Factos Políticos: Aleão@direito - Up.pt
Factos Políticos: Aleão@direito - Up.pt
Factos Políticos: Aleão@direito - Up.pt
6/10/2021
Objeto de estudo da Ciência política: tem como objeto de estudo os factos políticos, estuda o
que “realmente é”, o ser, ao contrário de Direito Constitucional que estuda o que “deve ser”,
segundo as normas instruídas pelo Estado. Assim, é uma disciplina interdisciplinar, pois
relaciona-se com outras disciplinas.
AULA 2
8/10/2021
Factos políticos
Ciência política ocupa-se de uma modalidade de factos sociais, os factos políticos. Estes são
aqueles factos que se relacionam, direta ou indiretamente, com o acesso (exemplo: eleições),
titularidade (exemplo: primeiro-ministro) e exercício (exemplo: legislar) e o controlo do poder
político (exemplo: tribunal constitucional). É sobre estes factos políticos que a ciência política
se vai debruçar. Trata do “ser”, do que é concreto, e não daquilo que “deve ser”.
No seu sentido amplo (latu sensu), diz respeito a todas as ciências que estudam factos políticos.
Em sentido estrito (sricto sensu) a ciência política é autónoma, tem um objeto de estudo
próprio, mas está aberta ao diálogo com estas outras ciências, como a sociologia – diálogo
interdisciplinar. É uma ciência interdisciplinar, em que muitas das vezes recorre a métodos
típicos de outras ciências sociais.
Ciência política obriga a pensar em “político” e “poder” e assenta na reflexão teórica sobre as
ideias políticas: ideias que o homem discute sobre fenómenos como, por exemplo, a luta pelo
poder, o seu exercício, a sua legitimidade, as suas finalidades e limites, entre outros, como
formas de governo e a escolha dos seus governantes.
Quando falamos de político pensamos em fenómenos políticos, pessoas que têm cargos
políticos. Por sua vez, quando falamos em política como objeto da ciência política falamos da
arte de governar o que é de todos, a comunidade.
Isto deriva do facto do homem ser um ser social e está inserido em:
Sociedades particulares: onde nos juntamos a outras pessoas por maior afinidade ou devido a
interesses comuns, como a família.
Sociedade comum, global: todas as pessoas participam independente das nossas afiliações
particulares, dos nossos interesses. Tem de se gerir esta comunidade, onde há interesses
diferentes e bens escassos, de forma pacífica e com ordem, com justiça. Tem de ser gerida para
bem dos fins gerais e não de acordo com interesses particulares. Exemplo: Estado. Para isso é
preciso criar regras e afetar recursos para corresponder aos interesses da comunidade e ao seu
benefício e organizar a sociedade.
Muitas dessas regras são regras jurídicas que são impostas a todos e por todos devem ser
cumpridas.
Falar em ciência política é falar numa comunidade de fins gerais e falar no poder político dessa
comunidade, mas nem sempre houve poder político.
O que é o poder?
Há vários tipos de poder: poder do Homem sobre a Natureza e poder do Homem sobre o
Homem. O que interessa mais à ciência política é o poder político e do homem sobre o homem.
O poder é a possibilidade de impor algo a alguém, de impor uma vontade, uma conduta, a
outrem, se necessário contra a vontade. Existe quem rege, ou seja, quem detém o poder e quem
obedece.
• Aristóteles defende vários poderes: poder dos pais sobre os filhos (benefício dos filhos);
poder despótico, ou seja, poder do senhor sobre o súbdito (benefício do senhor); poder
dos governantes sobre os governados, que pretende o bem comum, vai de acordo aos
interesses de todos – poder político.
• John Locke: defende que o que é importante é o fundamento do poder que é exercido;
preocupa-se com o facto de os governados aceitarem o que os governantes propõem,
ou seja, é um poder limitado pelos direitos das pessoas, defendendo o indivíduo perante
o Estado. Associa-se à ideia das sanções. O poder depende de um contrato em que as
pessoas (os governados) aceitam que exista o poder.
• Para Bobbio, os meios utilizados para condicionar o comportamento do outro têm por
base a distinção do poder económico, ideológico e político. Outros autores definem-no
como uma “distinção entre governantes e governados” (Duguit), como uma “faculdade
de traçar livremente a sua própria conduta ou de definir a conduta alheia” (Marcello
Caetano), ainda como uma “faculdade de mandar e a capacidade de se fazer obedecer”
(Freitas do Amaral).
• Marcelo Rebelo de Sousa: “O poder político é um poder de injunção dotado de
coercibilidade material, um poder de natureza vinculativa marcado pela suscetibilidade,
quer no uso da força física, quer da supressão, não resistível, de recursos vitais.”
A ciência política ocupa-se dos factos políticos e eles relacionam-se com o poder político, que
é dotado que coercibilidade.
O poder tem um sentido, que aponta para a ideia de legitimidade – se as pessoas não virem o
poder como legítimo, ele não resistirá no tempo, as pessoas não o aceitarão (a legitimidade é
um conjunto de crenças e valores que levam as pessoas a respeitar o poder).
O poder político gere a sociedade de acordo com critérios socialmente respeitados e legítimos,
organizando-a e garantindo a sua coesão no que toca a uma convivência social pacífica.
Funciona, ainda, como um mecanismo destinado à resolução de conflitos de interesse
resultantes daqueles que concorrem ao acesso de bens finitos através, por exemplo, dos
tribunais.
Coercibilidade: não significa violência nem coação, pois é apenas uma mera possibilidade do
uso da força. Significa que é algo que possa ser imposto contra a vontade, pela força (não
necessariamente força física). O Estado tem o poder de o fazer se não for respeitado
voluntariamente através, por exemplo, dos tribunais.
O que é legitimidade?
Remete para crenças. Um conjunto de valores, razões, que levam as pessoas a respeitar o poder.
Esta varia ao longo da história, pois a nossa conceção de origem do poder varia ao longo do
tempo.
Legitimidade de título: forma como o titular do poder foi designado, como foi admitido para o
cargo. Ex: eleição ao invés de violência.
Legitimidade de exercício: relaciona-se com a forma como o titular exerce o poder. Tem título,
mas pode governar, tanto de forma certa como de forma errada. Ex: Hitler.
Pode-se ter legitimidade de título, mas não legitimidade de exercício e ter legitimidade de
exercício sem legitimidade de título. Os dois conceitos não têm de ser acompanhados.
Tem um título legítimo aquele que foi designado como titular, aquele que foi designado de uma
forma que a sociedade considera legítima e este passa a ter exercício do poder (legitimidade de
exercício).
A legitimidade muda ao longo do tempo e atualmente é associada ao sufrágio (democracia).
Está dependente de crenças, sendo uma espécie de consentimento, enquanto que a Legalidade
está dependente do Direito e de normas. Assim, é possível uma ação política ser legal e ilegítima
ao mesmo tempo e vice-versa. A Legitimação é a construção de algo de forma legítima,
relacionando-se com o procedimento que faz atingir um resultado.
• Max Weber distinguiu 3 tipos de legitimidade política: tradicional (de acordo com as
tradições), carismática (depende do carisma da pessoa, como o facto de ser persuasiva)
e racional (organização da vida política para atingir determinados fins, através de regras
e leis). Assim, percebemos que há crenças diferentes nos diferentes regimes políticos.
Legitimidade vs legalidade
O que é legal cumpre a lei, o que está de acordo com as regras jurídicas, o que está dependente
do Direito; e a legitimidade é construída e muda ao longo tempo e é necessário respeitar ideias
e valores que são importantes para dada comunidade, podendo haver leis que vão contra estes
valores. Por exemplo: A tortura é legal porque está na lei, no ordenamento jurídico de
determinado país, mas não é legítima, pois desrespeita a vida, não traduzindo a vontade da
comunidade.
Nos Estados de Direito os direitos humanos têm de ser respeitados. Mas pode acontecer que
um estado tenha normas, constituições, leis só que os direitos humanos não sejam respeitados
devido ao carácter injusto de tais normas, constituições, leis, etc. Assim, serão verdadeiramente
leis? Será mesmo Direito? Há quem defenda que sim e quem defenda que não.
É possível a ação política ser legal e ilegítima ao mesmo tempo e vice-versa. Legal, pois estaria
enquadrada nas regras em vigor no âmbito de uma determinada ordem jurídica; e ilegítima caso
as regras em vigor que sustentam a ação política não traduzissem a vontade da comunidade e
transcendessem a vontade dos governantes.
