SANTOS Salomao Tecnicas+de+Aconselhamento

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TÉCNICAS DE

ACONSELHAMENTO DE
CASAIS
Salomão Santos
Técnicas de
aconselhamento de
casais

SALOMÃO SANTOS
AULA 1

Equipe

Você, líder de casais, que faz o Treinamento Avançado de Líderes


de Casais, é um herói, pois desempenha um trabalho que está
no coração de Deus! Temos para você cinco técnicas de aconse-
lhamento e a primeira técnica é ter uma EQUIPE que funcione.
A segunda é a CONEXÃO essencial que deve haver com os acon-
selhados. Depois vamos precisar estabelecer um DIAGNÓSTICO
apropriado para só então apresentar o EVANGELHO, que é o
remédio. E concluiremos com o PLANEJAMENTO para consoli-
dar a mudança. Usaremos Gênesis 3, porque o primeiro casal
que ficou em crise e que precisou de aconselhamento foram os
nossos pais Adão e Eva.

O homem e a mulher estavam nus, mas não


sentiam vergonha. (Gn 2.25 NVT)

O primeiro casal estava de bem com Deus e um com o outro.


Eram transparentes, pois não havia desconfiança, nem egoísmo.

A mulher viu que a árvore era linda e que seu fruto parecia deli-
cioso, e desejou a sabedoria que ele lhe daria. Assim, tomou do
fruto e o comeu. Depois, deu ao marido, que estava com ela, e
ele também comeu. Naquele momento, seus olhos se abriram,
e eles perceberam que estavam nus. Por isso, costuraram folhas
de figueira umas às outras para se cobrirem. (Gn 3.6-7)

Depois de tentados e enganados, o casal pecou e ficou separado


da glória de Deus. Sentiram-se nus e com medo. Fizeram umas
roupas improvisadas, uma espécie de religião humana para lidar
com a vergonha e culpa. O relacionamento deles ficou abalado,
pois se separaram de Deus e a credibilidade entre eles ficou
comprometida.

Quando soprava a brisa do entardecer, o homem e sua


mulher ouviram o Senhor Deus caminhando pelo jardim
e se esconderam dele entre as árvores. (Gn 3.8 NVT)

Embora o casal precisasse muito de ajuda e aconselhamento,


eles se esconderam do único que poderia ajudá-los.

Então o Senhor Deus chamou o homem e perguntou:


“Onde você está?”. Ele respondeu: “Ouvi que estavas
andando pelo jardim e me escondi. Tive medo, pois eu
estava nu”. “Quem lhe disse que você estava nu?”, per-
guntou Deus. “Você comeu do fruto da árvore que eu
lhe ordenei que não comesse?” O homem respondeu:
“Foi a mulher que me deste! Ela me ofereceu do fruto,
e eu comi”. Então o Senhor Deus perguntou à mulher:

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“O que foi que você fez?”. “A serpente me enganou”,
respondeu a mulher. “Foi por isso que comi do fruto.”
(Gn 3.9-13 NVT)

A cena descrita acima é incrivelmente parecida com conversas


nas salas de aconselhamento, um jogando a culpa no outro.
O conselheiro precisa fazer perguntas e tornar evidente para
o próprio casal onde estão os erros de cada um, não do outro.
Já vem dos primórdios a tendência de lançar a culpa sobre os
outros. No caso de Adão e Eva o Maravilhoso Conselheiro não
se distraiu com o estratagema de Adão e tornou evidente o pe-
cado para extrair uma confissão, assim o aconselhamento pôde
prosseguir.

A crise do primeiro casal foi mediada pelo Maravilhoso Conse-


lheiro, que nos deixou preciosas lições e princípios fundamen-
tais. Daí extrairemos as técnicas ensinadas pelo próprio Deus
de como aconselhar casais. A primeira é:

1) NUNCA ACONSELHE SOZINHO

Aconselhar sozinho não é sábio e nem bíblico. Nem Deus tra-


balha sozinho. No início da criação vemos que Deus não estava
sozinho:

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No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra era sem
forma e vazia, a escuridão cobria as águas profundas, e
o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas.
Então Deus disse: “Haja luz”, e houve luz. (Gn 1.1-3)

Nesses três primeiros versículos encontramos “Deus criou...” que


é o Deus Pai. Segundo o planejamento dele o “Espírito Santo
se movia…” e “chocava” a Terra e quando Ele disse “haja luz”
a Palavra, o Verbo entrou em ação. A Trindade está envolvida
desde o início da Criação. Deus é apresentado como um Deus
comunidade, como um Deus que é coletivo, que é, em si mes-
mo, um grupo de pessoas. Um Deus relacional que não trabalha
sozinho. Também no verso 26:

[…] Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa ima-


gem; ele será semelhante a nós. […] (Gn 1.26)

“Façamos” está no plural e a proposta para a Comunidade-Deus


era ter seres que fossem “a imagem” dele. Esse Deus trabalha
junto desde o início, como um conselheiro pretende trabalhar
sozinho? Vamos combinar, querido leitor: desista da ideia de
aconselhar sozinho. A primeira companhia que um conselheiro
de casais precisa é a do Espírito Santo. Ele tem vários nomes,
segundo as várias traduções. Em João 14.16 é chamado Paráclito
(TB), de Consolador (ARA, ARC, NAA, A21, NBV-P), de Conselheiro
(NVI), de Auxiliador (NTLH), de Encorajador (NVT), e de Amigo
(MSG). Como abrir mão de uma pessoa extraordinária como Ele?

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Até me constrange saber que Deus, o Todo-Poderoso, habita
em mim e “me ajuda”! Ele é Deus, eu o servo, o atrapalhado, o
mortal. Eu deveria ajudá-lo! Sim, mas nem isso eu consigo so-
zinho. Preciso de Deus (Espírito Santo) para fazer a vontade de
Deus (o Pai). Ele manda a Terceira Pessoa da Trindade, o amado
Espírito Santo para habitar em mim.

Pode parecer óbvio e até piegas, mas existe em nós uma tendência
de não depender de Deus! Quando você aconselha pela primeira
vez não tem muita certeza do que dizer, ou do que fazer, então
depende de Deus. Você ora e entra na sala de aconselhamento,
até trêmulo, cheios de temor e o aconselhamento é um suces-
so! O casal se reconcilia e fica muito bem. A tendência humana
é o conselheiro se achar “o cara”! Talvez pensar que ele é bom
“nesse negócio de aconselhamento” e nos aconselhamentos
seguintes, entra cheio de si, distraído, negligente e presunçoso.
Isso nunca acaba bem.

