4 Teoria Psicanalitica Ii

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PSICANÁLISE CLÍNICA

MÓDULO 4 - Teoria Psicanalítica ll

Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo.


Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
AULA 01 - A Técnica Psicanalítica
A psicanálise é uma forma especial de psicoterapia. Afirma-se, com freqüência
e com razão, que a psicoterapia é uma velha arte e uma ciência nova.

A psicoterapia é um tratamento dirigido à psique, em um marco de relação


interpessoal e com respaldo em uma teoria científica da personalidade.

Os traços característicos que destacam a psicoterapia por seu suceder


histórico. Por seu método, a psicoterapia se dirige à psique pela única via
praticável, a comunicação; seu instrumento de comunicação é a palavra;
seu marco, a relação interpessoal psicoterapeuta-paciente. Por último a
finalidade da psicoterapia é curar, e todo o processo de comunicação que não
tenha esse propósito (ensino, doutrinação, ...) nunca será psicoterapia.

Na primeira década de nosso século, a Psicanálise se apresenta já como um


corpo de doutrina coerente e de amplo desenvolvimento. Nesses anos, Freud
escreveu dois artigos sobre a natureza e os métodos de psicoterapia: "EI
método psicoanalítico de Freud" (1904) e "Sobre psicoterapia" (1905). Esses
dois trabalhos são importantes do ponto de vista histórico e, se lidos com
atenção, nos revelam aqui e ali os germens das idéias técnicas que Freud vai
desenvolver nos escritos da segunda década do século.

A partir do magno descobrimento da sugestão, recortam-se três etapas no


tratamento das neuroses. Na primeira, utiliza-se a sugestão e, depois, outros
procedimentos dela derivados, para induzir uma conduta sã no paciente.
Breuer renuncia a esta técnica e utiliza o hipnotismo, não para que o paciente
esqueça, mas para que exponha seus pensamentos. Breuer deu, assim, um
passo decisivo ao empregar a hipnose (ou a sugestão hipnótica), não para que
o paciente abandone seus sintomas ou se encaminhe para condutas mais sãs,
mas para dar-lhe a oportunidade de falar e recordar, base do método
catártico, e o outro passo será dado pelo próprio Freud, quando abandonará o
hipnotismo.

Nos Estudios sobre la Histeria de Breuer e Freud (1895), pode se seguir a bela
história da Psicanálise, desde Emmy de N., onde Freud opera com a hipnose, a
eletroterapia e a massagem, até lsabel de R., à qual já trata sem hipnose e
com quem estabelece um diálogo verdadeiro, do qual aprende muito. A história
clínica de Isabel mostra Freud utilizando um procedimento intermediário entre o
método de Breuer e a Psicanálise propriamente dita, e que consiste e estimular
e pressionar o paciente para a recordação.

Quando a história clínica de Isabel termina, está terminado também o método


da coerção associativa, como passagem à Psicanálise.

Freud estabelece uma convincente diferença entre a Psicanálise (e o método


catártico) e as outras formas de psicoterapias. Essa diferença produz uma
ruptura, que provoca, a segunda revolução na história da Psiquiatria. Para
explicá-la, Freud se baseia no belo modelo de Leonardo da Vinci, que
diferencia as artes plásticas que operamper via di porre e per via de lavare. A
pintura cobre de cores a tela vazia, e assim a sugestão, a persuasão e os

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outros métodos que agregam algo para modificar a imagem da personalidade.
Ao contrário, a Psicanálise, como a escultura, refira o que está demais para
que surja a estátua adormecida no mármore. Está é a diferença substancial
entre os métodos anteriores e posteriores a Freud.

Em Psicanálise, o ponto fundamental e este: sempre há uma técnica que


configura uma teoria e uma teoria que fundamenta uma técnica. Essa interação
permanente entre a teoria e a técnica é privativa da Psicanálise, porque a
técnica determina o método de observação da Psicanálise. Só na Psicanálise
podemos ver como uma determinada abordagem técnica conduz de forma
inexorável a uma teoria (da cura, da enfermidade, da personalidade...), que,
por sua vez, gravita retroativamente sobre a técnica e a modifica para torná-la
coerente com as novas descobertas, e assim indefinidamente.

Freud se declarou mau hipnotizador, talvez porque esse método não


satisfizesse sua curiosidade científica; e foi assim que decidiu abandonar a
hipnose e a elaborar uma nova técnica para chegar ao trauma.

Em lugar de hipnotizar seus pacientes, começa a estimulá-los, incitá-los, para a


recordação. Assim opera Freud com Miss Lucy e, sobretudo, com lsabel de R.
Esta nova técnica, a coerção associativa, o coloca frente a novos ratos que
haverão de modificar outra vez suas teorias.

A coerção associativa confirma a Freud que as coisas são esquecidas quando


não se as quer recordar, porque são dolorosas, feias e desagradáveis,
contrárias à ética ou à estética. Esse processo, esse esquecimento, se
reproduzia também antes seus olhos no tratamento, e então via que lsabel não
queria recordar, que havia uma força que se opunha à recordação. Assim faz
Freud o descobrimento da resistência, pedra angular da Psicanálise. O que no
momento do trauma condicionou o esquecimento é o que nesse momento, no
tratamento, condiciona a resistência: há um jogo de forças, um conflito entre
desejo de recordar e esquecer. Então, se isto é assim, já não se justifica
exercer a coerção, porque sempre se vai tropeçar com a resistência. Melhor
será deixar que o paciente fale, que fale livremente. Assim, uma nova teoria, a
teoria da resistência, leva a uma nova técnica a associação livre, própria da
psicanálise, que se introduz como um preceito técnico, a regra fundamental.

Com o instrumento técnico recém-criado, a associação livre, descobre-se


outros fatos, frente aos quais a teoria do trauma e da recordação cedem
gradualmente o seu lugar à teoria da sexual. O conflito não é mais somente
entre recordar e esquecer, mas também entre forças instintivas e forças
repressoras.

A partir daqui, os descobrimentos se multiplicam: a sexualidade infantil, o


complexo de Édipo, o inconsciente com suas leis e seus conteúdos, a teoria da
transferência, etc. Neste novo contexto de descobertas, aparece a
interpretação, como instrumento técnico fundamental.

Agora é diferente, agora há que dar ao indivíduo informes precisos sobre ele
mesmo e sobre o que se passa com ele, e que ele, entretanto, ignora, para que
possa compreender sua realidade psicológica: a isto chamamos interpretar.

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AULA 02 - O Processo Psicanalítico
Embora lidando com uma palavra aparentemente simples, quando
contextualizamos a mesma à Psicanálise observamos que começa ser objeto
de polêmica. Entretanto, vamos nos prender a significação mais simples,
embora encontremos mesmo assim uma possível dificuldade, quando se trata
de sua semelhança com Situação Analítica. Por enquanto consideremos
Processo como sinônimo de Situação Analítica.

Pretendendo definir Processo Psicanalítico, queremos dizer que o tratamento


psicanalítica tem um sítio, um lugar, esse lugar é encontrado dentro da
situação Analítica. O processo é então o conjunto de fases sucessivas dentro
da situação como um todo. E, em particular, a Situação fica sendo "a
configuração total das relações interpessoais que se desenvolve entre o
Psicanalista e seu Paciente".

Podemos criar um conceito mais simples ainda, se dissermos que o Processo


inclui todos os procedimentos ocorridos entre psicanalista e paciente, desde a
escolha do primeiro até a RTN (reação terapêutica negativa) que o paciente
experimenta quando de fato seu tratamento já está encerrado.

Vídeo-Aula:

https://www.youtube.com/watch?v=fL97XVgHBlI

AULA 03 - Analisabilidade

Segundo os Didatas mais famosos, toda vez que não existir uma contra
indicação específica e irrecusável, a Psicanálise é indicada. Entretanto, falando
das contra indicações, podemos relacionar as de natureza familiar, religiosa,
amizade etc.

Mas, seriam todos os pacientes analisáveis? Há enfermidades do universo


psíquico que não são analisáveis? Outras perguntas poderiam ser levantadas,
contudo, tentaremos responder estas que nos parecem mais prementes.

