Bacias Hidrográficas

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02/04/2024, 15:23 Módulo 03 -Bacias Hidrográficas

Módulo 03 -Bacias Hidrográficas

Site: Escola Virtual de Governo Impresso por: Verônica Bernardo Mauricio


Conceitos Básicos de Hidrologia e Drenagem para Projetos Data: terça-feira, 2 abr. 2024, 15:23
Curso:
Rodoviários
Livro: Módulo 03 -Bacias Hidrográficas

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Descrição

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Índice

1. INTRODUÇÃO

2. Bacia Hidrográfica
2.1. CARACTERÍSTICAS FISIOGRÁFICAS

3. Delimitação de bacias hidrográficas e suas características

4. Métodos para Cálculo das Descargas


4.1. MÉTODO RACIONAL
4.2. MÉTODO RACIONAL CORRIGIDO
4.3. MÉTODO DO HIDROGRAMA UNITÁRIO TRIANGULAR - HUT

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1. INTRODUÇÃO

O ponto de partida para a escolha e definição dos dispositivos de drenagem em um projeto de infraestrutura corresponde à descarga de
contribuição.

Trate-se de dispositivos de drenagem superficial, profunda ou de transposição de talvegues, o seu dimensionamento toma como premissa o
volume de água ou descarga que terá de escoar.

E para se alcançar ou obter o valor da descarga, precisa-se de parâmetros como intensidade de chuva ou precipitação, além dos parâmetros
físicos da bacia de contribuição.

Como parte destes parâmetros foram tratados nos módulos anteriores, o que se pretende explorar neste módulo é a bacia de contribuição,
propriamente dito.

Será apresentado seu conceito e se abrirá discussão sobre alguns de seus parâmetros, como área, comprimento e declividade do talvegue,
descarga gerada e seu comportamento.

Também serão apresentados, de forma sucinta, alguns procedimentos e metodologias empregadas para obtenção ou delimitação das bacias de
contribuição, sem explorar o assunto na sua completude, haja vista a complexidade do tema e limitação do escopo deste curso.

Finalmente, serão apresentadas as principais metodologias adotadas no DNIT para o cálculo das descargas de contribuição, além dos
parâmetros envolvidos em cada uma delas.

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2. Bacia Hidrográfica

De acordo com Magalhães (1989), a bacia hidrográfica corresponde a uma área onde a precipitação é coletada e conduzida para seu sistema de
drenagem natural, ou seja, uma área composta de um sistema de drenagem natural onde o movimento de água superficial inclui todos os usos
da água e do solo existentes na localidade.

Bacia hidrográfica também pode ser definida como a área ou região de drenagem de um rio principal ou de seus afluentes, ou ainda, como a
porção do espaço em que as águas das chuvas, das montanhas, subterrâneas ou de outros rios escoam em direção a um determinado curso d
´água ou mesmo para os oceanos.

As bacias hidrográficas (também chamadas de bacias de drenagem ou bacias de contribuição) são separadas umas das outras por estruturas do
relevo, sendo usualmente chamadas de divisores de água e que normalmente estão associadas a morros, montanhas, serras, picos e chapadas.

É muito comum que as bacias menores, normalmente associadas a afluentes de rios, despejem dentro de bacias maiores, que correspondem à
bacia do curso d´água principal, e estes irão descarregar, posteriormente, nos oceanos.

Os principais elementos contribuintes de uma bacia hidrográfica são: nascente, rio principal, divisor de águas, afluentes e foz ou exutória,
conforme pode ser visualizado na figura 2.1.

Figura 2.1 – Exemplificação de uma bacia hidrográfica e seus principais elementos. (Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/bacia-
hidrografica.htm)

Cada um destes elementos constituintes pode ser melhor entendido a partir dos seguintes conceitos:

Nascente

Local onde se inicia a bacia hidrográfica. Geralmente é o ponto mais elevado do relevo e também onde se encontra a principal nascente do rio.

Rio Principal

Rio de maior volume e extensão da bacia e que normalmente recebe contribuições dos afluentes.

Divisor de águas

Estruturas do relevo que têm o papel de dividir as áreas das bacias. Normalmente são morros, serras, picos, montanhas ou outras estruturas
elevadas do relevo.

Afluente

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Rios menores que deságuam no rio principal e que têm a função de abastecê-lo.

