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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

CAMPUS CORNÉLIO PROCÓPIO


DIRETORIA DE GRADUAÇÃO E EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

PAULA BORDIN DO PRADO

ESTUDO DE SATURAÇÃO DE TRANSFORMADORES DE


CORRENTE APLICADOS EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CORNÉLIO PROCÓPIO
2017
2

PAULA BORDIN DO PRADO

ESTUDO DE SATURAÇÃO DE TRANSFORMADORES DE


CORRENTE APLICADOS EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA

Trabalho de Conclusão de Curso de


graduação, apresentado à disciplina
Trabalho de Conclusão de Curso 2, do
curso de Engenharia Elétrica da
Universidade Tecnológica Federal do
Paraná – UTFPR, como requisito parcial
para a obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Dr. Silvio Aparecido de


Souza.

Coorientador: Prof. Dr. Murilo da Silva.

CORNÉLIO PROCÓPIO
2017
3
4

Dedico este trabalho primeiramente a Deus, por


ter me concedido tantas graças, ao meu pai
Antônio, a minha mãe Vera, ao meu irmão
Fábio e ao meu namorado Luis Gustavo por
sempre terem confiado no meu potencial e por
me amarem em todos os momentos.
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por sempre ter iluminado minha trajetória


e sempre ter me dado forças pra continuar, mesmo quando o caminho estava tortuoso
e difícil. Pois Ele sempre me mostrou que quanto maior é o desafio, melhor é o sabor
da vitória e da conquista.
Agradeço infinitamente aos meus pais, que nunca mediram esforços para
me apoiarem nas decisões que tomei durante esta jornada. Agradeço minha mamis
linda Vera, meu papis quiido Toninho, meu brodi Fábio Zola, minha cunhada Elaine e
todos os outros familiares por sempre me darem palavras de apoio e confiança.
Agradeço por nunca desistirem de mim e sempre acreditarem na minha capacidade.
Prometo que eu ainda darei muito orgulho a vocês. Agradeço também pelas perguntas
em todos os almoços em família de quando eu iria me formar, e agora eu posso dizer
que esse dia finalmente chegou.
Agradeço imensamente pelo meu namorado Luis Gustavo, por sempre me
apoiar, me acalmar e me suportar quando estava surtando de raiva com o querido
Matlab, foram nestes momentos, e não foram poucos, que eu vi que ele era o homem
da minha vida. Além disso, este trabalho não teria se concluído sem a ajuda dele pois
ele sempre sanou minhas dúvidas sobre programação, pois sou uma mera usuária.
Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Silvio Aparecido de Souza, por ter
me passado tanto conhecimento durante esta etapa, por ter muita paciência quando
eu não entregava o que era pedido e por ter me dado um tema tão interessante como
trabalho de conclusão de curso. E, finalmente, nós estamos vendo a luz no fim do
túnel professor. Demorou, mas a hora chegou.
Agradeço aos meus amigos, que se tornaram irmãos durante esses anos
de graduação, principalmente ao Gabriel, o qual não posso falar o apelido em público,
a Elaine, vulgo Iracema, a Carol Manteiga e a JackLine. A todos da Repk e agregados,
obrigado por todo o álcool que me obrigaram a ingerir. E aos demais que passaram
em minha vida e cada um da sua maneira foram especiais para mim.
6

"Grande parte das nossas dores são


frutos de nossas próprias escolhas.”
(UCHIHA, Itachi).
7

RESUMO

DO PRADO, Paula Bordin. ESTUDO DE SATURAÇÃO DE TRANSFORMADORES


DE CORRENTE APLICADOS EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA. 2016.
70 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Engenharia Elétrica.
Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Cornélio Procópio, 2016.

Este trabalho apresenta um estudo de saturação de transformadores de corrente


(TCs) aplicados em sistemas elétricos de potência através do desenvolvimento de
uma interface gráfica via Matlab em conjunto com o software de simulação de
transitórios ATP. Inicialmente, realizou-se uma breve explicação do funcionamento de
um transformador de corrente levando em consideração a norma da ABNT NBR 6856,
assim como seus critérios de dimensionamento e dados necessários do curto-circuito.
A partir disso, iniciou-se o desenvolvimento da interface gráfica que permite por meio
de simulações para diferentes condições de nível de curto-circuito, nível de tensão e
carga, observar o comportamento no enrolamento secundário dos TCs através de
uma forma de onda refletida ao enrolamento do primário do mesmo, permitindo uma
análise sobre a condição de saturação do núcleo do transformador de corrente. Além
disso, foi implementada uma curva de saturação aproximada, pelo método de tensão
de joelho, de acordo com a classe de exatidão do TC quando não houver
disponibilidade da curva de ensaio do mesmo. Para simulações onde se possui a
curva de saturação de ensaio, a interface permitirá a inserção destes dados para
considerar durante simulações. A interface criada permite, de forma clara e simples,
a análise das condições de operação que podem levar os transformadores de corrente
à saturação de seus núcleos, agilizando assim, as tomadas de decisões inerentes ao
Engenheiro.

Palavras-chave: Transformador de corrente, Interface gráfica, Matlab, Saturação,


Curto-circuito.
8

ABSTRACT

DO PRADO, Paula Bordin. STUDY OF CURRENT TRANSFORMERS SATURATION


APPLIED IN ELECTRIC POWER SYSTEMS. 2016. 70 f. Trabalho de Conclusão de
Curso (Graduação) – Engenharia Elétrica. Universidade Tecnológica Federal do
Paraná. Cornélio Procópio, 2016.

This paper presents a study of current transformers (CTs) saturation applied in electric
power systems through the development of a graphical interface via Matlab together
with the software of transients simulation ATP. Initially, did it a brief explanation about
the operation of a current transformer considering the normative ABNT NBR 6856,
besides the dimension and short circuit criteria. From that, started the graphical
interface development that allows by simulations for different conditions of short circuit
level, voltage level and burden, observes the secondary winding behavior of the CT
through a wave graphic reflected on the primary winding from the same and conclude
if there was saturation in the current transformer’s core. Furthermore, an approximate
saturation curve by the voltage knee method according to the CT’s exactness class
could be estimated in case of the saturation curve tested from the current transformer
is not available. For simulations that have a tested saturation curve, the interface will
allow the insertion of these data to consider during simulations. The created interface
allows, in a simple and clear way, the analysis of operational conditions that might lead
the current transformers to the saturation of its cores, streamlining thus, the decisions
taking inherent to the engineer.

Keywords: Current transformer, Graphical Interface, Matlab, Saturation, Short circuit.


9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Curva de saturação de um TC e suas regiões, expressa por B e H....... 16


Figura 2 – Forma de onda da corrente do primário em relação ao secundário de
um TC quando há saturação..................................................................................... 19
Figura 3 – Estrutura física de um transformador de corrente................................... 20
Figura 4 – Estrutura básica de um transformador de corrente................................. 21
Figura 3 – a) Transformador de corrente tipo JGF (245 – 550 kV) isolado a gás b)
Transformador de corrente tipo JOF (245 – 550 kV) isolado a óleo......................... 23
Figura 6 – Diagrama representativo de um transformador de corrente.................... 24
Figura 7 – Gráfico de perdas nos condutores de ligação dos TC’s.......................... 26
Figura 8 – Componentes de uma corrente de curto-circuito...................................... 31
Figura 9 – Fluxo no núcleo na ocorrência de um falta assimétrica........................... 33
Figura 10 – Circuito base para estudo modelado no ATPDraw................................ 37
Figura 11 – Janela de inserção de dados da tensão do sistema.............................. 38
Figura 12 – Janela de inserção de dados da impedância equivalente do primário
do TC e da carga...................................................................................................... 39
Figura 13 – Janela de inserção de dados do transformador de corrente................. 40
Figura 14 –Dados de saturação no núcleo do TC.................................................... 40
Figura 15 – Janela de inserção de dados da fonte de corrente e chave
seccionadora............................................................................................................. 41
Figura 16 – Janela de inserção dos parâmetros da simulação................................ 41
Figura 17 – Dados inseridos pelo usuário no circuito implementado....................... 42
Figura 18 – Porção inicial dos valores de saída desejados em forma matricial....... 42
Figura 19 – Forma de onda de corrente dos enrolamentos primário e secundário
do TC........................................................................................................................ 43
Figura 20 – Janela principal da interface gráfica ATC.............................................. 45
Figura 21 – Campo “Características do TC” da interface gráfica ATC..................... 46
Figura 22 – Janela auxiliar para editar a curva de saturação................................... 47
Figura 23 – Curva de saturação ensaiada e estimada para um TC de classe
10B400...................................................................................................................... 48
Figura 24 – Campo “Curto” da interface gráfica ATC............................................... 49
Figura 25 – Campo “Z Burden” da interface gráfica ATC......................................... 49
10

Figura 26 – Janela auxiliar “Cabos” da interface gráfica ATC.................................. 50


Figura 27 – Campo “Critério para Curto Simétrico” da interface gráfica ATC com
resultado positivo...................................................................................................... 52
Figura 28 – Campo “Critério para Curto Assimétrico” da interface gráfica ATC com
resultado negativo............................................................................................. 52
Figura 29 - Campo “Escala de tempo” da interface gráfica ATC.............................. 54
Figura 30 – Janela principal da interface gráfica da simulação 1............................. 57
Figura 31 – Janela principal da interface gráfica da simulação 2............................. 58
Figura 32 – Janela principal da interface gráfica da simulação 2a........................... 59
Figura 33 – Janela principal da interface gráfica da simulação 2b........................... 60
Figura 34 – Janela principal da interface gráfica da simulação 2c........................... 61
Figura 35 – Janela principal da interface gráfica da simulação 3 – Caso 1.............. 63
Figura 36 – Curva de magnetização ensaiada para um TC do tipo OSKF-245 classe
10B400........................................................................................................... 64
Figura 37 – Janela auxiliar para editar a curva de saturação da simulação 3 – Caso
2....................................................................................................................... 65
Figura 38 – Curva de saturação ensaiada e estimada para simulação 3 – Caso 2. 66
Figura 39 – Janela principal da interface gráfica da simulação 3 – Caso 2.............. 67
Figura 40 – Janela principal da interface gráfica da simulação 3 – Caso 3.............. 68
Figura 41 – Curva de magnetização ensaiada para um TC do tipo OSKF-245 classe
10B800........................................................................................................... 69
Figura 42 – Janela auxiliar para editar a curva de saturação da simulação 3 – Caso
4....................................................................................................................... 70
Figura 43 – Curva de saturação ensaiada e estimada para simulação 3 – Caso 4. 71
Figura 44 – Janela principal da interface gráfica da simulação 3 – Caso 4.............. 72
11

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Correntes primárias e relações nominais....................................... 26

TABELA 2 – Cargas nominais para TCs a 60 Hz e 5A....................................... 27

