O Livro de Ouro

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 72

O LIVRO DE OURO

O LIVRO DE OURO

^iographias dos personagens


*.Biographias personagem mais distinctos em politica,
armas, religião, lettras,
armas, religião, letíras, sciencias,
sciencias, artes,
artes, commercio,
commercio, industria
industria ee agricultura
agricultura

ANNO I - VOLUME I PUBLICACAO


PUBLICAÇÃO PARA PORTUGAL E BRAZIL JANEIRO — i885
i8S5 D
ft

D. PEDRO II
D. PEDRO II Os mais abalísados
abalisados professores nacionaes ec
estrangeiros encontraram e admiraram no moço
IIMPERADOR
M P1: R A DOR DO BRAZIL principe
príncipe uma sede insaciável dc de saber, uma vo-
cação apta ec prompta para comprehender os
O Brazil cc aa única
O Brazil única das
das antigas
antigas colonias
colónias hespa-
hespa- mais complexos problemas,
problemas.
nholas
nholas cc portuguezas,
portuguezas, que.
que. ao
ao declarar-sc
declarar-sc inde-
inde- A sua applicação aos estudos traduzia resul-
pendente,
pendente, sc se constituiu
constituiu em
em monorchia,
monarchia, sob
sob aa for-
for- tados tão fecundos, que fazia a admiração de
ma representativa. Poucas
nia representativa. nações haverá
Poucas nações haverá cm em que
que quantos se lhe acercavam c chegou a inspirar sé- se-
oo progresso
progresso tenha
tenha sido
sido mais
mais rápido,
rápido, mais
mais com-
com- nos
rios cuidados ao venerável bispo de Chrisopoles
pleto
pleto ee mais
mais fecundo
fecundo dodo que
que no
no Brazil,
Brazil, cc poucas
poucas ec ao regente, que temiam pela saúde
saude do príncipe.
principe.
também
também "cuja marcha evolutiva
cuja marcha evolutiva esteja
esteja tão
tão intima-
intima- Conta-se que o douto bispo chegou a prohibit"
prohibir
mente ligada com
mente ligada com osos sentimentos
sentimentos ec aspirações
aspirações o seu discípulo de accender
acccndcr luz para cstudiw,
cstudajr, dH-"~
dn-~
do seu
sen soberano.
soberano. runte
rante o tempo que devia consagrar ao repouso;
tendo tido de o admoestar por frequentes trans-
D. Pedro éc fructo
D. Pedro frueto do
do enlace
enlace matrimonial
matrimonial de de gressões d'esta
d"esta prcscripção.
prescripção.
D. Pedro, fundador
D. Pedro, fundador dodo império
império brazileiro
brazileiro ec des-
des- A sua applicação ao estudo não foi esteril:estéril:
cendente da Casa de Bragança, de Portugal, com bem cedo começou a dar fructos;
fruetos; ec nós que nos
aa arebi-duqueza
archi-duqueza Leopoldina
Leopoldina cTAustria,
d^Vustria, oriunda
oriunda impuzemos a missão de agrupar n'estenVste curto ar-
da casa
casa de
de Habsburgo.
Habsburgo. Nasceu no no Rio
Rio de
de Janeiro
Janeiro tigo os traços mais principacs
principaes do seu caracter c
a 2 de dezembro de 1820. 1825. O seu nome é Pedro os actos mais notáveis da sua vida, vamos pòr_ pôr.
cTAlcantara
d'Alcantara João Carlos Leopoldo Lcocadio Mi- cm
em relevo o partido que o joven monarcha sou-
guel Gabriel Raphael
Kaphacl Gonzaga; os seus títulos be tirar d'esse
d^sse seu amor ao trabalho.
são: Imperador constitucional e defensor perpe-
tuo do Brasil.
A infanda
infância d'este
d^ste príncipe
principe está muito longe de As primeiras difliculdadescomeçaram
difliculdades começaram cm 1840.
ter sido feliz, porque sua mãe morreu no anno A 23 de julho d'estedVste anno o conselho da regên-
seguinte ao do seu nascimento ce seu pac acha- cia teve que abdicar da sua soberania; e tendo
va-sc já então envolvido n'essa
n'cssa luta politica, en- procUimada a maioria de D. Pedro lí
sido proclamada H antes
carniçada e quasi quotidiana, que terminou pela império.
da epocha legal, houve viva agitação no império,
sua abdicação. fomentada por ambiciosos de todas as classes e
Tinha apenas cinco an annos
nos de edade quando, matizes. A opposição havia triumpbado nas elei-
por este facto, começou a sentir o peso da co- ções de 1S i S po,
}.o, c encontrando-se o ministério á
roa. Desde esse dia até ate á reforma da constitui- camarás hostis, deliberou dissolvcl-as
frente de camaras
ção foi o império governado por uma regência, antes mesmo da sua convocação. Então a oppo oppo--
composta de tres
três pessoas; a reforma confiou a sição parlamentar appellou para as paixões mais
regência a uma só pessoa, eleita pela nação rui cão c exageradas, e os chefes do partido liberal conse-
substituída ivou reeleita) de quatro em quatro an- guiram sublevar duas provindas, a de S. Paulo
nos. ec a de Minas Geraes.
* Uma decisiva batalha, na qual o barão dc de Ca-
A direcção intellectual do joven monarch
monarchaa foi insurgem es.
xias derrotou o principal corpo dos insurgentes.
confiada ao bispo de Chrisopoles. Debaixo d'esta em Santa Luzia, poz termo á rebellião. O pen-
sabia e paternal direcção se engrandecia D. Pe- *d\ima republica federal havia posto as
samento -d'uma
dro, quando recebeu a infausta ec dolorosa noti- armas na mão dos insurgentes; tal idéa não en-
cia da prematura morte de seu illustrc pac. Não porem nas províncias elementos
controu porém eleme*ntos capazes
tinha completado ainda dez annos. de levar ao cabo semelhante emprehendimento,
emprebendimento,
Tão triste como inesperado succcsso
sue cesso produziu Koi esta talvez a única desordem grave que
Foi
no adolescente monarcha, até alli despreoccupa-
despreoceupa- ameaçou por um momento a coroa brazileira.
do da vida, uma singular transformação psycho- D. Pedro casou a 3o de maio de ]8q3 1843 com a
logica.
logies. Thcrcza Christina Maria, filha de Fran-
princeza Thereza
Orphão de pac c mãe, futuro director dos des- cisco 1) rei das Duas Sicilias. Em seguida ao ca-
tinos d'um
d"um vasto império, D. Pedro tomou a re- samento percorreu em companhia da imperatriz
solução de se tornar um homem superior, pre- as províncias do Rio Grande do Sul ec S. Paulo,
parando-sc assim seriamente, não só para preve- de estudar ellc mesmo os meios condu-
no intuito dc
nir os perigos que de futuro podessem ameaçal-o, centes a prevenirem futuros descontentamentos.
mas pam
para vencer, quando a contingência dcde cir- 3848 novamente sc
Em 1848 se congregaram os ele-
cumstancias especiacs o levassem a entrar em
cm luta. mentos rebeldes ce tomaram as armas; d'esta d^sta vez
I
O
O LIVRO DE OURO
LIVRO DE OURO

foi
foi emem Pernambuco.
Pernambuco. A A luta
luta foi
foi sanguinolenta
sanguinolenta Depois de umauma longa deliberação o
mas felizmente
felizmente de Depois de longa deliberação o ministério
ministério
mas de pouca
pouca duração,
duração, porque
porque osos re-
re- foi de
foi de accordo
accordo cjue cjue aa lutaluta sobre
sobre oo mar, mar, com-
com-
beldes foram rapidamente vencidos. O joven im- quanto
perador
quanto aa principio
principio podessc
podesse oíferecer
oííerecer alguma
alguma van-
van-
perador se se n'esta
ifcsta cpocha
epocha não
não tinha
tinha ainda
ainda assaz
assaz tagem, tornar-se-lua
tagem, tornar-se-lua depois depois muito muito áesegual
desegual ce
experiência do governo dos homens, para preve- perigosa
perigosa parapara o império.
império. Foi por por issoisso decidido
decidido
nir
nir ce evitar
evitar estas
estas lutas
lutas fratricidas,
fratricidas, teve
teve comtudo
comtudo que
occasião de mostrar bem claramente o subido que oo governo
governo _pagaria
pagaria aa somma somma exigida.
exigida. Esta
Esta
foi paga,
foi paga, mas
mas não não sem sem ser ser acompanhada
acompanhada de de um
um
uilatc dos seus sentimentos magnânimos, usan-
quilate eloquente
eloquente protesto. O O imperador
imperador vendo vendo na na con-
con-
doo de
de uma
uma das das mais
mais bellas
bellas prerogativas,
prerogativas, queque aa ducta
dueta dodo governo
governo inglezinglcz oo effeito
effeito d\im
d\im puropuro ca-
ca-
Constituição lhe faculta: a de redimir as penas pricho dc amor proprio, chamou immedíatamente
pricho de amor próprio, chamou immediatamente
pronunciadas e de amnistiar os culpados. o
o seu
seu representante
representante cm Londres, o
em Londres, que determi-
o que determi-
.AA mais be bella coroa é, sem du-
11a prerogativa da corôa nou
nou oo chamamento
chamamento do do ministro
ministro inglez,
inglcz, no no Rio
Rio
vida
vida alguma,
alguma, oo direito
direito de perdoar, aa faculdade
de perdoar, faculdade
de usar de Janeiro. As relações diplomáticas entre oo
de Janeiro. As relações diplomáticas entre
de usar de de clemência,
clemência, ee D. D. Pedro
Pedro possuc
possue emem su-
su- Brazil
Brazil ee aa Inglaterra
Inglaterra foram foram suspensas,
suspensas, cc só só se
se
bido grau o gosto pelo exercido exercicio d'estc direito,
porque restabeleceram tres annos depois, por intermédio
porque oo seu seu coração
coração éc tão
tão bondoso
bondoso como
como oo seu
seu do
do rei
rei de Portugal. O
de Portugal. conflicto com
O conflicto com aa Inglaterra
Inglaterra
espirito illustrado. teve comtudo
comtudo um um lado
lado proveitoso
proveitoso para para oo Brazil:
Brazil:
Em 1851
Em I85I ou ou 5e,
52, tendo
tendo sido
sido condemnado
condemnado aa fez
12 fez com
com queque os os brazileiros
brazileiros reconhecessem
reconhecessem que que não
não'
12 annos um pobre velho, portuguez, accusado
annos um pobre velho, portuguez, aceusado de\iam
deviam oceupar-se
oceupar-se exclusivamente
exclusivamente da da prosperida-
prosperida-
(diz-sc
(diz-se que injustamente) pelo crime dc de homicí- de
dio, de interior,
interior, mas mas também
também cuidar cuidar seriamente
seriamente da da
dio, oo visconde
visconde de de Castilho
Castilho dirigiu
dirigiu dd imperatriz
imperatriz acquisição de meios dc de acção com que podessem
uma
uma das suas mais esplendidas composições,
das suas mais esplendidas composições, ád responder
responder aa quaesquer
quaesquer insultos
insultos vindos
vindos do do exterior.
exterior.
vista dada qual
qual oo monarcha
monarcha brazileiro
brazileiro immcdiata-
immediata- Alguns cidadãos
cidadãos respeitáveis
respeitáveis tiveramtiveram entãoentão aa
mente indultou o preso. feliz
feliz ideia
ideia dcde promoverem
promoverem uma uma subscripção
subscripeão na- na-
# cional permanente, para a compra de canhões
modernos
modernos ec navios couraçados. couraçados. Esta Esta patriótica
patriótica
Em 1859
Em 1859 visitou
visitou as províncias da
as províncias Bahia, Per-
da Bahia, Per- lembrança foi applaudida por toda a nação e o
nambuco, Alagoas e Parahyba, sendo alvo de imperador, desejando associar-se a cila, dia, subscre-
calorosas ec espontâneas
espontâneas ovações.
ovações. Estas
Estas viagens
viagens veu
veu desde
desde logo
logo comcom aa quinta
quinta parteparte da da suasua dota-
dota-
no
no interior
interior do
do império
império tem
tem sido
sido de
de grande
grande van-
van- ção
tagem ção annual.
annual. A A subscripção
subscripeão elevou-se
elevou-se em em poucos
poucos
tagem para
para oo paiz,
paiz, porque as impressões
porque as impressões que
que mezes
mezes na muitosmuitos milhões.
milhões. Numerosos
Numerosos vasos vasos dc de
dd ellas
ellas resultam
resultam convertem-sc
convertem-sc de de prompto
prompto em em guerra foram mandados construir na Europa,
medidas úteis ec profícuas para lhes promover o emquanto
emquanto que que os os arsenaes
arsenaes do do paiz
paiz trabalhavam
trabalhavam
intcllectual.
desenvolvimento material e intellectual. com
com uma uma actividade
actividade até ate* alli
alli desusada.
desusada. O O proprio
próprio
*# imperador deu n'essa occasião o nobre exemplo
d uma actividade
d\ima actividade infatigável:
infatigável: visitava
visitava quasi
quasi todos
todos
Esta
Esta pacifica
pacifica prosperidade
prosperidade que
que durou
durou cerca
cerca de
de os
dez os dias,
dias, ee semsem serser esperado,
esperado, arsenaes,
arsenaes, fortale-
fortale-
dez annos,
annos, foi
foi repentinamente
repentinamente perturbada
perturbada por
por zas,
zas, navios de de guerra,
guerra, fabricas,
fabricas, escolas
escolas militares,
militares,
um
um incidente
incidente vulgarmente
vulgarmente conhecido
conhecido pelo
pelo nome
nome rcvcllando por toda a parte conhecimentos espe-
de — conflicto
cpnfíicto inglcz. Eis o caso. ciaes,
ciaes, quecjue faziam
faziam aa admiração
admiração dos dos technicos
techmeos ee
O ministro de
^ friinistro de Inglaterra
Inglaterra no no Rio
Rio dede Janeiro,
Janeiro, dos peritos. A iniciativa nacional coroara-se d"um
dos peritos. A iniciativa nacional coroara-se cTum
mr.
mr. Christie,
Christie, exigiu
exigiu emem nome
nome do do seu
seu governo,
governo, êxito
ao exito brilhante
brilhante cc oo imperador
imperador tivera tivera n'ella
rfella oo mais
mais
ao governo
governo brazileiro,
brazileiro, oo pagamento
pagamento dc de seis
seis mil
mil glorioso quinhão.
libras sterlinas,
libras sterlinas, aa titulo
titulo dede indemnisação
indemnisacão de de per-
per- #
das
das ee damnos,
damnos, resultantes
resultantes do do naufrágio
naufrágio dc de um
um pe-pe- A
A maior
maior gloria
dória de de D.D. Pedro prende-se,
prende-se, sem sem
queno
queno navio
navio inglcz
inglcz nas
nas costas
costas do do Brazil.
Brazil. OO go-go- duvida, áá celebre guerra do Paraguav. O casus
verno duvida, celebre guerra do Paraguav. O casus
verno imperial
imperial recusou-se
recusou-sc terminantemente
terminantemente aa pa- pa- belli
bel li d'esta
d'esta tremenda
tremenda luta luta foi
foi ter
ter oo general
g"cneral Lo-Lo-
gar aa somma
gar somma exigida,
exigida, antes
antes que
que aa questão
questão fosse
fosse pes, presidente da republica do Paraguav, man-
plenamente discutida. Então o ministro in^lez I pes, presidente da republica do Paraguav, man-
plenamente discutida. Então o ministro inglcz dado
dado aprisionar
aprisionar oo barco barco aa vapor denominado
vapor deno"minado
deu
deu aoao commandantc
commandante da da esquadra
esquadra inglcza
inglcza esta-
esta- Marque^ d
Marque; d'0lhida,Olinda, pertencente a uma compa-
cionada
cionada nas nas aguas
aguas brazileiras
brazileiras ordem
ordem de de exercer
exercer nhia brazileira, ec aa bordo do qual ia um coronel
reprezalias,
nhia brazilcira, bordo do qual ia um coronel
rcprezalias, até ao embolso da referida quantia. destinado a tomar o governo da província dc de
Logo
Logo queque esta ordem se
esta ordem se tornou
tornou conhecida
conhecida aa po-po- Matto Grosso. A guerra durou cinco annos ee foi
Mano Grosso. A guerra durou cinco annos foi
pulação da capital levantou-se em massa e uma aa mais
mais sanguinolenta
sanguinolenta ec terrível
terrível que
que aa America
America
grande
grande parte
parte cTella,
d^Ha, hasteando
hasteando bandeiras
bandeiras nacio-
nacio-
naes, presenecou.
do Sul prescnccou.
naes, dirigiu-se
dingiu-se para para oo palacio
palácio dede S.
S. Chrístovam,
Christovam, Morto o general Lopes c restabelecida a paz,
residência
residência habitual
habitual dodo imperador.
imperador. No No caminho
caminho aa o povo
o povo brazileiro
brazileiro manifestou
manifestou oo seu seu reconheci-
reconheci-
multidão encontrou
encontrou oo soberano
soberano ee conduzíu-o
conduziu-o em em mento
mento aa D.D. Pedro,
Pedro, que,
que, pessoalmente,
pessoalmente, tomara
tomara
triumpho
tnumpho ate ate aoao palacio
palácio da da cidade,
cidade, onde
onde oo mo-
mo- parte na luta,
luta, d\ima maneira verdadeiramente
narcha parte na d\ima maneira verdadeiramente
narcha tjnha
tinha jãjit convocado
convocado oo conselho
conselho de de minis-
minis- notável. O projecto de levantar por subscripção subscripeão
tros.
tros. Foi
Foi nifesta
esta occasião
occasião que que D.D. Pedro
Pedro pronun-
pronun- publica uma
uma estatua
estatua aa D.
D. Pedro
Pedro produziu
produziu cerca
cefea
ciou
ciou diante
diante dMmacPuma multidão
multidão immensa
immensa estas pala-
estas pala- de trezentos cecincoenta
cincoenta contos, homenagem que
vras, que
vras, que para
para sempre
sempre lhelhe adquiriram
adquiriram oo amoramor ec
o o^ soberano não quiz acceítar, acecitar, fazendo reverter
o respeito
respeito do do povo
povo fluminense:
fluminense: *Em *Em primeiro
primeiro tão considerável somma cm em favor da instrucçao
instrucção
lugat eu
lugar eu tenho
tenho ciede mostrar-vos
mostrar-vos que que em
em presença
presença publica. Admirável prova de modéstia e amor
do perigo
do perigo sou•sou egual
egual aa todo
todo ee qualquer
qualquer outro
outro ci-
ci- do
do bem
bem publico,
publico, queque se se não
não encontra
encontra na na historia
historia
dadão brasileiro.o
brasileiro, o de Athenas nem dc de Sparta!
I V
O LIVRO DE
DK OURO 3

# rou alguns dias, sendo alvo da mais viva curio-


A guerra no exterior não impediu o governo sidade ec recebendo as maiores demonstrações de
imperial de tomar no interior todas as medidas sympathia e enthusiasmo, que n'esta n'csta cidade se
círcumstancias reclama-
administrativas que as circumstancias tem dado a algum príncipe estrangeiro.
augmcnto da prosperidade do paiz.
vam para augmento diííerentes circumstan-
Concorriam para isto diíícrentes círcumstan-
A navegação
A navegação aodo Amazonas
Amazonas foi
foi aberta
aberta ás
ás nações
nações cias. Em primeiro logar a saudosa siudosa recordação
estrangeiras, novas linhas de caminhos de ferro de seu pac pae ainda vivaz no coração dos liberaes,
foram decretadas, ce as que estavam já começa- que lhe devem o nosso codigo código governativo, em
soíírcram a minima
das não soffreram mínima interrupção nos seus seguida a fama das brilhantes qualidades do im-
trabalhos, em uma palavra, o progresso conti- perador.
nuava a marchar com passo firme e seguro. De Lisboa seguiu pelo caminho dc de ferro para
# suecessivamente a França,
Hcspanha, visitando successivãmente
a Inglaterra, a Bélgica, a Allemanha, a Suissa, a
Entre todas as innovações,
innovaçóes, cuja necessidade Áustria, a Italia
Austria, Itália e o Egypto. D. Pedro aprovei-
mais se fez sentir depois da guerra, foi a da in- tou a sua viagem para preparar os as bases de mui-
troducçao n'cstc immenso império re-
troducção de colonos n'este tos tratados dc de commercio ce de amisade, sobre-
lativamente despovoado e que acabava de per- tudo dc de extradição que mais tarde foram assi-
der cerca de cem mil homens, na maior parte Nestes difierentes
gnados. N'cstes diííerentes paizes D. Pedro
cultivadores. A solução d'estc
dVstc importante pro- examinou sobretudo cs es monumentos da arte, da
blema dependia em grande parte, senão absolu- sciencia e da industria; as escolas, as universi-
scicncia
tamente, da solução d'uma
diurna outra questão — a scientificas, a cujas assem-
dades, as sociedades scicntificas,
da abolição da escravatura. bleias se comprazia de assistir. Convidou para a
A solução dVste
d^ste problema era já de ha muito sua mesa notabilidades dc de toda a ordem, e sur-
tempo objecto dos cuidados particulares de prchendeu mais dc
prehendeu de um Diogenes
Diógenes no seu tonel.
D. Fedro.
Pedro. Por toda a parte e com tooos todos revellou conheci-
Por isso, assim que a guerra do Paraguay ter- mentos superiores aos que. geralmente, possuem
minou, chamou sobre este assumpto a attenção os chefes aasdas nações.
T1
do ministro conservador ltaboury, que se acha- N'esta
N csta viagem D. Pedro recebeu as condeco-
va então á testa dos negocios
negócios públicos, mas es- rações da ordem da Jarreteira, diplomas dc de hon-
se, posto que se não tratasse d'umadiurna libertação ra de
ra* scientificas, entre os
dc muitas sociedades scicntificas,
brusca e radical como a que teve lugar nos Es- quaes mencionaremos o de membro honorário
tados Unidos, mas só da libertação do ao ventre da ao Instituto, de França, para a secção de scicn- scien-
mulher escrava, não teve a coragem de assumir cias naturaes; justa recompensa dos estudos pro-
a responsabilidade de qualquer medida abolicio- fundos que sobre ellas havia feito. Em resumo,
nista. Recciando a opposição dos ricos e numero- esta viagem foi um verdadeiro triumpbo,triumpho, não só
sos plantadores, alguns dos quaes
quacs tinham assento para o imperador, mas para o Brazil, que tão
nas camaras,
camarás, preferiu antes enviar a sua demissão nobremente se vira representado.
ao imperador, que gostosamente lh'a acccitou.
acecitou. #
O ministério seguinte teve também que rcti-
rar-se no fim de quatro mezes, deante da cia oppo- Um dos primeiros cuidados do soberano bra-
sição violentíssima do partido csclavista. zileiro ao regressar ao seu império foi o de abo-
*N'estas círcumstancias, o imperador offcrcceu
N'cstas circumstancias, oflereceu lir a ccrcmonia
ecremonia do beija-mão.
o ministério ao visconde do Rio Branco, homem Em seguida procurou introduzir no seu impé-
muito conhecido pela sua capacidade politica ec rio tudo quanto viu dc de mais util
útil no estrangeiro
singular talento conciliativo. Consequentemente, c compatível com o clima, com as instituições e
e a 28 de setembro de 1871, foi decretada pelo costumes nacionaes. Sob este ponto de vista nu-
parlamento a lei conhecida pelo nome de — ven- merosos trabalhos dcde embellczamento foram fei-
tre livre. tos na capital, sendo principalmente attendidos
Este acto legislativo, que declarava livres os os preceitos da mais rigorosa hygiene.
hvgiene.
filhos das mulheres escravas a partir d'esse
d'essc mes- Na ordem intellectual e politica fez também
mo dia, foi recebido com indiscriptivel alvoroço reformas quasi radicaes, nomeadamente a reorga-
d'este contentamento
pelo Brazil inteiro. No meio d'estc nisação do ensino primário ce do ensino superior
geral nem um só momento foi olvidado o nome e a revisão da lei eleitoral.
do
ao generoso promotor de tão sabia lei leí—-D.
— D. Pe- #
dro II, apesar mesmo de n'essan,essa occasião estar
ausente do império. Durante a sessão legislativa de 1876,
1870, D. Pe-
dro aproveitando-sc
aproveitando-se da tranquilidade de que go-
Havia ja muito tempo que D. Pedro desejava sava o paiz no interior, ec nada tendo a receiar
ardentemente visitar a Europa, mas a realisação do exterior pediu e obteve do parlamento uma
d'este desejo só poude, por diversos motivos, ter licença de desoito mezes. O seu fim era acabar
logar no mez de maio de 1871. a excursão começada em 1871 e visitar a expo-
O imperador resolvendo viajar como simples sição universal que n'esse
n^sse anno se rcalisou
realisou na
particular, embarcou com o nome de Pedro Philadelphia.
d11 Alcantara,
d" Alcântara, depois de ter confiado a regência Apesar de viajar sob o mais rigoroso incogni-
incógni-
do império a sua filha a condessa d'Eu. to, D. Pedro recebeu na patria
pátria de Washington
itenerario
O primeiro ponto de paragem do itencrario e de Franklin o mais lisongeiro acolhimento, não
imperial era Lisboa, onde o monarcha se demo- só das auctoridades
auetoridades civis e militares, mas tam-
O LIVRO DE OURO

mais próxima. Se
mais próxima. Se se trata de
se trata de uma ínnovaçao ra-
uma innovação ra-
bem
bem da da imprensa
imprensa ee do
do povo
povo dada operosa
operosa repu-
repu- dical examina-a
examina-a detalhadamente,
detalhadamente, consulta consulta oo con- con-
dical
blica. Dos Estados Unidos partiu para aa Europa,
blica. Dos Estados Unidos partiu para Europa, selho (Testado ee não
selho Testado não aa adoptaadopta definitivamente
definitivamente
onde teve
onde teve recepções
recepções tão
tão brilhantes
brilhantes ee sympathi-
sympathi- senão quando julga que o povo está apto para
cas, como aqucllas
aquellás de
de que
que havia
havia sido
sido objecto
objecto em
em senão quando julga que o povo está apto para aa
cas, como comprehender ee aproveitar;
comprehender aproveitar; isto isto porque
porque aa longa longa
l8
7'- experiência que
experiência que tem tem do do governo
governo dos dos homens
homens lhe lhe
ensinou que o verdadeiro
ensinou que o verdadeiro progresso so se conse- progresso sò se conse-
Só nos
Só nos resta
resta agora observar D.
agora observar Pedro sob
D. Pedro sob di-di- gue por meiomeio de de reformas
reformas opportuiias,
opportunas, gradua-
versos pontos de vista especiaes, quer como ho- gue por gradua-
versos pontos de vista especiaes, quer como ho- das e sobre
sobre tudo tudo sensatas. Debaixo d'este doeste ponto ponto
mem quer quer como como soberano.
soberano. D. D. Pedro
Pedro éê dotado dotado das e sensatas. Debaixo
mem de vísta elle é conservador-libcral, como o deve
de uma actividade
actividade extraordinária.
extraordinária. Lcvanta-scLevanta-se ás as de vista ellc c conservador-libcral, como o deve
de uma ser todo todo oo chefe chefe de de estado
estado que deseja simulta-simulta-
seis horas horas da da manha, le certos ser que deseja
seis manha, lê certos jornaes, emquan-
jornaes, emquan- neamente respeitar as as leis estabelecidas ee acom-
to oo seu seu leitor
leitor passa
passa em em revista
revista os os restantes,
restantes, para para neamente respeitar leis estabelecidas acom-
to panhar a evolução
panhar a evolução continua das continua das sociedades.
sociedades.
rfelles marcar as passagens
Telles marcar as passagens dignas de attençao. dignas de attençáo. D. Pedro
Pedro dá da'audiência
Trabalha
Trabalha até até ás ás nove
nove ee meia meia cc almoça
almoça rapida-rapida- D. audiência publica publica duas duas vezes
vezes por por
dia
dia e éê Testa
e n'esta occasião
occasião que que ellcelle revelia
revelia as as quali-
quali-
mente. Sae
mente. Sae em em seguida,
seguida, ou ou para
para visitar
visitar as as esco-
esco- dades
las, arsenaes,
arsenaes, fortalezas,
fortalezas, ou ou para
para assistir
assistir ás as reu-
reu- dades de de um um soberano
soberano sinceramente
sinceramente liberal liberal ee
las, que fornece
fornece aa prova prova mais mais concludente
concludente de de que que
niões das sociedades scicntiíicas.
scicntiíícas. que
niões das sociedades considera
considera os interesses
os interesses da da família
família brazileira
brasileira como como
Nunca
Nunca falta falta ás ás sessões
sessões magnas
magnas do do Instituto
Instituto de de sendo os seus
seus próprios.
próprios. Ellc Elle recebe
recebe toda toda aa gente,
Historia sendo os gente,
Historia ee Gcographia Geographia brazileiro,
brasileiro, de de que
que éé socio
sócio nacionaes ee estrangeiros,
estrangeiros, com com afabilidade
afabilidade ee do- do-
ce presidente
presidente honorário.honorário. nacionaes
,# çura, apertando aa mão mão aos aos queque d'essad'essa honra sao
Possue uma
Possuc uma bibliotbeca
bibliotbeca ce um um gabinete
gabinete de de çura, apertando honra sao
dinnos.
dignos Sc Se éé um artista ou
um artista ou um um sábio sábio que que se se lhelhe
seiencias
sciencias physicas physicas ee naturaes
naturaes muito muito completos.
completos. apresenta D. D. Pedro
Pedro não não deixa
deixa de de sc se deleitar
deleitar con- con-
Não lhe passam
passam desapercebidas
desapercebidas as as descober-
descober- apresenta
Não lhe versando
tas scicntificas,
seientificas, que que sese rcalisam
rcalisam nos grandes em- em- versando amigavelmente
amigavelmente com com ellc elle sobre
sobre aa arte arte ou ou
tas nos grandes sciencia que cultiva. D. Pedro falia com facilidade
pórios da sciencia,
sciencia, França sciencia que cultiva. D. Pedro falia com facilidade
pórios da França ce Alíemanha.
Alíemanha. O O cele-
cele- extrema aa maior maior parte parte das das línguas
línguas curopeas.
europeas.
bre medico Pasteur tinha apenas esboçado a sua extrema
bre medico Pasteur tinha apenas esboçado a sua A administração da da justiça
justiça merccc-lhe
merece-lne aa maior maior
theoria do do microbio
micróbio das das enfermidades
enfermidades contagio- contagio- A administração
theoria attençáo
sas quando quando foi foi convidado
convidado pelo pelo imperador
imperador para para attenção e cm iodos os ramos da gestão dos ne-
e em todos os ramos da gestão dos ne-
sas gócios
ir ao Brazil estudar o micróbio da febre amarel- gócios públicos,
públicos, parece parece ambicionar
ambicionar aa justa justa glo- glo-
ir ao Brazil estudar o microbio da lebre amarcl- na de de ser
ser oo único
único soberano,
soberano, cujos cujos ministros
ministros nao nao
la
la cc os os trabalhos
trabalhos do do dr. Domingos Freire
dr. Domingos Freire sobre
sobre ?ia
transgridem as leis. Um
transgridem as leis. Um dia um queixoso dissc- dia um queixoso disse-
este objecto. . lhe que fôrafora victima
victima de de iniquidade
iniquidade ministerial,
ministerial, ee
As Htteraturas antigas foram sempre objecto lhe que
As litteraturas antigas foram sempre objecto D Pedro respondeu-lhe
respondeu-lhe com com certa certa vivacidade.
vivacidade;
de especial attenção
de especial attençáo para para oo iílustrc
iílustrc estudioso.
estudioso. D Pedro
Os meus ministros não
Ós meus ministros não commettem injustiças, commettem injustiças,
Por occasião da
Por occasião da sua
sua viagem
viagem em em 1871,1871, visitando
visitando voltando porém porem logo logo áá sua sua habitual
habitual benevolên-
benevolên-
uma svnagogasvnagoga de de Londres,
Londres, deixou deixou surprehendi-
surprchendi- voltando
uma cia, accresccntou: Comtudo, ComtuJo, cu eu examinarei
examinarei esse esse
dos os" rabbinos, traduzindo deante dV-lles, com com cia, accrescentou:
dos os" rabbinos, traduzindo deante Telles, negocio. Reconhecendo depois a verdade da quci-
extrema facilidade,
extrema facilidade, uma uma pagina
pagina da da suasua bíblia
bíblia cm em negocio. Reconhecendo depois a verdade da quei-
xa^ordenou
xa53 ordenou aa immediata immediata reparaçao reparação da da injustiça
injustiça
hebreu. Visita amoldadas
hebreu. Visita ameudadas vezes os estabeleci- vezes os estabeleci-
mentos de de instrucção,
instrucçáo, quer oinciaes quer quer parti-
parti- commettida. j:e*;«
mentos quer officiaes Em resumo: as as nobres
nobres qualidades
qualidades que que distin- distin-
culares, ee assiste
culares, assiste aosaos exames
exames dos dos aluirmos
alumnos cc áa Em resumo:
distribuição dos prémios;
prémios; Tessas nassas occasiõcs
occasiões man- man- auem o iílustrc chefe do
gem o illustre chefe do império brazileiro dao-império braziíeiro dao-
distribuição dos Fhc como a Tito, o direito de dizer que o dia
da tomar nota fhe, como a Tito, o direito de dizer que o dia
da tomar nota dos nomes dos
dos nomes dos queque se se distingui-
distingui- que lhe não fornece ensejo de praticar uma boa
ram cm em seusseus estudos.
estudos. Mais Mais de de um um d(Testes alum- que lhe não fornece ensejo de praticar uma boa
ram estes alum- acção
nos tem achado
achado mais tarde no accão éc um um dia dia perdido.
perdido. .# ,
no imperador um #
nos tem mais tarde imperador um D Pedro observa observa um um axioma
axioma particularparticular que que
protector desvelado e convicto.
protector desvelado e convicto. Carlos Gomes, Carlos Gomes, D. Pedro
faz por assim dizer a synthese
faz por assim dizer a synthese brilhante e ma- brilhante e ma-
oo inspirado
inspirado maestro maestro do do Guarany,
Guaraiiy, fornece-nos
fornece-nos jestosa das suassuas qualidades
qualidades cívicas cívicas ee moraes: moraest
uma prova eloquente c demonstrativa d'essa pro- jestosa das
uma prova eloquente e demonstrativa d'essa pro- Ista máxima d:
esta maxima è: O O Brasil
Brasil antes antes de de tudo;
tudo; tem-a tem-a
tecção. cumprido religiosamente ce Tisso ifisso consiste
consiste oo seu seu
Ó imperador
imperador não não protege
protege sómente
somente as as letras
letras ce cumprido religiosamente
Ó maior elogio. Finalmente as brilhantes qualida-
as artes;
artes; vae vae mais
mais longe:
longe: ajudaajuda ee patrocina
patrocina eín- efh- maior elogio. Finalmente as brilhantes qualida-
as des moraes d'este cTcstc príncipe
príncipe careciamcareciam dd um um »» lu- lu-
cazmente todas as sociedades
cazmentc todas as sociedades fabris e industnaes fabris e industnaes des moraes
tarcho
tarcho para as
para as descrever
descrever ee narrar narrar com com aa elegân- elegân-
de utilidade
de utilidade geral,geral, quer
quer comprando
comprando do do seuseu bolso
bolso cia
grande numero
grande numero de de acções,
acções, quer quer pedindo
pedindo aos aos cor-
cor- cia ee concisão,
concisão, que que tornam
tornam este escnptor um
este cscnptor um
modelo
modelo admirável; aa nossa
admirável; nossa pennapcnna ee ínsuflicicnte
insnfhcicnte
pos legislativos consideráveis
pos legislativos consideráveis subsídios subsídios aa favor favor para tão elevado
elevado empenhoempenho ee por por issoisso limitamos
limitamos
para tão
íTcllas.
d'ellas. aa estes
estes singelos
singelos traços traços oo nosso nosso esboço esboço biogra- biogra-
D.
D. Pedro preside duas
Pedro preside vezes por
duas vezes por semana
semana ao ao phico, no qual não pretendemos fazer historia,
conselho
conselho de de ministros.
ministros. A reunião começa
A reunião começa ordina-
ordina- phico, no qual não pretendemos fazer historia,
mas
mas tão somente prestar
tão sómente prestar tributo
tributo aa esse esse príncipe
príncipe
riamente ás
riamente ás nove
nove horas
horas da da noitc^
noite ee termina
termina algu- algu- que teria competência
competência para para reger reger uma uma grande grande
mas vezes
mas vezes áá uma uma hora
hora da da manhã.
manhã. Cada Cada ministro
ministro que teria
nação pela sabedoria e instrucçáo.
nação pela sabedoria e instrucção. se nao hou- se nao hou-
expõe
expõe por por sua sua vez,
vez, na na suasua presença,
presença, os os ncgocios
negócios vera recebido
recebido pelo pelo nascimento
nascimento oo direito direito de de go-go-
da sua pastapasta queque carecem
carecem da da assignatura
assignatura impe- vera
da sua impe- vernar. Com sobejo sobejo fundamento
fundamento se se lhe
lhe pode pode ap- ap-
rial. O O soberano
soberano escuta-os
escuta-os com com attenção
attençáo ee pede- pede- vernar. Com
rial. plicar aquellc verso do nosso sublime épico:
lhes por vezes
vezes esclarecimentos.
esclarecimentos. Se Se se se trata
trata de de plicar aquelle verso do nosso sublime épico:
Ihcs por
questão importante, sobretudo
questão importante, sobretudo se esta diz res- se esta diz res- Ditosa pátria
peito aos aos direitos Ditosa pat ria que
que tal tal filho
filho terei
terei
peito direitos ee áá bolsa
bolsa dodo contribuinte,
contribuinte, nada nada
se decide Tcssc
se decide n^esse dia.
dia. Elie
Elle estuda
estuda maduramente
maduramente
ELZEMRIANA -
Tvp. Elwviruxa
TVP. Praça dos
- Praça dos Restauradores,
Restauradores, ?o ?o aa 56
56
oo assumpto para dar a
assumpto para dar a sua opinião nasua opinião na assembleia
assembleia
7
/

O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE
m
OURO

Itiographias dos personagens mais distinctos em politica,


ISiographias
armas, religião, lettras,
iettras, sciencias, artes, commcrcio,
commercio, industria c agricultura

ANNO I — VOLUME I PUBLICAÇÃO PARA PORTUGAL E BRAZIL i S85


JANEIRO — iS85

a posteridade veio prestar a justa homenagem da


D. LUIZ
D. LUIZ II sua admiração, eram tidas em menos conta do
que uma arrojada victoria, em que por vezes
REI de
Rei DE Portugal
PORTUGAL mais se lisongeava o orgulho do que se felicitava
a nação.
É díflicil
difficil c pesado, nas monarchias constitu- Depois, um dia, o povo sentiu que o sol da
cionaes, o officio de reinar. Nem sempre a realeza liberdade o vinha despertar do seu somno de
cinge a fronte com coroas de rosas, e sente séculos. Ergueu-se então de pê, mediu-se
mediu-sc ce reco-
muitas vezes pungirem-lhe os espinhos do diadema, nheceu-se gigante. Compulsou o codigo
nheccu-se código da razão
tanto mais agudos, quanto mais a consciência vem ce da justiça, e encontrou n'elie nrellc inscriptos com
segredar ao espirito do monarcha que fez tudo caracteres indeléveis os títulos da sua soberania;
quanto humanamente era possível para desem- ousou encarar serenamente o throno, que ciue até ahi
penhar-se honradamente da sua arduaárdua tarefa. o deslumbrava, c soube ver que esse brilho fas-
Ser rei, dé exercer um sacerdócio augusto, de cinador não era mais que o reflexo
rellexo do seu poder.
pdz, de conciliação ec de amor, dc offerecer-se ao Cahiu então o direito divino, e ergueu-se,
ergueu-sc, serena
sacrifício lento e constante que a patria
pátria exige ebrilhante. arealeza liberal e democrática, synthese
e brilhante, arealezaliberale
do seu primeiro funccíonario,
funecionario, d^quelle que pa- da vontade nacional.
rece haver erguido tão alto, adrede para lhe exigir Opcrara-se effectuara-
Operara-sc a grande transformação, eííectuara-
mais alta responsabilidade moral, para melhor se o gigantesco trabalho que não alluia os solios, sólios,
ver os seus actos, para ser mais inexorável no pendentes até ahi sobre as nações como se do
julgamento que a historia ha de registar em suas ceu proviessem, mas que os firmava em cm solidas
paginas. bases, erguidas da terra, cimentadas pela espon-
Outrora,
Uutr'ora, quando a realeza tinha por convicção tânea aíleição
aheição dos súbditos, que sacudindo as
profunda que provinha do direito divino, c que peias da servidão tinham livres os braços para
o seu poefer
poder era outhorgado por uma influição defender uma instituição que era sua.
sobre humana, quando os monarchas eram tidos O rei metamorphoseia-se então. Unge-o a von-
por uma casta previlegiada, erguida acima do tade nacional, entrega-lhe o sceptro, symbolo do
commum dos mortaes, senhora da vida ec da mando, o poder popular, que lhe diz: «Serás o
fazenda dos seus vassallos, pelo direito de uma primeiro para velares por todos, tens o logar
herança incontroversa, despedindo do alto do mais elevado para que todos te vejam, para que
throno os raios da sua cólera omnipotente ou não possas deixar cie de ver ninguém, para que os
semeiando em torno os risos das suas graças ao que te contemplam reconheçam em cm ti a parcella
sabor das suas aííeições ou dos seus caprichos; dos
cios direitos soberanos que em ti delegaram. Vives
outrora,
outriora, quando o povo rastejava ignorado nas para todos, porque vives pela vontade de todos.
trevas da historia, massa confusa e inconsciente, És
Es grande, porque o povo que representas é
que se movia á vontade dos potentados da terra, grande. Es respeitado, porque em ti respeitamos
ora indiíferente,
indifferente, ora attonita aos factos que se o nosso proprio
próprio poder, és es cercado de aíFeições,
affeições,
passavam cm torno dV'lladY*lla e a que sempre mais porque foi o amor do povo que te ergueu tão
ou menos era estranha; outriora,
outrora, quando o povo alto»,
alto».
raras vezes tomava o seu papel de protogonista E a historia dos reis confunde-se então com a
nas scenas gigantescas do grande drama social, historia das nações; c as alegrias c as dores, ec as
e se contentava, quando muito, com a condição glorias e os revezes tornaram-sc communs, e
de comparsa nos actos esplendidos que marcavam n^essa
iVcssa communhão se firmou a fraternidade, a
as grandes épocas
dpocas da evolução da humanidade; mutua confiança, a ordem e a estabilidade das
então, podia escrever-se com sangue a historia instituições. Águerra
Á'guerra c á conquista succedeu-se
succedcu-sc
dos reis; e era grande ce notável nos fastos da a tranquillidade, o progresso e o desenvolvimento
sua patria
pátria aquelle que melhores provas dava de produetoras de uni
de todas as forças producioras vim paíz ec que
valentia individual, aquelle que melhor sabia tor- desde então ficaram sendo os mais ricos e apre-
nar os seus vassallos instrumentos da sua ambi- ciáveis florões da chronica de cada reinado.
ção, aquelle que nos campos sangrentos da batalha
melhor assegurava o triumpho, com que a patria pátria *>'
*2*
se ensoberbecia, mas cujos louros serviam só de
cntretecerem-se com as jóias da coroa real; ec os
entretecerem-se Em Portugal, amanheceu o dia da liberdade
bons e dedicados serviços de organisação, de me- no anno de 1820, mas não tardou muito que
lhoramento das instituições, de providencia admi- densa nuvem, soprada ainda pelos ventos desenca-
nistrativa, de garantia de paz ec de ordem, a que deados do absolutismo toldasse de escuro os lio-
ho-
o

G O LIVRO DE OURO

risontcs da da patria,
pátria, offuscando
ofíuscando esseesse brilhante
brilhante dilu-
dilu- de S.
de S. Domingos,
Domingos, em cm Lisboa,
Lisboa, aa 66 dede outubro
outubro de de
culo, que mal conseguira aquecer o paiz. Fcz-sc 1862, com
com aa senhora
senhora D. D. Maria
Maria PiaPia dede Saboya,
Saboya,
treva
treva outra outra vezvez nono ceu
ceu que
que momentaneamente
momentaneamente que nasceu aa 16
que nasceu 16 de
de outubro
outubro de de 1847,
1847, cc filha
filha de
de
allumiára
allumiâra um um auspicioso
auspicioso arrebol,
arrebol, cc sósó mais
mais tarde
tarde Victor Manuel
Victor Manuel II, rei de
11, rei de Itália,
Italia, ec da archiduqueza
da archiduqucza
oo astro
astro da da liberdade
liberdade brilhou
brilhou comcom todo
todo oo seuseu de Áustria Maria
de Austria Maria Adelaide
Adelaide Francisca
Francisca Clotilde.
Clotilde.
fulgor, dissipados para
fulgor, dissipados para sempre
sempre os os negrumes
negrumes que que Doeste matrimonio houveram dois
DYste matrimonio houveram dois filhos: D. filhos: D. Car-
Car-
lhe haviam
haviam obscurecido
obscurecido oo brilho
brilho matinal.
matinal. los, príncipe real,
los, príncipe real, que
que nasceu
nasceu aa 28 28 de
de setembro
setembro
Dentre os cidadãos portuguezes que mais ec de io(33 cc foi
de 1863 foi reconhecido
reconhecido pelaspelas côrtcs
cortes herdeiro
herdeiro
melhor se
melhor se haviam
haviam empenhado
empenhado em em conjurar
conjurar aa tem-
tem- ce successor
suecessor áâ coroa
coroa emcm sessão
sessão dede 11
11 dede fevereiro
fevereiro
pestade, erguc-se o vulto do Duque de Bragança, de 1864, prestando
de 1S64, prestando juramento
juramento cm cm 14 14 de
de março
março
que descia do
que descia do throno herdado, que
throno herdado^ que arremessava
arremessava de 1878; c o infante D. Alfonso,
A Afonso, duque do Porto, Porto.
para longe os
para longe os suppostos
suppostos direitos
direitos dada realeza
realeza de de que nasceu a 3i de julho de íSôã. i865.
origem divina
divina ee vinha,
vinha, simples
simples soldado,
soldado, conquis-
conquis-
tar, entre os
tar, entre os seus
seus companheiros
companheiros de de armas,
armas, oo ti- ti-
tulo
tulo de de outros
outros direitos
direitos mais
mais sagrados
sagrados cc mais mais D. Luiz que
D. Luiz que apenas
apenas contava
contava 23 23 annos,
annos, mediu
mediu
incontestáveis nas muralhas enegrecidas da Ter- todo.o alcance
todo.o alcance cc todas
todas as
as dificuldades
diffieuldades dodo encargo
encargo
ceira e do Porto. que ãa patria
que pátria lhe
lhe impunha;
impunha; cc aa sua
sua loura
loura cc juvenil
juvenil
Levantou-sc
Lcvantou-sc ce proclamou-o o povo por seu cabeça, que
cabeça, que sonhava
sonhava outros
outros sonhos
sonhos dede gloria,
gloria, teve
teve
chefe;
chefe; ec aa sua sua filha
filha primogénita,
primogénita, aa princcza
princeza da da de vergar ao
de vergar ao peso
peso dede um
um diadema,
diadema, tanto
tanto mais
mais
Beira, conferiu o sceptro da realeza constitucio- entretecido de espinhos, quanto o destino o for-
nal, finda
finda aa luta
luta gigantesca,
gigantesca, que que marca
marca uma uma dasdas çara
çára aa succcdcr
succcdcr aa um monarcha, que,
um monarcha, que, acariciado
acariciado
mais brilhantes paginas da historia historia contempo- ém
cm vidavida pela
pela sympathia
sympathia publica,
publica, eraera na
na morte
morte
rânea. aureolado ainda por esse grande prestigio com
Esta senhora
senhora de de elevado
elevado espirito
espirito cc dede alentos que aa saudade
que saudade ee aa veneração
veneração mystcriosas
mystcriosas de de alem
alem
varonis, a quem coube a sorte da aprendizagem da campa circumdam
da campa circumdam os os que
que na vida nos
na vida nos são
são
da vida parlamentar
da vida parlamentar na na nação
nação acostumada
acostumada áá tv- ty- caros.
rannia do
rannia do poder
poder absoluto,
absoluto, foifoi aa primeira
primeira aa expe-
expe- Ê cedo para
È cedo para escrever
escrever aa historia
historia dodo actual rei-
actual rei-
rimentar as as agruras
agruras ec asas dilíiculdades
dificuldades do do encargo
encardo nado, nem
nado, nem para
para tão
tão alto
alto commettimento,
commettimento, sobrariam
sobrariam
que a nação lhe impozera; c se teve no seu os alentos do
os alentos do nosso
nosso engenho,
engenho, ainda
ainda quando
quandojbssc
jossc
reinado os
reinado os trabalhos
trabalhos ee os os escolhos
escolhos de de uma
uma difiicil
difíicil já propicio oo ensejo.
já propicio ensejo. C) O tumultuar
tumultuar dasdas paixões,
paixões, oo
iniciação, se viu rugir-lhe por vezes cm torno a desvairamento das das theorias,
theorias, aa cegueira
cegueira das
das am-
am-
tempestade, encostou a cabeça na pedra tumular, bições não
bições não deixam
deixam brilhar
brilhar em
cm toda
toda aa sua
sua pureza
cercada do respeito geral ec consciente de que o aa Verdade,
verdade, aa que que asas gerações
gerações vindouras
vindouras hão
hão dede
paiz avançaria firme
paiz avançaria firme cc constante
constante na na senda
senda re-re- fazer inteira justiça,
fazer inteira justiça, prestando
prestando ao ao actual
actual chefe
chefe
gular da vida constitucional, tão difTicil difficil ec labo- da nação portugueza
da nação portugueza aa devida
devida cc justa homenagem.
justa homenagem.
riosamente inaugurada. *ébl
Não foi foi mentido
mentido oo horoscopo
horóscopo que que aa branca
branca
pomba, mensageira dos arcanos do futuro, poi- A historia dos
A historia dos reis constiturionaes éé aa historia
reis constitucionacs historia
sando sobre
sando sobre oo carro
carro funerário
funerário da da illustrc
illustrc rainha,
rainha, dos povos; c Portugal, sob a direcção de D.
dos povos; c Portugal, sob a direcção de D. Luiz Luiz I,1,
foi segredar ao
foi segredar ao corpo
corpo inanimado,
inanimado, que que decerto
decerto en-en- tem caminhado
tem caminhado comcom passo
passo audacioso
audacioso cc seguro
seguro nana
tão ainda estremeceria de jubilo no seu esquife, senda dos
senda dos progressos
progressos moraes
moraes ec materiacs.
materiacs. O O
não podendo
não podendo suffocar
suffocar tVclle
n*clle as
as expansões
expansões d'aqucllc
cTaquclle reinado
reinado dede D.
D. Luiz
Luiz tem
tem sido
sido de
de paz,
paz, de
de tranquil-
tranquil-
caloroso amor de mãe extremosa. idade cconscguintemcntc
idade cconscguintcmcntc de de progresso.
progresso. São
São estes
estes
os mais
os mais gloriosos
gloriosos títulos
titulosdo rei, são
do rei, são estes
estes os
os títulos
títulos
mais gloriosos do povo.
O curto reinado
O curto reinado de
de D.
D. Pedro
Pedro V foi testemu-
Y foi testemu- m
nho eloquente de
nho eloquente de que
que na
na lição
lição da
da experiência
experiência ha-
ha-
viam simultaneamente aprendido o povo c o rei; Como vimos, foi
Como vimos, foi cm
cm circumstancias
circumstancias bem bem do-
do-
mas esse
esse mancebo
mancebo de de generosos
generosos sentimentos,
sentimentos, lorosas cc difíiccis
lorosas difficcis que
que D. Luiz II subiu
D. Luiz subiu ao
ao throno.
throno.
esse bom
bom rapaç,
rapa\f como
como oo classificára
classificara Alexandre
Alexandre Resolvendo conscrvar-se
Resolvendo conservar-sc fiel fiel ao
ao estatuto
estatuto jurado,
jurado,
Herculano devia breve deixar plantada uma sau- rodeiou-sc de
rodeiou-se de homens
homens intelligences
intelligcntcs cc occupou-se
oceupou-sc
dade nono seio
seio do
do povo, seuseu irmão;
irmão; ee oo infante
infante da prosperidade moral
da prosperidade moral cc material
material do
do seu
seu reino.
reino.
D. Luiz, mancebo
D. Luiz, mancebo educado
educado para
para aa carreira
carreira da
da Comprchcndcndo aa necessidade
Comprchcndcndo necessidade de de crcar
crear recur-
recur-
marinha, onde dera notáveis provas de aptidão, sos próprios para
sos proprios para Portugal,
Portugal, D. D. Luiz preparou-sc
Luiz prcparou-sc
desembaraço c arrojo, devia encontrar, no re- desde logo para continuar a gloriosa
desde logo para continuar a gloriosa tarefa tarefa da
da
gresso d\ima
d\ima viagem,
viagem, com
com aa dor
dor da
da perda
perda de
de rcorganisacão politica
reorganisação politica cc administrativa,
administrativa, tãotão aus-
aus-
um irmão
um irmão estremecido,
estremecido, oo peso
peso dede uma
uma corGa,
coroa, piciosamente iniciada
piciosamente iniciada por seu seu defunto
defunto irmão.
irmão.
que oo absolutismo
absolutismo da
da morte
morte lhe
lhe arrojára
arrojara de
de im-
im- ** Um
Um rápido volver de
rápido volver de olhos
olhos para
para os
os factos
factos mais
mais
proviso para sobre a cabeça. notáveis do
notáveis do seu
seu reinado
reinado bastará
bastará para
para levar
levar oo
convencimento d'esta
convencimento d'csta aflirmativa
aflirmativa aoao espirito,
espirito, ainda
ainda
dos mais meticulosos.
dos mais meticulosos.
D. Luiz
Luiz I,
I, 3i.°
3i.° rei
rei de
de Portugal,
Portugal, nasceu
nasceu aa 3i
de outubro de ii838; suecedeu em 11 de novem-
S3S; succcdeu
bro de 18(51
i8(5i a seu irmão D. Pedro V; prestou Dotado
Dotado dede uma
uma invencível
invencível predilecção
predilecção pelas
pelas
juramento c foi proclamado rei em 22 de dezem- viagens, D.
viagens, D. Luiz
Luiz saiu
saiu do
do reino
reino cm
cm 22 dede outubro
outubro
bro do
bro do mesmo
mesmo anno;
anno; casou
casou por
por procuração
procuração cmcm de i8(35 cm
de i865 cm companhia
companhia dede sua
sua illustrc
illustrc esposa
esposa ec
Turim a 27 de setembro c cm possoa na cgrcja
egreja do principe D.
do príncipe D. Carlos,
Carlos, visitando n'cssa occasião
visitando n'essa occasião
O LIVRO DE OURO

seu augusto sogro,


so^ro, o rei de Italia
Itália ec mais alguns tros corpos, em consequência da nova organisa-
Europa, onde lhe foram feitas as
soberanos da Luropa, ção decretada para o exercito da índia;
Índia; os acon-
mais affectuosas e cordeaes recepções. Esta via- tecimentos eleitoraes na Madeira, na cgrejaegreja de
gem durou perto de um anno. Machico, no i.° de maio do mesmo anno; a re-
emprchendeu nova
Em 3 de julho de 1867 emprehendeu volta da parte da guarnição de Lisboa, na ma-
viagem em cm companhia de seu irmão o infante drugada de 1K) e) de maio de 1870, que trouxe a
D. Augusto, afim de ir encontrar-se com a rainha, queda do gabinete Loulé-Braamcamp,
Loulê-Braamcamp, ,e a no-
que anteriormente havia saído do reino ec também meação do duque de Saldanha; a revolta em Goa
visitar a exposição Universal de Paris, tendo em setembro de iS8t 1881 de alguns batalhões de
previamente assumido a regência do reino seu trona indígena; a crise monetária no Porto e
tropa
pãe el-rci
cl-rei D. Fernando II. Lisboa, havendo corrida geral em cm 18 de agosto
de 1S76,
1876, sobre os bancos, que na generalidade
deixaram de pagar, decretando o governo uma
Os factos mais notáveis do seu reinado e a que moratória de óo 60 dias, que
ciuc não foi preciso reno-
o illustre soberano mais calorosamente se tem var, pela
nela patriótica resolução do corpo commer-
associado são os seguintes: cial de
cíc Lisboa; e diversos outros acontecimentos
A abertura da escola normal de Lisboa, a que que a falta de espaço não nos permitte citar.
assistiu; a saida das irmãs da caridade para Poderíamos, úé certo, exercer sobre os factos
França, no vapor Orenoqtie;
Orenoque; a abolição da lei apontados e ainda sobre muitos outros que dei-
dos morgados; a abolição do monopólio do ta- xamos de enumerar uma critica mais ou menos
baco; a lei permanente da admissão dos cercaes;
cereaes; justa, mais ou menos sincera; declinamos porém,
a abertura da exposição internacional, na cidade por árdua missão.
nor opportuna e intempestiva, tão ardua
do Porto, a que assistiu; a lei da liberdade do Para nós éc ponto de fé que D. Luiz nem sempre
commercio de vinhos pela barra do Douro; a inau- tem sido devidamente apreciado nas suas, aliás
guração da estatua de D. Pedro V, e do monu- generosas intenções, ec que não poucas vezes a
mento a D. Pedro IV na cidade do Porto; a abo- maldade organisada tem procurado attíngíl-o
attíngil-o com
lição das penas de morte e de trabalhos públicos as suas settas envenenadas.
nos crimes civis; a publicação do codigocódigo civil;
a festa nacional da inauguração solemne
solcmne da es-
tatua de Luiz de Camões; oa sabida
sahida da expedição Não terá comiudo
comtudo D. Luiz errado? Tem; e
para Zambezia; a inauguração solemnesolcmne do mo- affirmar o contrario, seria proferir uma banali-
aflfirmar
numento a Bocage, na cidade de Setúbal; a inau- dade incensatoria. N1estceste globo sublimar
sublunar tudo úê
guração do monumento do Duque da Terceira, fallivel ec transitório; as verdades absolutas não
em Lisboa; a inauguração da monumental ponte existem; e, apezar d'esta
(Testa múltipla e interminável
do caminho^ de ferro do norte, sobre o Douro; cadeia de convenções que nos rodeia, todos erra-
a inauguração do caminho de ferro da Regoa; a mos, e o que é mais—erramos a cada passo. O
festa nacional do tri-ccntenario de Camões; a inau-
tri-centenariode erro é uma gravitação — escreveu Victor Hugo
guração, na sala da bibliotheca da Academia Real no prologo de um dos seus livros de maior apre-
das Sciencias,
Sciencías, dos congressos intcrnacionaes
intci nacionaes lit- efleito, quem, ainda hoje, ou-
ço e renome. Com eíléito,
terarioc
terario e de antropologia prehistorica; a exposição Magdalcna?
saria lapidar Magdalena?
da arte ornamental e a exposição agrícola; a inau- D. Luiz poderá, repetimos, ter errado no go-
guração do caminho de Cerro (erro de Salamanca; a verno supremo da nação; mas o que ninguém
lei da reforma penal; a reunião das cortes consti- pôde com verdade negar, é que na sua obediên-
tuintes para a revisão da carta constitucional; e cia pelas leis, no seu interesse por todos os pro-
muitos outros factos de largo alcance moral e gressos e n'uma justa intelligencia da arte de rei-
material que nos abstemos
abstcinos de enumerar, por isso nar, tem sabido D. Luiz fazer da monorchia
monarchia por-
que não temos em mira escrever a historia cir- tugueza a mais livre e a mais serena da Eu-
cumstanciada do reinado de D. Luiz, ec apenas ropa.
registar a largos traços, os fructos
fruetos do seu muito Digam lá o que disserem, rouquejem, muito
zelo pelos interesses nacionaes. embora, com fúria os energúmenos da politica,
mas o certo, o que ninguém pode pôde negar é que
D. Luiz tem sabido, em circumstancias quasi quasí
Ainda assim nem sempre tem sido de com- sempre ditHceis,
diíHceis, conquistar a estima do paiz,
pleta e absoluta paz o reinado de D. Luiz. hoje respeitado ante as nações estranhas, admi-
Por vezes a ordem publica tem sofírido altera- rado pela dignidade e cordura com que 110 no meio
ções, mas felizmente de pouca gravidade
gravidadeee duração. das tempestades .desencadeadas na Europa se
Os principaes acontecimentos que n'esse
n^sse sen- tem conservado firme e tranquillo, estudando os
tido se tem dado, são os seguintes: meios de progredir e de se desenvolver; e o re-
Os tumultos no Minho em princípios de maio conhecimento doesta
(Testa verdade incontroversa faz
de 1862; a sedição militar, em Braga, do regi- com que o illustre soberano receba a homenagem
mento 6G de jnfanterio
infanteria em i5 de agosto do mesmo sincera e devotada de milhões de portuguezes,
anno; a agitação popular, por causa das leis de que se dedicam ás sciencias, ás artes, ao com-
administração civil e do consumo, e o movimento mercio, ád industria, á administração dos seus
de janeiro de 18GS.
18GS, que trouxe a queda do mi- bens e fazendas, ao trabalho honroso e honesto
nistério da fusão Martens-Fontes; a revolta em cm e que melhor do que ninguém avaliam e apre-
Bicholim cm
Richolim icj de fevereiro de 1870, do bata-
em itj ciam as"as indisputáveis vantagens que da paz pu-
lhão de infanteria, e seguida logo depois por ou- blica advém.
ò
8 O LIVRO DE OURO

Por sua generosidade, intelligence


intclligenciacc verdadeiro tre soberano de Portugal, ec iPessa
n'cssa curta convi-
desejo de promover a felicidade dos seus súbdi- vência tive ensejo dc de reconhecer que D. Luiz éc
tos, tem D. Luiz um logar distincto entre os mo- um grande protector das bellas artes, da indus-
narchas
narches reinantes. A sua politica bascia-se no tria e do commercio; um cultivador primoroso
louvável intuito de unir c estreitar quanto pos- da litteratura,
lítteratura, da musica, da pintura c das scicn-
seien-
sível os laços da família portugueza, c se nem cias exactas; um esclarecidissimo
csclarecidissimo espirito, ec um
sempre po tem conseguido, éc porque a força im- bonissimo coração. Estes dotes seriam a admira-
boníssimo
periosa das circumstancias subjuga o seu desejo ção ec o respeito de todos, se a Índole facciosa
ae acertar. dos partidos políticos os não adulterasse, para
Em presença do perigo D. Luiz soube sempre embaciar o seu brilho c dcsconceitual-o
desconceitual-o no animo
conduzir-se com sabia prudência ec mostrar-se d^qucllcs,
d^quclles, que, por habito, por interesse, ou por
digno da confiança da nação, offerecendo
oííerecendo a essa ignorância, são injustos.
confiança seguras garantias. O seu fim tem sido «O rei de Portugal ée mais acccssivel
accessivel do que
procurar o bem publico não só curando os males o presidente dc de uma republica. Quer se ache no
da patria,
pátria, mas também promovendo, quanto seu incompleto palacio
palácio cTAjuda, quer em Cintra,
caiba nas forças humanas, a sua prosperidade. quer na praia dc de Cascacs, grandes ec pequenos
Apesar da rectidão da sua conducta,
condueta, D. Luiz suo reccoídos ec ailávelmente
são reccoidos aílavelmcntc attcndidos
attendidos por
tem sido alvo de violentos ataques ec dc de morda- Sua Magestade, mostrando todavia uma perdoá-
zes censuras; o que afinal não é para estranhar. vel predilecção pelos homens scientificos, pelos
Nenhum funccionario, seja qual for fôr a sua ca- grandes artistas, pelos industriaes
industriacs illustraaos
illustrados ec
theçoría,
thegoria, pôde esperar uma approvação geral. por todos aquelles
aquellcs que tenham prestado serviços
Cada um quer que o Estado seja governado â relevantes cm em qualquer ramo uril útil á sociedade.
sua vontade; é esta a mania dos homens; ora, Raros são destes os que lhe tem sido apresen-
como o seu modo dc de pensar é tão variado como tados ec que se vão da sua augusta presença sem
as suas phisionomias,
phisionomías, já se vê vc que é impossível um penhor da sua magnificência ou um apertado
contentar a todos. O mesmo Jupiter, Júpiter, diziam os shakehands. E depois a illustração de Sua Ma-
pagãos, não pôde agradar a todos, sempre ha gestade é vastíssima. Poucos assumptos littc-
quem se queixe, quer dc de bom tempo, quer dc dê rarios, scientificos, economicos
económicos ou artísticos lhe
chuva: Ne Júpiter placei.
Jupiter quidem omnibus placet. são desconhecidos c nos quaes não possa revcllar
E demais, é impossível que o publico, que está, os seus muitos conhecimentos.
por assim dizer, na platéa do mundo, veja todas «Mas ha ainda pormenores dc de bem mais alta
as molas que fazem mover os bastidores a cada importância c interesse c são os seguintes:
mudança ac de seena
scena politica. «Na administração da casa real ha uma conta
Só a historia, no seu sombrio theatro anató- inteiramente separada, das esmólas,
esmolas, dos subsí-
mico, pôde, com verdade, ajuizar deciles, d^clles, illu- dios a escolas e a estabelecimentos de caridade
minando-os com cures brilhantes ou sombrean- e dc
de beneficência, de pensões a estudantes que
do-os com pesados negrumes. cursam tanto as academias nacionacs
nacionaes como as
«i- estrangeiras, e dcde casas pagas por El-Rci
EI-ReÍ a grande
úih numero de familías
famílias necessitadas. Em tempos or-
dinários, o conjuncto d'essa
d"essa despeza eleva-se,
cleva-sc,
Como homem, na sua vida particular
panicular conserva pelo menos á sexta parte da dotação real de cada
intactas as tradicções da austeridade materna. anno, ou lista civil.»
Das mães recebem os filhos o que aue ha dc
de mais Lá fóra
fora avalia-sc, pela forma transcripta, o ca-
firme, dc de mais profundo ec dcde mais duradouro no racter ec as intenções do rei de Portugal; aqui
seu caracter c nos seus sentimentos: de cabeça nem sempre tem conseguido ver rectamente apre-
erguida ec sem receio de protestos em cm contrario, ciados os seus actos, o que, todavia, se acha justi-
se pôde dizer que D. Luiz tem sido digno filho ficado ec absolvido por este velho proloquío
proloquio ge-
de
dc tão digna mãe. nuinamente nacional — ninguém é propheta na
Os títulos dc
de nobreza do seu animo generoso sua terra.
ce valcdor estão authenticados pela consideração
publica, c não carecem por isso de nenhum ou-
tro registro. O dcsvcllo
desvello com que cuidou ce cuida De D. Pedro V Y fez o primeiro talento da nossa
da educação de seus filhos; a protecção que de- terra, o sincero c imparcial elogio na singela
dica a todas as iniciativas uteis, quer pertençam phrasc denominou, 7hm
phrase com que o denominou. ^fom rapa\ chamou
á ordem material, quer digam respeito á intelle-
intellc- A. Herculano a D. Pedro V, a quem consagrara
ctual; são qualidades distinctas que o apresentam a mais sincera estima.
ce recommcndam
recommendam á consideração do paiz ec do D. Luiz não tem envergonhado a memoria do
estrangeiro. seu chorado irmão; c o povo, áâ semilhança do
Em um dos mais considerados jornaes francczcs
franeczes grande historiador, também o soube caracterisar
lemos nós ha pouco tempo a seguinte apreciação, n1uma curta c singclla
n\ima singella phrase,
phrasc, sem o sabor da
devida á sentenciosa penna pcnna de um dos illustrcs lisonja palaciana, chamando-lhc
chamando-lhe Topular. NVstc
membros do congresso Jitterariolitterario internacional simples cognome reside a expressão do voto ec -
que cm junho de 1880 se reuniu em cm Lisboa. do julgamento do actual reinante.
Ouçamos a voz insuspeita c desapaixonada
dd'essc
"'es se sábio eminente c distincto historiador
francez:
«Tive occasião de privar dc de perto com o illus- TYP. 1
Tvp, ;;
1 l*ev!P!asa
L»EVJPTàSA —
— Praça
Praça dos
dos Restauradores,
Restauradores, 5o
5o aa 56
56 —
— Lisboa
Lisboa
O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

c
Biographias dos personagens mais distinctos cm politica,
Hiographias
armas, religião, íettras, sciendas, artes, commcrcio,
lettras, sciencias, commercio, industria ce agricultura

ANNO I — VOLUME I PUBL1CACAO


PUBLICAÇÃO PARA PORTUGAL E BRAZIL JANEIRO — iiSB5
S85

gueza, ec D. Jacintha Ve
Venancia
nane ia Rosa da Cunha
Aníonio Maria
Aníonio Maria de
de Fontes
Fontes Pereira
Pereira de
de Mello
Mello Mattos.

