Idec - Pesquisa Acesso Internet - Acesso Internet Regiao Norte
Idec - Pesquisa Acesso Internet - Acesso Internet Regiao Norte
Idec - Pesquisa Acesso Internet - Acesso Internet Regiao Norte
ACESSO À INTERNET NA
REGIÃO NORTE
DO BRASIL
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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL
SUMÁRIO
1. Introdução 03
7. Referências 23
2
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL
1. INTRODUÇÃO
A
região Norte do Brasil é a maior macrorregião do país, possuindo mais de
45% do território nacional e contendo os estados do Acre, Amapá, Ama-
zonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Ainda sobre a sua geografia,
a região possui uma extensa área coberta pelo bioma amazônico, que con-
tém enormes florestas densas e áreas alagadas. Apresentar as características sobre
o tamanho e vegetação da região é primordial para entender o atual cenário de difi-
culdades no acesso à internet nessa enorme parte do Brasil, ainda que fatores sociais,
políticos e econômicos também façam parte dessa equação.
Junto a região Nordeste, a região Norte possui os piores indicadores de uso da inter-
net no Brasil de acordo com dados da pesquisa TIC Domicílios, do Centro Regional
de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), e da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística (IBGE).
O desafio de conectar a região Norte do Brasil não é novo, mas as muitas lacunas já
evidenciadas foram ainda mais expostas pela crise causada pela pandemia da CO-
VID-19, expondo a desigualdade no exercício dos direitos ligados ao campo da comu-
nicação, como a liberdade de expressão e os direitos ao conhecimento, informação
e cultura (seção 2.1). Esta falta de infraestrutura adequada e as barreiras econômicas
existentes se somam à negligência das políticas públicas no setor de telecomunica-
ções, o que complica ainda mais o cenário.
3
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL INTRODUÇÃO
foram descontinuadas), que podem servir de base para um novo ciclo de desenvolvi-
mento na região em direção ao acesso universal à Internet (seção 3).
Para além de uma pesquisa documental voltada para dados oficiais e políticas públicas,
um ponto importante a destacar nesta coleção de informações diz respeito à desigual-
dade de gênero no acesso à internet (seção 4). Debater a produção de estatísticas de
gênero que ajudem a analisar as condições de conectividade das mulheres na região
Norte do Brasil é uma tarefa fundamental para uma reflexão sobre a universalização do
acesso à internet e a interseccionalidade das desigualdades. Obstáculos como o custo de
acesso, dispositivos de segunda mão, alfabetização digital e tempo livre limitado devido
às tarefas domésticas e à tripla jornada da mulher são aspectos críticos que precisam ser
considerados em pesquisas sobre desafios para a universalização do acesso à internet.
Este projeto, viabilizado por meio de uma parceria entre o Idec - Instituto Brasi-
leiro de Defesa do Consumidor com a ONG Derechos Digitales, enquadra-se no
contexto do trabalho do Idec no setor de telecomunicações,1 mais especificamente
em relação ao direito de acesso à Internet, no qual o Instituto tem desenvolvido ao
longo dos anos, projetos, ações de pesquisa e litígios jurídicos e administrativos
para garantir acesso de qualidade a preços razoáveis para todas as pessoas2. Além
disso, recentemente, surge um interesse crescente em aprofundar e organizar o
conhecimento sobre políticas de telecomunicações na região amazônica, devido a
um projeto3 em paralelo sobre desigualdades no acesso à energia elétrica e formas
sustentáveis de geração de energia para populações isoladas e carentes, com o
qual acreditamos que esta pesquisa pode gerar sinergias e aprendizado.
Esta ação regionalizada nos fez perceber que a integração com outras políticas pú-
blicas é essencial, pois o desenvolvimento sustentável das comunidades também de-
pende de ações em outras áreas, tais como a comunicação. Conclui-se que o acesso
à Internet é fundamental para fortalecer a resiliência das comunidades, favorecer sua
subsistência e criar as condições para que as populações se desenvolvam e tenham
acesso a outros serviços públicos essenciais (seção 6).