TABELA 3 – Tensões secundárias do TC........................................................... 28


TABELA 4 – Aproximação da curva de saturação a partir da tensão de joelho
Vk......................................................................................................................... 35

TABELA 5 – Dados do circuito base simulado.................................................... 38

TABELA 6 – Burden de Relés Eletromecânicos.................................................. 55

TABELA 7 – Burden de Relés Digitais................................................................ 56


12

LISTA DE SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


ATC Análise de Transformadores de Corrente
ATP Alternative Transients Program

TC Transformador de Corrente
GUI Graphical User Interface
13

SUMÁRIO

1INTRODUÇÃO..................................................................................................... 15
1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA............................................................................... 15
1.2 PROBLEMAS E PREMISSAS......................................................................... 16
1.3 OBJETIVOS..................................................................................................... 17
1.3.1 Objetivo geral................................................................................................ 17
1.3.2 Objetivos específicos.................................................................................... 17
1.4 JUSTIFICATIVA............................................................................................... 18
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................................... 20
2.1 CARACTERÍSTICAS ELÉTRICAS DO TRANSFORMADOR DE
CORRENTE……………………………………………………...…………………....... 24
2.1.1 Correntes nominais....................................................................................... 25
2.1.2 Cargas nominais........................................................................................... 26
2.1.3 Fator de sobrecorrente para serviço de proteção......................................... 27
2.1.4 Tensão secundária nominal…………………………………………………..... 28
2.1.5 Fator térmico……………………………………………………………………... 29
2.1.6 Corrente térmica nominal……………………………………………………...... 29
2.1.7 Corrente dinâmica nominal……………………………………………………... 30
2.1.8 Classe de exatidão……………………………………………………………..... 30
2.2 PARÂMETROS PARA A SATURAÇÃO DO TC……………………………...... 30
2.2.1 Componente contínua no circuito primário do TC………………………….... 31
2.2.2 Efeito da resistência interna…………………………………………………..... 32
2.3 DIMENSIONAMENTO DO TRANSFORMADOR DE CORRENTE…………... 33
3 MÉTODO DE PESQUISA................................................................................... 37
3.1 IMPLEMENTAÇÃO DO CIRCUITO BASE NO SOFTWARE ATP................... 37
3.2 INTERFACE GRÁFICA VIA MATLAB………………........................................ 43
3.2.1 Interface de Análise de Transformadores de Corrente (ATC)...................... 44
3.2.1.1 Características do Transformador de Corrente…....……………………..... 45
3.2.1.2 Curto-circuito………………………………………………………………….... 48
3.2.1.3 Impedância da carga………………………………………………………….. 49
3.2.1.4 Critério para Avaliação de Saturação do TC para Curtos-circuitos
Simétrico e Assimétrico......................................................................................... 51
14

3.2.1.5 Carregar arquivo ATP……………………………………………………….... 52


3.2.1.6 Escala de tempo........................................................................................ 53
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES....................................................................... 55
4.1 TIPOS DE RELÉS UTILIZADOS NAS SIMULAÇÕES.................................... 55
4.2 SIMULAÇÕES DO ATC................................................................................... 56
4.2.1 Caso 1........................................................................................................... 56
4.2.2 Caso 2........................................................................................................... 57
4.2.2.1 Caso 2a...................................................................................................... 59
4.2.2.2 Caso 2b...................................................................................................... 60
4.2.2.3 Caso 2c...................................................................................................... 61
4.2.3 Caso 3........................................................................................................... 62
4.2.3.1 Caso 3a...................................................................................................... 62
4.2.3.2 Caso 3b...................................................................................................... 63
4.2.3.3 Caso 3c...................................................................................................... 67
4.2.3.4 Caso 3d...................................................................................................... 68
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 73
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 75
15

1 INTRODUÇÃO

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA

A crescente demanda de energia elétrica, devido ao desenvolvimento do país,


implica no constante crescimento do sistema elétrico de potência, aumentando sua
complexidade desde a geração, transmissão e até distribuição de energia elétrica.

Outro fator que também tem-se destacado é a exigência do consumidor para


que a energia entregue seja de qualidade, acessível e segura. Por isso, as
companhias de energia prezam por um sistema seguro e sempre estão em busca de
novas tecnologias para manter a integridade dos seus sistemas e equipamentos.

Assim como qualquer equipamento inserido na rede elétrica, um transformador


de corrente (TC) está sujeito às variações de corrente no sistema elétrico, sendo
necessária a sua correta especificação, seguindo algumas exigências e normas, as
quais serão especificadas ao decorrer deste trabalho, a fim de ilustrar o seu correto
funcionamento.

Foram necessárias várias décadas para alcançar um transformador para


instrumentos que demonstrasse um desempenho satisfatório. A construção do
primeiro transformador de corrente se deu no final do século XIX, quando o engenheiro
Willian Stanley Jr foi contratado por George Westinghouse Jr. para a construção de
um equipamento que possibilitasse a medição de grandezas elétricas em corrente
alternada em sistemas de alta tensão, convertendo essas correntes em valores
adequados para equipamentos conectados na baixa tensão (COSTA; MARTINEZ,
2011).

Em sistemas elétricos de potência (SEPs) os transformadores de corrente são


equipamentos utilizados como instrumentos de medição e proteção. Estes são
utilizados para suprir aparelhos que possuem baixa resistência elétrica, tais como as
bobinas de corrente dos amperímetros, relés analógicos e digitais, medidores de
energia e potência, etc.
16

1.2 PROBLEMAS E PREMISSAS

Os materiais ferromagnéticos são amplamente utilizados para a construção de


máquinas elétricas e transformadores. A relação entre a densidade de fluxo magnético
(B) e a intensidade de campo magnético (H) não é sempre linear, por isso, algumas
propriedades como saturação e histerese do material ferromagnético devem ser
levadas em consideração para prever o comportamento dos parâmetros (SLEMON,
1974).

Em circuitos magnéticos fechados, caso do transformador de corrente, uma


pequena alteração na intensidade do campo magnético proporciona um grande
aumento na densidade do fluxo magnético. Entretanto, após um determinado ponto
de operação um alto incremento em H causa apenas um pequeno incremento de B.
Este fenômeno é denominado como saturação do material ferromagnético (SLEMON,
1974) e seu comportamento pode ser observado na Figura 1.

Figura 1 – Curva de saturação de um TC de proteção e suas regiões.

Fonte: Autoria própria.

Analisando a Figura 4, é possível obter três diferentes regiões. A região 1 é


denominada como região não saturada ou região de trabalho, a qual o material
ferromagnético apresenta uma resposta aproximadamente linear, ou seja, a
densidade de fluxo magnético e a intensidade do campo magnético crescem em uma
17

mesma proporção. Em seguida, a região 2 é chamada de região intermediária ou de


tensão de joelho, que é o valor no qual o material ferromagnético está atingindo a
saturação. A região 3 é denominada como região saturada, a qual o material
ferromagnético apresenta características não-lineares, ou seja, um grande aumento
nos valores de H ocasionam pequenas mudanças nos valores de B.

O foco deste estudo será verificar o comportamento dos transformadores de


corrente para proteção, de acordo com suas normas e critérios de dimensionamento,
que estão apresentados no decorrer do texto, para diferentes condições de carga,
nível de curto circuito e nível de tensão.

Ao contrário dos transformadores de corrente para medição, os TCs voltados à


proteção não devem saturar para correntes de valor elevado, tais como as que se
desenvolvem durante a ocorrência de um defeito no sistema, Caso contrário, os sinais
de corrente recebidos pelos relés estariam mascarados, operando de maneira
inadequada.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

O objetivo geral deste trabalho é verificar por meio de simulações, via Matlab,
o comportamento da corrente primária e secundária dos transformadores de corrente
para sistemas de proteção, de acordo com as normas e critérios de dimensionamento,
para diferentes condições de carga, nível de curto circuito e nível de tensão Sendo
que as informações obtidas para a simulação apresentam um histórico real e não
aleatório.

1.3.2 Objetivos Específicos

Para garantir que o objetivo geral do trabalho seja alcançado, elaborou-se uma
relação de objetivos específicos que deverão ser alcançados ao longo do estudo.
Estes objetivos são:
● Realizar pesquisa bibliográfica sobre transformadores de corrente e suas
características elétricas;
18

● Analisar as causas e consequências da saturação de um transformador de


corrente;
● Modelar um circuito base do transformador de corrente via software de
simulação de transitórios eletromagnéticos - Alternative Transient Program
(ATP);
● Estimar a curva de saturação do transformador de corrente a partir da tensão
de joelho Vk via software Matlab;
● Analisar a resposta do secundário do transformador de corrente referida ao
primário para diversas condições de carga, nível de curto circuito, relação X/R
e nível de tensão via software Matlab;
● Desenvolver uma interface gráfica que permitirá realizar as alterações dos
dados de entrada para cada simulação e obter os resultados, de maneira
gráfica, para análise das condições de saturação dos transformadores de
corrente.

1.4 JUSTIFICATIVA

Os transformadores de corrente são extremamente importantes para a


proteção do sistema elétrico de potência, pois reduzem altos valores de corrente
elétrica no enrolamento primário para valores bem menores, geralmente 5A, no
enrolamento secundário do transformador de corrente, o qual é conectado aos relés
de proteção, propiciando a operação dos relés sem que estes estejam em ligação
direta com o circuito primário da instalação. Este procedimento, oferece garantia de
segurança aos operadores, facilitando a manutenção dos seus componentes e, por
fim, tornando-se um aparelho extremamente econômico, já que envolve emprego
reduzido de matérias-primas como é comentado a seguir (MAMEDE, 2013).

O transformador de corrente para proteção é capaz de suportar altos níveis de


fluxo magnético sem que ocorra a saturação do núcleo. Portanto, é capaz de resistir
uma corrente de falta 20 vezes maior do que a sua nominal (BANDEIRA, 2004).

Quando o TC não está saturado, a forma de onda de corrente do secundário


reflete precisamente a forma de onda de corrente do primário, porém em menor
escala, assegurando o correto funcionamento do relé de proteção. Entretanto, na
ocorrência de um curto-circuito no transformador de corrente a intensidade da corrente
19

e carga conectada ao seu secundário pode ser maior que a dimensionada, podendo
levar o seu núcleo ferromagnético à saturação e, consequentemente, distorcer a
corrente do secundário em relação à corrente do primário.

Além disso, a forma de onda pode apresentar uma envoltória decrescente, que
é resultante da componente DC do curto-circuito assimétrico, o qual será explicado
posteriormente. A Figura 2 ilustra uma condição de saturação para um dado
transformador de corrente.

Figura 2 – Forma de onda da corrente do primário em relação ao secundário


de um TC quando há saturação.

Fonte: (TRENTO,2015).

