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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

Daniela Lippstein

A PROPRIEDADE INTELECTUAL DA BIOTECNOLOGIA EM ALIMENTOS


FUNCIONAIS

Florianópolis/SC,
2020
Daniela Lippstein

A PROPRIEDADE INTELECTUAL DA BIOTECNOLOGIA EM ALIMENTOS


FUNCIONAIS

Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação


em Direito da Universidade Federal de Santa
Catarina para a obtenção do título de doutor em
Direito.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Otávio Pimentel.
Coorientadora: Profa. Dra. Salete Oro Boff.

Florianópolis/SC,
2020
Daniela Lippstein

A PROPRIEDADE INTELECTUAL DA BIOTECNOLOGIA EM ALIMENTOS


FUNCIONAIS

O presente trabalho em nível de doutorado foi avaliado e aprovado por banca


examinadora composta pelos seguintes membros:

________________________
Prof. Dr. Araken Alves de Lima
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)

_________________________
Profa. Dra. Patrícia Loureiro Abreu Alves Barbosa
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

_________________________
Prof. Dr. Everton das Neves Gonçalves
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi
julgado adequado para obtenção do título de doutor em Direito.
Documento assinado digitalmente
Norma Sueli Padilha
Data: 06/04/2020 11:23:51-0300
CPF: 050.840.658-71

____________________________
Profa. Dra. Norma Sueli Padilha
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Direito
Documento assinado digitalmente
Norma Sueli Padilha
Data: 06/04/2020 11:24:41-0300
CPF: 050.840.658-71

____________________________
Prof. Dr. Luiz Otávio Pimentel
Orientador

____________________________
Profa. Dra. Salete Oro Boff
Coorientadora

Florianópolis/SC, 2020.
Dedico este trabalho ao tempo,
que ele seja generoso.
AGRADECIMENTOS

Agradeço à Universidade Federal de Santa Catarina, em especial ao


Programa de Pós-Graduação em Direito, pela oportunidade em desenvolver a
presente pesquisa.
Ao Prof. Dr. Luiz Otávio Pimentel e a Profa. Dra. Salete Oro Boff pela
orientação, dedicação e ensinamentos, mestres pelos quais possuo profunda
admiração e respeito.
A todos os professores do PPGD que contribuíram para a minha formação.
Igualmente, à secretaria do PPGD pelo suporte ao longo do curso.
À Assessoria de Assuntos Econômicos - AECON, do Instituto Nacional da
Propriedade Industrial - INPI, na pessoa de Marina Filgueiras Jorge e equipe, pela
colaboração com a coleta de dados apresentada nesse estudo.
À Dra. Mônica Fontes Caetano, coordenadora da Propriedade Intelectual da
Agência Nacional da Vigilância Sanitária – ANVISA pelo intercâmbio de conteúdos
acadêmicos.
Aos professores doutores Araken Alves de Lima, Cláudio Eduardo Régis de
Figueiredo e Silva, Everton das Neves Gonçalves, pelas contribuições ao Projeto de
Tese e na sequência, Cláudio, Everton e Patrícia Loureiro Abreu Alves Barbosa pelo
aporte na qualificação da presente Tese.
Ao Grupo de Pesquisa de Propriedade Intelectual, Transferência de
Tecnologia e Inovação - GPITTI/UFSC, coordenado pelo Prof. Dr. Luiz Otávio
Pimentel, compreendendo, em especial, os eventos realizados pelo grupo.
Ao Grupo de Estudos em Desenvolvimento, Inovação e Propriedade
Intelectual (GEDIPI), coordenado pela Prof. Dra. Salete Oro Boff. Do mesmo modo,
agradeço a organização bienal do Congresso Internacional de Propriedade
Intelectual, Gestão da Inovação e Desenvolvimento, igualmente coordenada pela
Prof. Salete, por ter sido durante todos os anos de sua realização um espaço de
aprendizado e crescimento.
A todos os meus alunos da graduação, que acompanharam os passos da
minha pesquisa, sendo compreensivos com o cansaço e, por vezes, a ausência, que
foram necessários para o desenvolvimento do presente trabalho, dedicando sempre
palavras de incentivo e admiração que me motivaram ao longo do curso.
À minha família, em especial a minha mãe Zulmara, a vó Mira e ao meu
companheiro Fábio, pelo apoio incondicional, por todas as palavras de carinho e
incentivo. As palavras serão sempre insuficientes para expressar minha gratidão.
Às amigas irmãs, Fran Almeida, Vá Almeida e Fran Meotti. Os mais belos
laços são aqueles escolhidos pelo coração, onde o afeto é uma escolha de vida e
não uma imposição. Amigos são como o sol, iluminam nossas tempestades e tornam
nossos dias mais alegres.
Às primas Iza e Aline, por todo auxílio, sempre carinhosamente atendido.
À República 1207, o lar que me acolheu em Florianópolis, com muita alegria,
companheirismo e boas energias.
Aos bons e velhos amigos, Albano, Aneline e Rúbia. Dizem que a felicidade
de uma pessoa é medida pelas suas relações, pois esta é uma adorável verdade.
Aos colegas do curso de doutorado, turma 2016, pelo companheirismo,
cooperação e reciprocidade, que tornaram as atividades acadêmicas mais leves e
produtivas. Em especial, aquelas que se tornaram verdadeiras amigas, Marina e
Mônica.
A todos aqueles que participaram direta ou indiretamente na construção
desse trabalho. Gratidão por cada momento e por cada pessoa que fez parte desses
últimos, valiosos, quatro anos que se passaram na minha vida.
" Se a riqueza não é apenas um outro nome
para felicidade, e certamente não é, por que
a busca da riqueza deveria ser considerada
moralmente superior à busca da felicidade?"
(POSNER, 2010a, p. 78-79)
RESUMO

O presente estudo desenvolve-se no contexto da propriedade intelectual da


biotecnologia em alimentos funcionais. Considera a demanda cada vez mais
crescente por alimentos, a segurança alimentar e o direito humano à alimentação
adequada como a justificativa da presente pesquisa. Concentra-se, em especial, nos
alimentos funcionais, em razão da sua finalidade medicinal e favorecimento à saúde
humana. Desse modo, investiga a (in) suficiência e a (in) eficiência do contexto
regulatório da propriedade intelectual da biotecnologia em alimentos funcionais, com
o objetivo de identificar as principais dificuldades do contexto jurídico brasileiro, que
obstam o desenvolvimento das criações em alimentos funcionais, com o fim de
propor as medidas necessárias para a harmonização dessa conjuntura. O estudo é
desenvolvido sob a ótica da Análise Econômica do Direito, como teoria de base. O
método de abordagem utilizado foi o método hipotético-dedutivo. Os métodos de
procedimento empregados foram o método estruturalista, a partir da composição de
aspectos regulatórios isolados com relação à regulamentação sobre alimentos,
biotecnologia, biodiversidade, indústria e propriedade intelectual para a construção
de um modelo explicativo da proteção das criações em alimentos funcionais, que só
apresenta sentido se analisado dentro da estrutura como um todo; também
empregou-se o método estatístico para a elaboração da coleta e análise de dados
relativa aos depósitos de patentes de invenção sobre alimentos funcionais, por meio
de representações gráficas. As técnicas de pesquisa foram baseadas em
documentações diretas e indiretas, na primeira, procedeu-se com a pesquisa de
campo, sendo realizada a coleta de dados, em 2018, junto ao INPI/AECON, do
período de 2005-2015, a partir da definição de seis categorias, que englobaram
subclasses da Seção A do IPC, referente aos alimentos funcionais, para a obtenção
dos dados foi utilizado o instrumento BADEPI/INPI; quanto às documentações
indiretas foram realizadas a identificação, levantamento e análise da bibliografia,
legislação, normas administrativas, decisões judiciais, indicadores nacionais e
relatórios de instituições de pesquisa, pertinentes ao tema. Os resultados indicam
que os depósitos de patentes de invenção em alimentos funcionais foram realizados
majoritariamente por não residentes, em especial pertencentes aos Estados Unidos
e países europeus, além disso os indicadores apontam que há depósitos pendentes
de análise com mais de dez anos e os índices de abandono, no recorte da pesquisa,
totalizaram 44%. A conclusão da presente pesquisa, por sua vez, identifica que o
sistema jurídico brasileiro de proteção intelectual das criações em alimentos
funcionais é suficiente, mas ineficiente para a viabilização de um ambiente favorável
para o desenvolvimento dessa biotecnologia. Demandando, portanto, a
harmonização do sistema, já existente, da propriedade intelectual da biotecnologia
em alimentos funcionais.

Palavras-Chave: Propriedade Intelectual. Patentes. Biotecnologia. Alimentos


Funcionais. Segurança Alimentar.
ABSTRACT

The present study is developed in the intellectual property of biotechnology in


functional foods context. It considers the increasing demand for food, food security
and the human right to proper food as the main reason for this research. It focuses, in
particular, on functional foods, due to their medicinal purpose and favoring human
health. Thus, it investigates the (in) sufficiency and (in) efficiency of the biotechnology
intellectual property regulatory context in functional foods, aiming to identify the main
difficulties of the Brazilian legal context, which hinder the creations development in
functional foods, in order to propose the necessary measures to harmonize this
situation. The study is developed having the perspective of Economic Analysis of
Law as the theory base. The approach method used was the hypothetical-deductive
method. The procedural methods used were the structuralist method, based on the
composition of isolated regulatory aspects in relation to the regulation on food,
biotechnology, biodiversity, industry and intellectual property for the construction of
an explanatory model for the protection of creations in functional foods, which only
makes sense if analyzed within the structure as a whole; the statistical method was
also used to elaborate the data collection and analysis related to the functional foods
invention patents filing, through graphic representations. The research techniques
were based on direct and indirect documentation; the first one proceeded with the
field research, and was followed by the data collection, in 2018, with the INPI /
AECON, from the period 2005-2015, with the definition of six categories, which
included subclasses of Section A of the IPC, referring to functional foods. the
BADEPI / INPI instrument was used to obtain the required data; concerning the
indirect documentation, the identification, survey and analysis of the bibliography,
legislation, administrative norms, judicial decisions, national indicators and reports of
research institutions, relevant to the theme, were made. The results indicate that the
invention patents on functional foods were deposited mainly by non-residents,
especially from to the United States and European countries, in addition, the
indicators point out that there are deposits with pending analysis within more than ten
years and the dropout indexes, in the survey scope, totalized 44%. This research
conclusion, in turns, identifies that the Brazilian legal system for the intellectual
protection of creations in functional foods is sufficient, although it is inefficient to
enable a favorable environment for this biotechnology development. It demands,
therefore, the harmonization of the biotechnology intellectual property in functional
foods already existing system.

Keywords: Intellectual Property. Patents. Biotechnology. Functional Foods. Food


Security.
RESUMEN

El presente estudio se lleva a cabo en el contexto de la propiedad intelectual de la


biotecnología en alimentos funcionales. Considera la creciente demanda de
alimentos, la seguridad alimentaria y el derecho humano a una alimentación
adecuada como la justificación de esta investigación. Se centra, en particular, en
alimentos funcionales, debido a su propósito medicinal y a favorecer la salud
humana. Así, investiga la (in) suficiencia y (in) eficiencia del contexto regulatorio de
la propiedad intelectual de la biotecnología en alimentos funcionales, con el objetivo
de identificar las principales dificultades del contexto legal brasileño, que dificultan el
desarrollo de creaciones en alimentos funcionales, para proponer las medidas
necesarias para armonizar esta situación. El estudio se desarrolla desde la
perspectiva del Análisis Económico del Derecho, como teoría básica. El método de
aproximación utilizado fue el método hipotético-deductivo. Los métodos de
procedimiento utilizados fueron el método estructuralista, basado en la composición
de aspectos regulatorios aislados en relación con la regulación de alimentos,
biotecnología, biodiversidad, industria y propiedad intelectual para la construcción de
un modelo explicativo para la protección de creaciones en alimentos funcionales,
que solo tiene sentido si se analiza dentro de la estructura como un todo; El método
estadístico también se utilizó para elaborar la recopilación y el análisis de datos
relacionados con la presentación de patentes de invenciones sobre alimentos
funcionales, mediante representaciones gráficas. Las técnicas de investigación se
basaron en documentación directa e indirecta; en la primera, se procedió a la
investigación de campo, y la recolección de datos se realizó, en 2018, con el INPI /
AECON, en el período de 2005-2015, a partir de la definición de seis categorías que
abarcaban las subclases de la Sección A del IPC, en referencia a los alimentos
funcionales, se utilizó el instrumento BADEPI / INPI para obtener los datos; en
cuanto a la documentación indirecta, se llevó a cabo la identificación, encuesta y
análisis de la bibliografía, legislación, normas administrativas, decisiones judiciales,
indicadores nacionales e informes de instituciones de investigación relevantes para
el tema. Los resultados indican que los depósitos de patentes de invención en
alimentos funcionales fueron realizados principalmente por no residentes,
especialmente pertenecientes a los Estados Unidos y países europeos, además los
indicadores señalan que hay depósitos pendientes de análisis con más de diez años
y los índices de La deserción, en el corte de la encuesta, totalizó 44%. La conclusión
de esta investigación, a su vez, identifica que el sistema legal brasileño para la
protección intelectual de las creaciones en alimentos funcionales es suficiente, pero
ineficiente, para permitir un entorno favorable para el desarrollo de esta
biotecnología. Exigiendo, por lo tanto, la armonización del sistema ya existente de
propiedad intelectual biotecnológica en alimentos funcionales.

Palabras clave: Propiedad Intelectual. Patentes. Biotecnología. Alimentos


Funcionales. Seguridad Alimentaria.
LISTA DE FIGURAS

GRÁFICO 1 – Depósitos de patentes de invenção AF - IPC 2005- 2015 ............. 136


GRÁFICO 2 - Depósitos de patentes de invenção AF subclasse A21D................. 137
GRÁFICO 3 - Depósitos de patentes de invenção AF subclasse A22C................. 137
GRÁFICO 4 - Depósitos de patentes de invenção AF subclasse A23B ................. 138
GRÁFICO 5 - Depósitos de patentes de invenção AF subclasse A23C................. 138
GRÁFICO 6 - Depósitos de patentes de invenção AF subclasse A23D................. 139
GRÁFICO 7 - Depósitos de patentes de invenção AF subclasse A23F ................. 139
GRÁFICO 8 - Depósitos de patentes de invenção AF subclasse A23G ................ 140
GRÁFICO 9 - Depósitos de patentes de invenção AF subclasse A23J ................. 140
GRÁFICO 10 - Depósitos de patentes de invenção AF subclasse A23L ............... 141
GRÁFICO 11 - Depósitos de patentes de invenção AF subclasse A23P ............... 141
GRÁFICO 12 - Depósitos de patentes de invenção AF subclasse A61K ............... 142
GRÁFICO 13 - Média de depósitos, 2005-2015, por país depositante ................. .143
GRÁFICO 14 - Depósitos de patentes de invenção AF EUA, BR E CH.. ............... 143
GRÁFICO 15 - Depósitos de patentes de invenção AF DE, FR E NL....... ............. 144
GRÁFICO 16 - Depósitos de patentes de invenção JP, GB, IT, BE .................. .....144
GRÁFICO 17 - Depósitos de patentes de invenção AF residente origem depositante
por estado ............................................................................................................... 145
GRÁFICO 18 - Depósito de patentes af por estado depositante SP, PR, MG, RS E
SC ........................................................................................................................... 146
GRÁFICO 19 - Depósito de patentes AF por estado depositante RJ, CE, GO, PE,
BA ........................................................................................................................... 146
GRÁFICO 20 - Depósito de patentes AF por estado depositante SE, AM, DF, PA,
MA ........................................................................................................................... 147
GRÁFICO 21 - Depósito de patentes AF por estado depositante PI, ES, RN, PB, AL,
MS ........................................................................................................................... 147
GRÁFICO 22 - Depósito de patentes AF por estado depositantE MT, TO, RO, AC,
AP, RR .................................................................................................................... 148
GRÁFICO 23 - Depósitos de patentes AF natureza jurídica depositantes residentes
................................................................................................................................ 149
GRÁFICO 24 - Depósitos de patentes por decisão do INPI ................................... 152
GRÁFICO 25 - Depósitos de patentes por decisão do INPI, total do período 2005-
2015 ........................................................................................................................ 152

TABELA 1 - Códigos de despachos – patentes do INPI ........................................ 149


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADPIC Acordo sobre os aspectos dos Direitos de Propriedade


Intelectual relacionados com o Comércio
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
Acordo Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property
TRIPS Rights
AF Alimentos Funcionais
AECON Assessoria de Assuntos Econômicos
AED Análise Econômica do Direito
ABIA Associação Brasileira da Indústria de Alimentos
ASBAI Associação Brasileira de Alergia e Imunologia
BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento
BADEPI Base de Dados Estatísticos sobre Propriedade Industrial
IPC Classificação Internacional de Patentes
CNA Comissão Nacional de Alimentação
CTNBio Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
CNI Confederação Nacional da Indústria
CNUMAD Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento
CTA Conhecimentos tradicionais associados
CGen Conselho de Gestão do Patrimônio Genético
Consea Conselho de Segurança Alimentar
CNBS Conselho Nacional de Biossegurança
Cosag Conselho Superior do Agronegócio
CUP Convenção da União de Paris
CDB Convenção sobre a Diversidade Biológica
CME Coordenação da Mobilização Econômica
DUDH Declaração Universal dos Direitos Humanos
DCNT Doenças crônicas não transmissíveis
Espacenet Escritório Europeu de Patentes
EUA Estados Unidos da América
FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations
(Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura
FOSHU Foods for specified helth use
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
FIDA Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola
FNRB Fundo Nacional para a Repartição de Benefícios
GATT General Agreement on Tariffs and Trade
GAI Grupo de Articulação Interinstitucional
GRU Guia de Recolhimento da União
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INPI Instituto Nacional da Propriedade Industrial
INAN Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição
INN Instituto Nacional de Nutrição
LaE Law and Economics
LPI Lei de Propriedade Industrial
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MEL Mínimo Ético Legal
ODS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
OGM Organismos Geneticamente Modificados
ONU Organização das Nações Unidas
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura
OMPI Organização Mundial da Propriedade Intelectual
OMS Organização Mundial da Saúde
PIDESC Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
PG Patrimônio Genético
POF Pesquisa de orçamentos familiares
PNS Pesquisa Nacional de Saúde
Plansan Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
PITCE Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior
PNAN Política Nacional de Alimentação e Nutrição
PNB Política Nacional de Biossegurança
PNPCT Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e
Comunidades Tradicionais
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PAT Programa de Alimentação do Trabalhador
Paie Programa de Alimentação dos Irmãos dos Escolares
PNAE Programa de Alimentação Escolar
PAP Programa de Alimentação Popular
Proab Programa de Alimentos Básicos em Áreas de Baixa Renda
Pccne Programa de Combate às Carências Nutricionais Específicas
PCA Programa de Complementação Alimentar
Procab Programa de Racionalização da Produção de Alimentos
Básicos
PSA Programa de Suplementação Alimentar
PMA Programa Mundial de Alimentos
Pronan Programa Nacional de Alimentação e Nutrição
Pnae Programa Nacional de Alimentação Escolar
Pniam Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno
Pnlcc Programa Nacional do Leite para as Crianças Carentes
PAT Programas de Alimentação do Trabalhador
SOFI Relatório anual do sobre o Estado da Segurança Alimentar e
Nutrição no Mundo
RDH Relatório de Desenvolvimento Humano
RPI Revista Eletrônica da Propriedade Intelectual
SVS Secretaria de Vigilância em Saúde
SAPS Serviço de Alimentação da Previdência Social
Sisvan Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional
SisGen Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do
Conhecimento Tradicional Associado
Sisan Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
SISAN Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
SUS Sistema Único de Saúde
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
PCT Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes
PEES Princípio da Eficiência Econômico-Social
TLT Tratado de Direito de Marcas Comerciais
UE União Europeia
UPOV União Internacional para a Proteção de Novas Variedades de
Plantas
VIGITEL Vigilância de Fatores de Risco para doenças crônicas não
transmissíveis
WFP World Food Programme
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 20
2 O DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E
SEGURANÇA ALIMENTAR: QUANDO A SOBRENUTRIÇÃO
SUPERA A DESNUTRIÇÃO.................................................................. 25
2.1 ALIMENTAÇÃO E DIETÉTICA: UM OLHAR GLOBAL DA RELAÇÃO
ENTRE O ALIMENTO E A SAÚDE HUMANA ATRAVÉS DOS
TEMPOS................................................................................................. 25
2.2 ALIMENTAÇÃO NO BRASIL: INFLUÊNCIAS MULTICULTURAIS
HISTÓRICAS À CONTEMPORANEIDADE............................................ 35
2.3 SEGURANÇA ALIMENTAR E DIREITOS HUMANOS: UMA PAUTA
GLOBAL.................................................................................................. 41
2.4 HÁBITOS ALIMENTARES, DOENÇAS CRÔNICAS, ALERGIAS E
INTOLERÂNCIAS ALIMENTARES: INDICADORES NACIONAIS......... 48
2.5 INDÚSTRIA DE ALIMENTOS E OS DESAFIOS DA SEGURANÇA
ALIMENTAR........................................................................................... 55
3 ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO E A PROTEÇÃO GLOBAL DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL............................................................ 60
3.1 ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO.................................................... 60
3.2 ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL........................................................................................ 67
3.3 TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS SOBRE
PROPRIEDADE INTELECTUAL............................................................ 74
4 SISTEMA DE PROTEÇÃO JURÍDICA DAS CRIAÇÕES NO BRASIL 88
4.1 CONTEXTO HISTÓRICO-JURÍDICO DA FORMAÇÃO DOS
DIREITOS DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NO BRASIL:
PROPRIEDADE INDUSTRIAL............................................................... 88
4.2 CONTEXTO HISTÓRICO-JURÍDICO DA FORMAÇÃO DOS
DIREITOS DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NO BRASIL:
DIREITOS DE AUTOR........................................................................... 97
4.3 LEGISLAÇÃO E PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL NO BRASIL................................................................... 99
4.3.1 Aspectos jurídicos da proteção da Propriedade
Industrial................................................................................................ 99
4.3.1.1 Patentes e Modelo de Utilidade.............................................................. 100
4.3.1.2 Desenho Industrial.................................................................................. 103
4.3.1.3 Marcas.................................................................................................... 104
4.3.1.4 Indicações Geográficas.......................................................................... 106
4.3.1.5 Dos Crimes contra a Propriedade Industrial........................................... 107
4.3.2 Aspectos jurídicos da proteção dos Direitos de
Autor...................................................................................................... 107
4.3.3 Aspectos jurídicos da proteção sui 110
generis...................................................................................................
4.3.3.1 Cultivares................................................................................................ 110
4.3.3.2 Conhecimentos Tradicionais Associados a Biodiversidade.................... 111
5 BIOTECNOLOGIA E ALIMENTOS FUNCIONAIS: ASPECTOS
REGULATÓRIOS................................................................................... 115
5.1 BIOTECNOLOGIA EM ALIMENTOS: CONTEXTO REGULATÓRIO
NACIONAL E INTERNACIONAL............................................................ 115
5.2 CRIAÇÕES EM ALIMENTOS FUNCIONAIS: ATUAÇÃO DAS
AUTARQUIAS FEDERAIS DO INPI E ANVISA..................................... 122
5.3 CONJUNTURA REGULATÓRIA BRASILEIRA SOBRE ALIMENTOS
FUNCIONAIS.......................................................................................... 129
5.4 PATENTES DE INVENÇÃO EM ALIMENTOS FUNCIONAIS
DEPOSITADAS NO BRASIL EM NÚMEROS....................................... 133
6 A PROPRIEDADE INTELECTUAL DA BIOTECNOLOGIA EM
ALIMENTOS FUNCIONAIS NO BRASIL......................................... 154
6.1 CONCESSÃO DE PATENTES EM ALIMENTOS FUNCIONAIS:
BARREIRAS E ENTRAVES................................................................... 154
6.1.1 Depósito de patentes de invenção e Backlog INPI........................... 155
6.1.2 Anuência da Anvisa............................................................................. 159
6.1.3 Autorização de Acesso ao Patrimônio Genético (PG) ou
conhecimento tradicional associado (CTA)....................................... 160
6.2 PERSPECTIVAS DA INDÚSTRIA BRASILEIRA E A POSIÇÃO
TECNOLÓGICA DO BRASIL NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NO
CENÁRIO INTERNACIONAL................................................................. 162
6.3 (IN) SUFICIÊNCIA E (IN) EFICIÊNCIA REGULATÓRIA DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL DA BIOTECNOLOGIA EM
ALIMENTOS FUNCIONAIS................................................................. 166
6.4 HARMONIZAÇÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL DA
BIOTECNOLOGIA EM ALIMENTOS FUNCIONAIS NO
BRASIL................................................................................................... 172
7 CONCLUSÃO......................................................................................... 178
REFERÊNCIAS...................................................................................... 188
ANEXO A – Tabela Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a.
Classe IPC (Alimentos Funcionais) e origem do depositante,
2005-2015............................................................................................... 209
ANEXO B – Tabela Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a.
Classe IPC (Alimentos Funcionais) e origem do depositante,
2005-2015 (subclasses)........................................................................ 210
ANEXO C – Tabela Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a.
Classe IPC (Alimentos Funcionais) e País do 1º Depositante,
2005-2015............................................................................................... 211
ANEXO D – Tabela Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a.
Classe IPC (Alimentos Funcionais) e Estado do 1º Depositante
Residente, 2005-2015........................................................................... 212
ANEXO E – Tabela Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a.
Classe IPC (Alimentos Funcionais) e Natureza Jurídica 1o.
Depositante Residentes, 2005-2015.................................................... 213
ANEXO F – Tabela Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a.
Classe IPC (Alimentos Funcionais), por decisão do INPI, 2005-
2015........................................................................................................ 214
20

1 INTRODUÇÃO

O direito humano à alimentação adequada e à segurança alimentar tem sido


uma das principais pautas globais para a discussão dos desafios da atualidade com
relação ao crescente número de doenças crônicas não transmissíveis, adoecimento
humano diretamente ligado à má nutrição e a busca por alimentos.
A demanda global por alimentos é algo cada vez mais expressiva, como
também são os níveis de exigência desses alimentos, quanto à qualidade,
durabilidade, embalagens, transporte, dentre outros. Esse cenário desafia a indústria
de alimentos a propor novas soluções e se reinventar a todo o momento para
atender as diferentes necessidades que se apresentam. Essas soluções, por sua
vez, exigem o esforço intelectual para a criação de invenções que atendam as
demandas sociais, e por consequência, também demandam proteção jurídica.
Nesse contexto, visa-se responder, por meio da presente pesquisa, se o
contexto regulatório brasileiro é um ambiente jurídico suficiente e eficiente capaz de
favorecer o desenvolvimento de criações em alimentos funcionais e quais são as
medidas jurídicas necessárias para que isso ocorra. Anota-se que para o presente
estudo, a suficiência refere-se à disponibilidade/quantidade legislativa, já a eficiência
será medida pela quantidade de patentes depositadas que apresentam as
tecnologias pesquisadas. Por sua vez, compreende-se por criações em alimentos
funcionais, aqueles que envolvem a atividade inventiva, com o emprego da
biotecnologia, para a apresentação final de alimento com funções voltadas a saúde.
Busca-se responder essa problemática a partir da elaboração das seguintes
hipóteses: a. O atual contexto regulatório brasileiro é insuficiente e por
consequência, ineficiente, para o desenvolvimento satisfatório da proteção
intelectual das criações em alimentos funcionais, devendo-se propor a criação de
outros marcos regulatórios; b. o atual contexto regulatório brasileiro é suficiente, mas
não eficiente para o desenvolvimento satisfatório da proteção intelectual das
criações em alimentos funcionais, devendo-se propor a adequação dos marcos
regulatórios já existentes; c. o atual contexto regulatório brasileiro é suficiente e
eficiente para o desenvolvimento satisfatório da proteção intelectual das criações em
alimentos funcionais, não sendo necessárias implementações normativas ao sistema
ou à adequação das já existentes.
21

Dessa forma, a pesquisa apresenta-se coerente à área de concentração


Direito, Política e Sociedade do Programa de Pós-Graduação em Direito da
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, uma vez que apresenta como
objeto de pesquisa os aspectos jurídicos regulatórios da proteção intelectual das
criações em alimentos funcionais, sendo pertinente à linha de pesquisa em Direito
da Sociedade de Informação e Propriedade Intelectual, posto que o presente estudo
ocupa-se da proteção jurídica das criações advindas do esforço intelectual na
demanda por alimentos.
O objetivo da pesquisa é identificar as dificuldades do contexto jurídico
brasileiro que inibem o desenvolvimento satisfatório das criações em alimentos
funcionais e por consequência a detenção da tecnologia, com o fim de propor
medidas para a adequação dessa conjuntura que favoreçam o desenvolvimento de
tecnologias que atendam a segurança alimentar, em alimentos funcionais, por meio
da propriedade intelectual.
Em especial, objetiva-se especificamente, expor a evolução dos hábitos
alimentares humanos que justificam o atual perfil de consumo alimentar; analisar a
teoria econômica do Direito e sua relação com a eficiência jurídica como também o
ordenamento internacional dos direitos da propriedade intelectual para orientação
regulatória interna; examinar as modalidades de proteção jurídica das criações no
Brasil; distinguir os aspectos regulatórios da biotecnologia em alimentos funcionais;
evidenciar a posição do Brasil como detentor de patentes em alimentos funcionais;
propor medidas para uma conjuntura jurídica favorável à proteção intelectual das
criações em alimentos funcionais.
Nessa linha, as doenças crônicas não transmissíveis como a hipertensão,
diabetes, câncer, doenças respiratórias e também as restrições alimentares como
alergias ou intolerâncias, são condições que limitam as possibilidades de
alimentação dos consumidores e demandam uma alimentação atípica, crucial para a
manutenção da saúde e da sobrevivência. Nesse contexto é que surgem os
alimentos funcionais com o intuito de atender a nutrição humana, voltados para as
funcionalidades de saúde, muitos deles manipulados e engenhados pela ciência
para atingir determinados fins, seja para atender pessoas com hipertensão ou
diabetes, como também manter uma dieta equilibrada e rica em nutrientes.
22

Considerando que a produção de alimentos possui uma expressiva


representação na economia brasileira e a importância do país no cenário global de
fornecimento de alimentos, a discussão do tema pelo viés da proteção intelectual
das criações nesse segmento torna-se imprescindível para o desenvolvimento
econômico, social e tecnológico do país.
Desse modo, o primeiro capítulo ocupa-se da exposição do cenário global da
segurança alimentar e do Direito Humano à alimentação adequada. Ver-se-á na
primeira seção uma incursão na história da alimentação humana através dos
tempos, buscando demonstrar a evolução do hábito alimentar humano e a sua
relação com o uso dos alimentos para fins terapêuticos formando a dietética. Na
segunda seção, apresentam-se as influências multiculturais que compõem a atual
culinária brasileira, influenciada pela colonização e a chegada de imigrantes de
diversos países do mundo. Na terceira seção, demonstra-se a pauta global a
respeito da segurança alimentar, elencando-se os principais atores e fóruns globais
na discussão do Direito Humano à alimentação adequada. Na sequência,
apresentam-se os indicadores nacionais com relação aos hábitos alimentares
brasileiros, a condição da população com relação às doenças crônicas não
transmissíveis e às restrições alimentares em razão de alergias e intolerâncias.
Fechando o primeiro capítulo, abordam-se as soluções que a indústria de alimentos
tem proposto para superar os desafios da segurança alimentar a partir do perfil dos
consumidores.
Com foco na eficiência, o segundo capítulo discorre a respeito da Análise
Econômica do Direito, como embasamento teórico da presente pesquisa. Seguido
da análise do ordenamento jurídico internacional a respeito da proteção intelectual,
com o objetivo de fundamentar uma conjuntura jurídica nacional suficiente e eficiente
na proteção das criações em alimentos funcionais.
O terceiro capítulo, por sua vez, trata de elencar, todas as possibilidades de
proteção intelectual das criações provenientes do espírito inventivo, no Brasil, em
especial o objeto do presente trabalho, que são as criações em alimentos funcionais.
Para a compreensão de como o ordenamento jurídico brasileiro tutela, atualmente,
as criações e suas modalidades de proteção, toma-se por primeiro o contexto
histórico-jurídico da formação dos direitos da Propriedade Intelectual, em especial a
formação do sistema da propriedade industrial e dos Direitos de Autor. Por segundo,
23

passa-se a examinar a legislação brasileira, evidenciando os aspectos jurídicos da


proteção da propriedade industrial, no tocante as Patentes e Modelo de Utilidade,
Desenho Industrial, Marcas, Indicações Geográficas e as disposições a respeito dos
crimes contra a Propriedade Industrial. Na sequência, examinam-se também os
aspectos jurídicos da proteção dos Direitos de Autor e da proteção sui generis,
abarcando em específico a proteção de cultivares e dos conhecimentos tradicionais
associados à biodiversidade.
Em seguida, vistos os aspectos regulatórios gerais do sistema de proteção
das criações, passa-se ao quarto capítulo para compreender os aspectos
regulatórios da biotecnologia e dos alimentos funcionais. Na primeira seção,
discorre-se a respeito do contexto regulatório nacional e internacional da
biotecnologia em alimentos. Logo após, expõe-se a conjuntura regulatória brasileira
sobre os alimentos funcionais, seguida das principais autarquias federais envolvidas
na proteção das criações em alimentos funcionais, quais sejam o Instituto Nacional
da Propriedade Industrial e a Agência Nacional da Vigilância Sanitária. A última
seção do quarto capítulo, trata de apresentar a coleta de dados realizada do período
de 2005 a 2015 no tocante aos depósitos de patentes de invenção relacionadas aos
alimentos funcionais. A análise dos dados tem por fim evidenciar a posição
tecnológica do Brasil, nesse âmbito, frente aos outros países, em conjunto com os
indicadores da indústria para a verificação a respeito da suficiência e da eficiência
jurídica do país no desenvolvimento das criações em alimentos funcionais.
Por fim, o último capítulo, reúne os argumentos que moldam a proposta final
da presente pesquisa, evidenciando-se o modelo de desenvolvimento proposto, com
base na Análise Econômica do Direito. Além disso, identificam-se as principais
barreiras e entraves do sistema jurídico brasileiro para a proteção intelectual das
criações em alimentos funcionais, para na sequência demonstrar a (in)suficiência e
(in)eficiência do contexto regulatório da proteção intelectual das criações em
alimentos funcionais. Ao fim, levantam-se os argumentos do setor industrial para o
desenvolvimento nacional, com base na macrotendência da produção em alimentos
funcionais, apontando-se as expectativas do setor com esse segmento e as
propostas de adequação jurídica. No encerramento, passam-se às conclusões.
O presente estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa quanti-qualitativa,
com método de abordagem hipotético-dedutivo, elencando-se três hipóteses que
24

foram testadas ao longo da pesquisa para responder o problema formulado no


estudo. Os métodos de procedimento utilizados foram: o método estruturalista, a
partir da composição de aspectos regulatórios isolados com relação à
regulamentação sobre alimentos, biotecnologia, biodiversidade, indústria e
propriedade intelectual para a construção de um modelo explicativo da proteção das
criações em alimentos funcionais, que só apresenta sentido se analisado dentro da
estrutura como um todo; empregou-se ainda no presente estudo o método estatístico
para a elaboração da coleta e análise de dados relativos aos depósitos de patentes
de invenção sobre alimentos funcionais.
A coleta de dados exposta na presente pesquisa foi realizada em parceria
com a Assessoria de Assuntos Econômicos (AECON), do Instituto Nacional da
Propriedade Industrial (INPI), por meio do instrumento “Base de Dados Estatísticos
sobre Propriedade Industrial (BADEPI) v 5.0”, no recorte de período de 2005 a 2015.
Foram criadas seis categorias, que compreenderam: a) residentes e não residentes
em alimentos funcionais; b) residentes e não residentes em alimentos funcionais por
classificação de patentes; c) dos não residentes, os dez primeiros países que
lideram os depósitos de patentes em alimentos funcionais; d) dos residentes,
número de patentes por Estado; e) dos residentes, classificação em pessoa jurídica
e pessoa física; f) depósitos de patentes por decisão, classificado em deferidos,
indeferidos, abandonos e pendentes, dentro do campo da Classificação
Internacional de Patentes (IPC), Seção A — Necessidades Humanas, distribuída nas
subclasses A21D, A22C, A23B, A23C, A23D, A23F, A23G, A23J, A23L; A23P e
A61k. Os dados foram analisados a partir da análise descritiva com representações
gráficas.
As técnicas de pesquisa foram empregadas em documentações diretas e
indiretas, na primeira, procedeu-se com a pesquisa de campo na coleta de dados
referida anteriormente; na segunda, foram realizadas a identificação, levantamento e
análise da bibliografia, legislação, normas administrativas, decisões judiciais,
indicadores nacionais e relatórios de instituições de pesquisa, pertinentes ao tema.
Desse modo, passa-se a seguir ao primeiro capítulo que versará sobre a o direito
humano à alimentação adequada e a segurança alimentar.
25

2 O DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E SEGURANÇA


ALIMENTAR: QUANDO A SOBRENUTRIÇÃO SUPERA A DESNUTRIÇÃO

Este capítulo tem por finalidade justificar a importância da discussão no


aprimoramento dos alimentos, abordando o desenvolvimento de tecnologias que,
por sua vez, demandam a proteção jurídica dos inventos, resultantes de processos
industriais, especialmente no que se refere aos alimentos funcionais.
Desse modo, busca-se expor a evolução dos hábitos alimentares humanos
que justificam o atual perfil de consumo alimentar para evidenciar, a partir da
exposição das necessidades humanas, a importância do fomento, via sistema
jurídico de proteção da propriedade industrial, do desenvolvimento de tecnologias
aplicadas na alimentação saudável.

2.1 ALIMENTAÇÃO E DIETÉTICA: UM OLHAR GLOBAL DA RELAÇÃO ENTRE O


ALIMENTO E A SAÚDE HUMANA ATRAVÉS DOS TEMPOS

A alimentação é imprescindível à vida humana, sendo a fonte para a energia,


a vitalidade e a manutenção da saúde do corpo humano. Nessa seção será
abordada a relação entre a alimentação e a dietética com base nos hábitos
alimentares humanos através dos tempos, sob um aspecto global.
Primeiramente, cumpre esclarecer a concepção acerca do hábito alimentar
humano e suas dimensões. Para tanto, Pereira (2013, p. 18-19) realiza uma reflexão
histórica dos hábitos alimentares, determinando que o comportamento humano
diante dos alimentos possui aspectos culturais, sociais e religiosos, que para além
das necessidades biológicas, colaboram para a construção da identidade dos povos.
Desse modo, ao longo da história, diversos paradigmas influenciaram a mudança
dos hábitos alimentares. Desde as sociedades primitivas até a contemporaneidade,
eventos como a modernização das civilizações, reformas religiosas e políticas,
descobrimentos e a colonização de povos, como também as duas grandes guerras,
de modo geral, impactaram nos hábitos alimentares humanos, uma vez que houve o
intercâmbio de culturas e de recursos naturais.
Outrossim, destaca-se como elemento primordial da alimentação humana, o
uso do fogo. O domínio do fogo pelo ser humano, para além de uma fonte de
26

aquecimento, de proteção e de caça, modificou substancialmente o preparo de


alimentos, impactando na transformação do hábito alimentar humano, ao passo que
viabilizou o cozimento, o preparo de carnes e de recursos naturais não consumíveis
no estado in natura (HEISER Jr., 1977, p. 36).
Nessa linha, afirma Pereira (2013) que os hábitos alimentares representam
um costume diário orientado pelo contexto social que determinam um estilo de vida.
Considerando isso, adverte a autora que a inclinação global pela padronização da
alimentação representa “um perigo para a saúde das populações, a democratização
e a globalização alimentar, além de constituírem uma eventual violação de regras,
quebram comportamentos sociais importantes no equilíbrio instável de muitas
sociedades” (PEREIRA, 2013, p. 19).
De todo modo, ao que se tem registro, inicialmente o hábito alimentar
humano, remontado da vida nômade na pré-história, dava-se basicamente a partir
de recursos encontrados in natura, sem nenhuma forma especial de preparo.
Somente quando o ser humano substituiu a vida peregrina para a convivência em
pequenos grupos (aldeias) é que passou a aprimorar a sua relação com os
alimentos, aprendendo a domesticar os animais para fazer uso dos seus derivados.
Iniciava-se nesse contexto a vida pastoril, que lhe garantia a manutenção de suas
necessidades básicas, “dando tempo ao ócio e desenvolvendo-lhe [sic] o dom
artístico e o senso estético, segundo mostram os desenhos descobertos em
cavernas calcáreas [sic] representando animais, executados com assombrosa
maestria” (ORNELLAS, 1978, p. 7).
O aprimoramento cognitivo do ser humano, com o desenvolvimento das suas
capacidades intelectuais, o tornou artesão, o homo faber descobriu como criar
ferramentas, manusear e armazenar os alimentos, transformando os recursos que
encontrava. O polimento da pedra, a moldagem do barro, o uso da brasa e da água
quente trouxeram uma nova percepção do ser humano sobre a natureza. Assim,
“entre duas pedras moeu o grão, fez a farinha, amassou o pão e assou-o no forno.
Fermentou a cevada e fez a cerveja. Encontrou a uva e de amassá-la surgiu o vinho.
Achou o mel que, diluído na água, deu o hidromel” (ORNELLAS, 1978, p. 7).
É a relação entre o cru e o cozido, apresentada por Lévi-Strauss (1996) que
demonstra a intervenção do ser humano na natureza, modificando aquilo que
27

encontra para adaptar as suas necessidades. Essa relação transpassa a cultura dos
povos, em todos os momentos da história, considerando que:

[...] portanto, não basta decidir que nesses mitos a natureza, a animalidade,
são investidas na cultura e na humanidade. Naturalização e cultura,
animalidade e humanidade tornam-se mutuamente permeáveis. Passa de
um reino para outro reino livremente e sem impedimentos: em vez de haver
um fosso entre os dois, eles são misturados ao ponto de que cada fim de
um dos reinos evoca no ato um fim correspondente no outro, próprio para
significá-lo como o fez na sua vez1 (LÉVI-STRAUSS, 1996, p. 273).

Outrossim, a alimentação tem, em vários aspectos, relação com o


desenvolvimento humano, com o crescimento e a expansão das civilizações. O
êxodo e a peregrinação dos povos pelo mundo têm como motivação principal a
busca por alimento. Com a expansão, aprimoraram-se os hábitos alimentares, o
conhecimento sobre as variedades de frutos, sementes e animais (ORNELLAS,
1978).
Ao longo dos tempos, a alimentação esteve ligada à ideia de cultos religiosos,
divindades, saúde, relação com a natureza, dentre outros aspectos que
transcendem apenas a necessidade fisiológica do provimento de energia vital.
Comer este ou aquele alimento, de acordo com determinada crença, pode significar
algo bom ou algo ruim, como um presságio sobre a sorte ou azar. Também pode
significar o respeito ou a ofensa a determinadas divindades. Não obstante, essas
crenças podem ser antagônicas ao longo do globo, mudando de acordo com os
povos e suas culturas (ORNELLAS, 1978).
Considerando essas dimensões, Poulain e Proença (2003, p. 246) propõem
uma análise da alimentação a partir das Ciências Sociais, apresentando o conceito
do “espaço social alimentar”, que transcende a compreensão da alimentação como
necessidade, unicamente, fisiológica, para compreender os aspectos da produção
de alimentos, hábitos alimentares, diferenças sociais, dentre outros fundamentos
que moldam uma concepção socioantropológica da alimentação.

1No original: así que no basta con decidir que en estos mitos la naturaleza, la animalidad, se invierten
en cultura y humanidad. La naturaliza y la cultura, la animalidad y la humanidad se vuelven en ellos
mutuamente permeables. Se pasa de un reino a otro reino libremente y sin obstáculo: en vez de que
exista un foso entre los dos, se mezclan hasta el punto de que cada término de uno de los reinos
evoca en el acto un término correspondiente en el otro, propio para significarlo como él lo significa a
su vez (LÉVI-STRAUSS, 1996, p. 273).
28

Exemplo disso, desde o período da Idade Antiga, o budismo já relacionava a


alimentação com a medicina, considerando nesse aspecto que:

O budismo se originou na Índia com Siddharta Gautama, lá nascido e criado


(563 – 483 a.C.), e Wardhamma Nahavira (540 – 468 a.C.), o criador do
jainismo (126). Tanto budistas como jainistas adotam o vegetarianismo.
Documentos do séc. VI a.C. indicam que, devido à influência do budismo,
atingiu a medicina antiga seu período áureo entre os hindus. No tratamento
geral das doenças, incluíam a dieta, entre outras medidas, como sangrias,
inalações, banhos, clisteres. Consta que o ‘Charaka’ ou ‘Sushruta’ e
‘Samhita’, contemporâneos de Hipócrates, já faziam o diagnóstico do
diabetes pelo sabor doce da urina e pelo resíduo branco que deixava,
ao evaporar-se. Já no tempo do rei Asoka (273-232 a.C), budista, o maior
dos antigos imperadores da Índia, usavam-se muitas plantas medicinais,
os enfermeiros deviam ser asseados, ter conhecimentos de arte
culinária e do preparo de remédios (ORNELLAS, 1978, p. 27, grifo
nosso).

