Gravida Do CEO Viuvo e Arrogant - Veiga, Priscila

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Copyright © 2023 Grupo Editorial Portal

Capa
Dennis Romoaldo

Diagramação
Mylene Ferreira

Revisão
Sônia Carvalho

Livro Digital
1ª Edição
Priscila Veiga

Todos os direitos reservados.


É proibido o armazenamento ou a reprodução de qualquer parte desta obra,
qualquer que seja a forma utilizada – tangível ou intangível, incluindo
fotocópia – sem autorização por escrito do autor.
Esta é uma obra de ficção. Nomes de pessoas, acontecimentos e locais que
existam ou que tenham verdadeiramente existido em algum período da
história foram usados para ambientar o enredo. Qualquer semelhança com a
realidade terá sido mera coincidência.
Sumário
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Sinopse
Christopher é um CEO viúvo que se esforça ao máximo para dar
tudo para a sua filha, Lily. Sua mãe, Abigail, ajuda, mas ele sente que ela
não é o suficiente para que a menina tenha uma figura materna. Ele sente
falta da sua esposa, e se concentra no trabalho para tentar evitar que
aconteça com outras pessoas o que aconteceu com ela.
Victoria é uma jovem batalhadora que trabalha em uma confeitaria
tradicional, porém, a dona do lugar não deixa que ela implante suas ideias
para ajudar nas vendas, o que está fazendo com que o lugar tão
aconchegante e acolhedor fique cada vez mais vazio.
Uma coincidência do destino vai apresentar esses opostos.
Uma noite quente pode trazer consequências.
O que o destino reserva?
Prólogo
7 anos antes
Ando de um lado para o outro na sala de espera, já levei algumas
broncas da minha mãe porque não paro quieto, mas não consigo ficar
sentado enquanto a minha mulher e a minha filha estão na emergência.
Há anos que desejamos tem um bebê, mas cada gestação era uma
dor que sentíamos ao ver a pequena vida se esvair e nos deixar. Pensei que
não era para ser até a Emma engravidar da Lily, e com uma nova tecnologia
médica foi possível acompanhar a gestação a ponto de segurar a criança
com vida e saudável até uma idade gestacional considerada segura.
Infelizmente, o corpo da minha esposa não aguentou mais e resolveu que
era hora de expulsar o bebê, antes das 38 ou 39 semanas recomendadas. Eu
conto essa porra em meses e a minha esposa está no oitavo mês de
gestação.
Ela começou a sentir muita dor durante o dia, pensou que fossem
contrações de Braxton Hicks e não me avisou até que não aguentasse mais e
começasse a sangrar. Dirigi feito um louco pela cidade inteira e a busquei
para trazê-la ao Hospital Central de Riverside Glade. Emma foi levada para
a emergência assim que chegamos, e eu fui impedido de ficar com ela até
que garantissem que estava tudo bem e ela e a nossa filha em segurança.
― Filho, se acalme. ― Minha mãe se levanta e me abraça, me
impedindo de continuar a andar de um lado a outro. ― Elas vão ficar bem.
― Deus te ouça, mãe. ― Respiro fundo, retribuindo o abraço e
ficamos assim até que escuto a porta da sala de espera ser aberta.
A expressão do homem com roupa cirúrgica não é boa e o meu
coração se aperta.
― Família de Emma Brown. ― Eu me separo da minha mãe para
andar até o médico.
― Sou marido dela ― respondo, ofegante.
― Sua esposa chegou a comentar sobre um coágulo de sangue
localizado na sua perna, causando inchaços caso ficasse muito tempo em
pé? ― Franzo a testa sem entender sobre o que ele está falando.
― Não, ela sempre me disse que os inchaços eram normais por
causa da retenção de líquidos durante a gravidez, por isso tinha que ficar
muito tempo com as pernas para o alto.
― Bom, isso explica por que não foi tratado a tempo. ― Aproximo-
me mais, não suportando esse mistério.
― O que ela tem, doutor? Ela vai ficar bem? E a minha filha, como
está? ― Faço muitas perguntas juntas, sem esperar uma resposta e temendo
por ela também.
― Sua esposa sofreu uma hemorragia em casa, estourando a bolsa e
complicando o parto, além disso uma eclâmpsia durante a cesárea de
emergência fez com que quase perdêssemos as duas. Conseguimos tirar a
criança, que está bem e sendo cuidada pelo pediatra que acompanhou a
cirurgia, deve ir para a incubadora em breve. ― Respiro aliviado, abraço a
minha mãe comemorando o nascimento da minha filha.
― Eu sou pai, mãe! ― Ela sorri entre as lágrimas de emoção.
― Eu sei, meu filho, eu sei.
― E a minha esposa, quando posso vê-la? ― Seu olha abaixa, sua
expressão fica mais pesada e sinto o meu coração se apertar novamente.
― Ela teve uma grande hemorragia depois que salvamos a criança,
tentamos de tudo, mas pelo que percebi, um coágulo se deslocou para os
pulmões e causou embolia pulmonar nos impedindo de salvá-la. Garanto
que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para salvar as duas, mas a
sua esposa, infelizmente, não resistiu.
Sinto como se o mundo desabasse sobre a minha cabeça, um
momento que era para ser de grande felicidade, manchado por uma perda
que arranca um pedaço do meu coração. É como se a minha alma fosse
estilhaçada em mil pedaços, lembro-me dos nossos momentos juntos,
nossas brigas quando éramos adolescentes, nosso primeiro beijo, nossos
encontros durante a faculdade e o nosso casamento. Recordo-me
perfeitamente de como me senti naquele momento e hoje sinto o oposto.
Lágrimas caem abundantes pelo meu rosto enquanto o meu corpo
desaba no chão, desolado por perder a mulher da minha vida. Minha mãe se
ajoelha ao meu lado, sentindo a perda tanto quanto eu, me consolando
enquanto seus olhos transbordam de tristeza.
― Eu a perdi, mãe ― digo entre as lágrimas e a minha mãe não me
responde, só me abraça mais forte.
― Você precisa ser forte pela Lily, meu filho, ela precisa muito de
você.
Penso na minha filha, com medo de não ser um bom pai para ela.
Sei que tenho que me recompor e me preocupar em como cuidar de uma
recém-nascida, mas as preocupações com um funeral da minha esposa
sugam toda a minha energia.
Algumas horas depois da pior notícia da minha vida, sou autorizado
a ver a minha filha.
― Ela nasceu prematura, mas por sorte está bem forte, mesmo
inspirando cuidados. ― Ouço a enfermeira fazendo o seu comentário, como
se estivesse muito distante.
Ela me instrui a colocar as mãos nas aberturas da incubadora para
poder tocar a minha filha, para que ela sinta a minha presença.
― Nos deixe sozinhos, por favor. ― Sabendo da minha dor, ela
apenas acena concordando e se retira. ― Filha, minha Lily, eu juro que
nunca vou deixar que te falte nada, muito menos amor. Você é a minha vida
e vou fazer de tudo para que seja feliz. Você tem a minha palavra, te
prometo que nunca vai faltar atenção e carinho na sua vida.
Vejo sua cabeça se mexer conforme passo o dedo no seu rosto, ela
se inclina na direção da minha mão e, apesar da tristeza, consegue me
arrancar um sorriso por sentir o meu coração se expandindo com o tamanho
do amor que sinto por esse ser tão pequenino.
Depois de alguns minutos preciso sair, com o coração apertado por
me afastar da minha filha, mas tenho um funeral para organizar. Visto, pela
primeira vez, uma máscara dura secando as lágrimas e me preparando para
o que vem pela frente.
Vou enterrar minha esposa, o amor da minha vida, e o meu coração
junto.
Capítulo 1
Levanto-me da cama sentindo a minha cabeça latejar, novamente
acordo com dor de cabeça. Tomo uma aspirina para ajudar a melhorar, faço
um café forte e coloco em uma caneca para absorver a minha dose diária de
cafeína. Troco o meu pijama rosa por um vestido godê florido, coloco
sapatilhas confortáveis e pego a minha bolsa onde fica o meu avental, que é
a única coisa parecida com um uniforme que eu tenho.
Vou a pé para a loja onde trabalho por ser perto de onde eu moro, a
dona da loja, Dona Sarah me conhece desde pequena e aceitou me dar o
emprego assim que terminei a escola. Meus pais reclamaram por eu não
querer fazer a faculdade que eles queriam, mas eu sempre soube a minha
vocação e não aceitei a imposição deles de que, para que eu continuasse
com o dinheiro da família e vivendo confortavelmente teria que cursar
direito. Só de pensar naqueles livros enormes com leis e normas tediosas já
me dava um arrepio de horror.
Gosto de confeitar, fazer bolos e doces deliciosos e lindos de se ver,
sempre tive criatividade para fazer desenhos lindos nos bolos que a minha
mãe fazia para os meus aniversários e aperfeiçoei esse dom com alguns
cursos. Agora, com 20 anos e trabalhando em uma confeitaria, a vontade de
ter a minha própria empresa ganhou vida dentro de mim e me inscrevi para
cursar administração, afinal, precisava saber como administrar o meu
negócio.
Entro na loja aconchegante, respirando fundo para sentir o aroma
delicioso que sempre tem aqui. A dona gosta que as pessoas se sintam
confortáveis na loja, por isso sempre experimentamos aromas agradáveis e
que nos deixam com fome também, porque não tem como sentir cheiro de
chocolate e não querer atacar um brigadeiro. Aliás, esse foi o único doce
“diferente” que a dona Sarah permitiu que eu incluísse no cardápio e é o
que mais faz sucesso. Afinal, quem não gosta de um docinho que é puro
chocolate?
― Amiga do céu! ― Pulo com o berro da minha melhor amiga e
colega de trabalho, Charlotte.
― Bom dia pra você também ― respondo irônica.
― Que bom dia que nada, acabei de jogar um dos melhores bolos
que já fiz na vida no lixo porque a dona Sarah não aceita a modernidade. ―
Franzo o cenho, confusa e curiosa porque da minha amiga eu espero
qualquer coisa.
― O que você fez com o bolo para ela te obrigar a jogar fora? ―
Ela abre um sorriso travesso e sei que aprontou das suas.
― Temos aquela encomenda para uma despedida de solteira.
― Ai, meu Deus! ― Seu sorriso se expande.
― Então, achei que seria divertido, e as amigas da noiva
concordaram comigo porque as consultei antes de fazer a mudança, se o
bolo tivesse um formato diferente. ― Coloco as mãos nos olhos,
adivinhando o que ela fez. ― Modelei o bolo no formato de um grande,
grosso e roliço pau, rosado e com uma cabeça de dar água na boca. Até
coloquei umas veias de detalhe com glacê, mas assim que a dona Sarah
entrou e me viu finalizando a minha obra de arte começou a gritar, passar
mal, me mandou jogar fora e fazer um bolo decente.
Aperto os lábios juntos, pensando em algo bem chato para não rir,
mas não consigo segurar quando vejo a expressão da minha amiga. Rimos
juntas, eu imaginando a cara da dona Sarah quando viu o pau enorme que a
minha amiga fez e o ultrage por algo tão indecente na sua confeitaria
tradicional. Por isso que quero o meu negócio.
― Podemos abrir nossa própria loja, o que acha? ― pergunto para a
minha amiga, sem pensar muito. Nem a faculdade eu comecei, como posso
dar conta de estudar e administrar um negócio sem falir?
― Não sei se está lembrada, querida, mas nenhuma de nós duas tem
dinheiro.
Sei que os meus pais queriam que eu fosse advogada, mas não deixo
de ter direito ao dinheiro da família e se eu disser que quero abrir a minha
empresa e cursar administração, acho que os meus pais podem aceitar me
ajudar.
― Acho que consigo resolver isso.
― Ah, ainda bem que chegou, querida. Essa sua amiga maluca
quase desmoraliza a minha linda confeitaria. ― Esforço-me para não
revirar os olhos ao ouvir a voz da dona Sarah.
Ela é uma viúva simpática, na maior parte do tempo, mas com
opiniões arcaicas e antigas sobre muitos assuntos. Ela acha que bolos tem
que ser só aqueles tradicionais, redondos, retangulares ou quadrados, com
decorações clássicas e sem muita cor ou invenções divertidas. Infelizmente,
estamos vendo as vendas caírem cada vez mais porque as pessoas estão
buscando por coisas diferentes, como por exemplo um bolo no formato de
uma bolsa da Gucci.
Imagina só cortar um pedaço de uma bolsa linda e comer de se
deliciar? Então, é o que estão procurando, ainda mais com o sucesso de
alguns programas de televisão que mostram bolos mirabolantes com formas
e tamanhos incríveis. Tem bolo que é do tamanho de uma maquete e que se
mexe!
É esse nível de bolo que eu quero fazer, além dos tradicionais que
também vendem. Quanto maior a versatilidade do lugar, mais clientes
podem ser atraídos e é por isso que quero a minha loja. Estou ficando
repetitiva, parei!
― Vamos, preciso desse bolo pronto até o final do dia. ― Sigo a
dona Sarah até o nosso ateliê, ela se vira para nós, porque a Charlotte veio
junto, com expressão fechada, mas respira fundo. ― Quero um bolo desse
jeito, sem nenhuma modificação, estamos entendidas? ― Ela mostra o
desenho de um bolo que combina mais com um aniversário de 15 anos do
que com uma despedida de solteira.
― Sim, senhora ― respondo, porque mesmo não concordando com
ela, a loja não é minha e preciso obedecer às ordens.
Pegamos algumas massas que deixamos prontas na noite anterior
para decorarmos. Começo pela base, redonda, que coloco no suporte e vou
girando enquanto espalho o recheio em 2 camadas,
massa/recheio/massa/recheio/massa para ficar bem alto. Depois passo a
cobertura e espalho com a espátula.
Fazemos isso com os 3 andares de bolo, depois de montado
decoramos com copos de leite feitos de açúcar e flores de glacê, deixando-o
clássico, simples, mas muito bonito. Colocamos o bolo pronto na geladeira
que temos para bolos desse tamanho, porque o glacê precisa ficar bem firme
para não escorrer e desmontar.
Chegado o momento da entrega, a minha amiga me cutuca.
― Eu não vou deixar que as clientes saiam daqui só com esse bolo
brega.
― O que vai fazer? ― Seu sorriso me anima e me assusta.
― Me dê cobertura e eu te mostro quando ficar pronto.
― Charlotte, a dona Sarah ainda vai te mandar embora por causa
dessas coisas. ― Ela encolhe os ombros.
― Ela devia me agradecer por me esforçar para salvar a loja da
falência.
Vou para a porta entre o ateliê e o balcão, para ter visão de todos que
entram e saber se a dona da loja está vindo, tento espiar o que a minha
amiga está fazendo, mas não tenho sucesso. Eu a vejo fazer uma dancinha
da vitória quando termina, coloca em uma caixa de bolo, para aqueles de
um só andar e retangulares, meu coração chega a acelerar de imaginar o que
tem ali dentro.
― Vicky, vem aqui ― ela me chama e, depois de uma última olhada
na loja, me aproximo da caixa ainda sem a tampa e cubo a boca com as
duas mãos.
― Meu Deus ― digo ainda com as mãos abafando a minha fala.
A doida fez outro bolo de pinto e posso dizer que está com uma cara
ótima, se é que me entende.
― Ficou ótimo, eu sei. ― Sorrimos e ela coloca a tampa,
protegendo a sua obra prima da vista da dona da loja. ― Vou colocar uns
doces em outra caixa para disfarçar. ― Faz o que diz e temos 3 caixas
prontas.
Um bolo de 3 andares, um bolo de pinto e um monte de docinhos.
― Você é maluca.
― E você me ama. ― Mostra a língua para mim e rimos juntas.
Capítulo 2
Esse projeto em que estou trabalhando está me causando mais dor
de cabeça do que o normal, essa inteligência artificial tem que ser capaz de
prever que algo como o que ocorreu com a minha esposa tem grandes
chances de acontecer com a paciente, e dar ao médico um tempo maior na
tomada de decisão para aumentar as chances de salvar sua vida.
Desde que abri a HealthWise AI, o objetivo é ajudar aos médicos a
chegarem em um diagnóstico mais assertivo em menos tempo. Esse projeto,
em específico, é o meu projeto de vida. Minha forma de honrar a memória
da Emma.
Olho para o calendário e, depois, para o relógio, sentindo um aperto
no peito ao lembrar o significado da data que se aproxima. Desisto de tentar
me concentrar e vou para casa, mas antes passo em uma confeitaria pequena
que tem aqui perto, para comprar um doce para a Lily.
Sempre que tira nota boa na escola é recompensada de alguma
forma, e ela me pediu para levar um doce de chocolate no dia que saísse o
seu boletim. Minha mãe me mandou uma foto hoje, me deixando muito
orgulhoso da minha menina.
Entro na loja e fico analisando os doces, não paro para reparar em
mais nada até ouvir duas vozes femininas próximas e levantar a cabeça para
ver quem são.
― Boa noite, senhoritas ― cumprimento chamando a atenção delas.
― Boa noite, senhor, o que deseja? ― pergunta uma das moças
enquanto a outra parece se esconder atrás dela.
Faço o meu pedido sem deixar de reparar na mulher tímida que
arruma os doces junto com a colega em uma caixinha, pegando um pequeno
bolo decorado com um parabéns e colocando-o em outra caixinha pequena.
Os cabelos loiros descendo em ondas pelos seus ombros, olhos azuis
expressivos e lábios carnudos de aparência saborosa. Sinto-me cativado
pelos seus movimentos precisos, pelo cuidado com os docinhos e o sorriso
que se abre quando sua amiga fala algo no seu ouvido. O quê?! Balanço a
cabeça para tirar esses pensamentos da mente e agradeço quando me
entregam as caixas.
― Esse não é meu ― digo tentando devolver o bolo pequeno.
― É um cupcake e é brinde ― diz a loira me dando um sorriso
doce.
Agradeço, pagando pelos doces que pedi e fazendo questão de dar
uma boa gorjeta para elas, saio da pequena confeitaria com um sorriso
discreto no rosto e pensando que a Lily vai gostar ainda mais do prêmio que
estou levando para ela.
Chego em casa na hora do jantar, cumprimento a minha mãe e aviso
que vou tomar um banho antes de descer para jantar junto com a minha
filha. Tomo uma ducha rápida para aliviar o estresse do dia e saio do meu
quarto direto para o dela, vestindo uma calça de moletom e uma camiseta.
Encontro a minha pequena estudando e sorrio.
― Não vai jantar, pequena traça? ― pergunto, a chamando pelo
apelido que lhe dei, quando começou a pegar gosto pela leitura. Ela tem ao
menos 15 edições diferentes de O Pequeno Príncipe, e leu todas algumas
vezes.
― Sim, papai, só estou terminando meu dever de matemática. ― A
garota nem se digna a me olhar e percebo que tem algo de errado.
― Depois do jantar eu te ajudo a terminar o dever, vamos que a sua
avó está esperando. ― O suspiro desanimado é outro sinal de que tem
alguma coisa a incomodando. ― O que está acontecendo, pequena?
― Chegou tarde de novo ― reclama, finalmente me olhando nos
olhos, mas a sua expressão desanimada corta o meu coração.
― Eu tive um problema no trabalho.
― Todos os dias. ― Ela não me deixa responder, larga seu dever na
sua escrivaninha e sai do quarto sem me esperar.
Dou um suspiro cansado, me sentindo mal por não dar a devida
atenção ao meu bem mais precioso. Desço para a sala de jantar e recebo um
olhar reprovador da minha mãe.
― Você prometeu que tentaria chegar mais cedo, nem que trouxesse
trabalho para casa ― me lembra.
― Eu não consegui sair da reunião ― minto, me sentindo ainda
mais culpado.
Como poderia dizer para a minha filha que a proximidade com o seu
aniversário de 7 anos me deixa triste?
Recebo apenas mais um olhar bravo da minha mãe e o silêncio da
minha filha, sinto que não estou cumprindo com a minha promessa.
Infelizmente, tem algumas feridas que não consegui cicatrizar ainda. Sei
que a minha filha não tem culpa disso, mas não estou pronto para me
comportar de uma forma diferente, porque ainda dói demais.
― Não se esqueça de que no sábado é o aniversário da Lily, ela está
muito animada porque os colegas da escola dela virão para cá comemorar.
― Paro de comer para encarar o rosto sério da minha mãe.
― Não me esqueci, mãe.
― Esteja aqui. ― Sei o motivo para insistir.
Além de exigir a minha presença, o que é totalmente justificável,
mas além disso sei que quer me apresentar outras mulheres, provavelmente
mães dos colegas de classe da minha filha e eu não tenho o menor interesse
em me relacionar.
Já tentei por, no mínimo, 3 vezes nesses 7 anos ter um
relacionamento, mas muitos problemas me fizeram desistir. Primeiro, as
mulheres querendo exclusividade da minha atenção, mas o meu trabalho e a
minha filha exigem a minha atenção também e algumas dessas não aceitam
essa divisão. Outro motivo para desistir foram aquelas que tentaram de
todas as formas menosprezar a minha falecida esposa, e isso eu não admito
de forma alguma.
O último e principal foi a minha última namorada tentar tudo para
tirar a minha filha do caminho, insistindo por meses para colocar a menina
em um colégio interno do outro lado do oceano e o mais longe possível de
mim.
― Espero que só as crianças tenham sido convidadas, afinal, é uma
festa infantil ― digo jogando para o alto.
― Como quiser, filho ― responde revirando os olhos.
Depois que terminamos o jantar, me levanto para buscar os doces
para dar para a Lily.
― Filha, como tirou notas ótimas, merece um prêmio melhor.
Pego as duas caixinhas, com os brigadeiros e o cupcake, e o meu
coração se aquece ao ver seus olhos brilhando.
― Oba! ― Sorrio ao ver sua comemoração e entrego as caixinhas
para ela.
Ela ataca o cupcake, fazendo murmúrios de aprovação e nos estende
a caixinha com os brigadeiros. Eu pego um fechando os olhos ao morder o
doce e sentir o sabor maravilhoso, e minha mãe também pega um
degustando.
― Onde comprou essa maravilha, filho? ― conto o nome e passo
para ela o endereço da pequena confeitaria. ― Vou encomendar o bolo da
Lily lá.
Capítulo 3
O dia de ontem foi um dos mais estranhos, primeiro pela
movimentação incomum na confeitaria e depois pelo engravatado
carrancudo que comprou brigadeiros, acabei dando um cupcake de brinde
para ver se adoçava aquela cara azeda dele. O lado bom é que ele nunca vai
saber disso porque duvido que volte aqui.
― Amiga, ainda bem que chegou. ― Olho para a Lottie que me
recepciona afobada assim que entro na confeitaria.
― O que aconteceu?
― A dona Sarah enlouqueceu! ― Franzo a testa pela cena similar
ao dia do bolo de pau.
― O que você fez agora?
― Nada, o bolo era tradicional do jeito que ela gosta e a doida
insistiu em carregar sozinha até o balcão para a cliente pegar. ― Coloco as
mãos no rosto.
― Ela derrubou?
― Se fosse só isso estava bom, ela tropeçou em alguma coisa e o
bolo caiu em cima da cliente, juro que tinha glacê em lugares que ninguém
pode imaginar ― gemo desanimada pelo marketing negativo que esse tipo
de situação pode causar em um negócio que já não está indo muito bem.
― A cliente reclamou? ― Minha amiga revira os olhos.
― Ela berrou com a dona Sarah e exigiu o dinheiro de volta. ―
Fico encarando a Lottie, imaginando o valor do prejuízo.
― Como era esse bolo?
― Um de 5 andares cheio de frescura. ― Eu me lembro do pedido e
do valor.
Pelo peso, pelos detalhes e o trabalho de fazer um bolo desse, o
valor fica em $1.000,00 aproximadamente. Isso significa que, além de
perdermos todos os ingredientes que foram usados para fazer esse bolo
enorme, ainda tivemos o prejuízo de devolver tudo para a cliente. Isso
resulta em quase o dobro de prejuízo, porque me lembro que pela
encomenda ser para uma conhecida, a dona Sarah ainda quis fazer um
desconto excluindo totalmente o custo e o tempo que um bolo desse
tamanho gera.
― Essa loja não aguenta muito mais tempo aberta desse jeito ―
minha amiga concorda com a minha afirmação e seguimos juntas para
dentro do ateliê, onde guardo a minha bolsa e coloco o avental, voltando
para o salão para ficar no balcão já que não temos encomendas para fazer
hoje.
Pouco depois do almoço entra uma senhora com uma garotinha.
― Boa tarde, gostaria de encomendar um bolo para essa princesa.
― A menina sorri para a senhora.
― E como quer o seu bolo? ― Debruço-me no balcão dando total
atenção para a menina.
― Quero um bolo rosa, com o tema da Barbie e com alguns livros
nele. ― Eu me forço a não entortar o nariz, imaginando a expressão que a
dona Sarah vai fazer por ter um bolo rosa- choque no ateliê, mas a cliente é
quem escolhe e ela não está em posição de rejeitar pedidos.
Dou a volta no balcão, indicando uma mesa para se sentarem, para
poder entender exatamente como seria esse bolo.
A garota explica que ama o livro O Pequeno Príncipe, também ama
a boneca Barbie e gostaria de uma mistura do melhor dos dois mundos. A
minha mente fervilha com ideias, pego papel e caneta e desenho um
rascunho de como ficaria um bolo do jeito que ela me descreveu.
Pensei em fazer uma meia-esfera, para representar um planeta,
decorar como se fosse o planeta Terra e usar somente a parte superior de
uma boneca, utilizando as roupas de pasta americana e a calça totalmente
comestível com uma bandeira com o B de Barbie fincada nesse meio globo.
Os olhos da menina brilham e tenho outra ideia.
― Qual é o seu nome?
― Lily. ― Sorrio, alterando na bandeira para colocar o L do seu
nome em vez do da boneca, acrescentando alguns detalhes e a vendo abrir
um sorriso enorme a cada detalhe acrescentado.
— Gosta assim? — pergunta a senhora.
— Vai ficar incrível, vó! — Sorrio vendo a interação das duas, é
nítido o amor que sentem uma pela outra.
— Então é esse bolo que terá — decreto vendo a comemoração
infantil.
Acerto com a avó o pagamento antecipado de metade do valor,
combinando que venha buscar no sábado, dia da festa.
— Se tiver algum imprevisto, é só avisar antes que providenciamos
a entrega. — A senhora sorri, pagando metade do valor e deixando o seu
nome e telefone para contato.
Agradeço pela preferência e me despeço das duas, suspirando feliz
por fazer algo diferente.
Aproveito que a loja está vazia e vou verificar o estoque, estou com
a mão no rosto calculando se temos pasta americana suficiente quando sinto
um cutucão na minha costela, dou um pulo assustado quase trombando com
a prateleira e derrubando o que tem nela.
— Caramba! — reclamo me virando para ver quem me assustou. —
Mas que saco, Brian! Quase me fez derrubar tudo. Sua avó me mata se tiver
mais prejuízo.
Brian simplesmente sorri, como se esse prejuízo que quase causou
não fosse me fazer perder o emprego antes do esperado.
— Ela não demitiria a melhor funcionária que tem — diz se
aproximando, mas passo por baixo do seu braço que estava apoiado na
porta e volto para o ateliê terminando de conferir se temos tudo o que vou
