Julia Mendez - Vossa Excelência

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Copyright© 2021 Julia Mendez

1ª edição ano 2021


Título: Vossa Excelência
Autora: Julia Mendez
Capa: Barbára Dameto
Diagramação: Julia Mendez
Revisão: Valéria Jasper
Todos os direitos reservados. São proibidos o
armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte
dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou
intangível — sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei
nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Esta é uma obra de ficção, nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com acontecimentos reais é
mera coincidência.
Essa obra segue as regras da Nova Ortografia da língua
Portuguesa.
“…e que nada nem ninguém é mais importante do
que nós próprios. E não devemos negar-nos nenhum
prazer, nenhuma experiência, nenhuma satisfação,
desculpando-nos com a moral, a religião ou os costumes.”
Marquês de Sade
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a Deus
pelo dom a mim concedido, a escrita é uma benção para
mim por diversos motivos.
Segundo, gostaria de agradecer imensamente a
minha família por me aturar no processo de escrita, dessa
vez eu demorei, mas por motivos que ultrapassaram
minhas forças
Quero agradecer minhas amigas, revisora Valéria
Jasper, e minha beta Neuza Silva, que foram quem deram
muita força no momento difícil de tristeza pelo qual passei,
eu havia desistido até de escrever. Gratidão é a palavra
que define meu sentimento nesse momento. Jamais irei
esquecer a força que me deram. Amo vocês.
E, não menos importante, gostaria muito de
agradecer o carinho das minhas leitoras e leitores, onde
em sua maioria se tornaram amigas (os) queridas (os), e
que sempre me deram muita força, quando em meio a
muitas críticas, eu quase abandonei esse livro, mas foi
através da persistência de vocês e fé em mim que fui à luta
e venci mais uma vez. Sem vocês esse livro não existiria.
Gratidão a todos, e como não posso citar um a um, sintam-
se agraciadas (os). Amo vocês, razão da minha escrita.
Perdão se demorei mais que o esperado, mas me
sinto muita grata pela paciência de vocês.
Eu consegui terminar, estou orgulhosa de mim.
Com amor, Júlia Mendez.
Esse livro aborda um tema um tanto quando
delicado e controverso. Nele falaremos sobre dominação e
submissão, não leiam se não se sentem confortáveis com
determinado tema, esteja ciente que criei aqui um
personagem dominante e controlador, não um sádico, que
em torno dele gira nossa história, portanto, não esperem
encontrar um lorde inglês nessas páginas, visto que Davi é
um Dom de natureza nata.
Neste livro, também contém um capítulo forte que
pode gerar algum gatilho, mas serão alertados no início do
mesmo, trata-se da descrição de violência de cunho sexual
contra uma criança.
Esse livro foi desenvolvido com ajuda de pessoas
reais que fazem parte do universo BDSM por meio de
entrevistas, visto que a pesquisa foi vasta, contudo, é um
tema difícil com o qual tive meu primeiro contato nessa
obra, foi um desafio e tanto, mas acho que deu certo, e se
pequei em algo, me perdoem.
Lembrando mais uma vez, que não tratei de
sadismo e masoquismo nessas páginas, mas a disciplina
de uma submissa se esbarra por vezes com a dor, apenas
como forma de lapidar a submissa levando-a docilidade.
Sobre o amor dentro do BDSM, disse-me um dos
entrevistados por mim, um Dom conceituado, ao ser
questionado se ele acredita no amor dentro das nuances
do BDSM:
“Eu vivo uma relação de amor e BDSM, 24/7.”
“Nesse tipo de relação ou em qualquer outro tipo de
relacionamento entre duas pessoas que se atraem, é
inevitável ele surgir.”
“O que diferencia o amor dentro do BDSM está
justamente na entrega e na posse, que, com amor, se
tornam ainda muito mais intensa e, com certeza, mais
duradouras.”
“Dominantes, a princípio são seres humanos e como
seres humanos, passíveis de sentimentos.”
“O que acontece em relação a este sentimento é
que diferente de outros universos de relações afetivas, no
BDSM temos paixão, amor e tesão ocorrendo em um
ambiente de confiança e entrega. Logo temos algo que
chamo de Elo BDSM... algo formado de paixão, amor e
tesão... e muito mais. O universo BDSM é o que é e quem
não tem cacife que não entre no jogo.”
Portanto, caro leitor, ao ler esse livro vocês se darão
conta de que tudo que se refere a sexualidade é algo
indubitavelmente peculiar, o que pode ser muito ruim para
você, horrível e inadmissível, não passa de algo
extremamente prazeroso e desejado por outras pessoas.
O amor aceita formas diferentes de prazer e
entrega, cujo perante os valores morais são meramente
discriminados e mal interpretados.
Um beijo grande meus amores e boa leitura, com
dor ou sem dor.
Quatro anos se passaram e as memórias ainda
voltam ávidas e vividas como o estampido ensurdecedor de
uma arma de fogo. Sinto o ar gelado, o som ambiente, o
cheiro forte e metálico de sangue e até sua textura em
meus dedos eu consigo sentir.
Abri a porta do carro e o vento frio do final de maio
me assolou na Cidade de Pedra que nunca dorme. São
Paulo estava gelada e os tons de um céu encoberto eram
acinzentados naquele fim de tarde. Estava deliciosamente
ameno.
Desci, dei a volta em meu carro e abri a porta do
passageiro para que Elisa descesse, iria finalmente levá-la
para conhecer a casa que pretendia comprar para
morarmos após nosso casamento. Ela desceu e eu a olhei
afetuoso, a amava com fervor, cuidava, protegia e a tinha
como posse. Era única e exclusivamente minha, assim
havíamos combinado que seria, pois era assim que tinha
que ser.
Alguns passos em direção ao portão e ela exclamou:
— Amor! — Apertando minha mão para que eu
parasse. — Esqueci minha bolsa no carro — disse ela.
— Não vamos precisar da sua bolsa, vamos? —
questionei-a semicerrando os olhos de forma sugestiva.
Ela sorriu timidamente corando, e respondeu:
— Meu lenço está dentro da bolsa. — Soltou de
minha mão lentamente e caminhou encolhida até o carro
que eu havia destravado para que ela apanhasse sua
bolsa.
Segundos, foram apenas segundos, um abrir e
fechar de olhos, eu pisquei, conferi às horas no relógio em
meu pulso e quando levantei as pálpebras sorrindo para
responder Elisa, sobre uma pergunta que havia me feito,
um estampido ensurdecedor me fez encolher o corpo em
posição de defesa, e logo em seguida, outro estampido de
arma de fogo e outro, vários tiros seguidos. Com a cena
que se formou em minha frente, minhas pernas me
faltaram como se o chão tivesse aberto embaixo dos meus
pés, e mesmo assim, corri até o carro, dei a volta e senti
meus joelhos fraquejarem me levando ao chão quase que
em câmera lenta e me fazendo cair de joelhos próximo da
mulher que eu amava. Tudo ficou lento, as pessoas ao
nosso redor e a vida se esvaindo bem diante dos meus
olhos. O sangue pulava de sua boca, afogando-a, levando-
a de mim sem que ela conseguisse emitir nenhum som de
seus lábios. Tinha lágrimas em seus olhos castanhos e
dilatados em sua face alva quase sem vida. Uma súplica
silenciosa saía deles tentando pedir socorro. Me sentei no
chão e a segurei em meus braços, não tive tempo nem de
pedir socorro, e os mesmos segundos que demorei para
ver as horas no relógio distraindo-me do que havia em
nossa volta, a levou de mim para sempre naquele
momento, em um abrir e fechar de olhos, a mulher que eu
amava morreu em meus braços no portão da casa que
moraríamos juntos após nosso casamento dali há duas
semanas.
Ela se foi levando com ela o nosso primogênito.
— ELISAAAA! — O grito ecoou estridente da minha
garganta.
— Senhor! Vai se atrasar para a audiência. — Um
dos meus seguranças tocou-me nas costas me tirando do
meu devaneio em frente a placa de cobre que dizia, “Todo
mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente.”
Elisa amava Shakespeare e essa frase era uma
espécie de homenagem à única coisa que eu tinha para me
lembrar dela, e ali no Cemitério Jardim do Morumbi,
segurava o botão vermelho de uma rosa, onde há quatro
anos enterrei o amor definitivamente.
Abaixei-me e coloquei a rosa em cima da placa no
chão.
Dizem que na vida, as circunstâncias moldam as
pessoas, assim como a água endurece o ovo, fui moldado
ao bel-prazer das escolhas que fiz como Juiz. Erradas ou
não, elas me transformaram em quem sou hoje, um
homem frio, calculista e fascinado por poder. Não há um
consenso se de fato isso é verossímil, contudo, eu sabia
que as circunstâncias haviam me moldado, mudado e
dilacerado.
Amar não fazia mais parte da minha vida, não
amava e não queria ser amado, pois amar significava ter
uma carga de responsabilidades que eu não queria mais
ter. Sem amor, ninguém se fere e nem morre por minha
causa vítimas das minhas escolhas.
Eu sou Davi Luiz Campos, Desembargador no
Palácio da Justiça de São Paulo, não se aproxime de mim
se não estiver preparada para ser perfurada pelos meus
espinhos.
I
Não sou o tipo de mulher que se atrasa para
compromissos, muito pelo contrário, minha pontualidade
chega a ser irritante, contudo, aquela estava sendo uma
segunda-feira bem atípica na minha vida, e para começar
faltavam 15 minutos para meu horário no dentista e eu
ainda estava em minha sala no gabinete do
Desembargador Afonso. Havíamos acabado de sair de
uma audiência e acabei por me atrasar na bendita.
Sou graduada em Direito e estou terminando meu
mestrado, mas como meu sonho vai muito além, e isso
envolve ser juíza, como meu pai, trabalho como Assessora
do Desembargador Afonso Paz, no Palácio da Justiça,
sede do Tribunal da Justiça de São Paulo, fui indicada para
o cargo pelo próprio Juiz, um grande amigo do meu pai.
Ocupo essa função há três anos e meio, pois precisava de
três anos de trabalho no judiciário ou como advogada para
finalmente poder prestar o concurso para ser uma Juíza de
Direito.
Mexi-me inquieta em minha cadeira, olhei no relógio
de parede que tinha em minha sala e vi que meu tempo
havia diminuído drasticamente, e então coloquei o
processo que iria analisar em cima da pilha inacabável de
processos, peguei minha bolsa e saí da sala com urgência,
faltavam 10 minutos e eu já estava muito atrasada.
O corredor do Palácio que me daria acesso a saída
estava livre, graças a Deus, e assim pude caminhar com
mais rapidez equilibrando-me em cima dos meus saltos no
tapete vermelho que cobria o mármore di Chiampo no
salão dos Passos Perdidos, eu estava quase correndo na
verdade. Dizem que o salão recebe esse nome devido ao
barulho que ecoa de nossos passos, porém, com o tapete
vermelho isso não era mais possível ser ouvido, Graças a
Deus, diga-se de passagem. No meu campo de visão
apenas a porta de ferro da saída e a forte luz que entrava
por ela, assim foquei em meu objetivo sem nem piscar. A
saída estava só a alguns metros, então tratei de apertar os
passos com rapidez, e de repente, vi um amontoado de
papéis voando pelos ares e irem planando no tapete
vermelho do Palácio, um a um, e era um montante
considerável de papéis que teriam que ser recolhidos.
Pode parecer uma cena bem clichê, e na verdade é, mas
foi um daqueles encontrões da vida onde nem um nem
outro estão atentos o bastante para evitar tal situação e se
meu dia já estava uma merda, ele só piorou quando levei
meus olhos ao homem que estava com uma pasta vazia
em sua mão. Sua postura me dava medo, ele
simplesmente parecia a estátua de um gladiador armado
com uma espada, e era o lindo, sexy, imponente e
arrogante Desembargador Davi Campos, um dos
magistrados mais respeitados do Tribunal da Justiça de
São Paulo, e que fazia qualquer um tremer só de olhar com
aqueles olhos frios e furiosos. Ele exalava poder pelos
poros e naquele exato momento muita raiva também.
Aquele homem era nada mais e nada menos que um juiz
dos juízes, o deus do tribunal como era chamado por
alguns. Ele estava em uma posição de alto escalão dentro
do Direito e eu nem sonhava chegar tão longe e em um
cargo de prestígio como era o de um Desembargador.
Ele ficou me olhando sisudo e de seus lábios não
saíram nenhuma palavra, seus lábios estavam em uma
linha fina e inexpressiva, ele estava com o telefone celular
na orelha, então falei baixinho feito uma idiota:
— Me perdoe, senhor! — era estranho chamar
alguém tão novo de senhor, mas enfim, ele era um
desembargador e deveria ser tratado com respeito. — Vou
ajudá-lo a recolher os papéis — murmurei e me curvei para
tentar pegar as folhas no chão, porém, como eu estava em
trajes sociais, camisa de manga três quartos e saia, ela iria
rasgar se eu continuasse tentando pegar os papéis sem
me ajoelhar. Naquele horário não tinha uma viva alma no
abençoado hall, e por impulso acabei literalmente de
joelhos no tapete vermelho e aos pés do homem mais
carrancudo de todo o Palácio, ele fazia jus ao apelido que
ganhara pelos corredores, mas para mim era o senhor
iceberg, pois era frio e tinha uma total falta de empatia.
Ele não moveu um único dedo para me ajudar a
recolher seus papéis, simplesmente continuou falando em
seu celular com uma expressão austera, enquanto me
olhava de cima com a postura de um macho alpha
intimidador. Subi meus olhos em sua direção, e fui
admirando cada pedaço daquele corpo monumental que
estava em trajes sociais, não usava seu habitual terno
aquele dia, mas estava extremamente elegante. Primeiro
meus olhos avistaram seus sapatos caramelo de bico fino,
em seguida, sua calça social preta, cinto caramelo e uma
camisa branca e blazer com risca de giz, e em seu pulso
um relógio prateado. Quando nossos olhos se
encontraram, tentei pedir que me ajudasse, então falei
inutilmente:
— Excelência...
No mesmo instante, ele se virou de costas para mim
e continuou falando no celular. Deus, que bunda é essa?
Pensei voltando a me concentrar nos malditos papéis.
Não tive alternativa a não ser continuar recolhendo
os papéis sozinha, visto que fui a causadora do fatídico
encontrão.
— Não! De forma alguma, quero todas da mesma
marca, vire essa cidade de ponta cabeça e encontre —
vociferou falando ao celular. — Já provei essa marca, não
passa de um espumante sem estilo — concluiu.
Arrogante, gostoso, filho da puta. Pensei
novamente, pois perto dele era muito mais seguro pensar
do que falar. Ele me causava arrepios, e se ele fosse tudo
o que falavam dele, com certeza ele era o tipo de homem
que eu queria distância.
O Desembargador Davi era o magistrado mais lindo
que circulava pelos corredores do Palácio da Justiça, e era
o mais marrento também, e não existia uma única viva
alma feminina ou afeminada que não suspirasse quando
ele passava, mesmo sendo ele como era. O cheiro que ele
deixava pelo corredor era autoritário, e ele fazia jus a
função que exercia por ali. O boato que circulava a respeito
dele, é que era um controlador ao extremo com as
mulheres. Algumas ousam dizer que ele é um Dominador,
e só de pensar nisso me faz sentir medo dele, e se é
verdade ou não, quero passar longe de descobrir isso.
Estava distraída com a pequena pilha de papéis que
começaram a se formar em meus braços quando ouvi a
voz conhecida de Bruno, o assessor do desembargador
Davi e por coincidência, meu melhor amigo.
— O que houve, senhor? — Bruno questionou me
olhando de forma penosa ajoelhada ali no chão.
— Ajude-a com os papéis, Bruno. — Davi ordenou
sem pensar duas vezes.
Imediatamente, Bruno se abaixou e começou a me
ajudar, mas como eu já havia recolhido quase tudo, ele
apenas retirou o montante de folhas das minhas mãos para
que eu pudesse me levantar, e quando ameacei me colocar
de pé, vi um par de mãos fortes, dedos longos, que
ostentava na mão direita um vistoso anel de Juiz, preto e
dourado, se estenderam a mim, assim coloquei minhas
mãos sobre as dele e senti seu calor emanar por todo o
meu corpo. Quando já estava de pé, em sua frente, me
senti pequena diante do tamanho do homem. Aspirei o ar e
senti seu cheiro maravilhoso. Deus, que cheiro é esse?
Perguntou meu íntimo, arrepiando meus pelos ao permitir o
cheiro cítrico invadir meu olfato com intensidade. Sempre
soube que o cheiro é o primeiro atrativo para
definitivamente decidir se aquele homem é ou não nosso
número, e se depender do cheiro já me senti
completamente encaixada a ele sem sobras e sem
espaços.
Aquele homem era um verdadeiro dândi, era de uma
beleza máscula com traços faciais angulosos e sólidos. Era
de uma elegância ímpar, seus cabelos castanhos estavam
penteados para trás e estavam com aparência molhada, ou
havia acabado de sair do banho ou estava com alguma
pasta. Ele tinha sobrancelhas grossas e uma barba fina por
fazer, claramente era proposital, pois estava sempre com
aquela mesma aparência sensual. Meus olhos demoraram
nelas um pouco mais e senti meus dedos formigarem de
vontade de tocá-la, e só de pensar nisso meu coração
acelerou em meu peito. Era astronomicamente impossível
ficar próxima dele e não querer tocá-lo, não querer senti-lo.
Seus olhos eram gélidos e tinham uma cor
acinzentada maravilhosa, que entrava em choque com sua
pele bronzeada, eram estreitos e dilacerantes. Fiquei
hipnotizada olhando-o, pois nunca havia estado tão
próxima dele. Aquele olhar era misterioso demais,
dominante, a ponto de me gelar a alma e congelar as
batidas do meu coração. O breve contato visual me fez
enxergar tudo o que diziam sobre ele, e era realmente
dono de uma personalidade sólida, forte e incrivelmente
sedutor. Reparei que suas pupilas estavam dilatadas e
exerceram em mim algo tão forte fazendo-me baixar os
meus olhos, não sei se de medo ou o que, só sei que não
fui capaz de continuar encarando-o. O desembargador
Davi era um homem moreno, alto e corpulento, seus
ombros eram largos e seus braços fortes. Via-se
claramente que era um homem que cuidava muito bem do
corpo. Notei por cima de sua camisa que seu trapézio era
alto, e por falar em camisa, os primeiros botões estavam
abertos o que levaram meus olhos diretamente a eles,
assim vi que seu peitoral era forte e liso, não havia um pelo
sequer neles. Era Adônis encarnado caminhando pela
Terra com sua notável beleza e arrogância.
— Está tudo bem, Donna? — perguntou, Bruno,
tirando-me do meu transe momentâneo e inadmissível,
pois deveria estar xingando aquele homem, mesmo que
internamente ao invés de estar admirando sua beleza, mas
quando é que eu estaria tão perto dele novamente a ponto
de poder sentir seu cheiro? Nunca! Então resolvi
aproveitar.
— Sim, estou bem, obrigada! — respondi sem tirar
os olhos do desembargador que por um momento se
deixou ser olhado e endeusado por mim, e juro que tentei
evitar, mas não pude deixar de notar o volume que
ostentava na calça, e quando dei por mim e voltei a olhar
para ele, tinha um certo ar de diversão em seus olhos e
aquilo me deixou extremamente sem graça com as maçãs
do rosto queimando. Ou eu estava vendo coisas, ou ele
estava completamente excitado. Não, claro que eu estava
fantasiando aquilo.
Ele estava chegando no Palácio e eu saindo, então
ele apanhou os papéis das mãos de seu assessor e os
colocou novamente em sua pasta, virou de costas e deu
continuidade ao seu percurso rumo ao elevador que o
levaria ao seu gabinete, que ficava no mesmo andar do juiz
que eu assessorava.
Tentei caminhar para a saída sem olhar para trás,
mas foi impossível, e assim que me virei para olhá-lo, vi
que ele seguia seu caminho indiferente à minha existência.
Saiu sem dirigir a mim nenhuma palavra se quer, e nem se
quer olhou para trás.
Lá se vai o iceberg. Pensei e continuei saindo.
Claro que perdi meu horário no dentista e minha
cabeça também, pois aquele homem e seu maldito cheiro
não saiam da minha cabeça.
II
Meu coração estava aflito, batia acelerado, o que me
fez descobrir que ainda tinha um batendo em meu peito.
Nunca antes tinha reparado em como aquela Assessora do
Desembargador Afonso era exorbitantemente linda e
sedutora. Como foi que deixei isso passar despercebido
por tanto tempo? Vê-la ajoelhada aos meus pés, na Sala
dos Passos Perdidos, simplesmente me desestabilizou, me
desmontou como peças de dominó. Só consegui focar em
seus seios salientes que ficaram amostras pela abertura
dos primeiros botões de sua camisa branca quando o lenço
preto caiu de seu pescoço no chão. Eu teria ajudado com
os papéis se não tivesse ficado tão perturbado com a
imagem daquela mulher em meus pés, pois perdi o rumo
do pensamento quando ela me analisou de baixo pra cima
e se dirigiu a mim chamando-me de Excelência. Precisei
dar-lhe às costas imediatamente ou ela veria a ereção
instantânea que começou a formar em minha calça de
forma involuntária, tamanha foi a excitação que me
acometeu, ao vê-la submissa daquela forma. Ouvir a
palavra “Excelência” saindo de lábios carnudos e sensuais
como os dela, levou-me a uma excitação incontrolável, e
rezei para que ela se levantasse logo, não queria mais
ninguém vendo-a naquela posição excitante, que
simplesmente me fez perder o rumo e a sanidade a ponto
de não conseguir me controlar no Palácio da Justiça, meu
ambiente de trabalho. Não me recordo de ter me sentido
tão atraído por uma mulher de forma tão imediata. Abaixei-
me sem que ela percebesse e recolhi o lenço que havia
caído de seu pescoço no momento em que se abaixou, e
rapidamente o coloquei em meu bolso, queria sentir o
cheiro dela, eu necessitava, fiquei louco de tesão por
aquela mulher e não havia como controlar tal situação. De
joelhos aos meus pés foi covardia, e ali imaginei coisas que
ela simplesmente abominaria se soubesse.
Caminhei com meu assessor Bruno falando sem
parar no meu ouvido sobre a audiência que teríamos logo
mais, contudo, o que saía de seus lábios não chegavam
definitivamente em meus ouvidos, visto que minha mente
estava desafiadoramente perturbada com a imagem
daquele furacão moreno que acabou de me atingir e que
caminhava para a saída do prédio.
Sem conseguir me conter, virei-me para trás, porém,
ela já havia deixado o Palácio.
Entramos em minha sala, e Bruno me disse
pegando minha pasta:
— Senhor, vou arrumar toda essa bagunça antes de
irmos para a audiência.
— Faça isso, por favor! — Caminhei até a janela da
minha sala, puxei a persiana discretamente e a vi entrar em
seu carro branco no estacionamento.
— Gostaria de levá-la a festa, Bruno? — questionei-
o.
— Como? — perguntou surpreso, visto que em anos
trabalhando comigo nunca o permiti levar ninguém para
minha festa à fantasia anual, na verdade, era assim que eu
comemorava meus aniversários, desde que me tornei
Desembargador.
— Você ouviu bem, gostaria de levar sua namorada
a festa esse ano?
— Seria uma honra, senhor — disse com a voz
trêmula. — Mas se o senhor se refere a Donatella, saiba
que não somos namorados. — explicou, esclarecendo de
vez o que eu gostaria de saber.
— Ótimo! Darei a você dois convites, e assim,
poderá levar sua amiga, da confusão no hall, com você. Vi
a forma com que olha para ela e se não são namorados,
falta pouco para isso acontecer, estou errado? —
questionei-o tentando saber mais sobre o relacionamento
deles, pois sempre o vi com ela para lá e para cá, porém,
nunca me atentei a ela e ao tipo de relacionamento que
tinham.
— Ah, não senhor, a Donna e eu somos apenas
amigos, não que eu não quisesse que isso fosse diferente,
mas ela já me deu um fora uma vez, então aceitei essa
condição de apenas amigos, isso me deixa próximo dela e
eu gosto de estar. Ela é especial.
Donatella. Sussurrei o nome dela em meu íntimo
sentindo no tato a maciez do tecido do lenço em meu
bolso, e naquele momento, tudo que me passava na
cabeça era estar tocando-a, sentindo seu cheiro como um
animal no cio. Há anos não me sentia dessa forma, como
um caçador voraz e faminto.
— Bom, ainda assim pode convidá-la, seria
interessante — conclui incentivando-o.
Bruno emudeceu na minha frente, e assim caminhei
até minha mesa e apanhei de dentro de uma gaveta
trancada, dois convites para a festa do meu aniversário que
aconteceria dali há quinze dias.
Entreguei a ele o convite, que agradeceu dizendo:
— Nem sei o que dizer senhor, muito obrigado!
Acredito que Donna irá adorar.
Sorri discretamente e o respondi:
— Aproveite a festa à fantasia para conhecer uma
linda mulher. — Dei indícios a ele que gostaria apenas que
levasse a Assessora sem que tivesse nenhum tipo de
pretensão com ela.
— Farei isso, senhor!

Ainda era a bendita segunda-feira, aquele dia


parecia não querer acabar, era 16h45m, e minha cabeça
pulsava sem parar, estava redigindo uma sentença
complicada, contudo, não conseguia me concentrar. Olhei
para o relógio na parede da minha sala bem quando a
porta se abriu e Bruno adentrou e caminhou em direção a
minha mesa, faltando pouco para encerarmos o
expediente.
— Posso falar com você um instante? — Mesmo
sua voz saindo baixa, ela me atingiu fortemente como se
um espinho tivesse atravessado meu cérebro.
— Claro que sim. Você sempre pode, sabe disso.
— Você não vai acreditar! — A voz dele entrou
aguda em meus tímpanos e apunhalou meu cérebro uma
segunda vez fazendo minha cabeça doer mais ainda.
— Pelo amor de Deus, Bruno, tente falar mais baixo,
minha cabeça vai explodir.
— Já tomou um analgésico? — questionou baixando
o tom de voz.
Mostrei a ele a cartela do remédio.
— Olhe bem para isso na minha mão — disse ele
todo empolgado abrindo o botão de seu blazer cinza e
sentando-se no canto da minha mesa.
— Dois convites! — observei.
— Sim, e adivinha para onde? — sussurrou como se
segurasse um troféu em seus dedos.
— Diga-me, você, porque não estou em condições
de pensar.
— São dois convites para a festa à fantasia do Dr.
Davi, a festa de aniversário dele, lembra? — mexeu as
sobrancelhas de forma engraçada.
Meu corpo estremeceu ao ouvir aquele nome e
lembrar do episódio de mais cedo, onde desastrosamente
derrubei todos os papéis de dentro de sua pasta.
— Fala sério, Bruno. Você roubou esses convites na
mesa do Desembargador?
— Claro que não, está maluca? Ele mesmo me deu
hoje de manhã.
— Você trabalha para ele há anos e nunca ganhou
dois convites. O que deu nele?
— Achou que fossemos namorados — disse e
piscou para mim de forma atraente, na verdade, Bruno era
muito sedutor, mas mesmo assim nunca me senti atraída
por ele o bastante para cair em seus galanteios.
Gargalhei alto e uma nova pontada me afligiu
fazendo-me gemer de dor.
— Aí! Não me faça rir. — Coloquei as mãos em
minhas têmporas e apertei dos lados.
— Não ria, é verdade. — disse ele.
— Quer dizer então que o Excelentíssimo
Desembargador Davi Campos deu a você dois convites da
tão sigilosa festa à fantasia anual dele?
— Sim, inacreditável, não é?
Levantei-me de minha cadeira, olhei novamente no
relógio, não via a hora de acabar o expediente e ir embora,
não tinha nada que eu quisesse mais naquele momento
que minha cama e meus travesseiros.
— O que deu nele para liberar um convite extra para
você? Você já teve namoradas e nunca as levou com você.
— Não sei o que deu nele, só sei que nós dois
vamos a essa festa.
— Humm! Nós dois? — Estreitei o olhar.
— É isso mesmo que você ouviu. — Sorriu
satisfeito.
— Não estou preparada para uma festa dessas,
Bruno, toda elite Judiciária reunida lá, me dá um frio no
estômago só de me imaginar em um ambiente desses.
— Qual é Donna? Você nasceu fazendo parte da
elite do poder judiciário, seu pai foi o maior de todos os
deuses que caminhou pelos corredores desse Palácio.
— Engraçadinho você. — Cruzei os braços.
— Diz que topa me acompanhar, vai? Nem vai doer!
— insistiu.
— Não sei não. O Dr. Davi não ia gostar nada de me
ver na festa dele, ainda mais tendo eu lhe causado
tamanho dissabor derrubando todos os papéis dele, só me
convidou porque achou que fossemos namorados.
— Ficamos um tempão organizando tudo, e além do
mais, ele sugeriu que eu levasse você, então, está tudo
certo.
— Ele deve estar me odiando por tê-lo feito perder o
tempo dele.
— Não sei não, Donna, não foi a impressão que tive.
Você despertou a atenção dele de um jeito... — Bruno
cortou o que ia dizer e cruzou os braços.
— De um jeito? — Especulei curiosa, pois queria
muito saber a impressão dele.
— Ele te olhava de um jeito lá embaixo que me
assustou, mas deixa isso para lá.
— Eu vi como ele me olhou, na verdade, parecia
que ele estava me transpassando com o olhar, olhando
além de mim, e não em mim. — Informei sobre minhas
impressões.
Bruno riu respondendo-me:
— Duvido muito, e a prova de que ele estava
olhando para você foi o fato de ter me dado o convite
mesmo depois de eu ter dito a ele que não somos
namorados. Não deveria estar te falando isso, mas vi um
brilho diferente nos olhos dele e confesso que não gostei
nada disso.
— Deixa de ser bobo, Bruno — ralhei. — Posso ver
o convite? — estendi a mão, e Bruno entregou a mim o
convite em forma de pergaminho com hastes douradas e
papel envelhecido, era uma réplica perfeita de um legítimo
pergaminho grego. Passei meus dedos sobre ele e logo me
veio à mente que o juiz havia tocado ali, e novamente me
senti arrepiar. — Muito bonito o convite, muito bom gosto.
— O convite é maravilhoso e a festa em si nem se
fala, quem sabe lá você se anima e me dá uma chance? —
Sorriu, conhecendo a resposta.
Não posso negar que Bruno tem um charme todo
especial, é um homem lindo, moreno, cabelos castanhos
escuros e curtos que no dia a dia no trabalho está sempre
todo arrumadinho. Seus olhos são escuros e estreitos e
está sempre com a barba impecável. Vestia um terno cinza
com uma gravata preta e branca naquela tarde. Embora
fosse muito bonito, não tem todo o porte físico do Davi,
pois Bruno é de estatura mediana.
— Bruno, já falamos diversas vezes sobre isso, e se
queres uma amiga, tens a mim, mas se queres uma
amante, não conte comigo.
— Já sei disso, mas não custa tentar — sorriu sem
graça.
— Qual é a de uma festa à fantasia? Já sei que é o
aniversário dele, mas por que trajes gregos?
— O juiz Davi é um grande apaixonado pela Grécia,
acredito que tenha muito a ver com Direito, e a data de
aniversário dele é o momento que ele usa para viver esse,
digamos, fetiche pela Grécia e os deuses, e dessa forma,
ele relaxa devido às ameaças de morte que recebe.
— Sim, eu soube que ele sofre constantes ameaças,
não é?
— Pois é, condenar o chefe de uma facção
criminosa paulista há quase 300 anos de reclusão tem
seus efeitos.
— Entendi, mas me fale sobre esse fetiche? —
questionei curiosa.
— Bom, eu não deveria contar essas coisas a você,
mas ele tem um gosto um tanto quanto peculiar pela
Grécia, e os deuses, em particular as deusas. Ele tem até
uma tatuagem da deusa Têmis nas costas.
Senti os pelos do meu corpo se arrepiarem só de
imaginar a tal tatuagem, e tentando disfarçar, falei:
— É mesmo? Eu sei muito pouco sobre o homem de
gelo, ele me dá medo e nunca quis me aprofundar muito
sobre a vida dele, mesmo sendo ele... — travei.
— Sendo ele o quê? — Bruno cruzou os braços e
saiu de cima da minha mesa.
Um gostoso. Pensei, mas não falei.
— Sendo ele um homem tão conceituado —
respondi não continuando a frase como eu realmente
gostaria. — A propósito, acho ele muito frio e antipático.
— Acredite, ele sempre foi assim reservado e
fechado, mas as coisas pioraram de uns anos para cá.
Sabemos que ele é o juiz que mais recebe ameaças todos
os dias nesse país, e isso vem de longa data, Donna, para
ser mais exato, desde quando ele condenou o líder da
facção e logo em seguida a noiva dele foi morta pela tal
facção criminosa, e assim ele se fechou de vez.
Cruzei meus braços estreitando o cenho e
questionando:
— Que história é essa? Não conheço essa parte.
— O desembargador Davi sempre foi conhecido por
ser linha dura e implacável com os traficantes, disso você
sabe, e isso acabou fazendo ele um refém de sua própria
toga, e dessa forma, não mantém vínculos afetivos muito
próximos nem com seus parentes e nem com mulheres e
amigos. Ele criou uma espécie de muro, pois acha que
assim ninguém mais que ele ama irá se machucar por
culpa dele.
— É tudo muito triste, mas faz parte da profissão.
Isso explica os agentes federais que o cercam.
— Exatamente, ele não toca no assunto nunca
sobre o que aconteceu, mas pesquisando, eu descobri que
a noiva estava inclusive grávida, foi morta a tiros na frente
dele. Alguns dias depois ele encontrou um bilhete que dizia
a autoria do crime e os motivos. Davi surtou na época.
— Nossa! Me arrepiei toda, que história mais triste,
Bruno.
— Sim, não é fácil medir forças contra o mal, mas
ele fez uma escolha e arcou com as consequências.
Me virei de costas pensando na história que não
cheguei a escutar pelos corredores, senti um frio na
espinha e falei por fim:
— Um preço muito alto por ser detentor de uma toga
tão importante.
— Está disposta a pagar? — Elevou sua
sobrancelha especulando-me.
— Acredite, vou dar o meu melhor! — respondi.
— Muito bom, boa sorte com o concurso então.
— Obrigada — respondi pasmada com a história do
Desembargador.
— E então, topa ou não ir à festa e dançar a noite
toda comigo?
Com meu polegar alisei o convite em minha mão
enquanto pensava se deveria ou não me aventurar na tal
festa à fantasia, e assim acabei dizendo:
— Que mal há?
— Perfeito! — Sorriu satisfeito e saiu da minha sala.
Fiquei sorrindo feito boba só de me imaginar na
bendita festa, mas assim que os boatos sobre ele se
acomodaram em minha mente, meu sorriso simplesmente
desapareceu.
Esse homem não é para você, Donatella. Até minha
mente me recriminava, chamando-me da forma que mais
odeio ser chamada.
III
Na terça a dor continuava me incomodando de
forma leve, e como não suporto sentir dor, consegui que
meu dentista me atendesse nas primeiras horas da manhã,
ou seja, ele abriu o consultório para me atender um pouco
mais cedo. A dor não era nada que eu não pudesse
aguentar ou resolver com um remédio, mas comigo as
coisas precisam acontecer no meu tempo e o meu tempo
disponível era aquele. Claro que ir ao dentista pela manhã
me acarretou um atraso de meia hora, mas consegui avisar
ao Dr. Afonso, e como não havia nenhuma audiência nas
primeiras horas do expediente, ele me liberou numa boa.
Assim que cheguei no Templo do Direito, era assim
que eu gostava de chamar o Palácio da Justiça, que fica no
centro antigo de São Paulo, levantei meus olhos como
fazia todos os dias desde que comecei a trabalhar ali, e
sua arquitetura imponente em estilo neoclássico e barroco,
legado do ilustre arquiteto Ramos de Azevedo, me
encantava, e eu amava apreciar todo aquele luxo
arquitetônico e suas cariátides. As estátuas femininas
usadas como pilares, e os símbolos do judiciário me faziam
perder tempo apreciando o Palácio, mas claro que não
parei para apreciar nada naquele momento, pois estava
deveras atrasada, apenas não deixei de levar meus olhos
as estátuas e de me sentir orgulhosa por trabalhar em um
patrimônio histórico tombado e suntuoso. Assim, entrei e
cruzei o hall de entrada, o esplendoroso salão dos Passos
Perdidos, ladeado por 16 colunas de granito vermelho, com
rapidez, estava distraída com meu café em uma mão e
meu celular em outra, que era onde estavam meus olhos
naquele momento, repassando os e-mails com rapidez,
novamente eu estava apressada e caminhei entre alguns
servidores e magistrados sem nem me atentar a seus
rostos.
— Bom dia, Dalvinha — cumprimentei a
ascensorista do elevador privativo, entrando nele
rapidamente.
— Bom dia, Donninha! — respondeu sorridente
como sempre, era uma mulher simpática que nunca perdia
seu bom humor.
Eu era apaixonada por aquela morena baixinha que
me recebia sorridente naquele elevador todos os dias.
Um cheiro cítrico recendia o ambiente e eu sabia
que não era o cheiro de Dalva, já havia sentido aquele
perfume no dia anterior e ele aflorou minha memória
devolvendo-me a imagem de seu dono e assim questionei-
a curiosa:
— Quem foi que acabou de sair? O cheiro é muito
bom. — Eu meio que já imaginava qual seria a resposta,
tenho um olfato bem apurado e aquele cheiro jamais iria
sair de minha memória.
— Humm! O cheiro é do deus do tribunal — deu a
resposta que imaginei que ouviria —, aquele homem me
mata com aquele cheiro todos os dias e me faz ter
pensamentos impuros.
— Ah sim! O deus do tribunal — murmurei baixinho.
— Sim, e não tem ele a pose de um deus? —
indagou-me.
— Só se for do submundo — sussurrei quase
inaudível.
— Donninha, se ele é o deus do inferno, quero virar
cinzas e sair de lá torrada, igual o pão que queimei no
forno hoje.
Balancei a cabeça rindo da espontaneidade dela,
que era muito engraçada e falava muito rápido.
— O quê? Vai me dizer que nunca fantasiou estar
amarrada em uma cama e ficar com a bunda ardendo do
chicote dele?
— Dalvinhaaaa! Pare com essas conversas aqui no
palácio ou a “Toda poderosa” vai te colocar na rua.
— Hã, ela que tente, eu sei um segredinho dela.
Mesmo estando no elevador, eu tapei sua boca e a
impedi de falar ralhando com ela:
— Pelo amor de Deus criatura, não quero ficar sem
minha dose diária de Dalvinha. Para de falar da “Toda
poderosa” ou ela vai te demitir por justa causa.
Tirei minha mão da boca de Dalvinha.
— Tenho dito, meu elevador tem ouvidos.
Gargalhei e falei:
— O elevador? Sei! Finja que o elevador tem só
ouvidos de agora em diante, ele não tem boca, e sendo
assim, não fala. — Pisquei para ela.
Ela gargalhou meneando a cabeça e balançando o
ombro.
— Até mais tarde minha linda — falei.
— Até Donninha.
Ela era especial demais para cair nas garras da
“Toda poderosa” do TJ.
A porta se abriu no andar onde ficava o gabinete
que eu trabalhava, e foi novamente em cima de um dos
tapetes vermelhos do corredor, que vi Bruno e o
desembargador Davi caminhando lentamente há alguns
passos na minha frente. Eu estava com muita pressa e
assim caminhava a passos longos com rapidez, o que não
evitou que eu observasse que Davi estava usando sua toga
preta, e estava lindo usando óculos de armação preta, o
que o deixou ainda mais sensual, era simplesmente
impossível deixar de admirar aquela beleza imponente.
Raramente se via um desembargador como Davi, ele não
era nem de longe a realidade do nosso sistema judiciário, e
encontrar um desembargador tão delicioso era coisa rara,
ali no TJ a maioria eram idosos e feios.
— Bom dia! — falei de forma generalizada para
ambos, passando por eles que caminhavam com mais
tranquilidade analisando uns papéis.
— Donna, espere um instante — disse Bruno,
fazendo-me diminuir os passos e parar ali no meio do
corredor, a alguns passos do gabinete em que eu
trabalhava.
E como Bruno parou para falar comigo, o Dr. Davi
também parou, mas continuou examinando uns papéis sem
dirigir seu olhar a mim, parecia indiferente à minha
presença, na verdade, me senti um fantasma, e assim falei
audaciosa:
— Bom dia, Meritíssimo!
Ele ergueu a cabeça e olhou-me por cima dos
óculos, e respondeu-me:
— Bom dia! — Simples e friamente sem nem se
quer soletrar meu nome, mas após responder meu bom
dia, ele indagou retirando os óculos vindo a me fuzilar com
seus olhos prateados, enquanto questionou:
— Está sempre com pressa senhorita Donatella? —
O som de sua voz era firme e grave e fluía de uma forma
despretensiosa. — Tive medo de que o vento provocado
por você fizesse meus papéis voarem novamente —
concluiu me fazendo ter espasmos, que voz mais gostosa,
meu Deus!
Não acredito que ele me chamou de Donatella.
Pensei com raiva, eu odiava que me chamassem de
Donatella, embora fosse meu nome, eu simplesmente
detestava, foram tantos apelidos na infância que eu tinha
repulsa de ouvir meu próprio nome.
— Não, não! — o respondi tentando organizar os
pensamentos. — É que devido ao incidente de ontem com
seus papéis, acabei perdendo meu horário no dentista, e
ele só tinha horário agora pela manhã, estou atrasada, por
isso a pressa.
Fechei meus olhos logo em seguida, pensando:
Deus! Não acredito que acabei de me justificar para
ele. Estúpida!
— Estava com tanta dor assim que não poderia
esperar até seu horário de almoço? — questionou Davi,
pegando-me de surpresa.
Isso não é da sua conta! Pensei, é claro que não
falei uma barbaridade dessas mesmo sendo minha
vontade.
A presença e as perguntas dele estavam me
deixando irritada, pois a forma que seus olhos me
analisavam me fazia respirar descompassado, então
respondi rapidamente:
— A dor não era tanta ...
— Mas não consegue lidar com dor? — questionou
ele, interrompendo-me e me fitando com uma expressão
indecifrável, era praticamente impossível ler o
desembargador Davi.
Bruno ficou parado assistindo ao embate idiota que
estávamos tendo ali no corredor. Parecia que minha pressa
toda havia desaparecido, e meu corpo queimava com a
forma que seus olhos prendiam os meus.
— Exatamente — respondi pausada sobre a dor —,
não suporto sentir dor, acredito que ninguém goste.
Ele sorriu de uma forma desconcertante e contida,
havia divertimento em seu olhar e aquilo o deixava mais
atraente ainda.
— O que foi, senhor? — Ousei questioná-lo.
— Não foi nada senhorita Donatella — respondeu
movendo-se lentamente, se afastando de mim no corredor,
então fiz a imbecilidade de chamá-lo:
— Excelência!
Ele parou abrupto e ficou de costas para mim sem
se virar, ficou esperando que eu falasse.
— A próxima vez que nos encontrarmos, será que o
senhor poderia me chamar apenas de Donna, é assim que
todo mundo me chama.
Olhei para o Bruno e ele fechou os olhos e trincou o
maxilar, quebrando a cabeça de lado, e logo que a voz
voltou a sair dos lábios do desembargador Davi, meu
coração veio parar na boca com a resposta enfática:
— Eu não sou todo mundo. — Olhou-me de rabo de
olho e ameaçou um sorriso ao ver minha cara de espanto,
sim, pois não consegui disfarçar, e o rubor queimou minha
pele fazendo meu rosto esquentar de vergonha, de ódio,
não sei dizer, só sei que ele foi muito petulante em sua
resposta.
Aquela réplica sem dúvida me derrubou de minhas
pernas, e quando ele foi se afastando de mim com a
cabeça baixa analisando novamente os papéis em sua
mão, fiquei esperando que ele se virasse para trás, mas
obviamente que ele não fez aquele gesto de bondade, não
deu a mim o gosto de apreciar sua face por mais alguns
segundos. Ele caminhou imponente até o fim do corredor
onde ficava seu gabinete.
Mesmo Bruno estando ali ao nosso lado o tempo
todo, foi como se ele fosse invisível, e voltei a notá-lo
quando me perguntou:
— Está flertando com o desembargador Davi? —
Aquela pergunta foi como levar um soco no estômago.
Balancei a cabeça me fazendo de desentendida e o
respondi sem delongas para não levantar suspeitas:
— Não! É claro que não — respondi sem conseguir
tirar meus olhos de Davi que caminhava no corredor.
— Humm! E como está seu preparativo para a
maratona de New York? — questionou-me desviando o
foco.
Desviei meus olhos e abandonei o Desembargador
que seguia rumo ao seu gabinete, e assim respondi ao
Bruno:
— Não está indo, não vou ao Ibirapuera há duas
semanas, estou em semanas de provas e com o concurso
se aproximando, minha vida está um caos, nem sei por que
diabos fiz a inscrição para a maratona deste ano.
— Posso imaginar sua correria, estudando para as
provas e para o concurso não te sobra muito tempo, não é?
Nem para tomar um chopp com um amigo, hoje à noite? —
Ergueu uma das sobrancelhas e fez aquela expressão
expectante que fez-me sentir pena pela resposta que lhe
daria.
— Nem hoje à noite e nem nos próximos meses,
definitivamente não tenho tempo para diversão, isso só vai
voltar a acontecer quando eu passar no concurso em
primeiro lugar, e a fase escrita está aí.
Ele gargalhou e em seguida disse:
— Que pena! Pelo menos está dormindo direito?
— Quatro horas por dia e às vezes cinco — respondi
voltando a me movimentar em direção ao gabinete.
— Precisa arrumar esse seu tempo e voltar a treinar,
ou assim vai acabar com uma estafa, e isso não vai te
ajudar até o fim do concurso.
— Vou sobreviver, acredite — pisquei para ele. —
Preciso estar preparada para ter pássaros em minhas
mãos, dar-lhes liberdade ou mantê-los em cativeiro é
decisão que precisa de anos de estudos e privações —
respondi.
— Precisa passar no concurso de magistratura
primeiro — respondeu cruel.
— Vou passar!
— Donna, vou te falar algo que você já sabe, eu
desisti depois de três tentativas, não é fácil ser aprovado
de primeira, nem de segunda e tal. Não vá com tanta sede
ao pote, porque você pode se afogar e se decepcionar.
— Eu não tenho pressa, Bruno, se não for dessa
vez, será da próxima, e da próxima e da próxima, nem que
eu precise tomar posse usando uma bengala, só queria
que meu pai ainda estivesse vivo para ver isso acontecer,
por isso estou dando a alma para passar de primeira.
— Como vai o Dr. Luiz? — perguntou de meu pai.
— Está na mesma, às vezes acho que ele não está
mais no corpo. — Suspirei ruidosamente.
— Eu sinto muito, Donna, mas esse Alzheimer é
uma doença silenciosa e cruel. — Assenti ressentida.
— Vou dar um jeito no meu tempo e voltar a treinar
— falei mudando de assunto, falar sobre meu pai me
deixava mal, e eu não podia me abater.
— Excelente, senhora futura juíza de Direito. —
Bruno sorriu acariciando meu braço e seguiu seu caminho
pelo mesmo lado do Dr. Davi. — Me avise e iremos ao
Ibirapuera juntos — concluiu seguindo.
Fiquei parada olhando para o fim do corredor, e
assim que Davi chegou na porta de seu gabinete, ele
simplesmente entrou sem direcionar nem um olhar se quer
em minha direção. E por que diabos ele deveria olhar? Não
sei dizer, mas eu queria muito que olhasse.
Aquela manhã descobri que ele exercia um fascínio
muito grande sobre mim, aquela personalidade impactante,
a forma com que era indiferente a mim, me deixava perdida
e completamente sem chão. Eu queria muito que tudo que
ouvi falarem sobre ele nos últimos anos não passassem de
fantasias das cabeças das mulheres que trabalhavam ali e
que eram fascinadas por ele.
Me virei e segui para minha sala no gabinete do
Desembargador Afonso me sentindo como se um trator
tivesse me atropelado novamente.
Aquele homem era simplesmente Zeus naquele
lugar.

Assim que entrei em minha sala, após um novo


encontro com aquela mulher, senti que meu corpo tremia
involuntário, ela mexia comigo de uma forma diferente.
O que estava acontecendo comigo? Era torturante,
angustiante, confesso, mas bom, e desafiador.
— Davi, o que pensa que está fazendo homem? —
questionei a mim mesmo em voz alta, levando minhas
mãos em cima da minha mesa e debruçando-me sobre a
mesma.
Há tempos uma mulher não mexia comigo daquela
forma, ao menos eu não permitia que mexesse. Dei a volta
na mesa, me sentei e abri minha gaveta e tirei de lá o lenço
preto dela e o levei até próximo do meu nariz para sentir
seu cheiro. Era simplesmente maravilhoso, levemente
adocicado e excitante. Fechei os olhos e mordi o lábio
inferior, sorrindo e sentindo as reações que aquele cheiro
causava no meu corpo, levei a mão na ereção que passou
a se formar e falei em voz alta:
— Calminha ai, garotão! Ela vai ser sua.
Suspirei tentando manter a sanidade, pois eu sabia
que não demoraria e Bruno estaria entrando pela porta
adentro.
Fiquei sentindo aquele cheiro e inevitavelmente
minha vara começou a crescer nervosa no meio das
minhas coxas, era um tesão desesperador o que aquela
mulher me despertava, então voltei a alisar a potente
ereção que se estendeu comprida no lado esquerdo.
Como imaginei, Bruno cruzou minha porta trazendo
embaixo dos braços alguns dos processos que
analisaríamos aquela manhã, e assim abaixei minha mão
com o lenço de Donna, e percebendo que Bruno estava
avoado questionei:
— O que foi? Que cara é essa?
— Só estava pensando em Donna. Ela está se
matando para o concurso de magistratura e mal dorme
direito.
— O que tem isso? Ela está errada em estudar? —
Curvei-me para frente apoiando os cotovelos na madeira
escura da mesa.
— Não! Mas está otimista demais achando que vai
passar de primeira e em primeiro lugar.
— Qual o problema? Eu passei de primeira e em
primeiro lugar, lembra?
— É, acho que quem nasceu a Assessor não chega
a Juiz.
— Você é quase um Juiz, Bruno, e se não tivesse
desistido, seria meu colega de profissão, mas nunca é
tarde, você é novo ainda, a propósito, por que diabos não
está inscrito para o concurso?
— Desanimei, senhor!
— Qual é Bruno? Desanimar é para os fracos e não
quero um assessor fraco, pense nisso.
— Valeu! — respondeu seco, se virou saindo da
minha sala e fechando a porta.
Abri minha gaveta novamente e guardei o lenço,
certamente que iria devolver a ela no momento oportuno,
então tranquei a gaveta sentindo minha vara voltar ao
estado de repouso absoluto.
Eu não podia continuar perdendo a cabeça daquela
forma por conta de uma mulher que não fazia parte do meu
mundo, que não era uma submissa.
Trabalhei o resto daquele dia com aquela mulher em
minha mente, e eu não estava entendendo o que estava
acontecendo comigo, há anos eu não pensava em uma
mulher durante o expediente do meu trabalho, as mulheres
que se ajoelhavam aos meus pés não despertavam em
mim nenhuma emoção que pudesse ser lembrada depois
de nossas sessões, visto que não existia um
relacionamento fixo na minha vida, contudo, elas
satisfaziam com maestria meus desejos e fetiches, nem
mesmo, Rew, minha parceira de jogo me fazia buscá-la em
pensamentos.
Após um dia atolado com processos e mais
processos, e reuniões maçantes com outros
desembargadores, fui para casa envolto do aparato de
sempre, haviam quatro agentes que me protegiam 24
horas por dia, eu havia feito uma escolha, e ser implacável
contra os traficantes que destruíam vida de milhares e
milhares de famílias, havia sido à minha, e com isso eu
pagava com minha própria liberdade. Eu os trancafiava,
isso era certo, porém, eu ia todo fim de tarde para minha
própria prisão domiciliar, meu lar. Infelizmente eu tinha
certas privações decorrentes dessa minha escolha, e ser
chamado de Vossa Excelência tinha um preço muito alto
que eu não tinha medo de pagar, contanto, que a conta
viesse diretamente a mim.
IV
Depois de anos tentando ser imune a sentimentos,
me pegava em pensamentos que brotavam do nada me
trazendo a imagem da assessora do Afonso, e nesses
micros e relapsos momentos em que me pegava
meditando sobre ela, eu já a queria de forma plena, mesmo
sendo ela o tipo de mulher que passei a vida evitando.
Donatella não fazia parte do mundo de onde vinham as
mulheres que me serviam, mesmo a forma de baixar o
olhar como uma submissa e me confundir, eu sentia que
ela não era uma, e por incrível que pareça era instigante e
desafiador a ideia de ter uma mulher para moldar a meu
prazer; e meu lado dominador havia despertado de forma
incontrolável, era tarde demais para pensar em desistir de
querer tê-la ajoelhada novamente aos meus pés. A
necessidade era visceral e voraz, eu tinha que ter aquela
mulher, eu queria aquela mulher, e ela já era minha, só não
sabia ainda.
Passei o resto daquela semana tentando
acompanhar a rotina de Donna, sem que ela notasse. É
claro! Ela saía do trabalho todo dia no mesmo horário, às
cinco da tarde, pois ela frequentava a faculdade e tinha
uma espécie de cronômetro que passei a acompanhar dia
a dia. Na terça e na quarta dei um jeito de estar na porta do
meu gabinete sempre naquele horário, e na quinta entrei
no elevador destinado aos magistrados no mesmo horário
que eu sabia que ela entraria. Queria muito sentir o cheiro
dela novamente, queria estar perto dela e mesmo sendo
algo que eu não costumava fazer, não pensei duas vezes.
— Boa tarde, Dr. Davi — disse Dalva, a
ascensorista.
— Boa tarde, Dalva! — respondi.
— Térreo, senhor? — questionou ela.
— Espere um instante, Bruno vem vindo aí —
respondi fingindo que estava checando algo no meu
celular.
Não pretendia descer sem a Donna, então conferi às
horas em meu pulso, e logo em seguida, ouvi quando a voz
aveludada dela gritando vindo do corredor:
–– Esperem por mim! — Caminhava com urgência.
Não acredito que estou fazendo isso. Pensei.
Nada respondi, então ela entrou no elevador toda
apressada só para variar um pouco, e logo que entrou não
pude evitar de levar meus olhos em seu pescoço, visto que
estava novamente sendo adornado por um lenço, marrom,
dessa vez. Eu simplesmente enlouquecia quando via
aquele adorno no pescoço dela, e desde o dia em que ela
se ajoelhou aos meus pés, todos os dias seguintes, ela
usou um lenço no pescoço.
–– Boa tarde! — disse ela em um quase sussurro
simpático mexendo em sua bolsa marrom de uma forma
desajeitada, e quando achou o que procurava, suas
chaves, levantou sua cabeça e olhou-me de uma forma
delicada, de uma forma gentil e doce. Donna tinha os
traços delicados, os olhos enormes com cor de jabuticaba
e eles sorriram para mim quando ela fez uma segunda
tentativa de cumprimentar-me:
–– Como vai, senhor?
Sempre que a palavra “senhor” saía daqueles lábios
densos e com aquele tom de voz, direcionada a mim, eu
não sabia o que acontecia no meio das minhas coxas, e
logo a respondi de forma breve e fria:
— Estou bem, Donatella. Obrigado! — Chamei-a da
forma que ela detestava e continuei a ver as notícias no
celular fingindo ignorá-la. Vi por entre os cílios quando ela
ficou me olhando visivelmente irritada com o fato de
chamá-la de Donatella, e então voltou a falar:
— Dia abafado, não? — questionou levando seus
dedos delicados no pescoço, retirando dele o lenço em
tons de terra, e assim o tecido fino ficou solto em sua mão
e o mesmo cheiro do perfume no lenço que estava em
minha posse recendeu o elevador e mexeu com minhas
entranhas de forma brutal. Engoli em seco.
Além de linda, era sexy como só ela sabia ser, e
aquele cheiro tirava minha concentração. Juro que tive que
controlar e conter uma nova ereção perto dela, pois olhei o
tecido em seus dedos e já os imaginei em seus pulsos,
imobilizando-a completamente.
Respira! Pensei e fechei os olhos respirando fundo
sem emitir nenhum comentário sobre a temperatura do dia.
Eu estava fugindo as minhas próprias regras, não
podia me dar ao luxo de querer ficar perto dela, de querê-la
ou sentir qualquer coisa que não fosse apenas poder
sexual. Mas eu queria, e estava fazendo loucuras para
isso, uma delas era sair no meio de uma reunião com meu
assessor e estagiários só para poder descer com ela no
maldito elevador e essa já a segunda vez.
Sua beleza era artigo de luxo, alta, esguia, tinha
cabelos longos e negros, um sorriso brilhante e
despretensioso que saía de lábios volumosos. Tinha
também lindos olhos castanhos escuros que lembravam
duas jabuticabas, eram grandes e saltados, e estavam bem
delineados dando-lhe mais poder ao seu olhar enigmático,
tão absurdamente cativante que dão a ela um ar bem
peculiar, onde o exótico, a beleza, a sedução e a
sensualidade parecem se fundir em um só rosto de pele
morena clara. A delicadeza em sua pele era instigante, seu
cheiro era novo para mim e completamente delicioso, senti
uma enorme vontade de tocá-la e odiei-me como nunca por
ter tido aquele tipo de sentimento. Não me recordo quando
foi a última vez que uma mulher normal mexeu com meus
hormônios daquela forma, me fazendo sentir muito mais
que apenas desejo, e aquele sentimento era perigoso
demais, e ignorá-la daquela forma fez com que me sentisse
o pior dos seres humanos. Vinha ignorando o mundo ao
meu redor e as pessoas que viviam nele. Eu jamais me
sentia mal fazendo aquilo, mas naquele momento algo
estava diferente em mim e eu simplesmente estava
sentindo algo por alguém. Sentindo alguma coisa além de
nada em anos, porque matei qualquer tipo de sentimento
dentro de mim, e ser um bloco de gelo me blindava, e das
mulheres eu tirava apenas prazer sem me preocupar com
nenhum tipo de sentimento. A porta se abriu e eu queria
estar o mais longe possível daquela mulher, daquele olhar
e daquele cheiro perturbador. Não podia, e não me daria o
luxo de me apaixonar e acabar amando alguém
novamente, mesmo que à vontade de estar naquele
elevador com ela no dia seguinte me matasse, eu iria me
controlar, estava decidido, não tinha o direito de mexer com
os sentimentos dela.
Donna tirou o meu sono por três dias seguidos,
sempre que a via pelos corredores do Palácio, eu sentia
uma vontade louca de me aproximar dela, todavia, eu sabia
que ela jamais aceitaria ser minha submissa, e é só o que
procuro em uma mulher atualmente, submissão completa e
voluntária, alguém que já seja submissa por natureza, que
isso venha de sua essência e que esteja salientado em seu
olhar e em seus gestos. Donna despertou meu lado
dominador desde quando se ajoelhou aos meus pés e
simplesmente deixou seus olhos caírem ao invés de me
encarar, vi ali um pequeno facho de luz no fim do túnel,
porém, ela ainda era uma incógnita para mim, e
definitivamente não coloco incógnitas no meu caminho,
costumo ser prático e certeiro com minhas escolhidas.
Donna é o tipo de mulher que preciso manter distância a
qualquer custo, mesmo que para isso eu precise ser frio
com ela, pois eu sei como ela me olha e qualquer tipo de
sentimento que fuja do controle e passe do sexual para
sentimental a coloca em perigo. Eu daria um basta naquele
joguinho que acabei criando, era isso, ou me perder
novamente de uma forma que eu não queria. Perder as
rédeas estava fora de cogitação.
De uma forma muita estranha estava me
encontrando com o juiz Davi pelos corredores e no
elevador do TJ, mais que já havia me encontrado com ele
durante os quase três anos que eu estava trabalhando ali.
Não que eu não estivesse gostando, pois estar na
presença de um homem tão instigante e com um cheiro tão
bom era o prêmio de consolação de dias tão cansativos
como estavam sendo os meus ultimamente. Seria perfeito
se eu pudesse trocar com ele mais do que simples
palavras de bom dia e boa tarde, eu imaginei trocar com
ele palavras como boa noite, e só de pensar fiquei
desconcertada a ponto de sentir um enorme calor que me
fizera retirar o lenço em meu pescoço.
Sorri contida, pois fiquei observando a postura de
Dalva em relação ao Desembargador, e quando ele estava
por perto, ela simplesmente se comportava atípico, e
estava mais séria que os guardas da rainha Elizabeth.
No elevador já havíamos nos encontrado duas
vezes desde que me prestei ao papel ridículo de me
ajoelhar aos seus pés, mas como sempre, ele era
literalmente um bloco de gelo e fazia sempre questão de
me ignorar, dirigindo-se a mim apenas quando eu o
inquiria, e ainda por cima não tinha entendido que odeio
ser chamada de Donatella, e aquilo me deixava
visivelmente irritada, eu não conseguia disfarçar minha
frustração.
O cheiro daquele homem era inebriante, discreto e
elegante, confesso que se ficasse mais tempo com ele
naquele elevador, eu seria presa por atacar o magistrado
dentro do elevador e na presença da ascensorista.
Era um verdadeiro deus inacessível, e não era à toa
que não tinha uma namorada, nem uma esposa, mas não
posso negar que ele é um homem que mexe com o
imaginário de qualquer mulher, e todo aquele ar misterioso
de alguém que esconde um grande segredo me deixava
literalmente excitada. Na verdade, muito se falava desse
segredo, e confesso que estava rezando para que não
passasse de boatos.
Olhei em sua direção e ele continuava concentrado
em seu celular, ignorando completamente minha presença
ali, e quando a porta se abriu, me esperou sair primeiro,
então falei sem conseguir me conter e ignorá-lo como
deveria:
— Até mais, Excelência.
Ele apenas fez um aceno com a cabeça sem dizer
nenhuma palavra.
Que mal-educado. Pensei apenas, já que se uma
única dessas palavras saísse dos meus lábios, creio que
sairia do Palácio da Justiça direto para a cadeia por
desacato a autoridade.
Quando ele saiu ignorando-me daquela forma, senti
um nó no estômago, e logo em seguida, lembrei-me de sua
história e de seus motivos e acabei me sentindo penosa,
perder a noiva da forma que perdeu, o transformou em um
homem blindado, mas não o deixou feio e nem menos
sensual, o que seria o ideal, assim não correria o risco de
ficar desejando tocar naquela barba por fazer e deliciosa
todos os dias que me encontrasse com ele.
Sabe aquele momento que sua língua não
acompanha o cérebro e simplesmente rejeita o alerta
emitido pelo mesmo? Pois bem:
— Um verdadeiro bloco de gelo. — Quando vi já
havia falado.
Dalva encolheu o corpo e soltou um riso contido.
Davi travou na minha frente, se virou em minha
direção com as feições do rosto duras e os olhos
faiscando, e então questionou-me:
— O que foi que disse? — Seus olhos eram frios
justamente como gelo, claro que a cor acinzentada é que
dava essa impressão. A dureza de sua expressão fez meu
corpo retesar, e tentei manter o pescoço erguido sem
deixar que ele me intimidasse, e o respondi segura:
— Nada, senhor! Eu não disse nada, foi só um
pensamento que saiu alto demais.
Ele umedeceu os lábios com a ponta da língua, deu
um passo à frente e passou a dividir o mesmo ar comigo
me deixando afoita e pequena com minhas mãos gelando e
suando. Ele tinha o dom de me fazer travar enquanto meu
sangue circulava exasperado em meu corpo, acelerando
assim as batidas do meu coração.
Não baixei meus olhos dessa vez e o encarei sem
medo.
Ele encostou seu corpo largo ao meu, deixando-me
diminuta e sussurrou ao pé do meu ouvido, petrificando-
me:
— Não me subestime, Donatella, meu toque pode
ser tão quente quanto você possa suportar. — Fechei os
olhos sentindo meu rosto queimar e todas as terminações
nervosas do meu corpo entrarem em conflito ao sentir seus
lábios encostarem atrevidos em meu lóbulo. Era excitação
e calor se fundindo em mim, me queimando, incinerando,
então o senti se afastar.
Engoli em seco, pois aquelas palavras foram
entoadas de uma forma tão quente que levou meu corpo
ao píncaro de sua excitação. Senti uma pontada tão forte
em meu baixo ventre e um calor tão intenso, que fiquei
imaginando como seria o toque, já que só as palavras me
deixaram queimando. Meu rosto deveria estar como uma
maçã madura e lustrosa.
Olhei para Dalvinha no elevador e ela estava
segurando o riso, tentando demonstrar indiferença.
Ele caminhou em minha frente a passos meticulosos
até chegar no saguão, parecia que não queria ficar muito
distante ou estava mesmo muito entretido com seu celular,
pois caminhava de cabeça baixa e a passos tranquilos e
despreocupados.
Quando chegamos na porta de saída, Bruno estava
na entrada no prédio e parou para conversar com Davi, e
quando passei ao lado deles, Bruno puxou conversa
comigo, dizendo:
— E então Donna! Fez o que te sugeri?
— Ah! Oi. Ainda não consegui aumentar às horas de
sono, mas vou voltar a correr no parque amanhã assim que
os primeiros raios solares tocarem o chão.
— Isso é importante, uma maratonista que não
treina não cruza a linha de chegada. Posso te
acompanhar? — perguntou-me, Bruno e antes que eu
respondesse, Davi, entrou na conversa de abelhudo:
— Exercitar o corpo faz bem para a mente, contudo,
dormir bem é essencial para manter a sanidade no lugar,
melhora a memória e o desempenho do cérebro, e se você
a perder não conseguirá passar no concurso. —
Finalmente se dirigiu à minha pessoa entrando no meio do
assunto do Bruno.
— Eu tento — respondi sem graça.
Ele me olhou de cima a baixo, novamente me
desestabilizando, então disse:
— Não tente, faça, se organize! — E em seguida, se
virou e saiu pela porta apressado sem me dar o direito de
respondê-lo, e cada vez que sua voz chegava em meu
íntimo daquela forma autoritária, meu ventre se contorcia.
O que está acontecendo com você, Donna? Questionei-me
e saí em direção as escadarias onde Davi já estava no
segundo lance, e assim desci correndo, pois queria
alcançá-lo, e com isso esqueci-me até de me despedir do
Bruno que ficou do alto da escadaria observando tudo.
— Meritíssimo! — chamei-o, e ele parou depois que
saiu do último degrau.
Parada em sua frente eu quase travei quando seus
olhos fitaram os meus de forma penetrante e intensa, a cor
dos olhos dele o deixava ainda mais misterioso. Não
consegui evitar de deixar meus olhos caírem em seus
lábios, e por um breve momento, tudo que desejei era tê-
los grudados aos meus, contudo, não demorou e a
realidade me invadiu quando meu íntimo me recriminou.
Você está maluca? Esqueceu quem é esse homem?
Voltei a encará-lo e seus olhos mantiveram os meus
cativos de uma forma irresistível e neles eu via sua
autoridade mostrando aos meus quem mandava ali, e
assim meus olhos caíram involuntários e miraram o chão,
então ele disse:
— Olhe para mim! — disse com um tom de voz
grave e mandão, fazendo meu coração vir parar na boca.
Levantei os olhos e o encarei novamente sentindo
todo o magnetismo que os olhos acinzentados dele
exerciam em mim, parecia algo perigoso, mas muito, muito
prazeroso e excitante. Homem nenhum jamais me fez
baixar o olhar, mas aquele homem estava fazendo coisas
comigo que fugiam do meu controle.
— Em que posso ajudá-la, Donatella? — questionou
formalmente.
Ponderei antes de falar, e acabei criando coragem e
perguntei:
— Como faço para conseguir passar no concurso de
primeira? Sei que o senhor passou de primeira.
Ele sorriu comedido me desestruturando e continuou
caminhando rumo ao seu carro. Eu não tinha nem notado,
mas havia muitos seguranças ao redor dele, parecia que só
eu o enxergava e que o mundo ao redor não existia.
— Não tem uma fórmula perfeita, Donatella, apenas
estude muito, e se não for de primeira que seja de
segunda, de terceira vez, tanto faz — respondeu.
— Não tenho tanto tempo assim, senhor! — devolvi.
Ele se virou em minha direção e questionou-me com
as sobrancelhas espessas se unindo em sua face:
— Não entendi, por que diz isso, está doente? — Vi
preocupação e até uma certa ternura em seu olhar.
— Ah! Não, não sou eu, o meu pai; o senhor sabe,
eu queria muito que ele pudesse me ver tomando posse, e
ele não tem tanto tempo assim.
— Entendi! Como está o desembargador Villas
Boas?
— Encarcerado, perdendo-se dentro de si cada vez
mais. — Expliquei.
— Eu sinto muito saber que ele se encontra nessa
condição, foi o jurista mais honrado e culto que tive o
prazer de conhecer.
— Obrigada, senhor.
— Sabe que ele não estará presente na sua
cerimônia de posse nem que você passe de primeira, não
sabe? — questionou-me sendo cruel e realista ao mesmo
tempo.
Ele tinha razão, mesmo que eu tivesse a Benção de
ter meu pai em minha posse, apenas seu corpo inerte
estaria lá, pois sua alma está imersa em uma solidão
sombria e vive insulada em si mesma há meses.
Meus olhos se encheram de lágrimas e falei por
final:
— Sinto como se a alma dele já tivesse abandonado
o corpo — enxuguei a lágrima com o peito da mão
rapidamente e completei — Só o fato do corpo dele estar
lá, para mim já é suficiente.
— Então tente dormir mais. — Piscou para mim e
entrou na porta que o segurança abriu para ele entrar em
um BMW preto blindado.
Eu sabia que o Alzheimer já havia levado meu pai
para um lugar sem volta, mas ainda assim, eu sonhava
com ele presente na minha cerimônia, e eu estaria
realizando um sonho meu e dele, mesmo que ele não
pudesse mais saber de nada.
V
Naquela tarde, cheguei em casa quase seis e meia
da tarde. São Paulo e seu trânsito infernal me prendeu
mais tempo que deveria. O trânsito lento e a cabeça a mil,
todos os meus pensamentos tinham uma única mão, e em
todos eles, Davi se fazia presente de forma presente e
insistente. Tinha algo nele que me atraía como imã, e ao
longo dos meus 28 anos ainda não havia conhecido um
homem com uma presença tão instigante e dominante, ele
não precisava de nenhum tipo de esforço para passar isso
a mim, apenas fluía de forma despretensiosa.
Assim que entrei em casa, a primeira criaturinha que
encontrei na sala principal, dormindo em cima do chaise de
camurça marrom, foi meu gatinho o Sr. Meritíssimo, um
lindo Chartreux de pelo azul acinzentado escuro e
aveludado que ganhei do meu ex-namorado. Logo que o
peguei em meus braços, ainda um filhote, eu o chamei de
Meritíssimo e acabou ficando. Era lindo, com uma cabeça
enorme e arredondada, seus olhos eram enormes e muito
expressivos na cor cobre, lindos e brilhantes. O “Meri” é um
gato adorável, bastante dócil e afetuoso, assim que
cheguei pulou do sofá e veio correndo em pulinhos em
minha direção. Dona Helena amava os pelinhos cinza que
ele deixava no sofá dela.
— Oi meu bebê, o que faz aqui sozinho, hein? —
Ele miou bem baixinho, espreguiçando-se em minhas
pernas exigindo atenção e colo, e assim o peguei em meus
braços e o apertei com força em meu peito.
A casa estava silenciosa e eu sabia bem onde
estava minha mãe naquela hora da noite, e logo cruzei a
sala com “Meri” nos braços e subi as escadas em direção
ao andar superior. O corredor estava todo iluminado,
passei pela porta do meu quarto e segui rumo ao quarto de
papai, e do corredor escutei o som da voz que há semanas
eu não escutava.
— Traga minha toga, Helena, vou me atrasar. — A
voz dele saiu arrastada, falando com dificuldade, mas
mesmo assim senti meu coração bater mais forte, então
coloquei Meritíssimo no chão, passei a mão em minha
blusa para retirar os pelos e acelerei meus passos rumo a
porta do penúltimo quarto, o que foi totalmente adaptado
para meu pai.
— Pai! — falei assustada da porta quando o vi com
um livro na mão.
Olhei para minha mãe que estava em pé ao lado
dele acomodado em sua poltrona com um cobertor nas
pernas, e ela abriu um sorriso lindo.
Olhei para Sandra, a cuidadora da noite e ela deu de
ombros sorrindo.
Caminhei em direção a ele com os olhos marejados
e falei por fim:
— Oi, meu amor? Papai.
Ele me analisou curioso com seus olhos castanhos e
questionou minha mãe:
— Quem é essa, Helena?
— Essa é a Donna, sua filha, não se lembra dela?
Fazia dois anos que estávamos lidando com o
Alzheimer dele, e ele passava por umas crises das quais
achávamos que ele não iria mais sair, ficava
complementarmente isolado do mundo exterior, e depois
de quase dois meses assim, ele simplesmente voltou.
— Como aconteceu isso mamãe? — questionei-a.
— Foi hoje durante o banho, ele simplesmente
estendeu a mão para que Sandra colocasse o xampu, e
logo em seguida, levou as mãos na cabeça e tentou lavar
ele mesmo os próprios cabelos.
Suspirei audível e extasiada de felicidade, era uma
benção ouvir o som da voz dele novamente.
— Mas que coisa mais linda hein Excelência, estou
gostando de ver o senhor com esse livro. — Ele estava
segurando um livro na mão, mas o mesmo estava de
ponta-cabeça.
— Donna. — Ele falou meu nome.
Me abaixei próxima dos joelhos dele e falei:
— Estou aqui, meu amor.
— Diz para essa mulher aí trazer minha toga, não
posso me atrasar para o último dia do julgamento.
— Ela já vai buscar, está bem? — respondi.
— Papai vai trabalhar a madrugada toda, não vou
poder colocar você na cama hoje — falou baixinho com os
olhos fixos em mim.
Virei a cabeça para o lado e deixei as lágrimas
caírem dos meus olhos, pois ele falou exatamente como
quando eu era criança e ele iria passar a madrugada toda
no tribunal. Infelizmente suas memórias só o levavam para
um passado bem distante.
— Vou esperar você chegar, papai — respondi como
fazia quando criança.
— Não, não. Papai vai demorar muito — respondeu
ele com o olhar já vagando para longe.
Levantei-me e encarei minha mãe, uma mulher
linda, morena de olhos amendoados e traços fortes em sua
face. Deixou a vida acadêmica para cuidar da casa e da
família, era uma mãe excepcional e uma esposa dedicada,
viveu cada dia para cuidar das togas do Excelentíssimo
Desembargador Villas Boas. Me orgulhava muito dela, pois
mesmo hoje ela continua cuidando dele com o mesmo
esmero e dedicação de antes.
Dei um beijo no rosto do meu pai e fui saindo do
quarto dele com o coração apertado e feliz ao mesmo
tempo.
No corredor minha mãe chamou:
— Filha!
Olhei para trás e ela questionou:
— Como foi seu dia? Está atrasada para faculdade.
Sorri depois de suspirar alto e a respondi:
— Trânsito caótico hoje, e do mais, eu só tinha duas
aulas e nenhuma delas importante.
— Estou te achando cansada, diferente, o que foi?
— Só cansada mãe, diferente não.
— Vai tomar seu banho e desça para jantar comigo,
fiz aquela sopinha de ervilhas que você ama.
— Humm! Com esse friozinho é a melhor pedida.
— Comprei seu pão italiano preferido.
— Vou tomar banho e desço.
Caminhei pensativa pelo corredor até chegar no
meu quarto, bati a mão no interruptor e vi meu mundo se
mostrar a mim, um espaço amplo, claro e minimalista.
Quebrando a monotonia do espaço tinham alguns detalhes
em rosé, como luminárias e almofadas no mesmo tom em
cima da cama com coberturas brancas. Uma harmonização
versátil e apaixonante, se não fosse pelo canto esquerdo
onde ficava minha mesa de estudos, que estava uma
bagunça organizada, e olhar para aquele canto me fez
lembrar o motivo dele estar tão cheio de livros e papéis
avulsos, o concurso de magistratura estava chegando.
Coloquei minha bolsa em cima da minha cama, em
seguida, tirei meus saltos e o lenço do pescoço. Olhei para
o celular em cima da cama e o peguei na mão e fiz a
ligação enquanto me acomodei na cadeira em frente a
escrivaninha e abri meu notebook.
— Uauuu! — Bruno atendeu rapidamente. — Não
me diga que mudou de ideia e vai sair para tomar um
chopp comigo hoje à noite? — questionou.
— Nada disso, liguei apenas para dizer que vou
voltar a treinar amanhã cedo. Você me disse para avisar se
eu resolvesse ir, então estou ligando para combinarmos —
respondi.
— Confesso que me enchi de esperanças, Donna.
— Talvez, só talvez eu saia com você para tomar um
chopp depois da prova escrita, aí vou poder dar uma
respirada.
— Não vejo a hora de você fazer logo essa prova e
voltar ser minha companheira de balada, sabe o quanto
amo sua companhia.
— Você deveria arrumar uma namorada, isso sim.
— Estou bem como estou.
— Está certo, então amanhã, no mesmo horário e
lugar — falei deslizando o dedo no touchpad do notebook e
subindo as imagens da pesquisa que eu havia feito, e um
mundo completamente alheio ao meu foi se desenhando
para mim, e ali, na minha frente vi um cenário que me
intimidava e arrepiava.
Coleiras, chicotes, algemas, vendas, velas, cordas,
mordaças e as mais diferentes formas de dominações
possíveis. Umas mais sensuais e outras incrivelmente
assustadoras. A dor, o sofrimento se mesclando ao prazer
em situações que me fizeram sentir repulsa e fechar meu
notebook em um momento de aversão. Eu simplesmente
não consigo entender o nível de partilha emocional que
possa levar alguém se submeter a outra de uma forma tão
brutal.
Diga que você não é adepto dessas práticas
horríveis. — Pensei em Davi e se de fato ele era mesmo
um sádico.
— Donna! Está aí ainda? Que barulho foi esse? —
Bruno questionou do outro lado da linha.
— Oi! Estou aqui, o barulho foi do notebook que
acabei de fechar.
— E ele está inteiro ainda?
— Usei mais força que imaginei que precisava para
fechá-lo, mas então, estamos combinados, não é?
— Sim, claro que sim, vai ser muito bom voltar a
treinar com você, e quem sabe em novembro cruzamos a
linha de chegada em New York em primeiro lugar.
— Se cruzarmos a linha de chegada já será ótimo —
respondi.
— Está certo, até amanhã então, Donna. —
respondeu-me rindo do outro lado.
— Até amanhã, beijo.
Desliguei o celular rapidamente e saí da cadeira e
da frente do notebook com todas as cenas
sadomasoquistas que vi na cabeça e não tinha nada de
sensual nelas como alguns livros e filmes nos passavam.
Na manhã seguinte, Bruno e eu nos encontramos no
Ibirapuera e corremos por quase uma hora, foi libertador
voltar a treinar com ele, e a única parte ruim foi ouvir o
sermão dele me dizendo que fui muito abusada com o
desembargador Davi, ao pedir para ser chamada apenas
de Donna, porém, discordo completamente, pois apenas fiz
um pedido a ele em um momento informal, sem lhe faltar
com o respeito e passar por cima em níveis hierárquicos.
Acabou que depois de uma discussão boba, acabei nos
braços dele com ele me carregando no colo até a porta do
meu carro.
— Bruno me coloca no chão, seu atrevido! — ralhei
dando tapas em seu tórax.
— Você não disse que seus pés estavam
dormentes? Pois bem, te carrego até seu carro, deveria me
agradecer ao invés de me bater.
Bruno era um anjo amigo, eu deveria correspondê-
lo, mas por que diabos eu não conseguia sentir por ele
todo aquele calor que o desembargador Davi causava em
mim? O Bruno era o homem certo para mim e estava ali na
minha frente, lindo e pronto só me esperando dizer sim.
Assim que ele me colocou no chão fiquei encarando-
o, ele estava esbaforido, respirando profundo e ao sorrir
para mim seus olhos ficaram pequenos.
— Quando é que vou poder beijar essa boca? —
questionou olhando fixo em meus lábios criando um clima
tentador, mas me virei de costas para ele e abri a porta do
meu carro dizendo:
— Não estrague nossa amizade, Bruno, é só o que
te peço — respondi e entrei no meu carro e saí deixando-o
lá na calçada.
VI
Depois do treino senti meu corpo todo moído, mas
mesmo tendo feito tanto esforço, pois eu estava há dias
sem treinar, de certa forma, eu me sentia leve, uma euforia
e excitação que se mesclava ao relaxamento que só o
runner’s high é capaz de me proporcionar, e foi assim que
me lembrei porque sou viciada em corrida, ela me deixava
leve, relaxada e pronta para os dias tumultuados no
tribunal e as noites cansativas de estudo pesado. Bruno
estava certo, e com o corpo são, a mente dá saltos
maravilhosos.
Assim que coloquei meus pés no elevador, Dalvinha
tapou a boca e riu tentando se conter.
— Bom dia, Dalvinha — falei. — O que foi criatura?
Do que está rindo?
— Me perdoe, Donninha, mas só consegui me
lembrar do climão de ontem.
— Que climão? Posso saber?
Ela estreitou os olhos por baixos das lentes e
respondeu-me:
— Você já esqueceu, foi? O climão que rolou aqui
no meu elevador entre você e o deus do tribunal?
Estiquei meu corpo, alisei a saia preta que estava
usando e apertei as alças da minha bolsa na mão e falei
toda sem graça:
— Você não tem jeito, não é mesmo? Lembra que te
disse que seu elevador só tem ouvidos?
— Sim, me lembro, mas você é a única criatura
nesse Palácio que me dá atenção, e se eu não falo com
você, falo com quem?
— E isso lhe dá o direito de rir da minha cara?
— Dá, não dá? — respondeu.
— Não, não dá, não senhora — ralhei.
— Ah, Donninha, conta aí vai? O que está rolando
entre você e o deus? Ele já esquentou sua bunda?
— Não tem nada rolando, e por favor, esquece o
que você viu aqui, ele estava apenas me dando uma
advertência.
Ela se abanou dizendo:
— E que advertência, hein, senti o calor dali do meu
cantinho.
— Vou começar a usar outro elevador se você
continuar me atormentando assim.
— Está bem, está bem, não falo mais dele para
você. A propósito, não sentiu o cheiro dessa vez?
— Não — respondi monossilábica.
— Não sentiu o cheiro do perfume do doutorzinho?
— ela revirou os olhos e a porta se abriu.
— Dalva, o cheiro do Bruno já está impregnado nas
minhas narinas.
— Humm! É mais do mesmo, não é?
— Exatamente! E tem mais uma, já falei para parar
de chamar ele de “doutorzinho”, o Bruno não é doutor.
— Já sei disso, já sei. Doutor é só quem tem
doutorado e todo aquele blá, blá, blá que você me ensinou
outro dia.
Balancei a cabeça em negativa e fui saindo.
Quando coloquei os pés para fora do elevador dei
de topo com a Presidente do Tribunal da Justiça, elegante,
esguia, cabelos longos e castanhos e com as feições do
rosto tão duras quanto das cariátides que enfeitavam as
fachadas do Palácio da Justiça.
— Bom dia, Meritíssima! — cumprimentei-a.
— Bom dia, Donatella! — respondeu toda séria e
entrou no elevador com a Dalvinha, que mudou da água
para o vinho, nem parecia a mesma.
— Bom dia, Doutora Rew — falou Dalvinha
cumprimentando a “Toda poderosa” e piscou para mim.
Caminhei pelo corredor de forma atípica aquela
manhã, andei lentamente fingindo estar olhando o celular,
contudo, infelizmente nenhuma surpresa agradável me
acometeu nem no elevador e nem nos corredores aquela
manhã, e por mais que minha incerteza quanto a Davi ser
um ou não sádico tivesse me atormentando, não vê-lo
aquela manhã me fez sentir um vazio imenso, pois nos
últimos dias eu sempre o via nos corredores ou no elevador
em encontros que poderia jurar não se tratar de meras
coincidências.
Depois de uma audiência maçante, almocei com o
Bruno em um restaurante italiano delicioso, não era à toa
que eu tinha nome de italiana, e na volta quando entrei em
minha sala, vi que havia em cima da minha mesa uma pilha
de papéis para serem analisados. Certamente que o Dr.
Afonso deixou tudo ali antes de ir embora, e então
constatei que aquele dia seria longo e cansativo. Fiz alusão
de tirar meu lenço do pescoço, mas lembrei-me que com a
pressa que saí de casa eu havia me esquecido do meu
adorno favorito e me sentia pelada sem ele. Deslizei meus
dedos em meu pescoço e senti um calafrio me lembrando
de uma das imagens que vi no Google, onde um homem
enforcava uma mulher e lhe dava prazer ao mesmo tempo
masturbando-a.
Já ia me sentar quando alguém bateu na porta,
certamente que era Bruno, era a mesma coisa todos os
dias antes de voltar para o trabalho e assim falei:
— Pode entrar!
Estava de costas fuçando em minha bolsa à procura
de minha caneta preferida quando escutei o barulho da
chave rodando na maçaneta, de sobressalto me virei
assustada para saber o porquê Bruno estava trancando
minha sala. Assim que virei dei de topo com o Dr. Davi, e
estava lindo todo de preto, calça e camisa, então olhei em
suas mãos e vi um lenço preto.
— Por que trancou a porta, senhor? — perguntei
nervosa sentindo minha mão gelar e uma coisa estranha
tomou conta do meu corpo.
— Calma, Donatella, só vim lhe devolver isso —
ergueu a mão e mostrou-me o lenço, meu lenço preto.
— Meu lenço! — falei com entusiasmo. — Achei que
o tivesse perdido, é o meu preferido — confessei inerte.
— Caiu aos meus pés quando você se ajoelhou para
apanhar os papéis — justificou com a voz mansa e
melodicamente sedutora. A calma daquele homem era
enervante.
O tom da voz dele e a forma de como se
movimentava em minha direção e me olhava,
simplesmente me fez tremer. Não sei o que acontecia
comigo quando estava na presença dele, parecia que
estava hipnotizada. Existia um fascínio entre nós que não
tinha uma explicação lógica, me sentia completamente
atraída a ele e aquilo estava me consumindo.
Balancei a cabeça tentando me concentrar em algo
que não fosse os lábios dele, então questionei me virando
e mexendo nos papéis em minha mesa.
— Por que não me entregou quando o apanhou?
— Fiquei distraído no celular e sem perceber o
guardei em meu bolso.
— Humm! Entendi — não acreditei naquela história,
mas, enfim, voltei a olhar para ele.
Ele olhava diretamente nos meus olhos sem desviar
em nenhum segundo, ele sabia como exercer o poder
apenas com um olhar, sexy, enigmático, cujo eu não
conseguia imaginar o que se passava em sua cabeça
naquele momento, só sei que me sentia desnuda em sua
frente e nele eu via apenas força, a segurança e a firmeza
de um homem poderoso.
— Posso colocá-lo em você? — questionou,
olhando-me com ardência sem desviar o olhar, e acabou
que seu olhar era tão perturbador que desviei o meu
novamente, e isso estava me irritando, pois sempre
acontecia na presença dele, ele simplesmente me fazia
baixar a cabeça sem me pedir para fazer aquilo, era um
instinto, era incontrolável, e eu estava me odiando por me
sentir assim, encurralada por ele.
— O quê? — questionei olhando em seus sapatos
preto que estavam brilhando.
— O lenço — mostrou o pedaço de pano de seda
preta para mim. — Posso colocá-lo em você? — repetiu a
pergunta em um sussurro.
O que ele estava tentando fazer? Me seduzir? Sorri
por dentro e assenti sem dizer nenhuma palavra, e assim
ele se aproximou mantendo meu olhar preso ao dele, e
quando se aproximou do meu corpo, afastei meus cabelos
para que ele pudesse passar o lenço em meu pescoço,
mas para minha surpresa, ele tocou em meu braço e o
baixou derrubando assim meus cabelos em minhas costas.
Ele deu a volta em meu corpo e ficou atrás de mim, levou
seus braços por cima dos meus ombros e segurou em
minha frente o lenço preto, cada ponta em uma mão.
Quando achei que ele fosse passar o tecido em volta do
meu pescoço, ele simplesmente os levou aos meus olhos,
vendando-me, o que imediatamente me fez mexer o corpo
de forma aflitiva.
— Calma, só quero te mostrar uma coisa, fique
tranquila — falou.
Ficar tranquila como? Com um homem que sempre
fora um completo enigma para mim vendando-me no meio
da minha sala com meu próprio lenço e com a porta
trancada.
— Que área pretende seguir carreira? — indagou
terminando de apertar o nó do lenço atrás da minha
cabeça, deixando-me no breu e imersa em medo.
— Criminal! — falei com o tom de voz vacilante.
— Então relaxe e só me escute — sussurrou
próximo do meu ouvido, arrepiando-me. — A justiça é
cega, lembra-se? Você precisa aprender isso, permita que
outros instintos despertem em você, ouça minha voz e não
tema. Vou te ensinar que nem tudo que nossos olhos nos
mostram condizem com a verdade.
Suspirei inflando meu peito e voltei a escutar o som
afável da voz dele.
— Feche os olhos, acalme seus medos, não vou te
fazer nenhum mal, seus olhos estão no escuro, mas sua
alma não, encontre-me nela, visualize-me e sinta meu
calor, não sou tão frio como diz que sou.
Meu coração martelou desesperado em meu peito,
minhas mãos estavam trêmulas e não entendi os motivos,
na verdade eu sabia, eu tinha pavor do escuro, e estar
vendada me apavorava e me remetia ao terror da
escuridão.
Eu não suportava o escuro, não suportava o clima
de suspense que a venda provocava em mim, e
instintivamente levei meus dedos em direção ao meu rosto
para tirar o lenço, mas fui interrompida pelas mãos fortes
dele que disse:
— Shiii! Não tire a venda, respire, não se apavore,
não vou machucar você. Confie em mim — soltou minhas
mãos e levou as dele em meus braços e passou a subir em
direção aos meus ombros, tocando-me com delicadeza,
suave, fazendo-me tremular e eriçar os pelos do meu
corpo, então senti quando uma de suas mãos adentrou
pela abertura da minha blusa azul e foi em direção a meu
colo. — Seu coração está aflito, está com medo? — falava
de uma forma tão inebriante e gostosa que passei a relaxar
e a soltar meu corpo.
— Sim, não gosto do escuro — respondi.
— Não gosta de sentir dor e nem do escuro — falou
como se estivesse fazendo anotações a meu respeito em
sua mente. — Posso te mostrar uma coisa? Você me dá
permissão? — questionou aspirando e sentindo meu
cheiro.
— Sim! — respondi sem titubear, pois qualquer
ensinamento vindo dele era uma honra e não posso negar
que tudo aquilo estava muito excitante.
Eu estava hipnotizada com ele me tocando daquela
forma sensual e relaxante, então tive um sobressalto
quando ele enfiou os dedos dentro do meu sutiã e tocou
em meu seio que não tinha onde estar mais rígido, não
estava entendendo onde ele estava querendo chegar com
toda aquela ceninha de sedução, mas fosse o que fosse,
me vi entregue em seus braços, completamente mole e
absurdamente excitada. O toque era bom, macio e
cauteloso, teria tentado fugir se minhas pernas
respondessem aos estímulos do meu cérebro.
Deus! O que ele está fazendo comigo?
— O que está sentindo? Descreva para mim
senhorita, Donatella. — Seus lábios encostaram em meu
lóbulo e me senti queimar no meio das minhas pernas,
literalmente uma chama se acendeu quando senti os pelos
de sua barba tocar em mim.
Ele circulava meu mamilo com destreza, não
consegui evitar de serpentear meu corpo ao seu toque, e
então, ele repetiu a pergunta:
— O que está sentindo? Diga-me sem pudor.
— Desejo! — sussurrei grudando minhas mãos em
suas pernas e apertando meus dedos no tecido de sua
calça.
— O que mais? Deixei-me saber. — Apertou o bico
do meu seio com força dessa vez, e assim arquejei
dizendo:
— Dor. Medo.
— Relaxa! Não tenha medo de mim, continue, diga o
que quero ouvir, sinta o calor do meu corpo, sinta o que
você está fazendo comigo. — Cercou minha cintura com o
braço e com a mão em meu ventre forçou-me contra ele,
sentindo sua ereção firme e volumosa roçando minhas
nádegas, e acabei me deixando guiar por aquela sensação
enlouquecedora de tesão.
— O que está sentindo? Diga-me! — insistiu com
um tom de voz suave, porém, absoluto, pleno e autoritário.
— Sinto você, sinto a força dele. — sussurrei com a
respiração falha e com os olhos fechados, pois naquele
momento a mão do Juiz estava embaixo da minha saia,
acariciando-me por cima da minha calcinha, e assim eu
mexia meu corpo, sentindo a ereção vigorosa dele,
desejando ardentemente que seus dedos transpassassem
a renda e se enfiassem em minha vagina completamente
úmida. Eu estava no auge da minha excitação, delirando,
transpassada e sem conseguir acreditar no que estava
acontecendo ali.
— E o que mais? Diga-me, minha Têmis. — Ciciou,
chamando-me pelo nome da deusa da justiça.
— Calor! Muito calor! Deus, como está quente! —
respondi ofegante sem parar de mexer meu corpo em
busca de sentir aquela ereção deliciosa, nunca pensei que
ele pudesse ser tão quente e gostoso daquele jeito.
Eu estava literalmente ardendo em chamas, um
vulcão em erupção era o que mais representava ele
naquele momento.
— Gelo também queima! — murmurou em meu
ouvido e aspirou o ar perto do meu cabelo sentindo meu
cheiro.
— Davi! — gemi sussurrando seu nome de forma
arrastada quase suplicando pelo toque dele.
Eu estava mole e completamente excitada a ponto
de sentir o bico dos meus seios doerem ao simples toque
da seda da minha camisa.
Ele tirou seus dedos de mim e retirou os meus de
suas pernas, senti a ausência do calor que ele passava
para mim, e dessa forma, continuei em pé quase sem
forças, com as pernas moles, e quando retirei o lenço dos
meus olhos ele havia saído da minha sala silenciosamente
me deixando lá vendada feito uma idiota.
Mordi o lábio inferior com força e fechei meus olhos
enquanto levava minha mão aos meus seios que estavam
intumescidos e doendo.
— Deus! Que homem é esse?
Quando consegui me concentrar novamente, abaixei
minha saia, saí da minha sala e andei rapidamente
tentando alcançá-lo, e no meio do corredor, onde se
encontravam algumas pessoas, eu o questionei de forma
sussurrada assim que consegui ficar ao lado dele:
— O que foi aquilo, Meritíssimo?
— Aquilo o quê?
— O senhor sabe muito bem, e eu peço que me
explique o que acabou de fazer comigo e por quê? — Meu
rosto estava em chamas, eu podia sentir, todo meu corpo
estava queimando e latejando.
Ele parou em frente ao seu gabinete e me
respondeu com uma pergunta retórica:
— Não sou um bloco de gelo? — seus olhos
sorriram satisfeitos. — Fique longe de mim, Donatella, eu
posso ser bem perigoso com um lenço daqueles nas mãos.
Suspirei com vontade de gritar ali no meio do
corredor, eu estava frustrada, então Bruno saiu do gabinete
do Davi bem na hora, dizendo-me:
— Donna! Que bom que está aqui, preciso acertar
uns detalhes da festa com você.
Olhei fixo no desembargador e respondi ao Bruno
sem tirar meus olhos do magistrado:
— Não sei se estou interessada em ir a essa festa.
Davi passou a ponta de sua língua no lábio inferior e
o mordeu discretamente logo em seguida em um gesto de
desaprovação, fazendo meu corpo entrar em ebulição
definitivamente, e assim entrou em seu gabinete.
— Ainda não me respondeu, Meritíssimo — falei
com um tom de voz compassado.
Atrevidamente entrei em seu gabinete, e logo em
seguida, Bruno entrou dizendo-me:
— Donna, vem comigo por favor, vamos conversar
na minha sala.
Davi se virou em nossa direção naquele exato
momento dizendo:
— Saia Bruno, vou falar com ela.
Bruno me olhou de uma forma que me cortou o
coração e saiu sem dizer nada, apenas obedeceu a ordem
de Davi.
— O que pensa que está fazendo comigo? —
questionei completamente transtornada.
— Não sei, depende muito do estado em que deixei
você, e pelo que posso ver, você recebeu muito mal seu
primeiro castigo — respondeu parado em minha frente
como uma muralha.
— Me deixar subindo pelas paredes foi um castigo?
— Agora eu sei que sim — respondeu friamente.
— Posso saber por quê?
— Sabe muito bem, não preciso dizer.
— Seu... — Faltou muito pouco para eu completar o
pensamento.
— Continue, estou adorando sua impetuosidade.
— Não acredito que estamos fazendo isso, e a culpa
é toda sua.
Estávamos ambos quase sussurrando na sala dele.
— Donatella, fui até sua sala te mostrar que não sou
um bloco de gelo. Feito isso, vou te pedir novamente, fique
longe de mim ou vou foder o seu psicológico de um jeito
irreversível.
Dei dois passos para frente e fiquei cara a cara com
ele e questionei.
— Você já fodeu meu psicológico, não percebe?
Ele levou a mão esquerda em minha face e
acariciou a maçã do meu rosto, fechei os olhos
involuntariamente e seus dedos deslizaram até minha
nuca, se afundaram e se perderam no meio dos meus
cabelos, inicialmente com carinho até que senti seus dedos
se fecharem em uma mecha e apertarem com força, me
levando até a parede e assim sussurrou em meu ouvido
entre os dentes:
— Não, você não faz ideia do que estou falando,
você não faz ideia do que é ter o psicológico fodido por um
homem como eu. — Seus dedos puxavam meus cabelos
com força, fazendo-me sentir uma dor quase insuportável,
fazendo-me olhá-lo nos olhos, e quando engoli a saliva e
abaixei meus olhos desviando do olhar dele, senti seus
dedos afrouxarem e seus lábios tocarem nos meus de uma
forma avassaladora, então senti o gosto dos lábios dele
possuindo minha boca faminto, me desmontando e me
fazendo arfar de um desejo desesperador enquanto nossas
línguas se buscavam. Meus pulsos estavam presos pelos
dedos dele o que me impediu de sentir os pelos de sua
barba em minhas mãos. Era angustiante, sufocante e eu
estava sendo devorada em um beijo que tirou de mim cada
resquício de sanidade. Eu sentia sua excitação voraz
roçando em mim, ele me desejava desesperadamente com
a mesma intensidade que eu, porém, da mesma forma
avassaladora com que tudo começou, terminou, e ele se
afastou de mim, me deixando em brasas, sentindo o desejo
ardente no meio das minhas coxas.
— Saia, saia, Donna. — O tom de sua voz estava
visivelmente alterado.
— Não faz assim comigo, por favor.
— Já disse para você ficar longe de mim, eu não
sou o homem certo para uma mulher como você, não
quero te enfiar na minha prisão, não posso tirar a sua
liberdade como quem tira doce da boca de uma criança.
— Faz mais de três anos que trabalho aqui, e
quantas vezes nos encontramos no elevador antes dessa
semana? Nenhuma. E raramente nos encontrávamos pelos
corredores mesmo trabalhando no mesmo andar e
corredor, e nessa semana já nos encontramos mais do que
nos últimos três anos que estou aqui. Ou seja, alguém aqui
está premeditando esses encontros, então, Excelência,
fique o senhor longe de mim, já que é isso que tanto quer.
— Não quero, mas não posso, você não entende. —
Argumentou virando de costas para mim.
— Então me explica, por favor — implorei.
Ele se virou em minha direção novamente, dizendo:
— Você não vai me fazer perder o controle como um
adolescente qualquer, eu tenho 36 anos de controle na
vida, e não vai ser você que vai me tirar isso.
— Está bem! Não falo mais com Vossa Excelência
se é isso que deseja, mas por favor, evite me encontrar
pelos corredores e elevadores, e se entrar em minha sala
novamente, eu vou gritar.
— Saia! Por favor. — Dessa vez a voz saiu mais
compassada.
Não esperei que me pedisse novamente, virei
minhas costas e saí me sentindo sufocada, me sentindo
um nada e com o corpo e a mente despedaçados, então
antes que eu fechasse a porta ele disse:
— Você ainda tem escolha; eu não.
Saí com aquela frase martelando minha cabeça
tentando entender o que significava.
VII
Saí da sala do Dr. Davi com uma espécie de névoa
em meus olhos, meu corpo tremulava, minhas mãos
estavam frias e minha boca seca, simplesmente perdi o
rumo depois de tudo que aconteceu. Eu estava confusa e
completamente atordoada. Assim que saí das
dependências do gabinete do desembargador, vi Bruno que
estava sentado em um dos bancos no corredor, estava com
a cabeça baixa e os cotovelos apoiados em seus joelhos e
logo que me viu se levantou com urgência dizendo:
— Ei! Espera aí, Donna.
— Perdão, Bruno, mas tenho que trabalhar, falamos
mais tarde.
Ele segurou em meu braço, fazendo-me parar
bruscamente e questionou em um tom baixo:
— O que foi aquilo com o Dr. Davi? O que está
rolando entre vocês dois?
— Não está rolando nada — respondi cruzando os
braços e mexendo-me nervosa. — Já te disse isso.
Bruno riu ironizando:
— Aquilo não foi nada? — olhou para porta fechada
do gabinete. — Aquilo me pareceu mais uma discussão
velada, você está furiosa, eu te conheço, olhe para você,
está rubra — argumentou.
— Foi só uma bobagem.
Voltei a caminhar rumo ao gabinete do Dr. Afonso no
início do corredor e Bruno me seguiu insistente até lá.
Entrei em minha sala com Bruno em meu encalço.
— Bobagem? Uma discussão com o
desembargador?
Olhei fixamente para ele e vi que ele estava
realmente preocupado, as feições de seu rosto estavam
fechadas e até sua gravata estava frouxa no pescoço, sinal
de nervosismo.
Pensei em uma desculpa rápida e soltei a mentira:
— Fui pedir um conselho a ele sobre o concurso,
mas ele não foi muito gentil.
— Não acredito que foi perturbar o Dr. Davi e não
veio até mim. — Levou as mãos em sua cabeça nervoso.
— Ele passou na minha frente antes de você, então
achei que não tinha mal algum, mas ele é um arrogante
prepotente.
— Donna, ele tem centenas de processos para
analisar, audiências e mais audiências maçantes e ainda
cuidar dos últimos detalhes da festa dele, e você ainda foi
perturbá-lo com perguntas, cujas você poderia
simplesmente perguntar ao desembargador que você
assessora ou a mim.
Ele não estava com pressa quando foi na minha sala
me seduzir. Pensei.
— Você tem razão — respondi, sentando em minha
cadeira e ligando meu notebook.
— Olha, você não me convenceu, e vou te dar um
conselho pelos anos da nossa amizade — ele pausou com
as mãos na cintura por dentro do paletó aberto. — Fique
longe dele, fique longe do desembargador Davi, ele pode
ser perigoso para você, não quero que se machuque
criando expectativas com ele.
Cruzei os braços e questionei:
— Não estou entendendo. Do que está falando?
— Não sei quem você está tentando enganar, mas
saiba que não sou eu. Vi a forma como olha para ele, está
flertando com ele e isso pode ser ruim — explicou-se. —
Olha para você, está com a pele do rosto vermelha,
vocês... — cortou a frase no caminho.
Só de imaginar o que Bruno deixou pelo caminho,
senti o calor ainda no meio das minhas pernas, nem tive
tempo de me recuperar de toda a excitação que Davi me
causou e ali estava eu tendo que ouvir o sermão do Bruno.
— Eu o admiro, apenas isso — respondi.
— Não, você olhava para ele com fúria e desejo, sei
reconhecer quando uma mulher está fora de si, aliás, você
está assim até agora.
Engoli em seco sem ter como argumentar tais fatos,
eu estava realmente alterada.
— Aonde quer chegar? Diga logo Bruno, pois
preciso trabalhar.
— Fique longe dele, ele não é homem para você,
Donna.
Me levantei nervosa e apoiei minhas mãos na mesa
respondendo de forma enérgica:
— Não tenho nenhum interesse no Dr. Davi, não
desse tipo que você está pensando, mas se tivesse, eu iria
querer saber o porquê ele não é homem para mim.
— Donna, ele não trata as mulheres de forma
convencional. — Bruno soltou.
— Do que está falando? — Me sentei novamente e
comecei a mexer em alguns papéis de forma nervosa.
Senti o contato molhado da minha calcinha na minha pele,
e aquilo fez-me arrepiar lembrando-me do motivo de estar
daquela forma, eu ainda estava sensível pelo que havia
acontecido há alguns minutos aqui mesmo nesta sala e na
sala do Davi.
— O Dr. Davi não se relaciona com mulheres da
mesma forma que eu, entende?
— Não! Não entendo, você vai precisar ser bem
mais claro que isso se quiser me fazer entender. —
Recostei-me na cadeira com muita raiva.
— Donna... — ponderou. — Donna, ele é um
dominador, não posso imaginar você se envolvendo com
um homem assim.
— Como sabe disso?
— Já ouvi boatos sobre isso, e onde tem fumaça
tem fogo.
— São só boatos, Bruno, ninguém tem certeza de
nada.
— Sou assessor dele, esqueceu?
— Não! Ele te confirmou isso?
— Não — respondeu apático — Mas tenho quase
certeza de que ele é mesmo um Dom. Sabe o que significa
isso? — Bruno questionou.
— Eu sei o que é um Dom, Bruno, e você não está
me contando nenhum segredo, já ouvi os mesmos boatos
que você.
— Então sabe que deve se afastar dele ou irá se
machucar — retrucou.
— Sinceramente, não acredito que o Dr. Davi seja
capaz de me machucar.
— Não me refiro à sua carne, me refiro ao seu
coração, ele não ama, Donna, não se expõe com mulher
nenhuma, não assume em público nenhum dos
relacionamentos dele desde a morte da Elisa. Ele não vai
te amar, só vai te usar para seus fetiches. Não vai sair por
aí com você como um casal normal — concluiu cruel.
Não sei explicar o que senti, como um balde de gelo
que Bruno havia acabado de jogar na minha cabeça, aquilo
fez com que os últimos vestígios de excitação que eu
estava sentindo desaparecesse sem deixar resquícios.
— Obrigada, por dizer todas essas coisas.
— Desculpa se acabei com seu entusiasmo.
— Não havia sequer entusiasmo — respondi não
convencendo nem a mim mesma enquanto me concentrei
no meu notebook que coincidentemente tinha a deusa
Têmis com sua espada e sua balança estampando minha
proteção de tela.
— Por favor me deixa sozinha, Bruno.
— Você vai ficar bem?
— Já estou ótima, só preciso começar a me
concentrar no trabalho.
Olhei a tela novamente e acabei me levantando
novamente, estava inquieta, então, Bruno abriu a porta da
minha sala e eu o acompanhei, precisava de ar e assim
que pisamos no corredor ele me questionou tocando em
meu rosto:
— Está tudo bem mesmo?
Não tive tempo de respondê-lo, pois levei meus
olhos para o fim do corredor e vi uma das estagiárias do
gabinete do Dr. Davi, sair de lá toda sorridente com o
convite da festa na mão, e não sei por que diabos minha
raiva só aumentou, fiquei morta de ciúmes, me sentindo
apenas mais uma.
— Boa tarde, pessoal — disse Carla, de forma
simpática ao passar e parar na nossa frente. — Olha isso
Bruno, vamos nos encontrar na festa do Dr. Davi — disse
ela devorando o Bruno com um olhar apaixonado que fez o
ciúme que senti do Davi, desaparecer em um piscar de
olhos.
— Nos vemos lá, Carla. — Bruno a respondeu sem
muito entusiasmo.
A loira elegante vestindo um terninho cinza seguiu
seu caminho e não pude deixar de tecer meu comentário:
— Meu sonho é ter um homem me olhando como a
Carla olha para você.
— E o meu é você me olhar como a Carla me olha.
— Ele retrucou sem meias palavras.
— Deixa de ser bobo, Bruno, você é meu melhor
amigo e acho que passou da hora de você mudar o foco do
seu olhar.
— Sei disso! Não gosto da ideia, mas é melhor que
nada. — Tocou em meu rosto novamente com carinho e eu
sorri, e quando voltei meu olhar para a porta do gabinete
do Dr. Davi, vi que ele estava parado lá, e seu olhar era de
reprovação, parecia furioso, e naquele momento, mesmo
eu estando morta de ódio dele, a voz de Bruno parecia um
sussurro vindo do além e só voltei a escutá-lo com mais
clareza quando Davi entrou e fechou sua porta.
— Me perdoe ter me interferido na sua vida assim,
apenas me preocupo com você e não quero que seja mais
uma na vida dele — disse Bruno, tirando-me do foco do
Davi em sua porta. — Melhor apagar as fagulhas antes que
elas se alastrem — concluiu.
— Não existia nenhuma fagulha entre mim e o Dr.
Davi, você está equivocado — respondi, baixando a
cabeça decepcionada, me virando e entrando dentro do
gabinete. Dentro da minha sala encarei a pilha de
processos e desanimei. Minha cabeça girava com tudo que
Bruno falou sobre o Davi, e o fato de que ele não assumia
compromissos e nem amava. Sem conseguir me
concentrar em nada, me levantei e fui olhar pela janela, e
enquanto olhava o movimento na Praça da Sé, me permiti
pensar nele novamente, meu corpo queimou, a adrenalina
que o toque do Davi despertou em meu corpo ainda
circulava frenética em minhas veias, me lembrar do gosto
de sua boca fez meu ventre se contrair, e assim apertei
uma perna na outra tentando conter a pontada que senti só
de lembrar do seu toque quente em meu seio e por cima da
minha calcinha.
— Que abusado! O que foi aquilo? — Pensei em voz
alta sorrindo com o rosto queimando em brasa, mesmo
depois do desenrolar das coisas, o que parece ter
despertado ainda mais o meu desejo por aquele homem.
Desde que me ajoelhei literalmente aos pés dele,
um novo jeito de olhar para o desembargador Davi estava
me tirando a paz, nunca antes passou de uma simples
admiração e exaltação ao belo exemplar masculino que ele
era. Quantas e quantas vezes ele passava próximo a uma
rodinha de mulheres e ficávamos comentando sobre a
beleza glacial dele e nas teorias sobre ele ser ou não um
Dom, nunca pensei que ele fosse mesmo um. Nunca me
passou pela cabeça sentir o calor dele me queimar daquela
forma.
Fiquei sorrindo feito idiota me lembrando da cena
que havíamos acabado de protagonizar ali mesmo na
minha sala, onde o cheiro dele ainda pairava no ar, e
descobri que eu tinha uma impressão completamente
equivocada sobre ele, dizer que ele é frio é o maior de
todos os erros, pois ele me deixou literalmente incinerada e
em chamas. Quando ia voltando para minha mesa e enfim,
voltar a trabalhar, vi meu lenço jogado no chão, então
abaixei e o apanhei levando-o até meu nariz, o cheiro dele
estava no lenço para acabar de vez com meu equilíbrio
mental.
VIII
Perdi completamente a cabeça, aquela mulher
estava me enlouquecendo e eu estava permitindo. Que
diabo de boca é aquela? Que beijo foi aquele e que corpo,
que pele. O que estou fazendo? Essas e outras perguntas
estavam me atormentando em meu gabinete, não
conseguia pensar em mais nada e um amontado de papéis
me esperando em cima da minha mesa.
Nenhuma das mulheres com quem estive envolvido
nos últimos anos me tirou do sério como Donna, nenhuma
delas despertou nenhum tipo de sentimento em mim além
de tesão e prazer sexual regado a muitas sessões de
BDSM. Ver Donna com Bruno no corredor me deixou
possesso, não quero ele tocando nela. E que merda de
sentimento é esse que me está me desestabilizando?
— Não! Não posso ter sentido ciúmes dela —
murmurei negando com a cabeça e me sentei em frente
minha mesa abarrotada de processos para assinar. — Isso
é loucura!
Donna estava em meus pensamentos mais do que
deveria, eu precisava me focar no trabalho e tirar aquela
mulher do meu pensamento, não podia e não iria permitir
que ela transpassasse o limite permitido.
Por sorte alguém bateu na porta devolvendo-me a
realidade.
— Entre! — respondi.
— Senhor, os advogados da Air Brasil, já chegaram.
— Carla, uma de minhas estagiárias avisou da porta.
— Mande-os entrar, Carla.
Eu tinha um brutal número de processos para
analisar, eu havia sido sorteado para julgar recursos de
credores de uma empresa aérea de grande porte no Brasil,
mas perdi a cabeça me deixando levar até aquela
assessora e acabei me esquecendo que receberia os
advogados, e eu simplesmente estava sem saco nenhum
para uma reunião com eles.
Assim que recebi o pedido de apelação deles e eles
saíram, finalmente levando seus corpos da minha sala,
voltei novamente minha cabeça em Donatella, e
definitivamente ela estava me tirando do sério, não era
normal. Eu não deveria e não podia alimentar nenhum tipo
de sentimento por ela além de desejar tê-la ajoelhada
novamente aos meus pés com aquele lenço preto preso
em seus punhos, entregue e subjugada a mim. Só de
imaginar tal cena, minha vara se mexeu inquietado dentro
da cueca e assim me levantei da mesa e fui tomar uma
água.
Depois de um dia cansativo, com uma audiência e
duas reuniões maçantes com um grupo de cinco
desembargadores, tive meu tão esperado e desejoso fim
de expediente. Bruno já havia se despedido e saído do
gabinete minutos antes de mim, disse estar com pressa, e
logo que saí pela porta do elevador, vi o motivo de sua
pressa toda, estava caminhando no fim do corredor
segurando com delicadeza no ombro de Donna, e vi que
meu sangue ferveu involuntário em minhas veias. Eram
íntimos demais, e como nunca me interessei pelos
assuntos particulares dele, não sabia até que ponto ia
aquela intimidade toda com ela, a única coisa que sabia
naquele momento, era que queria aquela mulher para mim,
queria meus dedos grudados com força em sua cintura,
queria ela me chamando de senhor em uma completa
submissão passiva.
Apressei meus passos e passei por ambos como o
vento de início de uma precipitação; e ignorando-os,
escutei a voz de Bruno que me disse:
— Boa noite, senhor!
— Obrigado! — respondi enfático caminhando com
rapidez sem parar indo em direção a saída do prédio.

