1430239
1430239
1430239
Acórdão Nº 1430239
EMENTA
1. Trata-se de apelação contra sentença que declarou liquidado o julgado, com base no laudo pericial
que constatou a ausência de valores a receber, e extinguiu o processo com resolução de mérito.
4. Nos termos do art. 85, § 3º, do Código de Processo Civil, os honorários advocatícios devem ter
como parâmetro os critérios estabelecidos no § 2º – quais sejam, o grau de zelo profissional, o lugar da
prestação do serviço, a natureza e a importância da causa e o trabalho realizado pelo advogado, bem
como o tempo exigido para o seu serviço.
RELATÓRIO
Trata-se de apelação interposta por ANGELA MARIA SOARES E OUTROS contra sentença (ID
34196009) da 10ª Vara Cível de Brasília que, na liquidação provisória de sentença coletiva, ajuizada
em desfavor do BANCO DO BRASIL S.A., declarou liquidado o julgado, com base no laudo pericial
que constatou a ausência de valores a receber, e extinguiu o processo com resolução de mérito. Em
face da sucumbência, condenou a parte autora ao pagamento das custas e dos honorários advocatícios,
estes fixados em R$ 2.000,00 (dois mil reais).
Em suas razões (ID 34196011), buscam, inicialmente, a concessão da gratuidade de justiça, por não
possuírem condições de arcar com as custas processuais e honorários advocatícios sem prejuízo de sua
subsistência.
Sustentam que as partes não se opuseram às conclusões da perícia judicial e concordaram com os
cálculos apresentados, devendo ser afastada a condenação ao pagamento dos honorários advocatícios
de sucumbência. Argumentam que o Banco réu deu causa ao ajuizamento da ação ao descumprir a
ordem judicial oriunda da Ação Civil Pública n. 0008465-28.1994.4.01.3400, pois não informou os
interessados sobre os valores cobrados a maior.
Com tais argumentos, buscam a reforma da sentença para excluir a condenação ao pagamento de custas
processuais e de honorários de sucumbência, em virtude da ausência de litigiosidade. Subsidiariamente,
pleiteiam a redução dos honorários para R$ 200,00.
Sem contrarrazões.
É o relatório.
VOTOS
Inicialmente, impende consignar que a sentença foi publicada no DJe em 10/02/2022 e o apelo
interposto no dia08 /03/2022, sendo, portanto, tempestivo. Preparo regular, conforme ID 34956232.
Cuida-se de liquidação provisória de sentença coletiva proferida nos autos da ação civil pública n.
0008465-28.1994.4.01.3400, que tramitou junto à 3ª Vara da Justiça Federal do DF, em face do
BANCO DO BRASIL S.A.
A referida demanda foi proposta pelo Ministério Público Federal em desfavor da União, do Banco
Central e do Banco do Brasil, com o objetivo de afastar das operações de crédito rural a incidência do
IPC de 84,32%.
O Superior Tribunal de Justiça, confirmando a procedência dos pleitos autorais – já consignada pelo
juízo de primeiro grau – estabeleceu que “o índice de correção monetária aplicável às cédulas de
crédito rural, no mês de março de 1990, nos quais prevista a indexação aos índices da caderneta de
poupança, foi o BTN no percentual de 41,28%”.
Iniciada a liquidação individual na origem, foi determinada a realização de prova pericial, com
apresentação do laudo em ID 34195991. Em suas conclusões, o expertentendeu pela inexistência de
diferença a ser apurada para os contratos celebrados entre as partes.
Por conseguinte, foi proferida a r. sentença, por meio da qual a douta julgadora de origem declarou
liquidado o julgado, com base no laudo pericial que constatou a ausência de valores devidos, e
extinguiu o processo com resolução do mérito, na forma do art. 487, inciso I, do Código de Processo
Civil. Em face do princípio da causalidade, condenou a parte autora ao pagamento das custas
processuais e dos honorários de sucumbência, estes fixados no valor de R$ 2.000,00 (ID 34196008).
Do mérito.
De início, cumpre ressaltar que “a liquidação de sentença é fase, é procedimento, que se destina à
definição do quantum debeatur diante do an debeatur estabelecido na fase de conhecimento e da
necessidade de se fixar quantia certa para a deflagração do cumprimento de sentença” (APC
07272827020188070001, Des. Angelo Passareli, 5ª Turma Cível, TJDFT, DJe 21/8/2019).
Diante desse quadro, a divergência entre as partes quanto ao valor correto que irá embasar, ou não, a
deflagração do cumprimento de sentença é própria desta fase/procedimento.
Conforme se depreende do art. 85, § 1º, do CPC, inexiste previsão legal para arbitramento de
honorários de sucumbência no procedimento de liquidação de sentença. Vejamos:
(...)
2. Na hipótese, verifica-se que o entendimento adotado pelo acórdão recorrido encontra-se de acordo
com a atual jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que define que a fixação de honorários
sucumbenciais na fase de liquidação de sentença não é a regra, mas sim uma exceção, a ser verificada
quando, nessa fase, estiver configurada uma litigiosidade entre as partes capaz de prolongar a atuação
contenciosa dos patronos das partes. Precedentes: AgInt nos EDcl no AREsp 1.420.633/GO, Rel.
Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, DJe 12/02/2021; AgInt no AREsp 1.575.882/SP,
Rel. Ministro Ricardo Villas Boas Cueva, Terceira Turma, DJe 27/04/2020; AgInt no AREsp
1419045/PR, Rel. Ministro Ricardo Villas Boas Cueva, Terceira Turma, DJe 12/09/2019.
(...)
