JBN V21n4a05
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RUNNING HEADS:
L. E. Ianhez e Pedro Renato Chocair – Revisão/Atualização em Transplante Renal
J. Bras. Nefrol. 1999; 21 (4): (págs. inicial-final)
hipervolemia, acidose severa são indicações para diálise quando as medidas clínicas
forem ineficientes. Furosemida é um diurético potente, mas é mais eficaz para aqueles
pacientes que apresentam depuração de creatinina superior a 10 ml/min.
Introdução
Atualmente, com o desenvolvimento dos transplantes renais, a experiência com
cirurgias em pacientes com insuficiência renal acumulou-se de tal modo que, cercando-
se de cuidados adequados, o risco cirúrgico-anestésico não está significativamente
aumentado nesses pacientes1. Para isso, devemos definir o que se entende por
paciente nefropata, avaliar corretamente a função renal, controlar de modo adequado a
hipertensão arterial – quase sempre presente nesses pacientes – e conhecer a
farmacologia dos medicamentos a serem administrados, os quais, na maioria das
vezes, têm eliminação através dos rins.
Hiperpotassemia
Esse distúrbio pode ser manuseado de várias maneiras: 1) pela correção da acidose
associada, desde que não haja insuficiência cardíaca; 2) pela infusão de 10 a 50 ml de
gluconato de cálcio a 10%, em bolo EV ou diluída em solução glicosada, objetivando
minorar os efeitos cardiotóxicos do potássio, enquanto se espera o resultado das outras
medidas redutoras da potassemia; 3) pela infusão de glicose hipertônica com insulina
regular, na proporção de 1 unidade para cada 5 gramas de glicose; e 4) uso de
salbutamol (0,25-0,5mg) por via subcutânea.
O uso do “Sorcal”, uma resina troca cátions, constitui outra medida útil para combater a
hiperpotassemia. A dose de 15 a 30 g por via oral, 4 a 6 vezes ao dia, acompanhado de
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laxantes dependendo do nível do potássio. Ele pode também ser empregado sob a
forma de clister para casos em que há impedimento da administração por via oral, na
dose de 50 a 100 g dissolvidas em sorbitol podendo-se repetir por 4 a 6 vezes ao dia.
Na tabela 1 resumimos todo esquema terapêutico da hiperpotassemia.
Hipervolemia
Junto com os distúrbios eletrolíticos, a hipervolemia é freqüente e pode ser contornada
através da diminuição da oferta hidrosalina e/ou através do uso de furosemida, cuja
dose dependerá da gravidade da insuficiência renal. Em situações de depuração de
creatinina entre 5 a 20 ml/min, usamos entre 100 a 200 mg EV em bolo. Se a função
renal estiver entre 25-50 ml/min, a dose pode ser menor. Em pacientes sob tratamento
dialítico, a correção da hipervolemia só poderá ser efetivamente feita pela ultrafiltração
isolada ou associada à hemodiálise.
É prudente assinalar que a insuficiência renal aguda secundária à obstrução do trato
urinário representa uma situação especial que possibilita a intervenção cirúrgica sem
grandes riscos, mesmo com uremia severa e até com moderada hipervolemia, desde
que com eletrólitos normais e sem acidose grave, em razão da rápida correção de
todos os distúrbios que geralmente se observa após a remoção do agente causal.
Alguns cuidados adicionais precisam ser considerados em pacientes portadores de
síndrome nefrótica, que se define pela associação de grande proteinúria,
hipoproteinemia, edema e dislipemia. Esta síndrome pode ser secundária a uma série
de glomerulopatias ou doenças sistêmicas, como diabetes mellitus, amiloidose,
mieloma múltiplo, e, independentemente da causa, a correção da albumina sangüínea
deve ser feita preferencialmente no pré-operatório, através da infusão de albumina (ou
plasma) associada a diuréticos e dieta pobre em sal para correção do edema.
angiotensina – IECA
Esses agentes são atualmente muito utilizados para tratamento da hipertensão arterial,
miocardiopatias, nefropatia diabética, hipertrofia cardíaca ou pós-enfarte do miocárdio.
A interferência dessas drogas com os anestésicos gerais ou peridurais pode levar à
hipotensão arterial, freqüentemente associada com bradicardia,13 devido à diminuição
da resistência vascular sistêmica e do volume sistólico pelo menor enchimento
ventricular esquerdo. Corrige-se essa complicação aumentando-se a volemia com
cristalóides e utilizando efedrina. Os IECA de meia-vida curta, como o captopril, devem
ser preferencialmente suspensos na véspera e, os de meia-vida longa, 48 horas antes
da cirurgia.
A interrupção do tratamento com IECA não produz “efeito rebote” e, se ocorrer
hipertensão arterial no período em que o paciente estiver sem a droga, os inibidores do
canal de cálcio poderão ser empregados13.
operatório imediato15.
Drogas indutoras
Anestésicos Inalatórios
Os disponíveis em nosso meio são o halotano, etrano, isoflurano e sevorano. A
preocupação com esses vapores fluorados é a possibilidade de nefrotoxicidade pelo
flúor (níveis 50 mmol/l). O isoflurano tem sido usado com bons resultados. O sevorano
foi recentemente introduzido em nosso meio e parece promissor mas é prudente usar-
se baixas concentrações para se evitar queda da pressão arterial.
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Referências
1. Ianhez LE. Manejo Clínico do Transplante Renal. In: Riella MC, editor. Princípio de
nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. 3a ed. São Paulo: Guanabara Koogam.
1997. p. 657-71.
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Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos 3a ed. São Paulo: Guanabara;
1997. p. 179-199.
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Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. 3a ed. São Paulo: Guanabara
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operatórias. Rev Brás Clin Terap 1997;23:154-7.
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12
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bloqueadores do canal de cálcio. In: Braz JRC, Auler Jr JOC, Amaral JLG, Coriat P,
editores. O sistema cardiovascular e a anestesia. São Paulo: Fundação Editora
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15. Coriat P. Interação entre os anti-hipertensivos e a anestesia: III beta-bloqueadores.
In: Braz JRC, Auler Jr JOC, Amaral JLG, Coriat P, editores. O sistema
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17. Wilklund RA, Rosenbaum SH. Medical progress anesthesiology. N Engl J Med
1997;337:1215-19.
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Summary
The level of renal function should be measured pre-operatively in all patients, specially
in those with renal dysfunction. Most drugs or their metabolites are completely or
partially excreted by the kidneys. In addition, drug metabolison may be altered by
uremia. Unless proper dosage adjustments are made, patients with compromised renal
function are particularly vulnerable to drug accumulation and toxicity.
Patients on chronic dialysis should be dialysed before surgery to control volume status
eletrolytes and acid-base disturbances, which are usually observed in these patients.
Anemia should be corrected with blood transfusion when the hematocrit is lower than
25%, mainly for older patients. Hyperkalemia, volume overload, severe acidosis are all
indications for dialysis. Furosemide is a potent diuretic and it is more effective for those
patients who have creatinine clearance greater than 10 ml/min.
Gluconato de Cálcio 10% Antagonismo de Membrana 10-50 ml EV * 1-3 min. 30-60 min.