A Interpretação Do CPC
A Interpretação Do CPC
A Interpretação Do CPC
Conceitos teóricos são formulados livremente pelos teóricos. Como tais, não
podem ser “avaliados” diretamente, salvo quanto a saber se há ou não algo que nele se
subsuma, ou se se trata de um conceito vazio. Fora esse caso extremo, a valoração que
se possa dar a conceitos teóricos passa, necessariamente, pela valoração das teorias,
explicações e afirmações que o tomam como ingrediente. Por exemplo, um conceito
excessivamente inclusivo, dificilmente produzirá alguma teoria útil, na medida em que,
com base nela, se pode, no máximo, formular afirmações banal e trivialmente
verdadeiras de “quase tudo”.
Por outro lado, conceitos normativos não são “livremente” formulados. A razão
é óbvia, mas convém explicitá-la: na medida em que conceitos normativos são os
próprios ingredientes de que são constituídas as normas jurídicas, a “criação” deles é um
fragmento da própria criação de normas jurídicas. Aliás, conceitos normativos, nesse
sentido, não existem independentemente de normas jurídicas, sendo apenas um dos
fatores que se pode abstrair de uma norma jurídica. Como um mesmo conceito
normativo pode ser fator de muitas normas jurídicas, tem-se, às vezes, a impressão que
há uma “autonomia” de “noções jurídicas”, porém isso é um erro de categoria. Dessa
forma, a determinação de conceitos normativos é um aspecto da determinação de
normas jurídicas, pela interpretação de seu respectivo texto legislativo.
Nesta breve nota, não cabe, obviamente, realizar uma análise nem da história
subjacente à inclusão de tais termos, nem dos conceitos normativos ou legais que a eles
se deve atribuir como seus respectivos significados. O que se quer, tão somente, é
alertar para o surgimento de concepções equivocadas, que sustentem, sem a realização
de uma interpretação adequada dos dispositivos legais em que tais termos ocorram,
levando em consideração o universo de dados contextuais consistentes em outros
dispositivos legais, as normas por eles veiculadas, bem como dados de situações
concretas em que a norma veiculadas pelos dispositivos legais em que os mencionados
termos ocorram, venha a ser utilizada como critério de decisão.
Essa é uma lição que deve ser extraída para a interpretação de todas as
disposições integrantes do CPC/2015, particularmente aquelas que, como visto, são de
alguma forma originariamente associadas a conceitos teóricos e passaram a constar, em
textos legislativos, pela primeira vez com o advento do CPC/2015. O fato de tais
termos, quando “tokenizados” no discurso doutrinário, veicular determinado conceito
teórico é um dado relevante, mas jamais suficiente, na determinação do conceito
normativo que o mesmo termo veicula, quando “tokenizado” em um texto legislativo. 4