PDPC1486 T
PDPC1486 T
PDPC1486 T
Daniela Lippstein
Florianópolis/SC,
2020
Daniela Lippstein
Florianópolis/SC,
2020
Daniela Lippstein
________________________
Prof. Dr. Araken Alves de Lima
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)
_________________________
Profa. Dra. Patrícia Loureiro Abreu Alves Barbosa
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
_________________________
Prof. Dr. Everton das Neves Gonçalves
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi
julgado adequado para obtenção do título de doutor em Direito.
Documento assinado digitalmente
Norma Sueli Padilha
Data: 06/04/2020 11:23:51-0300
CPF: 050.840.658-71
____________________________
Profa. Dra. Norma Sueli Padilha
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Direito
Documento assinado digitalmente
Norma Sueli Padilha
Data: 06/04/2020 11:24:41-0300
CPF: 050.840.658-71
____________________________
Prof. Dr. Luiz Otávio Pimentel
Orientador
____________________________
Profa. Dra. Salete Oro Boff
Coorientadora
Florianópolis/SC, 2020.
Dedico este trabalho ao tempo,
que ele seja generoso.
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 20
2 O DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E
SEGURANÇA ALIMENTAR: QUANDO A SOBRENUTRIÇÃO
SUPERA A DESNUTRIÇÃO.................................................................. 25
2.1 ALIMENTAÇÃO E DIETÉTICA: UM OLHAR GLOBAL DA RELAÇÃO
ENTRE O ALIMENTO E A SAÚDE HUMANA ATRAVÉS DOS
TEMPOS................................................................................................. 25
2.2 ALIMENTAÇÃO NO BRASIL: INFLUÊNCIAS MULTICULTURAIS
HISTÓRICAS À CONTEMPORANEIDADE............................................ 35
2.3 SEGURANÇA ALIMENTAR E DIREITOS HUMANOS: UMA PAUTA
GLOBAL.................................................................................................. 41
2.4 HÁBITOS ALIMENTARES, DOENÇAS CRÔNICAS, ALERGIAS E
INTOLERÂNCIAS ALIMENTARES: INDICADORES NACIONAIS......... 48
2.5 INDÚSTRIA DE ALIMENTOS E OS DESAFIOS DA SEGURANÇA
ALIMENTAR........................................................................................... 55
3 ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO E A PROTEÇÃO GLOBAL DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL............................................................ 60
3.1 ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO.................................................... 60
3.2 ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL........................................................................................ 67
3.3 TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS SOBRE
PROPRIEDADE INTELECTUAL............................................................ 74
4 SISTEMA DE PROTEÇÃO JURÍDICA DAS CRIAÇÕES NO BRASIL 88
4.1 CONTEXTO HISTÓRICO-JURÍDICO DA FORMAÇÃO DOS
DIREITOS DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NO BRASIL:
PROPRIEDADE INDUSTRIAL............................................................... 88
4.2 CONTEXTO HISTÓRICO-JURÍDICO DA FORMAÇÃO DOS
DIREITOS DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NO BRASIL:
DIREITOS DE AUTOR........................................................................... 97
4.3 LEGISLAÇÃO E PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL NO BRASIL................................................................... 99
4.3.1 Aspectos jurídicos da proteção da Propriedade
Industrial................................................................................................ 99
4.3.1.1 Patentes e Modelo de Utilidade.............................................................. 100
4.3.1.2 Desenho Industrial.................................................................................. 103
4.3.1.3 Marcas.................................................................................................... 104
4.3.1.4 Indicações Geográficas.......................................................................... 106
4.3.1.5 Dos Crimes contra a Propriedade Industrial........................................... 107
4.3.2 Aspectos jurídicos da proteção dos Direitos de
Autor...................................................................................................... 107
4.3.3 Aspectos jurídicos da proteção sui 110
generis...................................................................................................
4.3.3.1 Cultivares................................................................................................ 110
4.3.3.2 Conhecimentos Tradicionais Associados a Biodiversidade.................... 111
5 BIOTECNOLOGIA E ALIMENTOS FUNCIONAIS: ASPECTOS
REGULATÓRIOS................................................................................... 115
5.1 BIOTECNOLOGIA EM ALIMENTOS: CONTEXTO REGULATÓRIO
NACIONAL E INTERNACIONAL............................................................ 115
5.2 CRIAÇÕES EM ALIMENTOS FUNCIONAIS: ATUAÇÃO DAS
AUTARQUIAS FEDERAIS DO INPI E ANVISA..................................... 122
5.3 CONJUNTURA REGULATÓRIA BRASILEIRA SOBRE ALIMENTOS
FUNCIONAIS.......................................................................................... 129
5.4 PATENTES DE INVENÇÃO EM ALIMENTOS FUNCIONAIS
DEPOSITADAS NO BRASIL EM NÚMEROS....................................... 133
6 A PROPRIEDADE INTELECTUAL DA BIOTECNOLOGIA EM
ALIMENTOS FUNCIONAIS NO BRASIL......................................... 154
6.1 CONCESSÃO DE PATENTES EM ALIMENTOS FUNCIONAIS:
BARREIRAS E ENTRAVES................................................................... 154
6.1.1 Depósito de patentes de invenção e Backlog INPI........................... 155
6.1.2 Anuência da Anvisa............................................................................. 159
6.1.3 Autorização de Acesso ao Patrimônio Genético (PG) ou
conhecimento tradicional associado (CTA)....................................... 160
6.2 PERSPECTIVAS DA INDÚSTRIA BRASILEIRA E A POSIÇÃO
TECNOLÓGICA DO BRASIL NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NO
CENÁRIO INTERNACIONAL................................................................. 162
6.3 (IN) SUFICIÊNCIA E (IN) EFICIÊNCIA REGULATÓRIA DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL DA BIOTECNOLOGIA EM
ALIMENTOS FUNCIONAIS................................................................. 166
6.4 HARMONIZAÇÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL DA
BIOTECNOLOGIA EM ALIMENTOS FUNCIONAIS NO
BRASIL................................................................................................... 172
7 CONCLUSÃO......................................................................................... 178
REFERÊNCIAS...................................................................................... 188
ANEXO A – Tabela Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a.
Classe IPC (Alimentos Funcionais) e origem do depositante,
2005-2015............................................................................................... 209
ANEXO B – Tabela Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a.
Classe IPC (Alimentos Funcionais) e origem do depositante,
2005-2015 (subclasses)........................................................................ 210
ANEXO C – Tabela Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a.
Classe IPC (Alimentos Funcionais) e País do 1º Depositante,
2005-2015............................................................................................... 211
ANEXO D – Tabela Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a.
Classe IPC (Alimentos Funcionais) e Estado do 1º Depositante
Residente, 2005-2015........................................................................... 212
ANEXO E – Tabela Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a.
Classe IPC (Alimentos Funcionais) e Natureza Jurídica 1o.
Depositante Residentes, 2005-2015.................................................... 213
ANEXO F – Tabela Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a.