Estado
Estado é comunidade política por excelência. É uma organização político-jurídica de uma
sociedade, dispondo de órgãos próprios que exercem o poder sobre determinado território.
Pode haver poder político acima e abaixo do Estado e podemos encontrar também poder
político noutras entidades sem ser o Estado. Há poder político sem ser apenas no Estado e
também há ciência política para além do Estado. Enquanto fenómeno político, é uma
comunidade de homens concretos.
O Estado é uma manifestação do político. É um fenómeno histórico, não existiu sempre e não é
garantido que exista sempre.
O Estado tem personalidade jurídica (coletiva e pública) com órgãos próprios, havendo
suscetibilidade de estabelecer contratos, ser titular de direitos e obrigações e ser
responsabilizado pelo cumprimento ou não delas.
É preciso identificar características que nos permitam dizer que temos um Estado. Estado define-
se como comunidade de pessoas que se estabelece num determinado território para aí exercer
o poder político, estabelecer regras. Três elementos do estado: povo, território, poder político.
Para estarmos perante um estado tem de existir cinco traços fundamentais/características (em
qualquer momento histórico):
• Complexidade: (de organização e atuação): Estado é uma pessoa coletiva não sujeita
ao princípio da especialidade, é uma sociedade de fins gerais que procura satisfazer as
necessidades coletivas (Estado tem uma multiplicidade de fins, órgãos e serviços) ao
invés de qualquer outra pessoa coletiva que está sujeita ao princípio da especialidade,
isto é, grupos ou associações que se regem por fins particulares.
• Autonomia do poder político: autonomia entre a sociedade civil e o poder político.
Estado destaca-se da sociedade civil, no entanto, é composto por uma comunidade de
pessoas sujeita a um poder que se destaca. A esfera do Estado, do poder político, é
completamente independente perante a esfera social (sociedade civil).
• Coercibilidade: suscetibilidade de aplicação coativa, ou seja, caso as normas não sejam
cumpridas, há instrumentos que permitem a sua aplicação (exemplo: tribunal). Cabe ao
Estado a administração da Justiça entre as pessoas e grupos e por isso tem de lhe caber
também a função de quando necessário recorrer a uma força, os tribunais. Ou seja, há
apenas uma possibilidade de que as normas sejam impostas pela força (não
necessariamente força física).
• Institucionalização: fixação e enraizamento do Estado como realidade atemporal e
ahistorica, independentemente de mudarem governantes e políticos. Ideia de duração,
de permanência do poder. O que garante que o Estado permaneça é a Constituição, que
surge “o Ser do Estado”, a lei suprema, um conjunto de normas que garante a sua
manutenção e que regula a vida da comunidade.
• Sedentariedade/territorialidade: o Estado tem um espaço físico que corresponde ao
espaço geográfico onde são aplicadas as normas. Permanece no tempo e fixa-se no
território, não havendo Estado nómada. A sedentariedade corresponde à necessidade
de um espaço físico para que o Estado realize o seu poder.
NOTA: Maquiavel foi o primeiro autor a usar a palavra “Estado” em sentido moderno.
Ciência política é empírica, parte de conceitos para analisar a realidade e parte da realidade para
tentar estabelecer tendências e identificar regularidades. Foi desenvolvida a partir do século
XIX. Nem sempre houve ciência política, nem da forma como a fazemos hoje.
AULA 3 13/10/2021
História das ideias políticas: é importante para perceber muitos problemas que existem hoje,
como a tirania, o populismo, etc. Há vários modos diferentes de organizar a exposição de uma
História das Ideias Políticas: um é o critério alfabético (por autores), outro é o critério ideográfico
(por assuntos) e outro, o critério cronológico (por épocas). A ciência política optou pelo último
modo.
1. A Antiguidade Clássica;
2. A Idade Média;
3. A Idade Moderna;
4. O Iluminismo;
5. A Idade Contemporânea.
Nota: Consultar manual da história das ideias políticas de Diogo Freitas do Amaral.
ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Diz-se que a Grécia originou a política democrática e a reflexão teórica sobre a coletividade
e o poder, sendo composta por homens de pensamento; enquanto Roma nos deu o Direito,
sendo composta por homens de ação.
IDADE MÉDIA
SANTO AGOSTINHO: anos: 354-430 a.C. – visão pessimista do Homem e do Estado
1. Nasceu em África.
2. Aderiu á lógica maniqueísta- doutrina de uma seita religiosa persa: a vida, o mundo e o
homem são dominados pelo conflito entre a luz e as trevas, o bem e o mal, havendo o
deus do bem e o deus do mal que se encontram em conflito.
3. Inspirado em Platão.
4. Converte-se em cristão aos 32 anos e rejeita a vida de luxúria e prazer.
5. Em 392 torna-se padre e em 396 Bispo de Hipona.
❖ Pensamento político
6. Escreveu livros sendo importante o “Cidade de Deus”: aqui distingue a cidade de Deus,
a cidade Celeste em que há procura da justiça e os homens vivem segundo o espírito e
a “cidade terrena” que vive de acordo com a carne e os prazeres. Uma é a cidade do
bem e outra a cidade do mal e ambas estão em luta permanente e disputam a posse
do mundo. A vida presente é uma luta, só no futuro poderá haver paz.
7. A Cidade Celeste não corresponde à igreja nem a Cidade Terrena ao Estado: a distinção
das cidades atende antes à maneira de ser dos homens, à sua forma de vida, ao espírito
e finalidades com que atuem. Tanto na Igreja como no Estado há homens pertencentes
às duas cidades. Daí que o Estado em si não pode ser considerado nem como bom ou
mau, depende de quem o governa.
8. Só na cidade celeste há verdadeira paz, justiça e bem. Na cidade terrena, os homens
esforçam-se por alcançar a paz, mas não há paz sem deus; alcançar a justiça, mas não
a há sem Deus; alcançar o bem, mas não o há sem Deus. Apenas há aparência destes
três aspetos, que são o reflexo dos verdadeiros valores da paz, justiça e bem.
❖ Conceção sobre a natureza humana
9. A necessidade de se alcançar a perfeição é muito difícil de alcançar, pois tem visão
pessimista sobre a espécie humana, sendo que alguns se afastam da perfeição e não
se conseguem libertar do pecado e outros tentam chegar lá e salvarem-se. A minoria
está na cidade de deus (assembleia de santos) e a maioria na cidade terrena
(assembleia de pecadores).
10. Características principais do Homem: egoísmo, arrogância, vontade de dominar os
outros e a tendência para procurar o bem próprio e desprezar o bem dos outros. É um
ser marcado pelo pecado. As três tendências mais negativas do Homem pecador na
cidade terrena são o apetite pelos bens materiais, a paixão do poder ou domínio de
outros homens e o desejo sexual. Estes apetites são insaciáveis.
11. Não acredita na ideia de progresso histórico, isto é, no aperfeiçoamento ou melhoria
da Humanidade: para ele o Homem será sempre pecador e a cidade terrena nunca terá
Paz, Justiça ou Bem.
❖ Noção de Estado
12. Da visão pessimista do Homem tem consequência relativamente ao Estado: conceção
repressiva do Estado em que vigoram as ideias de prevenção de maus
comportamentos, sanção e repressão.
13. A graça de Deus não serve para base da organização social, pois só libera uma pequena
minoria da grande massa dos pecadores: por isso, se a graça divina é inadequada à
estruturação da vida social, outros meios têm de ser encontrados. Esses meios são
organizados pelo Estado: a prevenção, a sanção e a repressão.
14. A paz e a segurança devem ser asseguradas pela coação e a punição, para evitar que
elas sejam destruídas pelas forças poderosas do pecado. O principal instrumento do
Estado para obter a paz e a segurança é o sistema jurídico, o Direito, garantido pela
força do Estado. O Direito não consegue atuar sobre consciências, apenas consegue
atuar sobre os comportamentos exteriores, evitando que os Homens cometam
agressões, ou punindo-as ou reprimindo-as.
15. O Estado não deve (porque é impossível) procurar tornar os homens bons e virtuosos,
apenas deve fazer reinar a paz e a segurança exteriores nas relações sociais entre os
homens. O Estado é uma ordem exterior e coerciva, não tem a ver com o bem e a
justiça, apenas com a paz e segurança na cidade terrena.
16. A cidade de Deus é uma ordem de amor e o Estado, na cidade terrena, é uma ordem
de coação: o medo da punição é a salvaguarda da paz e segurança.
