Gravida Do CEO Viuvo e Arrogant - Veiga, Priscila
Gravida Do CEO Viuvo e Arrogant - Veiga, Priscila
Gravida Do CEO Viuvo e Arrogant - Veiga, Priscila
Capa
Dennis Romoaldo
Diagramação
Mylene Ferreira
Revisão
Sônia Carvalho
Livro Digital
1ª Edição
Priscila Veiga
Ouça Aqui!
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Sinopse
Christopher é um CEO viúvo que se esforça ao máximo para dar
tudo para a sua filha, Lily. Sua mãe, Abigail, ajuda, mas ele sente que ela
não é o suficiente para que a menina tenha uma figura materna. Ele sente
falta da sua esposa, e se concentra no trabalho para tentar evitar que
aconteça com outras pessoas o que aconteceu com ela.
Victoria é uma jovem batalhadora que trabalha em uma confeitaria
tradicional, porém, a dona do lugar não deixa que ela implante suas ideias
para ajudar nas vendas, o que está fazendo com que o lugar tão
aconchegante e acolhedor fique cada vez mais vazio.
Uma coincidência do destino vai apresentar esses opostos.
Uma noite quente pode trazer consequências.
O que o destino reserva?
Prólogo
7 anos antes
Ando de um lado para o outro na sala de espera, já levei algumas
broncas da minha mãe porque não paro quieto, mas não consigo ficar
sentado enquanto a minha mulher e a minha filha estão na emergência.
Há anos que desejamos tem um bebê, mas cada gestação era uma
dor que sentíamos ao ver a pequena vida se esvair e nos deixar. Pensei que
não era para ser até a Emma engravidar da Lily, e com uma nova tecnologia
médica foi possível acompanhar a gestação a ponto de segurar a criança
com vida e saudável até uma idade gestacional considerada segura.
Infelizmente, o corpo da minha esposa não aguentou mais e resolveu que
era hora de expulsar o bebê, antes das 38 ou 39 semanas recomendadas. Eu
conto essa porra em meses e a minha esposa está no oitavo mês de
gestação.
Ela começou a sentir muita dor durante o dia, pensou que fossem
contrações de Braxton Hicks e não me avisou até que não aguentasse mais e
começasse a sangrar. Dirigi feito um louco pela cidade inteira e a busquei
para trazê-la ao Hospital Central de Riverside Glade. Emma foi levada para
a emergência assim que chegamos, e eu fui impedido de ficar com ela até
que garantissem que estava tudo bem e ela e a nossa filha em segurança.
― Filho, se acalme. ― Minha mãe se levanta e me abraça, me
impedindo de continuar a andar de um lado a outro. ― Elas vão ficar bem.
― Deus te ouça, mãe. ― Respiro fundo, retribuindo o abraço e
ficamos assim até que escuto a porta da sala de espera ser aberta.
A expressão do homem com roupa cirúrgica não é boa e o meu
coração se aperta.
― Família de Emma Brown. ― Eu me separo da minha mãe para
andar até o médico.
― Sou marido dela ― respondo, ofegante.
― Sua esposa chegou a comentar sobre um coágulo de sangue
localizado na sua perna, causando inchaços caso ficasse muito tempo em
pé? ― Franzo a testa sem entender sobre o que ele está falando.
― Não, ela sempre me disse que os inchaços eram normais por
causa da retenção de líquidos durante a gravidez, por isso tinha que ficar
muito tempo com as pernas para o alto.
― Bom, isso explica por que não foi tratado a tempo. ― Aproximo-
me mais, não suportando esse mistério.
― O que ela tem, doutor? Ela vai ficar bem? E a minha filha, como
está? ― Faço muitas perguntas juntas, sem esperar uma resposta e temendo
por ela também.
― Sua esposa sofreu uma hemorragia em casa, estourando a bolsa e
complicando o parto, além disso uma eclâmpsia durante a cesárea de
emergência fez com que quase perdêssemos as duas. Conseguimos tirar a
criança, que está bem e sendo cuidada pelo pediatra que acompanhou a
cirurgia, deve ir para a incubadora em breve. ― Respiro aliviado, abraço a
minha mãe comemorando o nascimento da minha filha.
― Eu sou pai, mãe! ― Ela sorri entre as lágrimas de emoção.
― Eu sei, meu filho, eu sei.
― E a minha esposa, quando posso vê-la? ― Seu olha abaixa, sua
expressão fica mais pesada e sinto o meu coração se apertar novamente.
― Ela teve uma grande hemorragia depois que salvamos a criança,
tentamos de tudo, mas pelo que percebi, um coágulo se deslocou para os
pulmões e causou embolia pulmonar nos impedindo de salvá-la. Garanto
que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para salvar as duas, mas a
sua esposa, infelizmente, não resistiu.
Sinto como se o mundo desabasse sobre a minha cabeça, um
momento que era para ser de grande felicidade, manchado por uma perda
que arranca um pedaço do meu coração. É como se a minha alma fosse
estilhaçada em mil pedaços, lembro-me dos nossos momentos juntos,
nossas brigas quando éramos adolescentes, nosso primeiro beijo, nossos
encontros durante a faculdade e o nosso casamento. Recordo-me
perfeitamente de como me senti naquele momento e hoje sinto o oposto.
Lágrimas caem abundantes pelo meu rosto enquanto o meu corpo
desaba no chão, desolado por perder a mulher da minha vida. Minha mãe se
ajoelha ao meu lado, sentindo a perda tanto quanto eu, me consolando
enquanto seus olhos transbordam de tristeza.
― Eu a perdi, mãe ― digo entre as lágrimas e a minha mãe não me
responde, só me abraça mais forte.
― Você precisa ser forte pela Lily, meu filho, ela precisa muito de
você.
Penso na minha filha, com medo de não ser um bom pai para ela.
Sei que tenho que me recompor e me preocupar em como cuidar de uma
recém-nascida, mas as preocupações com um funeral da minha esposa
sugam toda a minha energia.
Algumas horas depois da pior notícia da minha vida, sou autorizado
a ver a minha filha.
― Ela nasceu prematura, mas por sorte está bem forte, mesmo
inspirando cuidados. ― Ouço a enfermeira fazendo o seu comentário, como
se estivesse muito distante.
Ela me instrui a colocar as mãos nas aberturas da incubadora para
poder tocar a minha filha, para que ela sinta a minha presença.
― Nos deixe sozinhos, por favor. ― Sabendo da minha dor, ela
apenas acena concordando e se retira. ― Filha, minha Lily, eu juro que
nunca vou deixar que te falte nada, muito menos amor. Você é a minha vida
e vou fazer de tudo para que seja feliz. Você tem a minha palavra, te
prometo que nunca vai faltar atenção e carinho na sua vida.
Vejo sua cabeça se mexer conforme passo o dedo no seu rosto, ela
se inclina na direção da minha mão e, apesar da tristeza, consegue me
arrancar um sorriso por sentir o meu coração se expandindo com o tamanho
do amor que sinto por esse ser tão pequenino.
Depois de alguns minutos preciso sair, com o coração apertado por
me afastar da minha filha, mas tenho um funeral para organizar. Visto, pela
primeira vez, uma máscara dura secando as lágrimas e me preparando para
o que vem pela frente.
Vou enterrar minha esposa, o amor da minha vida, e o meu coração
junto.
Capítulo 1
Levanto-me da cama sentindo a minha cabeça latejar, novamente
acordo com dor de cabeça. Tomo uma aspirina para ajudar a melhorar, faço
um café forte e coloco em uma caneca para absorver a minha dose diária de
cafeína. Troco o meu pijama rosa por um vestido godê florido, coloco
sapatilhas confortáveis e pego a minha bolsa onde fica o meu avental, que é
a única coisa parecida com um uniforme que eu tenho.
Vou a pé para a loja onde trabalho por ser perto de onde eu moro, a
dona da loja, Dona Sarah me conhece desde pequena e aceitou me dar o
emprego assim que terminei a escola. Meus pais reclamaram por eu não
querer fazer a faculdade que eles queriam, mas eu sempre soube a minha
vocação e não aceitei a imposição deles de que, para que eu continuasse
com o dinheiro da família e vivendo confortavelmente teria que cursar
direito. Só de pensar naqueles livros enormes com leis e normas tediosas já
me dava um arrepio de horror.
Gosto de confeitar, fazer bolos e doces deliciosos e lindos de se ver,
sempre tive criatividade para fazer desenhos lindos nos bolos que a minha
mãe fazia para os meus aniversários e aperfeiçoei esse dom com alguns
cursos. Agora, com 20 anos e trabalhando em uma confeitaria, a vontade de
ter a minha própria empresa ganhou vida dentro de mim e me inscrevi para
cursar administração, afinal, precisava saber como administrar o meu
negócio.
Entro na loja aconchegante, respirando fundo para sentir o aroma
delicioso que sempre tem aqui. A dona gosta que as pessoas se sintam
confortáveis na loja, por isso sempre experimentamos aromas agradáveis e
que nos deixam com fome também, porque não tem como sentir cheiro de
chocolate e não querer atacar um brigadeiro. Aliás, esse foi o único doce
“diferente” que a dona Sarah permitiu que eu incluísse no cardápio e é o
que mais faz sucesso. Afinal, quem não gosta de um docinho que é puro
chocolate?
― Amiga do céu! ― Pulo com o berro da minha melhor amiga e
colega de trabalho, Charlotte.
― Bom dia pra você também ― respondo irônica.
― Que bom dia que nada, acabei de jogar um dos melhores bolos
que já fiz na vida no lixo porque a dona Sarah não aceita a modernidade. ―
Franzo o cenho, confusa e curiosa porque da minha amiga eu espero
qualquer coisa.
― O que você fez com o bolo para ela te obrigar a jogar fora? ―
Ela abre um sorriso travesso e sei que aprontou das suas.
― Temos aquela encomenda para uma despedida de solteira.
― Ai, meu Deus! ― Seu sorriso se expande.
― Então, achei que seria divertido, e as amigas da noiva
concordaram comigo porque as consultei antes de fazer a mudança, se o
bolo tivesse um formato diferente. ― Coloco as mãos nos olhos,
adivinhando o que ela fez. ― Modelei o bolo no formato de um grande,
grosso e roliço pau, rosado e com uma cabeça de dar água na boca. Até
coloquei umas veias de detalhe com glacê, mas assim que a dona Sarah
entrou e me viu finalizando a minha obra de arte começou a gritar, passar
mal, me mandou jogar fora e fazer um bolo decente.
Aperto os lábios juntos, pensando em algo bem chato para não rir,
mas não consigo segurar quando vejo a expressão da minha amiga. Rimos
juntas, eu imaginando a cara da dona Sarah quando viu o pau enorme que a
minha amiga fez e o ultrage por algo tão indecente na sua confeitaria
tradicional. Por isso que quero o meu negócio.