No final do expediente, Davi passou por mim e


Bruno no hall como se fosse um vento forte que varre tudo
deixando apenas seu cheiro no ar. Meu corpo, minha
mente, ainda não haviam se recuperado do que havia
acontecido, e me arrepiei toda com aquele cheiro que
viajou volátil e me golpeou.
Ele estava visivelmente com pressa e mais
carrancudo que de costume, e o homem que estava
caminhando a passos largos e firmes em minha frente, era
o mesmo que quase me fez gozar sem ter encostado
nenhum dedo em minha abertura. Ainda estava abalada
sem conseguir entender por que diabos ele havia feito
aquele joguinho comigo. Engoli em seco quando ouvi a
forma ríspida que respondeu ao Bruno quando o mesmo o
desejou boa noite; e ao som daquela voz áspera meu
corpo reverberou ao levar-me novamente para mais cedo
quando ele foi me devolver o maldito lenço, e por mais que
eu tentasse entender o que tinha sido aquilo, eu
simplesmente não conseguia. Um iceberg entrou em minha
sala e me queimou literalmente o corpo e os neurônios,
pois ambos estavam em parafusos.

Desloquei nervoso até minha escolta que já estava


preparada para me levar para casa, eu odiava aquela
situação, porém, há mais de quatro anos que as coisas
funcionam assim, não tinha mais a liberdade de entrar no
carro e sair dirigindo sozinho e nem de ir ao trabalho de
bicicleta como fiz inúmeras vezes no passado.
— Boa tarde senhor! — disse Jonas, o chefe da
minha segurança, segurando a porta para que eu entrasse.
— Boa tarde, Jonas! — respondi entrando sem
enrolar.
— Para casa senhor?
— Espere um instante, Jonas! — Ordenei
observando Bruno e Donna caminharem na calçada
conversando distraídos.
Na BMW preta, blindada e sufilmada que entrei, já
tinha um outro agente da escolta no banco do carona, e era
sempre a mesma coisa, tinham cinco agentes federais a
minha disposição e no carro ao lado havia mais dois, o
outro ficava em casa cuidando da segurança particular por
lá.
Escolhas foram feitas e com elas as consequências,
posso dizer que tive escolha e fiz a certa, o que custou a
vida da minha noiva Elisa, que estava inclusive, grávida de
3 meses. Minha vida era uma felicidade que tinha data e
hora marcada para ser abençoada, mas uma sentença,
uma maldita sentença, colocou um fim a tudo que julguei
ser perfeito.
Estar do lado certo custa caro, e eu acabei pagando
um preço muito alto.
Hoje brinco de fugir do convencional, vivo de fugir de
situações que me fazem abrir a guarda, e assim sou
movido a cada dia pelas escolhas certas que acabam por
me privar de algo que não sei mais o significado há 4 anos.
Tudo aquilo era fatigante, porém, necessário, seguir
com rigor tinha sido uma delas, me custou caro, é fato, e
hoje tenho tudo e não tenho o principal, liberdade. Sou tão
réu da toga quanto os homens poderosos que coloquei
atrás das grades.
Estava levando comigo uma pilha enorme de
processos para estudar, joguei-os no banco e fiquei
observando Donna e Bruno caminhando em direção a seus
carros, ambos sorriam de forma despretensiosa. Bruno a
olhava como quem olha para a noiva entrando no altar, e
aquilo mexia comigo de forma enervante, me deixando
mais nervoso do que eu já estava.
Assim que passaram ao lado do meu carro, Donna
disse a ele de forma bastante audível, ela sabia que eu
estava dentro do carro e aquilo soou como provocação:
— Amanhã às sete, não se atrase ou vai ter que
suar para me alcançar.
— Não sou louco de me atrasar, estarei no mesmo
lugar de sempre te esperando. — Ele respondeu sem se
atender que eu estava no carro.
Trinquei o maxilar e fechei os dedos em punho,
então abri a porta do carro de supetão e desci pegando a
escolta desprevenida, fazendo-os descer rapidamente
atrás de mim.
Fui de encontro a eles na calçada, e assim que me
aproximei dirigi-me apenas a Bruno, questionando-o:
— Vai estar livre amanhã pela manhã, Bruno? —
Olhei para Donatella de soslaio e vi que ela cruzou os
braços mordendo o canto do lábio inferior.
— Eu pretendia correr no Ibirapuera, mas se
precisar de mim, senhor...
— Sim, eu preciso que me ajude com o processo da
Air Brasil — cortei-o — E quero tudo para mais tardar
amanhã à tarde.
Bruno estava com o paletó no braço e assim esticou
o peito e respondeu-me desgostoso.
— Não estou com o processo, senhor, não me disse
nada sobre trabalharmos com ele no fim de semana, então
eu deixei tudo na sua sala.
— Só um instante — falei, virei as costas e peguei
parte do processo em cima do banco do carro e entreguei
ao Bruno, dizendo-lhe:
— Quero relatórios o mais rápido possível, trabalhe
com essa parte que vou trabalhar com o restante.
— Sim, Meritíssimo. — Dirigiu-se a mim de forma
formal e desanimada, estava me odiando, era visível.
Olhei para Donna, que tinha suas feições fechadas,
certamente que estava me xingando por dentro.
— Boa noite! — falei e virei as costas caminhando
de volta para o carro.
— Só um minuto, Meritíssimo! — disse Donna, e eu
a ignorei.
Quando me abaixei para entrar no carro, senti dedos
finos e delicados me segurar no braço, ergui meu tronco e
encarei dentro dos olhos dela, que me disse com a
expressão dura:
— Meritíssimo, isso é um abuso da sua parte. —
Soltou as palavras de forma bem corajosa, e isso me
deixava louco, ela simplesmente não tinha medo de mim.
Bruno tratou de ser rápido dizendo, sensato:
— Donna, não! Por favor, podemos correr no
domingo, ok.
Encarei-a em silêncio esperando para saber o que
viria a seguir, e cruzei os braços assim que tirou seus
dedos de mim.
— Bruno e eu íamos correr no parque amanhã —
argumentou, fitando-me.
— Agora não vai mais — respondi seco, observando
atento a forma como seus lábios se retorcera em raiva, e
tratei de indagá-la:
— Se eu levo trabalho para casa, por que meu
assessor também não deveria?
— Sei bem por que está fazendo isso.
Ela me deixava possesso com sua impetuosidade.
— Está me desacatando, senhorita Donatella? Eu
posso, simplesmente, comunicá-la ao seu superior.
Ela estufou o peito, cruzou os braços, umedeceu o
lábio inferior com a ponta da língua e uma expressão de
raiva se formou em seus traços delicados e fortes ao
mesmo tempo. Eu a observei fazer tal gesto involuntário
nos lábios volumosos e aquilo foi tão violentamente
sensual que foi como se estivesse vendo-a mover a língua
em câmera lenta. Fechei os olhos e me segurei para não a
beijar novamente ali. E ter sentido aquela vontade no meio
do estacionamento só provou que eu tinha mesmo que me
afastar dela. Aquilo fugiu completamente do meu controle e
eu respirava enfurecido.
— É justo! — ela respondeu me fitando com desdém
e se virou, dando-me as costas e de quebra as curvas
delicadas de sua silhueta bem moldada, mas foram suas
nádegas bem marcadas na saia social preta que me
deixaram a ponto de babar, parado ao lado do meu carro.
Engoli a saliva, fechei os olhos, apertei os dedos com força
desejando de forma enervante grudar meus dedos em seus
cabelos negros, encostá-la no carro e foder aquela bunda
até arrancar dela seus gemidos de prazer mais secretos.
Donna era audaciosa demais, provocante, e tudo
aquilo se afrontava bravamente com a submissão que vi
em seus olhos e em seus gestos nos dias anteriores.
Definitivamente ela estava me confundindo brutalmente.
Minha respiração estava audível e descompassada,
ela me deixou uma pilha de nervos e excitação, e eu teria
que descarregar toda aquela adrenalina ou iria
enlouquecer. Donna estava me tirando de minha área de
conforto, e só tinha um jeito de extrapolar toda aquela
tensão.
— Podemos ir senhor? — Jonas questionou-me
enquanto observava atento cada passo de Donna que
caminhou com Bruno até chegar em seu Honda Branco.
— Sim, claro! — respondi-o de olho no lado de fora
do carro e as veias pularam em meu pescoço quando
Bruno abriu a porta do carro para Donna e se despediu
dela dando-lhe um beijo no rosto.
IX
Estava literalmente deturpado com a forma que
permiti que Donna me afetasse, eu sabia que estava me
deixando guiar por caminhos perigosos. Sentimentos que
há anos não sabia o que eram e agora estavam se
infiltrando em mim sem permissão. O carro foi se afastando
e meus olhos não se desviaram dela ao lado de Bruno,
minha vontade era de descer e levá-la comigo e puni-la por
estar me desestabilizando daquela forma tão desafiadora.
Eu tinha motivos para lutar contra aquele
sentimento, tinha razões que a própria razão aplaudia, e
manter qualquer mulher que fosse longe do meu coração
era questão de vida ou morte, eu não podia, não tinha o
direito de envolvê-la daquela forma e acabar colocando-a
em perigo e privá-la de sua liberdade. Não saberia lidar
com outra perda brutal como havia sido a perda de Elisa.
Escolhi colocar homens poderosos atrás das grades e
acabei me colocando dentro de uma também. Não pude
evitar que Elisa pagasse por minhas escolhas, mas posso
evitar que outras paguem. E desde então, manter uma
mulher segura, longe das consequências que seria estar ao
meu lado, virou minha única regra, e que de forma
inconsequente eu estava quebrando ao me permitir desejar
Donatella mais do que deveria. Era um desejo ardente,
irracional, uma febre incontrolável e eu queria foder aquela
mulher, foder do meu jeito.
Como Juiz, a regra é ser cego, é se privar de toda e
qualquer emoção, e foi me utilizando dessa premissa que
passei a levar meus relacionamentos com as mulheres
sempre com contornos frios e calculados, assim ninguém
mais se machuca ou perde a vida por minha causa.
Levantar um muro sólido e alto ao meu redor as impede de
escalar e me alcançar, mas parece que Donatella o
derrubou com um simples olhar. Aquilo não podia
acontecer.
— Para casa, senhor? — questionou-me, Jonas.
— Sim!
Meu corpo estava tenso, meus ombros doíam e
pareciam ter uma tonelada de saco de areias em cima
deles, aquela mulher me deixou excitado e perturbado
demais.
Donatella não mexeu somente com meu corpo, ela
estava mexendo com minha alma e a junção disso tudo eu
já conhecia bem. Minha alma estava experimentando
sentimentos sem meu consentimento que meu corpo
estava simplesmente alimentando e adorando.
Assim que chegamos em minha casa no Jardim
América, desci com os homens que estavam 24 horas na
minha cola, eu estava aprisionado a eles e não tinha nada
que pudesse fazer. Toda ação tem uma reação, e mesmo
depois que passei a ser desembargador as ameaças não
pararam.
Iria para meu estande de tiros descarregar toda
aquela tensão, eu tinha certeza de que uns furos em um
boneco iriam me deixar mais leve e me fazer esquecê-la
por alguns minutos.
Assim que abri a porta de madeira e entrei em casa,
fui abordado por Vera, minha ajudante, e antes que eu
colocasse meus pés no primeiro degrau da escada que me
levaria ao andar superior, ela disse:
— Senhor! — chamou-me com o tom de voz manso.
— Sim, Vera! — Virei em sua direção.
— Ela está lá em cima, não pude evitar que ela
subisse. — Avisou-me.
— Obrigada, Vera! Vou subir.
Rew, naquele momento era tudo que eu não
precisava.
— Dr. Davi — chamou-me novamente. — O senhor
não me disse o que gostaria para o jantar de hoje. — Vera
voltou a falar.
— Pode ir para casa, Vera, dispense a Lu também,
tirem esse final de semana livre para vocês. Me viro assim
que sentir fome.
— Sim, senhor! — respondeu-me prontamente.
Assim que subi dois degraus, virei-me novamente e
a questionei:
— Como está o Danilinho?
— Bem melhor! Graças ao senhor e a forma como
agiu com rapidez.
Sorri discretamente, respondendo a mulher pequena
de cabelos curtos castanho claro.
— Não me agradeça, sabe que eu gosto muito
daquele garoto, diga a Lu que pode me procurar se estiver
precisando de mais alguma coisa.
— O senhor é muito generoso, já fez mais que
deveria pelo meu neto, seremos eternamente gratas.
— Farei tudo que estiver ao meu alcance. Agora vai
descansar, Vera!
— Me chame se precisar, senhor.
— Sim, pode deixar!
Embora eu fosse um homem que escolheu viver
sozinho em uma casa grande o bastante para me fazer
sentir solidão, essa não era de fato minha condição, pois
eu estava cercado de pessoas que me serviam de alguma
forma, haja vista que estava cercado de seguranças que
trabalhavam na guarita e dos empregados da casa, e
assim não me sentia tão só quanto realmente era.
Subi as escadas afrouxando e retirando a gravata
preta, e enquanto caminhei no imenso corredor que me
levaria até minha suíte, fui retirando o paletó enquanto
deixei meus olhos vagarem pelos tapetes persas que
cobriam o piso gelado, e peguei-me novamente pensando
em Donna de uma forma diferente. Tinha mais afeto do que
deveria, e sorri ao me lembrar de sua forma corajosa ao
me peitar daquele jeito. Ela seria um desafio e tanto para
mim.
Assim que entrei em meu quarto dei de topo com
Rew sentada em cima de seus calcanhares e cabeça baixa
no meio do quarto.
Rew era a mulher que preenchia meus espaços
vazios, era quem jogava o meu jogo sem me fazer
cobranças, aceitando sem questionar a única regra que
tínhamos. Assim que escutou meus passos ela disse:
— Estava tão ansiosa por vê-lo, meu senhor — falou
sem ousar me olhar.
— Não chamei você aqui, Rew — respondi.
— Sei que não, mas não consegui evitar, o senhor
não me chamou nenhum dia essa semana.
Rew era linda demais, sua pele morena ficava
evidentemente, ressaltada por baixo do tecido da camisa
branca que usava. Rew era uma mulher sensualíssima e
mexeu com meus instintos desde que se aproximou de
mim a procura de uma coleira. Estava vestindo um jeans
claro e uma blusa branca. Seus cabelos ondulados
estavam presos. Era esguia, com formas delicadas em
suas curvas, cujas eu já havia decorado. Era minha
Playpartner e estávamos tentando construir uma relação
mais sólida, e assim passávamos quase todos os finais de
semana juntos e vez ou outra eu a chamava no meio de
semana.
Rew era a Presidente do Tribunal de Justiça de São
Paulo, mulher forte, firme e poderosa, mas que em suas
horas vagas jogava comigo e era incrivelmente uma
submissa como poucas, e quem a vê em seu ambiente de
trabalho jamais imaginaria o que ela esconde.
Não vi seus olhos naquele momento, ela não
ousaria me olhar sem que eu a ordenasse e assim falei:
— Levante-se!
Ela se levantou e ficou cabisbaixa. Rew era uma
submissa perfeita, sabia o que tinha que fazer e fazia com
esmero.
Não ousou me olhar, então falei:
— Relaxa e olhe para mim.
Naquele momento ela sabia que não iriamos jogar e
foi logo se defendendo:
— Davi me perdoe, sei que você deve estar furioso
comigo, mas você não me chamou nenhum dia essa
semana e eu estava enlouquecendo.
— Não te chamei porque não estava precisando de
você. O que está acontecendo com você, Rew? Esqueceu
como as coisas funcionam nesse jogo? — questionei-a.
— Não! Não me esqueci, mas está ficando
insuportável a espera por seu chamado. Eu estava muito
ansiosa, me perdoe!
— Só hoje você já me pediu perdão duas vezes,
isso está certo? — questionei com o tom de voz manso,
mas não deixava minha autoridade sem ser notada.
— Não, não está. — Ela estava nervosa e tremia.
— E o que está errado então? — aproximei-me dela
e questionei afastando seus cabelos indo sentir seu cheiro,
aspirei profundamente e senti uma excitação fora do
normal, eu não costumo me excitar tão rápido com uma
mulher; e não foi Rew quem fez aquilo, minha cabeça fez
remeter meus pensamentos em Donna.
— Nada está errado, senhor!
— Reew! Está mentindo para mim novamente?
— Não, meu senhor.
— Diga-me, Rew — insisti. — Por que toda essa
ansiedade?
— Minha ansiedade é porque não vejo a hora de
ganhar uma coleira do meu senhor, fico sempre desejando
receber sua ligação. E está insuportável isso.
— Acha que está preparada para ganhar uma
coleira minha?
— Sim, senhor, eu acho! — respondeu segura
respirando com dificuldade.
— Quando caiu de joelhos aos meus pés na minha
festa ano passado, pedindo-me para ser seu dono,
conversamos sobre tudo isso. Falamos sobre a importância
da coleira para mim, lembra-se? Responda-me com sim ou
não — falei entredentes o final ao segurar firme em seus
cabelos.
— Sim!
— Então você já deve imaginar que não pretendo
trocar alianças com você, Rew, principalmente porque vem
mentindo para mim há um tempo já.
— Senhor! — resmungou grudando os dedos na
minha calça enquanto eu puxava-a pelos cabelos.
Segurei com força seu queixo e a fiz encarar-me,
havia desespero em seus olhos:
— Shiii! Não tem mais a permissão de me chamar
de senhor. Relaxe, Rew.
— Eu imploro por perdão. — Estava olhando em
seus pés, ainda não havia entendido que o jogo chegou ao
fim.
— Não existe perdão para a mentira, não existe
espaço para isso na nossa relação, combinamos que seria
assim, lembra?
— Sim!
— Quais eram as regras? Diga-me! — gritei
nervoso.
— Sem amor, sem paixão! — respondeu e eu a
soltei.
Ela levantou a cabeça e olhou-me nos olhos,
insistindo:
— Davi, por favor, vamos conversar, você precisa
me ouvir — implorou.
— Está viciada em endorfina, Rew, tenho percebido
isso, sua ansiedade tem um nome, e é dor, e você anseia
por isso o tempo todo, por isso está cometendo erros
conscientemente com mais frequência, porque quer ser
punida para entrar em torpor — argumentei.
— Não é nada disso, por favor, deixe-me explicar.
— Não tem explicação para sua desonestidade para
comigo, eu sinto cheiro da sua mentira, cansei de fazer
vistas grossas e relevar. A partir do momento que me servir
e me agradar ficou em segundo plano para você, deixou de
ser minha submissa, se você anseia estar na minha
presença porque necessita de dor, você deveria encontrar
um sádico para ser seu dono.
— Davi, eu...
— Não sou um sádico — não a deixei argumentar
—, sabe bem disso, sua dor não me causa nenhum prazer,
muito pelo contrário, ela me faz querer cuidar de você,
proteger você. Proporciono dor em você para te dar uma
dose grande de prazer, e em seguida, poder cuidar de
você. Seu prazer é o meu prazer e não sua dor e vício —
expliquei.
— Não é nada disso — sua voz saiu com um
murmúrio. — Você é meu único vício.
— Se submeter a mim foi sua escolha, e eu a
escolhi para ter com você responsabilidades, à medida que
você começa me usar para sustentar seu vício, o jogo
termina. Eu ia te ligar, precisava de você para me devolver
a sanidade, para me devolver para o meu Eu verdadeiro e
você fodeu tudo — falei calmamente.
— Me perdoe, Davi, não é a dor, eu me apaixonei,
não consegui evitar.
— Qual parte de não jogue com os sentimentos
você não entendeu? — questionei.
— Você acha que é fácil evitar os sentimentos? Não,
não é. Não consigo evitar querer estar aqui todos os dias, a
ansiedade por meu senhor me consome. Tudo que mais
desejo é ser sua, vinte e quatro horas por dia e todos os
dias da semana.
— Como é que é? Rew, isso ficou claro quando
selamos nosso acordo, você seria só minha companheira
de jogo e nada mais.
— Eu sofro com a espera, é angustiante, Davi.
— Rew, só existia uma regra, e você a quebrou.
— Me apaixonar foi inevitável, não tive nem
chances, Davi. Não se trata de dor, não se trata da
endorfina, isso é bom, é viciante sim, mas você é um
homem difícil de não se amar.
— Arrume as suas coisas, o jogo acabou para você.
Não existia milhares de regras comigo, só existia
uma, e não se apaixonar por mim era essencial para
continuarmos a relação D/S. Meu coração havia se
transformado em um bloco de gelo instransponível, e
jamais permitiria que alguém tentasse chegar ao seu
núcleo novamente.
— Davi, por favor, vamos conversar melhor —
insistiu irritantemente.
— Porra, Rew! — perdi a paciência. — Não vou
negar que precisava de você hoje, confiei em você todos
esses meses e você fodeu com tudo, justo quando eu mais
precisava... Saia! — falei com firmeza apontando a porta.
— Você ferrou com tudo.
Em um ato de completa resignação, ela caiu de
joelhos aos meus pés, implorando:
— Senhor, deixe-me ajudá-lo essa noite, permita me
desculpar dando-lhe prazer e tirando toda sua tensão, eu
imploro. — Suas mãos vagavam em minhas pernas e
foram direto no ponto mais sensível do meu corpo, meu
pau estava sensível demais, eu estava louco de tesão por
outra mulher, mas foi ela tocar-me por cima da calça para
que uma ereção passasse a dar sinal de vida rapidamente,
Rew me tocava enquanto seus olhos estavam aos meus
pés. Fechei os olhos sentindo uma excitação vulcânica
preencher meu pau e fazê-lo pulsar. Eu precisava daquilo e
não podia negar; e com aquela mulher completamente
entregue aos meus pés ficava difícil controlar o impulso de
usá-la a meu bel-prazer, ela estava ali para isso.
Juntei meus dedos em seus cabelos castanhos e
fechei-os em volta de um rabo de cavalo levantando-a até
que ficasse na altura desejada, e assim com um tesão
enlouquecedor, abri o zíper da minha calça e tirei minha
vara para fora, latejando de desejo, rígido e grosso, a ponto
de bala. Naquele momento só vi Donna de joelhos aos
meus pés; e pensar nela estava me deixando excitado
demais nos últimos dias e vi naquele momento a
oportunidade de descarregar todos os meus hormônios e
me aliviar.
— Me castigue, meu senhor! — pediu Rew.
Não daria a Rew o que veio buscar, mas daria a mim
o que ela podia me dar, prazer.
— Abra a boca! — falei com rispidez.
— Sim, meu senhor!
— Me engole! — ordenei segurando na base do
meu pau.
E quando ela ameaçou me responder novamente fiz
suas palavras calarem enfiando a vara em seus lábios
salientes. Não eram os lábios que meu corpo queria, mas
era o que tinha e assim usufruiria deles com vontade.
— Não vou dar a você o que veio buscar aqui, Rew
— decretei.
Fechei meus olhos quando os dedos dela tocaram
no meu pau, enlaçando-o, e em minha mente, a única
fantasia era Donatella.
Os dedos delicados dela deslizaram habilidoso em
minha vara, subindo e descendo com delicadeza, mas não
era por delicadeza que eu ansiava naquele momento,
então compeli sua cabeça em direção a vara rígida e viril
que eu ostentava no momento, e não foram os lábios
cheios de Rew que visualizei me engolindo, foram os lábios
volumosos e com contornos sedutores de Donna que via
meu pau entrar e sair. Gemi com o êxtase me
entorpecendo. Peguei a gravata solta em meu pescoço e
dei a volta no corpo de Rew, peguei suas mãos e as
amarrei nas costas, impedindo-a de voltar a me tocar, e
dessa forma, voltei a enfiar minha vara em sua boca.
Arqueei as costas e passei a foder aquela boca com fortes
estocadas, indo e vindo com força, com meu punho envolto
em seus cabelos, exigindo que ela me engolisse por inteiro,
socando, metendo e estocando sem dó.
Ela chupava, se concentrava na cabeça inchada e
sensível, enfiando a língua no orifício, me matando de
tesão, meu corpo tremia, meu pau pulsava nervoso
naquela boca quente e úmida. Rew sabia como tirar meus
gemidos, e me lambia desde a base e me provocava
acariciando a cabeça passando só a pontinha da língua.
— Oh, muito bom! — gemi dando mais uma volta
nos fios de seus cabelos e fazendo-a engolir até o talo. —
Vamos! Engole todo — falei socando o pau todo nela,
estocando com vontade, entrando e saindo sem dó
naquela boca deliciosa e que mal conseguia suportar a
espessura da minha vara.
Fechei os olhos e Donna povoava meus sentidos, a
boca úmida me engolindo todo, sugando e a língua
deslizando estava me enlouquecendo.
Abri os olhos e fui devolvido a cena que se fazia ali
naquele momento, e vi Rew me devorando como sabia e
fazia muito bem, ela era uma puta mulher, mas tinha seios
pequenos e delicados. Rew era o oposto da mulher que
invadiu minha alma e que havia me deixado em um estado
de excitação nunca experimentado por mim antes, e era
ela que tinha que estar ali, mas ela deveria estar com meu
assessor em algum lugar; e pensar nisso me enlouqueceu
mais ainda.
Rew lambeu de ponta a ponta toda a extensão do
meu pau e o engoliu novamente, chupando a cabeça e me
olhando cheia de tesão, seus olhos me enervaram, pois
não eram os olhos que eu queria ver, não era a boca que
eu queria em volta da cabeça do meu pau; e logo ela
lambeu a glande o tirou da boca para se dedicar as minhas
bolas. Rew sabia exatamente como me satisfazer e fazia
com maestria. Seus olhos brilhavam de tesão e satisfação
por me agradar. Voltou a se concentrar na glande me
torturando, e furioso por estar recebendo a atenção da
boca errada, grudei meus dedos nas laterais do seu rosto e
passei a estocar aquela boca com força e fazendo-a babar
no pau.
— Vamos! Vamos! Você aguenta, sua safada! — bati
em seu rosto e eu sabia que dei a ela o que queria.
Meu corpo passou a responder com o prazer
crescendo vertiginosamente como um vulcão, e sem aviso,
sem nada, explodi dentro de sua boca, jogando a cabeça
para trás, urrando de tesão e apertando ainda mais os fios
de seus cabelos em meus dedos.
—OHH! OHH! — urrei gemendo alto e satisfeito.
Rew se deliciava engolindo cada gota do meu
sêmen, eu sabia que ela gostava e continuou me chupando
na cabeça me deixando com as pernas mole.
— Muito bom, muito bom, Rew! — murmurei sem
fôlego.
Deixei-a de joelhos no chão e me encostei em uma
das paredes, aquele oral foi intenso, fisicamente eu estava
esgotado e aliviado, toda a excitação provocada por Donna
foi abrandada pela boca de Rew. O corpo estava
momentaneamente satisfeito, mas a mente ainda via
aqueles enormes e expressivos olhos, e como eu queria
aquela mulher, como queria que fosse Donna que
estivesse de joelhos ali ao meu lado no chão.
Depois que se limpou em meu banheiro, Rew veio
até mim, questionando-me:
— Podemos conversar?
Ali na minha frente agora via apenas a
desembargadora Rew.
— O jogo acabou, Rew — falei.
— Passei um ano me dedicando a você. E agora
isso? — respondeu saindo de sua submissão e mostrando
a mulher poderosa que era ao aumentar o tom de sua voz.
— Rew, você entrou nesse jogo sabendo das regras,
que por sinal, era apenas uma, e que você conseguiu
quebrar.
— Como consegue ser tão frio assim, Davi? —
questionou nervosa.
— Você queria um dono e eu fui esse dono. Dei a
você tudo o que desejava, não estou em dívida com você,
não menti para você e nem burlei as regras. Se apaixonar
não estava nos planos, você sabia disso.
— Como vamos ficar agora?
— Não vamos, acabou, não entendeu ainda?
Vi lágrimas caírem de seus olhos e não consegui
sentir nenhum tipo de remorso.
— Você é cruel!
— Você sabia que seria assim desde o início. Foi
avisada que se pendesse para o lado sentimental seria
game over.
— Está certo! Eu errei sim, mas foi inevitável.
— Saia! Rew.
— Podemos conversar outra hora, vamos esfriar a
cabeça.
— Saiaaa! — falei sendo mais ríspido que desejava
ser.
X
Na manhã seguinte, depois de Dr. Davi intimar
Bruno a trabalhar no sábado de manhã, acabei que me
decidi por ir correr no parque sozinha mesmo, não era por
conta daquele abusado que eu iria parar de treinar, e então
levantei às cinco e trinta da manhã, me troquei, vestindo
shorts lilás duplo de corrida, camiseta regata branca com
top preto por baixo e meias brancas até quase os joelhos.
Calcei meus tênis e fui para o Ibirapuera.
Estava frio e uma névoa chata pairava no ar, e
depois de me aquecer dei início ao treino, por sorte às
6:20h, o movimento era considerável. Bruno sempre me
dizia para chegar um pouco mais tarde quando eu
estivesse sozinha, mas aos finais de semana, o parque
simplesmente bombava e os paulistanos madrugavam. O
Sol começou a nascer esplendoroso, deixando o céu em
um tom laranja maravilhoso. E depois de correr por uns 30
minutos, eu simplesmente imaginei estar tendo uma visão,
e se realmente aquilo fosse verdade, o que meus olhos me
mostravam sobre a luz forte do Sol, era que em minha
frente parado no gramado eu jurei ser o desembargador
Davi, e quando me aproximei, diminui a marcha e o
questionei parando em sua frente:
— Está fazendo o quê aqui, Vossa Excelência? O
Bruno não pôde vir porque está atolado de serviço por sua
causa, mas o senhor não está trabalhando. Veio aqui para
ocupar o lugar do Bruno e me acompanhar no treino?
— Não vim ocupar o lugar do Bruno, não vim correr
com você, e além do mais, esse é um parque público,
lembra? — Suas sobrancelhas se levantaram em
especulação, e como estava lindo aquela manhã. Usava
um jeans escuro e uma camiseta preta básica com a gola v,
completamente informal.
— Sim, bem lembrado! É público, mas o que quer
então? — questionei resoluta, e antes mesmo de deixá-lo
responder, conclui minha pergunta. — Veio terminar o que
começou aquela tarde, mas dessa em vez em público? —
fui debochada.
Seus olhos se estreitaram e seus lábios esboçaram
um meio sorriso, antes de responder-me:
— Não! Ainda não, mas vejo nos seus olhos que a
senhorita anseia muito por isso, não é, Donatella? Quer
meus dedos passando a barreira da sua calcinha e
tocando-a onde o prazer lateja forte em você.
Tenho certeza de que corei, pois senti o calor em
meu rosto e arder como chamas.
Mesmo aquelas palavras tendo conseguido me
desestabilizar e me fazerem apertar as pernas em um
tesão que me afligiu, consegui respondê-lo de forma
segura.
— É mesmo? Vossa Excelência está muito
enganado.
Novamente seu rosto tinha satisfação emitidos em
seus traços, o que estava me enervando profundamente.
— Não estou enganado — cruzou os braços
fazendo-me levar os olhos em seus bíceps e percebi o
quanto era forte, a manga da camiseta preta apertou seus
braços ressaltando assim seus traços então ele disse de
forma sussurrada fazendo os pelos do meu corpo se
eriçarem. — Seus olhos me desejam, seu corpo quer meu
toque, vejo em seus pelos o que minha presença faz com
você.
Balancei a cabeça em negativo sorrindo e me
mexendo inquieta, e então questionei tentando sair do
assunto que havíamos começado e que não estava
gostando nada do rumo que estava seguindo.
— Encheu o Bruno de trabalho para que ele não
pudesse estar aqui comigo, Meritíssimo?
— Você que está dizendo — respondeu conciso com
um tom de voz suave e seguro. — Por que toda essa
formalidade comigo? Pode me chamar apenas de Davi.
— Mas o senhor não é qualquer um, não é? —
cruzei os braços sorrindo e observando a forma
desgostosa que trocou o peso de uma perna para a outra.
— Você é audaciosa, gosto disso em você —
respondeu na lata.
— Vai negar que fez de propósito? — Afrontei.
— Não, não vou negar, eu precisava falar com você
e não queria que fosse no TJ novamente e nem na frente
do Bruno. Satisfeita, senhorita Donatella?
— E o que o Meritíssimo quer comigo que não podia
esperar até segunda? — questionei em tom irônico sem
deixar o tratamento formal como ele havia me pedido.
— Eu quero você, Donna! — falou de supetão
pegando-me de surpresa a ponto do meu estômago gelar e
meu corpo retesar.
— Como assim? Tipo quando uma criança quer um
brinquedo novo? — ironizei tentando fingir que aquelas
palavras não me abalaram.
— Pode, por favor me levar a sério? — Seu rosto
endureceu, ele não gostou da forma que falei.
— Olha aqui, Excelência, se bem me recordo, o
senhor me seduziu, tocou em partes do meu corpo de
forma libidinosa sem a minha permissão, o que cabe um
belo processo por assédio sexual no âmbito de trabalho.
Davi ouviu tudo atento, com as feições do rosto
indecifráveis.
— E você não gostou? — ele era sempre direto em
suas perguntas e respostas. — A propósito, pedi sua
permissão, não se recorda?
Ignorei e continuei falando:
— E ainda por cima me pediu para ficar longe do
senhor se dizendo perigoso.
— Sei o que fiz e o que disse a você, e em momento
algum fui hostil com você ou a ameacei de algo, apenas dei
provas de que sou inocente quanto a alegação de ser um
homem frio. Concorda que não sou um homem frio?
Arrepiei ao me lembrar de como era quente.
— Não estou entendendo o senhor, me pediu para
ficar longe, e eu pretendia acatar o seu pedido, mas parece
que você não consegue, não é mesmo? Reparou que está
sempre por perto, me cercando e me intimidando.
— Estou? — Ergueu as sobrancelhas.
— Está!
Ele bufou audivelmente e disse por fim:
— Donna, você não sai da minha mente desde que
... — ponderou fechando os olhos e apertando os lábios um
no outro. — Desde que ficou de joelhos aos meus pés no
Salão dos Passos Perdidos.
— Aquilo foi horrível — retruquei de imediato.
— Não! Aquilo foi perturbador, foi excitante —
admitiu.
— Excitante? Você me deu as costas e nem me
ajudou — protestei cruzando os braços. — Aquilo foi
deselegante — conclui.
— Eu tive que te dar as costas, Donna — replicou.
— Ah claro! Fui tola o bastante em imaginar que me
ajudaria naquela situação, imagine o “Todo Poderoso” do
TJ abaixando e recolhendo seus papéis.
— Ajudaria sim! — Sua voz soou rígida e fez meu
coração dar dois passos em direção a garganta.
— Por que não ajudou? — questionei com um breve
sussurro, visto que eu estava muito perto.
Davi deu dois passos em minha direção, encostou
seu ombro largo no meu, fazendo-me sentir pequena e
segredou:
— Porque estava ocupado tentando esconder uma
ereção que você fomentou em mim naquele momento.
Aquela revelação fez um fogo arder e se alimentar
das partículas nervosas do meu corpo e assim minha voz
saiu falha ao dizer:
— Não tive a intenção — respondi quase sem ar.
— Pois é, não teve, mas é isso que você faz comigo,
Donna, desperta meus instintos mais vorazes e mexe com
meu corpo sem pedir permissão.
— Eu deveria pedir permissão?
— Deveria! — respondeu autoritário.
Senti a pele do meu rosto queimar e minha
respiração falhar.
— Não acredito que estamos tendo uma conversa
dessas no meio do Ibirapuera — falei tentando focar meus
olhos em outra coisa que não fosse ele.
Olhei ao redor completamente sem graça, a escolta
dele parecia dois postes com camisetas pretas com a
inscrição Polícia Federal nas costas, é... eles estavam de
costas graças a Deus ou teriam visto meu rosto ficando
rubro.
— Eu não consegui esperar mais, estava ansioso
para te ver, não ia aguentar até segunda-feira, e estou aqui
na porra desse parque quebrando todos os meus
protocolos.
— Não entendo, você me pediu claramente para
ficar longe e agora isso.
— Podemos tentar, detesto mulheres inexperientes,
mas posso te moldar. — Disse-me assim, como quem diz:
“Oi tudo bem!”
Naquele momento, aquelas palavras, ou melhor
dizendo, a palavra inexperiente foi tudo que meu cérebro
conseguiu capitar, e não consegui evitar de gargalhar
deixando-o sem graça.
— Inexperiente? Eu? Por favor, Meritíssimo, posso
estar solteira no momento, por escolha própria, mas tenho
28 anos de idade. Não sou nenhuma rodada, porém,
inexperiente também não. — Cruzei os braços e fiquei
assistindo-o.
Ele continuava sério e suas sobrancelhas se uniram
mostrando a mim que tudo aquilo não teve graça nenhuma,
e assim falei:
— O que acha que pode me ensinar que eu já não
saiba?
— Donna, eu sou um Dominador. — Aquelas
palavras foram diretas e seguras demais, e a confirmação
de todos os boatos que já havia escutado nocautearam-me
com força, pois no fundo eu torcia para que tudo não
passasse de boatos.
Tentei assimilar aquela frase e a repeti na mente
questionando-me sem perceber que a palavra Dominador,
saiu alto demais.
— Dominador?!
— Sim! Por isso pedi para que se afastasse de mim,
não costumo me relacionar com mulheres normais, e tem
sua liberdade também.
Girei em meus calcanhares com as duas mãos na
cintura e com a cabeça girando, sentei-me no banco logo
atrás de mim e falei:
— Eu já sabia disso que você me contou, mas no
fundo eu queria que fosse mentira.
Davi ficou parado em minha frente me olhando e
analisando-me com todo seu tamanho, ele era enorme.
— O lenço! — sussurrei buscando toda cena que se
desenrolou em minha sala. — Por isso usou o lenço para
me vendar? — questionei sem olhar em seus olhos, tudo o
que eu não queria era olhar novamente nos olhos dele.
— Sim, queria saber como você se comportaria
tendo seus sentidos privados.
Eu estava literalmente passada com a informação,
mas ela fazia muito sentido a julgar pelo comportamento
dele.
— Não costumo fazer o que estou fazendo aqui, não
é assim que costumo agir, há tempos não abordo uma
mulher dessa forma, mas você mexe comigo de forma
surreal, e vou enlouquecer se não tiver você curvada diante
de mim novamente.
Levei as mãos aos meus olhos e os tapei dizendo:
— Deus! Eu me sentindo a última bolacha do pacote
quando na verdade você só quer me comer e me espancar.
Davi caiu na gargalhada com aquele pensamento
que novamente brotou alto demais. Levantei meu rosto
envergonhada e o achei mais lindo ainda sorrindo daquele
jeito, então falei admirada:
— Pelo menos você sabe rir! — Observei apática.
— Sei fazer coisas que você jamais sonhou! —
Voltou a ficar sério.
— Tipo me amarrar e me espancar? Não obrigada!
Estou bem como estou — respondi.
— Tipo te levar até o espaço sem tirar seus pés do
chão, tipo fazer você implorar pela minha presença, mesmo
que distante, desesperadamente, pelo meu toque febril e
meus lábios.
Fiquei ponderando todas aquelas informações em
minha mente e então respondi:
— Me desculpe, mas não tenho tempo, nem vontade
de ser sua... — A palavra me sumiu da mente.
— Submissa! — Ele completou parado na minha
frente tapando os raios do Sol com seu corpo robusto.
— É isso, submissa! Não... Não nasci para ser
subjugada por ninguém, me perdoe, sou a mulher errada,
nem gosto de dor, lembra?
Davi se mexeu inquieto e passou a mão em seu
cabelo liso levando os fios da frente todos para trás,
parecia estar pensando em uma resposta, então disse-me:
— Donna, submissão não é ser subjugada, ser
submissa a mim será me servir e se render de forma
voluntária, natural e consensual, não quero uma escrava,
muito pelo contrário, quero cuidar de você do meu jeito,
quero que conheça todos os meus desejos e os meus
instintos mais vorazes, e o mais importante, que confie em
mim e que me deixe protegê-la e dar doses de um prazer
nunca sentido antes por você.
— Consegue me proteger de si mesmo?
— Garanto que não irá precisar.
— Já disse que não suporto sentir dor e nem me
imagino vivenciando situações que me colocariam em
contato com isso.
— Donna, não se trata de dor, se trata de prazer, de
entrega, de me servir, de ser minha posse.
— Ser seu objeto você quer dizer?
— Com você será diferente — respondeu.
— Diferente como? Se me quer como objeto?
— Eu não disse isso.
— Esqueça! Não vou me entregar a um sádico.
— Não sou um sádico, Donatella, deixe-me explicar.
Levantei-me completamente aturdida e falei
tentando quebrar a seriedade daquela conversa:
— Quem diria, hein, Senhor Meritíssimo, por trás de
toda essa sua pose autoritária, um homem sério,
respeitado, viver dessa forma...
— Sou um Dom, Donatella, não um palhaço, o que
faço entre quatro paredes para satisfazer meus anseios
sexuais e pessoais não me desmerece como a Senhorita
sugeriu entre linhas.
— Bom! Senhor Campos, lamento informar, mas o
senhor escolheu o brinquedinho errado, esse já está
quebrado, melhor você escolher outra.
— Já escolhi você!
— Mas estou dizendo, não!
— Vamos ver até quando.
— Você se acha irresistível, não é?
— Só acho que queremos um ao outro de forma
visceral, não negue.
— Olha para mim, diga-me se tenho cara de quem
vai gostar de ter os punhos algemados e a bunda surrada
por um chicote?
— Vamos descobrir seus limites, além do mais,
coisas que jamais imaginou gostar, podem passar de
desagradáveis a desejáveis.
— Sou uma mulher romântica, Meritíssimo, que
gosta de flores, cinema, bares, viajar.
— Gosta de ópera?
— Não sei, nunca estive em uma.
— O fato de ser minha posse, não irá nos impedir de
fazermos tudo que você citou e nem de continuarmos
tendo nossas vidas normal. O único problema é que para
fazer certas coisas teríamos que sair do país para sua
própria segurança.
— Sua posse? — gargalhei de nervoso. — A
resposta ainda é não! E agora sou eu que irei te pedir.
Fique longe de mim, Vossa Excelência. Não volte a falar
comigo e encostar em mim.
— Donna, nem me lembro quando foi a última vez
que abordei uma mulher, elas veem até mim. Mas com
você é diferente, eu sinto uma necessidade enorme de ter
você, e por isso, abri essa exceção, mas não espere por
uma nova abordagem minha, pois não irá acontecer.
— Agradeço se ficar longe de mim.
Virei de costas e dei meio passo à frente com o
intuito de dar um fim a conversa e ir embora, contudo, os
dedos longos e fortes de Davi seguraram firmes em meu
antebraço, travando-me e causando uma sensação
deleitosa em mim, e assim ele deu um passo em minha
direção, encostou seu rosto no meu, fazendo-me sentir a
aspereza de sua barba, então cheirou meus cabelos ao
dizer:
— Flor de cerejeira! Gosto muito desse cheiro.
— O quê? — exclamei aturdida com o tom suave de
sua voz.
— O cheiro do seu xampu. Gosto muito.
— Ah! Como sabe que é flor de cerejeira?
— Vai descobrir!
— Já pode me soltar — falei olhando dentro da
frieza de seus olhos cinza e extremamente dominante,
sentindo uma vontade devastadora de beijá-lo.
Então ele falou acabando de me desestruturar por
completo:
— Eu serei os espinhos ao seu redor se aceitar ser
minha flor. Lembre-se, os espinhos machucam, mas
protegem a rosa e eu só quero te proteger, te cuidar.
Olhei para a mão enorme e máscula que me prendia
com força e respondi:
— Me solta! — meu coração batia forte dentro de
mim, e meus lábios emitiram palavras que contradiziam
meu corpo e minha alma.
Estávamos tão excitantemente próximos que podia
sentir sua respiração doce.
— Pense nisso, vou estar ansioso à espera de uma
resposta. — Todos os pelos existentes em meu corpo se
arrepiaram quando seus lábios tocaram no lóbulo da minha
orelha e minha pele foi levemente tocada por sua barba por
fazer. Nem sei explicar o poder que aquelas palavras
exerceram sobre mim, só sei que foi algo muito forte e
novamente seu contato me queimou.
Seus dedos foram se abrindo e me libertando, o
contato da pele dele contra a minha era como aço quente
sendo colocado em água, chiava, e simplesmente adorei a
força imposta por ele em seus dedos, tanto que quando me
soltou desejei por mais, eu queria muito mais, queria
aquele toque e aquela voz autoritária me dizendo coisas,
mas eu estava em uma guerra e confusa comigo mesma.
Obriguei minha mente a dirigir meus movimentos, e
relutante passei a caminhar para longe dele rumo a saída
do parque, tentei de todas as formas evitar, mas não, meu
corpo virou para trás e o viu parado lá, com as mãos
enfiadas em seus bolsos mantendo aquela postura firme,
como se estivesse me esperando voltar, mas minha razão
não me deixou voltar. Eu estava assustada e até certo
ponto decepcionada com aquela confirmação.
— Donna! — chamou minha atenção, e assim parei
para ouvi-lo sem olhar para trás, então ele pediu — Você já
é minha! Se entregue a mim.
Engoli em seco, e ponderei antes de respondê-lo:
— Não, não vou me entregar a você.
Nem eu mesma tive fé nas palavras que saíram da
minha boca, pois eu queria muito ser dele, inteiramente
dele de corpo e alma, mas algo nele me assustava, e sua
postura inviolável me dava medo.
— Nunca me diga não, eu não peço duas vezes!
— Não serei sua, pode pedir um milhão de vezes!
— Está certo!
— Ótimo! Fique longe de mim.
— Seu pedido é uma ordem — respondeu-me.
Eu estava diante de um homem poderoso, seguro,
perspicaz e intrigante. E confesso que isso tudo me
instigou, eu me sentia intoxicada por ele, existia um
fascínio entre nós, e mesmo me negando a ele, existia algo
dentro de mim que me levava a ele como se fosse um ímã.
Precisaria de tempo para digerir tudo o que ouvi, e
com a cabeça martelando me afastei dele e fui embora do
parque sem olhar para trás.
Definitivamente ele não era homem para mim, eu
estava com o coração apertado e completamente
decepcionada, eu simplesmente tinha esperanças de que
ele fosse um homem como qualquer outro, e estava louca
por um homem que queria apenas me usar para satisfazer
seus fetiches.
XI
Frustrado sim, enganado não, pois saí de casa
sabendo exatamente o que podia acontecer assim que eu
confessasse tudo a Donna, eu tinha plena consciência de
que não seria fácil e algo me dizia que ela conhecia os
boatos dos corredores, boatos que não eram tão boatos
assim, e dessa forma, nem tentei enrolar, fui direto ao
ponto.
Donna reagiu de forma ruim, e em outras
circunstâncias, eu simplesmente não estaria nem aí,
contudo, estava me sentindo vazio e impotente diante de
uma negação tão veemente como foi a dela. Com a cabeça
a mil cheguei em casa naquela manhã e fui direto para
meu estande de tiros descarregar toda a frustração que
estava sentindo naquele momento, eu sabia que sairia dali
bem mais leve. O estande em minha casa havia sido
planejado e arquitetado por um amigo da Polícia Federal.
Antes eu ia em clubes treinar, mas de uns anos para cá até
isso tenho que fazer em casa, e assim cheguei ao espaço
blindado com paredes maciças de blocos de concreto.
Entrei no estande com uma gana gigantesca, peguei
rapidamente os equipamentos de proteção, os fones de
ouvido, óculos e me equipei rapidamente. Peguei uma
Taurus PT 58 HC plus, arma com a qual eu tinha mais
afinidade. Távola estava há 5 metros, então apertei o timer
em meu pulso, fiquei na posição de retenção com a arma
em ação dupla. Armando quente, e simplesmente aguardei
o bip para iniciar uma sequência de tiros no alvo e foram 10
disparos em menos de 3 segundos. Foi muito bom, e logo
fui conferir os pontos na silhueta humana e acabei com um
aproveitamento de 80% melhor que nos outros dias. E
assim repeti com o alvo há 7 metros. Tinha pavor dos
barulhos que os tiros provocavam, mas esse, foi só um dos
motivos que me guiaram a aprender me defender, então,
despejei uma enxurrada de balas no alvo provocando nele
um buraco enorme no peito.
— Que isso hein, chefe! — disse Guilherme meu
segurança. — Tenho até pena do sujeito que cruzar o
caminho do senhor de modo errado.
Enxuguei o suor em minha testa e respondi:
— Eu também.
Entrei debaixo do chuveiro bem mais relaxado, e
enquanto a água caía em minha cabeça fiquei repassando
cada fala daquela conversa que tive com a Donna tentando
encontrar o erro, e simplesmente, não me conformava com
toda a frieza dela que mal me deu a oportunidade de me
explicar direito.
Assim que cheguei em casa cruzei toda a sala
principal, a sala de jantar e fui direto para a cozinha,
Meritíssimo me seguia como uma sombra, e era sempre
assim quando estava em casa, ele vivia na minha cola.
Passei pelo balcão, abri o pote de jujubas e apanhei
lá de dentro três vermelhas e duas verdes, minhas
preferidas, eu era louca por aquelas balinhas, elas
ajudavam a controlar a ansiedade, que por sinal, aquela
manhã estavam a mil.
— Filha é você, querida? — questionou minha mãe
adentrando no espaço da cozinha.
— Sim, mãe! — peguei o pote e me sentei na
cadeira rente a bancada da ilha central.
— Como foi a corrida? Conseguiu melhorar seu
tempo?
— De pouquinho em pouquinho, os passos vão se
acertando, vou estar pronta para a maratona— respondi
sentindo o doce me acalmar.
— É assim que quer fazer sua corrida render bons
resultados? Nem bem chegou e já está enfiada nesse doce
— questionou cruzando os braços com aquela cara fake de
brava.
— Vou te contar um segredinho, mãe, eu corro para
poder comer jujubas.
— Humm! Você não tem jeito mesmo, não é? Não
vive sem essas porcarias.
— Não! De jeito nenhum, ajuda acabar com minha
ansiedade e você sabe bem disso.
— Muito bem! Então me diga como está a
ansiedade para sua primeira festa à fantasia na casa do
Juiz Davi Campos? Eu soube que são glamourosos.
— Sério mesmo, mãe? Não estou nenhum pouco
animada, eu preferia ficar em casa estudando e comendo
jujubas que perder uma noite toda no meio daquele
pessoal do TJ. Falta uma semana ainda e tudo indica que
não irei.
— Qual o problema com seus amigos do trabalho?
— puxou uma banqueta e se sentou do meu lado.
— Nenhum, o problema é que ficamos a semana
toda vendo as mesmas caras e aí terei que encarar os
mesmos rostos enfadonhos de sempre na tal festa.
— Que graça teria se fossemos a festas com
desconhecidos?
— Não sei, mas seria interessante descobrir. —
Bufei só de me imaginar naquele cenário, cujo eu nem
tinha visto ainda, porém, já imaginava. As mesmas
pessoas, os mesmos assuntos, enfim, o mesmo clima, e
para piorar o nosso clima, meu e de Davi.
— Bruno vai estar com você e ele gosta demais de
você, meu amor. — Colocou suas mãos em cima da minha.
— É, até demais, eu diria — falei sem empolgação
nenhuma.
— Filha, os olhos dele brilham quando olham para
você, os do seu pai também brilhavam quando me viam, e
é por isso que gosto demais daquele rapaz que você
insiste em chamar de melhor amigo.
— Dona Helena, coloque uma coisinha nessa sua
cabeça, Bruno está fora dos meus planos amorosos — falei
com um sorriso delator no rosto, e assim ela questionou:
— Espera aí, que risinho fácil foi esse nos seus
lábios, posso saber? Faz tanto tempo que não a vejo
sorrindo assim ao falar de planos amorosos.
— É uma bobagem, mãe, nada importante. —
Coloquei outra jujuba na boca e voltei a sorrir sem
perceber.
— Me diga o nome de quem está despertando esse
seu sorriso que darei a ele o Oscar de Homem Perfeito.
Suspirei meneando a cabeça.
Ele é tudo, menos perfeito, mãe. Pensei.
— Está até suspirando — ela disse e sorriu.
— É, acho que estava me encantando com alguém.
— E me fala isso com esse desânimo todo? —
questionou.
— Bom, quando a gente se encanta pela pessoa
certa a gente sente júbilo, mas quando a pessoa é errada,
a gente se sente assim...
— Triste?
— Sim, triste — concordei.
— O que faz desse homem, errado?
— Tudo nele é errado.
— Será que você não está vendo só o lado ruim?
— Pode ser, mas e se não tiver lado bom? —
retruquei.
— Impossível, o amor nunca tem os dois lados ruins,
pense nisso. — Tocou no meu rosto, afetuosa.
— Não sei não, mãe, e isso nem é amor.
— Quem é ele?
— Um Desembargador — respondi de pronto.
— Uau! E esse Desembargador por quem está
apaixonada tem nome?
— Tem, claro que tem, mas não estou apaixonada
mãe, era só o início de um interesse, uma química forte, sei
lá, era só uma gota que caiu no oceano, tudo menos
paixão.
— Humm, entendi. — Sorriu lindamente encarando-
me.
Minha mãe é uma mulher maravilhosa e linda,
mesmo com seus 59 anos ainda se mantinha com uma
beleza jovial, alta, cabelos negros e ondulados como os
meus e olhos escuros.
—Mas vamos deixar as coisas acontecerem mãe, se
acontecer eu te conto, mas já te aviso, duvido muito que
aconteça, na verdade, não vai mesmo acontecer.
— Tudo bem — respondeu levantando as mãos. —
Como quiser.
— Mas me diga, como está o papai essa manhã?
— Já demos o banho, ele já tomou o café dele e
está lá no quarto assistindo os desenhos que ele tanto
ama.
— Muito bom! Vou subir e tomar meu banho, e
depois ir assistir desenho com meu pai, estou precisando
disso.
— Definitivamente esse homem está mexendo com
você — concluiu minha mãe com uma frase que fazia muito
sentido, pois era tão real e palpável como nada naquele
momento.
No banho, enquanto a água caía quente em minhas
costas tudo que me vinha na cabeça era o Davi me
vendando com meu lenço e o som de sua voz calma e
pausada sussurrando em meu ouvido daquela forma
envolvente. Só de pensar nele meu corpo se arrepiou e
meus seios ficaram entumecidos e doloridos. Fechei meus
olhos como se estivesse com a venda e passei a imaginar
aquelas mãos enormes e fortes acariciando e apertando
forte meus seios, e quando dei por mim, eu estava tocando
em meus mamilos, completamente excitada, apertando-os
com uma força que me fizera sentir uma fisgada de dor e
de prazer em meu útero. Levei minha mão em meu
pescoço e logo me veio a imagem dele acariciando meu
pescoço, e em seguida, me asfixiando, e aquela cena não
me causou excitação, ela simplesmente me deixou em
pânico. Encostei-me na parede do banheiro gelada e
comecei a rir sem conseguir parar, meu rosto estava
queimando. Aquele homem estava me enlouquecendo, a
ponto de começar a me imaginar em cenas que eu jamais
imaginei que estaria envolvida.
Na segunda-feira, meu dia já começou péssimo,
pois acabei me encontrando com Davi no corredor, que
vinha desatento conferindo algo em seu celular, e quando
passou por mim simplesmente me ignorou, e assim se deu
o primeiro ato em que me senti completamente um
fantasma. Nem parecia o mesmo homem que disse que
queria ser meu dono há dois dias. A segunda-feira foi só
um prenúncio para o que viria nos dias que se seguiram,
pois foi a mesma coisa na terça, na quarta, na quinta e na
sexta, que foi quando por uma obra do destino acabamos
cruzando com ele na porta da sala das becas, ele saindo
com suas vestes como um sacerdote, e o Dr. Afonso, quem
eu assessorava, entrando.
— Como vai Dr. Afonso? — disse Davi estendendo-
lhe as mãos enormes; e como eu era louca pelas mãos
dele e seus dedos compridos.
— Estou bem, e o senhor Dr. Davi, como está?
— Muito bem, obrigado. — Ele respondeu me
ignorando como vinha fazendo.
Ambos passaram a falar e Davi simplesmente não
me cumprimentou, me deixando completamente
envergonhada, estava me sentindo invisível quando disse:
— Dr. Afonso, vou subir para a sala de audiência.
— Sim, sim querida, pode ir, vou aqui me trocar.
Virei as costas e segui no corredor com um nó
horrível preso em minha garganta, e sem conseguir resistir
olhei para trás e constatei que Dr. Afonso havia entrado na
sala das becas e Davi vinha caminhando lentamente atrás
de mim e de cabeça baixa. Eu tentei me controlar, respirei
fundo, jurei que não ia mais me dirigir a ele, mas algo em
mim, me fez parar no corredor que tinha um ar escuro; e
assim que ele passou do meu lado, deixando seu cheiro no
ar, eu o questionei:
— Até quando vai continuar fingindo que não existo,
Excelência?
Ele simplesmente continuou a me ignorar e seguiu
seus passos meticulosos segurando uma pasta de couro
na mão direita.
Novamente eu o aparelhei e falei:
— Fala comigo, por favor!
Ele parou e me respondeu calmamente:
— Agora eu posso falar com a Senhorita? Me dá
permissão?
— Vem me ignorando a semana toda.
— A Senhorita me pediu isso, e eu respeitei sua
vontade, não falar e não tocar em você.
— Mas na frente das pessoas o Senhor podia ter
sido educado.
— O que mudou, Donatella? Por que está aqui e
agora me cobrando isso? Me diga, porque estou curioso.
— Nada mudou, apenas me incomoda sua
indiferença.
— Não acha isso contraditório, Senhorita?
Respirei fundo e me mexi inquieta olhando para
cima, olhando para aquele deus grego sem conseguir
acreditar nos pensamentos que ele despertava em mim.
— Tem razão, não sei o que deu em mim, me
desculpe, Meritíssimo.
Virei meu corpo em direção oposta a ele e passei a
caminhar em sua frente, com meu coração batendo
acelerado, não acredito que eu iria fazer aquilo, mas foi
mais forte que eu e quando me virei novamente em direção
a ele falamos juntos, cada qual uma frase que parecia ter
sido combinada, e assim no momento em que ele me pediu
novamente:
— Seja minha, Donna, seja minha!
Fiz a pergunta no mesmo segundo:
— Onde eu assino?
Não acredito que eu disse isso, não acredito, não
acredito. Meu íntimo me recriminava brutalmente.
Davi mordeu a boca em um sorriso refreado e me
respondeu murmurando no meio do corredor deserto:
— Sem contrato.
Minha voz começou a frase em um tom alto e depois
diminuiu até um breve sussurro:
— Como assim sem contrato? Mas, eu li ...
— Mas nada, Donna, vamos conversar, vai descobrir
que não precisamos de um pedaço de papel inútil, além do
mais, o tempo que perderíamos discutindo um contrato
fictício em uma mesa, poderíamos usar para conhecer
seus limites. — Piscou sensual me amolecendo.
Olhei para os lados checando se não tinha ninguém,
então voltei a falar em sussurros:
— Quero que fique claro que você não me comprou
dentro de uma loja de departamentos, Davi.
— Você é livre para escolher, Donna! Eu estou
sendo transparente com você quanto ao meu espírito
dominante, e não estou te forçando a nada.
O encarei louca para pular em seus braços e o
retruquei:
— A ideia da dor me atormenta monstruosamente.
— Você precisa entender que submissão nem
sempre tem a ver com dor, e quanto a isso, vamos
experimentar em doses homeopáticas — disse friamente.
— E se não der certo? E se eu não conseguir gostar
disso.
— Vamos descobrir juntos do que você gosta ou
não, por isso, não teremos um contrato, pois o que você
não gostar hoje pode vir a amar depois.
— Mas e se eu não gostar de nada? Você vai me
deixar? Como uma mercadoria estragada? Uma maçã
podre?
— Só me deixa cuidar de você.
— Até quando?
— Vamos pensar no começo, não no fim.
— E quando será isso?
— Amanhã na minha festa, vamos ver o quanto
você é submissa.
— Não sei se consigo ser submissa a você.
— Parcialmente, eu te prometo que por agora será
parcial.
Silenciei pensando naquilo e ficamos nos encarando
ali no meio do corredor. Saía faíscas dos nossos olhos, eu
me via no olhar dele, então engoli a saliva, louca de
vontade para pular nos braços dele e sentir novamente o
gosto daqueles lábios. O silêncio e o clima, foi quebrado
assim que o Dr. Afonso me perguntou:
— Podemos ir, Donna?
Tínhamos uma audiência em minutos, e eu
praguejei em meu íntimo.
Maldita audiência.
Passei a acompanhar o Dr. Afonso, porém, meus
olhos fitavam os de Davi de forma insistente, e ele estava
simplesmente lindo naquela toga preta, e se tinha um
fetiche que queria realizar, ali estava ele.
Na audiência eu estava completamente alheia a
tudo que estava se passando ao meu redor, e meus
pensamentos e alma já eram só dele, mas meu corpo
ainda tremulava de medo e ansiedade. Como seria na tal
festa?
Não acredito que aceitei me entregar a ele.
XII
No sábado, dia do aniversário do juiz Davi, meu dia
começou movimentado, literalmente, Bruno e eu passamos
a manhã juntos novamente no parque, ele estava
completamente animado para a festa à fantasia e
totalmente estressado comigo.
— Não acredito que estão se aproximando um do
outro, mesmo depois de tudo que te falei, Donna. — Bruno
ralhou comigo.
— Você me fez uma pergunta, eu te respondi com
sinceridade.
— Está apaixonada por ele?
— Não sei direito, Bruno, mas uma coisa eu sei
bem, não quero falar sobre isso com você.
— Olha, a festa é dele, mas seu acompanhante sou
eu, não esqueça disso — parou na minha frente, dizendo.
— Mas acredito que não precisarei me preocupar com o Dr.
Davi, ele vai estar muito ocupado dançando com todas as
mulheres da festa.
— Como assim, com todas as mulheres da festa? —
questionei com o corpo arqueado e as mãos nos joelhos,
aproveitando para descansar.
— É meio que uma tradição dele dançar com todas
as damas da festa.
— Todas, todas? Isso inclui as casadas?
— Certamente! Todos já conhecem essa mania dele,
e se prepare que você será uma delas, mas é só uma
dança, ele não vai te devorar no meio dela.
— Não, de jeito nenhum, eu nem sei dançar.
— Minta para ele, não para mim, gatinha. — Bruno
tocou em meu rosto de forma carinhosa como sempre
fazia. — Ele terá uma dança com você, e eu terei à noite
toda.
— Quem disse que vou dançar à noite toda com
você?
— Eu estou dizendo.
— Você é muito convencido mesmo. — Sorri
voltando a postura ereta.
— Você quis dizer irresistível, não foi?
Dei um soco no braço dele que se encolheu todo,
então falei:
— Meu Deus! Bruno, você precisa muito de uma
mulher para ser sua.
— Heii! — resmungou. —Até violenta você é uma
delícia. — Veio para o meu lado e me abraçou na cintura.
— Me solta! Você está todo suado, seu ogro.
Ele me soltou e disse:
— Você ainda vai implorar para que eu te toque todo
suado.
Meneei a cabeça em negativo e levei minha garrafa
de água aos lábios, senti minha pele corar, então o
respondi dizendo:
— Sabe que não gosto quando faz isso comigo,
somos apenas amigos e isso não vai mudar, compreende?
Isso está ficando chato.
Bruno anuiu sem dizer nada e me acompanhou até
meu carro e disse pendurado no vidro:
— Às oito em ponto, não se atrase.
— Tem outro jeito?
— Não! Não tem. Quero você linda e esplendorosa
no vestido grego mais lindo que você encontrar.
— Já comprei meu vestido.
— Imaginei que sim, e nem me conte, quero que me
surpreenda hoje à noite.
— Não se iluda, Bruno — respondi abrindo a porta
do meu carro e o deixei lá falando sozinho.
Faltava meia hora para às oito da noite, me sentia
inquieta sentada na poltrona em meu quarto enquanto
esperava Bruno chegar para me buscar, eu não deveria ter
aceitado que ele viesse me buscar, assim eu iria com meu
carro e iria se quisesse e viria embora a hora que sentisse
vontade.
Olhei ansiosa para o criado mudo umas três vezes,
e a tentação foi maior do que minha razão, e assim estendi
meu braço esquerdo e apanhei o aparelho celular e fiquei
tentada a ligar para o Bruno e dizer que eu não iria a festa,
não estava com tanta certeza se deveria ir, pois o que me
esperava era assustador para mim, contudo, eu já estava
pronta, mas não tinha certeza se ir a festa, seria o melhor a
fazer, uma incerteza sobre estar no mesmo ambiente que
Davi, sem ser o de trabalho estava me corroendo e um
milhão de situações passavam em minha cabeça me
torturando.
A porta do meu quarto se abriu e era minha mãe:
— Uau!! — disse assim que bateu seus olhos em
mim. — Você vai ofuscar o brilho das outras mulheres.
— Não tenho essa pretensão, mãe, não quero
ofuscar o brilho de ninguém, na verdade, eu gostaria é de
ser invisível.
A festa era temática, grega e romana para ser mais
clara, e eu havia escolhido um vestido mais clássico e
simples, de um ombro só e cintura marcada. O tecido era
extremamente suave e com muito movimento, estava
simplesmente me sentindo exuberante dentro daquele
vestido. Acabei optando por ir com os cabelos soltos e
lisos.
— Com ou sem pretensão, você vai chamar todas
as atenções para si — insistiu minha mãe.
— Bom, sempre há uma primeira vez para tudo.
— Não se faça de rogada minha filha, você é
lindíssima sem ou com o vestido da deusa Têmis.
— Obrigada, mãe. — Sorri sem graça com tantos
elogios.
Estava reforçando a cor do batom na frente do meu
espelho quando meu celular tocou, inclinei-me para pegá-lo
e vi que o número em questão não fazia parte dos meus
contatos, mas como sou mais curiosa que prudente, acabei
atendendo.
— Alô!
— Donatella? — a voz mansa, porém, firme disse
meu nome questionando.
— Sim, ela mesma.
— Já está pronta para a festa? — Só então
reconheci a voz deliciosa de Davi.
— Como achou meu número, senhor? — questionei
encarando minha mãe.
— Deixe para me chamar de senhor no momento
oportuno, e sobre o número, dei meus pulos, não é muito
difícil para mim.
— Isso é invasão de privacidade.
— Isso é desejo, ardente e pungente.
— Ah! E o que o senhor deseja? Só se certificar se
vou mesmo a sua festa?
— Eu sei que virá, não consegue resistir.
Você é muito prepotente mesmo. Pensei.
— Você se acha irresistível, não é? — indaguei
olhando para minha mãe, que sorriu e saiu do quarto
fechando a porta.
— Não acho nada! Só liguei porque você não
confirmou sua presença, seu nome não está na lista final.
— Não imaginei que checasse a lista.
— Não checo, no entanto, senti uma pontada de
curiosidade, vai que tenha desistido de vir a festa.
— E minha presença é importante para o
Meritíssimo?
— Você sabe que sim.
— Devo ter medo?
— Você deve vir e trazer um lenço branco.
— E posso saber o que quer com um lenço branco?
Por acaso está pensando em me vendar novamente?
— Não!
— Então o quê?
— Você faz muitas perguntas, só traga a porra do
lenço, Donatella. — disse alterando o tom de sua voz.
Sentei na poltrona e o respondi enfática:
— Não vai dar, ele não tem nada a ver com minha
indumentária.
— Você dá um jeito, sei que vai dar.
Davi tinha um jeito tirânico de falar que me intrigava
e instigava ao mesmo tempo, não sei explicar, mas eu
estava adorando o joguinho dele e sentia cada pelo do meu
corpo se arrepiar ao ouvir seu comando.
— O que vai fazer comigo, Meritíssimo?
— Quer mesmo saber?
— Sim, é claro, diga-me, por favor.
— Venha à festa e descubra. Até mais, minha
deusa!
Nem fui capaz de respondê-lo, ele simplesmente
desligou deixando-me desnorteada, meu corpo tremia
internamente, e mesmo ele tendo me tocado como tocou
no outro dia, eu não conseguia acreditar que era a
escolhida dele.
Estava pegando meu lenço quando a porta do meu
quarto se abriu.
— Filha, o Bruno já está lá embaixo, está pronta?
— Sim, já vou descer, obrigada, mãe.
— Filha, era o seu desembargador no telefone?
— Era o desembargador sim, mamãe, quanto a ser
meu, fica por sua conta e risco.
Ela sorriu e saiu meneando a cabeça.
Assim que a porta se fechou novamente, fiquei com
o lenço na mão sem saber onde colocá-lo e qualquer lugar
que eu o colocasse ficaria fora do contexto do personagem,
e então deu-me um estalo. Ergui minha saia e amarrei o
lenço na lateral da minha calcinha e desci rapidamente.
Bruno estava aos pés da escada, e assim que me
viu esboçou uma cara de espanto, dizendo:
— Uauuu! Você está maravilhosa, Donna, uma
deusa como diria o anfitrião da festa.
— Obrigada!
— Por essa eu não esperava! — falou surpreso.
— O que achou?
— Linda, mas não imaginei que chegaria aqui e
veria você vestida de Têmis. Só faltou o lenço nos olhos.
— Acho que não me falta nada — respondi e
terminei de descer a escada.
— Podemos ir?
— Sim, podemos! Gostei da sua fantasia, você fica
lindo de saia — gargalhei — A julgar pela espada, capa e
capacete você é Leônidas ou Aquiles.
— Obrigado! E já digo logo que sou Aquiles, quem
sabe esse guerreiro grego não conquiste uma linda deusa
da justiça de cabelos negros?
— Não comece com bobagens, Bruno. — Ralhei
com ele.
Seguimos para a casa de Davi que ficava no Jardim
América, e eu estava literalmente em cólicas, minha
ansiedade me consumia de forma desesperadora, a ponto
de quase não ouvir nada que o Bruno tagarelava, eu ia ter
um colapso nervoso a qualquer momento, e não sabia se
conseguiria me entregar a ele naquela noite.
XIII
Assim que chegamos em frente à casa do juiz Davi,
senti um frio na barriga ao me lembrar que estaria frente a
frente com ele novamente. Em todos os meus 28 anos de
vida, homem nenhum mexeu com meus nervos como Davi
mexia, era incontrolável, me sentia atraída a ele de uma
forma inexplicável e quanto mais reservado, mais atraída
eu ficava, impossível controlar tal sentimento.
O manobrista abriu à porta para mim, e antes que eu
colocasse meus pés para fora do carro, Bruno me segurou
e disse-me:
— Senhorita!
Toda a atmosfera que nos cercava ao redor da
mansão do juiz estava envolta nos mistérios gregos, a
começar por sua arquitetura que certamente chamou
minha atenção e me encantou. A casa era enorme e
branca com uma arquitetura neoclássica grega e lindas
colunas jônicas. Davi era mesmo um grande apaixonado
pela cultura grega. O caminho que nos levaria até a
entrada da casa estava flanqueado por archotes com
tochas acesas, e ninguém podia negar que toda a
decoração era um espetáculo à parte, totalmente ao estilo
greco romano, com direito a centuriões, gladiadores
romanos com suas capas inesquecíveis vermelhas e
armaduras que incluíam peitoral dourado, capacetes e
lanças, todos a postos na entrada. Era tudo tão real que
me senti entrando em um palácio.
Na entrada os convidados tinham a opção de
escolher acessórios, como lanças, tiaras, braceletes de
metais dourados e outros acessórios. Bruno pegou alguma
coisa e eu simplesmente passei batido.
Assim que entramos no enorme salão da casa,
meus olhos correram aflitos em todos os cantos e não
encontraram o anfitrião, apenas mais do mesmo de todas
as festas desse tipo, ou seja, velhos que se sentem a
última cereja do bolo com suas lindas damas a tira colo,
com raras exceções daqueles que tiveram o bom senso de
não trocarem suas esposas, por mulheres 30, 40 anos
mais novas que eles, e assim suas senhoras eram sempre
as mais elegantes em todos os sentidos, desde o modo a
se portar, até as suas vestimentas elegantes.
A decoração era a de um palácio Greco romano,
cada canto, cada detalhe desde a iluminação bruxuleante
dada as velas artificiais espalhadas por todos os cantos.
Homens trajando vestimentas de gladiadores espalhados
por todos os cantos, e uns e outros usavam togas gregas
brancas, e assim fiquei me questionando como Davi estaria
vestido.
Depois de olhar tudo ao meu redor e acenar para
alguns conhecidos que identifiquei, olhei para as escadas e
vi Dr. Davi conversando com um homem no andar de cima,
de lá ele tinha uma vista privilegiada de todos que
chegavam, então observei o quanto estava lindo vestido
como um deus grego, usava um quiton branco enrolado em
seu corpo e preso no ombro direito, um cinto dourado
estava preso na cintura e caía ao lado de seu corpo. Usava
uma coroa de louros dourada na cabeça. Davi estava um
perfeito deus, ousaria chamá-lo de Zeus.
Encantadoramente lindo, como se fosse possível ficar mais
lindo do que ele já era por natureza, e aos 36 anos de
idade era o homem mais lindo e certamente cobiçado de
toda a festa.