Já na Antiguidade Clássica, os gregos e romanos destacavam-se como


civilizações mais avançadas, dominando a arte culinária e a medicina, ambas em
conjunto. Na Grécia, Hipócrates foi considerado de “pai da Medicina”, possuindo
conhecimentos avançados sobre o desempenho dos alimentos no corpo humano. O
tratamento medicinal grego consistia basicamente em “sangrias, purgativos,
massagens, banho e dieta”. Não obstante, do preparo dos atletas “surgiu o ramo
mais importante da terapêutica e higiene hipocrática, a dietética”. Entre os períodos
de 384-322 a.C, Aristóteles escreveu o “Tratado de Alimentação”, tratando de
diversas variedades de caldos, destacando já naquela época o uso da terapia
dietética pelos gregos (ORNELLAS, 1978, p. 59).
Os banquetes e festas populares marcaram a civilização grega, que
compreendiam essas reuniões como uma forma de se conectar com os deuses.
Para os gregos, os banquetes afirmavam a sua condição humana, mortal, do
relacionamento entre o homem e a natureza no provimento de alimentos por meio de
sacríficos, onde os deuses, simbolicamente, eram chamados a participar (PANTEL,
2004, p. 158 - 160). Esse contexto revela que “as refeições têm seu lugar em uma
história cultural e sua instituição marca o início das relações comunitárias de um
povo, que coincidem, em maior ou menor grau, com a constituição de uma
identidade política”. Prática essa, reconhecidamente, dominada pelos gregos, as
refeições comuns foram uma marca das polis gregas (PANTEL, 2004, p. 161).
29

O domínio da Grécia pelos romanos proporcionou uma fusão de


conhecimentos culinários e descobertas sobre os ingredientes. Desenvolveram-se
em Roma gastrônomos que foram responsáveis por tornar a culinária romana
complexa com a combinação dos ingredientes, sabores e aromas. Dentre eles,
afirma Ornellas que “Marcus Gavius Apicius” tornou-se conhecido por publicar um
livro de culinária romana, considerado o mais antigo que se tem registro,
destacavam-se receitas como “empadas de rosa”, “ostras em escabeche” e
“Fegatelli” (iscas de fígado). Além disso, “Apicius mencionava uma preparação
culinária denominada ‘Garum’ de notáveis efeitos medicinais e que constava de
peixes (cavalas ou sardas) prensados em salmoura” (ORNELLAS, 1978, p. 63 - 64).
Ainda em Roma, na antiguidade, foram criadas as funções ligadas à cozinha,
como o chefe, o cozinheiro, o assistente, o provador, dentre outros, que
determinavam uma produção culinária setorizada e por escala. A expansão do
Império Romano ainda resultou no conhecimento de ingredientes exóticos, ervas e
variedades de carne animal, aprimorando a culinária romana (ORNELLAS, 1978, p.
65).
Não obstante, a qualidade da alimentação estava ligada à ideia de hierarquia,
ou seja, na Roma antiga a alimentação era um fator de classificação social. As
especiarias, conhecidas pelo intercâmbio de ingredientes na expansão do Império
Romano, e a culinária mais refinada, eram acessíveis as classes mais abastadas e
as autoridades, já os produtos in natura, doações de alimentos excedentes e os
alimentos regionais eram consumidos pelas classes mais pobres. Nos banquetes
coletivos havia a distinção das classes, de acordo com a posição social, na
acomodação das mesas e na atribuição dos pratos. Já a alimentação dos escravos
era provida pelo senhorio, que fornecia uma ração com o interesse na manutenção
da saúde do escravo, para manter suas forças de trabalho (CORBIER, 2004, p. 217
– 224).
Nesse contexto, de acordo com Ornellas (1978), destaca-se o naturalista
romano Caius Plínius Secundus (23 d. C), que se perpetuou na história pela
compilação “História Natural” que reuniu 37 volumes. Descrevia o uso do mel, do
azeite e do açúcar. Também recomendava o uso de caracóis para as “complicações
da gestação e parto, falta de apetite, etilismo, etc. Comê-los crus e em número ímpar
era bom para tosse, dor de estômago, etc”. Mencionou em seu livro, por sua vez,
30

uma vasta variedade de hortaliças, cultivadas tradicionalmente pelas mulheres,


revelando a cultura agro familiar. Destacava também, o preparo de “cerca de 1 700
remédios à base de ervas e vegetais, para a cura de muitas enfermidades”
(ORNELLAS, 1978, p. 67 - 68).
Esses e outros exemplos destacam a importância atribuída pelas civilizações
antigas no emprego da alimentação, ou dieta, em tratamentos medicinais. Mazzini
(2004, p. 254 - 257), refere em seu estudo, de modo geral, passagens terapêuticas
das obras de Hipócrates, Galeno, Oribase e Antimo, revelando, na antiguidade, o
esforço por uma literatura de medicina dietética. Contudo, esses tratamentos eram
acessíveis apenas às classes mais privilegiadas, que dispunham de tempo e
recursos para a aplicação de uma alimentação médica orientada. Ainda, as
descobertas da antiguidade trouxeram grandes contribuições à atualidade, conforme
o autor, são conhecidas “muitas dietas alimentares específicas, sobretudo graças
aos tratados clínicos da Antiguidade concernentes, por exemplo, à hidropsia, à
febre, às diferentes formas de loucura, às doenças renais ou à convalescença
depois de intervenções cirúrgicas” (MAZZINI, 2004, p. 262).
Na Idade Média, influenciaram a história da alimentação quatro fases
distintas: os Reinos Bárbaros, o Império Franco, o Período Feudal e os Árabes no
ocidente. Marcaram esse período o constante estado de guerra, a luta pela
conquista de novos territórios e a dominação de povos. A culinária apresentava-se
sob o aspecto rústico, como encontrada in natura, com grande manuseio do fogo
(ORNELLAS, 1978). Em verdade, nessa época, os métodos empregados na
produção de alimentos não evoluíram significativamente, havendo, inclusive, um
retrocesso aos hábitos primitivos, em especial, às épocas marcadas pela escassez e
pela disseminação de doenças (ABREU, VIANA, MORENO, 2001, p. 5).
Basicamente, a sociedade feudal firmava-se sob a cultura camponesa,
essencialmente agrícola. As famílias camponesas eram responsáveis pela produção,
que deveria ocorrer acima da quantia necessária para a subsistência, com o objetivo
de repassar partes da produção ao senhor feudal, como forma de pagamento dos
tributos impostos naquela sociedade. Os excedentes da produção agrícola, não
consumidos, tornavam-se moeda de troca. Essa prática impulsionou o
desenvolvimento de moedas, o intercâmbio de mercadorias e o artesanato,
promovendo o comércio e o crescimento das cidades. Por consequência, também
31

enriqueceu classes aristocráticas, firmou desigualdades sociais e empobreceu a


maior parte da população trabalhadora (RIERA-MELIS, 2004, p. 393).
Outrossim, a culinária medieval combinava alimento, sabor e dietética, com o
mesmo fim, a função gastronômica não se dissociava da terapêutica, do contrário,
eram complementares. Utilizavam muitas especiarias, produtos considerados
exóticos, para atribuir sabor aos alimentos. Contudo as especiarias eram receitadas
apenas às pessoas saudáveis, já aos enfermos, não eram prescritos tais
ingredientes por resultarem no agravamento da febre. Nesse aspecto, Flandrin
(2004) ressalva que as receitas ilustradas em tratados de dietética revelam na Idade
Média, um consumo irresponsável de alimentos perigosos, tóxicos ou mal
preparados, consumidos pelos ricos, a título de crenças e demonstração de poder
(FLANDRIN, 2004a, p. 493)
O conhecimento medieval culinário era basicamente empírico, a partir das
experiências de degustação, experimentos e reações diante dos alimentos é que se
tomavam notas e consolidava-se o hábito alimentar daquela época, como também
ocorreu em outros tempos. A cozinha medieval era, portanto, uma cozinha moldada
por crenças dietéticas, buscando nos alimentos a resposta para as enfermidades e a
manutenção da saúde humana, sem deixar de combinar os sabores. Dessa forma,
“como cada sabor se revestia de um significado dietético preciso, o trabalho sobre os
sabores era também um trabalho sobre a digestibilidade dos alimentos” (FLANDRIN,
2004a, p. 495).
Dessa forma, a era medieval pode não ter representado um grande avanço
gastronômico, mas foi significativa para o aprimoramento da dietética como terapia
medicinal. Igualmente, a invasão árabe no ocidente proporcionou a introdução de
novas especiarias na Europa como açafrão, canela, anis, dentre outros ingredientes
também utilizados para tratamentos terapêuticos. Davam preferência aos
tratamentos dietéticos na cura de enfermidades, no lugar de medicação. Nessa
época, escritos foram publicados consolidando as terapias dietéticas (ORNELLAS,
1978, p. 67 - 68).
Logo após, o início da modernidade foi marcado pelo refinamento das
civilizações e da dedicação à intelectualidade. Os descobrimentos e o
desenvolvimento de novos mecanismos de transporte, comércio e produção,
impactaram significativamente no aprimoramento da alimentação humana. Contudo,
32

a história da alimentação não é unívoca na linha do tempo, diferencia-se de um país


para outro, de acordo com a região, a cultura, a religião, idioma, dentre outros
fatores. Nesse contexto, destaca-se que a história da alimentação no período da
modernidade centra-se na Europa pela maior disponibilidade de literatura e registros
(FLANDRIN, 2004b, p. 532 – 559).
De acordo com Flandrin (2004b), nesse período houve um distanciamento da
dietética e da gastronomia, a “velha medicina” medieval que combinava os sabores
com as crenças terapêuticas cederam lugar a gastronomia voltada apenas para a
estética e o sabor. Não se tinha mais o objetivo da manutenção da saúde por meio
da alimentação planejada, pelo contrário, esse aprimoramento gastronômico resultou
na mudança dos hábitos alimentares, proporcionando o excesso alimentar, o
consumo acima do necessário para a subsistência, ao mesmo tempo em que refinou
o paladar. Nesse sentido, “a multiplicação das artes ligadas à alimentação e das
obras técnicas que tratam delas foi acompanhada, sob formas diversas, de escritos
que fazem a apologia do prazer de comer e até da glutonaria e da embriaguez”
(FLANDRIN, 2004b, p. 551).
Outrossim, a colonização e o intenso fluxo de imigrantes impactaram
significativamente nos hábitos locais das colônias na América Latina. Depois dos
descobrimentos, os países latino-americanos, essencialmente indígenas,
influenciados pelos maias, incas e astecas, sofreram a intervenção cultural dos seus
colonizadores (ORNELLAS, 1978, p. 216). Dessa forma, atualmente compreende-se
que:

A parte a cozinha espanhola, que deixou como herança o ‘puchero’, a ‘olla


podrida’, os ‘chorizos’ e derivados, a culinária da América Latina sofreu a
influência de outras correntes de imigração, tanto italiana como alemã,
inglesa, húngara, polonesa, árabe, etc. Na Argentina e no Peru, “o chá das
cinco” é uma instituição, tal como na Inglaterra. Na Argentina, a abundância
de trigo e a influência italiana consagraram os pratos de massa: ‘pastas’,
‘ravioles’, ‘ñoquis’, ‘empanadas’ etc. O uso e abuso de manteiga e creme de
leite, em muitas receitas, denunciam a presença holandesa ou germânica,
enquanto os pratos elaborados da cozinha francesa são facilmente
identificados (ORNELLAS, 1978, p. 217).

Do mesmo modo, os espanhóis encontraram uma rica diversidade na


América, difundindo esses ingredientes na Europa e os adicionando a sua culinária.
Esse movimento estabeleceu um comércio global viabilizando o fluxo de alimentos,
plantas, animais e conhecimentos que cambiavam durante as expedições marítimas.
33

Dentre diversos exemplos, o cacau tornou-se o destaque da América, o café do


Oriente Médio e o Chá do Extremo Oriente, proveniente da China. Outrossim, o
açúcar teve especial destaque na modernidade, que até então era conhecido como
uma especiaria rara e cara, mas que com o processo de colonização, de diversos
povos e territórios, teve sua rápida expansão associada ao crescimento das
plantações de cana-de-açúcar, em especial na América, e também a exploração de
mão de obra escrava (LEMPS, 2004).
Por conseguinte, o despontar da Revolução Francesa, em 1789, pôs fim na
Idade Moderna, ensejando o atual período da Contemporaneidade. Um novo
contexto social iniciava-se com uma nova roupagem cultural, influenciado fortemente
pela Revolução Industrial, pelo êxodo rural, pelo crescimento das cidades, pela
economia voltada ao mercado e não apenas ao consumo de subsistência. Desse
modo, “a revolução industrial atinge a história da alimentação em vários aspectos,
mas antes de tudo pelo desenvolvimento das indústrias alimentares”. Significa dizer
que aquilo que era originalmente manufaturado, produzido artesanalmente, passa a
ser absorvido pela indústria, como o caso das refinarias, destilarias e conservas
(FLANDRIN, 2004c, p. 700).
Sendo assim, a consolidação do capitalismo, da industrialização, dos novos
modos de produção e consumo, distinguiu a contemporaneidade no período
compreendido entre os séculos XIX e XXI, na oferta de alimentos cada vez mais
diversificados, porém não em quantidade suficiente. Paralelamente, também criou
divisões sociais e a restrição de acesso a esses alimentos, privilegiando uns em
detrimento de outros. Nesse sentido, entre o fim da Idade Moderna e o século XIX
evidencia-se “as condições de vida das classes trabalhadoras que vivem nas
cidades tornam-se, então, particularmente penosas porque os alimentos não são
suficientes e muito caros, sobretudo por causa das carências do sistema de
abastecimento” (PEDROCCO, 2004, p. 763).
A necessidade de uma produção alimentar capaz de atender a população
crescente, que se deslocava da área rural para as cidades, impulsionou uma série
de inovações na indústria, com o fim de atender as demandas de produção e
conservação dos alimentos. Dessa forma, “a indústria alimentar conhece um forte
crescimento no século XIX, com o rápido desenvolvimento das fábricas de conserva
[...] e da indústria do frio” (PEDROCCO, 2004, p. 765). Consequentemente, a
34

preocupação da época não circunda uma cultura dietética, mas sim, a ingestão de
calorias suficientes para a manutenção a força de trabalho (PEDROCCO, 2004, p.
765).
Já no século XX, consagra-se na Europa uma transformação drástica no
hábito alimentar. Nessa linha, “somente após a Segunda Guerra Mundial, sobretudo
a partir dos anos 50, é que, em todos os níveis, se produz a passagem definitiva
para regimes dietéticos baseados nas proteínas ‘nobres’” (SORCINELLI, 2004, p.
803). Em verdade, a mudança de hábitos alimentares na época permitiu a
eliminação de patologias vinculadas à má nutrição, porém, fez surgir outras. Nesse
sentido, “oncologistas afirmam que se levantou o problema das doenças cardio-
vasculares [sic] e neoplásticas à medida que aumentava o bem-estar alimentar”
(SORCINELLI, 2004, p. 803). De modo geral, diversas doenças surgiram ligadas a
transformação dos hábitos alimentares, desde doenças gastrointestinais a lesões
vasculares (SORCINELLI, 2004, p. 803). De todo modo,

Além de não estarem desembaraçados do problema alimentar, os homens


continuam a enfrentar a dificuldade de se alimentar para se sentirem melhor
e mais saudáveis. Uma parte da população mundial atualmente ainda é
vítima de uma subnutrição endêmica e suas consequências no plano da
saúde; encontra-se cativa do círculo vicioso da subnutrição, falta de
assistência social e crescimento das doenças. Outra parte da humanidade
está, pelo contrário, aflita com uma patologia degenerativa na qual os
fatores alimentares desempenham um papel de primeiro plano, por causa
do desequilíbrio e dos fatores de risco associados às técnicas adotadas
pela indústria alimentar (processo de produção, preparação, refinação,
conservação e transformação dos gêneros alimentícios) (SORCINELLI,
2004, p. 804).

Em síntese, diferentemente de outros períodos da história, a problemática da


contemporaneidade não reside na falta de alimentos, mas sim na má qualidade
nutricional e na insegurança alimentar, diante de uma grande oferta de alimentos,
processados e industrializados, relacionados a doenças. Na próxima seção, buscar-
se-á contextualizar as ideias da história da alimentação no Brasil para a
compreensão das necessidades humanas atuais.
35

2.2 ALIMENTAÇÃO NO BRASIL: INFLUÊNCIAS MULTICULTURAIS HISTÓRICAS


À CONTEMPORANEIDADE

A alimentação no Brasil tem intrínseca relação com a história da colonização


do país, desenvolvendo-se através dos tempos e transpassando povos e culturas
diferentes. O Brasil é um país etnicamente diversificado, o que reflete na sua
identidade e, por consequência, também na alimentação.
A colonização do Brasil por Portugal introduziu, no início, diversos
ingredientes e especiarias alimentícias que já faziam parte dos hábitos e do
comércio português, expressando os anos de experiência e de exploração de outros
territórios como a Índia e a África. “Formaram, assim, uma sociedade agrária,
subjugando primeiro o índio, depois o negro e fazendo prevalecer o poder particular
dos donatários e a influência decisiva da Igreja, através de suas missões religiosas”
(ORNELLAS, 1978, p. 219).
A introdução da culinária portuguesa não passou por maiores dificuldades,
encontrando em meio a natureza uma diversidade de recursos em abundância. Por
meio dos conhecimentos indígenas, os portugueses implementaram novas técnicas
de preparação dos alimentos e tiveram acesso a mandioca e ao milho, passando a
constituir a base da alimentação destes (ORNELLAS, 1978, p. 219).
Em especial, a mandioca (conhecida também por macaxeira, aipim, inhame) é
o alimento que mais se destaca na história do Brasil, sendo considerada por Câmara
Cascudo como “A Rainha do Brasil”. Apresentada pelos índios, foi recepcionada
pelos portugueses e posteriormente pelos povos africanos, escravizados na época.
Do preparo da mandioca, cozida, em caldos, misturas, farinhas, dentre outros, tinha-
se um alto valor nutricional (CÂMARA CASCUDO, 2004, p. 90 – 101). Nesse
contexto:

A escassez de mão-de-obra [sic] e a subjugação insuficiente de índios


originou a crescente intensificação da escravatura negra, calculando
Anchieta em cerca de 10 mil o número de escravos vindos da Guiné e de
Angola. Valeu-se o português de seu conhecimento no trato com o negro e
de suas habilidades para o trabalho agrícola, e aproveitou para trazer com
ele recursos vegetais aplicáveis à cultura em região tropical. Foi assim que
se começou a cultivar a palmeira (dendê e coco da Bahia), o quiabo
(elemento indispensável na culinária africana), a cebola e o alho (de remota
origem egípcia), a pimenta e vários outros condimentos recolhidos nos
contactos e conquistas na Ásia, África, Ilhas da Madeira e Cabo Verde.
Tendo aprendido com os árabes o conhecimento da agricultura organizada
36

e dedicação ao trabalho, não foi difícil ao elemento luso implantar em terras


brasileiras as bases de uma agricultura mais racional e mais rentável
(ORNELLAS, 1978, p. 221).

O português encontrava-se diante de uma grande diversidade de frutos


silvestres e animais exóticos, mas não abriu mão dos seus hábitos alimentares,
trazendo para o Brasil Colônia sementes, vegetais, frutas, cereais, dentre outras
variedades portuguesas. A produção de açúcar aumentou consideravelmente após
1624 e, por consequência, o seu uso em diferentes pratos. Pouco depois, o
interesse pela cultura e pela religião, com a fundação de escolas e conventos, pôs a
mesa a culinária europeia e oriental. A aproximação com os povos indígenas
permitiu aos portugueses conhecimentos sobre a pecuária e sobre o território
explorado. Do mesmo modo, o índio conheceu a produção de leite animal e seus
derivados, onde até então consumia apenas o leite humano (ORNELLAS, 1978, p.
223 - 226).
Para os canaviais utilizou-se predominantemente da força escrava africana,
como também na cozinha as mucamas, que substituíram as mulheres indígenas. Os
portugueses não lograram êxito na subordinação do índio como serviçal, sendo
insubmisso à imposição de tarefas (CÂMARA CASCUDO, 2004, p. 158 – 159).
Desse modo, influenciaram na época, no Brasil Colônia, significativamente,
três culturas: a indígena, a africana e a portuguesa. A relação com a natureza e os
métodos de preparo entre os índios e os africanos eram semelhantes, distinguindo
quanto ao conhecimento de variedades de vegetais, frutos e animais. Ambas
contribuem para a culinária brasileira contemporânea (ORNELLAS, 1978, p. 226 -
227).
Em conjunto com o deslocamento da corte portuguesa para o Brasil, na fuga
de D. João VI, levou-se uma cozinha especializada, com influência francesa, para
atender as exigências do rei. Esse momento significou uma nova etapa na história
da alimentação no Brasil, pois “com a divulgação da cozinha fina e a vulgarização de
alimentos até então restritos à mesa dos afortunados, a exemplo da manteiga da
Irlanda, do azeite português, das frutas secas, das aves raras, dos vinhos
importados e do pão de trigo” (ORNELLAS, 1978, p. 233). Ao mesmo tempo, os
ingredientes nativos passaram a ser mais aceitos e incorporados na culinária real
(ORNELLAS, 1978, p. 233).
37

Muitas trocas entre brancos e mestiços foram realizadas, conhecendo-se


diferentes sabores entre o amargo e o doce, o que antes não se encontrava no
Brasil foi incorporado a cultura pela regularidade do uso e dos hábitos alimentares. A
exemplo, “o prato mais gloriosamente nacional do Brasil, a feijoada completa, é um
modelo aculturativo do cozido português com o feijão-e-carne-seca, iniciais”. Assim
sendo, o feijão é considerado, através dos tempos, o componente principal das
refeições no Brasil (CÂMARA CASCUDO, 2004, p. 242).
Em verdade, o feijão, a farinha e a carne-seca, de acordo com Pinto e Silva
(2005, p. 79), formaram o “tripé alimentar” do Brasil Colônia. Fixando-se a partir dos
ingredientes disponíveis somados a criatividade de combinar diferentes texturas,
com o seco e o úmido. Modos de preparo que revelam uma preocupação com a
subsistência e o resultado nutricional da refeição (PINTO E SILVA, 2005, p. 117 –
118).
Pouco antes do marco da independência, chegaram ao Brasil os italianos,
especialmente nas regiões conhecidas hoje pelos Estados do Rio Grande do Sul e
São Paulo, trouxeram consigo o gosto pelas massas, molhos, polenta, queijo e
vinho, contribuindo significativamente para o consumo do trigo (ORNELLAS, 1978, p.
235).
A expansão da agricultura, que, em meados do século XIX, sobrepôs o cultivo
do café ao açúcar, proporcionou espaço para o desenvolvimento do cultivo de
hortaliças e frutas. A ampliação do espaço de trabalho e cultivo atraiu o interesse de
imigrantes, de diversas regiões da Europa (ORNELLAS, 1978, p. 243).
O fluxo de pessoas e produtos tornava-se intenso entre o Brasil e a Europa.
Segundo Ornellas, após o ano de 1808 pode-se verificar que as cervejas
provenientes da Alemanha, Inglaterra, Holanda, Noruega e Dinamarca tinham
grande aceitabilidade no Brasil, já “em 1836 anunciava-se uma cerveja produzida no
Rio de Janeiro. Como indústria dominadora no gênero foram fundadas a ‘Antártica’
em 1888 e a ‘Brahma’, dezesseis anos depois.” (ORNELLAS, 1978, p. 244).
Desse modo, diversas foram as influências, de diferentes culturas, povos e
territórios para a cultura brasileira, de tal modo:

O mate, natural do sul do Brasil, foi utilizado pelos índios Guaranis, que
mascavam a folha quando iam à caça ou pesca, ou quando trabalhavam em
sítios pantanosos, revelando aos jesuítas as propriedades da planta. Os
gaúchos transformaram-no em chimarrão, ao qual aderiram os colonos
38

europeus e o costume se difundiu, principalmente, para a Argentina, um dos


maiores consumidores (ORNELLAS, 1978, p. 245).

Outrossim, após a proclamação da Independência, destaca-se no período do


Brasil Império o importante avanço da dietética, na relação entre medicina e
culinária. Entre os séculos XVIII e XIX as epidemias eram frequentes,
consequentemente houve avanço na literatura medicinal, despontada no Rio de
Janeiro, sob influência da medicina alemã e francesa. Dentre as diversas razões de
origem de tais enfermidades, destacava-se a alimentação de má qualidade,
considerando que alguns alimentos poderiam contribuir direta ou gradativamente
para o desenvolvimento de doenças, acompanhadas de questões ambientais e de
higiene (COUTO; ALFONSO-GOLDFARB, 2015, p. 35).
Nesse sentido, o interesse médico pelo metabolismo humano dos alimentos,
como agravante de moléstias, modificou os hábitos alimentares e os modos de
preparo de alimentos, inclusive os tradicionalmente consumidos. Contudo, tal
discussão não se limitou a área médica, levando a preocupação da dietética
medicinal para a culinária, alcançando, desse modo, “os livros de receitas brasileiros
do século XIX – livros estes que buscaram acompanhar as questões científicas de
sua época, ao mesmo tempo em que perpetuaram antigos manuais culinários.”
(COUTO; ALFONSO-GOLDFARB, 2015, p. 42).
Em que pese de acesso privilegiado da elite carioca, nessa época, os livros
culinários de abordagem dietética contemplavam conhecimentos de química e
componentes alimentícios. Inclusive, para os tratamentos de enfermos
recomendavam-se dietas por meio de receituários. No entanto, muitos ingredientes,
tradicionalmente brasileiros, foram afastados dos livros de culinária, ou então
recomendados com restrições, em razão das dúvidas sobre os seus impactos na
saúde humana, a exemplo da mandioca, do milho e da carne de porco. Esse
entendimento, desenvolvido no século XIX, fez com que ingredientes, genuinamente
da culinária brasileira, desaparecessem por muitos anos, sendo retomados, sem
remorsos, anos depois (COUTO; ALFONSO-GOLDFARB, 2015, p. 43-44).
A tensão política, econômica e social a partir da metade do século XIX
implicou, dentre outros fatores, no fim do Império. Em 1888 tem-se a abolição da
escravatura e já no ano seguinte, em 1889, proclama-se a República no Brasil,
forma de governo vigente até a atualidade. As mudanças favoreceram um espaço,
39

em especial, para a economia capitalista, a imigração europeia e para o trabalho


remunerado. Contudo, a República Velha inicia com a influência do pensamento
escravocrata e da organização sociopolítica das oligarquias (MOTA, 1990, p. 19 -
20).
Em razão dessas influências, as relações de trabalho baseavam-se na
exploração da força de trabalho, mal remunerada. Além disso, muitas vezes os
trabalhadores acumulavam dívidas com os empregadores, relacionadas a
hospedagem e alimentação, as quais a adimplência era impraticável. De certo modo,
a escravidão se manteve sob uma outra roupagem (PATTO, 1999, p. 169).
Nessa linha, o período da República Velha, compreendido entre os anos de
1889 a 1930, foi marcado pelo desenvolvimento desordenado da urbanização. Na
época, a atividade econômica industrial no Brasil ocupava a terceira posição, atrás
do setor de serviços e da agricultura, que ocupava a primeira posição. De todo
modo, não se pode ignorar o crescimento industrial da época, que desenvolveu
“fábricas de médio e de grande porte de fiação e tecelagem, bebidas, roupas,
sapatos e alimentos, instaladas no Rio e em São Paulo desde o começo do século,
empregavam um número crescente de operários”, muito embora, em condições
precárias de trabalho. Esse contexto, resultou no ensejo da luta da classe dos
trabalhadores e constantes greves (PATTO, 1999, p. 170).
Outrossim, a ocorrência da Primeira Guerra Mundial, em 1917, prejudicou o
fornecimento de alimentos que eram em grande número importados dos países
diretamente envolvidos na guerra. Essa situação resultou em um número
significativo de falsificações dos gêneros alimentícios, impactando negativamente na
saúde pública. Muitas epidemias ligadas à febre amarela e à peste levaram à
preocupação com o armazenamento, composição e higiene dos alimentos. Por essa
razão, surgem as primeiras políticas de saúde pública voltadas especialmente para a
alimentação e higiene, iniciando-se a regulamentação dos alimentos, especialmente
em São Paulo e no Rio de Janeiro, com a realização de inspeções e análises
laboratoriais (BRINKMANN, 2017).
Contudo, somente na Era Vargas que a nutrição foi efetivamente relacionada
com problemas da saúde pública, ampliando-se as dimensões dos aspectos
nutricionais. Visando atender às reivindicações das classes trabalhadores, o governo
Vargas fixou o salário mínimo, com o objetivo de satisfazer as necessidades básicas;
40

e, em 1940, o Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), com a


finalidade de garantir refeições de qualidade aos trabalhadores e suas famílias
(SILVA, 1995).
Em retrospectiva aos diferentes períodos do Brasil República, Silva (1995),
apresenta um estudo das principais políticas e programas voltados à alimentação
entre os governos Vargas (1930-1945) e Itamar Franco (1992 – 1995). Considera as
primeiras iniciativas tomadas a partir de 1940, as quais destaca-se a criação da
Coordenação da Mobilização Econômica – CME (1942); a Comissão Nacional de
Alimentação (CNA) (1945); o Instituto Nacional de Nutrição (INN) (1946); o plano
Conjuntura Alimentar e Problemas de Nutrição no Brasil (1952) (SILVA, 1995, p. 87
– 89).
A criação do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN) (1972),por
sua vez, é considerada um divisor de águas no tratamento dado pelo Estado à
política nutricional, elaborando-se na sequência: I Programa Nacional de
Alimentação e Nutrição (Pronan) (1973-1974); II Programa Nacional de Alimentação
e Nutrição (Pronan) (1976-1979); Programa de Nutrição em Saúde (1975); Programa
de Suplementação Alimentar (PSA) (1985); Programa de Alimentos Básicos em
Áreas de Baixa Renda (Proab) (1979); Programa de Racionalização da Produção de
Alimentos Básicos (Procab) (1977); Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento
Materno (Pniam) (1981); Programa de Combate às Carências Nutricionais
Específicas (Pccne) (1975); Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan);
Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) (incialmente sob a denominação
Merenda Escolar, em 1955); Programa de Alimentação dos Irmãos dos Escolares
(Paie) (1986); Programa de Complementação Alimentar (PCA) (1976); Programas de
Alimentação do Trabalhador (PAT) (1977); Programa Nacional do Leite para as
Crianças Carentes (Pnlcc) (1985) e por último Programa de Alimentação Popular
(PAP) (1985) (SILVA, 1995, p. 89 – 96) .
O período democrático, pós Constituição Federal de 1988, parte de um
histórico de pesquisas e políticas direcionadas a saúde nutricional, apresentando
nos anos que decorreram diversos programas também voltadas à alimentação e à
nutrição da população brasileira. No entanto, na década de 1990, somente o
Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa de Alimentação do
Trabalhador (PAT) permaneceram, os demais programas citados anteriormente
41

foram extintos ou sofreram alterações substanciais (SILVA, 1995, p. 97). Já em


1993, destaca-se a criação do Conselho de Segurança Alimentar (Consea), com a
proposição do Plano de Combate à Fome e à Miséria (SILVA, 1995, p. 98). Nesse
sentido, destacam-se os números levantados pelo autor, com relação aos
investimentos realizados no período de execução das políticas mencionas:

De 1978 a 1993 o Brasil investiu o equivalente a cerca de US$ 8,2 bilhões


em programas de alimentação e nutrição. O investimento cresceu
lentamente até 1984, aumentou consideravelmente até 1990 e sofreu uma
queda abrupta em 1991 e 1992, com alguma recuperação em 1993 [...]. De
pouco mais de 0,05% do PIB ou 2,8% do investimento em saúde em 1978,
os programas de nutrição chegaram, respectivamente, a cerca de 0,3% e
6% em 1989-1990. [...] Ao longo de todo o período, os programas de
suplementação alimentar deram conta de 95% ou mais dos dispêndios. Até
1986, dois deles - Programa de Nutrição em Saúde/Programa de
Suplementação Alimentar e Programa Nacional de Alimentação Escolar -
foram responsáveis por mais de 80% e, de 1987 a 1990, teve grande
participação o Programa Nacional de Leite para Crianças Carentes,
somando, com os outros dois, de 88,5% a 92,6%. Componentes de impacto
nutricional comprovado e baixo custo como Pniam, Combate a Carências
Específicas e Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional tiveram apoio
decrescente a partir de 1987 (SILVA, 1995, p. 100).

Desse modo, as políticas e os programas de nutrição tinham o seu


desenvolvimento vinculado à administração no período em que eram executadas,
algumas atingiram seus propósitos outras nem tanto, mas, sobretudo, demonstrando
ao longo do tempo, em alguma medida, a preocupação do Estado com a situação
nutricional da população.
Na próxima seção será abordada a segurança alimentar como direito humano
à alimentação adequada, como uma preocupação global juntamente com o
destaque da política brasileira voltada para a alimentação na atualidade.

2.3 SEGURANÇA ALIMENTAR E DIREITOS HUMANOS: UMA PAUTA GLOBAL

A imprescindibilidade da alimentação para a vitalidade humana faz com que o


assunto tenha uma atenção especial. Por essa razão, esse é um valor compartilhado
globalmente, presente em diferentes convenções internacionais. Já no Brasil, a
alimentação é um direito constitucional acompanhado de diversas políticas públicas
voltadas para as dimensões que englobam a alimentação segura e de qualidade.
42

Dessa forma, serão abordados nesta seção os aspectos relacionados à segurança


alimentar e ao direito humano à alimentação adequada como uma pauta global.
Nesse sentido, incialmente, a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(DUDH), de 1948, promulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU), visando
assegurar e dispor de todos os elementos necessários para uma vida digna e de
qualidade, destaca em seu artigo 25, a alimentação como elemento fundamental
para a qualidade de vida, voltada para a saúde e para o bem-estar, inclusive a
manutenção dessas condições em caso de desemprego, ou da perda dos meios de
subsistência (NAÇÕES UNIDAS, 2009).
Além disso, a alimentação também é objeto do Pacto Internacional de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), de 1966, que juntamente com a
Declaração Universal de Direitos Humanos e o Pacto sobre Direitos Civil e Políticos
compõe o Sistema Universal de Direitos Humanos. O PIDESC reforça em seu artigo
11 a disposição da DUDH sobre a alimentação e complementa no §2, item 1, o
compromisso dos Estados-parte na implementação de medidas e programas
voltados para a proteção da pessoa humana contra a fome, incluindo a
modernização dos métodos aplicados na produção de alimentos, voltadas para o
emprego “dos conhecimentos técnicos e científicos, pela difusão de princípios de
educação nutricional e pelo aperfeiçoamento ou reforma dos regimes agrários, de
maneira que se assegurem a exploração e a utilização mais eficazes dos recursos
naturais” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1966).
Com o intuito de promover o desenvolvimento humano e a erradicação da
pobreza, a ONU mantêm o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD), que foca, atualmente em três dimensões: 1. “Desenvolvimento sustentável”;
2. “Governança democrática e promoção da paz”; 3. “Resiliência climática e de
desastres”. Do mesmo modo, o PNUD é responsável pela publicação do Relatório
de Desenvolvimento Humano (RDH), com abrangência global, que inclui o Índice de
Desenvolvimento Humano. No Brasil, O PNUD está sediado desde a década de
1960, alinhando-se com a política global de desenvolvimento humano (PNUD
BRASIL, c2019).
Outrossim, com especificidade na área de alimentos, a ONU possui a agência
especializada “Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura”
ou “Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO)”, fundada em
43

1945, com a finalidade de erradicar a fome e a insegurança alimentar. Com sede


central em Roma/IT, 191 países são membros da FAO. Possui escritório no Brasil,
localizado em Brasília (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, [201?]).
Com foco no combate à fome e à redução da pobreza, a FAO possui como
estratégia principal o desenvolvimento agrícola, focado na alimentação saudável e
sustentável, de acesso universal. Além disso, representa um fórum neutro para que
os países-membros tenham espaço para discutir e elaborar políticas voltadas para a
agricultura e alimentação com foco na cooperação (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA, [201?]).
No intuito de padronizar uma linguagem universal para o comércio de
alimentos, atribuindo segurança à circulação global dos gêneros alimentícios, foi
instituído, em 1963, o programa Codex Alimetarius, que determina as normas
internacionais dos alimentos, sob a gestão da Organização das Nações Unidas para
a Agricultura e a Alimentação (FAO) e da Organização Mundial da Saúde (OMS). As
normativas do Codex Alimetarius são de aplicação voluntária e não se sobrepõem às
legislações nacionais. Contudo, incentiva-se globalmente, por meio da Organização
Mundial do Comércio, que os Estados harmonizem as suas políticas nacionais com
essas orientações. O Brasil participa do programa desde a década de 1970
(ANVISA, 2016).
No Brasil, a FAO possui o objetivo de desenvolver o seu trabalho a partir de
quatro prioridades. A primeira prioridade diz respeito à segurança alimentar e o
acesso, permanente e sustentável, a uma alimentação saudável e alinhada com os
propósitos universais dos Direitos Humanos. A segunda prioridade refere-se ao
estabelecimento de uma plataforma de compartilhamento das boas práticas
desenvolvidas no Brasil com outros países do hemisfério sul. Essa cooperação tem
por foco o compartilhamento de práticas voltadas à segurança alimentar, à
agropecuária, à pesca e ao meio ambiente. A terceira prioridade, busca a superação
da extrema pobreza por meio do desenvolvimento da economia local com base na
agricultura familiar, a partir do estabelecimento de políticas públicas voltada para o
desenvolvimento rural. Por último, a quarta prioridade trata de uma gestão voltada
para a agroecologia, com foco no uso sustentável dos recursos naturais
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A
AGRICULTURA, [201?]).
44

Além da FAO, as Nações Unidas mantêm o Programa Mundial de Alimentos


(World Food Programme – WFP) que constitui uma organização humanitária com
principal finalidade de combater a fome no mundo, e se mantém principalmente por
doações e voluntários. Dessa forma, trabalha diretamente com duas agências da
ONU, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação e o Fundo
Internacional para o Desenvolvimento Agrícola. Fundada em 1962, ao longo da sua
existência já forneceu assistência para 86,7 milhões de pessoas, em 83 países. O
trabalho desenvolvido pela WPF é voltado para a desnutrição grave e crônica, para
a deficiência de vitaminas e minerais, como também para a obesidade e o
sobrepeso (WORLD FOOD PROGRAMME - WFP, c2019)
Alinhado com essas prioridades, o Brasil também dispõe, desde 2011, do
Centro de Excelência contra Fome do Programa Mundial de Alimentos das Nações
Unidas, que busca cooperar com os países da África, Ásia e América Latina no
compartilhamento de soluções para a alimentação saudável e sustentável
(PROGRAMA MUNDIAL DE ALIMENTOS, [201?]).
Outrossim, impulsionados pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio,
concebidos no ano 2000, as nações reuniram-se novamente em 2015 para discutir e
atualizar a pauta global com o estabelecimento de novas metas. Nasceram assim,
os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que traçam 17 objetivos e 169
metas em uma agenda de cooperação internacional a ser cumprida até 2030
(NAÇÕES UNIDAS, 2015).
Em especial, destaca-se o segundo objetivo da Agenda 2030, “Acabar com a
fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a
agricultura sustentável”, sob o título “Fome Zero e Agricultura Sustentável”. Nesse
sentido, frisa-se, que a má nutrição é tão grave quanto a fome, por essa razão, a
segurança alimentar ganha especial atenção na atualidade (NAÇÕES UNIDAS,
2015). Dentre as metas estabelecidas para o alcance do objetivo 2, em particular, a
meta 2.a, trata:

2.a Aumentar o investimento, inclusive por meio do reforço da cooperação


internacional, em infraestrutura rural, pesquisa e extensão de serviços
agrícolas, desenvolvimento de tecnologia, e os bancos de genes de
plantas e animais, de maneira a aumentar a capacidade de produção
agrícola nos países em desenvolvimento, em particular nos países de
menor desenvolvimento relativo (NAÇÕES UNIDAS, 2015, p. 21, grifo
nosso).
45

Reconhecendo os dados apresentados pela FAO, da existência de 800


milhões de pessoas em situação de subnutrição crônica, em paralelo com 2 bilhões
de pessoas que possuem deficiências nutricionais; além de cerca de 159 milhões de
crianças, abaixo dos 5 anos de idade, em subnutrição, que contrastam com 1,9
bilhões de pessoas classificadas com sobrepeso, sendo 600 milhões obesas, em
crescimento contínuo, a Assembleia Geral das Nações Unidas, aprovou a resolução
A/70/L.42, apresentada pelo Brasil por Antônio de Aguiar Patriota, para
implementação da Década de Ação sobre a Nutrição (2016-2025), sob a liderança
da FAO e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Dessa forma os objetivos da
Década de Ação sobre a Nutrição alinham-se com a Agenda 2030 (NAÇÕES
UNIDAS BRASIL, 2016).
Ao mesmo passo, o Brasil assumiu o compromisso de seguir a Agenda 2030
e também as propostas da Década de Ação das Nações Unidas para a Nutrição, no
período de 2016 a 2025, mesmo que algumas delas já tenham sido atendidas no I
Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Plansan 2012-2015) e
previstas no II Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Plansan 2016-
2019). A gestão sobre os aspectos ligados a segurança alimentar e nutricional fica a
cargo do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan). Os
compromissos assumidos pelo Brasil para a Década de Ação em Nutrição agrupam-
se em seis pilares, já previstos anteriormente pelo II Plansan, sendo o 1º Pilar sobre
“Sistemas alimentares sustentáveis e promotores de alimentação saudável”, o 2º
Pilar sobre “Cobertura universal de ações em nutrição nos sistemas de saúde”, o 3º
Pilar trata da “Proteção social e educação nutricional”, o 4º Pilar do “Comércio e
investimento para melhor nutrição”, o 5º Pilar refere-se aos “Ambientes seguros e
propícios para a nutrição em todas as idades”, por fim, o 6º Pilar propõe a “Revisão,
fortalecimento e promoção da governança em nutrição e prestação de contas”
(CAISAN, 2015).
Recentemente, as agências da ONU, FAO, OMS, o Fundo Internacional de
Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Programa Mundial de Alimentos (PMA) e o Fundo
das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em esforço conjunto, publicaram o
relatório anual do Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI),
edição 2019, divulgando os dados globais sobre a desnutrição e má alimentação. A
análise do ex-diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, revela que existem mais
46

obesos no mundo do que pessoas em situação de fome e que essa situação está
diretamente ligada à insegurança alimentar. Do mesmo modo, um dos fatores
destacados é que as condições econômicas das pessoas as levam a consumir
alimentos mais baratos e acessíveis, por consequência, mais processados e menos
nutritivos, sendo nocivos para a saúde humana. Ao fim, afirma o necessário
comprometimento do Poder Público, Sociedade e Iniciativa privada, ao assegurar
que “não haverá vencedores nessa batalha contra obesidade sem a forte
participação da indústria de alimentos. A luta contra a obesidade é – e tem de ser
– um tema de saúde pública, mas também de cidadania.” (SILVA, 2019, s.p., grifo
nosso). Nesse sentido, aponta o relatório SOFI que:

Em 2018, o sobrepeso peso infantil afetou 40,1 milhões de crianças


menores de cinco anos em todo o mundo; enquanto em 2016, quase dois
em cada cinco adultos (38,9%) estavam acima do peso, representando 2
bilhões de adultos em todo o mundo. A prevalência do sobrepeso está
aumentando em todas as faixas etárias e em todas as regiões 2 (FAO, FIDA,
OMS, PMA y UNICEF, 2019, p. 16).

Nesse contexto cumpre destacar que a literatura especializada em saúde


considera o tabagismo, o sedentarismo, a alimentação inadequada e o alcoolismo os
principais fatores para o desenvolvimento doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT), sendo a maior causa de mortalidade no mundo, ocasionada principalmente
por doenças cardiovasculares e respiratórias, a diabetes e o câncer (DUNCAN, et.
al. 2012).
A partir do diagnóstico dessas enfermidades, uma série de restrições passam
a ser adotadas para o tratamento e manutenção da vida do paciente, dentre elas a
restrição alimentar. Em especial, tratar-se-á da hipertensão e da diabetes.
A hipertensão, conhecida também pela “pressão alta”, desenvolve-se pelo alto
nível de pressão sanguínea nas artérias. Essa condição pode ser herdada
geneticamente, mas também autoadquirida em razão do tabagismo, alcoolismo,
obesidade, estresse, consumo exagerado de sal, colesterol elevado e sedentarismo.
Tratando-se de uma doença crônica, a hipertensão não tem cura, mas tem
tratamento. Além do uso da medicação, outro fator de extrema importância é o

2 No original: “En 2018, el sobrepeso infantil afectaba a 40,1 millones de niños menores de cinco años
en todo el mundo; mientras que en 2016, casi dos de cada cinco adultos (el 38,9%) tenían sobrepeso,
lo que representa 2 000 millones de adultos en todo el mundo. La prevalencia del sobrepreso está
aumentando en todos los grupos de edad y en todas las regiones” (FAO, FIDA, OMS, PMA y
UNICEF, 2019, p. 16).
47

controle da dieta. A readequação dos hábitos alimentares, voltados para a


manutenção do peso, o uso moderado do sal, o controle da diabetes, a exclusão dos
alimentos gordurosos e restrição no consumo de álcool, são cruciais para a
manutenção da saúde da pessoa hipertensa (MINISTÉRIO DA SAÚDE, [201?]a).
Já a diabetes, ocorre pela produção insuficiente de insulina pelo pâncreas ou
então, em razão de disfunções para a absorção da insulina. A insulina, por sua vez,
tem a função de regular a glicose na organização, para a geração adequada de
energia. Quando esse processo é interrompido, uma série de problemas de saúde
desencadeiam-se, como cansaço, visão turva, complicações em diversos órgãos do
corpo, em casos extremos, pode resultar em óbito. Apresenta-se sob dois tipos, 1 e
2, dentre outros fatores, considera-se que o primeiro tipo de diabetes é hereditário e
o segundo, autoadquirido, predominantemente, por hábitos não saudáveis e a
obesidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, [201?]b).
O tratamento designado para retrair os sintomas e os agravantes da diabetes
incluem a injeção de insulina, de forma regular, e a adequação do estilo de vida e
dos hábitos alimentares, especialmente a restrição com relação ao consumo de sal,
açúcar e gorduras (MINISTÉRIO DA SAÚDE, [201?]b).
No entanto, não somente as doenças crônicas impactam na restrição da
alimentação humana, como também predisposições fisiológicas que, em alguns
casos, não são necessariamente patológicas. Desse modo, as alergias e
intolerâncias alimentares também limitam as possibilidades de alimentação e
exigem, por questões de saúde, uma dieta específica. A alergia alimentar é uma
doença que aflige o sistema imunológico, podendo ocorrer a anafilaxia, caso mais
severo da alergia alimentar, fatal em muitos casos. Já a intolerância é a
incapacidade digestiva do organismo diante de determinado alimento. Em ambos os
casos existem tratamentos medicamentosos, no entanto, a principal medida é evitar
os alimentos que desencadeiam essas condições, tanto para a alergia quanto para a
intolerância (NUNES, et al., 2012).
De todo modo, o engajamento do Brasil com as ações internacionais reflete o
compromisso que, em sintonia com o arranjo internacional, o país assumiu
constitucionalmente, quando então, com a emenda nº 64, de 2010, incluiu no art. 6º,
o direito à alimentação, como direito social. Desde então, a alimentação deixa de ser
48

somente uma política de governo para se tornar um dever do Estado (BRASIL,


2010).
Atualmente, destacam-se os programas: Programa de Alimentação Escolar
(PNAE); o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT); a Política Nacional de
Alimentação e Nutrição (PNAN), integrada ao Sistema Único de Saúde (SUS) como
as principais políticas voltadas para a alimentação, executadas pela administração
pública federal, aplicadas em território nacional.
Além disso, o Brasil dispõe do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional – SISAN, criado pela Lei nº 11.346/2006, sendo o sistema, por meio do
qual o Poder Público em conjunto com a sociedade civil (cidadão e iniciativa privada)
buscará dar efetividade ao direito humano à alimentação adequada (BRASIL, 2006).
Nesse contexto, a legislação do SISAN prevê a sua formação a partir de três
diferentes frentes, sendo integrado pela Conferência Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional, pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional (CONSEA) e a Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e
Nutricional. No entanto, a atual gestão pública da União extinguiu o CONSEA
(instituído desde 1993) ao não dispor sobre sua existência na Presidência da
República, por meio da Lei nº 13.844, de 18 de junho de 2019 (BRASIL, 2019).
Na próxima seção serão abordadas as doenças crônicas relacionadas à
alimentação, bem como hábitos alimentares brasileiros e o estado nutricional da
população.

2.4 HÁBITOS ALIMENTARES, DOENÇAS CRÔNICAS, ALERGIAS E


INTOLERÂNCIAS ALIMENTARES: INDICADORES NACIONAIS

Ao longo do tempo as mudanças nos hábitos alimentares impactaram na


saúde humana, tanto de forma positiva quanto negativa, como, por exemplo, com o
desenvolvimento de doenças, intolerâncias e alergias. Ao mesmo tempo em que o
alimento é uma fonte de subsistência e saúde, ele também pode ser a causa de
enfermidades. Tudo isso está relacionado à qualidade e ao acesso da alimentação
humana. Nesta seção serão abordados os hábitos alimentares brasileiros, a partir de
dados oficiais, e também a descrição das doenças crônica, alergias e intolerâncias
alimentares que resultam nas restrições vinculadas à alimentação.
49

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realiza periodicamente


a Pesquisa de orçamentos familiares (POF) para mapear os hábitos de consumo.
Nessa pesquisa são contemplados os aspectos alimentares do cotidiano brasileiro. A
última edição publicada do POF, do período de 2008-2009, revela que os alimentos
consumidos em maior quantidade pelos brasileiros são, por ordem de consumo, “o
feijão, o arroz, a carne bovina, sucos, refrigerantes, o café, o pão de sal, sopas e
caldos”. Ainda, a pesquisa destaca que as mulheres consomem verduras, saladas,
frutas e doces em maior quantidade que os homens (IBGE, 2011, p.40). O consumo
alimentar fora do domicílio aponta que:

O percentual de consumo fora do domicílio em relação ao consumo total foi


maior do que 50% para cerveja (63,6%); salgados fritos e assados (53,2%);
e salgadinhos industrializados (56,5%). Valores acima de 30% ocorreram
para salada de frutas (38,8%); chocolates (36,6%); refrigerantes diet ou light
(40,1%); refrigerantes (39,9%); bebidas destiladas (44,7%); pizzas (42,6%);
e sanduíches (41,4%). O consumo fora do domicilio foi maior para os
homens, exceto para pão integral, biscoito doce, produtos diet (pães, bolos
e biscoitos), chocolates, sorvetes e salgadinhos industrializados (IBGE,
2011, p. 40).

Outra questão destacada pela pesquisa é que o consumo de alimentos


naturais, como raízes, tubérculos, sementes, vegetais, frutas e peixes são maiores
na zona rural do que na zona urbana, que consome predominantemente alimentos
prontos para o consumo e também processados. Contudo, o consumo de bebidas
alcoólicas e alimentos gordurosos, como pizza, sorvete e salgadinhos
industrializados, equiparam-se nas duas áreas (IBGE, 2011, p.40).
Nessa linha, outro fator importante é a renda, que tem um papel substancial
na formação dos hábitos alimentares. Constata o IBGE que as classes de renda
mais baixa têm uma base de alimentação saudável, composta pelo arroz, feijão e a
batata doce, o consumo de doces, gorduras e refrigerantes que representam
marcadores negativos para os hábitos alimentares, também são menores na
população de baixa renda. A tabela de indicadores sobre o “consumo per capita de
refrigerantes, pizzas e salgados fritos e assados, por quartos de renda”, indica que
quanto maior a renda, maior o consumo desses alimentos (IBGE, 2011, p.43).
De outro modo, sob o aspecto da qualidade da dieta, o consumo de frutas,
verduras, leite desnatado e seus derivados e refrigerantes diet, é proporcional ao
aumento da renda, quanto maior a renda maior o consumo desses alimentos. Por
50

fim, o relatório conclui avaliando que a recomendação da OMS, como também do


Guia Alimentar Brasileiro, para “o consumo de frutas, legumes e verduras que é de
400 g por dia não é atingida nem no percentil 90 da população, enquanto que as
medianas de consumo de sucos somada ao de refrigerantes é maior do que 120 g
diárias” (IBGE, 2011, p.44). Endossando o estudo apresentado pela POF, a
Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), última edição 2014, apresenta os seguintes
dados:

No Brasil, o percentual de pessoas de 18 anos ou mais de idade que


consumiam cinco porções diárias de frutas e hortaliças foi de 37,3%. Este
percentual variou de 28,2%, na Região Nordeste, a 42,8% na Sudeste e
43,9% na Centro-Oeste. As mulheres (39,4%), em média, consumiam mais
estes alimentos que os homens (34,8%). De uma formal geral, o consumo
de frutas e hortaliças mostrava aumento com a idade e com o grau de
escolaridade (IBGE, 2014, p. 23).

