História Concisa Da Literatura Brasileira - Alfredo Bosi

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As Academias ‘6 os princpios do séulo XVI, a masses cata Cline no spresenivan quae nexo eae poi vid doe pocos cates urbane nda ‘lo propciara canis pura stivar 0 fends Keri, Fo nee es ‘err pon eisai de algunas comrades a Bia, 0 Ri Jae, a ‘amas cas de Miss) que enema do oto reatamar, par er Rigo, militares, desembarsadores, alos fueionsios, euidos et pigs erates e Titrris a exemplo dos gue eatin proiferavam em Portal e eo ta a “Europa Das Academias tasers pods ier que fran: 2) im cea Saad do taeco Hern; 6) 0 pemeio sna de uma cultura hamansica ‘iva eracenvcoual, em ass sciade x aver tena 0 ma re evans as sus combs pata a His a eric gral qo © pos "miso gangérico campo por seas verses Fram balan as acadeias mais fecunas, &Braiica das Exquecdos (1724-29) ea Brain ds Renascids (1738), Tevetamb agua relevin ‘a como fendmeno de apremiao cultural no Rio de Tanck, ene 1736 ¢ 1VA0, Academia dor Felice, ‘0 fado dessus istinigdes, pci-e ctr as fos aeadémiens, esse 'ierris que daravam agus hess ini por fin lero dats liga ‘uengrandecer os feos de aulrdades. colons neste caso figura cama ‘Academia dos Seltos do Rio de Jano (1752), que se resin numa Sie < paneircns rmados em lowyor do general Gomes Fete de Andra in ‘essos mais ude em Lisboa Sob 0 lode Jbilas da América ‘A Academia Bras dos Exquecdos, anda poo vice, Vaso Fe sands César de Meese, por ordom de D, Joo ¥, escoeu part lan § [express “Sol viens in celduo” © seus mats se apeldara, A mane ‘dos confades portugueses, Nip. fl, Obwequon, llamado, Ocupad, ‘Menos Ocupado, el. Fram sews plano estat sia nual ir, ele: ‘Misti polca do Basie asc nas ese ovo comput pels ‘mies: O noe do Académico Vago, Cannel Sebo dt Recha Pa (6 () As Aca ag ent so ala XVIL Pn de Fed com ous 2 Acai de Sea + don Gc ad Seon se Un, lw © x ds Basra (Vin de Lt Clic. ese, 1922 (6) Bet puedo ase cones do extn aadbncee vb 9 tu pal (8 0 Movimento Aatemiisa mo Bras 1661 ~ 142002 (dene Adee Ca te, Palo, Co Eta! de Cu 199, ta eros ands doRaroce Here mio so de cons ingen a abras de Allens Avis esis Seren om Min Belo arnt Cony esos Minis da Unie, 196; « 0 Lice Profen do Man Barro, 8, Pal, Paget 191 173) 6 © mis ten do ope: ae da spn Hits da Arica ‘erm rcp trance tn in Aca Ce er eos ‘Gos oo st "en ame nd oe in ales or ao sta in ome tn i ‘oder et ge nth om A pan A San Amur se appre go ka ¢ tl dr emote ‘Eras ou onan dca sos de Rca pet SOD Dest Apc vig, «ogo ‘i pate ina ea evo. ‘Que 0 Aor cm Aer Pes fo, ‘Que 0 Aa com Aor 6 Spaen 8- ‘ho le St fog mas Ame, emg. {i en on cata de set, (Qos tna in deen consumes. om a deve logs devi se {Rum A im ay he ia, (05 xquecids Yoram cererios fede de arco © messes, 50 netos joo-eraseplriagies, euesbestalgion © a engsbon pcm ‘ret ame ete Lara Cabo de Anat Ayees de Posh, qe dsp ‘6 viios mvc a frase lation in wtrogue Cesar (8) INUTROQUECESAR NINUTROQUECESA UNINUTROQUECES TUNINUTROQUECE RTUNINUTROQUEC ORTUNINDTROQUE QORTUNINUTROQU VoorTuNINUTROO EUQORTUNINUTRO CEUQORTUNINUTR BeEUgoRTUNINUT SECEUQORTUNINU ASECEUQORTUNIN RASECEUQORTUNI (0 ApadPsles Hpi da Sa Ramos, Pens Harta ct . 