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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL

ACESSO À INTERNET NA

REGIÃO NORTE
DO BRASIL

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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL

SUMÁRIO

1. Introdução 03

2. O cenário do acesso à Internet na região Norte do Brasil 05

2.1 Intensificação das desigualdades no acesso pela pandemia da COVID-19 09

3. Panorama geral de instrumentos regulatórios e políticas públicas de acesso


à internet na região Norte do Brasil 11

3.1 Acesso na região Norte: Amazônia Conectada (PAC) e Amazônia


Integrada Sustentável (PAIS) 12

3.2 Acesso na região Norte pela ótica das políticas nacionais 14

4. Breves apontamentos sobre gênero, sustentabilidade e acesso à Internet 15

5. Perfil dos planos ofertados na região Norte 18

6. Altos preços, má prestação dos serviços e necessidade de nova


infraestrutura: um breve resumo do acesso à internet na região Norte do Brasil 20

7. Referências 23

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1. INTRODUÇÃO

A
região Norte do Brasil é a maior macrorregião do país, possuindo mais de
45% do território nacional e contendo os estados do Acre, Amapá, Ama-
zonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Ainda sobre a sua geografia,
a região possui uma extensa área coberta pelo bioma amazônico, que con-
tém enormes florestas densas e áreas alagadas. Apresentar as características sobre
o tamanho e vegetação da região é primordial para entender o atual cenário de difi-
culdades no acesso à internet nessa enorme parte do Brasil, ainda que fatores sociais,
políticos e econômicos também façam parte dessa equação.

Junto a região Nordeste, a região Norte possui os piores indicadores de uso da inter-
net no Brasil de acordo com dados da pesquisa TIC Domicílios, do Centro Regional
de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), e da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística (IBGE).

Além das desigualdades regionais fomentadas pelo histórico de políticas nacionais


de industrialização, a região Norte também sofre com suas grandes e inóspitas dis-
tâncias (seção 2). A falta de infraestrutura, que demanda grandes investimentos –
algo pouco vantajoso em termos de custo-benefício para o setor privado - acaba
afetando a provisão dos serviços de telecomunicações na região. A baixa qualidade
da conexão, a cobertura limitada e os preços exorbitantes são as principais caracte-
rísticas do acesso à internet na região Norte do Brasil. Em partes da região, sequer
há provisão de acesso à internet, e quando há, a velocidade de conexão é insufi-
ciente e instável, interferindo no gozo de inúmeros direitos pelos cidadãos nortistas.
Quando há internet, a média de preços é demasiadamente mais alta em comparação
ao resto do país (seção 5).

O desafio de conectar a região Norte do Brasil não é novo, mas as muitas lacunas já
evidenciadas foram ainda mais expostas pela crise causada pela pandemia da CO-
VID-19, expondo a desigualdade no exercício dos direitos ligados ao campo da comu-
nicação, como a liberdade de expressão e os direitos ao conhecimento, informação
e cultura (seção 2.1). Esta falta de infraestrutura adequada e as barreiras econômicas
existentes se somam à negligência das políticas públicas no setor de telecomunica-
ções, o que complica ainda mais o cenário.

Neste contexto, é importante atualizar um olhar específico sobre as desigualdades


de acesso à Internet na região Norte, mapeando as formas e modalidades de uso, os
impactos causados pela exclusão do acesso e as políticas públicas em vigor (ou que

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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL INTRODUÇÃO

foram descontinuadas), que podem servir de base para um novo ciclo de desenvolvi-
mento na região em direção ao acesso universal à Internet (seção 3).

Para além de uma pesquisa documental voltada para dados oficiais e políticas públicas,
um ponto importante a destacar nesta coleção de informações diz respeito à desigual-
dade de gênero no acesso à internet (seção 4). Debater a produção de estatísticas de
gênero que ajudem a analisar as condições de conectividade das mulheres na região
Norte do Brasil é uma tarefa fundamental para uma reflexão sobre a universalização do
acesso à internet e a interseccionalidade das desigualdades. Obstáculos como o custo de
acesso, dispositivos de segunda mão, alfabetização digital e tempo livre limitado devido
às tarefas domésticas e à tripla jornada da mulher são aspectos críticos que precisam ser
considerados em pesquisas sobre desafios para a universalização do acesso à internet.

Este projeto, viabilizado por meio de uma parceria entre o Idec - Instituto Brasi-
leiro de Defesa do Consumidor com a ONG Derechos Digitales, enquadra-se no
contexto do trabalho do Idec no setor de telecomunicações,1 mais especificamente
em relação ao direito de acesso à Internet, no qual o Instituto tem desenvolvido ao
longo dos anos, projetos, ações de pesquisa e litígios jurídicos e administrativos
para garantir acesso de qualidade a preços razoáveis para todas as pessoas2. Além
disso, recentemente, surge um interesse crescente em aprofundar e organizar o
conhecimento sobre políticas de telecomunicações na região amazônica, devido a
um projeto3 em paralelo sobre desigualdades no acesso à energia elétrica e formas
sustentáveis de geração de energia para populações isoladas e carentes, com o
qual acreditamos que esta pesquisa pode gerar sinergias e aprendizado.

Esta ação regionalizada nos fez perceber que a integração com outras políticas pú-
blicas é essencial, pois o desenvolvimento sustentável das comunidades também de-
pende de ações em outras áreas, tais como a comunicação. Conclui-se que o acesso
à Internet é fundamental para fortalecer a resiliência das comunidades, favorecer sua
subsistência e criar as condições para que as populações se desenvolvam e tenham
acesso a outros serviços públicos essenciais (seção 6).

Por fim, com nossa experiência, percebemos a importância do treinamento técnico,


da participação comunitária e da apropriação tecnológica como formas de garantir a
sustentabilidade das iniciativas de conectividade. Também queremos estar atentos às
iniciativas e políticas que visam reduzir os custos de instalação, operação e manuten-
ção do acesso à Internet e que permitam a geração de empregos ao nível local. Desta
forma, desejamos incentivar os beneficiários a se tornarem consumidores responsá-
veis e mantenedores dos sistemas.

1 Para conferir mais ações ligadas ao tema de Telecomunicações e Direitos Digitais, acesse o site https://idec.org.br/programas-temati-
cos/internet-telefonia-e-tv
2 Pesquisa recente mapeia dados empíricos sobre desigualdades de acesso no Brasil. Para mais informações, confira o relatório disponí-
vel em: https://idec.org.br/sites/default/files/pesquisa_locomotiva_relatorio.pdf
3 Para mais informações, confira a publicação Exclusão Energética e Resiliência dos Povos da Amazônia Legal, disponível em: https://
idec.org.br/publicacao/exclusao-energetica-e-resiliencia-dos-povos-da-amazonia-legal

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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL

2. O CENÁRIO DO ACESSO
À INTERNET NA REGIÃO
NORTE DO BRASIL

O
número de domicílios conectados à internet subiu de forma acelerada nos
últimos 10 anos. Em 2009, apenas 24% dos domicílios possuíam acesso à
internet, ao passo que, em 2020, esse número alcançou os 83%4. Isso não
significa, no entanto, que todos os brasileiros desfrutem das possibilidades
e funções que a internet disponibiliza da mesma forma. Ainda há importantes mar-
cadores de desigualdades no acesso à internet, especialmente quando se observam
indicadores acerca da qualidade do serviço.