1 Para conferir mais ações ligadas ao tema de Telecomunicações e Direitos Digitais, acesse o site https://idec.org.br/programas-temati-
cos/internet-telefonia-e-tv
2 Pesquisa recente mapeia dados empíricos sobre desigualdades de acesso no Brasil. Para mais informações, confira o relatório disponí-
vel em: https://idec.org.br/sites/default/files/pesquisa_locomotiva_relatorio.pdf
3 Para mais informações, confira a publicação Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal, disponível em: https://
idec.org.br/publicacao/exclusao-energetica-e-resiliencia-dos-povos-da-amazonia-legal
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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL
2. O CENÁRIO DO ACESSO
À INTERNET NA REGIÃO
NORTE DO BRASIL
O
número de domicílios conectados à internet subiu de forma acelerada nos
últimos 10 anos. Em 2009, apenas 24% dos domicílios possuíam acesso à
internet, ao passo que, em 2020, esse número alcançou os 83%4. Isso não
significa, no entanto, que todos os brasileiros desfrutem das possibilidades
e funções que a internet disponibiliza da mesma forma. Ainda há importantes mar-
cadores de desigualdades no acesso à internet, especialmente quando se observam
indicadores acerca da qualidade do serviço.
Ainda assim, a penetração do acesso domiciliar às redes varia notavelmente por classe
social. Enquanto quase todas as residências da Classe A contam com internet (99%,
segundo o Cetic.br), apenas a metade dos domicílios D/E (50%) têm algum tipo de
acesso à rede mundial de computadores.
No entanto, o fato que a maioria das casas do país, mesmo na região Norte, estão
conectadas à internet não significa que a maioria das brasileiras e brasileiros desfru-
tem do pleno potencial das redes no século XXI. Isso porque, a disponibilidade do
serviço de banda larga fixa domiciliar — a única modalidade que atualmente suporta
com qualidade, estabilidade e velocidade suficientes o acesso aos diversos serviços e
atividades digitais disponíveis — varia por região, área e por classe social. Há também
distorções no tocante ao gênero, conforme será discutido na seção 4.
As discrepâncias nas razões para falta de acesso à internet nos domicílios indicam os
principais problemas para os consumidores da região Norte, bem como os gargalos
existentes nas políticas públicas no provimento deste serviço:
4 CETIC.BR. TIC Domicílios 2020 - Pesquisa Sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros.
2021. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20211124201233/tic_domicilios_2020_livro_eletronico.pdf.
5 MADEIRO, Carlos. Esqueceram de mim: após anos isolada, região amazônica ganha investimentos em internet, e os efeitos da conexão são
visíveis. Tilt Uol. Abr. 2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/reportagens-especiais/amazonia-conectada/. Acesso em: 23 fev. 2022.
5
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL O CENÁRIO DO ACESSO À INTERNET
Sudeste 33 47 68 45 51
Nordeste 35 50 65 45 39
Sul 25 38 69 37 52
Norte 43 66 73 46 56
Centro-
19 58 66 22 47
Oeste
Tabela 1: Domicílios sem acesso à internet por motivos para a falta de internet. Fonte: elaboração própria, com dados da TIC Domicílios 2020 (CETIC.br).
A principal razão para os nortistas não possuírem acesso à internet - assim como em
todas as regiões do país - é em virtude do preço da conexão ser muito caro (73%).
No entanto, é interessante notar que a “indisponibilidade na região” é significativa-
mente mais mencionada pelos domicílios na região Norte, revelando a importância de
políticas públicas que não somente barateiem o serviço, mas também proporcionem
conexão neste local.