Classe IPC (Alimentos Funcionais), por decisão do INPI, 2005-
2015........................................................................................................ 214
20
1 INTRODUÇÃO
encontra para adaptar as suas necessidades. Essa relação transpassa a cultura dos
povos, em todos os momentos da história, considerando que:
[...] portanto, não basta decidir que nesses mitos a natureza, a animalidade,
são investidas na cultura e na humanidade. Naturalização e cultura,
animalidade e humanidade tornam-se mutuamente permeáveis. Passa de
um reino para outro reino livremente e sem impedimentos: em vez de haver
um fosso entre os dois, eles são misturados ao ponto de que cada fim de
um dos reinos evoca no ato um fim correspondente no outro, próprio para
significá-lo como o fez na sua vez1 (LÉVI-STRAUSS, 1996, p. 273).
1No original: así que no basta con decidir que en estos mitos la naturaleza, la animalidad, se invierten
en cultura y humanidad. La naturaliza y la cultura, la animalidad y la humanidad se vuelven en ellos
mutuamente permeables. Se pasa de un reino a otro reino libremente y sin obstáculo: en vez de que
exista un foso entre los dos, se mezclan hasta el punto de que cada término de uno de los reinos
evoca en el acto un término correspondiente en el otro, propio para significarlo como él lo significa a
su vez (LÉVI-STRAUSS, 1996, p. 273).
28
preocupação da época não circunda uma cultura dietética, mas sim, a ingestão de
calorias suficientes para a manutenção a força de trabalho (PEDROCCO, 2004, p.
765).
Já no século XX, consagra-se na Europa uma transformação drástica no
hábito alimentar. Nessa linha, “somente após a Segunda Guerra Mundial, sobretudo
a partir dos anos 50, é que, em todos os níveis, se produz a passagem definitiva
para regimes dietéticos baseados nas proteínas ‘nobres’” (SORCINELLI, 2004, p.
803). Em verdade, a mudança de hábitos alimentares na época permitiu a
eliminação de patologias vinculadas à má nutrição, porém, fez surgir outras. Nesse
sentido, “oncologistas afirmam que se levantou o problema das doenças cardio-
vasculares [sic] e neoplásticas à medida que aumentava o bem-estar alimentar”
(SORCINELLI, 2004, p. 803). De modo geral, diversas doenças surgiram ligadas a
transformação dos hábitos alimentares, desde doenças gastrointestinais a lesões
vasculares (SORCINELLI, 2004, p. 803). De todo modo,
O mate, natural do sul do Brasil, foi utilizado pelos índios Guaranis, que
mascavam a folha quando iam à caça ou pesca, ou quando trabalhavam em
sítios pantanosos, revelando aos jesuítas as propriedades da planta. Os
gaúchos transformaram-no em chimarrão, ao qual aderiram os colonos
38
obesos no mundo do que pessoas em situação de fome e que essa situação está
diretamente ligada à insegurança alimentar. Do mesmo modo, um dos fatores
destacados é que as condições econômicas das pessoas as levam a consumir
alimentos mais baratos e acessíveis, por consequência, mais processados e menos
nutritivos, sendo nocivos para a saúde humana. Ao fim, afirma o necessário
comprometimento do Poder Público, Sociedade e Iniciativa privada, ao assegurar
que “não haverá vencedores nessa batalha contra obesidade sem a forte
participação da indústria de alimentos. A luta contra a obesidade é – e tem de ser
– um tema de saúde pública, mas também de cidadania.” (SILVA, 2019, s.p., grifo
nosso). Nesse sentido, aponta o relatório SOFI que:
2 No original: “En 2018, el sobrepeso infantil afectaba a 40,1 millones de niños menores de cinco años
en todo el mundo; mientras que en 2016, casi dos de cada cinco adultos (el 38,9%) tenían sobrepeso,
lo que representa 2 000 millones de adultos en todo el mundo. La prevalencia del sobrepreso está
aumentando en todos los grupos de edad y en todas las regiones” (FAO, FIDA, OMS, PMA y
UNICEF, 2019, p. 16).
47
felicidade. Por último, o conceito de eficiência empregado por Posner, traz o sentido
de maximização da riqueza, ou dos valores, inspirado no conceito de eficiência de
Kaldor-Hicks (POSNER, 2007, p. 36 – 40).
No que se refere à utilidade, Coase destaca que o papel dos consumidores
será sempre a de maximizar a utilidade, em contrapartida, os produtores terão por
objetivo maximizar os seus lucros. Esses interesses, por sua vez, serão
harmonizados pela teoria da troca e orientados por arranjos jurídicos (COASE, 2017,
p. 2).
Dito isso, frisa-se a importância de afirmar que a competência do economista
diante de um sistema legal é limitada, uma vez que esse “pode prever o efeito de
regras legais sobre valor e eficiência, no sentido técnico estrito, e sobre a
distribuição de renda e riqueza existente, mas não pode emitir requisitos obrigatórios
para mudança social”4 (POSNER, 2007, p. 42, tradução nossa).
Contudo, uma vez que compete à Economia o estudo do sistema econômico,
isso implica, do mesmo modo, na análise das ações dos indivíduos ou das
organizações sociais que operam nesse sistema, em conjunto com o sistema jurídico
que observam. Por sua vez, ao agirem de acordo com o atendimento dos próprios
interesses, indivíduos e organizações irão afetar ou ter algum impacto sobre
terceiros. São inúmeros os exemplos como a concessão ou não de benefícios, o uso
do meio ambiente, produção ou fornecimento de insumos, dentre outros (COASE,
2017, p. 28).
De outro modo, intrínseco à estrutura de uma teoria, a teoria económica do
Direito não capta todas as hipóteses e complexidades dos fenómenos jurídicos,
porém, vale-se do poder explicativo e empírico, ocupando-se, portanto, de
explicações econômicas para os fenômenos jurídicos. Desse modo, “julgada pelo
teste de poder explicativo, a teoria econômica é um sucesso significativo (embora
apenas parcial); desse modo, talvez a suposição de que os indivíduos sejam
maximizadores racionais de suas satisfações não seja tão irrealista”5 (POSNER,
2007, p. 47, tradução nossa).
4 No original: “puede pronosticar el efecto de las reglas legales sobre el valor y la eficiencia en sus
sentidos técnicos estrictos, y sobre la distribución del ingreso y la riqueza existente, pero no puede
expedir prescripciones obligatorias para el cambio social” (POSNER, 2007, p. 42)
5 No original: “juzgada por la prueba del poder explicativo, la teoría económica es un éxito significativo
(aunque sólo parcial), de modo que quizá el supuesto de que los individuos son maximizadores
racionales de sus satisfacciones no es tan poco realista” (POSNER, 2007, p. 47).
63
6 No original: “Lo que podríamos llamar la teoría de la eficiencia del derecho común no es que toda
doctrina y decisión del derecho común sea eficiente. Eso sería muy improbable, dada la dificultad de
las cuestiones a las que se enfrenta el derecho y la naturaleza de los incentivos de los jueces. La
teoría es que el derecho común se explica mejor (no perfectamente) como un sistema para la
maximización de las riquezas de la sociedad. El derecho estatutario y el constitucional, por oposición
a los campos del derecho común, tienen menores probabilidades de promover la eficiencia, pero aun
ellos, […] están impregnados de preocupaciones económicas e iluminados por el análisis económico.
Tal análisis es útil también para explicar las características institucionales del sistema legal, como el
papel del precedente y la repartición de las responsabilidades del cumplimiento forzoso de la ley entre
las personas privadas y las dependencias públicas” (POSNER, 2007, p. 58).