A região é considerada deficitária em relação ao acesso a serviços essenciais, a questão


da infraestrutura sempre foi um dos maiores desafios, tanto pelo histórico de negli-
gência, quanto pelo elevado custo devido às características geográficas do Norte do
país5. Os dados da pesquisa TIC Domicílios de 2020 podem induzir à crença de que as
diferenças regionais não são tão significativas, já que a região Norte ultrapassa a média
nacional (17%) de domicílios sem acesso à internet em apenas 1%, ao passo que a região
Sudeste desfruta o menor índice entre as regiões com 14% dos domicílios sem internet.

Ainda assim, a penetração do acesso domiciliar às redes varia notavelmente por classe
social. Enquanto quase todas as residências da Classe A contam com internet (99%,
segundo o Cetic.br), apenas a metade dos domicílios D/E (50%) têm algum tipo de
acesso à rede mundial de computadores.

No entanto, o fato que a maioria das casas do país, mesmo na região Norte, estão
conectadas à internet não significa que a maioria das brasileiras e brasileiros desfru-
tem do pleno potencial das redes no século XXI. Isso porque, a disponibilidade do
serviço de banda larga fixa domiciliar — a única modalidade que atualmente suporta
com qualidade, estabilidade e velocidade suficientes o acesso aos diversos serviços e
atividades digitais disponíveis — varia por região, área e por classe social. Há também
distorções no tocante ao gênero, conforme será discutido na seção 4.

As discrepâncias nas razões para falta de acesso à internet nos domicílios indicam os
principais problemas para os consumidores da região Norte, bem como os gargalos
existentes nas políticas públicas no provimento deste serviço:

4 CETIC.BR. TIC Domicílios 2020 - Pesquisa Sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros.
2021. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20211124201233/tic_domicilios_2020_livro_eletronico.pdf.
5 MADEIRO, Carlos. Esqueceram de mim: após anos isolada, região amazônica ganha investimentos em internet, e os efeitos da conexão são
visíveis. Tilt Uol. Abr. 2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/reportagens-especiais/amazonia-conectada/. Acesso em: 23 fev. 2022.

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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL O CENÁRIO DO ACESSO À INTERNET

DOMICÍLIOS SEM ACESSO À INTERNET, POR MOTIVOS PARA A FALTA DE INTERNET

Falta de Moradores Falta de Preocupações


Indisponibilidade
Região necessidade acham muito computador com segurança
na região
dos moradores caro no domicílio ou privacidade

Sudeste 33 47 68 45 51

Nordeste 35 50 65 45 39

Sul 25 38 69 37 52

Norte 43 66 73 46 56

Centro-
19 58 66 22 47
Oeste

Tabela 1: Domicílios sem acesso à internet por motivos para a falta de internet. Fonte: elaboração própria, com dados da TIC Domicílios 2020 (CETIC.br).

A principal razão para os nortistas não possuírem acesso à internet - assim como em
todas as regiões do país - é em virtude do preço da conexão ser muito caro (73%).
No entanto, é interessante notar que a “indisponibilidade na região” é significativa-
mente mais mencionada pelos domicílios na região Norte, revelando a importância de
políticas públicas que não somente barateiem o serviço, mas também proporcionem
conexão neste local.

Há pouca divergência entre o número de domicílios conectados à banda larga fixa -


que possibilita uma conexão de maior qualidade e com maior velocidade - entre a re-
gião Norte (66%), o Sudeste (67%), Centro-oeste (66%) e Nordeste (68%) -, apenas a
região Sul apresenta um índice mais discrepante de 79% dos domicílios conectados
à banda larga fixa. Assim, também há uma discrepância no acesso à internet por co-
nexão móvel (via modem ou chip 3G ou 4G), que disponibiliza usabilidade limitada
da internet: apenas 15% dos domicílios da região Sul acessam por conexão móvel,
frente a 27% dos domicílios da região Norte. Da mesma forma, a região Sul dispara
nos domicílios conectados por conexão via cabo de TV ou fibra óptica (67%) - que
possuem maior qualidade de conexão -, frente aos apenas 52% de domicílios com
esta conexão no Norte.

Ainda, há outros indicadores que revelam importantes marcadores de desigualdades.


O compartilhamento da internet com vizinhos, por exemplo, pode indicar estratégias
dos consumidores para arcarem com custos altos da conexão - considerando também
que a prática é muito mais comum na classe CDE -, podendo ser considerado um grau
maior de precariedade. Nesse sentido, é interessante notar que estes índices são me-
nores no Sul, Sudeste e Centro-Oeste (14%, 15% e 18%, respectivamente) e maiores no
Norte e Nordeste (24% e 28%).

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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL O CENÁRIO DO ACESSO À INTERNET

A modalidade de aparelho pelo qual se acessa a internet também é relevante para ana-
lisar as desigualdades existentes, vez que o acesso apenas por telefone celular pode
impor diversas restrições à usabilidade do usuário - como velocidade mais baixas,
franquias menores e a utilização de telas reduzidas (celulares). Sabe-se que 65% dos
usuários de internet no Norte usam apenas o celular como meio exclusivo de acesso:

USUÁRIOS DE INTERNET, POR DISPOSITIVO UTILIZADO DE FORMA EXCLUSIVA OU SIMULTÂNEA

Apenas Apenas
Região Ambos
computador telefone celular

Sudeste 1 52 47

Nordeste 0 72 28

Sul 0 48 52

Norte 0 65 35

Centro-Oeste 3 53 44

Tabela 2: Usuários de internet, por dispositivo utilizado de forma exclusiva ou simultânea. Fonte: elaboração nossa, com dados da TIC Domicílios (CETIC.br).

Se a região Norte concentra boa parte da população empobrecida do Brasil, e o custo


da conexão é considerado uma das principais barreiras ao acesso, isso significa que
esse custo tem grande impacto no orçamento familiar. É exatamente o que mostrou
o estudo “Banda Larga no Brasil: um estudo sobre a evolução do acesso e da qualida-
de das conexões à Internet” (Cetic.br, 2018), segundo o qual, na classe A, a média de
gastos com a conexão representa 0,83% da renda domiciliar mensal. Já nas classes B
(1,72% da renda domiciliar mensal), C (2,94%) e, especialmente, nas classes DE (3,9%),
os gastos com conexão crescem consideravelmente. Lendo de outro modo, o peso
do custo da Internet na renda nos domicílios de classes DE mostrou-se quatro vezes
maior que o verificado nos de classe A.

Tais desigualdades se tornam visíveis a olho nu quando acrescenta-se à análise os


preços pagos pela internet. Nesse caso, a situação da região Norte demonstra toda
sua singularidade, pois 25% da população paga de R$91 a R$100, e 32% paga de
R$100 a R$150 reais por sua conexão principal6-7.

