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SAI ÀS SEGUNDAS DOSSIERSEFACTOS.COM FACEBOOK: DOSSIERS & FACTOS

50Mt

DIRECTOR: Serôdio Towo | Segunda-Feira, 06 de Maio de 2024| Edição nº: 559 | Ano: 11 | Distribuição: Online

NYUSI ENVERGONHOU FRELIMO

Péssimo
presidente e
teimoso
⁠Secretário geral arrogante
⁠Guebuza pede para que
não matem a Frelimo
Pág 03 e 04
CAIFADINE, METY E MAUAIE
Os heróis do
CC extraordinário
da Frelimo Pág 11

COM DANIEL CHAPO

Frelimo cumpre a
“vez do Centro”
Pág 05 e 06
2 EDITORIAL DOSSIERS & FACTOS 06 de Maio de 2024 SEGUNDA-FEIRA

INCM contra a maré do


desenvolvimento
O recente anúncio do Instituto suficiente. Já na semana passada, o dificultando o acesso à internet
Nacional das Comunicações de respectivo Presidente do Conselho e restringindo as oportunidades
M o ç a m b i q u e ( I N C M ) s o b re a de Administração veio a público proporcionadas pela inclusão
suposta redução das tarifas de anunciar redução dos preços digital. Em um momento em que
telecomunicações no País revelou- supostamente para aumentar o a conectividade é essencial para a
se não apenas controverso, nível de acesso aos serviços de educação, a comunicação e o acesso
mas também desafiador para a telecomunicações. Uma enorme a serviços financeiros, aumentar os
credibilidade do órgão regulador. mentira. custos de internet é um retrocesso
Enquanto o INCM tenta justificar suas É que uma simples análise significativo.
acções, vozes críticas destacam uma dos números revela um cenário A controvérsia em torno das tarifas
realidade sombria: as tarifas, longe alar mante: os custos para os de telecomunicações também
de diminuir, estão efectivamente consumidores estão a disparar levanta preocupações sobre a
a aumentar e de forma galopante, seriamente, especialmente no que integridade do processo eleitoral
comprometendo ainda mais o acesso diz respeito aos pacotes de dados que terá lugar em Outubro próximo.
à comunicação para a generalidade móveis, com as três operadoras Organizações da sociedade civil,
dos moçambicanos. – Movitel, Vodacom e Tmcel – a como o Centro para a Democracia
A resolução emitida pelo INCM fazerem cortes drásticos. Internet e Direitos Humanos, sugerem que
há semanas, estabelecendo passa a ser um luxo, um privilégio essas medidas podem ser uma
tarifas mínimas obrigatórias para de poucos, literalmente. tentativa de restringir a disseminação
serviços de chamada, mensagens A falta de transparência por parte de informações críticas e minar a
e dados foi recebida com natural do INCM é preocupante e levanta transparência nas eleições.
descontentamento generalizado. questões sobre suas verdadeiras Diante desse cenário, é
A sociedade interpretou motivações. A decisão de impor fundamental que o INCM reavalie
correctamente essas medidas como tarifas mais altas sugere uma s u a s p o l í t i c a s e p r i o r i d a d e s,
um agravamento das tarifas, em priorização dos interesses comerciais colocando os interesses dos cidadãos
um momento em que as famílias em detrimento dos direitos e do moçambicanos em primeiro lugar.
já enfrentam desafios financeiros bem-estar dos consumidores. Em O órgão regulador deve trabalhar
significativos devido ao aumento vez de proteger os cidadãos, o INCM em prol de uma comunicação
do custo de vida e à instabilidade parece estar a servir aos interesses acessível e justa, promovendo
económica. das empresas de telecomunicações, o desenvolvimento social e
Embora o porta-voz do INCM que, por sinal, nunca expressaram económico do País. Somente assim
tenha tentado dissipar as qualquer tipo de preocupação poderemos navegar em direcção
preocupações, alegando que as ou incómodo com os preços que a um futuro verdadeiramente
tar ifas não aumentaram, mas praticavam. inclusivo e próspero para todos
apenas foram ajustadas, foi, na Além disso, essa medida não os moçambicanos. Se não é para
altura, prontamente rebatido pelos vai de encontro aos objectivos trabalhar em prol do povo, então a
especialistas do sector. Não foi d e d e s e nvo l v i m e nto d o Pa í s, instituição é inútil.

FICHA TÉCNICA
PROPRIEDADE DA
REDACÇÃO, MAQUETIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO:
S.T. PROJECTOS E Tchumene 1 | Rua Carlos tembe, Parcela Nº 696, Matola | Telf: 869744238 | Celular: 84 6584761|
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DIRECÇÃO: 4947285|COORDENADOR EDITORIAL: Amad Canda, [email protected], 84 6526459 | REDACÇÃO:
Serôdio Towo, Amad Canda, Hélio de Carlos, Milton Zunguze, Anastácio Chirrute | ADMINISTRAÇÃO: José
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José Ossmane e Rofino Fiel e MARKETING : Herbigno Lote , [email protected], 84 6584761| COLUNISTAS: Rui Maquene, Nobre
Rassul, Ângelo Edson e Sérgio dos Céus Nelson.
Registo N° 19/GABINFO-DEC/2012
SEGUNDA-FEIRA 06 de Maio de 2024 DOSSIERS & FACTOS DESTAQUE 3

PROBLEMAS VELADOS NA LIDERANÇA DA FRELIMO

Presidente péssimo e teimoso e um


SG arrogante
- A conclusão é dos membros do CC, que lamentam o desaire da sua direcção

E
ra impensável ou mesmo inimaginá- Foto:
vel, há alguns anos, o que acontece
com o partido FRELIMO no actual pe-
ríodo, sobretudo nesta fase da suces-
são, que, em bom rigor, devia ter começado
ainda no último trimestre de 2023. Lembre-
-se, Graça Machel, já em Novembro de 2023,
reflectiu em voz alta sobre a necessidade
da realização de uma reunião nacional de
quadros da FRELIMO para debater a vida
do partido, acto recusado por Nyusi e sua
cúpula directiva. Esta sugestão surgiu num
momento em que já estava claro que o par-
tidão deambulava à deriva sob o comando
de Filipe Jacinto Nyusi. Diga-se, foi com este
presidente que se conheceu a fase mais ne-
bulosa da história do glorioso e sexagenário
movimento político moçambicano. Por ou- Nyusi sai fragilizado do processo
tro lado, foi também notória, ao longo deste
processo de sucessão, a falta de verticalida- cindível mencionar alguns, começando pela chamada Como já era clara e evidente a enfermidade aguda da
de e postura orgânica e organizacional por cooptação do partido por indivíduos infiltrados que não FRELIMO, asseverada e exposta pelos resultados das elei-
parte dos órgãos do partido, nomeadamen- só sequestraram a organização e a sua liderança, como ções autárquicas, também passou a ser inevitável falar sobre
te a Comissão Política e Comité Central, que também usaram-na para diversos fins avessos aos ideais os problemas do partido e seus dirigentes, até publicamente.
desta organização política. É disso exemplo a marginali- Como base disso, basta recuar um pouco no tempo para
pode consubstanciar na cobardia dos mem-
zação dos órgãos do partido na tomada de decisões sobre buscar a manifestação pública feita por Graça Machel sobre
bros dos órgãos do partido. O expectável era questões do Governo liderado pela FRELIMO. os problemas internos, diferenciando-se de muitos dos cama-
que a Comissão Política pudesse interpelar Tem de se destacar também a disfuncionalidade da radas que preferem abordar o assunto na clandestinidade e
as intenções maléficas de Nyusi em primeira máquina partidária, muito por conta da gestão persona- aos murmúrios. Mas também, foi visível alguma incongruên-
instância, o que não se verificou. O Comité lizada por parte do presidente, com apoio, claro, dos seus cia de Graça Machel, pois ela fez o chamamento à uma refle-
Central, por sua vez, não usou devidamente acólitos. Há uma xão interna a partir de fora dos órgãos, depois que ela decidiu
notória desestruturação, falta de agenda e conectivida- apartar-se das hostes do Comité Central, de que fez parte
as competências estatutárias, permitindo a
de entre o partido e o Governo suportado por este. por longos anos. Graça Machel terá, desta forma, perdido a
supremacia e domínio do presidente sobre a Por conseguinte, durante vários momentos, até pare- oportunidade de usar a sua influência como membro para
situação, em prejuízo da colectividade. ceu que a direcção do partido FRELIMO e do Governo mobilizar os seus camaradas no sentido de forçar os órgãos
eram estruturas paralelas, sem qualquer ligação, o que do partido, nomeadamente a Comissão Política e o Comité
D&F Texto: Serôdio Towo permitiu a existência de um desfasamento sistémico entre Central, a pensarem em conjunto na crise que visivelmen-
ambos. te deflagrava, já naquela altura, o partido. É preciso cogitar,
De entre vários problemas de liderança vividos nos no entanto, a possibilidade de a sua consciência não lhe ter
últimos quatro anos dentro do partido Frelimo, é impres- Frelimo perdeu respeito popular permitido permanecer e acompanhar microscópicamente a
evolução de uma enfermidade grave do seu partido a partir
Foto: DW de dentro.
Em outra análise, a coragem de Graça Machel era gigante
face ao silêncio ensurdecedor de outros camaradas seus, tidos
como colossos nas hostes do partido, casos de Armando Gue-
buza, Joaquim Chissano, Óscar Monteiro, Mariano Matsinhe,
entre outros. Talvez o silêncio dos “bons” estivesse fundado
na disciplina partidária, que, em alguns casos, serve muito, e
bem, para calar as outras vozes.
De resto, é imperioso entender que a disciplina, seja ela
partidária ou organizacional, só vale quando preserva os in-
teresses da colectividade. De contrário, é contra-senso e anti-
nomia protelar a disciplina interna em claro prejuízo da orga-
nização. Aliás, as maiores revoluções ocorreram à margem da
disciplina institucional ou organizacional.

Nyusi e Roque Silva empenaram o processo interno para


a sucessão

Ora, o problema da sucessão na FRELIMO acabou ga-


nhando contornos de tabu. E, mais uma vez, os bons e po-
derosos do partido remeteram-se ao silêncio, defraudando,
Óscar Monteiro teve de espevitar debate sobre sucessão na reunião da ACLLIN
• Continua na pág 04
4 DESTAQUE DOSSIERS & FACTOS 06 de Maio de 2024 SEGUNDA-FEIRA

