2 Ano PV NEM 3 Anos
2 Ano PV NEM 3 Anos
2 Ano PV NEM 3 Anos
Aulas de
Projeto de Vida
Edição Novo
Ensino Médio
2º ano
Realização
PRESIDENTE
Marcos Antônio Magalhães
CONSELHEIRO
Alberto Chinen
EQUIPE DE DIREÇÃO
Juliana Zimmerman
Liane Muniz
Thereza Barreto
CRÉDITOS DA PUBLICAÇÃO
Organização: Thereza Barreto
Coordenação: Amália Ferreira e Carolina Maciel
Supervisão de Conteúdo: Thereza Barreto
Redação: Alessandro Sbampato, André Lacerda Batista, Gisele Sodre Paes, Maria Betânia
Ferreira, Regina Celia Melo de Lima, Reni Adriano Batista e Thereza Barreto
Revisão Ortográfica: Cristiane Schmidt
Projeto Gráfico: Axis Idea e Instituto Qualidade no Ensino
Diagramação: Instituto Qualidade no Ensino
2ª Edição | 2021
© Copyright 2021 - Instituto de Corresponsabilidade pela Educação. “Todos os direitos reservados”
Projetar a vida a partir de uma visão que se constrói do próprio futuro é essencial para todo
ser humano. As pessoas que constroem uma imagem afirmativa, ampliada e projetada no
futuro e atuam sobre ela, têm mais possibilidades de realizá-las do que aquelas que mera-
mente sonham e não conseguem projetar de forma nítida o que pretendem fazer em suas
vidas nos anos que virão.
O que as diferencia é, sobretudo, que aquelas que têm uma visão estão comprometidas,
direcionadas, fazendo algo de concreto para levá-las na direção dos seus objetivos. Tudo que
contribui para que se avance na direção da visão, faz sentido.
Projetar a vida é um processo gradual, lógico, reflexivo e muito necessário para as nossas
vidas. É a própria experiência da autorrealização, ou seja, conferir sentido e significado
para a nossa existência no mundo, perante nós mesmos, perante aqueles com quem nos
relacionamos e perante os compromissos que assumimos com os nossos sonhos.
A construção de um Projeto de Vida é uma tarefa para a vida inteira porque ela parte de
um ponto, que é o autoconhecimento e focaliza outro ponto, onde se deseja chegar. Mas, se
Projeto de Vida é a experiência da autorrealização e esta não é um fim, mas um processo,
então “chegar lá” na realização dos sonhos não pode ser o término, mas algo que inclusive
deverá ser objeto de revisões periódicas onde nos submetemos a um processo reflexivo de
Estar ao lado do jovem nesta sofisticada e elaborada narrativa de si, ou seja, na construção
do seu primeiro projeto para uma vida toda, será uma tarefa transformadora. Para ele, que
viverá um mundo de reflexões e decisões importantes e para você, professor, porque ser
seu parceiro significa, por um lado, viver o jovem que foi e, por outro lado, acolher a pessoa
que vive e que está diante de você, cheia de sonhos, desejos, planos e muita vida.
1 – Identidade
Aborda temas que estimulam a criação do ambiente reflexivo fundamental para o desenvolvi-
mento do autoconhecimento que deverá levar o estudante ao reconhecimento de si próprio,
das suas forças e das limitações a serem superadas; da autoconfiança e da autodeterminação
como base da autodisciplina e da autorregulação.
2 – Valores
3 – Responsabilidade social
É a representação daquilo que se é frente àquilo que potencialmente se será num futuro.
As aulas iniciadas neste ano permitem a elaboração de uma espécie de primeiro projeto
para uma vida toda, certamente a mais sofisticada e elaborada narrativa de si, iniciada
na escola.
2 – Planejar o futuro
Estimula e orienta o estudante a compreender que o sucesso das realizações pessoais depende
de algumas etapas iniciais. A idealização de um sonho e os mecanismos necessários para a sua
materialização são alguns dessas etapas, ou seja, é importante desenvolver o planejamento das
realizações pessoais. Para isso é preciso que o professor continue a apoiá-lo no processo de
reflexão sobre “quem ele sabe que é, e quem gostaria de vir a ser”, além de ajudá-lo a planejar o
caminho que precisa construir e seguir para realizar esse encontro.
3 – Definir as ações
Ensina a estruturar um plano de ações a partir dos objetivos que se deseja alcançar.
Assim como, ensina o estudante a administrar de forma adequada os recursos e meios
disponíveis em seu ambiente interno e externo, a fim de criar e potencializar ganhos no
curso das ações desenvolvidas.
As aulas contidas neste material não obedecem ao que se estabelece quanto à distri-
buição de tempo do horário escolar, ou seja, as aulas podem se estender para além do
tempo estabelecido e que caracteriza a “aula”. Há também uma indicação de duração
de cada atividade, no entanto, ela serve apenas como parâmetro para orientação do
planejamento do professor.
Elas são denominadas por títulos que objetivam despertar a atenção e a curiosidade tanto
dos jovens quanto dos professores.
b) Material necessário
É a indicação dos materiais a serem providenciados pelos professores. Nessa
indicação, encontram-se as referências para os anexos, vídeos, áudios, textos
e/ou outros materiais a serem utilizados.
c) Roteiro
É uma síntese das atividades previstas, com a sua descrição e previsão
do tempo de duração. Aqui é muito importante dedicar um pouco mais de
atenção porque trazemos uma indicação do tempo de duração das ativi-
dades (incluindo a avaliação) apenas como parâmetro para planejamento
do professor.
e) Avaliação
Ao final, são apresentadas as orientações para a avaliação da aula quanto à
consecução dos seus objetivos. Via de regra, ela se orienta pela observação
dos professores realizada enquanto as atividades são desenvolvidas e, no final
da aula, apresenta-se como a sua síntese e um convite para os estudantes
refletirem sobre o que foi vivenciado.
g) Seção Na Estante
Nesta seção são apresentadas indicações e elas se dividem em:
• Vale a Pena Ler: livros que vão da literatura à psicologia e são recomendados
para os professores conhecerem, ampliarem suas referências e fazerem uso
oportunamente. Para todas as recomendações, é apresentada uma pequena
imagem ilustrativa, acompanhada das referências relativas ao título, autor, edi-
tora, ano e quantidade de páginas. Ao final, uma síntese do livro recomendado.
• Vale a Pena Ver: links que trazem temas, instituições e organizações que
valem a pena conhecer. Para todas as recomendações, é apresentada uma
pequena imagem ilustrativa, acompanhada das referências relativas ao título
e ao site onde se encontra, bem como à última data de acesso. Ao final, uma
síntese da recomendação.
Esse componente curricular tem 2 horários definidos na matriz curricular. Sua distribuição
deve seguir a seguinte orientação: 2 aulas geminadas distribuídas na semana.
Segue um exemplo:
As aulas foram elaboradas para terem uma duração de 50 minutos, mas há flexibilidade
nessa definição, considerando que uma aula pode se estender para além do tempo de 50
minutos determinados por hora/aula. Elas estão organizadas em bimestres, mas, tendo em
vista que algumas aulas poderão se estender, talvez ultrapassem o limite de um bimestre.
No entanto, não devem ser deslocadas de um ano para o outro.
Por outro lado, algumas aulas foram previamente definidas para durar mais do que 50 minutos
e, quando isso ocorrer, haverá uma indicação no Roteiro de quanto tempo ela demandará, seja
um tempo de 50 minutos, sejam dois tempos de 50 minutos ou mais.
É possível fazer adequações quanto ao uso dos materiais necessários para o seu desenvolvi-
mento e o das atividades propostas, desde que sejam preservados os parâmetros apresen-
tados no GPS das Aulas (objetivos, habilidades etc.). Isso quer dizer que o planejamento de
alguma atividade (sua descrição), pode sofrer alterações a depender dos recursos que a escola
dispõe e das demandas surgidas nas turmas em que se aplicam. Cabe ao professor identificar
previamente essa necessidade, incorporando, no seu planejamento e na avaliação, os registros
necessários sobre as modificações realizadas e seus respectivos resultados.
De maneira análoga, a ideia de elaborar um GPS das Aulas consiste em oferecer aos
professores as informações que posicionam cada aula em relação:
O GPS das Aulas localiza-se no final dessa abertura e, com ele, os professores têm a posição
exata de cada aula ao longo do ano letivo!
A ordem a ser seguida pelos professores ao desenvolver as aulas deve respeitar o seguinte
percurso formativo: primeiramente, as aulas que se referem à formação da identidade, na
sequência, as aulas relativas ao desenvolvimento de valores e, por fim, aquelas relativas ao
desenvolvimento da responsabilidade social e das competências para o século XXI.
Os professores são responsáveis por observar e fazer registro das aprendizagens da turma e
dos estudantes durante as aulas, principalmente após o desenvolvimento das atividades pro-
postas. Para isso, o professor deve retomar o objetivo específico da atividade de acordo com o
que observou dos jovens, assim como as estratégias pedagógicas, didáticas e metodológicas.
Em linhas gerais, isso requer buscar evidências sobre como cada atividade proporcionou um
autêntico espaço de participação dos jovens e aquisição de competências e habilidades.
1 AEE - Atendimento Educacional Especializado. Para saber mais: icebrasil.org.br/surl/?8c6b2a. Acesso em: 8 ago 2021.
OS REGIONALISMOS
O Brasil é um país com dimensões continentais, com uma única língua, mas diversas
culturas. É possível que, em algumas aulas, observem-se expressões ou palavras pe-
culiares de determinada região. Na indicação de materiais para o desenvolvimento das
aulas, isso pode ser identificado com relativa frequência, embora os autores tenham tido
a preocupação de esclarecer sobre o uso de materiais a exemplo do barbante ou cordão,
como é conhecido nas diferentes regiões do Brasil.
A nossa equipe estará sempre à disposição para mais esclarecimentos sobre este material.
Assim, professor, não hesite em solicitar da Equipe de Implantação do Programa de Educação
Integral da Secretaria de Educação, o esclarecimento de eventuais dúvidas e, por meio desse
fluxo de comunicação, nos acionar para apoiá-los.
Ah, considere os Cadernos de Formação - Ensino Médio, imprescindíveis para os seus estudos.
Contamos com a sua dedicação e estudo para o uso deste Caderno de Aulas.
Bom trabalho!
OUTRAS
HABILIDADES
NÚCLEO HABILIDADES
OBJETIVO1 COMPETÊNCIAS3 CAPACIDADES5 AULAS VALORES6 SOCIOEMO-
FORMATIVO2 FOCO4
CIONAIS e
VALORES7
Capacidade de refletir
sobre a importância 1. A vida é um Coragem
Autogestão
do planejamento nas projeto. Determinação
várias etapas da vida.
Refletir sobre a coexis-
tência de pensamento
2. Razão sensível e Doçura
racional e sensibilidade
encantamento do Afeto
como um atributo indis-
mundo. Humor
pensável para o encan-
tamento do mundo.
Autoconhe- Capacidade de refletir
cimento sobre as possibilidades
3 e 4. Somos Responsabili-
derivadas da autonomia
nossas escolhas. dade
nas escolhas e suas
responsabilidades.
Refletir sobre o Projeto 5. A vida pode ser
Respeito
de Vida como algo pelo leve, mas não é
Prudência
qual se é responsável. algodão doce.
Identificar os elementos Determinação
6. Sim, eu sou capaz Coragem Otimismo
essenciais para viabilizar
de muito mais. Prudência Iniciativa
Formação uma realização.
Resiliência
do ser Competên- Refletir sobre a importân-
7. Conversando e Entusiasmo
autônomo, cias para o Produtiva cia do exercício do diálogo
aprendendo comigo. Perseverança
solidário e século XXI interno na auto-avaliação.
Proatividade
competente Compreender a relação Autonomia
entre auto-desenvolvi- Produtividade
mento e aperfeiçoamento 8 e 9. É preciso saber Compromisso
pessoal e o desenvol- sobre o saber.
vimento e trajetória do
Projeto de Vida. Humildade
Reconhecer que o ser
Autogestão humano é um ser em 10. Ouse ser você
permanente processo mesmo!
de formação.
Refletir sobre os hábitos
11 e 12. Pelo retorno
e relações interpessoais
ao afeto e à susten-
alternativos à cultura do
tabilidade.
consumo.
Estabelecer compromis-
so com a realização do 13. Ser o sujeito da
Simplicidade
próprio Projeto de Vida e própria vida.
iniciar a sua construção.
Compreender a relação
14. Mantenha sempre
existente entre Projeto de Coragem
a esperança.
Vida, plenitude e sonhos.
OUTRAS
HABILIDADES
NÚCLEO HABILIDADES
OBJETIVO1 COMPETÊNCIAS3 CAPACIDADES5 AULAS VALORES6 SOCIOEMO-
FORMATIVO2 FOCO4
CIONAIS e
VALORES7
Identificar maneiras
adequadas de cuidar 15. Eu sou o que Fidelidade
Autoconhe-
da saúde física e penso, como, falo Pureza
cimento
mental que levam ao e faço. Boa-fé
bem-estar pessoal.
Autoconheci-
Refletir acerca do
mento
desenvolvimento de
16. Solidariedade, um Autoconfiança
ações solidárias a partir
bem querer! Determinação
da própria realidade e
Formação Otimismo
contexto social. Generosidade
do ser Competên- Iniciativa
Aplicar os próprios Compaixão
autônomo, cias para o Pessoal Resiliência
princípios, qualidades, Misericórdia
solidário e século XXI Relacio- 17. Da intenção Entusiasmo
atitudes, capacida-
competente namento à ação: jovem Perseverança
des e conhecimentos
interpessoal voluntário. Proatividade
adquiridos através do
e social Autonomia
trabalho voluntário.
Produtividade
Capacidade de refletir Compromisso
sobre a importância do
18. Um mundo
diálogo como mecanismo Generosidade
melhor depende
para a convivência e en- Tolerância
de mim e de você.
gajamento na promoção
da igualdade.
Identificar o percurso
e os recursos para a 19 e 20. Uma viagem
Coragem
elaboração do Projeto rumo a Ítaca.
de Vida. Autoconheci-
21 e 22. Ter ambição mento
Identificar as relações Autoconfiança
é bom, mas é impor-
existentes entre ambição Humildade Determinação
tante saber o que
Formação e esforços. Otimismo
fazer com ela.
do ser Competên- Iniciativa
23 e 24. Do sonho à
autônomo, cias para o Produtiva Autogestão Fidelidade Resiliência
Refletir sobre a necessi- realidade: a arte do
solidário e século XXI Determinação Entusiasmo
dade do planejamento e planejamento.
competente Perseverança
definir as premissas do 25 e 26. Minhas
Generosidade Proatividade
Projeto de Vida. premissas, meus
Boa-fé Autonomia
pontos de partida. Produtividade
Reconhecer a importân- Compromisso
27 e 28. Meus objeti-
cia de definir objetivos e Determinação
vos estão definidos.
metas para a construção Boa-fé
E agora?
do Projeto de Vida.
1. O que se espera como produto; 2. Itinerário formativo para realizar o objetivo; 3. Como o conhecimento adquirido se aplica às
atividades humanas; 4. O conteúdo da competência; 5. Desdobramento das habilidades em objetivos específicos; 6. Qualidades e
convicções desejadas e valiosas que direcionam as atitudes; 7. Outras habilidades socioemocionais e valores presentes nesta aula.
• Aulas 21 e 22: Ter ambição é bom, mas é importante saber o que fazer com ela 263
Para responder a essas questões, além de ser necessário que os estudantes recordem sua
história pessoal, é necessário que eles entendam que a vida é um projeto desde o momento
do seu nascimento. Essa compreensão ajuda na elaboração do próprio Projeto de Vida como
instrumento de realização dos seus objetivos.
Esta aula propõe o contato dos estudantes com a própria identidade, história de vida e
perspectiva de futuro.
Objetivo Geral
• Despertar o interesse pela construção do Projeto de Vida.
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Objetivos
Desenvolvimento
1º Momento
Peça para os estudantes lerem os textos em voz alta, voluntariamente, ou sugira que cada
um leia um parágrafo (Anexo 1). Pergunte ao final da leitura o que eles entenderam sobre
os textos, mas não se preocupe em explicá-los para não influenciar no debate que se dará
no segundo momento.
Lembre-os de que eles acabam de iniciar uma nova etapa da vida, marcada pelo ingresso
na 1ª série do Ensino Médio, com a aquisição de novos conhecimentos, aumentando seu
repertório, o que permite a eles maior autonomia e liberdade nas escolhas, mas que isso
também exige deles uma maior responsabilidade sob vários aspectos, através do agen-
ciamento de habilidades socioemocionais de caráter intrapessoal e interpessoal, como o
autocontrole e a inteligência social, ambos importantes na negociação dos próprios limites
de atuação social e na resolução de conflitos que possam surgir nessa nova fase.
Peça para os estudantes fazerem um paralelo entre as frases para discussão, o trecho
de “Alice no País das Maravilhas” e o texto “O caminho do crescimento pessoal”. Depois,
oriente-os a discutir as afirmações e procure saber a opinião deles. As frases afirmativas
para discussão são:
Se considerar oportuno, você pode projetar o vídeo “Nunca desista dos seus sonhos”, indicado
na seção Vale a pena assistir e promover um debate. Havendo tempo, as perguntas formuladas
no boxe “Para refletir” podem ser discutidas na aula.
1 BARRETO, T. Org. Modelo Pedagógico. Os Eixos Formativos – Ensino Médio. 4 ed. 2020. Instituto de Corresponsa-
bilidade pela Educação. p. 65.
3 GANDHI, M. A única revolução possível é dentro de nós. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?203ebd. Acesso em:
20 dez 2020.
A juventude é uma das melhores épocas da vida, mas também pode ser a mais difícil. E só
entende isso quem está passando por ela.
Foi para essas pessoas que Rando Kim escreveu este manual de sobrevivência, que aborda
questões como o medo do futuro, a decepção com a faculdade, os relacionamentos amorosos,
a liberdade recém-conquistada, a relação com os pais e a dúvida entre a carreira dos sonhos e
aquela que paga mais.
Trazendo histórias reais e conselhos úteis, este livro vai ajudar você a desenvolver seu
potencial sem deixar que a insegurança o paralise e sem permitir que a ambição pelo
dinheiro o afaste de seus verdadeiros sonhos.4
“Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
“[...] A construção de um Projeto de Vida começa quando nosso sonho deixa de ser tratado
como uma fantasia de uma noite de verão e passa a ser percebido por nós como o mapa de
um caminho a ser percorrido, ou o plano de uma ação a ser realizada. O Projeto de Vida é o
nosso sonho passado pelo crivo da razão, da racionalidade.
Então, eu devo fazer perguntas como: “Isso é possível?”, “Como eu devo agir para chegar lá?”,
“O que eu já tenho?”, “O que eu preciso conseguir?”, “Onde eu posso conseguir o que me falta?”,
“Qual o primeiro, o segundo, o terceiro passo?”. E vai por aí afora. Quando estruturado com base
na razão e no bom senso, o meu sonho, o meu “querer ser”, o meu desejo transforma-se num
Projeto de Vida. Eu sei para onde vou, sei qual o caminho a ser percorrido e sei o que preciso
fazer para chegar lá [...].
[...] “Gente”, segundo Caetano Veloso, “nasceu para brilhar”. Nascemos para vencer e para
ser felizes e, para que isso ocorra, temos de ser capazes de sonhar, de transformar nossos
sonhos em visão inspiradora do futuro e de transformar – com trabalho, esforço, luta e
sacrifício, se necessário – a nossa realidade.”
Após a leitura dos textos, relacione-os às frases a seguir e discuta-as com seus colegas.
5 CARROLL, L. Alice no País das Maravilhas. Clélia Regina Ramos. trad. Petrópolis: Arara Azul, 2002. Disponível em:
icebrasil.org.br/surl/?8ac616. Acesso em: 20 dez 2020.
Em casa
Para que você consiga construir o seu Projeto de Vida com êxito, é preciso
desenvolver sua capacidade de expressão, o que não depende apenas dos
conhecimentos adquiridos através dessa proposta e, sim, de algumas estra-
tégias, como:
• Compromisso constante consigo mesmo;
• Participação nas conversações em grupo;
• Desenvolvimento nas atividades de expressão escrita.
Sendo assim, qual (quais) dessa(s) estratégia(s) lhe parece(m) interessante(s)
para a construção do seu Projeto de Vida? Justifique sua resposta.
Freud sintetizou de maneira exemplar o que seria a grande afronta aos seres humanos,
orgulhosos de sua condição racional à qual a natureza deveria se curvar. O criador da
Psicanálise chamou a esse conflito de “três feridas narcísicas da humanidade”, decor-
rentes do próprio desenvolvimento da ciência. A primeira ferida teria sido aberta por
Copérnico, que demonstrou que não é o sol que gira em torno da terra, mas o contrário,
desconstruindo assim a perspectiva de que éramos “o umbigo do universo” apregoada
pela tradição. O segundo golpe foi desferido por Charles Darwin, com a demonstração
nada lisonjeira de que descendemos dos mesmos ancestrais dos macacos. Por fim, a úl-
tima grande ferida foi aberta pelo próprio Freud, que revelou que a maior parte dos atos
humanos se origina de impulsos inconscientes e selvagens, relegando ao ego um papel
muito menor do que aquele que nosso orgulho de seres pensantes gostaria de reivindi-
car. Foi ainda Freud quem demonstrou, no clássico “O mal-estar na civilização” o quanto
tivemos que adoecer e nos frustrar, desenvolvendo toda sorte de neuroses, reprimindo
ou sublimando nossos instintos – de ordinário canalizados para o mundo do trabalho –,
coagidos como animais enjaulados pela cultura que nós mesmos inventamos.
Mas não termina nas constatações de Freud a nossa decepção. O último grande golpe so-
frido pela razão ocidental foi constatar, após a Segunda Grande Guerra, que um Estado é
E, ao contrário do que pode parecer, essa racionalidade não se impôs ao mundo pelo pensa-
mento puramente lógico: contou com a hegemonia do Cristianismo, com “o projeto bíblico da
dominação humana sobre o fundamento do mundo. À imagem de um Deus criador de tudo, o
homem deve se dedicar a domesticar, simultaneamente, o entorno natural e o conjunto social”.7
Para reforçar essa concepção, o Cristianismo levou a cabo a proeza de encarnar o mito (Cristo)
na própria temporalidade histórica. Isso demonstra, entre outras coisas, que aquela pretensa
razão pura teve também suas mitologias próprias.
É esse questionamento que se propõe nesta aula, partindo de um pretexto para conversa
um tanto inusitado. Vejamos o que nos dizem os astros...
Objetivo Geral
• Refletir sobre a coexistência de pensamento racional e sensibilidade como
um atributo indispensável para o encantamento do mundo.
Material Necessário
• Recortes do “horóscopo do dia” de algum dos principais jornais da cidade
ou do estado.
7 MAFFESOLI, M. O instante eterno: o retorno do trágico nas sociedades pós-modernas. São Paulo: Zouk, 2003. 1 ed.
p.73. Tradução de Alexandre Dias e Rogério de Almeida.
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Objetivo
Desenvolvimento
1º Momento
Esta aula não tem a pretensão de legitimar como verdade a astrologia. Também não pretende
desqualificá-la. A ideia é precisamente sair do pensamento binário “verdadeiro x falso”. As con-
versações que asseguram os laços sociais e que são praticadas a todo o tempo no cotidiano
não se dão no âmbito da tensão racional-irracional, verdade-mentira. Inclusive são relações
que nem entram para a história, passageiras que são – passageiros que somos, aliás. Nesse
caso, o que importa é a qualidade da relação que estabelecemos com as pessoas e com as
coisas; o pretexto do qual nos valemos para usufruir bons momentos e boas companhias: pode
ser uma história inventada, ou um relato real exagerado ou aumentado pelo prazer da narrativa,
ou mesmo a intuição de que, de algum modo, todas as coisas do universo estão conectadas.
Em suma: coisas que dão graça à nossa existência, recursos que apreciamos pelo poder que
Para começo de conversa, será preciso que os estudantes se reúnam conforme seus
respectivos signos: 1: Áries; 2: Touro; 3: Gêmeos; 4: Câncer; 5: Leão; 6: Virgem; 7: Libra;
8: Escorpião; 9: Sagitário; 10: Capricórnio; 11: Aquário; 12: Peixes (Anexo 2).
Feito isso, permita que conversem, descontraidamente, sem a preocupação de “ter que
chegar a algum lugar”, a uma conclusão. É importante, então, que se reforce que não é de
“crença” que estamos tratando. A “verdade”, para esse momento, não tem importância; o
objetivo não é “convencer” ninguém. O que está em jogo é o prazer de conversar, não é uma
ocasião para “debates”.
Algumas perguntas podem ser feitas, para que se criem condições para o diálogo:
Em seguida, pode-se partir para a leitura do horóscopo, alimentando com isso a conversa.
Distribua entre os grupos as previsões do dia, conforme os signos. Outras perguntas po-
dem ser feitas, além daquelas relacionadas às possíveis coincidências – tendo sempre em
mente que trata-se, na verdade, de um pretexto para se falar sobre a vida, admirar esse lado
intrigante da existência em companhia dos colegas:
2º Momento
Mas o que está em jogo, em todo caso, não é tanto a preocupação com a verdade, mas a
busca de formas cuidadosas de se conduzir no mundo. É uma busca pela alegria, por uma
vivência mais harmônica, uma necessidade de beleza em relação à vida – é uma verdadeira
estética da existência. Tanto que, na busca do melhor viver, muitas pessoas se rebelam
contra certas técnicas científicas que se pretendem verdadeiras doutrinas. É o caso, por
exemplo, do número crescente de mulheres que reivindicam o direito de dar à luz seus
filhos em casa e de parto natural. Por que aos outros e não a elas – questionam – caberia
decidir sobre suas vidas?
Além disso, a intuição de que cada um participa do todo, intimamente conectado a ele,
embeleza o mundo: gera uma empatia quase imediata para com todas as formas de
vida; suscita gestos delicados no trato com o outro; nos torna propensos a vivências
mais solidárias... é um tema de interesse planetário em nossos dias.
O filósofo e escritor Albert Camus aprovava a postura de Galileu Galilei, que, no tribunal da
Santa Inquisição, renegou a teoria de que a terra é que girava em torno do sol. Para Camus,
o mundo nada perdeu com isso, posto que aquela teoria poderia ser comprovada por outros
cientistas a qualquer momento. Já a vida de Galilei, sim, precisava ser preservada da fogueira,
por se tratar de algo que jamais se repetiria no mundo.
Como se vê, não é pecado sermos racionais, mas a razão é estéril sem a sensibilidade, que
também nos constitui. E o conhecimento do mundo tem inúmeras formas. Pode ser a “gaia
ciência” de Nietzsche; o “amormundi” de Hannah Arendt; o “tudo é um” de Clarice Lispector
lendo Spinoza; o “tudo que sei é que nada sei” de Sócrates; o pretensioso e comovente “eu já
sei tudo” que só pode ser pronunciado pelos muito jovens... E pode ser uma grande aposta no
improvável, como fez Guimarães Rosa em um romance inteiramente consagrado aos misté-
rios da vida, à grandeza da dúvida, e que talvez se resuma nesta frase lapidar: “Eu quase que
nada não sei. Mas desconfio de muita coisa”.8
Avaliação
8 ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 19 ed. p. 31.
“É nessa perspectiva que podemos apreciar a significação da astrologia na vida social. […]
Precisamente, porque acentua a correspondência global entre o mundo e o indivíduo, o
mundo e os diversos fenômenos sociais que o constituem. Em síntese, a separação ques-
tionada acima – teoria-prática, mente-paixão, ou mesmo natureza-cultura, material-espi-
ritual –, não parece mais atual, uma vez que dá lugar a uma organicidade: a do indivíduo e
seu entorno, ou ainda, a do pequeno “si” individual e o “si” que deve realizar.
9 MAFFESOLI, M. O instante eterno: O retorno do trágico nas sociedades pós-modernas. São Paulo: Zouk, 2003. 1 ed.
p. 69-72. Tradução de Alexandre Dias e Rogério de Almeida.
[E. R. Dodds] mostra, com acuidade, que há momentos em que o racionalismo mais enérgico,
a necessidade moral de assegurar sua responsabilidade cotidiana, a pretensão de ser o senhor
do universo, tudo isso às vezes se satura e dá lugar a doutrinas irracionais, de diversas ordens,
em cujo quadro encontramos a astrologia. [...]
[…] trata-se de um real “exaltado”. Ou seja, de um real ampliado, que integra o que o positi-
vismo tende a considerar “irreal”. É um real enriquecido de todo esse “irreal”, que é o onírico,
o lúdico, o imaginário. […] Trata-se de uma indiferença, de fato, altamente criadora, que não
se baseia na recusa ou no medo da vida, mas, ao contrário, na afirmação dessa “vida-aqui”,
vivível apesar ou graças ao determinismo que a pressiona. […]”
Texto 210
“O homem desenvolveu vagarosa e laboriosamente a sua consciência, num processo que levou
um tempo infindável, até alcançar o estado civilizado (arbitrariamente datado de quando se
inventou a escrita, mais ou menos no ano 4000 a.C.). Esta evolução está longe da conclusão,
pois grandes áreas da mente humana ainda estão mergulhadas em trevas. O que chamamos
psique não pode, de modo algum, ser identificado com a nossa consciência e o seu conteúdo.
Quem quer que negue a existência do inconsciente está, de fato, admitindo que hoje em dia
temos um conhecimento total da psique. É uma suposição evidentemente tão falsa quanto a
pretensão de que sabemos tudo a respeito do universo físico. Nossa psique faz parte da nature-
za, e o seu enigma é, igualmente, sem limites. Assim, não podemos definir nem a psique nem a
natureza. Podemos, simplesmente, constatar o que acreditamos que elas sejam e descrever, da
melhor maneira possível, como funcionam. No entanto, fora de observações acumuladas em
10 JUNG, C. G. O Homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. 2 ed. p. 22-23. Tradução de Maria
Lúcia Pinho.
Há motivos históricos para esta resistência à ideia de que existe uma parte desconhecida
na psique humana. A consciência é uma aquisição muito recente da natureza e ainda está
num estágio “experimental”. É frágil, sujeita a ameaças de perigos específicos e facilmente
danificável. Como os antropólogos já observaram, um dos acidentes mentais mais comuns
entre os povos primitivos é o que eles chamam “a perda da alma” – que significa, como bem
indica o nome, uma ruptura (ou, mais tecnicamente, uma dissociação) da consciência.”
Texto 3
QUEREMOS SABER11
Gilberto Gil
11 GIL, G. Queremos saber. Gege Edições Musicais ltda (Brasil e América do Sul) / Preta Music (Resto do mundo).
Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?dec7e1. Acesso em: 20 dez 2020.
Livro: Demian
Autor: Herman Hesse
Editora: Record
Ano: 2016
Número de páginas: 196
Emil Sinclair é um jovem atormentado pela falta de respostas às suas
questões sobre o mundo. Ao conhecer Max Demian, um colega de
classe precoce e carismático, Sinclair se rebela contra as convenções de seu tempo e em-
barca em uma jornada de descobertas. Publicado pela primeira vez em 1919, este clássico
reflete os questionamentos de Hermann Hesse, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura
em 1946, acerca da natureza humana, com suas contradições e dualidades. Influenciado
pelas ideias de Carl Jung, fundador da psicologia analítica, Hesse descreve o processo de
busca do indivíduo pela realização interior e pelo autoconhecimento.13
12 HUIZINGA, J. Homo Ludens. São Paulo: Perspectiva, 2010. 6 ed. Tradução de João Paulo Monteiro. Texto da segunda
capa da edição brasileira.
A história é muito simples. No deserto de Gobi, na Mongólia, uma família de nativos nômades
percebe que uma mamãe camelo rejeita seu filho mais novo, um raro camelo albino. Isso é
um problema grave para a sobrevivência do bebê.
A família então recorre a dois garotos que farão uma longa viagem pelo deserto com uma
última esperança: trazer um músico, que poderá fazer a camelo mãe mudar de ideia e aceitar
o filho. Filmado com pessoas comuns e com uma fotografia notável, o filme faz pequenos
apontamentos críticos (a modernidade chegando à região na forma de computadores, jogos
e TV). Naturalmente, trata-se de um longa lento e especial. Arme-se de sensibilidade e
paciência e desfrute-o.14
Você sabe se a terra é redonda? Pense bem. Sabe mesmo? Quando e como você soube?
Você já “foi lá” e comprovou essa informação? Onde e como foi verificar com seus próprios
olhos? Quando?
Essas perguntas parecem disparatadas e, de certa forma, são mesmo ingênuas. Mas só de
certa forma. Se as tomássemos como provocações, poderiam desencadear uma conversa
quase interminável e bastante proveitosa. Isso porque, em tom um pouco astucioso, elas
questionam nossa relação com os saberes que reproduzimos naturalmente, com a maior
segurança – afinal, são saberes científicos... Mas quase tudo que a ciência descobre não
pode ser comprovado por pessoas comuns como nós. O que nos resta é acreditar ou não,
dependendo da credibilidade que atribuímos às fontes de onde partem essas informações
– inclusive nas escolas. Então, rigorosamente falando, a nossa relação com saberes que
valorizamos por serem científicos quase sempre passam por uma questão de fé, pois não
temos os instrumentos necessários para tirar a prova e nos autorizar a dizer: “eu vi com
meus próprios olhos”.
Mas nada nos obriga a falar rigorosamente o tempo todo. A maior parte do tempo, nos mo-
mentos mais intensos e graciosos da nossa vida, não estamos interessados em comprovar
“a verdade” do mundo. Ainda bem. A vida não seguiria adiante se, a todo o tempo, precisás-
semos de enciclopédias para decidir por cada ato diário nosso. O mundo não está “explica-
do” e o que orienta nossos encontros e alegrias cotidianos é a conversa comum. Conversa
de gente que se espanta com o fato de estar no mundo, gente que se alegra em estar com
os outros, quando uma boa dose de “conversa fiada” e de exagero dos fatos que narramos
confere graça ao existir nosso de cada dia. Afinal, ninguém sabe, com certeza, por que é que
a vida existe – e não sabendo mesmo é que a inventamos e reinventamos sempre. Como
diz o poeta Manoel de Barros: “Tudo que não invento é falso”. E para esse trabalho criativo
que é viver, qualquer pretexto
de conversa serve. Quer ver?
Começando:
1º Momento
Esta não é uma aula sobre astrologia, que inclusive não tem validade científica nem filosófica,
e não é uma religião. Portanto, na conversa aqui proposta, o objetivo não é defender nenhu-
ma crença. Você e seus colegas não vão procurar a verdade; apenas conversar, falando dessa
coisa enorme que se chama vida e que, no fundo, cada um entende de um jeito – e sempre
muda de opinião... Não interessa o que o horóscopo de hoje está dizendo – interessa o que
ele nos faz dizer sobre a vida e sobre nossos encontros com os outros; como ele dispara
pensamentos que, nos momentos mais banais e cotidianos, nos conduzem à conversação
sobre o fato de estarmos no mundo, em que tudo é motivo para surpresas e encantamentos
– inclusive a coincidência corriqueira de encontrarmos pessoas cuja data de nascimento é a
mesma que a nossa.
Junte-se aos colegas de mesmo signo, para um começo de conversa. Uma prosa que poderia
começar assim: “Você acredita em astrologia?”. Ou assim: “Nossa! Você também é de escor-
pião!” Ou de libra, ou de gêmeos, ou... Por ora o que importa é você se juntar aos colegas cujos
nascimentos são próximos de, ou coincidem com o seu. Então, siga a sua turma, conforme a
data do seu nascimento:
“Você acredita em astrologia?”. Vale “sim”, vale “não”, vale “mais ou menos”, “talvez”,
“depende”, “quem sabe”, “de vez em quando” ...
O fato de saber que determinados colegas são do mesmo signo que você desperta algum
pensamento especial? Essa afinidade o faz pensar em algo? Em quê? Trata-se apenas de
um acaso ou isso parece “coisa do destino”? Dê asas à imaginação e aos pensamentos até
brincalhões que a simples leitura do horóscopo do dia pode despertar, quando um assunto
sem a menor importância serve de pretexto para uma conversação agradável sobre o prazer
de nos encontrarmos com os outros no mundo.
2º Momento
Compartilhe com os colegas da sala as ideias que surgiram no seu grupo. Conversem,
conforme as questões levantadas pelo professor.
Como dito anteriormente, astrologia não é ciência, nem filosofia, nem religião. Nesta aula,
o que importa é observar como, na dinâmica do cotidiano, embora não estejamos “fazen-
do poesia”, nossas conversas costumam ser bastante poéticas – o pensamento, nessas
ocasiões, não funciona de maneira “reta” e “lógica”, mas circular: alguém diz uma coisa,
que remete a uma outra coisa, que leva a outra, que nos lembra outras e assim por diante,
como se todas as coisas estivessem ligadas entre si. Essas “voltas do pensamento” fazem
as coisas do mundo parecerem “familiares”, “irmãs” umas das outras. É um pensamento
que não é lógico, mas analógico, e é um recurso preciosíssimo para a leitura de literatura
– especialmente poesia. Aliás, um dos maiores poetas da língua portuguesa, Fernando
Pessoa, não deixou de notar (e anotar) essa qualidade do pensamento, e escreveu que,
nessa dinâmica...
Localize na lista abaixo o escritor que tem o mesmo signo que o seu. Faça uma pequena
pesquisa sobre a vida e a obra dele e redija um breve texto, considerando:
16 FADEL, C. BIALIK, M. TRILLING, B. Educação em Quatro Dimensões: As competências que os estudantes devem ter
para atingir o sucesso. Boston: Center for Curriculum Redesign, 2015. p.117-118.
Referência Iconográfica
RAKOZY, G. [silhouette photography of per- Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?c193ea.
son photo]. 1 Fotografia. 12 out 2015. Disponível Acesso em: abr 2021.
em: icebrasil.org.br/surl/?50a03a. Acesso em:
Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?bc86e9.
abr 2021.
Acesso em: abr 2021.
Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?940cd1.
[trilhas estrela noite longa]. 1 Fotografia. 15 jul
Acesso em: abr 2021.
2015. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?04637c.
Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?60d6b7. Acesso em: abr 2021.
Acesso em: abr 2021.
Robert Frost
A estrada se partiu no bosque amarelado E que, aquela manhã, naquelas duas vias
E lamentando não poder seguir por ambas Houvesse ainda tantas folhas por pisar.
E ser apenas um, fiquei ali parado Ah, deixei a primeira para um outro dia!
E olhei uma das vias, o olhar alongado, Mas, se um caminho sempre a outros levaria,
Até que ela fugisse na curva entre as ramas; Duvidei de que um dia eu pudesse voltar.
Então tomei a outra, possível também, Mais à frente hei de dar, saudoso, o meu relato;
E sendo ela talvez a mais convidativa, Entre o passado e mim, uma distância
Porque clamava a grama pelos pés de alguém, imensa:
Mesmo que, em relação a isso, outros vaivéns A estrada se partiu no bosque amarelado –
A tivessem gastado na mesma medida Tomei dos dois caminhos o menos trilhado,
E justamente isso fez a diferença.
Two roads diverged in a yellow wood And both that morning equally lay
And sorry I could not travel both In leaves no step had trodden black.
And be one traveler, long I stood Oh, I kept the first for another day!
And looked down one as far as I could Yet knowing how way leads on to way,
To where it bent in the undergrowth; I doubted if I should ever come back.
Then took the other, as just as fair, I shall be telling this with a sign
And having perhaps the better claim, Somewhere ages and ages hence:
Because it was grassy and wanted wear; Two roads diverged in a wood, and I –
Though as for that the passing there I took the one less traveled by,
Had worn them really about the same, And that has made all the difference.
