Texto - Neurosifiologia

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2 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO SISTEMA NERVOSO

Silvana Regina de Melo


Sonia Lucy Molinari
Marcmo Hubner de Miranda Neto

Componentes do tecido nervoso

Neurônio

A unidade morfológica e fisiológica do sistema nervoso é o neurônio, célula altamente especi-


alizada na produção e condução de energia eletroquímica, ou seja, de impulso nervoso.
Os neurônios possuem um corpo celular denominado de pericário, e prolongamentos
citoplasmáticos denominados axônios e dendritos. Cada neurônio possui somente um axônio, que se
caracteriza por ser o seu maior prolongamento; geralmente próximo a sua terminação o axônio emite
pequenos ramos colaterais, que constituem a sua arborização terminal. Antes de emitir a arborização
terminal o axônio pode percorrer uma distância que varia de micrômetros a um metro ou mais. Os
dendritos são prolongamentos curtos, que variam de um a milhares, dependendo das características
morfológicas do neurônio. Os axônios e os dendritos são freqlientemente denominados de fibras
nervosas, enquanto alguns autores restringem o uso do termo fibra nervosa para designar o conjunto
formado pelo axônio e seus envoltórios.
Os impulsos nervosos são conduzidos pelos dendritos em direção ao corpo celular, enquanto os
axônios geralmente conduzem impulsos do corpo celular em direção a outro neurônio ou a um órgão
efetuador.
No sistema nervoso central (SNC) os corpos celulares dos neurônios são encontrados em grande
quantidade na substância cinzenta do encéfalo e da medula espinal, enquanto no sistema nervoso
periférico (SNP) são encontrados em gânglios sensitivos e motores.
De acordo com o número de prolongamentos apresentados pelos neurônios eles podem ser
morfologicamente classificados em:
Neurônios pseudo-unipolares - são aqueles em que apenas um prolongamento parte do corpo
celular, porém a seguir divide-se em dois , assemelhando-se a um T, com um prolongamento periférico
que se dirige para a periferia, onde se ramifica, apresentando terminações nervosas denominadas
receptores, e um prolongamento central , que se dirige para o SNC. Funcionalmente esses neurônios
são classificados como sensitivos, e seus corpos são encontrados nos gânglios sensitivos.
Neurônios bipolares - são aqueles em que dois prolongamentos, um axônio e um dendrito
originam-se em pólos distintos do corpo celular. Esses neurônios são sensitivos, e seus corpos são
encontrados na retina , na orelha interna e na mucosa olfatória.
Neurônios multipolares - são aqueles que possuem um axônio e numerosos dendritos. É o tipo
encontrado em maior quantidade; funcionalmente podem ser motores ou de associação.
Os neurônios sensitivos, de associação e os motores atuam conjuntamente, formando os arcos
reflexos. O local de comunicação entre os neurônios é denominado sinapse. São encontrados muitos
tipos de sinapses , dentre elas as que acontecem entre o axônio de um neurônio e o dendrito de outro
(sinapse axodendrítica), entre o axônio e o corpo celular (sinapse axossomática), entre dois axônios
(sinapse axoaxônica) e entre dois de ndritos (sinapse dendrodendríticas). Também há sinapses
neuroefetuadoras, formadas pelo contato do axônio de um neurônio motor com fibras musculares ou
com células secretoras.
Na maioria das sinapses existe um espaço entre as estruturas dos dois neurônios comunicantes
(fenda sináptica), e o impulso nervoso só consegue ultrapassá-las quando ocorre a liberação de
neurotransmissores, substâncias químicas que transmitem o impulso de um neurônio a outro, sendo
18 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

a seguir reabsorvidas.
Nas regiões periféricas do corpo as terminações do prolongamento neuronal constituem estru-
turas especializadas, que podem ser morfológica e funcionalmente diferentes. Do ponto de vista fun-
cional elas podem ser divididas em:
Terminações nervosas motoras - encontradas na extremidade das fibras ·nervosas motoras dos
nervos espinais e cranianos. Suas junções com as fibras musculares ou com células secretoras são
semelhantes às sinapses e recebem a denominação de junções neuromusculares e neuroglandulares.
Terminações nervosas sensitivas ou receptores - encontradas nas extremidades periféricas dos
neurônios sensitivos, que constituem as vias aferentes somáticas e viscerais.
De acordo com sua localização os receptores são classificados em: a) interoceptores ou
visceroceptores, encontrados em vasos sangüíneos e vísceras. A maioria dos impulsos originados por
interoceptores são inconscientes; informam ao Sistema Nervoso Central sobre o teor de oxigênio no
sangue, pressão arterial e osmótica do sangue, níveis de glicose circulante, etc. Originam também
sensações pouco precisas, como fome, sede, dor visceral e prazer sexual; b) proprioceptores, localiza-
dos em músculos, fáscias musculares, ligamentos e cápsulas articulares, que informam de maneira
inconsciente ao cerebelo sobre a posição do corpo no espaço, o ângulo das articulações e o grau de
contração dos músculos, permitindo ao cerebelo, por meio de interações com outras estruturas
encefálicas, realizar correções ·posturais e manter o equilíbrio. Enviam também estímulos para o
córtex encefálico, permitindo o sentido consciente de posição e movimento; c) exteroceptores, locali-
zados na superficie corporal. Captam estímulos luminosos, olfativos, gustativos, de temperatura, de
pressão, táteis e dolorosos.
Os receptores que captam estímulos luminosos são encontrados na retina; produzem impulsos
nervosos que, após percorrerem a via da visão, resultam nas percepções visuais. Tais estímulos, cap-
tados pela retina, servem também para informar ao núcleo supraquiasmático do hipotálamo e ao
corpo pineal as variações na intensidade luminosa ocorrida durante o dia, e no decorrer do ano,
permitindo ao organismo sincronizar-se com as variações ambientais, preparar antecipadamente para
interagir de maneira eficiente com as variações relacionadas aos movimentos de rotação (claro e escu-
ro) e translação da Terra (variações sazonais), bem como com outras variáveis ambientais recorrentes.
Na pele são encontradas numerosas terminações ne rvosas sensitivas e motoras, que promovem
a integração do organismo com o meio ambiente. Os receptores de temperatura informam ao sistema
nervoso central as condições ambientais, o qual responde, adaptando o organismo por meio de
mecanismos inconscientes, como a piloereção em situações de frio, ou aumento da sudorese em situ-
ações de calor. Utiliza-se também de mecanismos conscientes, como fazer abrir ou fechar uma janela e
ligar um ventilador.
Os receptores de pressão evitam compressões excessivas ou prolongadas, impedindo lesões ou
morte dos tecidos. Os receptores da dor protegem o organismo contra danos, uma vez que, quando
ativados, informam ao sistema nervoso central sobre a agressão. Esses receptores respondem das
mais diversas formas, para evitá-la e impedir a destruição do organismo.

Devido à existência de grande quantidade de receptores da dor na pele, os processos inflamató-


rios relacionados a lesões causadas por microrganismos, traumas mecânicos e por agentes
fisicos e químicos são muito dolorosos. Os vírus da Família Herpes viridae provocam manifesta-
ções cutâneas (bolhas) muito dolorosas, pois infectam nervos e terminações nervosas cutâneas.
Geralmente manifestam-se em períodos de baixa do sistema imune.

Células da glia

Em conjunto com os neurônios do SNC são e ncontradas as células da glia (neuróglia), que têm
por função: fornecer suporte estrutural para os neurônios; nutrir por meio do transporte de nutrientes,
a partir do sangue; proteger o sistema nervoso de agentes infectantes e colaborar para a remoção de
partículas por meio de ação fagocítica; atuar na remoção de produtos do metabolismo; participar na
transmissão de impulso e formação de memória.
Introdução ao Estudo do Sistema Nervoso 19 .

Os neurônios, juntamente com a neuróglia, formam o tecido nervoso, o qual forma o sistema
nervoso.
No sistema nervoso central são encontradas células da glia com morfologia e função distintas,
as quais são denominadas de macróglia (astrócitos e oligodendrócitos), micróglia e células ependimárias.
Os astrócitos são as células mais numerosas da neuróglia; conferem a maior parte do suporte
estrutural para os neurônios, no sistema nervoso central. São fundamentais na manutenção e regulação
da composição do líquido extracelular, que garante a vid.t e o funcionamento normal dos neurônios.
Os oligodendrócitos apresentam prolongamentos que se enrolam ao redor dos axônios do sis-
tema nervoso central, sendo responsáveis pela formação da bainha de mielina. Função semelhante é
desempenhada no sistema nervoso periférico pelas células neurolemais (células de Schwann), cuja
membrana plasmática, à semelhança dos oligodendrócitos, enrola-se ao redor do axônio, formando as
camadas concêntricas de membrana plasmática que constituem a bainha de mielina.
A micróglia é formada por células pequenas, que atuam como fagócitos, os quais removem
partes de células mortas durante o desenvolvimento normal do sistema nervoso, ou material estra-
nho. Lesões do sistema nervoso com extravasamento de sangue estimulam a transformação das
micróglias em macrófagos móveis.
As células ependimárias revestem o interior dos ventrículos encefálicos e o canal central da
medula espinal. Células ependimárias modificadas envolvem redes vasculares denominadas plexos
corióideos, os quais produzem o líquido cerebrospinal.
No SNP são encontradas células satélites ou anficítos envolvendo os corpos dos neurônios pre-
sentes nos gânglios sensitivos e nos gânglios do sistema nervoso autônomo. Associada aos neurônios
intramurais do intestino encontra-se a glia entérica, e ao redor dos axônios que constituem os nervos
encontram-se neurolemócitos (células de Schwann), que envolvem axônios de neurônios das fibras
nervosas mielínicas e amielínicas dos nervos.
As células de Schwann e os neurônios influenciam-se mutuamente; dessa forma os neurônios,
por meio de seus axônios, liberam fatores químicos que podem induzir ou reprimir a proliferação
dessas células e .modificar sua migração e crescimento, ou ainda estimular sua proliferação. As células
de Schwann influenciam o crescimento e a diferenciação dos axônios, bem como liberam fatores solú-
veis que orientam o crescimento axonal, promovem sua manutenção e asseguram sua sobrevivência.
A bainha de mielina, formada pelas células de Schwann (SNP) e por oligodendrócitos (SNC), age como
um isolante elétrico para as fibras nervosas. Sua presença promove a aceleração da condução dos
impulsos nervosos. A mielinização, que começa na vida fetal, é intensa até o segundo ano de vida,
porém continua a ocorrer com menor intensidade até a adolescência. O controle dos esfincteres anal e
vesical ocorre geralmente por volta dos dois anos de idade, ocasião em que as fibras nervosas desti-
nadas aos músculos estriados esqueléticos que formam o esffncter externo da uretra e o esfincter anal
estão suficientemente mielinizadas.

Aesclerose múltipla é uma doença crônica desmielinizante, que atinge as bainhas de mielina de
fibras nervosas da medula espinal e do encéfalo. O paciente apresenta atividade lenta, hesitante,
imprecisa, o que se manifesta na fala e em atividades motoras, podendo ocorrer sensibilidade
anormal, comprometimento visual unilateral, paralisia espástica e reflexos exagerados. Isso de-
corre da redução na rapidez e na precisão da transmissão nervosa em fibras que perderam a
mielina. Até o momento a causa dessa doença é desconhecida.

Constituição e distribuição das substâncias cinzenta e branca

No sistema nervoso central encontram-se: áreas claras, denominadas de substância branca, cons-
tituídas por fibras nervosas mielínicas e neuróglia, sendo a mielina responsável pela aparência
esbranquiçada; áreas escuras, denominadas de substância cinzenta, onde se concentram corpos de
neurônios, fibras amielínicas e neuróglia; áreas que intercalam o cinza e o branco, denominadas de
substância reticular, constituídas de corpos de neurônios e axônios misturados entre si, com aparência
de rede. No encéfalo a substância cinzenta pode estar localizada na periferia, formando uma casca
20 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

denominada córtex, ou contida na substância branca, caso que é denominada de núcleo nervoso. Na
· medula espinal, a substância cinzenta tem o aspecto da letra "H", circundado pela substância branca.