Essa distorção da forma de onda de corrente do secundário pode causar alguns


problemas, como por exemplo:

● Atuação incorreta do relé de proteção;


● Atraso na atuação do relé de proteção;
● A não-atuação do relé de proteção.

Devido às consequências de saturação mencionadas anteriormente, deve-se


ponderar a curva de saturação e a curva da corrente no enrolamento primário e
secundário em uma situação de falta para a especificação de um transformador de
corrente (TRENTO, 2015).
20

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

As funções básicas dos transformadores de corrente são a medição de corrente


elétrica, a medição em alta tensão, reduzir a corrente do sistema elétrico a valores
seguros para a medição, por meio do fenômeno de conversão eletromagnética, e
isolar o circuito primário do circuito secundário para a proteção do sistema elétrico de
potência (MAMEDE, 2013).

O transformador de corrente atua com tensão variável, dependendo da corrente


primária e da carga ligada ao seu secundário. A relação de transformação das
correntes primárias e secundárias é inversamente proporcional ao número de espiras
dos enrolamentos primários e secundários (MAMEDE, 2013).

A Figura 3 demonstra a estrutura física de um transformador de corrente. O


circuito primário deste equipamento é conectado em série com a linha de alta tensão
do sistema elétrico e o circuito secundário é conectado à carga, podendo ser desde
um amperímetro até um relé digital.

Figura 3 – Estrutura física de um transformador de corrente.

Fonte: PFIFFNER (2013).


21

Na sua forma mais simples, os TCs possuem um enrolamento primário com


poucas espiras e um enrolamento secundário no qual a corrente nominal oriunda do
circuito primário é transformada em uma corrente padronizada, geralmente 5
amperes. Devido ao baixo valor da corrente secundária do TC, ele apresenta um
tamanho reduzido (MAMEDE, 2013).
Os transformadores de corrente podem ser construídos de diferentes formas e
funções. A seguir são dados alguns exemplos dos principais tipos de TCs:

● TC tipo barra;
● TC tipo enrolado;
● TC tipo janela;
● TC tipo bucha;
● TC tipo núcleo dividido.

Mesmo havendo vários tipos de transformadores de corrente, eles são


constituídos por um núcleo de material ferromagnético formado por capas de aço
silício de granulação orientada e é envolto em espiras de cobre ou liga de cobre de
alta condutividade ou estanhados, sendo que o enrolamento secundário é ligado a
uma carga, cuja estrutura básica pode ser observada na Figura 4.

Figura 4 – Estrutura básica de um transformador de corrente.

Fonte: ALSTOM (2015).


22

Além destes elementos, o TC apresenta um meio isolante que pode ser a seco
ou a óleo, dependendo do local da sua instalação. Contêm ainda, bornes que são as
terminações do enrolamentos primário e secundário podendo ser de cobre, latão ou
qualquer material com características condutoras.

Com o passar dos anos, vários estudos foram realizados para determinar quais
materiais deveriam ser utilizados na construção do TC a fim de melhorar seu
desempenho. O exemplo a seguir demonstra como a substituição de materiais é
benéfico para o sistema elétrico foi quando houve a troca do material isolante.

Alguns anos atrás, a parte ativa do núcleo ferromagnético era submerso em


óleo isolante, necessitando uma grande caixa metálica para a retenção deste óleo.
Entretanto, houve a descoberta de um material chamado resina epóxi, que é um tipo
de plástico cuja rigidez não se altera com a temperatura, combinado com outros
materiais, que resultou na construção de um transformador para instrumentos a seco,
o qual requer menos manutenção e pode ser utilizado em ambientes internos
(COSTA; MARTINEZ, 2011).

Como exemplo de um equipamento digital tem-se o transformador de corrente


TPX de alta tensão (245 – 550 kV), que possui uma isolação a gás (SF6 compressível),
supervisão remota da condição de isolação pelo monitoramento interno da densidade
do gás e uma excelente performance e capacidade de curto circuito. A Figura 5a)
apresenta um TC tipo TPX de alta tensão e a Figura 5b) apresenta um transformador
de corrente não automatizado isolado a óleo, necessitando de supervisão e
manutenção (TRENCH, 2010).
23

Figura 5 – a) Transformador de corrente tipo JGF (245 – 550 kV) isolado a gás b)
Transformador de corrente tipo JOF (245 – 550 kV) isolado a óleo.

a) b)
Fonte: PFIFFNER (2013).

Primeiramente, são apresentadas as características elétricas do transformador


de corrente. Em seguida, é abordada a classificação dos transformadores de corrente
destinados à proteção, levando em consideração algumas normas técnicas e critérios
de dimensionamento.
24

2.1 CARACTERÍSTICAS ELÉTRICAS DO TRANSFORMADOR DE CORRENTE

Na Figura 6, pode-se verificar o diagrama elétrico representativo de um


transformador de corrente, onde 𝑅1 e 𝑋1 são definidas como a resistência e reatância
do primário, e 𝑅2 e 𝑋2 são definidas como a resistência e reatância do secundário.
Em seguida, é visto o ramo de magnetização que é caracterizado por dois parâmetros,
ou seja, a resistência 𝑅µ , a qual é responsável pelas perdas ôhmicas proveniente das

correntes de histerese e de Foucalt, e 𝑋µ que é responsável pela corrente reativa


(MAMEDE, 2005).

Figura 6 – Diagrama representativo de um transformador de corrente com


curto-circuito na carga.

Fonte: (MAMEDE, 2005).

E, finalmente, pode-se observar a carga conectada ao secundário do TC, onde


𝑅𝐶 e 𝑋𝐶 são definidos como resistência e reatância da carga, conhecidas também
como impedância da carga, representadas como 𝑍𝐵𝑈𝑅𝐷𝐸𝑁 (MAMEDE, 2005).
Quando a carga está sujeita a uma corrente oriunda do enrolamento primário
(𝐼𝑃 ) do transformador de corrente, a corrente circula pelo enrolamento do secundário
provocando uma queda de tensão na impedância interna ( 𝑍2 = 𝑅2 + 𝑗𝑋2 ) e na
impedância da carga (𝑍𝐶 = 𝑅𝐶 + 𝑗𝑋𝐶 ) que afeta o fluxo magnético do transformador
e demanda uma corrente magnetizante (𝐼𝑒 ) diretamente proporcional. Logo, a
corrente do enrolamento primário (𝐼𝑃 ) deve ser a soma das correntes do enrolamento
secundário e do ramo de magnetização (MAMEDE, 2005).
25

Entretanto, quando o núcleo está saturado, a corrente de magnetização


solicitada é muito elevada, deixando de transferir parte desta corrente para a carga,
ocasionando um erro de valor relevante na corrente secundária (MAMEDE, 2005).

Para que ocorra um funcionamento correto do transformador de corrente, seu


núcleo não deve estar saturado. Devido a isso, a instalação de um transformador de
corrente em um sistema elétrico de potência exige o cumprimento de algumas normas
da ABNT citadas a seguir para a modelagem, operação e execução de ensaios.

● NBR 6546/91: Transformadores para Instrumentos – Terminologia;


● NBR 6856/92: Transformadores de Corrente – Especificação;
● NBR 6821/92: Transformadores de Corrente – Método de Ensaio.

2.1.1 Correntes nominais

A norma NBR 6856/92 apresenta a corrente nominal do primário ( 𝐼1𝑁 ) do

transformador de corrente e a relação nominal (𝑅𝑁 ) entre enrolamento primário e


secundário a valores normatizados para o uso dos TC tanto para medição quanto para
a proteção do sistema elétrico. A corrente nominal do primário pode variar de 5 até
8000 ampères e a corrente nominal do secundário ( 𝐼2𝑁 ) é geralmente igual a 5
ampères. Entretanto, pode apresentar valores de 1A, quando os aparelhos de
proteção são instalados distantes do TCs, para reduzir a queda de tensão nos cabos
de interligação. (MAMEDE,2005).

A Tabela 1 apresenta a corrente nominal do primário para uma determinada


relação nominal de um transformador de corrente, considerando sua corrente
secundária de 5A (MAMEDE,2005).
26

Tabela 1 – Correntes primárias e relações nominais.

Corrente Relação Corrente Relação Corrente Relação


nominal (𝑰𝟏𝑵 ) nominal (𝑹𝑵 ) nominal (𝑰𝟏𝑵 ) nominal (𝑹𝑵 ) nominal (𝑰𝟏𝑵 ) nominal (𝑹𝑵 )
5 1:1 100 20:1 1200 240:1
10 2:1 150 30:1 1500 300:1
15 3:1 200 40:1 2000 400:1
20 4:1 250 50:1 2500 500:1
25 5:1 300 60:1 3000 600:1
30 6:1 400 80:1 4000 800:1
40 8:1 500 100:1 5000 1000:1
50 10:1 600 120:1 6000 1200:1
60 12:1 800 160:1 8000 1600:1
75 15:1 1000 200:1 - -
Fonte: (MAMEDE,2005).

2.1.2 Cargas nominais

Os transformadores de corrente são especificados de acordo com a carga que


seu enrolamento secundário será conectado. Além de levar em consideração as
impedâncias oriundas dos diferentes equipamentos ligados ao secundário do TC,
deve-se levar em consideração a potência dissipada pelos condutores da interligação
(MAMEDE, 2005).

A Figura 7 representa as perdas em VA dos condutores de interligação, dados


o comprimento e a secção do condutor.

Figura 7 – Gráfico de perdas nos condutores de ligação dos TCs.

Fonte: (MAMEDE, 2005).


27

A NBR 6856/92 especifica a carga no secundário com a letra “C” seguida da


sua potência nominal, expressa em VA, para transformadores de corrente a 60 Hz e
a corrente nominal no secundário a 5A. Como se pode observar na Tabela 2.

Tabela 2 – Cargas nominais para TCs a 60 Hz e 5A.

Resistência Indutância Potência Fator de Impedância


Designação
(Ω) (mH) nominal (VA) potência (Ω)
C2,5 0,09 0,116 2,5 0,9 0,1
C5,0 0,18 0,232 5,0 0,9 0,2
C12,5 0,45 0,580 12,5 0,9 0,5
C25 0,50 2,300 25 0,5 1,0
C50 1,00 4,600 50 0,5 2,0
C100 2,00 9,200 100 0,5 4,0
C200 4,00 18,400 200 0,5 8,0
Fonte: (MAMEDE, 2005).

Caso a Tabela 2 não esteja disponível, há outra maneira de obter o valor da


impedância da carga nominal do transformador de corrente, por meio da equação (1):

Ptc
Zs  (1)
I s2
Sendo:
𝒁𝑺 : Impedância de carga nominal do TC, expressa em Ω;

𝑷𝒕𝒄 : Potência nominal do TC, expressa em VA;

𝑰𝑺 : Corrente nominal do TC, normalmente é 5A.