O poema acima, escrito por Robert Frost em 1916, está entre os mais conhecidos de um dos
mais importantes poetas norte-americanos. Apresentado primeiro em sua tradução para o
português e depois em sua versão original, já foi analisado de muitas maneiras, extraindo-se
dele múltiplos sentidos nesses mais de cem anos de existência. Apesar das muitas leituras
possíveis, o poeta sem dúvida fala sobre as escolhas e suas responsabilidades. Cada situação
em que temos de tomar decisões ou fazer escolhas abre muitas outras narrativas possíveis
a partir de alternativas de decisão que abandonamos. Isso não apresenta nada de extraor-
dinário, pois mesmo sem perceber fazemos escolhas cotidianamente. Algumas escolhas, no
entanto, são feitas em momentos-chave, e produzem resultados duradouros. Assim, nessa
aula trataremos das escolhas mais determinantes e complexas que tomamos ao longo da vida
e que, sendo um exercício de autonomia e responsabilidade, são exemplos importantes para
nosso percurso de aprendizado e para nosso Projeto de Vida. Um poema também traz em si
um universo de possibilidades – como se cada leitor e a cada leitura, pudesse, potencialmente,
criar um universo diferente a cada vez que lê. Assim, vamos experimentar e percorrer cami-
nhos de escolhas e fazer reflexões sobre seus efeitos nessa aula.
Objetivos Gerais
• Relacionar o exercício das escolhas ao desenvolvimento do Projeto de Vida e
a gestão dos resultados decorrentes;
• Refletir sobre atitudes e estratégias que podem dar suporte aos momentos
de tomada de decisão.
17 FROST, R. The road not taken. Tradução de Marisa Murray. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?a68bfc. Acesso
em: 18 jan 2021.
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Atividade em
trio: Tomei dos Dinâmica de discussão e reflexão sobre a
30 minutos
dois caminhos o escolha do Itinerário Formativo.
menos trilhado.
Atividade em
Dinâmica em grupo para narrativas coletivas
grupo: Segue 35 minutos
sobre os efeitos das escolhas.
daí!
Objetivos
Desenvolvimento
A atividade “Vem por aqui – dizem-me alguns” (Anexo 1) propõe aos estudantes que
desenvolvam em trios uma análise comparativa do conteúdo relacionado ao tema das
escolhas presentes em dois poemas: “The Road Not Taken”, apresentado no início da
aula, e “Cântico Negro”, do poeta português José Régio. Ao tratar de dois idiomas
Cada trio deve registrar suas conclusões e o poema resultante na folha de análise, que será
utilizada na atividade “Em casa: Eu quero assim, você quer assado”.
Cabe uma atenção especial caso haja alguma restrição religiosa ao poema, devendo ser
ressaltado o sentido simbólico da oposição entre Deus e o Diabo, como o embate entre a
escolha entre as nossas inclinações mais corretas e as menos corretas e não sua acepção
literal, religiosa, reforçando-se que não há termos proibidos em literatura, desde que utili-
zados em contexto adequado. Mesmo esse aspecto propiciará uma boa discussão, desde
que não tome demasiado tempo nem protagonize o debate, que deve sempre focar o tema
das escolhas.
Avaliação
Nesta atividade, a proposição das questões não visa a obtenção de respostas objetivas,
portanto não deve haver critério de certo ou errado, apenas sendo sugerida a percepção
da adesão dos estudantes ao tema e à discussão propostos e na produção do poema
próprio a partir da leitura de Frost e Régio, resultando mais em uma autoavaliação do
que em uma avaliação por parte do professor. Os resultados da discussão sobre o poema
servem como introdução lúdica à atividade a seguir, mais objetiva. Apesar de demandar
a análise comparativa dos dois poemas, o tempo relativamente reduzido se destina a um
debate entre a dupla baseado em uma análise horizontal, imediata e instintiva, enquanto
a segunda atividade da aula se propõe mais vertical, como aprofundamento e discussão
em grupo de modo específico em relação à escolha do Itinerário Formativo ao fim do 1º
Ano. Ambos os momentos devem ser conduzidos pelo professor para um bom aproveita-
mento do tempo da primeira aula, tanto na produção dos poemas quanto na discussão
sobre o Itinerário, sempre enfocando o objeto da escolha, os critérios utilizados, suas
possibilidades e responsabilidades.
Objetivos
Desenvolvimento
Serão mantidos os trios formados na atividade anterior, utilizando-se o tempo para 3 entrevis-
tas cruzadas de 10 minutos cada, sem comentários do grupo ao final, apenas encerramento
pelo professor, explicando a atividade recomendada para casa. Os resultados das entrevistas
fornecerão subsídios para a atividade desenvolvida em casa, quando os estudantes devem
produzir texto-resumo sobre a entrevista e as escolhas relatadas. O professor deverá conduzir
a atividade de modo a garantir a equidade nos tempos dedicados a cada entrevista. A estru-
tura da entrevista prevê a atribuição de papéis desempenhados por cada estudante, como
segue: o estudante A será entrevistado pelo estudante B, que anotará suas respostas. Ao final
de cada resposta, o estudante C questionará a escolha do estudante A, verificando sua as-
sertividade e seus critérios, improvisando questionamentos que entrem em choque com as
escolhas do estudante A e suas razões apontadas na escolha. Nas entrevistas seguintes os
papeis se alternam: C entrevistará B, A questionará; A entrevistará C, B questionará. Ao final,
cada estudante terá sido entrevistado, terá entrevistado e questionado, conforme o esquema
abaixo. As questões da entrevista são parte do Anexo 2, assim como as sugestões de questio-
namentos posteriores. As respostas de cada estudante serão entregues a ele para a atividade
em casa.
A A A
B C B C B C
Como mencionado, esta atividade não gera avaliação imediata, fornecendo material para a
continuidade da atividade individual em casa “Eu quero assim, você quer assado”. O resul-
tado virá expresso no texto individual sobre as escolhas do Itinerário Formativo, entregue
na aula seguinte, podendo ser comentado de forma geral, após a verificação dos textos
por parte do professor, como atividade inicial da aula, mas as decisões expressas neste
texto seguirão sendo referencial de discussão sobre a escolha do Itinerário Formativo até
o final do 1º Ano, portanto, não cabe classificação objetiva. Aspectos como participação e
engajamento nas discussões, clareza e seriedade nas opiniões, disposição para negociar e
conciliar são dignos de nota, assim como respeito à opinião alheia. É importante manter o
foco na questão das escolhas, dado o tema da aula, e tangenciando as escolhas ligadas ao
Itinerário Formativo e ao Projeto de Vida.
Objetivos
Desenvolvimento
A sala deve ser dividida em grupos de mesmo número de integrantes, no máximo cinco
estudantes. A atividade deve ser desenvolvida com os estudantes em roda, ou em torno
de uma mesa com suas carteiras, sem mudar de lugar, pois a atividade é sequencial e
depende da posição destes mantida até o fim da atividade. Cada grupo realizará uma
série de narrativas colaborativas a partir das três cenas sugeridas com duas opções de
roteiro cada, identificadas no Anexo 3.
A cada estudante é atribuída uma cena (pela ordem, estudante 1, cena 1, estudante 2, cena 2,
estudante 3, cena 3, estudante 4, cena 1 novamente, e assim por diante) e uma folha de papel
sulfite. A primeira escolha é definida por cada estudante entre as duas opções de roteiro para
a personagem. Dado esse primeiro passo, quando este terminar a escolha, a folha passa para
o próximo estudante que deve, então, imaginar e descrever dois cenários futuros possíveis a
partir daquela escolha, de forma escrita e ilustrada (na medida de suas habilidades) e, após
ter feito isso, passar a folha adiante. O seguinte deve escolher um dos cenários futuros possí-
veis e também imaginar e sugerir duas situações diferentes. Assim, cada estudante sempre
estará passando uma folha à frente após sua intervenção e recebendo a próxima, com duas
Avaliação
O professor deve garantir o tempo de cada rodada de forma coletiva, para que o atraso
de alguma equipe ou de algum integrante não comprometa a atividade, frustrando o gru-
po e inviabilizando o tempo para mostrar os trabalhos e discutir coletivamente. A cada
marcação de tempo indicada pelo professor, todas as folhas passam para o estudante à
frente. A avaliação aqui será subjetiva, sendo considerados o engajamento na atividade,
empenho na condução da narrativa, inventividade na sugestão de consequências a partir
de eventos imprevisíveis – gerados por decisões e sugestões de desdobramentos feitas
antes – e apenas secundariamente avaliações de qualidade de expressão gráfica, roteiro
e narrativa. Após a última rodada, deve-se guardar um tempo para mencionar e discutir
narrativas particularmente surpreendentes, com conclusões inusitadas ou outro aspecto
indicado pelos estudantes ou identificado pelo professor, com atenção para as opções
abandonadas. Na discussão, retoma-se o foco para a responsabilidade das escolhas e as
múltiplas possibilidades que se abrem a partir de cada uma.
O mundo torna-se cada vez mais plano. À medida que isso acontece, cada vez mais aumentam
as chances de convivermos com pessoas de diversas culturas, religiões, estilos de vida, entre
outros. A capacidade de se comunicar de maneira efetiva é uma exigência para viver nesse
mundo, não apenas na dimensão social, mas produtiva também.
Comunicar de maneira efetiva o que se pensa significa ser claro e conciso, ter foco e
objetivo, vigor e entusiasmo acerca dos pontos que devem ser comunicados, bem como
o uso de vocabulário adequado e emprego correto das regras gramaticais, seja numa
comunicação oral ou escrita.
É importante entender como diferentes tipos de recursos (incluindo os eletrônicos) são usa-
dos para comunicar mensagens, como escolher entre os muitos meios de comunicação e
criar mensagens eficazes diante da variedade presente nos diversos meios de comunicação.
Curiosidade, criatividade e imaginação são os fatores mais importantes quando se fala não
apenas em aperfeiçoar ou desenvolver novas ideias, mas em solucionar problemas.
Para Robinson (2011), criatividade é um dos recursos naturais mais ricos e poderosos da
mente humana e sobre ela há uma infinidade de ideias equivocadas a respeito. Há quem
acredite que apenas pessoas “especiais” são dotadas desse talento; empresas dividem
suas equipes de trabalho entre os criativos e os que vestem terno e gravata; professores
dividem os grupos para realizar trabalhos entre os criativos e os bons no componente
curricular X. Há quem acredite também que a criatividade se restrinja à iniciativas ligadas
às artes (desenho, publicidade etc.). Ela não apenas não se restringe como pode estar
presente em outros campos da atividade humana como a medicina, negócios, esportes,
matemática ou pedagogia. Ela não é um privilégio exclusivo de uns poucos porque sempre
é possível agir de forma criativa quando usamos os recursos da inteligência.
18 BARRETO, T. Org. Modelo Pedagógico. Os Eixos Formativos – Ensino Médio. 4 ed. 2020. Instituto de Corresponsa-
bilidade pela Educação. p. 53-54.
Na estante
Apesar de ser mencionado como um livro real no episódio de “Black Mirror”, o livro com esse
título não tem relação com a narrativa da série; acredita-se que a palavra Bandersnatch apare-
ceu pela primeira vez no livro “Alice através do Espelho”, de Lewis Carroll, de 1871, continuação
de “Alice no País das Maravilhas”, de 1865, do mesmo autor. Em “Alice através do Espelho”,
Bandersnatch é o nome usado em um poema para descrever um animal fabuloso. Em portu-
guês, por não haver termo correspondente, foi traduzido como vários nomes, entre eles: Bicho
Papão, Lobisomem, Bandagarra e Babassura.19 Lewis Carroll é sempre uma garantia de ótima
leitura, e a narrativa fantástica dos dois livros segue até os dias de hoje como exemplo de refi-
nada criatividade: surpreendente, repleta de referências e aventuras. As ilustrações da artista
visual Rosângela Rennó valorizam ainda mais a edição.
Uma versão para o cinema de “Alice através do Espelho” foi feita em 2016, com Johnny
Depp, Helena Bonham Carter e Anne Hathaway. Outra garantia de excelente diversão, utili-
zando recursos inovadores de animação e interação entre elenco e universo digital.
19 COSSETTI, M. C. O livro (ou o jogo) Bandersnatch existe de verdade? Tecnoblog. 2019. Disponível em: icebrasil.
org.br/surl/?b6fcec. Acesso em: 20 jan 2021.
Junte-se a dois colegas e desenvolva com eles uma análise de dois poemas: “The Road
Not Taken”, poema de Robert Frost apresentado no início da aula, e “Cântico Negro”, do
poeta português José Régio, apresentado a seguir. Tratam-se de dois idiomas diferen-
tes – Inglês e Português – e duas variações do Português, a brasileira e a portuguesa.
Ambos os poemas tratam, de formas diferentes, da autonomia e das escolhas. Na folha
de análise você encontra os dois poemas e espaço em branco para anotações. Ouça a
leitura da tradução “O Caminho menos trilhado”, em português, feita pelo professor, e
assista à leitura de “Cântico Negro” feita por Maria Bethânia em seu show. Observe as
questões a seguir e desenvolva a atividade:
1. A partir da leitura dos poemas, quais os principais temas que você considera
serem tratados neles?
2. Ambos os poemas são escritos em primeira pessoa, ou seja, imprimem uma
narrativa pessoal ao texto. Qual é a diferença entre a postura do sujeito nos dois
poemas? Liste as palavras ou expressões escolhidas pelos autores que você
considera determinantes na percepção da atitude do sujeito em cada poema;
3. Comente os poemas em relação a habilidades socioemocionais como: autono-
mia, empatia, adaptabilidade, pertencimento e cooperação, e outras a critério
do trio;
4. Usando sua criatividade e suas escolhas, cada trio deve escrever um novo
poema – baseado em um dos dois poemas, ou em ambos – a partir da leitura
e dos comentários que fizeram.
Cada trio deve registrar suas conclusões e o poema resultante na folha de análise, que será
compartilhada na atividade seguinte.
Cântico Negro
José Régio
Esta é uma atividade onde vamos tratar das escolhas do Itinerário Formativo, fundamental
para o direcionamento das atividades a partir do próximo ano. Para esta atividade serão
mantidos os trios formados na atividade anterior, utilizando-se o tempo para três entrevis-
tas cruzadas de dez minutos cada, sem comentários do grupo ao final. Os resultados das
entrevistas serão a base para a atividade desenvolvida em casa, quando você deve produzir
um texto-resumo sobre a entrevista e as escolhas relatadas. Portanto, concentre-se nas
respostas e nas perguntas. Você irá assumir um papel diferente a cada rodada: entrevis-
tado, entrevistador e questionador. Teremos a seguinte sequência: na primeira entrevista,
o estudante A é entrevistado pelo estudante B, que anota suas respostas. Ao final de cada
resposta, o estudante C questiona a escolha do estudante A. Nas entrevistas seguintes os
papeis se alternam: C entrevista B, A questiona; A entrevista C, B questiona. Ao final, cada
estudante terá sido entrevistado, terá entrevistado e questionado. Veja o esquema a seguir:
A A A
B C B C B C
Entrevistado: deve responder com seriedade e sinceridade às questões feitas pelo entre-
vistador e às réplicas feitas pelo Questionador.
Em casa
“Eu quero assim, você quer assado”
A partir dos dois textos poéticos lidos e analisados em sala de aula, leia a análise
do poema “The Road Not Taken” – feita por Katherine Robinson – no original
em Inglês, disponível no endereço web a seguir, utilizando algum recurso de tra-
dução automática de texto on-line, copiando e colando o texto, e complete sua
compreensão sobre o poema, sua origem e as leituras secundárias possíveis a
partir dele. Ao terminar, escreva um texto reflexivo sobre sua própria escolha
em relação ao Itinerário Formativo, considerando suas respostas aos colegas na
atividade “Tomei dos dois caminhos o menos trilhado”.
Acesse o conteúdo da análise do poema em: icebrasil.org.br/surl/?44365b.
Acesso em: 20 jan 2021.
Instruções
1. Esta atividade exige raciocínio rápido nas escolhas e imaginação na narrativa. A sala deve
ser dividida em grupos de mesmo número de integrantes, no máximo cinco estudantes.
Sente-se com outros 4 colegas em roda com suas pranchetas ou em torno de uma mesa
onde possam escrever e desenhar, sem mudar de lugar, pois a atividade é sequencial e
depende da posição de cada um mantida até o fim da atividade.
2. Cada estudante recebe uma cena e uma folha de papel. A atividade acontece em rodadas
com duração de tempo definida que será controlada pelo professor. A atividade começa
com sua primeira escolha entre as duas opções.
3. Definido esse primeiro passo, quando todos terminarem a rodada, cada um passa sua
folha para o estudante à sua esquerda, que deve imaginar dois cenários futuros possíveis
decorrentes da decisão. Estes devem ser descritos por escrito e, na medida do possível e
das habilidades de cada um, ilustrados. A folha passa novamente à esquerda.
4. O estudante seguinte deve escolher dentre os dois cenários qual irá desenvolver, então
imaginar e descrever dois cenários possíveis a partir daquela escolha, também de forma
escrita e ilustrada, e, após ter feito isso, passar a folha ao próximo à esquerda dele.
5. Assim, cada estudante sempre estará passando uma folha à esquerda após sua intervenção
e recebendo a do colega anterior, com dois cenários possíveis de desenvolvimento da história.
Cada estudante terá até cinco minutos a cada rodada (para que grupos de seis jovens termi-
nem após 30 minutos e reste ainda tempo para discussão) para escolher dentre dois e pensar
seus dois cenários de narrativa a partir da inserção feita pelo colega anterior. A sequência chega
ao fim quando você recebe de volta sua folha, com as inserções de todos e encerra a narrativa
com um epílogo, na última rodada.
Veja o exemplo:
A
Cena
1
Cena 2
Cen
B
E
a2
Ce
n
D a1
3
na
Ce C
Passo 1:
Opção 2 Estudante A escolhe
Opção 1 uma das opções da Cena
Rapaz compra
Rapaz se que recebeu do professor
uma bicicleta
casa
Passo 2:
Cenário 2 Folha vai para o Estudante B,
Cenário 1
Casal muda-se para a que pensa em dois cenários
Casal tem um filho
Itália para estudar
após um ano
Passo 3:
Cenário 2 Folha vai para Estudante C,
Cenário 1
Trabalham e que escolhe entre os dois cenários
Não se adaptam
estudam na Itália pensados pelo Estudante B e
e voltam
pensa mais dois futuros possíveis
Passo 4:
Cenário 1 Cenário 2 Folha vai para Estudante D,
Rapaz consegue Casal tem que escolhe entre os dois cenários
trabalho na um filho pensados pelo Estudante C e
terra natal pensa mais dois futuros possíveis
Passo 5:
Cenário 2
Folha vai para Estudante E,
Casal compra que escolhe entre os dois cenários
Cenário 1 uma casa
pensados pelo Estudante D e
Rapaz faz pós-graduação
pensa dois futuros possíveis
em universidade
renomada
Passo 6:
Folha vai para o Estudante A,
Rapaz ganha aumento que escolhe um cenário e
no trabalho pensa no fechamento da história
Dica: O professor vai marcar o tempo de cada rodada de forma coletiva, para que o atraso
de alguma equipe ou de algum integrante não comprometa a atividade. A cada marcação
de tempo indicada pelo professor, todas as folhas passam para o estudante à esquerda.
Concentre-se na atividade para não atrasar o grupo!
Pedro, 22 anos, depois de obter dupla cidadania portuguesa, decidiu viajar para outro país.
Muitas horas o separam de seu destino. Só para chegar a Belo Horizonte, capital do estado,
gastam-se duas horas de ônibus desde sua pequena cidade no interior de Minas Gerais. De
lá até Barcelona, cidade catalã na Espanha, são mais 11 horas de viagem. Em Barcelona irá
se encontrar com amigos que vivem no Eixample, região central da cidade.
Opção 1: Pedro inicialmente deveria ficar apenas um mês na cidade, hospedado no aparta-
mento de amigos. No entanto, apesar da passagem de volta comprada, não tem intenção de
retornar. Não contou aos pais que pretende procurar emprego na cidade, apenas à namorada.
Trancou a faculdade de direito e só vai comunicar os pais, que são advogados, de sua decisão,
se obtiver sucesso na procura por emprego na cidade ou em cidades próximas.
Opção 2: Pedro comunicou aos pais sua intenção de permanecer em Barcelona e não
conta com a aprovação deles, mas estes respeitam sua decisão, apesar de lamentarem o
adiamento de sua graduação em comunicação, pois eles mesmos não tiveram acesso ao
ensino superior. Comprou passagem apenas de ida, pois não conseguiu economizar muito
em seus trabalhos ocasionais de edição de vídeo. Não tem lugar para ficar na cidade, con-
tando com a hospedagem no apartamento de um ex-namorado somente por uma semana.
Planeja começar uma nova graduação ou curso profissionalizante na cidade.
Jana, 25 anos, trabalha como assistente pessoal de uma das diretoras de uma filial de
multinacional da área de mineração, em Belém do Pará. Considera-se bem remunerada
para o trabalho que realiza, mas está desmotivada, tem restrições à postura ambiental
da empresa e pensa em novas possibilidades profissionais e de formação. Vinda de uma
família de classe média afetada financeiramente pela crise de 2020, não conta com
suporte financeiro familiar, tendo que colaborar com a renda da família.
Opção 1: Jana avalia que em sua situação atual não há possibilidade de ascensão, pois sua
função não está inserida na lógica produtiva da empresa, embora seja essencial ao desem-
penho das funções da diretora. Ao receber uma proposta para mudar de posto e de cidade,
ganhando um pouco mais, acompanhando outro diretor na abertura de uma filial em outra
capital, decide aceitar.
Opção 2: Jana se considera subaproveitada na posição atual, embora isso lhe traga certa
segurança financeira, permitindo pagar o financiamento do apartamento comprado ainda
em construção. Uma amiga recém dispensada da empresa pretende investir em uma loja
física e virtual de acessórios para casa, decoração e design e oferece a ela sociedade no
negócio. Jana decide aceitar, apesar de não dispor do capital suficiente para a sociedade.
Opção 2: Miguel é observado por um ex-skatista profissional, agora empresário, enquanto anda
de skate na pista do bairro. Este oferece a Miguel a possibilidade de treinar profissionalmente,
com patrocínio de uma marca de acessórios, ainda de valor não muito alto, podendo evoluir
no futuro, o que demandaria uma agenda de viagens, eventos em outras cidades e no exterior.
Objetivo Geral
• Refletir sobre o projeto da própria vida como algo pelo qual se é responsável,
exigindo esforço pessoal e a percepção realista de que as frustrações
serão inevitáveis em diferentes momentos do caminho, mas que lidar com
as próprias emoções ajuda a conviver com o fracasso e possíveis perdas, de
maneira a nos tornar resilientes ao enfrentar obstáculos e dificuldades e não
temer os desafios.
Material Necessário
• Xerox para cada estudante do anexo 1: Artigo “Meu filho, você não merece
nada”, de Eliane Brum.
Roteiro
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Atividade:
Esforço e mere- Leitura comentada e discussão do artigo
cimento: quem “Meu filho, você não merece nada”, de Eliane 40 minutos
disse que a vida Brum.
seria fácil?
20 Jornal Le Monde, França. Disponível em: www.icebrasil.org.br/surl/?4b7fc5. Acesso em: 20 dez 2020.
Objetivos
• Dialogar francamente, a partir do artigo “Meu filho, você não merece nada”,
de Eliane Brum, sobre as exigências da maturidade para um posicionamento
responsável no mundo;
• Refletir sobre o enfrentamento das frustrações como um exercício de si,
conforme os afetos mobilizados no percurso de um Projeto de Vida.
Desenvolvimento
A ideia é explorar o impacto da leitura do texto tão claro e franco de Eliane Brum (Anexo 1).
Por isso, o que a aula propõe é a leitura comentada pelo professor, com a possibilidade de
intervenções dos estudantes. Para melhor apropriação do conteúdo, seguem alguns aspec-
tos dignos de nota, enfeixados em quatro blocos correspondentes aos parágrafos em que
aparecem. Outras considerações surgidas das observações do professor - seja pela leitura
do texto, seja pelo fato de conhecer os estudantes - enriquecerão o desenvolvimento da aula.
Uma pausa na leitura para explanação pelo professor, a cada bloco de parágrafos, pode faci-
litar a condução das ideias. Assim, temos:
§11 a 15: O pacto de silêncio ou de fingimento familiar como algo perverso, uma vez que
os afetos (medo, insegurança, dúvida) não se elaboram, desembocando em sintomas só
tratados na superfície; o preenchimento desse vazio com consumo desenfreado; a ma-
nutenção da vida dos filhos em um mundo irreal como se fossem eternas crianças, que
§16 a 19: A vida de cada um como a busca de uma voz própria, um “tornar aquilo que se é”;
a partir das afecções próprias, dispor-se à realização pessoal no mundo, sendo o embate
com as frustrações parte desse exercício de si; um “agir sendo o que se é”, muitas vezes se
modificando para “mais ser”; a aceitação de que “viver é para os fortes”, além de estimular
a procura individual da própria medida nessa fase em que se ensaiam os primeiros passos
para fora de casa, torna as relações familiares mais honestas e reais, quando pais e filhos podem
relacionar-se não a partir de um ideal inconsistente, mas a partir de sua própria humanidade.
Avaliação
Na estante
Leia um trecho:
Afonso, o mais bonito, viajou para o Rio de Janeiro. Foi ver de perto o mar que o pai
ancorava no olhar. Encantou uma bailarina e voltou casado. Nunca mais bebeu.
Comentavam que ele foi o mais premiado dos filhos. Vivia dançando na corda
bamba. Amava e era amado, sem fronteiras. Passou a andar na ponta dos pés,
tamanho seu cuidado e amor pelo mundo. Todos os habitantes da cidade viviam
curiosos e invejosos. Queriam saber como era a vida de uma bailarina. Dentro de
cada um de nós existe uma força pronta para dançar. (p. 23-24)
21 DE QUEIRÓS, B. C. O olho de vidro do meu avô. São Paulo: Moderna, 2004. 1 ed. (Texto da segunda capa).
É preciso ter uma atitude positiva diante das dificuldades, mas só isso não é o
suficiente para obter bons resultados. É preciso dimensionar bem os obstáculos
que se irá enfrentar na busca pelos resultados positivos e, então, estabelecer
estratégias de superação das dificuldades, como menciona o texto a seguir:
23 Síntese dos estudos da psicóloga Gabrielle Oettingen Nova York: Penguin Random House, 2014. OETTINGEN, G.
Rethinking Positive Thinking – Inside the New Science of Motivation. Instituto de Corresponsabilidade pela Educação.
Diretoria Pedagógica, setembro de 2019. p. 1.
Você exige muito dos seus pais, avós, responsáveis, tios ou irmãos mais velhos? Quais as
obrigações dessas pessoas com você? O que acha que eles deveriam dar a você e ainda não
o deram? E por que deveriam fazê-lo? Você merece o que exige deles? Por quê? De onde
vem todo esse mérito?
Acompanhe a leitura do artigo abaixo realizada pelo professor e contribua para a discussão
durante as pausas que forem feitas para a conversação.
“Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e
com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da
geração mais preparada e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto
de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada
porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o
esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque
desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi
ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar
a partir da dor.
Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras lín-
guas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve
muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil.
Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.
Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação
de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede.
Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não
acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “in-
justiça” e boa parte se emburra e desiste.
Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo,
sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e
para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e
não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que
anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.
24 BRUM, E. Meu filho, você não merece nada. Disponível em: www.icebrasil.org.br/surl/?5be5a6. Acesso em: 20 dez 2020.
Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição
humana como de suas capacidades individuais?
Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom,
naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar
duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o
cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina.
Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os
filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.
Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a
crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a
toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao
futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felici-
dade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender
a geração do “eu mereço”.
Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao
descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda
para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habi-
lidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções.
Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais
brilhante que seja, consegue tudo o que quer.
A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combi-
naram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto
construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que
viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando
a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da
realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo
para falar da tristeza e da confusão.
Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar,
porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar.
E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de
crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o coti-
diano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.
Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia
garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível
estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente
fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.
Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais
de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos
pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é
uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que
a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém
pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso
criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.
O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se
desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse
teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma
vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar
não a frustração que move, mas aquela que paralisa.
Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibili-
dades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo
o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem.
Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores
a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso
pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de
responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.
Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa
escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho.
Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e
Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simples-
mente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir
que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é
ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –,
seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, por-
que com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade
pela sua desistência.
Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insu-
ficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque
um dia ela acaba”.
Destaque do texto duas frases que você considera de maior significado e anote-as no
caderno como objeto de constante reflexão para a construção do seu Projeto de Vida.
Referências Iconográficas
Disponível em: www.icebrasil.org.br/surl/?12158c. Acesso em: abril 2021.
Esta é uma aula de reflexão e não de indicação de ferramentas para se autorrealizar. Enfa-
tizam-se coisas como o diálogo interior, para que os estudantes percebam que realizar é
indissociável de de sua essência, de suas experiências, de suas aquisições – em suma, de
sua realidade. É o momento de aproveitar uma grande oportunidade: uma janela de otimis-
mo que se abre e precisa ser explorada, ser transformada, através de estímulo adequado,
em autoconfiança, conduzindo a grandes realizações. O estudante do Ensino Médio está
“O sujeito relaciona-se, então, ao ambiente cultural enquanto ser ativo. Essa atividade
é significativa à medida que, ao elaborá-la, o indivíduo percebe afinidades entre novos
conteúdos e os conhecimentos previamente construídos por ele. A aprendizagem torna-se
expressiva porque o novo conteúdo é incorporado às suas estruturas de conhecimento a
partir dessa relação. Nesse cenário, é possível compreender o que se quer dizer quando se
afirma que toda atividade preparada para sala de aula deve partir da realidade do estudante.
(…) Realidade é um conceito bem abrangente e compreende formas de pensar, de elaborar
hipóteses, de testá-las, organizá-las em quadros teóricos e explicativos, conceitos e
conteúdos já formalizados.”25
O diálogo interior é o campo do cotejo, da confrontação dos desejos com os valores, com
a estima e a autoestima, com as aprendizagens, com a autoconfiança, com os modos de
perceber: com todos os conceitos e princípios, enfim, que temos trabalhado no marco do
Projeto de Vida.
Objetivos Gerais
• Identificar os requisitos ou caminhos que tornam uma realização viável;
• Reconhecer o caráter essencial da disposição pessoal para realizar;
• Entender a importância do diálogo interior no processo de realizar com coerência.
25 BARRETO, T. Org. Modelo Pedagógico. Os Eixos Formativos – Ensino Médio. 4 ed. 2020. Instituto de Corresponsa-
bilidade pela Educação. p.11.
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Atividade em
grupo: “Como Leitura em grupo seguida de discussão com
25 minutos
as coisas se os colegas.
tornam reais?”
Atividade
individual: “Dez
Escrever dez conselhos que ajudem a realizar
conselhos para 12 minutos
o que quer.
quem quer
realizar”.
Objetivos
Desenvolvimento
Os estudantes leem em grupos e trocam ideias durante a leitura dos textos (Anexo 1).
O professor pode sugerir que façam anotações e destaquem as partes do texto que
lhes parecerem mais importantes. Isso vai facilitar a realização da atividade individual
que vem a seguir.
Objetivos
Desenvolvimento
Os estudantes redigem dez conselhos para realizar, numa folha solta (que será trocada
com um colega para a atividade realizada em casa). Sugerimos que o professor oriente
no sentido de que os estudantes comecem o aconselhamento pelo que lhes parece mais
difícil, de acordo com suas vivências.
Objetivo
Desenvolvimento
Os estudantes trocam com os colegas as folhas em que escreveram seus “Dez conselhos
para quem quer realizar”, para a atividade em casa (a folha será devolvida aos autores com
os comentários). Reforçar a responsabilidade com o material trocado, redigido pelo colega,
pois não haverá cópia.
Avaliação
26 BARRETO, Thereza. Org. Modelo Pedagógico. Os Eixos Formativos – Ensino Médio. 4 ed. 2020. Instituto de Corres-
ponsabilidade pela Educação. p. 19-20.
Para refletir
Cabeça e coração para realizar: a fé não costuma “faiá”
Por que “faiá” e não “falhar”? É o próprio Gilberto Gil, autor dessa música cheia de energias
para realizar, que explica, em seu site27:
“A fé e a “faia” - “O uso do ‘faiá’ é assumido com a intenção de legitimar uma forma chula
contra a hegemonia do bem-falar das elites. É uma homenagem ao linguajar caipira, ao modo
popular mineiro, paulista, baiano - brasileiro, enfim - de falar ‘falhar’ no interior. É quase como
se a frase da canção não pudesse ser verdade se o verbo fosse pronunciado corretamente - o
que seria um erro... Outro dia cometeram esse ‘deslize’ na Bahia, ao utilizarem a expressão na
promoção de uma campanha de cinto de segurança. Nos outdoors, saiu: ‘A fé não costuma
falhar’ (a propaganda associava o cinto à fitinha do Senhor do Bonfim). Eu deixei, mas achei
a correção desnecessária.
- “Faiá” é coração, “falhar” é cabeça, e fé é coração.
É isso aí. ‘A fé não costuma faiá’: é para quem fala assim que ela não costuma ‘faiá’.”
Vale a pena relembrar a letra e, se houver oportunidade e possibilidade, ouvir a canção com
os estudantes. Serve perfeitamente para retratar o ânimo, a disposição para realizar mesmo
sabendo que nem tudo vai ser direitinho como a gente imaginou.
28 GIL, Gilberto. Andar com fé. Gege Edições Musicais ltda (Brasil e América do Sul) / Preta Music (Resto do mundo).
Disponível em: www.icebrasil.org.br/surl/?1f3efb. Acesso em 20 de dezembro de 2020.
Eis algumas ideias de atividades que o professor pode propor aos estudantes para ajudá-los
a ver com mais clareza suas próprias facilidades e dificuldades e exercitar a interação
presente-futuro envolvida em realizar:
A estrela. Desenhe um caminho que represente sua vida e uma estrela que brilha para
ilustrar suas aspirações. Desenhe você mesmo nesse caminho. Você está longe ou perto da
estrela? Trabalhe sua imagem como você sente, encontrando soluções para os obstáculos
e colando figuras recortadas de revistas para reforçar o que quer expressar. Escreva ao
redor ou no verso da folha afirmações positivas para si mesmo.
A encruzilhada. Relaxe e imagine a seguinte cena: você está numa encruzilhada e cada
caminho representa um futuro possível. Quais são os caminhos que se abrem diante de
você? Não tenha receio de fantasiar. Que imagens e sentimentos lhe vêm com relação a
cada caminho? Ilustre livremente e escreva as ideias que surgirem com relação a cada um.
100 anos. Imagine que você tem 99 anos e vai festejar seu 100° aniversário em um
lugar tranquilo; imagine que você está contente com o caminho que percorreu em sua
vida. Escreva alguns pensamentos que passam pela cabeça desse “você” com quase
100 anos. Termine escrevendo alguma coisa que você poderia fazer hoje para chegar
aos 100 anos como imaginou no início do exercício.
Balanço. Divida uma folha em quatro colunas e escreva um título em cada uma:
Quem sou?
De onde venho?
Onde estou?
Para onde vou?
Preencha cada coluna intuitivamente, com cores, formas, desenhos e palavras que represen-
tem suas ideias e emoções com relação ao tema. Observe como ficou a página preenchida e
escreva suas reflexões.
29 ANNE-MARIE, J. Ou je m’en vais? In: Le nouveau journal créatif – À la rencontre de soi par l’écriture, le dessin et le
collage. Montréal: Le Jour, 2010. p. 290-292.
Sugerimos que você faça anotações durante a leitura e marque as partes do texto que lhe
pareçam especialmente importantes ou sobre as quais tenha dúvidas.
Quando dizemos que algo se realizou estamos dizendo que esse “algo” passou a existir no
plano real e, consequentemente, pode (e vai!) produzir efeitos no mundo. Este é o sentido
da palavra efetivo: que produz efeito, eficaz; sinônimo, portanto, de real, verdadeiro.
Ora, se algo passou a existir no plano real, é porque antes já existia em outro plano. Que
plano é esse? É o plano virtual das ideias, dos sonhos, dos projetos, das vontades, das
aspirações… O plano (nível) dos planos (projetos). Preste atenção nesta palavra, virtual: ela
significa que não existe como realidade, mas como potência ou faculdade; possível; que não
tem efeito atual. Sua imagem no espelho, por exemplo, é você virtual. Você real é a pessoa
diante do espelho.
Às vezes também ouvimos dizer que alguém se realizou, ao realizar alguma coisa ou alcançar
uma meta. Talvez seja este o sentido da expressão realizar-se: ao tornar real uma ideia,
um sonho, um projeto acalentado, a pessoa se completa, e por isso, de algum modo, tem
a sensação de tornar-se ainda mais real. Algo que antes era uma construção interior, vir-
tual, ganhou vida própria e possibilidade de provocar efeitos no mundo. E esse “algo” tem
a marca da pessoa, pois nela nasceu e alimentou-se de suas experiências, conhecimentos,
sonhos, desejos. É, de certo modo, um pouco de sua história presente no mundo, entrando
na história do mundo.
O parágrafo acima menciona “projeto acalentado”. Preste atenção nestas duas palavras, pro-
jeto e acalentado. Projeto é o que se faz ao projetar, e projetar é arremessar, lançar a distância,
fazer aparecer a distância. Projeto também é um jeito de organizar o que se quer tornar real,
definindo início e fim, os recursos disponíveis, o passo-a-passo para chegar aonde se pretende,
o que se espera que as pessoas façam e os resultados esperados. Acalentado, por sua vez, é
protegido, agasalhado, embalado suavemente, cuidado e nutrido (como um bebê).
Quantas vezes você já ouviu histórias de pessoas que realizaram coisas extraordinárias, de
enorme utilidade e importância para a humanidade, apesar de terem nascido e vivido em
condições precárias, em meio a dificuldades que para os outros pareciam intransponíveis?
Isso nos dá uma indicação importante: não é o que ganhamos ou recebemos que nos pos-
sibilita REALIZAR (embora começar com as condições de vida adequadas possa ajudar).
Não existem receitas mágicas para REALIZAR, mas existem, sim, alguns caminhos que
tornam a realização das coisas viável. Vamos falar de alguns desses caminhos mais adiante.
Preste atenção nesta palavra, viável, que quer dizer, literalmente, que pode ser percorrido;
transitável; em que é possível abrir caminho ou passagem. Para completar esta ideia de
possibilidade de abrir caminho, nada melhor que trazer estas palavras do poeta espanhol
Antonio Machado:
“Ao andar se faz caminho, e ao voltar os olhos para trás se vê a trilha que nunca mais
se vai pisar. Caminhante, são tuas pegadas o caminho, e nada mais; caminhante, não
há caminho, o caminho se faz ao andar.” 30
Diálogo interior
“É no seu mundo interior que se encontra a principal matéria-prima para realizar. Num diálogo
interior, você toma a palavra para dirigir-se a si mesmo:
A deliberação interior, o debate consigo mesmo, é um dos recursos mais importantes para
mudar a si, ponderar sobre o curso do próprio destino. (…)
Como são frequentes as ocasiões em que a pessoa dialoga consigo mesma! Quantas vezes
nos encontramos diante de uma decisão a tomar e avaliamos, dentro de nós mesmos, os
prós e os contras! Quantas vezes discordamos de nós mesmos, a ponto de sentirmos que
um conflito se instala dentro de nós e nos leva a discussões incessantes entre “mim” e “eu
mesmo”! É assim que nos transformamos, em consequência desse diálogo interior. O po-
der de mudança da palavra se aplica não somente às pessoas a quem nos dirigimos, mas
igualmente a nós mesmos como destinatários particulares de nossa própria palavra.
Esse diálogo interior, essa palavra autodirigida, nunca é tão visível quanto no momento
de tomar uma decisão. Há diferentes métodos para fazer isso, é claro. A gente pode, por
exemplo, de uma maneira arcaica, entregar-se ao “destino”, ou à interpretação de “sinais”
30 MACHADO, A. Poesías completas. Provérbios y cantares, XXIX. Edição eletrônica Kindle (2011).
Mas também podemos romper com a passividade, passar para o lado da ação e “tomar a
palavra” em seu foro interior, escutar as diferentes vozes dentro de nós, ponderar, dizer em
silêncio os nossos prós e contras. Nosso interior então preenchido de palavras, até que a
palavra justa alimente a decisão que é então tomada e se impõe como tal.” 31
Pensamento e opinião
Pode-se dizer que opinião é o pensamento antes do raciocínio. Um material ainda bruto,
desordenado, sem estrutura, um aglomerado de ideias que não passaram pelo crivo da
crítica. (...)