Do primeiro degrau da escadaria do salão, dava


minha atenção a um dos muitos intragáveis magistrados ali
presentes em meu trigésimo sexto aniversário, entre um
gole e outro do meu uísque e aceno de cabeça para o
assunto cassação em pauta e em toda a roda de homens
ali presentes, levava meus olhos a porta na espera pela
melhor visão que aquela festa me presentearia, e foi
alternando meu olhar entre o desembargador e a porta,
que vi, Donna, a mais linda de todas as mulheres que já vi
caminhar sobre a terra e com a qual tenho sonhado desde
que nossos olhos se cruzaram, passar pela porta de
entrada nos braços do meu assessor Bruno.
— Então, Davi, já decidiu sobre seu voto? Vai fazer
esse mistério até o dia da votação, ou vai segredar isso ao
seu velho amigo aqui? — questionou-me o desembargador
José Armando, fazendo-me levar os olhos a ele novamente
e responder:
— Sim, já me decidi e vou levar o mistério até o dia
da votação — respondi sério voltando meus olhos para o
salão a procura de Donna, que havia me surpreendido com
as vestimentas da deusa Têmis, e vê-la naqueles trajes me
levou à loucura.
— Acredito que o Juiz Medeiros não escape desse
infortúnio, pobre Medeiros — lamentou o desembargador
José.
Sorri discretamente sem deixar transparecer meu
ranço pelo Juiz Medeiros, com os olhos fixos em Donna, a
mulher que estava despertando as mais luxuriantes
fantasias em minha cabeça.
Ver Donna chegar segurando com delicadeza os
braços do meu assessor, Bruno, era uma cena que eu já
previa e pela qual eu já havia me preparado, mas mesmo
assim não consegui controlar o ódio que aquela cena tratou
de incumbir em mim. Eu a desejava com força, a queria, e
almejava ansioso pelo dia em que a teria ajoelhada aos
meus pés, chamando-me de Senhor, mas novamente eu
teria que controlar meus impulsos e não ir tirá-la dos
braços dele. Embora eu a desejasse mais que podia
controlar, esperaria com calma o momento certo para tê-la,
e a julgar pela forma que me olhava quando estávamos
pertos um do outro, era só questão de tempo.
Assim que a vi trajando vestimentas da Têmis, com
direito a uma espada e balança como acessórios presos ao
cinto, meu pau deu um tranco violento dentro da minha
cueca; por aquilo eu não esperava, e senti uma
exacerbação da minha libido enchendo-me de um tesão
incontrolável e eu queria muito tê-la essa noite.
Desci as escadas em direção ao casal para dar-lhes
as boas-vindas, e logo que me aproximei de ambos,
coloquei minha caneca em cima de um aparador de
madeira e estendi minha mão para Bruno, dizendo:
— Bruno! Prazer imenso vê-lo em minha festa. —
Não sei se era bem prazer, mas eu tinha que ser elegante
ao recepcionar meus convidados.
— Não perderia por nada, senhor, são as melhoras
festas de São Paulo — respondeu, e eu apenas assenti e
direcionei-me a linda mulher ali parada ao lado dele, fiz
uma leve mesura em sua direção e disse sem ousar tocá-
la:
— Donatella!
— Senhor! — respondeu-me com um leve sorriso, e
logo em seguida, baixou seu olhar me desconcertando.
Donna não sabia, mas nasceu para ser minha, a
forma com que evitava me olhar me deixava transpassado,
ela era a mulher perfeita para mim, a submissa natural, e
eu a teria a qualquer preço. Os olhos de Donna me
transmitiam toda sua personalidade marcante, e eu
conseguia vê-la completamente entrega a mim.
Vasculhei-a e não vi o lenço branco em nenhum
lugar, fiquei louco tentando imaginar onde ela o teria
colocado, ou se teria simplesmente ignorado meu primeiro
pedido.
— Será que terei a honra de dançar com essa
deusa, Bruno? — questionei sem tirar os olhos dela.
— Com toda certeza, não é, Donna? — Bruno
questionou, e Donna fingiu desinteresse no assunto e
estava com seu olhar vasculhando o salão, então com a
pergunta do acompanhante ela voltou a me olhar e disse-
me:
— Certamente que sim.
— Estarei ansioso! — fiz uma nova mesura e
afastei-me de ambos dizendo. — Aproveitem a festa.
— Obrigado, senhor! — respondeu, Bruno.
No decorrer da festa, dancei no meio do salão com
muitas das mulheres ali presente, e sempre que possível
levava meus olhos a Donna, que estava radiante naqueles
trajes que estavam mexendo com meu imaginário com
afinco. Bruno a deixou sozinha por alguns períodos, pois
como imaginei, Carla estaria sempre na cola dele, e assim
o caminho até Donna estava livre.
Notei que ela estava inquieta, ansiosa, eu diria,
fingia estar interessada na conversa com as outras
mulheres, mas não tirava os olhos de mim. Depois de
terminar mais uma dança, levei meus olhos novamente a
Donna, e em todas às vezes que permiti-me observá-la
com mais ardor, notei nela um certo desconforto e
sobretudo um desinteresse aparente que me deixava
intrigado. Eu a seduziria a qualquer preço, ela seria minha
aquela noite.
Donna sabia como me provocar, e mesmo sentindo
o peso do meu olhar, tentava disfarçar ao sorrir e levar sua
caneca de vinho de forma delicada aos lábios, e vê-la
encenar certa tranquilidade me excitava ainda mais, seus
olhos doces e inquietos escondiam uma mulher ardente,
elegante e em breve submissa, e extremamente sedutora
para mim, eu nunca me enganava quanto a isso.
Eu a examinava, cada gesto, cada olhar que lançava
a mim, e que logo em seguida, se desviava rapidamente ou
que simplesmente eram levados aos pés de forma a
intrigar-me mais ainda. Desde que a notei, eu soube que
ela seria perfeita, a mulher que eu queria para ter
ajoelhada aos meus pés, permitindo-me ser seu dono. Sim,
eu sonhava com Donna sendo disciplinada por mim,
sonhava com seus pulsos presos com seu lenço enquanto
testava sua capacidade de obedecer a uma ordem.

Davi não tirava seus lindos e enigmáticos olhos de


mim, nunca vi tanta beleza em um só ser, ele era alto,
baseava 1.90m e seu peso fosse lá qual eram bem
distribuídos de forma a deixá-lo com os ombros largos, era
um homem corpulento com traços lindos em sua face onde
parte era coberta por uma barba bem aparada e curta e
que lhe dava um charme inigualável. Seus olhos
semicerrados na cor azul acinzentado davam-lhe um ar
sedutor, penetrante e congelante, eles exerciam em mim
um fascínio com o qual não senti com nenhum outro
homem, eu os sentia acariciando e surrando minha alma
ao mesmo tempo e com a mesma proporção, não sei
explicar porque não conseguia encará-lo por muito tempo,
sentia um misto de respeito por ser ele quem era, e ao
mesmo tempo um tesão, uma ardência em minhas partes
sexuais que me faziam querer desviar meu olhar e assim o
fazia sem perceber.
Carla havia pedido permissão para dançar com
Bruno pela quarta vez, e então fiquei sozinha em um canto
tomando vinho e observando atenta a pista de dança, e
como Bruno já havia me dito, Davi dançava com todas as
mulheres da festa, e eu observava sua desenvoltura ao
conduzir as damas.
Estava deveras distraída, quando senti a
aproximação de alguém que parou do meu lado, dizendo:
— Um verdadeiro Dom! — disse a voz feminina,
olhando em direção ao Davi, usava um lindo vestido cinza
de um tecido bem fluído.
Me virei para saber quem era, e pelos traços
reconheci a desembargadora Rew, por trás da máscara
branca que cobria só metade de seu rosto.
— Como vai, Meritíssima? — questionei.
— Por favor, Donatella, chame-me apenas pelo meu
nome.
— Me desculpe, Dra. Rew.
— Ele é encantador, não? — questionou novamente
olhando para Davi.
— De quem está falando? — perguntei fingindo não
saber de quem ela falava.
— Do homem que está recebendo seus olhares
deslumbrados.
Ela sorria de uma forma estranha, forçada, e ali,
naquele momento deixei minha cabeça desenvolver suas
primeiras palavras, e o espanto tomou conta da minha
alma, fazendo-me tremer por dentro.
Ela sabe que ele é um dominador — pensei
nervosa.
XIV
Eu deveria, mas não deixaria uma informação
daquelas passar batido, não seria eu se o fizesse, e assim
questionei-a:
— Quem é um Dom, Excelência? — Me fiz de
desentendida.
— O desembargador Davi, é dele que estou falando,
querida.
— Ah! Sim, ele é um homem de muita presença —
respondi bebericando do meu copo que na verdade era
uma caneca para compor o cenário tão real da festa.
— Ele é um controlador nato, minha querida, um
Dom de verdade como poucos, por isso a presença dele
preenche todos os espaços e tira nosso ar.
— Um Dom? — questionei fingindo espanto. —
Estilo Grey? — não consegui evitar de fazer a piadinha
mais batida do século, e tive que me segurar para não rir
na cara dela.
Rew gargalhou de forma espontânea, era uma
mulher linda e elegante com lindos cabelos com mechas
acobreadas.
— Digamos que Grey sirva de referência para você.
— Eu sei o que é um Dom, senhora, se engana se
pensa que Grey é minha única referência, quis apenas
descontrair — respondi logo em seguida sem o tom de
brincadeira anterior.
— Hum, excelente! Então sabe que o Davi não é
homem para você.
Engoli em seco com o ódio circulando como veneno
em minhas veias.
— Como sabe de tudo isso? — questionei olhando
para a pista onde Davi ainda se encontrava dançando e
tomei outro gole da bebida, e a mesma desceu amarga em
minha garganta.
— Uma das magistradas lá do TJ, foi, digamos,
parceira de jogo dele por um tempo, uma grande amiga
minha, e acabou que ela me contava tudo o que acontecia
entre eles, e posso te garantir, o apelido que dão a ele é
completamente equivocado, aquele homem é tudo, menos
frio.
Disso já sei. Pensei.
Aquela mulher apareceu na minha frente aquela
noite para jogar um caminhão de areia em todas as minhas
expectativas, não consegui evitar de deixar que minhas
feições mudassem, eu estava decepcionada com tais
informações. Ela falou sobre o assunto com tanta
naturalidade que acabei me sentindo uma alienígena, e
assim peguei outra caneca de vinho quando o garçom
vestido de gladiador passou do meu lado com a bandeja.
— Minha amiga me dizia que não sabia onde ele era
melhor, se quando estava jogando ou quando ele
simplesmente se permitia viver um sexo mais romântico,
mas não menos apimentado.
Senti meu rosto queimar de ódio.
— Me desculpe — falei desconcertada. — A
senhora não deveria estar falando da intimidade do
Meritíssimo assim — ralhei. — Tão pouco da sua amiga.
— Não vou contar nada a ele. E você? — sorriu
irritantemente com aquele ar esnobe que caía muito bem a
ela.
— Não, claro que não!
— Em todo caso, nenhuma de nós duas saberá,
além do mais, ele não toma para si mulheres
comprometidas.
— E por que não? — minha curiosidade foi maior
que minha indiferença.
— Porque uma mulher precisa estar 24 horas
disponível para ele, que quer ser dono delas, literalmente
falando.
— Bruno e eu não temos nada, senhora — esclareci
enraivecida. — Acha que se tivéssemos, ele estaria
dançando à noite toda com a Carla?
— Não? — arqueou a sobrancelha especulativa.
— Não! Somos apenas amigos — ressaltei.
— Entendi — sorriu forçada levando sua caneca na
boca.
— O que houve com sua amiga? Por que não está
mais com o Dr. Davi? — questionei tentando saber um
pouco mais sobre tudo aquilo.
— Ela se apaixonou por ele, estava amando-o,
quebrou a única regra que ele impõe, ele não permite que
o amem. Percebendo o grau de cumplicidade que estava
se criando entre eles, a dispensou. Tenha em mente que
ele não ama nunca, Donatella, e se você se apaixonar, ele
fará o mesmo com você.
— Por que está me dizendo isso tudo?
— Porque vejo fascínio em seus olhos, aviso para
que não venha a se decepcionar futuramente.
Engoli em seco completamente abalada, todas
aquelas informações pegaram-me de assalto, jogando
assim tudo que minha mente havia criado em uma poça de
água fria. Como assim não ama? Meu íntimo questionou
atordoado.
— Ele está olhando para cá, acho que você será a
próxima a dançar com ele — avisou ela.
— De jeito nenhum, não vou dançar com ele —
retruquei imediatamente.
— Ah Deus! Agora sei por que está aqui, ele
escolheu você, é a escolhida dessa noite, não posso
acreditar nisso.
— Do que está falando? — estreitei meus olhos.
— Não tenha medo, é só uma dança com o anfitrião
da festa, não é uma sessão de spanking.
— Spank, o quê? — questionei assustada.
— Esqueça querida, olha ele aí.
Quando olhei para frente, Davi estava parado
próximo a mim e assim questionou-me:
— Senhorita Donatella, me daria a honra dessa
dança? — estremeci ao tom de sua voz que acabou por me
fazer esquecer cada palavra da Desembargadora.
Antes que eu respondesse, Rew se afastou
deixando-nos a sós, caminhando com a elegância que lhe
era própria.
Estendi minha mão trêmula e fria ao encontro da
dele que estava estendida em minha direção, e assim que
tocou em mim, senti seu calor passar para meu corpo, e de
certa forma me confortar. Ele olhou de uma forma terna, e
acabou que por um instante o medo que Rew havia
instalado em mim quase desapareceu, quando sua mão
apertou firme em minha cintura e seus passos passaram a
guiar-me leve pela sala.
— Têmis? — questionou-me — Queria me
desestabilizar, é isso?
— Não! Apenas gosto dessa deusa por motivos
óbvios.
Ele sorriu discretamente e seus olhos brilharam me
encarando.
— E então, está gostando da festa? — questionou-
me.
— Sim, muito! Eu nunca havia estado em uma festa
à fantasia Greco romano antes, é fascinante.
— Engano seu, você está constantemente em uma
festa com fantasias de diversos tipos, só não se dá conta
que caminhamos dia após dias entre disfarces. A
sociedade se tornou um enorme baile de máscaras,
Donatella, todos fingem ser o que não são o tempo todo,
passam a vida tentando se camuflar e agradar. Pessoas
vazias e cheias de paixões artificiais tentando passar
adiante suas falsas felicidades.
— Nossa! Nunca pensei por esse lado.
— Repare como o diferente assusta e fere as morais
e os bons costumes, dançam sempre os mesmos passos
com medo de mudar e serem julgados, mesmo o corpo
pedindo um ritmo diferente, e os que se atrevem a se
mover contrários, são julgados, condenados e
escrachados.
— Está falando do quê?
— Falo de gosto, falo de experimentar coisas mais
intensas e menos insossas, Donna. O meu, por exemplo,
não consigo gostar de coisas normais, gosto de me
queimar e de incendiar.
— Era dono da Dra. Rew? — soltei a pergunta sem
pensar duas vezes, e tentei não desviar o olhar novamente,
mas a força que ele exercia sobre mim fez-me desviar e
olhar para os casais ao nosso redor esperando por sua
resposta.
Com a pergunta, Davi retesou, suas mãos
apertaram as minhas de forma tensa, e nossos corpos
pararam gradualmente, então ele me questionou:
— Era sobre isso que falavam? Você e a Dra. Rew?
Olhei para o lado e a vi dançando com um homem
toda descontraída e achei que se falasse estaria delatando-
a, então como demorei a respondê-lo voltou a questionar:
— O que ela te disse, Donna? — Estava sério.
Olhei novamente em direção a ela e o respondi:
— Me contou sobre uma amiga que foi sua
submissa — confessei sentindo-me muito mal. — E ela se
engana se pensa que acreditei nisso.
— E o que mais ela te disse?
— Bom, ela me disse que você não ama e que
descarta as mulheres que o amam.
— Não acredito que ela tenha feito isso. — Ele
direcionou seu olhar para ela e havia fúria neles.
— Sim, ela fez. Isso é verdade? — questionei-o.
— Acho que não é o lugar e nem hora para
entrarmos no mérito dessa questão, vamos falar sobre isso
em outra ocasião e lugar — respondeu-me tranquilamente.
Tremi, só de me imaginar em outro lugar com ele e a
sós.
— Seja como for, está dançando com a pessoa
errada, tem outras tantas que não tiram os olhos do senhor.
Ele sorriu discretamente e respondeu-me:
— Nenhuma delas faz o meu tipo, não aprecio
mulheres com belezas forjadas e efêmeras, aquelas que se
constroem em cima de uma cadeira, cujo a beleza da alma
são meras tolices. Aprecio belezas singelas de corpo e
alma, daquelas que possam ser analisadas através dos
olhos doces e especulativos, da fala mansa e sem
maldade, eu ainda prefiro a beleza incrustada na alma de
mulheres que possam se entregar de corpo e alma a mim e
não as que querem me usar como degrau, cujo ego é
maior que tudo nelas.
— Belo discurso, senhor! Aprecia um tipo de beleza
quase extinta, eu diria.
— Pode ser, mas eu reconheço uma mulher com
essas belezas assim que vejo uma.
— Ótimo! O senhor já pode continuar a sua busca.
— Tentei soltar minhas mãos da dele.
— Já encontrei o que procuro, Donna. Você! —
Seus olhos iam fundos em minha alma, e eles me
incomodavam pois sentia-me desnuda em sua frente.
— Pare de me olhar assim! — sussurrei disfarçando.
— Assim como? Diga-me!
— Como alguém que quer me controlar.
— Sente esse instinto acontecer em você de forma
natural? É incontrolável?
— Pare com isso! — Meu peito inflava ao som
exorbitantemente excitante de sua voz.
Ele mordeu o lábio inferior e sorriu malicioso.
— Incomodo você? Diga-me de que forma incomodo
você?
— Já pedi para parar de falar comigo dessa forma.
— Mexo com você da mesma forma que você mexe
comigo, Donna, estamos nesse círculo vicioso desde que
nos vimos de verdade pela primeira vez, e não podemos
negar, podemos?
— Não! — respondi me sentindo asfixiada. — Não
podemos negar, mas podemos parar antes de começar —
respondi.
— Essa sua maneira de falar sem olhar em meus
olhos, me excita de uma forma violenta, os movimentos do
seu peito se movendo com o desconforto, me faz desejá-la
feito um louco enjaulado.
Suspirei alto como se tivesse submergido do fundo
de um poço e não conseguisse voltar.
— Se me permitir ser seu dono, seu único dono, vou
te ensinar coisas que jamais ousou sonhar em conhecer,
pois você tem uma tendência natural à submissão que
ainda desconhece por completo, mas eu vou te ensinar a
liberar isso.
— Meritíssimo, o senhor é um abusado.
— Não, não sou, você mexe comigo de uma forma
que há tempos uma mulher não mexia, sei que deveria me
afastar de você, Donna, mas isso está além das minhas
forças. Sei que vou me arrepender, mas eu quero você e
agora não posso mais fugir disso.
— Não posso dar a você o que deseja, não sei nada
sobre seus desejos intensos, não tenho nada a ver com
esse seu mundo.
— Não sabe, contudo, vai aprender, eu nunca me
engano, você é perfeita para mim, e não vou descansar
enquanto não tiver o que quero.
— Não vou ser seu novo brinquedinho, já falei isso
antes.
Olhei novamente para a Dra. Rew e perguntei:
— Por que não estão mais juntos? Sei que ela
mentiu, sei que era dela que estava falando, tinha paixão
em cada nota que saía dos lábios dela, sei quando alguém
está mentindo para mim.
— Ela rompeu os limites impostos por mim.
— Sei, ela estava amando você.
— Donna, o que eu tinha com a Rew acabou há
tempos, não sinto nenhuma vontade de falar sobre isso
com você.
— Já começamos tudo errado, você não foi sincero
comigo quanto a não amar. — Voltamos a nos mexer
conforme a música.
— Donna, com você é diferente, será que ainda não
percebeu isso? Existia uma regra que sempre impus para
minhas submissas, não se apaixonar, acontece que com
você eu já quebrei a porra da minha regra antes mesmo do
jogo começar.
— Quanto a não amar?
— Diz-se de amantes, pessoas que se amam
mutuamente, que vivem uma entrega de corpo e alma, e
isso envolve muito cuidado no meu caso, mas no que diz
respeito a você, sinto que não quero me fechar a isso.
— Então não amava a Dra. Rew?
— Ela dava a mim o que eu queria e eu dava a ela o
que ela queria, e quando ela passou a exigir exclusividade
e fazer declarações, tudo acabou.
— Entendi! É um jogo que perde quem quebra as
regras.
— Exatamente! — respondeu sem nenhum tipo de
reserva, decepcionando-me por completo. — Mas você é
diferente para mim, é um desafio, é instigante.
Perdi completamente o chão com tudo aquilo.
— Não estou me sentindo muito bem, a festa
acabou para mim.
— Donna, não tenha medo do que você não
conhecesse.
— Não conheço, nem estou interessada. Escolheu a
pessoa errada.
— Não escolhi você para nada! Não foi assim com
você.
Gargalhei jogando meu corpo para trás.
— Pode me dizer qual a graça?
Fiquei séria naquele exato momento, pois sua
pergunta foi ligeiramente rígida.
— Olha Davi, vim a essa festa cheia de expectativas
que foram frustradas, e seja lá o que quer que você queira
comigo, esqueça, não vou fazer parte desse seu mundinho.
— Precisamos conversar, e não é no meio de uma
festa que faremos isso.
— Nem na festa e nem em nenhum outro lugar.
Esqueça.
— Então me diga, estou curioso, onde colocou o
lenço de seda? Você o trouxe, não trouxe?
Os pelos do meu corpo se arrepiavam todas às
vezes que me lembrava da cena do lenço, eu
simplesmente inflamava, e então, uma frase veio-me à
mente. Fique longe de mim, Donatella, eu posso ser bem
perigoso com um lenço daqueles nas mãos.
— Não, eu não o trouxe — respondi assim que
pensei no que ele havia me dito.
— Não trouxe ou tem medo de como eu posso
querer usá-lo? — apertou seus dedos em minha cintura e
girou meu corpo dando uma meia volta na pista.
Engoli minha saliva.
— O lenço está bem guardado, Meritíssimo, e
acredite, já me arrependi de tê-lo trazido comigo, visto que
não terá nenhuma utilidade — tirei minha mão de seu
ombro e ameacei afastar-me, contudo, seus dedos firmes
seguraram-me forte pela cintura e apertaram minha mão,
impedindo-me de me afastar dele.
— A música ainda não terminou — disse entre os
dentes de forma firme.
Ele sorriu com os olhos profundos, seu rosto
demonstrou satisfação, porém, de uma forma quase
indecifrável, e confesso que senti um misto de excitação e
medo ao mesmo tempo quando me senti presa ao corpo
dele, e assim voltei minha mão em seu ombro e voltei a me
mexer acompanhando seus passos elegantes.
— Diga-me onde está o lenço, você está me
enlouquecendo. — Sua voz era um sussurro, visto que não
queria ser ouvido por ninguém.
— Não vou dizer. — Seus dedos se afundaram
ainda mais em minha cintura de uma forma deliciosa, e
para que ele não visse minha excitação, inclinei-me em seu
ombro e fechei meus olhos.
A luz do salão era fúnebre, por sorte o quase escuro
do ambiente me permitia disfarçar toda a excitação que
Davi estava me causando. Com a cabeça próxima de seu
pescoço, a coisa só ficou pior, pois o cheiro que ele
exalava me atingiu e me aturdiu de uma forma torturante.
— Eu sei que me deseja tanto quanto eu a desejo,
não adianta desviar seu olhar, quanto mais você faz isso,
mas louco me deixa.
— Vossa Excelência é muito presunçoso mesmo.
— Você quem está dizendo, mas eu vou me
defender, não se trata de presunção, trata-se de atenção, e
eu sinto os sinais que seu corpo dá ao meu, e por mais que
seus lábios dizem o contrário, seu corpo não sabe mentir
paro o meu. — Novamente fechei meus olhos me deixando
seduzir por cada som firme que saía de seus lábios, era
sexy e enérgico.
Suspirei sentindo-me sem ar, o timbre de sua voz e
as palavras eram sensuais demais, me deixava mole e com
um desejo louco de beijá-lo ali mesmo.
— Onde colocou o lenço, Donna? — Sua pergunta
saiu um pouco mais dura dessa vez.
— Está amarrado em minha lingerie — respondi
imediatamente.
— Na calcinha?
— Sim!
— Quer me matar? É isso? — falou entrecortado.
— Você disse para trazer o lenço, e eu o trouxe.
— Quero ele na minha mão — disse coercivo,
porém, sem aumentar o tom de voz, o que aumentava
ainda mais meu ímpeto.
— Não suporto o seu tom mandão!
— O lenço, Donatella! — exigiu ignorando-me
completamente.
— Está maluco? Eu disse que ele está amarrado na
minha calcinha — olhei para o lado para me certificar de
que o casal ao lado não tivesse me escutado.
— Está escuro aqui, ninguém vai ver você o tirando
daí — respondeu fitando-me sério.
— De jeito nenhum!
Seus dedos apertaram minhas costas forçando-me a
ficar colada no corpo dele, encostou seus lábios em meu
lóbulo e fez-me arrepiar toda ao sussurrar:
— Tira o lenço da porra da calcinha, Donna. Agora!
— falou de um jeito que naquele momento eu tiraria até a
calcinha. — Vou precisar dele.
— E para quê? Posso saber, Meritíssimo?
— Você vai descobrir.
Olhei para todos os lados do salão e reparei que
estavam todos distraídos demais para perceberem o que
eu estava prestes a fazer. E aproveitando a pouca
iluminação e o coração batendo na boca, levei minha mão
direita na lateral aberta da saia do vestido que eu usava e
levei meu dedo no lenço, então falei baixinho:
— Você o quer? Tire você mesmo.
Davi me olhou de uma forma tão quente que senti
uma fraqueza percorrer meu corpo e se instalar em minhas
pernas, e a sensação de moleza só piorou quando senti
seus dedos ágeis tocarem minha pele e retirar o lenço da
minha calcinha com rapidez e falar:
— Está vendo as escadas? — questionou-me.
— Sim, claro que estou vendo.
— Suba, e no corredor a esquerda procure seu
lenço. Encontre-o; entre no quarto, ajoelhe-se e amarre-o
em seus olhos e espere meu próximo comando.
— Está brincando comigo?
— Não! Mas vou!
— Davi não vou subir aquelas escadas com todos
me olhando.
— Você vai sim, e eu vou primeiro, você espera um
tempo e depois vai.
Senti os dedos dele afrouxarem em minhas costas e
assim caminhou rumo a escadaria fazendo meu lenço
desaparecer em sua mão ao fechá-la.
Olhei ao redor e vi que Bruno estava distraído
demais com Carla, era quase inacreditável o que meus
olhos estavam vendo, e ele sorria com um brilho diferente
nos olhos.
Em seguida, procurei a Dra. Rew, e ela estava com
os olhos enormes fixos em mim, e então pensei duas vezes
se deveria subir ou não, e aconteceu que a vontade de
estar com ele naquele momento era maior que qualquer
coisa. Então coloquei meus pés nos degraus e os subi sem
nenhum tipo de pudor, apenas respirei e fui.
XV
Cada degrau da belíssima escadaria branca, era um
tamborilar do meu coração que batia em desarmonia, não
olhei para trás, não tive sequer menção das pessoas que
estavam me vendo subir para o andar de cima da enorme e
luxuosa mansão. Segurando a saia do vestido para não
pisar em cima, fiz o caminho rumo a escuridão, rumo ao
desconhecido, atrás do homem que definitivamente estava
me fazendo perder o juízo. Eu não sabia o que me
esperava atrás da porta que encontraria meu lenço
amarrado, e enquanto caminhei no longo corredor em cima
dos tapetes persas lindíssimos em tons terrosos fui criando
o cenário que suspostamente encontraria assim que
adentrasse no suposto quarto, e certamente que o criei em
meu imaginário exatamente como vi em minhas pesquisas,
e não era nada muito agradável o quarto que um Dom
usava para seus jogos, mas ali estava eu, um passo de
cada vez e as mãos firmes na bolsinha branca que eu
carregava comigo, visto que não era ninguém sem meu
celular. Olhei em todas as portas, mas foi na penúltima que
encontrei meu lenço branco enrolado no trinco, e assim o
peguei, senti a macies do tecido e instintivamente o levei
até o nariz e como imaginei que seria, senti o cheiro dele
no tecido de seda.
Fiquei parada na porta ponderando por alguns
segundos, então abri a enorme porta de madeira e adentrei
lentamente no ambiente que logo de cara me surpreendeu,
eu estava estática e constatei que se tratava de um quarto
lindo e normal, não tinha nada do que eu imaginava que
teria ali, muito pelo contrário era de um minimalismo
elegante.
O quarto era enorme, com poucos objetos, a cama
era baixa, uma enorme plataforma de madeira escura em
estilo japonesa sustentava um colchão em cima que estava
coberto com lençóis claros e muitas almofadas, e se
encontrava disposta em cima de um grande tapete creme e
liso que cobria o piso de madeira. Dois criados
retangulares de madeira escura ladeavam a cama, e neles
uma linda luminária e no outro algumas velas estavam
acesas, dando um ar romântico no lugar. O ambiente todo
em si era muito minimalista, mas que muito me lembrava o
dono. A luz era baixa, quase escuro se não fosse a
claridade entrando pelos panos de vidro que davam para
uma varanda, que foi onde meus olhos curiosos
encontraram o dono do quarto, e ele estava debruçado na
proteção. Meus batimentos voltaram a acelerar, e então,
dei três passos em direção ao centro do quarto e me
ajoelhei exatamente como ele havia me pedido,
diretamente no piso de madeira. O clima do quarto estava
levemente quente, então dobrei o lenço e o levei até meus
olhos e amarrei, vendando-me e ficando de vez no escuro,
e dessa forma, fiquei por algo que imaginei ser uns cinco
minutos, sem que ele dissesse uma única palavra, e nem
eu, um silêncio angustiante.
No piso, escutei os passos de Davi se aproximando,
e então me dizer:
— Me dê suas mãos, já passou no primeiro teste.
Estendi minhas mãos e senti ele tocá-las e me fazer
levantar e com os olhos no escuro, eu senti com mais
profundidade e exatidão do seu cheiro, e era muito bom,
melhor do que me lembrava. Davi levou suas mãos no
lenço e tirou-os de mim, questionando-me:
— Como se sente estando no meu quarto?
— Confesso que melhor do que imaginei, na
verdade, imaginei um quarto totalmente diferente.
— Posso até imaginar o que pensou, mas esse aqui
é apenas o lugar onde passo minhas noites.
— Humm! Entendi, então existe outro quarto, uma
masmorra?
— Eu tenho um quarto de jogos, sim, Donna.
— Mas não me levou para lá — afirmei nervosa.
— Eu não seria tão insensível com você assim, não
no seu primeiro dia comigo, e além do mais, muitas coisas
você precisa aprender antes de decidir se quer ou não
estar comigo lá.
— E quando vai começar a me ensinar?
— Agora! Exatamente agora — respondeu e deu um
passo à frente, tocou em meu rosto afetuoso e contornou
meus lábios com os dedos dizendo:
— Donna, essa sua boca! — fechei meus olhos me
derretendo toda e sentindo um calor me invadir ao sentir
aquele toque e o tom daquela voz.
Seus dedos desceram em direção ao meu seio e ele
contornou e apertou um deles por cima do tecido do
vestido, e com cautela sua mão ultrapassou o tecido e
tocou minha pele, o bico rígido do meu seio, me fazendo
gemer baixinho ao seu contato e sentir uma excitação
como há tempos não sentia. Ele me virou de costas e
encostou seu corpo ao meu me puxando pelo abdômen e
me fazendo sentir sua ereção. Deus o que é isso?
Questionei em meu íntimo.
— Donna, você faz coisas comigo que mulher
nenhuma fez. — Ele estava duro demais, e senti-lo daquela
forma me fez molhar, eu estava louca pelos lábios dele e
assim virei meu rosto em sua direção e tentei beijá-lo, mas
ele colocou a mão na minha boca dizendo:
— Não, você ainda precisa me provar que quer
realmente ser minha, que vai mesmo se entregar de corpo
e alma. Preciso saber até que ponto será submissa a mim,
e depois disso darei a você tudo o que quer — enquanto
sussurrava rente aos meus lábios, mas sem tocá-los, seus
dedos adentraram por baixo do tecido da minha calcinha e
ele simplesmente ultrapassou a barreira dessa vez,
tocando em minha vulva e me fazendo suspirar e gemer:
— Ahh! Ahh Davi!
— Se já estivéssemos jogando, você já iria ficar sem
sua recompensa, pois a partir de hoje, dentro desse quarto
ou em qualquer cômodo dessa casa, eu sou apenas seu
Senhor, e isso só muda quando eu disser que pode me
chamar de Davi.
— Simm! — respondi mole com as pernas
fraquejando, pois ele estava deliciosamente movimentando
seus dedos em meu clitóris.
— Sim, o quê, Donna? Diga-me. — encostou seus
lábios em meu pescoço.
— Sim, Senhor! — não era muito difícil chamá-lo de
“Senhor”, visto que eu já fazia isso por respeito ao
magistrado que ele era.
— Ótimo, você parece que aprende rápido.
Ele foi me arrastando lentamente em direção a cama
enquanto beijava meu pescoço e mordiscava de leve me
fazendo sentir um tesão delicioso.
Antes de subirmos na cama, ele se afastou de mim
e ordenou:
— Tire a calcinha. — Estendeu as mãos esperando
que eu a colocasse sobre as suas, e assim eu fiz, tirei a
calcinha lentamente, alimentando todo um clima,
encarando-o e então, lhe entreguei minha lingerie de renda
branca.
Ele a enrolou em seus dedos e a cheirou bem na
minha frente sem nenhum pudor, me fazendo esquentar de
vergonha, podia jurar que virei uma pimenta.
— Bom! Seu cheiro é muito bom — disse jogando a
calcinha em um canto em cima da cama, dizendo-me, na
verdade, dando-me uma ordem. — Vá ao banheiro fazer
xixi.
Balancei a cabeça sem entender nada e disse-lhe:
— Não estou com vontade.
— Faça como falei, Donna.
Sem entender absolutamente nada fui até ao
banheiro da suíte, lindíssimo por sinal, e acabei fazendo
como ele ordenou, e logo em seguida, voltei para o quarto
morrendo de vergonha com meu eu interior atirando pedras
em mim.
— Boa menina! Minha deusa, minha Têmis —
sussurrou vindo em minha direção com o lenço em sua
mão, e assim senti uma tensão tomar conta do corpo que
me fizera suspirar alto. — Suas mãos, estenda suas mãos
— ordenou novamente, e receosa, eu o fiz, mas não sem
questionar:
— O que vai fazer, Davi? Por favor, me diga.
— Calma, e não é Davi, é Senhor, mas vou te
ensinar isso uma outra hora de uma forma mais eficaz, por
enquanto, não precisa ter medo, apenas vou privá-la dos
movimentos de suas mãos, já fiz isso com seus olhos,
lembra?
— Vai me amarrar com esse lenço? — questionei
ficando nervosa com o que viria a seguir, e ali naquele
momento mil coisas passaram em minha cabeça.
— Sim, estenda seus braços em minha direção.
Fiz como ele mandou e questionei novamente:
— Não poderíamos apenas fazer amor como
pessoas normais? Apenas essa noite? — perguntei e
fechei os olhos esperando a resposta.
— Se provar sua submissão a mim, vai me ter essa
noite.
— Como um casal normal?
— Você faz perguntas demais, Donatella, apenas
relaxa — respondeu-me sério.
Ele dizia e passava o lenço com cuidado em volta
dos meus punhos, e uma aflição enorme foi tomando conta
do meu ser, fazendo minha respiração aumentar
gradativamente.
— Calma, Donna, é só um lenço, é só um nó de
desate fácil, você puxa os punhos em direções opostas e o
nó já vai se soltar, ou você puxa a ponta com a boca e ele
solta com a mesma facilidade. Faça o teste — explicou,
acalmando-me.
Suspirei ruidosamente e nem precisei de força e os
meus pulsos já estavam livres, o que me deixou aliviada.
— Viu só?! — sorriu contido. — Você está segura.
Assenti meneando a cabeça.
— Quer mesmo se entregar a mim? Você ainda
pode sair desse quarto — questionou-me tirando o lenço
da minha mão novamente.
— Sim, eu quero muito ser sua, Meritíssimo.
— Então ajoelhe-se no centro da cama, sente em
cima dos seus calcanhares e estenda os braços para mim,
vou prendê-la novamente.
Fechei os olhos, pensei por um instante, me abaixei
e tirei minhas sandálias, ergui a saia do meu vestido longo
e subi com facilidade em cima da cama, visto que era muito
baixa. Eu estava muito tensa sem saber o que viria a
seguir, mas mesmo assim segui suas ordens e estendi
novamente meus punhos a ele, que subiu comigo na cama
e novamente imobilizou-me. Davi ficou me encarando de
um jeito que me enlouqueceu, eu já estava sensível devido
ao seu toque, e assim ele voltou a contornar meus lábios
com os dedos, e em seguida, inclinou-se em minha direção
e encostou sua boca na minha, beijando-me com cautela,
experimentando meus lábios, degustando-me com
maestria, me enlouquecendo de vez e me deixando
encharcada, então mordeu meu lábio com força e puxou o
inferior e soltou dizendo:
— Me espere voltar, tenho uma festa lá embaixo,
lembra?
— Esperar? Aqui? Assim? — retruquei com
urgência.
— Sim! Exatamente assim, submissa, me esperando
voltar para você.
— Senhor, eu...
— Não tem nada a temer, o lenço se solta quando
você quiser, é só puxar, mas se isso acontecer, não terá
sua primeira recompensa.
Engoli em seco, e logo em seguida, questionei:
— Que recompensa?
— Eu sou sua recompensa, Donna. Entenda, prefiro
as recompensas aos castigos, se fizer como te mando,
será recompensada, do contrário, vai ficar sem aquilo que
mais almeja, seu senhor.
— Você vai demorar? E se eu ficar em pânico?
— Já te falei, Donna, o lenço se solta quando você
quiser — ele voltou a me beijar, e dessa vez com mais
intensidade, enfiando a língua dentro da minha e
chupando-a com voracidade, acendendo mais ainda o fogo
que me consumia, ele era simplesmente delicioso. — Estou
louco para ter você, quero estar inteiro dentro de você,
senti seu calor interno, então não me decepcione, Donna,
esse é o seu teste, se passar, vai me ter.
— E se eu não conseguir, vai simplesmente me
dispensar?
— Donna, você já fez ioga?
— Não! Não fiz.
— Não é difícil, tente se concentrar, esvaziar sua
mente, não pensar em nada, principalmente em como as
coisas irão acontecer nesse quarto quando eu voltar,
apenas apague tudo da sua mente e relaxe.
— E se eu dormir?
Ele levou a mão em sua boca e se virou de costas e
eu tive certeza de que foi para conter o riso.
— Você não vai dormir, vai? E perder tudo que tenho
para você essa noite?
Ele tocou em meu peito e disse:
— Respire com calma, tente desacelerar seu
coração, e enquanto faz isso, pense em uma palavra de
segurança para ser usada sempre que você estiver no seu
limite. Pense em algo que te dê conforto, e então depois
você me diz.
— Já vou precisar usá-la hoje? — questionei
entrando em pânico tentando arrancar algo dele.
— Não, não vai ser necessário, eu te prometo, além
do mais, teremos que conversar sobre muitas coisas antes
de você precisar usar sua safeword.
— Não demora, por favor! — implorei.
— A festa tem hora para acabar, lembra? —
respondeu piscando e sorrindo.
Me lembrei que no convite tinha um horário
estipulado de começo e fim, mas não resolveu muito
porque eu não tinha noção de que horas eram.
— Que horas são agora? — indaguei.
— Donna, só relaxa e me espera, eu realmente vou
torcer para voltar e encontrar você exatamente como te
deixei.
Ele virou foi saindo de cima da cama e caminhou no
quarto rumo à porta, então falei:
— Senhor!
Ele parou sem olhar para trás.
— Sim!
— Vou poder tentar de novo se eu falhar dessa vez?
Ele nada respondeu, saiu do quarto me deixando em
um quase escuro, de joelhos em cima de sua cama macia
e com as mãos atadas para frente, e assim eu deveria
estar quando ele voltasse, mas só Deus sabia o conflito
que se criou dentro de mim logo que ele fechou aquela
maldita porta e me deixou ali, só então entendi o motivo de
me mandar ir ao banheiro.
Não sei o que era pior, se ficar ali rendida a ele
daquela forma ou não saber o que viria depois, de como
seria a tal recompensa, e se a recompensa seria minha ou
dele. Dizem que a voz da consciência são os anjos
assoprando em nosso ouvido, e ali naquele quarto um dizia
para eu fugir e o outro dizia para eu ficar, só não soube
decifrar qual dos dois queria que ficasse, se o do bem ou o
do mal.
XVI
Donna me desmontava de todas as formas
possíveis, ela me fazia sorrir de uma forma sincera, com
ela eu não precisava de máscaras, e sua espontaneidade
me ganhava a cada minuto que passava ao lado dela, pois
ela não tem medo de falar o que pensa e nem de tentar
entender cada mínimo detalhe do que está acontecendo
com ela e assim mil e uma perguntas surgem.
Com Elisa era muito diferente, pois era submissa
nata, e consequentemente tímida em demasia, e o que
vejo em Donna, não vi em Elisa e nem em nenhuma das
outras submissas que já tive na vida, pois a grande maioria
eram marionetes demais. Resumindo, Donna me encanta
de um jeito ímpar.
Bruno me disse que ela era especial, hoje consigo
entender muito bem do que ele estava falando, visto que
concordo completamente.
Embora eu tenha detectado um resquício de
submissão em seu olhar, saí do meu quarto com 100% de
certeza de que não a encontraria como a deixei assim que
retornasse, e mal coloquei meus pés no último degrau da
escada e fui interpelado por Rew, que me olhava como
uma onça furiosa que havia sido cutucada com vara curta.
Se aproximou de mim questionando:
— Já conseguiu levá-la para o quarto de jogos?
Impressionante como foi fácil, Davi. — Cruzou seus braços
encarando-me com o olhar mais duro e inquisidor.
Estreitei os olhos e a respondi ao me aproximar um
pouco mais dela, pois a música ainda tocava na sala:
— Não sei do que está falando.
Rew não perdia sua elegância, não alterava o tom
de voz, mas eu podia sentir o ódio estampado em cada
nota que saía de seus lábios e sua voz moderadamente
compassada.
— Sabe sim, estou falando da filha do Dr. Villas
Boas, a assessora do Dr. Afonso.
— Donatella, está falando da Donatella — afirmei.
— Sim, exatamente.
— Não a levei para o quarto de jogos — respondi
estendendo minha mão e apanhando uma caneca de vinho
do garçom.
— Não me diga que...
— Ela está em meu quarto, Rew.
Ela bebericou de alguma coisa em sua caneca e
engoliu o líquido como se estivesse provando algo amargo.
— Colocou uma mulher em sua cama? Me disse
que isso nunca iria acontecer depois de Elisa.
— As coisas mudaram. Donna é diferente, é
especial e estou deixando-a entrar na minha vida.
— Uma baunilha sem graça?
— Sem graça? — falei sorrindo. — Donatella é tudo,
menos sem graça, Rew.
— Já entendi, me trocou por ela, por isso rompeu
comigo.
— Não foi nada disso e você sabe bem. Não
estávamos mais jogando o mesmo jogo há meses —
argumentei.
— Está apaixonado. Mal consigo acreditar —
afirmou ao invés de questionar.
— Não sei o que está acontecendo comigo, mas
estou permitindo e gostando muito — expliquei, bebendo
mais um gole.
— Ótimo! Depois me conte quando tudo der errado
e você perder o controle e se deixar dominar por ela.
— Isso não vai acontecer. Você me conhece bem.
— Tem razão, pobre Donatella, vai fazer com ela o
mesmo que fez comigo.
Antes que eu pudesse argumentar, fui interrompido
por Bruno que me disse:
— Perdão, senhor!
— Sim — respondi observando Rew se afastar e
caminhar rumo à porta de saída.
— Por acaso viu a Donna? Carla e eu estamos indo
embora e preciso levar a Donna, afinal de contas, ela veio
comigo.
—Não se preocupe com a Donna, eu a levarei para
casa quando ela desejar — respondi e não dei chances de
que me questionasse, afastando-me dele e me infiltrando
em uma rodinha de juízes.
Olhei em meu relógio e faltava uma hora para
horário estipulado para o término da festa. E em meio a
uma angústia que jamais senti na vida, vi um a um os
convidados saírem pela porta depois de se despedirem de
mim, e aqueles foram os minutos mais longos da minha
vida. Ansiedade não me pertencia, mas estava ali
infiltrando-se em mim.
— Linda festa, senhor! — disse Vera, minha
ajudante.
— Sim — respondi monossilábico.
— Pode se recolher, senhor, vou cuidar de tudo por
aqui, vou acompanhar o pessoal do Buffet e o desmanche
do cenário.
— Não! — respondi enfático. — Não quero mais
ninguém aqui por hoje, Vera, diga ao pessoal do Buffet
para voltar amanhã e despache todos os outros, incluindo a
banda. Depois peça ao Jonas para levá-la para casa.
— Mas, Senh...
— Sem mais, Vera, quero minha casa vazia, nem
que para isso seja preciso pagar essas pessoas para
saírem.
— Está bem, farei isso agora mesmo — respondeu-
me.
— Obrigado, Vera.
Subi as escadas rumo ao meu quarto envolto em
uma ansiedade que me enervava. Por que diabos essa
mulher mexe tanto comigo? Eu sabia a resposta, Donna
era um desafio para mim, uma tentação, o novo e o
imprevisível. Não saber como a encontraria atrás daquela
porta estava me matando, eu saberia como encontraria
uma submissa nata, mas não sabia como encontraria
Donna. E logo a adrenalina foi disparada em meu corpo de
forma violenta quando toquei no trinco da porta.
Na mão esquerda eu segurava uma taça com água,
e logo que adentrei em meu quarto, senti meus dedos se
fecharem involuntariamente e com força ao redor da taça
assim que tive Donna em meu campo de visão. Fechei
meus olhos, deixei um sorriso brotar em meu rosto e
caminhei lentamente até ela, que para minha surpresa,
ainda estava na mesma posição que a deixei. Linda e
submissa a mim.
Parei em sua frente sussurrando seu nome com
deleite:
— Donna!
Ela estava de cabeça baixa, então me olhou e sorriu
lindamente, piscando os olhos e dizendo aliviada ao me
ver.
— Graças a Deus!
Ajoelhei-me na cama e levei o copo de água em sua
boca, dizendo-lhe:
— Beba!
Ela bebeu da água me olhando de uma forma
tórrida, ela sabia o que queria, e esperou por isso com
paciência.
— Tinha certeza que não te encontraria aqui — falei
colocando o copo no criado mudo.
— Fiquei por você, apenas por você, e só consegui
porque mentalizei cada traço do seu rosto, porque
contornei seus lábios com meus dedos e senti sua barba
em minha mão, seu cheiro, mas só Deus sabe como foi
difícil. Você demorou uma vida, Davi.
— Estenda as mãos — pedi e ela fez
imediatamente, então tirei o lenço dela libertando-a. —
Faça movimentos, abra e feche suas mãos várias vezes —
pedi.
Donna fez como pedi, mas sem tirar seus olhos
enormes e pedintes de mim. Segurei em suas mãos e a
massageei por alguns minutos, cuidando dela, sentindo a
maciez de sua pele.
— Donna, diga-me o que quer de mim? Por que
esperou por mim? Preciso ouvir suas palavras.
— Quero você, quero muito ser sua e que seja meu
dono.
O tom aveludado de sua voz, dizendo aquelas
palavras me fez sentir algo que nem sabia mais que existia
em mim, um sentimento que ia muito além de poder, de
dominar e controlar, e eu a queria com voracidade e teria
que me controlar naquele momento ou estragaria tudo
agindo por impulso.
XVII
Dez minutos, meia hora? Não sei, porém, a
sensação foi de ter passado dias ajoelhada em cima
daquela cama a espera dele. Uma luta, uma guerra, eu
travei comigo mesma, e um foco eu mentalizei todo o
tempo para conseguir segurar à vontade enorme de sumir
daquela cama e daquele homem, mas agora, ali estava ele,
o homem, o deus que eu criei em minha mente para
conseguir suportar e vencer meu Eu interior. Lindo,
perspicaz e intrigante, tanto que seus olhos brilhavam
naquele momento, e assim que me ouviu dizer que eu o
queria como dono, mesmo sem eu saber de fato o que tudo
aquilo significaria, ele simplesmente levou a mão em minha
nuca e me tomou como posse, buscou meus lábios de uma
forma febril, voraz, experimentando-me com ansiedade, e
levei minha mão em seu rosto para tocá-lo, pois queria
senti-lo com a mesma urgência que seus lábios me
consumiam e senti meu pulso ser travado. Fiquei
literalmente asfixiada com aquele beijo intenso onde sua
língua invadia minha boca e sugava a minha com fome, me
deixando molhada e completamente quente, eu sentia o
calor no meio de minhas coxas, me invadir e me incinerar
literalmente.
— Donna! — murmurou.
— Sim! — falei arquejante.
— Consegue ficar mais um tempo com as mãos
imobilizadas? — questionou-me.
— Vai me deixar aqui novamente? — indaguei
assustada.
Ele sorriu respondendo:
— Não, só se eu fosse louco, mas eu preciso disso,
preciso ter você submissa a mim essa noite.
— Eu aguento, por você, eu aguento mais um pouco
— respondi.
Davi se inclinou novamente e chupou meus lábios,
roçou a barba no meu rosto e mordeu o lóbulo da minha
orelha, sussurrando:
— Não tenha medo de mim.
Então se levantou da cama, levou seus dedos na
faixa dourada e a tirou de sua cintura, confesso que fiquei
ansiosa por vê-lo se despir para mim daquela forma, e
quando seus dedos levantaram, por fim, o quiton branco
que ele usava, tive um espasmo de tesão invadir meu
ventre ao ver a perfeição daquele deus, daquele homem
que acabara de ficar nu na minha frente, literalmente nu,
sem cueca, sem nada. Davi era corpulento, alto e tinha os
músculos perfeitamente marcados e bem trabalhados.
Seu abdômen era um deleito para meus olhos e
jamais imaginei que por debaixo da toga preta que ele
usava diariamente, tivesse um corpo como aquele. Eu
ainda estava de joelhos em cima da cama, e apertei meus
dedos em minhas coxas assim que me permiti descer os
olhos até a ereção majestosa que ele ostentava naquele
momento, e tudo aquilo era tão perfeito quanto o dono.
Senti a pele do meu rosto queimar quando meus
olhos encontraram com os dele logo após eu ter perdido
um bom tempo admirando Vossa Excelência e seu
Excelentíssimo pau, e que pau lindo ele tinha, se é que
existe beleza no órgão sexual de um homem; o dele era
perfeito.
Davi voltou para a cama e para mim, na verdade, se
ajoelhou atrás de mim, encostou seu rosto ao meu e
aspirou o cheiro em meu pescoço, me deixando mole
enquanto suas mãos subiram e desceram acariciando
meus braços até que sua mão chegou em meu pescoço e
ele o alisou e fechou seus dedos em volta, algo que me fez
sentir um misto de ansiedade e desejo, e enquanto me
segurava daquela forma, voltou a me beijar na boca, me
envolver e me deixar completamente entregue e seduzida.
Ele tirou meu vestido em um piscar de olhos, quando dei
por mim suas mãos estavam envoltas em meus seios,
apertando-os enquanto seus lábios exploravam meu
pescoço intercalando entre beijos e mordidas leves que me
arrepiavam até a alma, e eu ondulava meu corpo, roçando
no dele sentindo a ereção deliciosa me pressionar por trás.
Davi desceu a mão em meu abdômen e deslizou até
o meio das minhas coxas, beijando-me, seus dedos
chegaram em minha entrada e me penetrou fazendo-me
ver estrelas naquele momento, pois seu toque era quente,
subia e descia na minha entrada, me masturbando e
tirando-me da órbita da Terra. Eu já estava completamente
entregue quando ele sussurrou em meu ouvido:
— Vou privá-la dos sentidos novamente, dessa vez
vamos unir as duas privações de que você já teve contato
— disse e levou meu lenço até meus olhos e me vendou.
— Não tenha medo, relaxa, não vou fazer nada que você já
não tenha experimentado.
— Mas você disse que... — fui interrompida com ele
colocando o dedo na minha boca, dizendo:
— Shiii! Agora você não questiona mais, entendeu
Donna?
— Sim, senhor — respondi tentando não pensar no
que viria a seguir.
— Liberte-se de seus medos, hoje não tem motivos
para isso. — Sua voz era persuasiva, ele falava e eu
simplesmente amolecia e só desejava mais e mais do
toque que ia se intercalando entre o macio e o toque mais
forte no bico dos meus seios, mas não menos prazeroso,
eu gostava daquilo.
O quarto estava silencioso, suspirei profundamente,
imersa no escuro e nos sons de nossas respirações.
— Desconecte-se da realidade, busque minha
imagem na mente. — Quando disse isso, voltou a me beijar
e a me tocar, enfiando um dedo em minha entrada e indo
fundo em minha vagina, me fazendo arfar e gemer presa
naquela boca. Naquele momento, nada mais me
incomodava, eu o queria, e o queria com força dentro de
mim.
Davi ergueu meu braço esquerdo e o prendeu em
alguma coisa, restringindo o movimento daquele braço que
ficou completamente estendido para cima, em seguida,
acariciou meu braço direito e fez o mesmo com ele,
prendendo-o para cima com algo que se fechou em volta
dos meus pulsos. Não vi o que os prendia no alto, e nem
de onde surgiu, mas eu sabia que não eram algemas e
sim, algo macio que envolvia meus pulsos mantendo-me
de braços erguidos.
Desta forma, fiquei de joelhos com o corpo ereto e
os braços erguidos, presos em alguma braçadeira e com
os olhos vendados. Até ali Davi disse a verdade, pois já
havia me vendado e me imobilizado, então não tinha
nenhuma surpresa.
Senti seus dedos se enfiarem no meio dos meus
cabelos, virou meu rosto em sua direção e me beijou,
degustando-me, movendo seus lábios como alguém que
tem fome e perdi minha alma naquela boca, naquele gosto
levemente adocicado que lembrava uva, imaginei que ele
havia bebido um pouco de vinho.
Suas mãos exploravam meu corpo com maestria,
cada canto, indo fundo, me penetrando, movimentando e
explorando meu clitóris, meus seios, apertando os bicos
com força que me fazia contrair o corpo e gemer, mas a dor
mediana era rapidamente aplacada com carícias suaves e
beijos que tiravam minha atenção dos seios.
Davi afastou seu corpo do meu, e criei a expectativa
tentando imaginar o que viria a seguir, e antes que o pavor
se instalasse em mim, ele tirou a venda dos meus olhos, e
o vi parado na minha frente, em pé em cima da cama com
sua vara deliciosa apontando para mim e um olhar lascivo
que me incendiou, e quando seus dedos juntaram meus
cabelos em um rabo, disse:
— Me chupa! — senti todos os pelos do meu corpo
eriçarem, até os pelos que eu não sabia que existia deram
sinais de vida.
Davi levou minha boca até onde queria, e assim eu
o olhei e sorri molhando minha boca.
— Vamos, Donna, engole minha vara, chupa, abra
essa boca.
Louca para tocar, para sentir a espessura
avantajada que meus olhos exaltavam e que meu corpo já
havia sentido, mas foi com a boca que senti seu tamanho e
a grossura deliciosa assim que ele se enfiou dentro dela.
Eu o engoli sem pudor, chupei a cabeça e senti uma
fisgada em meu ventre quando ele deu a mim seu primeiro
gemido de prazer seguido do meu nome.
— Oh! Donna, porra que boca!
Com uma das mãos ele segurava o que chamou de
“vara”, e era uma senhora vara, robusta, firme, com a
cabeça enorme e avermelhada. Com a outra mão segurava
meus cabelos em uma mecha e me levava para ele, para
sua vara, me fazendo chupá-lo em um sexo oral que jamais
imaginei fazer, sem a ajuda de minhas mãos, apenas
minha boca e o homem mais gostoso que já provei.
Eu estava enlouquecida, queria tocá-lo, senti-lo em
minhas mãos, contudo, amarrada daquela forma tive os
sentidos do toque privados, e era frustrante e instigante ao
mesmo tempo.
— Essa boca me deixa louco, chupa, engole! —
disse inebriado de prazer jogando a cabeça para trás,
movimentando-se e me fazendo engoli-lo até onde
aguentei, fazendo-o gemer, e se contorcer na minha boca.
Tirar os gemidos sufocados daquele homem
poderoso, e saber que estava satisfazendo-o,
simplesmente me enchia de satisfação, eu queria muito
agradá-lo, queria de verdade dar prazer a ele.
— Ohh! Minha deusa. Porra que boca, que bocaaa,
Donna! — dizia encarando-me com tesão, forçando minha
cabeça para devorá-lo. — Isso, isso, assim. Ohh! — gemia
com aquela voz máscula deleitosa.
Davi segurou minha cabeça com força e fodeu
minha boca, gemendo e movimentando os quadris
freneticamente, então tirou o pau da minha boca e se
abaixou rente a mim e me beijou ensandecido segurando
meu rosto com as duas mãos.
Voltou a fazer chupá-lo e sem poder segurar o pau
dele, ele escapava e esfregava no meu rosto, mas Davi me
devolvia o objeto do meu prazer naquele momento,
aproveitando de cada chupada demorada que eu dava em
sua glande.
Davi tirou o doce da minha boca e deu a volta em
meu corpo vindo a se ajoelhar novamente atrás de mim, e
logo suas mãos voltaram a explorar meus seios enquanto
me beijava eufórico e mordia meus ombros, com carinho,
com força, intercalando as sensações vindo a buscar meus
lábios, logo em seguida, camuflando assim as doses
homeopáticas de dor que sentia quando ele simplesmente
me mordia, me fazendo querer mais e mais, então pedi:
— Por favor, Davi, faça amor comigo.
— Donna, eu não sei fazer amor, meu sexo é
selvagem, é territorial e dominante.
Desejava tanto aquele homem que aceitaria
qualquer forma de ser tomada por ele, então voltei a falar
desesperada:
— Davi, por favor, por favor, quero tocar em você.
Ele nada respondeu, se afastou de mim e inclinou
meu corpo para frente, fazendo-me ficar quase de quatro,
isso só não aconteceu porque eu estava com as mãos
presas, então senti todas as terminações nervosas do meu
corpo estremecerem quando senti o calor de seus lábios
tocaram em minha vagina e chupar os lábios. Ele deslizou
a língua úmida em minha vulva, levando-me a loucura, me
fazendo arfar e gemer em êxtase e prazer.
— Minha, essa flor agora é minha — decretou e se
enfiou no meio das minhas coxas, me matando de tesão
quando alcançou minha vagina com a língua, enfiando-a
em mim, me lambendo em seguida e chupando cada parte
sensível, vindo a morder minhas coxas. Gemi me
contorcendo toda quando sua língua foi mais funda, e ali
ele ficou minutos me torturando e intercalando a língua e o
dedo enorme que me penetrava e massageava o clitóris
em uma tortura voluptuosa.
— Ohh, Deus! — arfei, sentindo-me no paraíso, e eu
não ia aguentar muito tempo as lambidas, chupadas e tudo
o mais, eu já estava em um grau de excitação exacerbado,
e quando ele me estimulou com a ponta da língua dura
explorando a parte mais sensível do meu corpo, meu
clitóris, eu gemi implorando:
— Continue, vou gozar, por favor, continue.
— Não, você não vai gozar — levou suas mãos nas
amarras e me soltou, buscou meus lábios e me senti livre,
leve, e tomei a liberdade de levar meus braços para trás e
enlaçar seu pescoço.
— Por favor, Davi! — implorei.
— Você vai precisar aprender muito, Donna —
respondeu e vi quando ele abriu um preservativo e colocou
em seu pau, me deixando louca de ansiedade, finalmente
ia sentir aquele homem dentro de mim.
Ele voltou a se encostar em mim por trás, grudou
suas mãos em meus seios e beijou-me novamente, então
deslizou a mão em meu pescoço, me apertou levemente, e
sem tirar sua boca da minha, simplesmente fez um
movimento para frente e me penetrou, deslizando-se inteiro
para dentro de mim com uma força deliciosa, me
preenchendo e me invadindo. Finalmente me fazendo
sentir todo o poder de sua potência, me fazendo gemer
sufocada em sua boca e se unindo a mim em carne.
Seu corpo se mexeu novamente saindo todo de mim
e voltando logo em seguida com outra estocada funda e
forte, e desse jeito, passou a me possuir ali de joelhos para
ele. Sua mão estava em meu pescoço exercendo uma leve
pressão, enquanto, degustava literalmente minha boca, em
investidas lentas e perfeitas. Eu estava amando a forma
dele de me possuir, me dominando e me amando na
mesma proporção, eu sei que a parte de amando só estava
na minha cabeça, mas mesmo assim, estava sendo mágico
e nem de longe lembrava o que criei na cabeça. Davi me
possuía ali em sua cama, investindo cada vez mais rápido,
e apertando os meus seios, mordendo-me nos ombros e
me fazendo sentir o alento do calor do corpo dele a cada
estocada desferida contra mim. Um ritmo monstruoso e
delicioso.
Sem tomar consciência, me vi deitada de costas e
aquele homem enorme me cobria toda, mudamos de
posição e nem sei dizer em que momento aquilo
aconteceu, só sei que ele me desmontava em mil pedaços
ao desferir estocadas ritmadas e fortes, indo fundo, tão
fundo quanto meu corpo podia aguentar. Não tinha mais
volta, ali naquele momento, eu seria capaz de aceitar
qualquer coisa para tê-lo daquela forma pelo resto da
minha vida.
Davi era intenso demais, sua boca era faminta,
sentia seus dentes me morderem com força, suas mãos
ágeis e fortes me apertavam. Sua boca engolia os meus
seios de forma alternada, mordendo o bico com força, me
fazendo fechar os olhos e sentir nada além de um prazer
latente e cortante no lugar da dor, pois quando pensava em
reclamar, seus lábios já estavam chupando os bicos de
uma forma torturante, era como bater e assoprar, e dessa
forma, eu queria mais e mais tamanha era a volúpia que
estava sentindo.
A sensação era deliciosamente fustigante, e nunca
antes fui tocada com tanta gana, tanta intensidade, e nesse
ritmo forte e firme, ele castigava meu corpo entrando e
saindo de mim em um ritmo violento, ofegando, gemendo,
transpirando e me possuindo, tirando cada gota de suor,
me fazendo arranhá-lo nas costas, enfiando meus dedos
em seus músculos ao recebê-lo tão voraz dentro de mim.
Davi não cansava, estocava de um modo muito bom, ele
sabia como fazer aquilo, e assim bombava, metia, estocava
e me dilacerava.
Em cima de mim tinha um homem robusto, vigoroso,
ávido e quente demais, e o que sentia ali com ele era único
na minha vida.
Meu corpo se movia rápido entre o atrito da seda
dos lençóis e o corpo quente que me cobria e me aquecia,
eu sentia a umidade em meu sexo e o barulho que fazia
dizia que eu estava transpassada em prazer, e com ele se
movendo tão voraz em cima de mim, me encarando de
uma forma que tocava até minha alma, senti a permissão,
senti ele me dizer com os olhos que eu podia gozar, que
ele queria que eu devolvesse a ele tudo que eu estava
recebendo, então, ele ordenou com o tom de voz mandão:
— Goza! — bastou apenas um comando e um
arrepio percorreu todo meu corpo, aquilo foi perturbador
demais, pois com aquela ordem, eu simplesmente me
desmontei e me desfiz em partículas de prazer. Meu corpo
convulsionou em espasmos vibratórios, meus dedos
grudaram nos lençóis, enquanto por um breve momento,
me senti fora do corpo, gemendo com a boca cheia de
água tamanho foi o prazer que segurei e soltei no momento
que ele ordenou. Eu gozei exatamente quando ele pediu, e
nunca antes aquilo aconteceu comigo.
Não sei explicar o que aconteceu, nem como ele
conseguiu aquilo, mas com apenas uma palavra ele tirou
cada gota do meu prazer em um orgasmo devastador.
Estava entregue embaixo dele, seus dedos
acariciavam meu rosto com o que julguei ser ternura, mas
tudo naquele homem me confundia, então uma fúria
deliciosa surgiu em seus olhos ao mesmo tempo que me
virou de bruços e voltou a me penetrar ali entregue
embaixo dele. Enquanto me possuía, entrando e saindo
com voracidade de dentro de mim, Davi puxou meu
pescoço para trás, seus dedos se fecharam em volta do
meu pescoço, e naquele momento, senti medo, muito
medo, e enquanto ele tentava se controlar e não me
sufocar, me beijava e me encarava febril, tinha muito prazer
em seus olhos, ele estava extasiado, tinha domínio, tinha
poder, e ele me encarava, me estocava, metia, bombava,
me beijava e exercia uma certa pressão nos dedos em
volta do meu pescoço, mas nada que viesse a me
incomodar, não era uma asfixia, mas algo que me
preparava para uma futura, eu tinha certeza disso, sabia
que aquilo era o início de um próximo teste.
Davi não tirava seus olhos penetrantes dos meus,
ali, ele exercia um poder muito forte sobre mim, era como
bater e acariciar minha alma ao mesmo tempo. Suas
feições se fecharam em uma expressão dura de prazer, e
por um momento efêmero, senti as mãos dele apertarem
com mais força em meu pescoço, levei minha mão e a
coloquei em cima da dele, e então ele afrouxou os dedos
gemendo com o rosto encostado ao meu, estava tremendo
de prazer, gemendo de forma gutural e excitante, gozando
intensamente, extrapolando tudo isso ao emitir as palavras:
— OHH, minha deusa, minha Têmis. — Ele rugia
deliciosamente.
Davi estava exausto, arfando baixinho, tentando
controlar o corpo, então me cobriu de vez e sussurrou no
pé do ouvido:
— Você já é minha, sou seu dono agora.
— Que Deus me proteja!
— Sou seu único Deus agora!
XVIII
“Fica!” Ele pediu e eu fiquei, e ficaria o resto da
minha vida se ele me permitisse, mesmo que um
sentimento de fraqueza que nunca senti antes tenha
brotado em minha alma.
Na manhã do domingo, acordei em cima dos lençóis
de fios egípcios brancos e macios. Abri os olhos e estiquei
os braços espreguiçando-me e procurando o homem que
havia me deixado ali naquela cama, naquele estado, leve
como uma pluma.
Davi não estava na cama, e procurei com o olhar em
cada canto do quarto, mas foi na varanda que meus olhos
o encontraram em meio aos raios fortes de sol que me
cegaram por um momento e que o envolvia, e como o
encontrei na noite passada, novamente ele estava
debruçado no guarda corpo olhando para o jardim, a única
diferença era que agora estava enrolado em uma toalha
branca, e ao ver aquela imagem senti meus pelos
eriçarem.
Teria ido imediatamente até ele se minha vontade de
ir ao banheiro não fosse maior, e dessa forma, me levantei,
olhei para baixo em meu corpo e constatei que estava
usando uma camiseta regata branca dele, e que cabia
duas de mim ali dentro. Passei a mão em minha bunda e vi
que estava usando minha calcinha.
No banheiro que tinha tons de cinza em uma mistura
moderna, vi que Davi havia deixado uma escova de dentes
nova em cima de uma toalha de rosto e ao lado da escova
havia um botão de rosa branco. Apanhei a flor e
completamente desprevenida me furei com o espinho da
haste que protegia a rosa assim que a levei até meu nariz
para cheirar. Depois de usar o banheiro e fazer minha
higiene matinal, caminhei pelo quarto com a rosa branca na
mão, questionando em meu íntimo porque não era
vermelha.
Assim que me aproximei dele no guarda corpo, não
consegui evitar de levar minha mão direita em suas costas
pouco abaixo da nuca, tocando a tatuagem da deusa
Têmis, que estava retratada coincidentemente exatamente
com o mesmo modelo do vestido que usei na festa, de um
ombro apenas, vendada, segurando uma espada e uma
balança, e com os cabelos esvoaçantes.
— Têmis — murmurei baixinho enquanto meus
dedos caminharam delicados em suas costas fazendo o
traçado da mulher.
Davi se virou em minha direção fazendo meu
coração vir parar na boca ao som de sua voz:
— Oi! — ele disse olhando dentro da minha alma,
seus olhos cinzentos penetravam fundo e me
hipnotizavam, fazendo-me sentir minúscula perto de todo
aquele homem e eu o respondi:
— Oi!
— Dormiu bem? — perguntou-me.
— Sim, muito bem, obrigada.
— E como se sente agora? Uma palavra.
Puxei o ar nos meus pulmões e soltei
demoradamente, pois ele parecia tomar tudo de mim, até o
ar da manhã gelada de São Paulo ele me roubava.
— Plena — respondi.
Ele sorriu da mesma forma contida que sempre
fazia, e havia satisfação em sua face.
— Não, você ainda é só uma taça vazia.
— Então preencha-me — ousei dizer.
— Tudo a seu tempo, Donna, não tenha pressa, não
vai se arrepender de esperar.
— E como devo lhe chamar essa manhã? Ainda
estou no seu quarto.
— Fique à vontade.
Mostrei a ele a rosa em minha mão e questionei-o:
— Por que branca?
Em uma das pétalas brancas havia uma pequena
manchinha vermelha de sangue, que sem querer saiu do
meu dedo ao me furar com o espinho.
— Se furou com o espinho? — questionou pegando
minha mão com carinho e levando meu polegar em sua
boca, e quando chupou o pequeno pontinho de sangue não
consegui evitar de sentir o maldito frio em meu estômago
que reverberou diretamente em meu baixo-ventre,
arrepiando toda minha pele, senti uma volúpia tão grande
naquele gesto dele que engoli a saliva que se formou na
minha boca. Perdi os sentidos, fiquei atordoada. Ele
aguçou minha libido de uma forma violenta com apenas um
gesto.
O que foi isso? Questionei em meus pensamentos
lascivos.
— Foi só um furinho — consegui responder quando
tirou meu dedo da boca e me libertou daquele calor
exacerbado.
— Tome mais cuidado — respondeu.
Soltei o ar dos pulmões de forma audível e voltei a
questioná-lo:
— Por que a rosa é branca, e não vermelha? Elas
costumam serem vermelhas.
— Esse botão branco representa você para mim, por
enquanto, sua alma ainda é imaculada como essa rosa,
mas isso vai mudar, Donna, acredite, quando você provar
do que tenho para te dar, essa sua pureza vai acabar e
você não vai mais se contentar com o que te dei ontem à
noite.
— Você me deu a melhor noite, o que mais devo
esperar?
Ele sorriu balançando a cabeça e questionou-me
entrando no quarto:
— Está com fome?
— Sim, um pouco.
— Vou buscar o seu café e vamos conversar. —
Tirou a toalha do corpo e caminhou nu em direção ao
closet, e aquela visão não tinha nada a ver com o céu, eu
estava no inferno de posse do diabo mais perfeito, e de
uma forma tão espontânea comentei alto demais:
— Lindo!
Davi parou abrupto e me olhou de soslaio sorrindo e
respondeu pegando-me de surpresa:
— Obrigado!
Fiquei olhando-o se enfiar em uma cueca branca e
uma calça de moletom preta; mais à vontade impossível, e
quando terminou de se trocar me questionou com um ar
sério, parando na minha frente:
— Machuquei você ontem à noite?
— Não! Você não me machucou, eu... eu...
— Você? — suspendeu as sobrancelhas
especulativo.
— Eu gostei muito, Davi, você é intenso demais, é...
— Seus seios, não estão doloridos? — questionou.
— Era para estar?
— Toque-os — ordenou.
Era impressionante o que aquele homem fazia
comigo, eu sabia exatamente quando ele estava me dando
uma ordem e não me fazendo um pedido, e o mais
impressionante era que ainda não tínhamos uma
intimidade intrínseca, mas Davi tinha toda uma segurança
nas palavras, uma força ao se expressar, um ar dominante,
objetivo, uma conduta que não deixava margens para
negação, simplesmente diferente de todos os homens que
mantive contato na vida.
Levei minha mão direita em meu seio esquerdo por
cima da camiseta, então, ele disse:
— Na pele, Donna, toque sua pele.
Encarando-o, levei minha mão por baixo da
camiseta e me toquei, e já no primeiro contato com meu
seio, senti-o sensível, estava dolorido, não tinha me dado
conta, mas ambos estavam externamente doloridos e
aquilo me assustou bruscamente.
— Quando te mordi durante o sexo, sentiu o quê? —
questionou me deixando envergonhada, ele era direto
demais.
— Arrepio, tesão, queria mais e mais — respondi
tentando buscar as sensações na memória.
— Mordi o bico dos seus seios com força e tudo que
me diz foi que sentiu um arrepio de tesão?
— Sim! — afirmei.
— E a dor? Você não era sensível a dor?
— Não senti dor, Davi, eu não sei como explicar,
mas foi bom — fiquei nervosa com as perguntas.
— Donna, essa é a dor que quero que sinta, a dor
transmutada em prazer. — Ele deu um passo em minha
direção, segurou no cós da camiseta e a tirou do meu
corpo deixando-me apenas de calcinha, então puxou uma
cadeira que estava ali do lado e sentou, em seguida, disse:
— Senta no meu colo. — Eram comandos deliciosos
e que não fui capaz de negar a nenhum deles, pois Davi
mexia com meu imaginário.
Não pensei em nada, apenas me sentei em seu
colo, então fiquei novamente nas mãos daquele homem
Alpha, seguro de si, e ele falou:
— O corpo qualquer mulher pode dar a um homem,
mas a alma, somente uma submissa dar de verdade. —
Arrepiei-me toda com aquelas palavras.
Ele tocou em meus seios com as duas mãos, e senti
uma dor perturbadora, pois já estavam sensíveis demais,
doloridos ao extremo.
— Dói? — questionou-me, apertando-os com os
dedos.
— Simm, muito, dói muito, Davi.
— Deixe a dor transcender e alcançar o estágio
infinito de prazer, comece permitindo que seu cérebro faça
a mudança — disse e levou a boca em um dos meus
mamilos e passou a contorná-lo com a ponta dura da
língua, fazendo-me sentir o calor da temperatura de seus
lábios, mas quando chupou-me, engolindo meus seios em
sua boca, senti meu corpo queimar em ebulição, era dor,
era prazer e uma mistura infindável que me fizera gemer
alucinada em seu colo com sua mão forte que me prendia
com força no braço. Davi me torturou em sua boca,
chupando os meus seios já doloridos, intercalando entre
eles, manando minha sanidade, me fazendo perder
completamente os sentidos, eu estava prestes a gozar sem
que ele me penetrasse.
— OHH! — gemi entrecortada jogando a cabeça
para trás e grudando meus dedos em seus cabelos
molhados.
— Essa é a dor que não é verdadeiramente uma
dor, é um prazer, é isso que quero dar a você.
Senti seus dentes morderam com força o bico
novamente, meu corpo estremeceu, latejava, fechei os
olhos e não senti nada além de prazer no lugar da dor, tudo
em mim tremulava, eu o queria novamente dentro de mim,
necessitava, eu estava molhada, e que o desejo que
emergiu em mim era ardente, devastador, mas Davi estava
sereno, controlado, um auto controle que me deixou
nervosa.
— Por favor, por favor, Davi.
Ele segurou firme em meus dois braços e me tirou
do seu colo, dizendo-me com um olhar sagaz e uma
tenacidade irritante:
— Não me ame, Donna.
— O quê? — perguntei perplexa. — Isso que você
me pede é impossível. Será que não consegue enxergar
isso?
— Para sua segurança.
— Dane-se! — ralhei visivelmente irritada.
— Não é assim! — ele se levantou nervoso. —
Estou sendo muito imprudente com você, me perdi nisso
tudo.
— Tarde demais para ponderar sobre isso, já sou
sua, lembra?
Davi suspirou alto, levou as mãos na cabeça e
disse:
— Donna, você ainda é um lindo botão, intacto,
fechado, e já me dói pensar em tudo que vou tirar de você,
tudo que não vou poder te dar.
— Agora eu não quero nada que não seja você,
estou impregnada até o último fio do meu cabelo.
— Eu não vou mudar, Donna.
— Não mude.
— Eu sou um dominador.
— Eu sei.
— Não! Você não sabe. Sou um animal racional, um
predador com instintos animais e só Deus sabe como me
controlei com você ontem à noite.
— Não tenho medo de você.
— Você não vai suportar as limitações, Donna, não
vamos poder nos expor, não iremos a lugar nenhum juntos,
ninguém pode saber da gente, você não pode
simplesmente pegar seu carro e vir para cá quando sentir
vontade. Está realmente pronta para viver isso comigo?
Para ter hora e dia marcado para estar aqui? Para ser
minha, me servir, se curvar diante de mim e das minhas
vontades?
— Por que está fazendo isso agora?
Em um gesto que jamais imaginei que aconteceria,
ele me puxou pela cintura e segurou em minha cabeça,
fazendo-a repousar no seu peito. Me abraçou
respondendo:
— Porque você ainda pode voltar atrás.
— Não vou voltar!
— Não sabe o que está dizendo.
— Eu sei o que quero, mesmo que isso seja minha
maior fraqueza.
— Não — ele sorriu —, se engana se pensa que
uma mulher que se entrega a um homem como eu, é fraca.
Uma mulher tem que ser muito forte, uma submissa é
muito forte, não é para qualquer mulher, Donna.
— Não garanto submissão completa, mas aqui
dentro desse quarto, e em qualquer outro que você esteja
dentro, vou dar tudo de mim para agradar você. Muito tarde
para voltar atrás — expliquei.
— Então, curve-se diante de mim! — ordenou.
Aquelas palavras pegaram-me de surpresa naquele
momento, e assim ponderei diante daquela decisão que
seria definitiva na minha vida.
XIX
Donna era a flor mais perfeita de todas que já tive
em meu jardim, ela só não sabia disso ainda, e eu estava
testando, mas no fundo quem estava sendo testado era eu
mesmo.
— Então curve-se diante de mim! — pedi, testando-
a novamente, contudo, já sabia qual seria sua reação, e
naquele momento, não seria pego de surpresa como fui à
noite anterior quando ela esperou por mim amarrada em
cima da minha cama, e quando ouvi sua resposta eu
simplesmente já esperava por ela.
— Não consigo fazer isso, me perdoe. — A frase
saiu de seus lábios de uma forma quase sussurrada, faltou
veemência, mas não verdade, contudo, ali naquele
momento, ela me deu mais uma prova de que existia uma
fagulha de submissão dentro dela, pois a forma com que as
palavras foram entregues a mim, passou-me a dor de não
conseguir me agradar naquele momento.
— Já esperava por isso, Donna. — Caminhei até o
closet e retornei para o quarto.
— Eu sinto muito, Davi, mas não consigo fazer isso
— respondeu vindo logo atrás de mim.
— Entende agora quando digo que você não sabe o
que está dizendo?
— Eu me entreguei a você — retrucou nervosa.
— Se entregou ao seu desejo, ao tesão que
sentimos um pelo outro. Se entregou no calor do momento,
e isso você deixou bem claro ontem quando afirmou que
me esperou porque me desejava, e não pelo prazer de se
submeter a mim, de me agradar.
— Me perdoe! — disse ressentida sem negar as
informações.
— Donna, não me peça perdão, ninguém dá o que
não tem, mas isso não significa que você não possa vir a
ter, além do mais, eu entrei nisso ciente dos fatos. Você
não é uma submissa, mas tem pequenas chamas que me
aquecem e aguçam minha alma.
— O que preciso ter? Diga-me, porque eu ainda não
consigo entender, estou confusa.
— Prazer!
— Mais do que já me deu na noite passada?
Me virei e a encarei, e como estava linda só de
calcinha no meio do meu quarto, mas mesmo assim, foquei
em respondê-la sem me perder na distração que seu corpo
era.
— Prazer em se submeter a mim, não apenas fazer
o que quero que faça, mas você precisa querer primeiro,
desejar, se doar e se entregar de verdade sem alimentar
determinados pudores e moral.
Donna me encarou com tristeza e questionou:
— Está me dizendo que acabou antes de começar?
Fui até ela e toquei afetuoso o seu rosto,
contornando seus traços fortes e delicados, respondendo
sua pergunta:
— Não vou desistir de você, Donna, eu não
conseguiria nem se quisesse isso.
— Então como vamos ficar? Você vai me adestrar?
— Olha, esqueça tudo que andou lendo, não gosto
da palavra adestrar, você não é um animal, é um botão de
rosa, lembra? Suponhamos que eu vá regar e adubar com
cuidado até você desabrochar.
— Você faz tudo ficar tão lindo. — Baixou o olhar e
levantei seu queixo dizendo ao encará-la dentro de seus
olhos escuros.
— Mas é lindo, a entrega é linda para mim, porém...
Arfei e me virei de costas, terminando minha
explanação:
— Eu quero a sua entrega verdadeira, mas para isso
acontecer, você precisa se conhecer primeiro, deixar o que
vejo preso dentro do seu olhar sair. Coloque uma coisa na
sua cabeça, ninguém com bom senso se joga dentro de
uma piscina com roupas, e nesse momento, você está
quase nua, mas sua alma está completamente vestida, e
sua alma é o que eu quero, nua, não somente seu corpo.
Donna levou seus olhos em seus seios nus e os
cobriu com os braços ao se dar conta que estava só de
calcinha.
Sorri observando-a ir buscar a camiseta branca que
estava jogada no closet, e aquelas curvas bem delineadas
me deixavam louco, mas eu precisava me controlar
naquele momento ou perderia as rédeas para sempre.
— Eu vou tentar — disse-me assim que voltou já
vestida.
Cruzei os braços e questionei-a:
— Vai tentar o quê, Donna?
— Não sentir tanto frio quando estiver sendo regada
por você.
Gargalhei de forma inevitável, aquela mulher tinha o
dom de transformar uma conversa séria em um momento
ímpar e leve. Caminhei bruscamente em sua direção e a
apertei em meus braços e a beijei com vontade,
questionando, em seguida:
— Suco, leite, café ou chá?
Ela sorriu estreitando os olhos ao responder:
— Humm! Acho que suco.
— Ótimo, fique aqui, eu já volto para continuarmos
nossa conversa.
Donna me tirou da minha zona de conforto assim
que se ajoelhou aos meus pés no Palácio da Justiça, e
desde então, tenho sonhado com aquela cena se
repetindo, contudo, eu sabia que aquilo poderia voltar a
acontecer ou não, e fosse como fosse eu esperaria
paciente.
“Curve-se diante de mim, curve-se...” Davi se
afastou e fiquei em seu quarto com a maldita frase indo e
vindo dentro da minha cabeça, e não, claro que não
consegui me humilhar daquela forma, e mesmo ele tendo
me tranquilizado, eu estava agoniada, confusa e
completamente perdida sem saber ao certo se ele tinha
razão sobre o que motivou minha entrega.
Eu tinha todas as certezas do mundo quando estava
nos braços dele, em sua boca, no seu toque, mas todas
caíram por terra quando a maldita frase foi dita. “Curve-se
diante de mim.”
Confusa! Essa era a palavra que me definia naquele
momento, e quando Davi voltou com uma bandeja nas
mãos, eu já estava dentro do meu vestido branco, então,
colocou a bandeja na mesa da varanda e me questionou
surpreso:
— O que houve?
— Preciso ir para casa, minha mãe deve estar
preocupada.
— Avisou ela ontem — replicou.
— Sim..., mas, eu a conheço, e preciso mesmo ir,
Davi, preciso estudar, são minhas últimas semana, lembra?
— Coma primeiro e depois vou pedir a um dos
seguranças para te levar — respondeu sisudo, puxando a
cadeira para que me sentasse, e confesso que ele só me
surpreendia com seus gestos, pois imaginava que fosse
um verdadeiro ogro.
Davi não se sentou na mesa comigo, pegou um
copo com leite na bandeja e se debruçou no guarda corpo,
estava sério, pensativo, então ousei questioná-lo:
— Como tudo isso começou na sua vida?
— Tudo isso o quê? — respondeu com outra
pergunta sem olhar para trás.
— Isso de ser um dominador.
Davi virou em minha direção, bebeu um gole do seu
leite e colocou o copo em cima da mesa, então passou a
falar:
— Costumo dizer que nasci um dominador, mesmo
antes de saber que minha personalidade forte, que a
satisfação em ter minhas vontades obedecidas tinham um
nome, eu já era um Dom.
— Interessante, isso é nato em você.
— É, digamos que sim, veja bem, o homem tende a
ser líder, Donna, e isso vem dos nossos ancestrais, e eu
simplesmente nasci com essa essência enraizada em mim
— explicou. — Foi assim desde o meu primeiro
relacionamento mais sério com uma garota, eu já era
extremamente controlador com ela e não suportava ser
contrariado. Na minha primeira vez com ela, éramos
virgens e eu tinha meus 17 anos, namorávamos há dois
anos e tínhamos muita intimidade, pois passamos por toda
uma fase de preliminares e tudo mais como qualquer casal
adolescente. Teria sido perfeito para ela se eu
simplesmente tivesse conseguido controlar o ímpeto
violento que tomou conta de mim aquele dia.
— Daviii! — sussurrei pasmada só de imaginar.
— Fui... digamos, intenso demais com ela, uma
gana, uma fome e acabei asfixiando-a de tanto tesão.
— Deus! Você a matou? — A pergunta saiu da
minha boca antes que meu cérebro processasse direito,
mas valeu muito a pena, pois eu simplesmente amava vê-
lo gargalhar de forma tão espontânea e quando conseguiu
parar de rir, respondeu dando-me alívio.
— Claro que não! Mas foi como se tivesse, pois, até
hoje eu nunca mais a vi. Donna, o que eu faço com você?
— questionou balançando a cabeça em negativo.
Coloquei um pedaço de queijo na boca para ver se
não falava mais nenhuma bobagem, mas ainda assim,
falei:
— Uau! Pobrezinha.
— Naquela fase, eu não me conhecia direito ainda,
não como hoje, não sabia me controlar, pois agora eu sei o
que sou, o que quero e como quero, compreende?
— Graças a Deus! — sussurrei baixinho. — Digo,
entendi — passei a mão instintivamente em meu pescoço.
— E é isso que você precisa, Donna, saber o que é,
o que quer e como quer.
Arfei pegando o suco e bebendo pensando no que
falar.
— Não vou mentir para você, eu tenho muito medo
desse seu mundo, mas pesquisei sobre tudo isso, e
confesso que algumas coisas são excitantes e outras
apavorantes.
— Donna, dominação e submissão é entrega, e não
pense que só da sua parte, meu prazer é o seu prazer e o
seu prazer é meu, consegue discernir essa frase?
Fiquei pensando e nada disse, então ele voltou a
dizer:
— Reflita sobre essas palavras e não marque nada
para amanhã à noite, quero você aqui comigo, vamos ter
uma longa conversa sobre o que te excita e o que te
apavora, não podemos dar mais nenhum passo sem
colocarmos os pingos nos “is”, e nem sem você saber o
que realmente eu quero da nossa relação.
— Está bem, mas agora preciso mesmo ir — falei
colocando o guardanapo que limpei a boca em cima da
mesa e me levantando.
— Vou pedir para o motorista levar você, e lembre-
se, você não deve em hipótese alguma vir até mim sem
avisar.
Cruzei o braço e questionei:
— E posso saber por quê?
— Porque você não deve ser vista entrando aqui,
Donna, sua segurança é muito importante, já te falei sobre
isso.
Bufei dizendo:
— Que graça tem em ter um homem como você
sem poder ostentar?
— Venha aqui! — Aquilo novamente foi uma ordem,
então dei dois passos e já estava frente a frente com ele,
que me puxou pela cintura, tirou uma mecha do meu
cabelo do rosto e acariciou-me. — A graça está em
vivermos isso juntos, e eu quero muito viver isso com você,
mas eu preciso antes pensar na sua segurança, e você
precisa me prometer que não vai fazer nada que a coloque
em perigo por minha causa.
— Eu prometo. Tem outro jeito? — ofeguei.
— Não, por enquanto, não tem outro jeito.
Davi segurou em meu rosto ladeando com as duas
mãos e me beijou, deslizando seus lábios no meu e
fazendo-me perder o contato com o chão e com a
realidade. Sentia-me flutuando e em um segundo plano,
não existia nada que fosse ali e agora, e quando sentia as
mãos enormes dele em mim, eu simplesmente esquecia de
toda a bagagem que ele carregava e todos os meus medos
viravam vapor e sumiam volátil pelo ar.
Desferiu três toquinhos na minha boca e disse:
— Senhorita Donatella, temos barreiras para
rompermos juntos, e vamos começar com você
obedecendo ordens simples, está bem? Acha que pode
tentar?
— Sim, senhor!
Tudo aquilo parecia mágico e sentia-me literalmente
perdida entre o céu e o inferno.
XX
Meus sentimentos estavam mudando conforme as
batidas do meu coração, e uma confusão interna se
instalou dentro da minha cabeça de uma forma
desesperadora quando me vi dentro de um carro blindado,
com vidros tão escuros que eu quase não conseguia ver
nada que se passava nas ruas de São Paulo, enquanto
estava sendo escoltada de volta para minha casa. É
exatamente assim que me senti, escoltada, e olha que eu
ainda era apenas uma advogada e assessora de um
Desembargador. Fui deixada na porta de casa pelo
motorista do Davi que era um Federal e um outro Agente
da Polícia que desceu e me acompanhou até que eu
entrasse em segurança em casa, e aquele foi o primeiro
contato verdadeiro com a realidade que me esperava no
mundo do Davi, e se estava preparada eu não sabia,
porém, era tarde demais, pois já havia entrado de corpo e
alma naquela situação.
Cheguei em casa e fui direto para meu quarto, sabia
que aquela era a hora do banho do papai e que minha mãe
estaria ocupada demais com ele, então resolvi passar
direto. Havia acabado de sair de um banho demorado e
estava me trocando quando minha mãe anunciou que
estava em meu quarto:
— Bom dia, meu amor! — disse-me vindo até mim
dando-me um beijo na testa como costuma fazer.
— Bom dia, mãe — respondi e continuei secando
meus cabelos com a toalha, vestida apenas com uma
camiseta velha cor de rosa e calcinha.
— Você não me procurou quando chegou, acabei
que não aguentei de curiosidade. Como foi a festa e sua
noite com o desembargador Davi?
— Mãe! — falei espantada. — Como sabe que era
com o Davi que eu estava?
Ela sorriu cruzando os braços, dizendo:
— Não precisa ser muito esperta para juntar os
fatos, em um dia você me diz que está apaixonada por um
desembargador e no outro vai a uma festa na casa do Dr.
Davi.
— Não disse que estava apaixonada por ele, disse
apenas que estava encantada.
— Humm! Sei como é, mas, então, como foi sua
noite com ele?
— Mãeee! Esqueceu que não falamos sobre essas
coisas?
Ela sorriu lindamente, respondendo:
—Não, mas estou curiosa, afinal de contas você não
costuma dormir fora de casa com um homem.
Sentei na cama e apoiei minhas mãos no colchão,
suspirei preocupada e a respondi me abrindo:
—Mãe, eu nunca estive nos braços de um homem
tão intenso e...
— E lindo? É, eu concordo — comentou.
— Não é isso que ia dizer, mas, enfim.
— Você deve saber que seu pai gostava muito do
Davi, ambos trabalharam juntos muitas vezes, e inclusive
seu pai o chamava de “meu garoto”.
Estreitei os olhos sem saber daquela informação,
então a respondi:
— Não, eu não sabia disso, Davi não comentou
nada.
— É um homem muito reservado pelo que me
recordo, tive o prazer de estar em algumas festas onde ele
estava. — Confessou e se encostou no meu aparador de
fotos.
— Interessante! — falei apenas.
— Ainda não me disse como foi com o homem que
você disse ser todo errado. O que mudou para que você
fosse dormir nos braços dele? — questionou direta me
deixando sem graça.
— Ah mãe, nada mudou, ele continua sendo todo
errado, mas é o errado do jeito certo, entende?
— Não! Não entendo não.
Me levantei da cama e caminhei pelo meu quarto,
apertando os dedos uns nos outros e tentando explicar
sem maiores detalhes:
— Sou romântica demais para um homem tão
fechado e controlador, mãe.
— Controlador!? — A palavra saiu da boca com um
certo temor.
— Sim, veja bem, hoje eu voltei para casa com a
escolta dele. Tudo porque eu não posso ser vista saindo da
casa dele, por segurança.
— Donna, estar ao lado de um homem com o
histórico do Dr. Davi tem suas privações, eu conheço muito
pouco da história dele, mas sei que é um dos juízes
brasileiros que mais recebe ameaças no país, e no caso
dele, ainda tem a morte da noiva.
— Sabe da morte da noiva dele!? — exclamei
surpresa.
— Eu acabei de dizer que seu pai trabalhou com ele
muitas vezes — reafirmou.
— Isso não te preocupa?
Minha mãe virou de costas e respondeu-me:
— É claro que me preocupa, mas já me acostumei a
isso, se esqueceu que mudei toda à minha vida por um
Juiz? Seu pai também recebia muitas ameaças, contudo,
nenhuma nunca se concretizou como foi com Davi, e se ele
já quer controlar as coisas, é porque gosta de você e quer
protegê-la, o que já o faz ganhar pontos comigo.
— Mãe! A senhora deveria estar me dizendo para
cair fora dessa história e não me encorajando.
Ela tocou em meu rosto afetuosa, sorriu e
respondeu:
— E apagar esse brilho no seu olhar? Não, mesmo.
Há tempos que não via você tão radiante.
Arfei nervosa, eu esperava mesmo que ela viesse a
me desencorajar.
— Não estou disposta a mudar minha vida —
informei. — Não vou abrir mão dos meus sonhos como a
senhora abriu em prol do papai.
— Você vai saber como lidar com isso do seu jeito,
até por que você não está apaixonada, não é mesmo? —
piscou irônica para mim e foi se retirando do meu quarto
com toda aquela pose de quem sabia o que estava falando.
Andei no quarto de cá para lá perdida em meus
questionamentos sobre Davi, e eram tantos que achei que
fosse enlouquecer, e por vezes peguei meu celular e fiquei
olhando para a bendita foto dele em seu perfil, tentando
buscar coragem para ligar, mas é claro que isso não
aconteceu.
Durante todo o domingo me afundei nos estudos,
tentando blindar minha mente do homem mais desafiador
que já conheci na vida, e assim, entre uma lei e outra, eu
simplesmente me perdia em pensamentos que me
condicionavam a ele e a uma possível entrega
incondicional ou uma fuga, pois eu tinha pra mim que o que
vivi com ele em cima daquela cama não havia sido nem o
prelúdio do que viria pela frente.
Depois do jantar e de ouvir por mais de meia hora
minha mãe falar de suas histórias com meu pai, com ela
achando que estava me ajudando, pois mal sabia ela que a
questão segurança não passava nem perto de ser o motivo
da minha insegurança quanto ao Davi, voltei para meu
quarto e para minhas apostilas. Vi em meu celular que
Bruno havia me ligado três vezes e que havia mandado
diversas mensagens no WhatsApp, no entanto, ele iria ficar
para o dia seguinte, não estava nem um pouco a fim de
ouvi-lo me questionar.
Estava exausta, minhas costas doíam e faltava vinte
minutos para às dez da noite quando meu celular vibrou
em cima da mesa de estudos, e quando consegui achá-lo
no meio das apostilas, quase tive uma síncope quando vi a
imagem de Davi na tela. Meu coração disparou como se eu
fosse uma adolescente, esperei por aquela ligação o dia
todo, e quando a recebi não sabia se queria atender.
— Oi! — atendi depois de uns quatro toques.
— Donatella! — disse a voz mais deliciosa que
certamente já ouvi em uma ligação, uma voz firme, madura
e poderosa.
— Achei que tivesse entendido que não gosto de ser
chamada assim — reclamei.
— E eu adoro saber disso, mas me diga, como foi
seu domingo? Conte-me em detalhes.
Levantei da cadeira e saí caminhando pelo quarto e
falando:
— Bom, tirando as refeições que fiz com minha mãe
na copa, eu só saí de frente dos livros para ir ao banheiro.
— Está me dizendo que está o dia todo estudando
sem pausas? —perguntou.
— Não exatamente sem pausas, pois almoçar e
jantar com minha mãe foram paradinhas.
— Entendi, mas quando digo pausas, quero dizer
parar para descansar a cada uma hora ou até menos.
— Não, não faço pausas desse tipo ou desanimo —
expliquei.
— Já deu por hoje! — disse colocando um fim nos
meus estudos, e mal sabia ele que eu ia até de madrugada
todos os dias. — Nada do que você tentar enfiar na cabeça
depois de um dia exaustivo de estudo, vai entrar —
argumentou ele.
— Davi, eu costumo estudar até de madrugada —
repliquei.
— Costumava, porque agora as coisas vão mudar.
— Não! Não vão não!
— Quero que pare tudo que está fazendo, agora! —
foi taxativo. — Vá ao banheiro fazer sua higiene e depois
para cama.
— Você só pode estar brincando comigo, né? —
ralhei.
— É uma ordem, Donatella, simples, mas uma
ordem a ser seguida por você a partir de hoje.
— Está me pedindo para ir para a cama às nove e
quarenta e cinco da noite?
— Pedindo não, ordenando. — Esclareceu
gentilmente, fazendo meu corpo responder com em um
tremor delicioso.
— Como vai saber se estou mesmo dormindo?
— Vou saber, Donna!
Definitivamente comecei a gargalhar, é claro que eu
não iria para cama uma hora daquelas, e quando, por fim
parei de rir ele questionou sério:
— Já terminou?
— Sim, senhor! — falei sarcástica.
— Então o que está esperando para fazer o que
ordenei?
— Você sabe que o concurso de magistratura é
daqui alguns dias, não sabe? — questionei me sentando
na cama.
— Sim, mas acredito que a essa altura você já tenha
estudado todos os itens que caem na prova.
— Sim, mas...
— Mas, nada — interrompeu-me. — Vamos, quero
você na cama em cinco minutos, e assim que estiver se
recolhido, me ligue.
Disse e desligou sem mais e nem menos.
— Pronto! Mais, essa agora!
Relutante fiz exatamente o que ele havia dito, fui ao
banheiro em meu quarto e escovei os dentes, não demorou
e eu estava me enfiando no meio dos lençóis da minha
cama.
O que está fazendo Donna? O diabinho que eu
criava em meu ombro questionou.
— Não acredito que estou simplesmente seguindo
ordens de um homem — falei em voz alta e liguei para ele,
então, disse-me assim que atendeu a ligação:
— Boa menina, dentro do prazo — sussurrou com
um tom de voz delicioso. — Agora você tem 10 segundos
para tirar uma foto sua e me enviar.
— O quê? — vociferei.
— Nove segundos — respondeu.
E como se tivesse sido ligada no automático, tirei a
bendita foto deitada em minha cama e enviei
imediatamente para ele, que me disse:
— Tenha bons sonhos, minha flor.
— Só isso? Você nem vai falar um pouco comigo
para eu pegar no sono?
— Não! Não vou.
Quando Davi desligou, senti uma vontade louca de
atirar o celular na parede, e como eu sabia que ele jamais
saberia, me levantei da cama sem pensar duas vezes.
— Ah, Davi, você não me conhece! — falei sorrindo
e voltando para a mesa de estudos sem nenhum tipo de
problema.
Naquela noite estudei até às três da madrugada e
na manhã seguinte, às sete e meia, eu já estava de pé,
cambaleante, mas de pé e pronta para encarar mais um dia
de trabalho no Palácio da Justiça.
XXI
Segunda-feira, quem foi o imbecil que criou as
segundas? Não! Definitivamente o problema não estava na
segunda, estava em mim, que simplesmente não tinha
limites quando estava estudando e não dormi nem cinco
horas seguidas. Um caco humano, assim eu me senti
quando tirei o edredom quentinho de cima do meu corpo e
me vi obrigada a levantar sete e meia da manhã. Meu
corpo e meu cérebro não estavam entrando em comum
acordo, pois um necessitava de horas de sono e o outro
me arrastou para o chuveiro, onde passei alguns minutos
cochilando debaixo da água que caía quente e pesada
sobre mim.
Quando consegui me desapegar do chuveiro, me
enfiei dentro de um roupão branco, enrolei uma toalha em
meus cabelos e levei um grande susto em meu banheiro
quando levantei a cabeça e encarei a mulher no espelho.
Não era eu, claro que não era, não podia ser, porque se
fosse, eu estava perdida, pois a imagem refletida no
espelho estava pálida, com olheiras profundas e sem
nenhum brilho no olhar, então, imediatamente meu íntimo
me alertou.
Ele vai saber.
E como uma louca, respondi meu inconsciente em
voz alta e ainda o questionei:
— Eu sei que ele vai saber, mas também, você não
poderia ter arrumado um homem mais fácil para se
apaixonar?
Sequei meus cabelos com o secador, fiz um coque,
e na frente do espelho tentei disfarçar o cansaço à base de
uma boa maquiagem e do melhor corretivo facial que eu
tinha. Escolhi uma roupa sexy a fim de desviar a atenção
do Davi, um conjunto de saia e terninho cinza três quartos,
cujo um dos ombros era baixo e deixava parte do meu
ombro descoberto.
— Uau! Filha! — disse minha mãe na cozinha
quando passei por lá para engolir alguma coisa. — Está
vestida para matar.
—Mãe, minha roupa foi a primeira coisa que chamou
a atenção da senhora? — questionei ansiosa.
— Sim, claro que sim, está com o ombro de fora e
sem o habitual lenço no pescoço.
Não me fale em lenço. Pensei.
— Que bom! — falei aliviada, mas minha paz durou
pouco quando ela questionou:
— Você parece cansada, filha, não dormiu bem?
— Está tão visível assim, mãe?
— Ah, filha, eu conheço você muito bem.
— Humm! Bom, vou terminar de me arrumar —
respondi e voltei para meu quarto onde escovei os dentes,
dei mais uma retocada na maquiagem para garantir que
Davi não desconfiasse que não cumpri suas ordens e segui
para o meu trabalho torcendo para não me encontrar com
ele no período da manhã, pois seria mais fácil justificar o
cansaço depois de horas de trabalho e audiências
maçantes.
No Palácio, caminhei pelo salão dos Passos
Perdidos com o coração na mão, em minha cabeça, Davi
apareceria a qualquer momento e saberia logo de cara que
fiz o que mandou, mas por sorte entrei no elevador sem
que ele tivesse dado o ar de sua graça e assim que a porta
fechou respirei aliviada.
— Bom dia, Dalvinha!
— Bom dia, Donna! — respondeu-me séria me
encarando de uma forma estranha, então, quando voltou a
abrir a boca, ela soltou a bobagem em forma de pergunta:
— Que tipo de droga você andou usando?
— Droga? Está maluca? — ralhei. — Por que diabos
está me perguntando isso?
— Donninha do céu! Você se olhou no espelho
hoje?
— É claro que me olhei no espelho hoje.
— Então você sabe que está com cara de uma
maconheira com abstinência. — Fez um gesto engraçado
com as mãos em volta de seu próprio rosto.
Arfei levando minha mão esquerda na testa
enquanto a respondia:
— Estou cansada, fui dormir às três da manhã, só
isso.
— Humm!
— Acha que qualquer pessoa perceberia isso? —
indaguei-a.
— Bom, eu percebi por que estou acostumada a te
ver todas as manhãs e sei que você carregou um pouco
mais na sua maquiagem, mas ainda assim tem olheiras.
— Droga! — sussurrei.
— Mas me conta, Donninha, como foi na festa do
Doutor Davi?
Por sorte chegamos no andar que eu trabalhava e
Dalvinha abriu a porta.
— Falo com você sobre isso outra hora — respondi
de cabeça baixa guardando meu celular em minha bolsa, e
ela disse logo em seguida.
— E por falar no Deus.
Engoli em seco quando vi os sapatos pretos de bico
fino parados na minha frente, meus olhos subiram lentos
como se estivessem registrando cada parte do corpo
esguio que estava perfeitamente alinhado em um terno
cinza escuro e camisa branca sem gravata com os
primeiros botões abertos.
Olhei-o de soslaio cruzando meu olhar ao dele de
forma rápida, e logo em seguida, disfarcei abrindo minha
bolsa.
— Bom dia, senhoritas — disse Davi com a voz
compassada.
— Bom dia, Dr. Davi. — Dalvinha respondeu
primeiro.
— Bom dia, Meritíssimo — falei logo em seguida.
— Parece cansada, senhorita Donatella — falou
fazendo meu coração congelar e parar.
— É só impressão sua, senhor — respondi
imediatamente sem fitá-lo.
— Impressão? — fechei meus olhos quando
Dalvinha perguntou fazendo meu coração descongelar no
exato momento e bater feito um louco com a iminência das
palavras que saíram de sua boca a seguir. — Doutor, essa
mulher não dorme mais, imagine o senhor que por causa
do concurso de magistratura, ela foi dormir às três da
madrugada.
Me virei dando as costas para o Davi e sussurrei
entre dentes para Dalvinha:
— Vou matar você.
— Isso é verdade, Donatella? — Davi questionou.
— Sim. — Não fui capaz de negar e nem de mentir
para ele, mas naquele momento me senti mal com a
situação que nem o encarei.
— Olhe para mim quando estiver falando comigo —
disse-me.
Virei meu corpo como se fosse um robô, e assim
que nossos olhos se cruzaram, vi que Davi não parecia tão
furioso como imaginei que estaria, então ele disse:
— Poderia me acompanhar até minha sala? Tenho
uma ótima lição para você Donatella, garanto que você vai
aprender uma coisa muito importante.
— Isso doutor. Ajuda minha amiga a passar no
concurso — disse Dalvinha atrevidamente.
— Deixa comigo, Dalva — respondeu e piscou para
ela — Acompanhe-me, Donatella.
Entrei em pânico só de imaginar o que ele iria falar
ou fazer, e sem pensar duas vezes rebati:
— Não posso agora, senhor, me desculpe, mas eu
tenho uma audiência em trinta e cinco minutos e ainda
tenho que preparar alguns papéis para o Dr. Afonso.
— Só preciso de 10 minutos do seu tempo — Não
me deu a chance de replicar, e assim senti meu corpo
tremer quando levou sua mão em minha cintura e apertou-
me, dizendo-me — Vamos!
Não havia ninguém no corredor naquele momento,
mas Dalvinha viu e registrou com certeza a forma que ele
me tocou.
Ele sussurrou perto do meu ouvido quando dei o
primeiro passo:
— Sua calcinha está marcando na saia.
Levei a mão em minha bunda de forma instintiva e
respondi baixinho:
— Impossível! Essa calcinha não marca.
Ele chegou mais perto ainda, tão perto que senti os
pelos de sua barba tocar na minha pele e me fazer arrepiar
e falou:
— Então está mesmo usando uma calcinha? Era só
para saber.
Olhei para trás e Dalvinha não estava mais lá, e
assim, caminhamos lado a lado no corredor com ele
olhando uns papéis que tirou da pasta e fingiu estar
analisando enquanto questionou-me:
— Há que horas foi dormir?
— Davi, me desculpa, eu...
— Primeira coisa que precisa saber — olhou para
mim. — Não suporto pedidos de desculpas, detesto a
palavra perdão, entendeu?
— Sim — Novamente respondi monossilábica.
— Responda apenas o que te pergunto sem
ressalvas, pode fazer isso?
Assenti sem emitir nenhum som dos meus lábios,
mas no fundo, eu estava me corroendo de raiva.
— Fui dormir às três da madrugada, mas cumpri
metade da sua ordem, eu comecei bem, mas...
— Eu disse sem ressalvas, Donna.
Travei o corpo no meio do corredor e fechei a cara, e
ele não perdeu tempo e questionou novamente:
— Achou mesmo que ia conseguir me enganar
usando uma roupa mais sexy e uma maquiagem mais
pesada?
— Achei! — respondi na lata.
— Por que não seguiu a ordem que te passei? —
indagou-me novamente, enquanto voltamos a caminhar
pelo corredor em cima dos tapetes vermelho do palácio.
— Estava ansiosa demais, o concurso está
chegando e eu preciso passar — argumentei esperando
que ele compreendesse meus motivos.
Assim que terminei de responder, ele abriu a porta
do seu gabinete para mim, e temerosa entrei, por sorte
ninguém ainda havia chegado, nem Bruno, nem os
estagiários dele, mas foi quando ele abriu a porta da sala
dele que meu corpo retesou e paralisou na porta
novamente.
— Entre, Donna! — Novamente senti o poder da
mão dele me impelir e forçar-me gentilmente a entrar.
Meu corpo deu um pulinho quando a porta que nos
separava do restante do gabinete foi fechada. Eu parecia
uma das estátuas da fachada do prédio quando senti as
mãos dele ladearem meus quadris e me puxar para ele,
mas quando senti a barba dele roçar em meu ombro nu e a
boca tocar em minha pele ao desferir micros beijos na
parte descoberta do meu ombro, simplesmente relaxei ao
som de sua voz:
— Você está linda essa manhã — fechei meus olhos
e arqueei meu corpo. — Senti falta apenas do lenço —
disse.
— Não combinava com a roupa.
— Entendo! — respondeu escorregando as mãos
em minhas nádegas dizendo:
— Puta merda! Você está mesmo usando uma
calcinha.
— Sim, estou, eu te falei na noite da festa que não
suporto ficar sem, lembra?
— Me recordo de tudo que foi dito aquela noite —
respondeu e voltou a me beijar carinhoso no ombro
subindo em direção ao pescoço acendendo em mim uma
tocha que queimou no meio das minhas coxas.
— Que bom! — respondi apenas toda mole nos
braços dele.
— Quero sentir seu cheiro — murmurou enquanto
me beijava nos ombros, mordiscando-me e apertando
meus seios, cheio de tesão, então inclinei meu pescoço
para que sentisse meu cheiro. — Não esse cheiro —
respondeu.
— Não entendi!
—Tira a calcinha para mim — intimou e saiu das
minhas costas e se encostou na mesa e cruzou os braços
esperando.
— Davi, eu preciso trabalhar, lembra? — Longe dele
recobrei minha razão.
— Tira a calcinha, Donatella!
Olhei em direção a porta, e ele disse:
— Trancada!
XXII
Ele não precisou pedir novamente, seu olhar me
fuzilava, o tom de sua voz era perturbador, um
mandamento, e assim, levei meus dedos no cós da
calcinha nude cortada a laser que eu usava naquele
momento e a tirei do corpo rapidamente passando pelas
pernas tomando o cuidado para não prender no salto do
meu sapato. Eu estava queimando de vergonha, pois
aquele não é o tipo de lingerie que a gente quer que um
homem veja, e dessa forma, quando a tirei, embolei-a em
meus dedos e a fiz sumir na minha mão.
— Me dê! — estendeu a mão na minha direção e eu
a entreguei de olhos fechados.
Davi esticou a peça nos dedos e disse:
— Está explicado por que tive dúvidas se você
estava ou não de calcinha.
Davi colocou a calcinha no bolso do blazer, e logo
em seguida, o tirou de seu corpo e o colocou na cadeira,
depois veio em minha direção com o olhar tão ardente e
lascivo que seria capaz de levar uma mulher ao orgasmo,
seu autocontrole era devastador e sua presença era
asfixiante.
Ficou frente a frente comigo, então falei:
— Não gosto da forma que me olha.
— Por quê?
— Porque seus olhos penetram minha alma e
acariciam minha libido com muita força.
Davi passou a mão na minha nuca e questionou-me
exercendo ainda mais o seu domínio ao me encarar e
perguntar:
— Você gosta com força?
— Muito! — respondi sem titubear.
Arquejei, sentindo-me sufocada, e de uma forma
sutil, Davi suspendeu minha saia parando o tecido na
minha cintura, segurou em meu queixo e me beijou
suavemente explorando com carinho minha língua ao
invadir minha boca e me desestabilizar toda aquela hora da
manhã. Aquele beijo delicioso era ardente e o sabor da
bala, ou seja, lá o que for que ele havia chupado era forte e
refrescante, e eu queria mais e mais, e assim, passei a
buscar por movimentos mais vorazes e cheios de paixão.
Uma química muito forte começou a entrar em ebulição
fazendo nossas veias ferver naquele momento. Davi
passou o braço sobre minha cintura e em um movimento
abrupto rodopiou comigo em seus braços tirando inclusive
meus pés do chão, vindo a me colocar sentada em cima de
sua mesa. Ele era forte e me senti uma pena.
Davi era quente demais, seus beijos molhados me
enlouqueciam, e naquela ânsia em que nossas bocas se
buscavam e se fundiam apertei seu tórax sentindo a
firmeza de seus músculos, e em seguida, enfiei minha mão
por dentro da camisa dele e senti sua pele em meus dedos,
mas Davi gostava de judiar e de me privar de tocá-lo, e
tirou minha mão de seu corpo e empurrou-me para trás me
fazendo encostar os cotovelos na mesa. Davi subiu
beijando minha perna até que chegou em minha coxa,
gemi alto quando mordeu a parte interna e sugou logo em
seguida, beijando-me.
— Shiii! Não faça barulho — inclinou-se em minha
direção e tapou minha boca com a mão ao dizer — Não
queremos ser ouvidos aqui dentro, queremos?
Balancei a cabeça em negativo completamente
enlouquecida de desejo, e tudo o que eu não queria era ser
ouvida naquela situação.
Ele esticou o braço e pegou o blazer na cadeira,
enfiou a mão no bolso e tirou de lá o bendito lenço branco
que levei na noite da festa, e só então dei-me conta de que
não tinha pegado de volta.
Davi estava tão excitado que o volume que
ostentava no meio das pernas era simplesmente delicioso,
e um tesão desesperador tomou conta de mim ao vê-lo me
desejar daquela forma.
— Abra sua boca! — ordenou segurando o lenço
vindo em minha direção.
— Davi, não! — falei balançando a cabeça.
— Não quero que te escutem.
— Não quero que tape minha boca, por favor! — tive
pavor de imaginar minha boca tapada, mesmo assim, eu o
obedeci.
Fechei os olhos e abri a boca como ele ordenou, e
logo que abri os olhos novamente, me surpreendi com o
lenço em cima da mesa, ele simplesmente não me
amordaçou e me senti aliviada.
Davi segurou minhas pernas e se enfiou entre elas
beijando minhas coxas, mordendo, cheirando-me até que
chegou em meu sexo, e assim que cheirou novamente,
falou:
— Muito bom, gosto do cheiro da sua boceta —
falou me deixando envergonhada, meu rosto queimou, mas
não tive tempo de apreciar o pudor e já senti sua língua me
lamber de baixo para cima e sugar meu clitóris me fazendo
contorcer e gemer novamente.
— Segure os sons ou terei que parar.
— Achei que fosse me castigar por não cumprir sua
ordem.
— E eu vou — respondeu e voltou a me lamber, e o
toque de sua língua judiava, me fazia arquear o corpo e
grudar na mesa com força, e se aquilo era um castigo, eu
queria muito ser castigada, então falei em meio aos
gemidos sufocados:
— Me castigue, me castigue, Davi.
— Pode deixar — respondeu e voltou a me
proporcionar o sexo oral mais delicioso da minha vida,
enquanto sua língua invadia meu desejo, torturando-me de
forma insana e imoral.
O desejo pulsava forte em minha vagina, eu o
desejava com urgência quando sua língua me penetrava
dura, me fazendo inclinar o corpo e grudar meus dedos em
seus cabelos.
— Oh! —gemi novamente.
— Shiii! — esticou o braço e tapou minha boca
evitando assim que eu soltasse meus gemidos, e ao ter os
meus gemidos cortados, eu me sentia vulnerável, me
sentia desamparada nas mãos dele.
Estava ofegando, minha mente gemia, gritava e ele
não me largava, não parava de me chupar, lamber, morder
meu clitóris e beijar, em seguida, em uma mistura
torturante de pequenos fachos de dor e prazer.
Minha perna estava em cima do ombro dele, e ele
tinha acesso ao meu corpo, minha vagina e a minha alma
ali entregue a ele como se fosse um banquete.
Davi chupava meus grandes e pequenos lábios de
forma degustativa, sentia a umidade da boca dele se
mesclar a minha e me deixar ainda mais molhada.
— Cheirosa! Gostosa demais — disse entre os
dentes ainda tapando minha boca, e quando enfiou sua
língua em minha vagina novamente, fez crescer em mim
uma loucura tão grande que me fez erguer o corpo e
segurar em seus cabelos com força enquanto ele me
sugava de uma forma deliciosa, chupando-me, enquanto,
apertava meus seios que naquela altura já estavam fora da
blusa em sua mão, por sorte, eu havia me depilado para a
festa. A violência das sensações me fazia gemer e tremer
sufocada, com medo de ser ouvida pelos estagiários dele
que poderiam estar do lado de fora.
Davi lambia de cima para baixo, chupava e fazia
movimentos torturantes em meu clitóris já inchado naquele
momento, eu segurava em seus cabelos, exigindo mais e
mais, virando a cabeça para trás enlouquecida de tesão,
completamente fora de mim.
O que imaginei que seria um castigo estava
simplesmente me enlouquecendo, e se aquele era mesmo
o castigo, eu jamais iria obedecer a uma ordem dele.
E quando eu já não aguentava mais de tanto tesão,
falei ao sentir os primeiros sinais de um orgasmo:
— Deus do céu, eu não aguento, vou gozar!
— Não! Não, vai.
Davi se recompôs saindo do meio das minhas
pernas, veio até mim, beijou-me nos lábios de forma
luxuriante, mordendo-me de leve e sentenciou:
— Você cumpriu só metade da minha ordem, então
a recompensa também não vem inteira para você.
— Davi, não, por favor, continue — implorei em
combustão e mais um toque dele em mim, nem que fosse
um único beijo, eu teria explodido, mas ele se afastou de
mim e limpou sua boca com meu lenço branco.
— Você me disse que não é um sádico.
— E não sou.
— Então, o que é isso?
— Isso é o que você não ganha quando não cumpre
minhas ordens.
— Mas você está tão excitado quanto eu.
— Vou me recuperar.
— Você é um filho de uma... — mordi a mão para
não completar a frase.
Davi veio em minha direção olhando-me com
severidade, abriu minhas pernas e limpou-me com o lenço,
passando-o em minha vulva.
Grudei no braço dele e disse ofegando:
— Isso vai ter troco.
— Experimente — respondeu provocante.
Saiu de perto de mim e vestiu o blazer novamente
voltando a ficar lindo e soberano como se não estivesse
excitado.
Estendi minha mão enraivecida e pedi:
— Minha calcinha, devolva.
— Não! Hoje você vai trabalhar sem calcinha, quero
que sinta minha presença o dia todo, e será assim sempre
que sentir-se incomodada com a falta dela.
— Era só o que me faltava — respondi arrumando
minha roupa e me recompondo.
— Não reclame, Donna, eu estou sendo bem
bonzinho com você.
Disse e se sentou frio e congelante atrás de sua
maldita mesa como se nada tivesse acontecido.
— Bonzinho? — levantei as sobrancelhas.
— Sim.
Peguei minha bolsa e dei as costas a ele, então
disse-me:
— Hoje à noite meu motorista vai te buscar, e não
precisa de calcinha.
— Vai me fazer ficar o dia todo e à noite toda sem
calcinha só por que sabe que detesto isso?
— Como eu disse, estou sendo bem bonzinho, não
reclame, você tem sorte, mas se continuar agindo como
uma Brat, as coisas vão mudar.
— O que é uma Brat?
— Pesquise.
Fechei os olhos, respirei fundo e o avisei:
— Não vou poder ir até você às sete, eu tenho duas
aulas hoje.
— Falte.
— Não posso.
— Diga o horário e ele te pega em casa.
— Nove e meia.
— Está bem, nove e meia esteja em casa.
E assim que terminou aquele diálogo cheio de frases
curtas e diretas. Eu estava explodindo de ódio, exausta,
com sono e ainda teria que encarar um dia de trabalho com
o tesão a flor da pele e expelindo pelos meus poros.
Quando abri a porta para sair ele me chamou e
disse:
— Donatella! — parei para escutá-lo. — Agora sua
calcinha não está mais marcando.
Suspirei ruidosamente e saí sem respondê-lo.
Quando saí da sala e entrei nas dependências do
gabinete, vi todos os estagiários se preparando para
começar a trabalhar, mas Bruno não estava por ali.
XXIII
Em chamas, literalmente queimando por dentro e
por fora, foi assim que deixei a sala do Davi depois de
receber a recompensa pela metade, assim disse ele após
me torturar e me deixar subindo pelas paredes.
— Isso não vai ficar assim! — murmurei caminhando
a passos rápidos pelo longo corredor até chegar em minha
sala.
Tinha uma necessidade excruciante de que eu iria
matar antes de tentar recuperar a sanidade e ir para a
audiência da manhã, e assim entrei em minha sala com
minhas partes íntimas molhada e exigindo atenção. Não
daria mais nenhum passo mergulhada naquele tesão, e eu
iria matar quem estava me matando.
— Bom dia, Dr. Afonso! — falei ao entrar no
gabinete e encontrar o desembargador para quem eu
trabalhava conversando com um dos seus estagiários, e
era um homem baixo, gordo e careca, sem nenhum tipo de
atrativo.
— Bom dia, Donna! — respondeu ele virando em
minha direção com uma pilha de papéis na mão. — Te
encontro na sala de audiência — completou.
— Está bem senhor, só vou pegar a pasta —
respondi e entrei para minha sala com tanta urgência que
quase levantei a saia sem fechar a porta, eu estava
deliciosamente excitada, transtornada e nada no mundo ia
me impedir de me tocar naquele momento, e eu sabia que
seria coisa rápida, visto que já estava explodindo.
Sentei na minha cadeira com a saia na cintura, e
exatamente quando levei a mão no meio das minhas
pernas, uma voz fez todo o calor que eu estava sentindo se
transformar em frio e calafrio, e ele questionou assustado:
— Donna! O que está fazendo?
Fechei os olhos e me virei em direção a janela e tive
a pior de todas as visões da minha vida, naquele momento
me senti sendo resgatada do inferno.
Gaguejei ao dizer:
— Bruno! O... o que faz aqui? — levei minhas mãos
na barra da saia e abaixei imediatamente, completamente
perdida.
— Você não atendeu minha ligação ontem, então
vim saber se estava tudo bem, mas pelo visto não.
— Meu Deus, Bruno! Tinha algum bichinho me
mordendo.
— E ele tirou sua calcinha?
— Eu não uso calcinha! — respondi na lata
mentindo.
— Bom, vou relevar sua mentira porque não quero
nem saber o que você ia fazer, mas me diga, como foi seu
fim de festa?
Quente, muito quente. — Pensei.
— Foiii... — parei para pensar no que diria.
— Ele machucou você? — Bruno foi direto enquanto
enfiava suas mãos no bolso da calça preta.
Estreitei os olhos e questionei:
— Ele quem?
— Você sabe do que estou falando.
Dei-lhe as costas sentindo a umidade irritante no
meio das minhas pernas, então falei:
— Ele não me machucou, não faria isso.
— Então transaram?
Virei em sua direção com rispidez e o respondi:
— Não falo sobre isso, se lembra? Não se trata
apenas da minha intimidade, e sim, de duas pessoas,
sendo assim, não me pergunte sobre essas coisas.
— Tá, tá, eu sei que não gosta de falar sobre sexo
— Suspirou e se virou em direção a janela, então o
questionei:
— E você com a Carla? Rolou alguma coisa?
— Sim, Donna, e era sobre isso que vim falar com
você.
— Então vai me contando enquanto guardo esses
papéis — falei e passei a juntar parte de um processo e
colocá-lo na minha pasta, eu estava frustrada e quase
atrasada.
— Carla é perfeita, Donna. Não sei como não a
enxerguei por tanto tempo.
— Eu já havia falado dela e de como ela te olhava,
mas você insistia em algo que não teria futuro.
— É... Demorei tempo demais para aceitar que você
não me queria, mas como dizem, antes tarde que nunca.
Quando ia voltar a respondê-lo, meu celular vibrou
em cima da mesa, e meu coração veio parar na boca
quando vi quem estava ligando, e então atendi:
— Oi!
— Estou curioso, me diga, como está a temperatura
do seu corpo? — Davi questionou com um tom de voz
baixa e deliciosamente sedutora.
Dei as costas para o Bruno e o respondi quase em
um sussurro:
— Quente! Está muito quente hoje.
— Sentiu vontade de se tocar?
— Sim, muita, e cheguei muito perto disso.
— Não faça isso, entendeu? Quero você subindo
pelas paredes hoje à noite. Você não perde por esperar.
Meu corpo tremulou ao som daquela voz e daquelas
palavras, imaginar o que me esperava fez meu corpo entrar
em erupção novamente.
Enchi os pulmões de ar e olhei para Bruno que me
condenava com o olhar.
— Esqueci de te perguntar. O que gostaria para o
jantar? — questionou Davi mudando o foco da conversa.
— Ah! Eu, eu não sei, você escolhe, na verdade,
pode, pode ser uma massa — gaguejei sem graça.
— O que foi? Tem alguém aí na sua sala com você?
Antes mesmo que eu o respondesse Bruno abriu a
boca e falou denunciando o que eu estava prestar a
esconder:
— Falo com você mais tarde, Donna. Boa audiência
— disse e foi saindo da minha sala.
— Está bem!
— Bruno está na sua sala? — Davi questionou, e
pelo tom áspero ficou nítido e notório que não gostou.
— Sim, quando cheguei aqui ele já estava me
esperando.
Ouvi quando ele afastou a cadeira, e em minha
mente a cena dele se levantando enfurecido se desenhou
com perfeição.
— Vamos ter que esclarecer alguns pontos sobre
seu amigo, e para terminar, traga peças de roupa em um
cabide para você trabalhar amanhã.
— Por que mesmo vou precisar de roupas?
— Porque vai dormir comigo, na minha casa.
— Humm! Dormi, é?
— Dormi não é bem a palavra, mas vai jantar e
passar à noite comigo.
— Está bem, Meritíssimo, não vejo a hora de dormir
com você.
— Donna?!
— Sim!
— Vou saber se não usar calcinha hoje durante o
dia, então nem pense em sair e comprar uma.
— Vai colocar seus homens para me vigiar?
— Não será preciso, pois em tão pouco tempo já
consigo identificar quando mente apenas pelas suas
expressões faciais.
Olhei em meu pulso e o respondi serena:
— Não se preocupe, senhor, não vou desobedecê-lo
novamente, eu não seria louca de perder o que tem para
essa noite.
— Muito bom! Tenha uma boa audiência.
— Obrigada! — agradeci e ele desligou.
É você que não perde por esperar, Vossa
Excelência. Pensei.
Sentei em minha cadeira e senti o incomodo que era
estar sem calcinha e explodindo de tesão, eu conseguia
sentir a umidade entre minhas coxas, e juro que iria me
tocar ali, se não fosse a maldita audiência, pois eu estava
imersa em um tesão enlouquecedor, mas ia passar, eu
sabia que ia, e não me chamo Donatella se não pagar com
a mesma moeda, nem que isso me renda outro castigo.
Depois de passar pelo banheiro e tentar acalmar os
ânimos, saí da minha sala rumo ao elevador, e infelizmente
dois passos antes de entrar no mesmo escutei uma voz
melódica chamar meu nome:
— Donatella!
Me virei e a encarei dizendo:
— Meritíssima.
— Já teve sua primeira sessão de spanking?
Respirei fundo e a respondi no mesmo nível de
sarcasmo, odiando-a por saber que ela já havia tido tudo
dele, tocado nele.
— Não! Mas não vejo a hora.
— Peça a ele para te levar ao subespaço — falou,
sorriu e foi saindo completando. — Você nunca mais vai
ser a mesma.
Quando olhei para Dalvinha, ela me encarava e nem
piscava, então, quando abriu a boca e soltou a pergunta:
— Quem vai te levar e para onde?
Fechei meus olhos e a respondi:
— Não fale comigo pelos próximos meses — entrei
no bendito elevador dela.
— Impossível, Donninha, se não é com você, com
quem mais vou falar?
— Esse é o problema dona Dalva, a senhora fala
demais, fala pelos cotovelos.
Dalvinha falou sem parar até que chegamos no
andar da sala de audiência, ela falava e eu simplesmente
me vi aérea pensando no que a Dra. Rew havia falado, e
que diabos era subespaço? Pelo amor de Deus!
Assim que Dalvinha abriu a porta do elevador, saí
dele sem prestar atenção no que ela estava falando, e
assim foi durante toda a audiência, e se tinha algo novo
para aprender naquela sala, passou batido, pois me sentei
um pouco afastada e ao invés de prestar atenção no
processo que estava sendo julgado por cinco
desembargadores, eu simplesmente abri meu notebook e
fui pesquisar sobre duas palavras que me chamaram
atenção naquele dia, digitei no navegador do Google a
palavra estranha dita por Davi, “Brat”, e constatei que era
nada mais que uma submissa que sente prazer em
desobedecer as ordens do Dominador, e assim, me peguei
rindo ao lembrar que Davi parecia não gostar nada de
Brats.
Quanto a palavra estranha dita por Rew,
“subespaço”, essa me deixou com medo, pois trata-se de
um suposto transe no qual a submissa ao receber um misto
de dor intensa e prazer, entra ao desencadear uma
resposta do sistema nervoso liberando assim uma
descarga grande de endorfina e encefalinas, o que teria o
mesmo efeito da morfina, aumentando a tolerância para a
dor, o que provoca o sentimento de flutuar do submisso, ou
seja, é como estar bêbado ou sob efeito de drogas.
Pânico, curiosidade, foi o que a Dra. Rew conseguiu
despertar em mim, e logo que tivesse oportunidade iria
questionar o Davi sobre esse sentimento ou essa coisa que
acontece com os submissos, e se for tudo que a pesquisa
me levou, é uma das experiências mais intensas no mundo
do BDSM, e se eu estava preparada para algo assim, eu
ainda não sabia, mas Davi valia cada experiência nova e
eu só saberia se me permitisse.
Spanking, senti todos os pelos do meu corpo se
arrepiarem assim que aquela palavra que significava
palmadas reverberou insistente dentro da minha mente, e
juro que não me vi vivendo aquilo, mesmo estando bem
curiosa quanto ao universo de Davi, e se eu me adaptaria
só o tempo iria dizer.
XXIV
Os segundos estavam se passando como se fossem
minutos e cada minuto como se fossem horas, isso devido
a ansiedade me consumindo para ter Donna em meus
braços novamente. Minha mente me acusando e meu
coração palpitando forte a cada vez que aquela mulher me
vinha na cabeça de forma torturante e avassaladora. Última
vez que me permiti viver algo assim foi com Elisa, e mesmo
assim, não tinha a mesma intensidade que tem agora.
Definitivamente Donna está mudando a rota da minha vida
me levando diretamente a uma colisão com tudo que vivi
até hoje, com meu eu interior, e mesmo sabendo que não
vou me permitir mudar, estou simplesmente adorando essa
nova forma de jogar, onde terei que dar tudo de mim em
troca da submissão daquela mulher.
Finalmente depois de um dia maçante trabalhando
sem parar em cima do pedido de recursos dos credores da
Air Brasil, cruzei a porta da minha casa, e mal fiz isso, fui
interpelado por Vera, minha governanta, dizendo-me:
— Boa tarde, senhor, teve um bom dia?
— Boa tarde, Vera. Sim, foi um dia maçante, mas
um bom-dia — respondi enquanto fui tirando o blazer do
meu corpo, não usei gravata aquele dia, pois já sabia o que
faria e não queria me sentir sufocado quando estivesse no
meio das pernas de Donna dando a ela o castigo que
merecia. Pensar nisso e em como foi gostoso castigá-la,
fez meu pau se mexer inquieto dentro da minha cueca.
Eu estava louco de tesão aquele fim de tarde, e teria
que me segurar assim que visse Donna na minha frente
novamente, os planos eram preparar o jantar, eu mesmo
para ela e expor todos os pontos de como seria nosso
relacionamento durante ele.
Vera me tirou da minha lembrança questionando-
me:
— Senhor, fiz exatamente tudo como me pediu, as
compras já estão devidamente guardadas na cozinha,
precisa de algo mais?
— Obrigado Vera, não preciso de mais nada, você e
a Lu já podem ir para casa.
— Não irá precisar dos meus serviços durante o
jantar, senhor? — questionou-me.
— Não, hoje eu mesmo irei cozinhar, não se
preocupe.
— Sim, senhor, e se precisar é só chamar.
— Obrigado — respondi enquanto observei a
senhora baixa e de cabelos curtos se afastar e me deixar
novamente só com meus pensamentos na mulher que
estava conseguindo virar minha vida do avesso.
Muito tempo, eu tinha muito tempo ainda até que
Donna passasse novamente pela porta da minha casa, e
para tentar controlar a ansiedade, fui para o estande de
tiros treinar minha mira e que se diga de passagem, é
muito boa. Saber como me defender é uma necessidade
crucial.
Mais tarde na cozinha, preparei o molho da massa
que iria fazer para Donna, queria um prato rápido, mas que
fosse inesquecível, e dessa maneira, iria servir um Penne
Alla Vodka que eu gostava muito e que era uma das
minhas especialidades na cozinha.
Ansiedade me consumia de dentro para fora, teria a
conversa que iria definitivamente traçar os rumos do meu
relacionamento com Donna, e não saber como ela iria
reagir é que estava me dilacerando.
Perto das nove, terminei de dobrar as mangas da
camisa preta que escolhi, não consegui evitar de olhar no
relógio prateado em meu pulso e me dar conta do tamanho
da inquietação que me acometia naquele momento e isso
me deixou irritado, assim fechei meus punhos com força e
me recriminei em meu silêncio.
O que diabos está acontecendo com você Davi?!
Todo de preto, calça, camisa e sapatos, foi assim
que desci as escadas rumo a sala da minha casa e dei de
topo com Donna parada rente ao primeiro degrau. Ela
estava meia hora adiantada, e porra, como estava linda
com os cabelos presos em um rabo de cavalo que de
imediato me fez imaginar coisas que eu muito gostaria de
ter evitado naquele momento. Estava usando uns daqueles
casacos trench azul marinho que me levou à loucura
tentando imaginar se ela ainda estaria ou não cumprindo
minhas ordens.
Desci o último degrau e me coloquei frente a frente
com a ela, e vê-la alguns centímetros mais baixa que eu
fazia com que me sentisse protetor, e assim falei:
— Oi! Está alguns minutos adiantada, senhorita
Donatella.
— Sim, não consegui conter a ansiedade de estar
com você — respondeu-me com os olhos emitindo um
brilho inescrutável.
— Senhor! Hoje, aqui dentro dessa casa eu sou o
seu senhor.
— Senhor! — Donna repetiu a palavra com sutileza,
senti os pelos do meu corpo se eriçarem, me levando a
loucura, e assim, tentando manter a calma, estendi minha
mão e levei meu dedo em seus lábios fartos levemente
coloridos em um tom neutro e os contornei fazendo-a
cerrar os olhos lentamente.
— Vire-se! — ordenei e ela se virou lentamente
ficando a uma distância de um dedo de se encostar em
mim.
O cheiro dela invadiu meu olfato me afetando de
uma forma monstruosa, então fechei os olhos tentando
manter o controle e a questionei:
— Cumpriu minha ordem, Donna?
— Sim, senhor! — respondeu com convicção. — E
ainda estou cumprindo — completou a informação.
— Ainda está sem calcinha?
— Sim!
— Sim, o quê? — questionei com os lábios
encostados em seu ouvido.
— Senhor!
— Boa menina — sussurrei.
Contornei a cintura dela com meu braço direito e a
trouxe para o contato firme do meu corpo, queria ter a
constatação que estava mesmo sem a calcinha, e dessa
forma, desfiz o nó do cinto em sua cintura e abri os últimos
botões do casaco azul, e quando meus dedos deslizaram
em seu abdômen, Donna se contorceu toda e grudou seus
dedos em minha calça quando escorreguei meus dedos
para o meio de suas pernas e cruzei a barreira introduzindo
um dos dedos em sua vagina quente e úmida.
— Senhorrr! — murmurou erguendo-se nas pontas
dos pés e apertando ainda mais seus dedos em minhas
pernas.
— Obediente! É assim mesmo que gosto.
Eu estava com meu pau explodindo dentro das
calças e quanto investi novamente meu dedo na entrada de
Donna, ela levou suas mãos no meu pau e alisou
acompanhando o comprimento duro e nervoso, dizendo:
— Pare de me castigar, senhor, eu mereço te sentir
dentro de mim.
Não estava nos meus planos perder a cabeça
daquela forma, não era para estar tocando nela e nem
permitir que ela me tocasse, não antes de conversarmos,
não antes dela saber de fato o que queria dela, mas eu
estava embevecido de tesão, cego de desejo por ela, um
desejo diferente.
— Temos que conversar, Donna — respondi com
firmeza, mas ela continuou alisando meu pau até conseguir
tirar a cabeça dele para fora. — Donna, pare, pare! — falei
áspero segurando a mão dela com força.
— Me deixa sentir você, seu gosto, cheiro, te tocar,
só hoje, só agora Davi! — Com a súplica, meus dedos
amansaram em volta de seu punho e voltaram a segurar
firme em sua cintura, puxando-a para mim, para minha
ereção incontrolável e monstruosa.
Segurei em seu queixo com a mão esquerda e virei
sua boca em direção a minha, tomando-a em um beijo
aflitivo, eu queria aquela boca, aquela língua, e a beijei
com desejo e gana, me permitindo viver aqueles momentos
que se faziam necessários e urgentes. Nossos lábios se
buscavam e se exploravam cálidos, ávidos de um tesão
que jogou por terra todos os meus planos e anseios,
enquanto nossas línguas se acariciavam e se antecipavam.
Meus dedos foram abrindo os botões do casaco dela e logo
entraram em contatos com os seios fartos e deliciosamente
entumecidos, e enquanto eu os apertava com força, Donna
se remexia ao se esfregar com deleite no meu pau.
Deslizei meus dedos novamente em sua boceta e
enfiei meu dedo do meio em sua entrada, minha libido
estava a flor da pele e pela primeira vez, eu iria foder uma
mulher por impulso, por loucura voluptuosa sem nenhuma
sessão preliminar.
— Abra mais as pernas, abra para mim, Donna —
exigi.
Ela fez como mandei e afastou mais as pernas
permitindo-me ir mais fundo ao tocar em sua vulva e
explorar mais fundo. Ela gemeu gostoso se contorcendo
toda, então abri os lábios de sua boceta e enfiei mais um
dedo, penetrando-a fundo, mexendo dentro dela, buscando
seus fluidos, fazendo movimentos e explorando-a, subindo
e descendo e pressionando seu clítoris inchado, que
rapidamente foi respondendo aos meus estímulos e se
lubrificando intensamente.
Uma delícia de mulher, um sabor delicioso que fiz
questão de experimentar levando meus dedos em minha
boca ao degustá-la com prazer.
— Deixa-me te dar prazer, senhor, por favor, eu
imploro, deixa eu te tocar do meu jeito.
Não a respondi, não disse nem que sim e nem que
não, apenas disse:
— Surpreenda-me! — E assim eu descobriria até
que ponto ela iria mesmo sabendo que quem comanda
tudo sou eu.
Donna se virou em minha direção e retirou de seu
corpo o casaco lentamente, encarando-me, seduzindo-me,
vindo a ficar apenas com seu scarpin nude nos pés, aquilo
por si só já me enlouqueceu, mas quando se curvou
lentamente e se ajoelhou aos meus pés, e olhou para cima
fitando-me enquanto abria lentamente o zíper da minha
calça, fui ao ápice da minha excitação sentindo os
batimentos cardíacos se intensificarem em meu peito. Ela
não se ajoelhou porque mandei, mas se ajoelhar porque
sentiu vontade já era um bom começo. Seus dedos foram
me tocando, subindo e descendo a extensão do meu pau
que se ostentava rígido e forte do lado esquerdo. Donna
tirou minha calça deixando-me apenas de boxer branca e
camisa preta, cuja fui abrindo os botões enquanto ela me
provocava ao me tocar sem tirar minha cueca. Beijando e
passando a língua na cabeça do meu pau que já estava a
mostra fora da cueca.
Aos meus pés, literalmente aos meus pés, submissa
a mim sem se dar conta disso, e assim, ela me levou à
loucura. Donna tirou minha cueca lentamente fazendo meu
pau cair pesado e se sustentar teso em direção ao seu
rosto e a sua boca carnuda e deliciosa, logo que senti o
calor de seus dedos se fecharem envolta do meu pau e se
movimentarem para cima e para baixo, masturbando-me,
levando-o em sua boca, me contorci para trás e gemi
quando ela o engoliu se deliciando ao explorar a cabeça
com cuidado.
— OHH! — gemi alto sentindo a umidade e a maciez
dos lábios dela deslizando ao me chupar e engolir com
vontade e sem pudor.
Meu pau latejava enlouquecido e segurei com força
nas laterais da cabeça dela e me contorci para trás,
gemendo extasiado logo que sua língua circulou a cabeça
do meu pau, vindo a engoli-lo inteiro em seguida.
— Oh, Donna!
Fechei meus olhos e senti o tranco em meu
abdômen quando ela fechou seus dedos circulando o
animal firme e forte que ostentava naquele momento em
sua robustez. Ela me masturbou subindo e descendo,
encarando-me safada e cheia de desejo. Ergueu meu pau
para cima e subiu deslizando sua língua em todo seu
comprimento até chegar na glande, onde desejei
desesperado que ela enfiasse toda na boca, e para meu
desespero ela estava brincando comigo e voltou a deslizar
a língua só no comprimento do meu pau.
— Ah! Porra! Porra não faz assim — fechei os olhos
alucinado.
Ela me olhou sorrindo e mordeu os lábios me
enlouquecendo mais ainda, então, juntei os fios de seus
cabelos negros em meus dedos, quase que exigindo que
ela me engolisse logo de uma vez. Tive espasmos por
todos os músculos do corpo quando ela me olhou quente e
chupou a cabeça do meu pau, lugar onde fica a melhor
sensação do mundo em um oral, e assim, ela me levou ao
delírio, enquanto me degustava envolvendo meu pau em
sua mão fazendo movimentos circulares e explorando a
cabeça com a boca. Ela me enlouqueceu completamente,
vê-la me chupando me excitava demais, principalmente a
maestria com que ela me devorava daquela forma. Donna
lambia a cabeça, engolia-me até pouco mais que a metade
e me olhava de um jeito que eu tinha vontade de pegá-la
no colo e penetrá-la logo de uma vez, tamanho era o tesão
que ela estava me proporcionando. Fiquei explodindo,
queria meter meu pau com força em sua boca, e perdi a
noção de tudo e segurei em seu rabo de cavalo e passei a
estocá-la ávido, entrando e saindo, sem cessar. Eu
acabaria gozando em sua boca se eu não parasse naquele
momento, então segurei em seus braços e a puxei para
cima tirando-a do meu pau e a ergui segurando firme em
sua cintura, buscando seus lábios com voracidade e uma
volúpia sem medida.
— Vou te foder agora, Donna. Meu Deus! O que
você está fazendo comigo? Me deixou louco de tesão.
— Camisinha! — ela balbuciou. — Minha injeção
venceu — informou.
— Porra! Porra! — rugi nervoso. — Vou buscar, já
volto — respondi e saí como louco, subindo as escadas em
direção ao meu quarto, assim que entrei fui direto na
gaveta do closet onde guardava camisinhas, peguei uma
delas e abri a gaveta de baixo, passei a mão em um dos
chicotes de couro que estava lá e sem titubear apanhei um
deles rapidamente e fui novamente em direção ao corredor
da ala das quartos, não me demorei nada, mas quando
cheguei no segundo lance de escadas, vi Donna deitada
nua em posição fetal no meu sofá, e estava toda
aconchegante abraçada a uma almofada, e assim que me
aproximei constatei que havia dormido.
— Donna! Ei! Já voltei.
Não obtive nenhuma resposta naquele momento,
então voltei a chamá-la só que daquela vez eu a toquei
com delicadeza nos ombros, dizendo:
— Donna não brinca comigo, olha a situação que
estou.
Ela resmungou algumas palavras:
— Me perdoe, estou exausta.
— Não estava há alguns minutos — retruquei.
— Me convidou para dormir na sua casa.
— Está brincando comigo? Donatella! Donna ainda
nem jantamos.
— Só me deixa dormir um pouco — murmurou
baixinho.
Levei as mãos em minha cabeça e girei em meus
calcanhares com o pau mais duro que um cabo de
machado, olhei para ele e o vi cair lentamente,
desanimado.
Me sentei no chão ao lado dela no sofá e fiquei
observando suas curvas nuas e lindas, uma pele morena,
uma deusa bem ao alcance dos meus dedos e do meu
chicote que teria seu orgasmo naquela pele.
Sorri, olhando-a, estava terna, linda, e havia
acabado de me pagar com a mesma moeda, pois era um
castigo tê-la ao alcance dos meus dedos, imóvel daquela
forma, simplesmente dormindo e me deixando louco de
tesão.