Divisão anatômica do sistema nervoso

Com finalidade didática, o sistema nervoso é dividido anatomicamente em sistema nervoso


central e sistema nervoso periférico.
O sistema nervoso central é formado pelo encéfalo (tronco encefálico, cérebro e cerebelo) e pela
medula espinal, que ficam alojados no interior do crânio e no canal vertebral, respectivamente.
O sistema nervoso periférico é a parte do sistema nervoso encontrada fora do crânio e da
coluna vertebral. É constituído por nervos ( espinais e cranianos), terminações nervosas (sensitivas e
motoras), e gânglios sensitivos e motores.
Introdução ao Sistema Nervoso 21

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MORFOLOGIA DOS NEURÔNIOS

AR:xHeftexo
'D - Corpo celular (perlcárlo) slmples pollsslnópttco
'íJD.\ - Núcleo
© - Corpúsculos de Nissl
~ - Dendrites
ID -Axônlo
~ - Prolongamento periférico
~ - Prolongamento central
Neuõno
~ - Terminal axônico de OllOdaçõo

~ - Terminação nervosa motora


~:M - Terminação nervosa sensitiva
~ - Bainha de mielina
22 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

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' 38

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'
SINAPSE '
'íl - Axônios pré-sinápticos
~ - Terminal axônico pré-sináptico
ID - Neurônio pós-sináptico
IDfü - Corpo celular
ID3 - Dendrito
~- Axônio
~ - Bainha de mielina
~ - Fenda sináptica
!D - Mitocôndria
® - Vesículas sinápticas
(Neurotransmissor)
Introdução ao Sistema Nervoso · 23

5A 5

axônlo

CÉLULAS DA GLIA

'íl - Astrócito
6l - Oligodendrócito
'?d&i. - Prolongamentos do
oligodendrócito
~ - Bainha de mielina
ID - Micróglia
~ - Células ependimárias
~ - Núcleo da c é lula de Schwann
(Neurolemócito)
~& - Bainha de mielina
24 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmico

3 - SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Marcflio Hubner de Miranda Neto


Silvana Regina de Melo

O Sistema Nervoso Central é formado pelo encéfalo e pela medula espinal, que ficam alojados
no interior do crânio e no canal vertebral, respectivamente.
No encéfalo distinguem-se as seguintes porções: cérebro, tronco encefálico e cerebelo.
O cérebro é formado por telencéfalo e diencéfalo.

Telencéfalo

O telencéfalo apresenta dois hemisférios cerebrais: direito e esquerdo, separados pela fissura
longitudinal do cérebro, porém internamente unidos por fibras comissurais que formam o corpo caloso,
comissura anterior e fórnice. Em sua superfície encontram-se numerosas protuberâncias, chamadas de
giros. Os giros são delimitados por fendas que recebem o nome de sulcos. A área cortical do telencéfalo,
denominada córtex cerebral, representa a maior parte do volume total do cérebro. No córtex os impul-
sos sensoriais tornam-se conscientes e podem ser interpretados, originando as percepções. Nele são
programadas as respostas motoras e deflagrados os impulsos para que os movimentos voluntários se
efetivem. É também a sede de processos psíquicos complexos, como pensamento, criatividade, emo-
ções e memória. A consciência que se tem da individualidade e da inserção no ambiente são expres-
sões corticais.
Cada hemisfério cerebral é dividido em cinco lobos: frontal , parietal, occipital, temporal e insu-
lar, os quais são delimitados por sulco lateral, sulco central, sulco parietoccipital, incisura pré-occipital
e sulco circular da insula. Cada lobo é subdivido em giros.
O lobo frontal constitui o maior lobo, separado anatomicamente do lobo parietal por meio do
sulco central, e do lobo temporal por meio do sulco lateral. Participa de funções intelectuais como :
planejamento do futuro, raciocínio, pensamento abstrato, comportamento agressivo e sexual,
seletividade do processo de atenção e memória, fala, linguagem e coordenação dos movimentos vo-
luntários. No córtex do giro pré-central existem grupamentos neuronais responsáveis pelo comando
dos movimentos de grupos musculares específicos; se esses neurônios forem lesados, o grupamento
muscular para os quais eles enviavam comandos motores fica paralisado.

No lobo parietal é que se encontra o córtex somatossensorial, local de chegada e de interpreta-


ção dos impulsos nervosos relacionados às sensações gerais , como dor, temperatura, tato, pressão e
propriocepção, originadas em receptores de todo o corpo, e sensações especiais, como paladar. Além
disso, está relacionado ao uso de símbolos como meio de comunicação. O lobo parietal desempenha
papel fundamental na confirmação dos movimentos já realizados e na decisão de quais movimentos
devem prosseguir, para que uma idéia seja levada a termo. No giro pós-central do lobo parietal encon-
tra-se o córtex somatossensorial primário, que recebe, via tálamo, as informações sensoriais do corpo,
possibilitando a tomada de consciência das sensações; essas são encaminhadas para o córtex
somatossensorial secundário, que fica ao redor do córtex somatossensorial primário, onde são compa-
radas com informações já existentes e discriminadas de modo mais específico , originando idéias e
dando início à programação de respostas motoras.
Lesões no córtex somatossensorial primário prejudicam a discriminação das sensações origina-
das em diferentes tipos de receptores, com perda da sensibilidade discriminativa do lado oposto à
lesão, comprometendo, inclusive, a consciência do esquema corporal, enquanto lesões no córtex
somatossensorial secundário levam à perda da percepção espacial do corpo, diminuem a capacidade
de interpretação de experiências somáticas e comprometem a execução de movimentos, deixando-os
Sistema Nervoso Centrai 25

fragmentados e confusos, devido à dificuldade para finali zar um plano de ação, o que caracteriza o
quadro denominado de apraxia.
O lobo temporal está relacionado com audição, olfato, linguagem, ordenação do pensamento,
memória, comportamento emocional, incluindo raiva, hostilidade e comportamento sexual. O lobo
temporal do hemisfério dominante é responsável pela interpretação dos significados complexos de
diferentes experiências sensoriais e pelo estado de consciência. É nele que ocorre a discriminação
integrada dos estímulos sensitivos provenientes da:> áreas secundárias auditivas, visuais e
somatossensoriais, permitindo ·a interpretação consciente das experiências vivenciadas e a seleção das
informações que serão direcionadas para a formação da memória. Lesões em áreas do lobo temporal
do hemisfério dominante, conjuntamente com áreas adjacentes do lobo parietal provocam incapacida-
de para ordenar as palavras ouvidas em pensamentos coerentes; para perceber a mensagem contida
em palavras escritas; comprometem o esquema corporal e a compreensão do significado das experiên-
cias sensoriais somáticas. A perda dessa área, no adulto, resulta em vida posterior próxima à demên-
cia.
O lobo occipital relaciona-se fundamentalmente com a visão.
O lobo ínsular está relacionado à percepção e à geração de respostas emocionais.

Núcleos da base

Em cada hemisfério cerebral encontram-se incluídos, em meio à substância branca, os núcleos


da base, os quais participam da regulação da motricidade, do comportamento sexual e da agressividade.
São eles: núcleo caudado, com forma alongada e arqueada; núcleo lentiforme, que está subdividido
em putame e globo pálido; corpo amigdalóide, localizado na cauda do núcleo caudado, pertence ao
sistema límbico; e claustro, cuja função é desconhecida. Devido ao aspecto, o núcleo candado, o
putame e o globo pálido são denominados, em conjunto, como corpo estriado, cuja função está rela-
cionada com a motricidade somática, pois suas conexões com as áreas motoras do córtex exercem
influências sobre a execução do movimento voluntário já iniciado e sobre o planejamento do ato
motor, agindo paralelamente com o cerebelo na organização do ato. motor voluntário.
Lesões nos núcleos da base e na substância negra encontrada no mesencéfalo estão relaciona-
das com a doença de Parkinson, que geralmente ocorre após os 50 anos, caracterizada por tremor,
rigidez e oligocinesia.
O telencéfa lo possui também duas cavidades, denominadas ventrículos laterais.

Diencéfalo

O diencéfalo, é encoberto pelo telencéfalo, ocupa posição mediana. É constituído por: tálamo,
hipotálamo, epitálamo e subtálamo, e por uma cavidade ímpar, mediana, denominada Ili ventrículo.
Apresenta comunicação com o telencéfalo e com o mesencéfalo.
Dentre outras formações que se relacionam com o diencéfalo encontram-se a hipófise e o quiasma
óptico. O diencéfalo expressa-se por meio do sistema nervoso autônomo; portanto, coordena ativida-
des da vida vegetativa, como por exemp lo fome, sede, temperatura, sono e vigília, relacionando-se
também com motricidade, sensibilidade e comportamento emocional.
O tálamo é formado por duas massas ovóides, que se comunicam por meio da aderência
intertalâmica. Constituído principalmente por substância cinzenta, está relacionado às seguintes fun-
ções: é o centro integrador de todos os impulsos sensitivos (com exceção dos olfatórios) que se diri-
gem para o córtex cerebral; participa da ativação do córtex cerebral devido às suas conexões com o
Sistema Ativador Reticular Ascendente (SARA); está envolvido com a motricidade e o comportamento
emocional.
Os centros reguladores do hipotálamo controlam: a atividade endócrina, por meio de sua rela-
ção com a glândula hipófi se; as expressões funcionais do sistema nervoso autônomo, como regulação
da temperatura, equilíbrio hídrico, freqüência cardíaca, pressão sangüínea e atividade gastrointestinal.
26 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

O hipotálamo, juntamente com o sistema límbico e o lobo frontal regula processos emocionais
como raiva, medo, calma, comportamento sexual, bem como fome e saciedade. Em integração com o
órgão da visão coordena a liberação do hormônio melatonina pela glândula pineal, presente no
epitálamo. Esse hormônio é fundamental para a organização dos ritmos circadianos.
O subtálamo, localizado na transição com o mesencéfalo, pode ser observado apenas em corte.
É importante para a regulação da motricidade somática. Lesões do núcleo subtalâmico provocam
movimentos anormais das extremidades, caracterizando o hemibalismo, movimentos violentos que
muitas vezes não desaparecem nem com o sono, podendo provocar exaustão.

Tronco encefálico

O tronco encefálico é formado por mesencéfalo, ponte e bulbo, ou medula oblonga. Apresenta
uma cavidade denominada IV ventrículo.
O mesencéfalo está localizado entre o diencéfalo e a ponte. É constituído ventralmente pelos
pedúnculos cerebrais, e dorsalmente pela lâmina do teto (colículos superiores e inferiores), a qual se
relaciona com a transmissão de estímulos visuais e acústicos, respectivamente. Em sua face anterior é
percorrido por vias ascendentes e descendentes, e também estabelece conexões com o cerebelo. É
atravessado por um canal denominado aqueduto do mesencéfalo, que permite a passagem do líquido
cerebrospinal do Ili ventrículo para o IV ventrículo.
A ponte está interposta entre o mesencéfalo e o bulbo. É constituída, em sua parte dorsal, por
feixes de fibras ascendentes e descendentes, e em sua parte ventral, principalmente por feixes transver-
sais, que convergem para formar os pedúnculos cerebelares médios.
O bulbo ou medula oblonga é a continuação cranial da medula espinal. É constituído por vias
ascendentes e descendentes e por núcleos. Na face ventral do bulbo encontra-se, de cada lado, uma saliên-
cia longitudinal denominada pirâmide, formada por fibras nervosas provenientes do córtex cerebral, que
descem em direção à medula espinal, conduzindo impulsos nervosos relacionados à motricidade voluntá-
ria. Após percorrerem as pirâmides, grande parte das fibras provenientes do lado direito do encéfalo
cruzam o plano mediano para o lado esquerdo, e as do lado esquerdo cruzam para o lado direito, originan-
do a decussação das pirâmides. Essas vias formam o sistema piramidal, cujas lesões produzem paralisias.
Se a via for lesada antes da decussação, a manifestação ocorrerá no lado oposto do corpo.
Internamente o tronco encefálico apresenta diversos núcleos nervosos, pois dos 12 pares de ner-
vos cranianos 1O fazem conexão nessa estrutura. Além desses núcleos encontra-se a formação reticular,
que possui amplas e variadas conexões, tendo relações nos dois sentidos com o cérebro, o cerebelo e a
medula espinal. Atua nos mecanismos de ativação do córtex cerebral, na regulação do sono, na regulação
do processo de atenção, na regulação dos neurônios motores e na integração de reflexos. Fazem parte
da formação reticular do bulbo: o centro do vômito, o centro respiratório e o centro vasomotor.
O vômito é geralmente desencadeado por irritação da mucosa gastrointestinal; ocorre para
remover substâncias nocivas que foram ingeridas e que se encontram no estômago, no duodeno ou no
jejuno proximal. No tubo digestivo, os receptores sensoriais capazes de desencadear o reflexo do
vômito são encontrados nas fauces (garganta), na faringe, no estômago e no intestino. O estímulo de
um receptor do vômito gera um impulso nervoso que segue pelas fibras sensitivas do nervo vago,
chegando ao encéfalo e atingindo a seguir o centro do vômito. Daí partem estímulos que descem pelas
fibras motoras dos nervos vago e frênico, ocorrendo então um período de náuseas, com aumento da
salivação e sensações desagradáveis. O conteúdo do jejuno e do duodeno reflui para o estômago, e o
piloro contrai-se; a seguir, os músculos abdominais e o diafragma também se contraem, forçando o
alimento contra o esôfago.