Não reivindico a liberdade de opinião. Exprimir certas opiniões em público é, com justiça,
proibido por lei, como no caso das opiniões racistas ou discriminatórias. Mas defendo a
liberdade de raciocinar e argumentar sobre todas as opiniões. (...)
O exercício do pensamento serve para dar precisão ao nosso olhar sobre a realidade.
No início, só temos informações parciais, mais ou menos coerentes. Elas nos permitem
formar uma “opinião”. Mas isso nada mais é do que um jeito de disfarçar nossa falta de
entendimento. (...)
Muitas vezes nos “abrigamos” por trás do pensamento da maioria, como se o fato de ser uma
opinião de maioria nos influenciasse. Nós pertencemos à comunidade humana. Essa inserção
no tecido das relações humanas é que torna tão forte a ideia amplamente compartilhada. Ela
chega a cada um por muitos canais diferentes, o que dificulta o exercício da crítica. É assim que
nascem e se espalham os rumores. E aí vem uma espécie de preguiça de refletir e criticar. É tão
mais fácil abrigar-se no conformismo das ideias da quase unanimidade... É preciso aprender a
não se contentar com esse “sono” da inteligência. Isso se aprende, principalmente na escola.
É com uma disposição correta para ir adiante com sabedoria e munido dos dados e recursos
necessários que a realização acontece.
“Determinar” é deixar claros quais são os elementos de uma situação, coisa ou aconteci-
mento. A palavra determinação vem de determinare, “chegar ao fim”, e se usa no sentido de
“estabelecer limites”. Uma pessoa determinada é aquela que chega ao fim do que ela mesma
delimitou. A determinação está ligada ao indivíduo, que é quem escolhe a ação, o projeto que
vai realizar e o resultado que espera alcançar. Os fatores externos também pesam e podem
mudar muita coisa, mas o que faz a grande diferença é a posição do indivíduo.
Quando uma pessoa determina que vai tingir seu cabelo de vermelho, por exemplo, ela con-
sidera que essa é a melhor decisão, porque combina com a cor de sua pele ou está mais
de acordo com seu gosto. Esse tipo de determinação não exige que se pense muito. Outras
determinações, porém, exigem tempo e reflexão cuidadosa antes de serem definidas.
Metas, força interior (convicção) e confiança de que o que se deseja será alcançado – a com-
binação dessas coisas é que gera determinação. Sem força e confiança, as metas não se
realizam; com força e confiança, mas sem metas, a pessoa fica na intenção e na esperança.
Após ler e discutir com seu grupo na Atividade 1, você tem elementos para fazer uma
síntese em forma de conselhos para realizar. E tem outra fonte importantíssima de
referência que merece ser lembrada e utilizada: os exemplos de pessoas que você conhece
(ou de quem ouviu falar) que demonstraram capacidade de realizar. Pense nessas pessoas
e em suas realizações, por mais simples que sejam, e procure extrair daí mais alguns
elementos para escrever seus “Dez conselhos para realizar”.
Escreva seus “Dez conselhos para realizar” em uma folha solta, que depois será trocada
com a de um colega para a atividade em casa.
Em casa
Você recebeu de um colega “Dez conselhos para realizar”. Seu trabalho é
ler e comentar o que o colega escreveu. Não se trata de criticar nem de
avaliar e, sim, de dialogar.
27/02/1932
Referência Iconográfica
Disponível em: www.icebrasil.org.br/surl/?9d0173. Acesso em: abril 2021.
33 REIS, R. Odes. Edição eletrônica Kindle. Best Books Brazil (30/3/2010). ASIN: B003JTI08I.
34 WILLIAMS, H.; FARO J. The only exception. In: Paramore: Brand new eyes. FueledByRamen, 2009. Disponível em:
www.icebrasil.org.br/surl/?f11d95. Acesso em: 20 dez 2020.
Tradução
A ÚNICA EXCEÇÃO
Avaliar é, para muitos, uma atividade que é realizada apenas ao final de um processo. Todavia,
ao lermos a letra da música de maior sucesso do grupo americano Paramore, “The only excep-
tion”, percebemos que a pessoa que conta sua história consegue avaliar-se diferentemente. Ela
consegue perceber que: “Refletir significa voltar para si mesmo, atentando para o próprio fazer,
pensamentos, representações e sentimentos. (...) A abstração reflexionante leva à compreensão
e o sujeito opera sobre os dados percebidos do objeto no sentido de transformá-lo a partir das
relações que estabelece”.35 Isto é, ela consegue aplicar uma das concepções de avaliação que
queremos destacar nesta aula, a de fazê-la constantemente.
Ao analisar várias fases de sua vida, o indivíduo consegue observar e refletir sobre sua rea-
lidade, se surpreendendo e avaliando os próximos passos a serem dados para melhoria de
sua existência. Ele consegue sair de um estado de total descrédito com relação ao amor,
para um estado de autopermissão e crença de que é possível realizar-se amorosamente.
E o que isto tem a ver com esta aula? Tudo!
35 HOUFFMAN, J. M. L. Pontos e contrapontos: do pensar ao agir em avaliação. Porto Alegre: Meditação, 2005. 10 ed. p. 14.
Roteiro
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Objetivos
Para que os estudantes comecem a ler a situação proposta e o retorno dado a cada estu-
dante, é importante que o professor se certifique de que não só esta concepção de avaliação
acima foi entendida, como também o conceito de autoavaliação que Whitmore apresenta,
isto é, como um ato argumentativo e crítico, de envolvimento e responsabilidade para com
seu trabalho.
Para a segunda questão, espera-se que o estudante escolha qualquer dos três primeiros
retornos. Todos são depreciativos e desnecessários. A atividade consiste em reescrever o
retorno dado pelo professor na perspectiva de uma avaliação mais formativa, para que o
estudante consiga refletir sobre seu trabalho e argumente sobre suas escolhas dissertativas.
Os retornos escritos devem ser lidos para toda classe e eles devem assemelhar-se a este
que se segue: “João, gostei da tua redação, mas acho que alguns pontos gramaticais e
estilísticos devem ser mais bem trabalhados. Para que comecemos a modificar o texto jun-
tos, gostaria de saber o que você quis dizer, por exemplo, com esta frase: preconceito não
tem nada a ver e está fora de moda. O que você quis dizer com isso?”. Ou seja, todos os
retornos reescritos que seguirem a lógica de dar a voz ao estudante da situação, no sentido
de ele fazer uma autocrítica sobre sua dissertação, devem ser aceitos.
A Lei Federal nº 9.394/96 - chamada de LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
- trata na Seção IV – do Ensino Médio, artigo 35, dos métodos avaliativos, mencionando
também os aspectos socioemocionais e o Projeto de Vida. A LDB foi atualizada através de
Medida Provisória em 2020, em contexto de pandemia, para adequar a quantidade de dias
letivos ao distanciamento social sugerido pelos órgãos de saúde pública.
“O foco na cultura e no clima da escola é benéfico para melhorar a aprendizagem dos alunos,
pois as características dos ambientes desempenham um papel importante no desen-
volvimento humano. A medição e avaliação no SEL devem, portanto, ser relevantes, o que
significa que as crianças merecem ser entendidas em relação aos seus sistemas ecológi-
cos e paisagens experimentais. O contexto também inclui o que as crianças trazem consigo
para a sala de aula. Finn observa, com razão, que a compreensão dos desafios e experiên-
cias que as crianças enfrentam, seja falta de moradia, divórcio ou outro estressor, deve ser
considerada ao selecionar intervenções, desenvolver medidas e interpretar os resultados.
(…) Como escrevemos em um artigo anterior no Education Next, uma programação eficaz
do SEL que se concentra em habilidades concretas e ensináveis tem sido demonstrada em
muitos estudos como geradora de ganhos em resultados importantes. Também sabemos
que escolas e salas de aula, e o que os professores fazem nelas, podem moldar poderosa-
mente os resultados das crianças. De fato, um grupo de pesquisadores hipotetizou que as
intervenções afetam as habilidades de SEL dos alunos diretamente por meio de currículos
e outras atividades e indiretamente por mudanças positivas no ambiente geral, significando
cultura da escola e da sala de aula, clima e rede de relacionamentos e interações. Assim
como outras configurações, o contexto da escola incorpora oportunidades de aprendizado
36 Um antídoto para a “febre” da aprendizagem social e emocional: crie a partir da ciência e das evidências e faça as per-
guntas certas. Livre tradução do post de Stephanie M. Jones e Sophie P. Barnes (EASEL - Harvard Graduate School
of Education). Boletim do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação Diretoria Pedagógica, novembro de 2019.
Texto 237
Caso tenha dúvidas sobre as bases expressas na LDB, e em como elas se relacionam com
as Habilidades Socioemocionais e com o Projeto de Vida, segue abaixo artigo da lei a
respeito do Ensino Médio:
“Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá direitos e objetivos de aprendiza-
gem do ensino médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas se-
guintes áreas do conhecimento: I – linguagens e suas tecnologias; II – matemática e suas
tecnologias; III – ciências da natureza e suas tecnologias; IV – ciências humanas e sociais
aplicadas. § 1o A parte diversificada dos currículos de que trata o caput do art. 26, definida
em cada sistema de ensino, deverá estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular
e ser articulada a partir do contexto histórico, econômico, social, ambiental e cultural. § 2o
A Base Nacional Comum Curricular referente ao ensino médio incluirá obrigatoriamente
estudos e práticas de educação física, arte, sociologia e filosofia. § 3o O ensino da língua
portuguesa e da matemática será obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada
às comunidades indígenas, também, a utilização das respectivas línguas maternas. § 4o Os
currículos do ensino médio incluirão, obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e pode-
rão ofertar outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferencialmente o espanhol,
de acordo com a disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de
ensino. § 5o A carga horária destinada ao cumprimento da Base Nacional Comum Curri-
cular não poderá ser superior a mil e oitocentas horas do total da carga horária do ensino
médio, de acordo com a definição dos sistemas de ensino. § 6o A União estabelecerá os
padrões de desempenho esperados para o ensino médio, que serão referência nos proces-
sos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional Comum Curricular. § 7o Os currículos
do ensino médio deverão considerar a formação integral do aluno, de maneira a adotar um
trabalho voltado para a construção Lei n 27 o 9.394/1996 de seu projeto de vida e para sua
formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais. § 8o Os conteúdos, as meto-
dologias e as formas de avaliação processual e formativa serão organizados nas redes de
ensino por meio de atividades teóricas e práticas, provas orais e escritas, seminários, pro-
jetos e atividades on-line, de tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre:
I – domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna;
II – conhecimento das formas contemporâneas de linguagem.”
37 LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educacão Nacional – 4 ed. - Brasília, DF : Senado Federal, Coordenação de Edições
Técnicas, 2020. p. 25-26. Disponível em: www.icebrasil.org.br/surl/?1f6ad7. Acesso em: 20 dez 2020.
Objetivos
Desenvolvimento
A atividade será iniciada com o professor dizendo que a proposta agora será fazer uma
autoavaliação e que, após a leitura individual do texto, uma questão será proposta.
É importante reforçar aos estudantes que eles devem escrever em primeira pessoa e não
no condicional, já que eles são Renê agora. Faz-se necessário estimulá-los a escrever o que
eles fizeram para resolver (reverter) a situação.
Avaliação
Tente perceber se o estudante conseguiu entender, primeiro, que avaliamos para diagnos-
ticar uma situação e, segundo, que uma avaliação deve ser um instrumento de fomento
de mudanças de qualidade na vida de alguém. Que na relação que desenvolvemos com as
pessoas, é preciso termos consciência do nosso papel e devemos nos responsabilizar pelas
críticas e comentários que tecemos ao avaliarmos o outro. Que na construção de um Projeto
de Vida, há que existir essa preocupação com o bem-estar do outro e que, no que concerne
à autoavaliação, é crucial que aprendamos a exercitar o diálogo interno e a reflexão, já que
eles nos ajudam a verificar as conclusões que chegamos sobre nossas vidas, melhorando
significativamente nossa autoestima.
ATIVIDADE EXTRA
Avaliar é diagnosticar uma situação para a melhora qualitativa de algo e, mesmo não per-
cebendo isso, costumamos usar este mecanismo continuamente durante a execução de
muitas atividades diárias; desde a simples tarefa de pensar quantas colheres de açúcar
colocamos no suco, até quando resolvemos ir ao médico por estarmos com aquela dor que
apareceu de repente e não sabemos de onde veio.
Assim, ser avaliado também faz parte da vida. Certamente, muitas foram as vezes que você
teve que ser avaliado por alguém e sentiu que aquela avaliação foi produtiva ou não. Isso acon-
tece! Mesmo não sendo especialistas, todos nós sabemos quando uma avaliação nos serviu.
Avaliações que valem a pena são aquelas que atendem ao critério de justiça e visam retratar
o estado atual de algo, subsidiando uma melhora em qualquer aspecto da vida. Sobre
retorno e autoavaliação, Whitmore coloca:
Levando isso em consideração, leia a situação abaixo e responda às questões que se seguem.
No primeiro dia de aula do primeiro ano do Ensino Médio de uma escola, o recém-chegado
professor de redação e português pede aos seus estudantes que escrevam uma dissertação
intitulada “preconceito”. Empolgados com a atividade e querendo contar suas experiências de
Estudante 1 - Você não soube como escrever. Suas ideias ficaram desconexas, não
consegui entender sua linha de raciocínio, seus parágrafos estão longos e a pontuação
deficitária. Não sei sua intenção, mas para fazer qualquer curso universitário, é neces-
sária uma melhora urgente.
Estudante 2 - Não gostei da forma como você escreveu. Não há profundidade e sua
dissertação pareceu uma conversa informal qualquer. E, além do mais, você fugiu do
tema. Onde está o preconceito aqui? Você precisa melhorar.
Estudante 3 - Sua dissertação foi clara e rica em detalhes, mas seu estilo e formas de
escrever ficaram muito abaixo do que se espera para um estudante que pretende entrar na
universidade.
Estudante 5 - Gostei! Porém, fiquei curioso. Qual foi o tipo de preconceito que você quis
abordar na dissertação? Não corrigi seus erros de pontuação, mas foi de propósito. Será
que você conseguiria destacá-los? Há três erros. Foi muito bem escrito e seu estilo é bem
jornalístico. Se você fosse convidado a publicar isso, que tipo de mídia você escolheria para
atingir seu público?
1. Qual estudante recebeu um retorno do professor que condiz com a perspectiva de uma
avaliação em prol da melhoria, dando um reforço positivo na sua autoestima e estimulando
sua criticidade em relação ao seu trabalho? Por quê?
Renê, estudante do primeiro ano do Ensino Médio, sentiu-se, no mínimo, desconfortável com
a seguinte situação ocorrida em classe. Ele tinha uma apresentação de História e em seu
grupo estavam Bruno, Carlos, Luiza e Guilherme. Os mesmos de sempre. Cada grupo ficou
responsável por pesquisar sobre uma civilização antiga e, por sorteio, a deles foi a egípcia.
Animados com o trabalho, a primeira coisa que fizeram foi decidir quem iria pesquisar o quê
a respeito do tema. Não houve brigas e Renê gostou da sua parte, a história. Cada um com
sua parte, eles tiveram dez dias para ir atrás de tudo e até aí, tudo corria às mil maravilhas.
Dois dias antes da apresentação, algo deixou Renê profundamente irritado e o clima entre
eles mudou. Eles haviam combinado de fazer um ensaio na casa de Luiza para ver o que
cada um tinha feito até então e Bruno falou que tinha encontrado muito pouco sobre as
guerras, que teve dificuldade de achar material e, por isso, não tinha conseguido completar
a parte dele. Renê não acreditou e imediatamente pensou que Bruno estava fazendo corpo
mole. Ele mesmo já tinha visto algo sobre as guerras do período que eles estavam estudando
na internet. Achou que Bruno estava tentando fazer alguém do grupo trabalhar para ele.
O encontro na casa de Luiza terminou e o silêncio tomou conta do grupo. Incomodado com a
passividade de todos, Renê, não achando justo ser prejudicado pelo colega, um pouco antes
da apresentação, foi à sala dos professores e disse à professora que Bruno não iria participar
porque teve dificuldades na sua parte. Para ele, tinha feito justiça e contado a verdade. A pro-
fessora estranhou a atitude e exasperação de Renê, mas não disse nada, apenas aceitou o
informado e pensou que tudo aquilo tinha sido uma decisão tomada pelo grupo.
Na hora da apresentação, Renê foi o primeiro, e aproveitou a chance para dizer que Bruno não
apresentaria, repetindo o que havia explicado à professora. Os outros do grupo ficaram per-
plexos. Cutucaram Renê discretamente e imediatamente defenderam Bruno, dizendo que
ele tinha feito o trabalho e falaria sim. A partir daí, Renê, encabulado, começou a questionar
seus atos. Nunca pensou que a situação iria causar tanto desconforto. Sua intenção foi
apenas não prejudicar o grupo, afinal de contas, Bruno não tinha feito nada, em sua opinião,
e ele ficou com medo de tirar nota baixa. Ao final, todos apresentaram, inclusive Bruno. Os
meninos o ajudaram em sua fala e o trabalho foi apresentado sem mais nenhuma surpresa
de última hora.
Entretanto, no dia seguinte, um clima diferente havia se instalado entre eles. Renê es-
tranhou o comportamento dos outros para com ele. Nenhum quis muita conversa e
quando ele perguntou a Luiza o que estava acontecendo, ela disse: “Você agiu errado. Você
As palavras de Luiza soaram como uma crítica que Renê custou a compreender. Ele ficou
chateado por vários dias, pois, para ele, não tinha feito nada com o propósito de prejudicar
o grupo. Avaliar-se era preciso...
1. A situação acima mostra uma pessoa em conflito. Renê comportou-se de uma maneira
com os seus colegas de classe e está em dúvida sobre o que fazer para reconquistar a
confiança dos amigos. Nesta atividade, você é Renê. Escreva um e-mail para todos os
integrantes do grupo, fazendo uma autoavaliação do seu comportamento.
40 BARRETO, T. Org. Modelo Pedagógico. Os Eixos Formativos – Ensino Médio. 4 ed. 2020. Instituto de Corresponsa-
bilidade pela Educação. p. 69-70.
Professores que ajudam o seu estudante a mudar esse padrão criam situações nas quais
ele é levado a refletir sobre o determinismo existente em seu pensamento, recorre às
situações nas quais ele foi bem e o estimula a trabalhar para ir melhor em situações futuras.
(…)
Os estudos de Seligman (2014, 2004) observam que existem pessoas que se põem dian-
te da vida de maneira muito satisfeitas, mesmo vivendo em condições precárias, e outras
nem tanto, ainda que tenham mais recursos. A base dos seus estudos, iniciados há mais de
vinte e cinco anos, foi investigar porquê, diante de um mesmo fato, as pessoas reagem de
modo diferente, especialmente diante das adversidades. Algumas encaram como causas
permanentes e pessoais, outras vêem como ocorrências passageiras e desafios a serem
superados com o dobro do empenho. Como resultados das suas investigações, Seligman
constatou que todos nós nascemos com um certo “nível de contentamento” e que, geneti-
camente, temos maior ou menor tendência ao otimismo, bem como ao inverso.
Mas, talvez, uma das mais importantes contribuições dos seus estudos tenha sido a desco-
berta de que é possível trabalhar nossas capacidades e investir naquilo que nos faz sentir
melhor, ou seja, podemos aprender a ser otimistas.
Muitas das atividades produtivas hoje realizadas não existirão em pouquíssimos anos. Esse
cenário prenuncia que nossos jovens aprendam a ser permanentemente aprendizes, que
sejam adaptáveis e ágeis para lidar com as inúmeras mudanças e novas demandas, novas
informações e, às vezes, imprevisíveis situações num mundo que muda aceleradamente.
As habilidades socioemocionais são muito importantes e afetam uma parcela imensa dos
resultados da nossa vida pessoal e produtiva.
Título: EU
Autor: Ricky Martin
Editora: Planeta
Ano: 2010
Número de páginas: 304
Ricky Martin, estrela internacional pop norte-americana de origem
porto-riquenha e detentor da incrível marca de mais de 60 milhões
de cópias vendidas em todo mundo, nos conta sobre suas memórias da infância, expe-
riências vivenciadas enquanto participante da famosa ‘boy band’ Menudo, sua luta na
construção de sua identidade, reflexões sobre a tomada de consciência acerca de sua
sexualidade, relacionamentos que lhe permitiram vivenciar o amor e projetos de vida
que fizeram com que ele escolhesse ajudar crianças em todo globo e ser pai. “EU” é um
memorial que nos oferece a autoavaliação da carreira de um dos mais adorados ícones
do pop mundial de nossos tempos.
Titãs - Epitáfio161
Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração
41 BRITTO, S. Epitáfio. In: Titãs: A melhor banca de todos os tempos da última semana. Abril Music, 2001. Disponível
em: www.icebrasil.org.br/surl/?f31a95. Acesso em: 20 dez 2020.
Leia a coluna de Pasquale Cipro Neto – também chamada “Epitáfio” – que compara a canção
e o poema de José Paulo Paes: “Epitáfio para um banqueiro”:42
Epitáfio
O poema de José Paulo Paes é puro escárnio do nada em que se transforma a vida
de “homens de negócios”
“DEVIA TER...” Devia, sem dúvida nenhuma. Devia (não) ter feito muita coisa, mas... Mas (não)
fiz, (não) faço, (não) fizemos, (não) fazemos. O leitor talvez já saiba que o pano de fundo deste
introito é a bela canção “Epitáfio”, composta por Sérgio Britto, um dos integrantes do sempre
inovador grupo “Os Titãs”. Se você conhece a música, tente relembrá-la (“Devia ter amado
mais / Ter chorado mais / Ter visto o Sol nascer [...] Devia ter trabalhado menos / Compli-
cado menos / Ter visto o Sol se pôr...”). Note que a palavra “epitáfio” não aparece na letra.
Considero particularmente interessante esse fato, porque o título acaba funcionando como
uma espécie de resumo ou essência do texto. O problema é que muitas vezes as pessoas
não sabem o que significa a tal palavra-resumo. Pior do que isso é constatar que muita gente
não sabe e não move uma palha para saber. Em algumas das palestras que profiro país afora,
relaciono a canção de Britto com o antológico poema “Epitáfio Para Um Banqueiro”, do genial
e saudoso José Paulo Paes:
42
42 NETO, P. C. Epitáfio. Folha de S. Paulo. 10 ago 2006. Disponível em: www.icebrasil.org.br/surl/?fef51b. Acesso em:
20 dez 2020.
Referência Iconográfica
Disponível em: www.icebrasil.org.br/surl/?cbefd8. Acesso em: abril 2021.
“O rápido aumento no grau de conexão por meio do qual cada pessoa está conectada traz
muitos efeitos associados, incluindo aumentos exponenciais na velocidade de disseminação
de informações e ideias e na escala das interações humanas. Uma ideia pode surgir agora,
pode tornar-se um meme, viralizar na internet, originar um movimento e tornar-se uma
43 FADEL, C. BIALIK, M. TRILLING, B. Educação em Quatro Dimensões: As competências que os estudantes devem ter
para atingir o sucesso. Boston: Center for Curriculum Redesign, 2015. p. 84-85.
É um grande desafio para os jovens de hoje atentar para as condições favoráveis à apren-
dizagem, valendo-se dos recursos disponíveis para fazê-lo de modo autônomo e respon-
sável, driblando os constantes apelos que podem distraí-los de seus objetivos. É preciso,
portanto, encontrar no universo de valores em construção do estudante as referências que
importam para a sua realidade. Este é um desafio fundamental, parte de uma construção
conjunta entre professor e estudante. O Estudo Orientado - uma das Metodologias de Êxito
estruturantes do Modelo Pedagógico da Escola da Escolha - permite uma adesão a esses
aspectos temáticos sob a forma de orientacão específica, em busca de uma metodologia
de estudo customizada à realidade de cada estudante. Assim, otimizando o tempo e a aten-
ção do estudante na escolha de seus temas e conteúdos curriculares e no melhor modo de
estudá-los, é possível otimizar seu rendimento. Ao sentir-se no controle de seu processo
de aprendizado o estudante adquire autoconfiança e autonomia na tomada de decisões na
elaboração e execução de seu Projeto de Vida, articulando conhecimento adquirido, seus
valores e suas práticas sociais.
Objetivo Geral
• Atentar para os próprios processos de aprendizagem e para a necessidade de
continuar aprendendo além da duração do período letivo e do cumprimento
das atividades curriculares.
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Objetivo
Desenvolvimento
Aqui é possível perceber o nível de crítica ou de exigência que cada estudante tem em
relação a sua aprendizagem. Uns se cobrarão mais, outros menos. Para além dos graus de
“cobrança”, contudo, o importante é que se atente para o quanto a percepção do estudante
é condizente com a realidade.
• Impacto do seu desempenho nas suas aspirações e sonhos (o que houve de positivo
e negativo, considerando a importância desses impactos no seu Projeto de Vida)
O estudante tem consciência realmente dessa relação ou ainda não assimilou muito bem
a ideia de um Projeto de Vida como algo real, diretamente impactado pela aquisição dos
saberes adquiridos e a mobilização destes?
4. Das reflexões sobre essa trajetória acadêmica, quais as conclusões a que você
chegou sobre o melhor aproveitamento do ano letivo atual, de modo a assegurar
os êxitos obtidos no ano passado e melhorar nos aspectos não satisfatórios? Liste
abaixo essas medidas e responda francamente se elas estão sendo postas em prática:
• Nos momentos em que você não está em aula, se dedica a alguma atividade que com-
plemente o estudo escolar, indo além das atividades obrigatórias do currículo? Se a
resposta for positiva, conte como isso se dá. Se for negativa, explique por que não o faz.
Objetivos
Desenvolvimento
- Quais assuntos não contemplados pelo currículo escolar interessam a você? Você
costuma dedicar seu tempo a aprender mais sobre eles? Como?
A intenção é sondar a vontade de aprender, sem obrigações externas, que cada estudante possui,
além de perceber quais cuidados são tomados (ou não) visando o cultivo e aprimoramento do saber.
Importa muito permitir que os estudantes expressem, em seus termos próprios, essas possíveis
relações. Pode acontecer, inclusive, de haver relações sutis ainda não percebidas por eles. De
todo modo, sempre há alguma relação, posto que cuidar de assunto de seu próprio interesse,
alimentando a potência e os talentos individuais (sejam eles “úteis” ou não) é de suma importân-
cia para uma relação plena consigo mesmo, pois se trata de algo que se tem identificação.
Aqui, verifica-se se o estudante mobiliza recursos em função dos seus interesses ou se ne-
gligencia esse aspecto saudável da sua vida, que é se interessar pelas coisas e vivenciá-las.
- Em média, quanto do seu tempo livre você se dedica a esses assuntos ao longo de uma
semana? Você se programa para isso ou se dedica a eles quando lhe “dá na telha”?
Diretamente relacionado ao anterior, este tópico também visa sondar, de outra forma, o
grau de dedicação e disciplina dispensados ao assunto.
- Você sabe onde e como acessar os conteúdos do seu interesse de forma gratuita ou
pouco custosa financeiramente? Fale um pouco sobre isso.
Muitas vezes, tem-se a ideia de que conhecimento, para ser bom, deve ser pago – e de
preferência muito caro. Outras vezes, a mera falta de informação de recursos disponíveis
(mesmo com proliferação de arquivos gratuitos on-line), impede a pessoa de dedicar-se a
algo com que se identifica.
- Quais atividades lhe dão a sensação de estar “perdendo tempo”? Se você sabe que
está desperdiçando o seu tempo, por que continua a praticá-las?
- Quando você está estudando o assunto através da internet, quais os fatores que
interferem na sua concentração e como tenta evitá-los? Você consegue?
Neste tópico e no anterior, será verificado se o estudante tem consciência dessa possibili-
dade e, caso tenha, como se relaciona com ela. Abrir espaço para que os estudantes falem
de suas estratégias próprias pode ser uma ocasião de grande proveito para toda a classe.
Avaliação
Por outro lado, a visão empirista centra sua explicação no meio externo, em que o sujeito é
visto como um papel em branco, no qual suas experiências vão cunhar o desenvolvimento da
inteligência; o sujeito é resultado do meio. Apesar de conceber a constituição do sujeito de
forma oposta ao inatismo, também não leva em conta a atividade do indivíduo, colocando-o
em uma posição passiva.
45 BARRETO, T. Org. Modelo Pedagógico. Os Eixos Formativos – Ensino Médio. 4 ed, 2020. Instituto de Corresponsa-
bilidade pela Educação. p. 10.
Texto 246
“A noção de que ver TV por tanto tempo não pode ser bom para nós foi bastante difundida.
Na segunda metade do século passado, os críticos da mídia falaram à exaustão a respeito
dos efeitos da televisão sobre a sociedade [...] Conhecemos há décadas os efeitos da televi-
são na felicidade [...] mas isso não impediu seu crescimento como a maneira predominante
de empregarmos nosso tempo livre. Por quê?
[...] Os seres humanos são criaturas sociais, mas a explosão de nosso excedente de tempo
livre coincidiu com uma gradual redução do capital social – nosso estoque de relaciona-
mentos com pessoas nas quais confiamos e das quais dependemos. Uma pista sobre o
aumento espantoso do hábito de ver TV é o fato de ele ter substituído outras atividades,
sobretudo as atividades sociais [outras diversões, socialização e dormir] [...] Uma das causas
dos efeitos negativos da televisão foi a redução da quantidade de contato humano, uma
ideia chamada de hipótese de sub-rogação social.
A sub-rogação social tem duas partes. Fowles expressa a primeira – temos, historicamente,
visto tanta televisão que ela substitui todos os outros usos do tempo livre, incluindo tem-
po com os amigos e a família. A outra é que as pessoas que vemos na TV constituem um
conjunto de amigos imaginários. Os psicólogos Jaye Derrick e Shira Gabriel, da Universidade
de Búfalo, e Kurt Hugenberg, da Miami University de Ohio, concluíram que as pessoas se vol-
tam para os programas preferidos quando se sentem solitárias e que se sentem menos sós
quando estão assistindo a tais programas [...] Essa troca ajuda a explicar como a TV se tor-
nou nossa atividade opcional mais adotada, mesmo em doses que tanto se relacionam com
a infelicidade, como podem provocá-la: sejam quais forem as desvantagens, é melhor do que
se sentir sozinho, mesmo que você realmente esteja. Como é algo que se pode fazer sozinho,
ao mesmo tempo em que reduz o sentimento de solidão, ver televisão tem as caracte-
rísticas certas para se tornar popular à medida que a sociedade se dispersa das cidades
superpopulosas e das comunidades rurais muito fechadas em direção à relativa desconexão
dos movimentos pendulares e das frequentes relocações dos trabalhadores. Uma vez que
haja na casa um aparelho de TV, não há custo extra em assistir uma hora mais.
Ver televisão cria, assim, uma espécie de monotonia. Como Luigino Bruni e Luca Stanca
observam [...] ver TV tem um papel decisivo na troca das atividades sociais pelas solitá-
rias [...] “A televisão pode ter um aumento significativo no aumento do materialismo e das
46 SHIRKY, Clay. A cultura da participação: criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro: Zahar,
2011. p. 11-15. Tradução de Celina Portocarrero
Comecei a refletir sobre a nossa crescente decisão de empregar a maior fração do nosso
tempo livre para consumir um único veículo de comunicação em 2008, depois da publicação
de “Here Comes Everybody”, livro que escrevi sobre mídia social. Uma produtora de TV que
tentava decidir se eu deveria ou não ir ao seu programa para discutir o livro perguntou-me:
“Que usos interessantes da mídia social você vê agora?”
Imagine tratar o tempo livre dos cidadãos escolarizados do mundo como um coletivo, uma
espécie de excedente cognitivo. Que tamanho teria esse excedente? Para calcular, precisa-
mos de uma unidade de medida, então vamos começar com a Wikipédia. Suponhamos que
consideremos a quantidade total de tempo que as pessoas gastaram com ela um tipo de
unidade – todas as edições feitas em todos os artigos e todos os debates a respeito dessas
edições em todos os idiomas nos quais a Wikipédia existe. Isso representaria algo em torno
de 100 milhões de horas de pensamento humano para o tempo que gastei conversando
com a produtora de TV [...] Cem milhões de horas de pensamento cumulativo são, evi-
dentemente, muita coisa. Mas quanto é isso comparado ao total de tempo que passamos
vendo televisão?
Na estante
Além disso, o livro se presta, em certa medida, ao papel de um verdadeiro manual para
quem quer se juntar ativamente a essa rede global que modificou, definitivamente, a nossa
forma de gerar e consumir conhecimento.
Formação on-line
on-line: cursos gratuitos nas melhores universidades do mundo:
icebrasil.org.br/surl/?711040
“Gaste seu tempo aprendendo a cozinhar cientificamente, tendo aulas de violão e até enten-
dendo o mercado financeiro – tudo de graça.
A internet é um poço infinito de conhecimentos úteis e gifs de gatinhos, e por algum motivo
a gente passa tempo demais vendo os últimos e quase nenhum com os primeiros. Com um
pouco de disciplina – eu recomendo se organizar em uma rotina, bloquear redes sociais
que causam distração e ouvir música no fone de ouvido – você pode encaixar na sua vida
cotidiana algumas horas de aula de qualquer coisa por semana.
Quer aprender a desenhar? Cozinhar? Tocar violão? Dá, e é tudo de graça. Fizemos uma
lista do que você pode aprender agora:
Não é segredo que dá para aprender a cozinhar usando a internet. Agora, usando um viés
científico, próprio de engenheiros, isso talvez você não soubesse. Vá ao Cooking for Engi-
neers para aprender uma abordagem analítica da comida, que tem como objetivo reunir
os melhores métodos para atingir a melhor crocância no bacon – um conhecimento que,
convenhamos, tem valor imensurável.
47 FREITAS, A. 10 coisas úteis para aprender na internet. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?5f557a. Acesso em:
20 dez 2020.
Gente bem-sucedida tem o poder de inspirar. A internet possibilitou que todos nós tivésse-
mos pessoas que admiramos como mentores, porque a rede permite que eles falem direto
pra gente. É dessa ideia que o programa 30 Second MBA, da Fast Company, se aproveita.
A série reúne vídeos em que executivos bem-sucedidos de várias áreas respondem, em 30
segundos, perguntas pertinentes para quem tem um negócio.
O Duolingo é uma das plataformas de ensino de idiomas mais populares da internet. Com-
pletamente grátis, ele ensina inglês e espanhol para quem fala português; e se você já fala
inglês, as possibilidades se abrem muito mais: tem francês, alemão, italiano, para ficar no
mais básico, e se você estiver empolgado, húngaro, russo, romeno, polonês...
6. Tocar violão.
Você ainda pode realizar seu sonho de adolescência: nunca é tarde para aprender a tocar
violão. Não se preocupe se você estiver começando do zero, porque o Justin Guitar tem aulas
para todos os níveis. Técnicas, exercícios, escalas e até o básico dos acordes: está tudo lá.
Não tem mais desculpa para você não ser a estrela do luau na praia.
Não é de hoje que ganhamos sites incríveis que, em parceria com universidades estrangeiras,
oferecem cursos de alto nível pela internet gratuitamente. Muitos são super específicos e
alguns têm interface meio complicada. Não é o caso do Khan Academy e do Academic Earth,
que se dedicam a oferecer cursos de matérias mais básicas. Pense em coisas que vão de
Matemática e Física a Sociologia e Psicologia; tem programação, história, arte e coisas
assim, também.
Sabe aquela sua técnica única para picar cebola? Você pode dividi-la com a internet no
Instructables, enquanto aprende a fazer um supercapacitor de grafeno (!). O Instructables é
uma plataforma de troca de tutoriais que ensinam a fazer em casa coisas que, normalmen-
te, a gente compra. Tem projetos em áreas tipo lifehacking, mas a maioria é mão na massa
mesmo: artesanato, marcenaria, eletrônica… tem tudo lá. Dê uma olhada antes de pagar
uma fortuna em um suporte para o seu iPad.
Eu acho um equívoco que não tenhamos aulas de economia doméstica e o básico de mer-
cado financeiro no colégio. Todo mundo precisa entender como essas coisas funcionam.
Mas dá para contornar isso com a Investopedia. Veja, não vai ser da noite para o dia, mas
com um pouco de tempo e esforço você vai entender os chavões desse mercado e talvez
possa até começar a investir seu dinheiro.
10. Programar.
Eu sei que você já sabe: programar é a habilidade do futuro, há vários sites que ensinam
programação de graça etc. É que o Codeacademy é mesmo o melhor, e isso vem de
alguém que testou vários sites diferentes. É o mais amigável para quem é completamente
iniciante, é didático, é bonito, é grátis e é em português. Se você estiver a fim de aprender a
programar, pode começar por aí que não tem erro”.
Faça uma breve retrospectiva da sua vida acadêmica no último ano. Considerando todo o
ano letivo passado, reflita e anote as suas ponderações, a partir das questões abaixo.
1. Das disciplinas do currículo escolar, em quais você mais aprendeu? Por quê?
3. Ao receber as avaliações finais do ano letivo, a que conclusões você chegou, em relação a:
4. Refletindo sobre a sua trajetória acadêmica, quais as conclusões a que você chegou
sobre o melhor aproveitamento do ano letivo atual, de modo a assegurar os êxitos obtidos
no ano passado e melhorar nos aspectos não satisfatórios? Liste abaixo essas medidas e
responda francamente se elas estão sendo postas em prática.
• Nos momentos em que você não está em aula, se dedica a alguma atividade
que complemente o estudo escolar, indo além das atividades obrigatórias do
currículo? Se a resposta for positiva, conte como isso se dá. Se for negativa,
explique por que não o faz.
• Quais são as condições mais tentadoras para você não estudar, mesmo
quando dispõe de tempo de sobra para isso? Você sabe lidar com essa situa-
ção? Caso saiba, conte como; caso não saiba, diga qual é a maior dificuldade.
Na aula anterior, o foco foi o conhecimento acadêmico e suas correlações com o seu
Projeto de Vida. Mas, conforme comentado na Introdução, saberes formais e informais, ou
mesmo aqueles científicos que extrapolam os limites do currículo escolar, podem se somar
ao seu Projeto. Tudo depende de suas áreas de interesse e do seu grau de curiosidade. Mesmo
aqueles saberes não diretamente ligados à profissão que você pretende seguir, por exemplo,
acrescentam muito à sua formação só pelo fato de você se interessar pelo assunto e, in-
diretamente, podem ser fontes de insights interessantes para outras áreas. Sem falar, claro,
no conhecimento pelo mero prazer de conhecer.
• Quais os assuntos não contemplados pelo currículo escolar que lhe interessam?
Você costuma dedicar seu tempo a aprender mais sobre eles? Como?
• Você consegue relacionar esses assuntos, direta ou indiretamente, ao seu
Projeto de Vida? De que maneira?
• Quais os lugares que costuma frequentar, espontaneamente, simplesmente
com o intuito de aprender algo? Há outros que gostaria de frequentar? Quais?
• Você sabe onde e como acessar os conteúdos do seu interesse de forma
gratuita ou pouco custosa financeiramente? Fale um pouco sobre isso;
• Em média, quanto do seu tempo livre você dedica a esses assuntos ao longo
de uma semana? Você se programa para isso ou se dedica a eles quando lhe
“dá na telha”?
• Quais atividades lhe dão a sensação de estar “perdendo tempo”? Se você
sabe que está desperdiçando o se tempo por que continua a praticá-las?
• Quando você está estudando o assunto através da internet, quais os fatores
que interferem na sua concentração e como tenta evitá-los? Você consegue?
Referências Iconográficas
Disponível em: www.icebrasil.org.br/surl/?77ab45. Acesso em: abril 2021.
