Caderno de Resumos SEMP
Caderno de Resumos SEMP
Caderno de Resumos SEMP
CADERNO DE RESUMOS
João Pessoa
2023
1
COMISSÃO ORGANIZADORA
COMISSÃO CIENTÍFICA
MONITORES
ORGANIZAÇÃO DO VOLUME
Luciana Deplagne
Yasmin Andrade
Amanda Maranhão
Kaylany de Lima
Guilherme Queiroz
CAPA
François Deplagne
DIAGRAMAÇÃO
Luciana Deplagne
Yasmin Andrade
Amanda Maranhão
Kaylany de Lima
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .................................................................................05
Prezado/a participante,
Comissão organizadora
7
PROGRAMAÇÃO
5 de dezembro
CONFERÊNCIA DE ABERTURA
(09h00) - Auditório do CE (Centro de Educação)
Julia Rüthemann (EHESS-CRH, França) - Le « Je » féminin chez Christine de
Pizan et Hadewijch d’Anvers
Sessão de abertura
(18h30-19h30) - Auditório do CE (Centro de Educação)
6 de dezembro
Mesa 2 - Narrar a si e aos outros: crônicas e ensino de História Medieval
(9h00-10h30) - Auditório da SEAD (Secretaria de Educação à Distância - em
frente ao estacionamento da Reitoria)
Comunicações
(14h00-16h00)
Auditório do CA e Auditório da SEAD
Sessão 1
Auditório do CA (Central de Aulas-Bloco C)
A obra de Christine de Pizan: perspectivas literárias e filosóficas
Safo de Pizan
Vanessa Di Giorno Costa (UnB/Grupo Christine de Pizan)
Sessão 2
Auditório da SEAD (Secretaria de Educação à Distância - em frente ao
estacionamento da Reitoria)
Literatura medieval ibérica: modalidades e performances
Minicursos
(16h00-18h00)
Auditório do CA e Auditório da SEAD
7 de dezembro
Mesa 6 – Imagens e representações
(9h00-10h30) - Auditório 411 - CCHLA (Centro de Ciências Humanas, Letras
e Artes)
(14h00-16h00)
Sessão 3
Auditório 411 (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes)
Neomedievalismo
Coordenador: Felipe Augusto Ribeiro (UFPE)
Sessão 4
Sala de reuniões (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes)
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Neotrovadorismo na poética contemporânea:
as trovadoras de ontem e de hoje
Coordenadora: Profa. Dra. Paloma Oliveira (UFPB)
Sessão 5
Auditório do CE (Centro de Educação)
Sessão 6
Auditório 412 (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes)
(16h00-18h00)
Sessão 7
Auditório 411 (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes)
Sessão 8
Sala de reuniões (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes)
Ramon Llull
Coordenador: Prof. Dr. Guilherme Queiroz de Souza (UFPB)
Sessão 9
17
Auditório 412 (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes)
Sessão 10
Auditório do CE (Centro de Educação)
CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO
7 de dezembro (18h30) - Auditório 411 (Centro de Ciências Humanas, Letras
e Artes)
Cláudia Brochado
Universidade de Brasília
[email protected]
O Ditié de Jeanne D‟Arc (1429) é a última obra da escritora Christine de Pizan. Trata-
se de um longo poema narrativo motivado pelo feito heróico de uma jovem de origem
camponesa, guerreira e visionária que se tornou uma das figuras mais conhecidas do
século XV: Joana D’Arc. Nos 488 versos do Ditié, Pizan retoma os principais temas
abordados nas obras anteriores: a política interna e externa na França, reflexões
sobre a guerra de Cem anos, que opunham a França e a Inglaterra, o desejo de Paz,
a devoção divina, a defesa da união nacional e sobretudo a valorização e defesa das
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mulheres. Vale salientar que o poema foi escrito pouco tempo antes da morte do
processo e condenação à morte de Joana D’ Arc. Sabe-se que a jovem de pouca
instrução, por sua força de vontade, conseguiu convencer o rei e concílios clericais a
comandar o exército francês na tentativa bem-sucedida de libertar a França do
domínio inglês. Porém, após vencer várias batalhas e conseguir seu propósito, a
guerreira foi condenada, acusada de heresia e jogada viva à fogueira. É importante
lembrar que o feito heroico homenageado pela autora do Ditié não obteve opinião
unânime entre os escritores que se lançaram a narrá-lo. Pretende-se, nesta
comunicação, analisar a singularidade do Ditié de Jeanne D´Arc no que concerne a
ênfase na valorização das virtudes femininas, através da heroicização da protagonista
Joana D´Arc, como aspecto central da obra de Pizan. Dessa forma, entendemos que
o Ditié encontra-se no seio de mais um debate político pertencente ao movimento
“Querelle des femmes”, e que, dessa forma, Christine de Pizan reafirma, nessa última
obra, os traços marcantes de sua trajetória literária: a ousadia, a resistência e o
pioneirismo.
Entre os séculos VIII e XII, vários monges do mosteiro de Montecassino (quase todos
bibliotecários, arquivistas e notários do scriptorium monástico), no sul da Itália,
redigiram historiae relatando, analisando e interpretando o passado e o presente da
região, bem como as suas conexões de pequena e de grande escala com Bizâncio,
África, Frância e outros pontos do Mediterrâneo. Desde o primeiro historiógrafo local,
o célebre Paulo Diácono (c. 720-799), até o último de sua linhagem notarial, o também
diácono Pedro (m. c. 1159) – passando por Erchemperto (m. c. 887) e Leão Marsicano
(m. c. 1115) – os montecassineses narraram não só as trajetórias de seu povo, os
lombardos, mas também aquelas de todas as gentes com cujos caminhos se
cruzaram: francos, gregos (bizantinos), sarracenos (árabes), africanos. Neste
trabalho, exploraremos as crônicas escritas por esses autores, no intuito de mapear
os encontros dos lombardos com seus vizinhos. O problema que propomos aos
documentos é: como os historiadores de Montecassino descreveram as gentes com
as quais se encontraram, no sul da Península Itálica? Empregando o método
comparativo para manusear a documentação e buscar responder essa questão,
chegamos a um resultado (parcial, por ora, pois a pesquisa ainda está em andamento)
que consiste na identificação de uma verdadeira tradição etnográfica gestada no
interior do mosteiro, produto do acúmulo de saberes registrados por cada um de seus
cronistas. A composição desse quadro histórico nos levou a formular uma hipótese, a
ser discutida nesta apresentação: considerando que a produção e reprodução dessas
histórias era encomendada pelos abades do mosteiro e que seus escritores
frequentemente eram comissionados para embaixadas e outras funções diplomáticas,
tais obras teriam contribuído para a própria sobrevivência da instituição no instável
ambiente da Península Itálica (atravessada por invasões estrangeiras, guerras civis,
saques etc.), pois teriam configurado um manancial de informações e conhecimentos
que teriam permitido a seus representantes negociar com diversos atores da cena
política mediterrânica e garantir que o mosteiro preservasse não só a sua integridade
patrimonial, mas também a sua função de mediadora dos conflitos regionais.