Ovômito, além de remover substâncias irritantes, leva à perda de água e de eletrólitos, inteifere na
ingestão de alimentos e impede a absorção de nutrientes. Sua incidência por períodos prolongados
provoca desidratação, alcalose metabólica e perda de peso. Apresença de receptores do vômito
no útero, na orelha e no coração explicam a ocorrência de vômito nos casos de miorna, gravidez,
problemas cardíacos, doenças do labirinto e tonturas relacionadas a movimentos giratórios.
Sistema Nervoso Central 27

O centro respiratório recebe estímulos relacionados ao grau de distensão dos alveólos pulmo-
nares por meio de fibras sensitivas do nervo vago. Do centro respiratório saem fibras que se comuni-
cam com neurônios das porções cervical e torácica da medula espinal, que por sua vez terminam
fazendo sinapse com os músculo diafragma (via nervo frênico) e os intercostais (via nervos intercos-
tais). Essas vias mantê m a atividade reflexa da respiração.
Há outros fatores que interferem na respiração, como os emocionais e as elevações no dióxido
de carbono circulante, que estimulam diretamente o centro respiratório. Ainda, reduções no oxigênio
estimulam quimiorreceptores do corpo carotídeo, que enviam estímulos para o centro respiratório
pelo nervo glossofaríngeo, passando pelo núcleo do tracto solitário.
O centro vasomotor regula o tônus da parede dos vasos sangliíneos. Expressa-se por meio do sistema
nervoso autônomo, determinando taquicardia, aumento da força de contração cardíaca, vasoconstrição e
elevação da pressão arterial. Em situação de tensão emocional (raiva, medo, ansiedade, situações de perigo),
é influenciado pelo hipotálamo e pelo sistema límbico, causando elevação da pressão arterial. Situações de
tensões contínuas podem também contribuir para o surgimento de quadros de hipertensão arterial.

Cerebelo

É o órgão encefálico relacionado ao equilíbrio, à coordenação dos movimentos e à aprendizagem


motora. Apresenta dois hemisférios cerebelares, unidos em sua porção mediana pelo verme cerebelar (árvo-
re da vida). A substância cinzenta ocupa principalmente posição periférica, constituindo o córtex cerebelar.
Filogeneticamente o cerebelo evoluiu, adequando-se às necessidades de adaptação do organismo ao meio.
Baseando-se nessa evolução, o cerebelo é dividido em arquicerebelo, paleocerebelo e neocerebelo.
O arquicerebelo recebe impulsos dos canais se micirculares da ore lha, os quais informam sobre
a posição do animal, possibilitando ao cerebelo a coordenação da atividade muscular e a manute nção
do equilíbrio . O arquicerebelo é encontrado a partir dos ciclóstomos, an imais que possuem movimen-
tos ondulatórios simples, porém necessitam de equilíbrio no meio líquido.
Humanos aco metidos por processos inflamatórios do labirinto (labirintite), insuficiência vascular
e tra umatismo na orelha média e interna enviam estímulos nervosos anômalos, por meio de um nervo
que une a orelha interna ao cerebelo (nervo vestíbulococlear), provocando vertigens, as quais podem
também ser causadas por hipertensão arterial e por tumores que resultam em compressão do cerebelo
ou do nervo vestibulococlear.
O paleocerebelo estabelece numerosas conexões com a medula espinal. É encontrado a partir
dos peixes, com função de regulação do tônus muscular e manutenção da postura. Recebe estímulos
d e receptores denominados de fusos neuromusculares, e de órgãos neurotendíneos. Esses estímulos
percorrem os nervos periféricos, a medula espinal, o bulbo, e chegam ao cerebelo.
O neocerebelo é encontrado nos mamíferos. Possui numerosas conexões com o córtex encefálico.
Coordena movimentos delicados e assimétricos , podendo suas lesões causar incoordenação motora.
Nos mamíferos, além do neocerebelo encontramos o arquicerebelo, re lacionado ao equilíbrio, e o
paleocerebelo, que regula o tônus muscular e a postura.

Medula espinal

É o segmento do sistema nervoso central localizado no interior do canal vertebral. Nela a


s ubstância cinzenta, em cortes transversais, possui o aspecto de um H. O corno posterior desse H
relaciona-se com a sensibilidade somática e visceral, e o anterior, com a motricidade somática. Nos
segmentos torácicos e lombares da medula espinal encontra-se também o corno latera l, relacionado à
motricidade visceral. Em torno da substância cinzenta está a substância branca, representada princi-
palmente por axônios de neurônios envolvidos por uma bainha de mielina, e pelas células da glia,
formando os funículos anterior, lateral e posterior. Os axônios encontrados nos funículos agrupam-se
em feixes denominados de tractos, os quais, constituem as vias que conduzem estímulos em direção
ao encéfalo (vias ascendentes) e do encéfalo para a medula espinal (vias descendentes). São também
28 Anatomia Humano: aprendizagem dinâmico

encontradas vias de associação que interligam diferentes níveis da medula espinal.


De cada lado, e em conexão com a medula espinal encontram-se as raízes nervosas sensitivas e
motoras, que se reúnem formando os nervos espinais, responsáveis pela inervação do tronco, dos
membros e de parte da cabeça.

Envoltórios do SNC

O encéfalo e a medula espinal são envolvidos pelas meninges (dura-máter, aracnóide-máter e


pia-máter), membranas de tecido conjuntivo que protegem o encéfalo e a medula espinal.
A dura-máter é a mais externa e a mais resistente das meninges, devido a sua constituição ser de
tecido conjuntivo fibroso denso modelado, muito rico em fibras colágenas. A parte encefálica da dura-
máter apresenta dois folhetos: o externo é firmemente aderido aos ossos e o interno projeta-se para o
interior do crânio, formando pregas denominadas de foice do cérebro, foice do cerebelo e tentório do
cerebelo. Em alguns locais os folhetos afastam-se entre si, originando os seios da dura-máter, canais
venosos revestidos de endotélio, que recebem o sangue venoso proveniente das veias do encéfalo e do
bulbo ocular, e o encaminham para as veias jugulares.
O espaço entre a dura-máter e o periósteo da vértebra é denominado espaço epidural (esse
espaço não existe no crânio porque a dura-máter está intimamente aderida aos ossos cranianos). Entre
a dura-máter e a aracnóide-máter encontra-se o espaço subdural, e entre a aracnóide-máter e a pia-
máter, o espaço subaracnóideo (leptomeníngeo).

Os anestésicos peridurais, que eliminam, sobretudo, a sensibilidade, são administrados no espa-


ço epidural. Os anestésicos raquidianos são administrados no espaço subaracnóidco; atingem as
raízes sensitivas e motoras, abolindo a sensibilidade e a motricidade.
Processos inflamatórios das meninges causados por bactérias, fungos ou vírus são denominados
de meningite. Ocorre hipertensão intracraniana, que se manifesta com dores de cabeça, vômito
em jato (devido à compressão do centro do vômito) e hipertonia muscular. A progressão do
quadro leva à compressão do sistema nervoso central como um todo, interferindo no centro da
respiração e levando à parada respiratória e à morte.

Produção e absorção de líquido cerebrospinal (LCE)

O LCE é um líquido claro que contém linfócitos, é pobre em proteínas, sendo sua composição
iônica semelhante à do líquido extracelular do encéfalo.
O sistema nervoso central, no vivente, tem consistência gelatinosa, o que o torna muito sensí-
vel, fazendo-se necessária a proteção pelas meninges, e além disso, para que não seja esmagado pelo
próprio peso, encontra-se imerso em cerca de 100 mi de LCE. Esse líquido é produzido, na sua maior
parte, pelos plexos corióideos, e em menor proporção pelo epêndima, que reveste os ventrículos, e
por vasos da meninge aracnóide-máter. A produção do LCE é lenta e contínua. O LCE produzido nos
ventrículos laterais passa pelo forame interventricular indo para o terceiro ventrículo, onde se soma ao
LCE ali produzido; a seguir atravessa o aqueduto do mesencéfalo, indo para o IV ventrículo, onde
também é produzido LCE. A seguir, parte do LCE circula pelo canal central da medula e parte atravessa
as aberturas medianas e laterais do IV ventrículo. Após ganha o espaço subaracnóideo, por onde
circula, sendo reabsorvido e lançado no sangue venoso, principalmente pelas granulações aracnóideas
que se projetam no interior dos seios da dura-máter.
O LCE desempenha as seguintes funções: proteção mecânica, por funcionar como um colchão
de água ao redor do sistema nervoso central, o que suaviza intensamente possíveis impactos contra o
tecido ósseo que protege o sistema nervoso central; regulação química, por funcionar como um meio
líquido para eliminação de detritos e também porque a elevação da concentração de dióxido de carbo-
no no LCE, que banha o tronco encefálico, estimula o centro respiratório; fornece nutrientes para o
tecido nervoso adjacente aos ventrículos e protege de infecções, uma vez que possui anticorpos e
células de defesa, principalmente linfócitos.
Sistema Nervoso Central 29

6A
1 Encéfalo: secção frontal 1

ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO


Sistema NeNoso Central (SNC)
'íJ - Encéfalo
íJ~ - Telencéfalo
íJ® - Diencéfalo 4
'íl<S - Ce rebelo
íJ!ID - Tronco encefálico
~ - Medula Espinal

Sistema Ne Noso Periférico (SNP)


~ - NeNos cranianos (12 pares)
~ - NeNos espinais (31 pares)
~ - Gânglios sensitivos dos neNos
espinais

Hemisférios cerebrais (corte frontal)


fu'5 - Fissura longitudinal do cérebro
® - Substâ ncia cinzenta (córtex c erebral)
®fü - Núcleos da Base
"lJ - Substânc ia Branca

......
30 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

HEMISFÉRIOS CEREBRAIS
íl - Sulco central
~ - Sulco lateral

~ - lncisura pré-occipital
~ - Sulco parietocclpital
~ - LOBO FRONTAL
~- Giro pré-central lvista lateral!
!!'iOO - Giro frontal superior
!!5i'.S - Giro frontal médio
!!5@ - Giro frontal inferior

~ - Giro do cíngulo
!!i(F - Lóbulo paracentral
(porção frontal)

© - LOBO PARIETAL
©&. - Giro pós-central
©rn - Lóbulo parietal superior
©(S - Lóbulo parietal inferior
<f:lID - Giro angular
~ - Giro supramarginal
®' - Lóbulo paracentrol
(porção parietal)
~ - Pré-cúneo
@()() - Giro do cíngulo
'lJ - LOBO TEMPORAL
'lJ!JJ - Giro temporal superior
'lJID - Giro temporal médio
!vista medial!
m; - Giro temporal inferior
íJIID - Giro occipitotemporal 11
medial
~ - Giro parahipocampal
'lJJi - Únco
~ - Giro occipitotemporal
lateral
ffi - LOBO OCCIPITAL
ffifJJ - Cúneo
® - Lobo Insular
'íl® - Cortéx cerebral
ílíl - Substância branca

vista lateral
seccionad
10
Sistema Nervoso Central 31

5
. . .......

2A

NÚCLEOS DA BASE
'íl - Núcleo caudado
~ - Núcleo lentiforme
~~ - Putame
24]3 - Globo pálido
ID - Corpo amigdalóide
~ - Claustro

Estruturas próximas:
li) - Ventrículo lateral
® - Corpo caloso
?J - Tálamo
@- Ili Ventrículo
® - Núcleo subtalâmico
'íl® - Sustância negra 8
'íl'íl - Hipocampo
9
3 encéfalo:
secção frontal
DIENCÉFALO

'íl'íl - Tálamo
'íl'íl~ - Sulco hipotalâmico
'íl'íl® - Aderência
intertalâmica
'íl~ - Hipotálamo
'í@~ - Corpo mamilar
'íl24]3 - Túber cinéreo
'íl~ - lnfundíb ulo da
hipófise
'íl24:ID - Quiasma Óptico
*Glandula hipófise
'ílID - Epitálamo
'ílID~ - Glândula pineal
128
'íl~ - Subtálamo encéfalo:
12C secção sagítal
12A
32 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

lC
10

Jsecção sagitaq
2B
gl. pineal

lC
10
lf

lG TRONCO ENCEFÁLICO
2A 'íl- Mesencéfalo
3E 'íl& - Nervo oculomotor
'íl(fil - Aqueduto do mesencefálo
28 'í](6 - Colículo superior
'íJ@) - Colículo Inferior
ill: - Pedúnculo cerebral
'íJIF - Nervo troclear
Jvista posterior 1
íJ@l - Pedúnculo cerebelar superior
lE
~ - Ponte
~ - Pedúnculo cerebelar médio
~ - rv ventrículo
ID - Bulbo
~ - Fissura mediana anterior
~- Pirâmide
ID<S - Decussação das pirâmides
ID[Q) - Oliva
~ - Pedúnculo cerebelar inferior

30

1 vista anterior 1
Sistema NeNoso Central 33

córtex
cerebelar
4

LOBOS DO CEREBELO
7
'il - Língula
~ - Lóbulo central
~ - Cúlmen
~ - Declive
!;l) - Folha do verme
!secção sagital 1
® - Túber
'iJ - Pirâmide
® - ÚVula
9
® -Nódulo
'il®- Hemisfério cerebelar direito
'[]'[] - Hemisfério cerebelar esquerdo
'il~ - Verme do cerebelo
'íID - Fissura primária
'[]~ - Folhas do cerebelo 12
'ilffi - Corpo medular do cerebelo
11

