2018 RobertoNunesMourão

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Universidade de Brasília

Instituto de Ciências Exatas


Departamento de Ciência da Computação

Mineração de Dados para Previsão de Renda de


Clientes com Contas-Correntes Digitais

Roberto Nunes Mourão

Dissertação apresentada como requisito parcial para conclusão do


Mestrado Profissional em Computação Aplicada

Orientador
Prof. Dr. Guilherme N. Ramos

Brasília
2018
Ficha catalográfica elaborada automaticamente,
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Nunes Mourão, Roberto


NR642m Mineração de Dados para Previsão de Renda de Clientes com
Contas-Correntes Digitais / Roberto Nunes Mourão;
orientador Guilherme Novaes Ramos. -- Brasília, 2018.
70 p.

Dissertação (Mestrado - Mestrado Profissional em


Computação Aplicada) -- Universidade de Brasília, 2018.

1. Mineração de Dados. 2. Classificação. 3. Previsão de


Renda. 4. Modelo de Público Semelhante. 5. Indústria
Bancária. I. Novaes Ramos, Guilherme, orient. II. Título.
Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Exatas
Departamento de Ciência da Computação

Mineração de Dados para Previsão de Renda de


Clientes com Contas-Correntes Digitais

Roberto Nunes Mourão

Dissertação apresentada como requisito parcial para conclusão do


Mestrado Profissional em Computação Aplicada

Prof. Dr. Guilherme N. Ramos (Orientador)


CIC/UnB

Prof. Dr. Daniel G. e Silva Prof. Dr. Donald M. Pianto


Universidade de Brasília Universidade de Brasília

Prof. Dr. Aleteia Patricia Favacho de Araujo


Coordenador do Programa de Pós-graduação em Computação Aplicada

Brasília, 29 de junho de 2018


Dedicatória

Dedico este trabalho a meu pai, Raimundo Coêlho Mourão, que um dia sonhou com um
futuro melhor para os filhos em um lugar em que pudessem estudar.

iv
Agradecimentos

Agradeço primeiramente e sempre a Deus, que me ajudou até aqui (Samuel 7.12). Esses
últimos dois anos foram um período de extremas dificuldades no âmbito pessoal e profis-
sional. Vi mais uma vez a fidelidade d’Ele no cumprimento de Suas promessas, onde pude
me amparar durante devastadoras tempestades, encontrando paz para realizar um sonho
de infância.
Não tenho palavras para agradecer o apoio dado pela minha esposa e filhos, que muitas
vezes deixaram de passar momentos em família porque meu “dever de casa” era muito
grande e que ainda por cima eu tinha que escrever um livro “todinho”.
Agradeço ao prof. Dr. Guilherme Ramos cuja dedicação ímpar motivou-me a cada dia
nessa árdua tarefa. Certamente sua orientação aumentou em vários graus de qualidade
este trabalho e ensinou-me muito para os próximos, que espero não serem poucos.
Agradeço a todos os meus professores do Programa de Pós-graduação em Computação
Aplicada (PPCA). Em especial o prof. Dr. Marcelo Ladeira e o prof. Dr. Donald Pianto
pelos aconselhamentos e apoio.
Agradeço a meus colegas de empresa, que me auxiliaram apoiando minha participação
no Programa de Pós-graduação, na obtenção dos dados usados nessa pesquisa e na orien-
tação sobre questões do problema de negócio. Em especial Roberto Paiva Zorrón, Daniel
Regis Filho, Fabiana Lauxen, Rogério Lopes, Alexandre Duarte, Sérgio Diogo Barbosa,
Analaura Morais e Diogo Kugler.
Por fim, agradeço aos colegas e funcionários do PPCA.

v
Resumo

Um banco brasileiro disponibilizou a abertura de conta bancária por meio de um aplicativo


móvel, o que geralmente exige muito pouca informação do usuário. Essa falta de dados
prejudica os atuais modelos preditivos aplicados na seleção de clientes para campanhas
de marketing. Com o intuito de atenuar isso, este trabalho investiga o uso da Miner-
ação de Dados a fim de criar um modelo preditivo capaz de identificar a renda desses
clientes. Para tanto, como treinamento, usa os dados de um grupo de clientes, os quais,
de forma semelhante, utilizam o aplicativo móvel do banco. Todavia, abriram suas con-
tas indo às agências, local onde comprovaram suas rendas. Os dados utilizados incluem
informações cadastrais, demográficas e características dos smartphones dos clientes. O
processo CRISP-DM foi aplicado para comparar várias abordagens, tais como: Regressão
Logística, Random Forest, Redes Neurais Artificiais, Gradient Boosting Machine e Hill-
climbing Ensemble Selection with Bootstrap Sampling. Os resultados mostraram que o
Gradient Boosting Machine obteve o melhor resultado com Acurácia de 92 % e F-Measure
de 62 %.

Palavras-chave: Mineração de Dados, Classificação, Previsão de Renda, Modelo de


Público Semelhante, Indústria Bancária

vi
Abstract

Digital bank accounts require little information from customers to enable simple banking
services, and the absence of income data hampers a focused targeting of customers for
additional products/services.
This study presents a comparison of predictive models to identify a customer’s income
bracket, by mining digital account data. The information available to build the models
includes customers’ registered data, demographics, house prices, and smartphone features.
The models are applied to a set of customers with regular accounts, who have income
data and features similar to those with digital accounts. The models’ performances are
compared to the model currently in use in a private bank.
Several approaches were used, in a CRISP-DM process: Logistic Regression, Random
Forest, Artificial Neural Networks, Gradient Boosting Machine, and Hill-Climbing En-
semble with Bootstrap Sampling. Experimental results indicate the Gradient Boosting
Machine model achieved the best results, with a 92% Accuracy and a 62% F-Measure.

Keywords: Data Mining, Classification, Income Prediction, Look-alike Model, Banking

vii
Sumário

1 Introdução 1
1.1 Definição do Problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Hipótese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.4 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.4.1 Objetivo Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.4.2 Objetivos Específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2 Revisão Teórica 6
2.1 Pré-processamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2 Mineração de Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.3 Pós-processamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

3 Estado da Arte 17
3.1 Trabalhos Relacionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.2 Considerações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

4 Plano de Trabalho 21

5 Primeira Iteração 23
5.1 Entendimento do Negócio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
5.2 Entendimento dos Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
5.3 Preparação dos Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
5.4 Modelagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
5.5 Avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
5.6 Implantação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

6 Segunda Iteração 38
6.1 Entendimento do Negócio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
6.2 Entendimento dos Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

viii
6.3 Preparação dos Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
6.4 Modelagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
6.5 Avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
6.6 Implantação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

7 Conclusão 51

Referências 53

ix
Lista de Figuras

1.1 Comparativo entre renda presumida da base dados externa e a renda com-
provada dos clientes que utilizam o aplicativo móvel do Banco Alfa. . . . . 3

2.1 Exemplo de validação cruzada. A base de treinamento é divida em partes


iguais. As etapas I a IV mostram a mudança da composição das bases de
treinamento e validação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

4.1 Processo Padrão Inter-Indústrias para Mineração de Dados. . . . . . . . . . 22

5.1 Proporção entre clientes convencionais e clientes digitais que utilizam o


aplicativo móvel. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
5.2 Distribuição da variável “sexo” entre clientes que usam o aplicativo móvel. 27
5.3 Distribuição de Idade dos Clientes que usam o aplicativo móvel. . . . . . . 27
5.4 Proporção entre clientes convencionais e clientes digitais que utilizam o
aplicativo móvel. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
5.5 Distribuição de renda entre clientes em todo o território nacional e clientes
em Joinville (SC). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
5.6 Distribuição da variável alvo entre clientes em todo o território nacional e
clientes em Joinville (SC). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
5.7 Distribuição de renda presumida da fonte externa para clientes em todo o
território nacional e clientes em Joinville (SC). . . . . . . . . . . . . . . . . 33
5.8 Curva ROC dos modelos preditivos sobre a base de teste. . . . . . . . . . . 36

6.1 Distribuição de smartphones dos clientes do Banco Alfa por sistema Ope-
racional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
6.2 Distribuição de preço dos modelos de smartphones dos clientes do Banco
Alfa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
6.3 Preço médio de casas no CEP de clientes do Banco Alfa. . . . . . . . . . . 40
6.4 Preço dos celulares por faixa de renda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
6.5 Exemplo de estrutura do CEP. Fonte: https://www.correios.com.br,
acessada em 01/06/2018. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

x
6.6 Preço médio de casas no CEP de clientes convencionais do Banco Alfa por
faixa de renda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
6.7 Matriz de correlação entre todos os atributos. . . . . . . . . . . . . . . . . 44
6.8 Representação das distribuições de variáveis contínuas com dois tratamen-
tos relativos aos valores da variável alvo (legenda). . . . . . . . . . . . . . . 44
6.9 Variâncias distintas entre os dois tratamentos. . . . . . . . . . . . . . . . . 45
6.10 Representação do teste de homogeneidade, ou Qui-Quadrado, para variá-
veis binárias, com dois tratamentos baseados nos valores da variável alvo
(label). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
6.11 Matriz de correlação entre atributos selecionados. . . . . . . . . . . . . . . 46
6.12 Curva ROC dos modelos criados usando a base de teste. . . . . . . . . . . 49

xi
Lista de Tabelas

1.1 Correlação entre a renda comprovada e a renda presumida da base de dados


externa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Projeção Comparada das Margens de Contribuição Mensal a Partir de Di-
ferentes Fontes de Informação de Renda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.1 Controle de regularização na Logistic Regression. . . . . . . . . . . . . . . . 11


2.2 Funções de Ativação de ANN utilizadas neste trabalho. . . . . . . . . . . . 12
2.3 Exemplo de matriz de confusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

5.1 Quantidade de Produtos por Faixa de Renda . . . . . . . . . . . . . . . . . 23


5.2 Correlação entre Renda e Margem de Contribuição . . . . . . . . . . . . . 24
5.3 Volume das bases utilizadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
5.4 Faixas de renda encontradas pelo aplicativo K-Means na primeira rodada. . 29
5.5 Faixas de renda encontradas pelo aplicativo K-Means após transformação
Box-Cox. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
5.6 Variáveis explicativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
5.7 Resultado do teste das técnicas de balanceamento de categorias. . . . . . . 33
5.8 Pârametros avaliados por Grid Search dos algoritmos Logistic Regression,
Random Forest, Gradient Boosting Machine e Artificial Neural Networks. . 35
5.9 Resultado da primeira iteração de Mineração de Dados. . . . . . . . . . . . 36
5.10 Dez variáveis mais importantes para o modelo vencedor. . . . . . . . . . . 37

6.1 Variáveis explicativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43


6.2 Variáveis selecionadas por diversos métodos discriminantes. . . . . . . . . . 46
6.3 Resultado do teste das técnicas de balanceamento de categorias. . . . . . . 47
6.4 Pârametros avaliados por Grid Search dos algoritmos Logistic Regression,
Random Forest, Gradient Boosting Machine e Artificial Neural Networks. . 48
6.5 Resultado da segunda iteração de Mineração de Dados. . . . . . . . . . . . 49
6.6 Dez variáveis mais importantes para o modelo vencedor. . . . . . . . . . . 50

xii
Lista de Abreviaturas e Siglas

ADASYN Adaptive Synthetic Sampling Approach for Imbalanced Learning.

ANN Artificial Neural Networks.

API Application Programming Interface.

AUC Area Under the Curve.

BCB Banco Central do Brasil.

CEP Código de Endereçamento Postal.

CPF Cadastro de Pessoas Físicas.

CRISP-DM Cross Industry Standard Process for Data Mining.

CSV Comma-Separated Values.

FEBRABAN Federação Brasileira de Bancos.

FPR False Positive Rate.

GBM Gradient Boosting Machine.

HCES-Bag Hill-climbing Ensemble Selection with Bootstrap Sampling.

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

KNN K-Nearest Neighbors.

LR Logistic Regression.

MD Mineração de Dados.

OLS Ordinary Least Squares.

xiii
PCA Principal Component Analysis.

PIB Produto Interno Bruto.

RF Random Forest.

RFB Receita Federal do Brasil.

ROC Receiver Operating Characteristic.

SFN Sistema Financeiro Nacional.

SMOTE Synthetic Minority Over-sampling Technique.

SMOTEENN Synthetic Minority Over-sampling Technique and Edited Nearest Neigh-


bors.

SMOTETomek Synthetic Minority Over-sampling Technique and Tomek Links.

SQL Structured Query Language.

TPR True Positive Rate.

VIF Variance Inflation Factor.

xiv
Capítulo 1

Introdução

Contas-correntes que podem ser abertas usando somente um smartphone são uma grande
inovação do setor bancário brasileiro. Essas contas digitais possibilitaram que uma maior
parte da população pudesse ser inserida no mercado bancário, o qual fornece serviços de
intermediação financeira, poupança e crédito. Contudo, a ausência de comprovação de
renda desses clientes tem dificultado a adequada oferta de produtos e serviços a eles e,
consequentemente, a obtenção de novos ativos por meio desse público-alvo.

