Artes Visuais, História E Sociedade: Aula 4

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 24

ARTES VISUAIS, HISTÓRIA E

SOCIEDADE
AULA 4

Profª Danielly Dias Sandy


CONVERSA INICIAL

Esta aula apresenta um recorte com destaque em alguns movimentos e


tendências estéticas do século XIX e seus desdobramentos no início do século
XX. A intenção é situar o leitor nas principais características correlatas aos temas
dos tópicos aqui abordados. Dessa forma, iniciamos com o movimento da Nova
Arte, com início em Paris e conhecido como Art Nouveau. Passaremos pelo
Impressionismo, destacaremos alguns dos artistas pós-impressionistas para, em
seguida, tratarmos do Expressionismo e finalizarmos com o Cubismo. Seguindo
essa ordem temporal, o intuito é compreender acerca desses períodos a partir
da produção artística que era realizada. Para tanto, seguimos a seguinte
sequência nos assuntos:

1. Art Nouveau;
2. O impressionismo;
3. Pós-impressionismo;
4. Expressionismo;
5. Cubismo.

CONTEXTUALIZANDO

O século XIX apresenta muitas transformações em diferentes áreas e, no


campo das artes, passamos a ter vários ismos para nomear os diferentes
movimentos e estilos artísticos. Um fato que revolucionou as artes visuais
durante esse período foi o surgimento da máquina fotográfica, em 1839, com a
possibilidade de registrar fidedignamente os momentos e transformá-los em
imagens. Se por um lado alguns artistas se viram praticamente tendo que
competir com a máquina fotográfica no que se refere à representação e rapidez
em sua produção, por outro, muitos artistas compreenderam que não deveriam
tentar competir com uma máquina e que a sensibilidade de seu olhar era o que,
de fato, fazia de sua pintura algo realmente elevado e significativo.
Essa questão fica ainda mais evidente a partir dos artistas impressionistas
que se dedicaram a captar as impressões das coisas abrindo mão da
representação fiel da realidade. Naturalmente, após esse fato, podemos
compreender o quanto a arte saltou em relação ao seu desenvolvimento como
uma possibilidade do artista explorar a sua alma na forma de ver e sentir o
mundo. Com isso, o ensino acadêmico de arte passou a ser questionado,
2
juntamente com as exigências dos salões e tudo o mais que cobrasse do artista
a reprodução fiel do que poderia ser visto por seus sentidos, sem passar pelo
filtro de suas emoções.
Outro ponto a ser aqui destacado, fruto de discussões acerca do período,
é o embate entre arte e sociedade industrial. Sabemos que a Revolução
Industrial trouxe grandes mudanças, sobretudo na forma como as coisas
passaram a ser produzidas, causando perplexidade e assombro a todos aqueles
que defendiam o sentido e a essência dos processos artesanais. Isso porque
alguns artistas e críticos acreditavam que as indústrias e suas produções em
série esvaziavam as coisas de sentido e por isso era necessário levar a arte
também para tais produções. Assim, temos o surgimento do estilo conhecido
como Art Nouveau e o início das artes e ofícios.

TEMA 1 – ART NOUVEAU

O Art Nouveau foi uma tendência estética que se difundiu pela Europa e
Estados Unidos na década de 1880 e esteve em voga até o início da Primeira
Grande Guerra Mundial, em 1914. A intenção era criar uma arte realmente
moderna e que estivesse presente não apenas nos quadros, mas também na
arquitetura, objetos, rótulos de produtos e mais. Essa intenção, de praticamente
democratizar a nova arte, não foi totalmente satisfatória, considerando que a
maior parte das pessoas que consumia os produtos e tinha condições de investir
nos objetos de mescla entre o artesanal e o industrial era de boa situação
financeira.
Assim, encontramos objetos diversos do uso cotidiano e decorativos com
as características do Art Nouveau decorando o interior das casas e
estabelecimentos da época. O reconhecimento de tais objetos como sendo
desse período não é uma tarefa complexa, pois os efeitos florais e inspiração
nas formas orgânicas e sinuosas da natureza são bastante claros e facilmente
identificáveis.