49 BARRETO, T. Org. Modelo Pedagógico. Os Eixos Formativos – Ensino Médio. 4 ed, 2020. Instituto de Corresponsa-
bilidade pela Educação. p.54-55.
50 GARDNER, J. Self. Renewal: The individual and the innovative society. apud. BERMAN, L. New priorities in the
curriculum. Columbus: Charles E. Merrill Publishing Company, 1968. p. 159.
Você se lembra dos planos para o futuro de sua infância? Mesmo que não sejam formais
nem tenham o nome de “projeto”, os planos sempre estão presentes, de um modo ou de
outro, em cada etapa – sempre transiente – da vida humana, às vezes bem guardados e
até esquecidos numa caixinha preciosa delicadamente etiquetada com a palavra “sonhos”.
Nossa ajuda pode ser valiosa para os estudantes no sentido de perceber que (a) o ser
humano é inacabado, mutável e temporário; (b) a mudança é a constante na vida humana
e (c) educar-se é assumir a responsabilidade de fazer progredir cada aspecto, qualidade,
atributo, faculdade da própria pessoa, enquanto ser que só existe em relação com as várias
dimensões de si próprio, com as outras – pessoas e coletividades – e com a natureza.
“Quando os estudantes se relacionam com os conteúdos que estão aprendendo nos compo-
nentes curriculares da Base Nacional Comum Curricular e conseguem estabelecer conexões
entre os seus interesses e esses conhecimentos, eles ativam seus “músculos da curiosidade”.
Ao ativá-los, passam a desejar aprender mais e sempre mais porque aquilo passa a fazer
sentido para ele e estudar passa a ter significado. Proporcionar oportunidades consistentes
para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais tem um papel importante na forma-
ção do estudante e na abordagem da escola. Estudantes mais engajados não se ausentam
51 A aprendizagem socioemocional leva ao sucesso e vai além – uma síntese dos estudos. Boletim do Instituto de
Corresponsabilidade pela Educação Diretoria Pedagógica, outubro de 2019, p.1.
COGITO 52
Torquato Neto
52 NETO, T. P. de A. Cogito. Poema. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?bc6a68. Acesso em: 20 dez 2020.
Cecília Meireles
Objetivos Gerais
• Relacionar autoconhecimento e autovalorização;
• Perceber autoconhecimento como requisito para autovalorização e acesso
ao próprio potencial;
• Identificar conceitos e temas que considere importantes como um passo
inicial para acessar seus próprios recursos.
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Atividade:
Apresentação dos grupos e síntese coorde-
Conclusão e 15 minutos
nada pelo professor.
síntese.
Objetivos
Desenvolvimento
Em grupo, os estudantes leem três textos distintos, sendo um deles uma notícia sobre
um fato e os outros dois textos teóricos sobre o inacabamento humano e o processo de
autodesenvolvimento e envolvimento comunitário (Anexo 1).
Cabe observar até que ponto os estudantes manifestam visões deterministas ao explorar
possibilidades de evolução da vida dos dois personagens. Caso isso ocorra, o professor tem
uma boa oportunidade de mostrar como isso contradiz à visão do autodesenvolvimento
dos dois autores (Paulo Freire e Marcos Arruda). Pode ser bem interessante ampliar essa
exploração de possibilidades agregando ideias potencialmente transformadoras (um en-
contro que muda uma vida, uma descoberta surpreendente, um convite para escrever a
própria história... Asas à imaginação!).
Reproduzimos abaixo, na íntegra, os textos que aparecem adaptados no Anexo 1 desta aula
para a realização da atividade:
Texto 154
Mas a pessoa humana é um ser contraditório, pois sua própria unidade é feita de diversidade.
As várias dimensões que nos constituem, corpo e suas várias partes – mente, psique, espírito
– se desenvolvem por vias e ritmos diversos, em processos que às vezes são contraditórios e
complexos. Os diferentes componentes são Todos menores de um Todo maior, mas não têm
praticamente nenhuma autonomia, dependendo do Todo maior para funcionar e tendo como
finalidade servir-lhe. A soma dos diversos componentes do ser físico do Homo não constitui
necessariamente um Homo. Algo tem que estar “aceso” nele para que esteja vivo e para que
aquele agregado de componentes ganhe unidade, identidade, personalidade. Educar-nos para
desenvolver, tão harmoniosamente quanto possível, as várias dimensões que constituem nos-
so ser pessoal de forma ao mesmo tempo autônoma e solidária: eis o desafio. Por outro lado,
ao agir, ao fazer, ao construir o mundo, o ser humano se faz e se constrói simultaneamente,
contribuindo deste modo à evolução dos seus sentidos materiais e não materiais, do seu co-
nhecimento, da sua consciência, do seu espírito e, também, sinergeticamente (sinergia, em
grego, significa “energia posta em comum”, ou “conjugação de energia”, ou “cooperação, ação
em comum”), à evolução dos sentidos da espécie humana como um todo.
O desafio do autodesenvolvimento consiste em que cada pessoa, por meio da ação sobre o
mundo e os outros, da educação, da pesquisa e da reflexão sobre si própria e suas relações,
se construa sempre mais como sujeito consciente e ativo do seu próprio desenvolvimento.
Educar-se passa a ser definido como assumir a responsabilidade de fazer progredir cada
aspecto, qualidade, atributo, faculdade da própria pessoa, enquanto ser que só existe em
relação com as várias dimensões de si próprio, com as outras – pessoas e coletividades – e
com a natureza.
[…] A primeira etapa da realização de um “ser humano humanizado”, tornado sujeito do seu
próprio desenvolvimento enquanto pessoa e coletividade, e de uma globalização cooperativa,
construída de baixo para cima, é visualizar imaginativamente os conceitos que lhe correspon-
dem e o projeto que deseja e concebe como o mais inteligente e coerente consigo mesmo e
com a sua natureza em construção e evolução.
Texto 256
56 FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2000. 14 ed. p. 55-59.
A vida no suporte não implica a linguagem nem a postura ereta que permitiu a liberação
das mãos. Mãos que, em grande medida, nos fizeram. Quanto maior se foi tornando a
solidariedade entre mente e mãos tanto mais o suporte foi virando mundo e a vida, exis-
tência. O suporte veio fazendo-se mundo e a vida, existência, na proporção que o corpo
humano vira corpo consciente, captador, apreendedor, transformador, criador de beleza
e não “espaço” vazio a ser enchido por conteúdos.
[...] Gosto de ser homem, de ser gente, porque não está dado como certo, inequívoco, irrevo-
gável que sou ou serei decente, que testemunharei sempre gestos puros, que sou e que serei
justo, que respeitarei os outros, que não mentirei escondendo o seu valor porque a inveja de
sua presença no mundo me incomoda e me enraivece. Gosto de ser homem, de ser gente,
porque sei que a minha passagem pelo mundo não é predeterminada, preestabelecida. Que
o meu “destino” não é um dado, mas algo que precisa ser feito e de cuja responsabilidade
não posso me eximir. Gosto de ser gente porque q a História em que me faço com os outros
e de cuja feitura tomo parte é um tempo de possibilidades e não de determinismo. Daí que
insista tanto na problematização do futuro e recuse sua inexorabilidade”.
Objetivo
Avaliação
Ênfase excessiva em aspectos negativos da nova convivência que resulta do retorno dos
dois personagens à sociedade também é uma possibilidade, e merece correções de rota
por parte do professor. É normal que adultos tensos e estressados pela vida profissional
e social se sintam tentados a fantasiar e idealizar um retorno à vida (quase) selvagem...
Mas os estudantes são jovens e lhes cabe, portanto, aceitar o desafio (difícil, sem dúvida)
de encontrar/construir novas modalidades mais amenas de convivência em nossas
comunidades. Nesse momento, vale a pena retomar o que já foi desenvolvido nas aulas
anteriores sobre resolução de conflitos, relações de companheirismo e amizade, viver
entre gerações...
Para verificar até que ponto os estudantes entenderam e incorporaram os conceitos traba-
lhados, o professor pode solicitar, durante as apresentações dos grupos, que diferenciem ou
definam os termos suporte/mundo, autovalorização, autoestima, desenvolvimento pessoal/
comunitário, cultura, recursos pessoais e outros que julgar importantes.
Pedagogia é a teoria, segundo Paulo Freire, que implica os fins e os meios da ação educa-
tiva, ou seja, ela trata dos objetivos, que no nosso caso, é o jovem autônomo, solidário e
competente. A pedagogia também trata dos meios para formar esse jovem por intermédio
dos métodos e práticas educativas.
57 A Pedagogia da Presença e a construção do Projeto de Vida. Boletim da Diretoria Pedagógica (livre adaptação do
texto “A Pedagogia da Presença” de Antonio Carlos Gomes da Costa) – Recife: Instituto de Corresponsabilidade
pela Educação, 2020.
Então, a presença, além da contiguidade e além de estar perto, também exige abertura... e
além da abertura, ela exige reciprocidade.
Reciprocidade é aquela troca de “pequenos nadas” que nada mais é do que “um comércio
singelo onde se troca um sorriso, um olhar, um cumprimento, uma palavra, um gesto, um
conselho, um toque, um abraço...”, ou seja, um troca-troca de pequenos nadas que são tudo
no relacionamento humano e que podem mudar a qualidade do relacionamento numa fa-
mília, numa sala de aula, num hospital, num ambiente de trabalho.
Ter compromisso é sentir-se responsável pelo outro, sentir compromisso pelo bem do ou-
tro, assumir uma atitude de não indiferença e de valorização positiva sobre as outras pes-
soas, primeiramente, com quem nos relacionamos no dia a dia.
Por que uma presença significativa é importante nas nossas vidas? Porque sem uma
relação de qualidade junto às pessoas nós somos incapazes de construir a nossa
identidade, porque falta o espelhamento existencial que faz com que nós possamos
nos sentir compreendidos e aceitos por alguém.
Todo ser humano precisa ser compreendido e aceito para que ele possa ter con-
dições de compreender-se e aceitar-se e, assim, ter condições de compreender e
aceitar os demais seres humanos.
Se não temos autoconfiança, não seremos capazes de olhar o futuro sem medo. Olhar o
futuro sem medo significa ter uma visão destemida do futuro. E a visão destemida do futuro
é a condição para nascer dentro do jovem uma visão que deseja o futuro. É quando nasce o
“querer ser”, nasce uma aspiração, nasce um sonho. Mas o sonho, a aspiração e o “querer
ser” ainda não são um Projeto de Vida!
Quando o jovem tem um Projeto de Vida, nasce na sua pessoa o sentido da vida. O sentido
da vida que é aquela linhazinha pontilhada entre o “ser” e o “querer ser” desse jovem que já
vimos em alguns slides durante esse encontro. Essa linhazinha pontilhada designa sempre
o caminho ainda não percorrido, mas que deverá ser percorrido. Essa linha entre o “ser” e
o “querer ser” dá o rumo, dá o norte, dá o sentido da vida.
Quando o jovem tem um Projeto de Vida e tem uma dimensão clara do sentido da sua vida,
nasce nesse jovem a autodeterminação, ou seja, a capacidade de determinar o seu próprio
caminho na vida. Ser autodeterminado diante dessa construção requer a capacidade de ser
resiliente, mas a resiliência não é uma qualidade excepcional de certas pessoas e, sim, uma
qualidade resultante da correta articulação e do desenvolvimento suficiente de várias qua-
lidades comuns. É o que faz uma pessoa resistir às adversidades, não se deixar destruir por
elas e, ao contrário, ser capaz de utilizar as adversidades para o seu crescimento.
Quando nós temos tudo isso, surge essa coisa maravilhosa que é a autorrealização do ser
humano. E o que é autorrealização? Muitas vezes as pessoas pensam que autorrealização
é chegar lá, como nos textos que lemos sobre a felicidade. Nós podemos nos autorrealizar
todos os dias, mesmo que nós não cheguemos lá naquele grande objetivo que traçamos
para nossas vidas. Mas como nós podemos nos realizar todos os dias?
A cada passo, eu posso me autorrealizar. Mas qual é a condição para em cada passo da minha
vida eu me autorrealizar? A condição é estar no caminho certo e nesse caminho certo não
estar andando para trás, não estar parado, mas estar andando para a frente. Quando
estamos no caminho certo, quando não estamos parados e estamos andando para a frente,
estamos nos autorrealizando.
Mas e quanto ao encontro? E quanto ao “chegar lá”? Quando é que o “ser” encontra o “que-
rer ser”? Esse encontro acontece quando você realiza aquilo que desejou... quando se torna
quem pretendeu ser e reflete sobre o que precisou fazer para chegar ali, do que precisou
abrir mão para conquistar o que desejou...
Na raiz de tudo isso está a Pedagogia da Presença. Para Antonio Carlos Gomes da Costa,
todos os conteúdos da pedagogia são importantes, mas o mais importante de todos é a
Pedagogia da Presença. Sabe por quê? Porque se o jovem não for capaz de ser
compreendido e aceito por alguém, ele não vai ser capaz de compreender-se e de aceitar-se
e, portanto, não será capaz de compreender e aceitar os demais e aí estará inviabilizada
qualquer chance séria de uma verdadeira ação educativa”.
• Sobre o que é Filosofia experimental e o que o filósofo Joshua Knobe fala sobre
a natureza do self (o eu-mesmo), há informações interessantes (unicamente
em inglês) em: www.icebrasil.org.br/surl/?a987d3. Acesso em: 20 dez 2020.
• Sobre noodiversidade, um termo cada vez mais presente quando se fala
em ecologia, economia e sociedade, você pode encontrar informações em:
www.icebrasil.org.br/surl/?7f1a0a. Acesso em: 20 dez 2020.
Dizem que um bom jeito de obter respostas é reunir pessoas para que façam umas às
outras as perguntas que fazem a si mesmas... Após a leitura atenta dos três trechos a
seguir, discutam os tópicos indicados após os textos:
Texto 158
“Após 42 anos na floresta, pai e filho que fugiam da guerra do Vietnã voltam à civilização
Ho Van Thanh, 82 anos, fugiu com seu filho após uma explosão que matou o resto de sua família.
Autoridades vietnamitas encontraram nesta quarta-feira um homem e seu filho que esta-
vam desaparecidos há 40 anos. Ho Van Thanh, 82 anos, sumiu durante a Guerra do Vietnã
com seu filho bebê, Ho Van Lang, hoje com 41 anos, e os dois viveram desde então em uma
floresta na província de Quang Ngai.
Segundo o site vietnamita TuoiTrenews, eles sobreviveram comendo frutas, mandioca e mi-
lho, que eles plantavam. Os dois usavam apenas tangas feitas a partir de cascas e tinham
construído uma casa em uma árvore.
De acordo com o site, moradores locais que visitaram a floresta alertaram as autoridades
sobre a aparição de dois “selvagens” de gestos estranhos. A polícia então montou um time
de busca e, após cinco horas, encontrou pai e filho dentro de uma pequena cabana em cima
de galhos de uma grande árvore.
Devido ao isolamento, eles falavam apenas poucas palavras da etnia Kor, minoritária no
Vietnã. Eles foram levados para um hospital local, onde receberam tratamento médico.
Após uma investigação, descobriu-se que Thanh vivia uma vida normal na comunidade
Tra Kem Hamlet quando, há 40 anos, uma explosão matou sua mulher e dois outros
filhos. Ele então teria fugido com a criança sobrevivente, se refugiado na mata e evitado
contato com outras pessoas.
58 Após 42 anos na floresta, pai e filho que fugiam da guerra do Vietnã voltam à civilização. UOL. 8 ago 2013.
Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?270f73. Acesso em: 20 dez 2020.
O primeiro passo para a realização de um ser humano que se torna sujeito do seu próprio
desenvolvimento enquanto pessoa e coletividade, ou seja, protagonista, é imaginar os
conceitos que lhe correspondem e o projeto que considera como o mais inteligente e
coerente consigo mesmo e com a sua natureza em construção e evolução.
Texto 360
60 FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2000. 14 ed. p. 55-59.
A vida no suporte não implica a linguagem nem a postura ereta que nos permitiu usar as
mãos. Mãos que, em grande medida, nos fizeram. Quanto maior se foi tornando a solidarie-
dade entre mente e mãos, tanto mais o suporte foi virando mundo e a vida, existência. Com
a consciência e a capacidade humana de captar, apreender, transformar, criar beleza, o que
era suporte se transformou em mundo e a vida passou a ser existência.
Gosto de ser homem, de ser gente, porque não está dado como certo, inequívoco, irrevo-
gável que sou ou serei decente, que testemunharei sempre gestos puros, que sou e que
serei justo, que respeitarei os outros, que não mentirei. Gosto de ser homem, de ser gente,
porque sei que minha passagem pelo mundo não é predeterminada, preestabelecida. Que
o meu “destino” não é uma coisa pronta, mas algo que precisa ser feito e a responsabilidade
de fazer é minha.
ATIVIDADES PREVISTAS
1. Cápsulas de minhas boas ideias: comece por desenhar formas fechadas diversas e de
tamanhos variados numa folha em branco. Faça-as suficientemente grandes para escrever
dentro delas. Preencha a folha toda.
Agora escreva dentro das cápsulas boas ideias (coisas que você acha que seria bom fazer,
mesmo que lhe pareçam complicadas ou difíceis). Nenhuma cápsula deve ficar vazia. Deixe
suas ideias circularem e se instalarem na folha, e depois preencha os espaços livres entre
as cápsulas com palavras soltas, cores, desenhos relacionados às ideias.
Lembre-se: esta é uma atividade que não tem resposta certa ou errada, pois serve para ajudar
você a olhar para si mesmo e conhecer melhor suas ideias, que retratam seus recursos pessoais.
2. O que as pessoas dizem? Recentemente esta lista apareceu como postagem no Facebook:
Feito isso, olhe bem para sua folha, releia as mensagens, deixe sua mente passear por elas.
Esta atividade possibilita que você se veja com os olhos de outras pessoas cujas mensagens
você acredita que merecem consideração. Mais uma boa via para conhecer e aprimorar
seus recursos.
Para refletir
“O primeiro passo para a realização de um ser humano que se torna sujeito do
seu próprio desenvolvimento enquanto pessoa e coletividade (ou seja, protago-
nista) é imaginar os conceitos que lhe correspondem e o projeto que considera
como o mais inteligente e coerente consigo mesmo e com a sua natureza em
construção e evolução.
Os seres humanos são obras em construção que se enganam quando acre-
ditam que estão concluídas. A pessoa que você é neste exato momento é tão
transitória, passageira e temporária quanto todas as outras pessoas que você
já foi. A única constante em nossas vidas é a mudança.”61
“Ao agir, ao fazer, ao construir o mundo, o ser humano se faz e se constrói simul-
taneamente.”62
“Educar-nos para desenvolver, tão harmoniosamente quanto possível, as várias
dimensões que constituem nosso ser pessoal de forma ao mesmo tempo autô-
noma e solidária, eis o desafio.”63
61 62 63
63 Idem.
64
Referência Iconográfica
Disponível em: www.icebrasil.org.br/surl/?a15692 . Acesso em: abril 2021.
64 FADEL, C. BIALIK, M. TRILLING, B. Educação em Quatro Dimensões: As competências que os estudantes devem ter
para atingir o sucesso. Boston: Center for Curriculum Redesign, 2015. p.47-48.
Diante desse contexto, nessas aulas, a proposta será refletir, nos termos desse conceito já
universal – a sustentabilidade – sobre nossas ações cotidianas e seus impactos no destino
da comunidade humana para a qual cada um de nós, mesmo que minimamente, trabalha.
Uma aula será destinada ao questionamento da sociedade de consumo, uma vez que o con-
sumismo se impôs como ética e estética dominantes, cujos impactos, além de ambientais,
põem em xeque a própria representação que temos de humano, há tempos orientada pelo
valor de mercado.
Objetivo Geral
• Familiarizar-se com o conceito sustentabilidade para além das questões
estritamente ambientais e refletir sobre os hábitos e relações interpessoais
alternativos à cultura do consumo.
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Atividade:
Socialização de histórias e memórias susci-
objetos de 40 minutos
tadas por “objetos de afeto”.
afeto.
Objetivo
Desenvolvimento
Peça para que os estudantes acompanhem a leitura do artigo “Agricultura Urbana: espalhe
as sementes”, de Tatiana Achcar (Anexo 1). Ao final, proponha uma conversa, considerando
os seguintes aspectos: as dimensões ambiental, social e econômica aparecem integradas
nos exemplos de atitudes sustentáveis reportados no texto, como recuperação de ambientes
degradados e aproveitamento de áreas inutilizadas; cultivo de hortaliças sem agrotóxicos;
geração de renda para pessoas pobres; novas dinâmicas de interação entre as pessoas; no-
vas formas de relação com a cidade – que regularmente é vista como espaço de automóveis
e não de gente...
A pergunta dirigida ao leitor, ao final do texto (“E você, o que vê acontecer no seu pedaço?”) pode
ser explorada junto aos estudantes, somada a outras, como: “O que poderíamos ver acontecer
no nosso pedaço, se o pensássemos a partir dos exemplos do texto?”, “E se pusermos a mão na
massa?”, “Como?”, “Quais professores, amigos, vizinhos, parentes poderiam nos ajudar?”
Objetivo
Desenvolvimento
Embora esta atividade se destine a uma crítica à cultura do consumo, isso será feito de
forma um pouco indireta e sutil. Em vez de se colocar no centro o consumismo, a proposta
é valorizar as intensidades despertadas por objetos de afeto – aqueles que evocam não a
ideia de posse ou de status, mas histórias e memórias constitutivas da subjetividade dos
indivíduos (Anexo 2).
Sendo assim, sentem-se em círculos, para favorecer a interação dialógica. Peça para cada
um depositar seu objeto no centro do círculo e observe a espécie de “caos” resultante disso:
coisas sem nenhuma relação com as outras, amontoadas no chão, algumas até poderiam se
passar por restos sem valor; até que se revelem as histórias que cada objeto carrega, serão
meras “coisas”, sem qualquer sentido. O que vai lhes conferir sentido é a carga de afeto que
cada objeto carrega e as narrativas pessoais que se elaboram a partir disso. O fato de ser
especial para alguém é o que torna um objeto absolutamente insubstituível – e isso porque
Apesar da recomendação na aula anterior ter sido feita para que cada estudante trouxesse
seu objeto de afeto, e não uma foto, pode haver esquecimento. Caso isso ocorra, peça para o
estudante desenhar seu objeto de afeto. Pode ocorrer também de algum estudante ter como
objeto de afeto algo já perdido. Isso não deve ser impedimento para a exploração da emoção
envolvida. Nesse caso, se somente houver a foto do objeto, segue-se a atividade. Peça para
alguém começar. O estudante pega o objeto que trouxe e diz por que ele é especial: qual a
história que guarda? Por que é único? Que tipo de afeto se recorda quando o contempla?
Ao final da rodada, quando todos tiverem participado, será importante agradecer-lhes por
compartilharem um pouco de si. Aliás, não foi pouco: a capacidade de dar sentido às coisas
pela relação que temos com elas é um dos aspectos mais formidáveis do que chamamos de
“humano”; quanto melhor a qualidade da relação, maior o sentido e a intensidade do vivido.
Já quando nos ocupamos só em “ter coisas” apenas por ter, é porque perdemos o sentido
para nós mesmos e, vazios, queremos pôr algo no lugar dessa falta. Mas nenhum objeto por
si só pode nos dar sentido: repare que, das histórias contadas, sempre apareceram outras
pessoas no enredo e os objetos só ganharam importância pelos afetos trazidos na memória.
O trecho a seguir, de Thereza Barreto, extraído do Modelo Pedagógico da Escola da Escolha,65
trata das emoções e sua importância no aprendizado humano:
“As emoções ocupam lugar central nas nossas vidas porque são estruturantes no desenvol-
vimento humano. Todo aprendizado implica em alteração cerebral e no fortalecimento das
ligações sinápticas. Segundo pesquisas citadas por Goleman (2012), a infância é considerada
o momento crucial para que sejam moldadas, para toda a vida, as tendências emocionais.
Os hábitos adquiridos na infância tornam-se fixos na fiação sináptica básica da arquitetura
neural e são mais difíceis de mudar em idade mais avançada. O cérebro permanece maleável
durante toda a vida, embora não de maneira tão plástica quanto vista na infância. No grande
projeto do cérebro, as experiências vividas pela criança, ao longo dos anos, moldam ligações
duradouras nos circuitos reguladores do cérebro emocional (Goleman, 2012). As emoções
desempenham um papel importante porque afetam nosso sistema imunológico e o nosso
processo de tomada de decisões; impactam na capacidade de lidar com as exigências so-
ciais e na capacidade de estabelecer e manter relações interpessoais harmoniosas e sau-
dáveis. As emoções podem, também, nos levar a estados de tensão, conflitos e sofrimentos
físicos e psicológicos e agem principalmente em três planos: pensamentos, comportamen-
tos e relações sociais. As emoções sempre desenvolveram papel importante na evolução e
adaptação da espécie humana ao seu meio ambiente e também influenciam a nossa atenção
e visão das coisas. Para Ekman (2011), em sua definição, temos seis emoções de base: raiva,
medo, desgosto, alegria, tristeza e surpresa. René Descartes, em 1649, elaborou uma lista
também com seis emoções fundamentais: admiração (correspondente da surpresa), amor,
65 BARRETO, T. Org. Modelo Pedagógico. Os Eixos Formativos – Ensino Médio. 4 ed. 2020. Instituto de Corresponsa-
bilidade pela Educação. p. 29-30.
Avaliação
66 DUALIB, M. Cuidados com a vida. São Paulo: Instituto Ecofuturo. 2011, p. 70-71. Disponível em: icebrasil.org.br/
surl/?ac3fa1. Acesso em: 20 dez 2020.
Estudos científicos avançados nos mostram que existe uma profunda e indissociável inter-
conexão entre a existência de todos os seres vivos e o meio ambiente; que a vida emerge e
se mantém em redes de troca de alta complexidade; que cada ser vivo é um sistema com-
pleto que se aninha em outro sistema sucessivamente até a biosfera.
Essas descobertas confirmam o que bem sabiam as sociedades tradicionais que viviam
em aliança com a Natureza e que, mais do que conhecê-la, a respeitavam e reverenciavam.
A palavra ecologia vem do grego oikos e significa casa, lar. Ecologia é a ciência da administração
do Lar-Terra, da Pacha-Mama, grande mãe, como nosso planeta era designado nas culturas
andinas, ou de Gaia, organismo vivo, como era chamado na mitologia grega e também o é na
moderna cosmologia. Aos poucos, porém, fomos nos distanciando da Mãe Terra, a ponto de
não mais reconhecer os ciclos e os fluxos com que ela nutre e sustenta a vida.
Precisamos todos reaprender a tecer, juntar nossas mãos às de milhares de pessoas que,
em todo o mundo, entrelaçam os fios das ciências ecológicas e sociais, da história e da
arte, da inovação e da tradição, misturam as cores e texturas do conhecimento tradicional
e científico para, aos poucos, reconstituir a resiliência da Vida, contribuindo para que a
Natureza reencontre seu ponto de equilíbrio.
Texto 267
O artigo abaixo publicado em: 22/05/2019 foi escrito por Philip Martin Fearnside, doutor
pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA)
e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus
(AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências e também
coordena o INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) dos Serviços Ambientais da
Amazônia. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças
Climáticas (IPCC), em 2007. É autor de mais de 500 publicações científicas e mais de 200
textos de divulgação de aspectos ambientais.
“Bolsonaro e seus ministros têm feito declarações contraditórias sobre a retirada do Brasil
do Acordo de Paris. Essa promessa de campanha tornou-se proeminente depois que o fi-
lho de Bolsonaro, Eduardo, viajou para Nova York em agosto de 2018 para se encontrar com
Steve Bannon, que é quem convenceu o presidente dos EUA, Donald Trump, para se retirar
do acordo. Bolsonaro nomeou negadores do clima para chefiar tanto o Ministério do Meio
Ambiente quanto o Ministério das Relações Exteriores. Tanto os novos ministros do meio am-
biente quanto das relações exteriores aboliram as seções de seus ministérios que lidavam
com as mudanças climáticas. Uma declaração de Bolsonaro antes do segundo turno de ou-
tubro de 2018 foi amplamente divulgada como uma reversão de sua intenção de abandonar o
Acordo de Paris, mas, na verdade, não houve reversão. O que Bolsonaro disse foi que o Brasil
permaneceria no acordo se “alguém” pudesse dar a ele uma garantia por escrito de que não
haveria projeto “Triplo A” e nenhuma “independência de qualquer terra indígena”.
67 Bolsonaro e o Acordo de Paris: 2 – Declarações contraditórias. Amazônia Real. Disponível em: icebrasil.org.br/
surl/?4ff635. Acesso em: 20 dez 2020.
Texto 368
A meta foi atingida antes do prazo estipulado, 2015. A redução de morte materna, no
entanto, não teve o mesmo sucesso. Mesmo passados 15 anos, o Brasil ainda não
conseguiu cumprir o compromisso de chegar em 2015 com no máximo 35 óbitos
maternos a cada 100 mil nascimentos. Em 2011, o número de mortes de mulheres durante
a gravidez, o parto ou até 42 dias após o nascimento do bebê era de 63,9 por 100 mil
nascimentos. Em 2018, a RMM – Razão de Mortalidade Materna – foi de 59,1 óbitos para
cada 100 mil nascidos vivos.
68 FORMENTI, L. Brasil atinge meta da ONU e reduz mortalidade infantil. O Estado de São Paulo. Disponível em:
icebrasil.org.br/surl/?839078. Acesso em: 20 dez 2020.
O relatório preparado pelo governo em 2012 mostra que a queda mais significativa
registrada na mortalidade na infância ocorrera na faixa entre um e quatro anos de idade.
A desigualdade regional havia sofrido uma redução. No entanto, Norte e Nordeste ainda
apresentavam taxas superiores a 20 óbitos de crianças com menos de cinco anos por mil
nascidos vivos. Na região Sul, eram 13 por mil nascidos vivos.
Apesar das melhoras nos números, o Brasil continua na média entre seus vizinhos na América
do Sul e é o país do continente que apresenta a terceira maior taxa de mortalidade de
adolescentes, ficando à frente apenas da Guiana (8,6) e da Venezuela (12,6). Este ín-
dice também é o único que coloca o país abaixo da média quando comparado ao resto do
mundo. Ao todo, o estudo da UNICEF registra dados de 195 países e, quando considerado
apenas a taxa de mortalidade de adolescentes, ficamos em 12º lugar, abaixo do Irã (6,5) e
acima da Guatemala (8.4). A melhora nos números do Brasil acompanha uma queda gene-
ralizada em todo o mundo. Segundo a UNICEF, as taxas de mortalidade globais foram de 17
para mortes neonatais, 5,2 para crianças de até cinco anos e 18 para crianças e jovens de
até 24 anos [em cada mil nascidos vivos]. “O fato de que, hoje, mais crianças vivem tempo
o suficiente para sobreviver ao seu primeiro aniversário de que em qualquer outra época da
história é um sinal de o que pode ser alcançado quando o mundo coloca a saúde pública e
o bem-estar no centro de nossa resposta”, aponta o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom
Gebreyesus.”
69 Taxa de mortalidade no Brasil atinge baixa histórica, diz Unicef. UOL. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?2c5294.
Acesso em: 20 dez 2020.
Pobreza extrema
A meta brasileira para essa área era mais ambiciosa que a mundial. O compromisso era reduzir
a pobreza extrema a um quarto do nível de 1990 até 2015. De acordo com o relatório, em
2012, o nível da pobreza extrema era menos de um sétimo do nível de 1990. Pelos cálculos
do governo, naquele ano, 3,6% da população vivia com menos de R$ 70 mensais.
De acordo com o trabalho, a pobreza extrema entre idosos tinha sido em 2012 praticamente
erradicada, graças à inclusão em programas sociais e à política de valorização real do salário-
-mínimo. A desigualdade racial persiste, embora em menor grau. Em 2012, a probabilidade da
extrema pobreza entre negros era o dobro da verificada na população branca. Um em cada
20 negros era extremamente pobre. Entre brancos, o risco era de um entre 46.
Em 2019, eram 13,7 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza extrema. Apesar
da queda em relação a 2018, o número se mantém estável na comparação com anos anterio-
res. Isso representa 6,5% da população brasileira vivendo com menos de R$ 151 por mês. Na
comparação com 2014, quando a série atingiu o menor indicador, de 4,5%, voltando a crescer
em 2015, e estabilizado desde 2017, quando chegou a 6,4%.70
70 Pobreza extrema afeta 137 milhões de brasileiros, aponta IBGE. UOL. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?f5041c.
Acesso em: 20 dez 2020.
72 Pequena Miss Sunshine. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?8db4a8. Acesso em: 20 dez 2020.
Quando a sua avó era criança, há mais ou menos 70 anos, apenas um terço dos brasileiros
vivia nas cidades. De lá para cá, a indústria brasileira cresceu, estradas e telecomunicações
integraram o país e nos transformamos numa das nações mais urbanizadas do mundo, com
85% de casas erguidas em zonas urbanas. Criar e recuperar espaços públicos está entre
as várias soluções para os problemas complexos das cidades, como poluição, calor, alaga-
mentos e carência de áreas naturais e de convivência. Nesse sentido, a agricultura urbana é
uma inciativa que irradia mudança porque mexe no aspecto social, ambiental e econômico
do lugar. Quer ver?
Imagine uma praça pouco ou nada frequentada, um canteiro que ninguém dá bola na escola,
a área verde gramada do prédio e um terreno abandonado. Todos espaços desperdiçados,
mas potencialmente acolhedores de cenouras, alfaces, brócolis, manjericão, tomates, milho,
feijão, flores, passarinhos, abelhas, beleza, gente grande e gente pequena. A agricultura ur-
bana é tão antiga quanto o nascimento das cidades, quando os limites entre rural e urbano
não eram definidos. Muita gente plantava e não morria desnutrido ou de tédio. Minha avó
tinha no quintal alguns pés de milho ao lado de feijões, que fornecem nitrogênio ao solo, e
abóboras com grandes folhas, que mantém a umidade do solo. Podia chover cântaros que
tinha terra suficiente para absorver a água. Tinha sombra e aroma. Quando dava muita esca-
rola, ela trocava com a vizinha por salsinha, mexerica ou o que tivesse em abundância.
Plantar na cidade é ter uma fonte de abastecimento local, com alimentos mais frescos, deslo-
camentos mais curtos e, portanto, menos poluente. É também uma forma de gerar trabalho
e renda, promover segurança alimentar e melhorar a qualidade nutricional. Na zona leste de
São Paulo, o projeto Cidades Sem Fome [...] implantou 23 hortas comunitárias em terrenos
baldios e que hoje geram renda de quase mil reais para 700 pessoas que viviam na pobreza.
Uma iniciativa grandiosa que precisa urgente de reconhecimento e apoio para continuar de
pé. Experiências como essa também ajudam a refazer vínculos comunitários ao criar situa-
ções de encontro e trocas diversas. “Ei, você sabe como posso adubar esse canteiro aqui?”,
“Pode me emprestar essas ferramentas?”, “Nossa, que tomates bonitos. Como faço para
plantar uns assim?”. Quando um lugar é cuidado, ele inspira confiança e fica mais seguro.
Comemorando também um ano de vida, a Horta das Corujas, […] em São Paulo, mostra
como podemos nos valer da paisagem e da sabedoria rural para melhorar o espaço urbano.
Parte da praça onde está a horta já foi um pequeno sítio, e, acredite, teve preservadas algu-
mas características originais. O bananal, por exemplo, está ao lado da área alagada, criando
uma relação de cooperação: ao mesmo tempo que se hidratam, as plantas filtram a água. Em
mutirões, a turma instalou uma cacimba bem no charco, que é um reservatório de água potá-
vel para a rega dos canteiros. Há também uma composteira na horta, que devolve em adubo a
poda dali mesmo. Esses são apenas exemplos do bom uso dos recursos naturais. As escolas
do entorno já sacaram que educação ambiental se aprende na prática e levam os estudantes
para cuidarem de seus canteiros.
Desde que começou, a Horta das Corujas tem uma paisagem diferente mês a mês. Novos
canteiros aparecem, outros não vingam, há dias com mais gente trabalhando, mudam as
estações e algumas plantas encerram seu ciclo, outras prosperam e a cena jamais se repete.
Celebram-se aniversários na praça, realizam-se festivais, oficinas de agricultura, recreação
infantil, feira de trocas, degustação gastronômica. Noto que algo está acontecendo na vida
do paulistano: uma alegria contagiante em ocuparmos o nosso espaço público. Será uma
microrrevolução? E você, o que vê acontecer no seu pedaço?
1. O que você e seus colegas poderiam ver acontecer no seu pedaço, se o pensassem a partir
dos exemplos do texto?
3. Conversem sobre isso, tendo em mente a seguinte pergunta: “O que está ao meu alcance
fazer desde agora?”
Para você, qual o objeto cujo maior valor não está na “mercadoria” que ele poderia ser, mas
no gesto, nas lembranças e nos afetos que ele desperta? Junte o seu objeto de afeto aos de
seus colegas, colocando-o no centro do círculo. Pense em quais emoções são despertadas
pelo objeto e pelas memórias ou histórias associadas a ele. Até que você conte sua história, o
objeto será só um objeto, sem qualquer sentido especial. Ouça as histórias dos seus colegas
e note como, conforme elas se desenvolvem, as coisas que eles trouxeram se transformam,
ganham vida e sentido. Quando chegar à sua vez, capriche na narrativa, e deixe as emoções
e afetos ganharem espaço.
Você já se perguntou por que costumamos embrulhar em papel de presente as coisas que
damos a alguém especial?
Segundo o estudioso Jacques T. Godbout, isso acontece por duas razões. A primeira é
para esconder o objeto, mostrando com isso que o que importa não é a coisa escondida,
mas o gesto. Portanto, um papel de presente bem bonito representa a beleza do gesto
de presentear. A segunda razão é que, ao rasgar o papel no ato de receber o presente,
demonstramos que não é a utilidade da coisa recebida o que importa, mas novamente
o gesto, a gratuidade, o laço com o outro: “Aquilo que se levou tanto tempo a preparar é
rasgado e deitado fora. A embalagem é um rito que compreende todo o espírito do dom”.
E Godbout acrescenta: “Existe, por outro lado, uma tendência, no sistema do mercado, para
envolver todo o bem de consumo em plástico. O sentido desse gesto é totalmente oposto:
visa separar o produtor e o consumidor, assegurar que nada da pessoa do produtor seja
‘transmitido’ ao consumidor, inclusive vírus! De resto, essa embalagem não visa esconder e
muitas vezes é transparente”. 73
74
74 ANDRADE, Carlos Drummond de. Corpo. Rio de Janeiro: Record, 1987. 10a edição. p.85-87.
O supremo castigo75
EM CASA
Referências Iconográficas
Disponível em: www.icebrasil.org.br/surl/?668d5a. Acesso em: abril 2021.
“Ainda que um estudante seja dotado de reconhecida capacidade intelectual, isso não asse-
gurará plena realização em sua vida acadêmica e profissional. Os traços do caráter e da per-
sonalidade fazem a diferença não apenas naquilo que os estudantes aprendem, mas também
para que se sintam provocados a aperfeiçoá-los, para que ajam na crença de que são capazes
de florescer e ir mais longe, para que aprendam a lidar com o fracasso, para que se sintam
desafiados a desenvolver desempenhos de alta qualidade e que, finalmente, não desistam dos
seus sonhos, mas que trabalhem por eles.”
76 BARRETO, T. Org. Modelo Pedagógico. Os Eixos Formativos – Ensino Médio. 4 ed, 2020. Instituto de Corresponsa-
bilidade pela Educação. p. 66.
Objetivos Gerais
• Perceber a importância e influência dos temas trabalhados neste caderno
em sua formação;
• Identificar diferentes formas de agir;
• Refletir sobre razões, interesses e propósitos do seu próprio agir.
Roteiro
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Objetivos
Desenvolvimento
A atividade consiste em destacar diferentes estilos de agir e as razões que fazem as pes-
soas continuarem a acreditar nos seus Projetos de Vida que iniciaram ou de acreditar nos
seus sonhos.