A PNS ainda indica que entre os marcadores dos hábitos alimentares


considerados não saudáveis estão o consumo diário de refrigerantes, leite integral,
carnes gordurosas e o consumo de sal (IBGE, 2014, p. 25). Do mesmo modo,
considera-se não saudáveis o consumo de doces, presente em 21,7% da população,
e o consumo exagerado do sal, destacado por 14,2% das pessoas que consideram
o seu consumo de sal alto (IBGE, 2014, p. 27).
Sob os olhos da indústria, a Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo (FIESP) observou os hábitos alimentares dos brasileiros e publicou a pesquisa
intitulada “A Mesa dos Brasileiros: Transformações, Confirmações e Contradições”
que apresenta uma comparação dos hábitos alimentares no Brasil do ano de 2010
com o ano de 2017, dividida em três análises: transformações, confirmações e
contradições. A primeira ressalva, apresentada no estudo, é dirigida à situação
econômica dos anos 2015 – 2016, que se tornou responsável pela ascensão do
“preço baixo” nos critérios de escolha dos alimentos (FIESP, [2017?], p. 13).
Dessa forma, a FIESP indica que em 2010 os três primeiros critérios de
relevância na compra de alimentos foram: 1º - marca confiável/conhecida, 2º -
alimento saboroso e 3º - alimento com alto índice nutricional; já em 2017, os dois
primeiros critérios foram mantidos pelos consumidores, com exceção do 3º critério
que cedeu lugar para o critério de “preço baixo” ou “alimento mais barato”, colocando
51

a qualidade do alimento em 4º lugar. Em que pese a oferta alimentos muito abaixo


do preço despertarem a desconfiança dos consumidores (FIESP, [2017?], p. 15).
Nesse contexto, 70% dos consumidores revelam ter mudado os hábitos na
busca por preços mais baixos em razão da crise econômica (FIESP, 2017, p. 17). As
mudanças frente ao consumo de alimentos levaram os consumidores a adotar
comportamentos de pesquisa por promoções, melhores preços e marcas mais
baratas, como também o hábito de cozinhar mais em casa. Com isso, a
indisponibilidade para o preparo de alimentos em casa reduziu de 46% (2010) para
38% (2017), do mesmo modo a preferência pelos alimentos semiprontos, de 42%
(2010) para 28% (2017) (FIESP, [2017?], p. 21).
Esse quadro revela uma predisposição maior dos brasileiros em preparar a
comida em casa com a finalidade de economizar. Em 2010, os brasileiros tinham
53% de predisposição em pagar mais por alimentos industrializados mais práticos
para o preparo, esse número reduziu para 39% em 2017. Com relação ao acesso de
informações sobre alimentação e saúde, os principais canais buscados para o
acesso dessa informação eram, em 2010, por ordem, a TV, os
médicos/nutricionistas e por terceiro a internet. Em 2017, por sua vez, essa ordem
foi invertida, passando ser em primeiro lugar a internet, por segundo a TV e por
terceiro médicos/nutricionistas, de fontes consultadas (FIESP, [2017?], p. 26).
As conclusões do estudo da FIESP apontam que na dimensão de
confirmações a confiança na marca manteve-se como principal critério, em contraste
com a preferência do “preço baixo”, indicando a composição da procura por custo-
benefício, ou seja, qualidade com preço baixo. Inclusive, esse critério é considerado
para a compra de alimentos básicos como feijão, arroz, café, leite, dentre outros.
Dos entrevistados, um terço revela a preferência pela combinação do arroz e feijão
frente a outros alimentos (FIESP, [2017?], p. 37 – 44).
Contudo, os brasileiros esperam para o futuro, em uma projeção de 10 anos,
olhando para 2027 que os critérios “sabor” e “preço” cedam espaço para a
valorização nutricional e a qualidade dos alimentos. Dessa forma, a perspectiva para
2027 é a de que os critérios para a compra de alimentos mantenham a
confiabilidade na marca, em primeiro lugar, mas que sejam alterados na 2º e 3º
posição pela qualidade dos alimentos e pelo índice nutricional sem o uso de
conservantes, respectivamente (FIESP, [2017?], p. 37 – 49).
52

A imagem do setor da indústria de alimentos vem melhorando


paulatinamente, 58% dos entrevistados indicam ter uma boa imagem do setor,
acreditando que o setor irá progredir nos próximos anos. Em 2010, 59% dos
entrevistados acreditavam que a maioria dos alimentos semiprontos da indústria não
eram considerados saudáveis, já em 2017 essa marca reduziu para 51% (FIESP,
[2017?], p. 52 – 56)
Em que pese o desejo de manter uma alimentação saudável, os indicadores
apontam que o “preço” e a “falta de tempo” são empecilhos para uma dieta
considerada saudável. Na hora da escolha pelo consumo, o aspecto sobre o
alimento ser saudável é superado pelo sabor, considerando inclusive, que o alimento
saudável não tem sabor. Esse ponto revela a dimensão sobre a contradição no
estudo, pois os entrevistados indicam o desejo por hábitos mais saudáveis, no
entanto suas práticas não condizem com essa afirmação (FIESP, [2017?], p. 66 –
72).
Na linha das contradições, destaca-se ainda que a maioria dos brasileiros se
preocupam com a aparência e com a forma física. No entanto, somente 3 a cada 10
brasileiros faz algum tipo de atividade física regularmente, contrastando com quase
a metade da população que se considera acima do peso e com 22% que mantém
algum tipo de dieta em contraponto a 78% que não fazem (FIESP, [2017?], p. 76 -
77).
Entre as pessoas que se consideram acima do peso, as possíveis medidas
que tomariam para a redução desse quadro são, entre as principais, a prática de
atividades físicas, a realização de regimes ou dietas e por terceiro a ingestão
alimentos diet ou light (FIESP, [2017?], p. 78).
Voltado para a preocupação com as condições de saúde da população e o
avanço de doenças crônicas no Brasil, o Ministério da Saúde, desenvolve, desde
2006, periodicamente a pesquisa intitulada “Vigitel”, administrada pela Secretaria de
Vigilância em Saúde (SVS). Essa pesquisa inclui a “de Vigilância de Fatores de
Risco para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)”, a partir de inquéritos
domiciliares e escolares realizados a partir de ligações telefônicas. São monitorados
pelo sistema as doenças crônicas não transmissíveis, tais como “diabetes,
obesidade, câncer, doenças respiratórias crônicas e cardiovasculares como
hipertensão arterial” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, [200?]).
53

A edição mais recente da pesquisa Vigitel, divulgada no ano de 2019, sobre


os dados coletados em 2018, indica que a obesidade aumentou na população
brasileira. Considerando o marco temporal de 2006, quando então iniciou a pesquisa
Vigitel, o Brasil marcou em 2018 o maior percentual de obesidade dos últimos anos.
Em 2006 o percentual da população obesa totalizava 11,8%, em 2018 esse
percentual aumentou para 19,8%, o que representa um aumento de 67,8%
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
Diante desse cenário o Brasil anunciou três metas: deter o aumento da
obesidade, reduzir o consumo de refrigerantes e sucos artificiais e aumentar o
consumo de frutas e verduras. Para tanto, o Estado já dialoga com a indústria de
alimentos para a redução do açúcar e do sódio. De todo modo, em que pese o
aumento da obesidade, os hábitos saudáveis apresentaram melhores índices com
relação ao consumo de frutas e hortaliças, redução no consumo de refrigerantes e
sucos artificiais, maior prática de atividades físicas e redução do tabagismo
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
A população registrou 55,7% de pessoas que estão com excesso de peso,
sendo 57,8% entre os homens e 53,9% entre as mulheres (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2019, p. 42). Já com relação a obesidade, a média de adultos obesos
pontuou 19,8%, invertendo a ordem dos índices de excesso de peso, nesse caso a
obesidade é mais recorrente entre as mulheres, marcando 20,7% e 18,7% entre os
homens (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019, p. 45).
No aspecto consumo recomendado de frutas e hortaliças, que utiliza como
base a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 400g diárias ou
cinco ou mais porções por dia desses alimentos, a Vigitel indicou que “no conjunto
das 27 cidades, a frequência de consumo recomendado de frutas e hortaliças foi de
23,1%, sendo menor entre homens (18,4%) do que entre mulheres (27,2%)”
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019, p. 52).
Nesse contexto, a pesquisa revela ainda o diagnóstico da população com
hipertensão arterial e diabetes. Desse modo, a hipertensão arterial está presente em
24,7% da população, ou seja, ¼ da população brasileira apresenta dificuldades
cardíacas, ocorrendo mais entre mulheres, 27%, do que entre homens, 22,1%. Com
relação ao uso de medicamentos, 83,6% referiram fazer tratamento medicamentoso.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019, p. 89; p. 92).
54

Além disso, o diagnóstico de diabetes foi de 7,7%, ocorrendo, da mesma


forma, em maior número entre mulheres, com 8,1% e menor entre os homens, com
7,1%. Dos indivíduos diagnosticados com diabetes, 88,7% fazem uso de
medicamentos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019, p. 95; p. 98).
Do mesmo modo, tanto quanto algumas doenças crônicas, as alergias e
intolerâncias alimentares também restringem a alimentação em razão do seu
impacto na saúde humana. Os dados a respeito das pessoas diagnosticadas com
alergias e intolerâncias alimentares não são precisos. No Brasil ainda não se tem um
indicador oficial desses dados.
Para tanto, a fim de evidenciar a problemática que envolvem as alergias
alimentares, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Associação Brasileira de
Alergia e Imunologia (ASBAI) divulgaram em 2018, a atualização do Consenso
Brasileiro sobre Alergia Alimentar. O estudo reforça que os dados globais são
dispersos e colidentes, variam de acordo com a população, seus hábitos e a
metodologia empregada para o diagnóstico. Em um aspecto geral, o estudo indica
que as alergias alimentares são mais recorrentes em crianças do que em adultos
(SOLÉ D, et al., 2018).
Nessa linha, a ASBAI estima que as alergias alimentares acometem cerca de
6-8% das crianças de até 3 anos de idade, já em adultos, essa porcentagem é
representada pela cifra de 2-3%. Os alimentos que desencadeiam alergias
alimentares com maior frequência tem sido o leite de vaca (que difere da intolerância
à lactose), os ovos, a soja, o trigo, o peixe, os crustáceos, o amendoim e as nozes,
sem descartar outras possibilidades com menor incidência. As reações alérgicas
podem ser muitas, como de aspecto dermatológico, gastrointestinal e/ou respiratória,
no entanto, a reação anafilática é a mais grave, podendo resultar em óbito. As
alergias alimentares podem ser detectadas por testes específicos e não há uma cura
determinada, além disso, os sintomas podem variar ao longo da vida (ASBAI, 2009).
O Departamento Científico de Gastroenterologia, da Sociedade Brasileira de
Pediatria (SBP) afirma que a intolerância à lactose está presente na maior parte da
população adulta mundial. Já no Brasil, estima-se o alcance de quase 40% da
população. Esta condição não é considerada uma patologia, no entanto, implica na
restrição alimentar e por consequência, em uma dieta específica (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2017).
55

Essas e outras situações não mencionadas no estudo, demandam esforços


da indústria de alimentos para atender as diferentes necessidades alimentares de
acordo com a condição de saúde de cada pessoa, seja ela hipertensa, diabética,
celíaca, alérgica ou intolerante a qualquer tipo de alimento. Na próxima seção, o
presente estudo ocupar-se-á das inovações que a indústria de alimentos tem
apresentado frente a esses desafios.

2.5 A INDÚSTRIA DE ALIMENTOS E OS DESAFIOS DA SEGURANÇA


ALIMENTAR

Diante da crescente demanda por alimentos e dos desafios que envolvem os


processos de fabricação, distribuição e comercialização, de acordo com as
diferentes necessidades, a indústria de alimentos é desafiada a apresentar novas
soluções que aprimorem cada vez mais a oferta de uma alimentação saudável e de
qualidade, e dentro do aspecto da segurança alimentar o direito humano à
alimentação adequada.
Esse segmento é um dos mais importantes do país, de acordo com as
pesquisas promovidas pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA),
no balanço do ano de 2018, a indústria de alimentos é responsável por 9,6% do PIB,
sendo uma grande protagonista na geração de empregos e renda (ABIA, 2019).
Nessa linha, afirma o presidente executivo da ABIA, no relatório anual de 2018:

No contexto internacional, relatório da ONU (Organização das Nações


Unidas) aponta que a população mundial passará dos atuais 7.5 bilhões de
pessoas para 9.8 bilhões em 2050. Configurar entre os protagonistas e se
tornar um dos principais centros de abastecimento de alimentos do planeta
exigirá do Brasil investimentos em pesquisa e novas tecnologias, em
todos os elos da cadeia produtiva, além da modernização das leis
vigentes e um olhar mais alinhado às melhores práticas e experiências
internacionais no campo da inovação (DORNELLAS, 2018, p. 7, grifo
nosso).

Além disso, a indústria de alimentos brasileira processa 58% de toda


produção agrícola e pecuária desenvolvida no país. Sendo no mundo, o 2º maior
exportador de alimentos industrializados, atendendo mais de 180 países. Concorre
com a Ásia, a União Europeia e o Oriente Médio (ABIA, 2018, p. 12).
56

Alinhada com as diretrizes globais da Agenda 2030, das propostas de


trabalho da FAO e dos compromissos do Brasil com a década para nutrição, a
indústria brasileira demonstra-se atenta a uma produção de alimentos sustentável e
saudável que atenda às demandas mundiais e destaque o Brasil como principal
protagonista. Para tanto, a indústria indica o investimento de 3%, do seu
faturamento, em pesquisa e desenvolvimento, para a criação de novos produtos e
processos capazes de atender as diferentes necessidades (ABIA, 2018, p. 16).
Desse modo a indústria está atenta às novas tendências de consumo,
voltando-se para a composição mais saudável dos alimentos, praticidade das
embalagens e porcionamento, como também as técnicas de conservação.
Considerando, nesse aspecto, que “a partir de pesquisas e implementação de novas
tecnologias, desenvolve também produtos específicos como alimentos fortificados
com vitaminas e nutrientes, alimentos para dietas especiais – dietéticos, sem glúten
e sem lactose” (ABIA, 2018. p. 16).
Outrossim, destaca a FIESP que 64% das pessoas entrevistadas consideram
a indústria como principal protagonista na garantia da qualidade dos alimentos
industrializados. Do mesmo modo, 58% confiam que o progresso da indústria e da
ciência irão proporcionar a substituição dos medicamentos pelos alimentos (FIESP,
[2017?], p. 88).
Em abril de 2019, ocorreu o Fórum Internacional sobre Segurança de
Alimentos e Comércio, na Suíça, organizado pela Organização Mundial do Comércio
(OMC). Os principais temas abordados, relacionados à segurança alimentar e ao
comércio, foram as doenças transmitidas por alimentos, dietas saudáveis, novas
tecnologias digitais, a cooperação internacional e a regularização normativa no
âmbito internacional (WTO, 2019). Os resultados da discussão promovida pelo
encontro, ensejaram na Declaração conjunta entre a FAO, a OMS e a OMC, que
parte da seguinte afirmação:

As doenças transmitidas por alimentos têm implicações importantes para a


saúde pública, segurança alimentar, produtividade e pobreza. Cada ano,
cerca de 600 milhões de pessoas adoecem e 420.000 morrem por doenças
de origem alimentar, com uma perda de 33 milhões de anos de vida
saudável. Os países de baixa e média renda são os mais afetados, com
custos anuais estimados em US $ 110 milhões em perdas de produtividade,
57

perdas comerciais e custos de tratamento de doenças devido ao consumo


de alimentos não saudáveis3 (FAO, OMS e OMC, 2019, p.1).

Nessa linha, nos últimos anos o comércio global de alimentos despontou


significativamente, dando destaque aos países em desenvolvimento no
protagonismo das exportações e importações, contribuindo para a diversidade e
oferta de alimentos. Inevitavelmente, as tendências de consumo e complexidade
com relação aos produtos alimentícios mudaram e passam a cada ano a ser mais
exigentes, apresentando diferentes necessidades ao longo do globo. Nesse
contexto, a confiança depositada no alimento local também se estende ao alimento
importado. Por essa razão, a conjuntura normativa nacional e internacional do
comércio relacionado à segurança alimentar é importante e urgente, chamando a
atenção em especial para a observação do Codex Alimentarius (FAO, OMS e OMC,
2019).
Desse modo, a FAO, a OMS e a OMC compreendem a segurança alimentar e
o comércio indissociáveis para o cumprimento da Agenda 2030 na busca pelo
Desenvolvimento Sustentável. O padrão estabelecido a partir da visão dessas três
grandes organizações, com a colaboração dos Estados-Membros, colabora
diretamente pelo menos com seis dos dezessete objetivos para o desenvolvimento
sustentável. Sendo eles, o ODS1, que trata da erradicação da pobreza; o ODS2 no
aspecto alimentação; o ODS3, a respeito do bem-estar e saúde; o ODS8 que
objetiva o trabalho digno e o crescimento econômico; o ODS12, que pauta o
consumo e a produção sustentável e, por último, o ODS17 que propõe a cooperação
internacional, visando à mútua assistência (FAO, OMS e OMC, 2019).
Nesse cenário, a ciência e a tecnologia tornam-se imprescindíveis e já
apresentam contribuições à segurança alimentar e ao comércio. Notadamente,
facilita os processos gerais de acompanhamento de produtos e também de recursos
naturais. Colabora para a produção no enfrentamento dos desafios climáticos.
Viabiliza negociações e transações comerciais por meio de tecnologias digitais e
banco de dados, em que pese a proteção de dados ainda precise avançar no

3 No original: “Las enfermedades de transmisión alimentaria tienen repercusiones importantes en la


salud pública, la inocuidad de los alimentos, la productividad y la pobreza. Cada año, casi 600
millones de personas enferman y 420 000 mueren por enfermedades de transmisión alimentaria, con
una pérdida de 33 millones de años de vida sana. Los países de ingresos bajos y medianos son los
más afectados, con unos costos anuales estimados de US$ 110 000 millones en pérdidas de
productividad, pérdidas comerciales y costos del tratamiento de enfermedades debidas al consumo
de alimentos insalubres” (FAO, OMS e OMC, 2019, p.1).
58

aspecto da privacidade. De todo modo, o uso das novas tecnologias demanda a


preocupação das inciativas pública e privada com vistas a amadurecer uma política
global. (FAO, OMS e OMC, 2019).
Na oportunidade, o vice-diretor geral da OMC Alan Wolff ponderou que a
segurança alimentar é uma responsabilidade de todos, demandando a cooperação
internacional, dos setores públicos e privados, na construção de políticas. Destacou
que foram discutidos no evento dados alarmantes que relacionam o adoecimento
humano com a ingestão de alimentos contaminados, e de que até então se tem o
registro de 420 mil mortes por contaminação alimentar, dos quais, um terço são
crianças. Os desafios globais com a segurança alimentar são tão grandes quanto o
enfrentamento da malária ou da tuberculose. Contudo, as novas tecnologias têm
desempenhado um papel fundamental para o avanço das questões alimentares,
incumbindo aos governos a adoção de “sistemas alimentares inteligentes”, com foco
na desburocratização e na comunicação acessível que promova o comércio em
diferentes níveis de produção (WOLFF, 2019).
Não obstante, para além das questões sociais e políticas em torno da
alimentação humana a indústria também deve estar atenta às principais tendências
do consumo, buscando atender o seu papel socioeconômico em conjunto com a
satisfação do consumidor. Nessa linha, a pesquisa Brasil Food Trends 2020,
apontou que as principais tendências em alimentos no mundo indicam para o
agrupamento de cinco categorias, sendo elas: “1. Sensorialidade e Prazer, 2.
Saudabilidade e bem-estar, 3. Conveniência e praticidade; 4. Confiabilidade e
Qualidade, e por último, 5.Sustentabilidade e ética” (FIESP, 2010).
Em síntese, a indústria de alimentos precisa ofertar um alimento saboroso,
saudável, de qualidade, de fácil preparo e prático, a partir da produção sustentável,
ecologicamente correta e ética, que conquiste a confiança do consumidor e respeite
os parâmetros internacionais e nacionais da segurança alimentar.
Neste cenário pela demanda crescente de alimentos saudáveis, voltados para
a segurança alimentar e para o comércio, o Brasil que já ocupa uma importante
posição no cenário global de alimentos, tende a se tornar um protagonista, com o
grande desafio de liderar a oferta, não só dos alimentos in natura, como também dos
alimentos industrializados, o que demandará o aperfeiçoamento e a harmonização
das políticas internas e dos marcos regulatórios com a conjuntura global.
59

No próximo capítulo serão abordados os aspectos relativos à proteção da


propriedade intelectual no contexto global em conjunto com a análise econômica do
Direito, a fim de evidenciar os principais pontos para um contexto regulatório
eficiente.
60

3 ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO E A PROTEÇÃO GLOBAL DA


PROPRIEDADE INTELECTUAL

Neste capítulo será abordada a Teoria da Análise Econômica do Direito (AED)


ou Law and Economics (LaE), como teoria base da presente pesquisa, partindo de
uma abordagem geral do Direito para a área específica da Propriedade Industrial.
Embora possuam objetos de estudo distintos, Direito e Economia dividem o
mesmo espaço dentro da grande área das Ciências Sociais Aplicadas. Desse modo,
considerando que os contextos sociais e econômicos impulsionam mudanças
jurídicas e institucionais, o Direito e a Economia são diferentes na essência, mas
convergem e se complementam na obtenção de resultados sociais.
Busca-se, a seguir, traçar os principais elementos da Teoria Econômica do
Direito de Patentes, sob a ótica da eficiência, para o aporte teórico do presente
estudo na área da Propriedade Intelectual.

3.1 ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO

O Direito e a Economia se complementam na busca por soluções aos


problemas sociais. Desse modo, o enfoque principal do presente estudo é, a partir
da Análise Econômica do Direito (AED), discutir a questão da eficiência, como forma
de orientar os arranjos jurídicos.
É importante destacar que a teoria da análise econômica possui dois tempos
distintos com relação a sua concepção, em um primeiro momento a linha pioneira
dirigida por Adam Smith, voltada com exclusividade para a legislação mercantilista,
em um segundo momento, o alargamento dessa abrangência que passa a
compreender questões não mercadológicas e, portanto, a mais recente. Essa última
impulsionada pelos precursores Ronald Coase e Guido Calabresi, corrente a qual
filia-se Richard Posner. Nesse sentido, “a partir da análise de uma miríade de
doutrinas jurídicas, muitos economistas, bem como juristas, inclinados ao
pensamento econômico, constataram que o direito obedece misteriosamente às leis
da economia” (POSNER, 2010a, p. 6 – 8). Sob o prisma da AED que será
desenvolvida a análise desse estudo.
61

Acrescenta-se, ainda, de acordo com Gonçalves e Stelzer (2014) que as


intersecções entre o Direito e a Economia são, comumente, distribuídas em quatro
escolas. Em especial, a escola adotada como aporte teórico, da presente pesquisa,
reside na Análise Econômica do Direito ou Law and Economics (LaE), com especial
abordagem dos marcos teóricos Coase e Posner, da Escola de Chicago. As demais
escolas caracterizam-se pelo “[...] enfoque Neoinstitucional ou vertente dos Property
Rights, o enfoque chamado de Eleição Pública – Public Choice e, ainda, pelos
conhecidos Estudos da Crítica Jurídica (ECJ)” (GONÇALVES; STELZER, 2014, P.
263).
Desse modo, cumpre antecipar, que o embasamento de Posner tece críticas
e afasta a influência utilitarista na Análise Econômica do Direito. A primeira questão
centra-se na incapacidade de definição do método utilitarista que torna, por sua vez,
inviável um cálculo a respeito da felicidade, tornando a possibilidade de intervenção
do Estado na vida privada, de forma ilimitada e aberta a qualquer argumento. Nesse
ponto, Posner considera:

Ao problema da indefinição vem-se juntar uma outra objeção ao


pensamento utilitarista: aquilo a que se poderia chamar os perigos do
instrumentalismo. Se a maximização da felicidade depender de que as
pessoas possam ter propriedades, casar-se com quem bem entenderem,
mudar de emprego, e assim por diante, o utilitarista garantirá a elas esses
direitos. Mas, se for possível, aumentar a felicidade tratando-se as pessoas
cada vez mais como carneiros, então os direitos vão desaparecer
completamente. Não parece que as pessoas se sintam mais felizes sob os
regimes totalitários que sob os democráticos, mas, caso, se sentissem, o
utilitarista coerente teria de apoiar o totalitarismo. O utilitarismo, portanto,
parece fundamentar direitos de suma importância no mero palpite empírico
de que promovem a “felicidade”. É impossível validar esse palpite com
quaisquer instrumentos que tenhamos ou que possamos adquirir, embora
alguns possam julgar persuasiva uma ou outra pequena prova (como o
Muro de Berlim, por exemplo). Mesmo no interior do Estado liberal,
utilitaristas audazes são capazes de recomendar politicas verdadeiramente
monstruosas com base em seus palpites (POSNER, 2010a, p. 68).

A crítica ao utilitarismo torna-se relevante para distinguir “satisfação”, sob a


ótica utilitarista, da “eficiência”, defendida pela linha da Análise Econômica do Direito
na persecução pela Justiça. Nesse sentido, Posner pontua e distingue a
compreensão entre valor, utilidade e eficiência. Ao primeiro, atribui o sentido de valor
econômico, traduzido em moeda, representando o que as pessoas estão dispostas a
dispender em dinheiro. O segundo, a utilidade, resgata da filosofia utilitarista o
sentido de felicidade, ou em outras palavras, a satisfação das pessoas na busca por
62

felicidade. Por último, o conceito de eficiência empregado por Posner, traz o sentido
de maximização da riqueza, ou dos valores, inspirado no conceito de eficiência de
Kaldor-Hicks (POSNER, 2007, p. 36 – 40).
No que se refere à utilidade, Coase destaca que o papel dos consumidores
será sempre a de maximizar a utilidade, em contrapartida, os produtores terão por
objetivo maximizar os seus lucros. Esses interesses, por sua vez, serão
harmonizados pela teoria da troca e orientados por arranjos jurídicos (COASE, 2017,
p. 2).
Dito isso, frisa-se a importância de afirmar que a competência do economista
diante de um sistema legal é limitada, uma vez que esse “pode prever o efeito de
regras legais sobre valor e eficiência, no sentido técnico estrito, e sobre a
distribuição de renda e riqueza existente, mas não pode emitir requisitos obrigatórios
para mudança social”4 (POSNER, 2007, p. 42, tradução nossa).
Contudo, uma vez que compete à Economia o estudo do sistema econômico,
isso implica, do mesmo modo, na análise das ações dos indivíduos ou das
organizações sociais que operam nesse sistema, em conjunto com o sistema jurídico
que observam. Por sua vez, ao agirem de acordo com o atendimento dos próprios
interesses, indivíduos e organizações irão afetar ou ter algum impacto sobre
terceiros. São inúmeros os exemplos como a concessão ou não de benefícios, o uso
do meio ambiente, produção ou fornecimento de insumos, dentre outros (COASE,
2017, p. 28).
De outro modo, intrínseco à estrutura de uma teoria, a teoria económica do
Direito não capta todas as hipóteses e complexidades dos fenómenos jurídicos,
porém, vale-se do poder explicativo e empírico, ocupando-se, portanto, de
explicações econômicas para os fenômenos jurídicos. Desse modo, “julgada pelo
teste de poder explicativo, a teoria econômica é um sucesso significativo (embora
apenas parcial); desse modo, talvez a suposição de que os indivíduos sejam
maximizadores racionais de suas satisfações não seja tão irrealista”5 (POSNER,
2007, p. 47, tradução nossa).

4 No original: “puede pronosticar el efecto de las reglas legales sobre el valor y la eficiencia en sus
sentidos técnicos estrictos, y sobre la distribución del ingreso y la riqueza existente, pero no puede
expedir prescripciones obligatorias para el cambio social” (POSNER, 2007, p. 42)
5 No original: “juzgada por la prueba del poder explicativo, la teoría económica es un éxito significativo

(aunque sólo parcial), de modo que quizá el supuesto de que los individuos son maximizadores
racionales de sus satisfacciones no es tan poco realista” (POSNER, 2007, p. 47).
63

Justamente pela tendência em atender aos seus próprios interesses, as


pessoas precisam ser incentivadas a exercer os comportamentos que são
desejáveis, fazendo com que isso passe a ser do seu interesse. Para isso, os meios
ao alcance do governo são a lei e a sua implementação, podendo resultar nos mais
diversos cenários. Por meio da gestão dos direitos e deveres, a administração
pública pode determinar os direitos de aquisição e de monopólio das propriedades,
definir os custos de transação, regulamentando também critérios para a celebração
de contratos e determinar sanções que serão aplicadas pelos tribunais. Já as
ferramentas preferidas dos economistas, segundo Coase, são a tributação e a
regulamentação restritiva. Desse modo, tudo aquilo que é relativo ao funcionamento
do sistema jurídico também afeta o sistema econômico (COASE, 2017, p. 29).
Em complemento, Posner considera a Teoria dos Jogos, que compreende o
comportamento humano como uma ação estratégica, um contributo importante à
Teoria Econômica, que trata das escolhas racionais, com potencial aplicação ao
Direito, uma vez que este ocupa-se do comportamento estratégico em negociações,
litígios, acordos, dentre outras áreas (POSNER, 2007, p.53).
Sem embargo, torna-se necessário esclarecer, ainda, que a análise
econômica do direito se divide em dois tempos, no antes e depois do ano de 1960.
No primeiro tempo, com conotação antitruste, restrito aos assuntos relacionados à
tributação, empresas, contratos, dentre outros. A partir de 1960, o “novo direito e
economia”, conforme abordado por Posner, compreende a análise econômica do
direito com aplicação a áreas comuns do Direito, em seu conjunto, incluindo
comportamentos não mercantilistas, como caridade, amor, solidariedade,
discriminação racial, questões matrimonias, dentre as mais diversas possibilidades
jurídicas (POSNER, 2007, p. 55). Nessa linha,

O que poderíamos chamar de teoria da eficiência do direito comum não é


que toda doutrina e decisão do direito comum sejam eficientes. Isso seria
muito improvável, dada a dificuldade dos problemas enfrentados pela lei e a
natureza dos incentivos dos juízes. A teoria é que o direito comum é melhor
explicado (não perfeitamente) como um sistema para maximizar a riqueza
da sociedade. O direito estatutário e constitucional, ao contrário dos campos
do direito consuetudinário, tem menor probabilidade de promover a
eficiência, mas mesmo eles, [...] estão impregnados de preocupações
econômicas e iluminados pela análise econômica. Essa análise também é
útil para explicar as características institucionais do sistema jurídico, como o
papel do precedente e a distribuição das responsabilidades do cumprimento
64

forçado da lei entre pessoas privadas e órgãos públicos. 6 (POSNER, 2007,


p. 58, tradução nossa).

Não obstante, destaca-se que não necessariamente algo com enfoque


econômico terá ao mesmo tempo o objetivo de ser eficiente. Significa dizer que algo
pode possuir um fim econômico sem que tenha o fim de maximização da eficiência
(POSNER, 2007, p. 59 – 60).
Adiante, Posner enfatiza que a análise econômica do direito enfrenta
antagonismos diante daqueles que não aceitam que a economia possa compor a
lógica do direito, propondo-se a analisar as críticas apontadas. Para além de
considerar a economia reducionista e que os juristas não falam a sua língua, algo
que não limita a análise econômica do direito, uma crítica comum é a de que os
fundamentos normativos da abordagem econômica são tão repugnantes que se
torna incrível que o sistema legal possa aceitá-los, mas não enfrenta a contribuição
que a economia possui para interpretar, quantitativamente, os conflitos e também
indicar, de modo mais eficiente, a persecução de objetivos sociais (POSNER, 2007,
p. 60).
Além disso, a AED não pode ser rejeitada apenas porque não há um
convencimento sobre a sua eficiência. Significa dizer, que se pode acreditar que a
economia explica apenas alguns dos fenômenos legais e suas instituições, ou então,
acreditar que a economia pode ser utilizada para melhorar ou explicar muitas regras
legais e instituições jurídicas, mas isso seria lamentável, pois a economia é um guia
imoral para a política legal, chegando-se a acreditar que a análise econômica do
direito é de pouca importância na explicação desses fenômenos jurídicos, mas ainda
é intelectualmente fascinante. Em qualquer um desses casos, a discussão ainda não
está encerrada (POSNER, 2007, p. 61). A exemplo, Coase interpreta a
administração pública como uma superfirma, o que por si só já justifica que o

6 No original: “Lo que podríamos llamar la teoría de la eficiencia del derecho común no es que toda
doctrina y decisión del derecho común sea eficiente. Eso sería muy improbable, dada la dificultad de
las cuestiones a las que se enfrenta el derecho y la naturaleza de los incentivos de los jueces. La
teoría es que el derecho común se explica mejor (no perfectamente) como un sistema para la
maximización de las riquezas de la sociedad. El derecho estatutario y el constitucional, por oposición
a los campos del derecho común, tienen menores probabilidades de promover la eficiencia, pero aun
ellos, […] están impregnados de preocupaciones económicas e iluminados por el análisis económico.
Tal análisis es útil también para explicar las características institucionales del sistema legal, como el
papel del precedente y la repartición de las responsabilidades del cumplimiento forzoso de la ley entre
las personas privadas y las dependencias públicas” (POSNER, 2007, p. 58).
65

sistema jurídico emanado do Poder Público se encontra dentro da racionalidade


econômica, considerando que:

O governo é, em certo sentido, uma superfirma (mas de um tipo muito


especial), pois é capaz de influenciar a utilização dos fatores de produção
mediante decisões administrativas. Mas a firma comum está sujeita a
controles em suas operações tanto em razão da concorrência de outras
firmas capazes de administrar as mesmas atividades a um custo menor
quanto da existência da alternativa de transações de mercado em lugar da
organização dentro da firma se os custos administrativos vierem a se tornar
grandes demais. O governo, pode, se desejar evitar completamente o
mercado, algo que uma firma jamais pode fazer. A firma tem de realizar
acordos com os proprietários dos fatores de produção que utiliza. Da
mesma forma que o governo pode requisitar ou aprender bens, também
pode decretar que os fatores de produção devam ser utilizados apenas de
determinada forma. Esses métodos autoritários evitam muitos problemas
(para os responsáveis pela organização). Além disso, o governo dispõe da
polícia e de outros meios coercitivos de aplicar a lei para garantir que suas
regras sejam cumpridas (COASE, 2017, p. 117).

De outro modo, Coase pondera considerando que a administração pública


não se sujeita a nenhum tipo de controle concorrencial, é falível e vulnerável às
pressões políticas, as regulações restritivas e de zoneamento não costumam ser
soluções economicamente eficientes. Nessa linha, ainda, essas normas costumam
ter abrangência genérica e se aplicam a casos em que não são consideradas as
particularidades da demanda, sendo por vezes, inadequadas. Por conseguinte,
Coase considera que a regulamentação governamental direta é uma via de mão
dupla, para alguns casos a eficiência é a melhor proposta pela auto-organização da
firma ou do mercado, já para outros o próprio governo que conduz soluções mais
eficientes, o que distingue uma situação da outra são os custos de transação
(COASE, 2017, p. 118).
Nesse interim, outra crítica recorrente é a de que o enfoque econômico do
Direito manifesta um viés político conservador. No entanto, raramente atribui-se à
economia viés político quando essa serve de suporte para posições liberais. De
outro modo, a teoria dos bens públicos pode ser vista como um fundamento
ideológico do Estado de Bem-Estar social, mas também não é compreendido como
um viés político. Em ambos os casos, se encontram razões econômicas. Desse
modo, “é possível que a melhor prova de que a análise econômica do direito seja
ideologicamente neutra ou equilibrada, seja o número considerável de que seus
66

praticantes proeminentes são decididamente liberais”7 (POSNER, 2007, p. 61,


tradução nossa).
Outra ambiguidade da leitura crítica a respeito do enfoque económico do
Direito reside no argumento de que este se esquece da “justiça”. Para esse ponto, é
necessário primeiramente diferenciar os significados dessa palavra. Às vezes, a
palavra justiça carrega o sentido de justiça distributiva, o que representa para a
economia um o grau apropriado de igualdade econômica. Em que pese à limitação
dos economistas em definir qual é o melhor nível desse grau de igualdade, podem
afirmar sobre graus reais de desigualdades, em diferentes contextos sociais e
épocas, diferenciando desigualdade econômica de desigualdade de renda
pecuniária, ou ainda, sobre os custos para se atingir uma igualdade maior
(POSNER, 2007, p. 61 – 62).
Nessa linha, outro significado, mais comum, da justiça, é o da eficiência.
Nesse sentido, se ela é retributiva ou proporcional ao caso, como a compensação de
uma propriedade confiscada, ou uma indenização a uma vítima de acidente de
trânsito. Porém, a noção de justiça é algo muito maior que a busca pela eficiência.
Por essa razão “a justiça é algo maior que a economia”8 (POSNER, 2007, p. 62,
tradução nossa).
Sobre Direito e Economia, mais importante do que a propriedade em si e seus
aspectos econômicos, são os direitos provenientes do exercício dessa propriedade.
Nesse aspecto é que Coase considera que a situação jurídica afeta os resultados
almejados. Para a combinação a respeito de um Direito claramente definido e
cirúrgico, quando os custos de transação são inevitavelmente altos, ou, de outro
modo, quando os custos de transação são muito baixos ou zero, não demandando
necessidade de regulação, a doutrina acerca da teoria econômica do Direito intitulou
esse arranjo como o “Teorema de Coase”, para o encontro de soluções ótimas ou
eficientes (COASE, 2017). Desse modo, o arranjo jurídico será determinado pelos
custos de transação, considerando que:

Nestas condições, a delimitação inicial dos direitos tem efeito sobre o


funcionamento eficiente do sistema econômico. Um arranjo de direitos pode

7 No original: “es posible que la mejor prueba de que el análisis económico del derecho es
ideológicamente neutral, o balanceado, sea el considerable número de sus practicantes prominentes
que son decididamente liberales” (POSNER, 2007, p. 61).
8 No original: “la justicia es algo más que economía”8 (POSNER, 2007, p. 62).
67

estabelecer um maior valor de produção do que qualquer outro. Entretanto,


a menos que esse arranjo de direitos seja estabelecido pelo sistema legal,
os custos para alcançar o mesmo resultado por meio da alteração e
combinação de direitos pelo mercado, pode ser tão demasiado, que o
arranjo ótimo de direitos e o seu consequente aumento no valor de
produção, pode nunca ser alcançado (COASE, 1960, p. 16, tradução
nossa).9

Na proposta de Coase, em um contexto com custos de transação zero,


independentemente da situação jurídica, as partes interessadas vão sempre
encontrar uma solução ótima que harmonize os seus interesses, não sendo
necessária a regulação. Já na hipótese dos custos de transação positivos, o Direito
irá exercer um papel fundamental na determinação dos recursos alocados, devendo
ser preciso, já que com os custos elevados não haverá incentivo para a
maximização da produção por meio de acordos contratuais. Dessa forma, “que
incentivos estarão faltando dependerá de qual é a norma vigente, uma vez que é
esta que determina que acordos contratuais terão de ser feitos para induzir aos atos
que maximizam o valor de produção” (COASE, 2017, p. 179 - 180).
A próxima seção irá abordar a análise econômica do Direito no âmbito da
Propriedade Intelectual.

3.2 ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL

A Análise Econômica do Direito compreende também o Direito da


Propriedade Intelectual, em especial, o Direito da Propriedade Industrial. Busca-se,
na presente seção, demonstrar a estrutura econômica do Direito de Patentes a partir
dos marcos teóricos da Teoria Econômica do Direito.
Corriqueiramente, compreende-se o direito de patentes como um instrumento
capaz de fomentar a inovação e o progresso tecnológico, considerando que viabiliza
o retorno do investimento em pesquisa e desenvolvimento (LANDES; POSNER,
2006, p. 381).

9 No original: “In these conditions the initial delimitation of legal rights does have an effect on the
efficiency with which the economic system operates. One arrangement of rights may bring about a
greater value of production than any other. But unless this is the arrangement of rights established by
the legal system, the costs of reaching the same result by altering and combining rights through the
market may be so great that this optimal arrangement of rights, and the greater value of production
which it would bring, may never be achieved“ (COASE, 1960, p. 16).
68

Nesse contexto, ressalta-se que a propriedade intelectual, em razão do seu


aspecto imaterial, não possui a mesma lógica dos bens corpóreos. Isso porque, o
objetivo primordial da proteção das criações intelectuais, por meio do sistema de
propriedade intelectual é estimular a produção de inovações e a aplicação e
publicação de ideias, elementos básicos do desenvolvimento econômico. Portanto, a
propriedade intelectual é uma importante ferramenta para este fim, uma vez que é a
expectativa da obtenção de benefícios, que estimula o inventor a desenvolver o seu
trabalho, realizando os investimentos necessários para progredir o estado da arte.
Dessa forma, “os institutos da propriedade intelectual não têm objetivo de eficiência
na exploração da obra intelectual, mas incentivo à sua produção, por meio da
proteção aos investimentos do agente inovador” (LARA, 2014, p. 362).
Um ponto que merece destaque, é que a revelação das informações a
respeito do invento contribui para o campo do conhecimento e o avanço do estado
da técnica, uma vez que a descrição da invenção deve ser suficientemente
detalhada. Dessa forma, o exame do pedido de patentes, pelo órgão competente,
leva tempo, uma vez que as reivindicações apresentadas deverão ser capazes de
satisfazer os critérios de validade e ao mesmo tempo, não esmiuçar o escopo da
patente para não enfraquecer a proteção contra a concorrência (LANDES; POSNER,
2006, p. 382). Por essa razão,

A inexistência de um regime de proteção à produção intelectual poderia


levar a uma situação em que os gastos com pesquisa e desenvolvimento
não compensassem a riqueza produzida pela produção intelectual. Se
qualquer um pudesse se apropriar dos esforços e investimentos do agente
inovador, não haveria motivo para fazer o arriscado investimento em
inovações. Nessa situação, não haveria estímulo eficiente à produção de
inovações, e, como foi analisado, não haveria desenvolvimento (LARA,
2014, p. 362).

Nesse interim, um modelo econômico adequado é imprescindível para


determinar um nível assertivo de proteção do Direito de Patentes, bem como os
efeitos desejáveis dessa política (LANDES; POSNER, 2006, p. 385). A contribuição
de um sistema de patentes bem estruturado, tende a contribuir ao campo do
conhecimento, uma vez:

[…] É essencial que o pedido de patente contenha uma descrição da


inovação de maneira suficientemente detalhada para permitir que pessoas,
com um conhecimento médio da tecnologia em questão, executem a
69

invenção (embora, se decidam fazê-lo, precisariam da autorização do titular


da patente). Uma vez concedida a patente, às vezes antes mesmo da
concessão, o pedido é disponibilizado ao público e as informações nele
contidas facilitarão às empresas concorrentes a atividade inventiva em torno
da patente; consequentemente, seus custos de produção serão reduzidos
sem violar a patente (assumimos que quanto maior o uso da informação,
menores os custos, mas maior a probabilidade de violação da patente) 10
(LANDES; POSNER, 2006, p. 385, tradução nossa).

Dessa forma, quanto mais elevado o nível de proteção da patente, com menor
suficiência descritiva, menor será a utilidade da informação disponibilizada na
concessão da patente. Por consequência, a reprodução dessa tecnologia, do
melhoramento ou do seu uso como referência para outros inventos será inviabilizada
(LANDES; POSNER, 2006, p. 388).
Ainda, o sistema de patentes fomenta o desenvolvimento da inovação e do
progresso tecnológico porque é capaz de gerar uma carreira de patentes, ou seja,
uma competição entre as empresas que buscam patentear novos inventos,
suscetíveis de aplicação industrial. No entanto, essa condição pode gerar custos que
excedem os benefícios, uma vez que com a obtenção da patente se somará o valor
total da invenção, para o primeiro inventor (LANDES; POSNER, 2006, p. 389 - 390).
Contudo, não raras vezes o sistema de proteção das criações intelectuais é
criticado por monopolizar as invenções e restringir o acesso às tecnologias, criando
privilégios. No entanto, tais privilégios são temporários, com vistas a compensar o
inventor pelo seu esforço intelectual no desenvolvimento da criação. De acordo com
Coase, essa não é uma exclusividade da Propriedade Intelectual e sim, de toda a
racionalidade do Direito. A concessão de direitos para uns, muitas vezes significa
exclusão de direitos de outros. Isso porque, “o custo de exercer um direito (de usar
um fator de produção) é sempre a perda sofrida em outro lugar em consequência do
exercício desse direito” (COASE, 2017, p. 155). Para ilustrar essas situações, Coase
cita exemplos, como a concessão de uma propriedade, em que o proprietário pode
dispor do imóvel, mas implica na restrição de passagem de terceiros; na autorização

10 No original: “[…] es indispensable que la solicitud de la patente contenga una descripción de la


innovación de forma suficientemente detallada como para permitir que las personas con un
conocimiento medio de la tecnología en cuestión ejecuten la invención (aunque si deciden hacerlo,
necesitarían la autorización del titular de la patente). Una vez concedida la patente, en ocasiones
incluso antes de la concesión, la solicitud queda disposición del público y la información contenida en
ella facilitará a las empresas competidoras la actividad inventiva alrededor de la patente; por
consiguiente, sus costes de producción se reducirán sin violar la patente (suponemos que a mayor
uso de información, menores serán los costes, pero mayor la probabilidad de violar la patente)”
(LANDES; POSNER, 2006, p. 385).
70

de funcionamento de aeroportos ou transição de veículos que implicam na poluição


sonora e do ar; na vulnerabilidade da condição de saúde das pessoas quando
individualmente se toma a decisão de não buscar as medidas preventivas de vacinas
e tratamentos (COASE, 2017, p. 155).
Retomando, em especial, a questão de patentes, Landes e Posner
consideram que talvez seja mais vantajoso inventar do que fabricar. Nessa situação,
após obter por primeiro a concessão da patente, o inventor pode optar por licenciar a
sua invenção, sem, contudo, abster-se dos custos desse tipo de transação
(LANDES; POSNER, 2006, p. 390).
Sobretudo, um sistema de patentes adequado deve contemplar regras que
reduzem os custos sociais das patentes. Isso ocorre quando o direito de patentes
contempla a divulgação pública, disponibilizando as informações ao conhecimento;
quando também realiza a concessão de patentes por tempo determinado,
equalizando a exploração da invenção entre inventor e sociedade; ou ainda, quando
promove a carreira de patentes (LANDES; POSNER, 2006, p. 391). Contudo,

As invenções não são patenteáveis, a menos que atendam aos requisitos


de utilidade, novidade e não sejam óbvias. A seguir, esclareceremos o
significado econômico desses termos. Entendemos que o requisito de
utilidade tem três objetivos econômicos claros. O primeiro é excluir as
patentes no resultado de pesquisas básicas, enquanto o segundo é atrasar
o tempo no desenvolvimento do novo produto ou procedimento no qual a
patente pode ser obtida. [...] O terceiro é reduzir o custo de busca de
patentes, eliminando invenções sem utilidade, realizadas por amadores ou
inventores que desejam cobrir uma área de pesquisa com patentes, com o
objetivo de forçar pesquisadores que futuramente desenvolvam suas
atividades nessa área a obter licenças. Em outras palavras, o requisito de
utilidade serve para limitar as patentes estratégicas - um sério problema do
regime de patentes [...]. No entanto, aumentar as taxas de registro de
patentes seria uma alternativa para exigir o credenciamento de serviços
públicos11 (LANDES; POSNER, 2006, p. 392, tradução nossa).

11 No original: “Las invenciones no son patentables a menos que reúnan los requisitos de utilidad,
novedad y no obviedad. A continuación, esclareceremos el significado económico de estos términos.
Entendemos que el requisito de utilidad tiene tres finalidades económicas claras. La primera de ellas
es excluir las patentes sobre el resultado de la investigación básica, mientras que la segunda es
retrasar el momento en el desarrollo del nuevo producto o procedimiento en el que se puede obtener
la patente. […] La tercera consiste en reducir el coste búsqueda de patentes eliminando las
invenciones sin ninguna utilidad realizadas por aficionados o por inventores que desean cubrir un
área de investigación con patentes con el objetivo de forzar a los investigadores que en el futuro
desarrollen su actividad en dicha área a que obtengan licencias. En otras palabras, el requisito de
utilidad sirve para limitar las patentes estratégicas – un grave problema del régimen de patentes, […].
Sin embargo, incrementar las cuotas de inscripción de las patentes constituiría una alternativa a exigir
la acreditación de utilidad” (LANDES; POSNER, 2006, p. 392).
71

Importante, também, destacar que a investigação básica se distingue da


investigação aplicada, isso porque carece de aplicações industriais imediatas. Nos
Estados Unidos e em outros países desenvolvidos, a pesquisa básica possui amplo
espaço e fomento, mesmo que não resulte na concessão de patentes. Dito isso, “em
1999, metade da pesquisa básica realizada nos Estados Unidos foi financiada pelo
governo federal e 29% por universidades e outras organizações sem fins
lucrativos”12 (LANDES, POSNER, 2006, p. 397, tradução nossa). Nessa linha, a
pesquisa básica é incentivada por “um sistema de remuneração que consiste em
nomeações acadêmicas de prestígio, remuneração pelo ensino, reduções na carga
de trabalho e até a perspectiva de receber prêmios como o Prêmio Nobel”13
(LANDES, POSNER, 2006, p. 397, tradução nossa), ao passo que a pesquisa
aplicada é incentivada pelos direitos da propriedade intelectual (LANDES, POSNER,
2006, p. 397).
Outrossim, a pesquisa básica possui especial atenção das universidades, os
centros acadêmicos mais importantes são chamados de “universidades de
pesquisa”, tendo como atividade principal a pesquisa básica, podendo contar com
recursos públicos para o desenvolvimento dessas pesquisas. Na visão de Landes e
Posner, o desenvolvimento da pesquisa básica, com a ajuda governamental, tem
melhor funcionamento no âmbito das universidades, pois no da indústria pode gerar
disputas comerciais, pressionando-se o governo a privilegiar um em detrimento de
outro, o que não deixa de ocorrer com as universidades, mas com menor
intensidade (LANDES; POSNER, 2006, p. 398).
O desenvolvimento de uma pesquisa, seja ela qualificada como pesquisa
básica ou de aplicação, tem por objetivo provocar o avanço no estado da arte. Por
essa razão, não é possível o patenteamento de ideias básicas, isso porque há clara
distinção no âmbito de proteção por patentes, entre descobrimento e invenção, não
sendo possível a concessão de patentes para a primeira. Do mesmo modo, o exame
administrativo dos pedidos de patentes é imprescindível para combater a concessão

12 No original: “En 1999, la mitad de la investigación básica desarrolla en Estados Unidos fue
financiada por el gobierno federal y el 29 por ciento por universidades y otras organizaciones sin
ánimo de lucro” (LANDES, POSNER, 2006, p. 397).
13 No original: “un sistema de remuneraciones conformado por nombramientos académicos de

prestigio, remuneraciones por impartir docencia, reducciones de la carga lectiva e incluso la


perspectiva de recibir premios como el Nobel” (LANDES, POSNER, 2006, p. 397).
72

de patentes a invenções de validade duvidosa que buscam uma concorrência


desleal (LANDES; POSNER, 2006, p. 399 - 400).
Para além das questões de forma e impacto econômico do sistema de
patentes, é importante a discussão sobre os custos sociais do direito de patentes e
como se justificam, desse modo:

Do ponto de vista econômico, a pergunta mais relevante a ser feita é se o


sistema de patentes aumenta ou reduz o bem-estar econômico geral.
Embora existam argumentos econômicos convincentes para reconhecer os
direitos de propriedade sobre as invenções, também é preciso ter em mente
que isso implica custos sociais consideráveis. Infelizmente, com o nível
atual de conhecimento, é impossível determinar se os benefícios excedem
os custos. A qualidade relativa das patentes é estimada, uma vez que, nos
pedidos de patente, os inventores devem fazer referência às patentes
anteriores nas quais foram baseadas; assim, o número e o tipo de
referências a uma patente específica podem servir como indicadores de sua
qualidade - da mesma forma que o número e o tipo de citações de uma
sentença judicial ou artigo acadêmico indicam a qualidade da sentença ou
artigo em si. Dados relacionados a referências também podem ser usados
para avaliar certas questões políticas em relação ao processo de invenção.
Especificamente, o governo federal incentiva seus laboratórios a se
concentrarem principalmente em pesquisas com aplicações industriais há
vários anos. Gostaríamos de saber se essa nova política foi eficaz e um
estudo concluiu que, nas patentes privadas, é feita referência com mais
frequência aos resultados de pesquisas do governo, que emerge que a
resposta é afirmativa14 (LANDES; POSNER, 2006, p. 401 – 402, tradução
nossa).

