Manual de Diretrizes: Rastreamento Do Câncer de Mama
Manual de Diretrizes: Rastreamento Do Câncer de Mama
Manual de Diretrizes: Rastreamento Do Câncer de Mama
BRASILEIRA DE
MASTOLOGIA • Presidente: Guilherme Novita
•Vice-Presidente: Eduardo Carvalho Pessoa
MANUAL DE DIRETRIZES
REUNIÃO 10
TEMA:
ANO 2022
Rastreamento do
MANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOLOGIA REGIONAL SÃO PAULO
câncer de mama
O rastreamento mamográfico A tomossintese deve substituir Linfonodos axilares suspeitos em
deve começar aos 40 anos? a mamografia digital no rastrea- pacientes sem lesão mamária - a
René Aloisio da Costa Vieira mento para o câncer de mama? biópsia excisional é melhor que a
Vera L. N. Aguillar percutânea ?
Página 4 Página 11 Simone Elias Página 19
1
MEMBROS DA DIRETORIA ( 2020-2022)
Presidente:
Guilherme Novita Garcia
Vice-Presidente:
Eduardo Pessoa
Membros:
Adriana Yoshimura - 1o secretária
Joaquim Araújo Neto - 2o secretário
André Mattar - 1o tesoureiro
Fábio Bagnoli - 2o tesoureiro
Marcelo Madeira - Diretor científico
2
INTRODUÇÃO
RASTREAMENTO DO
CÂNCER DE MAMA
Adriana Akemi Yoshimura
Mastologista; Diretora da SBM- Regional SP; Doutoranda pela Faculdade de Medicina USP/SP
REUNIÃO 10
longo dos anos.
Isto tem proporcionado maior diagnóstico de mulheres portadoras de mutações ge-
ANO 2022
néticas hereditárias que possuem maior risco de desenvolver câncer de mama e em idade
mais jovem do que a população geral. Estas mulheres necessitam de um planejamento
terapêutico e uma estratégia de rastreamento diferenciada. Dra Daniela Giannotti discute a
MANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOLOGIA REGIONAL SÃO PAULO
O RASTREAMENTO MAMOGRÁFICO
DEVE COMEÇAR AOS 40 ANOS?
exames, 1.000 exames por 10 anos, ou a cada 100.000 mulheres. De uma maneira geral, ao se
realizar 1.000 exames, 100 mulheres são convocadas para novos exames (magnificação, com-
pressão ou ultrassonografia mamária), e nestas 20-25% serão submetidas à biópsia mamária.
ANO 2022
REUNIÃO 10
ANO 2022
MANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOLOGIA REGIONAL SÃO PAULO
Avaliando exclusivamente a faixa etária 40-49 anos, devemos pontuar dois estudos, a re-
visão de Cochrane e o “UK age RCT” (Estudo clínico randomizado do Reino Unido). O “UK age
RCT” avaliou o impacto do rastreamento mamográfico na população de 40-49 anos, e em um
seguimento de 10 anos, observando uma significativa redução de mortalidade de 25% durante
a fase de intervenção.
De uma maneira geral, na faixa 40-49 anos, observa-se que as mamas são mais densas,
REUNIÃO 10
há uma maior taxa de mamografias falso positivas, uma menor percentagem de tumores recep-
tor de estrogênio positivo, e uma menor redução da mortalidade, em relação às outras faixas
etárias. Alguns estudos evidenciam também resultados semelhantes aos observados na faixa
ANO 2022
50-59 anos, ou resultados semelhantes apenas na faixa 45-49 anos. Apesar de múltiplos fatores
limitarem o rastreamento mamográfico no Brasil, cabe destacar dois estudos que avaliaram as
MANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOLOGIA REGIONAL SÃO PAULO
características das pacientes nesta faixa etária. O primeiro, dentro de um contexto de rastrea-
mento organizado, observando que a incidência da faixa etária 45-49 anos foi semelhante à
da faixa 50-59 anos. O segundo, avaliando as características dos casos diagnosticados nesta
faixa etária, observando que no grupo de paciente com tumores diagnosticadas por rastreio, o
estádio clínico foi menos avançado, fato que refletiu em maior taxa de cirurgia conservadora da
mama e da axila (pesquisa de linfonodo sentinela).
