Jessica Trapp - Mestre Da Sedução
Jessica Trapp - Mestre Da Sedução
Jessica Trapp - Mestre Da Sedução
Master of Pleasure
Jessica Trapp
Digitalizao e Reviso:
Crysty
Captulo I
Papai! Por favor! Meirion implorou, desejando que ele voltasse a ser o
homem sorridente e compassivo que fora antes do estupro de sua me e sua
subseqente morte de parto. Desde ento, Ioworth mudara de gnio
completamente.
O York bastardo chegar em um momento, e tudo estar terminado.
Afastando o olhar do pai, ela olhou para a porta. Uma figura alta, caminhando
com a arrogncia de um aristocrata, aproximava-se da igreja.
Filha, ele est vindo!
Meirion empalideceu ao.olhar para seu noivo pela primeira vez. Ele vinha
sozinho. Era um bastardo, um homem sem famlia. Seu pai dissera para que
viesse logo, com o pretexto de que o casamento deveria ocorrer imediatamente,
e talvez seu noivo no tivesse ningum que pudesse acompanh-lo, mesmo no
dia do casamento.
Prometa-me que no o matar Meirion implorou.
Bata bem, mas no se esquea do seu dever, filha. Ele exibiu um sorriso
cruel e foi esconder-se atrs da tela de madeira.
Ela postou-se frente do banco, estampando no rosto uma mscara insossa.
Sentia-se como um coelho, trmulo e acuado por predadores.
Seu noivo aproximava-se a passos largos.
Meirion suspirou, o corpo todo consciente da presena daquele homem. A
claridade atrs de Godric parecia um halo de luz, como se ele fosse um arcanjo:
lindo, msculo, poderoso, perigoso.
Godric entrou no santurio, e Meirion sentiu a boca seca.
Vestido elegantemente para o casamento, um manto azul preso nos ombros
largos, esporas de prata brilhando, ele era o homem mais impressionante que
ela j vira. As calas justas e as botas longas revelavam coxas musculosas. Sua
cintura era delgada, e Godric usava luvas de pele de cora. Meirion experimentou um sentimento de culpa ao perceber que ele no portava espada. Seu
rosto anguloso era emoldurado por cabelos negros, e o nariz aristocrtico e as
sobrancelhas escuras davam-lhe uma presena amedrontadora. Seus olhos
tinham um brilho de inteligncia, e os lbios grossos eram muito sensuais.
Como seria ser beijada por aqueles lbios?
Meirion engoliu a seco, seu corao bateu mais forte, e ela desejou desviar o
olhar.
Lady Meirion? Godric perguntou, ansioso.
Sim.
Godric de Montgomery. Ele se curvou com elegncia. Por que est
sozinha aqui, na escurido? Vamos nos casar.
Eu no posso me casar com um York ela sussurrou, sentindo as mos
trmulas.
O que est dizendo? Godric deu um passo frente, a arrogncia
masculina dominando o espao entre os dois. No ouvi o que disse.
Meirion limpou a garganta, controlando-se para no fugir. Mesmo sem uma
espada, ele parecia capaz de arrancar o corao de algum de dentro do peito.
Minhas desculpas, senhor. Estou nervosa. Ela desviou o olhar para
esconder a mentira.
Ao faz-lo, seus olhos pousaram na imagem de Jesus, escondida nas sombras.
Sentiu-se culpada mais uma vez e prendeu a respirao. Deus realmente
precisava da enorme soma de dinheiro que seu pai tinha dado ao padre para
anular o matrimnio?
E a festa de casamento? Godric perguntou, afastando-a de seus
pensamentos.
Meirion voltou a pousar nele seus belos olhos verdes.
Todos estaro aqui em breve ela respondeu, olhando para a tela atrs da
qual o pai se escondia.
Eu no esperava que a herdeira de Whitestone fosse to bela.
Meirion sentiu um frio no estmago. Nem o diabo poderia ser to
perigosamente galante.
Senhor, imploro que no diga tais coisas.
Mas verdade. Godric estendeu uma das mos na direo dela, que
umedeceu os lbios, fascinada pelos msculos que via naquele brao. Ele era
muito sedutor.
Godric pegou-lhe a mo e sorriu suavemente.
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Meirion olhava do pai para seu noivo, sem saber o que fazer.
Eu no posso me casar com o senhor ela tocou o brao de Godric,
esperando que ele pudesse entender.
Minha filha nunca se casar com um bastardo!
O qu? A expresso de Godric era de confuso e surpresa.
Isso no... Meirion tremeu e olhou para o pai.
Silncio, filha!
O sol batia nas espadas em riste, formando um arco-ris de luzes sobre o altar.
Ento, a senhora ficou a no escuro como uma isca? Godric lhe lanou um
olhar glido e apertou-lhe a mo com fora. A civilidade desapareceu de seus
olhos azuis, que escureceram como os olhos de um lobo prestes a atacar a presa.
No tive escolha.
No teve escolha?! ele vociferou.
Meirion estremeceu. O sangue mancharia suas mos, se Godric optasse por
lutar. No teria chance diante de tantos homens armados.
Por favor! Apenas assine os papis!
Que papis?
Para romper o noivado. Meu pai j os tem prontos.
A senhora minha ele pronunciou as palavras lentamente, porm com
firmeza. Movendo-se com a rapidez de um raio e com reflexos de um guerreiro,
Godric a cingiu pela cintura, puxando-a para perto dele, a cabea de Meirion
mal alcanando os largos ombros de seu noivo.
Ioworth resmungou e se lanou na direo dele.
Godric encostou o punhal nas costas de Meirion, impedindo que seu pai se
aproximasse mais. Com um olhar desafiador, mantinha-a presa, e ela sentia
todo o calor de seu corpo. Godric tirou a touca que cobria a cabea de Meirion e
beijou-a. Os cabelos ruivos e fartos espalhavam-se por seus ombros, chegandolhe cintura. A lgica exigia que ela resistisse, mas os lbios de Godric sobre os
seus a impediam de agir. Os lbios dele no eram to suaves como quando lhe
beijara a palma da mo, ao contrrio, eram desafiadores, rgidos. Meirion ouvia
a voz de seu pai vagamente, Godric mantinha o punhal contra suas costas.
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Ento, o tempo pareceu parar, e tudo que ela sentia era um desejo imperioso,
dominando seu corpo e sua alma.
Abruptamente, ele a afastou.
Ofegante, Meirion tentou ordenar seus pensamentos, mas eles pareciam to
revoltos quanto seus cabelos. O olhar de seu pai era de condenao, e a
vergonha a fez corar. Nem tinha tentando se desvencilhar do beijo de Godric.
Deixem-no sair daqui ela murmurou, fugindo da igreja.
Eu voltarei, Meirion. Voc minha! Meirion ouviu a voz de Godric atrs
de si. Juro que pagar por isso!
supunha. Ele iria se vingar de Meirion, iria faz-la pagar pelos cinco anos que
sofria naquele lugar. O desejo de vingana doa mais do que a agonia de seu
corpo ferido.
Godric conseguiu ficar de joelhos e percebeu que estava nu e que suas costas
doam e queimavam.
Quantas chicotadas o chefe dos escravos lhe infligira desta vez? Quarenta?
Cinqenta? Depois da trigsima, ele perdera a conta e a conscincia.
Apresse-se. Os guardas voltaro logo.
Godric meneou a cabea, sentindo muita dor. Com um nico olho, ele viu a
mulher. Era de estatura mediana e estava coberta por um vu que lhe escondia
parcialmente o rosto. Vestia-se de preto e tinha apenas as mos descobertas.
Parecia um demnio negro, com uma vela iluminando o caminho para o
inferno.
Quem voc? ele conseguiu perguntar.
Meu nome no interessa. Fui enviada pela princesa Nadira.
Nadira? Godric indagou, admirado, sentindo os plos da nuca se
arrepiarem. Seu envolvimento com Nadira era a causa dos ltimos quatro
meses de tortura naquele buraco do inferno.
Antes disso, fora um mero escravo no palcio do sulto. A princesa e suas
companheiras acharam que ele era uma novidade, uma distrao para o tdio
que era ter dinheiro e lazer em demasia. Godric fora levado at elas com
cautela, no meio da noite, e brincaram com ele at sentir-se mais um cavalo
reprodutor do que um homem.
Godric praguejou baixinho. Malditas mulheres! Dera-lhes prazer e, em
pagamento, fora jogado naquele buraco.
Ele passou a mo pelo peito dolorido.
A princesa Nadira lhe faz uma oferta.
Uma oferta? Godric sorriu, com ironia. Ela fez uma oferta quando me
acusou de estupro e mandou que me aoitassem?
Nadira uma princesa. E voc... um cachorro. No tem o direito de us-la
como se fosse uma das suas prostitutas inglesas.
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trouxe roupas.
Ele no tinha escolha. Morreria de qualquer maneira se ficasse ali, esquecido,
em um buraco sob o castelo do sulto.
Godric a seguiu e transps as barras de.ferro da cadeia, cada movimento lhe
causando fortes dores. Ela parou para pegar um pacote alm das paredes de
pedra da cela e o jogou para ele.
Vista essas roupas.
Godric pegou o volume rapidamente. Vestiu as calas, que apenas lhe
chegavam aos tornozelos, e a camisa, justa demais nos ombros. O tecido grudou
nas costas ensangentadas, mas ele no reclamou.
A mulher aprovou ao v-lo vestido. A escurido os engoliu quando
atravessaram os corredores da masmorra. A gua pingava do teto fazendo um
barulho espantosamente alto. O ar era carregado e ftido.
medida que passavam por outras celas fechadas, Godric via esqueletos e
muitos ratos devorando a carne que pudesse ter sobrado nos ossos.
Finalmente, ele e sua silenciosa guia entraram em um corredor, onde o cho de
pedra parecia mais limpo, e o ar, mais fresco. Tiveram de transpor o ltimo
trecho de joelhos, mas, finalmente, saram das catacumbas para a noite clara e
acolhedora.
Liberdade. Fazia cinco anos que Godric no gozava de liberdade. Queria
aproveit-la como um homem faminto aproveita um banquete. Um homem
sozinho e a cavalo os aguardava.
Da sela do cavalo, a mulher pegou um cantil de pele de animal com gua e o
atirou na direo de Godric.
Lave suas mos, porco imundo!
Em seguida, falou rapidamente, em rabe, com o cavaleiro, que apeou e lhe
entregou um pequeno volume que ela ps nas mos de Godric.
Aqui est a razo da sua liberdade.
Ele pegou o fardo, que sentiu morno e leve.
O que isto?
O pano que encobria o contedo se abriu e um beb enrugado e vermelho fixou
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Captulo II
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Mas eles so caros demais. E comem muito. Desde que voltara da priso
de Londres, Ioworth contratara todo homem armado que pudera encontrar.
Eles lotavam o castelo, sempre impacientes para serem alimentados. Mal se
pode andar da sala at a cozinha sem trombar com um soldado.
Demitir os soldados? Tolice! O que uma mulher sabe a respeito de defesa?
Conseguimos nos defender enquanto o senhor estava preso.
Voc, praticamente, vendeu tudo que ns tnhamos de valor.
Isso injusto, papai. Meirion cerrou os dentes, odiando no ter tido outra
maneira de pagar o resgate. Se tivesse tido mais tempo, eu poderia ter
conseguido mais dinheiro pelas tapearias de Mary.
Garota teimosa! Ioworth ficou na frente da filha, apoiando as duas mos
nos braos da cadeira onde ela estava sentada, e se inclinou, de modo que seus
narizes quase se tocaram. Voc no quer se casar por causa daquele bastardo,
no ?
Meirion sentiu o sangue lhe fugir do rosto e recostou-se na cadeira.
Pare com isso! Eu no quero me casar com ningum e muito menos com ele.
Voc o quer. Posso ver nos seus olhos.
Ela meneou a cabea, com receio de que o pai lesse seus pensamentos. Fazia
sete anos, e Meirion ainda podia ouvir a voz de Godric de Montgomery. Ouvia
suas palavras gentis nos sonhos e a promessa de vingana, nos pesadelos.
Voc uma moa tola! Tem idia de onde se encontra o seu bastardo? Ele
deve estar no continente e nem pensa em voc.
Pensamentos conflitantes passaram pela mente de Meirion. Havia lgica no que
seu pai dizia, mas, ainda assim, a promessa de Godric martelava em seu
crebro.
Ele chamado de Drago Ioworth continuou, afastando-se em direo
janela. Queima vilarejos inteiros, arrasta seus inimigos pelas ruas e chicoteia
todos que lhe desobedecem.
No... acredito Meirion balbuciou, vendo determinao no olhar do pai.
Trovadores cantavam as proezas do Drago, mas ela no ligara aquele belo
cavalheiro, que lhe beijara a palma da mo, ao Drago.
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Imediatamente, Meirion percebeu que seu pai tinha medo que Godric voltasse
para cumprir a ameaa.
Depois que ele saiu daqui, Pierre lhe arranjou um lugar no exrcito francs
declarou Ioworth. Vive no luxo, nas terras que conquistou. Seu pai deu
um soco na palma da mo. Maldito bastardo! Vive feliz servindo a nobreza
francesa, enquanto ns no temos o suficiente para pagar os impostos do rei. Eu
devia t-lo matado quando tive oportunidade.
Pai Meirion tentou contemporizar.
No vou mais aturar a sua desobedincia. Rejeite mais um pretendente e vai
arrumar todos os seus pertences. Eu a enviarei para um convento.
Pai! O senhor no pode estar falando srio.
Ele olhou para ela demoradamente. No era necessrio dizer mais nada, seu
olhar dizia tudo. Whitestone tinha uma defesa natural por estar localizado
acima de um precipcio ngreme, mas se demorassem a repor fundos em seus
cofres, a situao se agravaria.
Tio Pierre levantou-se da cadeira, atrs do tabuleiro de xadrez. Pegou sua
bengala e deu alguns passos.
Estou pensando, Ioworth. Talvez eu mesmo devesse me casar com Meirion.
Pai e filha arregalaram os olhos para ele.
Isso ridculo! Meirion exclamou.
Ignorando-a, Pierre apoiou uma das mos no ombro de Ioworth.
Eu sei que sou tratado como pessoa da famlia, mas no existe parentesco
entre ns.
Impensvel Ioworth murmurou, cofiando a barba.
Meu amigo, estou ficando velho. Tenho dinheiro, um ttulo, mas nenhuma
terra em meu nome. Seria conveniente para ns dois unirmos nossas fortunas.
No acredito como isso no me ocorreu antes.
A idia tem algum mrito Ioworth contemporizou. Meirion sentiu os
joelhos fraquejarem. Cus, deveria ter aceito o ltimo pretendente, um homem alto e
bonito.
No acredito que o senhor esteja aventando essa hiptese.
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Mattie! Faa uma pequena mala para Meirion. Ela estar partindo em uma
hora.
Mas... papai...
Ele ergueu a mo, na tentativa de impedir que ela protestasse.
Chega! Se no sabe se comportar como uma mulher da nobreza, ento no
ser uma delas.
Uma mulher desobediente no tem nenhuma serventia concluiu Pierre,
parando ao lado de Ioworth.
Tio, o senhor dizia com freqncia que uma mulher poderia dirigir uma
famlia to bem quanto um homem.
Em teoria, talvez. Mas na realidade, uma mulher precisa de um homem.
Irritada por ver o tio mudar de opinio, Meirion se aproximou do pai e tocou
seu brao.
O senhor no pode banir de casa sua prpria filha. Sou necessria para
cuidar da nossa gente.
Voc no mais minha filha. Ioworth meneou a cabea. Talvez o
convento a torne mais obediente.
Neste momento, a porta se abriu, e o meio-irmo de Meirion, de dez anos,
entrou. Ele usava uma capa roxa com listras azuis e carregava um rato morto na
ponta de uma flecha. Sem saber do drama que acontecia na grande sala, chegou
perto da irm, girou a capa e jogou o rato aos ps dela.
Damien! Meirion deu um pulo para trs no momento em que os cachorros
agarravam o rato e, com isso, derrubando-a.
Garoto maldito! ralhou Ioworth. Saia daqui, aleijado!
Papai! Meirion levantou-se do cho, limpando o p da saia. Ele no fez
nada.
Eu s o tolero por sua causa, Meirion, mas voc no vai mais me usar.
Ioworth fez sinal a um de seus homens. Leve a ambos para fora das paredes
do castelo. No terei mais desobedincia na minha propriedade. Em seguida,
virou o rosto e olhou atravs da janela.
Um cavaleiro segurou Meirion pelo brao, mas ela se soltou e caminhou, de
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de esperana.
No contar a ningum, no , senhora? Sou velha e no tenho nenhum
lugar para ir se o senhor seu pai me expulsar.
Oh, Mattie! Meirion abraou a criada. Ningum a mandar embora
enquanto eu estiver aqui.
Mattie sorriu, enrugando ainda mais o rosto.
E melhor que durma nua, senhora, para no alertar os outros. Ela piscou.
Quieta, a criada saiu do quarto, e Meirion cobriu-se com o lenol. Fechou os
olhos e rezou para ter foras de enfrentar sua nova vida.
No momento em que conciliava o sono, um corpo musculoso e grande demais
para pertencer a seu marido pressionou-a contra o colcho.
Ela despertou e ia gritar, quando o grande guerreiro cobriu sua boca com a
mo. Sentiu cheiro de suor e sangue; o odor de homem viril penetrou em suas
narinas, enquanto era mantida deitada com firmeza.
Meirion empurrou o intruso quando ele ficou ao seu lado na cama. O colcho
afundou sob o peso do homem, fazendo com que ela escorregasse para perto
dele. A nica vela do candelabro havia se apagado. Na escurido, Meirion
tentava se desvencilhar e ver quem era aquele sujeito, mas o quarto estava
iluminado apenas pela luz da lua.
Fique quieta disse ele, em voz baixa e rude.
Santo Deus! Era Godric! Jamais esquecera daquela voz. Meirion sentiu um frio no
estmago e uma grande confuso de emoes tomou conta dela. A voz de
Godric a assombrava desde aquele dia na igreja.
Tentou se erguer para morder-lhe a mo e fugir, mas ele a apertou ainda mais
contra o colcho. Seus corpos eram separados apenas pelo lenol, que se
enrolou ao redor dela como um casulo.
No lute comigo. Voc no pode me vencer.
Meirion ficou quieta, o corao disparado dentro do peito.
O que Godric queria dela?
Voc virgem? ele perguntou.
Cus, ele ainda tinha inteno de reivindicar sua posse? Depois de tantos anos?
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Meirion tentava enxerg-lo no meio das sombras, mas apenas conseguia ver um
vulto.
Responda minha pergunta. Godric a chacoalhou. Ela meneou a cabea
afirmativamente contra o travesseiro.
timo. Ele se aproximou, raspando o rosto de Meirion com a barba.
Atravs do lenol, Meirion inalava seu suor e sentia o calor daquele corpo forte
e poderoso.
No grite, e eu soltarei a sua boca. Entendeu?Devagar, ela assentiu,
pretendendo gritar assim que pudesse recuperar o flego. Temos pouco
tempo Godric acrescentou.
Tremendo de medo, Meirion ficou sem voz quando ele passou os dedos
calejados pelo queixo dela. Seus dedos fortes apertaram-lhe a garganta de leve,
mas Meirion entendeu o que significava o gesto e permaneceu bem quieta.
O que voc est fazendo aqui? ela sussurrou.
Pegando o que me pertence. Godric a ps sentada, permanecendo bem
junto de Meirion.
Deixe-me! No perteno a voc. Eu me casei hoje!
exatamente por isso que estou aqui. Voc no deveria ter se casado. Ele
a ps de p e a empurrou at a janela, fazendo-a cair no cho.
Soco... Seu grito foi cortado quando Godric se jogou sobre ela. Cus, estava
nua! Havia se esquecido disso!
Solte-me. Eu no perteno a voc.
Oh, sim, voc me pertence, pequena raposa.
Neste momento, a luz da lua iluminou o rosto dele. Cicatrizes marcavam
aquelas bonitas feies. Godric parecia mais um monstro do que um homem.
Santo Deus! Seu pai havia lhe assegurado que Godric assumira uma
posio no exrcito real francs. Mas ele parecia ter sido torturado. Por que os
franceses teriam feito isso?
O que aconteceu a voc? Meirion perguntou.
A resposta foi um olhar carregado de dio. Ele olhou para baixo, admirando-lhe
a nudez com olhar selvagem. Ela lembrou-se de uma cena do passado, em que
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Eu vim aqui reivindicar o que me pertence. Sua voz era baixa, porm
autoritria, como a de um homem acostumado a dar ordens.
Os cabelos longos de Meirion se encontravam entre ambos. Godric afrouxou a
presso e ps os cabelos dela para o lado, expondo suas costas e provocandolhe arrepios na espinha.
Minha linda traidora... Eu no esperava que voc tivesse tanto fogo. Ele
aproximou o seu rosto do de Meirion, mais uma vez arranhando-o com a barba.
No... no... Ela fechou os olhos, temendo o que estava por vir. Imploro
a voc...
Godric enfiou um pedao de pano na boca de Meirion. O pano tinha gosto de
sabo e chegava quase garganta. Deus, aquele homem pretendia tom-la fora.
Os dentes de Meirion batiam contra o pano. Estava perdida. Ele era grande e
forte, e, se a possusse com violncia, ela poderia morrer. Lembrou-se das
manchas vermelhas nas coxas de sua me quando fora estuprada. Isso era um
pesadelo.
Tinha errado ao pensar que poderia se casar com um York. Eles no ficariam
satisfeitos, enquanto no conquistassem toda a Inglaterra. E Meirion deveria ter
imaginado que Godric iria querer vingana.