Foz

Local de deságue natural da bacia hidrográfica.

O comportamento de uma bacia hidrográfica sofre influência de uma série de fatores, podendo-se destacar aqui aqueles associados ao clima ou
a fisiografia.

Fatores climáticos: relativos aos efeitos da chuva e da evapotranspiração, que apresentam variações ao longo do ano, de acordo com a
climatologia local.

Fatores fisiográficos: associados às características da bacia e do leito do rio principal.

Diversos estudos mostram que há uma diferença marcante entre uma bacia de drenagem pequena e outra grande e isto não está associado
exclusivamente ao seu tamanho. Para uma pequena bacia de drenagem, por exemplo, os caudais são influenciados principalmente pelas
condições climáticas da localidade, bem como pelas características físicas do solo e da cobertura vegetal, que por sua vez são afetadas pela
intervenção do homem. Assim, no estudo hidrológico de uma bacia tida como pequena, é dada maior atenção à própria bacia.

Já para uma bacia grande, o efeito do armazenamento no leito do curso d’água torna-se muito pronunciado, de tal modo que nela predomina o
estudo hidrológico do curso d’água, efetuando-se medidas diretas dos caudais em pontos predeterminados e estudos estatísticos das vazões, os
quais são muitas vezes estendidos e extrapolados.

No caso de bacias pequenas, ao contrário das bacias grandes, as medidas diretas não têm valor significante porque o homem, alterando no
tempo as condições físicas da cobertura do solo, por onde a água se escoa, modifica as condições de escoamento independentemente de
variações dos fatores climáticos locais.

Usando unicamente o tamanho da bacia como critério de classificação, o projetista pode incorrer em erros, pois, frequentemente, duas bacias do
mesmo tamanho podem se comportar de modo inteiramente diverso sob o ponto de vista hidrológico. Uma característica distinta da pequena
bacia é o fato de que o efeito do escoamento superficial na bacia afeta muito mais o valor do caudal máximo do que o efeito do armazenamento
no curso de água. Tal efeito é, todavia, muito pronunciado nas grandes bacias.

Deste modo, para se compreender melhor o efeito destes fatores sobre o comportamento de uma bacia e do seu escoamento, apresentam-se
na sequência, algumas das suas principais características fisiográficas, uma vez que os fatores climáticos já foram tratados anteriormente.

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2.1. CARACTERÍSTICAS FISIOGRÁFICAS

As características fisiográficas de uma bacia podem ser obtidas a partir dos dados constantes em mapas, fotografias aéreas ou mesmo
imagens de satélite. Dentre as principais características pode-se citar a forma, a área, o comprimento, a declividade, o tipo de solo e a sua
ocupação.

2.1.1 Forma da bacial

2.1.2 Fator da forma

2.1.3 Coeficiente de compacidade

2.1.4 Tipos de solo

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3. Delimitação de bacias hidrográficas e suas características

Nas obras de infraestrutura, mais especificamente implantação de rodovias ou ferrovias, ocorrerá que o seu traçado irá interceptar alguns
cursos d´água, podendo este ser o rio principal e/ou um de seus afluentes.

No ponto que ocorre tal interceptação, será necessário prover algum elemento de transposição de talvegue, tal como um bueiro ou uma ponte,
que passará a ser encarado como o ponto de exutória de uma nova bacia cujos limites agora foram afetados pelo traçado da rodovia ou
ferrovia. Esta nova bacia, correspondente à bacia de contribuição da obra de transposição projetada, terá seus limites definidos pela plataforma
rodoviária/ferroviária juntamente com os divisores de água situados à sua montante.

A delimitação de bacias hidrográficas pode ser feita tanto de forma manual, valendo-se de cartas topográficas impressas ou digitais, bem como
por meio de programas computacionais, mas como a proposta do presente curso é apresentar as noções básicas da disciplina, serão
apresentadas algumas orientações apenas para o caso da delimitação das bacias através de cartas topográficas.

A delimitação de cada bacia hidrográfica é feita numa carta topográfica, seguindo as linhas das cristas das elevações circundantes da seção do
curso d’água que foi interceptado pelo traçado da rodovia ou ferrovia.

