A Prática Do Aconselhamento Pastoral PDF
A Prática Do Aconselhamento Pastoral PDF
A Prática Do Aconselhamento Pastoral PDF
Introdução
A sociedade atual vive um momento de crise multidimensional, cujas facetas afetam
vários aspectos da vida como a saúde e a qualidade de vida, as relações sociais, a
economia, a tecnologia e a política. Esta é uma crise de dimensões intelectuais, morais e
espirituais, que leva multidões de pessoas. Incluindo crentes, a serem tomadas de
preocupações, cuidados, ansiedades, dúvidas e temores.
A busca de respostas, a luta pela sobrevivência, o caos social, tudo torna essa gente
escrava da agonia e do desespero. Isto gera uma necessidade proeminente de ajuda. Não
é por acaso que a cada dia cresce o número de pessoas que frequentam consultórios de
psiquiatras ou psicólogos, participam das chamadas sessões de "cura interior",
realizadas muitas vezes por pessoas neófitas, que através das técnicas de regressão,
levam a pessoa a entrar em contato com traumas da infância. Algo bastante perigoso
para quem não estudou nada acerca da personalidade e do comportamento humano. Não
se pode brincar com sentimentos e emoções alheias, há o risco de uma desintegração da
personalidade do outro, muitas vezes sem caminho de retorno.
Frente a essa realidade, como ministros do Evangelho, escolhidos por Deus para uma
tão sublime missão de apascentar o rebanho do Senhor Jesus, o supremo Pastor, como
deixar as ovelhas de Cristo a mercê dos problemas? Muitas pessoas, às vezes, deixam o
manancial de águas vivas, e cavam para si cisternas rotas, que não retêm água (Jr 2.13).
No intuito de poder contribuir para uma melhor compreensão do tema, bem como
despertar o interesse e a responsabilidade de cada ministro para o exercício deste
profícuo ministério, abordaremos a seguir alguns aspectos básicos do aconselhamento.
Não temos a pretensão de alcançar a plenitude do assunto em pauta, por isso,
focalizaremos mais o aspecto técnico do aconselhamento.
Aconselhamento é algo mais do que um encorajamento. Aconselhar é infundir
esperanças no aconselhando. Levá-lo a encontrar as respostas de Deus para os
problemas. É sobretudo a implementação de um padrão de mudanças na vida do
aconselhando.
O QUE É ACONSELHAMENTO.
O pastor precisa ocupar posição designada por Deus para ministrar a Palavra, não
apenas na pregação, mas através do aconselhamento, deve também ajudar as ovelhas
feridas, machucadas, cansadas ou desviadas a se reabilitarem.
Ninguém melhor do que o pastor rode atuar como conselheiro. O Senhor Jesus deu
autoridade ao pastor para presidir e admoestar o rebanho. (1 Ts 5.12-13; Hb 13.7,17).
Por essa razão, sei faz necessário que o ministro ocupe parte do tempo no trabalho do
aconselhamento.
A cada dia cresce o número de pessoas em nossas Igrejas com problemas emocionais
que vivem à mercê dos antidepressivos, ansiolíticos etc. Muitos desses problemas estão
relacionados à área espiritual. Neste caso, dificilmente a Psicologia ou a Psiquiatria
resolverá a situação. As vezes, consegue amenizar o estado da pessoa, sob o preço de
torná-la dependente de remédios controlados ou de psicoterapias, ou levará essa pessoa
a uma mudança repentina de caráter, tornando-a egoísta. Este tipo de terapia pode fazer
o paciente abdicar dos valores morais e espirituais, necessários para o seu ajustamento
pessoal. Como resultado, algumas dessas pessoas abandonam os lares, se divorciam,
tornam-se promíscuas, buscam uma falsa liberdade, afastam-se da igreja etc.
Não devemos confundir a natureza pecaminosa que herdamos, que deu origem às
doenças de uma forma geral (Rm 3.23), com pecados cometidos no dia-a-dia. Qualquer
pessoa que viveu alguma situação traumática poderá ter problemas emocionais,
independentemente da sua condição espiritual.
Há três elementos chaves que devem fazer parte de uma sessão de aconselhamento:
Cristo, o conselheiro e o aconselhando. É imprescindível que Cristo esteja presente
numa sessão de aconselhamento. De acordo com o profeta Isaías, Ele é o Maravilhoso
Conselheiro (Is 9.6). Cristo é o Conselheiro dos conselheiros.
1. O manual exclusivo
As Escrituras devem ser usadas como um manual exclusivo numa sessão de
aconselhamento. Só elas são capazes de resolver os problemas humanos na sua
totalidade. Existem pressupostos de proeminentes escolas de Psicologia e Filosofia, que
procuram entender o comportamento humano, no entanto, cometem um grande erro ao
ignorar e desprezar a parte essencial do homem que é o seu espírito. Para essas escolas,
o homem é um ser tridimensional que consiste nos fatores biológicos, psicológicos e
social.
2. O guia no aconselhamento
O conselheiro deve deixar o Espírito Santo guiar a sessão de aconselhamento. É o
Espírito Santo que nos guia a "toda a verdade" (Jo 16.13). Ele é o verdadeiro agente de
mudanças. Quando o Espírito Santo atua, é inevitável a existência de mudanças. Uma
personalidade mórbida poderá ser transformada, a medida que o fruto do Espírito é
cultivado. Cultivar o fruto do Espírito é permitir que o caráter divino seja implantado no
nosso caráter.
3. O fundamento do aconselhamento
Não será necessário frisar que a oração é imprescindível, antes, durante e após uma
sessão de aconselhamento. O conselheiro deve interceder a Deus pelo aconselhando, e
por si mesmo, para que seja um instrumento de Deus usado para ajudar na solução dos
problemas. Apóstolo Paulo, ao referir-se à oração, pede em seu favor para que a Palavra
lhe seja dada com confiança (Ef 6.18,19) É importante que no começo ou no final de
uma sessão de aconselhamento o conselheiro faça uma oração.
4. Objetivos da entrevista.
Através da entrevista, o conselheiro deverá alcançar pelo menos três objetivos básicos:
a) Objetivo Interacional
Durante a entrevista, é importante que se desenvolva uma relação de confiança mútua
entre conselheiro e aconselhando. Isto levará o aconselhando a não se sentir
constrangido ao se expor ao conselheiro e sentir-se motivado para continuar o
aconselhamento.
b) Objetivo de coleta de dados
Um outro objetivo básico é a obtenção de informações. O conselheiro precisa ter
bastante cuidado para não deixar que a ansiedade de querer saber detalhes do problema,
que apenas satisfarão sua curiosidade, atrapalhe ou prejudique os aspectos
interracionais, para que o aconselhando não venha se sentir perante um tribunal,
submetido a um interrogatório.
c) Objetivo de intervenção
A intervenção deverá acontecer de uma forma sistemática. O conselheiro precisa ter o
cuidado para não interromper desnecessariamente o entrevistando. Intervir apenas
quando precisar de dados que ajudem na compreensão geral do problema ou quando
perceber que o aconselhando precisa de um feedback, ou uma resposta que lhe ajude no
processo de mudanças.
a) Introdução
Inicialmente o conselheiro deve cumprimentar o aconselhando? se apresentar, dizendo o
seu nome e função. Se o aconselhando estiver ansioso, utilizar algum procedimento para
descontraí-lo, diminuindo a ansiedade, em seguida levantar os dados pessoais.
b) Desenvolvimento
Esta é a etapa principal e mais detalhada da entrevista. A partir desse momento, o
problema passa a ser conhecido através de dados que permitem uma análise geral e
preliminar dos mesmos. No início o conselheiro deve limitar-se a ouvir a queixa do
aconselhando, estimulando-o a falar abertamente sobre os seus problemas. O
conselheiro precisa ter muito cuidado para não induzir o aconselhando a qualquer
resposta, sem lhe pedir detalhes. Isto o levaria fatalmente a se desviar do real motivo
pelo qual buscou o aconselhamento.
Esse modelo deve ser utilizado para cada nova questão abordada durante a entrevista,
sempre partindo-se de aspectos gerais para os particulares. Quando utilizamos este
modelo de entrevista, com certeza, estaremos contribuindo para o desenvolvimento de
um clima de confiança entre conselheiro e aconselhando, bem como garantindo que as
informações obtidas sejam válidas, uma vez que evita a indução de respostas pelo
conselheiro. Essa fase deve ser concluída com a formulação de uma sumarização dos
dados obtidos até aquele momento.
c) Encerramento
Às vezes, encerrar uma sessão de aconselhamento se constitui numa difícil tarefa,
principalmente quando perecemos que o aconselhando está bastante fragilizado. No
entanto, o conselheiro precisa estabelecer um limite de tempo para cada sessão. O ideal
é que esse tempo não ultrapasse 50 minutos, a não ser em situações consideradas
extremas.