― Podemos abrir nossa própria loja, o que acha? ― pergunto para a
minha amiga, sem pensar muito. Nem a faculdade eu comecei, como posso
dar conta de estudar e administrar um negócio sem falir?
― Não sei se está lembrada, querida, mas nenhuma de nós duas tem
dinheiro.
Sei que os meus pais queriam que eu fosse advogada, mas não deixo
de ter direito ao dinheiro da família e se eu disser que quero abrir a minha
empresa e cursar administração, acho que os meus pais podem aceitar me
ajudar.
― Acho que consigo resolver isso.
― Ah, ainda bem que chegou, querida. Essa sua amiga maluca
quase desmoraliza a minha linda confeitaria. ― Esforço-me para não
revirar os olhos ao ouvir a voz da dona Sarah.
Ela é uma viúva simpática, na maior parte do tempo, mas com
opiniões arcaicas e antigas sobre muitos assuntos. Ela acha que bolos tem
que ser só aqueles tradicionais, redondos, retangulares ou quadrados, com
decorações clássicas e sem muita cor ou invenções divertidas. Infelizmente,
estamos vendo as vendas caírem cada vez mais porque as pessoas estão
buscando por coisas diferentes, como por exemplo um bolo no formato de
uma bolsa da Gucci.
Imagina só cortar um pedaço de uma bolsa linda e comer de se
deliciar? Então, é o que estão procurando, ainda mais com o sucesso de
alguns programas de televisão que mostram bolos mirabolantes com formas
e tamanhos incríveis. Tem bolo que é do tamanho de uma maquete e que se
mexe!
É esse nível de bolo que eu quero fazer, além dos tradicionais que
também vendem. Quanto maior a versatilidade do lugar, mais clientes
podem ser atraídos e é por isso que quero a minha loja. Estou ficando
repetitiva, parei!
― Vamos, preciso desse bolo pronto até o final do dia. ― Sigo a
dona Sarah até o nosso ateliê, ela se vira para nós, porque a Charlotte veio
junto, com expressão fechada, mas respira fundo. ― Quero um bolo desse
jeito, sem nenhuma modificação, estamos entendidas? ― Ela mostra o
desenho de um bolo que combina mais com um aniversário de 15 anos do
que com uma despedida de solteira.
― Sim, senhora ― respondo, porque mesmo não concordando com
ela, a loja não é minha e preciso obedecer às ordens.
Pegamos algumas massas que deixamos prontas na noite anterior
para decorarmos. Começo pela base, redonda, que coloco no suporte e vou
girando enquanto espalho o recheio em 2 camadas,
massa/recheio/massa/recheio/massa para ficar bem alto. Depois passo a
cobertura e espalho com a espátula.
Fazemos isso com os 3 andares de bolo, depois de montado
decoramos com copos de leite feitos de açúcar e flores de glacê, deixando-o
clássico, simples, mas muito bonito. Colocamos o bolo pronto na geladeira
que temos para bolos desse tamanho, porque o glacê precisa ficar bem firme
para não escorrer e desmontar.
Chegado o momento da entrega, a minha amiga me cutuca.
― Eu não vou deixar que as clientes saiam daqui só com esse bolo
brega.
― O que vai fazer? ― Seu sorriso me anima e me assusta.
― Me dê cobertura e eu te mostro quando ficar pronto.
― Charlotte, a dona Sarah ainda vai te mandar embora por causa
dessas coisas. ― Ela encolhe os ombros.
― Ela devia me agradecer por me esforçar para salvar a loja da
falência.
Vou para a porta entre o ateliê e o balcão, para ter visão de todos que
entram e saber se a dona da loja está vindo, tento espiar o que a minha
amiga está fazendo, mas não tenho sucesso. Eu a vejo fazer uma dancinha
da vitória quando termina, coloca em uma caixa de bolo, para aqueles de
um só andar e retangulares, meu coração chega a acelerar de imaginar o que
tem ali dentro.
― Vicky, vem aqui ― ela me chama e, depois de uma última olhada
na loja, me aproximo da caixa ainda sem a tampa e cubo a boca com as
duas mãos.
― Meu Deus ― digo ainda com as mãos abafando a minha fala.
A doida fez outro bolo de pinto e posso dizer que está com uma cara
ótima, se é que me entende.
― Ficou ótimo, eu sei. ― Sorrimos e ela coloca a tampa,
protegendo a sua obra prima da vista da dona da loja. ― Vou colocar uns
doces em outra caixa para disfarçar. ― Faz o que diz e temos 3 caixas
prontas.
Um bolo de 3 andares, um bolo de pinto e um monte de docinhos.
― Você é maluca.
― E você me ama. ― Mostra a língua para mim e rimos juntas.
Capítulo 2
Esse projeto em que estou trabalhando está me causando mais dor
de cabeça do que o normal, essa inteligência artificial tem que ser capaz de
prever que algo como o que ocorreu com a minha esposa tem grandes
chances de acontecer com a paciente, e dar ao médico um tempo maior na
tomada de decisão para aumentar as chances de salvar sua vida.
Desde que abri a HealthWise AI, o objetivo é ajudar aos médicos a
chegarem em um diagnóstico mais assertivo em menos tempo. Esse projeto,
em específico, é o meu projeto de vida. Minha forma de honrar a memória
da Emma.
Olho para o calendário e, depois, para o relógio, sentindo um aperto
no peito ao lembrar o significado da data que se aproxima. Desisto de tentar
me concentrar e vou para casa, mas antes passo em uma confeitaria pequena
que tem aqui perto, para comprar um doce para a Lily.
Sempre que tira nota boa na escola é recompensada de alguma
forma, e ela me pediu para levar um doce de chocolate no dia que saísse o
seu boletim. Minha mãe me mandou uma foto hoje, me deixando muito
orgulhoso da minha menina.
Entro na loja e fico analisando os doces, não paro para reparar em
mais nada até ouvir duas vozes femininas próximas e levantar a cabeça para
ver quem são.
― Boa noite, senhoritas ― cumprimento chamando a atenção delas.
― Boa noite, senhor, o que deseja? ― pergunta uma das moças
enquanto a outra parece se esconder atrás dela.
Faço o meu pedido sem deixar de reparar na mulher tímida que
arruma os doces junto com a colega em uma caixinha, pegando um pequeno
bolo decorado com um parabéns e colocando-o em outra caixinha pequena.
Os cabelos loiros descendo em ondas pelos seus ombros, olhos azuis
expressivos e lábios carnudos de aparência saborosa. Sinto-me cativado
pelos seus movimentos precisos, pelo cuidado com os docinhos e o sorriso
que se abre quando sua amiga fala algo no seu ouvido. O quê?! Balanço a
cabeça para tirar esses pensamentos da mente e agradeço quando me
entregam as caixas.
― Esse não é meu ― digo tentando devolver o bolo pequeno.
― É um cupcake e é brinde ― diz a loira me dando um sorriso
doce.
Agradeço, pagando pelos doces que pedi e fazendo questão de dar
uma boa gorjeta para elas, saio da pequena confeitaria com um sorriso
discreto no rosto e pensando que a Lily vai gostar ainda mais do prêmio que
estou levando para ela.
Chego em casa na hora do jantar, cumprimento a minha mãe e aviso
que vou tomar um banho antes de descer para jantar junto com a minha
filha. Tomo uma ducha rápida para aliviar o estresse do dia e saio do meu
quarto direto para o dela, vestindo uma calça de moletom e uma camiseta.
Encontro a minha pequena estudando e sorrio.
― Não vai jantar, pequena traça? ― pergunto, a chamando pelo
apelido que lhe dei, quando começou a pegar gosto pela leitura. Ela tem ao
menos 15 edições diferentes de O Pequeno Príncipe, e leu todas algumas
vezes.
― Sim, papai, só estou terminando meu dever de matemática. ― A
garota nem se digna a me olhar e percebo que tem algo de errado.
― Depois do jantar eu te ajudo a terminar o dever, vamos que a sua
avó está esperando. ― O suspiro desanimado é outro sinal de que tem
alguma coisa a incomodando. ― O que está acontecendo, pequena?
― Chegou tarde de novo ― reclama, finalmente me olhando nos
olhos, mas a sua expressão desanimada corta o meu coração.
― Eu tive um problema no trabalho.
― Todos os dias. ― Ela não me deixa responder, larga seu dever na
sua escrivaninha e sai do quarto sem me esperar.
Dou um suspiro cansado, me sentindo mal por não dar a devida
atenção ao meu bem mais precioso. Desço para a sala de jantar e recebo um
olhar reprovador da minha mãe.
― Você prometeu que tentaria chegar mais cedo, nem que trouxesse
trabalho para casa ― me lembra.
― Eu não consegui sair da reunião ― minto, me sentindo ainda
mais culpado.
Como poderia dizer para a minha filha que a proximidade com o seu
aniversário de 7 anos me deixa triste?
Recebo apenas mais um olhar bravo da minha mãe e o silêncio da
minha filha, sinto que não estou cumprindo com a minha promessa.
Infelizmente, tem algumas feridas que não consegui cicatrizar ainda. Sei
que a minha filha não tem culpa disso, mas não estou pronto para me
comportar de uma forma diferente, porque ainda dói demais.
― Não se esqueça de que no sábado é o aniversário da Lily, ela está
muito animada porque os colegas da escola dela virão para cá comemorar.
― Paro de comer para encarar o rosto sério da minha mãe.
― Não me esqueci, mãe.
― Esteja aqui. ― Sei o motivo para insistir.
Além de exigir a minha presença, o que é totalmente justificável,
mas além disso sei que quer me apresentar outras mulheres, provavelmente
mães dos colegas de classe da minha filha e eu não tenho o menor interesse
em me relacionar.
Já tentei por, no mínimo, 3 vezes nesses 7 anos ter um
relacionamento, mas muitos problemas me fizeram desistir. Primeiro, as
mulheres querendo exclusividade da minha atenção, mas o meu trabalho e a
minha filha exigem a minha atenção também e algumas dessas não aceitam
essa divisão. Outro motivo para desistir foram aquelas que tentaram de
todas as formas menosprezar a minha falecida esposa, e isso eu não admito
de forma alguma.
O último e principal foi a minha última namorada tentar tudo para
tirar a minha filha do caminho, insistindo por meses para colocar a menina
em um colégio interno do outro lado do oceano e o mais longe possível de
mim.
― Espero que só as crianças tenham sido convidadas, afinal, é uma
festa infantil ― digo jogando para o alto.
― Como quiser, filho ― responde revirando os olhos.
Depois que terminamos o jantar, me levanto para buscar os doces
para dar para a Lily.
― Filha, como tirou notas ótimas, merece um prêmio melhor.
Pego as duas caixinhas, com os brigadeiros e o cupcake, e o meu
coração se aquece ao ver seus olhos brilhando.
― Oba! ― Sorrio ao ver sua comemoração e entrego as caixinhas
para ela.