• Continuação da pág 03 Foto: VOA

deste modo, as expectativas de membros e simpatizantes do


partido que ainda acreditavam neles como reserva moral da
FRELIMO.
Vale também destacar que a influência pessoal, e prova-
velmente negativa, do presidente da FRELIMO, foi ganhando
proporções incontroláveis que mais tarde resvalariam no que
o país assistiu desde o primeiro dia da sessão extraordinária
do Comité Central para debater a sucessão.
Já era evidente, até aos olhos dos mais incautos, o empe-
namento do processo de sucessão, a julgar pelo desvio proce-
dimental em relação à anterior sucessão. Se se recordarem, a
sucessão de Guebuza iniciou em finais de 2013, o que deter-
minou que, já em Março de 2014, Filipe Nyusi fosse candidato.
Contrariamente ao que chamaríamos de precedente a ter
em conta, o processo de sucessão foi afastado para o mais lon-
ge possível. Neste sentido, a sessão ordinária do Comité Cen-
tral habitualmente realizada em Março, acabou sendo agen-
dada para início de Abril. Nisto tudo, os bons e poderosos da Damião José
FRELIMO prolongaram o silêncio, embora já houvesse sinais
claros de desvio dos processos.
Para agravar, Filipe Nyusi, na sessão ordinária de Abril, já empurrado para mais tarde, no fundamento de que a Comis- Estranhamente, o processo actual já obedecia outra lógica
com estratégia de acção na manga, driblou o Comité Central são Política devia propor nomes à pré-candidatos a candidato diametralmente oposta àquela tradicional na FRELIMO. Es-
ao secundarizar a questão da sucessão, embora esta fosse o ao cargo de Presidente da República, nos auspícios dos Esta- tranhamente, mesmo com estes atropelos que até representa-
ponto mais relevante da agenda, tudo isso com a complacên- tutos do partido. Lembrar ainda que os Estatutos do Partido vam riscos ao partido, os bons continuaram em silêncio.
cia da Comissão Política. Aliás, é importante referenciar o pa- impõem que a Comissão Política proponha as candidaturas Mesmo depois de a Comissão Política receber o mandato
pel pouco útil do órgão, tendo em conta que a gestão corrente da FRELIMO à Presidente da República. para propor nomes, o processo ainda conheceu outras ano-
do partido está exactamente na alçada deste. Surpreendente- Mais uma vez, já se vislumbravam indícios de anorma- malias pouco habituais dentro da FRELIMO, como é o exem-
mente, a Comissão Política, que integra alguns membros a lidade do processo de sucessão, porém, para estranheza dos plo do secretismo a volta dos nomes, que só foram conhecidos
quem até há pouco se reconhecia alguma idoneidade, nomea- membros, a Comissão Política parecia estar a leste do expe- já na sessão do Comité Central, ao arrepio das mais elementa-
damente, Tomás Solomão, Filipe Paunde, Eneas Comiche, diente. Foi, assim, mais tarde marcada a sessão extraordinária res regras de transparência e práticas do partidão.
Alcinda de Abreu, Verónica Macamo, Nyeleti Mondlane e do Comité Central para debater a sucessão. Naturalmente, ao Obviamente, a sessão extraordinária do Comité Central
Margarida Talapa, dançou sungura do seu líder Filipe Nyu- ritmo dos acontecimentos, deixava claro que o processo já foi sui generis, a avaliar pelos incidentes que o caracterizaram
si, caindo-lhes a máscara, o que terá sido bom para uma boa estava viciado. Primeiro, porque os prazos eleitorais já come- desde a composição da lista curta, passando pela falta de con-
leitura por parte de todos aqueles que os julgavam pela capa. çavam a escassear, olhando também para os processos ante- senso até desaguar nos intervalos sucessivos que, em parte,
riores. Segundo, o timing do processo interno já acusava um contribuíram para a extensão da duração.
Mesmo a ACLLIN foi estupidamente ignorada aperto, na medida em que se questionava sobre o tempo que Ora, mais inusitado foi o processo de votação já incluin-
os pré-candidatos teriam para vender o seu peixe ao nível do do outros candidatos, também estranhos não para o partido,
Foi registada uma tentativa de demonstração de poder País, à semelhança da experiência do processo anterior, como mas, sim, para a expectativa dos membros e simpatizantes que
por parte dos combatentes na famigerada reunião da ACLLIN o próprio Nyusi é testemunha. Terceiro, a falta de clareza esperam da FRELIMO um candidato com algum peso face
que antecedeu a sessão ordinária do Comité Central. Entre- quanto aos procedimentos de candidatura desencadeou ou- ao descalabro do próprio Nyusi. Aqui recuamos para resumir
tanto, foi apenas ameaça do tigre de papel, pois Nyusi não se tra desinteligência, obrigando a que membros como Samora as peripécias das listas dos candidatos da Comissão Política,
sentiu abalado, continuando "serenamente" na sua investida Machel Júnior e Gabriel Júnior fossem apresentar candidatu- que inicialmente incluíam Roque Silva, Damião José e Daniel
de marteladas ao partido. ras fora do que o partido entendia como procedimento. Chapo. São membros que pouco eram esperados. Roque Silva
Ouvimos o antigo combatente Óscar Monteiro esper- Todavia, a atitude destes talvez fosse legítima face ao é ou já era um tóxico do partido devido à controversa gestão
neando-se com ironias e demonstração de algum compro- vazio (pelo menos ao nível público) de regulamento sobre o do partido e dos quadros, à mistura com arrogância, prepo-
misso com Nyusi, ao afirmar que "esperava que o que fosse processo de candidatura. Aliás, quando foi a vez do processo tência, incompetência, entre outros atributos que faziam dele
falar não fosse afectar a sua amizade". anterior, José Pacheco, Alberto Vaquina e o próprio presiden- menos desejado para a sucessão de Filipe Nyusi. Aliás, é unâ-
Já no golpe de mestre que Filipe Nyusi impingiu sobre os te Nyusi desdobraram-se pelas províncias na campanha ao nime a ideia de que Roque Silva não serve como candidato, até
órgãos do partido, no caso da Comissão Política e do Comi- eleitorado interno. para os que pouco nutrem simpatia pelo partido.
té Central, na sua já engendrada estratégia para impor o seu De Damião José pouco se pode dizer. Teve uma ascensão
candidato a sucessor, o processo de sucessão foi novamente CP ficou feia na fotografia inusitada, ao ser eleito membro do Secretariado do Comité
Central e porta-voz. Foi a função que descortinou a sua ina-
Foto: O País bilidade para falar em nome da organização. Transbordava
neste quadro inaptidão para a mais pequena missão de uma
organização, para não falar de dirigir um País. Aliás, em 2022,
no último congresso da FRELIMO, Damião José foi eleito
membro da Comissão Política numa situação pouco explicá-
vel, restando apenas questões de intriga entre os zambezianos
como explicação para tal.
Daniel Chapo, embora surja em circunstâncias contro-
versas, é um quadro a quem pouco se pode questionar. O per-
curso político dele parece merecer um tratamento especial,
mas não resta dúvida de que é quem tem melhor “cara” das
preferências de Nyusi.
Francisco Mucanheia é simplesmente o conselheiro do
Presidente da República, depois de ter sido deputado da As-
sembleia da República e presidente da Quarta Comissão. Tal-
vez o seu mérito resida nestas qualidades. Mas não é figura
para governar Moçambique, por enquanto.
Por último, Esperança Bias. Podia se dispensar comen-
tários, mas há que dizer que, à semelhança de Roque Silva e
Damião José, seria a última pessoa a quem os moçambicanos
arriscariam colocar no posto de Presidente da República. A
sua ruinosa gestão actual da Assembleia da República não dei-
Esperança Bias xa dúvidas sobre o destino desastroso que os moçambicanos
conheceriam.
SEGUNDA-FEIRA 06 de Maio de 2024 DOSSIERS & FACTOS DESTAQUE 5

ECOS DO COMITÉ CENTRAL DA FRELIMO

Daniel Chapo exaltado e Roque


Silva humilhado
- Com Chapo, Frelimo cumpre “vez do Centro”

O
candidato da Frelimo às eleições
presidenciais de Outubro próxi-
mo só foi conhecido na noite de
domingo, 05 de Maio, marcando
fim a um processo de “parto” que se arras-
tava desde sexta-feira, dia em que teve
início a Sessão Extraordinária do Comité
Central convocada exclusivamente para
o efeito. De forma surpreendente, Daniel
Chapo, o actual governador de Inhamba-
ne, agigantou-se e derrotou copiosamen-
te Roque Silva, apontado pela imprensa
como “aposta” do actual líder do partido.
Não há memória de um processo de suces-
são tão problemático na era democrática
da Frelimo, o que é atribuído a “teimosia”
e “arrogância” do Presidente do partido,
Filipe Nyusi.
D&F Texto: Dossiers & Factos

Ao cabo de três dias, lá conseguiu a Frelimo encontrar Daniel Chapo, candidato da Frelimo
o rosto do partido para as próximas eleições presidenciais,
que serão realizadas simultaneamente com as Legislativas Do seu curriculum constam passagens pelo distrito de testação generalizada na sociedade e no próprio partido
e das Assembleias provinciais. O nome do actual timoneiro Palma, onde exerceu as funções de administrador. Antes Frelimo. A insistência dos membros do Comité Central no
da província de Inhambane, cuja presença na “lista curta” – disso, fora conservador no distrito de Nacala-a-Porto, para sentido de mais nomes serem incluídos é, aliás, prova disso
ao lado de Roque Silva e Damião José – surpreendeu meio além de ter leccionado direito constitucional e ciências mesmo.
mundo, é o escolhido pelos “camaradas”. políticas. Seu percurso como governador de Inhambane Ainda assim, a eleição de Daniel Chapo é tida como um
Daniel Chapo, que triunfou de forma “retumbante” e iniciou-se em 2016. “mal menor” tendo em conta as opções postas à disposi-
“esmagadora” perante a concorrência de Roque Silva, Fran- ção (Francisco Mucanheia, Esperança Bias e Roque Silva),
cisco Mucanheia e Esperança Bias, é formado em direito “Um mal menor” mas, sobretudo, por se ter evitado que fosse o actual secre-
pela Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mon- tário-geral o sucessor de Filipe Nyusi.
dlane e tem mestrado em gestão de desenvolvimento pela A lista curta da Comissão Política, da qual consta o Nos corredores do partido, é-lhe apontada “integrida-
Universidade Católica de Moçambique. nome de Daniel Chapo, foi, desde o início, alvo de con- de”, mas há quem assinale a sua “juventude”. Com 47 anos
de idade, será, em caso de vitória nas próximas eleições
presidenciais, o mais jovem inquilino do Palácio da Ponta
Vermelha na era democrática. Lembre-se que esse estatu-
to é ainda detido por Filipe Nyusi, que se elegeu pela pri-
meira vez com 55 anos.
Ainda em relação a Daniel Chapo, há quem conside-
re relevante o facto de não ter filhos maiores de idade, o
que poderá concorrer para afastar-se de polémicas. É que,
quer Joaquim Chissano, quer Armando Guebuza, tiveram,
a determinada altura, os seus nomes manchados pelas
aparições negativas dos seus filhos (Nyimpine Chissano e
Ndambi Guebuza, respectivamente) na imprensa.
Aliás, num País onde é prática o uso dos filhos para
aproximar-se ao Chefe de Estado, a idade dos filhos do
recém-eleito candidato da Frelimo importa ainda mais,
pois, ao contrário do que vinha acontecendo, desta vez,
estes não serão “canal de acesso ao pai” para lobistas, o que
eventualmente poderá acontecer por outras vias.
A eleição de Chapo também tem a particularidade de
fechar o “xitique de poder” na Frelimo, visto que pela pri-
meira vez poderá haver um Presidente da zona Centro do
País. É que o actual governador nasceu a 06 de Janeiro de
1977, em Inhaminga, província de Sofala.

Nyusi: o malabarista

Poucas dúvidas há de que o evento que ontem culmi-


nou com a eleição de Daniel Chapo é o mais intrincado

Roque Silva sai sem honra nem glória • Continua na pág 06


6 DESTAQUE DOSSIERS & FACTOS 06 de Maio de 2024 SEGUNDA-FEIRA

• Continuação da pág 05 Foto: Dreamstime

processo de sucessão da história da Frelimo na era da demo-


cracia. Internamente, tal facto é atribuído ao Presidente do
partido, Filipe Nyusi.
De acordo com os camaradas, foi por teimosia de Nyu-
si que se arrastou as eleições internas praticamente até ao
último instante – estamos a cinco meses das eleições e o
processo de submissão de candidaturas decorrerá de 13
de Maio a 10 de Junho. Nyusi também é apontado como o
grande culpado pelas peripécias vividas no último fim-de-
-semana, muito por conta da sua relutância em abrir espaço
para o alargamento da “lista curta” através da inclusão de no-
mes propostos pelo Comité Central.
Até mesmo a inclusão de Esperança Bias e Francisco Mu-
canheia deveu-se muito à forma com que os mais de 250
membros “ousaram” afrontar a decisão das lideranças. De
resto, consta que haveria já um grupo disposto a alínea d)
do artigo 71 dos Estatutos da Frelimo, o qual estabelece que
é competência do Comité Central “deliberar sobre a suspen-
são do Presidente do Partido, por maioria de dois terços, nos
termos a definir em regulamento”.

Camaradas rejeitam Roque Silva Sessão do CC foi das mais quentes de todos os tempos

Roque Silva Samuel acaba por ser o grande derrotado da rejeição generalizada que igualmente soa a uma avalia- tos não terem sequer conseguido constar da lista que foi à
Sessão Extraordinária do Comité Central da Frelimo. O dono ção negativa ao seu desempenho enquanto executivo do votação.
da célebre frase “para ser candidato não basta querer, é pre- partidão. É que, na qualidade de SG, Silva controlava, pelo Entre eles, o destaque vai para José Pacheco e Hama
ciso nós te querermos para você se querer” simplesmente menos em teoria, os 11 secretários provinciais do partido. Thay, cujas acções nos últimos tempos mostram que esta-
não foi querido por (quase) ninguém. Ora, a avaliar pelos números, é fácil perceber que nem a vam claramente em “campanha”. Pacheco robusteceu sua
Na primeira volta do escrutínio interno, Silva amealhou simpatia destes conseguiu atrair. comunicação através das redes sociais, fundamentalmen-
apenas 07 votos contra 103 de Chapo, numa sessão de vo- te o Facebook, enquanto Hama Thay concedeu entrevistas
tação marcada pelo facto de 14 membros do Comité Central Candidatos “assumidos” nem chegaram perto nas quais assumiu que, se fosse esse o entendimento dos
terem votado em branco. seus camaradas, poderia ser candidato.
Humilhado, Roque Silva acabou não só por desistir da Entretanto, olhando para a Sessão Extraordinária do Luísa Diogo, Samora Machel Júnior, Basílio Monteiro,
corrida, como também por renunciar ao cargo de SG, se- Comité Central da Frelimo, chama também atenção o fac- entre outros que foram sendo apontados como tendo pre-
gundo noticiou a TV Sucesso, ainda na noite de domingo. to de algumas figuras sonantes que ao longo dos últimos tensões de se candidatar, também não tiveram quaisquer
Trata-se de uma queda com estrondo, que resulta de uma meses foram sendo apontadas como sérios pré-candida- chances.