2.1.3 Fator de sobrecorrente para serviço de proteção

É o fator responsável pela proteção do transformador de corrente e é também


conhecido como fator de segurança. Deve-se multiplicar o fator de sobrecorrente pela
corrente nominal do primário para adquirir a máxima corrente no circuito primário até
o limite da sua classe de exatidão. De acordo com a NBR 6856/92, o fator de
sobrecorrente não deve ultrapassar em 20 vezes a corrente nominal em serviços
destinados a proteção (MAMEDE, 2013).

Quando a carga ligada ao TC é inferior a carga nominal deste equipamento, o


fator de sobrecorrente sofre alterações inversamente proporcionais a carga e a
28

proteção natural do transformador de corrente é prejudicada. Por isso, a equação (2)


fornece o novo valor do fator de sobrecorrente para a situação mencionada
anteriormente (MAMEDE, 2013).

Cn
F1   Fs (2)
Cs
Sendo:
𝑪𝒏 : Carga nominal, expressa em VA;

𝑪𝒔 : Carga ligada ao secundário do TC, expressa em VA;

𝑭𝒔 : Fator de sobrecorrente nominal.

2.1.4 Tensão secundária nominal

A tensão secundária nominal está limitada pela saturação do núcleo dos


transformadores de corrente para proteção. A Tabela 3 apresenta as tensões
secundárias para os TC a serviço de proteção, divididos em Classe A e Classe B, de
acordo com a carga que será conectada ao secundário deste transformador de
corrente (MAMEDE, 2005).
Segundo a ABNT, a Classe A apresenta TCs com altas impedâncias internas,
apresentando um valor significativo à impedância total do circuito secundário. Por
outro lado, a Classe B, a qual este trabalho é focado, apresenta TCs com baixas
impedâncias internas expressando um valor insignificante em relação à impedância
total do circuito secundário (HOJO; MAEZONO, 2012).

Tabela 3 – Tensões secundárias do TC.

Carga (VA) Tensão secundária (V) TC normalizado


Classe A Classe B
C2,5 10 A10 B10
C5,0 20 A20 B20
C12,5 50 A50 B50
C25 100 A100 B100
C50 200 A200 B200
C100 400 A400 B400
C200 800 A800 B800
Fonte: (MAMEDE, 2005).
29

O valor da tensão secundária pode ser obtida diretamente multiplicando-se o


fator de sobrecorrente, padronizada em 20, pela impedância da carga, expressa em
Ω, e pela corrente nominal secundária do TC, geralmente igual a 5A.

2.1.5 Fator térmico

Os transformadores de corrente são projetados para suportarem em regime


permanente uma corrente superior à nominal para um determinado tempo sem que
cause danos aos TCs (MAMEDE, 2005).

Essa característica é conhecida como fator térmico e é definido como o número


que deve ser multiplicado à corrente primária nominal do transformador de corrente.
E de acordo com a NBR 6856/92, os valores determinados do fator térmico são: 1,0 –
1,2 – 1,3 – 1,5 – 2,0 (MAMEDE, 2005).

Esse fator tem como finalidade adquirir o valor da corrente que poderá ser
conduzida continuamente, na frequência nominal e com cargas especificadas, sem
que os limites de elevação de temperatura sejam ultrapassados (MAMEDE, 2005).

2.1.6 Corrente térmica nominal

É o valor eficaz da corrente primária de curto-circuito simétrico que o


transformador de corrente pode suportar por determinado tempo (geralmente 1
segundo), com o secundário em curto-circuito ou com uma determinada carga padrão,
sem que os limites de temperatura sejam ultrapassados.

Por isso, ao escolher a corrente primária de um TC considera-se as correntes


de carga e de sobrecarga do sistema a fim de selecionar a corrente primária nominal
multiplicada pelo fator térmico nominal, o qual foi exposto na seção 2.1.5, para que
não ocorra danos ao equipamento e ao sistema elétrico (HOJO; MAEZONO, 2012).
30

2.1.7 Corrente dinâmica nominal

É o valor máximo da corrente de curto-circuito assimétrico que circula no


enrolamento primário do TC, e este pode suportar por um determinado tempo, sendo
que o enrolamentos do secundário estão em curto-circuito, sem que haja danos
mecânicos devido as forças eletrodinâmicas. Geralmente, esta corrente é definida
como 2,5 vezes maior do que a corrente térmica nominal. (HOJO; MAEZONO, 2012).

2.1.8 Classes de exatidão

A classe de exatidão expressa o erro nominal esperado do TC considerando o


erro de relação de transformação e o erro de defasagem entre as correntes do primário
e secundário.

Segundo a NBR 6856/92, a classe de exatidão de um transformador de


corrente a serviço de proteção é dada pelo número percentual de 5 ou 10, para
qualquer corrente secundária, desde 1 a 20 vezes a corrente nominal, e qualquer
carga, seja ela igual ou inferior a carga nominal. (TRENTO, 2015).

Por exemplo, um transformador de corrente com a classe exatidão de 10B 200


significa que foi projetado para admitir um erro máximo de 10% e possui um fator de
sobrecorrente 20 vezes maior do que a corrente nominal (In) do TC, logo consegue
entregar até 200V.

2.2 PARÂMETROS PARA A SATURAÇÃO DO TC

Em uma operação em regime linear, o núcleo ferromagnético do transformador


de corrente não está saturado e sua corrente de magnetização apresenta um valor
baixo e próximo à corrente secundária do TC.

Entretanto, quando o transformador satura, o valor da corrente de


magnetização aumenta e apenas uma pequena porção da corrente oriunda do
primário se direciona para o enrolamento do secundário, ocasionando a atuação
incorreta ou até mesmo a não atuação do relé de proteção que está conectado no
lado secundário do transformador de corrente.
31

A seguir, são apresentados dois parâmetros que tem um impacto significante


na saturação dos TCs e devem ser considerados para a modelagem deste.

2.2.1 Componente contínua no circuito primário do TC

Com o afastamento do ponto de curto-circuito dos terminais do gerador, a


impedância acumulada das linhas de transmissão e de distribuição é tão grande em
relação às impedâncias do gerador que a corrente de curto-circuito simétrica já é de
regime permanente acrescida de uma componente de corrente contínua.

A soma da corrente de curto-circuito simétrica e da componente de corrente


contínua dá origem a corrente de curto-circuito assimétrica, conforme a Figura 8. Esta
componente CC da corrente primária é uma componente exponencial decrescente e,
geralmente, está presente nos primeiros ciclos das correntes de curto-circuito
(MAMEDE, 2011).

Figura 8 – Componentes de uma corrente de curto-circuito.

Fonte: (Engenheiros Associados, n.d).


32

Além disso, esta componente contínua estabelece um fluxo de polarização no


núcleo do TC, sobre o qual as variações de fluxo da componente simétrica se
sobrepõem, provocando um deslocamento no eixo da curva de curto-circuito e
consequentemente, altos níveis de saturação dos TCs de proteção, presentes no
sistema elétrico de potência (KLOCK JÚNIOR, 2005).

O comportamento da relação X/R do sistema, que é a relação entre reatância


e resistência medidas da fonte até o ponto de curto-circuito no ponto de falta, define o
decaimento exponencial da componente contínua que, por sua vez, determina a
assimetria da corrente de curto-circuito (KLOCK JÚNIOR, 2005).

2.2.2 Efeito da resistência interna

Como foi comentado anteriormente (Seção 2.1), o secundário do transformador


de corrente apresenta uma carga resistiva interna (R2), implicando no aumento da
densidade de fluxo quando ocorre uma falta assimétrica pois a componente contínua
inclui um fluxo contínuo no núcleo do transformador, onde já há o fluxo da componente
alternada do curto, causando um aumento da corrente de excitação no ramo de
magnetização.

E isso faz com que a corrente do enrolamento secundário do transformador


seja menor do que a esperada, podendo causar um equívoco na atuação do relé de
proteção. A Figura 9 demostra o comportamento da componente DC da falta
assimétrica na presença de uma resistência interna (KLOCK JÚNIOR, 2005).
33

Figura 9 – Fluxo no núcleo na ocorrência de um falta assimétrica.

Fonte: (KLOCK JR, 2005).

2.3 DIMENSIONAMENTO DO TRANSFORMADOR DE CORRENTE

Existem alguns critérios para o dimensionamento de TC para proteção cuja a


finalidade é evitar o efeito de saturação no núcleo ferromagnético do transformador.
Portanto, este trabalho apresenta 4 tipos, dentre eles os mais utilizados, critério de
curto-circuito simétrico, critério de curto-circuito assimétrico considerando o fator de
sobrecorrente para serviço de proteção (20xIn) e o critério de curto-circuito simétrico
e assimétrico considerando a tensão secundária do transformador de corrente.

Como foi citado anteriormente, o TC deve ser projetado para suportar uma
corrente 20 vezes maior do que a corrente nominal, por isso esse critério é o mais
adotado na prática, expresso pela equação (3), considerando que a maior corrente de
curto-circuito deve ser 20 vezes menor do que a corrente nominal do transformador
de corrente.

 I cc 
   20 (3)
 I nom  RN 
34

Sendo:
𝑰𝒄𝒄 : é a corrente de curto-circuito;

𝑰𝒏𝒐𝒎 : é a corrente padronizada do secundário (5A ou 1A);

𝑹𝑵 : é a relação nominal do TC.

Entretanto, esse critério não considera a carga conectada ao secundário do


transformador de corrente e nem a componente contínua da corrente de curto-circuito
(relação X/R). Logo, o TC poderá saturar mesmo utilizando o critério demonstrado
pela equação (3) se a carga conectada for maior que a nominal ou se a corrente de
curto circuito for muito intensa (TRENTO, 2015).

O segundo critério utilizado é o de curto-circuito simétrico, que considera a


carga conectada ao enrolamento secundário do transformador de corrente, como é
demonstrado na equação (4):

 I cc   ZC  R2 
    20 (4)
 I nom  RN   nom 
Z

Sendo:
𝒁𝑪 : é a impedância da carga no secundário do TC;

𝑹𝟐 : é a resistência interna no secundário do TC;

𝒁𝒏𝒐𝒎 : é a impedância nominal padronizada do TC;

Outro critério de dimensionamento utilizado é dada pela equação (5) e


considera a componente DC da corrente de curto-circuito. Este critério é conhecido
como critério para curto-circuito assimétrico, onde a componente assimétrica pode
causar um alto grau de saturação nos TCs.

 I cc   ZC  R2   X 
    1    20 (5)
 I nom  RN   nom  
Z R

Sendo:
𝑿/𝑹: relação entre reatância e resistência do sistema no ponto da falha.
35

Outra maneira de observar se houve saturação do núcleo do TC é através da


análise da curva de saturação do mesmo. Cada transformador de corrente possuí a
sua própria curva característica e sua carga nominal, dificultando o conhecimento
sobre o ponto de saturação do TC.