6
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL O CENÁRIO DO ACESSO À INTERNET
A modalidade de aparelho pelo qual se acessa a internet também é relevante para ana-
lisar as desigualdades existentes, vez que o acesso apenas por telefone celular pode
impor diversas restrições à usabilidade do usuário - como velocidade mais baixas,
franquias menores e a utilização de telas reduzidas (celulares). Sabe-se que 65% dos
usuários de internet no Norte usam apenas o celular como meio exclusivo de acesso:
Apenas Apenas
Região Ambos
computador telefone celular
Sudeste 1 52 47
Nordeste 0 72 28
Sul 0 48 52
Norte 0 65 35
Centro-Oeste 3 53 44
Tabela 2: Usuários de internet, por dispositivo utilizado de forma exclusiva ou simultânea. Fonte: elaboração nossa, com dados da TIC Domicílios (CETIC.br).
6 Os dados do Cetic.br não permitem dizer se essa conexão é fixa ou móvel. Sabe-se apenas que 65% dos usuários de internet na região
Norte usam apenas o celular. Informações adicionais, provavelmente via entrevistas, serão necessárias para entender melhor esse cenário.
Disponível em: https://cetic.br/pt/tics/domicilios/2020/individuos/C16A/.
7 No gráfico a seguir, as respostas “não sabe” e “não respondeu” não estão incluídas. Podem ser conferidas em: https://cetic.br/pt/tics/do-
micilios/2020/domicilios/A11/.
7
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL O CENÁRIO DO ACESSO À INTERNET
DOMICÍLIOS COM ACESSO À INTERNET POR VALOR PAGO PELA PRINCIPAL CONEXÃO NO BRASIL
35
25
20
15
10
0
Até R$ 31 R$ 41 R$ 51 R$ 61 R$ 71 R$ 81 R$ 91 R$ 101 Mais de
R$ 30 a R$ 40 a R$ 50 a R$ 60 a R$ 70 a R$ 80 a R$ 90 a R$ 100 a R$ 150 R$ 150
Imagem 1: Domicílios com acesso à internet por valor pago pela principal conexão no Sudeste, Nordeste, Sul, Norte e Centro-Oeste.
Fonte: elaboração própria com base na TIC Domicílios 2020.
Há uma distorção: a maior região do país, que ocupa 45% do território nacional, é a mais
desigual em termos de acesso à internet. Tal região destoa dos estados com maior renda
per capita: a título exemplificativo, o estado de São Paulo, que possui renda per capita de
R$1.814, e o do Rio de Janeiro, com renda de R$1.723 (PNAD Contínua, 2021), integram a
região que possui um percentual total de 87,3% domicílios com acesso à internet (PNAD
Contínua TIC, 2019), mas que compreende somente 11% do território nacional. Conside-
rando as mesmas bases de dados do IBGE para a região Norte, temos uma população
com renda média de R$ 965, praticamente metade da renda do Estado de São Paulo.
8 NIC.BR. Banda larga no Brasil: um estudo sobre a evolução do acesso e da qualidade das conexões à internet. CGI.br. 2018. Disponí-
vel em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/1/Estudo%20Banda%20Larga%20no%20Brasil.pdf.
8
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL O CENÁRIO DO ACESSO À INTERNET
80,0
70,0
PA
60,0
LATÊNCIA (MILISSEGUNDOS)
50,0
BA
40,0
30,0 GO
MG ES
SC
20,0 RS CE
PR DF
RJ SP
PE
10,0
0
0 2000,00 4000,000 6000,00 8000,00 10000,00 12000,00 14000,00
Gráfico 1: Medianas de latência e velocidade TCP download, por unidade da federação (2016). Fonte: CETIC e Simet, 2018.
Por último, vale destacar o levantamento sobre a política pública de banda larga, rea-
lizado em 2018 pelo Tribunal de Contas da União (Acórdão 2.053/2018-TCU-Plenário,
de 29/8/2018, relatado pela Ministra Ana Arraes), que mostrou que apenas 3% dos do-
micílios com acesso à internet na região Norte apresentavam velocidades de conexão
acima dos 10 Megabits por segundo (Mbps).