Por consequência, o valor de uma patente é mensurado de acordo com a


quantidade de áreas tecnológicas referenciadas em sua descrição. No entanto,
quando as chances de violação da patente são altas, com essa exposição, busca-se
evitar o passo inventivo. De qualquer modo, a expectativa do retorno na proposição

14 No original: “Desde una perspectiva económica, la cuestión más relevante que cabe plantearse es
si el sistema de patentes incrementa o reduce el bienestar económico general. Aunque existen
argumentos de carácter económicos convincentes para reconocer derechos de propiedad sobre las
invenciones, también hay que tener presente que ello comporta costes sociales considerables.
Desgraciadamente, con el nivel de conocimiento actual es imposible determinar si los beneficios
exceden a los costes. La calidad relativa de las patentes es estimable, puesto que en las solicitudes
de patentes los inventores deben hacer referencia a las patentes anteriores en las que se han
basado; así pues, el número y el tipo de referencias a una patente concreta puedan servir como
indicadores de su calidad – de igual modo que el número y tipo de citas de una sentencia judicial o de
un artículo académico indican la calidad de la propia sentencia o artículo. Los datos relativos a las
referencias también pueden emplearse para evaluar determinadas cuestiones de carácter político en
relación con el proceso de invención. Concretamente, el gobierno federal lleva varios años
fomentando que sus laboratorios se centren de forma prioritaria en investigación con aplicaciones
industriales. Querríamos saber si esta nueva política ha sido efectiva y un estudio ha concluido que
en las patentes privadas se hace referencia con más frecuencia a los resultados de la investigación
gubernamental, lo que surgiere que la respuesta es afirmativa” (LANDES; POSNER, 2006, p. 401 -
402).
73

do invento, protegido por patentes, estimula o investimento em pesquisa, atraídos


pela oferta do monopólio (LANDES; POSNER, 2006, p. 402 - 409).
Nesse sentido, a existência de pequenas e médias empresas, vinculadas ao
setor de biotecnologia, nos Estados Unidos, justifica-se em razão da perspectiva de
se obter patentes, já que o retorno financeiro está atribuído diretamente com a
proteção conferida por essa modalidade. Por outro lado, ao passo que a proteção da
pesquisa biotecnológica apresenta pontos positivos, também apresenta alguns
entraves, como, por exemplo, entraves ao próprio progresso biotecnológico. Isso
porque o licenciamento de instrumentos de pesquisa, biotecnológicos, já
patenteados, apresentam custos altos e inviabilizam pesquisas que tem por objetivo
avançar no estado da técnica. Do mesmo modo, hipóteses de licenciamento também
desagradam à indústria (LANDES; POSNER, 2006, p. 409).
Com efeito, mesmo que o titular da patente alcance vantagens para a
concessão de licenças sobre o invento, até mesmo com a finalidade de melhorar e
desenvolver a sua patente, “isso pode ser limitado pela cultura da empresa, estilo de
gerenciamento, estrutura hierárquica, peculiaridades dos diferentes funcionários e
outras particularidades, de cada empresa que são difíceis de controlar 15” (LANDES;
POSNER, 2006, p. 412, tradução nossa).
Ademais, na maior parte dos casos, a motivação dos inventores que solicitam
a proteção por patentes não reside no fato de acreditarem ser o método mais efetivo
para recuperar os custos da invenção perante terceiros, mas sim garantir que não
obtenham a patente, evitando a coibição do uso de suas próprias invenções sem a
concessão de licenças (LANDES; POSNER, 2006, p. 414).
Por fim, para além da internalização dos custos, quatro argumentos,
apresentados por Landes e Posner justificam adequadamente o sistema de patentes
a partir de uma perspectiva econômica. O primeiro argumento reside no fato de que,
sem a possibilidade de se obter patentes, os inventores empregariam muito mais
recursos na proteção por segredo industrial, e, por consequência, os concorrentes
para descobrir informações sobre o invento, tornando a atividade inventiva
ineficiente; o segundo refere-se à perspectiva de obtenção de patentes eu eleva o
nível de eficiência no processo de fabricação do invento, já que o inventor pode

15 No original: puede verse limitado por la cultura de la empresa, el estilo de dirección, la estructura
jerárquica, las peculiaridades de los distintos empleados y otras particularidades de cada empresa
difícilmente controlables (LANDES; POSNER, 2006, p. 412).
74

disponibilizar ao fabricante informações necessárias à produção, sem preocupar-se


com o sigilo; o terceiro argumento, é o de que o direito de patentes beneficia
empresas pequenas, já que, muito provavelmente, não dispõem de recursos para a
fabricação dos produtos baseados nas suas invenções, mas garante-se a proteção
do invento; e o último está ligado à ausência de um regime de patentes resultaria no
aumento dos mercados monopolísticos, no lugar do mercado competitivo (LANDES;
POSNER, 2006, p. 424 - 427).
O sistema de propriedade intelectual, especialmente na concessão de
patentes, possui, intrinsecamente, “o sentido de eficiência econômica”. Visando o
estímulo do desenvolvimento cientifico e tecnológico, por meio de arranjos jurídicos,
eficientes, o sistema da propriedade intelectual contribui diretamente ao
desenvolvimento econômico (LARA, 2014, p. 371).
Discorridos os argumentos que legitimam o fortalecimento do sistema da
propriedade intelectual, especialmente o sistema de patentes, passa-se, na próxima
seção, a abordar a conjuntura internacional que orienta o contexto jurídico da
propriedade intelectual.

3.3 TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS SOBRE PROPRIEDADE


INTELECTUAL

A propriedade sempre foi um dos principais objetos de tutela do Direito,


tradicionalmente sobre a forma material ou corpórea, possível de identificar, tocar,
dividir e principalmente exigir e exercer a sua posse.
Ao longo dos anos, a capacidade inventiva inerente ao ser humano revelou
que não somente o objeto corpóreo demanda a proteção jurídica, como também o
conjunto de esforços intelectuais que deram origem a esse objeto, seja o projeto de
sua arquitetura, um protótipo, uma fórmula, uma combinação química, dentre as
mais diversas possibilidades de se descrever um processo de criação ou reprodução
desse objeto. Nessa linha, “o que se protege é o fruto dessa atividade, quando ela
resulta em uma obra intelectual, ou seja, uma forma com unidade suficiente para ser
reconhecida com ela mesma” (SILVEIRA, 2014, p. 12).
Significa dizer que para além da propriedade material, a propriedade imaterial
é contemplada pelo Direito no âmbito dos direitos intelectuais, aqueles considerados
75

incorpóreos e intangíveis, mas que merecem e recebem proteção jurídica, no âmbito


nacional e internacional.
Desse modo, a proteção dos bens intelectuais repousa na expectativa de
recompensa pelo esforço do autor ou criador. Essa recompensa, contempla
privilégios de exploração e exclusividade, por tempo determinado. Nesse sentido,
Soares (1998, p. 47) ao ponderar sobre importantes invenções no decorrer da
história, destaca que por muito tempo os privilégios foram muito mais no sentido de
atribuir os créditos da autoria do que benefícios propriamente monetários,
considerando que:

A partir da Idade Contemporânea esse privilégio, até então concedido,


passou a ter uma outra conotação, muito mais consentânea com a nossa
realidade. Com efeito e pela outorga de um Título Hábil, de caráter
temporário, o autor do invento ou do aperfeiçoamento recebe uma CARTA-
PATENTE que, além de lhe garantir a propriedade e o uso exclusivo,
permite o recebimento de uma remuneração, decorrente da efetiva
utilização, por si ou por terceiros quando autorizados. Trata-se de
recompensa conferida ao fruto de um trabalho, e constitui a base de todo o
direito moderno (SOARES, 1998, p. 47).

Ao ponto, de forma ampla, encontra-se na doutrina especializada certa


divergência com relação à denominação desta área do conhecimento, alternando a
denominação ora entre “Direitos Intelectuais” e outra “Propriedade Intelectual”. No
entanto, o que se pode notar é que a denominação “Direitos Intelectuais” representa
um macrossistema que absorve qualquer assunto ligado a proteção jurídica da
intelectualidade humana. Já a Propriedade Intelectual, restringe-se a uma área
específica de atuação, prática, gerida pela Organização Mundial da Propriedade
Intelectual, que contempla tratados e órgãos voltados para as suas ramificações,
quais sejam: a Propriedade Industrial, os Direitos de Autor e Conexos e os Direitos
sui generis, que serão abordados a seguir.
Dando início à internacionalização da proteção da propriedade industrial, a
Convenção da União de Paris, CUP, foi celebrada em 1883, sendo o primeiro tratado
específico a respeito do tema. Com ampla adesão, poucas revisões e o texto
mantido quase que originalmente ao longo dos tempos, a CUP tratou de resguardar
a liberdade legislativa dos países adeptos, com foco em garantir o tratamento
isonômico entre nacionais e estrangeiros, pelo intitulado princípio do tratamento
76

nacional. Aderiram a convenção mais de 150 países e em um período de mais de


um século foram realizadas apenas 6 (seis) revisões (SOARES, 1998, p. 51 - 53).
Destaca-se nessa convenção o princípio unionista, um dos pilares
consagrados pela CUP, que garante a prioridade do depósito da patente entre os
países que participam da União. Significa dizer que após o depósito em país
estrangeiro, valerá no período dos 12 meses subsequentes, para fins de data do
depósito e identificação do estado técnico, o pedido de depósito em território
nacional, com prioridade, o que não significa a concessão da patente propriamente
dita (SOARES, 1998, p. 51 - 53).
Nessa senda, a Convenção de Paris tratou também de definir a abrangência
da sua tutela definindo o objeto da Propriedade Industrial, como sendo, patentes de
invenção, modelos de utilidade, desenhos ou modelos industriais, marcas, nome
comercial, indicações geográficas, denominações de origem e a repressão contra a
concorrência desleal (CUP, 1883).
Primeiramente, e em especial ao objeto do presente estudo, patentes são
privilégios temporários concedidos pelo Estado ao inventor, por meio de carta-
patente, que lhe garantem exclusividade e exploração sobre a invenção. Dessa
forma, “como contrapartida pelo acesso público ao conhecimento dos pontos
essenciais do invento, a lei dá ao titular da patente um direito limitado no tempo”
(BARBOSA, 2014, tomo II, p. 1099)
Em raciocínio temporal linear, a evolução do direito de patentes pode ser
compreendida em quatro momentos históricos:

o primeiro caracterizado pelos privilégios feudais, o segundo marcado pelas


idéias [sic] liberais da Revolução Francesa e da Independência dos Estados
Unidos, o terceiro marcado por um século de internacionalização do regime
de patentes, a partir da Convenção de União de Paris, e o quarto e atual
momento em que desenvolve-se o processo de mundialização da
propriedade intelectual envolvendo a patente, cujo marco foi a firma do
acordo de constituição da Organização Mundial do Comércio (PIMENTEL,
1999, p.134).

O primeiro ponto fundamental da proteção por patentes é que depende de


registro, ou seja, um inventor só obtém legalmente os privilégios da sua invenção se
promover o registro do seu invento. Isso porque um dos requisitos para a concessão
do privilégio por parte do Estado é que o conhecimento se torne disponível e
acessível a todos, passível de reprodução, em contrapartida, ao inventor será
77

assegurado os seus direitos de exclusividade e exploração. Dessa forma, “ao


proteger a tecnologia e colocá-la à disposição do seu proprietário, permite um
monopólio cujo efeito é a limitação da concorrência no mercado” (PIMENTEL, 1999,
p. 208 – 215).
Para ser suscetível ao patenteamento o objeto aspirante ao privilégio deverá
configurar como um invento. Não obstante, esse invento deverá preencher as
condições de novidade, atividade inventiva e aplicabilidade industrial. Nesse sentido,
a invenção pode ser compreendida como uma criação cognitiva do espírito humano,
viabilizada pela técnica que busca atender necessidades da vida humana, animal ou
da natureza (GAMA CERQUEIRA, 2010, p. 145 – 152).
Nessa linha, é a própria invenção que dá ensejo ao privilégio conferido ao
inventor, uma vez que “o direito do inventor não se origina da concessão da patente,
nem é criado pela lei, que apenas o reconhece e declara. Não resulta do privilégio,
ao contrário, o privilégio é que resulta do direito do inventor, de que o constitui o
conteúdo essencial”. De um lado se terá as garantias conferidas ao inventor pelo
seu esforço em trazer à luz do conhecimento a criação, de outro a restrição da
exploração de seu invento por terceiros não autorizados, significa que “o conteúdo
positivo desse direito é o uso ou exploração do invento. Seu conteúdo negativo é a
exclusão de outras pessoas, pois todo o direito, como poder de ação, é exclusivo
dentro da sua esfera” (GAMA CERQUEIRA, 2010, p. 138). Por essa razão,

[...] acredita-se que a existência de um sistema de patentes incrementa a


actividade inventiva e, sobretudo, torna possível, porque rentável, certo tipo
de pesquisa e investigação mais dispendiosas. As quais não seriam
realizadas se não houvesse, no horizonte, a perspectiva de realizar uma
exploração económica do invento em condições monopolísticas, ao abrigo
do direito exclusivo resultante da patente. As patentes de invenção são
encaradas como uma recompensa destinada a estimular a criatividade
técnica do inventor, em contrapartida do acréscimo de conhecimento
partilhado com a sociedade através da divulgação pública do invento
(SOUSA E SILVA, 2011, p. 41 - 42).

Nesse âmbito, vale ressaltar que a invenção difere da descoberta. A primeira,


fruto da obra criativa humana, não se encontra na natureza. Vale-se das habilidades
do inventor no desenvolvimento de uma criação jamais vista, jamais existente, que
observa o estado da técnica para a apresentação de uma nova forma, original.
Nesse sentido, “o objeto deve resultar da atividade intelectual do autor [...]. É
necessário que haja um efeito de novo e inesperado” (BOFF, 2009, p.43). Já a
78

descoberta, vem a ser aquilo que já existe na natureza, mas ainda não foi
alcançado/conhecido pelo ser humano e quando identificado, torna-se então uma
descoberta. Desse modo, “a invenção, de modo geral, consiste na criação de uma
coisa até então inexistente; a descoberta é a revelação de uma coisa existente na
natureza” (GAMA CERQUEIRA, 2010, p. 153). Nesse ponto, frisa-se que as
invenções são passíveis de proteção, ao passo que as descobertas não possuem tal
amparo jurídico no âmbito dos direitos intelectuais.
Ainda, assunto pertinente à proteção da propriedade industrial, são os
desenhos e modelos industriais ou modelos de utilidade. Tratam-se de invenções
estéticas, uma vez que “os desenhos e modelos industriais constituem invenções de
forma, destinadas a produzir efeito meramente visual, o que os distingue das
invenções propriamente ditas, isto é, invenções industriais” (SOARES, 1998, p. 124).
Além disso, o modelo de utilidade terá como objetivo a satisfação de uma
necessidade determinável, uma utilidade, propriamente dita (SOARES, 1998, p.
124).
Na sequência, ainda na esfera da propriedade industrial, tem-se a proteção
das marcas. Considera-se como marca um signo distintivo capaz de identificar algo,
produto ou serviço. Sob especial proteção do Acordo e Protocolo de Madri, 1886,
somado aos princípios da CUP, a proteção de marcas possui amplitude
internacional, isso porque, o referido acordo garante a possibilidade de “nacionais
dos países contratantes assegurarem a proteção de suas marcas registradas no
país de origem, por meio de um pedido de registro internacional dirigido a um
escritório internacional”. A união desses tratados e a previsão do art. 19 da CUP dão
forma ao Sistema de Madri, uma vez que o Protocolo de Madri veio a preencher as
lacunas deixadas pelo Acordo de Madri, sem, contudo, substitui-lo (NIELSEN, 2008,
p. 32).
Nessa linha, no mesmo âmbito dos sinais distintivos, atribuindo um direito
exclusivo, tem-se a proteção dos nomes empresariais, que compreendem o nome
que identifica determinado empresário industrial ou comercial, como também um
prestador de serviços, não sendo restrita ao ramo de atividade, ou seja, a proteção
do nome empresarial para a identificação de determinada empresa ou prestação de
serviços implica na exclusividade e no impedimento de seu uso, igual ou
79

semelhante, para qualquer outro ramo de atividade, mesmo que adversa ao nome
protegido (SILVEIRA, 2014, p.14).
As indicações geográficas e denominações de origem são proteções que
avalizam a procedência de determinado produto ou serviço como algo particular a
determinada localidade. Essa proteção, quando reconhecida, afirma que aquele
produto ou serviço vem de determinada região com um padrão de procedência. Os
resultados econômicos advindos dessa proteção jurídica são dos mais diversos
como “maior aceitação do produto no mercado interno, a geração de empregos e a
fixação da população na zona rural, o incremento na renda da população local, a
valorização imobiliária, entre outros fatores” (LOCATELLI, 2006, p. 233 - 239).
Por fim, dentro do âmbito da propriedade industrial, a repressão contra a
concorrência desleal também parte da Convenção de Paris como forma de
estabelecer parâmetros para a garantia da exclusividade e exploração conferidas
pelos institutos anteriores, evitando falsas informações, indução ao erro ou mesmo
confusão com relação a determinado invento, levando a crer que o
inventor/fabricante é um ao invés de outro. Outrossim, o Acordo TRIPS, garante
ainda proteção do conhecimento não divulgado, ou seja, o know-how. O intuito de
dispor dentro do âmbito da propriedade intelectual sobre a concorrência desleal é
reprimir práticas que são contrárias a concorrência leal e coerente com o
ordenamento da propriedade industrial (VICENTE, 2008, p. 195 – 199).
Posto isso, passa-se a compreender agora a outra ramificação da
Propriedade Intelectual, que corresponde aos Direitos de Autor e Conexos às obras
literária, artística ou científica, fruto da liberdade poética de expressar por meio de
textos, quadros, pinturas, desenhos, dentre outros, obras passiveis de proteção
jurídica. O berço do Direito de autor reside em duas tradições jurídicas: o Droit
d’auteur, referente aos países da Europa continental, e o copyright, alusivo aos
sistemas jurídicos Common Law, especialmente, nos Estados Unidos e na Inglaterra
(VICENTE, 2008, p. 37). Nesse sentido, destaca-se:

Ao contrário do copyright de origem inglesa, o Droit d’Auteur não exige o


registro, que é facultativo. Para os franceses, o autor é titular de um direito
natural, derivado de seu ato criador, capaz de criar tanto direitos
patrimoniais, suscetíveis de negociação pelo titular, quanto direitos morais
inalienáveis e irrenunciáveis em favor do autor, como a proteção à
integridade da obra e de sua reputação, dentre outros (FIGUEIREDO e
SILVA, 2015, p. 18).
80

As diferenças basilares entre tradições jurídicas do copyright e do Droit


d’Auteur destacam-se quanto às premissas filosóficas, aos fatores culturais e aos
fatores econômicos. No que se refere à concepção filosófica, o primeiro, caracteriza-
se por uma compreensão utilitarista, focada no baixo preço e no acesso às obras, o
direito decorre da lei, privilegia-se o interesse público. Já o segundo, Droit d’Auteur,
é compreendido como um direito natural, focado na proteção da obra em benefício
do autor e não na sua utilidade social, o direito decorre da criação da obra, privilegia-
se o autor. Por essa razão, é dito que “uns privilegiam a criatividade; os outros, o
investimento” (VICENTE, 2015, p. 59 - 60).
Notadamente, em relação ao fator cultural, distingue-se quanto à margem de
tolerância atribuída as reproduções das obras literárias ou artísticas, em maior ou
menor rigor, especialmente ao repúdio associado ao plágio. Já o fator econômico, o
nível de desenvolvimento do país é determinante para a compreensão dos direitos
de autor, enquanto os países em desenvolvimento, que importam a maior parte das
obras intelectuais, podem reivindicar a relativização das licenças obrigatórias, os
países em que se originam tais obras são marcados pela forte atuação de indústrias
culturais e de entretenimento que buscam maior proteção as obras (VICENTE, 2015,
p. 60 - 61).
Revela-se, portanto, o ponto dicotômico do Direito Autoral: de um lado a
recompensa pelo esforço intelectual do autor, de outro, o interesse público pelo
acesso ao conhecimento oferecido pela obra.
Nesse contexto, o primeiro documento internacional firmado a respeito da
proteção das obras literárias e artísticas foi a Convenção de Berna, em 9 de
setembro de 1886, na Suíça. Composta por 38 (trinta e oito) artigos e 1 (um) anexo,
a convenção passou por diversas revisões e conclusões ao longo do tempo, sendo a
última revisão realizada em Paris em 24 de julho de 1971. Juntamente com a
Convenção de Paris, 1881, a Convenção de Berna representa o mais antigo e
reputado documento para a proteção das obras literárias e artísticas, assegurando, a
nível internacional, a relação dos Estados no âmbito dos direitos de autor, desde o
século XX (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 1980).
Nessa linha, a Convenção de Berna é compreendida em duas grandes
categorias: em um primeiro momento, destacam-se as disposições que formam o
direito material dos direitos de autor, normas convencionais que não podem ser
81

alteradas pelos países signatários, especialmente do artigo 1º ao artigo 21 e o


anexo; por segundo, trata-se de questões administrativas ou estruturais como o
estabelecimento de órgãos e os direitos e obrigações dos países da União de Berna,
especialmente do artigo 22 ao artigo 38 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL, 1980).
Destaca-se que a disciplina do tema no âmbito internacional foi de suma
importância, visto que a ausência de uma diretriz uníssona deixava em aberto
questões regulatórias sobre as exceções ou limitações do uso de obras literárias ou
artísticas, espaço ocupado até então pelo copyright e pelo Droit a’Auteur, mas de
modo fragmentado e divergente (SANTOS, 2014, p. 78).
Nesse contexto, as limitações trazidas pela convenção foram no sentido de
considerar e estabelecer um equilíbrio entre interesse público e privilégios do autor,
dando unicidade a matéria. Em especial, impera o relativismo dos privilégios e
exclusividade do autor frente ao uso lícito da obra para fins didáticos ou que tenham
cunho científico, em nome da socialização do conhecimento. Desse modo, “ao
mesmo tempo em que ela favorece o reconhecimento das limitações, ela estabelece
limites às limitações, com a noção de prejuízo à exploração da obra ou aos legítimos
interesses do autor” (SANTOS, 2014, p. 85).
Dito isso, considerando a Convenção União de Paris e a Convenção de Berna
os documentos mais antigos e importantes no cenário internacional acerca da
proteção da Propriedade Intelectual, torna-se relevante destacar a distinção entre o
inventor técnico e o inventor artista, uma vez que:

[...]a criação no campo da indústria, ou invenção industrial, objetiva produzir


efeitos no mundo material, obtendo um resultado utilitário. Em suma, o
poder do homem sobre o mundo material que o cerca é aumentado pelo
emprego da invenção, em termos de maior força, mais rapidez ou perfeição.
[...] A obra artística produz efeito similar, mas no mundo interior do homem,
no mundo da percepção. A invenção industrial atua no mundo físico; a obra
artística, no mundo da comunicação ou da expressão (SILVEIRA, 2014,
p.13).

Com menos êxito, convenções pan-americanas foram sucessivamente


propostas na América, a exemplo: a primeira reunião acerca da temática ocorreu em
Montevidéu, em 1889, resultando em dois acordos sobre propriedade industrial, em
especial marcas e patentes, e um terceiro acordo, tratando sobre os direitos de
autor; Na sequência, em 1902, o Tratado do México; em 1928, o Código
82

Internacional Privado das Américas, dispondo sobre a propriedade intelectual em


seu art. 115; em 1946, a Convenção de Washington. Em especial, “as razões pelo
fracasso das sucessivas convenções apontam para o inexpressivo número de
países que aderiram aos acordos, às constantes denúncias por parte dos governos
e também à falta de preparo dos delegados nas conferências” (PRONER, 2007, p.
110).
Ainda na esteira das convenções globais, a Convenção para Proteção das
Obtenções Vegetais, 1961, Paris, é destaque na proteção dos direitos do obtentor
em relação as variedades vegetais obtidas. Essa convenção deu origem a
organização intergovernamental União Internacional para a Proteção de Novas
Variedades de Plantas (UPOV), com sede em Genebra, e cerca de 75 membros, “a
missão da UPOV é fornecer e promover um sistema eficaz de proteção de
variedades vegetais, com vistas ao desenvolvimento de variedades vegetais em
benefício da sociedade”16 (UPOV, 2018, s.p, tradução nossa).
Contudo, importante mencionar que a Convenção UPOV não foi absorvida
pelo sistema da CUP, de 1883. Significa dizer que os direitos do obtentor se diferem
dos direitos de patente, incluindo os direitos do obtentor de variedade vegetal não
nos direitos industriais, mas sim, em uma categoria sui generis, ou seja, não
contemplada pelos Direitos de Autor, tampouco pela Propriedade Industrial. Não
obstante, a inconformidade das obtenções vegetais com o sistema de patentes
defronta-se com a “circunstância de a variedade vegetal, não raro, se tornar
acessível ao público antes mesmo da dedução de eventual pedido de patente, já
que o seu desenvolvimento pressupunha a realização de inúmeros testes e ensaios”
(REMÉDIO MARQUES, 2007, p. 49). A categorização das obtenções vegetais
dentro dos direitos da propriedade intelectual é complexa, uma vez que:

A protecção das obtenções vegetais sob a forma de variedades vegetais


constitui um domínio bastante desenvolvido no quadro das inovações
biotecnológicas; mas é, também, um segmento complexo do ponto de vista
científico. (p. ex., clara definição do conceito científico de variedade vegetal;
plantas autogamas, alogamas, assexuadas, híbridos, critérios de
identificação dos caracterers distintivos de cada taxon botânico, distância
genética entre os indivíduos de forma a revelarem fenótipos distintos,
controlo de polinização, etc.) e jurídico stricto sensu (p. ex., a notariedade
da variedade, a distância varietal, para o efeito de dilucidar a existência de

16No original: “la misión de la UPOV es proporcionar y fomentar un sistema eficaz para la protección
de las variedades vegetales con miras al desarrollo de obtenciones vegetales en beneficio de la
sociedade16” (UPOV, 2018, s.p.).
83

variedades essencialmente derivadas da variedade protegida, à


semelhança dos juízos sobre a equivalência dos meios técnicos, juízos
efectuados em sede de determinação do âmbito de protecção do direito de
patente). Além disso, a proliferação dos textos legais (de jaez internacional,
comunitário e nacional) e a sua relativa imprecisão aliada ao alargamento
das realidades biológicas suceptíveis de protecção (maxime, os
constituintes varietais e o material de multiplicação ou propagação
vegetativa) são causas que justificam o aumento daquela complexidade
(REMÉDIO MARQUES, 2007, p. 29, grifo do autor).

A discussão levantada pela classificação da UPOV, abriu espaço no âmbito


da Propriedade Intelectual para a categoria sui generis, como dito anteriormente,
essa categoria abrange as classificações que não são compreendidas nem pelo
sistema de Direitos de Autor e tampouco pelos Direitos Industriais. Nesse grupo,
ainda, destaca-se a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), aprovada em
1992.
A Convenção sobre a Diversidade Biológica é o marco jurídico mundial, de
caráter soft law, ou seja, não dispõe de mecanismos de exigibilidade, que trata da
proteção dos recursos genéticos e dos conhecimentos tradicionais associados. Essa
convenção propõe diretrizes universais para a regulamentação do acesso e do uso
desses recursos como parâmetro para a sustentabilidade. Após 27 anos da sua
celebração, 170 países aderiram à convenção (VIEIRA, 2012, p. 31).
Em especial para o objeto do presente estudo, a Convenção sobre a Proteção
das Obtenções Vegetais e a Convenção sobre a Diversidade Biológica, merecem
especial atenção por contemplarem aspectos relacionados à alimentação humana,
essas convenções serão abordadas com maior profundidade nos próximos
capítulos.
A existência de um sistema internacional de proteção da propriedade
intelectual, a partir das convenções universais, implicou no surgimento de uma
organização capaz de concentrar as temáticas vinculadas aos direitos da
propriedade intelectual, visando uniformizar e disciplinar a matéria no cenário global.
Em 1967, tem-se o surgimento da Organização Mundial da Propriedade Intelectual
(OMPI), como agência especializada da Organização das Nações Unidas (ONU),
com sede em Genebra, Suíça. Com 191 membros, “a missão da OMPI é liderar a
iniciativa no desenvolvimento de um sistema internacional de PI, equilibrado e eficaz,
84

permitindo inovação e criatividade em benefício de todos”17 (OMPI-a, [201-], s.p,


tradução nossa).
A Organização Mundial da Propriedade Intelectual gerencia um total de 26
(vinte e seis) tratados e acordos que são classificados em três grandes categorias,
sendo elas: a Proteção da Propriedade Intelectual, o Sistema de Registro e o
Sistema de Classificação (OMPI-b, [201-]).
A primeira categoria, a proteção da Propriedade Intelectual compreende os
seguintes tratados: Convenção de Paris (1883); Convenção de Berna (1886); Acordo
de Madri relativo à repressão de indicações falsas ou enganosas sobre a origem dos
produtos (1891); Convenção de Bruxelas (1924); Convenção de Roma (1961);
Convenção de Fonogramas (1971); Tratado de Nairóbi (1981); Tratado de
Washington (1989); Tratado de Direito de Marcas Comerciais (TLT) (1994); Tratado
da OMPI sobre Execuções e Fonogramas (1996); Tratado de Direitos Autorais da
OMPI (1996); Tratado sobre o Direito de Patentes (PLT) (2000); Tratado de
Cingapura sobre a Lei das Marcas Registradas (2006); Tratado de Pequim sobre
Interpretações e Execuções Audiovisuais (2012); Tratado de Marraquexe (2013)
(OMPI-b, [201-]);.
Por segundo, pertencem à categoria de Sistema de registro os tratados:
Acordo de Madri relativo ao registro internacional de marcas (1891); Protocolo de
Madri (1989); Acordo de Haia relativo ao Registo Internacional de Desenhos
Industriais (1925); Acordo de Lisboa para a Proteção de Denominações de Origem e
seu Registro Internacional (1958); Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes
(PCT) (1970); Tratado de Budapeste sobre o Reconhecimento Internacional do
Depósito de Microrganismos para Fins do Procedimento de Patentes (1977); (OMPI-
b, [201-]).
Por último, o Sistema de Classificação que abrange o Acordo de Locarno,
relativo à classificação internacional para desenhos industriais (1968); o Acordo de
Nice, que dispõe sobre a Classificação Internacional de Bens e Serviços para o
Registro de Marcas (1957); o Acordo de Estrasburgo, atinente à Classificação
Internacional de Patentes (1971) e o Acordo de Viena, que fixa a classificação
internacional dos elementos figurativos das marcas (1973) (OMPI-b, [201-]).

17No original: “la misión de la OMPI es llevar la iniciativa en el desarrollo de un sistema internacional
de P.I. equilibrado y eficaz, que permita la innovación y la creatividad en beneficio de todos” (OMPI,
2018, s.p)
85

Atendendo os anseios por uma regulamentação dos direitos da propriedade


intelectual no âmbito das relações multilaterais de comércio, o TRIPs foi o resultado
de um conjunto de acordos assinados em 1996 durante a Rodada do Uruguai. “Sob
a influência dos Estados Unidos, União Europeia e Japão, as discussões
concentravam-se sobre a propriedade intelectual. A proteção dos direitos intelectuais
exigia soluções multilaterais, que proporcionassem soluções globais” (BOFF, 2006,
p. 258 – 260). Esse tratado internacional visa estabelecer critérios mínimos de
proteção para a propriedade intelectual, no âmbito internacional, relacionados ao
comércio. De forma ampla, o Acordo TRIPs compreende as três grandes
ramificações dos Direitos de Propriedade Intelectual, sendo elas os Direitos de Autor
e Conexos, Propriedade Industrial e Direitos Sui Generis (BOFF, 2006, p. 258 –
260).
O Acordo TRIPs ou Acordo sobre os aspectos dos Direitos de Propriedade
Intelectual relacionados com o Comércio (ADPIC)18 propõe um conjunto de normas
que orientam as legislações nacionais dos Estados que compõem a Organização
Mundial do Comércio. Em suma, o Acordo TRIPs pode ser considerado uma
legislação hard law por prever mecanismos que conferem efetividade para as suas
disposições. Este acordo,

[...] surge no âmbito da Rodada do Uruguai de Negociações Multilaterais do


GATT. Sob a influência dos Estados Unidos, União Europeia e Japão, muito
das discussões se concentrava sobre a propriedade intelectual. A proteção
dos direitos intelectuais exigia soluções multilaterais, que proporcionam
soluções globais, com o propósito de completar as deficiências do sistema
de proteção da propriedade intelectual da OMPI e vincular o tema ao
comércio internacional. A partir dessa interferência, o GATT passa a ter
competência para tratar de aspectos dos direitos intelectuais, uma vez que
ligados à atividade comercial. Assim, por exemplo, as indústrias nos países
desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos, reclamavam maior
proteção aos direitos da propriedade intelectual, associadas à frustração
demonstrada por alguns países com sistema de proteção das Nações
Unidas, levaram o tema para o âmbito de discussões do GATT (BOFF,
2017, p. 22).

Basicamente, dois mecanismos destacam-se para a efetividade dessas


disposições, “primeiro a elevação do nível de proteção em todos os Estados-
membros do Acordo; segundo a garantia da observação dos direitos de propriedade

18 Neste estudo denominação adotada será “Acordo TRIPs”


86

intelectual através de procedimentos judiciais que devem ser ágeis e efetivos.”


(PIMENTEL, 2002, p. 168).
Envolvendo Estados e organizações, o Acordo TRIPs foi marcado pela
dualidade de interesses Norte-Sul. Estruturalmente o Acordo TRIPs dispõe sobre
princípios e direitos relativos a PI, estabelecendo a abrangência, exercício,
prevenção e solução de controvérsias entre os Estados-membros. Essencialmente,
pode-se dizer, que as normas globais de proteção da propriedade intelectual
partiram predominantemente dos países desenvolvidos, em especial a Comunidade
Europeia e os Estados Unidos. Em suma, o Acordo TRIPs “é uma espécie de
ordenamento programático que, ademais, impõe obrigações de caráter substancial
aos membros, que de modo geral obedeceu aos interesses dos Estados-membros
mais desenvolvidos e industrializados” (PIMENTEL, 2002, p. 174). Nesse interim,
destaca-se que o objetivo principal do Acordo TRIPs é:

[...] garantir de modo harmonizado um patamar de proteção mínima para os


direitos de propriedade intelectual nos mercados dos Países desenvolvidos
ou de economias emergentes. O que consistirá em facilitar as exportações
dos Países mais industrializados, criando ao mesmo tempo as condições
necessárias de segurança jurídica para um eventual mercado de
transferência de tecnologia no futuro [...] (PIMENTEL, 2002, p. 177).

Os princípios que norteiam o Acordo TRIPs são: o princípio da não


discriminação, que dá tratamento igual a todos os Estados-Membros; o princípio do
tratamento nacional, que confere aos não nacionais, membros do Acordo, o mesmo
tratamento dos nacionais; o princípio da proteção mínima, que atende nas
legislações nacionais como mínimo de proteção as disposições do TRIPs; o princípio
de liberdade corresponde a liberdade para acrescer nas legislações dos Estados-
Membros a mais do que o previsto no TRIPs; o princípio da nação mais favorecida,
estabelece um tratamento de igualdade entre mercadorias nacionais e estrangeiras;
o princípio da inovação e da transferência e difusão tecnológica, objetiva o
compartilhamento da tecnologia visando o bem-estar social e o desenvolvimento
econômico; o princípio da compatibilidade, colidindo o TRIPs com outros tratados se
pondera no caminho em que não se diminua a proteção dos direitos da propriedade
intelectual; o princípio da cooperação, visa o auxílio dos países mais desenvolvidos
aos menos desenvolvidos na forma de apoio técnico-financeiro para facilitar a
aplicação do TRIPs; o princípio de tutela jurídica, estabelece critérios de proteção
87

dos DPI acessíveis e céleres; o princípio de publicidade das normas, fixa critérios de
transparência no que tange aos direitos da propriedade intelectual; O Acordo TRIPs
não dispôs a respeito do princípio do esgotamento, incluindo no acordo apenas o
princípio da não interferência, “de modo que a opção pelo esgotamento nacional,
comunitário, ou internacional é opção que permanece ao livre arbítrio do legislador
competente” (PIMENTEL, 2002, p. 178 – 185, grifo do autor).
Nesse cenário, a tensão política e as incongruências internacionais levaram
ao fim o General Agreement on Tariffs and Trade (GATT) (Acordo Geral de Tarifas e
Comércio) e em resposta ao crescente liberalismo comercial e à globalização, a
Organização Mundial do Comércio surgiu com o propósito de viabilizar um espaço
institucional e jurídico ao sistema comercial multilateral contemporâneo, com sede
em Genebra (Suíça). Em vigor desde 1º de janeiro de 1995, a OMC reformulou os
métodos de resolução das disputas comerciais no âmbito internacional. Atualmente
a participação dos países na OMC é condicionada à ratificação do Acordo TRIPs,
subordinando-se as suas condições acerca da propriedade intelectual (COSTA,
2013, p. 98-102).
Posto isso, nesta seção, discorreu-se de forma panorâmica sobre a proteção
da propriedade intelectual no âmbito internacional, contemplando tratados, sistemas
e organizações mundiais que tratam da proteção jurídica dos direitos intelectuais.
Nos próximos capítulos alguns desses tratados serão aprofundados de acordo com
a pertinência da temática abordada. A seguir, passa-se a tratar da proteção jurídica
nacional atribuída aos direitos intelectuais.
88

4 SISTEMA DE PROTEÇÃO JURÍDICA DAS CRIAÇÕES NO BRASIL

A atividade inventiva é peculiar à história do desenvolvimento humano. As


grandes mudanças de paradigma foram acompanhadas de importantes invenções.
Metaforicamente, pode-se dizer que o homem é um alquimista por natureza, porém
essa característica exige a habilidade de aplicar e aprimorar adequadamente o
conhecimento para o alcance de resultados inovadores. Desse modo, o objetivo do
presente capítulo é demonstrar as formas de proteção jurídica das criações por meio
da Propriedade Intelectual.
Nesse contexto, um cenário jurídico estruturado, estável e seguro é um
ambiente fértil para o desenvolvimento e aplicação de ideias, fomentando a inovação
para agregar e somar ao campo do conhecimento.
Seguindo o ordenamento internacional, o Brasil dispõe de ampla legislação
acerca da proteção dos Direitos da Propriedade Intelectual. Historicamente, direitos
atribuídos ao autor, ao inventor e outros provenientes da classificação sui generis
possuem proteção e reconhecimento jurídico no território brasileiro.
Essas disposições tiveram início pouco antes da independência do Brasil
Colônia, com início em 1809, atravessando o processo de independência em 1822,
para então dar início aos sistemas de proteção da propriedade imaterial, assunto
que se trata a seguir.

4.1 CONTEXTO HISTÓRICO-JURÍDICO DA FORMAÇÃO DOS DIREITOS DA


PROPRIEDADE INTELECTUAL NO BRASIL: PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Do período colonial à contemporaneidade, há pouco mais de dois séculos,


introduzia-se no Brasil o sistema de patentes, por meio do Alvará de 28 de abril de
1809, pelo então regente de Portugal, D. João. Em um contexto em que a indústria
era pouco desenvolvida no Brasil, a implementação de um sistema de patentes foi
algo pioneiro (CARVALHO, 2009).
Do confronto entre a Europa e a Inglaterra, os embargos declarados por
Napoleão à ilha britânica e suas colônias, deram novo rumo às relações
econômicas. Forçados a negociar com novos mercados, Portugal tornou-se uma
opção aos ingleses. Contudo, não tardou para que as restrições decretadas por
89

Napoleão recaíssem sobre as terras lusitanas, juntamente com o fim da dinastia dos
Bragança em Portugal (CARVALHO, 2009). Nesse contexto,

O desaparecimento da dinastia dos Bragança em Portugal significaria para


a Inglaterra, portanto, a queda do Brasil na esfera de influência francesa e o
consequente desaparecimento de uma fonte alternativa de matérias-primas,
bem como de um mercado de escoamento de seus excedentes industriais.
A Inglaterra, não o esqueçamos, estava já em plena Revolução Industrial.
Portugal era uma espécie de entreposto aduaneiro de matérias-primas que
vinham do Brasil, muitas das quais eram destinadas aos portos ingleses. [...]
O Brasil era, portanto, um território importante para a política comercial
inglesa. Além disso, o Brasil poderia também servir de plataforma para a
exportação de produtos industrializados para as colônias espanholas na
América do Sul (CARVALHO, 2009, p. 2).

Com a destituição do poder da dinastia dos Bragança, a Inglaterra pressionou


para que D. João mudasse para o Brasil. Resistente com a mudança, D. João partiu
em direção ao Brasil somente após Napoleão declarar publicamente a sua intenção
de ocupar Portugal. Sendo assim, com o apoio e escolta dos ingleses as frotas
portuguesas levaram a família imperial ao Brasil (CARVALHO, 2009).
Nesse descaminho, Portugal e Inglaterra firmaram a Convenção Secreta de
22 de outubro de 1807. A alcunha “secreta” deu-se em razão de que, naquela
ocasião, Portugal pretendia ocultar de Napoleão, as suas relações com a Inglaterra,
visando evitar a invasão francesa (CARVALHO, 2009).
A política dominante antes da chegada da corte portuguesa ao Brasil era a de
exploração e não de desenvolvimento, não se tinha por objetivo o progresso
econômico e com isso total desinteresse pelo comércio ou indústria. Isso porque,
Portugal seguia uma linha de evitar que a sua então colônia competisse nos
mercados internacionais e também adquirisse recursos para independência,
priorizando os interesses da Coroa. “Esse regime, que durante mais de dois séculos
dominou o Brasil, caracterizava-se, principalmente, pelas medidas restritivas da
liberdade de comércio e indústria e pela mais estreita fiscalização de todas as
atividades de seus habitantes” (GAMA CERQUEIRA, 2010, p. 1).
A transferência forçada da Coroa Portuguesa ao Brasil provocou mudanças
no contexto da colônia de exploração para os primeiros passos do desenvolvimento
da indústria e do comércio. Diante do cenário de invasões nas terras lusitanas e dos
embargos portuários, o Príncipe Regente de Portugal promulgou o Alvará de 1809,
90

em 28 de abril. O documento teve influência britânica e estadunidense (GAMA


CERQUEIRA, 2010, p. 3).
Em que pese dispor sobre a propriedade industrial de forma precária, era o
primeiro passo para a implementação de um sistema de patentes no Brasil. O Alvará
de 1809, com força de lei, explicitava o seu objeto, prazos e procedimentos para a
concessão de privilégios de invenções. O objetivo crucial foi o de viabilizar um
espaço fértil para o desenvolvimento da indústria e das artes, buscando ofertar
recompensas atrativas para os inventores como privilégios ou aporte pecuniário.
Requisitava-se que a invenção fosse nova, com encaminhamento de uma petição à
Real Junta do Comércio, descrevendo o plano da invenção. Com prazo de validade
determinado para 14 (quatorze) anos, os privilégios concedidos às invenções
sujeitavam-se ao exame prévio das condições de patenteabilidade (MALAVOTA,
2011, p. 50 – 51).
Incentivada pelo novo cenário de independência, a primeira Constituição do
Brasil, de 1824, tratou de reconhecer os direitos atribuídos aos inventores e
descobridores em seu art. 179, inciso XXVI, ao dispor sobre os direitos de
propriedade, entre outros, que “os inventores terão a propriedade das suas
descobertas, ou das suas producções. A Lei lhes assegurará um privilegio exclusivo
temporario, ou lhes remunerará em resarcimento da perda, que hajam de soffrer
pela vulgarização”. Este foi o primeiro marco constitucional de reconhecimento da
propriedade imaterial (IMPÉRIO DO BRAZIL, 1824).
Destaca-se que, mesmo no período pós-independência, o Alvará de 28 de
abril de 1809, ainda se encontrava em vigência. A emancipação da colônia em
relação à Coroa de Portugal, não modificou de imediato as disposições desse
documento ou os direitos já adquiridos pelos inventores, tampouco restou alterada a
competência do Tribunal da Junta do Comércio. Essa conjuntura só sofreu
alterações com o advento da Lei de Patentes de 1830, que veio regulamentar os
direitos dos inventores e descobridores dispostos pela Constituição Imperial
(MALAVOTA, 2011, p. 111).
Entre os anos de 1809 e 1830, foram apresentados 55 (cinquenta e cinco)
pedidos de privilégios, sendo concedidos cerca de 40 (quarenta) privilégios e 15
(quinze) indeferimentos. Os inventos que eram apresentados à Junta do Comércio
retratavam as necessidades da época. Frisa-se aqui que desde esse período as
91

invenções envolvendo alimentos já se destacavam, sendo que do número de


privilégios concedidos, 14 (quatorze), ou seja, cerca de 35% dos pedidos, “disseram
respeito à produção de agroderivados, nomeadamente açúcar, bagaço, aguardente,
arroz, café” (CARVALHO, 2009, p. 71).
A ligeira citação acerca dos direitos dos inventores na Constituição de 1824,
impulsionou a elaboração de uma legislação que contemplasse com maior
disposição a atribuição desses direitos. Dessa forma, de modo pioneiro no cenário
global, em 1830, o Brasil foi um dos primeiros países a implementar uma Lei de
Patentes, decretando a lei que “Concede privilegio ao que descobrir, inventar ou
melhorar uma industria util e um premio que introduzir uma industria estrangeira, e
regula sua concessão” (IMPÉRIO DO BRAZIL, 1830). Com 12 artigos, a primeira lei
sobre patentes contemplava os direitos do descobridor e do inventor, ou seja,
naquele período era possível a proteção sobre a descoberta. Os prazos concedidos
para a proteção por patentes eram de 5 (cinco) a 20 (vinte) anos, de acordo com a
qualidade da descoberta ou invenção (IMPÉRIO DO BRAZIL, 1830).
Cabello e Póvoa (2016) em um estudo sobre a análise econômica da lei de
1830, indicam que o instrumento foi fundamental para o desenvolvimento do país.
Consideram que a eficiência de uma lei de patentes está vinculada em como a
propriedade industrial encontra-se estabelecida e garantida pelo Estado. A
determinação sobre uma propriedade imaterial, intangível é complexa, difere-se da
propriedade imóvel, que possui delimitações geográficas. Essa determinação
impacta significativamente no exercício da propriedade, na sua exploração e
monopólio. Por essa razão, é imprescindível a disposição de mecanismos que
punam os infratores dos direitos que envolvem a propriedade industrial, pois do
contrário, a proteção por patentes não se torna um incentivo para a atividade
inventiva. Nesse contexto, consideram que:

A literatura econômica tem se concentrado no dilema entre a eficiência


dinâmica (a patente serve de incentivo ao surgimento de novas invenções) e
a ineficiência estática (gerada pelo poder de monopólio que a patente
permite exercer). Os inventores devem ter seus inventos protegidos pela
patente, mas, se o grau de proteção for muito elevado, pode haver uma
redução do surgimento de novas invenções. A maior parte dos estudos
argumenta que o grau de proteção é dado pela combinação entre a duração
e a abrangência da patente. Essas duas dimensões ajudam a definir a
propriedade da invenção e a forma como a lei de patentes as define afeta a
sua eficiência no sentido de incentivar o surgimento de mais invenções
(CABELLO; PÓVOA, 2016. p. 882).
92

Nessa seara, a lei de 1830, em que pese pioneira, não contemplava de forma
satisfatória a atribuição de direitos aos inventores e descobridores. Muitas lacunas
como a ausência de designação de um órgão competente, disposição sobre
soluções de controvérsias, o não reconhecimento de invenções estrangeiras, mas
que no fim acabavam sendo protegidas, dentre outras, revelam as falhas dos
primeiros contornos do sistema de patentes brasileiro (MALAVOTA, 2009, p. 124 -
128).
Ao fim e ao cabo, a concessão de patentes era uma discricionariedade do
governo, concentrando a decisão nas mãos do alto escalão de autoridades. Via de
regra, não se existia um padrão quanto aos procedimentos e princípios aplicados,
cada caso era examinado isoladamente de acordo com o contexto e a necessidade.
Dessa forma, “o padrão das decisões podia variar de acordo com as convicções
pessoais dos deputados diretamente responsáveis pela efetuação do exame prévio”.
Em geral, a análise para a concessão do pedido de patente não ultrapassava o
marco de um ano, salvo raras exceções. Com o passar dos anos esses
procedimentos foram revistos e aos poucos ocorreu a descentralização da cúpula do
governo para repartições especializadas (MALAVOTA, 2009, p. 138 -144).
As dificuldades e a distância entre as disposições da Lei de 1830 e a prática
na concessão de patentes tencionaram a elaboração de um novo projeto. A
participação do Brasil na Conferência de Paris em 1880 oxigenou a concepção do
sistema nacional de patentes, impulsionando um novo marco legal. Em 1882 foi
então promulgada a nova Lei de Patentes, sob nº 3.129, inovando-se na proposição
dos princípios do tratamento nacional e da prioridade unionista, sob influência da
formação da CUP, bem como a exigência dos critérios de novidade e aplicação
industrial para a concessão da patente (MALAVOTA, 2011, p. 254 – 255).
Nesse contexto, a Lei nº 3.129, de 14 de outubro de 1882, estabeleceu a
regulamentação da concessão de patentes aos inventores ou descobridores de
invenções industriais. Disposta em 10 artigos, destaca-se em especial que a lei de
1882 atribuiu a propriedade e o monopólio aos autores de qualquer invenção ou
descoberta que se apresentasse sob a forma de “productos, meios, applicações e
melhoramentos industriaes” desde que configurassem uma novidade. Proibia-se a
concessão de privilégios dos inventos que contrariassem a lei ou a moral,
representassem alguma ofensa ou ameaça à segurança e à saúde pública, não
93

oferecesse um resultado industrial prático. O privilégio exclusivo concedido à


invenção principal era de até 15 anos, o prazo estabelecido ao privilégio concedido
por melhoramento era o mesmo aplicado à invenção que o deu origem. A passagem
legal do § 4º, art. 1º, sobre “Si durante o privilegio, a necessidade ou utilidade
publica exigir a vulgarisação da invenção, ou o seu uso exclusivo pelo Estado,
poderá ser desapropriada a patente, mediante as formalidades legaes”, indica já
naquela época uma forma de dispositivo que permitia o que hoje se concebe por
“licença compulsória” (IMPÉRIO DO BRAZIL, 1882).
O ano que sucedeu a nova Lei de Patentes foi marcado pelo advento da
Convenção da União de Paris (CUP), em 1883. A CUP, como já visto na seção
anterior, tratou de estabelecer o início de uma ordem global acerca das invenções
industriais. Dentro desse cenário, o Brasil já estava familiarizado com as diretrizes
internacionais, uma vez que:

Quando terminaram as negociações da Convenção de Paris, em 1882 [...],


já havia uma nova lei, tão afeiçoada aos fluxos tecnológicos internacionais
que nenhuma adaptação se precisou fazer após a assinatura do tratado. O
resultado foi imediato: enquanto nos oito anos finais da lei de 1830 foram
concedidos 434 privilégios (33% de estrangeiros em 1882 [)], nos oito anos
da lei de 1882 o foram 1 mil 178 (66% de estrangeiros em 1889)
(BARBOSA, 2010, p. 14).