Oh, Deus, deixe-me sobreviver, orou. Queria dizer a Godric que, se ele fosse gentil,
ela no lutaria, mas no podia falar e respirava com dificuldade. Ele a segurava
com firmeza.
Um instante mais tarde, Godric a fez levantar-se. Seus ps tocaram o cho frio,
mas sua pele queimava nos lugares onde ele a segurava. A luz da lua o banhou
por um momento. Godric olhava para seu corpo nu como se estivesse pensando
o que faria com ela. E Meirion estava chocada demais para ter vergonha da
prpria nudez. Franziu o cenho, esperando respostas, mas ele apenas
resmungou alguma coisa ininteligvel.
O pano parecia descer pela sua garganta e Meirion meneava a cabea, aflita. O
que, em nome de Deus, Godric iria fazer?
Onde esto as suas roupas? ele perguntou.
Ela sentiu um grande alvio. Godric no iria estupr-la. Mal podia acreditar.
Na obscuridade, mais sentia do que via os olhos dele percorrerem seu corpo nu,
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inspecionando-a mais uma vez. Seus olhos desciam do pescoo aos seios, e ao
"V" formado por suas coxas. Godric parecia um animal sedento. Neste momento, teve a certeza de que ele no iria estupr-la. Godric estava como
reconhecendo o terreno para uma batalha, e o que ele planejara era tom-la para
si, conquist-la.
medida que Godric admirava seu corpo nu, Meirion sentiu os bicos dos seios
ficarem trgidos. Isso a deixou desconcertada e incapaz de pensar, exatamente
como acontecera na igreja, no dia em que fugira dele. Sentindo-se constrangida,
ela baixou o olhar.
Estou ficando impaciente Godric avisou. Mostre-me onde esto as suas
roupas ou ir nua.
Meirion inclinou a cabea e mostrou um ba encostado parede de pedra do
quarto.
Quando ele soltou os ombros dela, Meirion quase caiu para a frente, e Godric a
amparou. Os bicos de seus seios encostaram-se na roupa de couro dele, e ela foi
tomada por uma estranha sensao. Irritada com a prpria reao, endireitou o
corpo.
Godric deu um passo para trs e, segurando-a pelo ombro, dirigiu-se at o ba.
Meirion pensou em fugir, mas suas pernas no lhe obedeciam. Olhou ao redor,
procurando alguma coisa que lhe servisse de arma.
Godric pegou um camisolo de linho e entregou a ela que, ao apoiar-se em uma
mesa, sentiu o vidrinho de pio que Mattie ali deixara.
Voc muito bonita ele murmurou, parecendo um leopardo pronto para
devorar sua presa.
O medo abandonou-a, sendo substitudo por um sentimento de revolta e raiva.
Meirion no fizera nada para merecer o que estava acontecendo. Apesar do
noivado ter sido rompido, Godric vivera no luxo, servindo a nobreza, no
continente. No tinha o direito de reivindicar sua posse.
Voc minha. No se esquea.
Meirion praguejou baixinho. Nunca seria dele, jurou para si mesma.
Rapidamente, Godric enfiou o camisolo pela cabea de Meirion, que conseguiu
esconder o vidrinho de pio na palma da mo fechada. Ela quase sorriu. Afinal
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de contas, iria conseguir escapar dele. Mas, primeiro, tinha de conquistar sua
confiana. Desse modo, poderia dop-lo e fugir.
Seria fcil. Conquistaria sua confiana, fazendo-o acreditar que poderia anular
seu casamento com tio Pierre e casar-se com ele. Godric dissera que ela era
muito bonita. Podia usar isso como vantagem.
No fique em pnico Godric ordenou, olhando, impaciente, para a lua.
Esta mulher precisa de rdea curta, ele pensou, empurrando-a novamente em
direo janela.
Meirion tropeou, e Godric a cingiu com os braos antes que ela casse.
Precisava agir com rapidez, mas hesitava, na urgncia de inspecionar seu
trofu.
Droga, ela era graciosa, mas no como uma cortes. Despeitava a ateno de um
homem fazendo-o sentir-se estranho, sem vontade de domin-la pela fora.
Seus olhos eram grandes, seu nariz, pequeno, e seus cabelos... Um homem
poderia perder-se naqueles cabelos vermelhos como fogo e muito longos,
passando dos quadris. Pequenas mechas caam-lhe sobre o rosto, fazendo um
belo contraste com sua pele clara e macia.
Graas a Deus, Meirion ainda era virgem. Teria apenas que lev-la. A igreja
anularia seu casamento, e ele reivindicaria sua posse. A prova que o
rompimento do noivado fora ilegal eram as cicatrizes que Godric tinha pelo
corpo.
Meirion minha, ele pensou, subitamente furioso por ela, naquela noite, estar
esperando outro homem. Nua.
Passando um brao pelos ombros de Meirion, ele a puxou de encontro a si. Ela
cheirava a rosas depois de uma chuva. Fresca, limpa, nada parecido com as
mulheres dos bordis por onde Godric havia passado.
Ele sentiu-se sujo, havia viajado toda a noite e cheirava como um porco. No
queria rapt-la desse modo, pela janela, como se fosse um ladro.
Deveria t-la raptado quando chegara Inglaterra, alguns meses antes, mas
naquela ocasio ainda no tinha ouro suficiente para reivindic-la e ainda no
falara com o rei. Rapt-la no meio da noite havia sido um plano arriscado,
porm no tivera escolha quando soubera do casamento de Meirion.
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Captulo III
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gostava.
Godric um monstro... um monstro, dizia para si mesma, mas seu corpo a traa, e
Meirion sentia um delicioso calor entre as pernas.
Chega! ela quase gritou. Godric parou.
O dever com a sua famlia vinha em primeiro lugar. Seu orgulho estava em
farrapos. No podia levar suas emoes em considerao.
Ele afastou as mos de Meirion e, por um momento, ela quis acariciar o rosto de
Godric e perguntar o que havia acontecido para ele ter aquelas cicatrizes.
A expresso de Godric era inescrutvel, mas seu olhar queimava.
Por um momento, a voz de sua me ecoou em sua memria.
No chegue perto do fogo, querida. Ele a queimar.
No me toque mais. Meirion olhou para ele.
Por que no?
Porque perteno a outro.
Voc est me dizendo isso ou est tentando se convencer?
Meirion ruborizou e tentou se afastar de Godric mais uma vez. Como ele podia
ser to atrevido? Teria percebido o que ela estava sentindo?
Saia de perto de mim. Eu no perteno a voc.
Tenho documentos que provam o contrrio. Godric inclinou-se na direo
de Meirion, o olhar ardente. A proximidade dele fazia-a esquecer de que tinha
um dever a cumprir.
Godric estava perto demais, e era um homem perigoso demais. Sentiu-se
sufocada, como se algum a tivesse atirado em um deserto, e ela estivesse
sedenta.
Deixe-me ir. Nosso noivado foi rompido.
A fora, condessa.
Meirion vacilou. De algum modo, ele fazia com que a palavra condessa tivesse
uma conotao escusa, que soava como prostituta.
Pelo menos sou nobre, e voc um bastardo sem ttulo, Eu nunca me casaria
com voc.
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Godric levantou-se. Sua delicadeza acabara. Seu rosto ficara lvido, e seus olhos,
brilhantes. Ele passou as mos nas calas justas como se quisesse tirar o que
sentira tocando-a.
Eu a terei como esposa ou como escrava. Faz pouca diferena para mim.
No serei sua escrava. Meirion tentou sentar-se em uma posio ereta,
mas era difcil com as mos amarradas.
No tenha dvida, minha pequena prisioneira. Godric retesou a
mandbula. O rei Edward me dar apoio.
No dar. Ela meneou a cabea, equilibrando-se o melhor possvel. Os
documentos para romper o noivado foram assinados e selados pela Igreja, e eu
j sou casada.
Esse casamento falso ser anulado. No tolerarei outra reivindicao nas
minhas terras.
Estas terras no so suas. Meirion era uma nobre e no seria intimidada
por ele, mas gostaria de ter tanta segurana quanto mostrava sua voz. As terras
eram conseguidas pela luta ou pelos caprichos do rei, e a Igreja atendia a quem
lhe oferecesse mais ouro.
Godric respirou fundo e relaxou, e Meirion sentiu cheiro de chuva se
aproximando. Uma folha caiu da rvore sobre o ombro dele.
Milady, a terra minha da mesma forma que voc tambm minha
Godric declarou.
Homens sempre tomam o que no pertence a eles.
Talvez, mas eu estou tomando o que me pertence. Ele ergueu-lhe o queixo
com um dedo. Voc ainda virgem?
Ela afastou o queixo e olhou para as rvores, odiando que sua virgindade
tivesse se tomado um prmio a ser conquistado no rastro de uma vingana.
Voc no pode usar a minha virgindade contra mim.
Godric limpou a garganta e tirou a folha que lhe cara no ombro.
E a falta de virgindade que eu pretendo usar. Ele percorreu o corpo de
Meirion com um olhar abrasador. Logo voc estar carregando uma criana
minha.
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Bastardo!
Godric agarrou-lhe o rosto com as duas mos e forou-a a olhar para ele.
Por muito menos insolncia, eu j matei muitos homens.
No me ameace. Se quisesse me matar, j o teria feito.
H coisas piores do que a morte, condessa! ele disse com os dentes
cerrados e a expresso inescrutvel.
Bastardo! ela repetiu.
Modere sua lngua ou a porei sobre os joelhos e lhe aplicarei uma surra. Voc
merece.
Voc no se atreveria.
Eu a raptei do seu quarto na noite do seu casamento, e acha que no me
atreveria a bater em voc?
Meirion foi tomada de dio. Godric no tinha o direito de amea-la.
Pea desculpas ele disse, agarrando-a pelos ombros. Ela ficou ainda mais
furiosa. Godric que a tinha ofendido!
Nada fizera para merecer ser tirada de sua cama e se tomado sua refm.
Pedir desculpas? A voc? Por voc ter uma prostituta como me? No
mesmo instante, Meirion arrependeu-se do que acabara de dizer,
Godric piscou e agachou-se sobre um joelho, levando-a junto com ele. Meirion
gemeu e seus cabelos caram-lhe sobre o rosto. Deus Todo-Poderoso, estava sobre o
joelho dele, como uma criana.
Pare! Solte-me, seu bruto!
Em resposta, Godric se ps a dar-lhe tapas no quadril. Meirion gritava,
tentando se libertar, mas ele a segurava com fora.
Voc um brbaro, um demnio!
Outro tapa.
Voc um monstro!
Pode me chamar como quiser, mas deixe minha me fora disso.
Est bem. Ela fez fora para levantar-se, porm Godric a impediu. Solteme!
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era diferente dos homens que haviam estuprado sua me. No podia se
esquecer disso. Mas seus braos fortes eram confortantes demais.
Desde ento, voc nunca mais montou um cavalo?
Apenas uma vez.
Uma vez?
Meu pai me forou.
Meirion lembrou-se do dia em que seu pai a fizera montar no cavalo para
vencer a covardia e o medo, e a puxara de seu prprio cavalo. Ela ficara em
silncio e, depois de desmontar, havia ido sozinha at os estbulos e, ainda
apavorada, vomitara.
E eu no me sa muito bem Meirion acrescentou.
O que aconteceu? Godric insistiu. Voc vomitou?
Ela concordou, meneando a cabea. Como ele sabia? Teria lido seus
pensamentos?
s vezes, isso acontece quando a pessoa tem muito medo.
Verdade? Como sabe?
Sei muito a respeito de medo e terror Godric disse, dando de ombros.
De repente, Meirion desejou tocar em suas cicatrizes e acarici-las. Pela
primeira vez, agradeceu ter as mos amarradas, para no ceder ao impulso. O
que os franceses haviam feito a ele?
Godric sorriu e a ergueu um pouco ao transpor um grande tronco cado. Seu
camisolo colou-se jaqueta dele, o suave linho em contraste com o couro
preto.
Ainda bem que voc no vomitou em mim na noite passada.
Isso nem me ocorreu. Ela sorriu, e Godric retribuiu o sorriso.
Logo Meirion se arrependeu. Ele era inimigo, no um velho amigo com quem
trocar confidencias. O que estaria ela pensando? Como a conversa chegara a
este ponto? A ltima coisa que ela queria era discutir a respeito de vmito com
Godric. Meirion franziu o cenho. Ele a estava levando loucura. A presena de
Godric a sufocava. Seus braos eram fortes demais, viris demais, e ela prestara
pouca ateno ao caminho que haviam percorrido.
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Captulo IV
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caminho.
Isso tudo uma loucura.
Eu cuidarei de voc. No tema. Venha. Ele a puxou, segurando seus
ombros com firmeza. Meirion afastou o olhar do cavalo, as mos suadas de
nervoso.
Mantenha o olhar em mim. Pode fazer isso?
Ela meneou a cabea. O animal estava to calmo quanto seu dono. Se perceberia
seu medo, como dizem que os animais percebem, no demonstrava.
Est pronta?
Meirion assentiu, sem afastar os olhos dele. Sentia-se um pouco mais calma. Um
homem que sobrevivera ao que causara aquelas cicatrizes certamente saberia
controlar seu cavalo.
Vou ergu-la. Godric a colocou de costas para o cavalo. Continue
olhando para mim.
Vingana relinchou, e Meirion estremeceu.
Respire fundo.
Parecia importante obedecer ao seu raptor. Ela manteve o olhar em Godric.
Santo Deus, por que era to covarde? Por que uma coisa to simples se tornara to
difcil?
Ele a pegou pela cintura e a ps montada no cavalo como se levantasse uma
criana.
Vingana deu um passo para trs.
O... Vingana... Quieto...
Meirion tinha as palmas das mos suadas e os dedos contrados.
Continue olhando para mim e respire.
Godric era bonito, e olhar para ele tornou mais fcil ignorar o terror. Ela relaxou
os dedos.
Ele montou atrs de Meirion, passou um brao ao redor da sua cintura e pegou
a rdea com a outra mo.
Devagar, ela soltou o ar que estava preso em seus pulmes c sentiu-se mais
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confiante.
Voc est bem?
Sim Meirion respondeu, surpresa por estar dizendo a verdade.
Voc est salva.
No fazia sentido, mas ela se sentia salva e segura. Acomodou-se e tentou
relaxar.
Godric fez o cavalo andar, e Meirion sentiu, com os solavancos, que precisava
urinar, sua bexiga estava cheia.
Cavalgaram em silncio durante algum tempo. Nuvens escuras ameaavam
chuva, e a bexiga de Meirion doa. Ela tentava se ajeitar melhor na sela, para ver
se sentia algum conforto.
O que pretende fazer comigo quando chegar sua casa?
Pretendo me casar com voc. Ele apertou-a com o brao.
Meirion meneou a cabea, porm no disse nada. Parte dela at gostou da idia.
Mas Godric nunca poderia ser seu, e nem ela poderia ser dele. Meirion tinha
famlia e um dever a cumprir. No podia alimentar sonhos tolos.
Voc poderia me desamarrar.
Para qu? Para que voc me ataque novamente no meio das pernas?
Ela calou a boca. Godric era um homem rude e selvagem. Um homem mau.
Uma gota de chuva caiu em seu ombro, lembrando-a mais uma vez que
precisava se aliviar. Sua bexiga agora doa muito.
Quanto tempo ainda cavalgaremos?
No muito tempo, por hoje.
Meirion tentou relaxar, porm no conseguia. Sua bexiga estava cheia demais.
Contudo poderia esperar at que parassem. Mas, e se ele se recusasse a
desamarr-la quando parassem?
Mexeu-se novamente. Alguma coisa pressionava seu quadril, e Godric bufava.
Garota, se quiser que eu permanea honrado, pare de se mexer.
Voc no me forou antes, vai querer me forar agora?
Mesmo assim, no pense que est a salvo.
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casando-se com um homem trs vezes mais velho do que ela. Godric no
conseguia esquecer a frieza de Meirion e tinha paixo por ela, uma paixo to
forte quanto um homem sedento que procura por gua.
Meirion tremia de medo ao ser raptada por ele, mas gostara do seu toque
quando massageara suas pernas adormecidas.
Sim, ela o temia, porm havia mais do que apenas medo. A reao de Meirion
demonstrava que era uma mulher to ardorosa quanto a cor de fogo de seus
cabelos.
Godric ouviu o som de folhas sendo pisadas, e Vingana, atento, ergueu as
orelhas. Meirion devia estar se aproximando.
Condessa? No houve resposta.
A luz do sol se infiltrava pelos galhos das frondosas rvores o redor de
Meirion. Ela escolheu uma rvore de tronco bem grosso para lhe proporcionar a
privacidade que desejava. E agradeceu a Deus pelo fato de ter conseguido
livrar-se de um grande vexame. Abriu a mo para olhar o vidrinho de pio.
Nem sabia como Godric no notara que ela ficava o tempo todo com uma das
mos fechada. Precisava de um lugar onde escond-lo, mas onde, vestida
daquela maneira? Pensou um pouco e decidiu descosturar um pedao da barra
do camisolo e ocultar o pequeno frasco ali. Deu certo. Sentia-se aliviada de no
precisar mais levar o vidrinho na mo.
Olhou ao redor, sentindo uma sensao de liberdade. Era sua chance de
escapar. Talvez conseguisse se afastar bastante antes que seu raptor notasse sua
excessiva demora. Mas fugir para onde? Estava quase sem roupa e nunca se
afastara de sua casa. Seu medo por cavalos a mantinha aprisionada entre as
paredes do castelo. Alm disso, no tinha armas e nem qualquer objeto que
pudesse usar em sua defesa. E as florestas eram infestadas de bandidos. Mesmo
assim, seu dever era tentar.
Comeou a andar e pisou em um galho. Um espinho fincou-se em seu p e, ao
abaixar-se para retir-lo, seus cabelos ficaram presos em um galho baixo da
rvore, e outro galho rasgou seu camisolo, deixando mostra parte de seu
quadril. Realmente, no tinha condies de fugir. Precisava esperar por outra
oportunidade.
Suspirou, resignada, e decidiu voltar ao encontro de Godric. De repente, ouviu
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um som estranho. Arregalou os olhos e se virou para ver o que era. Um enorme
javali procurava alimento, chafurdando.
Em silncio, Meirion comeou a se afastar, determinada a correr de volta para o
lado de Godric. Aproximando-se mais, poderia gritar. Ele saberia como lidar
com o animal. Confiante, deu outro passo. O javali farejava o ar procura de
sua presa. Chegou to perto dela que Meirion pde ver musgo grudado em
seus dentes e um muco amarelo escorrendo dos pequenos olhos. Com o focinho
continuando a farejar o ar, o animal caminhou na direo dela.
Uma gota de chuva caiu em seu brao. Meirion assustou-se e tampou a boca
com a mo para no gritar. Pisou numa pedra, mas nem gemeu. Umedeceu os
lbios e deu mais alguns passos. As pequenas orelhas do javali ficaram
retesadas, na tentativa de localizar p som. Mais uma vez, os cabelos de Meirion
se prenderam em um galho de rvore.
Santo Deus! ela murmurou, tentando se desvencilhar.
O animal ergueu as orelhas novamente e veio na sua direo. Meirion deu um
passo frente para tentar soltar os cabelos, e seus ps fizeram barulho ao pisar
em folhas secas. Ela gelou. O javali a viu.
Ajude-me, meu Deus! Meirion continuava tentando desvencilhar os
cabelos do galho. Seria apanhada como um coelho na armadilha.
O animal se moveu, e ela gritou, fechando os olhos.
Afaste-se, Meirion! gritou Godric.
Ela abriu os olhos. O javali ficara confuso com o novo som.
Fuja! ele gritou novamente.
Meirion deu um passo para trs, mas seus cabelos a mantiveram presa no
mesmo lugar.
Imediatamente, Godric se colocou entre ela e o animal, a espada erguida.
O javali avanou, e Godric, num movimento fulminante e preciso, cravou a
espada em seu peito. O animal emitiu um som horroroso e caiu para um lado, o
sangue brotando do ferimento profundo.
Meirion suspirou, aliviada, e Godric caminhou em sua direo. Ela queria
passar os braos ao redor do pescoo dele e encostar a cabea naquele peito
forte. Pela primeira vez era agradecida sua presena forte e dominadora.
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Agora, Godric era o homem mais bonito que ela j tinha visto. Parecia um
arcanjo vingativo. Um arcanjo furioso.
Ele fitou Meirion com um olhar assustador, a espada em riste, suja de sangue,
dando a impresso de que ela seria sua prxima vtima.
Pare! Meirion gritou.
O que voc estava fazendo to longe?
Por favor...
Voc no pode fugir. Foi tolice tentar.
Eu no estava fugindo...
No minta para mim!
Eu estava...
Voc um poo de problemas, condessa. Godric se aproximou mais.
Meirion ainda tentava desvencilhar os cabelos do galho da rvore.
Eu deveria deix-la aqui, presa ao galho da rvore pelos cabelos. Mulher
tola.
Como ele se atrevia a ficar bravo com ela?
Tola? E voc um imbecil!
Godric continuava com a espada erguida.
Voc deu sua palavra de honra de que no fugiria.
Meirion prendeu a respirao. A culpa estava estampada em seu rosto.
Pare! ela tomou a gritar, olhando para a espada.
Eu deveria saber que palavra de mulher vale menos que esterco de cavalo.
Estreo pelo menos aduba a terra.
Voc um tolo. Escute-me.
Ele tentava desvencilhar os cabelos de Meirion do galho da rvore.
Voc no pode escapar.
Eu no estava...
Voc importante para mim Godric gritou. No me teste novamente.
