Acordao-2021 50826
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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
RGL
Nº 70084482041 (Nº CNJ: 0086563-89.2020.8.21.7000)
2020/CRIME
RGL
Nº 70084482041 (Nº CNJ: 0086563-89.2020.8.21.7000)
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ACÓRDÃO
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RELATÓRIO
DES. ROGÉRIO GESTA LEAL (RELATOR)
Trata-se de apelação interposta pelo réu Marcelo D’Agostini contra
sentença proferida pelo juízo da 1ª Vara da Comarca de Getúlio Vargas que o condenou
como incurso nas sanções do art. 1º, incisos I, II, III, X e XIII, todos do Decreto-Lei nº
201/67, à pena privativa de liberdade de 05 (cinco) anos e 03 (três) meses de reclusão, em
regime semiaberto, em virtude da prática dos seguintes fatos:
1° FATO:
No período compreendido entre 11/12/2013 e 20/12/2013, nas dependências
da Prefeitura Municipal do Sertão, o denunciado Marcelo D'Agostini
desviou rendas públicas em proveito alheio, contratando, em caráter
excepcional e temporário, Carlos Antônio Franceschi, para o exercício do
cargo de Fiscal Ambiental do Município de Sertão, conforme Contrato
Administrativo de Serviço Temporário n.° 094/2013 (fl. 140-1),
contrariando a Lei Municipal n.° 2.078/2013 (fls. 138-9) e a Lei Municipal
n.° 696/1991 (artigos 180/192), tudo em desacordo com expresso Parecer
Jurídico, emitido pela Unidade de Controle Interno do Poder Executivo
Municipal (fl. 16).
Na ocasião, o denunciado, após ser cientificado formal e expressamente
pela Unidade de Controle Interno do Poder Executivo Municipal (fl. 16) de
que Carlos Antônio Franceschi não tinha qualificação técnica compatível
com as exigências do cargo de Fiscal Ambiental Municipal, uma vez que
não preenchia os requisitos previstos no Anexo I da Lei Municipal n.°
2.078/2013, pois era guardado apenas em Ciências Econômicas, sem
qualificação na área afeta à matéria ambiental, contratou-o com violação
expressa das referidas leis.
Assim agindo, desviou as rendas relativas ao pagamento da remuneração
(Padrão 09, da Classe “A”, do Plano de Pagamento de Cargos e Salários
do Município), durante o período de vigência do contrato (20/12/2013 a
17/06/2014), em benefício de Carlos Antônio Franceschi e em prejuízo ao
erário.
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2° FATO:
No período compreendido entre 18/06/2014 e 14/12/2014, nas dependências
da Prefeitura Municipal do Sertão, o denunciado Marcelo D'Agostini
desviou rendas públicas em proveito alheio, prorrogando a contratação, em
caráter excepcional e temporário, de Carlos Antônio Franceschi, para o
exercício do cargo de Fiscal Ambiental do Município de Sertão, conforme
Aditivo Contratual ao Contrato Administrativo de Serviço Temporário n.°
094/2013 (fl. 142), contrariando a Lei Municipal n.° 2.078/2013 (fls. 138-9)
e a Lei Municipal n.° 696/1991 (artigos 180 e 192), tudo em desacordo com
expresso Parecer Jurídico emitido pela Unidade de Controle Interno do
Poder Executivo Municipal (fl. 16).
Na ocasião, o denunciado, após ser cientificado formal e expressamente
pela Unidade de Controle Interno do Poder Executivo Municipal (fl. 16) de
que Carlos Antônio Franceschi não tinha qualificação técnica compatível
com as exigências do cargo de Fiscal Ambiental Municipal, uma vez que
não preenchia os requisitos previstos no Anexo I da Lei Municipal n.°
2,078/2013, pois era graduado apenas em Ciências Econômicas, sem
qualificação na área afeta à matéria ambiental, prorrogou o contrato, por
meio de Aditivo (fl. 142), com violação expressa das referidas leis.
Assim agindo, o denunciado desviou as rendas relativas ao pagamento da
remuneração (Padrão 09, da Classe “A”, do Plano de Pagamento de
Cargos e Salários do Município), durante o período de vigência do Aditivo
Contratual (fl. 142 – 18/06//2014 e 14/12/2014), em benefício de Carlos
Antônio Franceschi e em prejuízo ao erário.