6 Os dados do Cetic.br não permitem dizer se essa conexão é fixa ou móvel. Sabe-se apenas que 65% dos usuários de internet na região
Norte usam apenas o celular. Informações adicionais, provavelmente via entrevistas, serão necessárias para entender melhor esse cenário.
Disponível em: https://cetic.br/pt/tics/domicilios/2020/individuos/C16A/.
7 No gráfico a seguir, as respostas “não sabe” e “não respondeu” não estão incluídas. Podem ser conferidas em: https://cetic.br/pt/tics/do-
micilios/2020/domicilios/A11/.

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DOMICÍLIOS COM ACESSO À INTERNET POR VALOR PAGO PELA PRINCIPAL CONEXÃO NO BRASIL

35

Sudeste Nordeste Sul Norte Centro-Oeste


30

25

20

15

10

0
Até R$ 31 R$ 41 R$ 51 R$ 61 R$ 71 R$ 81 R$ 91 R$ 101 Mais de
R$ 30 a R$ 40 a R$ 50 a R$ 60 a R$ 70 a R$ 80 a R$ 90 a R$ 100 a R$ 150 R$ 150

Imagem 1: Domicílios com acesso à internet por valor pago pela principal conexão no Sudeste, Nordeste, Sul, Norte e Centro-Oeste.
Fonte: elaboração própria com base na TIC Domicílios 2020.

Há uma distorção: a maior região do país, que ocupa 45% do território nacional, é a mais
desigual em termos de acesso à internet. Tal região destoa dos estados com maior renda
per capita: a título exemplificativo, o estado de São Paulo, que possui renda per capita de
R$1.814, e o do Rio de Janeiro, com renda de R$1.723 (PNAD Contínua, 2021), integram a
região que possui um percentual total de 87,3% domicílios com acesso à internet (PNAD
Contínua TIC, 2019), mas que compreende somente 11% do território nacional. Conside-
rando as mesmas bases de dados do IBGE para a região Norte, temos uma população
com renda média de R$ 965, praticamente metade da renda do Estado de São Paulo.

O desequilíbrio adquire um outro componente quando analisamos dados sobre a qua-


lidade do acesso. Uma pesquisa publicada em 2018 pelo Cetic.br e o SIMET8 mostra,
novamente, que estados da região Norte, como o Pará, e São Paulo se colocam em
extremos opostos. A partir de uma análise da latência (tempo de resposta, ou seja,
qualidade da internet) nos estados, o estudo evidencia que a despeito da melhoria
das medianas de latência e de velocidade em ambos os estados, a distância entre eles
é bastante acentuada. São Paulo, em 2016, apresentou uma mediana de velocidade
quase cinco vezes maior e uma mediana de latência quase duas vezes menor do que
o Pará. Ou seja, conexões com maior velocidade e muito mais estabilidade.

8 NIC.BR. Banda larga no Brasil: um estudo sobre a evolução do acesso e da qualidade das conexões à internet. CGI.br. 2018. Disponí-
vel em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/1/Estudo%20Banda%20Larga%20no%20Brasil.pdf.

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MEDIANA ENTRE A LATÊNCIA E A VELOCIDADE DAS CONEXÕES NO BRASIL

80,0

70,0

PA
60,0
LATÊNCIA (MILISSEGUNDOS)

50,0

BA
40,0

30,0 GO
MG ES
SC
20,0 RS CE
PR DF
RJ SP
PE
10,0

0
0 2000,00 4000,000 6000,00 8000,00 10000,00 12000,00 14000,00

VELOCIDADE TCP DOWNLOAD (KBPS)

Gráfico 1: Medianas de latência e velocidade TCP download, por unidade da federação (2016). Fonte: CETIC e Simet, 2018.

Por último, vale destacar o levantamento sobre a política pública de banda larga, rea-
lizado em 2018 pelo Tribunal de Contas da União (Acórdão 2.053/2018-TCU-Plenário,
de 29/8/2018, relatado pela Ministra Ana Arraes), que mostrou que apenas 3% dos do-
micílios com acesso à internet na região Norte apresentavam velocidades de conexão
acima dos 10 Megabits por segundo (Mbps).

2.1 INTENSIFICAÇÃO DAS DESIGUALDADES NO ACESSO PELA PANDEMIA DA COVID-19


Este trabalho não se propõe a analisar detalhadamente as origens e efeitos das desi-
gualdades regionais no Brasil, no entanto, é importante contextualizar o cenário em
que a região Norte se encontra.

A pandemia de COVID-19 evidenciou como a carência do acesso à internet fragiliza


as condições de vida, em particular das populações amazônidas, uma vez que o
acesso à internet na região Norte é essencial para os habitantes locais que moram
em locais distantes de estabelecimentos de saúde, equipamentos culturais e insti-
tuições de ensino. Os usos da internet pelos grupos sociais mais vulneráveis, como
os da região Norte, ficam restritos às atividades de comunicação, uma função que
exige pouca conectividade e está inclusa nos planos de zero-rating, que aumentam

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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL O CENÁRIO DO ACESSO À INTERNET

as distorções no acesso pleno à internet9.

Nesse sentido, a disponibilidade do serviço nas regiões remotas representa não só


uma alternativa de melhoria da qualidade de vida, bem como a garantia de condições
mínimas de resiliência frente a questões de acesso à serviços de saúde, trabalho e
educação. Para além do acesso a serviços públicos essenciais, em tempos de pande-
mia, a conectividade também promove uma série de inesperadas possibilidades para
as comunidades nortistas10: alertar as autoridades sobre incêndios ocorridos em seu
território, receber e enviar pedidos de produtos, mobilizar os povos indígenas para se
vacinarem e coordenar a costura e distribuição de máscaras faciais para a comunida-
de, dentre outras novas atividades.

A chegada de conectividade também auxilia as comunidades com a economia de tem-


po e dinheiro dos residentes, permitindo-lhes, de maneira remota, declarar impostos,
solicitar subsídios e enviar documentos. Ainda hoje, milhares de habitantes passam dias
inteiros viajando para alguma localidade com acesso à internet para poder executar
alguma das atividades descritas acima. Além de tudo isso, o acesso à internet contribui
para a preservação cultural, pois os indígenas e outras comunidades tradicionais ga-
nham a oportunidade de compartilharem suas línguas, culturas e criatividade por meio
de produção de conteúdo a ser disponibilizado na rede mundial de computadores.

Se a urgência da pauta de universalização do acesso à internet ficou evidente com as


restrições de acesso a serviços nas regiões e metrópoles mais abastadas do país, é
preciso frisar que tal agenda vem sendo alardeada há anos em outras áreas do Bra-
sil. O abismo digital que existe entre as regiões brasileiras e entre as regiões centrais
e periféricas das cidades precisa ser enfrentado com mais força nos próximos anos,
visto que o que muitos vivenciaram em alguns momentos da pandemia, com as difi-
culdades de conexão e usufruto de políticas públicas, é a situação cotidiana de uma
significativa parcela da população brasileira.

Em busca de solução, os governos brasileiros das últimas décadas implantaram


uma variada lista de políticas públicas com o intuito de expandir o acesso à inter-
net para a Região Norte e acabar com o nosso “Tratado de Tordesilhas digital”11. No
entanto, como veremos a seguir, tais instrumentos regulatórios e políticas públicas,
apesar de importantes, foram insuficientes para resolver a questão da conectivida-
de no Norte do país.