Nosso primeiro desafio é sempre depender do Espírito Santo.


Entre com Ele na sala. Até no caminho, vá se preparando, cha-
me por ele em pensamento, dependa e, durante o trabalho,
não deixe de buscá-lo em pensamento e oração. Nunca esteja
sozinho porque o Espírito Santo é o Maravilhoso Conselheiro.

A menor unidade de um aconselhamento é o Todo-Poderoso, você


e o seu aconselhado. Porém, outras pessoas são desejáveis na
configuração, pois o terreno do aconselhamento é extremamente

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explosivo e delicado. Podemos comparar a um campo minado
em que, qualquer palavra errada pode gerar uma explosão com
gritos e ofensas, ou ainda como uma delicada horta cheia de
pequenos temperos que não podem ser pisados. As pessoas têm
a alma ferida, em “carne viva” e estão altamente vulneráveis.

Há grande perigo quando homens, líderes de casais, ou pastores,


vão aconselhar mulheres que estão sofrendo no seu casamen-
to! A maioria dos homens tem um impulso de sentir pena das
mulheres maltratadas e de querer compensar, ou mostrar como
o marido cruel deveria tratar a aconselhada. É uma tendência
pecaminosa, mas que se apresenta com força, quando não há
proteção e companhia de outros na sala de aconselhamento.

Nessa dupla: um pastor conciliador e uma mulher carente há


grande possibilidade de haver um envolvimento emocional,
principalmente se o aconselhamento se prolongar por vários
encontros. Repare que o “adultério de coração” (Mt 5.28) come-
ça com a sensibilização das emoções e um laço de afeto entre
a dupla conselheiro-aconselhada começa sutilmente. Porém, o
final é trágico e devastador. É muito comum o adultério nessa
mistura.

Querido leitor: evite ao máximo ficar sozinho com pessoa de


outro sexo no aconselhamento1. Particularmente já fui procu-

1 Por pessoa de outro sexo, entende-se que é o tipo que lhe gera atração. Se você for
vulnerável a pessoas do mesmo sexo, deve, igualmente, evitar aconselhar sozinho.

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rado por mulheres sinceras que buscavam aconselhamento e
minhas instruções eram:

→→ venha com o marido, se ele não quisesse;

→→ traga uma amiga, se ela não tivesse uma disponível;

→→ venha com um parente, se não pudesse;

Se nada disso puder ser feito, convide a secretária da igreja


para participar. Convide a sua esposa para compor o aconse-
lhamento. Faça o que for necessário, mas evite ao máximo ficar
sozinho. Se a situação for de emergência, vá para o meio do
salão de reunião, avise aos outros irmãos presentes o que está
acontecendo e aconselhe. Porém, isso é exceção. Se você puder
planejar, aconselhe sempre com mais gente. De preferência a
ter mais três pessoas: A esposa e um casal de intercessores. O
local do aconselhamento deve ser “transparente”.

5
Quem recebe uma destas crianças em meu nome,
recebe a mim. 6Mas a quem fizer tropeçar um destes
pequeninos que creem em mim seria melhor se lhe
pendurassem no pescoço uma pedra de moinho e afun-
dasse nas profundezas do mar. 7 Ai do mundo, por cau-
sa dos escândalos! Pois é inevitável que eles venham;
mas ai do homem por meio de quem o escândalo vier!
8
Portanto, se a tua mão ou o teu pé te fizer tropeçar
corta-o e joga-o fora; para ti é melhor entrar na vida

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defeituoso ou aleijado do que, tendo duas mãos ou
dois pés, ser lançado no fogo eterno. 9E, se teu olho te
fizer tropeçar, arranca-o e joga-o fora; para ti é melhor
entrar na vida com um só olho do que, tendo os dois
olhos, ser lançado no inferno de fogo. 10Atenção! Não
desprezeis nenhum destes pequeninos; pois eu vos digo
que os anjos deles no céu sempre veem a face de meu
Pai, que está no céu.11[Porque o Filho do homem veio
salvar o que se havia perdido.]

Esse texto é apavorante pois Jesus é muito enfático quando ele diz
que alguém que causa escândalo no Corpo de Cristo era melhor
ser lançado com uma pedra amarrada no pescoço para o fundo
do mar. Imaginemos a força dessa cena: algum tipo de carrasco
está amarrando uma corda ao seu pescoço e do outro lado da
corda existe uma pedra de moinho que somente três homens
juntos conseguem levantar. Suas mãos e pés estão amarrados e
jogam a pedra que faz um barulho e espirra muita água. O rolo
de cordas que divide você da pedra vai se desenrolando com
rapidez até que um tranco seco lhe puxa pelo pescoço e em
menos de 10 segundo você está todo molhado sendo arrastado
pela força da pedra para o fundo do mar que escurece e esfria
a cada segundo. O ar começa a faltar, mas o movimento para
baixo não cessa até que bate no fundo em que você, finalmente
não aguenta mais e respira água e morre em poucos minutos.

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Na sequência do texto Jesus afirma que os escândalos (adulté-
rios e envolvimentos com mulheres carentes) são inevitáveis,
mas explica que não precisa ser com você. Ele mostra como você
pode se livrar da corda e da pedra de moinho: “e a tua mão ou
o teu pé te fizer tropeçar corta-o e joga-o fora”. Evite o mal pela
raiz, fuja das possibilidades de cair. Não dê chance alguma para
o escândalo, ou para o envolvimento emocional. Possibilidade
zero. Corte absolutamente tudo, já que você não deseja cau-
sar escândalo. Se você se apaixonar, se envolver, ou se houver
qualquer desequilibro naquela relação você trará desgraça para
a vida daquele casal, você destruirá parte da vida da igreja,
estragará a sua própria família, perderá o Ministério, nunca se
perdoará! Situação horrível, você terá se colocado debaixo de
um juízo terrível!

Escute o conselho: não aconselhe sozinho. Dependa do Espírito


Santo, proteja-se e forme uma pequena equipe, pois nem sem-
pre você dará conta de fazer tudo. Mais importante do que ser
super ocupado é treinar pessoas e conduzi-las a ter os mesmos
conhecimentos e práticas que você. Façam um curso juntos,
estudem um livro de aconselhamento de casais, aconselhe
junto e dependa do Espírito Santo. A obra é do Espírito Santo.
Delegue. Pode ser que façam um trabalho melhor que o seu.
Faça discípulos.

