Mecanismos de Funcionamento Da Expressão Gênica em Procariotos de Interesse Na Biotecnologia

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Centro Universitário de Brasília

Faculdade de Ciências da Saúde

MECANISMOS DE FUNCIONAMENTO
DA EXPRESSÃO GÊNICA EM PROCARIOTOS DE
INTERESSE NA BIOTECNOLOGIA

Rafaella Christina Lima da Costa Almeida

Brasília - 2003
Centro Universitário de Brasília
Faculdade de Ciências da Saúde
Licenciatura em Ciências Biológicas

MECANISMOS DE FUNCIONAMENTO DA
EXPRESSÃO GÊNICA EM PROCARIOTOS DE
INTERESSE NA BIOTECNOLOGIA

Rafaella Christina Lima da Costa Almeida

Monografia apresentada à Faculdade de


Ciências da Saúde do Centro Universitário de Brasília como parte
dos requisitos para a obtenção do grau de Licenciado em Biologia.
Orientação: Prof. Paulo Queiroz (FACS – UniCEUB)
Prof. Cláudio Henrique Cerri e Silva (FACS - UniCEUB)

Brasília - 2003
Dedico esse trabalho exclusivamente a Deus,
o verdadeiro autor da vida e da diferenciação celular.
Pelo seu amor, cuidado e proteção para com
a minha pessoa, me ensinou a amar e receber amor.
Não tenho palavras para agradecer Sua bondade.
AGRADECIMENTOS
O meu agradecimento especial a minha mãe pelo apoio e paciência dedicados a mim
ao longo deste curso. O meu empenho em tentar recompensa-la é inevitável.
Agradeço a minha grande família, e principalmente aos meus avós que mesmo
indiretamente me proporcionaram alegria e esforço para concluir um sonho. Em especial as
importantes orações da minha prima Adriana, que foram fundamentais para que obtivesse
uma nova chance para vencer.
A toda minha liderança espiritual, Bispos Robson e Lúcia Rodovalho, Pastores
Geraldo e Denise Alcântara, Lúcia Helena Damasceno e Roberta Campos pelo incentivo
para me tornar uma líder.
Ao bom humor e orientação do Prof. Dr. Paulo Roberto Queiroz pelo atendimento
dado e pela nova visão da Biologia Molecular.
As colegas de curso Andréia e Denise, pelo empréstimo de livros necessários para
realização desse trabalho.
A professora Tânia Andrade pela importante colaboração com o empréstimo de
livro e da tese de doutorado da professora Maria Beatriz Nunes, material fundamental para
obtenção de dados desse trabalho.
Aos professores Marcelo Ximenes, Cláudio Cerri e Adrienne Fernandes por terem
despertado o valioso interesse pelo curso de Biologia.
RESUMO

Os diversos mecanismos funcionais utilizados pelos procariotos para sua expressão


gênica têm sido objeto de estudo importante na busca da otimização dos problemas
relacionados aos processos de obtenção de proteínas heterólogas. É importante destacar que
esse processo inteiro deriva de pesquisas desenvolvidas desde a época de Mendel (1881)
com a descoberta da hereditariedade, passando por Watson e Crick (1953) que
desenvolveram o traçado da molécula de DNA e sua função que deram origem ao dogma
central da biologia molecular. A trajetória unidirecional da informação que caracteriza o
dogma se refere à informação contida no DNA em forma de gene que será transcrito em
uma molécula única de mRNA e esta será traduzida em proteína. Essas informações estão
presentes em forma de código genético que por sua vez é universal, ou seja, é idêntico para
todos os seres incluindo os procariotos. Pesquisas mostraram importante viabilidade desses
seres nas pesquisas relacionadas à engenharia genética. O avanço da biotecnologia e a
disposição de grandes informações tornaram as bactérias mais úteis do que se imaginava.
Devido a sua grande capacidade de regular a expressão de seus genes através de operons,
facilidade de manutenção, facilidade de purificação, amplificação da produção de proteínas
de interesse, entre outras, esses microrganismos tornaram-se importantes agentes no que se
refere à recombinação de DNA. A utilização dos procariotos como células hospedeiras de
genes exógenos, associado ao que muito se conhece da sua genética tem revolucionado a
biologia molecular. Isso tem levando ao futuro grandes perspectivas para obtenção de
forma otimizada de importantes proteínas para o homem como a insulina, hormônio de
crescimento, interferon, antígenos, etc.

Palavras-chave: Procariotos, regulação gênica, biotecnologia, proteína.


SUMÁRIO

Introdução............................................................................................................................1
1. Dogma Central da Biologia Molecular............................................................................3
1.1. Transcrição ...................................................................................................................3
1.2. A regulação Ocorre Majoritariamente na Transcrição .................................................5
1.3. Tradução .......................................................................................................................6
2. Regulação Gênica ............................................................................................................7
2.1. Mecanismos Regulatórios ............................................................................................8
Operon da Lactose .........................................................................................................9
Operon Triptofano .........................................................................................................10
Operon Arabinose..........................................................................................................10
Operon Histidina ...........................................................................................................11
2.1.2. Regulação na Tradução .............................................................................................12
2.2. Transdução de Sinais....................................................................................................12
3. Biotecnologia...................................................................................................................13
3.1. Transgenia ....................................................................................................................14
3.2. Vetores..........................................................................................................................15
4. Aplicações e Importância da Utilização de Genes Expressos em Bactérias ...................16
4.1. Insulina Humana...........................................................................................................17
4.2. Antígenos......................................................................................................................18
4.3. Outras pesquisas ...........................................................................................................19
Conclusão ............................................................................................................................20
Referências Bibliográficas...................................................................................................21
INTRODUÇÃO

