Reforma Tributária

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REFORMA TRIBUTÁRIA

Fonte: https://www.migalhas.com.br/depeso/403195/o-que-muda-com-reforma-tributaria
Publicação: 12 de março de 2024

A aprovação na CCJ da reforma tributária marca avanço em discussões de três décadas. Propõe
IVA dual, unificando impostos federais e estaduais, buscando não cumulatividade na cadeia de
produção, com estimativa de 27,5% de tributação sobre produtos.

A aprovação da reforma tributária na CCJ representa mais um avanço na discussão, que já dura
quase três décadas, sobre um novo sistema tributário no país.
IVA é a sigla para o modelo de Imposto sobre o Valor Agregado (ou adicionado). Segundo a
proposta, cinco impostos que existem hoje serão substituídos por dois IVAs - por isso, esse
modelo é chamado de IVA dual:

 Três tributos federais (PIS, Cofins e IPI) darão origem ao Contribuição sobre Bens e
Serviços - CBS, de competência federal.

 ICMS (estadual) e o ISS (municipal) serão unificados no formato do Imposto sobre Bens
e Serviços - IBS, com gestão compartilhada entre estados e municípios.

No modelo do IVA, os impostos não são cumulativos ao longo da cadeia de produção de um


item. Exemplo: quando o comerciante compra um sapato da fábrica, paga imposto somente
sobre o valor que foi agregado na fábrica. Não paga, por exemplo, imposto sobre a matéria-
prima que deu origem ao sapato - a fábrica já terá pagado quando adquiriu o material do
produtor rural.

O valor do IVA ainda vai ser estipulado, em uma regulamentação da PEC. A área econômica
calcula que deverá ser algo em torno de 27,5% sobre o valor do produto, para manter a atual
carga tributária do país -- nem aumentar nem diminuir.

Além disso, os impostos passarão a ser cobrados no destino final, onde o bem ou serviço será
consumido, e não mais na origem. Isso contribuiria para combater a chamada "guerra fiscal",
nome dado a disputa entre os estados para que empresas se instalem em seus territórios. Fase
de transição: Segundo a proposta, o período de transição para unificação dos tributos vai durar
sete anos, entre 2026 e 2032. A partir de 2033, os impostos atuais serão extintos. A transição
foi prevista para não haver prejuízo de arrecadação para nenhum estado ou município.

 Em 2026: haverá uma alíquota teste de 0,9% para a CBS (IVA federal) e de 0,1% para
IBS (IVA compartilhado entre estados e municípios).

 2027: PIS e Cofins deixam de existir. CBS será totalmente implementada. Alíquota do
IBS permanece com 0,1%.
 entre 2029 e 2032: redução paulatina das alíquotas do ICMS e do ISS e elevação
gradual do IBS.

Cesta básica e 'cashback'

O texto a ser votado no Senado mantém a criação de uma cesta básica nacional de alimentos
isenta de tributos. A regra havia sido acrescentada pelo relator da proposta na Câmara,
deputado Aguinaldo Ribeiro, após protestos.

Pela proposta, as alíquotas previstas para os IVAs federal e estadual e municipal serão
reduzidas a zero para esses produtos.

Segundo o texto, caberá a uma lei complementar definir quais serão os "produtos destinados à
alimentação humana" que farão parte da cesta.

Além disso, o relator no Senado, senador Eduardo Braga, criou uma cesta básica "estendida"
com alimentos que terão redução de 60% da alíquota.

O senador também manteve a possibilidade de criação futura, por meio de lei complementar,
do chamado "cashback". O mecanismo prevê a devolução de impostos para um público
determinado com o objetivo de reduzir as desigualdades de renda. No texto, porém, Braga
acrescentou que a devolução será obrigatória no fornecimento de energia elétrica e de gás de
cozinha a essa parcela da população.

Alíquotas reduzidas:

A PEC prevê corte de 60% de tributos para 13 setores. Na prática, isso estabelece que alíquota
a ser cobrada será equivalente a 40% do IBS (IVA estadual e municipal) e do CBS (IVA federal).

Os setores contemplados são:

1. Serviços de educação;
2. Serviços de saúde;
3. Dispositivos médicos, incluindo fórmulas nutricionais;
4. Dispositivos de acessibilidade para pessoas com deficiência;
5. Medicamentos;
6. Produtos de cuidados básicos à saúde menstrual;
7. Serviços de transporte coletivo de passageiros rodoviário e metroviário de caráter
urbano, semiurbano e metropolitano;
8. Alimentos destinados ao consumo humano e sucos naturais sem adição de açúcares e
conservantes;
9. Produtos de higiene pessoal e limpeza majoritariamente consumidos por famílias de
baixa renda;
10. Produtos agropecuários, aquícolas, pesqueiros, florestais e extrativistas vegetais in
natura;
11. Insumos agropecuários e aquícolas;
12. Produções artísticas, culturais, jornalísticas e audiovisuais nacionais, atividades
desportivas e comunicação institucional;
13. Bens e serviços relacionados a soberania e segurança;
Em nova alteração ao texto da Câmara, o senador Eduardo Braga incluiu a possibilidade de
reduzir alíquotas cobradas na prestação de serviços de profissionais autônomos. Segundo o
texto, uma lei complementar deverá estabelecer os beneficiados. O corte da cobrança será de
30%.