O conselheiro precisa dar pistas ao aconselhando que o tempo está se acabando, e
procurar evitar a introdução de assuntos novos que gerem perturbação emocional. Antes
de concluir a sessão é imprescindível que o conselheiro deixe claro qual será o
encaminhamento dali em diante. Traçar possíveis direções que ajudem o aconselhando a
se orientar.
V. HABILIDADES DE UM CONSELHEIRO
Partindo-se do princípio que o conselheiro se trata de uma pessoa chamada por Deus
para o ministério pastoral, dispensam-se comentários sobre determinadas qualidades,
como espiritualidade, sinceridade, honestidade, equilíbrio emocional, caráter etc.
Portanto, procuramos apresentar apenas algumas habilidades técnicas indispensáveis a
um conselheiro.
1. Saber escutar
Saber escutar é uma arte que não se adquire sem adestramento especial e que se torna
necessária em toda a comunicação interpessoal, mas em particular, no aconselhamento.
O conselheiro precisa ouvir primeiro o aconselhando, antes de tirar conclusões.
Portanto, procure seguir o conselho bíblico: "...seja pronto para ouvir, tardio para
falar...", Tg 1.19.
2. Fazendo perguntas
O conselheiro precisa saber o momento certo para fazer perguntas. As perguntas devem
relacionar-se aos objetivos da entrevista, caso contrário parecerão bisbilhotice. Após
cada pergunta, deve esperar calmamente a resposta do aconselhando, sem interrompê-
lo. A quantidade deve ser controlada para não tornar-se um "bombardeio".
As perguntas podem ser abertas ou fechadas. Uma pergunta aberta trará um volume
maior de informações, além de levar o aconselhando a dar respostas mais genuínas, sem
sugestões do conselheiro. Um exemplo de perguntas abertas seria "Como isso
aconteceu?"; "Como você reagiu diante disso?"; "Como você vem se sentindo em
relação a isso?". As perguntas devem ser claras e objetivas, de preferência na linguagem
do aconselhando, de forma que este possa ou saiba respondê-las.
3. Pedidos de esclarecimento e complementação
4. Operacionalização da informação
5. Parafrasear
Trata-se da reprodução literal de frases ditas pelo aconselhando, que o leve a pensar
sobre o assunto. O conselheiro deve selecionar as frases que mereçam ser acentuadas e
repeti-las de forma lenta, seguido de um momento de silêncio.
6. Reflexão de sentimentos
Estes e outros aspectos relacionados à ética poderiam ser tratados aqui, no entanto, por
contenção de espaço, gostaríamos de destacar apenas a questão do sigilo. Guardar sigilo
do conteúdo falado numa sessão de aconselhamento é um pré-requisito básico para
quem deseja trabalhar nesse ministério. Se o conselheiro não é capaz de guardar sigilo
daquilo que ouve numa sessão de aconselhamento, não é digno de ser conselheiro.
Por mais simples que seja o assunto tratado, não deve ser compartilha do com ninguém.
Nem a esposa, nem o melhor amigo de confiança. Muito menos ser usado como
exemplo numa pregação. Uma pessoa que se sentir traída poderá se decepcionar. Os
prejuízos poderão ser incontáveis para vida dessa pessoa e para o ministério do
conselheiro. A Bíblia é explicita ao afirmar: "O irmão ofendido é mais difícil de
conquistar do que uma cidade forte...", Pv 18.19.
O ministro deve sempre estar disposto a assumir a tarefa plena para a qual Deus o
chamou. Uma pessoa dotada de chamado divino tem a incumbência especial de
proclamar as Boas-Novas aos perdidos, ministrar a Palavra de Deus aos que foram
regenerados pelo Espírito Santo e hoje fazem parte da família de Deus, bem como, atuar
na área do aconselhamento a fim de promover essas pessoas à estabilidade social,
emocional e espiritual. Portanto, ocupemos a nossa posição outorgada por Deus.
A QUESTÃO PRELIMINAR.
Voltemos à década dos oitentas. Enfatizava-se muito o discipulado, que hoje aparece
com roupa nova, chamado de mentoreamento. Os candidatos a conselheiros queriam
discipular pessoas, mas dava para notar que não era para fazerem discípulos de Cristo, e
sim discípulos delas. Não era para levar as pessoas à estatura de varão perfeito, como
encontramos recomendado em Efésios 4.13. Era para reproduzir pessoas à sua imagem e
semelhança. Ainda hoje, buscamos muito fazer clones nossos em nossas igrejas. Ou
dominar pessoas. O líder precisa sondar bem suas intenções. Principalmente se ele se
vale do aconselhamento. Que deseja: ovelhas maduras ou pessoas submissas a ele?
Aconselhar ou dominar? Ver o desenvolvimento da pessoa ou reproduzir-se nela?
1. O VALOR DO ACONSELHAMENTO PARA O CONSELHEIRO.
Ao aconselhar, o pastor não apenas cumpre uma tarefa atinente ao seu ministério. Ele se
capacita para o ministério pastoral, no trato com o rebanho. Ãescobre suas
necessidades, vê as carências do povo e assim diagnostica seu estágio espiritual, como
também vê por onde deve andar no ensino do púlpito. O gabinete pastoral é um
termômetro que indica algumas enfermidades da igreja, e assinala para o pastor o que
ele deve pregar, se deseja a terapia que vem da Palavra de Deus.
Uma ressalva deve ser feita, no entanto: o gabinete pastoral não vai ao púlpito. O que se
ouve no gabinete morre no gabinete, mas o que se trata no gabinete sinaliza áreas que
devem ser abordadas pelo púlpito. Se constantemente o pastor está administrando crises
conjugais, isto é sinal de que precisa pregar mais sobre família. Se casos de
mundanismo e baixa espiritualidade causam os problemas que surgem no gabinete, o
obreiro descobrirá que a igreja está precisando de santificação. Precisamos reconhecer
o fato de que somos pastores e não terapeutas seculares, e que lidamos com igreja e não
com uma clínica psicológica. Lamentavelmente, muitos pastores estão deixando a
Bíblia, substituindo-a por ensinos de psicólogos seculares, sem temor a Deus, e caindo
no mesmo equívoco de tantos conselheiros não cristãos, o de pensar que nossa tarefa é
tornar as pessoas aliviadas de seus fardos, e se sentirem bem consigo mesmas. Nossa
principal tarefa como conselheira não é aliviar o fardo das pessoas, mas orientá-las
dentro dos princípios da Bíblia. Vivendo os valores da Palavra de Deus as pessoas terão
o alívio que o Espírito Santo dá.
Nossa tarefa, portanto, não é de ajudar os pecadores a viverem bem com seus pecados,
mas “anunciar todo o conselho de Deus” (At 20.27). Assim fazendo, cumprimos nossa
missão, ajudamos as pessoas e formatamos o povo de Deus dentro da Palavra de Deus.
O aconselhamento ajuda o obreiro a cumprir sua missão, que é a de levar o povo do
Senhor à maturidade: “Desse modo todos nós chegaremos a ser um na nossa fé e no
nosso conhecimento do Filho de Deus. E assim seremos pessoas maduras e
alcançaremos a altura espiritual de Cristo. Então não seremos mais como crianças,
arrastados pelas ondas e empurrados por qualquer vento de ensinamentos de pessoas
falsas. Essas pessoas inventam mentiras e, por meio delas, levam outros para caminhos
errados” (Ef 4.13-14). E, secundariamente, ajuda o obreiro a conhecer o tipo de
alimento que seu rebanho necessita.
O conselheiro precisa estar atento para o fato de muitas pessoas o procurarão buscando
confirmação de suas atitudes, e querendo apenas apoio e compreensão. Nem sempre
desejarão mexer na causa fundamental do problema. O conselheiro deve ser
compreensivo, mas nunca conivente com o erro e com o pecado.
Sentir indignação com o pecado é uma coisa. Sentir indignação com o pecador é outra.
O Novo Testamento fala, por exemplo, para não sermos ansiosos. Mas quando lidou
com a ansiedade de Marta, Jesus não lhe “deu uma dura”, mas foi terno: “Aí o Senhor
respondeu: – Marta, Marta, você está agitada e preocupada com muitas coisas, mas
apenas uma é necessária! Maria escolheu a melhor de todas, e esta ninguém vai tomar
dela” (Lc 10.41-42). Haverá momentos em que o conselheiro se frustrará porque vê que
a pessoa está sendo infantil ou apenas desejando aliviar um sintoma do seu pecado, ao
invés de lidar com o pecado. É preciso misericórdia. Sem abandonar a firmeza.
