Raquel de Almeida Moraes
Raquel de Almeida Moraes
Raquel de Almeida Moraes
Introdução
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Temos acompanhado os NTEs de Brasília, Araraquara (SP) e Barreiros (Bahia) através de aulas,
orientações de pesquisas e participação em bancas de graduação e pós-graduação. Em breve orientaremos
uma dissertação de mestrado que pesquisará o NTE de Goiânia (Go).
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GRUPO BANCO MUNDIAL. Disponível em: <http://www.obancomundial.org/>. Acesso em março
de 2006.
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Em vista disso, questiona-se: desde quando e por que o Banco se interessa pelo
uso das tecnologias na educação e na formação de professores?
Até o momento esta investigação detectou que na gestão do presidente
McNamara (1968-1981), a educação começou a ser vista como uma das poucas que
ainda não sofreram uma mudança tecnológica. Para ele:
É importante sublinhar que a indústria da educação, normalmente entre as
maiores empregadoras de qualquer país, é uma das poucas que não sofreram
uma revolução tecnológica. Precisamos retirá-la do estágio artesanal. Dada a
terrível insuficiência, que tende a agravar-se, de professores qualificados, é
preciso encontrar os meios de aumentar a produtividade dos bons
professores. Isto incluirá investimentos em livros didáticos, em materiais
audiovisuais e, sobretudo, no emprego de técnicas modernas de comunicação
rádio, filmes e televisão no ensino. (SILVA, 2002, p. 110)
Nos anos 903 essa idéia de McNamara foi aperfeiçoada, estando a ênfase nas
tecnologias educacionais ao lado das seguintes diretrizes políticas (SILVA, 2002,
p.111): Educação básica como principal, mas prioridade no ensino fundamental;
qualidade na educação como base para as reformas educacionais; privatização do ensino
médio e superior; ênfase no autofinanciamento e nas formas alternativas de captar
recursos; prioridade nos resultados fundados na produtividade e na competitividade;
convocação dos pais e da comunidade para participar dos assuntos escolares; estímulo
ao setor privado: sistema S, empresários e organismos não governamentais como
agentes ativos no âmbito educacional,no nível de decisões e implantação de reformas;
redefinição das atribuições do Estado e retirada gradual da oferta dos serviços públicos:
educação e saúde; enfoque setorial, centrado na educação formal credencialista;
institucionalização dos sistemas nacionais de avaliação; fortalecimento dos sistemas de
informação e dados estatísticos.
Em 1994, o Acordo Geral do Comércio e Serviço – OMC, incluiu o ensino na
lista dos serviços que deveriam ser liberados e colocados no mesmo nível que os
serviços prestados por empresas comerciais. Em função disso, algumas empresas
educacionais já exibem o certificado de qualidade – ISO, como reforço de propaganda.
O conhecimento, “matéria prima” da nova fase da economia, sob a ideologia do
capital globalizado ou mundializado, como analisam Chesnais (1996) e Wolton (2003),
passa a ser produzido em escala global. Segundo se pode depreender dos documentos
elaborados a esse respeito pelo Banco Mundial (WORLD BANK, 1998 a e b), o
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Cumpre observar que há uma lacuna nas pesquisas entre as décadas de 80 e 90 na história das ações do
Banco Mundial quanto à Educação e Tecnologia.
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classe (30%). Nessa classificação fica evidente que o conhecimento do professor para a
aprendizagem dos alunos não é o insumo mais eficaz.
Contextualizando a problemática, temos as análises de Roberto Leher (2004)
sobre o Banco Mundial e a política educacional para o Brasil e a América Latina
afirmando que:
Nessa perspectiva, desde 1998 o Banco realiza uma série de workshops nos
países-cliente para se formar uma capacitação global em e-learning, mas sua “diretriz
estratégica é ter a sua própria plataforma, a EducationNet (EdNet), com o intuito de
capacitar tomadores de decisão, especialistas educacionais e investidores”. (MORAES,
LIMA, 2005, p. 77)
Hoje temos informações de que eles já têm a sua plataforma, mas ainda não
tivemos acesso à mesma. Nesse sentido cabe observar que para os programas de
formação de professores leigos em países em desenvolvimento, como o
PROFORMAÇÃO no Brasil, é desenhada uma política que restringe seu acesso às
tecnologias de informação e comunicação mais sofisticadas, como a Internet ou
ciberespaço, porque essas são restritas, no momento, a fins de treinamentos mais
refinados, pois segundo seu consultor Michel Moore: “Poderemos incorporar os novos
meios no futuro, mas enquanto não existir uma rede forte e disponível, eles
permanecerão pouco eficazes”. (MORAES, 2001, p. 131)
É diretriz estratégia do Banco, conforme Potashnik e Capper (1998), ter o seu
EdNet com o intuito de “treinar” novos tomadores de decisão, especialistas
educacionais e investidores para manter e expandir o próprio sistema do Banco
Mundial, o que na perspectiva de Freire seria “educação bancária”. Mas isso não
implica que os “treinamentos” dos que têm acesso à rede também não estejam sob a
lógica da racionalidade instrumental, pois para o Banco Mundial, a educação também é
concebida como mercadoria e componente da indústria de bens culturais, pois seu fim é
expandir seus próprios negócios no mundo. Assim, quando o Banco Mundial argumenta
que as novas tecnologias são forças econômicas percebemos que esse discurso
pressupõe uma concepção de educação economicista, pois ao não considerar os
aspectos culturais que envolvem as dimensões da consciência e da linguagem na
educação, o Banco reproduz a racionalidade que mantém a sociedade ofuscada pela
sedução da ciência e da tecnologia e dentro delas, as tecnologias da informação e
comunicação, auto-alimentando o sistema de dominação, tal como se depreende da
perspectiva crítica de Adorno e Horkheimer (1994).
A esse respeito, é pertinente a seguinte reflexão de Gur-Ze´ev, Masschelein e
Blake (2001) que poderia ser aplicada aos cursos no ciberespaço sob influência das
diretrizes do Banco Mundial:
Algumas supostas tentativas de desenvolver ou realizar a autonomia do
sujeito são, na verdade, determinadas por sua própria negação ou
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A esse respeito, Tognolli (2001, p. 85) afirma que uma sociedade que se
“relacione só por palavras fixas e códigos de acesso em vez da mediação e dos
acontecimentos sociais, gerarão indivíduos que falarão e pensarão por clichês - ou
falarão e pensarão significantes sem significados”.
Ademais, Sordi analisa que:
A margem do trabalho autônomo das instituições se reduz e o controle do seu
processo se instala regido pela lógica do mercado. Desta forma, o julgamento
dos conhecimentos válidos, socialmente relevantes para serem ensinados via
escola, estará nas mãos de uns tantos especialistas, quem sabe distanciados
das reais necessidades sociais e do impacto de suas decisões. Usa a pretensa
neutralidade da avaliação como anteparo para processar a pasteurização das
instituições de modo a que se ajustem ao tipo de escola necessário ao projeto
neoliberal (SORDI, 1998, p. 55).
Conclusão
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Bill Gates, com uma fortuna de US$ 50 bilhões, se mantém como o imbatível número 1, seguido pelo
financeiro Warren Buffet, com US$42 bilhões. Publicado em UOL Notícias, em 09/03/06. [Doc.
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