No Nosso Mesmo Brasil Mil Exemplos Enco
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Edição electrónica
URL: https://journals.openedition.org/nuevomundo/94679
DOI: 10.4000/nuevomundo.94679
ISSN: 1626-0252
Editora
Mondes Américains
Este documento é oferecido por École des hautes études en sciences sociales (EHESS)
Refêrencia eletrónica
Murillo Dias Winter, «“No nosso mesmo Brasil mil exemplos encontrei”: as províncias do Brasil e a
experiência insurgente (1817-1850)», Nuevo Mundo Mundos Nuevos [Online], Debates, posto online no
dia 18 dezembro 2023, consultado o 27 fevereiro 2024. URL: http://journals.openedition.org/
nuevomundo/94679 ; DOI: https://doi.org/10.4000/nuevomundo.94679
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importados) são "Todos os direitos reservados", à exceção de indicação em contrário.
“No nosso mesmo Brasil mil exemplos encontrei”: as províncias do Br... 1
NOTA DO AUTOR
Essa pesquisa conta com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (FAPESP), processo n. 2021/01011-2.
1 Forte de São João Batista do Brum, Recife, Pernambuco, 10 de fevereiro de 1838. Pedro
Boticário (1799-1850), liderança do movimento farroupilha no Rio Grande do Sul,
através de uma carta para um correligionário, celebrava as notícias que havia recebido.
Mesmo no cárcere, era otimista: “Não penseis, meu amigo, que eu me entreguei à dor e
ao abatimento. Sentimentos mais nobres ocuparam a minha alma. Na História antiga e
moderna, no nosso mesmo Brasil, mil exemplos encontrei que me inspiram coragem
para suportar os furores da tirania”. As lições vinham da luta nas províncias: “A guerra
no Pará continua”, “Pernambuco, que é a sede dos tiranos, já da cidade marchou forças
para conter os matutos” e “A causa dos livres na Bahia prospera”. O preso destacou
alguns conceitos-chave, “Eu invoquei os nomes sagrados”, como elementos necessários
para a vitória de sua causa: “Da união, da nossa Pátria; pois em todo o Brasil, o trono da
tirania vacila”. 2 Boticário apresenta uma visão ampla e integrada dos eventos. Ainda
que a sua causa fosse a da República Riograndense, criada dois anos antes, os conflitos
de outras partes eram tomados como importantes e que, em união, poderiam combater
um inimigo comum: a tirania do Império do Brasil. Portanto, os personagens desses
movimentos de insurgência, ao compartilharem seus exemplos, estariam mais perto de
seus objetivos.
criação de uma auto imagem, ainda hoje aceita, de um país pacífico, sem grandes
eventos belicosos e de contestação tido como revolucionários. No início do século XX,
autores como Manuel de Oliveira Lima questionaram aquilo que era definido como um
“desquite amigável entre dois reinos”24, realçando que havia rusgas e diferenças, ainda
assim era sublinhado que os desacordos não haviam significado algum tipo de violência
e guerra civil.
10 Importantes contribuições seguiram nas primeiras décadas do século XX. Entre elas as
reflexões de autores, como Caio Prado Junior e Sérgio Buarque de Holanda, que a partir
de pontos diferentes demonstraram em comum a inexistência de um sentimento
nacional brasileiro já formado que oferecesse subsídios para a independência do Brasil
e para a posterior construção do Estado e da nação.25 A ênfase na dimensão bélica e das
guerras nesse processo de formação é destacada no trabalho de José Honório Rodrigues,
porém o trabalho apresenta um grande anacronismo enquadrando esse conflito dentro
de uma visão nacionalista da guerra, descrita como um confronto entre dois blocos
únicos, brasileiros contra portugueses. Por outro lado, há a constatação da ideia de que
o Estado não é demiurgo da nação, com uma pluralidade de estudos sobre as mais
variadas províncias na variedade identitária e política do mosaico dos domínios lusos
na América e, assim, destacando-se a necessidade de compreender as múltiplas formas
que estas partes se articularam com o todo e os processos nem sempre pacíficos entre
estas diferentes partes.