❖ Dever de obediência ao Poder Político
17. Existia um dever de obediência face ao poder político, pois todo o poder vem de Deus
e o poder é um dom de Deus concedido aos homens.
18. O dever de obediência ao poder é absoluto. Não há limitações ao poder dos
governantes. Não há espaço para justificação da desobediência ou para formas de
resistência dos governados.
19. Não se pode distinguir entre bons ou maus governantes e formas de governo justas ou
injustas: a todos se deve igual obediência.
20. O dever de obediência a leis e decisões dos governantes só é excluído pelo Bispo de
Hipona quando elas sejam contrárias à lei de Deus, mas mesmo nesse caso os
governantes podem punir os que desrespeitaram a lei.
21. O Estado deve ser duro e repressivo e os cidadãos devem aceitar a autoridade do poder.
O que interessa não é ser bem governado, mas manter a liberdade interior que permite
amar a Deus sobre todas as coisas e preparar o ingresso futuro na “Cidade de Deus”.
❖ A Paz
22. A principal finalidade a prosseguir no uso do poder é a paz. O mal está na guerra, na
tortura, abuso da força, etc. e a paz é o bem supremo da cidade, existe uma aspiração
em direção a esta.
23. A paz do corpo é a disposição harmoniosa das suas partes; a paz na cidade é a concórdia
bem ordenada dos cidadãos no comando e na obediência; a paz da Cidade Celeste é a
comunidade perfeitamente ordenada e harmoniosa no gozo de Deus e no gozo mútuo
dos homens em Deus; a paz de todas as coisas é a tranquilidade da ordem e a ordem é
a disposição dos seres iguais e desiguais, designando para cada um o lugar que é seu.
❖ Funções da autoridade
24. A autoridade do exercício do poder comanda, dá (prover) e aconselha. Estes sãos os
deveres do chefe (desde o chefe de família ao imperador), que traduzem três funções:
✓ Função de comando: mais importante e mais difícil dos deveres do chefe: o
poder não é propriedade pessoal, mas uma função, um serviço. Quem o
exerce deve evitar a vaidade, o orgulho, bem como a paixão característica
dos governantes – a paixão do domínio.
✓ Função de prever as necessidades do país e em prover a sua satisfação. É
preciso saber distinguir o que é bom ou mau para o povo. Não deve haver
corrupção, o jogo dos prazeres, o culto da riqueza, etc. o chefe deve reprimir
os abusos dos ricos e impor-lhes o serviço dos pobres e do Estado.
✓ Chefe como conselheiro do seu povo: não deve apenas comandar e prever
mas também aconselhar e deve fazê-lo com espírito fraterno.
❖ A Igreja e o Estado
25. Defendia que os poderes eclesiásticos e civis são distintos e independentes. Cada um
se move na sua esfera própria de jurisdição e atua por sua conta, só sendo responsável
perante Deus. Não esquecer que a cidade de Deus é superior à cidade terrena.
26. A Igreja deve aceitar o Estado tal como ele é, com os erros que o caracterizam,
oferecendo-lhe, na pessoa dos seus fiéis, cidadãos bons e virtuosos. A igreja devia ser
uma escola de civismo.
27. Agostianismo político ou doutrina da supremacia da Igreja sobre o Estado:
✓ Intervenção do Estado contra as seitas heréticas – o Estado devia punir com
as suas leis os hereges, funcionando como “braço secular” da Igreja e
aceitando as definições da verdade religiosa dadas por esta – subordinação
do Estado à Igreja.
✓ Conceção da cidade de Deus como algo superior à Cidade terrena. Mas nem
aquela correspondia à Igreja, nem esta ao Estado.
28. A necessidade de o Estado se submeter à religião e caminhar para Deus, como
elemento da cidade Celeste, ia provocar o desvio que nela estava implícito.
❖ Críticas
29. Contemporização com a escravatura; conceção demasiado pessimista do Homem e do
mundo; a visão repressiva do Estado; feição conservadora imprimida a uma ordem
social estática e não evolutiva; recusa da noção de progresso histórico, como se a
humanidade fosse incapaz de progredir.
IDADE MODERNA
MAQUIAVEL: anos 1469-1527 – o poder liberto da moral
❖ Vida e obra
1. Era natural de Florença e Itália ainda não existia como país unificado.
2. Obra mais conhecida é “O Príncipe”, publicada depois da sua morte, tendo a sua obra
caído no Index da igreja católica.
3. Ficou conhecido pelo adjetivo “maquiavélico”.
❖ Pensamento político
4. Defendia a república em relação à monarquia.
5. Saudoso das proximidades do poder, confessa que o seu objetivo é “obter o favor de
um príncipe”. Oferece-lhe então o que julga possuir de mais valioso, não cavalos, nem
ouro, etc., mas o conhecimento das ações dos grandes homens, adquirido numa
experiência das coisas modernas e numa continuada leitura das antigas, que considera
as fontes principais do pensamento político de Maquiavel (experiência das coisas
modernas e leitura das coisas antigas).
6. A natureza humana é sempre a mesma, constante e imutável, sendo lícito recorrer à
história para entender o presente ou prever o futuro.
7. Considerava que para se conhecer a natureza dos povos é necessário ser-se um príncipe
e para se conhecer a natureza de um príncipe tem de se ser popular.
8. O seu livro aconselhava o príncipe sobre como chegar ao poder e como o conservar
quando o tivesse. Faz recomendações sobre a arte de governar. É como uma “gramática
do poder”.
9. Fim político: conquistar e manter o poder.
10. Quebra com a tradição greco-latina, pois não situa o Estado perante o mundo nem
perante o cosmos, não se preocupando com a existência de leis eternas e universais ou
com qualquer referência ao direito natural e também na medida em que opta pelo
realismo político contra o idealismo ético.
11. Quebra com a tradição medieval cristã, pois omite referências à lei natural, nunca fala
em Deus, ignora as limitações morais dos governantes, aconselha à prática de atos
imorais e quando fala na religião é para afirmar que ela é útil ao Estado porque ajuda a
convencer os povos a obedecer às leis.
❖ Noção de Estado
12. É o 1º autor a utilizar a palavra “Estado” com o sentido que ela hoje tem. A realidade
do Estado Moderno dá os primeiros passos. É a época do Renascimento onde acaba o
feudalismo, nascem os primeiros Estados nacionais, o poder real monopoliza o
emprego da força pública ao serviço do bem comum. Estado no sentido de comunidade
política soberana na ordem interna e internacional.
13. O Estado no Renascimento é um Estado Monárquico, é o principado, o poder real, o
absolutismo principesco.
❖ Classificação dos regimes políticos
14. É o autor que pela 1º vez apresenta uma classificação bipartida dos regimes políticos.
Entre república e monarquia ou república e Principados. A monarquia é governada pela
vontade de um só indivíduo: soberano singular; a república é dirigida por uma vontade
coletiva, seja de poucos ou de muitos: soberano coletivo.
15. A República abrange tanto a aristocracia como a democracia dos clássicos e então
distingue entre repúblicas aristocráticas e repúblicas populares ou democráticas.
16. Não faz distinção entre formas de governo boas e más. Não há formas de governo
ilegítimas, o que há é umas mais convenientes do que outras, conforme as
circunstâncias.
17. Não faz juízos morais: não se discute entre rei e tirano; se o rei é bom ou mau. Não se
distingue em função de critérios éticos, mas em função do êxito político. Bom é quem
é capaz de conquistar o poder e o consegue manter. Não há juízos éticos na política, o
único critério é o do êxito político, não interessa se se usa crueldade ou não.
❖ Melhor forma de governo
18. Não distingue formas de governo sãs e degeneradas, mas tem preferências feitas por
critérios de conveniência política e não por critérios morais.
19. Considera uma melhor forma de governo: prefere a república, que é um governo que
melhor defende a liberdade.
20. Critica a monarquia, pois é hereditária e há filhos que degeneram os pais e que se
entregam ao luxo e aos prazeres, o que faz com que sejam odiados e do ódio nasce o
medo que conduz à tirania, que se caracteriza por instabilidade.
21. Vê duas formas de modalidade de república: aristocrática liderada pelos nobres e
democrática governada pelo povo.