Trento, 2015, utilizando-se de vários relatórios de ensaios com diversos


transformadores de corrente, estimou uma curva de saturação utilizando-se apenas
de três pontos os quais relacionam a tensão e a corrente nominal (I x V) do TC para
determinar a tensão joelho (Vk), que é a região da curva que ocorre a saturação do
transformador de corrente.

A Tabela 4 ilustra como calcular esses três pontos de forma simples e prática
a fim de obter uma aproximação admissível da curva de saturação do TC.

Tabela 4 – Aproximação da curva de saturação a partir da tensão de joelho Vk.

Corrente nominal (ARMS) Tensão nominal (VRMS)


Primeiro ponto 2,5/Vk Vk/13
Segundo ponto (joelho) 25/Vk Vk
Terceiro ponto 2500/Vk 1,5* Vk

Fonte: (TRENTO, 2015).

Além dos critérios de dimensionamento citados anteriormente, a equação (6) e


(7) demonstram um critério para curto-circuito simétrico e assimétrico em termos de
tensão. O limitante desta comparação pode ser a tensão de saturação, caso a curva
de saturação do transformador de corrente esteja disponível, ou utiliza-se a tensão
secundária representada na classe de exatidão do TC.

 I cc 
    ZC  R2   Vk (6)
 RN 

 I cc   X
    ZC  R2   1    Vk (7)
 RN   R
Sendo:
𝑽𝒌 : é a tensão de saturação ou tensão de joelho do TC.
36

A seguir é dado um exemplo de dimensionamento do transformador de corrente


considerando o critério de curto-circuito assimétrico da equação (3).

Dado um TC com classe de exatidão 10B400, impedância nominal de 4Ω,


relação nominal de 120, impedância interna de 0,5Ω e uma relação X/R de 15. Além
disso, têm-se que a corrente de curto-circuito é de 10000A e a impedância da carga é
igual a 1,65Ω. Então, utiliza-se o critério de curto-circuito simétrico e assimétrico para
os cálculos a seguir:

Logo, pode-se concluir que o critério de curto-circuito simétrico, representado


pela equação (2), é aceito. Entretanto, o critério de curto-circuito assimétrico não é
atendido, ou seja, ocorrerá saturação do núcleo do transformador de corrente, como
se pode observar abaixo:

Essas informações são importantes para que a equipe técnica saiba que
poderá haver condições de operação no sistema que poderão levar a possíveis falhas
dos relés de proteção.
37

3 MÉTODO DE PESQUISA

A primeira etapa deste trabalho foi fundamentada em uma revisão bibliográfica


sobre a evolução do transformador de corrente e, posteriormente, suas características
elétricas e critérios de dimensionamento para diferentes condições de carga, nível de
curto circuito, classe de exatidão e nível de tensão. Além disso, as causas e
consequências da saturação no núcleo ferromagnético do TC foram analisadas.

Para atingir o objetivo geral deste trabalho, mencionado na seção 1.4, foram
realizadas as etapas que serão descritas a seguir.

3.1 IMPLEMENTAÇÃO DO CIRCUITO BASE NO SOFTWARE ATP

Antes de começar o desenvolvimento da interface via Matlab foi necessário


implementar um circuito base através do software ATP, que é uma ferramenta
eficiente e de grande importância para os estudos de transitórios em sistemas
elétricos de potência.

O circuito base modelado contém uma fonte de tensão do sistema, um


transformador saturável invertido a fim de obter um transformador de corrente,
impedâncias do enrolamento primário e secundário e a impedância da carga que se
encontra no secundário do TC. Além disso, o circuito apresenta uma chave
seccionadora que é fechada durante o instante do curto-circuito e como uma fonte de
corrente que representa a corrente antes do momento da falta, como pode ser
observado na Figura 10.

Figura 10 – Circuito base para estudo modelado no ATP.

Fonte: Autoria própria.


38

A seguir, é explicado como a modelagem foi realizada diante de um circuito


base simulado. Os dados utilizados estão apresentados na Tabela 5.

Tabela 5 – Dados do circuito base simulado.

Componentes do circuito base Valores


Fonte de tensão 138 kV
Impedância do sistema 0,53+j7,948Ω
Transformador de corrente saturável 600/5A
Impedância do enrolamento secundário 0,5+j0,0001Ω
Impedância da carga 1,65Ω
Instante da falta 0° ou 0,02 segundos
Corrente de pré-falta 1ª
Fonte: Autoria própria

A fonte de tensão, apresentada na Figura 10, possui a tensão do sistema de


potência (U) com amplitude dada em RMS. Neste exemplo, escolheu-se uma tensão
de 138kV que, ao ser dividida por √3 (tensão de fase) e multiplicada por √2 , obtém-
se uma tensão de pico igual a 112676.528 Volts, sendo sua frequência de 60Hz. A
forma de entrada destes dados no ATP, pode ser vista na Figura 11.

Figura 11 – Janela de inserção de dados da tensão do sistema.

Fonte: Software ATPDraw.

O Zsist é a impedância do sistema da fonte do gerador até o ponto de curto-


circuito, sendo que esta pode ser calculada pela divisão entre a tensão inserida pelo
usuário e a corrente de curto-circuito. Já para calcular a sua resistência e a reatância
deve-se utilizar as seguintes equações:
39

  X 
Req  Z eq cos  tg 1    (8)
  R 

  X 
X eq  Z eq sin  tg 1    (9)
  R 
A partir das equações (8) e (9) e do valor de X/R, obteve-se a resistência
equivalente do enrolamento primário, para o dado exemplo, igual a 0,53Ω e a
reatância equivalente igual a j7.948Ω.
O próximo item do circuito a ser citado é o Zburden, que é a impedância da
carga, a qual pode ser um relé eletromecânico ou digital, cabos de interligação entre
a casa de comando e a instalação física dos TCs, etc, a qual está conectada ao
enrolamento secundário do transformador. Nesse exemplo utilizou-se a carga
IAC51A2A com uma faixa de tap de 2,2, cuja impedância é de 1,37Ω e um cabo com
resistência igual a 0,28Ω, totalizando 1,65Ω. Na Figura 12, têm-se as entradas
referentes impedâncias do Zprim e da carga.

Figura 12 – Janela de inserção de dados da impedância equivalente do sistema


(esquerda) e da carga (direita).

Fonte: Software ATPDraw.

O transformador escolhido na tela de trabalho do ATPDraw foi o Transformer


saturable 1-phase. E foi necessário a inversão do componente para que se obtivesse
um elemento com as características de um TC. Para este determinado transformador
foram fixados os valores de algumas variáveis, como por exemplo a impedância do
primário que deve ser consideravelmente pequena (1x10 -8+j1x10-5Ω) e a resistência
de magnetização que deve ser notavelmente alta (1x10 6Ω), conforme utilizado no
circuito base.
40

Entretanto, os valores das outras variáveis devem ser escolhidas pelo usuário
de acordo com a característica construtiva do transformador de corrente testado,
como a impedância do enrolamento secundário e a relação de transformação do TC,
que neste exemplo, são iguais a 0,5+j0,0001Ω e 600/5A, respectivamente. A Figura
13 ilustra a entrada desses dados no ATPDraw.

Figura 13 – Janela de inserção de dados do transformador de corrente.

Fonte: Software ATPDraw.

De acordo com Figura 10, o transformador de corrente escolhido permite a


inclusão de dados como corrente e fluxo magnético no núcleo do TC, que são
necessários para a formação da curva de saturação do transformador de corrente,
apresentados à seguir na Figura 14 (TRENTO, 2015).

Figura 14 –Dados de saturação no núcleo do TC (Corrente vs. Fluxo magnético).

Fonte: Software ATPDraw.

Na descrição dos componentes do circuito modelado é citado o elemento Pré-


falta, que é uma fonte de corrente (RMS) que simula uma corrente antes do curto-
circuito, possuindo um valor de pico de -1.4142136 e uma frequência de 60Hz, onde
o sinal negativo indica uma corrente pré-falta no mesmo sentido da corrente de falta e
com fator de potência unitário).
Utiliza-se ainda, uma chave que é fechada no instante da falta, sendo este
tempo escolhido pelo usuário. Neste exemplo, foi igual a 0,0291667 segundos,
representando o fechamento de uma falta a 0 graus da forma de onda de tensão.
41

Existe ainda, uma impedância de falta conectada ao lado direito da chave,


sendo esta puramente resistiva com valor fixo muito baixo (0,001Ω), para garantir que
na ocorrência de um curto-circuito, a corrente de falta passe inteiramente pelo
transformador de corrente. A Figura 15 mostra todos esses elemento inseridos no em
um janela do software ATPDraw.

Figura 15 – Janela de inserção de dados da fonte de corrente e chave seccionadora.

Fonte: Software ATPDraw.

Antes da simulação do circuito no ATPDraw, deve-se considerar alguns


parâmetros, como por exemplo o tempo máximo de simulação, adotado neste
exemplo em 200ms, o intervalo de integração, igual a 1x10-5, e a frequência de
oscilação de 60Hz, conforme destacado na Figura 16.

Figura 16 – Janela de inserção dos parâmetros da simulação.

Fonte: Software ATPDraw.

Ao compilar o circuito modelado no software ATPDraw, gera-se 3 arquivos com


diferentes extensões. O primeiro arquivo é do tipo arquivo.atp, e nele há as
informações que foram inseridas pelo usuário no circuito modelado, como ilustrado na
Figura 17.
42

Figura 17 – Dados inseridos pelo usuário no circuito implementado.

Fonte: Software ATPDraw com extensão arquivo.atp.

O segundo arquivo possui extensão arquivo.lis, Figura 18, que além de


apresentar as características numéricas do circuito, fornece uma matriz com os
valores de saída desejados para cada intervalo de tempo.

Figura 18 – Porção inicial dos valores de saída desejados em forma matricial.

Fonte: Software ATPDraw com extensão arquivo.lis.

E, por último, tem-se a extensão do tipo arquivo.lp4, o qual disponibiliza os


dados de correntes, primárias e secundárias da simulação, podendo estas serem
visualizadas graficamente, como pode ser observado na Figura 19.
43

Figura 19 – Forma de onda de corrente dos enrolamentos primário e secundário do TC.

Fonte: Software PlotXY.exe.

A Figura 19 mostra por meio de ondas senoidais o comportamento da corrente


nos enrolamento primário (cor vermelha) e secundário (cor verde), referida ao
primário, do transformador de corrente testado, com períodos antes, durante e após o
fechamento da chave, a qual simula um curto-circuito. Sendo que o período antes da
falta é representada por uma reta, cujo valor é dado pela corrente de pré-falta (1A).

