamento da Reitoria)
Residualidade a paraibana: uma reflexão local da teoria na análise literária
Ministrantes: Prof. Dr. Juan Ignacio Jurado Centurión (UFPB) e Doutoranda
Gilberia F. Alves Diniz (UFPB)

7 de dezembro
Mesa 6 – Imagens e representações
(9h00-10h30) - Auditório 411 - CCHLA (Centro de Ciências Humanas, Letras
e Artes)

Coordenação: Guilherme Queiroz (UFPB)

Adriana Zierer (UEMA/Brathair) - As imagens mentais e visuais do Diabo na


grelha do Inferno na Visão de Túndalo
Solange Oliveira (UEMA/Brathair) – Narrar o pós-vida: o anjo como guia, protetor
e guardião da alma na Visão de Túndalo
Guilherme Queiroz (UFPB) – Jo, Ramon Llull (2016): documentário, historiografia
e representação
12
Mesa 7 – Residualidade e Literatura ibérica medieval
(9h00-10h30) - Auditório 412 (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes)

Coordenação: Juan Pablo Martín Rodrigues (UFPE)

Juan Pablo Martín Rodrigues (UFPE) - Literatura de Viagens: gênero de gêneros,


da Idade Média à Construção da Modernidade

Roberto Pontes (UFC) - Residualidades medievais brasileiras

Tito Barros Leal (Uva-Ce) - Resíduos tardo-medievais ibéricos nos cantares de


Dona Militana: uma leitura genética sobre duas versões do “romance Dona
Branca”

Mesa 8 – A(u)tores medievais e suas representações textuais e


iconográficas
(10h30-12h00) - Auditório 412 (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes)

Coordenação: Juan Ignacio Centurión (UFPB)

Raquel Parmegiani (UFAL) – Os animais nas iluminuras do Comentário ao


Apocalipse do Beato de Liebana - Códice de Lorvão

Bruno Uchoa (UFPE) - Os monges e os nômades do deserto: aspectos do


estereótipo do sarraceno no discurso monástico pré-islâmico

Juan Ignacio Centurión (UFPB) – Historiografias do outro: as crônicas


etnográficas americanas (século XVI)

Mesa 9 – Autoridade feminina na Idade Média


(10h30-12h00) – Auditório 411 (Centro de Ciências Humanas, Letras e
Artes)

Coordenação: Maria Graciele de Lima (UFPB)

Maria Graciele de Lima (UFPB) - Aspectos de uma teopoética n´O Diálogo de


Catarina de Sena

Isabela Albuquerque (UPE/Garanhuns) - Rainhas do Norte Global: queenship no


Alto Medievo em perspectiva comparada
13
Comunicações

Auditório 411, Auditório 412, Sala de reuniões


(Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes), Auditório do CE (Centro de
Educação)

(14h00-16h00)

Sessão 3
Auditório 411 (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes)

Neomedievalismo
Coordenador: Felipe Augusto Ribeiro (UFPE)

Medievalismo e Nacionalismo em O Significado da Bruxaria (1959) de Gerald


Gardner
Janyne Barreto Figueiredo (UFPE)

Neomedievalismos na internet: Um estudo sobre as representações da


rainha Urraca I (1081-1126) nos softwares sociais (2010-2022)
Luísa Vilas Boas dos Santos (UFS/Dominium)

O contra-ataque dos homens medievais brasileiros: Usos e desusos da


história medieval pela extrema-direita na internet brasileira (2018-2022)
Thaís Monique Costa Moura (UFS/Dominium)

Os Arquétipos Medievalizantes da historiografia francesa (c. 1870-1945) e a


gênese da ideia de Europa integrada
André Ricardo da Silva Melo (UPE/Mata Norte)

Isso é um castelo? Ecos do Medievalismo em construção na cidade de


Aliança-PE
Jônatas José da Silva (UPE/Mata Norte)

Iluminogravura: Resíduos culturais e estéticos do medievo europeu na


poesia gráfica suassuniana
Maria Eduarda Paulino Pinto (UFC/Residualidades)

Sessão 4
Sala de reuniões (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes)
14
Neotrovadorismo na poética contemporânea:
as trovadoras de ontem e de hoje
Coordenadora: Profa. Dra. Paloma Oliveira (UFPB)

O conceito de Mátria e sua presença nos escritos neotrovadorescos de


Natália Correia
Amanda Maranhão de Souza (UFPB/Grupo Christine de Pizan)

O lirismo neotrovadoresco das cantigas de amigo galego-portuguesas: As


ressonâncias medievais em Natália Correia e os atravessamentos do sujeito
lírico
Anália Sofia Cordeiro de Lima Gomes (SEPB/Grupo Christine de Pizan)

A simbologia da primavera nas cantigas de amigo de Natália Correia


Joana Antonino da S. Rodrigues (UFPB/Grupo Christine de Pizan)

Performance intemporal: O polimento estético das Trobairitz na poesia de


Marly Vasconcelos
Ana Carolina de Sena Rocha (UFPB)

Sessão 5
Auditório do CE (Centro de Educação)

Biografias, representações e dinâmicas de poder na Idade Média


Coordenadora: Profa. Dra. Cláudia Brochado (UnB)

O passar do pincel aqui e acolá: a representação das mulheres presentes


no escrito de Makurano Soshi por Sei Shōnagon
Ana Luiza Romão Braz (UFPB)

Os Santos Eunucos Bizantinos e o Paradigma da castração: Reflexões


sobre hagiografias queer
Silvio Romero Tavares Neiva Coelho (UFPE/LEOM)

A memória envolta na biografia de Bar Sauma e Mar Marcos


João Vitor Santos Rocha (UFPE)

"Como uma encarnação de Atenas”: Às dinâmicas de poder das mulheres


Bizantinas numa análise da Alexíada de Ana Comnena à luz do Queenship
Sabrina Espíndola Santos (UPE/Garanhuns)

A caracterização da imperatriz Teodora e Antonina em História Secreta


Aylla Maria Alves dos Santos (UFS/Dominium)

Anna Comnena (1083-1153), a Alexíada e a escrita da História na Idade


15
Média: concepções a partir de Bizâncio
Cassiano Celestino de Jesus (UFBA)

Sessão 6
Auditório 412 (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes)

Imaginário medieval: Literatura e História


Coordenadora: Fernanda Cardoso

Cervos, Plantações e Territorializações: Gest of Robyn Hode e a Dominação


das Florestas na Inglaterra Medieval
Vitor Nunes da Silva (UFS/Dominium)

Como se constrói o caráter pedagógico do Amor Cortês? Representação e


memória em André Capelão
Beatriz Gambini C. de Araújo (UERJ)

Existia cultura política na Idade Média? Um debate por meio do além-túmulo


da Visão de Túndalo (1149) e Divina Comédia (1304-1321)
Ricardo Marques de Jesus (UEMA/Brathair)

As rotas da seda de um mundo pluricêntrico descritas por um viajante


inglês do século XIV
Victor Medeiros Garcia (UFPB/Gradalis)

Jornada de uma escrita devota: a perspectiva da Literatura Arturiana n’ A


Demanda do Santo Graal
Ana Paula de Oliveira Costa (UEMA/Brathair)

(16h00-18h00)

Sessão 7
Auditório 411 (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes)

Ensino e pesquisa em Idade Média (Global) no Brasil:


descolonizando saberes
Coordenador: Bruno Gonçalves Alvaro (UFS)
16
O conceito de Idade Média em livros didáticos do PNLD 2024
João Henrique Borba Vilar (UFPB)

A Idade Média Global no Brasil: um guia bibliográfico


Lucicleiton Ferreira da Silva (UFPB/Gradalis)

O impacto da Idade Média Global na historiografia brasileira


Nathalia Marques Bandeira (UFPB/Gradalis)

O Ensino de História da África no Medievo: a construção de novos olhares


sobre a História da África
Aline Fernanda dos Santos de Oliveira Silva (UPE/Garanhuns)

Traços evidentes de uma figura violenta? Eiríkr blóðøx (Machado


Sangrento) e a representação da violência nas documentações medievais
Caio de Amorim Féo (UFF)

Herdeiras de uma herança pecaminosa: representações educativas


femininas nas iluminuras Les Très Riches Heures du duc de Berry
Antônio Carlos Nascimento da Silva Neto (UEMA/Brathair)

Sessão 8
Sala de reuniões (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes)

Ramon Llull
Coordenador: Prof. Dr. Guilherme Queiroz de Souza (UFPB)

A religiosidade na formação do “eu” e do “outro” no Livro da Ordem de


Cavalaria, de Ramon Llull
Luma Fernanda Soares (UEMA/Brathair)

Representação e historiografia nos documentários sobre Ramon Llull: A


fase “Any Llull” (2015-2016)
Maristella da Silva Xavier (UFPB/Gradalis)

Representação e historiografia nos documentários sobre Ramon Llull: A


fase pré “Any Llull” (1982-2007)
Márcio Vinícius Medeiros de Santana (UFPB/Gradalis)

Sessão 9
17
Auditório 412 (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes)

Escrita de si na Idade Média


Coordenadora: Profa. Dra. Maria Graciele Lima (UFPB)

A escrita de si no prólogo de autoria feminina mística: Teresa d’Ávila, um


diálogo para a sobrevivência
Rafaela de Souza Viana (UFPB)

A escrita e a mística feminina no Medievo


Maria Eduarda Gonçalves Ludgero (UnB)

A escrita mística e filosófica de Porete e de Pizan


Maria Eduarda Gonçalves Ludgero (UnB)
Vinícius Moraes Costa (UnB)

A verticalização do entendimento na mística de Marguerite Porete: Uma


influência do dualismo em Platão
Daniel Eduardo da Silva (SEPB/Grupo Christine de Pizan)

A dicotomia Ave e Eva: A representação de boas e más cristãs n’a demanda


do Santo Graal
Bruna Danielle Mendes Lobato Melonio (UEMA/Brathair)

Uma importante fonte para o estudo de um evangelho apócrifo: a suposta


correspondência de Jerônimo de Estridão no evangelho do Pseudo-Mateus
(século VII)
Claudio Kuievinny Duarte (UFPB/Gradalis)

Sessão 10
Auditório do CE (Centro de Educação)

Narrar o Outro: crônicas, literatura de viagem, contos, lais, reescrita de


mitos clássicos na Idade Média
Coordenador: Prof. Dr. Juan Ignacio Jurado Centurion Lopez (UFPB)

Entre Mouros e Cristãos: Sequestros, Bruxedos e Ódios no Romance da


Tradição Oral Ibérica
Leonildo Cerqueira Miranda (UFERSA/UFC/Residualidades)

Diálogos hipertextuais e residuais entre Juan Manuel e a tradição oriental


Gilbéria Felipe Alves Diniz (UFPB)

Mito e ideologia em um diálogo intercultural entre o Velho e Novo Mundo:


18
Uma breve análise sobre as releituras das narrativas clássicas e medievais
na América colonial
Niery Pereira Trajano (UFPB)

Como a descoberta da América iniciou uma nova ordem mundial


Mariana Caetano Alcântara (UFPB)

O Discurso Colombino e a Incipiente Construção do Imaginário Colonial:


Entre o Texto e o Pretexto
Ana Cleide de Queiroz Barreto (UFPB)

Francisco Suárez e Diego Mas: Uma querela metafísica no século XVI


Adriel Lucas de Vasconcelos Chaves (UFPB)

CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO
7 de dezembro (18h30) - Auditório 411 (Centro de Ciências Humanas, Letras
e Artes)

Renata Nascimento (UFJ-UEG-PUC) - Narrar o sagrado: o desafio hagiográfico


19

RESUMOS DAS MESAS REDONDAS


20

Mesa 1 - Grupo Christine de Pizan. Escritoras medievais na Querelle


des femmes

A CIDADE DAS DAMAS COMO MEDICINA DA ALMA

Ana Miriam Wuensch


Universidade de Brasília
[email protected]

A cidade das damas (1405) estrutura-se por meio da metáfora-guia arquitetônica da


construção e do urbanismo, sempre considerada nos estudos desta obra mestra da
escritora medieval Christine de Pizan (Deplagne, 2012). Chamo de metáfora-guia
aquela metáfora viva (Ricoeur, 2000), que performa o livro que se faz cidade para
quem o lê. Recurso recorrente e persistente na cultura medieval (Lemarchand, 2001),
e mais além dela, pela linguagem que a produz e conserva. Proponho considerar outra
metáfora-guia presente nesta mesma obra: a metáfora da medicina, e sua função
operatória e temática (performática) na escrita christiniana. Para esta proposição, o
fato biográfico da educação superior recebida por Christine de Pizan, por meio de
preceptoria com mestres em conhecimento das artes liberais, e mesmo as lições de
Direito recebidas de seu marido, e sustentadas pelo eminente saber de seu pai e avô
materno, ambos physiciens, médicos. Considerando as relações históricas entre
Filosofia e Medicina, em tradições ocidentais e não ocidentais, destacamos a reflexão
e deliberação médica dos homens em sua atividade (Asclépio/Esculápio, Hipócrates,
Maimônides), e o recurso à medicina no discurso filosófico masculino (Platão,
Aristóteles). Voltamos à leitura da Cidade das damas, e observamos que, logo nos
primeiros capítulos do Livro Primeiro, a narradora Christine passa da saúde à
enfermidade, em graus de sofrimento crescente, a partir da consideração da suposta
verdade escrita ou proferida pelos autores, em tratados e sermões morais sobre a
natureza da mulher. Ela descreve seus sintomas: atordoada, letárgica, inundada pelo
desgosto, desprezando a si mesma, lamentando-se em aflição, loucura e desespero,
abatida por tristes pensamentos, encolhida de vergonha. O aparecimento luminoso de
três damas a despertam em sobressalto, gerando-lhe um misto de admiração e temor;
mas a dama Razão acolhe e tranquiliza Christine, dizendo que não foi para fazer o
mal ou prejudicar (preceito médico da beneficência ou não maleficência) que vieram
em visita, mas para consolar. Fazendo o diagnóstico do erro (doença da misoginia)
no qual Christine se encontra, apresentam o prognóstico do saneamento que, juntas,
promoverão para expurgar tal erro do mundo. A misoginia é endêmica; por negligência
e ou indiferença, as mulheres encontram-se em sofrimento, maltratadas, sem
assistência ou proteção, nem mesmo prevenção deste mal que enfraquece o seu ser,
de corpo e alma. Cada dama que se apresenta oferece sua medicina, tratamento e
orientações que fortalecem a paciente Christine; juntas, constroem um espaço de
tempo literário, por meio de amorosa escrita para o cuidado e cura das mulheres em
semelhante (in)disposição de anima(o). Obra de medicina da alma (Zambrano, 2000),
uma ética dedicada ao fortalecimento das mulheres, individual e conjunto, pelo cultivo
da própria saúde, por meio de suas múltiplas e diversas virtudes.
21

Palavras-chave: Christine de Pizan. Cidade das Damas. Medicina. Ética.

QUAL A SURPRESA? OU COMO TERESA DE CARTAGENA CONTESTA O


ESPANTO PELA QUALIDADE DE SEU LIVRO E COM ISSO ENTRA NA
BATALHA DA QUERELA DAS MULHERES

Cláudia Brochado
Universidade de Brasília
[email protected]

Em consequência da desconfiança lançada sobre sua capacidade de escrita, Teresa


de Cartagena decide escrever “Admiração das obras de Deus”, um título que já traz a
provocação: como questionar as obras divinas? Teresa é uma castelhana de família
judia conversa que viveu no século XV e que, até onde sabemos, nos deixou duas
obras, Arboleda de los enfermos e Admiración operum Dei. Ela é considerada a voz
castelhana mais importante na querela das mulheres, principalmente pelo teor político
de sua segunda obra. Com o questionamento da autenticidade de Arboleda, ela
decide escrever Admiración, não só para provar a sua capacidade de escrita, mas
para afirmar a capacidade de escrita das mulheres, chegando a aventar que a escrita
seria atividade mais própria delas do que dos homens. Considerando, outrossim, que
a tradução das obras medievais femininas é imprescindível para que essa produção
chegue a um público mais amplo, falaremos também da tradução, em curso, de
Admiración operum Dei, inédita em português.

Palavras-chave: Teresa de Cartagena. Admiraçión operum Dei. Admiração das obras


de Deus. Querela das mulheres. Estudos da tradução.

LE DITIÉ DE JEANNE D´ARC (1429): O POEMA ÉPICO DE CHRISTINE DE


PIZAN E A QUERELLE DES FEMMES

Luciana Calado Deplagne


Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

O Ditié de Jeanne D‟Arc (1429) é a última obra da escritora Christine de Pizan. Trata-
se de um longo poema narrativo motivado pelo feito heróico de uma jovem de origem
camponesa, guerreira e visionária que se tornou uma das figuras mais conhecidas do
século XV: Joana D’Arc. Nos 488 versos do Ditié, Pizan retoma os principais temas
abordados nas obras anteriores: a política interna e externa na França, reflexões
sobre a guerra de Cem anos, que opunham a França e a Inglaterra, o desejo de Paz,
a devoção divina, a defesa da união nacional e sobretudo a valorização e defesa das
22
mulheres. Vale salientar que o poema foi escrito pouco tempo antes da morte do
processo e condenação à morte de Joana D’ Arc. Sabe-se que a jovem de pouca
instrução, por sua força de vontade, conseguiu convencer o rei e concílios clericais a
comandar o exército francês na tentativa bem-sucedida de libertar a França do
domínio inglês. Porém, após vencer várias batalhas e conseguir seu propósito, a
guerreira foi condenada, acusada de heresia e jogada viva à fogueira. É importante
lembrar que o feito heroico homenageado pela autora do Ditié não obteve opinião
unânime entre os escritores que se lançaram a narrá-lo. Pretende-se, nesta
comunicação, analisar a singularidade do Ditié de Jeanne D´Arc no que concerne a
ênfase na valorização das virtudes femininas, através da heroicização da protagonista
Joana D´Arc, como aspecto central da obra de Pizan. Dessa forma, entendemos que
o Ditié encontra-se no seio de mais um debate político pertencente ao movimento
“Querelle des femmes”, e que, dessa forma, Christine de Pizan reafirma, nessa última
obra, os traços marcantes de sua trajetória literária: a ousadia, a resistência e o
pioneirismo.

Palavras-chave: Ditié de Jeanne D´Arc. Poema épico. Querelle des femmes.


Christine de Pizan.

Mesa 2 - Narrar a si aos outros: crônicas e ensino de História Medieval

A GUERRA SENHORIAL NA CHRONICA ADEFONSI IMPERATORIS


Bruno Gonçalves Álvaro
Universidade Federal de Sergipe
[email protected]

Redigida entre agosto de 1147 e meados de 1149, respectivamente períodos


marcados pela conquista de Almería e a morte da Imperatriz Berenguela, a Chronica
Adefondi Imperatoris é um profícuo relato cronístico da atuação política de Alfonso VII
diante dos mais variados agentes históricos da Península Ibérica. Um dos aspectos
que passaram a chamar nossa atenção são as relações bélicas estabelecidas por ele
e demais forças como, por exemplo, Alfonso I de Aragão. Para além de um documento
que exponha campanhas militares, temos a possibilidade de verificar os rastros
deixados não por corpos sem vida após as batalhas, mas os meandros de que
passamos a denominar como guerra senhorial. Nessa breve apresentação damos
início às nossas primeiras reflexões de uma pesquisa que passamos a tatear na qual
pretendemos defender a hipótese de que a legitimidade dos senhores da guerra na
Península Ibérica do século XII perpassou pelo manejo de se estabelecer e
reestabelecer da melhor maneira possível os laços senhoriais sempre levando em
consideração a fragilidade de tais vínculos marcados, ora por misericórdia, ora pela
punição.
23
Palavras-chave: Guerra senhorial. Alfonso VII. Relações de negociação.

NARRAR A SI E AOS OUTROS: AS CRÔNICAS E A ETNOGRAFIA NA


TRADIÇÃO HISTORIOGRÁFICA DE MONTECASSINO (SÉCULOS VIII-XII)

Felipe Augusto Ribeiro


Universidade Federal de Pernambuco
[email protected]

Entre os séculos VIII e XII, vários monges do mosteiro de Montecassino (quase todos
bibliotecários, arquivistas e notários do scriptorium monástico), no sul da Itália,
redigiram historiae relatando, analisando e interpretando o passado e o presente da
região, bem como as suas conexões de pequena e de grande escala com Bizâncio,
África, Frância e outros pontos do Mediterrâneo. Desde o primeiro historiógrafo local,
o célebre Paulo Diácono (c. 720-799), até o último de sua linhagem notarial, o também
diácono Pedro (m. c. 1159) – passando por Erchemperto (m. c. 887) e Leão Marsicano
(m. c. 1115) – os montecassineses narraram não só as trajetórias de seu povo, os
lombardos, mas também aquelas de todas as gentes com cujos caminhos se
cruzaram: francos, gregos (bizantinos), sarracenos (árabes), africanos. Neste
trabalho, exploraremos as crônicas escritas por esses autores, no intuito de mapear
os encontros dos lombardos com seus vizinhos. O problema que propomos aos
documentos é: como os historiadores de Montecassino descreveram as gentes com
as quais se encontraram, no sul da Península Itálica? Empregando o método
comparativo para manusear a documentação e buscar responder essa questão,
chegamos a um resultado (parcial, por ora, pois a pesquisa ainda está em andamento)
que consiste na identificação de uma verdadeira tradição etnográfica gestada no
interior do mosteiro, produto do acúmulo de saberes registrados por cada um de seus
cronistas. A composição desse quadro histórico nos levou a formular uma hipótese, a
ser discutida nesta apresentação: considerando que a produção e reprodução dessas
histórias era encomendada pelos abades do mosteiro e que seus escritores
frequentemente eram comissionados para embaixadas e outras funções diplomáticas,
tais obras teriam contribuído para a própria sobrevivência da instituição no instável
ambiente da Península Itálica (atravessada por invasões estrangeiras, guerras civis,
saques etc.), pois teriam configurado um manancial de informações e conhecimentos
que teriam permitido a seus representantes negociar com diversos atores da cena
política mediterrânica e garantir que o mosteiro preservasse não só a sua integridade
patrimonial, mas também a sua função de mediadora dos conflitos regionais.

Palavras-chave: Crônica. História. Etnografia. Montecassino. Itália.