Seriam todos os pacientes analisáveis? Embora do ponto de vista etiológico, da


natureza da enfermidade o sejam, há pacientes que não preenchem os
requisitos para tal. E nesse caso, até os fatores inteligência, cultura, universo
religioso etc. podem contra-indicar. Nesse caso o paciente não produzirá o
suficiente para o processo de interpretação ou não acompanhará o raciocínio
sempre avançado do Psicanalista. Um outro fator que não podemos descartar
é a idade.

Seriam todos os pacientes analisáveis por quaisquer Psicanalistas? Quando


estivermos diante de um paciente analisável, precisamos ainda considerar a
possibilidade do tal não ser analisável por nós. Há sempre a incidência de
fenomenologia que pode contra-indicar: Por exemplo: A contra-transferência
Negativa Imediata. Além deste fator, pode o paciente apresentar uma postura e
características de personalidade desfavoráveis à constituição do Par Analítico.
Isto exige muito cuidado na fase das entrevistas.

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Há enfermidades do psiquismo que não são analisáveis? Certamente, todas as
enfermidades psicogênicas, em princípio, não oferecem condições. É claro que
estamos agora lidando com o conceito de estrutural. Entretanto, há certos
casos de esquizofrenias que parecem responder a uma análise profunda.
Diante dessas considerações, uma pergunta se levantará: Quais são os
pacientes tributados da Psicanálise?Os neuróticos. Só existe um tratamento
eficaz para as neuroses - Psicanálise. O tratamento psiquiátrico para as
neuroses é apenas sintomático. É como tirar a febre de alguém com infecção.

Por outro lado, temos ainda duas outras questões a considerar nesta parte:

1) A psicanálise pode contribuir para os pacientes não indicados? Sim. A


Psicanálise cura as neuroses, ajuda aos psicóticos e não agrava quaisquer
enfermidades.

2) Os Psicanalistas tem que ser rigorosos na questão da analisabilidade? Em


princípio sim. Pelo menos nos casos de contra-indicação familiar, de amizade
etc. Contudo não será fácil recusar um paciente, especialmente se levarmos
em conta as necessidades financeiras e a natureza sacerdotal de que nossa
profissão se reveste. Não deve, contudo, forçar uma situação que saiba ser
improdutiva.

Finalizando, teremos sempre bastante dificuldade com os pacientes que


tendem a desenvolver prematuramente uma intensa transferência erótica
desde as entrevistas face a face.

AULA 04 - Par Analítico

A figura da Par Analítico (e não casal) surge em decorrência da analisabilidade.


Se os requisitos para a situação analítica não forem atendidos, certamente que
paciente e psicanalista formarão uma dupla de estranhos. Queremos afastar
desde já a idéia de que o Par Analítico engloba aspectos transferências.

Não engloba, mas predispõe ao surgimento da mesma. E se não ocorrer a


transferência, o trabalho será inútil, não haverá cura. Assim, para entender o
mesmo, temos que considerar se um determinado paciente vai responder
melhor a um analista do que a outro, ou que um analista pode tratar melhor uns
pacientes do que outros. Par Analítico, é, portanto, o melhor analista para
determinado paciente e paciente adequado para determinado analista.

Vale ainda considerar que essa figura não surge com imediatismo, sendo
necessário um tempo determinado de contato para se ter idéia de sua medida.
Isto torna fundamental as entrevistas.

Pode-se assegurar que, quanto mais exigência tem o paciente para escolher o
analista, mais difícil vai ser sua análise, porém isso depende de sua
psicopatologia, não do par.

AULA 05 - O Ambiente

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Do ponto de vista metodológico, ambiente não faz parte do processo.
Entretanto, se precisamos dele para tal, não podemos ignorar a sua
importância. É claro que existe ambiente e ambiente. Também sabemos que as
pessoas se sentem melhor em função de certas disposições, cores, etc.

Assim, pensemos um pouco sobre um ambiente adequado para a prática


psicanalítica:

A sala não deve ser pequena em demasia;

Deve possuir os móveis apenas necessários;

Não deve ter decoração com o fim de embelezar;

Não deve ter nas paredes nada que chame a atenção;

Deve ser ambiente de pouca claridade;

A cortina deve ser de cor neutra

Deve-se evitar enfeites sobre a mesa ou coisas que pareçam ostentação;

Se tiver estante, nela devem ter apenas livros;

Devem ser ambientes afastado de ruídos sistemáticos;

A limpeza e disposição dos móveis e demais pertences deve ser


rigorosa;

O divã deve ser confortável e suficiente largo para acomodar quaisquer


pacientes;

A cadeira do analista deve estar disposta por detrás do divã, de maneira


que o analista não seja visto pelo paciente enquanto livremente associa;

Não deve ter telefone nem campainha que soe dentro dessa sala, etc.;

Deve existir uma ante-sala levemente decorada.

O ambiente deve oferecer ao paciente oportunidade de bem estar. Ele deve ter
a sensação de que aquele local é o mais agradável possível para os 50
(cinqüenta) minutos a que tem direito.

AULA 06 - Anamnese

Em Psicanálise, anamnese não é entrevista. Reservamos para a entrevista um


caráter formal de oportunidade para termos uma visão anímica do paciente.

A anamnese é o primeiro, ou segundo, contato. É a ocasião em que o paciente


chega ou é trazido, e neste caso já temos uma forte contra-indicação para a
análise. O ideal é que o paciente venha de livre e espontânea vontade. Se bem
que às vezes necessite de apoio, do encorajamento de alguém, da família ou
não.

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Na anamnese primeiramente ouvimos as razões de nossa procura, e, em
certos casos já podemos refugar um paciente neste estágio, se constatarmos
tratar-se de psicótico, de alguém que já conhecemos, já tivemos algum tipo de
negócio com o mesmo, enfim.

Mas, como proceder na anamnese? Fazer a ficha do paciente. Esta ficha


deve ter:

Nome completo;

Data de nascimento;

Filiação;

Estado civil;

Nível cultural;

Condição sócio-econômica;

Condição sócio-econômica e cultural da família (pais)

Numero de Irmãos;

Relação com os irmãos;

Desempenho escolar;

Como se relaciona na sociedade;

Religião e como pratica essa religião;

Grau de conhecimento da psicanálise;

Enfermidades que possui;

Enfermidades que padeceu, inclusive as doenças próprias da infância;

Lesões provocadas por enfermidades;

Acidentes que padeceu;

Quantidades de amigos;

Hábitos;

Passatempo preferido;

Medos, etc.

De posse dessas informações e outras que poderão ser obtidas com as


respostas a certas perguntas do chamado "interrogatório forçado", o
psicanalista terá uma visão da analisabilidade e das possibilidades de
formação do par analítico bem como das condições econômicas que darão
sustentação ao processo.

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Na anamnese o Psicanalista não deve prometer nada, além de sua boa
vontade para com o caso, mas deixando claro que tudo vai depender do
processo de entrevista. Não podemos garantir cura, nem mesmo se poderemos
continuar com o caso, se bem que isto é mais teórico do que prático.

AULA 07 - Entrevista

Já dissemos que em Psicanálise anamnese não é entrevista. Entrevista é um


termo reservado para algum encontro de tipo especial, não para contatos
regulares. Trata-se, portanto, do que se faz antes de empreender um
tratamento psicanalítico. Sua finalidade é, do modo mais amplo que na
anamnese, decidir se a pessoa que consulta deve realizar um tratamento
psicanalítico ou de outra natureza. Também nela se terá uma visão profunda
das contra-indicações.

Na entrevista devemos facilitar ao entrevistado a livre expressão de seus


processos mentais, o que nunca se consegue com um enquadre formal de
perguntas e respostas, embora durante a mesma possamos submeter algumas
perguntas ou pedir que o futuro paciente fale sobre algo específico.

