Art v4 VIII
Art v4 VIII
Art v4 VIII
RESUMO
∗
Graduada em Direito pela Faculdade de Direito do CESMAC – Centro de Estudos Superiores de Maceió
/ CCJUR – Centro Universitário de Ciências Jurídicas, Pós-Graduada em Direito Internacional pelo
Centro de Direito Internacional (CEDIN) e Faculdades Integradas Milton Campos e Pós-Graduanda em
Direito Constitucional UNISUL - IDP- REDE LFG.
ABSTRACT
1
Direito Internacional Privado (DIPr)
2
Em espanhol no original; tradução livre ao português: “[...] tradicional separação entre o DIP e DIPr.
Com efeito, mesmo que o DIP tratasse unicamente das relações entre Estados, o DIPr cobria as relações
entre pessoas de direito privado de distinta nacionalidade. Assim, parecia existir pouco espaço para
considerar fatores a essas categorias binárias”.
processo inexorável da globalização, da produção e da redireção de
capitais internacionais.
3
Retirado da Internet. Vide: Referências.
4
O autor refere-se ao Acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio, cujas siglas em inglês GATT significam:
General Agreement on Trade and Tariffs.
5
Siglas correspondentes à Organização Mundial do Comercio.
6
Retirado da Internet. Vide: Referências.
7
O bem econômico (que constitui o objeto de estudo da economia) é aquele cuja existência na natureza é
escassa ou que diretamente precisa ser produzido pelo homem.
8
Seria possível reconhecer na economia uma função terciária, sendo esta a de contribuir para que a
riqueza gerada seja distribuída de forma eqüitativa (não igualitária) entre a humanidade, fato este que a
história demonstra que ainda não aconteceu.
diversas ordens jurídicas em causa (direito nacional, com particular
destaque para as normas de Direito Internacional Privado), as regras
de Direito Internacional Público que regem essas relações, e ainda
uma “terceira ordem”, a lex mercatoria9. Vítima da summa divisio,
[...] o Direito Internacional Econômico tenderia a sofrer com a
dicotomia Direito Internacional Público e Direito Internacional
Privado (itálico no original).
Já, a terceira das correntes indicadas por Silva (2007) defende: “[...] a
autonomia do Direito Internacional Econômico face ao Direito Internacional Público,
invocando um conjunto de características que o tornariam distinto deste”.
As características as quais se refere Silva (2007) são:
- A predominância de regras emanadas de fontes convencionais, sendo escassas
as normas de Direito Internacional Econômico de origem consuetudinária. Neste
sentido, percebe-se que mesmo que o DIE carregue uma extensa história, a qual é
extensamente abordada por Albuquerque (2007), seus institutos são da ordem
consensual e não costumeira.
- O grau de interpenetração entre as normas de Direito Internacional
Econômico e as normas de direito interno seria superior ao encontrado no Direito
Internacional geral.
- A natureza técnica e interdisciplinar do Direito Internacional Econômico em
especial no que respeita ao papel da ciência econômica: “The subject of international
economic law is, to a large extent, steered by the subjects of economics”10.
Explicando a natureza do DIE, Paulo Pitta e Cunha (apud Silva, 2007), leciona
afirmando que “o que profundamente [...] caracteriza [o Direito Internacional
9
Ana Paula Martins Amaral salienta que a lex mercatoria seria um novo direito “anacional”, surgido no
seio da comunidade dos comerciantes internacionais, formado por usos e costumes internacionais,
jurisprudência arbitral e contratos tipos. A existência de uma nova lex mercatoria, entendida como um
direito autônomo, independente das legislações nacionais, e nascido dos usos e costumes internacionais é
defendida por eminentes doutrinadores como Berthold Goldman, Philippe Khanm, Philippe Francescakis
e Clive M. Schimitthoff, e, na doutrina pátria, por Irineu Strenger e José Alexandre Tavares Guerreiro.
(paper retirado do site <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6261>. Acesso: 3 dez. 2007).