Posterior à promulgação da Lei de 1882, uma série de leis dispersas tratou a


respeito de marcas, patentes e por ventura também, sobre a concorrência desleal,
até o advento do Código da Propriedade Industrial, em 1945. Pode-se dizer que com
relação às marcas, o período até 1875 representou um vazio na legislação a
respeito de tal disposição, existia apenas, infimamente, no Código Comercial
disposições sobre o nome de empresa. Após entrada em vigência da Convenção, o
desafio nacional foi adequar o direito interno com a ordem internacional, a partir da
qual apontou-se uma série de alterações necessárias (BARBOSA, 2010, p. 14).
Desse modo, o Decreto-lei nº 7.903 de 1945 foi, ao seu tempo, a mais
completa legislação acerca dos direitos da propriedade industrial, recebendo então o
título de Código da Propriedade Industrial, atribuindo a proteção à propriedade
industrial por meio da concessão de privilégios de invenção e de registro dos signos
distintivos. Com 221 artigos, em consonância com a ordem global, a referida lei
tratou de classificar a propriedade industrial em patentes de invenção, modelos de
94

utilidade, desenhos industriais, novas variedades de plantas, marcas, nomes


comerciais, indicações de procedência e a repressão da concorrência desleal
(BRASIL, 1945).
Dando seguimento às legislações anteriores, o Código da Propriedade
Industrial de 1945 reafirmou os critérios de novidade e aplicação industrial para a
concessão de patentes, como também a concessão de privilégios de exploração e
monopólio19. O texto de 1945 deixou de fazer qualquer menção às descobertas e
tratou apenas do privilégio sobre inventos. Nessa linha, os pedidos realizados por
nacionais ou estrangeiros, requerendo os privilégios de invenção eram designados
ao Departamento Nacional da Propriedade Industrial, acompanhados do relatório
descritivo e dos desenhos correspondentes. Cumpridas as formalidades do pedido,
sucedia-se ao exame técnico, no qual o prazo legal para a sua conclusão era de 60
(sessenta) dias para o exame de privilégios de invenção e 30 (trinta) dias para o
exame de modelos de utilizados, podendo ser prorrogados sob justificativa do Diretor
do Departamento Nacional da Propriedade Industrial (BRASIL, 1945).
Os prazos concedidos por seu turno eram de quinze anos para os privilégios
de invenção, contados a partir da expedição da patente, podendo obter prorrogação
do privilégio por mais cinco anos. Já os prazos concedidos aos modelos de utilidade
eram de cinco anos, contados também a partir da expedição, podendo ser
prorrogado por igual período. Os prazos concedidos ao desenho ou modelo
industrial eram de três anos, prorrogável por iguais e sucessivos períodos até o
prazo máximo de quinze anos. Findos os prazos da concessão de privilégios, o
invento ou modelo caia em domínio público (BRASIL, 1945).
Em especial, não eram objeto de patente ou então não privilegiáveis,
conforme disposto no art. 8º do CPI, “as invenções que tiverem por objeto
substâncias ou produtos alimentícios e medicamentos de qualquer gênero” (BRASIL,
1945). Desse modo, os inventos que envolviam alimentos ou medicamentos não
poderiam ser protegidos pelo então Código da Propriedade Industrial (BRASIL,
1945).
Dentre outras disposições, o CPI também tratou de contemplar mais
exaustivamente as questões sobre a alienação, transferência e licença dos
privilégios obtidos com a invenção, reforçando o aspecto intangível concernente à

19Em especial, a análise do Código da Propriedade Industrial de 1945 será limitada aos privilégios de
invenção, pela afinidade com o objeto do presente estudo (BRASIL, 1945).
95

propriedade intelectual, como forma de dispor e explorar essa propriedade imaterial.


Dispôs ainda acerca dos casos de extinção, caducidade, nulidade e cancelamento
desses privilégios, bem como estabeleceu a classificação dos pedidos e a
determinação das taxas dos serviços do Departamento Nacional da Propriedade
Industrial (BRASIL, 1945).
Decorridos mais de vinte anos do Decreto-Lei de 1945, dois decretos-lei
foram editados em um curto período de tempo, instituindo também o Código da
Propriedade Industrial e revogando os anteriores, um em 1967 e o outro, dois anos
depois, em 1969. Destaca-se que, em ambos os decretos as misturas ou produtos
alimentícios, de qualquer espécie, não eram privilegiáveis. Ainda, o Decreto-Lei de
1969 tratou expressamente, pela primeira vez, de dispor que as descobertas não
eram suscetíveis de proteção, sendo então não privilegiáveis “os usos ou empregos
relacionados com descobertas, inclusive de variedades ou espécies de
microrganismos, para fim determinado” (BRASIL, 1967a; BRASIL, 1969a).
Diferentemente dos atos anteriores, emanados do Poder Executivo, o Código
da Propriedade Industrial que adveio em 1971 foi votado pelo Congresso Nacional e
discutido, democraticamente, com as frentes interessadas, tratando-se, portanto, de
lei ordinária emanada do Poder Legislativo. O Código de 1971 também manteve o
entendimento de que as “substâncias, matérias, misturas ou produtos alimentícios,
químico-farmacêuticos e medicamentos, de qualquer espécie, bem como os
respectivos processos de obtenção ou modificação” configuravam invenções não
privilegiáveis (BRASIL, 1971).
Revogada pela atual Lei da propriedade industrial, Lei nº 9.279, de 14 de maio
de 1996, o Código da Propriedade Industrial de 1971, perdurou por 25 (vinte e cinco)
anos, mantendo a vedação da concessão de privilégios para invenções alimentícias.
Em diversos aspectos, os decretos-lei de 1945, 1967, 1969 e a Lei de 1971, são
redundantes, em especial as três últimas legislações, havendo poucas alterações e
complementos.
Nesse contexto, a lei que rege atualmente os direitos e obrigações relativos à
propriedade industrial, abandonou, por assim dizer, o título de Código da
Propriedade Industrial, passando a ser denominada Lei da Propriedade Industrial.
Esta é, na atualidade, a principal referência para os aspectos jurídicos da
propriedade industrial. As disposições da Lei de Patentes de 1996 serão abordadas
96

com maior profundidade nas próximas seções com o intuito de discutir a proteção
jurídica dos inventos atualmente.
Por fim, pode-se dizer que a construção brasileira do sistema de patentes
também se deu no âmbito constitucional. Todas as constituições, desde 1824,
trataram de assegurar, mesmo que de forma precária, direitos relativos aos
inventores e também autores. No contexto dos direitos e garantias individuais, a
proteção da propriedade se viu resguardada sob a forma imaterial no tocante à
proteção dos direitos intelectuais. Em um primeiro passo, conforme dito
anteriormente, a Constituição de 1824 tratou de garantir privilégios temporários
sobre os inventos, descobertas e produções. Posteriormente, em um aspecto geral,
os inventos industriais, as marcas e as obras artísticas ou literárias receberam
especial atenção nas Constituições Federais de 1891, 1934, 1946 e 1967 (BRASIL,
1891; BRASIL, 1934; BRASIL, 1946, BRASIL, 1967b).
Na contramão dessas disposições, a Constituição Federal de 1937 não
contemplou expressamente a proteção da propriedade industrial ou direitos de autor
na Carta Magna, pode-se dizer que em uma interpretação hermenêutica, esses
direitos encontram-se implicitamente na norma, a partir das disposições sobre a
ordem econômica e também no “art. 136 - o trabalho é um dever social. O trabalho
intelectual, técnico e manual tem direito a proteção e solicitude especiais do Estado”
(BRASIL, 1937).
Sendo o principal marco jurídico da organização social brasileira na
atualidade, a Constituição Federal de 1988 tem sua influência na proteção dos
direitos intelectuais de forma expressa e também subjetiva. Em um primeiro
momento, nas disposições destinadas aos direitos e garantias fundamentais,
individuais e coletivas, o art. 5º, incisos XXVII ao XXIX, tratam de assegurar
expressamente os direitos relativos as obras, criações industriais e signos distintivos,
respectivamente atribuídos aos autores e inventores, observando o interesse social
e também o desenvolvimento nacional tecnológico e econômico. Em um segundo
momento, incute-se na norma os princípios que orientam a ordem econômica e
financeira, garantido a propriedade privada e o livre exercício de atividades
econômicas, que levam a crer uma ordem que visa, também, o favorecimento da
propriedade intelectual (BRASIL, 1988).
97

Discorrido sobre a formação do sistema de patentes no Brasil, busca-se na


próxima subseção a abordagem sobre a formação do sistema de proteção dos
Direitos de Autor.

4.2 CONTEXTO HISTÓRICO-JURÍDICO DA FORMAÇÃO DOS DIREITOS DA


PROPRIEDADE INTELECTUAL NO BRASIL: DIREITOS DE AUTOR

Tão importante quanto à compreensão acerca dos Direitos da Propriedade


Industrial, é do mesmo modo a análise sobre a abrangência dos Direitos de Autor
para que as hipóteses do presente estudo possam ser testadas, corroboradas ou
falseadas.
Desse modo, posteriormente ao Alvará de 1809 e em paralelo ao crescimento
do sistema de proteção da propriedade industrial, formava-se ao mesmo tempo, a
partir de algumas disposições em leis esparsas, a proteção dos Direitos de Autor.
Em que pese tratados de forma ínfima, a primeira disposição surgiu com a Lei
Imperial de 1827, que tratava sobre a formação dos cursos jurídicos. Ali
desenhavam-se as primeiras linhas da proteção de obras atribuindo direitos ao
autor, constando, na referida lei, em seu art. 7º, que os compêndios escolhidos ou
elaborados pelos professores seriam providenciados pelo governo que “os fará
imprimir e fonercer ás escolas, competindo aos seus autores o privilegios exclusivos
da obra, por dez anos” (IMPÉRIO DO BRAZIL, 1827).
Pode-se dizer que os Direitos de Autor não lograram um espaço significativo
durante o período imperial. No campo constitucional, a partir de uma interpretação
hermenêutica, é possível estimar que a Constituição Imperial de 1824 ao dispor que
“os inventores terão a propriedade de suas descobertas ou das suas produções”, em
seu art. 179, tenha de alguma forma considerado proteger as produções artísticas
ou literárias, como também pode-se dizer que não se teve qualquer intenção de
dispor acerca de tal proteção, trata-se, ao fundo, de uma questão subjetiva
(IMPÉRIO DO BRAZIL, 1824).
Do período da independência à proclamação da República, as disposições
com maior relevância sobre a proteção dos Direitos de Autor apresentaram-se sob o
manto do Direito Penal, condenando-se as práticas ilegais. Em um primeiro
momento, no Código Criminal de 1830, reprimiu-se, com previsão de pena, qualquer
98

forma de reprodução/cópia de obras, sob a expressão “escriptos ou estampas”,


desenvolvidos por cidadãos brasileiros, enquanto vivos e até 10 (dez) anos após a
sua morte (IMPÉRIO DO BRAZIL, 1830); e em um segundo momento, após a
proclamação da República, o Código Criminal de 1890 tratou de dispor em capítulo
específico sobre os Direitos de Autor, dispondo em oito artigos “Dos Crimes contra a
propriedade literária, artística e científica” (BRASIL, 1890).
Diversas foram as tentativas de regulamentar os Direitos de Autor, nos anos
de 1856, 1875,1861 e 1893, por meio de projetos específicos, no entanto, nenhum
logrou êxito. Contudo, a primeira disposição constitucional, em 1891, concedendo
aos autores os direitos exclusivos de reprodução de suas obras, impulsionou o
surgimento da Lei nº 496, de 1º de agosto de 1898, que tratou em 28 artigos, de
forma específica sobre a regulamentação dos direitos de autor (BITTAR, 2015, s.p;
BRASIL, 1898).
As Constituições subsequentes, com exceção da Constituição de 1937, tal e
qual como a proteção conferida a propriedade industrial, também conferiram
tratamento aos direitos de autor, no capítulo reservado aos direitos e garantias
individuais. Já no âmbito civilista, o Código Civil de 1916 dedicou o título “Da
Propriedade Literária, Científica e Artística”, dos artigos 649 a 673, para a disposição
sobre os Direitos de Autor (BITTAR, 2015, s.p)20.
Finalmente, em 14 de dezembro de 1973, após 75 anos da primeira
legislação específica, a Lei nº 5.988 dispôs acerca da regulamentação dos direitos
autorais, com 134 artigos, regulando os direitos de autor a nível nacional, “em
caráter sistemático e autônomo, seguindo-se os reclamos da doutrina, que, pela sua
especificidade e pela multiplicidade de seus aspectos, desaconselhava a sua
inclusão no Código Civil” (BITTAR, 2015, s.p; BRASIL, 1973). Atualmente, os direitos
de autor não constam em disposições expressas do Código Civil de 2002 (BITTAR,
2015, s.p). Outras legislações foram editadas após a Lei de 1973, tratando sobre a
matéria de forma específica ou conexa, sendo o caso dos seguintes diplomas legais:

20 “Os textos fundamentais no Brasil são os seguintes: Decreto 4.790, de 02.01.1924, que definiu os
direitos autorais; Decreto 5.492, de 16.07.1928, que regulou a organização das empresas de
diversões e a locação de serviços teatrais; Decreto 18.527, de 10.12.1928, que aprovou o
regulamento do Decreto 5.492, de 1928; Decreto 20.493, de 24.01.1946, que aprovou o regulamento
do Serviço de Censura de Diversões Públicas; Decreto 2.415, de 09.02.1955, que disciplinou a
licença autoral para execuções públicas e transmissões pelo rádio e televisão; Decreto 1.023, de
17.05.1962, que alterou e revogou disposições do Decreto 18.627, de 1928; Lei 4.944, de
06.05.1966, que disciplinou os direitos conexos, e Decreto 61.123, de 02.05.1967, seu regulamento”
(BITTAR, 2015, s.p).
99

Lei 6.533, de 24.05.1978 (que regulamentou a profissão de artista e de


técnico em espetáculos de diversões), Lei 6.615, de 16.12.1978 (que
regulamentou a profissão de radialista), Lei 6.800, de 25.06.1980 (que
introduziu modificações nos arts. 83 e 117 da Lei 5.988/1973, sobre discos,
cassetes e cartuchos e sobre a inclusão de novas atribuições ao Conselho
Nacional de Direito Autoral), Lei 6.895, de 17.12.1980 (que imprimiu nova
redação aos arts. 184 e 186 do Código Penal) e Lei 7.123, de 12.09.1983
(que revogou o art. 93 e o inciso I do art. 120 da Lei 5.988/1973, extinguindo
o denominado “domínio público remunerado”) (BITTAR, 2015, s.p).

Atualmente, as disposições mais importantes acerca da proteção dos Direitos


de Autor, a nível nacional, residem na Constituição Federal de 1988 e na Lei 9.610
de 19 de fevereiro de 1998, que buscou alterar, atualizar e consolidar a legislação
acerca dos direitos autorais e conexos. Esses instrumentos, bem como os detalhes
com relação ao objeto e a proteção das obras artísticas e literárias serão abordadas
na próxima seção.

4.3 LEGISLAÇÃO E PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PROPRIEDADE


INTELECTUAL NO BRASIL

A Constituição Federal de 1988 consolidou a trajetória da proteção dos


direitos da Propriedade Intelectual e posterior a isso, diversas legislações
infraconstitucionais deram força à disposição da Carta Magna. O art. 5º, incisos
XXVII, XXVIII e XXIX, tratou de reconhecer o direito à propriedade, aos nacionais e
estrangeiros, com especial destaque a propriedade imaterial, conferindo direitos de
exclusividade, aos autores e inventores, por suas obras e invenções, bem como o
direito da exploração econômica, consoante o interesse social e o desenvolvimento
econômico nacional (BRASIL, 1988).
Dessa forma, dado o contexto histórico e a atual legislação, o Brasil dispõe
amplamente da proteção da Propriedade Intelectual de acordo com os fundamentos
que serão abordados a seguir.

4.3.1 Aspectos jurídicos da proteção da Propriedade Industrial

Como visto anteriormente, a Propriedade Industrial é uma espécie da grande


área da Propriedade Intelectual. No Brasil, incluem-se na abrangência da
Propriedade Industrial as patentes de invenção, os modelos de utilidade, desenhos
100

industriais, marcas, indicações geográficas e a repressão dos crimes contra a


propriedade industrial.
Sob a égide constitucional, como dito anteriormente, o art. 5º, inciso XXIX, da
Constituição Federal de 1988, tratou de conferir aos inventores privilégios,
temporários, de exploração e exclusividade sobre as criações industriais.
Compreendendo nessa proteção, conforme o texto constitucional, “à propriedade
das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o
interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País” (BRASIL,
1988).
Nesse contexto, nas subseções seguintes serão abordados o tratamento e o
espaço jurídico destinado para cada modalidade da propriedade industrial
reconhecida no Brasil.

4.3.1.1 Patentes e modelo de utilidade

As patentes de invenção são privilégios concedidos temporariamente pelo


Estado, para que o inventor, ou titular da patente, usufrua dos direitos de
exclusividade e exploração econômica. A concessão desse privilégio tem por
finalidade retribuir e reconhecer os esforços empreendidos pelo inventor no
desenvolvimento da invenção protegida, concedendo-lhe então esse benefício.
Atualmente, o órgão competente para o processamento e deferimento da
propriedade industrial é o Instituto Nacional da Propriedade Industrial21.
Outrossim, a regulamentação acerca da concessão de patentes ou modelo de
utilidade encontram-se dispostos na Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996, que
dedica os artigos 6º ao 93 para o tratamento do tema. Dessa forma, por força de lei,
são conferidos ao autor da invenção ou do modelo de utilidade o status de
propriedade sobre o invento. Por sua vez, a titularidade da patente poderá ser
requerida pelo próprio autor, seus herdeiros, pelo cessionário indicado pela
legislação ou por disposição contratual que determine a titularidade da invenção
objeto do pedido de patente. De todo o modo, é possível o requerimento conjunto da
titularidade da patente, permitindo-se dois ou mais titulares sobre o mesmo invento.
Dessa forma, a legislação não limita o número de titulares de uma patente. Contudo,

21 As especificidades dessa autarquia federal serão tratadas com maior ênfase no quinto capítulo.
101

quando se tratar da mesma invenção, mas de requerimentos distintos e


independentes sobre a titularidade, o direito será conferido aquele que realizou o
depósito por primeiro (BRASIL, 1996).
Considera-se a concessão desse privilégio, dado pelo Estado, uma forma de
retribuir ao inventor pelo trabalho dispensado na criação do invento, reconhecendo o
direito natural existente entre o inventor e a sua criação, “permitindo-lhe explorar a
invenção de modo exclusivo e retirar dela os proveitos materiais que lhe possa
proporcionar e que, via de regra, são proporcionados à sua utilidade” (GAMA
CERQUEIRA, 2010, p. 135). Nesta linha, pode-se conceituar o instituto da patente
como:

[...] um privilégio temporário que o Estado concede a uma pessoa física ou


jurídica pela criação industrial, suscetível de beneficiar a sociedade.
Portanto, a patente deverá responder ao critério de novidade, atividade
inventiva e utilização industrial. O Estado concede a capacidade
condicional, o uso exclusivo de um novo processo produtivo ou a fabricação
de um produto novo vigente por um determinado prazo temporal e, em
troca, o inventor divulga a sua invenção à sociedade. A proteção se firma
com o mecanismo de registro no órgão oficial – Instituto Nacional da
Propriedade Industrial – INPI – e a concessão do título da ‘patente’. Esse
registro será realizado por funcionários técnicos nas diversas áreas, com o
fim de distinguir uma invenção de outra (BOFF,S.; BOFF,V., 2017, p. 35)

Por conseguinte, uma invenção só será passível de ser patenteada quando a


invenção atender aos requisitos de “novidade, atividade inventiva e aplicação
industrial” (BRASIL, 1996). Já quanto ao modelo de utilidade, este deverá atender ao
requisito de aplicação industrial, sob a forma de um objeto de uso prático, que
envolva ato inventivo. O art. 10, por sua vez, elenca as categorias que não são
consideradas invenção, tampouco modelo de utilidade. De tal modo, destaca-se
entre elas que as descobertas não são protegidas22 (BRASIL, 1996).
O requisito da novidade é exemplificado pela própria legislação ao apontar
para a observância do “Estado da Técnica”. Um invento ou modelo de utilidade é
considerado novo, portanto, quando não compreendido no estado da técnica. Essa

22“Art. 10. Não se considera invenção nem modelo de utilidade: I - descobertas, teorias científicas e
métodos matemáticos; II - concepções puramente abstratas; III - esquemas, planos, princípios ou
métodos comerciais, contábeis, financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização; IV -
as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética; V - programas
de computador em si; VI - apresentação de informações; VII - regras de jogo; VIII - técnicas e
métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação
no corpo humano ou animal; e IX - o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos
encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de
qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais” (BRASIL, 1996).
102

condição põe-se a tudo aquilo que está disponível ao conhecimento até o depósito
do pedido de patente, em âmbito nacional e/ou internacional, observadas as
ressalvas dispostas pelos arts. 1223, 16 e 16 (BRASIL, 1996).
Por segundo, o atendimento ao requisito da atividade inventiva, tanto para
invenção quanto para o modelo de utilidade, condiciona-se a um resultado que não
decorra da obviedade ou simplicidade do estado da técnica. Envolve, portanto, a
complexidade do esforço intelectual (BRASIL, 1996).
Por terceiro e último, o requisito da aplicação industrial atende a utilização e
produção no âmbito industrial, significa dizer que o invento e/ou modelo de utilidade
deve ser voltado para a indústria, o que não permite uma concepção artesanal do
objeto. Além das disposições para a concessão da patente, a Lei nº 9.279/96, em
seu art. 18, também dispõe sobre o que não pode ser patenteado 24 (BRASIL, 1996).
Nessa linha, “como se enfatiza, a proteção por patente de uma solução técnica
presume a aplicação industrial. Ou seja, que o objeto da exclusiva seja suscetível de
repetição em escala industrial, sem a intervenção pessoal do usuário” (BARBOSA,
2014, p. 1144).
Satisfeitos os requisitos, sendo suscetível de patenteamento e permitido, o
autor deverá então proceder ao depósito do pedido no INPI, contendo: “I -
requerimento; II - relatório descritivo; III - reivindicações; IV - desenhos, se for o
caso; V - resumo; e VI - comprovante do pagamento da retribuição relativa ao
depósito” (BRASIL, 1996). Atendidos todos os elementos para a efetivação do
depósito, este será considerado a partir da data de recibo. Destaca-se nesse

23 “Art. 12. Não será considerada como estado da técnica a divulgação de invenção ou modelo de
utilidade, quando ocorrida durante os 12 (doze) meses que precederem a data de depósito ou a da
prioridade do pedido de patente, se promovida: I - pelo inventor; II - pelo Instituto Nacional da
Propriedade Industrial - INPI, através de publicação oficial do pedido de patente depositado sem o
consentimento do inventor, baseado em informações deste obtidas ou em decorrência de atos por ele
realizados; ou III - por terceiros, com base em informações obtidas direta ou indiretamente do inventor
ou em decorrência de atos por este realizados. Parágrafo único. O INPI poderá exigir do inventor
declaração relativa à divulgação, acompanhada ou não de provas, nas condições estabelecidas em
regulamento” (BRASIL, 1996).
24 “Art. 18. Não são patenteáveis: I - o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à

ordem e à saúde públicas; II - as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer


espécie, bem como a modificação de suas propriedades físico-químicas e os respectivos processos
de obtenção ou modificação, quando resultantes de transformação do núcleo atômico; e III - o todo ou
parte dos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos que atendam aos três requisitos de
patenteabilidade - novidade, atividade inventiva e aplicação industrial - previstos no art. 8º e que não
sejam mera descoberta. Parágrafo único. Para os fins desta Lei, microorganismos transgênicos são
organismos, exceto o todo ou parte de plantas ou de animais, que expressem, mediante intervenção
humana direta em sua composição genética, uma característica normalmente não alcançável pela
espécie em condições naturais” (BRASIL, 1996).
103

contexto, que o relatório descritivo é de suma importância para a especificação do


objeto, como também que as reinvindicações se apresentem de forma clara e
objetiva. Se por um lado o Estado confere proteção ao invento, ou modelo de
utilidade, concedendo privilégios, é necessário que em contrapartida esse
conhecimento seja disponibilizado (BRASIL, 1996).
Na sequência, o INPI procederá ao exame do pedido, verificando então o
cumprimento de todas as exigências e o exame técnico do objeto da patente, se
necessário, são solicitadas diligências ao depositante. Findo o exame será proferida
a decisão sobre o deferimento ou não da patente. Deferido o pedido, juntamente
com o pagamento correspondente, a patente será concedida, expedindo-se então a
carta-patente (BRASIL, 1996).
Concedida a patente, tratando-se de invenção, será válida pelo prazo de 20
(vinte) anos, já no tocante ao modelo de utilidade, o prazo concedido será de 15
(quinze) anos, ambos contados a partir da data do depósito. Ressalva-se que o
prazo de vigência da patente de invenção não poderá ser inferior a 10 (dez) anos e
quando patente de modelo de utilidade, não poderá ser inferior a 7 (sete) anos.
(BRASIL, 1996). Isso significa que, considerando que um pedido de patente de
invenção tenha levado o prazo de 8 (oito) anos para o seu exame, quando
concedida a patente, o titular poderá gozar dos privilégios pelo prazo de 12 (doze)
anos, totalizando assim, a partir da data de depósito, os 20 (vinte) anos de
concessão da patente. Discorridas sobre as principais etapas da proteção intelectual
por patentes, passa-se a tratar do desenho industrial.

4.3.1.2 Desenho industrial

Os Desenhos industriais partem das mesmas premissas que conferem


proteção aos direitos dos inventores e dos autores, sendo compreendido dentro do
aspecto da propriedade industrial. Trata-se de:

[...] qualquer combinação de linhas ou cores, ou de linhas e cores,


representando não só objetos, imagens ou figuras, como também quaisquer
criações fantasias e arbitrárias e, ainda, simples efeitos decorativos e
motivos ornamentais sem sentido determinado, que emprestem aos objetos
um aspecto particular e característico (SOARES, 1998, p. 138).
104

Nessa seara, a Lei 9.279/96, sobre a Propriedade Industrial, dedica os artigos


94 ao 121 à proteção dos desenhos industriais. Assegura-se ao autor a propriedade
do desenho industrial a partir do registro. Desse modo, afirma a referida legislação,
que o desenho industrial pode ser considerado como “a forma plástica ornamental
de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a
um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração
externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial” (BRASIL, 1996).
Dessa forma, para que o desenho industrial seja passível de registro ele
deverá ser novo, original e servir a fabricação industrial. O pedido de registro deverá
ser direcionado ao INPI. Após o exame do pedido, sendo deferido o registro, este
vigorará pelo período de 10 (dez) anos, reconhecido a partir da data de depósito,
sendo possível a sua prorrogação sucessiva por 3 (três) períodos de 5 (cinco) anos
cada (BRASIL, 1996).
Não obstante, é importante destacar que o desenho industrial, em que pese
se aproximar com a proteção conferida aos direitos de autor ou então a proteção do
direito marcário, é algo distinto desses dois últimos. Com relação ao primeiro,
diferencia-se pelo seu aspecto de reprodução industrial, configurando objeto
ornamental que não possui fim puramente estético ou artístico, mas com finalidade
industrial. O segundo difere também das marcas, pois tem como objetivo revelar o
projeto a ser seguido para a sua fabricação e não como signo distintivo que visa dar
identidade e distinguir um determinado produto ou serviço, a diferença aqui reside
entre a função ornamental e a função marcária. O instituto da proteção por marcas
se verá na subseção a seguir sobre a proteção marcária no ordenamento brasileiro
(BARBOSA, 2015, p. 19 – 31).

4.3.1.3 Marcas

As marcas são compreendidas como signos distintivos, juntamente com o


nome comercial, os nomes de domínio e as indicações geográficas, que buscam
identificar e diferenciar um determinado produto ou serviço no mercado. Também
são protegidas pela Lei 9.279/96, recebendo especial tratamento entre os artigos
122 e 175, sendo compreendida como:
105

[...] uma das formas de proteção pelos direitos de propriedade intelectual,


pode ser entendida como o sinal que permite ao consumidor a identificação
da origem do produto. A marca integra um amplo sistema de sinais que
aproximam o consumidor do produtor e do comerciante em um mundo sem
barreiras físicas, ao contrário do tempo em que o fabricante e o comerciante
vendiam seus produtos nos mercados das cidades (COPETTI, 2006, p.
204).

Concedido o registro, a proteção vigorará por 10 (dez) anos a partir da data


de concessão, sendo prorrogável por igual e sucessivo período, não existindo
limitação para o número de renovações. O reconhecimento do registro confere ao
seu titular o direito de exclusividade sobre a marca e por consequência a exploração
dos benefícios advindos desse sinal distintivo (BRASIL, 1996).
Norteia o sistema marcário três princípios basilares: o princípio da
territorialidade, o princípio da especialidade e o sistema atributivo. Significa dizer que
pelo princípio da territorialidade os direitos sobre a marca terão abrangência apenas
em território nacional, salvo aplicação do princípio unionista; já o princípio da
especialidade, trata da conexão entre o produto ou o serviço e a marca conferida a
estes; por último, o sistema atributivo compõe o núcleo do sistema marcário que se
rege pela atribuição do direito mediante registro (BRASIL, 1996).
Objetivamente, “todo nome ou sinal hábil para ser aposto a uma mercadoria
ou um produto, ou para indicar determinada prestação de serviço e estabelecer a
identificação entre consumidor ou usuário e a mercadoria, produto ou serviço,
constitui marca” (SILVEIRA, 2014, p.14).
Nessa linha, as marcas são classificadas por sua natureza e pela forma de
apresentação. Quanto à natureza, as marcas são classificadas como de produto,
serviço, coletivo ou de certificação. Quanto às formas de apresentação podem ser
nominativas, figurativas, mistas ou tridimensionais (BRASIL, 1996).
No tocante ao nome empresarial, esse é o nome ou a firma escolhida pelo
empresário para identificar a sua empresa, seja ela individual ou societária, adotada
no contrato ou no estatuto das organizações empresariais (SILVEIRA, 2014, p. 14-
15).
Os nomes de domínio permitem a navegação facilitada na internet por meio
de endereços prenomeados. Esses endereços, ou nomes de domínio, associam-se
com produtos, serviços ou informações conferidas a um determinado titular. Desse
modo, sua funcionalidade é guiar o internauta, com segurança, na sua busca virtual.
106

Por essa razão, em que pese a sua natureza jurídica ainda não ser consolidada no
mundo jurídico, suas características contemplam a forma dos signos distintivos,
sendo reconhecido como um bem intangível, passível de proteção pela Propriedade
Intelectual (BARBOSA, 2016).
Em especial, tratar-se-á na próxima subseção, com maior atenção, a respeito
das indicações geográficas em virtude da sua afinidade com a temática da
propriedade intelectual e alimentos.

4.3.1.4 Indicações geográficas

Seguindo a linha dos signos distintivos, as indicações geográficas são um


instituto jurídico capaz de identificar a procedência de determinado produto ou
serviço indicando a sua origem geográfica. Significa dizer que o reconhecimento de
uma indicação geográfica eleva o status de um produto ou serviço por pertencer,
com exclusividade, a uma determinada região. Do mesmo modo que as marcas, as
indicações geográficas buscam distinguir os produtos no mercado de consumo. Por
derradeiro, o objetivo principal dessa modalidade de proteção jurídica “é
regulamentar o uso de nomes, ou marcas de produtos, ou serviços, relacionados
especificamente à região em que estes são produzidos ou oferecidos, ou ainda à
qualidade resultante essencialmente do fato de serem produzidos nestas regiões”
(LOCATELLI, 2006, p. 235).
Compreendida no âmbito da Propriedade Industrial, mesmo que de forma
ínfima, as indicações geográficas são reconhecidas pela Lei 9.279/96. Disposta em
7 (sete) artigos, a legislação brasileira trata de classificar as indicações geográficas
em duas categorias: indicação de procedência e denominação de origem.
A primeira categoria reconhece-se como indicação de procedência o nome de
uma determinada localidade que “se tenha tornado conhecido como centro de
extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de
determinado serviço” (BRASIL, 1996). A segunda categoria, denominação de
origem, é o instituto pelo qual se reconhece determinada localidade na proteção de
um produto ou serviço pelas qualidades ou características intrínsecas ao meio
geográfico em que o deu origem (BRASIL, 1996).
107

As indicações geográficas não possuem prazo de validade e reporta-se ao


Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) a competência para o seu registro.
Ainda, destaca-se que, “o uso da indicação geográfica é restrito aos produtores e
prestadores de serviço estabelecidos no local, exigindo-se, ainda, em relação às
denominações de origem, o atendimento de requisitos de qualidade”, nos termos da
lei (BRASIL, 1996).

4.3.1.5 Dos crimes contra a Propriedade Industrial

Visando conferir maior proteção jurídica aos institutos da Propriedade


Industrial, a Lei 9.279/96 tipifica como crime e prevê sanções às violações contra
patentes, desenhos industriais, marcas, indicações geográficas e a conduta da
concorrência desleal.
Em geral, as violações a esses direitos configuram sob o aspecto do uso,
reprodução ou exploração não autorizados que ferem os direitos dos titulares e
apropriam-se indevidamente da propriedade imaterial. Como regra geral, as penas
previstas são de detenção e/ou multa, sem afastar a possibilidade de indenizações
na esfera cível de acordo com cada caso (BRASIL, 1996).

4.3.2 Aspectos jurídicos da proteção dos Direitos de Autor

A proteção dos Direitos de Autor e Direitos Conexos no Brasil possui amparo


constitucional e é regida pela Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, seguindo as
orientações da ordem internacional proposta pela Convenção de Berna de 1886.
Diferentemente da propriedade industrial, as obras intelectuais não precisam de
registro para obter proteção jurídica, sendo necessário apenas que se afixe a obra
em um suporte capaz de identificar a sua autoria.
No âmbito das obras passíveis de proteção, encontram-se aquelas de
produção intelectual, criações do espírito, expressas ou afixadas em suporte,
palpáveis ou não, que envolvam, conforme art. 7º da Lei nº 9.610:

I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas; II - as conferências,


alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza; III - as obras
dramáticas e dramático-musicais; IV - as obras coreográficas e
pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por escrito ou por outra
108

qualquer forma; V - as composições musicais, tenham ou não letra; VI - as


obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas; VII -
as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao da
fotografia; VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e
arte cinética; IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da
mesma natureza; X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à
geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e
ciência; XI - as adaptações, traduções e outras transformações de obras
originais, apresentadas como criação intelectual nova; XII - os programas de
computador (BRASIL, 1998).

Do mesmo modo que a legislação sobre os direitos autorais determina as


obras contempladas pela proteção dos direitos de autor, define também aquelas que
não são objeto dos direitos de autor, compreendendo nos dois primeiros incisos do
art. 8º “as idéias [sic], procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos ou
conceitos matemáticos como tais; os esquemas, planos ou regras para realizar atos
mentais, jogos ou negócios” (BRASIL, 1998)., tais práticas consistem em
atividades/reservas mentais que não são exteriorizadas ou fixadas em um suporte,
não sendo possível a sua proteção nessa fase. Contudo, se uma ideia for posta em
prática, desenvolvendo-se a partir desta um objeto como um livro, um quadro ou
uma música, o resultado final poderá ser protegido pelos direitos de autor (BRASIL,
1998).
Na sequência, ainda não são passíveis de proteção “os formulários em
branco para serem preenchidos por qualquer tipo de informação, científica ou não, e
suas instruções; os textos de tratados ou convenções, leis, decretos, regulamentos,
decisões judiciais e demais atos oficiais” (BRASIL, 1998). Nesse ponto, esses
formulários e textos não alcançam a proteção dos direitos de autor, pois tais
informações são de cunho público e informativo, que não resguardam fundamento
para uma proteção que confira direitos de exclusividade e exploração econômica
(BRASIL, 1998).
De igual forma, Silveira (2014, p. 54) assevera que “as informações de uso
comum tais como calendários, agendas, cadastros ou legendas; os nomes e títulos
isolados; o aproveitamento industrial ou comercial das idéias [sic] contidas nas
obras” não podem ser protegidos pelos direitos de autor. De um modo geral, “essas
exclusões eram absolutamente necessárias em virtude daqueles que abusavam do
sistema de registro de direitos autorais para reclamar pretensos direitos perante
terceiros” (SILVEIRA, 2014, p. 54).
109

Ao ponto, o direito autoral confere aos autores os direitos morais e


patrimoniais sobre as obras protegidas. Segundo a legislação, “autor é a pessoa
física criadora de obra literária, artística ou científica” (BRASIL, 1998), podendo ser
pessoa jurídica nos casos previstos pela lei. Compreende-se como direitos morais
atribuídos aos autores: a reivindicação da autoria da obra, a atribuição de créditos, a
conservação do ineditismo, a integridade da obra, a possibilidade de modificá-la a
qualquer tempo, retirar de circulação, acessar exemplar único e raro da sua obra
quando encontrar-se em poder de terceiros. Falecendo o autor os direitos morais
são transmitidos aos seus sucessores, já no caso de obra caída em domínio público
compete ao Estado a defesa de sua integridade. Por fim, “os direitos morais do autor
são inalienáveis e irrenunciáveis” (BRASIL, 1998).
No tocante aos direitos patrimoniais, estes conferem a exclusividade sobre a
utilização da obra, sendo passível de negociação a sua reprodução, podendo ser
disponibilizada ao público a título oneroso ou gratuito. Nesse contexto, não há
limitação temporal para a proteção dos direitos de autor, existindo demarcação de
prazo apenas para depois do falecimento do autor, determinado em setenta anos
após a sua morte. Já as obras anônimas ou pseudônimas e também as obras
audiovisuais e fotográficas recebem o prazo de setenta anos para a sua proteção,
no caso, durante a vida de seus autores. Decorrido o prazo de proteção a obra cairá
em domínio público (BRASIL, 1998).
Em sintonia com as disposições acima, os direitos de autor aplicam-se aos
“artistas intérpretes ou executantes, dos produtores fonográficos e das empresas de
radiodifusão”, sendo compreendidos como direitos conexos (BRASIL, 1998).
Dentro do contexto de proteção dos direitos de autor, encontra-se também a
proteção do software, expressamente excluído do âmbito da Propriedade Industrial
pela Lei 9.279/96. Diferentemente das obras artísticas ou literárias, a proteção do
software recebe especial atenção na Lei nº 9.609/98. O seu registro é facultativo e
compete ao INPI. Os direitos de autor conferidos ao software findam em 50
(cinquenta) anos, não são atribuídos nesse âmbito os direitos morais conferidos pela
Lei de Direitos Autorais (BRASIL, 1998b). Nesse sentido, corrobora Figueiredo e
Silva:

Apesar do programa de computador estar incluído na proteção dos Direitos


Autorais, com relação aos direitos morais do autor, de acordo com o § 1º di
110

art. 2º, nem todas as disposições da Lei de Direitos de Autorais são


mantidas pela Lei do Programa de Computador (n. 9.609/98). São
assegurados ao autor apenas os direitos de reivindicar a paternidade do
programa de computador; de se opor a alterações não autorizadas apenas
quando estas impliquem deformação, mutilação ou outra modificação do
programa de computador que possam prejudicar sua honra ou a sua
reputação; e o de ter acesso a exemplar único e raro da obra (FIGUEIREDO
E SILVA, 2015, p. 46).

Abordados os aspectos jurídicos da Propriedade Industrial e dos Direitos de


autor no âmbito do Direito Brasileiro, parte-se, na próxima subseção, para a terceira
ramificação da Propriedade Intelectual de atribuição sui generis.

4.3.3 Aspectos jurídicos da proteção sui generis

O âmbito da propriedade intelectual designada “sui generis” é uma


classificação para compreender aqueles direitos que não são contemplados nem
pelos direitos de autor e tampouco pela propriedade industrial, são, por exemplo, o
caso das cultivares, da proteção de dados, da topografia de circuito integrado e dos
conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade. Nesta subseção, por
afinidade ao objeto do presente estudo, será abordada a proteção das cultivares e
dos conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade.

4.3.3.1 Cultivares

A legislação brasileira reconhece a proteção de cultivares por meio da Lei nº


9.456, de 25 de abril de 1997, seguindo a orientação internacional estipulada pela
Convenção Internacional para a Proteção de Obtenções Vegetais (UPOV),
compreendendo a cultivar como um bem móvel incluso no âmbito da Propriedade
Intelectual.
As cultivares são melhoramentos realizados pelo homem, que modificam
espécies de plantas da sua formação original, resultando em outra variedade,
passível de proteção em razão do esforço intelectual empreendido para essa
modificação. Esses direitos são conferidos aos obtentores, sendo atribuído, após a
concessão do Certificado Provisório de Proteção, 15 (quinze) anos para as espécies
anuais e 18 (dezoito) anos para as espécies perenes (BRASIL, 1997). Nesse
sentido:
111

Os direitos relativos à propriedade intelectual sobre a nova cultivar são


obtidos por meio de certificação, que garante ao titular o direito de
reprodução comercial no território brasileiro, ficando vedado a terceiros,
durante o prazo de proteção, a produção com fins comerciais, o
oferecimento à venda ou a comercialização do material de propagação da
cultivar sem sua autorização (BOFF, 2009, p. 49).

Não obstante, importante frisar que a proteção intelectual das cultivares e das
invenções são distintas. Primeiramente, diferenciam-se em termos de proteção legal,
ou seja, a legislação atribuída a cada caso é distinta, tanto na esfera internacional
como na esfera nacional. Por segundo, os prazos de proteção atribuídos em cada
situação são diferentes, enquanto para a proteção de cultivares atribuem-se 15
(quinze) e 18 (dezoito) anos, para a proteção por patentes atribuem-se 20 (vinte)
anos. Por terceiro, diferenciam-se quanto ao objeto, enquanto a cultivar irá criar uma
nova variedade a partir da composição natural, a invenção protegida por patentes
precisará empregar os requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação
industrial, demandando, por exemplo, uma alteração genética para o atendimento
dos requisitos de patenteamento (LIPPSTEIN; BOFF, 2013).
Outrossim, também não são passiveis de contemplação pelos direitos de
autor e pela propriedade industrial, os conhecimentos tradicionais associados à
biodiversidade, razão pela qual recebem a classificação sui generis, assunto que se
passa a tratar a seguir.

4.3.3.2 Conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade

Compondo o grande arcabouço que é o conhecimento humano, os


conhecimentos tradicionais originam-se das experiências que os povos étnico-
culturais viveram, amadureceram e transmitiram aos seus descendentes através dos
tempos. Tais experiências decorrem do contato das comunidades tradicionais com o
meio ambiente, integrando nesse conhecimento informações sobre plantas
medicinais, alimentos, interpretações ambientais, manejo de solo, processos de cura
de enfermidades, dentre outras possibilidades.
Em razão da riqueza de informações em torno das comunidades tradicionais,
os conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade (CTA) são ambicionados
pelo mundo, no intuito de desenvolver pesquisas, a partir dessas informações, de
112

forma mais rápida. Por quase 15 (quinze) anos, a regulamentação do acesso aos
CTA e a biodiversidade estiveram sob a proteção da Medida Provisória nº 2.186-
16/01, revogada então pela Lei nº 13.123 de 2015, que promoveu o novo marco
legal da Biodiversidade, sendo a principal legislação vigente.
Reside nesse cenário o papel regulador do Direito como um ponto de
equilíbrio entre os direitos individuais e coletivos, entre o conhecimento tradicional e
científico, entre a cultura tradicional e a tecnológica, com base nos princípios gerais
do Direito, em especial da dignidade da pessoa humana e da proteção ambiental,
que entonam uma sociedade mais justa, desenvolvida e fraterna (BOFF; PIMENTEL,
2007, p. 295).
Por essa razão, é íntima a relação dos CTAs com o Direito de Propriedade,
especialmente o Direito da Propriedade Intelectual, que deve conferir proteção e
garantias aos autores/inventores sobre as suas obras/invenções, sem dissociá-la da
função social da propriedade (BOFF; PIMENTEL, 2007, p. 295).
De acordo com a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos
Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), criada por meio do Decreto 6.040/07
como política pública, para atender os interesses dessas comunidades com fulcro na
sustentabilidade, são considerados povos e comunidades tradicionais, no território
nacional, aqueles compreendidos por:

grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que


possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam
territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural,
social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos,
inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição; [...] (BRASIL,
2007a).

Nessa linha, a Lei da Biodiversidade traça conceitos operacionais sobre os


objetos de sua proteção e estipula os mecanismos necessários para a efetividade de
suas disposições. Buscando regular os dispositivos da Constituição Federal de 1988
e da Convenção sobre Diversidade Biológica, a Lei nº 13.123/15, basicamente,
determina quem e o que está protegido no âmbito da Lei da Biodiversidade, quais
são as regras e critérios para o acesso e à repartição dos benefícios advindos desse
acesso (BRASIL, 2015).
Dispondo sobre bens, direitos e obrigações relacionados às comunidades
tradicionais e o patrimônio genético (biodiversidade), a Lei da Biodiversidade trata:
113

do acesso ao patrimônio genético nacional, compreendido como bem público; do


conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético; do acesso e
transferência da tecnologia no emprego da preservação da biodiversidade; da
exploração econômica de produtos/resultados advindos do patrimônio genético ou
do CTA; da repartição justa e equitativa dos benefícios envolvendo acesso ao
patrimônio genético ou CTA; da remessa ao exterior de material do patrimônio
genético; e por último, da implementação de tratados internacionais que disponham
sobre a matéria e tenham sido aprovados pela casa legislativa nacional (BRASIL,
2015).
Com a incumbência de administrar e fiscalizar as previsões da legislação foi
designado o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen), vinculado ao
Ministério do Meio Ambiente. Com formação plural, o conselho deverá ser composto
por 60% de participação da administração pública federal e 40% de representantes
da sociedade civil, sendo obrigatória a paridade entre: “I - setor empresarial; II - setor
acadêmico; e III - populações indígenas, comunidades tradicionais e agricultores
tradicionais” (BRASIL, 2015).
Por meio do Decreto nº 8.772/16, o Sistema Nacional de Gestão do
Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado (SisGen) foi criado
como um instrumento para canalizar as atividades de competência do CGen, sendo
implementado efetivamente em novembro de 2017. Em relatório, o SisGen divulgou
que de 06/11/2017 a 15/10/2018 foram cadastrados 12.456 usuários, sendo 373
instituições validadas, 11.819 cadastros de acesso, 279 cadastros de remessa e 261
notificações de produto (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, [2018?]).
Ao ponto e em suma, o acesso ao patrimônio genético e aos conhecimentos
tradicionais associados depende de cadastro e autorização pelo órgão competente,
no caso, pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen), sendo que
qualquer produto ou resultados advindos desse acesso deverão observar as
diretrizes da Lei da Biodiversidade sobre a repartição de benefícios.
Quando a exploração econômica tratar de produto/resultado do acesso ao
patrimônio genético ou ao CTA de origem não identificável deverão compor o acordo
de repartição de benefícios a União, representada pelo Ministério do Meio Ambiente,
e o agente que promoveu o produto. Já no caso de envolver acesso ao patrimônio
genético e, também, aos conhecimentos tradicionais associados, de origem
114

identificável, deverão compor o acordo o detentor dos CTA’s e o explorador


econômico. Neste último caso, a União não configura parte no acordo sobre a
repartição de benefícios, mas em razão do acesso ao patrimônio genético, o usuário
deverá depositar valores no Fundo Nacional para a Repartição de Benefícios
(FNRB) (BRASIL, 2015, art. 25). Nessa linha, o acordo deverá dispor,
obrigatoriamente, das seguintes cláusulas: “I - produtos objeto de exploração
econômica; II - prazo de duração; III - modalidade de repartição de benefícios; IV -
direitos e responsabilidades das partes; V - direito de propriedade intelectual; VI -
rescisão; VII - penalidades; e VIII - foro no Brasil” (BRASIL, 2015, art. 26).
Para as violações das disposições previstas pela Lei da Biodiversidade, são
previstas sanções administrativas, como advertência, multa e apreensão das
amostras, instrumentos e produtos derivados do acesso irregular e não autorizado
ao patrimônio genético e/ou CTA, sem prejuízo das sanções penais e cíveis quando
cabíveis (BRASIL, 2015, art. 27).
Nesta seção foram abordados os aspectos técnico-legislativos acerca da
proteção jurídica nacional dos Conhecimentos Tradicionais Associados à
Biodiversidade. A discussão acerca das dicotomias da atual conjuntura legal sobre a
proteção dos CTAs, dos critérios para acesso conforme normativas do CGen e as
implicações no âmbito da Propriedade Industrial serão discutidos no quinto capítulo,
que encerra o presente estudo. A seguir, serão abordados os aspectos regulatórios
específicos das criações em alimentos funcionais e os dados sobre a atividade
inventiva no Brasil nessa área.
115

5 BIOTECNOLOGIA E ALIMENTOS FUNCIONAIS: ASPECTOS REGULATÓRIOS

O presente capítulo ocupa-se em demonstrar a base conceitual dos alimentos


funcionais, a partir da literatura relacionada à nutrição e à saúde humana, bem como
abordar a legislação pertinente na proteção, registro e compreensão jurídica desses
alimentos, em especial no tocante à proteção das criações em biotecnologia.
Do mesmo modo, são evidenciados também, os órgãos regulatórios e
autarquias envolvidas com a regulamentação e a proteção das criações em
alimentos funcionais, com o intuito de discutir atos administrativos e a competência.
Por fim, ressalta-se o tratamento jurídico de outros países, que se destacam
na detenção da tecnologia, como base para a reflexão de um sistema de patentes
eficiente na proteção dos alimentos funcionais, acompanhado da exposição de
dados relativos ao período de 2005 a 2015, a respeito das patentes depositadas no
Brasil que envolvem alimentos funcionais. A seguir, será abordado o contexto
regulatório, no âmbito nacional e internacional, relativo a matéria da biotecnologia
em alimentos.