9 Conforme destacado na seção 8.3 da pesquisa “Acesso à internet móvel pelas classes CDE”, desenvolvida pelo Idec e pelo Instituto
Locomotiva. Disponível em: https://idec.org.br/sites/default/files/pesquisa_locomotiva_relatorio.pdf.
10 ISOC FOUNDATION. Three new community networks are helping safeguard communities in rural Brazil. Internet Society Foundation.
20 mai. 2020. Disponível em: https://www.isocfoundation.org/story/three-new-community-networks-are-helping-safeguard-communities-in-
-rural-brazil/ Acesso em 10/12/2021.
11 BERBERT, Lúcia. Ministro quer uso do Fust para acabar com o “Tratado de Tordesilhas digital”. Teletime. 19 ago. 2015. Disponível em:
https://teletime.com.br/19/08/2015/ministro-quer-uso-do-fust-para-acabar-com-o-tratado-de-tordesilhas-digital/ Acesso em 10/12/2021.

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3. PANORAMA GERAL
DE INSTRUMENTOS
REGULATÓRIOS E
POLÍTICAS PÚBLICAS DE
ACESSO À INTERNET NA
REGIÃO NORTE DO BRASIL

A
desigualdade de acesso à internet no Brasil e as demais desigualdades so-
ciais que estruturam o país, tais como a racial, de gênero, de classe e regio-
nal, certamente estão relacionadas. É importante pontuar, no entanto, que
a primeira (a desigualdade de acesso à internet) não pode ser exclusiva-
mente explicada pelas demais. Para entender o complexo cenário de desigualdade
de acesso à internet em sua totalidade, é necessário, também, considerar o histórico
das políticas públicas nesse setor. A privatização da Telebrás, empresa estatal federal
brasileira atualmente vinculada ao Ministério das Comunicações e responsável pela
implementação de políticas públicas de telecomunicações, é um importante marcador
desta linha do tempo. Principalmente após sua privatização em 1998, observa-se que
as regulações e políticas públicas na área falharam no enfrentamento às diferenças
que marcam o acesso a direitos e serviços no país.

A principal questão a se considerar é o fato de a regulação setorial não entender o


acesso à internet efetivamente como um direito fundamental e um serviço de interes-
se público em prol do desenvolvimento humano, econômico, social e cultural12. Nesses
termos, deve seguir regras de (i) universalização, (ii) modicidade (preços condizentes com
o poder aquisitivo da população) e (iii) continuidade (não interrupção), a partir de pa-
drões técnicos que permitam seu uso pleno e igualitário.

O provimento de acesso fixo à internet é enquadrado como Serviço de Comunicação


Multimídia (SCM), considerado um serviço de interesse coletivo, mas prestado em
regime privado – o que significa dizer que as empresas autorizadas não assumem
compromisso com a distribuição universal desse acesso, tampouco podem ser co-
bradas por entes estatais e órgãos reguladores quando o serviço não cobrir áreas
de baixo interesse comercial. O Serviço de Telefonia Fixa Comutada (STFC), por sua
vez, é o único prestado tanto em regime privado quanto público. Quando público,

12 Nos termos do Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014), Art. 6º.

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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL INSTRUMENTOS REGULATÓRIOS E POLÍTICAS PÚBLICAS

portanto, está sujeito às regras de universalização, modicidade e continuidade su-


pracitadas. No entanto, isso está prestes a mudar, pois as concessões para prestação
de serviços de telecomunicações foram realizadas em 1995 e possuem prazo de 30
anos. E, com a justificativa de priorizar o investimento de recursos à banda larga, o
Governo Federal realizou alteração na previsão da Lei Geral de Telecomunicações
(LGT, Lei nº 9.472/1999) sobre o serviço de telefonia fixa ser prestado em regime
público, prevendo a possibilidade de as atuais concessionárias do STFC adaptarem
seus contratos para o privado.

Com a já mencionada privatização do Sistema Telebrás em 1998, houve a criação de


instrumentos regulatórios a fim de contemplar a nova realidade do setor, desde então
regido pelas regras do mercado, mas que, ao mesmo tempo, tinha como horizonte a
universalização do sistema de telefonia – naquele momento, o único considerado essen-
cial, mas que, com o tempo e os processos de convergência tecnológica, acompanhou
a questão do acesso à internet. É desse momento (de privatização e regulação) em
diante que se dá a criação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), os cinco
decretos do Poder Executivo chamados Planos Gerais de Metas para Universalização do
Serviço (PGMUs), o Plano Estrutural de Redes de Telecomunicações (PERT) e o Fundo
de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST).

3.1. ACESSO NA REGIÃO NORTE: AMAZÔNIA CONECTADA (PAC) E AMAZÔNIA


INTEGRADA SUSTENTÁVEL (PAIS)
Uma vez trabalhado, brevemente, o panorama nacional do viés regulatório de acesso
à internet, passando pelo histórico das principais políticas públicas do setor de te-
lecomunicações no Brasil, investigaremos a realidade do acesso na região Norte do
país, principalmente por meio do Programa Norte Conectado, que integra o Programa
Amazônia Integrada Sustentável (PAIS), e do Projeto Amazônia Conectada (PAC).

Em 2014, a Rede Nacional de Pesquisa (RNP) assinou um memorando de entendimen-


to (MoU) com o Exército Brasileiro para a implementação do projeto Amazônia Co-
nectada (PAC), no qual pretendia-se criar uma infraestrutura de fibra óptica no inte-
rior da região amazônica, considerado um dos maiores Projetos de fibra óptica desta
natureza no mundo, envolvendo redes subaquáticas em rios de grandes dimensões e
florestas densas. O projeto foi lançado em julho de 2015 pelos ministérios da Ciência,
Tecnologia e Inovação, Defesa e Comunicações, contando com a participação da RNP
e sendo dirigido pelo Centro Integrado de Telemática do Exército (Citex).

O primeiro passo foi a implantação de um sistema de cabos subfluviais com extensão de


10km no rio Negro, em Manaus, com previsão de que, em 12 meses, o mesmo sistema fos-
se implantado em 220 quilômetros no trecho entre Coari e Tefé. A ideia era que até 2017
outros sistemas fossem projetados para a implantação de cabos subfluviais nos principais
rios da Bacia Amazônica, que levariam conectividade aos habitantes das cidades ribeiri-
nhas. De fato, em 2016, a rede de fibra ótica chegou em Manaus, inaugurando oficialmente
o programa depois de conectar duas bases do Exército via Rio Negro. A segunda etapa