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SEGUNDA-FEIRA 06 de Maio de 2024 DOSSIERS & FACTOS OPINIÃO 7

LINHA CONTÍNUA

Zimbochua: a formiga que derrubou o elefante (1)


Mateus Licusse

As árvores entraram em debanda- ria e claramente incorria no risco de poucos minutos, estrangulou-a com
da, o céu escureceu de repente, os vida. suas próprias mãos, com apenas oito
pássaros fugiram, à velocidade de Enquanto estatelada sobre as cos- anos de idade. O pai ficou estupe-
obus, dos ramos das árvores aos seus tas do burro, a sua hemorragia es- facto ao presenciar aquilo.
ninhos. Ouviu-se um estrondo ono- coria na pele do animal; o recém- Zimbochua não temia coisas mes-
matopeico do trovão acompanhado -nascido estava encolhido entre quinhas, o que aparecesse à sua fren-
de relâmpago, os cães no quintal da os braços do pai no meio de frio te era reduzido a cinzas ou pedaços.
dona Judia entraram em pânico e intenso. Detinha um espírito heróico de gar-
refugiaram-se nas suas casinhas; os Chegados à maternidade com ros- ra e coragem.
patos entraram em espavento e iam tos cinzados, foram atendidos de Aos treze anos, perde o pai e viu-se
expelindo disenteria que sujava dife- emergência. A precariedade do pos- obrigado a ser o homem da família,
rentes parcelas do soalho no quintal. to denunciara sensação de insegu- pois lhe tinha incumbido a respon-
O que viriam a significar es- rança sob ponto de vista da situação sabilidade de cuidar das suas primas
tes fenómenos? Ou será castiça em que a mãe do recém-nascido se e sobrinhas, que habitavam naque-
coincidência. encontrava. Ficou internada, mas le enorme horto rodeado de casas
A pança da dona Judia havia fe- não resistiu e morreu, deixando precárias, feitas a caniço e sisal. No
cundado um novo ser e os dias de o bebé de apenas um dia de vida. meio, havia uma enorme árvore de
rasgar a genitália haviam chegado Aquela notícia acolheu de como- "tindziva" cujos frutos alegravam os
e deveria ser levada ao hospital que ção ao então viúvo, que viu seu filho meninos.
estava distante da comunidade. A ficar órfão de mãe sem sequer ter Os agadanhadores de gado come-
ambulância era apenas uma carroça chupado o leite materno. çaram a lesar Zimbochua e, aos pou-
puxada por um burro. Dois dias depois, a falecida foi se- cos, iam subtraindo as cabeças na
Naquele dia, a natureza estava, pultada. Um mês mais tarde, o bebé calada da noite. Apesar desses atra-
na verdade, furiosa. Não podia ser, foi dado o nome de Zimbochua e vancos, ele não perdia forças e fé,
aquilo significava algo. A chuva tor- encarregaram a sua tia de lhe dar o a perca precoce dos pais constituiu
rencial começara a cair de forma leite materno. motivo de vigor e estímulo para que
violenta e o burro enxerga em apu- Cinco anos mais tarde, Zimbochua continuasse a batalhar pela vida; na
ros aquele caminho engolido pelo foi sendo socializado na família que comunidade, desadormecia os que
capim empinado. De repente, o dife- vivia de pastagem de gado e ma- viviam ao seu redor, pois questio-
rencial da carroça parte-se ao meio, chamba, do mesmo modo, foi ins- navam como é que um adolescente
o que interrompeu aquela viagem à truído pelo pai a tecer esteiras para desempenhava o papel de pai de fa-
maternidade. posterior venda e garante de pão. mília, cuidando de outros menores.
Dona Judia é carregada pelo mari- Zimbochua, filho de pobre. O pai Zimbochua percorria no meio do
do até ao chão e esconderam-se por não tinha condições de o matricu- "dilúvio" e tempestades da vida.
baixo de uma cabana abandonada; o lar na escola; ele via outros meninos Quando os larápios da comunida-
bebé já estava prestes a vir ao mun- com pastas nas costas a irem para o de furtaram todas as cabeças, viu-
do, o tempo de chegar ao hospital centro de doutrina para aquisição -se obrigado a trabalhar para uma
redundara num estrépito. do conhecimento. Na tenra idade, senhora, vendendo ovos cozidos.
O domador do burro e o marido o menino demonstrava habilidades Tinha que desafiar pela madrugada,
da dona Judia ajudaram-na no tra- incríveis, conseguia guiar o rebanho percorrendo distâncias a partir do
balho de parto informal. Quando de centenas de cabeças sozinho. rusticano à vila, afrontando todas as
a chuva estancou, carregaram ela e Certa vez, enquanto cumpria a formas de bullying vindos de outras
colocaram-na sobre o quadrúpede, jornada, deparou-se no meio da crianças que nasceram no berço de
pois a hemorragia expelia com fú- mata com uma cobra enorme e, em ouro.
8 OPINIÃO DOSSIERS & FACTOS 06 de Maio de 2024 SEGUNDA-FEIRA

PRIMEIRO PONTO

Moçambicanidade e a falta de
cultura moral
Nobre Rassul

O lado legal, moral, cultural e religio- mulher que é portadora de HIV possa vimento do país, tendo em conta a di-
so, em meio aos malefícios do aborto, na fazer aborto, o que por si só constitui nâmica de educação moral e cultural da
nova sociedade moçambicana, constitui estigmatização. nova sociedade e a falta de trabalho pro-
um fenómeno recorrente e transversal- Diga-se, porém, que o facto de a lei fundo entre os ministérios que tutelam
mente preocupante. Pode-se afirmar sobre o aborto abrir a possibilidade de se a Saúde e Educação, no contexto de pro-
que a prática do aborto, expontâneo ou realizarem interrupções de gravidez foi a dução de programas de pesquisa e sua
intencional (aborto induzido), sempre pedido das mulheres e organizações não aplicabilidade.
esteve presente na história da humani- governamentais, condicionado por altos A condição social da rapariga ou do
dade e tornou-se um tema complexo e índices de aborto ilegal e mortes devido jovem, embora possa ser a razão do
bastante estigmatizado pela sociedade. à prática do aborto clandestino. Em re- crescimento do índice do aborto, é ig-
No âmbito do quadro legal, até 2014, sumo, com esta lei, a interrupção da gra- norada pela lei não prevê este aspecto. A
o aborto era proibido em Moçambique, videz constitui o único meio de eliminar real condição de vida do moçambicano
conforme ditava o Diploma Ministerial o perigo de morte ou de grave e irrever- sempre dificulta a vida das crianças, mas
n.º 60/2017, que deu origem ao Código sível lesão para o corpo ou para a saúde tal não dá direito aos progenitores para
Penal aprovado pela Lei n.º 34/2014, de física ou psíquica da mulher grávida. tirarem a vida ao filho.
31 de Dezembro, conjugado com o De- Assim, a lei não explica a razão deste É essencial reconhecer os factos aci-
creto Presidencial n.º 34/2015, de 23 de quadro incluir as mulheres portadoras ma porque, se quisermos reconhecer
Novembro. de HIV. Com isso, pretendo mostrar que uma sociedade livre e moralmente está-
Mais tarde, a lei veio permitir a inter- certas coisas que parecem exigências e vel, então, temos o dever moral de criar
rupção voluntária da gravidez em casos práticas de mudança sistémica são, na e melhorar os procedimentos passíveis
de perigo de vida da mulher, perigo de verdade, as razões de incongruências de minimizar o sofrimento humano
lesão grave e duradoura na saúde física e e da falta de moral social e cultural no inerente ao aborto ou à razão do aborto.
psíquica da mulher, mal-formação fetal país. Há um exercício religioso de persona-
ou quando a gravidez resultar de uma A maneira como as redes sociais per- lização trágica de quem comete o aborto
violação sexual. cebem e interpretam o comportamento induzido, e os males ou pecados prove-
Este aspecto [o aborto] deve ser en- sexual e reprodutivo, em particular, a nientes deste acto, baseados na crença
tendido como uma escolha pessoal e so- gravidez de jovens e adolescentes, de- religiosa de que a vida é sagrada e não
cial que permite que o feto seja relegável termina a forma de agir, pensar e o sen- pode ser eliminada independentemente
para o segundo plano para salvaguardar timento psicológico da jovem sobre a da condição, “feto o não”. Com base nis-
interesses do ser humano já nascido. O sua gravidez. Assim, os valores morais so, a religião defende que um feto tem
objectivo deste artigo é fazer uma ava- e culturais resultantes fazem com que direito à vida, independentemente da
liação dos costumes considerados hoje a adolescente tenha consciência da ati- razão da gravidez ou das condições da
dissolutos. Algumas leis servem para tude anémica que deve tomar para tirar mulher. Isso nos lembra o génio ame-
marginalizar ainda mais a sociedade e a gravidez que, presumivelmente, cons- ricano que teve mal-formação, mas se
tirar a moralidade dos hábitos e costu- tituirá um problema no meio familiar, tornou no principal inventor de fórmu-
mes locais. escolar ou universitário, bem como na las e tecnologias emergentes.
A legislação, embora permita o alar- sociedade onde vive a rapariga. Finalizado, isso não resolve o proble-
gamento do prazo para a interrupção Este e outros factores fazem com que ma de base. O que se deve melhorar e
em casos de mal-formação fetal e em os índices urbanos e rurais do aborto aprimorar é o sistema de ensino e pro-
situações de “crime contra a liberdade em Moçambique tendam a crescer de curar-se controlar as práticas do sexo
e auto-determinação sexual da mulher”, forma significativa nos últimos anos, se- entre jovens, a criminalidade sexual na
não procura salvaguardar aspectos mo- gundo diversos estudos. O que acontece sociedade moçambicana e vulgarização
rais e culturais. Todavia, a lei, no seu é que a forma de erradicar o problema dos sites pornográficos e outros tipos de
art. 2, alinha f), abre brecha para que a está distante das soluções de desenvol- malefícios transmitidos pela media.
SEGUNDA-FEIRA 06 de Maio de 2024 DOSSIERS & FACTOS OPINIÃO 9

MAYITABASSA!