Além desta postura de aceitação da pessoa, o conselheiro precisa cultivar a imagem (que
deve corresponder à realidade) de ser uma pessoa confiável. Observe este comentário
em uma obra de aconselhamento profissional, secular: “O paciente tem vários graus de
consciência do processo, experimentado principalmente na forma de suas fantasias
sobre o médico e de uma sensação de segurança e confiança a seu respeito”[1]·. O
conselheiro precisa passar a imagem real de uma pessoa confiável. Ele precisa dar ao
aconselhado a sensação de segurança e de confiança a seu respeito. As pessoas
confiavam em Jesus. Lembremos disto. Certa vez, um homem, membro de outra igreja,
me pediu aconselhamento. Eu lhe disse para procurar seu pastor e ele me falou que o
problema era o seu pastor, e me disse: “Quando eu era católico, sabia que quando eu
confessava meus pecados ao padre, ele guardaria sigilo. Morria no confessionário. Tudo
que eu conto para meu pastor vira ilustração de sermão. Ele não cita meu nome, mas
quem me conhece sabe que sou eu”.
Se você almeja ser um conselheiro cristão, estas duas virtudes são indispensáveis:
aceitação da pessoa e manutenção de sigilo. Um obreiro falastrão nem sempre obterá
confiança das pessoas.
O conselheiro cristão deve aceitar a pessoa, mas deve aceitar a autoridade das Escrituras
sobre todas as pessoas, mesmo as que não são crentes. Eis uma citação de Crabb: “As
categorias bíblicas são suficientes para responder às perguntas do conselheiro… Nossa
tarefa é pensar sobre a vida dentro das categorias que as Escrituras fornecem. A
autoridade para nosso pensamento depende de em que grau ele brota das categorias
bíblicas claramente ensinadas”. Em outras palavras: o ensino bíblico é suficiente para
responder a todas as indagações que um conselheiro tenha.
No trato com as pessoas, o conselheiro encontrará aquela que o procurará apenas para
desabafar. Ela fala, fala, nunca pergunta (e quando pergunta é apenas de maneira
retórica, esperando apoio, mas nunca uma resposta objetiva) nem se mostra inclinada a
ouvir. O papel do conselheiro não é interromper e cortar a pessoa. Deve ouvir. Mas deve
ter cuidado. Há pessoas que gostam de alugar ouvidos para fazerem seus monólogos.
Não querem resolver nada, apenas falar. Pode ser bom para a pessoa, embora enfade o
conselheiro. Mas pode ser ruim para a pessoa se serve como subterfúgio para ela nunca
se decidir a fazer o que deve.
“De que esta pessoa precisa, realmente?”. Esta deve ser a pergunta do conselheiro. Ela
necessita apenas desabafar ou isto é uma prática de vida, em que ela aluga ouvidos para
descarregar sua ira ou frustração? Há os que querem audiência cativa, um auditório,
mesmo que de uma pessoa apenas, para se exibirem. Já notou a conversa das pessoas
nas ruas, ônibus, filas de ônibus, lanchonetes? Como elas contam vantagens e se
exibem? Há sempre pessoas contando histórias em que elas são heroínas. Cuidado com
isto. As pessoas têm carências emocionais muito grandes, entre elas a de aceitação, de
serem bem vistas, de serem respeitadas e admiradas. O conselheiro é visto como uma
pessoa cuja admiração deve ser conquistada. Mas não pode ser manipulado. E seu
tempo não deve ser gasto em contemplação de pessoas. Menos ainda sua atividade
pastoral pode ser usada para validar comportamentos vaidosos.
Lidando com a pessoa que não ouve, apenas fala, pergunte-lhe, após algum tempo
ouvindo-a: “Exatamente, o que você espera de mim?”. Procure, com gentileza, levar a
pessoa a refletir sobre o que está fazendo ali. Se ela disser que é apenas um desabafo,
ótimo. Ouça seu desabafo. Ela precisa disso. Mas se nada tem a dizer, desejando apenas
um auditório cativo, há um problema. Seu tempo é para ser usado com pessoas
necessitadas, e gabinete pastoral não é sala de espera nem lugar de passatempo, e o
pastor-conselheiro não é ouvido cativo para qualquer coisa.
Nunca seja grosseiro, mas nunca seja um poste. Há um livro de aconselhamento popular
cujo título é muito interessante: Cuidado com os vampiros emocionais. Você encontrará
pessoas que apenas sugam e querem que você seja passivo. Uma pessoa me procurou
durante quase um ano de aconselhamento, e sempre para abordar o mesmo problema. A
solução era visível, mas a pessoa nunca a consumava. Depois de tanto tempo tratando
da mesma questão (quase que podia gravar o que dizia numa reunião para fazê-la ouvir
na outra), precisei perguntar: “Além de alugar meus ouvidos e de se lamentar, o que
você pretende, realmente?”. Talvez tenha sido pouco delicado de minha parte, mas
entendi que já havia tempo e relacionamento com a pessoa que me permitia agir desta
maneira. Graças a Deus ela entendeu que a solução era clara, estava em suas mãos e era
questão apenas de executá-la. E ela fez o que devia. Mas durante quase um ano apenas
falou. Avistar-se comigo não era solução, mas agravava o problema, porque quando
alguém lhe falava sobre a situação que ela enfrentava, sua resposta-desculpa era: “Estou
me aconselhando com o pastor”. Não estava se aconselhando com o pastor. Estava
usando o pastor para justificar sua imobilidade. E o pastor estava ficando com a imagem
de quem aconselhava sem aconselhar, na realidade. Esta é uma das preocupações que o
conselheiro deve ter. Ele será usado por pessoas, em várias circunstâncias. Cuidado com
o que o fala e cuidado como se porta. Cuidado com o que não fala e cuidado com o que
deixa de fazer, como não se porta.
Quando Jesus se defrontou com os doutores da lei, em certa ocasião, um deles sentiu-se
acuado. Diz Lucas 10.29: “Porém o professor da Lei, querendo se desculpar, perguntou:
– Mas quem é o meu próximo?”. Muitas vezes, sem respostas, as pessoas querem se
justificar, e apresentam desculpas.
Um jovem, certa vez, disse ao pastor que estava sendo assediado por sua chefa. E que
seu emprego estava em risco se ele não aceitasse sair com ela. Já disposto a sair com
ela, procurou o pastor, e depois de expor a situação, fez esta observação: “Pois é, pastor,
antigamente os homens é que davam em cima das mulheres. Hoje as mulheres dão em
cima dos homens. Os tempos mudaram. A Bíblia não podia prever uma situação
dessas”. Calmamente, o pastor lhe perguntou: “Você já leu a história de José do
Egito?”. O rapaz não queria aconselhamento. Já decidira que ia pecar e buscava apenas
justificativa. Lembre-se, conselheiro: as pessoas não gostam que seus erros e pecados
venham à tona. Tentam fazer aventais de folhas de figueira para si, ou acusam os outros
pelos seus pecados. Sua função não é acusar. O Diabo é o acusador (Ap 12.10) e o
Espírito Santo é o convencedor (Jo 16.8). Você não deve fazer o trabalho nem de um
nem de outro. Sua função é ser um instrumento e deixar que o Espírito faça a obra. Não
acuse nem tente convencer. Apenas mostre a Palavra de Deus.
Tenho observado que muita gente procura o pastor para obter confirmação do que já
decidiu. Elas não procuram orientação, mas apoio para questões já assumidas. Podem
até ter feito uma decisão acertada (e são elas que devem tomar sua decisão, e não o
pastor), mas o conselheiro precisa ter bastante cautela. Já vivi a experiência muito
desagradável de ver um homem, que abandonou a esposa, ter usado minhas palavras
para sua aventura extraconjugal. Por isso, tenha cuidado. Seja bem claro no que diz, e
em alguns momentos seja mesmo assertivo. No caso em tela, eu disse: “Bem, você é
quem deve tomar a decisão sobre o que vai fazer”, não como conclusão da conversa,
mas em algum momento da conversa. Ele tomou esta frase como desculpa. Hoje eu
diria, claramente, que ele está errado, que deveria se apresentar diante de Deus pedindo
forças e restauração do seu matrimônio. Paguei pela falta de clareza.
O jargão mais empregado hoje, como desculpa para fazer coisas erradas, é “Eu tenho o
direito de ser feliz!”. As pessoas fogem da palavra “dever” como alguns cristãos de hoje
fogem da cruz. Mas não pode haver direitos sem a contrapartida dos deveres. As
pessoas têm o dever de fazerem as coisas certas, de serem honestas e íntegras. Nunca
acharão felicidade cometendo o erro. A consciência as acusará, e depois haverá
consequências. A preocupação do conselheiro não deve ser a de agradar, mas a de
esclarecer. Ele não decide, mas deverá deixar claro para o aconselhando as
consequências de suas decisões. Eis uma citação muito simples de Luiz Marins: “Uma
das maiores pretensões que muita gente tem é a de querer agradar a todo mundo. Isso
simplesmente não existe. Nem Cristo agradou a todo mundo em sua época. Por isso
digo que é uma atitude pretensiosa querer agradar a todos”. Desagradar às pessoas é
muito arriscado, em nossas igrejas, principalmente se as pessoas desagradadas são
poderosas na igreja. Muito pastor já perdeu pastorado por não se curvar. Não é
necessário ser desagradável, mas é indispensável ser honesto.
