Artigo Construindo Itans

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CONSTRUINDO ITANS DE ASSENTAMENTOS DE AFRODESCENDENTES NO


SUL DO BRASIL

Cláudio Baptista Carle

Resumo: Artigo destaca a construção do imaginário histórico produzido no sul do


Brasil sobre os assentamentos de africanos e descendentes. O estudo em
desenvolvimento privilegia as produções que apresentam a face mais próxima dos
interesses dos africanos destacando suas histórias como itans, histórias ou
narrativas míticas (língua yorubá). As narrativas míticas para Gilbert Durand (2002)
marcam a forma de ser dos povos no mundo. A partir do imaginário dos itans
discutimos a validade dos estudos históricos e arqueológicos atuais. Verificamos a
distância das ciências humanas do universo narrativo dos afro-brasileiros. Esta
distância torna ineficaz a implementação de leis e ações afirmativas na consolidação
do pensamento afro-brasileiro na sociedade, tais como a Lei Federal 10.639/2003; o
parecer CNE/CP no. 003/2004; entre outras.

Palavras-chave: Imaginário. Assentamentos. Afro-descendentes.

Apresentação

A História da Escravidão no sul do Brasil é escrita longe da investigação da


cultura material dos africanos e descendentes. A cultura material é foco de estudo da
Antropologia (no campo da Arqueologia). A cidade de Pelotas1 é um espaço vital no
sul do Brasil para entender estes assentamentos2. A presença da Universidade
Federal de Pelotas, de seu curso de Antropologia com habilitação em Arqueologia e
do Laboratório Multidisciplinar de Investigação Arqueológica (LAMINA), facilita muito
este estudo na região.
A análise de investigações anteriores, principalmente históricas, nos leva a
crer que para implementar um estudo, desta monta, na região de Pelotas é investir
em dezenas de anos de pesquisa empírica e mais dezenas de anos de estudos

1
A cidade de Pelotas (RS) é uma cidade contingente muito grande de indivíduos escravizados nos
séculos XVII-XIX, devido ao sistema produtivo das charqueadas que supriam todo o Brasil, mas
principalmente para as Minas Gerais.
2
A palavra apresenta aqui um duplo sentido que no contexto da Bacia Semântica de Gilbert Durand
(2002), é fundamental, ela é simbólica, pois trata do universo africano, que indica o lugar de viver, de
morar, a habitação que é assentada ritualisticamente para ser ocupada.

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analógicos e teóricos para chegar a conclusões, de como seriam estabelecidos os


processos de interação entre indivíduos escravizados e não-escravos naquela
sociedade e seus efeitos na sociedade atual.
A ideia principal da pesquisa é possibilitar que de alguma forma seja escrita
uma nova história das pessoas escravizadas, com uma interação mais profunda com
as ideias provenientes destes próprios sujeitos na sua história. Para tanto como
arqueólogos pensamos em encontrar seus mitos e conhecer melhor os mitos criados
pela história ocidental sobre estes indivíduos escravizados, histórias estas que em
uma de suas linguagens de origem são tratadas como itans.

O ponto de partida para os novos Itans

A sociedade atual é um reflexo dos processos anteriores e há uma


necessidade imposta, mesmo pela Constituição Federal e pela lei 10.639/2003, que
estes estudos aconteçam.

Durante muitos anos, a historiografia regional sulina manteve


distância do resgate da presença de escravos e negros em nosso
estado, preferindo esquecer nossas raízes africanas e enaltecer
nossa herança européia, principalmente ligada à imigração açoriana,
italiana e alemã (MOREIRA, 2003, p. 27).

Paulo Moreira (2003) destaca também os estudos contrários a esta vertente,


mas ele mesmo não faz menção a outros tipos de estudos, em realidade é porque
não existem. O pioneirismo na arqueologia é precedido por uma bibliografia histórica
e alguns estudos antropológicos (estes últimos relacionados principalmente a
demarcação de terras de quilombos3). Em paralelo a estes estudos indicamos
necessário agora desenvolver a questão de como se desenvolveu a interação entre
indivíduos escravizados, escravos4 (índios, africanos e descendentes, mestiços e
outros grupos escravizados), e não-escravos (europeus e descendentes, mestiços,
índios e outros grupos com caracterização de livres) no período escravocrata. A
resistência e a persistência de vida dos indivíduos escravizados se fazem sentir até
3
Por Quilombo neste caso entendemos aquilo que vem se popularizando como área de presença de
afros-descedentes no país, mas que não é o termo cunhado pela história para este fato-território.
4
A palavra “escravo” aqui está relacionada à condição social no não livre, que é considerado peça de
venda no período histórico brasileiro entre 1500 e 1898 (lembrando que a condição de escravo
perdurou por, pelo menos, 10 anos mais depois de sua declaração de extinção em 1888).

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hoje e neste viés é que pretendemos dar força à investigação. A cultura material em
consonância com os dados imateriais5 da cultura é um viés ainda inexplorado desta
sociedade no passado e de seus reflexos no presente.
As escritas históricas são consolidadas pelo pensamento europeu, pela
mítica europeia sem realmente atingir o homo novus bresiliensis (DURAND, 1996, p.
200), que pensa e vive como um ameríndio afro-brasileiro. Para muitos ainda a
“escravidão surgiu no mundo desde que os homens se dividiram em classes,
podendo-se dizer que escravidão e civilização se apresentam sincronizadamente na
história” (FREITAS, 1980a, p. 12). O que podemos dizer é que esta afirmação é
simplória e evidentemente europocêntrica. Baseada nos mitos de superioridade
europeia sobre o mundo, onde a condição “natural” do escravo deveria ser
entendida.
A ideia exposta de que os civilizados escravizam e que este fator é quase
natural nas sociedades é tão marcante nas escritas de historiadores sulinos que
ensinamos nas escolas que os responsáveis pela escravidão seriam os próprios
africanos, pois absurdamente estes são afirmados até hoje como não civilizados6.
Ao estudarmos estes textos encaramos a revelação de um preconceito contínuo na
produção histórica do sul do Brasil. Décio Freitas (1980b), mesmo autor do texto
discutido acima, em contrapartida, traz uma importante compilação de textos legais
os quais davam sustentação ao processo de escravidão no Brasil e mesmo no
mundo moderno a partir do século XVI.
História esta que não revela em nada a concepção do africano que é
deslocado para cá, nem do índio submetido ou dos seus descendentes mesmo que
frutos das relações com os europeus, mas que normalmente baseia-se em modelos

5
A ideia de imaterialidade está naquilo que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
convencionou chamar de Patrimônio Imaterial, que se perpetua até o presente. Esta faceta dos
escravizados (assegurada pelos registros históricos da cultura dos indivíduos e grupos cativos) e dos
descendentes de escravizados até a atualidade é espaço de pesquisa de historiadores, etno-
historiadores, antropólogos e pretende-se de etno-arqueólogos.
6
Há que se questionar a idéia de civilização, mais do que isso há que se questionar a inexistência de
sociedades em mesmas condições de desenvolvimento na África, como na Europa e América. O mais
certo a dizer é que as culturas são diferentes, mas não há uma civilização mais civilizada que outra,
ou um grupo mais desenvolvido que o outro, cada grupo possui o seu próprio desenvolvimento
dependendo de seus fatores culturais. Não podemos mais aceitar a idéia de desenvolvido,
subdesenvolvido e em desenvolvimento. O que temos é todos em desenvolvimento sejam para as
culturas que forem. Não mais nem menos, melhor ou pior, há apenas a diferença.

