7 Dias para O Dia Dos Namorados - Patrick Rangsima

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SETE DIAS PARA O DIA DOS

NAMORADOS
SETE DIAS PARA O DIA DOS
NAMORADOS

Patrick Rangsimant
GLOSSÁRIO
Âmago – A parte que fica no centro de qualquer coisa ou pessoa; parte
central.
Ativan – Medicamento para o controle dos distúrbios de ansiedade ou
para alívio, a curto prazo, dos sintomas da ansiedade ou da ansiedade
associada com sintomas depressivos. A ansiedade ou tensão associadas
ao estresse da vida cotidiana não requer, usualmente, tratamento com um
ansiolítico (classe medicamentosa do clonazepam).
Atroz – Intensamente cruel, desumano.
Bath – Moeda oficial da Tailândia.
Brunch – Junção de duas palavras em inglês: breakfast (café da manhã)
e lunch (almoço), e é uma boa opção quando uma pessoa se levanta tarde
da cama. Se tomar o café da manhã muito tarde, esta refeição ficará
próxima do almoço, ou este deve ser adiado. Por isso, é possível
combinar o café da manhã e almoço num brunch e satisfazer, deste
modo, as necessidades calóricas.
Cócoras – Posição agachada.
Death Note – Referência ao anime de mesmo nome, o Death Note é um
caderno sobrenatural que tem o poder de matar qualquer humano cujo
nome for escrito nele. Normalmente, os Ceifadores usam Death Notes
para matar seres humanos sem sair do seu mundo, acrescentando assim
os anos restantes da vida de cada humano para os seus próprios.
Deleite – Ato de demonstrar um excesso de satisfação ou contentamento
em relação a algo.
Dial – Mostrador do relógio.
Equipe Rocket – É uma organização criminosa no universo do anime
japonês Pokémon, na qual os membros são compostos por dois irmãos
(Jessie e James) e um Pokémon de aparência felina (Meowth).
Herético – Indivíduo que se opõe aos dogmas estabelecidos pela igreja.
HP – Em jogos, Hit Points (HP) ou pontos de vida, são números que
representam a saúde de um personagem ou objeto.
Impetuoso – Aquele que age com violência, por impulso, e que não faz
uma reflexão sobre seus atos antes de executá-los.
Infortúnio – Acontecimento, fato infeliz que sucede a alguém ou a um
grupo de pessoas.
Jackpot – Prêmio elevado atribuído num jogo de azar, resultante de
acumulação de prémios ou apostas.
RIP – Do inglês “Rest In Peace” (Descanse em Paz)
Scythupid – Junção de scythe + cupid (foice + cupido) em inglês.
Tônus muscular – É um estado de tensão constante a que estão
submetidos os músculos em repouso. É a resistência do músculo ao
estiramento.
Zolpidem – Medicamento que age sobre os centros do sono que estão
localizados no cérebro. Por isso, o médico prescreve hemitartarato de
zolpidem para o tratamento da insônia, isto é, para aquelas pessoas que
têm dificuldade em adormecer ou permanecer adormecidas. O zolpidem
tem início de ação dentro de 30 minutos após a ingestão do comprimido,
encurtando o tempo de indução ao sono (tempo em que você demora para
dormir), reduzindo o número de despertares noturnos e aumentando a
duração total do sono, melhorando a sua qualidade.
PREFÁCIO
— Sem aquele idiota, ele definitivamente voltaria para mim.
Esse tipo de pensamento já passou pela sua cabeça? Você já teve o
seu amado roubado? Já pensou em reconquistá-lo?
E se alguém lhe oferecesse uma chance de se livrar do obstáculo
amoroso?
Ao lidar com uma perda, a mente de um ser humano passa por cinco
etapas principais chamadas de cinco estágios do luto. A primeira vez que
eu li e estudei sobre, fiquei um pouco intrigado, como muitas pessoas
também devem ter ficado. Somente depois de lidar com os casos dos meus
pacientes, passei a realmente entendê-los.
“Sete Dias para o Dia dos Namorados” é uma anedota da mente
humana quando nós perdemos algo, apresentada em forma de uma novel
curta, com um pouco menos de cem páginas. Não é bem uma história BL.
Não é um livro de romance e, definitivamente, não é um suspense
também.
Podemos dizer que é uma história que pode curar a mente de uma
pessoa que está tentando lidar com algum tipo de perda. Pelo menos, essa
é a minha visão.
Tente examinar e entender o significado do amor através da morte,
ok? :)

Rangsimant
CAPÍTULO 1
TREZE DE FEVEREIRO.
ÀS ONZE E CINQUENTA E NOVE DA NOITE.

— É o último minuto do dia, e o último favor também. Escolha e


me diga. Quem você vai apagar? Escolha sabiamente, porque é o
último pedido. Se ele voltará ou não para você, depende do que pedir.
Terminando a sua declaração, Scythupid, o Cupido da Morte,
balança contentemente os pés no seu assento na cadeira giratória no pé
da minha cama, esperando a resposta. Revivo a memória das últimas
seis noites desde a meia-noite do dia sete até agora, vívidas como o
presente. O dia treze está chegando ao fim, faltando apenas um minuto
para o calendário mudar para o Dia dos Namorados.
Nas últimas seis noites, fiz os meus pedidos, requisitando ao
Scythupid que apagasse seis pessoas. Veja só a minha tentativa
desesperada de “trazê-lo” de volta. Não tenho certeza se posso
realmente chamar isso de “fazer um desejo”, porque pedir a um anjo
tão herético para “apagar” alguém deste mundo parece atroz demais
para ser chamado de desejo.
Mas eu não tenho ideia de que nome dar para isso.
O ponteiro do relógio que marca os segundos agora aponta para o
“seis” no dial do mesmo. Trinta segundos se passaram. Falta apenas
meio minuto para o momento mágico expirar.
Esta noite é a última noite. É hora do último desejo. É o momento
de tomar a decisão sobre a última pessoa que vou apagar.
E eu já decidi.

— Senhor Scythupid... Eu quero...

SETE DE FEVEREIRO.
PERTO DA MEIA-NOITE.
— Ele. Não. Está. Atendendo. A. Minha. Ligação.
Eu jogo o celular nos pés da minha cama. No entanto, não com
o intuito de quebrá-lo. Só quero desestressar, enquanto também me
abstenho de estragar o meu telefone. É caro. Não quero comprar um
novo.
É um momento difícil, mal consigo ganhar o suficiente para viver
mês a mês. Nesse ritmo, receio não conseguir comprar um outro
celular.
De qualquer forma, estou com raiva. Bem, talvez raiva não seja a
palavra certa, estou chateado, isso sim.
É uma mistura de sentimentos negativos. Raiva. Pesar.
Desapontamento. Devastação. É como se todas as emoções ruins se
juntassem para me pegar e isso se tornou um fardo tão grande, que
hoje as minhas pernas não conseguem mais suportar o peso do meu
corpo.
Eu não saí da cama de manhã e ainda estou nela, rezando para
que ontem fosse apenas um sonho.
Mas não foi. Essa é a verdade. Ele tem um novo amor.
E pior ainda, fez isso pelas minhas costas. Tem outra pessoa e
eles estão conversando há um bom tempo. Não sei quando nem onde
começou. Só me toquei ontem à noite, quando nós deveríamos passar
um tempo juntos. Ele apareceu só para me dizer rapidamente que não
me aguentava mais, que queria terminar, e que agora tinha um novo
amor.
— Bom... ele está me esperando. Tenho que ir. — Então, ele
mordeu o lábio inferior, olhando para qualquer lugar, menos nos meus
olhos. — Olha, nós compartilhamos muitas lembranças maravilhosas
nesses cinco anos em que estivemos juntos, então, quero que
terminemos bem.
Por dentro, eu argumentei, gritando que não tem como
terminarmos bem. Isso é um absurdo! Como diabos algo poderia ficar
bem quando tivemos que terminar? Eu odeio a frase “terminemos
bem”.
— Significa... que estamos terminando?

— Ainda podemos ser amigos?


A resposta dele não era a que eu queria. Na verdade, não foi uma
resposta à minha pergunta. Embora eu tenha dito antes que odiava o
“terminarmos bem”, agora vou dizer que odeio o “ainda podemos ser
amigos?” ainda mais, bem mais.
— Ele... quem é esse cara novo? — Pergunta inútil, eu sei,
mesmo

assim, a fiz. Sinceramente, não consegui me conter.

— Hum... é um cara mais novo que conheci na rede social.


Imaginei... Então, é aquele idiota. Já havia pressentido há
algum tempo.
Nós dois temos as nossas próprias vidas privadas, separadamente.
Usamos redes sociais diferentes, então ele passa o tempo dele online
usando uma rede, enquanto eu uso outra. Eu costumava pensar que
isso era ótimo. Não misturamos as nossas vidas privadas, deixando
algum espaço confortável um para o outro.
Em vez disso, esse espaço foi invadido por alguém que veio se
enfiar entre nós. Eu baixei a guarda por um breve momento e agora
tive que mudar o meu status na rede social de “em um relacionamento”
para “solteiro”. É isso mesmo?
— Estou indo...
A sua entonação no final elevou-se um pouco, como se fosse uma
antena, para verificar se estava tudo bem ele ir embora dali, ou também
conhecido como sair da minha vida, pois eu acho que ele estava
morrendo de vontade de partir para o seu novo cara, para uma nova
vida.
Fiquei imóvel, os meus lábios congelaram. Os meus olhos
estavam olhando para ele, mas não estavam focando nele. É como se
eu estivesse vendo através dele, enxergando o seu coração e o seu
passado. Como se eu estivesse procurando o antigo ele de cinco anos
atrás dentro do homem à minha frente.
Estranhamente, os seus olhos ainda tinham o mesmo olhar.
Parecia o mesmo do primeiro dia em que nos conhecemos, e o mesmo
de quando me olhou nos olhos e me chamou para sair com ele,
também.
Inexplicavelmente, tudo no seu rosto era o mesmo, porém não é
mais a mesma pessoa...
Ele assumiu que o meu silêncio significava que eu o estava
deixando ir e desejando-lhe um feliz adeus (mas que merda!). A longa
relação entre nós dois estava agora enterrada.
Que o abraço do amor possa ser eterno.
Imagino que a dita lápide será esculpida com isso...
A minha raiva já diminuiu um pouco, mas a dor permanece
intacta. Venho tentando ligar para ele desde esta manhã. Só quero dizer
um oi. Por que eu não posso? Ainda podemos conversar mesmo depois
do término, né? Mas ele não está atendendo o meu telefonema de jeito
nenhum. Está ignorando todas as mensagens que enviei também. O
sinal de verificado está como entregue, contudo, nunca muda para lido,
não importa quantas vezes eu tente.
Você deve estar brincando comigo. Não foi ele mesmo que disse
“ainda podemos ser amigos”? Os amigos não atendem a droga do
telefone ou leem as malditas mensagens? Por que ele simplesmente
não disse “podemos nos tornar estranhos” ou “podemos fingir que
nunca nos conhecemos” em vez disso, então?
As emoções são realmente fluidas. Podem transitar, transferir e
transformar. Eles mudam de estado. Quando a minha raiva, uma vez
ausente, retorna e sobe ao ponto mais alto que pode atingir, torna-se
água em ebulição. Ela ferve e finalmente evapora. E, então, o vapor
condensa e volta como água novamente.
Da mesma forma, o meu pico de raiva se transforma em tristeza
no segundo seguinte. As minhas lágrimas começam a jorrar, enquanto
a minha mandíbula ainda está fechada com força.
Eu coloco o meu rosto contra o travesseiro e começo a chorar.
Não ligo mais para isso. Não há mais ninguém em nenhum dos
cômodos ao meu redor de qualquer maneira. Em todo este
apartamento, sou o último residente que sobrou. Mesmo se eu ficar de
cócoras e cagar no corredor, ninguém vai se importar.
Foda-se... Inferno... Foda-se a minha vida de merda!

— Aham! Está triste, senhor?


Uma voz com um tom cheio de alegria de repente me interrompe,
me assustando e me fazendo dar um pulo. Levanto a minha cabeça
para longe do travesseiro e lentamente me viro para a fonte da voz.
Quem diabos entrou disfarçadamente no meu quarto?
— Ei... por que parou de chorar? Eu te assustei?
Hã... esse cara é louco? Está quente para caramba, mas ele está
blindado em um terno formal branco, com uma camisa branca por
baixo e também uma gravata branca. Ah, o relógio no seu pulso
também é branco. Olho para a porta. Ainda está trancada como antes,
então, como diabos ele entrou?
— Quem é você?
A minha boca pergunta enquanto as minhas mãos tateiam para...
para o quê? Não tenho nenhum objeto útil perto da minha cama, exceto
um frasco de comprimidos para dormir. Ah, certo, pelo menos posso
jogar isso no idiota. Melhor do que nada.
— Espero que você não jogue esse frasco de Ativan em mim.
Para ser honesto, o Ativan é tãããão ultrapassado, parei de tomá-lo anos
atrás. Deixe-me te dizer uma coisa, Zolpidem é bem melhor. E já pare
de pedir ao seu amigo farmacêutico para comprar essas pílulas. Basta
ir ver um médico de verdade, sim? Dessa forma, você pode dormir
bem pelo menos uma noite.
Terminando isso, o doido dá de ombros e se aproxima da
cadeira
no final da minha cama, e depois se senta. — Olá, sou um
Scythupid, o Cupido da Morte. Sou meio Ceifador, meio Cupido.

Eventualmente, já que não há nenhuma arma no meu quarto e eu


não quero jogar o frasco na cara dele e desperdiçar as minhas pílulas
para dormir ainda, o Scythupid tem a chance de me explicar quem ele é
e o que faz.
Bem, já ouvi o bastante dos meus próprios pensamentos durante
o dia inteiro. É uma boa ouvir outra pessoa balbuciar bobagens. Então,
eu o deixo terminar qualquer que seja a explicação que ele tenha a
dizer.
— Resumindo, você está aqui para me conceder desejos?

Proponho uma conclusão depois de ouvir tudo.
O Senhor Scythupid acena com a cabeça.

— Pode chamar do que quiser, mas eu não chamaria o que estou


lhe concedendo de “um desejo”. Mas, sim, estou aqui para realizar o
seu pedido. Para te deixar reconquistá-lo. No entanto, não vai ser fácil
como atirar uma flecha, zim! e o encantando para te amar
instantaneamente, puff! e fazendo-o correr de volta para os seus
braços, tadaa! Não.
Eu lhe darei a chance de se livrar dos seus obstáculos sete vezes.
Em outras palavras, vou deixar você escolher sete pessoas para apagar.
Sete noites. Sete favores. Sete pessoas. Eu concederei os seus
pedidos, por sete vezes, para “apagar” qualquer pessoa deste mundo.
Uma por noite. Uma por uma, até o dia treze.
Pode escolher qualquer um que você acredita ser o obstáculo.
Apague alguém que você acha que fará o seu cara certamente retornar
para você, se... essa... ou... aquela... pessoa... apenas... do nada...
desaparecer.
— Hum... eu posso escolher qualquer um para apagar, sério? —
Eu deveria estar perguntando isso...?
— Contanto que você deseje. — Ele responde como se isso fosse
normal.
Quem diabos acreditaria nisso...? — Ei, você. É louco, ou
estúpido?
Pergunto, com medo. Um louco de terno branco invadiu o meu
quarto e agora está me dizendo que vai se livrar de qualquer pessoa
que eu queira apagar deste mundo. É como um filme de assassinato
com enredo fraco, uma história que não leva a um final bom... Mas,
bem, a minha vida tem um final bom neste momento? Com toda
certeza, não. Você não consegue ver?
— Não sou louco nem estúpido. Sou um Scythupid. Pronuncie
corretamente. S-c-y-t-h-u-p-i-d, Cupido com uma foice. É que
todos nós
compartilhamos o mesmo nome, não temos nomes individuais.
— Vocês todos…? Há muitos de vocês? — Pergunto, e ele mexe
a cabeça afirmando.
— Oh, sim! Há um monte de nós. Este universo não tem apenas
Cupidos inocentes e Ceifadores terrivi. — Percebo que ele pronuncia
de uma forma brincalhona a palavra “terrível” como “terrivi”, assim
como quando eu falo com os meus amigos.
— Há também aqueles que se encaixam entre o Ceifador e o
Cupido. — Ele se estica preguiçosamente antes de continuar. — Os
Cupidos têm os seus próprios métodos e os Ceifadores têm as suas
próprias tarefas. Nós, por outro lado, temos a nossa maneira única de
nos divertir. Ajudamos os negócios amorosos das pessoas manipulando
as mortes.
— E por que veio até mim? — Eu pergunto.

— Porque um Cupido foi visitar outra pessoa, enquanto você


ainda não tem visita.
Sinto uma pontada de dor com essa resposta. Mas caramba, é
verdade. Um Cupido está concedendo amor para outra pessoa, então,
em vez disso, recebo a minha dose de milagre com esta visita de um
Scythupid.
Foda-se… É como se a vida estivesse me tratando com sarcasmo.
O Scythupid tira um relógio preso a uma corrente do bolso.
— São, exatamente, onze e cinquenta e nove agora, um minuto
antes do novo dia. Certo, é hora de me dizer o que você deseja. Para
esta primeira noite, escolha alguém para gastar o seu primeiro pedido.
Quem quer apagar? Diga-me antes da meia-noite.
— Qual é a dessa de limite de tempo até meia-noite? —
Eu
pergunto, mas ele revira os olhos para mim, parecendo irritado.
— Pare de perguntar e apenas me diga o seu pedido, antes que o
minuto mágico termine. Vamos, depressa!
Quem em sã consciência acreditaria nesse maluco?
Mas seja como for, eu poderia jogar junto com ele um pouco.
Todos nós, às vezes, não brincamos com a ideia de possuir um Death
Note para escrever os nomes daqueles que odiamos? Embora saibamos
que não vai acontecer de verdade, ainda dá uma sensação de satisfação
para liberar as emoções imaginárias.
— Ok, então, eu quero… — e digo o nome do seu novo amor…
Com certeza, se você fosse eu, quem mais apagaria? Sem aquele
idiota, ninguém o teria roubado de mim, certo? Então, se devo
apagar alguém deste mundo para reconquistar o meu boy, deve ser o
seu maldito
novo namorado.
— Eu quero que esse idiota desapareça deste mundo.
Scythupid se levanta da cadeira e se curva para mim tão
graciosamente que parece um deboche. — Como esperado, você
escolheu essa pessoa. Será como deseja, terei prazer em atender o seu
pedido.
Então, ele caminha em direção à porta da frente do meu quarto.
— Amanhã, você verá o resultado que isso trouxe. Por enquanto,
boa noite e bons sonhos. Que você saboreie a alegria do pedido
que fez.
— Então, com um estalar de dedos, em uma fração de segundo e
mesmo antes que o som desaparecesse, ele sumiu bem diante dos meus
olhos.
— Oh, merda... Será que eu fiquei chapado antes mesmo de eu
tomar os comprimidos para dormir? — Eu bato no meu próprio rosto
uma vez. Ai, dói! Isso não é um sonho, e ainda não tomei o
medicamento.
Mas... antes que eu pudesse questionar mais alguma coisa,
adormeço como se por uma maldição.
CAPÍTULO 2
8 DE FEVEREIRO.
DEZ HORAS DA MANHÃ, ACORDANDO.

Minha Nossa Senhora, que sono! Pensei que estava morto.


Muitos de vocês podem estar acostumados a dormir mais do que
oito horas. Se conseguem dormir assim, parabéns! Eu não consigo, no
entanto. Para mim, já é uma bênção se eu conseguir dormir mais de
cinco horas contínuas. Não é que eu precise acordar para fazer coisas.
Simplesmente não consigo dormir. E quando digo cinco horas, isso
inclui a ajuda dos comprimidos para dormir.
Talvez eu realmente precise ver um médico, como aquele
esquisitão
do Scythupid sugeriu ontem à noite… Espere, o quê? Scythupid!
Na velocidade do pensamento, pego o meu celular e ligo
imediatamente para Wat. Embora eu ainda esteja em dúvida entre
acreditar e descartar essa merda, não vai doer se eu pender um pouco
para o lado de acreditar, né? Além disso, ontem à noite, o Scythupid
realmente desapareceu na minha frente. Então, talvez, apenas talvez,
ele já tenha apagado o novo namorado do Wat para mim.
Ele não está atendendo o maldito telefone... Claro, aquela coisa
não fez merda nenhuma. Fui tão idiota por acreditar e confiar naquele
desejo estúpido, ou pedido de merda, ou seja lá como ele chamava.
Com uma mistura de decepção e necessidade de consolo, verifico
a sua rede social no meu celular. Lembro-me que ele postou uma foto
que tirou com o seu novo boy. (Que foi o motivo pelo qual eu fiquei
tão frustrado e enrolado na minha cama o dia todo ontem.)
Ah... Espere, o quê?

Aquela foto sumiu!


