Caixa de Desejos - Material Do Professor

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MANUAL DO PROFESSOR

caixa
de desejos

Elaborado por:

LAURA FOLGUEIRA
Pesquisadora e tradutora, mestre em Letras e
Estudos da Tradução pela USP.
sumário

Dados técnicos da obra 4


Sobre a autora 5
O livro 6
As leituras de Marília 7
O romance infantojuvenil 9
A pré-adolescência 9
Atividades 12
Pré-leitura 12
Pós-leitura 14
Fontes consultadas 16
Sugestões de leitura relacionadas 16
CAIXA DE DESEJOS
Ana Cristina Melo

Tema: Família, amigos e escola.

Gênero: Romance.

Recomendação: Categoria 1 – Alunos do 6o ao 7o ano


do Ensino Fundamental.
Temas transversais: Autoconhecimento, sentimentos e emoções;
encontros com a diferença.

104 páginas

4
ANA CRISTINA MELO

Autora de mais de uma dezena de livros infantis, juve-


nis e adultos, a autora, nascida no Rio de Janeiro, formou-
-se, originalmente, em Informática, passando a trabalhar
como analista de sistemas. Seu amor pela literatura falou
mais alto, e ela começou a escrever e publicar em coletâ-
neas. Hoje, além de continuar se dedicando à escrita, é co-
ordenadora da Editora Bambolê, especializada em livros
infantojuvenis. Trafegando entre gêneros e públicos-alvo,
entre seus títulos publicados estão o infantil Uma turma
para Dora (2011), o romance jovem adulto Delta: um co-
mando para o tempo (2016) e o livro de contos para adultos
e jovens Segunda pele (2017). Depois de Caixa de desejos,
a escritora publicou a sequência De volta à caixa de dese-
jos (Tordesilhas, 2014). Durante sua carreira, Ana Cristina
Melo ganhou diversos prêmios literários, como o Prêmio
Sesc de Contos (SESC/DF).

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O LIVRO

Caixa de desejos se apresenta como um livro atraente


para os jovens leitores – tanto aqueles que já começaram
seu caminho de descobrimento da literatura quanto aque-
les que precisam ser estimulados. Na intenção de criar
diálogos e cenas verossímeis à idade da protagonista (11
anos), Ana Cristina Melo mantém a linguagem, muitas ve-
zes, informal e direta, mas, ao mesmo tempo, respeitando
normas e formas, algo importante para o ensino dos leito-
res que começam a ter contato com narrativas mais longas.
A história contada por Ana Cristina Melo é relativa-
mente simples: a garota Marília narra, em primeira pessoa,
as mudanças que têm experimentado em sua vida depois
da morte da avó Laurinda, por quem tinha especial afeição
e de quem sente muita falta. É dela que a menina ganha o
presente que dá título à obra, uma misteriosa caixa em que
deve escrever e colocar todos os seus desejos.
Entre as mudanças com que a pré-adolescente precisa
lidar, a maior diz respeito à composição familiar – tema
que será facilmente reconhecido pela maioria dos jovens
leitores. Marília tem uma meia-irmã que vai morar com
ela, além de parentes próximos e distantes, com relaciona-
mentos conflitantes, que vivem em sua casa. Como lidar
com tudo isso? Ao mesmo tempo, há mudanças também
na escola: Marília sofre com o bullying das garotas e tem di-
ficuldade para fazer amizades; é ótima aluna, mas descobre

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pela primeira vez como pode ser desafiador dedicar-se não
só às leituras e estudos, mas também a seu primeiro amor.
Ela começa, ainda, a questionar o que gostaria de fazer da
vida, já que tem um sentimento especial pelos livros [veja
boxe “As leituras de Marília”] e está descobrindo que não
quer apenas lê-los, mas também escrever.