1.1 Definição do Problema


No ano de 2016, o Banco Central do Brasil (BCB) permitiu que instituições financeiras
disponibilizassem a abertura de contas-correntes por meio eletrônico, sem a necessidade
de que os clientes se deslocassem a uma agência física [1]. As chamadas contas-correntes
digitais ou, simplesmente, contas digitais permitem que seus clientes façam transferências
financeiras entre si, paguem contas e realizem recarga de crédito em celulares pré-pagos,
com um limite de movimentações de R$ 5.000,00 por mês.
Estima-se que cerca de 53% dos domicílios no Brasil se tornaram público-alvo das
contas digitais [2]. Até o primeiro trimestre de 2017, segundo apuração1 da Federação
Brasileira de Bancos (FEBRABAN), existiam cerca de 940 mil clientes bancários que
efetuavam transações somente utilizando contas-correntes digitais e a expectativa de cres-
cimento para o final de 2017 era de 3,3 milhões de clientes.
Uma conta-corrente, contudo, é somente o primeiro produto disponibilizado aos novos
clientes pelas instituições financeiras. Os bancos comerciais, com a intenção de aumentar
seus lucros, oferecem aos seus correntistas diversos produtos e serviços, tais como: seguros,
consórcios, investimentos e empréstimos.
1
Disponível em http://www.ciab.com.br

1
Cada um dos produtos oferecidos pelas instituições financeiras segue regras preestabe-
lecidas por órgãos reguladores do governo, em especial o Banco Central do Brasil (BCB).
Um dos critérios para concessão de empréstimos, por exemplo, é a análise de crédito do
cliente, cálculo efetuado a partir de diversos fatores, dos quais se destaca a comprovação
de renda [3]. Além de mitigar o risco de inadimplência em operações de crédito, a correta
informação da renda permite que as instituições financeiras direcionem seus produtos e
serviços a um público apto a consumí-los.
De igual maneira, a renda dos clientes é base para a estratégia de marketing do Banco
Alfa, denominado assim por sigilo. Correntistas digitais, no entanto, não tem obrigatori-
edade de comprovar sua renda, dificultando o processo de seleção de clientes para oferta
de produtos e serviços.
O cadastro reduzido da conta digital torna-se então um empecilho para o Banco Alfa
ofertar novos produtos a esses clientes. Um passo natural seria convencer alguns dos
novos correntistas a evoluírem suas contas digitais para uma conta convencional. Por um
lado, os clientes obteriam maiores benefícios como o fim da limitação de R$ 5.000,00 de
movimentação mensal e por outro lado, teriam de fornecer uma informação cadastral mais
completa. Tornando-se detentor de uma conta convencional, o cliente de origem digital
teria acesso a todo o rol de produtos disponibilizados pelo Banco Alfa.
Novamente a seleção de clientes torna-se um problema, dadas as parcas informações
disponíveis acerca desse público. Há somente três informações que são realmente neces-
sárias para a abertura de uma conta digital: o número do Cadastro de Pessoas Físicas
(CPF), o número do Código de Endereçamento Postal (CEP) e um número de telefone
celular. A partir do CPF é possível obter de órgãos governamentais, como o Banco Cen-
tral do Brasil e a Receita Federal do Brasil, mais informações: data de nascimento, sexo
e grau de endividamento. O CEP de residência do cliente permite identificar a Unidade
Federativa, o município, a cidade e o bairro. O telefone celular fornece informações do mo-
delo do aparelho. Mesmo usando essas fontes de dados, não é possível obter diretamente
a informação sobre os rendimentos desses clientes.
No intuito de obter as informações de renda de seu público-alvo o Banco Alfa adquiriu,
de uma empresa de apoio ao crédito, uma base de dados com a renda presumida de várias
pessoas físicas. Essa base tem sido utilizada atualmente como referencial de renda na
seleção de clientes contactados para a alteração de conta.
Todavia, na Figura 1.1 é possível perceber que a renda presumida indica valores bem
menores que a informação comprovada dos clientes convencionais, principalmente para
rendas maiores que R$ 10 mil.
Foi também efetuada uma análise de correlação separada por faixas de renda tradici-
onalmente utilizadas pelo Banco Alfa. A Tabela 1.1 indica uma baixa correlação entre a

2
Figura 1.1: Comparativo entre renda presumida da base dados externa e a renda com-
provada dos clientes que utilizam o aplicativo móvel do Banco Alfa.

renda comprovada e a renda presumida em todas as faixas, sendo que a faixa de maior
renda apresentou a menor correlação.

Tabela 1.1: Correlação entre a renda comprovada e a renda presumida da base de dados
externa.

Faixa de Renda (R$) Correlação de Pearson


[0,01, 1.000) -0,056
[1.000, 4.000) 0,148
[4.000, 10.000) 0,197
[10.000, +∞) 0,029

A Margem de Contribuição é a diferença entre a receita das vendas e os custos e


despesas variáveis [4] e é usada pelo Banco Alfa para avaliar o retorno financeiro dos
clientes. A Tabela 1.2 mostra a comparação das Margens de Contribuição projetadas ao
longo de 6 meses, supondo que 20 mil contas digitais sejam abertas por mês, conforme
expectativa de especialistas2 . Estima-se que a Margem de Contribuição total das pessoas
com renda informada pela fonte de dados externa corresponde a menos da metade da
projeção da base interna.
Observando a distribuição de renda dos clientes do Banco Alfa com a renda informada
pela base de dados externa e as projeções de rentabilidade, entende-se que a primeira não
reflete adequadamente a renda dos correntistas desse Banco, podendo causar prejuízos se
for utilizada para tomadas de decisão. Assim, o Banco Alfa concluiu que a informação
atualmente disponível mostrou-se de pouco valor para identificar a renda dos clientes
digitais, sendo necessário procurar uma solução para esse problema.
2
Disponível em http://www.ciab.com.br

3
Tabela 1.2: Projeção Comparada das Margens de Contribuição Mensal a Partir de Dife-
rentes Fontes de Informação de Renda

Margem de Contribuição (R$)


Mês Contas
Fonte Externa Fonte Interna
1 20.000 198.272,70 425.081,54
2 40.000 396.543,39 850.161,07
3 60.000 594.815,09 1.275.241,61
4 80.000 793.086,79 1.700.322,14
5 100.000 991.358,49 2.125.402,68
6 120.000 1.189.630,18 2.550.483,21
Total 4.163.705,65 8.926.691,24

1.2 Justificativa
Em função da problemática apresentada e baseado nos dados levantados, o Banco Alfa
necessita de uma informação de renda mais acurada para ofertar produtos e serviços mais
adequados aos seus clientes digitais, a fim de obter a máxima Margem de Contribuição e,
consequentemente, maior retorno financeiro.
Além disso, os dados atualmente disponíveis ao Banco Alfa para determinar a oferta
de produtos a seus clientes, informam rendas inferiores às reais e, segundo projeções,
reduziriam o potencial de obtenção de Margem de Contribuição em 50%, ocasionando uma
perda potencial de milhões de reais por mês em vendas de produtos e serviços bancários.

1.3 Hipótese
Acredita-se que um mecanismo de predição de renda criado a partir de um público se-
melhante ao público-alvo, mas que possua renda comprovada, utilizando informações
cadastrais comuns nos dois públicos, dados sócio-demográficos dos clientes, comporta-
mentos de movimentação financeira e informações do modelo dos smartphones terá maior
confiabilidade em comparação à informação de renda presumida utilizada atualmente.

1.4 Objetivos
Esta pesquisa busca uma maneira de identificar clientes detentores de contas digitais com
maior renda para uma oferta mais eficiente de produtos e serviços bancários. Este trabalho
pretende utilizar uma abordagem de Mineração de Dados para inferir faixas de renda.

4
1.4.1 Objetivo Geral
Comparar entre si modelos de classificação de faixa de renda, criados a partir de algoritmos
de Mineração de Dados, selecionando o modelo que identificar uma quantidade equilibrada
de acertos nas diferentes faixas de renda, para finalmente compará-lo com a informação
sobre renda adquirida de uma empresa de apoio ao crédito.

1.4.2 Objetivos Específicos


Detalhadamente, objetiva-se:

• definir faixas de renda que sejam relevantes para o negócio e adequadas para o
modelo preditivo, baseada na estratégia de oferta de produtos do Banco Alfa e na
divisão mais eficaz das faixas para a modelagem estatística;

• testar diferentes algoritmos de classificação de renda, escolhendo o modelo mais


equilibrado (F-Measure);

• comparar os resultados do modelo escolhido com a solução atualmente utilizada pelo


Banco Alfa, isto é, a informação de renda presumida adquirida de fonte externa.

• avaliar a qualidade do modelo escolhido na base de clientes digitais.

5
Capítulo 2

Revisão Teórica

Empresas costumam organizar suas informações sobre clientes, produtos e forças de ven-
das em banco de dados, podendo combinar essas informações para montar uma estratégia
de oferta de produtos. Ao identificarem os clientes adequados para certos produtos, elas
evitam o envio indiscriminado de ofertas, reduzindo o custo de envio da propaganda e au-
mentando as vendas. Além disso, sugere-se que empresas devam coletar informações sobre
o clientes a cada interação, sendo que qualquer dado possui valor, seja ele de origem ca-
dastral ou transacional. Essa quantidade de dados deve ser mantida de forma organizada,
como em data warehouses, para o uso da equipe de Mineração de Dados [5].
A Mineração de Dados é o processo de descobrir informações úteis em grandes reposi-
tórios de dados, tudo automaticamente. As técnicas de MD permitem encontrar padrões
novos e úteis que, de outra forma, permaneceriam desconhecidos [6]. A MD também pode
ser definida como a construção de um modelo estatístico [7].
A resolução de um problema utilizando Mineração de Dados depende de etapas de
pré-processamento e pós-processamento. O pré-processamento corresponde a transformar
dados brutos em um formato apropriado para a Mineração de Dados. As etapas de pós-
processamento estão relacionadas à avaliação do modelo de Mineração de Dados criado,
de forma que seja assegurado que somente resultados válidos e úteis sejam incorporados
aos sistemas de produção. As seções a seguir detalham técnicas utilizadas em cada um
desses três momentos.

2.1 Pré-processamento
Passos comuns nessa etapa envolvem a obtenção, a limpeza e a seleção de dados relevantes
para a tarefa de Mineração de Dados. Grande parte do esforço da criação de um modelo
de MD é despendido nessa etapa [6].

6
Os dados podem vir em muitos formatos diferentes: texto, numéricos, categóricos [6].
Para cada um desses formatos podem ser aplicadas técnicas para torná-los adequados aos
requisitos do problema de MD. Uma das transformações possíveis é igualar a escala de
todas as variáveis. Uma maneira de realizar isso é redefinir os valores de uma váriavel
para o intervalo [0, 1], usando a Equação 2.1 [8].

x − min
y= , (2.1)
max − min
onde:

y: valor transformado;

x: valor original;

min: menor valor da variável;

max: maior valor da variável.

Outro exemplo de transformação consiste em mudar a distribuição de valores para que


esta se assemelhe a uma distribuição Normal. A transformação Box-Cox [9], Equação 2.2,
pode ser utilizada para esse fim.


 xλ
−1
, se λ 6= 0.



y= λ (2.2)

ln x, se λ = 0,

onde:

y: número transformado;

x: número original;

λ: valor que melhor aproxima o conjunto de valores a uma distribuição normal.

Transformações como as mostradas nas Equações Equação 2.1 e Equação 2.2 não
mudam o tipo da variável, que continua numérica [6, 9]. Em outros casos podem ser
necessárias transformações que tornam variáveis numéricas em categóricas. Uma das
técnicas de categorização consiste no uso do algoritmo de criação de grupos denominado
K-Means [6] e é detalhado nos procedimentos abaixo:

1. Selecionar K pontos como centróides iniciais.

2. Formar K grupos a partir dos elementos mais próximos a um centróide.

7
3. Recalcular os centróides.

4. Repetir passos 2 e 3 até que os centróides não mudem.

A avaliação da qualidade dos grupos criados deveria levar em consideração a quanti-


dade ideal de grupos, a coesão e a separação. Coesão consiste em o quanto os elementos
dentro de um grupo estão relacionados (ou próximos entre si). Separação, por outro
lado, verifica o quanto grupos distintos estão separados. Uma métrica que une esses dois
conceitos é o coeficiente Silhouette, dado pela Equação 2.3 [6]:

n
Pbi − ai
i=1 max(ai , bi )
S= , (2.3)
n
onde:

n: número de elementos;

ai : distância média entre o i-ésimo elemento e todos os outros elementos do mesmo


grupo;

bi : menor distância média entre o i-ésimo elemento e os elementos dos grupos vizi-
nhos.

O valor do coeficiente de Silhouette varia entre -1 e 1, onde se assume que o menor


valor corresponde a um agrupamento incorreto, enquanto que o maior valor sugere um
“bom” agrupamento, com máxima coesão e separação [10].
Durante o pré-processamento, pode-se ainda identificar variáveis repetidas, que au-
mentariam o tempo de processamento da etapa de modelagem ou prejudicariam seus
resultados [11]. Uma das situações encontradas é chamada de colinearidade e refere-se
à situação em que duas ou mais variáveis explicativas são muito relacionadas entre si.
Uma das maneiras de se identificar essa situação é utilizando o Variance Inflation Factor
(VIF) [11]. Para calculá-lo, efetua-se uma Regressão Linear entre uma variável explica-
tiva, definida como alvo, e todas as outras variáveis explicativas. Ao obter o coeficiente
de determinação R2 , o VIF é dado pela Equação 2.4.

1
V IF = (2.4)
1 − R2
A seleção de variáveis é dada pelo algoritmo a seguir:

1. calcular o VIF de cada variável;

8
2. retirar a variável de maior VIF;

3. executar os passos 1 e 2 até que não haja VIF maiores que 5 [11].