Não há foto dele e do novo namorado na sua rede social. Procuro
na rede do cara. (O quê? É estranho que eu me lembre? Não me diga
que vocês nunca “stalkearam” o novo namorado do seu ex, pois eu vou
dizer que estão mentindo.)
Uau... Não existe a tal rede social. A conta simplesmente não
existe.
Não é como se a conta estivesse em modo privado, e ele também
não está me bloqueando. E-la sim-ples-men-te não e-xis-te, de jei-to
ne-nhum.
Tenho certeza de que não é porque ele me bloqueou, pois
pesquisei, sorrateiramente, usando um nome de usuário novo e
desconhecido. Só para verificar, sabe. Não há realmente nenhuma
conta do cara. Acabou tudo, o homem sumiu das redes e da vida dele
para valer. Volto para olhar a conta do meu namorado novamente.
Sumiu. Realmente se foi. Completamente desaparecido. Partiu
deste mundo. Aquele idiota, o novo amor do meu namorado,
desapareceu do mundo!
Eu posso chamá-lo de “meu namorado” agora, né? Porque, no
momento, aquele maldito cara novo não existe, ele foi apagado do
mundo. Então, sem o novo namorado, eu ainda devo ser o namorado
atual dele. Logicamente, agora deveria chamá-lo de meu namorado.
Sim, ele é meu.
Examino todas as fotos dele.

Não. Não. Aqui não. Não. Nada mesmo.

Não há vestígio desse cara.


Aquele novo namorado idiota realmente desapareceu. Das
redes sociais. Dele. E do mundo?
— Oh! Caralho, sim... Funcionou! — Eu deixo escapar.

— É claro que tinha que funcionar, mano.


Eu pulo de susto (de novo) e viro a minha cabeça para olhar na
direção da voz.
O Scythupid está saindo pela porta do meu banheiro, vestindo
apenas uma toalha (que claro, é branca) e usando uma pequena toalha
(que, vocês sabem, também é branca) para secar o cabelo.
— Você me pediu para apagá-lo, então apaguei. Não confia nem
um pouco em mim?
Ele caminha até a minha penteadeira e pega um secador de
cabelo antes de conectá-lo e começar a secar o cabelo. Parece que está
familiarizado com o quarto e sabe onde guardo as minhas coisas.
— Por que você…? — A minha boca trava depois de proferir
essas sílabas, mas o meu cérebro é muito mais lento que os meus
lábios.
— Por que eu ainda estou aqui, certo? — Ele se vira e levanta
brevemente uma sobrancelha enquanto diz isso, ainda usando o
secador.
Afirmo com a cabeça, boquiaberto, e ele ri enquanto continua a
secar o cabelo.
— Ei, eu disse que estarei aqui para lhe conceder desejos por
sete dias, é claro que tenho que ficar no seu maldito quarto. Nós só
passamos pela primeira noite até agora, ainda faltam seis noites para
você fazer os seus pedidos.
Ele desliga o secador e toma a liberdade de usar a minha cera de
cabelo para pentear o seu próprio, enquanto mexe uma sobrancelha
para mim. — Saia da cama, vá tomar um banho e se vista. Vamos sair
para conferir o resultado.
— Conferir o resultado? Que resultado? — Ainda estou me
sentindo grogue e confuso. Até esqueço que deixei a minha boca
aberta.
Scythupid revira os olhos para mim, como se dissesse de um
modo não verbal que sou desprovido de inteligência. — É, checar o
resultado para ver o que aconteceu depois que apagamos aquele cara, o
novo namorado do seu namorado. Pare de olhar como idiota, levante-
se, limpe-se e arrume-se. Ontem você não fez nada além de lamentar o
dia todo, sua imundície fermentada. Você está ficando fedido.
Ah, certo. No começo, pensei que fosse o cheiro do lixo. Mas
não, sou eu. Estou realmente fedendo.
Eu me levanto e entro no banheiro, colocando a pasta de dente na
minha escova. Depois, tomo um banho e começo a fazer toda a rotina
automaticamente como um robô programado. As partes da minha
mente, emocionais e lógicas, retornam lentamente depois que estou
limpo, sem cheiro de suor e odor corporal de novo.
Certo. Esse cara já está fora do mapa. Este mundo agora está livre
dele.
O meu namorado vai voltar para mim como costumava ser.
Uhuu!!!
Saio do banheiro e encontro o Scythupid prontamente parado lá,
com a sua camiseta branca, jeans descolorido que parece quase branco
(neste momento, não espero ver nenhuma outra cor nele, de qualquer
maneira) e tênis Adidas Stan Smith. Uau, esse Scythupid tem bom
gosto, esses sapatos parecem exatamente com os meus.
— Vai comigo também, hein? — Eu pergunto enquanto abro o
meu guarda-roupa, deslizando a minha mão ao longo da fileira de
camisetas penduradas. Qual eu devo usar hoje?
— Bem, não tenho mais nada para fazer. Deixe-me ir junto,
parece divertido. Também quero ver como será agora, depois de apagar
esse cara.
Eu ri. — Como vai ser? Será ele e eu ainda namorando. A
separação nunca aconteceu. — Por fim, decidi escolher uma camiseta
vermelha com capuz e combiná-la com o meu jeans descolorido. Ele
costumava dizer que essa camiseta era “fofa”.
Certo, eu quero que ele me veja como fofo.
Para a minha surpresa, o Scythupid ri mais alto do que eu e
comenta
— Você é muito ingênuo. Tem certeza de que sempre funcionará
desse
jeito?
Termino de me vestir e arrumo a posição do capuz enquanto faço
uma cara para ele. — O que você quis dizer com isso?
Ele encolhe os ombros e para de rir, mas mantém o sorriso
estranho no rosto. Que sorriso estranho, mas parece familiar, como se
eu já o tivesse visto em algum lugar antes. — Vamos verificar
primeiro.
Essa é a sua única resposta.

— Olá, Wat!
Eu o cumprimento ao entrar na sua cafeteria. Sei que o meu tom é
um pouco feliz demais, mas não posso evitar. Estou feliz. Estou muito
feliz porque agora voltamos a ser namorados como antes.
Há um flash de espanto no seu rosto antes dele sorrir de volta. —
Ei, que surpresa! Por que você está visitando a minha cafeteria hoje?
Ele pergunta enquanto eu olho ao redor da loja, notando que
está bem vazia hoje, apesar de ser meio-dia.
— Humm. Eu quis. Por que eu não o visitaria?
Devo admitir que raramente visitei a sua cafeteria no passado. E
não é porque eu não bebo café. Eu só não gosto dos grãos que eles
usam. É um pouco amargo, e ele disse que é o sabor que ele gosta.
Infelizmente, eu não. Então, quase não o visitei no trabalho para tomar
um café.
Pensando bem... eu não era um namorado muito bom. Deveria ter
dado mais apoio. Mas... está tudo bem. Tenho a chance agora. Vou
mudar para melhor e apoiá-lo mais.
— Vou querer um Americano quente. — Eu peço o preto.
Isso o faz franzir ainda mais as sobrancelhas. — Eu pensei que
você tivesse falado que não gostava do nosso café preto. Que é
amargo.
Eu ri. — Eu mudei de ideia e quero adquirir o gosto.
Ainda parecendo confuso, ele balança a cabeça e caminha até a
máquina de café enquanto gesticula com a mesma para a pessoa atrás
de mim. — E quem é esse?
Oh, merda, eu esqueci que não vim aqui sozinho, o maldito
Scythupid está junto.
— Bem, esse... é o meu primo. Ele não é da cidade e está me
visitando. — Esse é o único perfil que consegui criar no momento.
Acho que uma resposta neutra deve ser a carta mais segura para se
jogar.
— Oi, bom conhecê-lo. O meu nome é Cue.
O Scythupid se apresenta ao meu namorado.
— Ah... entendi. — Ele acena com a cabeça enquanto moía,
enchia e, em seguida, prensava os grãos de café no porta-filtro. Ele
então trava a alça da máquina e liga o interruptor para iniciar a
prensagem a vapor. Observo as gotas de café expresso caindo no copo
abaixo. O delicioso aroma de café enche o ar e as minhas narinas.
— Eu pensei que ele era o seu novo namorado. — Ele diz
enquanto se vira para me dar um sorriso sutil e enche um copo vazio
com gelo.
A sua observação me faz parar... — Hã? Quê? Novo namorado?
Ele acena: — Sim, eu pensei que você tivesse trazido o seu novo
namorado.
— Espere, o quê? Como posso ter um novo namorado? Você e
eu somos…
Não entendo. Como posso ter um novo namorado quando ele e eu
ainda estamos juntos? Bem, deveríamos estar. Deveria ser assim,
porque eu já apaguei aquele babaca do mundo.
O sorriso gradualmente desaparece do seu rosto. Uma sugestão
de tensão ao redor dos cantos dos seus lábios retorna. É a expressão
facial que ele costuma fazer quando se sente estressado ou
pressionado.
— Você ainda não consegue superar, não é? ... Eu pensei que
você estava bem com isso agora e por isso me visitou aqui. Achei que
tinha começado a me aceitar como amigo novamente.
Eu ignoro o que ele está dizendo e pego o meu celular para
verificar a rede social daquele idiota novamente. Ainda não existe, mas
quando olho a do Wat, percebo que ele acabou de postar uma nova
foto, apenas alguns minutos antes da minha chegada ao café. É uma
foto dele e de outra pessoa junta, com uma legenda doce e amorosa.
“Foto de ontem à noite, mas acabei de carregá-la esta manhã.
Ah!
Não estarei mais sozinho neste próximo Dia dos Namorados.”
— Wat... quem é esse? — Eu pergunto, e ele retorna um
olhar confuso.
— Hã…? O meu novo namorado. O que eu te disse o outro d...
Com isso, atravesso a porta da cafeteria antes mesmo que ele
termine a sua resposta, puxando o Scythupid. Eu só paro de correr
quando chegamos a um ponto de ônibus próximo a uma estação BTS
Skytrain. Não porque queira esperar por um ônibus, veja bem, eu
simplesmente estou sem fôlego para continuar correndo.
— Seu otário! Você me enganou! — Grito com o Scythupid.
— Não, eu não. Não enganei... você... de jeito nenhum. — Ele
responde, bufando. Isso me faz pensar como e por que um
Scythupid pode ficar sem fôlego. Ele tem um poder mágico tão
potente, o suficiente para apagar as pessoas, por que não o usa para se
tornar fisicamente forte para poder correr melhor?
Balanço a minha cabeça. — Não, está mentindo. Você me
enganou.
Eu te disse para apagar o novo namorado dele. Por que ficou
assim?
Acontece que Wat e eu ainda estamos separados como antes. Ele
não voltou para mim.
— Deixe-me... recuperar o fôlego... primeiro. — Ele ainda está
ofegante por causa do esforço, então o deixo em paz. Além disso,
ainda estou tentando recuperar o meu fôlego também.
— Tudo bem. Agora escute. — Ele respira profundamente. —
Você me disse para apagar uma pessoa, com base no motivo de que o
cara era o novo namorado do seu namorado. Do Wat.
Eu aceno em afirmação. — Sim, e você disse que o apagou
para mim.
Ele dá de ombros. — Certo, eu o apaguei. Você viu com os seus
próprios olhos. A pessoa não existe mais. A sua rede social
desapareceu. Todos os vestígios da sua existência foram apagados do
mundo inteiro, de tudo. Realizei o seu pedido.
— Mas por que Wat não voltou para mim? Por que ainda
estamos separados? — Embora eu tente ao máximo controlar o meu
tom de voz, a raiva avassaladora borbulhando de dentro ainda vaza
para ele.
— Ele escolheu uma das suas outras opções. — O Scythupid me
dá uma resposta inexpressiva. — Ouça, a verdade é que aquele cara
não o roubou de você. O coração de Wat se afastou de você há muito
tempo, desde antes mesmo daquele cara entrar em cena. Ele era a
pessoa certa que apareceu na hora certa. Coitado.
O final da sua explicação parece conter uma sutil sugestão de
riso.
— O pobre rapaz foi apagado por nada quando não fez nada de
errado. E você ainda não ganhou Wat de volta. Você apagou aquele
moço, mas Wat ainda pode conhecer outra pessoa, porque o coração
dele não estava com você, para começar.
Não tenho certeza se é de exaustão física ou a verdade arrasadora,
mas as minhas pernas de repente cedem. Felizmente, há um banco no
ponto de ônibus bem ali, então cambaleio em direção a ele e me sento
para respirar.
O Scythupid segue e se senta ao meu lado. — Eu te disse, pense
bem e escolha sabiamente. Você teve sete noites. — Ele dá de ombros
antes de continuar: — Agora você tem seis noites restantes e seis
pessoas.
Olho para ele de lado. — Puta merda! Você trapaceou!
Com isso, ele explode em risada. — Hahaha! Está brincando com
a Morte, o que você esperava? Contudo, deixe-me te dizer uma coisa,
eu não trapaceei. É você. Você que não pensou nisso direito. Pare de
me culpar. Vamos lá, já pensou que talvez você estivesse errado?
Permiti minha raiva me deixar cego e surdo para a sua pergunta.
— Muito bem, se é assim que você quer jogar. Hoje à noite vou
pedir para apagar esse outro namorado novo novamente, e vamos ver
amanhã o que acon...
Antes que eu possa terminar a minha frase, Scythupid me
interrompe:
— Amanhã, Wat ainda terá outro novo namorado. Eu te disse, o
coração dele já estava se afastando de você antes que qualquer outra
pessoa entrasse. Você não teve o seu namorado roubado. O seu
namorado já não te amava tanto, antes mesmo de encontrar um novo
amor.
Droga, sim... Isso mesmo. O seu amor por mim já tinha
diminuído. Isso quer dizer que devo ter como alvo alguém que o fez
me amar menos…
Quem diabos é essa pessoa, então?
— Tudo bem, vou desfrutar um pouco de uma caminhada por
aqui. O Scythupid se levanta do seu assento ao meu lado. — É uma
chance rara de visitar esta era do mundo.
Ele continua enquanto me dá dois tapinhas no ombro: —
Considere isso com cuidado. Hoje à noite vou te ver e atender o
segundo pedido. Mas agora vou me divertir.
Ele desaparece outra vez antes que eu possa terminar de piscar.
Sou deixado no banco de um ponto de ônibus, deserto e
extremamente ensolarado, fora de mim com os pensamentos e
perguntas que permanecem na minha cabeça sobre quem é essa pessoa.
Quem foi a razão pela qual ele e eu nos afastamos?
CAPÍTULO 3
OITO DE FEVEREIRO.
PERTO DA MEIA-NOITE

Como se tivéssemos um compromisso, o Scythupid surge no meu


quarto enquanto estou pensando em algo na cama. Ele ainda está
usando a mesma roupa desta manhã, camiseta branca e jeans
descolorido no branco.
— Então, como estão as coisas? Você encontrou uma solução?
Embora as suas palavras pareçam preocupadas, o seu tom e
expressão facial dizem o contrário. Parece que ele está aproveitando
alegremente o tempo livre que passou vagando por aí, tanto que eu
nem quero perguntar onde esteve e o que esteve fazendo. O negócio de
um Scythupid não importa para um cara como eu. Não quero saber ou
nem dou a mínima para isso.
Afirmo com a cabeça: — Desta vez, serei mais cuidadoso. Ontem
à noite, fui pressionado pelo tempo. Você estava me apressando! —
Certo, a culpa é dele. Ele apareceu de repente, me dizendo para eu ir
logo e dizer o meu pedido. Com certeza, não tive tempo para pensar
sobre isso.
— Então, quem você acha que vai apagar?
O Scythupid circula até o outro lado da minha cama e para em um
pôster de mapa de constelação que há muito se desvaneceu em cores.
Comprei e pendurei quando comecei a frequentar a universidade.
Naquela época, eu realmente adorava observar as estrelas.
Sempre quis fazer uma viagem para isso. Muito tempo se passou e o
pôster desbotou, mas ainda não fiz essa viagem. A minha paixão do
passado diminuiu gradualmente enquanto vivia a minha vida e crescia
a cada dia.
Prometo silenciosamente a mim mesmo que, se Wat voltar desta
vez, vou convidá-lo para viajar comigo. Levaremos barracas e depois
observaremos as estrelas no topo de alguma montanha. Desta vez, falo
sério. Eu não vou esquecer, e devo conquistar esse objetivo.
— Quero que apague o ex-namorado de Wat.
Ele tira os olhos do pôster de constelação e se vira para olhar
para
mim. —Interessante. De qual dos ex-namorados dele você se
refere?
— Aquele antes de mim, com certeza. — Respondo. O quê? Que
ridículo. Essa pergunta era mesmo necessária? É tão óbvio, não é? Se
eu não dissesse que era aquele antes de mim, ele pensaria que eu
estaria querendo me apagar?
O Scythupid olha para o relógio de bolso. — Ainda há algum
tempo antes que o pedido possa ser feito. Você pode compartilhar
alguns antecedentes comigo sobre o porquê você quer apagar essa
pessoa? — Então, ele caminha para reivindicar o seu assento na ponta
da minha cama, na mesma cadeira de ontem.
— Wat muitas vezes mencionou o seu ex-namorado, dizendo que
ele é isso e aquilo, que fez isso e aquilo, blá blá blá. Eu nunca prestei
atenção, antes. Eu era bastante compreensivo e o perdoava. Pensei que
eu era o seu presente, e não é errado ele se lembrar do passado, às
vezes. Todo mundo tem a sua própria bagagem, sabe? — Explico.
— Mas... pensando bem, acho que Wat falou demais sobre o seu
ex. Ele o mencionou com tanta frequência que acho que talvez ele
ainda não conseguiu esquecer a sombra do seu namorado anterior.
E eu era um substituto tentando projetar uma imagem em cima
daquela sombra. Mas não importa o quanto e o quão duro eu tentasse,
nunca o poderia substituir. Acho que... o ex-namorado de Wat foi o
motivo, a parte que continuou empurrando o seu coração para longe de
mim.
O Scythupid assente. — Aham, agora entendo o que quer dizer.
Então, você decidiu me pedir para apagar o ex-namorado de Wat,
aquele que veio antes de você, do mundo, né?
Eu aceno de volta para ele. Ele então se levanta da cadeira e pega
o seu relógio de bolso acorrentado para verificar a hora novamente. —
Tudo bem, onze e cinquenta e nove, um minuto para meia-noite. Está
na hora de você me pedir o favor. Se você tem certeza sobre isso, diga
em voz alta.
Respiro fundo e prendo o ar por um momento enquanto conto
mentalmente três, dois, um.
— Quero que o Sr. Scythupid apague... — e digo o nome do ex-
namorado de Wat. (Claro que eu sei o nome dele, Wat falava muito
sobre ele.) — ...deste mundo, por favor.
Finalizando o meu pedido, o ponteiro do relógio que indica os
segundos chega ao “doze” no dial. Embora o relógio não faça o
barulho do tique-taque, parece haver um som de clique dentro da
minha cabeça naquele momento.
Como antes, o Scythupid se curva no que parece uma maneira de
chacota: — Feito. Eu apaguei essa pessoa deste mundo. Agora, é
a sua
hora de dormir, e vamos ver o resultado juntos amanhã.
Novamente... a minha consciência se afasta e eu caio em um sono
profundo.

NOVE DE FEVEREIRO, DEZ HORAS DA MANHÃ, ACORDO COMO


SE FOSSE COM HORA MARCADA.
É a segunda vez que consigo dormir mais do que oito horas sem
depender das pílulas. É uma sensação muito boa. Que manhã perfeita
para um novo começo. Ontem à noite, desejei que o ex-namorado de
Wat fosse apagado. Então, hoje será o dia do meu recomeço.
Wat e eu ainda seremos namorados. Ele nem vai saber o que
aconteceu. (Espero que a magia do Scythupid também cubra esse tipo
de coisa.) Hoje é um novo começo para me tornar o seu bom
namorado, e eu juro, vou valorizar isso e mantê-lo por perto, não vou
perdê-lo assim nunca mais.
Estico o corpo e por acaso olho para a cama... Ah, olhe! Há uma
marca no colchão, como se alguém tivesse dormido ao meu lado. E
tenho certeza que não foi causado por mim.
Ouço o som do chuveiro vindo do banheiro...? Talvez seja Wat.
Ah, sim! Deve ser ele. Ele já deve ter voltado para mim e dormido no
meu quarto como de costume.
Caraca! Estou no caminho certo. A magia de baixa qualidade do
Scythupid funcionou desta vez! A minha linha de pensamento sai dos
trilhos e o meu sorriso congela ali mesmo, no entanto, quando a porta
do banheiro se abre. Quem sai do banheiro não é ninguém menos
que o maldito Scythupid, vestindo uma toalha branca (novidade?) e
usando uma pequena toalha branca (novidade?) para secar o cabelo.
Que tipo de pessoa lavaria o cabelo de manhã? Oh, espere... Ele não é
realmente uma pessoa, eu acho.
— Você?! — Aponto para ele.

— Ah, certo, obrigado por me deixar passar a noite. — Ele ri.