A Regeneração — escrevia, ha dias, um pe-


riódico proclamando os serviços, que o grupo Fontes Pereira de Mello é viuvo. Um acaso
politico assim denominado tem prestado ao paiz: fatal parece ter querido prival-o de todos os cui-
— a regeneração é o progresso, é a cirilisação,
ciriiisação, dados ec de todos os aílectos,
afíectos, para que não ti-
acerescentando a esse período
é a lu\. Nós, accrescentando vesse outro amor que o do seu paiz, paiz. outros cui-
enthusiasta a aílirmativa de que o cavalheiro, de dados que os do estado.
oceupar íríeste
quem nos vamos occupar iTcstc artigo, tem sido Aproveitando esta circumstancia a voz publica,
a identificação, a unificação, a individualisação esse rumor vago que não tem imputação nem
(Teste grupo tão brilhantemente conceituado, fa-
d'este explicação, quasi todos os annos lhe attribuc um
zemos o elogio mais singelo e ao mesmo tempo enlace matrimonial, tendo sido indigitadas para
mais sincero e verdadeiro do homem politico que partilharem o seu thalamo conjugal as mais bel- bcl-
entre nós mais se tem distinguido na segunda las, as mais opulentas, ec as mais nobres damas
J
doeste século.
parte dVste * da sociedade portugueza.
avaliim bem, que se
Ha vultos que se não avaliam Cremos que o illustre estadista, sem rebeldia
não podem apreciar devidamente quando obser- ao suave influxo que rendeu Marte e humilhou
vados muito de perto, como as obras primas de Hercules, não sacrificará novamente nas aras de
estatuária; só em
pintura c de cstatuaria; cm distancia se ana- Hymineu emquanto
cmquanto se não divorciar da Divin-
rysam com justiça, a aproximação prejudica o
íysam dade que até hoje tem sido o alvo de todos os
juizo, escapam ao julgador as bellezas
juiz.o, bellczas do con- seus alfectos
atfcctos ec dc
de todos os seus extremos, a po-
perde-sc o mais bello eífeito
torno, perde-se efíeito das nuances.
uuances. litica.
Aos estadistas succede
succcdc outro tanto. Os con- Se acreditarmos os seus adversários, podemos
temporâneos exageram o louvor ec a censura. comtudo atfirmar
aflirmar com affouteza
aflouteza que os negocios
negócios
A penna
pcnna do adversário é guiada pela paixão, a do coração não lhe são de todo extranhos e não
aquella porém quasi
dos addictos pela sympathia; aquclla é menos feliz do que nos do estado: o certo éc
sempre predomina. Os ministros mais notáveis que nenhum outro orador tem a fortuna de attrahir
•— portuguezes — dos séculos xvn
— xvii ec xvm
XVJU conde auditório mais selecto ec numeroso áã galeria das
de Castello Melhor ec marquez de Pombal, foram camarás,
camaras, reservada ao bello sexo.
por isso mal apreciados pelos eescriptores
script ores do seu
tempo. O nome do segundo está hoje vingado
das injustiças dos coevos, mas o do primeiro S&
desempanado
ainda não surgiu completamente descmpanado
das sombras negras, com que o ennublaramcnnublaram os António
Antonio Maria de Fontes Pereira dc de Mello
amigos de D. Pedro II e os parciacs da rainha entrou na vida publica pelos portaes do estudo,
D. Maria Francisca. distinguindo-se brilhantemente nos cursos dc
de ma-
Fontes também só pela posteridade será de- rinha c de engenharia militar.
vidamente apreciado ec só a luz suprema da impar- Em iS51 o marechal Saldanha depois de ter
Fm 1851
cialidade desapaixonada -— ■— do futuro — ha de obrigado a abandonar os conselhos da coroa, o
pôr bem cm relevo toda a grandeza dVste
por <Tcstc dis- grupo denominado Cabralista, constituiu o pri-
licamos dispensados
tíncto estadista. Posto isto, ficamos meiro ministério a que se deu ce ao grupo dMnde
d^onde
do louvor ec da censura, por isso que o nosso sahiu. o nome de regenerador, e convidou-o a
sabiu.
biographicas,
único fim é agrupar aqui notas biographic as, para applicar o seu reconhecido mérito ec sapiente acti-
applícar
auetorisados julgadores.
guia de mais auctorisados vidade á gerência dos negocios
negócios públicos.

m
Se nós quizessemos fazer espirito cm vez de
Antonio Maria de Fontes Pereira de Mello,
António unicamente reunir aqui os apontamentos bíogra-
nasceu em
cm Lisboa aos 8 de setembro de íSiq;
1S i o; phicos de um vulto tão distincto e tão digna-
foram seus progenitores o conselheiro João de mente credor de figurar nas primeiras paginas
Fontes Pereira de Mello, ministro de estado Lino de Ouro, da fidalguia nacional, diría-
do Livro
honorário, distincto membro da marinha portu- seu nasci-
mos que um acaso feliz já presidiu ao sett
t

IO O LIVRO DE OURO

mento, por isso que vciu ao mundo no dia que a


sociedade christã denomina da ///,. lily.
Com cffeito António Maria de Fontes Pereira Promovido cm cm i83ç>
1839 aa tenente
tenente dede engenheiros
engenheiros
Com cffeito Antonio Maria de Fontes Pereira
de Mello tem
tem sido
sido umum verdadeiro
verdadeiro facho facho de de luz,
luz, ce pouco
pouco depois
depois despachado
despachado ajudante
ajudante efede ordens
ordens
de Mello
porque clle
porque cllc concentrou
concentrou cm cm si si ec nono partido,
partido, que que de
de seu pac, que então governava a província de
seu pac, que então governava a província de
o elegeu
elegeu por
por chefe,
chefe, todas
todas asas aspirações
aspirações de de liber-
liber- Cabo Verde,
Cabo Verde, oo moço
moço engenheiro
engenheiro propoz-sc
propo/.-sc estu-
estu-
o
dade que
dade que existiam
existiam já já palpitantes ee latentes
latentes em em dar com aqucllc
dar com aqucllc amor
amor cc cuidado,
cuidado, que
que tão
tão fecun-
fecun-
i85i, mas desaggregadas
1851, desaggrcgadas e sem força, nem ele- dos fructos
dos fruetos produzira
produzira nas nas aulas,
aulas, osos meios
meios de de
mentos para se traduzirem em cm factos. engrandecer ce fazer
engrandecer fazer prosperar
prosperar as as colonias
colónias cc os os
Fontes Pereira de Mello foi por muito tempo tres annos
tres annos queque decorrem
decorrem de de i83p
i83q aa 1842
1842 cm
cm que
que
aa encarnação
encarnação do do partido
partido liberal,
liberal, maismais avançado
avançado regressou áá metrópole
regressou metrópole foram
foram por
por clle
cllc empregados
empregados
em levantar
em levantar as as plantas
plantas dos
dos principals
principaes portos
portos dodo
ec mais
mais correcto,
correcto, cc por por isso
isso viu
viu condcnsarcm-se
condensarem-se
cm torno
em torno decile
d\:llc todos
todos os os elementos
elementos aa que que acima
acima archipclago, fazer o estudo cconomico
archipelago, económico de cada
nos referimos,
nos referimos, elementos
elementos que que dMllc
d^elle receberam aa uma das
uma ilhas cc da
das ilhas da Guiné,
Guiné, descrever
descrever em impor-
em impor-
unificação, dando-lhe
unificação, dando-lhe em cm troca
troca aa forçaforça queque re- re- tantes relatórios
tantes relatórios essas
essas possessões
possessões cc osos elementos
elementos
sulta da unidade.
de que careciam
dc que careciam parapara prosperar,
prosperar, ao ao mesmo
mesmo tempo
tempo
Fontes, porém,
Fontes, porém, não não tem
tem só só defendido
defendido nos nos que planeava dilíerentes
dificrentes obras punha outras em cm
campos parlamentares
campos parlamentares os os princípios
princípios liberaes;
liberaes; oo via de
via de execução,
execução, merecendo
merecendo entreentre estas
estas men-
men-
seu amor da causa
seu amor causa do do progredimento
progredimento humano humano cionar-sc o Hospital
cionar-sc Hospital da da Misericórdia
Misericórdia na na cidade
cidade
atfirmou-sc em
alfirmou-se cm tenra edadc cdade ec em cm pugnas mais da Praia de
da Praia Cabo Verde,
de Cabo Verde, devido
devido aos
aos esforços
esforços do do
perigosas. A
perigosas. A aurora
aurora da da liberdade
liberdade raiandoraiando em cm notável estadista.
1820 encontrou-o no berço, mas a grande cam-
panha que estabeleceu no nosso paiz definitiva-
mente oo regimen
mente regimen liberal,
liberal, aa campanha,
campanha, que que con-con-
cluiu pelo
pelo tratado
tratado de de Évora
Évora Monte, nMssa ntssa tomou
tomou Regressando á Europa cm 1842, correu logo
cluiu
cllc
clle já parte; porque em cm i3 de agosto de 1833, i833, aa matricular-se
matricular-sc no
no curso
curso dcde astronomia
astronomia dada Escola
Escola
com quatorze
quatorze annos
annos incompletos,
incompletos, sentava sentava praçapraça Polytcchnica, que não
Polytcchnica, não completou,
completou, porque
porque duas
com
de guarda
guarda marinha
marinha para para servir
servir aa causacausa liberal.
liberal. perdas suecessivas cc dolorosas
perdas succcssivas dolorosas lhe
lhe estiolaram
estiolaram no
no
de
Ivcsta
Fresta carreira, que foi outriora outrora a fonte do coração o amor aos trabalhos escolares.
coração o amor aos trabalhos escolares.
engrandecimento, da riqueza c da gloria de Por-
tugal, haviam
haviam já já brilhantemente
brilhantemente militadomilitado seu seu pac,
pac, -1 -
tugal, ÍÚ
Í1'2
o conselheiro João de Fontes Pereira de Mello,
que era
que era ministro
ministro de de estado
estado honorário,
honorário, tendo tendo re- re- a
gido Em Cabo Verde
Em Cabo Verde desposára
desposara aa sr.
sr.a D.
D. Maria
Maria
ido aa pasta
pasta de de marinha,
marinha, um um tio,tio, ec outros
outros mem-mem-
Joscpha de Souza, filha do negociante António
bros
ros de sua familia. Joscpha de Souza, filha do negociante Antonio
Na famosa
famosa batalha
batalha naval
naval do do GaboCabo de de S.S. Vi- de Souza Machado.
de Souza Machado. EstaEsta dama
dama fallcccu
fallcccu pouco
pouco
Na i-
cente, ferido
ccntc, ferido no no dia
dia 1111 de
de outubro
outubro de de 1833,
i833, re- re- depois
depois dodo regresso
regresso áá Europa,
Europa, sendo
sendo aa perda
perda da
da
cebeu o moço guarda marinha o baptismo do esposa
esposa cm curto espaço
cm curto espaço aggravada
aggravada pela
pela única
única fi-
fi-
fogo. lha, que o matrimonio lhe dera.
lha, que o matrimonio lhe dera.

-JÉS.
Dissemos acima que o nosso biographado assi-
gnalára brilhantemente a sua passagem pelos Em 1844 tendo
Em 1844 tendo afogado
afogado no intimo d'alma
110 intimo d^lma as as
seientificos; convém
cursos scicntificos; convêm demonstral-o.
dcmonstral-o. dores
dores pungentes
pungentes cc talvez
talvez cicatrisado
cicatrisado as as feridas
feridas
Durante o estudo na Academia Real de Ma-
rasgadas pela prematura
rasgadas pela prematura morte
morte dada esposa
esposa ec da
da
rinha, Fontes foi premiado no primeiro ec segundo filha, Fontes regressou
filha, Fontes regressou aoao bulício
bulício do
do mundo
mundo en-en-
anno dMquellc
anno d\iquclle curso,
curso, cc no
no terceiro,
terceiro, não
não havendo
havendo trando sob aa presidência
trando sob presidência dd\im vulto também
Mm vulto também dis-
dis-
premio, teve apnrovação distincta.
tincto para os
tincto para os trabalhos
trabalhos geodésicos,
geodésicos, onde
onde se
se dis-
dis-
Quer dizer obteve todos os prémios ordiná-
tinguiu brilhantemente, prestando
tinguiu brilhantemente, prestando relevantes
relevantes ser-
ser-
rios, mas
rios, mas por
por decreto
decreto dede ]8o3
i8o3 comcom oo fim
fim dede viços a esse ramo então tão pouco
viços a esse ramo então tão pouco conhecido conhecido
incitar o amor ao estudo d d'csta
1
esta arma especial ainda do
ainda do saber
saber humano.
humano.
fora crcado
fora creado umum premio
premio extraordinário
extraordinário destinado
destinado
aa galardoar
galardoar oo mérito
mérito excepcional.
excepcional. Em Em 1837
1837 alcan-
alcan-
çou Fontes
Fontes este
este premio
premio especialíssimo,
especialíssimo, queque sósó ti-
ti- J»
çou
vera occasião de ser dado tres vezes no decurso
i83/. E a^ora que
E a^ora que vamos
vamos apresentar
apresentar Fontes
Fontes sobsob oo
de 32 annos — de i8o5 a ]83/.
Já aa este
Já este tempo
tempo Fontes
Fontes — — ec dcsignamol-o
dcsi«namol-o seu aspecto de
seu aspecto estadista, acabaremos
de estadista, acabaremos de vez com
dc vez com
assim, porque
assim, porque éé este
este oo nome
nome que que no
no baptismo
baptismo os seus titulos
os seus titulos honoríficos,
honoríficos, que
que são:
são:
da popularidade a voz publica lhe dá; a este Ministro
Ministro dc de estado,
estado, fidalgo
fidalgo da
da real camará,
real camara,
tempo não satisfazia a sua ambição de saber com
general de engenheiros, grã-cruz de
general dc engenheiros, grã-cruz dc todas as todas as
os conhecimentos
os conhecimentos que que podia
podia obter
obter na
na Academia
Academia ordens portuguezas, cavalleiro
ordens portuguezas, cavallciro dc
de Tosão
Tosão dcde Ouro,
Ouro,
de Marinha c por isso seguia o curso professado gra-cruz
gra-cruz de de Isabel
Isabel aa Catholica,
Catholica, cc dc
de Carlos
Carlos III,
III,
na Academia
na Academia de de Fortificação,
Fortificação, que que pouco
pouco depois
depois de Hcspanha, de Leopoldo da Bélgica,
de Hespanha, dc Leopoldo da Bélgica, de Leão de Leão
se converteu
se converteu em cm escola
escola do
do exercito,
exercito, passando
passando Nccrlandcz dos
Ncerlandez dos Paizcs
Paizes Baixos, ete, etc.,
Baixos, etc., ete, etc.,
ete, ec
cm seguida
em seguida para
para oo corpo
corpo de
de engenheiros,
engenheiros, ee nMste
n^cste sócio de
socio de grande
grande numero
numero dc de sociedades
sociedades litteranas
luteranas
curso alcançou também tres prémios. e scientificas.
seientificas.
O LIVRO DE OURO

É o vulto mais notável da nossa politica con- cortes discu-


nal da Carta Constitucional que as côrtes
temporânea. Exceptuando
Exceptuahdo a pasta da justiça, tiram e appro
approvaram i83-2.
varam em 18Õ2.
tem sido encarregado da gerência de todas as Em 3o de agosto d'estc anno foi creado o
outras. Actualmente preside ao ministério e tem ministério das obras publicas e o primeiro mi-
a seu cargo a pasta da guerra, que tem sido a nistro que referendou os trabalhos doesta secre-
sua favorita. taria foi Fontes Pereira de Mello, sendo tam-
bém elle quem assignou o decreto ordenando
a construcção da primeira linha ferreaférrea que se
construiu no paiz e foi de sua indicação a creação
de ensino agrícola.
das quintas ae agricola.
A carreira politica do actual presidente de Por esta occasiuo
occasião deu Fontes um golpe mor-
conselho de ministros é larguíssima e dillicil- tal no agiotismo nacional levantando no estran-
mente pode ser compendiada no pequeno espaço geiro um empréstimo, pelo qualciual o Banco de Por-
de que dispomos; e por isso teremos apenas de tugal exigia um bonus
bónus elevauissimo.
elevadíssimo.
cifrar n'uma simples nomenclatura chronologica
as suas relações com a historia publica do paiz.
A revolução do Minho mais vulgarmente co-
nhecida pela denominação popular de Maria da
ã

Fonte, cncontrou-o
encontrou-o no posto ciede tenente de enge- Fontes conservou-se no ministério apesar de
nheria; tomou
tornou parte activa nas operações milita- todas as recomposições que se deram depois de
res como ajudante de ordens do marechal duque i85i
1851 e pôde dizer-se que a elle deve Portugal
dc Saldanha e n'esta
de n'csta qualidade prestou relevan- ter entrado na senda ao do progresso e ter levan-
tes serviços tia causa da rainha procedendo de tado o seu credito no extrangeiro, para cujo fim
forma que se tornou credor das seguintes pala- o ministro se dirigiu em iSdd
i8o5 a Londres e Pa-
vras proferidas a seu respeito pelo velho mare- rfesta ultima cidade foi convidado por
ris, onde ifcsta
chal — que o tenente Fontes Pereira de Mello Napoleão III para um jantar no paço.
sempre merecera os maiores elogios e o feliz re- Um dos fructos
fruetos d'esta
doesta viagem foi a cotação
sultado do ataque dc de Torres Vedras lhe fora de- Stek-Exchatige, co-
dos_ fundos portuguezes pelo Stek-Exehauge,
vido em parte; porque elle marechal se aproveitara tação que o Stock sempre sc se recusara fazer.
d'um reconhecimento feito por aquelle official.
oflicial.
Hm 1848 foi eleito deputado ás cortes, pela
Em
província de dc Cabo Verde, sendo muito contes- *>i~
tada na camara
camará a eleição; porque elle teve dc de de-
fendel-a calorosamente logrando derribar os seus A 6 de junho de i856
iS5ô findou o primeiro pe-
adversários, que eram dos homens mais consi- ríodo da governação do ministro Fontes, succe-
suece-
derados então na segunda casa do parlamento, dendo-lhe o ministério presidido pelo marquez
D. José de Lacerda, Albano Caldeira Pinto, de Loulé, que se conservou no poder
poder até i85<>
António
Antonio Vicente Peixoto. tendo no deputado Fontes Pereira de Mello o
De 1848 a 1851
i85i tomou parte cm em todas as dis- mais ínportuno e tenaz adversário, devendo com-
cussões importantes que se travaram na camara camará tudo notar-se que elle prestou sempre homena-
electiva. gem ao merecimento dos seus mais encarniçados
Em 1I85I
S31 fez parte da commissão encarregada inimigos, cm todas as epochas da vida. Ainda
de formular as melhores bases para que os actos días confirmou esta verdade referin-
ha poucos dias
cleitoraes fossem o mais livremente exercidos: do-se ao illustrc orador pregressista Antonio
António
rriestes
nestes trabalhos collaborou
collnborou com Rodrigo da Cândido.
Candido,
Fonseca Magalhães e Alexandre Herculano.
A 17 dcde julho d'este mesmo anno entrou pela Ú::
primeira vez para o governo, sendo encarregado
pelo marechal duque da pasta da marinha, a que Em 161C de março de iSõqiSõo entrou novamente
reuniu pouco^
pouro depois a da fazenda. A força dc de para o ministério sendo-lhe distribuída a pasta
vontade de Fontes Pereira de Mello e a energia do reino. Este ministério demittiu-se em 20 de ju-
c sabia experiência de Rodrigo da Fonseca Ma- lho de i860.
18G0.
galhães operaram prodígios durante esta dicta- A 4 de setembro de i865186o foi encarregado no-
dura. Os seus principaes fructosfruetos foram os se- vamente da pasta da fazenda, no ministério cha-
guintes: definição dos direitos litterarios, cuja mado da Fusão,
Pusão, resultado de accordo entre parte
iniciativa pertence ao eminente escriptor visconde do partido histórico ce do regenerador. Este gabi-
de Almeida Garrett; construcção de estradas nete rccompoz-se
recompoz-se emcm maio de 1S66 iS<36 e conser-
em grande numero; regulamento para o provi- vou-se no poder até 1868. Durante este periodo
mento de cargos públicos; regulamento da alfan- dedicou-sc especialmente Fontes a dar ínstrucção
instrucção
dega^ do Terreiro Publico, regulamento da Bulla Bulia militar ao exercito, sendo creado o campo dc de
da Cruzada, creação do Conselho Ultramarino, a manobras, que apesar de todas as accusaçues,
aceusaçues,
reforma do Supremo Tribunal de Justiça, o regu- 3ue lhe tem sido dirigidas, todavia ninguém pôde
lamento da Misericórdia,
.Misericórdia, do Hospital de S. José uvidar que foi uma creação indispensável dc de
e annexos, do Asylo da Mendicidade ec Casa Pia, que o exercito tem colhido excellentes e profícuos
a reorganisação
reorgani sacão da Academia das Sciencias
Sei ene ias e a resultados.
do Arsenal do Exercito, finalmente o regula- O desenvolvimento da arma de artilheria, a
mento consular, e foi elaborado o acto addiccio- , adopção dos canhões Krupp, o desenvolvimento
12 O LIVRO DE OURO

da arma de cavallaria ec da engenheria


cngenheria ec do ser- dito e um ministro habilissimo, que poderia facil-
viço de saúde militar devem-se principalmente a mente desbancar dos seus columnellos gloriosos
elle. Machiavello e Taleyrand, se gerira os negocios
negócios
d "um grande império em vez de governar a nau
d\im
d'um
dMm pequeno estado, foi por assim dizer seu
mestre e modelo. São conhecidos os seus admi-
Em 5 de janeiro de 1870 foi elevado ao pa- ráveis recursos para esmagar ou desnortear os
riato, e Teste
n'estc mesmo anno prestou talvez o mais adversários encommodos; sabe-se sabe-sc como elle le-
relevante serviço ao seu paiz, inutilisando a insis- vava um interpellador impertinente a confessar-se
tência do governo hcspanho!
hespanhol na candidatura do vencido. O systema de quebrar os oculos, óculos, para
sr. D. Fernando, conforme declarou D. Fernan- evitar a leitura d'uns
(Tuns documentos
cfocumentos espinhosos
des de los Rios, no seu livro — <fV//
õ\ii mission em teve fama no parlamento. Pois o discípulo des-
■Portugal.
'Portugal. bancou o mestre. Fontes não recorre a essas
Jicelles,
ficelles, triumpha sempre, esmaga os adversários
d'uma lógica de ferro. Os seus
sob a pressão diurna
argumentos são irrespondiveís. N'elle N^lle não ha
A i3 dcde setembro de 1871 constituiu-se novo appellações para a honra, esse supremo recurso
ministério regenerador, tendo Fontes pela pri- do orador vulnerável; para elle ha apenas as
meira vez a presidência e as pastas da guerra ec conclusões lógicas duma serie de theoremas
fazenda. Este ministério demittiu-sc
demittiu-se em 3 de assentes sobre as allegaçõcs
allegações dos contrários.
março de 1877. — Desde então passou o governo Ora ironico,
irónico, ora coercivo, ora zombeteiro, ora
por difíerentes
differentes grupos politicos,
políticos, sendo'
sendo o pro- lancinante, ora gracioso, ora pungitivo,
pungitiro, ora li-
gressista que mais tempo conseguiu sustentar-se. songeiro, ora fulminante, Fontes éê um athleta
songeíro,
1881 que o poder está outra vez nas
Desde 188! da palavra no parlamento portuguez.
oceupa,
mãos do partido regenerador, que se occupa, O discurso corre-lhe espontâneo; as mais pro-
sob a direcção de seu illustrc chefe de realisar fundas considerações surgem-lhc
surgem-lhe dos lábios sem
as reformas politicas, quaes são a revisão da esforço e como que sem reflexão. A oração não
constituição, organisação da carnara
camará dos pares e êé Telle
n^lle uma arte; parece apenas uma manifesta-
a reforma do exercito (já decretada). ção verbal das mais reconhecidas verdades. Elle
vence e convence.
Em 1880 por exemplo, o ministério pregressista
pretendia fazer passar a lei que estabelecia o
income tax entre nós; muitos oradores haviam
Antonio Maria Fontes Pereira de Mello .Mello tem dissertado sobre a proposta de fazenda, porem porém
especial tacto para escolher quem o acompanhe. o único por assim dizer que teve as honras de
Adversário leal ec compassivo depois da victo- um verdadeiro acontecimento foi o do sr. Fon-
ria. oniciaes
ria, empenhou-se e conseguiu que os ofticiaes tes Pereira de Mello, proferido na camaracamará alta
separados do quadro do exercito, e denominados em 2 de março d'aquelle
d^aquelle anno.
«de Évora Monte» fossem encorporados no mi- Esse discurso, que eê um verdadeiro primor, tem
nistério da guerra e tivessem um logar na mesa sido considerado um dos melhores que tem sido
do orçamento ao lado dos seus antigos cama- proferidos Taquclla
n\iciuella casa do parlamento e na opi-
radas. nião dos julgadores mais conspícuos dá a medida
Esta medida desagradou a muitos, que não justa do quanto vale o grande talento, a grande
podiam esquecer as antigas rivalidades e no qua- experiência e a grande habilidade d'este
doeste estadista,
dro tristissimo
tristíssimo d'esscs
d'esses desgraçados sem pão, se sem duvida o mais notável de Portugal moderno.
compensavam de passados soíírimentos.
soíTrimentos. As almas O seu nome anda vinculado a tuao tudo quanto
ciuanto de
generosas e liberaes não acompanhavam esses mais valioso ce importante se tem realisado no
sentimenros egoistas e applaudiram a lembrança
sentímenros seu paiz nos últimos trinta annos. Caminhos de
de Fontes como um acto de equidade. ferro, tclegraphos eléctricos, codigos
códigos civis e mi-
Assim apresentou também cm em j853
i853 ás cortes litares, codigo
código penal, constituição de estado, em
o projecto de revogação completa do monopolio
monopólio tudo Fontes tem collaborado.
do tabaco e sabão, a que chamou o único dos Contando sessenta e seis annos de edade, cé
privilégios odiosos que a restauração de 1833 i833 em tudo um talento juvenil, commandando como
não aboliu. As côrtes
cortes approvaram o projecto ninguém uma batalha em qualquer das duas Ca- ca-
unicamente na parte relativa ao sabão. marás.
maras.
Accusam-o de esbanjador aquclles
aquelles que imagi-
n
£3,
nam que se pôde colher sem se semeiar; mas o
que é certo éê que Fontes, com o seu systema
politico, com o seu tacto governativo, é o esta-
Umas das feições mais pronunciadas de Fon- dista que maíor
maior prestigio tem no paiz e que tem
tes é a sua supremacia de orador fluente e re- conseguido formar mais duradouros e mais for-
flectido. Elle deslumbra pelas scintíllações
scintillações do tes ministérios.
espirito ao mesmo tempo que acabrunha os adver- O seu maior elogio consiste em dizer que o
sários com o peso de conclusões valiosas e irres- seu nome éê conhecido e considerado em toda a
pondiveis. Europa.
Toda a gente sabe que o orador cê também um
artista. Rodrigo da Fonseca Magalhães, um eru- Typ.
TVP. Elzevirian*
ELZEVMUNA — — Praça
Praça dos
dos Restauradores,
Restauradores, 5o
5o ?.
?. 56
56 —
— Lisboa
Lisboa
/3

O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

e
Biograp/iias dos personagens
Idiograplrias personagem mais distinctos
dlstinctos em politica,
armas, religião, lettras, sciencias, artes, commercio, industria e agricultura

ANNO 1 — VOLUME I PUBLICACAO


PUBLICAÇÃO PARA PORTUGAL E
K BRAZIL FEVEREIRO — iS85
)8S5

interesses da communidade. Um individuo, por


JOSÉ LUCIANO
JOSÉ LUCIANO DE
DE CASTRO
CASTRO ser livre, não tem o direito de se conservar an-
alphabeto,
alphabcto, ainda mesmo que queira entranhada-
Entre
Kntrc a plêiade de homens distinctos, que ul- mente pertencer á sombria legião d'essas dessas almas
timamente teem atravessado as regiões do po- sem sol e sem ideal: a primeira obrigação do
der, ditlici!
diilicil será encontrar individualidade mais homem livre cé não ter vontade que se opponha
pronunciada, caracter mais viril c mais firme ás leis liberaes, além de que na guerra ãá igno-
nos seus princípios, mais rebelde ao sacrifício rância, esta
está o interesse do individuo e o da so-
das suas convicções e ao mesmo tempo um es- ciedade.
pirito mais esclarecido ec illustrado, do que o do José Luciano de Castro, com um olhar que
cavalheiro de quem vamos dar hoje a lume al- bem se pódc
pôde dizer de aguia,
águia, abrangeu o paiz e
suecintas notas biographicas.
gumas succintas comprehcndcu que o egoismo popular impclle-o
comprehendeu impcllc-o
José Luciano de Castro tem deixado, como para a ígnorancía
ignorância voluntária; por isso que de-
os meteoros igneos,
ígneos, um rasto luminoso ec fe- cretou o ensino obrigatório, por meio do recen-
cundo por todas as regiões que tem atraves- seamento das crcanças
creanças de 0 a 12 annos, sujei-
sado: nas escolas, no foro, no jornalismo, nas tando a multa as infracções. Elie Ellc viu que as au-
camarás
camaras e nas cadeiras ministeriaes. Aos Aos' seus thoridades nada poderiam fazer, se a vigilância
actos como membro do poder executivo nin- do cumprimento d'esta d^sta lei não fosse exercida
guém pódc
pôde duvidar que presidiu sempre a me- cm cada uma freguezia; por issò
em isso regenerou as
lhor, a mais liberal intenção. juntas de parochia, creou os delegados paro-
As propostas de lei que foram submettidas chiaes, as juntas escolares, e interessou os pro-
ao poder legislativo e referendadas por José Lu- fessores na íiscalisação
fiscalisação da lei, dando-lhes as gra-
lci,dando-lhcs
ciano de Castro, levaram todas o cunho do mais tificações de frequência.
aturado estudo. Essas propostas não foram des- Para que tudo se podesse rcalisar teve de au-
tinadas a armar ao efícito,cfteito, a produzir illusões,
illusõcs, thorisar um imposto parochial — o de 3 p. c.
mas concebidas c meditadas á luz da inspiração sobre as contribuições geraes do estado, o que
do progredimento civilisador c cuidadosamente éc uma insignificância, mas que chega para pre-
elaboradas para que produzissem effectivãmente
eíTectivãmente encher cabalmente os fins a que cé destinada.
os fins a que visavam. Este foi comtudo um dos escolhos onde a lei
Entre outras citaremos as Íeis leis conhecidas sob correu c corre o risco de naufragar; porque mais
o titulo de — Leis da Jnstrucção —, cujos ef- directamente alfecta o sentimento a que acima
feitos eram impedir a existência possível d'um nos referimos — o egoismo popular.
analphabeto em todo o paiz. Sc
único analphabcto Se essa lei Não se pôde duvidar que tudo isto revelia um
cf feito, se contra cila se teem le-
não produziu effeito, grande espirito de observação ec um attilado es-
vantado hostilidades ce protestos, se em grande tudo, e tão bem estudado ce observado foi todo
pane províncias nunca mesmo chegou a ter
parte das provindas este machinismo, que na mais decidida boa von-
execução, nem a culpa provem, provem da lei, nem a tade de o conseguir ainda não logrou destruil-o.
responsabilidade d'ella
d^clla se pódc lançar ao minis- Referimo-nos especialmente a esta lei, porque
tro que a apresentou c que tão calorosamente a é uma das mais importantes e meritórias, senão
deífendeu.
delfcndeu. aquclla que melhor accentua e .caracterisa
aquella caractcrisa as
A reacção contra essa lei, que, todavia, não brilhantes faculdades do illustre jurisconsulto c
foi ainda derogada nem o será tão cedo — por- distincto homem de estado.
que é diilicil apresentar-lhe uma substituição Estamos convencidos que se José Luciano de
profícua ec exequível
cxequivel—; —; essa reacção provem Castro houver de discutir qualquer lei destinada
do egoísmo popular e partidário, que c, infeliz- a substituir a sua, entregar-sc-ha talvez a algum
mente, uma das feições mais salientes do nosso daquelles arrebatamentos, que os seus detracto-
d'aqucllcs
povo, apesar dos ruidosos exemplos em contra- res lhe censuram. Na confecção das leis do en-
rio, quando qualquer calamidade aflligc povoa- sino poz elle não só todo o seu talento, mas
ções do paiz ou do estrangeiro. todo o seu coração, toda a sua alma de enthu- cnthu-
Apesar cTcssa
dVssa singular contradicção, aliasaliás mui- siasta c de apostolo fervoroso da mais nobre ce
to frequente na natureza humana, o egoísmo, egoismo, re- sympathica de todas as causas sociaes — a da
petimos, popular c partidário é que protesta con- instrucção.
ínstrucção.
tra as sabias leis de 2 de maio c (>0 de junho. O en- E pondo remate n'estan'csta divagação, filha do
sino obrigatório não c, não representa nenhum amor da justiça e da imparcialidade com que
ataque á liberdade individual, porque esta não pretendemos apreciar todos os cavalheiros, cujos
tem, não pôde ter o direito de compromettcr
comprometter os nomes virão successivamente
suecessivamente honrar as paginas
IH
14
'4 O LIVRO DE OURO

do Livro de Ouro, entremos directamente no as- sendo-lhe conferido o mandato eleitora!


eleitoral pelos
sumpto. eleitores do concelho de Feira, Estarreja e Ovar,
que então constituíam um circulo eleitoral, e me-
recendo na sua estreia parlamentar os sinceros
applausos da imprensa ec dos collcgas
collegas os mais
José Luciano de Castro viu a luz do mundo distinctos.
na nobre cidade de Aveiro, berço illustre de
tantas notabilidades politicas ec litterarias, entre
cjuaes citaremos apenas o fallccido mas nunca
as quaes
olvidado orador e patriota José
Jose Estevão Coelho Em i856
i85(5 e 185-7
i857 collaborára com o grande li-
de Magalhães. beral António Revolução
Antonio Rodrigues Sampaio na Ppvolução
Dizia-sc antigamente que Roma era a cidade
Dizia-se de Setembro, porque Sampaio sympatbisava com
do privilegio, porque n'clla
nVlla se encontravam as o animo francamente enérgico e leal do talentoso
mais prodigiosas maravilhas «farte,
dVirte, n'ella
rfella ha- deputado pela Feira e via n'elle
n\:lle um varonil def-
viam nascido para a vida e para a fama os mais fensor dos princípios que ellc
elle tão profundamente
notáveis talentos e não havia grandeza que cila apreciava.
não possuísse ou não excedesse. Pois se é mérito Por esta occasião
occasiao publicou um volume intitu-
illustres e distinctos, n^esse
ser berço de homens iliustres n^essc o/l questão das subsistências, que nVssa
lado c/J n^ssa
sentido Aveiro não deve invejar a Roma, por- época era o objecto de todas as attenções dos
que grande numero de notabilidades de Portu- homens que pretendiam figurar no plano da po-
gal antigo e moderno d^alli
d^lli se alaram ás excelsas litica e conquistar a notoriedade publica. Este
regiões da gloria e do renome. livro não causou sensação, apesar de ser escri-
pto com notável critério, demonstrar pronun-
ciado espirito de observação e conter dados
&s muito valiosos e apreciáveis.
José Luciano de Castro, entrou no mundo vi-
tal a 14 de dezembro de i83q,1834, e cm
em 1848, isto "***
JSSÍL
é, tendo apenas 14 annos, entrou no mundo
scientifico matriculando-se no i.° anno jurídico
scicntifico
na Universidade de Coimbra, e formando-se na Em 1858,
i858, achando-se no Porto e não bas-
mesma faculdade a 11 de julho de 1864, 1854, quer tando a occupar
oceupar a grande actividade do seu es-
dizer, levando de seguida o curso aspérrimo de pirito, fez parte da redacção do Commercio do
Direito, sem perder um único anno; isto quando 'Porto,
Porto, collaborando também seguidamente no
os ardores da idade adolescente mais impulsam Jornal do Torto.
Porto.
ócios e folguedos que para as cancciras
para os ocios canceiras Em 18Õ9
1809 appareceram as suas c/ínnotaçoes
o/lnnotações d
do trabalho e da meditação. legislação da imprensa, trabalho consciencioso e
Mas isto não basta para mostrar o quanto a intelligente, publicado em folheto, rfaquella
n^quella ci-
sua mocidade foi honesta e discreta. h1 mister
discreta, 1-/ dade, e que bastaria só por si a dar-lhe reputa-
dizer que formando-se aos 20 annos incomple- ção de jurisconsulto abalisado e político
politico emi-
tos na faculdade de direito, saía da Universidade, nente.
onde não é fácil conquistar triumpho e renome,
mercê do nuclco
núcleo brilhante que fórma
forma pela abun- éfó
dância de capacidades de toda a ordem, —- — já
com créditos de homem superior, distincto pelo Desde a sua entrada na vida activa da poli-
estudo, pela fluência extrema, pela energia in- tica poucas vezes tem estado o parlamento or-
domável da sua palavra, pela tenacidade inven- phanado da sua presença.
cível da sua argumentação. Como vimos, foi pela vez primeira eleito
1854; dois annos depois recebia
deputado em 1804;
novamente o mandato eleitoral pelo mesmo
circulo, saindo em i858 do parlamento por ter
No jornalismo politico figurou brilhantemente camará de que fazia parte.
sido dissolvida a camara
José Luciano de Castro, tendo começado a sua Em 1861 foi novamente eleito deputado por
carreira redigindo o Observador, em Coimbra, e Villa Nova de Gaia; em j865J8()5 recebeu outra vez
depois o Conimbricense, que substituiu aquelle. o mandato por este mesmo circulo; em 1867
Em JJ8Ô2
802 entrou para a redacção do Campeão foi eleito simultaneamente por Vianna do Cas-
do Vouga, precursor do Campeão das Provin-Provín- tello e por Aveiro; em 1870 repetiu-se o facto
cias, nt-sse mesmo anno pelo nosso bío-
das, fundado n'esse bio- e de então para cá cd tem sempre representado
craphado e pelo sr. Manuel Firmino de Almeida
graphado aquelle circulo até á ultima eleição, em que ob-
Maia, ainda hoje proprietário e redactor princi- teve o suffragio
suííragio quasi unanime dos eleitores de
pal d'aquella folha,
pald^aquella que segue defendendo o credo
folha,aue Anadia.
politico do seu fundador. Como deputado fez parte de diversas com-
missões nas quaes teve de relatar propostas im-
-XZi
«✓svtxí portantíssimas, taes como a do codigo
código civil, a da
lei hfpothecaria,
hypothecaria, a da fundação de banco de cre-
A 3 de dezembro de íSõq
1804 o moço doutor re- dito hypothecario,
nrpothecario, e outras de não somenos im-
cebeu mais uma consagração do seu talento, portância.
A
/

O LIVRO DE OCRO
OCR O «a
o

Entre
Entre as as medidas
medidas ee reformas
reformas propostas
propostas por por
este ministério durante
este ministério durante oo biennio
biennio da da sua sua exis-exis-
Em i8f>3
iS63 foi nomeado director geral dos Pró- tência (i8G()-i87o) figuram
tência (1869-1870) figuram as as seguintes,
seguintes, umas umas
prios Nacionaes,
Nacionacs, que
que éc uma
unia das
das repartições
repartições mais
mais das quaes
das quaes foramforam logologo postas
postas em em execução,
execução, ou- ou-
importantes do Ministério da Fazenda ec onde o tras não chegaram a ser discutidas em conse-
serviço quência da surpreza de 19 de maio:
serviço éc mais
mais árduo
árduo ec consequentemente
consequentemente mais
mais
cjual foi admittido no
Reforma penal, pela qual
aturado.
paiz o systema penitenciário, já cm em execução
W cm muitas
em muitas nações
nações da da Europa,
Europa, sendo sendo aa principal
principal
ma
a ttclgica,
Bélgica, que a esse tempo era a nação mo-
Em 1SG7 casou
Em 1SO7 casou em em Anadia com aa Ex.
Anadia com Snr.aa
Ex.ma Snr. delo.
D. Maria
D. Maria Emilia
Emília de de Seabra,
Seabra, filha
filha do
do abalisado
abalisado Está provado que o isolamento dos condem-
jurisconsulto o sr. conselheiro Alexandre de Sea- nados ec em
nados em geral
geral dosdos presos
presos éé uma uma medida
medida mo- mo-
bra, dama muito
bra, dama muito respeitada
respeitada pelas
pelas suas
suas virtudes
virtudes ral,
ral, util útil ee eminentemente
eminentemente salutar. salutar. O O systema
systema
ee de
de quem
quem encontrámos
encontrámos aa seguinte
seguinte apreciação
apreciação então em
então em pratica
pratica — — ce que que apesar
apesar da da legislação
legislação
devida áá penna
devida pcnna d\imd\im mimoso
mimoso cstylista
estylista ce distin-
distin- reformadora ter mais de quinze annos continua
cto professor*. —
cto professor: — «senhora
«senhora que
que allia
allia os
os mais
mais ainda em
ainda em exercício
exercício — — de collocar cm
de collocar em contacto
contacto
bcllos ec elevados
bellos elevados dotes
dotes do
do coração,
coração, que
que consti-
consti- o preso
o preso preventivamente
preventivamente por por uma uma suspeição,
suspeição,
tuem uma
tuem uma virtuosa
virtuosa ee boa
boa mãe,
mãe, ásàs opulentas
opulentas ri-ri- que oo processo
que processo muitas
muitas vezesvezes destroe,
destroe, com com oo la- la-
quezas da intelligencia,
intclligcncia, que são apanagio
apanágio dos drão confesso e o assassino
drão confesso e o assassino convicto, o inexpe- convicto, o inexpe-
espiritos superiores.» riente ee oo infeliz
riente infeliz com
com oo larapio
larapio de de profissão
profissão ec oo
D'este consorcio
D'este consorcio nasceram
nasceram duas
duas meninas,
meninas, que
que vadio por
vadio por habito,
habito, éé perniciosíssimo
perniciosíssimo ee justifica
justifica oo
fazem o encanto da existência de José Luciano titulo de — escola do crime — que se tem dado
de Castro c que nas felicidades ce alegrias do áá cadeia.
cadeia. O O que
que d'aqucllcs
dVquelles antrosantros não não sac sac cor-
cor-
lar lhe
lhe balsamisam
balsamisam as as feridos
feridas produzidas
produzidas pela
pela rompido ec apto
rompido apto para
para oo crime,
crime, sae sae pelo
pelo menos menos
ingratidão e pela malevolencia. fructosfruetos agros ec eivado de vícios, VíCIOS, que se o não lançam mais tarde
venenosos, que fartamente vigoram nos campos no abysmo
no abysmo da da extrema
extrema degradação,
degradação, lhe lhe enchem
enchem
da politica. aa existência
existência de de amarguras
amarguras ee oo prejudicam prejudicam nas nas
ais relações sociaes
Foi este
Foi
sociacs e no conceito geral. ^
este contagio
contagio brutalbrutal cc anti-civilisador
anti-civilisador que que
José Luciano
José Luciano de de Castro
Castro pretendeu
pretendeu remediar;
remediar; ce aa
Em 1868
1S68 fundou em Lisboa, de parceria com subsistência da
subsistência da legislação
legislação — — apesar
apesar de de terem
terem
um dos
dos mais
mais brilhantes
brilhantes ornamentos
ornamentos dodo foro
foro lis-
lis- passado por
passado por ella
cila tantas
tantas paixões
paixões politicas
politicas que que no no
bonense, oo dr.
dr. Alves
Alves dada Fonseca, um um jornal
jornal paiz muitas vezes
paiz muitas vezes anniquillam
anniquillam tudo tudo quanto
quanto ha ha dede
que
que êc uníco
único no
no seu
seu género,
género, oo qual
qual tem
tem mere-
mere- bom
bom ee de de util
útil —— prova
prova de de sobejo
sobejo aa solidez
solidez d'essed'essc
cido
cido oo applauso
applauso dosdos entendidos
entendidos ec éc tão
tão apre-
apre- notável trabalho.
ciado que
que diflicil
diflicil se
se torna
torna encontrar
encontrar umum exem-
exem- Acompanharam essa reforma, a do processo
plar
plar áá venda.
venda. Esse
Esse jornal
jornal chama-se
chama-se O O Direito,
'Direito, criminal e a das fianças, dignas cgualmcnte de
ec é,
é, como
como dissemos,
dissemos, oo único
único periódico
periódico forense
forense applauso.
que se publica no paiz. A extineção
A extineção da da relação
relação commercial
commcrcial foi foi 'pelo
pelo
menos
menos uma* uma' reforma
reforma util útil no
no sentido
sentido economico
económico
ee ainda
ainda atéaté hoje
hoje se se não
não produziu
produziu um um únicoúnico cla- cla-
mor contra
mor contra aa rcducção
reducção aa uma uma só só instancia
instancia das das
A 11 de agosto de 1869 1SC9 foi nomeado ministro duas relações commercial
duas relações commcrcial ec eivei; civcl; oo que que prova prova
da justiça,
justiça, sendo
sendo oo gabinete
gabinete presidido
presidido pelo
pelo fi- que era
que era ociosa
ociosa aa despezadespeza que que sc se fazia
fazia com com
nado duque de Loulé, então chefe do partido aquelle tribunal.
histórico, ee queque sobremaneira
sobremaneira apreciava
apreciava os os mé-
mé- O regulamento do
O regulamento despacho dos
do despacho dos juizes
juizes de i.a
de id
ritos ec talentos
talentos dodo illustre
illustrc deputado.
deputado. Cahiu
Cahiu este
este ee 2d2.* instancias
instancias ee delegados
delegados para para as as Ilhas,
Ilhas, eraera
ministério em cm 1870 em virtude do movimento uma necessidade
uma reconhecidíssima, mas
necessidade reconhecidíssima, mas que que mi-
mi-
militar dirigido pelopelo marechal
marechal duque
duque de de Salda-
Salda- nistro algum se decidira a estabelecer.
nha, movimento conhecido
nha, movimento conhecido na na historia
historia contem-
contem- A reforma
A reforma da da dotação
dotação episcopal
episcopal ce dos dos cabi-
cabi-
porânea pelo nome de — cmbuscada embuscada de 19 de dos ee aa reforma
dos reforma dos dos bispados
bispados vagosvagos foram
foram tam- tam-
maio. bém emprezas arrojadas
bém emprezas arrojadas de de que
que se se saiu
saiu com com ha- ha-
Durante aa sua sua collaboração
collaboração no no poder
poder execu-
execu- bilidade.
tivo cm 1.869-1870,
tivo cm 1S69-1870, JoséJosé Luciano
Luciano de de Castro
Castro pro-
pro- Mas
Mas o o que
que nemnem os os mais
mais pertinazes
pertinazes adversá-adversá-
vou que se
vou que se não
não sese avantajasse
avantajasse áâ maioria
maioria dos
dos rios tecm podido
rios teem podido abster-se
abster-se de de admirar
admirar ee louvar,louvar,
homens de
homens de mais
mais nomeada
nomeada do do seu
seu tempo
tempo por
por me-
me- éé oo relatório
relatório que que precedeu
precedeu todo todo esteeste conjuncto
conjuncto
recimentos especiaes,
recimentos especiacs, facilmente
facilmente conquistaria
conquistaria essa
essa de reformas
de reformas ce innovações.
innovações. Ha Ha n'esse
n'esse trabalho
trabalho aa
proeminência, pelo seu entranhado amor ao tra- rcvellação de um enorme cabedal de conheci-
balho
oalho ec pela
pela actividade
actividade ec fecundidade
fecundidade —- — virtu-
virtu- mentos analysados
mentos' analysados e por por assim
assim dizer dissecados
des pouco
pouco vulgares
vulgares nosnos tempos
tempos que que vão
vão cor-
cor- com um
com um talento
talento pouco
pouco commum,
commum, diremosdiremos mesmo mesmo
rendo. excepcional.
É difficií
diflicil incluir
incluir n'um
n'um artigo,
artigo, tão
tão rápido
rápido como
como
este, todas
todas as as providencias
providencias por por ellc
ellc adoptadas,
adoptadas,
as quaes
quaes sc se encontram
encontram publicadas
publicadas cm em um
um vo-
vo-
lume intitulado
intitulado Droridencias
Providencias mais mais importantes Em 187S, achando-sc
Em 1878, achando-se enfraquecidos
enfraquecidos osos dois
dois
do <£Ministério
^Ministério da Justiça em iSG9. iSCg. partidos que faziam
partidos que faziam opposiçao
opposição politica
politica ao
ao par-
par-
i6 O LIVRO DE OURO
OCRO

tido regenerador — o reformista, capitaneado quem condemne o melhor governo. Nenhum go-
fallecido bispo de Yizeu,
pelo faílecido Vizeu, e o histórico, de verno até
ate hoje conseguiu obter uma approvação
approvacão
que era chefe principal o brioso duque de Loulé. geral e absoluta.
— tratou-se de fusionar esses elementos disper-
sos, n\ima forte communhão
sos. unindo-os n'urna communhãode de con- **>.
^•í-3
dições e tendências opposicionlstas.
opposicionistas.
No paiz existia, se não tão pronunciada como
hoje. comtudo já bastante visível, a aspiração Depois da queda do gabinete progressista em cm
para differentes reformas que se não podiam ad- 1881, José Luciano de (lastro
Castro tem figurado em
diar. afíírmar
todas as sessões legislativas e podemos affirmar
José Luciano de Castro, sendo encarregado que tem figurado brilhantemente.
pelos dois grupos políticos de elaborar um pro- Dos seus antigos arrebatamentos nada tem
gramma que despertasse a attenção ec attrahisse transparecido ali ultimamente e se era nuvem
as sympathías
sympathias populares para o novo partido, que lhe obscurecia uma merecida gloria e um
apoderou-se de todas essas aspirações ec synthc- justo preito, essa nuvem parece ter-se dissipado
tisou-as «''esse
n^sse famoso documento, que teve a completamente.
fortuna e o poder de interessar profundamente Já depois de cahir o gabinete de que fez par-
todo o paiz e que é conhecido pela denomina- te, José Luciano tornou a cooperar vivamente
ção de program
programma ma do partido progressista ou para rehabilitar no paiz o credito ec a populari-
vulgar e abreviadamente por est'outra:
essoutra: pacto da dade do partido de que é um dos mais vigorosos
Granja. caudilhos.
O mote, o conceito d'esse programma, são A opinião publica mostrava-se
mostrava-sc pouco favorá-
trez palavras e que bastaram só por si para gal- vel ao grupo que não traduzira em factos to-
vanisarem as energias nacionaes: essas trez pa- das as promessas do seu programma; era mis-
lavras são:—Tolerância, Economia e Morali- ter galvanísar
galvanisar essa opinião. Lsse choque deu-o
dade. José Luciano de Castro apparecendo, em colla-
Foram, podemos assegural-o, essas trez pala- boração com os dirigentes do seu partido, na
vras e o programma que se lhe seguia, as re- famosa promessa das reformas politicas, cuja
formas que n'elle
n^elle se promettiam, a causa prin- paternidade lhe éè attribuida.
cipal do advento do partido progressista á ge- É inútil demorarmo-nos insistindo sobre a in-
rência dos ncgocios
negócios públicos; do alvoroço com d'csta promessa; ella foi tal que o chefe
fluencia d'esta
que foi acolhido por todo o paiz; da animação perfilhal-a ec
do partido adverso se viu forçado a pcrfilhal-a
com que os eleitores correram á urna nas elei- sabe-se como o sr. Fontes procurou n'essa oc-
ções seguintes; da maioria quasi absoluta que o casião o accordo dos partidos, para qiíe
qiie não vies-
governo obteve sobre a opposição surprehen- surprehcn- se a terreno a disputa de preferencias sobre o
dida. e emfim da confiança que nos primeiros direiro de realizar essas reformas.
direito
tempos o paiz mostrou na gerência do gabinete
presidido pelo sr. Braamcamp. A mola secreta
que fez operar todos estes prodígios movera-a **á?
um só homem — José Luciano de Castro.
Como ministro do reino produziu, entre ou-
tras propostas de menos vulto, — a reforma do Como orador José Luciano de Castro .possue
código rchabilitou as juntas
codigo administrativo, que rehahilítou dotes pouco communs e muito invejáveis. A fluên-
de parochia da tutella ecclesiastica, dando-lhes cia e concisão allia prosodia
prosódia admirável que é
autonomia e jurisdição; a reforma eleitoral que cousa rara no parlamento nacional; á força de
conferiu o direito de votar a todos os chefes de raciocínio reúne a clareza de exposição e as con-
família
familia e cidadãos que saibam ler, alargando as- tao fulminan-
clusões accodem-lhe expontâneas e tão
sim o uso dos direitos politicos;
políticos; — ec as leis da tes como o raio, que illumina e fulmina.
instrucção a que já no começo cTestc cTeste artigo nos
referimos, medidas todas liberaes e honrosissi-
mas para o ministro que as apresentou em cm cor- <5«t
tes.
Ficaram ainda muitas outras em cm elaboração,
e que tinham sido incluídas no programma da Para concluirmos só duas palavras:
Granja, taes são a reforma do jury, a dotação José Luciano de Castro está ainda na força da
do culto e do clero, e outras. vida e no vigor da íntelligencia;
íntelligcncia; pôde prestar rele-
Se compulsarmos os jornaes adversos ao ga- vantes serviços ao paiz e cremos que hade pres-
biographado
binete, de que fez parte o nosso bíographado tal-os, quando a chamada rotação constitucional
tendo a gerência da pasta do reino, póde-se ad- dos partidos o levar de novo ás eminências do
mittir que a pratica divergiu bastante do que poder. O paiz só pôde desejar duas cousas: éc
lôra estabelecido theoricamente no programma.
lora que esse ministro d então conserve a serenidade
Sobre este ponto nada diremos. Quando uma de
ae animo e seja tão prestadio á nação, como é
nação se acha dividida em cm partidos, cada um excellente família.
cxcellente chefe de íamilia.
diflerente modo para as operações mi-
olha de difíerente mí-
nisteriaes. Se é certo que toda a administração,
por muito má que seja. acha adherentes e apo-
logistas, também ée innegavel que nunca falta TVP. Elzeviruna
Tvp. EuEvutUNA —— Praça
Praça dos
dos Restauradores,
Restauradores, 5o
5o aa 56
56 —
— Lisboa.
Lisboa.
/<f

O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

<BÍographias
13iographias dos personagens mais distinctos em politica,
armas, religião, lettras,
armas, religião, leííras, sciettcias, artes, commercio,
sciencias, artes, cominercio, industria e agricultura
industria e agricultura

