Estradas 1
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Estradas 1
DISTRIBUIÇÃO
FÍSICA
Introdução
No contexto da gestão da distribuição física, é importante compreender
os diferentes tipos de modais de transporte, bem como suas especifici-
dades e usos. O transporte se dá por meio da condução de uma certa
carga de um ponto de origem até um local de destino. Cada modal é
apropriado para distintas necessidades da firma e para diversas condições
e constrangimentos impostos pelos ambientes natural, geográfico e
econômico da empresa. Assim, para que a gestão da distribuição física
ocorra de maneira ótima, são necessários sistemas de gestão de transporte
adequados a esse contexto sempre mutável. Além disso, profissionais bem
qualificados na área são essenciais na etapa de julgamento e tomada de
decisão sobre transportes e seleção de modais.
Em logística e gestão da cadeia de suprimentos, a compreensão de
quais modais são possíveis, bem como quais são as suas particularidades
e especificidades, é um ponto relevante por dois motivos. Primeiro, cada
empresa possui particularidades, e cada produto possui necessidades
que fazem a tomada de decisão sobre estratégias de distribuição física e
transporte não ser tão simples. Segundo, os distintos modais são suscetí-
veis a variações econômicas, ambientais e políticas, portanto, o trabalho
do analista é constante nesse processo de avaliação sobre quais modais
escolher e por quê.
Neste capítulo, você estudará sobre os diferentes tipos de modais
de transporte. Além disso, conhecerá os tipos de modais terrestres, bem
como os tipos de modais aéreo, aquaviário e dutoviário.
2 Modais de transporte
Velocidade
A velocidade é importante para o remetente que deseja comercializar seus bens
de modo a entregá-los no tempo mais curto possível, bem como para eliminar
os encargos bancários causados por cargas em longo período em trânsito. Para
tanto, deve-se selecionar o serviço mais rápido disponível, obtendo, assim, o
mínimo intervalo entre o momento em que os bens são pedidos/despachados
e a data de entrega no seu destino (BRANCH, 2008).
Frequência
A frequência do serviço é um fator-chave na operação logística global, sobre-
tudo na gestão da cadeia de suprimentos internacional. Ela é mais importante
quando as mercadorias só podem ser vendidas em pequenas quantidades em
intervalos frequentes. Isso pode ser observado em produtos “da moda”, como
roupas de alto valor agregado, a exemplo de vestidos de grife com estoque
Modais de transporte 3
Empacotamento
A embalagem é uma área-chave no que tange aos transportes internacionais.
Os bens enviados por via aérea, por meio de contêineres e via paletização,
exigem menos embalagem. Existe uma grande variedade de empacotamentos:
embalagem termoencolhível para paletes; carga presa ao palete; envolvimento
plano para móveis de cozinha e sala de jantar, como cadeiras de madeira;
recipientes de plástico, como caixas pesadas, que são empilháveis; bandejas
plásticas reutilizáveis de alta resistência para frutas; e caixas de papelão,
amplamente utilizadas. Contudo, uma série de fatores precisa ser considerada:
risco de avariar o produto; custo; valor da carga; modo de transporte; cobertura
do seguro e dimensão/configuração da carga; frequência de movimentação
da carga, entre outros (NOVAES, 2007).
Seguro
A embalagem e o seguro nem sempre são identificados como centrais na
gestão da cadeia de suprimentos, ou como áreas de melhoria potencial e de
redução de custos. Quando as mercadorias são transportadas de um país
para outro, elas passam por diferentes regimes legais que governam o con-
trato. Para reduzir as incertezas que podem surgir, por exemplo, em casos de
sistemas jurídicos conflitantes, foram criadas convenções internacionais que
regulamentam o transporte de mercadorias entre fronteiras, a fim de limitar
a responsabilidade das transportadoras. Essas convenções incluem: Regras
de Hague-Visby, para transporte marítimo; Convenção CMR, para transporte
rodoviário; Convenção COTIF, para transporte ferroviário; e Convenção de
Varsóvia, para transporte aéreo.
4 Modais de transporte
Armazenamento
O armazenamento refere-se à disposição das cargas antes e após o transporte,
à sua alocação física e aos critérios de acondicionamento. Alguns dos fatores
importantes a serem analisados pelos analistas de logística são os seguintes:
quais são as condições adequadas de armazenamento para cada tipo de carga?
As cargas estão acondicionadas, seguras e livres de interferências externas
que poderiam avariá-las?
Com base nessa série de elementos e nas estratégias logísticas dos
distintos modais, pode-se estudar mais detalhadamente os principais
modelos de modais terrestres, aquáticos e aéreos, bem como outras va-
riações. A Figura 1, a seguir, apresenta diferentes modais de transporte
com uso de contêiner.
