CARACTERIZAÇÃO GERAL DO SISTEMA DE CRIAÇÃO em TQR

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4 CARACTERIZAÇÃO GERAL DO SISTEMA DE CRIAÇÃO

DE PEIXES EM TANQUES-REDE

4.1 - Sistemas de criação


O criador de tilápias em tanques-rede poderá adotar um dos siste-
mas de criação a seguir:

Sistema Monofásico: Os peixes são criados em um único tanque-rede du-


rante todo o ciclo de produção. Em tanques-rede de pequeno volume, os
alevinos de tilápia com peso corporal entre 30 e 50 g são classificados por
tamanho/peso (CAP. 7 – Manejo do Sistema), vacinados (CAP 8 – Enfermi-
dades) e estocados até serem despescados quando atingirem o peso co-
mercial, com densidade final de aproximadamente 70 peixes/m³ (biomassa
final de 70 kg/m³). Neste ciclo de produção é comum uma mortalidade próx-
ima de 5%.

Figura 10 - Sistema Monofásico


Desenho de Alexandre Mulato - IABS

Sistema Bifásico: Na alevinagem (fase 1 - cria), o produtor adquire ale-


vinos de tilápia de 0,5 a 1g, que serão criados em berçário/bolsão com
densidade inicial de aproximadamente 750 peixes/m³, com malha entre
5-8mm, normalmente alojado dentro de um tanque-rede, durante 30-60
dias. Quando atingirem peso entre 30-50g, são vacinados, classificados
por tamanho/peso e transferidos (repicados) para outros tanques-rede
(fase 2 – Crescimento e Terminação) onde ficam até atingirem o peso co-
mercial numa densidade final próxima de 70 peixes/m³ (biomassa final de
70 kg/m³). É comum neste sistema a mortalidade atingir cerca de 15% (10%
no bolsão e 5% no tanque-rede).

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1 berçário (cria) 4 tanques-rede (recria-terminação)

Figura 11 - Sistema bifásico


Desenho de Alexandre Mulato - IABS

Sistema Trifásico: Neste sistema, o produtor realiza a fase 1 de alevinagem


(cria) em berçário/bolsão, criando alevinos de tilápia de 0,5 a 1g até atingirem
30-50g de peso corporal. Na fase 2 (Crescimento) os peixes são vacinados,
classificados por tamanho/peso e transferidos (repicados) para outros tanques-
rede até atingirem o peso corporal médio de 200g, após aproximadamente
60 dias, com mortalidade próxima a 2%. No início da fase 3 (Terminação ou
Engorda) os peixes novamente são classificados por tamanho/peso e alojados
em tanques-rede onde permanecem até o abate. Nesta fase, considera-se uma
mortalidade de 3% com densidade final de 70 peixes/m³ (biomassa final de 70
kg/m³).
Tendo em vista ser muito estressante aos peixes as 2 classificações
no Sistema Trifásico, recomenda-se a utilização de classificador de peixes ou
de mesa de classificação em balsa, assim como a capacitação/treinamento da
equipe responsável por esse manejo, com o objetivo de executar o processo de
classificação com rapidez.
Ressalta-se que as densidades consideradas nesses três sistemas de
criação de tilápias estão intimamente relacionadas com as condições gerais
do corpo hídrico e das estruturas utilizadas na criação, podendo ser maior ou
menor considerando o tamanho/tipo do tanque-rede, a velocidade de troca
d’água no seu interior, o tempo de permanência da água no reservatório ou no
“braço” do reservatório, à qualidade da água, etc.

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4 CARACTERIZAÇÃO GERAL DO SISTEMA DE CRIAÇÃO DE PEIXES EM
TANQUES-REDE 1 - Introdução

1 berçário (cria) 2 tanques-rede (recria) 4 tanques-rede (terminação)


Figura 12 - Sistema trifásico
Desenho de Alexandre Mulato - IABS

Caso o produtor tenha viveiros


escavados em sua propriedade, é
aconselhável que a 1ª fase (0,5 a 50g)
seja feita nesses viveiros, utilizando-se
hapas (estrutura em tela mosqueteiro
instalada dentro dos viveiros - foto).
Essa técnica visa maior sobrevivência
e economia de ração, devido ao
Figura 13 - Alevinagem em hapas
plâncton (alimento natural) existente
nos viveiros. Foto: Rui D. Trombeta - IABS

A 1ª fase (0,5 a 50g) também pode ser feita em tanques utilizando a tec-
nologia de bioflocos (BFT), onde os peixes são criados em um sistema fechado
com forte aeração e pouca ou nenhuma renovação de água, onde se promove uma
mudança na relação carbono/nitrogênio (15-20:1) estimulando a formação de flocos
microbianos que irá metabolizar o excedente da matéria orgânica gerada durante a
produção. O floco microbiano pode alcançar níveis de proteína bruta de até 50%,
servindo de alimento com alto valor nutricional para os alevinos, com possibilidade
de redução das taxas de arraçoamento e, consequentemente, economia no uso de
ração. A biossegurança promovida pelo uso dessa tecnologia também permite reali-
zar a produção em pequenas áreas com altas densidades de estocagem.
As densidades de estocagem e demais informações para outras espécies
estão descritas no CAP. 6.

