Instituicoes Financeiras Oficiais e Responsabilidade
Instituicoes Financeiras Oficiais e Responsabilidade
Instituicoes Financeiras Oficiais e Responsabilidade
1 Introdução
Nos últimos anos, vêm-se discutindo no Brasil, com frequên-
cia cada vez maior, os malefícios do fenômeno da corrupção. Para
além da corrupção “de varejo” que historicamente acomete o ser-
viço público, em especial prefeituras, onde, aliados a um cliente-
lismo característico, o controle e a fiscalização são bastante precários,
investigações e julgamentos de envergadura nacional – a exemplo da
Ação Penal n. 470 do Supremo Tribunal Federal (caso Mensalão) e
da Operação Lava Jato (capitaneada pela força-tarefa do Ministério
Público Federal em Curitiba) – têm-se destacado na imprensa e atra-
ído a atenção de toda a sociedade, colocando na ordem do dia causas,
efeitos e meios de prevenção e repressão à corrupção.
Novas leis surgiram recentemente, sempre batalhando contra o
tempo para alcançar a evolução social, no intuito de dar uma resposta
aos reclames por menos corrupção em nosso País e atender aos diver-
sos compromissos internacionais assumidos regional e globalmente.
Dois exemplos refletem o progresso legislativo do combate
à corrupção (e também à criminalidade organizada): a Lei n.
12.846/2013, conhecida como Lei Anticorrupção, a qual, entre
6 STJ REsp n. 1122177/MT, rel. min. Herman Benjamin, 2ª T., j. em 3.8.2010, DJe
27 abr. 2011.
7 Obviamente, uma pessoa jurídica condenada por ato de improbidade não terá os
direitos políticos suspensos nem decretada a perda do cargo ou função pública.
9 A movimentação bancária de uma conta como a do FPM, por exemplo, torna bastante
dificultosa, quando não impossível, a missão de identificar todos os beneficiários de
recursos daquela conta, ainda que dentro de lapso temporal reduzido.
13 Essa observação, aliás, foi consignada pelo Tribunal de Contas da União no rela-
tório do Acórdão n. 7909/2014 – 1ª Câmara, nos seguintes termos: “A partir da
transferência dos recursos da conta do convênio para contas da prefeitura, torna-se
impossível acompanhar a movimentação financeira do convênio. Portanto, se é
certo que os recursos repassados entraram nos cofres da prefeitura, sendo transferi-
dos para outras contas movimento, a partir da qual eram feitos quase todos os paga-
mentos da entidade, não há qualquer indício seguro sobre qual o destino que lhes
foi dado. Não há, então, como presumir que tenham sido utilizados em benefício
do município, nem como afastar acima de qualquer dúvida a possibilidade de desvio
ou locupletamento do gestor municipal.”
[…] que, para possibilitar a transparência que deve ser dada às ações
públicas, como forma de viabilizar o controle social e a bem do prin-
cípio da publicidade insculpido no art. 37 da Constituição Federal
de 1988 c/c o art. 5º, inciso XXXIII, da mesma Carta Magna,
no prazo de 180 (cento e oitenta dias), apresente a este Tribunal
estudo técnico para implementação de sistema de informática em
plataforma web que permita o acompanhamento on-line de todos os
convênios e outros instrumentos jurídicos utilizados para transferir
recursos federais a outros órgãos/entidades, entes federados e enti-
dades do setor privado, que possa ser acessado por qualquer cidadão
via rede mundial de computadores, contendo informações relativas
aos instrumentos celebrados [...].
todos os mais de 5 mil municípios brasileiros em três áreas de atuação: Emprego &
renda, Educação e Saúde. Criado em 2008, ele é feito, exclusivamente, com base em
estatísticas públicas oficiais, disponibilizadas pelos ministérios do Trabalho, Edu-
cação e Saúde.” Disponível em: <http://www.firjan.com.br/ifdm/>. Acesso em:
19 fev. 2016.
17 A IN STN n. 1/2004 foi mais além e alterou o art. 20 da IN STN n. 1/1997 com o
fito de reforçar a identificação do destinatário do dinheiro público.
19 O art. 1º do Decreto n. 7.507/2011 afirma que ele se aplica aos recursos repassados
com base nas seguintes leis: Lei n. 8.080/1990 e Lei n. 8.142/1990 (Leis Orgânicas
do SUS); Lei n. 10.880/2004 (Lei do Pnate); Lei n. 11.494/2007 (Lei do Fundeb);
Lei n. 11.692/2008 (Lei do Projovem); e Lei n. 11.947/2009 (Lei do PDDE).
20 Para outra visão, vide o parecer ofertado por Luís Roberto Barroso no procedi-
mento de controle administrativo n. 200810000002117, que tramitou no Conse-
lho Nacional de Justiça. Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/arquivo_
artigo/art20080603-5.pdf>. Acesso em: 19 fev. 2016.
24 Ao não vedar tal tipo de operação, possibilitando que ela seja feita eletronica-
mente pelo gestor municipal, por exemplo. Qualquer cliente dos serviços bancá-
rios conhece por experiência própria as limitações que existem para realização de
operações bancárias, as quais muitas vezes podem ser alteradas com um simples
comando do gerente da conta, o que refuta a alegação de impossibilidade técnica
ou operacional de se impedir a transferência de contas específicas de transferência
voluntária ou legal para outra conta do município.
29 No link <http://www.mpf.mp.br/ba/sala-de-imprensa/noticias-ba/banco-do-bra-
sil-e-condenado-por-improbidade-em-acao-movida-pelo-mpf-ba> consta a peti-
ção inicial da ação civil pública por ato de improbidade administrativa e a íntegra
da sentença.
No que tange às demais sanções previstas para o ato ímprobo em questão, a multa civil
é a única que se faz compatível com a natureza da instituição financeira, tanto por se
tratar de pessoa jurídica quanto por se tratar de entidade da administração indireta.
Além de compatível, a sanção mostra-se concretamente necessária, visto seu aspecto san-
cionatório, levando-a a repensar o procedimento a ser adotado nas operações futuras.”
6 Conclusão
O intuito do presente texto foi despertar a atenção para uma
nova leitura da Lei de Improbidade Administrativa em face das
instituições financeiras oficiais, cuja recalcitrância em observar as
normas indicadas ao longo do artigo tem contribuído para a apli-
cação irregular de recursos públicos, quando não para o desvio em
favor de terceiros ou para sua apropriação.
A atuação preventiva, com ajuizamento de ações civis públi-
cas para obrigar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a
seguirem à risca os decretos repetidamente referidos, é crucial, mas
o é igualmente a atuação repressiva, pois não há dúvida de que, se a
tese ora exposta for amplamente aceita pelo Judiciário, as condena-
ções certamente trarão um forte estímulo às instituições financeiras
oficiais para que elas deixem de andar na contramão do combate à
corrupção e sigam as normas do microssistema de tutela da correta
aplicação dos recursos com destinação vinculada.
Referências
Silva, José Afonso da. Curso de direito constitucional. 10. ed. São
Paulo: Malheiros, 1999.