precisar para o bolo.
— Eu ouvi isso, seu tapado! — Lottie dá um tapa na nuca dele, que
tem a expressão fechada imediatamente.
— Se eu contar que me agrediu, a minha avó te demite de uma vez.
— Minha amiga cerra os olhos se aproximando dele até ter seus narizes
quase grudados.
— Se ela me demitir não aguenta com essa loja aberta nem uma
semana.
Acompanho o embate dos dois pensando se vale a pena me
intrometer, conheço os dois desde sempre, mas sempre senti que Brian foi
muito mimado por ser criado pela avó. Muito nutella.
Ele sempre teve tudo muito fácil, e sempre ficou irritado quando
contrariado. Por mais que eu gostasse dele, isso me incomodava muito.
Resolvido o atrito desses dois, converso um pouco com o Brian, que
me conta como é na faculdade e o que faz aqui em pleno período letivo. Ele
cursa administração, como eu, mas é para assumir a confeitaria quando a
dona Sarah se aposentar.
Ele acha besteira essa coisa de vender doces, e tenho certeza de que
não vai manter a confeitaria aberta por muito tempo, infelizmente não tenho
poder de decisão algum referente a isso.
― Você sabe que ele é apaixonado por você desde criança, certo? ―
pergunta a Charlotte assim que o Brian sai do ateliê e vai para o escritório
da avó.
― Não, sempre fomos amigos e você sabe muito bem disso. ― Ela
revira os olhos.
― Só você não percebeu que se der qualquer sinal de que
corresponde àquele tapado, ele vem feito um cachorrinho atrás de você.
― Não seja ridícula, nos conhecemos desde crianças.
― Isso não muda o fato de que ele tem um barranco por você desde
que te conheceu, todo mundo sabe disso. ― Eu a encaro, confusa.
― Nem pensar, ele sabe que não tem a menor chance de me
envolver com ele.
― Mesmo assim não deixa de dar em cima de você cada vez que te
vê. ― Bufo irritada.
― Ele vai desistir. ― Encolho os ombros e volto a fazer o meu
trabalho.
O restante da semana passa correndo e eu quase enlouqueço na
véspera da festa, porque as massas que deixei prontas sumiram e agora
tenho que fazer outras. O lado bom é que o bolo vai ficar mais fresco, o
ruim é que tenho que esperar esfriar para modelar e isso leva tempo.
Irrita-me a dona Sarah entrando no ateliê de tempos em tempos para
perguntar de outras encomendas e bufar cada vez que me vê trabalhando
nesta. Calma, logo terá sua própria confeitaria.
Com as massas na temperatura adequada, corto-as ao meio e monto
as camadas: bolo, recheio, bolo, recheio, bolo. Deixo alto o suficiente para
conseguir modelar, vou cortando para deixar no formato de uma meia-
esfera e passo uma camada fina de cobertura deixando gelar enquanto
trabalho na pasta americana.
Depois de horas trabalhando nesse bolo, incentivada pela animação
que vi no rosto daquela menina, termino de criar uma Barbie dentro de um
cenário do Pequeno príncipe, me afasto admirando a minha obra e ouço um
assobio atrás de mim. Viro-me encontrando a minha amiga olhando para o
bolo com um enorme sorriso no rosto.
— Nossa, Vicky, você se superou! — elogia.
— Obrigada, só quero ver outro sorriso no rosto daquela menina.
— Sempre querendo agradar aos clientes — brinca.
— É assim que fidelizamos, com bom atendimento, trabalho de
qualidade e cumprimento de prazos.
— Falou como uma empresária. — Sorrio em resposta, porque ela
sabe do meu sonho.
— Vou colocar esse bolo na geladeira para não derreter nada. —
Guardo o bolo no refrigerador e me preparo para ir embora, quando o
telefone da loja toca e, vendo que a dona Sarah não pretende atender, eu o
tiro do gancho. — Alô — atendo.
— É da Bakery Blisstique? — Eu me chuto mentalmente por não ter
atendido da forma correta.
— Sim, o que deseja? — respondo.
— Encomendei um bolo para o aniversário da minha neta e não vou
conseguir buscar, vocês podem me entregar? O pedido está no nome de
Abigail.
— Claro, senhora. A que horas deseja a entrega?
Combinamos um horário e ela insiste em pagar a taxa de entrega,
nós nos despedimos e eu, finalmente vou para casa.
Capítulo 4
O dia passa rápido, muito mais do que eu gostaria, o meu celular
toca constantemente e eu faço questão de ignorar, quando termino as
minhas tarefas na empresa desligo a minha máquina e vou para casa.
Olho para o celular conferindo que a minha mãe não para de me
ligar, mas ainda assim não atendo, tenho que passar em um lugar antes de ir
para casa. Chego no cemitério onde a minha esposa está enterrada e me
abaixo próximo da sua lápide.
― Emma, meu amor, por que não consigo seguir a minha vida? ―
Olho para a lápide como se pudesse me responder. ― O que eu fiz de tão
ruim para que me deixasse desse jeito? Foi por causa do meu trabalho? ―
A primeira lágrima é seguida por outra em um pranto que não consigo
controlar, não na frente dela.
Tenho muitas perguntas que continuarão sem resposta, mas voltarei
outro dia para trocar as flores que estão murchas. Levanto-me e volto para o
carro seguindo para casa, abro a porta e vou direto para o jardim onde está
acontecendo a festa, ou estaria. Olho para o local vazio e me aproximo aos
poucos, vendo um bolo lindo e intocado no meio e uma moça que me faz
lembrar daquela da confeitaria abraçando a minha filha. Tento não fazer
barulho.
― Não fica triste, meu bem, ele deve ter ficado enrolado com o
trabalho, você disse que ele faz coisas importantes para salvar vidas. Então
é importante o trabalho dele e, por isso, se atrasou ― diz, consolando a
minha filha pela minha ausência.
― Não era para ter uma festa acontecendo? ― pergunto anunciando
a minha presença, sorrindo envergonhado.
― Dispensei todo mundo, não tinha sentido continuar
comemorando sem meu pai aqui. ― Lily encolhe os ombros e me olha
séria. ― Vicky, pode cortar um pedaço do meu bolo pra mim? ― pede para
a moça que acena com um sorriso doce.
O pedaço é cortado e entregue para a pequena, me abaixo para ficar
na sua altura, esperando que me estenda o pratinho, mas em vez disso ela
esfrega o bolo no meu rosto, assustando a moça, e em seguida sai correndo.
― Droga ― reclamo, mesmo lambendo um pouco do recheio do
bolo que está no meu rosto. Muito gostoso, por sinal.
― Uma pena ver um bolo tão lindo desperdiçado ― comenta a tal
de Vicky.
― O que faz aqui?
― Vim entregar o bolo, a avó daquela garotinha me convidou para
ficar porque a menina estava triste e eu não consegui negar. ― Ela se
aproxima com os olhos cerrados. ― Está perdendo uma fase incrível da
vida da sua filha, ela ficou tão chateada que mandou todos os amiguinhos
embora e encerrou a festa cedo, ficou chorando metade da tarde por se
sentir rejeitada pelo pai. ― Sinto-me mal pelas suas palavras, mas o dedo
cutucando o meu peito me irrita. ― Seja qual for o seu problema, resolva e
pare de magoar essa menina!
― Quem você pensa que é para me dar lição de moral?
― Alguém que entende bem o significado da palavra rejeição. ―
Ela se vira na intenção de ir embora, mas não vou deixá-la sair dessa forma,
ainda mais depois de tudo o que me disse.
Seguro seu braço, acabo a desequilibrando e ela tromba com o meu
peito, me desconcentrando com seu aroma de baunilha.
― Não tem o direito de chegar na minha casa e brigar comigo dessa
forma. ― Ela rosna irritada.
― Você não tem o direito de tocar em mim, me solta, seu ogro!
Irritado pela sua intromissão e pelo seu tom de voz, aproximo mais
o meu corpo do seu, meu rosto está tão perto que nossos narizes quase se
encostam.
― Você precisa aprender a não se meter no que não é da sua conta.
― E você precisa aprender a administrar o seu tempo!
Ambos estamos ofegantes, olhos nos olhos, desvio o olhar para os
seus lábios, sinto uma imensa curiosidade para saber se o seu gosto é tão
bom quanto o cheiro, mas essa distração faz com que eu afrouxe o aperto e
ela me empurra, acertando a palma no meu rosto causando um ardor no
local atingido.
― Por que fez isso, sua doida? ― Coloco a mão no local, sem
acreditar no atrevimento dessa desconhecida.
― Seu ogro tarado! ― xinga antes de sair correndo, tão ofegante
quanto eu.
― Mas que porra! ― reclamo.
Entro em casa pisando duro e dou de cara com a senhora Abigail,
mais conhecida como minha mãe, de braços cruzados e uma expressão de
poucos amigos que me lembra muito de quando eu era criança.
― Não foi assim que eu te eduquei, Christopher, você vai agora se
desculpar com a sua filha e amanhã vai se desculpar com a moça da
confeitaria!
― Mãe, ela não tinha que se meter na minha vida ― argumento,
mas é em vão.
― Você está errado, sabia da festa da sua filha e, mesmo assim, fez
questão de não comparecer. Aquela moça tentou alegrar a sua filha o dia
inteiro, você devia agradecê-la. ― Minha mãe aponta o dedo no meu rosto
e me encolho. ― Você vai amanhã se desculpar com a moça nem que eu
tenha que te levar pelas orelhas.
― Eu sou maior do que a senhora, mãe. ― Eu poderia ter ficado
calado, mas tinha que abrir a boca para falar merda.
Chega a ser engraçado uma senhora baixinha botar medo em um
marmanjo feito eu, mas tenho medo mesmo. A minha mãe pode ser menor,
mas puxa uma orelha e arremessa um chinelo como ninguém. Minha
orelha, vermelha nesse momento, está de prova.
― Vá agora pedir perdão para a sua filha.
Como um cachorro, coloco o rabo entre as pernas e subo a escada
até o quarto da minha filha, bato na porta, mas não tenho resposta, então
giro a maçaneta e a encontro deitada de bruços na cama, com a cabeça
embaixo do travesseiro. Igualzinha a mãe.
― Filha ― digo, mas paro quando a pequena se vira de costas para
mim. ― Me perdoa.
Aproximo-me da sua cama e me sento na beirada, perto do seu
corpinho.
― Você me deixou sozinha de novo, eu falei para todos os meus
amigos que o meu pai estaria no meu aniversário e agora sou a mentirosa da
turma.
― Eu não fiz por mal, pequena traça. ― O meu coração se aperta e
a culpa me atinge em cheio.
“Você tem a minha palavra, te prometo que nunca vai faltar atenção
e carinho na sua vida.”
Eu estou quebrando a minha promessa, não estou dando atenção e
nem carinho para a minha filha e isso despedaça ainda mais o meu coração.
A primeira lágrima cai pelo meu rosto, e decido abrir o meu coração com a
minha filha.
― Sabe, o dia em que você nasceu foi o melhor da minha vida, mas
no mesmo dia nós perdemos a sua mãe e isso ainda dói no meu peito. ―
Minha voz embarga e a Lily se vira para olhar nos meus olhos.
― Sinto falta da mamãe todos os dias, mesmo nunca tendo
conhecido ela. Acho que o senhor não ficaria tanto tempo no trabalho se ela
estivesse aqui. ― Porra!
― Me perdoa, pequena, eu quero ser um bom pai, mas não sei como
fazer isso sem a sua mãe. ― A pequenina inclina a cabeça para o lado e me
olha com atenção.
― Talvez, apenas talvez, se não sair tão tarde do trabalho e passar as
suas folgas comigo, eu possa te perdoar. ― Puxo a minha filha para o meu
colo e a abraço forte.
― Eu não te mereço, pequena, e não sei o que faria sem você.
― Eu sei, papai, só promete nunca mais quebrar uma promessa. ―
Beijo seu rosto, inspiro seu cheiro.
― Eu prometo o que você quiser, desde que me perdoe.
Ela se afasta e estica a mão, para selar um trato.
― Trato feito! ― exclama e me abraça forte. ― Desculpa pelo bolo
na sua cara.
― Eu mereci. ― Dou risada. ― Que tal descer e saborear aquele
bolo como se deve?
Ver o sorriso da minha filha direcionado para mim novamente é
como um sopro de ar fresco em um dia de calor escaldante, e não pretendo
desperdiçar essa oportunidade que ela está me dando.
Descemos e pegamos o bolo, levando-o para a cozinha, cortamos
um pedaço e dividimos.
― Nossa, filha, está delicioso ― elogio e ela me encara.
― Foi a moça que você expulsou que fez. ― Franzo a testa, sem
entender como ela sabe que a expulsei, ou que brigamos.
― Como sabe disso? ― É engraçado ver a minha filha revirando os
olhos.
― Fiquei escondida escutando a conversa de vocês, não sei direito o
que fez para ela sair furiosa daquele jeito, mas não repita porque quero que
ela seja minha amiga.
― Quer que ela te faça doces, é isso? ― A pequena interesseira
sorri travessa.
― Não só isso, papai, mas ela é legal e entendeu o que eu queria no
meu bolo, em vez de querer fazer aqueles bolos chatos que todo mundo faz.
Ela me entendeu. ― O meu coração se aperta novamente, ao perceber que
ela sente falta de uma figura feminina mais jovem.
― Tudo bem, pequena traça, vou pedir desculpas para ela amanhã.
E agora já para o banho! ― ordeno e a minha filha sobe rindo.
Sinto-me mais leve por ter o perdão da Lily, agora falta o da
confeiteira atrevida, e eu tenho certeza de que essa sim vai me dar trabalho.
Capítulo 5
Saio da mansão daquele ogro soltando fogo pelo nariz. Isso se eu
fosse um dragão. Vou andando até um ponto de ônibus, para não ter que
gastar com carro por aplicativo de novo. Por sorte trouxe uma bolsa
pequena com o celular e as chaves de casa, não queria ter que passar na
confeitaria a essa hora.
Ouço um trovão um pouco longe, mas ignoro porque não posso ter
tanto azar assim.
― Tá de sacanagem! ― exclamo quando uma tempestade se inicia,
me encharcando imediatamente e me fazendo correr para chegar no ponto
mais rápido.
Espero por longos minutos até o ônibus aparecer, entro, pago a
passagem para passar pela catraca e me sentar perto da porta de saída.
Algum tempo depois chegamos ao meu bairro e eu desço, andando na
chuva até a minha casa, ou melhor, meu apertamento.
Destranco a porta e tranco-a novamente depois de entrar, tiro as
minhas roupas molhadas pelo caminho e vou direto para o banheiro, tomar
uma ducha bem quente e tentar não me resfriar. Deito-me na cama com o
cabelo molhado e sem me importar em colocar uma roupa, apenas apago
ignorando o fato do ogro tarado ser o cliente gostosão que atendi outro dia.
Não podia ser perfeito.
Passo o domingo em casa, na cama e descansando, tomo uma sopa e
como algumas torradas para tentar recuperar as forças. Acordo no dia
seguinte sentindo como se um trem tivesse passado por cima de mim, mas
ainda forço a me levantar da cama e me arrumar para trabalhar, me olho no
espelho e passo apenas um corretivo para tentar esconder essa minha cara
de cansada.
Chego na loja e dou de cara com Charlotte no balcão, ela apenas me
olha e não fala nada.
― Sem drama hoje? ― pergunto colocando a mão na sua testa, para
conferir se não está doente.
― Deixa de ser besta, quem parece um zumbi é você! ― exclama e
cruzo os braços.
― Alguém acordou do lado errado da cama.
― Você também acordaria se fosse ignorada pela melhor amiga
durante o domingo inteiro ― reclama e eu me aproximo deixando um beijo
no seu rosto.
― Eu estava de molho depois da chuva que tomei sábado, saindo da
mansão do ogro tarado, deixei o celular na bolsa e descarregou, fui me
lembrar dele ontem à noite ― explico.
― Está perdoada, mas por que o chama de ogro tarado? ― pergunta
desfazendo a carranca e abrindo um sorriso curioso.
Conto sobre o que aconteceu na festa da Lily e como ela ficou
chateada com a ausência do pai, depois a minha discussão com ele, mas
deixo de lado o quase beijo. Eu tentei esquecer, mas não teve como.
― Por que não deixou que te beijasse?
― Nós estávamos brigando e ele veio do nada para cima de mim, e
outra, eu nem conheço o cara, deve ser um doido descontrolado. ― Rimos
juntas e, pouco tempo depois, vejo a Lottie se engasgar olhando para algo
atrás de mim.
― Amiga, não olha agora, mas acho que é o cliente do outro dia.
― Não te contei? O ogro tarado e o cliente gostosão são a mesma
pessoa ― digo alto e a vejo fechar os olhos, como se eu tivesse falado
alguma besteira.
― Quem está atrás de mim? ― pergunto e ela segura nos meus
ombros, me virando de frente para o cliente gostosão. ― Merda ―
murmuro ao encarar o homem novamente.
― Bom dia, senhoritas, posso falar com você um instante? ―
Mesmo com o tom cortês, seu pedido parece uma ordem e eu fico em
dúvida se o mando ir à merda ou acato a sugestão.
― Não tem muito cliente hoje mesmo ― digo encolhendo os
ombros. ― Se a dona Sarah perguntar, fala que estou tirando a minha
pausa.
Sei que eu cheguei quase agora, mas preciso de uma desculpa para
conversar com ele, vai que quer se desculpar.
― Bom, eu quero me desculpar pelo outro dia, mesmo você não
tendo o direito de se meter na minha vida, mas estava lá consolando a
minha filha e eu devia levar isso em consideração. ― Cerro os olhos
tentando entender se ele está se desculpando ou me culpando pelo ocorrido.
― Me deixa ver se entendi: Está pedindo desculpas mesmo dizendo
que a culpa da nossa discussão foi minha?
― Não foi isso o que eu disse. ― Cruzo os braços e sorrio em
deboche.
― Então me esclareça, ó sábio milionário, o que quis dizer?
― Eu quero me desculpar por ter sido grosseiro e te agradecer por
fazer companhia para a minha filha quando eu não estava presente. ― O
meu deboche se desmancha com o seu pedido.
― Desculpas aceitas ― digo, tentando encerrar o assunto.
― Só tente não dar palpite onde não é chamada. ― É o quê?
― Escuta aqui, seu ogro... ― Elevo o tom de voz, chamando a
atenção de algumas pessoas, inclusive da minha querida chefe.
― Victoria! ― Ouço o seu berro e me encolho um pouco.
― Um momento ― peço em um tom mais baixo.
― Agora! ― ordena e eu dou uma última olhada para o ogro tarado
antes de me aproximar da dona Sarah. ― O que pensa que está fazendo,
menina?
― Impondo respeito? ― respondo com uma pergunta, bastante
insegura sobre o caminho que essa conversa vai tomar.
― O cliente sempre tem razão, deve ouvir e se calar, mas essa não é
a primeira vez que tenho problemas com você. ― Franzo a testa, sem
entender.
― Comigo? Mas eu nunca causei nenhum problema!
― Está demitida!
A sentença ecoa na minha cabeça, como se ela tivesse berrado isso
em uma caverna vazia. Não consigo reagir, não consigo fazer nada de tão
surpresa que estou por ter sido demitida.
― Sua velha antiquada, vai falir essa confeitaria com seus conceitos
antigos! ― berro, chamando a atenção de todos os clientes.
Eu tive muita paciência com a dona Sarah, mas me demitir por
causa desse ogro sem nem ouvir o meu lado, ou ouvir lado nenhum, foi a
gota d’água. Eu sei que posso conseguir um trabalho melhor. Como vou
pagar o meu aluguel agora? Pego as minhas coisas, e saio da frente da
senhora que ainda me olha como uma garota malcriada.
― Victoria. ― Ouço a voz do ogro e paro, me lembrando que ainda
não descontei nele.
― Me deixe em paz, seu ogro tarado! ― grito e volto a andar
apressada para o meu apartamento.
Estou com a cabeça fervendo de raiva pelo que aconteceu, tentando
organizar tudo o que passa na minha mente quando ouço o interfone, atendo
e descubro que o Brian está aqui, autorizo a sua entrada e espero. Já estou
na porta quando a campainha toca.
― O que você fez para a minha avó ficar irritada daquele jeito? ―
Brian entra no meu apartamento sem sequer me cumprimentar, sei que
somos amigos, mas ele sempre teve educação comigo.
― Oi, Brian, como você está? Eu estou bem depois da sua querida
avó me demitir sem ao menos me escutar, obrigada por perguntar. ― Faço
questão de ser irônica porque ninguém tem o direito de entrar no meu
apartamento sem sequer me cumprimentar, eu ainda sou a dona dessa porra.
― A minha avó estava passando mal de nervoso até agora a pouco
depois das coisas que você disse a ela.
― Ela quem pediu. ― Encolho os ombros, fazendo birra. Estou no
meu direito de estar irritada. ― A sua querida avó me demitiu sem nem me
ouvir, aquele homem que foi na confeitaria não foi comprar nada, ele foi me
pedir desculpas por ser grosseiro comigo e acabou sendo mais grosseiro
ainda. Mas quer saber? Eu não me importo, não preciso da sua avó para
trabalhar.
― Você não vai querer competir com ela, vai?
― Tem espaço suficiente para nós duas nessa cidade ― respondo,
sem me importar com a sua preocupação.
― Posso convencê-la a te readmitir, você se desculpa pelas ofensas
e volta a trabalhar lá.
― E ela não vai se desculpar por ter sido injusta?
― Ela pensou que você estivesse brigando com um cliente, sabe
como ela é. ― Nego com a cabeça.
― Brian, somos amigos, mas não vou passar pano para a sua avó só
pela idade dela. Ela errou sim, e me deve desculpas, não vou voltar a
trabalhar lá se ela não se desculpar também. Não acho justo só eu me
humilhar e a bonita ficar por cima.
― Olha como fala da minha avó, ela te ajudou quando você
precisou ― ele diz, sério.
― Brian, eu estou cansada, o dia foi longo demais e eu preciso
pensar nos meus próximos passos. Depois nos falamos, o que acha? ― ele
concorda com a cabeça e vai embora.
Respiro fundo buscando uma paciência que eu não tenho, e começo
a planejar os meus próximos passos.
Capítulo 6
Por que caralhos eu tinha que deixar a mulher nervosa?
A garota acabou perdendo o emprego por minha culpa. Volto para a
confeitaria para tentar falar com a dona da loja, que ainda está no balcão ao
lado de outra moça tão assustada como todos os clientes que estavam no
local, mesmo que não fossem muitos.
― Senhora, peço desculpas por essa cena ― começo, mas sou
interrompido.
― Não precisa se desculpar, rapaz, aquela garota merecia uma boa
lição quando criança, cresceu mimada e o resultado foi esse. Ela pensa que
pode sair berrando com todo mundo, mas não se preocupe que vou
providenciar para que ela não trabalhe em nenhuma confeitaria da região.
― Meus olhos se expandem em surpresa, e tento falar algo para corrigir,
mas a moça ao lado faz um sinal para acompanhá-la até o lado de fora.
― Melhor não tentar convencer a dona Sarah a recontratar a Vicky,
depois de hoje seria tortura fazer a minha amiga trabalhar com essa velha
ultrapassada. ― Sorrio do jeito que a moça fala da sua chefe. ― E se quer
mesmo ajudar a minha amiga, por que não investe no nosso negócio?
― Me deixa adivinhar, uma confeitaria? ― pergunto, sorrindo com
a audácia que essa moça tem em me pedir dinheiro.
― Sim, e não é qualquer uma, é daquelas dignas de programa de tv.
― Sei ― respondo, começando a andar na direção de onde deixei o
meu carro, mas sou impedido pela moça.
― Olha, me chamo Charlotte e a minha amiga tem o sonho de abrir
a própria confeitaria, nós temos um dinheiro guardado e ela está estudando
administração para poder gerir a empresa. ― Sem que eu impeça, a minha
mente começa a imaginar milhares de possibilidades interessantes ao
investir em um novo negócio com o potencial que ela está me apresentando.
― Não precisa nem aparecer seu nome em lugar nenhum, pode ser como
um investidor anônimo e eu falo que fui atrás de propostas até conseguir
uma, e só quis contar quando se concretizasse. No fim, ela nem vai saber
que está envolvido e a sua consciência fica limpa por ter ajudado uma
pessoa a realizar o seu sonho.
― Eu só vim aqui me desculpar, nem conheço vocês. Como vou
saber que não são golpistas ou algo do tipo?
Eu podia ignorar essa maluca e voltar para casa sem olhar para trás,
afinal, quem dá esse tipo de ideia para alguém que acabou de conhecer.
Além de não as conhecer, elas também não me conhecem e eu podia ser um
daqueles golpistas também e roubar todo o dinheiro delas.
― Olha só, a sua ideia pode até fazer sentido na sua cabeça, mas
não faz sentido nenhum para mim.
― Converse um pouco com a Vicky e vai concordar comigo, estará
investindo em uma mina de ouro.
― Acho melhor eu sair de perto, é bem capaz de colocar a mão no
negócio e falir antes mesmo de abrir, boa sorte para vocês.
Afasto-me o mais rápido possível, mas não consigo tirar essa ideia
maluca da cabeça, será que seria um bom investimento? Balanço a cabeça
para afastar isso da mente e seguir para o meu trabalho, tenho muito o que
fazer e o dia só está começando. Chego até a empresa, onde me distraio
entre diversas reuniões sobre a nova inteligência artificial, o trabalho da
minha vida.
— Com licença, Sr. Brown. — Levanto o olhar dos códigos na tela
para ver a Rebecca com um sorriso, me encarando.
O que ela está fazendo aqui? Por que está me chamando de Sr.
Brown?
— O que quer? — Corto a sua brincadeira.
— Só queria saber como seria ser sua secretária, será que me
comeria na hora do almoço? — Ela ri da própria piada e permaneço a
encarando.
— Estou trabalhando, se não tiver nada importante para falar, pode
voltar para as suas compras. — Rebecca leva as duas mãos ao peito,
fingindo se sentir ofendida. Não tenho paciência pra essa merda.
— Você acha que eu só faço isso? — Sem a minha autorização, ela
se aproxima e dá a volta na mesa, parando atrás de mim. — Faz tempo que
não me liga, querido. — Suas mãos com unhas longas iniciam uma
massagem nos meus ombros, mas sei exatamente qual é a sua intenção com
isso.
— Se fosse diferente, por que estaria aqui mesmo depois de
terminarmos?
— Você terminou comigo, isso não significa que eu concordei, meu
bem. — Afasto as suas mãos do meu corpo, segurando os seus pulsos.
— O que quer? — pergunto, impaciente com esse joguinho ridículo.
— Você — responde.
Seguro seus cabelos pela nuca, a ouvindo gemer em resposta e o
meu pau responder dentro da calça.
— Isso, você perdeu. — Levanto-me, sem soltar seu cabelo e a viro
de frente para a mesa, esfregando minha ereção na sua bunda. — Mas com
o meu pau você pode brincar.
Aproveito que ela está de saia e embrenho a mão por baixo do
tecido, alcançando sua calcinha molhada. Penetro um dedo no seu canal,
mordiscando seu pescoço, enquanto abro a minha calça. Eu a deixo
debruçada para poder colocar a camisinha, afasto sua calcinha para o lado e
estoco com força, tampando sua boca com a mão para evitar que alguém
ouça os seus gritos.
Movimento-me de forma ritmada, batendo meu quadril na sua
bunda e desferindo alguns tapas, que a fazem me olhar atravessado. Foda-
se!
Sinto o orgasmo chegando e trabalho no seu clítoris para que seu
corpo se satisfaça também, em uma estocada profunda gozo na camisinha,
grunhindo e continuo tampando sua boca para abafar os seus gemidos, com
o orgasmo que a alcança.