Após muitos estudos iniciados com a descoberta da hereditariedade por Mendel,


chegou-se à informação da existência dos genes e que eles constituíam a estrutura química
dos cromossomos, funcionando como portadores de informações. A chamada genética
molecular surgiu no início da década de 40, para mostrar que a maioria dos genes codifica
algum tipo de proteína. Oswald Avey, C. M. McLeod e M. McCarthy em 1944
demonstraram que o DNA de uma bactéria poderia ser alterado pela adição de um DNA
exógeno - transgênia (GRIFFITHS et al 2001).
Em 1953 uma descoberta importante e que serve como referencial até os dias de
hoje, foi a proposição de James Watson e Francis Crick, do formato estrutural da dupla
hélice de DNA. Além disso, eles provaram o papel biológico do DNA e sua capacidade de
replicação onde se pudesse carregar suas vastas informações de célula para célula e de
geração para geração. Essas informações são passadas através de códigos representados por
nucleotídeos onde são conhecidos quatro tipos. Notou-se então, que a dupla hélice era
interligada por esses nucleotídeos através de pontes de hidrogênio e que uma fita
complementa a outra. O fluxo unidirecional de informação do gene para a molécula de
mRNA e desta p/ a proteína define o que é hoje chamado de dogma central da biologia
molecular. Essa descoberta foi um marco para ciência o que rendeu aos pesquisadores em
1962 o Prêmio Nobel (ALBERTS et al 1997).
Um modelo foi traçado em 1961 por François Jacob e Jacques Monod, para
demonstrar que a transcrição dos genes pode ser regulada por meio de proteínas que se
ligam a regiões adjacentes ao sítio de síntese de RNA. Essa pesquisa foi realizada em genes
bacterianos para demonstrar que eles podem ser ativados ou desativados na produção de
transcritos de RNA. Nathans e Smith em 1970 descobriram as enzimas de restrição que
cortam o DNA em seqüências-alvo, favorecendo a produção de DNA recombinante
(GRIFFITHS et al 2001).
As descobertas a respeito dos genes, dentre elas que as informações contidas nos
genes podem ou não expressar proteínas tem levado os pesquisadores a investigar e
caracterizar as funções dos diversos genes. Contudo, o advento das técnicas modernas de
engenharia genética tem permitido isolar genes heterólogos de uma espécie e inseri-los em
outra espécie visando expressar de maneira controlada suas proteínas. Células procarióticas,
especialmente a bactéria Escherichia coli, são muito usadas como hospedeiras desses
genes, pois possui genoma conhecido e tem fácil manipulação por apresentar alta eficiência
de transformação.
Segundo pesquisas feitas por Souza (1995), para que haja eficiência na taxa de
expressão de genes específicos procura-se obter um promotor forte e um eficiente sítio de
ligação do mRNA com o ribossomo. Isso se refere a um completo e bem sucedido processo
de transcrição e tradução. Visando isso, na tentativa de minimizar os problemas derivados
do processo de expressão tem sido construídos vetores que possibilitam regular a síntese de
uma proteína específica a ser estudada. Muitas possibilidades favorecem e facilitam a
construção de vetores, a principal é a utilização de unidades regulatórias chamadas operons,
que são seqüências conhecidas compostas por genes estruturais e elementos que controlam
a expressão dos mesmos.
Muito tem sido feito por parte da ciência para encontrar possibilidades mais
vantajosas referentes à utilização de genes heterólogos, ou seja, a introdução de genes que
uma espécie em uma outra espécie. O objetivo desse trabalho é relacionar os mecanismos
de funcionamento da expressão gênica visando aplicações em biotecnologia utilizando
genes eucarióticos.
1. O Dogma Central da Biologia Molecular:
Foi descrito na década de 50 por Francis Crick, na tentativa de relacionar o DNA,
RNA e as proteínas. O DNA é uma longa fita dupla, composta por nucleotídeos que são
representados num código de quatro letras e são interligadas por pontes de hidrogênio.
Essas letras nada mais são que abreviações das bases nitrogenadas, purinas (Adeninas e
Citosinas) e pirimidinas (Timinas e Guaninas). As informações genéticas estão impressas
no DNA, em forma de genes e vão expressar as características na maioria dos seres vivos.
O DNA que nos eucariotos está presente no núcleo, nos procariotos está disperso no
citoplasma, é o grande guardião do material genético na maioria dos seres vivos
(AZEVEDO 1998).
Essa molécula mantém todo o seu patrimônio durante a replicação garantido a
passagem das informações genéticas para as células filhas, levando de herança as
características das células mãe. Essas informações são imprescindíveis para que a síntese
protéica ocorra. Lembrando que a síntese de proteínas é feita nos ribossomos no citoplasma
da célula, e a molécula de mRNA atua como intermediária nesse processo. Nos seres
procariontes todo o processo ocorre no citoplasma celular. Contudo o dogma central da
biologia resume-se na capacidade de replicação do DNA, e sua transcrição em uma fita de
RNA que originará na tradução de uma proteína. Todos os passos apresentados desde a
replicação do DNA até a síntese protéica representaram o dogma central da biologia
molecular (AZEVEDO 1998, GRIFFITHS et al 2001).