A pessoa que quer se justificar pode se valer de lisonjas ou passar por vítima. No
primeiro caso, ela o elogia, procurando desarmá-lo e trazê-lo para o lado dela. No
segundo, procura levá-lo a se condoer dela. Afinal, quem está sofrendo merece
compaixão e não crítica. Preste bastante atenção quando a conversação sair da área dos
fatos e entrar na área de sentimentos e de interpretações subjetivas. Uma boa atitude é a
de sempre procurar uma razoável objetividade. Sei que é difícil, em casos que envolvem
emoções, manter-se objetivo. Mas o conselheiro deve evitar opinar em casos que o
envolvam diretamente, ou alguém de sua família (em casos de relacionamentos na
igreja), e manter sempre o foco no ensino bíblico.
Dizer que a pessoa deve cumprir ou obedecer a Bíblia será de pouco valor. É melhor
perguntar: “O que você acha que a Bíblia diz sobre o assunto?”. Muitas vezes, a pessoa
interpretará a Bíblia de modo que lhe agrade. Lembremos de Pedro, falando das cartas
de Paulo: “Nas cartas dele há algumas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e os
fracos na fé explicam de maneira errada, como fazem também com outras partes das
Escrituras Sagradas. E assim eles causam a sua própria destruição.” (2Pe 3.16). Evite o
bate-boca bíblico. Cite a Bíblia, cite outra passagem, refute, e depois deixe com a
pessoa a decisão. Apenas não permita que a Palavra de Deus seja torcida para apoiar
posições erradas.
Muitos dos problemas dos crentes são causados pelo Maligno e outros por pessoas que
erram com elas. Mas eles também criam seus próprios problemas, quando vivem em
desarmonia com a Palavra de Deus. Há gente que tem dificuldades financeiras porque
ganha pouco, mas uma parcela enorme dos problemas financeiros não é causada pelo
pouco que a pessoa ganha, mas pelo muito que ela gasta. Uma das questões essenciais
para o conselheiro é descobrir qual a fonte dos problemas do aconselhando. Nem
sempre é externa. Muitas vezes é interna, causada por ele. A pessoa não quer resolver,
mas deseja apenas um curativo. O aconselhamento é visto por ela como se fosse
um band aid, algo que mitiga o problema, mas não o resolve.
Numa determinada igreja, havia uma jovem que sempre tinha dificuldades financeiras.
O tesoureiro da igreja era especialista em administração financeira, e um dia sentou-se
com ela, perguntou quanto ela ganhava, ensinou-a a fazer um orçamento e deu-lhe dicas
de como proceder. Aquela jovem se tornou madura na área de finanças. Um irmão
mais atilado notou e a ajudou. Ele viu a causa dos problemas. Esta é a questão: qual a
causa do problema?
Procure, então, descobrir a causa, ao invés de tratar apenas das consequências. Nem
sempre as pessoas querem mexer numa área delicada de sua vida, e querem apenas
remediar a situação. O problema continuará e sempre haverá crises na vida da pessoa.
O conselheiro mais lúcido procurará ir à raiz da questão: “Parece que volta e meia este
problema aparece em sua vida, não é? A que você atribui isso?”. A pessoa poderá até
não querer tratar do assunto, mas será chamada à reflexão sobre ele. Uma pessoa com
muitas dificuldades relacionais, sempre se justificava dizendo que tinha “temperamento
forte”. Um dia, um conselheiro lhe disse: “Você já pensou no ensino de Provérbios que
diz forte é a pessoa que se controla? Pense se seu temperamento não é fraco, na
realidade”. A pessoa retrucou: “O senhor está dizendo que sou um crente fraco?”, já
indignada. O conselheiro apenas ponderou: “Não estou afirmando isto, mas já que você
tocou no assunto, à luz dos ensinos de Provérbios sobre o autocontrole, o que você acha
disso?”.
Com propriedade, ao invés de emitir opinião sobre o assunto (e logo o aconselhado
usaria o “Não julgueis” em sua defesa), o conselheiro levou o aconselhado a emitir
opinião sobre si mesmo. E a reflexão baseada na Bíblia. Um hino antigo, muito cantado
no Dia da Bíblia, diz: “És espelho, martelo e espada, és o amigo melhor do cristão”. Ela
é a melhor amiga do conselheiro e sua fonte de trabalho. Ele deve levar a pessoa a se
ver na Bíblia, e a ver a orientação para seus problemas na Palavra Sagrada. Ela deve ser
o espelho que ele usa para o aconselhando se ver a si mesmo.
Quando a pessoa quer apenas band aid espiritual é oportuno evitar aceitar seu jogo.
Num determinado momento, sim, a pessoa precisa de um curativo. Mas o conselheiro
deve saber que seu papel não é apenas de passar mertiolate (do tempo em que se usava
mertiolate) nos arranhões, mas ajudar a pessoa a não se arranhar mais. Procure sempre
entender o que está por trás da situação. Preste atenção no que não foi dito, naquilo que
a pessoa tenta ocultar ou naquilo que ela logo descarta. Não seja um investigador, mas
esteja sempre atento. Num aconselhamento, nem sempre o que se diz é o mais
importante, mas sim aquilo que a pessoa tenta esconder.
Alinhavo, a seguir, algumas sugestões que complementam esta série de quatro palestras
sobre o aconselhamento pastoral.
(1) Prepare-se antes da entrevista e prepare-se sempre. Temos o hábito de fazer uma
oração rápida antes do culto, de mãos dadas, com o pessoal dos instrumentos. Isto dá
uma aparência de que o culto será espiritual e abençoado porque fizemos aquela oração
com ar compungido. Começamos o culto com uma oração, porque caso contrário, Deus
não vai abençoar aquele culto. Oração não é pontilear (ou como usam hoje, em mau
gosto linguístico, “pontual”), mas deve ser uma prática na vida do obreiro. Se o
encontro foi agendado, ore antes dele. Peça sabedoria a Deus. Peça para ele lhe dar as
palavras certas e iluminar sua mente. Aliás, seus primeiros momentos devocionais do
dia devem ser pedindo sabedoria a Deus para agir corretamente, não pecar e não falhar.
(2) Seja amigável, mas evite a intimidade e o excesso de camaradagem que pode
impedir sua ação como conselheiro pastoral. O pastor deve ser amigo, mas nunca deve
perder sua postura pastoral. Principalmente no aconselhamento com o sexo oposto. Uma
vez, uma jovem que aconselhei me perguntou se podia me dar um beijo de gratidão, no
rosto. Disse um “obrigado” estava bom. Em público, não soaria mal, mas em privado é
pouco recomendável. Seja cauteloso. Cautela e caldo de galinha nunca mataram
ninguém, a não a ser a galinha. Mas isto, a morte da galinha, é outra história.
(3) Se o aconselhamento for a longo prazo, peça permissão para fazer anotações.
Depois, releia-as, ponha em ordem, passe a limpo. É uma maneira de guardar as
informações, até na mente (o processo de passar a limpo ajuda a memorizar) e saber o
que está se passando com a pessoa.
(4) No encontro posterior, recapitule com a pessoa o que anotou. Pergunte se está certo
o que anotou, se ela deseja modificar alguma coisa do que disse (não de como está, mas
do que disse). As anotações são o histórico do aconselhamento.
Nesse trabalho, será abordado o Perfil do Conselheiro Cristão por três aspectos: em
primeiro lugar na ação de Deus como Conselheiro Perfeito desde o princípio, em
segundo lugar na visão de alguns autores e em terceiro lugar o perfil do Conselheiro
Cristão diante de muitas demandas e necessidades de pais que criam seus filhos
sozinhos.
“A Igreja como lugar de cura”, é mais uma consideração de Collins. Em sua abordagem,
mostra como esta é, além de muitos outros atributos, uma “comunidade terapêutica”, e,
sem dúvida a de “maior potencial”. Diminuindo ou eliminando a sensação de
isolamento e atendendo à necessidade que todos nós temos de ser parte de um todo, a
igreja tem seu campo de atuação “para o alto, para fora e para dentro.” Collins aborda
também a discutida questão do uso da ciência da psicologia no exercício do
aconselhamento cristão e recomenda que não se deva limitar a capacidade de
aconselhamento desprezando pontos de vista e descobertas da psicologia que estejam de
acordo com a norma da verdade revelada na Bíblia.
O segundo autor considerado é Albert Friesen que, em seu conteúdo trata de aspectos
pertinentes ao “Conselheiro Pastoral” em sua prática. Da referida obra, foram
selecionados os capítulos 4 e 6. Friesen, considerando o perfil do Conselheiro pastoral,
afirma que a habilidade de praticar o aconselhamento eficiente se desenvolve, em
grande parte durante o seu exercício e que a maneira como este considera e lida com
seus problemas e com os problemas em geral é o que mais vai impressionar o
aconselhado, sendo então o aconselhamento pastoral uma projeção do próprio
conselheiro.