AS LEITURAS DE MARÍLIA
Em A caixa de desejos, os livros são uma porta de entra-
da para o prazer da leitura, mas também para o sonho da
protagonista: ser escritora. E os livros escolhidos para figurar
nessa história são especiais: quase todos, hoje, se colocam
como clássicos da literatura infantojuvenil brasileira.
Um dos autores por quem Marília e sua irmã, Francine,
compartilham um amor é Monteiro Lobato. Nascido em
Taubaté em 1882, Lobato escreveu no início do século XX,
criando histórias clássicas como a série do Sítio do Pica-
-Pau Amarelo. Em A chave do tamanho, de 1942, perso-
nagens como Dona Benta, Narizinho e Emília debatem a
Segunda Guerra Mundial enquanto ouvem notícias pelo
rádio e pelos jornais.
Outra autora mencionada é Ana Maria Machado, com
História meio ao contrário, de 1978, que ganhou prêmios
importantes como o Jabuti. No livro, a autora cria persona-
gens de contos de fada que subvertem conceitos clássicos:
aqui, o “felizes para sempre” é o começo da história – e é
algo que os protagonistas descobrem que precisam fazer
do jeito deles.
Por fim, Ruth Rocha, em seu A menina que aprendeu
a voar, de 1983, traz uma protagonista que, apesar de
parecer comum, aprende a desafiar tudo o que lhe dizem
que “não pode” depois de descobrir que é capaz de voar.

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Sentimentos como empatia, amizade e amor são des-
tacados em passagens como a do segundo capítulo,
em que a protagonista deve abrir espaço em seu quar-
to para que sua meia-irmã, Francine, cuja mãe se mu-
dou para a Europa, passe a morar lá. Tendo como pri-
meira reação a indignação – afinal, o quarto não era
das duas, como andava dizendo seu pai, e, sim, dela! –,
Marília logo percebe que seria preciso ser mais flexível
em suas emoções. Depois de liberar o espaço físico, reflete
consigo mesma: “Nessa hora eu me coloquei no lugar dela.
O que sentiria se minha irmã guardasse pra mim a última
posição de tudo que era seu?”.
Ao fim, são os dois elementos de novidade – a nova
irmã, Francine, e a estranha caixa de desejos entregue pela
avó (em que Marília andava guardando seus escritos) – que
a ajudam a realizar vários sonhos: namorar, fazer novas
amigas, escrever. Abre-se, após uma passagem de tempo, a
possibilidade de tudo o que foi lido ser, na realidade, o pri-
meiro texto mais longo escrito pela própria protagonista:
“Comecei a escrever uma história mais longa. Quem sabe
quantos anos levarei até terminar? Agora eu prefiro nem
pensar nisso. Descobri que viver é muito bom e esperar
pelos sonhos, melhor ainda”.

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O ROMANCE
INFANTOJUVENIL

A literatura chamada infantojuvenil é, em definição


ampla, aquela que se direciona a uma faixa etária especí-
fica: em geral, mais ou menos, dos 8 aos 12 anos de idade
[veja box “A pré-adolescência”], embora isso possa variar
segundo o tema do livro e a linguagem mais ou menos
acessível que se escolhe.

A PRÉ-ADOLESCÊNCIA
Não é fácil definir o período que se passa nos anos entre
a infância e a adolescência e que nos acostumamos a chamar
de “pré-adolescência”. Em geral, pensada como o período
entre os 8 e os 12 anos, a fase traz diversos desafios a pais,
jovens e educadores.
É na pré-adolescência, também chamada por alguns
especialistas de fim da infância, que começam mudanças
importantes para preparar a criança para a adolescência.
As mais óbvias acontecem no corpo: inicia-se uma onda
de hormônios que causa o nascimento de pelos, o apareci-
mento de espinhas, um crescimento repentino, entre outros
fenômenos.
Socialmente, também é uma época de desafios: o pré-
-adolescente precisa lidar com problemas escolares, novos
desafios, a descoberta do amor e da sexualidade e novos
impulsos. Para compreender tudo isso, é útil que famílias
e pedagogos recorram a especialistas e a livros como Pré-
-adolescente: um guia para entender seu filho, da jornalista
Daniela Tófoli (Principium, 2018).