3
Figura 1 – Luminária no estilo Art Nouveau, do século XIX

Créditos: KarlK/Shutterstock.

Uma das intenções mais fortes e presentes no Art Nouveau era estreitar
os laços entre as belas artes e as artes aplicadas ou artes e ofícios.
As origens do Art Nouveau podem ser encontradas no movimento inglês
Arts and Crafts, que abarcava todas as artes e principalmente nas ideias de
William Morris (Dempsey, 2003). Embora o movimento aspirasse por uma nova
arte, as inspirações eram diversas e nem sempre tão novas assim, tal como as
iluminuras, a arquitetura gótica, as gravuras japoneses e mais. Assim, o fator
decorativo dessa arte tomou grande proporção e influência sobre a sua
produção. De acordo com Gombrich, sobre a nova arte,

a palavra de louvor mais usada nesse período do Art Nouveau era


decorativo. Pinturas e gravuras deviam exibir um padrão agradável ao
olho muito antes de se poder ver o que representavam. Lentamente,
mas com firmeza, essa tendência de estilo para o decorativo
pavimentou assim o caminho para uma nova abordagem à arte.
(Gombrich, 1999, p. 536)

No entanto as linhas orgânicas, muito presentes no Art Nouveau


juntamente com a inspiração nas formas da natureza, contavam com um
elemento bastante moderno na época — a ciência. Assim, “com o impacto das
descobertas científicas, sobretudo as de Charles Darwin, o emprego de formas

4
naturais já não era mais visto como algo romântico e escapista, mas moderno e
progressista” (Dempsey, 2003, p. 35).
Dentre as principais características do Art Nouveau, podemos destacar
primeiramente a inspiração nas ideias de Willian Morris e John Ruskin, as formas
e linhas orgânicas, consideradas graciosas e exuberantes, a representação da
natureza com enfoque na sinuosidade das formas com valorização do estilo
floral, o uso de arabescos e curvas assimétricas. Contudo, observamos o retorno
à artesania frente às mudanças originadas na sociedade industrial.
Um artista de notável destaque desse período foi o checo Alfons Mucha
(1860-1939), que despontou na pintura, gravura, ilustração e design de
interiores. “A obra de Alfons Mucha é arte de sedução. Com as suas graciosas
figuras femininas, cores encantadoras e os cenários perfeitos, o artista corteja o
observador” (Ulmer, 2006, p. 5).

Figura 2 – Ilustração do Zodíaco de Mucha

Créditos: HstrongART/Shutterstock.

Outro artista que evidenciamos desse período é o austríaco Gustav Klimt


(1862-1918), que ainda se destacou como pintor simbolista. De acordo com o
historiador e crítico de Arte Julio Argan (1992, p. 213), Klimt “desenvolve os
ritmos melódicos de um linearismo que acaba sempre por voltar ao ponto de
partida e se fechar sobre si mesmo”. Klimt foi fundador da Associação Austríaca
de Artistas Figurativos em contraponto às ideias e ao conservadorismo da
Sociedade dos Artistas Vienenses.
5
Figura 3 – Retrato de mulher

Créditos: Julia-Bogdanova/Shutterstock.

Na arquitetura, também identificamos as mesmas características da


ornamentação presente nos objetos e nas formas das pinturas. Isso se reproduz
em fachadas de construções diversas como também no interior, desde o papel
de parede ao corrimão das escadas, lustres, luminárias, objetos de banheiro,
papel de parede, janelas, vidraças e mais. Dentre os arquitetos que comungaram
dessa fascinante tendência estética, evidenciamos o belga Victor Horta (1861-
1947) que deu início a esse movimento na arquitetura, e o espanhol Antoni Gaudí
(1852-1926), que traz em sua obra características próprias, mesclando muitas
cores e fazendo uso de elementos como vidro, cerâmica, ferro fundido e mais.

6
Figura 4 – Fachada de Edifício em Paris no estilo Art Nouveau

Créditos: Yana Fefelova/Shutterstock.