A execução desse procedimento tem como vantagem identificar não só a relação entre
duas, mas entre várias variáveis explicativas, o que não seria possível se fosse aplicado o
coeficiente de correlação de Pearson duas a duas variáveis [11].
Apesar da duplicidade de variáveis ser um problema, registros repetidos podem ajudar
na fase de modelagem. Alguns algoritmos de MD obtém melhores resultados quando
se encontra um número aproximadamente igual de observações das categorias de uma
variável alvo, como algoritmos baseados em regras [6]. São exemplos de técnicas que
podem ser utilizadas para balancear categorias [12]:

Random Undersampling: realiza uma amostragem aleatória simples nos dados per-
tencentes à categoria majoritária, para que a amostra fique com a mesma quantidade
de registros que a categoria minoritária;

Random Oversampling: efetua uma amostragem simples com reposição da categoria


minoritária até que essa amostra atinja o mesmo número de registros que a categoria
majoritária;

Cluster Centroids: realiza um agrupamento K-Means com K igual ao número de


registros da categoria minoritária na categoria majoritária, fornecendo assim um
grupo de centróides na mesma quantidade da categoria minoritária;

Synthetic Minority Over-sampling Technique (SMOTE): gera registros da categoria


minoritária por interpolação, até que haja o mesmo número de registros da categoria
majoritária;

Synthetic Minority Over-sampling Technique and Edited Nearest Neighbors (SMO-


TEENN): similar ao SMOTE, mas removendo outliers (valores extremos) pela téc-
nica de edição de vizinhos mais próximos [13], onde são removidos da amostra ele-
mentos que não pertencem à maioria da categoria majoritária entre os k vizinhos;

Synthetic Minority Over-sampling Technique and Tomek Links (SMOTETomek):


similar ao SMOTE, mas removendo outliers pela técnica de links de Tomek. Um
link de Tomek ocorre quando os dois vizinhos mais próximos são de categorias
diferentes. A remoção ocorre na categoria majoritária;

Adaptive Synthetic Sampling Approach for Imbalanced Learning (ADASYN): similar


ao SMOTE, gera registros por interpolação, mas utiliza somente registros considera-
dos mais difíceis de discriminar por estarem muito próximos das outras categorias,
identificados por meio de um classificador de vizinhos mais próximos.

9
O balanceamento das categorias pode, no entanto, produzir efeitos indesejáveis na
construção do modelo, como o sobreajuste [6], que será explicado adiante.

2.2 Mineração de Dados


Após o pré-processamento, segue-se a Mineração de Dados [6]. Problemas de Mineração
de Dados podem ser grosseiramente classificados como supervisionados ou não supervisio-
nados. Em um problema supervisionado, espera-se predizer um valor objetivo baseado em
valores preditores. Na MD não supervisionada, por outro lado, não há um valor objetivo
e espera-se descrever associações e padrões a partir dos dados de entrada [14].
Duas abordagens supervisionadas a serem consideradas para o problema de predição
de renda são a Regressão e a Classificação. A Regressão busca encontrar um valor
numérico contínuo para uma variável alvo, usando para isso uma ou mais variáveis pre-
ditoras [15]. A Classificação, por sua vez, identifica um valor alvo categórico a partir de
variáveis preditoras [6].
Há vários algoritmos de MD que podem ser usados tanto para Regressão quanto para
Classificação. A Regressão Linear, por exemplo, pode ser generalizada para lidar com
outros tipos de variáveis alvo [16]. Se a variável alvo é binária (ou binária), o modelo
generalizado para ela chama-se Logistic Regression (LR). Esse modelo é definido pela
Equação 2.5 [11].

eβ0 +β1 ·X
p(X) = , (2.5)
1 + eβ0 +β1 ·X
onde:

p(X): a probabilidade de que o evento X ocorra;

βi : argumentos da função de regressão que explica o evento.

Para encontrar os argumentos βi do modelo descrito na Equação 2.5, usa-se o método


de máxima verossimilhança [11], obtendo assim a probabilidade de que o evento observado
ocorra.
Algoritmos de MD geralmente permitem customizações na sua execução a partir da
modificação de parâmetros [17]. A Logistic Regression trabalha essencialmente com dois
parâmetros: α, que controla a distribuição entre as regularizações LASSO e Ridge e λ que
controla o quanto de regularização é aplicada, sendo que λ = 0 corresponde a um modelo
sem regularizações, denominado Ordinary Least Squares (OLS) [18]. A relação entre esses
dois parâmetros é detalhada na Tabela 2.1.

10
Tabela 2.1: Controle de regularização na Logistic Regression.

λ α Resultado
0 [0, 1] Sem regularização. α é ignorado.
(0, 1] 0 Regressão Ridge
(0, 1] 1 LASSO
(0, 1] [0, 1] Penalização Elastic Net

Random Forest (RF), um algoritmo desenvolvido por Breiman [19], utiliza-se de uma
técnica distinta a da Logistic Regression. Random Forest é um algoritmo do tipo ensemble
(ou composto) que se utiliza de vários outros para gerar melhores resultados [17]. Nesse
caso, RF cria múltiplas árvores de decisão que efetuam previsões sobre um evento [6]. O
resultado final da previsão é obtido apurando-se os resultados individuais das árvores e
optando-se pela previsão da maioria [14].
Parâmetros fundamentais para uma RF são o número de árvores usadas (ntrees) e o
comprimento máximo de cada árvore (max_depth). Parâmetros outros podem ser utili-
zados com o intuito de generalizar o modelo, reduzindo as informações disponíveis para
cada árvore ao omitir registros ou ainda variáveis explicativas [17]. São alguns exemplos
de parâmetros que podem ser aplicados em um algoritmo RF [20]:

mtries: número de variáveis que serão aleatoriamente disponibilizados para a for-


mação de cada novo nível em uma árvore;

sample_rate: proporção de registros que cada árvore terá acesso para ser construída;

col_sample_rate_per_tree: proporção de variáveis que são disponibilizadas para a


construção de cada árvore;

min_rows: quantidade mínima de registros em um ramo da árvore de decisão para


que ocorra divisão em dois ramos;

col_sample_rate_change_per_level: taxa de amostragem das variáveis usada em


cada novo nó das árvores;

min_split_improvement: melhora mínima no erro quadrático para que haja rami-


ficação de uma árvore.

Assim como RF, o Gradient Boosting Machine (GBM) é também um método composto
que se utiliza de árvores de decisão [17]. O algoritmo combina duas técnicas: otimização
baseada em gradiente e boosting. A primeira refere-se à adição iterativa de árvores para
minimizar uma função de perda [21]. O termo boosting corresponde ao uso de um processo
iterativo usado para mudar adaptativamente a distribuição de exemplos de treinamento
de forma que os classificadores base (árvores) foquem em registros difíceis de classificar [6].

11
Tal como Random Forest, o principais parâmetros do algoritmo GBM são o número
de árvores usadas e o comprimento máximo de cada árvore [17]. A diferença encontrada
em sua parametrização consiste principalmente na possibilidade de definir que taxa de
aprendizagem cada árvore fornecerá ao algoritmo como um todo (learn_rate) [21].
Inspiradas na rede de neurônios encontrada no cérebro e como ela opera, as Artificial
Neural Networks são compostas por unidades também denominadas neurônios. As Ar-
tificial Neural Networks do tipo Multi-Layer Perceptron with FeedForward, em especial,
consistem em várias camadas de neurônios artificiais interconectados em uma só direção,
partindo da camada inicial até a final [22].
A passagem de informações de um neurônio para outro depende de uma função de
ativação [6] que, ao receber valores de entrada de outros neurônios, gera um valor para a
próxima camada [17]. A Tabela 2.2 mostra alguns exemplos de funções de ativação [22].

Tabela 2.2: Funções de Ativação de ANN utilizadas neste trabalho.

Nome Função Imagem


eα − e−α
Tahn f (α) = α [-1, 1]
e + e−α
Rectified Linear f (α) = max(0, α) IR+
Maxout f (α1 , α2 ) = max(α1 , α2 ) IR

A variável α corresponde à soma dos valores pelo neurônio. Na função Maxout, con-
tudo, os valores α1 e α2 não são somados, mas o maior valor entre os dois é selecionado [17].
Além da função de ativação, existem outros parâmetros customizáveis. São exemplos [22]:

epochs: quantidade de vezes que a base de treinamento passa em uma rede neural;

hidden: quantidade de camadas internas e quantos neurônios há em cada uma;

L1 e L2 : regularizações LASSO e Ridge, respectivamente;

input_dropout_ratio: quantidade de neurônios da camada inicial que irão passar


informação para a primeira camada oculta.

Desenvolvido por Caruana et al. [23, 24], Hill-climbing Ensemble Selection with Bo-
otstrap Sampling (HCES-Bag) é um algoritmo composto e heterogêneo, isto é, pode ser
formado por diferentes algoritmos. A ideia é que os algoritmos tem diferentes visões sobre
os dados e é desta forma que se complementam [25].
Na estratégia de construção do modelo HCES-Bag, modelos individuais ou candidatos
são reamostrados utilizando a técnica de bootstrap aggregating [6] ou bagging, gerando
múltiplas combinações com reposição dos modelos candidatos. Em cada uma das amostras
de modelos candidatos, é iniciada uma uma composição de t melhores modelos individuais.

12
São geradas então todas as combinações possíveis com t + 1 modelos e é selecionado o
conjunto de melhor performance de uma métrica previamente definida. Essa adição de
modelos se repete até que não haja melhora na métrica. Como pode se observar, nem
todos os modelos candidatos são necessariamente utilizados, enquanto outros podem ser
usados mais de uma vez [24]. A previsão do HCES-Bag é feita utilizando a média dos
modelos compostos criados [25].
Como explicado nos parágrafos anteriores, algoritmos de MD podem receber parâme-
tros de ajuste. Não se sabendo previamente quais valores para o parâmetros irão produzir
os melhores modelos a partir dos dados de treinamento, faz-se necessário o teste de uma
gama de valores para esses parâmetros. Tal atividade é onerosa e maçante, dificultando
a criação de modelos de alta performance. Para reduzir esse problema, foi criada uma
técnica denominada Grid Search, onde se pode construir vários modelos a partir da com-
binação iterativa de diferentes valores para cada parâmetro [17]. Muitas ferramentas de
MD possuem a técnica de Grid Search disponível1 2 3 , o que torna mais simples sua
implementação.

2.3 Pós-processamento
Essa etapa pode envolver tanto a representação gráfica dos modelos quanto a análise
numérica dos resultados. Gráficos permitem que os analistas explorem os dados e os
resultados da MD a partir de uma variedade de pontos de vista. A análise numérica, por
meio de medidas estatísticas ou testes de hipóteses, pode ser usada para eliminar modelos
de MD que produzem resultados inúteis [6].
Um dos problemas, por vezes encontrado na MD, é o sobreajuste do modelo, isto é,
quando o modelo criado é particularmente suscetível ao ruído na base de treinamento [11].
O sobreajuste torna o modelo preditivo menos capaz de ser usado de forma generalizada
e pode ser observado como uma queda brusca do poder preditivo nas etapas de validação
frente aos resultados de treinamento [6].
Com o intuito de identificar mais facilmente um possível sobreajuste dos modelos
preditivos criados, pode ser utilizada a técnica de validação cruzada [11] ou K-Fold Cross-
Validation. Essa técnica corresponde a separar aleatoriamente os dados de treinamento
em K partes iguais e, iterativamente, treinar o modelo com um conjunto de K − 1 partes,
validando-o com a parte restante [11]. A métrica utilizada para validar o modelo, F-
Measure, por exemplo, é calculada a cada iteração e ao final a soma das predições é
1
http://scikit-learn.org/stable/modules/grid_search.html
2
http://docs.h2o.ai/h2o/latest-stable/h2o-docs/grid-search.html
3
https://spark.apache.org/docs/2.2.0/ml-tuning.html

13
utilizada para definir a métrica final [6]. A Figura 2.1 ilustra a execução de uma validação
cruzada que divide a base de treinamento em quatro partes.

Figura 2.1: Exemplo de validação cruzada. A base de treinamento é divida em partes


iguais. As etapas I a IV mostram a mudança da composição das bases de treinamento e
validação.

Uma alternativa à validação cruzada é a validação comum, que consiste em separar


uma parte da base para validação e executar separadamente as etapas de treinamento e
validação [14]. Contudo, as ferramentas de MD costumam ter integradas a elas a validação
cruzada4 5 6 , bastando informar como parâmetro a quantidade K de partes que devem
ser utilizadas. Devido a isso e à maior robustez da validação cruzada em comparação à
validação comum [11], torna-se mais interessante a utilização da primeira.
Uma matriz de confusão é uma outra maneira conveniente de avaliar um modelo de
classificação [11]. Consiste em uma tabela que contém a quantidade de elementos que
foram classificados correta e erroneamente como positivos e negativos. A Tabela 2.3
demonstra a estrutura de uma matriz de confusão.
Onde:

TN: verdadeiros negativos ou, particularmente, a quantidade de registros correta-


mente classificados como falsos;

FN: falsos negativos, ou número de registros erroneamente classificados como falsos;


4
http://scikit-learn.org/stable/modules/cross_validation.html
5
http://docs.h2o.ai/h2o/latest-stable/h2o-docs/cross-validation.html
6
https://spark.apache.org/docs/2.2.0/ml-tuning.html

14
Tabela 2.3: Exemplo de matriz de confusão

predito
Falso Verdadeiro
Falso TN FP
real
Verdadeiro FN TP

FP: falsos positivos, ou número de registros que foram classificados erroneamente


como verdadeiros;

TP: verdadeiros positivos, ou a quantidade de registros que foram classificados cor-


retamente como verdadeiros.