ANNO I — VOLUME I PUBLICAÇÃO PARA PORTUGAL E BRAZIL FEVEREIRO — 1885


i885

que de direito lhe pertenciam, c serviço rele-


0 CONSELHEIRO
0 CONSELHEIRO JOAQUIM
JOAQUIM PEITO
PEITO DE
DE CARVALHO
CARVALHO vante que a Imprensa e a Politica nos deviam
reconhecer. Nós pelo menos assim o entende-
(ACTUAL governador
(actual GOVERNADOR civil
CIVIL de
DE lisboa)
LISBOA) mos, ee por por isso
isso damos
damos hojehoje ingresso
ingresso ao ao conse-
conse-
lheiro Joaquim Peito de Carvalho n'esta J-Testa galeria,
Que aa imprensa
imprensa atravessa,
atravessa, ao ao declinar
declinar do do pre-
pre- onde cabecabe assento
assento áá virtude,
virtude, ao ao talento,
talento, áá sabe-
sabe-
sente século,
século, oo período
periodo mais
mais esplendido,
esplendido, mais mais po-po- doria, áá actividade,
actividade, áá intelligcncia,
intelligcncia, ou ou outra
outra qual-
qual-
deroso
deroso cc mais mais opulento
opulento da da suasua existência,
existência, èê um um quer qualidade briosa c digna da consideração
facto incontroverso, que
facto incontroverso, que todos
todos vemos,
vemos, ee que, que, por
por geral.
assim dizer, dizer, todos
todos sentimos.
sentimos. Este íntegerrimo
integerrimo caracter,
caracter, que que bembem merece
merece
Verdadeira alavancaalavanca do do progresso,
progresso, excedendo
excedendo ser assim denominado, tem sido uma das de-
cm
em força força ao ao olvmpico
olympico Zeus, Zeus, ellaella tem
tem oo poderpoder monstrações mais evidentes do que deixamos
creador de de Jehovah:
Jchovah: opéra opera do do seu
seu throno
throno ethe-ethe- dito. Maravilhosamente
Maravilhosamente dotado dotado pela
pela natureza
natureza dc de
rco concepções maravilhosas;
reo concepções maravilhosas; arranca arranca do do barro
barro qualidades moraes distinctissimas, não podia dei-
bruto do do obscurantismo
obscurantismo aa partícula
partícula onde assen- assen- xar
xar de de encontrar
encontrar detractores
detractores n'uman\ima sociedade
sociedade
tou domicilio uma
tou domicilio uma scentelha
scentelha do do génio;
génio; levanta-a
levanta-a onde abundam
onde abundam fatalmente
fatalmente os os pygmcus
pygmcus de de moral
moral
ãs
ás regiões que sô ás ãs aguias
águias c dado cursar. ee de
de intclligencia;
intclligencia; motivo
motivo porque
porque durante
durante algum
algum
Todavia, attingindo o apogeu do poderio pela tempo viu
tempo viu cerradas
cerradas contra
contra eUccite as
as fileiras
fileiras de
de certa
certa
influencia moral, moral, deixou-se
deixou-se tomar tomar da da vertigem
vertigem fracção da da imprensa
imprensa periodica.
periódica. Felizmente
Felizmente oo gi- gi-
commum a todos que se remontam alem dos gante nãonão succumbiu,
suecumbiu, oo luctador
luetador nãonão se se acobar-
acobar-
meios vulgares:
meios vulgares: essas
essas allucinações
allucinações traduzem-se
traduzem-se dou
dou;. oo missionário
missionário não não aflrouxou
afírouxou no no prosegui-
prosegui-
na parcialidade apaixonada
na parcialidade apaixonada com com que,que, especial-
especial- meríto
mento da da sua
sua missão,
missão, aoao contrario:
contrario: seguiu
seguiu firme
firme
mente a imprensa periodica, periódica, exerce hoje a sua cc audaz
audaz no no cumprimento
cumprimento do do seu
seu dever,
dever, pres-
pres-
missão. tando serviços relevantes c logrando ver mais
EiVectivamemc.
EiVcctivamente. é diílicil diflkil encargo descortinar tarde nos
nos seus
seus braços
braços os os que
que anteriprmente
anteriormente oo
como
como éé que que esta
esta sacerdotisa
sacerdotisa modernamoderna sacrifica
sacrifica procuravam com as armas na mão. K E este sem
nas
nas aras aras da da Verdade
Verdade ee da da JuJustiça tão frequentes
stiça tão frequentes duvida oo seu
seu principal
principal titulo
titulo dede gloria;
gloria; masmas nosnos
vezes
vezes aa vemos vemos ser ser injusta
injusta ee menos
menos verdadeira.
verdadeira. capítulos subsequentes ver-se-haver-sc-ha que não é o
É
É que que no no festim
festim fraternal
fraternal lançou
lançou aa Politica
Politica um um único.
trago do do seuseu amaríssimo
amarissimo fel, fel, trago
trago queque envene-
envene- O LUTO de
O Urro de Ouro,
Ouro, franqueando-lhe
franqueando-lhe as as suas
suas pa-
pa-
nou todos os manjares. ginas, nobilita-se
nobilita-se cc cumpre
cumpre aa sua sua nobre
nobre missão.
missão.
E
E tão vulgar ee tão
tão vulgar tão manifesto
manifesto cc o o facto, que as
facto, que as
reconsiderações também são numerosas. Este,
que foi
que foi algum
algum tempo
tempo idolo^é
idolo^c em em seguida
seguida feitofeito
pedestal e votado ao ostracismo, porque se re- No período
periodo calamitoso das guerras fratricidas
conheceu que que sósó os
os interesses
interesses partidários
partidários lhe lhe ha-
ha- suecessão - tornou-se notável um
chamadas da successão
viam insuflado alguma
viam insuflado alguma importância;
importância; aguelle aguelle queque corpo que
corpo que apparecia
apparecia como
como se se fõra
fora um
um cvclonc
cyclonc ec
fora votado ás
fora votado ás gemonias
gemonias éc reconhecido
reconhecido cm cm se-se- que por
que por onde
onde passava
passava semeiava
semeiava em em torno
torno oo ter-
ter-
guida com com direito
direito aa ser levado
levado ao ao capitólio
capitólio ee aa ror, o espanto e a morte: era o batalhão
ror, o espanto e a morte: era o batalhão de La- de La-
decretarem-se-lhe
decretarem-se-llic as honras cívicas para justa mego. Dir-se-hia que
mego. Dir-se-hia que nas
nas veias
veias d'aquelle
dViqucllc punhado
punhado
revindicta. Todavia, oo reconhecimento
revindicta. Todavia, reconhecimento publico publico do do de
de valentes corria oo sangue
valentes corria sangue dos dos bravos
bravos habita-
habita-
erro e respectiva penitencia
erro e respectiva penitencia c menos frequente ê menos frequente dores dos
dos Herminios,
Hcrminios, que que fizeram
fizeram parar
parar no
no vuo
vuo
do
do que que aa repetição
repetição dos dos factos,
factos, queque vimos
vimos enu-enu- audacioso as as atrevidas
atrevidas aguias
águias romanas.
romanas. Não tar- tar-
merando.
dou que este
dou que este batalhão
batalhão ganhasse
ganhasse uma uma fama
fama tal,tal,
Vingar as as victimas
victimas das das injustiças
injustiças da da mais
mais po-
po- que bastava
que bastava nomeal-o,
nomeal-o, para
para espalhar
espalhar oo pânico
pânico
derosa de de todas
todas asas potencias
potencias do do mundo
mundo moder-moder- entre
entre osos adversários,
adversários, ee ainda
ainda hojehoje dizer
dizer filho
filho dede
no;
no; salvar
salvar do do aflrontoso
ailrontoso naufrágio
naufrágio aa reputação
reputação Lamego equivale a dizer homem brioso, inteme-
cc oo mérito
mérito dos dos bons
bons ee dos dos prestantes,
prestantes, éé renderrender rato, aguerrido,
rato, aguerrido, dotado
dotado dcde virtudes
virtudes masculas
másculas ee
aa essa
essa mesma
mesma potencia
potencia um um serviço
serviço relevante.
relevante. animo sereno e recto.
Próprio, ec muito,
Proprio, muito, êè porpor certo
certo este
este logar
logar para
para Estas são também
Estas são também as as qualidades
qualidades maismais caracte-
caracte-
vingar as victimas que ejue a politica faz. em detri- rísticas do conselheiro Joaquim Peito dc de Carva-
mento da da imparcialidade
imparcialidade ec rectidão,
rectidão, queque deviam
deviam lho, qualidades provadas
lho, qualidades provadas cmcm muitos
muitos actos
actos dada sua
sua
ser eternamente
eternamente apanagios
apanágios da da imprensa.
imprensa. Levan-Levan- vida; ee inútil
inútil será
será portanto
portanto dizer
dizer que éé filho dc de
tar aqui sobre
tar aqui sobre umum pedestal
pedestal de de justas
justas proporções
proporções Lamego, aonde nasceu
Lamego, aonde nasceu aos
aos 22 22 dede dezembro
dezembro de de
mo
aquellcs que que asas paixões
paixões partidárias
partidárias ec os os compro-
compro- i836
1836 da união conjugal do cx.mo sr. Joaquim
missos políticos
políticos deprimem
deprimem ee derribam derribam dVutros,
d'outros, Peito de Carvalho,
Peito dc Carvalho, bacharel
bacharel formado
formado em em direito,
direito,
/

iS
iS O LIVRO DE OURO

com a ex.ma sr.a D. Emilia


Emília da Motta Azevedo, am- celho cabeça de districto originou uma subleva-
bos já
jã fallccidos.
fallecidos. ção popular pouco mais ou menos como a da
grère dos
aos carreteiros, occorrida recentemente no
Porto, aggravada aili
alli por não ser unicamente
uma classe que se sublevou, mas sim a collecti-
Logo nos sens
seus primeiros annos provou a cir- vidade dos moradores varões do concelho. Não
cumspecção c seriedade de caracter que jamais encontraram porém aaquellcs
que lies revoltosos a tibieza
desmentiu depois e que lhe tem grangeado nu- e frouxidão com que se procedeu na segunda
merosas sympathias e dedicadas afleições,
affeíções, mes- cidade do reino, mas empeceu-lhes os desatinos
mo entre as pessoas que primeiramente lhe mos- o secretario do governo civil, que, encontrando
travam maior animadversão. Quando a idade faz no valente capitão de caçadores 3 Thiago Ri-
o homem folga são e o impelle
impeite para os prazeres cardo de Sousa um auxiliar valioso pelo denodo
encerrava-se cllc a estudar c era entre os livros
cnccrrava-se clle ce brio, subjugou e submetteu pela força os amoti-
que encontrava as suas mais gratas e apra- nados.
ziveis Kra o desvanecimento da fa-
zíveis distracções. Era Se attentarmos principalmente a que tão im-
mília e dos estranhos o desenvolvimento e a ap» portante facto se deu quando Peito de Carvalho
plicação intellectual
intellcctual do joven estudante. Desde a ainda não estava temperado pela experiência,
escola auçuravam-lhe um futuro brilhante e li- nem do cargo nem dos annos, não podemos dei-
bravam n clle as suas mais lisongeiras e entra- xar de admirar o desassombro com que desem-
nhadas esperanças. O horoscopo
horóscopo não foi men- penhou o seu dever, sempre espinhoso quando
tido. tem de curnprir-se recorrendo á ultima ratio,
O afan com que procurava instruir-se tão pro- que éd o argumento brutal da polvora
pólvora ce das ba-
fícuos resultados deu. que lhe franqueou as por- las.
tas da Universidade anno e meio antes de haver
completado a idade legal para o ingresso n'a- W
quclla academia.
Continuando no regímen
regimen que se havia im- Não teve muito tempo para repousar: logo
posto, fez succcssivamentc
suecessivãmente os exames annuaes em
cm seguida o districto foi sobresaltado por um
da faculdade de direito e concluiu a sua forma- suecesso
successo monstruoso c que encheu de indigna-
tura cm
em 11 de junho de i856. não tendo ainda ção toda a gente honesta. O delegado do procu-
completado os vinte annos, que só fez em 22 de rador régio na comarca de Santa Martha Manha de
dezembro seguinte! Penaguião, dr. Seixas, que gosava gera geraes
es sympa-
Quer dizer, era já formado na faculdade que thias, fora cobardemente assassinado, e ás po-
tem por dever ser a mais instruída e que pede voações da comarca estavam profundamente
mais severo e aturado estudo, quando os da sua impressionadas, e temiam-se represálias sanguino-
idade se gastam em orgias nocturnas e se inuti- lentas, que naturalmente iriam ferir innocentes;
lisam em passatempos estereis.
estéreis. porque o povo quasi sempre escolhe as suas vi-
Raro exemplo digno de meditação n^estes nVstes de- ctimas consoante as suas antipathias ec não con-
ploráveis tempos que vão correndo, c em que forme a justiça indica.
tudo são apparencias e exterioridades! O secretario do governo civil co!locou-se
collocou-se im-
mediatamente áà frente do poder judicial n'esta
questão, e dirigindo as investigações e as inqui-
u*
ws rições com um tacto especial, bem depressa fez
reconhecer os criminosos, tendo então de supe-
Não tardou muito que os poderes públicos públicos rar terríveis dificuldades
ditficuldadcs para concluir a sua
aproveitassem as faculdades preciosas do cio moço missão, que era apoderar-se dclles
missão,que d^lles para os fazer
doutor: consagrados dois annos ao descanço de punir.
tão seguido exercido
exercício nas arenas escolásticas, em Succedcu que estes pertencessem a uma famí-
maio de 1838
i8f>8 foi despachado delegado do pro- lia das mais ricas c influentes da localidade. Sa-
curador régio para a comarca de Castello Branco, be-se
be-sc quanto ée' dillicil,
ditlicil, nas povoações sertanejas
não chegando a tomar posse d'este
d'estc logar por pre- principalmente, arcar contra as influencias eleí- elei-
ferir a carreira administrativa, pelo que em ju- toraes e contra as relações poderosas, que for-
nho do anno seguinte foi nomeado secretario ge- mam então uma especie
espécie de circulo em torno do
ral do governo civil de Mila
Vi lia Real, onde serviu funecionario,
funccionario, que pretende fazer cumprir a lei,
dois annos governando o districto quasi todo o tornando-se-íhe até perigoso pretender
tornando-se-lhe dillicil c ate
tempo por se dar impedimento successivo
suecessívo do penetrar no rijo escudo que protege os delin-
respectivo governador. quentes. Quantos funccionarios
funecionarios não teem visto
a sua carreira latalmente
tatalmente cortada cm consequên-
cia de pretenderem triumphar em pugnas dTsta d esta
vacitlado e sacrificado
ordem; quantos não teem vacillado
a justiça ao seu interesse particular periclitante,
Teve logo ensejo de provar as brilhantes qua- cm tacs!
em casos toes!
lidades que o recommendam para chefe de um Não era porém
porem de tal tempera a alma do se-
districto, a energia indomável e a actividade cretario do governo civil de Villa Real: quanto
sciente ce consciente. mais elevadamente collocados estavam os crimi-
A contribuição directa da repartição lançada nosos, maior obrigação lhe corria
corna de os perse-
pela camara
camará que então geria o município do con- guir e alcançar, e...
c.\ . e assim o fez, sem de ma-
O LIVRO DE OURO 19
'9

neíra
ncíra alguma attender as âs consequências que po-
dia occasionar a sua resolução.
Quer dizer: triumphou do mais perigoso es- Ate 1871 conservou-se o conselheiro Peito de
Até
colho que podia encontrar na vereda do funccio- Carvalho ausente da vida burocrática, porém
porem
nalismo publico! n^ste anno a sua reconhecida aptidão para a ge-
n'este
A descoberta de uma quadrilha de salteado- negócios administrativos levou-o no-
rência dos negocios
res, que infestavam as cercanias de Mila Villa Real, vamente ao cargo de secretario geral do distri-
tendo â frente um facínora temido pelos repeti- cto de Évora, onde o decidido amor da justiça
dos crimes que commettera,
com m et terá, foi também um dos e a paixão de cortar abusos lhe inspiraram a fa-
mais valiosos serviços feitos ao districto, ser- mosa syndicancia áâ Misericórdia d'aquella ci-
viço que foi prestado com grave risco de vida. dade.
O chefe da quadrilha exercia o mister de mar- Doesta syndicancia.de que existe impresso um
DAsta
chante nas proximidades da villa da Cumieira.
Cumicíra. documento valioso, o relatório respectivo, resul-
Ordenada a captura ao administrador do conce- tou o reconhecimento de grandes dilapidações,
lho e ao regedor da parochia, cada um d'estes doestes commettidas
com met tidas por dois empregados, que foram
se recusou com receio do malvado, que já conta- demittidos e processados.
demittídos
va cinco accusações
aceusações de homicidio
homicídio e devia vender De maneira que a passagem d'este notável
cara a liberdade a quem pretendesse tomar-lhV
tomar-lh'a. funecionario éè assign
funccionario assignalada
alada sempre pelos mais
Não sofíria
soffria o animo do secretario que um fací- nobres actos de justiça.
d1esta ordem continuasse livre e portanto
nora dVsta
foi pessoalmente dirigir a captura, e só á propria
própria •*!*'
coragem e perícia no jogo das armas deveu rea- • LWL
lisal-a a salvo, pois teve de luctar
luetar com o assas-
sino, que se defendia armado com um machado, michado, Em janeiro de 1872 foi promovido a governa-
que o secretario lhe fez saltar das mãos com um nador civil do districto de Leiria, cargo que exer-
bote de espada! ceu durante sete annos.
Esperavam-o aqui os maiores dissabores da
sua vida publica, em consequência da guerra te-
naz, sem tréguas e por muitas vezes profunda-
Em i860
1860 foi exonerado do logar que tão pro- mente desleal que lhe moveu o partido progres-
ficientemente exercera, sendo ainda a sua exone- auc conta íMiquelle
sista, que n\iquelle districto numerosas
ração devida a um acto de hombridade digno de sympatnias. Outro menos enérgico teria infalli-
todo o elogio. Tratava-se da eleição de depu- velmente succumbido
suecumbido perante as aleivosias e as
tados e pelo circulo do Peso da Régua propu- aceusações
accusações miseráveis e as insinuações calum-
nha-se deputado de opposicão o actual director niosas que quotidianamente inseriam os periódi-
dos correios, conselheiro Guilhermino *de Rar-
de Bar- cos addictos ao partido, que o combatia. Peito
ros, cuja candidatura foi recebida com raro en- de Carvalho, porém, recebia os ataques cobar-
thusiasmo pelos eleitores. O governo pretendia des, violentos e traiçoeiros dos seus adversários
guerrear a eleição e suppoz encontrar no secre- com inperturbavel
ínperturbavcl aplomb. Como as rochas alte-
tario de Mila
Villa Real um dos dóceis apparelhos da rosas que defrontam com o oceano são muitas
machina eleitoral; soífreu
soffreu porém o desaponta- vezes salteadas pelas ondas, que lhe passam so-
mento de aquelle digno funccionario
funecionario se negar a bre, sem todavia as dominarem, antes pelo con-
combater um candidato que os eleitores rece- trario lhes caem em seguida aos pés,pês, humilhadas
biam com tanto alvoroço e enthusiasmo. A sua e desfeitas; assim o governador civil de Leiria
exoneração foi pois decretada e não éê por certo iniqua que lhe
affrontava a opposicão imbelle e íniqua
um dos seus menos valiosos títulos de gloria e moviam os espíritos mesquinhos, incapazes de o
honra. avaliarem, e ia prestando os valiosos ce relevan-
N\:sse
N'esse mesmo anno e decorrido apenas um tes serviços, que hão de tornar sempre lem-
mez foi nomeado para idêntico logar no distri- brado e saudoso o seu nome no districto e es-
cto de Leiria, onde serviu onze mezes, sendo crever indelevelmente a historia da sua adminis-
em seguida transferido para o de Manna
Vianna do Cas- tração.
tcllo, cargo qne
tello, que resignou por ter a sua familia Foram estes especialmente:
aberto guerra, no Douro, ao governo que oc- — A criação d\im
cTum corpo de policia civil, o
cupava então o poder: raro exemplo de pondu- primeiro que se organisou nos districtos do reino,
norosa delicadeza e lealdade politica. depois dos das cidades de Lisboa e Porto;
A fundação do asylo districtal de expostos e
abandonados, com sédesede na villa de Alcobaça, e
no que foi coadjuvado pelas principacs
principaes pessoas
da localidade;
Recolheu então a Lamego, onde tomou parte A fundação do hospital de Nossa Senhora da
activa na vida politica da província, fazendo parte Nazareth, destinado a receber os enfermos da
do centro regenerador, dirigindo em parte as lu~lu- localidade e os romeiros que ali concorrem .em
locar em 1864, conquistando
ctas que tiveram logar grande numero por occasião das afamadas festas
então merecida popularidade, principalmente en- populares, que teem logar ali todos os annos;
tre as classes laboriosas, que o acompanhavam A restauração do palacio,
palácio, casa de recepção
dedicada e cegamente em todas as conjuncturas de esmolas e outras ollicinas
oílicinas da Real Casa da
dilliceis e arrojadas.
dillíceis Nazareth;
20
■20 O LIVRO DE OURO

O aquartelamento
aquartela mento militar para cavallaria c in- junta geral do districto a approvação da verba
fanteria terraplenamento ec
faritcria na mesma villa, e o tcrraplenamento necessária para o augmento do corpo de policia
aformoseamento do largo cm em frente da egreja de um novo com-
civil; fazendo acertada escolha dc
ec palacio,
palácio, podendo dizer-sc
dizer-se que a villa renasceu missario muito iliustrado
illustrado e sympathico; dcmit-
demit-
ao sopro
sopro vivificador
vivificador dodo illustre
illustre governador
governador ci- ci- tindo ce punindo justificadamente alguns
ateuns mem-
vil. bros d"essa corporação; restabelecendo o registo
Foi d'egual
cTcgua] importância por certo a cataloga- dos serviçacs e regulando este serviço; toman-
ção ec classificação do archivo d^aquclle
d^aquelle histórico do acertadas providencias acerca da lotação
estabelecimento, da reforma da sua cscriptura-escriptura- ec illuminação dos theatros; diminuindo conside-
çáo
ção ec contabilidade, encontrando-se hoje tudo ravelmente a mendicidade das ruas, e continuará
ali com uma regularidade e aceio que éd pouco por certo cortando abusos ce prestando os rele-
commum nos estabelecimentos d'esta cPesta ordem, no vantes serviços que tem por habito prestar.
nosso paiz, onde. a julgar pelos mais valiosos
monumentos históricos, ha razão para dizer que
o desleixo
desleixo ee oo desmazelo
desmazelo são são as
as feições
feições domi-
domi-
nantes da physionomia nacional.
Entretanto*
Entretanto' não se esqueceu Peito de Carva- Conta o conselheiro Peito de Carvalho onze
lho de cortar abusos ec seguidamente, submet- de louvor, pelos seus serviços, sendo
portarias dc
tendo a rigorosa syndicancia a administração da estes insuspeitos por haverem sido aqucllcs
aquellcs do-
Real Casa da Nazareth,
Nazareth. descobriu dilapidações saídos dc
cumentos referendados por governos saidos de
que fez punir severamente, fazendo repor quan- diversos partidos; possuc o titulo do conselho
tias consideráveis que haviam sido desviadas dos de commendas das ordens
dc sua magestade, c as commcndas
respectivos cofres; fez cumprir as leis do recru- da Conceição — portugueza — e a da Rosa, do
tamento, remettendo ás fileiras cerca de i:5oo i:õoo Brazil, e a grã-cruz dc
de Isabel a Catholica, dc
de
mancebos durante o tempo da sua gerência, al- Hespanha.
Hcspanha. Não são, porem, as veneras que hon-
guns dos quaes andavam sonegados pelas in- ram aquelle
aqucllc que as usa, honra-sc sobremaneira
fluencias locaes; obrigou as camaras
camarás municipaes, pela hombridade, zelo, presteza c intelligencia
as parochias e as irmandades a regularem c tra- com que desempenha quantas commissõcs
commissões dc de
zerem em dia as suas contas, fazendo por este serviço publico lhe são incumbidas.
meio duplicar a receita orçamental do districto;
etc, etc.
etc.,
Um dosdos mais
mais relevantes
relevantes serviços
serviços prestados
prestados (vbc)
pelo illustre funccíonario
funecionario foi a captura dos as-
sassinos do barão dc de Porto de Moz, que se ha- Neutros diz ia-se cm
N'outros tempos dizia-sc em honra dos por-
viam evadido da cadeia dc de Lisboa e traziam os tuguezes — «que eram gente de antes quebrar
habitantes d'aquelles
d^aquelles sitios
sítios em
cm contínuos sobre- que torcer». O conselheiro Joaquim Peito Peiío de Car-
saltos e terrores. valho possuc
possue também cm em elevado grau essa vir-
dizer-se que cite é o per-
tude sublime, podendo dizer-sc
<*» feito typo do portuguez do norte, robusto, aus-
tero, de uma bondade e lealdade inalteráveis. O
Km
Em dezembro de 1879 foi o conselheiro Peito seu caracter éc como que um mixto harmonioso
de
dc Carvalho nomeado chefe da i1.* repartição da de enrista e de energia romana;
dc benevolência christã
direcção geral do ultramar, e em maio dc de 1884 valente c ousado como poucos, é uma criança
foi promovido
foi promovido aa director
director geral
geral das
das contribuições
contribuições em face da miséria ce dos pobres. A historia de
directas; cargos que exerceu com elevada pro- commove-o; a revelação dc
uma angustia commovc-o; de um
ficiência, merecendo por vezes sinceros louvores crime sohrcsalta-o.
sohresalta-o.
officiaes.
ofiiciacs. Propenso a valer aos desgraçados, é inflexível
Em julho do mesmo anno o suflragío
suflragio popular na perseguição aos infames.
conccdeu-lhc
concedeu-lhe o mandato eleitoral, sendo para no- A sua vida tem sido toda de acção e dc de tra-
tar que a eleição teve logar no circulo onde an- balho. Collocando-o na brilhante posição social
teriormente lhe fora feita a mais acirrada guerra, oceupa, a fortuna não foi cega. como ordi-
que occupa,
obtendo cerca de nove mil votos, libérrimos, es- nariamente o costuma ser; viu bem que era di-
pontâneos, representando e significando como gno das suas graças quem desde as primícias da
que uma reparação de injustos aggravos. mocidade se orientou sempre á luz do trabalho
e do dever. Por seu lado também ellc, elle, lançan-
do-sc oiliciai, não enterrou,
do-se na agitação da vida ollicial,
tó<T'e) como o egoista
egoísta da parabola
parábola evangélica, os talen-
tos que lhe foram concedidos, antes os fez fructi- frueti-
A muitas instancias do governo accedcu
accedeu o ficar pelo aturado estudo e constante applicaçao
conselheiro Peito dc
de Carvalho a exercer o cargo das suas poderosas faculdades.
de governador civil do districto de Lisboa, sa- Honramo-nos cm dizer estas verdades, porque
crificando-sc ás exigências partidárias, por isso entendemos que o culto das individualidades me-
que conhece por experiência dura quantos dis- ritórias é a justiça do passado ce a lição do fu-
tacs.
sabores e contrariedades acarretam cargos tacs, turo.
No desempenho d^sta
d"esta nova posição manifes-
tou já o conselheiro Peito de Carvalho a sua
actividade ec proverbial energia, conseguindo da TYP. Elzeviruna
Tvp. ELZEVWANA —— Praça
Prafn dos
dos Restauradores,
Restauradores, 5o
5o a
a 56
56
í
ri

O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

Tiiographias
Tliographias dos personagens mais distmeios
distincios em politica,
armas, religião, let iras,
feltras, sciencias, artes, commercio, industria e agricultura

ANNO I —VOLUME !I PUBLICAÇÃO PARA PORTUGAL E BRAZIL MAIO—


MAIO iS85
— 1885

0 Conselheiro
Conselheiro José
José. de
de .Mello
Mello Gouveia parecem como as rosas de Malherbe; porque a
êcco que repete todos os sons,
celebridade é um écco
tanto os que causam admiração, como os que
Ha na especie
espécie humana uma propensão cons- fazem escândalo; um espelho magico, um annel
tante para a celebridade. Testimunha-o esse li- de Phyrro que reflecte todos os cambiantes so- so*
allanoso e perenne
dar constante, ininterrupto, atl'anoso ciaes, a luz dos grandes feitos e a sombra das
de cada homem em perpetuar-se e sobreviver-se,
sobre vi ver-se, nefandas tragedias.
que não pôde simplesmente explicar-se pelo na- Mas a celebridade verdadeira, a celebridade
tural instincto de conservação, porque não ê, é, merecida, a celebridade cívica não se outhorga,
decerto, a posse perpetua da'vida, a perennidade nem se decreta, nem se impõe : éê espontânea;
da existência, o que realmente ambicionamos. éè filha legitima da gloria, reconhece-se; èé a ho-
O amor da gloria não é senão o horror da menagem devida á virtude, ao valor e ao talento.
morte.
Ha dentro de nós um estimulo secreto, que
nos impelle a viver fóra
fora de nós mesmos, alguma ■<â
è
coisa de mysterioso que, transpondo os acanha- Quando hoje se falia em perseguições politi-
dos limites da materia
matena e da vida, nos arroja e cas ha homens que não podem deixar de rir da
libra nas azas da phantasia ás cerúleas regiões seriedade com que essa phrase se emprega e da
ignotas em busca de tempo sem medida, e de semeerimonia com que os suppostos perseguidos
espaço sem termino. se referem aos seus soflrimentos e aos dos seus
A esta inquietação enorme, a este anceio des- parciaes.
medido, a este infinito haver que agita o pélago Esses homens são as reliquias
relíquias preciosas d'essa
d^essa
do nosso espirito, estreitamente contido no frágil plêiade
pleiade de valentes que na primeira parte d'este
vaso da viaa
vida mortal; a este incentivo que im- século realisaram e consolidaram a conquista da
sobrevi verse;
pelle o homem a perpetuar-se e a sobreviver-se; liberdade e estabeleceram no paiz o reinado da
a este estimulo que ateia em sua alma o desejo equidade e.a observância respeitosa das leis mais
de immortalisar-se; a este secreto impulso, sen- justas e sensatas. Um d'esses homens, membro
timento universal, que dá vida aos nossos senti- illustre d'essa
d^ssa pleiade
plêiade de luctadores
luetadores infatigáveis,
mentos e calor ás nossas acções chamar-se-ha é o conselheiro José de Mello Gouveia, cuja bri-
instincto de conservação?... lhante biographia vamos traçar, como uma das
Não: se é instincto, éê o instincto da immor- dignas de figurar e honrarias paginas fidalgas do
talidade ou da celebridade. Livro de Ouro da aristocracia portugueza.
Nas naturezas superiores produz as grandes O conselheiro José de Mello Gouveia tem, por
façanhas, as grandes virtudes, as grandes obras innumeros e valiosos títulos, direito a todas as
da sciencía
sciencia e da arte; nas naturezas corrompi- homenagens devidas ao talento e ao mérito.
das, infamadas e perversas os maiores crimes e Poucos tem prestado tantos e tão relevantes
aberrações; no vulgo ignaro, que prodigiosa- serviços ao paiz; poucos começaram como elle
mente se estende por todas as espheras da es- a sua carreira publica entrando na vida activa
pécie
pecie humana, produz as vaidades mais pueris, pela porta da perseguição injusta; poucos inicia-
as ambições mais desmarcadas e mesquinhas, as ram uma carreira gloriosa fazendo registar seu
invejas mais perigosas e humilhantes. nome no grande livro do martyriologio politico
A celebridade!—eis a satisfação a que todos da liberdade.
aspiramos. Tanto a procurava Alexandre ao con- Recordando o período histórico durante o qual
Ásia, como a pretendia Diogenes
quistar a Asia, Diógenes ao o conselheiro José de Mello Gouveia encetou a
rechaçar a sombra de Alexandre. sua carreira de homem publico não podemos
O mundo pertence ás capacidades. Cada um deixar de saudar os homens, que sem respeito
na sua profissão, no seu officio,
oílicio, nas suas aflei- aos algozes e aos supplicios, que lhes eram libe-
ções, nos seus caprichos e nas suas extravagân- ralmente dispensados, abriram por assim dizer
síngularisarse,
cias faz esforços para singularisar se, para dis- a porta á !I iberdade no nosso paiz, dando o ul-
tinguir-se, para erguer a cabeça acima do vulgo, timo golpe no collosso do despotismo, que tão
para sobresahir aos homens que o rodeiam, para forte se encontrava então.
elevar-se, emfim, acima, sempre acima, do nivel Devemos ser justos. A conquista liberal não
em que nasceu. foi obrada unicamente pelo heroísmo aguerrido
Esta multiplicidade de aspirações cê muitas ve-
Ksta luetadores illustres, que floresceram de
de tantos luctadores
zes o germen
gérmen permanente d'essas
dessas reputações 1826 a i83q,
1834, não surgiu apenas da sorte das
cphemeras, que brilham um momento e desap-
ephemeras, armas, que parecia acirrada em patrocinar a
U
22 O LIVRO DE OURO

causa libera!; foi principalmente produzida pela • crevendo nas suas agendas immortaes
immortacs os nomes
tenacidade dos seus apostolos,
apóstolos, pela firmesa dos das victimas ec a narrativa das iniquidades. Não
seus marivres,
marivrcs, victimas d'um despotismo tão- tão, acordaremos pois inutilmente rancores extinctos
violento e "brutal,
brutal, quanto iníquoiniquo e ignaro. ódios já amortecidos.
c odios
Velos sup
supportar
portar o encarceramento em cm annos KntrctíMito, ha factos tão luctuosos
Entretanto, luetuosos n'esse
roesse pe-
juvenis e quando ainda se não pôde pode ser conspi- cincoenta annos ainda des-
ríodo, que ao fim de cíncoenta
rador; vei-os
vcl-os caminhar para o cadafalso, sem N'cstc caso está o que va-
pertam a indignação. N'estc
culpas que justificassem a pena infame da forca ; mos referir.
vcl-os
vel-os ser espancados nas ruas com fundamen- Levado José de Mello Gouveia perante o san-
tos tão fúteis como o trazer só dois botões no guinário tribunal de D. Miguel 1, I, este não se
colete — o que significava no dizer dos janisaros aceusação que pe-
atreveu a declarar provada a accusação
coevos—viva D. Maria II; — tudo isto revoltava sava sobre a creança que não completara 15 i5 pri-
quantos sentimentos briosos pode albergar o maveras e já jã era indigitada como ré de alta trai-
peito humano, e operava a reacção contra os per- ção e de crimes de lesa magestade, como então
seguidores que no afan de exterminarem os ad- aceusado c man-
se dizia. O tribunal absolveu o accusado
versários, cavavam o abysmo que os devia cm- dou-o emcm paz; mas a ida nia em pa7
pa^ foi simples fi-
gulir.
8ulir- . I rethorica, pois a creança—que nem
gura de rcthorica,
O conselheiro José
O conselheiro José de
de Mello
Mello Gouveia
Gouveia coope-
coopc- | mesmo-adolescente
mesmo- adolescente se lhe podia chamar — foi
rou pois — como adiante veremos — com o seu j reconduzida àã cadeia, onde os algozes a con-
estóico soíírcf*1 nos cárceres da usurpação tão po- !
estoico solíref servaram até raiar o dia 24 de julho, de i833,
derosamente para o estabelecimento do governo i dia de eterna memoria para Lisboa ec para a po-
da senhora D. Maria II, como os heroes da época epoca í bre victima do despotismo que regressou áa liber-
manejando a espada nas linhas do Porto e nos j dade, no fim de 3o mezes ae de iniquo captivciro.
captiveiro.
campos de Asseiceira c da Piedade. Vcneran- Vcncran- <
doo veneramos pois
do-o veneramos pois toda
toda aa illustre
illustre plêiade
plêiade de
de
valentes que prepararam e realisaram a conquista'
liberal, cujos fructos
fruetos a geração nova está sabo- Acabada c luta pela convenção que se não
reando. pôde deixar de denominar vergonhosa, pois que
-t- d^m lado — do capitulante — existia a força po-
d'urn
Á'} derosa das armas, a força bruta, e do outro — do
O conselheiro José de Mello Gouveia nasceu vencedor — apenas uma idea idéa grande, nobre, ge-
na Luza
Luza Athenas,
Athcnas, que,
que, como
como se se sabe,
sabe, tem
tem sido
sido nerosa e profundamente enraisada no coração
com oo Porto
com Porto uma
uma das
das cidades
cidades dodo reino
reino onde
onde asas d'um punhado apenas de valentes ec ainda por-
ideias avançadas c generosas mais promptamente que o vencido não se limitou a desistir por si
tem sido acolhidas ec onde tem recrutado mais só dos seus suppostos direitos, mas acorrentou
numerosos adeptos. Viu a luz a p. 12 de dezem- também ásis obrigações, a que se submetteu, os seus
bro de 1815 ec foram seus progenitores José de descendentes, que ainda nem sequer existiam.
Mello Gouveia ec sua santa esposa D. Maria For- Começou então o governo liberal a traduzir cm
tunata da Costa Mello Gouveia. factos as promessas feitas, entre as quaes quacs figu-
Foi destinado por seus paes á carreira da ma- rava emcm primeiro logar a divulgação da instruc-
gistratura, porém, em consequência dos desgra- cão, que
que sob
sob oo antigo
antigo regimen
regimen era era um
um privilegio
privilegio
çados successos
suecessos que se seguiram ao desembarque de castas e classes.
do logar-tcnente
ào logar-tcnentc do do reino,
reino, infante
infante D.D. Miguel,
Miguel, cmcm Os inicios d'estcs
doestes grandes pensamentos são
seguida declarado rei, a universidade c todas as sempre laboriosos ec diíliccis
difticcis de executar. PódcPôde
mais aulasaulas pubficas
pub'icas fecharam
fecharam as as suas
suas portas,
portas» em cm dizer-sc que para os corpos dirigentes da pri-
Coimbra, c por isso vciu para Lisboa "cursar hu- meira rede de professores, que se estendeu pelo
manidades. paiz, foram escolhidas aptidões especiacs e ta-
Acompanhou-o, porem, uma cstrella cstrclla fatídica. lentos reconhecidos ec provados. Dizer pois que
Os sentimentos liberaes da família familia do nosso il- o conselheiro José de Mello Gouveia aos 20 an-
lustre biograpbado,
biographado, sendo conhecidos, — porque nos de idade foi nomeado official oificial de secretaria
as aspirações
aspirações generosas
generosas ee nobres
nobres não'se
não'se masca-
masca- do conselho de instrucção publica, equivale a di-
ram nemnem sese disfarçam,
disfarçam, — — bem
bem depressa
depressa oo aponta-
aponta- zer que uma intelligencia
intclligcncia precoce, desenvolvida
ram áâ vindicta e ao furor dos auheos aulicos do poder, já pelas provações de quasi trez annos de cárcere,
então condemnado
condemnado fatalmente
fatalmente pelas
pelas leis
leis implacá-
implacá- illustrada ao mesmo tempo por estudo aturado,
veis da evolução; e apesar dos annos juvenis que cjue tinham feito do joven funccionario
funecionario um pensador
oo deviam
deviam pôr pôr aa coberto
coberto dede quaesquer
quaesquer suspeitas
suspeitas muito bem
muito bem conceituado.
conceituado.
de conspirador,
conspirador, foifoi preso
preso cc accusado
aceusado perante
perante aa
commissão mixta encarregada de julgar os dcli- é>
ctos políticos, dos crimes de malhado ce agente
dos insurrectos
insurrectos dada ilha
ilha Terceira. Os primeiros annos de governo constitucional
Podíamos aproveitar o ensejo de pôr cm sa- foram attribulados: a inexperiência dos gover-
liente relevo a fereza e iniquidade dos tribunaes nantes ec quiçá as ambições despertadas cm vista
miguclinos, os quaes
quacs para condemnarcm
condemnarem admit- do acccsso
accesso ao poder, facilitado, encheu de turbu-
tiam como prova até ate as delações anonymas ec lências c de hesitações dolorosas a administração
acceitavam por verídicas as accusações
aceusações mais ma%is es- publica. Os ministérios succediam-sc
suecediam-sc rápidos c
drúxulas c illogicas; não o faremos, porém. A os ministros procuravam distinguir-se
distinguir-sc ec cclebri-
Historia puniu severa esse período ínglorio inglório ins-
ins« sar-sc
sar-se destruindo o que encontravam feito, para
V
O LIVRO DL
DE OURO 23

o substituir por elaborações suas. Assim, o con- rcalisava tão importan-


Ao mesmo tempo que realisava
selho de instrucção publica centro, director da cia tes obras nos districtos confiados á sua gerência,
instrucção no paiz, foi bem depressa derribado ec encetava a sua carreira parlamentar, recebendo
oflicial de secretaria achou-se outra vez
o moço official pela primeira vez o mandato eleitoral em 1848.
desoecupado,
dcsoccupado, porque então ainda não estava es- mandato que conservou, até que o movimento de
tabelecido o systema de supprimir as repartições i85i lhe truncou esta carreira com a adminis-
conservando Ôs òs empregados... no orçamento. trativa.
Tornou-se porém em favor o que parecia ter
Tomou-se
sido desastre. O conselheiro José
Jose de Mello regres-
sou a Coimbra; ec porque seu pae houvesse entre-
mentes fullccido consagrou a sua actividade á ge- Divorciado do partido, que assumiu a direc-
negócios da casa de sua mãe viuva ec
rência dos negocios ção dos negocios
negócios nublicos,
públicos, e desgostoso talvez de
de seus irmãos menores, ao mesmo passo que que a parcialidade politica podesse falar mais
cursava na Universidade os cinco an annos
nos da fa- alto que os seus verdadeiros e valiosos serviços
culdade de philosophiu,
philosophia, na qua!
qual se doutorou no prestados ã patria
pátria e não ás facções, conservou-sc
conservou-se
anno lectivo de 1841 e 184-2. i85i a i85<)
de 1851 i8?õ" retirado á vida privada onde o
Era
Ura então esta a habilitação exigida para os foi accordar novamente para a vida publica a
cargos administrativos, porém só trestrês annos de- gratidão dos povos de Vianna do Castello, que
pois, em 1845, encetou essa carreira. espontaneamente lhe concederam o diploma de
deputado, em iS5ó.
iS5l).
No anno seguinte foi logo pelo governo apro-
veitada a sua actividade esclarecida e experimen-
Não foi longa, mas assas honrosa, a sua car- tada, sendo então nomeado administrador gera! geral
reira de funccionario administrativo. das Mattas do Reino, logar que exerceu até i8óã i8G5
Km 1845 foi despachado primeiro official
oflicial ou e onde justificou o acerto da escolha organisando
official maior do governo civil de Coimbra, no
omcial regularmente o serviço d'aquclla
d^tquella repartição, que
anno seguinte secretario geral do mesmo dístri-
distri- até ali nem sequer ao menos era comprehendido
cto, tendo exercido interinamente as funeções de e existia n\im verdadeiro cahos.
governador civil. Os bens do estado dependentes d'aquella
cTaquclIa re-
_ Km 1S47 foi nomeado governador civil de Lei-
Um 1847 partição haviam sido sempre considerados um
ria ce em 1849
1840, transferido para Vianna do Cas-
Gas- encargo para o tbesouro,
thesouro, mas depois que o con-
tei lo onde foí
tello foi surprehendel-o a exoneração con- selheiro José de Mello tomou conta da adminis-
sequente do movimento revolucionário de 1851 i85i.- tração as mattas tornaram-se urna uma fonte de re-
/t- ceita.
Quem quizer saber quanto prodigiosa foi a
transformação realísada
realisada pelo conselheiro José de
Gomo se vê curta foí
Como foi a demora do conselhei- Mello, deve ler o Diário do Governo n.° 186, de
ro José de .Mello
Mello Gouveia em qualquer dos dis- 10 de agosto de 1858i858 que a este respeito publi-
trictos que governou; todavia em cada um d*el- cou documentos muito interessantes e sobrema-
les deixou memorias saudosas da sua administra- neira laudativos para o nosso respeitável biogra-
ção e ha d'ellas
delias documentos de muita valia ce phado.
honra, firmados por amigos e adversários, c que oí?
PI?
se podem encontrar nos
sc nosjornaes
jornaes da época como ***
são: O Popular
Copular de 4 de setembro de 1848; a lei
de 9 de novembro de 1849,
1841), o Tribuno Popular Em jSõo
iSoo foi novamente eleito deputado pelo
de 8 de novembro ce O Diário dos Pobres de 21 circulo da Figueira desempenhando n'esta
círculo nVsta legis-
de de maio de 1854. latura e na anterior, o cargo de secretario da ca-
Nesses quacs filiados no
N"esses jornaes, alguns dos quaes mará electiva.
mara
partido adverso á politica que o conselheiro José Km i865 foi nomeado chefe da repartição de
de Mello sustentava, encontra-se a resenha dos agricultura na secretaria de estado das obras pu-
valiosos serviços prestados por aqucllc
aquellc cavalhei- blicas, repartição que é uma das mais importan-
ro aos dois districtos que governou, os mais sa- d'aquelle ministério.
tes d'aquellc
lientes dos quaes são os seguintes ce que maior Um
Km 18G8
j 8G8 foi nomeado governador civil do distri-
importância somam sabendo-se que foram todos cto de Vizeu; em 1870 para idêntico cargo no
realisados em pouco mais de dois annos, em cm cada districto do Porto, do qual todavia não chegou
districto:
distrícto: a tomar posse, em cm consequência de ter sido cha-
A canalisação do rio Lima e os melhoramen- mado em seguida a desempenhar mais importan-
tos da barra de Vianna do Castello; funecões.
tes funeções.
A organisação de uma companhia para a fac-
tura de estradas que as forças económicas do
districto não permittiam construir por outra for-
a
§15

ma ;\ Os homens, que possuem verdadeiro talento,


A creação de casas de asylo para a infancía
infância revelam-nV) principalmente na sabia escolha que
desvalida devendo revindicar-se
revindícarse para este conspi- aquellcs que hão de coadjuval-os nas ta-
fazem d aqudlcs
cuo cidadão a honra do início deste sublime pen- . refas que se impõem ou que lhes são incumbi-
samento, que tão fartos fructos
fruetos tem produ- das.
sido. A nova forma de governo, que a evolução dos
24
24 O LIVRO DE OURO

tempos estabeleceu em Portugal permittiu que ófes


diversos homens de vulto tenham occupado oceupado o
cargo de organisar gabinetes. Entre esses vultos Os serviços que como ministro tem prestado
um que sempre se distinguiu na escolha dos com- não são menos valiosos que os prestados aos dis-
partílhadores do^do poder foi o já finado duque de trictos confiados áA sua tutella durante a carreira
Ávila Bolama,'cuja
Avila e Bolama, cuja probidade exemplar jamais administrativa. Como ministro da marinha des-
adversário algum ousou pôr em duviaa.duvida. envolveu prodigiosamente as obras publicas no
chefe de gabinete o primeiro que se
Foi esse cnefe Ultramar: como ministro da fazenda foi citado
lembrou de chamar o conselheiro José de Mello como modelo por muito tempo o seu relatório
aos conselhos da coroa c nVsse convite provou apresentado ao parlamento.
mais uma vez o fino tacto politico que nunca lhe Hoje fala-se muito dos melhoramentos do
foi contestado. porto dc de Lisboa e efectivamente
effectivamente éê uma impor-
Em 1870 sendo chefe do gabinete o duque tante obra que tem de se fazer; mas o conse-
de Avila
Ávila tomou o conselheiro José de Mello lheiro José de Mello Gouveia foi quem abriu o
ae Aiello
conta da pasta da marinha e Ultramar, ád qual caminho para essas obras, apresentando o pen-
reuniu depois, por interinidade, a dos negocios
negócios samento em 1871 ce mandando fazer um magni-
da justiça e ecclesiasticos, que em março de fico trabalho, que muito honra os engenheiros
1871 entregou a novo ministro, conservando a hydrographos, que o executaram, trabalho que
de Marinha, que geriu até setembro, época epoca em tem dcde ser minuciosamente observado e seguido
que se demittíu
demittiu o ministério. quando essa obra se traduzir em factos.
Durante este período duas vezes foi eleito de-
putado, uma por Mírandella
Mirandella c outra por Valença CAl/5
e em 187a
187D foi ainda mais uma vez eleito pelo peio
circulo de Extremoz.
De 1871 a 1876
187G occuparam
oceuparam os conselhos da co- O sr. Fontes, como entendedor que é de me-
roa ministérios regeneradores, mas cm 1877 re- recimentos reaes não podia deixar dc de associar a
gressou ao poder o grupo a que pertencia o con- um dos notáveis períodos da sua administração
selheiro José de Mello que novamente tomava o nome do conselheiro José de Mello. Aiello. Em 1881
conta da pasta de marinha, gerindo também a pois convidou-o a fazer parte de um gabinete,
da Fazenda até 187S cm que o gabinete se exo- ' o que acceitou, acompanhando o ministério re-
nerou. generador até 1883, i883, em que se demittiu, por
Em 1879
1870 recebeu o mandato eleitoral pelo cir- incompatibilidade dos seus principios princípios e antece-
Afertola nrefazendo com esta a sétima 1 dentes politicos com as reformas constitucionaes
culo de jVíertola
vez que esta subida demonstração da considera- propostas por este gabinete; certificando no par-
ção popular
popular lhe era concedida. lamento o pesar de se separar dc de seus collcgas,
Dizer que tomara parte em mais de vinte que também manifestaram o sentimento profundo
sessões legislativas, fazendo parte de importantes por se verem desacompanhados de tão auctori- aueton-
commissões, a algumas das quaes presidiu, c di- sado e proficiente collega.
zer que foi sempre poupado pela argumentação
cáustica, algumas satyrica, ec não
muitas vezes caustica,
poucas inj'uriosa
injuriosa das nossas camaras
camarás é confes- éfe
sar que o seu talento é superior e o seu caracter
honestissimo.
honestíssimo. O conselheiro José de Mello Aiello Gouveia tem re-
cebido as seguintes mercês e honras;
&
& Do conselho de sua magestade; vogal efe- efle-
ctivo do supremo tribunal administrativo; minis-
Ha em
cm Portugal ainda algumas honrarias que tro e secretario de estado honorário; pardo reino;
não tem sofTrido desprestigio porque a parcimo- commendador das ordens ordens militares de Christo, Chrísto,
nia com que são concedidas lhe tem conservado e de N. S. de A'illa Villa A'icosa;
Viçosa; gran cruz das de
toda a valia; entre essas não pódcpode deixar de fi- Carlos 111, da Rosa, de Alerito Mérito Naval, c da Ni-
gurar em primeiro logar, o pariato.
par ia to. chan Iftias, da Turquia.
Outr'ora era quasi concedido sempre ao valor
guerreiro c ao mérito dos batalhadores; hoje é
guefreiro Í99Í
conferido especialmente ao talento e ao saber e
só aos que teem provado a dignidade condigna
de
dc tão subida jerarchia. Como homem publico subiu a passos honrados
Esta honra rcccbcu-a o conselheiro José de uma escada de gigantes c poucos podem dizer
Mello
Aiello do monarcha portuguez a 8 de janeiro de que tem caminhado.
1880.
1880, Estreiou-se no cárcere c de ahi marchou para
Na camara
camará alta as demonstrações de apreço os mais elevados graus da escala social.
c estima também lhe tem sido prodígalisadas.
prodigalisadas. Como homem particular é também tambem exemplo
Por trez vezes tem sido nomeado supplentc á digno para procedimentos briosos. .
presidência e n'esta qualidade teve a honra de Poucos como elle tem o direito de escrever no
receber nas suas mãos o juramento constitucio- seu escudo o Icmma dos antigos cavalleirost cavallcirost Sans
nal do Principe occasiao petir
Príncipe D. Carlos, quando por occasiâo scuis reproche.
pen?' et sans
da visita dc
de seu Augusto Pae ao visinho reino,
ficou encarregado da regência do reino. { TVP.
TVP. MATTOS
MATTOS MOREIRA
MOREIRA —
— PRAÇA
PRAÇA DOS
DOS RESTAURADORES,
RESTAURADORES, «5
ti E
E |6
|6
11
11

O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

liiographias dos personagens mais distinct


'liiographias distinctos
os em politica,
religião, lettras,
armas, religião. hl trás, sciencias. artes, commercio, industria ce agricultura

ANNO I —
—VOLtMK
VOLUME I PriílJCACAO PARA PORTI
Pl/BLICACAO PORTl GAI. E BRAZIL
DRAZIL JJUNHO
UNHO — rS83
rKK?

do-a, preferindo os seus compatrícios, que en-


0 Yiscomlc
0 Visconde de
ilc ilio
Rio Yez
Vez contravam n'ellc
n"ellc infallivel protecção, quando eram
desvalidos c dignos.
Vamos hoje cumprir o honroso encargo de di- Todas as corporações que tem por fim soc-
zer de dois cidadãos prestantes que teem
tecm a glo- correr as necessidades e accudir
aceudir á desgraça teem
tcem
ria de ver seus nomes aureolados iVuma
n\ima apo- a honra de contar o illustre chefe da família Gon-
theose antecipada, mas justa, e que da opinião çalves Roque no numero dos seus fundadores,
publica recebem já as coroas que vulgarmente sócios
socios protectores ou subscriptores mais impor-
só a posteridade concede, as devidas áã virtude tantes. K não se limitava a sua cooperação a
c á benemerência : são estes cidadãos irmãoS
irmão5 de contribuir para as despezas d'esscs d'csses estabeleci
nascimento, na elevação de sentimentos ce no-
nascimentn, mentos com qualquer donativo. Alem da quan-
bresa de caracter e por isto lhes consagramos tiosa esmola pecuniária concorria para a pros-
o presente numero. peridade dos estabelecimentos pios com o va-
Referimo-nos ao visconde de Rio Vez, de lioso auxilio da propaganda, cm em que se mostrava
quem nos occuparemos
oceuparemos em primeiro logar e fervoroso apostolo da caridade ec evangelisador
ao visconde de bistcllo.
Sistello. phylantropia.
dedicado da phvlantropia.
O Hospital da Sociedade Portugueza de Bene-
ficência, um dos mais importantes, se não o mais
completo instituto de caridade da America por-
Nasceu o visconde de Rio Vez em Vi'la Nova tugueza, o qual mais valiosos e relevantes ser-
dos Arcos, no sitio denominado o Sistello, que viços tem prestado á mãe patria, pátria, já protegendo-
é considerada a Cintra d'aquelles arredores. Ihe os filhos que vão ao estrangeiro tentar for-
Muito cedo sentindo estreito o horisonte da tuna, já soccorrendo d'alli
d 'ai 11 as victimas dos gran-
pátria
patria para espandir a força viril do seu enge- des infortúnios, de que a metrópole éti testemu-
nho e para dar toda a latitude ao seu genio cm- nha; esse instituto modelo, deve ao visconde de
prehendedor, o visconde de Rio Vez, então ainda Rio Vez o seu engrandecimento; vendo-se por
simplesmente o negociante Gonçalves Roque, di- isso cm
em uma das salas principacs
principaes o retrato d'este
dVstc
brazileiro que nas provín-
rigiu-se para o império braziieiro provin- benemérito cidadão, cm commemoração de seus
das
cias do norte de Portugal é ainda considerado relevantíssimos serviços.
o pai/,
paiz encantado da fortuna e da riqueza.
Elíectivamente
Elfecti vãmente o lírasil
Brasil está cmem absoluto an- An
tagonismo com a nossa patria:pátria: alli
allí todas as jfe
empresas para prosperarem carecem de uma
nota grandiosa; aqui, pelo contrario, a grandesa, Como homem superiormente dotado, o vis-
a sublimidade, a imponência são verdadeiros es- conde de Rio Vez sabe que não basta accudir aceudir
torvos; porque Portugal só admitte
admittc a grandesa ao desvalido e ao faminto ec que ha outra sede
das suas tradições. que se não mitiga com a esmola pecuniária.
Os grandes emprehendimentos
emprebendímentos no paiz apenas É muito o pão. mas não basta para aquellcs
languecem cmquanto
emquanto que no território americano que tem o espirito entenebrecido e o cérebro
são as pequenas empresas que não logram pros- atrophiado pelos fanatismos da ignorância.
perar. Por isso o visconde de Rio Vez ao mesmo
O visconde de Rio Vez, lançou-sc
lançou-se arrojada- tempo que protegia as instituições de caridade,
mente na vida commercial,
commerciai, asssociando-se desde contribuía para a organisação de outras, cujo fim
contribuia
logo a tudo quanto no seu tempo foí foi emprehen-
cmprehen- fosse educar ce instruir, e n'este
n'cstc intuito trabalhou
dido ce em resultado d'uma succcssão
suecessão de actos de poderosamente para a fundação de muitas esco-
probidade e moralisadores acertos bem depressa las e asylos, onde ao mesmo tempo se repartia
se viu cercado de considerações e afíectos,
aflectos, sendo o pão dòdô corpo e o do espirito.
disputadas as suas relações com empenho e al- O Gabinete Portuguez de Leitura no Rio de Ja-
voroço. neiro é um instituto de muita valia no ponto de
vista lit terá rio ec pôde dizer
litterario dizer-se
se que a nação por-
& tugueza por estas duas sociedades, a de Benefi-
cência ec a do Gabinete de Leitura, é a nação
Tendo grangeado uma fortuna colossal ce con- mais vantajosamente representada iVaquelle
n\iquelle paiz,
solidado créditos c reputação muito invejáveis o que se compõe por assim dizer mais dos repre-
visconde de Rio Vez consagrou-se a ser útilutil á sentantes de todas as nações do mundo, que dos
humanidade por outra fornia,
forma, isto é, bcncíician-
benefician- naturaes.
2t>
2b LIVRO DE
O UVUO HE OURO

Pois este instituto c um dos que mais deve a Logo no anno seguinte a phylantropia d'estc
este benemérito cidadão, que presidiu a essa so- cavalheiro verdadeiramente lidalgo pelos senti-
ciedade de maneira tão brilhante, que jamais será mentos elevados que o nobilitam, teve ensejo dc de
esquecido, grangeando lhe merecidamente os cré- se manifestar. A provinda
província de Ceará foi devas-
ditos de protector das lettras. tada pela fome c o visconde de Rio Vez. Vez auxi-
Aquella annos
A que! la associação deliberou ha an nos cons- liou generosamente a subscripção popular aberta
truir um ediíicio
edifício proprio
próprio para a sua grande bi- em favor dos famintos.
bliotheca, edifício que recordaria os nossos mais Km 1N80
Em i<X8o concorreu também para que em Por-
preciosos monumentos, pois seria construído
construido em tugal se concluísse o monumento com que sc se re-
estylo manuelino. solveu perpetuar a .memoria
memoria dos gloriosos res-
Esse monumento foi orçado em doo 3oo contos tauradores de 1Õ40,
1640, a quem se deve a recon-
de reis e deve-se principalmente dá vigorosa ini- quista da independência ec autonomia nacional.
ciativa c áà generosa dedicação do visconde dc de A regia instituição dos Albergues Nocturnos,
Rio \Vez,
cz, que não descançoti
descançou em quanto não viu --—exemplo
— exemplo raro dos sentimentos humanitários
executado tão elevado pensamento. d*um
dum monarca que se tem destinguido pela bon-
dade—
dade — não podia deixar dc de merecer a sympa-
tic a de todas as almas generosas. Assim "suecc-
thia succc-
*• "ai-»- deu.
tlcu.
O visconde de Rio Vez, que já havia regres-
sado a Portugal, alistou-se logo n'essa cruzada
Não
Náo se limitaram porém os seus sentimentos sublime de Bem ec solicitou dos seus amigos do
generosos a accudir
acendir ás desgraças, que lhe demo- Brasil a sua cooperação que se traduziu na re-
ravam perto, como já dissemos: as grandes ca- messa de 11:ooo-Tooo
11 :ooo-Tooo de reis.
lamidades publicas encontraram ecco no seu cora-
ção e despertaram
despertaramlhe lhe sempre os estímulos phv-
lan trópicos.
lantro picos.
síò
Quando a calamidade que se propunha soc-
correr não era dc de natureza que um só individuo
podesse dar-lhes completo Icniiivo, lenitivo, tomava elle O homem particular completa o homem pu-
o encargo de despertar os remissos e fazer rcs res blico ; sc
se como cidadão possue
possuc todas as virtudes
soar o clarim da santa crusada da Beneficência. cívicas, como chefe de famitia
família pratica todas as
A maneira porque respondiam ao seu appello, appclio, virtudes da vida privada. Não ha pae mais exem-
as cifras valiosas a que se elevavam sempre as plar, nem mais amoravel. Tendo perdido muito
subs cri pçÓes
subscri peões por elle iniciadas, são o principal cedo a estremecida esposa, consagrou a existên-
documento da enorme influencia inlluencia de que dispõe cia ád educação dc
de seus filhos, que a possuem es-
e a mais solida garantia da estima de que geral- merada em todos os sentidos. Sua filha a ex."u
mente éè alvo. sr.;ia viscondessa dc
de Sistello, é uma das damas
Assim, quando cm iSC» iS(">i^ os habitantes do ar- brazileiras
brnzileiras mais superiormente instruídas, falia
chipelago de Cabo Verde, se \iram reduzidos á e conhece a fundo as principaes línguas vivas, éè
fome e áâ mais extrema penúria, o visconde de insigne na musica e professa na pintura, como
Rio \Vez ez iniciou
iniciou uma
orna subscripção
subscripção que que produziu
produziu muito elegantemente disse um distinctissimo lit-
mais
mais de de J3 contos
contos dede réis
rus ee queque foram
foram oo mais
mais terato, o sr. visconde de Sanches de Baena,
Bacna, re-
valioso donativo que receberam aquelles povos, ferindo se a esta gentilissima dama.
tendo ainda
ainda aa suprema
suprema qualidade
qualidade de de serem
serem en-en-
viados os soccorros ao seu destino, na força da
crise, o que os torna mais valiosos ainda. 94*)
fazemos este reparo porque entre nós úê cos-
Fazemos •ÍK*
tume quasi geralmente seguido accudir aceudir aos gran-
des infortúnios quando a taça da amargura está Os relevantes serviços prestados pelo visconde
esgotada ou os resultados
restiliados do desastre 'remedia- remedia- de Rio Vez dá humanidade e aos seus compatrí-
dos. cios não podiam ficar no olvido,—por
olvido,— por isso pos-
Em
Em 1876 \X-h quando
quando as as repetidas
repetidas inntindaçÕes
innundações sue os seguintes documentos da consideração
causaram tão terríveis dam nos riá agricultura por- dos governos, e de diversas sociedades particu-
tugueza, reduzindo á miséria numerosas famílias, lares: a commenda da imperial
Imperial ordem da Rosa,
o
o visconde
visconde de de Rio
Rio Vez
Vez reuniu
reuniu em em suasua casacasa vários
vários do Brasil; a de Christo. de Portugal; a meda-
amigos aos quaes fez partilhar o desejo de dar lha de honra da associação da Caixa de Socor-
lenitivo aos seus compatriotas aalllictos 111 ic tos e consti- ros de D. Pedro V, a de benemérito da Asso-
tuiu a grande commissao,
com missão,wque enviou a impor- ciação i.° de Dezembro 1640; a da Real Socie-
tante verba a
de 2(0:4X2.72
2(0:482^2^0 o réis,
reis, a sua mages- tária Humanitária, do Porto; a da Sociedade de
tade a^ a sr. D. Maria Pia, para accudir aceudir ás victi- Geographia, dc
Gcographia, de 1 isboa; a da Real Associação
mas dd\iquelles
"aquelles terríveis acontecimentos. dos Architectos Civis c Archcologos
Archeologos Portugue-
Esta cifra — talvez a mais importante a que ses e mensões distinctivas de benemerito
zes benemérito ce pro-
tenha subido
subido umauma subscripção
subscripção particular
particular para para tector dc
de outras muitas corporações.
accudir
aceudir a victimas de qualquer rataclvsmo-—- rataclvsmo — Estas são as mercês dc de honra,
honra* que lhe tem
attesta quão respeitado e estimado é oo*homem homem s:do conferidas: mas os principaes títulos de glo-
sido
que fez fez umum appello
appclio tão
tão bem
bem succcdido
suecedido aos aos sen-
sen- ria existem no fundo do seu coração, na bondade
timentos generosos dMm d\im povo brioso. extrema e inalterável da sua alma generosa.
^7

2
O LIVRO 1>E
1)K OURO
OIRO "

0 VISCONDE DE
0 VISCONDE DE SISTELLO
SISTELLO

O visconde
O visconde de de Sistello,
Sistello, .Manuel
Manuel António
Antonio Gon- cada
cada passopasso na na historia
historia dada conquista
conquista do do Peru
Peru ee
çalves Koque, nasceu
çalves Roque, nasceu na na casa
casa das das Lages,
Lages, no no lo-
lo- outras.
par do do Sistello,
Sistello, nas nas cercanias
cercanias de de Villa
Villa Nova
Nova dos dos O visconde de
O visconde de Sistello,
Sistello, que
que nascera
nascera na na formosa
formosa
gar
Arcos, a 14 de junho de 1804. 1SIÍ4. região do
região do norte
norte de de Portugal,
Portugal, que que êé toda
toda um um vi- vi-
Como se vc, vé\ esta briosa familia, família, conta já tra- rente
rente jardim, sentia oo desejo
jardim, sentia desejo de de conhecer
conhecer essas essas
dições honradas
dições honradas ee memorias memorias gloriosas
gloriosas de de seus
seus campinas phantasticas de
campinas phantasticas de verdura
verdura luxuriante
luxuriante ee
antepassados, glorias
antepassados, glorias ee tradições
tradições que que acompa-
acompa- opulenta, onde
opulenta, onde aa palmeira
palmeira desdobra
desdobra as as suas
suas lar-lar-
nham
nham as as casas
casas solarengas
solarengas das das províncias,
províncias, prin-prin- gas folhas ee aa magnolia
gas folhas magnólia embalsama
embalsama os os ares
ares com com
cipalmente das
cipalmente das províncias
províncias do.norte,
do.norte, onde onde as as re-
re- o seu perfume singular.
miniscências feudaes
miniscências feudacs se se conservam
conservam ainda ainda com com Moderou
Moderou pois pois oo desejo
desejo de de saber
saber cc concedendo
concedendo
uma tal ou qual importância. aos estudos oo mais
aos estudos mais curto
curto espaço,
espaço, em em queque toda-
toda-
K não
não se se pode
pôde anathematisar
anathematisar essa essa classe,
classe, hoje via logrou distinguir-se,
via logrou distinguir-se, partiu
partiu parapara oo Rio
Rio de dc Ja-Ja-
K hoje neiro, ondeonde já já seu
seu irmão
irmão era era muito
muito considerado
considerado
viva apenas
viva apenas nas nas paginas
paginas da da historia
historia ee nas nas len-
len- neiro,
das
das ora ora lúgubres
lugubres ora ora cavalleirosas
cavalleirosas que que osos anciãos
anciãos ee lançou-se
lançou-se com com ardor
ardor no no commercio
commercio em em laiga
larga
contam úà' lareira
contam lareira nas nas noites
noites longas
longas cc caligino-
cahgino- escala. . . .
sas de de inverno.
inverno. Os Os barões
barões feudaes
feudacs também
também ti- ti- Não tardou aa sorte
Não tardou sorte aa bafejai
bafejai oo propicia
propicia ec ape- ape-
sas
veram o seu
seu período,
período, em em que que foram
foram os os elemen-
elemen- nas poude ter algum momento
nas poude ter algum momento de repouso tra- de repouso tra-
veram o tou de dedicar-se
dedicar-se ao ao cultivo
cultivo ameno
ameno das das lettras,
1 et trás,
tos do
tos do aperfeiçoamento
aperfeiçoamento da da humanidade
humanidade ee da da ci-
ci- tou de
vil isação dos povos.
vilisação
applicando-se
applicando-se aa completarcompletar aa instrucção,
instrucçáo, que que
A guerra
A queira — — esse
esse exercício
exercício favorito
favorito das das classes
classes abreviara na pátria, pelo desejo
abreviara na patria, pelo desejo de ir cedo parade ir cedo para
privilegiadas e das castas distinctas durante tan-
priviltgiadas aquella terra onde
aquclla terra onde lhe estava destinado
lhe estava destinado occupar
oceupar
tos séculos -
tos séculos - ;; aa guerra,
guerra, éè tambem
tambem um um elemento
elemento de de tão brilhante logar.
civilisação e tanro mais poderoso, quanto maior Como
Como o o satelite
satélite segue
segue oo astro,
astro, assim
assim oo vis- vis-
civilisação e tanto mais poderoso, quanto maior
conde de
' conde de Sistello
Sistello seguiu
seguiu os os passos
passos dc de seu
seu illus-
illus-
éé o o atraso
atraso da da instrucção
instracção no no paiz, que se
pai/., que se civilisa.
civilisa.
tre irmão, aa quemquem anteriormente
anteriormente nos nos referimos,
referimos,
Foi
Foi aa guerra
guerra que que civilisou
civilisou aa Luropa.
Kuropa. ForamI* oram os os tre irmão,
barões feudacs nas nas suas
suas correrias,
correrias, nas nas suas
suas lu-lu- implicando se
applicando se aa proteger
proteger as as classes
classes pobres,
pobres, favo- favo-
barões feudaes recendo
tas intestinas,
tas intestinas, nos nos seus
seus conílictos
coníliens com com os os reis
reis aa recendo aa instrucção.
ínstrucção. promovendo
promovendo aa fundação fundação
quem disputavam regalias regalias de de poder
poder ce com com os os de escolas ee auxiliando
de escolas auxiliando especialmente
especialmente as as socie-
socie-
quem disputavam dades
bispos que
bispos que lheslhes invadiam
invadiam os os territórios
territórios ce os os di-
di- dades hospitaleiras, onde serviu os primeiros car-
hospitaleiras, onde serviu os primeiros car-
reitos, que que promoveram
promoveram oo desenvolvimento
desenvolvimento das das gos, dispendendo
gos, dispendendo com com cilas
cilas quantiosas
quantiosas som- som-
reitos,
ideias generosas, cc que
ideias generosas, que provocaram
provocaram as as conces-
conces- mas. .
sões aos povos da parte
parte dosdos queque lhe
lhe sollicitavam
sol licitavam Km
Km tudotudo remtem dado
dado pasto
pasto extenso
extenso as as tendên-
tendên-
sões aos povos da cias do seu
seu coração
coração nobilissimamente
nobilissimamente magnani- magnani-
o concurso. cias do
Involuntariamente em parte, cm em parte espon-
taneamente, os os barões
barões feudaes
feudacs prestaram,
prestaram, nas nas  Caixa dc
A Caixa de Socorros
Socorros de
de D.
D. Pedro
Pedro VV uma
uma das
das
taneamente, instituições portuguezas
portuguezas na
na capital
capital do
do grande
grande im-
im-
eras em
eras em que que ilorescia
ilorescia o o feudalismo,
feudalismo, relevantes
relevantes , instituições
serviços pério americano, éé uma
pério americano, uma das
das sociedades
sociedades que
que mais
mais
serviços ãà emancipação
emancipação humana humana da da escravidão
escravidão
proficuamente tem experimentado
experimentado estes
estes elevados
elevados
da ignorância. profkuamcnte tem
C)s solares
(Js solares provincianos,
provincianos, as as casas
casas solarengas
solarengas sentimentos.
I sentimentos.
parecem conservar aa memoria memoria d'essescTesscs factos já No Hospital da
No Hospital da Sociedade
Sociedade Portugueza
Portu^ueza dede Be-
Be-
parecem conservar factos já neficência foi ha pouco tempo eregido o seu
seu re-
re-
passados. neficência foi ha pouco tempo cregido o
Na casa
casa solarenga
solarenga das das Lages,
Lages, no no Sistello,
Sistello, onde
onde trato, na qualidade
trato, na qualidade de
de Benemérito notável.
BchcjjicviIo nolcivcl.
Na
nasceu
nasceu o o nosso
nosso biographado,
biographado, as as tradições
tradições eram eram
todas generosas
todas generosas ee liberaes;
liberaes; por por isso
isso os
os dois
dois irmãos
irmãos
alimentaram homogéneos
alimentaram homogéneos sentimentos,
sentimentos, em em queque
predominam
predominam aquelles aquelíes que que produzem
produzem os os rasgos
rasgos
phylantrópicos e de caridade.
phylantropicos A ausência não
não fez
fez esquecer
esquecer aa patria,
pátria, nemnem os
os
A ausência
encantos do novo mundo poderam
encantos do novo mundo poderam obliterar no obliterar no
coração dkste
coração «Teste sympathico
svmpathico cavalheiro
cavalheiro asas reminis-
reminis-
cências
cências dada terra
terra" onde
onde abrira
abrira osos olhos
olhos áá luzluz da
da
vida. ..
É por
por isso
isso que
que todos
todos os os emprehendimentos
emprehendimentos
O visconde de
O visconde Sistello que
de Sistello que nutriu,
nutriu, como
como seuseu portugueses obtiveram
obtiveram oo seu seu concurso,
concurso, iniciando
iniciando
irmão, o desejo
desejo de
de ir
ir ver
ver essas
essas terras
terras formosas portuguezes
irmão, o formosas muitos commettimentos úteis e collocando-sc
de Santa Cruz,
de Santa Cruz, onde
onde vivem
vivem as
as lendas
lendas dos
dos con-
con- muitos commcttimentos úteis e collocando-sc
quistadores mais
mais compassivos,
compassivos, dkquelles
cTaqucllcs que
que não
não sempre na
sempre na primeira
primeira fileira
fileira dos
dos seus
seus mais
mais estic-
estré-
nuos propugnadares, concorrendo
nuos propugnadares, concorrendo valiosamente
valiosamente
macularam
macularam as as suas
suas sublimes
sublimes obras
obras com^
com os os la-
la- para os bons
bons serviços
serviços tambem
tambem prestados
prestados por por seu
seu
trocínios, os assassinatos
trocínios, os assassinatos barbaros
bárbaros ee inúteis,
inúteis, para os
as hecatombes espantosas
as hecatombes espantosas que
que se
se encontram
encontram aa illustre irmão.
2S
2$ O
O IJVRO
LIVRO DE
DE OI RO
OIRO

vado o conforto a muitas famílias, desenvolvendo


aa agricultura
agricultura nas
nas suas
suas propriedades,
propriedades, nas
nas quaes
quaes
estão adoptados os sv systemas
st emas modernos de cul-
Tito
Tilo relevantes serviços oão podiam deixar de tura, ensinando assim, praticamente, a cultivar por
assim/praticamente,
ser devidamente galardoados; assim, recebeu suc- maneira a competir com as nações mais adian-
ccssivaincnte foro de fidalgo
cessivainente as seguintes mercês: fòro tadas ; o que é de certo o mais valioso impulso
cavalleiro, commenda da ordem de Nosso Senhor que se pôde dar á arte agrícola, no paiz, onde
Jesus Christo e a final o titulo de visconde de jaz escravisada aos processos rotineiros, únicos
Sistello e a carta de brazão d'armas,
Sistcllo cTarmas, por su- que conhece a generalidade dos lavradores indí-
cessão. genas.
Do governo brasileiro recebeu também o ofli-
otli- Por este motivo a Real Associação Central
cialato da imperial ordem da Rosa, que o mo- da Agricultura portugueza lhe conferiu o titulo
narcha lhe concedeu, expressamente para com- sócio protector.
de socio
memorar os valiosos serviços prestados áquelle
paiz.