Karine Simoni
Universidade Federal de Santa Catarina
[email protected]
No ensaio Um teto todo seu (1929), ao afirmar que “eu me arriscaria a supor que
Anônimo, que escreveu tantos poemas sem assiná-los, foi muitas vezes uma mulher”
(1990, p. 62), Virginia Woolf instiga suas leitoras e leitores a reconhecer, por trás de
identidades negadas ou de pseudônimos e por trás de “bruxas” e mulheres ditas
endemoniadas, a presença do talento das mulheres na sociedade inglesa. Nessa
perspectiva, pode-se avaliar também a história literária e cultural da Itália, em busca
de autoras anônimas e também autoras cujas referências biográficas foram
silenciadas, quase apagadas, vítimas do negacionismo e ou moldadas segundo
interesses da sociedade patriarcal. Esse estudo objetiva assim apresentar uma leitura
da vida e da escrita de duas mulheres: a poeta Nina Siciliana (séc. XIII) e a legisladora
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Eleonora D'Arborea (séc. XIV). Através de excertos de tradução de seus textos, serão
discutidos os espaços de saberes e de atuação literária e política dessas mulheres,
suas maneiras de moverem-se no mundo e suas contribuições, que ainda hoje têm a
oferecer o que mais é louvável entre as épocas históricas e as gerações: o
conhecimento e a possibilidade de pensar sobre o lugar que nos cerca.
Palavras-chave: Nina Siciliana (séc. XIII). Eleonora D'Arborea (séc. XIV). Atuação
política. Estudos feministas da tradução.
Ensinar língua grega antiga não é tarefa das mais simples, mesmo após um
crescimento da área nas universidades brasileiras. Algumas tarefas se impõem aos
professores: a primeira e muito importante é a de tentar conhecer seus alunos por
meio de suas habilidades linguísticas; a segunda, após formular um plano prático-
pedagógico, selecionar um material didático compatível com o nível de sua audiência.
Entretanto, seja qual for o material adotado e a habilidade linguística dos alunos, a
tradução é o exercício por excelência na aquisição e no ensino do grego antigo. De
forma geral, traduzir é uma prática constante no curso, ainda que não se teorize muito
sobre os conceitos de tradução, versão, transcriação, etc. De acordo com Oustinoff
(2015), desde a antiguidade a tradução é pensada como uma poderosa ferramenta
de transferência cultural. Segundo o autor, São Jerônimo, retomando a forma de
tradução criticada por Cícero, inaugura uma oposição duradoura nos estudos
tradutológicos: “non verbum de verbo, sed sensum exprimere de sensu”. Essa
oposição, longe de configurar um problema para o aprendizado da língua, na verdade
constitui em nossa prática um caminho a ser trilhado em estágios de aquisição
linguística. Com isso, pretendemos demonstrar aqui com base em alguns exemplos
aplicados em sala de aula como essas práticas tradutórias contribuem para aluno
pensar, aprender e traduzir um texto em língua grega antiga.
Willy Paredes
Universidade Federal da Paraíba (PPGL/UFPB)
[email protected]
O tratado Das Leis, de Marco Túlio Cícero, está inserido em seus escritos filosóficos,
é composto por três livros, há nos dois primeiros explanações de cunho mais filosófico
e no último a exposição do sistema jurídico romano. O tratado é apresentado em forma
de diálogo em que se observa influência platônica, não só deste gênero discursivo,
mas também da finalidade da obra, em que são retomadas parcialmente ideias
extraídas sobretudo das Leis e da República, de Platão. As ideias em Das Leis
parecem mais claramente extraídas das concepções dos filósofos estoicos, sobretudo
as que se referem à razão universal proveniente da Natureza, que perpassa todo
27
diálogo, e que seria a fonte fundamental do Direito, “a lei é a suma razão, inserida na
natureza, que ordena aquelas coisas que devem ser feitas e proíbe as contrárias” (De
Leg. I, 18). Sendo o homem um animal dotado de razão, esta, quando confirmada e
realizada na mente do homem, seria a lei, algo que transcende a lei escrita, criada
pelos homens, e que está presente em todo ser dotado de razão e consciência do que
seja o sumo bem e o mal. A razão seria assim uma virtude que não só está presente
no homem mas também na divindade, virtude que nada mais seria que a Natureza
perfeita que concedeu ao homem a capacidade e celeridade da mente, a inteligência
e alguns fundamentos da ciência, sendo assim a Natureza confirmaria e realizaria em
si mesma a razão da qual estão providos tanto os homens quanto a divindade.
Este trabalho busca realizar uma análise comparada das três traduções brasileiras da
obra A Revelation of Love (c. 1395), de autoria da mística inglesa Juliana de Norwich
(c. 1343 – c. 1416). As referidas traduções foram publicadas no ano de 2018 e 2023.
Com os títulos de Revelações do Amor Divino e Revelações sobre o amor divino,
inserem a autora dentro do contexto dos estudos teológicos e devocionais, bem como
do sistema literário brasileiro, visto que a autora é considerada a primeira grande
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prosadora da Literatura Inglesa. A primeira tradução foi publicada pela Paulus em
2018 e é de autoria de Marcelo Masson Maroldi e constitui uma tradução feita a partir
de uma tradução para o inglês moderno de Grace Warrack de 1901, cujo manuscrito
original se encontra no Museu de Londres. A segunda é de autoria de Maria Elizabeth
Hallak Nielsen a partir do manuscrito Sloane da British Library (c.1650). A terceira é
de autoria de Marcelo Musa Cavallari e contém as versões curta e longa do referido
texto. Buscaremos, portanto comparar as traduções utilizando-nos da seguinte
fundamentação teórica: Berman (1995, 2007), Britto (2012), Lefevere (2009), e
Gentzler (2009). Com a pesquisa, percebemos que os dois primeiros tradutores
apresentam os elementos religiosos do texto em detrimento dos elementos estéticos
e literários do mesmo. Já o terceiro tradutor busca enfatizar mais o teor literário das
revelações da anacoreta. Esperamos, com esta pesquisa, contribuir para despertar
cada vez mais o interesse em relação ao pioneirismo dessa autora, dentro das letras
medievais inglesas, no contexto tradutório brasileiro.
Este trabalho propõe uma tradução comentada do inglês moderno para o português
brasileiro do microconto medieval Níall Frassach’s Act of Thruth (Níall, 2002). A autoria
dessa obra, escrita originalmente em irlandês médio, é atribuída a Áed Ua Crimthainn,
principal escriba responsável pela compilação do Book of Leinster, obra que inclui o
microconto e que pode ser definida como uma antologia de textos literários, médicos
e de natureza religiosa reunidas em manuscritos que datam do século XII, de acordo
com informações do website do Trinity College Dublin. Sabemos que o texto em
questão foi inicialmente traduzido do irlandês médio para o inglês moderno por David
Greene em 1976, tendo sido reeditado em 1979 (GREENE, 1979) e em 2022 (NÍALL,
2002). Depois, foi traduzido novamente (e comentado) por Damian McManus em 2008
(MCMANUS, 2008) sob a forma de um artigo acadêmico, publicação que serviu de
modelo para nossa proposta. Pela pauta, o amor entre duas mulheres e a sábia
decisão de um rei irlandês acerca da paternidade do filho de uma delas, consideramos
relevante traduzi-lo para a língua portuguesa do Brasil por se tratar de texto literário
medieval que toca na temática queer. Nesse sentido, o conceito de leitura queer
(queer reading) de Stockton (2023) servirá de base para nossa discussão acerca da
homoafetividade demonstrada por personagens de textos literários canônicos, que
pode ser visualizada com uma frequência maior do que se imaginava. Assim,
realizamos uma tradução indireta de Níall Frassach’s Act of Thruth, acompanhada de
comentários críticos que justificam as opções do tradutor. Nossa proposta também se
assemelha ao trabalho realizado por Dan Wiley (2005), que fez uma leitura crítica do
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personagem rei Frassach que aparece nessa obra, tendo como base a tradução de
Greene. Por fim, optamos por destacar em nossa tradução a questão do amor entre
duas mulheres, sabendo que outros trabalhos priorizaram o aspecto poético e a
sonoridade. As conclusões apontam para uma necessidade de promover maior
visibilidade a personagens queer de narrativas literárias canônicas e não canônicas,
inclusive com a realização de pesquisas acadêmicas e de traduções em torno da
pauta queer.