65
7 No original: “es posible que la mejor prueba de que el análisis económico del derecho es
ideológicamente neutral, o balanceado, sea el considerable número de sus practicantes prominentes
que son decididamente liberales” (POSNER, 2007, p. 61).
8 No original: “la justicia es algo más que economía”8 (POSNER, 2007, p. 62).
67
9 No original: “In these conditions the initial delimitation of legal rights does have an effect on the
efficiency with which the economic system operates. One arrangement of rights may bring about a
greater value of production than any other. But unless this is the arrangement of rights established by
the legal system, the costs of reaching the same result by altering and combining rights through the
market may be so great that this optimal arrangement of rights, and the greater value of production
which it would bring, may never be achieved“ (COASE, 1960, p. 16).
68
Dessa forma, quanto mais elevado o nível de proteção da patente, com menor
suficiência descritiva, menor será a utilidade da informação disponibilizada na
concessão da patente. Por consequência, a reprodução dessa tecnologia, do
melhoramento ou do seu uso como referência para outros inventos será inviabilizada
(LANDES; POSNER, 2006, p. 388).
Ainda, o sistema de patentes fomenta o desenvolvimento da inovação e do
progresso tecnológico porque é capaz de gerar uma carreira de patentes, ou seja,
uma competição entre as empresas que buscam patentear novos inventos,
suscetíveis de aplicação industrial. No entanto, essa condição pode gerar custos que
excedem os benefícios, uma vez que com a obtenção da patente se somará o valor
total da invenção, para o primeiro inventor (LANDES; POSNER, 2006, p. 389 - 390).
Contudo, não raras vezes o sistema de proteção das criações intelectuais é
criticado por monopolizar as invenções e restringir o acesso às tecnologias, criando
privilégios. No entanto, tais privilégios são temporários, com vistas a compensar o
inventor pelo seu esforço intelectual no desenvolvimento da criação. De acordo com
Coase, essa não é uma exclusividade da Propriedade Intelectual e sim, de toda a
racionalidade do Direito. A concessão de direitos para uns, muitas vezes significa
exclusão de direitos de outros. Isso porque, “o custo de exercer um direito (de usar
um fator de produção) é sempre a perda sofrida em outro lugar em consequência do
exercício desse direito” (COASE, 2017, p. 155). Para ilustrar essas situações, Coase
cita exemplos, como a concessão de uma propriedade, em que o proprietário pode
dispor do imóvel, mas implica na restrição de passagem de terceiros; na autorização
11 No original: “Las invenciones no son patentables a menos que reúnan los requisitos de utilidad,
novedad y no obviedad. A continuación, esclareceremos el significado económico de estos términos.
Entendemos que el requisito de utilidad tiene tres finalidades económicas claras. La primera de ellas
es excluir las patentes sobre el resultado de la investigación básica, mientras que la segunda es
retrasar el momento en el desarrollo del nuevo producto o procedimiento en el que se puede obtener
la patente. […] La tercera consiste en reducir el coste búsqueda de patentes eliminando las
invenciones sin ninguna utilidad realizadas por aficionados o por inventores que desean cubrir un
área de investigación con patentes con el objetivo de forzar a los investigadores que en el futuro
desarrollen su actividad en dicha área a que obtengan licencias. En otras palabras, el requisito de
utilidad sirve para limitar las patentes estratégicas – un grave problema del régimen de patentes, […].
Sin embargo, incrementar las cuotas de inscripción de las patentes constituiría una alternativa a exigir
la acreditación de utilidad” (LANDES; POSNER, 2006, p. 392).
71
12 No original: “En 1999, la mitad de la investigación básica desarrolla en Estados Unidos fue
financiada por el gobierno federal y el 29 por ciento por universidades y otras organizaciones sin
ánimo de lucro” (LANDES, POSNER, 2006, p. 397).
13 No original: “un sistema de remuneraciones conformado por nombramientos académicos de
14 No original: “Desde una perspectiva económica, la cuestión más relevante que cabe plantearse es
si el sistema de patentes incrementa o reduce el bienestar económico general. Aunque existen
argumentos de carácter económicos convincentes para reconocer derechos de propiedad sobre las
invenciones, también hay que tener presente que ello comporta costes sociales considerables.
Desgraciadamente, con el nivel de conocimiento actual es imposible determinar si los beneficios
exceden a los costes. La calidad relativa de las patentes es estimable, puesto que en las solicitudes
de patentes los inventores deben hacer referencia a las patentes anteriores en las que se han
basado; así pues, el número y el tipo de referencias a una patente concreta puedan servir como
indicadores de su calidad – de igual modo que el número y tipo de citas de una sentencia judicial o de
un artículo académico indican la calidad de la propia sentencia o artículo. Los datos relativos a las
referencias también pueden emplearse para evaluar determinadas cuestiones de carácter político en
relación con el proceso de invención. Concretamente, el gobierno federal lleva varios años
fomentando que sus laboratorios se centren de forma prioritaria en investigación con aplicaciones
industriales. Querríamos saber si esta nueva política ha sido efectiva y un estudio ha concluido que
en las patentes privadas se hace referencia con más frecuencia a los resultados de la investigación
gubernamental, lo que surgiere que la respuesta es afirmativa” (LANDES; POSNER, 2006, p. 401 -
402).
73
15 No original: puede verse limitado por la cultura de la empresa, el estilo de dirección, la estructura
jerárquica, las peculiaridades de los distintos empleados y otras particularidades de cada empresa
difícilmente controlables (LANDES; POSNER, 2006, p. 412).
74
descoberta, vem a ser aquilo que já existe na natureza, mas ainda não foi
alcançado/conhecido pelo ser humano e quando identificado, torna-se então uma
descoberta. Desse modo, “a invenção, de modo geral, consiste na criação de uma
coisa até então inexistente; a descoberta é a revelação de uma coisa existente na
natureza” (GAMA CERQUEIRA, 2010, p. 153). Nesse ponto, frisa-se que as
invenções são passíveis de proteção, ao passo que as descobertas não possuem tal
amparo jurídico no âmbito dos direitos intelectuais.
Ainda, assunto pertinente à proteção da propriedade industrial, são os
desenhos e modelos industriais ou modelos de utilidade. Tratam-se de invenções
estéticas, uma vez que “os desenhos e modelos industriais constituem invenções de
forma, destinadas a produzir efeito meramente visual, o que os distingue das
invenções propriamente ditas, isto é, invenções industriais” (SOARES, 1998, p. 124).
Além disso, o modelo de utilidade terá como objetivo a satisfação de uma
necessidade determinável, uma utilidade, propriamente dita (SOARES, 1998, p.
124).
Na sequência, ainda na esfera da propriedade industrial, tem-se a proteção
das marcas. Considera-se como marca um signo distintivo capaz de identificar algo,
produto ou serviço. Sob especial proteção do Acordo e Protocolo de Madri, 1886,
somado aos princípios da CUP, a proteção de marcas possui amplitude
internacional, isso porque, o referido acordo garante a possibilidade de “nacionais
dos países contratantes assegurarem a proteção de suas marcas registradas no
país de origem, por meio de um pedido de registro internacional dirigido a um
escritório internacional”. A união desses tratados e a previsão do art. 19 da CUP dão
forma ao Sistema de Madri, uma vez que o Protocolo de Madri veio a preencher as
lacunas deixadas pelo Acordo de Madri, sem, contudo, substitui-lo (NIELSEN, 2008,
p. 32).