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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL INSTRUMENTOS REGULATÓRIOS E POLÍTICAS PÚBLICAS

seria a conexão via cabo subfluvial do trecho entre Coari


e Tefé, na Amazônia Ocidental, que até então era atendida
por satélite, mostrando que, embora fosse um programa
em parceria com o Exército Brasileiro, seu objetivo era co- Tanto o Projeto
nectar o interior da Amazônia. Amazônia
Conectada (PAC)
Nesse período, pouco se soube sobre o desenvolvimen- de julho de 2015,
to e continuidade do programa, apenas que as infovias quanto o programa
construídas pelo Exército, nos trechos Manaus-Barcelos e Amazônia Integrada
Manaus-Tefé, foram concluídas. Em levantamento do Tri- e Sustentável (PAIS)
bunal de Contas da União (TCU) referente às Políticas Pú- de setembro de
blicas de Inclusão Digital (TC 007.688/2015-6), esteve sob 2021, consistem
análise o desempenho do Amazônia Conectada e con- na implantação de
cluiu-se que o programa não atingiu seus objetivos. Uma redes de transporte
das críticas levantadas pelo TCU foi a de que a rede piloto, de fibra óptica ao
uma vez construída, ficou restrita ao uso pelo Exército e longo dos rios da
não foi plenamente usufruída pela população do entorno. Região Amazônica,
envolvendo redes
Em 2021, o Decreto Nº 10.800, de 17 de setembro de 2021, subaquáticas em
estabeleceu o Programa Amazônia Integrada e Susten- rios de grandes
tável (PAIS), sem haver uma dotação orçamentária defi- dimensões e
nida, abrindo a possibilidade de financiamento privado ou florestas densas.
participação de organizações da sociedade civil em seu A rede piloto
Comitê Gestor. Indicações sobre possíveis fontes de re- construída pelo PAC
cursos a serem investidos aparecem no documento Pro- ficou restrita ao uso
grama Norte Conectado/Programa Amazônia Integrada pelo Exército não
Sustentável13 publicado pela RNP, no qual apenas é men- sendo utilizada pela
cionado que “[sobre a] implantação da infraestrutura descrita população, além
nos objetivos do Programa, pretende-se que seja utilizado parte do de que, segundo
saldo de recursos remanescentes relativos ao ressarcimento dos o TCU, o projeto
custos decorrentes da redistribuição de canais de TV e RTV”. não atingiu seus
objetivos. Já o PAIS
Outra fonte de financiamento foi posteriormente definida ainda não começou
no leilão do 5G realizado em novembro de 2021. A Portaria a ser implementado
nº 1.924/SEI-MCOM, de 29 de janeiro de 2021, estabeleceu e está em fase de
diretrizes para os certames licitatórios das faixas de radio- financiamento
frequência de 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz, além
de definir critérios de proteção aos usuários que recebem
sinais de TV aberta e gratuita através de antenas parabó-
licas na Banda C satelital, adjacente à faixa de 3,5 GHz.
Nesta Portaria, estabeleceu-se, entre outras obrigações às

13 Para mais informações, consultar o documento disponível em: http://norteconectado.


rnp.br/sites/default/files/2020-09/NoCoPAISCompleto_rev_final.pdf

13
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL INSTRUMENTOS REGULATÓRIOS E POLÍTICAS PÚBLICAS

vencedoras do leilão, a de complementar o financiamento da construção da infraestrutura


da rede sub-fluvial prevista no programa Amazônia Integrada e Sustentável (PAIS).

Ainda de acordo com o Decreto Nº 10.800/2021 (arts. 2º e 3º), o PAIS consiste na im-
plantação de redes de transporte de fibra óptica de alta capacidade, ao longo dos rios
da região amazônica, e de redes metropolitanas nos Municípios conectados à referida
rede de transporte, de modo a atender estabelecimentos públicos, tais como pontos
de inclusão digital, instituições de ensino, unidades de saúde, hospitais, bibliotecas,
instituições de segurança pública e tribunais. No entanto, não existe nenhuma defini-
ção sobre como essa infraestrutura será implementada e o programa fiscalizado. Ao
contrário do PAC, e de acordo com uma fala do secretário-executivo do Ministério
das Comunicações, Vitor Menezes, a governança das infovias será atribuída à Rede
Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), mas a operação ficará a cargo de um “opera-
dor neutro”. Essa operadora poderá explorar comercialmente a infraestrutura e, em
contrapartida, ficará responsável pela manutenção dos cabos e equipamentos e pela
construção da rede de última milha para ligar órgãos públicos.

3.2 ACESSO NA REGIÃO NORTE PELA ÓTICA DAS POLÍTICAS NACIONAIS


Nas últimas décadas, o Brasil instituiu uma série de políticas para ampliar a conectivi-
dade pelo território nacional. Estas políticas, em grande medida focadas na melhoria
da infraestrutura da conectividade, deixaram de considerar os enormes abismos entre
as regiões brasileiras. Abismos que, de forma muito sucinta, são resultados diretos das
escolhas regulatórias para o setor que privilegiou soluções de mercado sem contra-
partidas ou fiscalização compatíveis com as necessidades de universalização e acesso
equitativo a um serviço fundamental para o pleno exercício de direitos no século XXI14.

Na lista abaixo, enumeramos algumas destas iniciativas, mapeadas a partir de pesqui-


sa sobre políticas públicas com referências à região Norte:

• Wi-Fi Brasil;
• Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC);
• Cidades Digitais;
• Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST);
• Plano Estrutural de Redes de Telecomunicações (PERT);
• Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU);
• Governo Eletrônico - Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac).

Todas as iniciativas pretendem ampliar o acesso de forma geral no país, incluindo


também o acesso à região Norte. Entretanto, tais políticas ainda são insuficientes para
endereçarem tamanhos problemas existentes na região.

14 Para aprofundar o debate sobre os aspectos regulatórios mais amplos do setor de telecomunicações e seus impactos sobre o direito de
acesso à internet, leia a série completa de pesquisas do Idec, disponível em: <https://idec.org.br/pesquisas-acesso-internet>

14
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL

4. BREVES APONTAMENTOS
SOBRE GÊNERO,
SUSTENTABILIDADE E
ACESSO À INTERNET

A
lguns recortes aprofundam as desigualdades de acesso. Considerando que
as tecnologias não são neutras e que as desigualdades são também ma-
nifestadas no ambiente digital e impactam o acesso a oportunidades15 e a
fruição dos direitos decorrentes de seu uso, é necessário também fazer uma
análise interseccional.

Do ponto de vista de gênero, esta discussão não é nova. Em 2014, foram criados os
17 Princípios Feministas da Internet16 ligados aos temas de (i) acesso (à internet, à
informação e ao uso da tecnologia), (ii) movimentos e participação pública (enquanto es-
paço de resistência, transformação e por sua habilidade de decidir a governança da
internet), (iii) economia (alternativa, livre e open source), (iv) liberdade de expressão (in-
clusive de conteúdo feminista e coibindo a disseminação de pornografia e conteúdos
danosos), (v) agência e livre arbítrio (sobre o consentimento, a privacidade, a memória, a
anonimização, com especial proteção em favor dos jovens e contra a violência online).

Do ponto de vista de acesso, a pesquisa global “Women’s Rights Online”17, realizada


pela Web Foundation em 201518, identificou que, enquanto o uso da Internet entre os
homens jovens com alto índice de escolaridade ou estudantes em comunidades po-
bres em países em desenvolvimento é comparável àqueles de países desenvolvidos,
como dos EUA, o acesso das mulheres adultas sem instrução nos países em desen-
volvimento é muito incipiente e até mesmo inexistente. Além disso, mulheres são 50%
menos propensas a se conectarem à internet do que homens (com níveis semelhantes
de renda familiar, educação e da mesma idade).