Outra ferramenta de análise no pós-processamento comumente utilizada é a curva


ROC, pois resume o equilíbrio entre True Positive Rate (TPR), ou taxa de verdadei-
ros positivos, e False Positive Rate (FPR), ou taxa de falsos positivos. Cada ponto na
curva representa um ponto de corte das probabilidades encontradas por um modelo pre-
ditivo [14]. A TPR e a FPR são dadas, respectivamente, pelas Equações 2.6 e 2.7.

TP
TPR = . (2.6)
TP + FN
FP
FPR = . (2.7)
FP + TN
A área abaixo da curva ROC, ou AUC, fornece uma abordagem para avaliar qual
modelo é melhor em média. Se o modelo é perfeito, então a AUC é igual a 1. Se o modelo
simplesmente age de forma aleatória, então a área sobre a curva será igual a 0,5. Um
modelo é estritamente melhor que outro se ele possuir uma maior AUC [6].
Além de identificar o modelo preditivo com maior AUC, é possível identificar o ponto de
corte das probabilidades encontradas para as observações que melhor atinge uma métrica
de performance [6]. Dentre as métricas existentes, uma das mais populares é a Acurácia,
descrita na Equação 2.8.

TP + TN
Acurácia = (2.8)
TP + TN + FP + FN
Contudo, a Acurácia pode não ser apropriada ao avaliar modelos onde a variável
alvo é muito desbalanceda, como em casos que a categoria Positiva é considerada rara
(<10%) [6]. A F-Measure ou Medida F, definida pela Equação 2.9, é uma alternativa nes-
ses casos, pois em sua formulação não leva em conta o número de Verdadeiros Negativos.

15
2 · TP
F − M easure = (2.9)
2 · TP + FP + FN
Assim, como explicado anteriormente, a avaliação de modelos de MD utilizando a
AUC permite identificar o modelo que em média acerta mais vezes. Conjuntamente, a
utilização de uma métrica como a Medida F auxilia a fixação de um valor de corte ótimo
para as probabilidades determinadas pelo melhor modelo de MD.

16
Capítulo 3

Estado da Arte

Este capítulo descreve algumas pesquisas científicas que possuem ligação com o presente
trabalho e analisa as possíveis contribuições desses estudos na construção da solução para
o problema apresentado.

3.1 Trabalhos Relacionados


González et al. [26] monitoraram a trajetória do smartphone de 100 mil indivíduos, durante
um período de seis meses. Eles descobriram que a trajetória humana não pode ser predita
adequadamente utilizando modelos com variância infinita, como Vôos de Lévy, mas que,
ao contrário, a trajetória humana possui alto grau de regularidade temporal e espacial,
com cada indivíduo podendo ser caracterizado por uma distância de viagem limítrofe e
uma grande probabilidade de retornar a poucos locais muito frequentados. Apesar de não
tratar propriamente da relação entre renda e geolocalização, o trabalho de González et al.
[26] aponta que dados posicionais de smartphones, em geral, podem ser boas variáveis
preditoras.
Um dos exemplos de utilização de dados de localização para predizer renda é a pesquisa
de Frias-Martinez e Virseda [27]. Nele os autores apresentam um modelo preditivo para
dados sócio-econômicos (renda e outros) de usuários de telefone celulares em um país da
América Latina. Os autores possuíam acesso aos dados das ligações, a geolocalização da
torre de celular utilizada para cada ligação, gênero, idade e endereço residencial de cada
cliente. Foi construído então um modelo de regressão linear multivariada, utilizando o
Ordinary Least Squares (OLS) para cada uma das variáveis censitárias. A combinação
dos três tipos de variáveis de telefonia resultou em um modelo preditor de faixa de renda
com R2 = 0, 83, o que é consideravelmente alto, se comparada à estratégia de predição de
renda do Banco Alfa.

17
Li et al. [28], por sua vez, usaram a relação entre preços de apartamentos e a renda
de clientes de um site de produtos farmacêuticos para definir um modelo de segmentação
para os clientes dessa empresa. Para isso, cruzaram os endereços de entrega dos produtos
farmacêuticos com os valores de casas à venda em um site de oferta de imóveis. Para criar o
modelo de segmentação, os autores utilizaram Mineração de Dados não supervisionada. O
cruzamento dos endereços com os imóveis à venda foi realizado utilizando um algoritmo de
similaridade de texto. No caso de não se encontrar endereços com a similaridade mínima
definida pelos autores, outro algoritmo era usado: calculava-se a média e o desvio-padrão
de casas à venda próximas ao endereço de entrega, aumentando o raio de pesquisa até
que o desvio-padrão encontrasse um valor limite.
Lessmann et al. [25] efetuaram um benchmarking com 41 algoritmos de classifica-
ção para definição de default 1 em 8 diferentes bases de dados. Dentre os algoritmos de
classificação, foram avaliados algoritmos individuais, técnicas de ensemble homogêneo e
heterogêneo. Dentre todos os algoritmos testados, três se destacaram ao obter acurácia
melhor que a Regressão Logística, técnica mais utilizada no mercado: Hill-climbing En-
semble Selection with Bootstrap Sampling (HCES-Bag), Random Forest (RF) e Artificial
Neural Networks (ANN), respectivamente. Apesar do algoritmo HCES-Bag ter sido o
melhor em acurácia, os autores verificaram que ANN e RF, respectivamente, obtiveram
um menor número de Falsos Negativos, isto é, deixavam passar menos casos de default.
Bjorkegren e Grissen [29] criaram um modelo preditivo de risco de crédito tendo como
base dados de pessoas que fizeram empréstimos em uma empresa de microcrédito. Foram
utilizados dados de ligações telefônicas, da localização das torres e modelos dos smartpho-
nes. Em contraste, um conjunto de dados contendo idade, sexo, valor do empréstimo e
tempo para quitação do empréstimo foi utilizado para comparar a acurácia do primeiro
conjunto de dados. Foram utilizados os algoritmos RF e OLS para criação do modelo de
Regressão, onde os modelos utilizando dados de telefone obtiveram Area Under the Curve
(AUC) superior (0,66-0,67) aos mesmos algoritmos utilizando os dados demográficos e
relacionados ao empréstimo (0,53).
Toole et al. [30] estudaram a relação entre dados de ligações telefônicas e desemprego.
Eles construíram um classificador Bayesiano, baseado em mudanças de ritmo de uso de
telefones celulares. Além disso, um resultado da pesquisa foi a identificação de uma
relação entre o desemprego e a diminuição da mobilidade e do comportamento social dos
indivíduos.
Kim et al. [31] investigaram a correlação entre o uso de smartphones e característi-
cas demográficas de cerca de dez mil respondentes de um questionário na Córeia. Neste
1
"Atraso ou não pagamento de título ou cupom na data de seu vencimento. Declaração de insolvência
do devedor, decretada pelos credores quando as dívidas não são pagas nos prazos estabelecidos". http:
//www.bcb.gov.br, acessado em 03/06/2018.

18
questionário, além de existirem perguntas relacionadas a dados demográficos (idade, sexo,
grau de instrução e renda), havia questões voltadas a quais aplicativos as pessoas utili-
zam (e-commerce, entretenimento, leitura, notícias e redes sociais). Foi identificada uma
correlação de 0,54 entre o uso de smartphones e o grau de instrução. A renda e o uso
de smartphones mostrou uma correlação baixa, de 0,17. Entre o uso de tipos de aplica-
tivos, os softwares relacionados a notícias obtiveram maior correlação com a renda dos
indivíduos (0,23).
Blumenstock et al. [32] usaram dados de smartphones para identificar características
demográficas de indivíduos de Ruanda. Para definir um índice de riqueza, foi efetuada
uma pesquisa a 856 cidadãos desse país, perguntando sobre posse de bens, características
de suas moradias e outros indicadores de bem-estar social. A correlação entre o índice de
riqueza e os dados de ligações telefônicas e mensagens de texto foi de 0,68. Ao separar
o estudo em microrregiões, Blumenstock et al. [32] mostraram que os dados de telefonia
tem forte correlação com os indicadores de riqueza de cada distrito de Ruanda (0,91).
Sundsøy et al. [33] utilizaram algoritmos de classificação para predizer a renda de 80 mil
clientes de uma empresa de telefonia, usando tanto dados cadastrais quanto transacionais.
Foram selecionados cerca de 150 variáveis preditoras da base da operadora, como uso de
mensagens (SMS), torres de celular utilizadas nas ligações, comportamento de recarga
de créditos, frequência de uso de redes sociais, tipo de aparelho entre outros. Foram
utilizadas 3 técnicas de classificação: Random Forest (RF), Gradient Boosting Machine
(GBM) e Artificial Neural Networks (ANN). Os pesquisadores explicaram que o ANN
alcançou acurácia satisfatória (77%), usando somente variáveis associadas ao uso das
torres, enquanto que os outros métodos precisaram de todos os outros atributos para
alcançarem um resultado próximo (68-72%) ao de ANN.
Kibekbaev e Duman [34] se destacam no teste de diversos algoritmos de Regressão
para identificar a renda de clientes. Eles testaram um total de 10 algoritmos: OLS, Beta
Regression, Beta-OLS, Box-Cox OLS, Ridge Regression, Robust Regression, CART, M5P,
MARS, ANN. Foram incluídas ainda técnicas combinadas, como OLS + M5P, OLS +
MARS, OLS + CART, OLS + ANN, OLS + LSSVM e técnicas de Ensemble Learning,
como Random Forest e AdaBoost. As informações utilizadas para testar os modelos con-
sistiam em uma média de registros de 10.000 clientes em 5 bancos turcos. O novo modelo
seria usado na análise de concessão de crédito e deveria minimizar a negação de emprés-
timo para clientes que poderiam recebê-lo e evitar que fossem concedidos valores acima
do limite do cliente. O modelo com melhor resultado era formado por uma combinação
do Ordinary Least Squares com o algoritmo de Árvore de Decisão M5, obtendo R2 entre
0,38 e 0,59.
Steele et al. [35] utilizaram Regressão por meio de modelos lineares generalizados em

19
dados de mobilidade e em características de ligações telefônicas para predizer índices de
pobreza em Bangladesh. O experimento foi considerado bem-sucedido, obtendo R2 = 0, 78
para as regiões urbanas e R2 = 0, 66 para as áreas rurais. A mesma abordagem, ao utilizar
os dados em conjunto, alcançou um R2 = 0, 76.

3.2 Considerações
Em relação ao tipo de Mineração de Dados supervisionada, os trabalhos [27, 34, 35]
utilizaram algoritmos de Regressão, enquanto que os trabalhos [25, 29, 30, 33] optaram por
algoritmos de Classificação. Algoritmos de Regressão foram testados em maior proporção
o Ordinary Least Squares [27, 29, 34] e Random Forest [29, 34]. Dentre os algoritmos
de Classificação, foram testados em maior quantidade Random Forest [25, 33] e Artificial
Neural Networks [25, 33]. Para o problema de determinar a renda de correntistas digitais,
optou-se pela utilização de algoritmos de Classificação, pois não há a necessidade de
identificar um valor contínuo da renda, sendo suficiente para a estratégia de oferta de
produtos do Banco Alfa tão somente a identificação de faixas de renda. De fato, há
trabalhos de Classificação suficientes que serviram de referencial para a pesquisa e que
forneceram uma lista de cinco algoritmos para comparação: (ANN, GBM, HCES-Bag,
RF e LR).
Uma dificuldade encontrada na maioria dos artigos pesquisados sobre predição de
renda consistia em obter rendas individuais para construir a variável alvo [27, 28, 32, 33,
35], devido a questões de sigilo da empresa ou pela própria falta do dado. Os pesquisadores
então costumavam usar variáveis correlacionadas como subterfúgio da falta de informação.
À exceção das pesquisas [25, 30, 31, 34], foram usados, em algum grau, dados de localização
dos clientes como indicadores de renda. Os trabalhos [27, 28, 31–33, 35] utilizaram dados
censitários ou questionários para obter tais indicadores.
Apesar desta pesquisa sofrer da mesma ausência de informação de renda para os cli-
entes digitais, optou-se por um caminho distinto que, conforme descrito no Capítulo 1,
corresponde a utilizar uma população similar para criar o modelo de MD. Mesmo assim,
algumas das variáveis correlatas à renda descritas nesses artigos serviram de inspiração na
construção das variáveis explicativas. O uso de dados censitários e demográficos oriundos
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, aliados a informações sobre endivida-
mento obtidas do Banco Central do Brasil, por exemplo, foram utilizados na construção
de variáveis preditoras do modelo. Seguindo essa mesma linha, as pesquisas [29, 33], por
exemplo, utilizaram o modelo do smartphone como variável preditora. O artigo de Li
et al. [28], por sua vez, usou valores de venda de imóveis da região. Tais variáveis também
foram levadas em consideração durante a construção do modelo.

20
Capítulo 4

Plano de Trabalho

Uma abordagem para minerar dados comum na indústria é o Cross Industry Standard
Process for Data Mining (CRISP-DM), um processo iterativo que consiste em 6 etapas,
descritas a seguir [36]:
1. Entendimento do Negócio: importa-se com o entendimento dos objetivos e re-
quisitos a partir da perpectiva negocial, para então converter este conhecimento na
definição de um problema de Mineração de Dados e em um plano preliminar para
atingir os objetivos.

2. Entendimento dos Dados: começa com uma coleção de dados inicial e prossegue
com atividades que tem como intuito tornar os dados familiares, identificar proble-
mas de qualidade e descobrir os primeiros insights nos dados e detectar subconjuntos
para formular hipóteses sobre a informação escondida.

3. Preparação dos Dados: cobre todas as atividades relacionadas à construção do


conjunto de dados final, ou seja, o conjunto de dados que será utilizado pelo modelo.