1.1. Transcrição:
O RNA é a molécula intermediária que será traduzida em uma proteína. O processo
de transcrição resulta na produção de uma molécula de RNA mensageiro (mRNA), a partir
da cópia de uma seqüência de nucleotídeos de uma das fitas do duplex de DNA, chamada
fita molde. A fita molde de DNA gera apenas uma fita de RNA sendo, que neste a tinina é
substituída pela uracila. Os RNAs podem ser classificados em funcionais, de informação e
estruturais, todos são produtos da transcrição.
Existem algumas diferenças na síntese e na estrutura dos mRNA de procariotos e de
eucariotos, mesmo ambos exercendo as mesmas funções. Os processos de transcrição e de
tradução procarióticos ocorrem simultaneamente na mesma região da célula. Os ribossomos
ligam-se ao mRNA antes da transcrição ser completada. Já nos eucariotos, a síntese e
maturação do mRNA ocorrem no núcleo, e as informações são transportadas ao citoplasma,
para ser transcrita em proteína (LEWIN 2001). O mRNA dos procariotos praticamente não
sofre modificações, devido ao fato de não apresentarem íntrons (regiões não codantes). No
entanto, ocorrem interrupções ao longo da leitura no DNA que origina o mRNA, pois
diferentes segmentos em tamanho são produzidos. Existem cerca de 4.000 tipos de mRNA
diferentes que vão dar origem a proteínas (AZEVEDO 1998).
A transcrição inicia-se quando a enzima RNA polimerase encontra o promotor, para
iniciar a síntese do mRNA. Promotores são seqüências específicas no DNA que fazem parte
da região reguladora presente numa região adjacente ao gene. Essa informação é
extremamente importante para se compreender os mecanismos de expressão gênica em
procariotos (GRIFFTHIS et al 2001). Além do promotor, muitos dos genes bacterianos
contêm seqüências regulatórias de DNA que são necessárias para ligar e desligar o gene. O
contato da enzima com o promotor resulta na abertura ou separação da dupla hélice
deixando as bases de uma das fitas para que para haja síntese do RNA. A leitura da fita de
DNA ocorre sempre no sentido 3’-5’. Estudos mostram que as bactérias possuem
seqüências comuns de bases de região promotora para uma série de genes, as seqüências de
consenso. As duas seqüências antes do primeiro nucleotídeo a ser lido, região conhecida
como TATA Box, cujas bases são TATAAT e está localizada à 10 pb do início da
transcrição, e a região 35 pb com seqüência TTGACA (CAMPBELL 2001).
Em procariotos, a RNA polimerase move-se ao longo da fita molde numa
velocidade de aproximadamente 40 pb/s a 37 ºC sobre um gene promovendo a sua leitura
até que encontre uma seqüência do terminador. A iniciação da leitura do DNA requer a
abertura de uma bolha no segmento a ser transcrito, a fita é formada pelo pareamento
complementar de bases sintetizadas em outro lugar na célula que vão se alinhando
respectivamente: Adenina com Uracila, Timina com Adenina, Citosina com Guanina e
Guanina com Citosina (STRYER 1996, ALBERTS et al 1997). Esse caminho que se
estende do promotor até o terminador formado de um produto direto transcrito, define uma
unidade transcricional primária, que em procariotos é rapidamente degradada ou clivada
para formar os outros RNAs. Uma unidade transcricional pode conter um ou mais genes
(LEWIN 2001).
Enfim, quando a enzima encontra a seqüência terminadora, ela para de adicionar os
ribonucletídeos complementares à cadeia de mRNA sintetizado, liberando o produto
completo e desprendendo-se do molde de DNA. Contudo, para que haja interrupção na
transcrição, o processo de terminação, tem que haver o reconhecimento de sinais no
transcrito pela RNA polimerase ou por fatores auxiliares (LEWIN 2001). As pontes de
hidrogênio que mantinham a fita molde de DNA ligada à fita transcrita de RNA são
quebradas e a fita mensageira é liberada.

1.2. A regulação Ocorre Majoritariamente na Transcrição


Vários segmentos de DNA, os genes estruturais, podem estar envolvidos na
produção de um mesmo polipeptídio. Estes são sintetizados e transcritos para a mesma fita
de mRNA, porém existem mecanismos que acionam ou silenciam os grupos de genes. Este
tipo de mRNA que codifica vários polipeptídios é encontrado apenas em procariotos e em
vírus de plantas e animais, são chamados de operons. Os mecanismos de controle gênico
atuam prioritariamente na região de iniciação, e na região de terminação transcricional
mediados por proteínas que irão bloquear ou ativar a expressão do gene.
Como já foi dito, a região de iniciação da transcrição contém, além de promotores,
sítios de seqüências que regulam no DNA a sua leitura. As seqüências necessárias que vão
ligar ou desligar a expressão do gene dependerão de uma série de fatores, incluindo o tipo
celular, idade, circunvizinhança e sinais extracelulares. Contudo, para manter seu sistema
metabólico ativo é necessário que mecanismos de controle respondam a reações de estresse
oriundo do meio ambiente. O mRNA bacteriano é geralmente instável traduzindo em
proteínas por apenas alguns minutos (ALBERTS et al 1999).
A maneira utilizada pelas células para exprimir seus genes e formar suas derivadas
proteínas tem uma relação direta com o tipo celular, e suas diferenciações funcionais e
estruturais, tornando-as irreversíveis. Os agentes responsáveis pela ativação de genes
específicos são as proteínas regulatórias, elas vão coordenar a estrutura da fita de mRNA.
As modificações percebidas nas taxas de expressão gênica em bactérias serão discutidas
mais adiante, quando será discutido o controle da síntese de mRNA.
1.3. Tradução
O mRNA que foi sintetizado no núcleo da célula e agora foi transportado para o
citoplasma será traduzido em proteína. Os eventos dessa síntese ocorrem em um sítio
multienzimático chamado ribossomos, onde efetivamente ocorre a tradução. Eles são
compostos por uma subunidade maior que possui três sítios (A, P e E) para a ligação do
tRNA, e outra subunidade menor com um sítio de ligação do mRNA. Possuem ainda rRNA
que mantém contato com muitas proteínas, conhecidas como proteínas r.
Segundo Lewin (2001) logo que a transcrição se inicia nas bactérias, os ribossomos
já vão se associando para iniciar a tradução. No sentido 5’ os ribossomos (polirribossomos)
vão se movendo ao longo da fita de mRNA, lendo sua seqüência de três em três
nucleotídeos (códons), que darão origem aos aminoácidos existentes na proteína sintetizada
(GRIFFITHS et al 2001).
Além do mRNA e ribossomos são necessárias muitas proteínas e a molécula central
da síntese, o tRNA. Ele funciona como intermediador que decifra as bases do mRNA, os
códons, traduzindo-as em vinte aminoácidos que constituirão as proteínas com seus
respectivos anticódons. Uma molécula de tRNA associada a um dos vinte aminoácidos é
chamada de tRNA-aminoacil. Ocorre uma reação que vai formar uma ligação peptídica
entre a carboxila da cadeia polipeptídica em crescimento e um grupo amino de um
aminoácido.
A síntese ocorre em três etapas: início, alongamento e término. Para que o
ribossomo inicie a tradução ele tem que encontrar uma seqüência sinal, o código de
iniciação AUG, e então se ligar ao DNA. Essas seqüências estão numa região não
codificantes, servindo somente para ligação do ribossomo. A iniciação da tradução dá-se
quando a subunidade menor do ribossomo encontra a seqüência sinal ou o códon de
iniciação do mRNA, no sítio A. O anticódon do tRNA liga-se ao códon de iniciação de
forma antiparalela da trajetória do ribossomo pela fita de mRNA, ou seja, o ribossomo
move-se no sentido 5’-3’ e o tRNA sintetiza de forma 3’-5’. Em seguida a subunidade
maior une-se a menor e a tradução é continuada, o aminoácido formado caminha para o
sítio P e o sítio A é liberado para chegada de outro tRNA-aminoacil. Essa fase é conhecida
como alongamento, onde os dois sítios estão preenchidos e os aminoácidos formarão
ligações peptídicas através da enzima peptil transferase. O tRNA deixa o ribossomo pelo
sítio E e poderá ser ativado novamente numa região pool de tRNA do citoplasma. Um
terceiro tRNA-aminoacil posiciona-se no sítio A e o processo é repetido (STRYER 1996,
MADIGAN et al 2000).
A fase de terminação ocorre quando o ribossomo encontra os três códons de
terminação UAG, UAA ou UGA. O tRNA não os reconhece, ou seja, não tem anticódon
para eles. Fatores de liberação ligam-se ao códon terminal no sítio A e a cadeia poliptídica
inteira é liberada.