Meu corpo ardia em chamas, eu estava molhada,


excitada, queimando de dentro para fora ali deitada
naquele sofá, mas iria resistir até o fim. Eu o deixei
exatamente como ele me deixou pela manhã,
simplesmente escalando o Monte Everest, sem corda de
proteção.
Eu disse que você ia pagar! — pensei toda
arrepiada ao senti o toque sutil de algo em meu corpo.
Sentir o toque macio dos dedos dele contornando as
curvas do meu corpo estava me torturando, mas eu ia
resistir nem que fosse preciso dormir de verdade.
— O que você está fazendo comigo, Donatella? —
Davi questionou para si mesmo enquanto voltei a sentir o
toque de algo macio em minha pele, e deduzi me
arrepiando toda que aquilo não eram os dedos dele.
XXV
O toque macio dos dedos de Davi continua tocando
minha pele como se fosse brasa, me queimando e me
deixando em um estado completo de ebulição. Meu corpo
ardia e minha mente pulava feito bolhas ensandecidas de
um desejo incontrolável.
Segure-se! Controle-se, Donna! Meu Eu interior
gritava, mas meu corpo tinha vida própria naquele
momento e emitia a Davi sinais que certamente ele
percebeu, pois a cada deslizar daqueles dedos enormes
em minhas nádegas e em minhas curvas como se
estivesse estudando-as, analisando profundamente, meu
corpo tremulava e não havia um único pelo que
conseguisse se manter sereno, estavam todos eriçados me
denunciando, sem contar que meus mamilos endureceram
e esses eram só os sinais visíveis, pois o que ele não podia
ver é que estava me matando de tesão. Eu conseguia
sentir o inchaço da minha vulva e a sensibilidade febril em
meu clitóris.
Meu Deus! Toque-me, toque-me, Davi. Me contorcia
por dentro desejando-o tórrida.
Davi alternava seus toques com algo um pouco mais
áspero e frio, e sem saber do que se tratava, a tensão me
excitava ainda mais aguçando meu desejo ao extremo. De
olhos fechados, sendo tocada daquela forma libidinosa, eu
simplesmente fui imaginando as mãos dele, os dedos
longos, os vasos e tendões aparentes e aquilo foi me
deixando mais louca ainda, eu tinha um tesão pelas mãos
daquele homem, e elas estavam naquele momento quase
me levando a um orgasmo mental, e eu não teria resistido
se ele não tivesse tirado suas mãos de mim naquele exato
momento.
Continue, continue, Davi, por Deus, volte a me tocar.
Implorei mentalmente, mas não obtive resposta, e assim
acionei meus instintos auditivos e escutei passos a se
distanciarem de mim.
Abri meus olhos e o vi de costas se afastando com
um objeto na mão direita que rapidamente identifiquei
como sendo um chicote, e confesso que a imagem daquele
homem corpulento subindo as escadas com um chicote
preto na mão me fez lembrar do toque daquilo na minha
pele e me fez ter um estímulo de tesão em meu ventre.
Nunca imaginei que pudesse sentir tanto tesão ao ver um
homem com um chicote entre os dedos, esse nunca foi um
fetiche meu.
Davi era a personificação do pecado, e meu corpo
gritava borbulhando em uma completa erupção vulcânica, e
o pior foi que ele simplesmente me deixou em chamas e
desistiu, me deixando ali no sofá encharcada e quente
demais. Eu precisava me tocar, precisava aliviar aquele
tesão entorpecedor, mas mantive a respiração e fiquei
imóvel tentando me acalmar, contudo, o desejo era forte
demais, torturante e eu não iria aguentar me segurar e
continuar com aquele fingimento de estar dormindo. Estava
prestes a me levantar e ir procurá-lo quando abri os olhos e
o vi descendo as escadas novamente, estava nu dessa
vez, e assim, fechei meus olhos rapidamente sem me
atentar se ainda continuava com o objeto nas mãos. Fiz um
movimento no sofá e me virei de bruços enfiando meus
braços por debaixo de uma almofada, tentando fingir um
pouco melhor que estava mesmo dormindo, visto que ele
merecia sim, ser castigado, nem que aquilo estivesse me
castigando também.
O silêncio que se fez me deixou ainda mais
aguçada. O que ele estava fazendo? Onde foi? Eram
perguntas que passei a me fazer, contudo, a resposta veio
rápido demais quando senti me tocando sutilmente na
cabeça quando ele simplesmente passou algo sobre meus
olhos e quando os abri enxerguei nada além de escuridão,
e resmunguei fingindo:
— Daviiii, me deixa dormir. — Voz de indiferença e
cansaço.
— Eu decido quando é hora de dormir — respondeu
enquanto seus dedos desceram em minhas nádegas e
desceram e foram explorar sutilmente minha vulva
adentrando em seguida em minha vagina.
Tentando suprimir o gemido e tentei falar:
— Mas, eu quero... — interrompeu-me tapando
minha boca e sussurrou ao pé do meu ouvido afundando
ainda mais o dedo em minha vagina que estava alagada.
— Você quer meu pau fodendo você, está febril de
desejo, não negue. — Contorci-me toda em seus dedos
que iam fundo e acariciavam a alma da minha libido.
Senti quando ele passou as pernas sobre meu corpo
e ficou em cima de mim me fazendo sentir o quando estava
duro, excitado demais, e sentir sua ereção rija tocar em
minha bunda me deixou em êxtase me fazendo esquecer o
porquê eu estava fingindo dormir.
Ele roçava o pau no meio da minha bunda,
segurando firme demais nos meus quadris ao fazer
movimentos provocantes, subindo e descendo.
— Não consigo ver nada! — resmunguei
constatando que ele havia me vendado.
— Não veja, só sinta meu pau te foder — disse e se
enfiou inteiro dentro de mim em uma estocada enérgica e
profunda.
— Ahh! — gemi entrecortado me contorcendo toda
quando fui penetrada de surpresa e nossos corpos se
fundiram violentamente me fazendo virar os olhos
enlouquecida de prazer.
Meu corpo se curvou involuntário e meus dedos se
afundaram nas almofadas, tamanho foi o impacto daquela
penetração inesperada. Davi gemeu de forma gutural
quando deu a primeira estocada, deixando-me mole e mais
receptiva a ele, e eu o queria em mim, fundo, forte e
devastador.
Então curvou-se completamente sobre mim,
cobrindo-me com seu corpo, me aquecendo e fazendo meu
coração bater na boca de desejo, expectativa, medo e
tesão, muito tesão, enquanto se mexia lentamente se
enfiando fundo com estocadas deliciosas e ritmadas ao me
prender entres suas pernas, completamente imóvel e
entregue embaixo dos caprichos deliciosos daquele
homem que não pedia, apenas tomava para si o que
queria.
Eu estava vencida, entregue e completamente louca
por ele que ergueu meu pescoço para trás e me beijou,
mordendo meu lábio inferior com força logo em seguida e
aquilo reverberou diretamente em meu ventre que sentiu
uma fisgada deliciosa e violenta. Logo após ter mordido
meu lábio, ele deu o remédio me beijando loucamente
aplacando a dor, e um calor inundou meu corpo e minhas
unhas voltaram a se afundar no tecido macio do sofá
enquanto sentia a invasão deliciosa e impiedosa daquele
homem dentro de mim, entrando e saindo enquanto
beijava-me com ardor, mordendo, chupando meus lábios,
estocando sem cessar e gemendo de um jeito tão másculo
que era capaz de gozar só de ouvi-lo.
— Nunca mais me tente, Donatella — disse, e em
seguida, mordeu meu ombro fazendo meu corpo tremular
de ansiedade enquanto o sentia meter duro e quente em
mim, socando e suspirando em meu ouvido de forma
desenfreada ao me possuir em um sexo duro e forte.
Então, de repente, tirou seu corpo quente de cima
do meu deixando um vazio insuportável, em seguida, senti
seus dedos em meus quadris me puxando mais para cima
e me fazendo empinar a bunda um pouco mais sem sair de
dentro de mim e sem cessar as estocadas, ele gemia,
bufava, suspirava, se enfiando todo e metendo, enquanto
alisava e apertava minhas nádegas com força, me levando
para ele, para seu pau que me castigava bombando
cadenciado.
— Porra que delícia, que delícia de rabo! — falava e
alisava, esquentando minha nádega, bombando com uma
maestria enlouquecedora. —Diga que posso esquentar
essa bunda gostosa, diz Donna — gemia, urrava e metia
cada vez mais fundo, forte, voraz.
— Vai doer? — questionei nervosa imaginando que
seria chicoteada naquele momento.
— Só relaxa, só relaxa— respondeu e passou a
meter em mim com mais voracidade, segurando firme nas
laterais da minha bunda e apertando com força, estava
enlouquecido e emitia sons como se fosse um animal feroz.
— Minha, você é minha, só minha, porra! — Aquelas
palavras levaram com elas minha sanidade, pois assim que
elas se perderam no ar implorei logo em seguida.
— Por Deus, me bate! Me bate logo, Davi! — Eu
queria muito aquilo, estava louca de curiosidade e assim o
provoquei, chamando-o pelo nome e sua reação foi
imediata, pois passou seus dedos em meus cabelos e os
puxou para trás fazendo meu corpo se curvar em direção a
ele, então, disse entre dentes bem próximo do meu ouvido
ao deixar sua mão cair pesada na lateral da minha bunda
enquanto o primeiro estalo de um tapa se fez ecoar pelo
ambiente.
—Menina má, má, ohh porra! — Outro tapa pousou
quente e dolorido na mesma nádega me fazendo sentir um
misto de dor, seguido de um frenesi delicioso que foi
pulsando dentro de mim e simplesmente aumentado em mil
vezes a sensação estarrecedora de ter gostado da
sensação dolorosa do tapa unido as estocadas que levava
ao mesmo tempo.
Era um monstro de homem em cima de mim, me
possuindo cheio de gana.
Ele continuou me prendendo pelos cabelos e gemia
em meus ouvidos dizendo:
— Você está me enlouquecendo, me
enlouquecendo.
— O chicote, o chicote Davi, me deixa sentir como é.
— Não, não agora, oh porra! Oh gostosa! — Metia
frenético, enérgico, entrando e saindo de mim como uma
máquina faminta.
Sentia minha pele queimando, e ainda assim, eu
queria mais e mais, queria que me desse mais doses da
sensação deliciosa que aquilo me causou, mas ao invés de
voltar a bater, ele saiu de trás de mim, e novamente
consegui ouvir apenas passos no chão da sala, e não
poder ver o que ele estava fazendo era mil vezes pior do
que os fachos de dor que eu sentia quando as mãos deles
caiam pesadas sobre minha pele, porém, não demorou e
senti os dedos dele me tocando e me levantando com
cuidado do sofá. Seus dedos subiram e desceram em
meus braços, então fui pega de surpresa quando ele
acariciou com delicadeza os bicos dos meus seios,
dizendo:
— Lindos, rosados, você tem belos seios, Donatella,
e excitados assim, eles me deixam mais louco, meu pau
chega doer de tesão só em tocá-los assim tão rígidos.
— Aí! — soltei o gemido de dor assim que Davi os
apertou em seus dedos com força e mordiscou logo em
seguida.
Doeu, mas ao mesmo tempo uma fisgada deliciosa
me atingiu com força no baixo ventre, mas mal tive tempo
de tomar consciência daquela sensação e uma outra
pontada de dor me assolou quando Davi tomou um dos
meus seios em seus lábios e os sugou em sua boca com
gana, fome, me devastando ao me chupar daquela forma,
passando a ponta dura da língua onde antes havia dado
dor, e quando fui amolecendo em suas mãos fortes que me
seguravam pela cintura, fui tomada novamente pela
mesma dor cruciante quando mordeu o bico do seio
esquerdo, contudo, ele não me deixava curtir a dor, pois,
logo em seguida, sugava deliciosamente meu mamilo para
dentro de seus lábios gostosos, chupando-os e me
enlouquecendo.
Novamente seus dedos deslizaram em meus braços
e chegaram em minhas mãos que foram unidas e
passaram a ser imobilizadas por um tecido que eu já
conhecia pela macies, era um lenço e talvez o meu lenço,
não sabia ao certo, só sei dizer que fui imobilizada com as
mãos para frente e o calor me dilacerava, me queimava,
me sentia dentro de um vulcão prestes a explodir, meu
coração parecia que ia sair pela boca pela antecipação, eu
estava com medo, imaginando mil coisas, mas queria,
queria tudo que viesse a seguir.
— Não pode me ver, não pode me sentir, e eu vou te
foder assim até suas forças se esvaírem e você gritar e
explodir de volúpia. Está com medo? — questionou
sussurrando com a respiração quente em meu pescoço.
— Sim! Muito. — Não podia negar, mas eu estava
com muito medo.
— Se desconecte da realidade, busque seu erotismo
particular.
Enquanto falava, puxava meus pulsos como se eu
fosse sua prisioneira, então senti meus mamilos doloridos e
inchados tocarem em algo gelado, em seguida, a pele do
meu rosto também tocou a superfície dura e gelada, pois
Davi me fez encostar o rosto ali empurrando e forçando
minha cabeça, era alguma das paredes da sala, eu estava
em pé e encurralada pelo corpo enorme dele, e então
sussurrou em meus ouvidos:
— Diga que é minha, diga Donna!
— Eu sou sua, Davi.
As mãos dele deslizavam suaves pelo meu rosto,
mas, logo em seguida, senti a aspereza de toque ao juntar
uma mecha dos meus cabelos em seus dedos e os apertar
enquanto voltou a falar no pé do meu ouvido:
— Senhor! Hoje eu sou só o seu senhor! E vou te
castigar novamente se voltar a escutar meu nome saindo
de seus lábios.
— Sim, senhor — falei respirando afobada, louca de
desejo e, dessa forma, ousei dizer: — Pelo amor de Deus,
senhor, me fode logo de uma vez.
Os dedos dele voltaram a fechar fortes em meus
cabelos e ele voltou a segredar palavras de formas ásperas
e excitantes em meus ouvidos:
— Você é minha, mas eu não sou seu, eu decido
quando vou te foder — sentia sua ereção tocar imponente
na minha bunda.
Aquelas palavras foderam com meu psicológico, era
erotismo demais, eu estava vivendo algo que nunca nem
fantasiei, mas estava simplesmente amando estar sendo
tomada por um homem como Davi, que conseguia fazer
meu corpo tremular em êxtase apenas com palavras.
É indescritível a sensação de estar sendo prensada
em uma parede sem poder ver e sem poder tocar o homem
que estava me subjugando daquela forma.
— Gostou do calor das minhas mãos? Diga-me —
questionou alisando minha nádega direita fazendo-a
esquentar novamente, era como se a estivesse
preparando.
— Sim, senhor, eu gostei muito, gostei muito.
Sentia a umidade viscosa no meio das minhas
pernas, eu estava completamente inundada de tesão, e
naquele momento, ele podia fazer o que quisesse comigo,
pois eu estava completamente perdida naquelas mãos.
Davi desceu escorregando seus lábios em minhas
costas intercalando entre mordidas e beijos, era como
bater e assoprar e quando chegou em minha bunda, ele
abriu minhas pernas e se afundou no meio delas vindo a
chupar os lábios da minha vulva como se estivesse me
degustando. Meu corpo se remexia involuntário aos lábios
dele, eu sentia o leve roçar da barba por fazer tocar minha
pele, e sua língua me destruía ao se enfiar tesa dentro da
minha vagina, me dilacerando e me deixando mole ali
naquela posição onde os músculos das minhas pernas
pareciam não obedecer ao meu cérebro.
Senti seus dedos em meus quadris novamente e ele
me questionou me deixando em pânico:
— Está preparada para minha fúria?
Meu Deus! Ele vai usar o chicote em mim, vai usar,
o que eu digo, o que eu digo? Minha mente se
questionando enquanto eu tinha segundos para tomar a
maior decisão de todas na minha vida, entrar ou não entrar
de cabeça no universo dele, então fechei os olhos por
baixo da venda e o respondi vacilante:
— Acho que sim.
— Você acha? — questionou, mas mal tive tempo
de respondê-lo e o senti se enfiar todo dentro de mim e
gemer alto e sufocado:
— OHHH! — Era o gemido mais gostoso, mais
gutural que um homem já soltou em meus ouvidos, e assim
o senti me invadir em uma onda quente de calor, mexendo
lentamente, entrando e saindo de mim, bombando,
desferindo estocadas deliciosas enquanto buscava meus
lábios enlouquecido, e novamente estávamos queimando
em um sexo libertador, duro e delicioso.
— Donna! — sussurrava meu nome enquanto me
comia ali em pé com a cabeça grudada na parede. — Você
vai foder a minha vida — falou e deu um tranco forte, tão
forte que me senti flutuar tendo os pés sendo tirados do
chão, e foi desferindo estocadas fortes entremeio a
gemidos sufocados, dando trancos e me matando de tesão
e me fazendo gemer feito uma louca.
Davi segurava firme em meus quadris enquanto
desferia fortes estocadas, minha vagina estava
encharcada, e ele me fazia contorcer de prazer em um vai
e vem alucinado, ritmado e enlouquecido.
— Gostosa! Sente minha vara te foder! Sente! —
falou e juntou meus cabelos em seus dedos fazendo meu
corpo se curvar para frente e espalmar na parede, e
arremetia com força em um sexo completamente forte e
despudorado, não havia mais limites entre nós ali.
Com o cara afundada na parede e com meus
cabelos sendo puxados para trás, fui simplesmente levada
ao extremo da paixão, do tesão e da luxúria, a níveis nunca
antes imaginados por mim, aquele homem era meu, eu era
dele, mesmo que ele negasse ser; e assim ele me puxava
pelos cabelos, me levava forte para suas estocadas
violentas, me mordia nos ombros sem nenhuma piedade.
Estávamos ambos enlouquecidos de tesão, nossos
gemidos eram ininterruptos, o suor escorria de nossos
corpos. Davi me virou em sua direção, tirou a fita que
prendia minhas mãos, me libertando, tirou a venda dos
meus olhos e me encarou dizendo:
— Minha!
Em seguida, me pegou em seus braços fortes e me
encaixou em sua cintura e pescoço, me penetrando
novamente duro e grosso dentro de mim. Passou a me
comer literalmente de pé, sustentando meu peso nos
braços, e estocando, metendo, se enfiando fundo e forte
por longos minutos. Nossas bocas agora podiam fazer
parte, e dessa forma, nos beijamos ávidos, nervosos,
enlouquecidos.
Eu estava tão molhada que podíamos ouvir o som
da umidade.
— Puta que pariu, Donna, tão molhada, está me
deixando louco.
— Você faz isso comigo.
Ali naquele momento, deixamos nossos desejos nos
dominarem em uma intensidade violenta e extravasada.
Senti um dos meus pés tocar o chão e a outra perna
continuou erguida e presa pelo braço dele que não cessava
suas investidas contra mim, bombeando e arremetendo
cada vez mais forte e insano a ponto de nossos corpos
gemerem involuntariamente em uma melodia exatamente
lasciva. Corpo e alma dançando em um movimento
cadenciado, sufocante, delirante, então numa centelha de
tempo senti meu coração acelerar ainda mais, meu corpo
inflamar e latejar com o tesão que foi crescendo, crescendo
e crescendo a cada fincada de Davi em mim, um atrito
delicioso, tão latente que meu cérebro foi acompanhando
as estocadas, fundas, grossas e duras, fazendo minha
vagina começar a se contrair involuntariamente em um
orgasmo tão intenso que me senti em órbita.
— Aah! — gritei, arranhando-o em suas costas sem
que ele parasse de meter forte e fundo, intenso, gemendo
enlouquecido enquanto nossos corpos suados emitiam
sons da luxúria mais ludibriante que existe, e assim o som
sufocado como o urro de um animal saiu dos lábios de
Davi.
— OHH, porra, porra, eu vou gozar, vou gozar,
caralho!
Davi diminuiu as estocadas e passou a tremular
enquanto gozava sem sair de dentro de mim, estava com
camisinha e preferiu continuar me estocando enquanto
explodia no ápice de seu prazer, procurando meus lábios e
sufocando-me na voracidade dos seus.
Assim que terminou de ejacular, saiu de dentro de
mim e simplesmente foi caminhando rumo as escadas me
deixando ali em pedaços como se fosse um quebra-
cabeças, eu estava mole e confusa sem entender o motivo
do afastamento e do silêncio.
O que fiz de errado? — questionei em voz alta
sentando-me desolada no sofá da sala.
XXVI
Confuso, era assim que me sentia naquele momento
depois de ter deixado Donatella na sala, e confuso era tudo
que eu nunca fui em minha vida, não até aquele presente
momento. Estava envolto de sentimentos perigosos, no
início de um jogo onde só existia uma regra e que eu
estava enervantemente quebrando antes mesmo de
estabelecê-la. A mulher que deixei lá embaixo estava
simplesmente me desestabilizando, pois eu estava
perdidamente apaixonado por ela e sem saber como lidar
com tal situação.
— Porra! — rugi enquanto girava nu debaixo do
chuveiro com a água caindo quente em minha cabeça. —
Meu Deus! O que estou fazendo?! — Me auto recriminei e
estendi o braço vindo a pegar uma toalha branca e passá-
la rapidamente na cintura.
Saí do meu quarto sem nem mesmo me enxugar
direito, eu tinha que corrigir o erro que cometi deixando-a
sozinha na sala daquele jeito, fiz o que fiz pois estava
prestes a abrir a guarda e demostrar meus sentimentos, eu
estava prestes a tocá-la com carinho e beijá-la após o
sexo, coisa que eu jamais fiz, nem com a Elisa.
Monstro! Minha mente apontou, não que essa tenha
sido a primeira vez, mas foi a primeira que me senti mal por
me sentir realmente um.
Desci os degraus da escada rapidamente, olhei para
o sofá onde imaginei que a encontraria e não a vi, girei
meu corpo e a avistei indo rumo à porta da saída.
— Donatella, espera! Espera, Donna! — falei
exasperado e acelerei os passos rumo a ela, que havia se
vestido e estava indo embora.
Assim que seus dedos tocaram na fechadura da
porta, eu a segurei com força pelo braço esquerdo dizendo:
— Espera! Vamos conversar.
— Me solta, Davi! — olhou-me com desprezo e
raiva.
— Donna, me deixa explicar.
Ela forçou o braço e se libertou da minha mão ao
dizer áspera:
— Não volte a me tocar como se eu fosse um objeto
inanimado qualquer ou como se fosse propriedade sua,
que você usa e descarta logo em seguida.
— Donna, eu sinto muito ok! Sei que fui um imbecil.
— Tem razão, você foi um imbecil, sim, e não serei
eu uma de ficar aqui escutando sua explicação.
Donna se virou e abriu a porta e antes que
conseguisse colocar os pés para fora eu a puxei para mim,
segurei-a pela cintura e a prendi segredando no pé de seu
ouvido:
— Você está me desestabilizando, me deixando
louco — levei meus lábios em seu pescoço e senti o cheiro
doce delicioso que exalou de seu corpo. — Estou perdendo
a cabeça e não estou sabendo lidar com isso. — Enquanto
sussurrei, levei meus lábios em seu pescoço e a beijei
sentindo-a mole em meus braços, mas, logo em seguida,
ela gritou:
— Me solta! — simplesmente se afastou de mim e
encarando-me com fúria questionou — O que aconteceu
há minutos? O que foi que deu errado?
—Está tudo errado, Donna, você está me fazendo
perder a cabeça, hoje mesmo eu comecei um jogo sem
passar as regras.
— Regras? Quem precisa delas?
— Você precisa delas, na verdade, precisa de uma
única regra.
— Diga, estou ouvindo — cruzou os braços à espera
do que viria a seguir. — Qual é essa bendita regra?
— Não amar é a regra.
Donna simplesmente gargalhou quando as palavras
saíram sem veemência dos meus lábios.
— Me perdoe, mas nem você colocou fé nas tuas
palavras, Davi, pelo amor de Deus, abaixa a guarda, deixa
eu te amar e me ame em igual proporção, vamos jogar o
seu jogo, mas sem regras.
— Isso é perigoso demais, não percebe? —
retruquei aflito.
— O que percebo é que estamos começando a criar
raízes dentro um do outro e essas coisas simplesmente
acontecem sem a permissão. Não temos como controlar os
sentimentos e acho que agora é tarde demais.
—Sou o homem errado para você, será que não
percebe? Eu mal consigo te tocar sem que a besta que
existe dentro de mim se manifeste.
— Eu gostei de hoje, na verdade, eu gostei muito do
que senti, o misto de dor e prazer, eu gostei muito Davi e
você pode me ensinar a gostar de sentir dor.
Gargalhei virando-me de costas para ela ao
respondê-la:
— Dor! Aquilo não foi dor, aquilo foi só uma
iniciação.
— Realmente preciso sentir dor para que se sinta
satisfeito?
— A dor faz parte de castigos que supostamente eu
venha aplicar em você para que possa ser minha de
verdade, para condicioná-la a uma submissão perfeita e
real. Acredite, se não se entregar completamente a mim, se
não for completamente minha, não consigo sentir graça,
sou dependente da dominação e a dor que deveras irá
sentir algumas vezes é apenas consequência.
— Eu estou aqui, não estou? Mesmo sabendo o que
quer de mim, eu estou aqui.
— Não deveria estar, não permita que eu roube a
sua alma, Donna — soltei resignado. — Eu não sei fazer
amor.
— Do que está falando?
— Não sei ser o homem que você merece.
— Davi, ambos temos algo a ensinar um para o
outro.
— Acredite, se continuar comigo você vai perder a
inocência que jamais vai resgatar, e eu simplesmente não
sei se quero tirar isso de você.
— Eu realmente não consigo te entender.
— Donna, não existe céu, nem inferno no meu
mundo, ambos são a mesma coisa para mim, eu posso te
levar ao inferno e ao céu no mesmo instante, e não sei se
está preparada para mim e para os meus espinhos, na
verdade, não sei se estou preparado para você.
Donna caminhou voltando para a sala e se sentou
no sofá respondendo-me:
— Estou aqui porque eu quero estar no seu céu e no
seu inferno, na verdade Davi, eu só quero estar onde você
estiver, independentemente de qualquer coisa, mesmo que
para isso eu tenha que ser perfurada pelos teus espinhos.
Abaixei-me rente a ela e respondi encarando-a:
— Fuja de mim enquanto pode, Donna, não me
deixa roubar à sua alma e não roube a minha.
— Meu Deus! Por que isso?
Levantei-me e dei-lhe as costas respondendo-a:
— Medo! Eu tenho medo, Donna.
— Medo do quê?
— Medo de que tudo se repita, que não consiga te
proteger, compreende?
— Davi, não podemos controlar os sentimentos e já
estamos cheios deles, não percebe? Querer me proteger já
é um sinal, não me peça para me afastar de você, eu
aceito seus espinhos.
— Se ficar, eu serei sim, espinhos ao seu redor,
Donna, eu assumo, mas apenas porque quero protegê-la a
qualquer custo, você é minha flor, sabe disso, e eu não sou
nada se não puder protegê-la, e não saber se vou
conseguir fazer isso é que está me matando.
— Vamos ser cautelosos, eu aceito as condições, as
regras e tudo mais.
— Já quebramos a regra antes de começar o jogo
— respondi.
— Que se dane a sua regra, até porque, regras são
criadas para serem quebradas, e que bom que já
começamos quebrando.
— A paixão, o amor, cegam as pessoas, e pessoas
cegas não enxergam o perigo ao redor.
— Do que está falando?
— Donna, não quero que aconteça com você o que
aconteceu com a Elisa.
— Não vai acontecer.
— Eu estava cego de paixão, por isso não vi os
sinais, talvez ela estivesse viva se eu a tivesse mantido no
seu devido lugar, apenas como mais uma das minhas
submissas.
— Entendo que se sinta culpado, mas não vai se
repetir.
— Já está se repetindo, não entende?
— Não, eu não consigo entender, seja mais claro,
por favor, Senhor Desembargador.
Ajeitei a toalha branca ao redor da minha cintura,
levei as mãos na nuca como se o criminoso da vez fosse
eu, e sem conseguir encará-la confessei:
— Eu me apaixonei por você, estou perdidamente
apaixonado e quebrei a única regra.
Senti os braços dela me envolverem pelas costas e
suas mãos delicadas pousarem em meu tórax, fechei os
olhos e instintivamente levei minhas mãos a cobrirem as
dela, então ela disse serena:
— Não tem mais volta, estamos perdidamente
apaixonados.
— Não sei agir como um homem apaixonado,
Donna.
— Eu te ensino, Davi Campos.
— Não se iluda!
— Estou preparada para você.
— Não, está não!
XXVII
Dizer que estava preparada para o tornado chamado
Davi Campos, eu até disse, estar de fato preparada era
outra coisa, mas se não estava de fato preparada, eu daria
um jeito de estar, pois queria muito aquele homem,
independente de seus gostos, e eu certamente estaria
nadando contra a maré se me permitisse continuar naquele
jogo.
Davi estendeu as mãos em minha direção, dizendo:
— Venha comigo. — Incrivelmente o tom de voz era
mais manso do que costumei ouvir saindo dos lábios dele,
mas mesmo assim tudo com Davi me colocava em
expectativa e em estado de alerta. Nunca sabia o que
vinha a seguir; com outros homens isso era fácil, já que
todos costumavam agir de forma igual como se fossem
marionetes treinadas.
Ele foi me guiando rumo as escadas de mármore, e
minha mão livre foi deslizando delicadamente pelo
corrimão metálico enquanto meus olhos apreciavam o lindo
jardim de inverno com pedras brancas que ficava bem
abaixo. No corredor, minha imaginação borbulhava, mas ali
não tinha mistérios e eu sabia exatamente que naquele
momento ele me levaria ao que certamente seria o meu
quarto dali por diante. Alguns passos pelo enorme corredor,
onde o branco se contrastava com a tapeçaria terrosa e
novamente fui surpreendida ao ser guiada para um dos
quartos cujo eu já conhecia, pois já havia estado ali no
nosso primeiro encontro, eu estava novamente dentro do
quarto dele e sem fazer nenhum questionamento, eu
apenas o segui, e deixei que ele me guiasse ao luxuoso
banheiro da suíte, então aquele homem enorme, enrolado
em uma toalha branca ordenou com um olhar autoritário e
tórrido.
— Tire a roupa.
Meu eu interior queria dizer “sim, senhor”, mas
acabei por não emitir nenhum som de meus lábios, apenas
fui tirando meu casaco como ele ordenou, e depois de ter
feito o que ele me pediu, estendi minha mão direita e fui de
encontro a dele que estava estendida a mim, e assim,
juntos entramos na enorme banheira de hidromassagem
preta ladeada por um deck de madeira onde havia algumas
velas acesas em suportes de vidro, e delas exalavam um
cheiro maravilhoso, cujo não soube decifrar exatamente,
contudo, era forte, amadeirado, doce e apimentado ao
mesmo tempo, mas uma coisa eu sabia, as velas e seus
aromas davam ao ambiente uma atmosfera aconchegante,
sedutora e apaixonante.
Aspirei o ar enchendo meus pulmões com aquele
aroma, enquanto isso, Davi ligou um botão que acionou
uma ducha enorme que despencou do teto diretamente
dentro da banheira.
— Cheiro bom! — sussurrei.
— Canela e mel — respondeu ele me tocando e me
fazendo entrar na banheira e virar de costas para a água
que caía quente de um caixote de madeira suspenso acima
de nós.
Davi se curvou e enfiou a mão dentro de um balde
de inox que estava em cima do deck, não me atentei ao
que tinha dentro dele e quando me virei para olhar tive
meus olhos tapados por uma das mãos enormes dele, que
sussurrou em meu ouvido:
— Não seja curiosa, Donna, novamente eu te peço
que só sinta — engoli a seco. — Mantenha os olhos
fechados — ordenou causando novamente a aflição pela
iminência dos acontecimentos.
— Achei que fossemos conversar — falei com os
olhos fechados.
— E nós vamos — respondeu beijando de leve meu
lóbulo.
Davi circulou seu braço esquerdo em meu abdômen
prendendo-me com firmeza a ele e então levei um choque
quando senti algo muito gelado deslizar pelo bico do meu
mamilo. Arqueei o corpo instintivamente quando senti o frio
percorrer meu corpo e me arrepiar toda.
— Relaxe! — ele sussurrou de forma deliciosa no
meu ouvido. — Confie em mim.
— Gelado! Muito gelado, isso dói, isso dói! —
murmurei sentindo aquilo queimar os bicos dos meus seios
enquanto presa no corpo dele fui sentindo a água quente
cair sobre nós e o frio de uma pedra de gelo me dilacerar.
Davi fazia movimentos circulares com o gelo em
meus mamilos, então ele questionou bem próximo do meu
ouvido:
— Gosta disso? Gosta Donna?
— Não sei, não sei ao certo. — Eu estava confusa,
pois sentia o mesmo estímulo delicioso que sentia quando
era estimulada em meu clitóris.
— Quer que eu pare? — questionou.
— Não, não pare, não pare!
Eu estava simplesmente me excitando demais com
aquele joguinho, meus seios estavam extremamente duros,
e assim fui sendo torturada com a pedra de gelo que ia
deslizando cruel sobre minha pele e, em seguida, Davi
permitia que a água quente me consolasse, e dessa forma,
a sensação de quente e frio estava me enlouquecendo.
Enquanto continuava manuseando o gelo foi falando
de forma sensual em meu ouvido, vindo a morder meu
lóbulo e chupá-lo em seguida enquanto questionava:
— Quem é o seu senhor?
— Você, você é — murmurei louca de tesão.
— Então posso pedir qualquer coisa que você fará?
— Não sei.
— Então não é minha de verdade.
— Sou sua, eu sou... — passou a pedra de gelo em
meus lábios e quando fui chupar, ele a tirou da minha boca.
— Me diga, Donna, você confia em mim? Daria a
mim a liberdade para fazer qualquer coisa com você? — O
gelo continuava castigando voraz os bicos dos meus seios
e sua voz saía em um tom devastador de sedução, e
naquele momento, eu daria até a alma a ele.
— Eu confio em você — eu realmente confiava. —
Confio em você, mas tenho medo, precisamos estabelecer
alguns pontos, precisa criar uma lista.
Davi gargalhou no pé do meu ouvido e apertou
ainda mais seus braços sobre minha cintura me fazendo
senti-lo quente.
— Vou até onde você me permitir — falou —, por
isso não precisamos de listas intermináveis, não se
preocupe, farei tudo de forma consensual, conversaremos
sobre seus gostos, ou melhor, vamos descobrir praticando,
jogando, e quando não se sentir confortável, vamos
simplesmente parar o que estivermos fazendo.
Meu peito subia e descia em uma respiração
descompassada, visto que novamente eu estava sendo
testada em uma situação que me colocava no meio de um
misto delicioso de dor e prazer, pois o gelo queimava ao
mesmo tempo que me excitava.
— Não teremos uma lista? — questionei assustada
enquanto me contorcia.
— Não! Se eu te der a opção de escolher, não
estará de fato se entregando a mim, não submeterá de
verdade.
— Isso foge das práticas do BDSM — argumentei.
— Listas e regras intermináveis fazem parte do novo
BDSM, de mim você terá apenas uma palavra de
segurança — respondeu-me.
Naquele momento tirei o braço dele da minha cintura
e me afastei, estendi meu braço até uma prateleira de
madeira e apanhei de lá um roupão e me vesti rapidamente
e fui saindo do banheiro indo em direção a suíte.
— Achei que teríamos um desses contratos que li
que são necessários — falei.
— Donatella, de nada vale esses contratos sem
validades jurídicas — Davi voltou a se enrolar na toalha e
saiu da banheira logo após desligar o chuveiro. — Por que
diabos eu perderia tempo com um contrato e com regras
intermináveis?
— Eu não sei, só sei que é assim que as coisas são.
— Não é assim comigo, eu já te disse que não uso
regras como bússola — Exasperou.
— E o que você usa? Como vou ter garantias de
segurança? — questionei nervosa.
— Você terá a maior segurança de todas, você terá
uma Safeword, é o que te dará o controle de todo o jogo, e
ela simplesmente para quando você achar que tem que
parar. Quer controle maior que esse, Donna?
— Meu Deus! — rodei nervosa em meu calcanhar.
— O que diabos é uma Safeword?
— Safeword é uma palavra de segurança que você
poderá usar sempre que achar que não consegue suportar
a prática que estivermos fazendo, e sempre que você a
usar, estará segura porque vou cessar imediatamente o
que estiver fazendo com você, entendeu?
Arfei nervosa e respondi:
— Sim, entendi, é claro que entendi. Meu Deus!
— Donna, veja bem! Com o tempo vou traçar um
limiar, uma linha que irá me indicar quando parar sem que
você nem precise usar sua palavra, vou aprender todos os
sinais que seu corpo emitir, e pode apostar, vou saber
exatamente quando você está gostando ou não. Terá
momentos que trocaremos prazer, faremos coisas pelo
prazer um do outro, vamos nos descobrir juntos e saber o
que um gosta ou não.
— Como vamos descobrir o que gosto ou não se
não falarmos sobre isso?
— Donna, nós vamos descobrir juntos, não se
preocupe que iremos falar sobre tudo, sobre cada prática.
— Está me deixando com medo.
— Vamos cuidar disso também, mas nesse
momento, peço que confie em mim, estamos indo bem, já
comecei sua iniciação sem que você nem se desse conta.
— Tudo isso me excita muito, confesso, mas não
posso deixar de dizer que tenho medo, muito medo.
Davi caminhou até próximo de mim, segurou com
suas mãos enormes nas laterais dos meus braços,
dizendo-me:
— Medo e excitação são a combinação perfeita, se
não tivesse medo jamais conseguiria ser uma submissa e
esse misto em você me diz que um dia chegaremos lá, só
precisa confiar em mim.
Enfiei os dedos entre meus cabelos próximos de
minha testa e soltei:
— Deus do céu! E eu achando que teria uma lista de
metros e que estaria segura com ela.
— Que graça teria se não pudéssemos ultrapassar
as barreiras? Eu já te disse isso antes e vou repetir. Coisas
que você pensa não gostar agora, podem vir a se tornarem
suas preferidas, um exemplo, está no fato de ter gostado
dos tapas que levou na bunda hoje.
Enrolei em meus braços insegura e argumentei:
— Eu estava excitada demais, nem sei o que
aconteceu de verdade.
— Pois eu sei o que aconteceu, você gostou de
sentir dor e prazer na mesma proporção, e isso porque
você nem teve sua primeira sessão de Spanking.
Ouvir o som daquela palavra saindo de sua boca fez
meu corpo tremular e eu não sei dizer nesse momento o
porquê daquela sensação, talvez um dia eu saiba explicar.
Davi caminhou até seu closet e tirou uma camiseta
branca do meio de uma pilha gigantesca de camisetas
brancas dobradas e a jogou em cima de sua cama,
dizendo:
— Vista-se e desça para me acompanhar no jantar,
estou faminto e temos muito que conversar ainda.
— Está bem!
— Está bem ainda é a resposta errada, Donatella,
quando é que vai aprend...
— Sim, senhor! — respondi antes que terminasse a
frase.
Davi caminhou novamente até o closet, e de uma
gaveta tirou um short cinza de moletom e se enfiou nele
sem cueca e sem nada.
Deus que homem gostoso é esse? Questionei-me
em silêncio ao reparar em seu corpo perfeito onde linhas
tênues se faziam evidentes em seu abdômen e braços
fortes, cujos me faziam tremer por dentro só de lembrar
dos momentos que estava presa neles.
Enquanto eu o observava, ele virou as costas e foi
saindo do quarto, e novamente me peguei vidrada em seu
corpo, mas dessa vez foram suas costas enormes e a
tatuagem da deusa Themis quem ganharam minha
atenção.
— Visão do inferno! — falei alto demais, e assim ele
parou, e questionou sem olhar para trás.
— Que foi que disse?
— Calor dos infernos! Está muito calor hoje, não
acha?
— Sim, por isso venha logo para tomarmos um
vinho refrescante — disse e me deixou ali sozinha com
meus questionamentos.
“Donna, Donna! Onde é que você está se metendo?”
— meu anjo bom questionou em voz alta.
“Ah! Cala a sua boca, só se joga, ele é o imperfeito
perfeito.” — respondeu meu anjo mau e assim me joguei
na enorme cama, sorrindo ao me lembrar da loucura que
aquela noite estava sendo e no que mais ela me reservava.
XXVIII
Davi passou pela porta do quarto me deixando nua
em cima de sua cama enorme e macia. Sorri feito boba me
lembrando da sensação deliciosa que ele havia acabado
de me proporcionar dentro da banheira, então estendi
minha mão esquerda e apanhei a camiseta no canto da
cama, me sentei nela e vesti a peça branca que ele havia
deixado, e tinha um cheiro muito bom de roupa limpa.
Assim que o tecido tocou em meus mamilos, senti-
os levemente doloridos e levei minha mão direita no seio
esquerdo fazendo-me senti-lo sensível demais, porém, a
sensação do meu toque foi tão deliciosa a ponto de me
fazer fechar as pernas quando senti uma fisgada me pegar
de assalto em minha vagina. Pode parecer loucura, mas eu
já queria Davi enfiado dentro de mim novamente. Passaria
dias com ele me possuindo e destruindo de vez todo o
restinho de sanidade que existia em mim.
Passados alguns minutos me levantei e fui rumo ao
corredor, e em seguida, desci as escadas lentamente para
que não fosse escutada por Davi. A camiseta que me dera
para vestir era grande, cobria minha bunda e ia até a altura
de minhas coxas, mas eu já havia passado tempo demais
sem calcinha e não suportava mais a sensação de que
faltava algo na minha vida, e assim caminhei até a enorme
sala de entrada, onde eu havia deixado minha bolsa e a
roupa que usaria no dia seguinte para ir trabalhar. Eu havia
levado uma pequena mala de mão, uma Louis Vuitton que
tinha no máximo 55 cm, e que se passava perfeitamente
como uma bolsa, e de dentro dela eu retirei um saquinho
zipado que continha duas calcinhas minhas, e retirei
rapidamente uma delas de lá de dentro e a vesti
rapidamente sem que Davi tivesse visto.
— Que alívio! — sussurrei baixinho quando a renda
da caleçon branca tocou em minha pele protegendo-me, eu
amava aquele tipo de calcinha e a sensação de estar
vestida novamente.
Me sentindo mais segura caminhei descalça pela
bela mansão, e foi sentindo e seguindo um cheiro muito
bom que encontrei a cozinha moderna onde o inox e a
madeira de lei se mesclavam em um casamento perfeito e
elegante. Assim que entrei dei de cara com a visão
deliciosa de Davi, estava rente a uma ilha gourmet
cozinhando algo no fogão. Não resisti e caminhei de
mansinho até próxima dele, então deslizei meus dedos
naquelas costas enormes que tinham os músculos
marcados em um tronco perfeito.
— Eu adoro suas costas e sua tatuagem — falei e
retirei meus dedos dele assim que ele se virou e me olhou
de soslaio dizendo:
— Que bom que gosta — disse e continuou
concentrado em suas panelas onde em uma delas de inox,
mais propriamente uma espagueteira, a água pulava
borbulhando em uma fervura nervosa, e na outra ele mexia
um molho vermelho bem encorpado que exalava um cheiro
maravilhoso.
— Humm! Esse cheiro está maravilhoso.
— Venha cá, prove! — Com uma colher ele deu a
mim um pouco do molho vermelho.
— Uau! Está perfeito, Excelência, minha mãe diria
que o senhor já pode casar.
Ele sorriu discreto meneando a cabeça se voltando
novamente para o fogão.
— O que vamos comer? Estou faminta, você me
deixou com muita fome, senhor desembargador.
— Pasta Alla Vodca, conhece?
Sorri me recostando na bancada e respondendo-o:
— Esqueceu o porquê me chamo Donatella? —
questionei.
— Não! Eu sei que sua mãe é uma bela italiana que
se casou com um brasileiro.
— Sim, e massa é algo quase que sagrado dentro
da minha casa — informei.
Davi se virou em minha direção e pediu-me:
— Pode me servir mais do vinho? — apontou para
uma garrafa de vinho rosé que estava próximo da pia e
assim que peguei na garrafa li baixinho observando o rótulo
— Castellroig Xarel·lo. — então caminhei com a garrafa
com um rótulo preto e um líquido rosé maravilhoso e servi
em sua taça.
— Prove! — ordenou, me arrepiando até a alma.
Qualquer homem que me pedisse para provar um
vinho e usasse o mesmo tom que Davi usou naquele
momento, seria completamente natural, mas com Davi era
diferente, e aos meus ouvidos aquela palavra soava como
uma ordem e aquilo me arrepiava toda. Jamais imaginei
que gostaria de receber ordens de um homem, acho que é
porque nunca imaginei que fosse tão excitante.
— Muito bom! — respondi assim que deixei o líquido
suave passear sutil por minha boca.
Enquanto ele terminava sua massa, me sentei
ousadamente em uma das bancadas da madeira que
ladeavam todo o espaço da bela e funcional cozinha e
então questionei sem receio:
— Quando vai me levar no tal quarto de jogos?
Davi parou de mexer o molho imediatamente, se
virou em minha direção, tirou a taça de vinho da minha
mão e a levou até seus lábios, em seguida, colocou a taça
do meu lado na bancada e colocou suas mãos ao lado de
minhas coxas, cercando-me com seu corpo enorme.
Ele chegou próximo demais do meu ouvido, senti
seu hálito quente no pescoço, enquanto ele roçava a barba
em minha pele e bem próximo do meu ouvido sussurrou:
— Quando estiver preparada.
Sentir os pelos de sua barba roçar minha pele já me
deixava preparada para tudo, e dessa forma, respondi:
— Eu estou agora.
Davi gargalhou de uma forma espontânea, e quando
estava rindo gostoso daquele jeito nem parecia o mesmo
homem.
— Você não sabe o que diz, Donna.
— Bom, eu já sei que não terei direito a fazer uma
lista de coisas que não quero fazer, não teremos o tal
contrato, mas e a tal coleira, quando é que vou ganhar
uma?
Davi suspirou ruidosamente, pegou a taça do vinho
e se virou de costas para mim, respondendo-me:
— Talvez eu venha a usar uma guia em você, mas a
coleira é algo mais sagrado para mim, Donna, considero
como se fosse uma aliança, assim, terá que merecer para
ganhar uma aliança de mim.
— Elisa tinha uma aliança? — questionei sendo
estupida enquanto pulei da bancada para o chão.
— Me ajude com os pratos. — pediu-me
entregando-me dois pratos brancos de porcelana. —
Disponha-os na mesa.
A mesa em questão era de madeira de lei e estava
anexada ao balcão onde ficava o cooktop que Davi estava
cozinhando. Em cima dela estavam distribuídos jogos
americanos onde arrumei os pratos, um frente ao outro.
Assim que terminei de arrumar a mesa fui pega de
surpresa por Davi que chegou pelas minhas costas, me
encurralou na mesa me fazendo apoiar as duas mãos nela.
Senti o corpo dele encostar no meu e seus dedos se
prenderam em minha nuca com força, questionando:
— Quem foi que disse que seu castigo terminou?
— O quê?! — questionei sem entender nada, e logo
seus dedos passearam por minhas costas me arrepiando
toda e desceram sutis até meu quadril, e só então entendi
do que ele estava falando, pois ele ergueu a camiseta e
levou as mãos em minha bunda, arranhando-me enquanto
foi levando para baixo com seus dedos minha calcinha.
— Um castigo só acaba quando eu disser que
acabou — foi despindo-me e arranhando a pele das
minhas coxas, até que ergui os pés e ele livrou-me
novamente da calcinha. — Vamos comer! — disse severo.
— Vai mesmo me fazer sentar à mesa com você
sem calcinha? — questionei perplexa.
— Prefere o chão? — retrucou áspero.
A pergunta em questão me desestabilizou, me
deixou muda na frente dele pela primeira vez, e assim
fiquei me questionando se ele seria capaz de me fazer
comer no chão.
— Sente-se! — disse puxando uma das cadeiras
para mim, e assim tratei de me sentar rapidamente.
O contato da minha pele nua com a cadeira gelada
fez-me sentir frio, e simplesmente odiava estar sem
calcinha, aquilo era de fato um castigo.
Davi pegou uma camiseta regata branca que estava
pendurada em uma das cadeiras e a vestiu, só depois se
sentou na minha frente. Serviu-me com uma taça do vinho
e falou:
— Tenho dois assuntos chatos para falar com você,
Donna — pegou meu prato e serviu-me com a massa que
estava fumegando. — Um deles é sobre a Elisa, e já que
você tocou no nome dela, vou começar por ela.
— Não precisamos falar dela, acho melhor só
apreciarmos essa massa, o que acha? — sugeri.
— Acho que durante o jantar é o melhor momento
para falarmos e discutirmos pontos da nossa relação, e eu
preciso que saiba como foi que perdi a Elisa e o quanto me
resguardo para que tudo aquilo não se repita,
compreende?
— Acho que sim — respondi ressentida, não queria
mesmo falar sobre aquilo.
— Donna, eu jamais falaria de outra mulher com
você se não fosse isso de suma importância, o fato é que
Elisa cometeu um erro fatal cujo quero evitar que você
venha a cometer.
Levei um pouco da massa na boca enquanto ele
falava e disse logo após engolir:
— Humm! Deveria experimentar, está divino.
Davi colocou os cotovelos na mesa e uniu as mãos,
dizendo:
— Que bom que gostou.
— Prove! — estendi meu braço com o garfo com um
pouco do Penne e levei até sua boca, pegando-o de
surpresa.
— Donna, assim fica difícil — resmungou.
— Você não relaxa nunca? Nem comendo? —
questionei.
— Só relaxo quando estou gozando — esclareceu
fazendo a pele do meu rosto queimar e meu coração parar
na boca, pois a resposta me pegou de surpresa.
— Está rubra! — ele disse sorrindo apenas com os
olhos.
Suspirei e me recompus indagando-o:
— O que estava mesmo dizendo? Sobre a Elisa.
— Donna, eu vou logo ao ponto para que entenda
minha preocupação com você. Elisa só morreu porque foi
omissa e imprudente me escondendo algo crucial.
Tomei um gole do vinho.
— O que ela escondeu? — questionei curiosa.
— Escondeu que estava sendo ameaçada, e só
descobri isso um dia após sua morte, pois havia bilhetes
em sua bolsa com ameaças feitas de recortes de revista.
— Por que acha que ela te escondeu isso?
— Ela sabia que eu tentaria protegê-la a qualquer
custo, nem que isso significasse romper com ela.
— Romperia com ela se tivesse tido acesso aos
bilhetes? —perguntei nervosa.
Davi pegou sua taça na mesa e bebeu do vinho,
logo em seguida afirmou com veemência:
— Sim! Ela estaria viva agora e isso que importa.
— Acho que ela te conhecia bem, e preferiu a morte
que perder você.
— Tolice! Se ela pensava assim foi mais tola que
imaginei.
— Não sei o que pensar.
— Pense apenas em não cometer o mesmo erro,
temos que tomar cuidado com exposição, não podemos ser
vistos juntos, compreende Donna? É apenas para sua
segurança — cobriu minha mão com a mão quente dele. —
Prometa para mim que nunca vai me esconder nada?
— Davi, eu...
— Prometa, Donna? — aumentou o tom de voz.
— Não pretendo esconder nada de você — respondi
incerta.
— Tenha em mente que não será fácil — terminou.
— Podemos mudar de assunto?
— Vamos comer, estou faminto — piscou para mim
e ameaçou um sorriso.
Embora tenhamos mudado de assunto e passamos
a falar de culinária italiana e a paixão dele por vinhos e até
tenhamos rido juntos de bobagens que falei, o peso da
conversa inicial prevalecia dentro de mim. Virava e mexia o
pedido do Davi me vinha a mente novamente e caía como
uma bomba de incertezas. Eu realmente não sei o que faria
se estivesse no lugar de Elisa, definitivamente não sei se
agiria exatamente como ela agiu ou se contaria a ele
perdendo-o para sempre, eu simplesmente me vi sorrindo
para ele naquela mesa, mas com os pensamentos perdidos
em uma confusão interna.
O que eu faria se estivesse no lugar da Elisa?
Essa pergunta martelou em minha cabeça durante
todo o jantar, madrugada a fora e ainda estava martelando
enquanto eu o observava se enfiar em um lindo terno preto
de corte italiano em frente ao espelho no closet.
— Rolou à noite toda na cama. O que tirou seu
sono? — questionou, olhando-me pelo espelho com os
olhos acinzentados mais profundos e intensos que já vi.
— Você! — respondi e ele sorriu lindamente
balançando a cabeça aceitando a resposta sem novos
questionamentos.
Em meio a tantas incertezas, eu tinha uma certeza,
tudo naquele homem me remetia a um desejo tórrido e
cruel, tudo nele me fascinava e me enchia de vontades e
curiosidades. Infelizmente eu havia dado uma moeda para
Caronte, o barqueiro do inferno, o pior é que eu não tinha
mais moedas para voltar.
Davi simplesmente me deixa insaciável, ele é
viciante e mexe com meus instintos de forma visceral,
estou perdidamente apaixonada, e agora?
XXIX
A porta do carro preto blindado se abre em frente ao
Palácio da Justiça, é absurdamente estranho, e pela
primeira vez na minha vida o homem que abriu a porta para
que eu descesse foi um agente da Polícia Federal, que a
pedido de Davi trocaram as camisetas pretas com a escrita
Polícia Federal em amarelo, por um terno preto mais
discreto.
— Senhorita! — disse o homem alto, loiro e de um
porte avantajado.
— Obrigada! — respondi assim que desci.
Não vou negar que aquilo muito me incomodou, não
fazia nenhum sentido esconder nosso relacionamento e ser
escoltada pelos seguranças de Davi. Não se o intuito era
não chamar atenção para nós, mas, enfim, ali estava eu
chegando ao trabalho com uma escolta.
Davi chegaria um pouco mais tarde e já havíamos
combinado de pelo menos nos corredores fingirmos
indiferença um ao outro e só de imaginar ele fingindo que
não existo já me deixava apreensiva, contudo, eu teria que
me acostumar com tal situação quisesse eu continuar
sendo dele.
Assim que coloquei meu par de scarpins pretos no
chão e equilibrei-me sobre eles, fui assolada pela mudança
drástica da temperatura de São Paulo, que passou de
abafada para um friozinho considerável e junto com a
mudança de temperatura veio os sons externos de uma
cidade barulhenta que nunca para.
Caminhei pelo interior do Palácio onde naquele
exato momento eram nove horas da manhã, o fluxo de
pessoas chegando ao trabalho era enorme, então nada da
boa e velha calmaria dos Passos Perdidos. Muitos optavam
por subir pelas escadarias, mas não dispenso o elevador e
a lindeza que era a Dalvinha. Ela tinha o dom de me deixar
desperta e motivada logo nas primeiras horas da manhã.
— Bom dia, Donninhaaaa! — disse sorrindo toda
animada como de costume.
— Bom dia, querida — retribuí o seu sorriso.
— Entra, entra, antes que mais alguém entre junto
— disse me puxando pelos braços e quase me jogando
dentro do elevador.
— Meu Deus, hein Dalvinha! — ralhei. — Quer me
amassar toda é?
—Não, quero apenas informações. Estou louca de
ansiedade pelas novidades que a senhorita tem para me
contar.
Balancei a cabeça para o lado e questionei:
— Novidades? Eu? Não entendi criatura. — Ela
fechou a porta.
— Sim, conte-me tudo, todos os detalhes do casinho
amoroso com o deus do tribunal. — Ajeitou os óculos
vermelhos no rosto e cruzou os braços.
— De que casinho a senhorita está falando, posso
saber? Não existe nenhum casinho.
— Ahh! Existe sim, eu vi muito bem a intimidade de
vocês dois no corredor lá em cima, vi perfeitamente quando
ele colocou as mãos em sua cintura e deu aquele famoso
apertão — elevou as sobrancelhas de um jeito muito
engraçado, então ralhei com ela novamente:
— Você é muito atrevida mesmo!
— Pode ser, mas, vai, desembucha e me diz se já
levou umas belas chicotadas no traseiro. Ai meu Deus!
Queria que fosse eu no seu lugar. — Fez gestos
engraçados com a mão.
Não aguentei e acabei rindo dela.
— Poxa Donninha, me conta alguma coisa sobre
aquele deus do purgatório, quero dizer, do inferno mesmo.
— Dalvinha, para minha segurança você não pode
sair por aí comentando sobre isso, compreende? Lembra o
que aconteceu com a Elisa, noiva dele?
— Sim, claro que me lembro, já ouvi muito sobre
esse caso aqui no meu elevador.
— Então! O mesmo pode acontecer comigo se a
informação de que Davi e eu estarmos juntos vazar.
— Ai caralhooooo! — disse, e em seguida, tapou a
boca. — Então estão juntos mesmo? — questionou com os
olhos estatelados.
— Morre aqui esse assunto, está bem?
— Sim, sim! Mas antes só me diga uma coisa, eu
preciso saber.
— O que precisa saber?
— É P, M ou G? — novamente fez gestos com as
mãos indicando tamanhos.
— O quê? — questionei sem ter entendido a
pergunta dela e assim ela veio até mim e cochichou em
meus ouvidos.
— Aquilo dele, é de que tamanho? Estou falando do
pirulito dele.
Não acreditei na pergunta e caí na gargalhada de
forma tão espontânea que para parar de rir foi difícil e
enquanto eu ria de forma descontrolada a ponto de verter
lágrimas, Dalva colocou as mãos em sua cintura e ficou
observando-me séria.
— Meu Deus do céu, não acredito que tenha me
feito uma pergunta dessas — falei enxugando as lágrimas
com o peito da mão.
— Qual é a graça? É só uma curiosidade e no
momento só você pode matar.
— Pelo amor de Deus, Dalvinha, não vou dizer a
você o tamanho do ... — fechei os olhos e franzi o nariz
sem conseguir terminar a frase e assim sem nenhum tipo
de pudor Dalvinha a completou interrogando:
— Do pau dele?
Senti minhas bochechas esquentarem.
— Não precisa ficar vermelha, Donninha, eu sei que
você já deve ter feito loucuras com o p...
— PARA! Não se atreva ou eu mesma vou cuidar da
sua demissão — ajeitei o terninho branco com detalhes em
renda que eu estava vestindo. — Suba logo esse elevador
mulher — exigi séria.
Dalva fez como mandei e ficou completamente sem
graça, não voltou a abrir a boca em momento algum e ficou
de costas para mim até abrir a porta no andar que ficava o
gabinete em que eu trabalhava, então quando saí do
elevador dei um passo à frente, e sem olhar para trás eu
falei:
— GG.
— Uauuu! GG? — ela questionou. — Você disse
GG?
Olhei para trás e pisquei para ela sorrindo que ficou
lá parada na porta do elevador com a boca aberta.
Não tinha como esconder nada da Dalvinha, ela
sabia tudo de todos dentro do Palácio, mas sabia por que
era atenta demais e estava sempre ligada no 220, mas ela
não era um problema para mim, embora fosse como fosse
eu podia confiar nela.
Assim que pisei no gabinete o Dr. Afonso saiu de
sua sala, dizendo-me:
— Donna, que bom que já chegou.
— Precisa de algo Doutor? — questionei.
— Você não vai acreditar, farei parte da comissão
julgadora no caso do Juiz Medeiros.
— Em qual dos processos, Doutor?
— Da mansão.
— O que tem em mente, senhor? Pretende manter a
condenação do Juiz Medeiros?
— Sim, claro que sim, no que depender de mim,
sim, mas estamos em três nessa comissão.
— Quem são os outros desembargadores?
— Dr. Antony Neto e Davi Campos.
Os pelos do meu corpo se arrepiaram ao ouvir as
notas do nome de Davi, aquilo não era normal, um homem
nunca mexeu tanto com meu imaginário como Davi estava
mexendo.
Ter Davi na mesma comissão julgadora de segunda
instância no caso da mansão, significava que teríamos que
ser mais discretos do que havíamos combinado que
seríamos, pois agora estaríamos juntos em reuniões e mais
reuniões.
— Bom, prepare-se, pois, às dez da manhã teremos
a primeira reunião juntamente com a Dra. Rew.
Virei de costas e fechei os olhos em repúdio a tal
informação e o respondi:
— Sim, senhor!
Assim que entrei em minha sala coloquei minha
pasta em cima da mesa e me sentei completamente
desgostosa com o fato de ter que ficar na mesma sala que
aquela mulher, e o que era pior, com Davi junto.
Estava em completo choque quando levei um susto
com meu celular tocando dentro da bolsa, e dessa forma,
estendi meu braço ao alcance da mesma e tirei de lá meu
celular que vibrava com a imagem mais perfeita estampada
na tela e assim que atendi, o som daquela voz me fez
esquecer de tudo:
— Davi! — falei melosa.
— Chegou bem até o Palácio?
— Sim, com seus homens a tira colo. Como não
chegaria bem?
Ouvi o som do riso dele.
— Já falamos sobre isso.
— Sim, sim! Eu estou confortável com isso.
— Ótimo! Fico feliz que esteja confortável esta
manhã.
— Por quê? O que tem de especial essa manhã?
— Vamos jogar! —disse com um tom de voz
implacável e meus pensamentos se dispersaram e meu
corpo tremulou ao tentar imaginar o que aquelas palavras
significavam àquela hora da manhã.
— Não entendi —retruquei.
— Venha até minha sala, tenho um presentinho que
te fará entender.
— Um presente?
— Sim, Donatella, um presente, não demore. —
Desligou o celular me deixando pilhada e em estado de
alerta.
Levantei-me da minha cadeira e girei em meus
calcanhares aflita, pois tentei imaginar a ligação que as
palavras, “Vamos jogar”, com “tenho um presentinho”,
tinham entre si, e confesso que fiquei nervosa.
Quando pensei em ligar de volta e dizer que eu não
podia, pois estava muito ocupada, o celular voltou a vibrar
e quando eu o atendi novamente o som de sua voz me
assolou ao dizer:
— Cinco minutos!
Eu não precisava de cinco minutos para decidir se
iria ou não até a sala dele, pois meu anjo bom foi o primeiro
que me alertou:
“Não vá!”
“Vai morrer de curiosidade?” O outro anjo me
questionou.
Caminhei pelos corredores em cima dos tapetes
vermelho como se estivesse indo para a guilhotina e os 50
metros que separavam os gabinetes tornaram-se uma pista
de ultramaratona e quando parei na porta do gabinete dele,
fiquei com a mão no trinco da porta em dúvida se abria ou
não, então, uma mão enorme e masculina cobriu à minha,
abaixou o trinco abrindo a porta e me empurrando para
dentro com seu corpo enorme e deliciosamente cheiroso.
— O que faz aqui tão cedo, Donna? — Bruno
questionou-me.
— Vim trazer uns papéis para o Dr. Davi.
— E esqueceu os papéis? — questionou ele ao abrir
o botão de seu terno cinza escuro e enfiar as mãos no
bolso.
— Na verdade, é só um recado do Dr. Afonso.
Bruno meneou a cabeça em negativa dizendo:
— Então vai dar o seu recado. — Abriu a porta da
sala do Davi pegando-me de surpresa.
Entrei na sala do Davi, olhei para trás e vi Bruno
fechando a porta atrás de mim com cara de poucos
amores, mas assim que olhei para frente e vi aquele
homem simplesmente divino, vestindo um elegante terno
preto feito sob medida e com uma linda gravata vermelha,
eu simplesmente me esqueci até quem havia fechado a
porta. Saí da casa dele antes, por isso não o vi trocado
daquela forma majestosa.
— Você está lindo! Adoro gravatas vermelhas.
Davi se levantou de sua mesa, caminhou seguro até
mim, dizendo:
— Obrigado! — sorriu lindamente segurando uma
caixinha prateada na mão, e aquela voz ressoou e fluiu em
meu corpo de uma forma tentadora e sedutora.
A sala que tinha um tamanho até razoável, parecia
pequena e sufocante naquele momento, pois a presença
de Davi ocupava sozinha todos os espaços deixando o
ambiente claustrofóbico, ampliando assim em um milhão
de vezes a presença marcante dele e o magnetismo sexual
que nos unia. Ele deu um passo à frente e senti meus
batimentos e minha respiração simplesmente darem um
salto para o abismo.
— Vamos jogar um pouco!
Minhas mãos começaram a suar e aquela frase me
deixou inquieta a ponto de eu lhe dar as costas e esfregar
as mãos nervosa.
— Tire o blazer! — sussurrou sedutor no pé do meu
ouvido, e instintivamente comecei a obedecê-lo.
Era impossível me negar, ele exercia um fascínio
surreal sobre mim, não sei como explicar, mas era perigoso
demais.
Desabotoei meu terninho e tirei do meu corpo e o
coloquei em cima da mesa dele.
Senti os dedos dele me tocarem e retiram do meu
corpo a regata que usava por baixo e assim fiquei apenas
com o sutiã nude, cor que eu usava para não aparecer nos
tecidos finos e que logo sumiu do meu corpo.
O olhar de Davi caiu manso sobre minha silhueta,
senti como se estivesse sendo tocada pelo calor dos olhos
acinzentados dele. Ele sorriu, passou a língua no lábio
inferior e se encostou em sua mesa quase que se sentando
nela, então me puxou pela cintura me fazendo ficar entre
suas coxas, e se debruçou voraz em meus seios,
chupando-os, contornando a auréola e os bicos com a
ponta da língua entumecida e deliciosamente provocante.
Não resistir e contorci-me para trás enquanto aquele
homem fazia todas as partes do meu corpo se acenderem
e esquentarem naquela sala fria.
— Estou adorando esse jogo! — murmurei mole
sentindo uma sensação deliciosa tomar conta do meu
corpo.
— Você quer jogar?
— Já estamos jogando perigosamente.
— Não, o jogo começa agora, Donna.
Com o braço contornando minha cintura e sem me
largar, ele pegou a caixinha prateada de cima da mesa e
entregou a mim, dizendo:
— Bem-vinda ao meu mundo!
Peguei a caixinha, abri e fiquei olhando o pequeno
objeto dentro dela, e um misto de nervosismo me
acometeu.
Estava confusa, com coração disparado e o
estômago revirado de insegurança, então questionei:
— O que é isso, Davi?
XXX
Em pânico, foi assim que fiquei quando bati meus
olhos na caixa e observei que dentro dela havia duas
argolas reluzentes de ouro com 4 parafusos pequenos.
Nervosa e sem saber ao certo do que se tratava,
devolvi a ele a caixa com o que quer que fosse aquele
objeto tão lindo e tão assustador ao mesmo tempo.
— Por Deus me diga logo o que é isso — insisti.
— Chama-se Nipple clamps, grampos de mamilos
— explicou tranquilamente.
Levei as duas mãos em meus meios e os protegi
apertando-os e questionando estarrecida.
— Pretende colocá-los em mim?
— Sim, pretendo colocá-los em você e deixar que
fique com eles por algumas horas.
Arregalei os olhos assustada e gritei:
— Não! De jeito nenhum vou deixar você colocar
isso em mim, isso deve doer horrores.
— É claro que dói um pouco, mas é prazeroso,
acredite.
— Prazeroso? Como diabos sabe disso, já os testou
em você?
— Sim, claro que os testei, e do mais, tenho os
relatos das muitas submissas que passaram por minhas
mãos e cada uma delas relataram que é muito mais
prazeroso que doloroso.
— Não! — disse estendendo meus braços e o
afastando de mim. — Sai para lá com isso.
Davi sorriu, dizendo:
— Donna! Olha, se não quer experimentar, vou
respeitar, mas saiba que os seios são cheios de
terminações nervosas que quando estimuladas da maneira
certa levam ao delírio. Assim que eu os colocar em você,
irá sentir apenas a sensação de um beliscão e depois de
dormência.
— E a dor?
— Essa vem algum tempo depois e é moderada,
além do mais, vou controlar a pressão das argolas para
descobrirmos juntos seus limites. Quando disser que devo
parar, eu paro e pronto, e assim estaremos dentro do
saudável, seguro e consensual.
Respirei audivelmente, estava mergulhada em
incertezas.
— Não confia em mim? — questionou-me olhando
com ternura.
— Sim, sabe que confio.
— Então vamos jogar, deixa eu te dar uma dose de
prazer que você nunca sentiu.
— Você sabe que não temos tempo para isso, temos
uma reunião em minutos.
— Sim, e usará os grampos durante ela — disse
com uma naturalidade assustadora.
— Está brincando comigo, só pode, né? — respondi
nervosa levando as mãos em minha cintura sem conseguir
controlar a ansiedade.
— Não! E depois da reunião vou tirar isso de você e
te mostrar a magia.
— Magia!? Sei...
Olhei novamente para dentro da caixinha e lá
estavam as argolas de ouro com algumas pedrinhas de
diamante circulando-a, mais linda que já vi, seria a joia
perfeita para o dedo se não tivesse ela a utilidade que
tinha.
Sorrindo de nervoso falei:
— Esse é o instrumento de tortura mais lindo e
delicado que já vi.
— Vai gostar do que irá sentir quando tirá-los de
você, não precisa ter medo, os parafusos têm pontas
macias que não irão te machucar, assim que eu os colocar
em você sentirá um pequeno incomodo como se fosse um
beliscão e depois você vai sentir uma dor leve e insistente,
porém, suportável.
Davi tentou me tranquilizar, mas o fato é que eu
estava aterrorizada e tremi internamente quando ele
estendeu as mãos em minha direção, dizendo:
— Vem cá!
Dei dois passos para frente e estava novamente
sentindo o calor das suas mãos em minha cintura, então
aquele homem voltou a me enlouquecer ao tomar meus
seios em suas mãos e boca, sugando-os e os deixando
completamente rígidos novamente, e embora eu soubesse
o que aconteceria em seguida, não conseguia evitar de me
excitar loucamente com o toque dele.
— Está pronta? Posso colocar as argolas em você?
— questionou-me.
Arfei fechando os olhos e falei:
— Aí, minha nossa senhora da bicicletinha, dai-me
equilíbrio.
Vi que Davi conteve um riso, mas apenas virou o
rosto de lado e de cima da mesa apanhou uma das argolas
dentro da caixinha.
— Quer segurar em suas mãos? Analisar? —
questionou.
Nada respondi, apenas balancei a cabeça em
negativo, estava apavorada.
— Não tenha medo, Donna, esse é um jogo do qual
iremos testar e ultrapassar limites que você nunca
imaginou, e só seguiremos adiante enquanto você estiver
gostando e permitindo, por isso, sugiro que vá pensando
em uma palavra de segurança para usar quando achar que
seus limites chegaram ao limiar do insuportável. E nunca,
nunca ultrapasse seus limites tentando me agradar.
— Está bem!
Novamente tive meus mamilos excitados, e quando
sentia o calor daquela boca me sugando, tudo em mim
fervia, minha vagina estava quente e úmida e eu estava
pronta para ele, mas não para as argolas.
— Relaxe! — disse e sorriu de uma forma
destruidora, como podia um homem ser tão sexy até nas
vésperas de cometer uma maldade dessas comigo?
Davi girou a argola reluzente entre os dedos, enchi
meus pulmões de ar e fechei os olhos, e só senti quando o
metal gelado tocou em minha pele e se encaixou no pobre
bico do meu seio direito.
— Solte o ar, Donna, relaxeeee! — sussurrou de um
jeito tão manso que me fizera soltar o ar e relaxar a tensão
nos ombros, então ele passou a ajustar os pequenos
parafusos da argola, eram quatro e um a um ele foi
apertando ao dizer: — Avise quando não estiver
suportando.
Meneei a cabeça e continuei de olhos fechados e
realmente a sensação inicial era a de um beliscão forte e
naquelas alturas eu estava com as mãos transpirando e o
coração disparado na boca.
— Pare! Pare! Está doendo, está doendo muito. —
Rapidamente a sensação de beliscão mudou para uma dor
lancinante.
— A dor vai passar para um estágio de dormência e
suportável, aguente firme, eu sei que consegue Donna.
Então de olhos fechados senti a primeira lágrima
escorrer discreta do lado esquerdo da minha face, mas
senti o toque sutil de Davi limpá-la ao dizer:
— Guie a sensação de dor para seu prazer e não ao
seu sofrimento, não quero lágrimas de dor e sim do prazer
voluptuoso que irá sentir quando eu tirar isso de você.
Quando menos percebi já estava com as duas
argolas delicadas e lindas presas nos bicos dos meus
seios, a dor era insuportável naquele momento e só
pensava em retirar aquilo de mim e colocar logo um fim em
tudo aquilo, mas Davi passou a me beijar com uma
voracidade animal, um beijo quente, úmido e cheio de um
tesão entorpecente que me fizera inclusive sentir sua
ereção.
— Caralho, Donna, ver você se entregar e confiar
em mim assim me deu um tesão louco.
— Então me come logo de uma vez.
Ele sorriu divertido dizendo:
— Não! Ainda não, tudo a seu tempo.
— Ahh que merda! — resmunguei.
— Donatella! — ralhou.
Quando me soltou de seus braços voltei a dar
atenção a dor que passou de insuportável a moderada.
— Vista-se! — ordenou. — Coloque seu sutiã, ele
vai ajudar a camuflar os nippes. Está confortável?
Consegue suportar?
— O que ganho se eu conseguir aguentar isso? —
indaguei.
Davi sorriu sugestivo, piscou para mim e se virou
sem me responder, então pegou sua pasta de trabalho de
cima da mesa dizendo:
— Vamos trabalhar!
— Seuuu... — faltou pouco para chamá-lo de filho
de uma puta, mas fechei os olhos e mordi a boca me
contendo.
— Cuidado com as palavras senhorita Donatella —
avisou-me sorrindo.
Terminei de me vesti e fui seguindo Davi até a porta,
eu estava literalmente parecendo um robô enferrujado,
caminhando lentamente, dura, tentando me concentrar e
evitar de deixar que aquela dor me dominasse ali naquele
momento.
Davi saiu do gabinete vazio primeiro, em seguida fez
sinal para que eu saísse, e por sorte não havia ninguém no
corredor e quando dei o primeiro passo em direção a minha
sala, escutei o som melódico saindo da boca do Davi:
— Donna!
Olhei em sua direção.
— Esqueci de avisar que tem castigo se você tirar
as argolas.
— Puta que pariu! — ralhei. — Essa merda aqui já é
um castigo.
— Você acha?
— Sim, senhor! — respondi formalmente pois
estávamos no corredor.
Davi se aproximou de mim e cara a cara comigo
argumentou:
— Ficar sem o que vem depois de tirarmos o
brinquedinho é que será o castigo, até porque, eu posso te
garantir que vai ser inesquecível.
Provocou-me, dando a última palavra como sempre
e seguiu seu caminho, imponente rumo a um dos
elevadores.
Alguns minutos depois consegui chegar à sala de
reuniões no quarto andar, e assim que coloquei meus pés
lá, passei os olhos em todos que ali estavam e notei que
estava atrasada, visto que fui a última a chegar. Bruno não
me olhou, Davi continuou folheando alguns papéis fingindo
estar alheio à minha presença e Rew me observou atenta
com a ponta de uma caneta na boca como se tivesse me
mapeando, me analisando minuciosamente, então Dr.
Afonso disse:
— Sente-se aqui Donna, já vamos começar a
reunião.
Dei a volta na mesa para me sentar no lugar
indicado, e assim que passei perto da cadeira da
presidente, ela me olhou, sorriu e comentou questionando:
— Você está bem, querida? Parece que estar com
dor, você está pálida.
— Eu estou bem, senhora — inclinei-me rente a ela,
sentindo uma dor insuportável, então cochichei perto de
seus ouvidos. — É só uma cólica menstrual. A senhora não
teria um remedinho aí? — questionei e segui até a cadeira
destinada a mim.
Rew ficou me encarando sarcástica e nada
respondeu.
Durante a reunião meus seios me incomodaram
vertiginosamente, mas era uma tortura que misturada a
figura de Davi, que havia tirado o paletó e estava só de
camisa branca com uma gravata vermelha, me levava a ter
pensamentos libidinosos e completamente sem sentidos,
me faziam sentir um misto de dor nos seios e um prazer
insuportável com fisgadas deliciosas na vagina. Aquele
homem me excitava de forma enervante, e ali, enquanto
discutiam sobre o processo que iriam julgar em meio a
milhares de papéis em cima da mesa enorme, vivi uma
sensação contraditória demais, eu não sabia se estava
gostando ou odiando tudo aquilo, só sei que quando os
olhos acinzentados de Davi encontravam os meus por
segundos, eu simplesmente me via pulando no pescoço
dele e tirando a maldita gravata que estava me excitando e
torturando mais que os grampos em meus seios, mas isso
aconteceu só nos primeiros minutos da reunião, pois
depois a dor deixou de ser prazerosa e ia e vinha conforme
eu me mexia e aquilo foi me deixando nervosa e irritada.
Faltando pouco para o meio-dia, horário em que sairíamos
para o almoço, o incomodo cresceu, meus seios doíam
demais e estavam notoriamente inchados e sem conseguir
me controlar, me levantei da cadeira e disse:
— Perdão, senhores! Vou precisar me retirar, estou
com muita dor de cabeça.
— Pode sair, querida, já vamos terminar por agora
— respondeu-me Rew.
Assim que me levantei olhei para Davi, que digitava
algo em seu celular e não se deu ao trabalho de levantar a
cabeça para me olhar.
Filho da puta desgraçado! Pensei possessa de raiva.
Eu o estava odiando naquele momento, pois a dor
foi mais forte que o prazer e se destacou em maior
proporção e assim que eu colocasse os pés no primeiro
banheiro pelo caminho eu tiraria aquela porcaria do meu
corpo.
Que se dane a recompensa!
Juntei minhas coisas e saí da sala, mas não antes
de olhar para a Dra. Rew e ver em seu rosto um ar de
divertimento. Meu ódio por ela só cresceu, aquela vaca
sabia que eu estava com dor por obra do Davi.
Quando coloquei meus pés para fora e virei o
primeiro corredor, meu celular vibrou em minha mão e a
mensagem era de Davi e dizia:
Jonas te espera lá fora, vá direto para minha
casa e me espere lá.
PS: Não tire as argolas ou ficará só com a dor.
XXXI
Assim que a porta de entrada da mansão Campos
foi aberta a mim, eu sabia exatamente aonde ir, e
ignorando completamente as palavras da funcionária da
casa, simplesmente, caminhei apressada em direção as
escadas, não via a hora de estar sozinha e tirar aquelas
porcarias do meu corpo o mais rápido possível.
— Mas, senhorita, o Dr. Davi disse...
Minha mente a bloqueou por completo e assim fui
rapidamente subindo para o quarto dele, onde entrei, fechei
a porta e fui logo tirando meu terninho, e em seguida,
minha regatinha. Eu tinha que ser rápida o bastante para
me livrar daqueles grampos, pois o carro que Davi estava
veio logo atrás de nós e se já não tivesse chegado em casa
estava muito perto. Assim que levei minhas mãos aflitas
em meu sutiã para desabotoar o fecho, escutei o som da
porta se abrindo e fechando atrás de mim e acabei por me
virar assustada, constatando assim a presença física de
Davi, pois até então ele estava só em minha mente.
Davi tinha uma personalidade intensa, e seu
magnetismo me assolou assim que seu olhar inquisidor
caiu sobre mim e sua voz profunda inqueriu:
— Por que toda essa presa?
— Tira isso de mim, tira isso de mim agoraaaa! Ou
eu mesma farei isso — gritei exasperada e afoita imersa
em uma angústia e uma dor aflitiva.
Davi caminhou em minha direção me prendendo em
seu olhar duro enquanto afrouxava o nó da gravata
vermelha, dizendo-me:
— Calma, calma! — sua voz saiu como um
calmante, eu me derretia ao som dela. — Vou tirar os
grampos de você — continuou caminhando em minha
direção, mas agora estava desabotoando os botões das
mangas da camisa branca que já estava para fora da calça.
Fechei os olhos diante da imagem dele que a cada
passo se aproximava mais e mais de mim, me fazendo
esquecer da raiva que eu estava sentindo dele.
— Não me peça calma, eu não vou me acalmar até
me ver livre dessas merdas. — Apontei para as argolas
que me torturavam sem dó.
— Vou tirar, está bem?! — avisou aproximando-se
de mim com seus 1,85 de altura, me deixando diminuta.
Assenti chorando, e nervosa questionei:
— Por quê? Por que preciso sentir dor? Por que
gosta de me ver sofrer?
— Não gosto, não é sua dor que me dá satisfação, e
sim, sua entrega, sua confiança em mim.
— Já sou sua, confio em você, não quero mais
sentir isso, droga! — retruquei aflita.
— A dor faz parte do seu treinamento, faz parte dos
castigos que a deixam mais dócil e a fazem caminhar até
mim por livre e espontânea vontade, em outras palavras, a
dor te conduz a submissão, pois a recompensa é muito
mais prazerosa e ao aguentar firme com os grampos, você
provou que quer ser minha, que quer ser obediente,
mesmo quando seu eu interior ainda lute veementemente
contra isso, e uma prova disso é que você não tem medo
dos castigos, não tem trava na língua e está todo tempo
me desafiando e me enlouquecendo com isso.
— T. i. r. a isso de mim! — voltei a exigir nervosa
com a fúria fuzilando meu cérebro.
— Donna, você mexe comigo como nenhuma antes,
essa sua insolência é o meu castigo e eu simplesmente
fico louco com tudo que está me fazendo sentir — disse-
me sem dar a mínima para o que eu pedi.
Parou na minha frente, puxou-me brusco pela
cintura em sua direção e o soquei no peito resmungando:
— Tira isso de mim, me solta, me solt...
Enquanto dava socos em seu corpo firme tentando
resistir a ele, fui agarrada com força e beijada com a
intensidade própria daquele homem. Eu me odiava, por
não conseguir evitar de corresponder com gana a fúria
daquela boca, era simplesmente impossível negar que ele
mexia com meu psicológico com muita facilidade, me
manipulando, me moldando. E assim, ele me beijou
sôfrego, intenso e voraz demais a ponto de um frenesi
violento me fazer gemer em seus lábios e molhar de desejo
e volúpia nas chamas ardentes que ele acendia em mim.
Davi deslizou sua língua contra a minha, mordeu meu lábio
e me apertou contra seu corpo forte e musculoso, fazendo-
me sentir toda a extensão de sua ereção enorme e dura
forçando-a contra meu baixo ventre, fazendo minha vagina
se apertar em desejo desenfreado. Instintivamente levei
minha mão em sua ereção e Davi grunhiu e se afastou de
mim mantendo-me cativa apenas pelo tempo que levou
para tirar as mãos que prendiam meu rosto com firmeza.
Eu estava sem ar, ele me deixou desestruturada,
com as pernas cambaleando, a respiração descompassada
e o coração disparado, ele sabia exatamente como abalar
as minhas estruturas e fazia isso com a maestria de um
deus.
Naquele momento, meus pensamentos se
quebraram em milhões de partículas, eu já não me
lembrava mais da dor e nem da vontade louca de me livrar
das argolas, simplesmente, eu o queria dentro de mim, me
possuindo inteira.
Davi tirou seus sapatos e meias, ficou apenas com a
calça preta e a camisa branca, então caminhou sedutor até
a enorme varanda que estava com a vidraça aberta e que
tinha a visão maravilhosa de um jardim enorme lá embaixo.
Lá, ele se sentou tranquilamente em uma cadeira
como se não tivesse ouvido minha súplica, foi
desabotoando os botões da camisa calmamente, e com
muita raiva baixei meu olhar nos meus seios, e os vi
inchados, porém, não estavam tão vermelhos como
imaginei que estariam e quando levei meus dedos na
argola para tirá-las eu mesma, Davi falou:
— Vem cá, Donna, vem! — O tom de sua voz era
manso, mas não menos mandão.
Caminhei seminua pelo quarto quase escuro,
apenas os fachos de luzes natural é que o mantinha
iluminado. Parei ao lado dele na cadeira e levei meus olhos
em sua mão, onde a gravata vermelha encontrava-se
enrolada.
— Vire-se! — ordenou.
Fechei meus olhos e pedi:
— Davi, por favor, não use a gravata, não agora. —
Não queria que me amarasse.
Ele desenrolou a gravata da mão e a jogou no chão,
então deu uma nova ordem e tudo em mim reverberou
violentamente dentro de mim, tinha algo no jeito de falar, a
segurança e a aspereza no tom que me enlouquecem e por
mais que eu negasse, eu amava o jeito mandão dele, mas
amava muito mais contrariá-lo.
— Abra o zíper da minha calça — falou.
— Tire as argolas! — rosnei as palavras baixando a
cabeça e olhando-as grudadas nos bicos dos meus
mamilos levemente avermelhados e alongados.
— Quer que eu tire do meu ou do seu jeito? Você
que escolhe — questionou-me levando minha mente a um
impasse sem saber exatamente o que ele faria, como seria
o jeito dele. — Você quer com ou sem recompensa? —
perguntou novamente.
Engoli em seco, e depois de ter passado mais de
duas horas com aqueles malditos grampos decidi saber o
que viria a seguir, então não o respondi, apenas fiz o que
mandou e me inclinei em direção a ele e levei meus dedos
ao zíper da calça e o abri, então ele questionou com aquele
olhar maldito de um predador com a caça nos dentes:
— Tomou a injeção que te pedi?
— Sim!
— Então tire a calcinha e senta aqui. — Bateu as
mãos nas pernas e a cada ordem um orgasmo mental me
acometia, e eu seguia amando e odiando tudo aquilo com a
mesma proporção e intensidade, enquanto meus sentidos
eram devorados por medo e desejo, insegurança e certeza.
Eu não sabia como queria, só sabia que o queria.
Não tinha como negar, mesmo negando por dentro,
mesmo odiando-o muito naquele momento não fui capaz
de resistir ao brilho dos olhos dele, o som e o tom daquela
voz, então abaixei-me, despindo-me, tirando lentamente
apenas a calcinha como ordenou-me. Fiquei parada
olhando-o, lutando internamente comigo, então Davi
grudou seus dedos em minha saia, puxou-me para mais
perto dele e a ergueu até a altura da minha cintura,
ordenando com seu olhar predador, e aquela seria a hora
em que eu seria devorada viva, uma presa fácil e lenta.
— Senta!
Fechei os olhos e me sentei em seu colo,
entrelaçando-me nele a ponto de sentir a ignorância da
ereção que ele já ostentava, e senti-lo daquela forma,
saber que fui a responsável por sua excitação, fez-me
lembrar de Rew e sentir uma pontada louca de tesão e
satisfação.
Ele é meu, Rew!
Davi voltou a falar, encarando-me fixo, praticamente
soletrando as palavras com mansidão, e meu corpo e
mente levitavam à espera dos próximos acontecimentos,
era como se estivesse em transe mental.
— Quero que esqueça tudo, a dor, os sons,
concentre-se apenas na minha voz, nada mais importa
nesse momento para você, apenas eu e os meus
comandos.
Assenti olhando dentro dos olhos dele que brilhavam
intensamente, e então, voltou a falar e ditar o que queria
que eu fizesse:
— Se encaixe em mim, lentamente, me sentindo
preenchê-la inteira, cada espaço vazio dentro você.
Segurei em seu pescoço sem desviar meus olhos do
dele por nenhum segundo, e fiz exatamente como me
pediu, ergui meu quadril e desci encaixando-me em seu
pau ereto e deliciosamente duro, lentamente, escorregando
lubrificada em sua ereção deliciosa e febril.
— Ohhh! — gemi jogando o corpo para trás assim
que senti sua espessura me preencher e me invadir por
completo.
— Isso, assim — disse ele em um quase sussurro