14

1 vista posterior 1
34 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

MEDULA ESPINAL
E NERVO ESPINAL
'íl - Substância cinzenta
;;J - Substância branca
~ - Raiz dorsal do n. espinal
IDfü - Gânglio sensitivo do
neNo espinal
~ - Raiz ventral do n. espinal

~ - NeNo espinal
® - Prolongamento
periférico do axônlo do
neurônio sensitivo
'lJ - Axônlo do neurônio motor

Envoltório dos NeNos


ffi - Epineuro
® - Perineuro
'íl® - Endoneuro
'íl'íl -Axônio
'ílâl - Bainha de mielina
~ - Vasos sangüíneos

12
Sistema Nervoso Central 35

segmento cervical

RELAÇÃO DOS SEGMENTOS


MEDULARES COM A COLUNA segmento toróclco
VERTEBRAL
©íJ a @- Segmentos cervicais
mJ a 'íl~ - Segmentos torácicos
!!::'íl a ~ - Segmentos lombares
~ a ~ - Segmentos sacrals
CS@'íl - Segmento coccígeo

Substância cinzenta
~ - Coluna anterior segmento lombar
~ - Coluna posterior
~ - Coluna lateral

Substância branca
® - Funíc ulo anterior
~ - Funículo lateral
!F - Funículo posterior

~ canal central da medula


-1> fissura mediana anterior

segmento sacral
36 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

MENINGES
íl - Medula espinal
~ - Raiz dorsal do n. espinal
~
- Gânglio sensitivo de nervo §ecção transversal I
espinal
~ - Raiz ventral do n. espinal
~ - Nervo espinal
~ - Pia-máter
® - Espaço subaracnóldeo
'j} - Aracnóide-máter
00 - Espaço subdural
® - Dura-máter espinal
íl® - Dura-máter craniana
íl®~ - Foice do cérebro
íJ®]3 - Tentório do cerebelo

108

1 vista lateral!
Sistema NeNoso Central 37

10

CIRCULAÇÃO DO LfQUIDO
CEREBROSPINAL (LCE)
'íl - Dura-máter encefálica
'íl~ - dura-máter espinal
:?J - Selos da dura-máter
~ - Veias cerebrais
~ - Granulações aracnóideos
~ - Ventrículos laterais
® - Forame Interventricular
"lJ - Ili ventrículo
® - Aqueduto do mesencéfalo
® - ri/ ventrículo
'íl® - Canal central da medula
espinal
'íl'íl - Abertura mediana
'íl'íl~ - Aberturas laterais
'íl:?J - Plexo corlóideo
'O~ - Aracnóide-máter
~ - Espaço subaracnóideo
38 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

4 - SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO

Silvana Regina de Melo


Fernando Carlos de Sousa
Marcílio Hubner de Miranda Neto

Os nervos, juntamente com gânglios e terminações nervosas, representam as estruturas do


sistema neivoso periférico. É por meio deles que o SNC recebe os estímulos provenientes de recepto-
res que captam informações sobre o próprio corpo (proprioceptores e visceroceptores) e informações
sobre o ambiente que cerca o organismo (exteroceptores). Também é por meio dos nervos, e em
alguns casos de hormônios que viajam pela corrente sangüínea que o SNC envia estímulos aos efetores
(músculo liso, estriado esquelético e estriado cardíaco, glândulas e adipócitos).
Os neivos são cordões esbranquiçados que se conectam ao SNC, formados por fibras nervosas
(axônios); apresentam uma organização interna definida por envoltórios de tecido conjuntivo. Cada
fibra nervosa é revestida pela bainha de mielina e/ou neurilema, sobre a qual ocorre o revestimento
denominado endoneuro. Várias fibras, cada uma com seu respectivo endoneuro, estão agrupadas em
feixes neivosos, que por sua vez recebem o envoltório denominado de perineuro. Por fim, para formar
o nervo, todos os feixes são revestidos pelo epineuro.
Os revestimentos conjuntivos sustentam e protegem as fibras nervosas; graças a esses revesti-
mentos é que os nervos são resistentes e elásticos. Através do perineuro e do epineuro passam vasos
sanguíneos e linfáticos que vascularizam o nervo. Uma compressão prolongada do nervo pode levar
ao bloqueio da circulação sanguínea (isquemia), o que pode lesar as fibras nervosas . É interessante
notar que os nervos são vascularizados mas não são inervados; isso quer dizer que quando se estimu-
la diretamente o nervo, ou quando ele é lesado, o indivíduo terá a sensação de que o estímulo ou a
lesão ocorreu na região de inervação, como por exemplo numa área de pele que pode estar muito
longe do local onde se está estimulando diretamente o nervo.
Os nervos podem ser classificados funcionalmente como sensitivo, motor e misto. Apesar de
estarem em continuidade anatômica e funcional com o SNC, são considerados como parte do SNP, por
se projetarem para fora do canal vertebral ou da caixa craniana. Os que se conectam diretamente ao
encéfalo são chamados de nervos cranianos, enquanto os que se conectam diretamente à medula
espinal são chamados de nervos espinais.
O nervo é considerado sensitivo quando suas fibras conduzem impulsos nervosos da periferia
para o SNC; é motor quando suas fibras conduzem impulsos do SNC para a periferia; e misto quando
apresenta fibras que conduzem impulsos nos dois sentidos. No corpo humano são encontrados 12
pares de nervos cranianos (fazem conexão com o encéfalo) e 31 pares de nervos espinais (fa zem
conexão com a medula espinal).

Nervos cranianos

Quanto aos neivos cranianos, suas principais funções estão relacionadas abaixo:
1 - Nervo olfatório (sensitivo) - apresenta fibras sensitivas que conduzem impulsos relacionados ao
olfato.
li - Nervo óptico (sensitivo) - apresenta fibras sensitivas que conduzem impulsos relacionados à visão.

Ili - Nervo oculomotor (motor) - apresenta fibras motoras somáticas para músculos do olho, fibras motoras
viscerais para os músculos ciliares e músculo esffncter da pupila. ·

IV - Nervo troclear (motor) - apresenta fibra s motoras somáticas para a musculatura do olho.
Sistema Nervoso Periférico 39

v - Nervo trigêmeo (misto) - divide-se em três ramos: oftálmico, maxilar e mandibular. Apresenta fibras
motoras somáticas, para músculos da mastigação, e sensitivas para diversas estruturas da cabeça, como
couro cabeludo, dentes, pele e outros.

VI - Nervo abducente (motor) - apresenta fibras motoras somáticas para a musculatura do olho.

VII - Nervo facial (misto) - apresenta fibras motoras somáticas para os músculos da expressão facial,
motoras viscerais para glândulas salivares, lacrimal e glândulas da mucosa da cavidade nasal e fibras da
sensibilidade gustativa dos 2(3 anteriores da língua.
l
VIII - Nervo vestibulococlear (sensitivo) - a parte vestibular apresenta fibras sensitivas que conduzem
1

impulsos relacionados ao equilíbrio, e a parte coclear apresenta fibras sensitivas que conduzem impulsos
relacionados à audição. · ·

IX - Nervo glossofaríngeo (misto) - apresenta fibras motoras somáticas para músculos da faringe e
motoras viscerais para glândulas salivares; e as fibras sensitivas conduzem impulsos do terço posterior da
língua e dos seios carotídeos (bifurcação da a. carótida comum).

X - Nervo vago (misto) - apresenta fibras motoras somáticas para músculos da laringe e faringe, e motora
visceral para órgãos da cavidade torácica e abdominal; fibras sensitivas da orelha, da língua, dos órgãos
torácicos e abdominais.

XI - Nervo acessório (motor) - apresenta fibras motoras somáticas para os músculos esternocleidomastóideo
e trapézio.

XII - Nervo hipoglosso (motor)- apresenta fibras motoras somáticas para músculos intrínsecos e extrínsecos
da língua.

Nervos espinais

Um nervo espinal é formado pela união de duas raízes: uma dorsal ou posterior e uma ventral
ou anterior. A raiz dorsal é formada pelo agrupamento de radículas nervosas que se conectam com a
face posterior da medula espina·t; e a ventral, por radículas nervosas que se conectam com a face
anterior. As fibras que formam a raiz dorsal são sensitivas, pois conduzem impulsos dos receptores
para a medula espinal; as que f~rmam a raiz ventral são motoras, conduzindo impulsos da medula
espinal para órgãos efetores. Por 1possuir fibras motoras e sensitivas, os nervos espinais são mistos. As
duas raízes atravessam a dura-máter e passam pelo forame intervertebral. Imediatamente após passar
pelo forame a raiz posterior forma uma estrutura arredondada, o gânglio sensitivo, onde estão locali-
zados os corpos celulares dos neu~ônios pseudo-unipolares. As duas raízes então se unem para constituir
o nervo espinal. 1

Nos humanos existem 31 pares de nervos espinais, distribuídos em 8 pares cervicais, 12 torácicos,
5 lombares, 5 sacrais e 1 coccígeo. Como existem oito pares de nervos cervicais e apenas sete vérte-
bras cervicais, o primeiro par de nervos cervicais passa entre a primeira vértebra e o osso occipital, e
o oitavo par passa entre a sétima vértebra cervical e a primeira vértebra torácica. Os demais nervos
passam abaixo da vértebra correspondente. Cada região da medula espinal conectada às raízes dos
nervos constitui os segmentos medulares, denominados de acordo com a região onde se encontram.
Então se tem Cl a C8, Tl a Tl 2, L1 a LS, $1 a SS e Coe. 1. Até o quarto mês de vida intra-uterina a
medula espinal ocupa todo o canal vertebral, e os segmentos medulares relacionam-se com as respec-
tivas vértebras; por exemplo, o segmento medular L1 está no mesmo nível que a primeira vértebra
40 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

lombar. A partir desse período, a coluna vertebral cresce mais que a medula espinal; conseqüentemen-
te, no adulto os segmentos medulares inferiores não apresentam correspondência com as respectivas
vértebras. Retom_ando o exemplo, o segmento medular L1 agora relaciona-se com a décima primeira
vértebra torácica.

Distribuição dos nervos espinais

Logo após se formar o nervo espinal emite o ramo meníngeo, que inerva as vértebras, os
ligamentos vertebrais, os vasos sanguíneos e as meninges da medula espinal. Na região entre as
vértebras Tl e L2, distalmente ao ramo meníngeo, o nervo espinal emite dois ramos comunicantes,
que se dirigem para gânglios simpáticos para-vertebrais. Então, todo o nervo espinal se divide em
dois ramos, um posterior ou dorsal e um anterior ou ventral.
Os ramos posteriores dos nervos espinais fazem a inervação sensitiva da pele do dorso, desde
as nádegas até o couro cabeludo da parte posterior da cabeça, e inervação motora dos músculos do
dorso e parte posterior do pescoço. Os ramos anteriores formam os nervos que suprem as faces ante-
rior e lateral do pescoço, do tronco e dos membros.
O nervo espinal pode percorrer um longo trajeto até alcançar seu território de inervação, o que
os predispõe a injúrias e traumatismos, e dificulta sua recuperação , em caso de lesões.

Plexos nervosos

Os plexos nervosos são entrelaçamentos de fibras nervosas provenientes de diferentes níveis


do SNC. No caso dos nervos espinais, seus ramos anteriores, exceto os nervos torácicos T2 a Tl 2, não
se dirigem diretamente ao seu local de inervação. Esses ramos se dividem em ramos menores, que se
fundem com os ramos de nervos adjacentes, formando um arranjo semelhante a uma rede, denomina-
do de plexo. Esses plexos ocorrem em ambos os lados da coluna vertebral, e são denominados de
acordo com a região da coluna em que ocorrem; assim tem-se: plexo cervical, plexo braquial, plexo
lombar e plexo sacra!. Originando-se dos plexos há nervos que, geralmente, recebem nomes relativos
ao local para onde se dirigem. Os ramos anteriores dos nervos T2 a Tl 2 não entram na formação de
plexos, e são chamados de nervos intercostais ou torácicos.

Dermátomos e miótomos

Para compreender os conceitos de dermátomo e miótomo é essencial ter-se em mente que os


nervos espinais são mistos. Como as fibras sensitivas de um par de nervos espinais são responsáveis
pela sensibilidade de uma faixa definida da pele, essa faixa é o dermátomo do referido nervo . Nervos
adjacentes podem ter dermátomos com um certo grau de sobreposição, de forma que a lesão em um
nervo pode não implicar perda total de sensibilidade em todo o dermátomo daquele nervo. E~tudos
anatômicos aliados a outros tipos de investigação fornecem aos clínicos informações sobre os nervos
responsáveis pela sensibilidade da pele em cada uma das áreas do corpo; assim, se ao se estimular
uma área o paciente reclamar que não tem sensibilidade, o clínico pode saber qual ou quais nervos
devem estar afetados, para produzir tal quadro. É interessante notar que a pele da face e da testa não
é suprida por nervos espinais, mas pelo nervo trigêmio, que é um nervo craniano.
Miótomo refere-se ao padrão de inervação dos músculos pelos nervos espinais. Esse padrão se
estabelece durante o desenvolvimento embrionário e permanece no adulto. Assim, quando um deter-
minado nervo espinal é lesado, os clínicos podem prever quais músculos serão afetados pela conse-
qüente falta de estimulação; o inverso também pode ser feito: se um músculo pára de funcionar por
falta de estimulação pode-se prever qual nervo deve estar afetado.
Sistema Nervoso Periférico 41

lA

lvista basilar!