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Recapitulando:

→→ dependa do Espírito Santo

→→ proteja-se

→→ forme uma pequena equipe

→→ faça discípulos

Por que você acha que existe esse curso? Para treinar pessoas,
para que elas assumam os ministérios em suas próprias igrejas.
Deus falou isso para o pastor José Gonçalves. Ele não vai dar
conta de pastorear o Brasil inteiro e de cuidar das famílias da
nação toda. A instrução de Deus foi para ele fazer discípulos e
formar numerosos líderes e irmãos capacitados, que dependem
do Espírito Santo para cuidar das famílias necessitadas. O que
o Pr. Josué está fazendo em nível nacional e até internacional,
pode ser feito por você localmente.

Dependa do Espírito Santo, do Parakleto, que é chamado para


estar ao seu lado, no seu interior! Você tem um intercessor, um
conselheiro, um advogado, uma assistente legal (jurídico) e
ele é um Maravilhoso Conselheiro (Is 9.6). Fuja de achar que já
sabe. De dizer para Deus que agora você já sabe fazer sozinho.
Mantenhamos humilde postura, pois o Espírito Santo é o único
que transforma o coração.

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AULA 2

Conexão

O texto bíblico que norteará as nossas aulas está em Gênesis 3,


na parte da Queda, quando o primeiro casal passou a precisar
de Aconselhamento. Todos conhecemos a história: Deus mesmo
plantou um jardim magnífico e nele colocou os nossos antepas-
sados. Eles poderiam comer de tudo livremente, deveriam tra-
balhar e manifestar o governo e a sabedoria de Deus para toda
a criação. Havia, porém, uma restrição, uma proibição: comer
de uma fruta proibida. Quem dela comesse, morreria.

A nossa querida Eva caiu no conto da Serpente e acreditou que


Deus era mesquinho e que ficaria mais parecida com Deus se
comesse. Assim ela rompeu com Deus e desobedeceu. O homem
que deveria ajudá-la a se desviar do mal, aliou-se à transgressão
e desobedeceu também. A Queda teve proporções cósmicas,
mas eles, a princípio, sentiram vergonha, medo e perceberam
que estavam nus.

Eles nunca tinham sentido vergonha antes, mas, agora que Eva
tinha sido enganada e tido a péssima ideia de oferecer a fruta
para o Adão, este a culpava. Eva, por sua vez, não mais confiava
em seu homem, que, além de não a proteger da serpente, ainda
concordou com o crime. Que homem “banana”! Que mulher
instável!

Ao ouvirem a voz do Senhor Deus, que andava pelo


jardim no final da tarde, o homem e sua mulher escon-
deram-se da presença do Senhor Deus, entre as árvo-
res do jardim. Mas o Senhor Deus chamou o homem,
perguntando: Onde estás? (Gn 3.8-9 A21)

O primeiro casal estava em crise, ambos haviam pecado e Deus


veio para conversar. Eles estavam escondidos. Assim também,
na sala de aconselhamento, os casais podem estar na defensiva.
Perceba que a iniciativa da restauração é de Deus, por isso existe
esse ministério, como uma iniciativa do Criador à restauração
dos casamentos!

Os dois precisavam lidar com o que haviam feito, tapar a vergo-


nha, esconder a culpa, se “livrar do flagrante” e assim fizeram
roupas de folhas, e se esconderam de Deus atrás das árvores,
dos arbustos. Quem vence a estranheza é o Senhor. Ele coloca
o rosto próximo ao arbusto e pergunta: Onde você está Adão?
O que está acontecendo? O Senhor buscou conectar-se com
o casal perdido. Se eles estavam se escondendo, o Senhor foi
procurá-los. Deus deu o primeiro passo estabeleceu a CONEXÃO.

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Você, provavelmente, não tem a mesma intimidade que Deus
tinha com aquele casal, mas deve buscar a conexão, pois, mesmo
já sendo conhecido deles, Deus deu passos para se aproximar
e cuidar deles. Ele poderia ter mandado um raio lá de cima e
fulminado Adão, mas Deus foi atrás dele, fazendo questão de
mostrar que se importa.

Você também precisa deixar claro que se importa com o casal


aconselhado. Fale isso, pois eles não o conhecem direito e de-
verão revelar sua intimidade para você e sua equipe. Ele precisa
saber que você não está ali para julgá-lo. Você pode dizer: Sabe,
marido, tudo isso aqui é por sua causa. Nós preparamos tudo,
com carinho, atenção e orações para que você e sua esposa
fossem alcançados pela graça de Deus. Você é importante para
nós. Nos importamos com você.

Três questões básicas que o aconselhado precisa responder:

1) Você se importa comigo?

2) Posso confiar em você?

3) Você pode me ajudar?

Gaste o tempo necessário para que o casal aconselhado saiba


que a resposta para as três questões seja sim.

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Em certo aconselhamento, percebi que o marido não prestava
atenção ao que estava sendo dito. Fiz uma pergunta direta para
ele, mas ele não percebeu. Repeti a pergunta e todos ficaram
em silêncio olhando para ele aguardando a resposta até que ele
percebeu que estavam falando com ele, que pediu para repetir
a pergunta. Pela terceira vez fiz a mesma pergunta, mas estava
claro para mim que o marido estava fechado e que não havia
conexão.

Ele havia deixado a mulher e depois de 15 anos havia voltado


para casa. Estava com a esposa há seis meses, mas parecia que
os 15 anos não haviam sido suficientes para mudar nenhum
dos dois. Ele era o “vilão” da história! 15 anos de abandono não
são 15 dias. Ao perceber que todos estavam do “lado dela”, ele
se desconectou. Ao perceber, deixamos de falar com ele e nos
concentramos na esposa, que estava atenta e desejosa de par-
ticipar daquele momento. Percebemos que a esposa tinha um
temperamento mandão, controlador, manipulador e irritante.

O que ele havia feito não estava certo, mas ela não tinha o direi-
to de infernizar a vida dele se comportando como uma mulher
murmuradora que fazia uma mescla de professora zangada com
madrasta malvada. O homem não estava mais aguentando. Si-
nalizamos para ela aquele defeito que, talvez, ela nem tivesse
percebido e ela comprometeu-se a mudar. No final do evento
eles já estavam reconciliados. O homem percebeu que não está-
vamos “do lado dela” e nem do dele, mas do lado do casal. Eles

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partiram para casa sabendo como recomeçar a vida a dois. Este
exemplo foi para mostrar a absoluta necessidade da conexão e
como facilmente se pode perdê-la.

VOCÊ SE IMPORTA COMIGO?

