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Concepções teóricas no campo

da Orientação Profissional
Orientação
Introdução
Você está na unidade Concepções teóricas no campo
da Orientação Profissional. Conheça aqui o histórico da
Orientação Vocacional e Profissional, bem como o uso de
seus conceitos. Veja, ainda, as diferentes abordagens
teóricas sobre a escolha profissional e as principais
modalidades de Orientação Profissional, no âmbito clínico
e educacional.
Bons estudos!

1 Concepções teóricas no campo da Orientação


Profissional
Ao falar sobre Orientação Profissional, pensamos logo na escolha profissional, uma vez que estão
relacionadas. Para Neiva (2014), a escolha profissional não depende de uma única variável, uma vez que é
multifatorial. As variáveis que se apresentam na história do sujeito reverberaram nas escolhas profissionais e
vocacionais, diante disso, a autora apresenta, ainda, que são vários os fatores influenciam na maior ou menor
“qualidade” da escolha e no tipo de vínculo que o indivíduo vai desenvolver com o seu objeto de trabalho.
A Orientação Profissional teve seu início em 1907, sendo criada por Frank Parsons, no primeiro centro de
orientação profissional dos Estados Unidos. Parsons publicou, ainda, o livro “Choosing a Vocation”, em 1909,
no qual as práticas em Psicologia e Pedagogia se uniram, servindo de ideias para o processo da então
orientação profissional até o meio do século XX. Seu principal objetivo se baseia na definição de áreas
profissionais mais adequadas para o sujeito, ou seja, é relevante e importante abarcar as chances de o
mesmo se sentir adaptado e confortável no lugar de trabalho.
Assim, a orientação profissional pode ser compreendida como um meio de auxílio na hora de decidir uma
profissão, sendo possível uma intervenção precisa e específica em momentos críticos da trajetória profissional,
por meio de instrumentos e fundamentação teórica.

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Esta unidade trará questões importantes sobre as concepções teóricas no campo da Orientação Profissional,
abrangendo seu histórico e o uso de conceitos, além das diferentes abordagens teóricas sobre a escolha
profissional e as principais modalidades tanto clínica quanto educacional.
Leia atentamente os tópicos a seguir.

1.1 Orientação Vocacional e Profissional: histórico e uso dos


conceitos

Ao mencionar os termos vocacional e profissional, é importante entender a diferença de ambos e como


funcionam. O conceito vocacional, como o próprio nome indica, diz respeito à vocação, ou seja, talento,
aptidão. Já o conceito profissional é definido “como respeitante ou pertencente à profissão, a certa profissão”;
“que exerce uma atividade por profissão ou ofício” (Savickas, 2004, p. 21). Numa perspectiva psicológica, a
orientação profissional pode ser entendida como um auxílio ou ajuda oferecida a um sujeito, que tem por
objetivo solucionar problemas e responder algumas questões acerca de uma profissão ou de todo o processo
na tomada de decisão diante da escolha profissional. Vale lembrar que é considerado características do
orientando e as possibilidades no mercado de trabalho, relacionando-as (BRASIL, s/d). Para Savickas (2004, p.
21):

“ A avaliação da pessoa centra-se nos traços e características, tais como aptidões e


interesses, que podem ser utilizados para descrever um indivíduo e para o
comparar com as outras pessoas. A avaliação do problema centra-se nas
preocupações de carreira tais como as tomadas de decisão vocacional e lidar com
as tarefas de desenvolvimento. „
De acordo com Melo-Silva (2003, p. 47), “o conceito Orientação Profissional tem sido utilizado para denominar
muitas disciplinas e estágios dos cursos de Psicologia e Pedagogia na legislação que criou a profissão do
psicólogo”, porém, o conceito mais utilizado é Orientação Vocacional. Para alguns, os termos são sinônimos,
já para outros o segundo parece mais amplo e específico.
Abade (2005, p.16) defende que “a aplicação da Psicologia às relações de trabalho aparece no Brasil na
década de 20, principalmente em razão da regulamentação dos cursos destinados à profissionalização” seja
para o comércio, indústria e/ou agricultura. Uma das primeiras experiências de aplicação sistemática da
Psicologia foi em 1924, sob comando de Roberto Mange, e tinham como objetivo selecionar alunos para o
curso de Mecânica Prática de uma escola. A partir daí, muitas outras experiências foram acontecendo e, de
certa forma, alcançando sucesso nos resultados.
Em 1930, o curso de Ferroviários de Sorocaba e o Serviço de Ensino e Seleção Profissional da Estrada de
Ferro Sorocabana foi criado, destacando as empresas ferroviárias. Com isso, e com a alta demanda, o