Ela ataca o cupcake, fazendo murmúrios de aprovação e nos estende
a caixinha com os brigadeiros. Eu pego um fechando os olhos ao morder o
doce e sentir o sabor maravilhoso, e minha mãe também pega um
degustando.
― Onde comprou essa maravilha, filho? ― conto o nome e passo
para ela o endereço da pequena confeitaria. ― Vou encomendar o bolo da
Lily lá.
Capítulo 3
O dia de ontem foi um dos mais estranhos, primeiro pela
movimentação incomum na confeitaria e depois pelo engravatado
carrancudo que comprou brigadeiros, acabei dando um cupcake de brinde
para ver se adoçava aquela cara azeda dele. O lado bom é que ele nunca vai
saber disso porque duvido que volte aqui.
― Amiga, ainda bem que chegou. ― Olho para a Lottie que me
recepciona afobada assim que entro na confeitaria.
― O que aconteceu?
― A dona Sarah enlouqueceu! ― Franzo a testa pela cena similar
ao dia do bolo de pau.
― O que você fez agora?
― Nada, o bolo era tradicional do jeito que ela gosta e a doida
insistiu em carregar sozinha até o balcão para a cliente pegar. ― Coloco as
mãos no rosto.
― Ela derrubou?
― Se fosse só isso estava bom, ela tropeçou em alguma coisa e o
bolo caiu em cima da cliente, juro que tinha glacê em lugares que ninguém
pode imaginar ― gemo desanimada pelo marketing negativo que esse tipo
de situação pode causar em um negócio que já não está indo muito bem.
― A cliente reclamou? ― Minha amiga revira os olhos.
― Ela berrou com a dona Sarah e exigiu o dinheiro de volta. ―
Fico encarando a Lottie, imaginando o valor do prejuízo.
― Como era esse bolo?
― Um de 5 andares cheio de frescura. ― Eu me lembro do pedido e
do valor.
Pelo peso, pelos detalhes e o trabalho de fazer um bolo desse, o
valor fica em $1.000,00 aproximadamente. Isso significa que, além de
perdermos todos os ingredientes que foram usados para fazer esse bolo
enorme, ainda tivemos o prejuízo de devolver tudo para a cliente. Isso
resulta em quase o dobro de prejuízo, porque me lembro que pela
encomenda ser para uma conhecida, a dona Sarah ainda quis fazer um
desconto excluindo totalmente o custo e o tempo que um bolo desse
tamanho gera.
― Essa loja não aguenta muito mais tempo aberta desse jeito ―
minha amiga concorda com a minha afirmação e seguimos juntas para
dentro do ateliê, onde guardo a minha bolsa e coloco o avental, voltando
para o salão para ficar no balcão já que não temos encomendas para fazer
hoje.
Pouco depois do almoço entra uma senhora com uma garotinha.
― Boa tarde, gostaria de encomendar um bolo para essa princesa.
― A menina sorri para a senhora.
― E como quer o seu bolo? ― Debruço-me no balcão dando total
atenção para a menina.
― Quero um bolo rosa, com o tema da Barbie e com alguns livros
nele. ― Eu me forço a não entortar o nariz, imaginando a expressão que a
dona Sarah vai fazer por ter um bolo rosa- choque no ateliê, mas a cliente é
quem escolhe e ela não está em posição de rejeitar pedidos.
Dou a volta no balcão, indicando uma mesa para se sentarem, para
poder entender exatamente como seria esse bolo.
A garota explica que ama o livro O Pequeno Príncipe, também ama
a boneca Barbie e gostaria de uma mistura do melhor dos dois mundos. A
minha mente fervilha com ideias, pego papel e caneta e desenho um
rascunho de como ficaria um bolo do jeito que ela me descreveu.
Pensei em fazer uma meia-esfera, para representar um planeta,
decorar como se fosse o planeta Terra e usar somente a parte superior de
uma boneca, utilizando as roupas de pasta americana e a calça totalmente
comestível com uma bandeira com o B de Barbie fincada nesse meio globo.
Os olhos da menina brilham e tenho outra ideia.
― Qual é o seu nome?
― Lily. ― Sorrio, alterando na bandeira para colocar o L do seu
nome em vez do da boneca, acrescentando alguns detalhes e a vendo abrir
um sorriso enorme a cada detalhe acrescentado.
— Gosta assim? — pergunta a senhora.
— Vai ficar incrível, vó! — Sorrio vendo a interação das duas, é
nítido o amor que sentem uma pela outra.
— Então é esse bolo que terá — decreto vendo a comemoração
infantil.
Acerto com a avó o pagamento antecipado de metade do valor,
combinando que venha buscar no sábado, dia da festa.
— Se tiver algum imprevisto, é só avisar antes que providenciamos
a entrega. — A senhora sorri, pagando metade do valor e deixando o seu
nome e telefone para contato.
Agradeço pela preferência e me despeço das duas, suspirando feliz
por fazer algo diferente.
Aproveito que a loja está vazia e vou verificar o estoque, estou com
a mão no rosto calculando se temos pasta americana suficiente quando sinto
um cutucão na minha costela, dou um pulo assustado quase trombando com
a prateleira e derrubando o que tem nela.
— Caramba! — reclamo me virando para ver quem me assustou. —
Mas que saco, Brian! Quase me fez derrubar tudo. Sua avó me mata se tiver
mais prejuízo.
Brian simplesmente sorri, como se esse prejuízo que quase causou
não fosse me fazer perder o emprego antes do esperado.
— Ela não demitiria a melhor funcionária que tem — diz se
aproximando, mas passo por baixo do seu braço que estava apoiado na
porta e volto para o ateliê terminando de conferir se temos tudo o que vou
precisar para o bolo.
— Eu ouvi isso, seu tapado! — Lottie dá um tapa na nuca dele, que
tem a expressão fechada imediatamente.
— Se eu contar que me agrediu, a minha avó te demite de uma vez.
— Minha amiga cerra os olhos se aproximando dele até ter seus narizes
quase grudados.
— Se ela me demitir não aguenta com essa loja aberta nem uma
semana.
Acompanho o embate dos dois pensando se vale a pena me
intrometer, conheço os dois desde sempre, mas sempre senti que Brian foi
muito mimado por ser criado pela avó. Muito nutella.
Ele sempre teve tudo muito fácil, e sempre ficou irritado quando
contrariado. Por mais que eu gostasse dele, isso me incomodava muito.
Resolvido o atrito desses dois, converso um pouco com o Brian, que
me conta como é na faculdade e o que faz aqui em pleno período letivo. Ele
cursa administração, como eu, mas é para assumir a confeitaria quando a
dona Sarah se aposentar.
Ele acha besteira essa coisa de vender doces, e tenho certeza de que
não vai manter a confeitaria aberta por muito tempo, infelizmente não tenho
poder de decisão algum referente a isso.
― Você sabe que ele é apaixonado por você desde criança, certo? ―
pergunta a Charlotte assim que o Brian sai do ateliê e vai para o escritório
da avó.
― Não, sempre fomos amigos e você sabe muito bem disso. ― Ela
revira os olhos.
― Só você não percebeu que se der qualquer sinal de que
corresponde àquele tapado, ele vem feito um cachorrinho atrás de você.
― Não seja ridícula, nos conhecemos desde crianças.
― Isso não muda o fato de que ele tem um barranco por você desde
que te conheceu, todo mundo sabe disso. ― Eu a encaro, confusa.
― Nem pensar, ele sabe que não tem a menor chance de me
envolver com ele.
― Mesmo assim não deixa de dar em cima de você cada vez que te
vê. ― Bufo irritada.
― Ele vai desistir. ― Encolho os ombros e volto a fazer o meu
trabalho.
O restante da semana passa correndo e eu quase enlouqueço na
véspera da festa, porque as massas que deixei prontas sumiram e agora
tenho que fazer outras. O lado bom é que o bolo vai ficar mais fresco, o
ruim é que tenho que esperar esfriar para modelar e isso leva tempo.
Irrita-me a dona Sarah entrando no ateliê de tempos em tempos para
perguntar de outras encomendas e bufar cada vez que me vê trabalhando
nesta. Calma, logo terá sua própria confeitaria.
Com as massas na temperatura adequada, corto-as ao meio e monto
as camadas: bolo, recheio, bolo, recheio, bolo. Deixo alto o suficiente para
conseguir modelar, vou cortando para deixar no formato de uma meia-
esfera e passo uma camada fina de cobertura deixando gelar enquanto
trabalho na pasta americana.
Depois de horas trabalhando nesse bolo, incentivada pela animação
que vi no rosto daquela menina, termino de criar uma Barbie dentro de um
cenário do Pequeno príncipe, me afasto admirando a minha obra e ouço um
assobio atrás de mim. Viro-me encontrando a minha amiga olhando para o
bolo com um enorme sorriso no rosto.
— Nossa, Vicky, você se superou! — elogia.
— Obrigada, só quero ver outro sorriso no rosto daquela menina.
— Sempre querendo agradar aos clientes — brinca.
— É assim que fidelizamos, com bom atendimento, trabalho de
qualidade e cumprimento de prazos.
— Falou como uma empresária. — Sorrio em resposta, porque ela
sabe do meu sonho.
— Vou colocar esse bolo na geladeira para não derreter nada. —
Guardo o bolo no refrigerador e me preparo para ir embora, quando o
telefone da loja toca e, vendo que a dona Sarah não pretende atender, eu o
tiro do gancho. — Alô — atendo.
— É da Bakery Blisstique? — Eu me chuto mentalmente por não ter
atendido da forma correta.
— Sim, o que deseja? — respondo.
— Encomendei um bolo para o aniversário da minha neta e não vou
conseguir buscar, vocês podem me entregar? O pedido está no nome de
Abigail.
— Claro, senhora. A que horas deseja a entrega?
Combinamos um horário e ela insiste em pagar a taxa de entrega,
nós nos despedimos e eu, finalmente vou para casa.
Capítulo 4
O dia passa rápido, muito mais do que eu gostaria, o meu celular
toca constantemente e eu faço questão de ignorar, quando termino as
minhas tarefas na empresa desligo a minha máquina e vou para casa.
Olho para o celular conferindo que a minha mãe não para de me
ligar, mas ainda assim não atendo, tenho que passar em um lugar antes de ir
para casa. Chego no cemitério onde a minha esposa está enterrada e me
abaixo próximo da sua lápide.
― Emma, meu amor, por que não consigo seguir a minha vida? ―
Olho para a lápide como se pudesse me responder. ― O que eu fiz de tão
ruim para que me deixasse desse jeito? Foi por causa do meu trabalho? ―
A primeira lágrima é seguida por outra em um pranto que não consigo
controlar, não na frente dela.
Tenho muitas perguntas que continuarão sem resposta, mas voltarei
outro dia para trocar as flores que estão murchas. Levanto-me e volto para o
carro seguindo para casa, abro a porta e vou direto para o jardim onde está
acontecendo a festa, ou estaria. Olho para o local vazio e me aproximo aos
poucos, vendo um bolo lindo e intocado no meio e uma moça que me faz
lembrar daquela da confeitaria abraçando a minha filha. Tento não fazer
barulho.