2. Regulação Gênica
Os organismos têm a capacidade de selecionar seus genes, para expressar suas
características fenotípicas. Num genoma completo apenas uma pequena parte de suas
proteínas são expressas e os níveis quantitativos são diferentes. Até mesmo os procariotos
com suas reduzidas fontes de informação tem a capacidade de ativar e desativar a expressão
dos seus genes para produzir sua proteína necessária dependendo de suas fontes de
alimento (ALBERTS et al 1999).
Embora os maiores índices regulatórios sejam no nível transcricional, o controle
também poderá ser feito no DNA, no momento da ativação ou inativação do gene a ser
expresso e na tradução do RNA mensageiro. A expressão gênica pode ser controlada num
processo de três estágios: transcrição, alongamento e tradução. Como já dito, o controle da
transcrição dá-se mais freqüentemente na fase inicial podendo também ser controlada na
fase terminal quando se encontra um gene terminador. Em bactérias não ocorre regulação
na fase de processamento de mRNA. Em alguns casos, na tradução a expressão gênica
também pode ser controlada similarmente na transcrição (MADIGAN et al 2000, LEWIN
2001).
As bactérias possuem várias enzimas biossintéticas responsáveis por suas
transformações químicas metabólicas. Essas reações metabólicas podem ser controladas em
resposta ao meio em que vivem, por exemplo, o bloqueio da via metabólica levando a
obtenção do produto final diretamente do meio extracelular. A possibilidade de escolha
entre vários substratos que fornecerão nutrientes como carbono, fósforo, nitrogênio e
enxofre de forma que seja mais proveitosa pela célula de um ponto de vista de rendimento e
de custo energético. Outros mecanismos utilizados pelas bactérias estão relacionados a
reações químicas e físicas. A resistência dessas células a fatores como falta de oxigênio,
lesões genéticas, choque térmico ou osmótico e dessecação, estão relacionadas sistemas de
controle (COSTA 1986).