10
Palavras proferidas por John Jackson, citado por Silva (2007). Tradução livre do pensamento de
Jackson: “ O assunto da lei econômica internacional é uma grande extensão dos assuntos dirigidos pela
economia”.
Econômico] é a sua natureza interdisciplinar, a conjugação, no próprio cerne da sua
formação, da ciência jurídica e da ciência econômica, a qual, só por si, o torna
insusceptível de subsunção a uma disciplina integrada na estrita árvore jurídica”.
Pitta e Cunha (apud Silva, 2007) concluem sua explanação afirmando mais
adiante que: “[...] o que parece conferir especificidade ao Direito Internacional
Econômico é a visão da ordem econômica internacional, são os conceitos de
interdependência e cooperação que lhe estão subjacentes”.
A análise das três correntes que se referem à natureza do Direito Internacional
Econômico acima expostas indica que a terceira destas introduz a interdisciplinaridade
para abordar o DIE, sendo esta uma metodologia que atualmente adquire grande
relevância em todas as áreas do conhecimento em razão das possibilidades de
compreensão que oferece a vinculação de distintos campos do saber para definir um
conceito ou para entender um acontecimento (ALVES; BRASILEIRO; BRITO, 2004).
As autoras explanam citando Japiassú (1976), para quem a:
Fechando seu conceito, Japiassú (1976 apud Alves; Brasileiro; Brito, 2004, p
141):
Na mesma direção que indica o autor citado, observa-se que tanto o método da
tarefa quanto a reflexão interdisciplinar facilitam resolver a autonomia do DIE mesmo
que no seu seio concentre muitos institutos do DIP e do DIPr, pois admite categorizar
como influências as similitudes daquele com cada um dos direitos mencionados sem
que por isso deva ser considerado um apêndice de um ou do outro; também a
interdisciplinaridade permite explicar a relação da economia com o DIE, e por último,
outra contribuição deste enfoque é que reduz a tensão dialética11 entre Direito
Internacional Público e Direito Internacional Privado.
O autor indica que o decisivo passo para a formalização dessa Ordem foi dado
mediante a criação do GATT (General Agreement on Tariffs and Trades) - Acordo
Geral sobre Tarifas e Comércio, assinado em Genebra, em 1947. A “Rodada do
Uruguai”, em 1994, determinou a extinção do GATT, criando-se a Organização
Mundial do Comércio (OMC) (World Trade Organization - WTO) (SILVA NETO,
2002).
Considerando a relevância que adquiriu o GATT na estruturação da Ordem
Econômica Internacional, Marques (2005) apresenta sua evolução, desde o início até a
sua extinção, quando foi substituído pela OMC, conforme se observa no Quadro 1.
11
Silva (2007) se vale da expressão “dicotomia” para se referir à tensão entre DIP e DIPr no seio do DIE;
no entanto, é possível perceber uma relação dialética (de opostos) onde a tensão não se resolve de forma
que uma norma que pertence ao DIP é seguida por outra sob domínio do DIPr, comportamento este que
definiria a dicotomia. Segundo a primeira das três correntes que o autor expõe para explicar a natureza do
DIE se trata da pressão conceitual exercida por ambos os direitos para categorizar como sendo de um ou
de outro o maior número de normas, desta forma se manifesta a vinculação dialética percebida e que
exclui a possibilidade de contextualizar a tensão como sendo dicotômica.
Quadro 1 – Evolução do GATT
Fonte: Marques (2005) em base a dados da World Trade Organization (WTO) ou Organização Mundial
do Comercio (OMC).
A partir da sua criação, o GATT se transformou em facilitador da coordenação
das políticas nacionais, em matéria de comércio internacional. De fato, de 1o de janeiro
de 1948 até a constituição e entrada em vigor da Organização Mundial do Comércio, em
1o de Janeiro de 1995, o GATT estabeleceu as normas básicas para o comércio
internacional, tratando, num primeiro instante tão somente das barreiras tarifárias e, a
seguir, de temas como: barreiras não-tarifárias, dumping, subsídios, medidas
compensatórias, serviços e propriedade intelectual.