de prazer. — Fique parada, não se mexa — mandou.
Davi segurou em meu seio esquerdo e o chupou,
levando-o para dentro de sua boca molhada e quente com
argola e tudo em uma sucção cruel e doce ao mesmo
tempo, então circulou o bico inchado com a língua me
enlouquecendo. Me sugava e olhava para mim, o desejo
latejou febril em meu corpo, ondas de um calor inebriante
me assolou, então depois de me fazer esquecer a dor, ele
levou seus dedos até o pequeno objeto e passou a
desrosquear soltando assim os parafusos que dilaceravam-
me, e dessa forma, fui liberta de ambos e senti uma dor
aguda muito forte em meus seios, mas que foi rapidamente
aplacada nos lábios quentes de Davi que os tomaram
novamente, chupando-os lentamente, sugando-os e
alternando a atenção de um a outro.
Arfei grudando meus dedos em seus cabelos
macios, sem saber mais diferenciar a dor e o prazer.
— Mexa-se, suba e desça no meu pau lentamente
— disse penetrando-me com o olhar em chamas mais
sedutor e persuasivo do mundo segurando meu rosto em
sua mão enorme e passando o polegar em minha boca.
Aos comandos dele, meu corpo se mexeu
involuntariamente, subindo e descendo deliciosamente
naquele pau, mexendo, rebolando e galopando sem
pressa, experimentando as sensações que me invadiam, e
enquanto fui controlando a profundidade da penetração,
um carrossel de sensações me atordoou com Davi
chupando e sugando o bico dos meus seios doloridos com
cuidado. A dor naquele momento passou a ser conflitante,
eu não entendia o que estava se passando, mas conforme
eu me mexia em cima daquele homem, subindo, descendo,
sendo preenchida avidamente, a dor me parecia perfeita,
estava me deixando louca, excitando-me e eu queria mais
e mais, estava recebendo uma descarga de endorfina
deliciosa e a sensação naquele momento era nada além de
um frenesi devastador que me fez ceder aos meus
impulsos vorazes e assim fui incapaz de dominar à vontade
de me perder naquele corpo que me sustentava.
Davi continuava segurando em meu pescoço,
mantendo o controle sobre mim, encarando-me faminto,
dominante, e embora, eu sentisse que estava no controle,
aquilo não passava de uma sensação, pois Davi estava
comandando tudo com sua voz, ditando e dizendo cada
passo:
— Guie os seus instintos, faça o seu ritmo fluir,
busque seu prazer agora, seja dona da sua fome —
sussurrou ele.
Davi ia me torturando ao som de sua voz enquanto
me segurava firme no pescoço comandando cada ato meu:
— Vamos! Mexa-se com mais vontade, busque o
que quer, vamos, Donna! — incentivava-me.
Quanto mais ele falava, mais rápido passei a me
mexer em cima dele, eu estava extasiada, louca atrás do
meu prazer e assim a dor deixou de ser ruim e passou a
ser uma mistura de euforia e adrenalina me deixando
alucinada.
Davi segurou em meu rosto forçando-me a encará-lo
e ia dizendo:
— No seu ritmo. Vamos Donna, mais rápido, mais
rápido.
Meu corpo subia e descia, rebolava, se esfregava
engolindo-o cada vez mais fundo e forte, sentindo a ereção
dele cada vez mais bruta e potente. Quando ele voltava
sua boca em meus seios doloridos, a sensação deliciosa
se intensificava violentamente, me deixando em transe, e
então meu corpo galopava no dele sem nenhum pudor,
sem medida, engolindo-o até a base, remexendo,
rebolando e friccionando meu clitóris com força ao contato
do corpo dele em busca da melhor sensação do mundo.
Ali eu estava tendo meu prêmio, me sentindo dona
dele, controlando a velocidade e a profundidade, e dessa
forma, passei a diminuir a velocidade, provocando-o,
subindo meu corpo lentamente e descendo só a ponto de
engolir a glande dele, sem engolir o pau inteiro, até que
Davi grudou seus dedos em meus cabelos e me levou até
seus lábios, e ao inclinar-me para frente meu clitóris foi
violentamente estimulado e dessa forma eu o engoli inteiro
novamente dentro de mim.
Davi segurou em minha cintura e disse-me:
— Busque o seu prazer no meu corpo.
Fiz exatamente o que me mandou fazer, grudei
meus dedos em sua nuca e galopei, galopei, galopei,
sentindo seu pau me cutucar fundo, forte e grosso e assim
rebolei gostoso com seus dedos em minhas nádegas
exigindo mais e mais de mim.
O som da voz dele me entorpecia, e se ele dizia algo
em forma de comando, aí mesmo que eu ia ao delírio, e
então quando ele ordenou dizendo:
— Goza! Agora!
Minha mente começou a flutuar, intensifiquei minha
busca galopando intensamente até que meu corpo foi se
enfraquecendo, minhas pernas perderam as forças e
minhas coxas e vagina se contraíram involuntariamente
arrebatando-me em tremores enlouquecedores, que
percorreram meu corpo fazendo todas as terminações da
minha vagina se apertarem e me destruírem em um
orgasmo aniquilador que levou minha alma ao extremo do
prazer, a outro mundo, eu não estava mais ali, minhas
forças se esvaíram do meu corpo e assim gritei gemendo
de um prazer intenso e voraz:
— Ohhh! Deus!
Eu estava destruída, com o corpo mole, sem forças
para continuar e senti os dedos de Davi apertarem meu
pescoço e me encarar faminto, com gana. Ele passou a
comandar os movimentos de seu corpo, enfiando sua
ereção forte e fundo contra minha carne inundada pelos
vestígios viscosos do orgasmo.
— Vou te comer muito duro agora, quero que grite
sua palavra de segurança, quero que use agora.
— Eu não vou pre...
— Você vai precisar, use-a — interrompeu-me
grudando seus dedos fortes em meus quadris e me
levando com força rumo a ele, fazendo-me engoli-lo com
muita força, e assim foi guiando as investidas duras, estava
no comando agora e a penetração era dura demais como
avisou-me, mas a sensação de estar sendo rasgada ao
meio era única, ele metia, metia, se enfiava forte em mim e
conforme sua respiração foi aumentando, o ritmo das
estocadas também foram aumentando, aumentando,
aumentando me fazendo delirar e galopar nele com uma
volúpia doentia a ponto de meus lábios se encherem de
água com o atrito gostoso de nossos corpos.
Suas mãos estavam em minhas costas e me
puxavam ferozmente para seu pau, que ia me invadindo de
uma forma muito fácil, fundo e comedida. Davi ondulava
seu corpo para frente me estocando, metendo, se enfiando
deliciosamente em mim enquanto eu me apoiava firme em
seu pescoço. Ele era forte demais e suas fincadas
deliciosas e intensas. Seus lábios não se desgrudavam dos
meus seios doloridos enquanto ele metia, entrando e
saindo em um vai e vem luxurioso.
Então senti uma fisgada quando Davi chupou muito
duro o bico de um dos meus seios, fazendo minha vagina
se apertar, e logo em seguida, ele voltou a investir
dolorosamente em meu seio, puxando-o em seus dentes e
mordendo-o causando uma dor insuportável, então chorei
de dor ao resmungar as palavras que havia escolhido como
palavra de segurança.
— Me ame! Me ame!
— Suas palavras Donna, use-as agora! — exigiu
áspero.
— Me ame! — voltei a repetir as palavras.
Davi soltou um grunhido sufocado e áspero de
satisfação e prazer enquanto seu corpo tremulava gozando
dentro de mim, fazendo-me sentir o líquido quente me
preencher.
— OHHH! OHHH! — rugia alto como uma fera.
Davi estava gozando e não parava de se mexer
dentro de mim, e assim gemia em uma ganância
escaldante e deliciosa e aos poucos fui sentindo suas
mãos afrouxarem e seus gemidos diminuírem e se
transformarem em palavras balbuciadas no extremo de seu
prazer.
— Você é minha perdição.
— Sou?
— Sim, você é — murmurou mole.
Estávamos esbaforidos, eu estava mole, as pernas
exaustas, então dei por mim que Davi ainda vestido com
sua camisa branca e sua calça preta, fizemos sexo naquela
cadeira sem ao menos nos darmos o trabalho de terminar
de tirar nossas roupas, então Davi segurou firme em meus
dois braços, fechando seus dedos com força neles e me
perguntou com ar brincalhão:
— Me ame é sua safeword?
Arfei e respondi em seguida:
— Sim, é.
— Ah, porra Donna! Não faz isso comigo.
— Ah eu faço, faço sim.
— São duas palavras e você precisa só de uma —
retrucou.
— Idealizei “meame” tudo junto em minha mente.
— Isso não vale, é trapaça.
Juntei minhas mãos na lateral de seu rosto e o
respondi beijando-o:
— Vale tudo nesse jogo!
— Não, não vale não!
XXXII
Nocauteado, assim eu me sentia naquele momento,
como se fosse um pugilista esticado na lona após um golpe
que me tirou do ar por alguns segundos. Uma frase, Donna
precisou apenas de uma frase para me fazer baixar a
guarda por alguns minutos e me fazer gozar de uma forma
ensandecida.
Meu cérebro, meus pulmões e coração pareciam
uma orquestra sincronizada, e segundos após um orgasmo
intenso minha respiração ainda era profunda.
Com as mãos firmes nas costas de Donna, caí
exausto com a cabeça em seu colo e ali eu sentia a
respiração frenética dela e os batimentos cardíacos
desacelerando lentamente a cada subir e descer de seus
peitos suados.
— Consigo ouvir seu coração batendo — falei.
— Estou exaurida, sem forças, não sei o que está
acontecendo comigo.
Suguei o ar dos meus pulmões com força e estiquei
meu corpo, estendi minha mão direita e tirei as mechas de
cabelo castanho do rosto dela e a questionei:
— Não está se sentindo bem?
— Estou me sentindo tão bem que nem tenho forças
— A voz estava fraca.
Tirei-a do meu colo e a peguei nos braços, estava
mole como uma boneca, e assim eu a levei até o banheiro
da suíte e a limpei embaixo do chuveiro, e ali, foi o único
som que ouvimos, o da água quente caindo pesada sobre
nossos corpos cansados após um sexo devastador.
Não trocamos uma única palavra, apenas carícias, e
não me recordo de ter feito tal coisa na vida com uma
mulher antes.
Depois do banho, na cama, Donna se aconchegou
em meus braços, ela usando um roupão branco e eu
enrolado em uma toalha que também era branca.
— Me conte como foi sua primeira experiência real
com a dor — pedi acariciando seu braço sentindo a pele
macia e o cheiro delicado de seus cabelos.
— Eu estou muito confusa quanto a isso —
confessou deslizando seus dedos em meu tórax.
— Comece me contando como se sentiu desde o
início, desde quando coloquei os grampos em você —
incentivei-a, pois necessitava saber como estava o
psicológico dela depois de expô-la realmente a dor.
— Eu odiei estar com aquilo preso nos meus seios,
é doloroso demais, é irritante, mas quando os tirou de mim
a dor se intensificou e ficou muito mais aguda, contudo,
uma coisa estranha aconteceu comigo logo em seguida
quando você sugou os bicos doloridos.
— O que aconteceu, me conte?
Donna resfolegou e, em seguida, explicou:
— É estranho dizer isso, mas foi a dor mais deliciosa
que já senti na vida, foi tão bom quanto um orgasmo, não
sei explicar Davi, só sei que foi muito bom, muito bom você
dentro de mim, me possuindo enquanto a dor transmutava
e se transformava em um prazer latejante maravilhoso.
Você me fez flutuar, literalmente, e eu deveria estar te
odiando por me fazer sentir dor, mas não estou, e essa
confusão me deixa preocupada.
Sorri e acariciei-a novamente, explicando-a:
— Você recebeu uma pequena descarga de
algumas substâncias químicas que juntas dão essa
sensação de flutuar. Adrenalina, a endorfina e a dopamina
fazem você esquecer a dor transformando-a em prazer,
mas sobre isso falaremos mais no futuro quando realmente
você provar de verdade o poder da magia dessas três
substâncias agindo juntas em seu corpo.
— Eu te odiei por me fazer ficar com aquelas
argolas, eu realmente te odiei — confessou.
— Você podia ter tirado, Donna, por que não tirou?
— indaguei-a segurando na lateral de seu rosto fazendo-a
me olhar nos olhos.
— Eu já disse, estou muito confusa, Davi, eu ergui
um muro enorme e não consigo sair de cima dele, não
consigo saber se gosto ou não de tudo isso e no meio de
todo esse dissabor tem você como prêmio.
— Eu compreendo você, e não esperava que fosse
diferente, você está sendo introduzida a um universo
completamente oposto ao que foi ensinada durante toda a
vida. Está inserida em um mundo cheio de tabus e pudores
e se vê em conflito quando passa a gostar de algo que foge
as leis traçadas pelos hipócritas que dizem como e quando
devemos fazer as coisas.
— Não disse que estou gostando — contestou.
— Mas está confusa quanto ao que sente, e disse
ter sentido uma dor deliciosa, o que significa que gostou.
Donna se virou na cama e montou em cima do meu
corpo ladeando minhas coxas com suas pernas e levou
suas mãos em meu tórax, dizendo:
— Não é só isso, tem muita coisa envolvida, muito
sentimento, eu nem sei se um dia você vai conseguir fazer
amor comigo sem usar uma venda em mim, um lenço,
argolas que provocam dor, chicotes e outras tantas coisas
que nem conheço ainda desse seu mundo.
— É isso que espera de mim? Que faça amor com
você em um sexo baunilha sem graça?
— Não é sem graça, Davi, deixe-me te mostrar —
murmurou em lamento.
Segurei-a pela cintura e a tirei lentamente de cima
de mim e fui me levantando da cama nervoso com o rumo
que aquela conversa havia tomado. Ela simplesmente
estava me tirando da rota.
— Estou faminto, você não? — questionei-a
colocando um fim naquela conversa.
Donna estava indo fundo demais, era inteligente,
intrigante e abusada a ponto de me tirar do sério no meio
de um aftercare, momento esse que eu estava cuidando
dela após ela ter tido um contato mais forte com dor e
prazer e estar vulnerável e sensível demais por isso.
— Quando é que vai sair de dentro dessa casca? —
questionou-me, sentando-se na ponta da cama.
Fechei os olhos e os dedos em punhos e virei para
respondê-la:
— Não entendeu ainda que não estou dentro de
uma casca?
— Não existe nenhuma chance de você se tornar
um homem normal, e deixar esse seu gosto por essas
coisas que me causam dor? Existem tratamentos
psicológicos, você pro...
Arfei de forma audível, e expliquei interrompendo-a:
— Donna, já conversamos sobre isso, já expliquei a
você que sou dominante por natureza, eu gosto do poder
dentro de uma relação, me excita violentamente ter uma
mulher ajoelhada aos meus pés, me arrepio quando o som
dos seus lábios me dá o tratamento de “Senhor” e fico
louco quando geme de dor e prazer ao mesmo tempo. Vou
ao delírio quando privo uma mulher de seus movimentos,
quando a deixo muda ou imersa na escuridão sem saber o
que a espera. Meu corpo necessita da relação D/s, e se
você ainda não entendeu, eu não vivo nesse universo de
dominação porque tive traumas de infância. Entenda, essa
não é minha realidade, repito, eu sou dominante por
natureza, ninguém apagou um cigarro na minha barriga na
infância, não fui violentado, não tenho pesadelos, eu
apenas sou o que sou e não seria eu mesmo se tivesse
que mudar isso, compreende?
Assim que terminei de falar desviei meu olhar do
dela, pois vi neles decepção e eu não podia dar a ela o que
não tinha e a ouvi-la soletrar de forma enérgica:
— Não sou submissa!
Senti meu pulso acelerar, virei-me novamente em
sua direção e a questionei calmo:
— Será? — sorri sarcástico, pois eu já sabia
perfeitamente que era e fazê-la desabrochar era apenas
questão de tempo.
— Não sou — respondeu sem eloquência.
— Sua alma já é minha escrava Donatella, não lute
contra isso, pois você já é minha, já está entregue e
mesmo dizendo que não é, e mesmo negando, eu já sabia
que você era submissa, só precisa ser moldada com
esmero que lhe é merecido. Seus olhos nunca me negaram
isso, embora seus lábios neguem.
Donna levou as mãos em sua cabeça e respondeu-
me com olhos de incerteza:
— Eu estou tão confusa! Não me reconheço mais.
— Conceda-me a honra e vou te guiar por caminhos
desconhecidos que jamais imaginou conhecer.
— Eu tenho medo, Davi — retrucou nervosa. —
Medo do que ainda está por vir.
— Não vou machucar você, confie em mim — falei
tentando passar-lhe segurança.
Donna olhou para o teto, encolheu as pernas em
cima da cama e as abraçou com seus próprios braços e
respondeu:
— Eu confio, mas...
Porra! Não faz assim! Sussurrou minha mente ao
vê-la tão encolhida e insegura e tudo que senti vontade
naquele momento foi de abraçá-la, contudo, caminhei até
ela, toquei em seu rosto com carinho contornando os
traços delicados e pedi:
— Submeta-se a mim! Ajoelhe-se — ordenei mesmo
sabendo que aquele não era o momento em que ela faria,
pois ainda estava em uma guerra interna entre o sim e o
não, mas eu precisava me recompor.
Donna baixou o olhar e soletrou as palavras que eu
esperava ouvir:
— Não consigo! Não consigo, me desculpa.
Assenti dizendo:
— Eu espero o tempo que for preciso, e no fim, você
será obediente, dócil em uma plena submissão concedida
a mim livremente, e nesse dia, você me fará o homem mais
feliz, Donatella.
Naquele início de tarde almoçamos juntos na
cozinha, Donna se alimentou apenas com uma salada,
estava quieta e sem fome, e depois quando estávamos na
porta do carro que iria levá-la novamente ao trabalho, ela
argumentou:
— Não gosto nada da ideia de chegar no trabalho
com seus homens, será que não percebe que não estamos
sendo nada discretos com isso?
— Isso foi só por hoje Donna, já estou resolvendo a
situação, e além do mais, ninguém conhecesse os
seguranças que levaram você, eles trabalham em particular
para mim e me servem apenas aqui em casa.
— Entendi.
— Você não pode entrar e sair da minha casa
usando seu carro particular e nem nenhum carro que leve a
você em uma simples pesquisa de placas, compreende?
— Sim, eu já entendi isso, mas não faz sentido seus
homens me buscarem e me levarem a todo canto. Me
desculpa, Davi, mas eu não quero isso.
Toquei afetuoso em sua face e voltei a falar:
— Já disse que estou resolvendo isso senhorita
Donatella. — Dei um passo à frente e a beijei, tocando
lentamente meus lábios em seus lábios fartos, e tive que
controlar o ímpeto de me afundar naquela boca linda e
convidativa. — Tenha uma boa tarde, Donna — disse
afastando-me.
Donna sorriu corando e respondeu-me piscando e
me provocando ao dizer:
— Obrigada, senhor!
Fechei os olhos e sorri contido, todos os pelos do
meu corpo se arrepiaram.
Donna seguiu rumo ao Palácio e eu fui resolver o
problema do carro, indo pessoalmente em uma
concessionária comprar um carro para que Donna usasse
sem precisar chamar atenção.
Mais tarde, quando cheguei no Palácio, vivi algo
inusitado, pois assim que entrei no elevador privado a
ascensorista Dalva agiu completamente atípica, me
olhando de um jeito estranho, me medindo com os olhos de
cima a baixo com um olhar diferente.
— Está tudo bem com você, Dalva? — questionei
assustado com a forma que seus olhos me vasculhavam.
— Ahh! Sim, está tudo GG por aqui, senhor.
Balancei a cabeça sem entender e questionei-a:
— GG? Que expressão é essa?
— Ah, me desculpa senhor, GG significa que está
tudo perfeito, tudo ótimo, tudo enorme, ah quero dizer,
estou bem, senhor.
Balancei a cabeça achando graça e a respondi:
— Entendi, você está bem, ótimo.
Ainda sem entender a forma estranha com que a
moça me olhou aquela tarde, saí pelo corredor caminhando
distraído lendo a cópia dos documentos do carro que eu
havia acabado de comprar, e quando levantei o olhar e os
levei rumo ao final do corredor, vi algo que me revirou o
estômago, Donna estava gargalhando na porta do gabinete
onde trabalhava ao se divertir com algo que Bruno havia
dito a ela. O sangue ferveu em minhas veias e minhas
vistas se embaralharam quando Bruno a segurou pelo
braço, e assim os papéis em minhas mãos viraram um
amontoado embolado e amassado, e logo que passei por
ambos ignorei o cumprimento de Bruno que disse-me:
— Boa tarde, Meritíssimo!
Bruno e suas palavras ficarem invisíveis para mim, e
fuzilei Donna com um olhar que disse tudo que meus lábios
não podiam naquele momento.
Fique longe desse cara!
Foi tudo que meus olhos disseram a ela e eu não
sabia exatamente o porquê, mas Bruno não me inspirava
confiança quando o assunto era Donna.
Ele a amava, mas ela é minha, e eu o faria entender
isso.
XXXIII
Enquanto mantinha meu olhar sisudo preso em
Donna, vi um flash de incompreensão em seus lindos e
enormes olhos castanhos. Ela se mexeu graciosa
acompanhando cada passo meu com o olhar, e
simplesmente odiei o fato de não poder tomar em minhas
mãos aquilo que era meu; e com a pulsação acelerada e
pulsando forte em minha garganta fui obrigado a me
afastar sem deixar nenhuma palavra de insatisfação sair de
meus lábios, e o fato delas estarem presas na garganta
sem poder sair me deixou em um estado de irritação
enervante.
Assim que cruzei a porta da minha sala dentro do
meu gabinete, esbocei minha raiva jogando minha pasta
com agressividade em cima da minha mesa e, logo em
seguida, o tom de uma voz ecoou na sala ao questionar
com a voz macia, porém, imbuída de veneno:
— Formam um belo casal, não?
Virei-me rapidamente para minha direita e a vi
parada de braços cruzados olhando pela janela.
— O que faz aqui doutora Rew? — indaguei-a
formalmente.
Ela caminhou lentamente equilibrando-se em saltos
enormes e pretos, estava toda vestida de preto como se
estivesse pronta para um velório, e ao se aproximar levou
suas mãos em meu tórax questionando novamente:
— Por que toda essa formalidade? Entre quatro
paredes isso não existe entre a gente, senhor.
Segurei firme suas mãos e as tirei de mim, com Rew
dizendo de forma sedutora e pausada:
— Isso! É assim mesmo que gosto de sentir seu
toque, forte e agressivo — aproximou o rosto do meu. —
Ahh senhor, eu morro de saudades a cada dia que fico sem
você, meu corpo precisa de você e minha alma clama pela
sua.
Balancei minha cabeça negativando e soltei-a
rapidamente, afastando-me irritado.
— Acabou Rew, achei que tivesse deixado isso bem
claro para você — rosnei as palavras.
— Desde quando você é homem de uma só mulher?
Não me diga que por causa daquela insossa da Donatella,
você agora se tornou monogâmico? — cruzou os braços e
gargalhou me tirando do sério a ponto de me fazer perder a
cabeça e grudá-la instintivamente pelas costas prendendo-
a pelos braços enquanto a encurralei com a cara na
parede, dizendo:
— Minha vida não te diz mais respeito — murmurei
no pé do seu ouvido sentindo o cheiro delicioso dos velhos
tempos.
Fechei meus olhos tentando controlar o ímpeto
violento que ela despertou em mim, então voltei a falar:
— Não tem mais permissão para me chamar de
senhor.
Rew gemeu de satisfação e então passou a dizer:
— Está louco de saudades de exercer as funções de
Dom voraz que existe dentro de você — afirmou. — Olha
como está me segurando, eu sinto que você precisa de
uma sessão comigo, eu sei que está louco de tesão agora,
que quer fazer comigo tudo que não pode fazer com aquela
baunilha desidratada.
Apertei ainda mais forte meus dedos em volta dos
punhos dela, a raiva latejava em minhas veias, meu
coração batia em um descompasso incerto, e uma fúria
emergia de dentro de mim.
— Não sabe o que está dizendo — segredei
novamente encostando meus lábios no lóbulo dela.
— Eu conheço, o meu senhor, sei do que precisa, eu
sinto sua necessidade e agressividade. Você precisa
dominar, precisa de uma sessão comigo e eu preciso
loucamente de uma sessão com o meu senhor ou vou
enlouquecer — respondeu.
Trinquei os dentes, levei uma de minhas mãos em
uma mecha dos cabelos dela e apertei os nós dos meus
dedos fazendo com que as veias do meu antebraço
saltassem inchadas.
— Tenho tudo que preciso com a mulher que escolhi
para ser minha — informei.
— Ohh! — Rew soltou outro gemido inclinando-se
para trás. — Mais forte, mais forte, por favor, me faça sentir
dor, eu preciso do meu senhor.
Quando percebi que estava dando a ela doses do
que ela tinha vindo procurar, deixei meus dedos relaxarem
soltando assim as mechas de seu cabelo quando ao
mesmo tempo os músculos do meu corpo voltaram ao
estado de repouso deixando toda a tensão daquele
momento se esvair de mim.
— Saia da minha sala, doutora Rew, não vamos
estragar nosso relacionamento profissional — pedi com
uma tranquilidade que não existia em mim naquele
momento.
Ela estava respirando afoita, tinha doses de
adrenalina circulando em sua corrente sanguínea, seus
olhos brilhavam intensamente ao fitarem os meus com um
misto de ansiedade e ódio que me cortavam como uma
lâmina afiada.
— Você ainda vai se arrepender, Davi. Vai descobrir
que aquela baunilha nunca conseguirá te dar o que você
deseja, ela nunca vai conseguir se entregar de verdade.
Vejo isso nos olhos dela, ela não é e nem jamais vai ser
uma submissa, o mais próximo de submissão que ela vai
chegar é somente para te agradar, e isso meu querido, eu
sei que você não quer.
Olhei para o teto, rodei em meus calcanhares e
passei minha mão direita em minha barba sentindo os
pelos de um barbear por fazer espetarem minha mão com
aspereza sutil. Soltei o ar dos pulmões audivelmente
pedindo a ela com calma:
— Por favor, Rew, me deixe sozinho — murmurei
com o tom de voz condescendente.
Ela assentiu e em seguida, disse-me:
— Pense bem Davi, não preciso ser lapidada, estou
pronta para você, e outra coisa, não estrague aquela moça,
você não percebeu por que está cego de paixão, mas ela e
o Bruno nasceram um para o outro, formam um belo casal
juntos, apenas não se descobriram ainda.
— Saiaaa! — ralhei perdendo a paciência.
— Sabe onde me achar, e vou estar a sua espera
ansiosa.
Dei-lhe as costas e apenas ouvi o som da porta se
fechando atrás de mim.
Retirei o blazer do meu corpo e o coloquei atrás do
corpo da cadeira, e mal meu coração voltou a bater em seu
compasso natural, toques na porta me tiraram de meus
pensamentos:
— Posso entrar, senhor? — questionou Bruno
entreabrindo a porta.
Bruno escolheu um péssimo momento para me
abordar naquela tarde, e assim o respondi imediatamente:
— Entre e feche a porta.
Assim que Bruno fechou a porta, dei três passos e
fiquei cara a cara com ele e o intimei sem meias palavras:
— Fique longe da minha mulher.
Bruno olhou-me sem entender nada e perguntou
com um sorriso irônico esboçando nos lábios:
— Do que está falando, senhor? — sua pose se
tornou estática e seu olhar buscou os meus sem medo. —
Donna e eu somos amigos há muitos anos. Eu realmente
não entendo o motivo desse seu pedido — argumentou.
— Mulher minha não tem amigos, e a coisa só piora
quando o amigo em questão a ama.
— Não sabe o que está dizendo, senhor! — ralhou
tirando a mão que mantinha dentro do bolso da calça. —
Donna faz parte do meu passado, agora estou tentando
ficar bem com a Carla.
Dei mais um passo à frente e o deixei pequeno
enquanto respondi com uma pergunta:
— Quem pensa que está enganando? Vejo o brilho
nos teus olhos quando a olha.
— Donna não passa de uma amiga que considero
muito — retrucou rapidamente. — Ela já sabe que é sua
propriedade? — questionou-me corajoso.
— Ela é minha mulher, e sabe disso perfeitamente.
— Ela sabe que tem um dono ao invés de um
namorado? — replicou novamente enfrentando-me.
— Ela sabe tudo o que precisa saber, não se
preocupe.
— Bom para vocês, porque eu estou em outra —
disse-me com as mãos na cintura.
Sorri ironizando, dizendo-lhe:
— Você não engana nem a si mesmo, Bruno. Vou
repetir, fique longe dela.
— Por que não diz isso a ela? Pois foi sua mulher
que me abordou no corredor para me convidar para
corrermos no parque amanhã de manhã.
Dei-lhe as costas e caminhei rumo à minha mesa e
apanhei o copo com água que havia deixado lá e tomei um
gole generoso, minha garganta estava seca, então com o
polegar alisando a borda do cristal polido, eu o respondi:
— Donatella vai saber que não a quero perto de
você, não se preocupe, agora vá trabalhar — ordenei.
— Sim, senhor — respondeu amargo.
Não o vi sair, apenas o barulho da porta sendo
fechada atrás de mim foi o que anunciou sua saída.
Teria arremessado o copo contra a parede se não
estivesse no meu ambiente de trabalho, então tive que me
controlar para não fazer tal besteira.
— Davi, Davi, está se perdendo em si — recriminei a
mim mesmo em voz alta.
O sangue subiu em minha cabeça, e imaginá-la no
parque juntamente com aquele cara era inadmissível, pois
a mim ele não conseguia enganar com o jeito de bom
amigo, e eu não o queria perto dela, simplesmente não
permitiria tal coisa, e assim que estendi meu braço
esquerdo ao alcance do meu aparelho celular para ligar
para ela, ele vibrou com a imagem de Donna estampada
na tela antes mesmo que meus dedos o tocasse, então
atendi depois de deixar tocar quatro vezes e quando
atendi, ela foi logo inquirindo-me com o tom de voz
alterado:
— Por que me olhou daquela forma no corredor
como se eu fosse uma criminosa?
— Você é uma criminosa? — perguntei impassível.
— Está falando sério? — voltou a questionar. —
Você me devorou com o olhar mais cruel do mundo como
se estivesse tentando me passar um recado.
— E eu estava — confirmei.
— E o que de fato seus olhos severos tentaram me
dizer? Sim, porque eu realmente não consegui entender.
— Quero você longe do Bruno — respondi
tranquilamente.
Donna gargalhou do outro lado e disse assim que
conseguiu parar de rir:
— Isso não vai acontecer, não vou permitir que
mande na minha vida dentro e fora da sua cama. Bruno é
meu melhor...
— Era! — falei taxativo interrompendo seu
raciocínio.
— Não, ele é e vai continuar sendo! — exclamou. —
Eu sou uma maratonista, você sabe bem disso, eu apenas
o convidei para treinar amanhã pela manhã e não pretendo
desmarcar meu compromisso com ele, a propósito, não
precisa desmarcar o seu com a Doutora Rew, se é que
marcaram mesmo um.
— Do que está falando? — Donna disse tudo o que
queria e desligou o celular na minha cara.
Meus dedos se fecharam ao redor do aparelho
celular e mais uma vez tive que controlar o ímpeto violento
que me acometeu, e engoli à vontade cruciante de atirar a
porra do aparelho celular pela janela.
Eu não queria aquele cara perto dela, e eu nem
sabia ao certo os motivos, mas eu sabia que não era puro
e exclusivamente ciúmes, tinha algo no olhar dele que me
fazia querer ele longe dela.
Durante a reunião na parte da tarde, Donna não
lançou seu olhar em direção a mim uma única vez que
fosse, e ao final, saiu antes de todos, caminhando
apressada sem me dar nenhuma chance de trocar uma
única palavra com ela que fosse, e infelizmente eu estaria
preso ali no Palácio até mais tarde.
... a propósito, não precisa desmarcar o seu
encontro com a Doutora Rew, se é que marcaram mesmo
um. O que você quis dizer com isso Donna? Pensei.
XXXIV
A frase dita por Donna ecoou em minha mente por
duas vezes seguidas, suficiente para me fazer levantar
com urgência da minha mesa, cruzar os corredores do
Palácio da Justiça em cima dos tapetes vermelhos e ir
bater na porta da Presidente, faltavam poucos minutos
para encerrarmos o expediente e assim que bati em sua
porta com dois toques, ela disse em um tom de voz mais
alto:
— Pode entrar, Elaine. — Achou que fosse uma de
suas assessoras.
Quando girou a cadeira em minha direção, falou
melosa:
— Nem precisei esperar muito. — Levantou-se com
o sorriso esboçando de seus lábios cheios.
— O que disse para Donatella? — fui direto sem
rodeios.
— Troquei meia dúzia de palavras com ela, não
disse nada relevante. — Fingiu estar tirando poeira da
blusa.
— Disse a ela que teríamos um encontro. Por que
diabos está fazendo isso, Rew?
Ela cruzou os braços, seus lábios se abriram em um
suposto espanto e questionou-me franzindo o cenho:
— Como assim, eu disse? — descruzou os braços e
rodou sobre seus calcanhares pensativa. — Não disse isso
a ela, por que eu diria algo assim?
— Não sei por que diabos faria isso, mas estou aqui
para te dar um aviso, Rew.
— Vai me ameaçar, Meritíssimo? — questionou
apoiando-se em sua mesa e cruzando os braços
novamente em uma posição de superioridade.
— Fique longe dela, Rew.
— Não sei que tipo de joguinho sua nova sub — fez
um entre aspas com as mãos —, está tentando fazer, mas
saiba que eu jamais mentiria, nem mesmo para tentar criar
um mal-estar entre vocês.
— Vou repetir, deixe a Donna em paz — falei
pausadamente com um tom austero.
— Sou louca por você Davi, mas não sou mentirosa,
e não se preocupe, não vou mais instigar a curiosidade do
seu projeto de submissa.
Assim que suas palavras foram golfadas de seus
lábios, dei-lhe as costas sem nenhuma vontade de replicar,
então, saí rapidamente de seu gabinete, completamente
aturdido sem entender nada.
Se Rew tentou envenenar Donna, certamente que
obteve grande sucesso, me bastava agora saber até que
ponto ela conseguiu desestabilizar Donna, mas de uma
coisa eu tinha certeza, ela convidou o Bruno para treinar no
parque antes de ter falado com Rew e isso significava que
ela sente prazer na companhia dele, e pensar em tal coisa
me deixava louco de ciúmes, um sentimento que não me
pertencia, mas que estava me mutilando por dentro como
se fosse ácido corrosivo e era por isso que jamais me
aventurei em romances com mulheres com gostos
diferentes ao meu.
Donna estava mudando minha vida e eu estava
experimentando sentimentos e sensações nunca antes
vividos por mim porque nunca me permiti sentir certas
coisas e mesmo sendo controlador nunca deixei o ciúme
comandar minhas ações e palavras, mas naquele exato
momento, eu estava perdendo o controle da situação, e
controle era algo que nunca perdi, e naquele momento,
controle era tudo que eu não tinha mais.
Assim que entrei no meu carro, fui logo afrouxando o
nó da gravata vermelha que usava aquele dia, e ao
movimentar os olhos em direção a ela, lembrei-me de
Donna e dos movimentos que seus lábios cheios fizeram
ao me pedir para não usar a gravata para imobilizá-la. Eu
ainda estava impregnado pelo sexo duro e delicioso que
havíamos nos proporcionado durante o almoço. Meu pau
tremulou inquieto ao me lembrar do cheiro doce dela, da
forma nervosa com que desferiu golpes agressivos em meu
tórax. Sorri balançando a cabeça ao refazer todas as cenas
que se seguiram e suspirei alto levando minhas mãos em
minha nuca ao pensar que em um instante Donna estava
gritando de tesão engatilhada e cavalgando loucamente em
meu corpo e no outro estava gritando de irritação ao
celular.
Em casa, coloquei um moletom e uma regata branca
e fui descontar minha ansiedade e nervosismo na sala de
musculação. O suor saía do meu corpo a cada peso
manuseado pelas forças dos meus músculos, e os gemidos
que saiam ávidos da minha garganta não eram mais de
prazer, e sim, de dor e esforço físico, e a cada pensamento
de Donna correndo no parque ao lado do meu assessor,
mais força eu fazia e mais suor meu corpo expelia em
forma de frustração e luta interna, onde à vontade louca de
ir vê-la e o meu ego estavam em uma luta inflamada entre
o sim e o não, e eu sabia que se fosse vê-la teríamos outra
discussão.
Mais tarde o breu em meu quarto de jogos era
nefasto, o uísque descia queimando minha garganta
enquanto eu o degustava e alisava meus dedos nas duas
estacas de madeira que estavam alinhadas paralelamente
no centro do ambiente, nelas, as amarras douradas me
fizeram lembrar o motivo de eu estar ali e à vontade louca
que eu estava de usá-las a meu bel-prazer, então deslizei
meus dedos sobre a madeira cravada no chão e saí
rapidamente daquele lugar, eu precisava usar aquelas
amarras e me lembrar quem eu era e o porquê gostava de
ser, e dessa forma, fui atrás da mulher que eu colocaria ali
para me devolver ao meu eu verdadeiro.
Eu estava louco, não tinha outra explicação para
estar batendo na porta de uma mulher faltando dez minutos
para meia-noite e quando a porta se abriu em minha frente
após insistentes toques na campainha, a mulher morena,
alta com traços conhecidos e identificados atendeu a porta
dizendo em um espanto:
— Doutor Davi! — seus olhos estavam alertas e
assustados. — Não esperava o senhor aqui tão tarde —
seu sorriso se abriu em contentamento e assim fez o gesto
com as mãos que me permitiu entrar em sua belíssima
casa.
— Perdoe-me o horário, mas eu precisava vir.
— Não se preocupe com o horário, as portas de
minha casa estarão sempre abertas para Vossa
Excelência.
XXXV
— Por favor, dona Helena, me chame de Davi
apenas, essa formalidade não combina mais conosco,
afinal de contas sou o...
Travei e não consegui deixar as palavras seguintes
saírem com espontaneidade, e assim, a mãe de Donna
completou a frase por mim, questionando-me:
— O namorado da minha filha?
Puxou as partes de seu hobby azul de seda e
encolheu-se.
— Ela está em casa, dona Helena? — desconversei.
Suas feições mudaram em meio a minha dificuldade
em assumir um relacionamento que recebia o nome de
namoro.
— Não! Ela não está em casa, não estava
conseguindo dormir, então saiu para arejar a cabeça com
um velho amigo.
— Entendo. — As palavras saíram ressentidas.
Levei as mãos em minha nuca, sinal esse do meu
constrangimento, então a questionei logo em seguida sem
conseguir conter a curiosidade:
— Saiu com o Bruno?
Ela sorriu achando graça e respondeu-me:
— Não, não, saiu com o Meritíssimo.
Tentando disfarçar o descontentamento que me
assolou como um chicote voltei a questioná-la:
— Um juiz ou um desembargador? — questionei
sentindo a pele do meu rosto queimar de ódio.
— Um gato para ser mais honesta com você —
disse com a maior naturalidade do mundo.
Troquei o peso de uma perna para outra e estufei o
peito inalando o ar com gana e antes que eu viesse a falar
novamente, ela explicou:
— Ela sempre leva o gato dela para passear pelo
jardim de madrugada, eu não entendo bem os horários da
minha filha, mas, enfim... — deu de ombros. — Siga reto
pelo caminho de pedras e certamente irá encontrá-la
caminhando por entre as árvores ou sentada em algum dos
bancos.
Ergui as sobrancelhas e questionei-a incerto:
— Ela tem um gato que se chama Meritíssimo? —
tive que perguntar.
— Sim, ela tem.
Sorri ao constatar que deixei meu coração se
corroer por ciúmes de um gato.
— Vou procurá-la. Boa noite, dona Helena.
— Boa noite, Doutor Davi.
— A propósito — virei-me novamente em direção a
porta. — Como está o Doutor Luiz?
— Ele está bem na medida do possível, obrigada
por perguntar querido.
— Gostaria de visitá-lo qualquer dia desses, se me
permitir.
A mãe de Donna abriu um belo sorriso, era uma
mulher muito bonita.
—A qualquer hora, não vai correr o risco de não o
encontrar — respondeu-me, e apenas assenti e virei-me
novamente em direção a saída.
Saí pela mesma porta que havia acabado de entrar,
enfiei minhas mãos nos bolsos da calça e constatei que
não tirei o maço de cigarros do bolso, até nisso Donna me
fez perder a razão, pois acabei pedindo a um dos meus
seguranças para comprar cigarros. Elisa me fez parar de
fumar e Donna me fez voltar, tamanho a ansiedade que me
atordoou depois da última vez que nos falamos.
Caminhei pelo caminho de pedras como indicou-me
dona Helena, à noite estava fresca e muito me agradou e
acalmou os passos que dei entre o jardim enquanto meus
olhos buscavam aflitos por Donna, e foi sentada em cima
de um banco de madeira escura, com os pés em cima do
mesmo, com ela segurando seus joelhos que a vi. O gato
cinza estava deitado logo embaixo.
— Oi! — falei assim que me aproximei.
Donna se assustou e baixou rapidamente as pernas
e se levantou, estava linda usando um pijama onde a calça
rosa mais clara estava pintada de bolinhas rosa mais
escuro e a camiseta que usava era apenas na cor rosa.
Sorri e mordi meu lábio ao vê-la vestida de uma
forma tão inocente com os pés enfiados em uma pantufa
delicada.
Seus olhos se arregalaram ao me ver.
— O Rolex em seu pulso serve apenas de enfeite?
— questionou-me com acidez nas palavras e percebi que
ela ainda estava chateada.
Dei um passo em sua direção e ela deu um se
afastando e mantendo distância.
— Donna, o que está havendo? Estou até agora
sem entender direito seu telefonema e sua indiferença para
comigo durante o dia.
— Não estou pronta para você, não sou lapidada o
bastante — respondeu rancorosa ao cruzar os braços para
que eu não a tocasse.
— Do que está falando? Você não é um diamante
bruto que precisa ser lapidado, para mim você é um botão
de rosas lindo e delicado, já te falei isso.
— Você vai descobrir que essa baunilha aqui nunca
vai conseguir te dar o que você deseja, nunca vou
conseguir se entregar de verdade. Segundo as palavras de
Rew, não sou e nem jamais vou ser uma submissa, o mais
próximo de submissão que vou chegar é somente para te
agradar, e isso, meu querido, eu sei que você não quer.
Donna repetiu as palavras de Rew usando-as em
primeira pessoa para tacar na minha cara que havia
escutado toda a nossa conversa.
— Donna! — dei outro passo em direção a ela que
estendeu os braços empurrando-me com a mão em meu
tórax e foi dizendo:
— Não me toque, não quero você me tocando hoje
como tocou nela.
— Aquilo foi...
— Tesão? Você estava quase comendo ela, e nem
se deu o trabalho de terminar de fechar a porta.
— Pare de besteira, eu não estava quase comendo
ninguém, eu já estava satisfeito, você foi perfeita durante o
almoço, me enlouqueceu de tesão, por que diabos eu iria
querer comer a Rew?
— Porque ela pode suprir suas necessidades, eu
não.
— Você suprimiu minhas necessidades hoje de uma
forma surpreendente — revidei. — Você foi maravilhosa.
— Você precisa dominar, e eu não sei se quero ser
dominada.
— Donna, pare de repetir as palavras da Rew,
esqueça aquela mulher, não a deixe te envenenar — pedi
tentando me aproximar dela que a todo instante se
afastava de mim.
— Ela tem razão em tudo que disse, Davi, eu jamais
vou conseguir ser o que você precisa.
— Eu preciso de você, e isso eu já tenho.
— Não sou o que você anseia, não sou a mulher
certa para você e nem você é o homem certo para mim.
Gargalhei de nervoso ao ouvir aquelas tolices e
questionei-a:
— Quem é o homem certo para você? Bruno? —
gargalhei novamente.
Donna se abraçou em seus próprios braços
respondendo-me:
— Não sei, quem sabe.
De uma forma abrupta, segurei nas laterais de seus
braços questionando-a com firmeza:
— O que está dizendo?
— Estou dizendo que sou uma mulher normal,
Bruno é um cara normal.
— Donna, você é tudo que eu quero ter, e eu sou
um cara normal, você apenas não se permitiu ver isso
ainda porque está com medo, mas eu não vou te
machucar, não vou além do que me permitir ir.
O vento soprou ardiloso mexendo as folhas levando
a atenção de Donna para as árvores.
— Você não é um cara normal — afirmou rude.
Meus dedos relaxaram e saíram lentamente de cima
da pele macia dela, então me afastei dizendo:
— Tem razão, eu sou um monstro porque sou um
animal dominante, porque sou controlador possessivo e
protetor.
— Não foi isso que falei — justificou e me deu as
costas feito uma criança birrenta.
— Olha Donna, eu já me cansei de repetir sempre
as mesmas coisas, posso até não ser o cara certo para
você, talvez não seja mesmo, mas eu sou o cara que você
quer, e sou o cara que quer você mais que tudo — pausei e
girei meu corpo em sua direção. — Agora, se você acha
que minha personalidade é conflitante demais para você
aguentar, fique com o Bruno, ele é um bom moço, é o cara
que nunca vai querer te punir, que vai fazer amor com você
todos os dias da semana pelo resto das suas vidas, mas
ele também é o cara que vai te virar de costas e te comer
sem te olhar nos olhos, sem demostrar satisfação e sem te
dar nenhuma recompensa por se virar para ele quando ele
bem desejar.
Donna voltou a me encarar e disse raivosa:
— Do que você está falando? O que você entende
de relacionamentos normais?
— É assim que acontece quando os casais normais
caem na rotina, se duvidar ele nem vai te beijar durante
uma foda ou quando sair para trabalhar.
— Pare de falar comigo assim! — ralhou afastando-
se de mim.
— Se é um cara normal que você quer, fique com o
Bruno. — Donna nada respondeu, continuou me dando as
costas, aproximei-me dela e sem tocá-la me encostei nela
o bastante para sentir seu cheiro elegante e audacioso.
Fechei meus olhos em suas costas e aspirei o cheiro
do perfume que ela estava usando, e me deixei perder nas
notas que muito me lembraram uma mistura intrigante de
café e chocolate, aquilo me desestruturou, me excitou,
então falei:
— Seu cheiro é muito bom, mexe comigo de uma
forma visceral.
Donna inalou o ar profundamente erguendo os
ombros sem emitir nenhuma palavra, voltei a falar
sussurrando em seu ouvido afastando o cabelo sedoso que
caía em suas costas:
— Você gosta do meu jeito, gosta do meu toque
forte e manso ao mesmo tempo.
— Davi, não! — reclamou mexendo os ombros
tentando se livrar do meu toque.
— Você gosta de ser dominada, gosta do meu jeito
autoritário, do contrário, teria fugido de mim assim que lhe
contei que era um dominador nato, mas você não fugiu,
você sabia como seriam as coisas, ansiou e aceitou as
condições, você gosta de me sentir forte dentro de você,
gosta da pegada mais forte, não negue, e gosta até da dor
que lhe provoco para lhe castigar e dar prazer.
Deslizei meus dedos em seus braços e senti os
pelos eriçados em sua pele aveludada.
— Eu sou o cara que te provoca desejo, não fosse
isso, você já teria fugido de mim, agora, se mesmo
sentindo tesão quando eu te toco, você ainda acha que não
sou o cara para você, então fique com o Bruno, vá ao
parque com ele amanhã e esqueça que me conheceu.
— Teria chamado você para ir comigo, mas não
podemos, não é mesmo?
— Não podemos — confirmei. — Mas apenas
porque sua segurança vem em primeiro lugar para mim. Lá
fora tem um filho da puta que me odeia e que não pensaria
duas vezes em fazer com você o mesmo que fez com a
Elisa — fechei meus olhos e juntei meus dedos em uma
mecha dos cabelos dela e continuei falando. — Eu daria
qualquer coisa para poder estar com você em público, eu
adoraria ostentar a mulher maravilhosa que é minha.
— Isso nunca vai acontecer, não é? — questionou
lamentando.
Afastei-me dela e enfiei as mãos em meus bolsos
respondendo-a incerto:
— Não sei, mas poderíamos fazer isso e correr o
risco tirando de vez toda a sua liberdade. Donna, entenda
que só faço isso para seu bem-estar.
Donna se virou em minha direção, seus olhos
brilhavam em meio a quase escuridão que nos circundava
no jardim que tinha pouca iluminação.
— Eu sei de tudo isso, acontece que...
Ela estava linda demais, a boca e os lábios
volumosos me convidavam e não consegui esperá-la
terminar a frase, pois de uma forma abrupta a puxei em
meus braços e a beijei com força, com desejo avassalador.
Donna gemeu em minha boca e senti a rigidez de seu
corpo contra o meu enquanto ela tentava resistir e ser forte.
Seu cheiro, seu gosto me atingiram como uma onda forte e
bruta, e assim, meus braços a cercavam trazendo-a para
mim enquanto meus lábios a devoravam em uma fome
aflitiva. Mordi seu lábio inferior e ela ofegou se entregando
e abrindo a boca dando acesso à minha língua que se
afundou em sua boca e a tomou em um beijo quente e
cheio de sentimentos que se afloravam mais e mais a cada
toque com a necessidade urgente nos castigando. Meus
dedos seguravam em sua face tomando-a para mim, com
urgência, como se o mundo fosse deixar de existir.
— Eu voltaria atrás se pudesse — falei com meus
lábios trêmulos grudados aos dela. — Não te colocaria na
minha vida, mas agora é tarde demais para isso, eu quero
muito você, Donna, eu te quis assim que bati meus olhos
em você.
Suas mãos estavam firmes em meus músculos
tensos e quase sem ar ela disse:
— Você me tem, Davi! — respondeu-me com seus
lábios grudados aos meus em meio a suspiros e uma
respiração turbulenta. — Mas não vou deixar você me
manipular como se eu fosse uma marionete.
Meu mundo desabou assim que a palavra “mas”
saiu dos lábios dela com uma frase que me fizera afastá-la
delicadamente do meu corpo. Meus punhos se fecharam
frustrados visto que aquelas palavras significavam que ela
ainda não era minha, embora dissesse o contrário.
— Não posso permitir que me afaste do Bruno, ele é
e sempre foi um pilar para mim, compreende?
— Vai insistir com isso? — questionei entredentes
girando e sorrindo ironicamente.
— Sim, eu não vou abrir mão da minha amizade
com ele.
— Saiba que isso é uma escolha sua, Donna, e que
eu mudei coisas na minha vida para me moldar a você.
— Que coisas? Do que está falando?
— Rew não era minha única submissa, nunca fui
homem de uma só mulher, e por você, eu abri mão disso,
coloquei um fim em outros relacionamentos avulsos para
ser só seu, para me dedicar a você, cuidar de você,
protegê-la e moldá-la à minha maneira. Não pense que foi
fácil, pois não foi, e você não consegue abrir mão da merda
de um cara que te ama e que te olha com desejo
estampado e escancarado em seus olhos. Aquele filho da
puta te fode com o olhar e só você não percebe.
— Eu sei por que não me quer perto do Bruno.
Bufei nervoso e apenas esperei pela explanação
dela.
— Está inseguro. Você sabe que Bruno pode me dar
o que você se nega, e tem medo de que eu busque nele o
que quero de você.
Aquelas palavras me ofenderam violentamente,
senti o ódio flamejar e pulsar como um trem desgovernado
em minha garganta e então rosnei as palavras ao
respondê-la com veemência:
— Porraaaa! — gritei nervoso. — Você não sabe o
que está dizendo, não existe nenhuma insegurança em
mim, não temo perdê-la para ele, pois sua alma já é minha,
não negue, e escute o que vou te falar agora Donatella,
pois essa vai ser a última vez. Não vou mudar, eu sou o
que sou e se não sou o que te agrada corra logo para os
braços seguros e confortáveis do Bruno. Não vendi produto
falso e quebrado para você, eu me mostrei de corpo e alma
desde o início, fui transparente, não te enganei em nenhum
momento.
— Davi! — balbuciou tentando falar, mas não lhe dei
espaço e assim continuei falando furioso:
— Essa foi a última vez que vim atrás de você, não
espere ver isso acontecendo novamente, e se não sou o
cara certo para você, se joga logo nos braços do seu
amigo, mas saiba, essa é uma escolha sem volta.
Donna entreabriu os lábios esboçando uma
resposta, porém, encolheu-se e se calou.
Fortemente irritado, enfiei a mão no bolso e tirei de
lá os cigarros e acendi um levando-o em meus lábios
enquanto Donna observava perplexa, a expressão em seu
rosto era de decepção.
— Tem uma pista de corrida na minha casa, envolta
do meu campo de futebol — avisei-a.
— Desde quando você fuma? — questionou-me de
braços cruzados e olhos semicerrados ignorando a
informação que passei sobre a pista de corrida.
— Desde que você resolveu me enlouquecer —
respondi dando-lhe as costas e afastando-me rumo ao
caminho de pedras após uma tragada generosa na
porcaria do cigarro, e aquilo me devolveu a calmaria como
se a nicotina entrasse na minha corrente sanguínea e me
desse doses de calmante ao massagear meu sistema
nervoso.
— Eu odeio cigarros! — Donna ralhou gritando.
— Esteja pronta às seis da manhã — falei em um
tom mais alto e presunçoso.
— Vai se ferrar, Vossa Excelência! — gritou me
provocando.
Meus pés cravaram no chão como se uma tonelada
de concreto tivesse caído sobre eles, assim fechei os
olhos, levei novamente o cigarro em meus lábios e puxei a
fumaça com gana enchendo meus pulmões daquela droga
e, logo em seguida, joguei e amassei o objeto branco,
comprido e fino embaixo da sola do meu sapato
respondendo-a:
— Vou me lembrar da sua malcriação — falei e saí
sorrindo cruzando o belo jardim em direção ao BMW preto
que me esperava do outro lado da rua em frente à casa
dela.
Donna era como uma droga estimulante que me
viciou e que me levava ao êxtase entorpecendo-me e me
fazendo perder o sono. Ela consegue me deixar agitado e
faz meu corpo tremular ao seu contato. Donna é meu vício
e eu precisava dela intoxicando minha vida.
Na manhã seguinte, acordei próximo das cinco e
trinta, tomei um banho, vesti roupas leves para treinar com
a Donna assim que ela chegasse, short preto, camiseta
regata branca e tênis nos pés. Estava na mesa tomando
meu café quando Jonas, meu segurança e motorista,
adentrou na cozinha e me informou:
— Senhor! A senhorita Donatella não estava em
casa. Sua mãe me informou que ela saiu mais cedo e que
foi ao Parque.
O pedaço do croissant que eu estava mastigando
parou em minha garganta e se recusou a descer. Donna
havia feito uma escolha, e ao que me parece não fui o
escolhido, assim peguei o pano de boca ao lado e limpei
minha boca, com um gosto amargo me sentindo um
derrotado e experimentando mais um sentimento novo.
XXXVI
O chão foi tirado dos meus pés, o silêncio que se
formou em minha mente era perturbador, não me recordo
de ter tido meus pensamentos silenciados por causa de
uma mulher antes.
Com os cotovelos em cima da mesa e os dedos
intercalados, senti o peso do fracasso recair em minhas
costas, e ali comecei a reorganizar minhas ideias em busca
do próximo passo e me deparei com uma guerra interna
onde meu coração gritava estridente e sua pulsação batia
enérgica contra meus tímpanos, enquanto que minha razão
sussurrava lenta e sem vigor, e mesmo assim, eu não
seguiria os comandos do meu coração que exigia que eu
fosse até o parque e a tomasse em minhas mãos, contudo,
a razão continuava soprando tranquila ao me fazer
entender que se Donna pertencesse a mim de verdade,
que se fosse mesmo minha, ela voltaria, mesmo que o
caminho fosse longo e lento.
Dei o último gole em meu suco de laranja e me
levantei da mesa me sentindo pesado, me sentindo preso
em uma tempestade de areia que me empurrava para trás
com força quando tudo o que eu queria era caminhar
adiante.
— Deseja algo mais Dr. Davi? — questionou-me
Vera que estava parada a meu lado e eu nem havia me
dado conta de sua presença.
— Ah! Não, muito obrigado, pode retirar a mesa.
— Mas, senhor...
Eu a interrompi de forma enérgica, pois eu sabia as
ordens que dei a ela anteriormente, que era preparar um
café reforçado porque Donna estaria fazendo seu desjejum
ali comigo.
— Tire a mesa, Vera! Ninguém mais vai tomar café
hoje.
— Sim, senhor! — respondeu prontamente.
Caminhei rumo as escadas que me levariam ao meu
quarto, minhas pernas pesavam uma tonelada e mesmo
assim, eu as obriguei subirem, eu não podia me deixar
abater como um nelore só porque Donna fizera sua
escolha, pois escolhas são escolhas, e ela teve a liberdade
para fazer a dela e fez como melhor achou.
Sem motivação para ir correr, decidi que iria me
afundar no trabalho, tinha uma pilha enorme de papéis do
novo processo que iria julgar para serem analisados e
estudados com cuidado, afinal de contas trata-se de um
caso midiático e o Brasil todo estaria em meus
calcanhares.
Assim que entrei em meu quarto para retirar os tênis
e me trocar, bati os olhos em cima da minha cama que se
encontrava bagunçada, e nela havia uma peça única de
roupa feminina estendida, era um macacão longo em um
tom de rosa muito discreto e havia também um salto agulha
nude e uma bolsa feminina da mesma cor do sapato.
— Porra, Rew! Você não entendeu ainda? —
questionei nervoso.
Curioso, peguei a nécessaire que também estava
em cima da cama e a abri deparando-me com vários
produtos da linha Cherry Blossom, da L’Occitane e havia
desde sabonete líquido, a xampus e hidrantes corporais,
todos eles com o inigualável perfume de Flores de
Cerejeiras.
Sorri ao me lembrar do dia que senti aquele cheiro
nos cabelos de Donna pela primeira vez e tive meus
instintos aflorados naquele momento a ponto de se ter as
palpitações do meu coração acelerando voraz.
— Donna! — chamei. — Donna está aqui? — girei
meu corpo a procura dela dentro do meu quarto e saí
procurando-a no banheiro, closet, escritório, e nada dela.
— Que brincadeira é essa? — questionei-me sem ter mais
onde procurá-la, então fui em direção a uma das janelas e
abri o blindex buscando a imagem do campo de futebol, e
por fim, da pista de corrida que o circundava com 340 m de
circuito e piso emborrachado, e era ali que eu corria todas
as manhãs já que eu não tinha outra alternativa a não ser
me fechar dentro dos muros que a vida construiu ao meu
redor.
Varri a pista com meus olhos e aspirei o ar fresco
enchendo meus pulmões de alívio ao avistá-la parada na
pista com a cabeça virada para trás enquanto bebia algo
de uma garrafinha.
Estufei o peito e sorri sem conseguir conter a
satisfação que foi vê-la em minha casa e não no Parque ao
lado de Bruno.
Virei-me rapidamente e desci as escadas pulando os
degraus engolindo-os de dois em dois e fui até a cozinha
onde Vera já se encontrava ajudando a Lu a tirar a mesa
do café da manhã.
— Por que não me disse que ela estava aqui? —
questionei encarando a Vera.
— Eu tentei dizer, senhor!
— Ótimo, não tire a mesa do café — ordenei afoito.
Ela sorriu e assentiu.
Cruzei o jardim rapidamente e desci alguns lances
de escada indo em direção a pista.
A brisa da manhã, o som dos pássaros e os
primeiros raios de sol eram testemunhas do tamanho da
minha euforia, então quando coloquei meus pés na pista
com listras vermelhas passei a caminhar lentamente em
direção a Donna que vinha correndo em minha direção
alguns metros na frente e assim que a distância de nossos
corpos sumiu, Donna disse-me como se não tivéssemos
tido uma discussão na noite anterior:
— Uau! Por que não me disse antes que tinha...
Sem permitir que ela terminasse de falar, levei
minha mão direita em seu rosto e nuca e a trouxe para
minha boca puxando-a pela cintura com a mão livre.
Donna me fez feliz aquela manhã como nenhuma
mulher antes, e então, ela levou sua mão em meu rosto
correspondendo ao meu beijo quente de forma suplicante,
nossos lábios se buscavam, se exploravam como se
fizesse uma eternidade que não se encontravam, e dessa
forma, com o dia dando seus primeiros respiros fizemos o
tempo parar por alguns segundos, então, quando percebi
que deixei meu coração tomar as rédeas, eu a afastei
tirando meus lábios dos dela e falei:
— Obrigado.
— Pelo o quê?
— Por estar aqui, por confiar em mim.
— E onde mais eu estaria?
— No parque, com o Bruno.
Donna se afastou de mim e falou enquanto encarava
seus pés:
— Eu estive lá, precisava dizer ao Bruno
pessoalmente que para minha segurança, eu não podia
mais correr no parque.
— Qual foi a reação dele?
— Esqueça o Bruno, Davi, vamos treinar, afinal de
contas é por isso que estou aqui tão cedo.
— Qual foi a reação dele, Donatella? — refiz a
pergunta segurando em seu braço assim que ela ameaçou
dar um passo e se afastar.
— Ele ficou chateado, disse coisas...
— Que coisas? — insisti.
— Ele acha que não devo perder minha identidade
ao seu lado, acha que estou me precipitando ao cair de
cabeça nesse relacionamento, enfim, disse um monte de
coisas desse tipo.
Donna fez cara de preocupada, deu-me as costas e
se abaixou fingindo arrumar as meias erguendo-as até as
canelas.
— O que mais ele te disse? — incentivei-a.
Donna fez um silêncio preocupante e respondeu,
erguendo-se novamente, encarando-me com o olhar
revestido de névoas:
— Que corro risco de vida ficando ao seu lado e que
não vou suportar a intensidade de um relacionamento com
um homem como você.
Dei um passo à frente e a trouxe para o conforto de
meus braços, envolvendo-a em meu corpo, então
argumentei dizendo:
— Vou fazer tudo que for possível para protegê-la,
eu não queria que fosse assim, Donna, mas Bruno está em
parte certo, e é por isso, que precisamos ser prudentes
quanto a exposição. E quanto à minha personalidade, as
coisas são como são, e para ficar comigo você precisa ter
consciência que vai se confrontar com seus maiores medos
e só cabe a você escolher correr dessa intensidade ou lutar
contra seus medos para me pertencer de corpo e alma,
para ser minha, só minha.
Donna saiu dos meus braços, olhou para o chão e
disse:
— Quer me manter acorrentada em você? É isso?
— Não, não é isso. A liberdade e a escolha de uma
mulher virão sempre em primeiro lugar para mim, não a
quero acorrentada a mim, eu a quero caminhando do meu
lado de forma livre, porque você quer isso, porque você
deseja isso, deseja estar ao meu lado me servindo e me
agradando porque esse é seu desejo. Me fale, por que está
aqui agora?
Senti os dedos gelados de Donna em minha face e
as palavras saírem de seus lábios cheias de sentimentos
reais:
— Porque estou apaixonada, porque quero estar
perto de você, te sentindo, tocando e me entregando ao
seus e aos meus desejos e medos.
— Donna, não tenha medo, já te falei que não vou
machucá-la.
— Só me ame, e só me permita amá-lo.
— Submissão é ato de amor, Donna.
Donna bufou e disse-me mudando o rumo de nossa
conversa:
— Vossa Excelência, vai ou não correr comigo?
Afinal de contas é para isso que estou aqui.
Sorri e dei sinal com a cabeça indicando a pista, e
assim Donna saiu na frente correndo iniciando uma marcha
com passos curtos, e estava linda em um short saia branco
que deixava suas coxas torneadas e morenas à mostra,
enquanto o top vermelho a deixava incrivelmente sexy com
a barriga perfeitamente esculpida exposta aos meus olhos.
— E então, Meritíssimo, qual são os planos para
hoje? Teremos dor? — questionou sorrindo e corajosa
olhando-me de soslaio.
— Depende de você — respondi acompanhando-a
em seu ritmo lento.
— E o que tenho que fazer para fugir da fúria do
excelentíssimo dominador e desembargador Davi
Campos?
— Hoje será bem fácil, que tal a partir de agora
esquecer meu nome e os pronomes de tratamento e me
tratar apenas por Senhor?
Donna diminuiu a marcha e parou do meu lado,
questionando curiosa:
— O dia todo? Como uma boa e perfeita submissa
faria?
— Sim, o dia todo.
— Mas quase não nos vemos durante o dia, isso vai
ser bem fácil. — Olhou-me brincalhona.
— Não, isso vai ser bem difícil.
Donna gargalhou dizendo:
— Eu posso fazer isso, eu acho.
— Eu sei que pode, mas você quer fazer?
— Qual será o castigo, senhor?
— Vamos conhecer um lugar especial hoje à noite, e
a cada vez que me chamar pelo nome ou pelos
tratamentos formais durante o dia de hoje, será
acrescentado duas chibatadas a sua conta que se inicia
com cinco chibatadas.
Donna arregalou seus olhos e perguntou perplexa:
— Spanking?
Passei a língua sobre meu lábio inferior e sorri
sugestivo voltando a correr em sua frente, e assim ela
gritou:
— Volte aqui, Daviii!
— Agora são sete!
— Ah que merdaaaa! — ralhou ficando para trás.
XXXVII
Após uma noite mal dormida, envolta em névoas de
questionamentos, onde coloquei-me em confronto comigo
mesma a fim de entender meus sentimentos e até que
ponto tudo o que estava acontecendo na minha vida era
importante ou não, coloquei tudo na balança e decidi que
não iria perder e nem dar o homem por quem eu estava
perdidamente apaixonada de bandeja para Rew. Na
verdade, entregá-lo a ela não foi o que pesou, e sim, ficar
sem o beijo que me enlouquece, o cheiro másculo e viril, o
toque forte e a forma com que ele me olha e fala com seu
tom autoritário e presunçoso, foi que me fez acordar, ir ao
Parque e dizer na cara do meu melhor amigo que não ia
mais correr com ele aquele dia e nem nos próximos dias.
Eu não sabia até então, mas tudo em Davi mexia comigo
de uma forma monstruosa, eu não imaginava que podia
gostar muito da forma que ele me trata, e seu jeito estava
me desmontando como peças de Lego.
Eu assumo, estou intoxicada, viciada e não sei mais
como ficar sem aquele homem, simplesmente a dor de
pensar em ficar sem ele ultrapassa barreiras que jamais
permitiria e chega a ser física.
Ele é meu, só não sabe disso ainda.
Desarmada, fiz exatamente o que ele me ordenou
na noite anterior, “Esteja pronta às seis da manhã.” Quero
dizer, fiz mais ou menos como ele me pediu, apenas não
esperei pela carona e pedi um Uber, já que eu não podia
chegar em sua casa com meu próprio carro e blá, blá, blá.
Então o motorista do aplicativo estacionou próximo a
guarita e eu pedi permissão aos Federais para entrar na
casa e assim permitiram que o Uber me deixasse lá dentro.
Davi encontrava-se tomando seu café na cozinha
quando fui recebida por Vera, e a fim de surpreendê-lo fui
direto ao seu quarto e coloquei as roupas que usaria para
trabalhar em cima de sua cama.
Davi me surpreendeu com sua cara de espanto ao
me ver na pista, eu posso até jurar que senti uma pitada de
alívio em seus olhos e expressão facial, ele não era tão frio
quanto eu pensava que fosse e como ele queria que eu
pensasse que fosse. Ok, ele ainda é um bloco de gelo que
queima ardentemente, mas ainda vou derreter cada
camada dele a ponto de fazer aquele homem me amar.
Estava indo tudo relativamente bem até eu abrir a
boca enorme e questionar:
— E então, Meritíssimo, qual são os planos para
hoje? Teremos dor?
Deus! Onde é que eu estava com a cabeça quando
fiz essa maldita pergunta para um dominador? Será que
ele não entende uma brincadeira? Ele precisava levar tão a
sério? O fato é que ele me avisou que minha malcriação da
noite anterior não passaria em branco, e como eu estava
depois de ele ter me dito que iríamos jogar durante o dia
todo? Estou uma pilha de nervos, com os pés doendo
depois dele me fazer correr dez voltas, com ele envolta do
campo de futebol e tendo que dizer “Sim, senhor” a cada
pergunta que ele me fazia propositalmente a fim de me
fazer soletrar as benditas palavras.
Após corrermos juntos, achei que tomaríamos um
banho delicioso juntos, cheguei até imaginar que
selaríamos o início daquela manhã com nossos corpos
unidos em um só, mas para minha surpresa, eu tomei
banho sozinha e ainda terminei tomando meu café da
manhã sozinha também na cozinha. Davi era uma
incógnita deliciosa que eu iria destrinchar como se faz com
as equações matemáticas.
No jardim, próximo da guarita, encontrei-me com
Davi novamente, e ele estava irritantemente lindo trajando
um terno de três peças preto, milimetricamente moldado e
alinhado em seu corpo, a camisa branca por baixo
sustentava uma gravata preta em seu colarinho, e tanto
alinhamento se completou com seus cabelos molhados e
penteados para trás.
Davi se aproximou de mim com toda sua opulência,
seus ombros pareciam ainda mais largos naqueles trajes.
Senti meu ar se esvair de meus pulmões quando ele
encostou seu rosto no meu e disse encostando a boca em
minha orelha ao inalar os fios do meu cabelo:
— Gosto desse cheiro, quero senti-lo em seus
cabelos molhados hoje à noite.
Fechei meus olhos segurando em seu paletó. E
pensar na iminência da noite, meu corpo tremulou em
ansiedade, e olha que o dia só estava começando.
— Sim, senhor! — sussurrei.
Davi me olhou com olhos divertidos, então disse-me
ao entregar a mim as chaves de um BWM preto, blindado e
com películas escuras, exatamente como os que eram
usados por ele.
— Esse é seu, vai poder entrar e sair da minha casa
sem levantar suspeitas, mas tem um porém, você não pode
chegar no trabalho com esse carro, e por isso, terá que
passar em casa e trocar pelo seu. Entendeu?
Estava vendo que todas as frases de Davi dirigidas
a mim naquele dia terminariam com uma pergunta que
obrigatoriamente me levariam a um “Sim, senhor”, e assim
como eu ainda estava naquele clima, eu o respondi como
era devido mais uma vez.
Por sorte não morávamos muito longe um do outro,
e com o trânsito razoavelmente bom, passei em casa e fiz
a troca dos carros, esse era o preço que eu teria que pagar
se quisesse estar com aquele homem sem correr nenhum
perigo.
Assim que cheguei na porta do elevador da
Dalvinha, ela foi logo soltando as pérolas:
— Humm! Donninha está vestida para matar o
senhor GG.
Olhei ao meu redor para verificar se mais ninguém
tinha escutado aquela barbaridade e sussurrei:
— Pelo amor de Deus, Dalvinha, pare de falar disso
criatura.
Ela ajeitou os óculos, e fez um bico cruzando os
braços:
— Foi você que disse que ele é grande, grande.
— Será que você pode ser menos inconveniente?
— Bom dia, Dr. Davi — disse Dalvinha ignorando
minha pergunta e olhando além de mim, e nem precisei me
virar para sentir a presença dele, pois seu cheiro
envolvente, cítrico e picante que expressava facilmente o
lado viril daquele homem, único e expressivo, chegou em
meu olfato antes de sua imagem.
— Como vai Dalvinha? Tudo GG? — Ele perguntou
a ela.
Meu corpo travou, os músculos do meu rosto
ficaram tensos e me senti uma boneca de cera queimando
em chamas, pois senti a pele do meu rosto esquentar.
— Tudo GG, Doutor. — Ela o respondeu com a
maior espontaneidade, e minha vontade foi de estrangulá-
la até a morte, nunca antes a vontade de matar alguém foi
tão perturbadora em mim.
— Você está bem senhorita Donatella? — Ele se
dirigiu a mim com mais uma pergunta que direcionava
obrigatoriamente a resposta para um sim ou não seguidas
do tratamento que a mim havia sido proibido de usar por
ele como parte de uma manipulação mental, e assim as
palavras pularam da minha garganta de forma automática e
natural sem que eu me desse conta:
— Sim, Meritíssimo! Obrigada. — Quando ouvi as
palavras que saíram de minha boca, eu o olhei, tensa,
aflita, e não bastou nenhuma palavra, mas o divertimento
em sua face falou tudo, arrepiando os pelos em minha
nuca enquanto o vi se afastar e desaparecer no longo
corredor que o levaria até a sala de becas.
Nove! O dia mal começou e eu ganharia nove
chicotadas assim que o Sol desse lugar a Lua, e eu nunca
antes rezei tanto para que o dia fosse longo e duradouro.
Tudo aquilo não passava de uma manipulação
mental, e a expectativa só crescia em mim durante o dia, e
assim por duas vezes que ele me ligou acabei por chamá-
lo de Davi, provocando-o e me divertindo com o fato de que
ele ficava muito irritado quando eu simplesmente o
desafiava sendo atrevida e sarcástica, pois já que eu
estava na chuva iria me molhar de verdade e testar meus
limites e os dele.
Pouco antes das três da tarde, caminhei com o
desembargador Afonso pelos corredores do Palácio da
Justiça, a austeridade do lugar lembrava-me um convento,
e eu amava demais a imponência do meu ambiente de
trabalho que a muito me remetia aos salões isolados e
cheios de homens togados decidindo pelo futuro de muitos.
A iluminação anêmica, cuja só é quebrada vez ou outra
pela claridade filtrada pelos vitrais e o silêncio que é só
quebrado por passos e cochichos, é uma marca quase
registrada do ambiente, e a rusticidade nos remetem a
força e a densidade do que é estar trabalhando ao lado de
homens e mulheres que tem o poder em suas mãos, eram
quase como deuses.
Assim que cheguei com o desembargador Afonso a
uma das salas de reunião que estava sendo usado para ler
e estudar minuciosamente o processo do Juiz Medeiros,
bati meus olhos na mesa clássica oval de madeira escura e
constatei que Davi ainda não estava presente, e nem a
doutora Rew, que para minha satisfação não estaria
conosco aquela tarde. Mal tive tempo de me sentar, Davi
entrou pela porta trazendo consigo seu cheiro maravilhoso,
recendendo o ambiente, e assim saiu cumprimentando
todos os homens presentes naquela sala, e notei que
Bruno não o acompanhou aquela tarde, o que me chamou
a atenção e me encheu de questionamentos internos.
Para meu desespero, Davi dirigiu-se até mim,
dizendo:
— Senhorita Donatella!
Eu não tinha outra alternativa a não ser fazer uso do
eventual tratamento de que estávamos acostumados a dar
aos desembargadores, e assim falei quase que em um
sussurro, sem olhar diretamente em seus olhos:
— Meritíssimo!
Davi não esboçou nenhuma reação, e logo que se
sentou em sua cadeira, lançou-me um olhar e um sorriso
contido que me deixaram derretida.
Ele estava se divertindo com a situação.
Enquanto os desembargadores, dois deles entraram
em uma pequena contenda sobre assuntos de futebol, riam
e se afrontavam descontraídos, abri meu notebook e enviei
uma mensagem a Davi dizendo:
Está manipulando o jogo o dia todo, isso não é
justo.
Davi tirou os olhos da tela de seu notebook e deu
uma quebrada de pescoço estreitando o olhar para mim, e
começou a digitar o que supus ser uma resposta e, logo
em seguida, eu a recebi:
Eu te disse que não seria fácil.
Olhei para ele e o mesmo piscou cínico para mim,
então digitei novamente e enviei.
Você esteve em vários lugares onde estive hoje e
fez de propósito a fim de me fazer cair em erros.
A resposta chegou rápida:
Não seria um jogo honesto, sem um confronto,
além do mais, você está sendo muito inflexível, relaxe.
Retruquei de imediato:
Relaxar? Porque não é sua bunda que irá
queimar.
Olhei por cima da tela do meu computador e vi a
reação prazerosa estampada na cara dele e, logo em
seguida, ele me respondeu novamente:
Você não se esforçou nem um pouco para
amenizar as coisas para você.
Digitei novamente, o que para mim seria a última
mensagem:
Acha mesmo que vou gostar de ser espancada
por você, MEU SENHOR?
Davi abaixou seus óculos e olhou-me e voltou a
digitar:
Só vai saber se experimentar, você decide se
quer ou não ir até o fim do jogo.
PS: Não tome nada alcoólico.
Não resisti e mandei a pergunta:
Nem suco de maracujá?
Davi gargalhou deliciosamente no meio de todos, e
assim que todos os olhares recaíram sobre ele, tratou de
dizer:
— Perdão, senhores!
Então digitou suas últimas palavras antes da reunião
começar:
Você é uma Brat deliciosa.
A verdade é que eu realmente iria precisar de muito
suco de maracujá se quisesse manter a calma e enfrentar
as mãos pesadas daquele homem enorme, e por mais que
eu tenha tentado me mostrar leve e tranquila sobre toda
aquela coisa de me deixar manipular, eu estava apreensiva
e ansiosa pelas 15 chibatadas que me aguardavam, dentre
4 delas apenas por desafiá-lo propositalmente, e me
divertir com a situação já que não tinha outra opção.
Enfim à noite chegou, e chegou mais rápida do
nunca em toda à minha vida, e junto com ela a expectativa
do iminente castigo que colaria fogo no parquinho,
literalmente quente.
XXXVIII
As horas não passavam dentro da sala de aula na
faculdade, eu estava angustiada e sem conseguir me
concentrar durante uma aula de hermenêutica jurídica,
juntei minhas coisas e saí da sala sem pensar duas vezes.
Em casa, tomei um banho demorado, lavei meus
cabelos com meus produtos preferidos de flores de
cerejeiras, eu amava demais aquele aroma, e pelo visto
Davi também gostava, e enquanto a água caía sobre mim,
eu sentia como se um peso enorme estivesse me
acariciando em uma massagem preparatória para o que
me esperava aquela noite, e então, depois de minutos
criando coragem embaixo do chuveiro minha mente
martelou alertando-me:
Davi está te esperando.
Eu tinha que ser corajosa, precisava encarar de uma
vez por todas meus medos e aquele homem, que me
desmontava até em meros e ligeiros pensamentos. Já
havia passado horas embaixo de um açoite particular,
minha mente criou e recriou dezenas de cenas possíveis, e
dentre elas tinha um bendito quarto vermelho, sinistro,
cheio de apetrechos de tortura e tudo o mais que andei
vendo em minhas pesquisas, e eu estava em literalmente
pânico, sem saber como iria reagir a tal quarto de jogos.
Faltando pouco para às dez da noite, aspirei o ar
gelado enquanto olhava para a linda mansão branca e
suas gigantescas colunas Jônicas da casa de Davi, a
opulência daquele lugar condizia perfeitamente com o
dono. Naquela noite o vento soprava gelado balançando as
árvores que circundavam o perímetro, e as folhas
choravam em um farfalhar sinistro, então criei coragem e
abri a porta enorme de madeira, conforme Davi havia me
instruído em uma mensagem que deixou em meu celular e
que dizia:
Entre! Tire os sapatos ao cruzar a porta de
entrada e encontre-me, mas saiba, me achar pode ser
bem doloroso.
Assim que fechei a porta, o silêncio da casa me
assolou. Pelo visto não tinha ninguém além de Davi, e
assim, abaixei-me rente ao chão, sorri com o coração
palpitando em êxtase ao ver que ele havia deixando um
caminho de pétalas brancas que levava as escadas, então
entendi o porquê de tirar os sapatos, ele queria que eu
pisasse sobre as pétalas, e dessa forma fiz, tirei meus
saltos, mas assim que pisei, senti uma leve fisgada
incômoda que fez-me entender o final da frase que recebi
na mensagem.
Me achar pode ser doloroso.
Literalmente doloroso, pois em meio as pétalas
havia alguns espinhos espalhados e eu tinha certeza de
que era um teste para me fazer desistir, então segui
caminhando sobre o caminho de pétalas e espinhos, passo
por passo, longo e temeroso caminho me aguardava
adiante e ele me levou até as escadas, cruzou todo o
corredor, inclusive, pela porta do quarto de Davi e seguiu
adiante até o fim do corredor. Não havia muitos espinhos,
as pétalas eram macias e senti uma ou outra fisgadinha
apenas, ele tentou me induzir a desistir me fazendo
acreditar que chegaria até ele com os pés parecendo um
ouriço.
Assim que finalmente consegui chegar diante da
porta que eu deveria abrir, suspirei sentindo uma
trepidação em meu coração que podia ser ouvida em meus
tímpanos, engoli a saliva que juntou em minha boca, e levei
minha mão na maçaneta tendo plena consciência que
assim que cruzasse aquela porta não teria mais volta, e de
todas as incertezas que me chicotearam durante horas em
uma espera angustiante, eu tinha uma certeza, e fora ela
que me levará até ali, que me dera coragem para pisar nas
pétalas e seus espinhos, eu o queria, e como queria, e a
verdade ardente daquele fato me fez chegar até aquela
porta e ele estava do lado de dentro.
— Coragem, Donatella! Você consegue — balbuciei
baixinho.
Quando meus dedos forçaram a maçaneta para
baixo, senti o calor de uma mão enorme em cima da minha
freando-me, impedindo-me de abrir, então senti a mão forte
dele me segurar pela cintura e me puxar para trás,
fazendo-me soltar a maçaneta. Davi encostou seu rosto em
meus cabelos úmidos, pois ainda estavam molhados, era
muito grosso e sem um secador levaria horas para secar
naturalmente, e sussurrou:
— Eu jurava que você não chegaria até aqui. —
Aspirou profundamente e soltou em seguida.
Meu corpo ficou rígido ao se moldar ao dele, minhas
pernas bambearam assim que seu cheiro me atingiu,
enchendo-me de volúpia e desejo.
— Eu estou aqui — murmurei ao sentir a tensão
daquele momento.
Meus olhos caíram aos seus pés, e ele também
estava descalço e havia caminhado pelas rosas e
espinhos, certamente que estava me seguindo e eu nem
percebi.
— Estava me observando o tempo todo?
— Estava atrás de ti.
Sorri sem acreditar que ele havia pisado nos
espinhos juntamente comigo.
— Você se feriu com os espinhos? — O tom da voz
daquele homem era um orgasmo a cada nota, ele sabia
como me seduzir, como me entorpecer.
— Vou sempre me ferir com os seus espinhos, Davi
— esclareci levando minha mão em cima da dele em meu
abdômen.
Ele me girou em sua direção, seu olhar era de um
predador voraz, tinha um brilho de contentamento naquele
oceano cinzento e ele questionou-me com as mãos
segurando meu rosto, afagando-me de forma gentil, com
os olhos fixos no meu:
— Está com medo?
Davi estava novamente vestido de preto, camisa
social com as mangas dobradas, calça preta, cinto preto e
usava um relógio desses enormes. Seus cabelos
novamente com a aparência molhada e notei que ele havia
aparado a barba.
Um deus, um demônio, eu não sabia mais como
decifrar, mas sabia que sua imagem me deixava
perdidamente perturbada.
Com a pergunta hesitei trêmula, não sabia se ainda
tinha que dizer “sim, senhor”, então na dúvida, eu o
respondi:
— Sim, meu senhor!
— Confie em mim.
Com a resposta satisfatória, Davi contornou meus
lábios com o polegar de uma forma nada gentil, ele usou
de uma força deliciosa, e eu gemi quando sua boca
encostou na minha, meus seios se alertaram
imediatamente quando senti o sabor daquele beijo, a força
daquelas mãos que me prendiam a ele enquanto seus
lábios devoravam os meus, mordendo-os, sugando-os
deliciosamente e sua língua me invadia violenta. Não
existia calmaria nos beijos daquele homem, ele tomava o
queria com energia, com uma voracidade monstruosa.
Ofeguei em seus lábios, e o calor percorreu meu
corpo, um fogo percorreu minha vagina, enchendo-me de
desejo.
— Ah, Deus! — Choraminguei com meus dedos
afundados em seus cabelos ao sentir a necessidade dos
músculos se apertarem no meio das minhas coxas, eu
estava entrando em um estado de excitação delicioso e até
me esqueci o porquê a sola dos meus pés ardiam naquele
momento enquanto eu estava pendurada naquele homem
me sustentando apenas na ponta dos dedos.
— Deus não vai te livrar do seu castigo — disse e
separou seus lábios dos meus bruscamente, me soltando,
me deixando mole e atordoada.
Davi ficou muito sério, a expressão em seu rosto
ficou dura, e mesmo com seus olhos faiscando de desejo,
ele disse de forma autoritária e rígida:
— Abra a porta do quarto!
Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram, então
eu o respondi, lembrando-me que ainda estávamos
jogando, apenas começando para ser mais exata:
— Sim, meu senhor! — Não queria ter nenhum
acréscimo em meu castigo.
Quando estendi meu braço e toquei na maçaneta da
porta, Davi me conteve novamente e murmurou lentamente
questionando em meu ouvido:
— Agora você sairá da sua zona de conforto e
entrando para a minha, está preparada?
Senti um gosto amargo na boca após a pergunta,
não sabia se estava ao certo preparada, mas assim mesmo
respondi nervosa com a mente entrando em colapso:
— Sim.
— Sim, o quê, Donna? — Exigiu em tom mais
ríspido.
— Sim, meu senhor!
— Quero que entenda, que atrás daquela porta tudo
será permitido, mas nada é obrigatório, e que tudo tem um
único foco, o prazer compartilhado, tudo precisa ser
prazeroso para mim e para você também, e se não for
assim, se não se sentir confortável, quero que pare tudo o
que estivermos fazendo a qualquer momento, entendeu?
— Entendi, senhor!
— Então, abra a porta!
XXXIX
Parei em frente ao meu destino, e naquele
momento, ele era nada além de uma porta que eu podia ou
não abrir, então olhei por cima dos meus ombros e encarei
a figura do homem lindo e enorme que certamente estaria
tão ansioso quanto eu, ou não, pois naquele momento seus
olhos cinzentos eram apenas dois blocos de gelo e não me
transmitiram nada, então seus lábios ordenaram em seu
mais absoluto modo dominador:
— Entre!
Davi não pedia, ele mandava, e nunca antes me
imaginei sendo mandada por um homem e o tom de voz
dele arrepiou cada pelo existente em meu corpo, e era
nada além de excitante.
Meu coração me atormentava irritante, eu queria
fazer com que parasse de me dizer que eu estava em
perigo, e eu ainda nem tinha entrado no bendito quarto.
— Vamos, Donna! — Davi incentivou-me, mas dessa
vez havia mais ternura em seu tom.
Arfei travada sem conseguir dar nem um passo à
frente, então senti uma das mãos de Davi segurar firme em
minha cintura e a outra passou por mim e abriu a bendita
porta dos tormentos, e com seu corpo atrás do meu, ele