Algumas considerações resumidas sobre a entrevista:

Tanto melhor será o campo da entrevista quanto menos participe o


entrevistador;

É comum observarmos pacientes com forte dose de ansiedade e/ou angustia


já na entrevista;

O analisado deve ser informado que a entrevista tem a finalidade de


responder a uma consulta sobre sua análise mental e seus problemas, para ver
se necessita de tratamento;

A entrevista se realiza sempre face a face e o uso do divã está formalmente


afastado;

A entrevista não se baseia nas regras de Livre Associação, embora já se


inicie uma espécie de ensaio da mesma;

O Psicanalista deve influenciar com atitudes não verbais;

O Psicanalista deve anotar ao máximo, de modo elegante e não ansioso,


tudo que interesse à decisão quanto a analisabilidade;

O Psicanalista não deve interpretar nem fazer diagnósticos durante a


entrevista. Suas palavras devem induzir apenas;

O Psicanalista não deve recorrer a procedimentos que evitem a ansiedade,


como o apoio ou a sugestão, e tampouco resolvê-la com o instrumento
específico da interpretação;

No fim de cada entrevista já predomina a angústia de separação, que será


fortalecida no curso da análise;

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O "instrumento" do psicanalista é sua mente, de modo que na entrevista nós
vamos investigar de que forma o entrevistado se conduz frente a seus
semelhantes, sem perder de vista que nós mesmos somos o semelhante com o
qual essa pessoa tem que se relacionar;

Uma atitude reservada, mas cordial, contida e continente, mas não distante,
faz pane do papel do entrevistador;

A entrevista deve ter tempo limitado, como duas, três ou mais sessões, não
deve ser arrastada indefinidamente;

Deve ser distinta do processo de psicanálise formal, de maneira que o


paciente saiba onde terminou uma e começou a outra;

A entrevista informa sobre fatos fundamentais, não como objeto de análise,


mas como para definir se será ou não possível o trabalho de análise;

Na entrevista, também o paciente poderá chegar a conclusão de que esse


Psicanalista não lhe é indicado, sem contudo abrir mão do tratamento com um
outro (é comum pacientes que vão de analista em analista, até encontrar um
indicado, embora isso já pode ser estudado como uma busca de um
profissional que satisfaça suas fantasias à priori), etc.

AULA 08 - Contrato Psicanalítico

Antes de definirmos o Contrato Psicanalítico, precisamos entender que uma


das estratégias da entrevista é preparar o futuro paciente para subscrever o
metafórico Contrato Psicanalítico. Esta expressão deve ficar circunscrita ao
jargão dos psicanalistas, sem conotações legais.

O Contrato Psicanalítico é um acordo sobre as bases ou as condições do


tratamento.

Vale a pena assinalar, também, que o Contrato Psicanalítico não só implica


direitos e obrigações, mas também riscos, os riscos inerentes a todo o
empreendimento humano.

a) Generalidades sobre o Contrato Psicanalítico:


Não é um documento formal, escrito;

Deve incluir os elementos tradicionais, que veremos, bem como a


possibilidade de sua alteração;

Deve prever uma cena flexibilidade que não comprometa o andamento


do processo nem do tratamento;

Deve frisar bem a responsabilidade do Psicanalista;

Deve esclarecer que tudo que o paciente faça, não faça, falte etc., será
objeto de interpretação etc.

Segundo Freud, configuram as cláusulas fundamentais do contrato


analítico, enquanto aponta à regra fundamental, o uso do divã e o intercâmbio

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de tempo e dinheiro, isto é, freqüência e duração das sessões, ritmo semanal e
férias;

b) Principais Itens do Contrato Psicanalítico:


A questão das anotações

Devemos informar ao paciente que temos o direito de anotar elementos


colhidos da Livre associação que consideramos necessários para
interpretações futuras ou para dirimir dúvidas quando de resistências
contumazes apresentadas pelo paciente. Mas é preciso constar que as
anotações não são obrigatoriedade, uma vez que há psicanalistas que
simplesmente não anotam nada.

Aconselhamos, contudo, que todos anotem determinadas coisas, porque a


pura e simples postura audível, por melhor que seja a memória do psicanalista,
poderá provocar uma sensação de inutilidade das suas palavras, com
acentuado descrédito pelo nosso trabalho.

Uso do divã

O divã não é um sofá, onde o paciente senta se quiser. Trata-se de um


instrumento do nosso trabalho. Entretanto, não devemos impor ao paciente
como algo obrigatório, com pena de nosso contrato tornar-se autoritário, o que
deve ser evitado. Devemos, isto sim, esclarecer quanto a sua utilidade, o seu
emprego histórico desde o mestre, Freud.

Qual a razão do divã? Alguns conselhos de Freud, eminentemente pessoais,


como a de pedir a seus pacientes para que se deitem para não ter que suportar
seu olhar, chegaram a ser indispensáveis para nossa técnica.

Freud o concebeu para possibilitar o maior relaxamento possível ao paciente


enquanto fala. Ele tem por objetivo tirar o paciente da rotina de atividades
musculares, diminuir as tensões, afastar as responsabilidades com equilíbrio e
outras que consomem bastante energia. O divã é fundamental também porque
permite ao psicanalista se posicionar em relação a ele de modo a ficar menos
exposto, diminuindo assim a carga transferencial e o constrangimento dos
olhares insinuativos, que são responsáveis pela contra-transferência
(fenômeno que pode ameaçar todo o trabalho).

No contrato deve ficar claro que o divã é para o Psicanalista como a cadeira da
equipe de um dentista, e tantas outras. Sem divã, fazemos vários tipos de
psicoterapias, menos psicanálise.

Intercâmbio de tempo e dinheiro

O dinheiro da psicanálise tem uma função econômica por excelência. Pode


parecer absurdo esta afirmação, uma vez que dinheiro é sempre
fator econômico. Só que o termo econômico em psicanálise tem outro
significado. É uma carga de valores que domina uma relação. O dinheiro tem

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aqui uma importância diferente dos demais atendimentos médicos ou
paramédicos. É tanto assim que empregamos o nome sessão em vez
de consulta.

Deve ficar claro que o paciente precisa do analista para resolver os seus
problemas e este tem um preço e uma competência que lhe coloca ao dispor.
O Psicanalista deve ser rígido na questão dos honorários, não atendendo de
graça, sob nenhuma hipótese. E porquê? Quem não pode pagar pela análise
também não será beneficiado por ela. Sem falar nos complexos que seriam
plasmados, dentre eles o de inferioridade, o de devedor eterno etc...

O Psicanalista informará que aqueles 50 minutos lhe pertence (ao paciente) e


deve pagar por eles.

Quanto à questão do valor, é inversamente proporcional aos problemas


enfrentados e às dificuldades deles advindos.

No contrato, o Psicanalista deve fixar o seu preço, o modo de pagamento,


podendo ser por sessão, semanal ou mensal, sendo este o preferido. Podemos
também ter preços diferenciados, de acordo com as condições do paciente e a
quantidade de sessões semanais. Entretanto, que nunca um paciente saiba
quanto os demais estão pagando. Não devemos ter uma tabela de preços
afixada.

Finalizando, o Psicanalista não deve dar a mínima para as alterações


financeiras do paciente, ter pena, ou mesmo trocar idéias sobre tais problemas.
Quanto a isto, ouvimos, como a qualquer outro problema. Não nos
esqueçamos de que tudo deve ser interpretado.

Freqüência e duração das sessões

Freud psicanalisava com cinco sessões semanais, dando folga apenas nos fins
de semana e feriados.

Com o passar do tempo as condições econômicas e do próprio tempo que se


dispõe tem mudado. Nos últimos anos temos encontrado uma situação
intermediária que satisfaz - três sessões por semana. Mesmo assim é muito
difícil encontrar quem possa arcar com tamanha despesa. E por causa desses
complicadores, tem-se optado por duas sessões e, não havendo outra maneira,
uma sessão.

Mas seria isto um barateamento da Psicanálise? Não. É uma adaptação da


ciência de Freud aos tempos bicudos que vivemos. Mas, não enganemos os
nossos pacientes - é muito difícil trabalhar assim. A Psicanálise acaba virando
uma psicoterapia comum, com pequeno alcance de material reprimido.

O que fazer? O psicanalista precisa, ao menos neste caso, forçar um pouco


para que o paciente entenda a necessidade de uma freqüência mais amiúde,
pelo menos duas vezes por semana, mesmo que isto sacrifique suas
economias e obrigue uma mudança radical nas suas contas pessoais.