22. Admite que há casos em que o governo por um homem (monarquia) só é necessário:
quando se funda um novo estado (a organização inicial do que quer que seja não pode
ser determinada por muitos, dado que a divergência das suas opiniões impede-os de
concordar sobre o que é melhor); quando se faz uma reforma das instituições do Estado
(quando o governo está reservado a muitos, não é possível promover os interesses de
muitos contra a vontade de poucos); e quando há circunstâncias de grande perigo
público (órgãos constitucionais confiam a salvação da Pátria a um homem providencial
por um período determinado, durante o qual ele fica legalmente autorizado a usar de
plenos poderes para restabelecer a normalidade da vida coletiva – em Roma chamava-
se ditadura).
❖ Política como ciência
23. 2º grande politólogo depois de Aristóteles, pois não se preocupa em fazer juízos sobre
aspetos religiosos.
✓ Procura estabelecer as leis da política, ou seja, leis que retratam a forma como
os fenómenos políticos acontecem e as razões porque acontecem, em vez de
procurar deduzir os deveres impostos aos governantes pela religião, Ética ou
Direito Natural.
✓ Observação da realidade política: através da leitura das coisas antigas, o estudo
da história, quer através da experiência das coisas modernas, ou seja, a
experiência vivida por ele nos seus cargos, embaixadas, na sua vida.
✓ Purifica o método da política: reivindica a autonomia do fenómeno político e a
autonomia do estudo da política, em relação a outros fenómenos sociais e em
relação a outras disciplinas do pensamento. Liberta a ciência política de
conceitos morais e considera q os políticos têm de ser julgados pelo êxito ou
fracasso do seu regime e não se foram pessoas bondosas ou maldosas.
❖ Formulação das leis da política
24. Sem a formulação de leis que expliquem a causalidade da política, esta não pode ser
considerada como ciência.
25. Procura estabelecer algumas leis da política, segundo um esquema lógico “quando
acontece X, acontecerá necessariamente Y”, ou se “se quiser que suceda Y, é necessário
preparar X”.
26. A par destas leis, que são objetivas, meramente descritivas, outras vão já no sentido de
dar ao príncipe certos conselhos, estabelecendo regras de ação.
❖ Nacionalismo
27. Foi um nacionalista.
28. Não havia em Itália um Estado nacional e edificado, havia apenas cidades-estado.
Durante muitas invasões à Itália, nenhuma das cidades tinha força para se lhes opor e
considerava que a culpa disto era do papado, um obstáculo à unidade Italiana, pois era
fraco para a assegurar e forte para a tolerar.
29. Maquiavel torna-se defensor de uma Itália unida, armada e despadrada, afirmando que
ama mais a pátria do que a alma. E para que Itália seja unida e forte, é necessário um
príncipe que detenha o poder que construa um Estado forte e que possua um exército
nacional.
❖ A amoralidade política
30. Política como amoral e defendia a “razão de Estado”, de acordo com a qual o estado
deve obedecer a regras próprias de ação, diferentes da regra moral que é aplicada aos
indivíduos.
31. Tudo o que seja necessário para ascender e manter o poder é legítimo e deve ser feito,
independente de ser ou não condenado pela moral.
32. A moral só deve ser aplicada na vida privada dos indivíduos.
33. Enumera qualidades dos homens em geral: liberdade, generosidade, piedade,
fidelidade, coragem, etc. e refere que o príncipe tem de compreender que algumas
coisas que parecem virtudes levariam, se seguidas, à sua própria ruína e outras que
parecem vícios, resultarão numa maior segurança e bem-estar.
34. Doutrina amoral de Maquiavel conjugada com o princípio da razão de Estado: nas
ações dos “príncipes”, os que têm poder, só se deve atender ao fim que se pretende e
nada mais: o da conquista e manutenção do poder. Se existir conquista de poder os
meios utilizados vão ser valorizados: o fim justificou o meio, porém estes meios podem
ser ilegítimos e ainda assim serão considerados como honrosos e louvados.
35. É esta a essência do maquiavelismo: desde que se aceite um determinado fim a seguir,
todos os meios são bons para o alcançar, mesmo que constituam atos imorais ou até
crimes.
36. Constrói uma razão de estado: o príncipe deve ser cruel quando necessário; mais vale
ser temido que amado; deve usar da boa ou má fé consoante lhe seja útil (bem quando
possível, mau quando seja necessário); não é preciso ter todas as qualidades, é só
preciso parecer tê-las; e deve delegar aos outros as tarefas que sejam impopulares e
conceder a ele próprio os favores ou benefícios; um princípe que deseje manter o
Estado é frequentemente forçado a praticar o mal.
37. “Crueldades bem usadas” e “crueldades mal-usadas”: o erro não está, para ele, no
governante cometer uma crueldade, mas sim em usar mal a crueldade, e portanto
perder politicamente. O mal, segundo Maquiavel, não consiste em cometer um crime,
consiste em praticar um erro político.
38. Dois métodos de lutar: um pelo direito e o outro pela força: o primeiro é o método dos
humanos e o segundo dos animais; mas às vezes o primeiro método é insuficiente e
torna-se necessário recorrer ao segundo, portanto o príncipe tem de saber usar os dois.
39. Não há nestas máximas e na doutrina que elas condensam uma simples descrição,
neutra e objetiva, dos atos ilegítimos praticados pelos governantes: há sim uma
filosofia amoral que preconiza, recomenda e aconselha.
40. Não critica o mal feito pelos governantes e recomenda o uso deste para fins políticos.
Propõe-se a ensinar todos os príncipes a proceder dessa forma, sob pena de não terem
êxito e de fracassarem: amoralismo político.
É preciso que os três poderes não estejam reunidos nas mesmas mãos.
16. A separação de poderes é garantia da liberdade individual, pois cada um dos poderes
do Estado desempenhará a sua função, mas não mais do que isso e ao mesmo tempo
impedirá os outros de exorbitarem da sua própria função.
17. Em cada poder do Estado estão contidas duas faculdades – a de estatuir e a de impedir.
Significa que cada poder do Estado deve ter a possibilidade de tomar decisões sobre a
sua esfera própria de competência, mas também a possibilidade de travar certas
decisões dos outros poderes do Estado, de modo a que exista um sistema de controlos
recíprocos que impeçam qualquer dos poderes de assumir a totalidade do poder e de
abusar dele.
Estes três autores vão fomentar as revoluções liberais - constituição escrita e separação e
interdependência de poderes: revolução inglesa, francesa (declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão) e americana e constitucionalismo liberal.
IDADE CONTEMPORÂNEA
Uma fase cuja gestação começou com os iluministas e que, politicamente, se inicia com duas
grandes revoluções: Americana e Francesa.
Plano económico-social (esta fase é no século XIX e inícios do século XX) – afirmação do
liberalismo económico; proclamação do princípio da não intervenção/redução do Estado na vida
económica e social; marcada pela industrialização e pelo aparecimento da questão operária e
pelo embate que este liberalismo terá com os movimentos socialistas.
ABADE DE SIEYÈS: anos: 1748-1836 – povo como elemento do Estado e a soberania
nacional
1. Um dos pensadores da revolução francesa, em que seis meses antes da Revolução
escreveu: “O que é o terceiro Estado?”.
2. Grande construtor do Estado liberal saído da Revolução Francesa.
3. Apresenta reivindicações que visam combater o absolutismo:
✓ Que todos os representantes do terceiro estado nos Estados Gerais fossem
membros do terceiro estado (era costume haver membros do clero e nobreza a
representar o povo nos Estados Gerais);
✓ Que o número de representantes do terceiro estado fosse igual à soma dos
representantes do clero e da nobreza, ao contrário do que acontecia;
✓ Que todas as votações dos Estados Gerais fossem feitas por cabeça e não por
ordens, porque até ali o clero em conjunto tinha um voto, a nobreza tinha outro,
de onde resultava que o clero e a nobreza normalmente venciam por dois a um.
4. Apresenta o conceito de Nação, considerando que esta detém a soberania e que a
Nação é o povo – povo no sentido de terceiro estado. o clero e a nobreza não são a
Nação, só o povo é.
5. Defende o conceito de soberania nacional como equivalente a soberania popular.
6. Defende a representação política, ao contrário de Rosseau. Ele defende-a e constrói
toda a sua teoria do Estado na base da ideia de representação política.
7. Funções do Estado são quatro e chamava a cada uma delas “vontade”:
✓ Volonté constituante: poder constituinte;
✓ Volonté petitionnaire: direito de os cidadãos apresentarem petições aos
poderes públicos;
✓ Volonté gouvernante: poder de governar;
✓ Volonté legislative: poder de legislar.