Em resumo, na faixa etária 40-49 anos observamos elementos prós e contras o rastrea-
mento, sendo os fatores favoráveis de menor magnitude em relação à faixa etária 50-69 anos,
porém há elementos consistentes para justificar a realização do rastreamento mamográfico
nesta faixa etária.
Maiores discussões sobre o tema podem ser observadas no livro “Rastreamento e Detec-
ção precoce do Câncer” e na literatura a seguir.
6
O RASTREAMENTO MAMOGRÁFICO
DEVE COMEÇAR AOS 40 ANOS?
OPINIÃO DO REVISOR: SIM.
Votação dos painelistas: 100% SIM
Opinião Sócios SBM-SP: 95,2% SIM | 4,8% NÃO
..............................................................................................................................................................................................
Bibliografia:
- Vieira RAC, Mauad EC. Rastreamento do câncer. In: Vieira RAC, Mauad EC, Fregnani JHTG, eds. Rastreamento e Detec-
ção Precoce do Câncer. Vol 1. 1a ed. São Paulo: Lemar-Goi; 2018:27-36.
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REUNIÃO 10
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ANO 2022
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- Howlader N, Altekruse SF, Li CI, et al. US incidence of breast cancer subtypes defined by joint hormone receptor and
MANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOLOGIA REGIONAL SÃO PAULO
O RASTREAMENTO DO CÂNCER
DE MAMA EM PACIENTES DE ALTO
RISCO DEVE SER FEITO COM
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA?
Daniela Giannotti
Médica radiologista e coordenadora do grupo de radiologia
mamária do Hospital Sírio-Libanês.
São consideradas de alto risco as mulheres que, quando comparadas com a popu-
lação em geral, têm um risco significativamente maior de desenvolver câncer de mama
ao longo da vida.
O ideal seria a identificação precoce destas mulheres, e a oferta de um rastrea-
mento diferenciado, possibilitando o diagnóstico em estádio precoce, aumentando a
possibilidade de cura e reduzindo o câncer de intervalo.
Nesse subgrupo, que comprovadamente se beneficia de ações dirigidas tanto no
sentido de profilaxia como de rastreamento precoce ao oferecido para a população no
geral, estão as pacientes com diagnóstico de mutação genética familiar, sendo as mais
frequentes as mutações patogênicas nos genes BRCA 1 e BRCA 2, que tem risco estima-
do, ao longo da vida, de ter câncer de mama de 50%-85% e 45%, respectivamente.
Outras mutações menos frequentes como TP53 e CHEK2 (síndrome de Li-Fraume-
ni), PTEN (syndromes de Cowden e Bannayan-RileyRuvalcaba), CDH1 (carcinoma gás-
trico hereditário), STK11 (Peutz-Jeghers syndrome), PALB2 (interage com BRCA2), e em
genes ATM (ataxia telangiectasica), também estão associadas a maior risco de câncer
de mama, sendo também recomendado um planejamento diferenciado de rastreamen-
REUNIÃO 10
REUNIÃO 10
Em 2020, foi publicado o primeiro estudo que olhou para o desfecho sobrevida
das pacientes de alto risco rastreadas com ressonância e mamografia versus as rastre-
adas com mamografia, demonstrando ganho de sobrevida no grupo rastreado com res-
ANO 2022
sonância. No grupo rastreado com ressonância, também não foi identificado câncer de
intervalo.
Formas de redução de custo e aumento da disponibilidade têm que ser conside-
MANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOLOGIA REGIONAL SÃO PAULO
radas e talvez a mais praticável no momento seja o protocolo abreviado, cuja proposta
essencial é redução do tempo da paciente no aparelho de ressonância e redução no
volume de imagens geradas, com consequente redução no tempo de leitura do exame.
Originalmente essa proposta foi publicada em 2014. Christiane K. Kuhl propôs avaliar
o desempenho, com a intenção de rastreamento, de um protocolo de ressonância mag-
nética das mamas onde se realizasse apenas uma sequência pré-contraste e uma única
sequência pós-contraste, e que a análise fosse feita por meio de uma única imagem pós-
-processada (MIP) ou do MIP e as imagens de subtração (pós-processamento da série
com contraste, subtraída da série pré-contraste).
Com esse protocolo curto, o tempo de aquisição das imagens passou de 17 minu-
tos para 3 minutos e o tempo médio de leitura dos exames de 2,8 a 28 segundos.