— Você não me pediu permissão! Eu nunca deixaria você ficar. –
Retruco.
Ele ri enquanto pega o secador de cabelo. — Essa é a razão pela
qual não perguntei.
Droga! Isso significa que o amassado da cama ao meu lado na
verdade pertence a esse estúpido Scythupid. E eu pensei que era o Wat.
Merda! Isso é decepcionante para caralho. O meu bom humor de antes
cai quase na zona da depressão. Dadas as circunstâncias da minha
vida atual, no entanto, provavelmente é onde deveria estar
normalmente.
— Não se preocupe em verificar a rede social dele. — O Cupido
da Morte se vira para dizer quando estou prestes a pegar o meu celular,
como se pudesse prever o meu próximo passo. Sendo autoconsciente,
me abstenho e o uso para checar as mensagens em vez disso. Há
toneladas de mensagens dos meus amigos, todas enviadas depois da
meia-noite. Eles estavam no Brick Bar na Khaosan Road e tentaram
me convidar para me juntar a eles.
— Desculpe, eu dormi cedo ontem à noite.
Digito uma resposta para enviar de volta, me sentindo um pouco
culpado. Com o meu trabalho, a minha vida e outras coisas, raramente
tenho tempo para sair com eles. E isso apesar do fato de termos
passado por várias coisas. Eu tenho sido próximo deles desde que
estávamos no sexto ano do ensino fundamental. Então, ao longo dos
anos universitários, mesmo depois que nos formamos e começamos a
trabalhar, eles continuaram por perto. Eles são os meus amigos de
bebedeira desde a primeira vez que tentei dar em cima de um cara e
falhei. Até saímos para beber quando Wat terminou comigo.
Beleza, além de me tornar um namorado melhor para Wat,
também serei um homem novo, um amigo melhor e mais legal para
eles. Veja, esta manhã ainda é um bom dia. Ainda pode ser um bom e
novo começo.
Me levanto e pego uma toalha. — Ei, você não vai precisar
mais
do banheiro, né, Cue?
Estou com preguiça de chamá-lo de Scythupid, é muito longo. E
já que ontem ele se apresentou ao Wat como Cue, posso me dirigir a
ele dessa forma também, né?
— Ah, não. Você pode usá-lo à vontade.
Diabos, esse idiota está falando como se fosse o dono deste
quarto. Seja como for, não tenho tempo para discutir com ele. Preciso
me apressar e me preparar para sair e encontrar Wat. Um dia feliz e um
futuro brilhante me espera…
Eca, você não acha que soa um pouco como o diálogo da Equipe
Rocket do universo Pokémon...? Sabe? Mesmo que a Equipe Rocket
sempre falasse sobre “luz ofuscante”, “futuro brilhante” ou “amanhã”,
eles nunca encontraram um futuro brilhante ou uma manhã feliz. Em
todos os finais, os membros da Equipe estavam... fadados ao fracasso.

— Olá, Wat!
Abro a porta da frente da cafeteria, sabendo que o meu tom
de
voz está muito feliz (ok, estou muito mais alegre do que ontem),
mas opto por deixar rolar. Não vou reprimir a minha emoção ou
moderar a minha expressão hoje. Por que deveria? Sou o namorado
dele. Ver o meu namorado me deixa feliz e é muito normal.
— Bom dia, senhor. O que você gostaria hoje? — Hã, que
diabos,
essa não é a reação que eu esperava dele.
— Wat, por que você me chamou de “senhor”? — Estou um
pouco confuso. Isso é uma brincadeira de namorados ou o quê?
— Hum, então posso saber o seu nome, por favor? — Ele não
parece estar brincando. Na verdade, parece confuso, e até um pouco
desconfiado de mim.
— Hã, por que você precisa perguntar o meu nome quando
estamos...
Antes que eu possa terminar a minha frase, Cue me agarra
pelo
braço e me puxa para longe.
— Eu sinto muito. O meu amigo te confundiu com outra pessoa.
— Cue me interrompe enquanto abaixa a cabeça se desculpando,
então, ele meio que me arrasta para longe do balcão.
— Não, deixe-me ir, Cue. Ainda estou falando com Wat. —
Solto o meu braço e volto para Wat.
— Nós somos namorados, Wat. — Anuncio e mantenho os
meus olhos no seu rosto, esperando por uma resposta.
— Hum, bem. — Ele olha para mim e depois para Cue,
procurando uma reação... — isso é algum tipo de brincadeira, você
está filmando com uma câmera escondida ou algo assim?
— Por que você acha que isso é uma brincadeira? — O tom da
minha resposta chega perto de um grito. Estou com raiva, não estou?
Mas de quem estou com raiva? Do Wat? Ou talvez de mim
mesmo?
Com raiva de mim mesmo porque, no fundo, eu suspeitava que...
talvez o desejo de ontem à noite não funcionasse...
— Hum... porque eu não te conheço, senhor. — E é assim que a
pergunta na minha cabeça é respondida, pelas próprias palavras
de Wat.
Certo.
Não fun-ci-o-nou.
De repente, as minhas pernas cedem. Todo o meu corpo sente
como se o tônus muscular não estivesse mais funcionando. Deixei Cue
puxar a minha mão e me levar para fora da cafeteria.
O... desejo... não funcionou.
Ele... não... voltou.

Ele... nem... me conhece...


Cue me levou até um ponto de ônibus... O mesmo lugar de
ontem, o mesmo lugar que eu vim depois que perdi a minha aposta no
primeiro desejo. Eu não queria voltar aqui. Droga. Acabou como
ontem novamente. Não funcionou mesmo.
— Você se lembra de como conheceu Wat? — Cue se senta ao
meu lado e pergunta, o seu tom soa como se ele estivesse realmente
preocupado comigo.
Eu me viro para encontrar os seus olhos, suspeitando que possa
ser apenas o seu fingimento. Pela maneira como ele está olhando para
mim, no entanto, parece que ele está genuinamente preocupado. Então,
percorro as memórias sobre mim e Wat, procurando entre elas uma
específica de vários anos atrás. Tantas coisas aconteceram entre nós de
fato.
Que irônico. Eu sempre pensei que me lembrasse de tudo sobre
nós tão bem, contudo, como tenho que relembrar agora, é realmente
muito difícil recordar a primeira vez que nos encontramos e como foi.
— Eu o conheci em um pub.
A velha memória volta aos poucos e aparece na minha frente.
Quando nos lembramos de algo de muito tempo atrás, é como assistir a
um filme antigo que já vimos antes. À primeira vista, podemos não nos
lembrar de muitas coisas, mas conforme continuamos assistindo por
um minuto, todas as cenas se tornam familiares novamente, como se
tivéssemos assistido ontem.
— Ele foi lá para beber com o seu melhor amigo, e eu fui com o
meu. Naquela época, a banda estava tocando alguma música, e o
cantor no palco perguntou se alguém estava com o coração partido
recentemente…
Agora eu me lembro. Naquela época, eu tinha acabado de
terminar com um ex, então os meus amigos me levaram para beber e
me consolar. Aliás, na mesa ao lado, os amigos de Wat estavam
bebendo para consolá- lo pelo mesmo motivo.
— Naquela época, apenas Wat e eu levantamos os nossos copos
e gritamos em resposta. Os nossos olhos se encontraram por acaso, e a
circunstância era muito convidativa. Os nossos amigos nos
provocaram. Bem, na verdade, todo o pub.
O cantor nos provocou, dizendo que poderíamos tentar conversar.
Então, nós brindamos com os nossos copos e nos conhecemos.
Cue acena com a cabeça. — Por ele ter terminado com o ex-
namorado, ele foi beber e conheceu você. Se ele não tivesse conhecido
aquele ex, não teria rompido, e também não teria ido lá beber. Vocês
não teriam se conhecido.
Cue faz uma pausa, deixando a engrenagem no meu cérebro girar
e processar essa informação ainda mais. Eu o olho: — Então é por isso
que ainda não nos conhecemos? Ainda sou um estranho para ele,
certo? Ele afirma com a cabeça em resposta, sem um sorriso ou
qualquer comentário sarcástico. Estranhamente, sinto que há um
vislumbre de compaixão na sua expressão. Não, devo ter imaginado.
Ele nunca vai simpatizar comigo. Está se divertindo.
— Mas você tem uma chance de conquistá-lo. Quer tentar? —
Cue sugere. Quando olho para o rosto dele novamente, sei que estava
certo. Ele está sorrindo. Não há compaixão nele.
— Significa que tenho que começar do zero? — Eu sei a
resposta para esta pergunta.
— Aham. Positivo. — Ele balança a cabeça, dando a resposta
que eu já sei.
— Isso significa que, embora eu tenha apagado o ex dele, isso
não o fez continuar o seu relacionamento comigo. Pior ainda, ele nem
me conhece agora. É isso mesmo? — O meu tom começa a exibir a
minha raiva.
— Ta-dah! Correto! — Ele parece excessivamente feliz quando
profere a resposta. Parece que não percebe que estou com raiva, e isso
adiciona mais combustível à minha raiva flamejante. Eu grito para ele.
— Você me enganou de novo. Porra, esta é a segunda vez!
Cue se afasta de mim, levantando as duas mãos em rendição. —
Ei, não sou eu, cara. Eu não te enganei.
— Então, como você chama isso? Você me disse para fazer um
desejo, mas... — Eu não consigo nem terminar a minha própria frase,
pois não tenho ideia do que dizer em seguida. Mas o quê? Certo, Cue
sugeriu que apagaria alguém para mim, e ele fez como prometido. Só
que existe essa lacuna impossível entre o que ele oferece e o que eu
quero.
Eu quero que Wat volte para mim, enquanto o que Cue pode me
conceder é que eu me livre de alguém.
Conectar os pontos entre “matar alguém” e “reconquistar
alguém” é um grande enigma para resolver. Um osso duro de roer,
parece que a resposta está além da capacidade do cérebro humano.
Isso me lembra a história do Gênio, aquele que enganou os
humanos para que fizessem três desejos. Essas vítimas do golpe
acabaram recebendo nada além de decepção…
Eu também vou ser?
Eu também sou o mesmo tipo de vítima?
Uma vítima desse Gênio específico, um trapaceiro que se chama
Scythupid.
Ele está aumentando as minhas esperanças usando uma isca
chamada “desejos mágicos”. No entanto, quanto mais eu gasto, mais
decepcionantes os resultados se tornam.
Penso naqueles personagens fictícios do conto. A decepção os
colocou no caminho errado, profundamente no labirinto das suas
próprias mentes. No final, eles morrem afogados na sua própria
insanidade, infligidos com o veneno letal chamado decepção.
— Ei você. Ei. — Cue balança a mão de um lado para o outro na
frente do meu rosto, talvez porque eu tenha ficado imóvel e quieto no
momento em que abri a minha boca para xingá-lo. — Você está bem?
Ou a sua alma já flutuou para fora do seu corpo?
A minha mente luta para se libertar do labirinto dos meus
próprios pensamentos e retornar à realidade. Eu olho para o Scythupid
na minha frente enquanto percebo que a minha raiva transbordante de
antes recuou um pouco, embora não completamente.
— Você não tentou me avisar. — O acuso com os dentes
cerrados.
— Bem... não está incluído no contrato. O meu dever é
conceder- lhe os pedidos. Não sou obrigado a especular e comentar
sobre as possibilidades do resultado. — Cue balança a cabeça e dá de
ombros. Eu realmente quero saber os seus verdadeiros sentimentos
enquanto ele está me dando essa resposta.
— O que significa que você sabia o resultado? — Pergunto.
— Eu poderia prever. E não requer nenhum poder especial. Se
você estivesse mais atento, se considerasse com cuidado e se
lembrasse de tudo entre você e Wat, poderia ter previsto isso também.
Então, ele assobia uma vez antes de balançar uma sobrancelha
para
mim.
— Você foi muito descuidado, muito ocupado se sentindo
triunfante
por conseguir os desejos mágicos. Estava muito ocupado com a
alegria, pensando que dessa vez funcionaria. A culpa é sua por ser
imprudente. Bem, deixe-me dizer uma coisa… uma pessoa esperta não
falha por causa da estupidez. Pessoas inteligentes são inteligentes, a
estupidez não pode machucá-las. Mas uma pessoa esperta falha, e às
vezes morre, por descuido. Um descuido pode levar à destruição e à
morte. Tem sido assim desde o início da existência humana neste
mundo. Acredite em mim. Eu - já - vi - muito.
Ai! Isso machuca… Dói... para... caralho. Pois... Cue... está...
certo.
Estava sendo descuidado. Pensei que eu era tão inteligente. Achei
que conhecia bem e que havia calculado bem. Achei que poderia
esperar um resultado, mas não ganhei nada. Foi contraproducente e
ficou ainda pior do que antes. O culpado que causou o meu fracasso
hoje foi o
descuido. Certo.
— Então? Eu tinha um ponto, né? — Mudando a sua postura
sentada, Cue levanta uma perna, apoia o tornozelo no joelho oposto e
mexe o pé.
— Sim, certo. — Respondo em um tom rápido, mas ele não
parece se importar. —Ligar os pontos entre o que eu consegui e o que
quero é difícil. No começo, pensei que era fácil e simples. Apenas
apague esse ou aquele cara, então Wat voltará para mim.
Faço uma pausa para engolir minha saliva, sentindo que minha
garganta está áspera e está mais difícil de engolir — Mas agora percebi
que é difícil para caralho.
— Vamos, não fique chateado, meu bem. — Cue ri. — Foram
apenas duas noites e duas pessoas. Ainda nem está na metade do
caminho. Agora você está munido com uma nova arma, a atenção
plena. Vá para casa e pense profundamente, faça um plano épico. Acho
que não é tão difícil trazer Wat de volta para os seus braços.
Então, ele se levanta do banco. — Tenho uma longa lista de
comidas para experimentar. Hora de me dar licença. Vou deixar você
ter o seu próprio tempo para pensar antes do anoitecer. Te vejo tarde da
noite! — Com isso, o ônibus de número cinquenta e nove chega no
tempo perfeito. Cue acena antes de apontar para mim com uma
sobrancelha novamente.
— Por que você não pensa em quando vocês terminaram? Talvez
você consiga a sua maldita resposta. — E lá vai ele, pulando pela porta
do ônibus de número cinquenta e nove com ar condicionado. Não
tenho certeza para onde ele está indo, mas... por que ele simplesmente
não desapareceu como ontem? Por que diabos teve que pegar um
ônibus?
No entanto, não tenho tempo para encontrar a resposta. Não
tenho tempo a perder e tentar desvendar o mistério do porquê um
Scythupid usa um veículo de transporte público em vez de sumir em
um piscar de olhos com a sua magia. O meu tempo é precioso. Corro
para uma papelaria e compro um caderno, uma caneta e alguns blocos
de notas adesivas.
Não. Não. Não.

Estes não são suficientes. Não o bastante.


É melhor eu pegar um quadro branco também. Vou marcar o meu
mapa de relacionamento nele. Devo revisar tudo entre nós e analisar
onde começou. Preciso descobrir quem é o responsável pelo nosso
rompimento.
Para que esta noite... esta noite eu possa fazer um desejo correto e
apagar a pessoa correta. E amanhã, Wat voltará para mim... de verdade,
desta vez.
CAPÍTULO 4
— Oh. Uau... o que é tudo isso?
Olho para o intruso, é o Cue. Nos últimos dias, me
acostumei a ter um membro estranho na minha casa e na minha vida.
Ali estava um Scythupid, aquele que pode aparecer de repente no meu
quarto sem precisar abrir a porta.
Não me assusto mais com isso, porém não é de se admirar que ele
sim esteja assustado com o estado atual do meu quarto. No meio da
sala, encontra-se uma enorme placa de plástico para o meu projeto. Na
sua superfície, inúmeras notas adesivas estão coladas, ligadas entre si
com fios vermelhos (escolhi o vermelho para contrastar com o quadro
branco) em um mapa de conexão complexo.
— Diagrama de relacionamento em torno de mim e Wat.
Eu estive reexaminando a linha do tempo desde a primeira vez
que nos encontramos. Cada um dos eventos importantes no nosso
relacionamento foi escrito em uma nota adesiva. Qualquer evento que
levou a outro evento está marcado e vinculado com o fio, para me dar
uma visualização fácil ao analisar a lógica e ver a relação entre causas
e efeitos.
Se Cue apareceu, significa…
Eu balanço minha cabeça para olhar para o meu relógio de
parede. Onze e quarenta e três da noite. Uau, já é quase um novo dia.
Fiquei tão imerso em fazer o quadro que perdi a noção do tempo.
— Quando você leva algo a sério... é bem impressionante. —
Cue comenta, examinando o quadro da esquerda para a direita e de
cima para baixo. Eu reparo que ele está com uma roupa diferente da
que estava de manhã. O jeans descolorido foi substituído por uma
calça cinza. A camiseta dele também sumiu. Ele agora está vestindo
uma camisa branca com mangas arregaçadas e também algumas
manchas de chá. Observando de perto, essa roupa o faz parecer um
garçom de uma luxuosa casa de chá depois do trabalho.
Ele aparece no meu quarto mais ou menos na mesma hora todas
as noites, fala comigo por um tempo, concede o meu desejo, me coloca
para dormir e depois desaparece (ou dorme ao meu lado). Na manhã
seguinte, quando acordo, ele já está sempre de pé. Ele toma banho e
se veste, depois me segue para conferir o resultado do desejo, para
assistir a minha decepção...
Depois disso, ele desaparece, retornando novamente apenas antes
da meia-noite. Isso é... uma rotina de vida bastante curiosa, você não
acha?
Ele tem outras coisas na sua vida, quero dizer, outros trabalhos,
além de mim? Ele se encontra com outras pessoas como ele me
encontrou? E essas pessoas também fazem desejos como eu fiz?
— Ei, você... Onde esteve? Está servindo chá ou o quê? —
Pergunto.
— Muitas coisas interessantes no quadro, hein? O que é isso?
Primeiro aniversário.
Acho que ele ouviu minha pergunta, mas apenas está fingindo
não ouvir e evitando ter que responder. Tanto faz. Ele pode ter outras
tarefas para executar como um Scythupid. Tem o seu próprio dever a
cumprir, a sua própria vida a viver. Pelo menos eu perguntei. Se ele
optar por não responder, aí é com ele.
— Primeiro aniversário? É uma longa história. O tempo vai
acabar antes que eu possa terminar. — Isso é mentira. Não é longo. É
realmente curto. Mas como ignorou minha pergunta, não vou dizer o
que ele quer saber. Isso é justo. Tomara que não possa ler minha
mente.
— Eu só estava perguntando. De qualquer maneira, não queria
ouvir sobre isso. — Ele se vira com um sorriso no canto da boca. —
Tudo bem, me diga, quem você quer apagar esta noite?
— Espere um minuto, eu tenho algo para perguntar primeiro.
Ainda preciso apagar alguém? Agora que já resultou em uma bagunça
maior do que antes. Wat não me conhece mais, ainda preciso apagar
alguém? — Esta é a primeira pergunta que coloco no topo do meu
quadro, acima de todos. A resposta decidirá minha próxima estratégia.
— Fique tranquilo. Para cada favor, começa do mesmo início,
que é quando ele e você acabaram de terminar. Portanto, não se
preocupe, depois de fazer o seu pedido, o evento continuará a partir do
momento em que ele terminou com você. Ele calcula o resultado a
partir daí.
Eu gasto quase meio minuto digerindo e compreendendo essa
informação dentro da minha cabeça. — Por que funciona assim? Estou
confuso. — Vai contra a lógica da linha do tempo, séries temporais,
espaço-tempo ou qualquer outra coisa.
— Certo, desafia a lógica do espaço-tempo, se você pensa como
Einstein, sim. Se você pensa como Darren, no entanto, é lógico no
nível quântico. Você sabe, uma série temporal nem sempre funciona
como os cientistas pensavam.
Cue argumenta contra o meu pensamento... Espere, o quê? Isso
significa que ele...
— Sim, eu posso ler a sua mente. — Cue completa a frase da
minha mente.
— E quem é Darren? — Questiono.

— Um músico. Não um cientista. — Ele dá de ombros.


Hã? O quê…? Estou ainda mais confuso agora. Por que e como
um músico tem a sua própria teoria de séries temporais?
— Ele descobriu uma teoria de séries temporais quando estava
chapado e escrevendo uma música com os seus amigos. —
Terminando isso, Cue ri.
— Algum dia, quando você se tornar um ser que vive além da
dimensão das séries temporais como eu, rirá das teorias que alguns dos
cientistas pregaram. Porque, no final das contas, a pessoa que melhor
falou sobre a teoria do tempo foi, na verdade, um músico tailandês no
YouTube. Esse cara chamado Damrong, que atendia pelo nome de
Darren por ser internacional, tinha apenas milhares de inscritos. Ele
inventou essa teoria enquanto se drogava com cannabis.
Épico para caralho... Aquilo é muito épico.