Ou seja, desta análise percebemos que distingue entre poderes constituintes e constituídos. A
teoria da separação de poderes diz respeito aos poderes constituídos; mas antes deles e acima
deles há o poder constituinte: poder de fazer/modificar/substituir uma Constituição, ou seja, o
poder originário do povo enquanto poder soberano.
6. Sustenta que o mais importante é lutar contra o despotismo e preconiza como forma
de o evitar: a descentralização; a limitação do papel do Estado na vida coletiva; a
participação dos cidadãos no exercício do poder político; a solidariedade social e a
contenção do intervencionismo económico.
7. Identifica também o risco da tirania da maioria: a maioria não pode fazer tudo, tem de
haver garantias para que isso não aconteça e isto é garantido pela participação do povo
na política e pelos órgãos de poder mais descentralizados. ?????????
SURGIMENTO DAS IDEIAS SOCIALISTAS
1. Socialismo europeu do século XIX: tentativa de resolver a questão social decorrente da
industrialização e visou um fim de justiça social. Este socialismo foi causado pela miséria
operária em sociedades industriais. Procurou corrigir/combater o capitalismo.
2. Há uma preocupação com as classes trabalhadoras, em que muitos vivem em extrema
pobreza – surgem, assim, os primeiros movimentos socialistas.
3. Desenvolvimento das ideias socialistas – acabam por ser um conjunto de ideias que tem
na base o ideal de justiça social e tem como características fundamentais:
✓ A análise política deve se subordinar à análise económica;
✓ A rejeição do tipo de sociedade em que se tem vivido no mundo ocidental,
desde o século XIX, e a exigência de uma nova ordem económica e social;
✓ Ataque à propriedade privada, tida como causa de todos os males da sociedade;
✓ Defesa da apropriação coletiva dos principais meios de produção;
✓ Proposta de atribuição ao Estado de extensas funções na economia, quer
empresariais (empresas públicas), quer de direção central (planeamento
económico).
4. São características do socialismo, que começa por ser doutrina económica, mas que
apresenta consequências a nível político, designadamente, na conceção de sociedade,
do Estado, do poder político, da liberdade e dos sistemas políticos.
5. Socialismo moderno nasce na Europa no século XIX, como reação ao conjunto de
realidades económicas e sociais negativas: crises económicas frequentes; perturbações
sociais consequentes do progresso técnico, industrialização e capitalismo; situação
miserável do operariado, etc.
6. Engels defendia dois tipos de socialismo: socialismo utópico e científico, sendo que só o
marxismo era científico e todas as outras formas, como a de Platão, eram socialismo
utópico.
Uma filosofia geral: assenta as ideias num conjunto de pressupostos filosóficos que se traduzem
na conjugação da filosofia dialética com no materialismo histórico. Filosofia dialética dividida
em duas grandes filosofias: filosofia do ser e filosofia da vida (pág.150) e o materialismo é a ideia
de que aquilo que é fundamental no mundo é a matéria, não o espírito; é a evolução da matéria
que determina a evolução das ideias, das leis, etc; o materialismo histórico é uma interpretação
da história em que esta evolui a partir de choques contrários, através do embate entre teses e
antíteses (a denominada “dialética”), sendo que só a meio da luta podem surgir novas sínteses
progressivas e enriquecedoras. Esta evolução é condicionada por fatores materiais, económicos
e não por causas espirituais, morais ou políticas, ou seja, as condições materiais influenciam o
decurso dos acontecimentos. O materialismo histórico significa uma visão económica da história
e da sociedade, assente na dialética. A luta de classes (luta entre proletários e proprietários) é o
motor da história.
Uma teoria da história: Marx interpreta a história como uma guerra entre as classes sociais: luta
de classes é o motor da evolução histórica. Para Marx e Engels, a evolução histórica processou-
se assim: 1ºfase - comunismo primitivo e integral dos bens; depois, surgindo a propriedade
privada dos meios de produção, terá começado a luta de classes, da qual emanou o Estado
capitalista ao serviço da classe exploradora; depois, contra o Estado capitalista apareceu a luta
de classes trabalhadoras, das quais emerge o socialismo em evolução para o comunismo. Marx
afirma também que são as forças materiais, nomeadamente as económicas, que determinam a
evolução da sociedade. Refere que, tal como os fiéis se alienaram a Deus, também os cidadãos
se alienam ao Estado e nessa alienação todos perdem uma parte do seu ser. Esta alienação
explica-se pelo facto de os poderosos (governantes, sacerdotes, militares, etc) imporem as
alienações para manterem o seu domínio e poder e os pobres e fracos aceitam-nas, como
crenças em paraísos, para se evadirem da sua miséria e, por isso, Marx acusa a religião de ser o
“ópio do povo”.
Para Marx as ideias dominantes em certo país ou época não são ideias puras, não descendem
de Deus ou da Razão, nem encaminham a vida e a história; são apenas o reflexo das relações
materiais (económicas e sociais) entre fortes e fracos, ricos e pobres. ou seja, quem conduz a
evolução da história são as forças materiais, económicas, produtivas.
O Direito, a Política, a Moral, Religião, Arte, são tudo ideias (super-estruturas) que resultam da
configuração que em cada fase tiverem as forças económicas e as relações de produção (infra-
estruturas). A infra-estutura comanda a super-estrutura.
O Estado nasce quando a classe dos proprietários se torna cada vez menor e mais rica e a classe
dos trabalhadores maior e mais pobre; mas, conclui que o Estado tenderá a desaparecer,
quando, por uma revolução inevitável, os proletários tomarem o poder e aniquilarem a
burguesia e assim a razão do Estado existir desaparecerá, pois haverá sociedade sem classes
onde não há opressão de uma classe pela outra.
Uma conceção da religião e da moral: religião e moral são instituições distintas com funções
sociais diversas. A função da religião é uma função de classe: dar aos proprietários uma
justificação para a legitimidade do seu domínio sobre os proletários e é dar aos proletários uma
ilusão sobre as condições da sua vida, em que podem imaginar um paraíso; a religião deixará de
existir quando for implantado o socialismo, pois a sua função é servir os interesses da classe
dominante e quando este for implantado não haverá classes.
A moral representa o código ético de uma sociedade, a regra de distinção entre o bem e o mal.
Há uma moral capitalista (burguesia) que morrerá com o capitalismo, e terá de haver uma moral
socialista que a substitua. A moral tem função de proteger o modo de produção e as estruturas
de classe em cada tipo de sociedade: cada modo de produção gera ideias e sentimentos sobre
o bem e o mal, que são necessários à manutenção desse modo de produção e tudo o que
constitua forma de o manter é bom. A moral depende do momento, da conjuntura e está
subordinada aos interesses do proletariado na luta de classes, pois mesmo que seja preciso
roubar ou mentir, a moral deve conduzir à vitória do proletariado.
Uma análise económica do capitalismo: Marx considera que o capitalismo é baseado no lucro
e é um sistema condenável, porque repousa sobre a exploração do homem pelo homem e
condenado, porque fatalmente será abolido pela evolução histórica que o substituirá pelo
socialismo. A concentração das empresas capitalistas, fará a crescente pauperização do
proletariado, pois vão ser mais explorados.
Uma previsão sobre o advento do socialismo: o contraste do confronto entre a burguesia cada
vez mais rica e reduzida e o proletariado cada vez mais pobre e numeroso, irá explodir por força
da luta de classes – os trabalhadores farão a revolução, vão se apoderar dos instrumentos do
Estado e abolirão o capitalismo, implantando o socialismo: será uma sociedade sem classes,
assente no princípio da apropriação coletiva dos meios de produção.
A burguesia lutará contra o proletariado, defendendo-se através do aparelho repressivo do
Estado e o proletariado lança a sua arma principal – a greve.
Uma utopia sobre a sociedade comunista: a sociedade comunista será igualitária e justa, em
que todos serão livres e iguais e em que não haverá classes sociais – é a “sociedade sem classes”
e onde a distribuição dos rendimentos se fará segundo o principio de dar “a cada um segundo
as suas necessidades”; o Estado deixará de fazer falta, pois se não há classes sociais, não há
oposição nem luta de classes, também não há necessidade de repressão e assim este não tem
justificação, tal como a religião. Marx defende um comunismo total, abrangendo os bens de
produção e de consumo, ninguém terá nada a que possa chamar “seu”. Estende o comunismo
à família, condenando a apropriação dos filhos pelos pais e sustenta a substituição do casamento
pela união livre.