Na segunda questão, os estudantes deverão fazer uma reflexão mais ampliada acerca
do que motiva os seres humanos a agirem e continuarem algum Projeto de Vida iniciado.
E as respostas podem ser: traumas, responsabilidades, necessidades, sonhos e desejos
dos mais diversos. É provável que o estudante elenque razões mais específicas e isso
não deve ser visto como um problema; o importante é que elas pertençam a uma das
categorias acima citadas.
77 BARRETO, T. Org. Modelo Pedagógico. Os Eixos Formativos – Ensino Médio. 4 ed. 2020. Instituto de Corresponsa-
bilidade pela Educação. p. 70.
78 DWECK, C. Por que algumas pessoas fazem sucesso e outras não. Rio de janeiro: Objetiva, 2008.
Objetivos
Desenvolvimento
As ideias convergem. Na música, alguém reflete sobre a possibilidade de fazer escolhas que são
diferentes das da maioria das pessoas, ou seja, ela se permite dizer que está no caminho certo,
porque acredita que faz escolhas que são boas para sua vida; e o texto destaca a necessidade
de valorização do individual, dos talentos e do que diferencia um ser humano do outro.
A segunda questão enfatiza o conflito pessoal enfrentado pela pessoa da música. O conflito
não é nada mais nada menos que a dúvida que ela levanta sobre estar certa ou errada com
relação às suas escolhas de vida. As estrofes um, dois, três e quatro contêm informações
que atestam isso e é bem provável que sejam destacadas as seguintes características pessoais
da pessoa da música: obstinada, decidida, lúcida, otimista, visionária, dentre outras que
surjam para enfatizar sua proatividade.
O professor deve ficar atento às respostas dos estudantes na terceira questão, pois muitos
deles podem ter dificuldade, não sendo capazes de perceber o que os atrapalha ou impede
de executar algo. A questão do boicote pessoal deve ser cogitada.
Entendemos boicote aqui como um ato individual, uma recusa do indivíduo em participar
de algo ou fazer algo que ele mesmo propôs para si, o que é contraditório. Muitas vezes,
nossos projetos não se realizam e não percebemos o que nos atrapalha. Às vezes, não nos
esforçamos o suficiente. Queremos nos sentir realizados e ter prazer na conquista, mas
ao mesmo, durante o processo, nos recusamos a aceitar que, para conseguir este algo,
deveremos lutar, persistir e, talvez, sofrer; e como sofrer dói, evitamos e não continuamos.
Em casa
Projete ou transcreva na lousa o texto do Anexo 3: “O agir começa na cachola.
Imaginação é sinônimo de diversão...” e leia juntamente com os estudantes a
tarefa que deve ser realizada em casa.
Respostas e comentários da tarefa de casa
Espera-se que o estudante use sua imaginação e disserte sobre como ele
gostaria que seu futuro fosse. A proposta é fazê-lo relatar seus sonhos e desejos,
acreditando que o poder da mente – como motor de sua força de vontade –
tem certa influência em seus atos, decisões e resultados.
Referências Iconográficas
Disponível em: www.icebrasil.org.br/surl/?23ee3a. Acesso em: abril 2021
Texto 179
Senac oferece cursos profissionalizantes gratuitos em várias áreas, com apoio da Associação
de Cegos, criando oportunidade de emprego ou negócio.
Antes de perder completamente a visão, Célia de Santana, 48 anos, foi operária numa
fábrica. Depois trabalhou como vendedora. “Quando perdi a visão com 22 anos, eu fiquei
desnorteada. Não conseguia trabalho. Então, resolvi estudar e fazer alguns cursos”, conta.
Ela aproveitou a oportunidade e se formou em massoterapia. Tomou gosto pela profissão.
Hoje comemora a agenda cheia de clientes: “A gente acorda de manhã e sabe que vai trabalhar.
Para nós, deficientes, é muito edificante. Tenho clientes todos os dias”.
As mãos milagrosas de Célia aliviam o estresse dos funcionários da Caixa Econômica Federal
e do Banco do Brasil. Os dois bancos firmaram convênios com a Associação Pernambucana
de Cegos para abrir um espaço de trabalho para os deficientes visuais. A economiária Daiane
Borges, 33 anos, gerente pessoa jurídica da Caixa, é uma das clientes que relaxa a tensão
com a aplicação de shiatsu. “A gente só percebe a tensão quando senta aqui. Nos dias em
que eu faço shiatsu fico mais tranquila. Melhora a minha concentração e o meu rendimento”.
Os deficientes visuais José Soares da Silva Filho, 65 anos, e Paulo Guilherme de Souza,
61 anos, são aposentados e resolveram fazer o curso de massoterapia para ter uma nova
profissão. “Hoje eu tenho um novo projeto de vida. Quero me formar e abrir o meu próprio
espaço de atendimento”, planeja Soares. Paulo também faz planos. “Estou fora do mercado
de trabalho porque existe a discriminação da deficiência visual e também da idade. Com o
curso posso trabalhar como autônomo”.
79 FALCÃO, R. Mercado para deficiente visual. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?61f0e5. Acesso em: 20 dez 2020.
Coordenador do programa de qualificação da Apac, Daniel Correia diz que estão progra-
mados novos cursos profissionalizantes gratuitos e do Pronatec com o Senac. Entre eles,
o de informática básica para os deficientes visuais, uma exigência do mercado de trabalho.
Mais de 200 deficientes visuais já foram formados no curso de cuidados pessoais”.
1. Faça uma análise dos depoimentos dos participantes do curso e escreva os possíveis
motivos que os levaram a agir e continuar suas vidas apesar da deficiência.
2. Você saberia dizer quais outras razões motivam as pessoas a continuarem algo que elas
propuseram para elas mesmas?
3. E quanto a você? Escolha um aspecto de sua vida, talvez seus estudos, o esporte que
você pratica ou um projeto do qual você participa e conte-nos como você tem agido para
que isso dê certo. Quando tudo começou, quais são seus objetivos, suas estratégias e o
quanto você tem dedicado de esforço à conclusão de seus objetivos?
Para muitos, escolher o curso da ação e seguir em frente para atingir seus objetivos não é tão
difícil. Contudo, neste caminho, é essencial levar em consideração as interações que estabele-
cemos com as pessoas. Nossas vitórias e conquistas perderão totalmente o brilho se elas forem
alcançadas em detrimento do bem-estar do outro.
Aqui, neste exercício, queremos não só saber o que é importante para você no agir, o que passa
em sua cabeça, mas também ajudá-lo neste processo em que o primordial é saber valorizar o
esforço, independentemente do resultado obtido, derrota ou fracasso.
A proposta é a seguinte: escute a música abaixo e a compare com o que Brené Brown, pesquisa-
dora da universidade de Houston, coloca em seu texto. Responda às perguntas que se seguem.
Texto 180
“Quando passamos uma existência inteira esperando até nos tornarmos à prova de bala ou
perfeitos para entrar no jogo, para entrar na arena da vida, sacrificamos relacionamentos
e oportunidades que podem ser irrecuperáveis, desperdiçamos nosso tempo precioso e
viramos as costas para os talentos, aquelas contribuições exclusivas que só nós mesmos
podemos dar. Ser “perfeito” e “à prova de bala” são conceitos bastante sedutores, mas que
não existem na realidade humana. Devemos respirar fundo e entrar na arena, qualquer que
seja ela: um novo relacionamento, um encontro importante, uma conversa difícil em família
ou uma contribuição criativa. Em vez de nos sentarmos à beira do caminho e vivermos de
julgamentos e críticas, nós devemos ousar aparecer e deixar que nos vejam. Isso é vulnera-
bilidade. Isso é a coragem de ser imperfeito. Isso é ousadia”.
Texto 281
81 ANTUNES, A. Volte para o seu lar. Fonte: Musixmatch. Universal Music Mgb Songs, Universal Music Mgb Songs
Obo Universal Mgb Brasil. Artista: Marisa Monte Álbum: Mais. Data de lançamento: 1991. Gênero: Pop.
1. Que relação é possível estabelecer entre a música e o que foi dito pela autora, as ideias
são convergentes ou divergentes? Explique e dê exemplos que confirmem sua opinião.
2. Que tipo de pessoa a música descreve e qual o conflito que ela enfrenta? Dê exemplos que
atestam algumas características da pessoa que se pergunta sobre estar ou não errada.
3. Você se identifica com ela, como? Que característica da pessoa da música você não
tem, mas gostaria de ter para melhorar nesta questão do agir em busca de seus objetivos?
Você saberia dizer o que falta em você para ser assim?
82
82 Repensando o pensamento positivo. Boletim do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação. Formação “As
habilidades socioemocionais na escola.” Diretoria Pedagógica, setembro de 2019. Síntese baseada em: OETTIN-
GEN, Gabrielle. Rethinking Positive Thinking – Inside the new science of motivation. New York: Penguin Random
House, 2014.
Chegando à última aula do 2º módulo, espera-se que cada estudante tenha se conhecido
melhor, entendido o porquê de se construir um Projeto de Vida e definido, assim, alguns
propósitos de vida a serem seguidos para o seu desenvolvimento.
Deste modo, a intenção dessa aula é manter os sonhos dos estudantes sempre vivos e
estimulá-los para a construção de seus projetos, que estão apenas começando. Dentro do
modelo da Escola da Escolha, o otimismo não é apenas um jeito de ser: é uma das Habilidades
Intrapessoais importantes para a integridade da saúde física e mental do estudante. Está na
categoria das posturas inerentes a estar presente, a estar no mundo, e aprender com
otimismo produz melhores resultados. De acordo com o Modelo Pedagógico, “Aprender
e estar” são conceitos indissociáveis e abrangem uma série de qualidades que todos temos,
em maior ou menor grau, e que podem ser desenvolvidas e aprimoradas83:
83 BARRETO, T. Org. Modelo Pedagógico. Os Eixos Formativos – Ensino Médio. 4 ed. 2020. Instituto de Corresponsa-
bilidade pela Educação. p.59-60.
A) DEDICAÇÃO
B) FORÇA DE VONTADE
Quem tem força de vontade consegue cumprir um plano de ação como consequência de um
objetivo. Demonstra a liberdade em escolher porque a vontade é a base da liberdade e ela mostra
a capacidade do ser humano em poder escolher e manter a sua escolha diante de diferentes
opções. Pela força de vontade uma pessoa pode demonstrar o grau de autorregulação diante
do adiamento de uma gratificação concreta e resistir a algo tentador, por exemplo.
C) AUTOCONTROLE
Manter a calma mesmo quando é criticado e provocado, permitir que o outro fale, sem
interromper.
D) PERSEVERANÇA
E) DETERMINAÇÃO
F) OTIMISMO
Acreditar que o esforço pode melhorar seu futuro; permanecer motivado, mesmo quando
as coisas não vão bem.
G) ABERTURA A EXPERIÊNCIAS
A capacidade de ter a mente aberta para novas experiências nos ajuda a explorar o mundo, o
que facilita o aprendizado e a capacidade de se adaptar a novas ideias, ambientes e de-
safios, além de permitir que percebamos a beleza na diversidade de pensamentos e de
pontos de vista.
H) ESFORÇO
Empregar mais força, empenhar-se ainda mais em determinada ação porque tem clareza
na obtenção de conseguir melhores resultados.
Apreciar o que os outros fazem por você, manisfestando apreço, fazendo algo de bom
como forma de retribuir.
J) INTELIGÊNCIA SOCIAL
K) ENTUSIASMO
Tendo sempre em foco as qualidades dessa pequena lista, como objetivos de crescimento
e desenvolvimento pessoal, o estudante atinge mais facilmente seus objetivos. O lema é:
“Mantenha a esperança viva e a esperança vai manter vivo seu Projeto de Vida!”
Objetivos Gerais
• Estimular os estudantes na consecução de seus Projetos de Vida;
• Compreender a relação existente entre Projetos de Vida, felicidade e sonhos.
Roteiro
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
ATIVIDADE PRELIMINAR
Peça a alguns estudantes que relembrem o encontro passado e comentem os pontos que
acharam mais importantes.
Objetivos
Desenvolvimento
Divida a turma em 5 grupos e peça para um estudante ler o texto da Atividade: Sonhos
(Anexo 1). Logo após a leitura do texto, peça que cada grupo discuta as afirmações que o
seguem, elaborando, ao final, um pequeno texto que comporte os principais comentários do
grupo. Feito isso, peça a um representante de cada grupo que leia a produção textual coletiva.
Caso fiquem muito parecidos, oriente os próximos grupos a acrescentar, apenas, o que há de
diferente em seus textos. Ao final, se necessário, volte a comentar cada uma das afirmações.
Em seguida, peça aos estudantes que respondam individualmente à questão 3 da atividade
sobre os sonhos. Terminada a questão, solicite que alguns socializem suas respostas.
Avaliação
Pergunte aos estudantes o que acharam dessa aula e de todas as atividades vivenciadas
por eles nos encontros anteriores. Peça a alguns deles que especifiquem melhor como es-
sas aulas influenciaram no cotidiano de cada um. A partir disso, observe a relação que fa-
zem entre felicidade, concretização de seus Projetos de Vida e seus sonhos.
Na questão 1, as respostas são de cunho pessoal e dependem da organização das ideias de cada
grupo. Entretanto, espera-se que os estudantes concordem com cada uma das alternativas.
Em casa
Leia com os estudantes as duas questões do Anexo 2: Revendo sua vida
pessoal, que devem ser respondidas em casa. Se houver tempo, você pode
abrir espaço para uma breve discussão sobre a Felicidade baseada no texto
de apoio ao professor.
Respostas e comentários da tarefa de casa
Essa atividade mostra a relação existente entre a felicidade e o exercício cotidiano
de ser, ter, fazer e pertencer e a relação existente entre sonho e esperança.
ESPERANÇA E PAIXÃO
Para manter a esperança sempre viva é preciso uma boa dose de apaixonamento. Dese-
jos e vontades geram projetos, ideias geram estratégias e não se abandona aquilo que
se ama. Então, a pergunta que cabe nesse momento seria: como estimular a paixão pelo
conhecimento? No mundo todo especialistas se debruçam sobre o assunto. Para além da
percepção da importância dos conteúdos, dos recursos pedagógicos empregados e de
sua conexão com o universo real do estudante, temos valores associados a cada conteú-
do: valor prático, cognitivo e emocional. O valor emocional se relaciona ao quanto vemos
de beleza no tema estudado: aspectos que nos tocam e encantam, pelos quais temos
empatia e que representam sentido de ressonância em nosso conjunto de valores. Ainda
que os aspectos intrínsecos da beleza possam ser considerados apenas como a ponta
da pirâmide de valores, a esperança pode ser estimulada fazendo lembrar ao estudante
os princípios originais que o levaram a iniciar seu Projeto de Vida. Nessa paixão inicial,
motivadora, residem as reservas de esperança que podem ser acessadas em situações
de dificuldade. Leia no trecho a seguir, extraído de “Educação em Quatro Dimensões: As
competências que os estudantes devem ter para atingir o sucesso”84, um resumo sobre
cada um dos valores expressos no diagrama da pirâmide:
Cognitivo – o estudo de uma disciplina aumenta o pensamento de alto nível, como pensa-
mento crítico, criatividade e desenvolvimento do caráter, e essas habilidades são transferi-
das para outras disciplinas e contextos.
Emocional – uma disciplina tem sua beleza e poder inerentes a ela para ajudar a entender
o mundo, então sua beleza profunda deve ser comunicada aos estudantes porque é uma
das grandes realizações da nossa espécie, e isso pode servir de fonte de motivação para os
estudantes. Essas três camadas estão presentes em cada disciplina em vários graus. (…)
Por fim, a dimensão emocional da beleza inerente de uma disciplina será, até certo ponto,
particular a cada indivíduo. Contudo, devemos ter cuidado para evitar a ideia de que a beleza
de uma disciplina só pode ser ensinada depois dos aspectos prático e cognitivo. A beleza é,
em grande parte, responsável pela motivação intrínseca de um indivíduo para que vá atrás
de um tópico. Os três aspectos podem ser ensinados simultaneamente.”
84 FADEL, C. BIALIK, M. TRILLING, B. Educação em Quatro Dimensões: As competências que os estudantes devem ter
para atingir o sucesso. Boston: Center for Curriculum Redesign, 2015. p. 81-82.
Cognitivo
Exemplo: Pensamento criativo
Prático
Exemplo: fatos, conceitos, processos
Na estante
85 FADEL, C. BIALIK, M. TRILLING, B. Educação em Quatro Dimensões: As competências que os estudantes devem
ter para atingir o sucesso. Boston: Center for Curriculum Redesign. 2015. p. 86. Disponível em: icebrasil.org.br/
surl/?3acb85. Acesso em: 23 ago 2021.
UMA ESPERANÇA87
Clarice Lispector
“Aqui em casa pousou uma esperança, não a clássica que tantas vezes verifica-se ilusória,
embora mesmo assim nos sustente sempre, mas a outra, bem concreta e verde: o inseto.
Houve um grito abafado de um dos meus filhos:
— Uma esperança! E na parede bem em cima de sua cadeira! Emoção dele que também
unia em uma só as duas esperanças, já tem idade para isso. Antes surpresa minha: espe-
rança é coisa secreta e costuma pousar diretamente em mim sem ninguém saber, e não
acima de minha cabeça numa parede. Pequeno rebuliço, mas era indubitável, lá estava ela,
e mais magra e verde não podia ser.
— Ela quase não tem corpo, queixei-me.
— Ela só tem alma, explicou meu filho. E como filhos são uma surpresa para nós, descobri
com surpresa que ele falava das duas esperanças. Ela caminhava devagar sobre os fiapos
das longas pernas, por entre os quadros da parede. Três vezes tentou renitente uma saída
entre os dois quadros, três vezes teve que retroceder caminho. Custava a aprender.
— Ela é burrinha, comentou o menino.
— Sei disso, respondi um pouco trágica.
– Está agora procurando outro caminho, olhe, coitada, como ela hesita.
— Sei, é assim mesmo.
— Parece que esperança não tem olhos, mamãe, é guiada pelas antenas.
— Sei, continuei, mais feliz ainda.
Ali ficamos, não sei quanto tempo olhando, vigiando-a como se vigiava na Grécia ou em
Roma o começo de fogo do lar para que não apagasse.
— Ela se esqueceu que pode voar, mamãe, e pensa que só pode andar devagar assim.
Andava mesmo devagar - estaria por acaso ferida? Ah não, senão de um modo ou de outro
escorreria sangue, tem sido sempre assim comigo. Foi então que farejando o mundo que
é comível, saiu de trás de um quadro uma aranha, não uma aranha, mas me parecia “a”
aranha, andando pela sua teia invisível, parecia transladar-se maciamente no ar. Ela queria
esperança. Mas nós também queríamos e, oh! Deus, queríamos menos que comê-la. Meu
filho foi buscar a vassoura. Eu disse francamente, confusa sem saber se chegara infeliz-
mente a hora certa de perder a esperança:
– É que não se mata aranha, me disseram que traz sorte...
– Mas ela vai esmigalhar a esperança! Respondeu o menino com ferocidade.
87 LISPECTOR, C. Todos os contos. Editora Rocco. 1 ed, 2016. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?37a4d6. Acesso
em: 20 dez 2020.
Na estante
ATIVIDADE EM GRUPO
Ele imaginava aeronaves gigantescas — não zepelins rígidos, mas balões grandes e flexíveis
com o local de carga suspenso na parte de baixo — transportando passageiros entre Paris
e Nova York, Berlim e Calcutá, Moscou e Rio de Janeiro. Santos-Dumont não acreditava em
patentes e divulgou amplamente os projetos de seus dirigíveis. Ele via as aeronaves como
89 HOFFMAN, P. Asas da Loucura: A extraordinária vida de Santos-Dumont. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004. p. 9-15.
Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?83298f. Acesso em: 20 dez 2020.
Mais de duzentos homens, muitos deles com mulheres e crianças, alguns grandes enge-
nheiros e inventores à sua época, morreram em acidentes antes do sucesso de Santos-Du-
mont. Os pioneiros da aeronáutica não possuíam as técnicas modernas para construir uma
aeronave capaz de voar com segurança. A única maneira de provar que poderiam voar era
fazendo experimentos arriscados, porque a maioria dessas máquinas precárias não ascen-
dia, não tinha estabilidade no ar ou não conseguia pousar ilesa. Santos-Dumont conhecia
os riscos da aerostação. E embora falasse com os amigos que voar era o maior prazer de
sua vida, ele não teria se exposto tanto ao perigo se não fosse por uma meta mais ambicio-
sa — a invenção de uma tecnologia que revolucionaria os meios de transporte e promoveria
a paz mundial. A primeira metade de sua meta realizou-se durante sua vida. Hoje, o avião é
o principal meio de transporte de longa distância. Só nos Estados Unidos decolam 90.700
voos por dia. E no Brasil 157 aviões partem para a Europa todas as semanas. O tempo de voo
de São Paulo a Paris é de 11 horas, um percurso que Santos-Dumont faria em mais de uma
semana de navio e trem. No entanto, seu objetivo de contribuir para a paz mundial não
foi plenamente realizado. Os aviões comerciais, o telefone, o rádio, a televisão, e agora a
internet transformaram o mundo em uma comunidade global. Se um terremoto atingir El
Salvador, o transporte aéreo de alimentos de Londres para o local atingido pode ser realiza-
do em horas. Se uma epidemia de Ebola for detectada no Congo, os médicos dos Centers
for Disease Control podem chegar lá em um dia. Porém, a aviação militar fez milhares de
vítimas não apenas em Hiroshima e Nagasaki, mas também no curso normal da guerra. E
em uma manhã do dia 11 de setembro de 2001, algo inconcebível aconteceu: dois aviões co-
merciais converteram-se diabolicamente em mísseis de ataque a arranha-céus. A primeira
grande invenção do século XX tornou-se o pesadelo do século XXI. (...)
Santos-Dumont foi talvez o homem mais prestigiado de Paris nos primeiros anos do século
XX. Sua imagem elegante estampava-se em caixas de charutos, caixas de fósforos e
aparelhos de jantar. Desenhistas de moda fizeram negócios prósperos com réplicas de seu
chapéu-panamá e com seus colarinhos altos e duros dos quais ele tanto gostava. Fabricantes
de brinquedos não conseguiam produzir quantidade suficiente de modelos de seus balões.
Até mesmo os confeiteiros franceses o homenageavam com bolos em forma de charuto de-
corados com as cores da bandeira brasileira. Ele era famoso em ambos os lados do canal da
Mancha — na verdade, em ambos os lados do Atlântico. “Quando os nomes daqueles que
ocuparam posições de destaque no mundo forem esquecidos”, declarou o Times londrino em
1901, “um nome permanecerá em nossa memória, o de Santos-Dumont.” (...)
1. Para discussão:
a) Se os nossos sonhos são pequenos, nossas possibilidades de sucesso
também são limitadas?
b) Os sonhos são como bússolas que indicam os caminhos que seguiremos e as
metas que queremos alcançar ou como veículos que nos permitem chegar
onde desejamos?
c) Desistir dos sonhos é “abrir mão” da felicidade, porque quem não persegue
seus objetivos está condenado a fracassar?
d) Tente resumir em uma frase qual seria o Projeto de Vida de Alberto Santos-
-Dumont.
3. Agora, leia as frases abaixo e complete os seus sentidos de acordo com o seu entendimento:
a) Gente que não tem nenhum sonho...
b) Gente que tem sonhos demais...
c) Gente que não tem sonho próprio...
d) Gente que tem sonho impossível...
e) Gente que tem sonho mas não sabe transformá-lo em Projeto de Vida...
f) Gente que não consegue transformar o Projeto de Vida em realidade...
90 DE SOUZA, E. I. BJB News. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?8bcf75. Acesso em: 20 dez 2020.
Em casa
A delícia de ser companheiro!
1. A felicidade é uma noção que varia de pessoa para pessoa. Ela pode
adquirir formas diferentes para cada um. Contudo, a felicidade perpassa
quatro pontos comuns a todos: SER (a forma de felicidade em que é sufi-
ciente saber-se vivo, sentir-se e simplesmente existir); TER (a felicidade de
possuir ou desfrutar de algo); FAZER (a felicidade de conceber ou executar
alguma coisa); PERTENCER (é a felicidade de viver no seio de um espaço,
grupo e sentir-se amado).
A respeito da felicidade, qual o seu entendimento pessoal sobre cada um
desses pontos?
2. Como a felicidade não se encontra pronta, mas se constrói pouco a pouco,
escreva um texto dissertativo sobre como ela se relaciona com o seu Projeto
de Vida e seus sonhos. Lembre-se das discussões das atividades desenvolvi-
das em aula e nas discussões realizadas para embasar seu raciocínio.
Referências Iconográficas
Disponível em: www.icebrasil.org.br/surl/?81adf2. Acesso em: abril 2021
Quando pensamos no cuidado – no sentido primeiro de cuidar, zelar por algo ou alguém -
como uma das importantes habilidades a serem desenvolvidas para a nossa vida em grupo,
geralmente pensamos no cuidado com o outro. Mas... quem cuida de nós mesmos? Claro
está que, seguindo essa lógica, alguém em nosso grupo social se preocupará com nosso
bem estar, mas quem em primeiro lugar, senão eu mesmo, é responsável pelo meu cuidado?
O autocuidado é uma importante habilidade socioemocional, expressa através da atenção
constante aos nossos sinais de saúde física e mental. Certos cuidados básicos são atitudes
cotidianas das quais nem mesmo nos damos conta: a higiene pessoal, a organização de nos-
sos espaços de descansar, estudar e trabalhar, a escolha de roupas confortáveis e adequadas
às nossas atividades do dia, a reserva de tempo suficiente e tranquilo para as refeições são
exemplos de autocuidados simples, alguns dos quais negligenciamos diante do ritmo de vida
contemporâneo. Autocuidado está relacionado a escolhas – muitas vezes inconscientes –
que podem ser decisivas para manter nossa saúde. Escolhas que, por vezes, estão na percep-
ção da diferença entre aquilo que eu posso e desejo e aquilo que me convém e me favorece.
O autocuidado é uma habilidade socioemocional que predispõe também ao cuidado com o
outro: quando ficamos atentos aos sinais em nós que indicam saúde e equilíbrio, podemos
também ficar mais atentos aos sinais do outro, e como esse equilíbrio interage em nossos
ambientes sociais, como a casa, o trabalho e a escola. Cuide-se bem para poder cuidar bem
dos outros, e uma rede de cuidado recíproco se formará.
(...) A escola saudável deve, então, ser entendida como um espaço vital gerador de autonomia,
participação, crítica e criatividade, para que o escolar tenha a possibilidade de desenvolver
suas potencialidades físicas, psíquicas, cognitivas e sociais.
(...) No entanto, se o que se ensina não tiver como base os valores e a prática diária das escolas
ou da comunidade, as mensagens se enfraquecem e não alcançarão seus objetivos. (...) Uma
parte significativa da função destas escolas é oferecer conhecimentos e destrezas que pro-
movam o cuidado da própria saúde, ajudem a prevenir comportamentos de risco e impeçam
a degradação ambiental. Este enfoque facilita o trabalho conjunto de todos os integrantes da
comunidade educativa, unidos sob um denominador comum: melhorar a saúde e a qualidade
de vida das gerações atuais e futuras (...).”
Objetivos Gerais
• Perceber que a saúde física tem associação com a saúde mental;
• Refletir sobre posturas e estilos de vida que contribuem para uma vida saudável;
• Descobrir maneiras adequadas de cuidar da saúde;
• Refletir sobre alguns hábitos desfavoráveis à promoção da saúde.
91 PELICIONI, M. C. F. A Escola Promotora de Saúde. In: Cadernos de Escolas Promotoras de Saúde – I. Socieda-
de Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Saúde Escolar. p. 44. Disponível em: icebrasil.org.br/
surl/?cd2533. Acesso em: 25 dez 2020.
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Atividade em
Argumentar sobre algumas questões de
grupo: Expresse 25 minutos
saúde com o colega.
sua opinião.
Objetivos
Desenvolvimento
Os estudantes deverão ser divididos em duplas. Cada integrante da dupla escolherá uma
coluna, A ou B, e a cada situação apresentada nas colunas um colega precisa ser convencido
sobre o ponto de vista de cada uma delas (Anexo 1). Uma pessoa saudável é aquela que está
em dia com os exames de saúde, apresenta condições físicas normais e mantém um estado
mental e emocional equilibrado. É preciso estabelecer relações diretas entre saúde física e
mental, ambas importantes para uma saúde plena.
Além da importância da atividade física frequente, não devemos esquecer da saúde men-
tal/emocional. Fazer exercícios, passear, estar em companhias de amigos e familiares são
outras maneiras de cultivar um estilo de vida saudável.
Cada pessoa tem um estilo de vida que interfere na saúde. Ser vegetariano ou comer de
tudo não diz exatamente que temos hábitos saudáveis de vida. A saúde depende de vários
fatores que quando combinados entre si colaboram com nosso bem-estar.
Ao final, procure saber quais das situações foram consideradas como as mais difíceis de
convencimento por parte dos estudantes e quem fez mais pontos.
Objetivos
Desenvolvimento
Ao final, pergunte a alguns estudantes se querem comentar suas respostas e abra espaço
para isso.
Objetivo
Desenvolvimento
Professor, você pode pedir aos estudantes que respondam ao questionário: check-up para
afinar o instrumento (Anexo 3) e ao final, avaliem suas respostas. Caso disponha de tempo
suficiente, abra espaço para que alguns estudantes compartilhem suas respostas. A partir
das colocações de cada um, é importante gerar uma reflexão sobre o que precisam fazer
para melhorar a saúde.
Avaliação
Favorecer espaço físico adequado com boa iluminação, ventilação, instalação de água e esgoto,
cuidar para que escadas, rampas e áreas de recreação e esporte sejam planejadas de modo
a evitar acidentes; favorecer um ambiente psíquico e emocional capaz de propiciar melhores
relações interpessoais na comunidade escolar e construir uma cultura de paz, além de prevenir
a violência. Todas são atitudes que geram ambientes favoráveis a saúde.
Refletir e pensar estratégias que garantam a todos acesso ao alimento com qualidade e
quantidade adequada ao desenvolvimento do ser humano, bem como garantir Programas
de Alimentação Escolar, incentivando os estudantes à opção por alimentos saudáveis, são
atitudes promotoras de saúde.
Elevar a Autoestima
As causas externas, representadas pelos acidentes e a violência, têm hoje grande participação
no adoecimento e morte de crianças e adolescentes. O cuidado com o espaço físico pode evitar
a ocorrência de acidentes na comunidade escolar. Os investimentos na criação de ambientes
de respeito, de afeto e de convivência harmônica na escola propiciam melhor relacionamento
entre seus membros, principalmente entre estudantes, favorecem a solidariedade, a cultura
de paz e facilitam o desenvolvimento de habilidades para a vida com atitudes de prevenção
da violência.
Outras Demandas
Diversos outros problemas podem surgir, como questões relacionadas à pele (piolho e sar-
na); ou problemas oculares, auditivos, fonoaudiológicos e de saúde bucal que acometem
os estudantes e, por vezes, comprometem sua qualidade de vida, impedindo-os de brincar,
sorrir, correr, ler, aprender e até de se divertir. Numa escola promotora de saúde é impor-
tante que as medidas práticas e os cuidados necessários tenham um encaminhamento
coletivo de propostas e de compromisso para soluções participativas.
93
93 FADEL, C. BIALIK, M. TRILLING, B. Educação em Quatro Dimensões: As competências que os estudantes devem ter para atingir o sucesso. Boston:
Center for Curriculum Redesign. 2015. p. 56-57.
A saúde é fundamental para o bem-estar pessoal. Levar uma vida saudável, fazer exercícios
e ter uma dieta equilibrada são atitudes essenciais. Contudo, a saúde não depende só disso,
mas, também, da postura positiva e afirmativa que assumimos diante da vida. Sobre isso,
discuta o quadro a seguir, com um colega de classe. Um de vocês deve defender as células
da coluna A; o outro, as da coluna B. Tente deixar sem argumento o colega e faça com que o
outro queira adotar sua opinião. Ganha ponto quem conseguir convencer o colega sobre
o maior número de células.
A B
Resultado
Placar A Placar B
Leia as afirmações abaixo e procure se opor a elas utilizando-se de alguns argumentos que
contribuam para uma vida saudável:
“Em caso de emergência, máscaras de oxigênio cairão do teto. Primeiro, ponha no rosto
sua máscara. Em seguida, ponha a máscara no adulto ou na criança ao seu lado”. É isso que
dizem os comissários de bordo num avião. Muitas vezes, fiquei imaginando a cena: lá estou
eu com minha máscara na cara, respirando à vontade, enquanto a meu lado a criança de
dois anos está sufocando. Parece egoísmo!
Porém, quanto mais pensarmos no que estão dizendo os comissários, mais sentido aquilo vai
ter. Se você não estiver respirando, não poderá fazer muito para ajudar os outros. Por isso, não
considere egoísmo reservar algum tempo à renovação do melhor trunfo que possui – você mes-
mo(a). Se fizer um esforço exagerado por muito tempo, deixando sempre por último a si mesmo,
acabará por sofrer de esgotamento ou estresse, e, nesse caso, que utilidade vai ter? Nunca abuse
do instrumento a ponto de não ter tempo de afiná-lo. Restaure as quatro partes de que você é
composto: Corpo (o físico), coração (os relacionamentos), mente (o mental) e alma (o espiritual).
Complete este pequeno questionário para avaliar se está mesmo afinando o instrumento:
Corpo
Coração
Mente
Espírito
94 SEAN, C. As 6 decisões mais importantes que você vai tomar na vida. Rio de Janeiro: BestSeller, 2007. p. 54-55.
Tradução Alice Xavier.
Educar para valores é contribuir para a formação de pessoas mais generosas, que colaborem
para o bem comum. E isso está centrado no aprendizado da vida cotidiana dos estudantes
e na interação social que cada um estabelece com o seu entorno, pois ninguém pode ser
solidário sozinho. A respeito disso, a escola deve estimular a participação dos estudantes em
ações solidárias para que eles possam, livremente, incorporá-las como parte integrante de
sua identidade e autoestima.
95 SERRANO, G. P. Educação em valores: como educar para a democracia. trad. Fátima Murad. 2. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2002. p. 97.
Cada indivíduo é parte da mesma poeira de estrelas, e cada movimento de folha de relva na
superfície do planeta está conectado a nós por uma infinita e invisível rede de consequências
e causalidades. Rede invisível, mas não imperceptível; infinita, mas não eterna. Nas primeiras
décadas do século XX já tivemos provas científicas de que se não pensarmos no planeta como
uma grande casa onde cada um ocupa uma pequena área - da qual deve cuidar, manter limpa
e saudável - em breve não haverá mais casa, ou a casa estará estragada demais para poder
continuar sendo nosso abrigo e terreno para todas as atividades humanas.96
A partir dessas reflexões, a atividade proposta nessa aula busca, a partir do contexto social dos
estudantes, levá-los a refletir como é possível agir de forma solidária no espaço onde vivem.
96 Dez pontos principais do documento final da cúpula do clima. Portal Terra. 15 dez 2019. Disponível em: icebrasil.
org.br/surl/?5071b7. Acesso em: 26 dez 2020.
Roteiro
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Atividade em
Elaboração de campanhas em prol da
grupo: Campa- 40 minutos
solidariedade.
nhas Sociais.
Objetivos
Desenvolvimento
Quando todos os grupos tiverem elaborado suas campanhas peça para um representante de
cada grupo apresentá-la. Abra espaço para possíveis discussões. A proposta dessa atividade
é fazer com que os estudantes sejam capazes de pensar em temáticas sociais que assolam a
vida das pessoas, possam se colocar no lugar do outro e desejem fazer algo por alguém, sem
esperar nada em troca – isso é solidariedade. Na segunda questão da atividade (Anexo 1) os
estudantes precisam, junto com o seu apoio, levantar e refletir sobre algumas temáticas que
podem virar uma campanha de solidariedade dentro da escola. Para isso, discuta com os estu-
dantes questões ligadas à rotina da escola ou à comunidade a qual a escola está inserida, das
quais possa surgir a necessidade de uma ação solidária. A partir das questões levantadas pelos
estudantes elabore junto com eles uma campanha seguindo a mesma estrutura da questão
anterior (temática, público, lema da campanha e mensagem de solidariedade). Valores como
compaixão e cooperação devem permear as discussões da atividade. É importante envolver
os estudantes em ações dentro da escola que visem o coletivo. Elaborar e pôr em prática uma
campanha dentro da escola é fazer com que eles se autoafirmem como sujeitos solidários.
Ao final, com seu apoio, peça para os estudantes agendarem uma data com a direção da
escola para apresentarem a campanha e discutirem a possibilidade de vivenciá-la.
Avaliação
Observe como os estudantes dão valor à solidariedade de acordo com a escolha das temáticas
da atividade proposta e como eles se envolvem nas discussões das campanhas, se possuem
uma postura proativa para a participação.
Mais ainda, nenhum valor efetivo pode ser vivenciado sem envolvimento ativo. Precisa-se
de espaços significativos para facilitar experiências que ajudem a descobrir, a observar e,
sobretudo, a viver a essência comunitária dos valores.
“(...) Requer espaços onde a educação seja orientada para: desenvolver pessoas; potencializar
as relações com o meio, fomentar o diálogo e o espírito crítico e favorecer o compromisso (...).”97
Texto 2
Alessandro Sbampato
“Nossa sobrevivência sempre depende dos outros. Desde pequenos, temos que nos valer
do cuidado alheio para não desaparecer, logo nas primeiras horas de vida. Após o parto, um
potro demora uma hora para se equilibrar nas próprias patas, enquanto nós demoramos
em torno de um ano. Ele ainda vai depender da mãe para seu alimento por algum tempo,
como todos os mamíferos. Nós, inclusive. Mas ele já pode caminhar, independente e livre,
assim que nasce. Um filhote de tartaruga-marinha rompe a casca do ovo, vence a areia, e
no mesmo instante já consegue se arrastar da praia para o mar, pronto para se alimentar
sozinho. Pode terminar no bico de uma gaivota, ou nas pinças de um caranguejo, mas se
arrastou sem ajuda da mãe. A mãe nem está mais naquela praia, e ele nunca vai vê-la. E nós
nos achamos independentes quando saímos da casa dos pais entre os 20 e os 30 anos.
Ok, em média. Não se ofenda, se você saiu antes dos 20, ou depois dos 30, ou mesmo se
97 SERRANO, G. P. Educação em valores: como educar para a democracia. trad. Fátima Murad. 2. Porto Alegre:
Artmed, 2002. p. 115 - 116.
98 SBAMPATO, A. Crônica Eu, você, nós e os outros. Blog Ecofuturo. 5 jun 2011. Disponível em: icebrasil.org.br/
surl/?301061. Acesso em: 26 dez 2020.
(...)
Mesmo cessando a fragilidade da idade infantil, continuamos contando com apoio de muita
gente. Dependemos de cuidados médicos quando sentimos alguma dor (ainda não sabe-
mos como funciona direito nosso corpo!). Dependemos de suporte intelectual, que pode
vir de várias fontes, como educação formal, leitura, vivência cotidiana, convívio social, e,
neste momento, também no meio digital em que estamos. E precisamos, principalmente,
de apoio emocional, que vem da família, dos amigos. Apoio de quem nos ama. Deve existir
gente que pensa não precisar de ninguém nesse mundo. Mas em algum momento essa
convicção vai ser posta à prova. Temos contato com muitas pessoas. Colaboramos, coabi-
tamos, coexistimos, convivemos. E isso é bom!
É preciso conviver. Se não se aprende desde pequeno, pode ser muito doloroso aprender
depois. É complicado, mas é bom: ninguém é coisa alguma sem a mediação do outro. As
coisas existem por comparação: eu, sozinho em uma ilha, sou quase ninguém. Apenas o
ambiente faz essa mediação. Ninguém precisa me entender, ninguém precisa decodificar
os meus sinais. Uma pessoa é um universo de possibilidades; duas, juntas, outro conjunto
único, rico e novo. Acrescentem-se pessoas, e a dinâmica vai se alterando. Somos partes
de conjuntos variados. Finito dentro do infinito. Quando convivemos, nossa tangência com
o outro produz resultados. Nossa essência é transformada pelas essências dos outros, e
ao mesmo tempo, transformadora delas. Serve para família, trabalho, serve até para amor!