NERVOS CRANIANOS
'íJ - N. Olfatório (1) g) - N. trigêmeo M
'íJ~ - Bulbo olfatório ® - N. abducente (VI)
'íJª - Trato olfatório 'il - N. facial (VII)
?.;? - N. óptico (li) @ - N. vestibulococlear (VIII)
?.;?~ - Quiasma óptico ® - N. glossofaríngeo (IX)
~ - Trato óptico 'íJ® - N. vago (X)
~ - N. oculomotor (Ili) 'iJ'íJ - N. acessório (XI)
~ - N. troc lear (IV) 'íJ.?2 - N. hipoglosso (XII)
42 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

PLEXOS NERVOSOS
'íl - Plexo cervical (C l -C5)
~ - Plexo Braquial (C5-Tl )
ID - Nervos lntercostais (torácicos)
~ - Plexo lombar (L l-L4)
!:i5 - Plexo Sacro (l4-S4)

1 1
43

5 - DIVISÃO FUNCIONAL DO SISTEMA NERVOSO

Marci1io Hubner de Miranda Neto


Claudia Cristina Batista Evangelista
Silvana Regina de Melo

Considerando-se critérios funcionais, o sistema nervoso pode ser dividido em sistema nervoso
somático, ou da vida de relação, e sistema nervoso visceral, ou da vida vegetativa.
O sistema nervoso somático promove a relação do organismo com o mundo dos objetos e com
o mundo dos outros; para isso conta com as vias sensitivas, também denominadas de aferentes, e com
as vias motoras somáticas ou eferentes.
As vias aferentes do sistema nervoso somático iniciam-se em receptores localizados nos órgãos
dos sentidos, em músculos e articulações, e continuam em direção ao sistema nervoso central, por
meio do axônio dos neurônios sensitivos. As vias aferentes somáticas, que conduzem os impulsos
nervosos em direção à medula espinal, são formadas por axônios de neurônios cujos corpos ou pericários
estão localizados nos gânglios sensitivos, ao lado da coluna vertebral.
As vias eferentes do sistema nervoso somático levam informações de centros nervosos para
músculos estriados esqueléticos, possibilitando a realização de movimentos voluntários. O corpo do
neurônio motor, cujo axônio forma a via eferente somática, localiza-se na coluna anterior de substân-
cia cinzenta da medula espinal, e seu axônio estende-se até as fibras musculares estriadas esqueléticas,
que estão sob o seu comando.
No sistema nervoso visceral, ou da vida vegetativa, as vias aferentes iniciam-se em interoceptores
ou visceroceptores, e continuam em direção ao sistema nervoso central por meio dos axônios dos
neurônios sensitivos. À semelhança do sistema nervoso somático, as vias aferentes viscerais, que
conduzem impulsos nervosos em direção à medula espinal, são formadas por axônios de neurônios
cujos corpos ou pericários estão localizados em gânglios sensitivos, ao lado da coluna vertebral.
A via eferente do sistema nervoso visceral leva informações de centros nervosos para o músrnlo
liso, cardíaco, para glândulas e adipócitos. A porção eferente do sistema nervoso visceral é também
referida como sistema nervoso autônomo (SNA) .
O sistema nervoso autônomo é dividido em três partes ou sistemas: parte simpática; parte
parassimpática e sistema nervoso entérico.
A via eferente das partes parassimpática e simpática do sistema nervoso autonômo possui dois
neurônios: um com o corpo localizado no sistema nervoso central, genericamente denominado de
neurônio pré-ganglionar, e outro com o corpo celular localizado em gânglios motores pertencentes ao
sistema nervoso periférico.
A parte parassimpática é considerada porção craniossacral, pois seus neurônios pré-ganglionares
localizam-se em núcleos do tronco encefálico, anexos aos nervos cranianos (III, VII, IX e X), e na coluna
lateral de substância cinzenta dos segmentos sacrais da medula espinal (51, 52, S3 e S4); suas fibras
pré-ganglionares , geralmente muito longas, não passam pelos troncos simpáticos e estabelecem sinapses
com neurônios pós-ganglionares integrantes de gânglios motores viscerais, localizados muito próxi-
mo ou até mesmo no interior das vísceras. Quando estimulados, promovem secreções das glândulas
lacrimais e salivares, constricção da pupila e acomodação visual, constricção dos brônquios, bradicardia,
ativação dos movimentos peristálticos, relaxamento dos estrncteres do tubo digestivo, estimulação da
secreção das glândulas anexas dos genitais e ereção.
A parte simpática é considerada porção toracolombar, pois seus neurônios pré-ganglionares
localizam-se nos segmentos torácicos (Tl a Tl 2) e lombares (L1 e L2) da medula espinal; suas fibras
pré-ganglionares, geralmente curtas, estabelecem sinapses com neurônios pós-ganglionares localiza-
dos em gânglios simpáticos vertebrais e pré-vertebrais. Suas fibras pós-ganglionares, geralmente lon-
gas, estendem-se até os órgãos efetuadores. O simpático é responsável por constricção dos vasos
sangüíneos, dilatação da pupila, secreção das glândulas sudoríparas, ereção dos pêlos, aumento do
44 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

ritmo cardfaco, dilatação dos brônquios, diminuição do peristaltismo, fechamento dos esffncteres do
tubo digestivo, ativação de secreção na glândula supra-renal, aumento na contração da musculatura
lisa dos genitais masculino e feminino, e também pela ejaculação.
As principais diferenças entre a parte simpática e a parassimpática são apresentadas no quadro
número 1
O tabagismo e as situações de tensão emocional, como raiva, medo e ansiedade provocam
grande estimulação do simpático, e predispõem à elevação da pressão arterial, impotência sexual,
distúrbios do trato digestivo, etc.

Quadro nº 1 - Diferenças morfológicas e farmacológicas entre as partes simpática e parassimpática do SNA

CRITÉRIO SIMPÁTICO PARASSIMPÁTICO


Coluna lateral dos Núcleos nervosos do tronco ence-
Localização do corpo do segmentos medulares fálico e substância cinzenta dos
neurônio pré-ganglionar T1 a L2 segmentos medulares 81 a 84

Distante da víscera
Localização do neurônio Próximo ou no interior
(próximo à coluna
pós-ganglionar da víscera
vertebral)

Tamanho das fibras pré-


Curtas Longas
ganglionares

Tamanho das fibras pós-


Longas Curtas
ganglionares

Neurotransmissor liberado
nas.fibras pré-ganglionares Acetilcolina Acetilcolina

Neurotransmissor liberado
nas fibras pós-ganglionares Noradrenalina Acetilcolina

O Sistema nervoso entérico é constituído por redes neurais encontradas entre as camadas de
células que constituem a parede do tubo digestório. É formado por neurônios motores, neurônios
sensitivos e interneurônios. Seus principais componentes são o plexo submucoso, situado na submucosa,
e o plexo mioentérico, situado entre as camadas do estrato muscular externo do intestino.
A maioria dos neurônios motores é formada por neurônios pós-ganglionares do parassimpático,
os quais, devido às sinapses que estabelece, recebem influências dos neurônios sensitivos e
interneurônios dos plexos entéricos, dos neurônios simpáticos pré-ganglionares e de fibras simpáticas
pós-ganglionares.
Os neurônios sensitivos possuem seus corpos distribuídos no plexo submucoso e no plexo
mioentérico; são sensíveis às alterações nas tensões na parede dos intestinos e às alterações químicas
na luz intestinal.
D~ maneira sintética pode-se dizer que o sistema nervoso entérico é fundamental para o con-
trole da motilidade do intestino, da tonicidade dos vasos sangüíneos intestinais, da velocidade de
proll~ ~ ração das células do revestimento epitelial do tubo digestivo, da secreção de hormônios e
neu .:i peptídeos pelas células cromaftns do sistema digestório e para a absorção de nutrientes.
Divisão Funcional do Sistema Nervoso 45

Pesquisas realizadas pelo Grupo de Pesquisas em Neurônios Entéricos da Universidade Estadual


de Maringá têm demonstrado que, em ratos, a desnutrição protéica e vitamínica, o alcoolismo, o
diabetes e o envelhecimento aceleram a perda de neurônios nos plexos entéricos, o que pode
comprometer o funcionamento de todo o tubo digestório. Recentemente o grupo de pesquisa-
dores verificou que a utilização de acetil-L-carnitina como suplemento alimentar para ratos
sadios, e como medicamento para ratos diabéticos, torna as paredes dos intestinos mais frágeis,
e na maioria das vezes provoca megacolo, além de alterar o comportamento dos animais, tor-
nando-os mais agressivos. Esse fato é preocupante, pois é comum o consumo de acetil-L-carnitina
por humanos que desejam perder massa gorda, sem controle médico.
46 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

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Divisão Funciono/ do Sistema Nervoso 47

llnfonodo

!secção transversarl

11
7
10

REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO SISTEMA NERVOSO ENTÉRICO


'D - Túnica serosa 'lJ - Lâmina própria
~ - Vaso sangüíneo @- luz Intestina!
~ - Plexo subseroso ® - Tela subserosa

~ - Plexo mloentérlco
Túnica muscular:
~ - Plexo submucoso 'D® - camada circular
@- Lâmina muscular da mucosa 'íl'íl - camada longitudinal
48 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

6 - VIAS NERVOSAS E ARCOS REFLEXOS

Marcílio Hubner de Miranda Neto


Sonia Lucy Molinari
Silvana Regina de Melo

Os axônios dos neurônios, geralmente muito longos, formam diversas vias, que são percorri-
das pelos impulsos nervosos, levando informações sobre as condições do meio ambiente ou sobre
atividades viscerais até o sistema nervoso central, e conduzindo impulsos nervosos desse para órgãos
efetuadores, permitindo ao organismo adaptar-se às condições de cada momento, além de conjugar os
fenômenos da consciência e integrar sensações e idéias.
De maneira genérica pode-se dizer que o sistema nervoso possui as seguintes vias:

- Vias aferentes: iniciam-se em estruturas denominadas receptores, que captam estímulos de


diferentes naturezas (calor, frio, pressão, etc.) e os convertem em energia eletroquímica (impulso ner-
voso). Esse impulso percorre o axônio do neurônio sensitivo (via aferente), passa pelo corpo celular
localizado no gânglio sensitivo e finalmente chega até a coluna posterior da substância cinzenta da
medula espinal, onde pode atravessar uma sinapse e comunicar-se diretamente com o neurônio motor,
ou alcançar um neurônio de associação.
- Vias eferentes somáticas e viscerais: são constituídas por axônios de neurônios motores, cujos
corpos celulares se .localizam na substância cinzenta da medula espinal, na coluna anterior (eferente
somático) e na coluna lateral (eferente visceral). Conduzem impulsos nervosos em direção a músculos
estriados (eferente somático), músculo liso, pele e glândulas (eferente visceral).
- Vias de associação: são encontradas no sistema nervoso central, tanto na medula espinal
quanto no encéfalo. Sua função é interligar neurônios, permitindo interações entre diferentes áreas do
sistema nervoso. Essas vias são as que mais se desenvolveram na escala filogenética. Com o surgimento
dos neurônios de associação do encéfalo, que permitem a realização de funções psíquicas superiores,
chegou-se ao ápice da evolução do sistema nervoso .
- Vias ascendentes: são constituídas por axônios de neurônios cujos corpos celulares se locali-
zam na medula espinal, tronco encefálico e diencéfalo. Os axônios percorrem a substância branca
levando estímulos nervosos sensitivos para diferentes partes do encéfalo.
- Vias descendentes: são constituídas por neurônios cujos corpos estão localizados na substân-
cia cinzenta de estruturas encefálicas. Os axônios percorrem a substância branca do encéfalo e da
medula espinal, levando estímulos para neurônios motores somáticos, o que resulta em atividades
conscientes e voluntárias, ou para neurônios viscerais, que controlam de forma inconsciente o funcio-
namento de glândulas, vasos sangüíneos e vísceras.