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desenvolvimento da aplicação da psicologia no trabalho se acelerou e ganhou espaço nas grandes
empresas.
Já entre 1946 e 1950, com o governo do General Dutra, marcado pela ideologia liberal e pela mudança na
Constituição (1946), houveram algumas mudanças importantes, passando-se a dar mais destaque e espaço à
cultura e educação. Desse modo, a preocupação agora não era apenas com a elite, mas a educação como um
todo, principalmente nos centros urbanos. Porém, devido à falta de recursos e mesmas oportunidades, a
educação muitas vezes não era alcançada por todos, e como forma de justificativa, testes psicológicos
começaram a ser utilizados (GOULART, 1985).
Nesse sentido, em 1947, o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) da Fundação Getúlio Vargas
foi criado e tinha o objetivo de contribuir no auxílio ao trabalhador e seu trabalho, tendo como base estudos
científicos das aptidões e vocações principais. Assim, o ISOP se voltou ao uso de técnicas de seleção e
orientação profissional.

Figura 1 - Seleção profissional

Fonte: jesadaphorn, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer: ilustração de profissionais, homens e mulheres, em miniatura, e uma mão pegando uma
dessas pessoas, com o indicador e o polegar opositor, em movimento de pinça, saindo do topo da imagem.
Nos dez primeiros anos do funcionamento do ISOP o atendimento era voltado à classe média alta, como forma
de orientação a futura elite dirigente, e foi responsável pela formação dos primeiros especialistas na área da
Psicologia (Bomfim, 2003).
Em 1949 foi promulgada a Lei nº 482, de 11 de novembro, criando o Serviço de Orientação e Seleção
Profissional (SOSP), em Belo Horizonte. Esse serviço tinha como objetivo orientar vocações de forma
preventiva, sendo já iniciado na fase escolar. O professor Bessa era o dirigente orientado pelo diretor do ISOP.
Tanto no ISOP quanto no SOSP, os projetos desenvolvidos eram voltados à administração científica do
trabalho, ou seja, se preocupavam com orientação profissional adequada e específica. Segundo Antunes
(1991) apud Abade (2005, s.p.):

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“ A finalidade da Orientação Profissional incorporava-se ao ideal de organização e
racionalização do trabalho da época, com vistas a uma maior produtividade –
orientada segundo o pensamento do homem certo no lugar certo. Os testes
vocacionais tinham a finalidade de orientar profissionalmente os jovens para uma
escolha coerente com suas aptidões, mas principalmente com vistas à maior
eficiência do processo produtivo. Direcionando os indivíduos para diferentes
profissões pelas suas capacidades, sem considerar as diferentes condições de
classe ou a história de vida do sujeito, a Orientação Profissional transformava as
determinações sociais em características inerentes ao indivíduo. „
Analisando a linha do tempo, vemos que a Orientação Profissional se constituiu no início do século XX, como
uma modalidade psicométrica, ou seja, com objetivo de mensurar as características psicológicas dos sujeitos.
A elite sempre foi sua principal defensora e, consequentemente, atuante de forma direta. Já os psicólogos
tiveram sua profissão reconhecida no Brasil em 1962.
Com o surgimento de novos paradigmas de Orientação Profissional, algumas mudanças foram sendo
necessárias, se ajustando a novos formatos, buscando uma visão mais dinâmica do desenvolvimento
vocacional. Surgiu, assim, algumas teorias importantes, como a Teoria dos Tipos Vocacionais de Jonh Holland
(Brown; Brooks, 1996), que propunha uma escolha vocacional adequada ao resultado da combinação das
características individuais com as características dos ambientes de trabalho. Não se distanciando muito do
que já era feito na época.
Toda essa metodologia de trazer diagnósticos precisos e diretos, com a utilização de instrumentos, como os
testes psicológicos, começou aos poucos a ser substituída pelo autoconhecimento. Aqui, Rogers e Freud,
grandes nomes da Psicologia, tem grande influência, já que trabalhavam em clínica e tinham um modelo de
intervenção bem diferente dos testes psicométricos.