Através da Figura 19, pode-se concluir que a forma de onda da corrente do


enrolamento secundário refletida no enrolamento primário sofreu uma leve distorção
no decorrer do ciclo de simulação, principalmente nos ciclos assimétricos devido a
componente contínua no circuito primário do transformador de corrente.
A interface gráfica foi desenvolvida com o intuito de agilizar todo o processo
descrito nesta seção. Pois como foi comentado, a inserção de cada item foi feita
manualmente.

3.2 INTERFACE GRÁFICA VIA MATLAB

O Matlab é um software que apresenta inúmeras funções e aplicações à


engenharia. Neste trabalho, foi utilizada a ferramenta conhecida como Graphical User
Interface (GUI), a qual apresenta recursos que possibilitam a interação entre usuários
e rotinas computacionais. O usuário pode interagir por meio da digitação das funções
diretamente na janela da interface ou clicando em objetos específicos capazes de
realizar funções mais complexas.
44

Apesar do software ATP ser capaz de realizar a simulação do circuito da Figura


10, que representa um transformador de corrente, o tempo gasto para alterar todos os
dados do circuito desejado, janela por janela, é consideravelmente alto e acaba se
tornando trabalhoso. Devido às razões acima decidiu-se desenvolver uma interface
gráfica via Matlab.

A interface gráfica tem como função facilitar a inserção dos parâmetros


apresentados na seção 3.1 para a simulação que é feita pelo software ATP,
apresentando o resultado desta em um gráfico. Por isso, é necessário que os dois
softwares estejam instalados na máquina do usuário para que a simulação seja
efetuada e o resultado visualizado por meio gráfico.

3.2.1 Interface de Análise de Transformadores de Corrente (ATC)

Deu-se o nome de Análise de Transformadores de Corrente (ATC) para a


interface desenvolvida via Matlab. Ela reúne todos os parâmetros necessários para
uma análise de saturação no núcleo do transformador de corrente existente em um
sistema elétrico de potência, considerando diferentes condições de tensão, curto-
circuito, classe de exatidão e carga.

O exemplo descrito a seguir, na Figura 20, mostra a simulação de um


transformador de corrente de classe 10B400. Cada item da GUI será explicado
detalhadamente para uma melhor interação entre o usuário e o programa
desenvolvido.

As configurações mínimas para a execução da interface gráfica são:

 Processador de 2 GHz ou mais rápido e 32 bits (x86) ou 64 bits (x64);


 1 GB de memória RAM (32 bits) ou 2 GB de memória RAM (64 bits);
 Matlab Mathworks, qualquer versão;
 ATPDraw versão 5.0 ou maior;
 Microsoft Visual C++ 2012 ou maior.

Inicialmente, é apresentada a janela principal do ATC com um gráfico de saída


da simulação referente aos dados inseridos pelo usuário em seus respectivos campos,
como pode ser visto na Figura 20.
45

Figura 20 - Janela principal da interface gráfica ATC.

Fonte: Autoria própria.

Primeiramente, será realizado uma divisão dos campos situados na parte


esquerda da interface em características do TC, curto-circuito e Z Burden, para que
cada um deles sejam explicados minuciosamente. Em seguida, será descrito a função
dos botões “Editar curva de saturação” e “Cabos” que também estão na parte
esquerda da Figura 20. Logo após, serão explicados o critério de curto-circuito
simétrico e assimétrico. E, para finalizar, será relatada a função “Carregar arquivo
ATP” a qual realiza a simulação do programa ATC.

3.2.1.1 Características do Transformador de Corrente

Para ilustrar a entrada de dados na interface, Figura 21, usaremos um exemplo


para um transformador de corrente com uma tensão secundária equivalente a 400V
(classe 10B400), com uma relação de transformação igual a 600/5A e com uma
impedância interna de 0.5+j0.0001Ω.
46

Figura 21 - Campo “Características do TC” da interface gráfica ATC.

Fonte: Autoria própria.

O primeiro parâmetro a ser inserido no campo “Características do TC”


representa a tensão secundária para o transformador de corrente. Eles são divididos
em duas classes de acordo com a carga que é conectada ao secundário do
transformador de corrente escolhido. Neste trabalho, determinou-se a seleção dos
TCs apenas da Classe B, sendo que os valores podem variar de 10 a 800, como foi
citado no seção 2.1.4 deste trabalho.

O segundo dado é a relação entre as correntes do primário e do secundário do


transformador de corrente. Lembrando que os valores são pré-definidos pela NBR
6856, sendo que a corrente do primário pode variar de 5 a 8000 amperes e a corrente
do secundário possui geralmente um valor de 5A.

O terceiro item é a impedância interna no enrolamento secundário do


transformador de corrente, que é um valor estabelecido pelo fabricante do TC
ensaiado.

E o último item exibido no campo “Características do TC” é o botão “Editar curva


de saturação” que ao ser pressionado exibe uma janela auxiliar na tela do usuário,
visto na Figura 22.
47

Figura 22 - Janela auxiliar para editar a curva de saturação.

Fonte: Autoria própria.

Esta janela auxiliar tem como função apresentar a curva de saturação do


transformador de corrente escolhido para a simulação. Há duas maneiras dessa curva
ser exposta, a primeira é por meio da adição de até quinze valores de corrente (mA)
e tensão (V), definidas pelo ensaio de saturação do TC. A segunda maneira é a
estimação de uma curva de saturação, utilizando os parâmetros apresentados na
Tabela 4, sendo que a Vk é a tensão da classe de exatidão do transformador de
corrente, possuindo o mesmo valor do primeiro item a ser inserido no campo
“Características do TC”, sendo de 400V para esse exemplo.
A Figura 22 mostra que a escolha de como a curva de saturação será plotada
é feita por radio buttons. Se o usuário apresentar os dados do ensaio de saturação do
transformador de corrente ele pode optar pelo primeiro radio button, senão ele deve
escolher o segundo radio button, porém antes disso ele precisa adicionar o valor da
tensão secundária do TC.
48

O transformador de corrente de classe 10B400 usado como exemplo foi


submetido a um ensaio e apresentou os valores de corrente e tensão apresentados
na tabela da Figura 22 (TRENTO, 2015).

No exemplo descrito, o usuário selecionou ambos radio buttons apenas para


ilustrar a comparação entre as curvas de saturação ensaiada e estimada, como pode
ser observado na Figura 23.

Figura 23 - Curva de saturação ensaiada e estimada para um TC de classe 10B400.

Fonte: Autoria própria.

3.2.1.2 Curto-circuito

O segundo campo da GUI possui as características do curto-circuito que


ocorreu no transformador de corrente em uma situação hipotética. Primeiramente,
deve-se informar o valor da tensão e da corrente de falha. Em seguida, adiciona-se a
49

relação entre a reatância e a resistência do enrolamento primário do TC, mais


conhecida como relação X/R, a qual é essencial para a análise no critério de curto
assimétrico.
O próximo item a ser inserido neste mesmo campo é o instante de falta, o qual
representa o momento de fechamento da chave do circuito modelado da Figura 10.
Lembrando que, para acrescentar o instante da falta no circuito simulado no ATPDraw
é preciso que ocorra a conversão de graus para segundos, a qual pode ser feita pela
divisão por 60Hz e por 360.

E o último parâmetro é a corrente de pré-falta, a qual representa a corrente


antes da ocorrência do curto-circuito. No exemplo, a tensão e corrente de curto-
circuito são iguais a 138kV e 10kA, respectivamente. A componente DC do curto-
circuito é igual a 15, o instante da falta é de zero graus e a corrente de pré-falta é de
1A, como mostra a Figura 24.

Figura 24 - Campo “Curto” da interface gráfica ATC.

Fonte: Autoria própria.

3.2.1.3 Impedância da carga

O campo Z Burden, representado na Figura 25, é a impedância da carga


conectada ao secundário do transformador de corrente, sendo esta dividida em
resistência e reatância, o qual para este exemplo possui um valor igual a 1.65+j0Ω.

Figura 25 - Campo “Z Burden” da interface gráfica ATC.

Fonte: Autoria própria.


50

Para o aumento na precisão do caso estudado, foi implementado uma rotina


para calcular a resistência de cabo conectado ao secundário do TC. Esse cálculo
retrata o quanto de carga será acrescentada a esse secundário devido a fiação elétrica
que interliga esse secundário à casa de comando onde se encontra instalados os relés
de proteção. Assim, esta janela auxiliar pode ser acessada quando o botão “Cabos”,
na janela principal do programa ATC, for pressionado.

Como visualizado na Figura 26, a janela auxiliar exibida expressa a fórmula e


parâmetros exigidos para o cálculo da resistência do cabo.

Figura 26 – Janela auxiliar “Cabos” da interface gráfica ATC.

Fonte: Autoria própria.

Sendo:
𝑹𝒄𝒂𝒃𝒐: é a resistência equivalente do cabo;

𝝆𝑪𝒖 : é a resistividade do cobre;

𝑺𝑪𝒖 : é a seção nominal do cabo de cobre;

L: é o comprimento total do condutor.


51

De forma a reduzir a complexidade da programação por meio de vários


comandos if/else encadeados, foi implementado na função da Figura 26 o 'switch case'
para a escolha da seção nominal do cabo utilizado. Esta função possibilita a escolha
dos cabos entre 1, 2, 4, 6 e 10 mm² através de um menu.

No exemplo utilizado, o cabo utilizado na conexão do transformador de corrente


com a carga é um fio de cobre. Por isso, utilizou-se a resistividade padrão do cobre
que é igual a 0.017 ohm.mm²/m. Além disso, a seção nominal do cabo escolhido é
igual a 6mm² e a distância entre o secundário do TC e a casa de comando foi de 50m
(100m ida e volta).

3.2.1.4 Critério para Avaliação de Saturação do TC para Curtos-circuitos


Simétrico e Assimétrico

Foram criados dois campos distintos, os quais possuem funções capazes de


avaliar a condição de saturação do TC levando em conta critérios tanto para curto-
circuito simétrico quanto para curto-circuito assimétrico. Para que o resultado do
critério seja bem sucedido deve-se inserir todos os parâmetros citados anteriormente.

A função quando executada, reúne variáveis globais passando de tipo string


para double para a convenção de operações básicas, como nas expressão
referenciadas para curto-circuito simétrico, equação (10), assim como na equação
(11), a qual retrata a condição para curto-circuito assimétrico.

