12397-Texto Do Artigo-53137-1-10-20211024
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Introdução
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Doutor em Educação (UERJ), Doutorando em Estudos de Cultura Contemporânea (UFMT), Mestre em
Ciências (UFRJ) e Especialista em Gênero e Sexualidade (IMS/UERJ). Professor das redes municipal e
estadual de Mato Grosso. Secretário de políticas internacionais do Instituto Brasileiro de
Transmasculinidades (IBRAT) e pesquisador dos grupos de pesquisa GENI – Estudos de Gênero e
Sexualidade (UERJ) e GELLTED - Grupo de Estudos de Linguagem, Tecnologia e Diversidade (UFMT).
Email: [email protected]
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Mestre em Ciências da Atividade Física (PGCAF-UNIVERSO) e Especialista em Gênero e Sexualidade
(IMS/UERJ). Professor de Educação Física. Pesquisador no Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Cultura,
Identidade e Diversidade – Odara (IFRJ). Membro do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras
e Negros - FONATRANS. Email: [email protected]
novamente uma invisibilização de homens trans, não somente nesta seção do relatório,
mas em diversas outras pesquisas que tratam de bullying e violências contras estudantes
LGBTs, como por exemplo, o estudo do professor de geografia e pesquisador Moreira
(2014), que relaciona cientificamente homofobia, ambiente escolar e espaço geográfico,
mas não nos apresenta dados de estudantes, especificamente de homens trans ou pessoas
transmasculinas.
Retomando a seção que trata dos comentários negativos sobre pessoas trans, o
relatório (2016) nos informa que de forma semelhante aos comentários negativos sobre a
identidade/expressão de gênero, há indivíduos que fazem comentários negativos sobre
pessoas trans, pois elas ´´podem representar um desafio às ideias ´´tradicionais´´ sobre
gênero´´. Quando perguntados sobre a frequência com que ouviam comentários negativos
especificamente direcionados às pessoas trans, como ´´traveco´´, por exemplo, mais da
metade dos/das estudantes LGBT ouvidos na pesquisa, ou seja, 54,7% relataram ter
ouvido tais comentários frequentemente ou quase sempre.
Nesta mesma seção do relatório (2016) encontramos um depoimento de um
estudante que se identifica como homem trans e este nos revela: ´´Não sou respeitado
como homem trans e muito menos meu nome social. (depoimento de estudante trans, 15
anos, estado de Pernambuco).
tentativas frustradas de contato com Célio, o que se sabe sobre ele é o que pode ser visto
na escritura a seguir. Contamos também com a contribuição de A., homem trans, 19 anos,
branco, morador da zona oeste do Rio de Janeiro, aprovado recentemente em uma
universidade pública do estado para cursar Pedagogia e em conversa conosco,
compartilha de suas experiências e futuras perspectivas.
É interessante avaliarmos aqui que, para além das taxas de mortalidade de diversas
pessoas transmasculinas no Brasil, as que são/estão vivas, na sua grande maioria, não
conseguem acessar e ou permanecer no sistema educacional brasileiro básico,
contribuindo para o aumento do número de alunos/alunas evadidas das escolas públicas
de ensino básico brasileiras.
Uma vez não concluindo o ensino básico, esses alunos transmasculinos
dificilmente conseguirão/conseguem se colocar no mercado de trabalho e não serem
explorados ou não ficarem sobrecarregados. Além da dificuldade de acesso, temos
também a dificuldade com relação à permanência desses indivíduos, na educação básica,
por diversos motivos como o bullying e o não reconhecimento de seu nome social
oficialmente pela escola ou pelos/pelas colegas e professores/professoras.
No documentário produzido no ano de 2008 pelo Coletivo de Lésbicas e Minas
de Cor, dirigido por Márcia Cabral e compartilhado no portal YouTube1, Peixe se faz
Essas violências são marginalizações que pessoas trans, seja elas docentes ou
discentes, podem vir a passar dentro da escola (VERGUEIRO, 2015). Na graduação não
é diferente e esse tipo de violência acontece e se repete com demais pessoas trans da
mesma forma. Aconteceu comigo, Leonardo, e com o professor Bruno Santana também.
Ele relata que diversas vezes em aulas seu corpo e existência não foram legitimados. Diz
ter sofrido preconceito e invisibilização por parte de professores e nos afirma:
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Minha resistência dentro da UEFS como homem trans se dá nesse
contexto de exclusões e violências vivenciados dentro das aulas de
Educação Física onde por diversas vezes tive o meu corpo negado,
deslegitimado, e silenciado pelos professores que em suas práticas
pedagógicas legitimavam determinadas identidades e práticas sexuais
que se encaixavam dentro da normatividade. (SANTANA, 2017. p.04).
outras, serem mais sutis. Não há como separar o homem negro do homem trans e nem o
homem trans do homem negro (PEÇANHA, 2018). Logo, as duas estruturas de violências
se cruzam e se sobrepõem como nos apontou Kimberlé, anteriormente.
Alguns espaços podem ser menos acessados justamente por conta de marcadores
específicos estarem misturados e expostos visivelmente. Em alguns casos, um deles pode
se sobrepor a outro(s), porém dialogam entre si pela experiência e trajetória que os fez
chegar ou não, até aquele momento. Considerar a leitura racista que a sociedade coloca
em cima da leitura social de homens negros é importante. Ela pode denunciar como a
transfobia e o racismo usam estratégias para dialogarem.
Quando a escola foi questionada pelo fato do professor Bruno Santana ser um
professor trans e que isso poderia diminuir o número de matrículas, podemos considerar
que esse tipo de “dúvida” também poderia ser colocado, talvez de forma diferente, pelo
fato dele ser também um homem negro. Logo, um homem negro trans. Como se essas
duas características que o representam, fosse algo pejorativo. Ou seja, a mistura e
multiplicação desses marcadores sociais costumam afetar a maneira como ele, eu e
demais homens negros trans podem ser e são lidos na sociedade.
De acordo com o exposto acima, é importante percebermos como diversos fatores
sociais podem interferir tanto na atuação do professor em sala de aula (ensino básico ou
superior), como também do aluno homem trans na escola ou nas universidades. Por
Considerações finais
ALMEIDA, G.S. Homens trans: novos matizes na aquarela das masculinidades? Revista 158
de Estudos Feministas, Florianópolis, ano 2, n.20, mai/ago 2012, p.513-523.
DERRIDA, J. Essa estranha instituição chamada literatura: uma entrevista com Jacques
Derrida. Belo Horizonte: UFMG, 2014.
NERY, J. Viagem Solitária: Memórias de um transexual 30 anos depois. São Paulo: Leya,
2011.
PEÇANHA, Leonardo Morjan Britto. Visibilidade trans para quem? Parte II – Um olhar
transmasculino negro. Disponível em: < Visibilidade Trans pra quem? Parte II – Um olhar
Transmasculino Negro | Negros Blogueiros > . Acesso em: 23 mai. 2020.
Abstract: This essay aims to highlight possible processes of violence, hostility and
invisibility of trans men and transmasculine people in the school and educational
environment, also bringing some intersections that permeate the Brazilian transmasculine
experiences. Through some social markers of difference (CARLOS, 2015), we illustrate
how the sum and multiplication of these crossings can be punctual in order to understand
the processes of violence and non-access, to which trans men and transmasculine people
Recebido: 01/03/2021
Aceito: 17/05/2021
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