IDADE MEDIAR: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O USO DE REALIDADE


AUMENTADA (AR) NO ENSINO DE HISTÓRIA MEDIEVAL
Renan Marques Birro
24
Universidade de Pernambuco (UPE/CMN)

A apresentação abrange o uso da realidade aumentada em livros didáticos de História,


explorando a interseção entre Humanidades Digitais, História Digital e o conceito
ampliado de medievalismo. A realidade aumentada é entendida como uma ferramenta
que pode enriquecer a aprendizagem histórica, incorporando elementos digitais ao
mundo real por meio de dispositivos com câmeras. O texto destaca o fenômeno do
medievalismo, que envolve a apropriação de elementos medievais em diferentes
contextos e épocas, assim como o neomedievalismo, que abraça anacronismos e não
se preocupa com precisão histórica. Conquanto o medievalismo e o neomedievalismo
se faça presente nas concepções do passado medieval dos(as) educandos(as),
destaco a importância de estabelecer um diálogo entre acadêmicos e o interesse
público, no intuito de evitar o uso inadequado de elementos medievais para fins
político-ideológicos. A apresentação avançará para o tópico dos castelos e sua
presença tanto no (neo)medievalismo quanto nos livros didáticos de História.
Notadamente, estas construções passaram por usos e abusos ao longo do tempo,
mas constituem talvez uma das primeiras memórias que temos ligadas ao período
medieval. Desta maneira, apresentação tentará abordar este amplo leque de
elementos para abordar o uso de realidade aumentada aplicada ao Ensino de História
Medieval.

Palavras-chave: Ensino de História Medieval. Livro Didático. Realidade aumentada.


medievalismo.

Mesa 3 – Tradução de textos medievais

POETAS E LEGISLADORAS DA PENÍNSULA ITÁLICA (SÉCULOS XIII E XIV):


LEITURAS DE VIDAS E TRADUÇÕES POSSÍVEIS

Karine Simoni
Universidade Federal de Santa Catarina
[email protected]

No ensaio Um teto todo seu (1929), ao afirmar que “eu me arriscaria a supor que
Anônimo, que escreveu tantos poemas sem assiná-los, foi muitas vezes uma mulher”
(1990, p. 62), Virginia Woolf instiga suas leitoras e leitores a reconhecer, por trás de
identidades negadas ou de pseudônimos e por trás de “bruxas” e mulheres ditas
endemoniadas, a presença do talento das mulheres na sociedade inglesa. Nessa
perspectiva, pode-se avaliar também a história literária e cultural da Itália, em busca
de autoras anônimas e também autoras cujas referências biográficas foram
silenciadas, quase apagadas, vítimas do negacionismo e ou moldadas segundo
interesses da sociedade patriarcal. Esse estudo objetiva assim apresentar uma leitura
da vida e da escrita de duas mulheres: a poeta Nina Siciliana (séc. XIII) e a legisladora
25
Eleonora D'Arborea (séc. XIV). Através de excertos de tradução de seus textos, serão
discutidos os espaços de saberes e de atuação literária e política dessas mulheres,
suas maneiras de moverem-se no mundo e suas contribuições, que ainda hoje têm a
oferecer o que mais é louvável entre as épocas históricas e as gerações: o
conhecimento e a possibilidade de pensar sobre o lugar que nos cerca.

Palavras-chave: Nina Siciliana (séc. XIII). Eleonora D'Arborea (séc. XIV). Atuação
política. Estudos feministas da tradução.

A TRADUÇÃO COMO “CONTINUIDADE DA VIDA” DAS CENT BALLADES DE


CHRISTINE DE PIZAN
Carmem Lucia Druciak
Universidade Federal da Bahia
[email protected]

Traduzir uma autora e de outra temporalidade, sendo mulher, propõe questões


instigantes no que se refere à representação de si e da/o Outra/o, como por exemplo,
de que forma traduzir a dor alheia, aquela de uma perda que abriria espaço para o
desabrochar de uma carreira letrada na medievalidade francesa sem algum prazer
nem fruição? Pois ao mesmo tempo em que há afastamento, há aproximação entre
autora e tradutora, não que isso seja requisito para o exercício da tradução, mas é
sobre o que gostaríamos também de tratar neste trabalho. A questão que se coloca é
apenas uma dentre as tantas que nos vêm à mente, já inundada por leituras várias
(Zumthor, 2009) da obra e sobre a obra de Christine de Pizan, aqui, mais
especificamente, suas Cent Ballades (1399) em seus elementos biográficos.
Esperamos, com este trabalho, discutir de que forma a prática tradutória interpela a
tradutora que, em assumindo a voz de outra mulher e de outra temporalidade, lhe
permite continuar a viver. Queremos dizer com “continuar a vida do texto” não apenas
uma releitura ou uma atualização, mas uma forma de crítica que se faz sobre uma
“forma singular de vida” (Cardozo, 2021) do texto que se traduz. Ajudando-nos a
completar o percurso que empreendemos na voz de outra mulher, Antoine Berman
(2013) coloca alguns princípios para a tradução literária que nos são caros ao pensar
na abordagem tradutória das baladas de Christine, é o que o autor chama de “analítica
da tradução” que se dá através de uma “reflexão sobre a dimensão ética, poética e
pensante do traduzir”. Portanto, apresentaremos as Baladas XVII, XVIII e XX da
coletânea Cent Ballades, concebida e organizada pela mulher de letras nos anos
seguintes à morte de seu esposo, tempo em que Christine se lançava na carreira e
alcançava a atenção e o favor de quem poderia lhe permitir viver da escrita, para
demonstrar como as traduzimos e quais elementos foram observados no exercício da
tradução.

Palavras-Chave: Tradução literária. Vida do texto. Escrita feminina.


26
Mesa 4 – Tradução de textos clássicos

TRADUÇÃO PARA O ENSINO DE LÍNGUA GREGA: ESTÁGIOS TRADUTÓRIOS

Marco Valério Classe Colonnelli


Universidade Federal da Paraíba (PPGL/UFPB)
[email protected]

Ensinar língua grega antiga não é tarefa das mais simples, mesmo após um
crescimento da área nas universidades brasileiras. Algumas tarefas se impõem aos
professores: a primeira e muito importante é a de tentar conhecer seus alunos por
meio de suas habilidades linguísticas; a segunda, após formular um plano prático-
pedagógico, selecionar um material didático compatível com o nível de sua audiência.
Entretanto, seja qual for o material adotado e a habilidade linguística dos alunos, a
tradução é o exercício por excelência na aquisição e no ensino do grego antigo. De
forma geral, traduzir é uma prática constante no curso, ainda que não se teorize muito
sobre os conceitos de tradução, versão, transcriação, etc. De acordo com Oustinoff
(2015), desde a antiguidade a tradução é pensada como uma poderosa ferramenta
de transferência cultural. Segundo o autor, São Jerônimo, retomando a forma de
tradução criticada por Cícero, inaugura uma oposição duradoura nos estudos
tradutológicos: “non verbum de verbo, sed sensum exprimere de sensu”. Essa
oposição, longe de configurar um problema para o aprendizado da língua, na verdade
constitui em nossa prática um caminho a ser trilhado em estágios de aquisição
linguística. Com isso, pretendemos demonstrar aqui com base em alguns exemplos
aplicados em sala de aula como essas práticas tradutórias contribuem para aluno
pensar, aprender e traduzir um texto em língua grega antiga.

Palavras-chave: Grego antigo, tradução, ensino, filologia.

TRADUÇÃO E ENSINO DO LATIM

Willy Paredes
Universidade Federal da Paraíba (PPGL/UFPB)
[email protected]

O tratado Das Leis, de Marco Túlio Cícero, está inserido em seus escritos filosóficos,
é composto por três livros, há nos dois primeiros explanações de cunho mais filosófico
e no último a exposição do sistema jurídico romano. O tratado é apresentado em forma
de diálogo em que se observa influência platônica, não só deste gênero discursivo,
mas também da finalidade da obra, em que são retomadas parcialmente ideias
extraídas sobretudo das Leis e da República, de Platão. As ideias em Das Leis
parecem mais claramente extraídas das concepções dos filósofos estoicos, sobretudo
as que se referem à razão universal proveniente da Natureza, que perpassa todo
27
diálogo, e que seria a fonte fundamental do Direito, “a lei é a suma razão, inserida na
natureza, que ordena aquelas coisas que devem ser feitas e proíbe as contrárias” (De
Leg. I, 18). Sendo o homem um animal dotado de razão, esta, quando confirmada e
realizada na mente do homem, seria a lei, algo que transcende a lei escrita, criada
pelos homens, e que está presente em todo ser dotado de razão e consciência do que
seja o sumo bem e o mal. A razão seria assim uma virtude que não só está presente
no homem mas também na divindade, virtude que nada mais seria que a Natureza
perfeita que concedeu ao homem a capacidade e celeridade da mente, a inteligência
e alguns fundamentos da ciência, sendo assim a Natureza confirmaria e realizaria em
si mesma a razão da qual estão providos tanto os homens quanto a divindade.

Palavras-chave: Cícero. Das leis. Platão. Natureza.

TRADUÇÃO COLETIVA: CONTRIBUIÇÕES DE UMA HISTORIADORA


Priscilla Gontijo Leite
Universidade Federal da Paraíba (DH/UFPB)
[email protected]

O objetivo da comunicação é apresentar os resultados da tradução dos três primeiros


discursos de Iseu realizada de forma coletiva pelo Grupo Rhetor na UFPB. Iremos
discutir como a interdisciplinaridade colabora durante o processo de tradução,
sobretudo oferecendo um maior aporte para questões ligadas ao sistema jurídico.
Como exemplo, iremos citar a escolha de tradução de termos jurídicos ligados às
disputas sucessórias.

Palavras-chave: Retórica. Tradução. Iseu. Direito antigo.

Mesa 5 – O eu e o outro na tradução de textos medievais

AS REVELAÇÕES DE JULIANA DE NORWICH NO BRASIL: ANÁLISE


COMPARADA DE TRÊS TRADUÇÕES PARA O PORTUGUÊS

Profa. Dra. Fernanda Cardoso Nunes


Universidade Estadual do Ceará (UECE-FAFIDAM)

Este trabalho busca realizar uma análise comparada das três traduções brasileiras da
obra A Revelation of Love (c. 1395), de autoria da mística inglesa Juliana de Norwich
(c. 1343 – c. 1416). As referidas traduções foram publicadas no ano de 2018 e 2023.
Com os títulos de Revelações do Amor Divino e Revelações sobre o amor divino,
inserem a autora dentro do contexto dos estudos teológicos e devocionais, bem como
do sistema literário brasileiro, visto que a autora é considerada a primeira grande
28
prosadora da Literatura Inglesa. A primeira tradução foi publicada pela Paulus em
2018 e é de autoria de Marcelo Masson Maroldi e constitui uma tradução feita a partir
de uma tradução para o inglês moderno de Grace Warrack de 1901, cujo manuscrito
original se encontra no Museu de Londres. A segunda é de autoria de Maria Elizabeth
Hallak Nielsen a partir do manuscrito Sloane da British Library (c.1650). A terceira é
de autoria de Marcelo Musa Cavallari e contém as versões curta e longa do referido
texto. Buscaremos, portanto comparar as traduções utilizando-nos da seguinte
fundamentação teórica: Berman (1995, 2007), Britto (2012), Lefevere (2009), e
Gentzler (2009). Com a pesquisa, percebemos que os dois primeiros tradutores
apresentam os elementos religiosos do texto em detrimento dos elementos estéticos
e literários do mesmo. Já o terceiro tradutor busca enfatizar mais o teor literário das
revelações da anacoreta. Esperamos, com esta pesquisa, contribuir para despertar
cada vez mais o interesse em relação ao pioneirismo dessa autora, dentro das letras
medievais inglesas, no contexto tradutório brasileiro.

Palavras-chave: Literatura Inglesa Medieval. Tradução. Juliana de Norwich.

PRESENÇA QUEER NA LITERATURA MEDIEVAL IRLANDESA: TRADUÇÃO DO


MICROCONTO NÍALL FRASSACH’S ACT OF THRUTH

Yuri Jivago Amorim Caribé


Universidade Federal de Pernambuco

Este trabalho propõe uma tradução comentada do inglês moderno para o português
brasileiro do microconto medieval Níall Frassach’s Act of Thruth (Níall, 2002). A autoria
dessa obra, escrita originalmente em irlandês médio, é atribuída a Áed Ua Crimthainn,
principal escriba responsável pela compilação do Book of Leinster, obra que inclui o
microconto e que pode ser definida como uma antologia de textos literários, médicos
e de natureza religiosa reunidas em manuscritos que datam do século XII, de acordo
com informações do website do Trinity College Dublin. Sabemos que o texto em
questão foi inicialmente traduzido do irlandês médio para o inglês moderno por David
Greene em 1976, tendo sido reeditado em 1979 (GREENE, 1979) e em 2022 (NÍALL,
2002). Depois, foi traduzido novamente (e comentado) por Damian McManus em 2008
(MCMANUS, 2008) sob a forma de um artigo acadêmico, publicação que serviu de
modelo para nossa proposta. Pela pauta, o amor entre duas mulheres e a sábia
decisão de um rei irlandês acerca da paternidade do filho de uma delas, consideramos
relevante traduzi-lo para a língua portuguesa do Brasil por se tratar de texto literário
medieval que toca na temática queer. Nesse sentido, o conceito de leitura queer
(queer reading) de Stockton (2023) servirá de base para nossa discussão acerca da
homoafetividade demonstrada por personagens de textos literários canônicos, que
pode ser visualizada com uma frequência maior do que se imaginava. Assim,
realizamos uma tradução indireta de Níall Frassach’s Act of Thruth, acompanhada de
comentários críticos que justificam as opções do tradutor. Nossa proposta também se
assemelha ao trabalho realizado por Dan Wiley (2005), que fez uma leitura crítica do
29
personagem rei Frassach que aparece nessa obra, tendo como base a tradução de
Greene. Por fim, optamos por destacar em nossa tradução a questão do amor entre
duas mulheres, sabendo que outros trabalhos priorizaram o aspecto poético e a
sonoridade. As conclusões apontam para uma necessidade de promover maior
visibilidade a personagens queer de narrativas literárias canônicas e não canônicas,
inclusive com a realização de pesquisas acadêmicas e de traduções em torno da
pauta queer.

Palavras-chave: Literatura medieval irlandesa. Estudos Queer. Leitura Queer.


Tradução comentada. Rei Níall Frassach.

Mesa 6 – Imagens e representações

AS IMAGENS MENTAIS E VISUAIS DO DIABO NA GRELHA DO INFERNO NA


VISÃO DE TÚNDALO

Adriana Zierer
UEMA/UFMA/Brathair

A Visão de Túndalo (Visio Tnugdali) é uma viagem imaginária composta no século XII
por um monge do origem irlandesa chamado Marcus. Neste relato, um cavaleiro
pecador, Túndalo, um dia se sente mal e tem uma experiência de quase-morte,
quando a sua alma sai do corpo e ele faz um percurso ao Além-Túmulo por três dias,
acompanhado por seu anjo da guarda. Nesta jornada, conhece inicialmente os
espaços infernais e depois os paradisíacos, o que o leva a se arrepender de seus
antigos pecados. Importante mencionar que a alma sofre por suas faltas, relacionadas
aos sete pecados capitais e chega a encontrar Lúcifer no Inferno. Para Cavagna
(2004), a Visio Tnugdali faz uma verdadeira “descoberta” do Inferno porque as
descrições deste local e do Diabo são muito vívidas e detalhadas. Neste sentido, de
acordo com as imagens mentais produzidas pela fonte redigida por Marcus, Lúcifer se
encontra prostrado, como que de quatro, sobre a grelha do Inferno. Ele sofre e faz
sofrer as almas que estão eternamente danadas. No entanto, em outras
representações deste documento, produzidas principalmente no século XV, o ser do
mal se encontra deitado sobre a grelha, esmagando os pecadores, comendo-os e os
jogando para várias partes do Inferno. Isso pode ser observado, por exemplo, tanto
nas versões portuguesas do texto, códices 244 e 266, como também na versão
francesa produzida por David Aubert para a duquesa Margaret de York. Isso se
confirma também na imagética, pois temos a representação do Diabo deitado sobre a
grelha tanto em outro documento, o Livro de Horas do Duque de Berry, quanto na
iluminura de Simon Marmion do manuscrito iluminado dedicado à duquesa da
Borgonha, como ainda, em xilogravuras do século XV da narrativa, que mostram a
figura do Diabo no Inferno. Desta forma, analisar as imagens visuais e mentais da
Visão de Túndalo nos auxiliam a compreender a riqueza desta obra e suas diversas
interpretações ao longo do tempo.
30
Palavras-Chave: Diabo. imagens visuais e mentais. Visão de Túndalo.

NARRAR O PÓS-VIDA: O ANJO COMO GUIA, PROTETOR E GUARDIÃO


DA ALMA NA VISÃO DE TÚNDALO

Solange Pereira Oliveira


UEMA/PPGHIST/FAPEMA/BRATHAIR

A figura angélica assume um papel importante no cotidiano medieval na medida em


que representa um ser espiritual que permite estabelecer uma comunicação entre o
mundo visível e invisível e cuja principal função é mediar e interceder nas relações
entre o divino e o humano. Seja na vida ou na morte, esses seres espirituais são
verdadeiros aliados no combate às ações viciosas que frustram a busca pela
salvação. São os guardiões do corpo e da alma, crença cristã perpetuada pela
Sagrada Escritura e pelos ensinamentos da pastoral da Igreja Medieval. O objetivo
desta comunicação é analisar a figura angélica no Além cristão na versão portuguesa
do manuscrito Visão de Túndalo (códice 244). A narrativa descreve o itinerário da
viagem da alma do cavaleiro Túndalo guiado por um anjo que lhe mostra “todas as
penas do Inferno e do Purgatório e todos os bens e glórias que há no Paraíso como
exemplaridade para a conversão cristã. Pretendemos, através da análise do
manuscrito, abordar o papel desempenhado pelo ente celestial como guia da alma
que informa tanto as penas infernais e purgatórias, como as glórias celestiais no Além,
de fundamental importância para a pedagogia moral cristã. Para além dessa questão,
abordaremos outras características que foram atribuídas ao anjo, como guia e
guardião da almas que dão corporeidade aos discursos dos pregadores sobre os
papéis desempenhados pelos seres angélicos no processo de salvação. Desse modo,
esta narrativa do pós-vida nos revela o imaginário cristão dos anjos em plena ação
para a transformação espiritual da alma viajante e, principalmente do público leitor e
receptor do manuscrito.

Palavras-chave: Visão de Túndalo. Paraíso. Anjo. Alma.

JO, RAMON LLULL (2016): DOCUMENTÁRIO, HISTORIOGRAFIA E


REPRESENTAÇÃO

Prof. Dr. Guilherme Queiroz de Souza


Universidade Federal da Paraíba (DH-UFPB)

O presente trabalho analisa o documentário catalão Jo, Ramon Llull (2016), com
ênfase na representação desse filósofo maiorquino. Inicialmente, mapearemos os
documentários produzidos sobre Llull desde a década de 1980, examinando suas
31
principais características narrativa e estética, além de suas “vozes” historiográficas.
Posteriormente, testaremos as hipóteses de que existe uma analogia entre o material
e o filme O Nome da Rosa e de que nele há um sentido político, diplomático e
hagiográfico.

Palavras-chave: Ramon Llull. Documentário. Historiografia. Representação.

Mesa 7 – Residualidade e Literatura ibérica medieval

LITERATURA DE VIAGENS IBÉRICA: GÊNERO DE GÊNEROS, DA IDADE


MÉDIA À CONSTRUÇÃO DA MODERNIDADE EM “EMBAJADA A
TARMORLAN”

Juan Pablo Martín Rodrigues


Universidade Federal de Pernambuco
[email protected]

Embora ultimamente tenha se lhe conferido maior atenção à literatura de viagens, em


virtude da superação (e crítica) do cânone nacional, um amplo campo de pesquisa
ainda se faz necessário e abre entorno a estes relatos, e mais sendo medievais. Em
“Embajada a Tamorlan, de Rui González de Clavijo” [1406] livro de viagens escrito
durante o reinado de Enrique III de Trastámara de Castela e Leão, podem se encontrar
cristalinamente traços de residualidade (PONTES, 2015; MOREIRA, 2006) que
marcaram e explicam grande parte da modernidade narrativa, histórica e literária. Um
gênero residual como o de viagens permite enxergar melhor as costuras do sistema
literário e desenvolver muito mais a liberdade expressiva dos autores. Gêneros que
seriam constitutivos do DNA de muitos outros gêneros modernos, desde as cartas de
relação e crônicas de conquista da literatura colonial, relatos de viagens dos proto
jornais na primeira modernidade, narrativas de tese utópicas, novelas picarescas, até
os contemporâneos romances de aventuras, permitiriam ao serem analisador fornecer
outro olhar às consistentes pesquisas sobre literatura medieval espanhola de viagens,
como o editor da obra, LÓPEZ ESTRADA (1999), CARRIZO RUEDA (1993) e ANCA
PRIVAT (2003), que contextualizam essa produção de narrativas de viagens e
adquirem um novo significado através da análise temática, formal e de gênero,
baseada na teoria da residualidade, que permite enxergar esses textos antigos não
mais como meras curiosidades, mas como elementos culturais que explicam nosso
mundo de forma decisiva.

Palavras-chave: residualidade. narrativa de viagens. viagens medievais hispânicos.

RESIDUALIDADES MEDIEVAIS BRASILEIRAS


32

Roberto Pontes
Universidade Federal do Ceará

Nossa participação nesta mesa-redonda tem o propósito de mostrar como o


feudalismo português e seus transplantes ocorridos no Brasil durante a primeira fase
da colonização lusitana, permearam a cultura brasileira em todos os seus níveis.
Procuraremos apontar resíduos medievais encontráveis em diversas manifestações
culturais do nosso país nas esferas política, jurídica e econômica, mas sem esquecer
que elas se fazem presentes também na ciência e na geografia mediévicas, na
persistência do espírito cavalheiresco e do ânimo místico ou religioso refletidos na
cultura do povo. A fim de comprovar a persistência, isto é, os resíduos da cultura
medieval portuguesa naquela que veio a ser produzida no Brasil a partir da chegada
de Cabral, daremos alguns exemplos (ainda que tolhidos pela brevidade da ocasião)
calcados na geografia celeste e teratológica, nos transplantes feudais e senhoriais, no
espírito da cavalaria, nas técnicas de edificações, nas conformações urbanas, nas
reduções indígenas, nas experiências místicas, na organização eclesiástica, na
cultura popular, nos regimes jurídico e administrativo adotados pelos colonizadores,
na diretriz da economia colonial e na magia da ciência. Tudo se fará – se o tempo
permitir – com o valioso auxílio de Luis Weckmann, o mexicano autor do precioso livro
La herencia medieval del Brasil (México: Fondo de Cultura Económica, 1993).

Palavras-chave: Feudalismo português. Resíduos feudais brasileiros. Cultura


popular. Herança medieval brasileira.