A comparação entre a análise do protocolo completo (imagem de localização, série
ponderada em T1, série ponderada em T2, e série dinâmica composta por uma série
pré-contraste e mais cinco séries pós-contraste) versus a análise do protocolo curto
(imagem de localização e série dinâmica composta por uma série pré-contraste e uma 9
séria pós-contraste) foi equivalente em termos de acurácia. Outra observação muito im-
portante foi o altíssimo valor preditivo negativo do protocolo curto: 99,8%.
A partir desta proposta, outras diferentes propostas de abreviação de protocolo
foram feitas e testadas, demonstrando a viabilidade da aplicação, apesar de ainda se-
rem consideradas objetos de estudo por alguns.
Hoje, o American College of Radiology (ACR) entende como protocolo rápido um
exame com tempo de duração máxima de 10 minutos e que inclua uma sequência pon-
derada em T2 e uma série dinâmica (com tempo máximo de 2 minutos por série) com-
posta por uma série pré-contraste e duas séries pós-contraste.
Novos estudos têm demonstrado o benefício do rastreamento com ressonância
magnética de população com risco intermediário, especialmente nas portadoras de
mamas densas, cuja sensibilidade mamográfica é inferior. Contudo, as ferramentas de
estratificação de risco ainda não incluem a densidade mamária e também têm pesos va-
riáveis, ou não incluem as lesões consideradas precursoras. Desta forma as evidências
para recomendação de rastreamento com ressonância em pacientes nessas condições
ainda são consideradas fracas.
Concluindo: sim! O rastreamento do câncer de mama em pacientes de alto risco
deve ser feito com ressonância magnética.
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O RASTREAMENTO DO CÂNCER
DE MAMA EM PACIENTES DE ALTO
RISCO DEVE SER FEITO COM
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA?
OPINIÃO DA REVISORA: SIM
Votação dos painelistas: 100% SIM
Opinião Sócios SBM-SP: 785% SIM | 15% NÃO
REUNIÃO 10
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ANO 2022
Bibliografia:
MANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOLOGIA REGIONAL SÃO PAULO
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10
ening with MRI. J Clin Oncol. 2014;32(22):2304–10.
DIRETRIZ 3
A TOMOSSINTESE DEVE
SUBSTITUIR A MAMOGRAFIA
DIGITAL NO RASTREAMENTO PARA
O CÂNCER DE MAMA?
Vera L. N. Aguillar
Radiologista do Grupo de Imaginologia da Mama do Grupo Fleury e
Clínica DELA Diagnósticos
Revisão da literatura
REUNIÃO 10
A maioria dos trabalhos sobre tomossíntese é baseada em duas metodologias:
ANO 2022
estudos prospectivos pareados, principalmente europeus, nos quais todas as partici-
pantes realizam a mamografia digital e a tomo, com interpretação independente dos
exames; nesses casos a mulher é o seu próprio controle. Os estudos prospectivos pare-
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ados mais importantes foram o OBST (Oslo Tomosynthesis Screening Trial), como parte
do programa de rastreamento nacional da Noruega e que incluiu 12.631 mulheres com
idade de 50-69 anos e rastreamento bienal. A tomossíntese aumentou a taxa de detec-
ção de câncer em 1,9 por 1.000 exames de rastreio (aumento relativo de 27%) e reduziu
a taxa de reconvocação em 15%. No STORM (Screening with Tomosynthesis OR stan-
dard Mammography), realizado na Itália, com 7.292 mulheres e idade de 48 a 71 anos,
o aumento da taxa de detecção de câncer com a tomossíntese foi de 2,7 ca por 1.000
(aumento relativo de 34%), com redução de 17% na taxa de reconvocação. Finalmente,
o MBTST (Malmo Breast Tomosynthesis Screening Trial), realizado na Suécia, com 7.500
mulheres, idade de 40-74 anos e rastreamento de 18/18 meses até 55 anos e bienal
após os 55 anos, diferiu dos anteriores por usar apenas uma incidência na tomossín-
tese (a oblíqua mediolateral) e 2 incidências habituais na MD. A taxa de incremento na
detecção de câncer com a tomo foi de 2,6 ca/1.000 rastreios (aumento relativo de 43%).
Neste trabalho, foi observado aumento no número das reconvocações, provavelmente
por ter sido utilizada apenas uma incidência na Tomo.