— Então, você pode realmente ler minha mente? — Se sim,


preciso ter cuidado com os meus pensamentos. Cue acena com a
cabeça em resposta.
— Mas não se preocupe, eu raramente leio os pensamentos das
pessoas. Na verdade, tento diminuir o barulho dos pensamentos ao
meu redor, às vezes até os muto. Eles são irritantes, eu lhe digo. Mas
agora somos apenas nós dois, e é tarde da noite, então o seu
pensamento foi alto e claro.
Terminando a sua explicação, ele caminha até a cadeira no pé da
minha cama, com o mesmo jeitinho, no mesmo lugar, com o mesmo
sorriso e, claro, me perguntando no mesmo padrão.
— Quem você quer apagar agora? Conte-me. Mal posso esperar
para ouvi-lo. — Está bem, então. Como vai recomeçar do momento em
que Wat terminou comigo, terei que usar minha estratégia na parte de
trás do quadro.
Eu ando até o meu quadro branco e o viro. — Você já ouviu o
ditado de que um vidro trincado um dia quebrará? — pergunto, e ele
assente.
— Sim, eu ouvi, e posso até cantar aquela música tailandesa,
sabe.
— Cue se prepara para cantar, mas eu levanto a mão para impedi-
lo, recebendo uma risada.
— Os relacionamentos também podem quebrar ou ser arruinados
pelo primeiro trincado. — Continuo a explicar como se isso fosse
uma apresentação na frente de um cliente.
Cue balança a cabeça concordando. — Isso faz sentido. O
trincado não pode ser consertado e, um dia, ele crescerá e então
quebrará o vidro. Aham, concordo com você aqui. Agora, o que vem a
seguir?
— Então, para evitar que ele quebre no final, devemos evitar a
rachadura primeiro. — Estalo os dedos, a minha marca registrada ao
terminar uma apresentação. Me sinto um pouco aliviado por Cue dizer
que concorda comigo e que isso faz sentido. — E, no nosso caso, essa
rachadura se formou na primeira vez que brigamos. — Concluo
retirando uma nota adesiva. Lê-se “a primeira briga”.
Felizmente, eu me lembro. Lembro-me da primeira vez que
discutimos. Era uma questão trivial, na verdade. Mas isso levou à
segunda, à terceira e outras brigas…
É como dizem, você faz uma vez, vai fazer de novo, e então
haverá a terceira e quarta vez, e assim por diante. Certo, para Wat e
para mim, houve muitas sequências disso, antes de eventualmente
perder as contas. Inevitavelmente, acabou. Nós... acabamos...
rompendo.
— Se não houvesse o primeiro trinco, não haveria motivo para o
vidro se quebrar. — Resumi. Cue se levanta da cadeira e aplaude.
— Incrível! Gosto muito da sua maneira de pensar. — Ele diz
isso como se estivesse impressionado, mas não sei por que sinto que
ele está sendo sarcástico. É como se houvesse algo no seu sorriso que...
Ah, tanto faz, estou pensando demais. Já me decepcionei duas
vezes e estou ficando paranoico. Desta vez, deve funcionar. Eu tentei o
meu melhor para ser cuidadoso sobre isso.
— Naquela época, brigamos por causa de um político na
televisão. Ele e eu discordamos sobre algo que o político disse. —
Veja, a maldita coisa era realmente uma questão trivial.
Não tinha nada a ver conosco, na verdade. É negócio de outra
pessoa. Aquele político não tinha absolutamente nenhuma conexão
comigo ou com Wat. Porra, nós nem o conhecemos pessoalmente. No
entanto, ele se tornou a base das nossas discussões, causando a
primeira briga entre mim e Wat.
A primeira briga que levou à segunda, à terceira, à quarta, à
quinta
e por aí vai.
Livre-se do maldito cara... Para que não houvesse um trinco, e
nenhum próximo passo para a destruição.
— Interessante. Muito interessante, de fato. — Cue sai da
cadeira e pega a nota adesiva da minha mão, estudando-a. — Ok,
então, você quer apagar essa pessoa, correto? Apague esse político de
cara feia. — Ele olha nos meus olhos, o bilhete na sua mão tem o
nome do político escrito
nele. Eu concordo.
— Sim, quero que você o apague, pois ele foi o motivo da minha
primeira briga com Wat.
Cue verifica o seu relógio de bolso, levando-me a olhar
automaticamente para o meu relógio de parede também. São onze e
cinquenta e nove agora. De alguma forma, a nossa conversa sempre
termina bem na hora, um minuto antes da meia-noite.
— Tudo bem, se você tem certeza sobre isso, faça o pedido. —
Ele sinaliza, para o qual eu aceno.
— Eu quero que você apague o Sr... — Eu digo o nome daquele
político em voz alta, — ... da face da Terra. Faça com que ele nunca
tenha nascido neste mundo.
Mais uma vez, Cue inclina a cabeça para mim.

— Será como você deseja. A dita pessoa desaparecerá da face


da Terra, como se nunca tivesse nascido neste mundo. Por enquanto.
— Ele faz uma pausa para olhar o relógio antes de terminar. — É
meia-noite em ponto. Boa noite, e amanhã veremos o resultado.
Sem a necessidade de estalar os dedos ou fazer qualquer coisa,
a noite termina. Eu não consigo nem ver se ele se vira para sair ou faz
qualquer outra coisa, porque quando ele está terminando a frase “boa
noite”, os meus olhos começam a fechar e sinto meu corpo pesado.
Minhas pernas começam a tremer mesmo quando os meus ouvidos
captam o final da sua declaração, algo sobre ver o resultado. Então,
minha consciência deriva para a terra do sono.
— Boa noite, Cue. — Murmuro.
DEZ HORAS DA MANHÃ. DEZ DE FEVEREIRO. HORA DE
ACORDAR.
O som do chuveiro do banheiro me acorda como no outro dia.
Quando sento na cama, percebo o amassado do colchão ao meu lado,
deixado por outra pessoa. Claro, eu sei que é Cue. Hoje eu não vou me
distrair com isso novamente. Eu sei que é Cue quem está tomando
banho lá, com certeza.
Não é que eu não esteja esperando que seja o Wat. Ainda tenho
esperança. Mas já percebi. Quando deixamos o nosso coração pular de
alegria com a sensação de esperança, imediatamente cairemos no
fundo do penhasco quando ela for destruída. Então, sim, espero que
Wat volte para mim. (Não, com certeza eu tenho fé. Ontem eu quebrei
tanto a minha cabeça ‒ quase explodindo-a no processo ‒ procurando
uma estratégia.
Você estaria louco em pensar que não vou ter esperança.)
Enquanto isso, no entanto, abstenho-me de me regozijar em
esperança ainda. Apenas torço e espero pacientemente para ver o
resultado da minha esperança. A porta do banheiro se abre e eu me
viro para dizer bom dia para Cue.
Mas... não. Porra, não. Não é Cue. Wat sai pela porta do
banheiro, vestindo uma toalha e secando o cabelo.
— Bom dia, dormiu bem? — Ele pergunta.
CAPÍTULO 5

— Bom dia, dormiu bem? — Wat me pergunta, mas estou


congelado
no lugar.
Caramba, sim... é Wat!
Puta merda, sim... ele está comigo agora!
Caralho, sim... ele acabou de tomar banho no meu quarto.
Porra, sim... ele está de volta. Ele está realmente de volta desta
vez.
— Ei, você está bem? — Wat se aproxima de mim e se abaixa,
acenando com a mão na frente do meu rosto.
— Wat, é você mesmo?!
Ainda não consigo acreditar que a pessoa na minha frente é
realmente Wat. Embora eu tivesse esperança, não esperava acordar e
ver o resultado do sucesso bem na minha frente assim. É muito
repentino e demais para lidar.
— Sim... sou eu. O que está acontecendo? Não me diga que você
está com amnésia e não consegue se lembrar de mim. — Ele se senta
na cama ao meu lado, os seus ombros e peito pontilhados com gotas de
água escorrendo do seu cabelo molhado. Eu me sinto feliz e confuso.
Então, isso significa que o desejo funcionou desta vez?
— Ah, Wat, você está aqui, de verdade? — Merda, que coisa
estúpida de se perguntar.
Ele olha para mim, franzindo a testa. — O que diabos você quis
dizer? Ontem à noite você me convidou. Você está me expulsando
agora? Ainda nem tomamos café da manhã.
Eu rapidamente respondo: — De jeito nenhum. Não. Não é nada.
Eu, hã… — Eu coço minha cabeça com vergonha durante a pausa. —
Acho que estava um pouco grogue e confuso.
Wat continua secando o cabelo e eu continuo olhando para ele,
incapaz de impedir minha boca de sorrir por vê-lo novamente. Ele está
aqui, na minha frente, secando o cabelo depois do banho. É uma cena
familiar. Quando ainda estávamos juntos, ele costumava dormir a noite
toda aqui, e eu me acostumei com isso. Não sei, talvez seja porque o
tinha perdido antes e pensei que nunca mais veria essas coisas na nossa
rotina diária. Agora, quando posso vê-lo no mesmo ambiente de
sempre, no meu próprio quarto, sinto uma enorme satisfação, estou
transbordandode felicidade.
— Do que você está rindo? — Wat se vira para perguntar,
soltando uma risada.
— Não é nada. — Eu balanço minha cabeça. — Estou apenas
feliz em ver você.
Wat para de secar o cabelo e olha intensamente nos meus olhos.
— Pare com isso, não diga uma coisa dessas, especialmente com esse
tom e enquanto me encara assim.
Eu ri. — Ou o quê? E se eu disser mesmo assim?
Wat joga fora a pequena toalha que está usando para secar o
cabelo, enquanto também joga a toalha que está vestindo no chão,
antes de caminhar em minha direção, as sobrancelhas balançando para
cima e para baixo. — Porque isso é muito convidativo. E é tarde
demais agora, você vai ver só. — Ele diz e me agarra pelos meus
pulsos, me prendendo no colchão.
— Ei, Wat, acabei de acordar. — Eu protesto sem lutar muito
quando o seu nariz acaricia a pele ao longo do lado do meu pescoço. É
um toque familiar, porém eu anseio desesperadamente por isso.
— Sim, eu sei que você acabou de acordar. — Ele responde da
sua posição escarranchada sobre mim, olhando para a metade inferior
do meu corpo. — Oh, isso aí, está realmente acordado. Vamos lá,
vamos para a quarta rodada. Ontem à noite foi a sua vez, então agora é
a minha. Sem trapaças.
Sem esperar pela minha resposta, ele coloca os seus lábios contra
os meus. É o ritmo que ambos conhecemos bem, a melodia com a qual
estamos familiarizados. Wat sabe onde me tocar e eu sei onde colocar
minhas mãos e como posicionar os meus braços e pernas.
Sabemos quando inspirar, quando prender a respiração e quando
expirar lentamente. É um ritmo familiar de namorados fazendo amor
um com o outro.
Não precisa ser ensinado. Não precisa ser dito. É uma memória
que está enraizada no meu corpo, nos meus músculos e todas as
minhas células. É como se todas as partes do nosso corpo estivessem
se comunicando.
Eu não sei o que gritei. Mal consigo ver além dos ombros de Wat.
Minha visão fica embaçada, os meus ouvidos zumbem e o meu corpo
treme de prazer. Então, no momento em que o êxtase toma conta de
nós, nós dois terminamos juntos.

— Esta manhã, você parece... — Wat se curva e se deita ao meu


lado, um pouco sem fôlego.
— Eu pareço como? — Inclino minha cabeça para perguntar,
ainda
usando o seu braço como travesseiro.
— Você parece alegre. Eu gosto disso. — Ele diz.
— Obrigado. Não acho que estou diferente, no entanto. — Eu
minto. Sei que estou diferente. Estou realmente exultante que ele
finalmente voltou para mim. Mal sabe que o meu tempo sem ele foi
brutalmente agonizante.
Mas, de acordo com Cue, o universo redefiniu tudo e me deu o
resultado da configuração padrão. Então, Wat não sabia que estivemos
separados.
— Ei, você está com fome? — Ele pergunta e eu
aceno em vez de
responder.
— Vamos pegar algo para comer. — Ele sugere.
— Claro, eu vou te pagar uma refeição. — Ofereço.
— Uaaaau, podemos ter um banquete, então? Que tal no D&D?
— Mais é claro! Qualquer coisa que você quiser. — Eu quero
comer lá também.
Ele ri e se levanta para tomar banho (de novo), enquanto eu ainda
estou deitado nu na cama, olhando para o teto. Isso é ótimo! Os
primeiros dois dias podem ter sido decepcionantes, mas na terceira
noite escolhi a pessoa certa para apagar com o desejo, e ele voltou para
mim.
— Obrigado, Cue!
Não sei se ele vai ouvir isso. Acho que não vai me visitar de
novo, porque eu consegui o que queria. Para onde ele irá agora? Ele
concederá à outra pessoa os desejos também?
Seja lá o que for, onde quer que ele vá, quero dizer obrigado.
Graças a você, Sr. Scythupid, não terei mais que passar este Dia dos
Namorados sozinho.
Porque... agora... eu... tenho... Wat.
O celular de Wat toca enquanto estamos tomando um brunch. Ele
pega o telefone e olha para a tela, antes de balançar a cabeça e recusar
a ligação. Ele continua a conversa de antes comigo: — No próximo
mês, lançará Capitã Marvel. — Wat adora filmes de super-heróis.
Eu aceno: — Quer ir assistir junto? — Normalmente, não gosto
desse tipo de filme, mas como prometi a mim mesmo, vou me tornar
um
namorado melhor, apoiando-o e passando mais tempo no mundo
dele.
Assistir ao filme que ele gosta é um bom começo.
— Hum... — Ele coloca um pouco de purê de batatas na boca.