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Captulo V
Vingana galopava, e o vento soprava forte. S o que se ouvia era o barulho das
patas do cavalo sobre as folhas e pedregulhos no caminho. Meirion estava
acomodada na frente de Godric.
Horas antes, ele insistira para que ela vestisse seu casaco de couro para aquecerse, e seu cheiro penetrava pelas narinas de Meirion, propiciando-lhe uma
sensao de segurana. Mas o brao forte de Godric ao redor de sua cintura era
uma garantia de que estava to presa como um pssaro engaiolado.
verdade que voc chamado de Drago? ela arriscou perguntar.
Sim, verdade.
Meirion olhou para seu raptor, tentando adivinhar se ele realmente havia feito
as coisas cruis que os trovadores cantavam. A claridade da tarde imprimia-lhe
o aspecto de homem mau. A barba no muito espessa, de aproximadamente
trs dias, demonstrava que costumava se barbear regularmente. Sob o queixo,
Godric tinha uma pequena cicatriz, mais velha e mais fraca do que as outras.
Ele a assustava e a intrigava ao mesmo tempo.
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poderia ter dado certo. Ele no tentava conquist-la. Estava calmo e controlado,
olhando para a frente, sem se importar com ela.
As faces de Meirion estavam em fogo. Talvez tivesse agido errado. No tinha
experincia em beijar homens.
Santo Deus! O que estava acontecendo com ela?
Olhou novamente por cima do ombro de Godric, lembrando-se de Damien. S
viu rvores. Graas a Deus, no teria de beijar Godric novamente.
Menos de quinze minutos depois, seu raptor fez Vingana parar perto de uma
placa onde havia o desenho de uma cama e uma colher.
Vamos parar em uma estalagem? Meirion perguntou, arregalando os
olhos.
Sim. Godric ajudou-a a descer do cavalo. Temos negcios para
terminar.
O corao de Meirion disparou. Podia ter pouca experincia com homens, mas
no era difcil perceber a luxria no olhar de Godric. Ele tinha dito que no era
momento nem lugar, mas agora a estava levando a uma estalagem.
No podemos entrar a ela protestou.
Godric apenas sorriu, e o corao de Meirion parecia querer saltar-lhe do peito.
Imagens de sua me correndo dos soldados tios York povoaram sua mente. Ela
fechou os olhos, tentando apagar as imagens, mas era difcil esquecer aquela
cena. Homens no controlavam seus impulsos, eram como animais.
Eu lutarei com voc declarou Meirion.
Se o seu beijo foi uma prova, acho que no o far. Godric piscou para ela.
Meirion corou e olhou para o outro lado. Quando apeou, sentiu a grama
acariciar seus ps descalos.
Ele ps os cabelos dela atrs das orelhas e pegou-a pelo pulso para conduzi-la
at a entrada da estalagem.
No sou sua propriedade. Meirion fincou os ps no cho, e Godric franziu
o cenho.
Quem poderia entender as mulheres? Ficara dcil ao ser beijada. Sabia que ela
estava exausta e com fome. Ento, por que resistia a uma boa cama, como se
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primeira mulher, em vrios anos, que no olhava para as suas cicatrizes sem
sentir asco. Ficara brava, constrangida, altiva, mas nem uma s vez olhara para
ele como se no fosse um homem completo.
Godric sentia-se em chamas, o desejo por Meirion corroendo-lhe as entranhas.
Por que est me olhando desse jeito? ela perguntou.
O que voc quer dizer?
Voc me olha como se quisesse ler a minha alma.
Quero descobrir a melhor maneira de seduzi-la ele declarou, sorrindo.
Meirion corou. Godric amava o jeito como ela ruborizava quando se sentia
constrangida.
Vou providenciar alguma coisa para comermos e outras provises.
Demorarei cerca de uma hora. Procure dormir.
Godric fechou a porta do quarto e trancou-a por fora, com certa raiva de sua
prpria fraqueza. Muitos homens dependiam dele para tomar o castelo de
Whitestone. Estava arriscando o futuro de seus leais e confiveis soldados pela
chance de conquistar o corao de uma mulher desleal. Fazia papel de tolo,
esperando que ela pudesse se abrir para ele, em vez de possu-la fora,
imediatamente.
Mas no pretendia apenas exigir o que era seu. Godric queria que Meirion
desejasse pertencer a ele.
Quando ela ouviu a porta sendo trancada, largou o corpo na cadeira, com as
pernas dobradas sobre o peito, gesto comum desde sua infncia.
Que lugar feio. Alm da cadeira e da cama, havia uma mesa desmantelada e
uma jarra enferrujada. O quarto cheirava a mofo e coisas velhas. Um feixe de
raios de sol penetrava pela janela estreita. Meirion ficou de p, esfregou as
pernas e acompanhou os raios de luz.
Aproximou-se e se ps a examinar a janela. Conseguiria fugir para ir at os
homens de seu pai? Ps a cabea e um ombro no vo da janela. Um andar
abaixo, o ptio fervilhava de atividade. Tentou passar o outro ombro, mas a
abertura era estreita demais. Meirion suspirou e olhou para baixo. O prdio no
tinha balco e nem uma extremidade onde se apoiar. Mesmo que conseguisse
passar pelo vo da janela, no teria como chegar ao cho. No ptio, havia vrios
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que era a nica que o confortava e lhe dava proteo para enfrentar as
vicissitudes de sua vida.
Voc me trata como se eu ainda fosse um beb. Tenho dez anos, voc sabe.
Jovem demais para atravessar a floresta sozinho Meirion resmungou.
Ela nunca usara o defeito do irmo contra Damien, sempre o tratara como um
garoto normal. Mas era hora de ele encarar os fatos.
Voc aleijado, Damien. No pode me salvar de Godric.
Vou mostrar a voc. Eu lutarei com ele. O garoto ergueu o queixo,
determinado.
Meirion ouviu um barulho na porta, e seu corao disparou.
Godric chegou! Pelo amor de Deus, esconda-se! ela sussurrou e fechou a
janela.
Godric entrou no pequeno quarto trazendo comida. O cheiro de po fresco e
guisado encheu o ambiente, causando nusea em Meirion.
Com quem voc estava falando? ele perguntou, olhando-a atentamente.
Ela afastou-se da janela, tentando parecer calma.
Com o cavalario mentiu, desviando o olhar.
Sobre o que falavam? Godric quis saber, mostrando desconfiana nos
belos olhos azuis.
Sobre fuga Meirion disse uma meia-verdade.
Esquea isso. Voc no pode fugir.
Meirion ergueu o queixo, e os dois se fitaram sem nada dizer. Ela escaparia,
sim, mas discutir sobre isso no ajudaria em nada. Godric no a intimidava
mais. Se ele quisesse mago-la, j o teria feito.
Venha comer Godric ordenou, apontando para a comida.
Obrigada.
Godric dirigiu-se janela, de onde observou o ptio, enquanto Meirion fazia
uma prece para que ele no descobrisse Damien. Afastando-se da mesa e da
comida, ela tentou olhar atravs da janela, mas o corpo de Godric barrava-lhe
toda a viso.
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engasgar.
Ele a olhava intensamente, e Meirion no soube o que responder.
Um segundo depois, bateram na porta, que foi aberta logo, em seguida.
Damien apareceu, vestido de campons, com um grande chapu enterrado na
cabea e carregando uma banheira vazia. Ela pensou que fosse desmaiar.
Aqui est a banheira que o senhor pediu, milorde Damien disse, piscando
para a irm.
Cus, o que o garoto pensava estar fazendo?
No pedi banheira alguma Godric disse, olhando para ambos.
cortesia da casa, milorde.
V embora, Meirion moveu os lbios, olhando fixamente para o meio-irmo, que
meneou a cabea ligeiramente. Mas ele no se afastou e continuava segurando a
pesada banheira.
Godric postou-se entre os dois, como se fosse uma parede de msculos, o olhar
indo de um para o outro.
Minha patroa disse que, se Jesus pde lavar os ps dos discpulos, ento
nossos hspedes podem tambm receber um banho.
Nunca ouvi falar que um estalajadeiro gastasse mais do que o necessrio
com os seus hspedes Godric declarou.
A resposta fez Damien hesitar, e Meirion foi em seu socorro.
Eu gostaria de tomar um banho. Desconfiado, Godric olhou atentamente
para o garoto.
Por favor, milorde, eu adoraria mergulhar em uma banheira ela insistiu.
Godric a mediu com o olhar e, por um momento, ela temeu que ele fosse despila e coloc-la na banheira. E Meirion permitiria, se isso salvasse seu irmo.
Damien j mostrava cansao por segurar a banheira.
Por favor, milorde, sou apenas um garoto pobre e manco, tentando agradar
minha patroa.
Mas que menino dissimulado! Ela nem se lembrava da ltima vez que Damien
tentara agradar a algum. Se ao menos ele fosse embora!
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freneticamente.
Santo Deus, Damien, fuja!
Mas Damien parecia paralisado e, mesmo que no estivesse, no conseguiria
escapar de Godric, que o segurava pelo brao.
Meirion deu um passo para trs, e Godric a soltou, puxando Damien para
dentro do quarto e encostando-se porta.
O menino olhava-o como se ele fosse um deus mstico.
Eu no sabia que voc tinha um irmo Godric dirigiu-se a Meirion.
Meio-irmo Damien corrigiu-o. O pai dela tem vergonha de mim,
milorde.
Se voc o machucar, eu o matarei! Meirion se colocou entre ambos.
Juro!
Eu poderia ser um bom arqueiro, milorde, se me der uma oportunidade.
Damien! Seu tolo! Ele estava mentindo, voc no pode ser um arqueiro.
O garoto abaixou a cabea e calou a boca. Godric encostou-se na porta,
apoiando um p nela.
O que vou fazer com vocs dois?
Se tocar em um fio de cabelo dele... Meirion disse, furiosa, enfrentando
Godric como uma leoa protegendo os filhotes.
Seu irmo estar a salvo enquanto me obedecer. Oh, cus! Damien raramente
obedecia a ordens.
Mas o menino meneou a cabea, e Meirion outra vez teve vontade de chut-lo.
Nosso plano mudou avisou Godric. Lady Meirion, tem uma hora para
tomar banho e partiremos. Voc, garoto, acompanhe-me.
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Captulo VI
Exatamente uma hora depois, Meirion sentou-se diante do fogo que Godric
tinha acendido e passava os dedos pelos cabelos para sec-los. Os ltimos raios
de luz atravessavam a janela, e minsculos pontos de poeira danavam na
claridade. Sentiu um vazio no estmago ao pensar em seu meio-irmo. Se
Godric tocasse em um s fio de cabelo de Damien, ela o mataria. Meirion era a
nica pessoa que protegia o garoto e o amava muito.
Fez-se ouvir o barulho de chave na fechadura, a pesada porta se abriu, e Godric
entrou, acompanhado de Damien. Ela deu um pulo e correu para perto do
irmo. Ele estava vestido com outras roupas: tnica cinza, calas justas pretas e
a familiar capa roxa com listras azuis. E sorria.
Meirion ergueu o queixo do irmo, como se ele fosse uma criana pequena e
indefesa, embora tivesse quase a altura dela.
Ele machucou voc? perguntou, inspecionando Damien para ver se tinha
algum ferimento. Mas nada viu.
Ele me deu comida.
Voc comeu com Godric? Isso no uma festa com a rainha, Damien.
Mas... voc o beijou, minha irm, no beijou?
Agora isso no interessa. Ele nosso inimigo, Damien! Meirion quase
gritou, muito irritada.
Godric, que ficara na porta, limpou a garganta.
J chega, milady. Essa conversa est indo longe demais.
O que voc disse a ele? ela perguntou ao menino, ignorando Godric,
embora sentisse seu olhar sobre si.
Nada... Eu no disse nada Damien deu de ombros.
Meirion olhou para seu raptor. Godric tinha se barbeado e ostentava um queixo
aristocrtico. Seus cabelos negros haviam sido penteados e chegavam aos fortes
e largos ombros. As cicatrizes lhe davam um aspecto perigoso, mas seus lbios
sensuais faziam promessas erticas.
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Vestia uma tnica preta limpa e calava botas altas sobre as calas justas.
Parecia um anjo da meia-noite.
Meirion sentiu a boca seca e por um momento no pde dizer nada. Piscou
vrias vezes at perceber que a espada de seu pai pendia da cintura de Godric.
Essa espada nossa ela declarou, indignada, apoiando as mos nos
quadris.
Est melhor nas minhas mos.
Voc no pode roubar nossos pertences.
Eu no roubei nada. Peguei o que meu.
Como pegou o que seu? A espada do meu pai, no sua. Tampouco eu
sou sua e nem Damien.
Minha pacincia tem limite, miladyele retrucou, aproximando-se dela.
Estou farto das suas reclamaes.
Voc no vai escapar Meirion o ameaou, dando um passo para trs e
caindo sentada na cadeira.
Talvez sim, talvez no. Godric lhe ofereceu a mo para que se levantasse.
Ela olhou com desdm para a mo estendida e se levantou sem a ajuda dele.
Godric deu de ombros e lhe entregou um pacote.
Vista isto.
O que ?
Roupas.
Era uma tnica grande, feia e esfarrapada, e uma saia larga. Trs rasgos haviam
sido mal costurados, enquanto os outros permaneciam abertos. A cor era
indeterminada, embora tivesse manchas verdes e pretas.
Voc quer que eu vista isto?
Foi o que pude conseguir.
Esta roupa d nojo! Meirion torceu o nariz.
Se preferir ir apenas com o camisolo ou... nua... v em frente. Para mim
indiferente.
Ela apertou os lbios e vestiu a roupa cheirando-a. Mas o odor era mais fcil de
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Ela olhou para o irmo. Santo Deus, esquecera-se dele! Damien segurava um par
de sapatos de couro e no deu mostras de perceber os olhares trocados entre o
irmo e seu raptor.
Meirion pegou os sapatos, que no estavam em melhor estado do que as
roupas, e os ps no cho para cal-los. Eram horrveis e grandes, mas era
melhor do que andar descala.
Godric entregou-lhe uma corda, e ela a ps ao redor da cintura como se fosse
um cinto.
Obrigada.
Voc est pronta? Podemos ir?
Meirion assentiu com a cabea, sentindo-se desnorteada.
Ento vamos. Nosso tempo de descansar acabou.
Os trs desceram a escada, atravessaram o salo da estalagem e saram para o
ptio.
Limpa e de posse de uma jia, Meirion se sentia como uma das damas da
rainha. Ignorando o sentimento de culpa por usar uma jia, enquanto muitas
pessoas passavam fome, ajustou o pente para se certificar de que estava seguro.
Seguiu Godric e Damien pelo ptio, desviando-se das galinhas e dos porcos. A
hora do jantar se aproximava e muitos trabalhadores chegavam, vindos do
trabalho. Um garoto sujo vinha dos estbulos carregando uma p. Ele
demonstrou surpresa ao ver Meirion com uma jia nos cabelos e uma tnica to
esfarrapada.
Ela ergueu o queixo, e o rapaz sorriu maliciosamente. Meirion ficou
constrangida, tentou andar mais depressa, mas seu sapato, grande demais, saiu
de seu p. Sentindo-se tola, calou novamente o sapato e olhou para as largas
costas de Godric, que caminhava sua frente. Damien tambm o seguia feito
um cachorrinho. Ento, Meirion percebeu que tambm ela seguia Godric. Tirou
o pente e o colocou no bolso da tnica. Tambm agia como se fosse um
animalzinho de estimao com uma linda coleira.
Godric era perigoso, e se ela continuasse a obedecer-lhe, logo estaria a seus ps.
Esse pensamento vil a trouxe de volta realidade e sua promessa de nunca
trair seu dever. J no tinha entendido o que a desobedincia e a teimosia
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haviam trazido sua vida? Se tivesse sido uma mulher mais obediente e meiga,
estaria agora casada com um homem educado e bonito que a teria protegido de
homens como o Drago.
Respirou fundo, tentando se acalmar. Um homem que rapta uma mulher,
tirando-a de seu quarto como se fosse um animal, apenas por vingana, no era
algum com o qual se pudesse brincar. Se no se livrasse dele, poderia levar
todo o seu povo destruio.
Agora, calada e vestida, tinha como conseguir comida. Essas coisas,
certamente, eram sinais de Deus, que a queria livre. Seria melhor enfrentar os
perigos da floresta do que os perigos da alma. Voltaria para seu pai e para seu
marido. Deus a protegeria por estar cumprindo seu dever.
Meirion constatou que o ptio era todo cercado. Cavalos pastavam, e porcos
procuravam comida. Ela olhou ao redor e viu um porto destrancado, no fim do
ptio. Diminuiu os passos e foi ficando cada vez mais para trs, ciente de que
precisaria de uma boa distncia para fugir. Preparou-se mentalmente para o
momento em que Godric entrasse no estbulo.
Neste instante, correria at o porto. Olhando por sobre o ombro, percebeu que
Damien no olhava para ela. Precisava avis-lo.
Corra, Damien Meirion foi forada a gritar e se embrenhou na floresta.
Era lgico que Godric a perseguiria em primeiro lugar, dando a Damien a
oportunidade de fugir.
J na floresta, ela ergueu a roupa para facilitar a corrida e ouviu o som dos
passos de Damien, que vinha atrs. Agora era s encontrar um lugar para se
esconderem.
Logo sentiu-se agarrada pelo brao e puxada. Sua saia ergueu-se, e Meirion
perdeu um sapato.
Nem pense em fugir, mulher tola e teimosa resmungou Godric.
Ela fechou as mos e tentou esmurr-lo no peito.
Solte-me! Voc um bruto! Ele a segurava firme no lugar.
Voc ter de aprender a se comportar. Godric a puxou na direo do
porto, e dali para os estbulos. No pretendo gastar meu tempo
perseguindo voc.
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brao. E pegou o pulso do menino antes mesmo que ele esticasse o brao.
Amarrou-o e o prendeu sua prpria cintura, deixando um bom espao entre
ambos. Feito isso, deu um tapinha no ombro de Damien.
Desculpe-me, garoto. uma precauo. Para o bem de sua irm.
Eu entendo, senhor Damien disse, olhando severamente para Meirion,
que teve vontade de agredi-lo.
Realmente, Damien parecia um bichinho de estimao de Godric.
No tente fugir ou seu irmo ser prejudicado ele tambm deu um
tapinha no ombro dela.
Como se atreve a tratar meu irmo como se ele fosse um cachorro?
apenas uma garantia para que voc no fuja. Ter de se comportar.
Desgraado! Meirion exclamou, fechando os punhos.
J fui chamado de coisa pior. Godric riu com ironia.
Est vendo o que voc fez? ela olhou com raiva para o irmo.
O que eu fiz? sua culpa. Se no tivesse tentando fugir, eu no estaria
amarrado deste jeito.
Ele envenenou a sua alma. Ns poderamos ter fugido. Meirion virou-se
para Godric: No vou cavalgar com voc.
Estou cansado de discutir. Ele suspirou profundamente. Se no quiser
montar, pode ir a p. Dou-lhe o direito de escolher.
timo. Ela cruzou os braos sobre o peito. Prefiro caminhar ao lado de
um porco.
Como queira. Godric encerrou a discusso.
A lua cheia estava alta no cu quando Godric parou para passarem a noite.
Meirion tinha a distinta impresso de que suas pernas pesavam uma
enormidade. Ela quase se arrastava sem poder ergu-las por mais tempo.
Andara ao lado dos cavalos, olhando com raiva para seu irmo e para Godric.
Damien montado em uma gua e ainda amarrado cintura de Godric, tambm
olhava para ela.
Godric, cavalgando majestosamente, olhava apenas para o rio e para o caminho
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que percorriam. Segurava as rdeas de Vingana com uma das mos e, com a
outra, as rdeas da montaria de Damien.
No conversaram, Meirion no emitira nenhum som nem reclamara, desde que
haviam deixado a estalagem. Jurara a si mesma suportar a longa caminhada, os
espinhos e pedras que machucavam seus ps, que os sapatos de sola fina no
eram suficientes para proteger, e os galhos que arranhavam suas pernas e
braos. Apesar da roupa e da bno de no ter chovido, ela sentia-se acabada e
deprimida.
Godric desmontou, indicando uma rea elevada.
Acamparemos aqui.
Uma coruja piou, e sapos coaxaram dentro da noite. Um pequeno riacho flua
sobre pedras, e, a alguns passos deles, as rvores forneciam uma boa proteo
sob o cu estrelado.
Era um lugar tranqilo. Em outras circunstncias, Meirion teria gostado de
estar ali.
Godric desamarrou Damien para que ele apeasse do cavalo.
Voc um bom cavaleiro. Muitos homens teriam perdido o equilbrio sem as
rdeas para segurar e com uma das mos amarrada, mesmo cavalgando
devagar.
Damien sorriu para Godric.
Pequeno traidor!, pensou Meirion.
O garoto amarrou a gua em um galho de rvore para que ela pastasse.
Quanto tempo levar a viagem? Damien perguntou.
Se a ponte no tiver sido carregada pelas chuvas que tm cado
torrencialmente, chegaremos em dois dias.
Para onde est nos levando? Meirion indagou, quebrando seu autoimposto silncio.
Para a minha caverna. Godric ergueu uma sobrancelha com cinismo.
Ela teve mpetos de pular sobre ele.
Voc mora mesmo em uma caverna? quis saber Damien, intrigado.
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O fato de ele no raptar noivas durante a noite no quer dizer que seja fraco
ela respondeu, irritada.
Eu fao o que devo para manter o que meu.
Meirion no disse mais nada.
Acenda o fogo, garoto. Godric atirou para Damien um pedao de pedra.
Ele no sabe...
Damien olhou para a irm e a fez interromper o que ia dizer. Cus, o menino
parecia estar com raiva dela.