Para deixar claro que você se importa com a pessoa, olhe para
ela com atenção, estude os movimentos dela, evite distrações e
verbalize: Nós estamos alegres por poder cooperar com vocês.
A pessoa pode começar a falar de um jeito desagradável e até
destemperado. Não se ofenda, pois os aconselhados costumam
estar com a alma muito ferida. Supere o desconforto e prossiga.
Você está saudável, ele não.

Outra maneira é agir ativamente para auxiliar. Por exemplo, se


a família está muito aflita porque não conseguiu pagar a conta
de luz do mês e você tem condições, pague a conta. Mostre que
você se importa.

VOCÊ PODE ME AJUDAR?

Dê testemunhos de casais que foram restaurados. Fale da graça


e do poder de Deus que age nas salas de aconselhamento. Se na
equipe de aconselhamento há pessoas que foram restauradas,
cite o caso deles, ou peça que contem rapidamente como Deus

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os restaurou e como estão bem. Cuidado para não se exceder e
parecer um super crente, um super pastor. Conte as suas man-
cadas também, deixe que vejam que você também erra. Quebre
o gelo. Só tome cuidado para não começar a contar os seus
problemas, pois o tempo ali é para eles. Seja sábio, conte uma
mancada com a qual eles se identifiquem, mas não continue a
conversa nessa direção. Volte para o assunto deles. Mostre que
você depende do Espírito Santo, faça uma oração e busque ajuda
do Maravilhoso Conselheiro.

POSSO CONFIAR EM VOCÊ?

Agora que ele já sabe que você pode ajudar, o casal está mais
cheio de Esperança e você pode declarar abertamente o pacto
de silêncio sobre o que será dito a partir daquele momento.
Os termos desse pacto variam de acordo com a visão de cada
instituição. A princípio, você não contará nada do que lhe foi
confidenciado sem previamente avisar o casal e ter a sua auto-
rização. Você explica que algum assunto pode extrapolar a sua
capacidade para resolver, ou a sua autoridade para aconselhar
e que, portanto, você pode sugerir buscar ajuda de algum pas-
tor mais antigo, mas que sempre combinará com o casal com
antecedência.

A situação fica realmente delicada quando um crime é relatado.


Os mais comuns são o abuso de menores em andamento, ou

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não relatados, e as agressões físicas entre adultos. No primeiro
caso, você tem obrigação de relatar e no segundo, cabe ao casal
decidir o que fazer. Mas isso não precisa ser dito anteriormente.
Particularmente eu nunca aconselhei um casal em tal situação,
mas já soube de um pastor que foi questionado por uma juíza
sobre outro líder da cidade que abusava de menores. Ele nem
conhecia o tal líder criminoso e só ouvira boatos. Mesmo assim,
ele foi confrontado por uma autoridade do judiciário. Quando há
menores envolvidos a denúncia é obrigatória. Apesar disso tudo,
a ênfase do aviso a ser dado ao aconselhado é que haverá sigilo
e que a conversa não sairá daquelas quatro paredes. Cumpra a
sua palavra e não conte o que foi falado ali.

Faça um quebra gelo, dispare perguntas agradáveis sobre os


filhos, seus nomes, idades e peraltices. Procure saber a origem
da família, as profissões e depois explique que precisa tomar
notas para não se esquecer dos nomes, das idades e dos deta-
lhes. Peça autorização.

DECIDA GOSTAR DO CASAL

Interiormente, procure pontos de contato entre você e o casal.


Veja o que o marido tem de admirável, analise o temperamen-
to dele e aprecie a coragem da esposa, a disposição deles de
abrir-se ali com você. O aconselhado precisa contar com a sua
admiração e com a sua misericórdia, afinal, você não é melhor

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do que ele. Se for necessário, lembre-se das suas falhas em si-
tuações semelhantes.

Troque de lugar com eles. Coloque-se na pele dele. Procure


entender o caso pelas lentes da esposa. Como você gostaria de
ser tratado ou confrontado se você fosse o marido? Se a esposa
fosse a sua irmã, ou a sua filha, como você gostaria que ela fosse
tratada?

Confie nos aconselhados, acredite neles, pois, caso contrário, não


haverá conexão. Certa vez levei o meu carro defeituoso para um
mecânico. Expliquei o problema, mas avisei que já havia trocado
as velas e os cabos, mas o mecânico pareceu não dar atenção e
disse que eu não me preocupasse, que ele iria cuidar de tudo e
deixar o automóvel perfeito. Depois ele disse que faria uma série
de procedimentos, começando com a troca das velas! Aquele
homem não me ouviu; ou se ouviu, não acreditou, pensando que
o meu conhecimento de motores fosse de uma criança de 4 anos.
Não devemos cometer o mesmo erro que esse mecânico, mas
ouvir com atenção e acreditar no que nos é relatado. A menos,
é claro, que as evidências se mostrem contrárias. Se surgir uma
dúvida, faça uma pergunta pertinente. Você pode ter entendido
errado ou ele pode ter sido pego em uma mentira.

Controlar a ira também é muito importante, pois ao ouvir maridos


abusadores e agressivos, ou extremamente egoístas, é comum
ficarmos inflamados de indignação. Talvez pensamentos como:

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“se fosse a minha filha eu ia querer ‘esganar’ esse homem”. Ou
ainda “vou chamar alguém para dar uma surra neste marido”.
São pensamentos equivocados, nós sabemos, mas eles cruzam
a nossa mente e devemos rejeitá-lo e substituí-los pelo modo
de pensar do Senhor.

Como você veria aquela situação se o rapaz fosse o seu filho?


Ele, com certeza, necessitaria de repreensões sérias, mas guia-
das pela sabedoria e graça de Deus. A ira do conselheiro pode
interromper a conexão do aconselhamento e estragar a obra de
Deus. Permita-me repetir: se a conexão for interrompida, a pes-
soa não o ouvirá; se perder a confiança, se desligará; se perceber
que você tomou partido, levantará as defesas e não se abrirá.

Você precisa ter certeza de que o casal respondeu sim para as


três perguntas:

→→ Ele se importa comigo

→→ Eu posso confiar nele

→→ Ele pode me ajudar

Relembrando o nosso primeiro ponto: Dependa do Espírito Santo,


conte com uma equipe, proteja-se e depois busque a conexão
e permita que ele saiba que você atende aos três requisitos ci-
tados anteriormente.

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AULA 3

Diagnóstico

Já falamos sobre a necessidade de montar uma equipe para


nunca aconselhar sozinho e dissemos que o estabelecimento de
uma conexão é fundamental. Agora aprenderemos como ouvir.