Vamos ver se temos um tempo livre juntos.
Concordo com a cabeça e volto a comer meu sanduíche, embora
esteja me perguntando por que ele tem que verificar seu tempo livre
primeiro. Somos namorados, por que precisamos checar o nosso
horário quando podemos assistir a um filme juntos qualquer dia, se
quisermos?
— Oh, você não tem que trabalhar hoje? — Eu pergunto, porque
hoje ele deveria estar no café.
— O quê? Você esqueceu que tirei dois dias de folga para passar
um tempo com você? — Ele parece confuso, então eu rio para
encobrir.
— Ainda estou grogue, Wat. Eu nem tenho certeza de que dia é
hoje.
Ele ri também. — Que bobo você é. — Comenta ele, balançando
a cabeça. Então, seu celular toca novamente. Mas esta chamada
recebida é diferente. Seu toque soa... oh! Este... toque... é... diferente...
da... chamada anterior.
Wat olha para o aparelho e sua expressão muda. — Droga, eu
tenho que atender à essa ligação. Volto logo.
Ele se levanta e sai da mesa, caminhando em direção à porta da
frente do restaurante. Na verdade, onde estamos sentados não é tão
barulhento. A música é leve e não está lotado. Não deveria haver
nenhum problema em atender o telefone aqui. Por que ele tinha que se
levantar e falar ao telefone lá na frente? Eu não entendo.
Mas, tanto faz. Não importa, eu acho.
Wat volta para a nossa mesa, guarda o celular e continua
comendo.
— É meu namorado. Disse que chegou à Espanha em segurança.
— Diz ele e toma um gole da sua xícara de café.
Espere, o quê…? Namorado? O namorado dele ligou e disse...?
— Namorado... seu namorado?
— Sim, meu namorado foi para a Espanha.
— Espere, seu namorado? Você tem um namorado? — Sinto
como
se meu cérebro tivesse caído em uma turbulência.
— Com o que você está confuso? Não me diga que você perdeu
a memória de novo. — Ele diz, pousando seu café e se inclinando para
mais perto de mim. — Meu namorado partiu para a Espanha em uma
viagem de trabalho de três dias. Então aproveitei a oportunidade para
tirar dois dias de folga do trabalho, para ficar com você para que
pudéssemos nos divertir.
Então, ele sorri, mostrando um canino enquanto balança uma
sobrancelha para mim.
— Wat, eu não entendo. O que somos um para o outro? — Sinto
como se minha voz estivesse trêmula.
— Hã? Somos amigos com benefícios. Parceiros de sexo casual.
O que se passa contigo? Você está fingindo esquecer? Isso não é
engraçado, sabe. — Ele franze a testa para mim.
— Eu... eu...
O resto da frase fica preso como um nó na garganta, não consigo
cuspir da minha boca. Eu rapidamente coloco os utensílios na mesa,
pego o meu celular e carteira, antes de sair correndo pela porta do
D&D sem ouvir o chamado do Wat por trás.
Não me lembro para que lado corro, nem sei a que distância.
Quando chego ao pico da minha exaustão e meus pulmões começam a
protestar por não ter ar suficiente, meus pés param e eu olho para cima.
O ponto de ônibus... o mesmo ponto de ônibus de antes.
O ponto de ônibus da decepção e o banco no qual eu sempre
acabava sentado e fumegando. Quando... eu... descobria... que... meu...
desejo... não havia funcionado.
— Oh, por que você fugiu dele? — Cue já está aqui, esperando
por
mim. Ele pergunta com um jornal nas mãos.
Eu não consigo responder a isso. Estou muito sem fôlego.
Bufando muito, eu ando para frente e sento ao lado dele no banco. Cue
se move um pouco para abrir espaço para mim.
— Você não gosta? De ser um amigo com benefícios?
— Quem diabos gosta desse tipo de posição? — Eu grito para
ele.
— Como isso aconteceu? Por que Wat e eu nos tornamos
amigos de foda? O que diabos está acontecendo?
— Você se lembra? O que aconteceu depois que vocês brigaram?
— Cue começa a me responder com uma pergunta.
— Conversamos e nos reconciliamos. Isso é óbvio. — Eu
respondo, lembrando que depois concordamos em não discutir política
novamente, porque não queríamos brigar.
— Você sabe o que significa brigar? — Cue continua fazendo
rodeios, perguntando bobagens, mas estou cansado disso e apenas
balanço a cabeça. — Meu instrutor me ensinou que, quando as pessoas
discutem ou brigam, a briga age como uma peneira. Ele peneira, filtra
os problemas da essência do relacionamento.
Sabe? As pessoas podem se aproximar através dos problemas.
Quando você briga com seu parceiro, isso mostra que há uma
discrepância em seu entendimento em algum lugar. E quando você
reconhece onde está o problema, de onde vem o desacordo, você o
corrige. Isso fortalecerá o vínculo no relacionamento.
Os namorados que nunca passam por problemas, não terão a
chance de melhorar seu relacionamento, de torná-lo mais forte.
Eventualmente, eles se tornam um casal que não tem um novo
entendimento para aprender um com o outro.
Você acha que esse tipo de casal vai durar muito? Um casal cujo
vínculo nunca é temperado para o melhor, para maior durabilidade.
Um casal que permanece no mesmo nível de compreensão, nunca a
aumenta nem a diminui, e nunca progride.
Você e Wat são esse tipo de casal. E depois de vários anos, vocês
terminaram porque desbotou, diminuiu. Se há algo que ainda conecta
vocês dois, é a compatibilidade no sexo.
Ele seguiu o caminho dele, e você seguiu o seu. Mas sempre que
ele anseia por sexo, sempre que tem a chance de se entregar
vorazmente ao sexo com você, ele vem ao seu encontro. Simples
assim.
Viu? Você tem Wat de volta, não tem? Apenas em uma nova
forma de relacionamento. Você não gosta?
Eu cerro os dentes durante toda a sua explicação. Não que eu
esteja com raiva dele, no entanto. Estou com raiva de mim mesmo por
nunca entender merda nenhuma. Com raiva de mim mesmo por me
alegrar com o brilho do meu plano anterior. Bravo comigo mesmo por
não ter tido qualquer suspeita esta manhã e sucumbir à tentação do
sexo e o seu prazer. Quando tudo o que sou para ele é apenas um
amigo colorido.
Não estou dizendo que essa posição é um lixo. Só não é o que eu
quero.
— Você não vai me dar uma bronca hoje? — Cue assobia.
— Não. — Eu suspiro. — Eu me sinto um bobo.
— Por que não? — Não posso acreditar neste Cupido estúpido e
da sua audácia. Eu lhe respondo mesmo assim.
— Bem... eu não sei nada sobre amor ou relacionamento.
Sempre pensei que discutir e brigar é o que arruína o amor. Mas
ouvindo você, dizendo que brigar pode até refinar o relacionamento…
— Eu suspiro de novo. — Eu me sinto tão bobo. Agora não tenho ideia
se essas experiências que passaram na minha vida podem ser chamadas
de amor. Veja só, porque eu nunca entendi nada.
— Sinceramente falando, você não gosta de ter uma amizade
colorida com Wat, né? — Cue me faz outra pergunta, para a qual eu
assinto.
— E você vai continuar pedindo mais favores, continuar
lutando,
para trazê-lo de volta? — Para esta pergunta, eu hesito...
Estou pronto para sofrer de novo?
Estou pronto para me decepcionar mais uma vez?
Sinto que três vezes já é demais.
Mas... ainda me restam quatro dias. Ainda posso me livrar de
mais
quatro pessoas. Tenho quatro chances de tentar, depois disso.
Se você estivesse no meu lugar... descartaria essas quatro
chances? Eu fecho meus punhos com força e aceno com a cabeça. —
Faltam
quatro noites, é o suficiente. Ainda não gastei metade dos meus
pedidos. Por que eu iria parar? Pelo menos aprendi com três erros nos
últimos três dias. — Encontro os seus olhos e confirmo: — Vou fazer
um desejo.
Cue sorri e coloca a mão no meu ombro. — Tudo bem, então, o
que passou em sua vida foi amor. Escute-me. Eu posso ser um
Ceifador, mas a outra metade de mim é um Cupido. Eu entendo o amor
porque o meu DNA foi projetado para entendê-lo. Mas o seu DNA não
foi. O fato de você não entender isso é a razão pela qual os humanos
como você podem desfrutar dele. O amor pode sempre doer. Seja o
amor que atinge o sentimento mútuo, seja o amor não correspondido,
seja o amor com uma pessoa boa, uma pessoa má ou uma pessoa
comum, haverá momentos em que você se machucará. Portanto, tentar
encontrar o amor sem dor é ridículo. Em vez disso, devemos buscar o
amor que valha a pena suportar a dor, se for doer. Você escolheu
arriscar gastando os pedidos, apesar da possibilidade da decepção, e
arriscar se machucar novamente. Você está disposto a correr esse risco,
porque quer que Wat retorne. Isso aí é amor. Continue acreditando em
si mesmo.
Então, Cue se levanta de seu assento e se espreguiça. — Estou
aqui esperando por você há muito tempo. Meu corpo ficou muito duro
e faminto também.
Ele se vira e bate no meu ombro, desta vez com mais força. — Eu estou
indo me divertir, vejo você novamente esta noite. Eu voltarei para atender o
seu pedido.
Um ônibus com ar condicionado de número trinta e nove chega
na hora certa, como se fosse combinado. As portas se abrem, deixando
o ar frio bater no meu rosto. Cue entra no ônibus e se vira para sorrir
para mim: — Passe o resto do seu tempo pensando antes de fazer seu
desejo esta noite. Tome cuidado. É a quarta noite, teremos mais da
metade dos desejos já.
Sento-me imóvel no banco. Certo, depois desta noite, já será mais
da metade do caminho.
A primeira noite, eu pensei que era uma piada.
Na segunda noite, eu não estava atento o suficiente. Na terceira
noite, faltou-me alguma compreensão. Esta noite, a quarta noite.
Eu...não... cometerei... o... erro... novamente.
CAPÍTULO 6
— Eu quero que você apague Neth.
Estive sentado e relaxando na minha cama para esperar por Cue.
Então, quando ele aparece no meu quarto, eu imediatamente anuncio
meu próximo alvo sem deixar que me pergunte primeiro. Ele parece
um pouco desconcertado, como se não tivesse certeza se está no lugar
certo. Dou-lhe alguns segundos para controlar sua confusão antes de
repetir a mesma frase.
— Eu quero que você apague Neth.
— Ei, ei, ei, acalme-se, mano. De onde você tirou essa ideia?
Ele levanta a mão para me calar. Sabe, eu realmente odeio isso.
Odeio quando as pessoas dizem “acalme-se” para mim.
Deixe-me te dizer uma coisa, quando alguém parece com pressa,
ou irritado, isso nem sempre significa que eles estão sendo impetuosos.
Às vezes, simplesmente não queremos perder tempo e também já
pensamos nisso com cuidado. Então, quando estou com pressa, não é
por perder a paciência. Eu simplesmente quero economizar tempo.
Quando você diz a alguém para “acalmar-se”, é condescendente.
É como acusar a pessoa de ter um chilique e que deve esfriar a cabeça,
quando talvez, na verdade, a pessoa não esteja perdendo a paciência.
Talvez ela simplesmente não queira perder tempo negociando com
você.
Dizer “acalme-se” implica um ponto de vista superior. Tipo, “ei,
se eu fosse você, eu seria mais sensato, blá, blá, blá.” Além disso,
significa que você está julgando a pessoa, dizendo que, pelos seus
padrões, ela está sendo emocional e tomando uma decisão precipitada.
Esse conselho definitivamente não é nada amigável. Na minha opinião,
é tão ruim quanto o conselho de um inimigo.
— Estou calmo. Estou apenas economizando o seu tempo. —
Respondo. — Então não teremos que desperdiçá-lo conversando sobre
assuntos irrelevantes. Você está aqui, eu faço um desejo, dizendo a
você meu alvo. Fim da história, rápido e fácil. Você cumpre o seu
dever, eu faço o que devo, então podemos encerrar a noite e esperar o
resultado amanhã. — … O que provavelmente será mais uma
decepção.
A última frase não é pronunciada em voz alta, mas
provavelmente será verdade de qualquer maneira… né?
Certo. Ridículo. Eu sou tão idiota. Sabendo que o pedido vai me
decepcionar, por que eu continuo fazendo esses desejos de merda para
esse Scythupid?
Francamente, aposto que vocês costumavam estar no mesmo
barco que eu estou agora. Sabe, às vezes você está jogando um jogo e
não tem muito HP na sua barra de vida. Você sabe muito bem que
nunca terminará esta etapa nesse ritmo. Vai morrer em breve, se
prosseguir. No entanto, você continua avançando, confiando no pouco
HP que ainda resta. É a mesma coisa.
É difícil encontrar uma razão ou uma desculpa para isso, e o
sentimento em si é ainda mais difícil de explicar em palavras. No
momento, minha mente está fixada no fato de que ainda me restam
quatro dias e que devo continuar tentando. Embora vá me decepcionar,
apagar alguém de quem não gosto... é um bom benefício colateral,
não?
E se, por um acaso, eu conseguir Wat de volta, será como acertar
um número premiado na loteria sem ter muitas esperanças.
— Mas ainda não é hora de fazer seu pedido. — Cue bate em seu
relógio de bolso branco e se senta na cadeira no pé da minha cama. —
Você tem um olhar diferente no seu rosto hoje. Qual é o problema?
Que tipo de humor é esse? — Sinto os seus olhos me olhando com
atenção. Ele se importa? Talvez não. Parece mais que ele está me
avaliando.
— Um humor qualquer. Eu tenho muitos humores. — Eu dou de
ombros, indiferente. — Uma coisa é certa, não estou com vontade de
conversar com um Cupido estúpido e enganador que brinca com a
mente das pessoas.
Ridicularizar é o melhor que posso fazer para me vingar dele.
Não tenho certeza se o culpado responsável por me causar decepção é
Cue e se ele merece, mas eu ainda despejo nele o meu mau humor de
qualquer maneira.
— Aaaiii... isso é tão cruel. Machuca os meus malditos
sentimentos!
— Ele reage com um exagero óbvio em seu tom, e isso me irrita
ainda mais.
— O quê? Você pode se machucar também? Eu pensei que você
só fosse bom em machucar as outras pessoas.
Ele ri: — Quem te machucou? Eu te machuquei? Eu? Ou você?
Essa resposta me deixa sem palavras.
Estou apenas com raiva, não sou estúpido. E eu sei que ele está
certo. Eu mesmo me machuquei.
— Meu instrutor me ensinou que a esperança se torna um azar
quando nasce da má orientação. É um azar porque você foi mal
orientado. Cue termina a sua declaração com um assobio. Sendo noite
e tudo estando calmo e silencioso, o seu apito ecoa para frente e para
trás no ar e paira em meus ouvidos com um toque penetrante. Ainda
assim, dói menos do que as suas palavras, que parecem ter perfurado o
âmago dos meus sentimentos.
Certo, eu estava enganado, então um infortúnio se abateu sobre
minha esperança. Para ser justo, é por causa dele.
Ele não causou a minha decepção diretamente, ele simplesmente
me visitou e ofereceu os desejos. O único problema é que os desejos
eram “se livrar de alguém” para tirá-los do meu caminho, mas o que eu
realmente quero é “conquistar alguém de volta”.
É um contraste enorme para caralho. Como diabos eu deveria
inventar uma solução para essa merda? O que devo fazer para “matar
alguém” em troca de reconquistar o meu “amor”?
Isso é uma merda! Se algum deus estúpido realmente quer
me presentear com um desejo, por que não me dar algo mais fácil de
correlacionar? Qual é!
Isso é um deleite ou é realmente um truque? Parece mais uma
pegadinha, considerando o quão longe parece estar. Por que diabos
deve ser tão difícil?
Eu tenho que admitir, no começo eu estava feliz, mesmo. Mas
agora eu sinto que sou apenas um rato, um rato de laboratório
dentro de um experimento onde alguém está pregando peças em mim o
tempo todo.
— Que porra a mais você quer que eu espere, então? — Retruco.
— Bem, eu não sei. Não é o meu dever mostrar-lhe o caminho
certo. Qualquer que seja o líder religioso que você adore, apenas use os
seus ensinamentos para se guiar. Quanto a mim, meu único dever é...
— Cue omite o resto da sua frase, sorri de canto de boca e não diz
mais nada.
— De qualquer forma, pelo menos me diga algo sobre Neth
antes que eu o apague para você, beleza? — Ele muda de assunto e
também de tom. — Você não acha que eu deveria pelo menos ouvir
quem ele é no diagrama do seu relacionamento com Wat? Só para ter
certeza de que não estou apagando a pessoa errada.
Ele tem um ponto, um ponto razoável. Pelo menos a voz dentro
da minha cabeça diz isso. Ok, vou em frente e digo a ele quem é Neth,
então.
— Ele é o melhor amigo de Wat. — Respondo.
— Ahhh... entendi... — Cue prolonga suas palavras. — Ele tem
ciúmes por você e Wat serem namorados, certo? Ele é do tipo invejoso
que espera uma chance de arrebatar o seu namorado de você? — Ele
tem um olhar curioso no seu rosto, agora.
Eu balanço minha cabeça. — Não. Ele é apenas um tipo comum
de amigo. O tipo que todo cara tem em sua vida. Um amigo que é um
irmão. — Lembro-me da primeira vez que Wat me apresentou a Neth.
Ele é esse tipo de pessoa que está pronto para contar histórias
engraçadas ou embaraçosas do seu próprio melhor amigo para o
namorado ou futuro namorado do amigo quando apresentado pela
primeira vez.
— Neth é uma boa pessoa. — Resumi para Cue. O mínimo que
posso fazer antes de pedir a Cue para apagar Neth é mostrar a ele todo
o quadro do meu ponto de vista. Como devo chamá-lo? Como um mini
elogio, talvez? Antes de matar alguém, devemos mostrar algum
respeito, e acho que meu elogio a Neth é que ele é uma pessoa legal.
— Por que você está o apagando, então?
— Porque ele é um cara legal. Ele é legal com seus amigos.
— E?

— Ele convenceu Wat a terminar comigo.


Pronto, esse é o veredito. Bons amigos fazem isso. Quando
alguém está sofrendo em um relacionamento ruim, o que seus bons
amigos fazem é incitar a pessoa a se afastar desse relacionamento.
Neth ficou desse lado da discussão. Ele aconselhou Wat a
terminar comigo. E não foi só uma vez, pelo que eu sei.
— Aham. Tudo bem. — Cue se levanta da cadeira. — Você sabe
o significado da palavra “amigo”?
Eu assinto. — Sim. — E não digo mais nada, economizando as
palavras e o tempo.
— Então, faça o seu pedido. — Cue acena com a cabeça.
A hora no meu relógio mostra onze e cinquenta e nove da noite.
— Senhor Scythupid, quero que você apague Neth deste mundo.
— Digo meu desejo rapidamente de uma só vez, sem nenhuma
pausa no
meio.
Quando eu disse meus pedidos anteriores, eles não eram curtos, e
também não eram longos. Mas sempre paro no meio de dizê-los.
Talvez seja como um assassino que hesita por uma fração de segundo
antes de enfiar a faca quando mata alguém. Não importa o quão
perverso seja, deve haver uma batida quando ele hesita ou reconsidera
antes de tirar uma vida, eu acho. Essa analogia deve descrever bem o
que eu era.
Mas não desta vez. Porém, não sei por que. Posso estar
me
acostumando com isso, ou ficando entorpecido, ou talvez ficando
frio.
Cue acena com a cabeça novamente e se curva para reconhecer o
desejo, como de costume. Mas, desta vez, ele não tem uma observação
ridícula ou um sorriso para mim.
— Espero que o favor satisfaça o seu desejo desta vez. — Ele diz.
Isso é bem curioso. Estranho, tanto as suas palavras quanto a
sua expressão facial. Normalmente, ele ficaria mais alegre ao me ouvir
fazendo um desejo de se livrar de alguém. Mas esta noite, ele parece...
bastante simpático, talvez?
— É... eu também espero. — Zombo.

— Eu estou falando sério mesmo. — Cue responde.

— Você quer que eu tenha meu desejo realizado? — Eu


pergunto.
Ele acena com a cabeça: — Porque é isso que os amigos fazem.
Desejar o bem aos amigos. Eu quero que você finalmente consiga o
que você realmente almeja. — O sorriso que ele mostra no final de sua
resposta parece tão triste que nem parece um sorriso. Não sei explicar.
Só aparenta ainda mais triste do que lágrimas.
— Desculpe, só posso conceder-lhe favores matando alguém,
não evocando o amor em si. Não é só você que espera ansiosamente
pelo resultado, eu também. — Cue caminha até a porta da frente do
meu quarto. — Bons sonhos esta noite.
Então, ele desaparece ao mesmo tempo em que minhas pálpebras
se fecham, caindo em um sono profundo novamente.
ONZE DE FEVEREIRO, DEZ DA MANHÃ.A HORA MARCADA PARA
EU ESTAR ACORDADO.
— Olá. Você está pronto? — Cue está no pé da minha cama,
esperando por mim em sua roupa branca e jeans desbotados.
Eu aceno: — Deixe-me tomar banho e me vestir primeiro. —
Estranhamente, esta manhã não me sinto nada animado ou ansioso.
Atravesso a porta do banheiro e automaticamente sigo a minha rotina
matinal.
Eu nem pego o meu celular para checar a rede social ou qualquer
mensagem. É como se eu soubesse que há um negócio que devo fazer.
Eu só preciso acordar, me preparar e sair para fazer isso. Ver o
resultado. E se for bem-sucedido ou não, começo a pensar a partir daí.
Sinto como se fosse apenas um organismo vivo programado, mas
sem energia vital.
Quando saio do banheiro, digo a Cue: — Hoje eu quero ir
sozinho,
tudo bem?
Ele acena com a cabeça: — Tudo bem, eu tenho as minhas
próprias coisas para fazer também. — E ele apenas some em um piscar
de olhos bem na minha frente, eu nem tenho a chance de perguntar que
tipo de coisas ele quis dizer.
Mas você sabe, isso não é importante.

Entro na cafeteria e Wat não está no balcão.

— Olá, um Americano gelado, por favor. — Digo ao barista,


cujo rosto não me é familiar. — Com licença, Wat não está aqui hoje?
— Wat? Qual Wat você quer dizer, senhor? — O barista me olha
confuso.
— O barista alto que usa óculos e tem uma marca de nascença
vermelha sob o queixo. Ele costumava trabalhar aqui, não é?
A minha explicação parece confundir ainda mais esse barista. —
Hum, eu nunca vi essa pessoa. Nenhum dos baristas aqui se encaixam
na descrição, senhor.
— Oh... tu... tudo bem. — Confirmo.
— A sua bebida ficou em setenta e cinco bahts, por favor. — Ele
abre a caixa registradora, e eu lhe entrego uma nota de cem bahts antes
de caminhar até uma mesa.
“Você sabe o significado da palavra amigo?” Repito a pergunta
que Cue me fez ontem. Hã? E eu respondi a essa maldita pergunta?
— O seu café está pronto, senhor. — O barista me chama do
balcão. Eu me levanto para pegar a minha bebida enquanto uso a outra
mão para abrir a rede social no meu celular para checar Wat. Pelo
menos deve me dar alguma ideia de seu paradeiro.
Lá, recebo minha resposta… A resposta sobre o porquê do Wat
não
estar no café.

ONZE DE FEVEREIRO.
Às dez e cinquenta e oito da noite.
Estou no meu quarto e ainda não tomei banho. Esta noite, Cue
chega mais cedo do que o habitual.
— Você sabia disso, né, Cue? — Olho por cima do travesseiro
apertado em meus braços. Ele confirma com a cabeça e se senta na
cadeira no final da minha cama.
Eu aceno de volta para a sua confirmação. — Então, é por isso
que

você me perguntou se eu sabia o significado de um amigo.


Cue não responde. Os seus olhos estão fixos na tela do meu
computador, onde deixei a página da rede social do Wat à mostra. A
última foto é de Wat com o seu sorriso brilhante e lindo.
No entanto, está em preto e branco, e há um texto dizendo #RIP
escrito nela. Wat já está morto... há algum tempo.
Algum amigo que tenha permissão do Wat para acessar e cuidar
da sua conta da rede social após seu falecimento deve ter colocado a
foto. Abaixo, vários comentários foram postados para lamentar a sua
morte. A data da postagem da foto indica que já se passaram três anos.
Isso foi antes mesmo de Wat e eu nos conhecermos, e também antes de
ele se tornar um barista.
— Wat se matou. — Declaro em um tom plano. Passei a tarde
inteira chorando até não sobrar água no meu reservatório de lágrimas,
aparentemente. Embora eu sinta que vou chorar de novo ao dizer essa
frase, os meus olhos estão muito secos para produzir qualquer tipo de
fluido agora.
— Você já teve alguma crise na vida? — Cue pergunta.

— É melhor você perguntar quantas vezes eu tive. — Respondo.

— Você já esteve sem um amigo ao seu lado em momentos


como esses?
— ...Nunca. — É a minha resposta.

— Você já teve a ajuda dos amigos negada quando precisou


deles?