2 Os modais terrestres
Os dois principais modais terrestres são o rodoviário e o ferroviário, analisados
mais detalhadamente a seguir.
Rodoviário
O modal rodoviário é mais utilizado em transportes logísticos locais, regionais
e nacionais, sobretudo no Brasil, uma vez que ele está restrito a países com
contiguidade geográfica ou àqueles que não estão muito distantes. De acordo
com dados do IBGE (GEOCIÊNCIAS, 2019), é o modal de transporte mais
utilizado no Brasil (61,1% de toda a carga transportada em 2015), devido,
principalmente, a uma característica estrutural da infraestrutura do país: a
malha rodoviária é mais desenvolvida e disponível do que os outros modais
de transporte.
Sendo assim, seria possível, por exemplo, realizar um transporte de cargas
entre a região Sul do Brasil e a região Norte da Argentina, em virtude da
proximidade geográfica relativa. No entanto, dificilmente poderíamos utilizar
esse modal para o transporte de cargas entre Brasil e Estados Unidos, não
apenas pela distância, mas também pelo longo prazo que isso acarretaria
(GAITHER, 2001).
Todavia, no Brasil, o modal rodoviário possui vários problemas, os quais
estão relacionados, sobretudo, a deficiências infraestruturais históricas do país.
De acordo com Dias e Ribeiro (2013), algumas dessas deficiências incluem:
problemas na legislação quanto à fiscalização e ao monitoramento; inefici-
ência no financiamento à melhoria da infraestrutura; baixos investimentos
governamentais e privados; e infraestrutura rodoviária com problemas no
pavimento e na sinalização. Assim, ainda que a infraestrutura das rodovias seja
melhor e mais disponível que a de modais como o ferroviário e o aquaviário,
a precariedade de muitas dessas rodovias — sobretudo nas regiões Norte e
Nordeste, menos privilegiadas — causa sérios problemas para o escoamento
de cargas e mercadorias que utilizam esse modal.
Um dos problemas ocasionados por essa relativa precariedade infraestrutu-
ral refere-se aos riscos de acidentes, além do fato de que há um grande nível de
desgaste dos veículos, o que acaba aumentando o tempo de deslocamento das
mercadorias transportadas. O risco de roubos e saques também afeta empresas
e trabalhadores da área. Outra consequência das deficiências infraestruturais
diz respeito ao valor dos fretes, que se tornam consideravelmente mais caros
6 Modais de transporte
Ferroviário
O modal ferroviário (Figura 2) caracteriza-se, principalmente, por sua
capacidade de transportar grandes volumes. Segundo Ferreira (2011),
esse modal tem como característica principal o atendimento a longas
distâncias e grandes quantidades de carga com menor custo de seguro e
frete. O autor aponta, ainda, que o Brasil possui aproximadamente 20.000
Km de ferrovias, o que ainda é considerado bem abaixo do ideal. Outras
características do modal ferroviário são baixo consumo energético por
unidade transportada e menor índice de roubos/furtos e acidentes em
relação ao transporte rodoviário.
Conforme Oliveira (2012, p. 132), analisando especificamente o modal
ferroviário no estado de São Paulo, observa-se que:
Sendo assim, nesse estado, o modal ferroviário caracteriza-se por ser prati-
camente todo privatizado, de modo que é subutilizado, considerando-se o seu
potencial. Além disso, em sua dimensão federal, outros desafios enfrentados
pelo modal ferroviário são os seguintes: gargalos logísticos e operacionais;
Modais de transporte 7
Em relação ao modal ferroviário no estado de São Paulo, o mais rico do Brasil, as ferrovias
são praticamente todas concedidas, isto é, o modal foi privatizado. Esse é um aspecto
interessante para o debate sobre investimentos públicos e privados na infraestrutura
de transportes. Nessa discussão, com difícil consenso entre os analistas, o que se sabe é
que a privatização — apesar de, em alguns casos, melhorar a qualidade da infraestrutura
—, com toda certeza, aumenta consideravelmente o custo final do modal ferroviário.
8 Modais de transporte
Aquaviário
Segundo o IPEA (POMPERMAYER; CAMPOS NETO; PAULA, 2014, p. 22),
o modal aquaviário é considerado o meio de transporte mais eficiente e com
menor custo, visto que:
Hidroviário
Para saber mais sobre o transporte hidroviário, leia o texto Hidrovias No Brasil: Perspectiva
Histórica, Custos E Institucionalidade, de Pompermayer, Campos Neto e Paula, disponível
no site Econstor, o qual fornece um excelente e atualizado panorama sobre os trans-
portes hidroviários no Brasil. A leitura é fundamental para entender a importância e a
relevância econômica desse modal para o desenvolvimento do país.