Em relação à infraestrutura da internet, é necessário se pensar em maneiras pela qual


ela pode ser utilizada a favor de uma ampliação de acesso. Uma alternativa é a utiliza-
ção de redes comunitárias, que permitem o desenvolvimento e o manejo local, auto-

15 CETIC.br. Pesquisa sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos domicílios brasileiros - TIC Domicílios 2020, 25
nov. 2021, p. 28. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20211124201233/tic_domicilios_2020_livro_eletronico.pdf.
16 FPI. Feminist Principles of the Internet. 2014. Disponível em: https://feministinternet.org/en/download.
17 WORLD WIDE WEB FOUNDATION. Women’s Rights Online. Out. 2015. Disponível em: https://webfoundation.org/research/womens-ri-
ghts-online-2015/.
18 DIGITAL RIGHTS LAC. Do uso à apropriação: mulheres de Bogotá sem tempo para descobrir a web. In: Digital Rights Lac (Derechos
Digitales). 16 dez. 2015. Disponível em: https://digitalrightslac.derechosdigitales.org/pt/del-uso-a-la-apropiacion-mujeres-bogotanas-sin-
-tiempo-para-descubrir-la-web/.

15
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL GÊNERO, SUSTENTABILIDADE E ACESSO À INTERNET.

-organizado e compartilhado das infraestruturas em uma comunidade, gerando deba-


tes sobre autonomia e sobre perspectivas críticas na utilização da internet19. Ou seja, é
mais uma medida em favor da quebra do processo hegemônico no desenvolvimento
de tecnologias e na utilização da internet, inclusive sob uma perspectiva feminista.

Em linhas gerais, redes comunitárias podem ser definidas como iniciativas de inclusão
digital que compreendem a implantação e manutenção de infraestrutura de rede local
para conexão à Internet e serviços correlatos, a partir de esforços da própria comuni-
dade destinatária desses serviços.

Considerando-se a extensão territorial da região Norte brasileira, a imensa diversidade de


condições encontradas em cada localidade e os obstáculos sociais, econômicos, culturais
tecnológicos que muitas comunidades enfrentam, a conformação de redes pensadas, de-
senvolvidas e geridas localmente apresenta-se como alternativa relevante para suprir as
necessidades urgentes de populações amazônidas privadas do acesso no cenário atual
- em que a oferta de serviços é inexistente ou incompatível com a renda local.

Além de solução potencial de conectividade que supera as limitações de um mercado


de serviços de telecomunicações que exclui grande parcela da população, especial-
mente os mais vulneráveis, as redes comunitárias possibilitam às comunidades utilizar
serviços de rede social e tecnologias que colaboram na maneira como as localidades
enfrentam seus desafios cotidianos. Assim, as redes comunitárias surgem não somen-
te como forma de suprir a falta de conectividade, mas como uma alternativa para
mobilização e organização feminista do território e suas populações, possibilitando
novas formas e modelos para criar possibilidades e funções com tecnologias digitais.

Do ponto de vista da violência de gênero perpetrada virtualmente, a mesma pes-


quisa “Women’s Rights Online”20 aponta que 7 em cada 10 mulheres jovens que usam
a internet diariamente já sofreram algum tipo de abuso online e em 75% dos países
pesquisados as autoridades não estão tomando as medidas adequadas. Em alguns
países, a pesquisa aponta ainda para resultados expressivos de homens afirmando
que as mulheres não poderiam usar a internet em espaços públicos e deveriam ter seu
acesso restringido. Ou seja, de forma ampla, a repercussão das interações na internet
pode potencializar os efeitos sobre os estigmatizados de diversas maneiras21.

Este recorte de gênero ainda pode ser ampliado para abranger a interface com ou-
tros temas relevantes na atualidade. A abordagem feminista ao acesso à internet
ainda se relaciona ao tema de sustentabilidade. O objetivo conjunto é construir e

19 PRADO, Débora. Community networks and feminist infrastructure: reclaiming local knowledge and technologies beyond connectivity
solutions. In: GenderIT.org - Feminist reflection on internet policies. 4 nov. 2019. Disponível em: https://genderit.org/feminist-talk/commu-
nity-networks-and-feminist-infrastructure-reclaiming-local-knowledge-and.
20 WORLD WIDE WEB FOUNDATION. Women’s Rights Online. Out. 2015. Disponível em: https://webfoundation.org/research/womens-ri-
ghts-online-2015/.
21 LIMA, Márcia; AGUIÃO, Silvia. Interfaces entre gênero, raça e classe em experiências e uso das TIC entre crianças e adolescentes. In:
CASTELLO, Graziela et al (org.). Dinâmicas de gênero e uso das tecnologias digitais: um estudo com crianças e adolescentes na cidade
de São Paulo. São Paulo: CEBRAP, 2021, pp. 87-110..

16
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL GÊNERO, SUSTENTABILIDADE E ACESSO À INTERNET.

utilizar tecnologias justas e éticas para as mulheres, para o meio ambiente, para os
direitos humanos e visando a sustentabilidade para gerações futuras, promovendo
inclusão, responsabilidade e accountability em todos os elos da cadeia de desenvolvi-
mento dessas tecnologias22.

Mais especificamente, no Brasil, os dados da TIC Domicílios de 202023 também tra-


zem dados sobre a manifestação das desigualdades para as mulheres nos ambientes
digitais. Foi constatado um aumento da proporção de mulheres usuárias da internet
(processo também intensificado pela pandemia), mas questões estruturais e condicio-
nantes socioculturais ainda moldam e definem a situação de desvantagem das mulhe-
res nos ambientes digitais (CETIC.BR, 2021, p. 71).

Mulheres negras acessaram a Internet exclusivamente pelo telefone celular (67%) em


maiores proporções que homens brancos (42%), apontando para uma restrição am-
pliada nas possibilidades de acesso à internet (CETIC.BR, 2021, p. 28). Notadamente,
o impacto é ainda maior para populações das regiões Norte e Nordeste do Brasil. Ou
seja, interseccionalidade e considerações específicas de recorte efetivamente impor-
tam, mostrando que as pessoas mais afetadas são as mulheres, negras, de baixa renda,
com menor escolaridade e de regiões mais remotas do país, como apontado também
por outros dados da pesquisa.

Embora existam poucos dados específicos disponíveis sobre a relação entre gênero
e acesso na região Norte, conceitos como redes comunitárias, infraestruturas tecno-
lógicas e autonomia, por exemplo, devem ser revisitados, reconstruídos, reapropria-
dos e ressignificados a partir das múltiplas condições vividas por mulheres, pessoas
transgênero e não-binárias, ajudando a entender as principais barreiras de acesso à
internet. O desequilíbrio difícil de se ignorar entre o custo do acesso na região Norte
e a renda da população que está na base da pirâmide social, e que no Brasil tem uma
nítida dimensão racial e de gênero, adquire um outro componente quando analisamos
dados sobre a qualidade do acesso.

Neste sentido, é necessário envidar ainda mais esforços para um acesso à internet efe-
tivamente inclusivo. Como visto, o recorte de gênero e suas intersecções (como raça,
classe, orientação de gênero e sexual, colonialismo, além das relações com outras pau-
tas) são elementos importantes para também compreender outras manifestações da
desigualdade e exigem a construção de novas narrativas e formas de resistência em
prol de um acesso efetivamente inclusivo. Esta é uma perspectiva que também precisa
ser considerada no acesso à internet na Amazônia.