Damien ajoelhou-se no cho e arrumou a lenha. Meirion o observava. Ele era
desajeitado. Depois de algumas tentativas, conseguiu acender o fogo, que logo
se apagou sem incendiar a lenha.
Meirion fez meno de ajudar, mas novamente foi interrompida pelo olhar
severo do irmo. Ele no a perdoaria se ela o atrapalhasse.
Damien continuou tentando, mas no conseguia acender a fogueira. Meirion
percebeu que Godric observava a cena com o canto dos olhos. Ela apertou com
tanta fora o tronco sobre o qual estava sentada que farpas de madeira entraram
debaixo de suas unhas. A floresta parecia to tensa quanto Meirion. Tudo era
silncio, e Damien continuava a lutar para acender a fogueira. At a coruja
parar de piar. Godric terminou suas tarefas e olhou para o garoto com o cenho
carregado.
Quem o ensinou a fazer fogo?
Ele no um criado Meirion interveio.
Os lbios de Damien tremiam e o suor escorria por seu rosto.
Ningum, senhor o menino respondeu, envergonhado. Eu nunca
acendi uma fogueira.
Voc no sabe fazer fogo?
Damien ruborizou.
Voc no tem de aprender a acender fogo, Damien. No h necessidade em
casa e nem aqui Meirion declarou.
E voc alguma vez acendeu? Godric perguntou a ela.
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Captulo VII
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Nunca fui capaz de chegar sorrateiramente perto de voc, e Deus sabe como
tentei.
Estou feliz em ver voc, velho amigo. Godric respirava profundamente,
inalando o ar puro da manh. Balanou a cabea, e Meirion teve a impresso de
ver um leopardo acordando depois de uma longa sesta.
Ns deveramos ter nos encontrado na estalagem disse Byron.
No foi possvel. Godric deu de ombros, sem citar detalhes.
O homem de um brao s no pareceu dar importncia por no ter obtido uma
resposta mais completa. Em seguida, olhou atentamente para Meirion.
esse o seu prmio? No parece ter tamanho suficiente para causar tanto
problema.
No se deixe enganar pela baixa estatura dela.
Tampouco parece uma dama. Byron olhou para a roupa rota que Meirion
usava.
Ela desejou ter um cobertor ou alguma outra coisa para se cobrir. Seu corao
ainda estava disparado por haver sido acordada com uma espada perto do
rosto.
E so dois refns no lugar de um observou Byron. Meirion olhou para o
irmo, ainda sentado perto do fogo.
O menino fitava os homens, piscando devido claridade da fogueira.
Voc Byron, o espadachim de um brao s! Damien disse, exaltado,
aproximando-se do gigante. Os trovadores cantam a seu respeito.
Eu sabia que deveria t-lo mandado para a cama na ltima vez em que os
menestris apareceram na aldeia Meirion resmungou, olhando severamente
para o irmo.
O grandalho ignorou-a, olhando apenas para Damien.
E quem voc, garoto?
Sou Damien.
O homem deu uma gargalhada e avanou um passo frente, quase pisando nas
cinzas da extinta fogueira.
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Byron, pegue comida para o nosso caf da manh. Damien, junte mais lenha.
O resto de vocs, parem de olhar para uma mulher como se nunca tivessem
visto uma, e aprontem as montadas para partirmos.
Os homens se viraram vagarosamente.
Agora! ele ordenou.
Eles se puseram em ao, e Godric desamarrou os pulsos de Meirion. Ela puxou
as mos, mas ele as reteve para examin-las. Os pulsos tinham as marcas das
cordas, e Godric acariciou-os, para logo em seguida solt-la.
A preocupao dele a deixava aturdida. Cus, que homem doido!
Meirion comeou a esfregar o pulso, mas Godric a impediu, pegando sua mo
de novo.
No esfregue nas marcas, a pele fina e pode rachar. Deixe voltar ao normal
naturalmente.
Ele se ps a massagear os dedos dela, um por um.
Isso bom Meirion sussurrou.
Godric sorriu, um canto da boca erguendo-se mais do que o outro. Ela corou.
No tivera inteno de falar alto, e ele continuou a massagem em um ritmo
lento at que, de repente, virou a cabea para o lado.
Voltem s suas tarefas gritou para os homens, que haviam parado para
apreciar a cena.
Sorrindo, eles comearam a preparar os cavalos, e Meirion, envergonhada, teve
vontade de encontrar um buraco para esconder-se. Estivera to compenetrada,
olhando as mos de Godric, que nem percebera que eram observados.
Homens no resistem a uma mulher graciosa Godric declarou, pondo os
cabelos dela atrs das orelhas.
Sentindo urgncia em fazer alguma coisa, qualquer coisa que pusesse distncia
entre os dois, ela pegou o pente do bolso e o ps nos cabelos.
Que droga! Devia estar horrorosa, vestida com uma roupa em farrapos, os
cabelos sujos e despenteados.
Ento, voc acha que sou graciosa? Meirion perguntou, com ar inocente.
No ele respondeu secamente.
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Ela ficou decepcionada, pois sabia que Godric sempre dizia a verdade.
Olhou para si mesma. De fato estava um desastre. Seus cabelos tinham
pequenos gravetos e lama seca. Levaria um ms para deix-los decentes.
Voc no apenas graciosa. uma jia rara.
Oh... Meirion ficou agradavelmente surpresa.
Aproveite agora para ter um pouco de privacidade. Se demorar, irei atrs de
voc.
Franzindo o cenho, ela olhou para Godric com raiva.
Lembre-se de que tenho seu irmo ele a avisou.
Resmungando, Meirion embrenhou-se na floresta. Godric encostou-se numa
rvore e se ps a admirar o menear elegante de seus quadris. Da ltima vez que
lhe dera privacidade, tivera de ir busc-la e salv-la de um javali.
Voc acha que deix-la sozinha um ato inteligente? Byron perguntou ao
aproximar-se dele.
No. Mas no quero lhe dar mais motivos para pensar que sou um demnio
vindo diretamente do inferno.
Voc a tomou como havia planejado?
Eu a raptei, porm... no a possu. Godric contraiu a mandbula.
Ela ainda virgem?!
Sim.
Voc devia acabar com a virgindade da moa antes de voltarmos aldeia.
Foi para isso que parou na estalagem.
Godric desencostou-se da rvore e olhou para o amigo.
No tenho estmago para fazer isso.
Mas ela bonita e sua Byron declarou, indignado. E voc planeja isso
h anos.
Godric ergueu os ombros.
O rei, a Igreja, todos apoiaro a sua reivindicao seu amigo acrescentou.
Godric olhou na direo da floresta, sem responder.
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Voc ficou mole? Byron perguntou, olhando para o lado esquerdo, onde
faltava seu brao. Esqueceu como a priso? Essa pequena vadia vendeu
voc como escravo.
Fale dela com respeito, pois vai ser minha esposa, Byron ele disse com os
dentes cerrados, apertando a garganta do amigo, que deu um passo para trs a
fim de soltar-se.
Sim, meu amo, desculpe-me, mas ter mais direito de reivindic-la se a
possuir.
Eu sei. Farei isso no momento certo.
Byron passou a mo na garganta e olhou firme para o amigo.
O tempo urge. O marido dela pode aparecer esta noite e todo o nosso
trabalho ter sido em vo.
Godric apoiou a mo no cabo da espada por um longo momento. No era a
maneira ideal, mas Urso tinha razo.
Voc est certo, amigo velho.
Acabe logo com isso. Ela no merece a sua misericrdia.
Byron deu um tapa no ombro de Godric. O rei Edward ficar satisfeito em
saber que voc domou uma mulher geniosa e desobediente. Alm disso, voc
sabe como ser gentil em momentos como esse. Aprendeu vrias maneiras de
acalmar a dor de uma mulher na primeira vez.
Godric cocou o queixo, pesando as palavras do amigo.
Seduza-a uma segunda vez, e ela o perdoar por ter forado a primeira
Urso continuou.
. Eu deveria fazer isso.
O rapto dela correu como voc tinha planejado?
Sim, foi at mais fcil. Pena que o marido no estava com ela. Eu teria
gostado de uma boa luta.
Esquisito. O marido no estava no quarto na noite de npcias... Byron
olhou para os homens, que lidavam com os cavalos.
O marido um homem velho explicou Godric.
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no cho.
Ele manteve a mo e o chicote no ar. Uma mancha se formou na cala do rapaz,
e o cheiro de urina chegou s narinas de Meirion.
Droga! Godric resmungou, largando o chicote.
Os dois soldados deitaram Owain no cho.
Tratem das feridas dele e aprontem os cavalos Godric ordenou, indo na
direo de Meirion, maior e mais atemorizador do que nunca. No era para
menos que o chamavam de Drago.
Meirion tinha vontade de desaparecer para sempre; abriu a boca, mas no
emitiu nenhum som.
V tomar seu caf da manh. Coma po e queijo. Hoje voc ir a cavalo. A
voz de Godric no tinha mais a suavidade com a qual ela se acostumara.
Eu irei a p Meirion sussurrou.
No, no ir a p. O tom de voz dele no deixava brecha para discusso.
Quanto mais cedo chegarmos a Montgomery, mais rpido voc ser minha.
Meirion no teve dvidas sobre o significado dessas palavras. Godric a surraria
se ela lutasse com ele?
Ergueu o queixo, determinada a manter sua dignidade, mas de nada adiantou.
Estava em pnico.
A caminho, homens Godric determinou, depois que todos tomaram o caf
da manh.
Uma soturna e intranqila trgua se estabeleceu entre Meirion e Godric,
enquanto eles cavalgavam em direo ao castelo de Montgomery. A luz do sol
infiltrava-se por entre os carvalhos, mas nuvens escuras formavam-se no cu.
Logo uma chuva fina comeou a cair. Montada na frente de Godric, Meirion era
protegida pelo corpo dele e quase no se molhava, mas ao olhar para Damien,
ficou com pena. Seu irmo estava ensopado e parecia muito deprimido.
Depois de uma elevao, um enorme castelo sobre uma colina dominou toda a
paisagem.
Tinha torres altas e, daquela distncia, parecia atemorizador.
aquele o castelo para onde estamos indo?
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atravessar as paredes do castelo, enquanto ela desejava estar bem longe dali.
Godric soltou as rdeas, deixando Vingana livre para correr em direo ao
castelo. Como seu dono, o animal era cheio de energia.
Subitamente, Meirion teve uma idia. Talvez pudesse domar Godric como ele
tinha domado o cavalo. Talvez pudesse anular o desejo de vingana que o
consumia. Poderia ficar com ele, se Godric desistisse da idia de se apossar das
terras de sua famlia.
Olhou para o brao que a aprisionava. Mesmo que ele aceitasse, seu pai e seu
marido iriam declarar guerra mutuamente, e isso poderia significar a morte
para seu povo. Se ao menos ela fosse homem e pudesse escolher o prprio
destino!
Fale-me a respeito da sua famlia Meirion pediu, depois de algum tempo.
Meu pai deixou-se conduzir como a um fantoche pela sua tola e mimada
esposa.
Mas no isso o que as mulheres fazem, sendo dominadas pelos homens h
sculos?
natural que a mulher obedea ao seu marido.
Seu pai ainda est vivo?
No. Ele j morreu.
Os modos dele eram iguais aos seus?
Pareo-me com ele, sim.
Meirion virou a cabea e olhou mais uma vez para Godric.
Sua madrasta envenenou seu pai?
Oh, que idia... milady! ele quase sorriu. Lembre-me de mant-la
amarrada at chegar o dia em que eu possa confiar em voc.
O que o leva a pensar que eu no poderia me livrar das cordas? ela sorriu.
Manterei voc amarrada minha cama.
O pensamento de ser amarrada cama dele deixou Meirion impressionada,
mas ela foi tomada por uma sensao at ento desconhecida. Sentiu-se corar e
virou o rosto para que Godric no percebesse.
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orgulho dos prisioneiros, que viravam motivo de chacota e risos para todo o
povo da aldeia. Jogavam frutas podres neles e, se os infelizes tropeavam, eram
amarrados atrs dos cavalos.
Meirion inclinou a cabea para um lado e olhou para Godric. O rosto dele no
demonstrava nenhuma reao.
Como era tola! Um minuto antes conversara com Godric como se ele fosse
racional. Olhou para Damien e viu seu irmo tremendo, envolto em um
cobertor fino.
Como se atreve?! Ela tirou o pente do bolso e espetou com ele a coxa de
Godric.
Que isso, mulher? ele perguntou, surpreso, limpando o sangue da coxa
Ficou louca?
Meirion deu um passo para trs, surpresa com a prpria reao. Cus, Godric
podia mat-la. E a, quem iria proteger Damien?
Seu irmo olhava para ela, boquiaberto.
Eu deveria surr-la por causa disso ameaou Godric. Meirion encostou-se
a uma rvore e olhou ao redor. No havia para onde correr.
Faa o que quiser, seu grosso, mas nunca me curvarei a voc!
Vamos testar? ele perguntou, aproximando-se dela com os punhos
cerrados.
De repente, Godric mudou de direo e pegou no brao de Damien, tirando-o
de sua montaria. O menino arregalou os olhos, empurrado por Godric em
direo irm.
Como voc no tem d do prprio corpo, talvez seja melhor seu irmo pagar
pela sua transgresso. Godric olhou para Byron. Traga-me o chicote.
No! Meirion gritou, aterrorizada, lembrando-se de Owain.
O que me diz? No acha uma boa idia? Godric perguntou.
No! No! Ela comeou a chorar. Meu irmo inocente! Ele no fez
nada!
Mas voc no .
Urso lhe estendeu o chicote, sem olhar para Godric, e se afastou.
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Irm... Damien tentou falar, porm Godric ergueu a mo para que ficasse
quieto.
Meirion perdeu o orgulho e soube que faria o que ele quisesse para manter seu
irmo a salvo. Odiava Godric.
O que voc quer de mim? ela murmurou.
Os olhos azuis dele brilhavam. Godric ergueu-lhe o queixo entre o polegar e o
indicador, forando-a a olh-lo. Meirion tinha vontade de gritar, mas conseguiu
se controlar. O cheiro msculo de Godric a deixava ofegante.
Passaram-se vrios segundos.
Damien olhava para os dois, sem nada entender.
Quero que voc pare de lutar comigo. Quero voc na minha cama.
Ento isso? Voc quer violar meu corpo e o corpo de meu irmo? Voc o
demnio em pessoa! indecente!
Godric soltou Damien que, mancando, correu como pde de volta ao seu
cavalo.
Godric segurou Meirion pelos ombros, os olhos chispando fogo.
No precisaria ser desse jeito, voc sabe.
Como seria? ela perguntou, ainda enfrentando-o.
Curvando-se, ele pegou o pente do cho com um movimento preciso.
Endireitou o corpo e mostrou o pente para ela, os dentes sujos de sangue.
Escolha, ou eu escolherei por voc. Meirion engoliu a seco, horrorizada.
Godric estendeu os braos at a rvore atrs dela, formando uma priso de
msculos. E Meirion no conseguiu ver mais nada alm dele e nem sentiu outro
cheiro que no o dele.
Godric beijou-lhe a testa, as tmporas e o nariz.
Pode escolher. Sei que a sua pele responde ao meu toque. Sinto seu corao
bater acelerado.
Sim, meu corao est acelerado. De medo e de raiva.
Ele passou os dedos pelos ombros de Meirion, que estremeceu, os bicos dos
seios ficando trgidos. Godric percebeu e murmurou:
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palavras eram speras, e seus olhos, frios. O homem calmo havia ido embora,
substitudo pelo Drago.
Submeta-se, Meirion. Godric a segurou pelos ombros.
Sim... Ela no acreditava na prpria voz.
Ele a beijou com paixo, segurando-lhe a nuca para que Meirion no se
afastasse, e o beijo tornou-se mais carinhoso quando ela parou de lutar.
Suas lnguas se encontraram, como amostra do prazer que o corpo de Meirion
iria desfrutar.
Godric tinha o olhar vitorioso.
Diga sim para que ambos possamos ouvir.
Sim ela sussurrou.
Mais alto.
Sim, seu indecente.
Indecente? Ele sorriu.
Voc me garante que no fugir se eu lhe der alguns momentos de
privacidade para que se refresque? Godric perguntou de modo to lascivo
que Meirion teve vontade de fugir novamente.
O qu? Ela piscou.
Viajamos muito tempo. Voc pode querer limpar a sujeira do seu rosto.
Sujeira?
Meirion voltou a si. Devia estar imunda, depois de andar pelos campos da
Inglaterra.
E ento? ele indagou. Tenho a sua promessa?
Voc me tirou do cavalo para que eu pudesse me lavar? ela perguntou, o
cenho franzido.
Sim.
Nunca teve a inteno de desfilar comigo e com Damien como seus
prisioneiros?
claro que no. O que a levou a pensar isso?
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Captulo VIII
Godric tinha uma filha! Meirion ficou aturdida. Nunca lhe ocorrera que um homem to amedrontador fosse pai. Bem, talvez um ou dois filhos bastardos pelos
lugares por onde passava, mas no uma garotinha que, de braos estendidos,
corria para ele chamando-o de papai.
A menina parou do lado do cavalo e esticou os bracinhos para Godric. Suas
mos eram pequenas e delicadas, porm tinham as unhas sujas, bem como a
palma das mos. Vingana levantou a cauda e farejou a cabea da criana. Ela
no se afastou e tornou a erguer os braos para o pai.
Pegue-me, papai.
Godric se curvou para pegar a filha.
Cus, em cima de um cavalo no h lugar para trs pessoas! Meirion
resmungou, com medo que Vingana pudesse derrub-los.
A garota riu e agarrou-se ao brao do pai. Ele a ergueu e a segurou contra o
peito. Ela se torceu como um animalzinho preso em uma armadilha. Meirion
curvou-se para a frente a fim de evitar as pernas da menina que, mesmo assim,
atingiram sua tmpora.
Meirion suspirou tentando manter o equilbrio, mas o cobertor que lhe cobria as
costas caiu na grama.
A garota continuava rindo, e Vingana deu um passo para o lado.
, Vingana... Fiquem quietas vocs duas! Godric pediu.
No sou s eu quem est se mexendo. Meirion apoiou-se nas coxas dele.
Quem ela? perguntou a menina, que cheirava a grama e flores do
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campo.
Ela ser a sua nova me Godric respondeu com voz terna.
O qu? ambas indagaram.
No gosto dela. A garotinha olhou para Meirion com desconfiana.
Pode ficar sossegada, no vou tomar o lugar de sua me Meirion tentou
parecer delicada, mas virou a cabea e olhou para Godric com o cenho franzido.
Pretendo ir embora assim que seu pai permitir.
Voc no vai a lugar nenhum ele declarou. Vingana deu novamente um
passo para o lado e relinchou.
No gosto dela a menina repetiu, passando a mozinha no rosto do pai.
Espero que aprendam a conviver uma com a outra Godric contemporizou.
A garota arregalou os olhos, e Meirion teve a impresso de que ela nunca era
contrariada pelo pai.
No quero viver com ela teimou a criana.
Vingana relinchou mais uma vez, como se estivesse participando da discusso.
Seu cavalo quer que desmontemos Meirion disse.
Puxando as rdeas, Godric fez o cavalo parar. Ps a filha no cho e apeou,
deixando Meirion desmontar sozinha.
Eu no gosto dela, papai a menina tornou a dizer, levando uma das mos
boca.
Agora, chega, no quero que diga isso ele ralhou e beijou a testa da filha.
Mande-a embora insistiu a linda garotinha.
Sim, sua filha teve uma boa idia. Mande-me embora.
J disse que chega! Fiquem quietas... as duas.
Godric fez um gesto para que um dos homens levasse Vingana, e Meirion ficou
observando, pois precisava saber onde eram os estbulos. Talvez viesse a ter
uma oportunidade de fugir...
A vastido do lugar fez Meirion pensar que seu pai e seus homens jamais
conseguiriam sitiar aquele castelo para resgat-la. Tambm no poderia fugir
sem Damien.
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Procurou o irmo com os olhos e o viu conversando com Urso. Ele parecia
contente com a situao. Lembrando-se da ameaa de Godric* de chicote-lo,
Meirion ergueu os ombros e ficou quieta.
Os homens de Godric se espalharam em vrias direes e o povo do castelo
aparecia de todos os lados, lotando o ptio, o odor dos cavalos misturando-se
ao cheiro de po fresco. A distncia, um som metlico e ritmado identificava o
martelo de um ferreiro.
Venha Godric chamou Meirion, apoiando a mo sobre seu ombro e
pegando a filha, que no afastava os olhos dela, no colo do pai.
Quantos anos voc tem? Meirion perguntou amigavelmente, enquanto se
dirigiam para um dos arcos do castelo.
No quero falar com ela. A menina olhou para o pai.
No faa isso, seja corts Godric ralhou, passando a mo pelos cabelos da
filha. Ela tem dois anos e um pouco tmida.
Mimada, isso sim, Meirion teve vontade de dizer.
Ela se veste engraado a menina cochichou no ouvido de Godric, mas
Meirion escutou.
Foi seu pai que arranjou esta roupa para mim. Ela pegou as laterais da
saia e fez uma mesura. E vai arranjar uma igualzinha para voc. Meirion
no resistiu ao desejo de provocar a menina.
A criana olhou-a de um modo to estranho que Meirion caiu na risada. Era
difcil culpar a garota por modos que, obviamente, herdara do pai.
Qual seu nome?
Vamos, diga o seu nome Godric encorajou a filha.
Eu no quero falar com ela. A menina escondeu o rosto e deu um pontap
no brao de Meirion.
Ai! Meirion gemeu, esfregando o brao.
Ela se chama Amelina Godric disse e beijou a filha.