11 É nesse sentido que João Paulo Pimenta demonstra a articulação da América portuguesa
e do Brasil com as alterações ocorridas no mundo ocidental entre o final do século XVIII
e início do século XIX. Esse conjunto de transformações, em que se destacam a crise do
Antigo Regime, as revoluções e os movimentos de independência, as guerras civis e a
formação de Estados nacionais quando apreendidos, lidos, reinterpretados nos
diferentes locais em convulsão política ofereciam padrões de aprendizado e influências,
as informações daquilo que evitar e o que poderia ser repetido em outros locais para
superar a crise política. Ou seja, as experiências advindas de outros espaços, cruzadas,
reelaboradas e transformadas em conhecimento e prática política nos diferentes locais
do mundo ocidental, ajudaram a construir uma experiência comum, um “espaço de
experiência revolucionário moderno” no qual o Brasil se inseria. Entre estes diversos
fatores que compõe essa experiência revolucionária moderna, me volto para um em
especial: a maneira que as guerras de independência do Brasil e as disputas bélicas do
Período Regencial (1831-1840) compunham parte uma dinâmica mundial de surgimento
da guerra moderna.26 Assim, o Brasil, com suas semelhanças e particularidades, faria
parte do advento da modernidade e, portanto, integradas às grandes transformações
que ocorriam naquele momento no mundo ocidental.
12 Como explica David Bell, as Guerras Napoleônicas não produziram apenas uma escalada
da violência e o crescimento vertiginoso dos contingentes militares, seu feito mais
significativo foi a profunda transformação na “cultura de guerra”. Os antigos
confrontos travados em campos de batalha bem definidos, com símbolos e hierarquias
marcadas pela nobreza, seu distanciamento dos ritos e da vida cotidiana vão sendo
rapidamente substituídos por guerras em um novo escopo e intensidade, marcados
pelas dinâmicas políticas e ideológicas em transformação, em que se borram os limites
entre combatentes e não combatentes e as formas de combate se tornam mais
irregulares. Em outras palavras, a guerra agora não era mais travada por alguns
indivíduos escolhidos e treinados profissionalmente através das longínquas tradições
beligerantes, era lutada por cidadãos comuns, anteriormente civis, que eram
arregimentados para lutar de maneira brutal em nome (ou contra) os projetos políticos
de futuro que surgiam na Era das Revoluções. Esta associação entre guerra e política
contribuiu para a radicalização da violência e para a crescente militarização das
sociedades, que eram atravessadas e mobilizadas em direção a um engajamento total no
confronto que também influenciava a mais esferas da vida política, economica e social.27
13 Nesse sentido, Jeremy Adelman argumenta que o processo político de crise do Antigo
Regime e as Guerras Napoleônicas, especialmente a invasão da península ibérica,
produziram, a partir de 1808, um movimento concêntrico de violência no mundo
hispano-americano: as disputas imperiais desencadeando guerras dentro de outras
guerras e revoluções dentro de revoluções. A instabilidade e a luta acerca da soberania
e do poder fez com que todos os envolvidos buscassem diferentes medidas para a sua
superação, o que incluía a guerra civil, que se somava a outras improvisações e
inovações institucionais da época (como a liberdade de imprensa, o desenvolvimento
dos espaços públicos, e as novas práticas de representação) como características de uma
vida política na modernidade.28 Diante de um futuro que se abria, a guerra é tanto um
agente de mudança, que causa a fragmentação, politização, reorganização e
militarização do espaço imperial quanto o espelho da mudança revolucionária.
14 Formas de fazer política e construir a sociedade, observadas também no Brasil,
marcaram os anos entre a independência e a década de 1850, que foram corretamente
definidos pelo Diário do Rio de Janeiro como "uma época de sangue". Diferentes projetos
políticos foram apresentados, e o território foi atravessado por confrontos bélicos
longos e enganosos, envolvendo diferentes camadas da sociedade e tornando-se um
vetor de manifestação da população e de construção da cena pública. Esses eventos
definiram traços identitários fundamentais. Portanto, ao observar esse processo em
suas características beligerantes e violentas, é possível compreender a modernidade
não apenas como pano de fundo, mas como uma forma de entender a relação entre
diferentes espaços e sua própria conformação ao longo do tempo.