Afasto-me do seu corpo, retirando a camisinha e amarrando a ponta
antes de descartá-la no lixo. Sento, novamente na minha cadeira, colocando
o meu pau para dentro da calça e a fechando, só então olho para a mulher
ofegante na minha mesa.
— Se quiser pode usar o banheiro da minha sala para se recompor
antes de ir embora.
Em um momento parecia não ter controle sobre o próprio corpo, e
no outro parece possuída pelo demônio avançando sobre mim, desferindo
tapas que impeço prendendo suas duas mãos.
— Você já conseguiu o que queria, agora pare de atrapalhar a porra
do meu trabalho e suma da minha frente! — digo com os olhos grudados
nos seus.
— Cretino. — Sorrio de lado.
— Volte para as suas compras e me deixe trabalhar em paz,
Rebecca.
— Você vai se arrepender disso. — Olha-me com raiva.
— Duvido.
Volto a me concentrar no meu trabalho, em tudo o que preciso
analisar antes da próxima reunião, anotando mentalmente que necessito
trocar de roupa e tirar esse cheiro do perfume da Rebecca de mim.
Ouço seu salto conforme se afasta, depois a porta do meu escritório
abrindo e fechando com violência, me deixando, finalmente, sozinho. Ainda
encaro a porta por alguns momentos, a imagem de certa mulher invade os
meus pensamentos e volto ao trabalho, para tirá-la da mente.
Capítulo 7
Eu passo o dia com um caderno, anotando todas as contas que
preciso pagar, tudo o que tenho que fazer para organizar a minha vida sem a
renda que recebia da loja. Ainda dá para iniciar um pequeno negócio de
venda de doces em casa, usando a internet para divulgar.
O toque da campainha me assusta, mas me levanto do sofá e vou até
a porta, conferir o olho mágico para ver a minha amiga com um sorriso
enorme no rosto. Abro a porta para ter certeza de que está mesmo aqui,
afinal, ainda estamos no meio do expediente.
— Você vai surtar quando eu contar o que consegui. — Charlotte
entra com um sorriso de orelha a orelha e me encara enigmática. —
Adivinha.
— Nem vem, estou sem paciência para adivinhação. — Fecho a
porta e me jogo no sofá, bufando
— Deixa de ser chata! — Empurra o meu pé para me provocar e
lanço um olhar irritado. — Achei quem pode investir no nosso negócio,
você só precisa me ajudar a convencê-lo.
Eu a encaro confusa, porque não faz o menor sentido ela encontrar o
investidor e eu ter que convencer a pessoa ou empresa
— Por que não vai você? — pergunto com a testa franzida.
— Porque quem precisa se redimir com você é ele, não eu!
Ela não está falando coisa com coisa e isso me deixa ainda mais
confusa e nervosa, não entendo aonde ela quer chegar com esse papo, mas
não estou com paciência para isso agora.
― Olha só, não entendi nada e nem quero, não precisamos de
ninguém porque vou começar daqui de casa e, em breve, teremos nosso
próprio ateliê.
― Não quer nem saber quem é o investidor que encontrei? ― Olho
para ela longamente, sabendo que ela quer algo com essa pergunta.
— Quem é o investidor? — pergunto e ela fica de costas.
— Bom, eu queria fazer uma surpresa, mas você é muito chata! —
Cerro os olhos, irritada e ela revira os olhos. — É o cliente gostosão, tá
bom?!
— O ogro tarado? — pergunto só para confirmar e ela acena com a
cabeça concordando. — Nem morta!
— Amiga, toda ajuda é bem-vinda e você sabe muito bem disso. O
homem é milionário, o que custa te ajudar um pouco já que fez com que
fosse demitida?
― Amiga, você é doida. ― Dou risada da cara dela. ― Mas ele
aceitou essa sua ideia maluca?
Charlotte começa a olhar para todos os lugares, menos na minha
direção.
― Bem, não, mas ele precisa se redimir, não acha?
― Não, acho que precisamos seguir caminhos diferentes e tomar o
cuidado de não nos cruzarmos mais.
― Sua chata, ele disse quase a mesma coisa quando saiu correndo.
Damos risada e Charlotte me ajuda a preparar alguns doces para
tirarmos fotos e postar na internet.
Passo a semana inteira organizando a minha vida, contando moedas
e renegociando dívidas. Sinto que tem uma luz que não estou enxergando,
mas não a encontro ainda, por isso começo a inventar alguns sabores
diferentes para incrementar o pequeno cardápio que já montei e deixei na
página da minha empresa nas redes sociais.
Fico muito feliz quando o primeiro pedido aparece e outro em
seguida, começo a preparar tudo porque amanhã começam as entregas.
No sábado Charlotte aparece aqui para me ajudar, sempre com
alguma notícia sobre a confeitaria.
― A senhora que foi lá pedir o bolo pra você apareceu de novo, a
menina perguntou de você e eu não soube o que dizer.
― Podia dizer a verdade, que o filho dela fez com que eu fosse
demitida ― digo parando um momento de mexer o creme.
― Eu disse, mas não com essas palavras, a mulher tentou falar com
a dona Sarah, mas aquela lá é uma velha cabeça-dura, faltou expulsar a
senhora de lá.
― Nunca vi a dona Sarah maltratando cliente.
― Desde que não tentasse obrigá-la a recontratar uma funcionária
que a chamou de ultrapassada e falou umas verdades na cara dela, juro,
amiga, seu nome está proibido lá. ― Dou risada.
― Estou me sentindo o Lord Voldemort da série Harry Potter,
aquela que não deve ser nomeada. ― Charlotte gargalha e voltamos a
trabalhar. ― E você conseguiu descobrir mais alguma coisa do ogro tarado?
― pergunto como quem não quer nada.
― Bem, descobri que o nome dele é Christopher, o sobrenome você
já sabe porque é igual ao da dona Abigail.
― Se sabia que o nome dela é Abigail por que não falou antes? ―
pergunto curiosa.
― Porque eu esqueci o nome dela, mas já me lembrei.
Terminamos as encomendas e nos sentamos na sala para assistir
televisão, quando Charlotte me cutuca, com o celular em mãos.
― Amiga, tive uma ideia! ― Olho para ela, já desconfiada das suas
ideias geniais.
― Qual ideia?
― Terá um parque de diversões, perto da praia, com muitas barracas
de comes e bebes, que tal montarmos uma barraca de doces e vender lá para
divulgar o nosso negócio? ― Meus olhos se expandem de surpresa.
― Por incrível que pareça, essa ideia é realmente boa.
― Meu amor, eu só tenho ideias boas. ― Rimos juntas, lembrando-
me da brilhante ideia que ela teve do Christopher ser o nosso investidor.
Doida!
Entro em contato com os organizadores do parque e consigo uma
barraca para vender os doces, faço os mais variados e deixo expostos,
separo as embalagens que a Charlotte me ajudou a comprar e os cartões que
consegui fazer em tempo recorde.
Sorrio a cada nova venda, espero a Charlotte chegar e aproveito para
ir ao banheiro, passei quase o dia inteiro sem sair da barraca porque não
queria perder nenhuma venda. Estou andando apressada entre as pessoas
quando trombo em algo duro, talvez nem tanto.
― Não olha por onde anda? ― Ouço a voz, rude, perguntando ao
me segurar pelos ombros e me ajudar a manter o equilíbrio.
― Desculpa, eu estava com pressa ― digo tentando não encarar os
seus olhos, mas o silêncio dele me deixa ansiosa e levanto os olhos.
― Você ― diz, parecendo surpreso por me encontrar aqui.
Digamos que eu também não esperaria que ele viesse em um lugar
desse, esperava que ele fosse a um shopping ou lugares mais requintados,
mas um parque de diversões perto da praia não estaria na minha lista de
lugares aonde esse homem iria. Sim, eu sei que estou divagando, mas não
consigo parar.
― Como está? ― Franzo a testa para a sua pergunta, finalmente
aterrissando na Terra.
― Considerando que você me fez perder o emprego, estou muito
bem, obrigada. ― Afasto-me dele cruzando os braços.
― Eu tentei fazer aquela senhora devolver o seu emprego, até a
minha mãe tentou, mas parece que ela estava buscando uma desculpa para
te dispensar. ― Ele encolhe os ombros e eu cerro os olhos. ― Eu confesso
a minha parcela de culpa e quero me desculpar com você, tanto pela
grosseria quanto pelo seu emprego. Digamos que eu não estava nos meus
melhores dias. ― Ele coça a nuca, parecendo envergonhado e isso me
surpreende.
― Vou aceitar o seu pedido de desculpas. ― Tento desviar, mas
dessa vez sou barrada por uma garotinha, a Lily.
― Vicky! ― Ela abraça as minhas pernas e sinto o meu rosto
esquentando, desvio os olhos para não encarar o seu pai.
― Lily, que bom te ver ― digo me abaixando para abraçá-la
também. ― Passeando com o seu pai?
― Sim, dei uma nova chance para ele, sabe como é, está bem velho,
talvez nem tenha muito tempo, preciso ser madura e perdoar. ― Eu a
encaro procurando a pessoa que está controlando a sua fala, mas logo ela
começa a rir. ― Brincadeira, só o perdoei mesmo e tá tudo bem.
― Você tem certeza de que tem apenas 7 anos? ― pergunto, ainda
em choque.
― Claro, pode confirmar com o meu pai, ele entende mais de
número do que eu, mas da última vez que chequei tinha 7 anos mesmo.
A garota parece bastante animada com o passeio e não para de falar,
eu pretendia oferecer algum doce para ela, mas acho que não precisa de
mais açúcar na sua corrente sanguínea.
― Quantos doces você deu para ela? ― pergunto para o seu pai.
― Alguns. ― Acho engraçado como seus olhos se desviam dos
meus, parecendo realmente envergonhado por ter entupido a filha de doces.
― Em minha defesa, fazia muito tempo que não saíamos juntos e eu quis
agradá-la.
― Tente dar algo para acalmar a sua filha, senão terá problemas
para fazê-la dormir.
― Como sabe essas coisas? ― pergunta, franzindo a testa.
― Já fui criança ― respondo e me volto para a Lily. ― Pode fazer
um favor pra mim?
― Claro! ― responde animada.
― Não coma mais doces e tome um copo de leite quente quando
chegar em casa, senão não vai conseguir dormir, está bem?
― Sim! ― Eu encaro a sua felicidade ao aceitar não comer mais
doces e sorrio percebendo que ela não prestou muita atenção no que pedi.
― Eu preciso mesmo ir agora, até mais ― eu me despeço correndo
para ir ao banheiro, minha bexiga quase explodindo.
Sinto um alívio imenso ao encontrá-lo vazio e poder me aliviar, faço
o que tenho que fazer e lavo as mãos antes de sair, voltando para a barraca
onde a Charlotte me espera.
― Um dos organizadores veio aqui quando você sumiu, ele disse
que o parque vai ficar um tempo aqui, então podemos vender os doces
todos os fins de semana.
― Isso é ótimo!
― Considerando que temos que pagar uma porcentagem das vendas
para ele, e que estamos vendendo os doces feito água, realmente é ótimo. ―
Sorrio para ela.
― Acho que logo teremos dinheiro para abrir a nossa loja.
― Com certeza!
Passamos o resto do dia vendendo bastante e entregando os doces
nas embalagens que compramos, todos com ao menos um cartão do nosso
ateliê para fazer propaganda. Com isso esperamos aumentar o número de
encomendas a ponto de ser necessário um lugar maior do que a cozinha do
meu apartamento.
Capítulo 8
É muito incômodo não conseguir tirar algo ou alguém da cabeça,
mas a Victoria invadiu a minha e não quer sair de jeito nenhum. O encontro
que tivemos no fim de semana, que não foi premeditado, me surpreendeu de
forma positiva, principalmente porque achei agradável a sua companhia e
gostei de como ela tratou a Lily. Com cuidado e carinho. Valorizo muito
isso em alguém, considerando que o modo de tratar a Lily foi o que me
motivou a desistir de um relacionamento, mas vendo a interação da Victoria
com ela penso que talvez eu estivesse procurando no lugar errado.
― Terra chamando Christopher. ― Pisco algumas vezes para
encarar o meu amigo, Charles e prestar atenção no que ele diz.
― O que quer aqui? ― pergunto.
― Estava olhando para o nada com cara de idiota, eu interrompi e
está me encarando como se quisesse me matar. É alguma mulher?
― Não te interessa! ― Desvio os olhos dos dele e me levanto para
me servir de uma bebida, sei que não chegamos nem no horário de almoço,
mas para encarar a curiosidade do meu melhor amigo preciso de algo forte.
― Certeza que é mulher. ― Ele sorri, vitorioso por achar que está
certo.
Ele está mesmo, mas não precisa saber disso.
― Que tal sairmos hoje para nos divertirmos? ― Agora quem ri sou
eu da ideia idiota do Charles de sair em plena segunda-feira. Nada contra,
mas não faz o meu tipo.
― Não, obrigado, vou ficar com a Lily e ajudar com o dever de
casa, ela está com um pouco de dificuldade em matemática.
― Estou gostando de ver, empenhado em dar atenção para a filha,
estou orgulhoso de você. ― Rimos juntos.
― Para de palhaçada e diz logo o motivo para estar aqui.
― Nada, só queria saber como você está. ― Pego uma bolinha de
papel e jogo contra ele que desvia a caminho da porta. ― Tenha uma boa
semana, Senhor Arrogante.
Não faço ideia de onde o meu amigo tira esses apelidos ridículos e,
sinceramente, prefiro nem tentar descobrir. Depois dessa visita inesperada,
o dia passa rapidamente em meio ao estresse do desenvolvimento da
Inteligência Artificial que permanece estagnado e nenhum dos
desenvolvedores tem nenhuma ideia do caminho a seguir. No fim do dia
volto para casa com a mente cheia de ideias, tentando encontrar saídas para
o beco onde nos encontramos.
― Papai, presta atenção, você prometeu me ajudar! ― Percebo que
estava distraído pensando em trabalho ao ter minha filha chamando a minha
atenção novamente.
― Me desculpa, eu não estou conseguindo me concentrar. ―
Respiro fundo e me levanto. ― Me dá um minuto, vou beber água e já volto
para te ajudar. Vai fazendo os exercícios que consegue e anotando as
dúvidas que eu te ajudo quando voltar.
Saio do quarto e desço as escadas na direção da cozinha para pegar
o bendito copo com água, a minha mente é um turbilhão de ideias e
pensamentos aleatórios, nunca tive problemas de concentração, mas hoje é
um dia atípico. Quando termino o terceiro ou quarto copo de água retorno
ao quarto da Lily para tentar novamente ajudá-la no dever de matemática,
dessa vez me esforço mais para manter os assuntos de trabalho e a Victoria
fora da minha mente, conseguindo avançar no dever de casa da minha
pequena traça. Chegamos ao final e descemos para o jantar.
― Parece mais animado, filho ― comenta a minha mãe, notando
uma mudança que eu não percebi, mas aparentemente está na minha cara.
― Ele viu a Victoria no parque no fim de semana. ― Encaro a
fofoqueira da minha filha com os olhos cerrados.
― Vocês se entenderam? ― pergunta a minha mãe.
― Não sei a quê a senhora se refere exatamente, mas sim,
conversamos civilizadamente.
― Me referia exatamente a isso, meu filho, conversar como dois
adultos sem brigar na primeira discordância.
― Ela é muito irritadiça. ― Vejo minha mãe revirar os olhos e Lily
esconder a risada.
― Como se você fosse muito calmo. Christopher, sou sua mãe, sei
que você pode ser bem difícil de lidar.
― Pai, vamos no parque de novo? ― Encaro a Lily desconfiado.
― Já fomos no parque, por que repetir o passeio?
― Porque eu gostei, vamos? ― A Lily é direta assim como eu, isso
pode ser um defeito ou uma qualidade dependendo do ponto de vista, nesse
momento vejo como defeito.
― Sim, filha, vamos.
― Oba! ― comemora e vejo minha mãe sorrindo abertamente.
― Quem sabe não encontra a Victoria de novo? ― Não queria
pensar nessa possibilidade, mas sei que é muito provável encontrá-la
novamente no parque. Internamente desejo vê-la mais uma vez.
Durante o resto da semana, o projeto demora a avançar e somente na
sexta-feira que conseguimos uma solução e avançamos mais na criação,
isso me anima para aproveitar o final de semana sem me preocupar com
atrasos no trabalho, gosto de deixar tudo adiantado até a sexta para a minha
mente estar livre e totalmente disponível para a minha filha.
Lily insistiu para vir ao parque desde a hora que acordamos, enrolei
ao máximo para virmos de tarde, depois do almoço, e evitar entupi-la de
doces novamente porque da última vez tive trabalho para fazer essa
pequena traça pegar no sono. Exatamente como a Victoria disse que seria.
Compro ingressos para todos os brinquedos aonde a Lily pode ir e, por
todos os lugares que passamos, olho em volta procurando pela Victoria,
tentando encontrá-la.
Quando estamos próximos da roda-gigante, Lily está encantada com
as luzes, e eu encontro a pessoa que procurava. Victoria está na sua barraca
sorrindo para todas as pessoas que está atendendo, transmitindo simpatia e
doçura enquanto mostra uma variedade de bolos e doces. Parecendo sentir o
meu olhar, os seus me encaram nos conectando de uma forma estranha, me
fazendo sentir um calor desconhecido há muito tempo, acendendo algo até
então apagado dentro de mim.
Segurando a mão da Lily, me aproximo da barraca da Victoria, com
os seus olhos azuis ainda me encarando em um misto de desafio e
curiosidade, elevando a tensão entre nós.
― Então essa é a sua barraca? ― pergunto assim que chego no
local.
― Como pode ver, sim ― responde sorrindo. ― Como vai, Lily?
― ela se dirige para a minha filha, cujos olhos até brilham ao ver a sua
nova amiga.
― Bem, que bom te ver Vicky. Meu pai tava doido te procurando.
― Encaro a minha pequena fofoqueira, envergonhado pela sua boca grande.
― Que isso, filha? A Victoria vai achar que a estamos perseguindo.
― Minha filha olha de um para outro e sorri.
― Eu só estou aqui pelos doces. ― Victoria gargalha, me fazendo
rir junto. ― Ei, pai, vamos na roda-gigante? ― Olho para a minha filha
novamente e ela aponta, nem tão discretamente para a Victoria.
― Bom, temos um ingresso sobrando, quer ir conosco? ― Convido
ganhando um sorriso de aprovação da minha filha.
Victoria olha para os lados e um sorriso enorme se abre quando sua
amiga chega.
― Bem na hora, preciso de um descanso, então se vira! ― diz para
a amiga que a encara embasbacada enquanto a Victoria tira o avental e sai
da barraca vindo na nossa direção. ― Vamos, ninguém merece passar o dia
inteiro vendo essa roda-gigante rodando milhares de vezes e não ir em
nenhuma.
Lily estende a outra mão para ela que a segura e, juntos, vamos para
o brinquedo.
― Ai, droga, eu esqueci o meu doce, vão vocês, depois você
compra mais e vamos de novo, papai.
― Não vou te deixar sozinha ― digo para a minha filha que já está
perto da barraca da Victoria.
― Não estou sozinha, a tia... ― Ela olha para a amiga da Victoria
que sorri e diz o nome antes de se virar para nós e continuar ― Charlotte tá
comigo.
― Cuida dela? ― pergunta Victoria.
― Pode confiar, ela vai me ajudar a vender esses doces, você vai
voltar e teremos que ir para casa por falta de estoque.
― Ela está em boas mãos, mas se não quiser ir à roda-gigante sem a
Lily não tem problema. ― Olho para a minha filha que faz sinal com as
mãos quase me enxotando para longe.
― Não sei o que está acontecendo com a Lily, ela não é assim ―
digo tentando me justificar enquanto entregamos os ingressos e entramos na
cabine.
Fechamos a porta e nos sentamos de frente um para o outro, a
cabine começa a subir e vai parando conforme as pessoas vão entrando.
― Você tem um jeito especial com a Lily ― comento.
― Ela é uma criança especial, educada, inteligente. ― Sorrio,
orgulhoso.
― Você também parece especial, educada, inteligente. ― Quando
me dou conta, o elogio já deixou os meus lábios, surpreendendo a nós dois.
― Não sou mais intrometida? ― pergunta, divertida.
― Acho que faz parte do seu charme. ― Parece ter uma espécie de
força me puxando na sua direção e, dessa vez, nem tento resistir, quero ver
aonde isso vai dar.
Estendo a mão, tocando suavemente o seu rosto, sentindo a textura
dos seus cabelos, alcançando a sua nuca e acariciando calmamente.
Aproximo-me um pouco mais, puxando o seu rosto para perto do meu.
― O que está fazendo? ― pergunta com a voz trêmula.
Não respondo, não consigo. Meus lábios encontram os dela em um
beijo suave, mas que faz o mundo ao redor desaparecer, por um momento
estamos suspensos no tempo, estou perdido na doçura do seu beijo. Minha
língua pede passagem, explorando a sua boca e aprofundando o carinho,
exigindo mais. Seu sabor de baunilha, combinado com o seu aroma, é
enlouquecedor e preciso me esforçar muito para me controlar.
Termino o beijo com um selinho suave, nossas testas coladas e as
respirações ofegantes.
― Por que fez isso? ― pergunta.
― Não resisti.
Capítulo 9
Ainda me sinto meio zonza pelo beijo, me surpreendi com essa
atitude do ogro tarado. Agora nem tão ogro assim. Sinto o meu rosto
esquentar sob o seu olhar intenso, como se esperasse que eu dissesse algo.
Não faço ideia do que ele espera que eu diga depois dele confessar que não
resistiu, sinceramente, então permaneço em silêncio o restante do tempo na
roda-gigante, os lábios formigando e me lembrando do nosso momento.
Assim que a porta da cabine abre, me levanto e saio, precisando de
um momento sozinha para pensar. Não espero que me siga, quero que ele vá
se encontrar com a Lily. Meu celular apita avisando o recebimento de uma
mensagem e abro vendo que é da Charlotte.
“Onde você se enfiou?”
“Estou no banheiro.”
“Me agradeça depois.”
Me preocupo dela ter feito ou falado algo errado para o Christopher.
“O que você fez?”
“Dei o seu telefone para o cliente gostosão, ué. A filha dele ainda
saiu daqui perguntando quando eles voltariam para te ver.”
Fico indecisa entre me sentir aliviada por ela apenas ter dado o meu
número para o Christopher, e preocupada porque agora ele tem o meu
contato. Enquanto estou decidindo se isso é bom ou não, meu celular toca
novamente.
“Me desculpa se te assustei, prometo não repetir se não se sentiu
confortável.”
Não sei como ele pode ir daquele grosseiro que quase me expulsou
da sua casa e me fez perder o emprego, para o gentleman que me mandou
mensagem e me beijou como se eu fosse algo delicado que pudesse quebrar
se apertasse muito. Se ele soubesse.
“Não me assustou, eu só precisei correr por problemas pessoais.”
Eu nunca diria que estava com vontade de fazer xixi desde que saí
da barraca, não temos intimidade para esse tipo de comentário.
“Então, aceita jantar comigo na sexta?”
Mordo o canto do lábio, pensando se essa também não é uma
péssima ideia, mas parece que tem um anjo e um demônio em cada ombro.
O anjo me diz para não aceitar e seguir a minha vida, e o demônio me
manda largar a mão de ser besta e aproveitar que um homem gostoso me
chamou para sair.
“Sim.”
“Te busco às 8:00 PM.”
Não respondo, lavo as mãos e saio do banheiro sorrindo feito boba
até chegar na barraca.
― Ele te mandou mensagem? ― Franzo a testa para a minha amiga.
― Ele quem?
― Não se faça de besta, você vai para a roda-gigante com um boy
gostoso e deixa o homem voltar sozinho. Não entendi o que aconteceu
nesse meio tempo, mas pela sua cara de besta foi bom.
― Deixa de ser fofoqueira e vamos trabalhar. ― Volto a organizar
os doces para repor nas vitrines e, pelo canto do olho, a vejo sorrir.
― Você vai me contar tudo o que aconteceu, pode aproveitar que
não tem ninguém.
Faço um pouco de mistério, mas depois conto tudo o que aconteceu,
revivendo toda a nossa conversa.
Durante toda a semana antes do jantar me organizo, renegociando as
contas para não atrasar e entregando as encomendas dos clientes que
compraram meus doces no parque. Tento me distrair, mas acabo escolhendo
a roupa no meio da semana para não ter erro, um vestido de corte reto, um
pouco acima dos joelhos, com alças grossas e decote quadrado, bem social,
com scarpins pretos, assim como o vestido.
Na sexta, me arrumo cedo, deixo meus cabelos caindo em cachos
soltos pelos meus ombros, coloco o vestido e uso uma maquiagem leve,
destacando meus olhos e com um gloss nos lábios.
Para finalizar coloco os scarpins, torcendo para não precisar andar
muito.
Sento-me no sofá e espero a hora passar, me distraindo com o
celular, novamente me assusto e agora é com o toque do interfone. Estava
tão distraída lendo matérias sobre o CEO da HealthWise AI que não vi a
hora passar, olho para o relógio percebendo ser a hora que a Charlotte disse
que o CEO chegaria para me buscar. Pontual, gostei.
Pego minha bolsa de mão, guardo o celular e saio do apartamento,
desço até o térreo e saio do prédio encontrando o ogro tarado encostado no
seu carro.
— Boa noite, senhorita. — Dou risada para o seu cumprimento,
pegando a minha mão e beijando-a, galante.
— Assim fica parecendo um mordomo, podemos deixar essas
formalidades, me chama de Victoria que já está ótimo. — Ele sorri
abertamente.
— Só se me chamar de Christopher. — Nós nos encaramos por um
momento, me sinto hipnotizada pelo seu olhar intenso e, envergonhada pela
reação do meu corpo, quebro a conexão desviando os olhos. — Entre,
estamos em cima da hora.
Sua voz rouca me arrepia, e não o respondo apenas acato a sugestão
entrando no carro. Só consigo identificar que é um Audi, mas não sei dizer
o ano ou modelo, apenas admiro o interior me esforçando para não babar e
sujar o estofado.
Seguimos até o restaurante que, fazendo o meu queixo cair, é uma
mansão histórica restaurada, já ouvi falar desse lugar, mas nunca pensei em
vir até aqui.
A hostess nos recepciona e, após a confirmação da reserva no nome
dele, somos direcionados até uma mesa em um ambiente privativo. Por um
momento me sinto dentro de um livro de romance, no melhor estilo
Cinquenta tons de cinza, só me resta saber se esse CEO fode com força
como o Christian Grey. Segura a emoção, colega!
Sentamo-nos e a moça sai nos deixando sozinhos.
— Me sinto a Chapeuzinho vermelho na toca do lobo mau — digo
olhando em volta.
— Não vou te atacar, Victoria, você já conheceu o meu lado
civilizado. — Eu o encaro desconfiada.
— Bom, estou curiosa para saber o motivo do convite para jantar. —
Um sorriso de lado se abre no seu rosto.
— Te conhecer melhor, já que não sei muito de você.
— O que quer saber? — pergunto.
— O que quiser me contar. — Penso se devo contar muito sobre
mim, mas quando percebo estou em um monólogo sobre a minha infância
solitária.
Até sobre os meus pais se decepcionarem com a minha escolha de
profissão eu acabo contando no momento que o garçom chega para anotar
os pedidos. Escolhemos nossos pratos e aceito a recomendação do
Christopher, o deixando escolher o vinho, já que não costumo beber e
pretendo abrir uma exceção.