Adriana Zierer
UEMA/UFMA/Brathair
A Visão de Túndalo (Visio Tnugdali) é uma viagem imaginária composta no século XII
por um monge do origem irlandesa chamado Marcus. Neste relato, um cavaleiro
pecador, Túndalo, um dia se sente mal e tem uma experiência de quase-morte,
quando a sua alma sai do corpo e ele faz um percurso ao Além-Túmulo por três dias,
acompanhado por seu anjo da guarda. Nesta jornada, conhece inicialmente os
espaços infernais e depois os paradisíacos, o que o leva a se arrepender de seus
antigos pecados. Importante mencionar que a alma sofre por suas faltas, relacionadas
aos sete pecados capitais e chega a encontrar Lúcifer no Inferno. Para Cavagna
(2004), a Visio Tnugdali faz uma verdadeira “descoberta” do Inferno porque as
descrições deste local e do Diabo são muito vívidas e detalhadas. Neste sentido, de
acordo com as imagens mentais produzidas pela fonte redigida por Marcus, Lúcifer se
encontra prostrado, como que de quatro, sobre a grelha do Inferno. Ele sofre e faz
sofrer as almas que estão eternamente danadas. No entanto, em outras
representações deste documento, produzidas principalmente no século XV, o ser do
mal se encontra deitado sobre a grelha, esmagando os pecadores, comendo-os e os
jogando para várias partes do Inferno. Isso pode ser observado, por exemplo, tanto
nas versões portuguesas do texto, códices 244 e 266, como também na versão
francesa produzida por David Aubert para a duquesa Margaret de York. Isso se
confirma também na imagética, pois temos a representação do Diabo deitado sobre a
grelha tanto em outro documento, o Livro de Horas do Duque de Berry, quanto na
iluminura de Simon Marmion do manuscrito iluminado dedicado à duquesa da
Borgonha, como ainda, em xilogravuras do século XV da narrativa, que mostram a
figura do Diabo no Inferno. Desta forma, analisar as imagens visuais e mentais da
Visão de Túndalo nos auxiliam a compreender a riqueza desta obra e suas diversas
interpretações ao longo do tempo.
30
Palavras-Chave: Diabo. imagens visuais e mentais. Visão de Túndalo.
O presente trabalho analisa o documentário catalão Jo, Ramon Llull (2016), com
ênfase na representação desse filósofo maiorquino. Inicialmente, mapearemos os
documentários produzidos sobre Llull desde a década de 1980, examinando suas
31
principais características narrativa e estética, além de suas “vozes” historiográficas.
Posteriormente, testaremos as hipóteses de que existe uma analogia entre o material
e o filme O Nome da Rosa e de que nele há um sentido político, diplomático e
hagiográfico.
Roberto Pontes
Universidade Federal do Ceará
Dona Militana (1925-2010) guardava em sua memória mais de 700 anos de saberes
sobre romances, xácaras e mais um sem-fim de histórias cujas origens encontram-se
na poesia colhida na Península Ibérica. A proposta do trabalho aqui pautado é
apresentar duas versões do Romance de Dona Branca registrada por Dona Militana
no álbum triplo Cantares (2002) e fixadas nas faixas 06, do CD 01 e 10, do CD 03. Às
duas versões indicadas, devemos somar uma terceira também colhida no referido
álbum triplo, trata-se da faixa 01 do CD 01, intitulada Romance de Clara Arlinda. Os
dois primeiros documentos cantados pela romanceira potiguar e indicados neste
resumo, parecem não guardar correlação entre si, já o Romance de Clara Arlinda, por
seu turno, deve ser entendido como primeira parte do Romance de Dona Branca
(versão 01). Partindo da tríada História, Memória e Esquecimento, consagrada no
campo da História a partir dos estudos referenciais publicados por LE GOFF (1988);
ROSSI (1991) e Ricœur (2000) e somando um quarto elemento, o Resíduo, base da
33
Teoria da Residualidade (PONTES, 1999), buscaremos compreender a genética dos
documentos em análise. Para tanto, faremos uso dos romanceiros compilados, a partir
de meados dos oitocentos, em Portugal (GARRET: 1851), Espanha (DURÁN: 1859)
e Brasil (ROMERO: 1885). Queremos crer que uma análise comparativista dos textos,
balizada pelos quatro conceitos acima expostos, poderá lançar luzes sobre a longa
duração do processo residualista de hibridação cultural, sedimentação e resistência
do imaginário tardo medieval ibérico na cultura (dita) popular nordestina.
Palavras-chave: Residualidade. Tardo-medievalidade. Dona Militana.
O presente trabalho pretende fazer uma reflexão sobre a representação dos animais
dentro da tradição exegética medieval, mais especificamente aquela ligada ao livro do
Apocalipse. Nossa análise parte de um dos códices iluminados do Comentário ao
Apocalipse, obra escrita no século VIII e atribuído ao Beato, abade de Liébana (730-
785) – códice de Lorvão (1189), para pensar como duas práticas culturais que se
cruzam dentro desses códices, a escrita e a imagem, funcionaram de forma a propor
uma representação de mundo; como os animais integram essa mensagem; e,
principalmente, como a apropriação destes pela exegese do livro do Apocalipse se
estrutura dentro dos arranjos figurativos das iluminuras, visto que tanto no aspecto
material como no aspecto semântico, a imagem pode concordar com o texto, mas
também romper com ele e, dialeticamente, construir novos significados. Estaremos
atentos portanto, aos aspectos materiais da inserção da miniatura na página, a
estrutura, o arranjo relativo dos elementos figurativos - seres humanos e animais -,
seu tamanho, seus gestos, a escolha e distribuição de cores os modos de inserção de
escritos na imagem e inversamente a relação entre imagem e texto que o acompanha
ou introduz. Por fim, nosso trabalho tem como norte a ideia de que a produção de um
códice - texto e iluminuras - é um processo que inclui transações entre a obra e o
mundo social. É necessário, pois, não desassociar a análise das significações
simbólicas e das formas materiais que as transmitem. A percepção do social não se
dá de forma neutra, mas por meio da construção de estratégias e práticas (religiosas,
escolares, políticas etc.). Lembremos que os comentários bíblicos, como gênero
literário, têm o propósito de intervir na economia das polêmicas que atravessam os
diferentes posicionamentos ideológicos da sociedade.
34
Palavras-chave: Comentário ao Apocalipse. Beato de Lorvão. Exegese Bíblica;
Iluminuras: Animais.