Vamos colocar uma lente sobre a situação e realizar um diagnós-


tico para respondermos o que está acontecendo e definirmos
qual o problema principal do casal. Nossa ferramenta principal
são as perguntas.

No começo da segunda aula vimos como Deus abordou a primeira


família -- Adão e Eva -- e como realizou o diagnóstico na situação
deles. Se Deus já sabe de tudo, por que ele faz perguntas? Para
que o próprio aconselhado perceba a sua real situação. Assim
também nós devemos fazer perguntas, até porque, diferente-
mente de Deus, não sabemos o que está acontecendo.

Mas o Senhor Deus chamou o homem, perguntando:


Onde estás?

O homem respondeu: Ouvi a tua voz no jardim e tive


medo, porque estava nu; por isso me escondi.
Deus perguntou-lhe outra vez: Quem te mostrou que
estavas nu? Comeste da árvore da qual te ordenei que
não comesses?

Respondeu então o homem: A mulher que me deste


deu-me da árvore, e eu comi. (Gn 3.9-12)

A iniciativa da resolução do problema do homem foi do próprio


Deus. Ele sempre estará por trás do desejo da resolução. A es-
posa normalmente toma a iniciativa de buscar ajuda e o nosso
papel é partir para o diagnóstico da mesma maneira como o
Senhor o fez no Jardim. Faça perguntas inteligentes e comece
a coletar os dados.

O Senhor fez as perguntas até que Adão assumiu o seu erro. “Por
que você está se escondendo, Adão? Por que você tem evitado a
sua esposa? Por que você mantém informações escondidas no
celular, de modo que a sua esposa não possa ver? Existe algum
relacionamento seu que pode ser “mal” interpretado pela sua
esposa? Se fosse o contrário, sua esposa estivesse com esse
tipo de relacionamento, como você se sentiria? Você tem algum
envolvimento emocional com outra mulher? Você tem traído a
sua esposa?”

As perguntas serão desencadeadas e conduzidas conforme as


respostas e, uma vez que o aconselhado reconheça que errou,
que pecou, boa parte do problema estará resolvido. Seu objetivo

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é “extrair uma confissão” para poder então tratar com firmeza
e graça. Outra vantagem de fazer perguntas é que você pode
estar conduzindo para uma direção equivocada e as respostas
podem ajudá-lo a voltar ao caminho correto. Deus nunca erra,
nós, entretanto, falhamos muito. As perguntas devem ser feitas
humildemente para não cometermos o erro do sacerdote Eli,
descrito no primeiro livro de Samuel.

Ana era casada, mas não tinha filhos. Sofria muito por isso e foi
ao santuário, onde o sacerdote Eli trabalhava, clamar ao Senhor:

Enquanto ela orava ao Senhor, Eli observava os seus


lábios. Como Ana orava em silêncio, seus lábios se
moviam, mas não se ouvia sua voz; por isso, Eli pensou
que ela estivesse embriagada. E lhe disse: Até quando
ficarás embriagada? Deixa de beber vinho. (1Sm 1.12-14)

Eli fez uma pergunta, mas não esperou a resposta. O próprio


questionamento de Eli estava cheio de julgamento equivocado
e ele errou feio. Na linguagem de hoje, seria: Eli “pagou mico”
porque se precipitou. Serve como lição para nós. Devemos
seguir passo a passo com as perguntas, evitando julgamentos,
ouvindo e pensando na resposta, para só então lançar a próxima
pergunta. Tiago, irmão de Jesus coloca assim:

24
Entendam isto, meus amados irmãos: estejam todos
prontos para ouvir, mas não se apressem em falar nem
em se irar. (Tg 1.19)

Não devemos ter pressa para falar, somente para ouvir e pres-
tar atenção. Anexamos os formulários com perguntas prontas
que poderão facilitar o mapeamento e o diagnóstico. Use o
formulário, ou desenvolva o seu próprio. No livro Introdução ao
Aconselhamento de Casais temos os questionários na íntegra e
os detalhes de como preencher.

O uso do questionário vai depender do tempo que você tiver


com o casal. Se você tiver várias sessões pode investir em fazer
todas as perguntas, pois você monta um perfil detalhado sobre
os aconselhados, que você pode recorrer sempre que precisar.
Seja para relembrar, para orar, ou para relembrar no momento
de um novo encontro. Se você tiver somente um encontro, peça
que eles preencham o questionário com antecedência e man-
dem para você. Antes mesmo do encontro com eles, leia o que
eles escreveram, medite a respeito, ore, peça ajuda do Espírito
Santo, prepare outras perguntas e encontre-se mais preparado
com o casal. Mesmo tendo a sensação de já conhecê-los pelo
questionário, não deixe de usar as técnicas que citamos ante-
riormente -- equipe, conexão e perguntas inteligentes.

Quando temos pouco tempo, procuro saber qual a principal


queixa do casal e a razão que os trouxe. Fazendo assim, você

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mostra respeito pela dor deles e começa a partir da coloca-
ção do próprio casal. Há certos círculos de conversas e ajudas
profissionais em que o aconselhado (ou cliente) é convidado a
desabafar e só o que ele traz pode ser usado para trazer algu-
ma direção. No aconselhamento de casais isso não se aplica.
A instrução precisa ser dada e o padrão bíblico sinalizado com
graça e firmeza.

Na ficha completa você verá como é o sono do aconselhado.


Isso, porque a queixa dele pode ser depressão e a causa, ser falta
de sono. Ele pode se queixar de mau humor e a causa ser uma
enfermidade digestiva. Por isso, sempre que possível, esgote a
ficha para não tratar problemas fisiológicos como se fosse uma
questão espiritual ou de caráter.

Há uma parte que trata do temperamento que pode lhe poupar


bastante tempo, pois ao saber qual o temperamento principal,
vários outros traços daquele temperamento serão descobertos.
Todo temperamento tem pontos fortes e fracos. Se uma esposa
é mais retraída e silenciosa isso não quer dizer que ela esteja
zangada ou deprimida, pode ser, simplesmente, o seu tempe-
ramento melancólico que está em ação.

Não usamos isso como desculpa para o pecado, mas como um


auxílio no conhecimento da alma dos nossos aconselhados. Se
ele é colérico e tem a tendência de usar os demais para atingir
seus objetivos, isso é pecado, deve ser encarado e tratado como

26
tal. Porém, você já perceberá que os impulsos que o aconselhado
tem estão alinhados com o seu temperamento.