4. Modelagem: nessa etapa, vários modelos são escolhidos, aplicados e calibrados em


busca do melhor resultado.

5. Avaliação: com um ou mais modelos de alta qualidade construídos, faz-se neces-


sário revisitar na etapa de Entendimento do Negócio os pré-requisitos de negócio e
verificar se os modelos os atendem corretamente.

6. Implantação: a última fase consiste na entrega do modelo no ambiente de produ-


ção.
Como se pode observar na Figura 4.1, o CRISP-DM é um processo onde os resultados
obtidos em uma etapa podem tornar necessária uma revisão de etapas anteriores. Adicio-
nalmente, o processo pode ser executado repetidas vezes, até que os objetivos de négocio
tenham sido atingidos ou se tenham esgotados os recursos disponíveis para a pesquisa.

21
Figura 4.1: Processo Padrão Inter-Indústrias para Mineração de Dados.

Este trabalho foi executado e organizado conforme as etapas propostas pelo CRISP-
DM, tendo sido executadas duas iterações do processo. Visando um melhor entendimento
da pesquisa, foi criado um capítulo para iteração. O código-fonte e os dados utilizados
para a criação dos modelos foram armazenados no GitHub1 . Por questões de sigilo, os
dados e os nomes das variáveis foram anonimizados.

1
Disponível em https://github.com/rnmourao/renda_digitais.

22
Capítulo 5

Primeira Iteração

Este Capítulo detalha os passos executados para a investigação e a criação de um modelo


de Mineração de Dados como possível solução do problema proposto. A organização do
Capítulo segue as etapas do CRISP-DM.

5.1 Entendimento do Negócio


Muito do que corresponde a essa etapa foi apresentado no Capítulo 1. O objetivo de negó-
cio é identificar a renda de clientes do Banco Alfa que possuem contas-correntes digitais,
de forma que se possa oferecer aos clientes com maior renda a opção de transformar suas
contas digitais em contas convencionais. A seleção de uma clientela interessada permite
que a abordagem seja mais eficiente, reduzindo tempo e custo e ainda maximizando o
retorno [5].
Entende-se que clientes com renda superior adquirem mais produtos. Logo, aumentam
sua margem de contribuição mais que outros clientes e que, por isso, devem ser abordados
primeiro. Presume-se, por exemplo, que a quantidade de produtos adquiridos seja dire-
tamente relacionada à renda dos clientes. A Tabela 5.1 indica uma relação direta entre a
média de produtos adquiridos e as progressivas faixas de renda.

Tabela 5.1: Quantidade de Produtos por Faixa de Renda

Faixa de Renda (R$) Média de Produtos


[0,01, 1.000) 3
[1.000, 4.000) 4
[4.000, 10.000) 6
[10.000, +∞) 7

23
Percebe-se também uma maior correlação entre a renda e a margem de contribuição
em valores acima de R$ 10.000 em comparação às faixas de renda inferiores, conforme
mostrado na Tabela 5.2.

Tabela 5.2: Correlação entre Renda e Margem de Contribuição

Faixa de Renda (R$) Correlação de Pearson


[0,01, 1.000) 0,006
[1.000, 4.000) 0,014
[4.000, 10.000) 0,078
[10.000, +Inf) 0,375

Sendo assim, a seleção do público alvo para oferta de alteração de conta deveria levar
em consideração uma faixa de renda superior. Essa abordagem pode restringir bastante o
público selecionado, pois o percentual de clientes convencionais que recebem mensalmente
um salário superior a R$ 10 mil reais, por exemplo, corresponde a cerca de 10% do total.
Para tentar encontrar público semelhante no grupo de clientes digitais, o Banco Alfa
se vale de uma base de dados externa, a qual possui a renda presumida não só do público-
alvo, mas de cerca de metade da população brasileira.
Conforme apresentado na Figura 1.1 e na Tabela 1.1, essa fonte de informação apre-
senta rendas aquém do esperado, quando comparadas às rendas comprovadas na base de
dados do Banco Alfa. Tal situação prejudica a oferta de evolução de conta via telemar-
keting, afetando assim a correta priorização de clientes e podendo causar diminuição nas
vendas.
Propôs-se então, como alternativa, a criação de um modelo de mineração de dados
para previsão de renda dos clientes digitais do Banco Alfa. O principal empecilho para a
formulação de tal modelo consiste na ausência da informação alvo, ou seja, a renda.
Para suplantar essa dificuldade, decidiu-se por utilizar como base para treinamento
clientes semelhantes aos digitais que possuíssem as mesmas informações e, adicionalmente,
a renda comprovada. Um modelo criado a partir de uma amostra conveniente de clientes
poderia ser usado na previsão de renda dos clientes digitais.
Desta forma, o trabalho de Mineração de Dados consiste em definir um modelo predi-
tivo de faixas de renda para os clientes com contas-correntes digitais a partir de clientes
que possuem renda comprovada. É conveniente testar diversos algoritmos de MD para
que se selecione o melhor modelo. O classificador com melhores AUC e F-Measure, respec-
tivamente, será comparado com a base de dados externa, a fim de verificar se o primeiro
supera a última.

24
5.2 Entendimento dos Dados
As informações utilizadas nesta primeira iteração estavam disponíveis em bancos de dados
e foram extraídas de três origens:

1. um Banco de Dados data warehouse com diversas informações dos clientes e utilizado
pelo Banco Alfa para análises de mercado;

2. uma lista com a identificação de todos os clientes digitais;

3. uma base de dados com a fonte de informação externa sobre renda.

Além de possuir quase todas as variáveis explicativas utilizadas na primeira iteração


desse estudo, a primeira base continha uma variável que permitiu identificar os clientes
convencionais que utilizavam o aplicativo móvel do Banco Alfa.
A segunda base foi utilizada para remover da primeira todos os clientes digitais. Assim,
a base de estudo foi composta somente por clientes convencionais que usavam o aplicativo
móvel.
A terceira base de dados era organizada por CPF, empregador e data da informação
e ainda continha a informação de renda presumida.
As bases 1 e 3 foram acessadas utilizando Structured Query Language (SQL). As infor-
mações obtidas no data warehouse já se encontravam desnormalizadas, o que simplificou
bastante a extração dos dados. A segunda base possuía também todas as informações
pertinentes em uma só tabela. Além disso, por ser de um volume considerável, foram
recuperados da base 3 somente os dados de usuários do aplicativo móvel.
Os dados foram extraídos para arquivos no formato Comma-Separated Values (CSV),
por ser mais adequado para manipulação com ferramentas de Mineração de Dados. A
base 2, contendo a lista de clientes digitais, já se encontrava em formato CSV, não tendo
sido necessária qualquer mudança de formatação.
A Tabela 5.3 descreve o volume de dados disponíveis nas bases de dados.

Tabela 5.3: Volume das bases utilizadas.

Base Colunas Registros


Data Warehouse 116 10 milhões
Clientes Digitais 1 1 milhão
Fonte Externa 4 36 milhões

Os dados disponíveis na base de clientes convencionais eram constituídos de informa-


ções sócio-demográficas, canais de comunicação utilizados com o banco (aplicativo móvel,
ligação telefônica, atendimento presencial etc.), posse de produtos, datas relacionadas

25
a contatos e aquisição de produtos, detalhes sobre movimentação financeira, métricas
de retorno financeiro entre outras. Muitos desses atributos não foram utilizados para o
trabalho, devido à ausência de informação equivalente para os clientes digitais.
Após a extração dos dados, tornou-se possível comparar os clientes digitais com os
clientes convencionais que usavam o aplicativo móvel, os quais de agora em diante serão
referidos somente como clientes convencionais.
Os clientes convencionais eram um grupo que possuía certa semelhança com os cor-
rentistas digitais, devido ao uso da mesma interface que os últimos para efetuar suas
transações bancárias. Os primeiros, por sinal, superavam em número os últimos, como se
pode observar na Figura 5.1.

Figura 5.1: Proporção entre clientes convencionais e clientes digitais que utilizam o apli-
cativo móvel.

Certas diferenças entre os dois grupos de clientes eram esperadas, como os dados sobre
gênero, explicitada na Figura 5.2, que mostra o grande número de clientes digitais sem
essa informação.
Outra diferença estava na distribuição de idades desses dois públicos. Na Figura 5.3
observa-se um maior percentual de clientes digitais na faixa de 20 anos em comparação
aos clientes convencionais. Dentre as prováveis causas, presume-se que a facilidade na
abertura da conta digital pode ter motivado a adoção desse produto por parte do público
mais jovem. Por outro lado, faixas de idades superiores podem estar menos propensas ao
uso de contas digitais, por possuírem contas convencionais há mais tempo. A diferença na
distribuição de idade entre esse dois públicos poderia afetar a comparação da distribuição
de renda.
O local de residência dos clientes era outro aspecto onde se esperava encontrar diferen-
ças. Dada novamente a facilidade de criação de uma conta digital, eximindo o público-alvo
de se deslocar para uma agência bancária, havia certa expectativa por parte do Banco

26
(a) Clientes Convencionais. (b) Clientes Digitais.

Figura 5.2: Distribuição da variável “sexo” entre clientes que usam o aplicativo móvel.

(a) Clientes Convencionais.

(b) Clientes Digitais.

Figura 5.3: Distribuição de Idade dos Clientes que usam o aplicativo móvel.

Alfa de que um grande número desses novos clientes morasse em localidades distantes dos
grandes centros. Contudo, como mostra a Figura 5.4, a proporção de clientes digitais nas
capitais não difere da proporção de clientes convencionais tornando-os, sob esse prisma,
mais semelhantes entre si.

27
Figura 5.4: Proporção entre clientes convencionais e clientes digitais que utilizam o apli-
cativo móvel.

Alguns dos atributos obtidos possuíam um grande número de valores nulos para os
clientes digitais, como foi exemplificado pela variável “sexo”, mostrada na Figura 5.2.
Casos como esse forçaram a exclusão do atributo. Em outros casos, nos atributos em que
não havia uma grande quantidade de valores nulos, foi realizada imputação dos dados, de
acordo com a particularidade de cada variável. Outro problema encontrado foi a existência
de outliers em algumas variáveis. Transformações estatísticas foram utilizadas para tentar
mitigar o problema. Detalhes sobre a preparação final dos dados são explicados na seção
a seguir.

5.3 Preparação dos Dados


As tarefas de preparação são, costumeiramente, executadas múltiplas vezes e não possuem
uma ordem prescrita. Essas tarefas incluem tabulação, seleção de atributos e registros, as-
sim como a transformação e limpeza de dados para atender pré-requisitos das ferramentas
de modelagem [36].
Como explicado na Seção 5.2, três origens de dados foram utilizadas para o estudo. A
maioria das informações dos clientes convencionais e digitais encontrava-se em um data
warehouse e foram extraídas utilizando SQL. Assim também foram os dados de renda
presumida. A lista de clientes digitais foi disponibilizada por meio de arquivo de planilha
eletrônica.
A extração gerou arquivos com extensão CSV e a atividade de preparação de dados
ocorreu utilizando as linguagens Bash e Python. Com a linguagem Bash tratou-se de

28
retirar espaços duplicados, caracteres não-imprimíveis, acentos e tornou minúsculos todos
os caracteres alfabéticos. A execução da linguagem Python ocorreu no editor Jupyter
Notebook 1 e foram utilizadas diversas bibliotecas de manipulação de dados, como Pandas 2
e Apache Spark 3 .
Em primeiro lugar, os clientes foram identificados como convencionais ou digitais, por
meio da lista de clientes digitais.
A primeira variável tratada foi o próprio atributo alvo. Esse atributo foi construído a
partir da categorização da informação de renda comprovada dos clientes convencionais. O
Banco Alfa considera como clientes de alta renda aqueles que recebem um salário mensal
maior ou igual a R$ 10.000. A variável alvo deveria ser, desta forma, um atributo binário,
indicando se o cliente possui alta renda ou não. Para avaliar o quão bem essa bissecção
separava o público-alvo como um todo, foi aplicado o coeficiente de Silhouette, descrito
na Equação 2.3. A partição sugerida pelo Banco Alfa alcançou o coeficiente de Silhouette
de aproximadamente 0,25.
Para efeito de comparação, aos valores de renda foi aplicado um agrupamento utili-
zando o algoritmo K-Means com K = 2, isto é, com dois centróides. As faixas de renda
encontradas pelo algoritmo não se mostraram interessantes, como se verifica na Tabela 5.4.

Tabela 5.4: Faixas de renda encontradas pelo aplicativo K-Means na primeira rodada.

Faixa de Renda (R$) Distribuição de Clientes (%)


(0, 2.057.679,00] 99,99
[2.057.679,00, +∞) 0,01

O coeficiente de Silhouette encontrado (0,69) indicou melhor definição dos conjuntos


de dados, mas como a quantidade de pessoas classificadas como tendo uma faixa de renda
superior era muito baixa, foi aplicada uma transformação nos dados para que o formato
da distribuição da variável renda não prejudicasse a definição dos grupos. Após os valores
serem convertidos via Equação 2.2, o algoritmo K-Means foi executado novamente, com
K = 2. Após isso, as rendas foram revertidas para os valores originais, de forma que fosse
possível interpretar os dados. O coeficiente de Silhouette chegou a 0,57 e as faixas estão
descritas na Tabela 5.5.
Desta forma, a categorização da renda dos clientes utilizando o algoritmo K-Means
encontrou uma faixa de renda melhor distribuída segundo os critérios de coesão e separa-
ção. Ainda assim, o estudo prosseguiu com as faixas de valores recomendadas pelo Banco
Alfa, por se tratar de estratégia já estabelecida para outros públicos.
1
Disponível em http://jupyter.org/.
2
Disponível em https://pandas.pydata.org/index.html.
3
Disponível em https://spark.apache.org/.