Nessa linha, no mesmo âmbito dos sinais distintivos, atribuindo um direito
exclusivo, tem-se a proteção dos nomes empresariais, que compreendem o nome
que identifica determinado empresário industrial ou comercial, como também um
prestador de serviços, não sendo restrita ao ramo de atividade, ou seja, a proteção
do nome empresarial para a identificação de determinada empresa ou prestação de
serviços implica na exclusividade e no impedimento de seu uso, igual ou
79
semelhante, para qualquer outro ramo de atividade, mesmo que adversa ao nome
protegido (SILVEIRA, 2014, p.14).
As indicações geográficas e denominações de origem são proteções que
avalizam a procedência de determinado produto ou serviço como algo particular a
determinada localidade. Essa proteção, quando reconhecida, afirma que aquele
produto ou serviço vem de determinada região com um padrão de procedência. Os
resultados econômicos advindos dessa proteção jurídica são dos mais diversos
como “maior aceitação do produto no mercado interno, a geração de empregos e a
fixação da população na zona rural, o incremento na renda da população local, a
valorização imobiliária, entre outros fatores” (LOCATELLI, 2006, p. 233 - 239).
Por fim, dentro do âmbito da propriedade industrial, a repressão contra a
concorrência desleal também parte da Convenção de Paris como forma de
estabelecer parâmetros para a garantia da exclusividade e exploração conferidas
pelos institutos anteriores, evitando falsas informações, indução ao erro ou mesmo
confusão com relação a determinado invento, levando a crer que o
inventor/fabricante é um ao invés de outro. Outrossim, o Acordo TRIPS, garante
ainda proteção do conhecimento não divulgado, ou seja, o know-how. O intuito de
dispor dentro do âmbito da propriedade intelectual sobre a concorrência desleal é
reprimir práticas que são contrárias a concorrência leal e coerente com o
ordenamento da propriedade industrial (VICENTE, 2008, p. 195 – 199).
Posto isso, passa-se a compreender agora a outra ramificação da
Propriedade Intelectual, que corresponde aos Direitos de Autor e Conexos às obras
literária, artística ou científica, fruto da liberdade poética de expressar por meio de
textos, quadros, pinturas, desenhos, dentre outros, obras passiveis de proteção
jurídica. O berço do Direito de autor reside em duas tradições jurídicas: o Droit
d’auteur, referente aos países da Europa continental, e o copyright, alusivo aos
sistemas jurídicos Common Law, especialmente, nos Estados Unidos e na Inglaterra
(VICENTE, 2008, p. 37). Nesse sentido, destaca-se:
16No original: “la misión de la UPOV es proporcionar y fomentar un sistema eficaz para la protección
de las variedades vegetales con miras al desarrollo de obtenciones vegetales en beneficio de la
sociedade16” (UPOV, 2018, s.p.).
83
17No original: “la misión de la OMPI es llevar la iniciativa en el desarrollo de un sistema internacional
de P.I. equilibrado y eficaz, que permita la innovación y la creatividad en beneficio de todos” (OMPI,
2018, s.p)
85
dos DPI acessíveis e céleres; o princípio de publicidade das normas, fixa critérios de
transparência no que tange aos direitos da propriedade intelectual; O Acordo TRIPs
não dispôs a respeito do princípio do esgotamento, incluindo no acordo apenas o
princípio da não interferência, “de modo que a opção pelo esgotamento nacional,
comunitário, ou internacional é opção que permanece ao livre arbítrio do legislador
competente” (PIMENTEL, 2002, p. 178 – 185, grifo do autor).
Nesse cenário, a tensão política e as incongruências internacionais levaram
ao fim o General Agreement on Tariffs and Trade (GATT) (Acordo Geral de Tarifas e
Comércio) e em resposta ao crescente liberalismo comercial e à globalização, a
Organização Mundial do Comércio surgiu com o propósito de viabilizar um espaço
institucional e jurídico ao sistema comercial multilateral contemporâneo, com sede
em Genebra (Suíça). Em vigor desde 1º de janeiro de 1995, a OMC reformulou os
métodos de resolução das disputas comerciais no âmbito internacional. Atualmente
a participação dos países na OMC é condicionada à ratificação do Acordo TRIPs,
subordinando-se as suas condições acerca da propriedade intelectual (COSTA,
2013, p. 98-102).
Posto isso, nesta seção, discorreu-se de forma panorâmica sobre a proteção
da propriedade intelectual no âmbito internacional, contemplando tratados, sistemas
e organizações mundiais que tratam da proteção jurídica dos direitos intelectuais.
Nos próximos capítulos alguns desses tratados serão aprofundados de acordo com
a pertinência da temática abordada. A seguir, passa-se a tratar da proteção jurídica
nacional atribuída aos direitos intelectuais.
88
Napoleão recaíssem sobre as terras lusitanas, juntamente com o fim da dinastia dos
Bragança em Portugal (CARVALHO, 2009). Nesse contexto,
Nessa seara, a lei de 1830, em que pese pioneira, não contemplava de forma
satisfatória a atribuição de direitos aos inventores e descobridores. Muitas lacunas
como a ausência de designação de um órgão competente, disposição sobre
soluções de controvérsias, o não reconhecimento de invenções estrangeiras, mas
que no fim acabavam sendo protegidas, dentre outras, revelam as falhas dos
primeiros contornos do sistema de patentes brasileiro (MALAVOTA, 2009, p. 124 -
128).
Ao fim e ao cabo, a concessão de patentes era uma discricionariedade do
governo, concentrando a decisão nas mãos do alto escalão de autoridades. Via de
regra, não se existia um padrão quanto aos procedimentos e princípios aplicados,
cada caso era examinado isoladamente de acordo com o contexto e a necessidade.
Dessa forma, “o padrão das decisões podia variar de acordo com as convicções
pessoais dos deputados diretamente responsáveis pela efetuação do exame prévio”.
Em geral, a análise para a concessão do pedido de patente não ultrapassava o
marco de um ano, salvo raras exceções. Com o passar dos anos esses
procedimentos foram revistos e aos poucos ocorreu a descentralização da cúpula do
governo para repartições especializadas (MALAVOTA, 2009, p. 138 -144).
As dificuldades e a distância entre as disposições da Lei de 1830 e a prática
na concessão de patentes tencionaram a elaboração de um novo projeto. A
participação do Brasil na Conferência de Paris em 1880 oxigenou a concepção do
sistema nacional de patentes, impulsionando um novo marco legal. Em 1882 foi
então promulgada a nova Lei de Patentes, sob nº 3.129, inovando-se na proposição
dos princípios do tratamento nacional e da prioridade unionista, sob influência da
formação da CUP, bem como a exigência dos critérios de novidade e aplicação
industrial para a concessão da patente (MALAVOTA, 2011, p. 254 – 255).