Caterina Benincasa, conhecida como Catarina de Sena (1347-1380), foi uma teóloga
e filósofa medieval italiana, cujos escritos se tornaram conhecidos, especialmente
devido ao seu prestígio crescente na cultura eclesial católica, o que levou à sua
canonização (1461) e ao recebimento do título de doutora da Igreja, em 1970. Sua
obra, no entanto, destacadamente O Diálogo (Dialogo della divina provvidenza),
configura-se como um discurso que pode suscitar caminhos interdisciplinares de
consideração, extrapolando evidentes questões religiosas. A partir dessas
constatações, a presente proposta de leitura busca enfocar aspectos de uma
teopoética presente em O Diálogo, considerando a interface entre o discurso teológico
e as construções figurativas apresentadas na obra, o que a aproxima dos modos de
escrita literária e a insere na tradição de escritos de autoria feminina medieval em que
há a forte presença da Mística. Para realizar essa apresentação dos escritos de
Catarina, cabe o diálogo com as contribuições de Octavio Paz (1972), Franco Júnior
(2006), Mônica Baptista Campos (2014) e Eduardo Losso (2020), evidenciando que
no discurso da autora as fronteiras simbólicas da Literatura e da Teologia encontram-
se profundamente entrelaçadas.
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Palavras-chave: O Diálogo. Teopoética. Catarina de Sena. Autoria feminina
medieval.
Isabela Albuquerque
Universidade de Pernambuco/Campus Garanhuns
[email protected]
O poder da rainha no período medieval vem por vezes associado a uma atuação
inferior, de menor importância ou informal, quando comparado ao do rei. Contudo, os
estudos sobre queenship, a partir de uma perspectiva bradeuliana que cruza tanto
sociedades ocidentais, passando pelo mundo Bizantino e islâmico e chegando ao
extremo oriente, da Antiguidade à Era Moderna, tem nos apontado que o ofício da
rainha vai muito além do de uma mera coadjuvante, vinculada apenas ao que
denominamos de soft power. Os estudos sobre queenship não oferecem apenas a
oportunidade de iluminar mulheres e identificar sua participação enquanto membro da
aristocracia, mas abre um leque de possibilidades que auxiliam na interpretação de
como eram as redes contato e influência, das relações das rainhas com seu staff, por
quais espaços ela circulava, quem financiava, pontos fulcrais na compreensão das
relações sociais que permeiam o ofício da rainha. A proposta de nossa fala consiste
em analisar a trajetória de rainhas e mulheres aristocráticas que exerceram autoridade
em seus respectivos territórios no alto medievo, a partir de fontes narrativas (anais,
crônicas e histórias), e de que maneira envolveram-se em questões políticas nas
regiões em que governaram, pensando a atuação dessas agentes numa forma de
conjunta ao monarca, objetivando a manutenção dos interesses dinásticos e do reino.
Para tanto, os territórios recortados foram a Inglaterra Anglo-Saxônica, o Reino Franco
e a Germânia Imperial, entre os séculos VIII-XI. Diversas princesas foram preparadas
desde cedo para deixarem suas antigas casas, a fim de se tornarem rainhas ou
senhoras em outros reinos e estados no Ocidente Medieval, tal como Emma da
Normandia (1002-1016 e 1017-1035), esposa dos reis Æthelred II e Cnut, ambos da
Inglaterra, Eadgifu de Wessex (919-929), casada com Carlos III de Frância e Edith de
Wessex (930-946), dentre tantas outras. A partir da documentação, analisaremos
como essas rainhas e aristocratas circularam por distintos espaços de poder,
estabelecendo suas próprias redes e conectando-se a outros agentes (laicos e
religiosos), tecendo suas próprias alianças.
MINICURSOS
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MINICURSO I
O que significa ser sujeito e o que se requer para que se possa falar de subjetividade?
Em que medida as subjetividades são ou podem ser construídas? É possível falar em
algo antes da existência do conceito que o define? Estas questões serão tomadas
como hipóteses e, por sua vez, exigem uma visão em raio duplo: de um lado, pensar
a ideia de sujeito na Idade Média e, de outro, a subjetividade feminina também neste
período. Logo, o principal problema a ser abordado é o de se repensar a ideia de
sujeito, redesenhando subjetividades, tendo como foco a escrita mística feminina
medieval. A metodologia consistirá na leitura crítico-analítica de excertos de textos
produzidos por mulheres na Idade Média, como O espelho, de Marguerite Porete; A
correspondência, de Hadewijch da Antuérpia; as Revelações, de Matilde de
Magdeburg; alguns Prólogos e Cartas, de Hildegard von Bingen, assim como textos
de outras escritoras medievais que complementarão as ideias discutidas. Também
será feita a leitura de excertos de textos da bibliografia secundária, isto é, estudos
sobre as escritoras elencadas e sobre os temas que devem nortear o minicurso, como
sujeito, subjetividade, escrita de si, mística, Idade Média, performance, agência e
outros afins. Esta leitura formará o referencial teórico do minicurso e contará com
autoras e autores como Benhabib et al. (2018); Certeau (2015); Foucault (2001, 1988,
1992, 2018); Gomes (2004): Iogna-Prat (2005); Klinger (2008); Nogueira e
Vasconcelos (2020, 2022); Nogueira (2019, 2020, 2021, 2022); Rago (2013); Régnier-
Bohler (1990); Rosenwein (2005), dentre outras(os). (Este minicurso faz parte da
pesquisa PIBIC, “Mulheres Místicas Medievais: reescrevendo subjetividades” cota
2023-2024, desenvolvida na Universidade Estadual da Paraíba e conta com dois
alunos bolsistas [CNPq e UEPB]).
MINICURSO II
MINICURSO III
Uma das maiores questões debatidas no mundo latino do medievo entre os séculos
XII e XIII é, sem sombra de dúvidas, o estabelecimento das relações possíveis entre
a fé e a razão. No cerne da disputa entre dialéticos e antidialéticos surge a indagação
acerca dos limites da razão para o esclarecimento de pontos basilares da fé cristã.
Uma das perguntas mais efetivadas era se, com base exclusivamente na razão,
poder-se-ia provar a existência de Deus, ou seja, não partir dos dados revelados da
fé cristã, o que somente faz sentido para aqueles que comungam dessa mesma fé,
mas exclusivamente construída mediante o uso das ferramentas da razão humana, o
que culminaria em provas suficientes para o convencimento de qualquer pessoa,
independentemente de sua crença. Nesse contexto surgem várias discussões e várias
teorias. Nesse minicurso buscaremos analisar duas posições consagradas nesse
debate acerca da possibilidade de a razão humana desenvolver provas racionais que
comprovem a existência de Deus, a saber: as provas desenvolvidas por Santo
Anselmo e as provas desenvolvidas por Tomás de Aquino. O objetivo geral desse
minicurso é o de investigar, propedeuticamente, de que maneira Anselmo, no
Monologion e no Proslogion, consegue estabelecer as bases do seu ‘argumento
40
ontológico’ e de que maneira essa questão repercute nas cinco vias da prova da
existência de Deus expostas por Tomás de Aquino na Suma Teológica. Buscaremos,
portanto, compreender como cada um desses autores, com suas ferramentas
específicas, conseguiram desenvolver essas ‘provas racionais da existência de Deus’
e de que maneira elas ainda repercutiram nas discussões filosóficas da modernidade.
