Escalas de Identificacao Das Altas Habilidades Sup
Escalas de Identificacao Das Altas Habilidades Sup
Escalas de Identificacao Das Altas Habilidades Sup
Introdução
Material
Uma busca nas bases de dados eletrônicas Scielo, Pepsic, Google Acadêmico e Peri-
ódicos Capes foi feita em fevereiro de 2023, buscando-se identificar escalas de identificação
das AH/SD em uso no Brasil (publicadas, em processo de desenvolvimento, adaptação, tra-
dução ou investigação psicométrica). Para isso uma busca partindo dos descritores “altas
habilidades” e “superdotação” no campo “assunto” foi conduzida. Em seguida, os mesmos
descritores foram combinados com outros: “escala”, “avaliação” e “instrumentos”. Na base
Periódicos Capes, selecionou-se somente material do tipo artigo, provenientes de periódi-
cos revisados por pares, utilizando-se o descritor no campo “assunto”. Todos os estudos
que envolviam escalas de avaliação do fenômeno foram selecionados sendo que, nestes,
um total de 18 escalas foram identificadas, apresentadas em sete artigos provenientes do
Scielo, cinco da Pepsic e 20 do Periódicos Capes.
Foram utilizados os seguintes critérios de seleção: (1) serem artigos científicos, (2)
conduzidos com amostras provenientes da população brasileira, (3) que apresentassem
dados provenientes de estudos voltados à investigação das qualidades psicométricas de
alguma escala para identificação das AH/SD. Foram excluídos: (1) outros tipos de instru-
mentos, (2) aqueles que avaliavam outros construtos isoladamente (tais como criatividade,
motivação, inteligência, habilidades sociais, dentre outros), (3) estudos de caso, artigos te-
óricos, teses e dissertações, ou pesquisas que somente relatassem o uso de instrumentos
sem focar-se na investigação de suas qualidades psicométricas.
Em uma segunda rodada de seleção das pesquisas, uma nova busca foi conduzida
no Google Acadêmico, tomando-se como descritor o nome das escalas encontradas na
primeira busca, visando a identificação de outros estudos com tais instrumentos que não
tivessem sido localizados anteriormente, especialmente aqueles artigos publicados em re-
vistas científicas que não se encontram indexadas nas bases consultadas. Por meio desse
procedimento mais seis artigos foram selecionados.
Resultados e Discussão
As informações de cada escala foram inseridas em uma tabela contendo uma coluna
para cada tipo de informação (Tabela 1). Das 18 escalas encontradas, quatro são inter-
nacionais e, as demais, nacionais, de modo a demonstrar o interesse dos pesquisadores
brasileiros na identificação das altas habilidades/superdotação.
DIMENSÕES
NOME / AUTOR PÚBLICO-ALVO FORMATO RESPONDENTE
AVALIADAS
Escala de Identificação características
de Características 38 (tipo likert de socioemocionais
9 a 12 anos autorrelato
associadas às AH/SD 4 pontos) e características
Zaia e Nakano (2020) cognitivas
Escala de Identificação características gerais,
de Precocidade e 1º ao 5º ano 65 itens (tipo
de pensamento
Indicadores de AH/SD do Ensino likert de três professor
criativo, características
Fundamental pontos)
de aprendizagem
Martins (2020)
O instrumento mais antigo em uso no Brasil é uma escala internacional, Escala para
Avaliação das Características Comportamentais dos Alunos com Habilidades Superiores
– SCRBSS, utilizada amplamente nos Estados Unidos (RENZULLI; HARTMAN, 1971), tra-
duzida e adaptada para uso em diversos países (RONDINI, 2021). A primeira tradução e
adaptação do instrumento para o Brasil foi feita por Virgolim (2005), tendo-se encontrado
um processo recente de adaptação e investigação das evidências de validade de conteú-
do dessa escala para uso no Brasil foi encontrado ao longo dessa revisão (CALLEGARI,
2019), além de um estudo voltado à investigação das evidências de validade com base na
estrutura interna e precisão de parte da subescalas (artística, científica, aprendizagem, lei-
tura e matemática) (NAKANO; RONDINI, 2023). Convém destacar que, tradicionalmente,
DIMENSÃO F %
Aprendizagem 3 16,6
Liderança 8 44,4
Tal resultado aponta para o fato de que a maior parte das escalas avaliam as dimen-
sões contempladas na definição do Ministério da Educação e que guiam as políticas pú-
blicas brasileiras (BRASIL, 2008), indo ao encontro das definições mais aceitas internacio-
nalmente (PETERS; PEREIRA, 2017). Ao verificar os achados da pesquisa, podemos dizer
que as dimensões avaliadas nas escalas analisadas atendem amplamente as recomenda-
ções internacionais, incluindo aspectos considerados não intelectuais de modo a identificar
diferentes tipos e perfis de superdotação (TURKMAN, 2020).