Brasil con otros interesan la curiosidad y no son insignificantes para el giro de las
especulaciones mercantiles”.32 O principal temor, como anteriormente revelado em
outro periódico cisplatino, era a guerra civil e a fratura territorial da América
portuguesa. Na edição de edição de 05 de abril de 1822, Francisco de Paula Pérez,
redator do Pacífico Oriental de Montevideo, argumentava sobre as contendas noticiadas
em Montevidéu: “La Bahia que imitando á la madre patria proclamo enérgicamente su
libertad ha padecido ya los horrores de la guerra civil o de los partidos”33 . A
possibilidade de uma guerra de independência na Bahia era para Pérez o reflexo das
tensões políticas no interior da América portuguesa, que na sua interpretação se
agravariam com a confirmação da separação entre Brasil e Portugal e, desse modo, as
guerras civis que já aconteciam no Prata em outros espaços do mundo hispânico,
também alçariam o território brasileiro.
20 Já nos jornais soteropolitanos a mesma preocupação, da quebra da unidade, era
apresentada com argumentos que apontavam para o Rio da Prata, mais especificamente
os eventos em Montevidéu, que vivia em guerra intermitente desde 1810 com os
conflitos primeiro entre Buenos Aires e as tropas fiéis a Espanha, depois de Buenos
Aires contra o projeto confederado de José Gervásio Artigas (1764-1850). Em um
primeiro momento, ainda em 1821, na edição de 06 dezembro do Semanário Cívico, era
demonstrada preocupação com a totalidade do Reino do Brasil, afinal, “desde o Rio da
Prata até o Amazonas, todas as províncias do Brasil, estão em desassossego, não
podemos deixar de conhecer que está chegada a fatal crise”34. Quando explodem os
conflitos em Salvador, o exemplo platino é utilizado para demonstrar a necessidade de
pacificação e de ordem. Para tanto, o militar Bento de Araújo Lopes de Vilas Boas
(1775-1850), partidário da causa brasileira e em conflito com as tropas lusitanas na
cidade, foi acusado de ser “o novo Artigas” e “fazer o mesmo que o outro fazia nas
dilatadas campinas do Rio da Prata”.35 A Cisplatina, que já havia sido alvo de publicação
anterior, inclusive com cópia dos termos oficiais da ata final do Congresso Cisplatino,
agora servia para emular o mesmo discurso feito em Montevidéu quando da sua
criação36: os perigos da guerra civil e da anarquia representados pela figura de Artigas e
o papel das tropas lusitanas na sua contenção.37
21 É justamente esse processo de circulação de pessoas, mercadorias e informações que
Richard Graham aponta como fundamental pra a criação de comunicação clandestinas
em Salvador na primeira metade do século XIX. Os navios que chegavam à cidade eram
recebidos por vendedores ambulantes e canoeiros que enquanto abasteciam as
embarcações, invariavelmente trocavam informações com os marinheiros a bordo. A
movimentação aumentava quando se chegava em terra firme, com funcionários das
docas, pessoas escravizadas, vendedores de rua e marujos estabelecendo dinâmicas de
contanto que levavam as notícias do mar para dentro do sistema urbano e, assim,
encontrando os diversos interessados em seu conteúdo, inclusive aqueles que poderiam
ou já planejavam contestar as autoridades.38 Movimento semelhante ao que acontecia
em Montevidéu em que a chegada dos navios, observados do alto das casas, acionava
uma agitação de pessoas que convergiam até o porto em busca de informações que logo
seriam difundidas dentro das muralhas da cidade e no interior, na região da campanha,
onde as conversas e bebedeiras nas pulperías seriam também animadas por informações
vindas do porto.39
22 O medo que as conexões portuárias que circulavam as mercadorias e informações
fossem utilizadas para a guerra chamou atenção das lideranças do projeto brasileiro no
Rio de Janeiro. José Bonifácio Andrada e Silva (1763-1838), por exemplo, solicitava para
as autoridades alfandegárias da cidade uma ampla fiscalização dos navios que
circulavam na costa brasileira e fizessem parada no porto carioca, evitando, sobretudo,
contatos entre as diferentes partes que estavam em maior ebulição política: “Não dê
despacho de saída a embarcações, algumas carregadas de mantimentos, ou apetrechos
de guerra, sem que seus donos assinem termo por onde façam certo que as ditas cargas
não são dirigidas para o porto da Bahia ou para algum outro, onde existam tropas
europeias”.40 O principal objetivo era, justamente, evitar a aproximação entre os
militares que permanecera fiéis a Portugal e a organização de uma defesa da causa
lusitana coordenada entre os grupos localizados em Belém, em Caxias (bastião realista
no Maranhão), em Salvador e Montevidéu. O que representaria grandes riscos não
apenas no andamento das batalhas, mas igualmente por ser capaz de articular as
demandas e as dinâmicas locas e regionais das guerras de independência do Brasil com
identidades políticas portuguesas e da causa realista em âmbito atlântico.