Nesse contexto, a Lei nº 3.129, de 14 de outubro de 1882, estabeleceu a
regulamentação da concessão de patentes aos inventores ou descobridores de
invenções industriais. Disposta em 10 artigos, destaca-se em especial que a lei de
1882 atribuiu a propriedade e o monopólio aos autores de qualquer invenção ou
descoberta que se apresentasse sob a forma de “productos, meios, applicações e
melhoramentos industriaes” desde que configurassem uma novidade. Proibia-se a
concessão de privilégios dos inventos que contrariassem a lei ou a moral,
representassem alguma ofensa ou ameaça à segurança e à saúde pública, não
93
19Em especial, a análise do Código da Propriedade Industrial de 1945 será limitada aos privilégios de
invenção, pela afinidade com o objeto do presente estudo (BRASIL, 1945).
95
com maior profundidade nas próximas seções com o intuito de discutir a proteção
jurídica dos inventos atualmente.
Por fim, pode-se dizer que a construção brasileira do sistema de patentes
também se deu no âmbito constitucional. Todas as constituições, desde 1824,
trataram de assegurar, mesmo que de forma precária, direitos relativos aos
inventores e também autores. No contexto dos direitos e garantias individuais, a
proteção da propriedade se viu resguardada sob a forma imaterial no tocante à
proteção dos direitos intelectuais. Em um primeiro passo, conforme dito
anteriormente, a Constituição de 1824 tratou de garantir privilégios temporários
sobre os inventos, descobertas e produções. Posteriormente, em um aspecto geral,
os inventos industriais, as marcas e as obras artísticas ou literárias receberam
especial atenção nas Constituições Federais de 1891, 1934, 1946 e 1967 (BRASIL,
1891; BRASIL, 1934; BRASIL, 1946, BRASIL, 1967b).
Na contramão dessas disposições, a Constituição Federal de 1937 não
contemplou expressamente a proteção da propriedade industrial ou direitos de autor
na Carta Magna, pode-se dizer que em uma interpretação hermenêutica, esses
direitos encontram-se implicitamente na norma, a partir das disposições sobre a
ordem econômica e também no “art. 136 - o trabalho é um dever social. O trabalho
intelectual, técnico e manual tem direito a proteção e solicitude especiais do Estado”
(BRASIL, 1937).
Sendo o principal marco jurídico da organização social brasileira na
atualidade, a Constituição Federal de 1988 tem sua influência na proteção dos
direitos intelectuais de forma expressa e também subjetiva. Em um primeiro
momento, nas disposições destinadas aos direitos e garantias fundamentais,
individuais e coletivas, o art. 5º, incisos XXVII ao XXIX, tratam de assegurar
expressamente os direitos relativos as obras, criações industriais e signos distintivos,
respectivamente atribuídos aos autores e inventores, observando o interesse social
e também o desenvolvimento nacional tecnológico e econômico. Em um segundo
momento, incute-se na norma os princípios que orientam a ordem econômica e
financeira, garantido a propriedade privada e o livre exercício de atividades
econômicas, que levam a crer uma ordem que visa, também, o favorecimento da
propriedade intelectual (BRASIL, 1988).
97
20 “Os textos fundamentais no Brasil são os seguintes: Decreto 4.790, de 02.01.1924, que definiu os
direitos autorais; Decreto 5.492, de 16.07.1928, que regulou a organização das empresas de
diversões e a locação de serviços teatrais; Decreto 18.527, de 10.12.1928, que aprovou o
regulamento do Decreto 5.492, de 1928; Decreto 20.493, de 24.01.1946, que aprovou o regulamento
do Serviço de Censura de Diversões Públicas; Decreto 2.415, de 09.02.1955, que disciplinou a
licença autoral para execuções públicas e transmissões pelo rádio e televisão; Decreto 1.023, de
17.05.1962, que alterou e revogou disposições do Decreto 18.627, de 1928; Lei 4.944, de
06.05.1966, que disciplinou os direitos conexos, e Decreto 61.123, de 02.05.1967, seu regulamento”
(BITTAR, 2015, s.p).
99
21 As especificidades dessa autarquia federal serão tratadas com maior ênfase no quinto capítulo.
101
22“Art. 10. Não se considera invenção nem modelo de utilidade: I - descobertas, teorias científicas e
métodos matemáticos; II - concepções puramente abstratas; III - esquemas, planos, princípios ou
métodos comerciais, contábeis, financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização; IV -
as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética; V - programas
de computador em si; VI - apresentação de informações; VII - regras de jogo; VIII - técnicas e
métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação
no corpo humano ou animal; e IX - o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos
encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de
qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais” (BRASIL, 1996).
102
condição põe-se a tudo aquilo que está disponível ao conhecimento até o depósito
do pedido de patente, em âmbito nacional e/ou internacional, observadas as
ressalvas dispostas pelos arts. 1223, 16 e 16 (BRASIL, 1996).
Por segundo, o atendimento ao requisito da atividade inventiva, tanto para
invenção quanto para o modelo de utilidade, condiciona-se a um resultado que não
decorra da obviedade ou simplicidade do estado da técnica. Envolve, portanto, a
complexidade do esforço intelectual (BRASIL, 1996).
Por terceiro e último, o requisito da aplicação industrial atende a utilização e
produção no âmbito industrial, significa dizer que o invento e/ou modelo de utilidade
deve ser voltado para a indústria, o que não permite uma concepção artesanal do
objeto. Além das disposições para a concessão da patente, a Lei nº 9.279/96, em
seu art. 18, também dispõe sobre o que não pode ser patenteado 24 (BRASIL, 1996).
Nessa linha, “como se enfatiza, a proteção por patente de uma solução técnica
presume a aplicação industrial. Ou seja, que o objeto da exclusiva seja suscetível de
repetição em escala industrial, sem a intervenção pessoal do usuário” (BARBOSA,
2014, p. 1144).
Satisfeitos os requisitos, sendo suscetível de patenteamento e permitido, o
autor deverá então proceder ao depósito do pedido no INPI, contendo: “I -
requerimento; II - relatório descritivo; III - reivindicações; IV - desenhos, se for o
caso; V - resumo; e VI - comprovante do pagamento da retribuição relativa ao
depósito” (BRASIL, 1996). Atendidos todos os elementos para a efetivação do
depósito, este será considerado a partir da data de recibo. Destaca-se nesse
23 “Art. 12. Não será considerada como estado da técnica a divulgação de invenção ou modelo de
utilidade, quando ocorrida durante os 12 (doze) meses que precederem a data de depósito ou a da
prioridade do pedido de patente, se promovida: I - pelo inventor; II - pelo Instituto Nacional da
Propriedade Industrial - INPI, através de publicação oficial do pedido de patente depositado sem o
consentimento do inventor, baseado em informações deste obtidas ou em decorrência de atos por ele
realizados; ou III - por terceiros, com base em informações obtidas direta ou indiretamente do inventor
ou em decorrência de atos por este realizados. Parágrafo único. O INPI poderá exigir do inventor
declaração relativa à divulgação, acompanhada ou não de provas, nas condições estabelecidas em
regulamento” (BRASIL, 1996).
24 “Art. 18. Não são patenteáveis: I - o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à
4.3.1.3 Marcas
Por essa razão, em que pese a sua natureza jurídica ainda não ser consolidada no
mundo jurídico, suas características contemplam a forma dos signos distintivos,
sendo reconhecido como um bem intangível, passível de proteção pela Propriedade
Intelectual (BARBOSA, 2016).
Em especial, tratar-se-á na próxima subseção, com maior atenção, a respeito
das indicações geográficas em virtude da sua afinidade com a temática da
propriedade intelectual e alimentos.