9
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL O CENÁRIO DO ACESSO À INTERNET
9 Conforme destacado na seção 8.3 da pesquisa “Acesso à internet móvel pelas classes CDE”, desenvolvida pelo Idec e pelo Instituto
Locomotiva. Disponível em: https://idec.org.br/sites/default/files/pesquisa_locomotiva_relatorio.pdf.
10 ISOC FOUNDATION. Three new community networks are helping safeguard communities in rural Brazil. Internet Society Foundation.
20 mai. 2020. Disponível em: https://www.isocfoundation.org/story/three-new-community-networks-are-helping-safeguard-communities-in-
-rural-brazil/ Acesso em 10/12/2021.
11 BERBERT, Lúcia. Ministro quer uso do Fust para acabar com o “Tratado de Tordesilhas digital”. Teletime. 19 ago. 2015. Disponível em:
https://teletime.com.br/19/08/2015/ministro-quer-uso-do-fust-para-acabar-com-o-tratado-de-tordesilhas-digital/ Acesso em 10/12/2021.
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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL
3. PANORAMA GERAL
DE INSTRUMENTOS
REGULATÓRIOS E
POLÍTICAS PÚBLICAS DE
ACESSO À INTERNET NA
REGIÃO NORTE DO BRASIL
A
desigualdade de acesso à internet no Brasil e as demais desigualdades so-
ciais que estruturam o país, tais como a racial, de gênero, de classe e regio-
nal, certamente estão relacionadas. É importante pontuar, no entanto, que
a primeira (a desigualdade de acesso à internet) não pode ser exclusiva-
mente explicada pelas demais. Para entender o complexo cenário de desigualdade
de acesso à internet em sua totalidade, é necessário, também, considerar o histórico
das políticas públicas nesse setor. A privatização da Telebrás, empresa estatal federal
brasileira atualmente vinculada ao Ministério das Comunicações e responsável pela
implementação de políticas públicas de telecomunicações, é um importante marcador
desta linha do tempo. Principalmente após sua privatização em 1998, observa-se que
as regulações e políticas públicas na área falharam no enfrentamento às diferenças
que marcam o acesso a direitos e serviços no país.
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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL INSTRUMENTOS REGULATÓRIOS E POLÍTICAS PÚBLICAS
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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL INSTRUMENTOS REGULATÓRIOS E POLÍTICAS PÚBLICAS
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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL INSTRUMENTOS REGULATÓRIOS E POLÍTICAS PÚBLICAS
Ainda de acordo com o Decreto Nº 10.800/2021 (arts. 2º e 3º), o PAIS consiste na im-
plantação de redes de transporte de fibra óptica de alta capacidade, ao longo dos rios
da região amazônica, e de redes metropolitanas nos Municípios conectados à referida
rede de transporte, de modo a atender estabelecimentos públicos, tais como pontos
de inclusão digital, instituições de ensino, unidades de saúde, hospitais, bibliotecas,
instituições de segurança pública e tribunais. No entanto, não existe nenhuma defini-
ção sobre como essa infraestrutura será implementada e o programa fiscalizado. Ao
contrário do PAC, e de acordo com uma fala do secretário-executivo do Ministério
das Comunicações, Vitor Menezes, a governança das infovias será atribuída à Rede
Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), mas a operação ficará a cargo de um “opera-
dor neutro”. Essa operadora poderá explorar comercialmente a infraestrutura e, em
contrapartida, ficará responsável pela manutenção dos cabos e equipamentos e pela
construção da rede de última milha para ligar órgãos públicos.
• Wi-Fi Brasil;
• Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC);
• Cidades Digitais;
• Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST);
• Plano Estrutural de Redes de Telecomunicações (PERT);
• Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU);
• Governo Eletrônico - Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac).
14 Para aprofundar o debate sobre os aspectos regulatórios mais amplos do setor de telecomunicações e seus impactos sobre o direito de
acesso à internet, leia a série completa de pesquisas do Idec, disponível em: <https://idec.org.br/pesquisas-acesso-internet>
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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL
4. BREVES APONTAMENTOS
SOBRE GÊNERO,
SUSTENTABILIDADE E
ACESSO À INTERNET
A
lguns recortes aprofundam as desigualdades de acesso. Considerando que
as tecnologias não são neutras e que as desigualdades são também ma-
nifestadas no ambiente digital e impactam o acesso a oportunidades15 e a
fruição dos direitos decorrentes de seu uso, é necessário também fazer uma
análise interseccional.