TEMA 2 – O IMPRESSIONISMO

A arte impressionista se despontou como um evento inesperado e ao


mesmo tempo revolucionário frente aos padrões pictóricos e escultóricos
presentes na época. Mas perante aos críticos, a sensação de pintura “inacabada”
foi motivo de escárnio, curiosidade e confusão frente ao que realmente se
propunha como arte nos salões oficiais. O termo impressionista, a priori, surge
de forma pejorativa, querendo mostrar que os artistas dessa tendência não
sabiam, de fato, pintar; todavia, conseguiam captar as impressões da realidade
e imagens das coisas. Isso também se deve à pintura de Claude Monet, intitulada
Impressão, sol nascente, exibida na famosa exposição de 1874, reconhecida
como um marco para o início do movimento impressionista.
Dempsey (2003, p. 14) especifica que o início do impressionismo foi
realmente em abril de 1874, “quando um grupo de jovens artistas de Paris,
frustrados com a contínua exclusão de suas obras dos salões oficiais, reuniu-se
com o objetivo de realizar as próprias exposições no estúdio do fotógrafo Félix
Nadar”. Dentre os artistas, encontramos Claude Monet (1840-1926), Auguste
Renoir (1841-1919), Edgar Degas (1834-1917), Camille Pissarro (1830-1903),
Alfred Sisley (1839-1899), Berthe Morisot (1841-1895), Paul Cézanne (1839-
1906). Mas, de acordo com o que menciona Argan,

7
o Impressionismo nasce com a ligação de Monet e Renoir, que, entre
1869 e 1874, frequentemente trabalham juntos às margens do Sena,
en plein-air, decididos a acabar com as regras de ateliê (perspectiva,
composição, chiaroscuro, tema histórico) e a descobrir uma pintura que
representasse a “impressão” visual na sua imediaticidade e flagrante.
(Argan, 1992, p. 102)

O grupo todo seria formado por algo em torno de 30 artistas que se


encontravam exauridos frente às inúmeras recusas de seus trabalhos pelos
críticos de arte nos salões oficiais. Mediante a isso, buscaram se reunir com o
intuito de apresentarem a sua própria exposição ao público contra o que
consideravam um monopólio por parte dos críticos sobre o que poderia ou não
ser exposto (Dempsey, 2003).
Porém, em 1863, já havia sido realizado o Salão dos Recusados, em
Paris, inclusive com a exibição da famosa obra Almoço na relva, de Édouard
Manet, a qual foi interpretada pelos críticos da época como uma verdadeira
afronta em diversos sentidos. Primeiramente, essa obra foi submetida à análise
dos críticos para entrar no São de Paris, mas foi rechaçada em diferentes
sentidos, destacando que esta apresenta uma cena com dois cavalheiros
vestidos juntamente com uma mulher nua em um possível piquenique e com
mais uma figura feminina ao fundo. E isso em um período quando a arte realista
ainda tentava se firmar e, portanto, “talvez o significado da tela esteja nessa
negação da plausibilidade, pois a cena não se adapta nem ao plano da
experiência cotidiana nem ao da alegoria” (Janson; Janson, 1996, p. 330).
Sendo assim, observamos que havia um forte movimento se despontando
em oposição aos padrões estabelecidos pelas academias, unindo vários artistas
com suas produções. Ademais, o intuito era que fosse reconhecido que a
máquina fotográfica havia tomado o espaço do artistas totalmente fiel à
realidade, mas que não tomaria o espaço do artista fiel aos seus próprios
sentimentos e forma de interpretar e sentir o mundo.
No que se refere à resolução pictórica, “os impressionistas tinham
renunciado à mistura de pigmentos na paleta e passaram a aplicá-los
separadamente na tela em pequenas pinceladas que reproduziam os reflexos
oscilantes de uma cena ao ‘ar livre’” (Gombrich, 1999, p. 539). E é justamente
essa uma das características mais marcantes dos artistas impressionistas — a
pintura ao ar livre. Assim, o artista sai de seu atelier e vai in loco para produzir e,
em decorrência disso, se volta à pintura alla prima, que significa “de primeira”,