MARXISMO-LENINISMO
LENINE
1. liderou os bolcheviques e foi um dos que organizou a revolução de 1917. Era herdeiro
das ideias de Marx, apresentando apenas algumas diferenças, dando origem ao
marxismo-leninismo.
Teoria da história: a sua tese fundamental é que a revolução não se deu quando Marx previra e
se deu um novo fôlego ao capitalismo. Convence-se que o capitalismo entrará na sua última
etapa, em que os países capitalistas lutam uns contra os outros, o que dará condições objetivas
e subjetivas para uma revolução socialista na Rússia e em todo o mundo.
Teoria da Revolução: refere que na Rússia, tal como em todas as monarquias absolutas, há duas
revoluções a fazer: 1º - revolução liberal burguesa, que permitirá passar da autocracia ao
constitucionalismo parlamentar; 2º - revolução socialista proletária: passar do
constitucionalismo parlamentar à ditadura do proletariado.
Na noite de 25 de outubro reúne o congresso dos sovietes e a direção bolchevique propõe: paz
imediata; nacionalizações; reforma agrária; constituição de um governo exclusivamente
composto por bolcheviques, conseguindo triunfar na Revolução de Outubro.
O Estado: refere que o Estado é uma organização de força e organização da violência para
supressão de uma classe e ataca a democracia parlamentar. Defende que o Estado irá
desaparecer, mas que antes entrará em decomposição. Surge um modelo de Estado que se
contrapõe ao Estado pluralista, não admitindo pluralismos (ao Estado burguês), seja na forma
de democracia parlamentar ou na república presidencialista. Surge uma nova conceção de
Estado:
✓ O Estado deve ser governado, não por quem ganha as eleições, mas por quem merece
governá-lo e por quem quer governá-lo, ou seja, o proletariado. É legítimo que tome o
poder pela força, mesmo que eleitoralmente represente uma minoria.
✓ O Estado não reconhece a oposição e só aceita um partido – partido único.
✓ A sede do poder político não é o Estado, mas sim o Partido. É este que dirige a política
do país e os órgãos do Estado devem obedecer às diretrizes do Partido Comunista. É o
guia orientador do Estado e da Sociedade. O Partido é o centro do poder.
✓ O sufrágio para designar governantes não é de base individual, mas de base
institucional, por comissões ou conselhos, por sovietes formados a partir das bases.
✓ Estado não reconhece o princípio da separação de poderes, mas sim a concentração de
poderes, a unidade, para assim ser eficaz na sua ação.
✓ Estado não reconhece as liberdades de consciência religiosa, de criação cultural, de
opinião filosófica e não admite direitos políticos. Promove o ateísmo, dirige a criação
cultural e escolhe a orientação filosófica adequada para o país. Estabelece a censura
oficial em 1922. É um Estado totalitário.
✓ Estado assume para si a economia: transfere das mãos dos particulares para a
titularidade pública a exploração das principais atividades económicas (nacionalizações
e reformas agrárias); controla o pouco que resta do setor privado (controlo operário);
vai dirigir e planear, de forma rígida, a partir do governo, o conjunto da economia
(planeamento imperativo, economia de direção central total). É um Estado coletivista.
Lenine idealizara um Estado aberto à livre expressão da opinião das bases, mas aconteceu o
contrário. O controlo operário fracassou; as greves foram proibidas por serem ilógicas num
Estado que era suposto pertencer aos trabalhadores; e os sindicatos deviam ser apenas um
veículo de transmissão das ordens do Partido para os trabalhadores.
A revolução de outubro deveu-se muito ao facto de se ter criado um novo partido político e o
Estado não desaparece, como defendia Marx, e também não é liberal, como se defendia nas
revoluções Francesa e Americana. É um estado de grande dimensão que assume muitas funções
e precisa de muitos funcionários, é uma realidade grande: intervém em muitos aspetos da vida
económica e social, sendo um Estado fortemente burocratizado.
Estaline não acrescentou muito ao plano das ideias, mas desenvolveu a ideia de terror utilizado
pelo Estado.
NOTA: O marxismo-leninismo, que atingiu o apogeu no Estado Soviético, não foi a única forma
de defender a preocupação com a classe trabalhadora. Houve mais propostas que defendiam
que o Estado tinha de intervir para melhorar as condições destes, sem ser necessariamente pela
via do marxismo, como, por exemplo, através do Estado Providência.
Democracia-cristã
Encíclica do Papa: alertar para o Estado dar condições mínimas de dignidade.
1. Síntese entre catolicismo e liberalismo: Democracia-Cristã.
✓ Não exigiam a separação da Igreja e do Estado; preconizavam um entendimento
cordial entre o poder civil e o poder espiritual, para manutenção pacífica do regime
democrático.
✓ Aceitação da democracia e liberalismo político.
✓ Prioridade à situação dos pobres e à melhoria do seu bem-estar e condições de vida.
2. Ao início não tinha impacto em termos políticos, mas depois acabou por ter, criando-se
partidos políticos. Os partidos democratas-cristãos tinham o nome de “partidos
católicos” e o seu programa era a luta pela liberdade religiosa e liberdade de ensino ou
luta contra o protestantismo.
3. Mas, Pio IX, na sua encíclica “Quanta cura”, onde continha o Syllabus (lista onde indicava
os erros modernos, como o liberalismo e o socialismo), não defendendo o liberalismo
político.
4. Em 1891, quando publicada a encíclica “Rerum Novarum”, a Igreja concretiza,
verdadeiramente, a sua adesão ao liberalismo político e democracia. Aqui nasce a
segunda democracia cristã.
5. A democracia cristã acentua a ideia da subsidiariedade, de ajuda. Defende que não se
deve eliminar as estruturas existentes na sociedade e dá importância à pessoa na
sociedade.
NOTA: Houve autores que rejeitaram a revolução, mas pela via democrática: surge a social
democracia ou socialismo democrático: criticam o marxismo.
NOTA: após os anos 80, surge o neoliberalismo, em que o estado apenas é regulador e não
presta serviços. Além disto, o século XX é confuso, pois temos a convivência de perspetivas
diferentes acerca do que é a política e do que é o Estado: há estados constitucionais,
representativos e de Direito e os Estados Fascistas, tendo na base conjunto de conceções
políticas diferentes.
ESTADOS FASCISTAS
Existem ideias fascistas em sentido amplo – tentativa de construir um regime anti-liberal e anti-
comunista, assente num Estado forte, usando contra a democracia liberal e contra o comunismo
um modelo de Estado inspirado no modelo soviético (referido mais à frente) e temos o modelo
do fascismo italiano e do nacional socialismo, que são ideias em sentido estrito. Há grandes
contradições e diferenças entre estes modelos.
Contextualização: Nos finais do século XIX e início do século XX, predomina uma crise
económica, desenvolvem-se questões e preocupações sociais, desenvolvendo-se as ideias
socialistas e acontece a Primeira Guerra Mundial.
Fascismo manifesta-se pela primeira vez em Itália: fundado em 1919. O Fascismo foi-se
alargando a outros regimes e países que adotaram conceções de poder relacionadas com esta
matriz, em que vigoravam ideias racistas, corporativistas, etc. Exemplo: Alemanha, com Hitler,
através do Nacional-Socialismo (Nazismo).
Alguns autores acentuam que o Fascismo é assente num estado forte e que o nacional-
socialismo assenta na ideia de raça.
Os regimes totalitários de extrema-direita nascem, como percebemos, dos dois países que
vivem intensamente a Primeira Guerra Mundial: Alemanha que é humilhada por ter sido
derrotada e Itália que fica enfraquecida. Vivia-se, em ambos, uma crise económica, com alta
inflação, desemprego e fome e uma grave crise política, com instabilidade governativa, fraqueza
e impotência da democracia parlamentar liberal para fazer frente aos problemas económicos e
sociais e à ameaça dos partidos comunistas que começavam a tornar-se fortes – medo e força
crescente do anti-comunismo.
Depois da II guerra mundial discute-se se haverá o fim das ideologias, mas também é na
altura em que se desenvolve novas ideologias, como a proteção do meio ambiente, as ideologias
ecologistas.
Todos estes autores acabam por influenciar a conceção do Estado e a sua influência e
intervenção.
Após a II Guerra Mundial, estaríamos a agir para um modelo de vida em que se pressupõe o
bem-estar e os grandes choques ideológicos ter-se-iam esbatido. Estaríamos a ir para uma
cultura comum.