2.1 Mecanismos Regulatórios


Não basta somente afirmar que o mecanismo de síntese de proteínas pode esclarecer
como a informação contida no material genético pode determinar uma seqüência exata de
aminoácidos que caracteriza um organismo. O controle da expressão gênica, de fato, tem
fundamental importância na determinação fenotípica de um organismo. As bactérias apesar
de serem seres unicelulares, também sofrem influência regulatória que determinam quais
são os genes que serão expressos. Como já se sabe, isto está diretamente associado ao
ambiente que ela está e sua disponibilidade nutricional.
Logo após a região do promotor no DNA existe um sítio de ligação de proteínas
regulatórias chamado operador. Esses sítios sofrem a ação de proteínas reguladoras
indutoras ou repressoras que são peças-chave para que um gene possa ser transcrito. Para
alguns genes impedir a ligação de uma proteína repressora ao seu do operon é necessária a
ligação do repressor a uma molécula indutora, esse é um pré-requisito para que ele seja
transcrito. Esse processo é chamado regulação negativa que também é reconhecido quando
a proteína repressora liga-se ao operador impedindo a transcrição. Na regulação positiva a
ausência de uma proteína indutora ligada ao operador impede a transcrição ou quando
ligada a um operador permite a transcrição. Esse é o principal motivo pelo qual conclui-se
que o controle da expressão gênica é feito ao nível da transcrição (GRIFFITHIS et al 2001).
Genes estruturais que codificam proteínas reguladoras, quando sofrem mutações são
impedidos de sintetizar as proteínas reguladoras. A ausência dessas proteínas afetaria a
transcrição do seu mRNA correspondente apenas na região atuante ou em outras regiões
que expressariam seus mesmos alelos. Esses processos são denominados cis-atuantes, onde
a mutação afeta somente a região de DNA contígua a ela, ou trans-atuantes quando a
ausência dessa proteína impede a expressão de ambos os alelos. Essa descoberta foi feita
por Jacob e Monod em 1961 (LEWIN 2001).
Operon da Lactose
A principal fonte nutricional das bactérias é a glicose. As bactérias podem retirar
glicose de um meio contendo lactose somente na presença da enzima codificada pelo gene
lacZ, a β-galactosidase. Um meio de cultura contendo lactose, induz um grande aumento na
quantidade de β-galactosidase, estimulando a síntese de novas moléculas da enzima,
ativando o crescimento bacteriano. Outras duas enzimas aumentam em proporções diretas
da galactosidase e são necessárias para utilização da glicose pelas bactérias. A β-
galactosídeo permease, enzima codificada pelo gene lacY, que vai favorecer a entrada da
lactose pela membrana da bactéria. E a tiogalactosídeo transacelilase codificada pelo gene
lac A, que possui um papel ainda incerto e que não afeta o metabolismo da lactose.
Portanto o operon da Lactose é um mecanismo indutor da síntese das três enzimas citadas
(STRYER 1996).
Além dos três genes estruturais que codificam as enzimas necessárias para a
utilização da lactose esse Operon (segmento de DNA) contém um promotor, um operador e
um gene regulador chamado I. O gene I sintetiza uma proteína repressora que na ausência
de um indutor bloqueia a ligação da RNA polimerase impedindo a síntese das proteínas
Lac, a regulação negativa. Isso acontece quando a bactéria está num meio utilizando glicose
diretamente, logo seria desnecessário produzir enzimas para hidrolizar lactose em glicose e
galactose. Na presença de lactose, isto é de indutor, os genes podem ser expressos porque o
repressor é reconhecido pela lactose e são associados, isso incapacita o repressor de se fixar
ao operador, regulação positiva. Com isso a RNA polimerase pode fixar-se ao promotor
não havendo mais impedimento da expressão dos genes lacY, lacA e lacZ (AZEVEDO
1998, ÉTIENNE 2003).
Um terceiro sistema de controle adicional dentro do sistema da lactose é proposto
quando ocorre a presença de glicose e lactose. Entretanto não ocorre a produção da
β-galactocidase até que toda a glicose seja consumida. O mecanismo de degradação da
glicose que impede a construção do sistema do Operon lac é chamado repressão catabólica.
Isso está relacionado com um constituinte celular, o monofosfato de adenosina cíclico
(AMPc). Quando os índices de concentração de glicose são altos, um dos seus produtos
impede a síntese de adenilato ciclase, o nível de AMPc é baixo porque não é possível
converter ATP em AMPc. A alta concentração do AMPc ativa o Operon lac, e quando
ligada ao ativador CAP formando um complexo para permitir a ativação do operon. CAP é
uma proteína ativadora da degradação, expressa em altos níveis de AMPc que quando
ligada ao promotor sintetiza mRNA (DARNELL et al 1995).
O operon da arginina envolve oito enzimas, desde o ácido glutâmico até a
arginina que representa o co-repressor do sistema. Esse sistema é chamado de regulon, pois
existe um regulador e vários operadores (AZEVEDO 1998).

Operon Triptofano
O triptofano (Trp) é um aminoácido essencial para o homem e deve ser adquirido na
alimentação. O Trp é sintetizado por uma série de reações, e cada etapa requer uma enzima
específica. Quando não houver mais Trp, a síntese dessas enzimas será ativada e
conseqüentemente, a quantidade suficiente de Trp reprime a produção dessas enzimas. O
conjunto de genes que codificam as enzimas necessárias para a síntese do Trp constitui o
operon do Trp (AZEVEDO 1998).
O operon do Trp também é controlado por uma enzima repressora e por um
ponto de terminação interno, o atenuador, e estão localizados entre o promotor e pelo
primeiro gene estrutural do operon. O gene regulador sintetiza a enzima repressora (apo-
repressora), que não vai ligar-se ao operador, isso permite a ligação da RNA polimerase
iniciando a transcrição do aminoácido. Quando o aminoácido está disponível no meio de
cultura sua síntese é reprimida. Nesse caso atua como um co-repressor combinando com o
repressor inativo ligando-se ao operador impedindo a transcrição. O metabólito final
impediu sua própria síntese, até que todo o Trp seja consumido pala célula (ÉTIENNE
2003). Para Stryer (1996), os operons da fenilalanina e da treonina também possuem
atenuadores.

Operon Arabinose
Os genes codificadores das enzimas desse operon são araA, araB e araD. Possui
ainda uma região iniciadora formada por um sítio com dois operadores araO1 e araO2, um
ponto de ligação para CAP e outro regulador araI, um promotor, e uma outra região de
controle araC para síntese de uma proteína C reguladora.
Nesse operon são necessários dois sinais para uma transcrição eficiente, o complexo
AMPc-CAP e a arabinose ligada a proteína C. A proteína C funciona como um regulador
negativo que na ausência da arabinose (monossacarídeo), muda de conformação reprimindo
o operon ara. Outra característica desse operon é que o seu mRNA só é formando quando
os níveis de cAMP-CAP é baixo. Quando a proteína C é abundante e o AMPc-CAP não, a
transcrição do gene que sintetiza a proteína C cessa pois a proteína liga-se ao centro
controlador do operon. A ligação de uma segunda molécula C ao centro controlador
bloqueia a síntese dos genes estruturais que sintetizam as proteínas cinase, isomerase e
epimerase. Isso faz com que se forme uma alça de DNA bloqueadora da RNA polimerase
que vai se ligar a uma região adjacente do promotor (STRYER 1996, GRIFFITHS et al
2001).
A presença de dois fatores reguladores positivos, AMPc-CAP abundante e a
arabinose está ligada a proteína C, torna a RNA polimerase capaz de se ligar ao promotor
para os genes e transcrevê-los. Logo, o mRNA para a proteína c não é formado.
Assim, no operon da arabinose ocorre um controle duplo onde a proteína regula sua
própria síntese reprimindo a transcrição Numa outra situação a ligação de uma molécula
alostérica a uma proteína pode mudar sua conformação de inibidora para ativadora da
transcrição. As alterações induzidas por moléculas alostéricas são reversíveis, também
diferem em suas habilidades em se ligar a um sítio-alvo, o operador. O sistema da arabinose
é extremamente sensível às variações nos níveis metabólicos (STRYER 1996).