8
pois exclui as velaturas de sua pintura passando a resolver o seu quadro de
imediato frente ao tema ou cena escolhidos.
A técnica da velatura consiste na diluição da tinta para que possa ser feita
uma fina camada de tinta diluída, como um véu, sobre a camada anterior já seca.
Para isso, o artista precisa de tempo em seu atelier, podendo obter áreas de luz
e sombra a partir da aplicação de velaturas. Não obstante, a pintura alla prima
descarta essa técnica, permitindo ao artista a finalização de uma obra em poucas
horas e, por isso, resultando no efeito da pintura impressionista, a qual recebeu
críticas por se parecer com um esboço ou pintura inacabada.
Em oposição a isso, dentre os artistas impressionistas, vale destacar
Edgar Degas, que muito bem se expressou a partir da pintura de bailarinas no
interior de estúdios de balé. Ele se manteve parcialmente distante dos demais
impressionistas, embora compartilhasse de seus mesmos ideais (Gombrich,
1999). “Não lhe interessa o que está além, e sim o que está dentro da sensação,
sua estrutura interna. Seu grande achado é ter justamente descoberto que a
sensação visual não é um fenômeno de superfície, mas uma verdadeira estrutura
do pensamento” (Argan, 1992, p. 106).

Figura 5 – Ensaio de balé no palco, Edgar Degas (1874); pastel seco sobre papel

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

9
Assim, verificamos entre as características do Impressionismo a captação
e representação da luminosidade do momento através das cores. Os artistas
impressionistas também pouco faziam uso de cores como o sépia para resolver
as áreas de sombra, preferindo a aplicação de cores complementares e
propondo sombras coloridas e luminosas. Para o filósofo Merleau-Ponty:

O impressionismo queria imprimir na pintura a maneira como os


objetos impressionam nossa visão e atacam nossos sentidos.
Representava-os na atmosfera em que a percepção instantânea no-los
oferece, se, contornos absolutos, ligados entre si pela luz e o ar. Para
produzir esse invólucro luminoso, era preciso excluir as cores terrosas,
os ocres, os pretos, e utilizar apenas as sete cores do prisma.
(Merleau-Ponty, 2004, p. 126)

Além disso, percebemos grande espontaneidade nas pinceladas,


inspiração em cenas do cotidiano, resolução pictórica a partir da qual as
pinceladas se fundem harmoniosamente e sem a presença de linhas para
separar os planos.

Figura 6 – Duas jovens meninas no piano, Auguste Renoir (1892); pintura a óleo
sobre tela

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

10
Figura 7 – Ponte sobre uma lagoa de lírios de água, Claude Monet (1899); pintura
a óleo sobre tela. No verão de 1899, Monet completou 12 telas da passarela de
madeira sobre a lagoa de lírios em Giverny, na Normandia, região histórica da
França

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

Na escultura, sem os apelos cromáticos para as resoluções pictóricas,


mas nem por isso sem as suas impressões mais sensíveis como resultado,
temos o francês Auguste Rodin (1840-1917), que “desprezava o aspecto externo
de “acabamento”. Tal como eles, preferia deixar algo para imaginação do
observador”. (Gombrich, 1999, p. 528). Rodin possui uma obra sensível e ao
mesmo tempo turbulenta; ele não ousou abolir as técnicas do passado, mas ao
mesmo tempo abriu caminhos para a escultura moderna.

Figura 8 – O pensador, Rodin (1904); escultura em bronze

Créditos: Yuliia Myroniuk/Shutterstock.

11
TEMA 3 – O PÓS-IMPRESSIONISMO

Podemos considerar o pós-Impressionismo como uma tendência estética


espontânea que abarcou vários artistas com estilos distintos no interregno entre
o impressionismo e o expressionismo. Cada artista, de acordo com sua
sensibilidade e busca pessoal na arte, ousou descobrir seu caminho através das
cores, composição, pinceladas e mais. Com isso, podemos observar vários
artistas pós-impressionistas com características próprias, tendo em suas obras
a marca de sua criação de tal forma que podemos identificá-la por seu estilo
marcante.
Mas embora possamos encontrar características distintas na obra de cada
artista, a aplicação de cores fortes é uma das características mais marcantes do
pós-Impressionismo, bem como o uso de linhas para a sugestão de um contorno.
Vale destacar que isso não era usado pelos artistas impressionistas que fundiam
em suas pinceladas soltas, figura e fundo.
Com origem na França, o pós-Impressionismo tem origem após a
exposição dos impressionistas em 1886 e permaneceu entre o final do século
XIX e início do século XX. Para Janson e Janson (1996, p. 342):

Esse título insípido designa um grupo de artistas que estavam


insatisfeitos com as limitações do Impressionismo e o extrapolam em
várias direções. É difícil chegar a um termo que os descreva melhor, já
que não compartilhavam um objetivo comum. Em todo caso, eles não
eram anti-impressionistas.