Fukuyama suscita a ideia do fim da História, defendendo que haverá um estilo de vida que será
partilhado por todos. Mas esta hipótese não tem aderência à realidade. Uma coisa é dizer que
desapareceu uma certa ideologia, outra é dizer que deixamos de ter ideologias: continuamos a
ter ideologias novas e não o seu fim. A ideia de que estamos a conduzir para um só modelo
também tem críticas, pois continua a haver contradições fortes, como a nível de religião.
A ideologia é neutra, não é boa nem má; é um sistema de crenças que não é meramente
abstrato. Pretende orientar a ação política, dar um modelo de vida que as pessoas implementem
em termos políticos. Mas, há um sentido negativo de ideologia: como estratégia de dominar ou
oprimir as pessoas, como nos regimes totalitários e como estratégia de mistificação da
realidade. Na Ciência política, usa-se o sentido neutro.
As ideologias ajudam a perceber a vida política, mas não são meramente ideias, são ideias com
peso social, o que significa que orientam a ação política. Professor Adriano Moreira diz que as
ideologias implicam adesão emocional, não é algo completamente racional.
Nota: Não há apenas ideologias políticas, mas a para a Ciência política são estas que interessam,
pois são orientadas para a luta, conquista e manutenção e exercício do poder político.
As ideologias mudam ao longo da história, tal como mudam as pessoas, a história e os seus
objetivos: acabam por ser uma visão partilhada sobre o que é ou devia ser o mundo, num
determinado momento e contexto histórico. Ideologias fazem todo o sentido no contexto
democrático, porque a democracia é caracterizada por pluralidade de ideologias, em que se
pode discutir e contrapor ideologias. A democracia favorece a existência de muitas ideologias e
estas fazem mover a democracia, pois há muitas ideias acerca do que é o Estado.
Como vamos organizar as ideologias? Uma das classificações é a distinção entre direita e
esquerda. Outra distinção é organizar as grandes ideologias em três grupos: o liberalismo
(defesa da liberdade individual, como valor fundamental), socialismo (ideia da igualdade social)
e conservadorismo (o que une os pensadores conservadores é o medo mudança, defendem a
tradição), que funcionam como macro ideologias e dentro destes grupos temos ideologias
diferentes. Por exemplo: dentro do liberalismo podemos ter o liberalismo clássico ou
neoliberalismo; o socialismo pode ser o comunismo ou socialismo democrático.
Distinção entre esquerda e direita: o que está à esquerda e à direita num país pode ser diferente
de outro. A esquerda é mais igualitária e direita menos; esquerda mais igualdade social e direita
com critérios menos abrangentes sobre isso; esquerda não defende tanto a propriedade
privada, tal como faz a direita; esquerda: planificação económica e direita liberdade do mercado;
esquerda acentua mais a prestação coletiva de serviços e a direita o contrário. Ou seja, a direita
é um espaço político onde se conservam valores tradicionais, e a esquerda é um espaço político
onde se substitui os valores antigos por novos e se pretende melhorar a situação dos cidadãos.
O espaço político pode ser preenchido por partidos ou ideologias.
Dia 27/10/2021
Política
Forma de Estado: articulação entre os três elementos – povo, território e poder político.
Forma de governo é um modo concreto de uma comunidade organizar o seu poder político e
estabelecer, em concreto, a distinção entre governantes e governados. Estas formas de governo
tentam responder com legitimidade do poder, da liberdade política em concreto. Pode ser
República ou Monarquia.
Regime político: conjunto de instituições políticas por meio das quais um Estado se organiza de
maneira a exercer o seu poder sobre a sociedade, ou seja, é a forma como o poder é exercido.
PORTUGAL
Temos um Estado de direito democrático, de acordo com o qual o nosso Estado está sujeito às
regras do Direito que são democraticamente limitadas, em primeira via pela Assembleia da
República, mas também pelo Governo, que tem dupla responsabilidade política, perante o
Parlamento e o Presidente da República.
Esta divisão corresponde a uma separação de poderes entre poder legislativo: assembleia e
governo; judicial: tribunais; executivo: governo.
O Presidente da República
Nota: o facto de a Assembleia da República ser dissolvida não quer dizer que os
deputados percam o estatuto de deputados e que o governo deixe de estar ativo.
Governo
• O Governo é o órgão de condução da política geral do país e o órgão superior da
administração pública. Artigo 182
• Artigo 183: O Governo é constituído pelo Primeiro-Ministro, pelos Ministros e pelos
Secretários e Subsecretários de Estado.
• Artigo 186:
1. As funções do Primeiro-Ministro iniciam-se com a sua posse e cessam com a sua
exoneração pelo Presidente da República.
2. As funções dos restantes membros do Governo iniciam-se com a sua posse e cessam
com a sua exoneração ou com a exoneração do Primeiro-Ministro.
3. As funções dos Secretários e Subsecretários de Estado cessam ainda com a
exoneração do respetivo Ministro.
4. Em caso de demissão do Governo, o Primeiro-Ministro do Governo cessante é
exonerado na data da nomeação e posse do novo Primeiro-Ministro.
5. Antes da apreciação do seu programa pela Assembleia da República, ou após a sua
demissão, o Governo limitar-se-á à prática dos atos estritamente necessários para
assegurar a gestão dos negócios públicos.
• Artigo 187:
1. O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos
representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais.
2. Os restantes membros do Governo são nomeados pelo Presidente da República, sob
proposta do Primeiro-Ministro.
• Artigo 188: Do programa do Governo constarão as principais orientações políticas e
medidas a adotar ou a propor nos diversos domínios da atividade governamental. Artigo
192: 1. O programa do Governo é submetido à apreciação da Assembleia da República,
através de uma declaração do Primeiro-Ministro, no prazo máximo de dez dias após a
sua nomeação e 4. A rejeição do programa do Governo exige maioria absoluta dos
Deputados em efetividade de funções, ou seja, 116 deputados.
Na altura de discussão do programa de governo, qualquer partido pode impor a sua
rejeição e o governo pode pedir uma moção de confiança à Assembleia da República e
para que esta seja aceite tem de haver maioria relativa. – artigo 193. Mas, poderá ser
também a Assembleia da República a votar moções de censura ao Governo sobre a
execução do seu programa ou assunto relevante de interesse nacional e esta moção de
censura é votada por maioria absoluta, então é preciso que haja 116 votos a favor da
aprovação desta, que, assim, rejeitará o programa de governo. – artigo 194.
• Artigo 190: O governo é responsável perante o Presidente da República e a Assembleia
da República. Ou seja, o PR e a AR podem demitir o governo.
• Artigo 195: 1. Implicam a demissão do Governo: a) O início de nova legislatura; b) A
aceitação pelo Presidente da República do pedido de demissão apresentado pelo
Primeiro-Ministro; c) A morte ou a impossibilidade física duradoura do Primeiro-
Ministro; d) A rejeição do programa do Governo; e) A não aprovação de uma moção de
confiança; f) A aprovação de uma moção de censura por maioria absoluta dos
Deputados em efetividade de funções.
2. O Presidente da República só pode demitir o Governo quando tal se torne necessário
para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o
Conselho de Estado.
Tribunais
• Artigo 202:
Assembleia da República
4. O Orçamento prevê as receitas necessárias para cobrir as despesas, definindo a lei as regras
da sua execução, as condições a que deverá obedecer o recurso ao crédito público e os critérios
que deverão presidir às alterações que, durante a execução, poderão ser introduzidas pelo
Governo nas rubricas de classificação orgânica no âmbito de cada programa orçamental
aprovado pela Assembleia da República, tendo em vista a sua plena realização.
Neste caso que Portugal está a viver, se o orçamento não for aprovado, o Presidente da
República vai dissolver a assembleia da república: há uma interrupção do mandato do
parlamento que é eleito por 4 legislaturas. Dissolver a Assembleia implica marcar eleições.
1. Governo inicial de Cavaco Silva (moção de censura da Assembleia que foi aprovada) –
apresentação de uma associação de governo para governação (PS, PCP e PRD) – Mário
Soares, Presidente da República, convoca eleições.
2. Fim do segundo governo de José Sócrates: governo termina na sequência da não
aprovação do pacto de estabilidade e desenvolvimento – o Primeiro Ministro pede a
demissão e o Presidente da República dissolve o Parlamento.
3. Pedro Santana Lopes: Jorge Sampaio enquanto Presidente da República dissolve a
Assembleia da República, mas não demite o governo; este apresenta por sua vontade a
demissão.