Friesen observa que “as qualidades e habilidades do conselheiro podem e devem ser
desenvolvidas” e cita Tg 3.17: “a sabedoria, porém, lá do alto, é primeiramente pura;
depois pacífica; indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial,
sem fingimento”. Considera que a sabedoria que vê o outro com compaixão e amor
eterno não se adquirem em universidades e cursos acadêmicos. Ela é dada pelo Espírito
Santo.
Friesen ainda trata das necessidades pessoais do Conselheiro Pastoral e ressalta que é
essencial ao conselheiro conhecer e aprender a lidar com suas próprias necessidades. É
necessário que “conheça a si mesmo” e isso, para Friesen, significa ser capaz de ouvir
claramente a voz do Espírito Santo e saber aplicar sabiamente a Palavra de Deus ao seu
próprio cotidiano diferençando esta Palavra da sua própria voz interior. Friesen lista
algumas necessidades proeminentes ao Conselheiro Cristão: “Necessidade de conhecer
a Jesus Cristo de maneira pessoal, possuir convicções e que esteja aberto a revisão das
mesmas, necessidade de compaixão com os outros e consigo mesmo, ser imparcial e ter
seu próprio conselheiro”.
Gary R. Collins procura ainda, elucidar sobre o que vem a ser, na verdade “o papel do
conselheiro” usando como ferramenta o confrontamento entre práticas que podem ser
opostas entre si. Por exemplo: Visitar versus aconselhar, precipitação versus cautela,
desrespeito versus compreensão, preconceito versus imparcialidade, dar ordens em vez
de explicar, envolvimento emocional em vez de objetividade, impaciência em vez de
realismo, artificialidade em vez de autenticidade e ficar na defensiva em vez de
demonstrar empatia. Atitude de vigilância para evitar riscos como esse, deve ser
mantido para que se honre a Deus com esse trabalho da melhor maneira possível
devendo se ter em mente que o conselheiro cristão é um agente do Verdadeiro
Conselheiro.
Embora Friesen concorde com Carls Rogers em suas três características para um
trabalho de maior eficácia, deve-se levar em conta que a receptividade com
distanciamento, dependendo da situação enfrentada pelo aconselhado, terá maior êxito
em sua aplicabilidade se não houver o distanciamento, ainda que seja por precauções de
afinidades. Às vezes a proximidade traz segurança ao aconselhado.
O autor também trata do tema “as motivações do conselheiro” e propõe que, em
primeiro lugar, o conselheiro cristão deve considerar sua missão como um dever da
Igreja de cuidar de maneira integral das pessoas que Deus tem encaminhado a Ela e, não
observar suas motivações pessoais o que poderia alterar a percepção e a compreensão
do mesmo a respeito do que o aconselhado lhe diz.
Friesen enfatiza que várias dificuldades que ocorrem no processo de aconselhamento
têm seus fundamentos e origens no próprio conselheiro e que, além de conhecer os
aspectos metodológicos e técnicos da conversação pastoral, o conselheiro deverá
desenvolver um autoconhecimento e uma autoavaliação de sua própria vida e de sua
atuação como conselheiro.
Avaliar o que impulsiona uma pessoa a querer trabalhar com aconselhamento pastoral
seria, em síntese, avaliar suas motivações básicas: Se missiológicas ou pessoais. Na
verdade, segundo Friezen, o conselheiro não deve ser motivado a fazer algo pelo
aconselhado e sim fazer algo com ele. Além disso, motivos como compaixão,
comiseração e pena com o aconselhado, em geral são maus motivos para ajudar alguém,
afinal, ninguém gosta de sentir-se inválido. Uma prática de autoanálise, apoiar-se em
pequenos grupos onde se discuta as práticas em aconselhamento e, ainda a observação
de um supervisor, podem ser alternativas para avaliação da prática utilizada pelo
conselheiro, recomenda Friezen.
“O estresse do conselheiro" é assunto destacado por Collins que afirma que “o exercício
contínuo pode gerar perda de idealismo, energia e propósitos”. Recomenda, portanto,
alguns cuidados a observar: longos períodos de oração e meditação na Palavra,
avaliação periódica das motivações, períodos de descanso, aproveitar oportunidades de
aperfeiçoamento. Essas atitudes ou cuidados podem prevenir um desgaste que leve o
conselheiro à necessidade de aconselhamento. Collins ressalta que a paz de Deus se
consegue por um exercício espiritual e disciplina de um propósito de viver separado
para Ele.
“Conforme a eleição do grupo temático” “Pais que Criam Seus Filhos Sozinhos” para a
execução deste trabalho foi consultada, dentre outras, a obra Mulheres Aconselhando
Mulheres”, uma coletânea de textos produzido por conselheiras bíblicas e organizado
por Elyse Fitzpatrick. No capítulo 12 da obra, a conselheira Lynn Denby, trata dos
conflitos enfrentados por mães que criam filhos sozinhas. Por motivos como divórcio,
morte do cônjuge, rompimento ou até mesmo uma escolha, uma mulher que precisa
criar filhos sozinha pode ser levada a lidar com situações diversas de grande potencial
conflitivo.
Já no capítulo 15, Barbara Scroggins aconselha sobre o tema Criar Filhos de Modo Fiel:
“Alcançando o Coração de seu Filho” e, traz considerações sobre os efeitos de uma
postura não planejada, mas executada, que menospreza as necessidades dos filhos para
que se possam cumprir os próprios objetivos. Estar focada só em si mesma faz com que
os filhos sofram algumas consequências. Scroggins sugere às mães, considerações sobre
alguns temas que possam ser úteis no enfrentamento desta conflitante realidade: “Um
tipo diferente de criação de filhos”; “A Bíblia e a criação de filhos”; “Um exemplo de
mãe”; “Uma missão de mãe”; “Aja como um agente da autoridade de Deus”; “Não
provoque seus filhos à ira”; “Criai-os” e “Amor de mãe”.
Por fim, Scroggins em seu aconselhamento, coincide sua opinião com os demais autores
consultados sugerindo escolher e conhecer mais a Deus por meio da leitura da Bíblia e
busca-lo em oração por sabedoria e orientação na sua criação de seus filhos. Afirma
ainda que, você pode confiar que Ele cumprirá fielmente suas promessas a você (2Tm
2.13).
Dessa forma podemos concluir que os autores consultados são unânimes quanto às
questões centrais que envolvam o perfil do Aconselhador Cristão que consideramos
como Conselheiro Cristão. Segundo eles o Aconselhador Cristão, não diferente do
Conselheiro deve, portanto, viver como um servo de Deus assumindo compromissos
diante do Senhor, que em síntese é cuidar uns dos outros e ajudar uns aos outros a levar
suas cargas. O cristão que for levado a essa condição de Conselheiro Cristão deve
buscar aprender e exercitar esta prática com todo cuidado para que possa honrar a Deus,
servir ao seu irmão e preservar a si mesmo no Senhor.
A atuação do conselheiro cristão junto aos pais que criam seus filhos sozinhos é de vital
importância, irá solucionar problemas familiares que posteriormente se transformariam
em famílias detentoras de traumas que passariam por sucessão aos filhos por sua
formação, culminando em uma tragédia no futuro. Uma família mal estruturada torna-se
cooperadora de uma sociedade desorganizada, um povo sem meta e uma nação sem
futuro.
As ações terão como finalidade levar o conselheiro cristão a refletir sobre consequências
que levam os pais a optarem criar seus filhos sozinhos, porém em sua abordagem no
aconselhamento o conselheiro deverá transmitir aos pais que fizerem essa escolha que,
um relacionamento eficaz e duradouro requer respeito e benefício mútuo, ou seja, o
amor, o compartilhar e a fidelidade dos filhos devem ser correspondidos pelos pais.
O Conselheiro Cristão deverá ter como guia prático a utilização da palavra de Deus e
entender que diante da crise instalada num relacionamento que culminará em uma
separação, o casal só achará refúgio em Cristo, obedecendo a sua palavra e praticando-
as. Tais conselhos deverão mostrar o cuidado de Deus para as viúvas, pai e mães
solteiras através de suas promessas a estes que criam seus filhos sozinhos.
Ao abordar o tema a Difícil Arte de Criar Filhos, a escritora Elaine Cruz cita em sua
introdução os Conselhos do Apóstolo Paulo a Timóteo: “Mas, se alguém não cuida dos
seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior que o incrédulo (1Tm
5.8)”.