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europeus e norte-americanos na constituição de itans7 (histórias). Esta maior


aproximação a africanidade dos escravos é por que este, depois de 1570 8, passou a
ser o maior contingente populacional de escravizados.
A escravidão estudada nessa forma perpetua o termo negro9 que trata de
todos os “indivíduos sem alma” passíveis de escravidão. Há outra estrutura sócio-
histórica a ser discutida. Os africanos e descendentes na interação com os
indígenas cativos e com os que os europeus criam um contexto cultural diferente do
que se tem apresentado até a atualidade. A investigação dá visibilidade10 aos
pensamentos africanos no processo de inserção na sociedade brasileira no passado
e no presente.
A revelação11 da cultura material e imaterial da sua forma de viver no
mundo, se faz representar através de suas falas. O conhecimento do destino

7
O termo itan assim como outros de origem Yorubana (língua africana) são aqui apresentados numa
tentativa de aproximação com o pensamento que marca os valores dos escravizados, neste caso dos
afros-descedentes. O yorubá é uma língua do norte da África que é falada por aqueles que, na
literatura histórica brasileira sobre escravidão, aparecem como os Nagô. É a língua dos que vieram
nos períodos de auge da escravidão e ficaram até o final dessa, ficando o yorubá como a língua
quase que geral das casas de religião de matriz africana no Brasil.
8
Neste ano o rei D. Sebastião de Portugal promulga a lei proibindo o cativeiro de índios, exceto por
“justa guerra” feita com licença do rei ou do governador do Brasil (FREITAS, 1980b, p. 11), o
problema é que este “justa guerra”, ficou sendo promovida até aproximadamente 1910, quando da
criação do Serviço de Proteção ao Índio (por Rondom), e em realidade é realizada até hoje, pois os
índios são ainda considerados animais. O exemplo disto foi recentemente demonstrado, em 2007, em
Seminário História e Meio Ambiente, realizado na Universidade de Cruz Alta, em palestra sobre a
Amazônia, o Tenente Coronel José Ricardo Pinto de Albuquerque Cavalcante (EASA-EB) afirmou
que “muitos índios na Amazônia vivem muito perto dos seres humanos”.
9
O temo “negro” dá espaço para muitas discussões, mas historicamente (Moura, 1987) a palavra tem
um sentido diferente do seu uso atual. A idéia original era marcar indivíduos que não possuíssem
alma passíveis então a escravidão. A palavra "preto", por exemplo, aparece antes do século X
identificando a cor da pele mais escura oriundos da África. Estes penetravam na península Ibérica,
nas invasões muçulmanas patrocinadas pelos seguidores de Gengis Kan, convertido ao islamismo o
invasor mongol criou um ampla região da Ásia, África e Europa sob seu domínio e de seus
descedentes. A palavra "negro" provavelmente surge no século XV com a escravização de africanos
por portugueses. Os espanhóis, porém, foram os primeiros europeus a usar africanos como
escravizados na Europa e na América, assim um primitivo sentido da palavra negro era "escravo". A
palavra é considerada ofensiva em diversos países africanos e nos Estados Unidos, onde a palavra
black literalmente corresponde à palavra preto e é usada para designar os indivíduos que se
identificam com os aspectos relacionados aos afro-descdentes, não sendo utilizada a paravra niger,
literalmente negro.
10
Ilka Boaventura Leite, do Núcleo de Estudos sobre Identidade e Relações Interétnicas da
Universidade Federal de Santa Catarina, indica que há um “desprivilegiamento, seja através da
ideologia do branqueamento, seja através das práticas de discriminação cotidianas” (LEITE, 1996, p.
9) destaca a “invisibilidade” a que a sociedade submeteu os africanos e descendentes no Brasil, e
Oliven destaca que mesmo a figura do gaúcho exclui os descendentes europeus “ela faz de modo
mais excludente ainda em relação ao negro e ao índio” (OLIVEN, 1996, p. 25).
11
É importante ver os termos que formam esta palavra, re – no sentido que já existia e que será
tomado novamente, e velação – que vem do velado, que está coberto por um véu, escondido. O
objetivo é tornar a ver o que estava escondido, atributo investigativo da arqueologia.

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(história dos africanos escravizados neste caso, que é conhecido na religião) dos ara
aiyê (seres humanos) é representada pela variedade de itans, que são histórias ou
mitos, com narrativa característica (LUZ, 1995, p.36). Buscamos, conforme Fábio
Leite (2008), África Sujeito. Esta condição de sujeito de sua história coloca para o
arqueólogo e historiador brasileiro uma tarefa mais comum à antropologia brasileira
(hoje realidade no curso de Antropologia da UFPel). Os arqueólogos brasileiros
então acostumados a trabalhar com vestígios de sociedades extintas, constroem a
própria linguagem e as atribuem a objetos e fatos.
O processo de escravização e a luta contra este constituem novas histórias
que devem se referenciar nos mitos constituídos na África. Há necessidade de
reconstituir o Axé, ritualizado no axexe. É com o Axé, a força vital dos vivos, na sua
troca com o ambiente, sempre ritualizada, restabelece a história dos africanos e
descendentes12 que são sujeitos neste processo trabalhado ainda como Arqueologia
da Escravidão, mas que deve ser entendido como Arqueologia dos Escravizados.
A história da escravidão escrita foca em uma identidade nacional de fundo
europeu, oposta as influências indígena e africana inexistentes. Ensinada nas
escolas. História envolta pelo “branqueamento”13, descarta a população viva (índios
e afros) do Brasil. O contingente africano e indígena, força motriz da produção, não
participa efetivamente, com sua estrutura de pensamento, da constituição de sua
própria história no Brasil. O africano em sua dimensão sagrada, fruto das forças
cósmicas sobrenaturais (LUZ, 1995, p.113), conta os itans dos seres humanos e
sacraliza a existência, no sentido de poder repetir os seus feitos em rituais. Contar o
itan é reviver o passado e viver o presente, é dar sentido ao que acontece, baseado
no que aconteceu e possibilitando o que irá acontecer.
Os documentos escritos destes itans se perpetuaram através das vozes
daqueles povos e pela sua cultura material. A investigação em desenvolvimento
através de dois projetos14 de arqueologia já vem tornando isso uma realidade. Seus