4.3.3.1 Cultivares
Não obstante, importante frisar que a proteção intelectual das cultivares e das
invenções são distintas. Primeiramente, diferenciam-se em termos de proteção legal,
ou seja, a legislação atribuída a cada caso é distinta, tanto na esfera internacional
como na esfera nacional. Por segundo, os prazos de proteção atribuídos em cada
situação são diferentes, enquanto para a proteção de cultivares atribuem-se 15
(quinze) e 18 (dezoito) anos, para a proteção por patentes atribuem-se 20 (vinte)
anos. Por terceiro, diferenciam-se quanto ao objeto, enquanto a cultivar irá criar uma
nova variedade a partir da composição natural, a invenção protegida por patentes
precisará empregar os requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação
industrial, demandando, por exemplo, uma alteração genética para o atendimento
dos requisitos de patenteamento (LIPPSTEIN; BOFF, 2013).
Outrossim, também não são passiveis de contemplação pelos direitos de
autor e pela propriedade industrial, os conhecimentos tradicionais associados à
biodiversidade, razão pela qual recebem a classificação sui generis, assunto que se
passa a tratar a seguir.
forma mais rápida. Por quase 15 (quinze) anos, a regulamentação do acesso aos
CTA e a biodiversidade estiveram sob a proteção da Medida Provisória nº 2.186-
16/01, revogada então pela Lei nº 13.123 de 2015, que promoveu o novo marco
legal da Biodiversidade, sendo a principal legislação vigente.
Reside nesse cenário o papel regulador do Direito como um ponto de
equilíbrio entre os direitos individuais e coletivos, entre o conhecimento tradicional e
científico, entre a cultura tradicional e a tecnológica, com base nos princípios gerais
do Direito, em especial da dignidade da pessoa humana e da proteção ambiental,
que entonam uma sociedade mais justa, desenvolvida e fraterna (BOFF; PIMENTEL,
2007, p. 295).
Por essa razão, é íntima a relação dos CTAs com o Direito de Propriedade,
especialmente o Direito da Propriedade Intelectual, que deve conferir proteção e
garantias aos autores/inventores sobre as suas obras/invenções, sem dissociá-la da
função social da propriedade (BOFF; PIMENTEL, 2007, p. 295).
De acordo com a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos
Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), criada por meio do Decreto 6.040/07
como política pública, para atender os interesses dessas comunidades com fulcro na
sustentabilidade, são considerados povos e comunidades tradicionais, no território
nacional, aqueles compreendidos por:
pessoa humana, com a devida observação dos Direitos Humanos e das liberdades
individuais, com o estabelecimento de diretrizes e princípios globais que orientam a
pesquisa cientifica e, em especial, a interação ciência e seres vivos (UNESCO,
2006).
No findar do século XX, Rifkin (1999) aponta para o novo século, o século
XXI, como o século da biotecnologia, no qual as questões mais íntimas relacionadas
à vida do ser humano, como alimentação, saúde, geração de filhos, alterações
genéticas, dentre outros, estarão sob o domínio da biotecnologia e a preocupação
central será com a regulamentação ética e científica do desempenho dessas
atividades, uma vez que:
Sob tais considerações, o caso dos Estados Unidos pode ser considerado
representativo no uso e patenteamento de inovações baseadas em
119
seguidos dos países nórdicos e países baixos. A política tecnológica voltada para a
cooperação, essencialmente na parceria público-privado, como também na
participação dos agentes internacionais, é um importante fator no desenvolvimento
da biotecnologia europeia, considerando a presente diversidade nesse grupo. No
aspecto legislativo, a UE concentra uma norma geral sobre as criações
biotecnológicas e possui um caráter mais restritivo e cauteloso em comparação com
os EUA (FREITAS; BIANCHI, 2013, p. 62). Nesse contexto,
Criada pela Lei nº 9.782, de 26 de janeiro 1999, que também determina a criação do
Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa é uma autarquia de regime
especial, que assume o status de agência reguladora. De acordo com o art. 6º, a
Anvisa terá como finalidade principal “promover a proteção da saúde da população,
por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e
serviços submetidos à vigilância sanitária”. Além do controle sobre os produtos e
serviços a Anvisa também é responsável pela vigilância “dos ambientes, dos
processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle
de portos, aeroportos e de fronteiras” (BRASIL, 1999).
Não obstante, a Anvisa não é a única encarregada de fiscalizar e garantir a
segurança alimentar, essa função também pode ser desempenhada pelos órgãos de
proteção do consumidor, INMETRO, Ministério da Saúde, IBAMA, cada um de
acordo com a situação; mas em especial, esse papel também é atribuído ao
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O MAPA possui uma
função muito semelhante ao desempenhado pela Anvisa. Contudo, sua
especialidade limita-se as questões da agropecuária, lhe competindo o fomento,
regulação e fiscalização do setor (MAPA, [2018?]).
Em suma, o MAPA encarrega-se de fiscalizar a matéria prima in natura, de
origem vegetal e/ou animal e bebidas, já a ANVISA, por sua vez, os produtos
industrializados e/ou as condições em que são disponibilizados para consumo.
Porém, a legislação é pouco clara a respeito das competências de cada órgão e
considerando, também, que são órgãos autônomos e independentes, não possuem
obrigação de agir em sintonia, tampouco de estabelecer cooperação, ficando as
atividades, de cada um, adstritas à administração vigente (ANVISA, 2017a).
Dos convênios e parcerias firmadas pela ANVISA, para o desempenho de
suas atribuições, do período de 2009 a 2019, das 91 pastas, apenas duas
correspondem a parceria Anvisa e MAPA; uma em 2013, na qual a Anvisa firmou
Protocolo de cooperação técnica com a Embrapa e outra, no ano de 2015, que foi
celebrado acordo de cooperação entre a ANVISA, o MAPA e o IBAMA, ambos
relacionados à alimentação e a saúde pública (ANVISA, [2009 – 2019]).
Contudo, retomando a composição da Anvisa, de acordo com Aragão (2013,
p. 333 – 349) as agências reguladoras possuem autonomia, funções múltiplas que
contemplam atividade normativa, fiscalizatória, sancionatória e julgadora,
126
desde que limitadas ao seu propósito legal. No âmbito das patentes farmacêuticas,
por exemplo, o INPI e a Anvisa discutiram por anos a competência para a concessão
das patentes e os papeis de cada autarquia nesse processo.
Como já mencionado, o INPI foi criado especialmente para tratar dos
assuntos relativos à propriedade industrial, isso foi reforçado mais tarde com a Lei nº
9.279/96, que ao longo do texto legal, afirma, diversas vezes, a competência e a
presença do INPI na concessão de patentes. Já a Anvisa, fundada posteriormente,
em 1999, tem por finalidade o amparo da saúde da população. Em 14 de fevereiro
de 2001, a Lei nº 10.196, alterou e acrescentou dispositivos à Lei no 9.279/96,
especialmente com relação ao art. 229-C, acrescentando a obrigatoriedade da
anuência da Anvisa, passando a constar como “Art. 229-C. A concessão de patentes
para produtos e processos farmacêuticos dependerá da prévia anuência da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)” (BRASIL, 2001).