A reflexão de Albuquerque (2007, p. 43) contribui a compreender as
possibilidades de atuação do GATT ao longo da sua vigência:
12
NAFTA: North American Free Trade Agreement. É um tratado de integração do qual são parte os
Estados Unidos de América, o Canadá e o México.
13
Área de Livre Comércio das Américas. Segundo dados do ano 1999, a economia da região
movimentava aproximadamente US$ 10 trilhões em Produto Interno Bruto (PIB) e agregava uma
população de mais de 800 milhões de pessoas. O objetivo desse tratado é eliminar progressivamente as
barreiras ao comércio e ao investimento e concluir as negociações até o ano de 2005, o que não
aconteceu. Pelo menos 85% dos produtos e serviços transacionados na região deveriam estar isentos de
impostos e outras barreiras para que seja configurada a área de livre comércio. Cada país ou bloco
econômico estabeleceria sua alíquota de importação para países de fora da ALCA.
14
Referimos-nos as dificuldades para concorrer no mercado dos Estados Unidos com bens e serviços
produzidos pelo seu mercado interno.
15
Essa é outra motivação forte para explicar a rejeição dos países americanos a se integrar à ALCA, pois
os Estados Unidos além da sua situação de primeira potência dispõe de um amplo repertório de medidas
de proteção do seu mercado interno. A análise da sua política comercial, e das assimetrias comerciais
decorrentes constitui uma abordagem que excede as possibilidades deste estudo.
16
Via Rápida.
A palavra “dumping17” é o termo com que se representa a prática comercial
(muitos a consideram desleal) de comercializar produtos18 (sejam bens ou serviços) com
preços de venda inferiores ao seu custo. Essa conduta é comum nos mercados
internacionais onde quem realiza dumping é o exportador. Mas, para que uma empresa
realize essa ação, devem registrar-se simultaneamente certos fatores. A seguir serão
desenvolvidos.
Willig (1998 apud Schmidt; Sousa; Lima, 2002, p. 4) afirma que há dois tipos
de dumping: não monopolista e monopolista. Conforme o autor, o primeiro tipo de:
No segundo caso, Willig (1998 apud Schmidt; Sousa; Lima, 2002, p. 4) afirma
que:
17
Dumping é uma palavra de origem inglesa que não tem encontrado tradução nas línguas latinas, sendo
incorporada, em sua grafia original, ao vocabulário de inúmeros idiomas, dentre os quais o português é
um deles.
O Black’s Law Dictionary (dicionário de termos de direito dos Estados Unidos) define dumping como “o
ato de vender grandes quantidades a um preço muito abaixo ou praticamente sem considerar o preço;
também, vender mercadorias no exterior por menos que o preço do mercado doméstico”.
18
Na economia e na ciência da administração produto é todo bem ou serviço objeto de troca, por isso este
não deve ser associado somente com bens tangíveis.
precisa que não exista contato19 entre seu mercado local e o mercado no qual vende
abaixo do custo.
Por vezes, de forma excepcional, a venda por baixo do custo é realizada no
mercado local da empresa que pratica o dumping no mercado externo, conduta que
responde a questões da ordem financeira (necessidade de financiamento frente a sérias
dificuldades para conseguir créditos), mas sempre é de caráter temporário (MARTINS,
2007).
Jardim20 (2004) em um paper destinado a abordar a questão do dumping indica
que este:
Ampliando seu interesse pelo tema em discussão, Jardim (2004) afirma que
assim como todas:
Schmidt; Sousa; Lima (2002, p. 8) indicam que existe uma forma de dumping
estatal, e que este ocorre:
19
Esse é um princípio da economia: quando se vende abaixo do custo, os mercados nos quais a empresa
atua devem “ignorar” o que passa nos outros, pois se fosse ao invés, que um mercado tivera informação
do que ocorre no outro, os compradores a preços mais altos reclamariam descontos até igualar aos preços
baixos. Por isso, o dumping sempre ocorre em mercados exteriores ao do país de origem do exportador.