Dissemos ha pouco que o visconde de Sis-


No Brasil contrahiu o visconde de Sistello
Sistcllo con- tello amenisou o espirito no cultivo das lettras,
tcllo
sorcio com a,namaisa1gentil dama da sociedade bra- •ee dcde tal maneira o fez, que possue hoje o diplo-
sileira, a ex. sr.'
sr. D. Julia
Júlia de La Bourdonnai, ma de membro de algumas sociedades scienti- seienti-
filha de seu irmão o visconde de Rio Vez, que fic as e litterarias entre as quaes devemos men-
ficas
alem de uma fortuna colossal dotou sua formosa cionar emcm primeiro logar a sociedade dos Archi-
sociedadodos
filha com a mais preciosa educação e todas as tectos Civis ce Archeoíogos
Archeoiogos Portuguezes que lhe
virtudes que pódem
podem fazer do lar um paraíso. concedeu a medalha de dè mérito, ce sabe-se que
Lsta dama representa, por sua finada mãe, uma
Esta esta sociedade é uma das mais esclarecidas "do
das mais antigas ce iIlustres
illustres famílias francezas. paiz e das menos liberaes na concessão de tacs taes
favores, que importam o reconhecimento de ver-
dadeiros merecimentos.
i*z- A sociedade de Geographia de Lisboa tam-
bém o honrou com a sua medalha e bem assim
a Sociedade i.° dc de Dezembro de 1640,
1Ò40, que por
Ha alguns annos veio o visconde de Sis- este modo galardoou os seus serviços patrióticos
tello, a Portugal, o
tcllo, ocupando-se desde logo a
oceupando-sc ce o entranhado amor, que consagra ãa terra onde
restaurar a casa solarenga de seus antepassa- nasceu.
dos.
A antiga casa das Lages acha-se hoje cxplen-
expiem
•didamente transformada.
O visconde mandara construir dois torreões
sobre arcarias, de maneira que o vetusto edifí-
cio éc hoje uma magnifica casa apalaçada, sem se- Quem percorrer
percorrer^ as províncias, especialmente
v
melhante nos arredores. as do norte do paiz.,paiz, encontra por toda a parte
Esta propriedade attesta hoje que o seu pos- signaes da passagem d'esse doesse vulto quasi lendário
suidor tem fino gosto artístico, e é ao mesmo vulgarmente conhecido pelo nome genérico de
tempo testemunho de que sente todas as delica- brasileiro. N'esses logares
logarcs tem sido elie
elle o restau-
dezas de coracão.
coração. rador do templo arruinado, n'outro neutro o fundador
da escola ou do asvlo,asvlo. n'outro o bemfeitor
bem feitor dos
pobres e desvalidos; por toda a parte emfím emfim e
por todas as maneiras se tem revel Indo o amor
rcvellado
á patria
pátria d'esses
d\»sses expatriados voluntariamente, que
entre os afíagos
aflagos da sorte não se esquecem do
A biographia do visconde de Sistello,
Sistcllo, assim torrão onde nasceram.
como a dcde seu benemerito
benemérito irmão, constituem Dizer que os distinctos cavalheiros a que nos
uma verdadeira epopeia, a epopeia do Bem, liem, o ternos^ referido levantam a suprema altura a re-
temos
poema admirável e sublime, da Benemercncia.
Benemerência. putação d'esse vulto lendário, o brazíleiro,
brazileiro, jus-
De quantas maneiras se pôde exemplificar o de-, de- tificando todas as generosidades, todas as gran-
sejo de ser util
útil áa sociedade ec beneficiar a huma- dezas, todas as virtudes a elle attribuidas èé fa-
nidade, cm
em todos teem traduzido em factos esse zer-!hes o mais aquilatado elogio.
zer-lhes
desejo sublime e intenso. Effectivameme brazileiro eê um verdadeiro
Effectivamente o brazilciro
Não é, com
Náo tudo, o beneficio mais eflicaz a es-
comtudo, emissário da Providencia para as terras peque-
mola que, por mais quantiosa que seja, representa nas da província e para os habitantes infelizes:
um valor que se extingue em mais ou menos estes cavalheiros sabem melhor que ninguém re-
tempo; o visconde do Sistello, tem accudido
aceudido ás presentar a Providencia, por isso o seu nome éc
classes menos favorecidas do paiz por maneira acompanhado d'um d\im cântico de bênçãos.
mais eflicaz do que offertando-Ihe
oifertando-Ihe donativos va-
liosos. O visconde, bem como seu irmão, tem le- TVP.
TVP. MATTOS
MATTOS MOREIRA
MOREIRA —
— FRACA
PRAÇA DOS
DOS RESTAURADORES,
RESTAURADORES, l5
l5 E
E l6
l6
2y

O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

''fiiographias dos personagens mais disliitclos


'Hiographias distinctos em politica,
armas, religião, lettras,
lei iras, sciencias, artes, connnercio,
commercio, industria e agricultura

AN NO I
ANNO VOLUME 1 PUBLICAÇÃO
PUBLI CACAU PARA PORTUGA!.
PORTUGAL E BRAZIL yjio — ii885
JU>blO
JU 885

00 Conde
Conde da Esperança
da Esperança veram dois filhos, sendo o primeiro o dr. José
Bernardo dcde Barahona Fragoso Cordovil da Ga-
Nas paginas do Livro de Ouro procuramos ma Eobo,
Lobo, bacharel formado em philosophia e
sempre com interesse o ensejo de prestar as de- actual visconde da Esperança; e o segundo o dr.
vidas homenagens aos cidadãos beneméritos que Francisco Eduardo de Barahona Fragoso Cor-
trabalham na grande obra do progresso e se as- dovil da Gama Lobo, bacharel formado em di-
sociam ás
às festas do trabalho, as que mais pode- reito e moço fidalgo com exercício no Paço.
rosamente concorrem para o desenvolvimento Tendo enviuvado contrahiu segundas núpcias
dos povos.
povos. Eis oo que
que explica
explica aa escolha
escolha da
da indi-
indi- em dezembro de 1849 com I). D. Maria Josi de
vidualidade, sobre cuja vida e caracter vamos Carvalho e Mira. filha" do doutíssimo desembar-
dizer algumas palavras. gador José Paulo dcde Carvalho eede
de D. Francisca
Ludovina de Mira.
<ãi;íV-<? LVcstc
ITeste consorcio apenas houve um filho: José
Josc
Jose Maria de Barahona Cordovil da Gama Paulo dc
de Barahona Carvalho e Mira, abastado
Lobo, actual conde da Esperança, nasceu na villa proprietário, residente em Évora.
de Cuba
de Cuba aosaos i? \? dias
dias do do mez
mez de
de setembro
setembro de de
181/1.
18 id.
capitão-mór. Francisco Cordovil de
É filho do capitao-mór. No ultimo quartel do presente século os cami-
Barahona Fragoso e de D. Maria Lúcia Olym- nhos de ferro- tem dado uni um impulso gigante á
pia de Mira. civilisação do nosso paiz, ligando estreitamente
O conde da Esperança conta hoje (>p (íu annos. os povos entre si, favorecendo o commercio, as
Quando se tem passado a vida no austero industrias e a educação popular. A locomotiva,
cumprimento do dever, na dedicação aos princí- atravessando com o seu penacho de fumo as pla-
pios generosos e bons, quando cada dia repre- nícies e rasgando as montanhas, beneficiou im-
senta uma oblata no culto da honra, quando se mensas povoações até ahí ahi ignoradas, annuncian-
tem empregado a existência em ser util útil á patria
pátria convidandoas
do lhes a aurora da civilisação e convidando as
ee áá sociedade,
sociedade, os os longos
longos annos
annos são
são de
de per
per si
si um
um para o grandioso festim do progresso.
eloquente panegyrico, o mais significativo de to- Foi compenetrado d'estas
d'cstas immensas vantagens
dos os louvores. que oo conde
que conde dada Esperança,
Esperança, auxiliando
auxiliando aa inicia-
inicia-
Probo, d d\ima
1
uma probidade de raça, como seu tiva official,
ofíicial, cedeu gratuitamente na distancia de
iIlustre pae,
illustre pae, que
que foi
foi oo tvpo
typo da
da boa
boa cc proverbial
proverbial vinte kilometres
kilometros os seus terrenos para a cons-
probidade portugueza; herdeiro de tradições no- trucção do caminho de ferro no louvável intuito
bilíssimas o conde da Esperança não só tem con- de approximar
approximar aa estação
estação áá villa
villa de
de Cuba.
Cuba,
servado o lustre d\imad'uma ascendência honrada, mas Poucos, como o conde da Esperança, seriam
cabe-lhe aa gloria
cabe-lhe gloria dede ter
ter augmentado
augmentado oo esplendor
esplendor susceptíveis de praticar acto de tamanha bísar- bisar-
que aureolava
que aureolava oo vulto
vulto dos
dos seus
seus maiores.
maiores. ria, principalmente se considerarmos que vive-
Sendo um
Sendo um dos dos mais
mais abastados
abastados proprietários
proprietários ee mos sob a influencia d'uma epocha por demais
úteis lavradores
úteis lavradores do do reino
reino podia,
podia, se
se quizesse,
quizesse, vi-vi- utilitária
militaria e materialista:
ver nas
ver nas delicias
delicias de de umum ocio
ócio egoísta,
egoista, mas
mas temtem Tão benemérita acção diz só por si o quanto
preferido dar
preferido dar constantemente
constantemente azas azas dá sua
sua inicia-
inicia- o illustre titular se interessa pelo progredimento
tiva benéfica,
tiva benéfica, pondo
pondo ao ao serviço
serviço da
da sua
sua terra
terra to-
to- civilisador da sua terra natal e o quanto é digno
da aa dedicação
da dedicação ee boaboa vontade,
vontade, de
de que
que éê capaz
capaz da sympathia de todos os seus conterrâneos.
um espirito
um espirito cheio
cheio dcde intenções
intenções elevadas.
elevadas.
O conde
O conde dada Esperança
Esperança éé porpor isso
isso uma
uma das
das in-in-
dividualidades mais características da fidalguia Durante largos annos, isto é, desde 1835 i835 a
prestante, aa personificação
prestante, personificação maismais veneranda da da 1880 exerceu quasi ininterruptamente o cargo
actividade benemérita e do civismo desinteres- de presidente da camara
camará municipal da villa de
seiro. Cuba, bem como exerceu algumas vezes o logar
*!?. de procurador dá junta geral do districto.
ã\ No árduas funeções pa-
ÍNo cumprimento doestas arduas
O conde
O conde da
da Esperança
Esperança casou
casou em
em primeiras
primeiras tenteou o conde da Esperança todo o seu grande
núpcias, em 25 de agosto de 1835
1833 cum sua prima civismo ec actividade, desenvolvendo dc
de um mo-
D. Maria
D. Maria Margarida
Margarida de
de Barahona
Barahona Fragoso,
Fragoso, filha
filha do notável a viação, augnientando
augmentando os rendimen-
mais velha
mais velha do
do morgado
morgado das
das Alcáçovas
Alcáçovas ee do
do Tor- tos municipaes, melhorando vários serviços e
rão, Luiz Feliciano Fragoso e de D. Maria Ignez
Igncz contribuindo incessantemente para a boa hygiene
hygicne
Sovereíra de Barahona. D'este
Sovcreira D"cstc matrimonio hou-
hou* e embellcsamento
embellesamento da villa.
3o O LIVRO DE OURO

Em todos os actos realísados


realisados deu provas ine- A sua fama como agricultor e creador va-
quívocas de um grande tino e de largos conhe- leu-lhe o ser eleito membro e vice-presidente
cimentos administrativos
administrativos:i por isso na villa dc
de honorário da Sociedade Nacional de Apicultura
Agricultura
Cuba e ainda distante d'clla,
d^ella, basta só proferir Manufactureira e Commercial de c'Paris,
Paris, honra
o seu nome, para que todo o homem de bem sobremaneira merecida.
sinta o mais vivo enthusiasmo.
-^**e-
Altamente considerado pelos mais altos pode-
A agricultura, é a principal riqueza das na- res do estado tem sido por diversas vezes visi-
ções: assim o disseram Quesnay, Semith, Semi th, Say, tado, em sua casa, na quinta da Esperança, por
Mahhus,
Malthus, o terrorista da lei do progresso, Gas- família real. Assim, recebeu
diversas pessoas da familia
par
parinin ce Garnier. 1843 a rainha D. Maria II
em )8q3 el-rei D. Fer-
11 e cl-rci
É
E por isto que as sociedades modernas, que nando; em 1860i8()o El-rci D. Pedro V e o infante
se presam de civilisadas, dirigem todos os seus D. João, duque de Beja.
esforços a promover o desenvolvimento da agri- O actual reinante tem pelo caracter e méritos
cultura, instruindo os lavradores nos processos do conde da Esperança a mais particular estima
da mechanica para que, por si próprios, conhe- e. sempre que vae caçar a Alvito, aproveita o en-
c.
çam a superioridade das machinas sobre os pro- lrTa testemunhar.
sejo de lh'a
cessos rudimentaes até hoje usados na cultura
dos campos; para que se certifiquem dos immen-
sos lucros em tempo, braços, c qualidade do O conde da Esperança possuc
possue os seguintes tí-
trabalho que prodigaiisam
prodigalisam esses milhões de es- tulos nobiliários: fidalgo cavalleiro da casa real
cravos laboriosos chamados machinas de vapor, — commendador da Ordem da Conceição de
cujo trabalho não custa nem penas, nem suores, Villa
Mila Viçosa—moço fidalgo com exercício
exercido no Paço
nem lagrimas. — titulo de conde com grandeza nTste
n^este reino, etc.
Os estrangeiros admiram-se de que nós, pos-
suindo terrenos de tão variada constituição geo- ^ £>
lógica, não desentranhemos d'elles d^lles tudo o que Como homem, na sua vida particular, o conde
podem produzir sem os empobrecer. E K a causa da Esperança tem o elogio das suas qualidades,
d isto è porque nós preferimos a rotina velha ec na estima, respeito c sympathias de que disfru-
ronceira aos systemas modernos empregados cta. A sua família, cé um modelo d'estas
destas peque-
vantajosamente pela industria agrícola. nas tribus sociaes, que cada vez são mais raras,
Se fazemos estas considerações é para pôr em cm onde ha apenas uma vontade, uma aspiração ec
saliente relevo a personalidade do conde da Es- um sentimento commum,
commurn, suavíssimo, delicado,
perança, corno agricultor. sublime. As paredes do seu solar podiam ser
Apostolo convicto da animação agrícola, es- transparentes, que o povo só veria ali exemplos
pirito essencialmente progressivo e contrario ao de caridade, de afléição
afíeiçáo c de nobreza d'alma.
d^lma.
chouto da rotina, foi o primeiro que no districto A porta da quinta da* da» Esperança não bate
de Beja tem usado desde 1864
dc 1804 dos mais aperfei- uma desgraça que não seja soccorrida
soccorricia com o se-
çoados e modernos instrumentos agrarios, agrários, taes gredo e generoso mysterio que o evangelho re rc
como debulhadoras a vapor, ceifeiras, charruas, commenda.
engenhos hydraulicos para irrigação c fertilisa-
fcrtilisa- Os pobres tem n'elle um desvellado
dcsvellado protector
ção do solo, etc.,
ete, etc. ce os ricos um modelo a estudar.
colónias
As suas propriedades são verdadeiras colonias Quantas virtudes pódem
podem esmaltar se n'uma
agrícolas: vastos terrenos d'uma uberidade ten- consciência convictamente christã; quantos dotes
tadora, extensas varzeas
várzeas cerealíferas, innumera-
innumcra- êé legitimo requerer a um bom cidadão; quantas
veis olivedos ec vinhas, opulentas campinas para distmetas qualidades é mister que um homem
pastagem, bellas officinas
oflicinas agrícolas, tudo forman- reúna cm em si para exercer a mais larga influencia
do um quadro de operações e um campo de luta no circulo das suas vastas relações — tudo isto
grandiosa, onde o trabalho recebe como convite possue, em elevado grau, ooillustre biographado.
illustre bíographado.
o fascinante sorrir da natureza, exuberante de O dever pelo dever é a norma a que obede-
gallas fruetos!
galjas e tentadora de fructos! cem todos o> seus actos, e da qual não se afas-
É assim que o conde da Esperança dá, como
E ta nunca.
agricultor, o nobre exemplo do quanto pôde a O conde da Esperança é sempre o mesmo ho-
intelligencia
íntelligencia humana alliada ás forças da natu- mem: fidalgo nas acções, humanitário no espi-
reza. rito; grave, mas sempre delicado—benevolo
delicado—benévolo para
Como creador, tem conseguido tornar-se egual- todos.
mente notável no aperfeiçoamento das raças ca- Para todos os seus creados não é um patrão
vallar, ovina e suina,
suína, de que tem obtido exem- é um protector, um amigo. Por isso, com a reci-
plares perfeitíssimos que rivalisam com os me- procidade de sentimentos, com o fundo reconhe-
lhores das outras nações ou os excedem na cimento que caractcrisa
caracterisa esses filhos do trabalho,
especial apropriação ao fim a que se destinam. elles tem por seu amo uma verdadeira veneração.
Como recompensa doestes louváveis esforços Abençoada existência a de um homem assim !
tem recebido dilíerentes medalhas, mensões hon- A Providencia compensa-lhe as virtudes, dan-
rosas e prémios especiaes nas exposições de Pa- do lhe a mais apetecida coroa que pôde
do-lhe pódc cingir a
ris— Londres — Porto — Filadelphia ; e ultima- fronte de um pae amantíssimo, coroa que é feita
mente na que se realisou na Tapada da Ajuda. da luz do talento de seus filhos.
t(
O LIVRO DE OURO 3i

LUIZ ,GONZAGA
LUIZ .GONZAGA DOS
DOS REIS
REIS TORGAL
TORGAL

O dr.
G Reis Torgal,
dr. Reis Torgal, cujacuja biographia
biographia vamos
vamos foi
foí aa entrada
entrada n'uma
n'uma campanha
campanha d'aquellas
d*uquellas em em que
que
contornar
contornar ao ao correr
correr da da penna,
pcnna, pertence
pertence àá nobre
nobre só
só cé dado
dado sair sair vencedor
vencedor ee triumpnantc
triumpnantc aa quem quem
pbalangc dos
pbaiange dos que
que trazem
trazem no no peito
peito aa placa
placa dia-
dia- possuc
possuc uma uma energia
energia suprema,
suprema, uma uma perseverança
perseverança
mantina dos dos crentes
crentes do do progresso,
progresso, caminha
caminba na na tenaz ee os os dotes
dotes que
que caracterisam
caracterisam os os heroes.
heroes.
vanguarda
vanguarda d'essa legião desassombrada
íTCSSII legião desassombrada dos dos que
que Privado dos dos meios
meios indispensáveis
indispensáveis para para conti-
conti-
entram na
entram vida como
na vida como os os «ladiadores
gladiadores romanos
romanos nuar
nuar os os estudos,
estudos, teveteve que
que entrar
entrar ao ao mesmo
mesmo tem- tem-
entravam na
entravam na arena
arena contando
comando só só com
com oo esforço
esforço po na-vida
na-vida pratica,
pratica, na na espinhosa
espinhosa lutaluta pela pela exis-
exis-
do próprio coração,
do proprio coração, indiferentes
indiferentes aosaos applausos
applausos tência.
ou aos apupos
ou aos apupos da da plebe,
plebe, ce abrindo
abrindo caminho
caminho atra-
atra- Foi
Foi aa litteratura
litteratura que que lhelhe forneceu
forneceu os os meios
meios in-
in-
vez de
vez de todas
todas as as dificuldades.
dificuldades. dispensáveis para se conservar em Coimbra, pro-
A sua existência
A sua existência éé oo maismais bello
bello exemplo
exemplo do do vindo-lhe esses meios da collaboração em diver-
quanto pôde
quanto pode aa intelligencia
intelligencia coadjuvada
coadjuvada pela
pela pro-
pro- sos jornaes do paiz.
bidade. O
bidade. homem èé aa obra
O homem obra dede si
si mesmo,
mesmo, como
como Este facto prova
Este facto prova queque oo dr.dr. Reis
Reis Torgal
Torgal éé tam- tam-
disse Viço; ec aa poucos,
disse Vico; poucos, comcom tanta
tanta verdade
verdade ee jus-
jus- bém
bém um um escriptor
escnptor de de muito
muito merecimento.
merecimento.
tiça, se
se pódc
pódc appltcar
appltcar aa profunda
profunda sentença
sentença do do Os primeiros talentos
Os primeiros talentos contemporâneos
contemporâneos enter- enter-
tiça,
illustre pensador,
illustre pensador, como como ao ao dr.
dr. Reis
Reis Torgal.
Torgal. O O naram-se
naram-se todos todos mais
mais ou ou menos
menos nos nos labyrintos
labyrintos
que
que éd aa si
si oo deve
deve ec aa ninguém
ninguém mais
mais dodo que
que aa si.
si. da polemica jornalística,
da polemica jornalística, n'essa
n'cssa litteratura
litteratura que que
São do
São nosso século
do nosso século estes
estes operários
operários da
da evolu-
evolu-
tem de
tem de tomar
tomar as as mil
mil fórmas
formas de de Protcu;
Proteu; poucos,
poucos,
ção; pertencem
ção; pertencem aa épocas épocas jájá mortas
mortas osos que,
que, des-
des- porem, teem
porem, teem começado
começado como como oo dr.dr. Reis Torgal,
Reis Torgal,
crendo de
crendo de si,
si, se
se refugiam
refugiam em cm espirito
espirito na
na immo-
immo- que
que se se iniciou
iniciou nWa vereda colhendo
n'essa vereda colhendo proventos,
proventos,
bilidadc que
bilidadc que antecedeu
antecedeu aa ebullição
ebullição das
das modernas
modernas o que
o que evidenceia
evidenceia aa sua sua manifesta
manifesta superioridade
superioridade
sociacs.
aspirações sociaes. e competência,
competência.
K
É umum espelho
espelho ec um um exemplo
exemplo esta esta phase
pbase da da
vida
vida do do nosso
nosso biographado.
btographado. Após Após as as longas
longas ho-ho-
Nasceu o dr. Luiz Gonzaga dos Reis Heis Torgal. ras
ras dosdos seusseus labores
labores jornalísticos,
jornalísticos, em em que que ga-
ga-
n"uma pequena aldeia
n'uma pequena aldeia du du concelho
concelho de de Fundão,
Fundão, nhava
nhava o o sustento
sustento quotidiano,
quotidiano, nao não ia ia buscar
buscar aa
denominada Barroca, Barroca, aos aos i<S18 dede julho
julho dede i8ãa,
i8?2, distracção dissolvente das
distracção dissolvente das orgias,
orgias, ao ao contrario;
contrario;
contando por conseguinte a idade mais flores- llores- isolado'das alegrias, afastado aííastado dos prazeres que
cente
ccntc ee bel bcíla
la dodo homem
homem — — 3333 annos.
annos. enfloram
enfloram aa vida vida dos
dos poderosos,
poderosos, elle, elle, oo austero,
austero,
Kez
Fez asas suas
suas Humanidades
Humanidades sob sob aa direcção
direcção do do elle,
ellc, oo trabalhador
trabalhador emérito,
emérito, procurava
procurava najnsfruc-
najnstruc-
douto jurisconsulto, seu tio, o dr. Manuel Ro- ção
cão aa fundamentada
fundamentada esperança esperança de de futuras
futuras com-com-
que,
que, que que asas perturbações
perturbações de de 1834
1834 haviam
haviam des- des- pensações !
viado
viado da da vida
vida activa
activa do do fôro,
foro, sendo
sendo comtudo
com tudo re- re- Caminhou rapidamente desde
Caminhou rapidamente desde então.
então. Tornou-sc
Tornou-sc
conhecida a sua superioridade ec competência. O infatigável,
infatigável, ee as as verduras
verduras da da mocidade
mocidade cederam cederam
contacto
contacto com com este este caracter
caracter austero
austero ee inquebran-
inquebran- lo^ar áá reflexão,
lo^ar reflexão, ao ao labor
labor continuo
continuo ec ao ao estudo
estudo
tável tnoculou-lhe no
tável inoculou-lhe no animo
animo oo gérmen
gérmen das das virtu-
virtu- profundo.
profundo. De De 1872
1872 aa i8;3 frequentou oo primeiro
1873 frequentou primeiro
des severas e viris. anno
anno dede theología;
theologia; no no anno
anno dc de 1873
1873 ec 1874 1874 cur-
cur-
Em
Em 18G71867 teve
teve o desgosto de
o desgosto de perder
perder esteeste amigo
amigo sou o primeiro anno jurídico e em
sou o primeiro anno jurídico e em 2 de julho de 2 de julho de
ee director,
director, pelo
pelo queque teve de ir
ir estudar
estudar em em Coim-
Coim- 1878 concluiu aa sua
1878 concluiu sua formatura.
formatura. E, E,j:omquanto
comquanto
teve de
bra, onde
bra, onde pouco
pouco tempotempo se se demorou;
demorou; pois pois em cm não alcançasse prémios
não alcançasse prémios nem nem distineções
distineções nos ban-
nos ban-
i8(><>
18(H) o o seu
seu estado
estado de de saúde
saude tornou-sc
tomou-se de tal cos da Universidade, onde os
cos da Universidade, onde os mais babeis são mais babeis são
forma melindroso, que
forma melindroso, que aa sciencia
se iene ia teve
teve dede lhelhe não raro os
não raro os mais
mais obscuros
obscuros alcançou,
alcançou, todavia,
todavia, fo- fo-
aconselhar immediata
im media ta retirada para o remanso ros
ros dcde talentoso,
talentoso, forosforos queque oraora sese acham
acham refe-refe-
da sua terra natal. rendados pelo consenso publico.
Ksta doença parece
Esta doença parece ter operado no
ter operado no cérebro
cérebro de de ->5<-
Reis Torgal'uma
Reis Torgal singular revolução:
uma singular revolução: um um phre-
phrc-
nologo
nologo diriadiria que
que lhelhe houvera
houvera feitofeito desenvolver
desenvolver aa D*abi
D'abi porpor deante
deante novos
novos horisontes
borisontes se se abriram
abriram
bossa
bossa da da sensibilidade
sensibilidade religiosa
religiosa;; um um orador
orador sa- sa- áá sua
sua actividade
actividade íntelligente.
intelligcnte.
grado consideraria esta esta enfermidade
enfermidade um benefi- Depois de um curto período de descanço das
grado consideraria um benefi-
cio divino, semilhante
cio divino, semilhante ao ao que
que lançou
lançou Ignacio
Ignacio de de fadigas académicas
académicas encetou
encetou aa advocacia
advocacia na na co-
co-
Loyola
Loyola no no seio
seio da da egreja
egreja catholica.
catholica. marca
marca do do Fundão,
Fundão, onde
onde assentou
assentou banca.
banca. A faci-
A faci-
E
F tanto mais exacta seria a comparação, lidade
lidade em em discursar,
discursar, aa ardência
ardência da da palavra,
palavra, aa
quanto
quanto éé certocerto que que aa ordem
ordem dos dos jesuítas
jesuítas fqif<y aa erudição
erudição que que se
se manifesta
manifesta espontaneamente
espontaneamente nos nos
preferida.
preferida. ReisReis Torgal
Torgal escreveu
escreveu ao ao superior
superior d"um
d'um seus discursos, tudo
seus discursos, tudo concorreu
concorreu para
para lhe
lhe grangear
grangear
collegio
collegio da da ordem
ordem que que estava
estava em em Santarém
Santarém ee uma numerosa clientella,
uma numerosa clientella, podendo
podendo dizer-se
dizer-se queque
pouco depois era
pouco depois era recebido
recebido ali ali como
como esperançoso
esperançoso não havia questão
não havia questão importante
importante em cm queque elle
elle não
não
noviço.
noviço. F K bem justificada era
bem justificada era esta
esta qualificação,
qualificação, poispois tivesse
tivesse dc de patrocinar
patrocinar uma uma dasdas partes.
partes. Dotado
Dotado
aa intelligencia
intelligencia superior
superior do do cathecumeno
cathecumeno já já pre-
pre- diurna instrucção variada
d'uma instrucção variada ee séria,
séria, vendo
vendo comcom oo
nunciava
nunciava o o talento
talento queque mais
mais tarde
tarde se se evidenciou.
evidenciou. seu lúcido espirito
seu lucído espirito oo lado
lado subtil,
subtil, defeso
defeso aoao vulgo,
vulgo,
A rasão venceu,
venceu, porém,
porém, aa phantasia
phantasia ee o^ pre- pre- das questões, dos
das questões, dos factos
factos,c das personalidades
,c das personalidades
A rasão tudo isto contribuiu
contribuiu para
para vulgarisar
vulgarisar oo seu nome
tenso jesuíta em
tenso jesuíta cm breve
breve trecho
trecho regressou
regressou aa Coim-Coim- tudo isto seu nome
em todo oo distrícto,
em todo districto, collocandoo
collocandoo n'umamuma planaplana
bra. distincta
O seu regresso
O seu regresso áá Lusa Lusa Athcnas
Athenas ee aos aos estudos
estudos distincta ee invejável.
invejável. Principalmente
Principalmente no no foro cri-
fôro cri-
3s O LIVRO DE OURO

minai não tinha competidor; nas audiências ge- aquella villa e vir estabelecer em Lisboa cscri- escri-
ra es em que defendia algum rcu o tribunal en-
racs ptorio de advogado. Ainda não ha dois annos
chia se de espectadores, ávidos de escutarem a que exerce a advocacia no fòro foro da capital e já
phrase ardente e colorida, desejosos de contem- possue considerável clientella,
clíentclla, promettendo tor-
plarem os arrebatamentos apaixonados da indole
Índole na r-se em breve um dos jurisconsultos mais po-
nar-se
generosa do íllustre
illustre advogado. pulares.
Em julho, de 1884, foi eleito deputado pelo cir-
<5-—❖
<^—♦ plurinominal de Castello Branco e no par-
I culo piurinominal
A politica, não podia deixar de envolver nas lamento continuou a sustentar os seus créditos
suas vastas redes o novel e talentoso orador, mas de orador fluente e erudito.
prendendo-lhe o coração não lhe avassallou os
prendendo-lhc Os seus discursos sobre as reformas politicas
brios. Ninguém consegue hoje resistir ãá tentação foram um modelo de isenção digna ec correcta.
d*essa
d essa sereia, que nos embai la ce i ilude. Ilude. A hora Pa t ri ora e liberal de alma ce coração, jamais
Patriota jãmiis
éê de lucta,
lueta, e ninguém pôde pode recostar-se nas-moi- perdeu o ensejo de cxpòr expor com franqueza e leal-
tas floridas, cmquanto a sociedade se debate ao dade as suas crenças e a sua opinião .sobre a
impulso de varias ideas.
idéas. I marcha dos acontecimentos. NMma N^ma das mais
Alas, como Íamos
Mas, corno iamos dizendo, a politica em nada importantes sessões proferiu este cavalheiro as
prejudicou a reputação do dr. Reis Torgal, Torga!, por- seguintes palavras:
que entrou rfella
iVcíla revellando
rcvellando em tanta maneira «Ninguém extranhe a minha franqueza pe-
tantos brios e honestidade que os adversários rante esta assemblea. asscmblca. Entendo que os represen-
políticos não duvidavam entregar-lhe as suas.cau- tantes do povo devem dizer ao paiz, o que sen-
sas, sempre que lhe era permittido acceitar o pa- tem e pensam, sem averiguar se a sua palavra c
cTcllas.
trocínio Tellas. ou não grata aos ouvidos do governo. Ku Eu pugno
O Fundão achava-se a esse tempo — como ce pugnarei sempre pelos meus principios, princípios, embora
ainda hoje — dividido em dois campos profunda- saiba que me hade esmagar a arithmeiica ; varro
mente extremados. D "um lado os constituintes, a minha testada e lavro o meu protesto.
ou seja os amigos do digno par do reino o con-
selheiro Vaz Preto, que o vulgo denomina por «Desejo aflirmar bem alto que não transíjo transijo com
abreviatura, os pretos, e os adversários destes este incessante caminhar para a destruição dos
pertencentes a diversas parcialidades, mas em costumes públicos.»
gloho designados pelo epitheto de brancos. O dr Estas palavras são a synthese dos sentimen-
lieis
Reis Torgal tendo entre os primeiros os seus tos do iilustre
illustre deputado. Elias provam não só a
maiores amigos, filiou-se n'essc n'cssc partido, que tem sua isenção de caracter, mas distanceiam-o distaneciam-o da
seguido .lealmente e sem tergiversações de ne- chusma dos políticos-trepadeiras que se enros-
nhuma especie.
espécie. cam ás ãs hastes de todas as bandeiras politicas,
pi?
Pj9 comtanto que achem ponto de apoio que os
•Mífr
4*i
ajude a crescer em honras e a medrar em pro-
A vida municipal, esse elemento precioso que ventos.
tanto tem contribuído para o engrandecimento Fundamentar a política politica no caracter constitue
nacional também teve valiosa collaboração do por assim dizer toda tooa a aspiração dos publicistas
nosso biographado. Na primeira eleição munici- modernos; o dr. Reis Torgal possue em elevado
pal que teve logar posteriormente ao seu esta- grau essa aspiração, que é ainda mais do que
belecimento no Fundão foi eleito vereador e uma aspiração, porque dé um dever e um pre-
pouco depois escolhido para a vice-presidencia ceito.
da camara.
camará. O quanto vaie vale a sua incansável ec vi- Fossue% também em subido grau o dr. Reis
Possue
gorosa iniciativa, dizem-nM
dizem-nV) eloquentemente as Torgal uma sensibilidade profunda e delicada: delicada; ec
actas das sessões d'aquclla
d'aquella municipalidade e os d'cssc
d'esse sentimento tão raro nos homens do fòro, foro, '
povos que lhe sentiram a benéfica influencia. deu provas tomando espontaneamente a missão
O partido progressista nomeou o administra- de patrocinar o reu de homicídio Filippe Gon-
dor do concelho, mas a scisão que em seguida çalves, que tanta sympatbia sympathia inspirou pelo seu
se deu entre esse partido ce o constituinte, 1c- lc- arrependimento. A oração foi das mais briihan- brilhan-
vou-o a declinar esse cargo. i tes que se tem produzido no fòro foro da capital ec
Renovando-se a eleição municipal foi reeleito 1 pôde dizer-sc dizer-se que a ella cila deveu o réu ter por porpia-
pia-
vereador, assumindo então a presidência d'essa d'cssa culo de tão grande culpa uma pena relativamente
importante collectívidade.
collcctividade. insignificante.
Mais tarde recahíu
recahiu também n'este n"cstc esclarecido Egual generosidade d^animo mostrou no par-
cidadão a eleição de procurador áa junta geral de lamento ao tornar-se écco e defensor da infeliz
districto e a vicc-prcsidcncia da coinmissão commissão re- classe do professorado primário, para cuja classe
censeadora; desempenhando estes cargos com a foi incessante em pedir auxilio e protecção.
máxima circunspecção e inexcedivel zelo.
maxima circumspceção Eis quem éc o dr. Reis Torgal: astro já bri-
Apesar da sua boa vontade ec como resultante lhante no céu do foro ec da politica contempo-
natural do seu talento e da sua superioridade não rânea, e a quem se pôde prognosticar um zenith
faltaram inimigos, invejosos e despeitados, a pre- sobremaneira radioso em razão das qualidades
descontar-lhe os merecimentos na moe- e virtudes cívicas que servem de norma áÁ sua
tenderem descontar-lhc
da falsa da calumnia ec da ingratidão. Isto co- eondueta. conducta.
meçou a desgostal-o da existência no Fundão.
Fatigado com tantas intrigas, resolveu abandonar TTP. MATTOS
TYP. MOREIRA —PRAÇA
MATTOS MOREIRA —PRAÇA DOS
DOS RESTAI MADORES, l5
RESTAI HADOliES, Z l6
l5 C ifi
n
n

O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

liiographias dos personagens mais distinctos


lliogvaphias distiiictos cm politica.
politica,
armas, religião,
armas, religião, let
lettras*scicncias, artes, commercio,
trás," scicncias, artes, commercio, industria
industria ee agricultura
agricultura

ANNO 1I —VOLUME
— VOLUME I PUBLICAÇÃO PARA PORTUGA!.
PORTUGAL E BRAZIL AGOSTO
AGOSTO—— 1885
188?

Nasceu o barão do Calvario,Calvário, Manuel Pereira


Barão do
Barão do Calvário
Calvário da Silva, na freguezia dc de S. Mamede dc de Villa
Verde do concelho dc de Felgueiras aos 16 de ju-
Diziam os os antigos
antigos queque oo rosto
rosto éé oo espelho
espelho da da nho de
nho de j8i3,
i8i3, devendo
devendo oo $er $er aa uma
uma família
família ho-ho-
alma, ee comquanto
alma, comquanto aa arte arte dcde occultar
oceultar oo pensamen-
pensamen- nesta dc de lavradores pouco abastados, mas muito
to
to tãotão largamente
largamente cultivada
cultivada no no presente
presente séculoséculo bem conceituados
bem conceituados nasnas freguezias
freguezias de
de Santa
Santa Christi-
Christi-
tenha reduzido muito
tenha reduzido muito aa importância
importância ee veracida-
veracida- na dc
na de Felgueiras,
Felgueiras, dodo concelho
concelho d'Amarantc
d'Amarantc ec dc de
de d^aquelle proloquio,
de d'aquellc proloquio, dão-se
dão-se todavia
todavia ainda
ajnda exu-
exu- S. Mamede
Mamcac dc de Felgueiras.
berantes provas da justiça dc de tão judicioso con- Todos sabem
Todos sabem quanto
quanto dolorosa
dolorosa écaa existência
existência dosdos
ceito. pequenos lavradores provincianos.
pequenos lavradores provincianos. Os Os tributos
tributos
Uma d'cssas provas
Uma d'essas provas brilhantes
brilhantes cc concludentes
concludentes cxaggerados por um lado; as dissenções politi-
exaggerados
tcmol-a no cidadão venerando c respeitável, cu- cas por
cas por outro,
outro, principalmente no no primeico
primeiro quar-
quar-
jos traços biographicos
jos traços biographicos agrupamos
agrupamos no no presente
presente tel do corrente século, expõem aquclla prestimo-
artigo. sa classe ás mais rudes provações.
Nao
Nao se se pódc
pode fixar
fixar sem
sem respeito
respeito aquclle
aquclle rosto
rosto Os mais d'elles para manterem o nome hon-
onde abunda
onde abunda uma uma gentilesa
gentilesa especial
especial que que nãonão óc rado que deriva sempre dc de um proceder correc-
incompatível com o pendor dos annos, porque to, tem
to, tem dcde sese irr.por
impor os os mais
mais árduos
árduos sacrifícios
sacrifícios
deriva d'uma
deriva diurna consciência
consciência tranquilla
tranquilla que
que dá dá ao
ao sem-
sem- não sendo
não sendo por
por certo
certo oo menos
menos considerável
considerável aa ne- ne-
blante oo aspecto
blante aspecto sereno
sereno cc calmocalmo d'aquellcs
craqucllcs for- for- cessidade ae cie se apartarem dc de seus filhos, para
mosos lagos
mosos lagos dada poética
poctica Florença,
Florença, onde,
onde, sem sem for-
for- lhes facultar
facultar meios
meios dcde conquistarem
conquistarem um um futuro
futuro
çar
çar aa rethorica,
rethorica, se se pódc
pôde dizer
dizer queque osos astros
astros fol-
fol- mais prospero, do que lhes pódc pode facultar os li-
gam de retratar-sc. mitados horisontes da aa sua industria.
As cans,
cans, queque revestem
revestem a nobre nobre cabeça
cabeça do do ba-
ba- Os paes
Os paes dodo barão dodo Calvario
Calvário tiveram
tiveram de de pas-
pas-
rão
rão do do Calvário
Calvário temtem sidosido testemunhas
testemunhas de de uma
uma sar por este doloroso transe. Como tantos ou-
existência toda toda applicada
applicada áá praticapratica do do bem, cc tros viram seu filho aos 14 annos abandonar
por isso, paraphraseando
por isso, paraphrascando aa concisa concisa ec eloquente
eloquente oo torrão
torrão natal,
natal, para
para ir
ir ás
ás terras
terras dc
de Santa Cruz Cruz
cxhortaçao
exhortacao dc de Bonaparte
Bonaparte aos aos seus
scus^ soldados
soldados pe- pe- cm busca
cm busca dada prosperidade
prosperidade cc da da ventura,
ventura, que que aa
rante
rante o o'maior monumento das
maior monumento das civilisaçõcs
civilisações anti-
anti- clles não fora dado encontrar na patria. pátria.
gas,
gas, se se pôde
pôde dizer
dizer áá sociedade
sociedade contemporânea,
contemporânea,
indicando o nosso biogranhado:
indicando o nosso biographado: Do Do alto
alto d'aquel-
laquei-
la
la fronte
fronte as as mais
mais nobres
nobres virtudes
virtudes vosvos contemplam.
contemplam. ãíí?-
Infunde repeito
Infunde repeito ce sympathia
sympathia oo aspectoaspecto vene-
vene-
rável dVjucllc ancião que se elevou
rável d'aqucllc ancião que se elevou d'uma clas- d\ima clas-
se honesta mas
se honesta mas humilde
humilde ás ás phalanges
phalangcs da aristo-
da aristo- Km
Km 1827 1827 embarcou,
embarcou, pois,
pois, Manuel
Manuel Pereira
Pereira dada
cracia, conquistando as
cracia, conquistando as suas
suas esporas
esporas dc de ouro
ouro Silva para
Silva para aa Bahia,
Bahia, apartando-sc
apartando-sc com com profunda
profunda
apostolisando o trabalho e honrando a lide afa- iruigua, d'aquclles a quem devia o ser e que lhe
magua, d'aquelles
nosa. tinham inoculado
inoculado na na alma
alma dc de adolescente
adolescente os os se
se-
O barão do
O barão do Calvário
Calvário ec duplamente
duplamente nobre nobre :: de-
de- veros princípios
princípios da da honra
honra ee da da dignidade
dignidade que
que
ve os arminhos á munificência
ve os arminhos á munificência regia, mas con- régia, mas con- nunca
nunca se se estérilisaram,
estérilisaram, antes
antes se se tem
tem desentra-
desentra-
quistou
quistou os os também
também com com oo exemplo,
exemplo, que que cc oo mais
mais nhado
nhado cm cm fructos
fruetos opimos
opimos cc reilcctido
reilectido emcm todos
todos
eloquente apostolado, oo santo
eloquente apostolado, santo cc salutar
salutar princí-
princi- os actos da
os actos da sua
sua activa
activa ee utilissima
utilíssima existência.
existência.
pio do trabalho. Quem contempla oo triumphador,
Quem contempla triumphador, raro raro faz
faz jus-
jus-
Dizia Cícero que
Dizia Cicero que se se oo que
que fazemos
fazemos não não éé pro-
pro- tiça
tiça ás lis amarguras
amarguras porque
porque transitou^
transitou^ ee ásás dores
dores
veitoso
veitoso áâ sociedade,
sociedade, inútil
inútil cc oo esforço
esforço ee aa lida.
lida. que
que lhelhe comprimiram
comprimiram antes antes oo coração.
coração.
O barão do
O barão do Calvário
Calvário tem tem seguido
seguido este
este preceito,
preceito, Assim succcdc com esses cidadãos que voltam
sendo sempresempre útilmil aos seus seus irmãos
irmãos cc áâ patria,
pátria, abastados áâ patria,pátria, onde
onde ven^vem procurar oo repou-
repou-
onde abriu os
onde abriu os olhos
olhos áá luzluz dada existência.
existência. so, provando
provando principalmente*
principalmente" que que oo amor
amor filial
filial
Dando lhe ingresso
ingresso no no patriciado portuguez
portuguez o não ée uma utopia.
monarcha
monarcha que que oo distinguiu
distinguiu praticou
praticou um um actoacto dede Quaes
Quaes foramforam asas amarguras,
amarguras, as as contrariedades
contrariedades
justiça
justiça ee um um bombom serviço;
serviço; porque
porque honrou
honrou oo maismais ce vicissitudes
vicissitudes porciuc passou esse
porque passou esse adolescente
adolescente de de
nobre exemplo
exemplo do do trabalho
trabalho activo
activo ec da da perse- 14 annos, lançanuo-se
14 annos, lançando-se na na senda
senda tão tão aventurosa
aventurosa
verança honesta. do commercio cm
do commcrcio cm terra
terra estranha,
estranha, orphanado
orphanado do do
amor
amor dos dos seus,
seus, soffrendo
soffrendo aa nostalgia
nostalgia dada patria
pátria
cc dos
dos aífcctos
aflectos puríssimos
puríssimos não não éé possível
possível dizei
dizei oo
cl- no curto espaço
no curto espaço doestas
doestas limitadas
limitadas paginas.
paginas.
A narrativa' das
A narrativa' das vicissitudes
vicissitudes porque
porque passa
passa oo
34
;>4 O LIVRO DE OURO

ex-patriado dariam um poema vasto, a que o nos- _ Assim o entendeu por vezes a imprensa ba- ba-
so débil intellecto se não atreve. Diremos ape- hiana, tecendo ao illustre cidadão os mais levan-
nas que durante vinte e cinco annos o futuro ba- tados e eloquentes panegyricos.
Calvário sobrenadou no oceano d'essas
rão do Galvario cPessas
vicissitudes logrando por fim conquistar uma po-

m
sição independente e nobremente merecida.