Arco reflexo simples

É o tipo de arco reflexo que se processa no âmbito da medula espinal, ocorrendo de maneira
inconsciente e sem envolvimento dos centros nervosos do encéfalo. Pode ser monossináptico, quan-
do envolve apenas um neurônio sensitivo e um neurônio motor, e polissináptico, quando envolve um
neurônio sensitivo, um neurônio de associação e um neurônio motor. Por exemplo, quando um objeto
pontiagudo é introduzido na pele provoca estimulação de receptores da dor, os quais convertem o
estímulo em energia eletroquímica (impulso nervoso), que percorre a via aferente (sensitiva), chegan-
do até a coluna posterior da medula espinal, onde atravessa uma sinapse e ganha um neurônio de
associação, que por sua vez estabelece sinapse com o neurônio motor da coluna anterior da medula
espinal. A seguir, parte um impulso nervoso do neurônio motor, que percorre seu axônio (via eferente),
chegando até músculos estriados, que farão com que, de forma reflexa , o segmento agredido seja
afastado do objeto de agressão, sem que haja intervenção da esfera consciente.
Vias Nervosos e Arcos Reflexos 49

Arco reflexo complexo

Nesse tipo de arco reflexo ocorre envolvimento do encéfalo, podendo ser parte de mecanismos
inconscientes, como por exemplo a manutenção da postura, ou conscientes, como nas sensações doloro-
sas.
Para que seja processado, o arco reflexo complexo envolve as vias aferentes, ascendentes, de
associação, descendentes e eferentes.
Voltando ao exemplo da dor: para tomarmos consciência não basta que o impulso nervoso per-
corra o arco reflexo simples, mas é preciso que atinja o encéfalo. Dessa forma, o impulso é conçluzido
pela via aferente (sensitiva), chega até a coluna posterior da medula espinal, onde ganha uma via ascen-
dente, indo até o tálamo (via espino-talâmica). Nesse nível ocorre consciência da dor, porém de forma
difusa. A seguir, os impulsos nervosos dirigem-se para a área sensitiva do córtex cerebral, localizada no
giro pós-central, ocorrendo então uma percepção discriminada do estímulo. A área somestésica é inter-
ligada com as áreas motoras do córtex por meio de vias de associação. Os neurônios das áreas motoras
ficam então encarregados de coordenar respostas conscientes e adequadas à estimulação. Dessa forma,
o impulso nervoso ganha vias descendentes (vias córtico-espinhais), chegando até neurônios motores da
coluna anterior da medula espinal, de onde partem impulsos nervosos que seguem pela via eferente até
os músculos estriados.
Quando uma pessoa sofre fratura da coluna vertebral e secção da medula, as vias ascendentes e
descendentes relacionadas com o segmento localizado caudalmente às lesões são interrompidas. Por
exemplo, uma pessoa que sofre uma secção da medula no nível torácico perde a motilidade e a sensibili-
dade dos membros inferiores, por não mais conseguir processar arcos reflexos complexos. No entanto,
as vias aferentes e eferentes continuam íntegras e, muitas vezes, quando se estimula, por exemplo, a
planta dos pés, processa-se um arco reflexo simples e produz-se contração muscular, porém essas contra-
ções não resultarão em movimentos coordenados porque não são mais controladas pelo encéfalo.

Nos casos de poliomielite, o vírus parasita o corpo celular do neurônio motor, destruindo-o;
portanto, destrói a via eferente, impedindo dessa forma que impulsos nervosos cheguem até os
músculos, resultando em paralisias. Quanto maior for o número de neurônios motores destruídos,
mais graves serão os sintomas da doença.

Como se viu, no processamento de um arco reflexo estão envolvidos dois ou mais neurônios e
suas respectivas sinapses; e para que ocorra é necessária a liberação de neurotransmissores, que são a
seguir reabsorvidos . Os arcos reflexos podem ser bloqueados, impedindo-se a captação de estímulos
pelos receptores, e a sua condução pela via aferente, como é o caso dos anestésicos locais.
já os espasmolíticos, utilizados nos casos de cólicas, bloqueiam a passagem do impulso da via
eferente visceral para o músculo liso das vísceras, evitando dessa forma as contrações excessivas, que
causam a dor.
As drogas empregadas como anestésicos raquidianos bloqueiam a passagem dos impulsos ner-
vosos através das vias aferentes e eferentes; conseqüentemente os impulsos não alcançam a via ascen-
dente, e tampouco chegam ao encéfalo. Portanto, não se tem percepção dolorosa ou motricidade. ·

As deficiências de tiamina (vitamina do complexo B), comuns em alcoólicos e nas desnutrições por
insuficiência de ingestão, causam beriberi, com sintomas neurológicos característicos da neurite
periférica. Ocorrem distúrbios sensoriais nas extremidades, perda de força muscular e coexistência
de áreas de grande sensibilidade dolorosa com outras áreas insensíveis. Podem surgir dificuldades
de memorização, falta de iniciativa, depressão e distúrbios de personalidade. O tratamento baseia-
se na retirada do álcool (no caso dos alcoólicos), e na ingestão de alimentos que contenham tiamina,
como arroz integral, carne de porco, vísceras de animais e legumes.
50 Anotomfo Humano: oprendfzagem dinâmica

Gânglio
sensltvo
10 do nervo lA
espinal

gôngllo 2
senslflvo
do nervo raiz 2
espinal ventral

)
/

~
órgão
efetor

18

lA

ARCO REFLEXO MONOSSINÁPTICO


'íl - Neurônio sensitivo
'íl~ - Terminação nervosa sensitiva (receptor)
'íl~ - Prolongamento periférico do neurônio
sensitivo
'íl<f: - Corpo celular do neurônio sensitivo
'íl@ - Prolongamento central do
neurônio sensitivo
ZJ - Neurônio motor
~ - Terminação nervosa motora
Vfas NeNosas e Arcos Reflexos 51

ARCO REFLEXO COMPLEXO


PROPRIOCEPÇÃO CONSCIENTE

'il - Neurônio sensorial primário


(1ª ordem)
'il~ - Terminação nervosa sensitiva
(proprioceptor)
'ilr:fil - Corpo celular do neurônio
sensitivo
~ - Neurônio sensorial secundário
Ollgodendrócttos
(2ªordem)
(bainha de m lelina)
ID - Neurônio sensorial terciário
(3ª ordem)
~ - Via de associação
~ - Neurônio motor central
® - Neurônio motor somático
®& - Terminação nervosa motora

lA Neurolemócltos
(bainha de mle llna)
52 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

7 - OLHO E ESTRUTURAS PERTINENTES

Sandra Regina Stabille


Marcílio Hubner de Miranda Neto

O olho é o órgão responsável pela captação e transformação dos raios luminosos em impulsos
nervosos, que são conduzidos ao sistema nervoso central pelo nervo óptico, possibilitando a percep-
ção e interpretação da imagem, colaborando para a organização dos ritmos biológicos. É constituído
pelo bulbo do olho e por estruturas anexas - aparelho lacrimal, pálpebras, túnica conjuntiva e múscu-
los extrínsecos - que contribuem para proteção e movimentação do globo ocular.
O bulbo do olho, alojado na cavidade orbital, é composto pela sobreposição de três camadas ou
túnicas: a) camada externa ou túnica fibrosa do bulbo; b) camada média ou túnica vascular do bulbo;
e c) túnica interna do bulbo.
A túnica fibrosa é formada pela esdera e pela córnea. A esdera, de tecido conjuntivo, possui
coloração branca; é bastante resistente, permitindo que os músculos que movimentam o bulbo do
olho possam nela se ancorar para exercerem suas funções. Sua opacidade barra os raios luminosos,
contribuindo para a manutenção de um meio escuro no interior do olho. A esclera é popularmente
conhecida como o "branco do olho". A região anterior da esclera - córnea - é transparente e convexa,
um dos meios de refração do olho. Sua convexidade contribui para que os raios luminosos sejam
desviados, auxiliando seu direcionamento no interior do bulbo do olho.
A córnea não é vascularizada; isso permite que os transplantes de córnea possam ser realizados
sem que ocorra rejeição. Sua convexidade também pode ser alterada cirurgicamente para correção de
miopia.
Sob a túnica fibrosa do bulbo do olho localiza-se a túnica vascular, formada por corióide, corpo
ciliar, processo ciliar e íris. A corióide é muito vascularizada e pigmentada, o que confere a essa parte
do bulbo do olho a coloração marrom-avermelhada e impede a reflexão interna da luz. Anteriormente,
a corióide continua com o corpo ciliar, que é de natureza muscular; participa do processo de acomoda-
ção visual alterando a curvatura do cristalino. O corpo ciliar contorna a íris - parte colorida do olho. A
cor da íris é determinada geneticamente e depende da quantidade de pigmentos nela presentes. Quan-
to menor a concentração de pigmentos mais clara é a cor da íris. Os pigmentos da íris conferem
proteção ao bulbo do olho contra os raios nocivos presentes na luz solar, o que significa que olhos
claros são mais suscetíveis à ação nociva desses raios. O centro da íris possui o orifício denominado
pupila, ("menina dos olhos"), cujo diâmetro varia de acordo com a intensidade luminosa do meio. Para
tanto, os músculos intrínsecos presentes na íris - músculo estincter da pupila e dilatador da pupila -
entram em ação para diminuir ou aumentar o diâmetro da pupila, quando necessário. Esses músculos,
compostos por fibras musculares lisas, possuem ação controlada pelo sistema nervoso autônomo,
podendo alterar o diâmetro da pupila inclusive em resposta a algumas alterações emocionais. O corpo
ciliar possui projeções - processos ciliares -responsáveis pela secreção do líquido humor aquoso, que
preenche parte da cavidade do globo ocular. Fixados ao corpo ciliar encontram-se inúmeros e delgados
ligamentos, que prendem uma estrutura biconvexa, translúcida e transparente - lente (cristalino),
localizada posteriormente à íris e à pupila. A lente é bastante elástica e tem sua convexidade alterada
pelo mecanismo denominado acomodação, mecanismo que atua permitindo a convergência dos raios
luminosos para foçalização da imagem, e conta para isso com a ação do músculo ciliar e dos ligamen-
tos presos ao corpo ciliar e à própria lente. Para focalizar imagens distantes no campo visual (ver de
longe) o músculo ciliar é relaxado, e os ligamentos são repuxados em suas inserções, transmitindo
uma tensão à lente, achatando-a. Quando se deseja focalizar imagens próximas (visão próxima), a
convexidade da lente é aumentada, devido à contração do músculo ciliar, que alivia a tensão dos
ligamentos sobre a lente.
Olhos e Estruturas Pertinentes 53

Como em sua estrutura há muitas proteínas, principalmente colágeno, a lente também sofre
ação do tempo. Com o envelhecimento ou em certas doenças, como toxoplasmose, rubéola,
sarampo, entre outras, as proteínas do cristalino sofrem desnaturação gradativa, o que confe-
re opacidade à lente, processo popularmente conhecido como catarata. A opacidade impede
a passagem da luz para o interior do bulbo do olho, levando à perda da visão. Também com o
envelhecimento a elasticidade da lente vai se tornando comprometida, condição conhecida
como presbiopia. A perda da elasticidade da lente compromete o mecanismo de acomodação,
dificultando as alterações na convexidade e, conseqüentemente, impedindo a correta
focalização da imagem, o que provoca a necessidade do uso de lentes corretivas.