I cc
 ( Z B  ZTC )  Vk (10)
RTC
I cc  X
 ( Z B  ZTC )  1    Vk (11)
RTC  R

Sendo:

𝑰𝒄𝒄 : é a corrente de curto-circuito;

RTC: é a relação de transformação do TC (Corrente do primário/corrente do


secundário);
52

𝒁𝑩 : é a impedância da carga conectada ao secundário do TC;

𝒁𝑻𝑪 : é a reatância interna do transformador de corrente;

X/R: é a componente DC da falta assimétrica;

𝑽𝒌 : é a tensão de saturação transformador de corrente, ou seja, a tensão


secundária do TC;

Com as variáveis resultantes das equações citadas anteriormente, temos uma


análise condicional. Caso o resultado das expressões forem menor do que a tensão
secundária do transformador de corrente, o resultado será positivo, sendo
representado pela palavra OK em um campo verde. Do contrário, o resultado será
negativo, interpretado pela palavra FAIL em um campo destacado em vermelho, de
acordo com as Figuras 27 e 28.

Figura 27 - Campo “Critério para Curto Simétrico” da interface gráfica ATC


com resultado positivo.

Fonte: Autoria própria.

Figura 28 - Campo “Critério para Curto Assimétrico” da interface gráfica ATC com resultado
negativo.

Fonte: Autoria própria.

3.2.1.5 Carregar arquivo ATP

É nesta etapa que ocorre a comunicação entre os dois softwares, Matlab e


ATPDraw, por meio do botão verde “Carregar arquivo ATP”, presente na Figura 20.
Quando o botão é pressionado, a interface gráfica recorre a uma função que coleta e
faz o tratamento dos dados inseridos pelo usuário na interface para a emissão à um
programa externo, o qual neste trabalho é o ATPDraw.
53

O principal objetivo desta função é criar um novo tipo de arquivo, delegando


diferentes níveis de regra de write/read (leitura/escrita), que possua um formato
compatível com o software ATP. E este arquivo criado foi utilizado como um arquivo
padrão e todos os dados inseridos serão gravados nos seus respectivos campos igual
aos da Figura 17, criando assim, um arquivo com extensão .atp para simular a
situação retratada na interface gráfica ATC.

Quando este arquivo é executado por meio de uma função específica gera
outro três arquivos, com as extensões .atp, .lis e .pl4, os quais foram explicados na
seção 3.1.

O arquivo .lis dispõe de todos os parâmetros adicionados na interface ATC e


de uma matriz com dados de corrente no enrolamento primário e no enrolamento
secundário do TC, divididos em intervalos de tempo, que englobam os instantes antes
e depois da falta. Quando a simulação é bem sucedida o arquivo apresenta os itens
citados anteriormente, porém quando a simulação falha aparecem mensagens
seguidas da palavra “ERROR” repetidas vezes no arquivo com a extensão .lis.

E para finalizar e obter a resposta da simulação, foi criado o botão PlotXY o


qual executa o arquivo .pl4 e plota uma imagem gráfica na interface, como mostrado
na Figura 20. O gráfico apresenta duas curvas, sendo que a forma de onda senoidal
vermelha é a corrente do enrolamento primário do transformador de corrente e a forma
de onda senoidal azul é da corrente do enrolamento secundário do TC, refletida ao
primário. Através da análise dessas duas curvas pode-se analisar se houve saturação
no núcleo do transformador de corrente ou não, como será discutido na seção de
resultados.

3.2.1.6 Escala de tempo

Após a obtenção do resultado da simulação por meio do botão PlotXY, o


usuário pode escolher e dividir esse gráfico em ciclos menores, caso haja a
necessidade de uma análise mais minuciosa das curvas senoidais das correntes.
54

A Figura 29 mostra o campo responsável pela divisão dos ciclos de acordo com
a escala de tempo do gráfico apresentado na Figura 20. Portanto, o usuário pode
escolher quantos ciclos quer analisar antes do instante da falta, sendo possível
escolher apenas entre 0 e 1. Além disso, é possível optar pela quantidade de ciclos
após o instante da falta, e esses valores variam entre 0 e 9.

Figura 29 - Campo “Escala de tempo” da interface gráfica ATC.

Fonte: Autoria própria.


55

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este capítulo apresentará as simulações realizadas na interface ATC, para um


dado ponto do sistema elétrico de potência.

4.1 TIPOS DE RELÉS UTILIZADOS NAS SIMULAÇÕES

Serão utilizados dois tipos de relés para a simulação na interface gráfica ATC,
os relés eletromecânicos e relés digitais.

Os relés eletromecânicos são equipamentos dotados de bobinas, discos de


indução, molas, contatos fixos e móveis que lhes emprestam uma grande robustez.
São de fácil manutenção e de fácil ajuste dos parâmetros elétricos por meio de tap’s.
(MAMEDE, 2011).

A tabela 6 apresenta alguns exemplos de burden típicos para alguns relés


eletromecânicos de sobrecorrente. O menor tap é o que apresenta o maior burden,
isto é, o relé representa para o TC, a maior impedância. A impedância diminui para os
outros tap’s, tendo seu menor valor para o tap máximo.

Tabela 6 – Burden de Relés Eletromecânicos.

Modelo do Relé Faixa de Tap’s (A) Impedância do menor Tap (Ω)


IAC51A101A 4 – 16 0,35
IAC51A2A 1,5 – 6 2,40
IAC51A3A 0,5 – 2 22,00
ICM2 0,5 – 2 16,4
ICM2 4 – 16 0,25
Fonte: (HOJO; MAEZONO, 2012).

Os relés digitais, por sua vez, apresentam funções similares às dos relés
eletromecânicos. Eles combinam unidades de medida de distância com unidades de
medida de tensão e sobrecorrente direcional. (MAMEDE, 2011).
Geralmente, os relés digitais incluem as funções de supervisão de disjuntor
para registro do número de disparo e supervisão de circuitos de comando de um
determinado número de disjuntores. Além disso, possuem registros oscilográficos,
localizador de defeito, registros de eventos e histórico de medidas de corrente, tensão
e potência (MAMEDE, 2011).
56

Outra vantagem do relé digital é a filtragem para componentes fundamentais


no momento do curto-circuito. A Tabela 7 apresenta a impedância de diferentes relés
digitais, expressa em volt-ampere (VA) e ohms (Ω).

Tabela 7 – Burden de Relés Digitais

Modelo do Relé Burden (VA) Impedância (Ω)


7SJJ61/62/63 0,30 0,012
7SA6 0,30 0,012
P141, 142, 143 0,50 0,020
P433, P435, P437 0,10 0,004
Fonte: (HOJO; MAEZONO, 2012).

4.2 SIMULAÇÕES NO ATC

Foram considerados alguns parâmetros para todas as simulações que serão


apresentadas a seguir. Consideraram-se curtos-circuitos trifásicos próximos aos TCs
analisados, conhecidos como curto-circuito close-in, ocorrendo a 1% do trecho do
elemento protegido (linha de transmissão, transformador, banco de capacitor, etc) sob
análise. A seguir, apresentaremos alguns casos simulados.

4.2.1 Caso 1

Para a primeira simulação realizada na interface gráfica desenvolvida, utilizou-


se um transformador de corrente com uma classe de exatidão de 10B200, relação de
transformação igual a 1200/5A e com uma impedância interna de 0,5Ω. Considerou-
se ainda, o valor de curto-circuito de 6,80kA, nível de tensão de 138kV e uma relação
X/R igual a 3,35.

Além disso, a carga instalada no secundário do TC é um relé digital SEL 421,


cuja impedância é equivalente a 0,02Ω, como disponibilizado no manual do fabricante
(Schweitzer – por referência). E para complementar, adicionou-se a impedância do
relé a resistência do cabo que conecta ambos os equipamentos. O cabo escolhido
possui uma secção nominal igual a 6mm² e a distância entre o transformador de
corrente e a sala de comando, local que contém o relé de proteção, é de 200 metros
(ida e volta), resultando em uma impedância total de 0,59Ω, como pode ser observado
na Figura 30.
57

Figura 30 - Janela principal da interface gráfica para o caso 1.

Fonte: Autoria própria.

O gráfico apresentado na Figura 30 demonstra que o núcleo do transformador


de corrente não sofreu saturação, pois a corrente do secundário referida ao primário
está em fase com a corrente do primário. Além disso, os critérios de curto-circuito
simétrico e assimétrico foram validados.

4.2.2 Caso 2

A Figura 31 mostra a segunda simulação realizada, a qual envolve um


transformador de corrente com as mesmas características construtivas do teste
anterior, ou seja, classe de exatidão 10B200, relação de transformação igual a
1200/5A e impedância interna de 0,5Ω e nível de tensão de 138kV. Entretanto, neste
teste, considerou-se uma corrente de curto-circuito de 22,7kA e a relação X/R igual a
4,55.
58

Com relação à carga, foi utilizado um relé eletromecânico IAC51A2A com uma
impedância de 2,4Ω (Tabela 6) conectada ao secundário do transformador de corrente
através de um cabo de cobre com um bitola equivalente a 6mm² e 400 metros de
comprimento (ida e volta). Portanto, o valor da impedância total da carga é igual a
3,53Ω.

Figura 31 – Janela principal da interface gráfica do caso 2.

Fonte: Autoria própria.

Como pode ser observado na Figura 31, o núcleo do transformador de corrente


sofreu uma saturação, pois a curva da corrente secundária apresenta uma
característica distorcida em relação a corrente primária e os critérios de análise para
curto-circuito simétrico e assimétrico também falharam. O núcleo deste TC saturou
devido ao alto nível de curto-circuito, sendo que sua classe de exatidão é baixa
(10B200) para impedância da carga considerada como elevada.
59

A seguir são feitos alguns testes referentes ao caso 2 simulado, cujo TC sofreu
saturação, mudando apenas algumas características para que seja possível observar
quais fatores contribuem para a ocorrência ou não da saturação do núcleo do
transformador de corrente.

4.2.2.1 Caso 2a

Para esse simulação foi alterado somente a secção nominal do cabo que
conecta o transformador de corrente ao relé, de 6mm² para 10mm². Essa mudança
reduziu o valor da impedância da carga para 3,08Ω.

Entretanto, essa alteração não impediu que o núcleo do TC entrasse em


saturação e também não validou os critérios de curto-circuito simétrico e assimétrico,
como pode ser visto na Figura 32.

Figura 32 – Janela principal da interface gráfica do caso 2a.

Fonte: Autoria própria.


60

4.2.2.2 Caso 2b

Além do aumento da bitola do cabo de 6mm² para 10mm², como descrito na


seção 4.2.2.1, utilizou um diferente relé digital como Burden do transformador de
corrente. O relé escolhido foi o SEL421, o qual possui uma impedância de 0,02Ω,
sendo que esta alteração promoveu uma grande redução no valor do Zburden, o qual
era 3,08Ω e, agora, passa a valer apenas 0,7Ω (SCHWEITZER, 2017).

Como resultado desta simulação na Figura 33, cuja leve distorção da corrente
secundária, refletida ao primário, apresenta-se apenas nos primeiros ciclos, isso
ocorre devido a componente contínua de curto-circuito, como foi explicado na seção
2.5.1, sendo percebido também, pelo critério de curto-circuito assimétrico o qual não
apresentou resultado positivo.