12
Há que se definir o processo de nominação que possa ser similar aos africanos para os indígenas
escravizados, é provável que utilizaremos para tanto o Tupi, língua ampla usada no Brasil pelos
grupos para se comunicarem, similar ao Yorubá que utilizamos aqui para os africanos.
13
A idéia de branquemanto foi desenvolvida pelos teóricos das ciências sociais no final do século XIX
e início do século XX.
14
Pampa Negro – Coordenado pelo Prof. Dr. Lucio Menezes; Mapeamento arqueológico e cultural
dos objetos, lugares, manifestações e pessoas de referência às sociedades tradicionais indígenas e
afro-brasileiras na região sul do Estado do Rio Grande do Sul que coordeno.

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enfoques buscam investigar índios e africanos e seus descendentes pela cultura


material. Seus resultados podem mudar os dados a serem levados as escolas.
A resistência à condição de escravizado como um novo itan no Brasil
Meridional identifica-se nos primeiros15 quilombos no sul do Brasil, e suas
continuidades até o presente nas áreas remanescentes de quilombos16. Estudos
realizados na região do vale do Rio dos Sinos17 verificaram a interligação entre
imaginário das culturas e a inserção de quilombos no sul do Brasil. A distribuição
geográfica destes assentamentos18, formam um arco tendo relação aos caminhos
terrestres e fluviais, utilizados nos séculos XVIII e XIX na ligação das cidades do sul
para a atual região SE. A referência ao caminho são itans do Exu19, histórias míticas
que retratam a relação direta entre o movimento e a permanência, para constituição
dos antigos povoados africanos. A partir deste enfoque é que se pode mudar a visão
educativa sobre estes lugares. A escola deve ser mais afro-brasileira.
O itan possibilita identificar os significativos aspectos sociais que se
desenvolveram no cotidiano das famílias de escravos que conviveram nas áreas,
tanto como “livres” (quilombos) como escravizados. O itan destas localidades, onde
comunidades africanas e/ou de descendência africana assentaram-se ou
permaneceram assentadas (até hoje) indica a Antigüidade e a forma de organização
espacial das mesmas, nos séculos XVIII e XIX. Somente temos a voz dos europeus
e sobre ela nos debruçamos para ver onde a cultura material pode aparecer como
contraponto, embasado no Imaginário (DURAND, 2002) africano, e como tal criar um
novo processo educativo.

15
Quilombo do Monjolo, em Santo Antônio da Patrulha, RS (séc. XVIII) com cerâmicas subsuperfície,
cujo tratamento de superfície remonta a tradições africanas de mesmo período na região de Angola,
datadas por Radiocarbono.
16
34 áreas com Cartas de Auto Reconhecimento da Fundação Palmares, na região de Pelotas.
17
Tese do autor Cláudio B. Carle, defendida na PUCRS, em 2005. Reproduzimos parcelas deste
texto aqui, correspondendo a parte do capítulo I – “As relações científicas e sociais para a construção
de uma nova história dos africanos no Rio Grande do Sul”. (p.14-58).
18
O termo assentamento refere aqui ao termo usado na Tese “A organização espacial dos
assentamentos de ocupação tradicional de africanos e descendentes no Rio Grande do Sul, nos
séculos XVIII e XIX” de autoria de Cláudio Carle, defendida no PPGH- PUCRS em 2005.
19
Exu – conhecido como Bará no sul é uma das figuras mais antigas do universo sacralizado animista
africano.

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Base para Itans no Sul do Brasil, os velhos pensamentos já escritos

As estruturas componentes do quilombo, atributos20 próprios identificados,


possibilitam padronizar ou não um quilombo. Analogias recuperam os processos de
conhecimento dos que estão no limiar da história, que recebem identificações e
pechas, e que os próprios pesquisadores, ainda que africanos e afrodescendentes,
não conseguem retirá-los. Uma condição submissa ou subalterna na história fruto de
uma tradição europeia de escrita.
Esta pessoa precisa saber que negro não é sinônimo de degredado e
marginalidade, mas sim é a identificação de uma raça que lutou e luta
pela construção de seu espaço social, numa sociedade que traz,
introjetada em seus comportamentos, a herança do estigma
estamental escravista. A história da luta negra, pelo resguardo de sua
dignidade, serve de exemplo para todas as etnias, que talvez tenham
sofrido no processo de construção deste país, mas o fizeram livres e
foram, e talvez ainda o sejam, veículo da discriminação e da
segregação racial (SANTOS, 1991, p. 81-82).

O Brasil, segundo Gitibá Faustino (1991, p.102), é o segundo país, depois


da Nigéria, em população afrodescendente, marginalizados até na produção
científica. A história “branca” sobre a escravidão esconde ou suaviza o fato, ou tenta
eliminar esta “mácula de nosso passado” (SANTOS, 1991, p.141). A falta de
documentos escritos21 vem sendo suprida com a localização de novos arquivos
esquecidos em pequenas cidades do país, bem como a inter-relação de dados das
várias regiões do Brasil e mais especificamente com a cultura material.
“A sociedade escravista almejava um cativo que se autoconcebesse como
propriedade de outrem ou um afro-descendente neutralizado pelo respeito e medo
ao amo” (MAESTRI, 1984, p.70). Controlava-se a totalidade da vida do afro-
descendente desde sua alimentação, tempo de sono, relações pessoais e afetivas.
E premiava o escravo por esta obediência e castigava-o na falta dela. O castigo teve

20
O terma aqui busca lembrar as formas de tratamento, classificatória e tipológica, usual entre os
arqueólogos.
21
Que eu acreditava devido ao Decreto Lei de Ruy Barbosa, quando ministro e secretário de Estado
dos Negócios da Fazenda e presidente do Tribunal do Tesouro Nacional, no dia 14 de dezembro de
1890, que determinou a queima e destruição de todos os documentos referentes ao elemento servil.
Isto apenas para o Ministério da Fazenda, mas o decreto foi estendido a quase todos os órgãos
públicos. No Rio Grande do Sul resultou em portaria expedida em 29 de julho de 1891 no Palácio do
Governo (GOMES et al. 1995, p.25). Segundo Paulo Moreira, informação oral na Banca de Defesa de
Tese (CARLE, 2005), esta condição é um mito, que em muitos casos justificou a não realização de
estudos sobre a temática, pois não haveria fontes para tanto, se é verdade incorri no erro mitificado.