Reforça Eliane que no início da história Judaica pai e mãe criavam seus filhos juntos,
suas atribuições ainda que específicas, somavam para um fim comum, o crescimento e
desenvolvimento do filho, principalmente no que diz respeito a liderança espiritual da
família. Suas tarefas somavam-se quando entendida por ambos, o pai tinha a missão e a
mãe a submissão. Missão de apresentar os propósitos e a submissão de desenvolver
esses propósitos, porém como desenvolver uma missão sem as diretivas?
Hoje, pai ou mãe que criam seus filhos sozinhos estão desguarnecidos dos propósitos
estabelecidos por Deus, porém não abandonados, contudo existe a necessidade de
redobrar seus esforços na busca de respostas a muitos questionamentos que seriam
supridos por um ou outro. Os pais que se envolvem com os seus filhos acabam por
favorecer lhes o bem estar e o desenvolvimento emocional, segundo a psicologia.
Estudos mostram que meninos criados por pais ausentes têm mais dificuldade em
afirmar sua masculinidade, afetando seu relacionamento natural com moças no futuro e
o desempenho profissional. Quanto às meninas o pai ausente pode favorecer a
promiscuidade sexual de sua filha adolescente, ou dificultar um relacionamento
saudável com namorados ou com o futuro esposo. Diante desse quadro, o conselheiro ao
se deparar com pais ausentes deve conscientizá-los desses agravantes que sobrevirão
sobre seus filhos.
Deve se lembrar a esses pais que o pai não é uma vice-mãe, ele não tem apenas o papel
de provedor, mas de educador, pai presente, tanto fisicamente como emocionalmente. O
aconselhador tem como papel mostrar ao pai que cria sua filha ou filho sozinho que este
deve adotar uma postura diferente no educar, ser um pai não apenas crítico, ríspido, mas
um pai perdoador, amoroso, aberto ao diálogo e que se mostre presente e participativo
no dia-a-dia.
Quanto às mães, há mecanismos que Deus deu a elas que o homem não suportaria.
Sentir dor de parto, passar nove meses carregando alguém que a cada dia vai se
modificando e alterando o sistema físico de ambos. Esses detalhes, Deus deu apenas as
mulheres. Homem e mulher foram feitos para se completarem e não após unir-se, se
separarem na intenção de buscar uma vida melhor.
Ainda que os indicadores de avaliação familiar não alcance margem satisfatória na
qualidade da comunicação, num relacionamento, as pessoas necessitam ser proativas
porque pessoas proativas influenciam o meio, garantem harmonia, contribuem e
influenciam com mudanças significativas que atenda a todos através da sinergia. A falta
de relacionamento no sentido vertical/horizontal, poderá influenciar no sub-sistema
parental ou até mesmo no sub-sistema filial.
No obra pais solteiros, o autor Tony Evans relata que em 1970, somente 13% das
crianças cresciam sem ter ambos os pais em casa, mas hoje esse número é de pelo
menos 30% na sociedade em geral. Sendo assim, acrescenta Tony, “o que Deus tem a
dizer aos pais solteiros”? Percebe-se nas escrituras sagradas que Deus não desampara ou
deixa sem esperança aquela mãe que passa a viver sozinha com seu filho. A bíblia
sempre terá resposta aos que por algum motivo passaram a criar seus filhos sozinhos.
A respeito das necessidades pessoais do Conselheiro Cristão, Albert Friesen disse que:
“É fundamental que o Conselheiro compreenda e perceba as necessidades reais das
pessoas, em seus termos mais amplos e, ao mesmo tempo, em seus termos mais
específicos”, porém é necessário que o Conselheiro entenda e perceba as suas próprias
necessidades e que aprenda a lidar com elas.
Embora a vista da bíblia sagrada o casamento seja indissolúvel, ninguém está imune de
errar num assunto tão delicado quanto a dissolução do casamento. A todo instante o
perigo bate a porta. O Conselheiro Cristão em sua formação de ideias considerará que as
emoções penosas do divórcio tornam todos vulneráveis à certas armadilhas e expõe o
caráter e defesas de homens e mulheres que a esse recurso recorre, seja consensual ou
judicial. Mesmo sendo o aconselhado um profissional bem sucedido, capaz, competente
e que tenha tudo, fora o casamento, na mais perfeita ordem, porém no momento que se
trata de divórcio, tudo poderá vir a tona, o mau caráter, a intolerância, o ódio, o
individualismo e tudo que há de ruim no ser humano. Neste caso a particularidade
assume o comando do indivíduo.
Para tratar tal assunto o conselheiro Cristão, através de uma análise crítica e pessoal,
deverá conhecer a si mesmo, seus problemas e limitações, pois tal pratica de
aconselhamento poderá levá-lo a tomar decisões pessoais por experiências vividas ou
ouvidas. Deve-se levar em conta que experiências vividas por outros casais terão suas
similaridades, porém seus motivos poderão ser atípicos.
6.3- Aconselhando duas pessoas do mesmo sexo que optam por adotar uma
criança.
Este novo tipo de “família” merece atenção no tocante a sua formação. Sendo uma
bandeira levantada por uma minoria, a legalização do matrimônio deve ser conduzida
com cautela e seriedade. Este trabalho não visa debater as preferências sexuais dos
indivíduos, mas a formação familiar e sua continuidade onde o conselheiro Cristão
deverá tratar essa nova “variação familiar” a luz da bíblia sagrada.
Entendendo que a família em sua origem é de inspiração divina, essa visão não deve ser
desviada independentemente da posição social, psicológica, do credo, da cultura ou da
forma de ver do indivíduo. A família em sua constituição, ainda apenas homem e
mulher, recebeu do seu criador bênçãos para crescer em seu desenvolvimento pleno e
privilégios ao se multiplicar. Segurança, paz e amor, fariam parte de todo o processo
conjugal.
Diz a Bíblia, macho e fêmea os criaram, Deus pai, Deus filho e Deus Espírito Santo.
1. Uma visão do aconselhamento através da ótica dos pastores e das igrejas 1.1.
Aconselhamento Preventivo e Corretivo
1.2. Hora e Lugar
O primeiro momento da pesquisa procurou verificar dados sobre: a situação das Igrejas
com foco na prática de aspectos relacionados ao Aconselhamento Preventivo e
Corretivo, Hora e Lugar, O Ministério, Os Problemas e a contribuição de outras
Ciências. Algumas inquietações dirigiram este momento com questões como: a Igreja
está preparada para cuidar de todos os problemas de seus membros, seja de qual ordem
for? Está ela atenta às mudanças ocorridas no mundo que influenciam as pessoas e
conseqüentemente a Igreja inserida nesta sociedade?
A prática do Aconselhamento deve ser previamente marcada na Igreja e ter uma hora de
duração. Este foi o resultado que a pesquisa revelou. A maioria dos pastores concorda
neste ponto. Porém há variações nas respostas dadas. Alguns pastores disseram que a
duração do encontro pode variar desde meia hora a duas horas, ou ainda, sem um tempo
definido. A pesquisa, porém, revelou aspectos interessantes a serem mencionados.
Pastores disseram que aconselham em outros lugares, como por exemplo, em retiros,
passeios e nas casas das pessoas. Outros responderam que aconselham somente quando
são solicitados. Algumas igrejas não têm a prática do agendamento do aconselhamento
e o pastor atende quando o membro chega. Outros disseram que o aconselhamento só
ocorre quando o próprio pastor julgar necessário.
Os dados coletados apresentam de forma nítida que a idéia que o Aconselhamento nas
Igrejas deve ser encarado como um Ministério. A Igreja tem como uma de suas
obrigações o exercício deste ministério. Ficou demonstrado que diversas Igrejas têm
como um dos seus objetivos a tarefa de aconselhar os membros e pessoas da
comunidade nos seus diversos problemas, mesmo que não freqüentem a Igreja. Esta
tarefa busca ajudar tais pessoas a ter uma visão melhor de quem são e desenvolverem a
capacidade de resolver as suas questões. Através da pesquisa ficou demonstrado que a
prática desse Ministério exige pessoas qualificadas. Assim é tarefa da Igreja equipar
aqueles que possuem o dom do aconselhamento/exortação através de estudos e
dinâmicas, bem como capacitar os seus membros para tal função. Para tanto é preciso
que a Igreja perceba quais são os membros que possuem esta habilidade ou esse dom,
isto é, pessoas que sejam primeiramente capacitadas por Deus para este ministério.
Outro cuidado que a Igreja deve ter é o de escolher pessoas que tenham um bom
testemunho e que tenham vivência no evangelho e que demonstram ter o fruto do
Espírito Santo. Há em geral uma idéia de que o aconselhamento seja feito por pastores
ou pessoas que cursaram uma faculdade de teologia. Entretanto, Deus vocaciona
pessoas do meio do seu rebanho para exercer tal ministério; pessoas aptas para o
exercício pastoral, isto é, para o pastoreio da Igreja. Tais pessoas não necessitam a
ordenação ao ministério da Palavra. Deus usa diferentes pessoas para os diferentes
ministérios da Igreja. A maioria dos pastores entrevistados possui a opinião acima
descrita.