Do ponto de vista de gênero, esta discussão não é nova. Em 2014, foram criados os
17 Princípios Feministas da Internet16 ligados aos temas de (i) acesso (à internet, à
informação e ao uso da tecnologia), (ii) movimentos e participação pública (enquanto es-
paço de resistência, transformação e por sua habilidade de decidir a governança da
internet), (iii) economia (alternativa, livre e open source), (iv) liberdade de expressão (in-
clusive de conteúdo feminista e coibindo a disseminação de pornografia e conteúdos
danosos), (v) agência e livre arbítrio (sobre o consentimento, a privacidade, a memória, a
anonimização, com especial proteção em favor dos jovens e contra a violência online).
15 CETIC.br. Pesquisa sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos domicílios brasileiros - TIC Domicílios 2020, 25
nov. 2021, p. 28. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20211124201233/tic_domicilios_2020_livro_eletronico.pdf.
16 FPI. Feminist Principles of the Internet. 2014. Disponível em: https://feministinternet.org/en/download.
17 WORLD WIDE WEB FOUNDATION. Women’s Rights Online. Out. 2015. Disponível em: https://webfoundation.org/research/womens-ri-
ghts-online-2015/.
18 DIGITAL RIGHTS LAC. Do uso à apropriação: mulheres de Bogotá sem tempo para descobrir a web. In: Digital Rights Lac (Derechos
Digitales). 16 dez. 2015. Disponível em: https://digitalrightslac.derechosdigitales.org/pt/del-uso-a-la-apropiacion-mujeres-bogotanas-sin-
-tiempo-para-descubrir-la-web/.
15
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL GÊNERO, SUSTENTABILIDADE E ACESSO À INTERNET.
Em linhas gerais, redes comunitárias podem ser definidas como iniciativas de inclusão
digital que compreendem a implantação e manutenção de infraestrutura de rede local
para conexão à Internet e serviços correlatos, a partir de esforços da própria comuni-
dade destinatária desses serviços.
Este recorte de gênero ainda pode ser ampliado para abranger a interface com ou-
tros temas relevantes na atualidade. A abordagem feminista ao acesso à internet
ainda se relaciona ao tema de sustentabilidade. O objetivo conjunto é construir e
19 PRADO, Débora. Community networks and feminist infrastructure: reclaiming local knowledge and technologies beyond connectivity
solutions. In: GenderIT.org - Feminist reflection on internet policies. 4 nov. 2019. Disponível em: https://genderit.org/feminist-talk/commu-
nity-networks-and-feminist-infrastructure-reclaiming-local-knowledge-and.
20 WORLD WIDE WEB FOUNDATION. Women’s Rights Online. Out. 2015. Disponível em: https://webfoundation.org/research/womens-ri-
ghts-online-2015/.
21 LIMA, Márcia; AGUIÃO, Silvia. Interfaces entre gênero, raça e classe em experiências e uso das TIC entre crianças e adolescentes. In:
CASTELLO, Graziela et al (org.). Dinâmicas de gênero e uso das tecnologias digitais: um estudo com crianças e adolescentes na cidade
de São Paulo. São Paulo: CEBRAP, 2021, pp. 87-110..
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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL GÊNERO, SUSTENTABILIDADE E ACESSO À INTERNET.
utilizar tecnologias justas e éticas para as mulheres, para o meio ambiente, para os
direitos humanos e visando a sustentabilidade para gerações futuras, promovendo
inclusão, responsabilidade e accountability em todos os elos da cadeia de desenvolvi-
mento dessas tecnologias22.