Conversamos sobre amenidades e percebo que ele me deixa falar


muito sobre mim, mas sem contar muitos detalhes da sua vida. Só sei que
ele é viúvo porque a Lily me contou no dia em que fui levar o bolo para ela,
e sei que é CEO porque é só colocar o nome dele e da nossa cidade que a
empresa aparece.
Decido não perguntar nada, para deixá-lo à vontade para escolher
me contar quando quiser. Terminamos de comer e ele sugere um sorvete
como sobremesa, que eu aceito porque amo sorvete.
— Bom, acabamos o jantar — digo, esperando que me conte algo
mais sobre ele.
— Sim. — Seu olhar intenso novamente me lembra dos livros,
levando a minha imaginação por caminhos proibidos.
Ele poderia pedir que eu tirasse a calcinha, me acariciar por baixo da
mesa, ou me comer de sobremesa. Se controla! Minha respiração se altera, e
tomo um gole do vinho para tentar disfarçar. Minha nossa senhora, a minha
imaginação está escalando muito rápido.
— Está se sentindo bem? — pergunta, movendo a sua cadeira para
mais perto da minha.
Concentra!! É o ogro tarado, você nem gosta dele! Mentirosa!
Gosta sim!
— Estou bem, é que está fazendo muito calor hoje. — Um enorme
sorriso maldoso se abre no seu rosto, porque ainda que seja verão, o dia foi
um dos mais frios da estação.
— Talvez eu possa ajudar. — Uma das mãos se aproxima do meu
pescoço, segurando a minha nuca e fazendo um arrepio varrer o meu corpo.
— Como poderia? — pergunto com a voz fraca, por conta da
proximidade.
Por mais que eu não queira admitir e a minha mente negue, meu
corpo responde e o meu coração acelera.
— Você disse que se sentia a Chapeuzinho vermelho, certo? —
retruca com o rosto próximo ao meu pescoço.
Entro em curto porque a minha mente exige que eu me afaste, o meu
coração está acelerado e babando feito bobo, enquanto isso o meu corpo
está inundando a minha calcinha e quase se jogando em cima do
Christopher. Acabo não fazendo nenhuma das alternativas.
Reprimo um gemido quando Christopher inspira no meu pescoço,
murmurando algo sobre baunilha. Travo no lugar, praticamente nem
respirando.
— Tenho uma ideia de como te refrescar.
Christopher pega a colher que eu estava usando, e quando penso que
vai levar até a sua boca me surpreende ao deixar escorrer o doce no meu
pescoço, causando outro arrepio.
— Opa, deixa que eu limpo. — Solícito, se aproxima novamente do
local e lambe o sorvete.
— Por favor — peço, sem saber pelo que exatamente.
A outra mão captura meu queixo e o leva na sua direção,
aproximando a minha boca da sua. Lembro-me do seu gosto de café, e da
situação que fiquei depois. Não tenho forças para afastá-lo e me deixo ser
conduzida.
Diferente da última vez, seu beijo é lento, explorando os meus
lábios, esfregando a língua na minha. A mão que estava no meu queixo
desce, resvalando no meu seio e destruindo qualquer possibilidade que eu
tinha de voltar para casa com a calcinha intacta.
Nossas bocas se separam, ambos ofegantes e ainda sinto os lábios
pelo meu rosto até o pescoço.
— O mesmo aroma de baunilha, mas o gosto é muito melhor do que
eu me lembrava. ― Sinto os lábios se arrastarem até o decote do vestido. ―
Preciso provar o seu gosto.
Uma enorme bandeira vermelha surge na minha mente, me fazendo
criar forças para afastar a sua cabeça do meu corpo, mesmo com a minha
intimidade encharcada e reclamando por ter a atenção oferecida negada.
― Pode vir alguém ― argumento.
― Só se eu chamar. ― Mal tenho tempo de absorver a informação e
sua boca novamente ataca a minha, as mãos não são mais suaves, agora são
urgentes e as sinto por todo lugar.
Meu coração acelera e minha intimidade chora de felicidade, meu
raciocínio está perdido em algum canto escuro da minha mente perdida nas
sensações que esse ogro gostosão está causando.
A mão na minha coxa me arrepia, em antecipação, nem me dou
conta de que afasto as pernas para facilitar a sua passagem e tremo inteira
quando seus dedos se encostam no tecido úmido que logo é colocado de
lado.
― Porra! ―Eu o ouço rosnar na minha boca antes de sair da sua
cadeira, ajoelhar e ir para debaixo da mesa.
Ai, meu Deus! Ai, meu Deus!
O que era para ser apenas um jantar de negócios está terminando
comigo como sobremesa, e eu não estou reclamando. A saia do meu vestido
é erguida e sinto seus lábios nas minhas coxas enquanto suas mãos puxam
meu quadril para a beirada da cadeira. A primeira lambida me faz encostar
a cabeça na cadeira e morder o lábio para segurar o gemido que quase
escapa, penso que vai repetir o mesmo movimento, mas me surpreende
beijando os lábios da minha boceta da mesma forma que fez com a minha
boca.
Captura o meu nervo inchado e suga com força, o torturando com a
língua e me enlouquecendo ao me penetrar com dois dedos. A outra mão
estica até alcançar o meu decote e abaixa o vestido, brincando com o meu
mamilo. A sobrecarga de estímulos me leva ao limite e, em pouco tempo,
estou despencando ao ser atingida por um orgasmo destruidor.
Christopher me devora e degusta até a última gota do meu prazer,
senta-se no chão lambendo os lábios e ajeitando o volume na calça.
A razão me atinge com a mesma força que uma frigideira batendo
na minha cabeça, me afasto e levanto-me da cadeira pegando a minha bolsa
e me afastando o máximo que posso desse homem gostoso e perigoso.
― Isso foi um erro. ― Calmamente, ele se levanta, passa a língua
pelos lábios ainda brilhosos por causa da minha excitação e se aproxima até
estar tão perto que preciso olhar para cima para encarar seus olhos.
― Não foi para isso que te trouxe para jantar, se é isso o que está
pensando. Nos sentimos atraídos um pelo outro e eu não vejo nenhum
problema nisso. Eu sou um homem solteiro e, pelo que me contou, você
também não é comprometida. ― Sua mão aperta a base do nariz, como se
sentisse uma dor de cabeça. ― Não vou me desculpar por algo que nós dois
gostamos.
― Eu nunca fiz essa coisa de sexo casual, não sou como as
mulheres com quem está acostumado. ― Respiro fundo, buscando toda a
raiva que sinto desse ogro tarado, para não dar razão a ele.
― Eu não tive nenhum relacionamento depois da Emma, pelo
menos não um que fosse realmente sério.
― O que quer dizer com isso? ― pergunto insegura.
― Nos sentimos atraídos um pelo outro, mesmo discordando em
alguns pontos, estou disposto a ver onde isso vai dar.
― Isso o quê?
― Ainda não sei, mas que tal começarmos com uma amizade
diferente?
Nunca tive sexo casual, nunca transei com amigos, talvez esteja na
hora de mudar alguns conceitos e aproveitar mais a vida.
― Podemos tentar, mas sem mentiras, sem enrolação.
― Não sou homem de rodeios. ― Estico a minha mão que ele puxa
colidindo o meu corpo com o seu, selando o nosso acordo com um beijo.
Minhas mãos vão de encontro ao seu peito, vejo seu sorriso sumir
quando me dá outro beijo e tenho que me segurar nele para não
desequilibrar.
Minhas pernas parecem gelatina e sou erguida por Christopher, as
tendo enroscadas no corpo definido do Christopher. Sinto que perdi o jogo
antes mesmo de ser prensada na parede e ter o vestido erguido novamente.
Desisto de lutar e me deixo levar pelo desejo que sinto, depois posso
reclamar da parede desconfortável, agora quero aproveitar o orgasmo que
ele pode me dar. Minha calcinha de renda vira um pobre trapo após ser
rasgada por ele que abre a calça com uma destreza que demonstra
experiência, não quero pensar nisso agora, mas acabo me distraindo porque
sua boca não está mais na minha roubando o meu fôlego.
Tenho pouco tempo para ver o tamanho do seu pau quando abaixa a
cueca o libertando, duro, inchado e curvado para cima, com a cabeça
robusta e veias aparentes que me lembram muito do bolo que a Lottie fez.
Sorrio ao pensar na comparação, mas logo perco o ar ao ser invadida
com uma estocada bruta e profunda.
― Ah! ― grito, sem me controlar, e tenho a boca atacada
novamente.
Ele rouba todos os meus gemidos enquanto se movimenta dentro de
mim, se retirando quase todo para voltar novamente com força. Mordisca o
meu lábio inferior, soltando um rosnado.
― Boceta apertada do caralho! ― Sinto minhas paredes internas se
apertarem em volta dele e gememos juntos.
Sua boca deixa a minha e desce para o meu pescoço, seguindo para
os meus seios que mama com vontade, mordiscando meus mamilos, um
após o outro e me enlouquecendo. Sinto-me subir cada vez mais alto, até
despencar com o orgasmo me rasgando ao meio, mordo o seu ombro para
controlar o grito que ameaça sair da minha boca. Algumas estocadas depois,
Christopher grunhe e goza saindo de dentro de mim em seguida e se
afastando.
Sinto algo escorrer da minha boceta e toda a luxúria evapora sendo
transformada em ódio.
― Não acredito que você fez isso! ― Soco o seu peito, chuto sua
canela, tentando machucá-lo o máximo possível. ― De primeira?
― O que foi, sua doida, pensei que estivéssemos em paz? ―
retruca, conseguindo segurar meus pulsos e me impedir de acertar seu rosto.
― Você não usou camisinha, seu ogro tarado, pode acabar me
engravidando! Você é idiota? ― Penso um pouco e volto a encará-lo com
fúria. ― Claro que sim, porque não teve a capacidade de colocar a porra de
uma camisinha.
― Primeiro que não tenho doença, segundo que eu compro uma
pílula e não tem problema ― ele se defende, mas já estou me recompondo
como posso.
― Olha só, se eu ficar grávida a culpa é sua! ― grito com o rosto
perto do seu, nossas respirações ofegantes ainda sob o efeito do exercício de
minutos atrás.
― Nossa! ― Vira-se de costas, ajeitando o pau novamente dentro
da calça. ― Não sou um moleque irresponsável.
― Não é o que parece ― retruco, respirando fundo para tentar
conter a irritação.
― Já disse que se tiver consequência é só falar comigo e pronto!
― Babaca! ― xingo antes de sair batendo o pé, irritada demais para
continuar discutindo sem agredir o Christopher fisicamente, mas precisando
parar em um banheiro no andar de baixo antes de ir embora para poder me
limpar.
Depois de estar mais apresentável, saio do restaurante já com o
celular na mão e chamando um carro por aplicativo. Entro no carro assim
que chega e seguimos para o prédio onde eu moro.
― Sua burra! ― reclamo e o motorista olha confuso pelo retrovisor.
― Desculpa, moço ― murmuro antes de me afundar no banco e me segurar
para não chorar de ódio.
Para ajudar começa a tocar Fix You do Coldplay. Tem como ficar
pior?
Capítulo 10
Volto para a mesa que ocupamos, me jogo na cadeira e respiro
fundo. Não sei em que momento fomos de dois adultos civilizados a dois
animais no cio. Isso sem contar a briga ridícula que tivemos, sei que ela
deve ter ficado assustada com a possibilidade de engravidar, não pretendo
ter outro filho além da Lily, mas se acontecer sou responsável o suficiente
para assumir e dar todo o suporte para a criança e para a Victoria. Não
pretendia transar com ela na parede, mas aquele cheiro me deixa
descontrolado e me torna perigoso. Não que eu fosse machucá-la, mas não
controlo os meus atos e sigo meus instintos, que me fizeram comê-la com
força.
― Caralho! ― resmungo, olhando para o sorvete que agora derrete
na taça.
Não sei como vou explicar para a minha filha essa situação que eu
causei, mas sei que preciso dar um tempo para a Victoria antes de procurá-
la novamente e oferecer ajuda. Claro que preciso falar com ela antes para
entregar o remédio, mas depois disso posso dar todo o tempo que ela
precisar. Não precisamos viver em pé de guerra, o meu coração se aquece
de uma forma diferente quando ela está por perto, realmente estou disposto
a ver onde isso vai dar.
Mais confuso do que estive algum dia, me levanto e deixo um bom
valor sobre a mesa, o suficiente para cobrir o que consumimos com bastante
folga, saindo do restaurante e pegando o meu carro com o manobrista.
Dirijo para casa, pensando se devo mandar mensagem agora ou esperar
mais algumas horas, fico indeciso e acabo deixando o tempo passar, quem
sabe ela esteja mais calma amanhã de manhã? Chego na mansão vendo
todas as luzes apagadas e fico um pouco no carro, respirando fundo e
puxando pela memória quando foi a última vez que fui tão irresponsável.
Nunca!
Essa mulher me intriga e me desconcentra de uma forma que não
acontecia nem com a minha esposa, e isso me assusta um pouco. Não sei se
mereço uma nova chance e, mesmo se merecesse a joguei no lixo pela
forma como tratei a Victoria.
Vou direto para a minha suíte, tomo uma ducha demorada
relembrando de como fui afoito em tomar a Victoria me esquecendo de usar
o preservativo. A sensação de pele com pele me deixou ainda mais
descontrolado a ponto de não segurar o meu gozo.
― Parece a porra de um adolescente com ejaculação precoce! ―
reclamo sozinho no chuveiro.
Fecho o registro e pego uma toalha, me enxugando e tentando não
me lembrar do gosto que ainda está na minha boca. Encaro a escova de
dente, e decido me privar de sentir seu gosto mais um pouco, escovando os
dentes com força até sobrar apenas o gosto mentolado da pasta. Jogo-me na
cama depois de vestir uma cueca limpa, fecho os olhos e sou tomado pelas
imagens do que ocorreu no restaurante, me impedindo de ter uma noite
decente de sono e me fazendo acordar tarde no dia seguinte. Com a
mensagem da empresa que mandei entregar o remédio, dizendo que a
Victoria não quis atender. Ela não responde nenhuma mensagem minha
desde o jantar.
Saio da cama e vou direto para o banheiro, fazer a minha higiene
matinal, coloco uma calça de moletom e uma camiseta, saindo do quarto
descalço e dando de cara com a minha filha saindo do dela.
― Acordou tarde hoje? ― pergunto com um sorriso no rosto
enquanto ela me olha da cabeça aos pés e franze a testa.
― Não vai trabalhar hoje? ― Encolho os ombros, olhando as
minhas roupas e a encarando novamente.
― Eu prometi que tentaria, filha, estou tirando o fim de semana
inteiro de folga. ― Seu olhar desconfiado é engraçado.
― Não está doente?
― Me respeita, pirralha! E se prepara porque depois que eu tomar o
café da manhã vou te levar ao parque de diversões que está na cidade. ―
Seus olhos se expandem e o enorme sorriso no seu rosto aquece o meu
peito.
― Oba! ― Sou abraçado pela Lily que volta para o quarto falando
sozinha sobre não ter o que vestir. Mulheres!
Sorrio sozinho com o pensamento, sentindo o peito doer um pouco
menos ao me lembrar de que a Emma tinha o mesmo problema toda vez
que saíamos.
Puxo uma cadeira e me sento, pegando na mesa de jantar um pouco
de ovos mexidos com bacon e colocando no meu prato, encho minha xícara
com café e tomo o líquido precioso.
― Dormiu mais do que a cama, filho? ― Sorrio pelo tom de
brincadeira da minha mãe.
― Não dormi muito bem. ― Ela cerra os olhos, fazendo uma
expressão parecida com a da minha filha há pouco.
― Como foi o jantar com a moça da confeitaria?
― Bom, nós entramos em um acordo e brigamos em seguida, agora
ela não me atende. ― Encolho os ombros deixando de contar tudo o que
ocorreu ontem, mas a minha mãe não precisa conhecer os detalhes.
― Por que brigaram?
― Ela não é a pessoa mais fácil de lidar ― explico.
― Dê um tempo para a moça, ela vai aceitar.
― Ela não responde as minhas mensagens, vou dar o espaço que ela
quer. Não tenho mais idade para esse tipo de jogo, não vou obrigá-la e me
ter por perto. ― Minha mãe me olha por um momento e coloca um pouco
de café na sua própria caneca, tomando o seu tempo para adoçar e colocar
um pouco de leite.
― Vou ligar para ela e encomendar alguns doces para ajudar. ―
Aceno concordando, mesmo sem entender o que uma coisa tem a ver com a
outra.
― Bom, vou trocar essa roupa para sair com a Lily. ― Termino o
meu café, levanto-me voltando para o meu quarto e mantendo apenas a
camiseta, mas trocando o moletom por uma bermuda cargo e um tênis
confortável.
Encontro a pequena na sala conversando animadamente com a avó,
a chamo e saímos juntos para o meu carro. Lily se senta no banco traseiro,
colocando o cinto de segurança e me olhando em expectativa.
― Se prepare para a aventura, pequena traça.
Nosso passeio de fim de semana agora é ir ao parque, a Lily insiste
nisso a semana inteira e hoje decido me divertir ainda mais com a minha
filha, indo junto em todos os brinquedos que ela quer, compro ursos de
pelúcia que a pequena mal consegue carregar sozinha, mas acho que nunca
vi um sorriso tão grande no rosto dela como quando temos esses momentos
juntos. Estamos parados, tomando sorvete quando seus olhos se iluminam e
ela dispara a correr, me fazendo segui-la para não perder de vista a minha
filha. O meu coração dá um salto estranho no peito ao ver atrás de quem ela
foi.
― Olha pai, quem tá aqui. ― Lily aponta para a Victoria que me
olha com uma expressão indecifrável.
Sabemos que ela tem uma barraca nesse parque e está aqui todos os
fins de semana, só esperava conseguir evitá-la, já que ela quer se afastar de
mim desde o jantar na sexta.
― Oi, princesa, como vai? ― diz Victoria para a minha filha.
― Bem, quais doces você trouxe para vender hoje? ― pergunta a
minha filha vendo a vitrine cheia de opções.
Victoria explica as variedades que tem disponíveis enquanto a
minha filha presta muita atenção a tudo o que ela fala.
― Papai, compra desse pra mim? ― pergunta apontando para uma
caixa com 4 docinhos de festa em um tamanho maior do que o normal.
― Claro, pequena. ― Victoria me fala o valor e estendo uma nota
para ela. ― Pode ficar com o troco, ou posso escolher algo mais para levar.
― Pode escolher mais coisas.
― Você sabia que a empresa do meu pai ajuda médicos a salvarem
vidas? Ele é quase um herói. ― Olhamos juntos para a Lily que, do nada,
começou a me elogiar como se eu fosse a melhor pessoa do mundo.
Claro que qualquer elogio vindo da minha filha infla o meu ego,
mas esse não é o melhor momento para ela falar esse tipo de coisa.
Lily pega os doces e me oferece um, que saboreio imaginando como
ficaria o gosto dessa iguaria se passasse na boceta da mulher que está
atentando o meu juízo.
― Pai, tá tudo bem? ― Balanço a cabeça, afastando os pensamentos
pervertidos para evitar uma ereção em público e, pior, perto da minha filha.
― Sim, filha, só estava degustando o doce. ― Ela ri.
― Vamos, tem mais brinquedos que eu quero ir antes do senhor se
cansar. ― Sorrio para ela e lanço uma piscada para a Victoria, que quando
desvio o olhar ainda está me encarando séria.
Capítulo 11
Eu podia reclamar do roteirista da minha vida por sempre colocar
esse ogro no meu caminho, mas ontem ele pagou o jantar, me deu orgasmos
e hoje comprou doces então não posso reclamar. Mentira, posso sim.
Faço a contagem do dinheiro quando chego em casa, separando uma
parte para repor alguns ingredientes que estão acabando e guardando todo o
resto, já que ainda segunda vou na confeitaria para a dona Sarah me pagar o
que deve.
Uso o fim de semana inteiro para juntar dinheiro vendendo meus
doces, chegando à segunda-feira acordo cedo para depositar o dinheiro no
banco e ir até a confeitaria.
— O que pensa que faz aqui, mocinha? — Esforço-me para não
revirar os olhos.
— Vim para que me pague minha última semana de trabalho. —
Cruzo os braços. — Aliás, bom dia pra senhora também, estou bem,
obrigada.
— Não é bem-vinda. — Franze a testa ignorando o que eu disse.
— Não vou ficar muito tempo, pague o que me deve e vou embora
rapidinho. — Ela bufa e vejo Charlotte vindo do ateliê.
— Vou fazer as contas e já volto. — A senhora se vira, mas para
quando digo:
— Não se esqueça da minha comissão. — Lottie arregala os olhos e
segura o riso.
Quando ficamos sozinhas, minha amiga abre um sorriso e se
aproxima.
— Sua vaca! Por que não respondeu minhas mensagens de novo? —
pergunta.
— Porque o jantar foi um fiasco e perdemos o investimento. — Ela
cerra os olhos.
— O que está me escondendo? — Bom, nos conhecermos a vida
inteira tem suas vantagens e desvantagens para as duas, porque eu a
conheço muito bem, mas ela também o faz comigo.
— Aqui não é o lugar, depois eu conto. — Ela sorri, feliz por ter
razão.
— Vou no seu apartamento mais tarde e fazemos uma noite de
garotas.
— Hoje é segunda — argumento, querendo ganhar mais tempo.
— Não importa. — Não conseguimos continuar a conversa e, pela
primeira vez, agradeço a interrupção da dona Sarah.
— Aqui está o seu dinheiro. — Dona Sarah estende um bolo de
notas para mim, com uma expressão fechada.
Despeço-me da minha amiga e saio da loja, depois de guardar o
dinheiro na bolsa, indo direto para a minha casa. Adianto algumas
encomendas e deixo a casa organizada antes que a Charlotte chegue, sorrio
ao perceber que logo vou precisar da ajuda da minha amiga para atender à
demanda de pedidos que venho recebendo.
Só termino as encomendas no final do dia, depois faço uns lanches
para nós duas, separo uma garrafa de vinho. Respiro fundo, tentando não
pensar no ogro tarado, ouço o interfone e espero a minha amiga tocar a
campainha. Ela já está liberada na portaria e sempre é liberada direto, mas
insiste em tocar o interfone para me dar mais tempo caso esteja com visita.
Doida.
A campainha toca e vou atender, encontrando Lottie com queijos e
vinho. É hoje que fico bêbada.
— Coloca um filme com um homem bem gostoso! — diz assim que
passa pela porta e dou risada.
— Quer um filme comum ou pornô? Você sabe que não gosto desses
filmes. — Minha amiga fica alguns segundos me olhando e gargalha com
vontade, se jogando no sofá.
— Escolhe qualquer filme desde que o protagonista seja gostoso, só
isso.
Pego as coisas das suas mãos e levo para a cozinha, coloco os
lanches em um prato e volto para a sala levando duas taças junto.
Começamos a comer e conversar tomando vinho e, lá pela quarta
taça eu solto:
— Transei com o ogro tarado.
Charlotte cospe todo o vinho que estava em sua boca.
— Sua vadia! E nem me conta.
— Estou contando agora, não ia correr o risco de a dona Sarah
ouvir. — Ela me olha por um momento e um sorriso se abre lentamente no
seu rosto.
― Agora me conta, ele é bem-dotado? Você gozou? Ele faz direito?
― Fico quieta durante toda a sequência de perguntas da Lottie, quando ela
para eu só respondo:
― Nós discutimos e eu fui embora, ele tentou me ligar e vir falar
comigo, mas não atendi.
― Poxa amiga. Tão ruim assim? ― Dou risada novamente.
― Ele me fez gozar duas vezes, mas estava pensando que
poderíamos ser amigos de foda.
― E qual é o problema em ser amiga de foda de um homem
daquele?
― Você sabe que não sei manter os meus sentimentos separados,
protegidos, sei lá, chame do que quiser. Não sei separar uma coisa da outra
e vou acabar me magoando.
― Vocês conversaram depois disso?
― Que conversa? Ele só queria transar. ― Ela franze a testa.
― Ainda acho que você podia muito bem aproveitar aquele corpão
dele, e ficar satisfeita sempre que quisesse. Imagina só, quase um orgasmo
delivery, você liga e o boy vem até a sua casa te fazer gozar loucamente. ―
Rimos juntas das besteiras que ela fala, depois conto que logo vou precisar
da ajuda dela no ateliê. Charlotte se levanta e estende a mão para que eu
segure. ― Esse ateliê será um sucesso, todos os dias vou sair da confeitaria
e passar aqui para te ajudar, até termos um lugar maior.
― Combinado ― digo segurando a sua mão e sou puxada para um
abraço, quase derramando o vinho. ― Cuidado, sua doida!
Rimos juntas e escolhemos Missão Impossível para assistir, já que
tem muitos filmes e o Tom Cruise para admirarmos. No fim da noite,
acabamos bêbadas e jogadas pela sala, totalmente apagadas e acordo no dia
seguinte com uma bela ressaca e tendo que acordar uma Charlotte
reclamona e atrasada para o trabalho.
A doida sai correndo depois de usar o banheiro e lhe desejo sorte
para não ser demitida ainda. Novamente sozinha, vou para o banheiro tomar
uma ducha antes de começar as encomendas do dia.
Os dias seguintes passam rapidamente, com as encomendas
aumentando e me deixando muito satisfeita pelo ateliê estar ficando cada
vez mais famoso. Coloquei o nome Magic Bakery porque muitas pessoas
dizem que os meus doces são mágicos, talvez por deixá-las mais felizes
depois de provarem.
Recebo muitas encomendas e a Chalotte me ajuda todos os dias, ao
fim de algumas semanas conseguimos juntar um valor suficiente para
começarmos a procurar um lugar para montar uma loja. Já imagino como
quero, tudo em cores claras, talvez tons pastel, e com muitos desenhos de
doces nas paredes. Quero vitrines lindas para expor os doces à pronta
entrega e um caixa bem fofo. Desce um pouco da nuvem, que tá subindo
rápido demais.
Capítulo 12
As semanas passam em um verdadeiro caos, entre milhares de
reuniões e muitos problemas com a nova IA que estamos criando. Passo
algumas horas ajudando nos códigos, acrescentando funções importantes e
alimentando os bancos de dados com informações relevantes. Nesse
momento estou tentando me concentrar, mas certa loira fica invadindo os
meus pensamentos todo o tempo.
― Senhor? ― Levanto a cabeça, encarando um dos analistas que
está trabalhando na IA.
― Desculpe, pode repetir?
― Já temos criada a Detecção Precoce de Sinais Clínicos e Análise
de Histórico médico, com isso a IA deve ser capaz de indicar o início de
doenças como pré-eclâmpsia, diabetes gestacional ou restrição de
crescimento fetal.
― Sim, mas essas são apenas duas funções para que essa IA seja
realmente eficiente ― respondo.
― Correto, a próxima faze do desenvolvimento inclui o
monitoramento em tempo real, ou seja, coletando dados reais de pacientes
reais podemos testar se a IA tem a capacidade de analisar esses dados e
apresentar algum resultado. As funções seguintes a essa, serão integração
de dispositivos médicos, para que a IA seja integrada com eles como
monitores fetais e medidores de glicose para coletar dados diretamente e de
forma contínua. ― Aceno concordando e indico que continue. ― São,
aproximadamente, 12 passos que serão realizados pela IA para chegar em
um diagnóstico, isso sendo o mais eficiente possível.
― O treinamento de profissionais para a utilização da ferramenta
está incluso no cronograma? ― questiono.
― Sim, é uma das fases finais do desenvolvimento, mas como
estamos desenvolvendo há algum tempo e temos algumas equipes
dedicadas apenas a isso, devemos concluir e poder lançar em alguns meses.
― Perfeito, continue me mandando relatórios e sabe que, se
precisarem de alguma ajuda, estou disponível.
Dispenso todos da reunião e percebo que apenas o meu melhor
amigo e sócio ficou na sala.
― Não tem nenhum compromisso? ― pergunto.
― Não nesse momento. ― Charles se levanta da cadeira que
ocupava e dá a volta na grande mesa de reunião, chegando perto de onde
estou. ― Por que não está me respondendo?
― Estamos namorando e eu não fui informado? ― retruco o
fazendo bufar.
― Você anda muito estranho, para dizer o mínimo, sei que a sua
fama de mal-humorado o precede, meu amigo, mas nessas últimas semanas
tenho até visto funcionários fugindo de você. ― Reviro os olhos.
― Não vejo nenhum problema com o meu humor. ― Ele levanta
uma sobrancelha.
― Jura? Então como que a recepcionista correu para o banheiro
chorando assim que você passou pela mesa dela?
― Ela estava mexendo no celular enquanto tinha uma fila enorme
de pessoas para serem liberadas, se a moça estivesse fazendo o seu trabalho
eu não precisaria chamar a sua atenção.
― Cara, existem formas mais delicadas de dar bronca em um
funcionário, nem tudo precisa ser a ferro e fogo sempre. ― Bufo, ficando
irritado com a sua insistência.
― Eu não fico enchendo o seu saco e dizendo como deve ou não
fazer o seu trabalho, agradeceria se não enchesse o meu também. ― Ele
estala a língua e sorri, me deixando preocupado.
― Você precisa transar. ― A palavra é como um gatilho que me
leva diretamente ao jantar com a Victoria, ao sexo sem proteção e ao
motivo para estar tão distraído ultimamente.
― Não, obrigado.
― Isso cheira a mulher, o que você fez, trepou e descartou? Não,
isso você faz sempre e não fica desse jeito. ― Reviro os olhos.
― Para de ser besta e me deixa em paz, não tem nenhuma mulher.
As últimas com quem me envolvi queriam me dar o golpe da barriga e me
afastar da minha filha, eu desisti dessa merda.
― Algum dia você terá que seguir em frente, pode ser doloroso,
mas tem que acontecer, senão é mais fácil se enterrar ao lado da sua mulher.
― Cerro os olhos na sua direção, ele ergue os braços em sinal de rendição.
― Já está tendo uma morte em vida, amigo, só falta se enterrar literalmente.
― Não estou morto ― resmungo.
― Se estivesse eu não estaria aqui, e sim correndo para um
psiquiatra para me internar porque estou falando com mortos. Não seja tão
literal, estou falando no sentido figurado, é uma analogia. ― Fico o
encarando até que erga as mãos para cima da cabeça, irritado. ― Vai se
foder! Você entendeu, cacete!
― Sim, mas é divertido te ver se enrolar para explicar algo que
entendi desde o começo, mesmo não concordando.
― Já pensou em fazer terapia?
― Eu não estou doido. ― Ele bufa.
― Deixa de ser uma mula teimosa, terapia não é para doidos, é para
tratar qualquer tipo de problema. Por exemplo, se tem um trauma que te
impede de ter relacionamentos, na terapia você pode falar sobre isso,
encontrar a raiz do problema e enfrentar de frente porque, às vezes, o
trauma está tão bem escondido que nem sabemos onde começou.
― Está entendendo muito do assunto, tá fazendo terapia? ― Ele
desvia os olhos e eu começo a rir. ― Cara, você vai começar a oferecer
terapia para todo mundo como se isso resolvesse todos os problemas da
humanidade.
― Poderia resolver, mas nunca saberemos por que existem muitos
preconceituosos e teimosos que não querem nem tentar.
― Babaca ― resmungo o vendo sair da sala, me deixando com
muita coisa para pensar e a Victoria ainda alugando um enorme espaço na
minha mente. ― Mas que porra!
Naquela noite chego em casa bastante cansado, mas vou direto para
o quarto da Lily ajudá-la com o dever, todas as noites estou fazendo isso
para passar mais tempo com ela. Eu a ajudo explicando partes que não
entendeu bem, complementando com o que me lembro de quando tive essa
matéria na escola e, logo, encerramos o seu dever o deixando pronto para
ela entregar amanhã.
― Parece cansado, papai. ― Olho para a Lily que tenta esconder
um sorriso travesso.
― Está me chamando de velho, pequena traça? ― Seu sorriso se
abre aquecendo o meu coração.
― Não é mais um jovem, precisa se cuidar, quero o senhor forte e
saudável até o meu casamento. ― O meu coração dá um salto no peito e
sinto a minha pressão cair, me apoio na sua cama e me sento novamente,
pois tinha me levantado na intenção de ir tomar um banho.
― Nem pensar! Só vai começar a namorar quando tiver 30 anos. ―
Ela inclina o rosto para o lado, me olhando intensamente.
― Mas aí terei filhos muito tarde, papai. Ouvi uma garota na escola
dizendo que temos que ter filhos antes do 30 porque depois estaremos
muito velhas. ― Franzo a testa, absorvendo a informação.
― Esqueça o que essa menina disse, ela não sabe de nada. Não sei o
que ela pensa ou de onde tirou essa ideia ridícula que mulheres de 30 anos
são velhas, e você, mocinha, não precisa se preocupar com esse tipo de
coisa ainda. Está muito nova para sequer cogitar essa possibilidade, se
concentre em estudar e tirar boas notas.
― Então não estarei como a vovó quando tiver 30 anos? ―
pergunta me fazendo rir, muito.
― É claro que não, e sua avó está muito bem em comparação à
outras pessoas da idade dela. Além disso, eu tenho 40 anos e não me sinto
nem um pouco velho. Isso são ideias ultrapassadas que estão querendo
retomar agora, nem dei o motivo. Deve ser alguém frustrado que começou a
espalhar essas mentiras. ― Paro de falar percebendo a minha filha bastante
concentrada em mim.
― Está bem, papai, mas quero namorar antes dos 20. ― Céus, o que
eu faço com essa garota?!
― Não chegou nem aos 10 ainda, quando chegar o momento
teremos essa conversa novamente. ― Ela acena concordando e eu saio do
seu quarto antes que tenha outra ideia que vá me causar outro mal-estar.
Já, seguro no meu quarto, tranco a porta e tiro a roupa a caminho do
banheiro, entro na ducha quente e sinto os meus músculos começando a
relaxar. Repasso os acontecimentos das últimas semanas, recordando-me do
momento com a Victoria no restaurante.
Inclino a cabeça deixando a água cair no meu rosto, tentando tirar o
rosto dela da minha mente, mas não tenho sucesso porque me lembro de
como foi sentir o meu pau dentro dela e o safado responde se animando.
Olho para o meu membro ereto que parece não ter nenhuma
intenção de se acalmar.
― Parece que você tem vontade própria, meu amigo.
Seguro na sua base, apertando um pouco e sentindo um arrepio
descer pela minha espinha até as minhas bolas que se contraem em resposta,
inicio movimentos em todo o meu comprimento deixando a minha
imaginação me guiar livremente. Gemo alto quando gozo jorrando a minha
porra no azulejo, xingo baixo por parecer um adolescente depois de assistir
um filme pornô. Por que ela não sai da minha cabeça?
Capítulo 13
Se eu soubesse que me sentiria tão bem depois de sair da confeitaria
da dona Sarah, teria feito isso antes. Já faz 1 mês que fui demitida e não
poderia estar melhor. O meu ateliê cresceu tanto que precisamos alugar um
lugar maior para ficarmos, chamei a Charlotte para me ajudar em tempo
integral e ela disse que a dona Sarah não gostou nada quando ela se demitiu.
Velha antiquada!
Os pedidos praticamente triplicaram e, em breve, precisaremos
contratar mais pessoas para nos ajudar com as encomendas. Estou
terminando um bolo de aniversário quando o cheiro do recheio de chocolate
com morangos que estou preparando chega ao meu nariz, quase não tenho
tempo de chegar ao banheiro e entre um espasmo e outro do meu estômago,
colocando tudo o que comi hoje para fora, grito a Lottie para não deixar o
recheio queimar.
― Amiga, desliguei o fogo, o que você tem? ― Ela me encontra em
um estado deplorável no chão, encostada na parede e respirando fundo
tentando não vomitar novamente. ― Ai, meu Deus! ― Olho para ela
confusa pela sua exclamação.
― O que foi? Não estou morrendo, apesar de parecer ― retruco,
irritada.
― Quando foi a última vez que você menstruou, Vicky? ― Olho
para ela por uns segundos, tentando entender o motivo para essa pergunta
absurda, mas me lembro de que menstruei no mês passado e foi muito
pouco.
― Não, nada disso, não crie ideias nessa sua mente criativa. Só
estou trabalhando demais e comendo mal, apenas isso ― digo, tentando