SESSÕES DE COMUNICAÇÃO
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SESSÃO 1
A obra de Christine de Pizan: perspectivas literárias e filosóficas
Este trabalho tem como objetivo trazer à tona uma visão múltipla acerca da condição
feminina na obra A Cidade das Damas, de Christine de Pizan. Nesse sentido, busca-
se focar no papel das Damas presentes na obra e suas interações com as
inquietações da autora, que se coloca como participante da narrativa. De forma
concomitante, considera-se que a escrita de si perpassa as fronteiras do texto
autobiográfico, que é uma narrativa retrospectiva que uma pessoa real faz de sua
própria existência. Sendo um texto utópico que carrega consigo marcas da construção
da memória feminina (Deplagne, 2006), A Cidade das Damas, longe de explorar
apenas traços da vida de sua autora, coloca-se no campo não linear da lembrança,
não correspondendo necessariamente com a realidade, o que atesta seu caráter
ficcional. Dessa maneira, pretende-se voltar o olhar sobre as Damas e seu papel
central na construção da escrita de si feita por Pizan, pautando-se nos aspectos
históricos e políticos do momento da escrita e no processo de construção do próprio
sujeito. Entretanto, não se limitando ao aspecto memorialístico do imaginário, e sendo
as escritas de si parte essencial do entendimento acerca de uma sociedade e de seu
contexto histórico, o texto em questão traz as inquietações que fazem parte da
construção social do sujeito feminino na Idade Média. Assim, faz-se necessário uma
visão decolonial sobre a obra, posto que essas inquietações, além de individuais,
correspondem a um grupo que permanece no lugar de vítima da colonialidade. Ao
situar as mulheres como sujeitos subalternos no medievo, é possível afirmar que suas
manifestações literárias configuram-se como estratégias políticas e devem ser lidas
sob a ótica de teorias que questionam lugares e espaços. Portanto, situando Christine
de Pizan como uma das escritas que que ancoram o início de movimentos sociais em
prol dos direitos das mulheres, o estudo se debruça sobre as teorias de Klinger (2007),
Lugones (2020), Deplagne (2006), entre outros.
A SAFO DE PIZAN
Vanessa Di Giorno Costa
Universidade de Brasília- UnB
[email protected]
Em meio a tantas mulheres emblemáticas citadas por Christine de Pizan em sua obra
A Cidade das Damas (2012), uma merece um olhar especial, a poeta, ou filósofa, Safo
de Lesbos. Lembrada como aquela que, por tanto amor as Musas, artes e ciências,
adentrou a caverna de Apolo, e cujos os versos inspiraram Platão, elencada como a
décima musa grega nos epigramas da Antologia Palatina, obra de tanta importância
no mundo Antigo, mas que muito pouco alcança a contemporaneidade. Em Pizan e
em Boccaccio Safo não é lembrada por sua sexualidade, ou definida de forma
pejorativa por seu gênero, e sim, por sua genialidade, criatividade e erudição. A poeta
renasce no mundo contemporâneo pálida, infeliz e fatal, é uma das flores do mal, tema
45
central no sistema baudelairiano, e fora dele se sustenta apenas como uma figura
perversa, “a impotente vítima da fúria violenta de uma linda mulher” (Cf. Mario Praz :
La chair, lar mort et le diable.1979, p.190.). Assim, a obra mélica da autora é reduzida
a uma estereotipia sexual, safismo e se torna sinônimo de depravação, relação sexual
entre mulheres, pecado. O que houve nesse espaço de tempo em que, de uma musa
adorada, homenageada e glorificada por sua graça e genialidade, Safo se torna
sinônimo de perversidade? E qual contribuição suas obras tiveram, na construção de
tamanha vulgaridade? A palavra se torna o registro de uma vivência, e no caso dos
fragmentos sáficos, a palavra é um manifesto da própria existência, que sobreviveu
por séculos para que esse registro alcançasse os dias de hoje. Em suas poesias, Safo
explora a sexualidade de forma intensa, livre, sedutora e sem pudor. Seus versos
revelam, talvez, o único registro ocidental do desejo feminino lésbico antes da
hegemonia do pensamento cristão. Trata-se de um pensamento fiel ao prazer, uma
expressão potente de uma filosofia do desejo, marcada por um eu-lírico implicado,
que se sobrepõe a materialidade através de sua própria subjetividade. Este trabalho
busca resgatar a Safo de Pizan, reconstruindo sua biografia e suas representações
históricas, feitas por biógrafos homens e mulheres, através de um olhar crítico,
considerando seu viés de gênero, em fuga da heteronormatividade compulsória
vigente.
Este trabalho objetiva trazer uma análise de Dido dentro da Cidade das Damas pela
visão de Christine de Pizan e o seu desenvolvimento dentro da idade média. O período
da Idade Média compreende entre 8 a 10 séculos A referência para considerar seu
“início” tem-se pela queda do Império Romano no ocidente, em 476 a.C. indo até a
conquista de Constantinopla pelos turcos-otomanos, em 1453. E o descobrimento das
navegações. Ela pode ser dividida em três Períodos: Alta Idade Média: Séc. V - Séc.
X; Idade Média Central: Séc. XI - Séc. XIII; Baixa Idade Média: Séc. XIII - Séc. XV.
Dentro deste tempo tivemos algumas escritoras medievais de renomes como:
Hildegard de Bingen (1098-1179), Hadewijch de Antuérpia (1200-1260), Marguerite
Porete (1250-1310), Catarina de Siena (1347-1380) e Christine de Pizan (1364-1430).
Pizan se retira da corte parisiense em 1418 em decorrência da guerra civil e se abriga
em um convento em Poissy, onde praticamente abandona a atividade literária, senão
pela confecção de um poema celebrando a vitória dos franceses sobre os ingleses
sob a liderança de Joana d’Arc, em 1429. Acredita-se que Pizan morreu pouco antes
46
da condenação de Joana d’Arc em 1431. Pizan foi uma escritora prolífica: produziu
mais de 40 obras em uma gama variada de gêneros literários (todas em francês
médio, ou seja, o francês falado nos séculos XIV e XV) e para públicos diversos. Uma
das mulheres políticas entre tantas foi Dido, que se chamava Elissa que a partir de
seus atos, fundou a cidade de Cartago onde se tornou dama e rainha dando provas
de uma grande constância, nobreza e virtude. Puxando assim um pouco da Prudência
e de uma das virtudes que se chama Retidão. Concluímos assim que Christine de
Pizan foi uma das primeiras escritoras profissionais da história ocidental e
possivelmente a primeira mulher a construir argumentos para defender a posição
feminina. Sua obra “A Cidade das Damas” é uma grande alegoria: em que se pode
usar os termos “edificar” e “construir” para falar da capacidade produtiva da mulher;
em que são citadas várias mulheres enquanto figuras notórias da sociedade, de modo
que, na obra, elas seriam membros e agentes, dentro da Cidade das Damas, que vão
usar de suas potências, capacidades e possibilidades, com autonomia e
autodesenvolvimento; Em que as três Damas simbolizam as qualidades que vão
alicerçar, junto às mulheres, uma sociedade inteira; As potências e possibilidades de
autodesenvolvimento e construção da mulher devem ser celebradas e levadas à luz,
desde Christine de Pizan até nossos dias. Por isso, enquanto grupo formado por
MULHERES, agradecemos a oportunidade de participar deste seminário.