Outra condição pela qual se pratica dumping é que no mercado local o volume de vendas permite
recuperar os custos fixos totais da empresa que se encontram embutidos no preço de venda; para vender
ao exterior retira o valor dos custos fixos já recuperados com as vendas locais e exporta só considerando
para a fixação do preço os custos diretos: matéria prima e mão de obra direta. Para incrementar a
compreensão do dumping como resultado do gerenciamento dos custos, se recomenda a leitura de:
LEONE, G. S. G. Custos: planejamento, implantação e controle. São Paulo: Atlas, 2000; SILVA
JUNIOR, J. B. da. Custos: ferramenta de gestão. São Paulo: Atlas, 2000.
20
Retirado da Internet. Vide: Referências.
[...] quando uma empresa estatal de um país que de moeda não
conversível exporta bens com o objetivo de ter acesso a uma divisa
forte. Neste caso, como os preços no país de origem (cotados na
moeda não conversível) não podem ser comparados com os preços de
exportação (cotados na moeda conversível), seja porque não há taxa
de câmbio, seja porque os preços do país de origem não são ditados
pelas regras do mercado, a constatação do dumping pode ser feita
comparando-se com a venda do produto em questão em uma outra
região ou até mesmo por um custo cheio estimado.
Em relação aos subsídios, Rego21 (2007) indica que estes estão especificamente
normatizados pela Organização Mundial do Comércio através de disposições complexas
que integram o Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias (Agreement on
Subsidies and Countervailing Measures - ASCM) e no Acordo sobre Agricultura (AA).
Conforme explica Rego (2007, p. 5) subsídio, nos termos do ASCM é:
21
Retirado da Internet. Vide: Referências.
• transferência direta de fundos (ex.: doações, empréstimos, aportes de
capital) ou transferência potencial de fundos ou obrigações (ex.:
garantia de empréstimos);
• renúncia de receitas (ex.: incentivos fiscais);
• fornecimento e/ou compra de bens ou serviços.
[...] uma empresa recebe subsídios ela reduz os preços cobrados pelas
suas mercadorias e assim ela ganha mercados de outras empresas que
não tiveram o mesmo privilégio de serem subsidiadas;
Isso fere o jogo do mercado e confere uma vantagem injusta a uma
empresa face as concorrentes, e aos países ricos faces aos países
pobres;
Por isso o direito da OMC regula e limita o tipo e quantidade de
subsídios que podem ser oferecidos de acordo com o seu efeito
distorcivo sobre o mercado (negrito no original).
Finalmente, segundo Albuquerque (2007) os subsídios são classificados em
três categorias:
- Subsídios Permitidos: aqueles direcionados a atividades de pesquisa, para
programas de desenvolvimento regional ou para adaptações decorrentes de legislação
ambiental, também se incluem a cláusula “de minimis” que consiste na permissão da
manutenção de políticas de dumping, preferenciais e de subsídios, desde que não
ultrapassem um determinado valor máximo (nível de minimis), considerado o limite
necessário para manter a competitividade. O nível em questão, para os países
enquadrados nesta cláusula é de até 5% do valor da produção (10% para países em
desenvolvimento);
- Subsídios proibidos: aqueles relacionados de fato ou de direito ao
desempenho exportador, também subsídios relacionados de fato ou de direito com o uso
preferencial de produtos nacionais, prejudicando os produtos estrangeiros;
- Subsídios acionáveis: são aqueles que nem sendo permitidos ou proibidos
causam dano a outros membros, tais como a indústria nacional, anulam ou prejudicam
vantagens admitidas pela OMC ou causam dano diretamente aos interesses de outro
membro.
Silva (2005, p. 47) ressalta que tanto as medidas Antidumping como o ASCM:
2.3.1 Antidumping
Sendo o dumping uma prática inserida na realidade econômica internacional, a
seguir serão analisadas as medidas tendentes para preveni-lo. Di Sena Jr.22 (2000) indica
que a natureza das medidas provocou inúmeras discussões, sendo que atualmente a
questão é considerada:
[...] sob três pontos de vista, a saber: as que lhe atribuem a natureza de
tributo; as que as definem como uma típica sanção decorrente da
prática de um ato ilícito; e as que lhe atribuem natureza de norma de
acesso ao mercado interno de um dado país.