Fique de olho
Aqui vai uma dica de filme, que traz diversão e muito sobre a carreira
profissional, independente de idade.
Filme: O estagiário (2015)
Direção: Nancy Meyers

Na década de 80, de acordo com Melo-Silva e Jacquemin (2001, p. 20), a Orientação Profissional “foi discutida
enquanto processo no qual a escolha é multideterminada, a profissão e o indivíduo têm caráter dinâmico e o
coordenador o papel de informar e compreender a realidade psíquica dos indivíduos”, sendo capaz de abordar
algumas questões na hora da escolha profissional. Com a clínica em alta demanda e tomando cada vez mais

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espaço, foram consideradas, ainda, questões sociais, de forma lenta, buscando referenciais na Psicologia.
Com as mudanças, o ISOP acabou em 1990, surgindo três anos depois a Associação Brasileira de Orientação
Profissional (ABOP), com objetivo de tornar sólido um lugar cuja identidade do orientador seja possível de ser
construída, além de se pautar a definição de novas políticas da categoria para exercer essas atividades.
Diante de todo esse histórico vemos que a Orientação Profissional esteve presente em Departamentos de
Psicologia Social em 1962, mas só se consolidou e foi identificada a partir de referenciais da mesma em 1990.
Esse esquema foi desenvolvido por Jorge Sarriera com a abordagem sócio-histórica imposta por Sílvio Bock e
Ana Bock, sendo ambos responsáveis por essa modalidade da Psicologia Social. Outro ponto importante
sobre o tema, é que a Orientação Profissional, no início, surgiu como demanda coletiva com intuito de atender
o maior número de pessoas, contudo, esse formato foi capaz de induzir os participantes a dinâmicas de
grupos, possibilitando trocas ricas de confronto à diversidade e à heterogeneidade, com visão do outro como
forma de conhecer suas próprias limitações e facilitar o processo para perceber questões sociais, familiares,
entre outras (BOCK, 2002).

1.2 Diferentes abordagens teóricas sobre a escolha profissional

A Orientação Profissional pode ser realizada em diversas abordagens teóricas, com referenciais teóricos
diferentes. Falamos, então, em abordagem educacional, clínica e organizacional, que podem ser realizadas de
forma individual ou em grupo. Vale ressaltar que todas tratam da mesma questão: relação homem-trabalho.
Para Silvio Bock (2002, p. 67):
[...] é necessário um avanço na compreensão da relação indivíduo- sociedade, de forma dialética, e não
idealista ou liberal; isto é, deve-se caminhar para a compreensão do indivíduo como ator e ao mesmo tempo
autor de sua individualidade, que não deve e não pode ser confundida com individualismo.
Abordagem Educacional:
Caracteriza-se, principalmente, por ser um trabalho realizado com crianças e adolescentes em fase escolar ou
de graduação. É um tipo de proposta que pode ser iniciada já na escola, pelos professores, com matérias ou
disciplinas que mostrem um pouco sobre as profissões, sobre o mercado de trabalho e formas de ingresso.
Como a escola é um lugar de construção e desenvolvimento, se torna adequado para influenciar no
desenvolvimento de seus alunos, de forma que eles possam se familiarizar com o assunto e ir, aos poucos,
analisando seus interesses, se preparando para o mercado de trabalho.
No entanto, na prática, as coisas acontecem de forma um pouco diferente. As escolas, na maioria das vezes,
não estão munidas de instruções e ferramentas adequadas para auxiliar e orientar seus alunos, o que torna
ainda mais complexo e urgente. Mesmo sendo obrigação da escola, vemos que não acontece.
Para que esse cenário mude no âmbito da orientação para o trabalho, é necessário se pautar em algumas
propostas, como:
1. Na importância dos conteúdos dados em sala de aula, uma vez que são essências para a preparação e
ingresso no mercado de trabalho. Estudar matemática e português, por exemplo, é essencial;
2. É preciso enfatizar os interesses, os valores e habilidades dos alunos, bem como discutir sobre o
desemprego, os direitos civis do empregado e o capitalismo;