O presente trabalho propõe uma investigação da voz insubmissa na obra “Cidade das
Damas” (1405) de Christine de Pizan, a partir da tradução de Luciana Eleonora de
Freitas Calado (2006). A autora medieval produziu uma profícua literatura, tendo como
uma de suas principais características a presença de um sentimento de
insubordinação diante do papel feminino esperado pela sociedade da época. Sendo
um dos maiores nomes femininos da literatura medieval, época em que se observava
um padrão androcêntrico, Pizan rompe com os preconceitos morais e políticos ao
escrever a obra em análise, pois assume o papel de propagar a autonomia feminina,
o poder de transformação através da palavra, a consciência na busca por caminhos
contra a misoginia, o que, conforme Christiane Soares Carneiro Neri (2013), permite-
nos vislumbrar, na obra de Pizan, a expressão de uma voz nitidamente feminista. Tais
características, juntamente com o tom de insatisfação e de insubmissão aos valores
vigentes que violam os direitos de um grupo ou classe social, integram a teoria da
Poesia Insubmissa criada por Roberto Pontes (1999) e nos auxiliarão a investigar
trechos da obra que comprovem a fala insurreta da escritora na obra La Cité des
Dames.
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Palavras-chave: Poesia Insubmissa. Medieval. Literatura Feminina. Christine de
Pizan.
SESSÃO 2
Literatura medieval ibérica: modalidades e performances
Este trabalho tem como objetivo principal analisar a cordelística de temática social de
Arievaldo Viana, caracterizando-a como poesia de fala insubmissa, apresentando
pois, resíduo do modo poético sirventês. Assim, busca-se principalmente: (i)
demonstrar que o componente satírico do sirventês foi o meio pelo qual a fala
insubmissa se manifestou no medievo; (ii) apresentar o cordel e sua temática social
como decorrentes de uma amálgama cultural entre ibéricos e nordestinos, o que
resulta em uma reverberação no cordel de pensamentos e imagético oriundos do
período mediévico; (iii) ressaltar a diversidade de visões de mundo na literatura de
cordel, de modo a rechaçar ideias preconceituosas a respeito desta literatura popular.
O embasamento teórico está respaldado nos postulados teóricos sobre poesia
insubmissa de Roberto Pontes (1999), que considera o papel social da poesia. De
igual importância é a articulação de conceitos operacionais da Teoria da
Residualidade, tais como: resíduo, hibridação cultural, mentalidade e imaginário,
destacados por Pontes (2020), autor responsável pela sistematização da teoria, e
Silva (2019). Ademais, considera-se os estudos sobre a sátira em Hernandez (1993).
A metodologia utilizada foi a literatura comparada, para a qual importa a
representação de um mesmo tema em diferentes obras e contextos de produção, além
da já mencionada articulação de conceitos da Teoria da Residualidade. Nesse
sentido, e buscando demonstrar o aspecto residual, foram cotejados trechos de dois
cordéis de Arievaldo Viana, intitulados “Atrás do pobre anda um bicho” (2003) e “O
urubu uma fábula moderna para políticos inescrupulosos” (2002), e uma cantiga de
49
sirventês que tem por insipide “D’um home que sei em mui bom logar”, de Gil Perez
Conde. Os resultados obtidos ao longo do estudo confirmam a existência da fala
insubmissa como resíduo proveniente de composição poética da Idade Média na
cordelística de temática social de Arievaldo Viana. Importa destacar ainda a
atualização da temática abordada, o que a desvincula de moldes arcaizantes,
tornando-a condizente com as necessidades sociais contemporâneas.
Este trabalho analisa o papel das figuras religiosas nos autos vicentinos, forma de
teatro popular em Portugal durante o século XVI, e o seu diálogo com a espiritualidade
medieval. A dramaturgia vicentina é conhecida pela sua capacidade de reunir
elementos profanos e sagrados, em que as figuras religiosas desempenham papel
vital nesta interação. Para compreender o contexto histórico e cultural das peças de
Gil Vicente, é fundamental considerar a espiritualidade medieval que permeia a
sociedade portuguesa da época. A Igreja católica desempenhou papel central na
sociedade e a fé foi parte essencial da identidade cultural. A produção de Gil Vicente
traz muitas referências ao Divino e nela percebemos dois eixos de abordagem: o
sagrado, propagado no âmbito da Igreja para manutenção de sua influência, e o
profano, cujas referências à Igreja serviam para satirizar padres, frades e outros
religiosos. As personagens relacionadas ao Divino nas peças vicentinas, muitas
vezes, representam a sátira ou a crítica social, ao mesmo tempo em que fazem
referência a práticas e crenças religiosas da época. Um dos aspectos mais
interessantes desta interação é como as personagens religiosas são usadas para
questionar a moralidade e a hipocrisia de parte da Igreja e da sociedade em geral. Gil
Vicente, mestre nesta técnica, criou personagens como um padre lascivo e um frade
ganancioso que revelam os pecados e fraquezas humanas. Essas representações
pretendiam provocar reflexões sobre a fé e a moralidade junto ao público. Além disso,
o teatro vicentino muitas vezes continha elementos do folclore e das tradições
populares entrelaçadas com a espiritualidade medieval. Isto acrescentou outra
camada de complexidade à forma como as personagens religiosas eram retratadas e
recebidas pelo público. Concluindo, esta comunicação lança luz sobre o papel
multifacetado das personagens religiosas na produção teatral vicentina e mostra como
elas serviram de veículos para explorar os temas espirituais, sociais e culturais da
época. Oferece, assim, uma compreensão mais profunda da rica tradição teatral em
que o autor se inscreve e sua relação com a espiritualidade medieval.
Esse trabalho propõe realizar uma análise das adaptações audiovisuais de obras
medievais, fazendo um estudo sobre a possível residualidade ocorrida entre a
performance medieval e a ficção moderna. O estudo busca entender como as
adaptações cinematográficas de Tristão e Isolda (2006) e Romeo + Juliet(1997) que,
baseadas na lenda medieval de Tristão e Isolda e na peça Romeu e Julieta de William
Shakespeare, utilizaram narrativas medievais, mantendo suas principais
características como o amor cortês,a devoção religiosa e as relações de suserania e
vassalagem, ao mesmo tempo em que suscitaram um olhar contemporâneo para a
literatura medieval, ao realizar melhor desenvolvimento de personagens femininas e
atualizar diálogos e ações para que se encaixem ou questionem os novos padrões
sociais da atualidade. A lenda de Tristão e Isolda foi recontada diversas vezes durante
o medievo, inclusive, a obra renascentista Romeu e Julieta é considerada uma
adaptação da lenda. O tema do amor trágico e impossível é temática recorrente nas
novelas de cavalaria do período medieval, características que são mantidas em
Tristão e Isolda. Esta comunicação busca também analisar a residualidade presente,
especificamente, em Romeu e Julieta, pois a peça de Shakespeare recebeu inúmeras
adaptações cinematográficas contemporâneas, como a versão Romeo + Juliet (1997).
Desse modo, esse trabalho pretende evidenciar de que modo características da
cultura medieval de tradição oral como versos ritmados por instrumentos específicos
e o tema do amor se converteram em adaptações cinematográficas que usam as
mesmas características de performance e de musicalidade de forma diferente. Enfim,
toda essa intrínseca reunião de ações encadeadas de retextualizações, vistas em
Romeu e Julieta e Tristão e Isolda evidenciam a intercontextualização, que são as
diferentes formas de tratar uma obra em diversos contextos interpretativos
(performáticos) como o de uma peça de teatro, filme ou tradição oral nos levando
também até a residualidade, contribuindo para que a literatura medieval continue
perpetuando o seu legado.