A liberdade com que os artistas pós-impressionistas empregam as suas


técnicas e habilidades é, de fato, surpreendentemente instigante e mostra a
espontaneidade de uma vanguarda com segurança suficiente para seguir pelo
caminho das experimentações. Por não haver um grupo ou escola oficializados
e os artistas criarem isoladamente, os pós-impressionistas foram ainda menos
aceitos que os artistas impressionistas. Por um lado, isso pode ter o seu valor no
sentido de que cada um foi livre para seguir seus instintos e subjetividade na arte
investigando os diferentes aspectos da pintura.
O mais velho dos artistas pós-impressionistas de destaque foi o francês
Paul Cézanne (1839-1906), que anteriormente fora um artista impressionista, até
se isolar em busca de sua maturidade pictórica, a partir de 1882, quando passou
a reproduzir insistentemente o Mont Sainte-Victoire, perto de sua cidade natal.
Merleau Ponty, no livro O olho e o espírito, descreve que

12
Sua pintura seria um paradoxo: buscar a realidade sem abandonar a
sensação, sem tomar outro guia senão a natureza na impressão
imediata, sem delimitar os contornos, sem enquadrar a cor pelo
desenho, sem compor a perspectiva nem o quadro. (Merleau-Ponty,
2004, p. 127)

E a obra de Cézanne, embora malvista pelos críticos de arte de sua


época, se torna inspiração para artistas de períodos e tendências estéticas
posteriores como o cubismo no início do século seguinte.

Figura 9 – Chateau Noir, Paul Cézanne (1800-04); pintura a óleo sobre tela

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

Dentre os artistas pós-impressionistas, podemos citar o holandês Vincent


Van Gogh (1853-1890), que deixou sua marca indelével na história da arte com
as suas fortes e intensas pinceladas, contornos coloridos, uso deliberado de
cores complementares, composições instigantes com uma resolução bastante
peculiar da perspectiva e temas realistas como naturezas mortas, retratos,
paisagens, cenas de gênero. Van Gogh gostava de pintar ao ar livre, não teve
reconhecimento durante a sua vida e foi sustentado pelo irmão mais novo Theo
Van Gogh a quem confiava seus segredos de pintura e experiências dramáticas
e realmente passionais na vida e na arte.

13
Figura 10 – Os girassóis, Vincent Van Gogh (1888); óleo sobre tela

Créditos: Vovalis/Shutterstock.

Outros artistas que podemos destacar são Paul Gauguin (1848-1903),


Georges Seurat (1859-1891), Paul Signac (1863-1935) e Henri de Toulouse-
Lautrec (1864-1901), sendo este último com suas famosas cenas inspiradas no
interior de cabarés, sobretudo do famoso Moulin Rouge.

Figura 11 – Atriz dançando bolero, Toulouse-Lautrec (1895-96); óleo sobre tela

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

14
Desses, Georges Seurat e Paul Signac desenvolveram um estilo de
pintura que veio a ser chamado de pontilhismo, ou divisionismo, cuja intenção
era resolver a pintura por meio de pontos que, a certa distância, formariam a
figura desejada. No entanto, mesmo a certa distância, o que podemos muitas
vezes perceber é uma imagem talvez representada como se fosse feita a partir
de um mosaico (Janson; Janson, 1996). Assim, o pontilhismo apresenta ainda
menos espontaneidade que os impressionismo pois precisa, através de pontos
de tinta sobre a tela, reproduzir uma imagem.