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3. Oferecer informações sobre as profissões existentes, atentando-se a questões como o que tal profissão faz,
onde faz, como faz, salários, oportunidades de vagas;
4. Ter bate papo sobre o mercado de trabalho, as diversas oportunidades e opções, bem como discutir
assuntos como criatividade, flexibilidade, liderança, trabalho em equipe, entre outros.
Já para um curso profissionalizante, é importante um trabalho de Orientação Profissional no final da fase
escolar ou até mesmo durante, para que os alunos possam definir o que querem, seja ir direto a um curso
profissionalizante ou a uma escola para se preparar. Assim, deve ser pautado em:
1. Informações em nível técnico sobre os cursos e escolas que oferecem todo o suporte;
2. Discutir sobre escolha, interesses, desejos e as possíveis limitações;
3. Trazer informações sobre as constantes mudanças no mundo, no mercado de trabalho e,
consequentemente, nos requisitos básicos das profissões;
4. Conversar sobre as universidades, as formas de ingresso, as possibilidades de inserção no meio.
Na Orientação Profissional propriamente dita, na qual muitos alunos abandonam o curso ou desistem pelo fato
de a indecisão estar presente, se faz necessário que isso não ocorra com tanta frequência, visto que pode tirar
a vaga de alguém que gostaria muito de estar naquele lugar. Desse modo, os seguintes pontos devem ser
propostos:
1. Trabalhar novamente a questão da escolha e seus determinantes;
2. Levar em conta a fase da adolescência, sendo influenciada por conflitos decorrentes da idade;
3. Mostrar como a taxa de desistência é grande e comum, que pode acontecer com qualquer um,
principalmente nos primeiros anos de faculdade;
4. Formas de ingresso no mercado de trabalho, que não precisam ser necessariamente pela faculdade, mas
por cursos profissionalizantes;
5. As diferentes formas de trabalho e opções na área profissional e empregatícia.
Além dessas questões, vemos também reorientação na universidade, ou seja, quando os jovens se sentem
inseguros quanto ao curso que escolheram e buscam por ajuda, antes de continuar ou desistir. Aqui vale
ressaltar a importância de alguns pontos:
1. Entender como a primeira escolha foi feita, baseada em quais fatores e qual a opinião da família diante
dessa escolha;
2. Considerar os motivos que levaram a insatisfação ou até mesmo insegurança;
3. Mostrar as diversas opções de cursos e meios de ingresso no mercado de trabalho (LISBOA, M. D;
SOARES, D. H. P., 2000, p. 25-31).
Abordagem Clínica:
Nessa abordagem, o trabalho é realizado com adolescentes e adultos e geralmente acontece em consultório e
clínicas psicológicas. O intuito é ser algo mais voltado ao individual e à personalização.
Nesse sentido, primeiramente, o que se entende por Psicologia Clínica?
É uma forma de intervenção com referenciais teóricos e embasamento, que leva em consideração o sujeito
como um todo, suas questões, angústias, anseios, aspectos, estrutura psíquica e comportamentos diante de
diversas situações, sendo consciente ou inconscientemente.
Sobre o trabalho clínico, Muller (1988, p.114) aponta o seguinte:

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[...] colaborar com os processos próprios da vida psíquica humana, com as