deu um passo à frente, empurrando-me para dentro.
Assim que cruzamos a porta, o medo deu lugar a
surpresa, a luz ambiente era ténue, porém, aconchegante,
pois vinha de algumas velas espalhadas em pontos
estratégicos. O silêncio era inquietante, podíamos ouvir o
vento soprando do lado de fora e eu podia jurar que cairia
uma tempestade, o que deixava o clima ainda mais tenso,
pois as janelas estavam semiabertas e as cortinas brancas
estavam se mexendo inquietas.
Meus olhos analisaram o cômodo e a surpresa me
acometeu novamente, nada era vermelho, não se parecia
com uma masmorra e nem com nada que vi nos sites que
revirei atrás de informações, na verdade, era tão vazio que
não foi difícil identificar os únicos objetos ali presente. No
centro do cômodo espaçoso havia duas hastes paralelas
de madeira escura com amarras, do que imaginei ser de
cetim branco, ali, meus olhos se fixaram e meus pés
caminharam lentamente rumo as hastes. Assim que me
aproximei, eu as circulei curiosa e fui tocando-as
lentamente sem emitir nenhum som dos meus lábios.
No quarto havia também um móvel que de início não
soube identificar, parecia com uma cama ou sofá, era
branco com detalhes em vermelho, alto, com cabeceiras
dos dois lados altas e curvadas e era toda revestida de
metais e incrustrada com algum tipo de marfim
ornamentada com anjos. Embaixo do móvel luxuoso e
maciço havia um apoio para os pés de igual delicadeza.
Não entendia muito, mas era uma peça grega barroca ou
renascentista.
Davi me observava com seus olhos cinzas e
gelados, misteriosos e desafiadores, me rondando como
um animal voraz à espreita de sua caça.
Embora as hastes tenham me despertado medo, o
ambiente não era nada parecido com o que eu imaginava,
pois não era tão assustador.
— Esse será o seu quarto da disciplina, do castigo
para ser mais exato, e ele está vazio agora, mas as peças
que irão compor esse quarto vão depender muito do seu
comportamento. Esse quarto pode continuar sendo vazio
ou você pode ir mobiliando-o a cada malcriação sua ou
desobediência, isso é com você agora, Donna — explicou-
me calmamente.
— O que está dizendo? — questionei trêmula.
— Que a cada malcriação sua, faremos uma visita a
esse quarto e novos móveis e objetos vão sendo inseridos
aqui conforme o castigo que você merecer.
— Entendi! — sussurrei digerindo as palavras.
— Tire sua roupa e se troque. — Apontou para o
sofá ou cama.
Caminhei receosa até o móvel e parei em sua frente
observando atentamente o vestido branco que estava
estendido sobre ele, e muito se parecia com o que usei na
festa à fantasia dele, era um vestido longo grego de um
ombro só, mas não foi o vestido que me fez engolir a
saliva, e sim, uma tira branca que logo imaginei que seria
usada para vendar-me, e um chicote preto ou algo do tipo
que estava em cima do vestido, e que fizera meu coração
bater na boca.
Suspirei profundamente e passei a me despir,
encarando-o de forma desafiadora, e se era para encarar
tudo aquilo, que fosse com leveza, então tirei meus
brincos, lentamente, sensualizando o máximo que eu
podia. Em seguida, tirei meu vestido preto e fui entregando
tudo a ele, e por fim, me desfiz da lingerie e também
entreguei a ele, que colocou tudo em cima de uma cadeira
que seguia a linha barroca do sofá.
Eu estava nua e sendo observada por um predador,
e ali, me despi de todos os medos e pudores, então, depois
de deixá-lo me devorar com seus olhos, me voltei
novamente ao sofá cama e apanhei as vestes de uma
deusa e me transformei em uma.
— Uma deusa! — Davi sussurrou para si mesmo e
eu sorri discretamente. — Só minha.
— Sim, sou tua, meu senhor.
— Sente-se no sofá — ordenou.
Dei-lhe as costas, ergui a barra do vestido, subi no
apoio, e em seguida, no sofá e me sentei.
Davi se aproximou de mim, enfiou seus dedos em
minha nuca e cabelos, se aproximou do lóbulo da minha
orelha e sussurrou:
— Hoje vou te ensinar o “sim, senhor” de uma forma
que você jamais vai esquecer, vou foder você e o seu
psicológico tão forte que você nunca mais vai esquecer do
“sim, senhor” e sempre que se lembrar desse dia, suas
pernas vão tremer e seus lábios serão obedientes.
Fechei os olhos e joguei o pescoço para trás
apoiando-me em suas mãos enormes sentindo a luxúria se
apoderar de mim, me esquentando corpo e alma.
Davi deu a volta e ficou atrás de mim, estendeu seu
braço e apanhou a fita branca de cetim que combinava
perfeitamente com o vestido que eu usava, e foi me
vendando com a fita que parecia ter um pouco do cheiro
dele, do perfume dele, e aquele cheiro me açoitou
enquanto questionou-me:
— Sabe por que está aqui, no seu quarto de
castigo?
— Não! — respondi. — Não, senhor! — corrigi
rapidamente.
— Muito bom, boa menina! — disse. — Está aqui
porque foi malcriada comigo na noite passada — falava
enquanto dava nó na venda. —Lembra-se das palavras
que usou de forma agressiva comigo?
Balancei a cabeça em negativo sem conseguir me
lembrar, eu estava nervosa demais.
— Não me lembro, senhor — respondi.
— Você disse: Vai se ferrar, Vossa Excelência! E é
por isso que está nesse quarto, e inicialmente seriam
apenas cinco chibatadas e agora serão dezessete.
— Não seriam quinze, senhor? — indaguei tentando
manter a calma.
— Duas foram acrescentadas agora a pouco quando
se esqueceu do “sim, senhor” novamente.
— Merda! — sussurrei.
— O que disse? — questionou-me.
— Entendi, meu senhor!
— Certo!
Davi puxou meu queixo para cima e voltou a
perguntar:
—Você foi malcriada comigo, Donna? Hein? Diga-
me! Você merece ser castigada?
Naquele momento senti a pressão do aperto de seus
dedos em meu queixo, e dessa forma, meu corpo tremulou
ao responder:
— Sim, eu fui malcriada, senhor!
— Ótimo. — Tirou suas mãos de mim e se afastou
me deixando no breu que a venda me proporcionava,
porém, mesmo sentindo que ele se afastou continuei
sentindo sua presença, pois havia um pouco do perfume
dele na venda, e dessa forma, eu o sentia olfativamente
mesmo tendo privação sensorial.
Com os olhos vendados, deixei meus ouvidos
trabalharem e escutei o barulho de água corrente
enchendo algum recipiente, e só fui saber do que se
tratava quando ele voltou e tirou meus pés de cima do
apoio e os imergiu dentro de uma água deliciosamente
quente.
— O que está fazendo, senhor? — Eu realmente
incorporei a submissa como se estivesse nas peças de
teatro que fiz na escola.
— Você se feriu com os espinhos, estou cuidando
dos seus pés, que por sinal são lindos. — Ele lavou um por
um dos meus pés naquela água que exalava uma
fragrância calmante, então depois de lavar e massagear
meus pés, ele os secou com uma toalha felpuda e macia, e
a sensação era muito boa, não vi nenhum castigo naquele
gesto dele e a coisa só melhorou quando ele ergueu uma
de minhas pernas e deu alguns beijos nos meus pés e foi
subindo em minha perna até chegar em minha coxa, onde
ali desferiu alguns beijos e mordidas que inicialmente eram
leves e excitantes, depois mais forte e doloridas.
Fiquei loucamente excitada, eu sentia o calor me
invadir e se instalar no meio das minhas coxas, e quando
achei que Davi fosse subir um pouco mais e beijar a parte
do meu corpo que já latejava de tesão, ele simplesmente
saiu do meio das minhas pernas e se levantou. Senti seus
dedos contornarem novamente minha nuca, e dessa vez,
ele me fez levantar, senti o frio do chão me arrepiar, ele
havia tirado o apoio.
—Você confia em mim, Donatella?
— Sim, meu senhor, eu confio.
XL
Davi foi puxando-me pela mão, guiando-me no
quarto quase vácuo e foi narrando o que estava fazendo:
— Vou prender seus pulsos nas amarras que você
viu nas hastes, está de acordo com isso?
Aspirei o ar enchendo meus pulmões e o respondi:
— Sim, senhor!
— Está com frio?
— Não, senhor.
As perguntas saíam seguidas de seus lábios
enquanto ele me prendia nas hastes, pulso esquerdo,
seguido do direito.
— Lembra do nó que fiz com o lenço no nosso
primeiro encontro?
— Sim, me lembro — respondi.
— Se lembra, o quê Donatella? — repreendeu-me.
— Senhor! Eu me lembro, senhor!
— Agora serão 19 chibatadas, acha que pode
aguentar isso?
As perguntas estavam ficando mais ásperas e como
me demorei a responder ele insistiu ríspido:
— Acha que aguenta? Diga-me!
— Vou aguentar, senhor.
— Sabe que não precisa, não sabe?
— Sim, senhor! Eu sei, mas quero e vou aguentar.
— Não se preocupe com nada, estarei monitorando
todas as suas reações e vou cessar o castigo assim que
perceber que algo está errado, agora repita sua palavra de
segurança.
— Me ame! Senhor.
Ouvi um breve silêncio e passos ao se afastar.
— Use-as assim que precisar, nem que seja após o
primeiro golpe, quero que prometa que usará, e de jeito
nenhum tente suportar só para me agradar, entendeu,
Donna?
— Sim, senhor!
Senti novamente a presença dele, eu estava no
escuro, com os braços estendidos e presos a duas hastes,
eu não o via, mas minha mente o materializava, lindo,
vestes pretas, cabelos molhados e barba por fazer que
senti assim que fui abraçada por trás e beijada nos ombros,
pescoço, e estava muito bom senti-lo atrás de mim, se
excitando e me excitando.
— Concentre-se apenas no meu toque — disse e
levou as mãos nos meus seios, enfiando-se por baixo do
tecido, me tocando, circulando os dedos no bico dos meus
seios até que os apertou com força.
— Aí! — soltei o primeiro gemido de dor.
— Doeu, hã, me diz?
— Sim, senhor!
Davi acariciou e fez os bicos dos meus seios ficarem
rígidos e os apertou novamente, e segurei na garganta o
grito de dor, então seus dedos deixaram os meus seios e
foram para minhas nádegas, e por cima do tecido ele
acariciou e intercalou com um aperto mais forte.
— Tão gostosa e tão malcriada.
Assim que a palavra malcriada saiu dos lábios dele,
senti e ouvi o barulho do tecido do vestido sendo rasgado,
não sei como ele fez aquilo, se usou alguma tesoura, mas
a violência que usou para rasgar o tecido me assustou e
me deixou com a parte da bunda a mostra.
— Você não é uma boa submissa, é? — questionou
no mesmo tom sedutor e inquisidor arranhando com força
as laterais do meu quadril.
— Não, eu não sou, senhor!
Os beijos começaram em minhas pernas, e eu me
contorcia toda conforme sua boca ia subindo, subindo,
beijando, mordiscando, até chegar em minhas coxas.
— Abra as pernas! — exigiu e um frio subiu em
minha espinha e desceu em forma de fisgada em meu
baixo ventre.
Fiz como ele mandou, afastei minhas pernas e senti
os lábios dele tocarem minhas coxas e beijar, chupar e
morder em seguida, e a cada mordida eu esticava todo
meu corpo, pois estava doendo, e então as carícias e
beijos chegaram na minha bunda, e ali, ele beijou, passou
a língua e mordeu, uma nádega de cada vez.
— Sua bunda é linda! Porra que rabo gostoso!
Voltei a senti-lo ereto em minhas costas, e ele soltou
o rabo de cavalo dos meus cabelos e os juntou em seus
dedos e voltou a sussurrar em minha orelha em um tom
sensual e ríspido ao mesmo tempo:
— Me diz quem é o seu senhor?
— Você é o meu senhor.
Segurou no meu queixo com força e voltou a
questionar:
— Tem certeza disso?
— Sim, senhor — murmurei me contorcendo toda
sentindo a excitação dele roçar em minha bunda.
Enquanto os dedos de uma mão estavam grudados
em meus cabelos, ele passou a usar uma outra mão para
apertar meu seio novamente, rodou o bico e eu gemia e
arfava baixinho sem saber se a dor nos seios ou as
mordidas e chupadas em meu pescoço é que estavam
provocando todo aquele calor em meu corpo.
— Vai ser obediente de agora em diante? — mordeu
minha omoplata e chupou logo em seguida sem parar de
apertar o bico do meu seio. — Diga-me! — O som ríspido
veio seguido do primeiro tapa em minha bunda, pegando-
me de surpresa, seguido de uma leve ardência.
— Sim, senhor!
Com as duas mãos nos meus seios, beijando minha
orelha e me enlouquecendo, escutei novamente o tecido
sendo rasgado com selvageria e agora ele havia puxado a
parte da frente e deixou meus seios à mostra, me
assustando naquele momento.
— Está com medo de mim?
— N...ão, senhor! — respondi gaguejando.
— Deveria. — Suas unhas desceram cravadas em
meu abdômen e subiam para meus seios e eu gemia de
tesão.
Davi me dando doses pequenas de dor, sussurrando
em meu ouvido com palavras que não estavam
despertando medo, e sim, um tesão desenfreado e
enlouquecedor.
Grudou novamente em meus cabelos e desceu com
seus dedos em meu corpo até chegar no abdômen e
descer para o meio das minhas pernas, em minha vagina,
e assim, questionou:
— Foi para mim que se depilou assim?
Engoli em seco, minha respiração estava afoita e
meu coração batia como se fosse parte de uma orquestra
sinfônica.
— Donatellaaaa! — Outro tapa forte estalou em
minha bunda e agora na esquerda.
Novamente segurei o gemido de dor na garganta e
de forma atrevida falei:
— Quer que eu conte, senhor?
Davi apertou ainda mais meus cabelos e murmurou:
— Não gosto de Brats, mas você está se saindo
muito bem.
— Estou senhor? — questionei-o.
— Eu faço as perguntas aqui — repreendeu-me com
uma pontinha de raiva e se afastou deixando-me sozinha
imersa em uma expectativa torturante.
O silêncio que tomou conta do quarto era sufocante,
agourento, então voltei a senti-lo, em todos os sentidos
aflorados em mim, seu toque, seu cheiro, mas foi o toque
que me fizera erguer as pontas dos pés, pois senti quando
a mão dele deslizou para o meio da minha entrada já
úmida e encharcada, e seu dedo do meio se enfiou entre o
meio dos lábios de minha vulva e penetrou em mim
esquentando-me literalmente.
Eu estava quente e molhada demais, a excitação me
fazia esquecer que aquilo era apenas um castigo; e se
aquilo fosse um castigo, eu seria uma brats com certeza.
— Estou usando um estimulante de clitóris —
informou. — Gosta disso? — questionou ao enterrar o dedo
mais fundo e tocar em meu ponto G, em seguida, voltou
para meu clitóris e passou a me provocar com a ponta do
dedo, massageando enquanto voltou a questionar — Gosta
assim?
Grudei meus dedos nas fitas que me prendia e de
olhos fechados e delirando, eu o respondi:
— Ahhh! Caralhoo! Eu gosto Davi, gosto muito, não
para, não para.
— Acha que vou te dar prazer hoje?
— Eu quero! Por favor.
— Vinte e um, Donatella, e não se preocupe, eu
mesmo vou contar.
Minhas pernas estavam moles, a excitação pulsava
louca e desenfreada em meu corpo, minha vagina estava
queimando, pulando feito água em ebulição, e assim senti
o terceiro tapa cair queimando em minha bunda, outro e
outro, me esquentando e me dilacerando, mas eu não
emitia sons de dor, apenas de prazer, enquanto Davi me
masturbava e dizia:
— Você não vai gozar, não vou deixar.
Ali ele me torturou por longos minutos, intercalando
entre os tapas fortes em minha bunda e a masturbação
torturante.
— Você quer gozar? Hein, quer Donna?
— Sim, sim, senhor, por favor, por favor eu quero
muito.
— Implore!
— Por favor, senhor!
— Você vai ser castigada, lembra?
— Sim, senhor!
— Vai pedir para parar se precisar, não vai?
— Sim, eu vou, senhor!
— Tente não se mexer muito, isso vai ajudar a
diminuir a dor.
— S i m... Senhor! — falei trêmula.
Senti uma carícia em minha nádega já quente, então
o som que saiu dos lábios dele a seguir me cortou a alma,
fez meu corpo se contorcer e uma dor aguda me dilacerou:
— Um! — O estalo foi em minha nádega, foi leve,
mas doloroso e novamente não imiti nenhum som dos
meus lábios.
— Dois! — grudei meus dedos nas fitas e levantei
na ponta dos pés automaticamente.
— Três! — O golpe ainda foi moderado, e só de não
ser eu contando já me aliviava, mas ainda assim
questionei:
— Posso contar se quiser senhor.
Não ouve resposta, apenas o som do que ele
chamou de chibata foi ouvido por mim, seguida do numeral
quatro e de carícias em minhas nádegas.
Davi se aproximou de mim, segurou em meus
cabelos fazendo um rabo com os fios e puxou minha
cabeça para trás e me beijou desesperado, seus lábios
buscavam os meus, aflitos, com voracidade e ainda
segurando meus cabelos para trás ele desferiu o quinto
golpe, e beijou-me novamente, desferiu o sexto e voltou a
me dilacerar em seus lábios e assim sucessivamente,
intercalando seus beijos com os golpes que despertavam
em mim uma dor lancinante e deliciosa ao mesmo tempo e
eu não sabia mais se estava no inferno ou no céu de
excitação.
Ele alternava os golpes entre mais forte e mais fraco
e isso só aumentava minha expectativa, pois eu não sabia
o que viria a seguir, e quando me beijava de forma terna,
minha mente oscilava drasticamente, me deixando confusa
sem saber diferençar o que era certo e errado, e assim,
tudo me parecia muito certo e bom, e eu queria mais e
mais daquela sensação ardente que reverberava
loucamente em minha vagina e deduzir que o jogo era mais
mental que físico.
XLI
Quando o som, nove, saiu dos lábios dele, suas
mãos foram até as minhas soltando-me das amarras, eu
estava entorpecida por um misto de sensações, então falei
baixinho:
— Não pare, senhor!
— Você se saiu muito bem, minha deusa, se
entregou a mim e isso já me basta.
— Continue! — insisti louca atrás da sensação
estranha que percorria meu corpo e pele.
Minha pele latejava, formigava, estava pegando fogo
e meu corpo tremia involuntário, eu não sabia como fazer
aquele tremor parar e estava muito confusa quanto ao que
estava sentindo sem saber se era dor ou prazer, eu só
sabia que estava bom e não queria que ele parasse, pois
eu estava entrando em erupção, era uma explosão de
sensações deliciosas que podia sentir minha excitação
molhada em minha vagina, visto que os estímulos de Davi
me deixaram louca de tesão mesmo sendo açoitada. Davi
aninhou-me em seus braços fortes dizendo-me:
— Vou cuidar de você agora. — Beijou-me
carinhosamente na têmpora, e confesso que aquele gesto
me fez sentir segura nos braços do homem que acabara de
me bater.
Em seu colo, encostei minha cabeça em seu tórax,
levei meus braços envolta de seu pescoço e fechei meus
olhos enquanto sentia-o caminhar lentamente enquanto me
carregava.
— Estou com frio — murmurei dando-me conta que
estava sentindo um frio muito intenso, mesmo o quarto
estando climatizado.
— Sim, eu sei, vou aquecê-la.
— Minha boca está seca, Davi.
Tudo que eu estava sentindo é difícil demais de
descrever, é na pele, no estômago e o principal, eu estava
inerte, e mesmo assim, desejando loucamente que Davi
aplacasse todo aquele ardor que me assolava a alma
naquele momento.
Davi me colocou deitada na cama ali mesmo no
quarto quase vazio, e ela era mais macia do que
aparentava ser, ele me deitou de bruços tomando todo o
cuidado para evitar o contato das minhas nádegas com a
cama, e em seguida, jogou um cobertor sobre meu corpo e
ainda me envolveu como se fosse uma bala.
— Vou aumentar o calor do ar — disse, afastando-
se de mim e o vi com a visão um pouco turva, estava sem
a camisa, vestindo só a calça preta e descalço.
Fechei meus olhos sentindo o calor ir voltando ao
meu corpo e os tremores irem cessando, então Davi voltou
a me tocar e ergueu um pouco minha cabeça levando um
canudo até meus lábios, dizendo:
— Sugue! É um enérgico, vai ajudar a recuperar a
energia.
Só quando tentei sugar o líquido foi que percebi que
realmente eu não tinha forças. Todas as minhas energias
haviam se esvaído do meu corpo devido a tentativa de
suportar e segurar a dor.
— Vamos, você consegue Donna! — dizia com um
tom de voz suave, diferente do tom que ele usou para
contar as chibatadas. — É normal a falta de energia, a
glicemia cai às vezes, e é por isso que preciso que beba.
Consegui sugar um pouco do energético, era de
morango, acredito eu, e parecia mágica fluindo em meu
corpo e me devolvendo a força, enquanto os tremores
cessavam, e só então, dei-me conta de que caía uma
tempestade do lado de fora.
Davi se sentou em uma pontinha da cama e
acariciou meu rosto enquanto tirou mechas de cabelo,
estava carinhoso, diferente e passamos alguns minutos em
silêncio com ele me acariciando.
— Está com dor? — questionou-me.
— Não sei ao certo, está quente, ardendo —
expliquei.
— Me diga, já está aquecida? Posso retirar o
cobertor?
— Sim.
Davi se levantou e caminhou no quarto e sumiu de
minhas vistas quando entrou no que deduzi ser o banheiro,
não demorou e estava de volta com um balde de inox, e
sem saber o que tinha dentro, o som denunciou que dentro
do recipiente havia pedras de gelo.
— Vou cuidar de você agora, preciso fazer com que
a circulação em suas nádegas volte e evite hematomas, e
para isso vou aplicar uma pomada a base de heparina e
vitamina E, e logo em seguida, vou colocar uma bolsa de
gelo, tudo bem?
— Não vai apagar esse calor que estou sentindo
com uma simples bolsa de gelo — falei.
— Donna, nem sempre vai haver sexo depois de um
castigo ou uma sessão.
— Você mentiu para mim. — Senti-o tocar em minha
pele com a mão e o frio da pomada subiu em minha
espinha arrepiando-me toda.
— Menti? — deslizou as mãos massageando
minhas nádegas.
— Sim, disse que iria foder o meu psicológico e me
foder.
Davi gargalhou.
— Donna o que eu faço com você, hein?
— Termine o que começou, você já fodeu meu
psicológico e agora eu estou queimando de desejo.
As mãos dele deslizavam com leveza e faziam o
contorno perfeito de minhas nádegas e desciam em minha
virilha provocantemente na parte de fora próximo demais
dos lábios da minha vagina.
— Relaxa, Donna!
Mais relaxada era impossível, o clima, a luz tênue do
quarto, as velas, a chuva caindo forte lá fora e ele me
tocando daquele jeito me deixava cada vez mais relaxada e
excitada, eu precisava senti-lo, precisava que me tocasse
com urgência, e conforme seus dedos deslizavam com a
pomada acariciando meu corpo e alma, a sensação de dor
e prazer voltavam a me assolar, eu estava em um nível de
sensibilidade tão grande que seria capaz de gozar com um
simples toque dele no lugar certo.
Passei a me contorcer, meus dedos grudavam na
almofada em que minha cabeça estava apoiada, e dessa
forma fui enlouquecendo.
— Davi! Meu Deus! Pare de me torturar.
— Shiii! Quietinha.
— Eu aguentei o máximo que pude o meu castigo,
eu mereço uma recompensa — retruquei contorcendo-me
inebriada com o toque sensual dele que fazia movimentos
circulares, fazendo uma leve e deliciosa pressão reativando
a sensibilidade da minha pele.
— Você passou dos seus limites, ainda não conheço
suas reações o suficiente, mas você tem sorte de que sou
experiente o bastante para saber que você não estava
bem.
— Eu queria...
— Me agradar? Eu sei que sim, mas nunca mais
volte a fazer isso, entendeu? Sua palavra de segurança é
justamente para isso, para sua segurança, para evitar que
se machuque e que coisas piores aconteçam.
— Davi, eu...
— Nada, nada deve justificar esse seu
comportamento, conversamos sobre isso e você não vai
mais repetir isso, certo?
Suspirei e relaxei o corpo, dizendo:
— Me perdoe!
— Donna, não quero sua dor, já falamos sobre isso,
não sou um sádico, o castigo serve como uma forma de
disciplina, quero apenas sua submissão — disse me
fazendo contorcer o corpo todo antes de ter a chance de
respondê-lo, pois senti um choque térmico assim que
colocou a bolsa de gelo em minha nádega esquerda.
— Oh, meu Deus!! — ralhei apertando os dedos na
almofada novamente.
— Relaxa, isso é para o seu bem-estar, acredite, vai
se sentir bem melhor.
Eu nada respondi, apenas fiquei deitada imóvel
enquanto ele dava a meu bumbum mais carinho e atenção
do que eles realmente mereciam, pois tinha uma outra
parte do meu corpo que só esfriaria depois de receber a
mesma atenção.
Davi me deu um copo de água com um Ibuprofeno e
eu o tomei, não me recordo em que momento eu
simplesmente apaguei e peguei no sono.
Quando acordei, escutei um barulhinho de água
despencando de algum lugar, de início achei que fosse a
chuva que ainda caía levemente lá fora, então analisei o
ambiente, estava escuro, e somente quando um trovão
iluminou os vidros das janelas foi que vi que eu não estava
mais em meu quarto de castigo, levei meus olhos por todas
as partes do cômodo e identifiquei o quarto de Davi.
Estendi meus braços e levantei-me, senti minha
bunda arder quando fiz o movimento para frente para sair
da cama, o atrito do edredom com minha pele me fez
lembrar do castigo e da sensação deliciosa e dolorosa ao
mesmo tempo.
Analisei meu corpo e constatei que ainda estava
nua, apaguei por alguns minutos apenas, acredito que Davi
continuou me massageando e assim acabei dormindo.
Agucei meus ouvidos e percebi que o som vinha da ducha
do banheiro da suíte, e caminhei lentamente em direção a
ele, estava sonolenta e dolorida, e logo que entrei o vapor
tomava conta do banheiro, mas não me impediu de ver a
cena deliciosa que Davi protagonizava embaixo da água e
fizera meu coração bater em descompasso, pois estava se
ensaboando fazendo assim os músculos de seus braços e
costas ficarem amostras e tensos. Arrepiei-me toda com o
belo exemplar de homem que nem havia notado minha
presença.
Em cima da bancada da pia havia uma taça com
uma bebida qualquer, a julgar pela taça imaginei ser vinho
e sua cor era de um tinto vermelho púrpura muito intenso,
eu diria um rubi, peguei, inalei o aroma da bebida que
muito me lembrou de frutas vermelhas, ameixas bem
maduras para ser mais exata, e também senti um cheiro
gostoso de baunilha.
Estava ainda aspirando o cheiro delicioso quando
ouvi o som delicioso da voz de Davi dizer:
— Malbec, experimente!
Levei a bebida em meus lábios e senti-a descer
aveludada em um sabor prolongado e adocicado de frutas
maduras com uma acidez bem equilibrada.
— Humm, muito bom! — falei e abri o box de vidro
logo em seguida.
— Sim, é delicioso — disse Davi.
— Gostoso! — respondi levando meus olhos
diretamente em suas mãos e senti um frio enorme
percorrer meu corpo quando notei que ele estava se
tocando, fazendo movimentos deliciosos de sobe e desce
em seu pau, em um convite descarado a minha libido.
Seus olhos brilhavam de desejo, havia um sorriso
malicioso neles, e assim ele seguiu me excitando enquanto
se masturbava, acariciando a glande com a ponta dos
dedos vindo a subir e descer toda a extensão daquela vara
deliciosa.
Nossa! Que pau gostoso. Pensei presenciando
aquilo.
Meu corpo respondeu aos estímulos visuais e
passou a respirar de forma aflitiva, então sem pensar, soltei
a maldita frase em forma de súplica, pois eu estava
novamente em erupção prestes a explodir de tesão:
— Faz amor comigo?!
— De novo isso, Donna? — Davi sussurrou
arrastado, virando-se de costas para mim.
— Então me fode logo de uma vez, não aguento
mais essa tortura! — implorei.
XLII
Davi se virou em minha direção, tinha fome em seu
olhar predador e desejo em seus lábios que se curvaram
em um sorriso lascivo enquanto caminhou lentamente em
minha direção pedindo com o tom de voz ludibriante:
— Repete o que disse.
Quando a última nota saiu dos lábios dele sua mão
direita já estava em meu queixo e seu dedão contornando
os traços dos meus lábios com firmeza.
Todo aquele tamanho de homem imobilizando-me
apenas com uma mão me tirava todo o ar dos pulmões.
Roçou a barba áspera por fazer em meu rosto e
apertou ainda mais meu queixo exigindo e fazendo minha
vagina se contrair de tesão e ansiedade.
— Vamos, quero ouvir você pedir novamente.
— Me fode! —respirei sufocada. — Me fode, Vossa
Excelência!
— Eu vou te foder, Donatella, e de um jeito que
amanhã você ainda vai me sentir no meio de suas pernas.
Davi enfiou seus dedos em meus cabelos e puxou
minha cabeça para trás me tomando em seus lábios num
beijo provocante, senti sua língua invadir minha boca com
voracidade, fazia movimentos rápidos e profundos ao sugar
minha língua, aumentando mais e mais a tensão em meu
corpo. Ele respirava nervoso, empurrando-me contra a
parede, extasiado, me devorando em seus lábios, nos
levando a um desejo insaciável e incontrolável.
Ele iria finalmente aplacar o meu tesão por ele, e eu
estava angustiantemente precisando de atenção,
precisando senti-lo cada centímetro dentro de mim, então
respirando exacerbadamente afoito, ele indagou com os
lábios presos aos meus:
— Quem é o seu senhor?
— Você é o meu senhor! — respondi sem hesitar.
— E você, minha deusa! — sussurrou entredentes
cheio de tesão enquanto contornava meus lábios com seu
dedão, e em seguida, o enfiou dentro da minha boca, e eu
o chupei olhando fixamente as reações de Davi que estava
embevecido em luxúria e que segurou novamente no meu
queixo unindo meus lábios e lambendo-os indo em direção
ao meu rosto vindo a me lamber novamente, me fazendo
suspender nas pontas dos pés e sentir-me molhar mais
ainda.
A mão que estava em meu seio desceu ávida
fazendo uma linha em meu corpo, descendo e se enfiando
sem pudor entre minhas coxas cobrindo por completo
minha vagina e descendo rumo aos grandes lábios. Meus
pés se levantaram novamente quando o dedo enorme do
meio dele me invadiu e eu gemi com o tesão me invadindo
e me fazendo perder os sentidos.
— Daviiii! — murmurei me sentindo uma bailarina na
ponta dos dedos.
Seus lábios voltaram a me devorar nervosos,
beijando-me com uma força comedida, o beijo era quente,
molhado e por si só excitante demais, juro que poderia
gozar apenas com a invasão voraz daquela língua que me
possuía afoita. Louca de tesão levei minha mão em sua
ereção volumosa, forte e completamente excitada e ele
grunhiu quando o toquei de leve acariciando a base do seu
pau, subindo e descendo meus dedos em sua pulsação
nervosa.
Ele soltou um rosnado de satisfação que fez meu
ventre tremer.
Davi era realmente viril demais e senti-lo daquela
forma sabendo que eu o deixava daquele jeito, fazia-me
sentir realmente uma deusa, e enquanto resfolegava em
suas mãos, fui invadida novamente por um dedo e ele foi
mais profundo dessa vez, e eu sabia que ele estava
apenas tentando buscar a viscosidade da minha
lubrificação, então tirou o dedo de minha entrada e o levou
em minha boca enquanto me encarava sedento fazendo-
me chupar o meu néctar sem nenhum pudor.
— Porra, Donna, você é gostosa demais mulher!
Davi se inclinou em direção a um dos meus seios e
o abocanhou, engolindo-o e contornando o bico com a
língua, só então percebi o quanto ele estava duro e
sensível, pois ele o mordeu e o sugou logo em seguida,
arrancando um gemido sofrido dos meus lábios:
— Aiii!
— Não via a hora de você acordar para dar sua
recompensa por ter se entregado a mim daquela forma.
— Estou mais acordada que nunca.
Ele segurou o lábio inferior com os dentes e sorriu
imoral, deslizou seus dedos em meu braço esquerdo e o
levantou lentamente rumo a parede, instintivamente levei
meus olhos na mesma direção e reparei que em meio a
todo o vapor havia duas argolas metálicas fixadas na
parede, que eu não havia visto, e preso nelas havia duas
braçadeiras pretas e senti a maciez do tecido quando um
de meus pulsos foi preso a uma delas.
— Não irá machucá-la, não essas — prometeu Davi
ao acariciar libidinosamente meu outro braço levantando-o
e levando-o ao encontro da outra braçadeira na parede.
Eu estava entregue e completamente imobilizada no
meio do vapor nebuloso que se formou no box. A
expectativa era fustigante, o desejo sórdido e cruel; eu o
queria demais para reclamar da situação em que ele me
colocou.
Davi segurou nas laterais do meu rosto e beijou-me
explorando meus lábios com mais delicadeza daquela vez,
gemi em sua boca quando senti que novamente ele
invadiu-me com dois dedos e passou a fazer movimentos
torturantes dentro da minha vagina, alternando a atenção
com meu clitóris ao acariciá-lo com a ponta dos dedos. Eu
estava tão molhada que podia ouvir o som da umidade em
minha pele, e assim, louca de desejo os meus pés se
ergueram em suas pontas, levando minha pelve para mais
perto dele de tanto prazer, e dessa forma, meu corpo se
estendeu forçando as amarras, eu estava presa e queria
loucamente tocá-lo, queria que fosse mais fundo, queria
ser penetrada com urgência.
— Isso ainda é um castigo? — questionei
engasgada.
— Não, isso é sua recompensa.
— É? Mas para mim é um castigo não poder tocá-lo.
— Shiii — tocou em meus lábios com os dedos que
havia acabado de tirar de dentro da minha vagina, e em
seguida, levou-os em sua boca vindo a dizer em seguida:
— Seu sabor é delicioso, prove!
Davi roçou sua barba em meu rosto, sabia como
aquilo me deixava perturbada, pois eu delirava ao contato
dela em minha pele, ardia, mas o tesão que aquilo me dava
era enlouquecedor, e assim, ele desceu explorando cada
canto do meu corpo com sua boca, beijando, mordiscando
até que chegou em meu abdômen, e ali ele enfiou a língua
em meu umbigo e a sensação foi tão devastadora que
meus dedos se fecharam nas correntes que se uniam a
braçadeira de veludo preto.
— Isso é uma tortura, Davi. — Choraminguei me
contorcendo toda sem que ele desse a mínima para as
minhas palavras, continuou descendo até que chegou no
meio das minhas pernas e se ajoelhou no chão e me fez
ver estrelas quando ergueu minha perna direita e a colocou
em seu ombro e se enfiou no meio das minhas coxas,
deixando minha boceta na cara dele e me lambeu de baixo
para cima fazendo todos os pelos existentes no meu corpo
entrarem em choque.
— Deus! Me ajude! — falei mordendo meus próprios
lábios com muita força e ofegando com os braços
amarrados e imóveis.
A sensação de estar imobilizada em meio a tortura
sexual daquelas é indescritível, é simplesmente surreal,
você querer tocar o corpo do seu desejo e não poder.
— Não, Ele não vai! — respondeu e se enfiou no
meio das minhas coxas terminando de me matar de tesão
quando abriu os lábios da minha vulva e alcançou minha
vagina com a boca, com a língua que foi me lambendo e
me penetrando.
Gritei alto demais me contorcendo toda quando sua
língua foi mais funda me penetrando.
— Caralho, Donna! Como eu amo o seu gosto. —
Voltou a enfiar a língua em mim e a acariciar meu clitóris
com ela me fodendo languidamente usando-a com
agilidade e rapidez.
Arfei sentindo-me no céu, eu já estava a flor da pele,
pelo tesão que ele me fazia sentir em seus beijos, e estar
ali sendo degustada, lambida, invadida por aquela boca, e
eu não iria durar tempo demais, eu já estava em um grau
de excitação muito elevado, pois a sensação de minutos
atrás quando fui castigada ainda circulava feito veneno em
meu corpo, tudo estava sensível demais, e quando ele me
estimulou com a ponta da língua dura, explorando a parte
mais sensível da minha vulva, meu clitóris, eu
simplesmente me senti quebrando em mil pedaços, meu
corpo se arrepiou, minhas mãos grudaram firmes nas
correntes e meus olhos giraram em órbita e bastou uma
nova investida de sua língua em minha vagina para os
espasmos me atingirem intensos em forma de uma
explosão me fazendo tremular e gritar seu nome gozando
em sua boca.
— Ohhhh, Davi! Davi! — falei engasgando em meu
prazer.
— Grita! Grita bastante que você me enlouquece
com seus gemidos.
Quanto mais ouvia o som daquela voz mandona e
segura, mais meu corpo tremulava emitindo ondas de
prazer ao meu útero, me fazendo simplesmente sair de
mim naquele momento. Foi forte e intenso demais.
Davi saiu do meio das minhas pernas e se levantou,
veio até mim acariciando-me e dizendo:
— Você fica tão linda após o orgasmo, sua pele está
brilhando, vermelha, uma deusa indefesa e impotente.
— Isso foi muito bom!
Davi sorriu se deliciando com a cena e questionou-
me:
— Como está se sentindo?
— Vazia! — respondi arfando tentando controlar
minha respiração.
Davi soltou uma de minhas mãos da braçadeira,
porém, deixou a outra presa e segurando firme em minha
bunda fez um movimento de tranco me levando para ele e
me fazendo encaixar as duas pernas em sua cintura,
enquanto levei o braço solto em seu pescoço e me segurei
firme nele, e dessa forma, a dor latejante em minhas
nádegas me dilacerou, mas logo foi esquecida quando
senti o músculo viril e forte dele encostar em minha entrada
sem entrar, e assim, senti meu corpo exigir a penetração
ao contato do pau teso e rígido demais que dava pequenos
trancos encostado em mim. Eu necessitava senti-lo dentro
de mim, a urgência doía e então implorei com fervor:
— Por favor! Mete!
Meu coração parecia que ia saltar pela boca.
Davi me comeu primeiro com o olhar, cinza,
profundo e faminto, em seguida, com os lábios em um beijo
ardente, voluptuoso e carnal, então sussurrou com os
lábios trêmulos grudados aos meus:
— Vou preenchê-la até você transbordar.
— Ohh, não demore!
— Não desvie seu olhar — ordenou.
Davi me encarou com gana, olhos nos olhos, sem
piscar, ele apertou seus dedos em minha cintura com força,
e puxando-me contra seu corpo senti a primeira estocada
me invadir, meus olhos se arregalaram e meus lábios
manifestaram a intensidade da união de nossos corpos:
— Ah, Deus!
Davi estava duro demais, e o senti me estocar lento
uma segunda vez, mas fundo o suficiente para me fazer
enfiar as unhas em seu ombro tenso.
— Nossa! Como eu quero você, Donna. — Voltou a
se afundar em mim novamente, estocando mais forte,
dessa vez inclinando sua cabeça em meu ombro, fazendo-
me senti-lo muito fundo e sua respiração em meu ouvido
como um animal feroz.
Eu estava presa, mas me sentia livre e leve em seus
braços fortes que me sustentava suspensa no ar em um
balé sincronizado com nossos corpos ondulando, um em
busca do outro, explorando o prazer que o outro podia dar,
e dessa forma, Davi passou a me comer freneticamente,
gemendo, suspirando, metendo, estocando e batendo
minhas costas com força na parede úmida e gelada do
banheiro enquanto a água caia sobre o corpo dele.
Sua boca vez ou outra buscava a minha, sua língua
me possuía como se eu fosse sua fruta preferida, doce e
saborosa, tamanha era a gana com que me degustava
entre uma estocada frenética seguida de uma mais lenta e
funda. Sua boca estava com o gosto do vinho e o teor
alcoólico me inebriava, enquanto, meu senhor, me
preenchia por completo sem deixar nenhum vazio, sugando
todo meu ar para si mesmo.
Eu me sentia em um incêndio, meu corpo tremulava
meio a um calor descomunal e não podia ser diferente,
Davi era fogo puro e ali me incinerava sem dó e nem
piedade. Seu corpo batia contra o meu com força, fazendo-
me sentir cada centímetro de sua excitação carnal em seu
músculo rígido numa fusão deliciosa de nossas carnes. Mal
conseguia respirar, e assim passei a sentir a fricção
violenta esfregando em clitóris duro e sensível demais. Eu
estava me queimando insuportavelmente no inferno e
quanto mais força Davi fazia ao se enfiar em mim, mais
tesão eu sentia. Meus lábios o mordiam, minhas unhas
disponíveis o arranhavam na nuca e ele ia me castigando
batendo sua pélvis contra a minha de forma exigente e
cadenciada, indo fundo, estocando, duro e longo, então,
senti quando minha vagina se apertou em volta dele,
sufocando-o e eu não podia controlar aquilo, era
maravilhoso demais, e dessa forma, fui novamente
atordoada por uma explosão violenta e tremores
involuntários de um novo orgasmo que fez-me soltar
gemidos longos e altos de satisfação.
— Donna, Donna! — Davi murmurava meu nome
sem cessar as investidas violentas contra mim, e nossos
corpos produziam sons voluptuosos de carne castigando
carne até a plena exaustão, então, fui totalmente solta por
ele e meus braços caíram pesados ao redor do pescoço
dele.
Davi me encostou na parede, tirou os cabelos do
meu rosto e com os olhos fixos nos meus, voltou a fazer
movimentos de penetração em mim, era delicioso, sutil e
selvagem ao mesmo tempo. Soltava rugidos de seus lábios
que me diziam o quanto ele estava louco atrás do seu
orgasmo, enquanto, o som luxuriante e persistente de pele
contra pele ditava um ritmo frenético de um sexo sem
limites e sem barreiras que foram quebradas no exato
momento que nossos lábios se uniram em uma súplica
implacável, e de repente, da garganta dele saiu o grito
agudo e delicioso no mesmo ritmo que as estocadas foram
desacelerando e ficando cada vez mais escassas. Davi
estava me preenchendo literalmente enquanto despejou
seu prazer dentro do meu corpo a fim de me transbordar.
— Ohhh, ohhh, Cristo, ohhh! — rugia deliciosamente
sem parar de mexer e bater seu corpo ao meu, sua carne
na minha em uma união perfeita.
Davi era um homem deliciosamente forte, os
músculos bem acentuados sem exageros, e quando se
aproximou do meu ouvido para me morder e gemer, eu
senti seus músculos me tocarem firmes e torneados. O
som, o cheiro do nosso sexo, tudo ia se juntando em uma
volúpia que eu amava, seus dedos explorando cada canto
do meu quadril e me guiando com maestria em direção a
ele até que sem forças, ele cessou e ficou parado
respirando loucamente em meu ouvido, estava extasiado
em seu prazer sem sair de dentro de mim.
Foi tudo tão intenso e perfeito que assim que o
instante fugaz me deixou, caí exausta em cima do ombro
dele, me permitindo sentir seu odor masculino afrodisíaco.
Novamente buscou meus lábios e me beijou com
ardor, embevecido em nosso prazer, enquanto tentávamos
recuperar nossa energia.
— Como se sente agora? — questionou-me
acariciando meu rosto.
— Transbordando!
Passamos alguns minutos imersos em sais
deliciosos na hidromassagem, e Davi saiu da banheira
antes de mim, pois disse que iria pedir algo para
comermos, pois aleguei estar faminta.
Saí do banheiro em um roupão salmão e caminhei
descalça pelo quarto, de longe senti o cheiro de tabaco, e
assim fui até a sacada onde Davi encontrava-se
debruçado, fumando, o que deduzi ser um charuto.
— Fumando novamente — afirmei.
— Sim, eu precisava me tranquilizar.
— Por que precisava se tranquilizar? Achei que
depois do que aconteceu no banheiro você estivesse mais
que tranquilo.
Davi tocou em meu rosto com a mão que segurava o
charuto, então respondeu-me questionando:
— Como está seu bumbum?
Ponderei antes de respondê-lo e dei conta de que
não doía tanto quanto imaginei que fosse doer, então o
respondi:
— Acreditaria se eu te disser que nem me dei conta
dele ainda? Não está doendo tanto.
— Vai se dar conta amanhã, não se preocupe — ele
riu dando outro trago no charuto. — Ainda com fome? Pedi
pizza para a gente, espero que goste do sabor.
— Está desconversando?
Ele apanhou a taça de vinho e a levou em seus
lábios bebericando um gole sutil.
— Donna, o que aconteceu hoje não pode se repetir,
compreende? — Tocou-me gentil no rosto.
— Do que está falando?
— Você não pode, em hipótese alguma, deixar de
usar a palavra de segurança quando estiver bem no meio
de um castigo ou sessão.
— Davi você parou na melhor parte, acredite, eu
estava entrando em um tipo de torpor delicioso, nem sei
como explicar — argumentei.
— Mas eu sei, você estava com os dedos dos pés
no subespaço, mas ainda não está preparada para
mergulhar de corpo e alma nisso, entende?
— Não, eu não entendo não, eu só sei que estava
tão bom que nem parecia que era dor.
— Isso é perigoso, e vamos falar sobre isso logo
após matarmos nossa fome. Vamos comer.
Disse colocando um fim na conversa que me deixou
muito intrigada, mas como estava faminta, preferi não
insistir.
XLIII
As pupilas dos olhos de Donna ainda estavam
dilatadas, havia satisfação nelas e um sorriso incontido
fazia parte em seu rosto delicado.
Emocionalmente, eu estava travando uma luta
comigo mesmo, nunca acreditei na história de que pessoas
se completam, mas naquele momento, olhando-a com a
alma aberta e a sensibilidade serena e controlada, me vi
acreditando piamente que Donna era quem me
completava.
Vestindo apenas uma boxer preta caminhei pelo
quarto e fui até o closet me vestir antes que o entregador
de pizza chegasse. Enfie-me rapidamente em um moletom
preto e voltei para a sacada onde Donna estava.
— Vista algo para descermos! — falei de forma
incisiva aproximando dela a fim de dar-lhe um beijo, mas
assim que cheguei perto para beijá-la, ela esticou o braço e
empurrou-me pelo tórax dizendo:
— Não vai me beijar com esse cheiro de tabaco.
Donna foi tão espontânea que dei um leve sorriso
dizendo-lhe:
— Ah, é? Estou proibido de beijá-la após fumar?
Donna cruzou os braços e respondeu-me lacônica:
— Está!
Donna era um espetáculo de mulher, e ali fiquei
hipnotizado vendo-a tirar o roupão na minha frente e expor
suas curvas sem nenhum tipo de receio, e mesmo depois
de estar completamente satisfeito, seu corpo nu e seios
perfeitos, fartos e deliciosamente empinados fez minha
libido agir diretamente em meu pau e logo grudei em sua
cintura assim que acabou de vestir uma camiseta folgada
branca:
— Vem cá, mocinha!
— Humm! Mocinha, é?
— Sim, uma mocinha bem travessa e gostosa.
— Me acha gostosa?
— Porra, Donna, você nem sabe o quanto — grudei
meus dedos em seus cabelos negros e molhados e a
trouxe para minha boca e sussurrando. — Eu quero muito
essa boca — beijei-a buscando para mim o que meu
desejo ansiava, e assim degustei sua boca com
intensidade até que Donna me empurrou, dizendo:
— Meu Deus, Davi!
— O que foi?
— Eu estou azul de fome e você já está pronto para
me comer de novo?
— Não tenho culpa se você faz isso comigo — dei
um leve sorriso sentindo meu pau crescer vertiginosamente
dentro da cueca com o tesão percorrendo voraz cada canto
do meu corpo.
— Pode ir parando! — resmungou tentando me
fazer soltá-la — Preciso que essa pizza chegue o mais
rápido possível ou vou desmaiar.
— Não seja por isso, vamos a cozinha e você come
alguma coisa.
Por fim, tentei me controlar e juntos fomos até a
cozinha, e Donna mal teve tempo de morder a pera que
havia acabado de lavar na torneira e escutamos a
campainha tocar.
— Olha aí, seu jantar chegou! — disse piscando
para ela.
Quando voltei para a cozinha, Donna havia
arrumado a mesa e disposto os talheres e pratos, e logo
que coloquei a pizza em cima da mesa e fui pegar o vinho
tinto que já estava aberto, Donna falou abrindo a tampa:
— Meu Deus, que delícia! Como sabia que
marguerita é minha preferida? — Olhou-me franzindo o
cenho.
— Eu sei tudo sobre você, senhorita Donatella.
— Humm! Sabe mesmo?
Sorri respondendo-a:
— Sim, pode apostar que sim, agora sente-se e
coma, experimente de brócolis também, é minha preferida
e você pode gostar.
Donna pegou a taça com o vinho que eu havia
colocado para ela e após bebericar o tinto, ela disse um
tanto quanto séria:
— Estou achando que não quero me sentar, aliás,
acho que não farei tal coisa pelas próximas horas ou dias.
A forma com que falou foi hilária e assim não contive
uma gargalhada.
— Traga a garrafa e as taças, vamos comer em um
lugar mais confortável — disse a ela. — Ah! Traga os
guardanapos de pano também.
Peguei as pizzas de cima da mesa e fui caminhando
rumo a sala de TV, onde havia puffs confortáveis que eu
tinha certeza de que Donna iria conseguir sentar.
— Acha que consegue se sentar em um desses? —
Apontei para os puffs macios de camurça em tons claros.
— Acho que posso tentar.
Donna se sentou tranquilamente e eu coloquei as
pizzas em uma mesinha baixa e me sentei em uma
poltrona, então quando experimentou um pedaço da pizza
de brócolis, ela disse:
— Humm! Está maravilhosa, muito, muito boa!
Obrigada.
Fiquei sorrindo e observando-a, pois parecia uma
criança comendo a pizza com as mãos após dobrar a
massa ao meio.
— Será que agora podemos conversar? —
questionei-a.
— Sim, claro — respondeu mordendo outro pedaço.
— Descreva-me o que sentiu hoje durante seu
castigo.
Donna suspirou alto, limpou a boca com o
guardanapo branco e colocou o pedaço da pizza de volta
em seu prato.
— No início ardeu e doeu muito — começou a falar
lento e pausadamente como se estivesse tentando buscar
as sensações em sua mente. — Em seguida, começou a
ficar dormente e foi nesse momento que me desliguei de
tudo, do mundo, dos sons e me concentrei apenas em
você, no seu toque, nas palavras que saiam sedutoras
demais da sua boca, e não demorou estávamos apenas eu
e você, era como se uma daquelas viseiras de cavalos
tivesse sido colocada em mim, só que mentalmente.
— Continue.
— Teve um momento em que meu corpo parecia
querer lutar contra minha mente, era como se ele dissesse,
fuja, corra, mas minha mente dizia, lute, enfrente,
aproveite.
— Esse é o momento em que seu corpo responde
aos estímulos do sistema nervoso e libera epinefrina a
partir de suas glândulas suprarrenais, libera também uma
boa quantidade endorfinas e encefalinas, produzindo no
seu corpo o efeito como se fosse uma droga, é semelhante
a morfina e serve para te fazer aguentar a dor durante as
experiências intensas de dor e prazer. A diferença é que
são substâncias químicas naturais e provocam sensações
como estar em transe.
— Flutuando!
— Isso, exatamente!
— É muito, muito bom!
— Quero que compreenda de uma vez por todas
que não sou sádico, não sinto prazer em te ver sofrer,
muito pelo contrário, mas os castigos fazem parte do
treinamento de disciplina. Não permiti que fosse muito
longe no seu transe porque estou apenas introduzindo
você a esse novo universo, e coisas ruins podem acontecer
se irmos longe demais.
— Que tipo de coisas?
— Sua pressão pode subir, cair e sua glicemia
despencar a ponto de levá-la a óbito, por isso que você
precisa aprender o momento certo de parar. Vou sempre
estar atento aos seus sinais, mas você não pode se
permitir ultrapassar barreiras. É como se você estivesse
bêbada, a sensação de flutuar, o esquecimento de tudo e
da dor podem até parecer deliciosos, mas você precisa
saber quando parar, precisa saber quando está passando
mal, e precisa aprender a diferenciar a sensação boa de
estar em transe da sensação de entrando em coma.
— Eu estou confusa com tudo isso.
— Sim, é mais que natural que esteja Donna, mas
com o tempo você vai aprender a conhecer as reações do
seu corpo, e repito, não precisa ser assim se você for uma
boa menina.
— Não sei ser um capacho, Davi.
— Não quero um capacho, quero uma submissa, e
nos próximos dias sempre que você se sentar vai se
lembrar que foi muito má comigo, me faltando com o
respeito, e é esse o efeito do castigo, te fazer pensar nos
motivos que te deixaram com o rabo ardendo.
— Digamos que eu tenha gostado muito do pós
castigo e queira ser uma menina má.
— Não vou negar que esse seu jeito Brat de ser me
excita, vai ser um jogo divertido, basta saber quem vai
ganhar.
Donna fez cara de safada sorrindo e mordendo o
lábio inferior de forma provocativa, então voltei a falar:
— Voltando ao transe, você precisa aprender a
detectar os sintomas de quando as coisas estão
ultrapassando seus limites, alguns deles são tremores
involuntários, queda de temperatura, cansaço intenso,
queda de pressão e outras coisas mais.
— A sensação era tão boa Davi, eu me senti voando
e não queria descer.
— Coloque uma coisa na sua cabeça, tudo que sobe
precisa descer, e se possível com muito cuidado, não
quero que se torne uma viciada em adrenalina. Diga que
entendeu?
Donna jogou o corpo para frente e estendeu a mão
para apanhar a taça de vinho e resmungou:
— Aiii! Que merda — resmungou quando sentiu dor
na bunda.
Sorri achando graça da cara que ela fez, e
certamente que estaria ainda mais dolorida no dia seguinte.
— Alguma dúvida, Donna?
— Tenho milhões de dúvidas, mas antes quero
comer, só comer. — Mordeu com gosto mais um pedaço da
pizza, e vê-la comendo tão gostoso daquele jeito me dava
prazer.
— Donna, posso te fazer um convite?
— O quê? Vai me levar para sair?
Balancei a cabeça antes de respondê-la e me
levantei e apanhei a taça de vinho e a respondi:
— Não, mas quero que passe o feriado comigo
como submissa.
— Como assim? Me explica. — Arregalou os olhos
castanhos.
— Quatro dias, vinte e quatro horas por dia como
minha submissa para saber definitivamente como é ser
minha submissa de verdade.
— E se eu não quiser ser uma submissa de
verdade? — questionou-me ao cruzar os braços.
— A escolha é sua, vou esperar ansioso por sua
resposta, por hoje você pode apenas pensar, mas amanhã
quero que me diga se aceita ou não.
Donna assentiu e voltou a comer como se estivesse
mesmo faminta, e eu simplesmente fiquei admirando sua
beleza exótica até que a noite terminou com Donna
dormindo novamente ao meu lado na cama.
Davi o que está fazendo? — Questionou meu
cérebro observando-a dormir com os lábios separados e o
braço contornando meu abdômen.
XLIV
Acordei na cama do Davi deitada de bruços, minhas
nádegas estavam doloridas demais para encarar qualquer
outra posição, e assim passei à noite toda dormindo de
barriga para baixo.
Davi havia colocado o despertador do meu celular
para tocar às seis em ponto e quando me mexi sonolenta
na cama tomei ciência de que o dia seria complicado e
longo, pois eu estava dolorida demais.
— Davi! — chamei por ele e não o vi no quarto,
então me levantei e fui caminhando lentamente até o
closet, e na frente do espelho enorme suspendi parte da
minha camiseta para ver se havia ficado alguma marca em
meu corpo, e para minha surpresa não havia marcas
significativas, apenas algo leve em um tom bem clarinho.
À noite anterior foi intensa demais, tanto no quesito
prazer quanto dor, e passado o prazer, só me restou as
lembranças na carne que não me deixavam esquecer que
eu havia sido castigada.
Sorri olhando para o espelho, e me peguei em
pensamentos.
O que foi tudo aquilo, meu Deus?
Estava confusamente gostando muito do carrossel
de emoções que Davi estava despertando em mim, a dor
misturada ao prazer estavam me causando um encanto
assustador, uma atração perigosa estava desabrochando
em mim, era como se eu realmente fosse uma pétala que
estava se abrindo lentamente.
No banheiro, em cima da bancada da pia havia um
bilhete que dizia:
Seu café está servido na cozinha, se alimente e
vá para meu escritório.
Davi me fazia estremecer, já que até mesmo em um
simples bilhete sua possessividade ficava clara em apenas
uma frase escrita em letras cursivas e corridas.
Sorri e apertei o bilhete em meu peito ao perceber
que eu estava amando me entregar a um homem como
Davi Campos, que estava literalmente aflorando
sentimentos que eu nem sabia que existiam em mim.
Olhei pela sacada do quarto e tive o prazer de
contemplar os primeiros raios de Sol dando as caras ao
leste no horizonte, o brilho das cores lusco fuscas
avermelhadas e laranjas só não eram um espetáculo maior
que ver Davi correndo na pista de treino usando um short
curto preto e camiseta regata branca, pois ele havia
madrugado e simplesmente me deixou de fora do treino
dessa vez, e meu corpo agradeceu.
Depois de um banho, desci vestindo apenas
calcinha e uma camisa jeans que achei no closet dele, eu
não havia levado roupas, pois não estava nos meus planos
dormir na casa dele de novo. Fui direto para a cozinha
fazer meu desjejum e quando estava me servindo de uma
xícara de café escutei uma voz mansa e baixa dizendo-me:
— Bom dia, senhorita Donatella! — Senti meu rosto
queimar visto que jamais imaginei que teria mais alguém
na casa aquela manhã, pois se eu tivesse imaginado não
estaria circulando na cozinha só de camisa e com os
cabelos presos no alto em um coque bagunçado.
Virei-me em direção a voz e vi que era Vera parada
próximo a mim.
— Bom dia, dona Vera — respondi extremamente
constrangida.
— Precisa de alguma coisa, querida? Preparei tudo
como o Dr. Davi me pediu, mas se estiver faltando alguma
coisa pode me pedir e providencio rapidamente. Ahh! O
suco é o seu preferido, de caju, espero que esteja como
gosta.
— O suco é de caju?! — questionei perplexa.
— Sim, senhorita — respondeu-me prontamente a
senhora gentil.
Como ele sabia do suco? Meu eu interior foi logo
questionando, e logo me lembrei de que Davi havia dito
que sabia tudo sobre mim, então sorri assim que levei meu
suco preferido nos lábios e constatei que estava delicioso.
— Humm! Isso aqui está muito bom, Vera!
— Que bom, querida, mas sente-se, fique à vontade,
o doutor Davi está treinando, mas logo estará aqui.
A palavra “sente-se” fez um frio subir e descer
involuntário em minha espinha e sem ter como explicar as
razões pelas quais eu preferiria comer em pé, acabei me
sentando lentamente e vindo a sentir um certo incômodo
chato; acreditem, quando me sentei me lembrei que não
estava com tanta fome quanto meu estômago dizia, e
assim tomei um breve café da manhã e fui para o escritório
dele, levando o copo com o suco e um croissant.
Sem saber o porquê estava ali no escritório dele,
fiquei caminhando de um lado a outro e fuçando em suas
estantes de livros, e vamos combinar que Davi tinha uma
bela biblioteca em seu escritório, mas foi quando estava
tocando na estátua da deusa Themis com vendas nos
olhos, espada em uma mão e balança na outra em cima de
sua mesa, que fui surpreendida por um abraço por trás e
um beijo comportado na boca que fez-me arrepiar desde o
dedão do pé ao último fio de cabelo.
— Dormiu bem? — questionou-me Davi que entrou
no escritório como uma cobra.
— Sim, embora eu tenha dormido à noite toda de
bruços, dormi feito uma pedra.
— Ótimo! Vera me disse que você quase não
comeu, está sem fome?
— Comi o suficiente, estou bem.
— Sabe que precisa se alimentar e dormir direito,
isso é muito importante, Donatella.
— Sim, eu sei, mas perdi a fome quando tive que
me sentar.
Davi me presenteou com sua gargalhada deliciosa
jogando inclusive a cabeça para trás, dizendo logo em
seguida:
— Ah, então foi isso? — Voltou a gargalhar
enquanto eu fiz cara de paisagem deserta.
— E você acha pouco? — indaguei seria, porém,
rindo por dentro.
— Está doendo? — Tentou questionar com
seriedade.
— Não quando estou de pé, então prefiro ficar
assim.
— Não seja tão exagerada, tome outro remédio e
tudo ficará bem.
Estava lindo todo suado segurando uma toalha na
mão enxugando o rosto.
— Exagerada? — questionei pasmada. — Diz isso
porque não foi em você.
— Está certa! — sorriu mostrando-me os dentes
perfeitos.
— Bom, mandei que viesse até aqui porque separei
cem questões do concurso que quero que você estude e
que tenha na ponta da língua, são questões que costumam
cair na prova com uma frequência muito grande — disse e
me mostrou uma pequena pilha de papéis em cima de sua
mesa.
— Uau! — falei, folheando-as. — Muito obrigada,
Meritíssimo.
— Não quero que reprove e que me culpe por isso,
afinal de contas falta alguns dias para o concurso.
— Obrigada novamente, acho que relaxei nos
estudos nessa última semana, mas estou mais que
preparada, acredite.
— Acredito que esteja, mas vamos cuidar para
garantir sucesso. — Davi veio até mim, deu um beijo em
minha testa e em seguida voltou a falar. — Terceira estante
da esquerda para a direita, primeira prateleira, quinto livro,
pegue-o e leia com atenção, quero que até o final de
semana você tenha lido todas as páginas, e tome tento
com as páginas marcadas — disse e foi saindo do
escritório. — Vou tomar um banho para ir trabalhar e te
vejo no TJ — concluiu desaparecendo da minha frente.
Suspirei audível ao pensar que no mesmo minuto
que eu pensava que o tinha nas mãos, ele me escapou por
entre os dedos, e então fiz como me mandou, apanhei o
livro que se chamava: De olhos vendados, Dominação e
Submissão sem tarjas, da autora Neuza Silva.[VPdSJ1][1]
Mais tarde no TJ, dei novamente de topo com
Dalvinha no elevador e ela foi logo fazendo cara de
coitadinha quando olhei feio para ela e disse:
— Bom dia, sua fofoqueira de plantão.
— O quê? — levou as mãos na cintura. —
Fofoqueira, eu?
— Sim, a senhora, sim. Como ousou falar sobre o
lance do GG com o Davi?
— Ah, Donninha, ele nem sonha que GG é o...
— Cale-se, criatura, meu Deus do céu! — levei
meus dedos em minha testa. — Você está proibida de tocar
nesse assunto com ele novamente, entendeu?
— Mas e se ele falar sobre isso? Se me perguntar
de novo se está tudo GG?
— Desconverse, finja que não é com você.
— Ei Donna, me fala aí vai, ele já... — fez sinal com
a mão simulando chicotadas —, em você? — Senti um frio
na espinha só de me lembrar da cena da noite anterior.
— Isso não é da sua conta, criatura.
Ela fez cara de desdém e respondeu-me atrevida:
— Humm! Eu nem queria saber mesmo.
— Sei! — respondi e saí do elevador.
Aquela manhã fui para casa e me enfiei dentro de
um vestidinho curto, rodado de mangas longas e ombros
de fora na cor nude, ele deixava minhas nádegas livres e
não me apertava como os vestidos sociais que eu costumo
usar. Passei toda a manhã evitando cadeiras e não era
nenhum exagero, eu estava dolorida.
Com o Dr. Afonso ausente na parte da manhã, em
minha sala li muitas das páginas do livro que Davi havia me
indicado, era como se fosse um dicionário que explicava
detalhadamente todo o universo D/s e suas práticas de
dominação desde como se comportam as submissas, até
as diversas práticas que alguns Dominadores usam para
adestrar suas submissas, e fiquei inclusive sabendo de que
muitos deles nem praticam as chamadas sessões ou cenas
do BDSM, focando-se apenas na submissão e disciplina.
Algumas das práticas como Waxplay pareciam me
excitar de forma estranha enquanto lia sobre, as velas me
seduziam e era algo que poderia topar experimentar,
contudo Fire Play estava completamente fora de cogitação,
eu jamais deixaria alguém encostar fogo no meu corpo, e
assim passei aquela página sem se quer ler a respeito,
pois para minha sorte ela não estava marcada com um
marcador de páginas como algumas que eu estava
evitando ler.
Eu caminhava em minha sala de um lado a outro
com o livro aberto em minhas mãos, e quando finalmente
tive a curiosidade e abri em uma das marcações, dei de
cara com o nome Finger fucking que era a repetida
inserção e retirada do (s) dedo (s) na vagina ou reto.
— Meu Deus! Davi quer fazer sexo anal comigo. —
falei em voz alta.
Abri a página seguinte que estava marcada e tive a
confirmação, pois o tema explicado era Anal Training
(Treinamento Anal) que nada mais era que uma preparação
para atividades que vise a preparação do ânus para o Anal
Play, como exercícios de dilatação do ânus e que pode
durar dias e semanas.
Todo meu corpo estremeceu ao pensar na
possibilidade de passar por tal treinamento, ao menos se
fossemos mesmo fazer sexo anal, ele pretendia me
preparar para tal coisa, e pensar nisso me fez sentir alívio.
Passei para a próxima marcação e onde a prática
explicada era a de asfixia por meio de lenços, e que Davi
era louco por lenços eu já sabia, e sabia também que ele
sentia prazer em asfixia e ver aquela página marcada,
apenas me confirmou, e assim acabei por fechar o livro e
saí para meu almoço com Dalvinha, e naquela tarde,
passamos rapidamente por um food truck mexicano, onde
me deliciei com um taco e um burrito. Dalvinha era minha
companhia nas horas do almoço sempre que nossos
horários batiam, difícil foi aguentar ela me especulando
sobre o Davi.
Depois do almoço quando entrei em minha sala dei
de cara com uma rosa branca que não era um botão e
também não era uma rosa em sua plenitude, estava
semiaberta ao lado de um bilhete que dizia:
Vá até a biblioteca com minha resposta.
A letra era a mesma do bilhete na pia do banheiro
de Davi, e assim apanhei a flor em meus dedos e levei-a
até próxima do meu nariz e exalei seu aroma.
— Já tenho sua resposta, Vossa Excelência! — falei
sozinha apanhando o livro, o botão de rosa, e indo até
onde ele me ordenou.
XLV
Mal conseguia conter o sorriso nos lábios enquanto
caminhava com urgência nos corredores em cima dos
tapetes vermelhos do Palácio da Justiça, o ar solene do
lugar me encantava demais e não me canso de salientar
tamanha beleza e suntuosidade. Naquela hora da tarde os
corredores estavam desertos e o silêncio era ainda mais
palpável que de costume e poucos metros antes de entrar
na biblioteca, esbarrei com força em alguém que fizeram
minha rosa branca cair no chão e ser amassada pelas
solas de um sapato social masculino preto que só não
brilhavam mais que os olhos do dono, que sussurrou as
letras do meu nome como se fosse o doce mais delicioso
do mundo:
— Donna!
— Como vai Bruno? — questionei desgostosa ao
ver minha rosa despedaçada.
— Poxa, me perdoe pela flor — disse abaixando-se
e juntando algumas pétalas dela vindo a colocá-la em
minha mão sem tirar a mão dele da minha.
— Tudo bem! Não tem problema.
— Não esperava encontrar com ninguém por esses
corredores antes de uma da tarde.
— Pois é — falei sem graça dando um leve sorriso
tirando minha mão debaixo da dele.
Bruno sorriu desconcertado dizendo-me:
— Poxa, nem parece que somos amigos há anos,
parecemos mais dois desconhecidos.
De fato, Bruno estava certo, por motivos que não sei
explicar bem, acabamos nos afastando nas últimas
semanas.
— Impressão sua, Bruno.
— Bom, se é assim, me conta como estão os
preparativos para o concurso e para a maratona? — Sorriu
lindamente, pois não tinha como negar que tinha um belo
sorriso.
— Ah! Eu posso dizer que estou pronta para a
prova, dei uma maneirada nos estudos, pois estava
obcecada demais.
— Não acho que deveria ter diminuído seu ritmo,
passar para juíza sempre esteve em primeiro plano na sua
vida.
— E ainda está! Eu não disse que deixei meu sonho
de lado, disse apenas que estou respirando um pouco mais
agora.
— Entendi, está respirando Davi Campos, agora —
disse ressentido e mal tive tempo em respondê-lo o som de
uma voz grave e aguda entoou palavras ríspidas:
— É Doutor Davi Campos, Bruno — disse Davi
aproximando-se de mim e segurando de leve em minha
cintura causando-me espanto por tal gesto em um local
público, e por mais que estivesse deserto, poderíamos ser
vistos.
— Me perdoe, Doutor Davi, foi só a força da
expressão.
— Você já pode seguir — Davi respondeu-lhe
fazendo sinal com a cabeça.
— Bom final de semana para vocês. — Bruno disse
dando os primeiros passos na direção contrária.
Simplesmente me senti como aquela rosa, tão
despedaçada com a visão de ver meu melhor amigo seguir
seu caminho cabisbaixo.
— Você está bem, Donatella?
Levantei meu olhar para encará-lo furiosa, não
gostei nada da forma com que tratou meu amigo, mas
assim que nossos olhares se cruzaram uma névoa o tomou
e simplesmente me esqueci o que iria dizer, então disse
apenas:
— Sim, estou bem, Doutor Davi.
— Ei! Que formalidade é essa? Estamos só nós dois
aqui. — Pegou-me pelo cotovelo, abriu a porta da enorme
biblioteca e fez-me caminhar para seu interior luxuoso.
— Não gosto que destrate o Bruno, ele é meu
amigo, se lembra? — questionei dando-lhe as costas e
cruzando os braços.
— Vou fingir que não ouvi o que disse, então me
diga, o que aconteceu com nossa rosa?
Enchi os pulmões e soltei a respiração logo em
seguida, respondendo-o:
— Bruno pisou nela sem querer. — Dei dois passos
para frente com o intuito de me aproximar da gigantesca
mesa central, mas tive meu corpo freado abruptamente
pelas mãos fortes que me agarraram pela cintura.
— Vem cá, vem!
Fechei meus olhos assim que senti a força de seus
dedos levar meu corpo até o seu como se fosse uma
boneca inanimada, e todo meu corpo estremeceu quando
seus lábios tocaram em meu lóbulo e ele segredou
baixinho:
— Estou viciado em você, Donatella, não via a hora
de tê-la comigo novamente.
Meu pescoço caiu para trás e apoiou-se em seu
ombro largo, e assim Davi levou a mão direita em meu
pescoço e virou meu rosto em direção a seus lábios e
beijou-me ali como se estivéssemos em um local seguro.
Seus lábios maltratavam os meus em um beijo
sôfrego, havia muita pressa neles, um desejo que estava
criando forças no lugar e na hora errada.
— Davi! Davi... — murmurei querendo perder a
sanidade, mas enquanto o corpo ardia em resposta, minha
razão gritou estridente. — Estamos em um local público. —
Afastei meu corpo do dele com muita força de vontade.
— Eu sei, mas não vem ninguém nesse lugar nem
em horário de expediente, quem dirá na hora do almoço.
Por isso te pedi para vir aqui.
— Certo! — respondi caminhando pela antiga sala
de leitura da biblioteca rumo a enorme mesa oval
circundada por quinze cadeiras, o toc, toc dos meus saltos
era o único barulho na sala e assim que parei em frente à
mesa e me permiti admirar os lindos vitrais e pinturas
coloridas daquele ambiente maravilhoso que havia
passado por uma restauração há pouco tempo sem ter sido
tocado em sua opulência e solidez.
— Sente-se! — ordenou, Davi.
Meu corpo travou e se recusou a sentar, contudo
minha mente me dobrou e sentei-me lentamente tendo
resquícios da noite anterior mandando notícias.
Davi puxou uma cadeira em minha frente e inclinou-
se para frente unindo as mãos, então questionou-me sério:
— E então, conseguiu ler algumas páginas do livro?
— Sim, eu já li muita coisa.
— Atentou-se as páginas marcadas?
Levei meus olhos pela sala e falei:
— Esse ambiente aqui é maravilhoso.
— Sim, concordo! Olhe para mim, Donatella!
Ergui a cabeça e o fitei, e como estava lindo em um
terno preto com camisa branca e gravata preta.
Davi se recostou na cadeira de madeira escura e
voltou a falar:
— Quero que me aponte os pontos negativos e
positivos da sua leitura, diga-me algo que não faria e algo
que gostaria de experimentar.
— Bem! Algumas coisas me chamaram atenção e
curiosidade, tipo, o lance com as velas me parece bem
sedutor.
Davi esboçou um leve sorriso questionando-me:
— Não te assusta o fato de ter pingos de parafina
quente caindo sobre sua pele?
— Tudo me assusta, Davi, mas como você mesmo
me disse uma vez, como vou saber o que gosto ou não se
não experimentar?
O sorriso de Davi dessa vez reverberou-se em seus
olhos e então disse-me:
— Você aprende rápido, gosto disso. E quanto as
práticas que jamais faria? Cite algumas.
Ponderei um pouco e por fim, o respondi sem medo:
— Tenho medo do contato com fogo, agulhas, as
tais chuvas douradas, prateada...
— Não faço uso dessas práticas, pode ficar tranquila
quanto a isso, não me dá tesão nada que foge do são,
seguro e sadio.
Davi se levantou e caminhou lentamente até chegar
ao meu lado, naquele momento seu cheiro me aturdiu, ele
tinha um cheiro delicioso, então abriu o livro em uma das
marcações e tocou na página com o dedo indicador dando
dois toques, e assim questionei-o:
— O que significa isso?
Davi aproximou-se de mim, afastou algumas mexas
do meu cabelo para o lado esquerdo e sussurrou em meu
ouvido:
— Significa que vou comer teu cu — informou
tranquilamente sobre suas intenções e naquele momento
todos os pelos do meu corpo se fizeram ser notados, não
sei se de pavor ou de tesão pela forma com que aquilo foi
me dito. — Mas não se preocupe, teremos toda uma
preparação para tal acontecimento e eu te garanto que
você vai gemer e tremer muito.
Naquele momento, o que restava do botão de rosa
branco foi amassado por meus dedos que o apertou com
tanta volúpia que senti-me ser espetada por um espinho
que ardeu e fez um frio percorrer por minha espinha.
Palmas foram ouvidas como se estivéssemos sendo
ovacionados, e todo o tesão que Davi despertou em mim
se transformou em pavor quando uma voz que não
pertencia nem a mim e nem a ele ocupou o silêncio da
biblioteca:
— Não achei que viveria para ver tanta
demonstração de afeto por parte de Dom Davi a uma
submissa.
Eu já sabia de quem se tratava, e enquanto Davi
afastou seu corpo do meu, eu a respondi:
— Não sou uma submissa, doutora Rew!
— Ah não? E é o que então, querida? O novo
brinquedinho? A nova peça? O novo objeto? É tudo a
mesma coisa, bobinha, não se sinta diferente das outras
submissas dele.
— Cale-se, Rew! — ralhou Davi.
Fiquei transtornada e simplesmente emudeci
tentando entender o que aquelas palavras significavam, o
chão se abriu debaixo dos meus pés, e assim ela voltou a
falar:
— O quê? — fez cara de espanto — Não contou a
ela que tem outras submissas?
— Não existe mais ninguém — disse ele. — Rompi
relações com elas exatamente como fiz com você, Rew, e
tem mais uma coisa, sabemos que nem você e nem elas
eram minhas submissas fixas, todas eram play partner.
— Qual é Dom Davi? Eu e você sabemos que nossa
relação não era mais avulsa há muito tempo — Rew
respondeu.
— Onde quer chegar com isso? Pode me dizer? —
Davi questionou-a com as mãos em sua cintura ao afastar
o paletó.
— A única vez que te vi caindo de amores por uma
mulher foi pela Elisa, e ela sim, era uma sub de respeito,
agora, jamais imaginei que veria você caindo de amores
por uma baunilha como a Donatella. Não vê que ela não
está preparada para você? Não vai jamais corresponder as
suas expectativas de um dominador controlador como é
você.
Davi girou sobre seus calcanhares nervoso, estava
visível em seus olhos que estava com muito ódio, então a
respondeu questionando-a:
— O que pensa que sabe sobre mim, Meritíssima?
— Sei o que você busca, e sei que não é amor
porque não existe amor nesse meio, e porque você se
fechou para o amor, lembra?
— Eu sou um ser humano, amar faz parte da
condição inerente do ser humano mesmo que você lute
incessantemente contra isso, indubitavelmente você vai
falhar em algum momento. Descobri que não existe
momento para amar, não conseguimos controlar ou fazer
escolhas, foi inútil lutar contra isso.
Rew se calou por um momento, se abaixou no chão
e recolheu os restos da rosa branca despedaçadas, em
seguida, se levantou e debruçou-se sobre a mesa
apoiando suas mãos na mesma e questionou atônita:
— Está confessando que a ama? É isso mesmo que
estou ouvindo? Me confirme porque estou confusa.
— Estou me permitindo amar e ser amado, e você
não tem nada com isso! — Davi a respondeu.
Rew encarou-me rindo sarcástica e questionou-me:
— Você é tão boa assim? A ponto de fazer um Dom
como Davi Campos te amar?
— Pergunte isso a ele, doutora Rew, não a mim —
respondi segura.
Meu sangue estava fervendo em minhas veias, meu
coração dava pulos rumo a garganta e minha única
vontade era a de estrangular aquela mulher com minhas
próprias mãos e mandar tudo para o espaço.
Percebendo que eu estava um amontoado de
nervos, Davi virou-se em minha direção e segurando-me
nos braços, disse-me:
— Fique calma, está bem?
Assenti apenas.
— Volte para sua sala, Donatella — disse Rew com
um tom austero.
— Ainda estou no meu horário de almoço —
retruquei sem medo.
— Vai mesmo me peitar? — questionou-me com o
sangue fervilhando em seus olhos amendoados.
— Amor, me espere na sua sala, já chego lá —
disse-me Davi.
— Amooor?! — Rew gargalhou
descompassadamente. — Estou passada, Dom Davi!
— Pare de me chamar dessa forma aqui dentro,
Rew — respondeu-a Davi.
Eu estava tremendo por dentro, tudo estava perdido,
meu concurso estava arruinado e minha única vontade era
chorar. Aquela mulher estragou todos os meus planos, eu
estava perdida, tudo estava perdido, então falei:
— Não vou a lugar algum, não sem você, Davi.
Rew caminhou em minha direção e falou encarando-
me:
— Uma relação D/s não é para qualquer uma,
coloque na sua cabeça que você irá confrontar seus
maiores medos, eu espero que você mereça esse homem,
porque no seu menor vacilo, é a mim que ele vai chamar
para saciar suas taras, então, seja uma boa menina e se
quer uma dica, não faça sons, ele enlouquece.
Engoli em seco enquanto assisti a Presidente do
Tribunal de Justiça se retirar da sala com seu elegante
tailleur cinza, equilibrando-se em cima de saltos agulhas
enormes.
Assim que ela saiu despenquei nos braços de Davi
imersa em um choro sentido, dizendo:
— Adeus concurso, adeus minha carreira.
Davi me segurou com as duas mãos no rosto
consolando-me:
— Donna! Eu conheço aquela mulher que acabou
de sair daqui, e posso te garantir que tudo que foi dito aqui
dentro dessa sala vai morrer aqui.
— Eu duvido muito, ela está me odiando.
— Pode ser, mas ela é uma mulher ética, confie em
mim, eu sei o que estou dizendo. Vem cá! — Apertou-me
em seus braços dando um beijo em minha cabeça. — Vai
dar tudo certo.
— Não sou mulher para você, você a viu dizer.
— Prove para ela que está errada, vem comigo para
minha casa de campo esse fim de semana.
Saí de seus braços e abracei-me com os meus, e
naquele momento, eu era um posso de incertezas, mas
ainda assim, achei forças para dizer:
— Vou com você para qualquer lugar — deixei meus
braços cair ao lado do meu corpo e concluí. — Só não sei
se conseguirei ser o que você quer de mim.
— Você já é o que eu quero!
XLVI
Depois do episódio desagradável com Rew na
biblioteca, entrei em minha sala e fechei-a atrás de mim
lentamente, pois meu cérebro estava começando a digerir
os acontecimentos, evidentemente que processar a
confissão que deixei escapar seria um trabalho meio árduo.
Eu já tinha plena consciência dos meus sentimentos
em relação a Donatella, mas deixar isso sair de meus
lábios em forma de confissão para Rew e na frente da
Donna me fez ter a confirmação mais que absoluta de tal
situação. Estava novamente amando uma mulher.
A sujeição física de Donna a mim, sua entrega lenta
e promissora mexera comigo mais do que imaginei, ela não
sabia, mas faltava muito pouco para que a sujeição fosse
completa, de corpo e alma, e no dia que sua alma se
curvar a mim certamente que o mundo ficará pequeno para
o tamanho da minha satisfação.
Caminhei em minha sala de um lado a outro
tentando desfocar meu cérebro de toda aquela degustação
demorada pela qual o mesmo estava passando, pois fiquei
anos e anos sem sentir nada parecido por mulher nenhuma
e simplesmente não conseguia acreditar que permiti que
Donna me desarmasse de forma tão sutil.
Estava olhando pela persiana, mãos enfiadas nos
bolsos e pensamento voando longe quando os dois toques
conhecidos na porta me tiraram de meu transe.
— Entre, Bruno.
A porta se abriu e Bruno se colocou em minha
presença com uma pilha de papéis dizendo:
— Com licença, Dr. Davi, preciso de sua assinatura
na concessão do habeas corpus do senhor Ernesto Manfio.
— Achei que já tivesse feito isso, pode deixar aí na
mesa.
— Sim, senhor! — respondeu e se virou em direção
a porta, então falei:
— Um momento.
— Precisa de algo, senhor? — questionou sisudo.
Era nítido e notório que nosso convívio havia sido
arranhado por conta do meu relacionamento com a Donna,
então eu o questionei sendo direto:
— O que sente de fato pela Donatella?
Bruno baixou a cabeça, ficou imóvel, perplexo,
obviamente o peguei de surpresa.
— Somos amigos, apenas isso e mais nada senhor
— respondeu-me sem me olhar nos olhos.
— Eu sei, mas não foi essa a pergunta que lhe fiz.
— Caminhei rumo a minha mesa e me sentei na cadeira.
Bruno ponderou por alguns segundos, riu de
nervoso e alisou a testa, questionando-me:
— Onde mesmo o senhor quer chegar?
— Você a ama?
Bruno hesitou por um instante, e em seguida,
respondeu-me:
— Gosto muito dela, talvez tenha sido apaixonado
no passado, mas isso não é mais minha condição atual,
visto que estou com a Carla e é ela que tem minha atenção
no momento.
— Muito bem! Acho bom que seja mesmo assim,
pois não daria certo continuar trabalhando com um homem
que ama minha mulher — digo.
Bruno encheu seus pulmões de ar ou de
descontentamento, mas o fato é que ele foi sucinto em sua
resposta ao dizer:
— Não a magoe.
— Não irei.
Bruno saiu da minha sala sem conseguir me
convencer, tinha algo em seu olhar que me dizia que eu
tinha ali um concorrente fantasma.
Estava terminando de assinar a concessão quando
meu celular acendeu e fez brotar um sorriso em meu rosto,
então atendi dizendo-lhe:
— Oi, meu amor!
— Seu amor? — questionou com tom de voz
meloso.
— Sim, só meu, só minha.
— Gosto da ideia de ser sua, espero que seja só
meu também.
— Tem dúvidas quanto a isso?
— Você não me disse que tinha outras submissas
além da Rew.
— Donna, eu sou um Dom, lembra-se? Eu me
relacionava sim com outras submissas, mas eram todos
relacionamentos que chamamos de avulsos, eu ligava para
elas sempre que precisava de uma sessão e elas viam me
atender prontamente.
— Era assim com a Rew também? Não minta para
mim.
— Primeiramente, eu não minto jamais, e com Rew
começou assim e para mim sempre foi assim, mas para ela
as coisas foram tomando outro rumo, mas não vejo
necessidade de falarmos disso agora.
—Está bem, me desculpe incomodá-lo, Meritíssimo,
mas o senhor não me disse o que devo levar para nossa
viagem.
— Leve tudo o que normalmente levaria em uma
viagem, e não se esqueça de agasalhos, pois faz um
friozinho gostoso pela manhã e durante à noite, e também
roupas para fazermos trilha e correr.
— Está bem, achei que fosse me dizer o que levar,
como lingeries mais sexy ou não levar absolutamente
nada.
Sorri me sentindo completamente relaxado na
cadeira.
— Não direi o que levar, já o que irá usar é que são
elas.
— E como vou saber o que gostaria de me ver
usando?
— Não se preocupe com isso, Donna, apenas fique
pronta, e às quatro da madrugada em ponto estaremos de
partida para Monte Verde.
— Uauu! Monte verde? — falou em tom de
questionamento.
— Sim, tenho uma casa de campo na serra, você vai
amar.
— Tenho certeza de que sim, mas por que
viajaremos de madrugada?
— Porque irei dirigindo, amo essa viagem e é
quando vou para lá que me dou o direito de me sentir um
homem comum e dirigir.
— E isso é seguro para você?
— O fato de eu ir dirigindo não significa que não
teremos uma escolta. Infelizmente isso é mais que
necessário.
— Entendi.
— Parte da segurança já foi para lá levando a Vera e
alguns empregados que irão cuidar de tudo para nossa
chegada.
— Seria sonhar demais estar sozinha com você em
um paraíso — disse ressentida.
— Estaremos sozinhos lá, eles foram apenas deixar
tudo no jeito para a gente, e depois retornarão para São
Paulo.
— Quer dizer que estaremos sozinhos? Vamos
poder andar na cidade e tudo o mais? — questionou
entusiasmada.
— Sim, claro que sim, terei que tomar alguns
cuidados, mas sempre consigo caminhar pelo centrinho
tranquilamente.
— Não vejo a hora — disse animada. — Bom,
preciso desligar, ainda vou trabalhar até às cinco.
— Bom trabalho, Donatella.
— Por que diabos adora me irritar?
— E por que está irritada comigo, posso saber,
senhorita Donatella?
— Você sabe muito bem.
Gargalhei de forma generosa, pois eu sabia o
quanto eu a irritava quando a chamava de Donatella.
— Eu acho seu nome uma delícia de pronunciar, é
como se fosse algo muito gostoso de comer, enche-me de
água na boca.
— Olha aqui, senhor meritíssimo — sussurrou as
próximas palavras. — O senhor é um gostoso filho da mãe.
— Humm! Sou é?
— É!
— E se de repente eu tiver me sentido ofendido com
essa sua afirmação?
— Não! Você não ficou ofendido, ficou?
— Não sei, ainda vou pensar sobre esse seu abuso.
— Mas, Davi! ...
— Até mais tarde, Donna. — Desliguei sem dar-lhe
a oportunidade de continuar argumentando.
Sorri me sentindo pleno demais para ser verdade e
mal podia esperar para ser o dono dela por três dias
inteiros.