Figura 33 – Janela principal da interface gráfica do caso 2b.

Fonte: Autoria própria.


61

4.2.2.3 Caso 2c

O último teste referido ao caso 2, considerou as alterações citadas no caso 2b,


sendo que a única mudança foi na relação de transformação do TC passando de
1200/5A para 2000/5A.

Como pode ser observado através da Figura 34, a deformação entre as duas
curvas continuam praticamente idênticas a demonstrada na Figura 33. Entretanto,
houve uma diferença relevante entre os valores obtidos no critério de curto-circuito
assimétrico. Por isso, pode-se concluir que a modificação de determinados elementos
no circuito são capazes de minimizar o impacto de uma possível saturação do núcleo
do transformador de corrente.

Figura 34 – Janela principal da interface gráfica do caso 2c.

Fonte: Autoria própria.


62

4.2.3 Caso 3

Este exemplo irá mostrar casos envolvendo transformadores de corrente que


possuem as mesmas características elétricas, nível de tensão, de curto-circuito e
carga, porém serão utilizadas diferentes curvas de saturação para a simulação.

Como foi citado anteriormente, a curva de saturação do TC pode ser estimada


através da Tabela 4, caso a curva de ensaio não esteja disponível. Portanto, os casos
descritos a seguir irão demonstrar simulações com ambas as curvas.

4.2.3.1 Caso 3a

Este caso utiliza um transformador de corrente com as seguintes características


elétricas: classe de exatidão de 10B400, relação de transformação igual a 600/5A e
uma impedância interna de 0,5Ω. As condições de curto-circuito ocorreram a uma
tensão de 230kV, cuja corrente é igual 7,4kA, sendo a relação X/R de 7,30.

A carga do secundário do transformador de corrente é um relé digital do modelo


RET670, do fabricante ABB, o qual possui uma impedância de 0,01Ω. Além disso,
esta carga é instalada em uma casa de comando, sendo requerido o uso de cabos
com secção nominal de 6mm² para distância de 100 metros (ida e volta), o qual
proporciona uma impedância total a carga de 0,29Ω. Todos os valores descritos
podem ser observados na Figura 35 (ABB, 2007).
63

Figura 35 – Janela principal da interface gráfica do caso 3a.

Fonte: Autoria própria.

Após a simulação ser realizada, pode-se concluir por meio da Figura 35, que o
núcleo do transformador de corrente não sofreu saturação, pois a curva que
representa a corrente do secundário, refletida no primário, é idêntica a curva da
corrente no enrolamento primário do transformador de corrente. Ademais, o critério de
análise para curto-circuito simétrico foi validado, e, o critério de curto-circuito
assimétrico falhou por uma diferença muito pequena.

4.2.3.2 Caso 3b

Em todos os testes anteriores utilizou-se a curva de magnetização estimada,


cujos valores podem ser obtidos pela Tabela 4, para a simulação do ensaio de
saturação do transformador de corrente.
64

Entretanto, neste caso em questão, foi utilizada a curva de saturação baseada


nos valores obtidos em um ensaio real realizado pela Alstom, fabricante do
transformador de corrente do tipo OSKF-245, com classe de exatidão 10B400 e uma
relação de transformação de 600/5A. A Figura 36 mostra a curva de magnetização
obtida pela Alstom após o ensaio real do TC, cujas informações também são
disponibilizadas por meio de tabela, mostrando os valores de corrente (mA) e tensão
(V).

Figura 36 – Curva de magnetização ensaiada para um TC do tipo OSKF-245 classe 10B400.

Fonte: (ALSTOM, 2012).

Como os dados de corrente e tensão do ensaio do transformador de corrente


estão disponíveis, decidiu-se a utilização da curva de ensaio para a simulação ao
invés da curva estimada, a qual foi utilizada em todas as simulações anteriores.

Como foi explicado na seção 3.2.1, ao clicar no botão “Editar curva de


saturação” uma janela auxiliar se abre, permitindo a adição dos valores de corrente e
tensão adquiridos no ensaio real do TC, conforme a Figura 37.

Decidiu-se adicionar um alto valor de corrente no último ponto, pois isso


promove uma melhor simulação numérica, colocando em evidência a característica
de saturação do transformador de corrente.
65

Figura 37 – Janela auxiliar para editar a curva de saturação do caso 3b.

Fonte: Autoria própria.

Como pode ser visto na Figura 37, o usuário clicou em ambos radio-buttons
com o intuito de comparar a curva de ensaio e a curva estimada.

A Figura 38 mostra a plotagem das curvas de magnetização e conclui-se que a


curva estimada não é idêntica a curva de saturação obtida por meio de ensaio, porém
o resultado da simulação mostra a robustez da análise. Por isso, o uso da curva de
saturação estimada, adquirida através da Tabela 4, é totalmente viável para que a
simulação seja realizada, quando da não disponibilidade da curva ensaiada, não
representando grandes equívocos na análise de saturação de um TC.
66

Figura 38 – Comparação entre as curvas de saturação ensaiada e estimada, para o Caso 3b.

Fonte: Autoria própria.

Após os pontos de corrente e tensão do ensaio do TC serem adicionados na


tabela da janela auxiliar “Editar curva de saturação”, foram inseridos as demais
características do transformador de corrente, de curto-circuito e carga na interface
gráfica ATC, sendo estas iguais ao do Caso 3a, como ser visto na Figura 39.
67

Figura 39 – Janela principal da interface gráfica do caso 3b.

Fonte: Autoria própria.

A Figura 39 disponibiliza o resultado desta simulação, onde se conclui que o


núcleo do transformador de corrente não saturou, pois as curvas da corrente do
enrolamento secundário e do primário estão sincronizadas. Além disso, os resultados
para os critérios de curto-circuito simétrico e assimétricos foram iguais aos do Caso
3a, logo a conclusão pode ser a mesma, demonstrando a equivalência entre as curvas
saturação ensaiada e estimada.

4.2.3.3 Caso 3c

Este caso é similar aos Casos 3a e 3b, e a Figura 40 mostra que foram
alterados apenas a classe de exatidão de 10B400 para 10B800 assim como a relação
de transformação de 600/5A para 1000/5A.
68

Figura 40 – Janela principal da interface gráfica do caso 3c.

Fonte: Autoria própria.

E conclui-se neste caso, que o transformador de corrente não sofreu saturação


para esses níveis de tensão, curto-circuito, carga conectada e, portanto, os dois
critérios de análise, curto-circuito simétrico e assimétrico também foram validados.

4.2.3.4 Caso 3d

Neste teste foi empregado a curva de saturação baseada nos valores obtidos
em um ensaio real realizado pela Alstom para um transformador de corrente do tipo
OSKF-245, classe de exatidão 10B800 e uma relação de transformação de 1000/5A.
A Figura 41 mostra a curva de magnetização obtida pela Alstom após o ensaio real
do TC.
69

Figura 41 – Curva de magnetização ensaiada para um TC do tipo OSKF-245 classe 10B800.

Fonte: (ALSTOM, 2012).

Já a Figura 42 mostra os valores de corrente e tensão que foram


disponibilizados pelo ensaio da curva de magnetização do transformador de corrente
realizado pela Alstom. Em alguns casos, não é necessário o preenchimento de todos
os pontos da tabela para que se obtenha uma curva de saturação com todas as
regiões de operação.
70

Figura 42 – Janela auxiliar para editar a curva de saturação para o caso 3d.

Fonte: Autoria própria.

Portanto, após a inserção dos valores de corrente e tensão pode-se obter os


gráficos da Figura 43, que representam a curva de saturação estimada e de ensaio.
Observa-se a similaridade entre as duas curvas, concluindo que a estimativa da curva
de magnetização por meio do método do joelho é muito eficaz, facilitando a realização
da simulação, pois não é sempre que a curva real de ensaio do transformador de
corrente está acessível, com já comentado.
71

Figura 43 – Curva de saturação ensaiada e estimada para o caso 3d.

Fonte: Autoria própria.

E para finalizar, a Figura 44 mostra a janela principal da interface gráfica


desenvolvida, preenchida com os demais dados, como as características do TC, curto-
circuito e carga, que são idênticas ao Caso 3a.
72

Figura 44 – Janela principal da interface gráfica do caso 3d.

Fonte: Autoria própria.

Mais uma vez, os resultados comprovam a viabilidade de utilização da interface


ATC desenvolvida. De forma clara e simples, os dados são inseridos e, através da
comunicação entre a interface e o ATP, os resultados são disponibilizados
graficamente aos usuários, permitindo, assim, uma rápida análise da condição de
operação a qual será submetido um dado transformador de corrente.
73

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho de conclusão de curso apresentou o desenvolvimento de uma


interface gráfica, denominada ATC, via Matlab, a qual realiza comunicação com o
software ATP, permitindo uma rápida análise de saturação de transformadores de
corrente para diferentes características elétricas, níveis de tensão, curto-circuito,
classe de exatidão e condições de carga.

O ATC permite uma ágil inserção dos dados do transformador de corrente,


facilitando desta maneira a visualização dos resultados da simulação. Outra vantagem
desta interface gráfica é a utilização da curva de saturação estimada baseada na
tensão de saturação, como visto nas seções 4.3.2.2 e 4.2.2.4 pois nem sempre a curva
de magnetização ensaiada está disponível. Além disso, simulação apresenta um
gráfico de resposta contendo as duas formas de onda as quais representam a corrente
no enrolamento secundário refletida ao enrolamento primário e a corrente no
enrolamento primário, respectivamente. Esta forma de exposição ajuda na conclusão
da ocorrência ou não de saturação no núcleo do transformador de corrente.

A interface gráfica ATC também apresenta dois critérios para avaliação do TC


considerando sua tensão secundária, sendo que a não conformidade destes critérios
é prontamente visualizado através do cálculo apresentado na interface. Logo, estes
critérios podem nos indicar quão longe estaríamos da tensão secundária desejada,
nos fazendo refletir quais dados poderiam ser alterados na interface para melhorar os
resultados.

Para continuidade deste trabalho destacou-se algumas sugestões de


melhorias, pois a função desta interface gráfica é sempre facilitar mais a análise de
saturação dos transformadores de corrente:

 Criação de um banco de dados com as cargas representativas dos mais


variados tipos de relés;
 Criação de um banco de dados referente a diversas curvas de ensaio obtidas
para utilização em simulações posteriores;
 Melhorar a disposição dos dados de entradas na interface gráfica, como a
configuração por abas;
74

 E, principalmente, adequar a forma de apresentação dos dados à interface


ATC, diante da eminente alteração da norma brasileira (NBR 6856), que rege
a especificação dos transformadores de corrente, que está em discussão.
75

REFERÊNCIAS

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