tirar essa possibilidade da mente dela e da minha.
― Amiga, não adianta negar, se for verdade logo a barriga começa a
crescer, então acho melhor você se adiantar e fazer um teste de gravidez
para tirar a dúvida. Se der negativo, eu te arrasto para um médico para
descobrirmos rápido o motivo desse mal-estar. ― Levanto-me do chão,
lavando o rosto na pia do banheiro, pego também uma escova e pasta de
dente e faço a higiene bucal para tirar o gosto ruim da boca.
Depois de me sentir minimamente mais humana encaro, novamente,
a minha amiga.
― Está bem, mas só depois que você terminar o bolo que eu estava
fazendo, não consigo nem pensar naquele recheio que o enjoo volta. ―
Charlotte sorri e volta para a cozinha do ateliê para terminar o bolo.
Não tive mais problemas durante o resto do dia e consegui enrolar a
Charlotte até a hora de ir embora, não sei por quanto tempo consigo enrolar
ela, mas quero adiar isso ao máximo.
Chego ao meu apartamento bastante cansada, mais do que o normal,
e vou direto tomar um banho para relaxar enquanto penso no que vou
comer. Coloco um pijama confortável ao sair do banho e, chegando na
cozinha, o interfone toca. Atendo e o porteiro me avisa que o Brian está
pedindo para subir, confusa e curiosa permito a sua entrada e espero,
desistindo de fazer qualquer coisa para comer.
A campainha toca e vou abrir para o Brian, que me olha com a
expressão fechada antes de entrar quando lhe dou passagem. Fecho a porta
e encaro o meu amigo de infância.
― Por que está fazendo isso? ― pergunta à queima-roupa, me
deixando em modo defensivo pelo ataque gratuito.
― Vai ter que ser mais específico ― respondo cruzando os braços e
indo até a minha poltrona favorita, porque preciso me sentar.
― Está acabando com a confeitaria da minha avó, minha herança,
está tudo desabando.
― Me desculpa pela sinceridade, Brian, mas quem está acabando
com a confeitaria é a sua avó. Perdi as contas de quantas vezes falei que
precisávamos atualizar o cardápio e oferecer opções mais modernas, assim
como as outras confeitarias da região, mas a sua avó é teimosa e sempre
disse que o clássico nunca saía de moda. De certa forma ela está certa, mas
nem todos os clientes querem o clássico, às vezes é o diferente que
conquista as pessoas. ― Ele franze a testa e seus lábios se juntam em uma
linha fina, assim como fazia quando era contrariado na infância. Mimado
que fala?
― Está roubando os nossos clientes.
― Não, em nenhum momento fui até a porta da confeitaria divulgar
o meu ateliê para os seus clientes, pelo contrário, me mantenho o mais
longe possível. Aliás, abri a loja longe da minha casa só para não ficar perto
de vocês, e correr o risco de me acusarem justamente disso que você disse.
― Ele também cruza os braços e eu respiro fundo, tentando me acalmar.
― Por que abriu um ateliê? ― Franzo a testa, desistindo de ser
paciente e compreensiva, que se dane.
― Porque era o meu sonho desde sempre, e você sabe muito bem
disso! ― Levanto-me sem conseguir mais ficar parada, alterando a voz. ―
Sua avó nunca soube administrar aquela confeitaria, vem aguentando com a
loja aberta aos trancos e barrancos, nem sei quantas vezes ela atrasou o meu
pagamento porque se enrolou em dívidas pela loja não gerar lucro. A sua
obrigação como neto formado em administração de empresas era gerir o
negócio, ajudar sua avó a fazer a loja prosperar, em vez de sair gastando
com viagens e mulheres um dinheiro que nem é seu ainda.
― Como ousa? ― Ele se levanta e me segura pelos ombros,
chacoalhando um pouco e me deixando zonza. ― O que você sabe sobre
gerir uma empresa? Nem terminou a porra da faculdade ainda! Sequer sabia
o que queria fazer da vida até a minha avó ajudar te dando um emprego,
está sendo ingrata, devia nos agradecer! ― Não reconheço mais o menino
que era meu amigo na infância, que vivia correndo atrás de mim e da
Charlotte para brincarmos todos juntos.
― Saia do meu apartamento, agora ― digo, pausadamente, para que
não reste dúvida nenhuma de que o estou expulsando daqui.
― Você não está me expulsando, não tem esse direito. ― Franzo a
testa e respiro fundo novamente, sentindo o mal-estar retornar.
― Sim, eu estou e tenho todo o direito de te expulsar, já que da
última vez que verifiquei esse apartamento ainda era meu. ― Ele me
empurra para o sofá fazendo uma careta.
― Você nunca me mereceu, minha avó sempre me disse e eu nunca
acreditei.
― Brian, faça um favor para nós dois e suma daqui de uma vez! ―
Ele aponta o dedo na minha frente.
― Você vai se arrepender por estar me rejeitando, você vai se
arrepender de nunca me dar uma chance. ― Ele bate a porta com força
quando sai e eu me encolho um pouco no sofá, contando as respirações e
tentando pensar em coisas boas para não me abater por essa visita estranha.
― O que foi isso? ― eu me pergunto, sem ter uma resposta.
Deito-me no sofá sem nenhuma fome e ligo a televisão, passando
horas trocando de canal e procurando algo decente para assistir, acordo no
dia seguinte com uma dor nas costas terrível e xingando Brian de todos os
pejorativos possíveis.
Tomo um banho para tentar aliviar a dor nas costas com a água
quente do chuveiro, o que não funciona, e me arrumo para ir trabalhar.
Escolho um vestido rosa pastel com cupcakes desenhados e todo o tecido, a
saia godê dá um ar de menina. Coloco uma sapatilha e, quando vou fechar o
vestido percebo que está um pouco justo nos seios.
― Que estranho ― falo sozinha, encolhendo os ombros para a
minha imagem no espelho.
Pego a minha bolsa ao passar pela sala e vou para o ponto de ônibus
pegar a condução para o ateliê.
Quando chego encontro a Charlotte atendendo uma cliente, apenas
nos olhamos e ela já entende que algo não está certo, assim que termina se
aproxima de mim e pergunta:
― Por que está com essa cara?
― Brian foi me visitar ontem. ― Ela franze a testa, já que nunca
gostou muito dele.
― O que ele foi fazer lá?
― Reclamar que estou acabando com a herança dele. ― Charlotte
fica quase um minuto inteiro me encarando de queixo caído.
― Ele não seria capaz.
― Seria sim, inclusive me ameaçou quando o expulsei. ― Ela
começa a rir do nada.
― Não acredito que perdi essa cena, por que expulsou ele?
― O doido chega na minha casa sem ser convidado, reclamando
como se eu tivesse culpa da avó dele nunca aceitar as nossas sugestões e
todo desaforado. ― Cruzo os braços tentando não rir do enorme sorriso
estampado no rosto da minha melhor amiga. ― Não sou obrigada a aturar
esse tipo de coisa na minha casa, expulsei mesmo!
― Eu daria meu fígado para ver a cara de bunda que ele deve ter
feito.
Rimos juntas e, logo, inicio mais um dia de trabalho bastante
agitado. Com mais enjoos que escondi da Charlotte, mas ninguém vai
contar.
Capítulo 14
Estou concentrado na evolução da IA que deve levar a minha
empresa ainda mais longe, e ter mais credibilidade do que já tem no
mercado. Não ouço quando a porta do meu escritório é aberta e dou um
pulo na cadeira quando duas mãos se espalmam na minha mesa.
― Mas que porra! ― reclamo levantando a cabeça e encontrando a
expressão debochada do Charles. ― Você não trabalha não?
― Para a minha sorte sou sócio, não subordinado. ― Reviro os
olhos e o encaro sério.
― O que quer?
― Te convencer a sair um pouco, sua filha não vai reclamar do pai
se divertir um dia só, afinal, está dedicando todo o seu tempo livre para ela
e não estou dizendo que está errado, apenas acho que precisa administrar
melhor suas folgas e se divertir um pouco.
― Tenho alguma chance de te fazer desistir dessa ideia ridícula? ―
Ele sorri abertamente cruzando os braços em frente ao peito.
― Não. ― Ele mesmo começa a juntar as minhas coisas e organizar
a minha mesa. ― Pode ligar para a sua mãe e avisar que vai chegar um
pouco mais tarde, avise para a sua filha que vai em uma festa de adultos e
que o fim de semana é todo dela. Aproveita e manda um beijo para cada
uma por mim.
― Babaca ― reclamo pegando o celular no bolso da calça e
fazendo a ligação.
Surpreendo-me por, tanto a minha mãe quanto a minha filha,
aceitarem melhor a ideia que eu chegue tarde por ir a uma festa do que por
causa do trabalho, vai entender.
― Pronto, vamos comigo. ― Desvio quando ele começa a me
empurrar para fora da sala.
― Não, eu vou te seguindo no meu carro.
― Mas você tem que beber. ― Eu o encaro irritado.
― Olha só, não sou um adolescente que vai sair bebendo e
dirigindo, caso eu queira beber chamo um carro por aplicativo para ir para
casa e busco o meu carro amanhã, acho muito bom que tenha um
estacionamento decente nesse lugar, senão eu passo reto e desisto da noite.
― Claro que tem estacionamento.
― Vamos logo, antes que eu desista.
Realmente o lugar tem um estacionamento com vigia 24 horas e isso
me tranquiliza um pouco. Entramos no clube exclusivo, onde sei que o
Charles vem sempre porque já me contou desse lugar. Subimos direto para
o camarote e pedimos as nossas bebidas.
― Agora me conta que porra aconteceu com você? ― pergunta
assim que as bebidas chegam.
Tomo um gole do meu uísque, apreciando o gosto amadeirado com
um toque picante antes de engolir sentindo todo o corpo aquecendo.
― Conheci uma mulher. ― Seus olhos se expandem de surpresa.
― Finalmente.
― Mas deu tudo errado ― narro para ele tudo o que aconteceu
desde que conheci a Victoria e o quanto estou confuso por ela não sair da
minha cabeça.
― Você foi um cavalo com ela, faltou só relinchar.
― Obrigado pelo apoio ― digo irônico.
― Não estou te apoiando, só sendo sincero. ― Ele toma um gole da
sua bebida, pensando um pouco antes de voltar a me olhar. ― Ela tem todos
os motivos para te odiar, mas a pergunta que não quer calar é se você acha
que vale a pena se esforçar para conquistar essa mulher?
― Não sei.
― Então descubra, porque se não achar que é para se acertar com
essa mulher definitivamente e tentar algo sério, é melhor deixá-la em paz e
cada um seguir o seu caminho.
Pouco depois ele já se levanta e vai atrás da sua próxima vítima,
enquanto eu permaneço sozinho e pensativo. Bebo um pouco mais do que
costumo beber, ficando um pouco alterado. Vejo na multidão alguém
conhecido, mas não chego a reconhecer, fico ali sozinho até sentir um peso
no meu colo. Abro os olhos que tinha fechado e dou de cara com a Rebecca
pendurada no meu pescoço.
― O que você quer? ― falo sentindo a língua enrolar na boca.
― Fiquei sabendo que estava aqui e vim cuidar de você, meu amor.
― Tento afastá-la, mas fico com medo dela acabar caindo no chão e se
machucar. Imagina o escândalo.
― Não temos nada e não preciso de babá. ― Consigo colocá-la
sentada ao meu lado e me levanto, vendo tudo girar. ― Acho que exagerei
um pouco. ― Começo a rir de mim mesmo.
― Aquele irresponsável do seu amigo vai se ver comigo, onde já se
viu? Te arrastar até essa espelunca e te largar sozinho enquanto ele está
fodendo com alguma vagabunda por aí.
― Aposto que ela deve falar menos do que você durante o sexo. ―
Seus olhos se expandem à medida que eu explodo em uma gargalhada.
― Vem, vou te levar para o meu apartamento e te dar um banho
gelado.
Sou guiado para fora do clube e levado até o meu carro.
― Não posso dirigir, não podemos ir no meu carro. ― Rebecca tira
as chaves da minha mão e sorri cheia de malícia.
― Eu dirijo, meu bem.
Entramos no carro e sinto os meus olhos pesarem conforme fazemos
um caminho que não é da minha casa, mas que bom que não é porque não
quero a Rebecca dentro da minha casa e perto da minha filha.
Rebecca me ajuda a chegar até o elevador depois de estacionar o
meu carro na garagem do seu prédio. Fico apoiado em um dos lados,
respirando fundo e tentando pensar de forma racional. Será que vou me
lembrar dessa porra amanhã?
Entramos no apartamento dela e sou levado direto para o quarto,
onde ela tira toda a minha roupa e me leva até o banheiro. Estou tentando
fazer essa bebedeira passar quando sinto suas mãos passeando pelo meu
corpo, abro os olhos e a procuro, encontrando-a ajoelhada na minha frente e
começando a chupar o meu pau como se fosse a porra de um pirulito.
O grande problema é que, por mais que esteja gostoso, o guerreiro
não está com vontade de subir. O playground fechou para balanço.
Depois de cansar a boca e as mãos para tentar levantar o meu pau,
Rebecca se levanta e me empurra para a parede bastante irritada. Eu apenas
olho para o guerreiro abatido e faço um meneio com a cabeça sem saber o
que aconteceu. Afasto a imagem de certa loira da minha mente e saio do
banho um pouco mais consciente.
― Toma isso, vai te ajudar com a ressaca. ― Agradeço à Rebecca
pelo comprimido que me estende e tomo o suco. ― Pode se deitar na cama,
não é como se nunca tivesse vindo aqui antes.
Sabendo que ainda não tenho nenhuma condição de dirigir, pego o
meu celular e mando uma mensagem para o Charles avisando que já saí do
clube e que conversamos depois, também mando uma para a minha mãe
não ficar preocupada porque, mesmo sendo adulto, ainda prezo pela paz de
espírito da dona Abigail.
Deixo o celular na mesinha ao lado da cama e encosto a cabeça no
travesseiro, acordo na manhã seguinte me sentindo um lixo, é como se
tivesse uma bateria de rock tocando um solo na minha cabeça. Levanto-me
e vou para o banheiro tomar um banho.
― O que foi que ela me deu que não resolveu a ressaca? ― Tento
me lembrar do que aconteceu depois que caí no sono, se aconteceu alguma
coisa, mas está tudo em branco.
Encontro uma embalagem de camisinha jogada no chão do banheiro
e, ou a minha porra ficou no chão e secou ou está furada. Olho com mais
atenção e vejo o buraco na ponta sentindo todo o meu corpo gelar. Tomo
uma ducha tentando não pensar nisso, mas ao sair me olho no espelho e tem
muitos arranhões e chupões pelo meu corpo.
― O que aconteceu aqui? ― eu me pergunto sem ter ideia da
resposta.
Ouço a voz da Rebecca no quarto e fico mais um pouco na
privacidade do banheiro, ela deve estar falando com alguma amiga no
celular. Espero que desligue para retornar ao quarto.
― Até que enfim saiu daí, já ia chamar o resgate para te socorrer. ―
Franzo a testa.
― O que aconteceu, Rebecca? ― Ela sorri e se aproxima de mim,
sem nenhuma vergonha do seu corpo nu.
― Jura que não sabe? ― Ela ri debochada. ― Vou explicar, depois
que dormiu, você ficou roçando na minha bunda, seu pau endureceu e nós
transamos. Fiquei um pouco surpresa porque com um boquete não subiu,
achei que estava fora de combate, mas você estava insaciável e até me
deixou assada, nem a camisinha aguentou e estourou.
― Você toma remédio? ― pergunto a segurando pelos ombros.
― Não, essas coisas engordam e eu preciso do meu corpo magro. ―
Reviro os olhos.
― Se tiver engravidado não vai ficar magra por muito tempo ― eu
digo a soltando e recolhendo as minhas roupas, vestindo-as apressado.
― Vou marcar uma consulta e tomar algo.
― Porra, se deixar passar o tempo não faz efeito. Vou te mandar
uma pílula do dia seguinte e quero que me garanta que vai tomar, aliás,
estarei aqui quando tomar.
― Não confia em mim? ― Ela faz um bico, provavelmente na
intenção de ser sexy.
― Não ― respondo terminando de calçar os meus sapatos e busco o
meu celular, guardando-o no bolso depois de conferir que não tem nenhuma
chamada da minha mãe ou da Lily.
― Aonde você vai?
― Para casa ― respondo e a deixo sozinha no quarto, saindo
daquele apartamento como quem foge do diabo.
O que foi que eu fiz?!
Capítulo 15
Novamente estou passando mal e, dessa vez, a Charlotte me obrigou
a fazer um teste de gravidez. Ficar olhando para a tirinha que vai decidir o
meu futuro é, no mínimo, angustiante. Olho para o relógio e para a tirinha,
começo a sorrir pensando que foi só um alarme falso quando o segundo
risco aparece. Encaro aquele exame em choque, tanto que a primeira reação
que tenho é começar a chorar, desesperada, sem saber o que vou fazer da
minha vida agora.
Meu Deus, como eu vou cuidar de uma criança se nem consigo
cuidar de uma planta? Nem animal de estimação eu tenho, porque seria
cruel com o ser inocente ter alguém como eu de tutora, certeza de que o
coitado ia acabar morrendo de fome e eu presa por maus tratos. Credo.
Adoro animais, tanto que valorizo as suas vidas. Mas no caso da
criança, não tenho escolha, porque ela ou ele está crescendo dentro de mim.
― E aí? Esse resultado sai hoje ou vai demorar mais? ― pergunta
Charlotte batendo na porta do banheiro.
Abro a porta e saio com o exame na mão. O ogro tarado deve ter um
super esperma, uma trepada e eu estou grávida, como pode?
― Confere aí para ter certeza de que não estou vendo demais. ―
Entrego o exame para ela que olha de mim para ele diversas vezes e me
abraça com força.
― Você vai ser mãe! ― gemo com a confirmação.
― Era o que eu temia.
― E agora?
― Bom, vou ligar para o pai da criança e informar que o jantar teve
consequências.
Saio de perto dela e vou até o armário onde guardo a minha bolsa,
pego o cartão dele de dentro dela e ligo do meu celular. Chama algumas
vezes e quando atende, é uma voz feminina que ouço.
― Alô. ― Olho para o celular, conferindo o número.
― Esse número é do Christopher?
― Quem quer falar com ele? ― pergunta a mulher do outro lado.
― Ele propôs investir no meu negócio, e preciso falar com ele ―
digo uma meia verdade.
― Ele está no banho, eu só atendi porque podia ser algo importante
da empresa dele.
― Você é secretária dele? ― Nem sei o motivo da pergunta, mas sai
antes que eu tenha a chance de filtrar.
― Sou a noiva dele.
Encerro a chamada assim que a ouço dizer que tem um
compromisso com ele, minha vontade é jogar o celular longe, mas não vou
ter como comprar outro por enquanto.
― AI, que ódio!
― O que foi, amiga? ― Olho para a Charlotte que eu não tinha
percebido ao meu lado.
― O ogro tarado é noivo, acredita?
― Que cafajeste!
― Não vou mais procurar por ele, vou seguir a minha vida e me
preocupar só com essa criança. ― Ela me olha mais séria, parecendo
preocupada.
― Por que você não tenta falar com os seus pais? ― pergunta.
― Já esqueceu o que aconteceu da última vez que fui pedir ajuda?
― retruco, me lembrando do fiasco que foi a última conversa com eles.
― Mas já passou muito tempo e algo pode ter mudado. ― Franzo a
testa, a encarando desconfiada.
― Você sabe de alguma coisa que eu não sei?
― Não, mas acho que é válida uma visita para eles. ― Charlotte me
deixa sozinha depois de soltar o seu conselho, e fico pensando e
considerando os meus próximos passos.
Passo o resto da semana com o ateliê atolado de pedidos e tomando
coragem para ir até a casa dos meus pais, mais uma vez e que será a última
se eles me tratarem como fizeram antes.
O sábado amanhece nublado, nem o sol teve vontade de aparecer e
eu chego a repensar se é uma boa ideia ir até a minha antiga casa hoje, mas
já imagino a Charlotte falando que eu estou usando desculpas esfarrapadas
para não fazer as pazes com eles.
Chego no grande portão da mansão onde eles vivem até hoje e toco
o interfone.
― Pois não? ― atende uma voz.
― Vim falar com os meus pais, sou Victoria Anderson. ― Fico
aguardando ansiosa quando o aparelho fica em silêncio.
― Eu não sabia que o Sr. e a Sra. Anderson tinham uma filha ― diz
a voz.
― Eles ainda têm, será que dá para abrir logo ou vai me deixar
plantada aqui o dia todo? O meu pai não vai gostar nada de saber que a
empregada não deixou a filha dele entrar ― reclamo, usando um tom de
ameaça para ver se ajuda a agilizar as coisas.
― Pode entrar, senhorita. ― O portão começa a abrir e tenho
certeza de que o meu pai ou a minha mãe apareceram e liberaram a minha
entrada, já que a empregada nem sabe quem eu sou.
Ando devagar pelo gramado da propriedade, recordando os vários
momentos que passei entre esses muros, bons e ruins.
Chego na porta principal e vejo a minha mãe em pé, espero qualquer
reação menos a que ela tem. A mulher madura cobre a boca com as mãos,
soltando um soluço, antes de correr na minha direção com várias lágrimas
saindo dos seus olhos. Seu corpo se choca com o meu em um abraço forte,
como não me lembro de ter ocorrido nunca.
― Minha filhinha ― ela diz no meu ouvido, afastando o seu rosto e
espalhando beijos pelo meu.
― O que houve, mãe?
― Vem, vamos entrar e conversar. Quero que me conte tudo o que
andou acontecendo com você. ― Ela segura a minha mão e me puxa para
dentro, me levando para a grande sala de estar, onde aponta o sofá para que
eu me sente. ― O seu pai já vem.
― Estou aqui. ― Levanto-me ao ouvir o tom grave do meu pai. ―
Minha filha, você voltou. ― Ele também me surpreende com um abraço de
urso. ― Senta, querida, nos conte tudo o que aconteceu na sua vida no
tempo que esteve afastada de nós.
Obedeço mais pelo choque das reações deles do que por qualquer
outro motivo.
― Eu que pergunto, o que aconteceu com vocês? Quando eu saí
daqui da última vez pareciam tão decepcionados, furiosos, na verdade,
porque não escolhi a profissão que vocês gostariam.
― Tivemos muito tempo para refletir, sentir a sua falta e nos
arrependermos pela forma como te tratamos.
― Estão arrependidos? ― pergunto, atônita.
― Claro, filha ― responde a minha mãe. ― Peço que perdoe esses
velhos teimosos.
― Ei, a única velha aqui é você! ― diz o meu pai, brincando com a
minha mãe.
― Seu velho abusado! ― retruca a minha mãe.
Esse é o tipo de interação que eu nunca presenciei, mas estou
gostando de acompanhar pela primeira vez.
― Agora fique quieto e deixe a Vicky falar.
Respiro fundo, me preparando para as expressões decepcionadas nos
rostos dos dois.
― Estou grávida ― digo de supetão, sem ao menos prepará-los
primeiro, já tirei o band-aid de uma vez.
― Por que não trouxe o seu namorado junto? ― pergunta a minha
mãe, com uma expressão confusa no rosto.
― Não tem nenhum namorado. ― Meu pai é o primeiro a
apresentar uma expressão brava no rosto.
― Explica melhor ― pede e eu atendo.
Conto tudo o que fiz desde a última vez que saí daqui, como conheci
o ogro tarado e como aconteceu a concepção do bebê que estou esperando,
sem entrar em detalhes.
― Mas esse homem tem que te ajudar de alguma forma, minha
filha. ― Meu pai se levanta, andando de um lado para o outro, bufando de
raiva.
― Eu não quero saber dele, vou criar esse bebê sem ele, mas vou
precisar do apoio de vocês. Podemos ter as nossas diferenças, mas são os
meus pais, e esse bebê é neto de vocês, vai precisar dos avós para mimá-lo.
― Minha mãe se aproxima no sofá e coloca a mão na minha barriga.
― Vamos respeitar a sua decisão e estar ao seu lado. ― Novas
lágrimas rolam pela sua face. ― A vida está nos dando uma nova chance,
porque foi isso o que devíamos ter feito na última vez que esteve aqui. Esse
bebê será muito amado e vocês terão o nosso apoio.
Os meus olhos ficaram marejados pela emoção de ouvir essas
palavras da minha mãe, era o que eu gostaria de ouvir da última vez e estou
muito feliz por ter os meus pais comigo nesse momento.
― Esse bebê será muito mimado, mas não faltará amor nunca. ―
Meu pai se aproxima e coloca a mão na minha barriga. ― Já posso dizer
que sou um avô babão e a criança nem nasceu ainda.
Rimos juntos e engatamos uma conversa sobre o meu ateliê, depois
sobre o enxoval do bebê, misturamos tudo e passamos uma tarde
maravilhosa juntos. Acabo ficando para dormir no meu antigo quarto
porque desaba uma tempestade, e a minha mãe me proibiu de pegar chuva
para não prejudicar o bebê. “Agora tem que priorizar essa doçura que está
crescendo dentro de você”, foi o que ela disse.
Capítulo 16
Os últimos meses passaram voando e, finalmente, a Inteligência
Artificial criada pela minha empresa para ajudar médicos a diagnosticarem
problemas na gestação, e agilizar na tomada de decisão e no tratamento
precoce, mais do que a medicina atual permite.
Minha secretária ficou responsável pela organização da festa para o
lançamento, onde será apresentada a Inteligência Artificial e teremos
promotores disponíveis para que os clientes façam um contato inicial e,
posteriormente, agendem uma reunião para fecharmos contrato.
Paguei uma babá para ficar com a Lily e estou na festa, ligando de
tempos em tempos para ela. Nesse momento estou a caminho do banheiro
para fazer outra ligação quando paro impressionado com a mesa de doces,
continuo olhando para a mesa e andando quando trombo com alguém.
― Ai! ― A voz me faz olhar para o rosto da mulher que seguro,
para impedi-la de cair.
Os meus olhos vão descendo do seu rosto para os seios mais
volumosos do que me lembro e a barriga arredondada.
― Você está... ― Não consigo terminar a frase, minha mente ferve
em cálculo de quanto tempo de gestação ela tem e, se existe a possibilidade
de ser meu filho.
― Sim, grávida. Parabéns pela brilhante descoberta, Sherlock. ―
Ela mexe os braços, tentando se soltar, mas a seguro com mais força,
tentando não a machucar. ― Pode me soltar agora? Preciso trabalhar.
― Você... eu.. quando... como? ― gaguejo, sem conseguir falar
nada que faça algum sentido e, irritada, ela se esforça mais para sair do meu
aperto até eu soltá-la.
― Quer que eu explique como são feitos os bebês? Prefere as
cegonhas, a sementinha, qual das histórias? ― diz, me deixando confuso.
― Quer saber? Por que não vai procurar a sua noiva e me deixa em paz? ―
Afasta-se sem deixar que eu faça qualquer pergunta.
― Mas de que porra ela está falando? ― pergunto para mim
mesmo.
― Falando sozinho, amigo? ― Viro-me na direção do Charles.
― Encontrei a Victoria aqui. ― Ele franze a testa e começa a esticar
o pescoço, procurando pela festa.
― Quem é ela? ― pergunta.
― A loira grávida. ― Seus olhos se expandem, tão surpreso quanto
eu.
― Você acha que pode... ― Encolho os ombros antes que complete
o raciocínio. ― Porra. Vai falar com ela.
― Eu falei, mas por algum motivo ela pensa que estou noivo. ― Ele
estava tomando um gole de espumante e cospe todo o conteúdo no chão.
― É o quê?
― Exatamente, mas não sei de onde ela tirou essa ideia ridícula.
― Filho. ― Tanto eu quanto Charles nos encolhemos ao ouvir o
tom usado pela minha mãe.
O traidor do meu amigo murmura um “boa sorte” e desaparece entre
os convidados.
― Tem algo que não tenha me contato sobre aquele jantar com a
Victoria?
― Sim, nós acabamos transando ― confesso, me sentindo um
garoto tomando bronca depois de fazer uma traquinagem.
― Faz anos que não me meto na sua intimidade, mas vocês se
protegeram? ― Eu a encaro por um momento.
Ando pelo salão procurando pela Victoria e a encontro indo para os
banheiros, aproveito a oportunidade e, quando ela entra, vou atrás dela e
tranco a porta, para termos privacidade. Confiro os reservados, garantindo
que não tem mais ninguém aqui dentro.
― Não sei se sabe, mas aqui é o banheiro feminino.
― Não me importa, esse bebê que carrega é meu filho? ― Ela
empalidece e eu aproveito para me aproximar, com medo que desmaie.
― Escuta bem, porque vou falar só uma vez. ― Ela respira fundo e
aponta o dedo no meu peito. ― Se está preocupado que eu faça um
escândalo e manche a sua imagem de perfeito CEO, fique tranquilo que não
vou fazer nada disso, até porque estou aqui a trabalho e tenho uma
reputação a zelar pelo bem da minha empresa. Segundo ponto, importante,
sua noiva nunca vai saber sobre o que aconteceu entre nós, foi um erro que
nunca devia ter acontecido, mas não temos como mudar o passado. Pode ir
viver a sua vida perfeita tranquilo e com a consciência limpa porque esse
filho é apenas meu, você não teve participação.
― Quem é o pai? ― rosno a encurralando.
― Não importa, importa apenas que não é seu, já que está tão
preocupado.
― Ele te ajuda? ― Ela revira os olhos.
― Olha só, não vou responder mais nada, agora me deixa usar a
porcaria do banheiro em paz porque preciso voltar para a festa.
Saio do banheiro a deixando, por enquanto, mas ela insiste que eu
tenho compromisso. Chuto-me mentalmente por estar tão focado na criança
que não me preocupei em desmentir, se bem que provavelmente ela nem
acreditaria em mim. O que eu faço agora? Como posso confirmar se a
criança que a Victoria espera é minha ou não?
O restante da festa passa rapidamente, faço a apresentação da
Inteligência Artificial que a minha empresa criou, vejo todos os
responsáveis por hospitais e clínicas positivamente surpresos e muito
interessados, depois de ter explicado superficialmente as funcionalidades
anunciei que os promotores estariam disponíveis pelo evento para tirarem
todas as dúvidas e agendarem reuniões.
Ainda fiquei mais algumas horas no evento, sem tirar os olhos da
Victoria em nenhum momento. Percebi alguns olhares furtivos, seus, na
minha direção e não tentei disfarçar que ela estava na minha mira. Ela me
deixou com ainda mais dúvidas, a principal era o motivo dela achar que eu
sou noivo sendo já que nem aliança eu uso.
Converso um pouco com o Charles, combinando de almoçarmos
juntos na segunda-feira para que ele me ajude com esse problema. E tem o
meu celular que não para de tocar com chamadas da Rebecca.
Desde que saí do apartamento dela, na última vez que transamos,
que ignoro as suas ligações e são centenas todos os dias. A mulher não me
deixa em paz e, para dormir, tenho que desligar o celular. Essa porra não
dorme não?!
Com mais perguntas do que respostas, volto para a minha casa com
a minha mãe e dispenso a babá, que me informa que a Lily foi dormir há
algumas horas e se comportou muito bem. Ela ficaria feliz em ter um irmão
ou uma irmã, tenho certeza disso.
Capítulo 17
Levanto cedo no sábado e encontro a minha mãe e a Lily tomando
café da manhã juntas.
― Por que não me acordaram para acompanhar vocês?
― A vovó disse que o senhor ficou muito cansado ontem na festa,
que precisava descansar. ― Encaro a minha mãe, mas não discordo porque
realmente cheguei em casa esgotado ontem.
― Mas sempre tenho energia pra você, pequena traça ― digo
fazendo cócegas na sua barriga e amando o som da sua risada.
― Pai, eu quero um irmãozinho, ou talvez uma irmãzinha porque
posso ensinar para ela tudo o que sei. ― Engasgo-me com o café por causa
do pedido surpreendente da minha filha. E eu pensei nisso ontem.
― Mas eu nem tenho namorada.
― Arruma uma, ué. ― Encolhe os ombros, como se encontrar uma
namorada fosse a coisa mais fácil do mundo e, na sua mente infantil, deve
ser mesmo.
― Não é tão fácil assim, uma mulher para viver comigo tem que te
amar e te tratar bem acima de tudo e, infelizmente, você sabe que eu não
tive sorte nas últimas tentativas.
― Porque não procurou no lugar certo. Por que não namora a
Vicky? ― Essa garota ainda vai me matar engasgado. ― Calma, pai, não
precisa engasgar, foi só uma pergunta.
― Uma pergunta que você não devia fazer, mocinha. Deixe que da
minha vida amorosa cuido eu. ― Ela termina de tomar o café da manhã e
sai resmungando:
― Como se tivesse uma.
Olho para a minha mãe que segura a risada.
― Quem ensina essas coisas para essa garota? ― pergunto
indignado.
― Bom, ela só quer ver o pai feliz e quer irmãos, assim como os
amiguinhos da escola dela.
― Então é por isso que ela veio com essa história doida de querer
irmão.
― Não, filho, isso é porque, mesmo que você se esforce, ela ainda
se sente muito solitária e ter uma criança por perto, mesmo que um pouco
mais nova, vai ajudá-la a não se sentir mais dessa forma.
― Mas ela tem a senhora que fica aqui o dia todo. ― Minha mãe ri.
― Filho, eu não tenho mais idade pra ficar correndo por aí o dia
todo e, por mais que a Lily seja uma criança calma, ainda tem muita energia
para gastar.
― Acho que já sei o que vou fazer. ― Levanto-me animado.
― Tenho até medo de perguntar.
― Eu já volto, avisa pra Lily que tive um problema no trabalho para
resolver, mas que volto antes do almoço. ― Pego as chaves do carro e os
meus documentos no aparador e saio de casa.
Se é de companhia que a minha filha precisa, é isso o que ela vai ter.
Pesquiso no celular alguns lugares de confiança para o que eu quero
fazer e encontro um muito bem recomendado, perto de Los Angeles.
Aproveito a estrada livre e cravo o pé no acelerador para chegar o mais
rápido possível. Já no canil, sou recepcionado por uma das responsáveis
pelo lugar que me mostra todas as certificações e garantias dos animais de
lá, são tratados com amor e carinho desde o nascimento e é aqui que vou
comprar o primeiro cachorro da minha filha. Um golden retriever.
Olho para vários deles, mas um me chama atenção, uma fêmea que
me ignora totalmente para morder o seu brinquedo, que contém um tipo de
pasta dentro.
― O que é aquilo que ela está mordendo?
― É um brinquedo para estimular o animal, colocamos uma pasta
com ração e alguns outros alimentos que são permitidos e assim ela se
concentra em morder o brinquedo para poder comer a recompensa que tem
dentro, estimula o raciocínio porque ela tem que descobrir a melhor forma
de comer a pasta.
― É aquela espertinha que vou querer, vai se dar muito bem com a
minha filha.
― Eles são muito sociáveis e adoram crianças, com certeza serão
melhores amigos.
Compro a cadelinha de presente para a minha filha, junto com cama,
casinha, ração, e um monte de brinquedos. Volto para casa com a filhote
dormindo no banco traseiro, bem protegida na caixa de transporte.
Chego em casa um pouco depois da hora do almoço, mas é por uma
boa causa, entro em casa carregando a cadelinha no colo que está animada
em lamber todo o meu rosto.
― Lily? Filha, vem aqui ― chamo e ouço o barulho de talheres na
sala de jantar.
― Está atrasado, papai ― diz a pequena traça entrando na sala e
paralisando ao me ver com a pequenina no colo. ― O que é isso? ―
pergunta com os olhos marejados.
― Ora, pequena traça, você é esperta o suficiente para saber que é
um cachorro ― brinco a fazendo bufar uma risada.
― Por que o trouxe aqui? ― pergunta devagar como se tivesse
receio da resposta.
― É um presente pra você ― digo soltando no chão a filhote que se
remexia feito minhoca querendo descer.
Mais depressa do que achei que fosse possível, tropeçando e com o
rabo abanando freneticamente, a filhote alcança a minha filha que já está no
chão e ri feliz quando a cachorra pula nela lambendo o seu rosto.
― Qual o nome dele? ― pergunta.
― Não tem nome e não é ele, é ela ― respondo e, quando olho para
a passagem entre a sala de jantar e a sala de estar, vejo a minha mãe de
braços cruzados com um sorriso no rosto.
― Vai se chamar Athena, que era a deusa da sabedoria na Grécia
antiga ― diz a minha filha, surpreendendo um total de zero pessoas, já que