23 Ainda que seja um recurso retórico, de exagero, apontando para os opositores não
apenas como inimigos da causa política da independência, mas igualmente como
destruidores, vândalos e traidores, uma carta enviada para a Gazeta Pernambucana,
publicada em 18 de setembro e 1823, endereçada a Cipriano Barata (1762-1838), mostra
as condições de possibilidade de uma conexão entre estas diferentes partes em que
estavam as tropas lusitanas:
Agora com a saída da Tropa Portuguesa da Bahia, mostram-se todos tristes, porque
ainda tinham esperanças nelas para alguma traição contra nós e ainda não podem
crer em tal: e assoalham que eles vão ou para Montevidéu juntar-se a D. Álvaro, ou
para Pará e Maranhão: e eles depois de terem destruído a Bahia, deixando somente
os edifícios, por não os poderem carregar, e que por isso a quiseram incendiar,
talvez vão para outra Cidade, para saquear e roubar.41
24 Como observado, a independência do Brasil e a unidade política, não eram os únicos
projetos vigentes naquele momento. As guerras de independência foram fundamentais
imposição às demais províncias de um projeto político centralizado no Rio de Janeiro,
no entanto isto também não significou imediatamente uma acomodação de todos os
interesses políticos e a pacificação completa. Ainda que restritos a espaços mais ou
menos periféricos do território brasileiro, muitos movimentos de contestação com
projetos políticos alternativos a centralização e até mesmo a monarquia surgiram,
confrontaram o poder imperial e, não raro, motivaram guerras civis durante o Período
Regencial. Eventos que superavam os seus limites provinciais encontravam uns aos
outros concretamente.
25 Era frequente a troca de correspondências, de papéis públicos sobre os eventos de
outras províncias e a partir disso a elaboração de diagnósticos e prognósticos sobre
seus próprios espaços de atuação. Uma demonstração possível deste circuito pode ser
construída a partir da província do Rio Grande de São Pedro. Nas edições do jornal O
Povo, o periódico oficial do governo estabelecido pelos farroupilhas, os eventos no
restante do Brasil recebiam especial atenção. Cartas, documentos, relatos sobre Bahia,
Pernambuco, Pará eram frequentemente publicados para os leitores “detidamente
reflexionem sobre o futuro”42. Já na segunda edição, em 05 de setembro de 1838, em
manifesto, assinado pelo “Presidente da República Rio-grandense”, ao justificar a
ruptura com o Império brasileiro, considerado opressor e injusto, era apresentado o
argumento que a tirania do Imperador afetava diversos espaços, pois “estes males, além
de muitos outros, nós temos suportado em comum com outras províncias da União do
vigiados e contidos”.48 E, por outro lado, mecanismo de contenção dos conflitos ao fazer
circular as tropas pelo território evitando a permanência no mesmo local de grupos que
contestavam o poder. O presidente da província do Pará, Francisco José de Sousa Soares
de Andrea (1781-1858), em correspondência com o Ministério da Guerra, em 1838,
informava da necessidade de conter os avanços dos cabanos e, para tanto, a melhor
medida era a província “não ter soldados filhos dela. Melhor partido se faz trocar seus
filhos por outros da Província do Sul”.49
29 Ao entender que os eventos históricos ocorridos nesses locais tinham elos, eram
recriados e reinterpretados em outros espaços, é possível investigar de maneira ampla
temporal e geograficamente a formação do Estado e da Nação no Brasil. As vivências
dos grupos de contestação articuladas entre si colaboraram para a formação brasileira.