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Trata-se de um tipo de literatura relativamente novo, se-
gundo explica Regina Zilberman (“Introduzindo a literatura
infantojuvenil”): apenas na segunda metade do século XX,
passou a haver, no Brasil, público suficiente para consumir
livros dessa categoria. Entre os eventos que permitiram tal
fenômeno estão a estruturação da vida ao redor da família,
a consolidação econômica da classe média e uma reorgani-
zação do sistema de ensino e das escolas. A afirmação tem
ressonância no próprio conceito de romance que, segundo
Massaud Moisés, em A criação literária, tem como função,
desde seu surgimento no século XVIII, ser “o porta-voz de
suas ambições, desejos, veleidades, e, ao mesmo tempo, ópio
sedativo ou fuga da mesmice cotidiana”.
Esse papel de porta-voz aponta para uma característica
que, nos livros infantojuvenis, se torna mais importante que
as outras: o conteúdo e como ele atua na formação não ape-
nas de um leitor, mas de um ser humano. Pensando tanto
em faixa etária quanto em situações apresentadas, pode-se
dizer que a literatura infantojuvenil trabalha com a passa-
gem da infância para a adolescência, sendo “capaz de lapidar
o imaginário humano e auxiliar a compreensão e a resolu-
ção dos conflitos internos que pairem em cada indivíduo”,
nas palavras do pesquisador Ricardo Santos David.
Essa passagem para a adolescência, com seus conflitos
e acontecimentos específicos, é o tema principal abordado
por Caixa de desejos. O livro convida o leitor não apenas a
conhecer os fatos vividos por Marília, mas a compreender

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como ela reage a cada um deles. Caso típico dessa passa-
gem da infância é o relato da protagonista sobre seu pri-
meiro amor e sua conversa com a mãe sobre o assunto:
“[...] Era um desejo que eu carregava quase sozinha to-
dos aqueles meses. Não havia contado nem para as minhas
novas amigas da escola. Elas ainda estavam em período de
experiência, além disso, eram muito histéricas (acho que
nunca deixaram de ser). Eu morria de medo de que elas
estragassem tudo. Só Francine sabia, mas era como se ela
fosse meu espelho, ou metade de mim. Então, sentia como
se aquele fosse um segredo não revelado.
De repente, sem perceber, escorreram uns chuviscos
dos meus olhos. Mamãe enxugou minhas lágrimas, e só
depois disse, com muito carinho:
– Tudo bem, filha, todo mundo tem o seu primeiro
amor. Sabe que o meu também aconteceu com a sua idade?
Caramba. Nessa hora, eu sequei, deixando meus olhos
bem vivos pra prestar atenção nela.
– Sério, mãe?
– Sério, filha. Ou você achou que eu nasci do tamanho
de mãe?
Rimos, e minha mãe me contou do seu primeiro
amor, que durou só um verão. Claro que na época dela as

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meninas não eram como as de hoje, mas foi legal ouvir
suas histórias de bilhetinhos em papel de carta, de correio
elegante em festa junina e, de resto, tudo igual ao que eu
estava sentindo”.
O livro termina com a autora já aos 16 anos de ida-
de, num salto temporal de mais de três anos. Assim, dá
ao leitor também a oportunidade de terminar seu próprio
crescimento com um exercício de imaginação: como será a
vida dele nesse futuro próximo da adolescência?

ATIVIDADES

Caixa de desejos dá ensejo para dois eixos de atividades:


os debates e as propostas de produção textual. O primeiro
eixo aproximará as turmas do livro, trazendo questões que
estão presentes tanto na narrativa quanto na vida deles. O
segundo usa a obra como base para pesquisas e para que
os alunos treinem a produção de textos em gêneros diver-
sos. Assim, nos dois casos, o texto assume um papel central
como unidade de trabalho.