Quando o tiro sai pela culatra

Por: NkassanaWaka-Tembe–[email protected]

Foi bom ter sido parte dos contemplados País, e, para tal, indicar alguém que é leal às orientações do maestro sem que alguma
para a sucessão do actual presidente. Eleger orientações do partidão era o ideal. análise fosse parte da discussão, tal como
e ser eleito, para além de vontades obscu- RS foi indicado e mais dois outros cama- se recomenda. O Comité Central, mais uma
ras que possam estar por detrás, é acima de radas cuja data, até à data da sua indicação, vez usou das suas competências para dar a
tudo um direito constitucional. Os cidadãos merecem algum respeito, não por serem entender que não se pode desvalorizar um
gozam deste direito, sim, mas um juízo de bons, mas porque nunca tinham sido su- conjunto de realizações que tendem a co-
consciência recomenda-se. Antes de ma- jeitos a tantos atropelos de civismos tanto locar Moçambique no mapa de desenvolvi-
nifestar qualquer tipo de vontade de fazer quão o RS. A notícia da indicação do RS foi mento mundial. Aliás no passado, e através
parte deste direito, o de eleger e/ou ser quase que uma bomba atómica para a so- de alguns membros astutos deste partido,
eleito, uma reflexão nos é imposta para que ciedade moçambicana, em quase todas as ouvimos a mensagem de que os jovens
toda nossa tomada de decisão não nos tra- esquinas comentava-se esta surpreendente não estavam preparados para conduzir os
ga qualquer tipo de ressentimento. Vimos indicação. Os moçambicanos ficaram ató- destinos da Nação.
recentemente, e com alguma arrogância, nitos e, a avaliar pelo nível de programas Isto, falado naquele tempo e naqueles
um líder de um partido político criar uma televisivos que tentavam buscar o pulsar moldes, até que parecia um insulto para
cultura de intimidação para que camaradas da opinião pública, todos os telespecta- uma geração cheia de jovens formados e
seus não pudessem, publicamente, mani- dores eram unânimes em afirmar que RS com uma visão de desenvolvimento mais
festar suas opções políticas em quer ser lí- não era credenciável para ocupar o cargo apetecível para os moçambicanos. Mas
deres deste mesmo movimento partidário. do Chefe de Estado. O que nós também hoje pode se concluir que não basta ter-
O cidadão Roque Silva não raras vezes corroboramos. mos uma boa e óptima formação acadé-
veio ao espaço público ameaçar membros O pequeno histórico deste candidato mica. Não basta a retórica de sermos bons
do seu partido quando estes, e a coberto do na Frelimo, como secretário-geral, foi sufi- PhD ou qualquer tipo de prestígio acadé-
direito constitucional, manifestaram o dese- ciente para que a sociedade lhe atribuísse mico, sem, contudo, sermos possuidores
jo de serem parte dos candidatos à suces- um certificado de mediocridade, o que o de empatia com o sofrimento do povo. In-
são do actual Chefe de Estado. Aliás, ficou torna inqualificável para qualquer tipo de felizmente, hoje são estes académicos que
marcada a célebre frase do secretário-geral cargo de gestão do País e, pior, como Pre- se tornaram maiores inimigos para com o
da Frelimo “não é você que decide que quer sidente da República. Ao secretário-geral desenvolvimento da nação. Esqueceram a
se candidatar, nos é que decidimos se você da Frelimo são atribuídos valores de chefia ciência e a concentração, estão nos tais in-
pode concorrer ou não”. Estas falas, feitas em e não os de um líder. Sente-se no tom da termináveis ensejos de encontrar um lugar
tom de um ditador, ouvimo-las em quase voz do RS algum tipo de autoridade exces- político que lhes possa fazer saciar suas
todas as cadeias televisivas e sob condena- siva. Ele é, acima de tudo, visto como um ambições de ser chefe e, com isso, delapi-
ção passiva de todos aqueles que tinham, arrogante sem precedente, um antipático dar tudo o que é recurso à sua volta.
na razão, o direito de chamar atenção ao e com muitas e não recomendadas formas A corrupção, o nepotismo, a arrogância
dono deste posicionamento. Não tardou, de tratamento de quem esteja para o servir e, acima de tudo, a falta de princípios bási-
e é mesmo fresquinha, a notícia de que a ou ouvi-lo. cos de moralidade fazem de nossos líderes
Comissão Política do partido no poder, reu- Ao nosso chefe da FRELIMO nunca coube figuras que não trazem nenhuma esperan-
nida na semana finda, terá indicado Roque na cabeça de que um dia podia ser instado ça para os moçambicanos. Terá sido por
Silva para candidato a Presidente da Repú- ou forçosamente instruído a ser candidato isso que o Comité Central do partido se
blica. Até aí está tudo bem, e segundo a sua a um órgão de soberania tão significativo distanciou da lista indicada pela Comissão
profecia, este foi, sim, indicado pela Comis- como o de Chefe de Estado. As discussões Política e completamente atribuiu a este
são Política. havidas na Matola são resultantes de fra- órgão um grande e altíssimo certificado de
Notícias que nos chegavam da Matola in- co trabalho da Comissão Política, onde incompetência.
dicavam que a indicação do Roque Silva foi logo se pôde perceber que mais uma vez Bem haja o Comité Central do partido
uma estratégia para manter o controlo do valeu a intenção de claros cumpridores de FRELIMO.

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10 OPINIÃO DOSSIERS & FACTOS 06 de Maio de 2024 SEGUNDA-FEIRA

OLHAR INTERNACIONAL

Rishi Sunak promove xenofobia


no Reino Unido
Por:Ângelo Edson André Fremo

Os ruandeses, imigrantes ilegais, es- sul da Europa através das perigosas tra- relatos de acção policial por todo o Rei-
tão a ser caçados pelo governo britâ- vessias pelo Mediterrâneo. no Unido, incluindo na Irlanda do Nor-
nico, onde se pretende levá-los à força Apesar de o Reino Unido estar a em- te. Organizações de direitos humanos e
para Ruanda, a partir de uma decisão preender esta questão, os africanos con- sindicatos contrários à política devem
que o governo britânico tomou. O pla- tinuam a invadir as suas fronteiras marí- desafiar a medida na Justiça para im-
no, fortemente defendido pelo então timas a caminho da Inglaterra. Semana pedir que os voos decolem com os es-
primeiro-ministro do Reino Unido, finda, cinco pessoas morreram numa trangeiros — a Suprema Corte do país
Boris Johnson, acabou barrado pela Su- travessia. Os imigrantes morreram afo- havia declarado a política ilegal no ano
prema Corte do país, mas nem a sen- gados por volta das 5h no horário local passado.
tença de ilegalidade da Suprema Corte depois de uma confusão dentro do bar- O plano foi formulado inicialmente
conseguiu impedir que o Reino Unido co inflável em que estavam, segundo a por Boris Johnson, primeiro-ministro
seguisse adiante com o plano. Na última polícia francesa. A suspeita é de que a do Reino Unido entre 2019 e 2022. No
semana, dois anos depois da primeira embarcação estava superlotada. final de 2022, o primeiro voo previsto
tentativa, o Parlamento britânico apro- Mais de 7.500 migrantes chegaram ao de deportação acabou bloqueado por
vou a mesma lei, com manobras legais Reino Unido em pequenos barcos que uma liminar do Tribunal Europeu de
para driblar o veto da Justiça. atravessam o canal da Mancha neste Direitos Humanos. O país já chegou a
A medida é endossada também pelo ano — um recorde histórico. O governo enviar para o país africano seu primei-
primeiro-ministro Rishi Sunak. A lei, diz que a nova medida vai dissuadir as ro solicitante de asilo, mas sob um pro-
uma das principais bandeiras do go- pessoas de fazer a perigosa travessia, na grama voluntário paralelo à política de
verno do país, consiste em enviar de qual cinco pessoas morreram na sema- deportação, segundo o jornal britânico
avião para abrigos em Kigali, capital do na passada, um dia depois da aprovação The Sun.
Ruanda, grupos de pessoas que tenham da nova legislação. Pessoas que se acre- "As pessoas estão muito assustadas",
entrado no Reino Unido de forma ile- dita serem imigrantes desembarcam de diz Natasha Tsangarides, uma das di-
gal e solicitado asilo e refúgio no Reino um navio da Força de Fronteira Britâ- rectoras da instituição Freedom from
Unido. Em troca, Londres pagará cerca nica ao chegarem ao porto de Dover, na Torture. Ela afirma que o medo de ser
de 370 milhões de libras esterlinas aos Grã-Bretanha, em 29 de Abril. detido e enviado para o país africano
cofres ruandeses. O modelo, inédito no Segundo a nova lei, os solicitantes de levaria algumas pessoas a se esconder
mundo, já foi considerado ilegal pela refúgio, que chegam ao país sem uma e se desvincular de sua rede de apoio.
Organização das Nações Unidas (ONU) autorização, serão enviados a Ruanda Organizações criticam o governo de
e pela própria Suprema Corte do Reino enquanto suas requisições são proces- Sunak por insuflar sentimentos xeno-
Unido. Há semanas, os chefes do Alto sadas. Disse o ministro do Interior, Ja- fóbicos com a medida. Ao fornecer ac-
Comissariado da ONU para Refugiados mes Cleverly, em um comunicado. Uma tualizações sobre prisões em massa e
e para Direitos Humanos pediram que instituição que atende aos refugiados detenções aos poucos, o governo está
o Reino Unido reconsidere a decisão. O diz que as detenções começaram na a buscar explorar de forma insensível a
focos são imigrantes em busca de asilo segunda-feira (29). Um porta-voz afir- situação das pessoas, muitas delas já so-
que chegam ao Reino Unido em barcos ma que a linha directa do grupo rece- frendo graves traumas de perseguições
ao cruzar o Canal da Mancha. Segun- beu chamadas de dezenas de ligações, e abusos passados nos países de onde
do o Ministério do Interior britânico, acrescentando que ainda não sabiam fugiram e nas jornadas que fizeram",
6.265 barcos chegaram ao país, 24% a quem seria designado para o primeiro diz o director-executivo da Amnistia
mais que no mesmo período de 2023. A voo de deportação, nem quando isso Internacional no Reino Unido, Sacha
maior parte (40%) foi de vietnamitas e ocorreria. Deshmukh.
afegãos em 2024. O Canal da Mancha é De acordo com o jornal The Guar- A lei já custou aos cofres públicos
actualmente a principal porta de entra- dian, citando autoridades que não qui- britânicos mais de £ 240 milhões, va-
da de imigrantes irregulares no Reino seram revelar seu nome nem o número lor encaminhado a Ruanda até o fim de
Unido e a etapa final de uma jornada exacto de pessoas presas, dezenas fo- 2023 para que o país forneça os serviços
que costuma começar na África Central ram detidas em cidades como Glasgow, de hospedagem dos requerentes de asi-
e segue pelo norte do continente até ao Liverpool, Birmingham e Bristol. Há lo no Reino Unido.
SEGUNDA-FEIRA 06 de Maio de 2024 DOSSIERS & FACTOS DESTAQUE 11
CAIFADINE MANASSE, METY GONDOLA E LICÍNIO MAUAIE

Os heróis do Comité Central


extraordinário
C
aifadine Manasse, Mety Gondola e
Licínio Mauaie podem ser considera-
dos os heróis da Sessão Extraordiná-
ria do Comité Central que culminou
com a eleição de Daniel Chapo como candi-
dato da Frelimo à Presidência da República.
Os três "jovens", que estiveram na prolon-
gada sessão do início até ao fim, foram os
que mais vezes intervieram na sessão, tendo
sido fundamentais para que Roque Silva não
triunfasse.

D&F Texto: Dossiers & Factos

Segundo apurou Dossiers & Factos, a tripla fez de


tudo para que Roque Silva não fosse eleito candidato
à Presidência do País. Nossas fontes deixam claro, no
entanto, que estes três membros do Comité Central
fizeram sua "luta" no sentido de que o nome do secre-
tário-geral fosse mantido na lista até à votação, por
forma a que fosse derrotado na fase derradeira.
Numa das intervenções de Mety Gondola, o presi-
dente da Frelimo chegou a dizer que "são os mesmos
que estão a falar sempre". Entretanto, Mety Gondola
ripostou dizendo ao Presidente que se quisesse ainda
lhe podia exonerar do cargo que ocupa a nível do go- Caifadine Manasse
verno (secretário de Estado de Ensino Técnico e Pro-
fissional), porque não havia sido combinado que não também teve uma derrota humilhante, a avaliar pela sos de alegria pela saída deste homem do cargo. Se-
podia falar nos órgãos do partido. Assim, prosseguiu quantidade de votos que obteve. A presidente da As- gundo nossas fontes, Silva saiu todo humilhado da
referindo que podia deixar o País e o partido afunda- sembleia da República obteve apenas três votos, sendo última sessão do CC. Aconteceu com ele o que tanto
rem por conta de eleições menos bem preparadas. certo que um é dela. Esse facto é curioso, pois revela foi fazendo ao longo do seu reinado. Há muitos ca-
Entretanto, uns, como é o caso do Caifadine Ma- que nem os cerca de 30 deputados da Bancada Parla- maradas aos quais destitui de forma imprópria, sem
nasse, trabalhavam em apoio a Basílio Monteiro. Só mentar da Frelimo que ela comanda no Parlamento a dó nem piedade. Ironicamente, desta vez foi ele que
que, mediante a lista existente, penderam para o lado apoiaram. É caso para dizer que também não goza de saiu não pela janela pequena, mas talvez pelo tubo
de Daniel Chapo. Para além de Silva, Esperança Bias boa saúde política na casa magna, onde ela é digna de ar-condicionado.
Presidente.
Fontes afirmaram ainda que o presiden-
te honorário da Frelimo e do País, Armando
Emílio Guebuza, pediu a palavra no primeiro
e no último dia do evento, tendo sido bas-
tante incisivo no último dia, ao afirmar que
não tinha sido convidado para esta sessão
extraordinária, e que soube da mesma por
via do seu colega, também Presidente ho-
norário, Joaquim Chissano, que o telefonara
para lhe fazer saber. Guebuza terá dito que
tinha viagem marcada para aqueles dias,
mas após receber a chamada decidiu que
"tenho que participar desta sessão". Era jus-
tamente para poder ver e viver a situação de
perto.
Mais adiante, Guebuza terá dito "estou
cá porque não podemos deixar morrer a Fre-
limo, camarada presidente do partido. Esta
Frelimo também é nossa e custou sangue
de muitos moçambicanos jovens, entre ho-
mens e mulheres. Precisamos salvaguardá-
-la. Precisamos de ter o partido em vida. Por
favor, não matem a Frelimo".
Outro momento que marcou o CC da Fre-
limo foi o pedido de demissão de Roque Silva
do cargo de secretário-geral desta formação
política. Consta-nos que esse momento foi
aplaudido por mais de cinco minutos pelos
Mety Gondola membros do Comité Central. Foram aplau- Licínio Mauaie
12 PLANO DE FUNDO DOSSIERS & FACTOS 06 de Maio de 2024 SEGUNDA-FEIRA

LIBERDADE DE IMPRENSA

Jornalistas cada vez mais seviciados


em Moçambique
C
asos de violação da liberdade de
imprensa duplicaram em 2023,
passando dos anteriores 11 de
2022 para 24 em 2023. Trata-se
de um cenário que preocupa o MISA-Mo-
çambique, como ficou claro na cerimónia
comemorativa do dia 3 de Maio, Dia Inter-
nacional da Liberdade de Imprensa. Não é
para menos, afinal, o País perdeu 7,6 pon-
tos no Índice Mundial de Liberdade de Im-
prensa 2024, segundo a Organização Não
Governamental Repórteres Sem Fronteiras
(RSF).