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Quanto à duração das sessões, é igualmente histórico e comprovado que um
período de 50 (cinqüenta) minutos é adequado. É tempo suficiente para o
paciente relaxar e começar a falar. Não devemos diminuir o tempo com a
desculpa de abaixar o preço. Não devemos aumentar igualmente por qualquer
hipótese.

Vale a pena tomar cuidado com certas correntes modernas de psicanálise que
pregam a possibilidade de gasto de tempo menor. Os Lacanianos tem
imaginado sessões de até 05 (cinco) minutos, o que é um absurdo.

Tempo provável de um tratamento

Embora haja psicoterapias rápidas, algumas até com fundamentação


psicanalítica, vale lembrar que psicanálise não se preocupa com o fator tempo.
Não podemos submeter ao tempo fatores ponderáveis e que dependerão de
circunstâncias mil para virem a tona. O próprio processo psicanalítico está
sujeito a vai-e-vens que cada caso determina. Além disso, existe o problema
potencial da relação: neurose - profundidade - conseqüências - personalidades
- caráter - psicanalista - questões do par analítico - intensidade da transferência
- complicação da contra-transferência - inteligência do paciente - idade - RTN
etc. Tudo isto acena para a impossibilidade de fixação de prazos. Contudo, a
experiência tem mostrado que, em média, um tratamento completo dura cerca
de cinco anos. Pode ir até dez anos. Em alguns casos é interminável.

Quando falamos na possibilidade de uma análise interminável, quase sempre


causamos um bom susto. Mas não é difícil argumentar. Basta lembrar que
muitas enfermidades somáticas são mais ou menos assim: Cardiopatias,
diabetes, neuropatias, reumatismo etc., tem que ser tratadas a vida toda. Não
há cura do ponto de vista do banimento da enfermidade do organismo. Sem
falar nos casos renais crônicos que obriga o paciente a hemodiálise três vezes
por semana, permanecendo ali cerca de quatro horas. E ninguém desiste por
causa disto.

Férias

O Psicanalista deve contratar também o seu período de descanso semanal,


aos feriados e anual. Estas férias devem atender também as necessidades de
descanso financeiro do paciente quanto de um período de cessação de
trabalho, que funciona bem para realimentar as esperanças e fortalecer a
transferência, quando for o caso.

Podemos optar por trinta dias corridos ou dois períodos de quinze dias.
Entretanto, esses períodos devem ser fixados de antemão. Muito raramente se
admite alteração nessa cláusula. Trabalhar direto é contra-indicado por todos
os motivos.

Regra da livre associação

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No contrato fixamos também que o nosso trabalho tem uma metodologia rígida,
não por questão de intransigência, mas de princípio, de doutrina. A regra
áurea é a Livre Associação de idéias, Psicanálise é isto. Fora dessa regra o
que existe é método catártico, apoio, papoterapia, condutoterapia, menos
Psicanálise. Nosso objetivo, o da Psicanálise, é tornar o inconsciente, o ld,
consciente. Pretendemos e conseguimos trazer todo material recalcado
no Id para a superfície, para o consciente, para o ego. Uma vez à tona,
interpretamos e o próprio paciente se dará conta dos problemas, suas causas e
aprenderá conviver com os tais, e, se for o caso, promoverá a catarse.

Naturalmente que o paciente não se envolverá tão facilmente assim. Leva


algum tempo para entender e conseguir falar o que vai passando pela mente.
Durante bom tempo ele vai tentar dialogar com o psicanalista, o que evitamos,
com o silêncio absoluto.

Será necessário uma ligeira palestra do psicanalista ensinando ao paciente o


que é Livre Associação. Pode ser recomendável que se dê alguma coisa a
respeito para o paciente ler. Podemos fazer certos exercícios que introduzam
no método etc. De qualquer maneira, tratamento psicanalítico não é um papo
em dias, horas e local marcados.

Pagamento das faltas

Embora este critério não seja exclusivo da psicanálise, tem para nós uma
importância capital. O paciente às vezes foge das sessões por motivos
conscientes ou inconscientes. De qualquer maneira tais motivos são
resistência. Mesmo quando diz que não tinha dinheiro, razão pelo que optamos
pelo pagamento mensal, para evitar esta desculpa.

Deve ficar claro que a sessão agendada é dele e ele paga, quer compareça ou
não. Isto aumenta a responsabilidade do tratamento.

Devemos ser rígidos nesta cláusula, dada a fenomenologia presente e intensa.


Não devemos entender também o aumento inesperado de sessões semanais,
fora do que se contratou, a não ser por motivos bem claros e discutidos, pois
pode se tratar de necessidade transferencial que não deve ser alimentada ou
fortalecida. O processo deve ter a necessária rigidez, porque tudo é tratamento.

Mudança de horários

É bastante comum ser solicitada em pacientes fóbicos, ansiosos ou limítrofes


(especialmente esquizofrênicos). Não deve ser de tudo proibida nem
incentivada. Damos bom exemplo quando subordinamos toda a nossa vida aos
compromissos da psicanálise. Se o psicanalista hoje e amanhã troca horário
das sessões por motivos fúteis, é claro que o paciente vai se sentir no direito
isto nos é adverso.

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Material onírico

Psicanalista que se preza não pode fugir dos sonhos nem possuir deles idéia
mística, fantástica, sobrenatural, religiosa ou banal. O sonho é o melhor
material que a mente fornece. No sonho as informações são completas e livres
de bloqueio. Vêm, contudo, revestidas de simbolismo aparentemente
intransponíveis.

O que fazer com os sonhos? Interpretá-los à luz da técnica Freudiana. Não se


interpreta sonhos sob a ótica da astrologia, ou do jogo do bicho. CUIDADO!
Lembremos também que os sonhos são reconhecidos até mesmo na Bíblia
como material merecedor de crédito. Todo sonho é a satisfação de uma
necessidade. A interpretação dos sonhos será estudada à parte.

Regra da abstinência

Por abstinência entendemos o não envolvimento do psicanalista com os afetos


os problemas do paciente. É claro que existe a contra-transferência que cada
analista terá que trabalhar, embora não ocorra com a mesma intensidade com
todos os pacientes, e nem mesmo durante toda a nossa vida.

CUIDADO! É de Freud esta máxima "se quisermos que alguém nos abra o
coração, devemos começar por abrir o nosso". Ela serve para tudo, menos
para a prática psicanalítica.

A primeira vista poderia parecer justo que o psicanalista permitisse, da parte do


paciente, a visão de seus próprios defeitos e de seus próprios conflitos
anímicos, abrindo a sua vida íntima aos olhos do analisado. Mas esse modo de
proceder não carreta nenhuma vantagem ao tratamento, pelo contrário.
Incapacita o paciente no sentido de vencer as suas resistências profundas,
provocando-lhe, cada vez mais e mais, uma curiosidade incansável, chegando
mesmo a encontrar na análise do psicanalista encantos e atrativos bem mais
interessantes que a sua própria análise. Sem falar no fato de que o analista
informaria sobre a sua contra-transferência, seus afetos, pelo paciente.

Nessa linha de raciocínio, também o psicanalista não se interessa pelo


paciente. Não existimos para satisfazer o paciente. Não temos como satisfazer
e não nos deve interessar, nem mesmo como é que o paciente o conseguirá.

AULA 09 - Postura do Analista

O Psicanalista não deve provocar distanciamento com a máscara de semideus


ou super-homem. Deve ser uma figura natural, que inspire confiança e não
provoque especulação além das fenomenológicas naturais.

O Psicanalista deve vestir-se bem, sem ostentação. Não deve usar roupas
anacrónicas nem modismo demasiado. Deve, contudo, ser uma pessoa
agradável, quer pela indumentária, quer pela higiene geral. Preása ouvir sem
manifestar susto com o conteúdo comunicado. Não pode manifestar escrúpulo
nem qualquer espécie de julgamento.

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deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores.
Na recepção do paciente, deve estender-lhe a mão para um bom dia, boa tarde
ou boa noite, sem exageros. Nada de beijinhos ou tapinha - essas coisas serão
interpretadas pelo paciente como afetividade e favorecerá ou fortalecerá a
transferência.