Em seguida, as escalas foram analisadas em relação à existência de estudos voltados
à investigação das suas qualidades psicométricas. Dentre os principais tipos destacados
na literatura científica, as evidências de validade, precisão e normatização assumem papel
principal e auxiliam os pesquisadores na verificação da adequação dos instrumentos para
o propósito para o qual foram criados, de modo a garantir segurança no seu uso (INTER-
NATIONAL TESTING COMISSION, 2018). Especialmente na Psicologia, a Resolução do
Conselho Federal de Psicologia (06/2019), que dita os requisitos mínimos que os testes
psicológicos devem possuir, enfatiza esses três parâmetros como condições obrigatórias
para a aprovação dos instrumentos para uso profissional (CONSELHO FEDERAL DE PSI-
COLOGIA, 2022). Os resultados encontrados analisados são apresentados na Tabela 3.
Escala de Avaliação de AH/SD Evidências de validade com base no conteúdo (LIRA et al.,
Lira et al. (2021) 2021)
Delou (1987)
Guenther (2012)
Questionário para
Identificação de indicadores de AH/SD –
autonomeação
QUALIDADE
TIPO F %
PSICOMÉTRICA
Normatização 2 11,1
As evidências de validade têm sido definidas como o grau em que um teste avalia
o que ele se propõe a medir (PEIXOTO; FERREIRA-RODRIGUES, 2019), sendo que as
informações provenientes desse tipo de estudo ajudam a determinar o grau em que as
interpretações propostas para os escores de um teste psicológico encontram respaldo em
evidências científicas. Se um instrumento não possui evidências de validade, não há segu-
rança de que as interpretações sejam legítimas.
O estudo aqui apresentado buscou a realização de uma análise crítica das escalas
de identificação das AH/SD em uso no Brasil. De modo geral, os resultados indicaram que,
apesar da maior parte delas serem amplamente utilizadas no processo de identificação do
fenômeno, tais escalas não apresentam estudos em número suficiente, voltados à inves-
tigação das suas qualidades psicométricas. A maioria se encontra em fase de estudos ini-
ciais relacionados à construção, tradução ou adaptação de seus itens, algumas avançando
somente até a análise feita por especialistas.
Importante lacuna é encontrada em relação a existência de estudos indicando a exis-
tência de refinamento posterior de suas qualidades psicométricas, especialmente diferentes
fontes de evidências de validade, precisão e normatização. Essa amplitude de investiga-
ções se mostra importante tanto em relação aos instrumentos nacionais quanto internacio-
nais sendo que, no caso destes últimos, há a necessidade de condução de estudos para
verificar a sua adequação à população brasileira.
Apesar da relevância dos dados aqui apresentados, recomenda-se que tais resulta-
dos sejam interpretados com cautela dadas as limitações provenientes das decisões toma-
das durante a busca do material analisado. A primeira delas se refere a possibilidade de que
outros estudos com as escalas já tenham sido desenvolvidos e seus resultados estejam,
por exemplo, submetidos para avaliação em revistas científicas ou já aceitos, aguardando
a publicação, e, portanto, ainda não divulgados. Outra limitação envolve a exclusão de
estudos que podem ter sido desenvolvidos sob a forma de dissertações e teses, as quais
não foram incluídas na presente análise, e, assim, podem não ter sido localizados na busca
realizada. Sobre este aspecto, se faz relevante reforçar a responsabilidade dos pesquisa-
dores na comunicação dos resultados de seus estudos, esperando-se, por exemplo, que
tal comunicação seja feita sob a forma de artigos, bem mais acessíveis, de modo que o
conhecimento derivado possa, efetivamente, contribuir para o crescimento da área.
Por fim, convém destacar a existência de tradições diferenciadas entre a área da
Educação e Psicologia. Esta última conta com um Conselho Federal que controla o rigor e
qualidade dos instrumentos que são utilizados na prática profissional, exigindo que as qua-
lidades psicométricas dos instrumentos sejam investigadas antes da sua disponibilização.
No entanto, tal prática não é obrigatória quanto se trata de instrumentos considerados não
psicológicos, como é o caso das escalas de rastreio. No caso das AH/SD, a maior parte
das escalas se constituem nesse formato, servindo com o propósito de serem ferramentas
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