aqui em casa todos sabemos que a pequena traça gosta muito de mitologia.
E eu nem sei o motivo, já que é um negócio chato pra caramba.
― Que seja Athena, então ― respondo e volto para o carro para
buscar o restante das coisas da nova integrante da família.
Capítulo 18
Hoje saí para almoçar com o Charles, e estamos há quase uma hora
tentando descobrir se o filho que a espera Victoria pode ser meu. Eu não
tenho como ter certeza se ela não me falar nada, mas aquela história que me
contou no banheiro pareceu muito estranha. Fora que ela parecia bastante
nervosa com a minha presença.
― Você pode entrar com uma ordem judicial para que ela faça o
teste de paternidade ― diz o meu amigo.
― Claro, porque obrigar alguém a fazer esse tipo de coisa ajuda
muito a ter uma relação amigável.
― Então o que sugere? ― Penso por um momento e, talvez, tenha
tido uma ideia melhor do que as anteriores.
― A minha mãe e a Lily gostam dela, e sei que é recíproco, talvez
elas consigam convencer a Victoria a contar quem é o pai dessa criança. ―
Sorrio orgulhoso da minha ideia.
― E se não for você?
― Bom, pelo menos tirei a dúvida. Porque, pensa comigo, é muito
estranho termos transado e alguns meses depois ela aparecer grávida, a não
ser que tenha saído com outro cara na mesma época que transamos. ― Só
de pensar nela com outro homem, ainda depois de me dizer que não gostava
de sexo casual, não sei ao certo definir a sensação, mas tem um gosto
amargo.
― O importante é tirar essa dúvida do caminho. Será que a sua mãe
pode ajudar?
― Talvez, posso conversar com ela. ― Nesse exato momento o meu
celular toca e vejo no identificador que é a minha mãe, atendo preocupado.
― Mãe?
― Não, a chapeuzinho vermelho! É claro que sou eu, Christopher!
― Pelo tom já sei que terei problemas. ― Pode me explicar por que tem
uma perua nojenta dentro de casa, se achando a dona do pedaço e dando
ordens aos seus empregados? Pior, ameaçou colocar a Athena para fora
quando a coitada mordeu a sua canela e, depois, estragou o sapato caro
dela.
― Não sei de quem está falando, mãe? ― Olho para o telefone,
quando ouço uma voz conhecida do outro lado.
― Deixe comigo, sua velha ridícula. ― Menos de um segundo
depois, Rebecca entra na chamada. ― Oi, meu amor, eu quis te fazer uma
surpresa, já que agora seremos uma grande família feliz, inclusive já
pesquisei ótimos colégios para a Lily na Suíça e tem abrigos que aceitam
vira-latas onde podemos deixar essa pulguenta.
― Mude qualquer coisa que seja na minha casa e será despachada
para o outro lado do mundo mais rápido do que consegue soletrar “cartão de
crédito”.
― Credo, amor, eu só queria ajudar. ― Bufo irritado, por ter o meu
dia de trabalho atrapalhado, já que terei que voltar para casa e arrumar a
bagunça que a Rebecca está fazendo.
― Muito ajuda quem não atrapalha, fica quieta, não mexa em nada
que eu estou a caminho para resolver tudo. ― Levanto-me deixando
dinheiro na mesa para pagar a conta e saio correndo para o meu carro.
― Ei, cara, o que aconteceu? ― Charles me pergunta quando me
alcança.
― Cuida da empresa hoje, preciso ir para casa agora.
― Me fala o que houve primeiro.
― A Rebecca enlouqueceu, chegou na minha casa querendo mandar
em tudo. ― Passo as mãos na cabeça, nervoso.
― Se acalma, esganar a mulher não vai resolver nada. ― Bufo uma
risada sem humor, porque o meu amigo sabe que essa é exatamente a minha
vontade.
― Vou resolver esse problema e, depois, eu te ligo avisando como
foi.
― Se precisar sair para beber algo, pode contar comigo. ― Coloca a
mão no meu ombro.
Entro no carro e sigo direto para a minha casa, encontro um
caminhão de mudança na porta, me deixando ainda mais confuso.
― Que porra está acontecendo aqui? ― pergunto assim que entro
em casa e vejo a Rebecca em um cabo de guerra com a Athena, onde
claramente a cadela está vencendo, fazendo a mulher gritar de raiva.
― Mande essa pulguenta largar os meus sapatos, agora!
― Não ― respondo, cruzando os braços. ― Ninguém te convidou
para morar na minha casa, o que te faz pensar que é bem-vinda?
Ela passa a mão na barriga, me fazendo arregalar os olhos.
― Estou grávida e o filho é seu, vamos nos casar e essa casa será
minha. ― Balanço a cabeça tentando organizar os meus pensamentos.
― Você pode estar grávida, mas não tenho garantias que o filho é
meu e, não sei em que século você vive Rebecca, mas não vou me casar
com você por causa da criança. Te ajudo com o que for preciso se for meu,
podemos compartilhar a guarda e ficar bom para os dois, mas casamento
está fora de questão.
― Como você pode ser tão insensível? ― berra, irritada por ser
contrariada, assustando a coitada da Athena que corre para se esconder atrás
das minhas pernas. ― Vamos ter um filho e você me rejeita.
― Te conheço, Rebecca, nós terminamos há meses, não quero e não
vou me casar com você.
― Eu sumo! Desapareço daqui com o seu filho e você nunca mais
vai nos encontrar, te proíbo de conviver com essa criança. ― Seguro o seu
braço com mais força do que seria prudente.
― Se esse filho for meu, nem você e nem ninguém vai me proibir
de ter contato, te caço no inferno, mas te encontro e tiro essa criança de
você. Agora pegue o resto de dignidade que te resta, aproveita a mudança e
volta pra sua casa. ― Eu a solto com um tranco que a faz cair sentada no
sofá.
― Se é assim que quer, que seja, então. Mas quero um chá de bebê
digno do seu herdeiro, aquele que vai comandar o seu império.
― Que vai dividir com a Lily, você quer dizer. ― Ela torce a boca,
fazendo uma careta.
― Isso, foi o que eu disse. Podemos fazer o chá revelação.
― Faz o que quiser, só não crie ideias nessa sua mente criativa, até
o DNA eu vou ajudar no que precisar porque não sou tão insensível quanto
pensa. ― Ela acena concordando.
― Pode me ajudar com as malas? ― Pego as malas dela e as levo
de volta para o seu carro.
Quando entro novamente em casa me jogo no sofá, respirando
fundo.
― Andou se divertindo bastante, filho. ― Não me atrevo a abrir os
olhos quando ouço a voz da minha mãe. ― Se tivesse se protegido não teria
essa cobra atrás de você com barriga.
― Não se preocupe com a Rebecca, vou resolver esse problema
logo. ― Não me atrevo a verbalizar as minhas suspeitas.
― Espero que não vá pagar para ela abortar.
― Sabe que eu não faria isso, assumo as consequências dos meus
atos. ― Respiro fundo novamente. ― Acho que estou ficando velho demais
para fortes emoções. ― Sinto o seu tapa no meu braço.
― Se você está velho, eu sou o quê? Uma múmia? Toma vergonha
nessa sua cara! ― ralha me fazendo rir.
― A senhora dá de 10 a 0 em muita novinha por aí, não sei como
ainda não arrumou um namorado bonitão, aliás sei sim, eu não vou deixar
nenhum velhote se engraçar com a minha mãe.
― Seu bobo ― diz dando um tapa no meu braço e rindo comigo. ―
Espero que saiba o que está fazendo, só toma cuidado, essa mulher pode ser
perigosa. ― Aceno concordando e dou um beijo na testa dela antes de
pegar a Athena no colo e deixá-la lamber o meu rosto.
― Obrigada pela ajuda, pulguenta. ― Por incrível que pareça, a
pequena rosna e late, como se não gostasse de ser chamada assim.
― Acho que ela entendeu que aquela lá usou isso para ofender a
coitada. ― Sorrio.
― É uma lady, então? ― Com a língua de fora, ela me olha como se
confirmasse o que eu disse. ― Devo estar ficando doido, falo com
cachorros agora.
― Os animais podem ser melhores do que muita gente por aí, eu
inclusive prefiro. ― Minha mãe sai da sala me deixando sozinho com a
Athena que pula do meu colo e começa a correr pela sala antes de se jogar
na sua cama e deitar quieta.
― Devem ter esquecido de me avisar onde fica o botão de desliga
desse bicho, ou então colocaram uma bateria de 220v. ― Balanço a cabeça
rindo e subo para o meu quarto.
Já que perdi a tarde de trabalho, vou aproveitar para descansar um
pouco.
Capítulo 19
Marquei com uma cliente aqui no ateliê, mas o horário marcado foi
há meia hora atrás e até agora ela não apareceu e nem responde as minhas
mensagens. Levanto-me decidida a não atrasar ainda mais o meu trabalho
quando a porta abre e entra uma loira de salto altíssimo e uma barriga de
grávida parecida com a minha, ela me olha como se eu fosse um ser
insignificante.
― Que bairro horrível, ninguém respeita uma grávida tentando
estacionar o carro ― reclama. ― Pode chamar a sua chefe, marquei com a
dona desse lugar. ― Olha de mim para as paredes do lugar como se
estivesse com nojo e eu respiro fundo.
― A senhora marcou comigo, eu sou a dona, pode se sentar por
favor. ― Indico a cadeira na minha frente e ela faz questão de tirar um
lenço da bolsa e limpar o assento.
Respiro fundo novamente porque a mulher entrou há 2 minutos e já
quero fazê-la engolir a porcaria do lenço.
― Eu vou fazer o meu chá revelação na mansão do meu noivo, em
duas semanas. ― Passa as mãos na barriga e olha com uma expressão
estranha para a minha, que faço o possível para esconder do seu olhar.
― Sim, o que vai querer e como deseja a revelação? ― pergunto.
A mulher se apresenta como Rebecca e é uma verdadeira perua fútil,
daquelas que surtariam se tivessem que trabalhar para conseguir comprar os
itens caros que usa. Ela sai dizendo que vai mandar um dos empregados vir
buscar tudo, mas algo me diz que ela vai me fazer entregar e, desde que
pague a taxa extra, não vejo problema.
Duas semanas depois, descubro que o destino realmente está de
sacanagem comigo porque além da megera me pedir para entregar, o
endereço é na mansão do Christopher.
― Respira fundo, não é nada demais, não é nenhuma novidade. ―
Percebo que não está funcionando porque quase hiperventilo. ― Não é o
fim do mundo, ela tá grávida, você também, o pai é o mesmo e é um
cafajeste, sem novidades.
Depois de alguns minutos, consigo me controlar e entro, ajudando
os funcionários a organizarem a mesa de doces, junto com o bolo que tem o
recheio da cor do sexo do bebê, azul ou rosa. Eu podia ter feito amarelo só
para ver a megera surtando, mas é o meu trabalho e não posso fazer esse
tipo de coisa.
Tudo organizado, ouço a voz enjoada da megera se aproximando e
respiro fundo buscando paciência e me arrependendo de não ter deixado a
Charlotte vir comigo, ela diria. “Arranca o cabelo falso dessa loira azeda.”
― Não são os melhores, mas é o que dava para arrumar com o
tempo que tinha para organizar. ― Ela me olha, parecendo perceber a
minha presença apenas agora. ― Você pode ficar com os empregados na
cozinha, não quero que nenhum convidado te confunda comigo.
― Me desculpa, madame, mas não sou sua empregada, fui
contratada para a mesa de doces e é com a mesa de doces que eu vou ficar,
se não estiver satisfeita eu me retiro junto com os doces. ― Seu queixo cai
e eu mantenho a minha pose, mesmo que sinta o sangue gelar.
― Não se fazem mais serviçais como antigamente. ― Vira-se e
volta a gritar ordens, vez ou outra segurando de um jeito estranho a barriga,
não parece um gesto natural que toda grávida acaba adquirindo na gestação.
Tiro esses pensamentos da mente quando vejo a dona Abigail e a
Lily chegando com um cachorrinho fofo as seguindo.
― Quem é esse? ― pergunto me abaixando com dificuldade e o
pequeno animal se aproxima para me cheirar, lambendo a minha mão e em
seguida se apoiando nas patas traseiras para pular em mim.
― Athena, não! ― briga a Lily, mas a pequenina não liga, lambe a
minha barriga por cima da roupa e derrete o meu coração.
― Pode deixar, ela está querendo conhecer o bebê. ― Eu me
levanto com um pouco de dificuldade e a Athena se senta perto de mim,
olhando na minha direção e inclinando a cabeça de um jeito fofo.
Começo a conversar com a Abigail enquanto a Lily brinca com a
Athena, quando em um instante a Lily sussurra algo no ouvido da avó e
some dentro de casa. Olho para o lugar por onde ela entrou desconfiada de
que esteja aprontando algo.
― Sabe, a Lily pode ser uma criança, mas é mais esperta do que
muito adulto experiente. ― Direciono o olhar para a Abigail. ― Fica
tranquila que ela não foi aprontar nada demais, só tirar uma suspeita do
caminho.
Antes que eu possa falar alguma coisa, entra Christopher
acompanhado de algumas pessoas que começam a se espalhar me deixando
até um pouco zonza vendo como rapidamente a casa ficou cheia.
― É hora do show, criança. ― Abigail dá um tapinha no meu
ombro e segue na direção do filho.
― O que elas estão aprontando, Athena? ― pergunto para a filhote
que fica apenas me olhando.
Encaminho-me para a entrada da casa para ir ao banheiro, mas paro
no lugar quando ouço a voz do Christopher perto de mim.
― Isso está muito estranho, cara.
― Mas ela avisou do ultrassom, te mostrou o exame, mas não te
deixou acompanhar? ― pergunta outra voz, que imagino ser de um amigo.
― Sim, e isso é muito estranho, fora que toda vez que tento tocar na
barriga dela a mulher surta e sai correndo. E eu que pensei que nunca veria
a Rebecca fugir de homem. ― O amigo dá risada.
― Muito estranho mesmo, mas aproveita a festa, quem sabe não
descobre o que ela tá aprontando?
Paro de ouvir a conversa deles e corro até o banheiro, lavando o
rosto e passando um pouco de água na nuca para ver se melhora o mal-estar
que estou sentindo.
Volto para perto da mesa de doces e vejo a Lily cochichando algo
com a dona Abigail, que sorri parecendo orgulhosa da neta. Quando a
grávida retorna para o lado de fora onde todos estão, parece insegura e não
tira a mão da barriga por nada. Quando começam a receber os presentes ela
deixa para o Christopher pegar, para não ter que usar as duas mãos.
Em um determinado momento, dona Abigail se aproximou sorrindo
da moça e a abraçou, parabenizando-a pela gravidez quando ouvimos um
pequeno estrondo, como um balão estourando e a barriga da mulher
magicamente ficando plana novamente. O lugar fica totalmente silencioso,
parece que ninguém respira ao descobrir que a mulher não estava grávida.
― Por isso que ninguém podia tocar na sua barriga, agora faz
sentido, era capaz de estourar se alguém apertasse muito. ― O amigo do
Christopher se aproxima da mulher com os olhos cerrados. ― Recomendo
que vá embora e não volte nunca mais, já se envergonhou demais para uma
vida só.
Ela bate o pé e sai correndo, tendo um casal que imagino serem seus
pais indo atrás dela.
― Bom, você sabe qual era o sexo do bebê de mentira dela? ―
Olho para o amigo do Christopher que me olha sorrindo. ― Sou Charles,
amigo desse feioso aqui.
― Bom, eu sei sim. ― Lembro-me de uma conversa que tive
quando me mandou o exame com o sexo do bebê, me surpreendi porque
nossos bebês seriam do mesmo sexo, achei até estranho. ― É o mesmo que
o meu.
― Então podemos aproveitar a festa e os presentes para revelar o
sexo do seu bebê.
― Não, essa festa não é minha.
― Deixa, Vicky, não vamos desperdiçar o momento porque a
Rebecca tentou me dar o golpe da barriga. ― O olhar que o Christopher me
dá causa arrepios por todo o meu corpo e acabo concordando porque está
tudo pronto mesmo.
― Acho que preciso te contar uma coisa. ― Um sorriso se abre no
seu rosto e ele pisca um olho.
― Eu sei, vem. ― Estica a sua mão na minha direção e eu seguro.
Cortamos o bolo, descobrindo pela cor do recheio que espero uma
menina. Ele e todos os outros descobriram, porque eu já sabia.
― Obrigada por me dar mais uma netinha. ― Sou abraçada pela
Abigail e a encaro sem entender. ― Ah, menina, eu sei das coisas e espero
que o cabeçudo do meu filho e você se resolvam.
Permaneço em silêncio, chocada pelas felicitações de pessoas que
nunca me viram na vida. Quando todos vão embora, eu fico para arrumar a
mesa de doces, recolher e guardar os restos para que os donos da casa
aproveitem por mais uns dias.
― Deixa isso, precisamos conversar. ― Suspiro desanimada, me
preparando para o que ele tem para falar. Principalmente depois do que me
disse quando transamos.
Capítulo 20
Eu já suspeitava que a história da Rebecca estar grávida tivesse algo
errado, só estava procurando provas de que estava certo para que ela
sumisse da minha vida de uma vez, mas não esperava que a minha mãe e a
minha filha fossem mais rápidas.
Sei que preciso conversar com a Victoria, tenho quase certeza de
que sou o pai do filho que ela espera, e aproveito o suspiro desanimado que
ela dá para segurar o seu braço e a impedir de fugir.
― Não pensem que vocês duas escaparam de uma conversa séria ―
digo sem olhar para a minha mãe e minha filha, mas sabendo que elas estão
próximas o suficiente para me ouvirem.
― Acho melhor voltarmos para dentro, meu amor, deixa o seu pai
conversar com a Vicky. ― Ouço a risada do Charles e sei que os três estão
entrando em casa.
― Agora seja sincera comigo, essa menina que espera é minha
filha? ― pergunto, sem esperar que fosse ficar tão ansioso pela sua
resposta.
― Sim ― solta junto com o ar que parecia estar segurando.
― Por que não me disse antes?
― A primeira coisa que fiz quando descobri a gravidez foi te ligar
para contar por que você tinha o direito de saber.
― E o que mudou? ― Franzo a testa confuso.
― A Rebecca atendeu o seu celular se apresentando como sua
namorada, noiva, nem lembro mais, mas fiquei tão brava ao descobrir que
você transou comigo tendo um compromisso que não quis mais saber.
Decidi criar essa criança sozinha. ― Respiro fundo para segurar a fúria que
corre pelas minhas veias como lava.
― Por isso ouvi a desgraçada falando no telefone, era com você que
ela tava falando. ― Percebo o meu erro quando o seu rosto fica vermelho e
ela tenta se desvencilhar de mim. ― Não aconteceu nada, pelo menos não
que eu lembre. Só me lembro de ter saído com o Charles, bebido demais e
aceitado a carona da Rebecca porque não estava em condições de dirigir,
depois tomei o suco que ela me deu e não me lembro de mais nada. ― Não
conto a parte do banho porque é desnecessário causar mais conflito nesse
momento, ela não precisa saber dessa parte e, muito menos, que eu brochei.
― Por que está me contando isso? Nós não temos nada. ― Respiro
fundo e seguro o seu rosto.
― Eu nunca consegui me relacionar com uma mulher depois que a
Emma morreu, mas estou considerando a possibilidade com você. ― Ela
franze a testa e eu quero me bater. ― Não é porque você está grávida, você
já não saía da minha cabeça antes disso e eu só não queria admitir que me
sinto diferente com você.
― Diferente como? ― pergunta e sei que não vai facilitar o meu
lado.
― Você trata a minha filha bem, ela te adora e isso já seria o
suficiente para te querer por perto, mas além disso você me atrai como
nenhuma outra mulher. ― Respiro fundo ao perceber que ela não vai falar
nada e tento a minha última arma, ou meu argumento. ― E o meu pau
decidiu que só vai subir se for pra você, então sugiro que aceite o meu
pedido de namoro.
― Você realmente é um ogro tarado, não consegue nem me pedir
em namoro sem fazer parecer uma ordem. ― Ela ri e aproximo o meu rosto
do seu.
― Posso te dar muitas ordens, uma delas é tirar a roupa na maior
velocidade que conseguir e empinar esse rabo gostoso pra mim. ― Seu
corpo estremece e um gemido baixo deixa os seus lábios. ― Eu me
apaixonei por você na primeira bronca que me deu, só fui muito orgulhoso
para admitir que estava certa em tudo o que falou.
― Não tenho certeza se posso mesmo confiar em você. ― Deixo
um beijo no seu rosto e aproximo a boca do seu ouvido.
― Vou só conversar com as duas detetives que tenho em casa e
podemos sair e conversar com mais privacidade, o que acha? ― proponho,
esperando que aceite e tentando a todo custo driblar a sua resistência.
― Não vai me querer de sobremesa de novo, vai? ― pergunta e
preciso respirar fundo e controlar o meu pau que começa a se animar com a
ideia, deixando a minha calça apertada.
― Não me dê ideias. ― Ela sorri, me deixando aliviado.
A cena que encontramos quando entramos em casa é hilária, Charles
sentado com a sua melhor expressão de inocente, sendo imitado pela minha
filha e a minha mãe nem disfarça a felicidade em me ver junto com a
Victoria.
― Se acalmem vocês três, preciso saber de quem foi a ideia de
espetar a barriga da Rebecca, alguém? ― pergunto e vejo a Victoria
segurando o riso ao meu lado.
― Meu filho, a Lily foi procurar alguma coisa no quarto dela e viu a
Rebecca se trocando, por algum motivo ela se esqueceu de trancar a porta
enquanto tirava a barriga falsa para tomar banho. ― Franzo a testa, sem
querer acreditar que a Rebecca fosse capaz disso, mas sabendo que é
verdade o que a minha mãe diz. ― A Lily teve a ideia de trocar a barriga
falsa por uma bexiga, e fez isso escondendo o tecido no closet do próprio
quarto. Ela desceu e me contou o que aconteceu, foi aí que tive a ideia de
tirar um dos alfinetes que esqueci na minha blusa para espetar a bexiga, e o
resto vocês viram.
Capítulo 21
Parece história de filme o que a dona Abigail contou, mas depois do
que eu mesma contei ao Christopher sobre a cobra que queria fisgá-lo, não
duvido de mais nada.
― Agora que esse assunto já está esclarecido, podemos ir. ―
Christopher segura a minha mão sob o olhar atento dos três sentados no
sofá, que nem tentam esconder os sorrisos.
― Vamos. ― Olho para as nossas mãos juntas, sentindo uma
cosquinha no estômago, ou talvez seja a minha filha querendo dar oi ao pai
dela. ― Nos vemos depois ― digo para a nossa plateia e saímos da sua
mansão.
― Quero te conhecer. ― Eu o encaro confusa pela afirmação que
ele faz assim que entramos no seu carro.
― Já me conhece, muito bem por sinal ― respondo e ele sorri.
― Quero saber tudo sobre você.
― O que quer saber?
― Tudo, começa contando sobre a sua família.
Durante todo o percurso até o restaurante, falo sobre os meus pais,
minha infância e, quando chegamos, estou começando a contar sobre as
brigas. Não sei o motivo para me sentir à vontade para contar, mas ele
parece bem interessado, então continuo falando mesmo depois de nos
acomodarmos na mesa e fazermos os pedidos. Paro quando os pratos
chegam, porque contei até sobre a reconciliação com os meus pais.
― Nossa, e eu vejo que está fazendo sucesso com o seu ateliê. ―
Não consigo evitar que o orgulho me preencha, porque realmente o ateliê
está indo melhor do que eu esperava para o começo.
― Tenho até medo disso ― confesso.
― Do quê?
― De tudo começar a desmoronar de uma hora para outra, às vezes
acontece quando uma empresa deslancha muito rápido. ― Ele sorri,
presunçoso.
― Isso é má administração, se você administrar bem o seu negócio
não terá esse problema. Claro que existem períodos onde terão baixas nas
vendas, mas se a empresa estiver bem estruturada consegue seguir em
frente sem maiores problemas. E eu posso te ajudar nisso.
― Claro, já que é um CEO fodão. ― Rimos juntos.
― CEO com certeza, fodão já deixo por sua conta. ― Cerro os
olhos, sorrindo.
― Está todo engraçadinho, onde está aquele cara arrogante?
― Talvez esteja embaixo da mesa, que tal procurarmos por ele? ―
pergunta com a voz rouca me arrepiando, estremeço quando sinto a sua mão
na minha perna. ― Ou podemos procurar a minha arrogância em outro
lugar, sozinhos.
O meu coração quer dizer não, minha mente entrou em curto e o
meu corpo já berrou sim milhares de vezes, a prova está na minha calcinha
molhada. Enquanto o meu dilema acontece sinto a sua proximidade, seu
calor passando para mim e, quando levanto o olhar para o seu rosto sou
capturada pelas suas pupilas dilatadas.
Um suspiro, é o tempo que tenho antes de ser arrebatada pelos seus
lábios exigentes, sua língua intrometida e as suas mãos atrevidas. Nós nos
levantamos ofegantes e Christopher deixa na mesa o pagamento do jantar,
me levando de volta para o carro onde fico apreensiva em voltar para a sua
casa. Imagina a filha dele me ouvir gritando a noite toda.
Respiro aliviada ao chegarmos em um hotel, onde ele deixa o carro
com o manobrista e pede a melhor suíte que eles têm. Não me atrevo a dizer
nada, nem consigo nesse momento. Só quero esquecer todas as dúvidas que
senti nos últimos meses nos braços desse homem e, se me prensando em
uma parede já me deixou louca, imagina o que ele é capaz de fazer em uma
cama?
Não falamos nada no elevador que sobe direto até o último andar.
― Você pegou a suíte presidencial? ― pergunto embasbacada
quando entramos no quarto onde temos uma visão privilegiada de toda a
cidade.
― Claro, preciso me redimir pela má impressão que a nossa
primeira vez deve ter causado. ― Dou risada de novo.
― Ainda não encontrei a sua arrogância, poderoso CEO.
Com um sorriso de lado no rosto, ele se aproxima lentamente e me
pega no colo, levando-me até a cama onde me coloca com cuidado. Levanta
a saia do vestido que estou usando e beija a minha barriga, me fazendo
suspirar.
― Preciso que tire uma soneca agora, pequena, o papai e a mamãe
vão brincar. ― Bufo uma risada e solto um gemido quando os beijos
mudam de intensidade enquanto o vestido todo é levantado, me deixando
apenas de lingerie.
― Ogro tarado ― chamo pelo seu apelido quando eleva o corpo
sobre o meu e beija os meus lábios com paixão, explorando a minha boca e
aquecendo todo o meu corpo.
Suas mãos passam pelas laterais alcançando os meus seios,
Christopher aperta e torce um mamilo elevando o meu prazer. A outra mão
escorrega até a minha calcinha e pressiona o meu clitóris através do tecido
causando um choque no meu organismo, e uma cachoeira na minha boceta.
― Porra ― digo, gemendo com os seus lábios torturando o meu
pescoço, lambendo o meu colo e alcançando os seios que mama com
vontade, com certeza deixando marcas, enquanto me invade com dois
dedos, pressionando um ponto que me faz ver estrelas.
― Era isso que eu devia ter feito naquele dia ― diz alternando entre
os seios, sem deixar de dar atenção a nenhum.
Novamente deixa beijos na minha barriga até chegarem na minha
virilha, me deixando na expectativa porque sei o que ele é capaz de fazer
com a boca. Minha calcinha é descartada e os meus lábios íntimos
abocanhados, sua língua invade o meu canal me fazendo elevar o tronco
gemendo cada vez mais alto.
Seus dedos pressionam meu nervo inchado enquanto sou devorada
com fome, sinto que estou quase alcançando o ápice quando os movimentos
param, todos de uma vez, frustrando o meu corpo, me deixando carente.
― Vou te comer do jeito que eu falei. ― Eu o encaro sem entender,
sequer me lembro do que ele me falou, quando sou virada de barriga para
baixo e ele eleva o meu quadril, o empinando na sua direção. ― Assim. ―
Solta a mão no meu traseiro em um tapa que me deixa ensopada, me
fazendo arfar.
Arrisco olhar para trás só para encontrá-lo se despindo, liberando
seu pau gostoso, ereto e pronto para entrar no jogo. Sou invadida com uma
estocada forte, gritando o nome dele enquanto mete profunda e
ritmadamente, retomando a minha escalada de prazer.
Sinto-me subir cada vez mais alto, nossos fluidos se misturando no
meu interior, até que despenco gozando forte e gritando, novamente, o seu
nome. Mais algumas estocadas depois, Christopher goza grunhindo e se
derramando dentro de mim.
Desabamos na cama, sorrindo feito bobos.
― Agora, sim fiz direito, você merecia mais do que uma parede em
um restaurante, você merece muito mais do que essa cama.
― Não me iluda, não agora que estamos nos conhecendo. ― Ele
franze a testa e, depois de um momento, parece entender algo que não faço
ideia do que seja.
― Agora é a minha vez de te contar a minha história, eu já sei tudo
sobre você, então, agora, é a sua vez de me conhecer melhor.
Eu esperava qualquer coisa, menos a história que ele contou, que
explica um pouco da sua personalidade, apesar de não justificar o seu
comportamento. A quem eu quero enganar? Já perdoei esse ogro tarado,
mas ele não precisa saber disso ainda.
Capítulo 22
As últimas semanas eu vivi praticamente em uma nuvem de
felicidade, completamente apaixonado pela Victoria, passei todo o tempo
dividindo a atenção entre ela e a minha filha, apesar de, na maior parte dos
dias, ela e a minha filha concordarem em estar juntas facilitando a minha
vida.
A Lily adora a Victoria, que por sua vez faz tudo o que pode para
agradar a minha filha e isso me faz um homem muito mais feliz. Estamos
agora mesmo jogando juntos, quando percebo a respiração da Victoria se
alterar.
― Está se sentindo bem? ― pergunto preocupado, e acabo
chamando a atenção da Lily para nós.
― Tá tudo bem, Vicky? ― pergunta, franzindo a testa em uma
expressão muito parecida com a que estou fazendo agora.
― Sim, só estou sentindo muito calor. ― Ela quase não consegue
completar a frase, pois desmaia em seguida, me dando um grande susto.
― Lily, chame a sua avó para ficar com você, vou levar a Victoria
ao hospital agora. ― A minha filha faz o que eu peço, enquanto eu saio de
casa com a minha namorada no colo.
Coloco a Victoria no banco da frente e prendo o cinto de segurança,
sem saber como estou mantendo a calma, mas dou a volta e entro no lado
do motorista dando partida no carro e acelerando para o hospital mais
próximo, sentindo o meu coração apertado de medo.
Chegamos lá e já levam a Victoria para a emergência, felizmente
esse hospital já utiliza a Inteligência Artificial que a minha empresa lançou
recentemente, mesmo assim fico preocupado com o que pode acontecer.
Passo os minutos seguintes rezando para que as duas fiquem bem, até que o
médico entra na sala de espera com uma expressão serena no rosto.
― Familiares de Victoria Amy Anderson. ― Aproximo-me
depressa.
― Sou namorado dela e pai da bebê que ela espera ― respondo.
― Ela teve uma elevação na pressão arterial que já foi controlada,
usamos um novo sistema para identificar se há outra anomalia ou
enfermidade que precise de tratamento precoce, mas só foi identificada a
pressão. ― O meu coração se aperta sabendo que tanto ela quanto a bebê
correm risco, caso não seja controlado. ― Felizmente, ela está com o pré-
natal em dia e, aparentemente, só teve alguns dias estressantes. Então
recomendo que tentem evitar que ela tenha emoções muito fortes,
principalmente no estágio final da gestação, ela não pode se estressar, pois
isso pode elevar a pressão e agravar o quadro.
― Entendo, e tem alguma medicação ou algum tratamento que ela
possa fazer? ― pergunto.
― O melhor tratamento que ela pode fazer no momento é ficar
bastante de repouso e evitar fortes emoções. ― Aceno concordando,
sentindo aquela pontada de impotência me incomodando.
A minha empresa criou a porra de uma inteligência artificial para
ajudar a diagnosticar precocemente problemas como pressão alta na
gestação, isso em tempo de tratar e evitar maiores problemas, até mais
precoces do que já ocorrem atualmente. E, mesmo com tudo isso, não
consigo ajudar a minha mulher grávida.
― Posso vê-la? ― pergunto, sem poder fazer nada além de estar ao
lado dela.
― Sim, ela está em observação no quarto e, assim que a pressão
estabilizar, será liberada.
Sou informado do número do quarto onde a Victoria está e vou
direto para lá, abro uma fresta da porta por onde a vejo deitada na cama
com os olhos fechados. Entro no quarto e me aproximo dela.
― Está melhor? ― pergunto passando a mão no seu rosto e a vendo
abrir os olhos com a expressão cansada.
― Estou melhorando, não pensei que a minha pressão estivesse tão
alta, eu acabei me esquecendo de medir antes de sair de casa.
― O médico disse que você já está cuidando disso, mas por que não
me contou? ― Ela encolhe os ombros.
― Não achei que fosse acontecer nada.
― Eu já cheguei a falar o motivo para a minha esposa morrido no
parto? ― pergunto, principalmente porque não me lembro de ter contado
essa parte da minha história, geralmente não conto parte nenhuma, mas
tenho quase certeza de que pulei essa parte e me arrependo de não ter falado
antes.
― Não, e eu não perguntaria por que deve ser doloroso.
― Ela teve uma complicação devido a uma doença gestacional não
tratada precocemente, por esse motivo a minha empresa criou a inteligência
artificial que ajuda os médicos a diagnosticarem ainda mais rápido esse tipo
de enfermidade e tratar mais cedo do que o atualmente possível. ― Ela
parece se encolher.
― Me desculpa, não queria te fazer se preocupar comigo. ― Reviro
os olhos.
― Como não vou me preocupar se eu te amo? ― Seus olhos se
expandem, me divertindo.
― Não me ilude que a pressão sobe e eu não saio dessa cama hoje.
― Rimos juntos.
― Pelo contrário, vai sair dessa cama o mais rápido possível, tem
uma garotinha muito preocupada com você, um ateliê para cuidar e muito
para acontecer ainda.
Conversamos mais um pouco, continuo preocupado com a Victoria,
mas mesmo após a alta ela não quis me deixar levá-la para a minha casa e
cuidar dela. Segundo a teimosa, temos obrigações que não podem ser
deixadas de lado, ela com o trabalho dela e eu com o meu. Respeito a sua
decisão e a deixo em casa antes de voltar sozinho para a minha,
encontrando a minha mãe e a Lily me esperando.
― Cadê a Vicky?
― Deixou-a sozinha? Não foi assim que te eduquei! ― Respiro
fundo, me preparando para encará-las.
― A Victoria preferiu ir para o apartamento dela porque tem suas
obrigações no ateliê amanhã cedo e eu tenho os meus compromissos na
empresa, tentei convencê-la a vir para cá, mas ela não quis e eu preferi
respeitar a sua decisão para não a estressar.
― E cadê o tal ogro que ela tanto fala, papai? Você devia carregar a
Vicky para cá para cuidarmos dela, posso até ajudar a fazer os bolos do
ateliê. ― Eu me abaixo, ficando mais próximo da altura da minha filha.
― Pequena traça, o passo que dei com ela já foi um avanço e tanto,
mas não vou obrigar a Victoria a fazer algo que não quer ou não se sente
confortável. Sei que quer que ela more aqui conosco, eu também quero, mas
temos que respeitar o tempo dela. ― Lily cruza os braços e faz um bico
fofo.
― Vocês adultos são tão complicados. ― Ela bufa antes de ir
pisando duro para o seu quarto.
― Entendo o que quer fazer, filho, mas não acha que é perigoso
deixar a Victoria sozinha depois do que aconteceu hoje? ― Suspiro
desanimado, sabendo que a minha mãe tem razão.
― Sim, mas ela também é adulta e vou confiar que, se passar mal
novamente, vai me ligar.
― Estou orgulhosa de você ― diz me abraçando, depois me solta e
sobe as escadas para o seu quarto me deixando sozinho na sala.
Jogo-me no sofá, cansado pelo dia de hoje e emocionalmente
abalado pelo medo de acontecer com a Victoria o mesmo que ocorreu com a
Emma. Elas são diferentes.
Fecho os olhos respirando fundo.
Sonho