22 CIACCI, Jess. Imagining a principe for a feminist internet focusing on environmental justice. In: GenderIT.org: Feminist Reflection on
Internet Policies. 12 maio 2021. Disponível em: https://genderit.org/resources/imagining-principle-feminist-internet-focusing-environmental-
-justice.
23 CETIC.BR. TIC Domicílios 2020 - Pesquisa Sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros.
2021. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20211124201233/tic_domicilios_2020_livro_eletronico.pdf.

17
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL

5. PERFIL DOS
PLANOS OFERTADOS
NA REGIÃO NORTE

C
onforme já exposto neste relatório, é frequente a alegação de que a região
possui pequeno potencial econômico e que os custos inviabilizam a expan-
são de infraestrutura, sendo que algumas das operações em localidades da
região são realizadas somente por força de obrigação contratual, uma vez
que o acesso à internet é compreendido também como necessário para o desenvolvi-
mento do país.

Para entender de maneira mais compreensiva as críticas relativas aos preços pratica-
dos pelos provedores de acesso à internet na região, a equipe técnica do Idec analisou
os planos de internet fixa oferecidos em mais de vinte municípios da Região Norte24,
incluindo todas as capitais.

Cada um desses planos foi classificado conforme (i) a velocidade ofertada; (ii) o preço do
plano; e (iii) o preço por megabit. Dentre os principais achados desse mapeamento está
a nitidez da disparidade de valores entre as capitais e as cidades do interior, além dos
altos valores cobrados, especialmente se levarmos em consideração o atual valor do
salário mínimo (R$ 1.212) e os índices socioeconômicos relativos à população nortista.

Cidade/Estado Operadora Velocidade Preço Preço por Mbit

Rio Branco/AC Vivo 100 Megabits R$ 119,90 R$ 1,19

Tarauacá/AC SDMNet 4 Megabits R$ 200,00 R$ 50,00

Manaus/AM Claro 350 Megabits R$ 99,99 R$ 0,28

Coari/AM Easytech 10 Megabits R$ 299,99 R$ 29,99

Belém/PA Tim 50 Megabits R$ 79,90 R$ 1,59

Santarém/PA Up Net 30 Megabits R$ 149,90 R$ 4,99

Tabela 3: Valores de planos em cidades na Região Norte. Fonte: elaboração Idec.

24 Pesquisa realizada do dia 10 de janeiro a 26 de janeiro de 2022, onde foram selecionados quatro municípios de cada um dos estados da
região Norte do país, de acordo com o maior IDH e maior população.

18
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL PERFIL DOS PLANOS OFERTADOS

A partir de uma breve análise dos planos é possível rea-


lizar algumas constatações: a primeira delas é a de que
A partir de uma na maior parte dos planos ofertados, especialmente nas
breve análise dos capitais, o preço “por Megabit” aumenta quanto menor
planos é possível for a velocidade contratada. Expor a diferença de preço
realizar algumas “por Megabit” entre os planos mais velozes e lentos é
constatações: a muito importante, pois os preços por Mbit dos planos
primeira delas lentos atinge diretamente a parcela da população mais
é a de que na desfavorecida, que não possui uma renda suficiente para
maior parte dos contratar planos de maior velocidade e acaba pagando
planos ofertados, mais caro que os cidadãos mais ricos.
especialmente
nas capitais, Além da evidente disparidade de preços, outra consta-
o preço “por tação relevante é a diferença das velocidades ofertadas
Megabit” nas capitais e no interior, enquanto que nos principais
aumenta quanto centros urbanos da Região Norte a oferta de planos ve-
menor for a lozes é comum e variada, o mesmo não ocorre nas cida-
velocidade des do interior, onde existem poucos provedores e que
contratada. Outra ofertam baixas velocidades. Aqui, vale relembrar que as
constatação cidades do interior utilizadas para esse estudo são jus-
relevante é que tamente as com o maior IDH e população dos referidos
enquanto que estados, ou seja, existem dezenas de municípios que não
nos principais fizeram parte da análise e que, provavelmente, estejam
centros urbanos em uma situação ainda mais precária no que se refere à
da Região Norte oferta de planos de acesso à internet.
a oferta de
planos velozes Percebe-se, portanto, que a população do interior nor-
é comum e tista quando tem acesso à internet, acessa por meio de
variada, o mesmo planos com poucos e caros gigabits.
não ocorre nas
cidades do
interior, onde
existem poucos
provedores e que
ofertam baixas
velocidades

19
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL

6. ALTOS PREÇOS, MÁ
PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS
E NECESSIDADE DE NOVA
INFRAESTRUTURA:
UM BREVE RESUMO DO
ACESSO À INTERNET NA
REGIÃO NORTE DO BRASIL

S
e é verdade que um dos fatores que torna o acesso à internet precário é o
preço elevado, a análise apresentada sobre a oferta dos planos de dados e
serviços nas principais cidades foi capaz de contribuir para uma melhor defini-
ção do problema e para a identificação de fatores como a demanda por novas
infraestruturas e por subsídios aos usuários finais.

Um outro indício a assinalar é que não só a internet é onerosa, mas a qualidade dos
serviços oferecidos pelas operadoras é baixa. Isso é encontrado nas ações civis pú-
blicas apresentadas pelo Ministério Público Federal no Amazonas em junho de 2020
contra Claro (Nextel), Oi, TIM e Vivo25. Segundo os documentos do Ministério Público
Federal, em 54 localidades, os indicadores demonstram que os serviços de teleco-
municações ofertados e contratados não foram ou não estavam sendo entregues a
muitos usuários como se esperaria. Os dados das ações apontam para uma potencial
ineficácia das normas aplicáveis ao setor de telecomunicações.

Apesar do arcabouço normativo brasileiro ser protetivo e apropriado às característi-


cas da prestação massificada dos serviços de telecomunicações (como tutelado pela
Lei de Ações Civis Públicas, pelo Código de Defesa do Consumidor, pela Lei Geral de
Telecomunicações e pelo Regulamento de Direitos do Consumidor da Anatel), “a qua-
lidade da prestação dos serviços de telecomunicações vem sendo contestada suces-
sivamente nos últimos anos.”

No Brasil, a telefonia móvel consiste em serviço público prestado em regime privado, com

25 URUPÁ, Marcos. MPF pede condenação de Claro, Oi, TIM e Vivo por danos morais no Amazonas. Teletime. 24 jun. 2020. Disponível em:
https://teletime.com.br/24/06/2020/mpf-pede-condenacao-de-claro-oi-tim-e-vivo-por-danos-morais-no-amazonas/. Acesso em 10/12/2021.

20
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL CONCLUSÃO

sua disciplina legal baseada na Constituição Federal. Deste modo, a oferta de serviços
nas mais diversas regiões do país, com suas peculiaridades e dificuldades, não deveria ser
condicionada, apenas, ao interesse comercial das prestadoras. A sua natureza de serviço
público, além de exigir autorização pelo poder concedente, deve subordinar-se às diretri-
zes impostas por este, tendo em vista a necessidade de atendimento do interesse público
e por ser um meio instrumental para viabilização de outros direitos fundamentais26.