29
Tabela 5.5: Faixas de renda encontradas pelo aplicativo K-Means após transformação
Box-Cox.

Faixa de Renda (R$) Distribuição de Clientes (%)


(0, 2.958,28] 59,76
[2.958,28, +∞) 40,24

Após a definição da variável alvo, seguiu-se com a seleção das variáveis explicativas.
Muitas variáveis foram removidas do grupo de 116 variáveis disponíveis no data warehouse.
A primeira variável removida foi “sexo”, porque havia um grande número de valores
nulos na base de clientes digitais, conforme mostrado na Figura 5.2. Outras variáveis
foram retiradas porque pertenciam somente a clientes convencionais, como a variável
Risco de Crédito. Essa variável é obtida por meio de uma análise de crédito, que depende
da comprovação de renda do cliente. Variáveis que correspondiam à posse de produtos de
crédito ou demais produtos que só poderiam ser adquiridos se o cliente possuísse renda
comprovada também foram descartadas.
Outra informação que possuía um número considerável de valores nulos era a renda
presumida. Os valores correspondiam a cerca de 2% da base de clientes convencionais,
porém excedia 31% na base de clientes digitais. Como foi explicado nas Seções 5.1 e
5.2, essa informação é usada atualmente como preditora de renda pelo Banco Alfa e foi
comparada com os modelos de Mineração de Dados gerados. Essa própria variável foi
incluída nas base de treinamento para os modelos de MD.
Desta forma, ao invés de excluir a variável, foi-lhe imputada o valor do salário mínimo
em 2017 4 , R$ 937,00, nos campos nulos. Dois motivos levaram à utilização do salário
mínimo para imputação dos valores nulos. Primeiramente, a distribuição de renda presu-
mida mostrada na Figura 1.1 indica uma assimetria positiva, o que aumenta o valor da
média e a distancia dos valores mais comuns [37]. Em segundo lugar, políticas de salá-
rio mínimo tem como objetivo dar aos trabalhadores um padrão de vida minimamente
adequado, elevando o salário para acima do ponto de equilíbrio entre a oferta e a de-
manda [38]. Assim, apesar de em alguns casos se observar salários abaixo dessa marca,
tal política governamental traz um grande número de pessoas que ganhariam menos para
o valor do salário mínimo, tornando o valor mais comum encontrado.
Algumas variáveis foram construídas a partir de datas, como tempo da conta atual,
tempo da primeira conta, tempo da primeira transação, tempo da última atualização
cadastral, todas contadas em dias.
Outras correspondiam à data de utilização de determinado canal com o Banco Alfa
(aplicativo móvel, telefone, terminal de auto-atendimento, atendimento presencial). A
4
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/decreto/D8948.
htm.

30
partir dessas variáveis foram criadas variáveis binárias que indicavam se um cliente já foi
usuário de cada um desses canais.
As variáveis explicativas estão detalhadas na Tabela 5.6. Como se pode observar, a
própria variável de previsão de renda adquirida pela fonte externa foi também utilizada
para o estudo, a fim de verificar sua valia em conjunto com outras variáveis para construção
de um modelo preditivo.
Tabela 5.6: Variáveis explicativas

Definição Tipo Domínio Quantidade


Indicadores de posse
Binária 0, 1 17
de produtos
Indicadores de uso
Binária 0, 1 10
de canais
Relacionadas a tempo de
Inteira [1, +∞) 5
posse de produtos em dias
Quantidade de produtos Inteira [0, +∞) 1
Valores de endividamento
no Sistema Financeiro Decimal [0, +∞) 5
Nacional
Valor em investimentos Decimal [0, +∞) 1
Margem de contribuição Decimal (−∞, +∞) 1
Movimentação financeira Decimal (−∞, +∞) 9
Renda presumida Decimal [0, +∞) 1
Idade Inteira [18, +∞) 1

Todas as variáveis receberam transformação Box-Cox. Depois disso, foram padroni-


zadas para a faixa [0, 1], a fim de que algoritmos que usam cálculos de distância não
gerassem resultados anômalos, devido à diferença de amplitude entre as variáveis [6].
Após a seleção das variáveis, ainda restava tratar o número de registros utilizados. A
base de clientes possui milhões de registros e fazer uso de toda a base poderia impactar o
tempo de processamento de cada modelo.
Para que os modelos preditivos fossem criados com uma base que representasse a
variabilidade da população, foram selecionados clientes convencionais do Banco Alfa que
tinham conta na cidade de Joinville (SC), um total de 29.113 pessoas. É possível observar
na Figura 5.5, que a distribuição de renda em Joinville é bem similar à distribuição de
renda em todo o território nacional.
Em relação à variável alvo, pode-se perceber pela Figura 5.6 uma leve diferença entre
as observações de Joinville em relação ao total de clientes do Banco Alfa, indicando a
viabilidade dessa amostra para o estudo.
Na Figura 5.7 se vê que a escolha da cidade de Joinville também se manteve semelhante
à população em relação à distribuição da renda presumida. Assume-se, desta feita, que

31
Figura 5.5: Distribuição de renda entre clientes em todo o território nacional e clientes
em Joinville (SC).

Figura 5.6: Distribuição da variável alvo entre clientes em todo o território nacional e
clientes em Joinville (SC).

a amostra não afetou a imparcialidade da comparação entre a estratégia de previsão de


renda atualmente utilizada pelo Banco Alfa e os modelos preditivos propostos.
Dado que o percentual de observações marcadas como de alta renda era inferior a
10%, foram testadas diversas técnicas de balanceamento. Para efetuá-las, os registros
de Joinville foram separados em dois conjuntos de dados: uma base de treinamento com
16.636 registros e uma base de teste de 12.477 linhas. Somente a base de treinamento foi
balanceada, mantendo assim a base de teste com as faixas de renda em suas proporções
originais.
As consequentes bases de treinamento balanceadas foram testadas por meio de uma
Logistic Regression. O valor de F-Measure obtido do modelo gerado a partir de cada uma

32
Figura 5.7: Distribuição de renda presumida da fonte externa para clientes em todo o
território nacional e clientes em Joinville (SC).

dessas bases sobre a base de teste é representado na Tabela 5.7.

Tabela 5.7: Resultado do teste das técnicas de balanceamento de categorias.

Técnica F-Measure
Random Oversampling 0,514
SMOTEENN 0,514
Random Undersampling 0,513
SMOTE 0,510
SMOTETomek 0,509
ADASYN 0,501
Cluster Centroids 0,415

Apesar de todas as técnicas terem obtido F-Measure próximo, Random Oversampling


e SMOTEENN se destacaram. Para efetuar a etapa de modelagem foi escolhido o balan-
ceamento Random Oversampling, devido o princípio da parcimônia [6], pois SMOTEENN
possui um maior número de passos para execução e, consequentemente, mais tempo de
processamento. Assim, a base de treinamento balanceada ficou com 31.664 registros.
Para efetuar a comparação entre os modelos preditivos e a atual estratégia de previsão
de renda do Banco Alfa, foi criado um terceiro arquivo a partir da base teste, mantendo
uma variável binária que representava se a renda presumida do cliente era inferior ou
superior a R$ 10.000.
Ademais, a fim de executar o algoritmo HCES-Bag foi necessário criar arquivos no
formato LIBSVM.

33
5.4 Modelagem
Esta etapa descreve como os modelos preditivos foram construídos e testados. Seis mode-
los preditivos foram criados nesta iteração, sendo um modelo correspondendo à abordagem
adotada no presente pelo Banco Alfa e cinco modelos criados a partir de algoritmos de
MD.
O primeiro modelo preditivo foi definido como linha de base para comparação com os
demais. Construído a partir da renda presumida adquirida da fonte externa, caracteriza-se
por uma variável explicativa binária, indicando se o cliente tem renda presumida superior
a 10 mil reais. Tal variável foi avaliada usando a base de teste criada na etapa 5.3. Como
se tratava de uma aplicação direta de um modelo preditivo já criado, não houve utilização
da base de treinamento e, consequentemente, não foi realizada validação cruzada. De
igual maneira, não houve utilização de Grid Search, pois não havia parâmetros a serem
definidos.
Cinco algoritmos de Mineração de Dados foram usados para criar modelos preditivos
a partir dos dados do Banco Alfa: Logistic Regression (LR), Artificial Neural Networks
(ANN), Random Forest (RF), Gradient Boosting Machine (GBM) e Hill-climbing Ensem-
ble Selection with Bootstrap Sampling (HCES-Bag). Enquanto os quatro primeiros algo-
ritmos foram executados usando a plataforma H2O5 , o HCES-Bag foi executado usando
a implementação de Lambert6 . A parametrização dos primeiros quatro algoritmos está
descrita na Tabela 5.8.
No caso da Logistic Regression, o framework H2O permite uma busca automática pelo
valor ótimo do parâmetro λ. Os demais valores utilizados no Grid Search dos algoritmos
correspondiam ou a valores padrão das ferramentas utilizadas, ou a valores limítrofes [17].
O Grid Search desses algoritmos foi executado algumas vezes com o intuito de ajustar
os parâmetros que seriam usados. Esse refinamento levou também em consideração o
quanto a modificação dos valores afetava o resultado do modelo. Em parâmetros que
afetavam o tempo de criação do modelo, se dois valores alcançavam o mesmo F-Measure,
era escolhido o valor que tornava a criação do modelo mais rápida, conforme princípio da
parcimônia [6].
O último modelo avaliado nessa iteração foi o Hill-climbing Ensemble Selection with
Bootstrap Sampling (HCES-Bag). Neste trabalho, os algoritmos de classificação base
para o HCES-Bag foram LR, RF, GBM e ANN. Para essa execução, buscou-se usar os
parâmetros de Grid Search iniciais descritos na Tabela 5.8. A implementação de Lambert
utilizou como base os algoritmos disponíveis no framework Scikit-Learn [39]. Diferenças
entre a parametrização disponível nesse pacote e no H2O impediram a utilização idêntica
5
Disponível em https://www.h2o.ai/.
6
Disponível em https://github.com/dclambert/pyensemble.

34
Tabela 5.8: Pârametros avaliados por Grid Search dos algoritmos Logistic Regression,
Random Forest, Gradient Boosting Machine e Artificial Neural Networks.

Algoritmo Parâmetro Valores Testados Modelo Final


α 0,0, 0,1, 0,5, 0,7 e 1,0 0,1
LR
λ Busca automática 0,00045
ntrees 50 e 100 100
max_depth 2 e 20 20
mtries 1e7 7
RF
sample_rate 0,6 e 1,0 1
col_sample_rate_per_tree 0,5 e 1,0 0,5
min_split_improvement 10−5 e 10−4 10−5
ntrees 50 e 100 100
max_depth 2 e 20 20
learn_rate 0,5 e 1,0 0,5
GBM
sample_rate 0,6 e 1,0 1,0
col_sample_rate_per_tree 0,5 e 1,0 0,5
min_split_improvement 10−5 e 10−4 10−5
activation tanh, rectifier e maxout tanh
epochs 5 e 10 5
hidden (10, 10) e (10, 10, 10) (10, 10)
ANN
L1 0,0 e 0,5 0,0
L2 0,0 e 0,5 0,0
input_dropout_ratio 0,1 e 0,2 0,1

dos algoritmos nos dois frameworks. As documentações das duas bibliotecas tiveram de
ser detalhadamente comparadas para efetuar os ajustes necessários. Como exemplo dessas
diferenças, na LR o parâmetro α no Scikit-Learn é o λ no H2O, enquanto que o parâmetro
α no H2O é o l1_ratio no Scikit-Learn7 8 . Em outros casos não havia equivalência, a
exemplo do parâmetro col_sample_rate_per_tree nos algoritmos RF e GBM, disponível
somente no pacote H2O 9 10 11 12 .
As curvas ROC dos modelos testados nessa primeira iteração usando a base de teste
são mostradas na Figura 5.8. É possível observar que o modelo atualmente utilizado pelo
Banco Alfa se aproximou bastante do valor mínimo, sendo suas predições comparadas a
uma tomada de decisão totalmente aleatória. Os algoritmos de MD obtiveram melhores
7
Disponível em http://scikit-learn.org/stable/modules/generated/sklearn.linear_model.
SGDClassifier.html.
8
Disponível em http://docs.h2o.ai/h2o/latest-stable/h2o-docs/data-science/glm.html.
9
Disponível em http://scikit-learn.org/stable/modules/generated/sklearn.ensemble.
RandomForestClassifier.html.
10
Disponível em http://docs.h2o.ai/h2o/latest-stable/h2o-docs/data-science/drf.html.
11
Disponível em http://scikit-learn.org/stable/modules/generated/sklearn.ensemble.
GradientBoostingClassifier.html.
12
Disponível em http://docs.h2o.ai/h2o/latest-stable/h2o-docs/data-science/gbm.html.

35
Tabela 5.9: Resultado da primeira iteração de Mineração de Dados.

Modelo AUC F-Measure Acurácia TP TN FP FN


RF 0,94 0,56 0,96 350 11.566 331 230
HCES-Bag 0,94 0,51 0,94 415 11.258 639 165
ANN 0,91 0,50 0,96 253 11.719 178 327
LR 0,90 0,51 0,95 304 11.599 298 276
GBM 0,81 0,55 0,96 343 11.583 314 237
Linha de Base 0,56 0,14 0,89 115 10.961 936 465

resultados e ficaram bastante próximos entre si, sendo que o GBM obteve a menor AUC
entre eles.