Uma variedade que se tornou mecanismo de construção do Estado e da Nação em meio
a estas transformações de uma modernidade política.
Conclusão
30 Não obstante a crescente e pujante produção, ainda existem importantes lacunas para
estudar os movimentos de contestação em perspectiva ampla, rompendo com os
recortes regionais. Isso demonstra que os eventos não ocorreram apenas no interior das
capitanias/províncias e nas suas relações com a autoridade central, mas também
afetaram o seu entorno (muitas vezes parte destes projetos e palco de conflitos) e suas
relações com o todo. Houve a circulação de ideias, impressos, missivas e homens pelo
território da América portuguesa e Império do Brasil. Isso significa um esforço
historiográfico para incorporar a insurgência e a dimensão conflitiva, seus projetos de
desagregação e contestação, via guerra civil, como elementos da formação nacional.
Conhecer esses outros projetos, o vocabulário, suas semelhanças e particularidades em
perspectiva integrada é entender a complexidade do processo de formação do Estado
brasileiro após a dissolução do império lusitano em um amplo contexto de
transformações.
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NOTAS
2. Correspondência ativa de Jerônimo Teixeira de Almeida a José da Silva Brandão –
Documentos CV 2199 A 2982. In: Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. Anais. Vol. 4. Porto
Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1980. p. 49-50.
3. O termo "insurgente" é utilizado devido a existência de dois códigos criminais
distintos no período abordado (1817-1850) nesta pesquisa: as Ordenações Filipinas até
1830 e, a partir desse ano, o Código Criminal do Império do Brasil. Esses textos tratavam
de maneira diferente a rebelião, a revolta e a sedição, impondo punições distintas para
cada um desses crimes e em cada um desses códigos. Dessa forma, "insurgência" refere-
se de maneira geral a um movimento de contestação à ordem, sem especificar seu
caráter jurídico e suas implicações legais. Para acompanhar as discrepâncias nas leis e
nas penalidades aplicadas aos envolvidos, além de abordar os interesses do governo
imperial nessas mudanças, ver: DANTAS, Mônica. De Rebeliões a Sedições: Protesto
popular e construção do Estado no Brasil oitocentista. Canoa do Tempo – Revista do Prog.
Pós-Graduação de História, Manaus v. 5/6 – no 1, jan./dez 2011/2012.
4. Carvalho, Marcus J. M. de. Negros armados por brancos e suas independências. In:
JANCSÓ, István (Org.) Independência: história e historiografia. São Paulo: Hucitec/
Fapesp, 2005. p. 881-914.
5. Assunção, Matthias Röhrig. “Sustentar a Constituição e a Santa Religião Católica,
amar a Pátria e o Imperador’. Liberalismo popular e o idéario da Balaiada no
Maranhão”. In: Dantas, Monica Duarte (Org.). Revoltas, motins, revoluções: homens
livres pobres e libertos no Brasil do século XIX. São Paulo: Alameda, 2011. p. 295-328.
6. Valho-me aqui da definição de “linguagem política” de Elías Palti: o conjunto de
conceitos-chave, metáforas, figuras de linguagem que estruturam os discursos dos
atores políticos no século XIX, e estão em disputa semântica por diferentes grupos.
Palti, Elías. O tempo da política: o século XIX reconsiderado. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.
p. 17-48.
7. Pimenta, João Paulo. Tempos e espaços das independências: a inserção do Brasil no mundo
ocidental (1780-1830). São Paulo: Intermeios, 2017.
8. Bernardes, Denis. O patriotismo constitucional: Pernambuco, 1820-1822. São Paulo: Recife:
Aderaldo & Rothschild Editores : FAPESP ; Editora Universitária UFPE, 2006.