André Melo
Universidade de Pernambuco
[email protected]
SESSÃO 4
Neotrovadorismo na poética contemporânea: as trovadoras de ontem e de
hoje
No calor do Ceará, no cenário do século 20, surge Marly Vasconcelos, uma poeta
cujas palavras se entrelaçam com uma tradição literária ancestral. Sua obra, Cãtygua
Proençal, deslumbra com versos que trazem resíduos do passado distante das
Trobairitz, transportando-nos para um universo onde a poesia e a performance
convergem. As Trobairitz, figuras poéticas da Occitânia medieval, eram mulheres
notáveis, poetisas e compositoras. Em cortes e contextos sociais específicos, elas
desempenhavam seus versos com maestria, incorporando a arte do trobar, a
habilidade de encontrar, de inventar e de compor poeticamente. Marly Vasconcelos,
por sua vez, lapida essa tradição, incorporando a essência das Trobairitz em sua
própria obra, fazendo-se uma neotrobairitz. Em sua poesia, há um diálogo poético que
transcende a barreira do tempo, como uma nota musical que ressoa através das eras.
Aqui, a conexão com a teoria da performance de Zumthor (2007), se torna clara. As
Trobairitz eram, por natureza, artistas performáticas, dando vida à poesia e à música
em um espetáculo de sentimentos e emoções. Marly Vasconcelos, em sua reverência
e criatividade, se torna uma intérprete moderna dessa tradição, reacendendo a
conexão intrínseca entre a escrita e a performance, como as Trobairitz fizeram há
séculos. Ela nos convida a testemunhar o casamento intemporal da palavra e da
melodia. Nesse palco poético, o público é levado a uma viagem pelas sendas das
Trobairitz, a explorar a profundidade da performance literária e musical que ultrapassa
o véu do tempo. A poesia de Marly se torna o elo que une o passado e o presente,
onde as performances e interpretações das Trobairitz ressurgem com todo seu
esplendor, transcendendo as fronteiras das eras. É uma celebração da arte e da
61
cultura, um tributo à efemeridade da expressão artística que perdura através dos
séculos.
Palavras-chave: Marly Vasconcelos. Performance Poética. Trobairitz.
SESSÃO 5
Biografias, representações e dinâmicas de poder na Idade Média
SESSÃO 6
Imaginário medieval: Literatura e História
SESSÃO 7
Ensino e pesquisa em Idade Média (Global) no Brasil: descolonizando
saberes
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SESSÃO 8
Ramon Llull
Este projeto tem como foco principal analisar documentários sobre Ramon Llull
produzidos durante o Any Llull (2015-2016), que marcou as comemorações dos
setecentos anos da morte do filósofo maiorquino. Serão analisados basicamente dois
materiais: ‘‘Ramon Llull, uomo del nostro tempo’’ (2015), dirigido por Enrico Ranzanici,
produzido pela Elsa Peretti Foundation e narrado por Alessandro Tessari, acadêmico
e político italiano; e ‘‘Ramon Llull’’, uma produção da IB3 - Ens Públic de Radiotelevisió
de les Illes Balears, dirigida de Miquel Verd e Pere Muñoz e apresentada por Joan
Miquel Artigues. Examinamos estas produções que não receberam nenhuma
abordagem acadêmica, tanto no Brasil quanto no exterior. Vale ressaltar que na
75
contemporaneidade o audiovisual é um elemento importante na sociedade, sendo
cada vez mais comum o consumo da imagem. Desta forma, tornou-se necessário
analisar e estudar as produções fílmicas, para uma melhor compreensão de como
está sendo representada a figura de Ramon Llull, levando em consideração o seu
contexto social, cultural e histórico de produção, pois carregam a influência do âmbito
que estão inseridos. Sendo os principais objetivos deste trabalho examinar a
representação e a historiografia sobre Ramon Llull nesses dois documentários
produzidos durante o Any Llull (2015-2016). Isso implica em investigar as intenções
dos produtores desse material, suas visões sobre o filósofo maiorquino, suas
motivações estéticas e comerciais. Também pretende-se elucidar as principais
tradições e correntes às quais essa historiografia estava vinculada, sua natureza e
características. Entretanto, não buscaremos apenas apontar os erros e acertos
desses documentários, por exemplo, o quanto as produções estão corretas de
historicidade na reconstituição da trajetória de Ramon Llull. Essa metodologia pode
ser considerada insuficiente, muito menos deve ser a prioridade. Desta forma,
procuraremos examinar nos documentários como a figura deste homem foi construída
e transmitida em diversos períodos da história e também a tentativa de compreender
os motivos e as formas pelas quais o material representou a figura de Llull .
SESSÃO 9
Escrita de si na Idade Média
Este trabalho propõe uma análise das marcas da escrita de si presentes nos prólogos
escritos pela autora espanhola Teresa d’Ávila nas obras Caminho de perfeição (1565)
e Castelo interior (1577). O prólogo enquanto elemento paratextual é uma ferramenta
discursiva utilizada pela autora para tentar atenuar as críticas que o teor dos seus
escritos místicos e ascéticos poderiam suscitar nas vozes hegemônicas que geriam a
escrita religiosa durante o Século de Ouro espanhol. Nesse sentido, partindo do
pensamento de Bakhtin e de seu círculo de que o eu se constitui com base nas nossas
relações de interação com o(s) outro(s), a escrita de si se apresenta como um produto
da natureza social do enunciado, produto que não se forma apenas no mundo interior
do(a) escritor(a), mas a partir dessas relações de interação social. Como sinaliza
Volóchinov (2017, p. 217), “a estrutura do enunciado, bem como da própria vivência
expressa, é uma estrutura social.” Nessa perspectiva, uma escrita de si revela o eu e
o outro que dialoga com esse eu. Assim, sendo ela permeada pela voz do outro, para
compreendê-la é necessário identificar com quais vozes sociais ela dialoga. Diante
desse contexto, objetiva-se, através de uma análise dialógica, observar os diálogos
que Teresa d’Ávila estabelece com as vozes hegemônicas de sua sociedade e
sinalizar as estratégias discursivas utilizadas pela autora na escrita dos enunciados
77
que compõem os prólogos das obras mencionadas. Desse modo, depreende-se que
a compreensão desses mecanismos dialógicos descortina os motivos e os propósitos
da criação desses textos e, consequentemente, revela as marcas da expressão
subjetiva da autora, evidenciando que no texto prefacial teresiano a escrita de si se
manifesta nas escolhas enunciativas feitas pela autora para a construção desses
prólogos. Com isso, observa-se que o agir da sua subjetividade se mostra nas
entrelinhas desses textos, naquilo que, muitas vezes, não está explícito em seu
enunciado.