— ...Isso, nunca também. — Está ficando mais difícil responder


quando começo a sentir um nó na garganta.
— Naquela vez, foi Neth quem ajudou Wat a superar isso. —
Cue me dá a resposta do que tenho questionado o dia todo. Na
verdade, eu tinha um pressentimento disso, mas uma confirmação dele
me garante que eu acertei.
— Quando não há Neth, não há ninguém para ajudar, e ninguém
para ele se agarrar... — Eu concordo enquanto ele fala, minhas
lágrimas aparentemente secas escorrem novamente.
— Esse é o significado de um amigo, como você perguntou,
então?
Cue acena com a cabeça antes de continuar. — Certo, e caso você
não perceba, antes de Neth começar a aconselhar Wat a terminar com
você, ele realmente disse a Wat para tentar ficar com você e fazer as
pazes. Durante as primeiras brigas entre vocês dois, é isso. Ele salvou
seu relacionamento algumas vezes, na verdade.
— Eu sei. — Minhas lágrimas continuam fluindo. — Isso
significa que eu matei alguém que não deveria, não é?
Para dizer a verdade, nas noites passadas, quando tirei a vida das
pessoas, fiquei apático com isso. Talvez porque aquelas três pessoas,
das primeiras três noites, fossem pessoas que eu conhecia apenas
remotamente. Neth, por outro lado, foi alguém que encontrei, conheci
e com quem dei risada.
Nós existíamos mutuamente na linha do tempo um do outro.
Embora não como namorados, ainda assim era significativo. Ai meu
Deus, droga… Que porra que eu fiz?
Em que diabos de situação estou? Que porcaria de jogo é esse?
Só continua indo ladeira abaixo. Quanto mais eu insisto, quanto mais
eu faço os desejos, mais minhas emoções despencam.
— Hoje à noite, eu tenho uma nova regra para você. — Cue diz,
me dando um tapinha no ombro. — A partir de agora, você pode
apagar várias pessoas ao mesmo tempo, usando a palavra-chave “quem
quer que...” e voilà! Que tal? Parece divertido, não parece?
O seu tom de voz agora voltou para o lado alegre da balança e
isso me deixa completamente desnorteado. Eu inspiro com força pelo
nariz fungando e enxugo as lágrimas do meu rosto, me perguntando se
os meus ouvidos estão me enganando. Um resultado tão trágico acabou
de acontecer, e ele ainda quer que eu faça outro desejo estúpido? Você
está falando sério?
— Você ainda quer que eu mate mais pessoas? — Falo de
volta
para ele.
— É o meu dever. — Ele responde. Nenhuma sobrancelha
levantada, nenhum encolher de ombros e nenhum sorriso. É a primeira
vez que o vejo com uma expressão tão séria.
— Você vai continuar, ou é isso? Lembre-se, você já matou
muitas pessoas. Você não consegue ver, mas suas mãos agora estão
manchadas de sangue.
Também não é a primeira noite em que você está usando os seus
favores. Estamos bem na metade do caminho. Esta já é a quinta noite.
Se você quer se acovardar, deveria ter se acovardado desde a primeira
noite, não apenas agora. Não... ouse... agir... como... uma... vítima...
esta noite.
Ele enfatiza cada palavra na sua última frase, falando devagar e
claramente. Minhas lágrimas param instantaneamente, não tenho
certeza se é de medo ou o quê. Essa é, aparentemente, a primeira vez
que eu realmente percebi o lado Ceifador da característica de Cue. Ele
não é apenas um cara idiota e pateta que só ri o dia todo e faz caretas
para me ridicularizar.
— Agora é a quinta noite, você pode me pedir para matar mais
de uma pessoa de uma vez. Apenas vá em frente, diga “quem quer
que...” e me peça para... Vamos, acabe logo com isso. Esta é a
grande aposta
agora. Você vai deixar aqueles que já foram apagados morrerem
em vão? Está todo medroso agora? Você é tão covarde? Achei que
você tinha me dito que queria ganhar Wat de volta, não importaria o
quê.
O seu tom fica mais intimidador enquanto ele se levanta e
caminha em minha direção, enquanto ainda estou sentado na minha
cama. Instintivamente, recuo até as minhas costas encostarem na
cabeceira da cama.
Cue se inclina para baixo e para frente, me encarando de perto
antes de sorrir. Mas o sorriso, é um sorriso tão glacial, no qual me sinto
completamente aterrorizado. É o sorriso de um Ceifador...
— Tudo bem, estou me divertindo. Não chore. Não desanime.
Não interrompa a minha diversão. Não... pare... de... matar. Vá em
frente e me diga o seu pedido. Agora. Quem quer que seja... E eu vou
fazer acontecer. Apresse-se, diga-me.
Luto para engolir. Eu caí na armadilha de um Ceifador... Não é?
CAPÍTULO 7
— Tudo bem, estou me divertindo. Não chore. Não desanime.
Não interrompa minha diversão. Não... pare... de... matar. Vá em frente
e me diga o seu pedido. Agora. Quem quer que... E eu vou fazer
acontecer. Apresse-se, diga.
Já estou encostado na cabeceira da minha cama. Eu não
consigo
me afastar mais.
— Cue... você está me assustando. — Digo trêmulo sem
encontrar
seus olhos.
— Bom! Você deveria estar com medo de mim desde o primeiro
dia. — Ele diz, levantando um canto da boca em um sorriso. — Você
esqueceu que também sou um Ceifador? Lembre-se, metade de mim
pode ser um Cupido, mas a outra metade é um Ceifador. Embora eu
converse e brinque com você, isso não significa que eu não seja um ser
terrível.
Ele cutuca minha testa com um dedo: — Meu principal objetivo é
tirar a vida das pessoas. Qual parte disso... você... acha... que... não...
é... terrível?
O arrepio corre da minha testa por todo o meu corpo. Estou preso
na armadilha do Ceifador agora? Como em um filme sem sentido de
quinta categoria, como aquelas pessoas que fizeram desejos por meio
de um pacto com Satanás e foram levadas à própria morte. Vou acabar
como eles também...?
Cue ri no fundo da garganta. — Não, você não vai.
Ele se afasta de mim e se senta, em perna de índio, na
extremidade oposta da minha cama, aparentemente lendo minha mente
novamente. — Você é louco? Não estou aqui para te matar, mano. Meu
trabalho é matar qualquer outra pessoa que você queira que eu mate.
Qual parte da minha explicação você não consegue entender?
Hã…? Aquela expressão intimidadora de antes desapareceu do
rosto de Cue. Ele retorna ao seu eu brincalhão novamente. Como
assim?
— Hã, mas... — Eu não sei o que dizer em seguida.
— Mas o quê? — Ele franze a testa para mim, cruzando os
braços.
— Você... você me assustou para caramba. Então eu…
— Você está pensando demais de novo, cara. — Cue balança a
cabeça.
— Eu só queria que fosse mais sério com os seus pedidos. Não
se esqueça, nem todos no mundo têm essa oportunidade como você
teve. Tem levado muito levemente, achando que é irreal e que poderia
fazer qualquer pedido desleixado antes de esperar pelo resultado. —
Ele faz uma pausa, descruzando os braços e descansando as mãos no
próprio colo.
— Mas aquelas pessoas que desapareceram, desapareceram de
verdade. Embora não seja exatamente matar, como matar fisicamente
esfaqueando-as, envenenando-as ou empurrando-as do topo de um
prédio, apagar alguém do mundo também é matar.
Não... na verdade, eu apagá-los completamente dos registros,
como se eles nunca tivessem existido neste mundo, pode ser ainda pior
do que matar... Se você for morto, ou se você morrer, não é uma morte
absoluta. Você ainda está vivo.
— Como? Morto, mas ainda viver? — Duvido que seja possível
morrer e ainda estar vivo.
— Enquanto alguém ainda pensar em você, você estará vivo. —
O tom de voz de Cue muda quando ele diz essa frase.
— Mas apagar alguém, varrer toda a sua existência do mundo,
significa que ninguém se lembra deles. Ninguém pensa neles. Eles se
foram completamente do seu universo, terminando em outro lugar,
como em uma lata de lixo em algum outro multiverso. Em qualquer
lugar, mas ninguém consegue se lembrar deles. É pior do que ser
morto, sabe. Ser descartado é horrível, eu sei. Mas desaparecer da
memória de todos é muito pior do que ser descartado. É mais doloroso.
Bem, se... você... pode... ainda... sentir... coisas, é isso.
Ao dizer tudo isso, não tenho certeza se ele está me dando uma
palestra, explicando fatos ou compartilhando comigo algumas emoções
ocultas de sua autoria. Um Ceifador (Cupido) teria um passado difícil e
amargo? Antes de me visitar, quem era ele?
Ou, para ser mais exato, o que... ele... era? E... por... qual... tipo...
de... coisas... ele... passou?
— Eu... nunca pensei sobre isso antes. — Confesso. Cue está
certo sobre tudo, sobre meus pensamentos.
— Comece a pensar, então. Esta é a quinta noite. Você deveria
levar isso mais a sério. — Ele respira tão fundo que o seu peito incha,
e então ele sorri. — Desculpe, eu assustei você mais cedo. Às vezes
me irrita tanto que não consigo controlar a minha raiva quando as
pessoas não levam a morte a sério.
— Não é grande coisa. Você não deve se desculpar. Sou eu quem
deveria pedir desculpas, por não levar isso tão a sério e por não o
respeitar como um Ceifador. — Concordo com a cabeça e sorrio,
sentindo que pode ser obrigatório sorrir de volta.
— Então, estamos quites agora, né? — Cue me oferece uma
mão, sorrindo novamente.
— Aham, estamos quites. — Aperto a sua mão, me sentindo
aliviado e sorrindo de volta com mais facilidade.
— Tudo bem, você tem que pensar em quem vai me pedir para
apagar. — Cue se vira para dar uma olhada no relógio. — Não resta
muito tempo até o minuto mágico em que posso aceitar seu favor.
Apague quem quer que seja…
— Ah, espere um segundo, deixe-me perguntar umacoisa.
— Aham, pergunte. Eu respondo, se puder.

— Por que eu ganhei uma nova regra?


Cue ri. — Não sei. — Cue encolhe os ombros. — É uma ordem
de cima, então eu tenho que cumprir.
— Hum, acho que você também é um colarinho branco como as
pessoas comuns, então? — Não quero que essa pergunta seja
engraçada, mas a pergunta é engraçada por si só. Cue sorri para mim
como resposta.
De repente, sinto pena dele. Eu também já fui um. Muitas vezes,
tínhamos que seguir uma política burra ou maluca porque o topo da
empresa a transmitia. Costumava pensar que estaria livre dessa
obrigação quando morresse. No entanto, parece evidente que nem
mesmo um Ceifador consegue escapar disso.
— Mantenha a capacidade do seu cérebro para considerar seu
próximo pedido. Não sinta pena de mim. — Ele balança uma
sobrancelha, tendo lido minha mente mais uma vez. — Estou feliz com
meu trabalho. É agradável, sabe, se você administrar bem o seu tempo.
Já decidiu quem vai apagar?
Eu contemplo…
No primeiro dia, eu estava muito obcecado com o presente e pedi
para ele apagar o namorado atual de Wat. Nos três dias seguintes, mexi
com o passado, apagando seu ex, a causa da discussão e seu amigo.
Ambos não funcionaram...
Então, hoje eu deveria tentar algo novo. Ganhei uma nova regra,
para apagar quem quer que… posso tentar.
— Agora eu sei. Mas antes de fazer meu desejo, posso te
perguntar uma coisa?
— Outra pergunta? — Cue franze a testa. — Ok, ok, apresse-se e
me pergunte, para não nos atrasarmos.
— Existe um limite de quantas pessoas posso definir com “quem
quer que”?
Cue balança a cabeça. — Não. Por exemplo, se você disser quem
quer que estivesse no mesmo ano da faculdade e no mesmo curso com
o Wat, e suponhamos que havia quatrocentas pessoas, vou apagar todas
essas quatrocentas pessoas. Portanto, o valor depende de como você
define o limite do conjunto que representa o que você deseja apagar.
Eu aceno em reconhecimento. — Entendi. Isso vai facilitar.
A resposta imediatamente surge nos meus pensamentos, como
se houvesse um show de fogos de artifício de Ano Novo chamativo e
barulhento dentro da minha cabeça.
Desta vez, Wat definitivamente voltará para mim. Esta regra
realmente funciona a meu favor. Além disso, os últimos quatro dias me
ensinaram lições suficientes para estar atento e traçar um limite em torno
do que desejo, tornando-o abrangente. Com certeza, voltaremos a nos
amar.
— Você pode fazer seu pedido agora? Está quase na hora. — Cue
diz olhando para o relógio, e eu aceno.
— Quem quer que seja o obstáculo que impede Wat de voltar para
mim, eu quero que ... sejam... apagados... deste... universo.
Perto do fim do meu desejo, sinto que a minha voz ecoa um pouco.
Cue acena e se curva para reconhecer meu pedido, como de costume.
— Desta vez você fez um pedido inteligente. — Ele elogia. —
Agora estou curioso. O que vai acontecer amanhã?
— Fácil. — Desta vez, é a minha vez de dar de ombros para ele.
— Já que todos os obstáculos entre ele e eu desapareceram, ele voltará
para mim, com certeza. Nenhuma dúvida sobre isso. Nem preciso
adivinhar.
— E se... e se amanhã, quando você acordar, não houver...
mais... ninguém... no... mundo?
Deixo minha boca aberta.

— Não se esqueça, todos estão inter-relacionados. A existência


de cada pessoa afeta as demais, em maior ou menor grau, diretamente
ou indiretamente. Algumas pessoas no continente da Austrália podem
ser relevantes para os obstáculos que impedem que Wat volte para
você. Você pensou que era fácil, mas eu acho que não.
Cue caminha até a porta como costumava fazer, antes de se virar
e olhar para mim com olhos inquisitivos.
Meu corpo inteiro está frio, ainda mais frio do que quando ele me
intimidou. Isso mesmo... e se isso acontecer...
— Não se preocupe com isso. É inútil, de qualquer maneira. Você
já me pediu o desejo, não pode voltar atrás. Apenas... espere... e...
veja... amanhã.
Ele estala os dedos... e eu caio em um sono profundo.
DEZ HORAS DA MANHÃ, DOZE DE FEVEREIRO. O NOVO DIA
DEPOIS DA MINHA QUINTA NOITE DE DESEJOS.
Eu... acordo... sozinho... na... minha... cama.
Olhando para o espaço ao meu lado, não há nenhum amassado
no colchão. Ninguém dormiu perto de mim ontem à noite... Incluindo o
Cue. Me levanto e não escuto qualquer som do banheiro... Nada além de
silêncio. Ninguém está tomando banho lá, ao contrário dos últimos cinco
dias. Não há Wat. Não há Cue.
A observação de Cue da noite passada ecoa na minha cabeça.
“Não se esqueça, todos estão inter-relacionados. A existência de
cada pessoa afeta as demais, em maior ou menor grau, direta ou
indiretamente.
Algumas pessoas no continente da Austrália podem ser relevantes
para os obstáculos que impedem que Wat volte para você. Você pensou
que era fácil, mas eu acho que não.”
Ai, Merda! Espera. Talvez tenha se tornado exatamente como Cue
disse? Correndo contra os meus próprios pensamentos, pego um controle
remoto e ligo em um canal de notícias. Ok, ainda há notícias, e o mesmo
repórter está falando. O que significa que o mundo não chegou ao fim
com o meu desejo. Ufa… Que alívio!
Olhando para o controle remoto na minha mão, eu rio de mim
mesmo. Às vezes, eu faço coisas ridiculamente patetas ou loucas.
Estava com medo de que toda a população do mundo tivesse
desaparecido. O que se deve fazer em tal situação é abrir a janela e
verificar se há pessoas do lado de fora. Mas não, optei por ligar a TV e
conferir as notícias para ver se o repórter ainda está lá. Isso é louco e
burro.
Acho que todo mundo já teve a experiência de fazer algo insano,
algo que parece hilário em retrospecto. É porque naquele momento, as
suas emoções assumiram o controle das suas ações.
Eu tenho a minha própria teoria sobre isso. Como você acha que
o nosso cérebro funciona? Para mim, sempre imagino que ele seja
como uma nave espacial. Há uma cabine de pilotagem com dois
capitães de plantão.
O primeiro é o Capitão Deliberação. O outro é o Capitão
Emoção. Ambos lutam um contra o outro pelo controle da nave.
Sempre que o Capitão Deliberação solta o dispositivo de direção,
o Capitão Emoção imediatamente assume o controle. É um bom
arranjo, na verdade, porque pelo menos a nave nunca fica fora de
controle.
Só que, às vezes, a nossa deliberação e a nossa emoção não
concordam na direção. Portanto, em alguns casos, quando a nossa
deliberação retorna, a nossa emoção já alterou o curso da espaçonave,
deixando a deliberação para lidar e resolver as consequências das
ações dirigidas pela emoção.
Aumento o volume da televisão e largo o controle remoto,
pegando uma toalha antes de entrar no banheiro. Eu odeio quando o
meu quarto está quieto. Preciso que os ruídos da televisão ligada ao
fundo me acompanhem enquanto faço a minha vida diária. É uma
rotina regular que venho fazendo e me acostumei, desde criança.
Eu costumava pensar que a minha sensibilidade em relação à
solidão estava em um nível mediano. Achei que todo mundo fazia isso,
achava que era comum. Mas quando mencionei isso em uma conversa
com os meus amigos, descobri que sou muito mais propenso à solidão
do que as pessoas comuns. Mas é só a minha observação, no entanto.
Ainda não conversei com nenhum psiquiatra para confirmar isso. Eu
também já me acostumei com a solidão.
Até Wat se tornar parte da minha vida, no entanto. Aliás, Wat
entrou nela por causa da minha solidão. Estou ciente de que o acolhi
em minha vida porque estava me sentindo sozinho. Mas depois que
compartilhamos uma parte das nossas vidas um com o outro, acabei
me apaixonando por ele.
As pessoas podem pregar que não devemos deixar alguém entrar
nas nossas vidas quando estamos solitários. Mas uma vez que chegam,
devemos aprender sobre eles, não é mesmo? Tive a sorte de conhecer
Wat quando estava sozinho.
Eu simplesmente falhei em manter o nosso relacionamento. Sou
grato por ele ter entrado na minha vida, mas sinto muito por não
conseguir mantê-lo. Para dizer a verdade, eu só gostaria de nunca o
perder.
É por isso que os desejos que Cue está me concedendo são as
minhas chances. Realmente espero que o desejo de “quem quer que
seja” que fiz ontem à noite, ajude a trazer o meu amado Wat de volta
para mim. Sinceramente não consigo continuar sem ele.
Porque a vida sem ele, para mim, não é uma vida.

Abro a porta e entro na cafeteria.


Hoje há poucos clientes. (Espero que não seja porque parte da
população humana tenha desaparecido deste mundo.) Vou até o balcão.
Ainda não vi Wat, mas tenho um palpite de que ele estará hoje, porque
fiz o meu desejo. Quando chego ao balcão, faço o meu pedido.
— Um Americano gelado, por favor.

— Beber café gelado de manhã não é bom para você, eu


recomendo um café quente.
Eu desvio o meu olhar da minha carteira para dar uma olhada.
— Cue, uau, mas que po…?
O barista fofo atrás do balcão não é Wat, mas o Scythupid com
quem estou (um pouco) familiarizado. Ele move uma sobrancelha. —
Um americano quente, é isso. Setenta e cinco baht, por favor.
Ainda em transe, eu conscientemente pago com uma nota de cem
porque há alguém esperando na fila atrás de mim.
— Por que você está aqui? — Abaixo o meu volume e pergunto
enquanto aceito o troco dele.
— O seu café será servido na mesa, senhor. — Embora ele não
esteja respondendo diretamente à minha pergunta, posso adivinhar que
ele virá até mim para explicá-la.
— E onde está Wat? Ele está aqui? — Fico no balcão, tentando
desesperadamente fazer uma última pergunta.
— Por favor, siga-nos nas nossas redes sociais para mais
atualizações e promoções. — Mais uma vez, outra resposta duvidosa.
Mas Cue levanta uma sobrancelha rapidamente para mim, então talvez
ele queira que eu as verifique... Ah, certo, ele deve estar tentando dizer
que eu deveria checar as redes do Wat.
Saio do balcão e encontro um bom lugar para me sentar antes
de pegar o meu celular. Acabei de perceber que não verifiquei as redes
sociais do Wat hoje. Na verdade, é a primeira coisa que faço quase
todos os dias. Como diabos poderia... eu... ter... esquecido... hoje?
Ei, espere. Qual é o nome do Wat nas redes sociais? Hum... ele
usou o seu nome verdadeiro?
E qual é o nome completo do Wat?
O meu histórico de pesquisa está em branco. Também não há
nada sobre Wat no cache. Espere, o nome dele é Wat, não é?
— Aqui está o seu café. — Uma xícara de Americano quente é
colocada na minha frente enquanto Cue se senta em uma cadeira em
frente à minha.
— Tenho um momento para falar com você, o chefe me deu
permissão. — Cue se vira e olha para outro barista que assumiu a
função na máquina de café atrás do balcão.
— Cue. — Olho por cima do meu celular e em seus olhos. —
Por que... estou... começando... a... esquecer... o Wat?
Certo, estou começando a esquecer Wat. Esta manhã, me lembrei
que o seu nome é Wat, mas agora não tenho mais tanta certeza sobre
isso. Esta manhã, eu conseguia me lembrar do rosto dele... eu acho.
Mas agora, a sua imagem é apenas um borrão na minha memória.
— Isso é porque Wat foi apagado. — Cue me dá a resposta, uma
resposta que eu temia.
— Por quê? Por que Wat foi apagado, quando eu pedi... —
Tento me lembrar do que pedi a ele ontem à noite.
— Qual foi o desejo que você pediu ontem à noite? — Cue me
responde com uma pergunta.
“Quem quer que seja o obstáculo que impede Wat de voltar para
mim, eu quero que eles... sejam... apagados... deste... universo.”
— No começo, pensei que precisaria apagar centenas ou
milhares de pessoas. Fiquei tão feliz que ia fazer um grande gol. —
Cue junta as mãos no colo, batendo o pé ritmicamente, tap tap tap.
Percebo que ele evita contato visual enquanto fala comigo.
— Acontece que, no entanto, eu apaguei apenas uma pessoa.
Porque o único obstáculo... a única pessoa que estava mantendo Wat
longe de você... era... o... próprio... Wat.
Ele... nunca... quis... voltar... para... você.
Não importa... quantas... pessoas... você... apague.

Ele... nunca... voltará... para... você.