“ aprendizagens que se encontram obstaculizadas, que não se puderam em


evidência ou que requerem um acompanhamento para se desenvolver. „
Dessa forma, na abordagem clínica também é importante trabalhar alguns pontos:

1. A relação da família do orientando como um todo, levando em consideração todos os membros;

2. A relação da família com o futuro de cada um, sobre perspectivas e objetivos;

3. A profissão ou trabalho que cada um exerce;

4. Com que aspectos de identificam;

5. Como é a influência sofrida pelo orientando, a partir de relações sociais, econômica;

6. É importante, também, trabalhar sobre a decisão de escolha, mostrando que a responsabilidade de


escolha é única do orientando;

7. Mostrar as opções de escolha.

De acordo com Bohoslavsky (1983, p. 61), “[...] a identidade vocacional expressa as variáveis de tipo afetivo-
motivacional, enquanto a identidade profissional mostra o produto da ação do contexto sociocultural sobre
aquela”, ou seja, a identidade vocacional deve responder questões como ‘Por quê?’ e ‘Para quê?’, já a
identidade profissional se identifica como ‘Com o quê?’, ‘Quando?’, ‘Onde?’.
Dentro dessa abordagem clínica, temos a abordagem individual e a grupal. A primeira se pauta em um
enquadre de início para saber quais formas de intervenção serão mais adequadas a quem procura pelo
serviço. É importante que o profissional seja formado em Psicologia e tenha referência teórica para trabalhar
questões de Orientação Profissional.
Mas o que difere a psicoterapia da Orientação Profissional na clínica?
Numa Orientação Profissional na clínica, o andamento do processo se dá de forma mais diretiva e didática,
uma vez que são propostas atividades para casa, atividades e exercícios durante o procedimento e se pauta
sempre no objetivo profissional. Já na psicoterapia é trabalhado questões que o próprio sujeito traz, sem
direcionamento ou qualquer influência profissional de forma direta.

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Além disso, é importante ressaltar que em nenhuma das modalidades haverá respostas prontas ao sujeito pelo
psicólogo. Muitos jovens procuram por opiniões prontas que o tirem da responsabilização de escolha, mas não
é assim que acontece.

Fique de olho
“A estratégia clínica pode ser aplicada para se conhecer, investigar,
compreender, modificar o comportamento dos seres humanos, agindo tanto no
âmbito psicossocial (individual) como socio dinâmico (grupal), institucional ou
comunitário” (Bohoslavsky, 1991, p. 37).

Já na abordagem grupal, o trabalho é feito em pequenos grupos ou de forma coletiva, abrangendo todo um
grupo. É muito utilizado nas dinâmicas de grupo, na sensibilização e movimento quando em contato com
outras pessoas.
Abordagem organizacional:
Nessa abordagem o objetivo é contribuir para o desenvolvimento profissional do sujeito, ou seja, esse trabalho
normalmente ocorre com profissionais que já estão em seu campo de atuação e que necessitam de um
acompanhamento.
É realizado com adultos e pessoas na terceira idade, geralmente que trabalham em empresas, instituições,
organizações, entre outros. Aqui, uns buscam por novos cargos, outros por planejamento de carreira, já uns
buscam pelo planejamento da aposentadoria, podendo ser realizado individualmente ou em grupo.

• Existem algumas vantagens dessa abordagem para o trabalhador, como (LISBOA, M. D; SOARES, D.
H. P., 2000, p. 46):

• Aumenta a visibilidade dentro do lugar de trabalho;

• Proporciona uma construção de rede dentro e fora da organização;

• Permite que o trabalhador transite para outros cargos, se assim for de interesse;

• Permite também soluções mais rápidas e com menos impacto sobre sua vida e carreira;

• Ao se movimentarem e transitarem em outros cargos, conseguem mais experiência e conhecimento de


outras competências;

• No caso do planejamento para aposentadoria, adquire informações importantes sobre o procedimento,


bem como documento, tempo necessário, entre outros.

Figura 2 - Orientação Profissional

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Fonte: Pressmaster, Shuttetstock, 2021.