D&F Texto: Hélio de Carlos

Em Moçambique, a cerimónia de comemoração do


Dia Mundial da Liberdade de Imprensa deste ano teve
como lema "Uma Imprensa para o Planeta: Jornalismo
Diante da Crise Ambiental", ressaltando a importância
do jornalismo e da informação de qualidade para en-
frentar a crise ambiental global. Ao escolher este tema
para o presente ano, a Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) pensou
no actual contexto de crise climática, marcado pelas
alterações e perda da biodiversidade. Luz vermelha para verdadeira liberdade de imprensa
Este contexto foi pretexto para denunciar as seví-
disso, há casos de imposição de controlo e uso pernicio- longo dos anos uma assinalável degradação do am-
cias a que estão sujeitos jornalistas-investigativos liga-
so do poder do aparelho do Estado, aparelho administra- biente, da liberdade de imprensa, de expressão e do
dos ao meio ambiente. Consta que o seu trabalho in-
tivo judicial, bem como filtros e moderação de controlo direito à informação, Moçambique é um dos países
vestigativo leva a que paguem preço bastante elevado,
para restringir a sua informação, aponta Fátima Mimbire. mais afectados no mundo pelas mudanças climáti-
que inclui violência física, vigilância, intimidação e até
Na sua mensagem, MISA-Moçambique ressaltou que cas, estando fustigado pelos mais severos ciclones,
pressões por empresas nacionais e transnacionais que
o lema escolhido para a ocasião é de extrema importân- cheias e secas.
poderiam ser afectadas pelo trabalho jornalístico. Além
cia para países como Moçambique. Além de registar ao "Por isso, nesta data em que o mundo celebra a
liberdade de imprensa, o MISA-Moçambique, en-
quanto defensora e promotora das liberdades de im-
prensa e expressão e do direito à informação, insta
os jornalistas moçambicanos a estarem na linha da
frente nos esforços para proteger o planeta através
de informações e exposições factuais e previsíveis de
todo e qualquer atentado contra o meio ambiente",
disse a vice-presidente do MISA.
A vice-presidente considera que expor os crimes
contra o ambiente e ajudar a sociedade a separar fac-
tos de mentiras e manipulação para tomar decisões,
incluindo sobre políticas ambientais, é uma noção
importante que os jornalistas ambientais devem ter.
"03 de Maio é sempre uma oportunidade para dis-
cutir o composto sobre a liberdade de imprensa em
Moçambique, e considerando o papel que se espera
do jornalismo-investigativo para fazer face à crise am-
biental e a urgência para uma maior liberdade de im-
prensa, o MISA lamenta que Moçambique continua
a destacar-se negativamente como um país onde a
liberdade de imprensa está cada vez mais difícil".

2023, um ano cinzento

Um pouco por todo o país, jornalistas continuam


a ser agredidos, ameaçados, perseguidos e a verem
seu material arrancado ou danificado, na maioria
dos casos por servidores públicos. 2023, por exem-
plo, foi um dos anos mais difíceis para o exercício da
liberdade de imprensa em Moçambique, com várias
Aumenta fechamento aos profissionais da comunicação violações contra jornalistas, parte significativa dessas
SEGUNDA-FEIRA 06 de Maio de 2024 DOSSIERS & FACTOS PLANO DE FUNDO 13
agressões associadas a eleições eleitorais e cometidas
não apenas por partidos concorrentes, mas também
por agentes de defesa e segurança, particularmente os
agentes da polícia.
Para elucidar, em 2023, casos de violação da liber-
dade de imprensa duplicaram, sendo 24 contra, 11 de
2022, o que mostra que a liberdade de imprensa ainda
enfrenta muitas barreiras.
De resto, Moçambique registou uma descida de
três posições no ranking da liberdade de imprensa,
ocupando agora o 105.º lugar. Contudo, entre os países
africanos de língua portuguesa, o destaque vai para
Angola, que deixou o grupo de Estados em situação
difícil para problemática e subiu da 125ª posição em
2023 para 104ª em 2024, num total de 180 analisados.
Os demais lusófonos em África, segundo uma pu-
blicação da VOA, caíram no Índice. Cabo Verde conti-
nua a ser o melhor colocado e é o único que integra o
grupo de países em situação satisfatória, mas caiu oito
lugares, da 33ª posição para a 41ª. A Guiné-Bissau pas-
sou do 78º lugar para o 92º, uma queda de 14 lugares,
e ambos continuam no grupo de países em situação
difícil.
Na análise por países, embora ainda muito breves,
o documento diz que em Angola “a posse de um novo
Presidente, João Lourenço, em Setembro de 2017,
pôs fim a quatro décadas de Governo da família Dos
Santos, mas não marcou um ponto de viragem para a
liberdade de imprensa”, e sublinha que “a censura e o
controlo da informação ainda pesam sobre os jornalis-
tas angolanos”. Jeremias Langa, presidente do MISA
Na Guiné-Bissau, dizem os RSF, a “acentuada dete-
rioração da segurança dos profissionais da comunica- Constituição”, no entanto, os chefes dos meios de co- cípios de protecção dos jornalistas, especialmente a
ção social, combinada com pressões políticas e econó- municação estatais, que dominam o panorama mediá- Resolução 2222 do Conselho de Segurança da ONU,
micas, pôs à prova a prática do jornalismo nos últimos tico, são nomeados directamente pelo Governo”. com violações contra jornalistas e meios de comuni-
anos”. cação social desde Outubro de 2023”.
Em Moçambique, “a reeleição de Filipe Nyusi e o frá- Guardiões da liberdade falharam a nível global “À medida que mais da metade da população
gil acordo de paz com antigos rebeldes não abranda- mundial vai às urnas em 2024, a RSF alerta para uma
ram o preocupante declínio da liberdade de imprensa”. A organização não-governamental com sede em tendência preocupante, revelada pelo Índice Mun-
O Índice ressalta que “Cabo Verde destaca-se na Paris faz notar no relatório que “este ano é notável dial de Liberdade de Imprensa de 2024: um declínio
região por um ambiente de trabalho favorável aos uma clara falta de vontade política por parte da co- no indicador político, um dos cinco indicadores de-
jornalistas, a liberdade de imprensa é garantida pela munidade internacional para fazer cumprir os prin- talhados no Índice. Os Estados e outras forças polí-
ticas estão a desempenhar um papel cada vez me-
Foto: O País nor na protecção da liberdade de imprensa”, lê-se na
introdução do relatório da directora dos RSF, Anne
Bocandé.
A nível da África Subsaariana, o relatório refere
que as eleições resultaram numa grande violência
contra jornalistas e meios de comunicação social por
parte de actores políticos e dos seus apoiantes.
“Foi o que aconteceu na Nigéria (classificada em
112º lugar no Índice Mundial de Liberdade de Im-
prensa de 2024), onde quase 20 repórteres foram
atacados no início de 2023; em Madagáscar (100º) 10
foram atacados pelas actividades políticas durante
protestos pré-eleitorais; na República Democrática
do Congo (123.º), os políticos tentam frequente-
mente intimidar o pessoal dos meios de comunica-
ção social, como o caso da prisão da jornalista Stanis
Bujakera, que foi impedida de cobrir a eleição por
ter sido detida por uma acusação forjada”, lê-se no
documento.
“Durante as eleições, os políticos também tenta-
ram utilizar os meios de comunicação social como
instrumentos para exercer influência e impor auto-
ridade”, alerta os RSF, citando os casos do Senegal,
RDC e Nigéria, “onde os políticos criaram, por vezes,
os seus próprios meios de comunicação social”.
Outros países da região utilizaram o método de
manipulação dos reguladores dos meios de comuni-
cação social, cujos membros, muitas vezes, apoiam as
autoridades políticas ou seguem as suas ordens para
suspender os meios de comunicação sem referência
a qualquer juiz.
O Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de
2024 lembra que 12 jornalistas foram mortos, em
todo o mundo, neste ano, e que até hoje 544 jorna-
listas e 26 profissionais dos meios de comunicação
Fátima Mimbire, activista social e jornalista foram detidos.
14 INSS DOSSIERS & FACTOS 06 de Maio de 2024 SEGUNDA-FEIRA

EM MATUTUINE, PROVÍNCIA DE MAPUTO

Funcionários munidos em matérias de


aposentação
O
Instituto Nacional de Segurança
Social (INSS) realizou ao longo
da semana passada o segundo
ciclo de preparação e orientação
dos funcionários da instituição em matéria
de aposentação, no distrito de Matutuine,
província de Maputo. Esta iniciativa prevê
capacitar mais de 300 funcionários do INSS
em sete fases a nível do País.

D&F Texto: Dossiers & Factos

A formação, com duração de cinco dias, con-


tou com mais de 50 técnicos de diversas áreas,
provenientes de diferentes delegações provin-
ciais do INSS, nomeadamente das regiões centro,
sul e norte do País, com o objectivo de debater
aspectos estatutários e práticos do processo de
aposentação, mais concretamente na sequência
da aprovação do novo Estatuto Geral dos Funcio-
nários e Agentes do Estado (EGFAE).
Segundo o referido instrumento, é obrigatória
a aposentação do funcionário ou agente do Esta-
do que tenha completado 60 anos de idade, com
pelo menos 15 anos de serviço prestado ao Esta- INSS prevê capacitar 350 funcionários em todo o País
do e satisfeito ou venha a satisfazer os encargos lizar acções de capacitação sobre o assunto da destaque para os aspectos psicológicos, mais
para a pensão de aposentação. aposentação, abordando matérias que visam aju- concretamente sobre como socializar e familia-
Tendo em conta a sensibilidade desta nova dar ao funcionário em vias de aposentação a ter rizar-se na nova vida, matérias sobre a gestão fi-
abordagem legal, o INSS vê-se obrigado a rea- uma ideia positiva sobre a sua futura vida, com nanceira e como criar um negócio, para além de
questões jurídicas concernentes
à aposentação, tanto na antiga
abordagem, como nesta última.
O delegado provincial do
INSS, em Maputo, Paulo Sérgio
Brito dos Santos, que procedeu à
abertura do evento, afirmou que
o mesmo se realiza no quadro
da implementação dos planos
anuais da instituição para a área
de recursos humanos, em que,
em algumas vezes, é confrontada
com certas situações de conflito,
nomeadamente na relação en-
tre a instituição e o funcionário,
devido à falta de preparação psi-
cológica, social, material e finan-
ceira do mesmo e, noutros casos,
devido a meras questões comu-
nicacionais ou de interpretação
estatutária.
A formação deste grupo alvo
dentro do INSS compreenderá
sete ciclos ao longo do presente
ano, abrangendo 350 funcioná-
rios, sendo que o próximo, ou
seja, o terceiro, terá lugar na ci-
dade de Quelimane, província
da Zambézia, de 13 a 18 de Maio
próximo. O posto administrativo
de Chidenguele, distrito de Man-
jacaze, na província de Gaza, aco-
lheu o I Ciclo destas capacitações,
As capacitações terão sete ciclos a nível do País no passado mês de em Abril.
SEGUNDA-FEIRA 06 de Maio de 2024 DOSSIERS & FACTOS POLÍTICA 15

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 09 DE OUTUBRO

Lutero Simango proclamado


candidato do MDM
O
actual presidente do partido
Movimento Democrático de Mo-
çambique (MDM), Lutero Siman-
go, foi proclamado, neste domin-
go, na cidade da Beira, província de Sofala,
candidato presidencial daquele partido às
eleições de 9 de Outubro próximo. A pro-
clamação aconteceu durante o decurso do
IV Conselho Nacional daquela formação
política, após a desistência do edil da Bei-
ra, Albano Carige.