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que ser regulado pelo Estado, para não permitir que a produção escravista se
desmantelasse. Joseph Hörmeyer (1986, p.78), que veio a Província do Rio Grande
de São Pedro, em 1850, com o objetivo de preparar a propaganda para a entrada de
alemães nesta, declarara que: “Certo é que um escravo é castigado também aqui,
mas assim como um pai castiga seu filho renitente”. Cristina Nery e Gilian Lopes,
pesquisando inventários de Porto Alegre (1860 – 1880), refutam esta ideia de
castigos brandos, escravizados domésticos cujas exigências são menores
apresentam grande taxa de aleijados e doentes (1988, p. 534-535.)
A escravidão impediu o desenvolvimento de formas produtivas mais
eficientes, mantendo a sociedade em uma estrutura fechada, pois “sendo o escravo
a base fundamental da estrutura, qualquer mudança, partindo da cúpula do sistema,
previa o fim da condição de ser escravo como último ato, ou seja, o último recurso”
(SANTOS 1991, p.72). Louis Conty (1988) já advertia que as charqueadas gaúchas
produziam menos que as uruguaias e argentinas, porque usavam escravizados em
vez de mão de obra assalariada (MAESTRI, 1984, p.66).
O Vaticano, para garantir a lucratividade, decreta o africano não-cristão um
ser sem alma22, passível de ser escravizado (SANTOS, 1991, p.74). A baixa
produção é cobrada e colocavam que isto ocorria devido a sua origem, por serem
“filhos de Cam”23. O afrodescendente não produzia mais não por ter pele escura,
mas por estar escravizado (MOURA,1987, p.40 ; SANTOS, 1991, p.112.). A taxa de
mortalidade era suprida pelo Tráfico até 185024. O escravizado era regulador social,
pois quanto mais longe da condição de escravo um cidadão se encontrava, mais alto
estaria na escala social25, o uso das mãos para o trabalho era considerado

22
Negro de alma, popularizando o termo Negro para a sua condição de escravo
23
Descendentes de Caim (na Bíblia judaico-cristã), que teria matado seu irmão e se refugiados nas
terras de Cam.
24
NERY; LOPES, 1988, p. 533; MAESTRI, 1984, p.64; o contrabando também trazia muitos
escravizados ao Brasil (MAESTRI, 1979a, p.45-46).
25
“As mulheres daqui podem ser divididas em três classes: brancas e de pouca mescla,
pertencentes à sociedade; depois, o imenso número das morenas livres que, dotadas de pouca ou
nenhuma formação, fazem de seus encantos um comércio mais ou menos descente; e, finalmente, as
escravas de todas as matizes. (...) só posso falar das primeiras dessas classes; suas mulheres são
bonitas (...) Essa classe é, nesta Província, mais numerosa e de sangue muito mais puro do que nas
outras províncias; é por isso que nos bailes em Porto Alegre, Rio Grande e Pelotas, se pode ver
verdadeira guirlanda de flores vivas”. (HÖRMEYER, 1986, p.72-73); podemos perceber aqui o quão
longe estariam os homens de posse dos escravizados dentro de uma sociedade machista da época.

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degradante26. Existem inúmeros registros de escravos que valiam mais que uma
propriedade, funcionando também como moeda internacional-comercial (MAESTRI,
1984, p. 25) e como indexador da economia interna (SANTOS, 1991, p. 71-72).
Chamados de africanos como uma abstração, homogeneização dos
diferentes grupos lingüísticos, divididos em dialetos e tribos, sua unidade era
combatida. Havia ainda a hierarquia entre escravizados, do boçal ao ladino, os de
ganho, os domésticos, os mineiros e os urbanos, os crioulos (nascido no Brasil) e o
africano (SANTOS, 1991, p.75). Separações que favoreciam a manutenção do
sistema. Nesta divisão nos é possível verificar através das vestimentas e os tipos de
instrumentos que portavam a cultura material destes estames criados.
No Brasil meridional as charqueadas juntavam muitos escravizados, com
jornada de trabalho de 16 horas diárias. Paravam pelo esgotamento ou pela
enfermidade (MAESTRI, 1984, p.46). A carne salgada barateava as antigas formas
de transporte do gado vivo e a produção deveria ser intensa para competir com as
saladeiras argentinas e uruguaias que, depois de 1825, passaram a usar mais
intensamente a mão de obra assalariada27. As condições de vida nestes
estabelecimentos implicavam numa vida curta e a reposição de mão de obra era
constante. Nicolau Dreys28 (1979, p. 42) considerou a charqueada um
estabelecimento penitenciário. A partir de 1850, com o fim do tráfico, os
escravizados nas charqueadas passam a ser utilizados em sua plenitude, levando a
um desgaste bem maior desta mão de obra e a derrocada deste tipo de produção no
Brasil Meridional. As charqueadas são tema central dos estudos do LAMINA da
UFPel e estão muito longe das escolas da região.

26
“O costume do país proíbe as mulheres brasileiras a se mostrar na rua sem acompanhante, assim
como aos homens a carregar qualquer pacote, mesmo um livro, na rua: para isso existem os negros.
Esse costume é tão enraizado que, por exemplo, ninguém entre as ordenanças dos oficiais das
tropas alemãs quis conduzir um cavalo pelas ruas ou carregar água ou bagagem, vendo-se os oficiais
obrigados a pagar escravos para esses serviços” (1850) (HÖRMEYER, 1986, p. 65).
27
CORSETTI, 1985, p. 91 - O autor questiona esta colocação, também feita por Fernando Henrique
Cardoso, pois buscando o historiógrafo argentino Hector Pérz Brignoli, em sua tese de doutoramento,
afirma que uma grande seca que assolou o pampa, de 1830 a 1832, e o bloqueio francês de 1838 a
1839, provocaram a estagnação da industria saladeira, após sua expansão em 1820. Em 1840 quem
passou a dominar o mercado, sobre a hegemonia de Buenos Aires foram Santa Fé, Corrientes e
Entre Rios - mesmo que neste período o charque caia muito em relação a exportação de lã. Berenice
Corsetti acredita que faltou base documental a Fernando Henrique Cardoso para fazer esta
afirmação.
28
DREYS, Nicolau Notícia Descritiva da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul, citado por
MAESTRI, 1979a, p 42