Dentre as respostas dos pastores encontramos uma em especial que destaca que o
aconselhamento deve ser informal. Que é por meio de contatos gerais e de amizade que
o aconselhamento deve ser feito. Para este pastor não precisa existir o aconselhamento
formal, isto é, que pessoas se preparem para o aconselhamento. Entende que todos os
membros da Igreja podem ser conselheiros, independente de um chamado de Deus ou
capacitação através do Espírito Santo. Este depoimento considera que o aconselhamento
está ligado a expressão bíblica da necessidade de um irmão suportar ao outro como
consta em diversos textos bíblicos. Veja Rm 13. 1,2; Ef 4.2; Cl 3.13. Tal afirmativa
destoa dos autores que consideram que a prática do aconselhamento merece um preparo,
uma dedicação para sua execução como defendido por Adams (1977) e Collins (2004).
Depoimento 1
Aceito que outra pessoa faça o aconselhamento. No entanto, esta pessoa deve ser de
inteira confiança do pastor, ou de uma pessoa especializada no caso. Caso a Igreja
tenha em seu quadro de membros profissionais de ajuda como um psicólogo ou uma
assistente social, em determinadas ocasiões essas podem ser requisitadas para exercer
esse ministério. Porém, geralmente é o pastor que deve aconselhar isto porque, ele
conhece as pessoas de sua Igreja. Conhece antecedentes da família por causa das
confidências feitas ao pastor em ocasiões diversas. Além disso, ele também tem acesso
a outras informações que os membros da Igreja já fizeram a ele que facilita o trabalho
do aconselhamento. Tais informações não estão disponíveis para as outras pessoas que
poderiam aconselhar. O pastor deve levar em conta que nos aconselhamentos feitos no
gabinete pastoral, estes trazem o fator ‘confidência de gabinete’, que ele deverá levar
para o seu túmulo.
Depoimento 2
Afirmo sem dúvidas que outras pessoas devem exercer a tarefa de aconselhamento
pastoral pelo simples fato de que o pastor não tem condições de atender a todas as
pessoas e há situações em que outras pessoas, até têm condições de aconselhar melhor
porque têm relacionamentos mais profundos que o pastor com pessoas que estão
necessitadas. Em minha opinião, o melhor aconselhamento nem é feito pelo pastor, mas
sim pela pessoa que está mais próxima. O melhor amigo deveria ser o melhor
conselheiro.
Depoimento 3
É possível que outras pessoas além do pastor aconselhem. Mas isso só pode acontecer
se na Igreja existir um ministério específico para este fim. As pessoas que exercerem
este ministério devem utilizar seus dons que foram dados para esta área. Cabe, porém,
ao pastor a supervisão dos que exercem o aconselhamento porque no final das contas
ele responde pelo rebanho e precisa saber o que acontece em sua Igreja.
Depoimento 4
Ao responder a questão acima um pastor respondeu: “Sim aceitaria, pois o
aconselhamento pastoral não é só profissão é mais vocação. Se a pessoa tem o dom de
aconselhamento pode sim.”
Depoimento 5
A resposta deste entrevistado foi enfática ao ser interrogado se outras pessoas
poderiam ajudar no aconselhamento. Ele disse: Não. O aconselhamento é algo muito
sério. Nem sempre o pastor tem o dom de aconselhamento e, sem sabedoria, pastores
podem cometer erros cruéis. Algumas das conseqüências podem trazer danos
irreversíveis para o aconselhando. Acho que mesmo o pastor, quando perceber que o
caso não é de sua alçada e que não tem as habilidades para lidar com o aconselhando,
deveria encaminhar para um profissional adequado. Passar casos de aconselhamento
para outras pessoas da igreja que não têm o devido preparo, é falta de sabedoria.
1.4. Os Problemas
Dentro desta pesquisa procurou-se saber também quais eram os principais problemas
encontrados nas Igrejas. Dentre estes citamos: Ajustes no Casamento, Relacionamento
Familiar, Relacionamento pais e filhos, Educação de filhos, Problemas de ordem sexual,
Crises de depressão, Problemas da juventude, Relacionamentos no namoro e noivado,
Ajustes no grupo social, Problemas de ordem espiritual.
Depoimento 1
Não. Alguns problemas são de ordem emocional, financeira, etc.
Depoimento 2
Não. Os problemas em geral são de ordem familiar e operacional. Familiar porque
muitos cristãos hoje infelizmente estão vivendo em lares destruídos e estes distúrbios
familiares refletem sobre suas personalidades durante suas vidas. E operacional
porque a maioria dos cristãos é imatura e não sabem operacionalizar bem suas vidas.
Ou seja, usando o português bem claro não sabem tomar decisões e atropelam os
processos e culpam a Deus ou a religião pelos problemas que acontecem em suas vidas.
Depoimento 3
Em meu entendimento todo problema afeta a espiritualidade da pessoa. Os problemas
podem ser de ordem física, de saúde, da ordem do financeiro, ou qualquer outro
problema. Nossa vida é como um piano. Se há uma corda desafinada, seja ela qual for,
o inimigo vai ficar procurando e buscará tirar vantagem disso, do que está em
desarmonia. Eu não distingo entre problemas espirituais e não espirituais. O homem é
um ser espiritual que vive o dia-a-dia.
Depoimento 1
É muito importante ter conhecimentos de outras áreas científicas. Por exemplo: eu
tenho um adolescente que está em pleno momento de ebulição hormonal e isso faz com
que ele comece a ter determinados comportamentos da sua idade, o que é normal. Se eu
não tenho informações dessas mudanças fica complicado. Se eu não conheço os efeitos
que a menopausa causa em uma senhora de certa idade, aquela irmã que era tão zelosa
e cuidadosa com a família, com as coisas da Igreja, que trabalhava, que estava sempre
disposta, de repente fica carrancuda, briguenta, dizendo que está tudo ruim. Isso é
normal. Dependendo da idade até alimentação influencia. O pastor não precisa ter
cursado tais faculdades. Se tiver é excelente, mas ele precisa ter conhecimento dessas
ciências. É muito importante.
Depoimento 2
Creio que as experiências de vida, advindas de aprendizado e observação, quando
aplicadas à Bíblia são suficientes para o aconselhamento. Segundo este depoimento,
este entrevistado considera que todos os problemas do ser humano encontram respostas
na Escritura. A avaliação que fazemos é que a sua teoria de aconselhamento é a
Noutética.
Depoimento 3
Eu acredito na suficiência bíblica. Porém, entendo que hoje há recursos que podem
ajudar a melhor entender o ser humano.
Através dos depoimentos apresentados consideramos que estes permitem ao leitor ter
uma aproximação da visão dos pastores sobre algumas teorias ou abordagens a serem
utilizadas no aconselhamento. Este fato reforça a ideia de que é necessário um preparo,
um estudo sobre as diversas abordagens de aconselhamento para que se possa obter
melhores resultados nas vidas pessoas.
Neste trecho temos a oportunidade de verificar o que dizem as pessoas que passaram
por um processo de Aconselhamento, que segundo os dados da pesquisa, foram
realizados pelo pastor da Igreja. O público-alvo foram pessoas aconselhadas nos últimos
dois anos. As entrevistas não foram simuladas, assim, os depoimentos que aparecerão
são de fato os sentimentos de quem procura um aconselhamento para a compreensão e
resolução de seus problemas.
Um primeiro resultado que pudemos observar através da tabulação dos dados é que as
pessoas que procuram um aconselhamento quase sempre se apresentam com receio do
que pode suceder no processo do aconselhamento. Este receio se apresenta
principalmente no início do processo. Com o passar do tempo ou dos encontros, estas
pessoas vão mudando a sua visão. Passam a perceber que ser aconselhado não é tão
assustador quanto parecia no início. Depois dos primeiros contatos os aconselhandos
passam a se sentir mais à vontade para se exporem. Passam então a falar mais sobre as
duas dificuldades e problemas.
Há uma cultura em nossas Igrejas de que o gabinete pastoral serve para reuniões
diversas e qualquer pessoa que seja chamada ou que adentre no gabinete do pastor
receberá dele uma admoestação.
A maior dificuldade apresentada pelos que foram aconselhados foi a necessidade de se
exporem, isto é, abrir as suas vidas diante de outra pessoa, que no caso é o pastor.
Percebemos, através das respostas dos questionários, que as pessoas têm sérias
dificuldades para conversarem com o pastor sobre seus problemas pessoais. Os
entrevistados disseram que é muito difícil e complicado procurar o pastor para um
aconselhamento, no qual, teria de expor a sua intimidade.