#PraCegoVer: na fotografia, uma mulher, psicóloga, de costas, portando uma prancheta, em frente a um
homem, o paciente, de frente para a câmera, vestido de roupa social, usando óculos, com uma expressão
descontraída, com a mão no queixo.
Conclui-se que a Orientação Profissional pode ser realizada em diversos lugares e contextos, para vários
objetivos e demandas, mas algo deve sempre ser seguido: a importância do sujeito como responsável por
suas escolhas e atitudes. Além disso, o bem-estar de quem procura pelo serviço deve ser preservado em
primeiro lugar.

1.3 Principais modalidades de Orientação Profissional: clínica


e educacional

Segundo Ferreira (1986, p. 1232), o conceito Orientação educacional se baseia em um “processo intencional e
metódico destinado a acompanhar, segundo técnicas específicas, o desenvolvimento intelectual e a
personalidade integral dos estudantes, sobretudo os adolescentes, orientação escolar”, como forma de
orientar e “educar” alunos na fase mais jovem da vida.
Dentro do campo de Orientação Profissional Educacional, o trabalho é feito com diversos públicos, como
crianças, adolescentes, universitários e, ainda, em situações relacionadas ao risco de abandono, seja da
escola, da faculdade ou outros.
Falaremos a seguir, um pouco sobre cada um deles.
Orientação Profissional com crianças:
Para Pasqualini, Garbulho e Schut (2004), a Orientação Profissional com crianças contribui para favorecer a
desconstrução de preconceitos e estereótipos relacionados a determinadas profissões, possibilitando sua
reflexão, quando vivencia o papel do adulto. Proporcionar informação e conhecimento sobre o trabalho já na
infância possibilita valorização do trabalho e garante que a criança tenha contato com essa orientação. Trazer
esses processos educativos na infância podem exercer grande influência no desenvolvimento psíquico das
crianças em comparação com a vida adulta. Esse fato destaca ainda mais a importância da orientação
educacional.

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Nosella (s/d, s.p.) enfatiza que “Ora, como educar o homem novo sem priorizar a infância? Ela é,
potencialmente, um novo homem que ainda não proferiu palavra, mas pode ensaiar um novo discurso, uma
nova ordem social, justa e humana”. Para ele, a noção de trabalho ser afastada ou até mesmo evitada para as
crianças mostra o quanto a sociedade divide os mundos, sabendo que aquela criança ali será o futuro do
mercado de trabalho.
Vale lembrar que, na fase escolar, as brincadeiras, jogos, atividades e ações das crianças são sempre reais e
sociais, além de assimilarem a realidade dos adultos. Essas experiências criam um mundo de fantasias, mas
que se tornam reais a elas, com isso, elas reproduzem muito do que veem e ouvem. Segundo Andrade (1995,
p.4):

“ Enquanto brinca com bonecas e animais, caminhões e aviões, jogos de construção,


kits de médico, as crianças fantasiam sobre estas atividades, explorando, com
prazer, como é ser um bombeiro ou caminhoneiro, um piloto ou astronauta,
experimentando imaginativamente possíveis papéis adultos. „
Figura 3 - Crianças brincando de médico

Fonte: Gladskikh Tatiana, Shutterstock, 2021.

PraCegoVer: duas meninas, crianças, uma segurando uma boneca e outra usando um estetoscópio e um
jaleco, fingindo ser médica, ouvindo o coração da boneca.
A criança, ao experimentar possibilidades reais a ela, estará numa posição melhor para escolher
satisfatoriamente, no futuro, sua vida profissional e, também, pessoal.
Orientação Profissional com adolescentes:
Nessa fase da vida, muitos conflitos, crises e dúvidas surgem. Como parte desses conflitos que ocorrem,
principalmente, na adolescência, a origem se dá na base familiar e na classe social, uma vez que, diante da

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classe em que estiver inserido, o sujeito terá maior ou menor liberdade de escolha para seu futuro. Apesar de
ser direito de cada um, essa posição ainda encontra algumas limitações e, como solução, busca-se por
mudanças nesses paradigmas e nessas condições de vida. Diante disso, vemos que o principal e mais
complexo desafio atual da Orientação Profissional é oferecer uma abordagem que seja capaz de entende-lo
como sujeito individual, mas que também leve em conta sua relação com a sociedade, para quebrar algumas
visões de reflexo da sociedade (BOCK, 2002).