Di Sena Jr. (2000) incrementa sua explanação indicando que os dois últimos
pontos de vista estão internacionalmente superados e as medidas são conhecidas como
“antidumping duties”, expressão que da idéia de imposto ou tarifa, o que determina de
forma incontestável sua natureza tributária.
O autor indica que no Brasil, conforme o art. 3° do Código Tributário
Nacional23, in verbis: “Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou
cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em
lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada” (grifo nosso), as
medidas antidumping não podem ser consideradas de natureza tributária (DI SENA JR,
2000).
No entanto, são dois os eixos que devem ser ponderados ao se discutir a
natureza das medidas antidumping: a) se pertencem à esfera do Direito Internacional
Econômico e, b) se no caso do Brasil, não sendo possível enquadrá-las na esfera
tributária, poder-se-iam considerar coercitivas.
Não primeiro caso, não há dúvida que as medidas antidumping pertencem ao
âmbito do Direito Internacional Econômico, desde que têm origem no GATT. No
segundo caso, não se observam possibilidades de enquadrar no Brasil as medidas
antidumping em sentido diferente ao de proteção; isto vem a ser confirmado por
Schmidt; Sousa; Lima (2002, p. 9), já que para estes autores as:
22
Retirado da Internet. Vide: Referências.
23
BRASIL. Lei 5.179 de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui
normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios.
antidumping estão dispostas no decreto 1.602, de 23 de agosto de
1995. Para a aplicação desta medida é necessário provar a existência
de: (i) dumping, (ii) dano à indústria doméstica e (iii) nexo de
causalidade. (Itálico no original, grifo nosso).
Após sua privatização, no início dos anos 90, a Embraer tornou-se uma
empresa mais competitiva, em condições de enfrentar, com apoio do governo brasileiro,
às grandes companhias do setor, particularmente aquelas atuantes no mercado de aviões
de médio porte. Recebeu incentivos através do programa de exportações denominado
PROEX24, o que permitiu que triunfasse em uma concorrência internacional para a
venda de aviões a empresas dos Estados Unidos. “A grande derrotada nessa
concorrência foi a Bombardier (Canadá), detentora na ocasião de mais de 50% do
mercado mundial dessas aeronaves de porte médio” (CELLI25 Jr., 2007).
A cifra da concorrência ascendia a US$ 4 bilhões de dólares, valor este que
impulsionou à empresa derrotada pressionar o governo canadense para que junto com o
governo do Brasil investigassem a existência, conforme alegação da Bombardier, de
subsídios governamentais do tipo “apoio à exportação”. O governo brasileiro negou que
tivesse concedido qualquer forma de subsídio contrária às regras da OMC, previstas no
Acordo de Subsídios e Medidas Compensatórias (CELLI Jr., 2007).
Basicamente, o eixo da argumentação canadense foi que o PROEX constituía
um subsídio vedado pelo ASCM26, já que funcionava como um indisfarçável e direto
incentivo às exportações da Embraer. O Canadá insistiu afirmando que mesmo havendo
no ASCM previsão para tratamento especial a países emergentes, de forma que em
algumas situações, tais países adotem instrumentos de políticas de desenvolvimento, o
Brasil: “[...] na visão canadense, não poderia se beneficiar desse mecanismo, pois havia
concedido subvenção de valor expressivo, isto é, muito superior ao limite normalmente
aceitável” (CELLI JR., 2007).
O autor explica a linha argumentativa do Brasil, afirmando que este, na sua
defesa:
24
Programa de financiamento às Exportações (PROEX). Foi criado pelo governo federal em 1991 com o
objetivo de proporcionar às exportações brasileiras condições de financiamento equivalentes às do
mercado internacional. O programa apóia a exportação de bens e de serviços, como, por exemplo,
serviços de engenharia. Os bens financiáveis são os listados no anexo à Portaria do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) nº 58, de 10 de abril de 2002, além de serviços
de instalação, montagem e funcionamento, no exterior, de máquinas e equipamentos de fabricação
nacional. (informação retirada do site < http://www.exporta.sp.gov.br/2004/pages/popPasso.asp?id=16>.