5.1 BIOTECNOLOGIA EM ALIMENTOS: CONTEXTO REGULATÓRIO NACIONAL E


INTERNACIONAL

A biotecnologia torna possível a intervenção humana na natureza com o fim


de adaptá-la às diferentes situações e necessidades. Desse modo, a biotecnologia
resulta da combinação da biologia com a tecnologia, ou seja, a vida manejada pela
ciência. Portanto, pode tratar de diversos segmentos, como meio ambiente,
engenharia genética, medicamentos, processos agrícolas e em especial, a indústria
de alimentos.
Em conjunto com os avanços científicos e tecnológicos também acompanham
as preocupações éticas e a necessidade do estabelecimento de limites para o bom
uso do poder e do conhecimento, formando assim a Bioética. Nesse contexto, em
2005, durante a Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), foi firmada a Declaração Universal
sobre Bioética e Direitos Humanos que pauta pelo respeito absoluto à dignidade da
116

pessoa humana, com a devida observação dos Direitos Humanos e das liberdades
individuais, com o estabelecimento de diretrizes e princípios globais que orientam a
pesquisa cientifica e, em especial, a interação ciência e seres vivos (UNESCO,
2006).
No findar do século XX, Rifkin (1999) aponta para o novo século, o século
XXI, como o século da biotecnologia, no qual as questões mais íntimas relacionadas
à vida do ser humano, como alimentação, saúde, geração de filhos, alterações
genéticas, dentre outros, estarão sob o domínio da biotecnologia e a preocupação
central será com a regulamentação ética e científica do desempenho dessas
atividades, uma vez que:

A revolução biotecnológica afetará cada um de nós mais direta, substancial


e intimamente que qualquer outra revolução tecnológica da história. Só por
essa razão, cada ser humano já tem interesse direto e imediato na direção
que a biotecnologia tomará no próximo século. Até o presente, o debate
sobre essa questão envolveu um limitado grupo de biólogos moleculares,
executivos empresariais, planejadores políticos e críticos. Com a grande
quantidade de novas tecnologias que estão sendo introduzidas no mercado
e em nossa vida, chegou o momento de estender o diálogo aos benefícios e
riscos dessa nova ciência, ultrapassando o âmbito das autoridades e
“especialistas” profissionais de ambos os lados e incluindo a sociedade
como um todo. Essa discussão deverá ser tão profunda quanto ampla. A
revolução biotecnológica levanta questões fundamentais sobre a natureza
da ciência, os tipos de novas tecnologias que introduzimos no mercado e o
papel do comércio nas questões inerentes à biologia (RIFKIN, 1999, p. 247).

Nesse aspecto é que se destaca, justamente, o ponto de partida para a


regulamentação dos assuntos envolvendo a biossegurança e a biotecnologia, com a
Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005, que trata de regulamentar II, IV e V do § 1º
do art. 225 da Constituição Federal de 1988, bem como dispõe sobre a Política
Nacional de Biossegurança (PNB). A Lei da Biossegurança estipula os parâmetros
para todas as atividades que envolvam organismos geneticamente modificados
(OGM), criando para tal fim o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), seguida
da reestruturação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)
(BRASIL, 2005).
Outrossim, no tocante especialmente à biotecnologia, cumpre mencionar que
o atual contexto regulatório do Brasil, até o momento, encontra-se reduzido ao
Decreto nº 6.041, de 8 de fevereiro de 2007, disposto em 10 artigos e um anexo.
Inicialmente, trata a referida legislação de conceituar os aspectos relativos à
biotecnologia, definindo na sequência as áreas estratégicas e órgãos públicos
117

envolvidos, bem como os objetivos pretendidos com o desenvolvimento dessa


política. Desde o seu decreto, a Política de Desenvolvimento da Biotecnologia não
passou por nenhuma alteração ou inclusão legislativa, apenas sofreu a exclusão dos
art. 4º e 9º, revogados pelo Decreto nº 9.784, de 2019, que tratavam do Comitê
Nacional de Biotecnologia (BRASIL, 2007b).
Sucinto, o Decreto nº 6.041 trata de priorizar quatro grandes áreas
relacionadas à saúde humana, agropecuária, indústria e por último, a área
ambiental. Desse modo, a prioridade atribuída à área da saúde humana tem por
finalidade o estímulo de tecnologias que resultem em produtos relevantes para a
saúde humana, tornando a bioindústria brasileira competitiva no cenário
internacional. Em segundo, a área da agropecuária visa à conquista de novos
mercados por meio da produção e da inovação com foco na segurança alimentar.
Em terceiro, a área industrial, possui foco na produção nacional, com objetivo de
alcançar a competitividade por meio do estímulo à inovação. Enfim, a quarta área,
voltada a questão ambiental reúne todas as intenções anteriores com o acréscimo
de princípios sustentáveis e o uso racional da biodiversidade, bem como a
compreensão da inclusão social e o emprego de tecnologias ecologicamente
corretas (BRASIL, 2007).
Visando à consolidação da biotecnologia e da bioindústria, a política brasileira
estabelece programas específicos que contemplam investimentos, recursos
humanos, infraestrutura e marcos regulatórios. Basicamente os três primeiros
tratam da disponibilidade de recursos, sejam eles de capital, infraestrutura ou
humanos. O terceiro programa, relativo aos marcos regulatórios visa, dentre outros,
privilegiar as ações voltadas para o fortalecimento da inovação e da propriedade
intelectual, da segurança pautada pela bioética e biossegurança, do acesso ao
patrimônio genético e a repartição de benefícios, bem como a formação de um
sistema de avaliação de conformidade do material biológico, para a demonstração
da qualidade dos produtos envolvidos no processo, e, por fim, aprimorar os
processos de gestão e de serviços que visam atender à bioindústria, em especial, a
propriedade intelectual e a informação tecnológica (BRASIL, 2007b).
Na diretriz dedicada ao fortalecimento da Propriedade Intelectual, o principal
objetivo pauta-se em “promover o uso estratégico da propriedade intelectual a fim de
assegurar maior competitividade à biotecnologia nacional e que os resultados sejam
118

revertidos em prol do desenvolvimento nacional”. A partir desse objetivo geral,


desdobram-se os específicos, priorizando primeiramente, em particular, o de
“Incrementar o número de patentes biotecnológicas de titularidade brasileira no
Brasil e no exterior”. Na sequência, de modo geral, visa estimular, fomentar e
promover o fortalecimento e a gestão da propriedade intelectual entre os individuais,
a indústria, centros de pesquisa e Poder Público, voltados para o desenvolvimento
de produtos, inovação e comercialização, por meio do diálogo entre esses atores.
Essas ações têm como finalidade a competitividade e o destaque da bioindústria
brasileira a partir do uso eficiente e de uma cultura que envolva os direitos da
propriedade intelectual. Resguarda ainda a proteção dos conhecimentos
pertencentes às comunidades tradicionais, bem como indica a necessidade de
órgãos especializados para dirimir conflitos envolvendo PI. Além disso, busca revisar
e fortalecer, continuamente, a proteção aos cultivares, bem como estimular o
melhoramento genético animal (BRASIL, 2007b).
Em correlação à biotecnologia, de forma ampla, a Lei de Inovação
Tecnológica, Lei nº 10.973/04 e a Lei do Bem, Lei nº 11.196/05, objetivam fomentar
o desenvolvimento, a pesquisa e a inovação tecnológica. A primeira visa
regulamentar os artigos “23, 24, 167, 200, 213, 218, 219 e 219-A da Constituição
Federal”, estabelecendo “medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e
tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação tecnológica, ao alcance
da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento do sistema produtivo nacional e
regional do País” (BRASIL, 2004). A segunda atribui incentivos fiscais com tributação
diferenciada para as empresas que promovam a inovação tecnológica. Ambas
compõem as estratégias de fomento da Administração Pública para a pesquisa e
desenvolvimento (BRASIL, 2005).
Nesse interim, as patentes são importantes indicadores da inovação para a
biotecnologia. Especialmente para os setores da agricultura, fármacos, bioquímica,
ambiental e alimentos. Nesse contexto, os Estados Unidos, desde a segunda
metade depois do século XX, está à frente na liderança destas tecnologias, seja pela
prioridade de investimentos ou pelas estratégicas público-privadas (FREITAS;
ZUCOLOTO, 2013, p. 33). Desse modo:

Sob tais considerações, o caso dos Estados Unidos pode ser considerado
representativo no uso e patenteamento de inovações baseadas em
119

biotecnologias por conta de algumas características específicas, como por


exemplo: i) particularidade da trajetória histórica de acúmulo de
conhecimento e articulação entre academia e setor produtivo; ii) aportes
governamentais que raramente desprezaram os sistemas de produção
agropecuário, de defesa e energético; e iii) visão pragmática quanto ao uso
dos conhecimentos científicos e atribuição de direitos de propriedade,
inclusive com a construção de um sistema de monitoramento e avaliação
tecnológicas e geração de jurisprudências (FREITAS; ZUCOLOTO, 2013, p.
38).

A legislação estadunidense é voltada mais para o que pode ser patenteado do


que para o aspecto da vedação ou restrição das atividades inventivas, não tratando
explicitamente das proibições, o que viabiliza um espaço maior de possibilidades
para a apresentação de novidades. Por consequência, eventual divergência quanto
a possibilidade de patenteamento ou não de determinado objeto, terá que ser
resolvida pelo sistema judiciário local (FREITAS; ZUCOLOTO, 2013, p. 40).
Com base na bandeira do livre mercado e da intervenção mínima do Estado,
os Estados Unidos são, predominantemente, contrários à concessão de licenças
compulsórias, previstas pelo TRIPs, sendo, em especial, a lei de patentes, omissa
quanto à especificação do assunto. No entanto, em outras legislações do país, pode-
se verificar algumas hipóteses de licenças, em situações específicas, como por
exemplo, a possibilidade de o governo norte-americano, mediante justa
remuneração, utilizar qualquer patente que justifique interesse nacional (FREITAS;
ZUCOLOTO, 2013, p. 45).
Nota-se que os Estados Unidos possuem uma ampla legislação a respeito do
tratamento da biotecnologia, leis gerais e também específicas, que podem incidir
sobre uma única patente, de modo simultâneo. No entanto, esse sistema não é
proibitivo, funcionando reativamente quando provocado e possibilitando maior
liberdade criativa, sob o controle do sistema judiciário. Contudo, o fator que o
diferencia dos demais e que talvez o torne bem-sucedido, é a perfeita sintonia entre
“universidades, agências governamentais e empresas privadas são regidas por
regras formais e informais já bem estabelecidas. Isto propicia um moto efetivo em
termos de resultados, e com intensa cooperação negociada entre os agentes”
(FREITAS; ZUCOLOTO, 2013, p. 49, grifo do autor).
Após a década de 90, a União Europeia (UE), ganha notoriedade pelo
emprego da tecnologia, da produção e as formas de regulamentação da atividade de
biotecnologia, especialmente pelo empenho do Reino Unido, Alemanha e França,
120

seguidos dos países nórdicos e países baixos. A política tecnológica voltada para a
cooperação, essencialmente na parceria público-privado, como também na
participação dos agentes internacionais, é um importante fator no desenvolvimento
da biotecnologia europeia, considerando a presente diversidade nesse grupo. No
aspecto legislativo, a UE concentra uma norma geral sobre as criações
biotecnológicas e possui um caráter mais restritivo e cauteloso em comparação com
os EUA (FREITAS; BIANCHI, 2013, p. 62). Nesse contexto,

[...] as normas regulatórias em patentes biotecnológicas na UE apresentam


elevado grau de especialização. A UE guarda também disparidades internas
quanto às capacitações e infraestrutura laboratorial dos países-membros
para a realização de P&D (no limite de patentes) em biotecnologias. De
certa forma, as normatizações locais em biotecnologias procuram também
resguardar a condição dos países líderes do grupo, sociedades que
atingiram patamares científicos e de organização social particularmente
complexos, o que acaba por se refletir nas próprias regulamentações da
União (FREITAS; BIANCHI, 2013, p. 84).

Como dito anteriormente, a biotecnologia pode atender a diferentes


necessidades do ser humano, desde a agricultura, produção de medicamentos,
manipulação genética, em especial, a manipulação de alimentos, dentre outros.
Particularmente, os alimentos funcionais têm recebido a atenção da biotecnologia
por seu potencial medicinal, unindo áreas já exploradas, anteriormente, pela
biociência. Desse modo, a biotecnologia age de tal forma que, a partir de uma
determinada espécie ou recurso natural encontrado na origem, é capaz de modificar
“seus genes e, dos cruzamentos, separam-se as melhores combinações genéticas.
Desse modo, aumentam-se a resistência, os fatos bióticos e abióticos, o valor
nutritivo ou alguma outra qualidade” (VARELLA, 1996, p. 50).
Nessa linha, a busca, cada vez mais frequente, por uma alimentação especial
voltada para a manutenção da saúde humana, tanto sob o aspecto preventivo
quanto terapêutico, desafia a biotecnologia a inovar em alimentos funcionais. Dessa
forma, os alimentos voltados para dietas específica, com foco na saúde humana,
representam, em sua grande parte, processos de manipulação e intervenção
científica que tem por objetivo a alteração, combinação ou extração de determinados
componentes, além de influenciar no processo produtivo e de como esses alimentos
apresentam-se aos seus consumidores.
121

A biotecnologia, portanto, colabora no desenvolvimento de alimentos mais


saudáveis ou nutritivos, potencializando seus efeitos benéficos e mesmo,
neutralizando as implicações negativas. Nessa esteira, os alimentos funcionais
diferenciam-se dos tradicionais pelas peculiaridades de benefícios a saúde humana.
Outrossim, destaca-se o trabalho da biotecnologia no melhoramento genético, em
especial no Brasil, na suplementação de aminoácidos; alterações metabólicas do
milho; melhoramento do potencial de isoflavonóides no grão de soja, que atuam na
prevenção de doenças coronarianas; na solução das deficiências em vitamina A do
arroz ou na modificação de genes nas variedades de canola para redução do
colesterol (SANTOS; FERNANDES; FERNANDES, 2012), desse modo:

Os alimentos geneticamente modificados por meio da Engenharia Genética


que têm genes com características importantes para o agronegócio podem
apresentar também características interessantes para a saúde humana,
proporcionando aumento na qualidade e quantidade de nutrientes
específicos em culturas alimentares. Alimentos com teores mais adequados
de ferro, aminoácidos, óleos insaturados, entre outros, podem proporcionar
importantes melhoria na qualidade de vida da população. Da mesma forma,
alterações genéticas em alimentos relacionadas com a diminuição de efeitos
tóxicos melhoram a possibilidade de inserção de novos alimentos na dieta
humana. [...] Logo, a pesquisa nessa área é estratégica para as nações que
pretendem estar à frente da corrida alimentícia, sem dúvida, um dos
grandes desafios da humanidade nos próximos séculos (SANTOS;
FERNANDES; FERNANDES, 2012, p. 106).

A biotecnologia é uma grande área que oferece inúmeras possibilidades de


descobertas, desenvolvimento e soluções para a vida humana. Igualmente, a
preocupação e a necessidade humana voltadas para a alimentação precedem o
desenvolvimento científico. Então, quando somadas, resultando na biotecnologia em
alimentos, tendem a disponibilizar uma oferta maior de possibilidades e respostas
aos problemas da contemporaneidade, acompanhando a dinâmica da vida e seus
desdobramentos, seja para melhorar a qualidade com que se vive, seja para
solucionar as enfermidades que recaem sobre o corpo humano. Realizada a
discussão, sob o aspecto geral da biotecnologia, tratam-se na próxima seção os
conceitos e a legislação pertinente aos alimentos funcionais.
122

5.2 CRIAÇÕES EM ALIMENTOS FUNCIONAIS: ATUAÇÃO DAS AUTARQUIAS


FEDERAIS DO INPI E ANVISA

A estrutura jurídica e política do Brasil permite a designação de autarquias


para a aplicação e gerência de determinados assuntos garantidos pela legislação,
de forma autônoma e descentralizada, com o fim de colaborar com a administração
pública. Em especial, o debate a respeito da proteção das criações em alimentos
funcionais implica necessariamente na participação do Instituto Nacional da
Propriedade Industrial (INPI) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Nessa linha, as autarquias públicas são regulamentadas pelo Decreto-Lei nº
200, de 25 de fevereiro de 1967, que trata da organização da administração pública
federal, estipulando as autarquias como componentes da Administração Indireta que
possuem personalidade jurídica própria. Dessa forma, o art. 5º determina a
autonomia das autarquias, criadas, necessariamente por lei, “com personalidade
jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da
Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão
administrativa e financeira descentralizada” (BRASIL, 1967c).
Desse modo, as autarquias reúnem um conjunto de características próprias,
que se referem à “criação por lei, personalidade jurídica pública, capacidade de
autoadministração, especialização dos fins ou atividades, sujeição a controle ou
tutela” (DI PIETRO, 2018, p. 559). Nesse interim, Marinela classifica as autarquias
públicas conforme os objetivos que desempenham, seguidas dos exemplos:

Dessa forma, é mister citar algumas autarquias, segundo os seus objetivos:


a) autarquias assistenciais: Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA);
b) autarquias previdenciárias: Instituto Nacional de Seguro Social (INSS);
c) autarquias culturais: Universidade Federal de Alagoas (UFAL);
Universidade Federal da Bahia (UFBA), além de outras universidades
federais;
d) autarquias profissionais: incumbidas da inscrição de certos profissionais e
fiscalização de suas atividades, como, por exemplo, o Conselho de
Medicina, o Conselho de Odontologia, o Conselho de Administração e
outros [...];
e) autarquias administrativas: categoria residual, isto é, entidades que se
destinam às diversas atividades administrativas, como o Instituto Nacional
de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO); Banco
Central (BACEN); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA);
f) autarquias de controle: são as agências reguladoras, [...]. (MARINELA,
2018, p. 161).
123

Como já mencionado, mesmo que autônomas, as autarquias estão sujeitas a


sua criação e extinção pela lei ordinária, do mesmo modo, estão sujeitas ao controle,
tanto por parte da Administração Direta, quanto dos Poderes e também pelo povo.
Sendo pessoas jurídicas de Direito Público, recebem o mesmo tratamento que a
Administração Direta na relação com terceiro, podendo praticar atos e também
contratos que vinculam o Estado (MARINELA, 2018, p. 161).
Nessa linha, os atos administrativos devem observar a competência do
sujeito, ou seja, a autarquia envolvida, forma e motivo previsto em lei, objeto lícito e
por último, a finalidade pública. Nesse contexto, as autarquias possuem como
máxima representar o interesse público dentro das funções em que foram criadas, e
por essa razão, seus atos são considerados legítimos, autoexecutáveis e
imperativos, independente da chancela do Poder Judiciário, possuem efeito
imediato. Do mesmo modo, sob a égide do princípio da autotutela, as autarquias
podem rever a qualquer tempo os seus atos, invalidando-os ou revogando-os,
conforme o que se julga conveniente (MARINELA, 2018, p. 162).
Discutidas as premissas gerais a respeito das autarquias no âmbito do direito
brasileiro, em atendimento especial ao objeto do presente estudo, passa-se a tratar
a respeito das autarquias INPI e ANVISA. Visa-se discorrer sobre a formação,
competência e procedimentos dessas autarquias, a partir da legislação que as deu
origem e que se encontra em vigor, sem o intuito de abordar os órgãos, secretarias
ou autarquias que ocuparam posição semelhante no passado.
Nessa linha, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial, foi fundado em 11
de dezembro de 1970, por meio da Lei nº 5.648. Com quase 50 anos de existência,
o INPI é uma autarquia federal, vinculado, pela atual administração pública federal,
ao Ministério da Economia. Incumbe ao INPI a execução, na esfera nacional, da
legislação atinente a propriedade industrial em consonância com os princípios da
“função social, econômica, jurídica e técnica”, da mesma forma, deve opinar sobre a
participação do Brasil em tratados que versem sobre a propriedade industrial
(BRASIL, 1970).
Muitos feitos marcaram a história do desenvolvimento do instituto desde os
anos 70. Citando alguns, a Revista da Propriedade Industrial (RPI), no formato como
é atualmente conhecida, começou na década de 70 em substituição do Boletim da
Propriedade Industrial publicado no Diário Oficial da União. A partir dos anos 80 o
124

INPI passa a trabalhar com infraestrutura informatizada e realiza também a primeira


contratação de servidores por concurso público. Os anos 90, por sua vez, foram
marcados pela era digital da internet, nessa época se implementou a primeira rede
interna do instituto e o INPI disponibilizou pela primeira vez o seu site na internet.
Aproveitando o momento, o Brasil, torna-se o primeiro a disponibilizar na internet, via
site, uma base de dados gratuita a respeito de marcas e patentes. Na mesma
década, promulgam-se a Lei da Propriedade Industrial, em 1996, e a Lei de Software
em 1998 (CALANDRINI, 2018).
Por conseguinte, o advento dos anos 2000 com início do novo século, registra
em 2004 o lançamento da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior
(PITCE); em 2006 a criação da Academia do INPI, que oferta cursos de Mestrado,
Doutorado e extensão; em 2007 a Lei de 11.484/2007 que cria o registro de
topografia de circuitos integrados; implementa-se a modernização dos serviços, com
uma nova roupagem, o INPI digital, que disponibiliza aos usuários, pela internet, a
busca e controle de pagamento, dos serviços relacionados a marcas e patentes,
ampliando, em 2015, as plataformas com o acréscimo do desenho industrial,
contratos e serviços de patentes, totalmente on-line (CALANDRINI, 2018).
Atualmente, a sede do instituto localiza-se no Rio de Janeiro/RJ, possui como
objetivo primordial o estímulo à inovação e a competitividade em prol do
desenvolvimento tecnológico e econômico nacional. Este objetivo visa ser alcançado
por meio da proteção eficiente da propriedade industrial. Os serviços
desempenhados pelo INPI residem essencialmente na proteção do registro de
marcas, patentes, desenhos industriais, indicações geográficas e averbação dos
contratos de transferência de tecnologia, além disso, gerencia o registro dos
programas de computador e topografias de circuitos integrados, mesmo que
compreendidos como direitos de autor e sui generis (CGCOM, 2019).
Desse modo, o INPI está para as criações em alimentos funcionais uma vez
que estão presentes aspectos da atividade inventiva, que demandam proteção
jurídica, concedida por meio de patentes, não afastando a hipótese de também
refletirem na proteção de desenho industrial, marcas e indicações geográficas, de
acordo com o produto.
De outro modo, o gênero da invenção, tratando-se de alimentos, implica,
necessariamente, na atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
125

Criada pela Lei nº 9.782, de 26 de janeiro 1999, que também determina a criação do
Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa é uma autarquia de regime
especial, que assume o status de agência reguladora. De acordo com o art. 6º, a
Anvisa terá como finalidade principal “promover a proteção da saúde da população,
por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e
serviços submetidos à vigilância sanitária”. Além do controle sobre os produtos e
serviços a Anvisa também é responsável pela vigilância “dos ambientes, dos
processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle
de portos, aeroportos e de fronteiras” (BRASIL, 1999).
Não obstante, a Anvisa não é a única encarregada de fiscalizar e garantir a
segurança alimentar, essa função também pode ser desempenhada pelos órgãos de
proteção do consumidor, INMETRO, Ministério da Saúde, IBAMA, cada um de
acordo com a situação; mas em especial, esse papel também é atribuído ao
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O MAPA possui uma
função muito semelhante ao desempenhado pela Anvisa. Contudo, sua
especialidade limita-se as questões da agropecuária, lhe competindo o fomento,
regulação e fiscalização do setor (MAPA, [2018?]).
Em suma, o MAPA encarrega-se de fiscalizar a matéria prima in natura, de
origem vegetal e/ou animal e bebidas, já a ANVISA, por sua vez, os produtos
industrializados e/ou as condições em que são disponibilizados para consumo.
Porém, a legislação é pouco clara a respeito das competências de cada órgão e
considerando, também, que são órgãos autônomos e independentes, não possuem
obrigação de agir em sintonia, tampouco de estabelecer cooperação, ficando as
atividades, de cada um, adstritas à administração vigente (ANVISA, 2017a).
Dos convênios e parcerias firmadas pela ANVISA, para o desempenho de
suas atribuições, do período de 2009 a 2019, das 91 pastas, apenas duas
correspondem a parceria Anvisa e MAPA; uma em 2013, na qual a Anvisa firmou
Protocolo de cooperação técnica com a Embrapa e outra, no ano de 2015, que foi
celebrado acordo de cooperação entre a ANVISA, o MAPA e o IBAMA, ambos
relacionados à alimentação e a saúde pública (ANVISA, [2009 – 2019]).
Contudo, retomando a composição da Anvisa, de acordo com Aragão (2013,
p. 333 – 349) as agências reguladoras possuem autonomia, funções múltiplas que
contemplam atividade normativa, fiscalizatória, sancionatória e julgadora,
126

tecnicidade, regime de pessoal e regime licitatório, dentre as principais


características que as identificam. Essas características são evidenciadas pelo art.
7º, da Lei nº 9.782/99, que prevê uma série de ações competentes a autarquia no
sentido do controle, administração, fomento, normatização, fiscalização, intervenção,
autorização, concessão, anuência, cancelamento, proibição, dentre outras ações
que envolvem produtos e serviços no âmbito da vigilância da Anvisa (BRASIL,
1999). Dessa forma, de acordo com o art. 8º, § 1º, incumbem a agência o controle e
fiscalização dos:

I - medicamentos de uso humano, suas substâncias ativas e demais


insumos, processos e tecnologias;
II - alimentos, inclusive bebidas, águas envasadas, seus insumos, suas
embalagens, aditivos alimentares, limites de contaminantes orgânicos,
resíduos de agrotóxicos e de medicamentos veterinários;
III - cosméticos, produtos de higiene pessoal e perfumes;
IV - saneantes destinados à higienização, desinfecção ou desinfestação em
ambientes domiciliares, hospitalares e coletivos;
V - conjuntos, reagentes e insumos destinados a diagnóstico;
VI - equipamentos e materiais médico-hospitalares, odontológicos e
hemoterápicos e de diagnóstico laboratorial e por imagem;
VII - imunobiológicos e suas substâncias ativas, sangue e hemoderivados;
VIII - órgãos, tecidos humanos e veterinários para uso em transplantes ou
reconstituições;
IX - radioisótopos para uso diagnóstico in vivo e radiofármacos e produtos
radioativos utilizados em diagnóstico e terapia;
X - cigarros, cigarrilhas, charutos e qualquer outro produto fumígero,
derivado ou não do tabaco;
XI - quaisquer produtos que envolvam a possibilidade de risco à saúde,
obtidos por engenharia genética, por outro procedimento ou ainda
submetidos a fontes de radiação (BRASIL, 1999).

Desse modo, com o intuito de transferir ao setor privado determinados


serviços de interesse público, o Estado reserva para si o poder regulatório por meio
das agências de regime especial, que não possuem o seu regime definido, mas que
por essa condição, são revestidas de uma autoridade e autonomia administrativa
maior em comparação as autarquias comuns (MEIRELLES, 2016, p. 448 – 449).
Outrossim, importante destacar que, as atividades regulatórias das autarquias
limitam-se a sua especialidade. Devendo-se observar, necessariamente, o vínculo
existente entre as atribuições, natureza das atividades e o diploma legal que as
constituiu, para que os atos regulatórios correspondam, com legitimidade, a missão
proposta à autarquia (CUÉLLAR, 2001, p. 134).
Posto isso, evidencia-se que as autarquias mencionadas possuem
composição e finalidade distintas, podendo convergir em determinados assuntos,
127

desde que limitadas ao seu propósito legal. No âmbito das patentes farmacêuticas,
por exemplo, o INPI e a Anvisa discutiram por anos a competência para a concessão
das patentes e os papeis de cada autarquia nesse processo.
Como já mencionado, o INPI foi criado especialmente para tratar dos
assuntos relativos à propriedade industrial, isso foi reforçado mais tarde com a Lei nº
9.279/96, que ao longo do texto legal, afirma, diversas vezes, a competência e a
presença do INPI na concessão de patentes. Já a Anvisa, fundada posteriormente,
em 1999, tem por finalidade o amparo da saúde da população. Em 14 de fevereiro
de 2001, a Lei nº 10.196, alterou e acrescentou dispositivos à Lei no 9.279/96,
especialmente com relação ao art. 229-C, acrescentando a obrigatoriedade da
anuência da Anvisa, passando a constar como “Art. 229-C. A concessão de patentes
para produtos e processos farmacêuticos dependerá da prévia anuência da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)” (BRASIL, 2001).
Em razão da nova disposição legislativa acerca da anuência da Anvisa nos
produtos farmacêuticos, as duas autarquias, INPI e Anvisa, entraram em discussão
sobre a competência e papeis que desempenham no processo de concessão de
patentes, o que demandou o posicionamento da Advocacia Geral da União, por meio
dos Pareceres nº 210/PGF/AE/2009 e 337/PGF/EA/2010, entendendo pela restrição
da participação da ANVISA, nos processos de concessão de patentes, intervindo, no
que concerne, apenas, à análise sobre a nocividade das invenções à saúde pública,
ou seja, vinculado a sua finalidade institucional (CÂMARA DOS DEPUTADOS,
2013). Contrariado com o parecer da AGU, o Ministério Público Federal ajuizou uma
Ação Civil Pública, na Justiça Federal do Distrito Federal, que restou indeferida no
julgamento de primeiro grau e aguarda decisão, em sede de recurso, pelo Tribunal
Regional Federal da Primeira Região, onde o INPI atua como amicus curie (BRASIL,
Justiça Federal do Distrito Federal, 2013). Propôs o Ministério Público em face da
União que a Justiça Federal:

i) declare a nulidade do PARECER nO.21O/PGF/AE/2009, afastando,


assim, o entendimento segundo o qual a análise de pedidos de patentes de
produtos e processos farmacêuticos realizada pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária - ANVISA, em sede de anuência prévia, nos termos do
disposto no art.229-C da Lei Federal nO. 9.279/96, seja limitada tão
somente ao "exame do risco sanitário de medicamentos compreendidos nos
referidos pedidos"; ii) reconheça a atribuição legal conferida pelo art.229-C à
ANVISA para análise dos requisitos de patenteabilidade de pedidos de
invenção em processos de concessão de patentes para produtos e
128

processos farmacêuticos em trâmite perante o INPI e iii) declare a


autoaplicabilidade do disposto no art.229-C da Lei de Propriedade Industrial,
afastando qualquer entendimento em sentido contrário (BRASIL, Justiça
Federal do Distrito Federal, 2013).

Buscando um ponto de convergência, a Anvisa e o INPI realizaram a Portaria


conjunta nº 1, de 12 de abril de 2017, para equalizar a aplicação do art. 229-C da Lei
de Propriedade Industrial, reconhecendo a anuência prévia da Anvisa para a
concessão de patentes de produtos e/ou processos farmacêuticos. Nesse sentido,
após o exame formal realizado pelo INPI, o processo para a prévia anuência iniciará
após o requerimento do pedido de exame, devidamente notificados na Revista
Eletrônica da Propriedade Intelectual (RPI). Recebido o pedido, a análise realizada
pela Anvisa será restrita ao enfoque da nocividade à saúde pública, que será
reduzida em parecer técnico. Em caso de conclusão pela não anuência, a Anvisa
encaminhará ao INPI a decisão, que na sequência, irá tornar pública a denegação à
Anvisa e o arquivamento na Revista RPI. Caso o INPI não corrobore a análise da
Anvisa, editará parecer técnico fundamentado com as razões controversas. Quando
concluído o exame dos pedidos que receberam a anuência prévia da Anvisa, o INPI
comunicaria a Agência sobre os pedidos deferidos e disponibilizados na RPI. A
Portaria conjunta propõe ainda a instituição do Grupo de Articulação
Interinstitucional, composta pelas duas autarquias, com o fim de cooperação mútua
nos assuntos de interesse mútuo (ANVISA, 2017b).
De acordo com a coordenadora de Propriedade Intelectual da Anvisa, Mônica
Fontes Caetano, a situação dos pedidos enquadrados no art. 229-C para anuência
prévia da Anvisa, do período de 2013 até 31 de agosto de 2018, do total de 18.839
pedidos, é de 5.060 pedidos anuídos (26,9%); 175 anuídos com subsídios (0,9%);
719 arquivados definitivamente pelo INPI (3,8%); 2 em ciência – aguardando
manifestação (0,0%); 10.071 aguardando análise (53,5%); 261 em análise (1,4%);
1.682 com entrada improcedente (8,9%); 7 em exigência - aguardando manifestação
(0,0%); 292 publicação do 7.4 anulada pelo INPI (1,5%); 292 não anuídos (1,5%);
278 representam outros não compreendidos nas classificações anteriores (1,5%).
Destaca-se que mais de 50% dos pedidos ainda aguardam análise (CAETANO,
2018).
Discorrido sobre a formação e competência das principais autarquias
envolvidas na questão de patentes em alimentos, na próxima seção serão
129

abordados os aspectos regulatórios dos alimentos funcionais, sobre os quais atuam


as autarquias federais ora mencionadas.

5.3 CONJUNTURA REGULATÓRIA BRASILEIRA SOBRE ALIMENTOS


FUNCIONAIS

Desde Hipócrates a alimentação é uma aliada no tratamento de enfermidades


relacionadas à saúde humana. Como visto no primeiro capítulo, a alimentação com a
finalidade terapêutica, tratada como dietética, esteve presente em diferentes
períodos da história, resultando, dentre outros fatores, na consolidação da nutrição
funcional. O objetivo da presente seção é demonstrar as diferentes categorias
alimentares, considerando as classificações em nutracêuticos, alergênicos, diets e
lights, e por fim, em especial, os alimentos funcionais, para melhor compreensão da
importância desses alimentos na dietética voltada para a saúde humana.
Desse modo, os alimentos nutracêuticos são compreendidos como
compostos bioativos, sob apresentação farmacêutica, que possuem finalidade
medicinal ou medicamentosa. Nesse caso, ocorre a manipulação dos nutrientes do
alimento, isolando-os e potencializando os seus efeitos, em agrupamentos de maior
ou menor grau, de acordo com a finalidade desejada. O alimento nutracêutico não é
encontrado na natureza, ele resulta da manipulação dos compostos bioativos que
agrupam os principais nutrientes sob uma forma de capsula, tablete, ou outro
suporte, similar à forma de medicamentos (COZZOLINO, 2012, p. 05 – 06).
Na sequência, os alimentos alergênicos ocupam especial atenção na
composição nutricional para a dieta humana, justamente por apresentarem
nutrientes nocivos à saúde. Em razão da hipersensibilidade ou alergia presente em
algumas pessoas, é necessária precaução na manipulação industrial desses
alimentos, observando a presença de nutrientes alergênicos e indicando-os
adequadamente quando presentes na composição. Não existem medicamentos ou
uma cura específica para esse tipo de reação alimentar, basicamente, os sintomas,
quando agravados, são tratados de forma medicamentosa, e recomenda-se a
exclusão do consumo desse alimento. As maiores ocorrências de alergia alimentar
ocorrem com o leite de vaca, ovos, oleaginosas como o amendoim e nozes, trigo,
soja e frutos do mar. De outro modo, em contraponto, alguns alimentos podem
130

conter nutrientes que atuam como protetores imunizantes para evitar o


desenvolvimento de doenças alérgicas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA;
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOPATOLOGIA, 2008).
Por sua vez, os alimentos para fins especiais, ou dietéticos, destacam-se em
particular, as categorias diet e light, representam, respectivamente, a restrição em
açúcares e gordura. Para a alimentação segura é preciso verificar a rotulagem do
alimento para certificar-se da dosagem ou a presença dos nutrientes que o
compõem, em razão da necessidade de se cumprir uma dieta específica ou
controlada (GUIMARÃES, 2014).
Por fim e em especial, o reconhecimento da categoria dos alimentos
funcionais consolida-se no cenário internacional em meados da década de 80,
especialmente no Japão com a introdução do conceito de Foods for specified helth
use (FOSHU), ou seja, o reconhecimento da alimentação para fins especiais de
saúde. Já no Brasil, esse reconhecimento deu-se somente a partir do ano de 1998,
por ato da ANVISA. Basicamente, os alimentos funcionais, além de cumprir sua
função básica como fonte de subsistência, proporcionam o desempenho de funções
específicas para melhoramento da saúde humana, tanto para prevenção quanto
para o tratamento de doenças (COSTA; ROSA, 2010, p. 03 – 07).
Além disso, os alimentos funcionais podem ser compreendidos sobre dois
aspectos, o primeiro sob a alegação de propriedades estritamente funcionais que se
refere a como os nutrientes de um determinado alimento são metabolizados pelo
corpo humano, já o segundo, sob a alegação de propriedades de saúde, indica a
relação direta entre o alimento e o tratamento ou prevenção de determinada doença.
Desse modo, “os atributos dos alimentos funcionais incluem, entre outros benefícios
à saúde, a redução do risco de doenças cardiovasculares, câncer, diabetes,
obesidade, osteoporose e de outras doenças crônicas não transmissíveis” (COSTA;
ROSA, 2010, p. 07).
Significa dizer que determinados alimentos possuem efeitos fisiológicos na
prevenção e na redução de enfermidades. A forma como cada alimento apresenta
essas propriedades é relativa, alguns consumidos in natura são suficientes para
apresentação de benefícios à saúde, outros necessitam de manipulação, ou
intervenções que potencializem os nutrientes funcionais. Dessa forma, podem-se
citar como exemplos da nutrição funcional, os tratamentos de osteoporose em
131

mulheres a partir do consumo de soja, e a dieta mediterrânea, baseada no consumo


de azeite de oliva, vinho tinto, frutas e verduras, para o tratamento de doenças
cardiovasculares. Não obstante, do mesmo modo que alguns alimentos apresentam
benefícios para a saúde, outros podem prejudicá-la, podendo ser considerados
promotores ou inibidores de determinada doença (ANGELIS, 2001).
A busca por melhor qualidade de vida, com hábitos saudáveis, que encontram
na alimentação a fonte da manutenção da saúde humana, tenciona a indústria de
alimentos a considerar os alimentos funcionais como um novo desafio para inovar.
Desse modo, a necessidade por uma dieta mais saudável e o consumo cada vez
mais frequente de alimentos, com finalidades especiais, demandam a ação dos
órgãos regulatórios para a definição de parâmetros que determinem a atuação da
indústria, da proteção jurídica e do consumo desses alimentos.
Nesse sentido, o contexto regulatório dos alimentos inicia pelo Decreto-Lei nº
986 de 1969, que define o termo “alimento” classificado em alimento in natura,
enriquecido, dietético, artificial e irradiado. Na referida legislação não consta a
definição a respeito dos alimentos funcionais em que pese a iniciativa legislativa ter
ocorrido em duas proposições (1998/1999), realizadas pelo Sen. Lúcio Alcântara
(PSDB/CE), e arquivadas ao final da legislatura, para a alteração das normas
básicas sobre alimentos com a inclusão do conceito dos “alimentos funcionais”
(BRASIL, 1969b). Desse modo, afirma a justificativa da referida proposição que:

Existe um inexplicável hiato na regulamentação da Vigilância Sanitária


brasileira no que diz respeito aos alimentos dotados de certas
características químicas, especialmente benéficas na prevenção de
determinadas patologias crônicas. Tais alimentos compostos por éteres do
glicerol do tipo ômega-3; por fibras de origem animal, como a quitina e a
quitosana; por complexos vitamínicos e minerais do tipo ginseng; por fontes
naturais de piperina e de alicina; e por fontes naturais de oligossacarídeos
como a glicosanamina e o sulfato de condroitina, entre outros, são fatores
benéficos numa série de moléstias. Assim alimentos especiais como a
cartilagem de tubarão encontram-se no limbo da inexistência de uma
definição que os diferencie, claramente, por um lado, dos alimentos
ordinários e, de outro, dos medicamentos. O Decreto-Lei nº 986, de 21 de
outubro de 1969, não classifica tais produtos como alimentos. Assim como é
omissa a Lei nº 6.360, de 23-9-76, que dispõe sobre registro de
medicamentos. [...] Existe nos Estados Unidos, na União Européia [sic], no
Japão e nos países denominados Tigres Asiáticos legislação pertinente
contemplando essa nova categoria de alimentos – os alimentos funcionais.
[...] A eclosão de um mercado crescente no âmbito do Mercosul é uma
realidade insofismável. O Brasil não pode ser prejudicado em seu potencial
de comercialização de alimentos funcionais nesse promissor mercado, pela
ausência de uma regulamentação nacional contemplando tal aspecto de
vigilância sanitária (BRASIL, 1999).
132

Além da proposição de inclusão do conceito de “alimento funcional” o referido


Projeto de Lei também dispôs sobre a inclusão de parágrafo único no artigo 56, que
excetua os alimentos funcionais, da redação, “Excluem-se do disposto nêste [sic]
Decreto-lei os produtos com finalidade medicamentosa ou terapêutica, qualquer que
seja a forma como se apresentem ou o modo como são ministrados”, diferenciando
“alimento” e “medicamento” (BRASIL, 1969b).
Contudo, haja vista o término do mandato legislativo, em 2003, do senador
proponente, o Projeto de Lei cujo objeto era alterar o Decreto-Lei nº 986/1969 e
incluir o conceito de alimento funcional foi arquivado e até hoje, não houve outras
proposições nesse sentido.
Além disso, outras disposições atinentes ao tema encontram-se nas
resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Em especial, a
Resolução nº 16/99, a Resolução nº 17/99, a Portaria nº 398/99 e a Resolução nº
19/99.
A Resolução nº 16 de 1999, trata da regulamentação do registro de alimentos
ou novos ingredientes, reforçando o Decreto-Lei N° 986/69 que determina a
obrigatoriedade do registro de alimentos. Para fins dessa resolução, consideram-se
para registro, os alimentos e ingredientes que são novidade para o consumo
nacional, não compondo as dietas tradicionais. Observa ainda, que os alimentos
podem conter substâncias já conhecidas, mas apresentadas em nova composição.
Nessa linha, adverte que os alimentos apresentados sob a forma farmacológica
(capsulas, tabletes, comprimidos, etc.), não acompanhados das alegações de
propriedade funcional ou de saúde devidamente comprovadas, deverão constar
obrigatoriamente em seus rótulos essa condição (ANVISA, 1999a).
Na sequência, em reconhecimento aos efeitos, tanto positivos quanto
negativos, dos alimentos à saúde humana, o crescente processo de industrialização,
a mudança do estilo de vida, cada vez mais urbana e influenciada pela mídia, a
Anvisa edita a Resolução nº 17 de 1999, com o fim de fixar as diretrizes para a
segurança dos alimentos, onde propõe uma metodologia de análise de risco dos
alimentos como parâmetro para a comprovação de segurança (ANVISA, 1999b).
A Portaria 398 de 1999 é a que mais se aproxima com a tentativa de definição
dos alimentos funcionais, porém é omissa nesse ponto, apenas tratando das
alegações que envolvem essa categoria de alimentos, não definida, e a rotulagem.
133

O objetivo principal da referida legislação é estabelecer parâmetros básicos para a


comprovação das propriedades funcionais e/ou de saúde indicadas pelos rótulos dos
alimentos. As alegações, como dito anteriormente, dividem-se, em propriedades
funcionais ou de saúde. Outra disposição da Portaria 398, da ANVISA, é a vedação
sobre apontamentos que indiquem propriedades medicinais ou terapêuticas,
presentes nos alimentos. No entanto, os efeitos fisiológicos benéficos à saúde
podem ser considerados nas alegações funcionais, desde que seguro para a
alimentação (ANVISA, 1999c).
Por fim, a resolução nº 19 de 1999, trata dos parâmetros para o registro dos
alimentos com alegações funcionais e/ou de saúde no rótulo. Essa resolução segue
a mesma linha conceitual da Portaria 398 de 1999 estipulando os documentos
necessários para o registro dos alimentos que indicam essas alegações, veiculando,
obrigatoriamente, todos os anúncios dessas propriedades nos alimentos a sua
comprovação técnico-científica (ANVISA, 1999d).
Discorrido a respeito da regulamentação da biotecnologia, em especial, no
tocante aos alimentos funcionais, as autarquias federais envolvidas e os principais
atos regulatórios da matéria, ver-se-á na próxima seção os depósitos das patentes
de invenção, em números, sobre alimentos funcionais, realizadas no Brasil.

5.4 PATENTES DE INVENÇÃO EM ALIMENTOS FUNCIONAIS DEPOSITADAS NO


BRASIL EM NÚMEROS

Nesta seção são abordados os dados relativos às patentes registradas no


Brasil, especificamente, com relação às subclasses que contemplam as criações em
Alimentos Funcionais. Os dados foram coletados pela Assessoria de Assuntos
Econômicos (AECON), por meio do instrumento da “Base de Dados Estatísticos
sobre Propriedade Industrial (BADEPI) v 5.0”, a partir das categorias definidas pela
presente pesquisa. A coleta ocorreu em 2018, considerando o período de análise de
2005 a 2015, em razão dos anos de 2016 e 2017 encontrarem-se, no ano da coleta,
compreendidos no período de sigilo.
A coleta de dados partiu da predefinição das categorias considerando os
depósitos em alimentos funcionais classificados em: a) residentes e não residentes
em alimentos funcionais; b) residentes e não residentes em alimentos funcionais por
134

classificação de patentes; c) dos não residentes, os dez primeiros países que


lideram os depósitos de patentes em alimentos funcionais; d) dos residentes,
número de patentes por Estado; d) dos residentes, classificação em pessoa jurídica
e pessoa física; e) depósitos de patentes por decisão, classificado em deferidos,
indeferidos, abandonos e pendentes. A partir dessas categorias, foram construídas
seis tabelas, sendo que cada tabela corresponde a uma categoria.
Além disso, a classificação de patentes considerada como a “população” em
análise, considera a Classificação Internacional de Patentes (IPC), que situa-se na
Seção A — Necessidades Humanas, distribuída nas subclasses A21D, A22C,
A23B, A23C, A23D, A23F, A23G, A23J, A23L; A23P e A61k. Considerando que a
definição das subclasses de patentes demanda o conhecimento técnico a respeito
das substancias químicas ou biológicas da composição dos alimentos, utilizou-se
como base o recorte da pesquisa de tese de autoria de Caetano (2007) realizada no
âmbito da Escola de Química da Escola Federal do Rio de Janeiro, para as
subclasses A21D, A22C, A23B, A23C, A23D, A23F, A23G, A23J, A23L e A23P 25.
Por sua vez, a subclasse “A61k” foi acrescentada em razão da indefinição da
natureza dos alimentos funcionais, se compreendido como alimento ou como
medicamento. A subclasse A61k envolve grupos que compreendem “preparações
medicinais contendo ingredientes ativos orgânicos”, preparação a base de ervas,

25“Classificação Internacional de Patentes – IPC (WIPO, 2018):


A21D Tratamento, p. ex. conservação, de farinhas ou massas, p. ex. pela adição de materiais;
cozimento; produtos de panificação; conservação dos mesmos;
A22C Processamento de Carnes, Aves domésticas ou Peixes;
A23B conservação, p. ex. por meio de enlatamento, de carnes, peixes, ovos, frutas, legumes,
sementes comestíveis; amadurecimento químico de frutas ou legumes; produtos conservados,
amadurecidos ou enlatados;
A23C, produtos de laticínio, p. ex. leite, manteiga, queijo; substitutos do leite ou do queijo; produção
dos mesmos;
A23D, óleos ou gorduras comestíveis, p. ex. margarinas, gorduras para bolo, óleo para cozinhar
(extração, refinação, conservação c11b, c11c; hidrogenação c11c 3/12);
A23F café; chá; seus substitutos; manufatura, preparo, ou infusão dos mesmos;
A23G cacau; produtos de cacau, p. ex. chocolate; substitutos de cacau ou produtos de cacau;
confeitos; goma de mascar; sorvetes; preparações dos mesmos;
A23J composições à base de proteínas para produtos alimentícios; preparação de proteínas para
produtos alimentícios; composições de fosfatídeos para produtos alimentícios;
A23L alimentos, produtos alimentícios ou bebidas não alcoólicas, não abrangidos pelas subclasses
A21D ou A23B-A23J; seu preparo ou tratamento, p. ex. cozimento, modificação das qualidades
nutritivas, tratamento físico (modelagem ou processamento não totalmente abrangidos por esta
subclasse A23P); conservação de alimentos ou produtos alimentícios, em geral (conservação de
farinha massas para cozimento A21D);
A23P modelagem ou processamento de produtos alimentícios, não totalmente abrangidos por uma
outra subclasse isolada;
A61k preparações para finalidades médicas, odontológicas ou higiênica” (WIPO, 2018).
135

podendo derivar também de raízes, folhas, cascas, sementes, flores ou caules


(WIPO, 2018).
Considerando a soma total de patentes, das subclasses já mencionadas, na
classificação entre residentes e não residentes com relação à origem do depositante
demonstram-se que em todos os anos do período analisado o número de patentes
depositadas por não residentes foi exponencialmente maior do que os depósitos
realizados por residentes. Em 2005, os depósitos de patentes em alimentos
funcionais realizados por residentes representaram 12,35% do total, enquanto os
não residentes importaram em 87,65%. Em 2006, os depósitos realizados por
residentes representaram 10,90% do total, os não residentes, representaram
89,10%. Em 2007, os depósitos realizados por residentes significaram 12,40% do
total de depósitos em alimentos funcionais, e os depósitos de não residentes
constituíram 87,60%. Em 2008, a proporção foi de 11,86% para residentes e
88,14% para não residentes. Em 2009, os residentes somaram 13,49% frente a
86,51% dos não residentes. Em 2010, os residentes totalizaram 15,31% dos
depósitos em alimentos funcionais, em face de 84,69% dos não residentes. Em
2011, a cifra de 14,36% correspondeu aos depósitos realizados por residentes, já o
montante de 85,64% foi celebrado por não residentes. Em 2012, os números foram
de 13,13% para residentes e 86,87% para não residentes. No ano de 2013, 15,23%
estavam para residentes, enquanto 84,77% estavam para não residentes. Em 2014,
os residentes totalizaram 11,92% e os não residentes, somaram 88,07%. Por fim, o
ano de 2015 totalizou 11,44% para residentes e 88,56% para não residentes. A
média, considerada no período, indica cerca de 12,93% para residentes e 87,07%
para não residentes (AECON/INPI, 2018).
Outrossim, as subclasses “A23G” (cacau; produtos de cacau, p. ex.
chocolate; substitutos de cacau ou produtos de cacau; confeitos; goma de mascar;
sorvetes; preparações dos mesmos), “A23L” (alimentos, produtos alimentícios ou
bebidas não alcoólicas, não abrangidos pelas subclasses), “A61K” (preparações
para finalidades médicas, odontológicas ou higiênica), apresentaram a maior média
de depósitos no período, originados, na maior parte, por não residentes; as
subclasses com menor volume de depósitos foram “A23P” (modelagem ou
processamento de produtos alimentícios, não totalmente abrangidos por uma outra
subclasse isolada), “A23F” (café; chá; seus substitutos; manufatura, preparo, ou
136

infusão dos mesmos), “A23D” (óleos ou gorduras comestíveis, p. ex. margarinas,


gorduras para bolo, óleo para cozinhar (extração, refinação, conservação c11b,
c11c; hidrogenação c11c 3/12)) e “A23J” (composições à base de proteínas para
produtos alimentícios; preparação de proteínas para produtos alimentícios;
composições de fosfatídeos para produtos alimentícios), essas duas últimas
resultaram na mesma média de depósitos no período.