RESÍDUOS TARDO-MEDIEVAIS IBÉRICOS NOS CANTARES DE DONA


MILITANA: UMA LEITURA GENÉTICA SOBRE DUAS VERSÕES DO “ROMANCE
DONA BRANCA”

Tito Barros Leal


Universidade Estadual Vale do Acaraú

Dona Militana (1925-2010) guardava em sua memória mais de 700 anos de saberes
sobre romances, xácaras e mais um sem-fim de histórias cujas origens encontram-se
na poesia colhida na Península Ibérica. A proposta do trabalho aqui pautado é
apresentar duas versões do Romance de Dona Branca registrada por Dona Militana
no álbum triplo Cantares (2002) e fixadas nas faixas 06, do CD 01 e 10, do CD 03. Às
duas versões indicadas, devemos somar uma terceira também colhida no referido
álbum triplo, trata-se da faixa 01 do CD 01, intitulada Romance de Clara Arlinda. Os
dois primeiros documentos cantados pela romanceira potiguar e indicados neste
resumo, parecem não guardar correlação entre si, já o Romance de Clara Arlinda, por
seu turno, deve ser entendido como primeira parte do Romance de Dona Branca
(versão 01). Partindo da tríada História, Memória e Esquecimento, consagrada no
campo da História a partir dos estudos referenciais publicados por LE GOFF (1988);
ROSSI (1991) e Ricœur (2000) e somando um quarto elemento, o Resíduo, base da
33
Teoria da Residualidade (PONTES, 1999), buscaremos compreender a genética dos
documentos em análise. Para tanto, faremos uso dos romanceiros compilados, a partir
de meados dos oitocentos, em Portugal (GARRET: 1851), Espanha (DURÁN: 1859)
e Brasil (ROMERO: 1885). Queremos crer que uma análise comparativista dos textos,
balizada pelos quatro conceitos acima expostos, poderá lançar luzes sobre a longa
duração do processo residualista de hibridação cultural, sedimentação e resistência
do imaginário tardo medieval ibérico na cultura (dita) popular nordestina.
Palavras-chave: Residualidade. Tardo-medievalidade. Dona Militana.

Mesa 8 – A(u)tores medievais e suas representações textuais e


iconográficas

OS ANIMAIS NAS ILUMINURAS DO COMENTÁRIO AO APOCALIPSE DO


BEATO DE LIÉBANA - CÓDICE DE LORVÃO

Raquel de Fátima Parmegiani


Universidade Federal de Alagoas; Pós-doutoranda História/USP

O presente trabalho pretende fazer uma reflexão sobre a representação dos animais
dentro da tradição exegética medieval, mais especificamente aquela ligada ao livro do
Apocalipse. Nossa análise parte de um dos códices iluminados do Comentário ao
Apocalipse, obra escrita no século VIII e atribuído ao Beato, abade de Liébana (730-
785) – códice de Lorvão (1189), para pensar como duas práticas culturais que se
cruzam dentro desses códices, a escrita e a imagem, funcionaram de forma a propor
uma representação de mundo; como os animais integram essa mensagem; e,
principalmente, como a apropriação destes pela exegese do livro do Apocalipse se
estrutura dentro dos arranjos figurativos das iluminuras, visto que tanto no aspecto
material como no aspecto semântico, a imagem pode concordar com o texto, mas
também romper com ele e, dialeticamente, construir novos significados. Estaremos
atentos portanto, aos aspectos materiais da inserção da miniatura na página, a
estrutura, o arranjo relativo dos elementos figurativos - seres humanos e animais -,
seu tamanho, seus gestos, a escolha e distribuição de cores os modos de inserção de
escritos na imagem e inversamente a relação entre imagem e texto que o acompanha
ou introduz. Por fim, nosso trabalho tem como norte a ideia de que a produção de um
códice - texto e iluminuras - é um processo que inclui transações entre a obra e o
mundo social. É necessário, pois, não desassociar a análise das significações
simbólicas e das formas materiais que as transmitem. A percepção do social não se
dá de forma neutra, mas por meio da construção de estratégias e práticas (religiosas,
escolares, políticas etc.). Lembremos que os comentários bíblicos, como gênero
literário, têm o propósito de intervir na economia das polêmicas que atravessam os
diferentes posicionamentos ideológicos da sociedade.
34
Palavras-chave: Comentário ao Apocalipse. Beato de Lorvão. Exegese Bíblica;
Iluminuras: Animais.

OS MONGES E OS NÔMADES DO DESERTO: ASPECTOS DO ESTEREÓTIPO


DO SARRACENO NO DISCURSO MONÁSTICO PRÉ-ISLÂMICO

Bruno Uchoa Borgongino


Universidade Federal de Pernambuco
[email protected]

O advento do monaquismo cristão em meados do século IV foi concomitante ao


surgimento de uma intensa produção textual que versava sobre os valores e normas
desse modo de vida. O discurso monástico então emergente articulava elementos
provindos do arquivo literário e intelectual da Antiguidade e de passagens das
Escrituras, mas em conformidade com novas condições de produção. Isso, inclusive,
no que concerne à descrição de comunidades humanas não-cristianizadas. O
discurso em questão era permeado por menções a nômades do deserto da Península
Arábica, designados genericamente como “sarracenos” ou “hagarenos”. Sua
presença consistia num estereótipo com características regulares e mobilizado em
favor dos interesses dos grupos engajados em questões monacais. O objetivo desta
apresentação é apresentar um panorama do estereótipo do sarraceno no discurso
monástico cristão anterior à ascensão do Islã, no século VII.

Palavras-chave: Sarracenos. Estereótipo. Discurso monástico.

HISTORIOGRAFIAS DO OUTRO: AS CRÔNICAS ETNOGRÁFICAS DE ÍNDIAS

Juan Ignacio Jurado-Centurión López


Universidade Federal da Paraíba (PPGL/UFPB)
[email protected]

Desde os primeiros momentos da denominada “descoberta” do Novo Mundo, os


europeus, começando por Colombo, se interessaram vivamente pela natureza e pelas
pessoas que habitavam essas “ante ilhas” ou “Antilhas”, como as nomeou o
navegador genovês, imaginando que se encontrava nas ilhas anteriores à mítica
região de Cipango. O interesse desses primeiros observadores foi motivado, antes de
tudo, pela curiosidade diante do exotismo dessas novas terras que pisavam, e pelos
hipotéticos lucros que poderiam ser obtidos na extração das suas riquezas. Assim,
junto com as notícias da descoberta e da posse oficial da terra, Colombo, mesmo sem
compreender a língua das pessoas com as quais tenta comunicar-se, escreve que os
recursos são ímpares, e que os indígenas serão em breve novos súditos da monarquia
e se converterão de imediato à fé cristã. Para Beatriz Pastor (1987), entretanto, o
leitmotiv do discurso de Colombo vai além da curiosidade de um navegante acidental.
35
O verdadeiro motivo que sustenta seu particular discurso sobre essas terras e seus
moradores seria, de fato, o aspecto econômico: El laborioso proceso de
ficcionalización de la realidad por identificación de América con los términos de un
modelo literario prefijado no es el único que se da dentro del discurso narrativo del
Almirante ni tampoco el más importante. De hecho, este proceso de identificación de
América con el modelo imaginario de Colón está subordinado a otro proceso de
deformación profunda. El origen de este último no es
literario sino económico y su finalidad histórica es la propuesta, velada primero y luego
cada vez más explícita de instrumentalización de la realidad con fines estrictamente
comerciales. (PASTOR, 1983, p. 82) Assim, narrativas iniciais como as de Colombo
eram propulsadas tanto pelo afã descritivo quanto pelas urgências comerciais.
Lembremos que o objetivo primordial de Colombo, e daqueles que se embrenharam
nos anos seguintes em territórios ainda desconhecidos, consistia em encontrar
riquezas, além de obter reconhecimentos e fama. Para esses homens, o indígena era
simplesmente um meio de aceder a estas benesses.

Palavras-chave: Crónicas de Indias. Historiografia. Alteridade.

Mesa 9 – Autoridade feminina na Idade Média

ASPECTOS DE UMA TEOPOÉTICA N’O DIÁLOGO DE CATARINA DE SENA


Maria Graciele de Lima
Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

Caterina Benincasa, conhecida como Catarina de Sena (1347-1380), foi uma teóloga
e filósofa medieval italiana, cujos escritos se tornaram conhecidos, especialmente
devido ao seu prestígio crescente na cultura eclesial católica, o que levou à sua
canonização (1461) e ao recebimento do título de doutora da Igreja, em 1970. Sua
obra, no entanto, destacadamente O Diálogo (Dialogo della divina provvidenza),
configura-se como um discurso que pode suscitar caminhos interdisciplinares de
consideração, extrapolando evidentes questões religiosas. A partir dessas
constatações, a presente proposta de leitura busca enfocar aspectos de uma
teopoética presente em O Diálogo, considerando a interface entre o discurso teológico
e as construções figurativas apresentadas na obra, o que a aproxima dos modos de
escrita literária e a insere na tradição de escritos de autoria feminina medieval em que
há a forte presença da Mística. Para realizar essa apresentação dos escritos de
Catarina, cabe o diálogo com as contribuições de Octavio Paz (1972), Franco Júnior
(2006), Mônica Baptista Campos (2014) e Eduardo Losso (2020), evidenciando que
no discurso da autora as fronteiras simbólicas da Literatura e da Teologia encontram-
se profundamente entrelaçadas.
36
Palavras-chave: O Diálogo. Teopoética. Catarina de Sena. Autoria feminina
medieval.

RAINHAS DO NORTE GLOBAL: QUEENSHIP NO ALTO MEDIEVO EM


PERSPECTIVA COMPARADA

Isabela Albuquerque
Universidade de Pernambuco/Campus Garanhuns
[email protected]

O poder da rainha no período medieval vem por vezes associado a uma atuação
inferior, de menor importância ou informal, quando comparado ao do rei. Contudo, os
estudos sobre queenship, a partir de uma perspectiva bradeuliana que cruza tanto
sociedades ocidentais, passando pelo mundo Bizantino e islâmico e chegando ao
extremo oriente, da Antiguidade à Era Moderna, tem nos apontado que o ofício da
rainha vai muito além do de uma mera coadjuvante, vinculada apenas ao que
denominamos de soft power. Os estudos sobre queenship não oferecem apenas a
oportunidade de iluminar mulheres e identificar sua participação enquanto membro da
aristocracia, mas abre um leque de possibilidades que auxiliam na interpretação de
como eram as redes contato e influência, das relações das rainhas com seu staff, por
quais espaços ela circulava, quem financiava, pontos fulcrais na compreensão das
relações sociais que permeiam o ofício da rainha. A proposta de nossa fala consiste
em analisar a trajetória de rainhas e mulheres aristocráticas que exerceram autoridade
em seus respectivos territórios no alto medievo, a partir de fontes narrativas (anais,
crônicas e histórias), e de que maneira envolveram-se em questões políticas nas
regiões em que governaram, pensando a atuação dessas agentes numa forma de
conjunta ao monarca, objetivando a manutenção dos interesses dinásticos e do reino.
Para tanto, os territórios recortados foram a Inglaterra Anglo-Saxônica, o Reino Franco
e a Germânia Imperial, entre os séculos VIII-XI. Diversas princesas foram preparadas
desde cedo para deixarem suas antigas casas, a fim de se tornarem rainhas ou
senhoras em outros reinos e estados no Ocidente Medieval, tal como Emma da
Normandia (1002-1016 e 1017-1035), esposa dos reis Æthelred II e Cnut, ambos da
Inglaterra, Eadgifu de Wessex (919-929), casada com Carlos III de Frância e Edith de
Wessex (930-946), dentre tantas outras. A partir da documentação, analisaremos
como essas rainhas e aristocratas circularam por distintos espaços de poder,
estabelecendo suas próprias redes e conectando-se a outros agentes (laicos e
religiosos), tecendo suas próprias alianças.

Palavras-chave: Monarquia. Queenship. Norte Global.

RESUMOS DOS MINICURSOS


37

MINICURSOS
38

MINICURSO I

MULHERES MÍSTICAS MEDIEVAIS: REPENSANDO A QUESTÃO DO SUJEITO

Maria Simone Marinho Nogueira


Universidade Estadual da Paraíba
[email protected]

O que significa ser sujeito e o que se requer para que se possa falar de subjetividade?
Em que medida as subjetividades são ou podem ser construídas? É possível falar em
algo antes da existência do conceito que o define? Estas questões serão tomadas
como hipóteses e, por sua vez, exigem uma visão em raio duplo: de um lado, pensar
a ideia de sujeito na Idade Média e, de outro, a subjetividade feminina também neste
período. Logo, o principal problema a ser abordado é o de se repensar a ideia de
sujeito, redesenhando subjetividades, tendo como foco a escrita mística feminina
medieval. A metodologia consistirá na leitura crítico-analítica de excertos de textos
produzidos por mulheres na Idade Média, como O espelho, de Marguerite Porete; A
correspondência, de Hadewijch da Antuérpia; as Revelações, de Matilde de
Magdeburg; alguns Prólogos e Cartas, de Hildegard von Bingen, assim como textos
de outras escritoras medievais que complementarão as ideias discutidas. Também
será feita a leitura de excertos de textos da bibliografia secundária, isto é, estudos
sobre as escritoras elencadas e sobre os temas que devem nortear o minicurso, como
sujeito, subjetividade, escrita de si, mística, Idade Média, performance, agência e
outros afins. Esta leitura formará o referencial teórico do minicurso e contará com
autoras e autores como Benhabib et al. (2018); Certeau (2015); Foucault (2001, 1988,
1992, 2018); Gomes (2004): Iogna-Prat (2005); Klinger (2008); Nogueira e
Vasconcelos (2020, 2022); Nogueira (2019, 2020, 2021, 2022); Rago (2013); Régnier-
Bohler (1990); Rosenwein (2005), dentre outras(os). (Este minicurso faz parte da
pesquisa PIBIC, “Mulheres Místicas Medievais: reescrevendo subjetividades” cota
2023-2024, desenvolvida na Universidade Estadual da Paraíba e conta com dois
alunos bolsistas [CNPq e UEPB]).

Palavras-Chave: Mulheres. Medievo. Mística. Sujeito. Subjetividades.

MINICURSO II

RESIDUALIDADE A PARAIBANA: UMA REFLEXÃO LOCAL DA TEORIA NA


ANÁLISE LITERÁRIA

Prof. Doutor Juan Ignacio Jurado Centurión (UFPB)


Doutoranda Gilberia F. Alves Diniz (UFPB)
39
Desde já faz mais de duas décadas, a teoria da residualidade, sistematizada pelo
professor Roberto Pontes, tem auxiliado muitos pesquisadores e estudantes na sua
análise das mais diversas obras literárias. Prova disso é um número cada vez maior
de trabalhos de graduação e pós-graduação que se valeram desta teoria para a
fundamentação teórica das suas reflexões. No seio da nossa universidade (UFPB)
esta teoria também tem ajudado muitos docentes e discentes no desenvolvimento de
seus estudos e, do mesmo modo, isso se materializou em diferentes trabalhos de
conclusão, artigos científicos e capítulos de livros. Contudo, algumas questões foram
levantadas na hora de aplicar esta teoria diretamente no campo literário. Essa teoria
aparece de forma mais definida quando se trata com o aspecto cultural, com os
estudos do imaginário, porém não é assim quando o foco de estudo é a literatura.
Essa tessitura nos levou a procurar meios auxiliares que nos ajudassem a empregar
a teoria da residualidade na nossa análise literária sem cair em outras teorias como a
hipertextualidade de Gerard Genette ou o dialogismo bakhtiniano. Ao mesmo tempo,
a dificuldade na hora de fixar a origem do resíduo remanescente nos aproximou aos
estudos do imaginário na tentativa de encontra esse ponto de partida da marca
residual. Este minicurso tem como objetivo mostrar quais foram esses meios auxiliares
na hora de analisar o texto literário desde a perspectiva da residualidade. Nomes
como Jaume Aurell (Novo Medievalismo), Carl Jung (Mito e arquétipo) ou Elezear
Melitínski (Arquetipo literário) ou Hilário Franco Júnior (Imaginário) nos ajudarão na
nossa reflexão “local” e sem dúvida ajudarão também aqueles que empregam a
residualidade como teoria de apoio para suas reflexões.

MINICURSO III

AS PROVAS ACERCA DA EXISTÊNCIA DE DEUS

Prof. Dr. Anderson D’Arc Ferreira


Departamento de Filosofia (CCHLA – UFPB)

Uma das maiores questões debatidas no mundo latino do medievo entre os séculos
XII e XIII é, sem sombra de dúvidas, o estabelecimento das relações possíveis entre
a fé e a razão. No cerne da disputa entre dialéticos e antidialéticos surge a indagação
acerca dos limites da razão para o esclarecimento de pontos basilares da fé cristã.
Uma das perguntas mais efetivadas era se, com base exclusivamente na razão,
poder-se-ia provar a existência de Deus, ou seja, não partir dos dados revelados da
fé cristã, o que somente faz sentido para aqueles que comungam dessa mesma fé,
mas exclusivamente construída mediante o uso das ferramentas da razão humana, o
que culminaria em provas suficientes para o convencimento de qualquer pessoa,
independentemente de sua crença. Nesse contexto surgem várias discussões e várias
teorias. Nesse minicurso buscaremos analisar duas posições consagradas nesse
debate acerca da possibilidade de a razão humana desenvolver provas racionais que
comprovem a existência de Deus, a saber: as provas desenvolvidas por Santo
Anselmo e as provas desenvolvidas por Tomás de Aquino. O objetivo geral desse
minicurso é o de investigar, propedeuticamente, de que maneira Anselmo, no
Monologion e no Proslogion, consegue estabelecer as bases do seu ‘argumento
40
ontológico’ e de que maneira essa questão repercute nas cinco vias da prova da
existência de Deus expostas por Tomás de Aquino na Suma Teológica. Buscaremos,
portanto, compreender como cada um desses autores, com suas ferramentas
específicas, conseguiram desenvolver essas ‘provas racionais da existência de Deus’
e de que maneira elas ainda repercutiram nas discussões filosóficas da modernidade.

Palavras-Chave: Deus. Existência. Provas. Anselmo. Tomás de Aquino.

RESUMOS DAS SESSÕES DE COMUNICAÇÃO


41

SESSÕES DE COMUNICAÇÃO
42
SESSÃO 1
A obra de Christine de Pizan: perspectivas literárias e filosóficas

A CIDADE DAS DAMAS COMO ESPAÇO DE CUIDADO E CURA

Aylanne Sousa Vaz


Universidade de Brasília- UnB
[email protected]

Ana Miriam Wuensch


[email protected]

O processo de transgressão “prudente” que Christine de Pizan desenvolve na obra


Cidade das Damas, é uma exortação para um cuidadoso processo de esclarecimento
das mulheres, uma transformação capaz de revigorar e orientar suas existências, de
modo pleno e digno, e de acordo com suas excelências individuais cultivadas, algo
que não era então proporcionado a elas. Pelo contrário, a autora vai denunciar todo
tipo de maus tratos e humilhações a que as mulheres de diversas condições sociais
eram submetidas, em favor dos homens. Pela palavra, todos os autores examinados
nesta obra inferiorizavam física, moral, intelectual e ontologicamente todas as
mulheres: o próprio "ser" da mulher era a fonte de todo mal, pecados e vícios deste
mundo. Como lemos no início desta obra, esse múltiplo assédio masculino apenas
servia para perpetuar o privilégio e o domínio masculino, subalternizando todas as
mulheres. Essa retomada da dignidade do "ser" mulher, elaborado por Christine, como
protagonista e portadora do anseio de Deus - numa referência à cena da Anunciação
à Virgem Maria, como a escolhida para ser a "portadora do verbo que se fez carne" -
é o primeiro passo para superar a situação debilitante e desoladora em que se
encontrava a própria narradora. Com o auxílio de três mensageiras, uma trindade
feminina alegórica (Razão, Retidão e Justiça), Christine constrói um espaço literário
próprio, que serve de abrigo (proteção, amparo), e fortaleza (defesa e crescimento),
para si mesma e para todas as mulheres (do passado, do presente e do futuro). As
virtudes das mulheres são os materiais de construção desta Cidade: a mulher é
verdadeiramente virtuosa, é bela, e é boa. Curando as mulheres de tantos martírios e
sacrifícios, dores e desgostos, entre outras violências dos homens em suas vidas,
Christine ergue-se junto com aquelas mulheres, cujas histórias são contadas pelas
três Damas que dela cuidam, para que a sua obra também alcance outras mulheres
carentes de cuidados. Para que todas se fortalecem em ânimo, saúde, dignidade e
amorosa educação. Eis aí uma vocação: trazer beleza e generosidade para tratar das
mazelas de uma sociedade regida por homens que silenciam violentamente uma
dimensão humana de si mesmos: o cultivo de afetos e práticas que acolhem,
protegem, cuidam, e curam. Assim Christine decide-se, como a Virgem Maria:
anunciar e vocacionar outras mulheres, para que sejamos bálsamo, umas das outras.

Palavras-chave: Christine de Pizan. Cidade das Damas. Cuidado. Cura.


43

UMA ANÁLISE DA AUTO-REPRESENTAÇÃO DE CHRISTINE DE PIZAN EM A


CIDADE DAS DAMAS

Gizelda Ferreira do Nascimento Lima


[email protected]

Na tradição literária e estudos sobre as escritas autobiográficas o nome das mulheres


aparece como uma lacuna. Sua presença no campo das letras foi por muito tempo
referenciada de forma depreciativa, considerada gênero menor, por trazer nas suas
obras fatos da sua própria vida. Uma vida considerada sem importância,
acontecimentos e preocupações da sua rotina doméstica, sem grandes
acontecimentos importantes para serem lidos. Portanto, segundo Garretas (1990)
“indignos de serem registrados na memória coletiva”. Neste trabalho buscaremos
analisar a auto-representação da autora Christine de Pizan em sua obra A Cidade das
Damas (1405). Desenvolveremos nosso trabalho a partir do diálogo entre as teorias
contemporâneas sobre o gênero autobiográfico aproveitando-se também das
discussões recentes sobre a História das mulheres, já que a autora insere-se no
medievo, período encoberto por lacunas e esquecimentos sobre a produção de autoria
feminina. No primeiro momento discutiremos o silêncio da história sobre a produção
feminina nas escritas de si a partir dos estudos de Rivera Garretas (1990) e Deplagne
(2006); (2012) e (2017). E também apresentaremos algumas produções
autobiográficas produzidas por mulheres em períodos históricos bem anteriores aos
referenciados pela historiografia literária. Em seguida traremos as discussões atuais
sobre as transformações ocorridas nas escritas de si a partir das aproximações entre
realidade e ficção, utilizando como referências Foucault (1992), Arfuch (2010) e
Figueiredo (2013). Por fim, será feita uma análise da obra A Cidade das Damas de
Christine de Pizan, texto objeto de estudo deste trabalho buscando apresentar um
pouco sobre a vida e obra desta importante escritora medieval. Nesta obra fica
evidente a construção da autoridade de Pizan a partir do poder de dizer sobre si
mesma. A sua auto-representação nos faz pensar em como a autora queria ser vista
por seus leitores. Assim, descreve o seu percurso como estudiosa a partir da
valorização da imagem feminina.

Palavras-chave: Mulheres. Christine de Pizan. Autoria feminina. Auto-representação.