Passei boa parte da minha noite me preparando


para viajar com Davi, a ansiedade me consumia a cada
lingerie que eu colocava em minha mala e a cada produto
que enfiava dentro da necessaire. Após arrumar tudo e
depois do meu banho, saí do meu quarto e caminhei pelo
corredor e entrei na porta que mais me dava tristeza, fui
despedir-me do meu pai, e ele estava deitado de lado em
posição fetal virado de costas para mim.
— Boa noite, Sandra!
— Boa noite, Donna!
— Pode ir para cozinha comer ou beber alguma
coisa, fico com ele um pouco aqui — falei.
—Obrigada, querida! — disse e se levantou de sua
poltrona confortável e se retirou do quarto.
Dei a volta na cama alta hospitalar e ele estava com
os olhos fechados.
— Papai! — chamei-o tocando em seu rosto. —
Abra os olhos para eu ver, meu amor, eu sei que está
acordado.
Ele abriu os olhos como imaginei que faria, eram
lindos, na cor de mel e naquela noite pareciam verde.
— Como o senhor está?
— Com fome, ninguém me dá comida nessa casa.
— Luiz! — esbravejou minha mãe entrando pela
porta. — Pare de mentir para a Donna.
Sorri com a forma com que minha mãe falou, ela
ainda o tratava como se ele se lembrasse da gente, então
veio logo a lança que me atingiu como atingia todas às
vezes que ia vê-lo:
— Quem é Donna?
Meus olhos marejaram, eu o toquei em sua face
envelhecida e o respondi:
— Sou eu, papai, sua filha, Donatella, lembra-se de
mim?
Ele abriu um lindo sorriso e seus olhos brilharam ao
dizer:
— Helena, meu amor, você está ainda mais linda do
que quando a conheci.
Levei meus olhos em minha mãe e ela
simplesmente se virou de costas levando sua mão direita
em sua boca, estava nitidamente tentando conter o choro.
Alzheimer era uma tristeza sem fim nas nossas
vidas, mas uma coisa essa maldita doença não conseguiu
apagar da memória do meu pai, a imagem de como minha
mãe era quando mais nova, e dar a ele essa lembrança me
enchia de felicidade.
Deixei-o em seu quarto com o coração na mão.
Às três da manhã, na porta do carro que Davi
comprou para mim, minha mãe me abraçou forte e disse-
me:
— Façam uma boa viagem, divirta-se nesse fim de
semana e permita-se, minha filha, seja feliz enquanto você
ainda pode ser.
Eu a abracei forte dizendo:
— Obrigada, mamãe! Cuida bem do papai e
qualquer coisa me liga.
— Vai com Deus, meu amor.
— Eu vou, mas fique com Ele vocês também.
Minha mãe sorriu e acenou, então saí em direção ao
desconhecido e só Deus sabia como acabaria essa
viagem.
XLVII
Com o trânsito morto na madrugada amena de São
Paulo, passou-se apenas alguns minutos até eu já estar
dentro das dependências da casa do Davi, e logo que desci
do carro e pisei no gramado, eu o avistei próximo do BWM
preto checando o óleo do carro. Estava lindo vestido com
uma calça jeans e camiseta preta casual, teríamos
combinado se minha camiseta fosse preta ao invés de
branca. Assim que desci, senti um friozinho me acariciar, e
dessa forma, voltei ao carro que ainda se encontrava com
a porta aberta e peguei meu casaquinho preto.
— Oi! — falei ao me aproximar dele com as mãos
enfiadas em meus bolsos da calça.
— Olá! Está preparada? — questionou enfiando o
filtro do óleo em seu devido lugar e fechando o capô do
carro.
— Sim, ansiosa demais por esse feriado.
— Muito bom, porque esse final de semana será
nosso teste final, é pegar ou largar.
Engoli em seco encolhendo-me só de pensar na
possibilidade de algo sair errado, Davi já é quase como o
ar que eu respirava e sem ar eu não sobreviveria.
— Como assim, pegar ou largar? — questionei
assustada.
Davi sorriu contido questionando-me ao se
aproximar muito de mim, tanto que me fizera sentir seu
cheiro amadeirado, estava usando um outro perfume
aquela madrugada e despertou em mim sensações
deliciosas, então olhou para os lados e disse em seguida:
— Não vou mais ser tão bonzinho com você.
— Não tenho medo de você, Meritíssimo.
— Não? — ergueu as sobrancelhas, enquanto
limpava as mãos em um paninho.
— Não! — enfatizei, enfiando minhas mãos em
meus bolsos e encolhendo os ombros.
— Deveria.
— Desista!
Ele sorriu, passou a ponta da língua nos lábios, e
disse:
— Vamos?
Assenti olhando-o fixo sentindo uma vontade
insuportável de beijá-lo, mas não faria tal coisa ali na frente
dos seguranças dele.
— Sim, vamos, senhor! — falei para ver suas
reações, já que eu sabia que teria que chamá-lo assim
durante todo o final de semana.
Davi estreitou o olhar, balançou a cabeça em
negativo e respondeu-me:
— Não me provoque!
Eu o olhei de forma provocante e ele se virou e foi
até meu carro pegar minha mala.
— O que está levando nessa mala? Um cadáver?
— Você disse que podia levar o que eu quisesse.
— Sim, mas não o guarda-roupa todo.
— Pare de reclamar, eu sou mulher, esqueceu?
Saímos em uma espécie de comitiva, uma escolta
seguiu na frente, Davi no meio e uma seguia-nos logo
atrás.
Davi conseguia ficar mais sexy ainda dirigindo, ainda
não o tinha visto atrás do volante e era ainda mais sério e
compenetrado.
Abri minha bolsa e questionei:
— Importa-se de eu tomar um Dramin? Não
costumo passar muito bem quando estou de carona.
— Tudo bem, não se preocupe se dormir, são só
duas horas ou menos de viagem, estaremos chegando
quando o dia estiver nascendo.
— Certo!
Davi apertou uma tecla no volante ligando o rádio
que estava sincronizado em seu Iphone através do
bluetooth e questionou-me assim que a música começou a
tocar baixinho:
— Te incomoda se eu ouvir um pouco de música?
— Não, claro que não — respondi e me surpreendi
quando o som começou a fazer sentido em meus ouvidos e
percebi que era Elvis Presley então as primeiras palavras
da música me fizeram arrepiar e diziam:
Wise men say (Homens sábios dizem)
Only fools rush in (Só os tolos se apressam)
But I can’t help, Falling in love with you (Mas eu não
consigo evitar, de me apaixonar por você)
— Uau! O que esperar de um homem como você?
— falei quase que suspirando com a letra da música que
ele havia escolhido, e por sorte meu inglês era fluente o
bastante para me permitir entender cada palavra.
— Eu gosto do Rei, sempre achei as canções dele
únicas, assim como ele era único.
— É, ele tem uma história e tanto.
— Sim, e para mim o dom que Deus deu a esse
homem não deu a mais ninguém.
— Nossa, essa música é intensa demais.
— Preste atenção nessa parte — falou, segurou em
minha mão e começou a cantar junto, arrepiando-me inteira
quando minha mente foi traduzindo as palavras fazendo
meu coração acelerar.
Take my hand (Pegue a minha mão)
Take my whole life too (Tome a minha vida inteira
também)
For I can't help (Porque eu não consigo evitar)
Falling in love with you (Me apaixonar por você)
Sem conseguir me conter, questionei-o ainda
segurando em sua mão direita:
— Posso te fazer uma pergunta?
— Sempre pode.
— O que mudou? Sim, porque um dia você me disse
que não iria mudar e que não amava, e só hoje você já me
chamou de amor duas vezes e disse aquelas coisas para
Rew e agora a música — balancei a cabeça. — Só quero
entender.
— Nada mudou, eu não mudei e não vou mudar,
Donna, o fato de não ter conseguido evitar de sentir algo
mais forte por você não significa que vou deixar de ser
quem sou e como sou.
— Humm! Entendi.
— Olha, não se engane, o fato de eu estar sentindo
algo mais forte por você, não significa que as coisas ficarão
mais brandas, muito pelo contrário, amando, eu me torno
ainda mais possessivo, protetor, não pense que isso vai me
deixar menos dominante e mais fraco.
— Eu só achei...
— Você ainda pode desistir.
— E perder esses momentos de você cantando para
mim? Nãoooo! — sorri e ele soltou minha mão.
Davi continuou ouvindo música enquanto seguíamos
para Monte Verde há mais ou menos 160 km de São Paulo,
conhecida popularmente como Suíça mineira, e eu
simplesmente, não via a hora de chegar; e depois de tomar
o Dramin acabei pegando no sono.
— Donna! — Davi me tocou de leve acordando-me,
e logo que despertei, percebi que o dia já estava clareando,
olhei para fora e vi uma placa indicando que faltavam 30
km até Monte Verde.
— Vamos subir a serra Camanducaia, Monte Verde,
e vamos de mil metros de altitude para mil e seiscentos
metros, esse é o melhor trecho da viagem, é fascinante e
gostaria que você visse.
Realmente valeu a pena ser desperta por Davi, pois
a paisagem era mesmo de tirar o fôlego e após
trafegarmos mais alguns quilômetros avistamos o portal da
cidade que destacava:
Bem-vindo a Monte Verde
Monte Verde é uma Vila charmosa, embrenhada em
um dos pontos mais altos da Serra da Mantiqueira, Sul do
Estado de Minas Gerais, e fica a 1600m de altitude acima
do nível do mar com seu clima tropical de altitude e
características de clima subtropical devido a localização
montanhosa, gelada nas noites de inverno com
temperaturas negativas podendo chegar a 10° negativos e
no verão variantes de 28° a 10° positivo.
Sim, eu havia feito a lição de casa e fui pesquisar
sobre a cidade para onde eu estava sendo levada, e
realmente eu me senti chegando em um Vilarejo Suíço,
tudo era muito parecido com a Europa, desde o ar até a
arquitetura das casas que naquele horário da manhã tinha
fumaça saindo por algumas chaminés e o cheiro mentolado
dos pinheiros e das araucárias completaram o cenário
dessa vila charmosa.
— Essa cidade é um encanto, Davi.
— Sim, mas a cabana não fica exatamente aqui na
vila, e sim, em um condomínio a mil e oitocentos metros de
altitude morro acima uns três quilômetros da vila. E por
conta disso teremos uma vista maravilhosa de todas as
pedras que fazem parte do cenário turístico da cidade.
Pedra Redonda e Partida, Platô, Chapéu do Bispo, Pico do
Selado, enfim, uma visão panorâmica do vale, você vai
gostar.
Seguimos em frente na Avenida principal da cidade
que ainda estava dormindo, e conforme fomos subindo a
montanha, me senti sendo abraçada.
Não existe sensação comparável à de chegar nesse
paraíso no alvorecer.
De longe avistei a casa de Davi, era simplesmente
linda e ficava no topo da colina, cravada na Serra da
Mantiqueira, totalmente imersa a natureza da mata nativa
ao entorno e meio a floresta de araucárias e pinheiros
gigantescos, eu estava literalmente de boca aberta com
tanta beleza.
— Nossa, Davi! E você ainda chama essa casa linda
de cabana?
— Sim, é uma cabana rústica em estilo colonial,
construída com madeira de canela, cercada por alguns
panos de vidro que nos permite visualizar toda a paisagem
por vários ângulos da casa.
Pois que fosse uma cabana, porém, me parecia
aconchegante e repleta de elegância a moda serrana.
Assim que descemos, Vera e alguns empregados
vieram nos receber.
— Seja bem-vinda a Serra, minha querida — disse-
me Vera.
— Obrigada, Vera!
— Fizeram boa viagem, senhor? — ela questionou
Davi.
— Sim, fizemos uma viagem muito boa.
Atentei-me aos sons da natureza e nem me
lembrava de quanto tempo fazia que não parava para ouvir
os pássaros daquela forma.
— Vera, leve a Donatella até o quarto dela — disse
Davi.
Meu quarto? Como assim meu quarto? Questionei
em minha mente.
— Jânio, leve as malas da Donatella lá para cima,
por favor! — Voltou a mandar.
Olhei para Davi com um ponto de interrogação
enorme em minha testa, então ele disse:
— Suba com a Vera. — O tom autoritário dele ficou
bem nítido em cada nota que saiu de seus lábios. Mas e se
eu não quisesse subir?
Simplesmente o obedeci e fui seguindo a Vera ao
subir uma escada de madeira, assim que entramos na casa
senti um cheiro delicioso de madeira, era bem vivo na
minha memória, então aspirei, e em seguida, Vera disse-
me:
— É canela, quando a casa passa um tempo
fechada ela fica com esse aroma.
— Sim, bem imaginei que fosse.
A decoração de toda a casa era uma junção do
rústico com o moderno no mais elegante e charmoso estilo
campestre, toda feita em madeira de demolição e decorada
em tons pastel e caramelo. Na sala de estar o sofá de
camurça caramelo era em estilo italiano repleto de
almofadas em tons de terra, a mesa retangular em madeira
de demolição que em seu canto esquerdo sustentava
alguns livros. Havia também uma lareira de pedra no canto
oposto. Ao menos ali, aquele ambiente era aconchegante e
intimista. Fui seguindo Vera que me mostrou a porta do
quarto onde disse ser o de Davi, contudo, me levou até o
fim do corredor e abriu a última porta.
— Esse é o seu quarto! — disse-me ela.
— Então é aqui que elas ficam? — questionei.
— Elas quem, Donatella?
— As mulheres que ele traz para cá.
— Me desculpe, mas você foi a primeira mulher que
vi o Dr. Davi trazer para cá depois que comprou essa casa.
Relaxei os ombros e só então me permiti apreciar o
ambiente que nada tinha de diferente, era um quarto
confortável com uma enorme cama branca com um lindo
cobre leito em xadrez de branco e lilás, uma bela poltrona
clássica acompanhando a mesma estampa xadrez da
cama e logo imaginei que era Vera quem cuidava de tudo
por ali. Tinha um tapete enorme e peludo na cor branco e
uma lareira em um dos cantos. Era um quarto bem
delicado com uma cama confortável que só me fez querer
cair em cima dela e continuar o sono gostoso que eu
estava tendo dentro do carro, pois ainda eram seis da
manhã e o sol mal tinha começado se mostrar.
Um banheiro com uma banheira com vista para o
vale e uma varanda também faziam parte do pacote, sim,
pois me senti sendo acomodada em um hotel de luxo.
— Os cobertores e travesseiros extras estão todos
no closet — informou Vera. — E antes que eu me esqueça,
todas as compras que a senhorita pediu foram feitas e
estão nos armários da cozinha e geladeira.
— Está certo, obrigada. — Davi havia me pedido
para fazer uma lista de compras.
— Bom, vou deixá-la descansar, a propósito, o seu
café da manhã já está servido na cozinha, mas o doutor
Davi pediu que a senhorita o aguardasse aqui no quarto.
— Obrigada, Vera!
— Tenha uma boa estadia aqui em Monte Verde,
querida, já estou de partida para São Paulo.
— Tenha uma boa viagem.
— Obrigada! — disse e me deixou ali sozinha com
meus questionamentos.
— Por que diabos ele me colocou aqui nesse
quarto? — Sentei na cama macia e minha mente começou
a fervilhar e alguns minutos mais tarde Davi cruzou a porta
e encarou-me dizendo:
— Tire as sapatilhas. De agora em diante você só
anda descalço dentro da casa.
— E posso saber por quê? Aliás, por que me
colocou aqui nesse quarto separada de você?
— Senhor! — despejou a palavra parado em minha
frente em posição estática. — De agora em diante sou o
seu dono e você me trata como senhor, certo?
Engoli em seco e o respondi:
— Sim, senhor!
— Não me olhe mais nos olhos, e nem fale sem
pedir minha autorização.
Retirei as sapatilhas vermelhas dos meus pés
encarando-o, então dei alguns passos atrevidos em sua
frente e falei:
— Será que você pode ligar o modo dominador mais
tarde? Acabamos de chegar, eu nem conheci o lugar ainda
Davi, você bem que podia relaxar.
— Desça para tomar café comigo, e não se
esqueça, de agora em diante, você só ouve e não fala se
eu não a questionar.
— Sim, meu senhor! — respondi em um tom irônico.
— Boa menina! Não se preocupe com friagem, o
chão de toda a casa é aquecido e se caso esfriar você não
irá sentir frio.
— Vou ter que ficar andando descalço o tempo
todo? É isso mesmo?
— Sim, os pés nus servem para distinguir a posse
de seu dono, além do mais, você passa tempo demais com
seus pés enfiados nos luxuosos Louboutin, e sinceramente,
seus pés são lindos demais e quero poder olhar para eles
sempre que sentir vontade.
Mamãe, muito obrigada. Lembrei-me de que foi
minha mãe que me alertou de ir a manicure antes de viajar
e meus pés e mãos estavam devidamente bem cuidados e
pintados com esmalte vermelho.
— Quero que entregue tudo a mim, sua vida, sua
dor, prazer, obediência e acima de tudo, o desejo de estar
aos meus pés.
Tudo aquilo era tão intenso que fiquei sem palavras,
ele ainda esperava que eu me ajoelhasse aos seus pés.
Davi me deixou ali no quarto, se retirou, e foi ali
naquele momento que sua frieza me atingiu amargamente,
eu jurava que estava preparada, mas será que estava
mesmo? Não poder falar com o homem que eu amava sem
pedir permissão e não poder olhar nos olhos dele parecia
até fácil, mas até que ponto?
Depois do café da manhã, onde só Davi falou e me
explicou várias coisas que ele queria que eu fizesse, como
cuidar das obrigações domésticas, como cozinhar e cuidar
da limpeza da cozinha. Também me disse que iria trabalhar
na parte da manhã, pois estava sobrecarregado e que eu
poderia voltar ao meu quarto e dormir, ou ir dar uma volta e
conhecer as imediações da cabana; e como estava muito
cedo optei por ir me deitar na cama deliciosa, e assim
peguei no sono rapidinho e acordei já perto das 10:30h.
Acho que meu subconsciente me alertou de que Davi
queria o almoço servido às 12h.
Assim que coloquei meus pés no chão, já fui logo
procurando meu chinelinho no modo automático, eu odiava
ficar descalço e quando me levantei bati o olho no criado
mudo branco e vi um bilhete que dizia:
Vista o vestido que está na poltrona
Olhei para a poltrona e vi que ele havia deixado um
vestido branco, e logo que o peguei em minhas mãos, eu o
reconheci; e era exatamente igual aos que eu já havia
usado da deusa Themis, estilo grego de ombro só, a
diferença é que esse já era curto, então li a frase final do
bilhete que dizia:
PS: Esteja disponível.
Meu Deus! O que ele quis dizer com estar
disponível?
XLVIII
Após tomar uma ducha rápida e tirar a moleza do
corpo, pois havia dormido exageradamente aquela manhã,
me vi enrolada em uma toalha e parada em frente a cama
olhando o microvestido no qual deveria me enfiar.
Apanhei o bilhete em cima da cama e li somente a
última frase: Esteja disponível.
Coloquei o vestido, olhei-me no espelho do closet e
amarrei o ombro do mesmo, eu amava me ver dentro
daquele modelo de vestido, eu realmente me sentia uma
deusa, a deusa dele. Fiz uma maquiagem discreta, apenas
para realçar meus pontos fortes, e dessa forma, usei de
leve um iluminador e apliquei o brilho dourado na parte
superior das maçãs do meu rosto, e em seguida, usei um
corretivo. Para os olhos usei uma sombra em um tom de
marrom queimado e uma camada fina de máscara nos
cílios, mais natural impossível.
Peguei uma calcinha e fiquei com ela na mão com a
cruel indecisão me matando e martelando a mente:
Com ou sem calcinha?
Suspirei, sorri para mim mesma e respondi a minha
própria dúvida:
— Você me quer disponível, senhor? Então estarei
disponível — joguei a calcinha em cima da cama, enfiei
meus pés em meus chinelos, mas quando dei um passo à
frente, lembrei-me que não poderia usar calçados dentro
da casa, então tirei-os e fui em direção a porta falando
sozinha novamente — Você quer jogar? Então vamos
jogar, Vossa Excelência.
Liguei o botão do play e desci as escadas de
madeira lentamente, desci realmente disposta para o tudo
ou nada, pé por pé, deixando meus olhos vasculharem a
sala em busca dele e não o vi, então chamei por ele:
— Meu, senhor? — Caminhei pela sala pisando
sobre o piso de madeira que brilhava, e quando novamente
me deixei perder no aroma da canela, tremi ao me assustar
com a voz grave dele me chamando pelo nome completo:
— Donatella!
Virei em direção a voz e ela estava descendo as
escadas juntamente com seu dono, ou melhor, meu dono.
Uau! O que foi aquela visão? Davi estava descendo todo
despretensioso, pulando os degraus, com algo embolado
entre seus dedos e centro da palma mão esquerda e havia
algo em sua mão direita também. Quando parou na minha
frente, usando calça preta social e camisa preta, senti meu
coração acelerar ao me lembrar que sempre que tivemos
algo mais forte, ele estava todo de preto, e assim, senti os
estímulos daquela imagem chicotearem a minha libido com
força, muita forçaaaa.
Davi vestido de preto me dava muito tesão.
Sem poder encará-lo, meus olhos exploraram seu
tórax, ou parte do que estava amostra pelos botões abertos
da camisa, e foram parar em seus sapatos pretos de bico
fino. Aquilo era um convite descarado ao pecado, e assim
não dei nenhum pio como ele havia ordenado durante o
café da manhã.
Concentre-se Donna! O diabinho que existia em mim
alertou.
Davi levantou meu queixo com a mão que segurava
o objeto que inicialmente julguei ser um chicote ou algo do
tipo, então pude olhar em seus olhos que brilhavam em um
tom ainda mais gélido e cinzento.
— Linda! — afastou meus cabelos e aproximou-se
vindo a me cheirar. — Cheirosa! — então passou a língua
em meu pescoço me fazendo entrar em ebulição. —
Gostosa demais.
Ele me virou de costas, me cheirou novamente e
deslizou suas mãos em meus braços e os levou para trás,
uniu minhas mãos e passou a imobilizá-las com braceletes
de camurça preto que se uniam por um mosquetão
prateado.
— Vou começar a lapidar você, exatamente como eu
quero — mordeu minhas costas na altura dos ombros. —
Relaxa! — sussurrou no pé do meu ouvido quando passou
envolta do meu pescoço uma coleira prata protegida por
camurça na parte que ficava em contato com minha pele.
— Agora eu sou seu dono e você é minha peça — meu
corpo tremulou quando Davi prendeu o mosquetão da guia
na argola da coleira usando aquelas palavras — Essa é
uma coleira de treinamento, mas se for boazinha, um dia,
quem sabe você ganhe uma definitiva.
Naquele momento achei que meu coração fosse
parar de bater com tanta ansiedade, mil coisas se
passavam em minha cabeça, e a cada toque dele em meu
corpo, minha mente tentava antecipar o que viria a seguir,
então ele disse:
— Agora vou te colocar em posição de submissão, e
vou esperar ansioso a cada dia pelo momento em que fará
isso por livre e espontânea vontade, como uma boa
submissa, pois a mim só interessa sua entrega verdadeira,
o momento em que fará isso sem que eu precise pedir, ou
forçar, mas fará única e exclusivamente por vontade de me
agradar e me dar prazer tendo isso como um prazer seu
também — disse, enfiou sua mão direita em minha nuca e
apertou seus dedos em meu pescoço forçando-me para
baixo, fazendo-me ajoelhar aos seus pés.
O silêncio se mantinha firme em meus lábios, mas
minha alma gritava em conflito com meu corpo que
desejava mais que qualquer coisa aquele toque mais duro
dele, aquele tom de voz imperioso que fazia meu ventre
pulsar em ansiedade.
— Olha para mim! — exigiu e eu levantei minha
cabeça em sua direção e comtemplei sua face dura e
envolta de mistérios — Teremos três dias juntos, e só irei
admitir três falhas, se acontecer a quarta, no terceiro dia
você terá o castigo, e já te aviso de antemão que esse
pode ser para você o pior de todos os castigos e nem
precisarei usar dor física, por isso, nem pense em burlar as
regras do jogo se não estiver preparada, fui claro?
— Sim, senhor! — O som saiu baixo de meus lábios.
— Platão dizia, que aquele que melhor conhece a si
mesmo é o que menos se exalta, então tente não se sentir
humilhada, pois humildade é você conseguir curvar-se
perante a mim com firmeza e não fraqueza.
Assenti tentando assimilar aquelas palavras.
— Na biblioteca do Palácio você me disse que não
faria práticas como chuva de ouro, prateada, mas não
mencionou nada sobre engolir sêmen. Me diga, você tem
alguma aversão, repugnância, alergia? Me daria o prazer
de gozar nessa sua boca que me enlouquece?
Sorri arrepiando-me toda com aquela pergunta,
mordi meu lábio inferior pensando em uma resposta, então,
eu o respondi inclinando-me para frente e acariciando-o
com a boca por cima de sua calça:
— Acho que não tenho alergia, senhor, mas só vou
saber se experimentar, não é mesmo? — Senti os dedos
de Davi se fecharem com força em uma mecha dos meus
cabelos, gemendo e sussurrando enquanto foi abrindo o
zíper de sua calça com a outra mão:
— Ah, Donna, você não para de me surpreender.
— Meu senhor não viu nada ainda.
— Mostre-me!
XLIX
Donna era sem dúvida a caixinha de surpresa mais
deliciosa que já esteve em meus pés, e mesmo que curvar-
se não tenha sido algo espontâneo, eu tinha plena
convicção de que não faltava muito para isso acontecer; e
com ela de joelhos, lambendo meu pau por cima da
camada tênue que o tecido criava impedindo-a de chegar
onde queria, onde eu queria que chegasse, pois queria
demais que ela me tocasse e que me engolisse inteiro em
seus lábios, o desejo carnal era violento demais e eu
estava demasiadamente perdido em um tesão abrasador o
que me fizera abrir o zíper da calça e tirar meu pau fora, o
que o fizera subir ereto, extenso e viril em direção ao meu
abdômen. Donna conseguia deixar minha vara tão
violentamente forte e dura que me fazia sentir dor na
glande rosada.
Donna novamente em meus pés era a visão do
inferno em chamas, e sem pensar duas vezes esfreguei
meu pau em seu rosto, brincando com ela ao puxá-la pela
guia impedindo-a de me ter em sua boca.
— Sua boca é minha tara.
— Deixa-me mostrar o que faço com ela, senhor.
Por mais que meu corpo gritava de desejo,
mantinha-me impassível, relaxado, passando a ela a
calmaria e controle que há muito havia perdido. Os olhos
de Donna queimavam de luxúria, ela queria muito aquilo,
me encarava cheia de gula e eu queria muito foder aqueles
lábios venustos e cheios.
— Caralho, vou a loucura com você de joelhos —
falei esfregando meu pau e acariciando seu rosto.
Olhei para ela com o tesão a flor da pele, fechei
meus olhos e inclinei minha cabeça para trás, dizendo:
— Quero a sua boca no meu pau! — falei e enfiei
meu pau em sua boca, e fui ao delírio quando ela alcançou
só a cabeça rosada, pois não podia usar as mãos, e assim
que seus lábios se fecharam e ela me sugou e estralou
chupando-me, meu corpo tremeu e soltei um gemido
extasiado.
Donna me levava ao ápice do desejo mais rápido do
que qualquer mulher já tinha feito, com ela eu perdia o
controle muito fácil. E então, segurando a guia de prata
enrolada em uma mão e com a outra segurava-a pelos
cabelos, eu tinha a visão e a sensação mais deliciosa da
submissão de Donna, que me engolia ávida até onde
conseguia. Mexia-me em direção a sua boca, olhando-a
circular a língua na cabeça do meu pau e me encarar
safada, pois era assim, sem nenhum pudor que Donna se
entregava a mim quando estávamos entre quadros
paredes.
Curvei-me para frente e soltei o mosquetão da
braçadeira, queria e estava louco para que Donna pudesse
usar suas mãos, e dessa forma, quando liberta ela não
pensou duas vezes, fechou seus dedos em torno da
circunferência ampla e avantajada do meu pau e o alisou
em sua extensão, subindo e descendo com a mão,
explorando centímetro por centímetro dele enquanto me
encarava sôfrega. Minha respiração passou a ser frenética,
e me contorcia todo em suas mãos e boca que sabia o que
fazer para enlouquecer um homem.
Donna sorriu satisfeita por saber que estava me
deixando louco, subiu lambendo meu pau começando pela
base, deslizando a língua em toda sua extensão
umedecendo-o com sua saliva.
— Ahh, Porraaaa! Que delícia! — rosnei furioso
quando ela passou a masturbar-me com destreza, tocando
levemente com o polegar na glande, e espalhando o líquido
viscoso da minha pré-ejaculação e voltou a lamber, e
enlouqueci quando novamente ela se concentrou na
cabeça.
Donna me encarava com os olhos febris, estava tão
cheia de tesão quando eu, então deslizou o dedo sobre o
eixo do meu pau e que pulsou em um êxtase violento
quando ela o engoliu todo e voltou chupando, explorando-o
com a língua e com a mão e parou novamente na glande,
chupando, circulando-a com a língua fazendo-me contorcer
todo, e quando ela fazia isso me encarava safada,
audaciosa se divertindo com o tesão pulsando em meus
olhos ludibriados.
— Donatella, Donatella! — Gemi jogando a cabeça
para trás apertando ainda mais os dedos que seguravam
seus cabelos. Com isso, passei a explorar cada centímetro
daquela boca maravilhosa, fodendo-a com vontade.
Eu estava extasiado, me enfiando na boca e
fazendo-a me engolir quase todo.
— Eu quero muito, quero experimentar você, meu
senhor! — falou me deixando ainda mais louco de tesão.
— Você vai, vou te dar cada gota do meu prazer e
vai engolir ele todo — falei ofegante.
Então ela sorriu indecorosa, brincou com a língua na
linha do freio circulando novamente a glande, e eu me
contorcia ainda mais quando ela fazia aquilo. Ainda com
cara de safada, ela tentou me engolir inteiro, impossível,
pois meu pau não cabia todo em sua boca. Suas mãos
faziam movimentos masturbando-me, enquanto sua boca
explorava com cautela em um vai e vem circulando e
chupando de forma imoral, fazendo-me soltar gemidos
enlouquecidos. Arfava e via em Donna a satisfação.
— Oh! Deus do céu, sua boca é uma deliciosa,
caralho, Donna, você quer me matar? — balbuciei
tremulando.
E assim fugindo passividade voltei a apertar meus
dedos com força na raiz dos cabelos dela, encarando-a
com uma fúria voraz e metendo meu pau duro demais em
sua boca macia, sem dó, entrando e saindo, estocando-a
até que tirei meu pau, pois eu estava no ápice e então,
passei a me masturbar para ela freneticamente,
movimentando as mãos nervosas e com velocidade, até
que uma explosão luxuriante e lasciva se apoderou de
mim.
— Abre a boca! Abra, Donna — pedi quase sem
forças.
Donna levou suas mãos em meu abdômen, e
quando abriu a boca, enfiei meu pau novamente e me mexi
lá dentro, e com ela me sugando e chupando, explodi
tremendo e urrando alto enquanto expeli os espermas em
jatos quentes e espessos dentro de sua boca.
— OHH! CARALHOOO! PORRA QUE DELÍCIA!
QUE DELÍCIA, DONNA!
Ondas elétricas estremeciam todo meu corpo,
entorpecendo-me em espasmos musculares devastadores
enquanto despejava gota por gota em sua boca, e eu a via
extasiado engolir tudo sem nenhum pudor e ainda passou
a ponta da língua no canto da boca.
— Caralho, Donna, você me surpreendeu — falei
rouco e mole.
Meu coração parecia que iria sair pela boca, eu
estava suando frio, e tudo aquilo era imoralmente gostoso
demais.
— Minha deusa!
— Preciso sentir você dentro de mim, meu senhor —
falou arfando voluptuosa ainda de joelhos aos meus pés.
Donna estava faiscando, saia fogo de seus olhos, e
aquele seria o momento certo de testar sua submissão, eu
não a deixaria sem sua recompensa, mas precisava testá-
la antes, então, friamente guardei meu pau na cueca e
fechei o zíper e me virei de costas, dizendo:
— Levante-se e vá se limpar.
— Mas, senhor!
— E não se toque — conclui efusivo.
— O quê? Vai me deixar assim desse jeito? —
retrucou afrontosa.
Virei-me em sua direção e a questionei:
— De que jeito?
— Como uma bomba relógio, prestes a explodir.
— Vou te dar tudo o que precisa mais tarde.
— Eu quero agora! — foi enfática. — Ou irei eu
mesma terminar.
Franzi o senhor semicerrando os olhos e questionei:
— Pretende se masturbar, é isso?
— Sim! — Estava deliciosamente brava e decidida.
— Donna, você ainda não entendeu que está aqui
para me agradar e obedecer? Me disse que estava
preparada.
— Mas isso eu não consigo aguentar, estou
queimando de desejo, você não pode me usar assim.
Dei três passos e parei rente a ela, ainda de joelhos,
falei calmamente:
— Uma submissa está para agradar seu dono e não
o contrário, não enganei você quando a convidei para
passar o fim de semana comigo, então ou você se
enquadra, se entrega de verdade e vive nossa relação em
sua plenitude, ou voltaremos hoje mesmo. Eu sou um Dom,
e estou no controle Donatella, não o contrário.
Ela precisava aprender que tem que me deixar
satisfeito e parar de querer satisfazer só as vontades e
necessidades dela, pois ainda fazia tudo no automático em
busca da sua própria satisfação e não de satisfazer seu
dono incondicionalmente como seria o papel de uma
submissa.
Donna se levantou com a decepção estampada em
seus olhos e estendeu suas mãos para mim pedindo que
eu tirasse as braçadeiras:
— Tire isso de mim, por favor. — Seu tom saiu mais
manso.
— Está bem.
Dei um passo à frente e tirei dela as braçadeiras
questionando-a:
— Quero que fique com a coleira, tudo bem? — Tirei
a guia dela e a embolei em meus dedos.
Donna saiu caminhando a passos rápidos em
direção as escadas sem me responder nada, eu sabia de
sua frustração, mas queria saber até onde ela seria
obediente.
Peguei uma taça de vinho tinto, esperei alguns
minutos e subi para o andar de cima degustando-o
tranquilamente, e logo que me aproximei da porta do
quarto dela já ouvi sua respiração nervosa, frenética e seus
gemidos de prazer abafados.
Entrei de mansinho no quarto e dei de cara com a
imagem mais prazerosa que um homem pode ter, Donna
deitada na cama se masturbando freneticamente, sem
pudor, sem culpa, e eu sabia que ela não iria conseguir se
segurar.
Donna me viu no quarto, e nem assim foi capaz de
parar de se contorcer em seus próprios dedos que
entravam e saiam ávidos de sua vagina.
Ela estava tão delirante em seu prazer que suas
pernas se fechavam em torno de seu braço, uma visão de
fazer qualquer homem virar uma pedra de tão duro, mas
mesmo estando enervantemente excitado demais com ela
se masturbando, levei mais um gole do vinho em minha
boca, e friamente coloquei a taça em cima do criado mudo
e aproximei-me da cama dizendo:
— Abra as pernas!
Com o olhar suplicante ela levou seus braços para
trás e grudou suas duas mãos nas pontas do travesseiro e
fez como mandei, abriu as pernas para mim dizendo:
— Fode comigo, meu senhor!
O desejo de comê-la era sórdido e cruel, mas ali
naquele momento, eu não iria me perder na impulsividade,
eu tinha que controlar as emoções, e eu sabia aonde
queria chegar, então a respondi:
— Vou fazer você gemer e gritar de verdade — falei
e coloquei um joelho em cima da cama e subi, sem
delongas fui direto ao ponto dar a ela o que ela queria, e
assim enfiei-me no meio de suas pernas e a chupei com
vontade.
— Ohhh! Meu senhor! — gemeu se contorcendo, e
estava tão molhada que podia sentir a viscosidade e o
cheiro delicioso de seus produtos de banho.
— Me dá o seu néctar, goza na minha boca,
Donatella.
Com a sensibilidade no limite, assim que enfiei
minha língua em sua vagina e a suguei com força, logo em
seguida, Donna se contorceu novamente, grudou seus
dedos em minha cabeça e implorou:
— Por favor, por favor, Davi, me faça gozar.
— Goze agora! — exigi, passei a língua em seu
clitóris e instantaneamente ela gritou gozando na minha
boca.
— OHHHHH! Deus do céu!
Senti os tremores dela invadir seu corpo quando ela
fechou as pernas com força e grudou seus dedos em meus
cabelos gozando violentamente e gemendo com força
enquanto tinha espasmos que a fazia se debater e se
contorcer sensual.
Assim que ela gozou, saí do meio de suas pernas e
a encarei, estava desnorteada em cima da cama
terminando de se contorcer em seu prazer. Estava toda
suada e melada.
— Não ia deixar você na mão, era só um teste de
obediência, mas você não me obedeceu e assim não
passou no primeiro teste, então já temos uma falha na sua
lista. — Apanhei o copo de vinho dizendo:
—Estou faminto! Te espero lá embaixo.
Donna gritou nervosa.
— Daviii! — eu sabia que aquele era o momento do
palavrão. — Você é um controlador maldito filha da puta.
Parei bruscamente, engoli em seco.
A forma, as palavras me atingiram em cheio, arfei,
ponderei, respondendo-a em seguida:
— Não se esqueça que todo o poder que tenho
sobre você está intrinsicamente ligado ao seu livre arbítrio,
eu jamais vou fazer nada que você não queira, e se você
está aqui comigo é porque aceitou estar sobre minha
posse, eu não tomei você em meus braços e a joguei
dentro do meu carro. — Mordi com força meu lábio inferior
em minha frustração.
— Me desculpa, senhor! Eu não queria...
— Coloca uma coisa na tua cabeça, se você está
aqui nessa casa comigo hoje, é porque tem muito valor
para mim, seja eu um controlador maldito ou não. — Fui
saindo do quarto com o gosto amargo das palavras dela.
— Senhor, eu...
Mostrei meus dedos para ela indicando que agora
seriam duas falhas e a deixei no quarto juntamente com a
frustração de estar falhando veementemente no início do
processo de disciplina dela, pois se Donna estava errando,
a culpa era minha e não dela, pois ela ainda não tinha
percebido que tinha tudo em suas mãos, ainda não
entendia que tinha o controle de tudo, mas eu seria
paciente, via em Donna algo que ela lutava para esconder.
Jamais ofuscaria seu brilho no dia a dia enquanto
estivéssemos do lado de fora das paredes do mundo, mas
também jamais vou permitir me apagar por uma mulher, e
eu sou como sou porque é assim que eu gosto de ser, um
dominador.
— Vou lapidar a sua alma, Donatella — sussurrei
baixinho.