A Assembleia da República estar dissolvida não implica que o governo seja demitido. Não parece
que o Presidente da República vá demitir o governo, pois para o fazer tinha de estar em causa o
funcionamento das instituições democráticas.
Consequência de o orçamento não ser aprovado: país passa a partir de 1 de janeiro a viver em
regime de duodécimos: o orçamento é previsão de despesas e receitas e as despesas são
previstas para o ano inteiro e quando se vive em situação de duodécimos só se pode gastar um
pouco em cada mês, 1/12 em cada mês. Por o orçamento não ter sido aprovado, temos de ter
um orçamento no dia 1 de janeiro e como este, novamente, não foi aprovado, continua em
funcionamento o orçamento de 2020 para 2021 e depois em cada um dos meses pode-se aplicar
1/12 da despesa que estava prevista para o ano anterior.
Nota: Para que haja um grupo parlamentar tem de haver, no mínimo, 2 deputados. Por outro
lado, os grupos parlamentares representam partidos que foram a eleições, mas em caso de
coligações pode haver mais do que um grupo parlamentar na mesma coligação.
NOTAS:
A AR e seus deputados são eleitos por círculos eleitorais geograficamente definidos na lei, a qual
pode determinar a existência de círculos plurinominais e uninominais, bem como a respetiva
natureza e complementaridade, por forma a assegurar o sistema de representação proporcional
e o método da média mais alta de Hondt na conversão dos votos em número de mandatos. 2. O
número de Deputados por cada círculo plurinominal do território nacional, excetuando o círculo
nacional, quando exista, é proporcional ao número de cidadãos eleitores nele inscritos. – Artigo
149. As candidaturas são apresentadas, nos termos da lei, pelos partidos políticos, isoladamente
ou em coligação, podendo as listas integrar cidadãos não inscritos nos respetivos partidos. -
artigo 151. Artigo 153: 1. O mandato dos Deputados inicia-se com a primeira reunião da
Assembleia da República após eleições e cessa com a primeira reunião após as eleições
subsequentes, sem prejuízo da suspensão ou da cessação individual do mandato. Artigo 156:
poderes dos deputados: a) Apresentar projetos de revisão constitucional; b) Apresentar projetos
de lei, de Regimento ou de resolução, designadamente de referendo, e propostas de deliberação
e requerer o respetivo agendamento; c) Participar e intervir nos debates parlamentares, nos
termos do Regimento; d) Fazer perguntas ao Governo sobre quaisquer atos deste ou da
Administração Pública e obter resposta em prazo razoável, salvo o disposto na lei em matéria
de segredo de Estado; e) Requerer e obter do Governo ou dos órgãos de qualquer entidade
pública os elementos, informações e publicações oficiais que considerem úteis para o exercício
do seu mandato; f) Requerer a constituição de comissões parlamentares de inquérito; g) Os
consignados no Regimento.
Com a dissolução, como já foi dito, o mandato dos deputados não fica prejudicado e inicia-se a
15 de setembro, terminado a 15 de junho. - artigo 174
NOTA: COMO POR ARTIGOS NO EXAME? Usar a sigla CRP e o artigo pode ser colocado, por
exemplo, 133º/1/a
• Quid iuris?
1. Presidente da República, depois das autárquicas nomeia um PM com quem nunca falou.
2. PR nomeia o PM – artigo 133 e 187. Apesar de ser um ato próprio do PR, este tem de
ouvir os partidos, mas mesmo que os partidos na assembleia não concordem com a
nomeação ele pode nomear e tem de ter em conta os resultados eleitorais das eleições
legislativas (não das autárquicas). Não é um ato inteiramente livre. A pessoa escolhida
tem de ter viabilidade, não se vai escolher uma pessoa do PAN porque provavelmente
as suas propostas iam ser muitas vezes chumbada.
3. O PR não pode nomear alguém que não conhece, teria de falar primeiro com a
assembleia e depois nomear.
4. O PR só pode demitir o governo quando tal se torne necessário para assegurar o
regulamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado. – Artigo 195.
5. Os restantes membros do governo são nomeados pelo PR, sob proposta do PM. São
pessoas que têm de ser da confiança do PM. Depois de se ter nomeado o governo, este
tem de apresentar o programa de governo que é analisado pela Assembleia da
República, para os 4 anos de legislatura. Tem se considerado que não tem natureza
normativa, ou seja, o Tribunal Constitucional não pode analisar, só tem fiscalização
política pela assembleia e tem de ser submetido no máximo dez dias após a nomeação
do PM – artigo 192. Art.195 - a rejeição do programa de governo implica a demissão do
governo. Este, para ser rejeitado precisa da maioria absoluta dos deputados em
funções, ou seja, precisa de 116 votos contra (assembleia constituída por 230
deputados, portanto a maioria é sempre 116!! Independentemente do nº de pessoas
que esteja no parlamento).
6. O PM ao defender a independência de parte de Portugal não ia em conta ao artigo 6.
7. O governo, ao longo da legislatura, pode pedir uma moção, um voto de confiança à
assembleia. É o momento em que o governo percebe que precisa de reforçar o seu
poder e precisa de saber se tem o apoio da assembleia. Se os deputados não confiarem,
o governo tem de se demitir. Para ser aprovada a moção de confiança, não tem de haver
consenso, tem de haver apenas maioria relativa (mais um voto a favor do número dos
que estão contra e é aprovado). Se houver empate a moção não é aprovada e o governo
cai na mesma. Artigo 193.
8. Neste caso concreto, o governo pede moção de confiança, pois estava num momento
de fragilidade e refere-se que a “moção foi aprovada por 115 deputados”, mas não
sabemos, pois não há referência aos votos contra que houve, pois aqui tem de ser
aplicado o principio da maioria relativa.
9. Moção de censura: assembleia quer censurar o governo, a querer que o governo caia
porque não tem condições para continuar a governar. Só quando é aprovada por
maioria absoluta é que o governo cai, ou seja, quando 116 deputados votam a favor da
moção de censura. Artigo 194.
• Quid iuris?
1. O Presidente da República demitiu o governo e para isto ser correto é necessário que
tenha ouvido o Conselho de Estado e que esteja em causa o regular funcionamento das
instituições democráticas, o que não é referido no caso prático.
2. No Artigo 123 é referido que o Presidente da República não pode ser reeleito para um
terceiro mandato consecutivo, nem durante o quinquénio imediatamente subsequente
ao termo do segundo mandato consecutivo.
3. No artigo 187, nº2 refere que os membros do governo são nomeados pelo Presidente
da República, sob proposta do PM.
4. A moção de censura não vai implicar a demissão do governo uma vez que não há maioria
absoluta.
Chegamos ao fim do Estado? pensou-se esta hipótese por causa da globalização. O Estado
começa a ter menos poderes, pois há questões que só conseguimos resolver a nível global e há
o surgimento de instituições que suga o poder do Estado, como a UE. O Estado está a mudar, a
realidade está diferente, mas não significa que tenha deixado de fazer sentido enquanto
realidade política.
O estado é um tipo de sociedade política, é uma experiência história que pode deixar de existir.
Definimos estado enquanto organização política se tiver três elementos: povo, território e poder
politico. Comunidade de pessoas que se organiza num território para aí exercer o poder político.
Diogo FA refere que o Estado existe para realizar a ideia de projeto social, para o bem comum.
Diferentes teorias sobre o Estado: correntes q o defendem q o estado surge espontaneamente;
produto da sociedade que desejam associar-se – correntes contratualistas: hobbes, lock,
rosseau; a conceção marxista refere que o estado n é independente das relações de produção,
da economia, mas que através da luta de classes se atinge o comunismo e o estado deixa de
fazer sentido – teoria da negação do Estado; os organicistas: deriva de órgão, o nestado é vista
comol uma entidade viva, que ajuda a viver e que precisa de ter diferentes órgãos e tal como as
pessoas vivem e morrem, tmb o estado vive e morre e sofre alterações, o estado é uma realidade
e n uma realidade jurídica; correntes realistas: olham para o estado como um facto, uma
realidade de poder, n tendo dimensão jurídica. enquanto os normativista vêm o Estado como o
direito: estado e direito são a mm coisa, estado é dimensão jurídica. Estas diferentes formas de
olhar paea o estado: estado é simultaneanete uma realidade de poder organizado por normas
jurídicas q n existe no vazio, +e uma cimunidade d pessoas que se organiza, uma realidade social
– estado comunidded vs estado de poder.