Recomendo dois bons livros que tratam do assunto: o clássico


Temperamentos Transformados, de Tim LaHaye, lançado nos
anos 80 e Uma Jornada de Autodescoberta: o que o eneagrama
diz sobre você, de Ian Morgan Cron e Suzanne Stabile, lançado
pela Mundo Cristão. O primeiro define quatro temperamentos
básicos: Sanguíneo, Melancólico, Fleumático e Colérico e suge-
rem que todos têm um tipo predominante e um outro que fica
em segundo lugar. As proporções entre os quatro na pessoa,
definirão o seu “DNA” psicológico.

Voltando para o nosso primeiro casal, Adão e Eva, o marido


estava camuflado, com roupas de folhas e, depois de alguma
conversa, o Senhor lhe perguntou: “você comeu da árvore da
qual eu o havia proibido?” Adão, então, colocou a culpa em Deus
e na esposa. Essas atitudes serão vistas com frequência na sala
de aconselhamento. “A mulher que tu me deste por esposa. Não
escolhi, o Senhor me deu essa esposa “maluca” que trouxe a fruta
para mim. Os culpados mesmo são vocês, o Criador e a esposa”.

Na sala de aconselhamento a tendência é colocar a culpa no


outro, fazer queixas, acusar, lembrar-se dos erros do cônjuge
e dizer (mesmo que sem palavras) que os erros dele são todos
derivados da esposa, que o provoca, que o engana, que o irrita
etc. Precisamos levar o outro a entender que não existe poder

27
para mudar o cônjuge. A esposa, por mais que deseje, não pode
mudar o marido. Este, por mais que busque o tão sonhado sos-
sego masculino, não conseguirá mudar o jeito de ser e agir da
esposa.

Porém, a mudança de quem busca ajuda, pode, muitas vezes,


se tornar o canal para o poderoso agir de Deus. Esse é o foco do
trabalho: mudar quem busca ajuda. “Você não pode mudar o seu
marido, nem o obrigar a ser gentil, porém, você pode parar com
as reclamações constantes e recebê-lo em casa com um jantar
quente”. Não há garantia, mas há ação. A pessoa pode mudar
somente a si mesma. Assim mesmo, com a ajuda do Espírito
Santo. Por isso, colocar a culpa nos outros não funciona.

Adão, depois de algumas desculpas, talvez com Deus olhan-


do para ele nos olhos e com uma expressão de reprovação,
confessou: “Eu comi”. Adão assumiu a sua responsabilidade.
Só existe redenção com a confissão. Enquanto o aconselhado
não confessar e desfrutar do perdão do alto, não terá sua alma
pacificada. Assim, depois da confissão de Adão, Deus passou a
conversar com a Eva:

E o Senhor Deus perguntou à mulher: Que foi que fi-


zeste? E ela respondeu: A serpente me enganou, e eu
comi. (Gn 3.13)

28
Jay Adams em seu livro, O Conselheiro Capaz, acompanhou
uma equipe de psiquiatras em um tratamento experimental
em pacientes internados em casas de saúde. A estratégia era
confrontar os pacientes com o erro que haviam cometido no
passado. Para surpresa de todos, havia grande quantidade deles
que saíam curados das instituições. Adams revela que a tática
usada pelos médicos já havia sido prevista pelo Deus da Bíblia,
que convocou o primeiro casal ao arrependimento como saída
para a saúde mental do casal. Não há saúde maior do que ter
os seus pecados perdoados.

Como é feliz aquele cuja desobediência é perdoada,


cujo pecado é coberto! (Sl 32.1 NVT)

Não existe redenção sem a confissão dos pecados. Seu aconse-


lhado precisa saber que:

→→ deve confessar e reconhecer a responsabilidade pelos


seus erros

→→ pedir perdão a Deus e saber que seu pecado já foi pago


por Jesus

→→ pedir perdão ao cônjuge ferido

→→ restituir (se tiver ofendido, dizer o contrário, retirar o


que disse; se houver furtado, devolver o que furtou; se for
preguiçoso, passar a trabalhar etc.)

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→→ passar a depender do Espírito Santo

Os aconselhados não encontrarão sossego nem paz na alma se


ficarem se escondendo em mentiras e jogando a culpa uns nos
outros. O primeiro casal recebeu o perdão, que foi simbolizado
pelas roupas de pele de animal que ganharam de Deus em subs-
tituição às roupas de folhas. Há evidente contraste com o filho
deles, que pecou e não confessou. Todos conhecemos a história
sórdida de dois irmãos, cujo mais velho, movido de inveja e ira
matou o mais jovem. Quando Deus foi confrontar Caim, para,
do mesmo jeito trazer arrependimento, ou seja, mudança de
comportamento, foi rejeitado pelo assassino.

Então Caim disse a seu irmão Abel: Vamos ao campo. E,


enquanto estavam no campo, Caim se levantou contra
o seu irmão Abel e o matou.

E o Senhor perguntou a Caim: Onde está Abel, teu irmão?


Ele respondeu: Não sei; por acaso sou guarda do meu
irmão? (Gn 4.8-9)

A iniciativa do contato foi de Deus, mas Caim não estava com


vergonha, não estava escondido e quando foi confrontado com
uma pergunta, mentiu e foi zombeteiro com Deus. Imediata-
mente, Deus partiu para o castigo:

E Deus prosseguiu: Que fizeste? A voz do sangue do


teu irmão está clamando a mim desde a terra. Agora

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maldito és tu; serás afastado da terra, que abriu a boca
para receber da tua mão o sangue de teu irmão. Quando
cultivares a terra, ela não te dará mais sua força; serás
fugitivo e vagarás pela terra. (Gn 4.10-12)

Quando o casal não assume a sua culpa e confessa o seu peca-


do, só lhes resta lidar com a dura consequência de seu pecado.
Um marido que não desiste da amante, ou uma esposa que não
admite estar errada em buscar sexo fora do casamento, está em
trevas, enganados pelo pecado. Viverão com peso e lutarão dia-
riamente para calar a voz da consciência, cometendo pecados
cada vez mais grosseiros. A família sofrerá e morrerá aos poucos.

Portanto, sua tarefa é localizar o pecado raiz, o principal, através


de perguntas, levar o aconselhado a reconhecer a falta dele,
buscar ajuda de Deus para ser perdoado e começar novamente.

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AULA 4

O Evangelho

Já vimos que é necessário formar uma equipe, ter uma boa cone-
xão com os aconselhados e estabelecer um diagnóstico por meio
de perguntas inteligentes. A seguir veremos como apresentar a
solução para o problema do casal por meio do Evangelho. De
todos os pontos, talvez esse seja o essencial, pois o passado
não é o mais importante, tão pouco os traumas, ou os pecados
cometidos. Tudo são fatores relevantes, mas a solução mesmo
está no Evangelho.