Basicamente, serve para tudo. Isso não é elaborar demais as coisas? Dá para ser mais sim-
ples? Claro que dá. Não é muito o que se espera de nós no dia a dia. Delicadeza, cuidado,
respeito pela opinião alheia, acolhimento, sensibilidade com as limitações e dificuldades do
outro, apoio aos que se mostram mais vulneráveis, mais suscetíveis às dificuldades da vida.
Como nós mesmo somos, em algum (ou mais de um) momento, e sabemos que sempre
podemos contar com alguém. Sempre.
Somos atores entrando e saindo de cena. Como diz a personagem Blanche Dubois, nas cenas
finais de ‘Um bonde chamado Desejo’ de Tennessee Williams: “Não importa quem você seja…
eu sempre dependi da bondade de estranhos.” Ela representa todas as nossas fragilidades,
toda nossa necessidade de afeto, de aceitação, e de cuidado. Todos precisamos de cuidado.
Blanche Dubois c’est moi. Blanche Dubois sou eu e você, nós e os outros.”
1. Em grupos de cinco pessoas, de acordo com a sua realidade escolha uma temática social e
desenvolva uma campanha de incentivo à solidariedade conforme os itens abaixo solicitados.
Ao final um representante de cada grupo deve apresentar a campanha estruturada para toda
a turma.
c) Grupo 3 - Temática:
- Lema da Campanha:
- Público:
- Mensagem de solidariedade:
- Ações:
2. Pensando no bem que cada pessoa pode fazer ao ser solidário, pense junto com o seu
professor e colegas numa campanha que possa ser organizada dentro da sua escola, que
venha trazer benefícios para muitas pessoas e a estruture de acordo com os mesmos itens
da atividade anterior com o objetivo de apresentá-la à direção da sua escola. A seguir,
sugerimos algumas campanhas:
Parceiros Voluntários
Voluntários
Rio Voluntário
Sociomotiva
Teto
Referência Iconográfica
Conceito de solidariedade de vista superior. 1 Fotografia. 2021. Disponível em: icebrasil.org.br/
surl/?b23cb3. Acesso em: abr 2021.
[...]
O voluntário não é um idiota (na antiga Atenas, assim se denominava quem não participava
da “coisa pública”) que se conforma com a situação social existente. Pelo contrário: é um
cidadão ativo que busca o bem-estar geral e, sobretudo, pessoal e concreto daqueles que
já começam em situação de desvantagem”.
Os gregos não usavam a palavra idiota com o sentido pejorativo que hoje ela tem: na acepção
original, idiota designava literalmente o cidadão privado, alguém que se dedicava apenas aos
assuntos particulares, em oposição ao cidadão que ocupava algum cargo público ou partici-
pava dos assuntos de ordem pública.
No campo da literatura, a palavra nos remete a um grande romance do escritor russo Fiódor
Dostoiévski. O livro “O idiota” (inspirado na história de Dom Quixote) conta a história de um
homem com epilepsia, um homem bom e humanista que, por suas atitudes de grande
compaixão, é visto pelos outros como um… idiota!
Indo além, quando pensamos na ação voluntária considerando o Projeto de Vida, a participa-
ção social do estudante adquire um caráter ainda mais importante: além de ser um indicador
de Habilidades Socioemocionais necessárias e desejáveis, como empatia e pertencimento
à comunidade, a ação voluntária representa um grande passo em direção ao protagonismo.
Por representar um posicionamento ativo e autônomo do estudante – e cidadão – em rela-
ção às questões de seu grupo social, de seu bairro ou distrito, de sua cidade e estado, e, ao
fim, do país e do planeta, a ação voluntária representa uma decisão efetiva do estudante em
envolver-se com importantes e inadiáveis questões da sociedade. São esferas sucessivas de
pertencimento e protagonismo que vão do entorno imediato ao infinito. Não se pode menos-
prezar a potência de uma pequena ação voluntária como força transformadora do mundo
que nos cerca e do qual somos parte.
Roteiro
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Atividade:
Brevíssima Leitura de informações básicas e resumidas
5 minutos
história do sobre a história do trabalho voluntário.
voluntariado.
Atividade
Discussão: o que faz parte de cada campo de
em grupo:
ação e possíveis requisitos específicos para 15 minutos
Campos de
a ação voluntária.
ação voluntária.
Atividade:
Organização das Instruções para apresentação dos grupos. 5 minutos
apresentações.
100 PAGENOTTO, M. L. Livros, artigos e sites sobre a obra de Henry Wallon e o papel da afetividade. Revista Nova
Escola. 22 nov 2019. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?ea3b24. Acesso em: 26 dez 2020.
Segundo Antônio Carlos, essa capacidade de fazer-se presente não é um dom, mas uma
aptidão que pode ser aprendida.
Objetivos
Desenvolvimento
Objetivos
Inserimos algumas frases na coluna dos campos de ação para ajudar os estudantes a
se situarem no âmbito de cada um deles. Espera-se que colaborem trazendo exemplos
conhecidos, mas isso não impede – pelo contrário! – que lancem ideias inovadoras e
incluam as mesmas no registro feito. O professor pode definir um número mínimo de
duas ou três ações a incluir na coluna do meio, dependendo do tempo que o grupo leva
para se organizar e começar efetivamente o trabalho. O mesmo vale para os requisitos a
incluir na terceira coluna (dois ou três, no mínimo, a critério do professor). Para sua refe-
rência, incluímos abaixo alguns itens que seria importante que aparecessem. Caso não
surjam das discussões dos estudantes, o professor pode chamar a atenção para eles e
sugerir sua inclusão. É possível que os estudantes apontem outros campos de ação, que
devem, então, ser anotados nas linhas em branco no final do quadro. Mais adiante, você
encontra um pequeno glossário que pode ser útil para esclarecer especificidades ligadas
à organização e ao foco do trabalho voluntário na sociedade civil.
Menores em situação
de vulnerabilidade
Saúde
Defesa da mulher
A transformação da situa-
ção feminina nas últimas
décadas ainda não chegou
a todos os âmbitos.
101 102
101 FAJARDO, J. C. G. Manual del voluntario. Universidad Complutense de Madrid, 2001. 3. ed. p 107.
102 Idem.
Drogadição
Deficiências físicas/
intelectuais/mentais
Pobreza
“A pobreza e a margina-
lização não são naturais,
são consequência da
desigualdade injusta”.104
Prisões
Reeducação, reabilitação
e reinserção; estes devem
ser os focos da ação com
pessoas encarceradas.
Minorias étnicas
“Entre as inúmeras
formas de marginali-
zação, uma das mais
absurdas é a que se deve
a motivos raciais”.105
103 FAJARDO, J. C. G. Manual del voluntario. Universidad Complutense de Madrid, 2001. 3. ed. p 107.
104 Idem.
105 Idem.
Idosos
Meio ambiente
106 107
Durante a discussão em grupos sobre as ações possíveis em cada campo, podem surgir
comentários (nem sempre explicitados) que revelam tendências ou atitudes preconcei-
tuosas. Se isso ocorrer, o professor pode aproveitar a oportunidade para relembrar o
quanto é difícil se desfazer das ideias preconcebidas. Não é preciso (e nem se deve)
apontar culpados ou ridicularizá-los, mas se pode tentar, com sutileza e bom humor,
desmascarar o preconceito velado que, muitas vezes, nem o próprio preconceituoso
sabe que tem. Por isso, esse momento também é rico em subsídios para as próximas
etapas e para reforçar tópicos trabalhados nas aulas anteriores.
“Se discrimino o menino ou menina pobre, a menina ou o menino negro, o menino índio, a
menina rica; se discrimino a mulher, a camponesa, a operária, não posso evidentemente
escutá-los, e se não os escuto, não posso falar com eles, mas a eles, de cima para baixo. [...]
A falta de humildade, expressa na arrogância e na falsa superioridade de uma pessoa sobre
a outra, de uma raça sobre a outra, de um gênero sobre o outro, de uma classe ou de uma
cultura sobre a outra, é uma transgressão da vocação humana do ser mais”.108
106 FAJARDO, J. C. G. Manual del voluntario. Universidad Complutense de Madrid, 2001. 3. ed. p 107.
107 SERRES, M. Temps des crises. Paris: Ed. Le Pommier, 2012. p. 59.
Compartilhamos aqui 10 ideias110 que podem ajudar a esclarecer os valores que estão
por trás da fala dos estudantes, tanto durante esta atividade como em outras
circunstâncias em sala de aula:
Objetivos
109 MARIOTTI, H. O dragão e a borboleta - Competitividade e violência estrutural. p. 274. Disponível em: icebrasil.org.
br/surl/?b1a471. Acesso em: 26 dez 2020.
110 RATHS, J. A strategy for developping values. Educational Leadership, 1964. p. 509-514 apud. BERMAN, L. M. New
priorities in the curriculum - Valuing: Enchantment with the Ethical. p. 170.
Pode ser uma boa ideia fazer a apresentação dos resultados da discussão anterior por
campo de ação. Por exemplo: todos os grupos indicam as ações que definiram para o
campo “Menores em situação de risco” e os requisitos para trabalhar nesse mesmo
campo, e assim sucessivamente. O professor pode pedir que indiquem somente os itens
ainda não mencionados nas apresentações dos grupos anteriores. O ideal é que todos
os estudantes preencham seus quadros com o maior número possível de alternativas
trazidas pelos demais.
É interessante observar até que ponto os estudantes recorrem aos conteúdos das aulas
anteriores, nos quais encontram-se muitos elementos que deveriam aparecer nas dis-
cussões, em particular os que dizem respeito aos requisitos para atuar em cada campo
mencionado no quadro.
Em casa
Para ilustrar o texto “Uma gota d’água, um floco de neve...”, que será lido em casa
(Anexo 3), o professor pode apresentar o filme de dois minutos que mostra essa
experiência. Disponível em inglês em: icebrasil.org.br/surl/?327ed6. Acesso em
26 dez 2020.
1. Três histórias e minhas conclusões
2. Minhas motivações para ser um jovem voluntário
Sessões de cinema com filmes que abordam ações voluntárias também podem ter bons
efeitos. Veja algumas indicações de Filmes:
Para ilustrar os textos que serão lidos em casa (Anexo 3), o professor pode apresentar o
filme de dois minutos que mostra essa experiência.
A AARAMBH é uma ONG indiana que foi criada como um Centro de Serviços Comunitários para
atender famílias marginalizadas que vivem em Navi Mumbai, cidade satélite de Bombaim, a
maioria migrantes que foram para a cidade em busca de trabalho e vivem na beira das estradas
e ferrovias, em condições bastante precárias. Muitas das pessoas envolvidas nas ações da ONG
vêm das próprias comunidades atendidas. É interessante enfatizar isso para que os estudantes
percebam que é possível e importante focar a ação do jovem voluntário no sentido mencionado
na frase de Pérez de Cuéllar: “Os voluntários sociais são mensageiros de esperança que ajudam
as pessoas e os povos para que estes ajudem a si mesmos”.
Uma ação de grande utilidade na iniciativa do curso de inglês CNA, que co-
necta jovens estudantes brasileiros com aposentados nos Estados Unidos
para aprimorar a conversação. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?8a012c.
Acesso em: 26 dez 2020.
Livro: O Idiota
Autor: Fiodór Dostoiévski
Editora: Martin Claret
Ano: 2019
Número de páginas: 774
Vale a pena conhecer esse clássico da literatura russa do século XIX.
Referência Iconográfica
Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?e0319d. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?e5c139.
Acesso em: jan 2021. Acesso em: nov 2020.
Cabe a você, jovem cidadão protagonista e solidário, dar continuidade a essa história no
século 21!
QUANDO O QUÊ
A ONU instituiu o dia 5 de dezembro como o Dia Internacional do Voluntário pelo Desen-
volvimento Econômico e Social, em reconhecimento às pessoas que dedicam horas de seu
tempo para levar ajuda, companhia e afeto aos mais necessitados de nossa sociedade.
112 FAJARDO, J. C. G. Manual del voluntario. Universidad Complutense de Madrid, 2001. 3. ed. p 19.
34.000.000
Número de brasileiros que desen-
volveram ações voluntárias (9° lugar
na classificação mundial).
20,6 %
Porcentagem de participação
de jovens em ações voluntárias
no mundo.
Em 2020, 96% dos brasileiros querem ser solidários, mas apenas 27% efetivamente são,
como mostra recente pesquisa do Datafolha.114 Segundo a pesquisa, 68% age de forma in-
dividual e pontual, desconhecendo outros meios de ação organizada ou coletiva. Sete em
cada dez brasileiros associam solidariedade a auxílios emergenciais, como os criados em
situações de pandemias, catástrofes e vulnerabilidade social. Apenas três em cada dez
respostas associam a solidariedade a ações organizadas e coletivas, de longa duração.
Praticamente todos declararam já exercer a solidariedade antes da pandemia, com uma
visão benevolente sobre o quanto se consideram solidários (92%), mas mais críticos em
relação à postura alheia: 68% dos entrevistados acham que as outras pessoas não são
solidárias, o que suscita uma boa reflexão sobre a proporção entre crítica e autocrítica em
nossa sociedade.
113 FREITAS, O.; DA VEIGA, P. T. Brasil cai 37 posições em ranking de países mais solidários. Folha de S. Paulo. 9 dez
2013. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?953c23. Acesso em: 26 dez 2020.
114 96% dos brasileiros querem ser mais solidários, diz pesquisa do Datafolha. Folha de S. Paulo. 14 out 2020.
Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?2320aa. Acesso em: 26 dez 2020.
Procurem identificar (a) ações voluntárias correspondentes a cada campo de ação que
aparece no quadro a seguir (registro na coluna do meio) e (b) conhecimentos, atitudes
e habilidades que consideram necessários para atuar nesse campo (registro na coluna
da direita):
O que o grupo
considera necessário
Campos de ação para trabalhar como
Ações nesse campo (a)
voluntária voluntário nesse campo
(atitudes, conhecimen-
tos, habilidades etc.) (b)
Menores em situação
de vulnerabilidade
Saúde
Defesa da mulher
A transformação da situa-
ção feminina nas últimas
décadas ainda não chegou
a todos os âmbitos.
115 116
115 FAJARDO, J. C. G. Manual del voluntario. Universidad Complutense de Madrid, 2001. 3. ed. p 107.
116 Idem.
O que o grupo
considera necessário
Campos de ação para trabalhar como
Ações nesse campo (a)
voluntária voluntário nesse campo
(atitudes, conhecimen-
tos, habilidades etc.) (b)
Drogadição
Deficiências físicas/
intelectuais/mentais
Pobreza
“A pobreza e a margina-
lização não são naturais,
são consequência da
desigualdade injusta”.118
Prisões
Reeducação, reabilitação
e reinserção; estes devem
ser os focos da ação com
pessoas encarceradas.
Minorias étnicas
“Entre as inúmeras
formas de marginali-
zação, uma das mais
absurdas é a que se deve
a motivos raciais”.119
117 FAJARDO, J. C. G. Manual del voluntario. Universidad Complutense de Madrid, 2001. 3. ed. p 107.
118 Idem.
119 Idem.
O que o grupo
considera necessário
Campos de ação para trabalhar como
Ações nesse campo (a)
voluntária voluntário nesse campo
(atitudes, conhecimen-
tos, habilidades etc.) (b)
Idosos
Meio ambiente
120 121
120 FAJARDO, J. C. G. Manual del voluntario. Universidad Complutense de Madrid, 2001. 3. ed. p 107.
121 SERRES, M. Temps des crises. Paris: Ed. Le Pommier, 2012. p. 59.
EM CASA
Wangari Maathai
“Um dia, um enorme incêndio alastrou-se pela floresta. Todos os animais, vendo as chamas
cada vez mais próximas, decidiram salvar-se. Correram até o final da floresta e lá, impres-
sionados e sentindo-se desamparados, ficaram observando o fogo devorar seu lar.
Todos os animais, menos um: o beija-flor, que decidiu fazer alguma coisa. Voou até o riacho
mais próximo, apanhou uma gota d’água com o bico e levou-a até as chamas.
E o beija-flor ia e vinha sem parar, voando entre o riacho e o incêndio, incansável e concentrado
em sua tarefa, sem perder a paciência nem a velocidade. Apanhava uma gota e deixava-a cair
sobre as labaredas.
Enquanto isso, o fogo continuava forte, e os outros animais observavam seus esforços,
espantados e incrédulos. “Você é pequeno demais,” diziam eles ao beija-flor. “Você não vai
conseguir apagar o fogo. O que é que você acha que está fazendo?”
E isso é o que somos chamados a fazer. Não importa quem somos ou onde estamos, nem
quais são nossos recursos. Somos chamados para fazer o melhor que pudermos!”
122 MAATHAI, W. Why “Hummingbird”? The Hummingbird Project. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?e216c7.
Acesso em: abr 2021.
– Então vou contar-lhe uma história – disse o beija-flor. Um dia pousei num galho de pinheiro,
pertinho do tronco. Estava começando a nevar. Não era tempestade de neve, era como num
sonho, sem nenhuma violência. Como não tinha mais nada para fazer, comecei a contar os
flocos de neve enquanto caíam sobre o galho em que eu estava. O número exato foi 3.741.952.
Quando o floco seguinte caiu, sem peso, segundo você..., o galho se quebrou.
(Talvez falte apenas a colaboração de só mais uma pessoa para que a solidariedade abra
seu caminho no mundo.)
Com caixas de papelão que antes eram restos de materiais de lojas e supermercados, uma
ONG indiana melhorou a vida escolar de crianças carentes, inventando uma mochila-carteira
(Help-Desk) – um objeto que serve de mochila para transportar material escolar e vira
carteira para escrever.
Carregar uma mochila, ter transporte e estudar numa sala de aula com carteiras é um
sonho distante para muitas crianças de famílias que ganham menos de um dólar por mais
de 10 horas de trabalho por dia.
Depois de muitas experiências infrutíferas, surgiu a Help-Desk, com a qual as crianças não
precisam mais passar horas encurvadas para escrever no chão. Foram beneficiados 10 mil
estudantes de 600 escolas.
*Você pode ver a mochila-carteira e algumas crianças beneficiadas com essa iniciativa num filme
de dois minutos, disponível em: icebrasil.org.br/surl/?327ed6. Acesso em: 26 dez 2020.
123 AUTER, K. apud. FAJARDO, J. C. G. Manual del Voluntario. Universidad Complutense de Madrid, 2001. 3. ed. p. 107.
a) O que esses três textos têm em comum? E o que eles têm a ver com o tema
“jovem voluntário”? Escreva aqui suas considerações:
Exemplos de entidades ou
Campos de ação Como me vejo como indivíduos que atuam nesse
voluntária voluntário nesse campo campo (ONGs, associações,
pessoas conhecidas...)
Menores em situação
de vulnerabilidade
Saúde
Defesa da mulher
Drogadição
Deficiências físicas/
intelectuais/mentais
Pobreza
Prisões
Minorias étnicas
Idosos
Meio ambiente
É no ambiente escolar que crianças e jovens podem se dar conta de que somos todos
diferentes e que é a diferença, e não o temor ou a indiferença, que deve atiçar a nossa
curiosidade. E mais: é na escola que crianças e jovens podem ser, juntamente com os
professores e as professoras, promotores e promotoras da transformação do Brasil em
um país respeitoso, orgulhoso e disseminador da sua diversidade (...)”.124
124 Gênero e Diversidade Na Escola: Formação de Educadores/ES Em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais.
Livro de conteúdo. Versão 2009. Rio de Janeiro: CEPESC. Brasília: SPM, 2009. p.34.
Alinhar-se a
Transcendência um objetivo
maior.
Realização Atingir seu
Pessoal potencial total.
Respeito aos outros, respeito a si
Estima próprio, sentimento de contribuição
ou valor.
Amor e
Amor, amizade, intimidade, aceitação em grupos
relacionamento sociais grandes ou pequenos.
“O formato de pirâmide enfatiza a ideia de que os níveis inferiores são mais essenciais
ao bem-estar de uma pessoa, e que, se não forem satisfeitos, as necessidades dos ní-
veis superiores não serão facilmente atendidas. Contudo, isso não significa que sejam
sequenciais. Todos os níveis de necessidades estão sempre presentes, são importantes
requisitos para o desenvolvimento e podem ser atendidos juntos e ao mesmo tempo.
125 Hierarquia das necessidades de Maslow. in: FADEL, C.; BIALIK, M.; TRILLING, B. Educação em Quatro Dimensões:
As competências que os estudantes devem ter para atingir o sucesso. Boston: Center for Curriculum Redesign,
2015. p. 37.
Objetivos Gerais
• Refletir sobre a diversidade e a igualdade de direitos;
• Refletir sobre o preconceito, o egocentrismo e modo de vida narcisista, bem
como, a possibilidade de viver num mundo sem estratificação social por cor/
raça/gênero, por região, idade etc.
Roteiro
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Atividade em
Reflexão sobre a possibilidade de vivermos
grupo: Estratifi- 20 minutos
num mundo sem discriminação.
cação Social.
126 FADEL, C.; BIALIK, M.; TRILLING, B. Educação em Quatro Dimensões: As competências que os estudantes devem ter
para atingir o sucesso. Boston: Center for Curriculum Redesign, 2015. p. 37-38.
ATIVIDADE: DIVERSIDADE
Objetivos
Desenvolvimento
Leia o texto “Diferentes, mas não Desiguais!”, “Viva a Diferença” (Anexo 1) juntamente com
os estudantes. Ao final da leitura eles podem fazer comentários sobre o texto. Em seguida
cada um deve responder às questões da atividade: Diversidade brasileira (Anexo 1).
Na primeira questão, eles podem citar o sotaque das pessoas que variam de cidade
para outra, apesar de usarmos mesma língua falada. Assim como as muitas religiões
existentes no nosso país, os ritmos musicais, danças, festas, a vasta culinária que temos
etc. Na questão B espera-se que os estudantes falem um pouco sobre a criação de es-
tereótipos, preconceitos e discriminação existentes na nossa sociedade. Dependendo
da vivência de cada um, os estudantes podem citar exemplos que estejam relacionados
ao hábito que temos ao julgar as pessoas pela aparência, pela condição financeira, pela
cultura, raça, sexualidade e/ou religiosidade que possuem. Na questão C, as respostas
dos estudantes, apesar de pessoais, podem girar em torno da necessidade de ações
individuais, políticas públicas ou socioeducacionais que contribuam para a igualdade
de direitos, o reconhecimento e respeito às diversas diferenças. Essa questão explora a
capacidade dos estudantes de intervenção e transformação da realidade em que vivem.
Ao final, peça para alguns estudantes exporem para a turma suas respostas e, caso necessário,
abra espaço para as discussões, principalmente para trocarem ideias sobre a questão C da
atividade - Como é possível melhorar a convivência entre as pessoas e promover a igualdade
de direitos?
Objetivo
Avaliação
Em casa
Projete ou mostre aos estudantes as imagens do Anexo 3 e leia o texto que
acompanha, explicando o que devem fazer como tarefa de casa.
Respostas e comentários
Espera-se que os estudantes escrevam um texto dissertativo que defenda sua
opinião sobre as demonstrações de que ainda vivemos num país racista. Sobre
isso, eles podem citar outras situações de preconceito racial. O importante é
que através das propagandas eles reconheçam que existem desigualdades e
preconceito étnico-raciais muito presentes em nosso país.
Professor, caso algum estudante queira saber como a própria escola combate a discrimi-
nação e o preconceito racial, você pode fornecer para eles um teste que se encontra no
Almanaque Pedagógico Afro-brasileiro127. Através desse teste é possível descobrir em quais
das quatro fases a escola está: de invisibilidade, negação, reconhecimento ou avanço.
Texto 2
127 Rocha, R. M. C. Almanaque Pedagógico Afro-brasileiro. Belo Horizonte: Ed. Mazza, 2004.
128 Cotas raciais: por que sim? 3. ed. Rio de Janeiro: IBASE, 2008. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?1de558.
Acesso em: 26 dez 2020.
Racismo e qualquer forma de preconceito é algo a ser combatido coletivamente, e sua exis-
tência fere a integridade da moral, da percepção do que é certo e errado de acordo com os
valores culturais e filosóficos de nosso tempo. Em termos de aprendizado socioemocional,
é preciso avaliar sempre se os estudantes incorporam esses conteúdos aprendidos na es-
cola diretamente aos desafios das relações sociais, à sua prática cotidiana e ao desenvolvi-
mento de seu Projeto de Vida:
“Esses desafios incluem, de maneira destacada, atuar num mundo em acelerado processo
de mudanças e transformações nos mais variados âmbitos (político, social, econômico, tec-
nológico etc.), o que implica na capacidade de observar, de fazer análises, de emitir opiniões
e julgamentos, de fazer seleções e escolhas e tomar decisões.
Esse processo mental envolve o desenvolvimento de uma estrutura conceitual que não
se restringe à dimensão cognitiva e se refere a um conjunto muito mais ampliado que
também considera as dimensões emocional, social e moral, razão pela qual o Modelo da
Escola da Escolha invoca, entre outros, o princípio da Educação Interdimensional para
orientar a prática pedagógica. (…)
O desenvolvimento moral tem, assim, uma dimensão intrapessoal que regula as atividades
de uma pessoa quando ela não está interagindo com outra (seus valores básicos e a noção
de self) e uma dimensão interpessoal que regula as interações pessoais e arbitra conflitos,
ou seja, como uma pessoa conduz suas interações com as outras pessoas”.129
129 BARRETO, T. Org. Modelo Pedagógico. Os Eixos Formativos – Ensino Médio. 4. ed. 2020. Instituto de Correspon-
sabilidade pela Educação. p. 20.
Um jovem gay, agredido porque andava de mãos dadas com seu companheiro, pode ouvir,
mesmo dos que reprovam ações violentas, frases do tipo: “Tudo bem ser gay, mas precisa
andar de mãos dadas em público, dar beijo?!”
Uma mulher vítima de estupro, ao sair de uma festa, poderá ouvir: “Mas também... o que
esperava que acontecesse, andando na rua à noite e de minissaia?”
Numa outra situação, uma jovem negra que, mesmo possuindo as qualificações necessárias
para uma vaga, não consegue o emprego sob a alegação de não preencher o critério subjetivo
de “boa aparência” (abolido legalmente dos anúncios dos jornais, mas não do imaginário das
equipes de recursos humanos), certamente ouvirá de pessoas muito próximas: “Também, você
precisa dar um jeito nesse cabelo. Assim, “ruinzinho”, crespo, fica difícil conseguir um emprego
melhor!” Esses “mas” e “também” trazem uma característica antiga, quando as diferenças e as
desigualdades vêm à tona: de que os/as discriminados/as são culpados/as pela própria discri-
minação; são culpados/as pelo estado no qual se encontram (...)
130 Gênero e Diversidade Na Escola: Formação de Educadores/ES Em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais.
Livro de conteúdo. Versão 2009. Rio de Janeiro: CEPESC. Brasília: SPM, 2009. p. 19.
Leia o trecho da música “Sampa” que Caetano Veloso fez em homenagem à cidade de São
Paulo em 1978 e reflita, em dupla com o seu colega, a questão que a segue:
Sampa131
Cada pessoa tem um jeito de ver o mundo e por isso possui uma tendência a valorizar o
que é comum ao seu modo de vida e a gerar preconceitos a respeito do que é diferente.
Sobre isso e o narcisismo como maneira exagerada de cultuar a própria imagem e de viver
egocentricamente, como você enxerga a verdadeira possibilidade de vivermos num mundo
sem estratificação social por cor/raça/gênero, por religião, idade etc.?
131 SAMPA. Intérprete: Caetano Veloso. Compositor: Caetano Veloso. In: Muito – dentro da estrela azulada. São Paulo:
Universal Music Group, 1978. Faixa 7 (3 min 16 seg). Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?d4896a. Acesso em:
26 dez 2020.
A seguir temos algumas das mensagens publicadas pela campanha “Onde você guarda o
seu racismo?” (2004) - Uma iniciativa de 40 instituições da sociedade civil que têm como
objetivo conscientizar a população sobre a responsabilidade de todos na luta contra o racis-
mo. De acordo com uma pesquisa que serviu de base para a campanha, 87% dos brasileiros
admitem que há racismo no Brasil, contudo apenas 4% se reconhecem como racista. A partir
disso, escreva um texto dissertativo que defenda sua opinião sobre as demonstrações de que
vivemos num país racista e ao final proponha uma maneira de impulsionar e consolidar a
igualdade racial em nossa sociedade.
132 Onde você guarda o seu racismo? Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?9cfb40. Acesso em: 26 dez 2020.
Referência Iconográfica
BUSING, H. Girl friends hands piled together. 1 Fotografia. 20 fev 2020. Disponível em: icebrasil.org.
br/surl/?541f0a. Acesso em: abr 2021.
Apoiados nesse mito, podemos afirmar que construir um Projeto de Vida tem muito de uma
narrativa de si mesmo, pois o indivíduo atenta ao que deseja no presente e projeta essas
aspirações para o futuro, ao tempo em que se delineiam os caminhos a serem percorridos
e as habilidades necessárias para atravessá-los. Tomar a si mesmo como uma narrativa que
se elabora possibilita não só essas projeções como a oportunidade de reformulá-las, obser-
vando nas entrelinhas do que foi registrado possíveis margens de manobra para os rotei-
ros entrevistos nesse quadro. Já nas primeiras aulas de Projeto de Vida, foram trabalhadas
questões concernentes a identidade, valores e competências para o mundo contemporâneo,
estando os estudantes, portanto, familiarizados com esses temas. A partir destas duas aulas,
a proposta é revisitar esses temas, mas visando elaborar mais sistematicamente o Projeto de
Vida de cada estudante, a partir de suas linhas gerais.
Roteiro
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Atividade:
Apresentação da arquitetura e das linhas
Introdução do
gerais do Projeto de Vida e início de sua 45 minutos
plano geral do
sistematização.
Projeto de Vida.
Objetivos
É importante que, desde o início da aula, fique claro que elaborar um projeto não significa
burocratizar a vida. Também não é algo “engessado”, mas passível de se modificar, conforme
os próprios estudantes se modifiquem. A ideia é que se estabeleça um quadro geral, mas
suficientemente sistemático das aspirações que os jovens têm no presente, com as devidas
coordenadas para que sejam atingidas e a sua relação com a formação escolar como preparo
para a vida. Portanto, propor a elaboração de um Projeto de Vida como uma possível narrativa
de si é chamar para primeiro plano os cuidados necessários para a trajetória de cada estu-
dante, conforme seus valores pessoais, sua história e seus recursos (os já existentes e os que
precisam ser adquiridos) postos em função do que aspiram para si.
Abrir espaço para que os estudantes expressem suas dúvidas certamente facilitará a
explanação inicial, que pode ser potencializada com a recorrência a temas já desenvolvidos
ao longo do primeiro ano da disciplina.
Importa também ressaltar que este é um primeiro exercício de escrita do Projeto de Vida e
a intenção não é esgotar o assunto, mas se familiarizar com sua estrutura, cujos campos
serão reelaborados periodicamente ao longo do curso. Temáticas já abordadas no primeiro
ano do curso serão retomadas em algumas aulas, sob novas perspectivas para que pos-
sam ser reelaboradas pelos estudantes, tendo em vista dessa vez a concretização de seus
projetos. Consequentemente, novos temas aparecerão ao longo deste ano de curso, para
ampliar o repertório e encorajar a tomada de decisões.
É importante que o professor faça uma apresentação geral de cada tópico, conforme as
instruções que se seguem, para que os estudantes em seguida escrevam de acordo com
suas considerações pessoais.
• Faça um breve relato sobre você. A ideia é permitir que os estudantes falem
de si nos termos que julgarem adequados, com suas próprias palavras. Mesmo
eventuais formas dubitativas e algumas lacunas nesse pequeno relato devem
ser valorizadas, uma vez que falar de si mesmo não é exatamente se definir, mas
tangenciar um “querer ser”, um inventar-se em uma possível narrativa de si.
• Qual é o seu sonho? Aqui a intenção é que os estudantes definam os seus
sonhos, refletindo sobre as possíveis inflexões surgidas de um ano para o ou-
tro, quem sabe a substituição de um sonho por outro. Revisitando os temas
iniciais do primeiro ano da disciplina, poderão esboçar suas metas e planos
de ação mais concretos a partir de agora.
• Onde você quer chegar? Aqui se esboça mais um pequeno passo adiante,
passando do sonho à projeção de um lugar ao qual o desejo impulsiona o
sujeito. Um pequeno aceno para uma passagem ao plano concreto.
• Esses sonhos lhe parecem algo possível de se realizar? Como e através de
quais recursos? Quais etapas você vislumbra para alcançar seus objetivos
e em quanto tempo? Aqui já estamos no terreno da concretude. Metas e planos
de ação começam a se impor a partir de agora.
• Quais são os seus pontos fortes e seus pontos fracos? Em que você
precisa melhorar e como? Um estímulo à reflexão sobre os recursos pró-
prios que deverão ser mobilizados ou adquiridos para qualificar o estudante
para a ação.
• Quais os valores nos quais você se apoia e que irão orientá-lo no cami-
nho? Algo mudou do ano passado para cá? O que e como? Quais os valores
que guiarão o estudante na construção de seu Projeto de Vida? Ou seja, quais
os princípios que orientarão seu discernimento na hora de tomar decisões?
• Quais as barreiras que você vislumbra e que de alguma forma lhe impedem
de realizar o seu Projeto de Vida? Possivelmente, este é o ponto mais delicado
de toda a aula, uma vez que a realidade se impõe, pondo à prova as aspirações
de cada estudante. Alguns empecilhos apontados poderão ser apenas frutos da
imaginação, mas outros se mostrarão reais, e isso exigirá estratégias para serem
contornados ou superados.
Importa encerrar esta aula ressaltando que o Projeto de Vida de cada um passará por uma
reelaboração contínua, à medida que os estudantes se modificarem, ampliarem seus re-
pertórios, submetendo seu projeto a novas dúvidas e refinando suas percepções de si mes-
mos e do mundo. Seja como for, será esse roteiro inicial o ponto de partida para falarem de
si, seja pela perspectiva do que já são, seja pela perspectiva do que desejam ser. Além disso,
a partir de agora, é provável que tenham cada vez mais dúvidas e será necessário produzir
as condições necessárias para que as angústias, dúvidas, medos e até perplexidades sejam
elaboradas com apoio do professor e de toda a escola.
Objetivo
Desenvolvimento
Tendo isso em vista, propomos, nesta aula, a exploração de um relato de Joseph Campbell,
mitólogo estadunidense que mostra a relação entre o mito e a realidade, a partir de sua própria
trajetória de vida e da sua relação de professor com jovens universitários. A leitura comentada
desse texto pode ser uma formidável ocasião para que os estudantes iniciem, através do diá-
logo aberto, a elaboração dos afetos necessários ao encorajamento da construção do Projeto
de Vida (Anexo 2).
133 “Em sua forma mais básica, resiliência pode ser entendida como a habilidade ou conjunto de qualidades que
permite a uma pessoa superar obstáculos. A resiliência é a essência das histórias de pobres que se tornaram
ricos que permeiam as culturas há séculos. Refere-se muitas vezes às habilidades de certos indivíduos de atingir
o sucesso em circunstâncias em que outros não conseguiriam atingir. Em um estudo sobre a história da resiliên-
cia e a discussão sobre sua natureza, resiliência é definida como “um processo dinâmico que inclui a adaptação
positiva no contexto de uma adversidade significativa”. A designação “processo dinâmico” realça o fato de que a
resiliência é uma palavra usada para uma série de fatores e todos influenciam se alguém terá ou não sucesso me-
diante uma adversidade.” FADEL, C.; BIALIK, M.; TRILLING, B. Educação em Quatro Dimensões: As competências
que os estudantes devem ter para atingir o sucesso. Boston: Center for Curriculum Redesign, 2015. p. 126-127.
• Cada um tem o seu tempo de despertar. Ninguém precisa saber, com certeza
e já de saída, ao que quer se dedicar. Muitas vezes, parte-se de um esboço, de
uma intuição inicial que vai ganhando forma e pode modificar-se completa-
mente mais adiante.
• Contar com estímulos é essencial, e é por isso que uma disciplina exclusiva
a um Projeto de Vida se faz necessária e o estudante não está sozinho nessa
fase da vida.
• Predispor-se aos desafios, à perseverança, à dedicação com afinco àquilo
que se quer conquistar é fundamental, uma vez que a pessoa é responsável
pela elaboração de si e de sua caminhada. Os resultados não são imediatos e
erros e acertos aparecerão pelo caminho.
• Somente a pessoa pode decidir o caminho que quer percorrer. O apoio da
família, dos amigos e dos professores é fundamental, mas enquanto colabora
para a concretização do desejo do estudante. Esse desejo é inegociável e não
pode ser preterido para realizar o que os outros querem e não o que o estu-
dante decidiu.
• Nos momentos de adversidade, Campbell manteve-se sereno, uma vez
que se concentrava no que aumentava a sua alegria de viver, atento ao
que aumentava a sua potência, ao que o enlevava, fazia-o feliz e pleno.
• Mesmo não sabendo o que era o seu “ser”, ou mesmo a sua “consciência”,
o autor sabia a que deveria se dedicar, certamente orientado pelo conheci-
mento do seu desejo. Concentrado nesse aspecto, atento àquilo que o fazia
se sentir cumprindo o seu destino no mundo, as outras perguntas foram
respondidas ao longo da vida.
• Quando a pessoa descobre o que a torna potente agindo no mundo e dedica-se
à realização dessa potência, quer dizer que, de alguma forma, ela já está lá; o
futuro se vive desde agora, desde aqui.
Avaliação
“Essa semana recebi um e-mail de despedida de uma amiga e parceira de trabalho. Ela vendeu
sua parte na sociedade da empresa que ela mesma havia montado, há anos, para tirar um
período sabático. Vai para a Europa estudar gastronomia e fotografia, suas duas paixões.
Não é a primeira nem última amiga minha, por volta dos 35 anos, com uma carreira bem-suce-
dida e vida estável, que toma essa decisão. Uns três anos atrás, um amigo próximo um dia disse
adeus ao emprego que tinha. Todos ficaram meio surpresos. O cara trabalhava há mais de uma
década em grandes empresas, era respeitado e tinha uma vida confortável no Rio de Janeiro.
134 A geração X está chutando o balde. In: Gabriel, F. A geração X está chutando o balde. Revista Carne Seca. Dispo-
nível em: icebrasil.org.br/surl/?653bf9. Acesso em: 26 dez 2020.
Fato é que histórias como essas têm sido cada vez mais comuns na minha geração. Enquanto
todos se preocupam com a urgência e ambição da Geração Y, a Geração X, imediatamente
anterior, está repensando seus conceitos e valores. Fomos criados acreditando que uma vida
feliz era falar línguas, fazer carreira, trabalhar a vida inteira numa ou duas grandes empresas,
comprar o apartamento próprio, construir uma família para sempre e ir pra Disney (ou Paris)
uma vez por ano. Uma vida estável e fixa, sem rompantes de aventura.
Acontece que grande parte da Geração X chegou aos 30, 40 anos e descobriu que para
juntar meio milhão e dar entrada, com sorte, num apartamento modesto que irá pagar até
seus 60 anos, o caminho é longo e o preço é alto, bem alto. Os poucos que conseguem,
heroicamente, conquistar seus bens e sonhos sem a ajuda dos pais, estão exaustos. Olham
em volta e mal têm tempo de curtir os filhos ou as férias exóticas que sonham (e têm di-
nheiro para tirar) para a Tailândia, Marrocos ou Havaí. Há também aqueles que ficaram tão
ocupados em conquistar aquilo que lhes foi prometido que deixaram para “daqui a pouco”
os filhos, os hobbies e a felicidade e perceberam, agora, que “desaprenderam a dividir”.