― Não fica triste, meu bem, ele deve ter ficado enrolado com o
trabalho, você disse que ele faz coisas importantes para salvar vidas. Então
é importante o trabalho dele e, por isso, se atrasou ― diz, consolando a
minha filha pela minha ausência.
― Não era para ter uma festa acontecendo? ― pergunto anunciando
a minha presença, sorrindo envergonhado.
― Dispensei todo mundo, não tinha sentido continuar
comemorando sem meu pai aqui. ― Lily encolhe os ombros e me olha
séria. ― Vicky, pode cortar um pedaço do meu bolo pra mim? ― pede para
a moça que acena com um sorriso doce.
O pedaço é cortado e entregue para a pequena, me abaixo para ficar
na sua altura, esperando que me estenda o pratinho, mas em vez disso ela
esfrega o bolo no meu rosto, assustando a moça, e em seguida sai correndo.
― Droga ― reclamo, mesmo lambendo um pouco do recheio do
bolo que está no meu rosto. Muito gostoso, por sinal.
― Uma pena ver um bolo tão lindo desperdiçado ― comenta a tal
de Vicky.
― O que faz aqui?
― Vim entregar o bolo, a avó daquela garotinha me convidou para
ficar porque a menina estava triste e eu não consegui negar. ― Ela se
aproxima com os olhos cerrados. ― Está perdendo uma fase incrível da
vida da sua filha, ela ficou tão chateada que mandou todos os amiguinhos
embora e encerrou a festa cedo, ficou chorando metade da tarde por se
sentir rejeitada pelo pai. ― Sinto-me mal pelas suas palavras, mas o dedo
cutucando o meu peito me irrita. ― Seja qual for o seu problema, resolva e
pare de magoar essa menina!
― Quem você pensa que é para me dar lição de moral?
― Alguém que entende bem o significado da palavra rejeição. ―
Ela se vira na intenção de ir embora, mas não vou deixá-la sair dessa forma,
ainda mais depois de tudo o que me disse.
Seguro seu braço, acabo a desequilibrando e ela tromba com o meu
peito, me desconcentrando com seu aroma de baunilha.
― Não tem o direito de chegar na minha casa e brigar comigo dessa
forma. ― Ela rosna irritada.
― Você não tem o direito de tocar em mim, me solta, seu ogro!
Irritado pela sua intromissão e pelo seu tom de voz, aproximo mais
o meu corpo do seu, meu rosto está tão perto que nossos narizes quase se
encostam.
― Você precisa aprender a não se meter no que não é da sua conta.
― E você precisa aprender a administrar o seu tempo!
Ambos estamos ofegantes, olhos nos olhos, desvio o olhar para os
seus lábios, sinto uma imensa curiosidade para saber se o seu gosto é tão
bom quanto o cheiro, mas essa distração faz com que eu afrouxe o aperto e
ela me empurra, acertando a palma no meu rosto causando um ardor no
local atingido.
― Por que fez isso, sua doida? ― Coloco a mão no local, sem
acreditar no atrevimento dessa desconhecida.
― Seu ogro tarado! ― xinga antes de sair correndo, tão ofegante
quanto eu.
― Mas que porra! ― reclamo.
Entro em casa pisando duro e dou de cara com a senhora Abigail,
mais conhecida como minha mãe, de braços cruzados e uma expressão de
poucos amigos que me lembra muito de quando eu era criança.
― Não foi assim que eu te eduquei, Christopher, você vai agora se
desculpar com a sua filha e amanhã vai se desculpar com a moça da
confeitaria!
― Mãe, ela não tinha que se meter na minha vida ― argumento,
mas é em vão.
― Você está errado, sabia da festa da sua filha e, mesmo assim, fez
questão de não comparecer. Aquela moça tentou alegrar a sua filha o dia
inteiro, você devia agradecê-la. ― Minha mãe aponta o dedo no meu rosto
e me encolho. ― Você vai amanhã se desculpar com a moça nem que eu
tenha que te levar pelas orelhas.
― Eu sou maior do que a senhora, mãe. ― Eu poderia ter ficado
calado, mas tinha que abrir a boca para falar merda.
Chega a ser engraçado uma senhora baixinha botar medo em um
marmanjo feito eu, mas tenho medo mesmo. A minha mãe pode ser menor,
mas puxa uma orelha e arremessa um chinelo como ninguém. Minha
orelha, vermelha nesse momento, está de prova.
― Vá agora pedir perdão para a sua filha.
Como um cachorro, coloco o rabo entre as pernas e subo a escada
até o quarto da minha filha, bato na porta, mas não tenho resposta, então
giro a maçaneta e a encontro deitada de bruços na cama, com a cabeça
embaixo do travesseiro. Igualzinha a mãe.
― Filha ― digo, mas paro quando a pequena se vira de costas para
mim. ― Me perdoa.
Aproximo-me da sua cama e me sento na beirada, perto do seu
corpinho.
― Você me deixou sozinha de novo, eu falei para todos os meus
amigos que o meu pai estaria no meu aniversário e agora sou a mentirosa da
turma.
― Eu não fiz por mal, pequena traça. ― O meu coração se aperta e
a culpa me atinge em cheio.
“Você tem a minha palavra, te prometo que nunca vai faltar atenção
e carinho na sua vida.”
Eu estou quebrando a minha promessa, não estou dando atenção e
nem carinho para a minha filha e isso despedaça ainda mais o meu coração.
A primeira lágrima cai pelo meu rosto, e decido abrir o meu coração com a
minha filha.
― Sabe, o dia em que você nasceu foi o melhor da minha vida, mas
no mesmo dia nós perdemos a sua mãe e isso ainda dói no meu peito. ―
Minha voz embarga e a Lily se vira para olhar nos meus olhos.
― Sinto falta da mamãe todos os dias, mesmo nunca tendo
conhecido ela. Acho que o senhor não ficaria tanto tempo no trabalho se ela
estivesse aqui. ― Porra!
― Me perdoa, pequena, eu quero ser um bom pai, mas não sei como
fazer isso sem a sua mãe. ― A pequenina inclina a cabeça para o lado e me
olha com atenção.
― Talvez, apenas talvez, se não sair tão tarde do trabalho e passar as
suas folgas comigo, eu possa te perdoar. ― Puxo a minha filha para o meu
colo e a abraço forte.
― Eu não te mereço, pequena, e não sei o que faria sem você.
― Eu sei, papai, só promete nunca mais quebrar uma promessa. ―
Beijo seu rosto, inspiro seu cheiro.
― Eu prometo o que você quiser, desde que me perdoe.
Ela se afasta e estica a mão, para selar um trato.
― Trato feito! ― exclama e me abraça forte. ― Desculpa pelo bolo
na sua cara.
― Eu mereci. ― Dou risada. ― Que tal descer e saborear aquele
bolo como se deve?
Ver o sorriso da minha filha direcionado para mim novamente é
como um sopro de ar fresco em um dia de calor escaldante, e não pretendo
desperdiçar essa oportunidade que ela está me dando.
Descemos e pegamos o bolo, levando-o para a cozinha, cortamos
um pedaço e dividimos.
― Nossa, filha, está delicioso ― elogio e ela me encara.
― Foi a moça que você expulsou que fez. ― Franzo a testa, sem
entender como ela sabe que a expulsei, ou que brigamos.
― Como sabe disso? ― É engraçado ver a minha filha revirando os
olhos.
― Fiquei escondida escutando a conversa de vocês, não sei direito o
que fez para ela sair furiosa daquele jeito, mas não repita porque quero que
ela seja minha amiga.
― Quer que ela te faça doces, é isso? ― A pequena interesseira
sorri travessa.
― Não só isso, papai, mas ela é legal e entendeu o que eu queria no
meu bolo, em vez de querer fazer aqueles bolos chatos que todo mundo faz.
Ela me entendeu. ― O meu coração se aperta novamente, ao perceber que
ela sente falta de uma figura feminina mais jovem.
― Tudo bem, pequena traça, vou pedir desculpas para ela amanhã.
E agora já para o banho! ― ordeno e a minha filha sobe rindo.
Sinto-me mais leve por ter o perdão da Lily, agora falta o da
confeiteira atrevida, e eu tenho certeza de que essa sim vai me dar trabalho.
Capítulo 5
Saio da mansão daquele ogro soltando fogo pelo nariz. Isso se eu
fosse um dragão. Vou andando até um ponto de ônibus, para não ter que
gastar com carro por aplicativo de novo. Por sorte trouxe uma bolsa
pequena com o celular e as chaves de casa, não queria ter que passar na
confeitaria a essa hora.
Ouço um trovão um pouco longe, mas ignoro porque não posso ter
tanto azar assim.
― Tá de sacanagem! ― exclamo quando uma tempestade se inicia,
me encharcando imediatamente e me fazendo correr para chegar no ponto
mais rápido.
Espero por longos minutos até o ônibus aparecer, entro, pago a
passagem para passar pela catraca e me sentar perto da porta de saída.
Algum tempo depois chegamos ao meu bairro e eu desço, andando na
chuva até a minha casa, ou melhor, meu apertamento.
Destranco a porta e tranco-a novamente depois de entrar, tiro as
minhas roupas molhadas pelo caminho e vou direto para o banheiro, tomar
uma ducha bem quente e tentar não me resfriar. Deito-me na cama com o
cabelo molhado e sem me importar em colocar uma roupa, apenas apago
ignorando o fato do ogro tarado ser o cliente gostosão que atendi outro dia.
Não podia ser perfeito.
Passo o domingo em casa, na cama e descansando, tomo uma sopa e
como algumas torradas para tentar recuperar as forças. Acordo no dia
seguinte sentindo como se um trem tivesse passado por cima de mim, mas
ainda forço a me levantar da cama e me arrumar para trabalhar, me olho no
espelho e passo apenas um corretivo para tentar esconder essa minha cara
de cansada.
Chego na loja e dou de cara com Charlotte no balcão, ela apenas me
olha e não fala nada.
― Sem drama hoje? ― pergunto colocando a mão na sua testa, para
conferir se não está doente.
― Deixa de ser besta, quem parece um zumbi é você! ― exclama e
cruzo os braços.
― Alguém acordou do lado errado da cama.
― Você também acordaria se fosse ignorada pela melhor amiga
durante o domingo inteiro ― reclama e eu me aproximo deixando um beijo
no seu rosto.
― Eu estava de molho depois da chuva que tomei sábado, saindo da
mansão do ogro tarado, deixei o celular na bolsa e descarregou, fui me
lembrar dele ontem à noite ― explico.
― Está perdoada, mas por que o chama de ogro tarado? ― pergunta
desfazendo a carranca e abrindo um sorriso curioso.