Dessa forma, o denunciado, além de nomear/admitir/designar o servidor
Carlos Antônio Franceschi contra expressa disposição das Leis Municipais
n.° 2.078/2013 (fls. 138-9) e n.° 696/1991 (artigos 180 e 192), desviou
rendas públicas e as utilizou/aplicou, indevidamente, em proveito alheio,
deixando de destiná-las à contratação de profissional com qualificação
técnica para o exercício do cargo de Fiscal Ambiental Municipal,
beneficiando indevidamente Carlos Antônio Franceschi.
O delito foi praticado com violação dos deveres para com a Administração
Pública, já que o denunciado afrontou os princípios constitucionais da
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VOTOS
DES. ROGÉRIO GESTA LEAL (RELATOR)
Em termos de antecedentes, o réu possui diversas condenações, não
transitadas em julgado, pela prática de crimes de responsabilidade, bem como condenação
definitiva por crime de responsabilidade, transitada em julgado em 14.03.2019, e seis
denúncias recebidas por crimes de responsabilidade.
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Fiscal Ambiental, pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias, cujo término ocorreu em
17/06/2014, prorrogado até 14/12/2014, recebendo a remuneração correspondente ao Padrão
09, da Classe “A”, do Plano de Pagamento de Cargos e Salários do Município.
Ao tempo da contratação, a Unidade de Controle Interno, emitiu Parecer
12/2013, desfavorável à contratação, apontando a ausência de formação específica do
candidato para o cargo de Fiscal Ambiental, na forma da legislação municipal (fl. 16):
“(...) Segundo o que consta nos requisitos para investidura no cargo criado
pela Lei Municipal nº 2.078/2013, Anexo I, o servidor deverá ter formação
em curso superior e habilitação legal para o exercício da profissão.
Contudo, tendo em vista as atribuições do cargo, observa-se claramente,
que a formação do candidato e pretenso servidor deve ser totalmente
vinculada a área ambiental, com habilitação que lhe confira conhecimento
específico e permita o desempenho e eficiência no desenvolvimento de sua
atividade.
Porém, a contratação emergencial que ora se coloca a Parecer desta
Unidade de Controle Interno, não encontra fundamento, eis que, o
candidato não possui formação superior em área ambiental, ao contrário,
sua formação acadêmica em Ciências Econômicas não vincula a
necessidade de nenhum conhecimento específico e voltado diretamente à
área de conhecimento que se necessita, não conferindo habilitação legal
(inscrição nos conselhos representativos da profissão e que permitam o
exercício legal da atividade) para o desempenho a contento da função,
tanto que, sequer participação em simpósios, congressos e cursos sobre a
área ambiental foram apresentados pelo candidato.
Diante de todo o exposto o parecer da Unidade de Controle Interno é
desfavorável a contratação do único candidato que se inscreveu para
ocupar, ainda que em caráter emergencial, o cargo de Fiscal Ambiental”.
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Anexo I
Cargo: Fiscal Ambiental.
Padrão 09.
Atribuições:
Síntese dos Deveres: Fiscalizar as atividades, sistemas e processo produtivos, acompanhar e monitorar as
atividades efetivas ou potencialmente poluidores, causadores de degradação ou promotoras de distúrbios, além
das utilizadoras de recursos naturais.
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qualificação técnica para o cargo, assim como em inobservância ao previsto nos artigos 189
a 192, da Lei Municipal nº 696/912, visto que era vedado a recontratação, antes de decorridos
seis meses do término do contrato, o que não foi respeitado pelo gestor público, que renovou
o contrato em 18/06/2014, quando deveria ser a partir de 18/12/2014, caso os demais
requisitos restassem atendidos.
A prova oral colhida mostra-se suficiente a denotar que tinha o réu
conhecimento da contratação irregular de servidor que não possuía habilitação específica
para ocupar o cargo de Fiscal Ambiental, desrespeitando o disposto na legislação municipal,
conforme a transcrição constante da sentença:
Da análise dos autos, inicialmente quanto à prova produzida
extrajudicialmente, observa-se que a testemunha Carlos Antônio Franceshi
(fls. 533) declarou que trabalhou em Sertão pouco mais de um ano e meio e
foram dois contratos, sendo um contrato de 180 dias e outro em igual prazo.
Disse que conhecia o Prefeito Marcelo e o encontrou na rua quando então
pediu um emprego, tendo Marcelo lhe convidado para ser fiscal ambiental.
Disse ter ficha no PDT. Antes de ser contratado, fazia visitas “a campo” em
uma empresa para fiscalização ambiental, qual seja, a empresa era a ZH8
Ambiental. Contou que fez um curso em Porto Alegre depois de haver
ingressado no município, sendo realizado na Famurs e era de 14 horas.
Referiu que fazia vistorias de campo acompanhando a bióloga do município
e que quem fazia o licenciamento ambiental era a servidora Laura.