J$k> fora filho piedoso foi cônjuge modelo. Do


Se fòra
seu matrimonio houve cinco filhos aos quaes pro-
fessou extremoso affecto.
E ainda esta uma prova da bondade da sua
É
Em 5 de abril de iSq5
184o aos trinta e dois annos alma. Os corações sensíveis
sensiveis formam uma plêia-
de edade uniu-se pelos laços matrirnoniaes
matrimoniaes á de gloriosa, e não ha coração sensível que não
m
ex.ml sr.a D. Rosa Adelaide
* sr.* Adelaide' Leal da Silva, natu- adore esses pequeninos seres, que são como que
ral da cidade de Penafiel. as vergonteas da sociedade futura.
Este consorcio é ainda uma prova dos patrió-
ticos intentos do barão do Calvário.
É sabido que ao moço europeu, que no Bra-
sil conquista bons créditos e se abre uma car- A
ã\
reira prospera nunca faltam allianças
ailianças dinheirosas
com as famílias mais distinctas indígenas. Exis-
te mesmo um pronunciado empenho dos natu- Em ii85S51iaa nostalgia da patria
pátria grangeou-lhe
raes em prender alli os estranhos que adquirem uma enfermidade grave que o obrigou a retirar
fortuna e conquistam bom nome. para^Portugal
para Portugal com sua família.
O barão do Galvario
Calvário escolheu, porem, uma Não se ausentou, porem, d'aquella
d^aquella terra onde
conterrânea, porque não quer que laço algum o havia passado os melhores annos da existência,
pátria. Nobre exemplo bem digno de fi-
isole da patria. e onde adquirira fortuna quantiosa com labor
gurar entre as acções gloriosas dos homens de continuo, sem se lembrar aos dos desventurados e
Plutarcho !
Plutarcho! sem manifestar generosamente essa lembrança.
t Antes de embarcar para a Europa fez dona-
tivo de 2:ooo£ooo
2:000^000 de réis
reis ao hospício dos me-
orphãos de S. José e distribuiu considerá-
ninos orphaos
<â veis oífertas
oflertas aos numerosos afilhados, que con-
tava na Baliia, apadrinhacão era
Bahia, porque a sua apadrinhação
sollicitada com ardor.
É um dos característicos d^ste
dNíste cavalheiro não
A cidade da Bahia fora o local escolhido pelo
peio deixar sem beneficio os desvalidos que tem a
nosso biographado para encetar a sua carreira summa ventura de appellar para a magnanimida-
commercial e devemos dizer que não passou lar- de do seu coração e não é por certo este o me-
go espaço em adquirir geraes sympathias não só nos louvável e digno de registo.
índigenas e
dos compatrícios, mas também dos indígenas
dos estrangeiros que com elle se relacionavam.
O seu nome foi considerado em todas as praças
do império e procurava-se com afinco estar êm em é>
relações com um cavalheiro que se distinguia por
correcto entre os mais correctos.
Foi alli que elle provou quanto nobre filho é Chegado a Portugal fixou residência em Pe-
de Portugal, porque honrando o seu nome glo- nafiel onde comprou differentes propriedades,
riava a terra onde nascera. convertendo uma d'ellas cm principesca habita-
deulhe
A reputação de honesto e prestante deu-lhe ção, onde reside, sendo d'essa propriedade, deno-
logar proeminente no commercio bahiano, sen- minada quinta do Calvário, que lhe provém o
do nomeado director de um estabelecimento ban- titulo que usa.
da província, denomi-
cário, que era o primeiro daprovincia, E devemos dizel-o, poucos como este distincto
nado Caixa Commercial da c'Bahia.
Èahia. cavalheiro sabem fazer honra aos titulos
títulos fidalgos.
Não se presuma, porem, que só as institui- La noblesse oblige diz o rifão; e o barão do
produetivas 'mereciam
ções productivas ^mereciam a applicaçao
applicação da sua Calvário
Galvario comprehende perfeitamente as obriga-
actividade enérgica. ções da nobresa, honrando a aristocracia portu-
TSo
Tão bondoso como activo, os institutos piedo- gueza de que é um dos membros mais presti-
sos também lhe inspiravam affecto entranhado mosos.
e fervorosa dedicação; por isso exerceu diversos
cargos na ordem 3.* de S. Francisco e nas con-
frarias do Santíssimo Sacramento e Nossa Se-
nhora da Conceição da Praia, da dita cidade, ás .?^?-
quaes prestou relevantíssimos e inolvidáveis ser-
viços, fazendo as florescer e animar.
O LIVRO t>E OURO 35
•y
Portugal deve muito áquelles
áquclles de seus filhos biographado foi ainda o elemento mais activo ec
que vão lá fora laboriosamente, sob a dura so- enérgico.
ga do trabalho continuo grangear a fortuna e a Hoje aqueila
aquella fabrica pertence a uma socieda-
prosperidade que na Patria
Patna se não encontra. de anonyma á qual o barão do Calvario
Calvário forneceu
Portugal deve muito a esses homens, grande a quarta parte do capital. No ramo lanifícios
parte dos quaes morrem obscuros e ignorados, os seus productos
produetos são conhecidos em todo o rei-
deixando apenas memorada a enorme paixão que no e tem geral acceitação.
aterra
a terra natural lhes inspirou,
inspirou,nalgum
n^algum monumento Tão notável e benemérito emprehendimento
que só os conterrâneos apreciam. define só por si o barão do Calvario.
Calvário.
Muitos
.Muitos templos consagrados pela piedade popu- O seu
seu maior
maior prazer
prazer éé patrocinar
patrocinar todas
todas as
as cm-
cm-
lar e que os poderes públicos deixaram desman- prezas úteis e nascentes, dar vida e animação
telar
tellar por esse atroz iconoclasta que se chama o ás classes productoras
ãs produetoras e á industria nacional.
tempo tem sido pairioticamente.
pairioticamente restaurados pe- E esta indole
Índole proteccionista éê tanto mais para
los brasileiros. louvar, quanto èe certo que, presentemente, as
W
P"1 necessário dizer se. Na provineia
província existe um operações bancarias, o jogo de fundos, o agio- ágio-
typo especial designado por este epitheto. O bra- oceupação
tismo constituem por assim dizer a occupação
sileiro desde Melgaço até Coimbra que é o má- predilecta d^esses fortuna.
dresses mimosos da fortuna,
ximo espaço alTectado pela febre da emigração, O barão do Calvario,
Calvário, consagrando a maior
o vocábulo brasileiro, dizemos, não significa es- parte dos seus avultados capitacs
capitães ao desenvolvi-
pecialmente © o natural do império americano que mento da industria nacional tornou-se credor do
Portugal fez incluir na carta geogruphíca
geographíca do sé- affecto e consideração de todos aquelles que ain-
aft'ecto
culo xvi, a palavra brasileiro designa o homem da sentem vibrar no coração a nota enthusiasn-
cnthusiasti-
que foi ãs ás terras de Santa Cruz colher fortuna ca do amor pátrio ce alimentam a fagueira espe-
para derramar na sua patria
pátria ; e devemos dize!-o,
dizel-o, rança do rejuvenescimento doesta nação artística
um concerto de benções acompanha sempre es- e aventureira, heróica e sonhadora.
te vocábulo; porque nas provincías
províncias do norte não
ha fabrica, não ha oflicina,
ofíicina, não ha egreja, não
ha escola, não ha asylo, que não deva aos bra-
sileiros a totalidade ou pelo menos a parte ma-
xima da sua construcção ou fundação.
má- m
N^estc
N^este ponto o barão do Cal Calvário
vario não só tem
seguido escrupulosamente a tradição, mas avan-
tajou-se n'esse
roesse tributo porque as obras a que vin- Não ficou porém satisfeito o animo generoso
culou seu nome são magestosas e de superna do barão do Calvario
Calvário com o ter aberto uma fonte
valia. ubérrima de prosperidade e receita aos povos de
Pedronello.
N'cssa fonte poder-se hia ver ainda apenas um
Calvário quiz ir
emprego de capital. O barão do Calvario
v&
ۥ mais longe. Rasgar os horisontes da industria
abrindo as portas da officina aos trabalhadores
obscuros é já um enorme beneficio local, mas
o barão do Calvario
Calvário fez mais; abriu ao mesmo
Regressando á patria
pátria o íllustre barão do Cai-
Cal- tempo de par em par as portas d'um d\im templo
vário
vano fundou uma fabrica na terra de seus maio- novo, o templo da mstrucção, juntando ao pão
res, isto é, na visínhança
visinhança de Amarante, na fre- material o do espirito; e pondo ao lado da offi- ofíi-
guezía de Pedronello. cina a escola.
Mal sabe, quem anda distanciado do movimen- Não se pôde duvidar que os apostolos
apóstolos chris-
to industrial, quanta coragem é necessária ao tãos foram
tãos foram os
os iniciadores
iniciadores dada civilisaçao,
civilisaçao, aa cujo
cujo
fundador de uma empreza doestas, onde se tem apogeu chegámos; hoje abre abrese
se uma era nova,
de lucrar
luetar primeiro com o desconhecimento dos um outro período que tem de ser o comple-
trabalhos fabris e em segundo com a reluctan- mento da obra dos evangelistas c a cupula cúpula indis-
cia natural dos que trabalham para entrarem pensável dodo seu
seu trabalho
trabalho sobrehumano.
sobrehumano. Essa
Essa cu-
cú-
n\ima
n'uma industria nova. pula é a instrucção. Os que hoje lidam por cila
O provinciano portuguez c por indole índole e por remontam-sc áámissão
missão de Moysés c á do Cruci-
costume pessimista. Em todos os emprehendi-
cmprehendi- ficado.
mentos novos prophetisa um mau futuro e infe- A instrucção é hoje o ponto capital, a ques-
lizmente os factos justificam as mais das vezes tão magna,
magna, oo problema
problema grandioso
grandioso queque todas
todas asas
estas apprehensões.
apprehensoes. nações de per si procuram resolver. Instruir e
O barão do Calvario
Calvário não se embaraçou porém construir, disse-o esse sublime poeta francez,
com este e outros entraves que se lhe oííere- oiíere- cuja perda recente ainda hoje choram as nações;
ceram; pelo contrario, mostrou-sc visionário e ce oo templo
templo do
do futuro
futuro só
só pôde
pôde ter
ter por
por alltccrce
alliccrce
intransigente, luctou
luetou contra as apprehensões,
apprehensoes, a instrucção.
venceu as difficuldades e montou a fabrica, fun- O templo do ensino éc a egreja moderna c os
dando a firma social Garcia Ribeiro & C. C*a de que que facultam ao povo ignorante a instrucção não
elle
clle era o principal elemento; porque fornecera prestam á humanidade serviço inferior ao que
o capital necessário, substituindo-sc esta cm
em i86u
I86<J lhe prestaram
prestaram os
os que
que pregaram
pregaram contra
contra aa disso-
disso-
pela firma Pereira & Costa, da qual o nosso lução dos costumes no império romano.
36 O LIVRO DE OURO

O barão do Calvario
Calvário c um apostolo da ins-
trucção afíecto áâ edu-
truccão e a manifestação do seu aííecto
cação do povo lá está também em Pedronello &
rfuma escola onde todos os dias se reparte o pão
n'uma
do espirito aos que desejam irromper as brumas
da ignorância em que os nossos governos dei- Além do titulo de barão do Calvario
Calvário possuo
possuc
xam jazer as populações ruraes. também a commenda da ordem militar de Nos-
Em face do quasi indiííerentismo official
ofíicial é um sa Senhora da Conceição de Villa Viçosa.
dever e uma honra exaltar a nobre dedicação Devemos dizer que poucas vezes as veneras
dos que se votam sem reserva á defesa da mais sentem palpitar um coração tão nobre e tão ri-
nobre, da mais sympathica e salutar de todas as camente dotado de virtuosos sentimentos.
causas, qual é a de fazer a luz na noite do es-
pirito.
Bastará pois esta manifestação de caracter ma-
gnânimo do biographado para fazer o seu elogio. ffi

Na cidade de Penafiel ed muito considerado e


lis todas as corporações da cidade tem sollicitado a
honra de possuírem o seu nome na relação dos
seus associados; as instituições de caridade tem
Se a industria manufactureira lhe tem mereci- attençoes.
comtudo merecido as suas especiaes attenções.
do estimulo e protecção, a industria agrícola não Assim, foi
foi um
um provedor
provedor exemplar
exemplar da
da Miseri-
.Miseri-
lhe éè devedora de somenos interesse^
interesse. córdia, cujos benefícios por muito conhecidos cê
Km
Em Penafiel construiu uma propriedade ma- inútil encarecer; exerceu diversos cargos na or-
gnifica
gnífica e adjunto possue
possuc um prédio rústico de dem Terceira de S. Francisco, á qual tem pres-
que tem feito uma quinta modelo, adoptando alli tado relevantes serviços; e é presidente da so-
os processos mais vantajosamente conhecidos ciedade de S. Vicente de Paula e Nossa Senho-
para o fabrico de vinhos e para todos os outros ra do Rosário,
Rosario, que prestam soccorros muito in-
produetos agrícolas.
productos teressantes a diversos infortúnios.
No concelho de Penafiel é elle o primeiro pro-
duetor de vinhos.
ductor
<k
é.
ۋnc-3
Em 1S78, os seus concidadãos querendo pro-
N"esta
N'esta propriedade teve a honra de fazer uma var-lhc
var-lhe quanto o consideram e apreciam as suas
recepção principesca em 1872 ao sr. D. Luiz I, raras virtudes, elegeram-no para o primeiro lo-
ao sereníssimo sr. infante D. Augusto e aos mi- gar da camara
camará municipal de Penafiel; porém a
nistros á frente dos quaes se encontrava então merecimento, ec
sua modéstia, que lhe eguala o rricrecimento,
o sr. Fontes, esclarecido chefe do partido rege- uma deficiência injustificada, levarnm-no
levaram-no a recu-
nerador, no qual se acha filiado aquelle cavalheiro. sar o cargo saindo pela tangente da edade, que,
O monarcha ficou tão profundamente impres- segundo a lei, lhe permitte esquivar-se aos car-
sionado pela
pela physionomia
physionomia sympatica
sympatica ee veneran-
veneran- gos de confiança publica.
do aspecto
aspecto do
do seu
seu hospedeiro
hospedeiro ee pelas
pelas informa-
informa- Foi mal
mal para
para Penafiel
Penafiel porque
porque aa sua
sua dil
diligencia
igencia
ções que d'elle
d^elle colheu, que em seguida lhe con- no município devia ser profícua e muito vanta-
Calvário.
feriu o titulo de barão do Calvario. josa.
Estamos certos que ninguém mereceu mais o Está a concluir a nossa missão e devemos con-
ingresso entre a aristocracia do seu paiz. fessar que poucas vezes temos tido de nos oc-
Devemos confessar porém que o agraciado não cupar de um vulto que tanto merecesse a nossa
viu com
viu com bons
bons alhos
alhos aa mercê;
mercê: porque preferia
preferia o sympathia.
modesto nome de que usava e a que hgára ligara uma agradável para todos,
* Afável como poucos, agradavel
aureola de honestidade e correcção immorredou- consolador para os afilictos,
afllictos, providente
provídente para os o*>
acceítando comtudo o título
ra, acceitando titulo para não desgos- necessitados
necessitados;; falia como amigo e aconselha como
tar o monarcha que HLo HVo conferiu em demonstra- pae. Eis os traços finaes que podemos dar n''es- nVs-
ção de estima. te quadro que devia ser uma verdadeira apo-
theose se essa não existisse na consciência do
bem que faz c do muito que merece.
r.;. Eis oo levantado
levantado exemplo
exemplo de de bons
bons cidadãos
cidadãos queque
hoje olferecemos aos nossos leitores, sentindo
não ter os merecimentos de Plutarcho para tor-
Km 55 de
de agosto
agosto de
de 1874,
1874, tornou
tornou aa receber
receber nar completo
completo este
este tributo
tributo dada nossa
nossa admiração
admiração
el-rei
el rei na sua passagem para Vidago, fazendo- que é a svmhese dos sentimentos da geração
lhe uma recepção das mais lisongeiras que sua coeva.
magestade tem recebido, no seu transito pelas
províncias. TV!'. MATTO®
T\T. MATTOS MTWMPA -- 1'V1M0A
MflUMPA -- RACA l»OS
l>OS t»F»T»l
t»F«-T»l RAfXlPT-,
RADORFt, lí
lí E
E :'i
l'i

V
2
O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

TSiographias dos personagens mais distinctos


7Hographias distiuctos em politica,
armas, religião,
religião, lettras,
lettras, sc
sciencias, artes, commercio,
iene ias, artes, commercio, industria
industria ee agricultura
agricultura

ANNO |I —
—VOt.tJMK
VOLUME I PUBtJCAÇÃO PARA PORTUGAL E BRAZIL
PUBLICAÇÃO OUTUBRO — jSS5
i SS5

Seu pae, homem de rija tempera, trabalhador


Ur.
llr. Luiz Jardim1l
Luiz Jardim emérito e infatigável, educou-o educouo esmeradamente,
com aífinco,
afhnco, com devoção, na doce e bem fun-
Lucidez, bondade, desinteresse, constante bom dada esperança de que lhe abria uma carreira
humor, pasmosa estabilidade physica, physjca, taes são as brilhante.
feições salientes, por que se distingue e recom- K a semente dos paternaes esforços não caiu
menda o dr. Luiz Leite Pereira Jardim.
mend» em terreno esteril.
estéril. Ainda na mais verde moci-
Opulento de bens de fortuna, riquíssimo de dade, na quadra em que os lineamentos do espi-
dores civicos
dotes cívicos e intellectuaes, todo o paiz o co- rito se desenham vagamente na maioria das in- m-
nhece, todos os grupos sociaes o estimam; e sem telligencias juvenis, o dr. Luiz Jardim começou
hvperbole se pôde aftirmar afilrmar que c um dos homens aa denunciar
denunciar inclinação
inclinação fervorosa
fervorosa parapara oo estudo,
estudo,
mais populares e distinctos de Portugal. Da in- talento especulativo, e um juizo lirme e sagaz,
teireza do seu caracter, das qualidades do seu admiravelmente adaptado para as soluções da
coração, das provas do seu talento, dão testímu- testimu- vida moderna.
nho todos os seus amigos e admiradores. Logo ao sair da adolescência, no alvorecer da
O dr. Luiz Jardim está ainda na força da vi- mocidade se tornou eminente pelo seu talento,
da, na ilorescencia genial das suas faculdades. assídua applicação, honradez inquebrantável e,
assidua
Tão-enérgico assim como intelligente intclligente e laborio- sobretudo, grande força de vontade para o tra-
so, logo á primeira vista impressiona pela serie-
so. balho constante e fecundo.
dade do seu aspecto e pelo fulgor sereno do seu E no emtanto, não deixou de pagar o tributo
olhar. De pbysionomia
physionomia expressiva e insinuante, as
às folganças da juventude, áã alegre bohemia de
de fronte desassombrada e límpida, allia a in- Coimbra,
Coimbra,' aos doces enlevos do poético Mon
comparável modéstia, as mais correctas e aris- dego.
tocráticas maneiras, que exalçam as nobres qua- O dr. Luiz Jardim, o futuro lente, o erudito
lidades e tradições de sua illustre família, familia, tradi- publicista, o benemérito philantropo, também se
ções que honra constantemente dando as mais alistou n'essas legiões numerosas de rapazes ar-
irrecusáveis provas da cultura aprimorada do dentes, irrequietos,
dentes, irrequietos, desordenados
desordenados ee tumultuosos
tumultuosos
seu espirito. como as ondas que sc se agitam incertas, ao sopro
Onde nasceu, quando, de quem descende, tu- dos vários
dos vários ventos
ventos no no oceano,
oceano, mas mas queque levam
levam os os
do isso nos não importa n'este momento. Não é navios a portos, que tantas vezes abastecem de
nosso intuito apresentar aqui, em fórma forma de cer- , fortuna e prosperidades.
tidão, todos os accessorios da sua existência. Comtudo, já já n'esses
nesses diasdias folgados
folgados da da juventu-
juventu-
Para dar, n'esta galeria, um solemne testemunho de oo vemos
vemos instituir
instituir na na Figueira
Figueira da da FozFoz umauma
cmanto sabemos apreciar e respeitar as bellas
do quanto Associação Naval, cujos estatutos approvados nas
qualidades de tão distincta individualidade, jul- estações superiores
superiores aindaainda hoje
hoje governam
governam aquella aquella
gamos não ser necessário ir fazer exeavações por agremiação, de de que
que oo dr.
dr. Jardim
Jardim foi foi eleito
eleito pre-
pre-
entre um arvoredo de antigas genealogias nem sidente;^ logo depois, em Coimbra, com J. J.
tão pouco penetrar
tão pouco penetrar longaslongas abobadas
abobadas sepulchraes,
sepulchraes, de Mendonça Cortez,
de Mendonça Cortez, nrganisar
nrganisar ali ali uma
uma escola
escola
cheias de ossos volvidos cinzas, mesmo porque de tiro
de tiro ee jogo
jogo d'arnias,
d*armas, que que viveu
viveu durante
durante algunsalguns
n'esta época de solemnes reivindicações que va- annos.
mos atravessando, já não subsistem nem glorias A sua imaginação
A sua imaginação viva viva ee ardente,
ardente, fazia-lhe
fazia lhe porpor
nem ignominias reflexas. vezes esquecer os
vezes esquecer os commentarios
commentarios do do codigo,
código, ee li-li-
brar-se em altaneiro voo ás regiões do ideal.
Durante aa sua sua mocidade
mocidade académica,
académica, no no decur-
decur-
so
so dos seus
dos seus difficeis
diíficeis estudos,
estudos, em em que
que foifoi laureado
laureado
áfe pelo assentimento dos
pelo assentimento dos rivaes
rivaes ee pelo
pelo voto
voto dosdos pro-
pro-
fessores, o dr. Luiz Jardim deu livre curso ás
O dr. Luiz Jardim, filho do visconde de Mon- suas poderosas faculdades,
suas poderosas faculdades, escrevendo
escrevendo ee publi- publi-
tc-São, nasceu
te-São, nasceu em em berço
berço amimado
amimado de de confortos,
confortos, cando varias composições
cando varias composições poéticas.
poéticas. A A arte
arte inc-
ine-
brincou sobre macias alfombras, e foi, desde a ' briava-o; bria va-o; aa gloria
gloria seduzia
seduzia o.o. Os
Os seus versos,
versos, dis-
dis-
infância, alvo dos mais affectuosos
infancia, aífectuosos e acrysolados persos pornor diíferentes publicações
publicações litterarias,
litterarias, são são
disvellos. cheios
cheios de bellas imagens
de bellas imagens originaes
originaes ee de de um
um sen-
sen-
timento delicado
timento delicado ee oriental.
oriental. CÍonhecemos-lhe
Conhecemos-lhe tre- tre-
chos de
chos de poesia
poesia parnasiana
parnasiana áâ altura
altura das
das melhores
melhores
1
' A bioeraphi*
biographia que vac !er-tc
ler-te c reproducçáo áe
de uma outra lia tempos no género de
no genero de Sully
Sully ee Copée.
Copée.
escripta peio
pelo actual director do «Livro
*Ltvro de Ouro»
Ouro- c inserta
inserti n'uma publica- O
O seu
seu delicado
delicado e
e gracioso engenho
gracioso engenho lembra lembra
ção biographies,
ção biographka, de
de Lisboa.
lisbo».
38 O LIVRO DE OURO

ílures que nos deliciam menos


por vezes, certas Aures intellectual ás gerações que se succedem.
suecedem. E se éc
pela viveza do colorido do que pela suavidade certo que as plantas se estiolam pela ausência
do perfume. de luz, não éc menos verdadeiro que os ccrebroscérebros
Durante a sua permanência na lusa Athenas, se atrophiam pela falta de instrucção. Por obvia
escreveu muitos artigos de critica litteraria e ar- e por essencial haveria quasi pejo em fazer reim-
tística, em vários jornaes de Coimbra, Lisboa e primir pela milionessima vez esta verdade, se
Porto, afiirmando
aftirmando sempre a sua admirável com- tantos e tão graves factos não estivessem com-
Eetencia género de litteratura, a que a
etencia para este genero provando que os administradores dos destinos
elleza e o esplendor da fórma
clleza forma accrescentavam públicos ou lhe não dão importância, ou não
o valor, dando-lhe realce. Para se reconhecer ao crêem n'ella
n'clia absolutamente, ou imaginam talvez
verdade d'esta
dVsta aflirmattva,
aflirmatíva, basta consultarem se que a illustração do povo é machina fatal como
os seguintes jornaes: diário<Viario CMercantil,
SMercantil, do a do cavallo
cavai lo de Troya—Inspectura
Troya—Jnspeclura domos ventu-
Porto; Correio de Lisboa; Revista de Coimbra; raaue
raaite desuper urbi.
Tribuno Popular;
Topular; Liberdade; Commercio de Km quanto os dois exércitos, o das armas e o
Em
Coimbra, que fundou com o conselheiro Men- das pennas, o dos quartéis e o das repartições
donça Cortez; Revista de Coimbra, que fundou publicas, absorvem a este reino pobríssimo o
com Guimarães Fonseca;
Fonseca-, Instituto; Nacional melhor da sua substancia, o exercito da civili-
do Portofy Jornal do Commercio; Diário Popu- sação, o magistério publico jaz rareado, esque-
lar; qAQA Tribuna, de Lisboa, etc. cido, sem disciplina, sem soldo, sem pão, sem
Na Universidade foi um estudante distincto, estímulos; não triumpha, não vence, não com-
distinctos. Em seguida áã sua dou-
entremos mais disttnetos. bate, não marcha, úc quasi tão negativo, quanto
toração em direito, obteve em brilhante concurso aos resultados, como o dos funccionarios;
funecionarios; quasi
uma cadeira no magistério da referida facul- tão ocioso e esteril
estéril como o das bayonetas.
dade. O magistério rural, principalmente, éc uma
Aos vinte ce cinco annos, era pois, o dr. Luiz palavra ce nada mais; falsa homenagem a um
Jardim lente da faculdade de direito, onde du- principio santo que se não ousa atacar declara-
rante sete annos regeu diíferentes disciplinas, damente, um gravame no orçamento sem espe- espé-
com a elevada proficiência do seu talento e do cie alguma de explicação justificativa ou'atenua-
seu estudo. tiva, publica ou individual. Homens com habi-
Se a fortuna lhe não tivesse travado do braço litações não acceitam essas cadeiras, e os parias
para o conduzir ás eminências de uma invejável que a cilas se condemnam não as podem man-
posição social, teria sido um dos ornamentos do ter, porque primeiro se hão de manter a si. O
professorado no primeiro estabelecimento scien- professor rural detesta a profissão, toda espinhos
tifico do paiz. Apaixonado pelo estudo das scien- e nada fructos,
fruetos, fecha a escola para ir cavar no
cias sociaes, inalterável no amor do trabalho, bacello _ ou concertar calçado, ou a entrega a
que é esta ainda hoje a feição mais predomi- outro ainda mais leigo do que elle, ou se alguma
nante do seu caracter, quem quem' sabe até onde po- vez lá entra é6 sem amor, sem fé, sem fibra pa-
deria levar o sentir vivo, e a paixão do estudo? ternal nem civica
cívica no coração. Elle detesta as let-
O destino não quiz, porem, que elle conti- tras ce os aluirmos;
alumnos; e estes por seu turno des-
nuasse a honrar o magistério da Universidade, prezam e odeiam o professor. Ê uma campanha
e obrigou-o
obrigou o a deixar a sua cadeira, não para se ódios mutuos
de odios mútuos em cm que a moral arrisca tudo e
entregar aos ocios
ócios que lhe proporcionava a ri- a instrucção nada ganha.
queza, mas para collocar a sua actividade, os A face deste
d'este esboço verdadeiro, e ainda dimi-
seus esforços e o seu talento ao serviço da mais nuto, nenhum homem de bem pôde deixar de se
generosa de todas as causas — a dos famintos entristecer profundamente ce nenhuma alma, que
de pão e a dos famintos de luz. não esteja galvanisada a prata ou ouro, se de-
Cheio d'esta
d^sra piedosa devoção civica,cívica, estuda fenderá dc de muita lastima, vendo tantos centos
constantemente no remanso do seu gabinete, os de milhares de entendimentos de pousio, tanta
problemas de administração, de economia poli- intelligencia por desbravar, tanta penúria por
tica, de direito publico, em suas variadas applica- onde podia llorir'aílorir' a abundancia!
abundância! Ora pois, se
çoes
ções praticas, dando âá estampa, sobre estes as- este mal em que todos os males vão cifrados, c
sumptos, notáveis e apreciabilissimos trabalhos. um mal grande, immense, immenso, horrendo dc de vergo-
Nas primícias da mocidade ou no fastígio fastigio da nha, urgentissimo
urgentíssimo para se lhe accudir,
aceudir, da mesma
opulência, o dr. Jardim tem sido sempre o fórma se devem reputar beneméritos e dignos
forma
mesmo homem: nobre pelos impulsos da bon- do amor e das bênçãos da patria, pátria, todos aquelles
dade ingenita: respeitável pelo trabalho e pela que se esforçam por elevar o sacerdócio do en-
virtude. sino e por derramar e difiundirdiífundir a luz nas trevas
dos párias da civilisação moderna.
O dr. Luiz Jardim é um devotado, fervoroso
Jg&S. e eloquente apostolo da instrucção popular.
Sendo eleito vereador da camaracamará municipal de
cabendo-íhe o pe-
Lisboa, e seu vice presidente, cabendo-lhe
louro da instrucção dedicou todos os seus intel-
De todas as instituições sociaes éê a instrucção ligentcs
ligcntes e vigorosos esforços ao melhoramento
a que mais deve prender o cuidado dos que que* se do ensino elementar. Durante a sua gerência
interessam pelo progresso dos povos. É o meio conseguiu que se votasse a cada professor de
pelo qual
qual aa humanidade
humanidade transmitte
transmute aa sua
sua riqueza
riqueza Lisboa, a verba annual de cem mil reis réis para
O LIVRO DE OURO 49
*?
auxilio de renda de casas e mobília das escolas. a vagabundagem longe de ser vicio, era antes a
Esta generosa
generosa medida,
medida, alémalém de de muito
muito contribuir
contribuir triste expressão da miséria, a ultima palavra da
para melhorar as condições económicas da in- desgraça e do infortúnio! Sem pão e sem abrigo,
strucção
strucçao primaria, foi também a causa imme- cabiam nas mãos da policia, que baralhando m- in-
diata
diata de de serem
serem providas
providas varias
varias cadeiras,
cadeiras, que que es-es- difíerente, desgraçados e viciosos, enviava todos
differente,
tavam, c, e, por certo se conservariam vagas, iVeste rPeste ao calabouço, á cadeia,cadeia,-—a
—a universidade da per-
município. dição !
A sua benemérita dedicação pela causa do en- Largas considerações faziam quotidianamente
sino
sino cc ao ao seu
seu muito
muito prestigio
prestigio se se devem,
devem, entre entre as folhas periódicas sobre o assumpto e... nada
outras, as seguintes concessões: mais. Esgotada a matéria seguia tuao tudo como d'an-
dan-
Á oAssociação Civilização
Á CAssociação Civilisação Popular,
Popular, mil mil ec seis-
seis- tes ; o desgraçado sem abrigo e a policia hos-
tes;
centos ee trinta
trinta metros
metros quadrados
quadrados de de terreno
terreno en- cn- i pedando na cadeia o vício vicio a par do infortúnio.
tre aa calçada
calçada da da Estrella
Estrella ee aa rua rua dodo Quelhas,
Quelhas, Accudiu então a el-rei el-rci a generosa ideia de
para ahi ahi sese construir
construir um um edificio
edifício escolar;
escolar; prover a essa necessidade publica, tomando a
Um subsidio
subsidio annual
annual áá Irmandade
Irmandade dos dos Passos
lassos iniciativa de fundar um asylo nocturno para
de
de S. S. Caetano,
Caetano, para
para auxiliar
auxiliar aa sua sua escola
escola de de en-
en- abrigo d'esses
d'esscs desventurados.
sino primário; A auxiliar o nobilíssimo intuito de el-rei cor-
Um subsidio
subsidio áá escola
escola nocturna
nocturna da da freguezia
freguezia reram pressurosos ec satisfeitos muitos cidadãos
do Castello
Castello de de S.
S. Jorge;
Jorge; phil antro picos e de animo valedor.
philantropicos valcdor. O dr. Luiz
Um logar de professor de gymnastica na es- Jardim foi um dos primeiros, senão o primeiro,
cola n.°n.° i, com oo ordenado
í, com ordenado dc de trezentos
trezentos mil mil réis;
réis; aa responder
responder ao ao chamamento
chamamento do do monarcha.
monarcha.
Finalmente, um logar de professor substituto Acceite o seu concurso o dr. Luiz Jardim des-
na escola da
na escola da rua
rua dada Inveja,
Inveja, ec construcção
construcçao do do seu
seu entranhou-se para logo em esforços d'uma de-
gymnasio. dicação extraordinária.
" Infatigável
Infatigável nos nos seus
seus propositos
propósitos civilisadores,
civilisadores, Depois de sua magestade foi elle a alma, o
solicitou e obteve a creação de mais duas im- centro, a coragem, a perseverança, o impulso
portantes escolas de ensino primário; conse- da commissão
da commissão organisadora
organisadora de de tão
tão util
útil melho-
melho-
guindo egualmcnte
egualmente distribuir
distribuir aa todastodas as as dodo mu-
mu- ramento. Redigia com admirável critério os es-
nicípio, objectos necessários
nicípio, objectos necessários para para aa proficiente
proficiente tatutos, concitava ec animava os amigos a que sc se
ee bem
bem regularísada
regularisada educação
educação de de umum ee outro
outro sexo,
sexo, associassem a tão caridoso empenho, punha, em
taes como machinas, livros elementares, esphe* esphe- summa, os recursos da sua riqueza e a luz da
ras, armas de combate, mappas do nosso codigo código sua poderosa
sua poderosa intelligencia
intelligencia aoao serviço
serviço dada huma-
huma-
politico, etc.
ctc. nitária tarefa.
No ultimo período
No ultimo perjodo da da sua
sua gerência,
gerência, oo dr. dr. Luiz
Luiz Ninguém, mais do que elle, trabalhou para a
Jardim escreveu e fez imprimir um magnifico fundação dos Albergues Nocturnos.
relatório, contendo
relatório, contendo oo registo
registo de de todos
todos os os seus
seus Os pobres devem-lhe esta justiça.
actos administrativos
actos administrativos ee aa propostaproposta sobresobre aa re- re- Tendo merecido
Tendo merecido aa honra
honra dcde ser
ser escolhido
escolhido para
para
forma
forma da da instrucçao
instrucçáo primaria
primaria no no município
município de de secretario dc de tão piedosa instituição, redobrou
Lisboa. EssaEssa publicação
publicação éé mais mais do do que
que um um sim-
sim- de esforços ee de
de esforços de boa
boa vontade.
vontade. N'esta
N'esta qualidade
qualidade
ples relatório:
relatório: éé um um livro
livro tramado
tramado de de pensa-
pensa- redigiu éé apresentou
redigiu apresentou relatórios,
relatórios, queque causaram
causaram
mentos judiciosos, dc de reflexões pedagógicas, de viva sensação, pois que ao esplendor d'uma lin-
viva"sensação,
exemplos persuasivos,
persuasivos, cujacuja leitura,
leitura, ao ao contrario
contrario guagem primorosa e castiça, reuniam a elevação
de enfastiar,
de enfastiar, agrada,
agrada, instrue
instrue ee delicia.
delicia. SãoSão pa- pa- varonil dos
dos conceitos
conceitos ee aa doutrina
doutrina do do mais
mais puro
puro
ginas simples e desambiciosas,
desambíciosas, mas edificantes e altruísmo. *
úteis. O dr. Jardim foi também um dos que mais
Desde então tem
Desde então tem pugnado
pugnado sempre,sempre, já já com
com os os activamente cooperaram para a realisação. brilho,
seus substanciosos escriptos,
seus substanciosos escriptos, já já com
com aa sua sua pala-
pala- esplendor, ee eihcaz
esplendor, eihcaz resultado
resultado d'essa
d'essa brilhante
brilhante ec
vra authorisada, pelo
vra authorisada, pelo aperfeiçoamento
aperfeiçoamento da da ins-
ins- sympathica
sympathies festa de caridade denominada —• —
trucçáo
trucçao elementar do povo. I &er messe, festa
Kcrmesse, festa que serviu como
que serviu como que que dede esti-
esti-
Eleito deputado pelo
EÍeito deputado pelo importante
importante circulo
circulo de de . mulo aa tantas
mulo tantas outras
outras accões
acções piedosas
piedosas ee magnâ-
magnâ-
Extremoz, apresentou logo*n\ima
Extremoz, apresentou logomLima das primeiras das primeiras nimas.
sessões aa que que assistiu,
assistiu, um um bembem elaborado
elaborado pro- pro- Prova isto
Prova isto que
que oo nosso
nosso biographado,
biographado, alémalém de de
jecto sobre aa reforma
jecto sobre reforma da da instrucçao
instrucçáo primaria
primaria ser apostolo
apostolo sincero
sincero ee convicto
convicto da da diflusão
diflusão ec ge-
ge-
em Portugal ee seus
em Portugal seus dominios,
dominios, que que lhe
lhe valeu
valeu os os neralisação do ensino pelas camadas sociaes. sociacs. é
mais alcvantados
mais alevantados elogios,
elogios, tanto
tanto dos seus collc-
dos seus collc- . também', ee muito
também', muito particularmente,
particularmente, um um philan-
philan-
gas
gas dada camara
camará como
como de de toda
toda aa imprensa
imprensa liberal
liberal tropo, um
tropo, um operário
operário do do bem,
bem, acendrado
acendrado em em ge-
ge-
e honesta. nerosos affectos e magnânimos intuitos.
£«.«■*

Ha largos annos
Ha largos annos que
que se
se erguiam
erguiam geraes
geraes cla-
cla-
mores contra oo procedimento
mores contra procedimento das
das estações
estações otfi-
ofli- Como politico o dr. Jardim tem sido um dos
ciaes, por
ciaes, por causa desses
cTcsscs desgraçados parias,
parias, que
que mais honestos
mais honestos ee desinteressados.
desinteressados. Na
Na imprensa
imprensa ee
dormiam as noutes nas vias publicas, famintos no parlamento,
parlamento, tem
tem provado
provado sempre
sempre aa sua
sua sym-
sym-
cc desconfortados.
desconfortados. Entre
Entre essa
essa gente,
gente, quantas
quantas ve-
ve- pathia
pathía pelo bem publico ce o seu muito pátrio-
zes não eram
zes nao eram vistos
vistos grandes
grandes infelizes,
infelizes, cm
cm quem
quem tismo.
40
40 O LIVRO DE OURO

Filiado 110
Filiado no partido
partido monarchico
monarchico mais mais liberal
liberal ee
mais avançado,
avançado, tem tem sido
sido sempre
sempre claro
claro nasnas pa-
pa-
lavras ee nas nas acções,
acções, discutindo
discutindo cc praticando
praticando sem sem
odios
ódios nem nem rancores
rancores de de facção,
facção, sem sem compromis-
compromis-
sos de
sos de partido,
partido, com com aa razão
razão serena
serena ee fria
fria de
de umum
julgador consciencioso e justo. O dr.
dr. Luiz
Luiz Jardim
Jardim éé também
também um um publicista,
publicista,
fão
Tão admirável
admirável isempção
isempção provocouprovocou as as seguin-
seguin- um
tes palavras um litterato
litterato muitomuito distincto,
distincto, um um estuaioso
estudioso para para
tes palavras aa um um illustre
illustre jornalista:
jornalista: «se ase neste
iVestc | quem as lettras tem sido como que paixão do-
paiz
paiz aa civilisação
civilisação popular
popular não não estivesse
estivesse ainda
ainda bal-bal-
buciante, como nas faixas infantis, a cadeira do minante; e que. homem do mundo, pussuidor
de
de avultados
avultados haveres,
haveres, ee tendotendo porpor suasua família
família
dr. Luiz
dr. Jardim nunca
Luiz Jardim nunca ficaria
ficaria devoluta
devoluta no no par-
par-
lamento portuguez.» um nomenome de de notoriedade
notoriedade ee honradez,
honradez, constan-
constan-
Da mesma temente porfia em illustrar o seu espirito na ave-
Da mesma formaforma ee merecendo
merecendo sempre sempre os os mes-
mes- riguação e estudo incessante dos bons livros,
mos espontâneos e conscienciosos elogios o dr. ■ muitasmuitas vezes vezes
raros,raros,
que oque dinheiro pôde pôde
o dinheiro com- com-
Jardim tem
Jardim tem exercido
exercido diversos
diversos ee importantes
importantes Jo- Jo- 1 prar, mas a cuja leitura se entregará sómente somente
gares, já já na
na magistratura
magistratura judicialjudicial ee na
na magistra-
magistra- , quem quem tiver tiver em em grau
prau subido
subido oo amoramor pelapela erudi-
erudi-
tura administrativa,
administrativa, já já em
em associações
associações de de credito
credito ção, aa nobre
ção, nobre curiosidade
curiosidade de de saber
saber ee de de produzir.
produzir.
ee bancarias,
bancarias, já já finalmente
finalmente em em commissõcs
coiíimissões legis-
legis- São muitas
São muitas ee variasvarias asas publicações
publicações promana-
promana-
lativas, mostrando sempre em todos o mesmo das da sua penna. Sobre jurisprudência
das da sua penna. Sobre jurisprudência ee ins- ins-
inexcedive! zelo, a mesma nobre e admirável
inexcedivel
abnegação. trucção publica — os seus dois assumptos favo-
ritos—
ritos — podemos citar as seguintes. — Theses de
Km 18t>S
Km 18ÕS recebeu
recebeu oo diploma
diploma de de socio
sócio eíTcctivo
cffectivo
do Instituto, Direito;
Direito;— — Estudos solve sofre organização
organisação judiciai;
judicial;
do Instituto, uma uma dasdas congregações
congregações scientificas
scient.íicas —— Do Do regimen
regimen das successÔes. (A
dassuecessões. (A liberdade testa-
liberdade testa-
mais respeitáveis do paiz.
m ema ria);; — As alfandegas ce o systemci
mentária) srstema ecouo-econó-
Um anno
, Fm armo antes a Associação dos Artistas, de mico
mico de de Portugal. (Averiguações
(Averiguações históricas
históricas des- des-
Coimbra, havia-o nomeado seu socio sócio honorário, de oo século
de século xii xn ate
até aoao século
século xvmi;—As
xvmi;—As magis- magis-
por
por njella
njclla ter feito varias
ter feito varias conferencias
conferencias sobresobre ins-ins-
trucção intellectual e profissional que llie traturas populares. (Os juizes ordinários, o jurv); jury};
lhe mere- —
—A A instrucção primaria no
instrucção primaria no município
município de Lisboa;
de Lisboa;
ceram
ceram grandes louvores da
grandes louvores da imprensa
imprensa conimbri-
conimbri-
cense e das classes laboriosas. — Projecto de lei lei sobre
sobre instrucção primaria ; —
instrucção primaria;
Os
Os albergues
albergues nocturnos
nocturnos de de Lisboa.
Lisboa. (Projecto
{Projecto de de
Km 186y,
Em 1869, fazendo
fazendo parteparte do
do jury
jury mix to, que
mixto, que
! Estatutos, Regulamento e Relatório).
de
de Coimbra, Arganil ce S.
Coimbra, Arganil S.t;-'' Comba,
Comba, foi foi aa Tabua
Tábua OO tumulo
tumulo de de Cambel
Gambetta ta em em Nice,
Nice, folheto
folheto de de
julgar
julgar oo facinora
facínora João João Brandão, c!cgeram-n,o
Brandão, elegeram-n^o 22
22 paginas,
paginas, edição
edição de de luxo
luxo ee iliustrada
iIlustrada com com duasduas
presidente d^aquelled^quelle tribunal integerrimo, que magnificas gravuras. Este esplendido trabalho,
condemn ou o famigerado criminoso á pena ul-
condemnou em
tima ee por em que que oo author
author faz faz uma
uma resenha
resenha critica
criticadosdos fa-fa-
tima por unanimidade.
unanimidade. Kste Este enorme
enorme serviço
serviço ctos
ctos notáveis
notáveis da da vida
vida dodo illustre
illustre tribuno
tribuno francez
francez
libertando as duas Beiras de um salteador au- ee descreve
descreve oo tumulo tumulo em em queque repousam
repousam os os res-
res-
daz ee destemido
daz destemido que que os os assoberbava,
assoberbava, tornoutornou
popular tos mortaes
mortaes do do eminente
eminente patriota,
patriota, éé uma uma verda-
verda-
popular oo nome nome do do dr.
dr. Luiz
Luiz Jardim,
Jardim, queque ape-ape- deira jóia joía litteraria:
liiteraria: phrase ardente ec colorida,
nas^ contava então 24 annos! João Brandão já
nas concepção esplendorosa, critério notabilissimo,
havia sido sido julgado
julgado duasduas vezes
vezes ee duas duas vezes
vezes fura
fura tudo abunda n'este n'cstc precioSo
prccioSo folheto, que produ-
absolvido!
ziu ruido pouco commum no nosso mundo litre- litte-
rario.
Outras mais publicações tem dado á estampa
á?& oo illustre
illustre escriptor,
escriptor, ee de de que,
que, n'este
n'este momento
momento
nos não podemos recordar.
Pelas que ficam apontadas se poderá avaliar
o
o quanto
quanto ba ha de de estimável
estimável na na dedicação
dedicação d'um d'um
Como particular
Como particular oo dr.
dr. Luiz
Luiz Jardim
Jardim éc também
também homem,
homem, que por entre as agitações brilhantes
que por entre as agitações brilhantes
digno
digno do do maior
maior apreço
apreço ee veneração.
veneração. Prestante
Prestante ee da
da vida vida elegante,
elegante, sabe sabe encontrar
encontrar as as horas
horas de de
amigo
amigo de de fazer
fazer bem,
bem, nunca
nunca nos constou que
nos constou que clle
elle concentração^ necessárias para dar a medida da
deixasse de de auxiliar
auxiliar todos
todos osos nobres
nobres infortúnios
infortúnios sua applicação, da firmeza da sua vontade, da
de
de que
que temtem conhecimento.
conhecimento. Na Na vida
vida do
do dr.
dr. Jar-
Jar-
dim distineção das suas faculdades.
dim ba rasgos de generosidade sublimes e dignos
ha rasgos de generosidade sublimes e dignos O
O dr.dr. Luiz
Luiz Jardim
Jardim se se quizesse
quizesse podia
podia viver
viver só sô
de eterna
de eterna recordação.
recordação. ElieElle obsequeia
obsequeia ee scue:
se«ue : para gozar, porque tem de sobra com que ali-
não
não fica
fica aa olhar
olhar para
para traz
traz áá espera
espera dodo agrade-
agrade-
cimento. Patrocina,
Patrocina, soccorre, mentar a ociosidade mais egoísta e mais capri-
cimento. soccorre, ampara
ampara ee engran-
engran- chosa. A fortuna, porem, não o divorciou do
dece semsem humilhar
humilhar aquelles
aquelles que
que beneficia.
beneficia. trato
trato notabilissimo
notabilissimo do do pensamento
pensamento ee muito muito pelopelo
O dr. Jardim faz recordar o caracter um tanto contrario fez d'elle um benemérito, um philan-
excêntrico do dr. Brilhante. Este, quando falle-
ceu, deixou
deixou em tropo, um lidador infatigável do progresso, para
ceu, em testamento
testamento umas pensões de
umas pensões de cento
cento quem seriam merecidos todos os prémios hono-
ee cincoenta
cincoenta mil mil reis,
reis, para
para osos filhos
filhos pobres
pobres da da
sua ríficos, todas as condecorações, todos os títulos
sua terra,
terra, queque quizessem
quizessem estudar,
estudar, mas
mas com
com a" a" ee louvores,
louvores, se se el!e
elle aa tudo
tudo' nãonão sobrepozesse
sobrepozesse aa
clausula de de que
que esse
esse dinheiro
dinheiro oo receberiam
receberiam de de satisfação da sua propria própria consciência.
chapéu^ na cabeça. O dr. Jardim é o mesmo.
Tem
Tem n'isto
n'isto um
um dos
dos seus
seus mais
mais valiosos
valiosos títulos
títulos de
de
benemerência.
benemerencia. RFomado»
r»rl»" fr,#l 0,l lodo* o* direito* do propriedade lltle-
' toda* o* direito* do propriedade lltte-

TVr.
TVP. MATTOS
MATTOS MOREIRA—
MOftMM — IHUÇA
IHUÇA DOS
DOS RESTAURADORES.
Rtó TA'IR A DORES, |5
t* E
* l6
«6
J í>
7
/•

O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

THograpIíias disthtcíos
Tdiographias dos personagens mais distinct os em politica,
lei trás, scicncias,
armas, religião, lettras, sciencias, artes, commercio, industria e agricultura

ANNO I —VOLUME I PUBLICAÇÃO PARA PORTUGAL E BRAZIL DEZEMBRO — 1885


—i835

viver, tornando-se querido e


sciencia de saber river,
Conde de Mcsqoilclia
Conde Mesquitella estimado e lisongeando-se de sinceramente tra-
zer captiva a estima de todos que admitte ao seu
É um dos personagens mais distinctos da côrtecorte trato e as sympathias ainda dos que, por simples
portugueza e uma das individualidades mais sym- tradição, o conhecem.
pathicas da antiga nobreza, o illustre conde de Na corte e nas suas relações de sociedade, o
Mesquitella. conde de Mesquitella, sempre um cavalheiro com-
A sua casa é das mais antigas e distinctas de pleto em extremos de delicadeza e galanteria sem
Portugal ec escrever d'ella seria produzir uma competência, é o legitimo representante da tra-
erudita memoria em que se haveriam de com- dição fidalga em primores de etiqueta cortezã
pendiar os factos mais salientes da historia pa- pá- que a sua educação e espirito accommoda ás
tria. circumstancias do tempo, com a extrema finura
Limitar-nos-hemos, portanto, a dizer que o e o bom senso e o bom gosto que o distinguem
actual conde de Mesquitella éè o representante em especial.
dos Costas, dos Sousas de Macedo e dos Albu- Torna-se d'este
d^ste modo adoravel
adorável a sua presença
querques. e precisa, porque vão rarejando já os homens do
Cte Costas, cujo solar é a Quinta da Costa tempo em que os salões da aristocracia lisbo-
em Estarreja em tempos anteriores á fundação nense eram o templo consagrado ao culto deli-
da monarchia, eram já tratados de ricos homens cado da belleza e do talento; homens taes como
e com esta designação figuram no auto de doa- o duque de Loulé, nunca excedido n'esses for-
Affonso Henriques fez aos religiosos
ção que D. Alfonso mosos torneios de elegância e do bom tom.
de
ae Cister logo apoz a tomada de Santarém. luetas da politica partí-
De todo estranho ás luctas parti-
Os Sonsas
Sousas de Macedo são, como é sabido, dária, o conde de Mesquitella parece ter por
daria,
illustres descendentes do heroico
aquelles illnstres heróico e es- nomem aquella
único ideal de suas aspirações de homem
forçado cavalleiro Martim Gonsalves, que na ba- divisa fidalga e cavalheiresca da austera corte de
talHa
talha de Aljubarrota salvou a vida do mestre de D. João 1. «Tudo por bem.»
Aviz, decepando com um tremendo golpe de E' essa a norma da sua vida; de sorte que, o
maça a cabeça do cavalleiro Sandoval na occa- conde de Mesquitella, é dos raros homens da sua
sião em que esse cavalleiro ameaçava de morte esphera que teem escapado ás malquerenças do
certa o fundador da nova dynastia.
?
despeito ou da inveja insoffrida, sendo aliás mui-
«Martim Gonsalves, lhe disse o rei, dd'aquiaqui em tos os que se lhe confessam gratos, pelo que lhe
diante te chamarás Martim Gonsalves de Maça- devem em extremos de bizarria e delicadeza;
da e terás por timbre de tuas armas um braço sem que, todavia, as suas prodigalidades da bolsa
com uma maça, tendo enfiada a coroa real, co- e de coração hajam alterado a modesta norma
mo se vê v£ no brazão de armas coliocado
collocado por cima da sua vida regrada e honestíssima, ou eompro-
compro-
do portão do palaciopalácio do Poço Novo, solar dos mettido a sua casa, que elle mantém intacta co-
Sousas de Macedo. mo precioso monumento que é da historia pá-
Dos Albuquerques, cujo solar é em Azeitão, tria.
onde possuem um palacio palácio feito á imitação da for-
taleza de Ormuz, uma das glorias do immortal
Affonso
Alfonso de Albuquerque, é ocioso repetir o que
<5H
todos sabem. Esse nome vinculado á maior das
epopêas e cantado pelo maior dos épicos, tem
um echo enorme em todo o mundo culto, e é
7
dd'essas
essas glorias que não são património exclusivo Á gravidade desafectada do seu trato, allia-se
de uma nação porque esses nomes sagrados pela , a simplicidade da sua vida intima, no isolamen-
tradição pertencem á veneração e ao culto per- to do seu solar de família, conservado em toda a
petuo de toda a família humana. : sua pureza primitiva sem nenhum dos modernos
A isto acrescentaremosunicamente
acrescentaremosunicamenteque que o actual , atavios que lhe alterem ou transformem o typo
representante d'estas illustres famílias
familias não des- da construcção, conservada em todo o rigor ao do
diz nenhuma das grandes virtudes cívicas, de tempo em que foi feita.
isenção fidalga e cavalheiresca de seus antepas- Esse solar é o palacio
palácio do Poço Novo imme-
sados. morial.
Homem do seu tempo, de um trato amabilís-amabilis- Ahi habitou Antonio
António de Sousa de Macedo, mi-
simo e accessivel a todos com egual lhaneza e Affonso VI e 5.° avô
nistro que foi de el-rei D. Alfonso
despretencão,
despretenção, possue em grau superior a grande i em linha recta do illustre conde de Mesquitella.
42 O LIVRO DE OURO

Antunio dcde Sousa de Macedo foi poeta muito a fé, e possue uma grande fortuna sendo todavia
jurisconsulto de subi-
celebrado no seu tempo e Jurisconsulto modelo de boa e regrada administração, sem fal-
do valor. tar a nenhuma das liberalidades a que a nobreza
Como homem de estado em nada desdisse, da condição d'essa família obriga; liberalidades
próprios, de que tão ale-
nem dos merecimentos proprios, que, todavia, não se traduzem em faustos e ap-
vantado conceito gosava, nem das tradições fi- bizartia fi-
paratos supérfluos, mas em actos de bizarria
dalgas de seus beneméritos antepassados. dalga e da mais pura caridade evangélica, que
toi
boi nosso representante na embaixada de Ho- próximo como a primeira
perpetua o amor do proximo
landa e depois em Inglaterra, em cm períodos difíi-
difti- das virtudes christãs e dos deveres sociaes.
ceís
ceis e agitados de revolução e guerra civil, lo- pátria prestados
Não obstante, nos serviços á patria
grando por tres
três vezes salvar a vida de Carlos 1 pelos membros d'essa família com o desinteresse
com o maior
maíor risco proprio
próprio ce mantendo ilezo o mais absoluto, tem por cila consumido uma boa
prestigio e respeito da pequena nação que re- parte dos seus haveres.
presentava. Sendo capitão general no Algarve o avô do
Grato a tão assignalados e excepcionaes servi- actual conde, fez edificar a Villa Real de Santo
ços, Carlos 11 seu intimo
Íntimo amigo como se prova António,
Antonio, sem encargo nenhum para o thesouro.
das muitas cartas que lhes escrevia com o maior oiíerecido o titulo
Foi-lhe por esses serviços olíerecido
aífecto
aíTecto — conferiu a este illuslre fidalgo portu- de marquez de Villa Real de Santo Antonio António ce
guez um titulo ce o pariato de Inglaterra fazen- uma pensão do estado.
do-lhe doação em terras de renda superior á egualmente recusa-
Uma e outra coisa foram cgualmcnte
quantiosa somma de Soo contos, de renda para das, como quem não queria ver o mérito da sua
suecessores in perpetum prodigiosa
elle e seus successores obra, de que tão ligitimamente se ufanava, de-
para o tempo, em que o valor da moeda tinha preciado com a idéa de que cila fora um pre-
maior estimação. texto para acrescentamento maior de suas hon-
António de Sousa Macedo, porém, recusou
Antonio ras e da sua fortuna.
tudo, desde a primeira grandeza de Inglaterra, O filho doeste illustre patriota e pae do esti-
à colossal fortuna com que a regia magnificên- mável fidalgo dcde quem vimos memorando as glo-
cia a fazia acompanhar cm em galardão e proveito riosas tradições dcde familia,
família, tendo sido enviado
d'este nosso illustre compatriota. embaixador extraordinário áa corte de Turim, não
Respeitou Carlos II os escrúpulos dc de Antonio
António só se desempenhou do encargo com toda a ha-
comprchensão ce con-
de Sousa Macedo, pela alta comprehensão bilidade e talentos de que era dotado, como pa-
ceito em que lhe tinha a grandeza da alma ec a gou dcde seu bolso todas as despezas da embaixa-
isenção do caracter, mas insistiu no propósitoproposito da, aliás valiosas, sem que acccitasse
acceitasse do thesouro
em que estava e a consciência o obrigava, escre- os subsídios que lhe eram devidos e elle perti-
vendo a El-rei D. Pedro II de Portugal, para nazmente recusou.
que ordenasse áquellc
áquelle fidalgo que acceitassc
acceitasse as
mercês que lhe fazia o rei ae de Inglaterra.
Accedeu
Accedcu gostosamente o rei de Portugal ao
&
pedido do rei dc de Inglaterra, e ordenou terminan-
temente ao fidalgo portuguez que acceitassc
acceitasse as
mercês que lhe fazia o monarcha inglez.
N'estcs António de Sousa Macedo sem
N'cstes apuros Antonio Á imitação de seu pae, o actual conde jámais
jamais
propósito nem á obediência
querer faltar ao seu proposito recebeu, não sô do estado como ainda da casa
que devia a uma ordem do seu rei, declarou de- real, a mais insignificante remuneração de seus
pois de apertado em muitas instancias «que para serviços, sendo aliás certo ter o illustre fidalgo
si nada queria, mas que, por dever de obediên- desde a mais tenra idade exercido no paço dos
cia acceitaria para seu filho e successores,
suecessores, o tí-
ti- nossos reis e quasi todos os cargos de ofiicial-
ofíicial-
tulo e o pariato inglez, todavia quanto ás terras mór da casa real.
e seus rendimentos, regeitava tudo, absoluta- Ainda em 1870 organisando ministério seu tio,
mente tudo;
tudo \ porque ososjidalgos
jidalgos portugueses não o duque de Saldanha, foi o sr. conde convidado
fa\em dinheiro.*d
fa^em serviços por dinheiro, para tomar parte no governo, como Ministro dos
A esta altiva e nobre isenção não houve mais Negócios Estrangeiros sendo-lhe olíerecido
Negocios offerecido o ti-
que replicar, mas que louvar e celebrar a sua ele- tulo dc
de duque de Albuquerque ce a Gran Cruz da
vadíssima significação moral, pela qualidade da Ordem de Christo por egual tudo foi nobremente
tempera do homem superior que punha em re- recusado pelo digno continuador das virtudes cí-
levo. doesta respeitável familia,
vicas d'esta^respeitável família, sob pretextos os
Estas nobilíssimas
nobilissimas qualidades tornaram-se na mais amaveis
amáveis e respeitosos.
família Mesquitella
Mcsquitella norma e preceito, que ne- Um alevantado sentimento de delicadeza e
nhum dos seus illustres descendentes até hoje n'esse momento dá recusa de
lealdade obrigava 11'esse
deixou de seguir e imitar nobremente. tão^ mercê,oo fidalgo representante da
tão merecida mercê,
A casa Mesquitella está entrelaçada com prín- prin- antiga nobreza do reino e official
ofiicial da casa do rei.
cipes não só da familia
família real portugueza, mas de A situação pouco constitucional creada pelo
outras nações e tem dado ao paiz altos funccio- funecio- duque dcde Saldanha n'essa epocha, levantava es-
narios para o governo das Inaias,Índias, vice-reis, em- crúpulos na consciência do fidalgo inteiramente
baixadores, secretários de estado, generaes e áa luetas e paixões da politica do seu
estranho ás luctas
religião defensores e martyres dos quaes a egreja seu tempo e unicamente inspirado na tradição
canonisou dois que ao Japão haviam ido pregar de seus maiores.
')/

O LIVRO DE OURO 43

Se esse titulo, que é uma


Sc urna justíssima gloria que rcalisar quando veio sur-
gem que se proposera realisar
de direito assiste á casa Mesquitella, traduzisse prehendel-o entre os prazeres da vida elegante
a iniciativa expontânea do monarcha ec fosse a de Paris, a noticia cruel e inesperada da niorte
morte
expressão independente da sua vontade soberana, de seu pae.
cm
em vez de um acto politico imposto pelas cir- Este fatal acontecimento foi o maior e mais
cumstancias á sua saneção como chefe ao do estado, profundo golpe que ha ferido o coração do illus-
estamos que o nobre conde de Mesquitella não tre fidalgo, mais subordinado á disciplina do es-
teria recusado a distineçao
distineção que era feita na sua pirito e da reflexão, que ás paixões que desorien-
pessoa á ilíustre
illustre casa que representa. tam ainda as organisações mais privilegiadas.
ex.a a interpretação que damos
Perdoe-nos s. ex.* Obrigado por elleclle a pôr immediatamente de
a esse acto da sua vida, perfeitamente correcto pnantasias de touriste, o
parte os projectos e phantasias
e cm
em que se põe em evidencia as finas qualida- conde de Mesquitella regressou ao seu paiz, tra-
des de um espirito delicado e toda a grandeza zendo como única recordação da viagem que em-
de alma de uma consciência recta e imparcial. idêa lugubre
prehendera, a idea lúgubre de que perdera seu
Tal éc e foi a nobilíssima família de que nos pae.
temos oecupado,
oceupado, n'estes
n'estcs breves traços, que são Nem as relações que cultivára
cultivara nem os conhe-
como que a moldura do quadro em que procura- cimentos que adquerira n'esses paízes, podiam
mos destacar o perfil moral do illustre conde de compensal-o
eompensal-o da perda que sentira e do vacuo vácuo
Mesquitella. immenso que ella deixava na sua alma aonde até
então, nem ainda até hoje, sentimento maior ec
mais santo se abrigou.
<k
Não quiz a fatalidade que elle experimentasse
o prazer de abraçar seu pae no regresso ao seu
paiz e fosse testemunha do jubilo provável ec na-
tural do venerando ancião ao vel-ovcl-o regressar ao
D. João Afíonso
Afionso da Costa de Sousa Macedo seu antigo solar, para continuar a illustrar com
Albuquerque, conde de Mesquitella, éê filho do seus actos a esse nome que lhe era tão glorioso
conde do mesmo titulo D. Luiz da Costa de para si como para o paiz.
Sousa de Macedo e Albuquerque ec da condessa Esta morte prematura, este golpe que não era
D. Maria Ignacia
Ignacía de Saldanha Oliveira e Daum, esperado, fez o homem de quem hoje tratamos
filha do conde de Rio Maior e neta por parte de e modificou-lhe por assim dizer o caracter, im-
sua mãe, do extraordinário estadista marquez de primindo-lhe esse cunho de gravidade e de refle-
Pombal. xão que o distinguem e recommendam.
Habilitado muito creança a entrar no collegio A norma da sua vida assente desde esse mo
dos nobres, ahi formou o seu espirito cursando mento em princípios invariáveis, jamais até hoje
os estudos superiores e obteve em todos os an- foi alterada por nenhumas circumstancias de oc-
nos os primeiros prémios devidos áA sua appliea-
applica- casião ou considerações de qualquer ordem.
çao
ção e talento. Esta firmeza é traço caracteristico
característico dos homens
Terminados os seus estudos pela maneira que superiores.
fica exposta, seu pae resolveu para complemento
da educação do joven fidalgo, mandai o em via-
gem de instrucção ás principaes capitaes
capitães da Eu-
ropa.
Este acertado proposito
propósito dá bem a medida da
sua illustração e bom senso.
Ei-rei agradavelmente impressionado pelas pre-
El-rei El-rei apenas o conde de Mesquitella se achou
coces manifestações da capacidade mental que de regresso
regresso aoao reino,
reíno, conferiu-lhe
conferiu-lhe aa commenda
commenda
distinguiam o laureado estudante e desejando de Christo e investiu-o na posse dos cargos de
0
agradável a pae e filho não só agra-
por egual ser agradavel 12.°
!2.° armador-mór e 12.0 armeiro-mór do reino,
ciou com o titulo de conde o joven fidalgo, co- suecessão lhe pertenciam, tomando tam-
que por successão
mo lhe fez mercê das honras de official mór da bém por successão
suecessão assento na caniara
camará dos pares,
casa real para servir no impedimento de seu pae dignidade a que seu pae fora elevado em cm 1826.
e da commenda de Nossa Senhora da Conceição Mas afflicções
afflieções d'alma maiores que a votada a
de Mila
Viila Viçosa. seu pae e consagrada á sua memoria, jâmais jamais
Com estes títulos que traduziam a considera- quiz conhecer o illustre fidalgo.
ção que disfructava
disfruetava no seu paiz, se apresentou Sabendo quanto custava a perda de um pae,
o joven fidalgo nas cortes de Hespanha, Paris -Paris e não desejou nunca calcular quanto poderia cus-
Londres sendo recebido com as attenções devi- tar a perda de um filho, depois de ter experi-
das á sua jerarchia ec illustração, e as demonstra- mentado a felicidade de o vêr ver educar, illustrar-
ções do mais subido apreço. sc, íazer-sc homem ec formar-se um cidadão de
se, fazer-se
Admittido á intimidade dos homens mais no- futuro promettedor e bem auspiciado.
táveis d'essa epocha tanto na politica, como nas Essas considerações por certo actuando no seu
lettras e nas sciencias, o conde de Mesquitella, espirito reflectido, tem-no
tenvno determinado até agora
soube confirmar perfeitamente no estrangeiro o ao celibato, em cujo proposito
propósito tem permanecido
alto conceito, que os seus méritos
mentos pessoaes e na- sem que o demovam a idéa idea de deixar descen-
tural talento lhe haviam alcançado no seu paiz. dente ââ casa,
dente casa, nem
nem as
as propostas
propostas provocadoras
provocadoras dada
Não estava ainda completo o itinerário da via- sua vaidade pessoal de allianças com as mais for-
44 O LIVRO DE OURO

mosas damas não só da corte portugueza


portugucza como todos os dias o solar dos Macedos, residência do
das cortes estrangeiras, onde uma prínceza
princeza lhe actual conde de Mesquitella; é d'essas dessas bênçãos
foi offerecida
offerecida em
em casamento.
casamento. 3ue se alimenta a alma aííectuosa affectuosa d'esse
d^sse fi-
A todas
A todas estas
estas solicitações
solicitações oo conde
conde de
de Mesqui-
Mesqui- algo.
tella tem sabido ser superior, tornando-as um Nos dias próprios para as recepções das ren-
objecto de galanteria e intertenimento elegante. das que
que são
são attribulados
attribulados para
para todos
todos que
que não
não dis-
dis-
põe de fortuna e cruéis para os que mal pó- po-
dem supprir
dem supprir as
as necessidades
necessidades impreteriveis
impreteriveis dodo pão
pão
de cada
cada dia,
dia, esse
esse solar
solar èè refugio
refugio certo
certode quan-
de quan-
<$\,l/3 tos sabem corresponder á generosa bizarria do
illustre conde que, com os títulos das suas pro-
priedades não éê menos fidalgo que com os títu-
los da sua nobreza, por que elles nunca lhe ser-
Honrado com a particular estima do chorado viram de pretexto ao exercício de uma violência
monarcha D. Pedro V, foi por elle convidado ou abuso de um direito, ou a qualquer acto vil-
por mais
por mais de de uma
uma vezvez aa acceitar
acceitar aa nomeação
nomeação de de lão
15o de que o egoísmo interesseiro de alguns ar-
seu camarista ee veador
seu camarista veador da da rainha
rainha D. D. Estephania;
Estephania; gentados nobilitados não escrupulisa utilisar-se.
gentarios
convites aa aue
convites soube esquivar-se
que soube esquivar-se com com os os pretex-
pretex- E' que nVquelle
n^quelle palacio
palácio do Poço Novo que
tos mais
mais delicados,
delicados, queque forçoso
forçoso foi foi aoao rei
rei accei-
accei- muitos cuidam a quasi deserta habitação do fi-
tal-os, com pezar seu. dalgo celibatário, se encontra e reúne uma corte
Idênticas solicitações lhe foram feitas por parte numerosa, os pobres; corte a que a esposa es-
de outros
de outros membros
membros da da nossa
nossa Familia
Familia Ileal.Real. d^sse fidalgo, a caridade, preside com a
piritual doesse
Tanto
Tanto na occasião da
na occasião da chegada
chegada aa Lisboa Lisboa da da affectuosa mãe.
soberana sollicitude de uma aííectuosa
rainha D. D. Estephania,
Estephania, como como da da rainha,
rainha, aa senho-
senho- Tanto assim que tendo ha tres três annos entrado
ra D.
ra D. Maria
Maria PiaPia dede Saboya,
Saboya, oo condeconde de de Mesqui-
Mesqui- na convalescença de uma febre muito grave, o
tella
tella foifoi oo fidalgo
fidalgo portuguez
portuguez incumbido
incumbido de de rece-
rece- sr. conde de Mesquitella e deliberando a irman-
ber ao
ber ao desembarque
desembarque no no Terreiro
Terreiro do do Paço,
Paço, asas au-
au- dade do Santíssimo da sua freguezia celebrar um
gustas senhoras. Te-Deum em acção de graças pelo seu restabele-
A fama da
A fama da não excedida galanteria
não excedida galanteria cortezã
cortezã do do cimento, esse exemplo fot foi immediatamente se-
nobre
nobre conde recommcndavam-n,,oo para
conde recommendavam-n para essa
essa mis-
mis- guido por todos os seus inquilinos, que para esse
são de
são de honra,
honra, ao ao mesmo
mesmo tempotempo uma uma homenagem
homenagem fim se cotisaram, assistindo ao acto religioso to-
prestada pelos pelos monarchas
monarchas portuguezes
portuguezes áá naturalnatural dos os que, por suas circumstancias de fortuna,
distineção d'ested^ste fidalgo. para elle não poderam contribuir ce aos quaes o
Por essa occasião el rei concedeu-lhe a gran- sr. conde dá, como já indicámos, casa gratuita-
cruz
cruz da da ordem
ordem militar
militar de
de Nossa
Nossa Senhora
Senhora da da Con-
Con- mente.
ceição de de Villa
Yilla Viçosa,
Viçosa, ee maismais tarde
tarde confiando-
confiando- Estes traços são bastante expressivos e cre-
Iheo commando da
Ihe o commando da guarda
guarda real real dosdos archeiros
archeiros mos que completam d'uma maneira brilhante a
por impedimento
impedimento do do duque de de Palmella.
Palmella. physionomia moral d'estcd'este fidalgo, em que legiti-
Temos exposto,
exposto, quanto
quanto ao ao homem
homem publico,publico, oo mamente acertam os títulos ae de nobreza com a
bastante para o apreciarmos com justiça. Não ha nobreza do caracter e das acções.
na
na suasua vida
vida presente
presente ee passada
passada uma uma notanota discor-
discor- E' a essas circumstancias que nós mais par-
dante. Ella
dante. Ella obedece
obedece invariavelmente
invariavelmente aos aos mesmos
mesmos ticularmente prestamos as nossas homenagens.
dictames do dever e da honra. portugucza tem no no-
A velha aristocracia portugueza
É, dadas as
É, dadas as variantes
variantes das das circumstancias
circumstancias do do bre conde um representante legitimo das glo-
tempo ee da da ordem
ordem diversa
diversa das das idéas,
idéas, aa conti-
conti- rias do seu passado, que em nenhum acto da
nuação austera dos
nuação austera dos exemplos
exemplos tradicionaes
tradicionaes da da sua
sua sua vida desdiz das tradições que lhe foram le-
familia, cuja
família, cuja historia
historia se
se entrelaça
entrelaça em em relações
relações in-in- gadas.
timas
timas com com os os factos
factos ce épocas
épocas mais
mais notáveis
notáveis da da O conde de Mesquitella óé do conselho de sua
historia pátria.
patria. magestade, par do reino, arrnador-mór
armador-mór de el el-rci,
rei,
O conde
conde de de Mesquttella
Mesquitella éê por por ísso
isso umum espiri-
espiri- armeiro-mór do reino, grã-cruz da ordem mili-
to illustrado, uma
to illustrado, uma alma
alma aííectuosa
affectuosa sem sem rancores
rancores tar de Nossa Senhora da Conceição de Villa
que aa prevertam,
que prevertam, nem nem paixões
paixões que que aa deslus-
deslus- Viçosa, commendador da ordem de Christo e
trem. condecorado com varias outras ordens estran-
A imparcialidade
imparcialidade cc para para elle
elle aa expressão
expressão da da geiras.
justiça e a justiça a expressão do direito, assim Registando estes apontamentos em que se re-
como aa lealdade
lealdade oo primeiro
primeiro dos dos deveres.
deveres. "eracões passadas já aos
flectem as virtudes de gerações
Por isso
isso asas suas
suas crenças
crenças ee condições
condições não não of-
of- domínios da historia e da critica, prestamos uma
fendem ninguém
ninguem e conquistam o respeito de to- homenagem que lhes é devida e oíícrecemos offerecemos á
dos. apreciação desapaixonada dos que teem por ideal
Quanto aa homem homem particular
particular bastaria
bastaria accres-
aceres- a verdade e a justiça, elementos seguros de apre-
centar
ccntar que, para supprir o isolamento da sua ciação imparcial.
vida de de celibatário,
celibatário, oo iIlustre
illustre fidalgo
fidalgo adoptou
adoptou por por
sua a numerosa familia de pobres recolhidos e
proletários honestos, que habita não só algumas
dependências do seu palacio, palácio, como as proximi-
dades dVle.d^elle. ■tCMcrvailo*
llCNcrvailo* todo»
íoiio» ok
o* direito* dc littc-
de propriedade lltte-
E' essa familia adoptiva que enche de benção rarla.
rarln.