Em razão da nova disposição legislativa acerca da anuência da Anvisa nos
produtos farmacêuticos, as duas autarquias, INPI e Anvisa, entraram em discussão
sobre a competência e papeis que desempenham no processo de concessão de
patentes, o que demandou o posicionamento da Advocacia Geral da União, por meio
dos Pareceres nº 210/PGF/AE/2009 e 337/PGF/EA/2010, entendendo pela restrição
da participação da ANVISA, nos processos de concessão de patentes, intervindo, no
que concerne, apenas, à análise sobre a nocividade das invenções à saúde pública,
ou seja, vinculado a sua finalidade institucional (CÂMARA DOS DEPUTADOS,
2013). Contrariado com o parecer da AGU, o Ministério Público Federal ajuizou uma
Ação Civil Pública, na Justiça Federal do Distrito Federal, que restou indeferida no
julgamento de primeiro grau e aguarda decisão, em sede de recurso, pelo Tribunal
Regional Federal da Primeira Região, onde o INPI atua como amicus curie (BRASIL,
Justiça Federal do Distrito Federal, 2013). Propôs o Ministério Público em face da
União que a Justiça Federal:
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI,( Anexo A)
137
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)
138
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI,( Anexo B)
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)
139
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)
140
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)
141
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)
142
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo B)
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo C)
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo C)
144
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo C)
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo C)
145
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo D)
146
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo D)
Gráfico 19 - Depósito de Patentes AF por Estado depositante RJ, CE, GO, PE, BA
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo D)
147
Gráfico 20 - Depósito de Patentes AF por Estado depositante SE, AM, DF, PA, MA
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo D).
Gráfico 21 - Depósito de Patentes AF por Estado depositante PI, ES, RN, PB, AL, MS
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo D)
148
Gráfico 22 - Depósito de Patentes AF por Estado depositante MT, TO, RO, AC, AP, RR
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo D)
Ainda com relação aos depositantes residentes, outro aspecto que se destaca
é a classificação dos depositantes segundo a natureza jurídica, entre pessoa física e
pessoa jurídica. No período de 2005 a 2009, os números de depósitos realizados por
pessoas físicas e pessoas jurídicas eram quase equivalentes. Porém, a partir do ano
2010 a 2015, os depósitos realizados por pessoas jurídicas cresceram
significativamente frente aos efetivados por pessoas físicas (Gráfico 23).
149
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo E)
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo F)
Fonte: Elaborado pela autora com base na Coleta de Dados realizada pela AECON/INPI, (Anexo F)
153
28 “Art. 18. Não são patenteáveis: I - o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à
ordem e à saúde públicas; II - as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer
espécie, bem como a modificação de suas propriedades físico-químicas e os respectivos processos
de obtenção ou modificação, quando resultantes de transformação do núcleo atômico; e III - o todo ou
parte dos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos que atendam aos três requisitos de
157
patenteabilidade - novidade, atividade inventiva e aplicação industrial - previstos no art. 8º e que não
sejam mera descoberta. Parágrafo único. Para os fins desta Lei, microorganismos transgênicos são
organismos, exceto o todo ou parte de plantas ou de animais, que expressem, mediante intervenção
humana direta em sua composição genética, uma característica normalmente não alcançável pela
espécie em condições naturais” (BRASIL, 1996).
158
29 Seção 5.4
163
residentes, da pendência de análise dos pedidos, por mais de uma década, somado
aos altos índices de abandono dos pedidos de depósito de patentes, o sistema da
propriedade intelectual brasileiro, quanto à viabilização de um ambiente jurídico
favorável e seguro para o desenvolvimento das criações em alimentos funcionais, é
ineficiente.
Ineficiente porque, conforme o enfoque da análise econômica do direito da
propriedade intelectual, de acordo com a intangibilidade que a distingue, a eficiência
é medida pelos estímulos ao desenvolvimento das criações ou inventos, protegidos,
pela PI, em que justamente evidencia-se a ineficiência do sistema regulatório da
propriedade intelectual da biotecnologia em alimentos funcionais (LARA, 2014, p.
362). Ou ainda, como mencionado por Gonçalves e Stelzer (2005, p. 202), “a luz da
LaE, intentam-se verificar os efeitos inibidores e incentivos produzidos pelas normas
jurídicas no meio social; o comportamento eqüitativo [sic] e eficiente induzido [...].”
Dito isso, o capítulo anterior expôs que os depósitos de patentes em
alimentos funcionais, são exponencialmente menores para residentes do que não
residentes. Outrossim, há depósitos pendentes de análise que ultrapassam a
margem de dez anos na fila de espera no INPI. Além disso, do universo total de
pedidos realizados no período de 2005 – 2015, quase a metade foram abandonados
pelos depositantes, por diferentes razões, dentre elas destacam-se as exigências
formais requeridas do depositante durante o processo.
Na contramão da orientação do Teorema de Coase (COASE, 2017), conforme
demostrado na primeira seção do presente capítulo, os custos de transação são
demasiadamente elevados e o Direito não é bem definido, sendo complexo e pouco
cirúrgico. O inventor que se propor a proteger a sua criação em alimentos funcionais
irá enfrentar um sistema regulatório complexo e com conflitos de competência, irá
transitar pela regulamentação dos órgãos já mencionados, INPI, Anvisa, CGen (e
talvez outros como INMETRO, MAPA, IBAMA, Ministério da Saúde e órgãos de
proteção do consumidor, que tratam especificamente da produção e consumo de
alimentos), além de decifrar os inúmeros documentos legais e administrativos,
dispersos no ordenamento, que disciplinam a matéria.
Não obstante, superados os entendimentos legais, irá percorrer, por fim, um
longo processo na busca pelo reconhecimento dos seus direitos de inventor. Por
certo, muitos são os fatores que podem contribuir para medir a eficiência ou
172
ineficiência de algo, por essa razão frisa-se que a presente análise se limita aos
aspectos jurídicos do contexto regulatório discutido.
Demonstrada a suficiência e a ineficiência do contexto regulatório da
propriedade intelectual da biotecnologia em alimentos funcionais, passa-se à última
seção do presente estudo que visa expor os argumentos que compõem a proposta
de harmonização desse sistema.
alternativa para regras de Direito próprias do desenvolvimento”. Por essa razão, filia-
se ao entendimento dos autores de que a Análise Econômica do Direito deve ser
orientada pelo Princípio da Eficiência Econômico-Social (PEES), de modo que:
Não obstante, a AED também aduz que o Direito deve ser claro e preciso
para evitar ambiguidades na sua aplicação e, por consequência, alcançar resultados
ótimos. Devendo ser objetivo e presente quando os custos de transação são altos
(COASE, 2017). Nessa questão, reside a primeira dificuldade da propriedade
intelectual da biotecnologia em alimentos funcionais, a indefinição a respeito da
natureza dos alimentos funcionais, que se configuram como alimentos ou como
medicamentos.
Primeiramente, nota-se que não há a necessidade da criação individualizada
de uma lei específica para definir a natureza dos alimentos funcionais, visto que já
existe legislação que dispõe sobre as normas básicas sobre alimentos, classificando
e conceituando outros gêneros alimentares, como os alimentos dietéticos por
exemplo, bastando, portanto, a sua adaptação. Outrossim, a definição da natureza
dos alimentos funcionais, se é medicamento ou se é alimento, é de fundamental
importância, pois a depender dessa determinação as normativas empregadas são
completamente distintas para um e para outro.