4.2 - Rações, arraçoamento e conversão alimentar

As rações fornecidas para cada fase de desenvolvimento (cria, recria,


engorda/terminação) dos peixes devem obedecer aos critérios de tamanho,

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peso e hábitos alimentares, considerando as exigências nutricionais de


cada espécie. Sendo assim, a alimentação dos peixes é o principal fator
do manejo, pois está diretamente ligado ao custo final de produção,
representando cerca de 70% deste, o que mais demanda capital devido
ao seu preço. Com isso é recomendado ao produtor, que sempre trabalhe
com empresas conceituadas, idôneas e com boa aceitação no mercado. Na
prática, o valor de proteína bruta (PB) é o principal fator utilizado pelos
criadores na aquisição da ração, sendo importante a troca de informações
junto aos piscicultores da região sobre a qualidade das rações presentes no
mercado.
Na aquicultura, como nas demais atividades zootécnicas, é comum o
adensamento da biomassa na otimização do sistema produtivo, em busca de
redução de custos e maior rentabilidade por ciclo. Todavia, o confinamento
de elevadas biomassas representa aumento de estresse aos organismos,
levando à maior vulnerabilidade aos agentes patogênicos oportunistas,
conferindo perdas na performance produtiva, e as vezes, grandes prejuízos ao
produtor. Neste particular, já é realidade na piscicultura brasileira a utilização
de produtos biotecnológicos e imunoestimulantes como alternativas ao
uso de medicamentos, tais como prebióticos e probióticos, como também
suplementos polivitamínicos incorporados às rações. Esses produtos, de uso
individual ou associado, em razão dos efeitos sinergísticos ou simbióticos,
promovem a melhoria do desempenho dos peixes, traduzindo em maior
ganho de peso e menor índice de mortalidade, portanto, diminuindo o ciclo
de produção e melhorando a conversão alimentar. Os efeitos dos prebióticos
e probióticos são, respectivamente, na fermentação seletiva pelos
microorganismos do trato intestinal e no melhor equilíbrio da microbiota

Figura 14 -
Armazenamento
correto da ração

Foto: Antonio M. Reis Filho - Piscicultor

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4 CARACTERIZAÇÃO GERAL DO SISTEMA DE CRIAÇÃO DE PEIXES EM
TANQUES-REDE 1 - Introdução

intestinal, favorecendo a predominância dos microorganismos benéficos


ao peixe. A decisão pela aquisição destes produtos e a sua incorporação
na ração passa pela avaliação da relação custo/benefício de cada produto
presente no mercado.
O arraçoamento (fornecimento de ração) nas criações de peixes em
tanque-rede é, na maioria dos corpos hídricos, a única fonte de alimento,
sendo assim, deve-se ofertar rações que atendam às suas exigências
nutricionais com a granulometria própria para cada fase de desenvolvimento.
Esta ação deve ser feita de maneira que não ocorram sobras, o que é
facilmente observado em rações extrusadas, pois permanecem vários
minutos na superfície d’água para apreensão pelos peixes.
Dependendo da fase de desenvolvimento do peixe, a frequência
de arraçoamento aumenta ou diminui, sendo a temperatura da água
fator determinante para o aumento ou diminuição no consumo e
consequentemente no número de refeições por dia. Portanto, é fundamental
na condução do empreendimento a escolha e treinamento do funcionário
responsável pelo arraçoamento, pois é este colaborador que tomará a
decisão do quantitativo de ração a ser oferecida aos peixes no dia a dia da
criação, conforme observação diária e momentânea sobre o comportamento
dos peixes, temperatura d’água, etc. (TAB. 3 e 4).

A conversão alimentar (CA) é


calculada por meio da relação entre
a ração total fornecida e o ganho de
peso final dos peixes. Esse índice é um
ótimo indicador para avaliar a relação
custo/benefício da ração, possibilitando
comparar o desempenho da ração
fornecida, pois fornece a quantidade de
ração oferecida ao peixe para se alcançar
o ganho corporal de 1,0 kilo. A conversão Figura 15 - Desenho de Alexandre Mulato - IABS
alimentar serve também para o piscicultor calcular aproximadamente
o custo de produção/kg de peixe produzido, tendo em vista que a ração
responde por cerca de 70% do custo total da produção. Além da qualidade
da ração, diversos outros fatores podem influenciar esse índice, tais como,
espécie criada, idade, sexo, fase de desenvolvimento, qualidade genética,
temperatura e qualidade da água, densidade de estocagem e nível de

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arraçoamento.
Observa-se na TAB. 3 as recomendações sobre o forneci-
mento de rações para diferentes fases da Tilápia do Nilo.