11 » Da Academia Brastlca dos Renascides, cjo sinbolo ers Fenix cre amas e a divsa“mulpliabo dies, sabes que precisu disolver-s poe {er cldo om desrag 0 funda, ese Mascon, NOs seus cies encon- ‘eamse os mesmos excmplas de cultismo da Acadomia dos Esgueidos que la se propuna reviver. Salvata-se da poduo ligads 30 emo obras em [oss de valor docutentl «Orbe Serf Novo Brafico (L761) Se Fe, At {8eio de Santa Maia aboato, cronit dos fancseanos na Conia Hitiria Mita do Brat de Jost Miles: a Nabilarqia Permambucana de Asieio José Vitoino Borges da Fonseca © Desagraas do Brasil e Gliras de Per ‘nanbuco do benedino Domingos de Lost Cio, muito apreciao por Ca- Pstrano de Ale pola simpata om que vivo nosso indigena ‘Da Academia dos Feliz, eunia eave 1736 ¢ 1740 a9 Rio de Jano, rouco se sabe oigem palicina do fumador, © Brigada José da Silva Pai que ent substi Gomes Fie de Anda la “Ignavs ogands i foplend ¢, como sno, umn Hercules ameagandoo dco com a clave No Se conhece 0 seu exp lero, ‘Altay dit insta, bowve os ator academics, sestes que davam tras etiam por fim comemorar dias rligisas ou engrancer homens «de polo rege colonia. Ese lian 60 caso da cham Academia ds Seles (Rio, 1752, panepiico em poss ¢ verso oferecido 8 Ganes Fite ‘de Andra © publicado sob o ilo de Jablo da America. esa rego, ‘mas tambem Indice da nova selbildade que ins ensejsva foo Triunfo Eucaritico. na Solene Tranlago do Divinisimo Sacramento da Igeja da Senhora do Rosrio para um Novo Templo da Senhora do Par em Vila Rica ‘a 24 de malo de 1734 Nest, como em ntss maifestag de pubica, dv um miso de espticulo deve ico encenistica, Assim, © peer turgo de Sio Paulo conbecu dis inlenos de eibigho de ctr aegis, pera mitoligien, fogs de arco e Toit” de pcos plas tons presets (0 Pata aig sdk do Nd €or doses Ui sas Ge Sto Pala, cade Ga os mae do tol KVL gros de fans nadine. Pato Tague de Ame Pat Lame (1712-70 digo "Aono em 12 (Naira Pans) ese tn Hid Copan ‘eS. Veen,» Iefrmact sore ax Ming dt So au 4 Novia Mic {piso or Seas de Sa Pt om 1040 Oto eu, Fe. Car ba Make de Deus (1715-180), sopananecic ds Acai doe Resi, ep Moms ‘para aM ed Capit de Sd Veo, hj chamada de Pn, oe recon ‘6: lfomapes Ge ques ads tlos pelts peri s Par onto dss e de outset meres donno XVI arse «am ove ores eae de Peis dive Pa, afte Leda ‘em Sto Paulo na Eye Calon, S. Pas, Cans Bal de Cat 156, * i etcetera, no ments desta 170, yor cio dine da Taso SoA Oreo ners pment es fam compat he Soto os Felnes excep fen "tee oats easing Cabin ena pinnae alcool emer “2am aga nar sor Exo barca ae en ea tans ser Cc soo ds to No se se nas oo mcm Cone “Sn nr ance ltr a stoma 0 uted finn cosa cm wn palo pent se eit cel vs mor ue enced erat hoc dsl moons a ur 30, ‘2 papas epson com ae medi eos de Coe reenact prs mea le coreg tan eo ness de pe ec ‘tn m Cs etc “om pos? nis Oro res Pian sit ns adem cng saa, oc ‘Sota rts enn npn gan nto ‘Shinn a sores tna eto nde, os pom ‘Stouts ss malate pect por eo Shots ez schmals eetn pmmr e aysnanieso foi oases er Sco moment ee tr fun ets paps cea lao Yar Go her Por tui, ope Bes iva ‘amt olga o era aca peo ge sso Sra oP fe pea aa «os dhru an go Sl it i, om Maes Ltrs ‘Si Coll de Toe da Esato Po Cat, 192. 909. ‘Asn fran chao, go da eta Moi ewes do tna 0 an ee omy HD Pas a mera htt Pa ase # 0: at enn Ragas, Cig ‘ef Ba i, Crit, 96, Can Cather Met de Re Som Bal nv Fin do Se 0, ale. Unies 96, ands iw “0 Bas es ated Aa Ss Ceo’ Bal ew Prec Pa tsa Eqn do ve 96, Fran Neva. "Cire © ctu Colin Revi sti ator Ba 96 ‘anne SP 00; sarc inne dA Sion Colla, Pat, Bree, 197 st ors, onde © quando pose, com wm sistema asenado no ain © m0 brago esravo Gs marcas conranarchas liberals durant 0 Segudo Reina. oy Nas esfras ca ¢ ctrl ett anda po faze 0 invent dt heranga coogi baroea em ted a América Latina (©, Ene of caacieres mais tensivos embrenr-se: 9 meufanishn verbal, com laa a roel de discriog famillaresescadgmicos; a narqin individ, qu acta coven mito bm com mas cog despotism: a reigiside dos dit de fot spe ‘lncia em matéria de mor; 0 vio do genealipcoe do berlin