Acesso: 17 dez. 2007)
25
Retirado da Internet. Vide: Referências.
26
Acordo de Subsídios e Medidas Compensatórias (ASCM pelas siglas em inglês). Vide: página 18, item
2.2.
[...] não contestou se tratar o Proex de um tipo de subsídio. Um
subsídio, porém, perfeitamente de acordo com o ASCM para um país
em desenvolvimento. Em linhas gerais, o Proex consistia em um
programa de equalização das taxas de juros cobradas por instituições
financeiras internacionais em contratos de financiamento à importação
de produtos de países emergentes, em virtude de seus riscos e
instabilidades políticas e econômicas (CELLI JR., 2007).
Do exposto por Celli Jr. (2007) se entende que as empresas que importam
produtos cuja procedência advenha de países do primeiro mundo, por exemplo - a
Suécia -, beneficiam-se com a obtenção de financiamento internacional pagando uma
taxa de juros muito menor que aquela com a qual se remuneram financiamentos de
importações originadas no Brasil, face ao denominado “risco país”.
Para a OMC o subsídio do Proex era inconsistente com o ASCM, isto é,
tratava-se de subsídio ilegal em face dos dispositivos do ASCM. O Brasil recorreu ao
Órgão de Apelação, o qual, essencialmente, ratificou o que já tinha sido disposto. O
Brasil teria, portanto, de retirar os subsídios concedidos via PROEX, sob pena de que o
governo canadense fosse autorizado a adotar medidas compensatórias contra o Brasil
(CELLI JR., 2007).
Como o País não podia descumprir os contratos com as instituições financeiras
internacionais, e uma nova versão do PROEX não foi aceita pela OMC, finalmente o
Canadá ficou autorizado a adotar medidas compensatórias por um valor aproximado a
US$ 3,6 bilhões de dólares sendo escolhido o setor têxtil para aplicar as medidas
elevando suas tarifas de importação sobre produtos oriundos daquela indústria (CELLI
JR., 2007).
Mas, o que tornou este caso em um tema de interesse foi o fato que o Canadá,
ao mesmo tempo em que lutava na OMC contra o Brasil pelo PROEX, incentivava à
Bombardier com repasses de recursos através de:
29
Retirado da Internet. Vide: Referências.
As motivações da notícia acima transcrita foram antecipadas e explicadas
quase seis anos antes por Azevêdo30 (2001) afirmando o autor que em todos os países:
30
Retirado da Internet. Vide: Referências. O autor é Diplomata da Missão do Brasil em Genebra e
encarregado de solução de controvérsias na Organização Mundial do Comércio (OMC).
31
Azevêdo utiliza a palavra spillover para se referir a efeito.
32
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma organização
internacional e intergovernamental que agrupa os países mais industrializados da economia do mercado.
Tem sua sede em Paris, França. Na OCDE, os representantes dos países membros se reúnem para trocar
informações e definir políticas com o objetivo de maximizar o crescimento econômico e o
desenvolvimento dos países membros (informação retirada da internet: <
http://www.cgu.gov.br/ocde/sobre/index.asp>. Acesso: 9 dez. 2007).
33
O autor utiliza o termo virtual para identificar uma situação irreal, ou seja, o mercado ao que se refere o
Órgão de Apelação não é o mesmo que visualizaram os integrantes do painel que entendeu no caso do
PROEX brasileiro.
mercado se encontra nas taxas de juros aplicados nos financiamentos e nos prazos dos
mesmos (no mercado real as taxas são mais baixas e prazos mais longos).
O autor refere que o painel da OMC: “[...] insistiu em deliberar sobre as bases
de seu mercado virtual, de maneira a obviar as dificuldades de determinar os contornos
de um mercado que, justamente por ser real, é mais elusivo” (AZEVEDO, 2001).