Operon Histidina
A presença ou ausência de histidina no meio não impede a atividade do operon, mas
interfere o processo. Se houver histidina no meio, a transcrição do mRNA é parada na etapa
que contém os códons para a síntese de poli-histidina, alguns nucleotídeos nessa região
formam alças. Quando houver uma série de tRNA carregados com histidina o ribossomo
que traduz o peptídeo líder fica perto da RNA polimerase impedindo a formação de uma
das alças e permitindo a formação de outras duas. Uma dessas duas alças é um atenuador e
quando ela não é formada a síntese ocorre formando as enzimas necessárias para síntese de
histidina. Esse sistema não precisa de um gene regulador e o tRNA funciona como co-
repressor (AZEVEDO 1998). O operon da isoleucina-valina é muito semelhante ao da
histidina.

2.1.2. Regulação na Tradução


Para evitar o desperdício de energia, as bactérias sintetizam somente seus ribos-
somos de forma que supra suas necessidades. Considerando que um ribossomo possui 52
r-proteínas e tem rRNAs 16S, 23S e 5S, observa-se que sua fabricação consome muita
energia. As proteínas ribossomais em excesso bloqueiam seus próprios rRNAs e de
algumas proteínas situadas no mesmo operon. Além disso, as r-proteínas podem se fixar
também sobre o mRNA bloqueando sua tradução em ribossomo. A afinidade da r-proteína
ao rRNA é maior devido a semelhança da seqüência nucleotídica existente em relação ao
mRNA. Em bactérias não ocorre controle na fase de alongamento (ÉTIENNE 2003).

2.2. Transdução de Sinais


Sabe-se que as bactérias regulam seu metabolismo principalmente em resposta a
uma extensa variedade de flutuações ambientais tais como: mudanças de temperatura,
mudanças de pH, disponibilidade de oxigênio, disponibilidade de nutrientes e até mudanças
do número de células presentes no meio. Contudo, as bactérias necessitam de um
mecanismo para receber os sinais oriundos do ambiente para transmitir e regular seu
objetivo específico. Toda a maquinaria acionada refere-se a transdução de sinais.
Os mecanismos utilizados para resposta regulatória do controle transcricional
dependem do sistema descrito. A exemplo do processo que envolve uma proteína quinase
que funciona como um receptor do sinal extracelular, nesse caso a histidina, e o transmite
para o interior da célula. As quinases fosforilam as cadeias formadas desde o sinal na
membrana até o interior da célula. O grupo fosforilado é transferido para uma proteína
reguladora na presença de ATP ligando-se ao DNA reprimindo a transcrição. Outros
exemplos envolvem enzimas que retiram a fosfatase da proteína repressora não é ativada e
a transcrição é iniciada normalmente. Diversos sistemas a exemplo do descrito acima
envolvem dois componentes uma proteína de membrana e uma proteína repressora da
transcrição. Entretanto, eventualmente alguns sistemas podem envolver mais componentes
com várias etapas (MADIGAN et al 2000).
Daí a relação entre as mudanças que acontecem no meio extracelular influenciam o
metabolismo bacteriano. Todas as informações são transmitidas para o interior da célula
alterando o processo da expressão genética do microrganismo. Medidas induzidas
artificialmente com objetivo de regular a expressão tem sido bastante utilizadas para
obtenção de proteínas heterólogas.

3. Biotecnologia
O termo biotecnologia diz respeito à tecnologia do DNA recombinante, ou seja, a
capacidade de isolar, manipular e reintroduzir genes nos seres vivos. A técnica consiste na
interferência controlada e intencional onde o cientista pode inserir ou retirar genes de
interesse em qualquer organismo. Os avanços da ciência permitiram a modernização da
biotecnologia de forma que a obtenção dos resultados tornou-se mais rápida precisa e
eficiente.
A nova tecnologia abriu espaço para realização de infinitas possibilidades de
compartilhamento de genes entre organismos. Mesmo considerando o código genético uma
ferramenta universal, para se obter sucesso nas pesquisas é necessário que haja
compatibilidade entre células hospedeiras e a mensagem exógena. Diversas técnicas foram
desenvolvidas com intuito de facilitar a obtenção de proteínas de interesse de forma
orientada. A mais importante e mais utilizada é a técnica de PCR (“reação em cadeia da
polimerase”).
O PCR é utilizado para adquirir grande quantidade de seqüências específicas da
molécula de DNA do organismo desejado. Essa amplificação é possível sem a necessidade
de separa-lo do restante do DNA da amostra desejada. A reação necessita de um par de
primes com cerca de 20-30 nucleotídeos, que são seqüências flanqueadoras, ou seja que
indicam a localização da região do DNA desejada. Necessita também das bases
desoxirrobonucléicas que vão parear complementarmente ao DNA desejado e de uma DNA
polimerase termoestável. O procedimento consiste em três etapas de aquecimento e
resfriamento da molécula que permitirá a separação seguida da hibridação dos primers ao
filamento da molécula e da síntese do DNA onde o alongamento por uma DNA polimerase
termoestável derivada de uma bactéria termófila. Todos os novos filamentos de DNA são
servem como moldes nos ciclos sucessivos. A amplificação é de cerca de um milhão de
vezes após 20 ciclos e um bilhão de vezes após 30 ciclos que podem ser feitos em menos de
uma hora (STRYER 1996, CAMPBELL 2001).
Muitos trabalhos já foram realizados utilizando as técnicas de engenharia genética
nas áreas de medicina, agricultura, farmaco-química e em vários países como, Argentina,
Estados Unidos, França, Brasil entre outros. Contudo, existe um grande interesse por parte
destes na produção em larga escala de proteínas de mamíferos em células bacterianas.
Sabe-se porém, que as bactérias não conseguem expressar genes interrompidos, ou seja,
genes constituídos de íntrons e éxons, pois elas não possuem a maquinaria necessária para
remover esses íntrons. Por isso, para que ela expresse a proteína desejada é necessário
introduzir um DNA recombinante complementar ao mRNA (STRYER 1996). Segundo
Souza (1995), há alguns fatores como maior grau de estabilidade do mRNA derivados das
etapas de transcrição e tradução e seleção do vetor adequado também são indispensáveis na
produção de proteínas de interesse, pois essas características são determinantes para
expressão de genes de importância biotecnológica.