Figura 5.8: Curva ROC dos modelos preditivos sobre a base de teste.

Uma síntese dos resultados obtidos nessa primeira iteração é mostrada na Tabela 5.9.
Verifica-se que o modelo gerado por meio de Random Forest obteve os melhores resultados.
As dez variáveis apontadas como mais importantes pelo modelo gerado pelo algoritmo
RF estão descritas na Tabela 5.10 e correspondem a 64% da redução do erro quadrático
médio [20].

5.5 Avaliação
Essa etapa tem como objetivo mostrar os resultados obtidos dos modelos criados e avaliá-
los de acordo com os objetivos de negócio [36].

36
Tabela 5.10: Dez variáveis mais importantes para o modelo vencedor.

Definição Quantidade
Margem de contribuição 1
Movimentação financeira 3
Relacionadas a tempo de posse de produtos em dias 3
Renda presumida 1
Quantidade de produtos 1
Valores de endividamento no Sistema Financeiro Nacional 1

Os resultados alcançados com o estudo mostraram-se satisfatórios para o Banco Alfa,


pois obtiveram resultados melhores que a estratégia atual e podem ser implementados
com facilidade, devido à disponibilidade dos dados e dos algoritmos utilizados.
Nesse meio tempo, o setor do Banco Alfa conduzia uma campanha direcionada a
clientes digitais, com o objetivo de oferecer a mudança para contas convencionais. Uma
amostra dos 500 maiores percentuais de confiança do modelo proposto coincidiu com 180
clientes digitais que aceitaram a mudança do tipo de conta.
Contudo, o percentual de clientes digitais identificados como de Alta Renda, pelo mo-
delo preditivo, ficou muito abaixo do percentual de clientes convencionais com a mesma
faixa de renda, trazendo dúvidas sobre a qualidade das previsões. Uma das possibilidades
era de sobreajuste, que poderia ser causado tanto pelo tamanho da base de treinamento,
quanto pela baixa importância das variáveis utilizadas. Porém, dado que o modelo pre-
ditivo foi criado a partir de uma base de clientes convencionais, questionou-se também a
sua adequação no universo de clientes digitais. Dadas essas indagações, iniciou-se uma
segunda iteração de CRISP-DM, ainda que o modelo tradicional tenha sido substituído
em parte pelo modelo criado nessa primeira iteração.

5.6 Implantação
Após as etapas de treinamento, validação e teste, foi executado o modelo baseado no
algoritmo Random Forest sobre a base de clientes digitais. Com o resultado obtido, um
arquivo em formato CSV foi disponibilizado ao setor responsável no Banco Alfa. Esse
arquivo era formado pelo campo de identificação do cliente digital, uma indicação de Alta
Renda e a probabilidade dessa indicação.
Como se mostrou necessário executar mais uma iteração de aprimoramento do modelo,
foi somente disponibilizado um arquivo com as predições do grupo de clientes digitais até
Outubro de 2017, não produzindo assim previsões para novos clientes digitais. Para os
novos entrantes, o método tradicional ainda tem sido utilizado. Espera-se que após o fim
da segunda iteração, seja possível criar um aplicativo de uso irrestrito.

37
Capítulo 6

Segunda Iteração

Após os resultados encontrados no Capítulo 5, mostrou-se necessário buscar melhorias no


modelo de Mineração de Dados. A segunda investida sobre o problema proposto é descrito
neste Capítulo, que seguiu a mesma organização das etapas propostas pelo CRISP-DM.

6.1 Entendimento do Negócio


As situações descritas na Capítulo 5.1 não mudaram inteiramente com a implantação do
modelo criado na primeira iteração. As informações disponíveis sobre os clientes digitais
ainda continuaram mínimas e a estratégia de utilizar dados dos clientes convencionais
pareceu ainda ser a mais acertada. A criação do primeiro modelo utilizando dados já
internalizados pelo Banco Alfa mostrou bons resultados em comparação ao método predi-
tivo tradicional. As informações disponíveis em data warehouse já haviam se esgotado e
outras informações ainda não exploradas deveriam ser adquiridas na tentativa de melhorar
o modelo preditivo.

6.2 Entendimento dos Dados


O aplicativo de smartphone do Banco Alfa possui um algoritmo de captura de dados que
disponibiliza uma série de informações, como o código do cliente, a latitude e a longitude
do celular, o modelo do aparelho, sua resolução de tela, sua quantidade de processadores,
entre outras. A coleta ocorre no momento de login do cliente no aplicativo, que ocorre
sempre que o cliente o utiliza. Essa coleta, contudo, depende da autorização do cliente, o
que reduz a gama de informações acessíveis. Dados geográficos e informações detalhadas
sobre características do aparelho de smartphone, por exemplo, são mínimos. A marca e o
modelo do aparelho tem se mostrado como as informações mais disponíveis.

38
A distribuição de marcas de aparelho entre os clientes do Banco Alfa se dá por três
sistemas operacionais: Android, iOS e Windows. A Figura 6.1 mostra a distribuição de
clientes do Banco Alfa por sistema operacional.

Figura 6.1: Distribuição de smartphones dos clientes do Banco Alfa por sistema Operaci-
onal.

Ao invés de utilizar o nome do modelo do aparelho do cliente para a modelagem,


optou-se por extrair seu preço médio. Para isso, foi usada a Application Programming
Interface (API) de uma grande loja virtual para efetuar a consulta do preço médio desses
aparelhos. Toda a base de nomes de modelos de telefone dos clientes do Banco Alfa foi
aplicada a essa API, que retornava diversas ofertas de venda dos aparelhos. Para cada
um, foi efetuada uma pesquisa que retornava até 25 resultados, dos quais se apurava o
valor médio. Depois disso, o valor do aparelho era vinculado aos demais dados do cliente.
A Figura 6.2 mostra um gráfico da distribuição de preços de smartphones dos clientes do
Banco Alfa, onde se pode observar a semelhança entre os dois públicos nesse quesito.
Outra informação não utilizada na primeira iteração foi o CEP de residência dos
clientes. Verificando esse dado junto à base dos Correios1 , foi possível determinar em que
Unidade da Federação o cliente morava e se residia em capital de estado ou não.
Além disso, semelhantemente ao que foi feito com os modelos de telefone, obteve-se
o preço médio, a metragem quadrada e o valor do metro quadrado de casas à venda em
cada CEP. Na Figura 6.3 é possível perceber diferenças maiores nos valores encontrados
para clientes convencionais e digitais do que para o preço do celular.
1
http://www.correios.com.br/

39
Figura 6.2: Distribuição de preço dos modelos de smartphones dos clientes do Banco Alfa.

(a) Clientes Convencionais. (b) Clientes Digitais.

Figura 6.3: Preço médio de casas no CEP de clientes do Banco Alfa.

Com a utilização do CEP de residência dos clientes, foi possível ainda obter dados
de seus municípios, como o Produto Interno Bruto (PIB) e o índice Gini2 , por meio de
cruzamento de informações com o sítio do IBGE3 . Adicionalmente, o IBGE separa porções
do território brasileiro em micro e mesorregiões [40]. Havia também em seu endereço web
a informação do PIB de cada uma dessas regiões.
2
O índice de Gini mede até que ponto a distribuição da renda entre indivíduos ou famílias dentro de
uma economia se desvia de uma distribuição perfeitamente igual. Fonte: http://databank.worldbank.
org, em 01/06/2018.
3
Disponível em https://www.ibge.gov.br/.

40
6.3 Preparação dos Dados
Esta seção descreve a preparação dos novos dados obtidos, sua inclusão à base criada
na primeira iteração e como as variáveis explicativas e os registros foram selecionados no
intuito de reduzir a possibilidade de sobreajuste, cogitada na Seção 5.5.
A informação do sistema operacional do smartphone dos clientes foi transformada em
três variáveis binárias que indicavam com 1 se o celular do cliente era Android, iOS ou
Windows.
O preço dos aparelhos foi capturado via API de uma loja virtual que vende grande
variedade de produtos novos e usados. Como alguns modelos de aparelhos não foram
encontrados, foi realizada uma imputação de dados com o valor médio dos celulares dos
clientes, que resultou em R$ 1.081,00. A Figura 6.4 mostra a diferença de valores entre
clientes convencionais por faixa de renda.

Figura 6.4: Preço dos celulares por faixa de renda.

As informações sobre preço e tamanho de imóveis foram obtidas por meio de um


crawler 4 . A partir de uma pesquisa pelo nome de bairro vinculado a um CEP, o programa
varria a página de resultados e recuperava o valor e a metragem dos imóveis anunciados
para venda. Após isso, era calculado o preço, a metragem e o preço do metro quadrado
médios para cada bairro. A imputação dos valores faltantes valeu-se da construção do
código de CEP, como mostrado na Figura 6.5. Esse código de natureza posicional indica
5 níveis de regiões, sendo que os algarismos da esquerda para a direita correspondem a
regiões cada vez menores.
Assim, a imputação de valores utilizou o número formado para o CEP como variável
explicativa de um Regressão baseada nos vizinhos mais próximos KNN [14]. O algoritmo
KNN foi configurado para encontrar os dois CEP mais próximos, utilizando a distância
4
Programa que navega automaticamente em uma determinada página web capturando dados.

41
Figura 6.5: Exemplo de estrutura do CEP. Fonte: https://www.correios.com.br, aces-
sada em 01/06/2018.

de Manhatan [6], isto é a diferença absoluta entre os dois valores. Ao encontrar esses dois
vizinhos, foi efetuada a média aritmética para imputar o valor faltante para aquele CEP.
Esse procedimento foi adotado tanto para o valor quanto para a metragem quadrada dos
imóveis. O preço do metro quadrado foi obtido divindo o preço do imóvel pela metragem
quadrada.
Conforme mostra a Figura 6.6, as diferenças encontradas nos preços dos imóveis de
clientes convencionais de Baixa e Alta renda indicam uma forte relação entre renda e
moradia, o que motivou sua utilização.

(a) Alta Renda. (b) Baixa Renda.

Figura 6.6: Preço médio de casas no CEP de clientes convencionais do Banco Alfa por
faixa de renda.

42
Cada cliente também foi identificado como morador de capital de estado por meio
de uma variável binária. Foram também agregados os valores de PIB do município,
da microrregião e da mesorregião. O índice Gini do município do cliente também foi
acrescentado. Para mais, foram criadas variáveis indicadoras de Unidade da Federação e
das meso e microrregiões, todas binárias.
As variáveis numéricas inteiras e decimais sofreram transformação Box-Cox e foram
padronizadas dentro da faixa [0, 1]. As variáveis explicativas adicionais estão detalhadas
na Tabela 6.1. Após serem unificadas, contava-se com 227 variáveis explicativas.

Tabela 6.1: Variáveis explicativas

Definição Tipo Domínio Quantidade


Dados sobre imóveis da vizinhança Decimal [0, +∞) 3
Preço do celular Decimal [0, +∞) 1
Sistemas operacionais de celulares Binária 0, 1 3
Indicadores Demográficos (IBGE) Decimal [0, +∞) 4
Residência em Capital Binária 0, 1 1
Residência em Unidade da Federação Binária 0, 1 27
Residência em Mesorregião Binária 0, 1 138

Devido ao grande número de variáveis e à suspeita de sobreajuste descrita na Seção 5.5,


foram executadas ações para avaliação da importância das variáveis explicativas utilizadas
para o novo modelo preditivo.
Primeiramente foi feita uma análise de correlação de Pearson, a fim de verificar o
quanto uma variável explicativa estava correlacionada com a variável alvo, além de saber
se haviam variáveis explicativas correlacionadas. A Figura 6.7 mostra em amarelo as
variáveis correlacionadas. A linha 0 (zero) corresponde à correlação da variável alvo com
as demais.
Além da análise de correlação, foi realizada uma comparação entre os valores médios
das variáveis contínuas, separadas pelas categorias da variável alvo. Assim cada variável
possuía dois valores médios, um de Baixa Renda e outro de Alta Renda. Foram execu-
tados testes T de Student para as variáveis, com a hipótese nula rejeitada em todos os
casos. Tal situação pode ter ocorrido devido ao grande volume de observações, cerca de
2 milhões, que aumentaria bastante o poder do teste, mesmo para diferenças mínimas
entre as médias [41]. Desta forma, a comparação de médias foi executada de maneira
mais simples. Como os dados estavam padronizados para a escala [0, 1], foram mantidas,
para estudo, as variáveis que possuíam diferenças entre as médias maiores ou iguais a 0,1.
A Figura 6.8 mostra uma representação de duas das variáveis analisadas, usando essa
comparação.

43
Figura 6.7: Matriz de correlação entre todos os atributos.

(a) Médias iguais. (b) Médias diferentes.

Figura 6.8: Representação das distribuições de variáveis contínuas com dois tratamentos
relativos aos valores da variável alvo (legenda).

Variáveis contínuas que possuíam variância distinta em relação aos dois grupos de
renda, como a mostrada na Figura 6.9, não foram descartadas de pronto, mas lhes foi
aplicada uma Principal Component Analysis (PCA) [11]. Diferentemente da comparação
de médias, foi aplicado um PCA separado para cada faixa de renda, de forma a saber
quais variáveis demonstravam maior variância em cada grupo. Como resultado, foram

44
geradas componentes formadas pela composição de diversas variáveis. As 10 primeiras
variáveis da primeira componente em cada grupo foram selecionadas.

Figura 6.9: Variâncias distintas entre os dois tratamentos.