Seu maior objetivo não é simplesmente mudar o comportamen-


to de alguém, mas ser instrumento de Deus para que o Espírito
Santo convença do erro e habite no casal. Somente a habitação
e ação do Espírito de Cristo será capaz de trazer vida nova à fa-
mília devastada pelo pecado. Não devemos nos acovardar, mas
dizer como Paulo:

“...não me envergonho do evangelho, pois


é o poder de Deus para a salvação de todo
aquele que crê...” (Rm 1.16)
Em um tempo de forte aceitação das ciências psicológicas, das
técnicas de coaching e da neurociência pode parecer antiquado
e constrangedor usar a Bíblia “literalmente” para confrontar
comportamentos que, na maioria das vezes, são classificados
como síndromes, desvios, doenças e limitações. Devemos usar a
Bíblia, classificar como pecado e apontar a Cruz de Cristo como
solução e cura.

Pode parecer fora de moda, mas nunca foi tão importante anun-
ciar o Evangelho para um casal vivendo em pecado de traição,
insubmissão, egoísmo, inimizades, vinganças etc. O Evangelho
é a saída de Deus para esse mundo caído. Isso inclui a família e
os nossos aconselhamentos. Precisamos saber como contextu-
alizar e como aplicá-lo com graça e poder.

Você não é psiquiatra, psicólogo e nem coaching. Você é um


conselheiro cristão. Seu livro é a Bíblia, não o DSM-52; os seus
instrutores são Jesus e o apóstolo Paulo3, não Augusto Cury e
Daniel Goleman4. Portanto:

“prega a palavra, insiste a tempo e fora de


tempo, aconselha, repreende e exorta com
toda paciência e ensino.” (2Tm 4.2 NVT)

2 DSM-5 - Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais.

3 E os demais autores bíblicos

4 Não tiramos o valor da ciência, mas exaltamos o poder do Evangelho.

33
Seu desafio, prezado conselheiro, é anunciar o Evangelho. Já
preguei e fiz apelo na sala de aconselhamento. O marido que
entrou incrédulo, saiu regenerado, como habitação do Espírito
Santo, que dali por diante poderia refazer toda a vida daquela
família e levá-los a experimentar o céu na terra. Não conheço
outra solução para uma mudança genuína e profunda que não
seja o novo nascimento e a santificação.

Certa vez, ao perceber que o marido não era convertido, fui


mostrando qual era o ideal do comportamento de um marido.
O padrão alto era o comportamento de Jesus. Ele admitiu que
aquele comportamento era correto, mas que ele não conseguia
ter paciência e não ser egoísta. Quando ele disse isso, eu disse
que ele era bem-vindo ao time, pois eu também não conseguia
ser um bom marido sozinho, por isso eu contava com Jesus. Eu
disse ousadamente que ele não conseguiria sem Cristo. Para
minha alegria ele se entregou a Deus por meio de Jesus Cristo.

Outra vantagem de você anunciar o evangelho é que a pessoa


pode morrer em breve. Sei que parece pessimismo, mas de
que adianta salvar um casamento, mudar um comportamento
exterior e o sujeito partir todo contente para o inferno? “Não
me envergonho do Evangelho, pois é o poder de Deus para a
salvação”! Apresente o Senhor Jesus como única solução para
solidão da esposa, para o vazio do marido adicto, para a falta de
paciência dos pais, para o descontrole financeiro dos cônjuges
e convide-os a entrar no eixo da eternidade com Deus. O Evan-

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gelho traz o convertido para uma visão de mundo celeste, para
outra cosmovisão e para uma nova família, quando frequenta
as reuniões da igreja.

Adão e Eva confessaram, foram redimidos, mas enfrentaram as


inevitáveis consequências do pecado. Deus providenciou um jeito
de eles não ficarem separados dEle e de poderem lutar contra
o pecado que tinha se estabelecido neles. Caim não. Caim se
entregou ao mal. Adão e Eva tiveram as consequências atenu-
adas, embora duras. Caim, além das consequências terrenas,
ficaria para sempre longe de Deus (Gn 4.16) e geraria os filhos
do diabo (Gn 4.23, 24). Deus contou para o primeiro casal o que
aquele pecado traria de sofrimento:

“E disse para a mulher: Multiplicarei gran-


demente a tua dor na gravidez; com dor
darás à luz filhos; o teu desejo será para o
teu marido, e ele te dominará. E disse para
o homem: “Porque destes ouvidos à voz da
tua mulher e comeste da árvore da qual te
ordenei: Não comerás dela; maldita é a terra
por tua causa; com sofrimento comerás dela
todos os dias da tua vida. Ela te produzirá
espinhos e ervas daninhas; e terás de co-
mer das plantas do campo. Do suor do teu
rosto comerás o teu pão, até que tornes à

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terra, pois dela foste tirado; porque és pó,
e ao pó tornarás.” (Gn 3.16-19)

Para a mulher, a gravidez não seria indolor, haveria problemas


na família, o marido seria opressor e desconfiado. Para o ho-
mem, toda a criação que estava debaixo do governo dele, seria
amaldiçoada, a própria terra causaria problemas e desconfor-
tos, o trabalho já não seria tão aprazível, ele teria que lutar para
sobreviver e, fatalmente, morreria.

Explicar para o casal a consequência natural dos pecados é par-


te do aconselhamento. Uma traição, por exemplo, deve haver
perdão, mas o cônjuge traído normalmente fica desconfiado,
ferido e passa a ter um comportamento opressor e controlador.
Não é o ideal, naturalmente. Você instruirá ao marido traído a
não ficar descontrolado, com ciúmes e buscando vigiar a espo-
sa. Porém, ela não poderá se queixar se ele não se comportar
como antes da traição dela!

Maridos que traem e são perdoados, comumente se queixam


do novo comportamento e das queixas da esposa. Quando isso
acontece, uso uma ilustração: imagine que você deu um murro
no rosto da sua esposa e ela ficou toda inchada e dolorida. Ela
perdoou você, mas você não pode se queixar dela gemer de
dor! O traidor causou os hematomas e deve ter, no mínimo, a
paciência de vê-los curados. A confiança demorará a ser resta-
belecida. Avise ao traidor, seja ele ou ela.

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Quando alguém enfrenta uma cirurgia, o médico avisa que, após
o efeito da anestesia, haverá os efeitos do pós-operatório. Uma
região que vai ficar repuxando, dor de cabeça, febre ou o que
for. O médico que avisa antes tira o efeito de susto do paciente.
Se os pontos soltarem, por exemplo, o paciente pode se lembrar
que o médico havia avisado que era comum acontecer e que
ele poderia voltar lá para que os pontos fossem refeitos. Assim
não há a dor da dúvida. Da mesma maneira, devemos informar
o que pode acontecer em determinadas situações.