3.1. Transgenia
Refere-se aos organismos geneticamente modificados, onde há utilização de um
gene exógeno e uma célula receptora. Um gene selecionando é adquirido através das
técnicas de engenharia genética onde será clonado e multiplicado. Esses fragmentos
constituem uma biblioteca de DNA. A disponibilidade de uma grande coleção de clones
desafia o pesquisador a achar o gene desejado. Uma das mais importantes contribuições da
engenharia de DNA é a possibilidade de adquirir grandes quantidades de qualquer proteína
de uma célula (ALBERTS et al 1997).
A produção de bactérias transgênicas, isto é contendo gene exógeno de interesse, é
possível utilizando as técnicas da engenharia genética. A industria tem utilizado células
bacterianas para fabricar proteínas úteis para o homem. Para Souza (1995), este processo
apresenta as vantagens de independência da matéria prima que na maioria das vezes é de
difícil disponibilidade, obtenção do produto de interesse em grande quantidade, relativa
facilidade de purificação além de reduzir os custos de produção. Nesse sentido muitos
trabalhos já foram realizados como a produção de insulina, do hormônio de crescimento, o
interferon, antígenos, etc.
Um gene de interesse pode ser adquirido através da elaboração de uma biblioteca de
cDNA. Um cDNA é produzido através do mRNA isolado do total de mRNAs da célula e
que dará origem à proteína de interesse. Esse processo é possível graças a ação da enzima
transcriptase reversa que produz um duplex de DNA através de um mRNA. Esses cDNA
são transportados para as células hospedeiras, as bactérias, pelos vetores onde serão
expressos de forma controlada (ÉTIENNE 2003).

3.2. Vetores
Os plasmídios são moléculas constantemente utilizadas como vetores de expressão,
que são programados para produzir grandes quantidades de mRNAs estáveis. Plasmídios
são moléculas de DNA circular que se replicam independentes e à parte do cromossomo
bacteriano. Eles são muito eficientes, desde que haja um promotor e um sítio de ligação
compatível a RNA polimerase, para efetuar a tradução de uma proteína desejada. A
eficiência de vetores compatíveis e estáveis é um ponto fundamental que requer atenção,
pois do contrário acarretaria na perda de material clonado e falta de êxito na obtenção de
resultados. Em alguns casos o alto nível de expressão pode vir a ser tóxico para a célula
hospedeira, causando a recombinação do plasmídio ou sua perda total, além de retardar o
crescimento celular (SOUZA 1995).
As bactérias absorvem DNA do meio e o incorporam naturalmente, transformação
de Griffith, ou artificialmente no seu citoplasma (AZEVEDO 1998). As técnicas de
transformação artificial são utilizadas para produção de DNA recombinante, mas são menos
eficientes e precisa de tratamentos especiais como aumento de permeabilidade de
membrana e ação de íons Ca2+ (COSTA 1986). Como já foi visto, as bactérias sofrem
constantes influências do meio em que vivem, por isso a utilização de eficientes e
compatíveis vetores é extremamente importante para expressão de genes. Diante disso, os
pesquisadores têm construído vetores que possibilitem a expressão de genes de interesse de
forma regulável. Podem ser citados os vetores montados com promotores lac, trp, citados
anteriormente, o operon tac e o promotor do bacteriófago lambda (λ). Os promotores lac e
trp já forma descritos. O promotor tac é um híbrido de seqüências de promotores lac e trp
(SOUZA 1995).
Um outro tipo de vetor utilizado para introduzir genes exógenos em bactérias é
bacteriófago λ. É necessário que haja compatibilidade no tamanho da molécula introduzida
com a molécula receptora. Essa é a forma mais conveniente de introduzir um gene estranho
em bactéria, pois os plasmídios apenas ocasionalmente conseguem adrentar na célula
procariótica intacta. O DNA recombinado do fago é incorporado ao cromossomo bacteriano
onde serão replicados e expressos em proteínas (LEHNINGER 1984).

4. Aplicação e Importância da Utilização de Genes Eucariotos Expressos em Bactérias


De acordo com LIMA 2001 existem várias maneiras de obtenção de um gene
eucariótico para serem expressos em procariotos. A síntese química desses genes eucariotos
oferece as seguintes vantagens:
- Fornece a seqüência exata desejada;
- As seqüências codificadoras e não codificadoras podem ser desenhadas para
expressão procariótica;
- Sítios de restrição podem ser removidos ou adicionados;
- Os íntons podem ser retirados;
- Não há necessidade da etapa de isolamento do mRNA ou do DNA genômico;
- Permite a alteração de gene de forma mais simples.
A elaboração de um vetor para construção de sistema expressão genética em procariotos
requer seis princípios básicos:
- Uma região necessária para replicação estável e controle do número de cópias;
- Um marcador seletivo com um gene conferindo resistência a um antibiótico para a
hospedeira;
- Um promotor para iniciação da transcrição e seu controle;
- Uma região terminadora da transcrição;
- Um sítio de ligação de ribossomos para iniciação da tradução em uma trinca ATG
apropriada;
- Uma região de sítios apropriados para enzimas de restrição para utilização nas
clonagens dos genes a serem expressos.
Dessa forma, a possibilidade de obtenção de altos níveis de expressão gênica decorrente
da otimização de todo o processo, vem abrindo novas perspectivas para produção de
proteínas de interesse utilizando as bactérias. Alguns exemplos serão revisados para
simples conferência.