Este artigo objetiva apresentar um breve estudo comparado entre Marguerite Porete
(1250-1310), em O Espelho das Almas Simples e aniquiladas e que permanecem
somente na vontade e no desejo do Amor, sobre a verticalização mística do seu
Entendimento com a teoria do conhecimento em Platão (c.427- 348 ou 347 a.C.), no
esquema da caverna, que está em A República, no livro VII. Para a autora, na sua
narrativa, a verticalização do seu Entendimento nos faz identificar uma similitude com
a dialética (dialektiké) da dualidade platônica do mundo sensível (dóxa) e do mundo
inteligível (epistéme) que tem no seu ápice o Bem (agathón), quer seja para os gregos,
a noção e a busca da felicidade (eudaimonía), em suma: Deus (Theós). Em Porete, a
Dama Alma passando por sete estados busca a elevação almejando o divino. Para a
narradora, o divino, é a personificação alegórica da Dama Amor, ou seja, a
representação divina de Deus. Assim, comparando as ideias de ambos os autores,
por um lado, temos os elementos filosóficos encontrados na narrativa platônica, a
saber, mundo sensível e mundo inteligível, quando a alma conquistando sua
libertação saindo do mundo das sombras ou da ignorância em oposição aos erros dos
sentidos ou da opinião, pretende alcançar a (epistéme) na posse da sabedoria
(sophía) no mundo espiritual. Por outro lado, em Porete, na narrativa, a Dama Razão,
guardiã dos erros do orgulho e da arrogância religiosas, é vencida pela Dama Alma
que tem o seu percurso espiritual pela verticalização do Entendimento até a posse do
enlace divino. Poderíamos, também, dessa maneira, problematizar a dicotomia das
opiniões entre as personagens Razão (Raison) e Amor (Amour), quando a autora traz
a ideia do falibilismo da Santa Igreja a Pequena como Razão e da perfectibilidade da
Santa Igreja a Grande como Amor, que ela defende, a rigor, no diálogo místico.
Palavras-chave: Marguerite Porete. Ascese. Filosofia. Platão.
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A DICOTOMIA AVE E EVA: A REPRESENTAÇÃO DE BOAS E MÁS CRISTÃS
N’A DEMANDA DO SANTO GRAAL
SESSÃO 10
Narrar o Outro: crônicas, literatura de viagem, contos, lais, reescrita de mitos
clássicos na Idade Média
Leonildo Cerqueira
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
Universidade Federal do Ceará
[email protected]
El Conde Lucanor pode ser considerado uma das mais importantes obras da Europa
Medieval, tendo sido composta no século XIV. Os contos têm uma finalidade didática
e se apresentam como um manual de instrução para aqueles que desejam tomar
decisões sábias diante das inúmeras possibilidades. Esta narrativa não surgiu
sozinha. Don Juan Manuel, autor da obra, utilizou inúmeras fontes que influenciaram,
diretamente, a escrita desse texto, fazendo com que esse livro se tornasse o mais
importante da sua trajetória intelectual. Entre as várias fontes, encontra-se “Kalila e
Dimna”, primeira narrativa oriental a ser traduzida para língua romance. Esta obra
apresenta uma compilação de histórias que expõem muitas situações que são
resolvidas através da moral apresentada na fábula. As duas obras exibem
semelhanças tanto na sua estrutura como na temática, posto que, Don Juan Manuel
82
tinha muito contato com as traduções das narrativas orientais deixadas pelo legado
do seu tio Alfonso X. Sendo assim, este trabalho pretende analisar, à luz da teoria de
Gérard Genette e Roberto Pontes, como esta relação acontece, isto é, de que maneira
Don Juan Manuel desdobra em seus contos diálogos hipertextuais e residuais com a
tradição oriental.
Durante anos, o comerciante Cristóvão Colombo foi visto e descrito como o brilhante
almirante que descobriu as terras que conhecemos hoje como América. Essa visão,
no entanto, está distorcida de muitas maneiras, pois os objetivos de Colombo sempre
foram encontrar uma nova rota para as especiarias da Índia e chegar nas terras de
ouro descritas por Marco Polo. Porém não foi o que aconteceu e, para mascarar esse
fracasso, Colombo se baseia em seus textos, ou melhor, em seus pretextos, materiais
lidos e relidos que serviram de fonte para as comparações que ele realizou ao tentar
encontrar, nos elementos do Novo Mundo, os detalhes das terras que buscava. Em
nossa reflexão observamos, como aponta Lopez (2014), os três elementos que
configuram o discurso Colombino e que ajudaram a forjar um imaginário sobre as
novas terras encontradas. Nesses textos, releituras em muitos casos dos clássicos,
encontramos aportes variados, começando com o material bíblico, ao se denominar
filho da providência, aquele que encontraria a nova oportunidade para o cristianismo,
Colombo se coloca na posição de benfeitor misericordioso, aquele que levará a
salvação em forma de religião para as populações indígenas. Pensando em suas
fontes territoriais, Marco Polo e seu livro de viagens despertaram no nosso almirante
o desejo pelas riquezas e marcaram todo o processo de planejamento e execução da
primeira navegação. Considerando que havia, também, as fontes clássicas e
mitológicas – que descreviam as naturezas exuberantes e ricas de ouro, pérolas e
monstros –, encontramos importante ressaltar que criou-se, ao longo dos séculos e
dos textos, como explica Mariscal (2007), um imaginário coletivo baseado em um
conjunto de mitos e lendas clássicas, que moldaram a visão do outro, dos “índios”, por
parte não apenas de Colombo, mas também da Europa Medieval. Com isso, tal visão
de “descobrimento”, deve ser repensada e revisada na forma como é aplicada para
os estudantes da atualidade, fugindo do eixo hegemônico e aplicando uma educação
mais decolonial. Para nossa reflexão nos baseamos no pensamento de Beatriz Pastor
(1983), Eduardo Galeano (2003), Edmundo O'Gorman (1947), Blanca López de
Mariscal (2007), John Elliott (1970) e Lopez (2014).
O século XVI, conhecido também por Siglo del Oro, em Espanha, foi uma época de
fluorescer intelectual. Nas Artes, o sucesso do feitio e ensinamento do que convém
chamar de Cursus esteve no mais alto parecer em filosofia. A Escolástica vive um dos
85
momentos mais vivificantes e esplendorosos de sua história, isto graças a restauração
da Metafísica realizada por Francisco Suárez (1548-1617) e Diego Mas (1553-1608),
com o qual puderam aproveitar e harmonizar os ditos e aproveitá-los, tanto das
escolas humanistas, quanto nominalistas. De fato, a incandescência destes autores é
vista como um luminar para aqueles que, em suas pesquisas e estudos, tornam-se
público especializado. Embora até o final do século XVI e parte do XVII a Metafísica
não tivesse sua própria cátedra em grande parte das Universidades, ela é parte
fundamental dos tratados deste século, onde boa parte a tratou — dado a sua
importância e seu entendimento como filosofia primeira posta por Aristóteles — como
disciplina basilar para as discussões em querelas ardilosas que se encontraram em
torno dos principais pensadores de então. Este trabalho parte de uma análise
situacional dos tratados de Metafísica dos filósofos Francisco Suárez e Diego Mas,
tomando como pano de fundo a querela das escolas de pensamentos que ambos
representavam, tanto a escola jesuíta quanto a dominicana. À luz desta perspectiva,
procura-se mostrar, valendo-se de uma interpretação destes tratados no tempo, a
contribuição filosófica de seus manuais de filosofia, assim como a influência cultural
que levaram às cátedras de filosofia em Salamanca e em Valência, ambos situados
em Espanha medieval. Ademais, esta investigação propõe demonstrar, também, que,
a partir destas implicações, aproximações e querelas, houve, por bem, uma exercida
influência nos percalços da filosofia moderna. As figuras de Suárez e Diego Mas, em
toda grandeza e envergadura intelectual, ocupam a cátedra de ser dois dos maiores
e mais importantes filósofos do medievo e da modernidade, delimitando os espaços
por onde o novo modo de pensar teria então de seguir.
Conferência de encerramento