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O espaço urbano permitia, aos escravizados, estratégias pessoais e grupais


de melhoria das condições gerais de vida, mas a maioria da massa escravizada
estava no campo. As manifestações de repúdio eram temidas pelo senhor
(MAESTRI, 1990, pp. 697-698, MAESTRI, 1984, p.63). Nas casas mais pobres
trabalhavam um ou dois escravizados, nas mais ricas um batalhão (MAESTRI, 1984,
p.49). Este número elevado de escravizados demonstrava o “status” da família.
Eram copeiros, porteiros, cozinheiros, amas de leite, ferreiros, pajens e outros.
Inúmeros são os anúncios de jornal sobre o aluguel, venda e compra de
escravizados com especialização ou não29. Existiam contratos para educação de
escravizados no sentido destes criarem uma especialidade30. Estes processos
educativos são pouco conhecidos e deverão ser estudados.
Uma figura muito comum nas capitais de província era o “escravo de ganho”
que tinha a oportunidade de conquistar a sua liberdade pela compra de alforrias 31.
Os “de ganho” tinham autorizações para circularem pela cidade a exemplo da
postura publicada no Jornal O Mensageiro, No 20, terça-feira 12 de Janeiro de 1836.

POSTURA.
Todo o escravo de qualquer condição, que seja, que for, encontrado
na Rua depois do toque de recolher, isto é, depois das 9 horas da
noite de o 1o de Abril ao ultimo de Setembro, e das 10 horas do 1o de
Outubro ao ultimo de Março, sem bilhete de licença de seu Senhor,
ou da pessoa, a cujo encargo estiver, será preso pelas Patrulhas, ou
Guardas de Policia, e conduzido a Prisão Publica desta Cidade, onde
será castigado com vinte e cinco açoites pela primeira vez, e com
cincoenta em cada uma das reincidencias. E para que conste se
lavrou o presente Edital, que será publicado pela Imprensa, afim de
ter a Postura transcriptas a sua execução da data delle em diante -
Porto Alegre em sessão Extraordinaria, de 5 de janeiro de 1836 - O
Presidente, Marcos Alves Pereira Salgado - O Secretário Libanio
Pereira da Silva.

Sem a licença de seu senhor o escravizado não podia comprar, vender e


penhorar objetos de valor, carnes secas, graxa, toucinho e outros produtos da
economia regional; não podia participar de jogos de azar, ou lícitos, ou viver ‘sobre

29
MAESTRI, 1984, p. 52 – 47; anúncios só no Jornal O Mensageiro que circulou entre 1835 e 1836.
Tipo: “Quem tiver escravos para alugar para serviço de roça procure João Caetano Ferraz, morador
o
na Rua de Praia, para effectuar o ajuste” ( N 4, Sexta Feira, 13 de novembro de 1835); a maioria das
africanos e afro-descendentes vendidas tinham de 12 a 17 anos e eram para os serviços domésticos.
30
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia (ISCM), 1994 – 81; existem casos de africanos e
descendentes livres que também deveriam executar estes serviços.
31
MAESTRI, 1990, pp. 699 - 701 - 703 - 705; ISCM, 1994, p. 51.

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si’ dentro da cidade. Se encontrado com faca, punhal ou qualquer arma era
castigado. A maioria dos castigos era prisão ou multa (MAESTRI, 1984, p.49). Aqui
vemos uma substituição de funções; os capatazes e feitores iam aos poucos sendo
substituídos pela força policial (Paulo MOREIRA,1995, p.54). As compras de
alforrias geravam inúmeras contradições dentro do sistema. Roberto dos Santos, ao
catalogar uma série de inventários, encontrou um fato curioso em

1830, da Vila de Nossa Senhora do Rosário do rio Pardo (...) um


casal de pretos forros adotou uma criança escrava, com a morte do
casal ficou de herança um escravo jornaleiro com o objetivo de
sustentar a pequena senhora. A primeira contradição está no livre
transito do beneficiado escravo dentro de cânones jurídicos, os
mesmos que o consideravam como coisa. A segunda contradição
está na possibilidade de um escravo sustentar outro escravo, sem
um dispositivo legal que o justifique. E terceira contradição está na
concepção que um escravo fazia de si próprio perante a propriedade
de outro escravo. Nada negava a escravidão, antes pelo contrário,
tendia a complexificar mais a emaranhada teia de relações
decorrentes da possibilidade de uma propriedade possuir uma
propriedade (SANTOS, 1991, p.112).

Os escravizados que se libertavam da opressão direta do seu senhor


conquistando a alforria acabavam caindo na opressão direta de sua cor e não são
poucos os exemplos disto na história da escravidão do Brasil. Em Porto Alegre,
temos um exemplo marcante de uma afro-descendente forra de nome Maria
Mariana, que em 1813, no auge do período escravista, deixou seus afazeres “na Ilha
do Quilombo, atravessou o Rio Jacuí e se faz presente na Câmara de Porto Alegre
para defender seu pequeno pedaço de terra” (GOMES et al., 1995, p.31). Além
desta figura existem outros africanos e afrodescendentes forros que tinham
propriedade nas ilhas de Porto Alegre32, pois lá os “campos das suas margens que
não se levantam acima de 40 a 50 palmos do leito dos rios, são inundados no tempo
das ditas cheias porque as chuvas são neste clima muito copiosas”33.
Além da alforria existiam poucas formas de liberdade, sendo que uma seria
entrar para o Exército, pois havia uma pequena chance de conseguirem por algum
feito de valor almejar a liberdade, pois não era permitida ao escravizado a carreira
32
O livro de Atas da Mesa Administrativa no 3, no Termo de Mesa de 17 de Abril de 1831, Folha 8,
trata de venda de chácara do Arroio da Pintada, de propriedade da afro-descendente forra Narcisa
Joaquina, que deixou em tratamento na Santa Casa. In ISCM, 1994 - 28
33
Francisco João Roscio, 1774 apud GOMES, 1995, p. 10. “Arquipélago, formado por pequenas ilhas
baixas, que dizem estarem sujeitas a um completo alagamento a cada dez anos” (Vittorio Buccelli,
1902, apud GOMES et al., 1995, p.12).