nos con ‘servadores:o culo da apardacia edo modaio; overs doe tio, educao bachareescr dis elites; cssuros de aniguarsma a que nfo escapan Rem ‘mest algun expitonsupeies "ses tags nose UAnsmiem pol rags tem ae hendam no sangus: verdad, eles se dseavolvram com as entratras social que presi A Termayo de nessas elites © tm reparecido seme que 0 proceso demo emizago se latenempe on ee fxg da inca, (©) iva que, cs ea, ta pensar pli caps casos segments esos earn a Bold do Povo Brat 192) esa Vin Gl Grande Sena (93) crea do Bras CST) de Gite Frere ¢ ‘Races do Bra (93S) 8 Sri arg Hoan 2 m1 ARCADIA E ILUSTRACAO. ois momentos: © poétin € 0 ideoigico, ‘A. passagem do Barro 30 “baoechett” € 20 reo fot um process este interno hist date do seulo XVI e consist erm uma le= Imagdo ds aspect pesados e mack do Sitcents. Nessa viagem prefi- furamese as tndncasentens do Areadsmo come a busea do natural © do Simples e adogh de esuemassanions mais graciosns, eatendendose por [raga uma forma espeifieae menor de beleza. ’ Acti engunto eto mein, maialmente fil e justo a temas csicos, no for crag do seulo de Metastasio: rtomew © exemplo qua toe de Sinnazao, a ita pst de Gui (7 Pastor Fido) e, menos Femotamet, a tag aati da Kila que te opt 3 postica de Ma Fino as voces que bu Espanta se havi fevaniago contra a idoatia de GGingara (©), Maso que 6 posulava no period dureo do Baroco em me do egulfyio ¢ do bos gosto en, ao seule XVI, a integar todo tim estilo de pensameno vido pra ractona,o claro, © rua, 0 vera Sind eo go ants fora mod privat de sete assume foros de eri pct, (Aredia se arog dito do ser, ela também, phienophigus” dint erie Iter do Tumis vitro. Import, ro, tinge dois momentos idea ma Weratra dos Sete ent pra nose income no eqvaco de apna contastes onde bouve ape- tas jsfapodgo: a) 0 mmentaposticn qu mise de um encono,embora nda amaneiade com anata eos fees comuns do Domem reetios través da adi csi © de formas bom did lgadas digas de Into Are dda) 2) 0 momen idole, que se imps no meio Jo seul, adr a stiea ds barguesn cults aot abwabe da nobwera delete as Irago). A medida ue se prssepve no emp, vase pasando de Are {smo tout court (8 sone de CHuio Manel da Cost, por exemple) 20 free pba da pics de Bas dx Gama, para chesarmos enti 1 stra poles, vlads m0 Gonz das Caras Ciena as aberta no Dee (Gy A ies Aci and om Roo 1650, por sn peta fico suis gue ance costa rie no bes ean Cri Soin O programa cour er estermiar su soto le quer que Se anita bana aa de PL corte de ors ¢ de pio, Ox cs neva aes A psores res oe ras. ss sertor de Silva Alvarenga. E a literatura do século XIX anterior a0 Romantismo ainda juntar4 resfduos arc4dicos e filosofemas tomados a Voltaire ¢ a Rousseau: fale por todos © verso prosaico de José Bonifacio de Andrada e Silva. Denominador comum das tendéncias arcddicas é a procura do verossimil. O conceito, herdado da poética renascentista, tem por fundamentos a nogao de arte como cépia da natureza ¢ a idéia de que tal mimese se pode fazer por graus: de onde, o matiz idealizante que esbate qualquer pretensio de um rea- lismo absoluto. J4 os primeiros te6ricos da Arcddia propunham mediacées entre 0 natural ¢ 0 ideal nas suas férmulas dureas de bom gosto. Para Gian Vincenzo Gravina, cujo tratado Della Ragion Poetica data de 1708, a fantasia deve jocirar os dados da experiéncia a fim de apreender a natureza tiltima das coisas (a Idéia plat6nica), que coincidiré com a sua beleza. Segundo essa linha de pen- samento, 0s mitos gregos, que os arcades cultivarao 4 saciedade, valem como belas aparéncias do real, do mesmo real que a filosofia cartesiana atinge com os