TYP. MATTOS
TVP. MATTOS MOREIRA—PRAÇA
MOREIRA—TRAÇA DOS
DOS RESTAURADORES,
RESTAURADORES, l5
t5 E
C l6
l6
YL
O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

Ttiographias dos personagens mais distinctos


7tiographias disíinctos cm
em politica,
armas, religião, Icttras,
leltras, sc
sciencias,
iene ias, artes, commercio, industria e agricultura

AN NO II — VOLUME
ANNO VOLUMK I PUBLICAÇÃO PARA PORTUGAL E
1£ BRAZIL ABRIL —
—iSSô
iSSó

a levar-lhe a expressão dos seus sentimentos,


Luiz Guimarães
íiiiimaríies Junior
Júnior dos seus desejos aos confins da terra com velo-
cidade equivalente á do pensamento; pôde obri-
Desde que no cerebro
cérebro dos primitivos habitan- gar a natureza a encher o ferreo
férreo ventre das suas
tes da terra se operòu
operou aquella prodigiosa opera- machinas ec das suas locomotivas; mas fallar a
ção de transformismo optimo,
óptimo, que produsiu
produsiu^oo linguagem incomprehcnsivel e mysteriosa que só
animal-pensante
ánimal-pensante os braços e os olhos, o coração Deus e os anjos comprehendem, essa suprema
e o pensamento d'esses
d'csscs novos seres que a lucta faculdade do génio, cabe unicamente ao poeta.
devia tomar
tornar mais tarde quasi rivaes da Divin- As machinas passam rapidamente a nossos
dade omnipotente, erguerem-se para o Ceu. olhos voando ligeiras como o vento ou lidando
É que viam alli os dois mais grandiosos espe- rápidas
rapidas como o escravo mais obediente e ope-
ctáculos: para a materia
matéria —o Firmamento, para roso. A electricidade pôde realisar prod
proilgios
gios es-
o espirito —Deus. pantosos fallando a lingua humana atravez dos
Ao Creador Supremo aprouve então brindar seus telephones ec dos seus phonographos.
a Humanidade nascente, ec oflertar-lhe
offertar-lhe um mimo Tudo isso passa, esquece e morre; mas a lin-
mais que principesco — divino; — arrancou dos guagem sublime e mystica da Poesia essa fica
céus estreitas e atirou-a rutilante
ceus uma das suas estrellas sempre, vive eternamente, porque éamaisbclla
e refulgente áquelles
âquelles que com os olhos e o pen- e a mais pura das partículas geniaes.
samento pretendiam desvendar a cerrada nuvem Muda a fórma,
forma, altera se o systema,
systcma, aperfei-
que lhes occultava
oceultava as bellczas
bellezas incomparáveis do çoa-se o contorno, mas o Bello de hontem per-
Desconhecido. Esse astro chamava-se Génio. manece indelével porque éê a genuína inspiração
Dividido cm
em partículas infinitas o^ o astro scin- da Divindade creadora.
tillante, presente do Eterno, foi partilhado pelos Franklin foi eclipsado por Fulton e Edison;
homens. Hipócrates
Hipocrates não lembra depois de Galieno Gallcno e
Essas partículas geníaes
geniaes tomaram depois di- Averroes;
Averrocs; Newton foi excedido pelos naturalis-
versos nomes consoante as suas aptidões; esta tas do século passado; porém Virgilio
Virgílio e Homero
denominou
denominou-sc se Arte, aquella,
aquclla, Sciencia, aquelPou- serão sempre os grandes cantores da antiguida-
tra Poesia ec todas se designam por um titulo de, assim como Milton e Camões são príncipes
gencrico 1alento.
genérico Talento. dos poetas do seu tempo.
A gloria de uns não eclipsa a de outros.
&
e\,lzs>
• •-<.?.'—■"

É ao
ao possuidor
possuidor d'uma
diurna d'essas
d'essas partículas
partículas pre-
pre-
ciosas ee peregrinas
peregrinas que
que nos
nos vamos
vamos referir;
referir; éé aa
um poeta por excellencia na mais elevada acce- É
Ê a um filho dilecto das musas; a um herdeiro
pção do
pção do vocábulo queque vamos
vamos dedicar
dedicar algumas
algumas opulentíssimo da inspiração dos poetas mais
opulcntissimo
linhas. laureados do mundo; a um dresses
d^esses homens que
atravessam as sociedades vivendo pela alma ec
pelo coração
pelo coração ee que
que por
por isso
isso passam
passam sofírendo
soffrendo
G® pelas gerações que muitas vezes os não compre-
hendem, — que nos vamos referir.

O que éd a poesia ?
A traducção
traducção emem linguagem
linguagem humana
humana dede todas
todas <!l?
as sublimidades
as sublimidades dispersas
dispersas pela
pela Natureza.
Natureza. OO cân-
cân- ■ÍH
tico das
tico das aves,
aves, aa gravitação
gravitação das
das espheras,
espheras, as
as me-
me-
lodias do oceano não podem ter outra traducção
que não seja o poema. As suavíssimas alegrias Luiz Guimarães Junior
Júnior é uma natureza privi-
ee as
as assombrosas
assombrosas dores
dores do
do coração
coração humano
humano não
não legiada, d'essas naturezas que sabem compre-
exprimir-se senão pelo edylio
podem exprimir-sc edylío ou pela ele- hender todas as dòres,
dores, por que possuem sensi-
gia. des-
bilidade bastante para as partilharem; um d'es-
O sábio
O sábio pódc
pôde surprehender
surprehender as as forças
forças da
da na-
na- ses homens que tem todas as delicadezas do' do"
tureza na electricidade e no vapor e subordi- coração e por isso a sua alma vibra como a
nadas á sua vontade poderosa, obrigando uma
nal-as ténues brisas.
harpa eólia ao perpassar das mais tenues
46 O LIVRO DE OURO

Almas admiravelmente
Almas admiravelmente dotadas dotadas elles elles decifram,
decifram, Desde os primeiros annos que estes senti-
comprehcndem e sentem o que o vulgo na sua
comprehendem mentos superiores se revellaram
rcvellaram n'elle
n'ellc e, como
animalidade inconsciente
animalidade inconsciente não não consegue
consegue sequer sequer Bocage::
Bocage
advinhar.
São por
São por isso
isso duplamente
duplamente venturosos
venturosos ?? não; não; sãosão «das faixas infantis despido apenas
por isso simplesmente mais
por isso simplesmente mais desafortunados. desafortunados. sentia
senna o sacro fogo arder na mente.»
Luiz Guimarães
Luiz Guimarães Junior Júnior é,é, repetimos,
repetimos, uma uma natu-
natu-
reza esplendida ee assombrosamente
reza esplendida assombrosamente privilegiada privilegiada Natureza ardente e apaixonada vibrava n'ellc rPelle a
ee ainda
ainda malmal parapara clle;
clle; porque
porque se se as
as alegrias
alegrias do do corda da sensibilidade que produz os Lamartine,
seu coração
seu coração tem tem alguma
alguma cousacousa de de divino
divino ec im- im- os Hugo, os Dante'
Dante ec os Pctrarcha.
Petrareha.
material, a dor dur é também na sua alma giganteo A faculdade juridiea de Pernambuco contou-o
titan que
titan que aa esmaga
esmaga ee despedaça
despedaça com com as as torturas
torturas no numero dos seus alumnos mais dilectos e es-
horríveis da
horríveis da imaginação inquisitória], que
imaginação inquisitorial, que logrou
logrou clarecidos e com muita distineção concluiu a sua
descobrir todos
descobrir todos os os recônditos
recônditos da da Dor,
Dôr, ee sondar
sondar formatura em Direito.
os abysmos
os abysmos profundos,
profundos, em em que que pôde
pôde afundar-se
afundar-se Os meandros da justiça tantas vezes injusta e
oo máximo
máximo soffrimento.
soffrimento. ingrata não lhe mereceram sympatbia.
sympathia. Ã Á sua
Luiz Guimarães Junior
Luiz Guimarães Júnior éé da da pleiade
plêiade litteraria
litterana alma talhada nos grandes moldes dos génios re-
moderna, aa aguia
moderna, a^uia que que mais
mais alto alto vua,
voa, queauc maismais pugnavam os escarninhos labyrinthos do pro-
se aproxima
se aproxima as as alturas
alturas olympicas
olympicas dbnae d^onae domi-
domi- cesso e dos julgamentos que nem sempre estão
nava
nava as as lettras francezas oo grande
Icttras írancezas grande Victor
Victor Hugo.
Hugo. cm
em harmonia com a idéa sobrehumana do Justo.
Luiz Guimarães
Luiz Guimarães éé um poeta lyrico
um poeta lyrico incompa-
incompa- Um outro campo mais florido e mais vasto se
ravel. Uma
ravel. Uma composição
composição sua sua èê um um acontecimento
acontecimento offerecia á sua intellectuidade singular: a vida di-
oíTercáa
litterario, e se o nosso asserto não fosse um axio- plomática éc onde a intelligencia e a sabedoria
plomático
ma, provado
ma, provado oo tem tem oo grande
grande apreço
apreço publico
publico que que podem prestar mais assignalados serviços á
merecem todas essas producções. Humanidade. Alhear d'estedVste campo um legioná-
Luiz Guimarães éé um
Luiz Guimarães um homem
homem bello bello ee um bello
um bello rio tão ferveroso e ardente, tão sinceramente
homem. Na
homem. Na suasua physionomia
physionomia sympathica
sympathica ce at- at- devotado àá causa da Civilisação e do Progresso
trahente encontram-se
trahente encontram-se as as linhas
linhas que que os os physio-
physio- seria uma culpa grave. Plantae uma camélia en-
nomistas consideraram
nomístas consideraram indicativas
indicativas dos dos mais
mais no- no- tre mattos ec vel
vela«heis
a-hels definhar e morrer.
bres ee elevados
bres elevados sentimentos,
sentimentos, nos nos seus
seus olhos
olhos lím-lím- Luiz Guimarães lançou se pois de coração
pidos espelha-se
pidos espelha-se uma uma almaalma formosa;
formosa; no no seu
seu sor-
sor- nVssa vereda abrolhosa mas cheia de gloria; e a
n^ssa
riso fagueiro e.\primem-se
riso fagueiro e.\primem-se todos todos os os sentimentos
sentimentos primeira commissão que recebeu do governo bra-
afáveis; na sua dicção franca ce leal traduzem-se
afaveis; traduzcm-sc zileiro foi a de representar o império junto áá" re-
as mais
as mais nobres
nobres inspirações
inspirações ee aa mais mais requintada
requintada publica do Chili na qualidade de addido á lega-
modéstia. Gall e Lavátcr Laváter tel-o-hiarn admirado 1872.
ção brazileira, em 1872.^
como um
como um tvpo
typo completo
completo da da perfeição
perfeição terrena.
terrena. No anno seguinte foi transferido no mesmo
Na sua
Na sua fronte
fronte espaçosa
espaçosa ee ampla
ampla encontram
encontram se se os
os cargo para a legação imperial em Londres onde
indicativos
indicativos da da intelligcncia
intelligcncia orientada
orientada para para oo Bem:
Bem: foi curtir a nostalgia do limpido
límpido ceu ce do formoso
éé clle,
elle, cmfim,
emfim, oo mais mais bello
bello traço
traço dede união
união do do ve-
ve- sol americano.
lho mundo ao mundo novo. De Londres passou á Itália,
Italia, á histórica Roma,
Um
Um dos dos nossos
nossos mais mais talentosos
talentosos cscriptores
escriptores onde durante cinco annos se consagrou ao estu-
disse d'elle:
disse d^lle: Luiz
Luiz Guimarães
Guimarães éé simplesmente
simplesmente um um do da Arte nas suas mais sublimes e grandio-
dos maiores
dos maiores poetas
poetas que que tem
tem cscripto
escripto em lingua
em lingua sas manifestações.
portugueza. Ésta Esta apreciação concreta é uma das Por toda a parte ia colhendo os louros devi-
mais rectas
mais rectas queque se se tem
tem feito
feito ao ao talento
talento d^ste
d^ste dos aos seus merecimentos de poeta originalís-
homem invejável. simo e superior.
Desde 1878 que se acha entre nós exercendo
o cargo de secretario de embaixada, tendo n'este n^ste
espaço desempenhado diversas commissões co-
W
w
-t- mo a de delegado do Brazil ao Congresso pos-
tal Internacional, etc.
ctc.
Dizer que em todos estes cargos e commis-
Nasceu Luiz Caetano Pereira de Guimarães Ju- Jú- sões Luiz Guimarães deixou assignaiada
assignalada a inter-
nior no
no Rio
Rio de
de Janeiro
Janeiro aos
aos 17
17 de
de fevereiro
fevereiro de
de 1846.
1843. ferência da sua notabilissima individualidade úé
Foram seus
Foram seus progenitores
progenitores José
José Caetano
Caetano Pereira
Pereira por certo ocioso.
Guimarães, portuguez, e sua esposa, dama bra- Homem de talento incontestável ec geralmente
zileira. Doesta
D'esta juneção nasceram em cm sua alma os reconhecido, conhecedor das necessidades e dos
aílectuosos que dedica a estas duas
sentimentos aíléctuosos interesses das sociedades modernas, não podia
nações sympathicas; Portugal, a nação dos gran- deixar de promover as conquistas da civilisação
des feitos
des feitos históricos,
históricos, que
que encheu
encheu oo mundo
mundo comcom e do progresso.
a fama
fama dasdas suas
suas homéricas
homéricas façanhas
façanhas ee oo Brazil
Brazil Os seus notáveis serviços, a sua extremada
a patria
pátria do sol e das pujanças de uma natureza superioridade e o seu talento invejável conquis-
luxuriante ec opulenta. taram-lhc
taram-lhe sympathias e estima em todas as cor-
Na sua imaginação ardente reproduzem
reproduzem-se se as tes onde tem passado.
inspirações destas
doestas'duas
duas grandiosidades. O monarcha
O monarcha braziteiro,
brazileiro, cavalheiro
cavalheiro também
também ta- ta-
De Portugal
Portugal tem
tem os
os pensamentos
pensamentos gigantescos;
gigantescos; lentoso ec académico distíncto,
distincto, apreciador sincero
do Brazil a suavidade amena. do verdadeiro mérito consagra-lhe uma afieição afieiçao
yj
O LIVRO DE OURO 47

particular, porque reconhece n'elle um dos mais que tem escripto modernamente em lingua língua por-
gloriosos filhos da America portugueza. tugueza.
DVissa
D'essa estimação tem provas Luiz Guimarães A estes seguíu-se
seguiu-se uma longa serie porque Luiz
Júnior nas numerosas mercês que tem recebido
Junior Guimarães éê um escriptor laborioso ce fecundo.
das diversas cortes. A Patria
Pai ria do ideal obra escripta em Roma e con-
E porem no mundo litterario, e nos trabalhos sagrada áa Italia,
Itália, exprime o assombro de um
artísticos da penna que Luiz Guimarães tem ma- grande espirito perante as glorias de um povo
nifestado toda a grandesa da sua intellectuidade.
intcllectuidade. Descripçoes magnificas, paginas encan-
grande. Descripções
E' cresta
tfcsta feição característica que nos vamos oc- tadoras comtém
comtêm esse livro em que vibra a alma
cupar mais detidamente porque ê n'ella n^Ua que se do poeta desferida pelo contacto com as gran-
tem revelado em toda a plenitude o perfil ma- desas da Arte.
gestoso do seu vulto. A estas succederam
suecederam e acompanharam muitas
outras, de que faremos um breve apontamento
bibliographíco.
bibliographico.
Q\\/3 Historias para gente alegre, 2 vol.; CurtiasCurras e
Zigs-yags, 1 vol.; Filagro.nas,
Zigs-\ags, Filagranas, 1 vol.; Contos sem
pretenção,
pretençáo, Nocturnos; Biographias de Carlos Go-
mes; de Pedro Américo, etc.
Luiz Guimarães encetou a sua carreira escre- K theatro :
E para o theatro:
vendo litteratura amena no cDiario do cRio I{io de Os dramas: André Vidal, 5 actos, e Quedas
Janeiro, o primeiro periódico do império e dis- fataes, 5 actos; e as comedias: Uma scena con-
tinguíu-se loco
tinguiu-se logo especialmente nos artigos críticos temporânea, Um demónio,
temporânea. demonio, O caminho mais curto
em
cm que manifestou um senso especial. A gall
gallinha
in ha e os pintos; etc., etc.
_ O jornal éè o vehiculo do pensamento. Se con- Algumas d'estas
doestas composições foram represen-
civilização pela sua face material,
siderarmos a civilisação tadas recebendo o auctorauetor a confirmação do seu
diremos que se semelha a um comboio atraves- merecimento no ruidoso applauso das platéas do
sando com a Humanidade a longa extensão dos Rio de Janeiro e Pernambuco.
tempos e das idades; a locomotiva que a arrebata O mais esplendido e magnifico porém de to-
por montes e valles, planícies e desfiladeiros, dos os seus livros, aqueile
aquelle em que se revelia em
transpondo abysmos e vencendo penedias - é o toda a original pujança a sua individualidade lit-
periódico. teraria é o que tem o titulo singelo de Sonetos c
O sábio pôde meditar largamente sobre o Rimas, cujo apparecimento fez com que por
aperfeiçoamento da sociedade, pôde resolver no muito tempo o seu auctor auetor fosse a celebridade
silencio do gabinete os mais intrincados proble- poética do dia. Ha n'aquelle
n^quelle volume poemas pe-
lueta pela existência; pôde escavar das
mas da lucta queninos mas assombrosos, ha a partícula genial
extrahir dos escombros dos
ruínas da Historia e extrabir que eternisa um nome, ha o cunho do verdadeiro
grandes cataclysmos lições e ensinamento, que talento que refulge entre a pleiade
plêiade das numero-
o seu labor ficará por muito tempo esteril estéril e in- sas insignificâncias coevas, como o diamante re-
fecundo, se o periódico, se o jornalismo os não saíta de entre as brumas negras da hulha onâe
salta
tomar nas suas garras acetinas
acerinas e os levar em pe- gera.
se géra.
regrinação por toda o orbe. Só então as mais Disse um critico notável não nos occorre ago-
soberbas doutrinas, os mais tangíveis axiomas se
soDerbas ra quem, mas o nome nada importa quando a
poderão traduzir em factos. própria se auctorisa
sentença por si propria auetorisa — que um
Caminhar sempre, luctar
luetar sempre é a eterna e bom soneto equivale a um poema.
gloriosa aspiração do ser intelligente e forte cha- É uma grande verdade litteraria, verdade que
mado homem. O jornalismo êé a manifestação se reconhece lendo os sonetos de Luiz Guima-
d'esta intensa verdade, por isso a sua divisa é a rães nos quaes se encontram todos os predica-
mesma do trabalho—progredior. dos que o abalisado critico D. Alexandre Lobo
Luiz Guimarães comprehendedor admirável exigia nestas produccões
producções rithmicas.
rithniicas. O argu-
das mais santas verdades phylosophicas tem sido mento c tal queque por si só esperta e prende a at-
pois um jornalista ardente e incansável. Em to- tenção do leitor; os pensamentos dizem com elle
das as terras onde se tem demorado algum tem- e entre si, e ajudam-se reciprocamente; todo o
po tem consagrado alguns trabalhos á litteratura supérfluo cê rigorosamente
rigorosameme excluído; a disposição
periódica. Poucos escriptores podem contar co!-
periodica. col- satisfaz a critica sem prejudicar a naturalidade
laboração em maior numero de jornaes. Em Por- da marcha e prepara com arte insensívelinsensivel um fi-
tugal temos encontrado o seu nome em varia- nal que enche a expectação e merece conservar-
c
díssimas
dissimas publicações. O diário Diario Hlustrado,
Illustrado, a fo- se em lembrança.
lha escolhida e preferida pela sociedade elegante Estas são as diíficuldades
dificuldades principacs
principaes com que
tem honrado as suas columnas com muitas pro- o sonetista tem de arcar, e que Luiz Guimarães
ducções
ducçõcs mimosas como são todas as que proma- reúne em iodos
todos os seus sonetos.
nam da magica penna do insigne poeta. Bocage foi um dos auctores
auetores mais felizes n'este
Em livro tem feito publicações que são admi- género, mas tolheu-o o engano de seguir as ve-
genero,
radas em Portuga] e Brazil. lhas e pesadas formas; produziu sonetos admirá-
O seu primeiro volume de versos a que deu o veis mas ásperos e bravios; satisfaziam as exi-
titulo de Coymbos
Corymbos publicado em Pernambuco gências da arte, mas faltava-lhes o sentimento,
causou sensação e os Sonetos e Rimas editado em a sensibilidade; vibrava a corda sonora, mas não
consagraram-lhe os foros do maior poeta
Roma, consagraram-lhc Telles a nota que ressoa no coração.
se encontra n'elles
4S
O LIVRO DE OURO

Os sonetos de Bocage são occos e duros e nem dado descrever


dado descrever sem
sem ferir
ferir penosamente
penosamente aa alma
alma
mesmo aquelle,
mesmo aquelle, aliás
aliás admirável
admirável _ proferido
proferido nos nos d'aquelle que da sua dôr tem feito um culto ec da
d'aquclle
momentos de agonia Outro Aretino fui... fui'... nem sua saudade um sacerdócio.
esse mesmo
esse mesmo satisfaz
satisfaz oo coração
coração como
como satisfaz
satisfaz aa
arte.
Poesia cjueque não ressôa
ressoa no intimo da Alma não
é verdadeiramente poesia, meiga filha do Ceu
que só
que só pode
pode terter um
um acompanhamento
acompanhamento racional racional Pouco
Pouco mais mais diremos.
diremos. Luiz Guimarães vac
Luiz Guimarães vae
—o do sentimento. compendiar os
compendiar os últimos
últimos cantos
cantos n\imn"um livro
livro cujo
cujo
Os sonetos de Luiz Guimarães possuem esta titulo synthetisa os
titulo synthetisa os sentimentos
sentimentos aa que que acabamos
acabamos
qualidade: accordam um ecco sonoro no fundo de nos" referir
referir:: — óc a Lvra
Lyra Jinal,
final, após essa pu-
das almas
das almas maismais entorpecidas;
entorpecidas; éê que que foram
foram inspi-
inspi- blicação
blicação o o poeta
poeta esquece
esquece asas musas,
musas, assim
assim corno
como
rados pelo lyrismo natura! natural que existe depositado oo coração
coração feneceu
feneceu para
para os
os amores.
amores.
no íundo do coração humano e de que Lamar- Luiz Guimarães cc louco
Luiz Guimarães louco por
por seus
seus filhos.
filhos. Como
Como
tine foi
tine foi oo mais
mais gentil
gentil ee tocante
tocante interprete.
interprete. Feli-
Feli- Victor Hugo professaprofessa aa idolatria
idolatria dasdas creancas,
creanças,
zes os que como Narciso de Lacerda e Gonçal- ee tendo
tendo prematuramente
prematuramente perdidoperdido aa estremecida
estremecida
ves Crespo—esse
Crespo—esse insigne insigne lapidario do verso
Inpidario do verso que
que esposa
esposa revêrevê n'aquellns
n'aquellas relíquias
relíquias preciosas,
preciosas, as as
aa morte
morte arrebatou
arrebatou tão tão prematuramente
prematuramente conse- conse- queridas memorias dnquella
queridas memorias d'aquclla queque tão
tão ternamente
ternamente
guem ti triumphar
iumphar cm campo tão abrolhado de es- adorou.
pinhos. Luiz Guimarães pertence por este lado, N'esse adoravcl
adorável fanatismo concentrou todas as
aos homens pnviligiados. potencias de sua alma.
O soneto
O soneto de de Camões
Camões — — Alma
Alma minha
minha gentil,
gentil, Um dos gemidos
Um dos gemidos dolorosos
dolorosos da da sua
sua alma
alma ferida
ferida
que te
que íe partiste... soneto,
soneto, queque se não
não estivesse
estivesse por aquella dôr tremenda é a sublime
por aquella dôr tremenda é a sublime poesia re- poesia re-
escripto, seria composto por Luiz Guimarães, éc citada nana inatinèe
mal ince dodo Cobreio
COR PEIO da õMater
M anhã £\later
DA MANHã
considerado, apesar do cacophaton queo acom- dolorosa que lhe valeu uma estrondosa ovação,
panha, oo melhor
panha, melhor queque se se tem
tem escripto
escripto nono mundo,
mundo, poesia inimitável
poesia inimitável ee mystcriosa,
mystcriosa, como como os os threnos
threnos
na douta
na douta opinião
opinião de de D. D. Francisco
Francisco de de S.S. Luiz.
Luiz. que oo vento
que vento arranca
arranca baixinho
baixinho áâ lyra
lyra fusiforme
fusiforme
Pois bem;
Pois bem; só só no
no livro
livro dede Luiz
Luiz Guimarães
Guimarães temostemos aos cyprestcs, ou
aos cvprestes, ou como
como as as vibrações
vibrações solitárias
solitárias
encontrado sonetos que, pelo complexo das qua- do órgão no silencio de uma cathcdral
do orgão no silencio dc uma cathedral da idade- da idade-
lidades de energia e delicadesa de que se acham . média.
revestidos, rivalisam com este. Quando virmos
virmos passar
passar aquelle
aquelle vulto
vulto sympa-
sympa-
E pontos
E pontos de de contacto
contacto existem
existem entre
entre oo LuizLuiz thico
thico ee attrahente
attrahcnte descubramo
descubramo nos nos respeitosa-
respeitosa-
que legou
que legou ao ao mundo
mundo os os Lufadas
Lufadas ee aquelle
aquelle aa mente, porque éé um
mente, porque grande poeta
um grande poeta ee umum coração
coração
quem n'este
quem n'este momento
momento nos nos estamos
estamos referindo.
referindo. dolorosamente desfibrado pelos cardos da des-
Quantas vezes aquella nobre alma scismadora craca.
graça.
terá exclamado
terá exclamado no no sanctuario
sanctuario do do seu
seu lar:
lar:

«Se lá no assento etherio onde subsiste


Memorias d'esta vida se consente
Não te esqueças de aquelle amor ardente Dissemos que Luiz Guimarães tem recebido
Que ateiar-se em meu peito, puro viste!» distineções
distinccões de de todas
todas asas cortes,
cortes, assim
assim c, d, como
como se se
pôde
pôde verver do
do seguinte
seguinte elenco:
elenco: Official
Oíhcial da da ordem
ordem
Sim. Luiz
Luiz Guimarães
Guimarães chora
chora também
também aa sua sua da Rosa, do
da Rosa, do Brazil;
Brazil; commendador
commendador de de Christo,
Christo,
Nathercia, porque quiz o Omnipotente que es- Cavalleiro dc de S.
S. Thiago
Thiago ee da
da Conceição
Conceição de de Por-
Por-
tas almas privilegiadas
tas almas privilegiadas que
que sabem
sabem apreciar
apreciar todas
todas tugal; do
tugal; do Santo
Santo Scpulchro
Scpulchro ee dede S.S. Gregorio
Gregório Ma- Ma-
as dores e todas as alegrias da Humanidade;
as dores e todas as alegrias da Humanidade; gno de
gno de Roma,
Roma, dc de Santiago
Santiago dodo Chili,
Chili, etc.,
etc, etc.
etc.
que pòdem
que podem arrancar
arrancar áà Ncitureza
Natureza osos seus
seus segre-
segre- Faz também parte
Faz também parte das
das seguintes
seguintes sociedades
sociedades
dos para
dos para os
os traduzir
traduzir nas
nas linguagens
linguagens dosdos homens
homens litterarias: da da Academia
Academia RealReal dasdas Sciencias
Sciencias de de
provassem a gotta mais amarga do fel da taça Lisboa,
Lisboa, comocomo socio
sócio correspondente;
correspondente; da da Asso-
Asso-
servida pela
pela Fatalidade
Fatalidade aos
aos habitantes
habitantes dada Terra.
Terra. ciação
ciação dosdos Escriptores
Escriptores ee Artistas Hespanhoes;
Artistas Hespanhoes;
Luiz Guimarães
Guimarães sentiu
sentiu também
também uma uma paixão
paixão dos escriptores portuguezes;
dos escriptores portuguezes; dos
dos escriptores
escriptores bra-bra-
grandiosa; amou com a sua alma de poeta gigan- zil eiros, da
zileiros, da Arcadia
Arcádia Romana
Romana onde onde temtem oo nome
teo como
teo como Tasso
Tasso ee aa lvra
lyra partiu-se
partiu-selhe nas mãos
lhe nas mãos de Admeto Triamideu,
de Admeto Triamideu, da Academia Tiberina,
da Academia Ti be ri na,
no momento
momento em em que
que "Deus
Deus arrancára
arrancara dodo seu la-
la- da Dei Guiriti
da Dei Guiriti de
de Roma,
Roma, das
das Sociedades
Sociedades de Geo-
de Geo-
do a esposa idolatrada. Não podendo graphia, de
graphia, de Roma, Lisboa,
Lisboa, Porto,
Porto, etc.etc.
Superiores porem
porem aa estes
estes titulos
titulos honrosos
honrosos es- es-
qneixar-se do espantoso crime
queixar-se tão, aos litterarios,
tão, aos litterarios, osos seus
seus formosíssimos
formosíssimos ee es- es-
plendidos versos,
versos, que
que valem
valem maismais queque osos mais
mais
como disse Guilherme
como disse Guilherme Braga,
Braga, impoz
impoz silencio ao
silencio ao honrosos diplomas, ee aos
honrosos diplomas, honoríficos, os
aos honoríficos, os dotes
dotes
estro que
estro que jájá não
não lhe
lhe inspira
inspira senão
senão queixumes
queixumes ee peregrinos do do seu
seu caracter
caracter immaculado.
immaculado.
sentidas lamentações. Na sua vida
Na sua vida irreprehensivel
irreprehensivel ee illibada
illibada jamais
jamais
A morte
A morte dada esposa
esposa foi
foi para
para oo illustre
illustre poeta
poeta deixaram de florescer as palmas da honra. A sua
um golpe
um golpe fatal;
fatal; curvou
curvou aa cerviz
cerviz áá dur
dur ee consa-
consa- vida particular,
particular, como
como aa publica,
publica, temtem sido
sido sem-
grando a existência a seus filhos encerrou no tu- pre
pre umum exemplo
exemplo ee uma uma lição.
lição.
mulo das
mulo das suas
suas afieíções
afleições aa cythara
cythara em
em queque dedi-
dedi-
lhava as
lhava as suas
suas inspiradas
inspiradas estrophes.
estrophes. Callemo-nos
Callemo-nos !lc«rrtsiilo« lodo*
llcMcrtmloM Inilo* «* dliHllo*
dJrfHo* ill-
ili* prop» loií ;<lc llltc-
proinlrilvilc lllto-
perante essa dor suprema que áã penna não é rnriii.
riiriu.

TYP. MATTOS
TYP. MATTOS MOBEIRA
MOREIRA —
— PRAÇA
FKACA DOS
DOS RESTAt RADOBES, iS
RESTAIRADORES, iS E
E l6
|6
IV
A

O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

distmctos
Tiiographias dos personagens mais distinct em politica,
os cm
armas, religião, lettras, sciencias, artes, commercio, industria ce agricultura
agricttltura

ANNO I!
II—VOLUME
—VOLUME I PUBLICAÇÃO PARA PORTUGAL E BRAZIL
BRAZ1L MAIO —
—1886
1886

0 conselheiro
0 conselheiro Julio
Julio Lourenco
Lourenço Pinto
Pinto crecencias odiosas e cauterisar as chagas pustu-
lentas; sem lançar o pomo da discórdia n'estas
Tempos houve em que a prosperidade de uma núpcias de Peleo
Pcleo da sociedade moderna.
nação dependia do valor e intrepidez dos seus Como escriptor também elle nitidamente com-
guerreiros. prehendeu a sua missão e a tem desempenhado
A espada era por assim dizer o símbolo da por maneira invejável.
Providencia. O commercio acolhía-se
acolhíase á protec- E homem politico dizem os que veem
li vêem na polí-
poli-
ção da força e a voz do canhão dictava as leis. tica um contagio. Ainda bem que o é; ê; porque
Hoje vão mudados completamente os tempos n'essa arida
árida vereda tem feito converter os abro-
e os costumes: as nações mais bellicosas não são lhos em ílôres
flores c fructos.
fruetos. A politica é uma cham-
certamente as que podem servir de modelo nem ma divina quando em vez de guiar ambições
as que caminham na vanguarda das demais, peia pela desperta uma nobre emulação que se desentra-
senda do progresso e da rivilisaçao.
civííisaçao. nha cmem serviços optimos
óptimos e benelicios fecundos,
A administração perspicaz çonsegue
consegue hoje mais e éc assim que Julio Lourenço Pinto tem colla-
do que a invasão e os pensamentos prestigiosos borado na acção politica
politica do seu tempo.
dos talentos consagrados, realisam mais largas Enérgico sem violências, intransigente sem fac-
ec solidas conquistas do que as reaiisadas
realisadas pelos ciosismo, tolerante sem cobardia cumpre os seus
valorosos dominadores da antiguidade. deveres sem adular gregos nem sacrilicar troya-
Hoje o talento individual úé a arma mais po- nos.
derosa não só para franquear as portas do capi-
tólio, mas também
tamoem para promover o engrande-
cimento e a prosperidade das nações, que de-
pendem modernamente mais da honestidade ce
critério e patriotismo dos dirigentes que do seu Nasceu o conselheiro Julio Lourenço Pinto na
valor marcial. capital da formosa província do Douro, no seio
Nestas
N'estas hostes modernas, que bem podem de- cPesse éden maravilhoso que justificadamente tem
d'esse eden
nominar-se os exércitos do génio, poucos se tem n'cssa ci-
sido denominada jardim de Portugal, n'essa
assignalado tão distinctamentc
distinctamente como o cavalheiro dade patrícia e altiva que foi berço das liberda-
a quem nos vamos referir, que na alta bureau- pátrias que tantas vezes tem regado com seu
des patrias
cracia contemporânea e nas hostes litterarias sangue generoso.
oceupa logar proeminente pelos serviços presta-
occupa n'cssa va-
Ha na athmosphera que se respira n'essa
dos ce pelos admiráveis trabalhos produsidos. lorosa região alguma cousa de grandioso civismo,
Sob duas faces devemos encarar a sua presti- que faz de seus filhos os espartanos modernos.
mosa individualidade, como escriptor e como Portuenses eram os irmãos Passos, esses glorio-
homem publico. Na primeira faz parte saliente sos tropheus do partido liberal, que no campo
d'essa bizarra pleiade
plêiade coetanea
coetânea onde avultam da batalha e no parlamento com tanto denodo
Ramalho Ortigão, Eça de Queiroz e o inimitá- pugnaram sempre pelas ideias politicas que re-
vel Camillo; como funccionano
funecionano poucos tem illus- presentavam.
trado tanto o nome que possuem. Julio Lourenço Pinto não tem tido ensejo de
A existência do conselheiro Julio Lourenço se elevar ás proporções épicas d'esses
desses heroes do
Pinto compõe um poema invejável, não pela peia va- liberalismo, mas possue no coração os germens
riedade das aventuras que haja de descrever que os inspiraram ce não cede cm
em civismo ás mais
n'ella,
n'clla, mas pela insistência com que se tem em- gloriosas tradições. Acha-se na pujança da vida;
penhado sempre cm em promover o bem publico deante de si abrem-sc
abrem-se as veredas que conduzem
nas localidades que tem administrado. aos mais proeminentes cargos; c se o desgosto
Cumprir o dever c também servir a Patria Pátria e que muitas vezes vem nos tempos modernos das
scrvil-a
servil-a admiravelmente, é dar exemplo a coevos injustas e odiosas retaliações pessoaes o não des-
e vindouros, exemplo profícuo ce salutar; êé con- viar da senda que trilha, hemos de velo vel o nas
correr para o monumento constituído por cada sé- mais culminantes alturas delíender
defíender com denodo
culo decorrido com as lapides mais notáveis. E É o pendão hasteado pelos liberaes mais conspí-
isto o que tem feito o conselheiro Julio Lourenço cuos, porque nutre sentimentos e aspirações para
Pinto, seguindo n'este caminho a vereda traçada o fazer.
por seu honrado pae. Veiu pois ao mundo na cidade invicta que o
Cumprir o dever é também para o litterato ou admira e bemquer, no dia 24 de maio de 1842,
para o jornalista stygmatisar os vícios da sua e foram seus progenitores o conselheiro Julio
época e exaltar-lhe
cxaltar-lhe as virtudes; cscalpellar
escalpellar as ex- Lourenço
Lourenco Pinto e D. Anna Julia Júlia Pinto, dama
O LIVRO DE OURO

virtuosa cuja nobrcsa


nobresa de sentimentos se trans- duzido e deslumbrado o homem mais popular e
mittiu
miti iu intacta a seu filho. prestigioso. Lourenço Pinto replicou que preferia
Como seu filho seguira o pae do nosso bio- âá actividade politica o remanso do seu lar e o
graphado
grapliado a carreira administrativa da qual foi encanto de se recolher ao seio da família que
um dos mais honrados ce brilhantes ornamentos, idolatrava, e de quem era amado como tão gran-
tendo tido occasião de prestar os mais relevan- de coração merecia selsel-o.
o.
tes serviços ao districto que governou por vezes Como se vê o nosso biographado aprendeu
interinamente. nos exemplos salutares de seu honrado pae a
Exerceu por largos annos o logar de secreta- adejar sobranceiro ásús mesquinhas paixões da-
da tri-
rio geral no districto do Porro,
Porto, tendo resistido vialidade humana.
a todas as instancias do governo e dos seus
amigos políticos e particulares que pretendiam Sà
í£>
entregar-lhe definitivamente a governação civil,
chegando mesmo a ser nomeado governador ci- Os primeiros annos de Julio Júlio Lourenço Pinto
vil de Aveiro, mas não tomando conta do cargo foram consagrados a adquirir a vastíssima som-
por haver declinado a honra d'esta d^sta nomeação. ma de conhecimentos liiterarios e scientificos que
Tão considerável era o prestigio e tão reco- todas as suas producções
producçoes denunciam, especiali-
nhecida a popularidade do íllustrc secretario ge- sandose
sando-se um profundo conhecimento da lingua língua
ral que nas circumstancias mais difiiceis dilíiceis o mi- pátria
patria que lhe dá logar a merecida notoriedade
nistério do Reino o nomeava governador civil entre os mais vernáculos prosadores modernos.
interino, quasi como uni um elemento de pacifica- Em 25 de junho de 1864 terminava brilhante-
ção. mente a sua carreira estudiosa, formando-sc na
A esse prestigio, a essa popularidade deveu faculdade de direito na Universidade de Coim-
muitas vezes sair incólume dos motins popula- bra, faculdade onde se assignalou de uma ma-
res, em que teve de intervir. neira muito superior ce distincta ce no anno se-
A questão dos enterramentos ainda hoje le- guinte encetava a carreira administrativa toman-
vanta os ânimos nas províncias do Norte do paiz; do, a i3 de janeiro, a administração do concelho
mas na época em que se decretou a secuiarisa- sccularisa- de Povoa de Varzim.
ção dos cemitérios esta medida promoveu as Quasi pela mesma época apparcciam
appareciam no Com-
mais serias e graves commoçõcs,
commoçoes, e só o respeito mercio do Porto os seus primeiros trabalhos lit-
que inspirava o nome de Lourenço Pinto lhe sal- terarios em que se reconhecia já o notável escri-
vou a vida, porque no afan de impedir tumultos ptor do Homem Indispensável ec do Sr. Deputa-
e desordens elleclle não duvidava arremessar-se ao do. Esses primeiros trabalhos a que deu o titulo
centro das turbas enfurecidas. de Revistas Semanaes tem sido classificados pe-
As crises alimentícias que deram causa ás gra- los críticos como «trabalho interessante modelado
ves desordens no districto do Porto também for- nas mais elegantes e correctas formas de uma
neceram ensejo ao zeloso funccionario
funecionario de expor linguagem primorosa e vernacular
vernácula.»
a vida por mais de uma vez para conjurar tem- Ao mesmo tempo foi Julio Júlio Lourenço Pinto
pestades mais procellosas. avançando na bureaucracia
burcaucracia e na litteratura. Em
Este arrojo era mais um direito adquirido á 8 de agosto dc de 1865
186*5 era transferido para o con-
estima e veneração que o povo lhe tributava por- celho de Villa Nova de Cava, Gaya, voltando para
que a coragem que se impõe em toda a parte, Varzim em setembro seguinte; cm 26 de dezem-
no Porto é a qualidade que mais se admira ce bro era nomeado para Louzada, e em 14 dc de ju-
aprecia, porque a população do Porto éê um povo de 1866
lho dc i8GG para Santo Thyrso.
de valentes. Em 20 dc de janeiro de 1808
1868 era lhe novamente
As paixões partidárias esse terrível e nefasto confiado o concelho de Villa Nova de Cava, Gaya, sen-
phylloxcra
phylloxera da vida civil, que ameaça de continuo do exonerado, a seu pedido, em março seguinte.
as mais elevadas individualidades e tem esterili- Em 17 d'abril
d"abril de ifíhS
i8(>8 era nomeado secreta-
sado tantos méritos consagrados cnvolvcu-o
envolveu-o tam- rio geral do governo civil dc de Villa Rea!
Real passando
bém um dia nos seus tcntaculos
tentaeulos ascorosos ce der- em outubro seguinte a exercer egual cargo, a seu
cTcsse cargo, que foi para elle
ribou-o doesse clle um glo- pedido, no districto de Santarém e em 6 de ju-
rioso pedestal. Um ministério regenerador de- dc- nho de íS-to
JS-TO tomava conta do secretariado dc de
mittiu o secretario geral que invejava e temia por Coimbra, (.ronde
cronde o governo de 19 de maio o de- dc-
ser um Ídolo
idolo do povo do districto, mas o decreto mittiu nãn ser aífccto.
rnittiu por lhe nan aflecto.
da exoneração tornou-se no elemento productor produetor Em i3 de dezembro de 1870 1X70 foi nomeado se-
da mais commo
comino vedora a po th cose. A residência cretario geral para o districto de Bragança des-
funecionario ferido pelas paixões partidárias
do funccionario pacho que não acceitou. sendo em 34 14 dc
de junho
tornou-se um templo onde corriam em cm massa to- de 1879 nomeado governador civil de Santarém.
das as classes a o flertar a sua dedicação c a pro- Em todos estes cargos que exerceu desde i8f>5 i8fi5
testar contra uma medida odiosa até*aos ate aos adver- até1 1879 justificou sempre o illustre
ate íllustrc funccionario
funecionario
sários politicos.
políticos. Por essa occasião, como des- os mais elevados dotes de engenho e as mais
afronta cleitoraes offere-
afíronta da cidade, os influentes eleitoraes apreciáveis qualidades, conquistando por toda a
ceram ao illustre
ccram iIlustre cidadão uma candidatura si- parte sympathias sinceras e profundas. Foi to-
multânea por todos os círculos
circulos do Porto; mas davia no governo do districto de Santarém que
Lourenço Pinto, com uma isenpção iscnpçao verdadeira- poude evidenciar mais desafogadamente todo o
mente spartana, digna dos tempos áureos da seu talento administrativo e provar a sua rara
nobre Grécia repudiou essa offertaofiferta que teria se- e habi!
hábil aptidão.
/
)

O LIVRO DE
DR OURO 5i

Occupar-nos-hcmos, pois, mais detidamente Geria o districto quando se realisou o con-


d'esta phase da sua laboriosa collaboraçáo
collaboração na gresso antropológico. Os congressistas quizeram
vida politica do seu tempo. admirar as relíquias terciárias ec quaternárias de
Muge. Azada era a occasiaooccasião para impressionar
fovoravclmente os illustres visitantes ec Julio
fovoravelmentc Júlio Lou-
©íT-a) renço Pinto não a deixou perder.
Promoveu pois que as camaras camarás de Santarém,
Quem pretenda concorrer para o bem publico Almeirim e Salvaterra fizessem llzessem uma recepção
nos tempos modernos, tem de começar, corno como festiva e pomposa de que os congressistas leva-
os agricultores, por desbravar o terreno onde ram'a
ram* a mais grata impressão, a que a imprensa
queira fazer a sua sementeira. estrangeira mais tarde sc se referiu hsongeiramente
lisongeiramcnte
As terras dcsbravam-se
desbravam-se com a charrua, os po- tendo os próprios congressistas 'declarado que
vos com a instrucçao.
instrucção. Abrir uma escola ou pro- em paiz algum lhes havia sido feito acolhimento
mover o seu aperfeiçoamento, incitar o amor do tão festivo e surprehendente!
surprchendente!
estudo, despertar o desejo de aprender ec des- Aproveitando singularmente bem as circums-
vendar o sol dos espíritos e levantar no deserto tancias Júlio Lourenço Pinto fez assistir
tances locaes, Julio
da ignorância, a columna de fogo que orienta as os congressistas a uma desfilada de campinos a
almas no caminho da Jerusalem Jerusalém da felicidade. cava lio, que dava idea
cavallo, idéa de uma correria de be-
Entrando na administração civil do districto duínos em planuras africanas.
de Santarém o conselheiro Julio Júlio Lourenço Pinto É
E sabido que os campinos aleirtejanos são
entendeu e entendeu bem, que o primeiro artigo admiráveis cavalleiros, ha n'elles alguma cousa
do seu codigo
código seria promover a instrucçao instrucção e de semelhante a essas tribus de guerreiros sel-
educação dos povos. vagens da America e da Africa que parecem
Assim, pelas instancias do digno e esclarecido formar com o animal que montam uma entidade
governador civil durante a sua gerência as ca- única, tão seguras são as regras da sua equitação
marás
ntaras do districto votaram pela primeira vez nos toda primitiva. Este espectáculo único, pittores-
seus orçamentos verbas cspcciaesespeciaes destinadas ás co c natural causou a mais agradável impressão
escolas, crcando
creando prémios para os alumnos ai um nos mais aos congressistas, que mostraram enthusiastica
distinctos e subsídios para os mais pobres. admiração.
Ampliando a quelque! la iniciativa promoveu a cr ca- Tendo havido lima uma innundação no Tejo, que
ção das bibliothccas
bibliothecas populares, que uma lei es- assumiu proporções assombrosas o digno gover-
quecida iccommendava e que o districto de San- nador civil adoptou tao tão promptas medidas e to-
tarém foi talvez o primeiro a possuir por inicia- mou tão enérgicas providencias prestando soc-
tiva do zeloso magistrado. corros especialmente em viveres ás povoações
A agricultura, essa alavanca da ríquesa
riquesa e pros- innundadas como nunca tinha havido tão profí-
peridade rural tão esquecida, tão despresada, tao tão cuas e completas, o que foi reconhecido por toda
aviltada mesmo pelos poderes públicos que se a imprensa que sem distineção de cores politicas
lembram d'ella
d\illa quasi unicamente para lhe pedir se desentranhou em applausos sinceros e unani-
tributos, essa foi também alvo das attençoes ec mes, applausos confirmados pelo governo que
cuidados do illustre governador civil. oflicialmcntc o zeloso magistrado.
louvou oílicialmente
A quinta districtal creou-se
creou-sc por impulso dV O centenário de Camões celebrado durante o
quellc funecionario, que logrou assistir á sua ins-
quelle funccionario, consulado de Julio Júlio Lourenço Pinto foi também
tallação
tai lação e a viu ainda prosperar. commemorado em cm Santarém com festas que se
Em seguida promoveu uma exposição agricola agrícola prolongaram por tres dias, sendo executado um
districtal para cuja realisação
realisaçao teve que luctar
luetar com programma que comprehendia:
comprehend ia: bodo a pobres,
um grande numero de obstáculos, o menor dos conferencias ce sessões solemnes, recitação de
quaes não foi certamente a inclinação, que tem poesias e discursos em honra do grande épico,
o nosso povo para a rotina, ec a aversão que tem mensagem á camara camará fazendo-a depositaria de
para as innovações; apesar porem dd'essas "essas difi- illuminações, etc.,
uma coroa de louro, illuminaçoes, etc, etc.
culdades todas, a força de vontade do governa- Esta parte prova quanto se enthusiasma Julio Júlio
dor civil foi superior a tudo porque conseguiu Lourenço Pinto pelas nossas glorias e grandesas
realisar a exposição com grande êxito. passadas, que poderiam bem renovar-se renovar-sc se hou-
Esta exposição era o primeiro passo para uma vesse muitos cidadãos animados dos sentimentos
obra maior que seria uma serie continua de ex- cívicos, que ennobrecem
cnnobrecem este distincto funccio-
funecio-
posições de que a agricultura ec a industria dis- nario.
trictal deveriam colher numerosos e profícuos re- Devemos aqui fazer menção da extrema mo-
sultados, o que se não realisou por ter sido exo- déstia de Julio
Júlio Lourenço Pinto, que tendo sido
nerado, a seu pedido, em fins de março de 1881, o principal promotor de todos os melhoramen-
não tendo o seu successor
suecessor sabido aproveitar tão tos e benefícios públicos que temos citado, de-
lisonjeiro
lisongeiro
1? inicio. clina sempre de si a parte mais importante d'el- dVl-
les, attribuindo tudo áquelles cavalheiros, que o
**$ coadjuvaram e de quem todavia não podia par-
tir a iniciativa, mas apenas a secundação. Esta
Ainda outros factos devemos citar que provam virtude tão rara quanto valiosa, é uma das fei-
o quanto Julio
Júlio Lourenço Pinto sabe fazer brilhar ções mais características da sua individualidade.
o seu paiz, um dos quaes e tanto mais impor- Em 1881
J88I foi infelizmente exonerado por haver
tante que foi admirado por estrangeiros. mudado a situação politica.
52 O LIVRO DE OURO

Km iS83 foi eleito procurador áa Junta geral Esthetic a naturalista,


ESTHÉTICA estudos críticos
NATURALISTA, CStudoS sobre
C7'ÍtÍC0S SOÒ7'C
do districto do Porto, cargo que já havia exer- a Arte, Porto 1885. 1886.
cido cm 1878, recusando porem doesta d7esta vez o Tem cm em preparação um outro romance O
r cargo. Bastardo, que não tem ultimado por que o seu
BASTARDO,
Em
Lm i3 de março do corrente anno assumiu o estado de saude o não tem permittido, ec já agora
governo civil do districto de Coimbra, onde lhe tarde concluirá porque Ih'o llVo vedam os cuidados
foi feita a mais solemne e enthusiastica recepção, do governo civil dc de Coimbra.
e onde c de crer que prestará os relevantes ser- São numerosas ec lisongeiras as apreciações
viços que se devem esperar do seu talento apri- que alguns dos litteratos contemporâneos mais
morado e cívica iscnpção.
isenpçiío. auetorisados tem feito dos livros de Julio
auctorisados Júlio Lou-
Júlio
Julio Lourenço Pinto recebeu cm 1880 o titulo renço Pinto, e transcreveremos apenas algumas
de conselho de sua magestade e em 1870 ISJO foi palavras.
agraciado com a commenda da Ordem de Chris- A respeito dos Esboços do Natural diz por
to, que recusou por não sympathisar com a po- exemplo o visconde de Benalcanfor.
iitiça do governo d'aquella
d'aquclia época.
epoca. «Júlio
«Julio Lourenço Pinto entronca-se pelas ten-
E contado no numero dos mais prestimosos dências do seu talento na familia d'esses desses experi-
e distínctos membros da Associação dos Jorna- mentadores do mundo moral, que aspiram a re-
listas e homens de letras, do Porto. colher no romance as loeubraçõeslocubraçÕcs c os resulta-
dos scientificos dos pensadores c dos sábios, al-
lumiando-se na dupla luz da psycologia,psycologia»
...—O estylo adapta-se maravilhosamente
.. .—O seu cstylo
<â á descripção
descripçao c embebe-se de tintas tão vivas e
opulentas, que nos transporta áà mesma reali-
dade,»
Acabamos de ver o funccionario;
funecionario; vejamos Referindo se áa mesma obra diz o conhecido
agora o homem de letras, escriptor Simões Dias.
Júlio
Julio Lourenço Pinto começou como já disse- «Emulo
«hmulo dc de Bento Moreno ce Eça dc de Queiroz
iitteraria collaborando no
mos, a sua carreira litteraria na exploração da novellanovel ta realista, Julio
Júlio Lourenço
Commerxio do Porto onde redigiu admiráveis fo-
Commercio Pinto é um escriptor de primeira grandesa e tem
lhetins c artigos edictoriacs sempre notáveis, col- qualidades dc de observação c critica que o collo-
laborando também na Invista l^evista dos Estudos Li- cam a par dos grandes iniciadores da escola dc de
vres c outros periódicos. Flaubert c Zola. Na passagem da escola român-
O romance que fora sempre um trabalho frí- tica para a escola realista, o seu nome tem de
volo em Portugal tornou-sc nas suas mãos vigo- ficar como um glorioso marco miliario.»
roso c importante instrumento de revolução lit- Iit- Acerca do Se?thor
Senhor ^Deputado
(Deputado escreve Alexan-
teraria» O romance serviu-lhe para fundar uma
teraria, dre da Conceição:
escola nova, a realista, que todavia está longe «O Senhor cDeputado é um romance realista
vícios de cjue
dos vicios que Zola tem eivado a sua. Os ro- na melhor e na mais elevada accepção do termo.
Júlio Pinto são antes naturalistas que
mances de Julio Tem todas as qualidades dc de um verda-
n^ellcs sc
realistas, o que n'ellcs se encontra c a copia fiel deiro romancista moderno, educação scientifica,
do que se encontra na vida, repleto d'aquella d^quella comprchensão artística
consciência dos intuitos, comprehcnsão
admirável naturalidade que tornam as Bucólicas
admirave) ce inteira posse dos processos.»
o poema dc de todos os tempos apesar de compos- O mesmo julgador rcferindo-sc
referindo-se ao Homem In-
to ha cerca de dois mil annos. Os Esboços do dispensável escreve:
Natural, collccção de contos admiráveis justifi- aA
«A somma de bcllesa bcllcsa dcde detalhe e copia dc de
cam o titulo que o auctorauetor lhes deu. Está alii alli a quadros, dc de paisagens, de scenas, de persona-
verdade palpitante c flagrante da natureza; co- gens, que se accumulam cm em volta das figuras
nhecem-se aqucllas scenas apesar de vestidas
nhcccm-se capitães
capitaes para lhes darem relevo c perspectiva,
com as galas mais ricas dc de uma linguagem pri- collocando-as logicamente c harmonicamente no
morosa c de um cstylocst}rlo peregrino.
peregrino, Dir-se-bia
Dir-se-hia ao conflicto da vida quotodiana é verdadeiramente
ler aqucllas paginas "perfumadas dc de uma poesia notável e constituo
constitue d'estc
d'cstc romance um dos tra-
admirável que evocamos recordações, que vivem litterarios mais sérios, que ultimamente
balhos littcrarios
na nossa memoria, em vez de assistirmos a se escripto cm Portugal.»
sc tem cscrípto
phantasiados episódios. Esta apreciação pódc pode Alem d'estas muitas outras apreciações pode-
applícada a qualquer dos j>cus
ser applicada àcus livros, c n'isto ríamos produzir da individualidade litteraria Iitteraria de
está o seu maior elogio porque é rcconhcccr- rcconheccr- Júlio
Julio Lourenço Pinto porque toda a imprensa
Ihe estylo c maneira especial, para aproveitar- periódica
periodica sc se tem referido lisongeiramente ás pro-
phrasc consagrada dc
mos uma phrase de Julio
Júlio Cesar
César Ma- ducções
ducçõcs d'ested^ste tão primoroso quanto modesto
chado. litterato.
bibtiographia conta as seguintes producçõcs
A bibliographia producções Mas depois das que ficam citadas, rcsta-nos resta-nos
de Julio
dc Júlio Lourenço Pinto: apenas formular votos porque tão subido engenho
Margarida, scenas da vida
MARGARIDA, PI d a contemporânea, edi- possa espandir-se cm em novas e porventura tão bri-
ção do Porto 1879. lhantes revelações.
Vmx Attribulada,
VinA. ATTRIBULADA, Porto, 1880.
SENHOR Deputado,
Senhor DEPUTADO, Porto, 1882.
ESBOçOS do
Esboços DO Natural,
NATURAL, (contos) Porto, 1882.
llrMcnoilo* lo«lo*
IIcMcrtoilo* todo» um
UM dlreitoM
«llreitoM de propriedade lllle-
lllíe-
O Homem
HOMEM Indispensável,
INDISPENSáVEL, Porto, 1884. ritrlai.
ritrlii.