Exemplos de Atribuições: Observar e fazer respeitar aplicação da legislação ambiental vigente (...) verificar a
observância das normas e paddrões ambientais vigentes; proceder a isnpeção e apuração das irregularidades e
infrações através do processo competente; instruir sobre o estudo ambiental e a documentação necessária à
solicitação de licença de regularização ambiental; emitir laudos, pareceres e relatórios técnicos sobre matéria
ambiental; executar tarefas correlatas.
Requisitos para Investidura:
(...)
Instrução: Curso superior completo;
Habilitação: Legal para o exercício da profissão.
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Art. 189 – Para atender as necessidades temporárias do excepcional interesse público, poderão ser efetuadas
contratações de pessoal por tempo determinado.
Art. 190 – Consideram-se como de necessidade temporária de excepcional interesse público, as contratações que
visam a:
Atender a situações de calamidade pública;
Combater surtos endêmicos;
Atender outras situações de emergência ou necessidades temporárias, nos seguintes casos:
PROFESSORES: quando houver necessidade de professores, não dispondo nos quadros do Magistério público
Municipal de professores disponíveis concursados;
OPERÁRIOS: quando o serviço depende de tempo prefixado ou da execução de serviços específicos, ou ainda
da realização de certo acontecimento suscetível de previsão aproximada; e, quando o serviço não puder, por falta
de pessoal, ser realizado pelos funcionários da Prefeitura.
Art. 192 – É vedado o desvio de função de pessoa contratada, na forma deste título, bem como a sua
recontratação, antes de decorridos seis meses do término do contrato anterior, sob pena de nulidade do
contrato e responsabilidade administrativa e civil da autoridade contratante.
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Declarou que fazia fiscalização para saber se o que estava no projeto estava
sendo cumprido e que fez várias notificações para o comércio, por ausência
de licenças, destinação de lixo, solicitação de enquadramentos, como em
borracharias. Afirmou que não tinha sala específica, sendo que no fundo do
corredor onde tinha a cozinha, tinha uma mesa para o declarante. Disse que
seu salário bruto era cerca de R$2.000,00; trabalhou até o final de 2014
(12/12/2014).
Já na fase judicial, a testemunha Carlos Antônio Franceshi (fls. 738/739)
declarou que Marcelo D’Agostini o contratou sem concurso público,
porém não tinha conhecimento de que a contratação pudesse ser ilegal.
Contou que estava desempregado na época e foi chamado à Prefeitura pelo
Prefeito Marcelo, o qual lhe ofereceu o cargo, recebendo convite pessoal
do Prefeito Marcelo. Referiu que não participou de processo seletivo para
ser contratado e que na época da contratação, não era filiado a partido
político, apenas era simpatizante do partido ao qual Marcelo era filiado.
Disse que exercia o cargo de fiscal ambiental, vinculado à Secretaria da
Agricultura, sendo que trabalhava na mesma repartição do Secretário da
Agricultura. Afirmou que tem curso superior completo, em Economia e no
desempenho do cargo de fiscal, era assessorado por uma empresa,
contratada pelo Município. A demanda de trabalho era simples e os
projetos que eram submetidos à Secretaria eram simples, não havendo
processos complexos. O cotidiano do órgão era liberar pequenas obras, tais
como açudes e corte de árvore. Afirmou que tinha noções de legislação
ambiental, pois chegou a fazer um curso de uma semana em Porto Alegre.
Contou que quando iniciou o desempenho do cargo, havia uma grande
demanda de trabalho que estava represada e acredita que nunca deu
parecer que prejudicasse alguém. Nos processos de licenciamento ambiental
em que atuou, foi assessorado pela empresa de consultoria ambiental. Disse
que a Prefeitura tinha estrutura para dar parecer de forma fundamentada e
que não da dava parecer “no escuro”, sendo que quando recebia um projeto
para analisar, procurava estudar o projeto e se inteirar a respeito do tema
com a empresa que prestava consultoria ao Município. Na época em que
trabalhou no órgão, havia projetos de licenciamento de aviários e
chiqueiros. No exercício do cargo, não analisava questões financeiras,
pois isso competia ao empresário/proprietário. Referiu que tinha a função
de verificar, no local, se o projeto estava adequado e se respeitava a
legislação. Nem o Prefeito ou outra pessoa disse-lhe que a contratação era
ilegal, sendo que acreditava que a contratação era legal.
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PAZZAGLINI FILHO, Marino. Crimes de Responsabilidade dos Prefeitos. São Paulo: Editora Atlas, 2009, p.
89-90.
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