Anteriormente à lente, a cavidade existente no bulbo do olho - câmara anterior - é preenchida


pelo humor aquoso , que nutre a córnea e a lente. Esse líquido é continuamente secretado e drenado
para uma minúscula abertura presente na junção entre a esclera e a córnea, a qual dá acesso ao seio
venoso da esclera, que conduz o humor aquoso para a corrente sanguínea. O acúmulo de humor
aquoso por obstrução do seio venoso da esclera ou por hipersecreção aumenta a pressão no interior
do bulbo do olho, condição conhecida como glaucoma.
A túnica interna do bulbo do olho é representada pela retina, constituída por várias camadas
de neurônios, a qual possui receptores para a visão. Os receptores são os neurônios, conhecidos
como cones e bastonetes. Os axônios dos neurônios presentes na superffcie voltada para a cavidade
do bulbo do olho formam o nervo óptico, que emerge posteriormente ao bulbo do olho, em direção
ao encéfalo. A região de emergência do nervo óptico na superffcie da retina é o disco do nervo
óptico. Nessa região não há receptores para a visão, o que torna o disco do nervo óptico um ponto
cego da retina . Lateralmente ao disco do nervo óptico há uma pequena região arredondada, de
coloração amarelada - mácula lútea -, cujo centro côncavo é denominado fóvea central. A fóvea
central possui receptores do tipo cone, estando ausentes os bastonetes. À medida que se distancia
da f.óvea central, a quantidade de cones diminui e aumenta o número de bastonetes. Os cones são
receptores que permitem a visão diurna e a visão colorida, e a fóvea central é o ponto da retina de
maior acuidade visual. já os bastonetes são receptores adaptados para visão noturna, sensibilizados
com baixa intensidade de luz ou na ausência dela. No seu interior há o pigmento rodopsina, que é
instável em condições de luminosidade. Quando a luz ambiente vai diminuindo, a rodopsina começa
a ser formada pelo retina!, um derivado da vitamina A. Deficiência de vitamina A compromete a
formação de rodopsina, impedindo a visão noturna, condição conhecida como cegueira noturna.
A ação combinada da córnea, em função de sua convexidade e transparência; da pupila, em
função da alteração de seu diâmetro; e da lente, em função de sua constituição e do processo de
acomodação, permite que a cada momento os feixes luminosos se convirjam para incidirem na fóvea
central, resultando na perfeita visualização da imagem focada. Quando a convergência fica compro-
metida, a visão não é perfeita. Os problemas de convergência para a focalização da imagem podem
ser decorrentes de inúmeros fatores.
Um globo ocular com eixo ântero-posterior aumentado impede que a convergência se dê na
fóvea central. Nesse caso, a conversão dos raios ocorre antes, condição conhecida como miopia. Diz-
se que a imagem, nesse caso, é formada antes da retina. já em situações em que o referido eixo está
diminuído, a convergência ocorreria "atrás" da retina, condição conhecida como hipermetropia. Tam-
bém a convexidade da córnea pode ser defeituosa, impedindo a correta convergência dos raios lumi-
nosos na fóvea central, como ocorre no astigmatismo. Em todos esses casos a visão pode ser melho-
rada com a utilização de lentes corretivas específicas, e também, em alguns casos, com cirurgia.
A cavidade do bulbo do olho, situada posteriormente ao cristalino - câmara posterior -, é
ampla. É preenchida por uma massa gelatinosa incolor e transparente, denominada corpo vítreo, o
qual ajuda a manter o formato do bulbo do olho. Além disso, contribui para manter a retina bem
aderida à corióide, condição necessária para a nutrição e oxigenação dos neurônios por meio dos
vasos sanguíneos presentes em abundância na corióide.
54 Anatomia Humana: aprendizagem dlnómlca

Algumas situações que acometem o bulbo do olho, como traumatismos (pancadas), envelheci-
mento, elevado grau de miopia, tabagismo, arterioesclerose e doenças degenerativas como o
diabetes, entre outras, propiciam a movimentação brusca do corpo vítreo no interior do bulbo
ou alteram sua consistência gelatinosa, permitindo que a retina se descole da corióide -
descolamento de retina. Essa condição, dependendo da localização, pode levar à cegueira
irreversível ou, quando não, comprometer a qualidade da visão, pois ao se descolar da corióide
o suprimento sanguíneo para os neurônios da retina se torna insuficiente, levando à morte
neuronal e, conseqüentemente, comprometendo a função retiniana. Contudo, se percebido e
tratado em tempo hábil, essas lesões podem ser revertidas. Em situações de aumento de pressão
intra-ocular, como ocorre, por exemplo, no glaucoma, as estruturas internas do bulbo do olho,
inclusive o corpo vítreo, são pressionadas contra a retina, e até contra a região do disco do nervo
óptico. Tal compressão também dificulta a circulação e o afluxo sangüíneo para a retina, ocasi-
onando a morte de neurônios.

Os raios luminosos sensibilizam os cones e bastonetes, os quais originam impulsos nervosos


que serão conduzidos pelo nervo óptico ao tálamo, e desse ao córtex visual primário, localizado no
lobo occipital. Os neurônios do córtex visual primário permitem a percepção da visão e retransmitem
os impulsos visuais para outras regiões cerebrais onde a imagem será interpretada, memorizada e
utilizada nos processos cognitivos envolvidos com a aquisição de linguagem, aprendizado, e demais
processos necessários para a interação do ser com o meio ambiente.
Além dessas vias nervosas, o impulso nervoso visual é também transmitido ao hipotálamo,
para informar ao sistema nervoso, principalmente ao corpo pineal, quanto à intensidade luminosa
ambiente. Desse modo, o corpo pineal recebe informações sobre o fotoperíodo imprescindíveis para a
secreção de melatonina, hormônio produzido na ausência de luz e que, uma vez na corrente sangüínea,
atua como sinalizador do fotoperíodo para inúmeras estruturas que compõem o relógio biológico.
Para que o bulbo do olho possa exercer suas funções e focalizar imagens dentro do campo
visual, muitas vezes ele deve se movimentar por meio da contração coordenada dos músculos
extrínsecos do olho - músculos reto lateral, reto medial, reto superior, reto inferior, oblíquo superior e
oblíquo inferior. Cada um desses músculos possui uma extremidade fixada na superfície do bulbo do
olho (inserção) e outra nas paredes da cavidade orbital (origem).
Como parte do bulbo do olho está em contato com o meio ambiente, elementos como pálpe-
bras, aparelho lacrimal e túnica conjuntiva do olho atuam protegendo-o e lubrificando-o.
As pálpebras são pregas móveis formadas por pele e tecido conjuntivo, em cujas margens en-
contram-se os cílios. Protegem o olho da luz intensa, das partículas presentes no ar e de substâncias
estranhas, que poderiam machucar o globo ocular. O formato da pálpebra é mantido pela presença de
uma placa de tecido conjuntivo fibroso - tarso - contendo glândulas modificadas que secretam uma
substância oleosa - glândulas tarsais.
A superfície interna das pálpebras é revestida por uma mucosa - túnica conjuntiva -, que, após
revestir as pálpebras, projeta-se para a superfkie exposta do bulbo do olho, revestindo-a. A inflamação
ou infecção dessa membrana é conhecida como conjuntivite.
O aparelho lacrimal é formado por um par de glândulas lacrimais localizadas na região súpero-
lateral da cavidade orbital. Seus duetos lançam a lágrima sobre a superfície do bulbo do olho, lubrifi-
cando-o e protegendo-o. A lágrima, constantemente produzida, é drenada para o ângulo interno ou
medial das pálpebras. É possível se observar, tanto na margem da pálpebra superior quanto na da
pálpebra inferior um diminuto orificio - abertura dos canalículos lacrimais, os quais recebem a lágrima
e desembocam no saco lacrimal, localizado na cavidade orbital. O saco lacrimal continua inferiormen-
te com o dueto lacrimonasal, que desce internamente entre as estruturas da face, junto à parede lateral
do nariz, para desembocar no meato inferior do nariz, onde a lágrima é lançada.
A lubrificação do olho pela secreção lacrimal impede que ele se torne seco e inflamado. Além
.disso, a lágrima possui uma enzima - lisozima - que tem ação bactericida. A secreção das glândulas
tarsais forma uma película oleosa sobre o globo ocular, impedindo a evaporação da lágrima.
Olho e Estruturas Pertinentes 55

lsecçõo sagltalJ
PAREDE DO BULBO DO OLHO
1 -. Túnica fibrosa do bulbo:
~ - Esclera
'il~ -Córnea CAVIDADE DO BULBO DO OLHO
'lJ<S - Seio venoso da esclera !l5 - Câmara anterior
2 - Túnica vascular do bulbo: @- Câmara posterior
~ -Corióide 'iJ - Corpo vítreo
~ - Corpo ciliar
~ - Fibras zonulares
~]) -Íris
~~ - Pupila
ffi - Túnica conjuntiva
:?Jf' - Músculo ciliar ®- Lente

3 - Túnica Interna do bulbo: 'iJ® - Nervo óptico


~ -Retina

IDi]3 - Disco do nervo óptico


~ - Fóvea central
56 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

lente espessada
-,.-.i""".f-ri+-------; para vlsõo 1----+-f--P-~+---

próxima

zônula ciliar
relaxada

lente adelgoçodo
--il"""-,;;.t-t----------1 poro visão 1--- - - - + - + - - . . . . . . . . ,........-
dlstonte

n--~~r-----------1 zônula clllar


distendida

l1uz normal! !secção sagitali

1 pouca luz 1 1 muita luz 1

dllotaçõo da pupila constrlçõo da puplla

IVísta a nterior 1

fibra músculo músculo


pós-ganglionar esfíncter dllatador
simpática da pupíla da pupíla
fibra
pós-ganglionar
parasslmpátfca
Olho e Estruturas Pertinentes 57

( CÉLULAS DA RETINA )

~ecçõo sagltall

o
w fibras do nervo
óptico

1@

11 n terminações sinópticas

neurônios
fotorreceptores
neurônios
bipolares
neurônios
ganglionares
/~
\\!

E,~
\.·

célula cone [~'1

m
célula bastonete
58 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

VIA ÓPTICA
'íJ - Bulbo do olho
~ - Nervo óptico
á3 - Quiasma óptico
~ - Trato óptico

k'5 - Corpo geniculado lateral


® - Radiação óptica
'iJ - Córtex do lobo occipital (área visual
Primária)
Olho e Estruturas Pertinentes 59

!Vista lateral esquerda 1

MÚSCULOS INTRÍNSECOS
DO BULBO DO OLHO
~ - Músculo reto superior
ill - Músculo reto lateral
~ - Músculo reto medial
@ - Músculo reto inferior
~ - Músculo oblíquo superior
!f' - Músculo oblíquo inferior
@-Músculo levantador
Da pálpebra superior

As setas indicam a direção


dos movimentos do bulbo do olho.

jVista anterior bulbo esguerdª


60 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

\ B
''
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\\·.·
·.1
~.
i..\ '.

\ e

lvlsta anterlorl

APARELHO LACRIMAL
'íl - Glândula lacrimal ~ - Meato nasal inferior
~ - Dúctulos excretores ª- Concha nasal inferior
ID - Canalículos lacrimais <S - Narina
~ - Saco lacrimal @ - Carúnc ula lacrimal
~ - Dueto lacrimonasal
61

8-0RELHA

Sandra Regina Stabille

A orelha constitui o órgão periférico dos sentidos da audição e do equilíbrio. Capta as ondas
sonoras e informações sobre os movimentos da cabeça e da aceleração do corpo no espaço, transfor-
mando essas informações em impulsos nervosos, que, posteriormente, serão conduzidos ao sistema
nervoso central pelo nervo vestibulococlear (VIII par de nervo craniano), onde serão percebidos e
interpretados, propiciando os sentidos da audição e do equilíbrio.
É formada por: orelha externa, orelha média e orelha interna. Esses três componentes não
apresentam soluções de continuidade, ou seja, são contínuos entre si.

1- ORELHA EXTERNA

É formada por orelha, meato acústico externo e membrana timpânica.


A orelha, localizada na parte lateral da cabeça, é uma estrutura de cartilagem elástica revestida
por pele e fixada à cabeça por meio de ligamentos e músculos. Possui saliências e depressões que
auxiliam a localização da fonte sonora. Sua função é captar a onda sonora, amplificando-a e conduzin-
do-a para o meato acústico externo.
O meato acústico externo é um estreito canal ósteo-cartilaginoso e sinuoso que está em conti-
nuidade com o pavilhão auricular. É revestido por pele, contendo pêlos, e glândulas que secretam uma
substância oleaginosa denominada cerume. O cerume atua como protetor, repelindo pequenos insetos
e mantendo a umidade e a temperatura do meato acústico externo em condições ideais para o funcio-
namento da membrana timpânica .
No final do meato acústico encontra-se a membrana timpânica, que separa a orelha externa da
orelha média. A membrana timpânica é revestida por pele na face externa, e por mucosa na face
interna . Sua função é receber a onda sonora captada pelo pavilhão auricular, a ela conduzida pelo
meato acústico externo, e transmiti-la, por vibração, para a orelha média. As lesões da membrana
timpânica (perfurações do tímpano), dependendo da extensão, podem prejudicar sua flexibilidade em
função da cicatrização fibrosa.

li - ORELHA MÉDIA

É representada pela cavidade timpânica, uma pequena cavidade localizada no interior da parte
petrosa do osso temporal. Possui uma abertura lateral, que se estende até a membrana timpânica, e
duas aberturas mediais: uma é a janela do vestíbulo üanela oval) e a outra é a janela da côdea üanela
redonda).
Comunicando a orelha média com a parte nasal da faringe encontra-se a tuba auditiva, que se
estende da orelha média à parte nasal da faringe, abrindo-se no óstio faríngeo da tuba auditiva. A
função dessa comunicação é permitir a entrada de ar para o interior da orelha média, possibilitando,
assim, que a pressão no interior da orelha média possa ser equilibrada com a do meio externo, condi-
ção fundamental para o bom funcionamento da membrana timpânica.
A mucosa que reveste as paredes da faringe e da cavidade nasal é contínua com a mucosa de
revestimento da tuba auditiva e da orelha média . Infecções das vias aéreas superiores podem se propa-
gar, via tuba auditiva, para a orelha média, originando as otites médias, que, se não forem corretamen-
te diagnosticadas e tratadas, podem levar à meningite. Quando essas infecções são acompanhadas por
secreção (otites médias secretoras}, essa pode extravasar para o meato acústico externo, por lesões da
membrana timpânica . Além disso, as otites médias comprometem o funcionamento dos ossículos e da
62 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

membrana timpânica, e, conseqüentemente, a transmissão da onda sonora. Muitas vezes a otite mé-
dia secretora é assintomática, e em crianças pode levar a deficiências auditivas variadas, que prejudi-
cam a maturação da área auditiva cerebral, gerando seqüelas irreversíveis, que comprometem o pro-
cesso de aquisição de linguagem e a aprendizagem .
Além de ar, no interior da orelha média encontram-se três ossículos, articulados entre si por
meio de articulações sinoviais: martelo, bigorna e estribo.
O martelo está fixo por uma de suas extremidades à superffcie interna da membrana timpânica.
Sua outra extremidade articula-se com a bigorna, que, por sua vez, articula-se com o estribo. A base do
estribo oblitera a janela do vestíbulo, o local de comunicação da orelha média com a orelha interna.
A vibração da membrana timpânica faz vibrar a cadeia de ossículos de tal modo que a vibração
sonora é transmitida para a orelha interna por meio das vibrações da base do osso estribo, na janela
do vestíbulo. ·
Modulando a movimentação dos ossículos existem os músculos estapédio e tensor do tímpano.
Suas contrações servem de amortecedores para a cadeia de ossículos, em ocasiões de vibrações exces-
sivamente fortes da membrana timpânica.
Ajanela da cóclea está fechada por outra membrana conjuntiva, denominada membrana timpânica
secundária.