AS DAMAS DE CHRISTINE: UM OLHAR DECOLONIAL SOBRE A CONDIÇÃO


FEMININA E A ESCRITA DE SI

Yasmin de Andrade Alves


Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

Aniely Walesca Oliveira Santiago


44
Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

Este trabalho tem como objetivo trazer à tona uma visão múltipla acerca da condição
feminina na obra A Cidade das Damas, de Christine de Pizan. Nesse sentido, busca-
se focar no papel das Damas presentes na obra e suas interações com as
inquietações da autora, que se coloca como participante da narrativa. De forma
concomitante, considera-se que a escrita de si perpassa as fronteiras do texto
autobiográfico, que é uma narrativa retrospectiva que uma pessoa real faz de sua
própria existência. Sendo um texto utópico que carrega consigo marcas da construção
da memória feminina (Deplagne, 2006), A Cidade das Damas, longe de explorar
apenas traços da vida de sua autora, coloca-se no campo não linear da lembrança,
não correspondendo necessariamente com a realidade, o que atesta seu caráter
ficcional. Dessa maneira, pretende-se voltar o olhar sobre as Damas e seu papel
central na construção da escrita de si feita por Pizan, pautando-se nos aspectos
históricos e políticos do momento da escrita e no processo de construção do próprio
sujeito. Entretanto, não se limitando ao aspecto memorialístico do imaginário, e sendo
as escritas de si parte essencial do entendimento acerca de uma sociedade e de seu
contexto histórico, o texto em questão traz as inquietações que fazem parte da
construção social do sujeito feminino na Idade Média. Assim, faz-se necessário uma
visão decolonial sobre a obra, posto que essas inquietações, além de individuais,
correspondem a um grupo que permanece no lugar de vítima da colonialidade. Ao
situar as mulheres como sujeitos subalternos no medievo, é possível afirmar que suas
manifestações literárias configuram-se como estratégias políticas e devem ser lidas
sob a ótica de teorias que questionam lugares e espaços. Portanto, situando Christine
de Pizan como uma das escritas que que ancoram o início de movimentos sociais em
prol dos direitos das mulheres, o estudo se debruça sobre as teorias de Klinger (2007),
Lugones (2020), Deplagne (2006), entre outros.

Palavras-chave: Escrita de si. A Cidade das Damas. Estudos decoloniais.

A SAFO DE PIZAN
Vanessa Di Giorno Costa
Universidade de Brasília- UnB
[email protected]

Em meio a tantas mulheres emblemáticas citadas por Christine de Pizan em sua obra
A Cidade das Damas (2012), uma merece um olhar especial, a poeta, ou filósofa, Safo
de Lesbos. Lembrada como aquela que, por tanto amor as Musas, artes e ciências,
adentrou a caverna de Apolo, e cujos os versos inspiraram Platão, elencada como a
décima musa grega nos epigramas da Antologia Palatina, obra de tanta importância
no mundo Antigo, mas que muito pouco alcança a contemporaneidade. Em Pizan e
em Boccaccio Safo não é lembrada por sua sexualidade, ou definida de forma
pejorativa por seu gênero, e sim, por sua genialidade, criatividade e erudição. A poeta
renasce no mundo contemporâneo pálida, infeliz e fatal, é uma das flores do mal, tema
45
central no sistema baudelairiano, e fora dele se sustenta apenas como uma figura
perversa, “a impotente vítima da fúria violenta de uma linda mulher” (Cf. Mario Praz :
La chair, lar mort et le diable.1979, p.190.). Assim, a obra mélica da autora é reduzida
a uma estereotipia sexual, safismo e se torna sinônimo de depravação, relação sexual
entre mulheres, pecado. O que houve nesse espaço de tempo em que, de uma musa
adorada, homenageada e glorificada por sua graça e genialidade, Safo se torna
sinônimo de perversidade? E qual contribuição suas obras tiveram, na construção de
tamanha vulgaridade? A palavra se torna o registro de uma vivência, e no caso dos
fragmentos sáficos, a palavra é um manifesto da própria existência, que sobreviveu
por séculos para que esse registro alcançasse os dias de hoje. Em suas poesias, Safo
explora a sexualidade de forma intensa, livre, sedutora e sem pudor. Seus versos
revelam, talvez, o único registro ocidental do desejo feminino lésbico antes da
hegemonia do pensamento cristão. Trata-se de um pensamento fiel ao prazer, uma
expressão potente de uma filosofia do desejo, marcada por um eu-lírico implicado,
que se sobrepõe a materialidade através de sua própria subjetividade. Este trabalho
busca resgatar a Safo de Pizan, reconstruindo sua biografia e suas representações
históricas, feitas por biógrafos homens e mulheres, através de um olhar crítico,
considerando seu viés de gênero, em fuga da heteronormatividade compulsória
vigente.

Palavras-chave: Safo de Lesbos. Christine de Pizan. Cidade das Damas. Poesia.


Gênero.

DIDO NA CIDADE DAS DAMAS

Aline Cristina de Souza Santos


Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

Priscila Carvalho de Almeida Rodopiano


Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

Este trabalho objetiva trazer uma análise de Dido dentro da Cidade das Damas pela
visão de Christine de Pizan e o seu desenvolvimento dentro da idade média. O período
da Idade Média compreende entre 8 a 10 séculos A referência para considerar seu
“início” tem-se pela queda do Império Romano no ocidente, em 476 a.C. indo até a
conquista de Constantinopla pelos turcos-otomanos, em 1453. E o descobrimento das
navegações. Ela pode ser dividida em três Períodos: Alta Idade Média: Séc. V - Séc.
X; Idade Média Central: Séc. XI - Séc. XIII; Baixa Idade Média: Séc. XIII - Séc. XV.
Dentro deste tempo tivemos algumas escritoras medievais de renomes como:
Hildegard de Bingen (1098-1179), Hadewijch de Antuérpia (1200-1260), Marguerite
Porete (1250-1310), Catarina de Siena (1347-1380) e Christine de Pizan (1364-1430).
Pizan se retira da corte parisiense em 1418 em decorrência da guerra civil e se abriga
em um convento em Poissy, onde praticamente abandona a atividade literária, senão
pela confecção de um poema celebrando a vitória dos franceses sobre os ingleses
sob a liderança de Joana d’Arc, em 1429. Acredita-se que Pizan morreu pouco antes
46
da condenação de Joana d’Arc em 1431. Pizan foi uma escritora prolífica: produziu
mais de 40 obras em uma gama variada de gêneros literários (todas em francês
médio, ou seja, o francês falado nos séculos XIV e XV) e para públicos diversos. Uma
das mulheres políticas entre tantas foi Dido, que se chamava Elissa que a partir de
seus atos, fundou a cidade de Cartago onde se tornou dama e rainha dando provas
de uma grande constância, nobreza e virtude. Puxando assim um pouco da Prudência
e de uma das virtudes que se chama Retidão. Concluímos assim que Christine de
Pizan foi uma das primeiras escritoras profissionais da história ocidental e
possivelmente a primeira mulher a construir argumentos para defender a posição
feminina. Sua obra “A Cidade das Damas” é uma grande alegoria: em que se pode
usar os termos “edificar” e “construir” para falar da capacidade produtiva da mulher;
em que são citadas várias mulheres enquanto figuras notórias da sociedade, de modo
que, na obra, elas seriam membros e agentes, dentro da Cidade das Damas, que vão
usar de suas potências, capacidades e possibilidades, com autonomia e
autodesenvolvimento; Em que as três Damas simbolizam as qualidades que vão
alicerçar, junto às mulheres, uma sociedade inteira; As potências e possibilidades de
autodesenvolvimento e construção da mulher devem ser celebradas e levadas à luz,
desde Christine de Pizan até nossos dias. Por isso, enquanto grupo formado por
MULHERES, agradecemos a oportunidade de participar deste seminário.

Palavras-chave: Christine de Pizan. Cidade das Damas. Virtudes. Dido.

A FALA INSUBMISSA EM CIDADE DAS DAMAS, DE CHRISTINE DE PIZAN

Victória Pereira Vasconcelos de Abreu


Universidade Federal do Ceará (UFC)
[email protected]

O presente trabalho propõe uma investigação da voz insubmissa na obra “Cidade das
Damas” (1405) de Christine de Pizan, a partir da tradução de Luciana Eleonora de
Freitas Calado (2006). A autora medieval produziu uma profícua literatura, tendo como
uma de suas principais características a presença de um sentimento de
insubordinação diante do papel feminino esperado pela sociedade da época. Sendo
um dos maiores nomes femininos da literatura medieval, época em que se observava
um padrão androcêntrico, Pizan rompe com os preconceitos morais e políticos ao
escrever a obra em análise, pois assume o papel de propagar a autonomia feminina,
o poder de transformação através da palavra, a consciência na busca por caminhos
contra a misoginia, o que, conforme Christiane Soares Carneiro Neri (2013), permite-
nos vislumbrar, na obra de Pizan, a expressão de uma voz nitidamente feminista. Tais
características, juntamente com o tom de insatisfação e de insubmissão aos valores
vigentes que violam os direitos de um grupo ou classe social, integram a teoria da
Poesia Insubmissa criada por Roberto Pontes (1999) e nos auxiliarão a investigar
trechos da obra que comprovem a fala insurreta da escritora na obra La Cité des
Dames.
47
Palavras-chave: Poesia Insubmissa. Medieval. Literatura Feminina. Christine de
Pizan.

SESSÃO 2
Literatura medieval ibérica: modalidades e performances

ANÁLISE DA FIGURA FEMININA NAS CANTIGAS DE SANTA MARIA E DE


AMIGO: UMA PERSPECTIVA SOCIAL

Maria Clara Alves de Castro


Universidade Federal do Ceará
[email protected]

Karla Thamiris do Nascimento Costa


Universidade Federal do Ceará
[email protected]

Profª. Dra. Eizabeth Dias Martins


Universidade Federal do Ceará
[email protected]

A presente comunicação propõe uma investigação aprofundada sobre a figura


feminina nas cantigas de Santa Maria, de Alfonso X, e como se comparam ao papel
cumprido pelas mulheres nas cantigas de amigo. Era recorrente a representação
feminina nas cantigas trovadorescas, sendo estas passíveis de mudanças de acordo
com a temática a ser seguida. Nas cantigas de amor, por exemplo, o protagonismo
era predominantemente masculino, enquanto a mulher era passivamente alvo dos
atos e pensamentos do homem. As cantigas de Santa Maria, especialmente
dedicadas aos milagres operados pela Virgem Maria, e as de amigo, contadas do
ponto de vista feminino — embora escritas por homens —, apresentam uma
perspectiva diferente das cantigas de amor. Partindo desse enfoque, analisaremos o
papel feminino em ambos os gêneros, de forma comparativa, apontando também sua
ligação com a função social que a mulher cumpria na época. Para tanto,
caracterizamos ambos os gêneros de cantiga, ressaltando as representações
femininas, suas semelhanças e discrepâncias, como as figuras divinas e maternas
que aparecem nas cantigas de Santa Maria, e as mulheres melancólicas que sofrem
de amor nas cantigas de amigo. A análise desses modos poéticos específicos oferece
uma oportunidade única para examinar as vozes femininas na literatura medieval,
destacando, ainda que de forma limitada pelo patriarcado, suas aspirações, desejos
e desafios na sociedade. Examinando cuidadosamente o conteúdo das cantigas de
Santa Maria, que frequentemente apresentam mulheres em papéis variados, desde
figuras divinas e maternas, até pecadoras redimidas, a comunicação busca desvendar
os estereótipos de gênero, as expectativas sociais e as normas culturais que
48
moldaram a visão medieval sobre a feminilidade. A metodologia adotada neste estudo
inclui uma análise minuciosa das cantigas dos modos em questão, considerando não
apenas o conteúdo literal, mas também as metáforas, simbolismos e contextos
históricos. Por fim, espera-se que este trabalho forneça uma compreensão mais
profunda e crítica da representatividade feminina nas canções trovadorescas de Santa
Maria e de amigo, sem deixar de lado as complexas relações de gênero na sociedade
medieval, contribuindo assim para o campo dos estudos literários, históricos e de
gênero. Nossa comunicação visa lançar luz sobre a maneira como as mulheres são
representadas nessas composições líricas e examinar o contexto social e cultural que
influenciou essas produções.

Palavras-chave: Cantigas de Santa Maria. Cantigas de Amigo. Mulher medieval.


Lírica trovadoresca. Residualidade.

O MODO SIRVÊNTES E A POESIA INSUBMISSA DE ARIEVALDO VIANA:


RESÍDUO MEDIEVAL NO ÂMBITO DA CORDELÍSTICA DE TEMÁTICA SOCIAL

João Otávio Costa Martins Mota


Universidade Federal do Ceará
[email protected]

Elizabeth Dias Martins


Universidade Federal do Ceará (UFC)
[email protected]

Este trabalho tem como objetivo principal analisar a cordelística de temática social de
Arievaldo Viana, caracterizando-a como poesia de fala insubmissa, apresentando
pois, resíduo do modo poético sirventês. Assim, busca-se principalmente: (i)
demonstrar que o componente satírico do sirventês foi o meio pelo qual a fala
insubmissa se manifestou no medievo; (ii) apresentar o cordel e sua temática social
como decorrentes de uma amálgama cultural entre ibéricos e nordestinos, o que
resulta em uma reverberação no cordel de pensamentos e imagético oriundos do
período mediévico; (iii) ressaltar a diversidade de visões de mundo na literatura de
cordel, de modo a rechaçar ideias preconceituosas a respeito desta literatura popular.
O embasamento teórico está respaldado nos postulados teóricos sobre poesia
insubmissa de Roberto Pontes (1999), que considera o papel social da poesia. De
igual importância é a articulação de conceitos operacionais da Teoria da
Residualidade, tais como: resíduo, hibridação cultural, mentalidade e imaginário,
destacados por Pontes (2020), autor responsável pela sistematização da teoria, e
Silva (2019). Ademais, considera-se os estudos sobre a sátira em Hernandez (1993).
A metodologia utilizada foi a literatura comparada, para a qual importa a
representação de um mesmo tema em diferentes obras e contextos de produção, além
da já mencionada articulação de conceitos da Teoria da Residualidade. Nesse
sentido, e buscando demonstrar o aspecto residual, foram cotejados trechos de dois
cordéis de Arievaldo Viana, intitulados “Atrás do pobre anda um bicho” (2003) e “O
urubu uma fábula moderna para políticos inescrupulosos” (2002), e uma cantiga de
49
sirventês que tem por insipide “D’um home que sei em mui bom logar”, de Gil Perez
Conde. Os resultados obtidos ao longo do estudo confirmam a existência da fala
insubmissa como resíduo proveniente de composição poética da Idade Média na
cordelística de temática social de Arievaldo Viana. Importa destacar ainda a
atualização da temática abordada, o que a desvincula de moldes arcaizantes,
tornando-a condizente com as necessidades sociais contemporâneas.

Palavras-chave: Poesia Insubmissa. Teoria da Residualidade. Cordel. Temática


social. Arievaldo Viana.

A POESIA DOS ROMANCES IBÉRICOS: SEU CARÁTER TRADICIONAL,


PERFORMÁTICO E TENTATIVAS DE DEFINIÇÃO

Carlos Henrique Peixoto de Oliveira


SEDUC-CE
[email protected]

São numerosas as questões teóricas e metodológicas discutidas nos estudos sobre o


conjunto de poemas épico-líricos conhecidos como romances ibéricos, romances
peninsulares ou, de maneira geral, romances tradicionais. Embora existam
divergências entre as variadas abordagens do tema, parece-nos ser consenso, entre
os estudiosos que se debruçaram com grande competência investigativa sobre esse
modo poético, o reconhecimento de seu inestimável valor literário, linguístico,
histórico, antropológico e artístico. Antes, porém, de se tornarem matéria de
investigação entre eruditos, esses poemas já gozavam de grande estima junto às
camadas populares. Os romances tradicionais foram acolhidos pelo povo desde a
Idade Média, período no qual esses poemas surgiram a partir da fragmentação de
antigos cantares de gesta. Durante séculos, o povo humilde foi seu principal cultor e
propagador, garantindo, por meio da oralidade, a preservação dos romances ibéricos
ao longo do tempo. No presente artigo, procuramos descrever o romance como
gênero poético bastante integrado ao universo linguístico, discursivo, literário e
artístico da gente simples, sobretudo a do ambiente campesino. Destacamos a
participação do povo como elemento fundamental no processo de transmissão oral
dos romances, o qual promoveu a reelaboração desses poemas, resultando no
surgimento de inúmeras variantes. Ressaltamos o fato dos romances estarem muito
ligados à memória do povo e, por isso, serem parte importante do imaginário e da
identidade das comunidades populares que os acolheram. A assimilação desses
poemas pela musa popular os investiu de uma característica que o medievalista
espanhol Menéndez Pidal chamou de tradicionalidade. Evidenciamos, ainda, o caráter
performático que envolve os romances, pois, desde os primeiros séculos de sua
existência, esses poemas eram recitados ou cantados (ou se fazia intercalação entre
canto e recitação) muitas vezes com o acompanhamento de instrumentos musicais e
movimentos de dança. Por fim, apresentamos algumas definições do gênero romance
formuladas por diversos estudiosos do romanceiro tradicional. Nessas definições são
destacados alguns aspectos estilísticos, formais, contextuais, considerados por esses
estudiosos como constitutivos do gênero poético em questão.
50

Palavras-chave: Poesia. Romance ibérico. Tradição. Performance.

O PAPEL DAS PERSONAGENS RELIGIOSAS NA COMÉDIA VICENTINA: UM


DIÁLOGO COM A ESPIRITUALIDADE MEDIEVAL

Karla Thamiris Do Nascimento Costa

Maria Clara Alves de Castro

Profª. Dra. Eizabeth Dias Martins


Universidade Federal do Ceará
[email protected]

Este trabalho analisa o papel das figuras religiosas nos autos vicentinos, forma de
teatro popular em Portugal durante o século XVI, e o seu diálogo com a espiritualidade
medieval. A dramaturgia vicentina é conhecida pela sua capacidade de reunir
elementos profanos e sagrados, em que as figuras religiosas desempenham papel
vital nesta interação. Para compreender o contexto histórico e cultural das peças de
Gil Vicente, é fundamental considerar a espiritualidade medieval que permeia a
sociedade portuguesa da época. A Igreja católica desempenhou papel central na
sociedade e a fé foi parte essencial da identidade cultural. A produção de Gil Vicente
traz muitas referências ao Divino e nela percebemos dois eixos de abordagem: o
sagrado, propagado no âmbito da Igreja para manutenção de sua influência, e o
profano, cujas referências à Igreja serviam para satirizar padres, frades e outros
religiosos. As personagens relacionadas ao Divino nas peças vicentinas, muitas
vezes, representam a sátira ou a crítica social, ao mesmo tempo em que fazem
referência a práticas e crenças religiosas da época. Um dos aspectos mais
interessantes desta interação é como as personagens religiosas são usadas para
questionar a moralidade e a hipocrisia de parte da Igreja e da sociedade em geral. Gil
Vicente, mestre nesta técnica, criou personagens como um padre lascivo e um frade
ganancioso que revelam os pecados e fraquezas humanas. Essas representações
pretendiam provocar reflexões sobre a fé e a moralidade junto ao público. Além disso,
o teatro vicentino muitas vezes continha elementos do folclore e das tradições
populares entrelaçadas com a espiritualidade medieval. Isto acrescentou outra
camada de complexidade à forma como as personagens religiosas eram retratadas e
recebidas pelo público. Concluindo, esta comunicação lança luz sobre o papel
multifacetado das personagens religiosas na produção teatral vicentina e mostra como
elas serviram de veículos para explorar os temas espirituais, sociais e culturais da
época. Oferece, assim, uma compreensão mais profunda da rica tradição teatral em
que o autor se inscreve e sua relação com a espiritualidade medieval.

Palavras-chave: Espiritualidade Medieval. Personagens de Gil Vicente. Auto da


Barca do Inferno. Sátira vicentina.
51
AS ADAPTAÇÕES AUDIOVISUAIS DE OBRAS MEDIEVAIS: UM ESTUDO
SOBRE A RESIDUALIDADE ENTRE A PERFORMANCE MEDIEVAL E A FICÇÃO
MODERNA

Luana Moreira Rodrigues


Universidade Federal do Ceará
[email protected]

Esse trabalho propõe realizar uma análise das adaptações audiovisuais de obras
medievais, fazendo um estudo sobre a possível residualidade ocorrida entre a
performance medieval e a ficção moderna. O estudo busca entender como as
adaptações cinematográficas de Tristão e Isolda (2006) e Romeo + Juliet(1997) que,
baseadas na lenda medieval de Tristão e Isolda e na peça Romeu e Julieta de William
Shakespeare, utilizaram narrativas medievais, mantendo suas principais
características como o amor cortês,a devoção religiosa e as relações de suserania e
vassalagem, ao mesmo tempo em que suscitaram um olhar contemporâneo para a
literatura medieval, ao realizar melhor desenvolvimento de personagens femininas e
atualizar diálogos e ações para que se encaixem ou questionem os novos padrões
sociais da atualidade. A lenda de Tristão e Isolda foi recontada diversas vezes durante
o medievo, inclusive, a obra renascentista Romeu e Julieta é considerada uma
adaptação da lenda. O tema do amor trágico e impossível é temática recorrente nas
novelas de cavalaria do período medieval, características que são mantidas em
Tristão e Isolda. Esta comunicação busca também analisar a residualidade presente,
especificamente, em Romeu e Julieta, pois a peça de Shakespeare recebeu inúmeras
adaptações cinematográficas contemporâneas, como a versão Romeo + Juliet (1997).
Desse modo, esse trabalho pretende evidenciar de que modo características da
cultura medieval de tradição oral como versos ritmados por instrumentos específicos
e o tema do amor se converteram em adaptações cinematográficas que usam as
mesmas características de performance e de musicalidade de forma diferente. Enfim,
toda essa intrínseca reunião de ações encadeadas de retextualizações, vistas em
Romeu e Julieta e Tristão e Isolda evidenciam a intercontextualização, que são as
diferentes formas de tratar uma obra em diversos contextos interpretativos
(performáticos) como o de uma peça de teatro, filme ou tradição oral nos levando
também até a residualidade, contribuindo para que a literatura medieval continue
perpetuando o seu legado.