Depois de uma “cirurgia” bem-sucedida a vida do casal pode


mudar para melhor e eles podem também ter expectativa de
um tempo melhor. Deus avisou que ainda tinha planos para o
casal e anunciou o Evangelho quando sentenciava a serpente.

“Porei inimizade entre ti [Serpente] e a mu-


lher, entre a [...] descendência [da Serpente]
e a descendência... [da mulher]; esta te ferirá
a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gn
3.15 acréscimo nosso)

O Evangelho! O Messias viria da Maria, o diabo iria levá-lo a cruz


para matá-lo (morder lhe o calcanhar) e o Messias (a descendência
da mulher) pisaria na cabeça do diabo, ao ressuscitar, readquirir
o direito de reinar sobre a terra que Adão havia perdido. Deus

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ainda contava com eles! Após a confrontação e a confissão, Deus
iria perdoá-los e eles ainda fariam parte dos propósitos de Deus!

Assim também um casal restaurado, apesar das quedas e das


dolorosas consequências do pecado, ainda pode sonhar com
um novo lar, com um novo ministério, com uma nova família e
com uma nova vida! Deus é um especialista em transformar o
mal em bem (Gn 50.20). Nesse curso de Treinamento Avançado
de Líderes de Casais, o Pr. Mac Anderson conta como Deus trans-
formou a queda deles em oportunidade de servir às famílias por
onde eles passam.

“E o Senhor Deus fez roupas de peles para


Adão e sua mulher, e os vestiu.” (Gn 3.21)

Assim também o casal precisa sair vestido, perdoado, tratado e


cheio de esperança para reconstruir a família que lhe foi confiada.

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AULA 5

Planejamento

Para desenvolver um plano de ação deve-se estabelecer priorida-


des. Uma pessoa só consegue se tornar “outra pessoa” (uma pessoa
melhor) se tiver “superpoderes”. O acesso a esses “poderes” se
dá mediante uma conexão com Deus. Sabemos que tal conexão
é o caminho para Deus, que é Cristo. Se o aconselhado já é um
cristão, precisa aprender a se apropriar desse relacionamento
íntimo e pessoal com “Cristo, em quem estão ocultos todos os
tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2.3 A21). O bem-estar
dos cônjuges não pode depender do desempenho do outro e o
relacionamento mais importante deve ser com Deus, pois Ele
é o único que pode trazer paz e alegria ao coração humano. A
prioridade de todo planejamento deve ser o próprio Deus.

Pode parecer óbvio, mas, embora todos saibam, não desfrutam.


Quando um escriba perguntou a Cristo qual mandamento era
mais importante:

“Jesus lhe respondeu: Amarás o Senhor teu


Deus de todo o coração, de toda a alma e
de todo o entendimento. Este é o maior e o
primeiro mandamento.” (Mt 22.37-38)

Por que seria o mais importante? Porque é o que supre e capacita


o homem a cumprir o segundo. Este é o primeiro, o principal, o
que deve vir antes. Por isso dissemos no início do capítulo que
todo planejamento deve começar com o estabelecimento de
prioridades. Quem ama a Deus fica suprido e passa a ter condi-
ções de amar o próximo, que é o cônjuge.

O casal precisa reconhecer a sua inaptidão para mudar por conta


própria e assumir uma dependência ativa de buscar a Deus como
um novo estilo de vida. As analogias na Bíblia são abundantes.
Jesus fala dos rios de água viva que brotam de quem crê (Jo
7.38), fala da necessidade de estar na videira (Jo 15); o Salmo
1 nos lembra de sermos árvores plantadas junto às torrentes
das águas e o Salmo 91 revela a proteção de quem habita no
esconderijo do Altíssimo.

Dependendo do casal, do nível de instrução, do tempo de con-


versão ou do potencial você deve recomendar ferramentas dife-
rentes para fazer a devocional. Há livros excelentes no mercado.
Desde o clássico Pão Diário, passando pelos devocionais voltados
para casal até os devocionais de pregadores da nova geração. O
importante é que seja prático e relativamente fácil. Criar o hábito
e manter a regularidade é o grande desafio. Ler grandes volu-

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mes como quem está empolgado não é tão importante quanto
desenvolver a prática até se tornar um estilo de vida.

Se o casal não for afeito à leitura, lembre-o dos vídeos, dos ca-
nais de streaming, dos podcasts e até das canções que podem
ser extremamente edificantes. Veja se consegue montar uma
planilha semanal de meia em meia hora, em que eles possam se
organizar. Há quem não se dê bem com planilhas. Talvez listas
ajudem. Há livros bons que falam de organização. Minha mulher
gostou de Organize-se num Minuto de Donna Smallin. Da mesma
autora, com um conteúdo mais parrudo, temos: Casa Limpa
e Arrumada. Ela também tem: Organize-se. Gosto do clássico
Como Aproveitar ao Máximo o seu Tempo e Potencial de Edward
Dayton e Ted Engstrom.

O alvo é o casal ter acesso à Fonte de Águas Vivas, que é o Senhor


e que isso se torne um hábito angular. Permita-me explicar. O
hábito angular é “um hábito, um costume, uma prática, um ritu-
al, geralmente bom, saudável, e que provoca e estimula outros
hábitos igualmente bons. Simples assim5”.

A prestação de contas também ajuda muito nesse processo e


é um acompanhamento necessário que deve estar previsto no
planejamento. Contar para um conselheiro como foi o seu de-
sempenho durante o mês pode ajudar tremendamente, tanto
inibindo a preguiça, já que o constrangimento de confessar que

5 https://facadiferente.com/blog/habitos-angulares-o-que-sao/

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não fez pode alavancar a disposição necessária; quanto estimu-
lando a força de vontade com a recompensa de compartilhar o
sucesso naquele período com mais alguém.

Na medida em que o casal se fortalece e desenvolve hábitos


saudáveis, a partir do hábito angular de buscar a Deus, você
pode distanciar as consultas até que o casal receba “alta” e possa
cuidar de outros. Compartilhar o que aprendeu fortalece ainda
mais o novo estilo de vida. Ensinar é um importante método de
fixação e permanência na verdade. Além do mais a seara é grande
e os trabalhadores são poucos. Quanto mais casais restaurados,
mais gente pode ser alcançada. O lema é: “curados para curar”.

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