Quando o paciente falar algum gracejo, devemos rir de leve. Se não o fizermos
provocaremos o constrangimento inibitório. Não devemos ir às gargalhadas
com o paciente - o paciente é que esta em análise, não nós. Não podemos dar
ao paciente a idéia de que a sessão nos interessa de modo pessoal, que nos
sentimos bem com ele etc.

E quando de encontros fora do consultório? Cumprimentamos, sem fazer


qualquer referencia a condição de paciente e psicanalista. Não devemos
apresentar o paciente a outros como tal. Não devemos “nos abrir”, nem mesmo
nesta situação. Paciente é paciente, em qualquer lugar que esteja.

AULA 10 - Livre Associação

Como definição, podemos dizer que é o casual de idéias que se relacionam


entre si e que são verbalizadas sem preocupação lógica ou estilo.

A Livre Associação é parte fundamental do Processo Psicanalítico. Sem


ela não existe Psicanálise, porém monólogo ou diálogo. O Processo
Psicanalítico não consiste em um paciente falando o que consegue lembrar ou
simplesmente ocupando os ouvidos do analista. Na Livre Associação fala-se do
que vem naturalmente à cabeça e não daquilo que procuramos no material
mimético.

Podemos afirmar que leva algum tempo para que um paciente Associar
Livremente. Quando no muito, começa falando desembaraçadamente, o que
não é o mesmo.

Para a Livre Associação é fundamental o uso do Divã. Ali o paciente encontra


uma posição de conforto que favorece essa manifestação do inconsciente mais
naturalmente. Lembremos que todo material recalcado ao inconsciente está ali
como que colado, arraigado. Não é fácil desprendê-lo. Certas condições
mínimas são necessárias. A mais eficiente é aquela em que o indivíduo é
convidado para falar em uma posição que normalmente não utiliza para tal, e
sim para dormir. Há uma predisposição mental ao relaxamento próprio do sono
e a capacidade de verbalizar.

É indiferente o tipo de material que se tenha, que o paciente apresente: Pode


ser a história do analisado, as recordações infantis ou mesmo a história da
enfermidade.

Não é um interrogatório nem um diálogo travado entre Psicanalista e paciente.

Algumas vezes fazemos perguntas, mas não sistematicamente. Aliás,


procedemos melhor quando as nossas perguntas induzem uma compreensão.
É verdade que tal libertação é, de certa forma, um pouco de aplicação do

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método catártico. Outrossim, quem traz a tona tais idéias latentes é o paciente,
não o analista. O Psicanalista não é escafandrista, um mergulhador. No
máximo atua dando cordas à imaginação mimética.

O paciente escolhe o ponto de partida de sua conversação. Entretanto, cabe ao


psicanalista perceber se sua conversa não passa de "um contar do dia a dia".
Às vezes o paciente fala muito exatamente para não falar o pouco que deve. A
conversa funciona muitas vezes como bloqueio, resistência. Desse modo, o
Psicanalista pode alentar sobre a improdutividade do material verbalizado, mas
isto com muito cuidado. Devemos ensinar que o paciente deve falar o que
apareça sem esforço de recordação na mente, e não falar por falar;

O paciente não deve raciocinar sobre o que está dizendo, quando ocorre o
raciocínio, o que há de fato é uma seleção, como se o paciente pudesse definir
o que é importante e o que não é. Na base dessa seleção é encontrada a
resistência. Uns dizem: "Lembrei de algo, mas isso não é importante, não tem
nada a ver". É exatamente aí que temos que trabalhar e fazê-lo entender a
presença de uma resistência, de um bloqueio.

O paciente não deve se preocupar como que está dizendo: Deve agir como
que estando a "pensar em voz alta ".Transmite todas as idéias que forem
surgindo, mesmo que sejam agressivas, pareçam vergonhosas, banais, conflite
com os seus costumes. Aliás, uma das coisas mais responsáveis pelo recalque
é exatamente o "pensar de um modo e falar de outro". Isto é cometido pelos
padrões culturais e pela hipocrisia das religiões etc.

"Coloque-se diante do Psicanalista como um passageiro olhando da janela de um


trem, em velocidade, e, vá narrando o que se passa na tela da sua imaginação”. (Dr.
Gastão Pereira da Silva)
AULA 11 - Como Trabalhar o Recalque

O conteúdo desta aula foi extraído do livro de J. Ralph: "Conhece-te pela


Psicanálise".

Vou ensinar ao aluno como se deve pescar. E não só como pescar, mas
também, o lugar bom para uma boa pescaria.

Mas não se trata de peixes; trata-se de pescar idéias. Não as alheias, mas as
suas próprias idéias.

É verdade que, sob certas condições precisamos pescar as idéias dos outros;
mas, comumente não há necessidade disso. Há muitos indivíduos, com efeito,
que com a maior sofreguidão, nos oferecem as suas, graciosamente, sob a
forma de convicções com sua última atitude mental; e com que energia
procuram demonstrar que suas idéias são próprias, espontâneas e
desinteressadas.

Não, o que pretendo agora é ensiná-lo a pescar as próprias idéias.


Naturalmente, elas lhe interessam muito. Mas vai uma grande distância entre
interessar-se por uma coisa e possuí-la, gozá-la integralmente.

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deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores.
De nada nos vale uma ótima coisa, que apreciamos muito e pela qual muito
nos interessamos, se não podemos utilizá-la justamente, quando e como
queremos.

E se o não podemos fazer, é porque a coisa não nos pertence de fato, e, se por
acaso a consideramos nossa, somos, positivamente, vítimas de uma ilusão.

Nesta pescada, que empreenderemos juntos, vamos adotar um anzol mental.


Será uma pesca extremamente prática e de grande proveito para a sua
personalidade.

Quero ensiná-lo a trazer a consciência (de modo a que se possam confrontar)


as idéias responsáveis pelo seu temperamento: as boas e as más, as fortes e
as fracas.

Nas profundezas do inconsciente há um grande sortimento de idéias e


lembranças que a gente supõe serem próprias, originais; na realidade a
natureza e as tendências do procedimento consciente são condicionadas por
estes elementos mentais submersos.

Poucas, entretanto, são as pessoas que tem a noção exata de suas próprias
reservas mentais, ou uma noção inteligente dos alicerces inconscientes sobre
as soterradas (idéias). E, quando afluem, escolhemos as que são utilizáveis,
rejeitando as restantes para as profundidades do espírito.

O nosso equilíbrio mental depende do critério de seleção: se o critério na


escolha é bom, será o nosso benefício; se é mau, o nosso bem estar sofrerá os
prejuízos resultantes.

Há, ainda, uma outra maneira de pensar, a que devemos referir, de passagem:
é um sonho acordado, o devaneio. É um modo de pensar que não dá
vantagens ao indivíduo na luta pela vida. Com efeito, a atenção, em vez de se
dirigir, intencionalmente, a um objeto mental definido, é atraída, nesse caso,
pelas idéias - desejos. Representa esforço para alcançar uma via imaginária a
que não se consegue na vida real. Sendo um meio de se fugir às realidades da
vida, constitui uma espécie de ópio mental, que devemos, portanto, evitar a
todo custo.

O que o aluno vai conhecer agora é uma outra atitude mental, onde a atenção
não é nem dirigida nem atraída, mas existe, por um espectador passivo, aos
desfiles das idéias que, sob certas condições, aparecem no horizonte da
consciência. Essa atitude é conhecida, tecnicamente, sob o nome de Livre
Associação de idéias.

Na Livre Associação as idéias fluem e se sucedem sem intervenção


consciente, sejam agradáveis ou desagradáveis, importantes ou não, na
aparência. O que não significa que basta levantar a tampa do caldeirão do
inconsciente para que transborde uma variada procissão de idéias e, com isso,
se obtenha um resultado proveitoso. Não. o resultado pode ser inteiramente
outro.

Sabemos que toda a idéia que surge na consciência tem suas raízes nas
profundidades do espírito; e sabemos, também, que se pudéssemos seguir

Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos
deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores.
essas raízes, desde a consciência até as suas origens no inconsciente,
haveríamos de chegar à origem dessas idéias, isto é, às lembranças
soterradas de que ele não é mais do que a expressão.