3. Na espécie, o caráter litigioso da liquidação foi reconhecido pelo eg. Tribunal de Justiça,
justificando-se a condenação do recorrente ao pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais,
os quais são majorados no julgamento deste recurso, nos termos do art. 85, § 11, do Código
Processual.
(AgInt no REsp 1900842/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em
05/10/2021, DJe 11/10/2021)
(...)
1. O Código de Processo Civil, em seu artigo 85 §1º, dispõe sobre a condenação em honorários
advocatícios estabelecendo as hipóteses em que será devida a sua fixação excluindo desse rol a
Liquidação de Sentença. 1.1. Contudo, em situações excepcionais, a jurisprudência admite a sua
incidência nas hipóteses em que for constatada a litigiosidade da demanda, o que não ocorreu na
situação em tela. Precedentes.
2. No caso em tela, em que pese os argumentos aviados pelo Agravado, na resposta ao pedido de
liquidação de sentença, assim como a existência de perícia contábil, tais circunstâncias, por si só, não
caracterizam a litigiosidade apta a fundamentar a fixação de honorários advocatícios.
(...)
4. São devidos honorários de sucumbência na liquidação de sentença quando esta assume caráter
nitidamente litigioso.
(...)
2. Em que pese a norma não tenha inserido a liquidação de sentença dentro das hipóteses em que a
verba honorária é devida, a jurisprudência do c. Superior Tribunal de Justiça, corroborada pela deste
eg. TJDFT, possui entendimento consolidado no sentido de que é cabível a condenação em honorários
na liquidação de sentença, de forma excepcional, apenas quando ela assume nítido caráter de
litigiosidade. Precedentes do c. STJ e do eg. TJDFT.
3. Uma vez que não constatado tenha havido nítido caráter contencioso no feito, com atuação
prolongada dos patronos das partes, inexiste motivo para a fixação excepcional de honorários
sucumbenciais em sede de liquidação de sentença.
Na hipótese dos autos, trata-se de liquidação provisória de sentença coletiva, ajuizada em 29/10/2020,
em que os autores alegavam fazer jus à devolução do percentual cobrado a maior nas operações de
crédito rural, nos termos da ACP n. 0008465-28.1994.4.01.3400. Citado, o Banco réu apresentou
contestação em ID 34195925, alegando preliminares de ausência de interesse de agir e incompetência
do juízo, bem como defendeu a existência de litisconsórcio passivo necessário com a União e o
BACEN e requereu a realização de perícia contábil, entre outros argumentos (ID 34195925).
Como visto, o expertdo juízo entendeu pela ausência de diferenças a pagar, sem que houvesse
impugnação das partes, levando à extinção do feito com resolução do mérito, em 08/02/2022.
Denota-se, portanto, a litigiosidade capaz de prolongar a atuação contenciosa dos patronos. Além do
trâmite processual de aproximadamente dois anos, observa-se que, em réplica, os autores insistiram no
prosseguimento da demanda, levando à nomeação de perito contábil e à elaboração do respectivo
laudo, concluindo pela inexistência de valores a pagar.
No tocante às alegações dos apelantes no sentido de que a instituição financeira deu causa ao
ajuizamento da demanda, por não ter apresentado os “relatórios XER 712”, observa-se a resposta do
perito judicial (ID 34195991):
02) Poderia o Ilmo. Perito informar se o Banco Réu juntou as microfilmagens da época,
correspondentes aos slips/relatórios XER 712 requeridos na inicial, bem como, cópia da Cédula de
Crédito Rural objeto da presente demanda?
Resposta: Não foram encontrados tais documentos nos autos juntados pelo réu. Foram anexados os
Demonstrativos de Conta Vinculada que dão substrato material para os achados periciais.
Ademais, consoante destacado na r. sentença, os contratos dos autores JOSÉ ANTÔNIO e WALTER
EVANGELISTA foram liquidados anteriormente a março de 1990 e o contrato de ÂNGELA MARIA
não havia sido adimplido. In verbis (ID 34195991):
3.4.1. Constata-se que as operações de crédito 87/40320-X contratadas por José Antônio Ermínio
Afonso e 87/60007-2, 87/60009-9 adquiridas pelo autor Walter Evangelista dos Santos foram
liquidadas em 11/08/1987, ou seja, anterior a março/1990.
(...)
3.6. Assim, a respectiva tabela citada acima reproduz o contrato na íntegra (dados extraídos dos
autos). Todavia, não há correção para o março/1990 e abril/1990, logo, sem apuração de diferença de
índices, conforme demonstrado na tabela anexa “1 - Apuração de Valores - Contrato 87/40096-0”, em
virtude do mesmo encontrar-se em inadimplemento, com transferência do valor devido para a
operação 90/00023-4, bem como o não atendimento ao ERESP 1319232 / DF, ou seja, inexistem
valores pagos (amortizado) por parte do autor. 3.6.1. Sendo assim, extrai-se da tabela anexa “1 -
Apuração de Valores - Contrato 87/40096-0 que o referido contrato não contou com a indexação aos
índices da caderneta de poupança. Posto isto, não há saldo pago a maior para o contrato entabulado
entre as partes.
Nesse contexto, também pelo princípio da causalidade, é correta a responsabilização dos autores pelo
ônus sucumbencial.
Por fim, nos termos do art. 85, § 3º, do Código de Processo Civil, os honorários advocatícios devem
ter como parâmetro os critérios estabelecidos no § 2º – quais sejam, o grau de zelo profissional, o
lugar da prestação do serviço, a natureza e a importância da causa e o trabalho realizado pelo
advogado, bem como o tempo exigido para o seu serviço.
Em virtude da sucumbência recursal, majoro os honorários recursais devidos pelos apelantes para R$
2.300,00.
É como voto.
DECISÃO