O painel da OMC parece sugerir que o Brasil imediatamente passe a seguir as
normas da OCDE e, ao mesmo tempo, combata as iniciativas contrárias ao mercado
virtual, esse que é bem diferente do mercado real. Está claro que a evolução na
jurisprudência da OMC levará anos e poderá mesmo desenvolver-se em sentido diverso
do pretendido pelo painel. Durante esse processo, a Embraer estaria forçada a operar e
sobreviver em um mercado com regras que lhe serão amplamente desfavoráveis
(AZEVÊDO, 2001).
A seguir, a Tabela 1 permite compreender, através da observação do ranking
das maiores economias do mundo, (ano 2005), o grau de compromisso presente e futuro
que tem o Brasil em relação à defesa dos seus interesses econômicos e comerciais,
sendo possível confirmar as idéias de Azevêdo em relação ao contexto externo no qual
deverá se desenvolver o setor privado do País e da necessidade de uma diplomacia
econômica capacitada para livrar duras batalhas comerciais nos organismos
internacionais.
Tabela 1 – Maiores economias do mundo – Ano 2005.
(em milhões de US$ internacionais)
País PIB(a) % do mundo
1 EUA 12.409.465 20,3%
2 China 8.572.666 14,1%
3 Japão 3.943.754 6,5%
4 Índia 3.815.553 6,3%
5 Alemanha 2.417.537 4,0%
6 Reino Unido 1.926.809 3,2%
7 França 1.829.559 3,0%
8 Itália 1.667.753 2,7%
9 Brasil 1.627.262 2,7%
10 Rússia 1.559.934 2,6%
11 Espanha 1.133.539 1,9%
12 Canadá 1.061.236 1,7%
Fonte: BRASIL. Ministério da Fazenda, Secretaria de Política Econômica em base a dados do IBGE e do
Banco Mundial. (a) PIB: Produto Bruto Interno.
Na Tabela 1 pode-se observar que o País tem uma economia que por seu
tamanho se encontra entre as dez maiores do planeta, ainda por acima da Rússia, da
Espanha e do Canadá, em um ranking no qual os cinco primeiros países são
responsáveis pela metade do PIB mundial, ou seja, a metade de toda a riqueza que se
gera no mundo. O Brasil, na opinião de diversos economistas34, tem vantagens
comparativas singulares: superfície territorial de características continentais, recursos
naturais, amplo mercado doméstico, facilidade em absorver e adaptar tecnologias do
exterior e um setor empresarial sofisticado e com grande capacidade de inovação
(COFECON, 2007).
Determinados indicadores prestigiosos, tais como o que mede a
Competitividade Global, o Doing Business35, que examina as condições mais ou menos
favoráveis para a realização de negócios36 e o da Percepção da Corrupção37, ainda são
desfavoráveis para o Brasil (COFECON, 2007). No entanto, mesmo que admitindo a
realidade descrita pelo Conselho Federal de Economia nem por isso o País perde o
interesse dos investidores, o problema é que tudo lhe resulta mais custoso, como indica
o mesmo paper.
Desta forma, a análise desenvolvida em torno à controvérsia (vigente) Embraer
– Bombardier permite verificar que se trata talvez da mais importante atuação do Brasil
na OMC, tanto pela natureza dos interesses presentes e futuros em jogo, como pelo
caráter paradoxal da mesma, tendo pela frente um rival comercial que reclama por
incorreções e as comete ao mesmo tempo.
34
Sintetizadas por Luiz Machado através do Conselho Federal de Economia. (sugere-se consultar:
http://www.cofecon.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1147&Itemid=114 >.
Acesso: 10 dez. 2007)
35
Tradução ao português: fazendo negócios.
36
Publicado pelo Banco Mundial.
37
Publicado pela Transparency International, uma ONG cuja secretaria geral é sediada em Berlim.
CONCLUSÃO
SCHMIDT, Cristiane Alkmin Junqueira; SOUSA, Isabel Ramos de; LIMA, Marcos
André M. de. Tipologias de Dumping. Ministério da Fazenda, Secretaria de Estado de
Acompanhamento Econômico (SEAE). Brasília, agosto de 2002.