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militar regular e o pagamento. Foram criadas tropas de serviço, Tropas Auxiliares,


onde foram incluídos escravizados. O soldo ou pagamento era entregue ao senhor e
aos escravizados militares eram reservados os serviços de alimentação,
estabelecimento de acampamento, conservação de armamento, mensageiro e
combatente nos conflitos. O escravizado ingressou nas fileiras farroupilhas
esperando a liberdade para os que lutassem pela causa (SANTOS, 1991, p.111). O
transporte de tropas fluviais foi sempre realizado por escravizados remadores de
canoas. Na retaguarda acompanhavam sempre africanos, afrodescendentes, índias
e mesmo brancas (GOMES et al., 1995, p.26). Em todos os movimentos (Balaiada,
Sabinada, Cabanagem, Guerra do Paraguai, Insurreição Praieira) o afrodescendente
engrossa nas fileiras, buscando incessantemente a liberdade (SANTOS, 1991, p.81).
O escravizado não recebeu passivamente esta dominação branca e empreendeu
várias formas de resistência ao cativeiro34: o suicídio, a morte de feitores e senhores,
as fugas, os quilombos e as insurreições. Segundo o ex-escravo Mariano Santos, os
escravizados não se suicidavam, apenas ficavam esperando a morte de sede, de
fome ou de enfermidade. “O dia que Deus chamava” (MAESTRI, 1988, p.31).
Encontramos os locais de fuga e ainda hoje estão ocupados.
A maioria dos escravizados não tinha autonomia individual, afetiva, sexual e
de criatividade, levados a angústia diária, a vontade de prejudicar o senhor e o
suicídio. Cada morte era uma perda mercantil e de força de trabalho. Assumiam
proporções endêmicas (MAESTRI, 1979a, p.47). Às vezes os suicídios surtiam como
sanções morais. Normalmente a morte era colocada por motivo ignorado ou por
doença, raramente aceitava-se o inaceitável a desumanidade da condição a que era
submetido este ser humano.
Os africanos e afrodescendentes eram associados a prováveis roubos ou a
uma “maldade intrínseca”, jamais à condição subumana que estes eram submetidos
(MOREIRA,1995). Luis Gama - filho de afrodescendente rebelde - “afirmava que o
escravo que matava o seu senhor praticava um ato de legítima defesa” (apud
MOURA,1987, p.80).
Os africanos e afrodescendentes, às vezes faziam insurreições, havia
constantes preparações para que acontecessem. No século XIX ocorreram dois

34
FAUSTINO, 1991, p.98; MAESTRI, 1979b, 1979a 1984, 1988 , 1990; SANTOS, 1991; MOURA,
1987; NERY, 1988; GOMES et al. 1995.

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grandes levantes no Brasil: na primeira década do século, em Salvador, e o segundo


em 1865 em Pelotas (SANTOS, 1991, p.79). Em Pelotas já havia notícias de
escravizados, debelados, das charqueadas próximas que poderiam atacar a cidade,
entre 1831 e 1832, segundo dados baseados em documentos da Câmara Municipal
(MAESTRI, 1979a, p.94). Outra revolta foi na Real Feitoria do Linho Cânhamo, em
1822, com forte presença dos barqueiros africanos e descendentes do rio Jacuí
(GOMES et al., 1995, p. 28). Segundo Dr. Esperidião, presidente da Província de
São Pedro, em 1863, escravizados porto-alegrenses tentaram um levante e em 1862
outras duas tentativas, todas impedidas antes de acontecer (MAESTRI, 1979b,
p.53).
A forma de entendimento das ações libertadoras empreendidas pelos
escravizados muitas vezes é pouco aprofundada pelos estudiosos do tema, impondo
minimizações sobre os processos, tendendo apenas a iludir o leitor sobre a estrutura
formal do Estado no combate a estas manifestações. Exemplo: “maneira mais
simples, segura e rápida de um cativo libertar-se era a fuga” (MAESTRI, 1984, p.73).
A leitura rápida desta afirmação nos levaria a crer que os escravizados poderiam
realizar a sua liberdade sem tanto constrangimento e pouco o faziam, o que não é
verdade. As fugas sempre foram um ponto de atenção constante na sociedade
escravista e determinou inúmeras ações repressivas. O processo de urbanização do
Rio Grande possibilitou que africanos e afrodescendentes fugitivos procurassem
passar por citadinos livres “de cor”. Procuravam a proteção de um liberto ou de um
senhor de escravos, que acabava por ser menos exigente ter um afrodescendente
“acoitado”. O ato de acoitar um escravizado era também severamente punido por lei,
mas acontecia com freqüência pelas vantagens obtidas pelo que acoitava, pois
possuía um bem de alto valor sem os custos iniciais de sua compra.
As fugas causavam um prejuízo grande aos senhores, alguns não eram
mais capturados, sendo despendidos novos valores para a compra de um novo
escravizado. O tempo de trabalho despendido na procura do escravizado também
não era compensado. Presos os fujões continuavam causando prejuízos aos seus
donos, pois também pagavam os apresadores, desde 1574. As constantes fugas
aumentavam as despesas com os escravizados que permaneciam e com os que
eram caçados (MAESTRI, 1984, p.73-74). Isto já valia o esforço do africano e
afrodescendente em fugir, pois sabia o estrago que poderia causar aos seus

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senhores. Muitos, com certeza, sabiam que poderiam ser recapturados, mas todo o
gasto valia a pena, pois nada perderiam. O máximo seria pagar com a vida, mas ou
morria na senzala (inválido, de doença, de fome) ou morria buscando a liberdade.
Anúncios indicam que os escravizados fugitivos buscavam a fronteira35. A
maioria dos escravizados que fugiam era do sexo masculino, estando na faixa etária
entre os 18 e 40 anos. A fuga era gerada pelo fato de serem escravizados. Na luta
pela liberdade qualquer oportunidade era boa. Assim, o escravizado “fugia, fugia,
fugia”. Levando o que vestiam, o melhor do baú de seu senhor, usava seus pés, nos
barcos que bem sabia manejar, sós ou acompanhado, fugiam. Sem certeza e
segurança de estar livre em qualquer área, com exceção dos países vizinhos que,
na década de 50 do século XIX, já haviam libertado os escravizados, empregando
os “fujões” como peões ou trabalhadores assalariados.
A preocupação com a fuga já data de 18 de abril de 1798, quando criado o
cargo de Capitão do Mato. Mandavam marcar com um “F” a cabeça dos
escravizados encontrados em quilombos (GOMES et al., 1995, p.28). Existiam
problemas para as fugas em massa: a diversidade étnica, a dispersão geográfica, a
vigilância, a polícia, os Guardas Nacionais, a denúncia, o controle ideológico da
Igreja, entre outros. Sant-Hilaire notava que os mais valentes soldados de Artigas
eram africanos e afrodescendentes fugitivos. As fugas podiam posteriormente levar
a formação de “mocambos” e “quilombos”36.
Mario Maestri, publicou, em 1988, alguns depoimentos de ex-escravos que
conheceram estes momentos de fuga. O depoimento do cativo Antônio Cabinda
relata o convite feito a Maria Mina para fugir para um quilombo. Delatado pela cativa,
procura desmentir a escravizada, lançando suspeitas sobre o comportamento moral
da mesma. O outro é o depoimento de Mariano Santos, ex-escravo de fazenda no
Paraná:

E: Fugia muita gente?