Palavras-chave: Tristão e Isolda. Romeu e Julieta. Residualidade. Performance


medieval. Ficção moderna.
52
SESSÃO 3
Neomedievalismo

MEDIEVALISMO E NACIONALISMO EM O SIGNIFICADO DA BRUXARIA


(1959) DE GERALD GARDNER

Janyne Barreto Figueiredo


Universidade Federal de Pernambuco
[email protected]

A presente comunicação objetiva investigar o medievalismo e o nacionalismo na obra


O Significado da Bruxaria (1959) de Gerald Gardner (1884-1964), que é considerado
o fundador da religião Wicca. Gerald Brosseau Gardner, foi um estudioso de bruxaria,
ocultismo e misticismo, com participação em diversas ordens iniciáticas de mistérios,
além de ter sido funcionário da administração britânica no oriente, onde se apropriou
de correntes filosóficas e místicas orientais (Alexander, 2019). Apesar do autor evocar
uma continuidade direta com os ritos pré-cristãos, a Wicca está inserida na sociologia
como parte dos Novos Movimentos Religiosos (NMR), que consistem em movimentos
espiritualistas e/ou religiosos que surgiram entre o final do século XIX e início do
século XX dissidentes das religiosidades hegemônicas (Terzetti,2003). Em suas
obras, Gardner instrumentaliza a Idade Média no ensejo de alocar a religião Wicca
como a antiga e verdadeira religiosidade tipicamente britânica (Old Religion), que
precisou se ocultar para que pudesse sobreviver à perseguição da Igreja, e então, as
bruxas remanescentes haveriam dado continuidade às tradições e ritos antigos até a
contemporaneidade. Com isso, alega, então, que a Wicca não é uma mera herdeira
ou revivalista dos ritos pagãos ingleses, mas sim, uma continuidade direta destes. À
guisa de investigar como se dá a instrumentalização do passado medieval e quais são
os objetivos do autor, salientando o contexto político e intelectual britânico, pretende-
se analisar a obra, utilizando o arcabouço teórico do medievalismo, que para D’Arcens
(2016, p.1-13), é a acepção é idealização do passado medieval por temporalidades
posteriores, que abarcam diversos discursos, práticas e produções culturais. Para
analisar esse fenômeno, os autores Louise D’Arcens e David Matthews serão
utilizados. Além disso, o conceito de Tradição Inventada de Eric Hobsbawm e o de
Comunidades Imaginadas de Benedict Anderson serão significativos como chaves de
leitura para buscar compreender como o fenômeno do nacionalismo pode imbricar-se
com as intencionalidades de propor uma religião tipicamente britânica por meio de um
discurso medievalista de Gerald Gardner.

Palavras-chave: Wicca. Medievalismo. Nacionalismo.

NEOMEDIEVALISMOS NA INTERNET: UM ESTUDO SOBRE AS


REPRESENTAÇÕES DA RAINHA URRACA I NOS SOFTWARES SOCIAIS (2010-
2022)
53
Luísa Vilas Boas dos Santos
Integrante do Grupo de Pesquisa Dominium: Estudos sobre Sociedades Senhoriais UFS
[email protected]

A representação da Idade Média na contemporaneidade é uma prática difundida por


meio de diversos canais, abrangendo literatura, cinema, mídia digital e outros. Esse
fenômeno é comumente denominado como "medievalismo" e se trata dos usos das
imagens e percepções relacionadas à Idade Média após o término desse período. O
próprio termo, Medievalismo, também se refere ao campo de estudo que, embora não
seja recente, tem adquirido crescente importância no cenário brasileiro nos últimos
três anos, ainda que suas delimitações estejam em processo de construção. Um
desdobramento notável desse campo de pesquisa é o Neomedievalismo, considerado
por alguns autores como uma subdivisão dos Medievalismos, com foco específico nas
representações da Idade Média em meios midiáticos, políticos e virtuais. Com base
nestas reflexões, a internet emerge como o espaço que encontramos uma ampla
diversidade de representações da Idade Média, impulsionando o Neomedievalismo e
permitindo a continuidade desses usos de figuras e conceitos proeminentes do
período medieval mesmo após o término dele. Nesse contexto, em meio a diversos
tipos de utilizações do medievo online, emergem novas imagens e representações da
rainha medieval ibérica, Urraca I (1081-1126). Sua história, por muito tempo
obscurecida, agora é redescoberta e apresentada nas redes sociais com uma
abordagem contemporânea, nos quais os usuários deste ambiente virtual retratam-na
como um ícone de resistência à sociedade patriarcal medieval. Ela é vista como
alguém que enfrentou desafios em sua busca pelo poder e como um exemplo de uma
mulher que confrontou adversidades em seu casamento e perseverou. À medida que
a história de Urraca I é reinterpretada para atender às demandas atuais, ela se torna
um símbolo feminista, atraindo tanto aqueles que buscam uma figura feminina forte
quanto simpatizantes da direita política. Assim, essa apresentação tem como objetivo
aprofundar a compreensão dos Neomedievalismos, utilizando as representações da
rainha Urraca I encontradas nos softwares sociais de 2010 a 2022 como um exemplo
de análise.
Palavras-chave: Neomedievalismos. Softwares Sociais. Urraca I.

O CONTRA-ATAQUE DOS HOMENS MEDIEVAIS BRASILEIROS: USOS E


DESUSOS DA HISTÓRIA MEDIEVAL PELA EXTREMA-DIREITA NA INTERNET
BRASILEIRA (2018-2022)

Thaís Monique Costa Moura


Mestra em História pela Universidade Federal de Sergipe (PROHIS/UFS)
Dominium: Estudos sobre sociedades senhoriais
Editora G Revista Horizontes Históricos
[email protected]

A reinterpretação do passado tem sido empregada por governos autoritários ao longo


da história como estratégia de mobilização social. Recentemente, no Brasil, grupos
54
de extrema direita têm explorado elementos da história medieval para fins político-
partidários, capitalizando a estética reconhecida desse período para impulsionar suas
campanhas. Neste contexto, as interpretações da história medieval no território
brasileiro são influenciadas pelas mudanças políticas e sociais contemporâneas,
proporcionando um terreno fértil para a produção de memes que se baseiam em uma
estética reconhecida popularmente como medieval. Além disso, nos é importante
entender quais compreensões de sociedade tais grupos da extrema direita possuem
e de que modo tomados pela identificação com o período medieval, há um reforço de
ideias de masculinidades dominantes como construções vitais na fabricação desses
homens, em que a todo momento comparam e pensam o seu tempo com lentes de
séculos passados. Para analisarmos estes grupos, utilizaremos como teoria os
Estudos de Gênero e em especial os de Masculinidades. Em razão disso, entendemos
que a masculinidade se constitui enquanto prática, modus operandi dos homens na
estrutura das relações individuais e, consequentemente, de todas as relações de
poder. Nesta perspectiva, reflete-se a organização social de forma mais plural e
assertiva, entendendo e aderindo a existência de intersecções e subjetividades
também no campo do masculino. Estas intersecções incluem as diferenças de raça,
sexualidade e classe na constituição das masculinidades, tendo em mente que a
opressão não existe de modo único para todos os homens. Sendo assim,
compreende-se que outras estruturas de opressão também interferiram nas
constituições de gênero, sem a estabilidade assumida anteriormente. Por isso, nesta
apresentação, exploraremos alguns dos usos do passado medieval identificados nas
redes sociais brasileiras, com foco particular no estímulo de mobilização promovido
pela extrema direita na internet. Nosso objetivo é compreender como esses grupos
interpretam o período medieval e as figuras históricas da época. Além disso,
almejamos analisar como o passado medieval é utilizado para promover um tipo
específico de masculinidade por parte dos adeptos da extrema direita, refletindo a
tentativa de projetar aspirações para um futuro glorioso, em resposta a um presente
marcado por um sentimento coletivo de desencanto.

Palavras-chave: Extrema-direita. Usos da História. História Medieval.


Neomedievalismo.

OS ARQUÉTIPOS MEDIEVALIZANTES DA HISTORIOGRAFIA FRANCESA


(C.1870-1945) E A GÊNESE DA IDEIA DE EUROPA INTEGRADA

André Melo
Universidade de Pernambuco
[email protected]

Em 2005, o historiador estadunidense Patrick Geary apontou como as correntes


nacionalistas europeias, em especial na França, utilizaram da Idade Média com o
intuito de fabricar um passado nacional, a fim de legitimar seus projetos nacionais e
suas pretensões em termos territoriais. Após a derrota da França pela Prússia, na
guerra franco-prussiana, diversos historiadores franceses da tradicional “École
55
Méthodique”, como Charles-Victor Langlois e Charles Seignobo incumbiram-se de
fabricar um mito nacional francês alicerçado no período Medieval. Após a segunda
guerra mundial, os fundadores da “Escola dos Annales”, Marc Bloch e Lucien Febvre,
escrevem procurando superar os nacionalismos e desenvolvendo uma ideia de
Europa unida por meio de um mesmo passado, o Medieval. Dessa forma, essa
pesquisa analisou como o fundador da “Escola dos Annales”, Lucien Febvre, após a
segunda guerra mundial, escreveu procurando superar os nacionalismos e
desenvolvendo uma ideia de Europa unida por meio de um mesmo passado: o
Medieval. Para isso, analisei a historiografia dos fundadores da Escola dos Annales,
em especial Lucien Febvre, após o fim da segunda guerra mundial e compreenderei
como esses utilizaram do passado medieval para construir uma noção de Europa
integrada. Como fonte, analisei o livro Europa: gênese de uma civilização, de Lucien
Febvre. Para fins metodológicos, empreguei os princípios estabelecidos por Michael
Burger para o trabalho com fontes de natureza textual em geral e, mais
especificamente, para a historiografia. Além disso, esta pesquisa será composta por
uma ampla discussão historiográfica e política e pretende-se ainda debruçar-se sobre
os princípios do “Euromedievalismo” propostos por Michael Moore. O
Euromedievalismo é, em síntese, uma nova abordagem dentro do medievalismo que
minimiza os temas eminentemente nacionais e valorizam os temas transeuropeus,
procurando conferir a Europa uma unidade histórica inquestionável desde os
princípios da Idade Média.

Palavras-chave: Europa, Historiografia francesa e euromedievalismo

ISSO É UM CASTELO? ECOS DO MEDIEVALISMO EM UMA CONSTRUÇÃO NA


CIDADE DE ALIANÇA-PE

Jonatas José da Silva


Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-PE)
[email protected]

Em um cenário cultural no qual elementos associados à era medieval conquistaram


um notável apelo na cultura pop contemporânea e capturaram a imaginação daqueles
que consomem estes produtos, o presente estudo se concentra na exploração dos
traços do medievalismo presentes em uma construção específica situada na cidade
de Aliança, na região da Zona da Mata Norte pernambucana. O interesse por esse
assunto é impulsionado pela presença de diversas construções inspiradas em
castelos em Pernambuco, como o Castelo de Francisco Brennand no Recife, o
Castelo de João Capão em Garanhuns e o Castelo das Torres em Pesqueira. Tais
estruturas se inspiram no conceito de castelo medieval, alimentando a imaginação
com elementos do medievalismo e contribuindo para a criação de um imaginário
medieval irreal. Conceitualmente partimos do conceito de medievalismo de Richard
Utz (2004), notável por sua análise abrangente do tema, que lança luz sobre como as
retomadas e reapropriações da Idade Média influenciam e permeiam a cultura atual.
Além da contribuição significativa de Richard Utz, as investigações de João Batista da
Silva Porto Júnior (2021) no contexto do medievalismo arquitetônico no Brasil
56
enriquecem o embasamento teórico deste estudo, oferecendo uma perspectiva local
e regional. Na presente exposição, apresentaremos como o medievalismo se
manifesta na arquitetura de uma construção específica na cidade de Aliança - um
contexto singular que mescla influências históricas com a contemporaneidade. O foco
central da pesquisa reside na análise minuciosa do complexo em questão,
identificando elementos arquitetônicos e suas conexões com o imaginário
contemporâneo do que seria um castelo medieval. Através de uma abordagem
diversificada, a pesquisa pretende abordar como o medievalismo se insere na
paisagem urbana de Aliança, colaborando para uma compreensão mais ampla das
interações entre passado e presente e de que forma essas influências moldam o
imaginário daqueles que vivem no entorno deste “castelo”.

Palavras-chave: História Medieval. Medievalismo. Arquitetura. Medievalismo em


Pernambuco. Castelo.

ILUMINOGRAVURA: RESÍDUOS CULTURAIS E ESTÉTICOS DO MEDIEVO


EUROPEU NA POESIA GRÁFICA SUASSUNIANA

Maria Eduarda Paulino Pinto


[email protected]
Universidade Federal do Ceará

Hellen Evylen Bezerra de Castro


[email protected]
Universidade Federal do Ceará

Eduardo Chaves Ribeiro da Luz


[email protected]

A poesia popular brasileira é reconhecida por apresentar uma enorme diversidade de


arte literária e representar cenários históricos, incluindo, também, as influências de
outras culturas. Dessa forma, no Nordeste do Brasil, verifica-se a forte presença da
poesia visual apresentada por meio da estética xilográfica, com influência de
elementos residuais do período medieval da Europa. As iluminogravuras – objeto do
presente trabalho – foram obras criadas pelo próprio autor como meio de unir a
gravura e a escrita em uma só produção artística. A mescla da iluminogravura denota
a “recriação das iluminuras”, no qual configura a composição de texto e ilustração
inserido em um mesmo espaço, possibilitando a “síntese visual dos poemas”
(NOGUEIRA; BARBOSA; LUNA, 2006). A riqueza de elementos somados aos textos
literários contidos nas iluminogravuras é evidenciada por diversos autores,
caracterizando um traço forte da cultura regional. Nesse viés, procuramos analisar os
aspectos residuais nas obras iluminográficas de Ariano Suassuna, tendo em vista que
seu arcabouço literário é considerado um dos mais marcantes no cânone da literatura
popular nordestina, dada a sua relevância. Utilizamos, como alicerce teórico neste
trabalho, os princípios da Teoria da Residualidade, com base no pressuposto de
Roberto Pontes. Conforme o autor (2001), “na cultura e na literatura nada há de
original; tudo é remanescência; logo, tudo é residual”. Nessa visão, investigam-se
57
resquícios remanescentes do medievo nas manifestações artístico-literário
suassunianas, verificando traços oriundos de uma cultura aplicada em outra.
Conforme foi observado, os poemas de Suassuna são repletos de aspectos
iconográficos do período mediévico, ressaltando temáticas sociais, políticas e
religiosas. Nessa idéia, procuramos demonstrar a reelaboração de memórias e
tradições literárias no contexto da poética suassuniana, como a Teoria da
Residualidade se propõe ao tentar compreender as possibilidades criativas mediante
um cenário cultural a outro, gerando resíduos de cenários étnicos e históricos na
poesia verbo-visual de Ariano Suassuna.

Palavras-chave: Iluminogravura. Teoria da Residualidade. Ariano Suassuna.


Medieval.

SESSÃO 4
Neotrovadorismo na poética contemporânea: as trovadoras de ontem e de
hoje

O CONCEITO DE MÁTRIA E SUA PRESENÇA NOS ESCRITOS


NEOTROVADORESCOS DE NATÁLIA CORREIA

Amanda Maranhão de Souza


Universidade Federal da Paraíba
[email protected]
58
Natália Correia (1923-1993), excepcional escritora e poeta portuguesa do século XX,
em seu livro “O sol nas Noites e o Luar nos Dias II”, nos escritos posteriores a 1990,
reapropria-se do eu lírico feminino em suas Cantigas de Amigo, gênero popular
durante a Idade Média e escrito majoritariamente por homens. Neste movimento
literário de reapropriação da voz feminina anulada durante séculos, Correia escreve
as particularidades do Eu-mulher na conjuntura portuguesa do século XIX. Neste
trabalho, o principal objetivo é fazer uma análise crítico-literário-feminista dos poemas
presentes no capítulo “Alegram-se as velhas amigas em novos cantares de amigos”,
em específico os que perpassam as temáticas feminilidade, sensualidade e divindade,
interligando-se ao conceito de Mátria postulado por Correia. Mátria, neste trabalho,
será cinzelado enquanto conceito político-teórico e em seu viés poético, externado por
Correia nos poemas número II, V e VI, sendo estes o corpus deste trabalho. Ao
trabalhar o matrismo, será possível aprofundar-se no movimento revolucionário da
autora em utilizar-se do gênero para retomar o lugar da mulher no protagonismo
social, não como ser superior ou opressor, mas grandioso em sua individualidade e
natureza, o que é cerne em seus escritos que exploram o feminino e o seu poder,
apontando deusas da criação e da fertilidade em suas poéticas líricas, por exemplo.
Ademais, a sensualidade também será um aspecto essencial ao analisarmos o
processo de reapropriação desse eu lírico feminino antes usurpado pelos homens,
podendo reencontrar-se com o ser Mulher e sua natureza grandiosa e bela, aspectos
que serão aferidos em consonância aos ideais de Mátria da autora. Em suma, tendo
por base uma visão crítico-feminista, serão esmiuçados os escritos de Natália Correia,
apontando as congruências e divergências das cantigas trovadoras e as cantigas
neotrovadorescas reapropriadas pela autora, engendrando o texto com temáticas
femininas que ilustram a sua legitimidade enquanto eu lírico.

Palavras-chave: Natália Correia. Cantigas de amigo. Mátria. Feminilidade.


Neotrovadorismo

O LIRISMO NEOTROVADORESCO DAS CANTIGAS DE AMIGO GALEGO-


PORTUGUESAS: AS RESSONÂNCIAS MEDIEVAIS EM NATÁLIA CORREIA E
OS ATRAVESSAMENTOS DO SUJEITO LÍRICO

Anália Sofia Cordeiro de Lima Gomes


Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

Dentre as teorias que abordam e destrincham a literatura, muitas são as visões


levantadas sobre as manifestações do indivíduo enquanto sujeito lírico, desde a
Antiguidade até os dias atuais. Alguns teóricos defendem o ponto de vista de que o
poeta lírico tem um mundo de subjetividades fechado em si mesmo, tendo as relações
e interferências externas apenas como pretexto e inspiração para a sua expressão.
Outros teóricos defendem a saída do sujeito lírico dessa pura interiorização,
deslocando-o para fora de si. Teóricos como Eliot reiteram este pensamento
discorrendo sobre certo “apagamento” desse fechamento do sujeito para o mundo,
59
tendo o poeta como um “médium particular”, causando até certo silenciamento do
sujeito, mesmo em caráter ficcional. Essas e tantas outras visões perpassam a ideia
do sujeito lírico e seu entendimento o tempo todo. No que diz respeito ao universo da
literatura na Idade Média, para ser mais exato, o lirismo medieval galego-português,
o sujeito lírico pode ser direcionado a um tipo de indivíduo que se despe da sua
subjetividade interiorizada, de sua individualização e assume a voz de outrem. Como
é o caso das mulheres galego-portuguesas, que expunham seus cantares, através de
manifestações femininas, coletivas e anônimas, alcançando, de certa forma, a
coletivização do eu lírico. Esse discurso feminino, autônomo e coletivo das cantigas
de mulher vem reverberando o seu lirismo ao longo dos tempos em marcas e traços,
mostrando que uma das possibilidades de se estudar a cultura medieval é a partir das
suas ressonâncias na literatura moderna e contemporânea, através da perspectiva
Neotrovadoresca. Diversos são os autores que utilizam, em suas obras, termos e
aspectos que dialogam com o universo poético medieval, dentre eles podemos citar a
escritora portuguesa Natália Correia que, em sua poética, procura sempre manter
claro o fato de que nenhum discurso é totalmente novo, pois ele é, constantemente,
perpassado por outras vozes, contextos e épocas. Assim como as mulheres
medievais, Natália Correia deixa de lado a ideia de um sujeito lírico enquanto
personalidade, individualidade e assume o caráter do sujeito que coletiviza o eu lírico,
mas direcionando essa coletivização para um outro ideal. Com isso ela mostra que é
apenas saindo de si, que ele consegue se vestir do outro, enquanto alteridade, para
assumir um eu-lírico que fala em um contexto coletivo, e que a poesia pode sim trazer
em si as tradições e influências do passado.
Palavras-chave: Cantares de amigo. Neotrovadorismo. Sujeito lírico. Voz feminina.

A SIMBOLOGIA DA PRIMAVERA NAS CANTIGAS DE AMIGO DE NATÁLIA


CORREIA

Joana Antonino da S Rodrigues


Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

Durante o século XX a cultura galega passou a ser reconhecida como parte da


identidade nacional expressa em diferentes manifestações artísticas e culturais
originalizando o que ficou denominado como Neotrodavorismo (Maleval,2002). A
reescrita do gênero trovadoresco na tentativa de encontrar um gênero representante
de uma estética nacional nas décadas de 20 e 30 do século XX, foi como a autora
portuguesa Natália Correia encontrou uma forma de resistir, durante a opressão e
censura propagada pela Ditadura Militar em Portugal através do texto literário. A poeta
Natália Correia utilizou de sua escrita literária como resistência às opressões político-
sociais de seu tempo, suas cantigas de amigo recriam a tradição trovadoresca pela
autoria feminina nas cantigas tradicionalmente cantadas por um eu-lírico feminino
(Gomes,2019). Diante desse cenário de opressão, política, artística e aos direitos da
mulher, Natália encontrou o recurso simbólico da primavera como forma de escrever
acerca do cenário sociopolítico durante a época de produção de suas cantigas. A
primavera, período em que encerrou a ditadura em Portugal (25 de abril), e que
60
normalmente carrega o significado de renovação e prosperidade (Deplagne,2019), irá
ultrapassar os seus significados tradicionalmente convencionados na cultura
ocidental, e além da ambientação rural tradicionalmente presentes nas cantigas de
amigo, assumindo novos significados nas cantigas de Correia. A autora utilizou seu
texto literário como manifesto e denúncia política e social ao cenário do seu contexto
de criação artística. Logo, é possível utilizar a semiótica (Ferraz, 2012) para a análise
das rupturas do símbolo da primavera, e outros elementos que podem ser tidos como
pertencentes ao campo semântico desta estação, para observar que significados são
atribuídos às cantigas de amigo analisadas. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar
as diferentes atribuições de significados à primavera e seus elementos nas cantigas
de Correia no processo de resistência à censura e opressão política de sua época.
Como aporte teórico, será utilizado Deplagne (2019) Ferraz (2012), Guzman (2023),
Maleval (2002) e Gomes (2019).

Palavras-chave: Natália Correia. Semiótica. Neotrovadorismo. Resistência.