11
A outra metodologia usada nos trabalhos de tomossíntese foram os estudos
retrospectivos (não pareados), principalmente americanos, nos quais a tomossíntese
combinada à MD é comparada com a mamografia de diferente coorte ou época (com-
paração histórica). Dentre esses trabalhos destacamos a análise retrospectiva multicên-
trica (13 instituições, 139 radiologistas), realizada por Friedewald e colaboradores com
173.663 mulheres que realizaram tomossíntese combinada com MD. A taxa de aumen-
to na detecção de câncer com a adição da tomossíntese foi de 1,2 por 1.000 rastreios
(aumento relativo de 29%), com redução de 15% nas reconvocações.
Em uma das metanálises publicadas que incluiu 17 estudos europeus e america-
nos e comparou o desempenho da TOMO + MD vs MD sozinha no rastreamento para o
câncer de mama, mostrou que a taxa de incremento na detecção de câncer foi de 1,6 Ca
por 1.000 rastreios, sendo maior na Europa (+ 2,4/1.000), onde o rastreamento é bienal
e menor nos Estados Unidos (+1,1 /1.000), onde o rastreamento é anual. A redução da
taxa de reconvocações falso positivas foi de 2,2%, sendo maior nos Estados Unidos,
onde a taxa de reconvocação usualmente é usualmente mais alta que na Europa.
Tabela 1
MD, em uma população de 29.310 mulheres, que realizaram 67.350 exames. Até hoje é
o maior estudo em termos de informações coletadas nas rodadas subsequentes de ras-
MANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOLOGIA REGIONAL SÃO PAULO
Discussão
REUNIÃO 10
tecidual dentro da mama, o que permite aumentar a detecção de câncer invasivo e redu-
zir o número de reconvocações desnecessárias geradas por artefatos de superposição
tecidual e o método vem substituindo a MD no rastreamento para o câncer de mama em
ANO 2022
vários centros mundiais. Existem evidências científicas suficientes na literatura sobre
os benefícios da tomossíntese no rastreamento, incluindo estudos prospectivos parea-
dos, estudos retrospectivos não pareados, metanálises e estudos randomizados. Todos
MANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOLOGIA REGIONAL SÃO PAULO
mostram que a tomossíntese é superior à MD, embora a magnitude dos seus benefícios
dependa do cenário do rastreamento. O aumento na taxa de detecção de câncer é maior
nos países onde o rastreamento é bienal (como na Europa), enquanto que a redução na
taxa de reconvocação é mais acentuada onde ela costuma ser mais alta (como nos Esta-
dos Unidos, onde se faz leitura única dos exames).
Também já temos estudos mostrando que os benefícios da tomossíntese se man-
tém em rodadas além da prevalente (rodadas incidentes) e que os tumores detectados
só por tomossíntese são pequenos (menores em relação aqueles detectados na MD), e,
em geral, de baixo grau histológico e com linfonodos negativos. E, finalmente, a publi-
cação de um importante estudo randomizado e multicêntrico (TOSYMA), que demons-
trou aumento absoluto na detecção de carcinomas invasivos T1 com a tomossíntese.
A despeito de todos esses dados coletados em diferentes países sobre a superio-
ridade da tomossíntese versus a MD no rastreamento, questionam-se resultados a longo
prazo da modalidade e qual seria seu impacto na redução da mortalidade. Entretanto,
a redução de mortalidade não foi desfecho primário em nenhum dos trabalhos publica- 13
dos até hoje sobre tomossíntese no rastreamento porque levaria décadas para avaliar
esta resposta e o método se tornaria obsoleto ao final deste hipotético estudo. Os esta-
tísticos sugerem “surrogate markers”, como taxa de carcinoma de intervalo: reduzindo a
taxa de CI, deve reduzir a mortalidade. A literatura atual não mostra redução da taxa de
carcinoma de intervalo com a tomossíntese, mas devemos lembrar que o CI é um even-
to raro e todos os trabalhos publicados apresentaram amostragem pequena. Ademais,
os tumores de intervalo costumam ser agressivos, com crescimento rápido e provavel-
mente serão melhor diagnosticados no rastreamento com ressonância magnética.
A dose maior da tomossíntese foi resolvida com o advento da mamografia 2D sin-
tetizada, que, embora com menor resolução da mamografia 2D standard, foi considera-
da equivalente no rastreamento quando adicionada à tomossíntese.