Conto sobre o que aconteceu na festa da Lily e como ela ficou
chateada com a ausência do pai, depois a minha discussão com ele, mas
deixo de lado o quase beijo. Eu tentei esquecer, mas não teve como.
― Por que não deixou que te beijasse?
― Nós estávamos brigando e ele veio do nada para cima de mim, e
outra, eu nem conheço o cara, deve ser um doido descontrolado. ― Rimos
juntas e, pouco tempo depois, vejo a Lottie se engasgar olhando para algo
atrás de mim.
― Amiga, não olha agora, mas acho que é o cliente do outro dia.
― Não te contei? O ogro tarado e o cliente gostosão são a mesma
pessoa ― digo alto e a vejo fechar os olhos, como se eu tivesse falado
alguma besteira.
― Quem está atrás de mim? ― pergunto e ela segura nos meus
ombros, me virando de frente para o cliente gostosão. ― Merda ―
murmuro ao encarar o homem novamente.
― Bom dia, senhoritas, posso falar com você um instante? ―
Mesmo com o tom cortês, seu pedido parece uma ordem e eu fico em
dúvida se o mando ir à merda ou acato a sugestão.
― Não tem muito cliente hoje mesmo ― digo encolhendo os
ombros. ― Se a dona Sarah perguntar, fala que estou tirando a minha
pausa.
Sei que eu cheguei quase agora, mas preciso de uma desculpa para
conversar com ele, vai que quer se desculpar.
― Bom, eu quero me desculpar pelo outro dia, mesmo você não
tendo o direito de se meter na minha vida, mas estava lá consolando a
minha filha e eu devia levar isso em consideração. ― Cerro os olhos
tentando entender se ele está se desculpando ou me culpando pelo ocorrido.
― Me deixa ver se entendi: Está pedindo desculpas mesmo dizendo
que a culpa da nossa discussão foi minha?
― Não foi isso o que eu disse. ― Cruzo os braços e sorrio em
deboche.
― Então me esclareça, ó sábio milionário, o que quis dizer?
― Eu quero me desculpar por ter sido grosseiro e te agradecer por
fazer companhia para a minha filha quando eu não estava presente. ― O
meu deboche se desmancha com o seu pedido.
― Desculpas aceitas ― digo, tentando encerrar o assunto.
― Só tente não dar palpite onde não é chamada. ― É o quê?
― Escuta aqui, seu ogro... ― Elevo o tom de voz, chamando a
atenção de algumas pessoas, inclusive da minha querida chefe.
― Victoria! ― Ouço o seu berro e me encolho um pouco.
― Um momento ― peço em um tom mais baixo.
― Agora! ― ordena e eu dou uma última olhada para o ogro tarado
antes de me aproximar da dona Sarah. ― O que pensa que está fazendo,
menina?
― Impondo respeito? ― respondo com uma pergunta, bastante
insegura sobre o caminho que essa conversa vai tomar.
― O cliente sempre tem razão, deve ouvir e se calar, mas essa não é
a primeira vez que tenho problemas com você. ― Franzo a testa, sem
entender.
― Comigo? Mas eu nunca causei nenhum problema!
― Está demitida!
A sentença ecoa na minha cabeça, como se ela tivesse berrado isso
em uma caverna vazia. Não consigo reagir, não consigo fazer nada de tão
surpresa que estou por ter sido demitida.
― Sua velha antiquada, vai falir essa confeitaria com seus conceitos
antigos! ― berro, chamando a atenção de todos os clientes.
Eu tive muita paciência com a dona Sarah, mas me demitir por
causa desse ogro sem nem ouvir o meu lado, ou ouvir lado nenhum, foi a
gota d’água. Eu sei que posso conseguir um trabalho melhor. Como vou
pagar o meu aluguel agora? Pego as minhas coisas, e saio da frente da
senhora que ainda me olha como uma garota malcriada.
― Victoria. ― Ouço a voz do ogro e paro, me lembrando que ainda
não descontei nele.
― Me deixe em paz, seu ogro tarado! ― grito e volto a andar
apressada para o meu apartamento.
Estou com a cabeça fervendo de raiva pelo que aconteceu, tentando
organizar tudo o que passa na minha mente quando ouço o interfone, atendo
e descubro que o Brian está aqui, autorizo a sua entrada e espero. Já estou
na porta quando a campainha toca.
― O que você fez para a minha avó ficar irritada daquele jeito? ―
Brian entra no meu apartamento sem sequer me cumprimentar, sei que
somos amigos, mas ele sempre teve educação comigo.
― Oi, Brian, como você está? Eu estou bem depois da sua querida
avó me demitir sem ao menos me escutar, obrigada por perguntar. ― Faço
questão de ser irônica porque ninguém tem o direito de entrar no meu
apartamento sem sequer me cumprimentar, eu ainda sou a dona dessa porra.
― A minha avó estava passando mal de nervoso até agora a pouco
depois das coisas que você disse a ela.
― Ela quem pediu. ― Encolho os ombros, fazendo birra. Estou no
meu direito de estar irritada. ― A sua querida avó me demitiu sem nem me
ouvir, aquele homem que foi na confeitaria não foi comprar nada, ele foi me
pedir desculpas por ser grosseiro comigo e acabou sendo mais grosseiro
ainda. Mas quer saber? Eu não me importo, não preciso da sua avó para
trabalhar.
― Você não vai querer competir com ela, vai?
― Tem espaço suficiente para nós duas nessa cidade ― respondo,
sem me importar com a sua preocupação.
― Posso convencê-la a te readmitir, você se desculpa pelas ofensas
e volta a trabalhar lá.
― E ela não vai se desculpar por ter sido injusta?
― Ela pensou que você estivesse brigando com um cliente, sabe
como ela é. ― Nego com a cabeça.
― Brian, somos amigos, mas não vou passar pano para a sua avó só
pela idade dela. Ela errou sim, e me deve desculpas, não vou voltar a
trabalhar lá se ela não se desculpar também. Não acho justo só eu me
humilhar e a bonita ficar por cima.
― Olha como fala da minha avó, ela te ajudou quando você
precisou ― ele diz, sério.
― Brian, eu estou cansada, o dia foi longo demais e eu preciso
pensar nos meus próximos passos. Depois nos falamos, o que acha? ― ele
concorda com a cabeça e vai embora.
Respiro fundo buscando uma paciência que eu não tenho, e começo
a planejar os meus próximos passos.
Capítulo 6
Por que caralhos eu tinha que deixar a mulher nervosa?
A garota acabou perdendo o emprego por minha culpa. Volto para a
confeitaria para tentar falar com a dona da loja, que ainda está no balcão ao
lado de outra moça tão assustada como todos os clientes que estavam no
local, mesmo que não fossem muitos.
― Senhora, peço desculpas por essa cena ― começo, mas sou
interrompido.
― Não precisa se desculpar, rapaz, aquela garota merecia uma boa
lição quando criança, cresceu mimada e o resultado foi esse. Ela pensa que
pode sair berrando com todo mundo, mas não se preocupe que vou
providenciar para que ela não trabalhe em nenhuma confeitaria da região.
― Meus olhos se expandem em surpresa, e tento falar algo para corrigir,
mas a moça ao lado faz um sinal para acompanhá-la até o lado de fora.
― Melhor não tentar convencer a dona Sarah a recontratar a Vicky,
depois de hoje seria tortura fazer a minha amiga trabalhar com essa velha
ultrapassada. ― Sorrio do jeito que a moça fala da sua chefe. ― E se quer
mesmo ajudar a minha amiga, por que não investe no nosso negócio?
― Me deixa adivinhar, uma confeitaria? ― pergunto, sorrindo com
a audácia que essa moça tem em me pedir dinheiro.
― Sim, e não é qualquer uma, é daquelas dignas de programa de tv.
― Sei ― respondo, começando a andar na direção de onde deixei o
meu carro, mas sou impedido pela moça.
― Olha, me chamo Charlotte e a minha amiga tem o sonho de abrir
a própria confeitaria, nós temos um dinheiro guardado e ela está estudando
administração para poder gerir a empresa. ― Sem que eu impeça, a minha
mente começa a imaginar milhares de possibilidades interessantes ao
investir em um novo negócio com o potencial que ela está me apresentando.
― Não precisa nem aparecer seu nome em lugar nenhum, pode ser como
um investidor anônimo e eu falo que fui atrás de propostas até conseguir
uma, e só quis contar quando se concretizasse. No fim, ela nem vai saber
que está envolvido e a sua consciência fica limpa por ter ajudado uma
pessoa a realizar o seu sonho.
― Eu só vim aqui me desculpar, nem conheço vocês. Como vou
saber que não são golpistas ou algo do tipo?
Eu podia ignorar essa maluca e voltar para casa sem olhar para trás,
afinal, quem dá esse tipo de ideia para alguém que acabou de conhecer.
Além de não as conhecer, elas também não me conhecem e eu podia ser um
daqueles golpistas também e roubar todo o dinheiro delas.
― Olha só, a sua ideia pode até fazer sentido na sua cabeça, mas
não faz sentido nenhum para mim.
― Converse um pouco com a Vicky e vai concordar comigo, estará
investindo em uma mina de ouro.
― Acho melhor eu sair de perto, é bem capaz de colocar a mão no
negócio e falir antes mesmo de abrir, boa sorte para vocês.
Afasto-me o mais rápido possível, mas não consigo tirar essa ideia
maluca da cabeça, será que seria um bom investimento? Balanço a cabeça
para afastar isso da mente e seguir para o meu trabalho, tenho muito o que
fazer e o dia só está começando. Chego até a empresa, onde me distraio
entre diversas reuniões sobre a nova inteligência artificial, o trabalho da
minha vida.
— Com licença, Sr. Brown. — Levanto o olhar dos códigos na tela
para ver a Rebecca com um sorriso, me encarando.
O que ela está fazendo aqui? Por que está me chamando de Sr.
Brown?
— O que quer? — Corto a sua brincadeira.
— Só queria saber como seria ser sua secretária, será que me
comeria na hora do almoço? — Ela ri da própria piada e permaneço a
encarando.
— Estou trabalhando, se não tiver nada importante para falar, pode
voltar para as suas compras. — Rebecca leva as duas mãos ao peito,
fingindo se sentir ofendida. Não tenho paciência pra essa merda.
— Você acha que eu só faço isso? — Sem a minha autorização, ela
se aproxima e dá a volta na mesa, parando atrás de mim. — Faz tempo que
não me liga, querido. — Suas mãos com unhas longas iniciam uma
massagem nos meus ombros, mas sei exatamente qual é a sua intenção com
isso.
— Se fosse diferente, por que estaria aqui mesmo depois de
terminarmos?
— Você terminou comigo, isso não significa que eu concordei, meu
bem. — Afasto as suas mãos do meu corpo, segurando os seus pulsos.
— O que quer? — pergunto, impaciente com esse joguinho ridículo.
— Você — responde.