Às referidas preocupações legislativas somam-se várias disposições do Código de


Defesa do Consumidor. Neste sentido, importante destacar, já no estabelecimento da
Política Nacional das Relações de Consumo, o reconhecimento: (i) da vulnerabilidade
dos consumidores; (ii) da garantia de serviços (incluindo os serviços públicos) com padrões
adequados de qualidade e desempenho; (iii) da salvaguarda, entre os direitos básicos dos
consumidores, da efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos; (iv) da adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

Com a demanda crescente pelo uso da telefonia móvel, no desempenho das suas atri-
buições previstas na Lei Geral de Telecomunicações, e até acompanhando o sabido
histórico de reclamações, a Anatel estabeleceu, em âmbito infralegal, diversas normas
relacionadas à qualidade do serviço de telecomunicações móvel.

A referida demanda pelo serviço, associada a uma infraestrutura destinada à sua presta-
ção que não é adequadamente dimensionada, considerando-se também a falta dos in-
vestimentos correlatos, resultou na percepção da queda da sua qualidade pelos consumi-
dores, a qual vem sendo refletida nos indicadores de aspectos de qualidade dos serviços
de telecomunicações móvel e metas de qualidade a serem alcançadas pelas prestadoras.

A falta de uma infraestrutura básica para as localidades mais pobres é um problema


que acaba perpetuando ainda mais as desigualdades regionais no Brasil. Cada vez mais,
entende-se que o acesso contínuo à internet de qualidade é um direito essencial em
um mundo cada vez mais conectado, sendo um meio necessário para o exercício de
diversos direitos fundamentais. Isso porque, cada vez mais, produtos e serviços - in-
cluindo serviços públicos - são adquiridos, contratados ou fruídos por meio da internet.

É importante ressaltar que a prestação do serviço de telecomunicações com qua-


lidade se torna ainda mais essencial para os usuários da região Norte brasileira, em
virtude das peculiaridades dos municípios amazônicos, em sua maioria localiza-
dos em regiões isoladas, com enormes distâncias, grandes dimensões territoriais e
acessíveis apenas de barco ou avião. Portanto, nota-se que a situação dos usuários
de serviço de telecomunicações residentes na Amazônia, aos quais o serviço é
historicamente prestado com nível qualitativo inferior e preços exorbitantes, uma

26 Pesquisa do Idec com o Instituto Locomotiva mostra barreiras no acesso a direitos fundamentais (como saúde, educação, serviços
financeiros, benefícios do governo e acesso à informação) causadas por restrições no acesso à internet. C.f. IDEC. Maioria da classe CDE
não exerce seus direitos por falta de internet, revela pesquisa. 26 nov. 2021. Disponível em: https://idec.org.br/release/maioria-da-classe-c-
-d-e-e-nao-exerce-seus-direitos-por-falta-de-internet-revela-pesquisa

21
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL CONCLUSÃO

vez que estes consumidores têm seu acesso a direitos


básicos prejudicados.

Tal situação de precariedade de provisão serviços de teleco-


municações ficou ainda mais evidente com a recente con-
juntura de necessário isolamento social, devido à explosão
na demanda por serviços de telecomunicações, para auxi-
liar no enfrentamento da pandemia de COVID-19 (home offi-
ce, ensino à distância, recebimento do auxílio emergencial,
dentre outros). Ademais, o serviço de acesso à internet foi
e, ainda, é essencial à difusão de informações de interesse Os usuários dos
público relacionadas à contenção da pandemia. Esses fatos serviços na região
só reforçam a importância da universalização dos serviços Norte poderão
de telecomunicações e a necessidade do atendimento às continuar a
demandas dos usuários, mantendo-se padrões mínimos de sofrer, por algum
qualidade e confiabilidade dos serviços prestados. tempo, com a
má prestação
A histórica inadequação da qualidade sugere que ela decor- de serviços de
re, preponderantemente, de falhas na estrutura da rede de telecomunicações.
transmissão de dados do tipo backhaul, que fazem a ligação A solução para o
de redes locais com as redes centrais da internet (backbone), acesso à internet
e não apenas da insuficiência de elementos das redes locais, na região Norte
como ERBs (Estações Rádio Base). Não fosse por isso, pro- exigirá políticas
vavelmente, já se teria chegado a uma solução para a ques- públicas de
tão da prestação do serviço com qualidade inferior à devida. universalização
voltadas
Dessa maneira, não parece estar ao alcance, em curto especificamente
prazo, a solução demandada para que os indicadores de para a região,
qualidade passem a ser aceitáveis naqueles lugares onde investimentos
isso ainda não ocorre, pois, ela exige políticas públicas por parte das
de universalização voltadas especificamente para a re- operadoras de
gião Norte, investimentos por parte das operadoras de telecomunicações
telecomunicações e implantação de infraestrutura por e implantação de
estas ainda não disponibilizada. Ainda que seja possível, infraestrutura por
em um futuro próximo, superar as causas da prestação estas ainda não
do serviço abaixo dos padrões estipulados pelas normas disponibilizada
setoriais, o fato é que muitos consumidores/usuários dos
serviços de telecomunicações estão pagando por um ser-
viço que não lhes é prestado adequadamente e muitas
vezes não há nem acesso garantido. Assim sendo, con-
clui-se que os usuários dos serviços na região amazônica
poderão continuar a sofrer, por algum tempo, com a má
prestação de serviços de telecomunicações.

22
PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL

7. REFERÊNCIAS
BERBERT, Lúcia. Ministro quer uso do Fust para acabar com o “Tratado de Tordesilhas digital”. Teletime. 19
ago. 2015. Disponível em: https://teletime.com.br/19/08/2015/ministro-quer-uso-do-fust-para-acabar-com-o-
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nos domicílios brasileiros. 2021. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20211124201233/
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URUPÁ, Marcos. MPF pede condenação de Claro, Oi, TIM e Vivo por danos morais no Amazonas. Teletime.
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WORLD WIDE WEB FOUNDATION. Women’s Rights Online. Out. 2015. Disponível em: https://webfounda-
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PESQUISA | ACESSO À INTERNET NA REGIÃO NORTE DO BRASIL

EXPEDIENTE
DIRETORA EXECUTIVA DO IDEC:
Carlota Aquino Costa

GERENTE DE PROGRAMAS E PROJETOS:


Georgia Carapetkov

COORDENADOR DO PROGRAMA DE
TELECOMUNICAÇÕES E DIREITOS DIGITAIS:
Diogo Moyses Rodrigues

COORDENADOR DA PESQUISA:
Luã Cruz

PESQUISA E REVISÃO
Camila Leite Contri
Juliana Oms
Larissa Rosa
Stella Morais Monteiro
Marina Fernandes de Siqueira

PESQUISADORA ASSOCIADA:
Cristiana Gonzalez

APOIO INSTITUCIONAL

Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons


Atribuição-NãoComercialSemDerivações 4.0 Internacional.

COMO CITAR
IDEC. Acesso à Internet na Região Norte do Brasil.
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor e Derechos Digitales. Mar. 2022.
Disponível em: https://idec.org.br/pesquisas-acesso-internet

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