PERFORMANCE INTEMPORAL: O POLIMENTO ESTÉTICO DAS TROBAIRITZ


NA POESIA DE MARLY VASCONCELOS

Ana Carolina de Sena Rocha


Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

No calor do Ceará, no cenário do século 20, surge Marly Vasconcelos, uma poeta
cujas palavras se entrelaçam com uma tradição literária ancestral. Sua obra, Cãtygua
Proençal, deslumbra com versos que trazem resíduos do passado distante das
Trobairitz, transportando-nos para um universo onde a poesia e a performance
convergem. As Trobairitz, figuras poéticas da Occitânia medieval, eram mulheres
notáveis, poetisas e compositoras. Em cortes e contextos sociais específicos, elas
desempenhavam seus versos com maestria, incorporando a arte do trobar, a
habilidade de encontrar, de inventar e de compor poeticamente. Marly Vasconcelos,
por sua vez, lapida essa tradição, incorporando a essência das Trobairitz em sua
própria obra, fazendo-se uma neotrobairitz. Em sua poesia, há um diálogo poético que
transcende a barreira do tempo, como uma nota musical que ressoa através das eras.
Aqui, a conexão com a teoria da performance de Zumthor (2007), se torna clara. As
Trobairitz eram, por natureza, artistas performáticas, dando vida à poesia e à música
em um espetáculo de sentimentos e emoções. Marly Vasconcelos, em sua reverência
e criatividade, se torna uma intérprete moderna dessa tradição, reacendendo a
conexão intrínseca entre a escrita e a performance, como as Trobairitz fizeram há
séculos. Ela nos convida a testemunhar o casamento intemporal da palavra e da
melodia. Nesse palco poético, o público é levado a uma viagem pelas sendas das
Trobairitz, a explorar a profundidade da performance literária e musical que ultrapassa
o véu do tempo. A poesia de Marly se torna o elo que une o passado e o presente,
onde as performances e interpretações das Trobairitz ressurgem com todo seu
esplendor, transcendendo as fronteiras das eras. É uma celebração da arte e da
61
cultura, um tributo à efemeridade da expressão artística que perdura através dos
séculos.
Palavras-chave: Marly Vasconcelos. Performance Poética. Trobairitz.

SESSÃO 5
Biografias, representações e dinâmicas de poder na Idade Média

O PASSAR DO PINCEL AQUI E ACOLÁ: A REPRESENTAÇÃO DAS


MULHERES PRESENTES NOS ESCRITOS DE MAKURANO SOSHI POR SEI
SHŌNAGON

Ana Luiza Romão Braz


Universidade Federal da Paraíba (UFPB/Gradalis)
[email protected]

O apagamento da figura feminina na História até os dias atuais ainda se torna


presente, tendo como consequência o destaque da figura masculina. Contudo, graças
aos estudos mais recentes sobre a mulher, é possível evoluir essa expressão e
pensamento, tendo maior contato sobre a vivência e história dessas figuras. Nesse
meio, existem diversas temáticas de estudo, entre uma delas a análise e pesquisa de
escritoras lembradas na história, desde épocas antigas até a atualidade, o que com o
passar dos anos demonstrou cada vez mais o quanto essa personalidade se torna
essencial na historiografia. Um dos exemplos existentes é a figura de Sei Shōnagon,
uma personalidade asiática da Era Heian (794-1142), e dama de corte no governo do
Imperador Ichijô (980-1011), responsável pela escrita da obra Makurano Soshi 枕草
子, conhecida popularmente como O Livro do Travesseiro, escrito entre os anos de
994-1001, no qual descreve aspectos relacionados à sua vivência, histórias, descrição
de objetos e também filosofias, tal como um diário. Um dos pequenos aspectos que
temos exposto é como a autora retrata das mulheres as quais pôde ter vivência no
privado da corte e observar aspectos desse feminino fora da corte. Com isso, este
trabalho visa analisar trechos da obra de Makurano Soshi em que Sei Shōnagon tece
falas e comentários sobre a presença feminina em seu dia a dia, tendo em vista as
presentes na corte com altas posições, como a Imperatriz, ou atuando como damas
de corte, assim como das personalidades vistas fora desse ambiente privado. Com
isso, é possível concluir na análise que Sei Shōnagon em seus escritos, traz
questionamentos sobre relações de poder, mesmo que de maneira indireta,
sexualidade e funções atribuídas na sociedade e principalmente em sua própria vida
privada, como uma figura feminina que viveu nesse período e escreveu sobre os seus
ambientes e pessoas que a acompanharam.

Palavras-chave: Literatura medieval. Era Heian. Sei Shonagon. O Livro do


Travesseiro.
62

OS SANTOS EUNUCOS BIZANTINOS E O PARADIGMA DA CASTRAÇÃO:


REFLEXÕES SOBRE HAGIOGRAFIAS QUEER

Silvio Romero Tavares Neiva Coelho


Universidade Federal de Pernambuco
[email protected]

Externamente ao Império Bizantino os eunucos se tornam um símbolo de sua


outridade. A sua ambiguidade de gênero é uma característica incômoda,
transformando-os em sujeitos geradores de estranheza para os externos ao império,
muitas vezes utilizando esses eunucos como símbolo de uma decadência moral do
Império Bizantino. O mundo bizantino apesar disso enxergava os eunucos de maneira
paradoxal. Os eunucos poderiam, efetivamente atingir a santidade, evidenciado por
casos como Orígenes de Alexandria (185-253 E.C.), Nicetas, o patrício (761/2-836
E.C); Patriarca Inácio de Constantinopla (797-877 E.C); Niceforo de Mileto
(Falecimento em 965-969 E.C) e Simão, o novo teólogo (949- 1022 E.C.) a sua
santidade não é absoluta e coloca-os em uma posição paradoxal. Tanto a castração
como os santos eunucos eram o exemplo de um paradoxo para o próprio mundo
bizantino. A prática da castração e a santidade por vezes eram aproximadas e por
vezes distanciadas. Neste trabalho pretendo elencar como a castração enquanto ato
tanto praticado enquanto desincentivado e a relação dela com a posição de santidade
ou negação da mesma nos sujeitos. Para isso lançarei mão das reflexões da Teoria
Queer com intuito de compreender a posição de não normatividade desses sujeitos e
as implicações em sua relação com o conceito de santidade de forma mais ampla,
buscando identificar se as regras normais ainda foram aplicadas a estes sujeitos ou
se sua queeriedade tornava-os exceções às normas da santidade.

Palavras-chave: Eunucos. Hagiografias. Teoria Queer. Império Bizantino. Santidade.

A MEMÓRIA ENVOLTA NA BIOGRAFIA DE BAR SAUMA E MAR MARCOS

João Vitor Santos Rocha


Universidade Federal de Pernambuco
[email protected]

O objetivo desta apresentação é o entendimento da utilização da memória dos santos


envoltas nas relíquias religiosas. Inicialmente trazendo uma discussão teórica sobre
memória, definindo o conceito por meio de textos como, A Memória Coletiva de
Maurice Halbwachs e Espaços da recordação: Formas e transformações da memória
cultural escrito por Aleida Assman. Com isso, será abordado como documento a obra
63
siríaca, Tashʿītā d-abā d-abāhātā w-mārā w-rēshā da-rʿāwātā mār Yahballāhā qātoliqā
pāṭaryārkis d-madnḥā wad-Rabbān Ṣawmā sāʿorā gāwānāyā ṭurkāyē madnḥāyē, ou
em português, A História do Pai dos pais, lorde, chefe dos pastores Mar Marcos,
catholicos, Patriarca do Oriente e de Rabban Bar Sauma, visitador-general, Turcos
Orientais. Traduzida para o inglês por E. A. Wallis Budge, com o nome abreviado de
The History of Rabban Şâwmâ and Mâr Yahbh-Allâhâ. Trata-se de uma biografia
escrita no início do século XIV por um autor desconhecido, retratando a trajetória
desses dois importantes membros da Santa Igreja Católica do Oriente. Desde suas
origens nos domínios da Dinastia Yuan, passando por eventos importantes que
envolveram a igreja nestoriana, até a morte de ambos no Ilcanato no início do século
XIV. Um dos pontos de interesse dessa biografia é a miríade de encontros de Bar
Sauma e Mar Marcos com as relíquias e relicários dos mártires. O recorte escolhido
será a tentativa de peregrinação de Bar Sauma e Mar Marcos (eventual Patriarca Mar
Yahballāhā da fé nestoriana) para Jerusalém e a viagem diplomática de Bar Sauma
para a Terra dos Romanos, os reinos Francos e à Roma. Onde eles entram em contato
com uma série de figuras e portadores de relíquias. A partir disso, será analisado
como esses portadores instrumentalizaram a memória que cercava esses objetos de
veneração. Dessa forma, legitimando suas práticas políticas e religiosas, e
aproximando suas imagens ao sagrado por meio de associações com a memória da
vida dos mártires.

Palavras-chave: Memória. Relíquias. Bar Sauma.

"COMO UMA ENCARNAÇÃO DE ATENAS”: AS DINÂMICAS DE PODER DAS


MULHERES BIZANTINAS NUMA ANÁLISE DA ALEXÍADA DE ANA COMNENA À
LUZ DO QUEENSHIP

Sabrina Espíndola Santos


Universidade de Pernambuco
[email protected]

Tendo em vista as mudanças nos paradigmas historiográficos, com o


desenvolvimento da história cultural e social, a situação dos grupos que não eram
focados pelas lentes da história começa a mudar e ganhar espaço; isso é o que se
observa no presente trabalho, que se volta para história das mulheres e das relações
de gênero e poder no período da Baixa Idade Média, mais especificamente, nos
séculos XI-XI do Império Romano do Oriente, o Império Bizantino. O Império Bizantino
como o Império Romano do Oriente é pouco estudado como a continuidade - ou não
- do Império Romano geral. A visão de que se tem dele é a da parte oriental, que era
diferente, visto que sua estrutura era extensa e possuía suas especificidades a
depender da região. Quando se estuda o Império, parte-se justamente da busca de ir
além nos estudos medievais e olhar aqueles que estavam do outro lado do mundo, do
que seria o oriente. Isso é o que se traz neste estudo; uma análise sobre este Império
tão singular num espaço de tempo de uma determinada dinastia imperial, onde se
64
aprofunda também outros aspectos, como as relações de gênero, de poder e a história
das mulheres - de forma especial. Para tal feito, foi utilizado tanto a perspectiva dos
estudos de gênero, como o conceito de Queenship que é a delimitação de análise do
poder político das mulheres na realeza. A pesquisa realiza-se então, pela análise da
“A Alexíada” como fonte, destacando-se as personagens femininas apresentadas e
seus papéis, onde tem-se a crítica do material e investigação das relações de poder
das quais essas mulheres faziam parte.

Palavras-chave: Império Bizantino. História das Mulheres. Gênero e poder.


Queenship.

A CARACTERIZAÇÃO DA IMPERATRIZ TEODORA E ANTONINA EM


HISTÓRIA SECRETA

Aylla Maria Alves dos Santos


Mestranda PROHIS-UFS, bolsista CAPES
[email protected]

Entre os escritos da Antiguidade Tardia a obra de Procópio de Cesareia se destaca


por abordar as guerras travadas pelo imperador Justiniano (527-565) contra os
Persas, os Godos e os Vândalos. Além das campanhas militares, sua obra conhecida
como História das Guerras, composta por oito livros, aborda alguns dos momentos
que marcaram o governo de Justiniano, como a Revolta de Nika e a Peste que assolou
Constantinopla. Ele também escreveu e Sobre os Edifícios e História Secreta, esta
última, redigida no gênero retórico inventio, Procópio de Cesareia relata os bastidores
das campanhas militares do general Belisário, que ele acompanhou enquanto
assessor. Repleta de críticas, o livro exibe o descontentamento do autor diante das
atitudes de Justiniano e Belisário, que segundo ele, influenciados por suas respectivas
esposas, a imperatriz Teodora e Antonina, causaram a ruina romana. Neste sentido,
este trabalho pretende abordar a caracterização de Procópio de Cesareia acerca
dessas mulheres, e de que forma são constantemente atacadas por sua sexualidade
e ações independentes ditas “masculinas”, como forma de desmoralizar os
respectivos cônjuges. Graças a exposição das frustações do autor, também podemos
observar a atuação de Teodora e Antonina no poder imperial, e de que modo
souberam articular, muitas vezes em conjunto, táticas a fim de atingirem seus
objetivos.

Palavras-chave: História Secreta. Procópio de Cesareia. Imperatriz Teodora.


Antonina.

ANNA COMNENA (1083-1153), A ALEXÍADA E A ESCRITA DA HISTÓRIA NA


IDADE MÉDIA: CONCEPÇÕES A PARTIR DE BIZÂNCIO
65
Cassiano Celestino de Jesus
Universidade Federal da Bahia
[email protected]

É possível falar em um “Historiar” medieval? Se sim, quem escrevia a História? Com


quais intuitos e de que maneira? Desde que a história se tornou uma disciplina
acadêmica em meados do século XIX, o seu fazer tem sido alvo de constantes
inquirições por aqueles que se dedicam a esse ofício. Uma das principais questões
levantadas diz respeito à existência ou não de historiadores durante o período
medieval. Assim sendo, este trabalho tem por objetivo analisar como se deu a escrita
da História na Idade Média a partir do contexto histórico medieval bizantino. O estudo
se dará a partir da obra “A Alexíada”, da historiadora bizantina Anna Comnena (1083-
1115) e busca, por fim, compreender a sua concepção de História e o fazer histórico
naquele período.

Palavras-chave: Historiografia Medieval. Anna Comnema. Império Bizantino.

SESSÃO 6
Imaginário medieval: Literatura e História

CERVOS, PLANTAÇÕES E TERRITORIALIZAÇÕES: GEST OF ROBYN HODE E


A DOMINAÇÃO DAS FLORESTAS NA INGLATERRA MEDIEVAL

Vitor Nunes da Silva


Mestrando em História pela Universidade Federal de Sergipe
Bolsista PDPG/CAPES
Integrante do Dominium: Estudos sobre Sociedades Senhoriais (CNPq-UFS)
[email protected]

Na Inglaterra medieval, as florestas desempenharam um papel diferente do que nas


demais regiões europeias. Enquanto na Europa continental estas áreas eram vistas
como inacessíveis e despovoadas, na Inglaterra elas eram espaços habitados e seus
moradores estavam sujeitos a um código legal específico. Com a invasão normanda
a partir do século XII, as florestas deixam de ser sociedades ativas e integradas à vida
social, tornando-se florestas isoladas e protegidas para o entretenimento da realeza.
A administração normanda conflitou com os interesses anglo-saxões à medida que
diversas áreas que já eram utilizadas pelos senhores locais como área de pastagem,
sejam inteiras ou parcialmente, se tornaram propriedades reais. Além disso, as áreas
próximas às florestas também afetavam a vida selvagem, seja pelo desmatamento,
pela poluição ou pelo uso de nascente de rios. Para compensar as possíveis perdas
66
da monarquia um sistema de pagamentos por uso das áreas reais foi criado, sendo
punidos com lesões físicas aquelas que não cumprissem a lei real. A distribuição de
licenças para uso das florestas serviu como ferramenta política e as exceções se
tornavam privilégios caros para os senhores locais, servindo para manipular e dominar
regiões próximas às florestas. É através da literatura medieval, notadamente através
de obras como "Gest of Robyn Hode", que podemos lançar luz sobre a complexa
interação entre a dominação aristocrática e as necessidades dos camponeses. Nesse
contexto, "Gest of Robyn Hode" nos permite observar o processo de estabelecimento
das florestas como entidades legais com limites definidos. Os conflitos entre os foras
da lei retratados nas baladas e o novo sistema administrativo refletem a dinâmica em
jogo durante esse período de transformação. A invasão de cervos nas plantações e a
gradual privatização da madeira emergem como mecanismos de dominação nesse
novo cenário, permitindo entender de que forma o processo de territorialização
excludente foi representado na literatura fantástica da baixa Idade Média inglesa.

Palavras-chave: História Agrária. Inglaterra. Robin Hood.

COMO SE CONSTRÓI O CARÁTER PEDAGÓGICO DO AMOR CORTÊS?


REPRESENTAÇÃO E MEMÓRIA EM ANDRÉ CAPELÃO

Beatriz Gambini C. De Araújo


[email protected]

A construção de uma cultura mundana e o resgate da tradição: a domesticação da


juventude aristocrática - sobretudo masculina - a partir de uma 'educação de civilidade'
que encontra no Amor Cortês o veículo de canalização da virilidade jovial; um tipo de
educação que tem em sua construção genealógica heranças indo-europeias e latinas-
romanas aristocráticas. Os princípios desta construção: a definição das posições do
homem e da mulher dentro de suas relações interpessoais; um sentido moralizante
de comportamentos e ações que tem na sua razão última a construção virtuosa da
alma masculina; a mulher como "pedagoga", àquela que conduz o homem no
desenvolvimento dessas habilidades, sua virtude atrela-se na sua capacidade de
"construir" um bom homem - nobre e de qualidades distintas (lealdade, honestidade,
coragem, comedimento etc.). Os modos desta construção: uma evocação reiterada
sobre as representações de gênero em seu sentido essencialista; a cosmovisão sobre
as identidades masculina e feminina derivam de uma perspectiva natural e que,
portanto, assumem lugares pré-definidos dentro da dinâmica da relação, assim como
performances que espelham a 'alma' de homens e mulheres. O caráter pedagógico
desta nova moralização aristocrática, com elementos tanto cristãos quanto mundanos,
parece propor uma tentativa de construção de uma cultura propriamente nobiliárquica,
que resgata, ao passo que também inova, uma tradição leiga. o principal modo como
este novo modelo estético e afetivo se apresenta nas cortes provém da arte de
'atuação' de uma retórica, cujo conteúdo está definido de maneira pré-estabelecida.
Sob qual/quais tradição/ões está estabelecida esta nova forma de apreensão sobre
si? qual o escopo discursivo que ajuda a elaborar este novo modo de civilidade? e sob
quais preceitos é, portanto, feita uma boa performance?
67
Palavras-chave: Amor cortês. Aristocracia. Pedagogia.

EXISTIA CULTURA POLÍTICA NA IDADE MÉDIA? UM DEBATE POR MEIO DO


ALÉM-TÚMULO DA VISÃO DE TÚNDALO (1149) E DIVINA COMÉDIA (1304-
1321)

Ricardo Marques de Jesus


UEMA/Brathair
[email protected]

O objetivo do presente trabalho consiste em examinar o Além-túmulo da Visão de


Túndalo e da Divina Comédia, buscando indícios de uma cultura política na Idade
Média. Partimos do princípio de que, apesar de as fontes narrativas não serem uma
mimese da realidade, elas ainda partem dela. Assim, através das duas fontes
primárias em questão, faremos um exercício comparativo entre o contexto político da
época em que foram produzidas e as mensagens inseridas em suas narrativas. Além
disso, temos como objetivo problematizar se tais documentos podem ou não ser
entendidos como discursos de poder, seja a favor do clero, seja a favor do poder laico.
A Visão de Túndalo é um manuscrito produzido em 1149 por um monge irlandês
chamado Marcus. Este escrito conta a história de um cavaleiro pecador que, em alma,
visita o Além e se arrepende de seus atos. A narrativa, que se configura como uma
viagem imaginária, foi elaborada durante o contexto da Reforma Papal do século XII,
quando a Igreja de Roma articulava alianças com poderes laicos e buscava a
soberania em relação ao Império Germânico, que reivindicava uma atuação universal
na Cristandade. A Divina Comédia foi escrita entre os anos de 1304 a 1321, período
em que o florentino Dante Alighieri (1265-1231) encontrava-se exilado de sua cidade
natal. No poema, Dante personagem encontra vários inimigos pessoais no Além-
túmulo, dirigindo-lhes sermões e defendendo o poder do Império.

Palavras-chave: Além-túmulo. Cultura Política. Divina Comédia. Visão de Túndalo.

AS ROTAS DA SEDA DE UM MUNDO PLURICÊNTRICO DESCRITAS POR UM


VIAJANTE INGLÊS DO SÉCULO XIV

Victor Medeiros Garcia


Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

A presente comunicação visa discutir as menções aos trajetos da Rota da Seda a


partir da fonte Livro das Maravilhas do Mundo e Viagens Para a Terra Santa, também
conhecido como Viagens de Jean de Mandeville. Minha análise da fonte será interna
68
e externa. A análise interna da fonte primária será centrada nos tipos de detalhes que
o Livro de Mandeville enumera a respeito dos produtos provenientes de algumas das
regiões da Rota da Seda e nos detalhes dos territórios que o autor descreve ao longo
de seu trajeto. Já a análise externa da fonte estará em diálogo com o contexto histórico
destes trajetos da Rota da Seda durante a Idade Média. Como perspectiva teórico-
metodológica, a pesquisa se ampara nas reflexões da História Global.

Palavras-chave: Jean de Mandeville. Rota da Seda. Livro das Maravilhas. Literatura


de Viagens. História Global.

JORNADA DE UMA ESCRITA DEVOTA: A PERSPECTIVA DA LITERATURA


ARTURIANA N’A DEMANDA DO SANTO GRAAL

Ana Paula de Oliveira Costa


PIBIC, FAPEMA, UEMA, BRATHAIR
[email protected]
Orientadora: Prof. Dra. Adriana Zierer

A Demanda do Santo Graal é uma parte essencial da literatura arturiana e representa


a jornada espiritual dos cavaleiros da távola redonda, em busca do cálice sagrado
usado por Jesus Cristo na última ceia e o seu sangue derramado na cruz. Quando se
observa a obra sob a perspectiva da literatura arturiana, podemos perceber que, a
narrativa do Santo Graal começou a se desenvolver no final do século XII e início do
a XIII, em uma época que a literatura arturiana estava florescendo na Europa
Ocidental. O livro é uma obra coletiva que evoluiu ao longo de várias décadas,
diferentes autores anônimos desenvolveram episódios e histórias relacionadas à
busca pelo Santo Graal, o que criou uma narrativa mais ampla. Dessa forma, a busca
pelo Graal é central nesta literatura que enfatiza o espiritual e o religioso. Representa
a procura pela graça divina e a redenção espiritual por meio da pureza. Sendo assim,
ao longo da busca pelo Graal, os cavaleiros andantes enfrentaram testes e desafios
que os fizeram refletir sobre a moralidade e a fé. Portanto, ter contato com esta obra
é importante para conseguimos entender o pensamento social da época, quais eram
as tradições comuns da vida dos cavaleiros. Que não estão descritas somente com a
intenção de contar os eventos, mas sim como uma forma de relatar uma história onde
isso é um cotidiano.
Palavras-chave: Santo Graal. Literatura arturiana. Cavaleiro. Jornada.