Seguro seus cabelos pela nuca, a ouvindo gemer em resposta e o
meu pau responder dentro da calça.
— Isso, você perdeu. — Levanto-me, sem soltar seu cabelo e a viro
de frente para a mesa, esfregando minha ereção na sua bunda. — Mas com
o meu pau você pode brincar.
Aproveito que ela está de saia e embrenho a mão por baixo do
tecido, alcançando sua calcinha molhada. Penetro um dedo no seu canal,
mordiscando seu pescoço, enquanto abro a minha calça. Eu a deixo
debruçada para poder colocar a camisinha, afasto sua calcinha para o lado e
estoco com força, tampando sua boca com a mão para evitar que alguém
ouça os seus gritos.
Movimento-me de forma ritmada, batendo meu quadril na sua
bunda e desferindo alguns tapas, que a fazem me olhar atravessado. Foda-
se!
Sinto o orgasmo chegando e trabalho no seu clítoris para que seu
corpo se satisfaça também, em uma estocada profunda gozo na camisinha,
grunhindo e continuo tampando sua boca para abafar os seus gemidos, com
o orgasmo que a alcança.
Afasto-me do seu corpo, retirando a camisinha e amarrando a ponta
antes de descartá-la no lixo. Sento, novamente na minha cadeira, colocando
o meu pau para dentro da calça e a fechando, só então olho para a mulher
ofegante na minha mesa.
— Se quiser pode usar o banheiro da minha sala para se recompor
antes de ir embora.
Em um momento parecia não ter controle sobre o próprio corpo, e
no outro parece possuída pelo demônio avançando sobre mim, desferindo
tapas que impeço prendendo suas duas mãos.
— Você já conseguiu o que queria, agora pare de atrapalhar a porra
do meu trabalho e suma da minha frente! — digo com os olhos grudados
nos seus.
— Cretino. — Sorrio de lado.
— Volte para as suas compras e me deixe trabalhar em paz,
Rebecca.
— Você vai se arrepender disso. — Olha-me com raiva.
— Duvido.
Volto a me concentrar no meu trabalho, em tudo o que preciso
analisar antes da próxima reunião, anotando mentalmente que necessito
trocar de roupa e tirar esse cheiro do perfume da Rebecca de mim.
Ouço seu salto conforme se afasta, depois a porta do meu escritório
abrindo e fechando com violência, me deixando, finalmente, sozinho. Ainda
encaro a porta por alguns momentos, a imagem de certa mulher invade os
meus pensamentos e volto ao trabalho, para tirá-la da mente.
Capítulo 7
Eu passo o dia com um caderno, anotando todas as contas que
preciso pagar, tudo o que tenho que fazer para organizar a minha vida sem a
renda que recebia da loja. Ainda dá para iniciar um pequeno negócio de
venda de doces em casa, usando a internet para divulgar.
O toque da campainha me assusta, mas me levanto do sofá e vou até
a porta, conferir o olho mágico para ver a minha amiga com um sorriso
enorme no rosto. Abro a porta para ter certeza de que está mesmo aqui,
afinal, ainda estamos no meio do expediente.
— Você vai surtar quando eu contar o que consegui. — Charlotte
entra com um sorriso de orelha a orelha e me encara enigmática. —
Adivinha.
— Nem vem, estou sem paciência para adivinhação. — Fecho a
porta e me jogo no sofá, bufando
— Deixa de ser chata! — Empurra o meu pé para me provocar e
lanço um olhar irritado. — Achei quem pode investir no nosso negócio,
você só precisa me ajudar a convencê-lo.
Eu a encaro confusa, porque não faz o menor sentido ela encontrar o
investidor e eu ter que convencer a pessoa ou empresa
— Por que não vai você? — pergunto com a testa franzida.
— Porque quem precisa se redimir com você é ele, não eu!
Ela não está falando coisa com coisa e isso me deixa ainda mais
confusa e nervosa, não entendo aonde ela quer chegar com esse papo, mas
não estou com paciência para isso agora.
― Olha só, não entendi nada e nem quero, não precisamos de
ninguém porque vou começar daqui de casa e, em breve, teremos nosso
próprio ateliê.
― Não quer nem saber quem é o investidor que encontrei? ― Olho
para ela longamente, sabendo que ela quer algo com essa pergunta.
— Quem é o investidor? — pergunto e ela fica de costas.
— Bom, eu queria fazer uma surpresa, mas você é muito chata! —
Cerro os olhos, irritada e ela revira os olhos. — É o cliente gostosão, tá
bom?!
— O ogro tarado? — pergunto só para confirmar e ela acena com a
cabeça concordando. — Nem morta!
— Amiga, toda ajuda é bem-vinda e você sabe muito bem disso. O
homem é milionário, o que custa te ajudar um pouco já que fez com que
fosse demitida?
― Amiga, você é doida. ― Dou risada da cara dela. ― Mas ele
aceitou essa sua ideia maluca?
Charlotte começa a olhar para todos os lugares, menos na minha
direção.
― Bem, não, mas ele precisa se redimir, não acha?
― Não, acho que precisamos seguir caminhos diferentes e tomar o
cuidado de não nos cruzarmos mais.
― Sua chata, ele disse quase a mesma coisa quando saiu correndo.
Damos risada e Charlotte me ajuda a preparar alguns doces para
tirarmos fotos e postar na internet.
Passo a semana inteira organizando a minha vida, contando moedas
e renegociando dívidas. Sinto que tem uma luz que não estou enxergando,
mas não a encontro ainda, por isso começo a inventar alguns sabores
diferentes para incrementar o pequeno cardápio que já montei e deixei na
página da minha empresa nas redes sociais.
Fico muito feliz quando o primeiro pedido aparece e outro em
seguida, começo a preparar tudo porque amanhã começam as entregas.
No sábado Charlotte aparece aqui para me ajudar, sempre com
alguma notícia sobre a confeitaria.
― A senhora que foi lá pedir o bolo pra você apareceu de novo, a
menina perguntou de você e eu não soube o que dizer.
― Podia dizer a verdade, que o filho dela fez com que eu fosse
demitida ― digo parando um momento de mexer o creme.
― Eu disse, mas não com essas palavras, a mulher tentou falar com
a dona Sarah, mas aquela lá é uma velha cabeça-dura, faltou expulsar a
senhora de lá.
― Nunca vi a dona Sarah maltratando cliente.
― Desde que não tentasse obrigá-la a recontratar uma funcionária
que a chamou de ultrapassada e falou umas verdades na cara dela, juro,
amiga, seu nome está proibido lá. ― Dou risada.
― Estou me sentindo o Lord Voldemort da série Harry Potter,
aquela que não deve ser nomeada. ― Charlotte gargalha e voltamos a
trabalhar. ― E você conseguiu descobrir mais alguma coisa do ogro tarado?
― pergunto como quem não quer nada.
― Bem, descobri que o nome dele é Christopher, o sobrenome você
já sabe porque é igual ao da dona Abigail.
― Se sabia que o nome dela é Abigail por que não falou antes? ―
pergunto curiosa.
― Porque eu esqueci o nome dela, mas já me lembrei.
Terminamos as encomendas e nos sentamos na sala para assistir
televisão, quando Charlotte me cutuca, com o celular em mãos.
― Amiga, tive uma ideia! ― Olho para ela, já desconfiada das suas
ideias geniais.
― Qual ideia?
― Terá um parque de diversões, perto da praia, com muitas barracas
de comes e bebes, que tal montarmos uma barraca de doces e vender lá para
divulgar o nosso negócio? ― Meus olhos se expandem de surpresa.
― Por incrível que pareça, essa ideia é realmente boa.
― Meu amor, eu só tenho ideias boas. ― Rimos juntas, lembrando-
me da brilhante ideia que ela teve do Christopher ser o nosso investidor.
Doida!
Entro em contato com os organizadores do parque e consigo uma
barraca para vender os doces, faço os mais variados e deixo expostos,
separo as embalagens que a Charlotte me ajudou a comprar e os cartões que
consegui fazer em tempo recorde.
Sorrio a cada nova venda, espero a Charlotte chegar e aproveito para
ir ao banheiro, passei quase o dia inteiro sem sair da barraca porque não
queria perder nenhuma venda. Estou andando apressada entre as pessoas
quando trombo em algo duro, talvez nem tanto.
― Não olha por onde anda? ― Ouço a voz, rude, perguntando ao
me segurar pelos ombros e me ajudar a manter o equilíbrio.
― Desculpa, eu estava com pressa ― digo tentando não encarar os
seus olhos, mas o silêncio dele me deixa ansiosa e levanto os olhos.
― Você ― diz, parecendo surpreso por me encontrar aqui.
Digamos que eu também não esperaria que ele viesse em um lugar
desse, esperava que ele fosse a um shopping ou lugares mais requintados,
mas um parque de diversões perto da praia não estaria na minha lista de
lugares aonde esse homem iria. Sim, eu sei que estou divagando, mas não
consigo parar.
― Como está? ― Franzo a testa para a sua pergunta, finalmente
aterrissando na Terra.
― Considerando que você me fez perder o emprego, estou muito
bem, obrigada. ― Afasto-me dele cruzando os braços.
― Eu tentei fazer aquela senhora devolver o seu emprego, até a
minha mãe tentou, mas parece que ela estava buscando uma desculpa para
te dispensar. ― Ele encolhe os ombros e eu cerro os olhos. ― Eu confesso
a minha parcela de culpa e quero me desculpar com você, tanto pela
grosseria quanto pelo seu emprego. Digamos que eu não estava nos meus
melhores dias. ― Ele coça a nuca, parecendo envergonhado e isso me
surpreende.
― Vou aceitar o seu pedido de desculpas. ― Tento desviar, mas
dessa vez sou barrada por uma garotinha, a Lily.
― Vicky! ― Ela abraça as minhas pernas e sinto o meu rosto
esquentando, desvio os olhos para não encarar o seu pai.
― Lily, que bom te ver ― digo me abaixando para abraçá-la
também. ― Passeando com o seu pai?
― Sim, dei uma nova chance para ele, sabe como é, está bem velho,
talvez nem tenha muito tempo, preciso ser madura e perdoar. ― Eu a
encaro procurando a pessoa que está controlando a sua fala, mas logo ela
começa a rir. ― Brincadeira, só o perdoei mesmo e tá tudo bem.
― Você tem certeza de que tem apenas 7 anos? ― pergunto, ainda
em choque.
― Claro, pode confirmar com o meu pai, ele entende mais de
número do que eu, mas da última vez que chequei tinha 7 anos mesmo.
A garota parece bastante animada com o passeio e não para de falar,
eu pretendia oferecer algum doce para ela, mas acho que não precisa de
mais açúcar na sua corrente sanguínea.
― Quantos doces você deu para ela? ― pergunto para o seu pai.
― Alguns. ― Acho engraçado como seus olhos se desviam dos
meus, parecendo realmente envergonhado por ter entupido a filha de doces.