Para as variáveis binárias, foi aplicado um Teste Qui-Quadrado [42] a fim de determinar
se havia diferença entre as proporções de 0 (Falso) e 1 (Verdadeiro) de tais variáveis em
relação à variável alvo, também binária. Um valor p abaixo de 0,05 foi usado para indicar
se a diferença de proporções era significativa. Variáveis abaixo desse valor de corte foram
mantidas. A Figura 6.10 mostra uma representação gráfica de uma variável mantida e
outra descartada por esse teste.

(a) Proporções iguais. (b) Proporções diferentes.

Figura 6.10: Representação do teste de homogeneidade, ou Qui-Quadrado, para variáveis


binárias, com dois tratamentos baseados nos valores da variável alvo (label).

45
Tabela 6.2: Variáveis selecionadas por diversos métodos discriminantes.

Variáveis
Análise Critério
Selecionadas
Correlação absoluta
Correlação 14
maior que 0,15
Comparação de Médias |x¯0 − x¯1 | < 0, 1 10
Teste de Homogeneidade Valor p < 0,05 8
Principal Component Analysis Primeira Componente 22

Os testes aplicados e os critérios de seleção dos atributos estão resumidos na Tabela 6.2.
Pode-se observar que apesar do grande número de variáveis criadas até esse ponto (227),
os diversos testes selecionaram menos de 10% do total, o que torna mais simples a futura
implantação do modelo. Ainda assim, as variáveis selecionadas foram testadas em relação
à colinearidade.
Para tratar a multicolinearidade de variáveis explicativas, foi calculado o VIF. Após
sua execução, restaram 20 variáveis explicativas. Foi executada uma nova análise de
correlação com a variável alvo, que está ilustrada na Figura 6.11.

Figura 6.11: Matriz de correlação entre atributos selecionados.

Após a seleção das variáveis explicativas, foram escolhidos os registros a serem usados

46
para a modelagem. Como foi explicado na Seção 5.3, na primeira iteração foram utiliza-
dos para esse fim dados de clientes convencionais residentes na cidade de Joinville (SC).
Dadas as suspeitas de sobreajuste na Seção 5.5 e que a maioria das variáveis desta se-
gunda iteração estão relacionadas a localização, decidiu-se por usar toda a base de clientes
convencionais para o estudo, que compreende todos os estados brasileiros.
Contudo, devido ao problema de desbalanceamento de dados explicado na Seção 5.2,
foram aplicadas novamente técnicas de balanceamento. A Tabela 6.3 mostra o F-Measure
obtido com cada uma dessas bases ao executar uma LR. Técnicas mais elaboradas, como
ADASYN, Cluster Centroids, SMOTE e suas variantes foram executadas, mas a grande
quantidade de registros tornou o tempo de execução proibitivo.

Tabela 6.3: Resultado do teste das técnicas de balanceamento de categorias.

Técnica F-Measure
Random Oversampling 0,549
Random Undersampling 0,549
Dados Desbalanceados 0,551

Devido à pequena diferença entre os valores e à grande quantidade de dados, optou-se


por utilizar a base de treino criada com a técnica Random Undersampling. Desta forma, a
base de treinamento ficou com 1.307.599 registros e a base de teste com 2.852.461 registros.

6.4 Modelagem
Em comparação à primeira iteração, não foram realizadas muitas mudanças na etapa
de modelagem. O modelo de linha de base foi novamente incluído, principalmente para
servir de comparação em relação aos algoritmos de MD. Os algoritmos LR, RF, GBM e
ANN foram executados utilizando novamente o framework H2O. O algoritmo HCES-Bag
valeu-se novamente da implementação de Lambert.
Foram incluídos dois parâmetros no Grid Search, para os algoritmos RF e GBM. O
parâmetro min_rows foi utilizado para evitar erros de execução, devido à grande quan-
tidade de registros pois, como foi explicado no Capítulo 2, ele é usado para determinar
a quantidade mínima de registros em um ramo da árvore de decisão, para que ocorra
divisão em dois ramos. O parâmetro col_sample_rate_change_per_level não foi utili-
zado na primeira iteração porque apresentava erro no framework H2O. Porém, durante a
segunda iteração, foi disponibilizada uma versão com a correção. Alguns valores finais di-
vergem dos valores iniciais do Grid Search porque foram, novamente, executadas rodadas
de refinamento. Os detalhes podem ser observados na Tabela 6.4.

47
Tabela 6.4: Pârametros avaliados por Grid Search dos algoritmos Logistic Regression,
Random Forest, Gradient Boosting Machine e Artificial Neural Networks.

Algoritmo Parâmetro Valores Testados Modelo Final


α 0,0, 0,1, 0,5, 0,7 e 1,0 1,0
LR
λ Busca automática 0,00082
ntrees 50 e 100 100
max_depth 2 e 20 20
mtries 1e4 4
RF
sample_rate 0,6 e 1,0 1
col_sample_rate_per_tree 0,5 e 1,0 1,0
col_sample_rate
1e2 2
_change_per_level
min_rows 5.000 e 50.000 100
min_split_improvement 10−5 e 10−4 10−5
ntrees 5 e 10 20
max_depth 20 20
learn_rate 0,5 e 1,0 0,5
GBM
sample_rate 0,6 e 1,0 1,0
col_sample_rate_per_tree 0,5 e 1,0 1,0
col_sample_rate
1e2 2
_change_per_level
min_rows 500 e 1000 500
min_split_improvement 10−5 e 10−4 10−5
activation tanh, rectifier e maxout maxout
epochs 5 e 10 10
hidden (10, 10) e (10, 10, 10) (20, 20, 20)
ANN
L1 0,0 e 0,5 0,0
L2 0,0 e 0,5 0,0
input_dropout_ratio 0,1 e 0,2 0,15

O modelo baseado no algoritmo HCES-Bag foi criado da mesma maneira que na pri-
meira iteração, isto é, usando a parametrização inicial dos algoritmos LR, RF, GBM e
ANN. As curvas ROC dos modelos gerados a partir da base de teste nessa iteração podem
ser vistas na Figura 6.12.
As métricas alcançadas pelos algoritmos estão descritas na Tabela 6.5. Desta vez os
modelos ficaram bastante parecidos, sendo que o modelo criado pelo algoritmo Gradient
Boosting Machine se destacou, por muito pouco, dos modelos baseados em Random Forest
e HCES-Bag.
As dez variáveis apontadas como mais importantes pelo modelo gerado pelo algoritmo
RF estão descritas na Tabela 6.6 e são responsáveis por 97% da redução do erro quadrático
médio [20].

48
Figura 6.12: Curva ROC dos modelos criados usando a base de teste.

Tabela 6.5: Resultado da segunda iteração de Mineração de Dados.

Modelo AUC F-Measure Acurácia TP TN FP FN


GBM 0,93 0,62 0,92 195.577 2.421.430 135.261 100.193
RF 0,93 0,62 0,91 194.954 2.414.171 142.520 100.816
HCES-Bag 0,93 0,52 0,83 259.540 2.115.323 441.368 36.230
ANN 0,91 0,58 0,90 191.274 2.382.598 174.093 104.496
LR 0,89 0,55 0,90 180.144 2.376.269 180.422 115.626
Linha de Base 0,61 0,30 0,86 86.045 2.355.689 200.859 209.868

6.5 Avaliação
A fim de verificar se houve melhora nos modelos da segunda iteração em relação ao
primeiro, foram efetuadas algumas comparações nas previsões desses modelos sobre o
público de clientes digitais. A primeira verificação foi a quantidade de clientes digitais
que os modelos indicaram como de Alta Renda. O modelo da primeira iteração classificou
menos de 0,1% dos clientes como ricos, havendo um forte indício de sobreajuste. O modelo
da segunda iteração, por outro lado, marcou 3,7% de clientes como de Alta Renda, ou
seja, um percentual muito mais próximo dos 10% referentes ao clientes convencionais.
Não é possível afirmar se há entre os clientes digitais um percentual de pessoas de Alta
Renda semelhante ao precentual dos clientes convencionais, mas ainda assim espera-se
que esse valor seja bem maior do que o apresentado pelo modelo da primeira iteração.
Os modelos da segunda iteração tem outras vantagens em relação aos modelos da

49
Tabela 6.6: Dez variáveis mais importantes para o modelo vencedor.

Definição Quantidade
Dados sobre imóveis da vizinhança 1
Idade 1
Indicadores de posse de produtos 1
Indicadores demográficos (IBGE) 1
Quantidade de produtos 1
Relacionadas a tempo de posse de produtos em dias 1
Renda presumida 1
Sistemas operacionais de celulares 1
Valores de endividamentono no Sistema Financeiro Nacional 2

primeira, como uma menor quantidade de variáveis explicativas e o uso de dados de todo
o Brasil. Adicionado a isso, a variedade de modelos com bons resultados permite a escolha
daquele de implantação mais fácil.

6.6 Implantação
Durante a escrita desse trabalho, o Banco Alfa ainda verificava os resultados da segunda
iteração. Espera-se que o modelo criado substitua finalmente o modelo de linha de base.
A criação de um aplicativo a partir do modelo permitirá que o setor de marketing inclua
regularmente novos clientes em suas campanhas.

50
Capítulo 7

Conclusão

Contas bancárias digitais são uma realidade brasileira. A facilidade proporcionada pela
abertura de conta por meio de um aplicativo de smartphone se tornou bastante popular,
atraindo milhões de pessoas para esse produto.
Apesar das contas digitais serem vantajosas para os clientes, instituições financeiras
tem dificuldade de conhecer melhor esses clientes, devido ao cadastro mínimo necessário
para sua contratação. Devido à falta de detalhes como a renda comprovada dos clientes,
torna-se difícil definir uma ordem de priorização nas ações de telemarketing, podendo
prejudicar a venda de novos produtos a esses clientes.
O presente trabalho propôs a criação de um modelo preditivo de renda para correntis-
tas digitais a partir de informações oriundas de fontes diversas, tais como: características
dos smartphones, locais de residência, grau de endividamento no Sistema Financeiro Na-
cional, entre outras.
Foram utilizados, como base de estudo, dados de correntistas detentores de contas
convencionais, mas que usavam o mesmo aplicativo de smartphone que os correntistas
digitais. As rendas foram divididas em duas faixas, Alta e Baixa, sendo considerado como
divisor o valor de dez mil reais. Foram testados diversos algoritmos de Mineração de
Dados: Logistic Regression, Random Forest, Gradient Boosting Machine, Artificial Neural
Networks e Hill-climbing Ensemble Selection with Bootstrap Sampling. Esses modelos
foram comparados entre si e entre o modelo preditivo até então em uso por uma instituição
financeira. Os modelos de MD obtiveram resultados muito superiores em comparação à
solução anterior, sendo que o melhor modelo criado obteve AUC de 0,93, Acurácia de 0,92
e F-Measure de 0,62.
Além da criação de um modelo preditivo superior para a instituição bancária que
financiou o projeto, foi possível contribuir1 para o framework de Mineração de Dados
1
A indicação da falha encontrada e a descrição da solução podem ser encontradas em https://0xdata.
atlassian.net/browse/PUBDEV-5334.

51
H2O, usado extensivamente nesse trabalho.
Uma das questões levantadas, durante a execução da pesquisa, consistia na melhor
renda de corte para separar os clientes de alta e de baixa renda. No Capítulo 5 observou-
se, utilizando uma análise baseada somente na renda, que valores superiores a R$ 2.958,28
já definiam bem os dois grupos. Trabalhos futuros podem abordar esse problema mais
detalhadamente, utilizando mais variáveis para isso ou identificando a melhor quantidade
de faixas de renda.
A tarefa de descoberta e utilização de novas variáveis também deve ser levada adiante,
a fim de melhorar ainda mais o poder preditivo do modelo de MD. Não foram exploradas,
por exemplo, características dos smartphones dos clientes, tais como: tamanho e resolução
da tela, tamanho da memória, tipo de processador, entre outros dados de uso autorizado.
Conforme descrito no Capítulo 3 em diversos trabalhos, a informação de geolocalização
dos smartphones também pode ser utilizada para construção de variáveis explicativas de
um modelo preditivo. Essas informações não estavam disponíveis durante a execução
dessa pesquisa, mas trabalhos futuros podem se beneficiar de tais dados.
Outra dificuldade encontrada durante a pesquisa foi a criação do modelo a partir do
algoritmo HCES-Bag. Por se basear na biblioteca Scikit-Learn, os parâmetros de confi-
guração para os algoritmos utilizados no HCES-Bag diferiam entre os mesmos algoritmos
da biblioteca H2O, usada na criação dos outros modelos. Criar uma implementação do
algoritmo a partir da API do H2O pode tornar mais direta a inclusão de outros algoritmos
no ensemble, pois não seria necessário fazer adaptações às diferenças de parâmetros entre
as bibliotecas.
O desbalanceamento entre as duas categorias de renda levou à tomada de duas deci-
sões. A primeira foi usar técnicas de balanceamento como undersampling e oversampling.
A outra decisão foi selecionar o melhor modelo levando em consideração as métricas AUC
e F-Measure em oposição à Acurácia. Contudo, como explicado no 2, técnicas de ba-
lanceamento podem causar sobreajuste. Uma alternativa é usar Aprendizagem Sensível
ao Custo [6]. Ela mantém as classes desbalanceadas, mas determina custos específicos
para cada tipo de erro de classificação. Essa abordagem pode se mostrar vantajosa para
o Banco Alfa, caso sejam utilizados os custos referentes, tanto ao contato com clientes
não propensos ao produto ofertado, quanto à perda potencial de não contactar clientes
propensos. Assim, o modelo selecionado poderia indicar de antemão seu custo potencial,
tornando mais claro os riscos e os benefícios de sua adoção.

52
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