É justamente nesta interseção que se localizará a exutória e esta será considerada como ponto de partida para o processo de delimitação. O
processo poderá ser completado por meio da seguinte sequência de passos, seguindo as orientações de Sperling (2007):

O primeiro passo é definir o ponto inicial (exutória) a partir do qual será feita a delimitação da bacia. A exutória está situado na parte
mais baixa do trecho do curso d’agua principal.
Reforçar a marcação do curso d’agua principal e dos tributários (os quais cruzam as curvas de nível, das mais altas para as mais baixas para
definição dos fundos de vale). O uso de cores distintas para diferenciar o corpo d´água principal de seus afluentes é uma boa prática.
A delimitação da bacia hidrográfica inicia a partir da exutória, conectando os pontos mais elevados, tendo por base as curvas de nível. O
limite da bacia circunda o curso d’agua e as nascentes de seus tributários.
Nos topos dos morros deve-se verificar se a chuva que cair do lado de dentro do limite realmente escoará sobre o terreno, rumo às partes
baixas cruzando perpendicularmente as curvas de nível em direção ao curso d´água em estudo. Se a inclinação do terreno estiver voltada
para a direção oposta às drenagens, é porque pertence a outra bacia. Importante destacar que dentro da bacia poderá haver locais com
cotas mais altas do que as cotas dos pontos que definem o divisor de águas da bacia.
Para facilitar a definição dos limites, deve-se diferenciar os talvegues dos divisores de águas. Os talvegues são depressões (vales),
representados graficamente, onde as curvas de nível apresentam a curvatura contrária ao sentido da inclinação do terreno, indicando que
nestes locais ocorre concentração de escoamento. Os divisores de água são representados pelo inverso de um talvegue, no qual as curvas
de nível apresentam curvatura voltada para o sentido da inclinação do terreno, sobre a qual as águas escoam no sentido ortogonal às
curvas em direção aos talvegues.
A delimitação da bacia deve retornar ao ponto inicial definido como exutória.

Para fins de ilustração do que se espera obter ao final deste processo, se apresenta a figura 3.1. Nela pode ser notado o limite da bacia,
em linha vermelha e os cursos d´agua, em linha azul. O curso d´água principal está demarcado com uma linha mais grossa, distinguindo-o
dos afluentes.

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Figura 3.1 – Bacia delimitada através de uma carta topográfica.


(Fonte: Sperling, 2007).

Algo que facilitará no processo de delimitação é a correta identificação dos elementos disponíveis nas cartas topográficas, com destaque
para as curvas de nível, as cotas do relevo, bem como a sua qualidade e escala. Além destes, o conhecimento prévio do comportamento
da representação dos principais acidentes geográficos e o comportamento das curvas de nível para cada caso ajudará o aluno na
identificação e distinção das diversas bacias de contribuição e seus elementos, como o traçado dos cursos d´água, que normalmente
estão bem identificados nas cartas.

Algumas fontes que podem ser consultadas para fins de obtenção destas cartas são o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE (www.ibge.goc.br – geociências), além do Exército Brasileiro.

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4. Métodos para Cálculo das Descargas

Na literatura nacional e internacional podem ser encontradas diferentes metodologias para cálculo das descargas de bacias de contribuição.
Dentre os métodos mais conhecidos, pode-se citar, por exemplo, o racional, o index-área, o hidrograma unitário sintético ou triangular. No
entanto, nos projetos elaborados e analisados pelo DNIT, conforme preconiza a IS-203 (DNIT, 2006), é recomendado o uso de apenas três
métodos: racional, racional-corrigido e hidrograma unitário triangular (HUT).

Como regra geral, a escolha do método de cálculo das descargas das bacias de contribuição deve ser feita com base na sua área, devendo-se
considerar os seguintes limites:

Método Racional: para bacias com área até 4 km²;


Método Racional corrigido: para bacias com área entre 4 km² e 10 km²;
Método do Hidrograma Unitário Triangular: para bacias com área superior a 10 km².

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4.1. MÉTODO RACIONAL

Devido à simplicidade da sua fórmula de cálculo, este método é, dentre todos os métodos de avaliação de descargas de projeto para os
sistemas de drenagem, aquele que é utilizado com maior frequência, não só no Brasil, mas em todo o mundo, principalmente nas bacias de
pequeno porte ou em áreas urbanas.

A aplicação deste método para o cálculo da descarga de bacias encontra vasto campo de discussão entre os hidrólogos.