Portanto, de acordo com seu pedido, tive que... apagar Wat.
Parece que Cue ainda tem mais a dizer, mas eu não tenho
coragem de ouvir. Salto da minha cadeira, pegando o meu celular e
carteira, e imediatamente corro. Eu não quero ouvir outra palavra dele.
Que diabos! Aquele Cue de merda... Cupido estúpido. Ele é
apenas um falso Ceifador. Um idiota enganador. Ele deveria estar
agradecido por eu não ter derramado o café nele antes de sair correndo.
Ele me enganou. Me encurralou para fazer os desejos, eventualmente
resultando em apagar a pessoa que eu amo.
O tempo todo, ele só queria que eu o ajudasse a matar pessoas.
Ele só queria colher mais vidas. Isso é uma puta farsa! E pensar que eu
o considerava um amigo.
Papo furado! Puta merda!
Chego ao ponto de ônibus, o mesmo para onde sempre corri
depois de receber a minha dose amarga de decepção. Mas não hoje...
não vou parar aqui.
Eu corro sem parar. Não tenho certeza se é a angústia que corta
mais profundamente do que nos outros dias ou a raiva que alimenta e
impulsiona os meus pés a continuar. Porém, como não tenho a menor
ideia de onde ir, acabo voltando para casa, guiado pelo meu
subconsciente.
Chuto os meus sapatos e mergulho na minha cama, enterrando
meu rosto no travesseiro. No começo, pensei que as minhas lágrimas
estariam jorrando nesse segundo, mas isso não aconteceu. Eu nem
quero chorar, meu cérebro parece todo em branco...
Mais cedo, a minha emoção era quem guiava, e então ela levou
o meu corpo de volta ao meu quarto. Neste momento, o Capitão
Deliberação voltou ao comando da direção. Meus pés pararam e o meu
cérebro começou a se mover novamente. Eu reexamino toda a situação
na minha cabeça.
Agora Wat se foi, devido ao meu desejo de me livrar dos
obstáculos. Acontece, no entanto, que o único obstáculo que o mantém
longe de mim...
Era... ninguém... menos... que... o... próprio... Wat.
Está claro. Wat não queria mais voltar ao nosso relacionamento.
O que também significa que, mesmo que este mundo não tenha mais
ninguém além de nós dois, Wat pode preferir morrer a voltar para mim.
Uau, isso é triste para caramba. Mais triste do que antes.
Merda, sabe, eu não estava completamente alheio a essa
possibilidade. Já tinha pensado nisso antes, só não queria admitir. Eu
sabia que se Wat dissesse que queria ir embora, isso significava que o
seu coração já estaria longe, bem distante.
Eu sou apenas um homem comum de coração partido enfrentando
e lidando com os cinco estágios do luto: negação, raiva, barganha,
depressão e aceitação. Durante as últimas cinco noites, os meus
desejos foram a manifestação desses cinco passos pelos quais tenho
lidado com a dor da minha perda.
Na primeira noite, eu estava em negação. Neguei que ele já tinha
me deixado. Pensei que, se ele não tivesse o outro cara, ele teria
ficado.
Na segunda noite, fui consumido pela raiva. Eu ataquei o seu ex-
namorado. O culpei por ser a causa do nosso término.
Na terceira noite, comecei a negociar. Tentei barganhar pela
extensão de nosso relacionamento evitando discussões. Eu achei que,
se nunca tivéssemos a nossa primeira briga, não teríamos terminado.
Na quarta noite, fui atingido pela depressão. Senti-me tão
deprimido e desesperado que desejei que um amigo fosse apagado. No
entanto, isso só acrescentou outro fator de remorso em cima da minha
depressão.
Na quinta noite, é hora de abraçar a aceitação. O resultado está
me fazendo aceitar que ele... não... retornará... não importa... o que.
Agora, cabe a mim pensar e decidir o que fazer a seguir.
Eu enxugo as minhas lágrimas e olho ao redor da sala. Há muitas
memórias embutidas neste espaço. Nenhum canto desta sala está sem
uma imagem de Wat. Na verdade, não há lugar em Bangkok que não
me lembre das memórias entre Wat e eu. Embora tenhamos passado
por momentos difíceis no final de nosso relacionamento, criamos
muitas alegrias um para o outro ao longo da jornada. Fizemos muitas
coisas juntos, criamos várias boas lembranças, em quase todos os
lugares em que estivemos juntos.
Bem, é praticamente em todos os lugares em que vivi. Em todos
os lugares em que progredi na minha vida, havia Wat na foto.
No meu melhor e no meu pior dia.
Nos dias em que eu estava alegre, e quando estava doente ou
fraco. Nos dias em que eu era rico e nos que não tinha mais nada. Eu...
sempre... tive... Wat... ao... meu... lado. E agora, eu preciso aceitar.
Aceitar... que... minha... vida... não... terá... mais... o... Wat. A
questão é, ainda pode ser chamada de vida?
Vou até a minha mesa e abro uma gaveta para pegar um caderno.
É um caderno tipo diário, novo, que comprei há muito tempo. Agora é
a hora de começar a usá-lo.
Virando-me para olhar para o relógio, vejo que ainda há muito
tempo até o anoitecer. Meu estômago parece não querer comida. Para
ser mais preciso, nesse ritmo meu estômago não parece capaz de
aceitar qualquer comida. Joia. Eu não quero perder o meu tempo
comendo, de qualquer maneira. Tenho uma missão a cumprir.
Pego uma caneta e abro o caderno, então começo a escrever
sobre tudo o que aconteceu nos últimos seis dias ou cinco noites.
Estou escrevendo tudo. Os primeiros cinco dias, cinco noites, quando
eu esperava que Wat voltasse, e na sexta manhã, quando finalmente
aprendi... que nunca será assim.
CAPÍTULO 8
— Você está exausto?
Ao ouvir a minha pergunta, Cue parece estar um pouco
assustado, mas então se vira para mim, sorrindo, e balança a cabeça.
Talvez ele não espere que alguém o cumprimente com essa pergunta.
São quinze para a meia-noite e ele apareceu no meio do meu quarto,
como sempre. Hoje, porém, ele está vestido com o uniforme da
cafeteria onde Wat trabalha.
— Não, estou bem. — Ele responde e faz uma pausa por um
tempo antes de acrescentar: — Obrigado por perguntar. Ninguém
nunca me perguntou isso.
Eu aceno com a cabeça. — Lamento saber que ninguém parece
se importar com você, antes. — Penso em mim e em Wat. “Você está
exausto?” era a nossa saudação regular que dizíamos cada vez que nos
encontrávamos depois do trabalho.
É uma saudação que não precisa de resposta. Seu único objetivo é
transmitir um sentimento caloroso à outra parte, para que saiba que,
pelo menos, há alguém que sempre se importa. A pergunta “Você está
exausto?” é um encantamento para reabastecer magicamente a energia
mental esgotada. É um incentivo que nos ajuda a continuar a cada dia.
Eu sinto que Cue merece esse tipo de incentivo, porque ele deve estar
exausto do trabalho.
— Você... está tudo bem contigo? — Cue tira o avental com o
logotipo da cafeteria e o pendura, antes de chegar à cadeira giratória no
pé da minha cama, o seu lugar de sempre, e se senta. Ele parece
preocupado com o meu comportamento atual. Rio. Isso é estranho.
Quando estou chateado, ele fica alegre, mas quando sou gentil e
expresso a minha preocupação com ele, ele acha que há algo errado
comigo.
— Hoje você trabalhou no lugar de Wat porque ele foi apagado?
— Oh, as regras do tempo não são tão simples, sabe.

— Ei, e por que você trabalhou lá?

— Hum... — Cue toca o seu lábio inferior com um dedo,


aparentemente em profundo pensamento. — Bem, se eu não estivesse
lá, quem mais lhe daria a dica sobre o desaparecimento de Wat? Então,
eu tinha que estar lá. No entanto, seria estranho se apenas me
apresentasse
ali, por isso tive que me misturar e me tornar um funcionário.
Então, ele se estica, relaxando os músculos. — Mas eu não sabia
que ser funcionário de uma cafeteria poderia ser tão exaustivo. Achei
que era só fazer café, sorrir docemente e usar a caixa registradora.
Parecia fácil, certo? Errado! É... aiiii... uiii, minhas costas!
— Aham... — Eu pronuncio uma resposta, sem saber mais o que
dizer. Olho para o relógio e está quase na hora de fazer meu próximo
desejo. Cue abaixa lentamente os braços da pose de alongamento e
balança ao virar a cadeira. Agarrando-se no topo do encosto que agora
está virado para o meu lado, ele olha diretamente para mim, com os
olhos semicerrados.
— Sério. Tem certeza de que está bem? — Ele pergunta
novamente.
— Por que você perguntou, Cue? — Desta vez, é a minha vez de
responder a sua pergunta com uma pergunta.
— Bem, hoje você parece estar... mais tranquilo do que o
normal. — diz ele.
Cue escolheu a palavra “tranquilo” em vez de “calmo”. À
primeira vista, essas duas palavras podem parecer semelhantes, mas o
uso é muito diferente. E, desta vez, acho que ele escolheu a palavra
certa. Eu me sinto tranquilo, mas de jeito nenhum calmo.
— Porque eu... — Falo lentamente, revisando o que estou prestes
a dizer. — Cheguei a uma conclusão depois que o sedimento em meus
pensamentos se acalmou. As últimas cinco noites me ensinaram
algumas curtas lições e isso esclareceu muitas coisas para mim. Quero
dizer, coisas entre Wat e eu.
— Eu não entendi. O que você quer dizer? — Ele pergunta com
uma inclinação de cabeça.
— Agora eu sei que Wat não vai voltar, não importa o que
aconteça.
— Eu resumi.

— Ei, nãoooo... vamos lá, não fique desanimado. — Cue franze


a testa.
Eu balancei a minha cabeça. — Eu não estou desanimado. Estou
realmente aliviado por finalmente ter aceitado.
— Hã? — Cue parece um pouco desapontado. — Então, você
não vai mais usar os seus favores? Ainda faltam duas noites, você
sabe.
— Não. — O corrijo. — Vou fazer outro pedido.

— Ok, ok, assim é melhor. Achei que você ia desistir.


— Eu quero que você... me... apague. deste mundo.
Um momento de ar morto enche a sala.
Cue fica boquiaberto. Acho que talvez ele estivesse prestes a
dizer algo antes que eu deixasse escapar o desejo que planejei fazer
esta noite. Ele se levanta da cadeira e agarra os dois lados do meu
ombro, olhando para o meu rosto intensamente. — O que você acabou
de dizer?
— Eu quero que você... ME apague... deste mundo.
Repito a mesma frase sem qualquer hesitação. A minha voz não
está trêmula, e não há emoção no tom. É como uma declaração de fato.
É uma frase que foi pensada e repensada, resultado da resolução de
todas as minhas emoções e sentimentos, com uma mistura de
raciocínio também.
— Você quer que eu te mate? — Cue demanda. Agora, ele é
aquele cuja a voz está trêmula.
— Isso, eu quero que você me mate. — Respondo. — Se você
chama isso de “matar”, é isso. Achei que você chamasse de “apagar”,
não?
— Mas por quê? — Ele ainda está segurando meu ombro, então
eu gentilmente tiro as suas mãos de mim.
— Porque eu aceitei isso, que Wat nunca mais voltará. Não
importa o que eu faça ou quem eu mate, o Wat não retornará para o
relacionamento. Mesmo quando eu tive que matá-lo, ele ainda não
voltou para mim.
Certo, o desejo mais recente que fiz mostrou isso. Há apenas uma
coisa que está no caminho entre mim e Wat. É o Wat, é ele mesmo. É
nítido.
Para resumir em uma frase cativante, você não pode reconquistar
o coração de alguém que não tem o coração para você, acho que é isso.
Cue lentamente se afasta para se sentar na cadeira ao lado da minha
cama. Ele parece em choque, embora quem vai partir deste mundo seja
eu, não ele. Inapropriadamente, ele age como se fosse ele quem acaba
de ser sentenciado à morte.
— Eu não posso trazer de volta o amor que ele tinha por mim.
Mas eu posso manter o amor que ele uma vez me deu. É uma memória
maravilhosa que ninguém pode arrancar. E eu acho que... isso é tudo
que eu preciso. Eu não preciso da vida sem Wat. Porque para mim,
uma vida sem ele... não é... mais... uma... vida.
— Mas ainda há... — Cue começa a protestar, mas levanto a mão
para pará-lo.
— Eu sei que você vai me dizer que há muitas outras coisas
neste mundo para almejar. Todo mundo diz isso, é uma opinião
popular, eu sei. Mas deixe-me perguntar uma coisa, eu realmente ainda
tenho tantas coisas que eu quero deste mundo?
O que eu quero, eu consegui e tive por um tempo. Agora, tornou-
se apenas uma memória. Estou muito satisfeito, Cue. Estou totalmente
satisfeito.
Me deixe ir. Me leve embora. Não tenho mais nada com este
mundo, ou com este corpo. Não tenho mais vínculos, não tenho mais
obrigações com esta minha vida. Eu aceitei isso, não me apegar a nada.
Estou seguindo para a minha próxima jornada.
Eu aponto para a mesa perto de Cue. — Na mesa, há um diário
cheio de sedimentos de meus pensamentos estabelecidos. Eu imploro,
mantenha-o lá. Eu quero deixar algo para trás, deixando os últimos
pedaços dos meus pensamentos vagarem pelo mundo em meu nome,
caso o próximo inquilino desta sala consiga lê-lo.
O olhar de Cue segue meu gesto. — Você pode me prometer,
Cue? Não apague. Você pode me apagar, mas deixe o diário ficar lá.
Por favor? Peço-lhe que me faça uma promessa, e ele acena com a
cabeça.
Talvez eu esteja imaginando coisas, mas acho que as bordas dos
seus olhos parecem umedecidas e avermelhadas, como... se... ele
estivesse... prestes a chorar.
— Obrigado, Cue. Obrigado por me visitar e me conceder
desejos.
— Você está chamando-os de desejos agora? No primeiro dia
você…
— Não, Cue, por favor. Eu estava chateado naquela época. Mas
agora não estou... Obrigado por vir até mim.
— Obrigado... — Cue morde o lábio. — Obrigado, também, por
me tratar como um amigo. Nunca houve nenhum ser humano que me
tratou como um amigo antes.
— A qualquer hora. — Sorrio para ele.
Olho para o relógio e agora são onze e cinquenta e oito da noite,
faltando apenas um minuto para a hora em que posso fazer meu desejo.
Tudo está prontamente preparado. O meu diário está na mesa e estou
vestindo o meu pijama favorito (com certeza, não o favorito de
alguém, apenas o meu favorito). Tomei banho e escovei os dentes
também.
Às onze e cinquenta e nove da noite, do dia doze de fevereiro.
— Eu desejo... — Olho nos olhos de Cue, e ele retribui o olhar.
Não há mais nada a dizer, não há mais adeus.
— Desejo que o Sr. Scythupid... me... apague... deste... mundo.
Terminando isso, o interior do meu peito parece tão claro, tão
leve, tão bom de respirar, mais do que nunca. Acho que estou sorrindo,
embora não esteja me vendo no espelho. Eu sei que é um sorriso da
melhor sensação de alívio que já tive em toda a minha vida. As
imagens de memórias antigas desde que eu era criança correm pela
minha visão como um riacho de uma represa quebrada. Acho que é
isso que se sente quando as pessoas têm flashbacks antes de morrer.
Cue se curva para mim, como de costume. Mas desta vez, seu
rosto está cheio de lágrimas...
— Será como você deseja, senhor. — Diz ele e estala os dedos
como fazia regularmente nas noites anteriores.
Fecho os olhos e inspiro o último suspiro em meus pulmões,
abraçando a morte que está me atacando.
Adeus a todos. Obrigado por me emprestar seus ouvidos até o
fim…
CAPÍTULO 9
Nos muitos filmes que vi, quando as pessoas estão morrendo, as
suas últimas palavras geralmente são legais, como um trecho ou uma
frase incrível. Nunca imaginei que a minha seria assim:
“Desejo que o Sr. Scythupid... me... apague... deste... mundo.”
Não é exatamente chata, mas com certeza não posso dizer que é
legal. Quando Cue estala os dedos, opto por fechar os olhos, enviando
os meus pensamentos a todos para dizer adeus e obrigado, deixando o
fluxo do mundo voltar ao seu curso normal.
Eles disseram que a morte é preta. Mas alguns disseram que é
branca.
Eu nunca pensei nisso, sentindo que era um assunto irrelevante
para mim. Até que veio a minha vez de morrer, na verdade.
A escuridão me ataca e rapidamente me cerca. Sinto que estou
sendo recebido de braços abertos, pronto para um abraço físico
também. Mas ela passa por mim extremamente rápida, e sou muito
lento para dar qualquer abraço.
Em meio à confusão sobre por que foi tão rápido, uma luz branca
ofuscante jorra sobre mim, me pegando desprevenido. É tão branco e
tão brilhante. Isso é o inferno? Por que o inferno é tão brilhante? Ou
este é o céu? Mas eu não posso estar no céu, posso? Nem ferrando, eu
matei cinco pessoas, não me incluindo. Não há nenhuma maneira de eu
estar no céu.
Eu aperto os meus olhos, mas a luz ainda penetra, então eu
apenas fecho os olhos com força e os cubro com as minhas mãos para
proteger da luz. Droga, eu nunca soube que a morte é assim tão
brilhante, tão brilhante quanto uma lâmpada rotulada com qualificação
de economia de energia de nível cinco pela Autoridade Geradora de
Eletricidade da Tailândia.
E quando não aguento mais, me levanto enquanto abro os olhos.
Só se vive uma vez. Não importa o quão brilhante seja, eu quero olhar
para o inferno com os meus próprios olhos pelo menos uma vez.
Uma fileira de números dizendo dez e dez da manhã, treze de
fevereiro é a primeira coisa que vejo.
Quando me recupero e olho para o cenário inteiro, percebo que é
o relógio digital ao lado da minha cama. Quando olho ao meu redor...
me encontro no meu próprio quarto.
— O inferno se parece com o meu mundo normal? O quê? —
Me pergunto, me sentindo confuso para caramba. É também por volta
do meu horário regular de acordar.
— Não, senhor. Isso não é o inferno. E não é o céu também. —
Eu me viro para olhar para a fonte da voz e encontro Cue saindo do
banheiro, com uma toalha branca enrolada na cintura, usando uma
pequena toalha branca nas mãos para secar o cabelo. Tudo é uma cena
familiar destes últimos dias.
— Então, onde é? Cue, você... — Toneladas de perguntas
emergem na minha cabeça, mas eu escolho a que eu mais quero saber.
— Seu próprio quarto. Você não consegue se lembrar? — Ele se
senta na ponta da minha cama, encontrando meus olhos diretamente.
— E por que eu vim parar aqui? — Eu fiz o meu desejo pedindo
a Cue para me apagar deste mundo, então já deveria estar morto. Por
que acordei no mesmo lugar, no mesmo horário que sempre acordei
esta semana, como se nada tivesse acontecido? Como assim?
Cue dá de ombros e se levanta da cama. — Posso te contar
depois?
Agora eu estou com fome.
Quando ele menciona isso, percebo que estou com fome também.
Na verdade, me sinto faminto. Nem me lembro quando comi pela
última vez. Com certeza, não comi nada ontem à noite, porque estava
muito ocupado escrevendo o meu diário... Ah, certo, o meu diário.
Corro em direção à minha mesa, o caderno ainda está lá. Eu o
pego e abro. Tudo o que escrevi está no seu lugar, nada está faltando.
Sem saber o porquê, de repente, me senti preocupado com isso, o
coloco de volta.
— Vá tomar banho, vamos sair. — Cue se aproxima e me dá um
tapinha no ombro.
— Para onde? Ainda tenho muito a perguntar para você. —
Posso estar faminto, mas realmente quero as minhas respostas.
— Já que vai ser uma longa conversa, acho que precisamos
começar com um café. — Obviamente, não vou ter as respostas tão
cedo.
Levanto, vou até o banheiro, tiro a roupa e ligo o chuveiro. As
gotas frias de água escorrem pela minha cabeça, rosto e corpo. Ah...
tudo bem e tranquilo. Parece que estou realmente vivo. No começo
pensei que eu era como um fantasma que estava preso a este quarto.
Não, eu não sou. Eu realmente ainda sou uma pessoa viva.
Deve haver uma razão, algo que possa explicar por que ainda não
estou morto, mesmo depois de fazer esse desejo. E eu devo obter essa
explicação.

Estamos chegando ao café onde Wat trabalha, ou costumava


trabalhar. Como se fosse um padrão, nós dois nos dirigimos para cá,
mesmo sem nenhuma discussão no caminho. Mas assim que chegamos
em frente da loja, Cue para abruptamente.
— Tenho um assunto urgente para tratar. — Ele se vira e me diz,
do nada.
— Ei, espere, o quê? E você tem que sair agora?
— Isso, estou com pressa e devo sair imediatamente.
— E as minhas respostas? Como eu voltei?

— Ah, se acalme, não se apresse. Eu voltarei.


— E o que devo fazer enquanto você estiver fora, Cue?
— Hã? Basta entrar e pedir um café, comer alguma coisa e
esperar por mim.
Eu me viro e olho para dentro através do vidro... Será estranho
entrar lá? Wat não está mais aqui.
— Todo mundo que você apagou está de volta. Todos eles.