Godric, meu irmo, voc chegou! ouviu-se uma voz masculina.
Meirion perscrutou o lugar, curiosa para ver quem falara, mas o homem ainda
estava na sombra do castelo, a uns vinte passos de distncia.
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Urso levou-a quase arrastada, e a mulher plida tambm saiu da sala, atrs
deles.
E Meirion sentiu-se como uma santa condenada por engano eternidade do
inferno.
Meirion foi quase arrastada pelos corredores, em direo ao quarto de Godric.
Sentia-se frustrada e arrasada.
Desde a chegada a Montgomery, ele havia se tornado pior que um estranho.
Sua gentileza fora substituda por atitudes duras e autoritrias, e ela tremeu ao
pensar o que iria lhe acontecer a partir daquele momento. Fechou os punhos,
recusando-se a ceder ao medo e apreenso.
A mulher a seu lado resmungava, deixando-a ainda mais agitada. Se essa
mulher tivesse enfrentado Godric, Meirion no estaria agora sendo levada ao
quarto dele como uma ovelha indo para o sacrifcio.
Velas queimavam em suportes, nas paredes dos enormes corredores, e os olhos
de Meirion ardiam. Agora Urso a conduzia gentilmente, segurando-a pelo
cotovelo. Passaram por vrios arcos antes de pararem na frente de uma pesada
porta de carvalho, no final do corredor. Um guarda forte, baixo e feio, com
apenas um olho, estava sentado em uma cadeira ao lado da porta. Ele carregava
um machado no cinto.
Cus, Godric no se sentia confortvel em seu prprio lar, se necessitava de guardas o
tempo todo.
Godric, meu amo, mandou-me pr esta dama no quarto dele Urso
declarou.
O guarda resmungou e levantou-se.
Voc dever trancar a porta por fora Urso continuou dando instrues,
rodando o anel no dedo, como de costume. Foi difcil chegar aqui e meu amo
tem negcios para terminar com ela.
Meirion tremia de raiva e de apreenso. Era tratada por todos como se fosse
propriedade de Godric.
Segurando o machado com uma das mos, o guarda abriu a porta e ficou de
lado para que ela pudesse entrar.
Eu cuidarei da madame o guarda disse, com voz grossa e baixa.
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quebrou o silncio.
O rosto da mulher era uma mscara de ressentimento.
Voc ainda no percebeu que Godric faz o que deseja?
Quem voc, afinal? parente dele?
Sou a madrasta diablica.
Voc a madrasta de Godric?! Meirion estava surpresa por ela ser to
jovem.
A mulher meneou a cabea, que encostara no espaldar da cadeira.
Mas voc parece ter a mesma idade dele.
Sou seis anos mais velha. A outra sorriu e sua imagem ficou
radiantemente bela. As mulheres da minha famlia envelhecem bem.
Estou um pouco confusa. Voc era casada com o pai de Godric?
Era essa a criatura que ele definira como estpida e ciumenta?
Sim, fui dada em casamento ao antigo lorde de Montgomery, que Deus o
tenha, quando eu tinha quinze anos. Tive um filho e vivemos em paz durante
muito tempo, at que Godric apareceu e mudou tudo.
Continue. Meirion queria saber mais.
Meu marido, que Deus o tenha, sabia que estava morrendo e viu no rapaz
forte e sozinho um modo de expiar seus pecados a mulher revelou, sorrindo
com ironia.
Como assim?
Meu marido era nobre e queria transformar o filho bastardo em nobre
tambm. Pode imaginar uma coisa dessas? Quero dizer, Godric um bastardo,
filho de uma prostituta da aldeia.
A me dele no era uma prostituta. Meirion cruzou os braos, sem saber
por que o defendia.
Na minha opinio, qualquer mulher que tenha um filho fora do casamento
no melhor do que uma prostituta.
melhor que no deixe Godric ouvi-la falar desse modo.
Eu juro: meu marido, que Deus o tenha, teria legitimado o bastardo se meu
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Para uma condessa, a mulher no parecia ter muita autoridade. Onde teria sido
criada? Que tipo de educao recebera? Ela no tinha modos de nobre.
Lady Montgomery mexeu na maaneta da porta vrias vezes.
Tragam um dos meus vestidos para esta garota ela gritou, chutando a
porta. Ouviram-me?
Cus, o castelo todo iria ouvir.
Depois de alguns segundos, lady Slvia afastou-se da porta, parecendo ainda
mais derrotada.
Misericrdia... esse era o motivo de seu filho no se portar apropriadamente, Meirion
pensou.
Suno preguioso. Eles no trabalham. So todos uns inteis. S aceitam
ordens de Godric, o maldito... lady Slvia resmungou.
Voc no pode gritar dessa maneira com um guarda e esperar obedincia.
Voc consegue mais com os homens de Godric, hein?
Meirion suspirou.
Sei o que voc quer dizer. Sou to prisioneira aqui quanto voc. isso?
Godric tomou as minhas chaves lady Slvia explicou, depois de algum
silncio.
Mas por qu?
A mulher respondeu com outra pergunta:
O que voc fez para receber esse tratamento de Godric? Respirava alto
demais?
Eu estava dormindo quando ele me raptou.
Um crime de conseqncias medonhas lady Slvia ironizou.
No. No isso. No passado eu o tra.
Voc o traiu? Como assim?
No me casei com Godric. Meirion no sabia at que ponto devia falar.
Meu pai no permitiu.
Ah... Ento devo lhe agradecer. Foi voc que deu a mim e a James alguns
anos de paz.
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No entendi.
Estvamos sossegados aqui, enquanto Godric esteve preso.
Godric esteve preso? Ele no estava na corte da Frana?
Godric, o bastardo, na corte da Frana? Quem lhe contou essa histria?
Meu... pai. Meirion meneou a cabea, insegura. No acredito em voc.
Godric estava na Frana.
Minha querida, voc, honestamente, pode imaginar Godric na corte da
Frana?
Meirion tentou imaginar o corpo musculoso de Godric nas roupas de seda e
rendas que os homens usavam no continente. Realmente, era difcil. Tudo que
podia conceber era Godric, alto e forte, dentro de uma armadura, empunhando
uma espada, um grito de guerra nos lbios.
Lady Montgomery... Meirion sentiu um aperto na garganta como
Godric obteve aquelas cicatrizes?
Voc no sabe? Slvia olhou fixamente para a sua interlocutora.
No. Como foi? Meirion teve medo do que iria ouvir.
Voc o vendeu como escravo em um navio que ia para o leste.
A imagem dele vestido com uma armadura e empunhando uma espada foi
substituda por um Godric preso por correntes, sendo aoitado e tendo o belo
rosto ferido pelo chicote.
No possvel Meirion murmurou, olhando para a expresso satisfeita da
mulher.
Captulo IX
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houve
pausa
nas
conversas
quando
Godric
entrou
com
seus
Tenho sido muito paciente com voc. No me desafie na frente do meu povo
ele declarou.
Todo o sentimento de culpa que Meirion havia sentido evaporou-se, e ela
ergueu o queixo, provocativa.
Eu a castigarei se me desobedecer Godric disse, segurando-lhe o queixo
entre os dedos indicador e polegar. Seu olhar a alertava de que ele no estava
mentindo. Esse era um Godric que Meirion no conhecia. Diga-me que
entendeu.
Sim, milorde ela murmurou, sarcstica.
Godric reservara a outra cadeira ao seu lado para lady Montgomery, mas esta
ficou de costas para ele como uma adolescente petulante.
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para que todos lavassem as mos, seguidos de outros que traziam bandejas com
carne de veado, porco e peixe. A cena toda era um tanto desordenada, uma vez
que no havia nenhuma patroa na cozinha para orientar os criados. Tampouco
existia alegria, j que no havia msica nem dana nem acrobatas para animar o
ambiente.
Nas mesas havia bastante alimento, porm sem gosto. Godric comia com
apetite, como se no percebesse que a comida havia sido mal preparada.
Meirion olhou para lady Montgomery, que parecia prestes a chorar. Ela punha
comida na boca como um autmato.
Pensei que voc tivesse dito a ela para arranjar roupas decentes para milady
Urso disse a Godric, como se Meirion no estivesse presente.
Verei isso eu mesmo Godric respondeu, olhando para lady Slvia.
Meirion ps um pedao de carne de porco na boca. O ambiente tenso tinha mais
gosto do que a comida.
Uma cortina lateral abriu-se, e Damien entrou, vestindo trajes limpos e com um
sorriso de orelha a orelha.
Meirion deixou cair o garfo que levava boca.
Damien se aproximou da mesa carregando uma bandeja com tortas de amoras e
as depositou, sorridente e cerimonioso, na frente de Godric.
Voc fez meu irmo de criado?
Ele um pajem Godric a corrigiu, levando a taa de vinho boca.
uma profisso adequada a um garoto da idade dele.
Damien no seu pajem.
Engano seu... um posto bom para ele.
Como se atreve a saber o que melhor, para meu irmo e para mim?
Ele anda engraado, papai Amelina falou.
Meirion levantou-se abruptamente, derrubando a taa de vinho, e disse em voz
alta:
Meu irmo anda perfeitamente bem. E eu desafio qualquer um a falar o
contrrio.
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Todos na grande sala ficaram em silncio, olhando para ela. Urso ps a taa de
vinho sobre a mesa e sussurrou:
Milady, por favor, Amelina apenas uma criana. No sabe o que fala.
Damien ruborizou e, consternado, afastou-se da mesa em direo porta,
mancando ainda mais.
Est vendo? Amelina riu, apontando para Damien. Contrariada com a
conduta da menina, Meirion olhou para Godric.
Seja gentil, Amelina. Ele deu um tapinha no ombro da filha.
Sem se importar, a garota pegou um pedao de torta esqueceu o assunto.
Godric apoiou a mo no ombro de Meirion e a fez sentar-se novamente.
Voc, que to eficiente em controlar a todos, deveria controlar sua filha
tambm ela disse.
Godric olhou para um dos criados.
Leve nosso novo pajem para a cozinha. Ele no servir mais as mesas
enquanto sua irm no aprender a se controlar.
Meirion ficou lvida ao ver o modo como Damien olhou para ela ao se dirigir
para a cozinha. Tentou levantar-se da cadeira, mas foi impedida por Godric.
Meirion fitou-o com dio. Se pudesse, poria o contedo todo do vidrinho de
pio na bebida dele.
Voltem a comer Godric ordenou.
Todos obedeceram, e ele tomou um bom gole de vinho.
O garoto precisa aprender a se defender sozinho, Meirion. Defend-lo no
bom para ele.
claro que bom. Eu o mantive a salvo at hoje.
A salvo no. Apenas o manteve escondido. Godric inclinou-se, segurando
a mo dela que estava apoiada sobre a mesa.
Todos olhavam disfaradamente para eles, mas nenhum encarou Meirion.
Finalmente, voltaram a comer em profundo silncio.
Ningum falava. Ningum se movia. Nem depois de terem acabado de comer.
Nem Amelina.
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confiana.
Eric, voc pode me conduzir ao quarto em que eu vou dormir? Meirion
pediu ao rapaz.
Pela primeira vez, Godric desviou o olhar do tabuleiro.
No. Eu mesmo a conduzirei ao meu quarto.
Mas o jogo... protestou Urso.
Godric olhava atentamente para Meirion como se a despisse com os olhos.
Eu desisto do jogo.
Voc devia terminar ela sugeriu.
Voc nunca desiste. Urso estava surpreso.
Erguendo-se, Godric estendeu a mo para Meirion. Eric levantou-se
abruptamente, como se sentar-se ao lado dela tivesse desagradado a seu amo.
Vamos, milady. O tom de voz de Godric no deixava lugar para
discusso.
A faca dentro da manga de Meirion cutucava seu brao.
Ainda sentada, Meirion podia ver os msculos fortes das coxas de Godric sob as
calas justas.
Finalmente, ela se levantou, e ele lhe ofereceu o brao. Por um momento,
Meirion sentiu a boca seca e no quis nada alm de se deixar conduzir ao quarto
de Godric e sua cama obscena. Talvez ele se limitasse a dormir ao lado dela,
como fizera no acampamento.
Meirion tocou a ponta da faca que escondera na manga. No podia trair sua
famlia e seu povo tendo maus pensamentos e desejos escusos. Esses
pensamentos deviam ser obra do demnio.
Urso olhava para Godric, ainda surpreso por ele interromper o jogo.
Eu terminarei o jogo do amo Eric disse, sentando-se na cadeira de Godric.
Urso deu uma sonora gargalhada.
Talvez eu ainda tenha uma chance Eric murmurou, olhando para o
tabuleiro.
Godric ergueu uma sobrancelha e olhou para Meirion.
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Captulo X
Meirion iria permitir que ele a banhasse, nada mais. Oh, cus, devia estar louca
para deixar-se tocar intimamente! Mesmo assim, sua pele j estava em brasas,
antecipando o que estava por vir.
Na lareira, as chamas danavam um ertico bal. Godric a conduziu at a
banheira, segurando-a pela mo. Pequenas nuvens de vapor saam da gua
quente e convidativa.
Ela poderia muito bem se justificar pela necessidade premente de tomar um
banho. Mas Meirion sabia que no era apenas isso. Desejava ser acariciada por
Godric. No adiantava querer se enganar,
Voc est com medo? ele perguntou, quando Meirion parou de andar.
No ela respondeu, inclinando a cabea para trs a fim de poder v-lo
melhor.
No deve me temer. Eu honrarei o nosso trato.
Eu no tenho medo de voc.
Talvez a falta de medo fosse mais perigosa do que tudo. Godric a puxou e se
sentou no p da cama, colocando Meirion entre suas pernas, at ficarem bem
juntos um do outro.
Eu a quero demais ele disse com simplicidade. H muito tempo.
Ela fechou os olhos, desejando que a confisso de Godric no mexesse tanto
com seu corao. No deveria ser tocada por ele. Isso era errado. Tinha deveres
para com sua famlia.
As mos calejadas de Godric tocaram-lhe o rosto e o trouxeram para bem perto
do rosto dele. Beijou-lhe a ponta do nariz e cada uma das sobrancelhas.
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Oh, cus, Godric no deveria agir assim. Por que era to carinhoso? Se fosse rude e a
forasse, ela poderia lutar com ele, mas diante de tanta ternura, ficava sem
defesas. Por que Godric no agia como o animal que todos diziam que era?
Meirion olhou para a porta. Talvez no estivesse trancada e ela pudesse tentar
escapar e, desse modo, ele ficaria furioso e poderiam brigar. Pelo menos
acabaria com essa atmosfera de erotismo.
Vai desonrar o nosso trato, Meirion? Godric fechou as pernas ao redor das
coxas dela. Seria mais fcil render-se se eu dissesse que voc no tem
escolha?
Meirion olhou demoradamente para ele. Fizera um trato com o demnio e
perdera sua alma.
Deixe-me acarici-la. Deixe-me derramar gua sobre a sua pele e lavar todos
os anos de mgoa que existem entre ns.
Perdida nas palavras de Godric, ela acariciou sua maior cicatriz e meneou a
cabea.
Eu no me apaixonarei por ele, Meirion pensou. Talvez pudesse apenas aproveitar
o prazer que Godric lhe daria, mas ele nunca teria seu corao.
Godric passou a lngua pelos lbios de Meirion, que se rendeu ao beijo.
Ainda tentou empurr-lo para ficar um pouco mais afastada, porm ele no
permitiu. O cheiro de Godric era quente e msculo.
Isso no est certo ela murmurou.
Voc no deve temer os desejos ntimos entre um homem e uma mulher,
Meirion.
Voc disse as mesmas palavras quando nos encontramos pela primeira vez.
E ainda so palavras verdadeiras.
Em um s movimento, ele tirou o camisolo e a tnica que ela usava.
Meirion suspirou. No estava preparada para sentir tanto desejo, tanta paixo.
Godric a enlouquecia, e ela era incapaz de conhecer seu prprio corao.
Sorrindo, ele jogou as roupas de Meirion no cho; e a faca que ela escondera na
manga apareceu.
Meirion se assustou, levando a mo garganta.
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Godric sabia que podia fazer com que o corpo dela o desejasse. Mas e sua
mente? Ele queria ser desejado consciente e completamente.
Meirion, diga-me que voc quer isso tanto quanto eu murmurou, sabendo
que estava sendo egosta.
Ela precisava se sentir culpada em relao sua famlia, e Godric queria que
admitisse desej-lo.
Milorde... eu... Meirion balbuciou, como se no encontrasse as palavras.
Godric sabia que, se a beijasse, ela retribuiria o beijo apaixonadamente. Era
como com as outras mulheres. Enquanto no pensassem no que faziam,
gemiam e mergulhavam nas sensaes que ele lhes proporcionava.
Meirion passou a lngua pelos lbios, e Godric notou que lutava consigo
mesma.
Ns no deveramos... ela murmurou.
Neste instante, ele lembrou-se das palavras de Owain: E por que voc pode e eu
no? Qual a diferena entre eu tomar uma mulher e voc fazer a mesma coisa?
Desgostoso, Godric levantou-se e saiu da cama.
Milorde? Meirion sentou-se, confusa.
Ah, garota... Durma.
Ela tentou toc-lo, mas ele se afastou, determinado a esperar para possuir-lhe a
mente junto com o corpo.
Captulo XI
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Godric fizera seu corpo vibrar de desejo, mas depois do banho no a tinha
possudo.
Ela permanecera quieta, at que, finalmente, pegara no sono.
Esfregando os olhos, piscou e olhou ao redor.
Godric, Godric, Godric. Cada canto daquele quarto falava dele. O cheiro, o
tamanho... tudo. Meirion tinha a impresso de que, se pusesse a lngua para
fora, sentiria o gosto de Godric.
As paredes brancas, a mesa de mrmore, o trono, o tapete rabe, tudo era muito
luxuoso. Talvez nem a catedral da abadia de Tintem fosse to rica e majestosa.
Levantando-se, esfregou os braos e os ombros. A noite passada fora um sonho
delicioso, mas o ar frio da manh a trouxera de volta realidade. Sentiu os bicos
dos seios ficarem rgidos. Cus, o que Godric tinha feito com ela? Ainda era virgem.
Nada mudara.
Meirion passou as mos pelos seios e pela barriga, traando o mesmo caminho
que fora percorrido pelas mos calejadas de Godric.
No, no era a mesma. Talvez aparentemente seu corpo no houvesse mudado,
mas Godric fizera coisas estranhas com ela. Tocara sua mente, suas emoes,
sua alma. Isso era muito mais ntimo do que meramente possuir seu corpo.
Caminhou at uma das janelas, envolta no lenol, agradecida por ele no se
encontrar ali. Precisava ficar s e tentar colocar seus pensamentos em ordem.
Encostando a testa na vidraa, viu homens se exercitando no ptio abaixo. Suas
espadas brilhavam ao sol enquanto eles executavam lances de defesa e ataque.
Ansiosamente, procurou por Godric no meio deles. Santo Deus, que loucura! Era
casada com outro homem. Nunca poderia pertencer a Godric e nem ele
pertencer a ela.
Ainda assim, queria saber o que Godric havia feito na noite passada para deixla to enfraquecida. Pondo a mo embaixo do lenol, apertou o bico de um seio
entre o polegar e o indicador, como ele fizera. Era agradvel, porm no
despertava sensaes como quando Godric fazia isso. No provocava ex-citao
e nem a deixava fora de si.
Talvez ele apertasse com mais fora. Tentou apertar com mais fora, mas s
sentiu dor. Absolutamente, no era a mesma coisa.
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fato.
Godric olhou para Meirion com tamanha severidade que ela no respondeu.
Passou um momento. Depois outro e mais outro. Ele sorriu.
Vejo que este assunto no ser resolvido hoje. Venha, vamos andar comigo.
Andar?
Sim, h nuvens no norte, mas agora o sol est brilhando. Eu lhe trouxe
roupas limpas.
Meirion ergueu uma sobrancelha. O ltimo traje que Godric lhe arranjara era
esfarrapado e sujo.
Se no gostar da roupa, pode ir do jeito que est, pois eu queimei a tnica.
Meirion suspirou, conformada. No poderia permanecer nua.
O que for que tenha trazido, estar bem.
timo. Ele olhou para a cama. Est na cama.
Sobre o lenol, ela viu um vestido verde-esmeralda, luxuoso e lascivo, que
brilhava claridade. Sem dvida era de fina seda. Seria maravilhoso poder
vestir uma boa roupa depois de ter usado aqueles trapos.
Obrigada, Meirion levantou-se, mas Godric a segurou pela ponta do
lenol.
A roupa para o seu prazer, e o lenol, para o meu.
Indignada, ela olhou para ele, que sorriu como um gato que antecipa o prazer
de comer um rato.
Meirion olhou para o tecido da roupa sobre a cama e para o homem grande e
bonito sentado perto da lareira.
Godric ficara srio de repente, e ela teve vontade de esbofete-lo.
Eu no ficarei andando nua para voc.
Considere-o um preo a pagar pelas roupas ele disse, com um meio
sorriso.
E se eu me recusar?
Acho que no deveria recusar.
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Meirion olhou ao redor de sua extica priso: janelas de vidro, uma cama
enorme e suntuosa, os tapetes luxuosos. Seria um lindo cmodo se ela no fosse
uma prisioneira... nua.
Como Godric se atrevia a fazer isso com ela?
Passou-se mais uma hora.
Meirion presumiu que Godric estava para chegar. Teve vontade de olhar pela
janela, mas no ousou, levando em conta o que acontecera antes.
Uma outra criada entrou no quarto trazendo-lhe po, queijo e uma bebida
quente feita com mel, gua e temperos.
Bom dia Meirion tentou conversar, porm a criada saiu rapidamente, sem
nem olhar para ela.