seus conceitos: “A fabula é 0 ser das coisas transformado em génios hu- manos, ¢ é a verdade transvestida em aparéncia popular: 0 poeta d4 corpo aos conceitos, e por animar 0 insensfvel e envolver de corpo 0 espirito, converte” em imagens visiveis as contemplag6es suscitadas pela fantasia: ele é transfor- mador e produtor” (Livro I). Por isso as imagens, os sons, enfim a matéria significante do poema nao vale por si propria como na arte barroca, em que 0 arbitrio do criador ignorava os limites da natureza e podia comprazer-se ad libitum no jogo dos signos, aproximando-se (como diria Nietzsche) muito mais. da musica do que de qualquer outra forma expressiva. Em Ludovico Antonio Muratori (Della Perfetta Poesia laliana, 1706), faz-se nftida a serviddo da poesia aos valores conceptuais ¢ éticos. A arte deve exercer um papel pedagégico e, como no conselho de Hordcio, unir 0 titil ao agradavel, Quanto ao bom gosto, seré o deleite que se prova ao perceber a graga que acompanha toda justa mimese do Bem e do Verdadeiro. Quem se agrada de falsos ouropéis ja est4 ontologicamente corrompido: 0 mau gosto e a depravagao se juntam como a cara e a coroa da moeda. Muratori concilia 0 hedonismo literério do 4rcade com a propria rigida ética de meios e fins. E nao foi por acaso que Pietro Metastasio, Arcade por exceléncia ¢ discfpulo amado de Gravina, buscou harmonizar nas suas 4rias 0 cantabile f4cil do me- — lodrama e a moral herdica da tragédia classica. Insisto nas fontes italianas da Arcddia, porque sao elas que ressalvam o papel da fantasia e do prazer no tecido da obra poética. A outra exigéncia, a da razio, vincula-se ao enciclopedismo francés e impde-se 4 medida que a Ilustrag4o exerce 0 seu magistério sobre a cultura luso-brasileira. O pioneiro no esforgo de reformar a mente barroco-jesuitica em Portugal foi Lufs Antonio Verney, cujo Verdadeiro Método de Estudar expunha todo um sistema pedagégico construfdo sobre modelos racionalistas franceses e es- cudado na prdtica escolar dos Padres Oratorianos, de tend@ncia cartesiana e 56 jansenista. Sob o patrocinio do Marqués de Pombal opera-se, em ea he a forma do ensino que teve por mentor 0 ilustrado Ant6nio Nunes R!D& ches, redator das Cartas sobre a Educacao da Mocidade (1760). iid No campo das poéticas, 0 modelo da nova corrente nao poderi* a =e ser a Art Poétique de Boikau, aceita por Voltaire como a exposigh0 ie ‘ : yodvel das normas cldssicas. Traduzida j4 em 1697 pelo quarto Conde de Eri- ceira, influiu diretamente nos dois teéricos ibéricos da ArcAdia, 2 oe Ignacio de Luzdn e o portugués Francisco José Freire (Candido Lysilano) mC : Arte Poética (1748) valeu como texto de base para os nossos poel@S REOClas sicos. Para Verney, “um conceito que nao é justo, nem fundado sobr as das coisas, nao pode ser belo, porque o fundamento de todo conceit? engenhos a verdade” (44), f F E para aah Lusitano, mais proximo das fontes italianas: aan jurmos, pois, com a matéria a causar maravilha ¢ deleite, € preciso ee 08 objetos dos trés mundos, nao como eles ordinariamente sao, oe . 2 verossimilmente podem, ov deveriam ser na sua completa forma” (Arte Poét., po). ‘ ‘andi : mplos Se Gravina e Muratori ¢ Metastasio deram a Candido Lusitan® ©X® Pp dle poesia em ato e de uma reflexdo idealista em torno da arte, Bol eau oe (aire contribufram para fixar cinones que precisaram as distingdes | os = - : tldssicos e as normas tradicionais de linguagem e de métrica. B ie - yelaram pelo ajustamento da sua poesia Aqueles cAnones, tanto a ee {reqiiente das sessGes da Arcddia Lusitana (1756-1774) e dos encon ae : os Ifricos mineiros