De acordo com Vem Te Chow (apud TORRICO, 1975), o método racional é recomendável para cálculo de descarga de bacias com área entre 40
ha (ou 0,4 km²) e 81 ha (ou 0,81 km³) e para tempos de recorrência entre 5 e 10 anos.

Já segundo Linsley, Korler e Paulhus (apud TORRICO, 1975), este método deve ser usado para cálculo de descarga de bacias com área até 40
ha (ou 0,4 km²), com precaução para não exceder 486 ha (ou 0,48 km²), sem limite associado aos tempos de recorrência.

Por sua vez, o California Division Highways (apud TORRICO, 1975) sugere o uso do método racional para o cálculo da descarga em bacias com
área até 40,5 km², associados a tempos de recorrência de 50 até 100 anos.

Pode-se ainda encontrar referência para uso do método em bacias com área até 2 km², conforme destacado por Tucci et. al. (2007). Ainda
conforme este mesmo autor, os princípios básicos deste método são:

Duração da precipitação intensa de projeto igual ao tempo de concentração;

Adotar um coeficiente único de perdas, denominado “C”, estimado com base nas características das bacias (tal coeficiente também
costuma ser chamado de run-off ou coeficiente de deflúvio);

Não avalia o volume da cheia e a distribuição temporal das vazões.

Deste modo, no estabelecimento do valor da descarga pelo método racional, admite-se que a precipitação sobre a área é constante e
uniformemente distribuída sobre a superfície da bacia. Para considerar que todos os pontos da bacia contribuem na formação do deflúvio, é
estabelecido que a duração de chuva deve ser igual ou maior que o seu tempo de concentração e, como a intensidade da chuva decresce com o
aumento da duração, a descarga máxima resulta de uma chuva com duração igual ao tempo de concentração da bacia.

Apesar destas diferentes abordagens, será considerado o uso do método racional para cálculo de descargas de bacias com área até 4,0 km², no
caso de projetos rodoviários no âmbito do DNIT (conforme orientação da IS-203), adotando-se, para tal, a seguinte fórmula:

Q = 0,278 * C * I * A, sendo:

Q = vazão máxima em m³/s;

C = coeficiente de perdas, ou coeficiente run-off (tabelado);

A = área da bacia em km²; e

I = intensidade de precipitação em mm/h.

Há uma diversidade de tabelas disponíveis em diferentes bibliografias com os valores admissíveis para o coeficiente run-off. Tomando por base o
conteúdo do Manual de Hidrologia Básica do DNIT (DNIT, 2005) e do livro Hidrologia (TUCCI et al, 2007), fica a sugestão de uso das tabelas 4.1 a
4.3.

É importante ter em mente que o coeficiente de deflúvio representa essencialmente a relação entre a vazão e a precipitação que lhe deu
origem, o que envolve além do volume da precipitação vertida, a avaliação do efeito da variação da intensidade da chuva e das perdas por
retenção e infiltração do solo durante a tempestade de projeto.

Tabela 4.1 – Valores do coeficiente C.

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Fonte: ASCE, apud TUCCI, 2007.

Tabela 4.2 – Valores do coeficiente C para áreas rurais.

Fonte: WILLIAMS, apud TUCCI, 2007.

Tabela 4.3 – Valores do coeficiente C.

Fonte: DNIT, 2005.

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4.2. MÉTODO RACIONAL CORRIGIDO

O método racional tem sido usado de preferência para bacias de pequena área, mas nada indica que não seja aplicável a bacias maiores, como
usualmente é usado em projetos rodoviários em outros países. Naturalmente, para bacias maiores torna-se necessário corrigir as precipitações
através do fator de redução para a área, uma vez que a distribuição na superfície da bacia não é uniforme e por isso é denominado
normalmente

como fator de distribuição.

Desta consideração é que deriva o método racional corrigido e sua expressão acaba diferindo daquela adotada no método anterior em função
apenas do acréscimo do fator de distribuição. Com isso, a notação passa a ser:

Q = 0,278 * C * I * A * n, sendo:

Q = vazão máxima em m³/s;

C = coeficiente de perdas, ou coeficiente run-off (tabelado);

A = área da bacia em km²;

I = intensidade de precipitação em mm/h.

n = coeficiente de distribuição, calculado conforme a expressão a seguir

, sendo:

A = área da bacia em ha (situadas em áreas rurais). Ou,

, sendo:

A = área da bacia em ha (situadas em áreas urbanas).