Corro atrás da Lily e da Victoria em um parque com grama verde,


em um dia de sol. As duas riem divertidas até a Victoria se curvar gritando
de dor.
― Não! ― grito correndo até elas.
― Pai, ajuda a Vicky ― pede a Lily e eu tento segurar a Victoria,
mas sempre que tento pegar a sua mão ela escapa entre os meus dedos.
― Victoria, segura a minha mão ― peço, desesperado.
― Me ajuda ― ela pede, levantando a cabeça e me encarando com
uma expressão assustada.
― Vicky! ― chamo tentando tocar o seu corpo, mas sem conseguir,
ela parece etérea.
― Foi assim que se sentiu quando eu parti? ― Olho para o lado,
assustado com a voz que ouvi.
― Emma? ― Ela sorri docemente, aquele sorriso que sempre
aquecia o meu coração.
― Me desculpa por não te contar nada, tive medo. ― Franzo a testa,
cada vez mais confuso.
― Medo de quê?
― De perder a nossa filha, olha que garotinha linda que ela se
tornou. Talvez, se eu tivesse contado o que os médicos me falaram, eu
estivesse aqui com vocês. ― Olho na direção onde estava a Victoria, mas
ela desapareceu. ― Não quero que se culpe por algo que não vai mudar,
quero que seja feliz com a mulher por quem se apaixonou e cuide dela.
― Por que está me dizendo isso?
― Você está apavorado, é visível, mas a Victoria não sou eu e a
filha de vocês não é a Lily, com isso eu quero dizer que não precisa ficar
apavorado porque você criou algo que pode ajudar a sua mulher, como já
está acontecendo. Cuide dela, dê amor a ela e seja feliz. É o que eu desejo
que você faça. Te vi sofrendo por muito tempo sem poder fazer nada, agora
quero que siga em frente.
― Obrigado ― digo com lágrimas nos olhos, enquanto a minha
esposa desaparece na minha frente.
Olho novamente para onde a Lily estava parada e a encontro com a
Victoria e um bebê, as duas brincam com a nova integrante da família e o
meu coração se enche de alegria e calma conforme lágrimas de felicidade e
alívio caem livremente pelo meu rosto.