D&F Texto: Benety Matongue

Durante o conclave da Beira, Lutero Simango,


que lidera o partido desde a morte do irmão, Da-
viz Simango, em 2021, foi eleito por unanimidade.
Para além de Simango, nas eleições internas con-
corria igualmente o actual edil da Beira, Albano
Carige que acabou por desistir, abrindo, assim, o
caminho para que Simango fosse eleito candidato Lutero Simango, Presidente do MDM e candidato a Ponta Vermelha
do partido às presidenciais de Outubro. Foto: O País
Após ser eleito, Simango prometeu introduzir do partido têm sido temas centrais durante o seu Simango indignado com a corrupção no país
“mudanças e reformas” e implementar “uma visão mandato.
de um Moçambique para todos”. O actual líder do MDM é filho de Uria Timóteo O IV Conselho Nacional do MDM foi antecedido
Simango foi eleito em Dezembro de 2021, para Simango, foi um pastor presbiteriano e líder proe- pela IV sessão ordinária da Comissão Política do
o cargo de presidente do MDM, no III Congresso minente da Frente de Libertação de Moçambique partido, encontro no qual criticou os altos índices
do partido, com 87,9% dos votos, numa eleição (FRELIMO) durante a luta de libertação contra o de corrupção na Função pública e o despesismo
em que teve como concorrente Silvério Rongua- regime colonial português. do Estado, males que no seu entender atrasam o
ne, que obteve apenas 9,9%2. Sua trajectória po- A família Simango desempenhou um papel fun- desenvolvimento do País e reduzem a esperança
lítica e compromisso com a estabilidade interna damental na história política do País. dos moçambicanos.
Para Simango, o processo de descentralização
em curso, a vários níveis, deve conferir indepen-
dência económica e financeira aos órgãos do po-
der local, destacando que para resolver estes pro-
blemas é preciso haver alternância do poder.
“O País precisa de políticas adequadas para re-
novar a esperança dos moçambicanos. Como já
disse, tudo isto passa, necessariamente, por colo-
car o partido Frelimo na oposição. O nosso povo,
a nossa população e a classe trabalhadora enfren-
tam o custo de vida de uma forma dramática”,
disse Simango, frisando que “... esse custo de vida
tende a crescer cada vez mais porque os impostos
estão a agravar-se”.
Simango foi mais longe ainda ao criticar aquilo
que considera de injustiça, concretamente o facto
de as províncias ricas em recursos naturais, as que
produzem receitas, dependerem economicamente
da capital, Maputo.
A título de exemplo, fez referência à província
de Tete, onde está localizada a barragem hidroe-
léctrica de Cahora Bassa, a maior do País e da qual
muitos países da região dependem, assim como a
de Cabo Delgado, que é rica em hidrocarbonetos,
questionando porque tem que depender de pagar
impostos em Maputo e não localmente.
“ Está errado!”, enfatizou Simango, sublinhan-
do que a figura de Secretário de Estado não passa
de uma criação do partido no poder que em nada
contribui para o desenvolvimento do País, senão
para “ roubar e roubar...está errado...! “.
O Conselho Nacional do MDM serviu igualmen-
te para eleger os cabeças-de-lista para o cargo de
Albano Carige desistiu da corrida governadores provinciais e deputados da Assem-
bleia da República.
16 NACIONAL DOSSIERS & FACTOS 06 de Maio de 2024 SEGUNDA-FEIRA

PROMETEU BAIXAR, MAS SUBIU AS TAXAS

INCM mentirosa e insensível


O
s moçambicanos foram surpreendidos
por uma reviravolta inesperada no que
diz respeito às tarifas de SMS, crédito
e megabytes das operadoras móveis. No entanto, e ao contrário do
que disse Mote, as tarifas foram
O Instituto Nacional das Comunicações de Mo-
çambique (INCM) havia prometido que os ser-
viços de telecomunicações no País se tornariam
mais acessíveis a partir de sábado, 04 de Maio,
mas, na realidade, as operadoras não apenas
não reduziram os preços, como também elimi-
agravadas, chegando algumas delas
naram tarifas ilimitadas de internet e chamadas,
resultando em aumentos de até 50% em certos
casos. Esta mudança contraria as expectativas
a atingir até 50%, o que está a pre-
dos usuários e tem um impacto significativo nas
suas despesas com comunicações. judicar os usuários das operadoras
D&F Texto: Hélio de Carlos
móveis, indo contra o que foi anun-
O regulador das comunicações de Moçambi-
que anunciou no dia 02 do corrente mês que os
serviços de telecomunicações ficariam mais ba-
ciado e sem justificativa aparente.
ratos a partir de sábado, com a entrada em vigor 1,08 meticais. Quanto ao preço médio do serviço de com e Movitel queixam-se do facto de as tarifas
de novas tarifas, ajustadas aos valores mínimos. mensagens SMS, deveria baixar de 1,70 meticais dos pacotes de internet que anteriormente eram
Segundo o presidente do Conselho de Ad- para 1,10 meticais. ilimitados, em algumas opções, terem sido abo-
ministração do Instituto Nacional das Comuni- O presidente do INCM justificou a descida dos lidas. Além disso, foram acrescentadas taxas aos
cações de Moçambique (INCM), Tuaha Mote, "a preços como uma necessidade do sector para ga- pacotes, como WFT, que chegam a atingir 50%,
intervenção do regulador do sector permitiu bai- rantir o acesso aos serviços a todos, sobretudo para enquanto os megabytes foram reduzidos.
xar de forma significativa o preço das comunica- a população com baixo poder de compra. Os clientes das operadoras foram pegos de
ções telefónicas em Moçambique". No entanto, e ao contrário do que disse Mote, as surpresa e não vêem vantagens nas novas taxas
Mote afirmou que o preço médio do serviço tarifas foram agravadas, chegando algumas delas a aplicadas, questionando se existe realmente uma
de voz em Moçambique deveria baixar de seis atingir até 50%, o que está a prejudicar os usuários operadora melhor que outra. Em suma, o INCM,
meticais por minuto para cinco meticais, en- das operadoras móveis, indo contra o que foi anun- em vez de favorecer os clientes, acabou por bene-
quanto o preço médio do serviço de dados de- ciado e sem justificativa aparente. ficiar as operadoras, eliminando a disparidade de
veria reduzir de 2,30 meticais por megabyte para Os usuários das operadoras como Tmcel, Voda- níveis entre elas.

INCM não foi sincero para com os moçambicanos


Foto: INCM
SEGUNDA-FEIRA 06 de Maio de 2024 DOSSIERS & FACTOS ANÚNCIO PUBLICITÁRIO 17
18 PROVÍNCIA DE MAPUTO DOSSIERS & FACTOS 06 de Maio de 2024 SEGUNDA-FEIRA

TRANSPORTE PÚBLICO

Marracuene e Manhiça investem em


paragens de qualidade
O
s munícipes de Marracuene e Ma- Foto: DCI SEETP
nhiça, na província de Maputo,
poderão, em breve, desfrutar de
uma melhor experiência no trans-
porte público, com a construção de mais de
30 novas paragens de qualidade. Segundo
os presidentes das duas autarquias, Shafee
Sidat, de Marracuene, e Luís Munguambe,
de Manhiça, actualmente em visita à China,
essas iniciativas visam aprimorar os serviços
oferecidos aos cidadãos.

De acordo com informações fornecidas pelos líderes


municipais, a parceria firmada com a China resultará na
construção de um total de 35 paragens de transporte
público. Marracuene beneficiar-se-á com 25 novas para-
gens, enquanto Manhiça contará com mais 10. Essa co-
laboração internacional demonstra o compromisso das
autoridades locais em melhorar as infra-estruturas e a
qualidade de vida dos seus munícipes.
Além da construção das paragens, está a ser discutida
a possibilidade de outros apoios, como a doação de via-
turas de bombeiros, para garantir a segurança da popula-
ção desses municípios. Essa iniciativa reflecte o empenho
das autarquias em promover o bem-estar e a protecção
dos seus habitantes, estreitando laços de cooperação in-
ternacional para o benefício comum. Com a parceria da China, Marracuene e Manhiça terão paragens de qualidade

DIA INTERNACIONAL DO TRABALHADOR NA MATOLA

Parruque anuncia
O
Presidente do Conselho Municipal
da Matola compareceu na passa-
da quarta-feira, 1º de Maio, dia do

pagamento da dívida do 13º


Trabalhador, em diversos eventos
organizados pela Organização dos Trabalha-
dores de Moçambique ao nível da província
de Maputo. O edil acabou por surpreender
os funcionários da Empresa Municipal de
Transportes Públicos da Matola (ETM) com a
promessa de que vai pagar o 13º salário em
atraso.

D&F Texto: Dossiers & Factos

Durante os contactos mantidos com várias classes, Júlio


Parruque assumiu a necessidade de melhorar as condições
de trabalho, bem como de respeitar integralmente os direitos
dos trabalhadores.
“A nossa presença é para festejar com os trabalhadores o
seu dia, as suas conquistas e nos inteirar das suas reivindica-
ções. Hoje é um dia importante, pois os trabalhadores e suas
organizações sindicais são os pilares do desenvolvimento de
qualquer país e o Conselho Municipal da Cidade da Matola
está ao seu lado para que possam ter tranquilidade no exer-
cício do seu trabalho”, afirmou o edil.
Logo cedo, o presidente Júlio Parruque acompanhou a
deposição de flores na Praça dos Heróis da Matola.
Durante o dia, ocorreram diversas atracções, com nota
especial para a festa organizada pela Vereação de Cultura e
Turismo e pelo Núcleo de Artistas (Mc's, Dj's Promotores de
Eventos, entre outros) ao nível da Matola, no Auditório Carlos
Tembe.
No cair da tarde, Júlio Parruque, celebrou o dia com fun-
cionários da Empresa Municipal de Transportes Públicos da
Matola -ETM, onde garantiu o pagamento do décimo terceiro
salário em breve.
SEGUNDA-FEIRA 06 de Maio de 2024 DOSSIERS & FACTOS POLÍTICA 19

PAULO VAHANLE EM GRANDE ENTREVISTA

“Foi o partido que me mandou entregar


as chaves do município”
- Não há problemas na RENAMO, há pessoas com interesses pessoais