TVP. MATTOS
TYP. MATTOS MOREIRA
MOREIRA—— PlPRAÇA
> AÇA DOS
DO» RESTAURADORES,
RESTAVRADORES, !$
l5 E
E |6
«6
0 {

O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

Tiiographias
biographies dos personagens mais disiinctos
distincios em politica,
letiras,
armas, religião, let Iras, ssciencias,
ciências, artes, commercio, industria e agricultura

ANNO II
II—— VOLUME I PUBLICAÇÃO E BRAZIL
PURI.JCACAO PARA PORTUGAL L JUNHO—
JUNHO — 1SS6

António José
Antonio José de Seixas
de Seixas império em companhia de mais alguns emigran-
tes da sua terra.
O Livro de Ouro honra hoje as suas paginas Foi duro — como se deve imaginar — quebrar
expondo áá consideração
consideração dos dos seus
seus leitores
leitores aa his- cm
em tão pouca idade as cadeias que o uniam aos
toria honrosissima de
toria honrosissíma de um um cidadão
cidadão prestante»
prestante, aflagos família: mas a sua força de vontade
alíagos da familiar
que
que ao ao seu
seu legitimo
legitimo esforço,
esforço, áá sua
sua incxcedivel
incxcedivcl ce o êxito que esperava obter na carreira esco-
forca
força de de vontade
vontade deve deve exclusivamente
exclusivamente oo logar logar lhida, foram superiores.
que oceupa na
que occupa na sociedade
sociedade ee aa estima
estima geral
geral dc de que
que Chegado ao Kio de Janeiro obteve o logar de
cé alvo. ,t . caixeiro em um armazém de venda a retalho, de
Vamos fallar de de Antonio
António José Jose de Seixas,— que pouco depois tomava a direcção. .Mais tarde
cPesse verdadeiro homem
cTesse verdadeiro homem de de bem,
bem, honradíssimo
honradíssimo deixou esta casa para se aggregar
aggrcgar a uma sociedade
no commercio, leal
no commercio, leal na
na politica
politica ec nobre
nobre nas nas acções
acções de mineiros que partia para o interior do paiz. paizaa
que tendo entrado
que tendo entrado na na vida
vida publica
publica de de fronte
fronte er-er- tentar fortuna. No caminho, porém,aborreceu-se
porém,aborrcccu-se
guida para aa eterna
guida para eterna luzluz da justiça cc do
da justiça do dever,
dever, c voltou para traz.
por méritos cc serviços
por méritos serviços assignalados,
assignalados, hoje hoje occupa
oceupa Por intermédio de um dos seus companheiros
um logar distincto
um logar distincto entre
entre osos homens distinctos ee
homens distínctos de viagem obteve nova collocação cm em um esta-
veneráveis de Portugal. belecimento importante, onde não tardou a ficar
No que vamos
No que vamos escrever
escrever acerca
acerca d'este
d'cste conspí-
conspí- como socio.
sócio. Mas
.Mas a sua intelligencia impellia-o
cuo cidadão não haverá cxaggero
cuo cidadão não haverá exaggero nem requinte nem requinte irresistivelmente para o estudo; sentia, vivo e
de forma litteraria;
de fórmn litteraria; por isso que
por isso escrevemos áá
que escrevemos ardente, o desejo de sc se instruir, de engrandecer
vista
vista dede numerosos
numerosos documentos
documentos elucidativos
elucidativos ee o espírito
espirito cc empregava
empregava por por isso
isso tudos
tudos os
os momen-
momen-
comprovativos, nomeadamente
nomeadamente aa Historia Geral Geral tos d'ocio,
cTocto, e mesmo grande parte da noite na lei-
publicada
publicada em cm Genebra
Genebra em em iSót)
ISóQ ondeonde se se encon-
encon- tura de livros
tura de livros ec jornaes. Os consocios
jornaes. Os consócios não^
não viam
viam
tra elegantemente esboçada
tra elegantemente esboçada até até aquella
aquclla data data aa com bons
com bons olhos
olhos esta
esta diligente
diligente applicação,
applicação, te-
te-
biograpbia d'este benemérito cidadão
biographia d'este benemérito cidadão e cujo texto e cujo texto mendo talvez
mendo talvez que
que cila
ella lhes
lhes prejudicasse
prejudicasse osos inte-
inte-
seguiremos
seguiremos o o mais
mais fielmente
fielmente possível
possível no no prose-
prosc- resses. Antonio
António José dc de Seixas, dotado de um ca-
guimento
gmmento d'este trabalho. racter enérgico e independente não quiz dar logar
aa recriminações,
recriminações, ce aa despeito
despeito da da crescente
crescente pros-
pros-
* peridade dodo estabelecimento,
estabelecimento, desligou-se
desligou-se da
da so-
so-
* * ciedade.
*
António
Antonio José José dede Seixas,
Seixas, nasceu
nasceu no dia G6 dc de * *
fevereiro
fevereiro dc de 1817,
1817, na na freguezia
freguezia de de Fervença,
Fcrvença,
concelho
concelho de de Celorico
Celorico dc de Basto,
Basto, na na formosa
formosa pro- pro- Possuidor d'uma pequena fortuna poude en~ cn-
víncia
vinda do Minho. tregar-se completamente á paixão que o domi-
Seus paes, modestos
Seus paes, modestos lavradores,
lavradores, possuíam
possuíam nava. Leitor
nava. Leitor infatigável
infatigável começou
começou de de profundar
profundar
uma pequena propriedade
uma pequena propriedade rústica,
rústica, queque por
por mo-mo- em toda
em toda aa espccie
espécie dede livros.
livros. AA facilidade
facilidade queque ti-
ti-
tivos
tivos da da invasão
invasão franceza,
franc eza, cmem 1808,
1808, foram
foram obri-
obri- nha dcde reter tudo quanto lia, o talento reccpta- recepta-
gados
gados a a onerar
onerar de de successivas
suecessivas hypothecas.
hypothccas. Não Não tivo que
tivo que possuía
possuia ee aa perseverança
perseverança que que se se impu-
impu-
tendo meios suilicientes
tendo meios suilicicntcs parapara dard"ar aa seus
seus filhos
filhos nha 11'esta
nha 11'esta honrosa
honrosa tarefa
tarefa tinham-no
tinham-no feitofeito uma
uma
uma
uma boa boa ee solida
solida instrucçáo
instrucçáo oopac encarregou-se
pae encarrcgou-se espécie
especie de bibliotheca viva; mas pouco satisfeito
de lhes ministrar
dc lhes ministrar oo poucopouco que que sabia,
sabia, ee que que com aa sua
com sua instrucção
instrucçáo aa queque elle
elle sabia
sabia Ditar
faltar me-
me-
aprendera
aprendera quando quando se se destinava
destinava áa carreira
carreira ecclc-
ccclc- thodo ee profundeza
thodo profundeza dispunha-se,
dispunha-se, no no anno
anno^ dede
siastica. i83b
i836 a partir para Portugal, afim de seguir o
Aos
Aos to10 annos
annos Antonio
António José José de de Seixas
Seixas sabia
sabia curso da
curso da Universidade,
Universidade, quando
quando umauma circumstan-
circ um st an-
ler
lêr ee escrever
escrever ee conhecia
conhecia tão tão profundamente
profundamente aa ciã imprevista
cia imprevista veio veio transtornar
transtornar completamente
completamente aa
arithmetica que nenhum rapaz da aldeia lhe le- realisacão (Teste proposito.
realisação d'este propósito. O acaso tendo-o le-
vava
vava as as lampas.
lampas. Dotado
Dotado dd*uma intelligencia pre-
uma intelligencia pre- vado um
vado um diadia às
às salas
salas do
do Hotel
Hotel Neurit,
iVeiiml, uma
uma dasdas
coce
coce ce d'um
d'um temperamento
temperamento impetuoso
impetuoso cm breve
em breve mais celebres
mais celebres casas
casas de
de jogu
jogu dodo Rio
Rio de de Janeiro
Janeiro
começou
comccou de de sentir
sentir aa necessidade
necessidade de de aspirar
aspirar aa jogou ali
jogou ali pela primeira
primeira vezvez nana sua
sua vida,
vida, ce des-
des-
mais altos destinos
mais altos destinos do do que
que aquellcs
aquclles aa queque na
na sua
sua graçadamente com successo.suecesso. Esta estreia em-
terra
terra se se achava
achava círcumscripto.
circumscripto. O O Brazil
Brazil appare-
appare- briagou-o: durante dois mez.es mezes foi um jogador
ceu
ceu aos aos olhos
olhos dada suasua imaginação
imaginação cheio cheio iFuma
efuma desenfreado; ee como
desenfreado; como osos seus
seus ganhos
ganhos fossem
fossem con-
con-
grandeza tentadora
tentadora ee tornou-se
tornou-se oo pontoponto fixofixo dede viu-sc para logo rodeado de uma
sideráveis viu-se
I as suas
todas
odas as
. .. ambições.
U' -n
suas ambições. Por isso,
Por
1apesarr rtnc
isso, ee apesar das
das
numerosa clientella
numerosa clientclla de
de falsos
falsos amigos,
amigos, que que tor-
tor-
instancias
istancias dos seus, partiu para a capital d'aquelle cTaqucllc nando-se seus
nando-se seus companheiros
companheiros dc de prazer,
prazer, oo insti-
insti-
54 O LIVRO DE OCRO

gavam na senda damninha. O novel jogador es- teresse colonial. Adoptando como pseudonvmo
tava maravilhado, e não pensava já nem suspi- o signal de ** *„. S. collaborou no Jornal do Com-
rava senão pela noite, que partilhava entre a mercio c nn'ou trás folhas escrevendo sobre vários
"outras
embriaguez do jogo e a vertigem das orgias. assumptos com muita elevação e competência.
Como tudo, porém, no mundo é instável e ísto
isto contribuiu para que em 1861 fosse eleito
transitório; como não ha efeitos
ctfcitos últimos e tudo colónia d"Angoia
pela colonia d'Angola deputado ás cortes onde
é uma successão
suecessão de instabilidades, claro estaestá a sua conducta
condueta politica satisfez cabalmente a cs-
que não podia durar
àurar muito aquelle engano d\i! ma
d''alma pectativa dos seus eleitores porquanto lhe reno-
ledo e cego. Assim foi. A roda desandou, a fe- varam o mandato em todas as eleições que se
cm azar ce Antonio
licidade converteu-se em António José de lhe seguiram, oferecendo
ofierecendo lhe em i8l>5
i8o5 uma me-
Seixas perdeu em pouco tempo tudo quanto ha- dalha de ouro guarnecida de brilhantes, como
via ganho ao jogo e uma boa parte do que tinha testemunho de reconhecimento pelos serviços que
adquirido pelo seu trabalho honesto. tinha prestado á província.
Os remorsos appareceram como consequência Ainda que não seja um orador de primeira
natural da sua conducta,
condueta, e a consciência fez-lhe ordem, facto que elle é o primeiro a confessar
vêr
ver as negridões do abysmo a que seria arras- e reconhecer, tomou comtudo
com tudo parte activa em to-
tado se não abandonasse aquella negregada e fa- das as discussões relativas a negocios
negócios coloniacs,
tal paixão. Felizmente a reilexão
retlexão venceu o sen- particularmente ás às de Angola; defendeu sempre
timento c Antonio
António José
Josi de Seixas nunca mais os melhores princípios de economia, com uma
jogou. rara abnegação ue independência de caracter, sem
* a minima subserviência aos homens e ás questões
* *■ de chancel
chance!la
la ministerial. A sua voz era escutada
Afim de procurar restabelecer e sua fortuna com attençáo
attenção pelos seus collegas, como sendo a
embarcou para a colonia
colónia portugueza de Angola. de um homem de bem c a de um erudito expo-
Esta colonia
colónia era então o primeiro mercado para pára sitor em materia
matéria colonial e financeira.
António José de Seixas
o negocio dos pretos: Antonio Além das suas funeções parlamentares e oc-
entrou n"este
n^este comiucrcio;
commercio; mas á vista das cruel- c upa cão em diversas commissões
cupação com missões de serviço pu-
dades exercidas para com estes desgraçados não blico, a pedido dos portadores de títulostitulos da di-
teve animo para proseguir. Sem ser um espirito vida publica interna foi elevado a vogal da Junta
fraco ou supersticioso estava tão fortemente pe- do Credito Publico, cuja alta missão é superin-
netrado dos horrores d'este abominável tratico,
trafico, tender acerca das emissões e administração ec
que receiava que as riquezas que d"elle
d^elle lhe po- pagamento da divida nacional.
dessem advir se convertessem cm em futuras desgra- Em março de 1809, alguns jornaes da capital
ças. Tendo,
l endo, pois, abandonado a escravatura cn- en- nomeadamente o.Jornal do Commercio deram pu-
iregou-se á cabotagem sobre as costas do Hrasil,
tregou-se Brasil, blicidade a uma carta de AntonioAntónio José de Seixas
navegando terra a terra por todo o littoral que aos seus eleitores, na qual lhes fazia o pedido
se estende desde o La Plata ao sul, até Para- de não renovarem o mandato com que o tinham
Sahiu-se tão bem
hyba, ao norte de Pernambuco. Snhiu-se honrado em quatro legislaturas. É que o illustre
d'este negocio que os lucros que dV-lle
deste dVIle tirou lhe biographado
biograpliado estava cançado e aborrecido de tra-
permittiram
permit pátria
tiram bem depressa tornar a ver a patria balhar durante dez annos a mios de funeções parlamen-
e a família. j tar em favor dos negociosnegócios de Angola, sem ter
Em 1842, de regresso á sua terra natal, pagou ! podido obter resultados correspondentes ás suas
todas as dividas cie de seus paes,
pães, desempenhou o | colónia que
deligencias e ás necessidades da rica colonia
seu património e começou desde logo uma serie j então representava no parlamento portuguez.
de viagens de Lisboa á Costa Occidental d "Africa, Foi este o motivo de regeitarum quinto man-
onde vendia mercadorias, que levava de Portugal, dato dos seus eleitores. Posteriormente tem-se
próprias para uso dos indígenas. Estas operações negado a todos os convites de voltar a represen-
tiveram também um resultado muito feliz, adqui- tar a mesma colonia,colónia, porque as suas opiniões
opiniõe*
rindo em pouco tempo meios suficientes para acerca do systema de dirigir as colonias
ácerca colónias portu-
fixar residência na capital do seu paiz, objecto guesas estão em completo desaccordo com o que
único de todas as suas aspirações cívicas e pa- está adoptado por parte da metrópole. Aquella
trióticas. carta representa pois o traço ma's natural do
* caracter d'este
d'es te benemérito cidadão e merece
* * tanto mais ser notada, quanto é visível o inte-
resse e a ambição dos que se a fadigam por al-
Estabelecido em Lisboa e matriculado como ne- cançar um logarna
logar na representação nacional. E os
tia praça do commercio
gociante de grosso trato na eleitores anangolcnscs
go lenses foram os primeiros a reco-
d'esta António Josi de Seixas foi eleito
doesta cidade, Antonio nhecer e premiar a benemerência ec isenção do
membro da junta commercial e de outras com- seu ex-representar.te, olVertando-lhe
ollertandolhe dois annos
missões
missues de interesse publico, cargos que desem- depois de elle ter resignado o mandato uma rica
penhou com zelo ec sumina
summa iintelligencia.
mel li gene ia. penna de ouro cravejada de riquíssimos brilhan-
A sua longa residência nas colunias portugue- tes.
zas, assim como os estudos a que se tinha de- *
colónias da sua patria
dicado sobre outras colonias pátria e * *
ainda sobre as pertencentes a vários paizes da
collocaram-n1© em circumstanctas
Europa, collocaram-iPo circumstanciãs de po- Como se vê, Antonio
António José de Seixas, em 1870
der discutir na imprensa muitas,questões de in- deu por findas as suas funeções parlamentares
O LIVRO DE OURO
o
55

como deputado por Angola, resistindo a todas partido regenerador, como o fizera até ali; isto
as propostas para ahi voltar, até dos seus con- porque, aparte o seu respeito ce alta considera-
terrâneos de Celorico de Bastos. ção por Fontes Pereira de Mello, que António Antonio
Em 1874,
t$74, porem, achando-se nos conselhos da José de Seixas não obstante os erros políticos
coroa
corôa o partido regenerador, presidido pelo seu que lhe reconhece entende ser o mais sagaz e in-
illustre chefe, um interesse politico do dito mi- telligente homem de estado em Portugal da pre-
nistério havia crendo
creado a necessidade de combater Abcncerrage do partido
sente época c o ultimo Abencevrage
a eleição de Saraiva de Carvalho n'um n^m dos cír- regenerador, os novos elementos entrados no
ciei tora es de Lisboa, que reunia as mais
culos cleitoraes partido, compostos de homens qoe na maior
ricas e povoadas freguesias
freguezias da capital. parte vieram acolher-se aâ bandeira politica bas- has-
A. Rodrigues Sampaio, então ministro do teada por Kontes
Fontes para fazerem fortuna, levaram
reino, recorreu a homens da maior valia filiados o nosso biographado a rctirar-se
retirar-se do partido, não
no seu partido para acceitarem
a ceei tarem a espinhosa mis- querendo filiar-se em outro ate até ao presente.
são de combaterem aquella candidatura, o que António José de Seixas
Se Antonio Sctxrs abandonando o
todos regeiregeitaram,
taram, indicando Antonio António José de parlamento, conhecera que o partido regenera-
Seixas como o único capa/, de o fa/cr fazer com van- dor ia ficando reduzido na maior parte a um
tagem, pois qoe Saraiva de Carvalho, além dos agrupamento de homens dependentes apenas do
nobres dotes pessoaes. d'illustracao
d'iIlustração e fortuna, prestigioso nome de Fontes ce dos velhos rege-
já tinha sido ministro e havia representado no neradores, é certo que elle, depois de deixar cor-
parlamento em repetidas eleições o circulo dispu- rer um praso de tempo sufhciente suti 1 ciente para fazer
tado; reunião de circumstancias que tornavam mais alguns estudos e ncccntoar
accentoar um certo eccle- ecclc-
quasi certa a sua victoria. ctismo politico, tencionava voltar ao parlamento
António
Annnio José de Seixas que resistira aos pri- para discutir a questão colonial, cuja gravidade
meiros convites de la lane ar-se na lucta
near-se lucia em que o para a existência da monarchia portugúeza, tem
seu partido estava empenhado, resolveu se final- sido o assumpto principal de todas as suas locvi- locu-
mente a prestar lhe o serv serviço
iço tão insistentemente brações. ElleKlle entende que Portugal não pôde
reclamado. conservar a vastidão de improvisadas províncias
A lucta
lueta foi renhida e pertinaz:
pertinaz.: o triumpho do ultramarinas cm em frente das exigências dos pro-
nosso biographado foi completo e honroso, por gressos modernos, tanto para a metrópole como
haver vencido um adversário de tanta respeitabili- aqoellas províncias que 110
para aquellas no espaço de quasi
dade; mas António
Antonio José de Seixas, que li/.era um meio século teem tecm custado valiosos sacrifícios a
sacrifício áapolítica
sacriíício d^tquella cpoca,
politica regeneradora d'aquella época, Portugal, sem vantagem correspondente para as
não acceitava
a ceei tava parabéns pela victoria, até porque colónias. António José de Seixas não é partidá-
colonias. Antonio
nutria toda a consideração pelo seu antagonista, rio de venda de colonias;
colónias; apenas entende que
que níquel la época não poderá entrar no parla- todos os partidos políticos se devem congregar
mento. para resolverem a questão colonial dentro das
Tomando assento na cantara camará desde 1874 a forcas do reino, e renunciar a um império colo-
forças
1878 fez parte de diversas commissões, sem as nial imaginário, que muitos visionáriosvj Mona rios da me-
solicitar; entre cilas a do ultramar e de fazenda, trópole defendem fõra fora de toda a reflexão, não
c prestando os serviços que poude ás as colonias
colónias querendo admittir o dilemma de d2 que, em pre-
de-empenhou com dedicação o en-
portuguezas, desempenhou sença dos largos sacrifícios feitos com as colo- coló-
cargo que acceitára de deputado por Lisboa e nias desde i860 1S60 ou cilas não teem tecm as riquezas
entre os serviços que prestou ha um, o da lei de que lhe attribuem ou Portugal não tem elemen-
10 de fevereiro de 1*876, 1876, que creou um rendi- tos para as explorar em seu beneficio,benefício, das colo-
coló-
mento para a Associação Commercial de Lisboa, nias e dos progressos dos mundo.
protegendo na cantara camará como deputado ministe- Fortificando as suas antigas idéas e adqui-
rial inHuente
influente da maioria um projecto de lei que rindo noves
novos estudos desde 1878 1N7N António
Antonio José
habilitou aquella associação a possuir uma casa de Seixas preparava-se para voltar ao parlamento
própria
propria para as suas sessões com o andar dos afim de tratar esta sua questão predilecta, como
tempos e fundos para desempenhar condigna- deputado ou par do reino pois as novas leis so-
mente a sua missão ce a prestar ao governo o bre o pariato
paria to nbriam-lhe
abriam-lhe as portas Testa dVsta ultima
auxilio de ioo 100 contos de reis para a construcção camará
camara por duas cathegorias.) quando assaltado
de um edifício destinado ao correio geral da ci- d*um padecimento Tolhos d*olhos teve de renunciar á
dade. sua patriótica ambição.
António
Antonio José de Seixas acompanhou com roda toda Ainda que privado de fazer uso aturado da
a lealdade partidária o partido regenerador, cm em vista, tornou-se colhi
collaboradcr
bora der do jornal Commer-
que se tíliára
fíliãra desde iSòi
1861 ao entrar no parlamento, cio de Portugal desde i8Sq iSx^. onde de então para
durante toda a legislatura parlamentar de 1874 cã
cá tem tratado largamente dos negocios negócios coloniaes
cólon ia es
a 1878; mas nas eleições do anno seguinte, tendo sempre sob o antigo pseudonymo
ps^udonymo ** S., tendo
facilidade em ser reeleito pelo circulo de Lis- attiahido especial attenção os últimos artigos so-
attrahido
boa, pois os seus eleitores estavam satisfeitos bre a epigraphe: A org organis.ieão
an: sacão financeira do
com o seu procedimento, e tendo regei ta do na p.v\,
paiç, depende de novo systemsystein.ta colonial.
mesma occasião a eleição pelo circulo da sua Todas estas publicações formam orna uma rectifi-
naturalidade que amigos conterrâneos até vieram cação ampla e aperfeiçoada das idéas que se
a Lisboa oflcrecer-lhe,
oíferecer-lhe, elle resolveu abandonar a acham expostas no seu magnifico livro A questão
politica por conhecer que não podia continuar a colonial portuguesa, publicado em 1880, 1S80, de que
acompanhar com a mesma firmeza ce lealdade o e diflicil
diílicil obter hoje um exemplar.
56 O LIVRO DE OURO

Em 1882 Antonio
António Jose
José de Seixas resignou o^.déstia. Se fosse vaidoso, se lhe fossem gratas as
cargo de vogal da Junta de Credito PubJkTo, pompas ociosas, já teria addicionado a um appel-
Pubjiío,
que exercera por espaço de 3 5 annos, publican- lido honradíssimo e glorificado por uma reputa-
ção de honestidade suprema, títulos
opúsculo in-
do n'essa occasiao um interessante opusculo titulos e distineções
titulado— A Junta ciede Credito Publico e as cai- honorificas. Nunca quiz, porém, ser o que se
xas de depósitos ecouomica
económica e portuguesa, — que chama na linguagem dos bastidores politicos políticos —
foi honrosamente citado na imprensa e nas duas um medalhão. Elie Elle não possue títulostitulos ou conde-
casas do parlamento, por occasião
occasiao de serem alicorações de qualquer graduação nacionaes ou es-
discutidos os quadros e as despezas das citadas trangeiras. Em 1873, depois de serviços presta-
caixas posteriores aos determinados pelas leis de dos ao governo foi-lhe olíerecido
olVerecido por A. li. R. Sam-
10 de abril de 1876 e 26 de abril de 1880. paio, seu constante amigo, ministro do reino, o ti-
António
Antonio José de Seixas deu a demissão de tulo de visconde c em seguida a carta de conselho,
membro da administração alTecta não querendo
alíecta á Junta de Cre- querendo acceitar
acecitar nenhuma
nenhuma d'estas
d'estas honrarias;
honrarias;
dito Publico, por não ter encontrado appoio na isto a despeito de serem bem conhecidos os seus
maioria dos seus collegas cm em exercício, para re-
sentimentos monarchicos, comprovados em to-
presentarem contra os regulamentos e decretos dos os os seus
seus actos
actos parlamentares
parlamentares ee discussões
discussões 11a na
do então
então ministro
ministro da
da fazenda
fazenda Lopo
Lopo Vaz
Vaz de
de Sam-
Sam-
imprensa.
paio que Antonio
António José de Seixas entendia que Um procedimento que ainda augmenta as pro-
violavam os regulamentos e as leis anteriores a vas de seriedade de caracter de Antonio António José de
18S2 creação da ,J'T uWa
1882 sobre a crcação Seixas, está no facto que vamos relatar.
ta de Credito Pu-
blico e das duas citadas rri. Quando se resolvera a ultima fornada de pa-
Este procedimento mosVrd
mosVíá a .!' v res vitalícios nomeados pelo partido regenerador,
" in-
N
dependência de caracter, de Antót.Antói. ^ j,
J, alguns amigos disseram-lhe que o seu nome es-
?
""■?
Seixas, que resignou honrosas funeções pi tava indigitado
|\indigitado para
para fazer
fazer parte
parte da da lista
lista aa ado-
ado-
bem remuneradas para senão conservar em »e- ptar; mas que era necessário que elle mostrasse
n>
partições de estado, authorisando com os seus desejos de ser par do reino e solicitasse a inclu-
actos e presença visivel desperdicia
desperdício dos dinhei- são dodo seu
seu nome
nome na na lista;
lista; resistindo aa qualquerqualquer
ros públicos, ec serviços negativos d'uma parte passo n'este sentido, declarou terminantemente
dos empregados
empregados verdadeiras sinecuras a esses amigos que depois da publicação do opus-
sinecuras creadas
creadas opús-
na caixa económica portugueza pela legislação já culo sobre os motivos que o fizeram deixar a
citada. administração das caixas de depósitos e econó-
Estas superiores qualidades, esta civica mica, apesar da consideração e estima que tinha
civíca isen-
ção não se encontram hoje facilmente; e no meio por todos os regeneradores, que elie elle appellida
do scepticismo de bom tom, por entre a indilVe- de históricos
históricos ouou dada velha
velha guarda
guarda áá frentefrente dos
dos
rença e a relaxação egoista
egoísta e desoladora em que quaes collocava Fontes, não podia acceitar func- fune-
nos arrastamos é um prazer contemplar homens ções parlamentares que nau nãu o deixassem com
que, como Antonio
António José de Seixas, symbolisam toda aa liberdade
liberdade de de voto
voto ee nana politica
politica ecclectica.
ecclectica.
épocas mais fortes e mais ingénuas e não sabem A fornada
fornada levouse
levou se aa etVeito
etVeito ee oo seu
seu nomenome nãonão
euphemismos que attenuem os rigores das suas figurou nVUa,
n'clla, talvez por não serem bem acceitcs acceites
consciências rígidas e castas nem se prestam a estas declarações
declarações francas
francas ee leaes.
leaes. C) O que
que éé certo,
certo,
tergiversações indecorosas. porém, é que o nosso biographado nunca se
mostrou despeitado por ficar na penumbra, de-
* pois de haver prestado serviços politicos políticos de im-
* * portância ao partido em que se tiliára filiara desde
1861.
18G1.
iK83 foi eleito presidente da direcção da
Em i883 António
Antonio Jusé de Seixas tem plena confiança
Associação Commeicial d'esta praça, cargo que no futuro do seu paiz, que elle ama como os
não acceitou, reservando-se simplesmente o pra- romanos do tempo de Regulo e Cincinnato; ec
zer de desempenhar um cargo subalterno, onde só o que lamenta é que a administração publica,
sido abertas as portas para exercer as finanças do estado
lhe haviam sidu estadu e a cunservação das coló-
o primeiro. Assim, fez parte da direcção então nias, não sejam attendidasattendi das ec reguladas por svs- sys-
nomeada, a qual lindou, depois de algumas temas diversos dos que estão vigorando pre-
sente mente.
reeleições em março do corrente anno, prestan- sentemente.
do á praça relevantes e assignalados serviços.
O nosso biographado tem-se retirado de todo * *
dos negocios
negócios públicos e apenas no jornal Com-
mercio
uiercio de Portugal continua tratando, com a Em tudo o que deixamos escripto esc ri p to apenas con-
proficiência que todos lhe reconhecem, de assum- seguimos esboçar uns traços esmorecidos da ac~ ac-
doutros que lhe permitte a vis- centuada e nobre phisionomia de Antonio
ptos coloniaes e d'outros António José
ta enfraquecida pela doença e por aturados tra- de Seixas. Merecia muito mais este benemerito benemérito
balhos desde a infanda.
infância. cidadão, cuja existência laboriosa e prestadia é
um consolador exemplo da mais pura, da mais
* intemerata honradez.
* s:

Uma das qualidades que mais tornam sympa- Reservados todos


Reservados todos os
>s direito»
direito» de
de propriedade
propriedade Jitte-
litte-
thico o nosso biographado é a sua excessiva mo- raria.
raria.

I1P, DE
TtP. HE CMHíTOVÀO
tHIllíTOVÃO AlOtSTO
AlOfSTO BO&HIGlES
BODBIGIE*—^—RUA
BUA DE
UE ?.
?. l'.Ut.O,
l'Att.O, 60
CO Ef. 62.
62.
5<
O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

Hiographias dos personagens mais distiuclos


liiographias distinctos cm
em politica,
armas, religião, leltras,
lettras, sciencias,
scieucias, artes, commercio, industria e agricultura

ANNO
AN NO II-VOLUME I PUBLICAÇÃO PARA PORTUGAL E BRAZIL JULHO — 1S86
1SS6

1
d Azarujinha
Visconde d'Azarujinha dispensáveis aos grandes cidadãos e aos homens
beneméritos de todos os tempos.
Se é certo o provérbio que attribue ao ros- Fllec
Elfec ti vãmente com trabalho, economia e vir-
to o privilegio de espelhar os sentimentos do co- tude grangeou o pae pac do nosso biographado um
ração, este tem mais uma unia confirmação no ca- nome, que dcsfrtictou
desfruetou a mais profunda e mereci-
valheiro de quem nos vamos occupar oceupar o vis- da confiança na praça de Lisboa, que não é exag-
conde da Azarujinha, Antonio
António Augusto Dias de gerada em questõ»*
questó»-» de confiança, — para a con-
Freitas. quistar é mister r
te exemplarmente corre-
ie
n
A physionomia sympathica
s}'mpathica ec aura
aumente
ente do di- cto ~ Augusto Dias de Frei-
gno restaurador da grande fabrica de vidro em rT
.iilO.
.u)0.
Marinha Grande,— e diremos mesmo da indus- i aquelle cavalheiro patriota amante do sys-
tria vidraceira em Portuga!,
Portugal, — revelia a um tem- -_ liberal, que serviu dcdicamente,
dedicamente, fazendo
po sentimentos bondosos,
bondosos e grande força de von- parte dos batalhões do commercio na Guarda
tade ec são estes exactamente os topicos
tópicos caracte- Nacional depois de se haver estabelecido o go-
rísticos das suas inspirações. verno da sr.a D. Maria .Maria II, nVlle
11, que encontrara n'elle
O visconde da Azarujinha nasceu sob a in- um ferveroso
ferve roso adepto. Tão relevantes serviços
d "uma estrella
fluencia d''uma estrelia radiante — a sua cxisten-
existen- lhe prestou que o governo, em remuneração d'el- dtl-
tencia não podia deixar de assignalar-sc
assignalar-se e dis- les, o agraciou com o grau de cavalleiro da or-
tinguir-sc;
tinguir-se; nas eras remotas em que tudo se dem de Torre-Espada, mercê que n'essa época epoca
conseguia pelas armas, o visconde da Azaruji- ainda tinha uma alta significação porque só ga-
nha teria sido um bat bat.ilhador
ilha dor como o Cid de lardoava— consoante a sua divisa —, o valor, a
Andaluzia; teria talhado o seu logar na historia lealdade e o mérito.
corte do seu montante; nascendo em
com um córte Mas não se limitaram a estes os serviços pres-
.Mas
tempos menos belicosos, não se tem assignalado tados á patria
pátria pelo pae do nosso biographado;
menos distinctamente prestando ainda mais im- cite
elle contribuiu também sabia e poderosamente
portante serviço aos seus contemporâneos. para o engrandecimento do corpo commercial
File
Elie milita como general infatigável, mas as da capital e em cm geral do commercio nacional,
suas campanhas são as do Bem; lucta lueta pela Ci- concorrendo activamente para a fundação do pri-
vilisaçao, combate pelo Progresso nas fileiras meiro estabelecimento de credito do paiz, o Ban-
venerandas do grande exercito da industria c do co de Portugal, e basta por certo esta menção
trabalho. para se entender que foi um dos negociantes mais
Tudo isto está por assim dizer estercotypado
éstereotypado consideráveis do seu tempo.
nas feições, nobremente accentuadas do nosso Tendo servido na Guarda Nacional — bata-
biographado, nas quaes Lava Lavater
ter teria lido clara- lhão do commercio,— gosava as honras de ca-
mente bondade, santas intenções, força de von- pitão honorário do exercito.
tade e intelligencia superior, o que tudo se tem Taes foram os progenitores do nobre viscon-
confirmado na sua existência de que vamos bu- de que o exemplo,— que éa êa licção mais profi-
rilar um ligeiro esboço, por que a estreiteza do qua e levantada, — formou uma alma nobre e
espaço de que dispomos não permittepermittc mais. um grande coração.

Nasceu o visconde da Azarujinha. Antonio António Passaram-se os annos da mocidade do vis-


Augusto Dias de Freitas, na cidade de Lisboa, conde da Azarujinha em intimo convívio com as
freguezia de S. João da Praça, no dia lã ID de fe- lettras e as sciencias,
>sciencias, convívio bem aproveitado
vereiro de i83o. como hoje se reconhece no seu tracto e na opu-
Foram seus progenitores o illustre
iIlustre negociante lência e viveza da sua linguagem, que revelia um
da praça de Lisboa, do mesmo nome do seu no espirito culto e um estudo profundo e são.
bre successor,
suecessor, e D. Li ban bania
ia Carlota Dias de Cursou as aulas da escola militar e da escola
Freitas, dama de acrisoladas virtudes, ec por cau- polytechnica preparando-sc para ir na lusa Athc-
sa (Telhas
delias muito estimada na sociedade que lhe nas receber o grau, que devia franquear-lhe o
foi coeva. ingresso na aristocracia das sciencias.
sei ene ias.
Se esta família houvesse de adoptar uma di- Começava porém a accentuar-se o caracter ope-
visa, como se usava nos antigos tempos da ca- roso que o distingue e cedendo ao animo desejo-
vallaria, essa divisa teria sido: — trabalho, eco- so de entrar immediatamente nas actividades da
nomia e virtude,isto
virtude, ^isto é,
ê, os tres
três requisitos in- vida, recusou-se a continuar estudos e alistou-
58 O LIVRO DE OURO

sc,
se, sob as ordens de seu pac, pae, na illustre pha- Esta fabrica tinha então uma triste historia,
lange do commercio contemporâneo. que se prende com a da industria indígena.
Erro grave certamente teria sido desviar o Pouco mais de um século havia em que pen-
moço estudante da vereda em que tanto havia sar na inauguração de uma industria importante
de nobilitar-sc e tão distinctamente atlirmar a era considerado uma utopia de vulto. Toda a
sua personalidade. gente mesmo pessoas aliás muito esclarecidas e
A circumstancia de haver sacrificado no tem- illustradas apegavam-se ao prejuiso, quasi con-
iliustradas
plo da sciencia, contribuiu poderosamente para vertido em axioma, de que Portugal não podia
o distinguir ce exalçar na carreira de seu pac, pae, ser nação industrial. Era a rotina imposta como
porque alem de vastíssimos conhecimentos, ma- lei. Infelizmente os acontecimentos pareciam en-
própria, as línguas francezn
neja como a propria, france/.a e ingle-
ingle carregados de justificar os prognósticos dos pes-
za, cujos mais recônditos segredos lhe são fami- simistas pois quasi todas as tentativas aborta-
liares. vam, e pôde dizer-se que foi Jeronymo Ratton o
Contribuiu também para este desvio da car- primeiro obstáculo valioso que se levantou con-
reira, a que o destinavam seus paes, a sua dé- tra a corrente de tacs taes ideas.
idéas.
bil saúde porque elle era tão insaciável de sa- Depois do estabelecimento das fabricas de Rat-
ber, que sacrificava ao estudo os momentos de ton, outras se espalharam por diversos pontos
repouso, tendo por isso mais de uma vez enfer- do paiz, mas quasi todas antes atravessaram pe-
mado gravemente. ríodos calamitosos que prósperos.
Fazendo convergir para esta nova orientação Uma das mais importantes ofíicinas da indus-
as suas poderosas e especiaes faculdades o es- tria indígena era a fabrica de vidros de Marinha
tudante desquitado de Minerva converteu-se ra- Grande, que depois de haver fruido uma época
pidamente n'um negociante de sisudez excedente muito lisongeira, entrava n'um n\im período de de-
ao verdor dos annos, merecendo desde logo a cadência, semelhante já a anemia chronica, e o
confiança de seu pae, que lhe incumbiu os mais mal aggravava-se dc de anno para anno áâ falta dos
importantes negocios,
negócios, sendo elle quem ia ás pro- prophylaticos de uma vontade energica, enérgica, uma
víncias quando as relações commerciaes da casa opulência corajosa e uma direcção sciente.
assim o exigiam. O governo mesmo sc convencera de que a fa-
Achava-se o iliustre
illustre visconde n'uma d'essas brica estava comdemnada, quando a poz em ar-
jornadas, em Évora, quando uma nova fatal o suppondo-se com fundamento que
rematação, suppondo-sc
assaltou alli,
al!i, qual foi a de que seu pae adoece- não haveria quem d'ella d'clla quizesse tomar en-
ra repentina e gravemente. cargo.
Regressou immediatamente ao lar paterno, mas Quem passava n'aquella povoação, que flo-
a Parca já nãonáo lhe concedeu a dita de oscular otlicinas vidraceiras, sen-
rescera á sombra das oflicinas
mais uma vez aquelle varão, que tanto o ama- tia o coração opprimido como aqueUes aquelles viajan-
va, e que por elle tão ternamente amado tam- ruinas de Palmyra ou de Car-
tes, que vão nas ruínas
bém fôra.
fora. thago meditar sobre quão varia é a sorte dos
Golpes tremendos são esses para um coração homens e das cidades.
sensível e bom, atrophia-sc a rasão contemplan- A povoação da Marinha Grande, composta
do a obra destruidora da morte; e a lei fatal do quasi na generalidade de empregados da fabri-
transformismo imposta a toda a natureza, tão paralysação dos
ca, achava-se na miséria pela paralysaçao
iníqua
iniqua nos parece então que ainda os ânimos trabalhos fabris, depois dos successivos desas-
mais piedosos sentem instigações de rebeldia tres de Quintella,
Quíntella, Esteves Costa e Manuel Joa-
Providencia,
contra a magestade da Providencia. quim Aftonso;
Aftbnso; muitas famílias haviam abando-
O futuro visconde da Azarujinha sentiu na nado a terra, onde os braços validos jaziam
máxima
maxima intensidade essa enorme e lancinante,lancinante ociosos; os que restavam recorriam aos trabalhos
dôr, e certamente ter-se-ia deixado assoberbar campestres para viverem ; as casas deshabitadas
por cila
ella se não o houvesse distraído e consola começavam de cahir em ruínas; ruinas; o desgosto sôsó
do em primeiro logar o carinhoso aflecto de sua ai li imperava; era a verdadeira imagem da ter-
alli
desolada mãe, que possuindo um animo varonil ra da desolação.
dominou a sua dur para não aggravor
aagravsr a de seu Operar completa metamorphose n'estc quadro
filho; e em segundo a necessidade dc de tomar o de miséria era um pensamento grandioso, em
leme do importante baixel, que desde este mo- que concorria ao mesmo tempo o sentimento
mento ficava exclusivamente a seu cargo. humanitário e o patriótico; concebeu esse pen-
Estas duas circumstancias juntas dá paixão na- samento, sedusiu-se d'essa missão o nosso bio-
tural pela actividade, o desejo de ser util,útil, a an- graphado, e levado do desejo ardente de ser util útil
ciedade de prestar serviços importantes ao paiz, ao paiz e aos contemporâneos, (que tem sido o
operaram o milagre de realentar-ihe
realentar-ihc o animo inspirador de todos X>s Y>s actos da sua vida),— de
abatido por tão irreparável perda. accordo com Jorge Croft, depois visconde da
Graça, arrematou por trinta annos a fabrica com
* todas as suas dependências, em ern nome d'uma
companhia ingleza cujos representantes eram em
Por este tempo puz o governo em arremata- Portugal.
ção o arrendamento da fabrica de vidro, esta- Re*alisouse
Realisou se esta arrematação no dia i5 de fe-
belecida na Marinha Grande, proximo
próximo a Leiria, vereiro de 1864, isto é, no mesmo dia em que
fabrica que estava em posse da Fazenda Nacio- completava 04 '$4 annos o arrematante, que devia
nal. restaurar e engrandecer a fabrica e enriquecer
07
O LIVRO DE OURO 5*9
9

pelo trabalho bem remunerado aquellaaquclla povoa- e a essa condição sc se deve a moderação dos pre-
ção que definhava de miséria ec fome. ços ; essa producção
producçao pode-se afíerir
aflerir pelo pessoal
Providencial coincidência! que não cê inferior a mil operários; sendo o
Sentimo-nos replectos
repledos de legitimo orgulho ao visconde da Azarojinha alvo de uma veneração
escrever estas palavras, rápido esboço de um profunda c sincera.
quadro enorme; sentimo-nos replectos de orgu- Um facto provará
provara a verdade d'es te asserto.
lho, repetimos, admirando o poder magnifico e Em 1S7Õ
1875 adoeceu gravemente o illustre direc-
por assim dizer providencial do homem opulen- tor da fabrica sendo-lhe recommendada uma via-
to, que pondo de lado os prazeres, que podia gem de repouso e distracção; pelo que sahiu de
gosar ociosamente, toma sobre os hombros a Lisboa em companhia de sua alfectuosa mãe que
onerosa cruz
cru/, de uma em preza formidável, e con- não quiz apartar-se d'elle.
segue tradusir em factos bellos, bellissimos, to- Bem necessários ciam esses momentos de des-
das as formosuras seductoras
seduetoras do seu altaneiro canço a quem havia onze annos, emprehendera
pensamento dando o bem estar a numerosas fa- uma verdadeira lucta
lueta de gigante, um trabalho
mílias. heróico, titânica.
heroico, uma empreza titanica.
Quanto superior sc se nos apresenta este heroe
heroc • A doença era grave mas a distracção produziu
das campanhas modernas aos grandes conquis- os seus salutaies
salutaics efieitos,
efleitos, e em 1876 regressou á
tadores romanos que subiam ao Capitólio alçan- pátria completamente restabelecido.
patria
do
do-sese sobre milhares de cadáveres. soíemnes que se fizeram na Marinha
As festas solemnes
Oh! a nossa época é bem superior aquella,
ãquella, e Grande festejando o regresso e o restabelecimento
os homens que como — o visconde da Azaruji- do illustre director não se descrevem. O povo
nha—sacrificam
nha— sacrificam os regalos, que a sua opulência cTaquella localidade parecia acommettido de de-
lhes proporciona, a lidarem na santa cruzada lírio;
lirio; na egreja os cânticos religiosos em acção
da Humanidade c da Patria,Pátria, são bem mais di- de graças; nas ruas os brados de enthusiasmo,
gnos da admiração de postheros ec coevos, que acompanhando os accordes musicaes; nos ares o
os Cesares
Césares e os Pompeus da historia antiga. estrondo dos fogos de artificio tudo parecia re-
petir perante Deus e o mundo o nome abençoado
* de um grande bemfeitor da humanidade.
Pouco tempo depois de arrematada a fabrica *
fallia a companhia ingleza, mas os arrematantes
honraram a sua assignatura, tomando para si e Os governos teemtecm sabido apreciar os notá-
para uma pequena companhia que organisaram veis serviços prestados por este cavalheiro ec
o arrendamento da fabrica e suas dependências, e por isso o tem recommendado ao chefe do es-
c começou então a desenvolvei-se
desenvolver-se e a manifes- tado, para lhe conferir honras merecidas, mas
tar-se a potente direcção do nosso biographado não superiores ás que resultam da grande nobreza
e esta foi tal que—caso
que — caso digno de assombro, em de sua alma; assim, em 1807, certamente com-
vista do decadente estado já dcscripto
descripto ——que
que con- memorando a grande revolução operada na fa-
produetos da fa-
correndo um anno depois os productos brica da Marinha Grande revolução de que bro-
brica dá exposição industrial portuense, em i865, taram tão profícuos resultados para o povo da
ficaram para logo honrados com merecido pre- localidade e para o paiz nome e fama, conferiu-
mio, Ihe a comtnenda
commenda da ordem dc de N. Senhora da
Comprehendeu com o seu instruído
instruido e at
attilado
tilado Yilla Viçoza, por decreto de 3 de
Conceição de Villa
espirito o novo director, que se tornava mister junho.
acompanhar o movimento progressivo de egual egoal Em n 11 de agosto de 1870 foi agraciado — em
fabrico no estrangeiro e por isso depois de haver decreto referendado pelo illustre e esclarecido es-
estudado quanto lhe era possível estudar no José Dias Ferreira, com o titulo de
tadista dr. Jose
paiz sobre o assumpto, foi examinar as grandes Visconde da Azarujinha, titulo que deriva de uma
oííicinas
olficinas congéneres da Inglaterra, França, Bél- das suas magnificas propriedades, no Alemtejo,
gica c Allemanha,
Ailemanha, importando d'ahitTahi melhores que é assim denominada.
methodos de trabalho e de administração fabril, Em 3o de setembro de 1872 foi-lhe conferida
e especialmente os modernos fornos,
fomos, alimentados a mercê de fidalgo cavalleiro da Casa Real.
a gaz, que representam uma importante eco- Em 29 de dezembro de 1881 houve ainda por
nomia na fabricação; assim como outras muitas bem sua magestade demonstrar o seu reconheci-
innovações desconhecidas no paizpaiz. e que teve en- mento pelos serviços prestados por este illustre
sejo de estudar e apreciar lá fora. patriota, e considerado como é um dos primei-
Os productos
produetos da Marinha Grande são hoje co- commcrcial e industrial do
ros homens do mundo commercial
nhecidos em todo o Portugal; os seus merecimen- elevou-o ao pariato,
seu tempo, eievou-o paria to. tomando assento
tos tem sido consagrados em diversos certamens camará respectiva em
na camara cm 7 de janeiro do anno
industriaes sem exceptuar os dos centros mais seguinte.
aptos para os apreciarem, como foram as expo- Estamos crentes que não podem as mercês re-
sições de Paris de 1867 e 187(8,187S, de Vienna de em peito mais nobre nem em indi-
gias assentar cm
Áustria de 1875,
1873, de Philadelphia 1877, do Rio vidualidade mais distincta. O visconde da Aza-
de Janeiro em 1879, onde lhe foi conferida uma rujinha fidalgo já pela elevação e bizarria de seus
medalha de ouro, e a cia da Tapada de Ajuda em sentimentos, pela correcção e nobreza do seu
1884, onde teve outra de prata. prestados dá Patria,
porte, pelos serviços presiados Pátria, pelo de-
A producção da fabrica actualmente é enorme útil, peia
sejo intenso de ser util, pela actaividde operosa
6o O LIVRO DE OURO

tão proficientemente exercida, é um dos mats


mais no- ção concedendo a Tapada da Ajuda para se
táveis membros da aristocracia moderna que não construírem os edifícios necesssarios para a ex-
funda os seus títulos de gloria nos pergaminhos posição.
nem nas tradições, mas no prop
próprio
rio merecimento Não se levou ella a etteito
etTeito sem que se prati-
e na superioridade individual. cassem muitos actos de verdadeira dedicação e
sem que fosse necessário desenvolver larga acti-
* vidade pelos membros da commissão promotora.
O visconde da Azarujinha tendo em vista
que estes certamens são sempre um prodigioso
Não se presuma todavia, que com quanto fosse impulso para as classes que a elles concorrem,
enormemente importante e afadigosa a missão a desenvolveu a sua maravilhosa actividade, con-
que o visconde da Azarujinha se impoz, elle não correndo poderosamente para que a exposição
tenha ao mesmo tempo dirigido outros empre- se levasse a elíeito
etTeito não sendo este o menor ser-
hendimentos. viço que tem prestado á agricultura nacional.
Pelo contrario; os seus trabalhos são numero-
sos; assim como Anteo recobrava forças forcas apenas *
tocava a terra o visconde d.i da A/arujinha
Azarujinha repousa
das fadigas de um emprehendimento encetando
outro; assim como Proteu tomava mil formas,a Em i885, tratando o governo de proceder á
actividade do illustre
illustrc biographado, manifesta-se nova organisação
organisacão da administração municipal da
de variadas maneiras: elle éc lavrador, negociante, capital convocou os representantes das varia-
vereador municipal e legislador, ao mesmo tempo díssimas classes da cidade afim de elegerem uma
que as operações da alta finança lhe não são des- commissão, que tivesse por fim preparar a transic-
conhecidas, occorrendo a tudo com animo supe- ção do systema administractivo no município.
rior e com um espirito de ordem admirável. Entre os cavalheiros eleitos n'essa reunião foi
São numerosas as companhias que tem tido logo incluído o nome do visconde daAzarujinha
nascença sob a sua inspiração, e quasi impossí- como um dos mais competentes para se encar-
vel nos parece podermos fazer d'ellas
d'cilas uma rese- regarem dessa espinhosa e delicada tarefa.
nha completa, citaremos pois unicamente as mais Procedendo-sc em seguida dá eleição da nova
importantes e recentes: camará,
camara, foi um dos eleitos o visconde da Aza-
Companhia do Mercado da Praça da Figueira, rujinha, provando-se d'es
d'esta
ta vez o são critério
que realisou a transformação d\ttnd\im vetusto par- dos eleitores, que devem preferir sempre homens
dieiro na mais elegante construcção do seu seu de habilidade administractiva reconhecida, e que
género,
genero, existente no paiz. hajam provado a sua competência da maneira
Esta obra, que não pôde dár proventns
proventos dá com- brilhante como o tem feito o nosso illustre bio-
panhia, ficará sendo como uma das melhores da graphado, o qual ha de deixar da sua gerência
iniciativa municipal, posto que a sua realisação memoria gloriosa e laudativa de suas virtudes.
se deva antes dá bizarria da Companhia que dá ini-
ciativa da camara.
camará. *
A Companhia das Minas de Gondarem de que
foi o iniciador e a exploradora dos jazigos de Parecc-nos ocioso insistir na exposição das
Parece-nos
Alcncarse,
Alencarse, de que é director, as quaes hão-de qualidades pessoacs
pessoaes do nobre visconde, — pose-
cm breve trecho produzir interesses considerá- mos em relevo a sua piedade filial, sentimento
veis, com lucros certos para as classes trabalha-que se não pode elevar a mais alto grau, e que
doras. ainda hoje se manifesta; dissemos que o seu co-
A Companhia dos Carros Uippcrt,
Rippcrt, cujo dire-
ração é profundamente sensível â prosperidade
ctor é, e que representa também um valioso ser- e ãa gloria patria
pátria tendo consagrado a maior parte
viço prestado aos habitantes da capital, pois gra-
da sua existência a levantar
levantar" e engrandecer uma
ças a esta concorrência tcem obtido melhor ser- localidade: parece-nos que são estas as mais pre-
viço d'essa
d^essa outra companhia que ao mesmo ciosas virtudes que podem adornar o coração
tempo pretendia usofruir dois privilégios, disporde um patriota e de um chefe de familia. família. Afável
a seu tnlante
talante dos caminhos municipaes e zombar no trato, benevolo
benévolo para com todos, prompto a
dos munícipes da cidade. aceudir
accudir a quantos infortúnios verdadeiros se lhe
Afora
Afóra tudo isto tem ainda a administração dc de
deparam, confirma em todos os actos o axioma
sua casa da qual fazem parte vastíssimas pro- de que a vida dos paes pães é exemplo para os filhos;
priedades no Alemtejo, Lezírias no Ribatejo e pois tem seguido pontualmente a gloriosa lenda
outras vivendas em diversos pontos do paiz, to- da probidade inquebrantável e do civismo acri-
das as quaes são verdadeiros modelos de boa e solado, que lhe legou seu nobre e honrado pae.
discreta dirigcncta.
dirigencia. Tecendo este modesto quadro não só cum-
primos a gostosa missão de render o devido tri-
buto ao mérito, mas produsimos uma licçao licção pro-
fícua muito para seguir e ainda mais para admi-
Ha dois annos a Junta geral do districto de rar.
Lisboa pensou em promover no centro do dis-
tricto uma exposição industrial, commercial e
agradável ao chefe
agrícola. Esta idea foi tão agradavel Reservado»
IV uervatloi todos os
o§ direitos
direitot de propriedade litte-
lltte-
do estado, que lhe prestou especialíssima atten- raria.
raria»

"111». I>K
1»r. I>K CltniSTOYÃO
CIIRISTOYÃO AUGUSTO
.UCISTO RODRIGUES
RODRIGIKS—RUA
RUA »E
DE S.
S. PAULO,
PUXO, CO
60 BE C5.
Gá.
/

O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

c
Biographias dos personagens mais dislinctos em politica,
lellras, sciencias, artes, commercio, industria e agricultura
armas, religião, leltras,

AN NO II —VOLUME l
ANNO PUBLICAÇÃO .PARA PORTUGAL E BRAZIL SETEMBRO
SETEMBRO—— 1886

Alcântara
0 Visconde de Alcantara tado maior numero de notabilidades mar-
ciaes.
Michclct, o mais erudito escriptor dos tempos
Michelct, Nenhum portuguez que conheça a historia pá-
modernos definindo a Civilisação
Civilização diz que cila — tria pôde deixar de repetir cum orgulho os no-
intcllectttal das nações
é o aperfeiçoamento moral e intellectual rnarquez de Marialva e do conde de Vil-
mes do marquez
liomens.
e dos homens. la Flor, D. Sancho Manuel, os heroes da inde-
collectívo e individualmente
Ora o homem — eolleetivo pendência no decimo sétimo século; o nome de
— é absolutamente respeitador dos di-
perfeito —é Nuno Alvares Pereira, um dus avuengos da re-
reitos alheios. Partindo d'esrad'esta theoria,
thcoria, que úè a gia dynastia, que talhou com o seu montante —
synthcse da verdade histórica relativamente aos
synthese novo Alexandre cortando o nó gordio — nos cam-
laços sociaes, cae-se naturalmente no reconheci- pos de Valverde ce Aljubarrota as ambições de
mento de que uma das instituições que tendem Castella; o nome de Allonso de Albuquerque, o
a desaparecer das sociedades quando a civilisação civilisaçao heroe das Índias; o nome de D, João de Castro
attingido o grau máximo da perfectibilidade
haja attingído admirável defensor dcde Diu, e tantos outros cada
é aquella que na sua existência nega implícita e um dos quaes —daria assumpto para uma epo-
explicitamente o laço que deve unir entre si os ímmortal — se os heroes do poema fossem
pea immortal
homens ce as nações a fraternidade
fraternidade—essa— essa insti- tão numerosos como os heroes da espada.
tuição é a dos exércitos. Sentimo-nos profundamente commovidos quan-
Entretanto—sendo como é ainda hoje a civi- do folheando as paginas dos annaes portuguezes
lisaçao um theorema eriçado de hypotheses, —
lisação defrontamos com esses e outros nomes gloriosos
as corporações militares, a que esta cunfiada cunfíada a que constituem uma brilhante constellação nos
manutenção dos direitos nacionaes, continuam horisontes históricos d'esta
doesta gloriosa nação pe-
reposíto da lealdade, o sacrário da hon-
sendo o reposito ninsular tão acanhada no território quanto'grande
ra e a vereda mais gloriosa que pôde trilhar o nos brios.
homem animado do sacratíssimo desejo de ser Não ha Mettiades,
Mcttiades, não ha Themistocles, não
útil á Patria;
util Pátria; inspiração nobilíssima inseparável ha Annibacs que possam rivalisar com os he-
dos mais elevados caracteres e que tem produ- roes portuguezes, e são estes tanto mais justa-
illuminados pela gloria,
sido os vultos mais bem illumínados mente credores de preito, quanto é certo que
attingido ec ultrapassado as raias
vultos que hão attingído nas qualidades do coração excedem em muito
da sublimidade, em muitos casos. áquelles.
Se escavamos nas ruinas da Historia, se re- Os vencedores romanos impunham-se pela co-
volvemos os fastos da humanidade, se descerra- ragem e pela ferocidade, venciam pelo valor e
mos os véus do passado, se profundamos os pelo terror que infundiam; a sua gloria era em-
civilisaçao mesmo—
annaes da civilisação mesmo — essa inimiga im- panada sempre pelos horrores que se lhe se-
luetas fratricidas, encontramos no pe-
plícita das luctas águias e
guiam; elles caiam sobre a presa como aguias
mythologico— o guerreiro tãu
ríodo mythologico—o tau necessário, como abutres; eram leões no combate e tigres
tão importante, tão indispensável âá prosperidade depois do triumpho.
das nações que estas dão aos seus heroes com- Não succedia
suecedia outro tanto aos portuguezes —
batentes o titulo de deuses e semi-deuses con- com orgulho e vaidade o podemos dizer, —porque
fundindo-os com a divindade e conferindo-lhes em seguida á Victoria a benignidade natural ma-
attributos olympicos. nifesta va-se na brandura com que acolhiam os
nifestava*se
A historia Universal não sabe como descri- vencidos e na magnanimidade com que preten-
minar a existência d'alguns d'esses heroes da an- diam lenir as agruras da conquista.
tiguidade, em tanta maneira a admiração e o en- É
E por isso que ainda hoje nos sertões africa-
thusiasmo dos escriptores e historiographos re- nos e nos palmares indiaticos o nome da nação
motos confundiu a interferência divina nos actos portugueza é proferido com estima e o pendão
bellicos de que resultaram a fundação dos im- das quinas olhado com respeito.
périos e nações antigas. O exercito portuguez — nos tempos coetâneos
civilisaçao não houver attin-
Emquanto pois a civilisação —éé um sacrário glorioso dessas reminiscências

gido— se attingil-o pôde — um período de per-
gído— admiráveis e por isso quando defrontamos com
fectibilidade completa, o escriptor imparcial não um militar distincto, com um d'esses
desses homens va-
se eximirá a prestar vassalagem ás individuali-
sc lorosos que possuem a um tempo como diz o
dades preciosas, que se sobrelevam ao vulgo nas poeta: «braço ás armas feito e peito ás musas
legiões militares. dado» nos sentimos possuídos de uma santa e
Portugal—devemos confessal-o com justifi- justa veneração: estes são os sentimentos que
cado orgulho — é uma das nações que tem con- nos inspira o nome honrado e laureado do vis-
62
G2 O LIVRO
UVRO DE OURO

conde de Alcantara,
Alcântara, por que n'elle encontramos rou n'esse
n^sse período as fileiras do exercito portu-
resurgidas quantas virtudes e quantas qualida- guez, militando á sombra das bandeiras da lega-
des valiosas tornaram os soldados portuguezes lidade ce da ordem, cumprindo brilhantemente o
os mais bem conceituados da Europa, éc este seu dever e provando a coragem proverbial nos
também o motivo porque lhe prestamos d'este militares portuguezes.
modo o tributo do nosso acatamento. Da maneira como o nosso biographado justi-
*# ficou esta asserção possue documento glorioso e
Antes de entrar no assumpto que nos propo- assaz luudativo
laudativo na commenda da Ordem de Tor-
mos permitta se-nos uma divagação ainda. re e Espada que lhe foi concedida em reconhe-
O cavalheiro a quem nos referimos tem mul- cimento uíhcial
ufhcial pela bizarria com que se portára
portara
típlices direitos á estima e veneração de seus na famosa acção de Torres Novas, ferida a 22
compatrícios; militar brioso provou no campo de de dezembro de 184Õ.1846.
batalha os seus méritos de lidador, c lá traz ao Foi esta a sua primeira conquista e não cé de
peito uma cruz attestando o seu esforço; escri- certo a menos gloriosa.
ptor talentoso ahi estão nos archívos
archivos militares Da plêiade de militares briosos que hoje cons-
as suas codificações provando que não maneja tituem a nobresa do exercito, ha muitos decora-
a penna com menor proflicicncia do que a es- dos com veneras que confirmam méritos, mas
pada; antiquário illustradissimo
Hlustradissimo possue cm sua poucos são os que as conquistaram i.js I.JS campos
casa os documentos do seu entranhado aflecto de
âc batalha, graças á longa paz em que o paiz se
— esclarecido e sabedor — das preciosidades ar- mantém ha 35 annos; aquella pois a que nos
tísticas do passado; — phylantropo distincto, as referimos tem duplo valor no peito honrado ce
bênçãos de numerosos desvalidos attestant
attestam os Alcântara.
brioso do visconde de Alcantara.
seus generosos benefícios. *
Quantos haverá ahíahi nas summidades do po-
der, nos regiões olympicas da sociedade con- Foi pois no meio tempestuoso da guerra civil
temporânea que reunam tantos direitos á glorifi- tantas vezes iriado pelos relâmpagos das retalia-
cação e aos incensos que a litteratura moderna dis- ções injustas ec das insidias cruéis que o viscon-
pensa superfluamente? — —BemBeni poucos, se alguns. Alcântara poz em evidencia a superiori-
de de Alcantara
Posto isto, desenvolvamos na citação dos fa- dade de seus talentos e qualidades pessoaes, e
ctos a verdade doeste proemio. em tanta maneira foi reconhecida essa superiori-
dade que logo após ao estabelecimento de uma
* situação mais normal fui promovido a alferesalteres
João José de Alcantara,
Alcântara, actualmente visconde para o batalhão de caçadores n.° 5, seguindo-se a
Alcântara, nasceu em 1827.
de Alcantara, esta promoção a escolha para o cargo de ajudante.
Os primeiros annos do nosso biographado fo- Raro o verdadeiro talento deixa de ser acom-
ram passados no santo estudo das virtudes do- panhado de uma exagerada modéstia. A prova
mesticas, que seus progenitores cultivavam por d'este axioma existe na formal recusa opposta
maneira pouco commnm
commum e n'essc
n'csse admirável areó- pelo nobre alferes de caçadores 5 ás instancias
pago formou o coração, dispondo-se para o e.ver-
c.ver- dos que pretendiam conferir-lhe a importante
cicio das mais elevadas acções, como tem pro- missão de ajudante, recusa não graciosa, mas
vado cmem todos os casos da vida. fundada n'uma
n^ma resolução immutavel porque pre-
O nome de seus illustres paes
pães não eram des- sistiu n'clla, rasgo que admirou todos os seus
conhecidos no livro de ouro do patriciado da pro- companheiros de armas.
víncia; pelo contrario, eram d'elle
d'cllc membros dis-
tinctissimos, honrosos e muito queridos. *
De seus progenitores recebeu as primeiras no- Não é estranho a pessoa alguma que intima
ções da educação social, tão peregrinas que ainda ou remotamente conheça as instituições milita-
hoje se admiram na estremada delicadeza, nos res, que a legislação do exercito andou por muito
requintes da urbanidade que o visconde de Al- tempo entre nós assás
assas descurada, dessiminada
cantara manifesta em todas as suas relações.
cântara por cele-
or ordens do exercito que começaram na celc-
estéreis para o cultivo de humani-
Não foram estercis bre
re organisação do conde de Lippe, sem existir
dades os primeiros annos do nosso biographa- um guia seguro, um único indicador auctorisado
auetorisado
do; pelo contrario, parece que respirou na ado- n'esse mare
maré magnum de disposições, que se con-
lescência uma athmosphera de sciencia; pois que tradiziam e confundiam a cada passo.
aos 16 annos que contava quando fez o seu as- Era manifesta a necessidade de agrupar esses
sentamento de praça no regimento de infanteria elementos dispersos'; todavia ninguém se arro-
n.° 4, manifestava já precoces talentos, não vul- java a empreender obra de tamanho vulto porque
gares conhecimentos e uma entranhada propen- a mais potente vontade se sentia desarmada ao
são para as cousas litterarias e artísticas. defrontar com esse labyrintho mais confuso, que
Passara-se
Passara-sc isto em 1843 e Portugal atraves- o de Creta,
Greta, e a que faltava o fio conductor
conduetor de
sou um período turbulento nos oito annos que Ariadna.
decorreram doesta época a i85i, em que se ini- O alferes de caçadores 5 animado da mais
ciou um período de paz interna apenas inter- nobilíssima emulação empreendeu prestar esse re-
nobilissima
rompido por algumas pugnas partidárias sem im- levante serviço aos seus camaradas e ao paiz,
portância. serviço que devia notabilisar o seu nome nos
Não compete n'este logar a citação histórica, annaes do exercito portuguez e colocal-o entre
diremos apenas que o visconde de Alcantara
Alcântara hon- os dos militares mais prestimosos.
£>/
O LIVRO DE OURO 63

Era mais do que um trabalho importante isto ocioso sc


se torna encarecer a importância e a
aquelle, era um verdadeiro monumento, e assim smnificacão d^sse legado.
significação d'esse lesado.
o reconheceu o ministro da guerra, n'essa
n'cssa época,
Belchior José Garcez, que poz immediatamente
á disposição do talentoso investigador todos os AHastou-se Alcântara do exer-
Allastou-se o visconde de Alcantara
elementos de que carecesse. cito activo, mas não se alíastou
afiastou das cousas mi-
Ao fim de muito labor e muito esforço de von- litares a sua alma apaixonada por tudo quanto
tode, apareceu a Legislação militar de execução respeita ao militarismo, e ao mesmo tempo a sua
permanente até 1863,
i863, obra perfeita que mereceu compaixão por aquelles que tendo servido a Pa- Pá-
os mais acrisolados louvores e ád qual ainda não tria—quasi
tria— quasi sempre—mui breve são por ella vo-
foi citado um único senão, prova exbuberante do tados ao olvido e muitas vezes ao ostracismo de
talento ec capacidade do auctor.
auetor. todas as alegrias terrenas. Assim o provou no
O governo de então foi um dos primeiros a parlamento.
reconhecer o mérito d'esta obra pelo que man- O povo que tem sempre na memoria a bene-
dou louvar ollicialmente o auctor,
auetor, conferindo-lhe merência e a virtude não lhe consentiu o isola-
ao mesmo tempo a commenda da ordem militar mento, a que pretendia retirar-se, e pelo circulo
de Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa de Elvas conferiu-lhe o encargo de representar
ce mais taide a medalha de ouro de bons serviços. cm cortes aquella região.
em
Mui valiosas por certo são estas distincçÕes
distineções e Entrado no parlamento a sua competência e
honrarias, mas superiores a ellas ergue-se
ergue-sc o va- auetoridade em cousas militares indigitaram-no
auctoridade
lor do monumento que o visconde de Alcantara
Alcântara logo para membro conspícuo das commissões de
erigira por suas mãos confeccionando aquelle guerra e marinha, para que foi eleito, sendo em
código.
codigo. dessas commissões
seguida nomeado secretario d'essas
*
prestando importantes serviços, manifestando a
Escasseia o espaço e abreviaremos portanto a elevação de seu espirito c os nobres e elevados
narrativa, citando rapidamente os progredimen- sentimentos que o inspiram.
tos do nosso biographado na carreira das ar- Entre as propostas apresentadas em cortes ec
mas, na qual se nobilitara tanto nos labores da defendidas calorosamente, empenhando-se por
campanha como nos de secretaria. uma solução justíssima merece especial menção
Em 10ir* de abril de 1863
i863 foi promovido a te- a que tinha por fim proteger os bravos vetera-
nente ajudante e transferido para infanteria n.° 4. nos da guerra peninsular.
Pouco depois nomeado ajudante de campo do A proposta do nobre deputado pretendia que
com mandante da Torre de S. Julião da Barra,
commandante fossem admittidos nos batalhões de veteranos ec
alli prestou relevantes serviços humanitários, que nos postos em cm que se achavam, quando termi-
lhe mereceram a concessão da medalha de prata nou a guerra peninsular, todos os indivíduos que
do mérito, phylantropia c generosidade. na classe de praça de pret houvessem feito toda
Serviu como ajudante de campo do general ou parte da mesma campanha. Apesar da rectidão
José Marques Salgueiral — que teve por este seu da roposta e da eloquente sustentação do pro-
companheiro de armas tão subido apreço que ponente, perdeu-se todo esse esforço porque não
lhe legou em testamento a sua gloriosa espada foi convertida em lei.
em signal de estima e consideração por seus me- Outra proposta que prova a sua natural be-
recimentos e bravura. nignidade e o apreço em que tem tudo o que é
Serviu egualmente como ajudante do briga- grande e nobre é a que tinha por fim obter uma
José Ricardo Peixoto, cargo que só occu-
deiro Jose oceu- pensão pecuniária, com sobrevivência para os fi-
pou depois de muito instado. lhos, ao patrão Joaquim Lopes. Esta foi coroada
Em 1878 sua magestade pretendendo remu- de mais feliz resultado e convertida em lei.
nerar os serviços prestados por este distincto O patrão Joaquim Lopes era um heroe da abne-
militar agraciou-o com o titulo de visconde de gação humana; tudo quanto por elle se praticasse
Alcântara, concedendo-lhe em
Alcantara, cm seguida a com- constituía uma boa acção:
honrava o promotor e constituia
menda da ordem militar de S. Bento dc de Aviz»
Aviz. quem melhor podia comprehender o heróis heroísmo
mo
Em 3o de dezembro de 1879 foi reformado, a d'esse glorioso e valente ancião, do que o nosso
major/terminando
seu pedido, no posto de major, terminando trinta biographado, que nem mesmo a elle cede cm
c seis annos de serviços militares no exercito sentimentos humanitários?!
activo, carreira esmaltada por lampejos da mais Dignos um do outro, nem só por este serviço
subida benemerência ec acompanhada sempre pela prestado
restado pelo benemérito deputado ao marinheiro
estima c respeito de superiores e inferiores; trin- benemérito,
enemerito, mas também pela natural elevação
pátria ec para o
ta c seis profícuos annos para a patria de sentimentos, prova da veracidade do apophte-
excicito, dc
cxcicito, de que foi—e
foi—c é — um dos mais glo- gma: plus in amicitia valere similitndinem ruo- mo-
riosos ornamentos. rnm piam
ram qnani adjinitatem.
O legado do general José Marques Salgueiral, * .
a que acima nos referimos, e que consistiu na Em 1881 o governo reconhecendo não só os
espada d'aquelle bravo militar—c
militar~é uma prova ine- elevados
1 d'cste ca-
dotes e talentos consagrados d'este
quívoca de como o nosso biographado sabia con- ■valheiro commetteu-lhe a importantissima
quivoca importantíssima missão
citar a estima dos superiores e do brio com que de < governador civil do districto de Portalegre.
honrava as fileiras do exercito. Concitar vontades, applacar rancores, termi-
A espada do militar éc a sua alma, a sua honra, nar 1 díssençÕes, extirpar opiniosas rebeldias, foi
dissençÕes,
possue de mais caro e precioso; posto <o empenho do visconde de Alcântara
o que elle possuc Alcantara durante a
64 O LIVRO DE OURO

sua gerencia.
gerência. Todavia não estava no seu animo Todas as pessoas entendidas que tem tido oc-
a lucra
lucta surda e inglória que os partidos travam casião de admirar aquella collecção, concordam
á sombra da governança civil e por isso em que poucas
uoucas ha no paiz, tão selectas, profusas e
breve pediu e alcançou a sua exoneração, magnificas,
_ Entretanto como nem mesmo as volives—que
voíives—que *
são astros de momento deixam de assignalar a Como phyphylan
Ian tropo são numerosos os actos de
sua trajectória, lavrando na amplidão dos hori- caridade praticados pelo visconde de Alcantara,
Alcântara,
sontes um traço luminoso, o nosso biographado, não só em Elvas depois que se retirou da vida
astro do espirito, illuminou também a sua pas- activa, como ainda quando militar; e a este res-
sagem pela administração por maneira tão notá- peito fazemos apenas uma breve resenha dos
vel que entre outros serviços prestou taes
ta es e de factos que nos occorrem.
tal importância ao visinho reino que em signal Sendo ajudante em S. Julião da Barra salvou
de reconhecimento lhe foi conferida a commenda 15 tripulantes do navio hespanhol Hamburgo que
de Carlos III alli
alti naufragou.
*
Por occasião dos terremotos cm Hespanha
A influencia, e prestigio que exerce no exer- procedeu com a maximamáxima bizarria declarando que
cito e a estima que os seus antigos camaradas contribuiria com a quantia que lhe fosse arbitrada
lhe tributam maniiestou-se recentemente. e sendo esta fixada em 5o£ooo réis immediata-
Em 1883
i883 os ofliciaes
olticiaes da guarnição de Elvas e mente a saldou.
do forte da Graça organisaram uma sociedade Sabendo que uma família infeliz, que elle nem
cooperativa e unanimemente elegeram o nosso sequer conhecia, se achava áã beira d "um abysmu,
d\im
biographado _ para o cargo de presidente da di- do qual se podia resgatar com a quantia de
recção, eleição que foi uma verdadeira surpreza 400-5000
400&000 réis, apesar da importância da cifra o
para o nobre visconde. visconde de Alcantara
Alcântara em prova de que o seu
Acertada escolha foi esta por que a interven- elevado altruísmo não trepidava preferiu pri-
ção do presidente manifestou-se brilhantemente var-se dessa quantia a deixar aquella familia
família na
Era necessário montar o preciso deposito e miséria. Admirável rasgo, que mostra toda a
para elle não existiam fundos, —era realisar o grandesa de alma e bizarria do distincto militar
impossível, mas conseguiu rcalisai-o
realisal-o o visconde que nem carece de conhecer aqueliesaquelles a quem
de Alcantara,
Alcântara, pois no fim de um mez apenas ti- dispensa tão magníficos benefícios!
nha removido todas as difliculdades e a institui- Sendo amigo particular do fallecido coronel
ção prestava todos os serviços, a que era desti- Salgado, durante a sua enfermidade, a que afinal
nada e ainda hoje se mantêm com desafogo e suecumbiu, deu-lhe as maximas
succumbiu, máximas provas de ami-
prosperidade. sade e dedicação, assim como á esposa do fina-
Tão reconhecida
Tão reconhecida ee manifesta
manifesta éé aa elevação
elevação de
de do militar.
espirito e os nobres e patrióticos sentimentos do Além d'estes
d'cstes outros muitos factos poderiamos
visconde de Alcantara
Alcântara que suas magestndes
magestades lhe citar provando todos que o visconde de Alcan- Alcân-
votam uma particular estima, a que o nobre vis- tara é um altruísta pouco vulgar, e que na phy-
conde retribuc com a mais subida devoção. lan tropia
tropja se sobreleva entre os bem feitores da
bemfeitores
Quando occorreu a doença da senhora D. Ma- humanidade como em todas as outras manifes-
ria Pia que poz em susto todos os afeiçoados á tações do seu brilhantíssimo talento.
virtuosa dama, o visconde de AlcantaraAlcântara empe-
nhou-se por estar sempre ao facto dos progressos
nhou-sc
ou decrescencia
dccrescencia do mal;mal ; e apenas constou o seu Chefe de familia
família exemplar, o seu coração bon-
restabelecimento mandou celebrar a expensas suas doso é um manancial de affectos
a (Tectos e carinhos.
uma missa cantada, com sermão e Te Deum Denm cmem Por occasião da entrevista dos soberanos da
acção de graças, pelo restabelecimento, a qual península soííreu o desgosto de perder um neto
peninsula sofireu
assistiram todas as pessoas mais qualificadas de muito querido; a dor, que o pungiu, foi tão pro-
Elvas, os ofliciaes
ofticiaes da guarnição e as auctoridades
auetoridades impedio de assistir áquelle
funda que o ímpedio ãquelle acto.
civis. O presidente de conselho Fontes, tendo noti-
Por occasião da entrevista dos reis de Portu- cia d'este
d este succcsso
suecesso immediatamente lhe mandou
gal e de Hespanha na fronteira, o visconde de apresentar sentimentos por esse desgosto, ma-
Alcantara poz áa disposição do governo toda a
Alcântara nifestando assim a consideração em que tem
mobília que fosse precisa para a ornamentação do aquelle cavalheiro.
aquclle
pavilhão, assim como a magnifica vivenda que Que mais diremos? Em quanto temos traça-
possue junto á estação. do encontra se a demonstração de que o obje-
ctivo do presente escripto é um dos vultos mais
sympathicos, uma das individualidades mais pres-
Como antiquário é o illustrc visconde um dos tantes da nossa época; nas armas, nas letras,
mais sabedores e esclarecidos do paiz, sendo a nas artes como amador de antiguidades, no exer-
sua collecção dc
de moveis ec louças muito preciosa cício das mais elevadas virtudes tem procedido
e importante; a sua casa é um verdadeiro museu, sempre de maneira que se lhe pôde applicar o
tendo alli ha seis annos um artista de Lisboa com- celebre verso do grande é'pico:
épico:
petente para restaurar moveis antigos. Entre ou- «Das almas grandes a nohresa
nobresa é esta.»
tros existe alli um espelho, moldura e meza de
um trabalho em cm talha surpreendente, uma per- Iteiervado» todo»
IVeiervado» todo» os
01 direito»
direito» de
de propriedade
propriedade litte-
litte-
feita maravilha, única no seu genero.
género.