― Em minha defesa, fazia muito tempo que não saíamos juntos e eu quis
agradá-la.
― Tente dar algo para acalmar a sua filha, senão terá problemas
para fazê-la dormir.
― Como sabe essas coisas? ― pergunta, franzindo a testa.
― Já fui criança ― respondo e me volto para a Lily. ― Pode fazer
um favor pra mim?
― Claro! ― responde animada.
― Não coma mais doces e tome um copo de leite quente quando
chegar em casa, senão não vai conseguir dormir, está bem?
― Sim! ― Eu encaro a sua felicidade ao aceitar não comer mais
doces e sorrio percebendo que ela não prestou muita atenção no que pedi.
― Eu preciso mesmo ir agora, até mais ― eu me despeço correndo
para ir ao banheiro, minha bexiga quase explodindo.
Sinto um alívio imenso ao encontrá-lo vazio e poder me aliviar, faço
o que tenho que fazer e lavo as mãos antes de sair, voltando para a barraca
onde a Charlotte me espera.
― Um dos organizadores veio aqui quando você sumiu, ele disse
que o parque vai ficar um tempo aqui, então podemos vender os doces
todos os fins de semana.
― Isso é ótimo!
― Considerando que temos que pagar uma porcentagem das vendas
para ele, e que estamos vendendo os doces feito água, realmente é ótimo. ―
Sorrio para ela.
― Acho que logo teremos dinheiro para abrir a nossa loja.
― Com certeza!
Passamos o resto do dia vendendo bastante e entregando os doces
nas embalagens que compramos, todos com ao menos um cartão do nosso
ateliê para fazer propaganda. Com isso esperamos aumentar o número de
encomendas a ponto de ser necessário um lugar maior do que a cozinha do
meu apartamento.
Capítulo 8
É muito incômodo não conseguir tirar algo ou alguém da cabeça,
mas a Victoria invadiu a minha e não quer sair de jeito nenhum. O encontro
que tivemos no fim de semana, que não foi premeditado, me surpreendeu de
forma positiva, principalmente porque achei agradável a sua companhia e
gostei de como ela tratou a Lily. Com cuidado e carinho. Valorizo muito
isso em alguém, considerando que o modo de tratar a Lily foi o que me
motivou a desistir de um relacionamento, mas vendo a interação da Victoria
com ela penso que talvez eu estivesse procurando no lugar errado.
― Terra chamando Christopher. ― Pisco algumas vezes para
encarar o meu amigo, Charles e prestar atenção no que ele diz.
― O que quer aqui? ― pergunto.
― Estava olhando para o nada com cara de idiota, eu interrompi e
está me encarando como se quisesse me matar. É alguma mulher?
― Não te interessa! ― Desvio os olhos dos dele e me levanto para
me servir de uma bebida, sei que não chegamos nem no horário de almoço,
mas para encarar a curiosidade do meu melhor amigo preciso de algo forte.
― Certeza que é mulher. ― Ele sorri, vitorioso por achar que está
certo.
Ele está mesmo, mas não precisa saber disso.
― Que tal sairmos hoje para nos divertirmos? ― Agora quem ri sou
eu da ideia idiota do Charles de sair em plena segunda-feira. Nada contra,
mas não faz o meu tipo.
― Não, obrigado, vou ficar com a Lily e ajudar com o dever de
casa, ela está com um pouco de dificuldade em matemática.
― Estou gostando de ver, empenhado em dar atenção para a filha,
estou orgulhoso de você. ― Rimos juntos.
― Para de palhaçada e diz logo o motivo para estar aqui.
― Nada, só queria saber como você está. ― Pego uma bolinha de
papel e jogo contra ele que desvia a caminho da porta. ― Tenha uma boa
semana, Senhor Arrogante.
Não faço ideia de onde o meu amigo tira esses apelidos ridículos e,
sinceramente, prefiro nem tentar descobrir. Depois dessa visita inesperada,
o dia passa rapidamente em meio ao estresse do desenvolvimento da
Inteligência Artificial que permanece estagnado e nenhum dos
desenvolvedores tem nenhuma ideia do caminho a seguir. No fim do dia
volto para casa com a mente cheia de ideias, tentando encontrar saídas para
o beco onde nos encontramos.
― Papai, presta atenção, você prometeu me ajudar! ― Percebo que
estava distraído pensando em trabalho ao ter minha filha chamando a minha
atenção novamente.
― Me desculpa, eu não estou conseguindo me concentrar. ―
Respiro fundo e me levanto. ― Me dá um minuto, vou beber água e já volto
para te ajudar. Vai fazendo os exercícios que consegue e anotando as
dúvidas que eu te ajudo quando voltar.
Saio do quarto e desço as escadas na direção da cozinha para pegar
o bendito copo com água, a minha mente é um turbilhão de ideias e
pensamentos aleatórios, nunca tive problemas de concentração, mas hoje é
um dia atípico. Quando termino o terceiro ou quarto copo de água retorno
ao quarto da Lily para tentar novamente ajudá-la no dever de matemática,
dessa vez me esforço mais para manter os assuntos de trabalho e a Victoria
fora da minha mente, conseguindo avançar no dever de casa da minha
pequena traça. Chegamos ao final e descemos para o jantar.
― Parece mais animado, filho ― comenta a minha mãe, notando
uma mudança que eu não percebi, mas aparentemente está na minha cara.
― Ele viu a Victoria no parque no fim de semana. ― Encaro a
fofoqueira da minha filha com os olhos cerrados.
― Vocês se entenderam? ― pergunta a minha mãe.
― Não sei a quê a senhora se refere exatamente, mas sim,
conversamos civilizadamente.
― Me referia exatamente a isso, meu filho, conversar como dois
adultos sem brigar na primeira discordância.
― Ela é muito irritadiça. ― Vejo minha mãe revirar os olhos e Lily
esconder a risada.
― Como se você fosse muito calmo. Christopher, sou sua mãe, sei
que você pode ser bem difícil de lidar.
― Pai, vamos no parque de novo? ― Encaro a Lily desconfiado.
― Já fomos no parque, por que repetir o passeio?
― Porque eu gostei, vamos? ― A Lily é direta assim como eu, isso
pode ser um defeito ou uma qualidade dependendo do ponto de vista, nesse
momento vejo como defeito.
― Sim, filha, vamos.
― Oba! ― comemora e vejo minha mãe sorrindo abertamente.
― Quem sabe não encontra a Victoria de novo? ― Não queria
pensar nessa possibilidade, mas sei que é muito provável encontrá-la
novamente no parque. Internamente desejo vê-la mais uma vez.
Durante o resto da semana, o projeto demora a avançar e somente na
sexta-feira que conseguimos uma solução e avançamos mais na criação,
isso me anima para aproveitar o final de semana sem me preocupar com
atrasos no trabalho, gosto de deixar tudo adiantado até a sexta para a minha
mente estar livre e totalmente disponível para a minha filha.
Lily insistiu para vir ao parque desde a hora que acordamos, enrolei
ao máximo para virmos de tarde, depois do almoço, e evitar entupi-la de
doces novamente porque da última vez tive trabalho para fazer essa
pequena traça pegar no sono. Exatamente como a Victoria disse que seria.
Compro ingressos para todos os brinquedos aonde a Lily pode ir e, por
todos os lugares que passamos, olho em volta procurando pela Victoria,
tentando encontrá-la.
Quando estamos próximos da roda-gigante, Lily está encantada com
as luzes, e eu encontro a pessoa que procurava. Victoria está na sua barraca
sorrindo para todas as pessoas que está atendendo, transmitindo simpatia e
doçura enquanto mostra uma variedade de bolos e doces. Parecendo sentir o
meu olhar, os seus me encaram nos conectando de uma forma estranha, me
fazendo sentir um calor desconhecido há muito tempo, acendendo algo até
então apagado dentro de mim.
Segurando a mão da Lily, me aproximo da barraca da Victoria, com
os seus olhos azuis ainda me encarando em um misto de desafio e
curiosidade, elevando a tensão entre nós.
― Então essa é a sua barraca? ― pergunto assim que chego no
local.
― Como pode ver, sim ― responde sorrindo. ― Como vai, Lily?
― ela se dirige para a minha filha, cujos olhos até brilham ao ver a sua
nova amiga.
― Bem, que bom te ver Vicky. Meu pai tava doido te procurando.
― Encaro a minha pequena fofoqueira, envergonhado pela sua boca grande.
― Que isso, filha? A Victoria vai achar que a estamos perseguindo.
― Minha filha olha de um para outro e sorri.
― Eu só estou aqui pelos doces. ― Victoria gargalha, me fazendo
rir junto. ― Ei, pai, vamos na roda-gigante? ― Olho para a minha filha
novamente e ela aponta, nem tão discretamente para a Victoria.
― Bom, temos um ingresso sobrando, quer ir conosco? ― Convido
ganhando um sorriso de aprovação da minha filha.
Victoria olha para os lados e um sorriso enorme se abre quando sua
amiga chega.
― Bem na hora, preciso de um descanso, então se vira! ― diz para
a amiga que a encara embasbacada enquanto a Victoria tira o avental e sai
da barraca vindo na nossa direção. ― Vamos, ninguém merece passar o dia
inteiro vendo essa roda-gigante rodando milhares de vezes e não ir em
nenhuma.
Lily estende a outra mão para ela que a segura e, juntos, vamos para
o brinquedo.
― Ai, droga, eu esqueci o meu doce, vão vocês, depois você
compra mais e vamos de novo, papai.
― Não vou te deixar sozinha ― digo para a minha filha que já está
perto da barraca da Victoria.
― Não estou sozinha, a tia... ― Ela olha para a amiga da Victoria
que sorri e diz o nome antes de se virar para nós e continuar ― Charlotte tá
comigo.
― Cuida dela? ― pergunta Victoria.
― Pode confiar, ela vai me ajudar a vender esses doces, você vai
voltar e teremos que ir para casa por falta de estoque.
― Ela está em boas mãos, mas se não quiser ir à roda-gigante sem a
Lily não tem problema. ― Olho para a minha filha que faz sinal com as
mãos quase me enxotando para longe.
― Não sei o que está acontecendo com a Lily, ela não é assim ―
digo tentando me justificar enquanto entregamos os ingressos e entramos na
cabine.
Fechamos a porta e nos sentamos de frente um para o outro, a
cabine começa a subir e vai parando conforme as pessoas vão entrando.
― Você tem um jeito especial com a Lily ― comento.
― Ela é uma criança especial, educada, inteligente. ― Sorrio,
orgulhoso.
― Você também parece especial, educada, inteligente. ― Quando
me dou conta, o elogio já deixou os meus lábios, surpreendendo a nós dois.
― Não sou mais intrometida? ― pergunta, divertida.
― Acho que faz parte do seu charme. ― Parece ter uma espécie de
força me puxando na sua direção e, dessa vez, nem tento resistir, quero ver
aonde isso vai dar.