4.1. Insulina Humana


A insulina é um hormônio protéico produzido pelas células β as ilhotas pancreáticas.
A insulina é produzida sob a forma de um único polipeptídio grande denominada pré-pró-
insulina, que após passar por processo de clivagem no retículo endoplasmático perde a
cadeia de aminoácidos que formam o peptídeo sinal originando a pró-insulina. Essa
molécula é precursora da insulina, que é transportada para o complexo de Golgi e é clivada
novamente dando origem a insulina na forma ativa. A insulina possui duas cadeias
polipeptídicas, a cadeia A composta por 21 aminoácidos a e cadeia B com trinta
aminoácidos interligados por pontes dissulfídricas (LIMA et al 2001).
No caso da insulina a alternativa para otimizar a expressão do gene em E. coli, foi
construir um gene sintético da proteína pró-insulina, esse gene possui 18,6% de bases
substituídas que não alteram sua conformação. Para facilitar a clonagem foi inserida a
enzima de restrição Eco RI segui do códon para metionina (ATG) no início e Bam HI no
final. Na montagem da cadeia B e C foram sintetizados quatro oligonucleotídios distintos e
na cadeia A dois que foram anelados em pares para a formação da dupla fita de DNA. Esse
gene foi seqüenciado para confirmar a sua autenticidade e clonado num vetor de hiper-
expressão (LIMA et al 2001).
A construção do vetor de expressão do gene da pró-insulina requereu: uma
região para controle do número de cópias modelo pUC8, um marcador com um gene
seletivo resistente ao antibiótico tetraciclina para a célula hospedeira, um promotor do fago
λ para iniciação da transcrição e seu controle, uma região terminadora da transcrição Rho-
independente, um sítio de ligação no fago T7 de ribossomos para iniciar a tradução e uma
região múltipla de sítios apropriados para as enzimas de restrição. O promotor é regulado
por um repressor codificado pelo gene cI que após sofrer mutação tornou-se sensível à
temperatura funcional a 28 ºC e não funcional a 42 ºC. Com esse mecanismo de controle foi
possível produzir o hormônio da insulina humana de forma simples e barata numa escala
industrial (LIMA et al 2001).

4.2. Antígenos
Há algum tempo tem sido testadas bactérias patogênicas pelas técnicas de
engenharia genética como veículo para administração de vacinas. Contudo, considerando os
riscos apresentados a crianças e indivíduos imunodeficientes começaram a pesquisar a
possibilidade de utilização de bactérias não patogênicas na produção de vacina. Algumas
características favorecem esse sistema, pois ocorre facilidade de administração (oral),
possibilidade de serem administradas em forma de coquetéis, além de também
apresentarem baixo custo. Vários antígenos bacterianos e virais já foram produzidos em
bactérias lácticas, amplamente utilizadas na indústria agro alimentícia, entre eles a
expressão do gene produtor do fragmento C da toxina tetânica e da peritactina um
fragmento da coqueluche. Ambos os genes forma sintetizados a partir do promotor tac, uma
modificação do promotor lac, pois apresentaram maior afinidade com maior taxa de
expressão nessas condições (RIBEIRO et al 2001).
A produção do antígeno da bactéria causadora da Brucelose, Brucella abortus,
patogênica para humanos e bovinos foi possível com a utilização do promotor indutível
PnisA, pois apresentou altos níveis para a produção da proteína L7/L12. Essa proteína foi
expressa em três áreas celulares na parede celular, no citoplasma e meio extracelular, todas
construídas através das técnicas de engenharia genética. Apesar da competência de
expressar a proteína nas três localidades, buscou-se investigar a via de exposição mais
adequada para vacinação oral. Os resultados demonstraram que os vetores construídos
possuem a capacidade de controlar a expressão nas três áreas testadas otimizando a
produção da proteína (RIBEIRO et al 2001).
4.3. Outras pesquisas
Enfim, com o advento da construção de vetores muito já foi feito para minimizar os
problemas e aumentar o nível de expressão de genes heterólogos e de forma regulável. O
gene da somatostatina foi expresso através de um vetor contendo o promotor lac. A
prolactina humana, hormônio do crescimento e a interleucina 6 foram adquiridas pelo vetor
contendo o promotor trp. Outros genes também foram expressos tais como o que sintetiza o
interferon e o da urogastrona (SOUZA 1995).
CONCLUSÃO

A utilização de microrganismos modificados, ou seja, microrganismos montados com


gene exógeno com objetivo de produzir espécies de valor biotecnológicos capazes de
sintetizar sua respectivas proteínas estão à frente dos processos convencionais. Devido à
relativa dificuldade de obtenção da matéria prima que quando disponíveis são
acompanhados de elevado custo, o emprego de novas técnicas como a do DNA
recombinante pode ser considerado uma porta principalmente no que diz respeito à área
econômica. Nesse ponto de vista não pode ser permitido que o abuso financeiro que é
geralmente acompanhado de novas tecnologias cheguem ao consumidor inviabilizando a
utilização dos produtos derivados da engenharia genética.
Além disso, as facilidades dispensadas na manipulação dos procariotos como o controle
das condições de crescimento, temperatura, pH e nutrientes, reduzido espaço físico para
produção, facilidade de manipulação, produção em grande quantidade da proteína de
interesse associada a menor risco de contaminação por agentes exógenos aumentam a
viabilidade de utilizar as bactérias como fábricas de proteínas eucarióticas.
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