No capítulo anterior, foi apresentado o Projeto de Lei que visava incluir o
conceito de alimentos funcionais no Decreto-Lei nº 986 de 1969, arquivado em razão
do término do mandato legislativo do autor. O presente estudo filia-se a essa ideia,
174
reestruturar a agência já existente ou criar uma nova. Para Posner, reestruturar uma
agência já existente é uma alternativa mais viável, isso porque é um processo mais
célere, menos burocrático, evita a disputa de competências e o aumento de
complexidade do governo (POSNER, 2010b, p. 24 - 25).
Sob a lente da AED, pode-se tomar uma análise a respeito da atuação da
Anvisa e do INPI, sobre as criações em alimentos funcionais, isso porque existe
conflito de competências a respeito da concessão ou não de patentes nesse
segmento, já objeto de apreciação judicial, ensejado pela inclusão do art. 229-C na
LPI e pelas dificuldades de sua interpretação; e ainda, porque essa duplicidade de
agências reguladoras aumenta os custos de transação e diminui a eficiência no
incentivo da inovação, devendo a atuação de cada agência ser demarcada para que
não ocorra atuação simultânea e limite-se a finalidade de cada autarquia.
Retomando a máxima que a eficiência do sistema de propriedade intelectual
repousa no incentivo à inovação (LANDES, POSNER, 2006; LARA, 2014), é
necessário que isso seja reconhecido no arranjo jurídico e na política industrial
nacional. A indústria de alimentos é responsável por 9,6% do PIB (ABIA, 2018), logo,
é justificável a sua prioridade. Desse modo, a Política Nacional de Biotecnologia,
regulamentada pelo Decreto nº 6.041 de 2007, deixa a desejar nessa contemplação.
Além disso, considerando os problemas globais de sobrepeso e obesidade, como
uma preocupação de saúde pública, em conjunto com o compromisso internacional
da Agenda 2030 e a instituição da década sobre a Nutrição, nota-se que o
fortalecimento da propriedade intelectual como incentivo para a inovação não tem
sido uma prioridade. Dito isso, o incentivo à atividade inventiva é imprescindível para
o desenvolvimento de soluções, principalmente para a mitigação dos problemas de
saúde.
No relatório de atividades do INPI, em 2018, o então Ministro da Indústria,
Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Marcos Jorge de Lima afirmou o potencial
empreendedor do Brasil e que o INPI possui um papel fundamental no fomento
desse cenário. Contudo, afirmou ainda que, considerando o tempo médio de 10
(dez) anos para a concessão das patentes, frente à média de (3) três anos dos
países desenvolvidos, o Brasil precisa adotar medidas urgentes para responder e
fomentar o ambiente de negócios. Com a atribuição de investimentos nos últimos
anos, o instituto já reagiu com respostas positivas de produtividade e redução do
176
7 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe IPC (Alimentos Funcionais) e origem do depositante, 2005-2015
Classe IPC
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
A21D 18 37 35 25 32 28 27 25 46 31 32
Não Residentes 9 19 19 8 19 17 15 18 25 13 20
Residentes 9 18 16 17 13 11 12 7 21 18 12
A22C 20 19 21 37 33 22 46 39 31 33 46
Não Residentes 17 15 16 27 26 16 32 32 24 29 38
Residentes 3 4 5 10 7 6 14 7 7 4 8
A23B 26 12 19 21 29 25 19 22 23 20 23
Não Residentes 16 11 13 16 19 15 13 21 17 15 12
Residentes 10 1 6 5 10 10 6 1 6 5 11
A23C 37 28 44 31 44 42 34 36 48 35 49
Não Residentes 27 23 36 27 38 31 28 30 31 27 39
Residentes 10 5 8 4 6 11 6 6 17 8 10
A23D 9 17 24 14 18 19 25 28 20 37 22
Não Residentes 7 14 22 12 14 17 24 24 20 33 19
Residentes 2 3 2 2 4 2 1 4 4 3
A23F 14 11 22 15 14 17 14 15 23 16 19
Não Residentes 9 6 19 9 9 15 11 11 17 10 15
Residentes 5 5 3 6 5 2 3 4 6 6 4
A23G 50 54 60 51 61 54 74 51 70 82 78
Não Residentes 39 44 45 44 37 38 58 42 50 71 66
Residentes 11 10 15 7 24 16 16 9 20 11 12
A23J 13 20 21 19 27 19 27 23 26 21 17
Não Residentes 7 16 19 18 23 15 25 21 23 17 14
Residentes 6 4 2 1 4 4 2 2 3 4 3
A23L 187 216 198 264 246 236 244 251 295 282 295
Não Residentes 126 159 152 208 186 161 188 202 242 229 252
Residentes 61 57 46 56 60 75 56 49 53 53 43
A23P 13 5 6 3 10 8 5 7 4 8 9
Não Residentes 9 4 4 2 6 4 5 5 3 7 6
Residentes 4 1 2 1 4 4 2 1 1 3
A61K 1839 1912 1994 2007 1777 1823 1867 1933 1804 1851 1971
Não Residentes 1685 1766 1796 1821 1605 1613 1641 1705 1574 1677 1787
Residentes 154 146 198 186 172 210 226 228 230 174 184
Outras classes 15770 17293 18958 20434 19807 22286 25505 27058 26485 26170 25148
(1)
N.A. 490 227 254 199 285 407 771 947 2002 1755 2508
Total 18486 19851 21656 23120 22383 24986 28658 30435 30877 30341 30217
Fonte: INPI, Assessoria de Assuntos Econômicos, BADEPI v5.0.
Nota: (1) Os depósitos de patentes de invenção foram tabelados considerando o primeiro símbolo de classificação dos pedidos já publicados
na data da extração dos dados. N.A.: Não avaliados por não possuírem classificaçãona data da extração dos dados .
211
Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe IPC (Alimentos Funcionais) e País do 1º Depositante, 2005-2015
N.A. (1) 1 0 0 0 0 1 4 1 0 0 0
Total 2226 2331 2444 2487 2291 2293 2382 2430 2390 2416 2561
Fonte: INPI, Assessoria de Assuntos Econômicos, BADEPI v5.0.
Nota: (1) N.A.: Não avaliados por não identificação do 1º depositante ou da origem do 1º depositante.
212
Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe IPC (Alimentos Funcionais) e Estado do 1º Depositante Residente, 2005-2015
N.A.(1) 0 0 0 0 0 0 0 0 7 1 3
Total 275 254 303 295 309 351 342 319 364 288 293
Fonte: INPI, Assessoria de Assuntos Econômicos, BADEPI v5.0.
Nota: (1) "N.A.": Não avaliados por não identificação da origem do 1º depositante residente.
213
Ano PF PJ Total
2005 135 140 275
2006 138 116 254
2007 147 156 303
2008 161 134 295
2009 145 164 309
2010 144 207 351
2011 111 231 342
2012 95 224 319
2013 101 263 364
2014 67 221 288
2015 80 213 293
Fonte: INPI, Assessoria de Assuntos Econômicos, BADEPI v5.0.
214
Depósitos de Patentes de Invenção pela 1a. Classe IPC (Alimentos Funcionais), por
decisão do INPI, 2005-2015