Fique de olho
Deixo aqui, uma dica de leitura para pais, educadores, psicólogos ou até
mesmo para quem tenha interesse no assunto.
Livro: Pensando e vivendo a orientação profissional (9° edição)
Autora: Dulce Lucchari

O trabalho com adolescentes geralmente ocorre quando estão no ensino médio, rumo aos trâmites de
vestibulares, provas, mercado de trabalho, entre outros. Esse procedimento é feito nas salas de aula, tanto no
formato individual quanto em grupo. Deste modo, para que haja produção de mudanças e transformações, os
educadores devem atuar de forma protagonista, levando e reafirmando a importância de uma Orientação
Profissional Educacional para todos e, ainda, enfatizando o quão isso pode ser benéfico às demandas dos
pais e da sociedade em geral.
O processo de orientação profissional pode ser compreendido como um meio de intervenção, em que são
apresentados estratégias, técnicas, instrumentos e há muito planejamento, de modo a articular conceitos e
preposições que estruturam um objeto de estudo, para, a partir de uma análise, ser possível apresentar um
resultado ou, pelo menos, um tracejado da demanda em questão. Nesse processo, é importante que haja
contribuição do orientando, para a coletar informações e dados importantes e para o levantamento dos
objetivos.
Orientação Profissional para universitários:
No caso de universitários, são trabalhadas, principalmente, informações quanto às profissões de interesse,
que podem norteá-lo quanto à relação de suas aptidões e habilidades com a profissão escolhida. É importante,
ainda, que o sujeito tenha plena consciência que, ao escolher um curso ou um caminho que chegue a ele,
outro curso será descartado, considerando sua liberdade e autonomia de escolha.
Para Bock (2002), por menor que seja a possibilidade, é possível intervir em na trajetória, por meio de ações
pessoais e/ou coletivas. Isso significa que as pessoas podem lutar para mudar suas ações no contexto em que
vive, seja individual ou coletivamente. Mas sempre se responsabilizando por suas escolhas.
Orientação Profissional com alunos de elevado risco de abandono escolar:
Aqui, o trabalho funciona mais como um chamativo para esses alunos voltarem a sala de aula e se
propuserem a uma Orientação Profissional. O intuito é trazê-los a uma reflexão diante do curso escolhido e do
futuro, por meio de sensibilização e informações.

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Será importante entender sobre a relação do orientando com a profissão, com a demanda da faculdade, sobre
a relevância da educação e da formação profissional, além de contar com a ajuda da família para incentivo e
apoio.
No contexto clínico, de acordo com Rocha (2002), a abordagem trabalha a dinâmica individual e familiar, de
modo a trazer influências externas e limitações diante da escolha profissional. Por isso, a importância desse
processo de Orientação Profissional, principalmente diante às dificuldades na hora de decidir sobre escolhas
profissionais, isso porque além do acolhimento em um momento complexo na vida do sujeito, é possível sanar
dúvidas e inquietações em relação a carreira profissional.
Dentro dessa abordagem, diversas teorias podem ser utilizadas de acordo com a formação do profissional. A
seguir, algumas delas:

Cognitivo-comportamental

Como o nome já diz, se baseia no modelo cognitivo, nas emoções decorrentes diante das
profissões e se aplica técnicas correspondentes a teoria;

Desenvolvimentista

Aqui o foco é nas habilidades, competências, potencialidades, com intuito de desenvolver ainda
mais o sujeito;

Centrada na pessoa

Trabalha-se o autodesenvolvimento do sujeito, na autoconsciência e maturidade para conduzir suas


escolhas;

Neo-reichiana

Trabalha movimentos do corpo, juntamente com a psique;

Behaviorista

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A metodologia usada é baseada na análise do comportamento, sendo orientado comportamentos
que cheguem a um resultado; entre outras (PINHO, 2013).