M: Não tinha. Porque eles iam de atrás, achavam.
(...)
E: Mas fugia?

35
O Jornal o Mensageiro é um bom exemplo, em 37 números de tiragem aparecem 11 anúncios de
fuga de escravizados, com idades de 8 até a faixa de vinte poucos anos.
36
MAESTRI, 1979a, p. 80-89; SANTOS, 1991, p.75.

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M: Fugia. Agarravam o ôco, ía pro mato, deitava no mato. Porque era


dura a luta. O senhor vê que no enxadão, picareta, arando o chão,
rancando raiz de pinheiro, raiz de maderada, destes tocos duros, o
dia tudinho! Sem descanso! De cedo à noite! Não agüenta... Mas
como falei, eles iam atrás. Traziam, Furavam, às vez, na sola dos
pés com ponta de faca. o outro castigo era a palmatória na mão, que
ficava qu’era um bolo inchado. E tinha que trabaiá ...
Os que não agüentavam mais de idade eles pinchavam (colocavam)
num paiolzinho véio. Daí, a comida era por semana. Se comesse
tudo antes de entrá a outra semana ... E reclamasse pra ver ...
Porque eles faziam o que eles queriam ... (MAESTRI, 1988, p. 29)
(...)
E: Como era capturado o escravo que fugia?
M: Ele fugia. Escondia. Os feitores saíam a campear. Pois é a
mesma coisa que o senhor vai no mato fazer uma caçada. O senhor
fecha (lança) os cachorros no rastro de uma caça. E o senhor fica
esperando, cuidando. O cachorro tria (fareja) aqui, tria ali; tria aqui,
ali. E até que acha a caça e trás pro senhor. Pra vivê ou prá Morrê.
Vem onde tá, puxa a espingarda, ou o revolver, atira. Deixa no lugar.
(...) Agora os feitores são bastante. Campeia, pro mato. (...) o
pessoal que fugiam não podiam ir muito longe, porque sertão buco,
sertão fera, tigre, suçurana. Tudo quanto era bicho brado (...) Eles os
feitores saíam a campear. Achavam, anodeavam, se corresse, era
duro, apanhava, ou eles atiravam. Morria.(MAESTRI, 1988, p. 30)
(...)
E: Os escravos sabiam que havia algum quilombo?
M: Os chefes sabiam porque eles eram chefes, saíam. Porque nóis
não saia. Não podia sair. E dava graças quando chegava a noite pra
descansar um pouquinho. E não saia. (...)
E: O senhor, alguma vez, ouviu falar de algum quilombo?

M: O quilombo no estado do Paraná. Vi falá (...) Eu vi falá que ... Um


dos chefes... Não conheci. Porque, a gente, nóis não saimo pra qui,
pra ali, depois da Libertação. Porque naquele tempo não era tempo
de batizado, nem registro, nem de era, nem de data que nasceu. era
mesmo uma boiada no campo. então, não tinha nem era. Então a
gente não tinha liberdade de sair. E como eu tava explicando pro
senhor inda hoje: que agora nóis tâmo na glória (...) (MAESTRI,
1988, p. 34)

Muitas foram as fugas37 individuais informadas nos anúncios dos jornais e


nos processos crimes. Uma correspondência passiva da Câmara (Porto Alegre,
1855), indícios de ranchos de capim atrás da praça do mercado servindo de abrigo a
escravizados fugitivos são investigados (GOMES et al., 1995, p.33). Na época era
grande o número de africanos e afrodescendentes escravizados que estavam
presos (GOMES et al.1995, p.31). As Irmandades onde houvesse escravizados
37
Fuga em massa em Porto Alegre em 1812, sob o governo de Don Diogo de Souza, uma revolta de
presidiários, que trabalhavam na estrada do Caminho Novo, iniciada em 1806, fugidos para as ilhas
fronteiras. (GOMES et al., 1995, p.31)

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eram importantes no apoio às fugas dos africanos e afrodescendentes (GOMES et


al. 1995, p.29). Eram fenômenos urbanos, associados aos “terreiros” e “batuques”,
que eram freqüentados por vários tipos de pessoas, como escravizados, libertos e
livres pobres (MAESTRI, 1984, p.54). Estas Irmandades propiciavam uma constante
relação entre os escravizados e os quilombolas, as quais propiciavam novas fugas.
Acabam proibindo os batuques e as danças da irmandade na frente da Igreja Matriz,
em Porto Alegre e africanos e afrodescendentes construíram a Igreja dos Pretos de
Nossa Senhora do Rosário.
Onde existiam escravizados existiam quilombos. Quilombo era aquilo que o
Rei de Portugal consultara do Conselho Ultramarino, em 1740 (MOURA,1987, p.16).
Os quilombos pequenos eram grupos armados com uma liderança surgida no ato da
fuga e de sua organização. Muitos convergiam para os núcleos dos quilombos
maiores, principalmente os segmentos oprimidos pela sociedade escravista, tais
como fugitivos do serviço militar, criminosos, índios, mulatos, africanos e
afrodescendentes marginalizados; tendo contato com bandoleiros e guerrilheiros das
margens de estrada, os quais geralmente avisavam das expedições punitivas contra
eles. Em muitos quilombos foram apreendidos animais de montaria que serviam à
mobilidade dos quilombolas. Mantinham contatos com segmentos econômicos e
sociais ligados diretamente à sociedade escravista, fazendo negócios.
Os quilombos não eram grupos fechados, faziam parte de uma resistência
para onde convergiam diversos níveis de oprimidos e descontentes da sociedade
escravista. Organizados, com abundância de mão de obra, trabalho cooperativo e
solidariedade social, obtinham fartura, que divergia muitas vezes das miseráveis
comunidades escravistas. As estruturas de defesa da população e de sua economia
criavam uma hierarquia militar e um grupo armado, que protegia os trabalhadores.
As armas mais comuns eram arcos, flechas, lanças e armas de fogo, estas últimas
muitas vezes tomadas das expedições punitivas ou compradas por intercâmbio com
a sociedade escravista (MOURA,1987, p.18 - 55).