Gráfico 1 – Depósitos de Patentes de Invenção AF - IPC 2005- 2015

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI,( Anexo A)
137

Gráfico 2 - Depósitos de Patentes de Invenção AF subclasse A21D

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)

Gráfico 3 - Depósitos de Patentes de Invenção AF subclasse A22C

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)
138

Gráfico 4 - Depósitos de Patentes de Invenção AF subclasse A23B

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI,( Anexo B)

Gráfico 5 - Depósitos de Patentes de Invenção AF subclasse A23C

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)
139

Gráfico 6 - Depósitos de Patentes de Invenção AF subclasse A23D

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)

Gráfico 7 - Depósitos de Patentes de Invenção AF subclasse A23F

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)
140

Gráfico 8 - Depósitos de Patentes de Invenção AF subclasse A23G

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)

Gráfico 9 - Depósitos de Patentes de Invenção AF subclasse A23J

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)
141

Gráfico 10 - Depósitos de Patentes de Invenção AF subclasse A23L

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)

Gráfico 11 - Depósitos de Patentes de Invenção AF subclasse A23P

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)
142

Gráfico 12 - Depósitos de Patentes de Invenção AF subclasse A61k

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)

Dentro do universo das patentes depositadas por não residentes é preciso


compreender quais os países que lideram esse ranking. Essencialmente, os Estados
Unidos e a Europa dominam o cenário. No âmbito dos depósitos realizados em
alimentos funcionais no Brasil, uma média do período de 2005 a 2015, indicam que
os Estados Unidos representam 34% dos pedidos, o Brasil 13%, seguido da Suíça
com 9% (Gráfico 12). Uma comparação entre esses três países indica que os
Estados Unidos possui uma representação no número de depósitos de quase três
vezes mais que o Brasil, a Suíça, por sua vez, apesar de representar um número de
menor de depósitos, com relação ao Brasil, chega perto da cifra numérica de
pedidos brasileiros (Gráfico 13).
Outrossim, os países que lideram na sequência dos três primeiros
mencionados, situam-se no continente Europeu, dentre eles Alemanha (7%), França
(6%), Holanda (6%), Itália (2%) e Bélgica (1%). Fora do contexto europeu,
destacam-se o Japão (4%) e o Reino Unido (3%) (Gráfico 13). Os países que não
atingiram a representação de 1% foram agrupados na categoria “outros países”, que
somam no conjunto 15% dos depósitos de patentes de invenção em alimentos
funcionais.
143

Gráfico 13 - Média de depósitos, 2005-2015, por país depositante

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo C)

Gráfico 14 - Depósitos de Patentes de Invenção AF EUA, BR e CH

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo C)
144

Gráfico 15 - Depósitos de Patentes de Invenção AF DE, FR e NL

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo C)

Gráfico 16 - Depósitos de Patentes de Invenção JP, GB, IT, BE

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo C)
145

Do mesmo modo, dentro do contexto dos depósitos realizados por residentes,


destacam-se os estados de São Paulo (35%), Minas Gerais (11%), Paraná (11%),
Rio Grande do Sul (7%) e Santa Catarina (7%), como os estados com o maior
número de patentes de invenção em alimentos funcionais, na média do período de
2005 a 2015 (Gráfico 17). Combinados, os estados do Sul concentram 26% do total
de depósitos realizados por residentes. Ressaltam-se nesses estados a presença de
universidades federais.

Gráfico 17 - Depósitos de Patentes de Invenção AF residente origem depositante por Estado

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo D)
146

Gráfico 18 - Depósito de Patentes AF por Estado depositante SP, PR, MG, RS e SC

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo D)

Gráfico 19 - Depósito de Patentes AF por Estado depositante RJ, CE, GO, PE, BA

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo D)
147

Gráfico 20 - Depósito de Patentes AF por Estado depositante SE, AM, DF, PA, MA

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo D).

Gráfico 21 - Depósito de Patentes AF por Estado depositante PI, ES, RN, PB, AL, MS

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo D)
148

Gráfico 22 - Depósito de Patentes AF por Estado depositante MT, TO, RO, AC, AP, RR

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo D)

Ainda com relação aos depositantes residentes, outro aspecto que se destaca
é a classificação dos depositantes segundo a natureza jurídica, entre pessoa física e
pessoa jurídica. No período de 2005 a 2009, os números de depósitos realizados por
pessoas físicas e pessoas jurídicas eram quase equivalentes. Porém, a partir do ano
2010 a 2015, os depósitos realizados por pessoas jurídicas cresceram
significativamente frente aos efetivados por pessoas físicas (Gráfico 23).
149

Gráfico 23 - Depósitos de patentes AF natureza jurídica depositantes residentes

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo E)

Quanto à classificação, por decisão, foram determinadas as categorias


“Deferimento”, “Indeferimento”, “Abandono” e “Pendente”, referente ao universo total
dos depósitos de patentes de invenção, do período de 2005 a 2015, separados por
ano. Foram considerados pela AECON os seguintes despachos, como marco de
decisão: para deferimento “9.1”; para indeferimento “9.2”; para Abandono “11.2,
11.4, 11.6, 11.11, 11.1.1, 8.11, 8.12, 11.5, 10.1, 1.2, 15.21, 10.9, 23.6”. A seguir
segue a tabela, praticada pelo INPI, com a descrição dos referidos despachos
(Gráfico 24).

Tabela 1 - Códigos de Despachos – Patentes do INPI


CÓDIGO DESPACHO
INPI
Por decisão
9.1 Deferimento (Patentes Decisão)
9.2 Indeferimento (Patentes Decisão)
Por abandono
150

11.2 “Arquivamento - Art. 36 §1° da LPI - Arquivado definitivamente o


pedido de patente, uma vez que não foi respondida a exigência
formulada. (Patentes Arquivamento).”
11.4 Arquivamento - Art. 38 § 2° da LPI - Arquivado definitivamente o
pedido de patente, uma vez que não foi comprovado o pagamento da
retribuição de expedição da carta-patente. (Patentes Arquivamento).”
11.6 Arquivamento do Pedido – Art. 216 §2° da LPI - Arquivado
definitivamente o pedido de patente, uma vez que não foi apresentada
a procuração devida no prazo de 60 (sessenta) dias contados da
prática do primeiro ato da parte no processo. (Patentes
Arquivamento).”
11.11 “Arquivamento - Art. 17 § 2º da LPI - Arquivado definitivamente o
pedido de patente, uma vez que foi efetuado depósito posterior nos
termos do Art. 17 § 2º da Lei nº 9.279/96. (Patentes Arquivamento).”
11.1.1 “Arquivamento definitivo - Art. 33 da LPI - Arquivado definitivamente o
pedido uma vez que não foi requerido o desarquivamento. (Patentes
Arquivamento).”
8.11 “Manutenção do Arquivamento Mantido o arquivamento do pedido
uma vez que não foi requerida a restauração nos termos do disposto
no art. 87 da Lei nº 9.279/96, encerrando a instância administrativa
(Patentes Anuidade do Pedido).”
8.12 “Arquivamento Definitivo Arquivamento definitivo do pedido e seus
certificados, se for o caso, por falta do pagamento em mais de uma
retribuição anual nos prazos fixados conforme Resolução 113/2013 e
nos Art. 84 e 86 da Lei nº 9.279/96, não se aplicando a hipótese de
restauração prevista no artigo 87 da referida Lei. (Patentes Anuidade
do Pedido).”
11.5 “Arquivamento - Art. 34 da LPI - Arquivado o pedido, uma vez que não
foram atendidas as exigências previstas no Art. 34 da Lei nº 9.279/96.
Desta data corre o prazo de 60 (sessenta) dias para eventual recurso
do interessado. (Patentes Arquivamento).”
10.1 “Desistência Homologada Notificação da homologação da desistência
do pedido de patente, apresentada pelo depositante, acarretando o
151

encerramento do processo administrativo. (Patentes Desistência).”


1.2 “Notificação – Pedido Retirado – PCT Notificação da retirada do
pedido internacional de patente depositado nos termos do Tratado de
Cooperação em Matéria de Patentes – PCT no Brasil por não terem
sido cumpridas as determinações referentes à entrada na fase
nacional disciplinadas nos artigos 22 (designação) ou 39 (eleição) do
PCT. Desta data corre o prazo de 60 (sessenta) dias para eventual
recurso do interessado. (Patentes Pedido Internacional PCT/BR
Designado ou Eleito).”
15.21 “Numeração Anulada - Anulada a numeração do pedido de patente ou
certificado de adição de invenção. A documentação ficará à disposição
do depositante ou seu procurador pelo prazo de 180 dias desta
publicação. A documentação não retirada será descartada. (Patentes
Outros Referentes a Pedidos).”
10.9 Retirada Homologada Art. 29 § 1º da LPI Notificação de homologação
da retirada do pedido de patente, solicitada pelo depositante.
(Patentes Desistência).”
23.6 “Arquivamento (Processamento de Pedidos Segundo Artigos 230 e
231 da Lei 9279/96)”
Fonte: Elaborada pela autora com base na Tabela de Códigos de Despachos – Patentes do INPI
(INPI, [201?])

Do total dos depósitos realizados entre período de 2005 a 2015, 6% foram


deferidos, 7% foram indeferidos, 43% estavam pendentes e 44% foram
abandonados, até o ano de 2018, em que a coleta de dados foi realizada. Nota-se
que existem depósitos pendentes em todos os anos do período determinado, o que
demonstra que existem decisões pendentes com 13 (treze) anos da data de
depósito (Gráfico 25).
152

Gráfico 24 - Depósitos de Patentes por decisão do INPI

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo F)

Gráfico 25 - Depósitos de Patentes por decisão do INPI, total do período 2005-2015

Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo F)
153

Por fim, evidenciados os aspectos regulatórios que permeiam as criações em


alimentos funcionais, tanto no aspecto da biotecnologia quanto da alimentação
humana, e demonstrada à atuação das autarquias envolvidas na administração e
regulamentação dos assuntos que envolvem essa questão, os dados apresentados
revelam a posição do Brasil nesse cenário e sua comparação com outros países.
Dito isso, no próximo capítulo será abordado o quanto a política industrial e de
proteção das criações em alimentos funcionais é (in) suficiente e (in) eficiente para
uma conjuntura legal que atenda o direito humano à alimentação adequada, os
objetivos do desenvolvimento sustentável e a década da nutrição, por meio da
inovação em alimentos funcionais, tornando o Brasil o principal protagonista no
cenário global na oferta de alimentos e também na detenção da tecnologia.
154

6 A PROPRIEDADE INTELECTUAL DA BIOTECNOLOGIA EM ALIMENTOS


FUNCIONAIS NO BRASIL

Expostos ao longo desse trabalho os marcos regulatórios e dados pertinentes


à propriedade intelectual da biotecnologia em alimentos funcionais, cabe ao
presente capítulo o encerramento da discussão seguido dos argumentos que
moldam a proposta da presente tese.
Demonstra-se, no presente capítulo, os procedimentos formais para o registro
de patentes das criações em alimentos funcionais junto ao Instituto Nacional da
Propriedade Industrial e as etapas, indispensáveis, relativas à participação da Anvisa
e do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético.
Pondera-se, por segundo, os indicadores e a perspectiva industrial
juntamente com algumas das tecnologias existentes envolvendo alimentos
funcionais e a produção nacional.
Na sequência, analisam-se a (in) suficiência e a (in) eficiência do contexto
regulatório da propriedade intelectual da biotecnologia em alimentos funcionais, a
partir de todos os marcos regulatórios abordados pela presente pesquisa, em
conjunto com os dados apresentados no capítulo anterior.
Por fim, propõem-se a harmonização da propriedade intelectual da
biotecnologia em alimentos funcionais para um contexto eficiente que atenda o
direito humano à alimentação adequada, enfrente os desafios da segurança
alimentar e favoreça o protagonismo tecnológico do Brasil no cenário mundial.

6.1 CONCESSÃO DE PATENTES EM ALIMENTOS FUNCIONAIS: BARREIRAS E


ENTRAVES

Cumpre destacar nessa seção as dificuldades enfrentadas pelos inventores


na busca pelo reconhecimento da proteção sobre suas criações, após o depósito do
pedido de patente de invenção. Em especial, tratam-se dos procedimentos formais
diante do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, somados ao backlog de
patentes, a anuência da Anvisa e da autorização do Conselho de Gestão do
Patrimônio Genético (CGen).
155

6.1.1 Depósito de patentes de invenção e Backlog INPI

Percorrido todos os caminhos da pesquisa, horas de estudos, tentativas


acertadas e falhas, testagem da invenção, dedicação intelectual, física e emocional
do inventor ao desenvolvimento da invenção, quando então a invenção é concluída,
é chegada a hora de garantir a sua proteção jurídica. Os créditos pela invenção, o
direito de usufruir, de dispor, de explorar, com exclusividade, mesmo que
temporariamente, serão garantidos com a concessão da patente de invenção 26. Para
tanto, ver-se-á, neste capítulo, quais as etapas os inventores precisam percorrer,
depois de concluída a invenção, para alcançar a concessão da carta-patente.
Antes de iniciar a fase formal do pedido é recomendado que o depositante
realize uma busca de patentes, ou a “busca de anterioridades”, disponível nas bases
do INPI e também nas bases de dados internacionais, para verificar se não existem
invenções como a sua ou semelhantes, já que um dos requisitos para a
patenteabilidade é a novidade. Garantida a novidade, o depositante poderá optar por
iniciar o pedido de invenção de forma eletrônica ou em papel, os valores alteram de
acordo com a modalidade. Para consulta, o INPI disponibiliza a “Tabela de
Retribuições dos Serviços Prestados” (INPI, 2019a).
Em seguida, o depositante opta pelo serviço que deseja prosseguir com o seu
protocolo, realiza o seu cadastro no e-INPI, gera a Guia de Recolhimento da União
(GRU) e efetua o pagamento de acordo com a opção escolhida. Com a GRU paga, o
depositante dá início ao pedido com a apresentação dos documentos necessários,
quais sejam “(1) conteúdo técnico - relatório descritivo, quadro reivindicatório,
listagem de sequências (para pedido da área biotecnológica), desenhos (se for o
caso) e resumo; (2) formulário FQ00127; e (3) comprovante de pagamento da GRU”.
Para iniciar o pedido por meio do peticionamento eletrônico o depositante utilizará a
plataforma e-Patentes, para a realização do depósito em papel o inventor terá que
proceder com o preenchimento de todos os formulários físicos e realizar o protocolo
na sede principal ou nas representações do INPI, ou pode ser enviado por correios
(INPI, 2019a).
Posteriormente ao início do pedido, o depositante deverá acompanhar
periodicamente as solicitações do INPI, que podem demandar a apresentação de

26 A legislação brasileira pertinente à proteção da propriedade intelectual foi objeto do 3º capítulo.


27 “Formulários para pedidos protocolados em papel no INPI”
156

novos documentos ou esclarecimentos por parte do depositante. Esses atos serão


publicados na Revista da Propriedade Industrial (RPI), além disso, é possível
acompanhar a movimentação do pedido pelo “Push-INPI” (INPI, 2019a).
Após o depósito e o exame formal preliminar, a patente ficará até 18 (dezoito)
meses sob o período de sigilo. Posterior a isso, dentro de prazo não superior a 36
(trinta e seis) meses contados da data do depósito, o depositante deverá requerer o
exame técnico do pedido (BRASIL, 1996).
No âmbito do exame dos pedidos de patentes, é possível requerer o exame
prioritário, ou seja, antecipar a resposta do pedido. Os exames prioritários oferecidos
pelo INPI englobam quatro modalidades: a primeira, “Em razão do depositante ou
titular, pessoa física com idade igual ou superior a sessenta anos, ou, com
deficiência física ou mental, ou portadora de doença grave”; a segunda modalidade
será quanto à situação, “Processos cuja concessão é condição para obter recursos
financeiros, processo cujo objeto é reproduzido por terceiros sem a autorização,
terceiros estão sendo acusados de contrafação, terceiros são detentores de
tecnologia que posteriormente foi depositada como patente”; já a terceira
modalidade irá tratar a respeito da matéria, com relação aos “Processos que
pleiteiam a proteção de tecnologia verde, processos cujo objeto é produto para
tratamento de doenças específicas”; por fim, a última modalidade refere-se à
cooperação internacional, compreendendo “Processos de famílias de patente cuja
proteção foi inicialmente requerida no Brasil (Projeto-piloto Prioridade BR - já
encerrado) e processos cuja matéria foi considerada patenteável por um escritório
parceiro (Projeto Piloto PPH)” (INPI, 2019b).
Na sequência do requerimento do exame, poderão ser solicitados ao
depositante documentos que complementem ou esclareçam informações
relacionadas ao pedido. Do exame técnico serão preparados o relatório de busca e o
parecer com as exigências, segundo os tópicos: “I - patenteabilidade do pedido; II -
adaptação do pedido à natureza reivindicada; III - reformulação do pedido ou
divisão; ou IV - exigências técnicas”, da LPI. Outrossim, o exame do pedido de
patente também será condicionado ao cumprimento do art. 18 da LPI 28, que trata

28 “Art. 18. Não são patenteáveis: I - o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à
ordem e à saúde públicas; II - as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer
espécie, bem como a modificação de suas propriedades físico-químicas e os respectivos processos
de obtenção ou modificação, quando resultantes de transformação do núcleo atômico; e III - o todo ou
parte dos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos que atendam aos três requisitos de
157

das matérias não patenteáveis. Ao final do exame, a decisão será no sentido de


deferir ou indeferir o pedido de patente. As anuidades serão devidas a partir do 24º
mês, ou terceiro ano, até o fim da vigência da patente (BRASIL, 1996).
Concedida a patente e expedida à respectiva carta-patente, conforme
abordado no terceiro capítulo, a vigência da patente será de 20 anos contados a
partir da data de depósito. Isso significa que o tempo computado da data de
depósito, incluindo o exame até a pronúncia da decisão será descontado do tempo
de vigência da patente; a exemplo, levando o INPI 6 (seis) anos para a concessão
da patente, o titular gozará dos privilégios da invenção por 14 (quatorze) anos, se 8
(oito) anos for o período, o titular usufruirá por 12 (doze) anos a vigência da patente
(BRASIL, 1996).
Os inúmeros procedimentos a se cumprir somados a uma equipe reduzida,
principalmente na disponibilidade de examinadores, dificultam a análise por parte do
INPI dos pedidos de patentes, atrasando o processo. Essa demora, conhecida como
backlog, tem sido compreendida como um atraso crônico. Dentre os impactos
negativos do backlog estão a insegurança jurídica, o recuo de investimentos, a
retração da inovação tecnológica e, por consequência, o retardamento do
desenvolvimento econômico, além da violação à razoável duração do processo
(GARCEZ JUNIOR; MOREIRA, 2017).
No entanto, a morosidade na concessão de patentes pode ser vista de duas
formas, a primeira é que a depender do interesse do inventor ela pode ser uma
dificuldade ou um benefício. Se o inventor possui interesse em licenciar a invenção
com brevidade, possui interesse na concessão da patente de forma mais ágil.
Porém, se o inventor possuir interesse em postergar o período de proteção da sua
patente, o backlog lhe beneficiará. Limitado a 20 anos, ultrapassados 10, 11 ou até
15 anos para a conclusão do exame, a vigência da patente não poderá ser inferior a
10 anos. Isso significa que se a análise de um pedido de patente levar cerca de 15
anos para o exame, ao final o inventor terá computados 25 anos para a proteção da
invenção. A segunda forma é que do ponto de vista do interesse público, o problema
do estoque é prejudicial ao desenvolvimento e ao incentivo da inovação.

patenteabilidade - novidade, atividade inventiva e aplicação industrial - previstos no art. 8º e que não
sejam mera descoberta. Parágrafo único. Para os fins desta Lei, microorganismos transgênicos são
organismos, exceto o todo ou parte de plantas ou de animais, que expressem, mediante intervenção
humana direta em sua composição genética, uma característica normalmente não alcançável pela
espécie em condições naturais” (BRASIL, 1996).
158

Nessa linha, o setor industrial brasileiro defende a superação do backlog na


proteção da propriedade industrial como um dos fatores importantes para o
desenvolvimento nacional, afirmando a importância de ocupar uma posição de
gerador e consumidor do conhecimento e da tecnologia de ponta. Dessa forma, o
sistema da propriedade intelectual deve ser levado como “um sistema integrado que
gera benefícios para a sociedade. Esse sistema se alicerça na necessidade de
fomentar o trabalho intelectual, fundamental na estratégia de desenvolvimento
econômico e social de qualquer nação” (CNI, 2014, p.47).
Em recente estudo, Silva, Rainatto, Santos e Venanzi (2019), realizaram uma
análise comparativa do processo de concessão de patentes do Brasil com os países
Estados Unidos, Japão e Alemanha. Demonstraram que os custos entre os países
analisados são parecidos (exceto Alemanha, que possui o maior custo total),
contudo, o fator “tempo” para a concessão da patente é muito distinto e acaba sendo
relevante na decisão do inventor em depositar o pedido no Brasil ou em outro país.
O tempo de espera para uma primeira resposta sobre os pedidos de patentes, nos
EUA, é de 13 meses; na Alemanha, o período é de 24 a 30 meses; no Japão, esse
tempo é de 20 a 30 meses (SILVA, et al., 2019, p. 211 – 222).
Em 2018 o INPI divulgou o relatório de atividades do instituto, indicando o
tempo de análise dos pedidos de patentes, em anos, para as seguintes divisões
técnicas: Fármacos (13,13 anos), Telecomunicações (13,04 anos), Fármacos II
(12,74 anos), Biofármacos (12,41 anos), Mecânica (12,1 anos), Computação e
Eletrônica (11,73 anos), Tecnologia em Embalagens (11,41 anos), Necessidades
Humanas (11,22 anos), Física e Eletricidade (11,14 anos), Polímeros e correlatos
(10,62 anos), Química Inorgânica (10,41 anos), Biotecnologia (10,17 anos), Têxteis e
correlatos (9,94 anos), Engenharia Civil (9,85 anos), Petróleo e Engenharia Química
(9,59 anos), Agroquímicos (8,43 anos), Cosméticos e Dentifrícios (8,16 anos),
Alimentos e Agronomia (7,85 anos), Metalurgia e Materiais (7,29 anos), Modelos de
utilidade (7,08 anos), a média da Diretoria de Patentes (DIRPA) é de 10 anos (INPI,
2018a, p. 21). Em 2019, o INPI lançou o Projeto de Combate ao Backlog, que
objetiva reduzir o número de pedidos de patentes, no período de dois anos (INPI,
2020).
Esse cenário implica, necessariamente, considerar que o Brasil possui
potencial inovador e que um ambiente jurídico-político favorável para as atividades
159

inventivas, capaz de gerar ativos intangíveis, proporciona a geração de


conhecimento e tecnologia, disponibilizando o acesso e aprimorando soluções
industriais. Contudo, os investimentos nessas atividades dependem da percepção
social de que o ambiente nacional é um espaço seguro para o desenvolvimento de
criações (CNI, 2014, p.48).
Dentro do âmbito do processo de exame do pedido de patente de invenção,
em especial com relação aos alimentos funcionais, considerando as alegações de
saúde e da atividade biotecnológica, torna-se necessária a discussão sobre as
etapas formais a respeito da Anuência da Anvisa e da autorização de acesso ao
Patrimônio Genético, fornecida pelo CGen, tópicos que serão abordados a seguir.

6.1.2 Anuência da Anvisa

Conforme discutido no capítulo anterior, INPI e Anvisa têm trabalhado em


conjunto para aprimorar os processos de concessão de patentes, que envolvem as
duas autarquias, constituindo o Grupo de Articulação Interinstitucional (GAI) (Portaria
Conjunta nº 2, de 20 de outubro de 2017).
Considerando a complexidade em identificar os pedidos de patentes, que
dependem da anuência prévia da Anvisa, em atendimento ao Art. 229-C da Lei
9.279/96 (LPI), e os altos índices de pedidos de patentes devolvidos, o INPI realizou
o estudo “Levantamento de Dados sobre Pedidos de Patente devolvidos pela Anvisa
por não se enquadrarem no Art. 229 C da Lei 9.279/96” com o fim de estabelecer os
pedidos, a partir de um perfil que não se enquadram no art. 229-C e, portanto, não
serão remetidos à análise da Anvisa para fins de anuência prévia (INPI, 2018b).
Desse modo, até 2018 os pedidos de patente que envolviam alimentos,
compreendidos pelo Decreto-Lei 986/69, e também alimentos funcionais,
regulamentados pelas resoluções RDC Anvisa n° 17 e nº18, de 30/04/1999, com
alegações de propriedades funcionais e/ou saúde eram encaminhados pelo INPI à
Anvisa para análise de anuência prévia. No levantamento foram considerados como
exemplo, pedidos enquadrados nas subclasses: “A23L 3/44”; “A23L 33/00”; “A23L
33/145”; “A61K 39/05”; “A61K 47/00”; “A23L 33/125”; “A61K 9/00” (INPI, 2018). O
estudo concluiu, portanto, que:
160

De maneira geral, pedidos de patente relacionados a alimentos funcionais,


suplementos vitamínicos e probióticos não precisam ser encaminhados à
ANVISA, ainda que tais alimentos apareçam em reivindicações do tipo
fórmula-suíça para tratamento de doenças, sejam denominados pela
depositante como composições farmacêuticas ou possam ser usados como
ingredientes em formulações farmacêuticas (INPI, 2018b).

Indubitavelmente, a iniciativa é uma medida inteligente, criando, por meio de


um ato administrativo, a interpretação sobre as classes de patentes que não
dependem da anuência prévia da Anvisa, mesmo que aparentemente devam ser
encaminhadas à agência. Isso porque, o histórico de devolução desses pedidos
indica que a agência reguladora entende pelo não enquadramento no art. 229-C da
LPI. Contudo, como visto no capítulo anterior, os atos administrativos podem ser
revistos a qualquer tempo, ficando sujeitos a discricionariedade daqueles que
presidem essas autarquias. Além disso, a omissão da Anvisa, por meio de ato da
própria autarquia, também deixa a desejar sobre a segurança desse entendimento
no cenário da anuência prévia sobre os alimentos funcionais.
Na próxima seção, será tratado sobre a autorização de acesso ao Patrimônio
Genético, considerando que o desenvolvimento de criações em Alimentos
Funcionais pressupõe o acesso e a manipulação dos recursos naturais, a depender
da situação, é uma etapa que deverá ser observada.

6.1.3 Autorização de Acesso ao Patrimônio Genético (PG) ou conhecimento


tradicional associado (CTA)

A produção de alimentos implica necessariamente no uso de recursos


biológicos, que podem ou não resultar do acesso ao patrimônio genético. Havendo o
acesso ao patrimônio genético, as regras estipuladas pela Lei 13.123/2015 e pela
Convenção da Diversidade Biológica deverão ser observadas.
Nesse contexto, a Lei da Biodiversidade define patrimônio genético como
sendo a “informação de origem genética de espécies vegetais, animais, microbianas
ou espécies de outra natureza, incluindo substâncias oriundas do metabolismo
destes seres vivos”, já o CTA é o conhecimento de domínio de determinada
comunidade tradicional, ou agricultor tradicional, sobre os recursos do patrimônio
genético. A Lei ainda determina que, para fins de pesquisa ou desenvolvimento
tecnológico, o acesso ao patrimônio genético e/ou aos conhecimentos associados
161

depende de cadastro, autorização e acompanhamento pelo Conselho de Gestão do


Patrimônio Genético (CGen) e se esse acesso resultar em algum produto ou
invenção, com finalidade de exploração econômica, deverá ser realizado acordo de
repartição de benefícios (BRASIL, 2015).
Em virtude do art. 47 da referida lei, que sujeita a concessão de patentes, que
envolvam acesso ao Patrimônio Genético (PG) ou conhecimento tradicional
associado (CTA), ao cadastro ou autorização, devendo ser obtida, atualmente, junto
ao Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (Cgen), o INPI constituiu a
autorização de acesso ou a declaração de negativa de acesso como exigência
formal no pedido de patente de invenção (INPI, 2018c).
O INPI tem fornecido essa informação desde novembro de 2015 para os
pedidos realizados por meio do peticionamento eletrônico. No entanto, aqueles
depositados em data anterior, que representam a maioria, não contemplam a
informação a respeito do acesso ao Patrimônio Genético (INPI, 2018c).
Para essa situação, o INPI notificou os depositantes de pedido de patente de
invenção que tenham acessado o patrimônio genético para apresentar a autorização
do CGen (INPI, 2018a). Aos que acessaram o PG, condicionou-se a apresentação
da “Declaração Positiva de Acesso”, com os campos relacionados ao cadastro e
autorização do CGen em branco, até que seja realizado. Portanto, esses pedidos
ficaram em “stand by” até a pronúncia do CGen, computando esse tempo de espera
na concessão da patente. Em caso de negativa, o depositante poderá optar pela
apresentação da “Declaração Negativa de Acesso” (INPI, 2018c).
Com vistas a auxiliar a atuação do CGen no cadastramento e autorização do
acesso ao patrimônio genético e/ou aos conhecimentos tradicionais associados, foi
criado o Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento
Tradicional Associado (SisGen), por meio do Decreto nº 8.772, de 11 de maio de
2016, de 3 de outubro de 2017, em funcionamento desde novembro de 2017. Dessa
forma, o cadastro de acesso ao patrimônio genético não é tarefa simples, só no
âmbito do Decreto nº 8.772 são quatro seções, dispostas em dez artigos que
dispõem de todas as formalidades de acesso, que envolvem desde a prestação de
todas as informações ao SisGen até a previsão de sanções para as infrações ao
referido decreto (BRASIL, 2016).
162

Em dados divulgados pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético sobre


o balanço dos 122 dias do SisGen, referente ao período de 6/11/2017 a 08/03/2018,
durante a 14ª Reunião Ordinária do CGen foram constatados “1.733 usuários
cadastrados no sistema; 99 instituições validadas; 662 Cadastros de Acesso; 36
Cadastros de Remessa e 16 Notificações de Produto”. Do total de acessos,
lideraram o ranking, os seguintes países, respectivamente: Estados Unidos, Reino
Unido, Austrália e países da Europa (Portugal, França, Holanda, Bélgica, Alemanha,
Itália, dentre outros), além de outros com menor índice de acesso como Japão, Hong
Kong e México (MARQUES, 2018, s.p).
Discorridos sobre os procedimentos necessários juntamente com as
exigências formais para os pedidos de patente de invenção em alimentos funcionais,
passa-se na próxima seção a demonstrar as reivindicações da indústria frente à
posição do Brasil no cenário internacional e o potencial nacional a partir da
adequação do sistema jurídico.

6.2 PERSPECTIVAS DA INDÚSTRIA BRASILEIRA E A POSIÇÃO TECNOLÓGICA


DO BRASIL NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NO CENÁRIO INTERNACIONAL

A discussão a respeito da proteção das criações e como isso impacta no


desenvolvimento almejado demanda, necessariamente, a participação da indústria,
principal setor que convive com as dificuldades do sistema.
Conforme comentado no primeiro capítulo, a indústria brasileira processa 58%
da matéria prima originada no país, ocupando o 2º lugar mundial na exportação de
alimentos (ABIA, 2018, p. 12). No entanto, esses indicadores analisados
conjuntamente com a coleta de dados da presente pesquisa29, com relação aos
alimentos funcionais, apontam que o Brasil possui a matéria prima e também a
capacidade industrial, no entanto, não detém o monopólio da tecnologia, o que
concentra-se, majoritariamente, no poder dos Estados Unidos e dos países
Europeus.
Em outros termos, o que isso representa é que o Brasil abriga uma das
maiores biodiversidades no mundo e não domina a técnica que envolve boa parte
dos produtos conhecidos atualmente, principalmente produtos terapêuticos voltados

29 Seção 5.4
163

para a saúde humana. A exemplo disso, um estudo apresentado por pesquisadores


da Universidade Federal da Bahia, da Faculdade de Tecnologia SENAI CIMATEC e
da Universidade Tiradentes/SE demostra que o monopólio de patentes de produtos
alimentícios que fazem uso do Extrato de Própolis é predominantemente estrangeiro,
em que pese o Brasil ser o terceiro maior produtor de própolis (SILVA, R. P. D.;
MACHADO, B. A. S.; COSTA, S. S., et. al., 2016, p. 1259).
O estudo, por sua vez, baseou-se na prospecção de documentos de patentes,
por meio das bases do INPI e do Escritório Europeu de Patentes (Espacenet), no
período de 1982 a 2014, com vistas a identificar as tecnologias em produtos
alimentícios inseridas nas classificações “A23B, A23C, A23D, A23F, A23G, A23J,
A23K e A23L” em conjunto com as palavras-chaves “propolis, propolis extract,
extrato, produto, bebida, alimento”. Do universo de 257 documentos selecionados,
adequados à tecnologia estudada, apenas 9 depósitos possuem como país de
origem o Brasil, frente a 78 depósitos de origem japonesa (SILVA, R. P. D.;
MACHADO, B. A. S.; COSTA, S. S., et. al., 2016, p. 1254-1258).
Nesse cenário, a demanda pela exportação da própolis brasileira é crescente,
principalmente pelo principal importador que é o Japão, responsável por absorver
75% da produção nacional, detentor também do maior número de patentes
envolvendo extrato de própolis e produtos alimentícios. Outrossim, importante
afirmar que grande parte “dos produtos alimentares adicionados de própolis
existentes hoje no mercado tem o objetivo de conferir características benéficas à
saúde, considerados como alimentos funcionais, como leite em pó, chá e bebidas
fermentadas”, reafirmando o potencial do Brasil em somar a sua capacidade de
produção agroindustrial ao domínio da tecnologia (SILVA, R. P. D.; MACHADO, B.
A. S.; COSTA, S. S., et. al., 2016, p. 1258 - 1259).
Outro exemplo é o desenvolvimento de tecnologias a partir do café verde ou
green coffee. Destaca-se que o Brasil é o maior exportador e consumidor de café no
mundo. A respeito do emprego de café verde no desenvolvimento de alimentos
funcionais, demonstra o estudo de prospecção tecnológica de Nutels, et al. (2018),
sobre as patentes depositadas, no período 1922 a 2017, nos bancos de dados do
INPI, USPTO e EPO, que

Dentre os países depositários, os Estados Unidos ganha destaque com 177


patentes depositadas durante os anos de 1922 e 2017, seguido da
164

Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI), totalizando 66


patentes, Japão com 51 patentes, China com 31 patentes, Canadá com 26
patentes, Austrália com 20 patentes, e o Brasil seguindo na 14a posição
apresentando apenas 7 patentes depositadas considerando o descritor
A61[...] utilizado na busca de patentes [...]. Esperava-se uma maior
quantidade de patentes brasileiras, já que o Brasil é um dos maiores
produtores desse setor, tal como um maior número de países participativos
para o depósito de documentos a respeito do assunto, considerando o
consumo constante do café verde em todo o mundo e possuir compostos
químicos de extrema importância que contribuem para uma melhoria da
saúde (NUTELS, et al., 2018, p. 603).

Oposto ao exemplo do Brasil, a China, aproveitando ser o maior produtor


global de uvas, investe ao mesmo tempo no desenvolvimento de tecnologias
relacionadas a esse fruto. Aproveita também os subprodutos do cultivo de uvas,
como é o caso do óleo de semente de uva, rico em ácidos graxos e vitamina E,
utilizado para fins medicinais, no qual os benefícios são atribuídos principalmente ao
combate de doenças cardiovasculares. Com relação a esse produto, a China é o
maior detentor de patentes envolvendo o aproveitamento das sementes de uvas
para fins medicinais (SOUZA, et al., 2018, p. 270 – 281).
Nessa linha, a FIESP listou nove macrotendências mundiais para os próximos
anos, sendo os alimentos funcionais uma delas. A FIESP estima que no mundo
haverão diferentes cenários a serem atendidos, dentre os principais encontram-se o
crescimento da população e o aumento da renda, podendo ocorrer em conjunto ou
isolados de acordo com a região. Para tanto, a primeira demanda advinda desse
cenário será a de alimentos. O crescimento populacional demandará a produção de
produtos básicos, desafiando a produção agrícola. O aumento da renda, por sua
vez, demandará a produção de produtos sofisticados que atendam níveis exigentes
de consumo. A intensificação dessa demanda se dará, portanto, em razão do direto
“acréscimo de 1,35 bilhão de pessoas no mundo e pelo aumento de 75% na renda
per capita (de US$ 14 mil para US$ 21 mil)”, que por consequência, gerará o cenário
de que “as regiões mais vulneráveis serão os maiores demandantes de alimentos
básicos e os países riscos [sic] de alimentos processados e proteínas” (FIESP, 2018,
p.7).
Para o atendimento da intensificação da demanda por alimentos três setores
destacam-se: insumos do agronegócio, água e alimentos processados. Em especial,
com relação a este último, estão compreendidos: “alimentos funcionais, alimentos
com maior validade, consumo de alimentos com outros perfis (por exemplo,
165

proteínas), embalagens inteligentes”. Nesse contexto, a indústria visualiza uma


ótima posição para o Brasil, considerando-se as condições de capacidade produtiva
do país. Contudo, “a tecnologia precisa ser prioridade dos investimentos nos
próximos anos para que o país consiga desenvolver competências na área” (FIESP,
2018, p.7).
Em 2019 a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
ou Económico em parceria com a FAO publicou o Relatório das Perspectivas
Agrícolas 2019-2028, com enfoque especial na América Latina. Em particular, o
Brasil possui amplo destaque na expectativa de fornecimento de alimentos no
cenário global, cotação como um dos maiores produtores para atender a demanda
pela nutrição (OCDE/FAO, 2019).
Contudo, a oportunidade se apresenta não só para a produção dos recursos
in natura, como também para a inovação no setor de alimentos. Considerando que o
desenvolvimento científico e tecnológico é imprescindível para a produção de
alimentos, as novas tecnologias devem ser buscadas e incentivadas no âmbito
nacional. Para isso, a política industrial desempenha um papel fundamental,
vinculada, por sua vez, às medidas que o Poder Executivo promove para o
desenvolvimento industrial do país. Desse modo, a política industrial não é uma
construção exata ou precisa, “depende, em grande medida, das preferências, da
intencionalidade e do poder dos governantes, assim como dos grupos sociais com
os quais estão articulados e das correlações de forças inter e intrapartidárias”
(STEIN; JÚNIOR HERRLEIN, 2016, p. 284).
Além disso, a política industrial deve ser também tecnológica, como
demonstrado pelas principais frentes da indústria. Dessa forma, um estudo
desenvolvido no âmbito do BNDES indica que a política industrial nacional deverá
ter por base uma matriz tecnológica com a escolha dos principais segmentos
fomentados. Dentro dessa matriz foram apontados, em especial ao presente estudo,
no campo da Biotecnologia os setores “Complexo Agroalimentar”, “Indústria
Química”, “Medicamentos e Vacinas”, como os mais relevantes para os próximos
anos, o que abarca também, nessas categorias, os alimentos funcionais (MIGUEZ,
et al. 2018, p. 13). Nesse âmbito, ressalta-se, na política industrial e tecnológica,
quanto à biotecnologia que:
166

Ela possui simultaneamente um grau elevado de transversalidade, ou seja,


foi indicada por vários setores, como também possui um grau elevado de
intensidade, apresentando várias tecnologias importantes para esses
setores. Nesse caso, as tecnologias associadas tentam enfrentar dois
desafios. O primeiro deles é a redução do impacto ambiental das atividades
produtivas, por exemplo, por meio de novos processos com menor impacto
ambiental. Outro motivo para a importância desta Base de Conhecimento é
o desenvolvimento do potencial da chamada “economia verde”, ou seja,
muitas das tecnologias apontadas estão vinculadas à utilização de recursos
renováveis, manuseados de modo sustentável, para desenvolver novos
produtos, materiais e processos. Por vezes os dois desafios estão, inclusive,
associados, como bioprocessos e biomateriais substituindo fatores de
produção antigos e mais poluentes. Essa Base de Conhecimento é
particularmente interessante por que o Brasil costuma ser apontado
exatamente como um potencial polo de economia verde, com os setores
produtivos se valendo da nossa diversidade de recursos naturais na
geração de renda. Ao aparecer com destaque na Matriz Tecnológica, isso
significa que não só nossos recursos naturais são hoje importantes elos
produtivos, mas há também toda uma gama de possibilidades tecnológicas
futuras que devem ser desenvolvidas, abrindo oportunidades para o
adensamento das cadeias produtivas relacionadas (MIGUEZ, et al. 2018, p.
15).

Nesse contexto, também são elementos imprescindíveis para o fomento da


indústria as discussões fiscais, trabalhistas e ambientais, que devem ser elaboradas
em sintonia com o interesse público e os princípios constitucionais. Por fim, a
proteção das criações em alimentos funcionais é uma discussão complexa que
objetiva o desenvolvimento econômico e sustentável, com o fim de atender o direito
humano à alimentação adequada e ao tratamento às doenças crônicas, por meio da
propriedade intelectual, como instrumento capaz de gerar inovação e por
consequência responder às demandas da sociedade contemporânea. Por essa
razão, a resposta a esse problema não é única, mas sim demanda uma análise
conjuntural da estrutura jurídica e da política nacional. Desse modo, passa-se a
seguir à análise sobre a (in) suficiência e (in) eficiência dos marcos regulatórios
anteriormente discutidos neste estudo, com vistas a condensar o levantamento
regulatório para a análise final.

6.3 (IN) SUFICIÊNCIA E (IN) EFICIÊNCIA REGULATÓRIA DA PROPRIEDADE


INTELECTUAL DA BIOTECNOLOGIA EM ALIMENTOS FUNCIONAIS

Conforme evidenciado no presente estudo os alimentos funcionais possuem


diversas normativas, que tratam do assunto de forma direta ou indireta, por meio da
Lei ou por atos administrativos. O objetivo da presente seção é listar essas
167

normativas para uma análise conjunta a respeito da quantidade e qualidade dos


marcos regulatórios existentes, sob a ótica da Análise Econômica do Direito. Dessa
forma, a análise a respeito da suficiência está para a quantidade ou disponibilidade
normativa a respeito do objeto investigado. Enquanto, a eficiência será analisada a
partir dos indicadores nacionais de patentes, com foco em especial na proteção da
biotecnologia em alimentos funcionais, por meio da propriedade intelectual.
Inicialmente, parte-se da conjuntura global sobre o Direito Humano à
alimentação adequada, por meio dos tratados internacionais de Direitos Humanos,
dos quais o Brasil faz parte, não obstante, também estão envolvidas agências
internacionais como a FAO, OMS e OMC, dentre outras que promovem políticas
globais sobre a alimentação saudável.
Nesse contexto, recapitula-se, no âmbito internacional, a respeito da proteção
e dos programas sobre alimentos, saúde humana, propriedade intelectual e
desenvolvimento: a Declaração Universal de Direitos Humanos; Pacto Internacional
de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC); o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); o programa Codex Alimetarius; o Programa
Mundial de Alimentos (World Food Programme – WFP); Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio; Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS); a
Década de Ação sobre a Nutrição (2016-2025); Fundo das Nações Unidas para a
Infância (UNICEF); Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB); Declaração
Universal sobre Bioética e Direitos Humanos; a Convenção da União de Paris
(CUP); Convenção de Berna e Acordo TRIPs, dentre outros.
No Brasil, as principais legislações a respeito do assunto são as disposições
dos incisos XXVII, XXVIII e XXIX, do art. 5º da Constituição Federal de 1988; a Lei
de Propriedade Industrial, Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996; Lei de Direitos
Autorais, Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998; Lei de Proteção de Cultivares, Lei
nº 9.456, de 25 de abril de 1997; Lei da Biodiversidade, Lei nº 13.123 de 2015;
Decreto nº 8.772/16, o Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do
Conhecimento Tradicional Associado (SisGen); Lei de Biossegurança, Lei nº 11.105,
de 24 de março de 2005; Normas básicas sobre alimentos, Decreto-Lei nº 986, de
21 de outubro de 1969; Regulamentação das autarquias públicas, Decreto-Lei nº
200, de 25 de fevereiro de 1967; criação do Instituto Nacional da Propriedade
Industrial, Lei nº 5.648 de 11 de dezembro de 1970; criação da Agência Nacional de
168

Vigilância Sanitária (Anvisa), Lei nº 9.782, de 26 de janeiro 1999; Resolução nº


16/99 Anvisa Resolução nº 17/99 Anvisa; Portaria nº 398/99 Anvisa; Resolução nº
19/99 ANVISA; Portaria conjunta nº 1, de 12 de abril de 2017 Anvisa/INPI;
Levantamento de Dados sobre Pedidos de Patente devolvidos pela Anvisa por não
se enquadrarem no Art. 229 C da Lei 9.279/96; Lei do Bem, Lei nº 11.196, de 21 de
novembro de 2005; Lei da Inovação, Lei nº10.973, de 2 de dezembro de 2004
atualizada pela Lei nº 13.243, de 11 de janeiro de 2016.
Com relação aos programas desenvolvidos ou as políticas públicas setoriais,
recorda-se o Centro de Excelência contra Fome do Programa Mundial de Alimentos
das Nações Unidas; I Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Plansan
2012-2015); II Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Plansan 2016-
2019); Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan); Programa de
Alimentação Escolar (PNAE); o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT); a
Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), integrada ao Sistema Único de
Saúde (SUS).
Diante do exposto, nota-se que a legislação atinente às criações em
alimentos funcionais está presente em bom número no ordenamento brasileiro, além
dos tratados internacionais que o Brasil é signatário, sendo suficiente para a
disciplina do tema. Desse modo, observa-se que não são necessários mais marcos
regulatórios, mas sim a adaptação dos já existentes, o que resulta, por segundo, na
discussão a respeito da eficiência.
Não por acaso, a Constituição Federal de 1988 dispõe, expressamente, a
respeito do princípio da eficiência, por meio do art. 37: “A administração pública
direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência [...]” (BRASIL, 1988, grifo nosso). Visa-se
orientar o funcionamento da administração pública para a eficácia da atuação
pública com objetivo de se obter resultados positivos. A eficiência está para o Direito
e vice-versa, como aduzem Gonçalves e Stelzer (2013, p. 130) “justiça e eficiência
são metades da mesma verdade que se sobrepõem alternadamente ou se
complementam ordenadamente [...]”.
Ressalva-se que a eficiência abordada na presente pesquisa deve fazer
correspondência a um desenvolvimento sustentável, o que será abordado na
169

próxima seção, que transcende a eficiência econômica para compreender as


dimensões sociais e ambientais. Nessa linha:

Compete, para o Direito, ideal de justiça próprio da sociedade eficiente, que


avalie os benefícios e os custos advindos da tomada de decisão individual e
social, em ambiente institucional de mercado-social regulado pelo Estado
conforme ditames do MEL30. O sistema econômico interage com o jurídico-
institucional; consequentemente, o Estado e o Direito assumem papel
defensor da ação dos indivíduos, segundo suficiente flexibilidade para a
adjudicação de direitos e fixação de obrigações (GONÇALVES, STELZER,
2014, p. 281).

Nesse contexto, buscando contribuir com o desenvolvimento nacional, a


Confederação Nacional da Indústria traçou como um dos principais fatores no Mapa
Estratégico da Indústria, 2018 – 2022, a Segurança Jurídica, especialmente com
relação à previsibilidade, qualidade, aplicação das normas e judicialização.
Basicamente a CNI considera que “Normas estáveis e de boa qualidade geram
menores riscos e custos operacionais para empresas e maiores incentivos ao
investimento produtivo” (CNI, 2018a, p. 44).
A previsibilidade das normas torna-se necessária, pois o setor privado
desconhece muitas vezes de que forma a sua atividade pode ser regulada,
aumentando os riscos da sua atividade. Um conhecimento claro e seguro da
legislação viabiliza menores custos e riscos para os empreendimentos, gerando, por
consequência, maiores investimentos, competitividade e crescimento. O setor
industrial considera a legislação brasileira de difícil acesso, excessiva e complexa, o
que por si só dificulta o conhecimento necessário sobre o ordenamento. A
necessidade de se refletir sobre a qualidade legislativa é urgente, a fim de ajustar a
elevada quantidade de leis (CNI, 2018a, p. 44).
Do mesmo modo, os conflitos de competência entre os poderes, no âmbito
normativo, também é outro fator que prejudica o desenvolvimento do setor privado.
Isso resulta na elevação dos custos e na retração dos investimentos, o que,
automaticamente, influencia negativamente a competitividade da indústria brasileira
(CNI, 2018a, p. 44).
Não obstante, a aplicação normativa aleatória, com diversidade de decisões
para casos semelhantes, inclusive em alguns casos idênticos, é outro fator de
insegurança jurídica. A uniformização do entendimento judicial para uma coerência

30 Mínimo Ético Legal


170

normativa é um dos fatores importantes para a segurança jurídica (CNI, 2018a, p.