Em resumo, tomossíntese é uma mamografia que aumenta a detecção de carci-
nomas invasivos pequenos, de estádio menor (principalmente T1), com linfonodos ne-
gativos, e, ao mesmo tempo, reduz os resultados falsos positivos na rodada prevalente
e turnos subsequentes. Portanto, a tomossíntese tem impacto positivo no rastreamento
mamográfico porque deve reduzir a incidência de carcinomas avançados e, potencial-
mente, apresentar efeitos positivos na redução da mortalidade.
A TOMOSSINTESE DEVE
SUBSTITUIR A MAMOGRAFIA
DIGITAL NO RASTREAMENTO PARA
O CÂNCER DE MAMA?
OPINIÃO DA REVISORA: SIM
Votação dos painelistas: 100% SIM
Opinião Sócios SBM-SP: 71,4% SIM | 28,6% NÃO
..............................................................................................................................................................................................
REUNIÃO 10
Bibliografia:
ANO 2022
- Skaane P , Bandos AI, Gullien R et al. Comparison of digital mammography alone and digital mammography plus
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- Ciatto S, Houssami N, Bernardi D et al. Integration of 3D digital mammography with tomosynthesis for population bre-
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- Heindel W, Weigel S, GerB J, et al. Digital breast tomosynthesis plus synthesised mammography versus digital scre-
ening mammography for the detection of invasive breast cancer (TOSYMA): a multicentre, open-label, randomised,
14
controlled, superiority trial. Lancet Oncology 2022; vol 23: may
DIRETRIZ 4
O câncer de mama configura uma das principais causas de morte por câncer em mulhe-
res no Brasil, concorrendo com o câncer ginecológico em algumas faixas etárias. Infelizmente,
não há como evitar a manifestação da doença atualmente, no entanto a prevenção e o diagnós-
tico precoce são fundamentais para minimizar os efeitos do câncer na paciente.
O exame mamográfico é o método mais eficiente para rastrear o câncer de mama. Méto-
dos complementares como ultrassonografia e ressonância magnética podem auxiliar em casos
específicos, como alto risco pessoal e em mamas densas.
As mamas densas são consideradas um desafio diagnóstico para os radiologistas, pelo
fato de poderem obscurecer eventuais lesões e retardar o diagnóstico de uma lesão maligna.
Na reunião científica “Rastreamento do Câncer de Mama” foram abordadas as principais estra-
tégias, vantagens, e limitações dos métodos de rastreamento para estes padrões de mamas.
Os programas de rastreamento
REUNIÃO 10
exame para todas as pacientes que preencham os critérios de elegibilidade. Para isto, deve-se
considerar que a doença seja um problema de saúde pública, que a história natural seja bem
conhecida, com estágio pré-clínico bem definido. Os benefícios do diagnóstico precoce de-
ANO 2022
vem ser maiores que a manifestação natural da doença, além dos métodos diagnósticos serem
disponíveis, aceitáveis e confiáveis. Por fim, o custo deve ser razoável e compatível com o orça-
MANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOLOGIA REGIONAL SÃO PAULO
mento destinado. Vale ressaltar que o rastreamento é contínuo e sistemático. Já nos programas
individualizados, o indivíduo não depende do Estado para realizar. Nestes casos, o médico
assistente e o paciente devem decidir de forma individualizada qual a melhor estratégia para o
rastreamento. A figura 1 aponta algumas características dos rastreamentos.
No caso das mamas, é aceito que o rastreamento mamográfico reduz a mortalidade em
cerca de 30-40% pelo câncer de mama, e que o valor economizado nestes tratamentos é sufi-
ciente para patrocinar o programa de rastreio a nível populacional.
(2021) foi observado que a intersecção entre a redução da densidade mamária e o aparecimen-
to do câncer de mama se deu entre as pacientes com 55 a 59 anos.
Já em estudo populacional publicado no Nigerian Journal of Surgery, os autores en-
contraram prevalência de câncer de mama com perfis imuno-histoquímicos triplo negativos
e HER2 positivos em pacientes abaixo de 50 anos, e com perfis do tipo luminal A e luminal B
predominando em pacientes acima de 60 anos.
Pelo tempo de duplicação celular e limitações quanto à qualidade de imagem, os pro-
gramas de rastreamento por imagem são mais eficientes nos cânceres de padrão luminal.
Tomossíntese
Ultrassonografia
Ressonância Magnética
REUNIÃO 10
o Gadolíneo, está relacionado com o desenvolvimento de uma complicação conhecida como
Fibrose Nefrogênica Sistêmica.