Tomemos uma determinada idéia; coloquemo-la, como se fosse uma isca, na


consciência; abstenhamo-nos de qualquer análise consciente; afastemos de
toda a crítica todo o juízo toda a coordenação enfim, toda e qualquer forma de
intervenção consciente; deixemos que outras idéias venham juntar-se à
primeira, que faz o papel de isca, apenas por uma associação puramente
simpática, que entre elas possa existir. Vamos obter, assim, uma Livre
Associação de Idéias.

Nesse processo, a idéia que ocupa em um determinado momento o campo da


consciência, liberta, atraindo-a para si, a idéia imediata, exclusivamente em
virtude de uma associação simpática que as une. Não entra no processo
nenhuma interferência intelectual.

O pensamento consciente, ao contrário, é um processo essencialmente de


seleção; somos nós que atraímos as idéias para a consciência e, então, depois
de analisá-las, julgá-las, medi-las, retemos as que nos convém e rejeitamos as
que não nos interessam.

Para se obter uma boa associação de idéias, é necessário afastar


completamente esses esforços intelectuais e assumir, perante a consciência, a
atitude de simples espectador do que vai acontecer. Deve-se assistir à
procissão de idéias sem interpor nenhuma influência intelectual.

Essa atitude mental não é difícil de se obter. É antes uma questão de


habilidade. E, uma vez conseguida, basta um pouco de prática para repeti-la,
sempre que se entender ser útil e necessária.

Lembre-se sempre que uma idéia sempre penetra na consciência por ação do
acaso.

Toda idéia que, mesmo que seja por um tempo mínimo, ocupa o centro da
consciência, aí não entrou por acaso. Ou foi empurrada pelas influências
subjacentes, ou foi atraída pelas condições de superfície.

Se, no exemplo da idéia - isca, nos abstivemos de qualquer influência


intelectual sobre ela, vai se operar uma associação livre de idéias, constituídas
das lembranças que são as suas próprias raízes e deixando que essas
associações se realizem livremente, nem fluxo ininterrupto e contínuo, a
consciência há de se reconhecer, por fim, a lembrança exata que constitui a
sua origem.

Na Livre Associação, a idéia estimuladora (isca), que se encontra na


consciência está presa, por laços bem definidos, a ser um conjunto de
lembranças localizado em algum ponto da vasta região do inconsciente; e se
pudéssemos seguir a linha das associações que une entre si, estes dois
fatores, haveríamos de conhecer, rápida e nitidamente, a influência que as
memórias soterradas exercem sobre nossa conduta consciente. E isso porque
teríamos assim conseguido ligar o efeito à causa.

Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos
deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores.
A Livre Associação de Idéias é a VIA RÉGIA que condiz à compreensão do
processo pelo qual a conduta é controlada pelo espírito inconsciente; se o
método for bem aplicado, pode-se, mesmo, reconstruir a personalidade
consciente, abrindo-se aos nossos olhos perspectivas de maravilhosas
possibilidades.

AULA 12 - Questionário para atuação do Psicanalista

O presente questionário oferece perguntas que o Psicanalista pode


empregar nos mais variados momentos do seu trabalho. Algumas perguntas
podem ser formuladas na anamnese, outras no curso da entrevista e outras
quando de flagrantes resistências percebidas no paciente. Entretanto, é melhor
não utilizá-las do que empregá-las mal. CUIDADO!

A - RELAÇÃO EDIPIANA
1. De que se lembra você em relação ao corpo de sua mãe?

2. Recorda você alguma coisa das partes sexuais de sua mãe?

3. Foi você alguma vez impressionado com algum detalhe do corpo de sua
mãe?

4. Quais são as lembranças mais antigas que você tem de sua mãe?

5. Era a sua mãe carinhosa ou severa?

6. Sua mãe a castigou alguma vez?

7. Em que consistia o castigo?

8. Que espécie de carícias você recebia de sua mãe?

9. Você a admirava?

10. Você a viu alguma vez enferma?

11. Você a viu morta?

12. Você tocou alguma vez nas suas partes sexuais, nos seus seios, ou
alguma outra parte do seu corpo?

13. Viu você alguma vez o contato sexual entre seu pai e sua mãe?

14. Você a viu alguma vez urinando ou defecando?

15. Tinha a sua mãe aspectos atrativo?

16. Ama você a sua mãe?

17. Você a temeu alguma vez?

18. Ela o assustava quando o olhava?

Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos
deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores.
19.Desejou você alguma vez a sua morte?

Nota: No caso de se tratar de um paciente do sexo feminino, todas estas


perguntas devem ser dirigidas ao pai.

B - RELAÇÃO COM CRIANÇAS


1. Interessa-se você pelas partes sexuais das crianças?

2. Em que consistem as suas atividades sexuais?

3. Que pensa você da micção ou da defecação?

4. Acredita que as crianças devem ser castigadas?

5. Gosta de crianças?

6. Quais foram os momentos mais felizes que você passou entre elas?

7. Deseja Ter filhos? Por quê?

8. Gostaria de ter um menino ou menina?

9. Deseja você que este se pareça com algum membro de sua família, por
quê?

C - RELAÇÃO COM ANIMAIS


1. Gosta de animais? Por que?

2. Eles o assustam?

3. Teve alguma vez medo de ser devorado por animais?

4. Foi mordido por algum? Quantas vezes?

5. Gosta de torturar ou ferir animais?

6. Viu alguma vez o coito de algum animal?

7. Que efeito produz em você os úberos de uma vaca?

8. Comparou alguma vez as partes sexuais de algum animal com as suas?

9. Viu nascer algum animal?

10. Sabe você o que isto significa?

11. Teve você alguma fantasia ou intento sexual com algum animal?

12. Sonha com animais?

13. Qual é o animal que lhe causa aversão?

Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos
deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores.
14. Já pensou alguma vez que não devemos matar nem comer os animais?

D - RELAÇÃO COM O PRÓPRIO CORPO


1. Que pensa você de seu físico?

2. É você um sexual? (atraente...)

3. Acha-se efeminado (ou masculinizado)?

4. Qual é para você a parte mais importante do corpo?

5. Qual é a parte do corpo que você tem mais perfeita?

6. Tem medo de sofrer golpe nas partes sexuais?

7. Acredita que a masturbação é algum mal?

8. Que acha você das partes sexuais do sexo oposto?

9. Envergonha-se de ser surpreendido nu? Por quê?

E - RELAÇÃO COM AS FUNÇÕES DO PRÓPRIO CORPO


1. Quando se masturbou pela primeira vez?

2. Em que circunstância?

3. Realizou a masturbação espontaneamente? Ou lhe disseram que o


fizesse?

4. Como se realizou? Usou as mãos? A realizou por outros meios?

5. Em que pensava ou pensa durante a masturbação?

6. Por que se masturba?

7. Como se sente, uma vez realizada a masturbação?

8. Você foi criado com mamadeira ou com seio?

9. Lembra-se como mamava?

10. Recorda-se de ter visto alguém mamar?

11. Que impressão lhe produz o seio feminino?

F - RELAÇÕES AMOROSAS
1. Que é amor?

2. Qual o tipo de pessoa preferida?

Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos
deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores.
3. Seria você capaz de persistir em uma atitude amorosa sem ter satisfação
sexual?

4. Gosta em geral das pessoas a quem julga superiores, iguais ou inferiores?

5. Que pensa você das chamadas perversões sexuais?

6. Que pensa você do ciúme?

G - SITUAÇÃO FAMILIAR
1. Foi você criado pela sua mãe, por algum parente ou por estranhos?

2. Teve você companheiros de infância?

3. Quais eram os brinquedos escolhidos?

4. Em que colégio esteve?

5. Que livros você lia quando era pequeno?

6. Que classe de divertimentos você preferia?

7. Qual é a pessoa que exerce maior autoridade sobre você em sua família?

8. Quais eram as suas idéias religiosas? Quais são agora?

H - SOBRE A MORTE
1. Pensa você constantemente na morte?