Embora existam poucos dados específicos disponíveis sobre a relação entre gênero
e acesso na região Norte, conceitos como redes comunitárias, infraestruturas tecno-
lógicas e autonomia, por exemplo, devem ser revisitados, reconstruídos, reapropria-
dos e ressignificados a partir das múltiplas condições vividas por mulheres, pessoas
transgênero e não-binárias, ajudando a entender as principais barreiras de acesso à
internet. O desequilíbrio difícil de se ignorar entre o custo do acesso na região Norte
e a renda da população que está na base da pirâmide social, e que no Brasil tem uma
nítida dimensão racial e de gênero, adquire um outro componente quando analisamos
dados sobre a qualidade do acesso.
Neste sentido, é necessário envidar ainda mais esforços para um acesso à internet efe-
tivamente inclusivo. Como visto, o recorte de gênero e suas intersecções (como raça,
classe, orientação de gênero e sexual, colonialismo, além das relações com outras pau-
tas) são elementos importantes para também compreender outras manifestações da
desigualdade e exigem a construção de novas narrativas e formas de resistência em
prol de um acesso efetivamente inclusivo. Esta é uma perspectiva que também precisa
ser considerada no acesso à internet na Amazônia.
22 CIACCI, Jess. Imagining a principe for a feminist internet focusing on environmental justice. In: GenderIT.org: Feminist Reflection on
Internet Policies. 12 maio 2021. Disponível em: https://genderit.org/resources/imagining-principle-feminist-internet-focusing-environmental-
-justice.
23 CETIC.BR. TIC Domicílios 2020 - Pesquisa Sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros.
2021. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20211124201233/tic_domicilios_2020_livro_eletronico.pdf.
17
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL
5. PERFIL DOS
PLANOS OFERTADOS
NA REGIÃO NORTE
C
onforme já exposto neste relatório, é frequente a alegação de que a região
possui pequeno potencial econômico e que os custos inviabilizam a expan-
são de infraestrutura, sendo que algumas das operações em localidades da
região são realizadas somente por força de obrigação contratual, uma vez
que o acesso à internet é compreendido também como necessário para o desenvolvi-
mento do país.
Para entender de maneira mais compreensiva as críticas relativas aos preços pratica-
dos pelos provedores de acesso à internet na região, a equipe técnica do Idec analisou
os planos de internet fixa oferecidos em mais de vinte municípios da Região Norte24,
incluindo todas as capitais.
Cada um desses planos foi classificado conforme (i) a velocidade ofertada; (ii) o preço do
plano; e (iii) o preço por megabit. Dentre os principais achados desse mapeamento está
a nitidez da disparidade de valores entre as capitais e as cidades do interior, além dos
altos valores cobrados, especialmente se levarmos em consideração o atual valor do
salário mínimo (R$ 1.212) e os índices socioeconômicos relativos à população nortista.
24 Pesquisa realizada do dia 10 de janeiro a 26 de janeiro de 2022, onde foram selecionados quatro municípios de cada um dos estados da
região Norte do país, de acordo com o maior IDH e maior população.
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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL PERFIL DOS PLANOS OFERTADOS
19
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL
6. ALTOS PREÇOS, MÁ
PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS
E NECESSIDADE DE NOVA
INFRAESTRUTURA:
UM BREVE RESUMO DO
ACESSO À INTERNET NA
REGIÃO NORTE DO BRASIL
S
e é verdade que um dos fatores que torna o acesso à internet precário é o
preço elevado, a análise apresentada sobre a oferta dos planos de dados e
serviços nas principais cidades foi capaz de contribuir para uma melhor defini-
ção do problema e para a identificação de fatores como a demanda por novas
infraestruturas e por subsídios aos usuários finais.
Um outro indício a assinalar é que não só a internet é onerosa, mas a qualidade dos
serviços oferecidos pelas operadoras é baixa. Isso é encontrado nas ações civis pú-
blicas apresentadas pelo Ministério Público Federal no Amazonas em junho de 2020
contra Claro (Nextel), Oi, TIM e Vivo25. Segundo os documentos do Ministério Público
Federal, em 54 localidades, os indicadores demonstram que os serviços de teleco-
municações ofertados e contratados não foram ou não estavam sendo entregues a
muitos usuários como se esperaria. Os dados das ações apontam para uma potencial
ineficácia das normas aplicáveis ao setor de telecomunicações.