Pré-leitura

Antes de recomendar a leitura do livro aos alunos, suge-


rem-se duas atividades de caráter preparatório, que podem
ser realizadas no mesmo período:

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• Leitura preparatória: para começar a entrar em
contato com os temas do livro, sugere-se que os alu-
nos leiam, individualmente ou em grupos, a colu-
na “Já te chamaram de pré-adolescente?” (Disponí-
vel em: <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/
quebracabeca/2016/02/1743723-ja-te-chamaram-de-
-pre-adolescente.shtml> e a matéria “Fase entre infân-
cia e juventude é marcada por mudanças no corpo e
no comportamento” (Disponível em: < https://www.
em.com.br/app/noticia/gerais/2012/12/24/interna_ge-
rais,339094/fase-entre-infancia-e-juventude-e-marca-
da-por-mudancas-no-corpo-e-no-comportamento.
shtml>. As duas discorrem sobre a fase em que estão
os alunos e a protagonista do livro, a pré-adolescência, e
propõem a oportunidade de contato com outro gênero
narrativo – antes de embarcar em um romance, os alu-
nos terão contato com o texto opinativo e a reportagem.
• Debate: Depois das leituras propostas anteriormente,
guarde alguns minutos para propor uma segunda ati-
vidade aos alunos: pensando na amplitude de questões
com as quais jovens da idade deles têm de lidar, peça
para elencarem as principais, hoje, para cada um. O
ideal é que esse debate se realize coletivamente, com a
sala inteira. Para garantir a participação de todos, po-
rém, também é possível dividir os alunos em grupos
e solicitar que elenquem os temas em poucos minutos
e, depois, os digam em voz alta. A partir daí, caberá ao
professor conduzir o debate na sala.

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Pós-leitura

Após a leitura da obra, os alunos poderão ser engaja-


dos nas atividades a seguir:

• Debate: Imediatamente após a leitura do livro, pro-


ponha uma retomada do debate anterior, a partir
da seguinte pergunta: quais foram as questões em
comum que os alunos colocaram como temas e as
que de fato apareceram no livro? Podem surgir con-
fluências, por exemplo, em assuntos como bullying,
dificuldade de fazer amigos, primeiro namoro, rela-
ções familiares etc. Após elencar os temas, propo-
nha que debatam, em conjunto, sobre a forma como
a protagonista lidou com aquilo e como isso pode
ser posto em prática, também, na vida deles.
• Produção textual (1): Após a leitura do livro, os alu-
nos poderão usar a história de Marília como inspiração
para escreverem seu próprio texto. Peça que escolham
um episódio de sua vida ou um dos temas elencados
nos debates realizados anteriormente e, a partir deles,
escrevam uma narrativa em primeira pessoa, com
personagens (reais ou inventados, ficando a critério de
cada um). Para isso, relembre alguns conceitos básicos
da escrita narrativa: o fato de haver começo, meio e
fim; o acontecimento de várias ações ou eventos; deli-
mitação de um espaço e tempo. O texto deve ter até 50

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linhas. Para relembrar a teoria dos elementos da nar-
rativa com os alunos, leia: <https://www.normaculta.
com.br/texto-narrativo/>.
• Produção textual (2): A família de Marília é cheia de
peculiaridades: há uma meia-irmã, um tio que vive
na casa dela sem se dar muito bem com sua mãe, a
mãe da irmã, que vive na Europa com o novo marido...
Tudo isso dá ensejo a uma reflexão: qual é, hoje em
dia, o conceito de família? Trabalhando em interdis-
ciplinaridade com a disciplina de História, peça que
os alunos pesquisem e dissertem, em cerca de 20 a 25
linhas, sobre o conceito atual de família e como ele
mudou durante as décadas, abordando questões como
divórcio, famílias monoparentais, adoção etc.

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FONTES CONSULTADAS

• “Literatura infanto juvenil: discussões sobre o panorama his-


tórico e gênero literário e suas características”, Ricardo Santos
David. Cadernos discursivos, v. 1 n. 1, pp. 66-84, 2016.
• A criação literária, Massaud Moisés (Cultrix, 2006).
• “Introduzindo a literatura infantojuvenil”, Regina Zilberman.
Perspectiva, (1)4, pp. 98-102, 1985.
• Juliana Villate Quevedo, “Passagem da infância para a adoles-
cência”. Disponível em> <http://www.aberta.org.br/educare-
de/2013/05/21/passagem-da-infancia-para-a-adolescencia/>.
Acesso em: 04 jun. 2018.

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