Alguns autores sugerem o cálculo do coeficiente de distribuição por meio de outra expressão, sendo ela:

, sendo:

A = área da bacia em km²;

n = 4, para pequenas declividades, inferiores a 0,5 % (Burki Ziegle);

n = 5, médias declividades, entre 0,5 % e 1,0 % (MC Math);

n = 6, fortes declividades, superiores a 1 % (Brix).

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4.3. MÉTODO DO HIDROGRAMA UNITÁRIO TRIANGULAR - HUT

O método do hidrograma unitário triangular, desenvolvido pelo U.S. Soil Conservation Service, pode ser aplicado para obtenção das relações
chuva/deflúvio em bacias com até 2.500 km². Para áreas maiores que este valor, as bacias podem ser divididas ou decompostas em sub-bacias,
com áreas até 2.500 km² (TORRICO, 1975).

Já se sabe que a resposta de uma bacia a um evento de chuva depende das características físicas da bacia e das características do evento,
como a duração e a intensidade da chuva. Chuvas mais intensas tendem a gerar mais escoamento e hidrogramas mais pronunciados, enquanto
que chuvas menos intensas tendem a gerar hidrogramas mais atenuados, com menor vazão de pico.

Para fins de simplificação, admite-se que existe uma relação linear entre a chuva efetiva, que corresponde à parcela da chuva que gera
escoamento superficial, e a vazão. Associada a esta relação surge a teoria do hidrograma unitário, que nada mais é que o hidrograma de
escoamento direto causado por uma chuva efetiva unitária (de valor unitário, como 1 mm, ou 1 cm, para fins de exemplificação). Tal teoria
considera que a precipitação efetiva e unitária tem intensidade constante ao longo de sua duração e distribui-se uniformemente sobre toda a
área de drenagem.

Também se admite que a bacia hidrográfica tem um comportamento linear e isto permite a aplicação dos princípios da proporcionalidade e da
superposição.

De acordo com o princípio da proporcionalidade, para uma chuva efetiva de uma dada duração, o volume de chuva (que é igual ao volume
escoado superficialmente) é proporcional à intensidade dessa chuva. Assim, o hidrograma que resultaria de uma precipitação efetiva de 2 mm
seria duas vezes maior que aquele resultante de uma chuva de 1 mm.

Já de acordo com o princípio da superposição, as vazões de um hidrograma de escoamento superficial, produzidas por chuvas efetivas
sucessivas, podem ser encontradas somando as vazões dos hidrogramas de escoamento superficial correspondentes à cada chuva efetiva
individual. Deste modo, o hidrograma de resposta de duas chuvas unitárias sucessivas pode ser obtido por meio da soma dos seus hidrogramas
unitários deslocados no tempo por uma diferença “D”.

Se estes dois princípios forem aplicados, será possível calcular os hidrogramas resultantes de eventos complexos a partir do hidrograma
unitário e este cálculo será feito através da convolução. Em matemática, particularmente na área de análise funcional, convolução é um
operador linear que, a partir de duas funções, produz uma terceira, que mede a soma do produto dessas funções ao longo da região
subentendida pela superposição delas em função do deslocamento existente entre elas.

No hidrograma unitário, a vazão em um intervalo de tempo “t” será calculada a partir da convolução entre as funções Pef (chuva efetiva) e h
(ordenadas do hidrograma unitário discreto), assumindo as seguintes notações:

Qt = a vazão do escoamento superficial no intervalo de tempo t;

h = a vazão por unidade de chuva efetiva do hidrograma unitário;

Pef = a precipitação efetiva do bloco i;

k = o número de ordenadas do hidrograma unitário, que pode ser obtido por:

, sendo:

m = o número de pulsos de precipitação; e

n = o número de valores de vazões do hidrograma.

Se esta convolução for representada na forma matricial ficará mais fácil observar como ela evolui. Assim, se for considerada uma chuva efetiva
formada por 3 blocos (m = 3) de duração D cada um, ocorrendo em sequência, e uma bacia cujo hidrograma unitário para a chuva de duração D
é dado por 9 ordenadas (k = 9) de duração D cada uma, a aplicação da convolução para calcular as vazões Qt na exutório da bacia seria
conforme a figura 4.1.