Ficou indignada. Ningum vinha trazer-lhe roupas, e as criadas j deviam estar
mexericando. Todo o castelo iria comentar que Meirion estava presa no quarto,
nua e disposio de Godric.
Traga-me roupas! ela gritou, dando uma batida na porta.
No me permitido, milady. So ordens do amo respondeu o guarda de
um olho s.
Meirion abaixou a maaneta da porta, que se abriu com facilidade.
O guarda se levantou e olhou para ela com o nico olho arregalado.
Aonde a senhora vai, madame?
Estou deixando minha priso Meirion respondeu, ajeitando o lenol ao
redor do corpo.
Ele se postou sua frente.
No posso permitir, madame.
Por que no? ela perguntou, erguendo o queixo, determinada a no
obedecer.
O homem parecia envergonhado, pois ficou ruborizado. Mas no lhe deu
passagem.
So ordens do amo ele resmungou.
O que, exatamente, voc no pode permitir que eu faa?
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No posso permitir que a senhora deixe o quarto usando qualquer coisa que
no tenha sido dada pelo amo.
Ento no vai me deixar passar?
A senhora pode passar, mas... bem...
O que, homem. Fale logo!
O lenol. Ele ter de ficar aqui.
De jeito nenhum! O que est querendo dizer?
O guarda olhou para ela, determinado a continuar leal ao seu amo.
No desobedecerei s ordens do amo, madame.
Meirion desistiu. Era evidente que no conseguiria nada com o guarda. Voltou
ao quarto de Godric e bateu a porta. Ajeitou o lenol ao redor do corpo, foi
diretamente janela e apoiou os braos no parapeito.
Havia homens no ptio, cavalgando e praticando esgrima. Urso, Owain e Eric
mostravam a Damien certos golpes.
Godric encontrava-se no meio deles, montando Vingana, mas ao contrrio de
anteriormente, no olhou para a janela. Meirion ficou muito decepcionada,
porm tentou esquecer.
Dois dias mais tarde, Godric ainda no voltara ao quarto. Criadas entravam e
saam trazendo comida e bebida, mas ele no aparecera nem para trazer-lhe
roupas.
No terceiro dia, outra banheira com gua quente foi trazida ao quarto, junto
com leos exticos para sua pele, e sabonete perfumado para seus cabelos.
Mas isso no a acalmou, pelo contrrio, Meirion entrou na banheira tremendo
de raiva.
Ela era uma nobre, filha de Ioworth, o Guerreiro. Contudo sentia-se como um
animal enjaulado. Como Godric se atrevia a trat-la como a boneca de uma
criana, vestindo-a e despindo-a ao seu bel-prazer?
Mas no podia mant-la presa prpria pele.
Meirion esfregou os braos e as pernas com energia, uma idia formando-se em
sua mente.
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Uma criada pequena, com nariz atrevido e usando uma touca engomada,
entrou no quarto carregando uma bandeja com po e queijo. Foi at a cama,
depositou a bandeja e se virou para sair.
Espere! Meirion gritou.
A criada parou e olhou para ela, assustada.
Meirion levantou-se da banheira, forte e furiosa, os cabelos longos escondendo
boa parte de seu corpo coberto de bolhas de sabo. Godric a prendera no quarto
durante trs dias, mas no a prenderia mais. No a intimidaria mais. Se queria
que ela caminhasse para ele nua como quando nascera, teria seu desejo
realizado.
Voc sabe escovar cabelos? Meirion perguntou criada, que a olhava se
ela fosse uma viso.
Sim, madame. A moa abaixou os olhos e correu at a porta do quarto.
Mas Meirion foi mais rpida. Bloqueando a passagem, agarrou os braos da
criada.
Ento vai escovar os meus cabelos.
A garota tremia.
Eu no posso, madame. Temos ordens de no falar com a senhora.
Meirion jogou os cabelos atrs das costas e olhou altivamente para a jovem. No
era justo intimidar uma pobre criada, mas precisava da ajuda dela.
No precisa falar comigo. Apenas me ajude. Godric de Montgomery no se
importar se voc me ajudar a escovar os cabelos. Veja. Ela apontou para o
pente que ele lhe dera e que estava sobre a mesa de mrmore. Seu amo me
deu um lindo pente para eu usar.
A criada olhou para a mesa, aliviada por poder desviar sua ateno do corpo nu
de Meirion.
Suas ordens foram para que ningum converse comigo, e que eu saia do
quarto apenas usando o que me foi dado por seu amo. Se essas so as ordens
dele, eu obedecerei. Meirion sorriu amigavelmente para a moa. Ajudeme a me cobrir com os meus prprios cabelos. Pretendo encontrar seu amo e lhe
ordenar que me d roupas.
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Mas, milady...
Meirion o empurrou e continuou seu caminho.
O guarda tentou pux-la pelos cabelos, mas de nada adiantou. Se tivesse que
ficar nua como Eva, ainda assim enfrentaria Godric. E venceria, sem dvida
nenhuma.
O guarda a seguiu.
Ficarei atrs da senhora ele resmungou.
timo ela disse, sentindo o ar frio lhe tocar os braos, pernas e vrias
outras partes do corpo.
Era estranho, mas no se sentia constrangida, e sim feminina e poderosa.
Os corredores do castelo tornaram-se silenciosos enquanto Meirion avanava,
prtico aps prtico, os criados abandonando seus afazeres dirios para v-la
passar. E ela ia se sentindo cada vez mais forte.
Mulheres que costuravam largaram suas agulhas e se puseram a andar atrs de
Meirion. At o velho ermito, que morava sob uma escada, ergueu a cabea
para olh-la.
Meirion teve um momento de hesitao, pois sabia que para chegar ao lugar
onde estava Godric teria de atravessar vrios ptios. Mas tinha chegado at ali e
no iria se acovardar agora. Ele comeara isso, e ela terminaria.
Uma criada abriu a porta para Meirion, que saiu para a claridade da tarde.
Podia ouvir o rudo de metal contra metal dos homens praticando esgrima. Os
criados continuavam atrs dela.
O garoto do estbulo parou o que fazia, derrubando a p com que trabalhava ao
v-la passar. O silncio era total, a no ser pelo som das espadas.
Grama e lama grudavam nos ps descalos de Meirion, que subiu a colina que
levava ao campo de treinamento. Logo, o som das espadas desapareceu, pois os
homens pararam de lutar para olh-la.
Godric bronzeado e msculo, estava abaixado em uma posio de guerreiro,
circundando Eric.
V-lo atiou ainda mais a determinao de Meirion, que apressou o passo.
Por tudo que mais sagrado! Godric gritou, largou a espada, que caiu a
155
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tnica de homem.
Comporte-se! Godric murmurou, agarrando-lhe os pulsos e conduzindo-a
de volta ao castelo.
A vitria era muito, muito doce, e Meirion, feliz e realizada, soltou uma
gargalhada.
Captulo XII
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Venha, garota.
Meirion piscou, sentindo tontura, como se caminhasse nas nuvens. E o seguiu,
sem mostrar resistncia, por vrios lances de escada. Desconcertada, sabia que,
quaisquer que fossem as intenes dele, seria incapaz de recusar.
Alguns minutos depois, Godric a fez entrar em um quarto de costura, cheio de
tecidos: l, veludo e seda. Algumas mulheres trabalhavam, conversando
animadamente, mas pararam de falar quando os viram.
Meirion ficou surpresa. Ele no ia lev-la para a cama?
Faam roupas para milady Godric disse, apontando para ela.
Meirion voltou a si ao ver uma mulher gorda, com olhos carinhosos como os de
uma av, olhando para ela e pondo de lado a costura que estava fazendo.
Sim, amo.
Use tecido do ltimo carregamento. O que tiver de melhor.
A costureira olhou de Godric para Meirion.
Milady ficar linda de verde.
Ento, providencie.
Meirion tirou uma mecha de cabelos do rosto, sua autoconfiana caindo por
terra. Godric olhou ao redor.
Alguns dias atrs eu deixei um vestido verde-esmeralda aqui. Ajuste-o para
que sirva nela e ento trabalhem em um novo guarda-roupa para milady.
Aturdida, Meirion no sabia o que pensar e nem o que dizer.
A costureira fez sinal para duas mulheres, que atravessaram o cmodo e se
aproximaram. Rodearam Meirion, afastando Godric para o lado. Tiraram-lhe a
tnica, e ela ficou novamente nua.
Godric sorriu para Meirion e a olhou com desejo. Estranhamente, ela sentiu-se
vulnervel, tmida e exposta, e experimentou milhares de outras sensaes. Mas
no se sentia constrangida. Vrios pares de mos a tocavam, medindo-a,
observando-a.
O verde-claro disse uma das mulheres.
No, o verde-escuro retrucou outra.
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Acho que a seda azul combinar com os olhos do amo. Vamos fazer uma
nova tnica para ele. Que par maravilhoso eles formaro!
Godric foi empurrado para fora da sala pelas mulheres. Meirion ouviu-o rir
quando ele saiu para o corredor.
Ela o amava ou odiava? Suspirou, deixando as mulheres a cobrirem com tecidos
de cores variadas. Como poderia suportar um casamento sem paixo depois de
sentir o fervor que umbus partilhavam? A lembrana de tio Pierre acariciando-a
provocou-lhe nuseas.
Misericrdia, Senhor, Godric era uma obsesso! O que poderia fazer? Tio Pierre e
seu pai nunca concordariam com a anulao de seu casamento nem que o rei
ordenasse. Eles resistiriam e haveria guerra. Mesmo neste momento, Meirion
imaginou seu povo preparando-se para a guerra, do mesmo modo como Godric
e seus homens vinham fazendo desde que haviam chegado a Montgomery.
Frustrada, desviou os pensamentos e voltou sua ateno para as mulheres que
agora mediam seus braos. Sorriu para a costureira mais prxima, uma mulher
de meia-idade, cuja beleza teria sido rival da mais linda mulher da corte,
embora tivesse uma grande cicatriz em uma face e lhe faltasse um pedao da
orelha esquerda.
Milady, esta cor lhe agrada? a costureira-chefe perguntou.
Meirion olhou para o tecido que a outra segurava. No se importava com a cor
do tecido, apenas no queria mais permanecer nua.
Uma mulher passou a mo por seus cabelos.
O amo deve estar apaixonado pela senhora, milady.
A senhora linda, milady disse outra, mostrando-lhe um espelho.
Meirion suspirou, admirando-se. Realmente, a cor esmeralda lhe caa muito
bem. Ela estava linda.
Quando o rei exigira mais impostos, e Meirion tivera de gastar dinheiro no
resgate de seu pai, fora obrigada a vender todos os seus mais belos trajes. Fazia
mais de um ano que no vestia nada de qualidade.
O vestido tem a sua aprovao, milady?
Oh, sim. Meirion olhou para todas as costureiras. Eu agradeo a vocs.
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pequeno para acalmar seu orgulho de homem, e isso Meirion podia lhe
conceder, com o objetivo de evitar uma guerra entre seu povo e o povo de
Godric.
Deixando a preocupao de lado, levantou-se, atravessou o quarto, foi at a
cmoda e se olhou no espelho. As costureiras haviam feito um timo trabalho.
Ela parecia realmente uma princesa.
Godric iria aceit-la. Tir-la de casa satisfaria seu orgulho de homem e evitaria a
guerra com seu pai.
Era um plano que valia a pena. Pegou um livro da estante e sentou-se no trono,
perto da lareira, a fim de esperar por ele.
Pelos deuses! Godric exclamou ao entrar no quarto, vrias horas mais
tarde. Voc est deslumbrante!
Meirion ps o livro do lado e sorriu. Levantou-se e estendeu os braos para ele.
Venha, milorde. Temos muito para discutir.
Godric pegou suas mo e beijou cada palma.
Um tremor de excitao percorreu o corpo de Meirion, e todas as dvidas que
ainda podia ter em relao ao seu plano se esvaram. Sim, Godric a queria. Ela
tambm o queria. Seria uma troca.
Meirion levou-o para perto do fogo, e ele sentou-se no trono, cruzando as
pernas.
Milorde ela comeou a falar, mas parou e acomodou-se sobre uma
almofada, aos ps da lareira.
O desejo entre os dois era palpvel, mas como iria explicar a Godric que
decidira tornar-se sua amante?
Ele a fitava com olhar intenso e enigmtico.
Meirion hesitou. Afinal de contas, talvez fosse loucura. Levantou-se, encheu
duas taas de vinho e ofereceu uma a Godric.
Quero evitar a guerra ela disse, finalmente.
Eu tampouco desejo guerra. Ele ergueu uma sobrancelha, sem saber onde
Meirion queria chegar.
Aliviada, ela tomou um gole de vinho.
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Captulo XIII
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Certamente que no. Ele deu um passo na direo dela. Vire-se para
que eu possa amarrar seu vestido.
Meirion obedeceu, e Godric amarrou os laos das costas do traje. Ela fechou os
olhos. As mos dele eram quentes e sensuais. Os bicos de seus seios ficaram
arrepiados. Seu corpo ansiava por Godric com a mesma intensidade de quando
ele lhe dera banho. Cus, esse homem a enlouquecia!
Godric terminou o que estava fazendo e a girou para que Meirion olhasse para
ele.
Permaneceram prximos, olhando-se nos olhos. Ela sorriu, e Godric a forou a
ir se afastando at encostar em uma tapearia da parede, ao lado da cama.
Ele apoiou as duas mos na tapearia, prendendo Meirion como se estivesse em
uma armadilha. A gazela presa pelo leopardo. Godric estava to perto que ela
poderia facilmente beijar seus lbios. Ele cheirava a sndalo e couro. Godric
sorriu, mas no diminuiu a distncia entre ambos.
Ele no a tocava, porm Meirion sentia-se acariciada. Ela se obrigou a ficar
imvel, esperando pela investida de Godric. Ansiava toc-lo, mas no quis
tomar a iniciativa.
Voc planeja me beijar? Meirion perguntou, de repente.
Voc quer?
Sim, eu quero.
Oh, finalmente milady admite uma verdade.
Eu... Meirion deu um passo frente e seus seios encostaram-se no peito
dele. Foi percorrida por um arrepio e suspirou.
Voc est tremendo Godric murmurou.
No estou.
Agora est mentindo.
Ela abriu a boca para protestar, mas ele a silenciou com os lbios. Sua lngua
penetrava na boca de Meirion, devagar, gentil, porm exigente. Ela notou que
esse era realmente o primeiro beijo que eles trocavam pelo simples prazer de se
beijarem. Godric a beijara para desafiar seu pai na igreja, e ela o beijara para
esconder Damien. Ele a beijara tambm para exigir sua posse. Mas esse beijo era
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Meirion no queria mais ouvir, porm Godric a segurou pelos ombros com
firmeza.
Eu lutava e gritava, mas eles eram fortes e numerosos. Puseram-me dentro
de um caixote apertado e fedorento. Eu no estava sozinho. Um cadver, a
caminho do seu repouso final, jazia ao meu lado. Eu me descontrolei, comecei a
gritar, e ento... chorei, exausto e em pnico. Fiquei na posio fetal, chorei e
chupei o polegar para sentir algum conforto.
Meirion olhou para ele, imaginando aquele guerreiro orgulhoso reduzido a
uma criana. Foi de novo dominada pelo sentimento de culpa, ao pensar nos
horrores que Godric havia sofrido.
No, Meirion, no desvie o olhar. Olhe para mim. Durante muitos anos, eu
me odiei por ter sido to fraco e to pattico. Ento, um dia, levaram-me s
catacumbas e me bateram. Naquele dia percebi que no poderiam me derrotar.
Eu os odiava, e eles poderiam me bater, me matar, me ferir, mas no iriam me
derrotar. Mesmo que eu gritasse, chorasse e at chupasse o dedo outra vez,
apesar de tudo isso, eles no poderiam derrotar meu ntimo. Voc entendeu?
Meirion suspirou profundamente, tentando no cair no choro. Tudo aquilo era
triste demais.
Meirion, uma vez que eu aceitei o medo como uma parte natural de mim
mesmo, ele nunca mais me dominou. Nunca mais tive de agir como um beb, e
sofri muitas indignidades piores do que ser colocado em um caixote junto com
um cadver.
Oh, Godric...
Mesmo que seu corpo a traia e a faa perder o controle, o que voc tem
dentro de si muito maior que tudo aquilo. Voc est a salvo aqui comigo.
Pode confiar em mim um pouco? Eu no vou for-la a cavalgar sozinha.
Confiar nele? Godric a carregara por um desfiladeiro, atravs de florestas,
alimentara-a, vestira-a e cuidara de seu irmo. Se ele dizia que no iria for-la
a cavalgar sozinha, era verdade. A histria do navio de escravos diminuiu seu
constrangimento por haver chorado na frente de seu pai e de seus homens.
Godric sofrer muitas indignidades e ainda era poderoso e forte.
Eu confio em voc.
Obrigado. Ele a beijou na testa e a conduziu a uma baia, no final dos
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estbulos.
O cheiro de feno e curral penetrou nas narinas de Meirion, deixando-a um
pouco apreensiva. Godric passou o brao pelo ombro dela, para infundir-lhe
coragem fora. Uma gua cinza estava encostada na parede, dormindo.
Godric assobiou baixinho, e a velha gua abriu os olhos, olhando para eles com
desinteresse. Embora tivesse bastante feno na baia, o animal era magro.
Quero apresent-la Trovo Azul.
Parece mais com ltimo Trovo, pensou Meirion. Ela olhou para Godric,
curiosa.
O que est planejando?
Ignorando-a, ele tirou uma ma do bolso, e Trovo Azul se aproximou
vagarosamente.
Godric acariciou o focinho da gua e lhe deu a ma.
Meirion engoliu a seco. Havia cavalgado com ele em Vingana, que era um
cavalo enorme. Seria ridculo ter medo da pobre gua.
Godric passou o brao pelos ombros de Meirion e falou baixinho em seu
ouvido:
Se sentir medo, apenas pense em mim chupando meu dedo.
De repente, a apreenso dela se transformou em uma risadinha nervosa. O que
parecera horrvel um momento antes, agora parecia hilariante.
Preciso demonstrar? Godric perguntou, erguendo o polegar e abrindo a
boca.
Meirion piscou e sorriu para ele. Godric deu uma gargalhada.
Emocionada, Meirion se jogou nos braos dele.
Rindo, Godric a abraou e beijou apaixonadamente, empurrando-a contra a
parede. Quando parou de beij-la, ela sentiu-se atordoada.
Oh, cus, milorde, voc deve permitir que eu v falar com meu pai.
J disse que voc no vai a lugar nenhum, mulher impertinente.
Mas...
Sem discusso, Meirion. Confie em mim. Agora, vamos terminar sua aula.
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Ela olhou para a gua. Era intil tentar discutir com Godric. Precisava encontrar
um meio de voltar para, seu pai, sozinha.
Qual a idade desta gua?
Dezenove ou vinte, no tenho certeza.
Muito velha.
Ela muito bem cuidada. Ele tirou outra ma do bolso e a deu ao animal
que, depois de comer, lambeu a mo de seu protetor, querendo mais.
Ela parece muito fraca.
No deixe que Trovo Azul a engane. Ela costumava ser a rainha do
estbulo. Pode ser velha, mas ainda muito forte. E precisa de algum para
quem possa se exibir. Godric pegou a mo de Meirion e a ergueu.
Sinta como o focinho dela macio.
Trovo Azul inclinou-se, querendo ser acariciada. Realmente, seu focinho era
macio, e Meirion no sentiu medo.
Ela se atreveu a acarici-la mais. A gua pareceu gostar e olhou-a como a
perguntar: E ento, o que vai fazer agora?
Meirion sorriu.
Muito bem, a lio terminou disse Godric. Por hoje basta.
Mas ns ainda no cavalgamos. Meirion pareceu surpresa.
H muito tempo para isso, garota.
Ambos sorriram e se abraaram.
Aproximadamente quinze dias depois, o som de risadas e de conversa animada
chegou at Meirion e Godric quando se aproximavam da grande sala do castelo
de Montgomery. Ela ainda era uma prisioneira, mas ele lhe permitira certa
liberdade, e haviam concretizado uma delicada paz. Criados arrumavam
grandes mesas sobre cavaletes, preparando uma festa. O fogo ardia na grande
lareira, dando um belo colorido ao salo.
De uma cadeira perto da janela, lady Montgomery parou a costura e olhou paia
Godric.
Onde est meu filho?
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mais temer pelo futuro do irmo. Isso era mais valioso do que o pente de
esmeraldas e as roupas novas que ele lhe dera.
Obrigada, milorde. Ela sorriu para Godric. Muito obrigada.
Amelina se aproximou, comendo outra torta de amoras, e olhou para Damien.
Ele anda como um homem velho e doente.
O sorriso de Damien desapareceu de seus lbios, e Meirion olhou para Godric,
esperando que ele fosse corrigir a filha. Sem prestar ateno na menina, Godric
tomou um gole de vinho e moveu as pedras sobre o tabuleiro de xadrez.
Damien olhou da filha para o pai, e Meirion percebeu que o menino esperava
que Godric dissesse alguma coisa para contradizer o veredicto de Amelina. Mas
ele nada disse.
Meirion observou que os criados continuavam seus afazeres sem prestar
ateno na menina. Na realidade, eles pareciam ignor-la. Ela se dirigiu a
Godric.
Amelina precisa de disciplina.
Ele olhou para a filha, que enfiava outra torta na boca. A garota era adorvel.
Os cabelos escuros encaracolados contrastavam com os belos olhos azuis, uma
perfeita imagem de inocncia.
Godric deu de ombros.
Ela aterroriza os cachorros Meirion continuou.
Ele olhou ao redor. Diversos ces de caa estavam deitados no cho, roendo
ossos.