O
ambiente político nacional con-
tinua bastante controverso, por
um lado, devido ao terrorismo
em Cabo Delgado, que continua
a ceifar vidas humanas e a destruir infra-
-estruturas públicas e privadas, e que pou-
co a pouco está a alastrar-se para outras
províncias vizinhas; por outro lado, devido
à crise económico-financeira que levou o
país a mergulhar numa situação bastante
crítica. Para avaliar estes e outros assun-
tos, Dossiers & Factos traz em grande en-
trevista desta semana o político e antigo
edil da cidade de Nampula, Paulo Vahanle.
Vahanle faz revelações bombásticas sobre
os problemas que estão por detrás deste
ambiente político e culpa o governo por
supostamente não estar a fazer nada para
reverter este cenário. Mas também, fala Paulo Vahanle, ex-edil de Nampula
dos reais motivos que o levaram a “abrir
séria, começando pelas dívidas ocultas até à crise eco- a RENAMO. Em todos os municípios onde a RENAMO
mão” do Município de Nampula, que alega
nómica. Falta de boas políticas para o desenvolvimento esteve a governar, provou ser capaz. Com sentido de
ter ganho nas autarquias do ano passado. do país e temos o caso das eleições que decorreram em inclusão, conseguimos ter resultados satisfatórios.
Convidamos o caro leitor a acompanhar o 2023, que foram um desastre. As instituições, quer da D&F: Quando fala de mudanças, a que se refere
trecho da entrevista abaixo, no estilo de justiça como dos órgãos eleitorais e a polícia, protago- exactamente?
perguntas e respostas. nizaram uma guerra não declarada contra os membros PV: Precisamos de mudar o sistema político marxista
dos partidos da oposição. e leninista, que não vai de acordo com o actual custo
D&F: Segundo a sua análise, o país está de mal a de vida dos moçambicanos. Não temos políticas de de-
D&F Texto: Anastácio Chirrute,
em Inhambane pior. Não existe nenhum aspecto bom na governa- senvolvimento e de socialização. Não faz sentido que
ção do Presidente da República? um governo gaste muito dinheiro construindo tribunais
Dossiers & Factos (D&F): Paulo Vahanle, qual é a PV: Moçambique é um País que está em caos e preci- quando temos crianças a estudar sentadas no chão e
avaliação que faz do ambiente político nacional? samos de uma mudança significativa porque os nossos ao relento, quando temos falta de hospitais, baixa pro-
Paulo Vahanle (PV): O ambiente político nacional é governantes esqueceram-se das reais preocupações. dução agrícola, etc. Precipitam-se em construir os tri-
bastante conturbado porque temos a questão da guer- A solução para reverter este problema é que haja mu- bunais para mandar prender os membros dos partidos
ra em Cabo Delgado, a má governação do presidente dança neste País. Precisamos de ter um novo Presidente da oposição durante os processos eleitorais para não
da República Filipe Nyusi, que arrastou o país para a mi- da República, e uma das alternativas neste momento é serem o calcanhar de Aquiles para a FRELIMO.
D&F: Mas acha que a FRELIMO precisa prender
adversários para ganhar?
PV: O povo moçambicano deixou de votar no par-
tido FRELIMO há vários anos, mesmo nestas últimas
eleições Autárquicas, os gráficos provam de forma clara
que os moçambicanos votaram na RENAMO e nos seus
cabeças de lista. Você viu que em Maputo, o Venâncio
Mondlane venceu as eleições e muito bem. Na Matola,
António Muchanga também venceu as eleições muito
bem e em tantos outros municípios.
D&F: Acha que a aludida falta de separação de
poderes pesou para que a FRELIMO fosse consagra-
da vencedora?
PV: Claro que sim. Temos informações dando conta
de que o juiz de um dos tribunais de Cuamba, que leu a
sentença a favor da RENAMO, foi transferido para bem
longe porque não favoreceu a FRELIMO. E temos tantos
outros casos de juízes que também estão a sofrer re-
presálias por não concordarem com o comportamento
dos membros da FRELIMO, só que eles se manifestam
no silêncio.

O ambiente na RENAMO é normal

D&F: Mudando de ângulo, qual é a avaliação que

Para Vahanle, Ossufo Momade não está fora do mandato • Continua na pág 20
20 POLÍTICA DOSSIERS & FACTOS 06 de Maio de 2024 SEGUNDA-FEIRA

líder de uma organização, não basta você querer, tem derá penalizar a RENAMO nestas eleições que se
• Continuação da pág 19 que preencher os requisitos que são impostos para as- avizinham?
sumir certo cargo de chefia e confiança e os membros PV: Não há problemas na RENAMO, as pessoas que
faz do ambiente interno da RENAMO? vão aprovar ou não. estão fora é que estão a apedrejar a RENAMO, e a nível
PV: O ambiente interno na RENAMO é normal. Não D&F: Caso seja proposto para ser o candidato à interno nós sabemos quem são essas pessoas que fa-
existem problemas alarmantes, mas também temos fó- presidência do partido, aceita? zem isso com o objectivo de manchar a boa imagem do
runs próprios para dirimir os nossos conflitos. Daqui a PV: Nossos estatutos defendem que qualquer mem- partido. Portanto, estão a tentar ver se conseguem satis-
pouco, teremos o nosso congresso e vamos aproveitar bro da RENAMO tem direito de se eleger e ser eleito. fazer as suas vontades transparecendo uma imagem de
para expormos lá as nossas preocupações. Se o partido me escolheu para ser deputado da Assem- que nós não estamos bem. Isto é acção do adversário.
D&F: Qual é a nota que dá à liderança do Ossu- bleia da República e membro da Comissão Permanente, D&F: Quer com isso afirmar que Venâncio Mon-
fo Momade ao longo dos cinco anos em que está à como aconteceu, não vi nenhum problema e aceitei o dlane e o Elias Dlhakama são obras do adversário?
frente dos destinos do partido? desafio que me foi proposto pelo partido. E veja que, PV: Eu não conheço essas pessoas, o que elas são
PV: Ele é o meu líder e está a dirigir o partido de boa antes de terminar o meu mandato, o mesmo parti- dentro do partido? O que sei é que são membros da
forma. Não tenho motivos para reclamar. Ossufo Mo- do me mandou para vir para Nampula para concorrer RENAMO, mas não sei o que eles pretendem com todo
made não está a dirigir o partido fora do mandato, tal como presidente do conselho Municipal. Eu na AR tinha aquele teatro que estão a fazer. Talvez no congresso
como se fala por aí fora. Daqui a pouco, teremos con- regalias, acabava de receber um Mercedes. Eu tinha re- que vamos realizar daqui a pouco vou saber o que real-
gresso e tudo isso será esclarecido. Mas também, quero galias como deputado e membro da Comissão Perma- mente eles são dentro do partido. Eu não estou contra
esclarecer uma coisa: nós não podemos andar a agitar a nente, mas aceitei largar tudo e vir cá. Em suma, quero Venâncio Mondlane, pelo contrário, somos amigos de
população por causa dos nossos interesses. Quando eu dizer com isto que, se o partido decidir escolher-te, tens longa data e o Elias Dhlakama também.
for convidado para ir a uma festa, chegando lá, não vou que alinhar porque os estatutos assim o defendem. D&F: Esteve durante cinco anos a dirigir uma das
tomar a cadeira mais alta. São os donos da festa que me D&F: Considera que seria um candidato ideal maiores cidades do País (Nampula), um sonho que
devem convidar para tomar aquela cadeira. A imagem para disputar as presidenciais? terminou este ano com a realização das eleições
que se pretende transmitir com esta situação toda é de PV: Não posso dizer sim, mas também não posso di- Autárquicas no ano passado onde saiu derrotado, o
que a RENAMO é um partido muito desorganizado. zer não. Se os membros me escolhessem, eu antes faria que teria falhado para não renovar o seu mandato?
D&F: Afirmou que o partido não está em proble- uma avaliação e não é proibido um eleito apresentar PV: Quem deve responder a essa pergunta é a Co-
ma, mas temos aqui o fenómeno chamado Venâncio opiniões prévias antes de avançar. Imagine que me es- missão Provincial de Eleições e da cidade. Temos actas
Mondlane a levantar muita poeira. Não é nenhum colham a mim, eu sou hipertenso, de cinco em cinco e editais que provam que a RENAMO ganhou aqui na
problema para a Renamo? dias devo ir ao Médico porque a minha idade já não me cidade de Nampula e temos áudios dos membros da
PV: Olha, senhor jornalista, eu, por exemplo, estou a ajuda. Eu vou explicar tudo isso e, por sua vez, caberá FRELIMO a confirmarem também que a vitória é nossa
militar já há vários anos e nunca andei a fazer barulho ao partido avaliar se insiste em me deixar avançar ou e que os dados foram fabricados no gabinete. O actual
porque quero ser presidente do partido. Sempre res- procura um outro candidato. edil, por exemplo, está a fazer entrega de carteiras nas
peitei a casa. Em outras palavras, se você quer se tornar D&F: O barulho que temos actualmente não po- escolas. Aquelas carteiras eu é que comprei, só não en-
treguei porque algumas escolas tive-
ram medo de receber por questões
políticas. Há dias fez a entrega de um
sistema de água. Não foi ele quem
construiu, o Vahanle foi quem deixou
aquele sistema e ele apenas inaugu-
rou, e tantas outras obras que deixei
na expectativa de concluí-las neste
mandato, e veja que eu em nenhum
momento decepcionei os meus mu-
nícipes, que agora sentem a minha
falta.
D&F: Sempre disse que em ne-
nhum momento entregaria as
chaves do município, mas depois
vimos um Paulo Vahanle mais cal-
mo e que do nada abriu a mão do
Município?
PV: Não recuei por livre vontade.
Recebi ordens do meu partido, por-
que de vez em quando aconteciam
tumultos aqui na cidade porque os
munícipes não concordavam com o
comportamento da FRELIMO e seus
órgãos eleitorais. Para evitarmos um
banho de sangue, tive que ceder as
chaves.
D&F: O actual edil acusa-lhe de
ter pago salários durante o período
em que esteve a dirigir o município
de Nampula a mais de 500 funcio-
nários fantasmas. Constitui verda-
de esta informação?
PV: O que estamos a assistir ago-
ra é ciúme político. Eu, quando tomei
posse, encontrei quadros do partido
FRELIMO nos recursos humanos, não
removi nenhum quadro, apenas pe-
guei um quadro e o nomeei director.
A única pessoa que veio de fora foi o
vereador, nos termos da lei. Pergun-
te à vice-ministra da administração
estatal, vai-lhe confirmar que eu fui
o primeiro a aderir a esses serviços.
Agora, se há funcionários fantasmas
quem pode saber melhor explicar é a
Cidade de Nampula própria FRELIMO.
SEGUNDA-FEIRA 06 de Maio de 2024 DOSSIERS & FACTOS POLÍTICA 21

CONTENCIOSO ELEITORAL

Renamo vota contra seu


próprio interesse
A
Assembleia da República deci-
diu, na semana finda, pôr termo à
guerra entre o Tribunal Supremo
(responsável pelos Tribunais Ju-
diciais de Distrito) e o Conselho Constitu-
cional, dando plenos poderes ao segundo
órgão para declarar nulidade de processos
eleitorais em caso de irregularidades. Esta
“solução” foi aprovada por consenso pelas
três bancadas parlamentares, mas repre-
senta um “tiro no pé” por parte da Renamo.

D&F Texto: Amad Canda

A confusão instalada após as eleições autárqui-


cas de Outubro de 2023, com a oposição a queixar-
-se de fraude eleitoral numa gama de autarquias um
pouco por todo o País, desencadeou vários proces-
sos a nível dos Tribunais Judiciais de Distrito (TJD),
tendo alguns decidido declarar nulas as eleições.
Facto é que grande parte das decisões dos TJD
acabaram por ser invalidadas pelo Conselho Cons-
titucional, o que abriu uma guerra entre este órgão
e o Tribunal Supremo. A questão fundamental era
quem, afinal, entre os tribunais e o Conselho Cons-
titucional, tem competências para declarar nula Mais um “tiro no pé” da Frelimo de Ossufo Momade
uma eleição.
Para pôr cobro a esta querela, as três bancadas competências para ordenar a recontagem de votos. O voto da Renamo, que até hoje se queixa de
parlamentares da Assembleia da República (Freli- Já o Conselho Constitucional passa a deter o poder ter sido prejudicado pelo Conselho Constitucio-
mo, Renamo e MDM) deliberaram que os TJD têm de anular e mandar repetir as eleições. nal – em certas autarquias, como é o caso da cida-
de de Maputo, a Renamo acusa o
órgão de ter tomado decisões com
base em cópias de editais, e não
nos originais – chama atenção, na
medida em que é um voto contra
os interesses do próprio partido.
A opinião é do analista político
Ernesto Júnior. Júnior argumenta
lembrando que as decisões toma-
das pelo Conselho Constitucional
são irrecorríveis, pelo que, a partir
de agora, a “perdiz” só terá uma
instância para recorrer. “A vota ao
lado da Frelimo, a oposição votou
contra os seus interesses. Sobretu-
do a Renamo, é um contra-senso o
seu sentido de voto”.
O analista não acredita, ain-
da assim, que a Renamo se tenha
distraído ou que não tenha noção
das consequências que advirão
da concessão de plenos poderes
ao Conselho Constitucional. Pelo
contrário, explica este alinhamen-
to aos interesses do partido no
poder com “acordos” debaixo do
pano.
“Se prestar atenção, há-de per-
ceber que estão a surgir novos-
-ricos no País, ricos da Renamo.
Enriquecem mesmo a partir des-
tes acordos”, explica a fonte, acres-
centando que, efectivamente, a
“perdiz” não está interessada em
Com esta medida aprovada pela AR, vida fica mais fácil para a Frelimo ganhar o poder.
22 GARGANTA FUNDA DOSSIERS & FACTOS 06 de Maio de 2024 SEGUNDA-FEIRA