2. Qual é a idéia que lhe ocorre quando pensa nela?

3. Tem você medo da morte, de morrer ou de ser morto?

4. Desejou alguma vez morrer ou de ser morto? Quando e como?

5. Chegou você a pensar em suicídio? Que processo seria preferível?

6. Estabelece você alguma relação entre o amor e a morte?

7. Como imagina você a vida depois da morte?

8. Tem medo de ver um cadáver7

9. Já pensou na morte de pessoas queridas?

10. Desejou a morte de algumas delas?

11. Pensou em matar alguém?

12. Já matou animais? Quais?

13. Que espécie de morte comove mais você? Rápida, lenta?

Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos
deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores.
Essas perguntas podem ser ampliadas, melhoradas e até ligeiramente
modificadas.

AULA 13 - Aliança Terapêutica

Nas primeiras aulas abordamos o chamado Par Analítico. Vimos na ocasião


que o par analítico constitui a combinação do melhor Psicanalista para
determinado paciente, e vice-versa.

Na seqüência e combinação de fatores, em decorrência deste par, surge a


transferência e a contra-transferência que estudaremos dentro de pouco.

Antes, porém, aparece este delicado assunto, a Aliança, por muitos confundida
com transferência. Mas, não confundamos - a transferência ocupa uma parte
definida do universo psicanalítico. Nem tudo que ocorre na situação analítica é
transferência. Temos, contudo, que reconhecer que a linha divisória entre a
Aliança Terapêutica e a transferência é muito tênue.

Como defini-la?Segundo Zetzel, Aliança Terapêutica é uma espécie de


transferência racional. Essa transferência racional se caracteriza, sobretudo,
por não ter o aspecto de neurose, o que chamamos de neurose de
transferência. A diferença está na intensidade, racionalidade, consciência de
que os afetos que surgem não são frutos de paixão, mas do relacionamento.
Por outro lado, a transferência se reveste da irracionalidade, envolvimento
afetivo que não permite ao paciente distinguir os níveis de sentimentos.

Podemos situar melhor a Aliança Terapêutica em relação a Transferência, do


seguinte modo: A Aliança Terapêutica é favorável, colaboradora do processo,
enquanto que a transferência, embora fundamental para a cura, em princípio
opera negativamente, tende a atrapalhar. Aparece como embaraço que deve
ser interpretado, caso contrário inviabiliza o tratamento, se isto se
perpetualizar.

A experiência tem nos ensinado também outra coisa: a Aliança Terapêutica


não necessita de interpretação, nem teríamos como fazê-lo.

Precisamos confessar, entretanto, que a diferença entre a neurose de


transferência e a aliança não é absoluta. É mais uma diferença de
compreensão do paciente do que de natureza de sentimentos. Em suma, o que
o paciente sente, em ambos os casos, é a mesma coisa: Mas a posição e
análise pessoal do paciente difere.

Uma outra situação interessante, é que na transferência, a luta do psicanalista


é para interpretá-la, afastá-la, dando lugar a possibilidade da instalação da
dinâmica interpretativa. Na Aliança Terapêutica ocorre exatamente ao
contrário: O Psicanalista a reforça. Ele precisa da manutenção desse clima
para sustentar a confiabilidade.

Finalizando, diríamos que o ideal da transferência é que se transforme ou


evolua para a Aliança Terapêutica. Uma coisa não se encontrará ao mesmo
tempo em um paciente. Outra coisa se discute: Pode existir Aliança terapêutica
sem o processo inicial de transferência?

Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos
deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores.
AULA 14 - Transferência

Atitudes, sentimentos e fantasias que um paciente experimenta, na situação


analítica, em relação ao seu Psicanalista, muitas das quais emergem, de modo
aparentemente irracional, de suas próprias necessidades inconscientes e
conflitos, em vez de circunstâncias reais de suas relações com o analista.
Assim o paciente atribui, inconscientemente, características de seu pai, mãe,
irmãos, etc. ao analista, enquanto este representará qualquer dessas pessoas
em relação ao paciente.

A teoria da transferência é uma das maiores contribuições de Freud à ciência e


também o pilar do trabalho psicanalítico.

A transferência precisa ser entendida como um falso enlace, que tem, em


princípio, dois objetivos, ambos inconscientes:

a) Satisfazer as necessidades propriamente inconscientes, confundindo a


pessoa do Psicanalista com as pessoas que faltaram ou faltam na vida do
paciente;

b) Evitar a subida do mundo inconsciente ao consciente, funcionando desse


modo como resistência, como dissimulação, com o fim de direcionar as
energias mentais para um lado que embargue a manifestação do universo
inconsciente.

Em ambos os casos, "a transferência que se destina a ser maior obstáculo para
a Psicanálise, se converte em seu auxiliar mais precioso, quando se consegue
detectar em cada caso (e manifestação) e traduzi-la para o enfermo".

Em qualquer caso, a transferência jamais poderá ser entendida como uma


fraqueza de caráter, como "safadeza" do paciente, mas como algo inevitável às
pessoas mais sérias. É sempre um problema da personalidade no que diz
respeito às neuroses, carências etc.. As pessoas que sufocam as
manifestações transferenciais, o que conseguem é plasmar mais uma carência,
fortalecendo assim o patrimônio neurótico.

Não nos esqueçamos também que a transferência não é um fenômeno


exclusivo das relações psicanalíticas, mas presente em todo o trabalho
relacional. E é pior nas outras profissões e contatos, porque os envolvidos não
tem o conhecimento científico do que está ocorrendo, tomando,'de acordo com
o lado, como oportunidade de satisfação. A confusão que segue será sem
precedentes nessas vidas.

AULA 15 - Contra-Transferência

As atitudes, sentimentos e fantasias que o psicanalista experimenta, muitas


das quais provém, aparentemente de modo irracional, de suas próprias
necessidades e conflitos psíquicos e não de circunstâncias reais de suas
relações com o paciente.

A contra-transferência pode ser, como deduzimos da definição, conseqüência


de carências do Psicanalista, de problemas não resolvidos desse profissional.

Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos
deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores.
Pode também ser conseqüência da situação psicanalítica em si. Nesse caso, é,
"uma resposta emocional do Psicanalista aos estímulos que provem do
paciente, como resultado da influencia do analisado sobre os sentimentos
inconscientes do profissional" (Etchegoyen).

Se na transferência temos que estar atentos para interpretá-la, de igual


maneira precisamos estar atentos aos nossos sentimentos e sempre dispostos
a auto interpretação, com pena de ficarmos vendidos no relacionamento e
impedidos de trabalhar em benefício do paciente.

Quando falamos na Aliança terapêutica que deve ser uma evolução da


transferência racional, de certa forma postulamos o mesmo para contra-
transferência. Nesse caso, quando nos interpretamos, quando identificamos o
motivo dessa afetividade etc., transformamos esse sentimento intenso no
correspondente a Aliança Terapêutica, que chamamos descendente.
Essa Aliança Terapêutica Descendente, que vem do psicanalista, é igualmente
um importante instrumento do processo, porque liga o psicanalista ao paciente,
sem interdependência a nível de sentimento.

AULA 16 - Resistência

É a oposição a qualquer tentativa de revelação de um conteúdo inconsciente. A


maior ou menor intensidade da luta travada pelo paciente contra o analista que
ameaça por a descoberta desse conteúdo oculto constitui sempre uma medida
de força repressora, isto é, da resistência.

Temos como o grande objetivo da resistência, manter a neurose. A razão


desse procedimento inconsciente reside no mau estar que a revelação da
neurose ocasiona. O paciente, também inconsciente, opta pelo desprazer de
manutenção do recalque, com o qual já está acostumado.

Os tipos de Resistências:

a)Resistência Consciente

É a retenção intencional de informações por parte de um paciente, causada


pela vergonha, medo de rejeição, temor de perder a consideração do analista.
Aceita-se que, subentendida na resistência consciente, haja sempre motivos
inconscientes;

b)Resistência Inconsciente

É aquela produzida pelo inconsciente de modo defensivo, sem que o paciente


perceba. Tão somente atua ou deixa de atuar. O tipo mais conhecido é
denominado Atos Falhos (falhados).