No meio disso, veio essa sedutora mobilidade contemporânea, mostrando a nós o que
nossos pais ainda não podiam nos ensinar, que é possível existir estando em qualquer
lugar e que não é uma mesa de escritório ou um cartão de visitas que nos faz mais nobre,
mas sim aquilo que de melhor podemos oferecer ao mundo. Só que descobrimos isso
depois de passarmos grande parte da nossa juventude preocupados em nos sustentar,
sermos bem-sucedidos, conquistar prestigio e reconhecimento. Para, enfim, ter a liberdade
de chutar o balde e sair por aí…”
Texto 2
Esta é uma pergunta clássica, bastante conhecida tanto no universo infantil quanto
adolescente e permanece sendo feita repetidamente pelos adultos.
Certamente foi feita a muitos de nós e continua sendo feita a muitos adolescentes. Mas,
ainda que a pergunta seja a mesma, as respostas mudam, se transformam de acordo com
a forma que eles se relacionam com o mundo que muda aceleradamente.
135 BARRETO, T. Org. Modelo Pedagógico. Os Eixos Formativos – Ensino Médio. 4. ed. 2020. Instituto de Correspon-
sabilidade pela Educação. p. 40-41.
Esse é um retrato possível do adolescente de acordo com a literatura. Mas, sabemos que a sua
capacidade de construir uma identidade e uma visão pessoal depende não só de capacidades,
mas de respeito pela sua identidade individual emergente.
E nesse sentido ele precisa do apoio dos adultos – familiares e professores – no aprendizado
sobre a aceitação do próprio corpo que se transforma; para sentir-se confortável com a própria
sexualidade e aprender a vivê-la de maneira segura e responsável consigo e com os outros,
entre outras questões.
Nessa fase, a presença dos Pais e Responsáveis e professores continua explicando como
a vida real funciona por meio de exemplos cotidianos e apoia o desenvolvimento da com-
preensão dos diferentes níveis de complexidade da realidade, ainda que tenha se instalado
o clima de contestação. Cultivar a consciência dessa realidade e ao mesmo tempo manter
os seus sonhos, frequentemente cria um estado de tensão nos adolescentes. Lidar com
essa situação exige o aprendizado de fazer escolhas e isso é uma sinalização importante
do nascimento de uma nova capacidade, que Senge (2005) conceitua como domínio pes-
soal. Essa consciência dual entre aquilo que você quer e aquilo que você tem é tipicamente
conduzida por meio da reflexão individual e representa um aprendizado para toda a vida,
essencial para o início da construção do Projeto de Vida.
Livro: Origem136
Autor: Thomas Bernhard
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2006
Número de páginas: 504
Publicados separadamente entre 1975 e 1982, os cinco breves relatos
autobiográficos reunidos neste volume tratam da infância e da adoles-
cência daquele que é um dos maiores nomes da literatura em língua alemã contemporânea,
o austríaco Thomas Bernhard. A causa (1975), O porão (1976), A respiração (1978), O frio
(1981) e Uma criança (1982) compõem o registro possível dos terríveis anos de aprendizado
e formação do homem e do escritor, estendendo-se cronologicamente do início da década
de 30 até por volta do final de 1950, quando Bernhard contava quase vinte anos de idade.
Em busca da própria origem, tudo quanto o escritor pode nos dar são indicações – do pai
biológico, que jamais conheceu; da tormentosa e delicada relação com a mãe; da influência
decisiva do amor materno; da relação de amor e ódio com Salzburgo, cidade para a qual
o avô o envia para estudar, alojando-o num internato que, no fim da guerra, se transforma
imperceptivelmente de nacional-socialista em católico fervoroso: apenas a troca do retrato
de Hitler pelo de Jesus Cristo denuncia a mudança nada mais que superficial.
Contudo, da trajetória sempre recheada de grandes expectativas traçada pelo avô, Bernhard se
desvia ao, de repente, abandonar o ginásio – o caminho para a universidade – e tomar “a direção
oposta”, afastando-se da Salzburgo reconhecida e estabelecida e da formação humanística, em
prol de um aprendizado como comerciante na desprezada periferia paupérrima da cidade, de
onde só sairá para dar início a um périplo por hospitais e sanatórios nos quais, em decorrência
de complicações pulmonares resultantes de uma gripe malcuidada, esteve à beira da morte.
136 Origem. Texto de orelha da edição brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. Tradução de Sergio Tellaroli.
Um acidente de trabalho sofrido pelo pai corta a renda familiar pela metade, e um só dos
filhos será escolhido para ir ao cinema aos domingos. A missão: contar a história do filme
para o resto da família. É nesse momento de ruptura que Maria Margarita descobre o talento
que tem para narrar. Ela se torna, pouco a pouco, a memória cinematográfica de sua região.
Além desse embate fascinante entre realidade e ficção, “A contadora de filmes” é um relato
delicado sobre a descoberta da puberdade e das agruras da adolescência. É, também, uma
narrativa reveladora sobre a tensão entre classes sociais, sobre o abuso do poder e a violência
que resulta da convivência de contrários no mesmo espaço geográfico.
Conta uma antiquíssima lenda grega que, após dez anos longe de casa, e tendo vencido
a famosa Guerra de Troia, Odisseu se põe a caminho, em direção a Ítaca, sua terra natal,
onde o aguardam a mulher, Penélope e Telêmaco, seu único filho. Mas, já no início da longa
jornada, o herói é vítima de um naufrágio e é resgatado pela bela ninfa Calipso, que decide
tomá-lo por esposo, aprisionando-o na ilha. Porém, mesmo tratado como um rei e em com-
panhia da mais bela criatura já vista, durante os dez anos de convívio com a ninfa, Odisseu
jamais foi feliz. Todos os dias, chorava de saudade da terra natal e da família.
Decidida a convencê-lo a ficar, Calipso argumenta que as mais terríveis provações aguardam
Odisseu pelo caminho; além disso, vinte anos após ele ter saído de casa, Penélope já não seria
mais a mesma, tendo perdido grande parte da beleza, enquanto ela, Calipso, seria eterna-
mente bela, pois era uma criatura divina. Dito isso, a ninfa oferece ao herói a suprema riqueza
dos deuses: se ele concordasse em permanecer ao lado dela, ela faria dele também um deus,
eternamente jovem, eternamente bonito. Odisseu retruca que o que ele quer é um destino
humano: quer envelhecer e morrer ao lado da esposa e do filho, sendo rei em sua terra, Ítaca.
Vencida, Calipso deixa-o partir.
Ao escolher o destino humano, consciente das tribulações que encontraria pelo caminho, é
que Odisseu se torna de fato Odisseu. Perseguido pelo Deus Poseidon (Netuno); perdendo
amigos devorados por gigantes (lestrigões); enfrentando a maga Circe, que transforma ho-
mens em porcos; combatendo o perverso ciclope Polifemo; resistindo ao canto de sereias
terríveis... Só assim ele podia se tornar de fato quem ele era: o único mortal a ir ao inferno e
retornar, pleno de sabedoria. Odisseu sabia que, enfrentando o destino humano, o homem
se enriquece de histórias. E, pleno de histórias, mesmo sendo mortal, vive eternamente na
memória dos outros homens. É por esse formidável ardil de vencer a morte mesmo sendo
mortais, que os deuses (que nunca morrem) invejam os homens.
Se tivesse se rendido às propostas de Calipso, Odisseu estaria até hoje ao lado da ninfa.
E jamais teria existido a “Odisseia”, o conjunto de versos que narram suas façanhas e nos
inspiram (Uma obra fascinante que certamente você vai ler um dia).
Para haver histórias, é preciso que se escolha um destino. E como todos nós, meros mortais,
temos também um destino, costuma-se dizer que cada um tem a sua Ítaca.
Em algum lugar do mundo nossas Ítacas nos esperam. Você já descobriu a sua?
Perseguir a nossa Ítaca é o nosso Projeto de Vida.
Nesta aula, você vai familiarizar-se com a elaboração de um Projeto de Vida, e já vai começar
estruturando o seu projeto. Não se trata de um documento rígido e inalterável. Projetar uma
vida é tarefa tão duradoura quanto a própria vida. E a cada vez que você mudar de opinião
ou de interesses poderá modificar o seu projeto, o quanto quiser. Mas, enquanto durarem
sonhos e os desejos que quer concretizar essa será a sua meta. A forma de atingir o seu
projeto, as habilidades necessárias para seguir rumo a sua Ítaca, os apoios necessários e
o passo a passo da sua trajetória, tudo deverá ser registrado e buscado com afinco. Certa-
mente, com o passar do tempo, você se surpreenderá com alguns registros – e não é para
menos, pois você terá se modificado e outras serão as palavras e percepções dessa sua
narrativa de vida. Importa por ora repensar os seus sonhos, que se expressarão em metas e,
consequentemente, em um Plano de Ação.
Quanto o rio e você já se modificaram desde a sua primeira aula de Projeto de Vida? Quando
lhe foi perguntado quem você era, o que você respondeu? E quem era você quando respondeu
o que respondeu? A pergunta ainda é a mesma, mas você já é outra pessoa. Para começar a
esboçar o seu Projeto de Vida, partamos então de quem você é agora.
- Qual o seu sonho? É o mesmo do ano passado? O que mudou e como ele se
lhe apresenta agora?
- Onde você quer chegar? Onde está sua Ítaca?
- Esses sonhos lhe parecem passíveis de realização? Como e através de quais
recursos? Quais as etapas que você vislumbra para alcançar seus objetivos e
em quanto tempo?
- Quais são os seus pontos fortes e seus pontos fracos? Em que você precisa
melhorar e como?
- Quais são os valores nos quais se apoia e que orientarão você no caminho?
Algo mudou do ano passado para cá? O que e como?
- Quais as barreiras que você vislumbra e que de alguma forma podem impedir
a realização do seu Projeto de Vida?
É provável que você tenha saído da última aula com muitas dúvidas. Isso é normal e muito
saudável: significa que algo em você está trabalhando e tentando se reorganizar interiormente.
Tenha um pouco de paciência e seja generoso consigo mesmo. Você não está sozinho.
Não foi por acaso que introduzimos esses estudos com o mito de Odisseu. Um dos
mais extraordinários recursos humanos é a capacidade que temos de contar histórias
e deixá-las como legado da aventura humana para as gerações futuras. Os mitos são
histórias exemplares, não porque nos obrigam a agir como os outros, não se trata disso.
São exemplares porque revelam que o herói é aquele que já esteve lá, já encontrou a sua
Ítaca, muitas vezes depois de uma série de sacrifícios. Os heróis são aqueles que foram,
voltaram e nos contaram que o caminho, desde o início dos tempos, já foi percorrido por
outros e que agora é a nossa vez de percorrê-lo.
Quem nos ensinou tudo isso foi o grande estudioso Joseph Campbell, ao falar que a saga
do herói é algo que cada um de nós, em algum momento da vida, precisará percorrer,
porque esse é o nosso destino. Leia, com atenção, o formidável relato de Campbell sobre
as angústias que por vezes nos afetam, a paciência e a coragem que nos são exigidas e
como precisamos contar com nós mesmos nessa elaboração de um Projeto de Vida, que
ele prefere chamar de bem-aventurança. Sempre que o professor sinalizar, participe com
suas ideias e expresse suas dúvidas.
“[…] muitas pessoas que vivem naquele âmbito de interesse que podem ser chamados
de triviais possuem a capacidade, que apenas aguarda ser despertada, de progredirem na
direção de um âmbito mais elevado. Eu sei disso. Vi acontecer com muitos estudantes.
Quando ensinava numa escola preparatória para meninos, eu gostava de conversar com os
que cogitavam sobre a carreira que pretendiam seguir. Um garoto se aproximava e pergun-
tava: “Você acha que eu posso fazer isso? Você acha que eu posso fazer aquilo? Você acha
que eu posso ser escritor?”
“Ah”, eu dizia, “não sei. Você é capaz de suportar dez anos de frustração, ninguém prestando
atenção a você, ou você acha que vai escrever um best-seller logo na primeira tentativa? Se
você tem garra para perseverar no que realmente quer, não importa o que aconteça, então
vá em frente.”
Então aparecia o papai e dizia: “Não, você deve estudar Direito, porque oferece muito mais
perspectiva financeira, você sabe”. Bem, isso é a borda da roda, não o eixo; não é perseguir
a bem-aventurança. Você pretende se dedicar à fortuna ou à bem-aventurança?
Eu não me sentia pobre, apenas sabia que não tinha dinheiro. As pessoas eram muito boas
umas com as outras, naquele tempo. Por exemplo, descobri Frobenius, que de repente me
entusiasmou, e eu quis ler tudo o que ele tinha escrito. Então simplesmente fiz a enco-
menda a uma livraria que tinha conhecido, em Nova Iorque, e eles me enviaram os livros,
dizendo que não precisava pagar, até conseguir um emprego – o que aconteceu quatro
anos depois.
Havia um velhinho maravilhoso, em Woodstock, que tinha uma propriedade com uns quarti-
nhos que ele alugava por vinte dólares ao ano, pouco mais, pouco menos, a qualquer jovem
que, na opinião dele, tivesse algum futuro nas artes. Não havia água corrente, apenas aqui e ali
um poço e uma bomba. Ele dizia que não mandava instalar água corrente porque não gostava
do tipo de gente que isso atraía. Foi lá que eu realizei a maior parte das minhas leituras básicas.
Foi esplêndido. Eu estava no encalço da minha bem-aventurança.
Em casa
Compartilhe com seus familiares o resultado do seu primeiro Projeto de Vida.
Dialoguem, considerando os seguintes aspectos:
- O que eles acharam do projeto? Pensam que é viável? Por quê?
- Vocês discordaram em algum aspecto? Qual? Por quê?
- Você saiu da conversa mais motivado ou desanimado? Conte um pouco.
- Quais as etapas do seu projeto que eles consideraram mais difíceis? Por quê?
Como vocês pretendem superá-las?
- Durante o diálogo, surgiu algum aspecto que você não havia observado? Qual?
137 CAMPBELL, J. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athena, 2011. ed. 28. p. 74, 126-127. Tradução de Carlos Felipe Moisés.
Quem nunca sonhou ou desejou algo na vida? Um emprego melhor, casa, carro, estabili-
dade financeira. Sonhos, desejos, ambição são inerentes a qualquer pessoa, contudo, para
alcançá-los, é necessário esforço.
Desde cedo o jovem naturalmente nutre desejos com os quais estão diretamente ligados
a ambição e o esforço. O intuito dessa aula é mostrar ao jovem que ele pode ou deve
ter desejos e ambições e, ao mesmo tempo, orientá-lo a respeito das ações a serem
tomadas na busca por suas conquistas, ao introduzir e fortalecer valores éticos e morais
importantes no mundo competitivo em que se vive hoje.
Nosso objetivo nessa aula é refletir sobre a sistematização das ações necessárias à construção
eficiente de nosso Projeto de Vida, a partir do estabelecimento de metas e prazos definidos.
Objetivos Gerais
• Entender a relação que há entre ambições e esforço;
• Perceber a importância de elencar suas ambições e priorizá-las;
• Perceber a relação existente entre ambição, valores e esforços com plano e
estilo de vida.
Roteiro
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Atividade:
Questionário para sistematização das
Organizando 20 minutos
ambições.
meus esforços.
Atividade:
Padrão e Estilo Questionário sobre estilos e padrões de vida. 20 minutos
de vida.
Objetivos
Desenvolvimento
A atividade “Mundo das Ambições” (Anexo 1), no seu primeiro momento, consiste em desta-
car as duas principais concepções da palavra ambição. No conto chinês, o que se destaca é o
conceito de ambição como uma característica humana negativa que se assemelha à inveja e
à cobiça. Qualquer parte do texto destacada pelos estudantes - que exemplifique o interesse
do pedreiro em ser ou ter algo que não é fruto de ambição genuína e única dele próprio - deve
ser aceita como resposta. Já na reportagem da revista IstoÉ, encontramos uma visão mais
positiva do ambicionar. Primeiro, destaca-se a obstinação da empresária em tornar realidade
seu sonho, e a ambição, neste caso, é vista simplesmente como característica das pessoas
determinadas, como o combustível daqueles que vão atrás de desejos pessoais e profissionais
e querem crescer.
Espera-se como resposta para a proposição ‘b’ que os estudantes se identifiquem com esta
segunda concepção de ambição, pois esta tem como base o agir enquanto protagonista
de sua própria vida, característica sempre destacada em nossas aulas de Projeto de Vida.
Para as letras ‘c’, ‘d’ e ‘e’, o estudante fará o esforço de lembrar, no mínimo, uma das vezes
que já ambicionou algo em sua vida. É preciso que seja enfatizada a importância de destacar
os motivos que originaram tal ambição, bem como as ações que foram desencadeadas no
sentido de obter o objeto do desejo, tais como mudança de planos; além dos sentimentos
vividos quando da concretização ou não do sonho. Seria interessante ouvir o que alguns
pares têm a dizer sobre cada uma das questões propostas.
Objetivo
Desenvolvimento
Na atividade “Organizando meus esforços” (Anexo 2), será destacada a dimensão dos
esforços. Aqui, o estudante terá que pensar sobre os primeiros passos a serem dados
para a concretização futura de suas ambições. Deve ser lembrado de que a definição de
prazos e metas para cada ação é crucial para o futuro monitoramento do processo.
Objetivo
Desenvolvimento
A atividade “Padrão e estilo de vida” (Anexo 3), tem como base a reportagem do portal de
notícias da Globo, G1, sobre a morte de um famoso matemático francês que, numa certa
fase de sua vida, renuncia a seu estilo de vida, não só como uma maneira de buscar o que
Avaliação
Texto 2139
Sendo a Escola da Escolha o lugar onde se inicia a construção dos Projetos de Vida dos
jovens, a prática educativa deve ter em mente que todos atuam em benefício dessa
construção, incialmente levando-os a acreditar que, para conquistar algo, é preciso acre-
ditar que é possível, que se houver desistência antes mesmo de tentar, o sonho jamais
sairá do plano da imaginação. Para isso, é fundamental que os jovens compreendam a
importância de estarem comprometidos com aquilo que desejam, com o que sonham.
138 BARRETO, T. Org. Modelo Pedagógico. Os Eixos Formativos – Ensino Médio. 4. ed. 2020. Instituto de Correspon-
sabilidade pela Educação. p. 40-41.
Estar aberto às novas experiências é muito importante, mas é fundamental levar o jovem a
compreender que escolhas pressupõem compromissos diante do que se escolheu.
Estar vivo significa também poder errar. Os erros ocorrem e não devem ser reprimidos ou
censurados, mas encarados como uma oportunidade de rever o que foi feito, aprender com
as lições geradas por ele e mudar os caminhos para poder acertar numa situação futura.
Mas, lidar com o erro exige um aprendizado importante. Lidar com os erros e frustrações nos
leva à condição de saber como conviver com as situações mais arriscadas, de não ter receio
das situações desafiantes, daquelas onde talvez “possamos errar”. Uma postura assim diante
do erro não significa que não existirão cobranças diante dos compromissos dos estudantes,
mas que elas virão acompanhadas da expressão de confiança no seu potencial e na sua
capacidade de acertar.
Os acertos devem ser valorizados e devem levar o estudante a compreender que eles têm
um valor diferente quando precedidos de dedicação e esforço porque nos gratificam e que
esse valor existe como parte da recompensa pelo acerto.
Na estante
Livro: O Príncipe
Autor: Nicolau Maquiavel
Editora: 34
Ano: 2017
Número de páginas: 272 páginas
Referência Iconográfica
Peixinho pulando de aquário em estilo simples. 1 Ilustração. 2018. Disponível em: icebrasil.org.br/
surl/?71d25c. Acesso em: abr 2021.
1º Momento
Texto 1
Um Ambicioso Pedreiro140
Há muitos anos, na terra de Zhuang, havia um pedreiro muito habilidoso cuja fama até já
tinha chegado às regiões vizinhas.
Um dia, um homem muito rico o mandou fazer uma obra. O pedreiro, quando lá chegou,
ficou extremamente impressionado com o luxo que havia naquela casa, nas vestimentas e
nas sedas e brocados, na mesa repleta dos mais diversos e saborosos petiscos, na quanti-
dade de empregados etc. Invejoso, abandonou o trabalho e só pensava na maneira de vir a
ser, ele também, um homem muito rico.
Ora, os deuses imortais ouviram os seus desejos e fizeram dele um homem muito rico.
Ao se ver assim, de repente, ele ficou louco de alegria.
Mas, um belo dia, passou diante de sua casa um mandarim sentado numa cadeirinha
carregada pelos seus criados. Por onde ia era aclamado pelas pessoas que se inclinavam
dando-lhe passagem. Mas o pedreiro, todo inchado no seu orgulho de “novo rico”, recusou
a inclinar-se para saudar o mandarim, dizendo baixinho: “Não tenho eu também tantos
servos como ele? Por que teria então de me inclinar diante dele?”
Por azar, o mandarim o ouviu e, estupefato com tal insolência, ordenou aos seus homens
que o prendessem e lhe dessem uma bela surra depois de multá-lo.
— Ai! Ai! Ser rico não é nada, ser mandarim é melhor ainda. E desde então, só pensava
numa forma de se tornar um grande mandarim.
Acontece que os deuses imortais acabaram ouvindo seus desejos e fizeram dele um grande
mandarim. O pedreiro mais uma vez ficou louco de alegria. Porém, usando mal seu poder
como mandarim, tratava o povo com tirania, provocando ira e ódio de todos.
140 INSTITUTO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS DE PEQUIM. Contos Populares Chineses. 1. ed. São Paulo: Editora Landry,
2001. p. 10-11.
Ao tornar-se um camponês zhuang, o antigo pedreiro ia todos os dias trabalhar nas encostas
das montanhas. Era verão, e o sol queimava-lhe os miolos. Creio que, por estar um pouco
com miolo mole, foi que nosso pedreiro começou a desejar dia e noite ser ele mesmo um sol.
Sim: nada menos que um sol! E os deuses imortais fizeram dele um sol. Preso ao céu ele
lançava raios de “fogo” que toda gente receava, e ele se divertia com seu poder. Ora, um
belo dia, uma nuvem avançou com muita rapidez e escondeu o sol.
— E eu que julgava que o sol era o mais poderoso! Exclamou o pedreiro, com certo despeito.
— Ora, afinal, ele não é nada perto de uma nuvem!
E como acontecera anteriormente, tanto ele desejou que acabou se tornando uma nuvem
– leve, livre e solta nos céus. Mas um belo dia, sem perceber, veio um vento forte e o desfez
num abrir e fechar de olhos. Do pequeno pedaço que sobrou, que mal aproveitava a liberda-
de do céu, podiam-se ouvir as reclamações do pedreiro, que agora queria ser vento. E assim
foi até um dia o vento bater numa rocha, e descobrir que por mais que soprasse, as rochas
das altas montanhas eram o seu obstáculo. Tornou-se então uma rocha, e imóvel ficou um
bom tempo na encosta de uma bela montanha. Até que, um dia, um grupo de pedreiros
descobriu que aquela pedra servia exatamente para o seu trabalho. Então, começaram a
cortá-la. À vista disso, o pedreiro pediu ajuda aos deuses imortais.
— Não foram boas as razões que te fizeram sair de sua condição primeira. É melhor que tu
voltes a ela!
Desiludido de suas aventuras, ele parou de cobiçar a torto e direito. E resolveu se dedicar
com afinco ao seu trabalho, sem julgar e invejar a vida alheia. Os seus clientes aumentaram
dia a dia. Tornou-se, então, um notável pedreiro que era tido em consideração por toda
gente de sua terra, e de terras vizinhas.
Ele muito aprendeu com tudo aquilo. Porém guardava no seu coração suas aventuras e des-
venturas, que com o passar do tempo foram se tornando suas preciosas pedras de sabedoria.
O despertar da ambição141
Até não muito tempo atrás, apontar alguém como ambicioso era quase uma ofensa no
Brasil. A palavra, carregada de conotação negativa, era praticamente um pecado. A má
impressão nasceu da confusão que as pessoas fazem com a ganância – sentimento que
faz o indivíduo passar por cima de tudo e de todos. Hoje, porém, a ambição está sendo
redimida e seu verdadeiro significado resgatado.
(...)
Essa visão mais moderna, que eleva a ambição a uma espécie de força motriz do sucesso,
transformou-a também em objeto de curiosidade científica mundo afora. É possível medi-la?
Podemos turbiná-la? Ela é apenas um sentimento ou tem explicação biológica? Por si só é
capaz de explicar por que alguns são mais bem-sucedidos do que outros? Já há respostas
para algumas dessas perguntas. Estudos mostram, por exemplo, que a ambição, essa mistura
de energia com determinação, se manifesta no sistema límbico, área do cérebro relacionada
às emoções e aos hábitos. Pesquisadores da Universidade de Washington usaram imagens
cerebrais para investigar a persistência – a habilidade de focar em uma tarefa até terminar –,
considerada a mola propulsora da ambição. Eles recrutaram um grupo de estudantes e deram
a cada um questionários elaborados para mensurar o nível de perseverança, com fotos agra-
dáveis e outras desagradáveis, enquanto um aparelho de ressonância magnética registrava o
que se passava na cabeça dos alunos. Em geral, os estudantes com as maiores pontuações
(os mais persistentes), apresentaram maior atividade na região límbica.
(...)
E como despertar a ambição? “Com metas e autoconhecimento”, diz a psicóloga Ana Maria
Rossi, presidente do Isma-BR. Vale lançar mão de todas as alternativas disponíveis: orienta-
ção profissional, cursos específicos para melhorar a autoestima, terapias e a compreensão
de que a vida se constrói aos poucos, constantemente, com dedicação e ética. Junto com o
desempenho profissional, as metas pessoais são igualmente importantes. Projetos a dois,
constituir família, viagens, tudo deve ser planejado em equilíbrio com a carreira, para depois
não olhar para trás e perceber que coisas essenciais se perderam no caminho.
141 FRUTUOSO, S. G. O despertar da ambição. Revista Isto É. 21 jan 2016. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?f06e8e.
Acesso em: 26 dez 2020.
142
2º Momento - Um experimento
Pensemos no futuro, vamos vislumbrá-lo. Adotemos aqui a vertente mais positiva da palavra
ambição. Vamos entendê-la, basicamente, como sinônimo de escolher para chegar a um
objetivo. Como um adjetivo positivo que define pessoas determinadas e é a mola propulsora
daqueles que vão atrás de desejos pessoais e profissionais e querem crescer. Dos que
sabem planejar, impor metas e trabalhar por cada uma delas.
Nesta fase de sua vida, de importantes escolhas pessoais e principalmente profissionais, acre-
ditamos que ambição, sonhos e planos não faltam a você. É hora de compartilhá-los e ser mais
práticos no sentido de aprender a trilhar o caminho para alcançar os objetivos. Responda às
seguintes questões e siga as instruções do professor para participar da dinâmica.
142 Ambição. In: HOUAISS, A.; VILAR, M. S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 182.
A volta
Partilhe como recebeu as sugestões dadas pelo colega. Fale dos seus sentimentos e discuta
a relevância e precisão das sugestões dadas.
Segundo uma pesquisa sobre ambição realizada em 2009 pela psicóloga Ana Maria
Rossi, presidente do Isma (International Stress Management Association) no Brasil,
quatro características se destacam em indivíduos que se consideram ambiciosos, eles
têm objetivos definidos para diferentes áreas da vida, priorizam um ou dois objetivos e
traçam ações específicas, monitoram estes objetivos e aprendem com o fracasso.
O esforço que fazemos para executar tarefas é crucial para alcançarmos um objetivo traça-
do e chegarmos à nossa Ítaca. Ambicionar, sonhar, querer são instâncias do pensamento
humano que se apresentam muito mais como virtuais e intangíveis. São os esforços que
fazemos, o planejar, o executar, o avaliar e o ajustar que formam a base concreta, lógica e
prática que nos faz visualizar algo que, para muitos, um dia parecia distante, nossas ambi-
ções. Diariamente, somos bombardeados por motes e ditados populares que valorizam o
esforço que fazemos em nossas atividades, o colocando como uma virtude. Quem de nós
já não ouviu frases do tipo: “ele é gente que faz” e “ele não mede esforços para conseguir o
que quer”? Portanto, esse é o seu desafio agora em mais uma etapa da construção do seu
Projeto de Vida. Como destacamos anteriormente, nada é estanque, e tudo é passível de
mudanças; o que nos parece primordial hoje, pode não ser daqui a algum tempo e entende-
mos isso. Contudo, delinear e organizar nossos esforços é preciso. Mãos à obra...
Priorize (destaque) duas das suas ambições acima, se possível alguma de médio ou
longo prazo, e trace ações específicas para a concretização destes objetivos. Defina
prazos alinhados às metas, de preferência.
Após recusar a medalha Fields, ele proibiu divulgação de suas pesquisas. Ativista antiguerra,
teve trabalhos inovadores na álgebra e na geometria.
Diz a lenda que seus talentos não eram óbvios quando ele era jovem. Foi enquanto estava
estudando na Universidade de Montpellier que dois professores lhe deram uma lista com
14 questões, considerada o trabalho de um ano inteiro, e pediram que ele escolhesse uma.
Grothendieck voltou alguns meses depois com todas as questões resolvidas.
“Ele foi um dos gigantes da matemática, que transformou totalmente a disciplina com seu
trabalho”, disse Cedric Villani, que conquistou a medalha Fields em 2010. O presidente francês,
François Hollande, enalteceu a memória de “um dos maiores matemáticos”, que “também era
uma personalidade extraordinária no que diz respeito à sua filosofia de vida”.
143 PRESSE, F. Morre aos 86 anos o revolucionário matemático Alexander Grothendieck. Portal G1. 14 nov 2014.
Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?72930e. Acesso em: 26 dez 2020.
“Seu maior e ímpar ato de violência contra a comunidade científica foi que ele parou
de fazer matemática”, disse o celebrado matemático Denis Guedj à revista francesa
SciencesetAvenir.
Tesouro escondido
Em seus últimos anos, surgiram rumores de que Grothendieck tinha se rendido ao fervor
religioso. Ele se mudou para uma minúscula cidade nos Pirineus, onde refutava visitas e cui-
dava zelosamente de sua privacidade. Ele tentou varrer qualquer traço de sua vida pregressa,
escrevendo uma carta enfurecida a um de seus estudantes em 2010, pedindo que todo o seu
catálogo anterior fosse removido das bibliotecas e recusando-se a permitir republicações.
Com seu falecimento, uma nova geração de estudantes de matemática pode ter a chance
de explorar os tesouros que ele deixou para trás e apreciar totalmente o impacto que ele
teve na disciplina.
Depois de ler o texto que traz um pouco da vida de Alexander Grothendieck, vamos
refletir sobre as possíveis causas que o levaram a mudar de vida e ter novas ambições.
Pondere...
Viemos ao mundo para sermos felizes e é através do ambicionado e desejado que encon-
tramos o essencial para nossa vida. Porém, a notícia acima nos coloca a seguinte questão:
será que neste mundo capitalista e globalizado não estamos deixando que nossas ambições
sejam o reflexo de necessidades criadas pela mídia e pelo consumismo? Nossos desejos
não deveriam ser uma projeção de nós mesmos?
1) Que mudança de estilo de vida o matemático teve e quais foram suas razões?
2) Que padrão de vida você almeja ter? Analise sua ambição e nos diga: ele é
diferente ou o mesmo dos seus pais? Neste momento de sua vida, como você
o descreveria?
O foco desta aula está justamente na importância e nas vantagens de estabelecer uma
sequência lógica de ações para chegar a um resultado, que tanto pode ser uma vida plena e
produtiva como uma tarefa rotineira bem realizada
e cumprida a contento. Para enfatizar isso, usamos
vários exemplos históricos ilustrativos dos riscos do
improviso, que significa realizar algo sem antes ter
refletido sobre o que pode acontecer.
Roteiro
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Atividade:
Em duplas: leitura e compreensão de textos
Os pequenos 40 minutos
sobre planejamento.
planejamentos.
Objetivos
Com a técnica de estudo de caso-análise (Anexo 1), os estudantes podem discutir, destrinchar
e esclarecer situações sem a preocupação de chegar a uma solução ou resposta “certa” e
única. Há muitas alternativas possíveis dentro do limite dos dados de cada caso apresentado.
Isso enriquece bastante o trabalho em grupo e facilita a participação de todos no processo de
analisar – tão importante para aprender a planejar.
Os eventos “malfadados” que a atividade apresenta, prestam-se muito bem para retomar
o tema das premissas e dos riscos. Se o professor achar conveniente, pode orientar os
estudantes no sentido de tentar identificar possíveis premissas para as quais os riscos não
foram devidamente considerados. Essa também é uma característica de ação improvisada.
É importante, durante esta atividade, que o professor esteja atento para não deixar que
predomine a tendência a se fechar em conclusões únicas. (Vale insistir: o objetivo não
é chegar a uma solução ou a um consenso, e sim ampliar e enriquecer a análise com
diferentes possibilidades, sem dogmatismo).
1. O professor explica que os grupos vão ler e analisar os casos narrados na atividade;
2. Orienta o grupo a ler em conjunto cada caso, analisar os dados disponíveis sobre a
situação e discutir possíveis razões para os problemas que estariam ligados à falta ou
a erros de planejamento:
3. Os grupos apresentam suas conclusões para cada caso nos dez minutos finais do tempo
previsto para a atividade;
4. Cabe ao professor decidir se ele mesmo faz um resumo de conclusão ou se pede aos
estudantes que o façam individualmente.
Objetivos
Desenvolvimento
Avaliação
O texto de apoio neste estudo é um material que pode servir de base a boas intervenções
do professor, ao circular pelos grupos em atividade, especialmente para reforçar a diferença
entre improvisar e planejar.
Respostas e comentários
Mais uma vez, os objetivos dos estudos servem de guia para comentar com o estudante sua
produção. Para o professor, o resultado também ajuda a indicar a necessidade ou não de
retomar alguns aspectos que possam ter ficado de fora, individualmente ou com a classe.
A atividade proposta pede ao estudante que prepare e exponha suas conclusões apresen-
tando uma preocupação de apresentação gráfica. Esse tipo de proposta se presta para que
o estudante experimente outras modalidades expressivas de registro da palavra escrita que,
eventualmente, podem ajudá-lo a exprimir suas ideias com maior riqueza e ênfase. O caráter
lúdico da atividade – nunca é demais lembrar – torna-a propícia ao surgimento de novas
ideias e conexões.
Quase 40 anos e várias reedições depois, o livro continua valendo a leitura e ajudando muita
gente a destrinchar os mistérios da elaboração de planos – essas coisas que o homem faz des-
144 FADEL, C. BIALIK, M. TRILLING, B. Educação em Quatro Dimensões: As competências que os estudantes devem
ter para atingir o sucesso. Boston: Center for Curriculum Redesign, 2015. p. 126.
“— Então eu começaria pela noção de planejamento que creio ser a mais simples e comum:
o contrário da improvisação. Uma ação planejada é uma ação não improvisada. Uma ação
improvisada é uma ação não planejada. De acordo?
O problema então é saber porque (sic) em certas circunstâncias eu improviso e porque (sic)
às vezes eu me decido a não improvisar. Em primeiro lugar, parece que me decido a não
improvisar quando tenho um objetivo em vista e estou interessado em alcançá-lo. Se não
quero chegar a nada, se quero somente passar o tempo, viver o momento presente, dei-
xar-me surpreender pelo que for ocorrendo, vou improvisando todas as minhas ações, ao
sabor do vento. Isso é evidentemente gostoso, mas não posso me dar permanentemente a
esse prazer, porque quero alcançar determinados objetivos, então não me resta outro remé-
dio senão tentar prever melhor minhas ações e seus efeitos. Ou pelo menos aquelas ações
que são necessárias à realização dos objetivos que quero alcançar. O critério, portanto, é
o de querer chegar a algo, ter algo em vista que realmente interessa realizar ou obter. Seja
quando o objetivo a realizar é uma escolha pessoal minha, seja quando ele resulta de uma
decisão coletiva.
(...)
— Mas há outro tipo de situação em que sou levado a não improvisar: quando diferentes
pessoas ou organismos participam da ação, todos interessados ou pelo menos comprome-
tidos na realização de um objetivo comum. Nesse caso, parece óbvio que a improvisação
de todos e de cada um só levará à realização do objetivo comum se houver interferência de
algum poder sobrenatural.
(...)
— (...) Mas nessa mesma linha de raciocínio a gente talvez pudesse identificar ainda um
outro tipo de situação em que não se pode improvisar: quando os objetivos são meio
difíceis de alcançar.
— Está bem, acho que está claro. Como contrário de improvisar, planejar fica sendo então o
mesmo que preparar bem cada ação, ou organizar adequadamente um conjunto de ações
interdependentes. É isso que você quer dizer?
(...)
— Assim, se você está realmente interessado em chegar aos objetivos previstos, você não pode,
depois de começada a ação, passar a improvisar na solução dos problemas que começam a
surgir, na correção das decisões que começam a se mostrar erradas, na consideração de si-
tuações inesperadas que sua capacidade de previsão não pôde identificar previamente. Se a
partir desse ponto você começa a improvisar, a coisa vai por água abaixo. Não terá adiantado
muito o fato de se ter preparado e organizado tudo direitinho antes da ação começar. Se você
se decide a não improvisar, para garantir a realização dos resultados, você tem que se dispor
não somente a preparar tudo muito bem como a (sic) acompanhar com o mesmo cuidado a
própria realização da ação. Você tem que estar pronto para introduzir as modificações que se
mostrarem necessárias, nas decisões tomadas anteriormente.
— Tem também o depois. Em geral, quando me decido a não improvisar, frente a uma situação
qualquer, isso não me ocorre uma só vez na vida.
É muito provável que surgirão outras ocasiões em que terei interesse em realizar objetivos
similares. Principalmente se tiver dado certo na minha primeira experiência de ação planejada.
(...) Vou verificar o que deu certo nas minhas previsões e nas correções introduzidas, o que
não deu certo, porque (sic) acertei nisso e porque (sic) errei naquilo. Assim, da próxima vez
que estiver numa situação do mesmo tipo, disporei de mais elementos para decidir melhor na
preparação da ação. Improvisarei menos. Ou seja: planejar fica sendo sinônimo de preparar e
organizar bem a ação, somado a acompanhá-la para confirmar ou corrigir o decidido, e somado
ainda a revisá-la e a criticar a preparação feita, depois da ação terminada.”146
Referência Iconográfica
Conceito de diagrama criativo de idéias de lâmpada. Fotografia e Ilustração. 2019. Disponível em:
icebrasil.org.br/surl/?8e63c9. Acesso em: abr 2021. (Adaptado)
146 FERREIRA, F. W. Planejamento Sim e Não: Um modo de agir num mundo em permanente mudança. 10 ed. 1988.
São Paulo: Paz e Terra. p. 15-19.
É necessário que você pesquise mais detalhes sobre os casos abaixo para encontrar os
erros no planejamento das ações. Siga as orientações do professor para realizar a atividade
em grupo.
N° do
CASO ANOTAÇÕES
CASO
A seguir, você tem vários textos curtos. O primeiro deles resume o que o planejamento envolve.
Os demais trazem exemplos de pequenos planejamentos que facilitam a vida cotidiana.
Texto 1
Uma ação planejada é uma ação não improvisada. Uma ação improvisada é uma ação
não planejada
“Como contrário de improvisar, planejar fica sendo então o mesmo que preparar bem cada
ação, ou organizar adequadamente um conjunto de ações interdependentes.”
“Ao preparar ou organizar previamente as ditas ações, você está fazendo previsões, você
está supondo que as coisas devam se passar de determinada forma no futuro.”
“Se você se decide a não improvisar, para garantir a realização dos resultados, você tem
que se dispor não somente a preparar tudo muito bem como a (sic) acompanhar com o
mesmo cuidado a própria realização da ação. Você tem que estar pronto para introduzir as
modificações que se mostrarem necessárias, nas decisões tomadas anteriormente.”
“Planejar fica sendo sinônimo de preparar e organizar bem a ação, somado a acompanhá-la
para confirmar ou corrigir o decidido, e somado ainda a revisá-la e a criticar a preparação
feita, depois da ação terminada.”