Tudo me parece em ordem Godric declarou.
Ela insultou meu irmo.
No. Amelina fala a verdade com a inocncia de uma criana. Sem malcia.
Se voc continuar a justificar as aes de sua filha, o comportamento dela
ficar cada vez pior Meirion disse, cruzando os braos sobre o peito.
Eu no quero voc aqui! Amelina gritou, atirando um pedao de torta
contra Damien.
A torta se despedaou, jogando vrias amoras na aljava que o garoto carregava
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no ombro.
Ei! ele gritou, indo na direo da garota.
A menina pulou da cadeira e foi para debaixo da mesa, espantando os
cachorros.
Os criados que serviam as mesas tentavam fazer os animais pararem de correr.
Duas criadas trombaram com os cachorros, derrubando bandejas, homens e
mulheres gritavam, enquanto os criados tentavam controlar a situao.
Meirion olhou para Godric, que franziu o cenho.
Devagar, ele suspirou e se ps de p.
Amelina! gritou.
No mesmo instante, os cachorros cessaram de latir e todos ficaram parados e
em silncio.
Urso e lady Montgomery olharam para Meirion.
Amelina... Godric apontou o dedo na direo da filha. Venha comigo.
No! a garota gritou.
Godric a pegou no colo e, apesar dos gritos e dos chutes que ela dava, ele a
levou para fora da sala.
Meirion olhou para Urso. A menina era mimada, mas, ainda assim, era criana,
e Godric, um guerreiro.
Ele vai bater nela, no ? Meirion perguntou.
Urso meneou a cabea.
Milady, o amo daria a prpria vida para no magoar um dos seus.
Imediatamente, Meirion lembrou-se da cena do aoitamento de Owain na
floresta.
E quanto a Owain? perguntou.
Urso olhou para ela assustado, como se tivesse sido surpreendido por uma
pergunta absurda.
Uma esposa no deveria questionar o julgamento do marido.
Eu no sou esposa de Godric.
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Mas ser.
Captulo XIV
Ei! uma voz de homem se fez ouvir, vindo de um quarto, quando Meirion,
alguns dias mais tarde, caminhava em direo sala de costura para levar seu
agradecimento s costureiras que haviam feito as roupas novas para ela. Neste
dia, ela usava um vestido com fios dourados e estava muito grata pelo capricho
com que as costureiras haviam costurado para ela.
Ei! Meirion ouviu novamente.
Parando, ela olhou para o interior do cmodo de onde vinha a voz. Um homem
de cabelos escuros e ombros largos estava sentado em uma cadeira muito bem
esculpida, perto da lareira. Por um segundo, pensou que fosse Godric, mas o
homem parecia mais novo e no tinha cicatrizes. Percebeu que se tratava de
James, o irmo dele. Em uma mesa, havia vrias garrafas de vinho, taas vazias
e uma pilha de livros. O jovem tinha um livro aberto sobre o colo.
Voc me chamou? Meirion perguntou, a mo apoiada na maaneta da
porta.
Ele indicou uma cadeira ao seu lado.
Sente-se, eu gostaria de falar com o prmio de meu irmo.
No me considero um prmio.
Perdoe-me, milady. James sorriu. Gostaria de falar com voc a respeito
de Godric.
O que voc pretende falar? Meirion no escondeu a curiosidade.
Ele fechou o livro e o colocou sobre os outros.
Poucas coisas.
Ela continuou parada porta.
James ergueu uma sobrancelha e olhou-a exatamente como Godric fazia.
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Oh, James... Meirion disse, pondo a cabea dele sobre seu peito, como se o
jovem fosse uma criana que precisava ser consolada.
Eu a amava James soluou. Eu a amava e a matei... Seus ombros
tremiam, e Meirion lhe acariciava as costas.
Neste instante, a porta de abriu, e uma grande sombra se projetou no quarto.
Por Deus! O que significa isso? bradou Godric. Meirion deu um pulo e
olhou para ele.
Milorde...
Godric chegou perto dela em apenas dois passos, afastou-a do irmo e deu um
soco no nariz de James.
Godric! Meirion gritou, segurando-lhe os braos. No o que est
pensando.
James segurava o nariz, que sangrava, sujando-lhe a tnica.
Bom dia, irmo o rapaz disse, com ironia.
Godric segurou o brao de James atrs das costas.
Chega! Meirion gritou, ficando entre os dois irmos e tentando empurrar
Godric. No seja maluco!
Erguendo-a, ele a ps sobre o ombro e apontou para James.
Conversarei com voc mais tarde.
Ponha-me no cho, seu bruto! ela gritou.
Com largas passadas, Godric saiu do quarto.
O que, com os diabos, pensou estar fazendo? Godric disse, pondo-a na
cama. Dois homens no so suficientes para voc?
Meirion sentou-se na cama, furiosa, apontando o dedo indicador para ele.
Para que eu precisaria de seu irmo se tenho voc?
Esse exatamente o meu ponto de vista.
Seu irmo estava me contando o caso de amor entre ele e uma camponesa.
E, ento, voc decidiu encostar a cabea de James nos seus seios?
Como se atreve?! Eu no estava encostando a cabea dele nos meus seios!
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Uma pequena onda de esperana iluminou a mente de Godric, e ele ficou quieto
durante alguns segundos.
E ento? Meirion ergueu uma sobrancelha. Ele se aproximou dela.
Ento aquela cena foi por esse motivo?
Sim Meirion murmurou, passando os braos pela cintura de Godric e
abraando-o.
Durante um longo momento, ele pensou no que acabara de ver no quarto de
James. O rosto de Meirion mostrava piedade, e no paixo. E admitiu que a
julgara erradamente.
Sentindo-se sem graa, Godric tambm a abraou e percebeu que precisava
pensar em uma maneira de corrigir aquele seu erro de julgamento.
Decidindo que a melhor forma de fazer isso seria ensin-la a cavalgar, pegou
Meirion pela mo e a levou de novo at os estbulos.
Alguns dias depois, lady Montgomery, carregando uma bandeja de comida,
atravessou o caminho de Meirion, que se dirigia novamente sala de costura.
Socorro! Socorro! ouviram-se gritos de uma voz de criana.
Ambas se viraram, e a bandeja de lady Montgomery quase caiu no cho.
Socorro! Estou aqui em cima!
Erguendo as cabeas, as duas mulheres viram Amelina em cima de uma longa
escada. Lgrimas escorriam pelo rosto da menina, que se segurava em uma
trave da escada, tentando se equilibrar.
No havia perigo imediato, mas toda vez que a garota olhava para baixo, sua
expresso era de pavor e pnico.
Como voc chegou a? Meirion perguntou.
Eu subi.
Bem, se voc subiu, pode descer tambm disse lady Montgomery,
afastando-se com sua bandeja de comida.
Suspirando, Meirion caminhou at o incio da escada. As costureiras teriam de
esperar um pouco mais para receber os agradecimentos que mereciam.
Voc no consegue descer?
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Meirion passou entre duas criadas, ambas carregando bandejas da bebida feita
com mel, gua e temperos. Nunca, em sua vida, vira uma cozinha to
anarquizada.
Quem o encarregado da cozinha? ela perguntou, quando chegaram a
um canto mais sossegado.
Deveria ser mestre Godric respondeu Eleanor, sentando-se perto de uma
mesa menor e passando a mo sobre ela para limp-la.
Godric? Meirion estranhou. O que ele sabe a respeito de organizar uma
cozinha?
A senhora devia ter visto esta cozinha antes de ele chegar a Montgomery.
Eleanor ergueu a mo em que faltava o dedo mdio. Era tanta baguna que o
encarregado das carnes cortou o meu dedo acidentalmente. Por isso, no fale
mal do meu amo. Eu no permitirei.
Desculpe-me, querida. Meirion sentou-se mesa, ao lado dela. Eu no
quis ofend-lo. que Godric um guerreiro, e no um cozinheiro.
Eleanor! Amelina gritou, pulando numa perna s. Meirion me
prometeu uma torta.
verdade. Prometi.
Eleanor apontou para um armrio, dando um tapinha rio bumbum da garota.
Olhe ali, na prateleira de baixo.
Obrigada Amelina gritou, correndo at o armrio.
Amelina uma criana muito ativa suspirou a criada.
Realmente. Meirion olhava Amelina correr entre as criadas, algumas delas
carregando bandejas com carne de porco. Mas, diga-me, como Godric pode
dirigir as cozinhas se ele fica o tempo todo no campo de treinamento?
Ele no consegue. Eleanor riu, balanando a barriga avantajada e olhando
ao redor para se certificar de no estar sendo ouvida por ningum. Panelas e
caldeires batiam fazendo um barulho terrvel. Lady Montgomery no
orienta a gente ela sussurrou. Mestre Godric o nico em quem podemos
confiar para alguma orientao.
Realmente! No para menos que a comida aqui horrvel.
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Duas criadas carregando pratos de cebola e alho quase colidiram, ento Meirion
levantou-se para corrigi-las, fazendo com que o caminho para entrar na cozinha
no fosse o mesmo para sair.
No temos ningum para cuidar de ns, milady. Eleanor olhou para
Meirion. Mas... a senhora no parece do tipo que fica deitada o dia todo...
Ela no terminou a frase, porm Meirion entendeu: como lady Montgomery.
As tortas acabaram! Amelina voltou chorando.
Eleanor sentou a menina sobre os joelhos e pediu que uma criada trouxesse po
e mel para ela. Amelina soluou, mas logo parou de chorar, mostrando que era
pura manha de criana mimada e acostumada a conviver apenas com adultos.
Depois de um momento, uma jovem com grandes olhos castanhos se
aproximou trazendo um prato.
Amelina, voc quer colher flores comigo? ela perguntou.
Oba! a garota pulou dos joelhos de Eleanor.
As duas se deram as mos e saram da cozinha.
Olhando ao redor, Meirion notou que nas prateleiras da cozinha tudo era
totalmente misturado e sem ordem, jarros junto com panelas e potes e colheres
de pau. Era impossvel encontrar alguma coisa sem ter de procurar muito.
Como se estivesse lendo seus pensamentos, Eleanor disse:
Gostaria de fazer alguma coisa aqui, milady? Eu no tenho tempo para
cuidar da cozinha e da menina. E o amo ocupado demais para nos orientar.
Apoiando a mo em um quadril, Eleanor ficou de p. Vou lhe mostrar as
cozinhas. Venha, por favor.
Neste momento, na parte principal da cozinha, alguma coisa caiu no cho e
ouviram-se gritos.
Tire o seu maldito coelho do meu armrio! uma robusta mulher que fazia
massa gritou a um homem que carregava vrios coelhos recm-mortos.
E onde voc quer que eu os ponha, ento? ele tambm gritou.
Est vendo o que eu quero dizer? Eleanor murmurou.
Falta organizao.
Sem dvida, eles precisavam de ajuda. Meirion levantou-se.
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Captulo XV
Meirion alisou o vestido verde e ajeitou nos cabelos o valioso pente que ganhara
de Godric.
Cus, mulher, Urso disse que voc estava ajudando nas cozinhas, mas
estamos esperando o rei?
Posso considerar isso um cumprimento? ela perguntou, um tanto
decepcionada.
Godric se aproximou, curvou-se, pegou-lhe a mo e a levou aos lbios.
Perdoe-me, milady. Eu fiquei surpreso e esqueci minhas boas maneiras.
Quando ele endireitou o corpo, Meirion viu prazer brilhando em seus olhos. E
alguma coisa mais... Esperana, talvez.
No foi tanto assim ela sorriu.
s vezes, at bom ser um pouco mal-educado.
Milorde! Meirion o advertiu, erguendo o queixo. Sorrindo, Godric
conduziu-a mesa.
No mesmo instante, lady Montgomery entrou na sala. No disse nada, pegou
uma travessa de comida e saiu.
Pelo canto dos olhos, Meirion viu James hesitar, indeciso em que lugar devia se
sentar.
V Godric disse ao irmo, indicando o lugar principal mesa. No o
seu lugar que eu quero, mas sim a prosperidade do castelo.
James sentou-se, e Meirion podia jurar que seus olhos estavam marejados de
lgrimas. Ele pegou a mo dela e murmurou:
Obrigado.
mrito seu, e no meu.
Mesmo assim, tenho que agradecer.
Meirion sorriu para James, enquanto Godric sentava-se ao Indo dela.
A carne de porco, de carneiro e a de veado estavam ainda melhores do que
Meirion imaginara. Godric olhava para ela de quando em quando, para se
certificar de que Meirion no era uma viso que poderia desaparecer de
repente. Msicos e engolidores de facas os distraam nos intervalos entre um
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Sim. Ela ficou viva, quase cega e muito feia. Voc acha que no podemos
encontrar mulheres mais jovens para varrer o cho?
Meirion apenas olhou para ele, sem nada dizer.
O corpo dela velho, mas seu esprito quer trabalhar. Voc notou quantos
casos como esse existem no castelo? Se fosse possvel, eu ficaria alegre em levar
voc para a Frana. Compraria um pequeno castelo e viveramos sossegados
para sempre. Mas isso impossvel, Meirion. Tenho muita gente sob a minha
responsabilidade.
Uma mistura de emoes tomou conta do corao de Meirion. Por que no
notara isso antes? Todo castelo tinha membros esquisitos, mas ali em
Montgomery eles eram numerosos. Urso com um brao s, o guarda com um
nico olho, uma mulher sem uma orelha, a outra quase cega.
Voc os mantm aqui, protegidos... ela disse, sem disfarar o assombro.
Voc no precisa de Whitestone apenas por vingana. Precisa de terras para
manter seu povo.
Meirion olhou com respeito para o homem que caminhava ao seu lado com
respeito. E tambm para as cicatrizes, como se as estivesse vendo pela primeira
vez. O que ele havia dito? S di do lado de dentro. Quanta injustia Godric
havia sofrido devido sua aparncia? Ele era to bonito e to doce alguns anos
antes... Ela sempre pensara em Godric como um homem muito forte, duro.
Mesmo depois de ele ter admitido que tivera muito medo quando o puseram
dentro daquele caixote. Talvez Godric tivesse um corao mais mole do que o
dela. Ele sofria cada vez que algum olhava para as suas cicatrizes com repulsa.
Eu lhes dou um lar, Meirion.
No, isso no tudo ela disse, pensando em Urso como soldado e no
guarda caolho. Eram pessoas que outros no receberiam e teriam de viver como
mendigos, mas ali em Montgomery, tinham uma funo, eram teis. Voc
lhes d esperana.
Godric no respondeu. Quando se aproximavam da sala, Eric veio at eles
correndo.
Mestre Godric! Mestre Godric! Venha rpido, a carga caiu de uma das
carroas e amassou todas as espadas extras.
Resmungando, Godric deu um beijo no rosto de Meirion.
204
Voltarei em uma hora ele disse e saiu correndo com Eric para fora do
castelo.
Caminhando sozinha at a sala, Meirion sentiu uma mistura de solido e medo.
Era tarde, e os soldados se apressavam nos ltimos preparativos para o ataque
ao castelo de Whitestone. Seu pai nunca entraria em acordo com Godric, jamais
lhe cederia suas terras. A nica chance para que seu povo sobrevivesse
dependia de ela chegar a Whitestone antes de Godric, para conversar com seu
pai.
Perdida em seus pensamentos, Meirion quase trombou em lady Montgomery.
Sinto muito pelo outro dia disse lady Montgomery. No seguro para
voc permanecer aqui. Ela olhou para o ptio, onde os homens carregavam
as carroas. Godric destruir seu lar.
Notando a grande quantidade de armas, Meirion ficou em dvida se a mulher
no teria razo.
Ele dirige tudo com mo de ferro. Exceo feita filha. Agradeo-lhe por
hav-lo feito enxergar que a menina mal-educada.
O castelo de Montgomery prospera bastante sob a direo de Godric
Meirion refutou a opinio de lady Montgomery.
Venha caminhar comigo. A mulher sorriu com tristeza.
Meirion a acompanhou atravs de vrios setores do palcio e observou os
homens carregando carroas, dirigidos por Urso, que gritava ordens. O vento
trazia as vozes at elas, mas Meirion no conseguia entender o que diziam.
Ficou inquieta observando espadas, lanas, arcos e flechas sendo colocados nas
carroas.
No se engane, criana. Godric destruir seu lar.
Meirion deu um longo suspiro.
Preciso chegar a Whitestone antes de Godric. S assim terei uma chance de
evitar a guerra. Se eu puder conversar com meu pai, poderei faz-lo entender a
gravidade da situao.
Talvez eu possa ajud-la. Lady Montgomery olhou-a com cautela.
Voc? Meirion ficou desconfiada. Seria esse o motivo da gentileza da
mulher? De que maneira?
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Pelo canto dos olhos, ela viu o vidrinho com pio escondido na fresta da
parede. Virou o rosto, determinada a no pensar em mais nada, a no ser no
amor que sentia por Godric.
Ele a deitou sobre a colcha e sentou-se na cama, ao seu lado.
Godric?
Sim? ele perguntou com voz rouca.
Posso tocar em voc?
Sim, pode ele respondeu, sorrindo.
Meirion estendeu o brao para tocar o peito de Godric, mas ele a impediu,
segurando-lhe a mo. Surpresa, ela ergueu as sobrancelhas ao v-lo levantar-se
da cama e ficar de p, sua frente, alto, poderoso e belo.
O que voc est fazendo?
Godric olhou-a e sorriu.
Voc no quer me tocar?
Sim, eu quero.
Ele pegou na barra da prpria tnica e a ergueu vagarosamente, despindo-se e
exibindo o belo torso nu. Sua pele brilhava, os plos escuros dando-lhe um
aspeto msculo e perigoso.
A boca de Meirion estava seca, e ela no conseguia afastar os olhos de Godric.
Ele sentou-se na beirada da cama, descalou as botas e comeou desamarrar
as calas de couro, que no conseguiam esconder o poder de sua
masculinidade. Ela sentia muita curiosidade. Nunca vira um homem nu.
Deliberadamente devagar, Godric terminou de desamarrar e tirou as calas,
ficando de p de novo na frente dela.
Tinha muito prazer em ser admirado por Meirion. Desde que voltara da
escravido, havia dois anos, nunca se orgulhara das prticas erticas que
aprendera com a princesa. De repente, sentia-se feliz por poder, com seus
conhecimentos, propiciar prazer a Meirion.
Os olhos dela estavam dilatados, e Godric podia sentir-lhe seu desejo
abrasador, mesmo de longe. Ela queria toc-lo. Antes disso, ele caminhou at
um armrio, perto de uma tapearia.
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pernas.
Afaste as pernas, meu amor.
Com um suspiro, ela obedeceu e fechou os olhos outra vez.
Dobre os joelhos, querida. Quero v-la todinha.
No... Tenho vergonha. Meirion fechou as pernas e sentou-se.
Godric pegou-a nos braos e beijou seu rosto.
Querida, no tenha medo dos prazeres que podem existir entre um homem e
uma mulher ele sussurrou. Voc est salva aqui. E eu quero admir-la.
Ela deitou-se novamente e estendeu os braos para ele.
Godric... sinto tanto desejo por voc...
Godric a abraou e a beijou apaixonadamente, sentindo que Meirion se
entregava por completo. Precisava se conter para no machuc-la e nem trair a
confiana que ela depositava nele.
Voc est tremendo... Meirion sussurrou:
Sim. Eu quero...
Por favor, Godric... Venha... agora... Eu no quero esperar mais. Desejo
pertencer a voc.
Com um gemido, ele a penetrou. Meirion gritou de dor.
Oh, Deus Godric sussurrou, sem se mexer Perdoe-me, querida.
Duas lgrimas escorreram dos olhos dela, e Godric beijou-lhe as plpebras.
Desculpe-me, eu devia ter sido mais delicado.
No... Estou bem... No se preocupe.
Quer que eu pare?
No. No est doendo agora. Pelo menos no muito.
s na primeira vez que di.
Ele afastou-se um pouco para tornar a penetr-la.
Meirion gemeu e fechou os olhos.
Godric movia os quadris em crculos, vagarosamente. Percebeu que ela
relaxava, sinal de que no sentia mais dor. Acariciou-lhe os seios, os bicos
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Por favor, Deus, faa com que, ao acordar, ele entenda o que eu fiz.
Voltou cama e entregou-lhe uma das taas, sorrindo.
Beba, milorde.
Ele riu, tocou seu rosto de leve e levou a taa boca, sorvendo metade de seu
contedo.
Ao nosso futuro juntos Meirion brindou, bebendo o vinho.
Ela sentiu-se culpada, mas j era tarde para arrependimentos. Agora restava-lhe
apenas esperar. Quanto tempo demoraria para o pio fazer efeito? Godric era
um homem grande e forte. Poderia levar mais tempo.
Meirion ps sua? taa de lado e acariciou-lhe o rosto, desejando poder passar a
noite toda com ele.
Milorde ela disse, beijando-o , temo que me odeie de manh.
Eu nunca poderia odi-la.
Quer mais vinho? Meirion ofereceu, esperando que Godric no percebesse
o tremor de suas mos.
Ele sorriu, mas, de repente, sua expresso mudou de alegria para surpresa.
Meirion! Por Deus... o que voc fez? O que h de errado comigo?
Eu amo voc, Godric. Ela o beijou mais uma vez. Ele tentou agarr-la,
porm no conseguiu.
Eu vou... bater em... voc... condessa Godric balbuciou e, em seguida, caiu
pesadamente na cama.
Captulo XVI
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a tnica do rapaz.
No me chame de mestre. Ele soltou o jovem, gritando: Eu sou um
idiota! Um tolo! Godric foi at a mesa de mrmore e a virou contra o cho,
partindo-a em duas e derrubando as taas que eles haviam usado na noite
anterior.