46).
Com relação à judicialização, a CNI considera demasiada a judicialização de
conflitos que são incentivados pelo próprio sistema a chegar ao Poder Judiciário
antes da tentativa de soluções amigáveis. Esse perfil desestimula o
empreendedorismo nacional, pois os custos para as empresas são altos e impactam
na sobrevivência do negócio, além de superlotar o sistema Judiciário, extremamente
moroso. A CNI aponta a mediação e a arbitragem como um instrumento importante a
ser amadurecido para as resoluções de conflitos, incentivando o “estímulo ao
sistema de composição extrajudicial”. O Objetivo primordial das metas da indústria é,
portanto, aumentar a segurança jurídica (CNI, 2018a, p. 48-49). Isso demonstra que,
de modo geral, o setor industrial está descontente com a conjuntura normativa
brasileira e indica os impactos negativos decorrentes disso, em especial, com
relação à Lei da Propriedade Industrial, aponta-se:

No Brasil, os direitos e obrigações relativos à propriedade industrial estão


previstos na Lei 9.279, de 14 de maio de 1996, conhecida como Lei da
Propriedade Industrial (LPI). No âmbito do Legislativo, ao longo dos 22 anos
de vigência da LPI, tramitaram diversos projetos com propostas para alterá-
la. Apesar disso, foram poucas mudanças na LPI, demonstrando sua
estabilidade. [...] O baixo número de questionamentos judiciais, em especial
sobre a constitucionalidade da LPI, demonstra que há segurança jurídica,
ao menos em relação ao que a lei estabelece. [...] No entanto, o número de
ações judiciais que questionam a lentidão do INPI é crescente. O Judiciário
tem se manifestado pela inconstitucionalidade da espera, por violar a
razoável duração do processo prevista na Constituição e os princípios da
razoabilidade e da eficiência administrativa. [...] A principal contribuição que
pode ser dada na esfera legislativa é o estabelecimento de medidas para
fortalecer o INPI. Isso será possível por meio de instrumentos que
assegurem sua autonomia financeira e administrativa, promovendo a
execução das receitas obtidas pela prestação de seus serviços a
mecanismos gerenciais e administrativos. Essa mudança, por exemplo,
permitirá a adequação do quadro de pessoal do instituto, revisão de carreira
dos servidores, fundamentais para a melhoria de sua eficiência, e a redução
gradual dos prazos para concessão dos direitos de PI (CNI, 2018b, p. 26 –
27).

Posto isso, são inúmeras as normativas que dispõem, direta e indiretamente,


a respeito das criações sobre alimentos funcionais, confirmando o argumento do
setor industrial de que a legislação brasileira é complexa, de difícil acesso e
compreensão. O que se evidencia, portanto, é que a conjuntura legislativa existente
é suficiente, com ampla disposição para todos os segmentos necessários. Contudo,
considerando a posição tecnológica do Brasil, dos residentes, frente aos não
171

residentes, da pendência de análise dos pedidos, por mais de uma década, somado
aos altos índices de abandono dos pedidos de depósito de patentes, o sistema da
propriedade intelectual brasileiro, quanto à viabilização de um ambiente jurídico
favorável e seguro para o desenvolvimento das criações em alimentos funcionais, é
ineficiente.
Ineficiente porque, conforme o enfoque da análise econômica do direito da
propriedade intelectual, de acordo com a intangibilidade que a distingue, a eficiência
é medida pelos estímulos ao desenvolvimento das criações ou inventos, protegidos,
pela PI, em que justamente evidencia-se a ineficiência do sistema regulatório da
propriedade intelectual da biotecnologia em alimentos funcionais (LARA, 2014, p.
362). Ou ainda, como mencionado por Gonçalves e Stelzer (2005, p. 202), “a luz da
LaE, intentam-se verificar os efeitos inibidores e incentivos produzidos pelas normas
jurídicas no meio social; o comportamento eqüitativo [sic] e eficiente induzido [...].”
Dito isso, o capítulo anterior expôs que os depósitos de patentes em
alimentos funcionais, são exponencialmente menores para residentes do que não
residentes. Outrossim, há depósitos pendentes de análise que ultrapassam a
margem de dez anos na fila de espera no INPI. Além disso, do universo total de
pedidos realizados no período de 2005 – 2015, quase a metade foram abandonados
pelos depositantes, por diferentes razões, dentre elas destacam-se as exigências
formais requeridas do depositante durante o processo.
Na contramão da orientação do Teorema de Coase (COASE, 2017), conforme
demostrado na primeira seção do presente capítulo, os custos de transação são
demasiadamente elevados e o Direito não é bem definido, sendo complexo e pouco
cirúrgico. O inventor que se propor a proteger a sua criação em alimentos funcionais
irá enfrentar um sistema regulatório complexo e com conflitos de competência, irá
transitar pela regulamentação dos órgãos já mencionados, INPI, Anvisa, CGen (e
talvez outros como INMETRO, MAPA, IBAMA, Ministério da Saúde e órgãos de
proteção do consumidor, que tratam especificamente da produção e consumo de
alimentos), além de decifrar os inúmeros documentos legais e administrativos,
dispersos no ordenamento, que disciplinam a matéria.
Não obstante, superados os entendimentos legais, irá percorrer, por fim, um
longo processo na busca pelo reconhecimento dos seus direitos de inventor. Por
certo, muitos são os fatores que podem contribuir para medir a eficiência ou
172

ineficiência de algo, por essa razão frisa-se que a presente análise se limita aos
aspectos jurídicos do contexto regulatório discutido.
Demonstrada a suficiência e a ineficiência do contexto regulatório da
propriedade intelectual da biotecnologia em alimentos funcionais, passa-se à última
seção do presente estudo que visa expor os argumentos que compõem a proposta
de harmonização desse sistema.

6.4 HARMONIZAÇÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL DA BIOTECNOLOGIA


EM ALIMENTOS FUNCIONAIS NO BRASIL

Considerando o arranjo normativo já existente e a desnecessidade da criação


de outros marcos regulatórios, torna-se imprescindível a adequação do sistema da
propriedade intelectual da biotecnologia em alimentos funcionais no Brasil para
melhorar a efetividade no desenvolvimento dessas tecnologias.
A proposta molda-se, desse modo, a partir do enfoque da Análise Econômica
do Direito da Propriedade Intelectual (AED), que confere uma metodologia capaz de
avaliar os arranjos jurídicos quanto a sua eficiência e, portanto, se atingem a
finalidade em que foram propostos. Verifica ainda as possibilidades de maximização
da riqueza e de regulamentação do comportamento de troca (COASE, 2017;
POSNER, 2007). Além disso, “o Direito aplicado de forma eficiente torna-se moral,
reduzindo as externalidades na medida em que custos são internalizados quando da
violação dos próprios princípios morais” (GONÇALVES, STELZER, 2014, p. 273).
A Análise Econômica do Direito da Propriedade Intelectual pressupõe uma
avaliação da conjuntura normativa que, por sua vez, proporciona o incentivo do
desenvolvimento cientifico e tecnológico, ponto em que reside a questão da
eficiência ou não, já que o bem, produto da proteção intelectual, em razão da sua
imaterialidade, não enfrentará maiores problemas com relação à exploração
econômica, desde que os direitos estejam preestabelecidos (LARA, 2014). Contudo,
a otimização desses interesses para melhor desenvolvimento científico e
tecnológico, não deve ser dissociado do desenvolvimento social e ambiental,
conforme a própria orientação das organizações mundiais. Dessa forma, Gonçalves
e Stelzer (2014, p. 275), esclarecem que “[...] a utilização cuidadosa de critérios
econômicos harmonizados com objetivos de justiça e bem-estar social representa
173

alternativa para regras de Direito próprias do desenvolvimento”. Por essa razão, filia-
se ao entendimento dos autores de que a Análise Econômica do Direito deve ser
orientada pelo Princípio da Eficiência Econômico-Social (PEES), de modo que:

A regulamentação, em busca da eliminação do desequilíbrio social, deve


determinar a obrigação de compensação dos desfavorecidos ou destituídos
de suas prerrogativas em função da adoção de possibilidades eficientes.
Dessa forma, seja nas negociações ou na tomada de decisões, a partir da
lógica do jurista-economista, os agentes devem maximizar suas
expectativas, eliminando externalidades, através da inclusão destas no
cálculo econômico como defendido segundo o PEES. Trata-se da
elaboração e aplicação da norma de forma economicamente eficiente,
maximizando-se resultados esperados quando da adjudicação de direitos
ou da determinação de obrigações, conforme caráter recíproco das ações e
interesses, porém, considerando o reflexo social e o custo externo imposto à
sociedade presente; ou mesmo, futura, de forma a serem compensados, na
totalidade, os prejuízos impostos pelo ganho presente das partes
envolvidas. Ainda, tem-se que o PEES considera, no cálculo econométrico,
as variáveis de cunho social e temporal que, corretamente valoradas,
devem ser internalizadas de forma que a relação de custo e benefício
demonstre a realidade das utilidades auferidas quando se sacrificando
determinados bens e serviços de outrem; considerado o maior número ou a
totalidade dos agentes envolvidos (GONÇALVES, STELZER, 2014, p. 273).

Não obstante, a AED também aduz que o Direito deve ser claro e preciso
para evitar ambiguidades na sua aplicação e, por consequência, alcançar resultados
ótimos. Devendo ser objetivo e presente quando os custos de transação são altos
(COASE, 2017). Nessa questão, reside a primeira dificuldade da propriedade
intelectual da biotecnologia em alimentos funcionais, a indefinição a respeito da
natureza dos alimentos funcionais, que se configuram como alimentos ou como
medicamentos.
Primeiramente, nota-se que não há a necessidade da criação individualizada
de uma lei específica para definir a natureza dos alimentos funcionais, visto que já
existe legislação que dispõe sobre as normas básicas sobre alimentos, classificando
e conceituando outros gêneros alimentares, como os alimentos dietéticos por
exemplo, bastando, portanto, a sua adaptação. Outrossim, a definição da natureza
dos alimentos funcionais, se é medicamento ou se é alimento, é de fundamental
importância, pois a depender dessa determinação as normativas empregadas são
completamente distintas para um e para outro.
No capítulo anterior, foi apresentado o Projeto de Lei que visava incluir o
conceito de alimentos funcionais no Decreto-Lei nº 986 de 1969, arquivado em razão
do término do mandato legislativo do autor. O presente estudo filia-se a essa ideia,
174

da inclusão do conceito de alimento funcional no Decreto-Lei nº 986 de 1969, como


gênero alimentar, afastando a possibilidade de ser compreendido como
medicamento.
Justamente a indefinição a respeito da natureza dos alimentos funcionais,
prejudica a interpretação do art. 229 – C, da Lei de Propriedade Intelectual, que trata
da anuência prévia da Anvisa. Essa situação cria um conflito de competências e
concorrência regulatória na análise de concessão da patente em alimentos
funcionais, especialmente entre o INPI e a Anvisa.
Nesse contexto, a respeito da regulamentação, em virtude das externalidades
que são inviáveis ao mercado internalizar, pelos custos altos, Posner faz uma
análise sobre a eficiência dos tribunais (litígio) e das agências administrativas
(regulamentação) no controle social, aduzindo que cada um tem o seu momento e a
sua pertinência, às vezes até se aproxima um do outro. Não obstante, para além do
controle público, endossa que algumas questões podem ter custos altos até para o
próprio ente público regulamentar, situação em que há a possibilidade de
autorregulação da indústria, por meio de conselhos e entidades de classe que
tracem diretrizes de mercado (POSNER, 2010b, p. 11-13).
Em especial, o autor explica que as diferenças entre uma e outra são
classificadas em quatro dimensões: a primeira é que a regulamentação tende a
funcionar como mecanismo de prevenção, enquanto que o litígio atua no sistema
retributivo, pós-fato; em segundo, é que a regulamentação tende a seguir um padrão
de regras, já no âmbito litigioso atem-se à interpretação normativa, podendo ser
variável; em terceiro, a regulamentação emprega especialistas do objeto regulado, já
na sistemática do litígio atuaram generalistas, que podem ou não entender sobre o
assunto; e por último, a regulamentação faz uso de mecanismos públicos, ao passo
que o litígio demanda recursos privados para provocar uma decisão judicial
(POSNER, 2010b, p. 13).
Pode ocorrer também a regulação por duas ou mais agências, o que Posner
considera como uma regulação competitiva. Nesse aspecto, considera que a
fiscalização e a atuação sobre o objeto regulado podem ser mais eficientes, mas
oneram duplamente as empresas que precisam transacionar sobre os aspectos
regulados. Se houver insatisfação com a atuação do sistema regulatório vigente, a
alternativa é a reforma desse sistema. Isso pode ocorrer de duas formas, isto é,
175

reestruturar a agência já existente ou criar uma nova. Para Posner, reestruturar uma
agência já existente é uma alternativa mais viável, isso porque é um processo mais
célere, menos burocrático, evita a disputa de competências e o aumento de
complexidade do governo (POSNER, 2010b, p. 24 - 25).
Sob a lente da AED, pode-se tomar uma análise a respeito da atuação da
Anvisa e do INPI, sobre as criações em alimentos funcionais, isso porque existe
conflito de competências a respeito da concessão ou não de patentes nesse
segmento, já objeto de apreciação judicial, ensejado pela inclusão do art. 229-C na
LPI e pelas dificuldades de sua interpretação; e ainda, porque essa duplicidade de
agências reguladoras aumenta os custos de transação e diminui a eficiência no
incentivo da inovação, devendo a atuação de cada agência ser demarcada para que
não ocorra atuação simultânea e limite-se a finalidade de cada autarquia.
Retomando a máxima que a eficiência do sistema de propriedade intelectual
repousa no incentivo à inovação (LANDES, POSNER, 2006; LARA, 2014), é
necessário que isso seja reconhecido no arranjo jurídico e na política industrial
nacional. A indústria de alimentos é responsável por 9,6% do PIB (ABIA, 2018), logo,
é justificável a sua prioridade. Desse modo, a Política Nacional de Biotecnologia,
regulamentada pelo Decreto nº 6.041 de 2007, deixa a desejar nessa contemplação.
Além disso, considerando os problemas globais de sobrepeso e obesidade, como
uma preocupação de saúde pública, em conjunto com o compromisso internacional
da Agenda 2030 e a instituição da década sobre a Nutrição, nota-se que o
fortalecimento da propriedade intelectual como incentivo para a inovação não tem
sido uma prioridade. Dito isso, o incentivo à atividade inventiva é imprescindível para
o desenvolvimento de soluções, principalmente para a mitigação dos problemas de
saúde.
No relatório de atividades do INPI, em 2018, o então Ministro da Indústria,
Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Marcos Jorge de Lima afirmou o potencial
empreendedor do Brasil e que o INPI possui um papel fundamental no fomento
desse cenário. Contudo, afirmou ainda que, considerando o tempo médio de 10
(dez) anos para a concessão das patentes, frente à média de (3) três anos dos
países desenvolvidos, o Brasil precisa adotar medidas urgentes para responder e
fomentar o ambiente de negócios. Com a atribuição de investimentos nos últimos
anos, o instituto já reagiu com respostas positivas de produtividade e redução do
176

backlog. Asseverou também que, mesmo que o INPI tenha progredido no


desempenho das suas atividades, a estrutura tal como está não possui condições de
reduzir o backlog, apenas inibir o ritmo do aumento do estoque, o que demanda
emprego dos recursos públicos no aumento de servidores, na infraestrutura e na
tecnologia disponível ao instituto (LIMA, 2018, p.4).
Ocorre que empreender no Brasil não é tarefa simples, em especial, com
relação aos alimentos funcionais, pois o inventor encontrará um sistema complexo e
burocrático. Terá que transitar, na busca da proteção da sua inovação, pelo INPI,
ANVISA, CGen (dentre outros como INMETRO, MAPA, Ministério da Saúde, IBAMA,
órgãos de proteção do consumidor) encontrando custos de transação altos e um
Direito impreciso, que, sob o prisma do Teorema de Coase, resultam em um nível
baixo de eficiência para o desenvolvimento das criações. Não por menos, a indústria
processa 58% da produção agrícola do Brasil, mas não se posiciona
significativamente na detenção das patentes que envolvem inventos na área de
alimentos. O Brasil detém a matéria-prima e os meios de produção, mas os Estados
Unidos e países da Europa destacam-se na titularidade de patentes, especialmente
no tocante aos alimentos funcionais. Nesse contexto, frisa-se, em especial, o papel
do Direito:

Com custos de transação positivos, a efetivação de alguns ou todos esses


acordos contratuais se torna demasiado onerosa. Desaparecem os
incentivos para realizar algumas ações que teriam maximizado o valor de
produção. Que incentivos estarão faltando dependerá de qual é a norma
vigente, uma vez que é esta que determina que acordos contratuais terão
de ser feitos para induzir aos atos que maximizam o valor de produção. O
resultado provocado por diferentes regras jurídicas não é intuitivamente
óbvio e depende das circunstâncias de cada caso particular (COASE, 2017,
p. 179 – 180, grifo nosso).

Portanto, a harmonização da propriedade intelectual da biotecnologia passa


pela definição da natureza dos alimentos funcionais, seguida do esclarecimento
normativo a respeito das autarquias que regulam a matéria, limitando-se, cada uma
às finalidades para as quais foram criadas, como também, torna-se necessária a
simplificação do processo de pedido de patentes de invenção, ou seja, diante da
presença, inevitável, dos custos de transação, o Direito deve ser claro e preciso para
induzir resultados ótimos. Ainda, requer que o setor, que ocupa posição significativa
no PIB nacional, seja uma prioridade, com atribuição de recursos, para as políticas
177

públicas que englobam esse segmento, dando eficiência ao sistema de incentivos à


produção das criações em alimentos funcionais.
Expostos até o momento os argumentos que moldam a proposta da presente
tese, passa-se a conclusão.
178

7 CONCLUSÃO

O emprego da alimentação como recurso terapêutico remonta à Antiguidade.


Desde os tempos mais remotos o ser humano busca nos alimentos as soluções para
as suas patologias e para a manutenção da sua saúde. Essa relação é conhecida
pela dietética. Nessa linha, destaca-se que a formação dos hábitos alimentares é
algo influenciada, além da culinária, pelos aspectos sociais, econômicos, políticos e
religiosos não devendo ser analisado de forma isolada, levando-se em conta,
também, a influência cultural e a disponibilidade de recursos naturais.
Dessa forma, a alimentação no Brasil tem intrínseca relação com a
colonização do país e a chegada de imigrantes de diferentes países, que no território
nacional cambiaram as mais diferentes formas de preparar os alimentos. A
colonização, por sua vez, proporcionou a troca de ingredientes e especiarias, do
Brasil para o mundo e vice-versa, ampliando o número de recursos alimentícios
conhecidos. Protagonizaram esse cenário, portugueses, índios e o povo
afrodescendente, escravizado na época.
Com a proclamação da Independência, a urbanização e o intenso fluxo de
pessoas e mercadorias estrangeiras, disseminaram-se epidemias diretamente
vinculadas à má alimentação, conservação dos alimentos e higiene. Tal situação
impulsionou o avanço da medicina, na busca por soluções desse quadro,
identificando a alimentação como um agravante e emergindo a necessidade de
adequação dos hábitos alimentares. Iniciaram-se as combinações químicas aos
componentes alimentícios e a nutrição passou a ser prescrita em receituários.
Na sequência, com o fim do Império, deu-se espaço ao modelo de economia
capitalista baseado no trabalho remunerado, mas ainda influenciado pela cultura
escravocrata e a ascensão de grupos oligárquicos, perpetuando ainda, o sistema de
desigualdades. Isso influenciou, principalmente, o acesso à alimentação e à saúde,
que naquele momento passava a ser por conta e risco do indivíduo, até então de
responsabilidade do senhorio em razão da relação de escravidão. A partir daí,
advindo da exploração de trabalho escravo, da marginalização cultural e social, o
indivíduo, mal remunerado, passava a ser o responsável, dentre outras coisas, pelo
acesso à alimentação e a manutenção da sua saúde.
179

Já o período da República Velha foi marcado pelo crescimento desordenado


das áreas urbanas, o que impulsou o desenvolvimento industrial, atrás do setor de
serviços e da agricultura. Nesse contexto, a eclosão da Primeira Guerra Mundial,
impactou diretamente no fornecimento e distribuição dos alimentos, que resultou em
uma sequência de falsificações de produtos alimentícios, impactando na qualidade
nutricional da época, disseminavam-se epidemias como a febre amarela e a peste.
Somente com o advento da Era Vargas é que a nutrição passa a ser
considerada um problema de saúde pública e a receber especial atenção das
políticas estatais. Desde então, diversos programas têm sido criados para atender
com especial atenção a nutrição da população brasileira, sejam em atenção especial
ao trabalhador, às crianças, escolas, população de baixa renda, dentre outros. A
alimentação compõe, desde aquela época, uma preocupação do Estado. Alguns
programas atingiram sua finalidade, outros não alcançaram, mas todos em alguma
medida tinham o propósito, dentro da administração que o instituiu, de contemplar a
nutrição como uma preocupação pública.
A preocupação até a democratização era com a distribuição de alimentos,
após a Constituição Federal de 1988, além da distribuição de alimentos passa-se a
discutir também a qualidade desses alimentos e por consequência, incluir a saúde
nutricional como pauta pública. No Brasil, o direito à alimentação, é, portanto, um
direito constitucional, estando presentes, na atualidade, o Plano Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional e o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional, como as principais políticas direcionadas a esse tema.
Não só no Brasil, como também, a nível global, a alimentação tem sido
debatida nos grandes fóruns mundiais, liderado pelas agências mais importantes do
cenário internacional. Assim, a partir do reconhecimento do Direito Humano à
alimentação adequada, a segurança alimentar é hoje uma das principais
preocupações com relação ao combate à fome, a distribuição e circulação de
alimentos, a redução da pobreza, mas, sobretudo, a alimentação saudável, que vem
a sanar, na atualidade, os problemas de sobrenutrição com os altos índices de
sobrepeso e obesidade.
Não obstante, tais objetivos devem ser compreendidos dentro do aspecto da
sustentabilidade. Por essa razão, em 2015 foram propostos os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável, no âmbito das Nações Unidas, que contemplam
180

metas diretamente ligados a alimentação. Desse modo, dentre os 17 objetivos


propostos para a Agenda 2030, o segundo objetivo é intitulado “Fome Zero e
Agricultura Sustentável”. Esse objetivo refere-se, por sua vez, ao combate à fome e
ao alcance da segurança alimentar, por meio da qualidade nutricional, com o auxílio
da agricultura sustentável.
Impulsionados pelo reconhecimento da existência de 800 milhões de pessoas
em situação de desnutrição grave, em paralelo a 2 bilhões de pessoas que possuem
deficiências nutricionais, somada a situação de 159 milhões de crianças abaixo da
faixa dos cinco anos de idade, em estado de subnutrição. Em conjunto com 1,9
bilhões com sobrepeso e 600 milhões em condições de obesidade, praticamente um
terço da população mundial acima do peso saudável ideal. A Assembleia Geral das
Nações Unidas aprovou a implementação da Década de Ação sobre a Nutrição
(2016-2025), proposta pelo Brasil e dirigida pela FAO e OMS.
Nessa linha, o relatório anual sobre o Estado da Segurança Alimentar e
Nutrição no Mundo (SOFI), publicado com a participação das agências da ONU,
FAO, OMS, demonstra que há mais obesos no mundo do que pessoas em situação
de desnutrição, o que se vincula diretamente à insegurança alimentar e que esse
cenário não será superado sem a participação significativa da indústria de alimentos.
A insegurança alimentar que resulta na sobrenutrição, sobrepeso ou
obesidade é um dos principais fatores para o desenvolvimento de doenças crônicas,
em especial a hipertensão e a diabetes. As doenças crônicas, por sua vez, somadas
as alergias e intolerâncias alimentares criam uma condição de restrição alimentar
que demandam uma dieta específica para as pessoas que possuem essas
condições. Isso pode, portanto, advir de uma predisposição fisiológica ou uma
aquisição patológica.
Indicadores publicados pelo IBGE apontam que a população brasileira no
geral não tem a prática de hábitos saudáveis. A FIESP por sua vez, realizou um
estudo a respeito das preferencias alimentares dos brasileiros e indicou que
atualmente os consumidores consideram como critérios para escolha a
confiabilidade da marca, o sabor e o índice nutricional do alimento, mas que a
tendência dos próximos anos é que a saudabilidade seja um dos principais critérios,
ou seja a qualidade dos alimentos.
181

Segundo o último relatório da Vigitel, apontado na presente pesquisa, 55,7%


da população brasileira encontra-se com excesso de peso e 18,8% em estado de
obesidade. Com relação às doenças crônicas 24,7% da população é hipertensa, ou
seja, ¼ da população, e 7,7% da população é diabética (VIGITEL, 2019).
Esse cenário desafia a indústria a apresentar soluções que compatibilizem
preço, qualidade, variedade, saudabilidade, sustentabilidade, dentre outros que
atendam os critérios dos consumidores, as propostas da segurança alimentar e o
retorno esperado do produto. Por essa razão, as agencias FAO, OMS e OMC,
manifestaram, no I Fórum Internacional sobre Segurança de Alimentos e Comércio,
na Suíça, o entendimento de que a segurança alimentar é inalcançável sem a
participação do comércio, por consequência da indústria, resultando na necessária
revisão e adequação de um ambiente normativo favorável para o desempenho de
novas tecnologias.
O quadro exposto até então deve ser pensado sob a ótica da eficiência, um
sistema jurídico adequado para o desenvolvimento de soluções que atenda os
desafios da segurança alimentar só terá sentido se for eficiente. Portanto, não basta
que esse sistema seja apenas uma disposição de intenções ou objetivos futuros, ele
precisa ser viável e executável, com a tendência de promover resultados. Em
especial, estimular o desenvolvimento de soluções para a segurança alimentar por
meio da indústria, conforme apontado até o momento. De acordo com a teoria da
Análise Econômica do Direito deve-se reconhecer a intrínseca relação que essas
duas áreas possuem e o quanto se influenciam.
Desse modo, a Análise Econômica do Direito defende o direito de patentes
como um instrumento capaz de fomentar a inovação e o desenvolvimento
tecnológico, uma vez que assegura o retorno dos esforços empregados no
desenvolvimento da tecnologia. Além disso, propõe a revelação do invento, que
acresce ao campo do conhecimento informações até então inexistentes, o que
resulta no avanço do estado da técnica, devendo o invento ser suficientemente
descrito.
Além do mais, o sistema de patentes é capaz de estimular a competitividade
industrial e, por consequência, o desenvolvimento econômico e tecnológico.
Considera, ainda, a Teoria Econômica do Direito, que inventar é melhor que fabricar,
182

pois a patente de invenção concebe o monopólio sobre a criação, podendo ser


licenciada ou cedida, para só a partir daí, passar para o estágio de fabricação.
Outrossim, um sistema de patentes eficiente viabiliza uma perspectiva
econômica desejável, uma vez que os inventores optam pela proteção por patentes
de invenção e não segredo industrial, disponibilizando a tecnologia ao campo do
conhecimento e viabilizando a dinâmica criativa; ainda, eleva os níveis de eficiência
da fabricação do produto já que não preocupa-se com o sigilo; também favorece o
desenvolvimento de pequenas empresas por meio dos privilégios de invenções para
cessão e licenciamento, visto que eventualmente podem não possuir a capacidade
de fabricação do invento e por fim, evita o aumento do mercado monopolísticos uma
vez a informação e o conhecimento circulam abertamente, fomentando o mercado
competitivo. Contudo, para que se obtenha um nível eficiente do sistema de
propriedade intelectual, como incentivo ao desenvolvimento científico e tecnológico,
quando os custos de transação são positivos, deve-se ter um direito bem definido.
Desse modo, não é por acaso a existência de tratados, convenções e
agências internacionais que tratam de traçar diretrizes globais para a constituição
dos sistemas de propriedade intelectual nacionais. Esses tratados tem o condão de
vincular a participação dos Estados nos principais fóruns globais, condicionando
essa participação à ratificação das convenções.
No Brasil, por sua vez, o desenvolvimento do sistema de propriedade
intelectual está diretamente relacionado com o desenvolvimento nacional. Por essa
razão, existe um sistema de proteção das criações intelectuais, consolidado e
distribuído em três grandes áreas: propriedade industrial, direitos de autor e sui
generis.
Conforme todo o exposto até o momento, o que já foi dito é que se têm
desafios a superar no âmbito da segurança alimentar que demandam soluções que
competem à indústria. Além disso, o sistema de propriedade intelectual é capaz de
estimular essas soluções e criar um ambiente favorável para o desenvolvimento
dessas tecnologias.
Desse modo, a proteção intelectual das criações que colaborem para a
superação dos desafios da segurança alimentar é melhor recepcionada, no Brasil,
no âmbito da proteção da propriedade industrial, em especial pelo sistema de
patentes. No entanto, esse sistema deve ser analisado dentro do contexto geral da
183

propriedade intelectual, pois também sofre a influência de outros tipos de proteção,


como por exemplo, a proteção sui generis.
Em resposta a produção de alimentos com maior qualidade, que atenda aos
desafios da segurança alimentar e diferentes condições da saúde humana, surgem
os alimentos funcionais com propriedades específicas que podem ser manipuladas
pela Biotecnologia a fim de se alcançar os produtos desejados.
Nesse sentido, nota-se que os aspectos regulatórios das criações em
alimentos funcionais deixam a desejar no tocante à política nacional de
biotecnologia, definição jurídica da categoria desses alimentos e conflitos de
competência entre as principais autarquias envolvidas, quais sejam o INPI e a
ANVISA.
O levantamento de dados que evidencia a atual posição tecnológica do país
demonstra que os depósitos de patentes de invenção realizados por não residentes
é exponencialmente maior do que os residentes, destacando-se em especial os
Estados Unidos e os países da Europa. No tocante aos residentes, os estados de
São Paulo, Minas Gerais e Paraná lideram o número de depósitos. De outro modo,
com relação à natureza jurídica do depositante residente, no período de 2005 a
2009, os números de depósitos realizados por pessoas físicas e pessoas jurídicas
eram quase equivalentes. Porém, a partir do ano 2010 a 2015, os depósitos
realizados por pessoas jurídicas cresceram significativamente frente aos efetivados
por pessoas físicas.
Com relação aos despachos do INPI, do total dos depósitos realizados entre
período de 2005 a 2015, conforme já apresentado, 6% foram deferidos, 7% foram
indeferidos, 43% estavam pendentes e 44% foram abandonados, até o ano de 2018,
em que a coleta de dados foi realizada. Nota-se que existem depósitos pendentes
em todos os anos do período determinado, o que demonstra que existem depósitos
de patentes com decisão pendente, por pelo menos, 13 (treze) anos da data de
depósito. Chama-se atenção em especial, de que um dos códigos incidentes no
número de depósitos abandonados é o “11.2 - Arquivamento - Art. 36 §1° da LPI -
Arquivado definitivamente o pedido de patente, uma vez que não foi respondida a
exigência formulada. (Patentes Arquivamento).” (INPI, [201?]), que pode se
relacionar com as exigências atinentes ao acesso ao patrimônio genético, acesso
aos conhecimentos tradicionais associados, anuência da ANVISA, dentre outros.
184

Cumpre-se ainda ressaltar do presente estudo, que o desenvolvimento


apontado compõe uma aliança necessária entre o desenvolvimento econômico e o
desenvolvimento sustentável, considerando que ambos são imprescindíveis para o
alcance e a manutenção dos objetivos almejados. Para tanto a Análise Econômica
do Direito deve ser orientada pelo Princípio da Eficiência Econômico Social (PEES) e
pelo Mínimo Ético Legal na atuação estatal.
Contudo, o alcance desse desenvolvimento no âmbito da segurança
alimentar, por meio da proteção intelectual das criações em alimentos funcionais
torna-se inviável frente às dificuldades que o sistema condiciona, com altos custos
de transação, entre as principais residem na demora, ou backlog no exame de
patentes; ainda, a anuência da Anvisa que ora é necessária, outra não, ficando-se
no vácuo a legislação a respeito da sua obrigatoriedade ou não para a proteção
intelectual dos alimentos funcionais; e também a autorização de acesso ao
patrimônio genético que acabou sendo incluída como exigência formal no processo
de exame de patentes, suspendendo os exames em análise até que se providencie
a documentação expedida pelo CGen, que acaba deixando a dúvida de quantas
exigências mais podem surgir no futuro com diferentes questões, criando exigências
formais no meio de processos de exame e suspendo-os, levando mais tempo ainda
para a conclusão desses exames. O inventor depara-se, no Brasil, com um arranjo
normativo complexo e burocrático.
Em análise de todo o quadro normativo apresentado, conclui-se que o
contexto jurídico brasileiro é suficiente e ineficiente para um sistema de proteção
intelectual das criações em alimentos funcionais, que responda satisfatoriamente os
desafios da segurança alimentar e eleve o protagonismo do Brasil no cenário global
como detentor da tecnologia. Isso porque, não é necessária a criação de mais
marcos regulatórios, e sim a harmonização dos já existentes, em uma política
sincronizada com o mesmo fim.
Considerando que o direito à alimentação adequada é um direito humano;
que os índices de obesidade e doenças crônicas ligadas a má nutrição superam, na
atualidade, a desnutrição; que o Brasil protagoniza o mercado da segurança
alimentar mundial; que os alimentos funcionais compõem as macrotendências para
2030; que o Brasil assumiu, no âmbito da ONU, o compromisso internacional com a
Década da Nutrição, em conjunto com a Agenda 2030 e os objetivos do
185

desenvolvimento sustentável, o presente estudo propõe o seguinte conjunto de


medidas, organizado em 7 itens:
1. A inclusão do conceito de alimento funcional no Decreto-Lei Nº 986, De 21
de outubro de 1969 que institui normas básicas sobre alimentos, com o fim de definir
a natureza jurídica do alimento funcional.
2. A inclusão de parágrafo único ao art. 229-C, na Lei da Propriedade
Industrial, endossando o ato administrativo “Levantamento de Dados sobre Pedidos
de Patente devolvidos pela ANVISA por não se enquadrarem no Art. 229 C da Lei
9.279/96” de que anuência prévia não se aplica aos alimentos funcionais; em
conjunto, afirmar que o registro sanitário para comercialização do produto é ato
posterior à concessão da patente, definindo, legislativamente, a atuação das
autarquias envolvidas.
3. Incluir na Política Nacional de Biotecnologia, Decreto nº 6.041, de 8 de
Fevereiro de 2007, a prioridade sobre o desenvolvimento de alimentos funcionais
por meio do fortalecimento da Propriedade Industrial.
4. Incluir no rol de estratégias para a década da nutrição, Agenda 2030 e
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, o fortalecimento da propriedade
industrial como motor para a inovação em alimentos funcionais, que proponham
soluções para a segurança alimentar; ou seja, considerar a Propriedade Industrial
como um instrumento para o alcance dos objetivos traçados por esses documentos,
omissos quanto à questão.
5. Em que pese a significativa produção agrícola do Brasil e o processamento
de 58% dessa produção pela indústria brasileira. A coleta de dados realizada em
2018, sobre as patentes em alimentos funcionais, no período de 2005 - 2015, indica,
em conjunto com os dados da indústria, que o Brasil detém a matéria prima e os
meios de produção, mas não detém a tecnologia, o que está concentrado,
majoritariamente, entre Estados Unidos e os países da Europa. Esse cenário é o
oposto do que se deseja, com base na Análise Econômica do Direito, a respeito do
monopólio da invenção frente à fabricação. Deve-se priorizar o desenvolvimento da
tecnologia.
6. Estabelecer procedimento de análise de admissibilidade para o depósito de
patentes, que incluam as exigências pertinentes a outros órgãos da administração
antes da submissão do pedido. Consignando que as autorizações ou anuências de
186

órgãos administrativos, que não se refiram a atos de competência do INPI, devem


preceder o pedido de depósito da patente, como condição de admissibilidade prévia
ao depósito; visando diminuir o backlog de patentes com questões que não
competem ao INPI.
7. Diante do potencial protagonismo do Brasil no fornecimento de alimentos,
no cenário internacional, considerando a inclusão do fortalecimento da propriedade
industrial nas políticas citadas anteriormente, viabilizar um exame prioritário para
alimentos funcionais no âmbito do INPI.
Ressalta-se que a alimentação é um problema mundial complexo, o uso da
propriedade industrial como instrumento capaz de gerar soluções para a segurança
alimentar é uma das alternativas, mas não a única.
Da mesma forma, o fortalecimento da política de propriedade industrial, que
se propõe, é uma das alternativas para o fomento da inovação em alimentos
funcionais, mas não exclui a importância do fortalecimento de outros segmentos
como empreendedorismo, pesquisa e desenvolvimento, formação de capital
intelectual, recursos humanos, investimentos, dentre outros que também são
imprescindíveis para a inovação.
Nesse cenário, reforça-se que as patentes concedem exclusividade aos
inventores sobre suas criações, em detrimento do uso por terceiros, por meio da
exclusão, criando dessa forma um sistema de privilégios e benefícios temporários.
Essa forma de privilégio pode parecer em um primeiro momento um incentivo para
as desigualdades. No entanto, há uma via de mão dupla, por um lado o inventor
recebe a retribuição pelo seu esforço inventivo, por tempo determinado. Findo o
prazo dos privilégios, a sociedade terá pela eternidade o acesso a sua criação, ou
seja, o domínio público da criação. Ao fim, inventor e sociedade são
recompensados, cada um ao seu tempo.
Posto isso, a presente pesquisa respondeu a indagação: “o contexto
regulatório brasileiro é um ambiente jurídico suficiente e eficiente capaz de favorecer
o desenvolvimento das criações em alimentos funcionais?”. Afirmando que o
contexto regulatório brasileiro é suficiente e ineficiente no tocante a propriedade
intelectual da biotecnologia em alimentos funcionais, corroborando com a hipótese
“b”, indicada na introdução deste estudo. Isso porque a matéria encontra-se
suficientemente disciplinada no ordenamento jurídico brasileiro, em quantidade
187

significativa. Contudo, a discrepância entre os depósitos de patentes realizados por


residentes e não-residentes, somados ao alto índice de abandono dos pedidos e do
mesmo modo, aos altos custos de transação, que tornam o sistema complexo e
burocrático, sob um arranjo jurídico impreciso, conclui-se, pelo prisma da AED, que
este é um sistema ineficiente.
Desse modo, um sistema suficiente e eficiente na proteção das criações em
alimentos funcionais, por meio da propriedade intelectual, é capaz de gerar um
desenvolvimento econômico sustentável e atender, satisfatoriamente, o direito
humano à alimentação adequada frente aos desafios da demanda crescente por
alimentos e à segurança alimentar.
188

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dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida,
na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,
promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA
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49.2011.4.01.3400. SEÇAO JUDICIARIA DO DISTRITO FEDERAL – 7º VARA.
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CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio,
dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga a Lei nº 8.974, de
5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória nº 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e
os arts. 5º , 6º , 7º , 8º , 9º , 10 e 16 da Lei nº 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e
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incentivos fiscais para a inovação tecnológica; altera o Decreto-Lei nº 288, de 28 de
fevereiro de 1967, o Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972, o Decreto-Lei nº
2.287, de 23 de julho de 1986, as Leis nºs 4.502, de 30 de novembro de 1964,
8.212, de 24 de julho de 1991, 8.245, de 18 de outubro de 1991, 8.387, de 30 de
dezembro de 1991, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.981, de 20 de janeiro de 1995,
8.987, de 13 de fevereiro de 1995, 8.989, de 24 de fevereiro de 1995, 9.249, de 26
de dezembro de 1995, 9.250, de 26 de dezembro de 1995, 9.311, de 24 de outubro
de 1996, 9.317, de 5 de dezembro de 1996, 9.430, de 27 de dezembro de 1996,
9.718, de 27 de novembro de 1998, 10.336, de 19 de dezembro de 2001, 10.438, de
26 de abril de 2002, 10.485, de 3 de julho de 2002, 10.637, de 30 de dezembro de
2002, 10.755, de 3 de novembro de 2003, 10.833, de 29 de dezembro de 2003,
10.865, de 30 de abril de 2004, 10.925, de 23 de julho de 2004, 10.931, de 2 de
agosto de 2004, 11.033, de 21 de dezembro de 2004, 11.051, de 29 de dezembro de
2004, 11.053, de 29 de dezembro de 2004, 11.101, de 9 de fevereiro de 2005,
11.128, de 28 de junho de 2005, e a Medida Provisória nº 2.199-14, de 24 de agosto
de 2001; revoga a Lei nº 8.661, de 2 de junho de 1993, e dispositivos das Leis nºs
8.668, de 25 de junho de 1993, 8.981, de 20 de janeiro de 1995, 10.637, de 30 de
dezembro de 2002, 10.755, de 3 de novembro de 2003, 10.865, de 30 de abril de
2004, 10.931, de 2 de agosto de 2004, e da Medida Provisória nº 2.158-35, de 24 de
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dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao
conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios para
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209

ANEXO A - Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe IPC (Alimentos


Funcionais) e origem do depositante, 2005-2015

Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe


IPC (Alimentos Funcionais) e origem do
depositante, 2005-2015

Ano Residente Não-residente Total


2005 275 1951 2226
2006 254 2077 2331
2007 303 2141 2444
2008 295 2192 2487
2009 309 1982 2291
2010 351 1942 2293
2011 342 2040 2382
2012 319 2111 2430
2013 364 2026 2390
2014 288 2128 2416
2015 293 2268 2561
Fonte: INPI, Assessoria de Assuntos Econômicos, BADEPI v5.0.
Nota: (1) Para determinar a origem do depósito foram
consideradas as características do 1º depositante. N.A.: Não
avaliados por não identificação do 1º depositante ou da
origem do 1º depositante.
210

ANEXO B - Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe IPC (Alimentos


Funcionais) e origem do depositante, 2005-2015

Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe IPC (Alimentos Funcionais) e origem do depositante, 2005-2015

Classe IPC
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
A21D 18 37 35 25 32 28 27 25 46 31 32
Não Residentes 9 19 19 8 19 17 15 18 25 13 20
Residentes 9 18 16 17 13 11 12 7 21 18 12
A22C 20 19 21 37 33 22 46 39 31 33 46
Não Residentes 17 15 16 27 26 16 32 32 24 29 38
Residentes 3 4 5 10 7 6 14 7 7 4 8
A23B 26 12 19 21 29 25 19 22 23 20 23
Não Residentes 16 11 13 16 19 15 13 21 17 15 12
Residentes 10 1 6 5 10 10 6 1 6 5 11
A23C 37 28 44 31 44 42 34 36 48 35 49
Não Residentes 27 23 36 27 38 31 28 30 31 27 39
Residentes 10 5 8 4 6 11 6 6 17 8 10
A23D 9 17 24 14 18 19 25 28 20 37 22
Não Residentes 7 14 22 12 14 17 24 24 20 33 19
Residentes 2 3 2 2 4 2 1 4 4 3
A23F 14 11 22 15 14 17 14 15 23 16 19
Não Residentes 9 6 19 9 9 15 11 11 17 10 15
Residentes 5 5 3 6 5 2 3 4 6 6 4
A23G 50 54 60 51 61 54 74 51 70 82 78
Não Residentes 39 44 45 44 37 38 58 42 50 71 66
Residentes 11 10 15 7 24 16 16 9 20 11 12
A23J 13 20 21 19 27 19 27 23 26 21 17
Não Residentes 7 16 19 18 23 15 25 21 23 17 14
Residentes 6 4 2 1 4 4 2 2 3 4 3
A23L 187 216 198 264 246 236 244 251 295 282 295
Não Residentes 126 159 152 208 186 161 188 202 242 229 252
Residentes 61 57 46 56 60 75 56 49 53 53 43
A23P 13 5 6 3 10 8 5 7 4 8 9
Não Residentes 9 4 4 2 6 4 5 5 3 7 6
Residentes 4 1 2 1 4 4 2 1 1 3
A61K 1839 1912 1994 2007 1777 1823 1867 1933 1804 1851 1971
Não Residentes 1685 1766 1796 1821 1605 1613 1641 1705 1574 1677 1787
Residentes 154 146 198 186 172 210 226 228 230 174 184
Outras classes 15770 17293 18958 20434 19807 22286 25505 27058 26485 26170 25148
(1)
N.A. 490 227 254 199 285 407 771 947 2002 1755 2508

Total 18486 19851 21656 23120 22383 24986 28658 30435 30877 30341 30217
Fonte: INPI, Assessoria de Assuntos Econômicos, BADEPI v5.0.
Nota: (1) Os depósitos de patentes de invenção foram tabelados considerando o primeiro símbolo de classificação dos pedidos já publicados
na data da extração dos dados. N.A.: Não avaliados por não possuírem classificaçãona data da extração dos dados .
211

ANEXO C - Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe IPC (Alimentos


Funcionais) e País do 1º Depositante, 2005-2015

Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe IPC (Alimentos Funcionais) e País do 1º Depositante, 2005-2015

País Sigla do País


2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Estados Unidos US 873 893 858 821 790 717 730 777 711 865 960
Brasil BR 275 254 303 295 309 351 342 319 364 288 293
Suíça CH 191 187 217 287 224 220 198 201 257 203 175
Alemanha DE 175 217 165 190 138 186 174 173 154 152 120
França FR 146 125 140 153 188 165 118 160 153 150 184
Holanda NL 105 137 169 141 128 119 153 134 168 142 164
Japão JP 66 52 74 87 99 95 106 112 87 91 92
Reino Unido GB 58 68 74 78 58 69 77 76 59 80 53
Itália IT 38 50 48 36 43 23 51 46 45 28 50
Bélgica BE 22 27 53 47 44 30 32 30 23 29 40
Outros Países - 276 321 343 352 270 317 397 401 369 388 430

N.A. (1) 1 0 0 0 0 1 4 1 0 0 0
Total 2226 2331 2444 2487 2291 2293 2382 2430 2390 2416 2561
Fonte: INPI, Assessoria de Assuntos Econômicos, BADEPI v5.0.
Nota: (1) N.A.: Não avaliados por não identificação do 1º depositante ou da origem do 1º depositante.
212

ANEXO D - Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe IPC (Alimentos


Funcionais) e Estado do 1º Depositante Residente, 2005-2015

Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe IPC (Alimentos Funcionais) e Estado do 1º Depositante Residente, 2005-2015

Nome e sigla do Estado


2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Acre AC 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0
Alagoas AL 1 1 3 1 3 4 1 1 2 3 5
Amazonas AM 2 2 0 3 10 8 8 4 6 7 2
Amapá AP 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Bahia BA 4 7 5 5 4 7 7 7 16 7 8
Ceará CE 14 3 4 7 9 12 8 3 14 17 13
Distrito Federal DF 0 5 3 2 4 4 5 8 9 2 2
Espírito Santo ES 1 3 0 1 2 0 3 5 5 2 2
Goiás GO 12 2 6 6 5 11 10 12 12 9 5
Maranhão MA 2 0 0 1 4 5 9 4 6 3 6
Minas Gerais MG 15 31 46 27 32 46 48 39 52 24 12
Mato Grosso do Sul MS 2 2 0 0 2 4 1 5 4 0 0
Mato Grosso MT 1 5 3 1 0 1 0 2 0 2 1
Pará PA 9 1 0 2 3 3 8 6 2 5 4
Paraíba PB 5 3 1 1 1 3 0 2 2 1 5
Pernambuco PE 4 6 2 3 5 5 8 7 11 21 14
Piauí PI 0 2 0 0 2 0 9 10 5 6 1
Paraná PR 28 19 41 31 48 48 32 45 37 29 28
Rio de Janeiro RJ 23 18 16 21 17 25 16 17 20 13 6
Rio Grande do Norte RN 1 2 0 1 1 2 0 4 5 3 11
Rondônia RO 0 2 0 0 0 0 0 0 1 0 0
Roraima RR 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Rio Grande do Sul RS 6 14 15 29 17 15 28 27 28 22 39
Santa Catarina SC 11 13 12 29 24 28 22 14 19 24 26
Sergipe SE 0 0 1 0 8 3 9 4 12 10 12
São Paulo SP 132 113 145 123 108 116 110 92 89 75 88
Tocantins TO 0 0 0 0 0 1 0 1 0 2 0

N.A.(1) 0 0 0 0 0 0 0 0 7 1 3

Total 275 254 303 295 309 351 342 319 364 288 293
Fonte: INPI, Assessoria de Assuntos Econômicos, BADEPI v5.0.
Nota: (1) "N.A.": Não avaliados por não identificação da origem do 1º depositante residente.
213

ANEXO E - Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe IPC (Alimentos


Funcionais) e Natureza Jurídica 1o. Depositante Residentes, 2005-2015

Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe


IPC (Alimentos Funcionais) e Natureza Jurídica 1o.
Depositante Residentes, 2005-2015

Ano PF PJ Total
2005 135 140 275
2006 138 116 254
2007 147 156 303
2008 161 134 295
2009 145 164 309
2010 144 207 351
2011 111 231 342
2012 95 224 319
2013 101 263 364
2014 67 221 288
2015 80 213 293
Fonte: INPI, Assessoria de Assuntos Econômicos, BADEPI v5.0.
214

ANEXO F - Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe IPC (Alimentos


Funcionais), por decisão do INPI, 2005-2015

Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe IPC (Alimentos Funcionais), por
decisão do INPI, 2005-2015

Ano Deferimento Indeferimento Abandono Pendente Total


2005 198 327 1569 132 2226
2006 166 277 1576 312 2331
2007 171 221 1568 484 2444
2008 179 236 1476 596 2487
2009 230 215 1228 618 2291
2010 201 188 1035 869 2293
2011 178 194 820 1190 2382
2012 147 155 741 1387 2430
2013 106 98 651 1535 2390
2014 28 38 507 1843 2416
2015 8 11 344 2198 2561
Fonte: INPI, Assessoria de Assuntos Econômicos, BADEPI v5.0.
Nota: (1) Para determinar a origem do depósito foram consideradas as características do 1º depositante.
N.A.: Não avaliados por não identificação do 1º depositante ou da origem do 1º depositante.

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