Entranham-se pelos matos


E como criam e plantam
Divertem-se, brincam, cantam,
De nada tem previsão
Vêm de noite aos arraiais
E com indústrias e tretas,
Seduzem algumas pretas,

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Com promessa de casar.


Elegem logo rainha
E Rei, a quem obedecem,
Do cativeiro se esquecem
Toca a rir, toca a roubar.38

A multiplicação dos quilombos comprova as práticas contestatórias dos


africanos e afrodescendentes escravizados. Construíram um espaço social de
autonomia política consciente (SANTOS, 1991, p.79). Por tudo isso as atividades
contra os quilombos também eram intensas. No Rio Grande de São Pedro existia o
8o Batalhão de Caçadores, que tinha a função de patrulhar, procurar e resgatar os
quilombolas. A contradição entre quilombos e sociedade escravista só poderia ser
eliminada com a destruição de um dos dois. Não era uma questão apenas de terra, o
africano e descendente tinha valor dentro da sociedade escravista. Quanto maior o
quilombo, maior a cobiça dos escravagistas. Os caçadores teriam bom lucro com a
venda dos aquilombados, apesar do direito de posse dos antigos proprietários não
se extinguir com a fuga. No final, os quilombos acabavam sendo vistos como
problemas políticos (MAESTRI, 1979a, p.72 - 86).
No Brasil Meridional temos notícias de uma série de quilombos. Um
bastante conhecido é o do Negro Lucas, na Ilha dos Marinheiros de fronte a cidade
de Rio Grande, onde se aquilombaram cinco homens e quatro mulheres. Quando
debelado e morto o Negro Lucas, foram encontrados neste quilombo: uma casa,
com repartimentos, alguns de couro de vaca, muita carne, graxa, sebo, panelas de
ferro, chocolateiras, garrafas, frascos, garrafões, uma lança, lenha cortada em
grande quantidade e muitas provisões. Esta ilha sempre foi tradicional fornecedora
de lenha à cidade de Rio Grande. Talvez a lenha que estava estocada neste
quilombo tivesse o destino da cidade ou dos moradores dos arredores (MAESTRI,
1979a, p.90-91). Existem dados de fugas para a Serra dos Tapes, próximo a
Pelotas. Existem outros indicativos tais como as nomenclaturas de lugares: Arroio
dos Quilombos, Arroio Mocambo, Ilha Monjollo, etc. (MAESTRI, 1979a, p.91-93). Em
1829, há referência a combate a quilombolas na Ilha do Barba Negra, na entrada da
Lagoa dos Patos, em frente a Itapuã – Porto Alegre (GOMES et al., 1995, p.32).

38
poeta do século XIX, sobre a vida nos quilombos (MOURA,1987, p.42).

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80

Em Porto Alegre, na região do arquipélago, a toponímia demonstra a efetiva


presença afrodescendente: Ilha da Maria Conga, Ilha Maria Monjollo, Ilha do
Quilombo, Arroio Congo, Saco do Quilombo, e outros. Estes locais inicialmente
serviram de refúgio aos indígenas. Não acreditamos que existiam ali concentrações
populosas de escravizados fugidos, mas existiam bons esconderijos para grupos de
até 30 pessoas. A Ilha do Quilombo já era assim conhecida desde 1810, sendo que
em levantamento de 1859, feito por Felipe Von Normann, a Ilha surge como Ilha do
Tamanco e como Ilha da Maria Monjollo, reaparecendo o nome de Ilha do Quilombo
em 1891. Os escravizados que ali se estabeleceram vinham à cidade, conforme
referências, vender peles de cotias e beijus. Dedicavam-se ao transporte de
passageiros entre uma margem e outra do Jacuí ou do Guaíba (GOMES et al., 1995,
p.21- 36). Na Ilha da Maria Conga, segundo a moradora Aracy Bitencourt Fonseca,
existe um canal aberto por escravizados congos (GOMES et al., 1995, p.36). Outro
indicativo está na presença da família Benguela de Aguiar cultivando terras entre o
Arroio dos Tamancos, o Lago da Mãe Teresa e Volta da Mãe Teresa. Vários
documentos oficiais informam que a ilha era habitada por diversos africanos e
afrodescendentes forros (GOMES et al., 1995, p.37 - 78). Todas estas referências
devem ser investigadas quanto a sua cultura material que ainda está depositada
nestes lugares. Com isso surge uma nova história, novos itans, com isso novos
processos educativos.

Não há como chegar a conclusões

A inexistência destas referências sobre a resistência dos escravizados e


suas formas de persistir até o presente produziu a escrita histórica e a arqueológica
brasileira. Estão longe ainda os textos educativos que possibilitem reproduzir o
imaginário africano destes processos. Os vácuos historiográficos ainda se mantém.
Foram produzidas imagens europeias com incompreensões do modo de viver das
diversas culturas formadoras do Brasil e estas permanecem, sendo que as usam
para falar contra a discriminação. A ciência arqueológica tende hoje a responder a
estes vácuos historiográficos e recuperar os itans dos africanos no Brasil, se assim o
desejar, mas também pode propor a história dos outros para nós (como sempre fez).
Este dilema é parte da história da própria arqueologia no Brasil.

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Envolto por este dilema reproduzimos ainda os velhos textos nas escolas e
com eles tentamos cumprir as legislações que querem coibir os processos de
discriminação. Mas o que temos até agora é discriminação na escrita e na forma de
entender os africanos e descendentes, indígenas, quilombolas sociedades
tradicionais e outros grupos. A continuidade da percepção racional e europeia
destas realidades manterá a discriminação, há que se reescrever tudo e respeitar as
formas de pensar destes ainda discriminados. É um grande trabalho, então
começamos humildemente este trabalho no LAMINA-UFPel.

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Contemporâneas, 1996. p. 13-32.

SANTOS, Roberto dos. O Negro no Rio Grande do Sul: uma realidade além do mito.
In: TRIUMPHO, Vera (Org.). Rio Grande do Sul Aspectos da Negritude. Porto
Alegre: Martins Livreiro, 1991. p. 107 – 114.

Notas sobre o autor

Professor adjunto da Universidade Federal de Pelotas, o autor possui graduação em


História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1989), Mestrado
em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1993) e
Doutorado Internacional em Arqueologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (2005). Professor do Curso de Antropologia da Universidade Federal
de Pelotas.

Koan: Revista de Educação e Complexidade, n.2, jan.2014. ISSN: 2317-5656

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