Ili- ORELHA INTERNA

É constituída por um conjunto de cavidades presentes no interior da parte petrosa do osso


temporal denominado labirinto ósseo. Essas cavidades são preenchidas pelo líquido perilinfa e por
estruturas membranosas, que, no conjunto, constituem o labirinto membranáceo. Cada região do
labirinto ósseo possui uma região membranosa correspondente (ver quadro 1 ). No labirinto
membranáceo encontra-se o líquido endolinfa.

Quadro 1. Regiões do labirinto ósseo e as correspondentes do labirinto membranáceo

Regiões do labirinto ósseo Regiões do labirinto membranáceo

Cóclea Dúcto coclear

Vestíbulo Utrículo e sáculo


Canais semicirculares Dúctos semicirculares
(anterior, lateral e posterior) (anterior, lateral e posterior)

1.Labirinto ósseo

A cóclea é uma cavidade em forma de caracol, cujos andares contornam um eixo ósseo central
denominado modíolo da cóclea que se assemelha a um parafuso, cuja rosca é representada pela
delgada lâmina espiral óssea. O ápice do modíolo da cóclea é o helicotrema.
O vestíbulo é uma cavidade contínua , por um lado com a cóclea e por outro com os canais
semicirculares. Os canais semicirculares, como o próprio nome diz, constituem semicírculos ósseos
dispostos nos sentidos anterior, lateral e posterior, todos se abrindo no vestíbulo.

2. Labirinto membranáceo

Forma um conjunto de duetos de diâmetros variados e cheios de endolinfa. São contínuos entre
si e se localizam no interior do labirinto ósseo.
O dueto coclear é a parte do labirinto membranoso presente no interior da cóclea. Possui uma
parte fixada à lâmina espiral óssea e outra presa à parede lateral da cóclea.
Orelha 63

No interior do dueto coclear existem células colunares ciliadas cujos cílios são cobertos por uma
membrana gelatinosa denominada membrana tectória. A base das células ciliadas é envolta por extre-
midades periféricas de neurônios bipolares. As células ciliadas são os receptores para o sentido da
audição. Os pericários dos neurônios bipolares constituem o gânglio espiral da cóclea. Os prolonga-
mentos centrais desses neurônios (axônios) formam a parte coclear do nervo vestibulococlear.
O conjunto formado por células ciliadas, membrana tectória !'! terminações das fibras nervosas
dos neurônios bipolares é denominado órgão espiral (órgão de Corti).
A onda sonora transmitida pelo estribo à orelha interna, através da janela do vestíbulo, faz
vibrar a perilinfa do vestíbulo, e conseqüentemente da cóclea, que, por sua ~ez, transmite a vibração
para as paredes do dueto coclear, movimentando a endolinfa e as células ciliadas. Essa movimentação
ciliar libera substâncias químicas (neutrotransmissores) as quais atuam nas terminações nervosas que
envolvem a base das células ciliadas, despolarizando-as e gerando impulsos nervosos que serão con-
duzidos ao sistema nervoso central pelo nervo vestibulococlear. Esses impulsos, ao alcançarem o
córtex dos giros temporais transversos do lobo temporal, permitem a consciência do sentido da audi-
ção.

Inúmeras condições podem dificultar ou comprometer a condução da onda sonora até o órgão
espiral, caracterizando as perdas auditivas de condução. Um exemplo dessas condições é a
otosclerose, que pode ocorrer com o envelhecimento. Na otosclerose as articulações dos ossículos
da orelha média estão comprometidas, impedindo ou dificultando a transmissão da onda sonora
para a janela vestibular. Essa condição pode ser corrigida cirurgicamente. As perdas auditivas
por condução também podem ser minimizadas ou sanadas pelo uso de aparelhos auditivos, o
que não ocorre nos casos de perdas auditivas de recepção ou sensoriais. Nestas, o comprometi-
mento da orelha ocorre em nível de órgão espiral ou do nervo vestibulococlear, impedindo que
a onda sonora seja transformada em impulso nervoso. O implante de cóclea, que vem sendo cada
vez mais aperfeiçoado, é uma opção para o saneamento desses tipos de deficiências, porém não
se aplica a todos os tipos de perda auditiva sensorial.
A exposição do indivíduo a vibrações sonoras muito intensas (ruídos ou sons excessivamente
altos), em curto ou longo prazo, pode danificar estruturas da orelha interna gerando perdas
auditivas. O mesmo ocorre nas explosões, quando se verifica intenso deslocamento de ar para o
interior da orelha, superando o mecanismo amortecedor e protetor dos músculos estapédio e
tensor do tímpano, o que acaba gerando perdas auditivas de variados tipos e intensidades.

O utrículo e o sáculo são bolsas membranosas presentes no interior do vestíbulo. Por um lado
se comunicam com o dueto coclear e, por outro, com os duetos semicirculares que são tubos localiza-
dos no interior dos canais semicirculares. A extremidade dilatada de cada dueto semicircular, se abre
para o utrículo e recebe o nome de mácula.
No interior do utrículo e do sáculo existe uma região que contém células colunares ciliadas
cobertas por uma membrana gelatinosa contendo cristais de carbonato de cálcio (otólitos): é a mem-
brana dos estatocônios. Também nas dilatações dos duetos semicirculares encontram-se células colunares
ciliadas cobertas por uma membrana gelatinosa, a cúpula ampular.
As células ciliadas do utrículo, do sáculo e dos duetos semicirculares estão conectadas com
fibras nervosas de neurônios bipolares, que representam os receptores para o sentido do equilíbrio.
Os pericários desses neurônios bipolares localizados no interior da parte petrosa do osso temporal
constituem o gânglio vestibular, e seus prolongamentos centrais formam a parte vestibular do nervo
vestibulococlear, que conduz ao sistema nervoso central os impulsos nervosos referentes ao equilíbrio
estático e à aceleração, importantes informações para a manutenção do equilíbrio e da postura.
Inflamações ou comprometimento dos componentes da orelha interna relacionadas com o sen-
tido do equilíbrio, popularmente conhecido como labirintite, interferem no funcionamento do órgão,
gerando sintomas como tontura, naúseas e nistagmo.
64 Anatomia Humana: aprendizagem dinâmica

LOCALIZAÇÃO DA ORELHA
Osso temporal:
~ - Parte petrosa

00 - Processo mastóide
<S - Processo estilóide

DIVISÃO DA ORELHA
Orelha externa ('ilaWo tJ., ~l
Orelha média (~ '6!Ã'!a '6i:IDa
~~q <6i:ID)
Orelha interna [IB)

ORELHA EXTERNA
'V- Orelha
~ - Lóbulo da orelha
?J - Meato acústico externo 1 secção frontall

á3 - Membrana timpânica
~-Umbigo da
membrana timpânica

ORELHA MÉDIA
~ - Tuba auditiva
&Ji].3 - Osso martelo
~ - Osso bigorna
&Ji]) - Osso estribo
® - Músculo te nsor do
tímpano
'lJ - Músculo estapédio

3A
1 secção frontall
Orelha 65

20

5 - nervo vesttbulococleor

20

ampbla
m embranócea
semlclrcufar

gôngllo
espiral

ORELHA INTERNA Secção da cóclea (~)


'll - LABIRINTO ÓSSEO ~ - Crista basilar
!M - Rampa do vestíbulo
'll~ - Vestíbulo <S - Rampa do tímpano
'll!M- Cóclea @ - Lâmina espiral
'll<S - Canais semicirculares
Secção do dueto coclear (~~»
~ - LABIRINTO MEMBRANÁCEO W - Parte coclear do neNo
vestibulococlear
~ - Utrículo ~ - Órgão espiral
~]3 - Sáculo [F - Membrana tectória
~ - Dueto coclear @- Parede vestibular
:?;li]) - Dueto semicircular G{l - Parede tlmpânlca
66 Anatomfa Humana: aprendfzagem dinômfca

9 - O TEGUMENTO COMUM

Débora de Mel/o Gonçales Sant'ana


Marco Antônio Sant'ana
Marcl7io Hubner de Miranda Neto

O tegumento comum é formado por dois planos, um mais superficial, denominado de pele
(epiderme + derme) e um mais profundo, chamado tela subcutânea (hipoderme). Descreveremos sepa-
radamente a pele, posteriormente seus anexos e depois a tela subcutânea por uma finalidade didática,
mas deve-se ter sempre em mente que o tegumento comum faz parte de um todo indivisível, o corpo
humano.
A pele é um órgão que recobre externamente a superficie do corpo e margeia os seus orificios
naturais (por exemplo narinas e ânus), continuando com as membranas mucosas e protegendo nosso
corpo da desidratação e de agentes químicos, ffsicos e biológicos. Possui receptores de tato, tempera-
tura e pressão, que permitem que o indivíduo mantenha contato com o meio ambiente. Além disso
por seu intermédio são eliminadas e absorvidas algumas substâncias, inclusive medicamentos.
A pele apresenta características variáveis de acordo com as regiões onde se encontra. No indiví-
duo adulto, representa cerca de 16% do peso corporal, sendo considerada o maior órgão do corpo
humano, e correspondendo a uma área total de aproximadamente 2 m2 • Sua espessura varia entre 1 a
4 mm, dependendo da região, sendo mais espessa, por exemplo, nas superficies dorsais e extensoras
do corpo do que nas superficies anteriores e flexoras. A pele das áreas sujeitas a maior pressão, como
a palma das mãos e a planta dos pés, também se apresenta mais espessa, sendo chamada de pele
grossa, enquanto, na maioria do corpo é chamada de pele fina, podendo em algumas regiões, por
exemplo pálpebras e lábios, ser especialmente delicada .
A pele está frouxamente presa às estruturas subjacentes (tela subcutânea e fáscias), sendo facil-
mente deslocada, o que proporciona que se adapte a todas as irregularidades do corpo. Limitando
essa mobilidade há os retináculos da pele, fitas de tecido conjuntivo que a fixam à tela subcutânea ou
à fáscia, formando pontos de fixação profunda. Refletindo superficialmente os retináculos, as linhas de
clivagem são sulcos lineares na pele que se distribuem ordenadamente pelo corpo todo, indicando a
direção dos feixes de fibras colágenas e, conseqüentemente, de tensão da pele. Sua mobilidade é
muito variável: basta compararmos a pele da coxa ou do joelho, que precisa se adaptar às mudanças
decorre.ntes dos movimentos e da contração muscular, com a pele da orelha e do nariz, aderida à
cartilagem desses órgãos.
As cristas e os sulcos da pele são finas saliências e depressões perceptíveis na superficie da
epiderme, e que caracterizam regiões e pessoas, como por exemplo as existentes nos dedos, que
individualizam o ser humano por meio da impressão digital única.
A pele pode apresentar capacidade de contração quando possui fibras musculares lisas, como
por exemplo a pele da mama e a do escroto.
A elasticidade é outra característica da pele que também varia nas diversas regiões do corpo;
por exemplo, é muito elástica no dorso da mão, enquanto na palma é pouco. A elasticidade diminui
com a idade, já que aos poucos as fibras elásticas vão se tornando desorganizadas e vão diminuindo
em quantidade, o que leva ao surgimento de rugas e da flacidez. A elasticidade pode ser facilmente
testada fazendo-se uma prega com os dedos na pele do dorso da outra mão: imediatamente ao soltá-
la ela volta ao normal. A distensão da pele além dos limites normais, o que ocorre em situações como
a gravidez, edema ou obesidade pode alterar sua estrutura , levando a um adelgaçamento e rompimen-
to dos feixes de fibras elásticas, surgindo pequenas fendas cutâneas conhecidas como estrias.
A pele é constituída por duas camadas: a epiderme e a derme.
A epiderme, forma a camada mais superficial do corpo, é formada por diversos estratos de
células. As células mais profundas proliferam-se por meio da divisão celular. Com o surgimento de

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