Vantagens: a ressonância magnética permite avaliação morfológica e funcional das le-
ANO 2022
sões em imagens multiplanares, com resultados reprodutíveis. A ressonância magnética, assim
como a ultrassonografia, permite o diagnóstico complementar de carcinomas triplo-negativos.
MANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOLOGIA REGIONAL SÃO PAULO
Desvantagens: tem aceitação apenas de 59% das pacientes convidadas para o comple-
mento, sua disponibilidade é reduzida em um país continental com desigualdades sócio-eco-
nômicas, e apresenta tempo de estudo e custo elevados quando comparada com os demais
métodos. Assim como o ultrassom, pode apresentar resultados falso-positivos. Há ainda a pos-
sibilidade de resultados falso-negativos especialmente em mamas com padrão de realce de
fundo do parênquima dos tipos moderado e acentuado.
Conclusão:
O rastreamento de pacientes com mama densa deve ser diferenciado?
Sim, as pacientes com mamas densas se beneficiam do estudo complementar com ul-
trassonografia nas pacientes elegíveis para os programas de rastreamento populacional, espe-
cialmente nas idades acima de 50 anos onde há maior prevalência do câncer de mamas.
17
O RASTREAMENTO DE PACIENTES
COM MAMA DENSA DEVE SER
DIFERENCIADO?
OPINIÃO DO REVISOR: SIM.
Votação dos painelistas: 100% SIM
Opinião Sócios SBM-SP: 88,4% SIM | 11,6% NÃO
..............................................................................................................................................................................................
Bibliografia:
- Caitlin Maloney, Shirlene Paul, Jordan Lieberenz, Mia Alyce Levy, Lisa Stempel, Rosalinda Alvarado. Breast density
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- Yang L, Wang S, Zhang L, et al. Performance of ultrasonography screening for breast cancer: a systematic review and
REUNIÃO 10
18
DIRETRIZ 5
Natalia M Cordeiro
Mastologista. Preceptora e mestranda da disciplina de Mastologia
do Departamento de Ginecologia da EPM/Unifesp.
REUNIÃO 10
Neste texto vamos discutir sobre quando e como abordar linfonodopatias na ausên-
cia de câncer de mama.
ANO 2022
A linfonodopatia pode ser um achado no exame clínico das axilas, um achado eco-
gráfico ou um achado mamográfico. Linfonodos axilares são habitualmente identificados MANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOLOGIA REGIONAL SÃO PAULO
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Nota-se que a espessura cortical usada como ponto de corte para predição de doença me-
tastática varia bastante na literatura, assim como a sensibilidade e especificidade do exame em
função do valor escolhido. Frente a este fato, alguns autores optam por utilizar como critério de
suspeição a relação córtex/hilo maior do que 1, ao invés do valor absoluto do córtex
Moore e col. observaram que a combinação de linfonodos alterados e normais em um mes-
mo exame seria um critério importante; em seu estudo linfonodos com espessamento cortical não
associados a linfonodos normais corresponderam aos casos falso-positivos.
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rica é mais frequente em linfonodos metastáticos, enquanto o padrão central é mais encontrado
na ausência de malignidade. Os índices de resistência, pulsatilidade e velocidade no pico sistólico
não diferem em linfonodos malignos ou benignos quando os mesmos são axilares, entretanto a
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Pode-se concluir então que o estudo dos linfonodos atípicos (com câncer de mama conco-
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mitante ou não) pode ser realizado com PAAF ou BAG.
No entanto, convém ressaltar que o material de biópsias de linfonodos de mulheres com
adenopatia e sem câncer de mama concomitante, deverá ser encaminhado para citologia ou histo-
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logia no intuito de avaliar câncer metastático e citometria de fluxo para pesquisa de linfoma, já que
essa é a maior causa de malignidade em linfonodopatias na ausência de câncer de mama. MANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MASTOLOGIA REGIONAL SÃO PAULO
Não.
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LINFONODOS AXILARES SUSPEITOS
EM PACIENTES SEM LESÃO MAMÁRIA
- A BIÓPSIA EXCISIONAL É MELHOR
QUE A PERCUTÂNEA ?
OPINIÃO DA REVISORA: NÃO.
Votação dos painelistas: 100% NÃO
Opinião Sócios SBM-SP: 81% SIM | 19% NÃO
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