Figura 12 – Domingo na grande Jatte, Georges Seurat (1884); óleo sobre tela

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

TEMA 4 – O EXPRESSIONISMO

Os experimentos pessoais dos artistas pós-impressionistas resultaram em


diferentes efeitos estéticos. Seguindo por esse caminho, chegamos ao
expressionismo na arte com origem na Alemanha, no início do século XX. O
expressionismo como grupo de vanguarda trouxe diferentes reflexões acerca do
que havia sido produzido na arte até então, buscando a “expressão de
sentimentos por cores e linhas” (Gombrich, 1999, p. 569).
O expressionismo foi muito além das artes visuais se tornando presente
no cinema, na música, na literatura, no teatro, na dança e na arquitetura do início
do século XX. “Quando os nazistas chegaram ao poder em 1933, a arte moderna
foi banida, e os grandes líderes do movimento foram exilados ou proibidos de
trabalhar” (Gombrich, 1999, p. 567). Tal tendência estética foi execrada pelos

15
nazistas, pois estes compactuavam de uma outra estética completamente
totalitária, usada sobretudo para manipular a população. Assim, a arte
expressionista, bem como de outros movimentos de vanguarda modernista, for
considerada pelos nazistas como arte degenerada de comunistas e doentes
mentais.
Em meio à livre expressão desses artistas modernistas, eram
apresentadas as suas angústias, medos, entre outros aspectos irracionais e
instintivos que mostravam muitas vezes as debilidades humanas. Toda essa
realidade bastante dramática, em conjunto com os desafios e novos caminhos
propostos pelo início de um século em que muitas coisas começavam a se agitar,
as expressões artísticas buscavam transcender de alguma forma aspectos
relacionados à pintura convencional passando a apresentar deformações
variadas. De acordo com Giulio Carlo Argan (1992, p. 227),

O expressionismo, na verdade, é um fenômeno europeu com dois


centros distintos: o movimento francês dos fauves (“feras”) e o
movimento alemão Die Brücke (“a ponte”). Os dois movimentos se
formaram quase simultaneamente em 1905 e desembocam
respectivamente no Cubismo na França (1908) e na corrente Der blaue
Reiter (“o cavaleiro azul”) na Alemanha (1911).

Para Dempsey (2003, p. 70), “como o fauvismo, o expressionismo se


caracteriza pelo uso das cores simbólicas e da imagística exagerada, embora as
manifestações alemãs apresentem geralmente uma visão mais sombria da
humanidade do que a dos franceses”. Dentre as principais características do
expressionismo, podemos evidenciar a forte expressão por meio das cores
vibrantes e das formas distorcidas, a subjetividade nos temas e formas de
representá-los, a livre expressão do estado psicológico do artista e de questões
internas irracionais, a dramaticidade e destaque nos aspectos trágicos dos
temas.
Há muitos artistas expressionistas que podemos destacar, mas alguns
seguiram por outros caminhos após se envolverem com essa tendência estética.
Dos inúmeros artistas expressionistas, citamos alguns como Edvard Munch
(1863-1944), Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938), Wassily Kandinsky (1866-
1944), Franz Marc (1880-1916), Egon Schiele (1890- 1918), Emil Nolde (1867-
1956), Paul Klee (1879- 1940), Otto Dix (1891-1969) e Käthe Kollwitz (1867-
1945).

16
Figura 13 – O grito, Edvard Munch (1895); litografia

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

Figura 14 – Casas em Dresden, Ernst Ludwig Kirchner (1909-10); óleo sobre tela

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

Já o fauvismo teve início em Paris no ano de 1905, com o Salão de


Outono, quando artistas chocaram a crítica e o público com a aplicação de cores
puras, “fortes e ousadas, aplicadas com espontaneidade e aspereza” (Dempsey,
2003, p. 66). Com isso, esses artistas foram chamados de fauves pelo crítico
Louis Vauxcelles, cujo significado é “fera selvagem", considerando que esses
artistas eram selvagens com as cores. Assim como os expressionistas alemães,

17
os artistas fauvistas faziam uso ousadas distorções e foram considerados como
o primeiro grupo de vanguarda do século XX a exercer influência na arte.
Dentre as características do fauvismo, destacamos o uso de cores puras
e sem regras para a sua aplicação, as formas simples para a representação sem
preocupação com a realidade, a influência da arte primitiva e busca por maior
liberdade na expressão através das cores e formas. Dos artistas fauvistas
destacamos André Derain (1880-1954), Georges Braque (1882-1963), Maurice
de Vlaminck (1876-1958), Amedeo Modigliani (1884-1920) e, sobretudo, o mais
velho e mais conhecido dos fauvistas, sendo considerado o “rei das feras” -
Henry Matisse (1869-1954).