Para Bohoslavski (2015), a escolha da futura profissão nos conduz a um conjunto de questões teóricas:

“ Elas se estendem desde o estritamente psicológico até profundas questões ético-


filosóficas e ideológicas, sem esquecer que o humano não pode ser lido somente
ao nível de análise psicológica, sendo necessário dispor-se teoricamente, para uma
leitura convergente, da Sociologia, da Economia, da Antropologia, da Pedagogia. „
Conclui-se, então, que existem muitas demandas em diversos contextos, seja na fase adulta, na adolescência
ou ainda criança. Na fase adulta, acredita-se que os principais motivos da procura é a instabilidade no
trabalho, condições de emprego e, também, o desemprego. Normalmente são pessoas em fase de
planejamento de carreira, aposentadoria, reorientação ou, até mesmo, em procura de mudança de vida.
Muitas vezes, por se sentirem perdidas, as dificuldades de resolução se acentuam e, como consequência,
sofrem para permanecer onde estão. Principalmente nesses casos, a intervenção em Orientação Profissional
funciona muito bem no contexto clínico, pois pode ser trabalhada tanto em situações profissionais quanto para
dar mais atenção aos sentimentos e emoções diante dessa fase.

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Encerramento
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• estudar o conceito de Orientação Vocacional e


Profissional;

• entender sobre o histórico da Orientação


Profissional;

• compreender as diferentes abordagens teóricas


sobre a escolha profissional;

• conhecer as principais modalidades de Orientação


Profissional, no âmbito clínico e educacional.

- 15 -
ABADE, F. L. Orientação Profissional no Brasil: Uma Revisão Histórica da Produção Científica. Revista
Brasileira de Orientação Profissional, vol. 6, núm. 1, junio, 2005, pp. 15-24.
ANDRADE, M. C. G. Jogo: Peça importante na construção do conhecimento (Mimeografado). Campinas:
Escola Comunitária de Campinas, 1995.
ANTUNES, M. A. M. O processo de autonomização da Psicologia no Brasil – 1890/1930: Uma contribuição
aos estudos em História da Psicologia. Tese de Doutorado não-publicada, Pós-graduação em Psicologia
Social, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, SP, 1991.
BOCK, Silvio Duarte. Orientação Profissional: abordagem sócio-histórica. São Paulo: Cortez, 2002.
BOHOSLAVSKY, R. Vocacional, teoria, técnica e ideologia. São Paulo, Cortez, 1991.
BOHOSLAVSKY, R. Orientação vocacional: A estratégia clínica 8 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
BOMFIM, E. M. Psicologia Social no Brasil. Belo Horizonte: Edições do Campo Social, 2003.
BRASIL. Ministério do Trabalho, Fundo de Amparo ao trabalhador (FAT), Governo do Estado de São Paulo,
Secretaria de Estado de Relações do Trabalho, Sistema Nacional de Emprego - São Paulo (SINESP). A
formação profissional na política de emprego: Coletânea de convenções e resoluções da OIT (Caderno 1).
BROWN, D.; BROOKS, L. Career development choice and development. 3 ed. San Francisco: Jossey-Bass
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FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
GOULART, I. B. Psicologia da Educação em Minas Gerais: Histórias do vivido. Tese de Doutorado não-
publicada, Psicologia da Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP. Instituto de
Seleção e Orientação Profissional Instituto de Seleção e Orientação Profissional da Fundação, 1985.
LEVENFUS, R. Orientação vocacional ocupacional: novos achados teóricos, técnicos e instrumentais para
a clínica, a escola e a empresa. Porto Alegre: Artmed, 2002.
LISBOA, M. D; SOARES, D. H. P. Orientação profissional em ação-formação e prática de orientadores.
São Paulo: Summus, 2000.
MELO-SILVA, L. L.; JACQUEMIN, A. (2001). Intervenção em Orientação Vocacional/Profissional:
Avaliando resultados e processos. São Paulo: Vetor.
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