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Figura 4.1 – Notação matricial da convolução proposta.


(Fonte: Collischonn – IPH/UFRGS)

Segundo o Soil Conservation Service, o hidrograma unitário adimensional curvilíneo, representado na figura 4.2, e que foi desenvolvido
por Víctor Mockus, foi deduzido da média de um grande número de hidrogramas unitários naturais de bacias com tamanhos muito
variados e situações geográficas diversas.

Dividindo as ordenadas do hidrograma unitário pela sua descarga máxima e as abscissas pelo tempo de ponta Tp, resulta o hidrograma
adimensional cujo ponto de inflexão no ramo de descida fica 1,70 Tp após o início da chuva unitária e a base é igual a 5 Tp.

Nessa metodologia, o tempo de concentração da bacia é igual ao tempo entre o fim da chuva e o ponto de inflexão no ramo descendente do
hidrograma unitário. O atraso da onda ou "Lag" é definido como sendo o tempo entre o centro da chuva unitária e o pico do hidrograma unitário,
valendo 0,6 Tc para condições médias de bacia hidrográfica e deflúvios com distribuição aproximadamente uniforme sobre a área.

Figura 4.2 – Hidrograma unitário adimensional e triangular


(Fonte: Manual de Hidrologia Básica para Estruturas de Drenagem, DNIT/2005)

Também se recomenda que a "duração unitária" da chuva usada com o hidrograma unitário seja próxima de 0,20 Tp, não devendo ter valores
maiores que 0,25 Tp. Recomenda-se a adoção de durações unitárias até um quinto do tempo de concentração, para reduzir o trabalho de
cálculo.

O próprio Soil Conservation Service recomenda a substituição do hidrograma adimensional curvilíneo por um hidrograma triangular cuja forma
se adapta razoavelmente ao primeiro, conforme mostra a figura anterior. O tempo de base Tb desse hidrograma triangular é igual a 8/3 do
tempo de ponta Tp e sua forma mais simplificada não necessita da apresentação adimensional, sendo obtida a partir do tempo de concentração

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Tc e da duração unitária Du.

Obtém-se a descarga de ponta Qp, ou a ordenada máxima do hidrograma unitário, observando-se que a área do triângulo representa o volume
escoado da bacia para um deflúvio de 1 mm.

Assim, os parâmetros do hidrograma unitário triangular para uma chuva efetiva Pef igual a 1 mm de altura no tempo unitário “D” poderão ser
obtidos por meio das seguintes expressões:

Vazão de pico por mm de chuva efetiva (m³/s/mm):

Para a composição do hidrograma total será necessário multiplicar as ordenadas do hidrograma unitário pelos excessos de precipitação ou
deflúvios em cada intervalo de tempo igual à duração unitária D, obtendo-se os hidrogramas parciais triangulares, que somados (mantendo-se
as devidas defasagens), fornecem o hidrograma total da enchente.

As ordenadas do hidrograma unitário devem, por isso, corresponder às abscissas com intervalos iguais à duração unitária. As ordenadas dos
hidrogramas parciais, que serão assim também espaçadas de “D”, serão somadas com deslocamento de um intervalo “D”, cada vez que se
considere o acréscimo de precipitação efetiva seguinte.

É bastante comum que os cálculos do hidrograma sejam processados em planilhas eletrônicas, a exemplo da que está apresentada na figura
4.3, desenvolvida no Microsoft Excel e aplicada em um caso real para cálculo de descarga em bacia com área de aproximadamente 40 km². Nela
pode-se observar que os parâmetros de entrada, como o tempo de concentração, o tempo de base, o tempo de pico, além da duração unitária,
por exemplo, estão processados na parte superior da planilha, ao passo que os cálculos da chuva efetiva e a convolução, na forma matricial,
aparecem na parte intermediária e final da planilha.

As expressões complementares que auxiliaram na elaboração da planilha mostrada na figura a pouco citada foram obtidas do Manual de
Hidrologia Básica para Estruturas de Drenagem (DNIT, 2005) e do Manual Técnico de Drenagem e Esgoto Sanitário (JABOR et al, 2008) e estão
transcritas na sequência:

; sendo:

Q i = vazão do escoamento superficial associada ao intervalo de tempo considerado;

Pef = precipitação efetiva;

µi = vazão por unidade de chuva efetiva (ou µTp);

P = altura pluviométrica associada ao intervalo de tempo considerado e ao tempo de recorrência definido; e

CN = número do complexo solo vegetação.