A militância das
1
com expectativas muito elevadas em relação aos candida-
tos dos 2 maiores partidos, mas principalmente do partido

redes sociais
FRELIMO, porque isso influencia directamente nas vidas
que as pessoas querem ver melhoradas, daí a pressão em
termos candidatos capazes de satisfazer as expectativas, já
não é questão de mão externa ou de detractores, é mes-
Olhando para os fenómenos que vão acontecen- glorioso. Quando as pessoas olham para o candidato mo questão de expectativas e se os partidos não conse-
do nos 2 maiores partidos de Moçambique, podemos da FRELIMO, olham para alguém que pode dar rumo ao guem dar isso, então, muitos vão se querer, seja onde for,
afirmar categoricamente que há novas manifestações. país, é preciso assumir que as coisas no país não estão nas redes sociais ou nos partidos. Já não é uma questão de
Olhando para a Renamo, onde VM7 tenta forçar uma bem, não é momento de vez vez, ou alguém que venha Frelimo ou Renamo, é uma questão de Moçambique, um
candidatura, e para Frelimo, onde apareceu tipo tcham garantir interesses deste ou daquele, as pessoas estão Moçambique melhor para todos.
tcham um novo actor que se apelida de “filho do povo”,
sim, Garganta se questiona, a militância deixou de ser
nos partidos, nas células, nas bases e passou a ser feita
no Facebook, Instagram, WhatsApp, enfim, nas redes
sociais. Geralmente as pessoas lutam para fazer parte
do processo, em Portugal, por exemplo, os partidos no-
vos que aparecem, como é o caso do Chega do André
Ventura, lutam para primeiro ter alguns assentos na as-
sembleia, ganhar em uma ou outra autarquia, em algum
momento os partidos mais pequenos acabam fazendo
alianças com os mais fortes de forma a tirar dividendos.
Aqui não, alguém apareceu hoje quer ser Presidente da
República, e se não consegue, fica frustrado e é mais um
descontente. Base de sustentabilidade e apoio não tem,
as pessoas já não se olham ao espelho ou estamos tão
banalizados assim que só falta vir o puto de Namicopo
lançar a sua candidatura, prontos, mas também com os
candidatos lançados pelo CC, convida qualquer um a
se querer, se calhar este pode ser o problema actual do

Parto difícil
2 na Matola
Parto difícil é o que aconteceu na Matola, conseguiu chegar perto da sala, entre outros, aliás este era
parece que uns saíram fortes e outros enfra- o grupo dos que se queriam sem serem queridos. O Co-
quecidos, muito enfraquecidos. Esta novela é mité Central se bateu com “bravura” mas, no fim, cedeu e
interessante, pois foi a primeira vez que vimos da mesma lista saiu um nome, Daniel Chapo e o nome do
um “levante” do Comité Central do partido no candidato do partido Frelimo. Mas é visível que o líder do
poder que em bloco negou que o seu Secre- Partido dos camaradas e o seu Secretário-geral saíram fra-
tário-Geral pudesse constar da lista de can- gilizados deste encontro, onde, ao longo destes 3 dias, os
didato a candidato e potencial vencedor do comentários eram muito desabonatórios e hostis ao par-
escrutínio da Matola, os membros mostraram tido Frelimo e sob contestação massiva nas redes sociais
que não querem nada com o seu SG e a lista e, ao que tudo indica, os níveis de abstenção foram muito
proposta pela CP, a partir daí, foi o que se viu, elevados, acima de 50%, o que pressupõe um grito de pro-
surgiu o nome de Basílio Monteiro e sucessi- testo dos membros deste órgão. Venceu a lista proposta
vamente iam entrando outras figuras que, a pelo “Boysse”, mas a questão é, como a Frelimo sai deste
priori, eram esnobadas, figuras como Pacheco, processo? Mais forte ou mais fragilizada e fragmentada? A
Samora Machel Jr., Hama Thai, este que nem ver vamos.

3
nem aí para a questão dos ATMs e POSs, pois os cidadãos não

E os Megas disparam
conseguem usar o seu próprio dinheiro, afinal, o que o povo
fez para ter estes dirigentes que não os dignifica? Por que tan-
to desdém do povo? Tanta insensibilidade por quê? E por que
quem de direito não põe ordem nisto?
Enquanto esperneávamos, gritávamos por conta
da indicação de Roque Silva para constar à candida-
to a candidato, os senhores do INCM davam um duro
golpe ao povo moçambicano. Nesse mesmo fim-de-
-semana, o valor da internet duplicou, dobrou o seu
valor, agora aqueles pacotes todos da Movitel não
valem nada, os megas da Vodacom não valem nada.
O INCM quis equilibrar a balança, do tipo, se a ope-
radora de bandeira não esta bem, então, ninguém
fica bem aqui, vamos todos ficar mal para ela poder
concorrer connosco, o pior é que quem paga é o
povo, tem que pagar pela má gestão da companhia
de bandeira, tem que pagar pelo clientelismo que
arruinou as expectativas dos funcionários daquela
empresa e tudo isso protegido pelo regulador. De-
viam ter vergonha os gestores do INCM, que, mais
uma vez, provaram que o seu Patrão não é o povo,
o mesmo se estende ao Governador do Banco de
Moçambique, que de Excelência não tem nada, está
SEGUNDA-FEIRA 06 de Maio de 2024 DOSSIERS & FACTOS ECONOMIA 23

COM BRILHARETE NA HCB

Matola “replica” percurso no BNI


- Com lucros históricos, HCB vai pagar mais de 6 mil milhões em
dividendos ao Estado

O
s dados do exercício económico
de 2023 revelam um desempe-
nho excepcional da Hidroeléc-
trica de Cahora Bassa (HCB), com
um resultado líquido recorde de 13.021,7
milhões de meticais. Esse resultado re-
presenta um crescimento significativo de
41,4% em relação ao ano anterior, conso-
lidando a posição da empresa como uma
das maiores produtoras de energia na re-
gião austral de África.

D&F Texto: Amad Canda

O sucesso financeiro da HCB é tido resultado de uma


série de iniciativas estratégicas implementadas sob a
liderança sob liderança de Tomás Matola, que assumiu
o cargo de Presidente do Conselho de Administração
(PCA) em Maio de 2023, que levou, por exemplo, a que
a produção total de energia em 2023 superasse as ex- Tomás Matola, PCA da HCB
pectativas, atingindo 16.057,5 GWh, o maior volume dos Foto: e-global
últimos oito anos. Além disso, a revisão bem-sucedida recursos. O gestor enfatizou ainda a visão da empresa de dos a dividendos, 35% para reserva de investimentos e
da tarifa de venda de energia ao exterior contribuiu para aumentar sua capacidade de geração de energia, o que 10% para resultados transitados. Isso resultará no paga-
impulsionar os resultados financeiros da empresa. posicionará Moçambique como um importante centro mento de dividendos históricos ao Estado, no valor de
Tomás Matola expressou orgulho nos resultados al- energético regional. 6,3 mil milhões de meticais, representando um incre-
cançados pela HCB, destacando o compromisso da em- A Assembleia Geral dos accionistas da HCB aprovou mento de 73,2% em relação ao ano anterior.
presa com uma gestão cuidadosa e responsável de seus a distribuição dos resultados líquidos, com 55% destina- Além dos seus notáveis resultados financeiros, a HCB
mantém um compromisso contínuo com a manutenção
e modernização de suas instalações, preparando-se para
implementar o Capex Vital 10 anos. Este projecto visa
reabilitar equipamentos críticos e aumentar a capacida-
de de geração de energia, garantindo um fornecimento
estável e confiável no futuro.
Refira-se que a HCB é a maior empresa de capitais pú-
blicos em Moçambique, tendo o Estado com 85%, 7,5%
da empresa portuguesa REN e 3,5% capitais próprios da
empresa e 4% nas mãos de diversos cidadãos e empre-
sas nacionais.

Tomás Matola dos lucros

O desempenho de Tomás Matola na liderança da HCB


é uma espécie de reedição do seu reinado no Banco Na-
cional de Investimento, onde desempenhou as funções
de Presidente da Comissão Executiva (PCE) até Maio do
ano passado.
A maior amostra disso são os dados do exercício eco-
nómico de 2022, altura em que a instituição bancária pú-
blica atingiu números bastante positivos. Foram 206,62
milhões de meticais (cerca de 3,2 milhões de dólares), o
que representa um impressionante crescimento de 80%
em relação ao ano anterior.
Esse crescimento significativo é atribuído a uma sé-
rie de estratégias bem-sucedidas implementadas pelo
BNI, incluindo a diversificação da carteira de produtos e
serviços financeiros, a expansão das fontes de financia-
mento e a melhoria da gestão de riscos. Essas iniciativas
permitiram ao banco superar os desafios económicos e
fortalecer sua posição no mercado financeiro nacional.
A rentabilidade dos capitais próprios e a rentabilida-
de do activo também aumentaram substancialmente
em 2022, demonstrando a eficácia das medidas adop-
tadas pelo banco para maximizar seus retornos. Além
disso, o BNI manteve uma posição sólida em termos de
Hidroeléctrica continua a apostar no aumento da capacidade de geração solvência e liquidez, garantindo sua estabilidade e segu-
Foto: O Económico rança financeira.
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Celular: 82 4753360 | Email: [email protected]

50Mt

Rússia vista como uma


“ameaça existencial”
O
alto representante da à guerra na Ucrânia, e sublinhando a
União Europeia para “gravidade do momento actual”.
De lembrar que o presidente
os Negócios Estran- russo, Vladimir Putin, vê o Ocidente
geiros, Josep Borrell, como seu adversário e repete-o na
considera a Rússia como uma televisão estatal russa, algo que leva
"ameaça existencial" para a Borrell a considerar que os europeus
Europa, porque, se for bem- não estão preparados para a dureza
do mundo para o qual finalmente
-sucedido, o presidente russo, acordaram.
Vladimir Putin, não vai parar Na sua intervenção, o alto repre-
na Ucrânia. sentante defendeu que, para fazer
face à actual situação geopolítica, é
necessário diversificar os laços co-
Durante o seu discurso na Univer- merciais e aprofundar a cooperação
sidade de Oxford, intitulado “A Euro- com aqueles que partilham os valo-
pa enfrenta duas guerras”, o chefe da res e interesses europeus, citando o
diplomacia da UE repisou na ameaça Reino Unido, apesar da sua saída da
representada pelo presidente russo União Europeia.
e sublinhou que são cada vez mais Realçou ainda que, no mundo
as vozes que alertam para as con- actual, há mais confrontos e menos
sequências globais de uma vitória cooperação, com os Estados Unidos
russa. a perderem a sua hegemonia, en-
“Em alguns casos, ainda estamos quanto a China cresceu, e é o seu Borrell defende a necessidade de diversificar as parcerias
na cama”, acrescentou, referindo-se rival. Foto: Lusa

RDC abre espaço para uma


guerra contra Ruanda
O
Presidente congolês, faz há largos meses. Paralelamente, Fe-
Felix Tshisekedi, abre lix Tshisekedi não deixou igualmente
de denunciar "a inércia da comunidade
um espaço para uma internacional" a quem Kinshasa recla-
guerra contra Ruan- ma sanções contra o Ruanda.
da, numa altura em que o leste "Quero adiar esta eventualidade (a
da República Democrática do guerra) ao máximo, pois prefiro usar
Congo (RDC) tem sido palco, há toda a nossa energia e as nossas rique-
zas em benefício do desenvolvimento
largos meses, de violentos com- dos 145 territórios da RDC do que no
bates entre as forças governa- esforço militar", acrescentou ainda
mentais e os rebeldes do M23, Tshisekedi, que, ao ser questionado
apoiados pelo Ruanda. sobre a possibilidade de abrir conver-
sações com o seu homólogo ruandês,
Numa entrevista ao jornal francês recordou que a mediação angolana
‘Le Figaro’, Felix Tshisekedi afirmou ca- está a trabalhar nesse sentido e que
tegoricamente a possibilidade de uma as delegações das partes adversas de-
guerra contra Ruanda. "Claro, uma vem avistar-se nos próximos dias em
guerra é possível, não escondo". Luanda.
"Este país, que é nosso vizinho, viola "Eu peço uma coisa simples: que o
o nosso território para pilhar os nossos Ruanda retire as suas tropas do terri-
recursos minerais e aterrorizar as nos- tório congolês", concluiu o Presidente
sas populações", disse o chefe de Esta- Congolês, dirigindo-se às autoridades "Claro, uma guerra é possível, não escondo", pondera o Presidente congolês
do congolês, reiterando denúncias que ruandesas. Foto: Foto: RFI

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