T\P
•HP DE
DE CCHRISTOVÃO
UR ISTO VÃO AlGllSTO
AUGUSTO RODRIGUES
RODRIGUES — REA
RUA DE
DE S.
S. PAEtO
PALXO r CO
r CO E
B G2.
C2.
O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

c
Bhgraphias dos personagens
'Biographias personagens mais distinctos
disiincios em politica,
politica,
armas, religião,
armas, religião, lettras,
lettras, sc
seteadas, artes, commercio,
iene ias, artes, commercio, industria
industria ee agricultura
agricultura

ANNO II—VOLUME
II —VOLUME I PUBLICAÇÃO PARA PORTUGAL E BRAZIL SETEMBRO — 1SS6
—1SS6

mentos é um caracter tão distincto, uma naturesa


Paulo Porto-Alegre tão privilegiada
privilegiada como
como Paulo
Paulo Porto-Alegre.
Porto-Alegre.
Não liberalisamos louvores supérfluos,
superíluos, nem
Devc-se notabíli-
Deve-se a todos os homens, que se notabili- tecemos elogios exaggerados
cxaggerados fazendo referencia
sam um preito egual de consideração e estima, aos talentos Teste
cTeste cavalheiro; as preciosas qua-
quer elles sejam quer não nossos compatrícios; lidades que o nobilitam são reconhecidas por
quando porém esses homens fazem honra ecenal- enal- quantos sc se lhe aproximam e os méritos quepos-
tecem uma nação amiga, mais do que amiga ir- sue estão auctonsadamentc
auetonsadamente reconhecidos por mui
mã, cé obrigação gostosa cumprir esse dever so- sabias academias, que se honram de inscrever seu
bremaneira aprasivel; é por isso que enriquece- nome laureado entre os dos seus membros mais
mos hoje as paginas desta d'esta galeria com o nome prestantes e beneméritos, como passamos a de-
que representa a personalidade distinctissima de monstrar colleccionando os actos, correctos todos
Paulo Porto-Alegre. que constituem uma das mais honrosas biogra-
Não é d'um heroe da espada mas o d'um le- phias que temos escripto.
gionário da sciencia esse nome,—que pertence já
hoje aos
aos annaes
annacs das
das nossas
nossas relações
relações diplomáticas
diplomáticas
com um paiz, que tanta sympathia nos merece
a nós, portuguezes, c do qual tantas e tão va-
liosas demonstrações de estima e sympathia tam-
bém havemos recebido: — o Brasil.
É com justificado orgulho, é com merecido Paulo Porto-Alegre é filho do Rio Grande do
desvanecimento, que, — citando o nome d'essa Sul, uma das mais formosas províncias do grande
nação amcrico-portugueza—nos
americo-portugueza—nos recordamos de império brazileiro, uma das que mais sofl'reu soíTreu com
haverem sido os nossos antepassados mais glo- a invasão
invasão hollandeza
hollandeza no no reinado
reinado calamitoso
calamitoso dos
dos
riosos, que levaram ás terras de Santa Cruz os monarchas castelhanos, e uma das que mais se
inicios
inícios da civilisação e aos povos cthnicos d'essa empenhou em saccudir-lhe
saecudir-lhe o jugo depois da res-
região as luzes do ehristianismo,
christianismo, assim como ha- tauração de 1640.
ver sido
sido portuguez
portuguez quem
quem fundou
fundou aa sua
sua naciona-
naciona- No* dia 24 de julho —data
— data celebre nos annaes
lidade autonoma
autónoma e independente. Da mesma forma da liberdade
liberdade portttgueza—do
portugueza—do anno anno dede 1842
1842 nas-
nas-
não podemos esquecer que n'essc n^sse paiz nobre- ceu o cavalheiro a quem nos referimos.
mente hospitaleiro e generosamente amigo dos Os seus progenitores constituíam uma das mais
que trabalham se têm formado e robustecido preclaras famílias
íamilias d'aquellc imperio, na qual se
enormes fortunas e opulentos patrimónios de que nutria já um affecto especial pela nação portu-
tem derivado consideráveis benefícios para o paiz. gueza, pois que essa família era a do barão de
Quem percorre as nossas províncias especial- Santo Angelo,
Angelo, queque por
por muitos
muitos annos
annos desempe-
desempe-
mente as do norte, encontrará por toda a parte nhou o cargo importante de consul cônsul geral do Bra-
perduráveis documentos do que deixamos affir- atfir- sil em terras portuguezas.
mado. Aqui uma escola modelo; alli uni um hospí- Decorreram os primeiros annos de Paulo Porto-
cio de caridade, além um asylo para a infanda infância Alegre n'aquelle priranéo
pri tango intimo do lar, onde sc se
indigente ou para o invalido paupérrimo; acolá adquirem as mais valiosas sciencias, as que for-
um templo christão,
christao, mais longe uma oíficina
olhVma ou mam oo coração,
coração, orientando-o
orientando-o para
para oo Bem
Bem ee es-
es-
uma fabrica, attestam quanto são profícuas as for- maltando-o com as virtudes mais preciosas, que
tunas conquistadas no grande império, porque se estudam
estudam n'essc
n'esse único
único livro,
livro, oo mais
mais peregrino
peregrino
geralmente são obras dc de brasileiros e magnifico,
magniiico, que
que sese chama
chama oo coração
coração materno,
materno,
Tão numerosos são esses monumentos que o e profícuos
profícuos furam
furam esses
esses estudos
estudos porque
porque Paulo
Paulo
termo—brasileiro—tem no norte do paiz um sen- Porto-Alegre possue as mais nobres e invejáveis
tido privilegiado;
privilegiado; não
não significa
significa oo natura!
natural do
do Bra-
Bra- qualidades.
sil mas um homem que n'essa terra abençoada
cc prodigiosa
prodigiosa conquistou
conquistou independência
independência ee haveres
haveres
de
dc que a terra natal jamais lhe poderia facultar a
conquista.
Em compensação dos thesouros, que o Brasil
faculta aos portuguezes, nós tributamos aos fi- A infanda
infância éc uma aurora.
lhos d'essa nação gloriosa o ouro precioso do Nos primeiros clarões denuncia qual será o dia,
nosso affecto e as jóias valiosas da nossa sincera se radioso, se
sc radioso, se obscuro.
obscuro. Infante
Infante era
era ainda
ainda Pico
Pico dc
de
estima, decupladas
dccupladas quando o alvo de taes senti- la iMirandola quando
la Mirandola quando confundia
confundia os
os eruditos
eruditos pro-
pro-
66 O LIVRO DE OURO

vcctos com a promptidão da replica


réplica c a rapidez mentos humanos partiu, cm 1S63,1863, para a Saxo-
da concepção. nia, inscrcvcndo-se
inscrevendo-se alli modestamente como alum-
Paulo Porto-Alegrc também desde a infancia
infância no na celebre academia de Freiberg, seguindo o
revcllou
revellou os dotes opulentos d'um espirito não curso de engenheiro dc
de minas, curso que comple-
vulgar, c por isso seu pac se apressou em apro- tou no praso de tres annos, habilitando-se em
vei tar-lhe as precoces disposições para os estu-
veitar-lhe 1866 com os diplomas d'este
doeste instituto, que é o
dos sérios, collocando-o no imperial collegio de género.
primeiro do seu genero.
Pedro lí. IF. onde recebeu o baptismo da scien-
cia, e onde fez as suas humanidades com ra- #
pidez pouco commum, pois aos 17 annos es- *
tava habilitado para se matricular n'uma
n\ima Univer- *
sidade. Ha iniciações que imprimem caracter.
Basta comparar o numero de seus annos com
o estado de cultivo de seu espírito para se evi- A qualquer outro bastariam por certo as con-
denciar o que acima dissemos que possue umas doestes dois institutos, porém o dis-
sagrações destes
peregrinas aptidões e talento natural—o mais tincto filho do Brazil, cujo espirito se não mede
apreciável presente dos deuses amigos—como em cousa alguma pelo do vulgo, quiz conquistar
diria um quinhentista nos áureos tempos do clas- novos c por ventura mais viridentes louros, apro-
sicismo romântico. fundando ainda mais os estudos mineralógicos.
Matriculou-se
Matricu!ou-se pois como discípulo extraordi-
* nário na Imperial c Real Academia de minas em
* * Leoben, na Áustria, de qual se desligou para ir
experimentar-sc
experimcntar-sc praticamente na grande lucta lueta da
intclligcncia com a materia,
matéria, servindo como en-
1809 dava pois entrada n'uma das mais genheiro de segunda classe na construcção da li-
Em 1859
respeitáveis universidades da Europa, a de Ber- nha ferrea, férrea, que liga Salgburg a Corinthia, pas-
lim. sando pela Sty Styria
ria onde se conservou até 1867.
europêa a sua especialida-
Possue cada nação europea
de, mas nenhuma ainda ousou disputar á Alle-
manha o titulo nobilíssimo de imporio da scien- *
cia. Nem mesmo a litterata França pôde ainda * *
eclypsar o saber da sua velha rival germânica;
a França é ainda hoje uma divulgadora; as scien-
cias que cila ensina e espalha por todo o mun- No anno seguinte regressou aos estudos uni-
da, vai coihcl-as
colhcl-as e recebe-as da sua visinha de versitários indo então matricular-sc na afamada
álcm do Rheno. Pode-sc
Pode-se dizer que no grave im- universidade de Heidelberg, que recebe aluirmos alumnos
pério de Frederico Guilherme a própria athmos- de todas as partes do mundo civilisado; ahi pra-
phera está impregnada de átomos scicntifkos.
scicntificos. ticou a eudiometria, tendo ainda gosado a dis-
Vivendo n'estc
n^ste meio a natural disposição do tincta honra de ser recebido como auxiliar dos
moço estudante para o estudo por tal maneira trabalhos, no laboratório privado do eminente
se assignalou que attrahiu a attençãode abalisa-
analisa- chimico e physico Roberto Bunsen, onde se poz noz
dos professores que se dignaram admittil-o com em relevo a sua competência em tão melindro-
praser a colaborar na indagação dos mais árduos sos estudos.
problemas.
Frequentando os cursos de phylosophia e scien-
cias naturaes, foi recebido nos laboratórios chi- *
d'aquclla época
micos dos celebres professores d'aquella * *
Henrique Rose, Mithscherlich
Mithscherlichee Sonnenschein, on-
de fez rápidos progressos n'aquclla dificílima
sciencia, sendo considerado em breve trecho apto Em 1869 vciu a Portugal abraçar seus cari-
para leccionar aquclle que por modéstia e amor nhosos paes que então occupavam
para oceupavam o impor-
impetuoso de saber se não fatigava de estudar, tante logar que lhe competia na sociedade esco-
como se prova pela seguinte menção. doesta nação, que tanto affecto
lhida d'esta aflecto lhes mere-
1862, contando apenas 20 annos, foi ins- ceu e lhes tributou.
Em I8Ó2,
cripto socio
sócio do Instituto
instituto chimico pharmaceutic
pharmaceutico Que doce e suavíssimo praser deveriam resen-
de Berlim, onde lhe foi logo confiada a direcção tir aquelles
aquclles dois nobres corações, estreitando ao
analysc peito aquelle
pratica dos trabalhos no laboratório de analyse aquclle que em tão breves annos conquis-
quantitativa. A importância da commissão põe tara já a amisade e a consideração de tantos sá-
em evidencia a lisongeira reputação do comis- bios ec que regressava ao lar possuindo os mais
sionado. valiosos thesouros; os únicos que jamais se es-
gotam— os da sabedoria.
* Com que ufania não veriam elles que se não
* * extraviara no caminho da vida o deposito dc de
virtudes, que haviam accumulado com a salutar
exhortação
exhortaçao dos mais correctos exemplos!
Não bastavam a Paulo Porto-Alcgre estes Estamos certos que está assignalado na exis-
conheci- tência de Paulo Porto-Alegre como um dos mais
triumphos. Desejoso de aprofundar os conheci-1
4$
O LIVRO DE OURO 67

ditosos da sua vida operosa e utilíssima, aquelle em Lisboa, sendo esta nomeação convertida dois
momento em que clle elle se apresentou a seus paes
pães annos mais tarde na de encarregado do consu-
podendo diz.er-lhes
dizer-lhes ufano:—em
ufano: — em todo o meu ca- lado geral em rasão de se achar enfermo o res-
minho ceifei louros, que tanto me pertencem como pectivo chefe.
a vós, que haveis cimentado na minha alma o Vindo a fallecer aquelle funccionario
funecionario em i8Si
1881
amor da virtude e o amor da gloria. recebeu Paulo Porto-Alegre a prova mais signifi-
Ditosos os que podem repetir convictos estas cativa do muito apreço em que os seus compa-
aílirmacões.
sublimes aílirmaçÕes. triotas, residentes em Lisboa, teem as preciosas
qualidades, que o distinguem, pois que todos lhe
* manifestaram o mais entranhado desejo de que
# * elle fosse, como foi, nomeado pelo governo im-
perial para a elfectividade
elíectividade d'aquelle
d^aquelle cargo.
Este desejo não só foi manifestado por todos
De Portugal regressou Paulo Porto-Alegre— os membros da colonia
colónia brasileira, mas também
apoz a longa ausência de dez annos — âá sua pa- pá- por todo o funccionalismo
funecionalismo portuguez que esta em
tria onde se lançou no turbilhão do commercio contacto com as auctoridades
auctoridndes representativas do
e dos empreendimentos fabris, já porque não es- grande império americano.
tava no seu animo permanecer ocioso, já por Demonstrações são estas de tanta e tão grande
obediência ao meio em que se encontrava. valia, que constituem por si só uma apotheose
Parece que no continente americano está re- incontestável dos merecimentos do íllustre mem-
concentrada a actividade humana. A Europa cae bro do corpo consular.
no marasmo da indolência, quando alli todas as
matéria estão em pleno
forcas da intelligencia e da materia *
e vigoroso exercício. * *
A lucta
lueta pela existência parece concentrada ali;
é*é lá onde se fere o combate mais renhido; no
resto do mundo resente-se apenas o ecco e os Infatigável trabalhador, estudioso constante
cfleitos
cfteitos da peleja. E' no novo mundo tão justa- como tem sido sempre Paulo Porto-Alegre os
mente nomeado assim, que as emprezas gigan- ócios, podem ser na laboriosa missão
ocios, que poucos pódem
tescas teem o seu berço, e tudo o que moder- que hoje desempenha, tem sido occupadooceupado em
nament:
nament; causa espanto, vem de aquelle conti- trabalhos litterarios,
Htterarios, alguns dos quaes tem um
nente onde se presta culto ao trabalho e onde se merecimento especial e de tão subido que lhe
engendrou o axioma: o movimento é a vida. franquearam o ingresso na Academia das Scien-
Paulo Porto-Alegre
Porto-Alegrc armado com os formidá- cias, de Lisboa.
veis elementos, que temos referido, aílirmou a Referimo-nosaos
Refcrirno-nosaos seus estudos sobre «a influen-
sua existência e que sabia existir. cia nas artes e industria do acido carbónico.»
No curto espaço de cinco annos, que tantos N^este
N'este estudo vastíssimo e largamente desenvol-
foram os que se demorou no Brazil, accentuou vido, revelia o enorme pecúlio de conhecimentos
disiinctamente
distinctamente a sua individualidade, fez-se re- chimicos, que possue o auctor,
auetor, ao mesmo tempo
conhecer como um dos filhos mais nobres e glo- d^aquelles estudos a que já
prova a proficiência d^iquelles
riosos das terras de Santa Cruz, vinculando o nos referimos.
seu nome a grande numero de emprezas indus- Esta obra especialíssima foi uma verdadeira
triacs ec outras de variados géneros e fins.
triaes novidade em Portugal, onde a chimica e a phy-
Todavia a sua longa permanência na Europa sica—salvo raras excepções — cé apenas estudada
d:esta grande região, tor-
e nos paizes do norte d'esta superficialmente, e não passa diurna
d^ma sciencia de
naram-lhe importuno o clima dos paizes tropicaes transito para outras de que cila não é só prepa-
e a necessidade de os abandonar impoz-se-ihe
impoz-se-lhe ratório mas também complemento.
imperiosamente. A academia real das sciencias conferindo a
Em 1874 regressou pois a Portugal na quali- cjuali- Paulo Porto-Alegre o titulo de seu sociosócio corres-
lade de chanceller de consulado Geral do irnpe- impé- pondente, único que lhe podia
pndia olíertar, como es-
rio. trangeiro, reconheceu ce consagrou os manifestos
Iniciava-se em nova carreira o cavalheiro que merecimentos d'esse trabalho, que abriu horison-
se preparara com tão hábeis armas para luctas luetas tes novos aos entendedores competentes no as-
mais renhidas e por ventura mais salutares para sumpto, que tratou de maneira nimiamente há-
a Humanidade, todavia n'essa n'cssa nova carreira lo bil e superior.
grou mostrar-se
mostrar-sc tão superior quanto os dotes Além d'essa obra, verdadeiro monumento le-
maravilhosos do seu intellecto deviam fazer es- vantado em honra da vastidão dos seus conhe-
perar. cimentos em sciencias naturaes, tem produzido
Durante o periodo
período em que exerceu esse cargo outras o nosso hiographado, tendo ainda mais
e em que por vezes teve a dirigencia dos negó- algumas em preparação.
cios consulares, em rasaorasão de estar ausente o Monographia do café — obra dedicada ao im-
chefe do consulado, durante esse periodo,
período, di- perador do Brazil. N'este escripto compendiou
zíamos, prestou os mais relevantes serviços á Paulo Porto-Alegrc
Porto-Alegre importantes noções scientifi-
colónia
colonia Brazileira e aos portuguezes, serviços que cas
cas ee commerciaes,
commerciacs, podendo
podendo dizer-se
dizer-se que
que esgo-
esgo-
foram reconhecidos pelos soberanos d'estas duas tou completamente o assumpto sob todos os pon-
nações.
naçóes. tos de vista.
fcm 1877, foi nomeado vice-consul do Brasil, Como facilmente se deprehende do titulo esta
63 O LIVRO DE OURO

obra constitue um trabalho ingrato c uma tarefa neiro, de que é delegado, e áà qual tem prestado
árdua,
ardua, porém Paulo Porto-AlegrePorto-Àlegrc conseguiu iilu- assignalados serviços.
minar-lhe as paginas com os brilhantíssimos cla- *
rões de seu grande engenho e enriqueccl-as enriquecel-as com * *
preciosas noticias reveladoras do aturado estudo
de cque que oo auctor
auetor precede
precede as as suas
suas producções.
produeçues.
(
Oocimasia pratica, — obra originalmente escri-
Docimasía Muito mais poderíamos dilatar estc este cscripto
escripto
ptas em em allemão,
allemão, idioma
idioma que Porto-Ale- demonstrando os elevados dotes do espirito admi-
que Paulo Porto-Ale-
gre conhece
conhece profundamente
profundamente ee maneja
maneja comocomo se se ravelmente culto do nosso biographaao, mas pre-
filho fora da pensadora Gcrmania Germânia — cê outro tra- ferimos calar o mais que o nosso enthusiasmo
balho, cujo titulo pouco indica, mas que dá luz nos pedia, para que se não lance á conta de li-
aos sábios ec a outros ensina, podendo ser lido sonja o que é apenas sincero preito a uma indi-
com prazer ate pelos profanos da scieticia. seiencia. intellectuidade
vidualidade tão distincta, a uma intellcctuidade
Manual de Siderolechnia,
Sideroteclmia, é um indicador se- tão tão superna,
superna, queque não
não sese lhe
lhe pode
pode negar
negar aa posse
posse
guro na especialidade de que se occupa. oceupa. da seentelha
scentelha genial.
Guia para
vara a analyse mineral quantitativa. Já E cabe aqui uma lamentação justíssima sobre sohre
acima dissemos quanto é melindroso e especial a levesa do espirito no século XIX*, XIX; os doutos
o estudo
estudo quantitativo,
quantitativo, portanto
portanto um um guia para passam desapercebidos ainda para o vulgo, em-
guia para
estes estudos éê um serviço altamente valioso pres- quanto as illustrações levianas ec superliciacs superliciaes re-
tado áá sciencia,
seiencia, ee como
como taltal tem
tem sido considerado cebem os applausos do maior numero; não com-
sido considerado
porquantos os tem podido apreciar. petia isto ao estado avançadissimo da civilisação
A Sideroteclmia na exposição universal de iSÓ j
A Siderotechnia na exposição universal de 1S6 7 mas deve attribuir-se á condição humana geral-
em Paris,
Paris, éè umauma apreciação
apreciação meticulosa
meticulosa de tudo mente propensa para admirar ouropéis acima do
de tudo
quanto n'aquelle género se apresentou n'aquclle n'aquelle finíssimo ouro. E por isso que o nome de Paulo
grande certamen, acompanhada de variadíssimas Porto-Alegre, cé conhecido apenas e apreciado pe-
ee interessantes
interessantes noticias
noticias aa respeito
respeito de
de alguns des- los homens superiores ficando occulto
alguns d'es- oceulto na penum-
penum -
ses exemplares. bra para o vulgo ignaro, penumbra que elle toda-
O Cacaeiro sua origem e cultura no Brasil co- via illumina radiosamente.
lónias curopcas
europeas ee continente
continente americano
americano éé um um bombom Vingam-no porém com soberbia aquelles que
estudo economico-agricola, também dedicado ao se inclinam perante elle acatando ihe lhe e reconhe-
imperador de Brasil. ccndo-lhe
cendo-lhe a auetoridade
auctoridade incontestável.
Esta obra assim como a Monographia do café, Os soberanos
Os soberanos de de Portugal
Portugal ee do do Brasil
Brasil como
como
— apesar de serem uma variante no genero género es- apreciadores competentes do mérito verdadeiro,
pecial dos conhecimentos c estudos de Paulo tributam-lhe, a mais aflcctuosa aflectuosa estima.
Porto-Alegre, tratadas magistralmente provam
que
que o o seu
seu espirito
espirito não
não conhece
conhece fronteiras
fronteiras quando
quando *
tenta pur-se em evidencia. * *
Estas producções constituem já uma galeria
importante e valiosa, que lhe dão o direito de
oceupar
occupar distinctissimo logar entre os publicistas É Paulo Porto-Alegre de afavel afável semblante e
mais notáveis do império, onde não abundam maneiras ultra-delicadas. Não é possível aproxi-
os cscriptores
escriptores sobre
sobre matérias
matérias scientificas.
seientifleas. mar-se-lhe
mar se-lhe sem sentir o influxo sympathico de
Tantas e tão variadas manifestações d'um in- uma extrema afabilidade. Aos lábios afluem-lhe afluenvlhe
tellecto
tellect invejável, enriquecido por variados e pro- por assim dizer diluídas em phrases aíTectuosas
afiectuosas
deixar de attrair a atten- os bons e nobres sentimentos, que lhe enchem
fundos estudos, não podia deixardeattraira
ção do mundo scicntifico
scientifico contemporâneo. o coração. Ha na sua phrase sempre elegante e
Paulo Porto-Alegre tem pois recebido não sô só correcta como que o doce calor da sensibilidade,
as lelieitações
íclict tacões pelos
pelos seus
seus vastos conhecimentos que é apanagio
vastos conhecimentos apanágio das grandes almas ce dos mais
em diversas
diversas matérias,
matérias, dosdos homens
homens mais compe- cultos espíritos. O rosto nobre espelha cgual-
mais compe- egual-
tentes, mas também numerosas associações de mente os estímulos da dignidade; olnando-o en-
litteratos notáveis, corporações de sábios e aca- contra-se-lhe nos olhos vividos, cujo fogo é do-
demias scientificas
scientificas lhe
lhe tem
tem enviado
enviado diplomas,
diplomas, que que cemente temperado pela expressão de natural
tanto honram aqueileaquelle que os recebe como os que benignidade, a luz divina das intelligendas íntelligcncias supe-
os conferem. riores, Instinct!
riores. lnstincti vãmente, ou vindo-o, applaudimos
Entre outras muitas, que por numerosas nos os antigos que pintavam a Eloquência brotando
escapam, citaremos as seguintes. dos lábios correntes de ouro por que a linguagem
Academia Africana de Berlin da qual é mem- de Paulo Porto-Alegre é opulenta e captiva.
bro honorário, assim como do Cecle Cede Consul
Consulaireaire Filho dilecto e honroso do Brasil, eis o único
de Belgique, desde 1878. registro que fazemos com pesar, lembrando-nos
Sociedade de Geographia do Rio de Janeiro, que se se aqueíla
aquella nobre
nobre terra
terra fora
fora ainda
ainda colonia
colónia nossa
nossa
da qual é socio sócio correspondente. Paulo Porto-Alegre seria cidadão portuguez e
Sociedade propagadora
propagadora de conhecimentos
conhecimentos geo- geo- consequentemente mais uma gloria da aa nação de
graphico—africanos, de Loanda, também socio sócio que assim apenas pôde ser hospede querido ceil- il-
correspondente. lustre.
Société Academique
Acadcmique franco-hispano,
franco-hispano, — — portu-
portu-
gueza, de Toloza. Retervado» todo» o» direito»
Reiervado» díreitoi de propriedade litte-
Sociedade central de emigração do Rio de Ja-
TVP DE
TYP DE CHBISTOYÃO
CHH1ST0YÃ0 AUGUSTO
AUGUSTO nODMCCES
líODIUCCES — RUA
RUA DE
CE S.
S. PAULO,
PAULO, 60
CO E
E 62.
G2.
O LIVRO DE OURO
O LIVRO DE OURO

Biographias dos personagens mais distinct os em politica,


distinctos
at
armas, religião, lettras, sciencias, artes, comviercio, industria
was, t cltgião, lettras, sciencias., artes, comviercto, industria ee agricultura
agricultura

ANNO II —VOLUME
— VOLUME I PUBLICAÇÃO PARA PORTUGAL J£
E BRAZIL SETEMBRO — i886
SETEMBRO—Í336

que se distinguiu na lucta


lueta contra a usurpação e
0 conselheiro
0 conselheiro João José
José de
de Mendonça Cortez
Corícz em prol dos princípios proclamados em 1820.
em^prol
Entre os defensores da carta constitucional e
Só quem se entrega ãá aprasivcl,
aprasivel, ainda que pe- do throno de D. _ Maria II assignalaram-sc
assignalaram-se os
nosa tarefa, de fazer a nomenclatura dos servi- serví- membros da família Mendonça, que pertencia áa
ços^prestados pátria, pela ge-
ços prestados á humanidade ou á patria, mais distincta
distincta^ sociedade algarvia d'aquella
d^quella época.
ração hodierna: só quem, como nós, se tem im- Os progenitores do nosso biographado, João
posto a missão de collocar
çollocar em saliente relevo os Viegas de Mendonça e D. Maria do Rosario Rosário Lo-
merecimentos, as virtudes, os talentos ou as qua- pes, eram acatados e queridos não só porque se
lidades dos coevos, sabe, como nós sabemos, assignalavam de maneira notável pela pureza dos
que na pleiade
plêiade dos contemporâneos tão menosca- costumes e correcção de porte, mas tombem
também por
bada, tantas vezes e tão profundamente ferida serem modelos de virtudes domesticas e civicas.
pelas settas aceradas do facciosismo ou da inve- Educada n^esta athmosphera a alma de João
ja, avultam homens distinctissimos, de mereci- José de Mendonça Cortez impregnou-se
imprcgnou-se da mais
mento incontestável, e sobremaneira prestimo- pura essencia,
essência, adquiriu os hábitos da mais in-
sos. quebrantável rectidão e da lealdade mais enalte-
d;stinctas e
Abundam estas individualidades d'stinctas civel, sentimentos de que tem produzido provas
salientes, e se o vulgo passa deante delias
d'ellas sem eloquentes no decurso da sua operosa carreira.
as venerar, sem lhes prestar o culto que mere- Ainda não completos deseseis annos partiu
cem, essa indiferença inconsciente não as tolhe Mendonça Cortez para o imporio das sciencias
de continuarem manifestando os seus méritos, no paiz,
paiz, Coimbra,
Coimbra, franqueando
franqueando aa porta
porta ferrea
férrea
honrando os tempos em que florescem, e a ter- n'uma idade em que a poucos é dado aproxi-
ra, que lhes foi berço. mar se-lhe, sequer.
Um d'estes
doestes contemporâneos illustres é o cava- Esta circumstancía,
circumstancia, que pomos em relevo, at-
lheiro a quem vamos referir-nos no presente ar- testa a precocidade dos talentos do novel estu-
tigo, o conselheiro João José de Mendonça Cor- dante, assim como é documento irrefragavel de
tez, trabalhador infatigável, espirito esclarecido, uma não vulgar disposição para os estudos mais
e intelligencia culta, que se tem assignalado bri- transcendentes.
lhantemente, c cujo talento reproduz a ficção de A
A universidade
universidade de de Coimbra
Coimbra orgulha-se
orgulha-se com
com
Protheu tomando variadas formas, sob oo'cunho cunho lídimos direitos de contar João José de Mendon-
d'uma originalidade singular. ça Cortez no numero dos seus alumnos mais
Vasta e longa tem sido a carreira d'este cava- honrosos e dilectos.
lheiro, mas desde os bancos universitários até
ás cadeiras
as cadeiras ministeriaes,
ministeriacs, sempre
sempre esta
esta feição
feição es-
es-
pecial se tem accentuado honrosamente,
honrosamente,' como Dez annos passou João José de Mendonça
vamos demonstrar na seguinte menção dos lan- Cortez no dace-agro convívio das lettras, cursan-
ces principaes da sua prestadiu
prestadia existência. do as faculdades de direito e estudando tão pro-
ficuamente
fkuamente as sciencias naturaes, que obteve sem-
pre os primeiros prémios.
Nasceu o conselheiro João José de Mendonça Não é circumstancia vulgar esta e por isso per-
Cortez no districto de Paro,Faro, na villa de Olhão, n'ella.
mitte que insistamos n'clla.
a 9 de Janeiro de 1838.
i8'S8. Conquistar prémios na Universidade é vencer
A causa liberal encontrou n'esta região mui- um torneio que por ser litterario, se não é san-
tos
tos ee ardentes sectários, porque
ardentes sectários, porque oo Algarve
Algarve abra-
abra- grento como os aada idade media, é comtudo ár-
ça com enthusiasmo todas as causas generosas duo e ingente, e só confere triumphos apoz tra-
e nobres. lueta.
balhosa lucta.
Apesar de ter sido olvidado sempre na parti- Annos se passam sem que a Universidade con-
lha dos
dos favores
favores governativos,
governativos, oo Algarve
Algarve éé uma
uma fira premio, porque não encontra alumno digno;
das províncias mais patriotas e mais zelosas pela mas Mendonça Cortez não conquista um único
prosperidade commum, per isso a revolução, — premio, conquista sempre os primeiros: este é o
que devia acabar por uma vez com todas todas*as
as re- alpha incontestável e por assim dizer tangível de
miniscências obnoxias do poder senhorial,— en- uma capacidade superior, que posteriormente se
controu ali dedicações sinceras e abnegação cre- jamais; esta é a prova provada
não desmentiu jámais;
dora dos mais levantados encomios.
encómios. que Mendonça Cortez não é meramente o estu-
A família
família dede Mendonca
Mendonça Cortez
Cortez foi
foi uma
uma das
das d\im anno ou d'uma secção,
dente mais distincto d'um
O LIVRO DE QUKO
OUKO

mas
mas sim sim oo ciede todas
todas as as classes
classes que
que constituem
constituem aa porque os
porque os governos
governos que que geralmente
geralmente estão estão sem- sem-
faculdade. pre promptos a facultar
pre promptos a facultar meios para os interes- meios para os interes-
Ainda mais. ses de
ses de campanario,
campanário, os os recusam
recusam para para as as questões
questões
E' sabido
sabido que oo primeiro
primeiro escolho,
escolho, que que oo estu-
estu- de que
de que devedeve resultar
resultar gluriagloria ee honra honra para para oo paiz; paiz;
dante encontra na
dante encontra na sua
sua carreira,
carreira, éé aa carência
carência de de todavia o merecimento
todavia o merecimento dos estudos de Mendon- dos estudos de Mendon-
guias seguros, é a falta de elementos concatena- ça Cortez
ça Cortez não não ficou
ficou semsem consagração,
consagração, porque porque do do
dos ;; esta
dos esta falta
falta ainda
ainda hoje
hoje tão
tão sensível
sensível era quasi quasi estrangeiro lhe
estrangeiro lhe foram
foram feitas feitas algumas
alguma_s propostas
propostas
absoluta na
absoluta na época
época cm cm quecjue Mendonça
Mendonça Cortez Cortez fre-
fre- que oo inventor
que inventor regeitou regeitou com com isenção
isenção nobre nobre ee
quenta as aulas; todavia essa carência não o en- pouco
pouco commum
commum patriotismo.
patriotismo.
tibia, não não lhelhe põe
põe estorvos
estorvos no no seu
seu caminho
caminho ovan- ovan- Cabe
Cabe aqui aqui dizei
dizei o. o. Mendonça
Mendonça Cortez Cortez é, é, como
como
te
te ;; elle
elle respiga
respiga afouto
afouto os os conhecimentos
conhecimentos de de que
que todos
todos os
os homens
homens notáveis,
notáveis, profunda
profunda e
e sincera-
sincera-
carece ec surge sempre avantajado na fileira dos
aos mente amante
mente amante da da suasua patria;
pátria; por por maismais de de umauma
condiscípulos. K' K1 assim que as sumidades litte- vez tem
vez tem produzido
produzido d'estas dVstas recusas,recusas, despresando
despresando
rarias ou scientificas
scientifkas se denunciam aos primei- quantiosas oííertas
quantiosas offerras para para que que não não saiam
saiam do do paiz
paiz
ros passos. inventos
inventos que
que lhe
lhe honram
honram o
o nome
nome e
e glorificam
glorificam aa
Finalmente depois
Finalmente depois de de uma
uma serie
serie dede triumphos
tripmphos nação,
nação, onde
onde se
se produzem.
produzem.
académicos dos mais honrosos, em i863 Men- È11 bem
È bem raro raro esteeste desinteresse^que
desinteresse que sem sem lisonja
lisonja
donça Cortez toma o grau de doutor na facul- podemos proclamar
podemos proclamar um um dos dos florões
florões da da suasua coroa
coroa
dade de Direito. de talento ee consideral-o
de talento conslderal-o um um dos dos attributos
attributos mais mais
Durante aa vida
Durante vida académica
académica não não limitou
limitou^ Men-
Men- laudativos
laudativos da
da sua
sua gloriosa
gloriosa individualidade.
individualidade.
donça Cortez
donça Cortez as as locubraçóes
locubraçóes do do seu
seu espirito
espirito áá Se aa menção,
Se menção, que que fizemos,
fizemos, da da maneira
maneira distin- distin-
consulta dos dos authores
authores aa que que necessitava
necessitava recorrer
recorrer cta como
cta como elle elle sese sobrelevou
sobrelevou na nadasse escolar ca-
classe escolar ca-
para oo seu
para seu progredimento,
progredimento, pelo peloteontrario afirmou
contrario afirmou recesse de demonstração, tel-a-iamos
recesse de demonstração, tel-a-iamos na consagra- na consagra-
os vastos
os vastos recursos
recursos da da sua
sua intelligencia
intellígencia raramente
raramente ção official
ção oíficial de de seus seus merecimentos,
merecimentos, porque porque no no
fecunda, dando
fecunda, dando éé estampa
estampa diversos
diversos trabalhos
trabalhos lit-lit- mesmo anno
mesmo anno em em que que tomou
tomou oo capellocapello foi foi nomea-
nomea-
terarios, entre os quaes avulta um estudo pro- do lente
do lente substituto
substituto extraordinário
extraordinário da da universida-
universida-
fundo sobre a organisação dojury,
fundo sobre a organisação do jury, obra que viu obra que viu de,
de, nomeação
nomeação que
que em
em breve
breve trecho
trecho se mudou
se mudou
a luz
luz publica
publica em em 1861,
1861,' assim
assim como
como um um volume
volume na de
na de substituto
substituto ordinário,
ordinário, despacho despacho que que tem tem aa
de theses, redigindo ao mesmo passo o jornal data de janeiro de 1864.
académico — O instituto. * *
*
Por occasião
occasião da da visita
visita de
de el-reí
el-reí D.
D. Pedro
Pedro V V áá
universidade de Coimbra proferiu Mendonça Cor- No
No annoanno seguinte
seguinte metteu metteu hombros hombros aa uma uma em- em-
tez umauma oração,
oração, aa que mais mais tarde
tarde deudeu publici-
publici- preza
preza espinhosa
espinhosa c
e que
que bem
bem merece
merece aa classifica-
classifica-
dade instado
dade instado por por alguns
algunsamigos,
amigos, que que deploravam
deploravam ção de
ção de gigantesca,
gigantesca, porque porque para para aa levar
levar aa cabo cabo
se
se nãonão tornasse
tornasse conhecido
conhecido esse esse modelo
modelo de de ora-
ora- teve
teve de de proceder
proceder aa verdadeiras
verdadeiras escavações escavações his- his-
tória. tóricas,
tóricas, ee revolver
revolver e
e consultar
consultar uma
uma porção
porção enor-
enor-
El rei
rei D.D. Pedro
Pedro V, V, que
que eraera também
também um um espi-
espi- me de
me de trabalhos
trabalhos incompletos
incompletos ee difusos, difusos, impres-impres-
rito sobremaneira
sobremaneira culto, culto, — — manifestou
manifestou oo prazer,prazer, sos uns, outros manuscriptos.
sos uns, outros manuscriptos. Esta empreza era Esta empreza era
que lhe causáracausara a eloquente oração do moço a
a publicação
publicação de
de um
um índice
Índice da
da legislação
legislação pratica
pratica
académico, e este testemunho de um vulto tão desde oo «Codcx
desde *Codcx vetus» j>etus» (século
(século xvu) xvu) até até ao ao pre-
pre-
esclarecido e illustrado não é por certo premio sente. Este
sente. Este trabalho,
trabalho, que aue possue
possue inédito,
inédito, fazia fazia
menos digno digno do do que
que osos annualmente
annuaimente conferidos
conferidos parte d'uma
parte duma Historia
Historia aa da egicja
cgi eja portuguesa.
portugueza.
pela universidade. Esta publicação
Esta publicação exigia exigia aturadjssimo
aturadjssimo estudo estudo ee
Ainda
Ainda em em 1861
1861 se se produziram
produziram outrasoutras manifes-
manifes- foi commettida
foi commettida aa uma uma commissão,
commissão, de de que que fazia
fazia
tações do
tações do engenho
engenho do do nosso
nosso biographado,
biographado, mani- mani- parte
parte o
o illustre
illustre historiador
historiador Alexandre
Alexandre Herculano.
Herculano.
festações não menos louváveis, porque provam Não se
Não se ultimou
ultimou aa publicação
publicação por por negligencias
negligencias
oo amor
amor que que sempre
sempre teve teve pelos
pelos estudos
estudos mathe-
mathe- do governo, ee porque
do governo, porque aa commissão commissão teve teve um um
matícos ee mechanicos,
maticos mechameos, mas mas também
também porque porque cons-
cons- membro,
membro, que
que foi
foi elemento
elemento dissolvente,
dissolvente, perden-
perden-
tituíam os primórdios trabalhos n'uma sciencia do-se oo ensejo
do-se ensejo de de realisar
realisar esta esta importantíssima
importantíssima
quasi desconhecida
quasi desconhecida entre entre nós nós ainda
ainda n'aquella
n^iquella obra. Entretanto
obra. Entretanto Mendonça Mendonça Cortez Cortez realisou realisou aa
.época. Referimo
Referimonos nos aos modelos que fez apre- parte mais importante
parte mais importante — o 1.° volume, no —o 1.° volume, no qual
qual
sentar ao governo para applicação da electrici- se acha
se acha restaurada
restaurada aa collecção collecção das das leis
Íris ecclesias-
ccclcsias-
dade comocomo força
força motriz
motriz dasdas locomotivas.
locomotivas. ticas peninsulares,
ticas peninsulares, precedida precedida de de um um extenso
extenso
Algumas dd"essas essas invenções acham-se já postas proemio, em que se descreve a largos traços aa
proemio, em que se descreve a largos traços
em execução em França e Allemanha, como por historia da
nistoria da egreja
egreja hispano-lusitana
hispano-lusitana até até ao ao século
século
exemplo o commutador eléctrico. xui.
xm. Esta Esta obraobra éé um um verdadeiro
verdadeiro monumento monumento lit- lit-
Outros modelos, tendentes á solução do pro- terariu que bastaria por
terariu que bastaria por si só para crear uma si sò para crear uma
blema mechanico; sc se na roda
rada motri7
motn\ de uma lo- reputação sobremaneira
reputação sobremaneira invejável invejável ee imperecível,
imperecível,
comotiva em movimento o ponto de apoio avoio ée o solo, ee dar
dar ââ Mendonça
Mendonça Cortez Cortez um um logar
logar honroso
honroso en- en-
a transmissão do do movimento
movimento adoptada éé essencial- essencial- tre
tre os os mais
mais distinctos
distinctos escriptores
escriptores portuguezes.
portuguezes.
mente defeituosa; se é o ef.vo, eixo, os principios
princípios de me- ¥ ¥
¥¥
chanica adoptados nas escholas carecem de refor-
chanic a adoptadoi
ma, foram mandados estudar por diíferentes differentes Ao mesmo tempo,
Ao mesmo tempo, ee apesar apesar da da enorme
enorme appli- appli-
commissões,
commíssões, que concluíram pela necessidade cação
cação que
que exigia
exigia tarefa
tarefa tão
tão espinhosa,
espinhosa, o
o nosso
nosso
do exame pratico. biographado não
biographado não descurava
descurava os os seus
seus queridos
queridos es- es-
Estes estuaos ou ensaios nunca se rcalisaram tudos mecânicos, ee em
tudos mecânicos, em 1864 1864 appareceu
appareceu com com um um
t/i
O LIVRO DE OURO

novo invento—o propulsor para barcos de fundo novo, no qual se agremiassem homens rectos e
cf ia to e para rios de pequena profundidade,—
c/iato profundidade, — quízessem governar por amor
independentes que quizessem
em que se combinam os movimentos perpendi- do bem commum, e nãn pelo interesse ou pela
cular e vertical, dispensando por consequência o vaidade pessoal.
emprego de remos. Entrando pois na camara
camará reconheceu que lhe
Quasi ao mesmo tempo apresentava também cumpria substituir o mot cfordre(Pordre dos partidos
um obturador especial de espingarda, que o go- pelos dictames do civismo e da consciência; reu-
verno mandou fabricar no arsenal do exercito, nindo outros deputados de egual sentir, formou
segundo os desenhos, modelo e calculo do in- eccíecíicos isto é dos deputados in-
o grupo dos eccleclicos
ventor. Este invento pôde ser admirado no mu- dependentes, que não discutiam nem votavam
seu d'aquelle
d'aauelle arsenal onde tem sido examinado por facciosismo, mas unicamente segundo as
louvado por notabilidades entendidas em me-
c louvaao suas convicções, e assim contribuiu para a queda
cânica militar, nacionaes e estrangeiras. do ministério Avila—Dias
Ávila—Dias Ferreira,— que, di-
Ainda pelat mesma época inventou e organisou gamol-o de passagem e sem offensa do estadista
um jogojogo*destinado
"destinado a pôr em pratica os preceitos ainda sobrevivo, não foi dos que tem disfructado
da guerra terrestre e naval, em cm que por meio maior somma de sympathia nacional.
de uma engenhosa combinação reproduz os phe- Succedendo a este o ministério Sá — •— Vizeu
nomenos reaes por uma forma devéras deveras curiosa. conservou Mendonça Cortez a mesma attitude;
Esta complexidade de trabalhos prova a va- mas cahindo o governo, em janeiro de 1869, de-
riedade das aptidões e multiplicidade de conhe- clarou-se abertamente favorável ao gabinete de-
cimentos scientificos de Mendonça Cortez;Cortes; mas missionário, victima d'uma surpreza, e reunindo
ainda c mais para notar o grande desinteresse os deputados, que seguiam a mesma idéa, orga-
do illustradissimo inventor, porque elle põe sem- nisou o partido reformista — de que mais tarde,
pre á disposição do governo e do paiz, não sò o pela fusão com o partido histórico, devia sahir
seu trabalho, mas também os seus haveres. o partido progressista, em cujas fileiras ainda
Para a publicação da Historia da Egreja Lu- actualmente milita.
sitana oftereceu Mendonça Cortez os seus orde- O partido reformista foi um dos que maior
nados, sacrifício
sacrificio que não produziu resultado acceitação teve do paiz por isso que do seu cre-
porque a incúria dos governos está sempre su- do o principal artigo visava a pôr termo ás des-
perior áa dedicação dos patriotas, e inutíhsa
inutílisa por sipações dos governos, que escandalisavam toda
vezes todos os esforços e a mais acrisolada a gente de brio a cujos olhos se antolhava emi-
abnegação. nente a bancarrota.
Es,te
Este facto, que se tem repetido mais vezes no O ministério, que então se formou, e que tam tam-
decurso da — para o paiz — tão profícua car- bém é denominado Sá —Vizeu foi um dos que
bem
reira publica d'este esclarecido cidadão, é uma mais religiosamente observou os artigos do seu
das circumstancías mais laudativas da sua vida. programma politico; este ministério desejando
Em 1868 foi despachado lente cathedratico da reunir um núcleo de estadistas, que por por suas lu-
cadeira de finanças
finanças da faculdade de direito, na zes inspirasse inteira confiança ao paiz e podesse
Universidade, ccincidindo este despacho com a difficuldades naturalmente emer-
arcar com as dificuldades
sua primeira eleição de deputado ás cortes. gentes da onerosa tarefa que oue se impunha, refor-
Iniciava se então outra phase brilhantíssima— mar, mas reformar radical e sabiamente, convi-
a da vida politica do nosso biographado, — que dou Mendonça Cortez a acceitar a pasta da fa-
n^sta
n'esta nova carreira não se assignalou menos zenda ao que se recusou dando lição de rara
distincta, menos brilhantemente, que nas ante- hombridade, porque a ambição de todos os po-
riormente citadas. líticos— ambição aliás honrosa — é ser ministro.
Nos tempos modernos, a maneira d'um cida- As instancias do gabinete porém
pcrem continuaram
dão merecer o titulo de prestimoso e util útil á pá- or tal maneira, que o nosso biographado vira-se
por
tria é mui diversa e sobremaneira mais ardua árdua Feorçado, em agosto de 1869, a acceitar a pasta
forçado,
do que nas eras em que no valor pessoal consis- da justiça, impondo porém a condição de que
tia todo o mérito do patriota dedicado. Intellecto seriam admitidas
admítudas as reformas que cjue propunha pela
peia
hábil para comprehender a verdade d'este axio- sua pasta, condição que lhe foi acceite.
ma, possue Mendonça Cortez e demonstrou-o O ministério teve porém de demittírdemittir se em
de modo altamente lúcido. breve trecho, ficando por isso sem effeito as pro-
* jectadas reformas, que todavia forneceram im-
* # portantes elementos para as gerências seguintes.
Entrou no parlamento n'uma época critica, em As situações, que se succedera.n procuraram
que dum d um lado as aspirações do paiz para um obter aa collaboração
obter collaboração dodo seu
seu esclarecido
esclarecido engenho;
engenho;
estado de administração mais perfeito e comple- todavia Mendonça Cortez nunca mais accedeu a
to, e do outro, os desmandos e erros consequen- libar o acidulado nectar
néctar da governação, posto
tes d d'um período de serenidade ou de in-
um longo periodo que seja rara a legislatura em que elle não tenha
difíerença popular, haviam tornado impossível a
diferença tido logar no parlamento, como deputado eleito
continuação da politica existente. por diversos circulos,
círculos, sendo a sua carreira par-
Dotado d'um fecundíssimo talento e de um lamentar uma das mais luminosas, porque a tem
previdente bom senso politico Mendonça Cortez iriado, quer na discussão quer nos trabalhos de
adquiriu de prompto a convicção de que se tor- commissões, com os vívidos
vividos fulgores do seu es-
nara indispensável a constituição de um grupo |
nára pecialíssimo talento.
72 O LIVRO DE OURO

Nos annos de 1874 e 1875 1873 afirmou a sua competentes e illustres da camara
camará alta, onde foi
competência e conhecimentos theoricos nos as- acompanhado pelos pergaminhos da superiori-
sumptos de administração, publicando vários es- dade do saber manifestada sob tão múltiplas
criptos sobre finanças, que não podem ser lidos formas,
fórmas, pergaminhos que por novéis não cedem
sem se reconhecer os elevados dotes e os varia- em valor aos mais provectos.
dos conhecimentos economicos
económicos de que dispõe, Em 1880 o governo presidido por Anselmo
Sj-tithese cio
Sjuthese do orçamento geral
gerai ec propostas de lei José Braamcamp — o Bayard, pela lealdade, da
de receita e despesa do estado para o anno de politica contemporânea, — querendo reconhecer
1874. pstudos
Estudos de finanças, c Syvthese do orça- os serviços prestados por este seu correligioná-
mento para o anno de 1875-1876. rio, nomeou
nomeouoo conselheiro effectivo
efíectivo do tribunal
Estas obras, especialmente a segunda, gran- de contas, ficando por essa nomeação vaga a
gejam-lhe
geíam-lhe logar proeminente entre os mais notá- cadeira, que occupava,
oceupava, na Universidade de Coim-
veis entendedores em sciencias economico-polití- bra.
cas. O ultimo invento produzido pela fecundidade
♦ operosa de Mendonça Cortez tem occupadooceupado li-
* * sonjeiramente a attenção da Europa e da Ame-
Em 1876 o presidente do tribunal de contas rica, porque constitue a solucção d\im impor-
cometteu-lhe o oneroso encargo de organisar os tante problema.
archivos do mesmo tribunal, missão dependente Refcrimonos
Referimo-nos ás cartas geographícas em rele-
de laboriosas indagações, e que só um douto po- vo vertical, por processos chymicos e physicos
deria executar tão completamente como elle a taes que permittem a publicação d'estas cartas
realisou, como provam diversos relatórios que por preços eguaes ao custo das singelas.
por essa época deu á estampa. Este problema, que fez por muito tempo o
No mesmo anno a assembléa geral dos accio- desespero dos homens competentes em geogra-
nistas do banco Luzitano, um dos estabeleci- phia e geodesia, resolvido por Mendonça Cortez
disfrueta maior
mentos de credito, que disfructa mníor somma satisfatoriamente, como prova a concessão do
de confiança do commercio e dos capitalistas do privilegio que obteve para toda a Europa por i5
paiz e do Brazil, deu lhe honrosa demonstração annos, é uma gloria para a nação portugueza
ae apreço, elegendo o membro da direcção, dá
de que tão raro contingente dá para a historia das
qual desde 1878 que preside com applauso geral, invenções e descobertas scíentiticas.
contribuindo para a lisongeira reputação ddeste
este Bastaria esta produção dos seus aturados es-
estabelecimento, que em diversas occasioes de tudos, para illuminar gloriosamente o nome de
crise financeira tem sempre provado a discreta Mendonça Cortez.
administração a que está submettido. Como escriptor possue o nosso biographado
inéditos diversos trabalhos, taes como o Trata-
# do de finanças,
finanças, Historia das Jinanças portugue-
* * sas, Collecção de legislação sobre recrutamento
Km 1878, tendo o conselheiro Saraiva de Car- e outras, além de valiosa collaboração em diver-
valho, tão prematuramente arrebatado pela mor- sos jornaes — o que tudo lhe garante proeminên-
te á estima de seus correligionários e admirado- cia distincta entre os nossos modernos publicis-
res, adquirido a propriedade da livraria editora tas. Especialmente a variedade das suas produc-
da viuva Bertrand, Mendonça Cortez, tomou so- ções justificando a sumula de conhecimentos
ciedade por metade n'essa acquisiçao, da qual éè dão a prova mais brilhante da sua superioridade
hoje o único possuidor, porque comprou aos her- entre os homens de talento da nossa quadra.
d^quelle fallecido estadista a parte, que
deiros d'aquelle Além d'outras qualidades preciosas, a genero-
lhes pertencia. sidade de Mendonça Cortez tem se tornado pro-
_ Esta casa, que tem parte notável na historia verbial. Ainda ha pouco tempo encarregado pelo
bibliographica nacional, continua nas mãos de
bibliograpbica governo de estudar nas nações estrangeiras os
Mendonça Cortez a prestar bons e eflectivos
efíectivos ser- systemas e processos de administração, acceitou
pátrias, não só editando obras de
viços ás letras patrias, o encargo repudiando qualquer subsidio, repu-
incontestável merecimento, mas ainda represen- dio, que por singular, o honra sobremaneira.
tando honrosamente nos mercados estrangeiros E não só em questões pecuniárias se manifes-
o commercio portuguez no seu genero
género especial. ta a isenção do seu caracter. — Numerosas dis-
* tincçÕes honorificas, commendas e gran-cruzes lhe
* * ollerecidas e comquanto tenha, como
tem sido oílerecidas
poucos, direito a usalas todas, tem recusado
Em 1879 assumindo a dirigencia dos negocios
negócios acceitar.
públicos os seus amigos políticos, foi Mendonça
Ãlendonça Bem faz. Não carece de decorações sobre o
Cortez elevado ao pari
pariato. eerto é um dós
ato. Por certo dos peito, quem, d'entro d'elle, possue a mais no-
cavalheiros mais dignos de entrarem n'aquella
n^quella bre e gloriosa das veneras—o seu nobre coração,
casa do parlamento, reservada ainda á represen- repositório sacratíssimo dos mais preciosos e im-
tação da nobreza hereditaria,
hereditária, mas entre a qual ponderáveis sentimentos.
fazem sempre honrosa figura os que conquistam
distineçáo pelos seus méritos pes-
tão subida distineção RESEHVíOOS TODOS
PESERVIDOS TODOS OS
OS DIREITOS
DIREITOS DE
DE PROPRIEDADE
PROPRIEDADE UTTEflARtA
UTTEflARl»
soaes.
Mendonça Cortez é um dos membros mais 86—Typ. dc
86—Typ. de Eduardo
Eduardo Roza—R.
Roza—R. N,
N. da
da Palma,
Palma, t5oc
:5o e tS4
IÍ4

Você também pode gostar