Algumas generalidades sobre resistências:

Os Atos Falhos ou Lapsos são os esquecimentos, os cortes, as


"evitações" que o inconsciente pratica com uma intenção definida. Aparece nos
erros de leitura, de escrita, nas trocas de nomes, empregos de palavrões em
momentos de solenidades e até discursos e sermões;

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A própria transferência é um tipo de resistência, porque visa cercear o
processo e direcionar os contatos;

Resistência é tudo aquilo que impede que o sujeito transfira o material


reprimido para o consciente;

A resistência pode manifestar no paciente que fala muito, colocando o


seu dia a dia para servir de manto sobre o seu passado;

A resistência pode ser encontrada no silêncio. Em todo o caso precisa


ser interpretada;

A crítica a todo comentário do analista é sempre uma resistência;

Também a aceitação de tudo aquilo que o profissional fale pode ser resistência,
na medida em que limita o avanço do mesmo, é a cortesia que protege a
necessidade de reviver seus conflitos instintivos;

AULA 17 - Mecanismos de Defesa

Em alguns casos, os mecanismos de defesa podem ser interpretados


como resistências. Também podem ser tratados como mecanismos de
adaptação do ego. São atuações que visam dar um tratamento sintomático aos
complexos e aos deslizes, quando a consciência se sente desequilibrada.

Segundo Otto Fenichel, eis os principais, encontrados na situação analítica:

a. Sublimação - Ocorre quando os impulsos neuróticos são canalizados para


um fim nobre sadio;

b. Negação - É, como o termo designa, a negação a um impulso, quando a


pessoa mascara um determinado instinto;

c. Projeção - Quando o paciente transfere para outrem os seus sentimentos,


Impulsos e padecimentos. Quando sentimos e dizemos que o outro é que
sente;

d. Introjeção - É uma espécie de incorporação, o ato de tragar, engolir o


problema. Ocorre quando o paciente padece e incorpora como seu, só seu, e
de certa forma há um contentamento com esse ato, sem ainda tratar-se de
masoquismo;

e. Repressão - É uma tentativa de ignorar os problemas sentidos, normalmente


dizendo que não tem problema algum;

f. Formação Reativa - Toda tentativa de defender a personalidade de algum


perigo iminente;

g. Mecanismos Secundários - Anulação, aleamento, regressão, Bloqueios de


afeto, protelação de afetos, desprezo de afetos;

h. Racionalização - talvez o mais nobre dos mecanismos, que se trata da


tentativa de auto-justificação de todos os atos, posições e cometimentos. É o
esforço que o indivíduo faz para não se sentir culpado jamais.

Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos
deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores.
AULA 18 - Angústia de Separação

Fenômeno que percebemos, em alguns casos, desde as entrevistas, onde o


paciente apresenta uma sensação de abandono, quando o seu tempo vai
terminando, como se estivesse para perder algo muito caro.

Na Angústia de Separação aparece um suave quadro de depressão


situacional.

A Angústia de Separação é diretamente proporcional a transferência e à


Aliança Terapêutica. No caso de pacientes com forte resistência, que retardam
ao máximo a instalação desses fenômenos, também se notará uma frieza, um
corte de Cordão umbilical indolor.

Em casos de pacientes psicóticos, não tributários de psicanálise, junto aos


quais se esteja praticando uma psicoterapia de fundamentação psicanalítica,
notar-se-á que a angústia de separação pode incluir certos tipos agressivos de
evite. Pode também o paciente insistir em continuar, ter surtos na saída,
simular insegurança, quadros fóbicos etc.

AULA 19 - Interpretação

A interpretação é o instrumento mais nobre da psicoterapia.

Entendemos por interpretação o método de deduzir o que o paciente tem em


sua alma e lhe comunicamos. A interpretação é, portanto, a aplicação da
racionalidade ao material que nos é oferecido através da Livre Associação. É
quando o psicanalista entende e junta os fatos, montando o quebra-cabeça
com o material mnético apresentado.

A interpretação se dá sobre coisas lógicas apresentadas pelo paciente que,


entretanto, não se vê com lógica alguma quando fala. Entretanto, em face do
arrazoado do psicanalista, há a compreensão, a clareza. E, com o passar do
tempo, a medida que o tempo de análise aumente, o paciente já vai
percebendo, e em algumas vezes se antecipa à interpretação. Mas nesse caso,
algumas vezes erra.

Quando o paciente se antecipa na interpretação, o que temos, nem sempre


é insight, mas a inveja do psicanalista e a tentativa de tomar o seu lugar.

Na interpretação, o Psicanalista precisa ser curto e educado. Não deve se


estender em uma palestra longa, que dê lugar às divagações. Sempre que
possível deverá interpretar com linguagem indagativa. Fazendo perguntas que
induzem uma resposta. Esse caso é aparentemente melhor, porque o paciente
fica com a sensação de ter concluído a respeito. Tem mais facilidade de aceitar
que se tivesse recebido uma idéia pronta.

Na interpretação, o Psicanalista tem um aliado - o insight. Este termo tem, em


psicanálise, uma significação maior do que a terminológica. O Insight acontece
no paciente, e será proporcional à inteligência dele e a disposição ou vontade
de descobrir a sua verdade. Depende também de uma boa Aliança terapêutica.
Nele o paciente vê claramente, em um momento, toda a verdade da

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interpretação. Normalmente o insight desencadeia uma aceleração no
processo associativo, em alguns casos fazendo o paciente calar, para, por
algum tempo, desfrutar das memórias ligadas à verdade da interpretação.

AULA 20 - Etapas da Análise

Quando dizemos que há etapas, o que queremos dizer é que na evolução do


processo psicanalítico, há momentos característicos, definidos, distintos de
outros, momentos com uma dinâmica especial que os distingue. Aliás, tudo
nesta vida tem principio, meio e fim. Vejamos as três etapas clássicas da
análise:

Primeira etapa - A abertura da análise. Vai da primeira sessão (anamnese)


até, mais ou menos, uns três meses, quando estamos com contrato de duas a
três sessões semanais. Nessa fase temos os ajustes necessários, o início da
transferência etc.;

Segunda etapa - O mesmo que etapa média. É a menos típica e mais longa e
criativa. Começa quando o analisando compreendeu e aceitou as regras do
jogo, como Livre Associação, interpretação, ambiente permissivo etc..
Prolonga-se por um tempo variável até que a enfermidade originária (ou sua
réplica, a neurose de transferência) haja desaparecido ou tenha se modificado
substancialmente.

Terceira etapa - O término da análise. Não prolonga muito tempo. Deve durar,
contudo, o suficiente para que a Reação Terapêutica Negativa (RTN) seja
vencida, para que a angústia de separação definitiva seja igualmente
interpretada e assumida.

Como vemos, a análise, que vem de resolver problemas, no fim, por causa do
intenso e duradouro relacionamento, acaba se tornando um problema.
Entretanto, o tal não será enfermidade e tem caráter gratificante.

Em alguns casos, Freud mesmo já o considerou, nos deparamos com o caso


de Análise interminável, sem que o paciente seja um psicótico. São pessoas
que, embora tenham os problemas resolvidos, não consegue suficiente força e
independência. O mais comum é que sejam pessoas submetidas a uma
intensa carga de neuroses atuais, neuroses estas que, com o tempo e
complexibilidade da vida vão aumentando. Algumas pessoas precisam de
apoio, uma espécie de muleta tornando a análise interminável.

Vicissitudes do Processo Psicanalítico

Toda ciência, bem como todo relacionamento apresenta suas dificuldades


naturais. Precisamos estar conscientes que há fatores que dificultam
sobremaneira a análise: Idade Avançada; A inteligência, de menos ou de mais;
Condições econômicas; Religiosidade; etc.

Entre as principais vicissitudes, temos:

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lnsight - Tanto a sua ausência, nos " desinteligentes", quando a sua fartura,
podem atrapalhar. Além do mais, em termos de interpretação, quantas vezes o
paciente vê uma coisa e o psicanalista vê outra?;

Elaboração - É o tempo que o paciente gasta para se organizar e reagir à


postura do Psicanalista. É o conjunto de fatores que diz que o paciente
assumiu a sua condição da qual compreende o papel do profissional e pratica
as panes que lhe cabe;

Acting-out - Problema difícil de explicar. Poder-se-ia dizer que se trata de uma


ação fora da situação analítica ou que tem por objetivo afastar o paciente ou o
Psicanalista de seu suporte. Mas para simplificar, é quando o paciente faz uma
coisa em vez da outra.

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