era a leitura e a critica miitua a que submetiAM Os scus versos. ; = Se verossimilhanga e simplicidade foram as notas formais eg PO seth prezadas pelos arcades, que mensagens veiculou de preferéncia a a por ee [i sabido que ambientes ¢ figuras buc6licas povoaram os versos “i a - setecentistas. A génese burguesa dessa tematica, a0 menos como ae . sentou na Arcddia, parece hoje a hipdtese sociolégica mais justa. Nas palavras de um crftico penetrante, Anténio Candido, cla € assim formulad®: ~—— “A poesia pastoral, como ema, talvez esteja vinculada ao desenv? ane 0 da cultura urbana, que, opondo as linhas artificiais da cidade a palsagem na- (ural, transforma 0 campo num bem perdido, que encarna facilnente ne limentos de frustragao. Os desajustamentos da convivéncia social se exp ae pela perda da vida anterior, ¢ 0 campo surge como cenario de ums ca : euforia. A sua evocagao equilibra idealmente a ‘angtstia de viver, *880C1a A vida presente, dando acesso aos mitos retrospectivos da idade de ouro. ¢ a natureza pecialmente (4) Verd. Mét. de Estudar, Lisboa, $4 da Costa, v. Il, p. 209. 57 pleno prestfgio da existéncia citadina os homens sonham com ele a maneifé de uma felicidade passada, forjando a convencio da naturalidade como forms ideal de relagao humana” (45), E de fato, se dermos uma vista d’olhos na hist6ria da poesia bucédlica verificamos que ela tem vingado sempre em ambientes de requintada culturt urbana, desde Tedcrito em Siracusa e Virgilio na Roma de Augusto, Polizian¢ na Florenga medicéia e Sannazaro na corte napolitana de Alfonso Aragonés até Guarini e Tasso na Ferrara do tiltimo Renascimento. O bucolismo foi par todos 0 ameno artiffcio que permitiu ao poeta fechado na corte abrir janela para um cen4rio idflico onde pudesse cantar, liberto das constricgdes da eti- queta, 0s seus sentimentos de amor e de abandono ao fluxo da existéncia. Mas nao se pode esquecer que a evasio se faz dentro de um determinado sistem: cultural, em que € muito reduzida a margem de espontaneidade: 0 que explici as diferengas entre 0 idflio de um Lorenzo de’ Medici, vibrante de imagen primaveris e tingido de realismo popular, ainda possfvel na Florenga quatro: centista; a pastoral pré-barroca de Guarini, que mal dissimula a licenga dg corte renascentista em declinio e j4 macerada pela censura da Contra-Reforma e enfim a lira do nosso Gonzaga, rococé pelo jogo das imagens galantes, alheias a qualquer toque de angtistia e bem préprias do magistrado de extragao bur guesa em tempos de moderacdo e antibarroco. E ha um ponto nodal para compreender 0 artiffcio da vida rustica na poesia arcédica: 0 mito do homem natural cuja forma extrema 6 a figura do ba 2 selvagem. A luta do burgués culto contra a aristocracia do sangue fez-se em termos de Razado e de Natureza. O Iluminismo que enformou essa luta exibe duas faces: ora a secura geométrica de Voltaire, vitoriosa nos sales libertinos, ora a afetividade pré-romantica de Rousseau, porta-voz de tendéncias passio- nais, mais populares, Voltaire é ponta-de-lanca dos meios urbanos contra os preconceitos da nobreza e do clero; mas 6 Rousseau quem abre as estrada largas do pensamento democratico, da pedagogia intuitiva, da religiosidade na- tural. De qualquer modo, ambos renegam o universo hier4rquico do absolu- tismo instaurado pela nobreza e pelo alto clero desde os fins do século XVI, e fazem-no recorrendo a liberdade que a natureza e a razdo teriam dado ao homem. A volta a natureza, fonte de todo bem, é 0 lema do Emile de Rousseau; € nessa atitude reconhecemos a paixao do escritor que nao encontrou na antiga sociedade aristocrética um modo de realizar-se como homem livre e sensivel. A partir do século XVIII, 0 bindmio campo-cidade carrega-se de conotacdes idcolégicas ¢ afetivas que se vio constelando em tomo das posigGes de varios grupos sociais, Antes da Revolugao Industrial e da Revolugao Francesa, 0 bur-_ gués, ainda sob a tutela da nobreza, via 0 campo com olhos de quem cobiga | () Formacdo da Literatura Brasileira, S. Paulo, Martins, 1959, vol. I, p. 54. 