9. Brito, Adilson Junior Ishirara. Insubordinados sertões. O Império português entre guerras e
fronteiras no norte da América do Sul-Estado do Grão-Pará, 1750-1820. Tese de Doutorado –
USP. São Paulo, 2016.
10. Alden, Dauril. Royal Government in Colonial Brazil, with special reference to the
administration of the Marquis of Lavradio, Viceroy, 1769-1779. Berkeley: University of
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11. Winter, Murillo Dias, As revoluções adotam o seu dialeto peculiar: os significados da
independência do Brasil em uma região-fronteira (Província Cisplatina, 1821-1824),
Revista Brasileira de História, vol. 42, no 89, p. 195-220, 2022.
12. Barman, Roderick J. Brazil: the forging of a nation, 1798 - 1852. Stanford, Calif: Stanford
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13. Carvalho, José Murilo de. A construção da ordem, a elite política imperial: Teatro de
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14. Pimenta, João Paulo. Independência do Brasil. São Paulo: Contexto, 2022. p. 104.
15. Carvalho, José Murilo de. A construção da ordem, a elite política imperial: Teatro de
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16. Jancsó, István. Pimenta, João Paulo G. Peças de um mosaico (ou apontamentos para
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18. Koselleck, Reinhart. Futuro passado. Contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio
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45. Jansen, Jan C. Aliens in a Revolutionary World: Refugees, Migration Control and
Subjecthood in the British Atlantic, 1790s–1820s, Past & Present, 2021.
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47. Ribeiro, José Iran. O império e as revoltas. Estado e nação nas trajetórias dos militares do
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Ricci, Magda. Fronteiras da nação e da revolução: identidades locais e a experiência de
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48. Oficio del ministro de Negocios Extranjeros del Brasil, José Bonifacio de Andrada y
Silva, al Barón de la Laguna, Rio de Janeiro, 2 de marzo de 1822.
49. Ofício do Marechal Andréa ao Ministério da Guerra, Belém, Pará, de 18 de dezembro
de 1837.
RESUMOS
Este artigo tem por objeto analisar os processos da emergência do Brasil como corpo político
autônomo e sua estruturação como Estado nacional na primeira metade do século XIX. Meu
objetivo é investigar as conexões e as relações mútuas entre as capitanias/províncias da Bahia,
Cisplatina, Grão-Pará, Pernambuco e Rio Grande do Sul, entre 1817 e 1850, através dos
movimentos de contestação política e guerra civil que ocorreram nestes locais. Apresento a
hipótese de que ao se aproximarem em função dos movimentos de insurgência, grupos
politicamente atuantes nesses lugares dividiram vivências e lições, ajudaram a criar um espaço
compartilhado e uma linguagem comum que forneceu elementos para a construção do Estado e
da nação no Brasil. Desse modo, como objetivos específicos busco compreender de que maneira se
davam essas relações, a politização e a militarização desses vínculos em um contexto de
efervescência política, tratadas como demonstrações das mudanças do advento da modernidade
no mundo ocidental. Como fontes principais utilizo as correspondências e a imprensa.
This article aims to analyze the emergence processes of Brazil as an autonomous political body
and its structuring as a national state in the first half of the 19th century. My objective is to
investigate the connections and mutual relations between the captaincies / provinces of Bahia,
Cisplatina, Grão-Pará, Pernambuco and Rio Grande do Sul, between 1817 and 1850, through the
movements of political contestation and civil war that occurred in these places. I present the
hypothesis that when they got closer due to the insurgency movements, groups that were
politically active in these places shared experiences and learnings, helped to create a shared
space and a common language that provided elements for the construction of the State and the
nation in Brazil. Therefore, Therefore, I seek to understand how these relationships occurred, the
politicization and militarization of these ties in a context of political effervescence, treated as
demonstrations of the changes of the advent of modernity in the western world. As main sources
I use correspondence and the press.
ÍNDICE
Keywords: experience, formation of the State and the nation in Brazil, Civil War, insurgency,
modernity
Palavras-chave: experiência, formação do Estado e da nação no Brasil, Guerra Civil, insurgência,
modernidade
AUTOR
MURILLO DIAS WINTER