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Escolhe-se o valor de CN, variável de 0 a 100, conforme a permeabilidade do solo, a cobertura vegetal, a textura da superfície e a umidade
antecedente do solo, que fornecem a orientação para escolha do CN, para diversos tipos de cobertura vegetal, tratamento agrícola e para
diversos grupos hidrológicos de solos, classificados de acordo com sua permeabilidade.

Em razão das obras de engenharia não dependerem essencialmente da forma de utilização dos solos na produção agrícola, adota-se uma
classificação simplificada para exprimir a influência da superfície do terreno na formação dos deflúvios. Apresenta-se dessa forma a tabela 4.1
que melhor atende aos objetivos de um projeto rodoviário.

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Figura 4.3 – Modelo de planilha com processamento da descarga pelo método do HUT.

(Fonte: Próprio autor).

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Tabela 4.1 – Número de curva (CN) para diferentes condições de complexo hidrológico.

Número de curva (CN) para diferentes condições de complexo hidrológico

Fonte: Manual de Hidrologia Básica para Estruturas de Drenagem (DNIT, 2005).

Nesta tabela, os quatro grupos hidrológicos do solo são relacionados com a permeabilidade relativa das camadas inferiores, após um
período prolongado de chuvas intensas, independentemente da cobertura vegetal, conforme descrito em seguida:

GRUPO A - Potencialidade mínima para formação de deflúvio superficial. Inclui areias em camadas espessas com muito pouco silte e argila e
também loess profundo muito permeável.
GRUPO B - Principalmente solos arenosos menos espessos que no grupo A e loess menos profundo ou menos agregado que no grupo A,
porém apresentam infiltração acima da média, após intenso umedecimento prévio.
GRUPO C - Compreende solos pouco profundos e solos contendo bastante argila e coloides, no entanto, menos que no grupo D. O grupo
apresenta infiltração abaixo da média, após pré-saturação.
GRUPO D - Potencial máximo para formação do deflúvio superficial. O grupo inclui em sua maioria, argilas de alto valor de expansão,
incluindo também alguns solos pouco profundos, com sub-horizontes quase impermeáveis, próximos da superfície. Qualquer tipo de solo em
terreno plano, com fraca rede de drenagem, acaba enquadrando-se nesse grupo, após um período prolongado de chuvas que eleva o nível do
lençol freático para a superfície.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Manual de Hidrologia Básica para Estruturas de Drenagem. Rio de Janeiro, IPR, 2 ed. DNIT, 2005.

BRASIL. Diretrizes Básicas para Estudos e Projetos Rodoviários: Escopos Básicos/ Instruções de Serviço. Rio de Janeiro, IPR, 3 ed.
DNIT, 2006.

GIMENEZ, Alírio Brasil. FIGUEIREDO, Antônio Domingues. SILVA, Cláudio Oliveira. LANGENDONCK, Francisco Van. ROMERO, José Roberto
Hortêncio. JABÔR, Marcos Augusto. TSUTIYA, Milton Yomoyuki. DEBS, Mounir Khalil El. NETO, Pedro Jorge Chama. BANNOKI, Regina.
Manual Técnico de Drenagem e Esgoto Sanitário. São Paulo, ABTC, 1 ed, 2008.

JABÔR, Marcos Augusto. Drenagem de Rodovias – Estudos Hidrológicos e Projeto de Drenagem. Notas de aula, 2019.

LE COLLISCHONN, Walter; LE TASSI, Rutinéia de. Introdução Hidrologia. Porto Alegre, Editora da Universidade UFRGS, 2008.

MAGALHÂES, A.; LORENA, M. Hydraulic Designe of Labyrinth Weirs. Report nº 736, National Laboratory of Civil Engineering, Lisbon,
Portugal, 1989.

VON SPERLING, M. Introdução a qualidade das águas e o tratamento de esgotos. Belo Horizonte, Departamento de Engenharia
Sanitária e Ambiental, 2007.

TORRICO, José Jaime Taborga. Práticas Hidrológicas. Rio de Janeiro, TRANSCON, 2 ed., 1975.

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