Figura 15 – Selo da cidade de Milão, Itália, com reprodução da obra A dança, de


Henri Matisse

Créditos: spatuletail/Shutterstock.

TEMA 5 – O CUBISMO

O cubismo foi um movimento de vanguarda na arte que surgiu em meados


do século XX, mais precisamente a partir da criação da famosa pintura Les
Demoiselles D'Avignon, pelo artista espanhol Pablo Picasso (1881-1973), no ano
de 1907. Para a criação dessa pintura, Picasso se inspirou nas esculturas

18
africanas e também na obra de Paul Cézanne, permitindo unir elementos que se
tornariam a base para a investigação no campo das ideias voltado às
experimentações cubistas. No entanto, vale destacar que ele também
apresentou outras fases em sua pintura, considerando a fase azul e a fase rosa,
mas foi no cubismo que sua arte se tornou forte expressão vanguardista.

Figura 16 – Les Demoiselles D'Avignon no Museum of Modern Art, em Nova York

Créditos: Oscity/Shutterstock.

Para melhor compreendermos a estética proposta por Picasso,


precisamos lembrar que havia certa rivalidade entre ele e o artista fauve Matisse,
a qual é descrita e justificada por Argan:

A visão de Matisse fundava-se no princípio da harmonia universal,


entendido como princípio fundamental da natureza; a visão de Picasso
funda-se no princípio da contradição, entendido como princípio
fundamental da história. É exatamente este o ponto de divergência:
para Matisse, a arte ainda é contemplação da natureza; para Picasso,
é intervenção resoluta na realidade histórica. (Argan, 1992, p. 424)

No cubismo, temos outros artistas além de Pablo Picasso, tal como


George Braque (1882-1963), Juan Gris (1887-1927), Fernand Léger (1881-
1955), Robert Delaunay (1885-1941). Destes, o artista que trabalhou juntamente
com Picasso nessa investigação da estética cubista foi o francês George Braque,
até o ano de 1914. Braque também integrou o grupo dos artistas fauve, mas,
assim como outros cubistas, encontrou em Cézanne inspiração para um ponto
19
de partida na busca por uma arte de vanguarda para a época. “Braque elimina a
distinção entre os volumes sólidos e o fundo. Desmonta pacientemente a
volumetria dos objetos, reduz as formas planas justapostas” (Argan, 1992, p.
426).
Assim, “o objetivo da pesquisa conjunta é, pois, conciliar Cézanne e os
negros, o que, evidentemente, significava resolver dialeticamente as antíteses
da história da arte” (Argan, 1992, p. 426). Sobre a inspiração de Braque a partir
da obra de Cézanne, conforme aponta Dempsey:

Braque se interessava particularmente pelo método de Cézanne de


retratar três dimensões recorrendo a múltiplas perspectivas, e pelo
modo como construía formas a partir de diferentes planos, que
pareciam deslizar ou passar através dos outros. Essa técnica
(passage, em francês) conduz o olhar a diferentes áreas da pintura, e
ao mesmo tempo que cria um sentido de profundidade, chama a
atenção para a superfície da tela e projeta-se no espaço do
observador, uma das principais características do cubismo. (Dempsey,
2003, p. 84)