Vou aprontar os cavalos, senhor Eric arriscou-se em dizer.
Godric foi at a cama e rasgou os lenis, mas, de repente, parou. Destruir o
quarto de nada adiantaria.
Obrigado, Eric. Diga a Urso que partiremos imediatamente. Usaremos isto
como bandeira. Entregou ao rapaz um pedao do lenol manchado de
sangue.
Eric meneou a cabea e se afastou carregando o lenol.
Eu darei uma surra nela Godric resmungou para si mesmo. Contraiu e
descontraiu as mos e mudou de idia: No, eu vou acorrent-la cama.
Com a volta de Meirion a Whitestone toda a esperana de negociao
terminara. No havia outra sada seno tomar o castelo pela fora. Godric se
vestiu deliberadamente devagar para tentar se acalmar, mas, ao pegar a espada,
sentiu-se ansioso para deflagrar a guerra pela posse de Whitestone. Olhou para
a cama onde ela o havia enganado e sentiu-se novamente invadido pela fria.
Calou as botas, controlando-se para no usar a espada e cortar o colcho em
pedaos.
Godric saiu do quarto para se dirigir aos estbulos. porta, encontrou-se com
lady Montgomery, que olhou para ele fixamente.
Meirion odeia voc. Ela mesma me disse. Meirion no quer nada que tenha
sido dado por voc. Lady Montgomery tirou o pente com a esmeralda do
bolso e mostrou a Godric.
Ele foi invadido por uma tristeza que nunca havia sentido antes. Pegou o pente,
pisoteou-o e se dirigiu ao ptio.
Dera a ela a oportunidade de uma rendio pacfica, mas agora s lhe restava a
guerra.
O rei ordenara que Godric tomasse Whitestone. E ele o faria. Pegaria cada
rebelde Lancaster e mandaria todos para Londres. No haveria mais nenhuma
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Tio Pierre, alto e digno, apoiado na bengala, olhava para ela com desaprovao.
Ento, minha esposa cansou de ser a prostituta do bastardo. Suas roupas
esto to sujas quanto a sua virtude.
Meirion gelou, sentindo-se como uma criana de sete anos de idade que ateara
fogo no celeiro.
Voc no tem nada para dizer? ele perguntou, muito srio.
Ela engoliu a seco. Viera para discutir os problemas como uma mulher adulta e
sentia-se como uma criana levada. A imagem de Godric veio-lhe mente, e
Meirion tomou coragem. Respirou fundo e enfrentou a situao.
Eu no posso estar casada com voc, tio Pierre.
Pierre limpou a garganta antes de responder:
Eu estou casado com voc. Venha comigo agora, esposa.
Devagar, com toda a dignidade que conseguiu demonstrar, Meirion ergueu o
queixo e decidiu discutir o assunto.
Papai? Meirion pegou suas mos.
Embora o quarto estivesse quente, as mos de Ioworth estavam geladas e
magras, como se fossem apenas ossos cobertos pela pele. Uma vela brilhava ao
lado da cama.
Minha criana... ele murmurou. Voc voltou Ioworth falou com
dificuldade.
Papai, tenho muito para lhe dizer.
Como poderia comeai- a lhe contar sobre Godric? Deveria falar?
Meirion... Seu pai tossiu, e ela ps uma compressa mida na testa dele.
No h tempo.
Papai, no diga isso.
Psiu, criana. Ele ergueu um pouco a cabea, para logo em seguida deixla cair sobre os travesseiros. Fechou os olhos.
Papai! Meirion tinha vontade de chacoalh-lo para que ele permanecesse
desperto. O senhor no vai morrer.
Bah! Negar a morte no a torna menos poderosa. Ioworth respirava com
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dificuldade.
Percebendo sua impotncia, Meirion comeou a chorar. Precisava do pai para
convencer tio Pierre da necessidade de anular o casamento deles. Precisava de
muitas coisas que no podia pedir com Ioworth naquele estado.
Com grande esforo, ele ergueu-se um pouco e mostrou o anel com o braso da
famlia.
No, papai. Isso vai passar e ser como antes.
Estou morrendo, filha Ioworth declarou. Seja forte.
Eu no o deixarei morrer. Ela levantou-se e comeou a abrir as cortinas,
deixando entrar a claridade. Eu no o deixei morrer quando o senhor estava
preso em Londres, e no deixarei que morra agora!
Ioworth sorriu diante do arrebatamento da filha, como se achasse graa na
declarao dela. Ento a risada se transformou em espasmos, e ele recomeou a
tossir.
Meirion sentou-se ao seu lado, muito quieta. No havia nada que pudesse fazer
para impedir a morte do pai.
Filha ele disse depois que o acesso de tosse se acalmou , d-me sua mo.
Meirion obedeceu e, lentamente, Ioworth depositou o anel na mo dela.
Voc tem sido uma filha melhor do que muitos filhos... mas no um filho.
Este anel lhe d poder, porm uma mulher no pode administrar um castelo
sozinha. Pierre tomar conta de voc daqui em diante, mas ele um homem
velho. Meirion, voc deve dar este anel a um homem que seja forte e capaz.
Ela ficou emocionada. Queria tanto contar-lhe a respeito de Godric e de tudo
que havia se passado entre eles, mas aquele no era o momento indicado.
Ioworth tossiu de novo, e, a cada acesso, sua voz se tornava ainda mais fraca.
Procure pessoas sbias para ficar ao seu lado e mantenha-se afastada dos
York.
Dito isso, ele relaxou sobre os travesseiros e fechou os olhos.
Papai! Papai? Oh, cus, papai! Meirion segurava Ioworth pelos ombros,
mas ele no reagia, e ela sentiu uma dor aguda no peito, como se tivesse sido
varada por uma espada.
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Captulo XVII
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causa dela. Cus, ele no entendera nada. Ela havia fugido para evitar uma guerra,
a fim de que eles pudessem viver em paz. Sabia que Godric ficaria furioso, mas
achou que teria oportunidade de falar com ele para acalm-lo. Ser trancada no
quarto acabara com seus planos. O que Godric pensara ao acordar sozinho na
manh seguinte e verificar que ela havia fugido? Ele a teria odiado? Meirion
correu at a janela.
Algum me escute! Preciso falar com Godric! Deixem-me sair!
Homens corriam de um lado para outro berrando ordens, preparando-se contra
a invaso.
Oh, Deus, por favor, envie algum para me libertar!
Godric devia chegar antes do anoitecer. E a, o que aconteceria?
Meirion olhou de novo para a nuvem de poeira.
Seu louco! Eu o deixei porque amo voc! Est me ouvindo, Godric? Todos os
homens acham que a guerra a soluo para tudo. Voc nunca se cansar disso,
nunca tentar outras tticas?
De nada adiantava ela bradar aos cus. Ningum a ouviria, estava
completamente impotente.
Sentou-se no cho e abraou as pernas dobradas.
Meirion? ela ouviu uma vozinha do outro lado da porta.
Conteve as lgrimas e foi at a porta.
Sim? Quem ?
Meirion! Eu encontrei voc!
O corao de Meirion disparou. Era o filhinho de trs anos da cozinheira.
Justin!
Mame disse que homens maus esto vindo para o castelo... e eu estou com medo.
Mame disse para eu no ficar na cozinha porque eles esto cozinhando leo quente para
os homens maus. Se eles so maus, por que mame est cozinhando para eles?
Justin, querido, eu lhe explicarei isso depois. Meirion sentiu um laivo de
esperana. Justin, preste ateno, h uma chave perto da porta, pendurada
na parede?
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Ele est... est morto, Meirion? Julien perguntou, olhando para Ioworth
com curiosidade.
De algum modo, a aceitao do menino diante da morte tornou a situao mais
tolervel.
Sim, amor. Ele est morto. E ns precisamos continuar lutando porque ainda
estamos vivos.
Ela correu at uma estante e empurrou uma das extremidades.
Ajude-me, Justin. Eu sei onde podemos nos esconder. Venha...
Meirion continuou a empurrar uma das extremidades da estante at que esta se
moveu e surgiu uma abertura do tamanho de uma porta. Meirion entrou junto
com Justin. Talvez Damien tivesse sido a ltima pessoa a usar aquela passagem.
Sua testa estava coberta de suor. E se algum ouvisse? Ficou quieta por alguns
segundos, prestando ateno aos sons.
Meirion, pessoas mortas no escutam. Ele no vai dizer para ningum onde
estamos.
Oh, Justin... Ela abaixou-se para abraar o menino. Graas a Deus, voc
est aqui comigo.
O garoto sorriu, orgulhoso.
Meirion empurrou a estante de volta ao seu lugar, pegou uma vela e iluminou o
caminho que iriam percorrer. Fez com que Justin comeasse a caminhar e o
seguiu de perto. Uma teia de aranha encostou no rosto de Meirion, que a
afastou com a mo, mas a teia se prendeu em seus dedos.
Meirion, eu tenho medo de escuro!
Seja corajoso, querido. Finja que um cavaleiro.
Justin no respondeu, mas segurou na saia dela. Continuaram a caminhar. O
que diria a Godric? Ele permitiria que Meirion falasse? E se ela no conseguisse
chegar ao acampamento?
Ignorando o medo, apressou o passo.
Finalmente, viu uma claridade a distncia. Ficou aliviada. Logo alcanariam o
lado de fora.
Ao chegarem ao fim da passagem, a claridade quase os cegou. Aos poucos os
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olhos se acostumaram, e Meirion pde ver tendas armadas perto das rvores.
Pegou Justin no colo e correu na direo do acampamento. Por um momento,
Meirion pensou se no estava indo para o covil do lobo como um cordeiro
prestes a ser imolado. Sentiu medo. O que diria a Godric?
De repente, detrs de uma rocha surgiu um vulto enorme. Um gigante de
cabelos vermelhos ficou na frente deles. Meirion apertou Justin no colo.
Urso!
Milady. sua voz era fria. Damien nos contou sobre a passagem secreta.
Godric disse que a senhora poderia us-la para fugir novamente.
Como assim? ela piscou, sem entender.
Quero dizer que a senhora vir comigo. E ele a pegou pelo brao.
Meirion foi tomada pela raiva.
Largue-me, seu tolo! Eu estou fugindo para me encontrar com Godric, no
estou fugindo dele!
Justin agarrou-se a ela e comeou a chorar. Meirion lanou a Urso um olhar de
veja-o-que-fez e apertou o menino, tentando apazigu-lo.
Os homens maus vo nos pegar! Mame disse para eu no sair do castelo!
o garoto se lamuriava, gritando.
Psiu, querido. Urso no um homem mau.
Mas ele s tem um brao!
Psiu, meu amor...
Vamos, milady. Urso soltou-lhe o brao, mas apontou o caminho que ela
devia seguir em direo ao acampamento. Se estamos indo para o mesmo
lugar, a senhora no se importar se eu a guiar ele disse em um tom de voz
que indicava que no tinha acreditado em uma s palavra de Meirion.
O acampamento havia sido montado em um declive que ficava na frente dos
portes de Whitestone. Homens reunidos ao redor de fogueiras riam e davam
tapas nas costas uns dos outros. Ouvia-se tambm o som de espadas sendo
afiadas.
Justin continuava agarrado a Meirion e no aceitou ser colocado no cho nem
quando suas costas e seus braos comearam a doer. Muito ansiosa, imaginava
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se Godric pensaria, do mesmo modo que Urso, que ela estava fugindo dele de
novo.
Meirion viu Godric a distncia, sua presena atraindo-a, como sempre. Ele
encontrava-se sentado sobre um tronco, afiando a espada que havia apoiado
sobre os joelhos.
Parecia calmo e estava lindo. Ela sentiu os joelhos fracos e lutou contra a
vontade de se virar e fugir.
Cus, pagaria o que fosse necessrio para saber os pensamentos de Godric. Ele a
odiava? Sentia saudade dela? Ou, pior do que tudo: era indiferente?
Al, mestre! Urso gritou. Olhe quem eu encontrei fugindo pela
passagem secreta do castelo.
Meirion sentiu uma dor no estmago quando Godric olhou pura ela. Seus olhos
azuis brilhavam de raiva e seu rosto era uma mscara de indiferena.
Vagarosamente, ele se levantou.
Condessa...
Milorde... Meirion ps Justin no cho, e o pequeno agarrou-se sua saia.
No me chame dessa maneira. Godric torceu-lhe o brao atrs do corpo e
a puxou de encontro ao seu peito.
Ela engoliu a seco. Justin deu um gemido e recomeou a chorar.
Mulher tola Godric disse. Pensou que pudesse fugir? Acha que existe
um lugar onde eu no a encontraria? Sua voz era glida.
Eu no estava fugindo de voc.
Chega, Meirion! Que espcie de tolo voc pensa que eu sou? Furioso, ele a
entregou a Urso. Leve-a para a minha tenda. No posso cuidar dela agora.
Lgrimas escorreram pelo rosto de Meirion.
No, Godric. No! Voc no entende. Ela se atirou contra ele, a barra de
sua roupa se prendeu no sapato, e Meirion caiu de joelho. Voc no pode
fazer isso.
Urso parou ao seu lado e a levantou do cho.
Vamos, milady. Vou lev-la aos seus aposentos.
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timo.
Meirion ficou decepcionada. Onde estava o homem que havia dito que a
amava?
Na verdade, uma coisa que voc j tem.
E o que ?
Gostaria que parasse de me olhar como se fosse me comer.
Godric pegou o queixo dela entre o polegar e o indicador e murmurou:
exatamente isso que pretendo fazer.
Por que est agindo dessa maneira?
Ele deu de ombros.
Meirion rodou em seu dedo o anel com o smbolo de sua famlia e rezou para
que Godric entendesse.
Isto pertence a voc.
O que isso?
o anel de meu pai. Quem tiver este anel o dono de Whitestone.
Voc est me dando o seu castelo de presente?
Sim.
Godric pegou o anel e olhou-o com ar de zombaria.
O castelo j meu. No preciso do anel.
Se suas mos no estivessem amarradas, ela teria investido contra ele.
Droga, Godric, eu sei disso. Mas quero que voc fique com o anel.
Ele andou pela tenda e sentou-se em um banco de madeira.
Voc est querendo dizer que saiu do seu castelo pela passagem secreta para
me dar este anel?
Sim, seu cabea-dura!
No acredito em voc.
Godric, escute!
Se queria me dar um presente, por que usou a passagem secreta? Voc
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Meirion.
O que voc est tentando fazer? Meirion perguntou, assustada.
Silncio, escrava Godric murmurou, enfiando a mo nos cabelos dela e
puxando sua cabea para trs.
Bem em seu ntimo, Meirion rendeu-se. Ele no lhe faria mal. E nem ao seu
povo. Suas terras estariam seguras com Godric, como ela tambm estaria segura
em seus braos, mesmo que ele estivesse segurando um punhal contra seu
pescoo e suas mos estivessem amarradas acima de sua cabea. Inalando o
cheiro msculo de Godric, Meirion relaxou sobre os travesseiros e fechou os
olhos.
Voc no tem medo de mim, tem?
No.
Ele a beijou suavemente.
Pois deveria ter.
Segurando o punhal com firmeza, Godric cortou o vestido todo do pescoo at a
cintura.
Godric?
Psiu. Confie em mim. Ele sorriu.
Eu confio em voc.
Godric continuou cortando o vestido at os quadris. Meirion no sentia medo.
Sentia desejo. Desejo de ser possuda por ele outra vez.
Milorde ela murmurou, trmula de excitao. Bruscamente, ele cortou o
vestido at a barra. O traje abriu-se em dois, expondo a pele alva de Meirion.
Voc minha. S minha.
Ela abriu os olhos. Godric a olhava com desejo. No era a mesma expresso da
noite em que se entregaram um ao outro, era o olhar de um homem faminto,
prestes a saciar sua fome.
Godric. Eu tambm preciso de voc.
Ele abaixou as calas, seu membro surgiu poderoso, e Godric deitou-se sobre
Meirion, sem prembulos.
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noiva, ia me casar com ele. E alguns de vocs sabem que o casamento foi
ilegalmente cancelado. A ira do rei recair sobre ns se no dermos nossas
terras a Godric. Ele legalmente o dono de Whitestone, e vocs lhe devem
lealdade.
Um murmrio atravessou a multido. Alguns homens depuseram as espadas
no cho. Outros as ergueram como se fossem lutar. Godric olhou para ela,
aturdido.
Contudo Meirion continuou falando em voz alta o direito de Godric de
Montgomery no razo para que vocs sejam leais.
Urso moveu-se e cofiou a barba vermelha.
Vocs devem ser leais a Godric porque ele um homem nobre e gentil,
porque merece nossas terras e um bom lder. Nossas terras iro prosperar nas
mos de Godric. Meirion viu alvio nos olhos do seu povo e tirou do meio
dos seios o anel de seu pai. Meu pai deu-me este anel para que eu o
entregasse a um homem forte que merecesse Whitestone. Ela olhou para
Godric, o corao acelerado. Ele acreditaria nela, agora?
O rosto de Godric permaneceu impassvel, mas seus olhos brilhavam.
Percebendo que ele estava capitulando, Meirion ajoelhou-se a seus ps, em uma
posio de devoo, segurando o anel na frente dela.
Meu povo, eu jurei devotamento a Godric de Montgomery e jurei obedecer
ordem que recebi de meu pai em seu leito de morte. Eu amo Godric e no posso
imaginar minha vida sem ele.
Godric olhava para aquela mulher ajoelhada a seus ps, sem saber o que fazer.
Aquele discurso apaixonado era totalmente imprevisto.
Meirion olhou para ele com esperana e amor.
Por favor... Eu amo voc.
Dando um passo frente, Godric pegou o anel e o colocou no prprio dedo. Em
delrio, a multido comeou a gritar, e Godric pegou Meirion pela mo e a fez
levantar-se.
Vagabunda! Pierre exclamou.
Meirion se afastou de Godric, atravessou a multido e deu um tapa no rosto de
Pierre. Ele deu um passo para trs.
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informou.
Virando-se, Meirion passou os braos ao redor da cintura de Godric. Nunca
mais o soltaria.
Ela realmente uma mulher amarga e srdida, como voc disse.
Godric beijou a tmpora de Meirion.
Tenho sido to maltratado pelas mulheres que no aprendi a amar, e s hoje
acreditei no seu amor.
Por favor, milorde, nunca duvide do meu amor.
De hoje em diante... Nunca mais.
Captulo XVIII
Direi a verdade.
Ele no ficar bravo com voc?
Godric beijou-lhe as plpebras.
Uma vez que o rei entenda sua lealdade para comigo, certamente me
perdoar por no mandar um nobre insignificante como Pierre a Londres.
Ele beijou-lhe a ponta do nariz. Eu posso assegurar ao rei sobre a sua
lealdade, no posso?
Voc sabe que pode, Godric.
Meirion ele sussurrou , voc falou de amor. No foi apenas uma
estratgia para salvar o seu castelo, foi?
Ela olhou bem para Godric, seu rosto bonito, suas cicatrizes e seus olhos azuis.
Ele parecia to vulnervel...
Eu acho que amei voc desde o nosso primeiro encontro, Godric. Meirion
acariciou a cicatriz que ele tinha sob um olho. Perdoe minha famlia e perdoe
a parte que me coube nesta tragdia. Eu deveria ter me casado com voc h
muito tempo.
Pode sentir as batidas do meu corao? Godric perguntou, levando a mo
de Meirion ao seu peito.
Sim.
Tudo o que houve de ruim entre ns coisa do passado. O que temos o
agora, esta vida, este momento.
Ela enfiou a mo sob a tnica dele, acariciou seu peito e beijou seus lbios.
Eu o amo, milorde sussurrou.
Meirion, voc se casar comigo?
Voc est... me pedindo?
Sim.
Godric, o Drago, est me pedindo em casamento? Ia ergueu uma
sobrancelha. E se eu recusar?
Ele enfiou a mo nos belos cabelos de Meirion e a puxou para mais perto.
Voc no far isso.
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Quanta arrogncia...
Godric no a deixou continuar. Beijou-lhe os lbios, de incio suavemente, mas
aos poucos o beijo foi se tornando muito exigente. Sua lngua procurava a de
Meirion, deixando-a quase sem flego.
Nunca ficarei saciado de voc, meu amor.
Nem eu de voc, querido.
Ento, Meirion lembrou-se dos instrumentos de prazer que ela vira antes de
fazer amor com Godric em Montgomery. Ele os teria trazido? Meirion tinha
certeza de que a vida nunca seria aborrecida e sem paixo ao lado de Godric.
Voc me pertence ele disse.
Ela riu. Pertencer a Godric no era mais uma coisa assustadora.
Voc tambm me pertence, milorde.
Ele a pegou nos braos e a carregou em direo ao seu quarto, decorado com
mveis e ornamentos novos. Meirion deitou a cabea em seu peito, inalando-lhe
o cheiro msculo. Godric chutou a porta, atravessou o quarto e a deitou sobre a
cama, que rangeu quando ele se deitou sobre Meirion.
Eu a amo, milady.
Ela sorriu, os olhos brilhando de desejo.
Meirion ergueu a tnica de Godric e olhou com cobia para aquele torso forte e
bronzeado.
Possua-me, milorde. Meu corao j lhe pertence. Anseio para que possua
meu corpo tambm.
Godric caiu na gargalhada, e Meirion o puxou mais para perto de si.
Ele ergueu-lhe a saia e abaixou suas roupas ntimas at ela ficar nua e exposta.
O desejo tomou conta dos dois, que se abraaram com fervor.
Voc meu Meirion disse.
Graas a Deus, garota. Com apenas um movimento, Godric abaixou as
calas e a possuiu com paixo. Serei sempre seu. At o fim dos dias.
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