58 © Parafso proibido idealizando-o como reino da espontaneidade: éa substancia ilo idflio e da écloga arc4dica. Com o triunfo de ambas as revolugGes, a bur- yuesia mais préspera tomaré de vez o poder citadino, e ser4 a vez do nobre jessentido cantar a paz do mundo nao maculado pela industria e pela vulga- ridade do comércio: 0 saudosismo de Chateaubriand, de Scott e do nosso Alen- cur traduz bem a nostalgia romantica da natureza que os novos tempos ignoram vom insoléncia (45), Mas tanto no contexto 4rcade-ilustrado como no roman- \ico-nost4lgico h4 um apelo a natureza como valor supremo que em tiltima instincia 6 defesa do homem infeliz. As diferengas residem no grau de inten- sidade com que 0 eu do homem moderno procura afirmar-se; ¢ nesse sentido ( poeta romantico, mais isolado e impotente em face do mundo que 0 cerca lo que o poeta Arcade, iré muito mais longe na exaltacio dos valores que tribui & natureza: a emotividade que o pressiona 6 projetada na paisagem que se torna, segundo a palavra intimista de Amiel, um verdadeiro “état d’ame”. Creio que o aprofundamento deste ultimo ponto levaré a reconhecer no cha- nado pré-romantismo nao tanto um estilo autOnomo quanto uma corrente de sen- sibilidade que afeta todo 0 século XVIII e responde as inquictudes de grupos e pessoas do Ancien Régime corrofdas por um agudo mal-estar em relagdo a certos padrdes morais e estéticos dominantes. E na obra de alguns poetas fortemente passionais do fim do século, como Foscolo, Chatterton ¢ Blake, que vai aflorando ‘quele humor melancélico, premincio do mal do século © do spleen romanticos e claro signo do homem refratério 4 engrenagem da vida social, e € nesses poetas (ue a natureza se turva e passa da bucélica fonte serena a mar revoltoso e céu ensombrado. Renasce o gosto da poesia de Dante profeta, do Shakespeare selva- jem, do brumoso celta Ossian, fingido pelo pré-romantico Macpherson; e prete- fe-se com impaciéncia tudo 0 que, por excessivamente regular, parece 0 contrario do “génio”, como a Ifrica de Petrarca e a tragédia de Racine (#7). No Arcadismo brasileiro, os tragos pré-romanticos séo poucos, espagados, embora as vezes expressivos, como em uma ou outra lira de Gonzaga, em um ou outro rond6 de Silva Alyarenga. Em nenhum caso, porém, rompem 0 quadro eral de um Neoclassicismo mitigado, onde prevalecem temas arcades e ca- éncias rococés. E sem diivida foram as teses ilustradas, que clandestinamente entraram a formar a bagagem ideolégica dos nossos Arcades (48) ¢ Ihes deram (4) B a tese de Karl Mannheim segundo a qual 0 Romantismo de tipo medievista, sentimental e voltado para uma natureza de reftigio, reage contra 0s esquemas culturais da burguesia ascendente (cf. Essays on Sociology and Social Psychology, Londres, Rou- (ledge-Kegan, 2" ed., 1959), (47) V. 0 ensaio analftico de Van Tieghem, Le préromantisme, Paris, 1948. (8) V. 0 curioso livro de Eduardo Frieiro, O Diabo na Livraria do Cénego (Belo Horizonte, Itatiaia, 1957), onde estado elencados os livros de estofo iluminista que se encontraram na biblioteca do Padre Luis Vieira da Silva, inconfidente mineiro 59

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