Estendo a mão, tocando suavemente o seu rosto, sentindo a textura
dos seus cabelos, alcançando a sua nuca e acariciando calmamente.
Aproximo-me um pouco mais, puxando o seu rosto para perto do meu.
― O que está fazendo? ― pergunta com a voz trêmula.
Não respondo, não consigo. Meus lábios encontram os dela em um
beijo suave, mas que faz o mundo ao redor desaparecer, por um momento
estamos suspensos no tempo, estou perdido na doçura do seu beijo. Minha
língua pede passagem, explorando a sua boca e aprofundando o carinho,
exigindo mais. Seu sabor de baunilha, combinado com o seu aroma, é
enlouquecedor e preciso me esforçar muito para me controlar.
Termino o beijo com um selinho suave, nossas testas coladas e as
respirações ofegantes.
― Por que fez isso? ― pergunta.
― Não resisti.
Capítulo 9
Ainda me sinto meio zonza pelo beijo, me surpreendi com essa
atitude do ogro tarado. Agora nem tão ogro assim. Sinto o meu rosto
esquentar sob o seu olhar intenso, como se esperasse que eu dissesse algo.
Não faço ideia do que ele espera que eu diga depois dele confessar que não
resistiu, sinceramente, então permaneço em silêncio o restante do tempo na
roda-gigante, os lábios formigando e me lembrando do nosso momento.
Assim que a porta da cabine abre, me levanto e saio, precisando de
um momento sozinha para pensar. Não espero que me siga, quero que ele vá
se encontrar com a Lily. Meu celular apita avisando o recebimento de uma
mensagem e abro vendo que é da Charlotte.
“Onde você se enfiou?”
“Estou no banheiro.”
“Me agradeça depois.”
Me preocupo dela ter feito ou falado algo errado para o Christopher.
“O que você fez?”
“Dei o seu telefone para o cliente gostosão, ué. A filha dele ainda
saiu daqui perguntando quando eles voltariam para te ver.”
Fico indecisa entre me sentir aliviada por ela apenas ter dado o meu
número para o Christopher, e preocupada porque agora ele tem o meu
contato. Enquanto estou decidindo se isso é bom ou não, meu celular toca
novamente.
“Me desculpa se te assustei, prometo não repetir se não se sentiu
confortável.”
Não sei como ele pode ir daquele grosseiro que quase me expulsou
da sua casa e me fez perder o emprego, para o gentleman que me mandou
mensagem e me beijou como se eu fosse algo delicado que pudesse quebrar
se apertasse muito. Se ele soubesse.
“Não me assustou, eu só precisei correr por problemas pessoais.”
Eu nunca diria que estava com vontade de fazer xixi desde que saí
da barraca, não temos intimidade para esse tipo de comentário.
“Então, aceita jantar comigo na sexta?”
Mordo o canto do lábio, pensando se essa também não é uma
péssima ideia, mas parece que tem um anjo e um demônio em cada ombro.
O anjo me diz para não aceitar e seguir a minha vida, e o demônio me
manda largar a mão de ser besta e aproveitar que um homem gostoso me
chamou para sair.
“Sim.”
“Te busco às 8:00 PM.”
Não respondo, lavo as mãos e saio do banheiro sorrindo feito boba
até chegar na barraca.
― Ele te mandou mensagem? ― Franzo a testa para a minha amiga.
― Ele quem?
― Não se faça de besta, você vai para a roda-gigante com um boy
gostoso e deixa o homem voltar sozinho. Não entendi o que aconteceu
nesse meio tempo, mas pela sua cara de besta foi bom.
― Deixa de ser fofoqueira e vamos trabalhar. ― Volto a organizar
os doces para repor nas vitrines e, pelo canto do olho, a vejo sorrir.
― Você vai me contar tudo o que aconteceu, pode aproveitar que
não tem ninguém.
Faço um pouco de mistério, mas depois conto tudo o que aconteceu,
revivendo toda a nossa conversa.
Durante toda a semana antes do jantar me organizo, renegociando as
contas para não atrasar e entregando as encomendas dos clientes que
compraram meus doces no parque. Tento me distrair, mas acabo escolhendo
a roupa no meio da semana para não ter erro, um vestido de corte reto, um
pouco acima dos joelhos, com alças grossas e decote quadrado, bem social,
com scarpins pretos, assim como o vestido.
Na sexta, me arrumo cedo, deixo meus cabelos caindo em cachos
soltos pelos meus ombros, coloco o vestido e uso uma maquiagem leve,
destacando meus olhos e com um gloss nos lábios.
Para finalizar coloco os scarpins, torcendo para não precisar andar
muito.
Sento-me no sofá e espero a hora passar, me distraindo com o
celular, novamente me assusto e agora é com o toque do interfone. Estava
tão distraída lendo matérias sobre o CEO da HealthWise AI que não vi a
hora passar, olho para o relógio percebendo ser a hora que a Charlotte disse
que o CEO chegaria para me buscar. Pontual, gostei.
Pego minha bolsa de mão, guardo o celular e saio do apartamento,
desço até o térreo e saio do prédio encontrando o ogro tarado encostado no
seu carro.
— Boa noite, senhorita. — Dou risada para o seu cumprimento,
pegando a minha mão e beijando-a, galante.
— Assim fica parecendo um mordomo, podemos deixar essas
formalidades, me chama de Victoria que já está ótimo. — Ele sorri
abertamente.
— Só se me chamar de Christopher. — Nós nos encaramos por um
momento, me sinto hipnotizada pelo seu olhar intenso e, envergonhada pela
reação do meu corpo, quebro a conexão desviando os olhos. — Entre,
estamos em cima da hora.
Sua voz rouca me arrepia, e não o respondo apenas acato a sugestão
entrando no carro. Só consigo identificar que é um Audi, mas não sei dizer
o ano ou modelo, apenas admiro o interior me esforçando para não babar e
sujar o estofado.
Seguimos até o restaurante que, fazendo o meu queixo cair, é uma
mansão histórica restaurada, já ouvi falar desse lugar, mas nunca pensei em
vir até aqui.
A hostess nos recepciona e, após a confirmação da reserva no nome
dele, somos direcionados até uma mesa em um ambiente privativo. Por um
momento me sinto dentro de um livro de romance, no melhor estilo
Cinquenta tons de cinza, só me resta saber se esse CEO fode com força
como o Christian Grey. Segura a emoção, colega!
Sentamo-nos e a moça sai nos deixando sozinhos.
— Me sinto a Chapeuzinho vermelho na toca do lobo mau — digo
olhando em volta.
— Não vou te atacar, Victoria, você já conheceu o meu lado
civilizado. — Eu o encaro desconfiada.
— Bom, estou curiosa para saber o motivo do convite para jantar. —
Um sorriso de lado se abre no seu rosto.
— Te conhecer melhor, já que não sei muito de você.
— O que quer saber? — pergunto.
— O que quiser me contar. — Penso se devo contar muito sobre
mim, mas quando percebo estou em um monólogo sobre a minha infância
solitária.
Até sobre os meus pais se decepcionarem com a minha escolha de
profissão eu acabo contando no momento que o garçom chega para anotar
os pedidos. Escolhemos nossos pratos e aceito a recomendação do
Christopher, o deixando escolher o vinho, já que não costumo beber e
pretendo abrir uma exceção.
Fim do sonho
Fim
Agradecimentos
Eu tinha que me esquecer de algo, relendo o livro percebi que havia
me esquecido de agradecer. Primeiro a Deus que sempre está comigo, me
dando forças para seguir, aos meus pais que são anjos na minha vida e
minha irmã, que é a melhor do mundo.
Agradeço ao meu marido, porque sem ele não sei se teria aguentado
até aqui, o apoio dele foi essencial para que eu seguisse e eu agradeço
profundamente. Eu te amo!
Minha amiga, Bárbara Pinheiro, que me ajuda desde o começo, e a
Nathy que me aguenta há 10 anos também.
Agradeço ao Desafio Mari Sales pelo acolhimento, pela
compreensão, pelas ideias e pela força que vocês dão. Não parece, mas ver
todas escrevendo, dá uma força de vontade muito grande de fazer também e
todas crescemos juntas. Desejo todo o sucesso do mundo para todas vocês.
Esse agradecimento aqui é novo, Silmara Izidoro, minha amiga, não
sei fingir costume ao dizer isso. É muito surreal amar tanto os seus livros há
tanto tempo e agora, além de fã, sou amiga de uma das autoras que mais
admiro. Obrigada por essa amizade maravilhosa! Te amo!
Rosi, obrigada por acreditar no meu trabalho, por me dar essa
oportunidade, não sabe como isso me ajudou e me ajuda a querer continuar.
Minhas assessoras que aguentam meus surtos quase diários,
obrigada por tanto.
Minhas leitoras queridas, obrigada por lerem minhas histórias, por
acreditarem em mim. É por vocês que sigo querendo criar mais e mais
livros maravilhosos e com cada vez mais qualidade.
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Otávio Campos era um homem marcado pela dor.
Jovem, viúvo e pai, enfrentava a dificuldade de lidar com o luto, ao
mesmo tempo que cuidava e protegia sua filha Marina, que tinha problemas
de se relacionar com as crianças da sua idade.
Enquanto lidava com um processo de custódia pela guarda da
criança contra sua cunhada, ele conheceu uma professora de pulso firme e
opinião certeira que abalaria sua rotina.
Letícia Gomes saiu de Santino após um divórcio vergonhoso, traída
e humilhada, resolveu mudar para a capital e recomeçar a vida do zero, mas
um pai rabugento atrapalharia seus planos de manter uma vida tranquila.
Ele não queria ninguém interferindo na forma que lidava com
Marina.
Ela via a necessidade de mudança para o bem da menina.
Juntos eles viveriam momentos de desentendimento, desconfianças
e atitudes impulsivas, que os levariam para uma noite quente inesquecível.
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Ele é herdeiro de um império. Ela sofreu uma desilusão amorosa e
está cheia de dívidas. Um erro os coloca juntos no mesmo quarto.
Para eles, existem apenas duas opções: desistir e ir embora ou
aceitarem que tinham mais em comum do que imaginavam.
Uma pequena mentira.
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Lorena aceitará ser a namorada falsa de Diogo para que ele obtenha
as informações que precisa, e, com isso, terá suas dívidas pagas. O plano é
simples e prático, mas será que, no final deste acordo, cada um seguirá seu
caminho ou eles perceberão que têm muito mais em comum do que apenas
uma troca de interesses?
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Sinopse:
Jordan Brice era um jovem ator que estrelou um filme Teen como
um vampiro sedutor, se tornando uma estrela mundial e ganhou uma legião
de fãs. Uma década depois ele ainda é o queridinho das fãs por conta de seu
papel. Sua vida como estrela de Hollywood é muito bem sucedida, quando
foi convencido a participar de um evento para comemoração dos dez anos
de filme.