Fim do sonho

Acordo assustado, passo as mãos no rosto me lembrando do sonho e


caminho até o móvel onde fica uma foto do dia do meu casamento com a
Emma, nossas expressões de felicidade e amor. Seguro o porta-retratos na
mão, olhando cada detalhe da imagem nele, me lembrando de cada
momento. Aproximo-o do meu rosto e deixo um beijo no objeto frio.
― Obrigado, Emma ― digo e me viro indo para as escadas e
subindo para o meu quarto.
A Emma sempre estará presente na minha vida, como uma fase doce
e, ao mesmo tempo, muito dolorosa quando partiu. Agora, graças a ela,
tenho ainda mais certeza de que devo seguir em frente com a Victoria.
Capítulo 23
A semana no ateliê foi ainda mais corrida do que o normal e,
felizmente, precisamos contratar mais pessoas para nos ajudarem com as
encomendas que praticamente triplicaram desde que abrimos. A Charlotte
vive me mandando descansar, mas não consigo ficar parada e, todos os dias,
meço a minha pressão com o aparelho que comprei, tendo a certeza de que
está controlada.
Nos últimos dias não tive nenhuma forte emoção, mas hoje não sei
se consigo me controlar porque os meus pais convidaram o Christopher e a
família dele para almoçarem conosco, isso em uma das muitas vezes que a
minha mãe me ligou para perguntar se eu estava precisando de algo.
Nunca esperaria tamanha preocupação dos meus pais e, confesso,
que estou me aproveitando um pouco disso para ser mimada por eles.
Christopher passa no prédio onde eu moro para me buscar e me
ajuda a descer o bolo que estou levando para a minha mãe, ela adora tudo
que tem leite em pó e fiz um bolo com recheio e cobertura do jeito que ela
gosta. Entramos no carro e cumprimento a Lily e dona Abigail que estão no
banco de trás. Lily está muito animada em conhecer os meus pais e
seguimos o caminho até a casa deles em um clima leve. A empregada libera
o portão para o carro entrar na propriedade e encontramos os meus pais nos
esperando na entrada.
Saio do carro, entrego o bolo para o Christopher que chega perto de
mim sorrindo e me jogo nos braços da minha mãe.
― Filha, essa sua barriga aumenta a cada vez que te vejo, está
maravilhosa, linda! ― diz deixando um beijo em cada lado da minha face
quando se afasta.
― A bebê está crescendo bem ― respondo acariciando a minha
barriga e logo sou acompanhada pela minha mãe.
― Já escolheu o nome?
― Ainda não conversamos sobre isso, mãe. ― Parecendo perceber
o Christopher pela primeira vez, ela o encara de cima a baixo, séria.
― Então foi você que engravidou a minha filha? ― meu pai
pergunta se aproximando de mim para deixar um beijo na minha testa, mas
quase não desgruda os olhos do Christopher.
― Pai, por favor, a filha dele está aqui ― digo tentando que apenas
o meu pai ouça, mas falho miseravelmente.
― Deixa, Vicky, gosto de ver meu pai envergonhado ― diz a
menina com um enorme sorriso no rosto, sem nenhum receio da expressão
ameaçadora do Christopher para ela.
― Deixa você comigo, pequena traça.
Meus pais cumprimentam Christopher, Abigail e a pequena Lily e
nos convidam para entrar na mansão.
― Era aqui que você morava, Vicky? ― pergunta Lily.
― Era sim, meu amor, tinha dias que nós mandávamos algum
empregado encontrá-la porque ela sumia dentro da propriedade e ninguém
conseguia achar. ― Olho para a minha mãe, surpresa com a lembrança.
― Vocês ficavam preocupados?
― Tem algumas vantagens e desvantagens de morar em um lugar
tão grande, a maior desvantagem é a possibilidade de se perder aqui dentro.
― A menina abre a boca em um O surpreso.
― Já se perdeu aqui? ― Minha mãe sorri e coloca a mão perto da
boca, como se fosse contar um segredo.
― Não conta pra ninguém, mas me perdi muitas vezes nesse terreno
enorme. ― Elas sorriem uma para a outra me deixando feliz pela interação
delas.
Almoçamos juntos e, quando estamos comendo o bolo que eu
trouxe, Christopher se levanta e se ajoelha ao meu lado.
― O que está fazendo? ― pergunto envergonhada.
― Victoria, você entrou na minha vida em um momento sombrio e
me trouxe luz. Você iluminou os meus dias com sua doçura e carisma, me
deixou doido com sua bravura e apaixonado pelo pacote completo. ― Ele
tira uma caixinha do bolso e abre revelando um solitário com um diamante
lindo e delicado. ― Esse anel é menos do que você merece, mas é delicado
como você. Victoria, você merece o céu, tudo o que eu puder fazer para te
fazer feliz eu farei. Você aceita fazer a minha vida ainda mais feliz e se
casar comigo?
Coloco as mãos tapando a boca, respirando fundo para tentar
controlar a emoção que toma conta do meu corpo. Sorrio e choro ao mesmo
tempo, seguro o rosto dele e deposito um beijo nos seus lábios.
― Querida, está me deixando nervoso aqui, não me respondeu
ainda. ― Todos riem da sua aflição.
― Sim, sim, sim, mil vezes sim! ― digo me levantando e o
puxando para se levantar também e, sem me importar com a plateia, eu o
puxo para um beijo apaixonado, declarando todo o meu amor com o meu
corpo. O máximo permitido para o horário e na frente de crianças. ― Eu te
amo, ogro tarado!
― Eu te amo, intrometida! Não se importam em organizar um
casamento para daqui a 2 meses, né? ― pergunta deixando a minha mãe e a
mãe dele espantadas.
― Por que tão rápido? ― pergunta Abigail.
― Ai, meu Deus, não dá tempo de arrumar uma data na agenda da
cerimonialista! ― minha mãe reclama. ― Tem a florista, temos que
encontrar alguém para fazer o bolo e os doces.
― Faço questão de que seja feito pelo meu ateliê, quero a Lily como
dama de honra, mas também acho esse prazo meio apertado, ogro. ― Viro
para Christopher que me encara sério.
― Vamos nos casar antes da nossa filha nascer, e não falta muito.
― Mas e o vestido? ― Ele se aproxima e beija os meus lábios com
carinho, passando a costas das mãos pelo meu rosto e me acalmando.
― Temos dinheiro para pagar qualquer taxa de urgência e, se
continuar reclamando, marco o casamento para daqui a duas semanas, ou te
sequestro e nos casamos em Las Vegas.
― Seu ogro! ― reclamo dando um tapa no seu braço.
― Vamos casar, baby ― diz sorrindo e me beija novamente sob
aplausos da nossa família.
― Ebaaaaaaaaaaa, finalmente. ― Nós nos separamos rindo da
comemoração da Lily.
Capítulo 24
Admito que essa taxa de urgência que o Christopher falou realmente
funciona, é só pagar um pouco mais que conseguimos o que quisermos.
Consegui o vestido que eu queria, deixando a minha barriga em bastante
evidência, o buquê de rosas cor rosê ficou lindo, e até o vestido da Lily
encontramos rápido e ficou incrível.
Minha mãe e Abigail se juntaram para ajudar a organizar, a equipe
do ateliê cuidou do bolo e de todos os doces, e conseguimos uma cerimônia
intimista, apenas para os mais próximos de nós, na casa dos meus pais.
Aquele terreno gigante tinha que ter alguma serventia.
Minha mãe fez questão que eu, Charlotte, que é a minha madrinha, e
a Lily dormíssemos aqui na véspera e não reclamamos. Fomos muito
mimadas e até fizemos uma festa de pijama junto com a minha mãe que
pareceu se divertir muito, tanto que em nenhum momento deixou de sorrir.
Então, dois meses depois do pedido de casamento aqui nessa mesma
casa, estou me arrumando para me casar com o pai da minha filha, o
homem que me conquistou com seu jeito arrogante e sério. Meu vestido é
estilo sereia, delineando todas as minhas curvas, com strass em alguns
detalhes e um decote em V, mangas caídas e perfeito. Não quis véu e o meu
cabelo está arrumado em um penteado elegante, a maquiagem simples
destaca os meus olhos e valoriza os meus lábios.
Lily está com um vestido estilo princesa, com mangas bufantes, o
cabelo caindo em cachos soltos pelas suas costas, e fiz questão que usasse
uma tiara para parecer ainda mais uma princesa. Nós nos olhamos juntas no
espelho quando ouço a porta do quarto onde estamos se abrir.
― Não posso chorar, droga, vai estragar a minha maquiagem! ―
Charlotte diz se aproximando e me abraçando apertado antes de se abaixar
para falar com a Lily. ― Você será a menina mais linda da festa.
― Eu sou a única criança da festa, tia. ― Lily revira os olhos e nós
rimos.
― Prometo que te recompenso depois.
Ela não sabe, mas Christopher e eu decidimos levá-la junto para a
nossa pequena viagem de lua de mel, podíamos ir sozinhos, mas queremos
um passeio em família. Além disso eu insisti muito para que ela fosse
conosco, quero que se sinta parte dessa nova família. Tenho medo de que
ela acabe se sentido excluída ou sinta ciúmes da irmã, então a viagem
servirá para nos aproximar ainda mais.
― Tá bom. ― Ela encolhe os ombros e senta-se em uma poltrona,
ouvimos batidas na porta e a Charlotte vai até lá ver quem é.
― Acho que está na hora, meu bem. ― Vejo o meu pai entrando
com seu smoking, parecendo tão sério como sempre.
― Está linda, minha filha. ― Ele me abraça e beija a minha testa
com carinho. ― É isso o que quer?
― Sim, pai, com todo o meu coração. ― Ele sorri e acena
concordando.
― Então espero que seja muito feliz.
Ele fica ao meu lado e segura a minha mão, enlaçando nossos
braços.
― Vamos, Lily, seu pai está esperando ― digo para a menina que
pega os dois buquês, me entrega o meu e sai com o seu, tomando cuidado
de pegar as alianças e encaixá-las no suporte que foi colocado para elas ali.
Não me preocupo em relembrá-la de tomar cuidado porque confio
nessa pequena para cuidar das alianças mais do que em mim, então estou
tranquila.
Charlotte sai primeiro do quarto para encontrar com Charles e entrar
junto com ele, Christopher já deve ter entrado com a mãe dele e a minha
deve estar correndo de um lado para o outro dando ordens à moça
responsável pelo buffet. Coitada.
Posiciono-me na entrada, pronta para iniciar essa nova fase da
minha vida, escolhi a música Heaven do Brian Adams para a minha entrada
e, assim que a voz do cantor sai pelos alto- falantes, começamos a andar
lentamente na direção do meu futuro marido.
“Agora nada pode afastá-la de mim
Nós já passamos por isso antes
Mas agora isso acabou
Você me faz voltar por mais”

Nossos olhares se encontram e me sinto presa a ele, me atraindo na


sua direção. Meus olhos marejam de emoção, meu pai aperta levemente o
meu braço preocupado com a minha saúde, mas sorrio o tranquilizando.
“Amor, você é tudo que eu quero
Quando você está deitada aqui nos meus braços
Estou achando difícil acreditar
Que estamos no paraíso

E amor é tudo que eu preciso


E o encontrei aí no seu coração
Não é muito difícil ver
Que estamos no paraíso”

Lily se aproxima primeiro do Christopher que abaixa e deixa um


beijo carinhoso na testa da filha enquanto acaricia o seu rosto.
“Oh, uma vez na sua vida, você encontra alguém
Que irá mudar o seu mundo
Animá-lo quando você está se sentindo triste

Sim, nada poderia mudar o que você significa para mim


Oh, há muitas coisas que eu poderia dizer
Mas apenas me abrace agora
Porque o nosso amor irá iluminar o caminho

E, amor, você é tudo que eu quero


Quando você está deitada aqui nos meus braços
Estou achando difícil acreditar
Que estamos no paraíso

Sim, amor é tudo que eu preciso


E o encontrei aí no seu coração
Não é muito difícil ver
Que estamos no paraíso”

Chegamos ao fim do corredor, encontrando Christopher que


cumprimenta o meu pai com respeito.
― Cuida dela ― pede o meu pai, olhando nos olhos do meu futuro
marido.
― Com a minha vida ― responde Christopher.
Meu pai beija o meu rosto e olha em volta, procurando pela minha
mãe que faz todos rirem ao correr pelo corredor para encontrar com ele, e se
posicionarem ao meu lado no altar montado no jardim deles.
O cerimonialista contratado pelos meus pais inicia com palavras
sobre amor, fé e perseverança fazendo todos se emocionarem.
― Victoria Amy Anderson, aceita Christopher Martin Brown como
seu legítimo esposo?
― Sim ― respondo, controlando as lágrimas.
―Christopher Martin Brown, aceita Victoria Amy Anderson como
sua legítima esposa?
― Sim.
― As alianças, por favor. ― Uma Lily saltitante se aproxima e nos
entrega as alianças para iniciarmos nossos votos.
― Eu, Victoria, te entrego essa aliança como símbolo do meu amor
e da minha fidelidade. ― Respiro fundo me preparando para o que tinha
ensaiado falar, mas tudo sai da minha mente. ― Eu preparei um discurso
lindo e perfeito, mas acabei de esquecer então vou improvisar. ― Todos
riem da minha trapalhada. ― Quando te vi a primeira vez te achei lindo e
misterioso, na segunda grosseiro e tarado, na terceira eu tive certeza de que
a segunda impressão estava certa. Mas você não é só isso, é um homem
com cicatrizes profundas no coração e que, cavando bem fundo, pode ser
romântico e delicado.
― Não precisava esculachar. ― Rimos juntos da brincadeira.
― Me apaixonei sem perceber e senti medo desse sentimento novo
e desconhecido, até então. É normal termos medo do que não conhecemos e
eu não conhecia aquilo, você aos poucos provou ser doce, carinhoso e
dedicado, vi uma faceta completamente diferente do ogro que conheci e
descobri que amo todas as suas partes. Eu te amo com todo o meu coração e
te prometo sempre valorizar a nossa família, sempre estar ao seu lado e te
fazer feliz, sempre.
Ele beija a minha testa novamente, depois que eu coloco a aliança
no seu anelar esquerdo e respira fundo se preparando para o seu voto.
― Eu, Christopher, te entrego essa aliança como sinal do meu amor
e da minha fidelidade. Quando te conheci havia desistido do amor, decidi
não me relacionar seriamente com ninguém, como disse no dia em que te
pedi em casamento, eu estava em uma fase sombria e você foi a luz a
iluminar os meus dias. Nunca vou esquecer a primeira bronca que me deu,
por não comparecer na festa da minha filha, aquilo me deixou bravo pela
intromissão e, ao mesmo tempo, chateado por você ter razão. Você fez com
que eu refletisse e passasse a ficar mais tempo com ela, sem nem perceber
você me mudou.
― Não me faz chorar ― peço fazendo todos rirem porque já estou
chorando.
― Eu prometo te amar e te respeitar em todos os momentos das
nossas vidas, estarei ao seu lado no sucesso e no fracasso sendo o seu apoio
e te ajudando a se reerguer quando precisar. Prometo dedicar um tempo de
qualidade para a nossa família, estar sempre presente para vocês e fazer
vocês felizes. Eu te amo demais, Victoria, obrigado por ser a minha luz em
um momento de escuridão.
― Pelo poder investido a mim, eu voz declaro casados ― diz o
cerimonialista quando Christopher termina de colocar a aliança no meu
anelar esquerdo.
― Nem precisa me mandar beijar a minha mulher. ― Sorrio para o
meu marido, que enlaça a minha cintura e me beija sob aplausos dos nossos
convidados. ― Finalmente minha.
Epílogo
Cheguei correndo em casa, assim que a Lily me avisou que a
Victoria começou a sentir as dores do parto. O meu coração estava apertado
de medo, mas me mantinha forte por elas. Assim que chegamos ao hospital
a levaram para ser examinada e, pouco tempo depois, o médico me
chamava para acompanhar o parto.
Já me sinto mais aliviado porque se o caso fosse grave eu não
poderia acompanhar, então assim que termino de colocar a roupa adequada,
entro na sala de parto encontrando a minha esposa gritando a plenos
pulmões que eu sou um filho da puta arrogante por causar aquela dor nela.
― Calma, meu amor, eu estou aqui com você ― digo segurando a
sua mão que quase esmaga a minha com a força que usa para apertar ao
sentir a contração.
― Se você tivesse usado a porra da camisinha isso não estaria
acontecendo e eu não estaria com essa dor... ― Ela não consegue terminar
de falar porque vem outra contração e um grito sai dos seus lábios no lugar
do resto da frase.
― Já vai acabar, força meu amor, ela já está saindo ― digo
seguindo as orientações que a médica dela está fazendo por meio de sinais.
― Ogro tarado, filho da putaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! ― Vejo a
médica sorrindo e sei que está funcionando.
― Empurra mais, meu bem, ela está vindo. Continua me xingando
― digo, mesmo sabendo que ela vai xingar de qualquer jeito.
― Nunca mais engravido, aaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhh. ― Sua
respiração está ofegante, seu rosto corado, mas vejo o alívio na sua
expressão e, pouco depois, um choro é ouvido e comemorado.
― Obrigado, meu amor. ― Beijo a sua testa e ela sorri, chorando ao
mesmo tempo quando aproximam nossa filha para que ela veja.
― Ela é linda, não é? ― pergunta deixando um beijo na cabeça da
pequena.
― Perfeita como você ― digo e, logo sou retirado da sala de parto
para que os médicos possam terminar os procedimentos, limpar a bebê e
levar as duas para o quarto.
Entro na sala de espera encontrando toda a família aflita e sorrio,
fazendo todos sorrirem juntos aliviados.
― Como elas estão? ― minha sogra pergunta.
― Bem, as duas estão ótimas e logo estarão no quarto.
― Não tiveram nenhum problema por causa da pressão da Vicky?
― pergunta a minha mãe, ainda não convencida.
― A pressão foi monitorada o tempo todo e estava sob controle,
tudo saiu maravilhosamente bem.
Sou abraçado e parabenizado por toda a família, menos por uma
pessoa que se aproxima timidamente e, sob protestos, ergo no meu colo.
― Pai, não sou mais um bebê! ― reclama fazendo todos rirem.
― Sempre será a minha garotinha?
― Mesmo quando só tiver tempo para a minha irmã? ― pergunta
franzindo a testa, insegura.
― Não teremos esse problema porque você nos ajudará a cuidar
dela, nunca vai faltar tempo para você, pequena traça, nunca! ― Dou um
beijo no seu rosto e recebo um abraço apertado.
― Quero conhecer minha irmã.
― Daqui a pouco vamos lá.
― Será que a Vicky vai ficar brava se eu chamar ela de mamãe
também? ― pergunta fazendo todos silenciarem.
― Acho que não, mas que tal perguntar diretamente para ela se
gostaria que você a chamasse de mãe? ― Ela acena concordando e
esperamos até uma enfermeira avisar que podemos visitar as duas, mas sem
fazer muito barulho.
A cena que encontro quando entro no quarto faz o meu peito
expandir, sentindo um amor tão grande que eu nem sabia que cabia dentro
de mim. Victoria está sentada na cama com a pequena Rose nos braços
mamando no seu seio.
― Filha, que netinhas lindas nos deu. ― Não corrijo a minha sogra,
mas fico confuso.
― Espera, pai, me coloca na cama ― pede a Lily e eu acato o seu
pedido. ― Vicky, quero te pedir uma coisa.
― O que quiser, meu amor. ― Sorrio pela forma carinhosa como a
Victoria trata a minha filha.
― A minha irmã vai te chamar de mamãe quando aprender a falar,
então eu pensei que talvez eu pudesse te chamar de mãe também, se não
tiver problema. ― Os olhos da Victoria marejam e ela chama a Lily para
encostar a cabeça no lado contrário de onde a bebê está.
― Só se você se sentir confortável com isso, eu nunca vou substituir
a sua mãe, pequena, mas quero estar ao seu lado sempre que precisar e já te
amo como filha.
― Então está combinado, mãe. ― Vejo cada um nesse quarto se
derreter com a interação das duas e eu me encho de orgulho.
― Estou muito feliz por vocês, filho. ― Abraço a minha mãe de
lado, sorrindo feito bobo.
― Eu também, mãe.

A vida nem sempre é doce, muitas vezes precisamos passar por


experiências difíceis e amargas para valorizarmos o que temos aqui, hoje.
Perdi a minha primeira esposa e pensei que nunca mais conseguisse amar
ninguém, nenhuma das minhas experiências depois dela disseram o
contrário, até aparecer a Victoria.
Ela não me completa, ela me complementa e, juntos, criamos uma
família linda e amorosa. Vejo a minha filha cada vez mais feliz e agora com
a chegada da Rose, teremos novas experiências, novos desafios, mas tenho
certeza de que passaremos por tudo ainda mais fortes.
Quem diria que eu precisaria me perder na escuridão para encontrar
a luz da minha vida, as mulheres da minha vida.

Fim
Agradecimentos
Eu tinha que me esquecer de algo, relendo o livro percebi que havia
me esquecido de agradecer. Primeiro a Deus que sempre está comigo, me
dando forças para seguir, aos meus pais que são anjos na minha vida e
minha irmã, que é a melhor do mundo.
Agradeço ao meu marido, porque sem ele não sei se teria aguentado
até aqui, o apoio dele foi essencial para que eu seguisse e eu agradeço
profundamente. Eu te amo!
Minha amiga, Bárbara Pinheiro, que me ajuda desde o começo, e a
Nathy que me aguenta há 10 anos também.
Agradeço ao Desafio Mari Sales pelo acolhimento, pela
compreensão, pelas ideias e pela força que vocês dão. Não parece, mas ver
todas escrevendo, dá uma força de vontade muito grande de fazer também e
todas crescemos juntas. Desejo todo o sucesso do mundo para todas vocês.
Esse agradecimento aqui é novo, Silmara Izidoro, minha amiga, não
sei fingir costume ao dizer isso. É muito surreal amar tanto os seus livros há
tanto tempo e agora, além de fã, sou amiga de uma das autoras que mais
admiro. Obrigada por essa amizade maravilhosa! Te amo!
Rosi, obrigada por acreditar no meu trabalho, por me dar essa
oportunidade, não sabe como isso me ajudou e me ajuda a querer continuar.
Minhas assessoras que aguentam meus surtos quase diários,
obrigada por tanto.
Minhas leitoras queridas, obrigada por lerem minhas histórias, por
acreditarem em mim. É por vocês que sigo querendo criar mais e mais
livros maravilhosos e com cada vez mais qualidade.
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Entre tapas e beijos com o CEO

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Sinopse:
Hate to Lovers – CEO e Secretária – Comédia Romântica – Pet
Fofo.

Benjamin Bergatti é um CEO bem-sucedido que prefere pegar e não


se apegar, e seus planos estavam indo muito bem, até que uma loira de
língua afiada, cruzou seu caminho no carnaval de Salvador.
Manuela Santos desejava curtir o carnaval beijando muito, mas nada
além disso. Depois do seu último relacionamento desastroso, entregar seu
coração não era algo que ela permitiria que acontecesse em um futuro tão
próximo. Contudo, o destino a desafiará ao colocar em seu caminho um
homem tão lindo quanto arrogante.
Ele a desejou
Ela o dispensou
Um encontro que deveria ter sido único, agora se torna um desafio
diário já que eles se descobrem chefe e funcionária.
Como eles poderão resistir à vontade de se entregarem ao desejo
intenso que sentem um pelo outro?
Será que o risco poderá valer a pena?
Pai & Viúvo & Rabugento

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Sinopse:
Otávio Campos era um homem marcado pela dor.
Jovem, viúvo e pai, enfrentava a dificuldade de lidar com o luto, ao
mesmo tempo que cuidava e protegia sua filha Marina, que tinha problemas
de se relacionar com as crianças da sua idade.
Enquanto lidava com um processo de custódia pela guarda da
criança contra sua cunhada, ele conheceu uma professora de pulso firme e
opinião certeira que abalaria sua rotina.
Letícia Gomes saiu de Santino após um divórcio vergonhoso, traída
e humilhada, resolveu mudar para a capital e recomeçar a vida do zero, mas
um pai rabugento atrapalharia seus planos de manter uma vida tranquila.
Ele não queria ninguém interferindo na forma que lidava com
Marina.
Ela via a necessidade de mudança para o bem da menina.
Juntos eles viveriam momentos de desentendimento, desconfianças
e atitudes impulsivas, que os levariam para uma noite quente inesquecível.
Uma Cama Para Dois

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Sinopse:
Ele é herdeiro de um império. Ela sofreu uma desilusão amorosa e
está cheia de dívidas. Um erro os coloca juntos no mesmo quarto.
Para eles, existem apenas duas opções: desistir e ir embora ou
aceitarem que tinham mais em comum do que imaginavam.
Uma pequena mentira.
Um acordo financeiro.
O fake dating de milhões!
Uma mão lava a outra, não é o que dizem?
Lorena aceitará ser a namorada falsa de Diogo para que ele obtenha
as informações que precisa, e, com isso, terá suas dívidas pagas. O plano é
simples e prático, mas será que, no final deste acordo, cada um seguirá seu
caminho ou eles perceberão que têm muito mais em comum do que apenas
uma troca de interesses?
O Bebê Inesperado do Ídolo

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Sinopse:
Jordan Brice era um jovem ator que estrelou um filme Teen como
um vampiro sedutor, se tornando uma estrela mundial e ganhou uma legião
de fãs. Uma década depois ele ainda é o queridinho das fãs por conta de seu
papel. Sua vida como estrela de Hollywood é muito bem sucedida, quando
foi convencido a participar de um evento para comemoração dos dez anos
de filme.

Camille tem dezenove anos, estudante de direito, trabalha em uma


lanchonete e mora com sua amiga Lacey. Seus pais morreram, então foi
criada pelos avós. Fã número um de Jordan, nunca pensou que teria a
chance de conhecê-lo, mas um concurso cultural surge, tendo a chance de
conhecer seu maior ídolo , ou dar pelo menos um beijo em Jordan.
Os dois acabam se conhecendo. O que eles não esperavam era que
um momento de fraqueza resultasse em um bebê inesperado. Agora, eles
precisam lidar com as consequências de um erro que mudará suas vidas
para sempre. Em meio ao caos emocional, podem descobrir o verdadeiro
significado de amor e empatia, se unindo para enfrentar os desafios que a
vida lhes apresenta. O Bebê Inesperado do Ídolo é uma história
emocionante e apaixonante sobre amor, responsabilidade e a importância da
família.
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