Parece que Cue entende o olhar de hesitação no meu rosto.
— Hã, o quê? — Eu franzo minhas sobrancelhas para ele.
— Isso mesmo, todos que você apagou agora estão de volta.
— Isso significa que...? — Eu continuo perguntando como um
idiota.
— Significa que é como se nada tivesse acontecido.
— Todos eles? Wat, o seu novo namorado, o seu ex e... — Eu
tento listar todos eles enquanto Cue acena com a cabeça.
— Isso, novo namorado, ex-namorado, o político e Neth. Todo
mundo voltou para continuar a sua própria linha do tempo normal,
como de costume.
— Espere um minuto, como assim? — Puxo o seu braço, não o deixando
ir ainda.
Cue solta um grande suspiro: — Vou te dizer quando eu voltar.
Apenas deixe-me cuidar dos meus negócios primeiro. — Ele se livra
do meu aperto e meio anda, meio corre, sem esperar para ouvir o que
tenho a dizer.
Eu relutantemente entro no café. Eu sei que Wat não está ciente do fato de
que era eu quem estava desejando que essa e aquela pessoa desaparecesse.
Ainda assim, isso não impede um pequeno sentimento de culpa que tenho
em relação a ele. Me sinto como uma criança que fez algo errado, agora
tendo que encarar a outra parte para dizer que sinto muito.
— Hum... olá, Wat.
— Oh, ei, você!
Eu ofereço um sorriso manso. — Hum... Quero uma xícara de
Americano quente, por favor.
Wat olha para mim com uma pitada de espanto. — O que houve?
Por que você está visitando a minha cafeteria hoje?
— Por nada. Eu só queria ver se você está bem. — Isso parece
confundi-lo ainda mais.
— Estou bem, claro. É você quem... — Wat se dispersa. Eu sei que
ele se referia quando eu estava chorando e me debatendo depois que ele
me disse que queria terminar.
Eu rapidamente asseguro-lhe. — Ei, estou bem agora. Estou bem...
Sério. — Temo que ele ache difícil de acreditar, então enfatizo.
— Sério? — ele pergunta, olhando para o meu rosto.
— Sério. Estou bem. Estou bem.
As sobrancelhas franzidas de Wat se abrem lentamente. — Ok,
então. Esta xícara de café é por minha conta. Sente-se e espere, eu trarei o
café para sua mesa.
Eu concordo. — Ok, ok, Wat, obrigado por me oferecer um café.
Me dê algo para comer também, por favor. — Rio.
Ele ri de volta e responde: — Certo, vou pegar dois pedaços de bolo
para você. Espere um momento.
Certo, ele parece bem, como sempre. Que alívio! Eu pensei que ele
poderia estar se sentindo fisicamente doente ou algo assim. Bem, porque
eu o apaguei deste mundo apenas alguns dias atrás. Além disso, de repente
ele é puxado de volta. Então, eu estava com medo de que pudesse haver
alguns efeitos colaterais.
— Aqui está, um Americano quente. — Wat coloca o café na minha
frente, junto com os bolos. — Posso sentar e conversar um pouco com
você. Não há muitos clientes agora e meu colega de trabalho pode lidar
com isso.
Eu coloco minhas mãos nas laterais da xícara de café e mexo com
ela, girando e girando, para frente e para trás, enquanto aprecio o aroma
agradável que sai dela.
— Wat, você tem certeza absoluta de que está bem? — Eu pergunto,
ainda duvidando.
—Sim, claro. Como posso não estar bem? É a minha deixa para
perguntar, você está bem? Como você tem estado?
Eu ri. — Comecei a me sentir bem recentemente. — Admito para
ele. — Mas você sabe, quando chegou a hora de ficar bem, de repente
ficou tudo bem, como se nada tivesse acontecido antes. — É assim,
realmente. Agora posso dizer com total confiança que hoje estou me
sentindo bem. Estou bem de novo, não importa com quem Wat esteja
saindo.
Não espero mais que Wat volte. Até parei de ficar obcecado em
checar as suas redes sociais para ver as suas fotos. Honestamente,
agora não o quero de volta. Os malditos sentimentos de ansiar e querer
reconquistá-lo se dissiparam.
Não tenho certeza se a ausência dos meus antigos sentimentos
tem algo a ver com a minha morte de uma noite ou não. Ou ganhei
certa sabedoria com isso ou aprendi com a experiência de apagar seis
pessoas (inclusive eu) no espaço de seis noites. Mas, tudo bem,
encontrei a minha paz. Estou bem agora.
Estranho, sinto como se tivesse entendido mais o amor, depois de
desejar que seis pessoas fossem mortas. Entendendo o amor através
das mortes, hein? Pode haver algo mais bizarro?
O amor é como a vida de um ser humano. No sentido de que está
vivo e tem seu próprio tempo de vida. A vida útil tem que se esgotar
algum dia, quando chegar a hora.
Wat me deixou porque não me amava mais. É fácil, simples e direto. Não é
nada complicado. E, com certeza, não deve ser lamentado.
— É estranho. — Wat comenta. — Normalmente, não é quem
termina o namoro que pergunta a um ex se ele está bem? Mas é você
quem está me perguntando em vez disso. Eu não sei o que dizer. — Ele
então ri tanto que me faz rir também.
— Honestamente, no começo, eu não estava bem, Wat. — Digo a
ele, pensando no primeiro dia. — Mas eu já passei por muita coisa… E
de repente, tudo se encaixou em seu devido lugar.
Wat aperta os olhos para mim. — Já passou por muita coisa? Faz
apenas alguns dias, como você pode ter passado por tanto?
Eu rio. Opa, isso foi um deslize meu. Wat não entenderia o
verdadeiro significado por trás do meu “passei por muita coisa”. Bem,
eu realmente passei por muita coisa. — Apenas saiba que estou bem
agora. E eu espero que você seja feliz com qualquer coisa que você
escolheu.
— Aceno para ele, realmente quero dizer o que digo.
Wat olha para o balcão antes de responder: — Obrigado! Você é
um dos melhores namorados que já tive. Aprendi muito durante o
tempo em
que estivemos juntos. Acho que é um momento valioso da minha vida.
Sabe... talvez isso seja o que eu desejei o tempo todo. Não para
reconquistá-lo, mas para ouvir uma confirmação dele de que o tempo
durante o qual ele passou comigo foi feliz o suficiente para ele e o fez
sentir que é valioso e valeu a pena cada pedacinho do tempo dele.
— Não é só você, Wat. Também aprendi muito. — Sorrio. — Você
deveria voltar ao trabalho. Vou sair para passear depois de terminar meu
café.
— Você tem um encontro? — Wat brinca comigo.
— Nãaaaoooo... isso não, bobo. — Eu rio e balanço a cabeça.
Wat vai cuidar dos seus negócios no trabalho, deixando-me com
o meu café preto que está esfriando. Pego o celular para conferir as
notícias nas redes sociais.
Tudo bem, aquele político ainda está lá. Neth também. Ele
acabou de postar um status. Eu procuro pelo ex de Wat, e ele ainda está
lá. Legal. A rede do Wat, aliás, tem uma foto dele e do novo namorado,
como antigamente.
Esta é a primeira vez que me sinto feliz por eles. Fico feliz,
mesmo quando vejo uma foto de Wat e o seu novo namorado. Sinto-
me aliviado que agora tudo está restaurado, continuando normalmente
como antes. Embora eu não tenha ninguém, ainda que Wat tenha ido
embora, é como as pessoas gostam de dizer, mesmo sem ele, você não
vai morrer. Certo, eu vou sobreviver.
E isso apesar do fato de eu ter tentado morrer antes. Fui revivido.
Eu estou vivo. Devo admitir que é um fato, mesmo sem ele, não vou
morrer. Melhor ainda, recebi uma nova vida.
— É porque alguém desejou que você voltasse à vida. — De
repente, Cue se materializa em uma cadeira do outro lado da mesa.
— Caralho! Você me assustou para caramba. Não apareça
assim.
— Resmungo porque ele quase me fez cair da cadeira.
— O quê? — Cue pega um garfo e começa a comer um dos meus
bolos. — Você ainda não se acostumou?
Eu balanço minha cabeça. — Hã, nãããoo. Quem diabos teria se
acostumado a esse tipo de coisa?
Cue ri para mim: — Bem, talvez você não precise. É a nossa
última noite de qualquer maneira.
— No começo, quando você morreu. — Cue começa mantendo-
se com o bolo. —Tudo o que você desejou em primeiro lugar foi
cancelado, anulado. Nem comece a me perguntar sobre a mecânica
por trás disso e como funciona, estou com preguiça de explicar isso.
Simplificando, quando você deixou de existir, todos que você me
pediu para apagar
foram devolvidos. E agora, como você também retornou, isso
significa que no seu plano original de lógica, ninguém jamais foi
apagado. Todos estão intactos. A linha do tempo original e os mesmos
eventos antigos estão todos restaurados e continuam em seus cursos
reais. Então, isso deve fornecer a resposta do porquê tudo está como se
nada tivesse acontecido antes.
Eu me esforço para seguir e digerir a explicação de Cue. —
O...ok.
Mas, espere, você disse que é a última noite? Como assim?
— Ah, é a última noite que você pode me fazer um pedido, é
claro. — Ele responde.
— O quê? Ainda posso fazer outro desejo? — Achei que tivesse
acabado.
— Bem, eu prometi a você sete favores. — Roubando a minha
xícara, Cue me lembra e toma um gole do café. — Eca, credo! É
azedo. Tem um gosto ruim. Agora eu sei por que você não gosta deste
lugar.
— Espere, vamos voltar para a sua primeira frase, você disse que
alguém me desejou de volta? — Mais cedo, em meio ao meu choque
inicial, não consegui compreender o significado central da primeira
frase do Cue, mas acho que não entendi mal. Alguém... desejou...
pelo... meu... retorno.
Cue acena com a cabeça. — Certo. Há uma pessoa que percebeu
o seu desaparecimento e desejou que você voltasse à vida, que tudo em
sua vida voltasse ao normal. Essa pessoa fez esse desejo no lugar certo,
na hora certa e com o cara certo, então, acabou... — Ele completa a sua
última frase com um estalar de dedos.
— Ela fez o desejo dela com você? — Mas, espere, o que…?
Cue só pode conceder os desejos de apagar as pessoas, não é? Ele não
pode trazer de volta aqueles que foram apagados, pode? Mas... inferno,
se ele pode apagar as pessoas, então ele deve ser capaz de trazê-las de
volta também. Ou não?
— Eu não posso lhe dar a resposta que você procura. — Cue
balança a cabeça.
— Então, quem é essa pessoa? Aquele que me desejou de volta.
— Essa, eu também não posso responder. — Cue olha para longe
de mim.
— E por que ela me desejou de volta?

— Você acha que eu vou responder a essa pergunta? — Cue


zomba.

— Não consigo pensar em ninguém que poderia fazer isso. —


Eu caio de volta na minha cadeira contra o encosto. Cue ri.
— Não pense, então. Apenas aprecie sua nova vida e viva ao
máximo. Você recebeu uma segunda chance. Nem todo mundo pode
ter
um jackpot de oportunidade como você teve. É como ganhar na
loteria.
— Mas eu quero saber. Cue, me diga, por favor? Vamos. — eu o
importuno.
Ele balança a cabeça. — O meu dever com você é conceder-lhe
favores para apagar as pessoas sete vezes. E é isso. Isso é tudo, nada
mais. Algumas das explicações que dei a você foram complementares
razoáveis, como o atendimento ao cliente pós-venda. Mas o que você
está perguntando... — Ele faz uma cara séria. — Eu realmente não
posso te dizer.
Eu tento fazer uma dedução lógica. Os meus pais já se foram e
eu não tenho irmãos. Não tenho amigos íntimos de verdade. Os únicos
parentes que tenho são tão distantes na árvore genealógica que nem
conseguem chamar meu nome corretamente.
Eu não tenho absolutamente nenhuma ideia de quem poderia
estar triste e se importaria o suficiente com o meu desaparecimento.
Mas perguntar a Cue está fora de questão. Ele não vai responder de
qualquer forma. Eu nunca vou ter minha resposta.
Parece que só tenho uma última opção, então? Apreciar a minha
nova vida e aproveitá-la.
— Acho que você está certo. — Aceno lentamente. — Nem todo
mundo tem a chance de voltar a viver a sua vida novamente. Mas para
mim, as pessoas sempre podem começar uma nova vida, desde que
percebamos que só temos uma.
Quando percebermos que temos apenas uma vida, nos
esforçaremos para fazer tudo valer a pena. Vamos nos dedicar ao que
fazemos e ao que escolhemos. Vamos colocar todos os esforços em
viver a nossa vida.
Porque entendemos que não há outra vida para corrigirmos o
passado. Uma vez que aprendemos isso, é como se pudéssemos
começar uma nova vida.
— Certo, aproveite seu tempo. — Cue diz, levantando-se da
cadeira.
— Ei? Aonde você vai agora?
— Hã? Também tenho coisas que quero fazer, sabe. Esta noite,
voltarei para ouvir o seu último favor.
— Ei, espere, Cue, não vá embora ainda!
— Tchaaaaauuu! — Com isso, ele sai alegremente do café
enquanto me ignora completamente.

Às onze e quarenta e cinco da noite.


Chegando pontualmente, como se estivesse com a hora marcada,
Cue aparece no meio do meu quarto.
Eu? Estou secando o meu cabelo depois do banho. Passei a maior
parte do meu dia ao ar livre, hoje. Fui passear em muitos lugares.
Vaguei por todos os lugares que eu queria. À noite, até voltei para me
encontrar com o Wat e o seu novo namorado.
No começo, eles queriam me convidar para jantar, mas eu senti
que... eu senti que ainda era muito cedo para mim, então eu dei uma
desculpa. Mas pelo menos eu provei uma coisa para mim mesmo, que
não dói mais dentro do meu peito, quando vi Wat e seu novo
namorado.
— Oi, Cue. — Eu o comprimento.
— Oi, você. — Cue acena de volta.
Ele caminha até a cadeira no pé da minha cama. — Parece que
hoje você visitou muitos lugares, hein?
Eu balanço minha cabeça enquanto respondo. — Aham, muitos
lugares. Mas não há nenhuma razão por trás disso. Eu só queria dar
uma volta.
Fazendo uma pausa, eu levo a toalha para um cabide e a penduro
para secar. — E você ainda veio aqui para atender meu pedido de
novo?
— Então, volto a me sentar na cabeceira da minha cama.
— Como prometido, sete noites, sete favores, sete pessoas.
Enquanto você estiver vivo, a promessa é válida. Eu tenho que
cumpri-la.
— Você honestamente acha que existe a possibilidade de Wat
voltar para mim? — Eu pergunto porque eu realmente quero saber o
que ele está pensando. Mas ele apenas dá de ombros.
— Não acho nada. Estou apenas cumprindo meu dever. Se você
acha que Wat nunca vai voltar, você pode me pedir para apagar outra
pessoa aleatória.
— O quêeee? E por que eu faria isso? — Como se seis dias, seis
pessoas não fossem suficientes, reclamo mentalmente.
— Eu não sei. — Cue desvia o olhar. — Caso você esteja com
vontade, se eu não posso ser feliz, então ninguém pode ser feliz. Algo
parecido.
— Ei, Cue, você me vê como esse tipo de pessoa? Sou tão mau
assim?
— Eu vejo todos os humanos como o que os humanos são
capazes de fazer.
Ele se vira para me olhar nos olhos. — Não sou mais humano,
mas é estranho. Só consegui entender verdadeiramente os humanos
quando já não sou mais um, entende.
Cue olha para o relógio. São onze e cinquenta e oito da noite.
— Mesmo se eu te contar, você não vai entender. Você ainda é
um humano. Você está vivo. É como quando as pessoas dizem que só
conseguimos ver o Monte Fuji quando estamos em outro lugar, não no
topo do Monte Fuji. Porque se estivermos de pé sobre ele, não o
veremos.
Só podemos entender os humanos quando não somos mais
humanos.
Isso é assustador. Não tenho certeza se concordo com ele,
simplesmente não consigo encontrar nenhum argumento para jogar de
volta nele. Além disso, o relógio está mudando para onze e cinquenta e
nove. Cue volta a olhar nos meus olhos.
— É o último minuto do dia, e o último pedido também. Escolha,
e me diga. Quem ... você... apagará? Escolha sabiamente, porque é o
último pedido. Se ele voltará ou não para você depende do que você
pedir.
Terminando sua declaração, Cue se recosta na cadeira,
balançando os pés com satisfação enquanto espera pelo meu pedido.
Lembro-me das minhas últimas seis noites, desde a meia-noite do dia
sete até agora. O dia treze está chegando ao fim, faltando apenas um
minuto para o calendário mudar para o Dia dos Namorados.
Nas últimas seis noites, fiz os meus desejos para que esse Mr.
Cue apagasse seis pessoas, tentando reconquistar Wat. Não tenho
certeza se posso realmente chamar isso de “fazer um desejo”, porque
pedir ao Scythupid para “apagar” alguém deste mundo parece atroz
demais para ser chamado de desejo.
No entanto, não tenho ideia de outro nome para isso.
O ponteiro do relógio que marca os segundos agora atinge o
“seis” no mostrador do relógio. Trinta segundos se passaram. Falta
apenas meio minuto para o que momento mágico expire. Esta é a
última noite, e o meu último desejo, a última pessoa que posso
apagar... E eu decidi.
— Cue... eu quero que você seja feliz. — Este, você vê, é meu
último desejo. — É quase Dia dos Namorados agora, não quero apagar
mais ninguém. Todo mundo tem os seus próprios entes queridos, tem
alguém que os ama. Agora eu sei que não há como alguém desaparecer
sem afetar várias outras pessoas também. Aprendi que o amor tem o
seu tempo de vida. Tem o seu próprio limite de duração. E que eu não
devo me desesperar se o amor for embora. Eu só deveria me
desesperar se não tiver tirado o máximo proveito dele enquanto... eu...
ainda... o tinha... ao meu alcance. Agora, eu reconquistei meu amor.
Que... é... amar... a mim mesmo. E vou passar um tempo valorizando
isso, me amando. A última coisa no mundo que eu gostaria de fazer
agora é desejar que você apague qualquer outra pessoa. Não quero
mais que as pessoas desapareçam por causa de um desejo. Eu quero
desejar que você seja feliz, Cue.
Ele sorri com um canto da boca. — Você finalmente aprendeu.
Depois de perder tantos dias.
Eu concordo. — Melhor do que nunca aprender, não é?
O relógio soa, indicando que é meia-noite e um. É um novo dia
agora. Dia dos Namorados.
Cue se levanta e se estica preguiçosamente. — Tudo bem, preciso
ir. Meu dever terminou de verdade desta vez. — Ele se vira para mim.
— Durante os últimos sete dias que passei com você, foi muito
divertido e cansativo também. Mas eu realmente gostei. Muito
obrigado.
— Espere, sou eu quem deveria agradecer. Cue, sem você, eu
não teria aprendido o significado do amor e como me amar. Muito
obrigado, Cue. — Eu dou um tapa em seu ombro.
Cue caminha até a minha mesa e pega meu diário de mensagens
moribundas do outro dia. — Posso ficar com isso?
Isso me intriga. — Claro..., mas para que você o quer?
— É segredo. — Ele ri. — Apenas, por favor, deixe-me ficar
com ele. É necessário. Acho que alguém precisa disso.
Aceno com a cabeça. — Se você diz. Com certeza, agora é seu.
— Agora posso me despedir. — Cue se aproxima da porta da
frente do meu quarto. — Não se esqueça de tratar a sua insônia. Pare
de pedir ao seu amigo farmacêutico para comprar as pílulas para
dormir para você. Quando você se sentir mal, vá ao médico, para que
você possa ser curado, certo? Ah, e…
— E o quê? Diga-me, Cue.

— Se eu fosse você, amanhã sairia para passear.

— Por quê? No Dia dos Namorados?


— Talvez saindo amanhã, você possa obter a sua resposta sobre
quem desejou você de volta a este mundo.
Com isso, ele balança a sobrancelha, me deixando ainda mais
curioso. Consegui fingir que esqueci esse mistério, mas ele está me
dando uma dica idiota, aparentemente quase inútil. Aff, maldito seja
esse esquisito do Scythupid. Que anjo travesso!
— Você me fez querer perguntar mais sobre isso! — Eu protesto.
Ele responde com um sorriso mostrando as presas. — Isso é tudo
que posso te dizer. Já é generoso demais da minha parte.
Eu aceno. — Compreensível. Ok, amanhã eu vou sair para
passear, como você disse.
Ele abre a porta do meu quarto e olha para mim uma última vez.

Desejo-lhe boa sorte amanhã. Você gastou seus favores e não
pode fazer nenhum outro desejo agora, então enviarei minhas melhores
vibrações em vez disso.
Eu sorrio. — Obrigado, Cue... Adeus.
— Adeus para você também. — E ele some, com um estalar de
dedos.
EPÍLOGO
Catorze de fevereiro, Dia dos Namorados para outras pessoas, e
um dia normal e alegre para mim.
Não vou tomar café na cafeteria do Wat. Bem, eu não gosto dos
grãos de café azedos da loja dele. Não há necessidade de suportar o
que eu não gosto. Estou sentado na minha cafeteria de sempre,
continuando a ler um livro que estava lendo antes,
#LoveLettersFromKingLudwig.
Um pequeno grupo de outros clientes entram e se sentam em uma
mesa perto da minha, então eu ouço a conversa deles.
— Sinto muito pelo seu pai.

— Hum, obrigado. Estou me sentindo bem agora.

— E você vai se mudar de volta para a sua casa?


— Acho que não. Há apenas eu, é melhor eu encontrar uma
pequena casa.
— Isso me lembra do apartamento na quinta viela onde
costumávamos alugar.
A quinta viela... o meu apartamento fica na quinta viela também.
Que coincidência! Eles estão falando sobre a quinta viela também.
Mas, na verdade, existem inúmeras quintas vielas na cidade, há
praticamente em quase todas as estradas. Pode não ser o apartamento
na mesma quinta viela que o meu. A chance é pequena. Não pode ser o
mesmo lugar.
Instintivamente, me viro para dar uma olhada na pessoa. A
primeira coisa que me chama a atenção não é o rosto dele. Ok, eu
admito que ele é fofo, mas há outra coisa que atrai meus olhos ainda
mais.
É... um diário.
Certo, o caderno que escrevi antes de morrer. O meu diário. É
aquele. Lembro-me da capa e da mancha de tinta no canto superior
esquerdo. Mas parece velho, como se já tivesse existido há tantos anos.
Antes que Cue o pegasse, ainda era novo.
Oh, espere um minuto... Cue me pediu para dar a ele.
Cue disse que é necessário. Alguém precisa. E ele me disse que é
segredo. Ou talvez…
Estou certo disso. O diário que ele carrega é o meu. É o
caderno que Cue me pediu. Ou talvez…
Eu olho para o rosto dele novamente. No primeiro vislumbre, eu
disse que ele é fofo, sim. Agora, porém, estou percebendo que, além de
ser fofo, seu rosto parece familiar. Agora eu sei o porquê. Porque ele
é…
Bem... no momento em que olho para o rosto dele, acontece de
ele se virar e olhar para mim também.
— Cue... — o chamo.
— Cue... — E ele me chama de volta.
Nós dois nos dirigimos um ao outro como “Cue”? Que diabos?
Espera, como assim?

FIM
CONTINUA EM “7 DEATHS BEFORE HALLOWEEN”

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