Marítimo
Aéreo
O transporte internacional aéreo é, sem dúvidas, o mais caro, devido às grandes
distâncias e às especificidades dos produtos transportados por meio desse
modal (p. ex., bens de luxo, produtos muito sensíveis, produtos rapidamente
perecíveis, etc.). É utilizado no transporte de itens que necessitam de entrega
urgente e mercadorias com pouco peso e volume (NOVAES, 2007). Além
disso, o transporte aéreo tem se beneficiado, nos anos recentes, pelo crescente
número de frotas e rotas aeroviárias.
Segundo Ferreira (2011), o modal aéreo é adequado para mercadorias
de alto valor agregado, pequenos volumes e urgência de entrega. Ele possui
algumas vantagens sobre os demais modais, pois é mais rápido, além de ser mais
viável para remessas, como bagagem, peças de reposição, produtos eletrônicos,
mercadoria perecível, brindes, medicamentos, amostras laboratoriais, entre
outras. A cidade de São Paulo, no Brasil, é a cidade com melhor infraestrutura
logística, comparativamente ao restante do país, embora aeroportos como
Congonhas e Guarulhos estejam próximos da saturação (OLIVEIRA, 2012).
No entanto, “[...] as taxas de frete aéreo excedem as do rodoviário por mais
de duas vezes e as do ferroviário, por mais de dezesseis vezes” (ORNELLAS;
CAMPOS, 2008, p. 73). Portanto, esse modal excede consideravelmente os
valores dos demais modais. Em relação aos custos, tanto os fixos (compra ou
leasing de aeronaves, etc.) quanto os variáveis (combustível, manutenção e
mão de obra) são consideravelmente altos (ibidem).
Modais de transporte 11
Dutoviário
Como o nome já diz, o modal dutoviário refere-se ao transporte através de
dutos ou tubos. O transporte dutoviário é uma alternativa lenta, com custo de
frete muito baixo, porém permite a movimentação de carga sem interferência
de variáveis externas (p. ex., congestionamentos). Para viabilizar esse meio de
transporte, há necessidade de infraestrutura, pois dutos, pontos de recepção,
sistemas de suporte e estações de movimentação de carga são críticos para a
realização de transporte por esse modal.
Em virtude do grande volume de investimento necessário, o transporte
dutoviário é ainda incipiente no Brasil. Além disso, há a limitação de tipo de
carga: mercadorias em estado líquido ou gasoso são as indicadas para esse
tipo de transporte.
Conforme Souza Filho, Alves e Ferreira Filho (2006, p. 1874), o problema
de distribuição dutoviária pode ser dividido em algumas categorias:
[...] os dutos apresentam o maior custo fixo e o menor custo variável entre
todos os tipos de transporte. O alto custo fixo é resultado do pagamento pelo
direito de passagem, da construção e da necessidade de controle das estações,
além da manutenção da capacidade de bombeamento e dos próprios dutos.
Como não há necessidade de mão de obra intensiva durante as operações
de transporte, o custo variável é extremamente baixo após sua construção.
SOUZA FILHO, E. M.; ALVES, V. R. F. M.; FERREIRA FILHO, V. Utilização de técnicas de pes-
quisa operacional em problemas de distribuição dutoviária: uma revisão. In: SIMPÓSIO
BRASILEIRO DE PESQUISA OPERACIONAL, 38., 2006, Goiânia. Anais [...]. Maringá: UEM,
2006. Disponível em: http://www.din.uem.br/~ademir/sbpo/sbpo2006/pdf/arq0086.
pdf. Acesso em: 20 maio 2020.
VALE. Quer viajar de trem no carnaval? As passagens para o período já estão à venda! Rio de
Janeiro, 2017. Disponível em: http://www.vale.com/brasil/PT/aboutvale/news/Paginas/
quer-viajar-de-trem-no-carnaval-as-passagens-para-o-periodo-ja-estao-a-venda.aspx.
Acesso em: 20 maio 2020.
Leitura recomendada
WANKE, P. F.; FLEURY, P. F. Transporte de cargas no Brasil: estudo exploratório das
principais variáveis relacionadas aos diferentes modais e às suas estruturas de custos.
In: DE NEGRI, J. A.; KUBOTA, L. C. (org.). Estrutura e dinâmica do setor de serviços no Brasil.
Brasília, DF: IPEA, 2006. p. 409-464.
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