SESSÃO 7
Ensino e pesquisa em Idade Média (Global) no Brasil: descolonizando
saberes
69

O CONCEITO DE IDADE MÉDIA EM LIVROS DIDÁTICOS DO PNLD 2024

João Henrique Borba Vilar


Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

O presente trabalho pretende analisar o conceito de Idade Média presente em dois


manuais que integram a edição do Programa Nacional do Livro Didático, a serem
adotados nas escolas públicas de Anos Finais do Ensino Fundamental entre 2024-
2027. Nesse sentido, analisamos dois livros didáticos a fim de verificar se os referidos
manuais estão em consonância com as pesquisas acadêmicas que dão conta da
problematização do termo "Idade das Trevas", utilizado negativamente para se referir
ao medievo. As coleções escolhidas para a análise foram História sociedade &
cidadania, cuja autoria é de Alfredo Boulos Júnior, e Jovem Sapiens História, dos
autores Adriana Dias, Keila Grinberg e Marco César Pellegrini. Em ambas,
concentramos nosso olhar apenas no volume referente ao 6º ano, haja vista o
conteúdo sobre Idade Média ser abordado nesse segmento do Ensino Fundamental.
Em relação à justificativa da análise daquelas duas coleções em detrimento de outras,
nos direcionamos a partir do resultado de uma consulta prévia feita aos professores
da Rede Municipal de Ensino de João Pessoa, a qual apontou os mencionados livros
como os preferidos para serem escolhidos e adotados no supracitado quadriênio.
Nesse sentido, dada a possibilidade de estarem nas salas de aula das escolas
municipais de uma importante capital do Nordeste brasileiro, importa considerar se os
manuais didáticos estão condizentes com o que se discute em relação ao medievo na
Academia. No que concerne à discussão sobre o conceito de Idade Média, lançamos
mão dos escritos de Eco (2014) e Franco Júnior (2001), ao passo que, no tocante ao
ensino de Idade Média, nos ancoramos em Macedo (2005) e Lima (2012). Os
resultados nos apontam que um dos livros, a despeito de suas inovações, parece não
estar alinhado à Academia no sentido de desconstruir mitos e preconceitos em relação
ao conceito de Idade Média, ao passo que o outro livro analisado está consonante
com as pesquisas acadêmicas, ainda que apresente determinadas lacunas, que
podem (e devem) ser complementadas pelo professor-historiador durante o processo
de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: Idade Média. Ensino. Livro didático. PNLD.

A IDADE MÉDIA GLOBAL NO BRASIL: UM GUIA BIBLIOGRÁFICO

Lucicleiton Ferreira da Silva


Universidade Federal da Paraíba (UFPB/Gradalis)
[email protected]

Este projeto é um plano de trabalho intitulado: “A Idade Média Global no Brasil: um


guia bibliográfico” que faz parte do projeto de pesquisa: “Por uma Idade Média Global:
70
teoria, metodologia e ensino de História” e busca criar um guia bibliográfico. A
construção de um ‘‘guia’’ que busca mapear e catalogar o desenvolvimento de um
campo historiográfico não é uma novidade no meio acadêmico. No Brasil, o LEME,
Laboratório de Estudos Medievais, tem um projeto voltado à catalogação da produção
de nossa medievalística: o ‘‘Guia Medieval’’. No entanto, este projeto objetiva criar
uma base de dados bibliográfica, especificamente sobre o estudo do conceito de
Idade Média Global no Brasil. Trata-se de uma espécie de ‘‘guia bibliográfico’’
inspirado num projeto desenvolvido por Sarah McNamer na Georgetown University
(EUA), intitulado ‘‘Global Medieval Studies Bibliography’’. Sendo assim, esse projeto
pretende catalogar os sites e produções acadêmicas (textos, mídias etc.) brasileiras
que trataram da Idade Média Global, que serão apresentados na forma de listas
bibliográficas. Essa listagem será acompanhada pelo endereço no qual o material está
disponível eletronicamente. Ao lado de cada item, haverá um resumo da pesquisa,
sintetizando o seu conteúdo. O projeto é bastante interessante, porém, ainda está em
um estágio inicial de produção, ou seja, os resultados disponíveis ainda são parciais.
Até o momento, o projeto se encontra na fase de levantamento bibliográfico, nesse
momento, estamos pesquisando e catalogando as produções bibliográficas e
midiáticas sobre a temática da Idade Média Global, produzidas no Brasil. Para isso,
os principais sites utilizados na pesquisa até o momento são o "Google Acadêmico",
"Portal de Periódicos CAPES" e "YouTube". Dessa forma, mesmo que o projeto não
esteja finalizado, sua elaboração está em curso e progredindo de forma considerável,
sendo assim, já é possível ter uma noção do que o guia bibliográfico se propõe a fazer
e de como sua versão final vai ficar.

Palavras-chave: Idade Média Global. Guia bibliográfico. Brasil.

O IMPACTO DA IDADE MÉDIA GLOBAL NA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA

Nathalia Marques Bandeira


Universidade Federal da Paraíba (UFPB/Gradalis)
[email protected]

A História Global é uma abordagem historiográfica que surgiu com o objetivo de


distanciar-se do eurocentrismo e do nacionalismo metodológico através de um estudo
que cruza as fronteiras tradicionais dos estudos históricos, como as nacionais e
culturais. Assim, a Idade Média Global é a aplicação dessa abordagem para o estudo
do período medieval, ultrapassando, as fronteiras do ocidente europeu e incorporando
as porções conectadas da Afro-eurásia. Dessa forma, a Idade Média Global permite
71
afastar o conceito de Medievo da Europa Ocidental através de sua ressignificação e
reintegração a um espaço geográfico e cultural mais amplo. Apesar de ser um
conceito relativamente novo na historiografia brasileira, a Idade Média Global vem
ganhando cada vez mais popularidade dentro do meio acadêmico. Desse modo,
propomos analisar o impacto do conceito de Idade Média Global na historiografia
brasileira. Trata-se, na verdade, de um levantamento bibliográfico crítico. Nosso
objetivo não é estabelecer uma mera quantificação desse conceito e, para tanto,
analisaremos diversas tipologias de fontes, como livros, artigos, teses, dissertações,
vídeos, podcasts, programas de disciplinas, editais de concursos, materiais didáticos,
simpósios temáticos, dossiês de periódicos, entre outros. Nesse levantamento
bibliográfico crítico, examinaremos aspectos como impacto, tendências, vertentes,
problemáticas e críticas. As produções historiográficas brasileiras sobre a Idade Média
Global serão alvo das metodologias quantitativa e qualitativa: o primeiro método se
baseia na frequência de aparição de determinados elementos na mensagem; o
segundo, na presença (ou a ausência), que pode constituir um índice tanto (ou mais)
frutífero que a presença de aparição. Os resultados serão sistematizados em gráficos
e tabelas, com as respectivas quantificações apresentadas estatisticamente.
Adotaremos a abordagem de "pesquisa bibliográfica", que implica na análise
abrangente dos trabalhos mais notáveis já conduzidos, pois esses trabalhos são
significativos na medida em que podem disponibilizar dados atuais e relevantes
relacionados ao assunto em questão.
Palavras-chave: Idade Média Global. Teoria. Metodologia. Ensino de História.

O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA NO MEDIEVO: A CONSTRUÇÃO DE


NOVOS OLHARES SOBRE A HISTÓRIA DA ÁFRICA

Aline Fernanda dos Santos de Oliveira Silva


Universidade de Pernambuco
[email protected]

O Ensino de História da África, tem se tornado um campo de pesquisa em grande


crescimento nas duas últimas décadas, com a aprovação da lei 10.639/03, o
investimento em maiores conhecimentos sobre o continente africano se torna
essencial para auxiliar professores e estudantes a conhecer mais sobre uma região
que tem grande conexão histórica com o Brasil. Contudo, quando é feita uma análise
profunda sobre como esta temática chega a sala de aula, é visível o silenciamento
sobre determinados recortes temporais da história africana, o foco maior é dado ao
estudo do Egito Antigo e ao processo do tráfico atlântico de pessoas. Desta forma,
esta pesquisa fruto de um Trabalho de Conclusão de Curso, utilizou como fonte livros
didáticos do 6º ano do Ensino Fundamental e buscou analisar como dentro do estudo
da Idade Média podemos enxergar uma África no Medievo, quais as principais
categorias, conceitos e significados são atribuídos a esta África e quais sociedades
normalmente aparecem para exemplificar o estudo do continente no recorte medieval.
Até o presente momento, a conclusão tirada desta investigação revela o quanto é
preciso avançar na inserção de uma “Idade Média Africana” na sala de aula, mas que
72
existem conquistas alcançadas pelas pesquisas em Ensino de História da África que
precisam ser celebradas e reconhecidas.

Palavras-chave: História da África. Livro didático. África no Medievo.

TRAÇOS EVIDENTES DE UMA FIGURA VIOLENTA? Eiríkr blóðøx (MACHADO


SANGRENTO) E A REPRESENTAÇÃO DA VIOLÊNCIA NAS DOCUMENTAÇÕES
MEDIEVAIS

Caio de Amorim Féo


Universidade Federal Fluminense
[email protected]

Parece desnecessário o dispêndio de força com a intenção de se questionar ou pôr


em dúvida o caráter da Idade Média como um período cujas sociedades eram
violentas. Seguir por uma via que seja diferente dessa soaria quase que como um
desprezo às vítimas das diversas agressões sofridas pelos indivíduos desse passado,
quando não uma apologia à tais atos. Porém, por mais clara que seja nossa visão
acerca de um dado tão aparentemente simples do passado, parece-nos que as
evidências documentais apontam para uma outra direção, ainda que não negue toda
a dor e sofrimento das vítimas de agressões, especialmente, mas não somente,
durante conflitos bélicos dos mais variados. Nesse sentido, propomos com a presente
comunicação uma reconsideração dessa realidade “naturalmente violenta” a partir dos
reinados de Eiríkr blóðøx na Noruega (c. 930-933) e Nortúmbria (c.947-948; c. 952-
954). A partir dos levantamentos das informações contidas nas principais fontes a
respeito da origem do apelido do rei e das considerações sobre a estrutura social da
Escandinávia do Período Viking (c. VIII-X), aventaremos uma possibilidade do
entendimento da noção e representação da violência para as sociedades
escandinavas, particularmente para aqueles grupos em recorrentes atividades
vikings.

Palavras-chave: Idade Média. Vikings. Violência.

HERDEIRAS DE UMA HERANÇA PECAMINOSA: REPRESENTAÇÕES


EDUCATIVAS FEMININAS NAS ILUMINURAS DO LES TRÈS RICHES HEURES
DU DUC DE BERRY

Antônio Carlos Nascimento da Silva Neto


UEMA/BRATHAIR
[email protected]

Adriana Maria de Souza Zierer


UEMA/BRATHAIR
[email protected]
73
O presente trabalho tem por objetivo analisar as representações educativas femininas
no calendário do Les Très Riches Heures du duc de Berry, tendo em conta que estes
retratos de mulheres eram compostos, em boa medida, por discursos moralizantes
que visavam moderar as condutas femininas. Estas reflexões morais utilizavam,
ainda, a figura feminina como símbolo para as análises antropológicas, a partir de
modelos e contramodelos contrastantes buscados na Bíblia, em Eva e na Virgem
Maria, capazes de indicar ao corpo social as falhas e as virtudes humanas, isto é, os
valores cristãos, que, em última medida, condenaria as pessoas ao inferno ou
absolveria levando-as ao paraíso. Eva era representante dos pecados humanos, dos
vícios carnais, sendo as mulheres herdeiras legítimas do pecado original. Maria, por
sua vez, contrastando a Eva, simbolizava a redenção humana, o abandono do pecado
originário ao gestar o filho de Deus. Desse modo, embora algumas representações
enfatizassem qualidades virtuosas, os contramodelos contrastantes exibiam aspectos
pecaminosos, que moldavam as percepções medievais sobre as mulheres, em última
medida, os gestos e trajes retratados nas iluminuras muitas vezes refletiam normas
sociais e valores culturais ligados à modéstia e à sexualidade, à virtude e aos vícios,
de modo que enquanto imagens idealizadas eram promovidas, representações de
contramodelos foram menosprezadas. Vale ressaltar que estas discussões à volta do
comportamento feminino eram, muitas vezes, reguladas por preceitos religiosos e
perspectivas predominantemente masculinas que utilizava a produção artística para
sua propagação que, mais uma vez, buscava controlar e manter a conduta feminina.
O Les Très Riches du duc de Berry (“le roi des manuscrits enluminés”), por fim, é um
manuscrito iluminado do final da Idade Média (século XV), período de sua
popularização, encomendado por Jean de Berry e produzido pelos irmãos Limbourgs,
Herman, Paul e Jean - este Livro de Horas contou com intervenções de Barthélemy
d’Eyck e Jean Colombe.

Palavras-chave: Representações femininas. Modelos. Contramodelos. Modos.

SESSÃO 8
Ramon Llull

A RELIGIOSIDADE NA FORMAÇÃO DO “EU" E DO “OUTRO" NO LIVRO DA


ORDEM DE CAVALARIA, DE RAMON LLULL

Luma Fernanda Soares


PIBIC-UEMA-FAPEMA/BRATHAIR
[email protected]
74
Ramon Llull foi um filósofo catalão nascido entre os anos de 1232-1235 na cidade de
Maiorca, ilha conquistada pelo rei Jaime I em 1229 com a participação do pai de Llull,
o que lhes garantiu propriedades da ilha como recompensa. Llull teve sua infância e
juventude em torno da corte real e sua carreira foi dedicada às armas. Por volta de
1265 se converte ao catolicismo e essa conversão vem acompanhada de três desejos,
e um deles é dedicar sua vida ao serviço de Deus, convertendo os infiéis ao
catolicismo. O Livro da Ordem de Cavalaria foi produzido Ramon Llull e constitui um
manual pedagógico de cavalaria. Desde o ofício que pertence ao cavaleiro até o
significado de suas armas, estão presentes princípios religiosos cristãos, base para a
criação do ideal do bom cavaleiro. Segundo Llull, para o escudeiro que desejava ser
cavaleiro, seria interrogado se amava e temia a Deus, pois o homem que não ama e
teme a Deus não é digno de ser feito cavaleiro. Ademais, um dos ofícios que
pertenciam ao cavaleiro era manter e difundir a santa fé católica, e, para receber a
cavalaria deveria crer nos artigos, mandamentos e sacramentos da fé católica. Como
se observa, a religiosidade é um aspecto forte e presente na formação de uma
identidade cristã da cavalaria, com princípios que criam um ideal que deveria ser
seguido pelos cavaleiros, para serem considerados bons. No entanto, a criação do
“bom cavaleiro” sugere a existência do “mau cavaleiro”, assim como uma vida de
virtudes sugere a existência de uma vida de vícios. Portanto, o ideal cavalheiresco
presente na obra de Ramon Llul, permeado pela religiosidade, cria o “outro” em
detrimento do “eu", ou seja, a existência do mau cavaleiro só se dá porque o bom
cavaleiro existe, e tudo que foge do “eu" se torna o “outro". Bons cristãos e maus
cristãos, virtuosos e pecadores, defensores da fé e negligentes da fé, são exemplos
da dicotomia criada pela religiosidade na relação do “eu” com o “outro”.

Palavras-chave: Religiosidade. Ramon Llull. Idade Média. Cavalaria.

REPRESENTAÇÃO E HISTORIOGRAFIA NOS DOCUMENTÁRIOS NOS


DOCUMENTÁRIOS SOBRE RAMON LLULL: A FASE PRÉ “ANY LLULL” (2015-
2016)
Maristella da Silva Xavier
Universidade Federal da Paraíba (UFPB/Gradalis)
[email protected]

Este projeto tem como foco principal analisar documentários sobre Ramon Llull
produzidos durante o Any Llull (2015-2016), que marcou as comemorações dos
setecentos anos da morte do filósofo maiorquino. Serão analisados basicamente dois
materiais: ‘‘Ramon Llull, uomo del nostro tempo’’ (2015), dirigido por Enrico Ranzanici,
produzido pela Elsa Peretti Foundation e narrado por Alessandro Tessari, acadêmico
e político italiano; e ‘‘Ramon Llull’’, uma produção da IB3 - Ens Públic de Radiotelevisió
de les Illes Balears, dirigida de Miquel Verd e Pere Muñoz e apresentada por Joan
Miquel Artigues. Examinamos estas produções que não receberam nenhuma
abordagem acadêmica, tanto no Brasil quanto no exterior. Vale ressaltar que na
75
contemporaneidade o audiovisual é um elemento importante na sociedade, sendo
cada vez mais comum o consumo da imagem. Desta forma, tornou-se necessário
analisar e estudar as produções fílmicas, para uma melhor compreensão de como
está sendo representada a figura de Ramon Llull, levando em consideração o seu
contexto social, cultural e histórico de produção, pois carregam a influência do âmbito
que estão inseridos. Sendo os principais objetivos deste trabalho examinar a
representação e a historiografia sobre Ramon Llull nesses dois documentários
produzidos durante o Any Llull (2015-2016). Isso implica em investigar as intenções
dos produtores desse material, suas visões sobre o filósofo maiorquino, suas
motivações estéticas e comerciais. Também pretende-se elucidar as principais
tradições e correntes às quais essa historiografia estava vinculada, sua natureza e
características. Entretanto, não buscaremos apenas apontar os erros e acertos
desses documentários, por exemplo, o quanto as produções estão corretas de
historicidade na reconstituição da trajetória de Ramon Llull. Essa metodologia pode
ser considerada insuficiente, muito menos deve ser a prioridade. Desta forma,
procuraremos examinar nos documentários como a figura deste homem foi construída
e transmitida em diversos períodos da história e também a tentativa de compreender
os motivos e as formas pelas quais o material representou a figura de Llull .

Palavras-chave: Ramon Llull. Documentário. Historiografia. Representação. Idade


Média.

REPRESENTAÇÃO E HISTORIOGRAFIA NOS DOCUMENTÁRIOS NOS


DOCUMENTÁRIOS SOBRE RAMON LLULL: A FASE PRÉ “ANY LLULL” (1982-
2007)

Márcio Vinícius Medeiros de Santana


Universidade Federal da Paraíba (UFPB/Gradalis)
[email protected]

A presente pesquisa corresponde aos resultados obtidos durante 2022-2023, no


Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (PIBIC)), vinculado à
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), cujo projeto buscou examinar e interpretar
os primeiros documentários que tinham por objetivo contar a história do pensador
maiorquino Ramon Llull (c. 1232-1316). Este personagem, nascido na ilha de Maiorca,
é conhecido por ter sido um dos maiores escritores da Idade Média, tendo
contabilizado quase 300 obras em seu nome, as quais abordam os mais variados
temas e gêneros literários, e ainda escritos em três idiomas diferentes: árabe, latim e
catalão. Ademais, vale citar que este é considerado beato pela Igreja Católica, chegou
a se encontrar com vários reis, vivenciou vários pontificados e viajou praticamente
todo o Mediterrâneo em busca de converter os árabes, os quais chamava de "infiéis".
Por conta do peso de sua representatividade histórica e pela sua conexão com a
cultura catalã (sendo até mesmo chamado de “pai da literatura catalã”, pois teria ele
de certa forma a “fundado” por ter escrito uma das mais antigas obras no idioma
catalão) a figura de Ramon Llull é frequentemente disputada e apropriada para assim
representar e justificar posicionamentos políticos, discursos culturais e pautas sociais.
76
Portanto, tendo noção desse cenário de disputa que é o campo das representações,
foi possível por meio dessa pesquisa observar, nas produções audiovisuais, nos
documentários, a evolução das produções que retratavam a persona de Llull, o
desenvolvimento de suas inúmeras facetas, seus objetivos latentes e a relação entre
os documentários com os eventos da época em que foram produzidos. Vale ainda
descrever que, para que fosse possível conseguir tal feito, utilizamos de uma
metodologia que priorizaza o contexto social em que os quatro documentários foram
produzidos, isto é, o contexto social e acadêmico espanhol da década de 1980 até
2007, os quais influenciavam bastante a forma que Llull era representado e quem
falava acerca dele.

Palavras-chave: Ramon Llull. Idade Média. Representações. Documentários.

SESSÃO 9
Escrita de si na Idade Média

A ESCRITA DE SI NO PRÓLOGO DE AUTORIA FEMININA MÍSTICA: TERESA


D’ÁVILA, UM DIÁLOGO PARA A SOBREVIVÊNCIA

Rafaela de Souza Viana


Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

Este trabalho propõe uma análise das marcas da escrita de si presentes nos prólogos
escritos pela autora espanhola Teresa d’Ávila nas obras Caminho de perfeição (1565)
e Castelo interior (1577). O prólogo enquanto elemento paratextual é uma ferramenta
discursiva utilizada pela autora para tentar atenuar as críticas que o teor dos seus
escritos místicos e ascéticos poderiam suscitar nas vozes hegemônicas que geriam a
escrita religiosa durante o Século de Ouro espanhol. Nesse sentido, partindo do
pensamento de Bakhtin e de seu círculo de que o eu se constitui com base nas nossas
relações de interação com o(s) outro(s), a escrita de si se apresenta como um produto
da natureza social do enunciado, produto que não se forma apenas no mundo interior
do(a) escritor(a), mas a partir dessas relações de interação social. Como sinaliza
Volóchinov (2017, p. 217), “a estrutura do enunciado, bem como da própria vivência
expressa, é uma estrutura social.” Nessa perspectiva, uma escrita de si revela o eu e
o outro que dialoga com esse eu. Assim, sendo ela permeada pela voz do outro, para
compreendê-la é necessário identificar com quais vozes sociais ela dialoga. Diante
desse contexto, objetiva-se, através de uma análise dialógica, observar os diálogos
que Teresa d’Ávila estabelece com as vozes hegemônicas de sua sociedade e
sinalizar as estratégias discursivas utilizadas pela autora na escrita dos enunciados
77
que compõem os prólogos das obras mencionadas. Desse modo, depreende-se que
a compreensão desses mecanismos dialógicos descortina os motivos e os propósitos
da criação desses textos e, consequentemente, revela as marcas da expressão
subjetiva da autora, evidenciando que no texto prefacial teresiano a escrita de si se
manifesta nas escolhas enunciativas feitas pela autora para a construção desses
prólogos. Com isso, observa-se que o agir da sua subjetividade se mostra nas
entrelinhas desses textos, naquilo que, muitas vezes, não está explícito em seu
enunciado.

Palavras-chave: Teresa d’Ávila. Escrita de si. Prólogo. Dialogismo.

A ESCRITA MÍSTICA E FILOSÓFICA DE PORETE E DE PIZAN

Maria Eduarda Gonçalves Ludgero


[email protected]

Vinicius Moraes Costa


[email protected]
Universidade de Brasília

Este trabalho busca as luzes da escrita de mulheres, mais especificamente Marguerite


Porete e Christine de Pizan, para os estudos filosóficos de graduação do período
medieval - designada a partir do século XVII como “idade das trevas” - considerando
que a história da filosofia seguiu um curso majoritariamente masculino, dispensando
e realocando as escritoras em outras designações. Ambas são exemplos de escritoras
místicas, tanto pelo caráter alegórico de suas obras, quanto pela descrição de suas
experiências e visões do divino, reinterpretando os textos bíblicos (Troch, 2013).
"Marguerite chamada a Porete” foi queimada em praça pública, junto com seu livro,
em 1310. Foi considerada herege, recidiva, relapsa e impertinente, pelas proposições
de sua condenação (Nogueira, 2023). Porete é um exemplo da escrita mística de
autoras medievais: reinventando a forma de pensar acerca do divino, a autora de O
espelho das almas simples (1310), escreve sobre sua experiência de “fusão” com o
divino, de uma forma inusitada: através do vazio e do aniquilamento da alma. Uma
alma aniquilada não só da vontade e da arrogância, mas aniquilada de si mesma.
Sendo um símbolo de persistência e coragem, ela nem sequer pensou em desistir de
espalhar sua mensagem em diversas cópias, mesmo sendo recorrentemente proibida
pela igreja de fazer isso. E seu Espelho vive até hoje, mostrando que também nós
podemos sonhar com outras filosofias. Christine de Pizan é figura central da querelle
des femmes medieval (Deplagne, 2021). Na obra A cidade das damas (1405),
aprofunda sua crítica à misoginia dos autores, reivindica educação para as mulheres,
e reinterpreta em favor delas os textos bíblicos, e a mitologia greco-romana.
Recorrendo às formas alegóricas de Razão, Retidão e Justiça, Pizan refere-se à
experiência própria e de outras mulheres, narrando sua visão e missão de construir
uma Cidade para proteger e fortalecer as mulheres das injustiças dos homens.
Percebemos conexões entre elas, mas por diferentes perspectivas. Um aspecto é a
78
Razão representada como alegoria, e a simbologia do espelho. Pizan utiliza a Razão
como modo de refletir e argumentar seu ponto de vista político, fundamentado na
demonstração das múltiplas virtudes femininas para construir a Cidade delas.
Enquanto Porete quer se desprender das virtudes, pois uma alma aniquilada e
conectada com o amor não necessita delas. Assim, propõe uma filosofia que se afasta
da razão teológica, representada em seu livro como a personificação da instituição
igreja e, por vezes, formulando suas críticas a ambas.