TABELA 3 - Recomendação de fornecimento de rações para Tilápia


do Nilo, em diferentes fases de desenvolvimento em temperaturas de
25ºC a 26ºC (adaptado de Gontijo et al., 2008)

Peso
Peso Exigência Ração diária
médio Frequência
médio nutricional (tipo de Granulometria (mm) (% da
inicial diária
final (g) ração em % PB) biomassa)
(g)
1,0 5,0 55 Pó 6 vezes 25

5,0 15,0 42 1 a 2 mm 4 vezes 10

15,0 25,0 42 1 a 2 mm 4 vezes 7,0

25,0 45,0 36 2 a 4 mm 4 vezes 6,0

45,0 75,0 36 2 a 4 mm 4 vezes 5,0

75,0 175,0 32 4 a 6 mm 4 vezes 4,0

175,0 350,0 32 4 a 6 mm 4 vezes 3,0

350,0 700,0 32 6 a 8 mm 4 vezes 2,0

O esquema a seguir demonstra um exemplo de arraçoamento para


um tanque-rede com 1.250 peixes com média de peso de 125 gramas, após
realização da biometria (pesagem e medição corporal de um lote de peixes).
• Peso médio da amostragem = 125 gramas ou 125 ÷ 1000 = 0,125kg/peixe
• Número de peixes no tanque-rede = 1.250 peixes
• Porcentagem da biomassa (valor retirado da tabela 3) = 4% ou 4÷100 = 0,04g/
peixe
• Quantidade de ração a ser ofertada no dia = 0,125 kg x 1.250 peixes x 0,04g/
peixe = 6,250 kg
• Quantidade de ração a ser ofertada em cada refeição = 6,250 ÷ 4 vezes (valor
retirado da tabela 3) = 1,560 kg

Para fins de comparação, a TAB. 4 apresenta dados de campo em


situação de boas condições de criação de tilápias (clima propício, boa quali-

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4 CARACTERIZAÇÃO GERAL DO SISTEMA DE CRIAÇÃO DE PEIXES EM
TANQUES-REDE 1 - Introdução

dade de água, manejo adequado, alevinos com alta carga genética, ração de
alto desempenho, etc.), em tanques-rede de 3,0x3,0x2,0m, com densidade
final de 930 peixes/tanque-rede, atingindo a conversão alimentar aparente
de 1,4:1.

TABELA 4 - Arroçoamento de 930 tilápias em tanque-rede de 3,0 x 3,o


x 2,0 m

Biomassa Inicial: 0,5 g x 1095 peixes/TR = 0,55 kg


Biomassa Final: 1.050 g x 930 peixes/TR* = 976,50 kg
Ganho de Peso: 976,50 kg – 0,55kg = 975,95 kg
Quantidade de ração fornecida durante o ciclo: 1.371,30 kg
Conversão Alimentar Aparente (CAA): 1.371,3 kg / 975,95 kg = 1,4
Ou seja, foi utilizado 1,4 kg de ração para produzir 1,0 kg de peixe.
*Sobrevivência do ciclo considerada em 85%

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Manual de Criação de Peixes em Tanques-Rede

4.3 - Peixes indesejáveis nos tanques-rede

Ao longo do período da criação, a presença de diversas espécies de peixes


ao redor dos tanques-rede é intensa, em função da saída de restos de ração
do tanque-rede e de dejetos dos peixes. Também é comum peixes de menor
porte presentes no corpo hídrico entrarem nos tanques-rede e provocarem
aumento indesejável na densidade no interior do tanque, o que representa
competição por ração. Este fator pode implicar em gasto adicional com ra-
ção e baixa taxa de desenvolvimento dos peixes, aumentando o tempo de
criação e o custo de produção.

4.4 - Vigilância do empreendimento

Os peixes confinados nos tanques-rede tornam-se alvo fácil para fur-


tos, até mesmo as estruturas estão vulneráveis a estas ações, que ocorrem
principalmente à noite. Para evitar esse tipo de ação é aconselhável ter vigias
no empreendimento, bem como manter o local iluminado por meio de holo-
fotes e também colocar trancas ou cadeados nas tampas dos tanques-rede.

Figura 16 -
Balsa fixa
para manejo

Foto: Antonio M. Reis Filho - Piscicultor

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