No Brasil, a telefonia móvel consiste em serviço público prestado em regime privado, com
25 URUPÁ, Marcos. MPF pede condenação de Claro, Oi, TIM e Vivo por danos morais no Amazonas. Teletime. 24 jun. 2020. Disponível em:
https://teletime.com.br/24/06/2020/mpf-pede-condenacao-de-claro-oi-tim-e-vivo-por-danos-morais-no-amazonas/. Acesso em 10/12/2021.
20
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL CONCLUSÃO
sua disciplina legal baseada na Constituição Federal. Deste modo, a oferta de serviços
nas mais diversas regiões do país, com suas peculiaridades e dificuldades, não deveria ser
condicionada, apenas, ao interesse comercial das prestadoras. A sua natureza de serviço
público, além de exigir autorização pelo poder concedente, deve subordinar-se às diretri-
zes impostas por este, tendo em vista a necessidade de atendimento do interesse público
e por ser um meio instrumental para viabilização de outros direitos fundamentais26.
Com a demanda crescente pelo uso da telefonia móvel, no desempenho das suas atri-
buições previstas na Lei Geral de Telecomunicações, e até acompanhando o sabido
histórico de reclamações, a Anatel estabeleceu, em âmbito infralegal, diversas normas
relacionadas à qualidade do serviço de telecomunicações móvel.
A referida demanda pelo serviço, associada a uma infraestrutura destinada à sua presta-
ção que não é adequadamente dimensionada, considerando-se também a falta dos in-
vestimentos correlatos, resultou na percepção da queda da sua qualidade pelos consumi-
dores, a qual vem sendo refletida nos indicadores de aspectos de qualidade dos serviços
de telecomunicações móvel e metas de qualidade a serem alcançadas pelas prestadoras.
26 Pesquisa do Idec com o Instituto Locomotiva mostra barreiras no acesso a direitos fundamentais (como saúde, educação, serviços
financeiros, benefícios do governo e acesso à informação) causadas por restrições no acesso à internet. C.f. IDEC. Maioria da classe CDE
não exerce seus direitos por falta de internet, revela pesquisa. 26 nov. 2021. Disponível em: https://idec.org.br/release/maioria-da-classe-c-
-d-e-e-nao-exerce-seus-direitos-por-falta-de-internet-revela-pesquisa
21
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL CONCLUSÃO
22
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL
7. REFERÊNCIAS
BERBERT, Lúcia. Ministro quer uso do Fust para acabar com o “Tratado de Tordesilhas digital”. Teletime. 19
ago. 2015. Disponível em: https://teletime.com.br/19/08/2015/ministro-quer-uso-do-fust-para-acabar-com-o-
-tratado-de-tordesilhas-digital/ Acesso em 10/12/2021.
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nos domicílios brasileiros. 2021. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20211124201233/
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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL
EXPEDIENTE
DIRETORA EXECUTIVA DO IDEC:
Carlota Aquino Costa
COORDENADOR DO PROGRAMA DE
TELECOMUNICAÇÕES E DIREITOS DIGITAIS:
Diogo Moyses Rodrigues
COORDENADOR DA PESQUISA:
Luã Cruz
PESQUISA E REVISÃO
Camila Leite Contri
Juliana Oms
Larissa Rosa
Stella Morais Monteiro
Marina Fernandes de Siqueira
PESQUISADORA ASSOCIADA:
Cristiana Gonzalez
APOIO INSTITUCIONAL
COMO CITAR
IDEC. Acesso à Internet na Região Norte do Brasil.
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor e Derechos Digitales. Mar. 2022.
Disponível em: https://idec.org.br/pesquisas-acesso-internet
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