Palavras-chave: Filosofia Medieval. Mística. Marguerite Porete. Christine de Pizan.

A VERTICALIZAÇÃO DO ENTENDIMENTO NA MÍSTICA DE MARGUERITE


PORETE: UMA INFLUÊNCIA DO DUALISMO EM PLATÃO
Daniel Eduardo da Silva
Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

Este artigo objetiva apresentar um breve estudo comparado entre Marguerite Porete
(1250-1310), em O Espelho das Almas Simples e aniquiladas e que permanecem
somente na vontade e no desejo do Amor, sobre a verticalização mística do seu
Entendimento com a teoria do conhecimento em Platão (c.427- 348 ou 347 a.C.), no
esquema da caverna, que está em A República, no livro VII. Para a autora, na sua
narrativa, a verticalização do seu Entendimento nos faz identificar uma similitude com
a dialética (dialektiké) da dualidade platônica do mundo sensível (dóxa) e do mundo
inteligível (epistéme) que tem no seu ápice o Bem (agathón), quer seja para os gregos,
a noção e a busca da felicidade (eudaimonía), em suma: Deus (Theós). Em Porete, a
Dama Alma passando por sete estados busca a elevação almejando o divino. Para a
narradora, o divino, é a personificação alegórica da Dama Amor, ou seja, a
representação divina de Deus. Assim, comparando as ideias de ambos os autores,
por um lado, temos os elementos filosóficos encontrados na narrativa platônica, a
saber, mundo sensível e mundo inteligível, quando a alma conquistando sua
libertação saindo do mundo das sombras ou da ignorância em oposição aos erros dos
sentidos ou da opinião, pretende alcançar a (epistéme) na posse da sabedoria
(sophía) no mundo espiritual. Por outro lado, em Porete, na narrativa, a Dama Razão,
guardiã dos erros do orgulho e da arrogância religiosas, é vencida pela Dama Alma
que tem o seu percurso espiritual pela verticalização do Entendimento até a posse do
enlace divino. Poderíamos, também, dessa maneira, problematizar a dicotomia das
opiniões entre as personagens Razão (Raison) e Amor (Amour), quando a autora traz
a ideia do falibilismo da Santa Igreja a Pequena como Razão e da perfectibilidade da
Santa Igreja a Grande como Amor, que ela defende, a rigor, no diálogo místico.
Palavras-chave: Marguerite Porete. Ascese. Filosofia. Platão.
79
A DICOTOMIA AVE E EVA: A REPRESENTAÇÃO DE BOAS E MÁS CRISTÃS
N’A DEMANDA DO SANTO GRAAL

Bruna Danielle Mendes Lobato Melonio


Bolsista PIBIC CNPQ/UEMA/Brathair
[email protected]

O presente trabalho aborda a representação das mulheres em A Demanda do Santo


Graal, uma novela de cavalaria do século XIII que conta as aventuras do Rei Arthur
e seus cavaleiros, em busca do cálice usado por Cristo na Última Ceia: o Santo Graal.
Através dessa obra é possível compreender as representações sobre as mulheres
medievais, pois o texto apresenta imagens alegóricas que ilustram o que se pensava
em relação às figuras femininas da época. É possível perceber o tratamento dado às
mulheres desde o início da novela, quando um ermitão aconselha os cavaleiros a não
levarem consigo nenhuma mulher durante da Demanda, pois isso resultaria em
pecado e, consequentemente, no fracasso de seus objetivos. Diante disso, é possível
perceber que ao longo da história, as mulheres são frequentemente retratadas de
forma negativa, relacionadas ao pecado, à luxúria e usadas para provar a honra dos
cavaleiros, já que o corpo e a beleza feminina representam a tentação. Isso ocorre
porque havia a crença que Eva foi responsável pelo Pecado Original e a Queda do
Paraíso devido aos seus atributos femininos, de modo que qualquer uma de suas
descendentes poderia seguir o mesmo caminho e afastar o homem de Deus. No
entanto, também há modelos de boas cristãs que representam o ideal de santidade
que todas deveriam seguir, relacionadas com a figura da Virgem Maria, mesmo que
os exemplos de mulheres virtuosas sejam inferiores ao de viciosas. Deste modo, a
obra estabelece uma oposição entre as boas e más cristãs, com as primeiras
representando a figura de Maria e as segundas a figura de Eva. Sendo assim, o
objetivo deste trabalho é analisar as figuras femininas em A Demanda do Santo Graal,
relacionando as boas cristãs com a figura da Virgem Maria, as más cristãs com a
figura de Eva e discutindo a oposição entre elas na sociedade medieval.

Palavras-Chave: A Demanda do Santo Graal. Boa cristã. Má cristã.

UMA IMPORTANTE FONTE PARA O ESTUDO DE UM EVANGELHO APÓCRIFO:


A SUPOSTA CORRESPONDÊNCIA DE JERÔNIMO DE ESTRIDÃO NO
EVANGELHO DO PSEUDO-MATEUS (SÉCULO VII)

Claudio Kuievinny Duarte


Universidade Federal da Paraíba (UFPB/Gradalis)
[email protected]
80
Os evangelhos não bíblicos, conhecidos pelo nome de “apócrifos”, se tornaram parte
integrante da cultura medieval, apesar de rejeitados pela Igreja nos primeiros séculos
da era cristã. No ocidente europeu, são contabilizadas inúmeras cópias destas obras.
O apócrifo “Livro sobre o nascimento da beata Maria e da infância do Salvador”, parte
dos chamados “evangelhos da infância de Jesus” (gênero na literatura que tinha como
característica o traço da “complementariedade canônica”: o intuito de ampliar as
narrativas bíblicas sobre algum tema, em especial, o da infância do “Cristo”) é um
texto latino do século VII que impactou profundamente a cultura literária e iconográfica
desta sociedade. A Legenda Áurea, de Jacopo de Varagine (1228-1298), foi
profundamente influenciada pela obra; os artistas que ilustraram os temas
iconográficos sobre a vida de Maria, os avós de Jesus Joaquim e Ana, e sobre a
infância de Jesus, tiveram como fonte o dito evangelho. São catalogados cerca de
150 manuscritos do apócrifo. No século XIX o texto ganhou um novo título, pelo que
é mais conhecido atualmente: “Evangelho do Pseudo-Mateus”. Quem o fez foi o
conhecido filólogo dos apócrifos Constantin Von Tischendorf, baseado numa
correspondência que acompanha o início dos evangelhos, supostamente escrita por
São Jerônimo (347-420), e outros clérigos do período, em que o bispo avalia o
conteúdo da obra e a atribui ao evangelista Mateus. A carta é uma importante fonte
para o estudo dos debates tardo-antigos e medievais sobre a formação do cânon
neotestamentário e sobre como o apócrifo Evangelho do Pseudo-Mateus se insere
nesta querela histórica.

Palavras-chave: Textos Apócrifos. Evangelho do Pseudo-Mateus. Carta. Jerônimo


de Estridão.

SESSÃO 10
Narrar o Outro: crônicas, literatura de viagem, contos, lais, reescrita de mitos
clássicos na Idade Média

ENTRE MOUROS E CRISTÃOS: SEQUESTROS, BRUXEDOS E ÓDIOS NO


ROMANCEIRO DA TRADIÇÃO ORAL

Leonildo Cerqueira
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
Universidade Federal do Ceará
[email protected]

Elizabeth Dias Martins


Universidade Federal do Ceará
[email protected]
81
Este trabalho objetiva analisar um conjunto de romances da tradição oral ibérica dos
séculos XIV - XV, cujo tema seja a relação entre mouros e cristãos, especialmente no
que concerne aos modos de representação daquele, vinculando-o a práticas de
feitiçarias, bruxarias e pactos diabólicos. Conforme alguns estudiosos, a exemplo de
Elisângela Paula (2011), Bárbara Lito (2014), Kalina Silva e Vanderlei Silva (2014), o
longo período de 800 anos de dominação árabe na Península Ibérica pode ser
considerado um motivador para o crescente ódio ao povo muçulmano, sempre
indesejado pelos cristãos porque associados à “falsa religião”, logo, considerado um
povo corrompido e infiel. Esta disposição mental vigente na Península Ibérica,
alimentada sempre pelas constantes guerras locais ou pelas Cruzadas no Oriente,
teria favorecido a conformação de um conjunto de imagens que se arraigou no
imaginário popular da região, ganhando inevitável difusão pela oralidade dos
romances que circulavam ali, inclusive com amplo alcance além do contexto espaço-
temporal da Idade Média europeia, conforme a Teoria da Residualidade permite notar.
Neste repertório de imagens, o islamismo comparece como falsa religião e estaria
ligado, portanto, ao diabo, inimigo do que seria a verdadeira fé, o catolicismo. Assim,
o árabe seria o servo de Lúcifer, tentando destruir a Igreja de Cristo. Recorrendo a
romanceiros compilados, como os de Teófilo Braga (1982) e Menéndez Pidal (1993),
esperamos, por fim, demonstrar como se realiza, na perspectiva cristã, esta
aproximação do árabe com o diabólico, que se ramifica na bruxaria e na feitiçaria,
fazendo dos seguidores de Alá uma categoria de pessoas a ser evitada e combatida.
Nesta perspectiva, os mouros, mais frequentemente as mulheres, são dotados de
poderes malignos e praticam as artes ocultas, utilizando sua magia para seduzir
cristãos ou enfeitiçá-los, com o objetivo de levar vantagem na guerra ou de convertê-
los à lei de Maomé.

Palavras-chave: Romanceiro. Mouros. Cristãos. Mistérios.

DIÁLOGOS HIPERTEXTUAIS E RESIDUAIS ENTRE JUAN MANUEL E A


TRADIÇÃO ORIENTAL

Gilbéria Felipe Alves Diniz


Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

El Conde Lucanor pode ser considerado uma das mais importantes obras da Europa
Medieval, tendo sido composta no século XIV. Os contos têm uma finalidade didática
e se apresentam como um manual de instrução para aqueles que desejam tomar
decisões sábias diante das inúmeras possibilidades. Esta narrativa não surgiu
sozinha. Don Juan Manuel, autor da obra, utilizou inúmeras fontes que influenciaram,
diretamente, a escrita desse texto, fazendo com que esse livro se tornasse o mais
importante da sua trajetória intelectual. Entre as várias fontes, encontra-se “Kalila e
Dimna”, primeira narrativa oriental a ser traduzida para língua romance. Esta obra
apresenta uma compilação de histórias que expõem muitas situações que são
resolvidas através da moral apresentada na fábula. As duas obras exibem
semelhanças tanto na sua estrutura como na temática, posto que, Don Juan Manuel
82
tinha muito contato com as traduções das narrativas orientais deixadas pelo legado
do seu tio Alfonso X. Sendo assim, este trabalho pretende analisar, à luz da teoria de
Gérard Genette e Roberto Pontes, como esta relação acontece, isto é, de que maneira
Don Juan Manuel desdobra em seus contos diálogos hipertextuais e residuais com a
tradição oriental.

Palavras-chave: Literatura sapiencial. Hipertextualidade. Residualidade. Estudos


Medievais.

MITO E IDEOLOGIA EM UM DIÁLOGO INTERCULTURAL ENTRE O VELHO E


NOVO MUNDO: UMA BREVE ANÁLISE SOBRE AS RELEITURAS DAS
NARRATIVAS CLÁSSICAS E MEDIEVAIS NA AMÉRICA COLONIAL

Niery Pereira Trajano


Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

Mito e ideologia pressupõem representações de ordem organizacional e explicitam


uma relação complexa com o mundo. Assim, para compreender estes em função de
uma perspectiva que abarque o Velho e o Novo Mundo, é fundamental fazermos uma
releitura dos mitos clássicos e medievais, à vista de um aprofundamento em relação
a essa transfiguração narrativa na contemporaneidade. O aporte teórico deste
trabalho, utiliza os estudos de Mircea Eliade (2001) dialogando com Joseph Campbell
(1991), dentre outros teóricos que analisam o mito e suas implicações na atualidade.
De acordo com Mariscal (2007), os modelos narrativos clássicos se filtram no Medievo
e se desdobram nas narrativas dos denominados cronistas de Índias e chegam até os
dias atuais. Diante disso, o aspecto do mito que interessa-nos destacar, é acerca de
suas ramificações no que representa suas narrativas de (re)produção, que não se
distanciam daquilo que atualmente entendemos por ideologia, já que a pluralidade e
a percepção infinita do mito, engloba o mesmo em um aspecto não concreto de si. O
mito prevê uma consciência significativa, também intrínseca, e transpassa uma
consciência racional ou social, pois está em movimento. Sua consistência se
manifesta na crença viva dos indivíduos, assim como a ideologia, visto que
correspondem a um fenômeno cultural. No percurso investigativo deste trabalho,
optamos por uma revisão acerca da temática para esclarecer que ambas as noções
transpassam a fundamentação pelo dogmatismo e pela busca de sentido existencial,
já que experienciamos esse envolvimento disciplinar, à vista de uma transação mais
complexa. Assim, Campbell (1988), conceitua que o mito manifesta uma
experimentação transcendente ao plano puramente físico, dado que seu
funcionamento ocorre por uma ressonância íntima que integra nosso ser e nossa
realidade. Com isso, por meio da transformação do homem, mediante a repetição,
fomentada pelos arquétipos, há a regeneração do tempo, visto que as narrativas do
mito se envolvem com o propósito de instalar um sentido ao mundo e a maneira como
nos relacionamos com ele e, evidentemente, permanece atuante. Na mesma linha de
pensamento do mito, a ideologia exibe uma essência. Trata-se de um mecanismo de
83
(re) produção, uma linguagem que perpassa um imaginário, pois sustenta-se de ideais
vívidos e por vezes, implícitos.

Palavras-chave: Dispositivos de controle. Ideologia. Mito. Narrativas. Novo mundo.

COMO A DESCOBERTA DA AMÉRICA INICIOU UMA NOVA ORDEM MUNDIAL

Mariana Caetano Alcântara


Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

A chegada dos europeus ao continente americano em 1492 marcou um ponto crucial


na história, repercutindo intensamente nas relações globais entre nações. Isso se deu
devido à descoberta da América, que deu início a uma nova ordem mundial com
impactos substanciais na política, economia e cultura do mundo contemporâneo. Para
compreender esses efeitos, é essencial considerar que a colonização representou
uma ampliação do comércio global, abrindo novas rotas marítimas e possibilitando um
incremento nas transações comerciais europeias, especialmente através da
exploração de recursos naturais. As colônias americanas desempenharam um papel
fundamental como fonte significativa de matérias-primas, gerando um profundo
impacto na economia global. Além disso, outros aspectos da descoberta das
Américas, como influências culturais e mudanças políticas em escala mundial,
também deixaram marcas profundas. Essas transformações, provenientes do Velho
Mundo, repercutiram significativamente no Novo Mundo, inaugurando um novo
capítulo na história da humanidade. Nosso objetivo é examinar cuidadosamente as
questões mais relevantes que moldaram as mudanças no Novo Mundo. Assim,
entendemos que os pilares fundamentais para a construção de uma Nova Ordem
Mundial foram os aspectos econômicos, políticos e religiosos. A chegada dos
europeus às Américas foi um evento histórico que, sob uma perspectiva dual
americano-europeia, desencadeou uma série de transformações profundas, cujas
consequências perduram e ainda influenciam o mundo contemporâneo.
Palavras-chave: América. Impacto. Transformações. Consequências. Mundo
Contemporâneo.

O DISCURSO COLOMBINO E A INCIPIENTE CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO


COLONIAL: ENTRE O TEXTO E O PRETEXTO

Ana Cleide de Queiroz Barreto


84
Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

Durante anos, o comerciante Cristóvão Colombo foi visto e descrito como o brilhante
almirante que descobriu as terras que conhecemos hoje como América. Essa visão,
no entanto, está distorcida de muitas maneiras, pois os objetivos de Colombo sempre
foram encontrar uma nova rota para as especiarias da Índia e chegar nas terras de
ouro descritas por Marco Polo. Porém não foi o que aconteceu e, para mascarar esse
fracasso, Colombo se baseia em seus textos, ou melhor, em seus pretextos, materiais
lidos e relidos que serviram de fonte para as comparações que ele realizou ao tentar
encontrar, nos elementos do Novo Mundo, os detalhes das terras que buscava. Em
nossa reflexão observamos, como aponta Lopez (2014), os três elementos que
configuram o discurso Colombino e que ajudaram a forjar um imaginário sobre as
novas terras encontradas. Nesses textos, releituras em muitos casos dos clássicos,
encontramos aportes variados, começando com o material bíblico, ao se denominar
filho da providência, aquele que encontraria a nova oportunidade para o cristianismo,
Colombo se coloca na posição de benfeitor misericordioso, aquele que levará a
salvação em forma de religião para as populações indígenas. Pensando em suas
fontes territoriais, Marco Polo e seu livro de viagens despertaram no nosso almirante
o desejo pelas riquezas e marcaram todo o processo de planejamento e execução da
primeira navegação. Considerando que havia, também, as fontes clássicas e
mitológicas – que descreviam as naturezas exuberantes e ricas de ouro, pérolas e
monstros –, encontramos importante ressaltar que criou-se, ao longo dos séculos e
dos textos, como explica Mariscal (2007), um imaginário coletivo baseado em um
conjunto de mitos e lendas clássicas, que moldaram a visão do outro, dos “índios”, por
parte não apenas de Colombo, mas também da Europa Medieval. Com isso, tal visão
de “descobrimento”, deve ser repensada e revisada na forma como é aplicada para
os estudantes da atualidade, fugindo do eixo hegemônico e aplicando uma educação
mais decolonial. Para nossa reflexão nos baseamos no pensamento de Beatriz Pastor
(1983), Eduardo Galeano (2003), Edmundo O'Gorman (1947), Blanca López de
Mariscal (2007), John Elliott (1970) e Lopez (2014).

Palavras-chave: Colombo. Configuração Discursiva. Decolonialidade. Mitologia.


Novo Mundo.

FRANCISCO SUÁREZ E DIEGO MAS: UMA QUERELA METAFÍSICA NO


SÉCULO XVI

Adriel Lucas de Vasconcelos Chaves


Universidade Federal da Paraíba
[email protected]

O século XVI, conhecido também por Siglo del Oro, em Espanha, foi uma época de
fluorescer intelectual. Nas Artes, o sucesso do feitio e ensinamento do que convém
chamar de Cursus esteve no mais alto parecer em filosofia. A Escolástica vive um dos
85
momentos mais vivificantes e esplendorosos de sua história, isto graças a restauração
da Metafísica realizada por Francisco Suárez (1548-1617) e Diego Mas (1553-1608),
com o qual puderam aproveitar e harmonizar os ditos e aproveitá-los, tanto das
escolas humanistas, quanto nominalistas. De fato, a incandescência destes autores é
vista como um luminar para aqueles que, em suas pesquisas e estudos, tornam-se
público especializado. Embora até o final do século XVI e parte do XVII a Metafísica
não tivesse sua própria cátedra em grande parte das Universidades, ela é parte
fundamental dos tratados deste século, onde boa parte a tratou — dado a sua
importância e seu entendimento como filosofia primeira posta por Aristóteles — como
disciplina basilar para as discussões em querelas ardilosas que se encontraram em
torno dos principais pensadores de então. Este trabalho parte de uma análise
situacional dos tratados de Metafísica dos filósofos Francisco Suárez e Diego Mas,
tomando como pano de fundo a querela das escolas de pensamentos que ambos
representavam, tanto a escola jesuíta quanto a dominicana. À luz desta perspectiva,
procura-se mostrar, valendo-se de uma interpretação destes tratados no tempo, a
contribuição filosófica de seus manuais de filosofia, assim como a influência cultural
que levaram às cátedras de filosofia em Salamanca e em Valência, ambos situados
em Espanha medieval. Ademais, esta investigação propõe demonstrar, também, que,
a partir destas implicações, aproximações e querelas, houve, por bem, uma exercida
influência nos percalços da filosofia moderna. As figuras de Suárez e Diego Mas, em
toda grandeza e envergadura intelectual, ocupam a cátedra de ser dois dos maiores
e mais importantes filósofos do medievo e da modernidade, delimitando os espaços
por onde o novo modo de pensar teria então de seguir.

Palavras-chave: Escolástica. Medievo. Metafísica. Francisco Suárez.

Conferência de encerramento

NARRAR O SAGRADO: O DESAFIO HAGIOGRÁFICO

Renata Cristina Nascimento


UFJ-UEG-PUC
[email protected]

Solidificando e despertando devoções as hagiografias são aqui entendidas como


memória biográfica-comunicativa, pois esses textos foram escritos para serem lidos
em voz alta, transmitidos também de forma oral. Possuindo uma dupla dimensão
histórica e literária, os textos hagiográficos foram usados com diversos propósitos, se
constituindo em elementos simbólicos, portadores de sentidos e significados próprios.
Nesta comunicação daremos destaque às narrativas sobre São Vicente, mártir. Sua
devoção expandiu-se em toda Hispania e na Gália. Esta difusão também atingiu
cidades da Península Itálica, especialmente Milão e Ravena. Inicialmente somente os
cristãos sabiam da localização dos vestígios, depois as relíquias teriam supostamente
sido trasladadas para vários locais, fomentando seu culto. Do ponto de vista histórico
é difícil conceber um percurso mais direto das relíquias do santo, pois há grande
86
dependência discursiva das hagiografias, hinos e sermões que foram compostos ao
longo dos tempos. De toda forma o que nos interessa neste momento é a difusão do
culto em Portugal, após a conquista de Lisboa aos mouros, empreendida em 1147.

Palavras-chave: Hagiografia. Relíquias. Narrativas.

Você também pode gostar