Durante a discussão da proposta, Eduardo Braga incluiu que a produção de hidrogênio verde
poderá ter regime fiscal diferenciado. De acordo com o parecer de Braga, a manutenção
desses benefícios deverá ser reavaliada a cada 5 anos.

Isenções:

O parecer estabelece a possibilidade de isentar a cobrança dos IVAs sobre uma série de bens e
tributos. As decisões serão tomadas em lei complementar.

Poderão ficar isentos de cobrança, por exemplo:

1. Serviços de transporte coletivo de passageiros rodoviário e metroviário de caráter


urbano, semiurbano e metropolitano
2. Dispositivos médicos
3. Dispositivos de acessibilidade para pessoas com deficiência
4. Medicamentos
5. Produtos de cuidados básicos à saúde menstrual
6. Produtos hortícolas, frutas e ovos
7. Aquisição de medicamentos e dispositivos médicos pela administração pública e
entidades de assistência social
8. Automóveis de passageiros comprados por pessoas com deficiência e pessoas com
transtorno do espectro autista, e por motoristas profissionais que destinem o
automóvel à utilização na categoria de aluguel (táxi)

Cálculo diferente para o imposto:

Pela proposta, alguns tipos de produtos e serviços poderão receber tratamentos específicos na
cobrança dos IVAs, ou seja, com regras diferentes para a cobrança do futuro imposto. Podem
ser beneficiados, por exemplo, com mudanças na base de cálculo dos tributos e no valor das
alíquotas.

Poderão ser beneficiados:

1. Combustíveis e lubrificantes;
2. Serviços financeiros, operações com bens imóveis, planos de assistência à saúde e
concursos de prognósticos (como as loterias);
3. Cooperativas;
4. Serviços de hotelaria, parques de diversão e parques temáticos, bares, agências de
viagens e turismo e restaurantes e aviação regional;
5. Missões diplomáticas e representações de organismos internacionais;
6. Serviços de saneamento e de concessão de rodovias;
7. Serviços de transporte coletivo de passageiros rodoviário intermunicipal e
interestadual, ferroviário, hidroviário e aéreo;
8. Operações que envolvam a disponibilização da estrutura compartilhada dos serviços
de telecomunicações;

Em uma mudança no texto aprovado pela Câmara, Braga excluiu compras governamentais do
rol de setores que poderiam receber tratamentos diferenciados. Na manhã desta terça, o
relator incluiu no regime específico as atividades esportivas desenvolvidas por Sociedades
Anônimas do Futebol - SAFs.

'Imposto do pecado'

A reforma prevê a criação de um Imposto Seletivo, de competência federal, sobre bens e


serviços prejudiciais à saúde e ao meio ambiente - como cigarros e bebidas alcoólicas, por
exemplo. Por isso, é apelidado de "imposto do pecado".

O objetivo é desestimular, por meio da cobrança extra, o consumo desse tipo de produto. O
imposto será cobrado em uma única fase da cadeia e não incidirá sobre exportações e
operações com energia elétrica e telecomunicações.

Em relação ao texto aprovado pela Câmara, Eduardo Braga acrescentou que o "imposto do
pecado" deverá ser cobrado sobre armas e munições. A exceção é quando o armamento for
destinado à administração pública. Os detalhes da cobrança e dos produtos que serão
desestimulados pelo imposto serão definidos posteriormente, em uma lei complementar.

Além do Imposto Seletivo, a proposta estabelece ainda a manutenção de estímulos fiscais para
biocombustíveis, a fim de assegurar "tributação inferior à incidente sobre os combustíveis
fósseis".

Tributação da renda e do patrimônio:

O texto de Braga mantém alterações propostas na Câmara a respeito da cobrança de impostos


sobre renda e patrimônio.

IPVA para jatinhos, iates e lanchas

Pelo sistema atual, esses veículos não pagam o tributo. O texto permite a cobrança do imposto
nos estados e prevê a possibilidade de o imposto ser progressivo em razão do impacto
ambiental do veículo.

A PEC traz exceções. Uma delas impede a cobrança do IPVA sobre aeronaves utilizadas em
serviços agrícolas.

Tributação progressiva sobre heranças

O texto também estabelece uma cobrança progressiva do Imposto de Transmissão Causa


Mortis e Doação - ITCMD, em razão do valor da herança ou da doação.

A cobrança será feita no domicílio da pessoa falecida. A medida tem o objetivo de impedir que
os herdeiros busquem locais com tributações menores para processar o inventário. A proposta
também cria regra que permite cobrança sobre heranças no exterior.
O parecer de Braga prevê que o ITCMD não será cobrado sobre doações para instituições sem
fins lucrativos "com finalidade de relevância pública e social, inclusive as organizações
assistenciais e beneficentes de entidades religiosas e institutos científicos e tecnológicos".

Entidades religiosas e financiamento de passagens

O texto de Eduardo Braga mantém a ampliação de dispositivo já existente na Constituição que


proíbe os governos federal, estadual e municipal de criar impostos sobre a atividade de
templos religiosos.

Pelo texto, a cobrança de tributos passa a ser proibida para:

1. Entidades religiosas
2. Templos de qualquer culto
3. Organizações assistenciais e beneficentes vinculadas a entidades e templos

Em uma nova mudança na proposta aprovada pela Câmara, o senador propôs que a
arrecadação da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico - Cide, também poderá
ser utilizada para o pagamento de subsídios a tarifas de transporte público coletivo de
passageiros.

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