As razões que levam o aconselhando a sentir essa dificuldade são porque elas são
tomadas de medo pelo que poderia advir. Manifestaram também uma insegurança
quanto a reação do pastor e se perguntam: que tipo de reação ele poderia ter diante da
exposição de meu problema? A pesquisa também revelou que as pessoas temem ser
julgadas e que pode haver por parte do pastor um julgamento e a falta de compreensão
da sua situação complicada. Este sentimento de insegurança acrescenta-se o sentimento
de desconforto. É comum dentro de nossas Igrejas haver um mito de que o pastor é o
‘repreendedor mor’ e que qualquer pessoa que for falar com ele receberá uma
repreensão.
Outro mito que nossas Igrejas têm com respeito ao pastor, e aparece de forma clara nas
pesquisas é de que ‘o pastor é um santo’. É um homem acima da Igreja e muitas vezes
aparentando ser alguém acima da humanidade. A humanidade é pecadora, mas o pastor
é um ‘santo’. Nas entrevistas apareceu também nas falas a idéia de que o pastor é
encarado pelos membros da Igreja como uma pessoa que veio de outro planeta. Dados
da pesquisa revelam que o aconselhando, muitas vezes vê o pastor como se ele fosse
uma pessoa de outro mundo. Uma pessoa que está acima do bem e do mal.
Apesar de todos estes aspectos acima descritos, a pesquisa também revelou que alguns
dos aconselhandos chegam ao aconselhamento exercendo certa confiança no pastor,
considerando que ele era alguém que podia ajudá-las em suas dificuldades orientando-as
e aconselhando-as para que pudessem enfrentar a vida de uma forma melhor e, alcançar
uma vida com melhor qualidade. Estes confiaram no pastor exatamente porque ele
carrega em si os estigmas de ‘santo’, de ‘autoridade máxima’. Este mito que ronda o
pastor é que fez com que estes aconselhandos demonstrassem confiança e aceitassem
com confiança a autoridade que o pastor reflete.
Os dados também apontam que, mesmo sem nunca terem passado por um processo de
aconselhamento, os membros da Igreja criam preconceitos. Por vezes, aqueles que
exerceram confiança e percebem a autoridade do pastor para aconselhar, sentiram-se
incomodados em ter de se expor de forma mais íntima, de abrir o coração. Entretanto,
diante do dilema, acabaram percebendo, de uma forma ou de outra, que o pastor se
apresentava como alguém que poderia ajudar. Em algumas entrevistas aparece o dado
que, depois do aconselhamento, pastor e aconselhando tornaram-se amigos.
Depoimento 1.
Depoimento 3
Bom! Não foi assim um processo como tal. Estava passando por uma crise no meu
emprego. Coisa de relacionamento com o meu chefe. Estava indecisa quanto a pedir
demissão ou permanecer no emprego. Então, o aconselhamento me ajudou bastante
esclarecendo muita coisa. O Pastor conduziu o aconselhamento de forma natural. Vejo
nele uma pessoa de confiança e capaz de guardar muito bem o sigilo. Ele facilitou todo
o processo. Tenho uma ótima impressão disso. Fui bastante ajudada.
Depoimento 4
Fui aconselhada pelo pastor. Neste processo de aconselhamento pude perceber
aspectos positivos e que corresponderam a minha expectativa. Estes estão relacionados
ao aconselhamento bíblico. Há, porém, alguns aspectos negativos no aconselhamento
que busquei. Quanto a meus problemas pessoais o aconselhamento não correspondeu
às minhas expectativas no aspecto
Psic-emocional.
Depoimento 5
Busquei aconselhamento com o pastor. Posso definir o aconselhamento como
superficial e artificial. O tempo que descendeu comigo foi muito pouco. A entrevista foi
muito rápida. Pude ver que o pastor não se mostrava preocupado comigo. Ele não teve
muita influência em minha decisão.
2.2. As frustrações
Como demonstrado pelas duas últimas respostas acima, para alguns entrevistados o
sentimento é de frustração com a pessoa do conselheiro que por vezes não soube ouvir.
Falou mais que ouviu. E, não raras vezes aparece nas pesquisas que o pastor
demonstrou certa frieza nos encontros.
Foram relatados episódios em que o aconselhando disse que o pastor não foi ético com
ele. Uma pessoa acusou o conselheiro de quebra de ética, pois não guardou segredo
sobre as informações que recebeu no processo do aconselhamento.
Também foi relatado que algumas pessoas se frustraram consigo mesmas porque foram
para o processo de aconselhamento sem acreditar que teriam algum resultado.
Confessam que queriam resultados rápidos ou, não fizeram o que o conselheiro havia
orientado.
Diante da pergunta: quais foram seus sentimentos antes, durante e depois de buscar o
aconselhamento pastoral? Um dos entrevistados respondeu:
No começo eu achava que ia dar resultado. Durante o processo eu achei que não ia
acontecer nada. Depois do aconselhamento ainda estou confuso. Tem muita confusão na
minha cabeça.
Diante da pergunta: Você considera que o aconselhamento preencheu as suas
expectativas, um dos entrevistados respondeu:
Não preencheu porque estava contra minha vontade, não era isso que eu queria.
Pudemos perceber através da pesquisa que vezes há em que o aconselhando prefere não
assumir a responsabilidade diante da situação que vive e busca transferir ao pastor a
responsabilidade. Ele deposita no pastor uma responsabilidade imensa. Vemos isto
porque a maioria dos entrevistados respondeu que o aconselhamento pastoral é para
qualquer problema que uma pessoa possa apresentar e que o pastor teria condição de
aconselhar fosse qual fosse a dificuldade. Afirmam que o pastor daria conta de todos os
problemas. Poucos entrevistados responderam que o pastor tem limites ao exercer o
aconselhamento, mas que podem surgir situações em que ele não tenha como dar um
direcionamento ou uma orientação.
Diante dessas limitações é necessário que o pastor perceba que precisa da ajuda de
profissionais competentes para o devido encaminhamento como psicólogos, psiquiatras,
médicos, assistentes sociais, etc.
Também fica exposto através das entrevistas uma certa queixa após o término do
período de aconselhamento. Algumas pessoas disseram que quando o aconselhamento
teve seu desfecho, sentiram falta de acompanhamento que pudesse verificar como as
coisas se desenrolaram após o aconselhamento. Disseram que faltou uma supervisão
que verificasse como as coisas estavam se processando após a orientação. Faltou aos
conselheiros a busca de uma averiguação se o caminhar em relação a questão
apresentada estava se desenvolvendo bem. Notamos que existe uma queixa nas atitudes
do pastor que não acompanhou o caso, fazendo uma verificação, de tempos em tempos.
Nesta pequena pesquisa não foi perguntado se o aconselhando estava seguindo as
orientações e conselhos colocando-os em prática em sua vida.
Uma das conclusões que a pesquisa traz é que a prática do aconselhamento aos que
fazem parte do rebanho a algum tempo ou não, tem se desenvolvido em nossas igrejas.
Entretanto, as pesquisas apontam que este ministério precisa ser melhorado. O que se
faz é uma parte muito pequena diante da dimensão da real necessidade. As igrejas
precisam encarar o acompanhamento e o aconselhamento como um Ministério da igreja
local e se convencer da sua importância para a vida dos que frequentam a igreja desde o
mais recente visitante até os membros já solidificados no desenvolvimento dos
processos da igreja, tendo em vista facilitar uma melhor compreensão dos problemas
dos mesmos e ser fonte de suporte para elas.
Vivemos cada vez mais em uma sociedade individualista onde procurar e encontrar
apoio humano nem sempre é tão fácil assim. Às vezes vemos pessoas procurando por
alguém que possa aconselhá-las ou orientá-las em aconselhamento. Não recebendo este
apoio da igreja, buscam auxílio em locais ou instituições que ensinam conceitos
contrários a vontade de Deus.
Acreditamos que como igreja devemos cuidar cada vez melhor dos que se aproximam
dela, quer cristãos ou não conversos e estendermos tal cuidado para com os grupos
sociais que vivem no entorno da igreja auxiliando os que procuram a igreja por causa de
dificuldades ou problemas que vivenciam ainda que não conheçam a Cristo como
Salvador. O aconselhamento é de vital importância para esse cuidado.
Percebemos a dificuldade que as pessoas têm de expor a sua vida, e de como procuram
ser bem aceitas e notadas, portanto, precisamos pensar melhor sobre essas questões em
nossas igrejas para sermos facilitadores de relacionamentos uns com os outros, de modo
que aqueles que são agregados em nossas igrejas sejam bem aceitos e notados, bem
como tenham um suporte para suas vidas e recebam as condições de serem orientados,
discipulados e aconselhados.
Uma boa palavra, dita em um momento de necessidade, pode salvar uma vida. Por isso,
sejamos cuidadosos no falar. Podemos levantar uma pessoa e ser os instrumentos de
Deus para que ele restaure alguém. Nunca sejamos negligentes na nossa missão. Nem
nos envaideçamos.
Somos instrumentos. Apenas isto. E para ser bem usado, o instrumento precisa estar
bem preparado. Lembremos disto e sejamos instrumentos bem preparados.