O texto 1 menciona quatro etapas no planejamento. Indique-as nas linhas abaixo, na ordem
sequencial:
1–
2–
3–
4–
147 FERREIRA, F. W. Planejamento Sim e Não: Um modo de agir num mundo em permanente mudança. 10. ed. 1988.
São Paulo: Paz e Terra. p. 15-19.
Planejamento na cozinha
Não se espante com a linguagem da receita a seguir! Ela faz parte do livro mais antigo
de culinária em língua portuguesa: Um Tratado da Cozinha Portuguesa (século XV), de
autor desconhecido, originalmente manuscrito. O livro todo, com escrita adaptada para o
século XXI, pode ser baixado no portal da Biblioteca Nacional, no endereço:
icebrasil.org.br/surl/?291e42. Acesso em: 26 dez 2020.
“CASQUINHAS Tomem cidras verdes, partam-nas em quatro ou oito partes e tirem-lhe todo o
miolo, que fiquem bem fininhas, colocando-as em seguida numa vasilha com água fria. A seguir
deem uma pequena fervura nas cidras, com um pouco de sal na água, voltando-as em seguida
para água fria. Deixem as cascas de infusão durante três dias, trocando-lhes a água duas vezes
ao dia. No fim desse tempo levem as cidras a cozer, até que possam ser perfuradas facilmente
com um alfinete. Façam uma calda e coloquem dentro as fatias de cidra, de maneira que estas
fiquem bem cobertas. Durante nove dias permanecem as fatias nessa calda, e cada dia levam
uma fervura. No último, acrescentem algumas gotas de água-de-flor à calda, levando a compota
mais uma vez ao fogo, para uma última fervura.”148
• Cronograma de ações:
• Riscos e restrições:
148 MINISTÉRIO DA CULTURA. Fundação Biblioteca Nacional Departamento Nacional do Livro. Um tratado da
cozinha portuguesa do século XV. [Coleção de receitas, algumas bastante originais, para o preparo das mais
variadas iguarias] – p. 8. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?291e42. Acesso em: 26 dez 2020.
Uma pessoa ouviu dizer que, pela manhã, nossa força de vontade é maior. Para que seus
dias sejam mais produtivos, resolveu planejar uma nova rotina matinal:
- Quais dos 10 itens dessa rotina matinal poderiam ser úteis para sua
própria vida?
1. Você precisa saber por que precisa ter seu espaço de estudo/trabalho organiza-
do: não consegue achar o que procura? Alguém exige isso de você? Ou você fica
nervoso com a bagunça? Ou se distrai com coisas que estão ali e não deveriam
estar? Comece escrevendo sua razão para organizar a escrivaninha.
2. Comece por esvaziar ao pôr no chão tudo o que está sobre a escrivaninha,
deixando no lugar apenas o que for permanente (computador, impressora,
por exemplo). Examine tudo o que está no chão e livre-se do que é desneces-
sário e já deveria ter ido para a cesta de lixo.
3. Decida o que deve ficar sobre a escrivaninha – as coisas que precisam estar à
mão com frequência, sem perda de tempo. Por exemplo: você usa grampeador
todo dia? Se a resposta for não, é sinal de que ele pode ficar numa gaveta ou
prateleira. Se for sim, ele fica na escrivaninha.
4. Deixe espaço livre para escrever à mão, mesmo se você usa computador a maior
parte do tempo. É importante poder anotar, esboçar, rabiscar rapidamente,
quando vem uma ideia, uma inspiração, uma urgência.
5. Organize os papéis soltos numa bandeja ou caixa (ou em duas, uma para o
que já está pronto, outra para o que está em andamento).
6. Se a pilha de papéis estiver crescendo muito, verifique se a “montanha” não
deve ser reduzida – pode haver coisas atrasadas a retomar. Pelo menos uma
vez por semana, procure chegar perto do vazio de papelada na escrivaninha,
já que esse não é o lugar definitivo para os papéis!
7. Por último, a decoração: a maioria das pessoas gostam de ter fotos e outros
objetos “queridos” na escrivaninha. Escolha os seus com atenção e deixe-os
visíveis. Eles são importantes, pois representam sua identidade, seus gostos
e também seus valores.
Precisando de inspiração?
• Ao experimentar essa ação, você certamente vai encontrar as
formas que expressam melhor a pessoa que só você é (nunca é
demais lembrar que o autoconhecimento é condição indispen-
sável para se projetar o futuro!).
• Uma busca de imagens na internet com a expressão “poesia
concreta” certamente vai trazer boas surpresas e inspirações.
Os poetas concretistas descobriram maneiras surpreendentes
de dar vida às palavras.
• Exerça sua liberdade na construção e na comunicação de seu
projeto de uma vida autônoma, solidária e competente.
Em todo projeto alguém olha para o futuro partindo de algumas suposições dadas como
certas sobre o ambiente externo ao projeto, ou seja, sobre o ambiente em que se vai agir
seguindo determinados passos para transformar ideias em realidade. Essas “suposições
dadas como certas” são as PREMISSAS.
Estas duas aulas abordam as premissas em relação com a visão, a missão e os valores, com
ênfase na diferença entre premissas, riscos e restrições – uma das grandes dificuldades
para quem faz planejamento. Identificar premissas, riscos e restrições são essenciais para
que um projeto tenha êxito, pois cada premissa está associada a um ou mais valores e à
sua visão de futuro.
Objetivos Gerais
• Apresentar o conceito de premissas;
• Estabelecer relações entre premissas e valores;
• Definir premissas do Projeto de Vida.
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Objetivos
Desenvolvimento
O professor é a pessoa mais indicada para decidir se a atividade envolverá dois grupos
grandes, cada um com metade dos estudantes, ou um número maior de grupos, sendo a
metade deles de reconhecimento e a outra metade de relacionamento, dependendo do
número de estudantes em sala de aula.
Esse tipo de técnica presta-se muito bem para aprofundar discussões e chegar a conclu-
sões, além de facilitar a participação individual e a retenção das informações essenciais.
Permite igualmente que se ganhe tempo com a divisão de tarefas, cujas conclusões serão
depois compartilhadas.
Fica a critério do professor o registro das conclusões para apresentação. Uma possibilida-
de é cada grupo resumir suas conclusões numa folha grande que será exposta num quadro
tipo flip-chart, por exemplo, ou mesmo na parede, o que permite visualizar facilmente os
pontos comuns. Isso também pode ser feito na lousa.
Em casa
As premissas e os valores por trás da visão e da missão (Anexo 2)
A atividade propõe reflexão e exercício no sentido de identificar premissas
ligadas a exemplos reais de definições de visão e missão.
Pede-se também ao estudante que traga para a aula seguinte sua represen-
tação em imagens (colagem, desenho etc.) de Visão de Futuro. É bom que o
professor reforce oralmente essa solicitação, pois esse material será utilizado
para a atividade da aula seguinte.
Objetivos
Visão é a projeção de si mesmo num modo de vida coerente com sua identidade, seus
sonhos e valores pessoais.
Premissas são os pontos de partida para que a visão se realize e a missão se cumpra.
Das premissas decorrem os objetivos e as metas.
É possível que surjam mais diferenças na terminologia utilizada do que realmente no plano
das ideias. Por exemplo: alguém pode ter usado a palavra “independência” para uma pre-
missa, onde outra pessoa escolheu “autonomia”. Em situações como essa, a intervenção do
professor pode trazer luz para as ideias individuais e ajudar o grupo a chegar a um consenso.
Premissas: verdades assumidas, condições das quais não se abre mão. Elas devem nortear
os objetivos. Precisam ser determinadas, expressas de maneira clara e simples. Devem ser
constantemente lembradas.
Riscos: eventos ou incertezas que podem ocorrer e causar impacto negativo ou positivo.
Restrições: são as respostas aos riscos; são fatores que limitam as escolhas e sobre os
quais as pessoas que planejam e/ou executam podem interferir com meios e modos de
agir alternativos.
Fizemos algumas anotações para sinalizar premissas e valores indicados no texto, sem
esgotar todos eles. O leitor é convidado a continuar e fazer suas próprias anotações.
A nossa Visão é um mundo em que cada pessoa goze de todos os direitos plasmados
na Declaração Universal dos Direitos Humanos e outros padrões internacionais de
direitos humanos.
Acreditamos que os abusos de direitos humanos em qualquer lado são problema de todos.
Assim, indignados com os abusos de direitos humanos, mas inspirados pela esperança
de um mundo melhor, trabalhamos para melhorar a vida das pessoas através de cam-
panhas e de solidariedade internacional.
A nossa Missão é investigar e agir de modo a prevenir e a pôr fim a abusos de direitos
humanos e exigir justiça para aqueles cujos direitos tenham sido violados.
Os ativistas agem pelos vários temas dos direitos humanos mobilizando a pressão pú-
blica através de manifestações de rua, vigílias, lobby direto e, entre outras, através de
campanhas on-line e off-line.
149 O que é a Amnistia Internacional. Amnistia Internacional Portugal, 2010. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?7b78be.
Acesso em: 26 dez 2020.
Quem Somos
Aqui a Anistia Internacional declara valores essenciais que norteiam suas ações: justiça,
igualdade e liberdade.
liberdade
Texto 2
É preciso que o professor mantenha o foco dessa aula com grande atenção para que se
atinja uma real sedimentação desses conceitos-chave por parte dos estudantes. De tais
conceitos dependem muitas definições que poderão afetar a concepção e o desempenho
do Projeto, e, por consequência, sua efetividade e sucesso. Para uma articulação mais
aprofundada entre esse importante momento de estruturação do Projeto de Vida e os con-
teúdos de Habilidades Socioemocionais, entretanto, é possível acionar aspectos ligados a
valores, que já foram objeto de aula anterior, mas que nessa aula constituem um dos focos
valores
de atenção. É recomendável que o professor, sem o risco de tirar a atenção dos conceitos
fundamentais de premissas, riscos e restrições, lembre o papel estruturante dos valores
do estudante como sua bagagem pessoal sempre em evolução, algo que vai imprimir seu
caráter pessoal a qualquer projeto que ele desenvolva. Assim como as organizações men-
cionadas têm seus valores e não desenvolveriam ações que não convergissem com suas
convicções, também devem ser os Projetos de Vida: estreita e diretamente relacionados
aos valores de cada estudante. O texto a seguir considera aspectos da formação de valores
do estudante do Ensino Médio.
150 Quem somos. Anistia Internacional. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?bf6815. Acesso em: 26 dez 2020.
Como os jovens pensam sobre o que é certo e o que é errado? Isso foi explicado nos distintos
termos das teorias psicanalíticas, do desenvolvimento cognitivo e cognitivo-desenvolvimental,
nas quais Sigmund Freud, Jean Piaget e Lawrence Kohlberg foram, respectivamente, os mais
influentes nas últimas décadas.
A adolescência é essa fase caracterizada pela construção de valores sociais e pela mani-
festação de interesse por problemas de caráter ético, social e ideológico. O adolescente
aspira uma certa justiça e correção moral pela descoberta de que a sociedade nem sempre
reflete os valores que ele defende. A ampliação da sua capacidade cognitiva de reflexão e
abstração lhe permite construir hipóteses, enfrentar debates, contestar opiniões e ter uma
posição muito própria da realidade. É típico do adolescente confrontar o “mundo adulto” na
expectativa de usufruir da autonomia e por isso muitas vezes ele contrapõe os seus valores
aos do adulto, o que o leva a nem sempre acatar as regras e convenções sociais.
À medida que os jovens se desenvolvem e alcançam níveis cognitivos mais elevados, tor-
nam-se capazes de pensamentos cada vez mais complexos sobre o que é certo ou não, de
fazer julgamentos sobre seus atos ou controlar conscientemente seu comportamento em
resposta às exigências morais. Essa capacidade revela a profunda mudança que ele opera
quando fundamenta os seus julgamentos morais na sua crescente compreensão e atuação
sobre o mundo social, elemento fundamental para o seu desenvolvimento e para a tomada
de decisões que já iniciou fundamentada no seu conjunto valores.
É comum existir certa confusão entre valores, virtude e princípios. Todavia, os conceitos e
as aplicações são diferentes.
Valores são as convicções, as normas ou padrões que uma pessoa considera como de-
sejável e valioso e que norteia a sua vida (Berns, 2009). São eles que ampliam a nossa
capacidade de discernir entre o que é aceitável ou não em nossas relações subjetivas e
intersubjetivas. Nossas escolhas são fundamentadas em valores, nossa noção de “certo e
errado” é baseada nesses conceitos apreendidos desde o nascimento e são estimulados
pela educação, pela sociedade e pelo contexto no qual vivemos desde criança.
Princípios são pressupostos considerados universais e definem as regras pela qual uma
sociedade civilizada deve se orientar. Entende-se que a adoção desses princípios está em
consonância com o pensamento da sociedade e vale tanto para a elaboração da constitui-
ção de um país quanto para acordos políticos entre as nações ou estatutos de condomínio.
Vale no âmbito pessoal e profissional.
151 BARRETO, T. Org. Modelo Pedagógico. Os Eixos Formativos – Ensino Médio. 4 ed, 2020. Instituto de Corresponsa-
bilidade pela Educação. p. 25-27.
A virtude é uma disposição adquirida para fazer o bem. Nenhuma virtude é natural. Aristó-
teles afirmava que há duas espécies de virtudes: a intelectual e a moral. A primeira é rela-
cionada à instrução, e por isso requer experiência e tempo; já a virtude moral é adquirida
com o resultado dos hábitos que se originam do meio onde somos criados e condicionados,
por intermédio de exemplos e comportamentos semelhantes na prática da virtude. A pro-
cura da virtude é um processo inacabado que associa reflexão, prática e treino até que essa
prática do bem se torne um hábito que se executa naturalmente, sem precisar de reflexão.
A visão aristotélica nos traz uma leitura sobre ser a opção pela virtude o caminho mais
próximo para a felicidade, porque uma vida virtuosa nos traz contentamento, tranquilidade
e serenidade. A pessoa virtuosa é aquela que sabe o que faz, que é conhecedora dos seus
deveres, que escolhe deliberadamente seguir uma conduta correta porque quer e gosta de
agir assim (Marques, 2001).
Referência Iconográfica
HUME, Christin. Red bicycle on road near trees photo. 2018. 6720 × 4480 pixels. Disponível em:
icebrasil.org.br/surl/?e3273c. Acesso em: abr 2021.
Estas palavras têm origens comuns, e todas elas nos levam, de algum modo, a pensar em
algo feito no presente com intenção de produzir efeitos no futuro:
Promessa vem do latim PROMISSUS, “enviado antes”, que combina as palavras PRO,
“antes”, e também MISSUS, e indica algo que se afirma antes de ir-se ou enviar algo.
Missão vem do latim MISSIO, que é “o ato de enviar”, e indica o que alguém se propõe a
fazer, o seu propósito.
Outras palavras com origem semelhante são míssil, emissão, mensagem, remetente
e comissão.
Ninguém pode basear um bom planejamento em restrições nem em riscos: é preciso tomar
como ponto de partida algumas premissas (que devem ser coerentes com visão, missão e
valores), depois avaliar quais são os riscos envolvidos e prever as ações correspondentes.
As premissas são hipóteses que consideramos verdadeiras, mas não podemos necessa-
riamente comprovar, já que dependem de fatores externos. Em outras palavras, podemos
dizer que as premissas dependem do ambiente externo ao projeto que se quer tornar rea-
lidade. Para construir um prédio, por exemplo, ao calcular o tempo necessário, uma pessoa
pode partir de premissas como estas: 100 operários trabalhando oito horas por dia e todos
os operários bem qualificados.
Os riscos são eventos que podem alterar o que é estabelecido na premissa. No caso da pre-
missa 100 operários trabalhando oito horas por dia, um risco evidente é escassez de ope-
rários para a construção do prédio no prazo previsto, porque é claro que pode acontecer
que operários faltem pelas razões mais diversas. Isso certamente atrasaria a data prevista
para a entrega do prédio pronto. Outro risco seria, por exemplo, falta de qualificação dos
trabalhadores contratados.
As restrições são as ações para responder aos riscos. Uma restrição sempre envolve algo que
a pessoa que planeja DEVE e PODE fazer para minimizar, eliminar ou compensar os riscos.
Visão [A Visão mostra como a ABNT espera ser (e ser vista) ao desempenhar sua Missão]
Uma ABNT ágil que responda com eficiência às demandas do mercado e da sociedade,
comprometida com o desenvolvimento brasileiro, de forma sustentável, nas dimensões
econômica, social e ambiental.
Premissas [As Premissas são os pontos de partida para que a visão da ABNT se concre-
tize. A partir destas premissas é que se inicia um raciocínio, um projeto, um estudo]
Com exceção dos comentários, as demais informações foram extraídas do portal da ABNT.152
Anote abaixo cinco coisas que você leu no texto e que considera essenciais para
entender o que são Premissas:
152 Missão, Visão e Valores. ABNT. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?cdbfcf. Acesso em: 26 dez 2020.
Abaixo você encontra nove exemplos de declarações de Visão e/ou Missão. Sua tarefa é pro-
curar identificar, nessas declarações, as indicações de PREMISSAS e VALORES. Marque as
Premissas com P e os Valores com V. O quadro a seguir pode ser útil para esclarecer dúvidas.
1. Minha missão é alegrar crianças através de risadas, amor, afeto e das músi-
cas em hospitais públicos e orfanatos. (Sandra Arruda)
2. Ter compaixão e misericórdia pelos moribundos. (Madre Teresa de Calcutá)
3. Amizade – Viver e dar sempre o melhor a meus amigos.
Qualidade – Buscar a qualidade em todas as minhas atividades.
Amor – Distribuir amor a quem dele precisar.
Deus – Ser fiel a suas leis e ensinamentos. (André Silva)
4. Amar a todos, como se não houvesse amanhã. Ser um elo de amor e afe-
to entre as pessoas à minha volta. Estimular o perdão e a benevolência.
(Gabriel Ferreira)
5. Fazer uma diferença impactante e positiva nos resultados das pessoas e or-
ganizações. (Rodrigo Cardoso)
6. Ser uma pessoa de caráter, amiga e fiel. Ajudar a todos aqueles que precisarem
de cuidados médicos ou de orientação em sua saúde. Salvar vidas por meio da
medicina, de palavras, de ações. Lutar por um mundo mais saudável, comparti-
lhando meus conhecimentos com aqueles que precisam. (Jocilaine de Almeida)
“Algumas pessoas olham para uma floresta e enxergam apenas lucro. Mas há outras milhares
mais que veem uma casa, uma sabedoria, um futuro. Em todo o mundo, defendemos o meio
ambiente e as comunidades que dependem de seus recursos, responsabilizando governos e
corporações que os ameaçam. Seja nas ruas ou nas urnas, temos o poder real de transfor-
mação quando trabalhamos juntos. Somos uma organização ativista, comprometida apenas
com os indivíduos e a sociedade civil, que usa confrontos pacíficos e criativos para expor
problemas ambientais e desenvolver soluções para um futuro verde e pacífico.
154 O que é a Amnistia Internacional. Amnistia Internacional Portugal, 2010. Disponível em: icebrasil.org.br/sur-
l/?7b78be. Acesso em: 26 dez 2020.
155 Idem.
Nossa missão é garantir a capacidade da Terra de nutrir a vida em toda a sua diversidade.
Isso significa que queremos:
156 Quem somos. Greenpeace Brasil. Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?0498a1. Acesso em: 26 dez 2020.
Segundo momento: Com ajuda dos colegas do grupo, procure identificar premissas, riscos
e restrições em sua representação de Visão de Futuro (trabalho realizado em casa).
Retomando um famoso episódio da saga exemplar do herói mítico Ulisses, esta aula pre-
tende esclarecer e explorar uma das etapas do Plano de Ação: os objetivos, que derivam
diretamente das premissas e constituem uma etapa essencial para o estabelecimento de
metas em um Projeto de Vida.
Cada etapa desenvolvida no Projeto de Vida exige persistência e determinação. Essas Ha-
bilidades Socioemocionais serão facilmente identificáveis na narrativa mítica da Odisseia.
Em narrativas como essa é comum dedicarmos atenção apenas aos caracteres de heroísmo
que distinguem a personagem dos demais, como se tais feitos somente pudessem partir de
alguém talhado para tal. Uma análise mais orientada, entretanto, permite ao estudante per-
ceber que os resultados obtidos por Ulisses não são apenas fruto de atitudes heroicas, mas
de planejamento: cuidadoso, detalhado e perseverante. Isso não diminui o valor do herói, ao
contrário, é possível estabelecer conexões com o herói, que passa por dificuldades e trabalha
as condições necessárias para superá-las. Um herói que obtivesse tudo com facilidade, por
características extrínsecas ao seu universo, teria menos valor.
Roteiro
ATIVIDADES PREVISÃO
DESCRIÇÃO
PREVISTAS DE DURAÇÃO
Objetivo
Desenvolvimento
A leitura da narrativa do Canto IX da “Odisseia” pode ser feita sem interrupção pelo professor,
de modo que os estudantes se atenham à sequência e à dinâmica do enredo. Uma vez feita
a leitura, pode-se passar à discussão, tendo em vista a localização dos objetivos de Ulisses
Na versão integral da obra, os objetivos aparecem, sem dúvida, com maiores detalhes, desde a
deliberação de Ulisses sobre quais amigos o auxiliariam – e como o fariam – no combate ao ci-
clope até a saída triunfal da caverna. Para os objetivos deste estudo, contudo, a apresentação
resumida do conjunto de ações, numa relação de causa e efeito, será suficiente.
Em um Plano de Ação, os objetivos têm a função básica de conduzir às metas. Mesmo que
estas estejam distantes, é a partir do lugar e das condições atuais que se estabelecem
os objetivos. A cada meta alcançada, há a aproximação com o objetivo. Alguns objetivos
nos ajudam em maior, outros em menor grau, mas sempre como um percurso indispensável
para o que se quer atingir.
QUANDO/EM
OBJETIVOS META AÇÕES NECESSÁRIAS
QUANTO TEMPO
- Embriagar o ciclope
- Quando o ciclope fizer
com vinho
a primeira refeição, ao
Assegurar a - Preparar o toro de retornar à caverna
Furar o
minha vida oliveira no fogo
olho do - Quando o ciclope
e a de meus
ciclope - Juntar minha força e estiver embriagado
amigos
a de meus amigos no
- Tão logo o toro de oli-
manejo da arma e per-
veira esteja fumegando
furar o olho do inimigo
- Amarrar os carneiros,
- Enquanto o ciclope
três a três, com vime
faz vigília na entrada,
flexível e prender cada
aguardando a nossa
amigo sob o carneiro
passagem
do meio
Sair da - Utilizar-me do carneiro - Assim que os demais
Retomar mi- caverna e maior, me colocar companheiros estive-
nha viagem reencontrar debaixo dele, agarran- rem devidamente ocul-
à Ítaca o navio e a do-me firmemente em tos sob os carneiros
tripulação seu pelo
- Ao raiar do dia seguinte
- Aguardar o momento
- Quando o ciclope der
em que o ciclope vai
passagem aos animais,
pastorear o rebanho
liberando-os para o
- Sair da caverna oculto passeio ao ar livre
nos carneiros
É dos objetivos que surgem as metas. Não existem metas por si mesmas. Ser aprovado no
vestibular, por exemplo, não é um objetivo, mas uma meta; e só será realmente uma meta
se tiver brotado do objetivo que, para ser atingido, pressupõe a aprovação no vestibular –
por exemplo, o objetivo de tornar-se um filósofo.
Das ações detalhadas, nascem aquelas que são prioritárias. Esse aspecto não será trata-
do aqui, devendo ser especificado nos próximos estudos. Assim, os objetivos poderão ser
ajustados a esses novos conceitos à medida que forem assimilados pelos estudantes no
processo de elaboração de seus Projetos de Vida.
Objetivo
Desenvolvimento
Assim, a partir das informações que os estudantes têm sobre a visão, a missão e as pre-
missas do seu Projeto de Vida, eles apresentam condições de estabelecer e estruturar seus
objetivos. Para tanto, deverão observar os seguintes aspectos:
Avaliação
Em casa
(Copiar tarefa de casa na lousa da sala de aula para os estudantes)
Reúna-se com seus familiares e apresente a eles os objetivos do seu Projeto
de Vida. Conversem sobre isso e, ao final, redijam um pequeno texto sobre a
experiência, considerando:
- Eles entenderam “o quê” e “o como” do que você pretende fazer?
- Os prazos parecem razoáveis para seus familiares?
- Eles têm condições de ajudar você a administrar seus objetivos? Como?
Qual será a parte mais desafiadora do processo? Por quê?
Respostas e comentários
A intenção dessa atividade é aproximar estudantes e familiares na elabora-
ção do Projeto de Vida de cada um. Pode-se, com isso, observar o grau de
apoio e incentivo que cada estudante encontra em casa, tendo em vista as
exigências e desafios específicos de cada projeto e como ele é percebido
uma vez confrontado com a realidade familiar.
Sempre que falo em vida, me vem à cabeça o meu acidente em Vitória/ES, em 1998, que me
custou a perna direita. Lembro de tudo como se fosse um filme. A fase inicial foi, sem dúvida, a
mais dolorosa. Primeiro, a luta pela vida, semi-inconsciente, tentando vislumbrar se eu sairia
daquela, e, se conseguisse, como viveria dali por diante. Eu era um atleta olímpico tendo de
começar a pensar como seria a vida de um deficiente físico. Valeria a pena viver? Qual seria a
aceitação da família? Qual minha relação com o esporte? Será que nunca mais competiria?
Será que viraria treinador ou abandonaria tudo? No meu caso, o acidente adquiriu uma noto-
riedade tão grande, e deixou minha vida íntima tão exposta, que tive apenas dois caminhos:
sentir-me fragilizado e tentar fugir da realidade ou assumir aquela nova condição.
Menos de quatro meses após o acidente ocorreu uma regata tradicional do meu clube, o Rio
Sailing Yacht Club, em Niterói, em homenagem ao meu avô Preben Schmidt. Tecnicamente,
ela não tinha grande importância, era apenas uma confraternização, uma prova festiva para
reunir os amigos. No entanto, para mim, parecia as Olimpíadas. Meu irmão Torben insistiu
para que eu fosse velejar, para superar o trauma. Ele comprou um barco de 1933, de madeira.
Se eu ficasse em último lugar na regata, a culpa ia ser do barco, e não minha. Renata, minha
mulher, e outros dois velejadores foram comigo. Na categoria dos barcos antigos, nós fomos
os vencedores.
Sempre fui muito competitivo. No colégio, fui goleiro de handebol e de futebol. Já fiz atle-
tismo, boxe, vôlei, tênis, tiro e badminton. Adorava acabar minha velejada e dar uma corrida
de 5 a 10 quilômetros. Sinto muita falta disso. Por sorte, posso fazer meu esporte predileto,
que é a vela. Voltei a velejar em alto nível e conquistei vários títulos na supercompetitiva
classe Star, como o bicampeonato sul-americano e o terceiro lugar no Mundial de 2009.
Nos primeiros dias, ainda no hospital, eu não tinha noção de quais seriam minhas limitações.
Minha perna esquerda, por exemplo, tinha um corte profundo na coxa. Eu havia perdido a sen-
sibilidade nessa perna. Nos primeiros dias, não sentia nada. Depois, comecei a mexer os dedos,
em seguida o pé, para bem depois começar a mexer a perna. Eu achava que ia ficar em uma ca-
deira de rodas e me perguntava se valeria a pena viver daquele jeito. Mas a resposta era sempre
sim. Se eu conseguisse ficar numa cadeira de rodas na beira do meu clube em Niterói, de frente
para o mar, respirando ar puro debaixo de uma árvore, vendo um filho meu crescer saindo de
barco ali na frente, já valeria a pena. E meu grau de conforto foi aumentando.
157 GRAEL, L. Cuidados com a vida. São Paulo: Instituto Ecofuturo, 2011. p. 39-41. Disponível em: icebrasil.org.br/
surl/?14805e. Acesso em: 26 dez 2020.
Em 1996, cheguei ao Brasil com todo o gás após a conquista da medalha de bronze no
Tornado nas Olimpíadas de Atlanta (1996). Foi quando eu e meus irmãos Torben e Axel, e
também o velejador e amigo Marcelo Ferreira, criamos o Projeto Grael, um sonho realizado
por onde já passaram mais de 10 mil jovens. Hoje, muitos estão no mercado de trabalho ou
competindo em posição de igualdade com qualquer competidor. Na época, com meu ritmo
de competição em alto nível, não imaginava que em dois anos minha vida mudaria comple-
tamente. Mas, com o passar do tempo, aprendi a me adaptar à nova vida e a dar valor a tudo
o que ela me proporciona. O maior trunfo foi ter superado o meu próprio preconceito contra
a condição de ser um deficiente. E posso afirmar que sou mais feliz hoje. A vida é uma ques-
tão de parâmetros. E sempre repito: nunca desista dos seus sonhos, pois o homem que não
sonha não vive, apenas sobrevive.
Na estante
Livro: Odisseia
Autor: Homero
Editora: Cultrix
Ano: 2013
Número de páginas: 288
Dependendo da tradução, Ulisses aparece como Odisseu – é o caso da
edição aqui sugerida. Na verdade, este é o nome do herói, no original grego – de onde de-
riva o título da obra, “Odisseia”. Ocorre que, tendo conquistado os domínios da Grécia, se
apropriando da cultura deste país e absorvendo a sua vasta mitologia, o Império Romano
reformulou alguns conceitos, nomes e terminologias, resultando na renomeação de quase
todas as personagens míticas gregas. Dessa forma é que “Odisseu” se tornou “Ulisses” na
versão latina. Embora seja com este nome que o herói se tornou amplamente conhecido
no Ocidente, nos últimos anos, devido a novas traduções diretamente do original grego e à
preocupação dos estudiosos em se manterem fiéis à fonte primeira, o nome “Odisseu” tem
ressurgido com força nas versões mais recentes desse clássico de Homero no Brasil.
Referência Iconográfica
ARNET, Silvan. Black white and red roung arrow photo, 2020. 4707 × 3174 pixels. Disponível em:
icebrasil.org.br/surl/?a0011c. Acesso em: abr 2021.
158 O Risco do Bordado. Editoras.com. (Adaptado). Disponível em: icebrasil.org.br/surl/?d6ceed. Acesso em: 26
dez 2020.
Ulisses não escolheu ir à Guerra de Troia. Muito pelo contrário. Ao ser convocado a pegar
em armas, fingiu-se de louco para ser dispensado. Porém, o seu ardil foi descoberto e não
restou alternativa senão combater em nome de seu povo.
Contudo, não tendo escolha, Ulisses tinha uma visão: voltar inteiro para casa e continuar a
ser rei em sua terra, ao lado da esposa e do filho. É uma longa história, com inúmeras peri-
pécias, e a saga só se conclui ao final de vinte anos do herói longe de casa.
Plano de Ação é o que não falta nessa grande aventura. Pudera: a fama de Ulisses se deve
justamente à sua capacidade prodigiosa de arquitetar, minuciosamente, as suas ações. Po-
de-se dizer, aliás, que a cada nova descoberta de Ulisses, a cada encontro com reis, rainhas,
princesas, feiticeiras, ninfas e outras criaturas fantásticas, o que o leitor acompanha duran-
te a leitura é a recriação e o aperfeiçoamento desse plano, conforme as orientações que
o herói vai recebendo pelo caminho. Alguns episódios são exemplares nesse sentido, pois
se reconhece seu Plano de Ação articulado por inteiro. Sem dúvida, o episódio de número
9 – ou Canto IX, como é mais conhecido – é um dos exemplos mais perfeitos disso. Então,
vale a pena repassá-lo aqui.
Após enfrentar dez dias de intensa tempestade em alto mar, Ulisses e seus companhei-
ros ancoram em uma ilha sinistra, habitada pelos famosos ciclopes, gigantes monstruosos
com apenas um olho no meio da testa. Disposto a conhecer esses estranhos habitantes e
com esperanças de poder contar com o auxílio deles, o herói, acompanhado de doze com-
panheiros, segue rumo à caverna de uma daquelas criaturas. A “casa” também era muito
sinistra: além de ser uma caverna enorme e escura, era cheia de cabritos e cordeiros que
o gigante criava para alimentar-se. Mas, na hora da chegada dos aventureiros, o monstro
não está em casa e eles aproveitam para comer um pouco dos muitos queijos que ali havia.
Finalmente o ciclope chega, com um enorme feixe de lenha para cozinhar. Entra na caverna
e fecha a entrada com uma pedra tão enorme que homem nenhum teria força para movê-la
do lugar. Estavam todos, portanto, literalmente em um beco sem saída. Ao acender o fogo, o
gigante finalmente nota a presença dos forasteiros e, com cara de poucos amigos, pergunta
o que fazem ali. Ulisses então conta um pouco das desventuras sofridas recentemente e
suplica por abrigo e outros auxílios, em nome dos deuses. Nem um pouco comovido com
a história, o ciclope, que se chama Polifemo, pergunta onde foi que eles ancoraram seus
navios. Ulisses, claro, não era bobo e não entregou o seu tesouro para o inimigo. Mentiu.
Disse que tudo o que possuía fora destruído pelo mar. O ciclope se cala por um instante, e
o que se segue é tão tenebrosamente cinematográfico que vale a pena ler como Homero
descreveu essa que é uma das cenas de maior impacto de todo o livro. Prepare o estômago:
Uma vez adormecido o inimigo, seria um bom momento para matá-lo. Certo? Errado. Se o ci-
clope fosse morto, quem poderia remover a enorme pedra da entrada? Imagine então o esforço
de Ulisses em controlar sua fúria e desejo de vingança, tendo assistido à cena acima!
Manhã seguinte, Polifemo acorda e abate mais dois amigos de Ulisses e os devora. O mons-
tro conduz o rebanho para fora da caverna, sai em seguida assoviando e fecha a entrada
novamente com a pedra. Mais uma vez, o beco é sem saída. Mas, enquanto o inimigo não
retorna, Ulisses se põe a matutar sobre como ir à desforra e debandar dali. Quando o ciclope
retorna, a vingança já está cuidadosamente concebida.
Ao voltar, Polifemo guia o rebanho para dentro da caverna, entra na casa e fecha a entrada
com a pedra. Mata mais dois companheiros de Ulisses e janta-os. Nesse momento, com um
autocontrole admirável, enquanto o ciclope mastiga seus amigos, o herói tira do alforje uma
garrafa de vinho e oferece-a ao inimigo. Ele toma grandes doses da bebida e embriaga-se até
dormir. A cena que se segue a isso também é digna de ser narrada apenas por Homero:
Da goela escapava-lhe vinho e bocados de carne humana, que ele arrotava, bêbado.
Enfiei então o toro no borralho abundante, para aquecê-lo; dirigi palavras de acoroçoa-
mento a cada um de meus companheiros, para que nenhum recuasse amedrontado.
Quando, enfim, o toro de oliveira estava a ponto de inflamar-se, brilhando terrivelmente,
apesar de verde, tirei-o do fogo e trouxe-o para perto. Os camaradas rodearam-me; um
deus lhes inspirava uma grande coragem. Ergueram o toro de oliveira de ponta aguçada
e cravaram-no no olho do Ciclope enquanto eu, pesando de cima, o fazia girar; era como
um homem furando uma prancha de navio com um trado, enquanto outros, por baixo,
fazem este girar numa correia, cujas pontas seguram, e o trado volteia sempre, firme no
lugar. Foi assim que agarramos o toro aguçado ao fogo e o fizemos girar em seu olho.
O sangue escorria em volta do toro ardente. Queimava inteiramente as pálpebras e as
sobrancelhas o vapor exalado da pupila a arder, cujas raízes frigiam na chama. Quando
um ferreiro mergulha na água fria da têmpera, que é donde vem a força do ferro, um
machado grande ou uma acha-de-armas, esta chia forte; silvava assim o seu olho em
volta do toro de oliveira. O Ciclope soltou um urro terrível; a rocha reboou em redor; nós,
apavorados, recuamos, enquanto ele arrancava do olho o toro ensanguentado; lançou-o
de si, em seguida, agitando os braços.160
Vingança feita, resta ainda sair daquele antro. Polifemo remove a pedra da entrada e senta-se
à porta, esperando o momento em que os inimigos tentarão escapar. Mais uma vez, porém,
Ulisses já havia arquitetado um audacioso plano. Havia grandes carneiros na caverna, então
159 HOMERO. Odisseia. São Paulo: Cultrix, 2006. Tradução de Jaime Bruna. p. 107-110.
160 Idem.
Desse modo é que, finalmente, conseguem escapar das garras do ciclope e retornar para
seus barcos, sempre rumo a Ítaca!
Ulisses tinha uma visão, que, como se sabe, é anterior ao encontro com Polifemo: sua visão
era regressar aos braços da esposa e do filho. Estabelecido isso, havia uma missão: ser
excelente no contato com os homens e outros seres encontrados no caminho, aprendendo
com eles as ações necessárias e a rota de retorno a Ítaca. Assim, precisou se esmerar com
astúcia e malícia, como vimos no episódio acima, e isso fez dele um homem que despertou
grande simpatia dos deuses. Tendo uma missão, o herói precisava de algumas premissas,
especialmente nesse Canto IX, que podem ser resumidas assim: manter-se sereno e pon-
derado, mesmo em situações desesperadoras, para pensar a melhor maneira de pôr em
prática ora a força física ora a astúcia diante do inimigo ou em situações adversas. Postas
as premissas, vem o próximo passo do Plano de Ação de Ulisses: definir os objetivos – que,
aliás, é o tema específico desta aula.
Sendo assim... Você seria capaz de identificar, no contexto do episódio do ciclope, quais
foram os objetivos de Ulisses? Durante toda a Odisseia, há inúmeros objetivos, mas quais
são os que aparecem especificamente nesse Canto IX?
161 HOMERO. Odisseia. São Paulo: Cultrix, 2006. Tradução de Jaime Bruna. p. 107-110.
162 LEVITIN, D. J. A mente organizada: como pensar com clareza na era da sobrecarga de informação. 1 ed. – Rio de
Janeiro: Objetiva, 2015.
É comum as pessoas falarem no dia a dia: “No momento, meu objetivo é passar no Vestibu-
lar”. Não há nada de errado com essa frase e ela expressa muito bem uma situação real da
vida de quem está falando. Mas, quando falamos em Projeto de Vida, os conceitos devem
ser minuciosos e claros, pois não devem gerar dúvidas na hora da sua execução ou da sua
avaliação de um Plano de Ação. Sendo assim, em um Projeto de Vida, passar no vestibular
não é um objetivo, mas uma meta. O objetivo mesmo é a graduação específica – tornar-se
um cientista, por exemplo – e o vestibular é, portanto, uma meta a ser atingida para que o
objetivo seja realizado.
O objetivo de Ulisses era chegar a Ítaca, conforme vimos na aula passada. Assim, algumas
das metas se resumem a: vencer o ciclope e sair da caverna. Para isso, foi necessário tomar
algumas ações que são prioridades, que no caso eram ditadas pelas circunstâncias:
Certamente não lhe passou despercebido que, entre um objetivo e uma meta, existem
inúmeras ações. O que é muito natural, pois especificar os objetivos significa, precisa-
mente, estabelecer um conjunto de ações necessárias ao que se quer alcançar. “O quê?”,
“Quando?”, “De que maneira?” e “Em quanto tempo?” são dados básicos para isso. E a
maneira infalível de cumprir os objetivos é não perder de vista as suas premissas, pois
elas são os princípios básicos que orientarão você.
Sendo assim, vamos ao plano. Nesta aula, com a orientação do professor, você vai estruturar
os seus objetivos. Conforme as ideias vão ficando claras, vá preenchendo o quadro abaixo de
acordo com seu Projeto de Vida. Na coluna destinada às ações, você deve listar as que se rela-
cionam diretamente aos seus objetivos (vale notar que haverá uma aula específica sobre elas).
Chegamos ao fim do ano letivo e esperamos que você tenha realizar o percurso formativo
de Projeto de Vida e que para você também tenha sido transformador.