Logo, no cubismo, podemos compreender que “Picasso representa a


força de ruptura e Braque o rigor do método” (Argan, 1992, p. 426) e ambos
compartilham da mesma base para as estruturas de suas investigações na arte
e concepção do cubismo. Durante os anos de 1907 e 1914, tais investigações e
experimentações resultaram em três fases do cubismo consideradas como as
principais. Na primeira fase, conhecida como fase cezanniana ou pré-analítica,
entre os anos de 1907 e 1909, os artistas buscaram por maior inspiração na
análise das obras do artista Cézanne e de como esse resolvia as pinturas com
a sensação de vários ângulos propostos simultaneamente e as pinceladas
organizadas de forma geométrica.
Na fase seguinte, que é a fase conhecida como analítica ou hermética,
entre os anos de 1909 e 1912, os artistas Picasso e Braque buscaram decompor
as formas no plano bidimensional de forma a sugerir que a partir da
bidimensionalidade de uma estrutura com apenas altura e largura, o observador
pudesse ver o objeto representado em seus diversos ângulos. E na terceira e
última fase, chamada de sintética e realizada entre os anos de 1912 e 1914,
Picasso e Braque começaram a incluir elementos diversos como madeira, papel
e outros resultando em colagens sobre superfícies bidimensionais.

20
Figura 17 – Selo com representação da obra Garrafa e jornal, de George Braque,
da fase analítica do cubismo

Créditos: svic/Shutterstock.

Dentre as características do cubismo, evidenciamos a geometrização e


fragmentação das formas, resolução das formas diversas em cubos, cones e
outros elementos geométricos, uso da monocromia, pinturas escultóricas e
colagens sobretudo da fase sintética, captação da ideia abstrata e conceitual do
objeto a ser reproduzido. Ademais, a composição analítica é exercida como uma
forma de exercício mental e a inspiração para a arte cubista, conforme
anteriormente mencionado, vem a partir de Cézanne e também na arte africana.

21
Figura 18 – Visitantes observando a obra Os três músicos, exposta no Museum
of Modern Art em Nova York

Créditos: Bumble Dee/Shutterstock.

NA PRÁTICA

A partir dos conteúdos dessa aula, escolha um objeto qualquer e


reproduza-o várias vezes, conforme as características dos movimentos e estilos
artísticos aqui abordados A técnica utilizada pode ser tinta de têmpera guache
sobre papel de gramatura 200g/m² tamanho A4 (210x297mm).
Você também pode se focar no estilo de cada um dos artistas pós-
Impressionistas. Lembre-se de observar as principais características como
paleta cromática, composição, linhas, deformação das figuras, pinceladas etc.
Por fim, observe com qual estilo você teve mais afinidade e procure refletir
sobre o motivo.

FINALIZANDO

Nesta aula, começamos com o Art Nouveau e suas principais


características como o estilo floral, as linhas orgânicas e sinuosas e mais. Isso
para compreendermos a sua origem que se deu a partir das ideias de Willian
22
Morris e John Ruskin em oposição à produção em grande escala da sociedade
industrial. Com isso, temos uma busca pelo retorno à artesania. Em seguida,
tratamos sobre a arte impressionista, dando destaque a artistas como Renoir,
Monet e Degas.
Após a apresentação desses, o foco foi mostrar os artistas pós-
impressionistas com suas particularidades em seus estilos, tal como Van Gogh,
Cézanne, Seurat e Lautrec.
O tópico abordado adiante foi a arte expressionista, inclusive o fauvismo
com suas forte expressão tonal como uma fera selvagem. Por fim, aprendemos
sobre o cubismo: sua origem, singularidades e principais artistas.

23
REFERÊNCIAS

ARGAN, G. C. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

DEMPSEY, A. Estilos, escolas e movimentos. São Paulo: Cosac e Naify, 2003.

FRIEDLAENDER, W. De David a Delacroix. São Paulo: Cosac Naify, 2001.

GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1999.

HAUSER, A. História social da arte e literatura. São Paulo: Martins Fontes,


2003.

JANSON, H. W; JANSON, A. F. Iniciação à história da arte. São Paulo, Martins


Fontes, 1996.

MERLEAU-PONTY, M. O olho e o espírito. São Paulo: Cosac e Naify, 2004.

ULMER, R. Alfons Mucha: O início da nova arte. Lisboa: Taschen, 2006.

WÖLFFLIN, H. Conceitos fundamentais da história da arte. São Paulo:


Martins Fontes, 2000.

24

Você também pode gostar