*Fisting — É uma prática sexual que consiste em


enfiar os dedos, a mão e ou até mesmo o antebraço na
vagina ou ânus do parceiro (a).
*Waxplay — É a prática que envolve o uso de velas
no corpo do bottom, o que pode ocorrer de duas maneiras:
Apoiando as velas e forçando a imobilização física por
causa do risco e o mais comum, pingando a cera derretida
sobre o corpo. É uma prática considerada muito sensual,
prazerosa e bonita.
L
Voltei para o banho sentindo-me fraca, incapaz de
agradá-lo de forma plena, chorei demasiadamente no
chuveiro sem conseguir entender de fato o porquê eu
estava me sentindo daquela forma. Eu era louca por ele,
tinha aceitado estar ali sobre as condições dele porque eu
simplesmente queria estar ao lado de Davi
incondicionalmente, eu não conseguia me ver mais sem a
presença forte dele que ocupava todos os espaços em meu
coração.
Ele simplesmente aflorou em mim desejos
recônditos que nem mesmo eu sabia que existiam, e assim
me sinto dividida em duas. Davi conseguiu me cativar,
suscitando em mim emoções de que jamais imaginei sentir.
Quando antes imaginei estar aos pés de um amante
imperioso, obedecer a suas ordens ou implorar seu toque e
perdão? Nunca! Mas ali estava eu desejando-o de forma
dilacerante mesmo sem entender a tempestade que estava
se formando em torno de mim.
Jamais na minha vida imaginei que um homem
mandão e autoritário como ele fosse exercer tanto fascínio
em mim, um homem que exala poder e controle pelos
poros, e que ainda acima de tudo, me passa proteção e me
faz sentir segura ao lado dele.
Depois do banho, desci toda sem graça e
completamente relaxada sem me atentar com maquiagem
nem com nada, vestindo um shortinho branco curto, uma
regatinha azul marinho e joguei um cardigan branco e
levinho por cima, pois o dia estava nublado, não estava
chovendo, mas fazia um friozinho gostoso na serra aquela
manhã. Estava descalça e com a coleira que eu havia
colocado novamente em meu pescoço após o banho.
Davi estava fumando na varanda, e eu fui direto
para cozinha preparar nosso almoço, visto que eu estava
com muita fome. Fui logo agilizando tudo para preparar um
strogonoff e descobri que Vera havia deixado o filé todo
cortadinho em tirinhas o que facilitou demais à minha vida
naquela manhã.
O silêncio na casa estava me irritando, então
caminhei até a varanda e questionei Davi que estava lendo
um livro.
— Posso lhe falar, senhor? — questionei olhando
meus pés e me sentindo nua.
Era estranho chamá-lo de senhor naquelas
condições onde em um casal normal não existiria aquele
tipo de formalidade, era esquisito já que era absolutamente
básico chamá-lo de senhor em nosso ambiente de
trabalho.
Minha vontade era de chegar de mansinho e poder
sentar em seu colo sem me sentir uma criminosa fazendo
tal coisa, eu sabia que aquele fim de semana era só um
teste, um treinamento intensivo, mas eu queria que não
fosse e queria ter a liberdade de encher o meu homem de
beijos.
Davi fechou o livro e me respondeu:
— Fique à vontade para falar comigo, eu sempre
vou te ouvir, Donna.
— O senhor se incomoda se eu cozinhar ouvindo
música?
— Não, pode escutar o que quiser. Precisa de ajuda
na cozinha?
— Não, obrigada!
— Nem para flambar o strogonoff? — Olhou-me de
uma forma menos dura e jurei ter visto um sorriso.
Davi é sem dúvida um homem perspicaz e
intrigante.
Sorri sem graça, pois esperava fazer uma surpresa
a ele, visto que Vera havia me dito que strogonoff é o prato
preferido do Davi.
— Acredite, eu posso flambar um strogonoff sozinha,
senhor.
— Você pode se queimar — insistiu.
— Se quiser me ajudar na cozinha, eu aceito,
senhor, mas definitivamente não sou tão desastrada a
ponto de me queimar flambando uma carne.
— Tudo bem! Eu gosto com muito cogumelo —
ressaltou e piscou para mim.
— Já sei disso.
Aquilo era simplesmente um suplício e eu não sabia
até quando iria me controlar sem me jogar em cima dele e
buscar aquela boca e a barba.
Davi estava inquieto, percebi por que estava com a
mão em punho amassando os dedos com força e nunca
antes eu quis tanto saber o que estava se passando pela
cabeça dele naquele momento, será que deseja o mesmo
que eu?
— Com licença, senhor.
Ele apenas assentiu e me retirei de perto dele me
sentindo péssima, o feriado mal havia começado e eu já
tinha conseguido estragá-lo.
Peguei meu celular e fui logo procurar em minha
playlist, Uma louca tempestade, da minha cantora favorita,
Ana Carolina.
Coloquei os fones, ergui o volume e arrepiei-me toda
quando a voz dela foi invadindo minha alma dando-me a
sensação de liberdade mais magnifica que eu precisava e
enquanto cozinhava, eu viajava naquela letra cantando
junto com minha diva:
Eu quero uma lua plena
Eu quero sentir a noite
Eu quero olhar as luzes
Que teus olhos
Não me têm deixado ver
Agora eu vou viver...
Depois de colocar o arroz na panela, fui preparar o
strogonoff, estava distraída na frente do cooktop, havia
acabado de selar a carne, e quando já ia jogar o conhaque
na panela senti a proximidade de Davi atrás de mim que
passou seu braço na minha frente, desligou o fogo, pegou
a concha com o conhaque da minha mão, jogou a bebida
na carne e voltou a ligar o fogo tombando a paellera de
lado fazendo com que as chamas tomassem conta da
carne. Quando o conhaque francês evaporou, ele tirou meu
fone de ouvido e me disse:
— Pode terminar!
Desliguei o fogo, me virei em direção a ele, fitei sua
boca, já que os olhos eu não podia.
— Eu podia perfeitamente ter feito isso. — Eu
estava louca de vontade de beijá-lo, louca para sentir a
barba dele roçar à minha pele, ele ainda não tinha me
beijado desde que chegamos.
Davi tomou um gole do conhaque que ficou no copo,
deu um passo à frente obrigando-me encostar na bancada,
então ele disse em um tom que simplesmente me deixava
mole:
— Peça, implore!
Quando Davi me encurralava daquele jeito eu perdia
a noção de tempo e espaço.
Engoli a saliva louca de vontade de sentir os lábios
dele me devorar como eu bem sabia que ele faria se eu
pedisse como ele ordenou, pois ele queria tanto aquilo
quanto eu, estava nítido em seu olhar, só que por mais que
o desejo estivesse me massacrando, eu não daria esse
gosto a ele, não ia implorar por um beijo, dessa forma, eu o
respondi serena:
— Sente-se, senhor, já vou finalizar o almoço e
servir.
Davi levou a mão esquerda em sua nuca e mexeu a
cabeça lado a lado e me respondeu frustrado:
— Vou na adega buscar um vinho que harmonize
com o prato sem brigar com o mesmo, tem alguma
preferência? Branco, amadeirado, rosé, tinto?
— A seu gosto, meu senhor — respondi com meu
anjo mal gritando palavrões em meus ouvidos.
Eu odiava a forma mecânica como eu tinha que falar
com ele, e assim meu ego gritava e esperneava dentro da
minha cabeça e por mais louca que Davi me deixava, eu
jamais ia implorar por um beijo dele, ainda existia
resquícios de lucidez em mim.
Alguns minutos mais tarde quando ele voltou, eu já
havia terminado de cozinhar, e com Davi já à mesa,
degustando o vinho tinto que ele havia aberto, montei
primeiro um prato para ele com arroz, batata palha e o
strogonoff de carne.
— Sirva-se e sente-se! — ordenou sério.
Fiz como ele mandou e me sentei calada tentando
me controlar e não sair tagarelando como eu bem gostava
de fazer, não é nada fácil para alguém como eu conseguir
moderar o que falar e quando.
O vinho que ele escolheu casou perfeitamente com
o strogonoff, era leve, frutado e com uma boa acidez, eu
conhecia muito bem de vinhos, meu pai sempre foi um
amante na arte de degustar grande vinhos e acabou que
aprendi muito a respeito.
— Gostou do vinho? — questionou-me.
— Sim, perfeita harmonização.
— É, eu não costumo errar porque já sei
perfeitamente o que beber com esse prato.
Sorri e levei um pouco mais em minha boca.
— Donna, fique à vontade, você está parecendo um
robô, e não quero isso, ok? Podemos conversar um pouco
mais relaxados quando estivermos durante as refeições. —
Pegou-me de surpresa, e então, soltei os ombros e sorri
levando um pouco da comida na boca.
— Obrigada — Agradeci, e enquanto almoçávamos
demos início a uma longa conversa com Davi indagando-
me:
— Como se sentiu essa manhã? Me deixe saber
tudo. —Incentivou-me a falar.
— Primeiramente preciso me desculpar com você,
eu fui horrível e já comecei estragando tudo.
— Eu esperava por isso, mas agora me diga, por
que agiu daquela maneira? Eu dei uma ordem e foi incapaz
de cumprir.
— Você me deixou incinerando, carbonizando, eu
fiquei frustrada, louca com aquilo e só queria apagar o
fogo.
— Sua impaciência e ansiedade te condenaram,
bastava ter me escutado e logo eu iria subir e aplacar o seu
desejo como fez com o meu.
— Estou morrendo de vergonha, eu juro que estou
tentando, Davi, mas eu me sinto sendo rasgada ao meio e
dividida em duas.
Davi colocou os cotovelos em cima da mesa, uniu as
mãos enormes em cúpula e ficou com elas rente a boca
escutando-me com um olhar centrado, então exigiu:
— Continue.
— É como se uma guerra estivesse sendo travada
dentro de mim, uma luta entre uma Donatella que deseja
se entregar de corpo e alma e uma outra que grita
estridente dentro da minha cabeça tentando me mostrar
que algo está errado. Minha razão e meu coração gritando
dentro da mesma cabeça, ambos querendo serem ouvidos.
— O que está errado?
— A forma com que me trata às vezes, esse meu
lado insurgente não consegue aceitar. — Girei meu
indicador em torno da borda da taça fitando-o.
— Olha nos meus olhos e me diga como eu a trato?
Como esse seu lado vê?
Ponderei e comecei a falar:
— Como se eu fosse animal de estimação que você
comprou em um pet shop, só que minha alma diz que não
sou uma cadelinha que você vai conseguir adestrar,
contudo, meu corpo quer ser a cadelinha, deseja e gosta
até.
Davi passou a mão direita em seus cabelos lisos
levando os fios da frente todos para trás dando a mim a
visão deliciosa de sua força ressaltada em seu bíceps
firme, então passou a explanar em torno das coisas que eu
disse.
— Donna, nesse momento eu a vejo como uma
linda borboleta presa em seu casulo, essa é uma fase
delicada onde uma borboleta precisa passar por toda uma
metamorfose para só então se desprender de suas raízes,
que no seu caso são os valores impostos por uma
sociedade hipócrita. Você só vai conseguir romper o seu
casulo quando realmente souber o que quer, e é por isso
que estamos aqui.
— Você falando parece tão fácil.
— Não é fácil, sei que não, mas você está
claramente tentando sufocar sua natureza, mas eu a vejo
claramente em detalhes tênues, e que vi desde o primeiro
dia em que evitou os meus olhos em uma posição
completamente submissa.
Levei a taça em meus lábios e bebi mais do vinho,
então argumentei:
— Desde que te conheci estou oscilando entre o
meu mundo e o seu, e por mais que eu me sinta muito
atraída a tudo isso, por mais que eu goste de certas coisas,
eu ainda me sinto muito humilhada em algumas situações.
— Desde o primeiro momento que eu a procurei fui
sincero, você não é a única que está saindo fora de sua
zona de conforto, eu era um adolescente quando estive
com uma baunilha pela última vez, foram experiencias tão
insignificantes que nem me recordo o nome delas. Não é
mais fácil para mim do que é para você, acredite. Você é
tão novidade quanto sou para você, eu podia simplesmente
ter abstraído o que senti naquele momento que se ajoelhou
perante minha pessoa, mas eu fui incapaz de não desejar
você, fui incapaz de me manter afastado e optei por
apresentar meu mundo a você, e agora só cabe a você
decidir se quer entrar nele de vez ou sair.
— E eu estou aqui no seu mundo, não estou?
— Eu sei que está tentando e que ainda se encontra
em cima do muro e eu não te culpo, estamos apenas
começando, estou te apresentando meu estilo de vida aos
poucos e não espero que sua transição aconteça da noite
para o dia, porque sei que isso é demorado e pode nem
acontecer, mas se acontecer será viagem sem volta.
— São mundos totalmente diferentes, eu
simplesmente não consigo me ver mergulhando de cabeça
em uma relação onde preciso pedir permissão para falar
com o meu... — Travei confusa sem saber ao certo o que
Davi era meu.
— No meu mundo eu sou seu dono, no seu mundo
sou o seu namorado. Eu sei bem que temos valores
diferentes, sei também que se sente anestesiada na sua
zona de conforto, mas que graça teria a vida se não nos
permitíssemos viver nossos desejos com medo do que a
sociedade pensa e vai dizer — recostou-se na cadeira. —
Não somos marionetes, ao contrário do que a sociedade
quer, e sim, podemos frear os nossos desejos, podemos
mascará-los inclusive, mas jamais vamos conseguir evitar
que eles agucem à sua mente.
— Tenha paciência comigo, Davi — pedi sem olhar
em seus olhos e voltou a argumentar:
— Tudo que diz respeito ao meu mundo é malvisto
no seu mundo que vive em âmbito coletivo preso as
amarras sociais, que não existe lugar para as fantasias
sexuais porque são egoístas e hipócritas demais para
aceitar que sentem desejos diferenciados e assim criam
milhares de estereótipos padronizando e generalizando
todos os relacionamentos.
— É tudo gritante demais, Davi, você precisa
entender que amarrar, castigar, bater, é demais para a
cabeça das pessoas.
— E por que é demais? Desde que seja consensual
tudo é válido no domínio sexual, cada um sabe de seus
desejos e a mim me excita loucamente a submissão de
uma mulher e não vejo como humilhação, e sim, como um
ato de humildade, dar o poder sobre sua vida a outrem.
Sobre os castigos, já te expliquei que não sou um sádico,
não sinto nenhum tipo de prazer mórbido com os castigos
que aplico e com a dor de uma submissa, eles acontecem
única e exclusivamente para disciplinar, eu aplico regras e
elas devem ser obedecidas, só que quando quebradas a
punição é certa e serve como meio de guiar e moldar a
minha maneira, apenas isso e nada mais. Já os jogos
sexuais, estes eu prático alguns que me dão sim, muito
tesão, mas nada comparado ao prazer que sinto com uma
mulher aos meus pés em uma submissão de alma.
— Já entendi tudo isso, não fosse assim não estaria
aqui com você.
— Quando se ajoelhou aos meus pés e fiquei louco
por você, eu acreditei que fosse ser só mais um jogo e que
você seria só mais uma peça no meu tabuleiro, mas não
demorou para eu perceber que você não era uma dama
qualquer, e sim, uma rainha, e acredite, o meu poder
advém de você e ele pode ser revogado assim que você
disser que não quer mais.
— Eu quero, eu desejo muito isso, só queria que
você satisfizesse minhas vontades também, podemos
entrar em um acordo e...
Davi me interrompeu.
— Donna, eu não seria um dominador se fizesse
acordo com minhas submissas, se fizéssemos trocas do
tipo, me dê isso que lhe dou aquilo, não funciona assim
comigo. Eu sei muito bem o que você quer, vamos deixar
as coisas acontecerem naturalmente, e no que diz respeito
ao nosso relacionamento D/S, dei o livro para você ler
justamente para que eu pudesse abrir uma exceção e de te
deixar apontar práticas que supostamente te agradariam e
que não agradariam. Não esqueça que você manda no
jogo.
— Nossa! — arquejei —É tudo tão intenso.
— Eu não estaria aqui perdendo meu tempo se
realmente não acreditasse na sua subserviência, mesmo
que velada, e eu sei que não está aqui comigo apenas por
curiosidade, então relaxa e me deixa tocar com cuidado na
sua alma, permita-me mostrar que aí dentro existe a
mulher que nasceu para ser minha.
— Talvez eu consiga relaxar, mas isso só o tempo
nos dirá, meu senhor! — sorri.
Davi colocou sua mão esquerda em cima da minha
e disse encarando-me:
— Só o que você precisa discernir é que submissão
não é sinal de fraqueza, inferioridade e nem tão pouco falta
de inteligência, ser submisso é ser tão forte a ponto de se
entregar de corpo e alma a outra pessoa, e isso não é para
os fracos. Não se sinta inferior a mim, você é o que me
completa.
Fiquei completamente sem palavras, Davi conseguiu
me tirar um peso imenso das costas, eu realmente me
sentia mais leve, então ele mudou o rumo da conversa:
— Agora no período da tarde quero te levar para
conhecer o centrinho da cidade, e logo mais à noite iremos
a adega de um amigo meu. Tudo bem para você?
— Sim, está perfeito, vou adorar.
— Posso te fazer um convite?
— Sim, claro que sim.
— Jogaria comigo essa noite? Seria nossa primeira
sessão juntos.
— E eu posso saber como seria isso?
Davi sorriu devastadoramente lindo mostrando-me
inclusive parte de seus dentes, então respondeu-me:
— Deve saber e vai. Você demostrou interesse por
Waxplay, então pensei que poderíamos começar por aí,
para testar o seu controle além de ser uma prática muito
sensual de entrega, e, também pretendo fazer sua
iniciação no Fisting.
Engoli a comida como se a mesma fosse pedra, e
vendo as reações em meu rosto, Davi gargalhou
descontraído, então falei na lata:
— Não sei se quero você enfiando a mão inteira
dentro do meu... — Travei.
— Não precisa corar, pode ficar tranquila que não
pretendo enfiar minha mão inteira no seu ânus. — Senti-me
um pimentão na cadeira, enquanto, que ele limpou a boca
no paninho. — Apenas vou trabalhar essa parte do seu
corpo mediante uma massagem tântrica porque tenho
desejos que me apetecem mais que o fisting em si, e sim,
prepará-la para o sexo anal.
— Humm!
— Não posso simplesmente ir atropelando as
coisas, vamos com cuidado para que seja prazeroso para
ambos, mas se não se sentir confortável você vai poder
parar tudo, sabe disso não sabe? Tive mulheres que não
aguentam um único dedo.
— Sim, podemos tentar.
— Ótimo, estarei ansioso.
O jogo com as velas até parecia bem excitante, já o
fisting me fazia corar só de imaginar como seria tal coisa,
por sorte as intenções de Davi não iam tão longe quanto as
que li no livro.
LI
Durante à tarde, Davi me levou para conhecer o
famoso centrinho de Monte Verde, e tinha me dito que
enquanto estivéssemos fora de casa que eu poderia agir
normalmente. Ele vestiu um boné preto e colocou óculos
estilo aviador, calça jeans e uma camiseta preta ficando
assim completamente informal, irreconhecível eu diria para
ser mais exata.
Era uma sexta-feira, havia um movimento
significante na vila, pois era véspera de feriado, mas nada
que pudesse nos deixar desconfortável. O clima estava
ameno o que deixava a cidadezinha com mais cara de
Europa ainda. Davi me disse que na alta temporada as
ruas ficavam intransitáveis, principalmente aos finais de
semana, que é quando os casais passam lua de mel e até
mesmo só para namorar e aproveitar o frio em um lugar
onde certamente existem fadas, duendes e gnomos, a
propósito, descobri que existem aos milhares para se
comprar nas lojinhas e como eu amava gnomos comprei
vários.
Andamos juntos por toda a Avenida como um casal
comum, e de mãos dadas virava e mexia eu me
aproveitava para curtir o meu momento, roubando
inclusive, muitos beijos dele. Fui entrando em todas as
lojas e degustando deliciosos chocolates e docinhos
caseiros, e claro, comprando-os aos montes, e Davi, ia
gentilmente carregando as sacolas.
O comercio é bem diversificado e demasiadamente
delicioso, quando se chega ao final da rua à fome já foi
embora junto com as beliscadinhas nos doces.
Davi só fez questão de ir em uma lojinha comprar os
vinhos e queijos artesanais favoritos dele, feitos por seu
Antônio e dona Albertina, uma senhorinha tão fofa que me
deixou encantada, e ela também vendia umas compotas
deliciosas, não provei igual em nenhum lugar do mundo.
Eu estava simplesmente encantada com a Cidade,
mas caminhar de mãos dadas livremente com um Davi
completamente à vontade e livre de qualquer medo foi o
que me fez ganhar o dia, o mês e até mesmo o ano se
duvidasse. Encerramos nosso passeio com ele me levando
em um lugar que eu jamais irei me esquecer, fomos a um
hotel fazenda, conhecido como Casa dos Beija-Flores, o
lugar ficava na área rural de Monte Verde e lá conheci
Dona Natalia, uma senhora amável que cuidava de
centenas de Beija-Flor que iam se alimentar nos diversos
bebedores espalhados por todo o jardim com néctar para
as aves, e ali fiquei completamente encantada com eles
pousando em cima de mim, foi a experiência mais delicada
e sensível que Davi me proporcionou aquela tarde, tudo tão
perfeito, que mal tive tempo de pensar no que me esperava
durante à noite.
Assim que chegamos em casa, Davi se retirou
dizendo que precisava preparar o Spa que ficava no
subsolo da casa, e lá ele ficou até próximo das sete da
noite que foi quando subiu e me encontrou no sofá lendo o
livro que me emprestou em frente a lareira, então se sentou
na mesinha em minha frente e tirou-me de minha
concentração, questionando-me:
— E, então, está gostando do livro?
Suspirei tentando encontrar as palavras certas, e
então o respondi:
— A história é instigante, não posso negar, mas
existem situações pelas quais a personagem principal
passa que eu jamais seria capaz de fazer, eu simplesmente
não consigo me ver amarrada aos pés de uma mesa
comendo em uma tigelinha de cachorro e nem tão pouco
permitir que você urine em mim, e outra coisa, ela não
pode nem ouvir as músicas que gosta porque ele só curte
rock pesado e só pode fazer as coisas que gosta quando
ele permite, isso é deprimente. Davi, ele mudou o perfume
dela e agora ela usa o perfume que ele gosta.
— Donna, você precisa descobrir o que é bom para
você, nesse livro você está conhecendo uma relação de
escrava e dono, de 24/7. Nessa história a personagem
abre mão de 100% do controle de sua vida e deposita todo
o poder ao Dom, se anulando completamente.
— Quer isso de mim? Que eu me anule
completamente?
Davi sorriu e parecia bem mais relaxado do que na
parte da manhã, ele ainda estava no clima do passeio que
fizemos, então disse-me:
— Não, não quero que se anule para suprir minhas
taras, não quero que perca sua essência, porque foi por ela
que me apaixonei, eu gosto dessa sua rebeldia até certo
ponto, quero apenas que encontre pontos positivos e
negativos dentro do nosso relacionamento, lendo essa
história, ou seja, coisas que seria capaz de fazer e não
fazer quando estivermos em uma sessão ou em momentos
onde eu queira exercer poder sobre você. Estamos no
início do seu treinamento, na fase onde você descobre um
mundo completamente oposto ao seu, e é só por isso que
estou deixando você apontar o que tem ou não vontade de
fazer. Eu vou dar tudo de mim para merecer sua
submissão, Donna.
— Tenho tanta vontade de te beijar sempre que eu
desejar, te abraçar ...
Davi se levantou rapidamente e disse-me mudando
o tom de voz:
— Esteja pronta às oito.
Fechei o maldito livro com delicadeza quando na
verdade tive vontade de fechá-lo com muita força.
— Como devo me vestir, senhor? — questionei
usando a mesma frase que a personagem usava no livro, e
a pergunta fez com que Davi parasse bruscamente,
dizendo:
— A adega do Klaus é um lugar bem informal, mas
tem um ar bem romântico e elegante, tenho certeza
absoluta que estará linda, apenas gostaria que estivesse
com os cabelos soltos, gosto deles soltos.
Deixei um meio sorriso brotar em meu rosto, pois
sabia exatamente o que usaria.
Davi parou em frente sua estante de livros que
ficava ao lado da lareira, questionando-me:
— Colocou um gnomo na minha estante?
Levantei-me e parei ao lado dele, dizendo:
— Esse é um Morag, um gnomo do amor, diz a
lenda que os gnomos e duendes é que nos escolhe e não
você que escolhe o duende ou gnomo, pois ele sabe o que
o escolhido necessita. Parece que o Morag escolheu você.
Davi balançou a cabeça em negativo, se afastou e
subiu as escadas, lembrando-me:
— Oito horas, Donatella! Não vou admitir nem um
segundo de atraso. — Parece que havia ligado o
dominador novamente.
— Sim, meu senhor! — Olhei para a miniatura de
gnomo com seu chapeuzinho vermelho e falei baixinho. —
Você bem que podia colaborar comigo.
Eu tinha uma hora para estar pronta para sair com
meu senhor; e cinco minutos antes das oito eu já estava
pronta na sala esperando-o descer, e havia escolhido um
vestido bem romântico na cor rosé, estampado com flores,
mangas compridas e decote em v. Como estava um
tempinho bem fresco achei que mangas compridas cairiam
como luvas.
Oito em ponto Davi desceu as escadas todo vestido
de preto, usava calça social preta, camisa preta e um
blazer elegantíssimo também na cor preta, eu não sei o
que esse homem tem com preto, mas uma coisa eu sabia,
ele ficava divino e certamente havia sido desenhado por
Deus em um de seus melhores dias.
Assim que se aproximou de mim, falou tocando no
meu rosto com o polegar:
— Está linda!
— Obrigada. O senhor também está de tirar o
fôlego.
— Podemos ir? — questionou-me.
— Sim, podemos.
Durante o trajeto fomos conversando sobre algumas
peculiaridades do livro que eu estava lendo, fui
questionando-o sobre algumas práticas e Davi elucidando
com detalhes de clareza cada uma das minhas dúvidas,
que não eram poucas, e também deixou bem claro que não
iríamos tomar nada alcoólico aquela noite, visto que
teríamos nossa primeira sessão juntos e que nenhum de
nós dois poderia estar alterado.
Passados alguns minutos, já estávamos no
estacionamento da Adega do Klaus, que fica no aeroporto
da cidade com uma das vistas mais maravilhosas de Monte
Verde.
A noite estava bem amena, por sorte escolhi o
vestido certo, então subimos alguns degraus para entrar na
Adega, e assim que demos nossos primeiros passos lá
dentro fomos recepcionados por uma mulher lindíssima,
alta, loira e de olhos verdes e que me pegou de surpresa
assim que disse suas primeiras palavras direcionadas a
Davi:
— Dom Davi! — havia surpresa no seu tom de voz
extremamente delicado e compassado. — Perdoe-me a
surpresa, não achei que o nome que estava na lista de
reservas fosse o senhor! — Apertei meus dedos com força
na mão de Davi que apertou à minha em resposta e me
olhou sério.
Por que essa mulher o chamou de Dom Davi com
essa intimidade?
— Como vai, Duda? — Ele a questionou e ela o
respondeu simpática.
— Estou muito bem, obrigada! Klaus vai surtar
quando ver o senhor por aqui.
— Duda, essa é Donatella. — Apresentou-me.
A mulher me olhou e estendeu a mão em minha
direção, dizendo:
— É um prazer, Donatella.
— Igualmente! — respondi. — Pode me chamar de
Donna.
— Donna, a Duda é a mulher do Klaus, meu amigo
de décadas.
Sorri apenas.
Não tivemos tempo nem de sair da porta quando um
homem alto, moreno, grisalho e de barba também
parcialmente grisalha, aparentando ter lá seus 60 anos
apareceu dizendo em um tom de voz alto:
— Mas eu não posso acreditar no que meus olhos
estão me mostrando! Quem é vivo aparece vez ou outra. —
Foi logo abraçando Davi. — Como vai meu amigo? —
questionou soltando-o.
— Estou muito bem, e você velho amigo? —
Questionou Davi.
— Muito melhor agora. E quem é essa linda dama?
— questionou, olhando-me.
— Essa é Donatella.
Por algum motivo, Davi estava evitando dizer que
éramos namorados.
O homem extremamente simpático pegou em
minhas mãos e disse-me:
— Uma peça belíssima, Davi!
Peça? — questionou meu íntimo de forma
incomodada.
Fiquei completamente sem graça, e percebendo
isso, Davi passou a mão em minha cintura e apertou-me
como forma de dizer: fique tranquila.
Então o homem voltou a falar:
— Venha comigo, meu amigo, você precisa
experimentar um gole da melhor vodca que você tomará na
vida, essa Somogon está beirando 80% de teor, você
precisa experimentar.
— Não, não! — Davi deu dois tapinhas nas costas
do amigo —Tenho planos para essa noite, meu amigo, e
nele não inclui bebidas alcoólicas, muito menos com um
teor tão alto assim.
Klaus retrucou enfático:
— Para com isso, você não vem na minha adega e
me faz uma desfeita dessas, faz? — Nem esperou Davi
responder e já emendou. — Duda, leve a senhorita
Donatella até à mesa reservada deles e faça companhia a
ela até voltarmos.
— Sim, meu senhor!
— Naquele momento entendi que aquela mulher era
mesmo uma submissa.
Davi me olhou e disse:
— Só vai levar um minuto, já volto, está bem?
— Sim, está bem — respondi.
Os dois se afastaram entrando em uma porta e
fiquei ali com a mulher que mais parecia um bibelô, e ela
usava uma joia muito linda no pescoço e deduzi ser uma
coleira, pois tinha as iniciais de seu dono.
— Perdoe, o meu senhor, Donatella, ele gosta
demais desse amigo dele — disse a tal Duda.
— Está tudo bem, Davi também parece gostar muito
do Klaus.
— Engraçado ver uma submissa chamando seu
dono pelo nome, você é a nova submissa dele, não é? —
questionou ela.
— Acho que sim, e você é a antiga?
Não acredito que perguntei isso a ela!
Ao ver o rosto dela de espanto, arrependi-me de
imediato, eu odiava ser tão impulsiva, mas foi impossível
impedir minha mente de criar dezenas de situações.
— Como? — estreitou o olhar, e logo percebi que
falei bobagem. — Klaus é o meu único dono há anos, sou
escrava fiel somente dele, e nunca tive Dom Davi como
meu dono em nenhuma situação — explicou-me com uma
calmaria irritante, ela era por demais compassada.
— Me perdoe, Duda, eu tive essa impressão quando
você se referiu a ele como senhor.
— Costumo tratar qualquer Dom como senhor, é
uma forma de respeito mesmo se ele não é o meu senhor
— explicou-me.
— Entendi! Ai que vergonha! Eu sinto muito pela
indelicadeza.
— Não sinta, já percebi que você é uma vanilla em
transição, ainda é uma linda crisálida e tem um longo
processo de amadurecimento.
— Uma crisálida? — questionei sem entender o
significado do termo.
— Sim, querida, crisálida é o mesmo que pupa, é
um dos quatro estágios pelos quais passam as borboletas,
ovo, larva, pupa ou crisálida, e enfim, adulta. Na fase em
que são crisálidas, elas pouco se movem e estão se
preparando para deixar o casulo que as envolve e protege
do mundo exterior.
— Como sabe que sou uma vanilla em transição?
Está tão na cara assim?
Ela sorriu e era linda demais.
— Bom, que você é uma mulher comum na vida de
um Dom não é algo muito difícil de ser notado por uma
escrava, e o fato de deduzir que está em processo de
transição é porque eu jamais imaginaria um homem como
Dom Davi vivendo um relacionamento puramente normal.
Concluindo, não imagino ele deixando de ser um
dominador, sendo assim, você está em treinamento e se é
uma vanilla certamente está em transição.
— Você o conhece muito bem, não é?
— Sim, ele é o melhor amigo do meu senhor e
consequentemente, eu era a melhor amiga da Elisa, a
submissa que foi noiva dele.
— E como ela era?
Duda sorriu e seus olhos brilharam, então passou a
falar:
— Elisa era dócil, gentil e serena, tão serena que foi
incapaz de perceber que estava colocando sua vida e a de
seu bebê em risco em nome do amor que sentia por Dom
Davi.
— É estranho te ver falando de amor quando li
muitas vezes de que não existe amor nesse tipo de
relação.
— Bom, mesmo sendo escrava de um Dom, eu e ele
aprendemos que pode sim existir amor em meio a casais
que vivem no universo BDSM. Eu, por exemplo, só consigo
me submeter de forma tão intensa a ponto de me tornar
escrava em uma relação de 24/7 porque o amo de forma
muito intensa, minha entrega só é completa porque vejo o
brilho nos olhos do meu senhor, porque vejo nele a gana e
o desejo de me possuir com voracidade e depois me cuidar
com carinho e amor.
— Você é uma escrava?
— Sim, sou, e tenho um enorme prazer em servi-lo,
não sei como viveria se não o tivesse na minha vida. Klaus
é dono dos meus pensamentos, da alma e do meu corpo, e
acredite, não me sinto mais fraca e nula, muito pelo
contrário, eu me sinto forte por ter coragem de viver o que
desejo, e me sinto completa por ter um homem que protege
e venera a seu modo. Talvez eu não seja uma submissa de
alma como era a Elisa, mas entrego minha submissão com
alma.
Fiquei completamente extasiada ouvindo tudo que
ela dizia.
— Uauu! Que coisa mais linda, Duda.
— Coragem! Se pudesse ver seus olhos quando
olha para ele, entenderia o que estou dizendo.
— Tenho tanto medo, estou tão confusa, perdida.
— Donna, uma borboleta só voa livremente após
passar por um período claustrofóbico, ter medo, se sentir
insegura, é normal, e você só vai conseguir respirar
aliviada quando finalmente deixar de ser uma lagarta para
se tornar de verdade uma borboleta ao sair de seu casulo
confortável e enfrentar o mundo que seu Dom te oferece.
— E se eu não for uma lagarta? Se eu for qualquer
coisa menos uma submissa?
Duda sorriu, colocou as mãos em cima da minha e
me questionou:
— Há quanto tempo estão juntos?
— Não sei ao certo, um mês, um pouco mais.
— Donna, eu estou nesse universo do BDSM há
décadas, e ainda não vi uma vanilla resistir tantos dias ao
lado de um dominador genuíno, a tendência é que fujam ao
menor sinal de perigo.
— Isso significa?
— Significa que existe indícios de submissão em
você, não sei afirmar o grau, mas sei que você não estaria
ao lado dele se não gostasse de estar, não estaria com um
Dom apenas porque ele fode bem e é um gato mandão,
talvez você ainda não tenha percebido, mas gosta do poder
que ele exerce sobre você e gosta de se sentir protegida,
aí está o grande sinal, que talvez você não consiga
perceber porque ainda está muito apegada a moral e
pudores, mas eu te digo, você não consegue enxergar,
mas Dom Davi já viu claramente, ou não estaria perdendo
seu tempo com você.
Quando ia abrir minha boca para respondê-la os
homens voltaram, e Davi disse-me:
— Eu disse que não demoraria nada.
Sentou-se ao meu lado e Duda se levantou
imediatamente.
— O que vão beber meus queridos? — questionou
Klaus.
— Para mim apenas água com gás e limão —
respondi.
— Não é possível que alguém venha na adega mais
famosa da cidade para beber água com gás? Deveria ser
proibido esse tipo de bebida.
— Klaus! — disse Davi.
Klaus fez sinal com a mão e chamou um homem
trajando um terno perto bem cortado:
— Dimitri, quero que seja bem atencioso com meu
amigo aqui.
— Pode deixar, senhor! — respondeu o sommelier.
— O senhor tem alguma preferência Dr. Davi? — Até o
sommelier o conhecia.
— Não tenho nada na cabeça para essa noite,
então, por favor, aceitamos sua indicação — Davi
respondeu.
— E a qual paladar devo tentar agradar, senhor? O
seu ou o da dama?
— Ao dela, claro!
— Nesse caso, sugiro um Zinfandel bem honesto,
senhor!
— Está certo! — Davi respondeu e o homem
gordinho e careca se retirou.
— Achei que não fossemos beber essa noite — falei
folheando o menu.
Davi colocou a mão direita dele em cima da minha
esquerda e pediu:
— Relaxa!
A noite toda foi agradabilíssima, me recusei a beber
de primeiro momento, pois lembrei-me de Davi dizer que
não iremos beber, mas ele próprio acabou me
convencendo a tomar uma taça e experimentar o vinho
delicioso que o sommelier havia indicado. Provei uma sopa
de capeletti de queijo deliciosa, e Davi comeu Truta à moda
da casa.
Quando nos despedimos de Duda e Klaus, ela me
convidou para um chá em sua casa no dia seguinte, e
assim fiquei de dar-lhe uma resposta.
No caminho de volta para casa, Davi seguiu todo o
caminho calado, parecia estar frustrado com algo, e eu
preferi me manter calada a lhe perguntar o motivo da cara
fechada, então quando entramos em casa, ele tirou seu
blazer e o jogou em cima de uma poltrona, parei em sua
frente e falei:
— Estou preparada para você, meu senhor!
— Acha mesmo que depois de termos bebido, ainda
vamos ter uma sessão?
— Bebemos tão pouco, eu bebi uma única taça.
— Esqueça a sessão!
Suspirei, virei-me de costas e tirei as sandálias dos
meus pés, dizendo:
— Está bem, posso me retirar? Estou exausta. — E
antes que ele me respondesse dei um passo à frente
sinalizando que iria subir para o quarto, baixei a cabeça
decepcionada por saber que iria dormir sozinha naquele
quarto, então senti a mão firme dele me segurar no
antebraço dizendo:
— Não teremos uma sessão, mas eu não disse que
não quero sua companhia — puxou-me pela cintura e me
pegou de surpresa em um beijo apaixonado. — Hoje você
vai ser minha de qualquer jeito. — Seus lábios, ávidos,
devoraram os meus de uma forma inquisidora e quente.
LII
— Eu sou sua, me amarra, me venda, me bate, faça
o que quiser comigo, só não me deixe sozinha naquele
quarto — Donna suplicou.
— Não! — segurei em seu rosto com as duas mãos
e disse com todas as palavras — Hoje eu vou te amar feito
um louco, Donatella.
Emoldurei o rosto dela com as duas mãos, toquei
em seus lábios fartos com
um dedo fazendo o contorno da carne macia, meu coração
não condizia com o esforço que eu tinha que fazer para me
controlar, visto que o ímpeto que brotou em mim era
violento e dilacerante, contudo, eu precisava me controlar e
dar a ela o que ansiava, e assim, com uma calma que eu
não tinha, acariciei seus cabelos soltos penetrando meus
dedos neles com carinho até chegar na carne de sua nuca.
Eu a encarei, e por um instante, seus olhos escuros
caíram pesados desviando o foco dos meus e minha mente
entrava em ebulição:
— Olha nos meus olhos! — pedi contrariando o que
eu havia pedido a ela quando chegamos aqui, e naquele
momento tudo que eu mais queria era ter os olhos dela
fixos aos meus.
Donna ficou imersa em silêncio sem entender
absolutamente nada, e sem me obedecer, seu peito subia e
descia em uma respiração acelerada, então, calmamente
toquei em seu rosto levantando seu queixo, forçando-a me
olhar, e em seus olhos esfumaçados vi apenas nuvens de
incompreensão, enquanto eu fui buscando serenidade em
minha alma aflita e dominante. Era como domar um leão
frente a sua presa, contudo, decidi que aquele seria o
momento de dar a ela uma noite tranquila, dessa forma,
depois de tantas noites de sexo intenso e quente, aquela
seria a hora do xeque-mate, sem amarras, vendas, chicote,
coleira e nada que a fizesse se lembrar de que sou um
Dom, então saí de minha zona de conforto para adentrar
de corpo, porém, sem alma na zona de conforto dela.
Senti meu corpo tremer em êxtase quando ela
umedeceu seus lábios com a ponta da língua, minha
vontade era fechar meus dedos com força em torno de
seus cabelos e tomar aquela boca com voracidade,
violência, mas eu tinha que domar o leão faminto que
existia em mim, e olhando dentro de seus olhos dei um
passo à frente e busquei novamente a carne de seus
lábios, sorri roçando meus lábios nos dela, provocando-a e
beijando-a lentamente, provando daquela boca que era um
convite lascivo a um beijo profundo e intenso, então puxei-
a para mim pela cintura e fui devorando-a em um aumento
gradativo dos movimentos de nossas bocas, tornando
assim nossa excitação cada vez mais sensual e dolorosa.
Nossas línguas já se pertenciam, trocavam carícias
urgentes e molhadas em um calor que foi crescendo,
crescendo, mantendo o movimento em um mesmo ritmo,
quente e aflitivo. A respiração suplicante dela chegava em
meus lábios juntamente com seus gemidos sufocados e
tremores, então perdi a cabeça quando Donna grudou em
meus cabelos e disse resfolegando a frase conhecida:
— Me ame, me ame essa noite!
Ouvindo aquela suplica, voltei a exigir seus lábios
nos meus, e sem desgrudar minha boca da sua, agarrei em
suas nádegas e a impulsionei fazendo com que prendesse
as pernas em minha cintura, saí caminhando com ela em
meus braços rumo as escadas que daria acesso ao meu
quarto no andar de cima. Subi dois lances de escada com
Donna grudada em mim, beijando-me sem parar e
intercalando os lábios e meu pescoço, e enlouquecendo-
me ainda mais quando chupava e mordia o lóbulo da minha
orelha.
Caminhei pelo corredor com ela encaixada em mim
e com seus dedos enfiados em meus cabelos, beijando-me
de forma torturante e deixando-me tão excitado que sentia
meu pau latejar duro feito aço enrijecido.
Em meu quarto, o único resquício de luz vinha dos
panos de vidro iluminando vagamente o ambiente, então
eu a coloquei em minha cama, e debrucei-me rapidamente
sobre ela, cobrindo-a com meu corpo e calor, continuei a
beijando e descendo com meus lábios explorando seus
seios por cima do lindo vestido, louco para rasgá-lo no
corpo dela como um animal voraz, louco para privá-la de
seus movimentos, privá-la de todos os seus sentidos, mas
ali naquele momento eu iria me anular para exaltá-la, pois
Donna precisava daquele teste, precisava conhecer os dois
lados da moeda.
E domando meus instintos primitivos, com meu
corpo queimando e meu pau latejando feito um aço, eu não
raciocinava mais direito, só queria estar dentro dela e fodê-
la o mais rápido possível, mas ainda assim, busquei forças
e a despi lentamente, apreciando cada curva que a
ausência do tecido ia me mostrando, e envolto em uma
tortura dilacerante nossos lábios voltaram a se buscar em
uma luta sufocante de nossas línguas entrelaçadas e
ávidas por prazer, arfando, gemendo, com nossas
respirações oscilando desesperadas.
Naquele momento, já sem minha camisa, sentia os
dedos de Donna em minhas costas puxando-me mais e
mais para si, fazendo movimentos delicados exigindo a
união de nossos corpos. Ali erámos apenas eu e ela, corpo
a corpo, nus, olhos nos olhos enquanto eu ladeava seu
corpo com meus braços, movimentando-me em cima dela
buscando seus lábios, pescoço e os seios fartos que
enchiam minha boca em um desejo entorpecente. Era
muito tesão, era paixão demais, dessa forma, juntei minhas
mãos em seus seios e puxei seu sutiã para baixo e passei
a chupá-los, sugá-los contornando minha língua nos bicos
rijos e rosados. Donna me enlouquecia, suas bochechas
rosadas me levavam a loucura.
Estávamos afoitos, minha ereção estava firme
roçando em sua barriga, fazíamos sons sussurrados de
prazer a todo tempo sem parar, então enfiei meus dedos
em sua entrada e vi como estava deliciosamente úmida e
receptiva, o que me fez segurar nas laterais de seu rosto, e
encarando-a, movi meu corpo para cima e a penetrei
lentamente, sentindo sua lubrificação excessiva empurrar-
me para dentro sem nenhuma dificuldade, e trêmulo de
desejo dei a primeira estocada, arrancando-lhe o primeiro
gemido de prazer:
— Ohhhh!
Donna cravou seus dedos em minhas costas e
enlaçou-me na cintura com as pernas em uma súplica
silenciosa para ser comida por mim, então deslizei meu
corpo novamente em direção ao dela e empurrei-me com
brandura, preenchendo-a sem pressa, enquanto me
prendia entre seus braços e a beijava com um excesso de
prazer, ardente e faminto.
— Ohhh! — urrei assim que entrei inteiro nela,
fazendo-a gemer igualmente e cravar novamente suas
unhas em mim em uma volúpia esmagadora. A sensação
de ouvi-la gemendo com os lábios grudados aos meus foi
arrebatadora, eu estava em estado de ebulição e iria ferver
a qualquer momento, e assim meus dedos se afundaram
em seus cabelos quando a terceira arremetida foi funda e
maravilhosa o que a fez gemer engasgado e se contorcer
toda, dizendo:
— Ah! Meu Deus que delícia! — Meu pau vibrou e
ficou ainda mais duro quando ela gemeu.
Assim nossos corpos se fundiram, tornando-se uma
só alma, partilhando do mesmo sentimento, paixão, amor e
tesão, e naquele momento, senti como se um fio de
energia intensa e profunda tivesse nos ligando, nossas
almas finalmente estavam em comum acordo aplacando
suas necessidades e a volúpia carnal uma da outra de uma
forma sublime. Amor e prazer na mesma medida e
proporção, carne e alma buscando com intensidade o alívio
de que precisavam. Todos os meus sentidos foram
aguçados ao limite, paladar, tato, visão e audição, e assim
estava sendo testado, torturado, lutando contra o animal
voraz que existia dentro de mim, sentia-me um licantropo
sendo exposto a lua cheia tendo que me controlar ao
extremo para não me transformar.
Donna buscava meus lábios com fulgor e enquanto
entrava e saía dela, trocávamos olhares, fluidos e energia
por todas as esferas possíveis de prazer. Ela ia beijando-
me na boca, no pescoço, no queixo, me mordendo e me
enlouquecendo, fazendo-me aumentar o ritmo de minhas
estocadas com as fincadas cada vez mais fundas e
ritmadas. Eu controlava com maestria o ritmo e o impulso
das arremetidas, dessa forma, sentia a excitação dela em
seu clitóris rígido e sensível friccionando-o e castigando-o
pela voracidade das minhas investidas naquele momento.
— Você é gostosa demais! — sussurrei no seu
ouvido, beijando-a, mordiscando e movimentando meu
corpo em cima do dela em um vai e vem sem pressa,
profundo e intenso em um papai e mamãe que há anos não
sabia o que era.
— Eu te amo, te amo tanto, Davi! — falou arfando
enfiando seus dedos em seus cabelos e aprofundando os
beijos que ela sedutoramente me oferecia.
— Então me dá ele todo, até a última gota — falei e
me levantei ficando ereto de joelhos na cama puxando-a
para mim, segurando-a em seus quadris com delicadeza,
fazendo-a se sentar em minhas pernas e se encaixar no
meu pau novamente, entrando, empurrando e estocando
deliciosamente nela. Naquele momento tive a mais
prazerosa de todas as visões de Donna, linda, me amando,
seus seios fartos e rígidos a dispor dos meus lábios. As
expressões de tesão em seu rosto simplesmente me
enlouqueciam e assim fui forçando-a pelas costas,
trazendo-a com força para meu pau, levando-me a um
nível de excitação máximo enquanto sufocados de prazer
nossos gemidos saiam como ruídos. Segurei com força nas
laterais de seu rosto, me enfiando, enquanto a trazia para
mim e ela ajudava se movimentando para cima e para
baixo com voracidade encaixada em mim. Meus lábios
buscavam os seios dela e os sugava e apertava, e ali, eu
me controlava ao extremo para não os morder e sugá-los
com força. Seus olhos brilhavam e sua pele cintilava.
Donna inclinou-se e buscou meus lábios, e ao invés de me
beijar lambeu os meus lábios me enlouquecendo de tesão,
grudei em sua nuca e suguei sua língua em um ardor
violento, eu queria aquela boca macia, mordê-la e perder
completamente o controle.
Eu estava sentado em cima de minhas próprias
pernas e movimentando-me como mola com ela encaixada
a mim de uma forma que nos permitia manter o contato
visual, e ali eu a comia com intensidade, porém, entrava e
saía dela com estocadas lentas e fundas com Donna
encarando-me fixa.
Estava dando tudo de mim naquele momento,
estava mantendo o dom em um lugar bem seguro, e assim
Donna passou a comandar e a se mexer de forma rápida e
voraz em cima de mim, eu sabia que ela estava em busca
de seu orgasmo, então mexia-se aflita engolindo meu pau
com gana e desejo, gemendo, arfando, suspirando e me
olhando fixo com os dedos apertando com força em meu
pescoço ao jogar e forçar seu corpo para frente, então uma
lágrima saiu de seus olhos e eu não consegui entender
nada, até que ela disse:
— Não tem brilho! — Continuou fitando-me e se
mexendo voraz em meu pau.
— Goza, Donna, vamos, meu amor, goza para mim.
— Não consigo, não sem ver o brilho dos teus olhos.
— Grudou seus lábios aos meus e me beijou aflita.
— Consegue sim — respondi.
— Eu quero você! — retrucou.
— Estou aqui, Donna.
— Não, eu quero o meu senhor, eu quero o meu
Dom — pediu encarando-me sedutora, havia volúpia em
seu olhar que me queimou, despertando o animal que eu
estava tentando domar. Não sei explicar o que senti
naquele momento, mas um êxtase violento tomou conta do
meu corpo, a adrenalina circulou voraz em minhas veias e
a joguei para frente na cama e me deitei em cima dela, e
encarando-a com fúria, ergui uma perna dela para cima e a
mantive no alto e passei a desferir investidas fortes e
violentas, e de olhos fechados, eu estava entorpecido de
tesão, então bombeei, bombeei, arremeti por alguns
minutos sem cessar, e novamente éramos pele com pele,
desejo com desejo e a explosão voraz de um ímpeto que
me fizera deslizar meus dedos na garganta de Donna e
dizer:
— Use sua palavra se precisar, me promete?
— Sim, eu prometo.
Após ver a súplica em seus olhos, Donna encorajou-
me a soltar a fera de dentro de mim e passei a desferir uma
sequência de estocadas cadenciadas, fortes e cheias de
tesão.
Quando meus dedos se fechavam e apertavam seu
pescoço e quanto mais eu a estocava, e esganava, mais
suas mãos exigiam grudadas em minhas nádegas, e eu
simplesmente correspondia, estocando e sufocando-a
ensandecido.
Eu a possuía naquela posição, sem cessar, com
Donna me olhando fixo e segurando firme em meus
braços. Então ludibriado de tesão com a submissão dela,
acabei aumentando o ritmo das estocadas. Nossos corpos
estavam deliciosamente fundidos, éramos um único corpo,
suando e exalando a essência que fluía de nossos poros,
embriagando-me e entorpecendo-me. Os olhos de Donna
brilhavam, e me enlouquecia ainda mais, dando a mim a
permissão de continuar apertando seu pescoço com
cautela moderada, eu sabia o que estava fazendo e onde
queria e podia chegar.
Então, ainda no âmbito seguro, continuava por cima
dela, segurei os braços dela para cima e grudei em seus
lábios, estocando-a com muita força e fundo, com minha
boca abafando seus gemidos sofridos e deliciosos. Jogava
meu corpo em cima dela e enfiava fundo, estocando, e
metendo sem dó, e assim ambos gemíamos abafados pela
boca um do outro em meio as fortes arremetidas, causando
um forte atrito em nossos corpos suados.
— Vamos! Vamos, Donna, goze agora! Você
consegue — ordenei e continuei castigando-a com minhas
investidas, então senti o exato momento em que Donna
ficou mole embaixo do meu corpo, estava gozando, seu
corpo tremulando e ela gemia sufocada enquanto continuei
metendo, e apertando meus dedos em seu pescoço e com
a visão da satisfação dela em seus olhos e sorriso safado.
Continuei estocando firme e forte, empurrando meu corpo
contra o dela, entrando com força, louco de tesão,
abrasivo, explodindo, fundo, beijando-a, sem ar, gemendo
baixinho, e de repente, veio a explosão devastadora de um
orgasmo que me levou do inferno ao céu em alguns
segundos que pareciam a eternidade, enchendo meu corpo
de tremores e levando-me a perder a cabeça e
simplesmente me esvair de mim mesmo em um vazio único
e inexplicável, me despejando quente dentro dela, com o
rosto afundado em seus seios, mordendo-os e fazendo um
movimento mais lento de gangorra com as pernas
enquanto libertava o animal preso dentro de mim, gota por
gota, gemendo sufocado, urrando baixinho de forma
gutural. Me senti pleno, leve e completo enquanto meus
gemidos de prazer foram abafados por Donna que me
beijava sugando de mim todo o meu prazer sem cessarmos
nossos movimentos que passaram de vorazes a lento e
comedidos. Gozamos ambos no mesmo momento em um
misto de entrega completa, onde o amor e a dominação se
mesclaram e se uniram em uma perfeita simetria, dando-
nos prazer e satisfação.
Exaustos, nos beijávamos em um encontro mais
íntimo de almas, pois ali estávamos cara a cara, sentindo o
calor de nossos corpos emanados pelo cheiro de sexo. Sua
boca sugando os fluidos dos meus beijos cálidos enquanto
nos movimentávamos um ao encontro do outro sem sair de
dentro dela.
— Isso foi único, foi maravilhoso, meu senhor! —
disse-me ela.
Passei alguns minutos tentando compreender o que
tinha acontecido, e então eu a questionei:
— O que foi isso, Donna? Quer me enlouquecer?
— Não sei o que aconteceu, mas não estávamos
felizes, estava faltando alguma coisa, eu não estava
conseguindo gostar, eu queria mais e mais.
Segurei em seu rosto e disse-lhe:
— Avisei que era um caminho sem volta, e você não
consegue se contentar mais com o sexo morno dos
vanillas.
— Não vi o brilho nos seus olhos enquanto
estávamos fazendo amor.
— Donna, achei que não fosse preciso te falar isso,
mas amor é aquilo se faz com quem se ama, independente
da intensidade do sexo, e eu acabei de fazer amor com
você novamente, pois para mim já fiz amor com você
várias vezes, só você não se deu conta disso. Eu amo
você, Donatella, e seja amarrada ou não, com um chicote
ou não, estarei te amando sempre que nossos corpos se
tocarem.
LIII
Na manhã seguinte, após uma noite intensa de um
sexo devastador e libertador, acordei deitada em um
colchonete no chão ao lado da cama enorme de Davi,
ainda em seu quarto, mas não ao seu lado e nem em sua
cama.
Fui despertando aos poucos e tomando ciência de
toda a atmosfera que me cercava, pois os pássaros já
faziam algazarra e a brisa da manhã me acariciava amena,
pois entrava livremente pela enorme vidraça que se
encontrava aberta.
Sorri e balancei a cabeça ao perceber que ele havia
me tirado de sua cama e me colocado no chão, não
entendi muito bem o porquê, contudo, vindo dele era algo
para não tentar entender mesmo. Estava nua, mas
devidamente coberta com uma manta fofa que me manteve
aquecida, e ali, me senti realmente uma borboleta dentro
de um casulo prestes a rasgar a seda e sair voando.
Na noite anterior, enquanto nos amávamos, estava
tudo perfeito nos primeiros momentos, mas depois, passei
a sentir que estava faltando algo, como se aquele sexo
estivesse morno demais. Eu simplesmente não sei como
explicar, só sei que o Davi que me amava naquele
momento não estava completo e eu me apaixonei pela
intensidade dos toques dele, pela forma como me fazia ser
dele, confesso que fiquei e estou confusa com o que senti,
foi querer muito experimentar um prato e descobrir que
estava faltando sal, mas quando doses do tempero foram
acrescentados no prato ele ficou perfeito.
Espreguicei-me e acabei levando meus dedos em
meu pescoço e senti que havia dormido com a coleira que
Davi havia colocado em mim na noite anterior e tive um
sobressaltado quando a coleira me fez lembrar os motivos
de eu estar usando-a, e dessa forma, estendi meus dedos
em direção ao criado mudo e apanhei de lá meu celular e
constatei que eram 6:15 da manhã.
— Meu Deus! — Levei as mãos em meus olhos. —
Dormi demais! — murmurei enquanto tirei a coleira do meu
corpo rapidamente.
Levantei-me rapidamente e corri para o banheiro, eu
estava atrasada para estar com Davi, íamos fazer uma
trilha e ele me disse com todas as letras que deveria estar
pronta as seis da manhã.
Depois que me troquei, fui mordendo uma maçã
enquanto terminava de amarrar o cadarço do meu tênis,
procurei por ele em todos os cantos e nada do Davi.
— Senhor? Ei amor! Daviiii! — Saí chamando por
ele em direção a porta da saída que estava aberta.
Quando saí fui invadida pelos primeiros raios de Sol
e pelos aromas da serra, pela paz que circundava tudo em
volta e apenas os pássaros quebravam aquele silêncio
único e esplendoroso. Aspirei o ar puro e olhei para o céu
azul e límpido, sorri em poder ver sua imensidão, visto que
de São Paulo não se consegue ver toda a beleza que
existe acima de nossas cabeça.
Dei alguns passos procurando-o e de longe o avistei
em uma clareira, e ele estava em cima de um tapete,
virado para o nascente praticando exercícios que julguei
ser Yoga, e conforme fui me aproximando, tive a certeza de
que estava fazendo uma série de exercícios de yoga que
reverencia o Sol e a natureza, ele estava compenetrado em
uma belíssima e deliciosa saudação ao Sol. Fazia
movimentos lentos e coordenados, estava sem camisa,
usando apenas uma calça de moletom preta e descalço,
mais sexy impossível.
Fiquei apenas observando-o sem interrompê-lo, e
assim fiquei apreciando todos aqueles movimentos sutis e
babando ao reparar bem na força que ele tinha nos braços
e em todos os músculos bem trabalhados naquele corpo
perfeito, Davi era insuportavelmente delicioso.
Assim que terminou, pegou uma toalha e foi enxugar
o suor de seu corpo, depois, levou seus olhos em mim e
logo de cara percebi que não estava tudo bem, mas
mesmo assim tentei fingir demência, dizendo:
— Bom dia, meu senhor! Teve uma noite
confortável? — Não consegui evitar de deixar a ironia de
fora.
— Bom dia, Donatella! — respondeu frio me fazendo
arrepiar.
— Senhor, me desculpe, eu...
— Você não consegue cumprir pequenas ordens
como acordar de manhã para ver o Sol nascer comigo?
Cruzei meus braços e o respondi:
— Isso não deveria ser uma ordem, e sim um
convite.
Davi fechou seus dedos com força envolta da toalha
branca e deu dois passos em minha direção, segurou firme
em meu queixo e fez-me olhar bem dentro de duas bolas
cinzentas e raivosas, e foi dizendo enquanto me prendia
nelas:
— Eu não peço, eu mando, não faço convites, dou
ordens, você é minha posse, e acabou de cometer seu
terceiro erro, mais um e terá o pior de todos os castigos
que uma submissa pode receber. — Assim que terminou
de falar puxou meu queixo em sua direção e me beijou
como se estivesse comendo meus lábios, tinha fome em
cada movimento que ele fazia com a boca enquanto devora
a minha, me segurando apenas com uma mão e fazendo
todas as terminações nervosas do meu corpo
corresponderem instantaneamente a intensidade daquele
beijo. Minhas pernas tremiam tentando me equilibrar na
ponta dos dedos enquanto Davi roubava de mim cada
vestígio de ar que ainda existiam em meus pulmões. Ele
realmente não pedia nada, tomava para si quando e onde
queria, e quando eu estava sobre sua posse eu me
esquecia de tudo.
Davi tinha um poder de persuasão que beirava a
loucura, a intensidade em cada nota que saía de seus
lábios, fossem palavras ou em gestos como um simples e
devastador beijo era esmagadora, e por mais que minha
razão gritasse estridente dentro de mim, meu corpo se
rendia a ele com maestria, e assim eu jurava que seria
capaz de chegar ao êxtase só com um beijo que fora
finalizado com uma mordida moderada em meu lábio
inferior.
— Delícia! — disse ele assim que tirou seus dedos
fortes do meu queixo.
Eu estava como? Nas nuvens e toda molhada, não
havia meios de evitar ficar tão excitada com um beijo
tomado daqueles.
Davi se afastou de mim e ordenou:
— Se alongue! Vamos fazer uma trilha longa e
pesada. — Foi em direção a casa e eu fiquei ali fazendo o
que ele havia me ordenado.
Quando voltei para dentro, ele já havia se trocado,
usava uma bermuda verde de cargo e uma regata branca,
e estava calçando botas. Eu também estava de bermuda e
uma camiseta preta.
— Troque seu tênis pelas botas de trekking, a trilha
é bem íngreme em alguns pontos — ordenou.
— Não trouxe botas de trekking — repliquei
imediatamente. — O senhor não avisou sobre isso.
Ele apenas apontou em direção a uma caixa em
cima da poltrona na sala, e ele já estava inclusive com uma
mochila nas costas.
— O que tem nessa mochila? — questionei
fantasiando um milhão de coisas, pensei inclusive em
cordas, e quando veio a resposta quase caí de minhas
próprias pernas.
— Cordas! — respondeu ele.
Meu coração disparou e meu corpo tremeu
involuntário.
— Cordas!? — interroguei assustada.
Davi gargalhou deliciosamente, era bom saber que
as vezes eu conseguia fazer com que risse.
— Sim, para escalar uma parte na montanha, vamos
precisar de cordas.
— Ahhhh! Claro, para escalar — falei pausadamente
digerindo com alívio a resposta dele.
— O que pensou?
Balancei a cabeça em negativo e fui saindo em
direção a poltrona.
— Eu!? Não pensei nada, meu senhor.
Davi deu um sorrisinho irônico e depois informou:
—Preparei uma mochila com alimentos saudáveis,
lanches naturais, barras de cereais e chocolate que vão
ajudar a matar a fome facilmente, e água também é claro.
Estou levando agasalhos de frio caso seja necessário, o
tempo nas montanhas tende a mudar de repente. Tem mais
alguma coisa que queira levar? — questionou-me.
— Vou pegar um protetor solar. Mas me diga, onde
exatamente vamos?
— Pico do Selado.
— E é seguro?
— A trilha mais difícil aqui da Serra, mas a mais
prazerosa também, você vai gostar, está mais que
preparada para ela.
— Então vamos logo, estou ansiosa.
Assim que entramos no carro fomos direto para a
rua que levava até o estacionamento onde tínhamos de
deixar o carro para seguir rumo à trilha que nos levaria ao
Pico do Selado, a 2080 metros de altitude acima do nível
do mar, conforme me disse Davi.
Descemos a Avenida das Montanhas e entramos na
rua que nos levou até um café chamado Platô.
Descemos do carro e havia uma placa que dizia:
Rua sem Saída.
—Prontinho, daqui vamos a pé — alertou-me Davi.
Seguimos na trilha por mais ou menos 40 minutos
até chegamos a um platô, uma extensão plana no meio da
montanha que tem uma bela vista de muitas cidades do
Vale do Paraíba, inclusive da vila Monte Verde ou Grün
Berg que significa verde monte em alemão, a cidade
recebeu esse nome do seu fundador Verner Guinberg, um
Letão que encontrou em Monte Verde um lar que se
assemelhava muito com a Letônia. Gosto muito de
pesquisar os lugares que vou conhecer.
— Incrível! A vista daqui é maravilhosa — comentei
olhando ao redor e tendo noção da beleza que é a
natureza daquele lugar.
—Você ainda não viu nada, não há nenhuma vista
mais incrível que a do cume do Pico do Selado — disse
Davi bebendo um gole de água do seu cantil.
— Bom, então, o que estamos esperando? Vamos
seguir.
Por mais preparada que eu estivesse fisicamente,
aquela trilha não era para qualquer um, é maravilhosa, bem
plana na maior parte do tempo, repleta de bosques
maravilhosos; bem úmida por sinal e com uma vegetação
bem baixa, sem dúvida, muito agradável caminhar por ela,
porém, é longa e cansativa.
Depois de minutos de caminhada chegamos em
uma janela de 80 centímetros em uma rocha e assim
teríamos de fazer uma escalada de mais ou menos 4
metros que nos levaria até o cume do Pico do Selado e foi
nessa hora que entendi o porquê da corda.
Davi abriu a mochila pegou a corda e rapidamente
escalou a rocha, não demorou muito ele jogou para mim a
corda que havia fixado em um grampo fixo na rocha
usando o mosquetão.
— Suba Donna, a corda já está bem segura.
Escalei a rocha rapidamente com a ajuda da corda e
quando cheguei lá Davi disse com ares de conquista:
— Alcançamos o cume!
— Uauu! Que lugar! —falei encantada com o lugar, e
entendi o motivo de estarmos ali, pois a vista é
simplesmente indescritível.
Estendi os braços, levantei a cabeça para o céu e
respirei o ar mais puro que existe, o vento estava leve,
estava perfeito.
— Está vendo aquela fenda? — perguntou ele. —
Tem 70 centímetros de largura e 5 metros de profundidade,
do lado de lá tem um livro onde as pessoas que
conseguiram chegar aqui no pico assinam, quer tentar?
— Sério? — indaguei temerosa.
— Sim, basta darmos um pulo. Observe — disse ele
saltando a fenda sem medo. — Você agora! Coragem,
Donna!
Aspirei o ar denso, soltei-o de meus pulmões
tentando relaxar e saltei sobre a fenda. Num piscar de
olhos eu já estava do outro lado, confesso que tremi antes
de pular, tive muito medo de cair na fenda, mas não foi tão
ruim assim.
Davi pegou o livro na caixa e deu-o a mim, e assim
me sentei na rocha observando a exuberante vista e fui
assinar o famoso livro do Pico do Selado.
—Está vendo lá ao norte? — disse-me Davi
apontando para o horizonte. — É a pedra do baú em
Campos do Jordão, podemos ir lá da próxima vez.
— Sim, podemos! Vou adorar.
Davi ficou em pé ao meu lado, ficamos calados
apenas observando a exuberância daquele lugar, a Serra
da Mantiqueira toda aos meus pés, eu havia me esquecido
como essa sensação era incrível, a de liberdade.
Estava tão absorta com o lugar que nem percebi
quando a neblina espessa tomou conta do lugar, era uma
nuvem que vinha nos saudar, ela conseguiu deixar o lugar
ainda mais mágico e incrivelmente lindo, eu tinha a
impressão de que a nuvem estava rodeando o cume como
uma aureola.
A nuvem estava sobre nós dando-nos a impressão
de estarmos no céu literalmente, eu me sentia flutuando
dentro dela, então me levantei e fiquei extasiada
observando calada todo aquele cenário de filme.
Davi me abraçou pelas costas e uniu suas mãos a
minha, então sussurrou no meu ouvido:
— Obrigado!
— Pelo que está me agradecendo?
— Por confiar em mim, por se doar a mim dessa
forma.
— Talvez eu ainda não tenha me entregado inteira,
mas parte do que já lhe dei é verdadeiro.
— Eu sei, Donna, sou paciente, você não imagina o
quanto.
Aquele foi a experiência mais prazerosa que tive em
Monte Verde, e pouco antes das três da tarde já estávamos
de volta na cabana, Davi ficou tomando um uísque na sala
enquanto lia notícias no celular e eu subi para tomar um
tomar banho relaxante. Embora eu estivesse exausta da
caminhada longa no meio da mata, era uma exaustão que
dava uma sensação deliciosa, assim como na corrida, e
juntando o banho quente com o cansaço físico do corpo, eu
me sentia leve e flutuando, só queria me jogar na cama e
dormir.
Estava ainda dentro do banheiro, enrolada com uma
toalha branca nos cabelos e outra em meu corpo, parada
em frente ao espelho do gabinete da pia que também era
rústico em madeira de demolição onde ao lado esquerdo
encontrava-se um belo vaso de orquídea branca
Phalaenopsis que se erguiam em uma única e solitária
haste. Estava distraída passando meus hidratantes quando
a imagem de Davi se refletiu no espelho a minha frente,
estava só de bermuda e sem camisa. Sem dizer uma única
palavra ele tirou a toalha de meu corpo e levou suas mãos
enormes em meus seios enquanto beijava meus ombros e
os mordiscava fazendo-me fechar os olhos.
— Cheiro bom! — Ele sussurrou se remexendo atrás
de mim, me fazendo senti-lo crescer firme e forte. — Você
desperta um tesão absurdo. — Apertou o bico do meu seio.
Uma de suas mãos deslizou sutil de meus seios e
desceu direto para o meio de minhas coxas e sem
delongas alcançou minha entrada, e assim que fui
penetrada por um de seus dedos, automaticamente meus
pés se estenderam deixando-me na ponta dos dedos.
— Senhorrr! — sibilei baixinho.
— Quero comer seu cu, meu amor — sussurrou ele
ao pé do meu ouvido mordendo meu lóbulo sem dó.
Imediatamente meu corpo travou e meus instintos
de autodefesa foram acionados, imaginei aquela ereção
viril me rasgando inteira e temi.
Engoli seca e falei:
— Acho que não estou pronta para isso, meu
senhor! — falei temerosa.
— Mas vai estar — respondeu seguro.
Davi deslizou seu dedo em minha vagina e veio
trazendo em seus dedos os fluidos da minha excitação em
direção a meu clitóris, e ali massageou fazendo-me
esquecer completamente onde estávamos e o que eu havia
acabado de dizer sobre não estar pronta.
Davi me fazia perder o chão, eu me sentia flutuando
e mole.
Minha respiração passou a ofegar, meu coração
disparou.
Ele encostava em mim e todas minhas ações
racionais sumiam e davam espaço a irracionalidade, eu
não pensava, eu só sentia.
Seu cheiro, sua voz, seu toque, tudo que fazia
desejar aquele homem de forma febril.
O som perturbador de sua voz, o tom autoritário e o
toque forte de seus dedos na minha pele me apertando,
roubavam de mim qualquer resquício de sanidade que eu
ainda fazia questão de nutrir.
Uma névoa se formou em meus olhos revirados.
Tremi na ponta dos dedos quando ele roçou seu
rosto ao meu e fez-me sentir a aspereza de sua barba
rente, o hálito inebriante de álcool e a ereção monstruosa
que ele já ostentava naquela altura. Senti meu corpo ser
estimulado pela libido e expelir os fluidos do meu desejo
em seu dedo que me acariciava com perícia. Meus quadris
se moviam juntamente com seus dedos, a ansiedade por
mais e mais me fazia buscá-los e fechar as pernas com
força para evitar que não saísse de dentro de mim e
parasse.
Gemi alto quando ele mordeu meu ombro com força,
grudou meus cabelos em um rabo com força, tirou seu
dedo de mim e o levou em minha boca, dizendo:
— Prove! — enfiou o dedo em minha boca, em
seguida, virou meu rosto em sua direção e devorou minha
boca, me beijando com um tesão devorador e insaciável.
Davi forçou meu corpo para frente e senti minha
pele ser tocada pela frieza da pedra de granito, um choque
para meu corpo em plena ebulição.
Os lábios dele foram explorando cada canto das
minhas pernas, coxas, bunda e vulva, onde ele chupava e
puxava os grandes lábios em sua boca. Eu estava
enlouquecida de tesão, meus dedos estavam grudados nas
laterais do gabinete do banheiro, e ele me consumia como
se eu fosse o prato principal, e eu simplesmente ia ao
delírio quando sua língua passeava sem pudor por minha
virilha.
Então senti quando um líquido morno foi jogado em
minhas nádegas e foi descendo em direção ao meu ânus e
vulva, era lubrificante, e ele tinha tido o capricho de
aquecer o líquido.
Meu Deus! Ele vai foder o meu rabo com o GG.
Pensei entrando em pânico.
— Acha que consegue aguentar uma penetração?
— questionou enquanto entrava e saía lentamente do meu
ânus com um dedo.
— Eu não sei, eu não sei, amor — respondi trêmula
de medo.
— Eu te prometo que vou devagar e começar com o
tamanho menor.
— Queeee?! — questionei sem entender nada. —
Como assim tamanho menor?
Então Davi me mostrou um plug anal em formato
cônico e disse-me:
— Vamos começar o seu treinamento. Vou começar
com um plug de silicone, depois vamos trocar por algo
mais rígido, mas vou começar com o menor possível e ir
aumentando o tamanho gradativamente para ir te
preparando para aguentar a penetração do meu pau dentro
de você, isso pode levar semanas ou apenas alguns dias,
vai depender muito de você. Hoje não vai precisar fazer
uma higienização, então vou começar e quero que me
avise se sentir qualquer tipo de incomodo, eu paro de
colocar imediatamente assim que você usar sua palavra de
segurança, entendeu Donna?
Assenti balançando a cabeça e virando para frente
novamente.
— Está pronta? — indagou.
— Sim, estou.
— Relaxa! — disse.
— Não! Espera! Me diz, já usou esse objeto em
outra?
— É claro que não, Donna, tudo, exatamente tudo
que eu usar em você foi comprado único e exclusivamente
para você.
— Acho bom!
Davi voltou a me excitar, beijando-me, mordendo,
lambendo e me deixando louca de desejo por ele, me
deixou queimando de tesão, tão preparada que acho que
aguentaria o pau inteiro dele dentro de mim, ele sabia
como deixar uma mulher desejando-o ardentemente
mesmo estando com medo.
— Tenta relaxar, respire profundamente, esse plug
não vai ser tão ruim, e respirar vai te ajudar a relaxar e criar
contração nos músculos o que vai render uma penetração
menos dolorosa — falou explicando.
Davi mordeu minha bunda com força, apertou-a com
os dedos e depois alisou com carinho, era o verdadeiro
sentido da palavra morde e assopra, então se inclinou para
cima do meu corpo me fazendo sentir sua ereção poderosa
e nervosa, ele estava incrivelmente excitado, grudou
novamente seus dedos em meus cabelos e forçou minha
cabeça contra o granito gelado, e assim colocou a ponta do
objeto em meu ânus e foi introduzindo-o com suavidade.
— Tudo bem? — questionou ele. — É você que
sabe seu limite, me deixe saber.
Apenas meneei a cabeça dizendo que estava tudo
bem, não hesitei, pois, estava excitada demais, e ele
introduziu o plug todo em mim, a sensação foi horrível,
inicialmente meu corpo queria expelir o intruso, mas não
tive tempo de curtir a sensação ruim, pois Davi ergueu meu
corpo e continuou em minhas costas, puxou meu rosto em
sua direção e me beijou enlouquecido enquanto estimulava
meu clitóris com seu dedo, me levando a loucura em uma
masturbação deliciosa que me fazia sentir como se fosse
uma dupla penetração, e não demorou eu estava gritando
e gemendo de prazer em um orgasmo tão intenso que me
deixou desfalecida nos braços dele.
— Isso, meu amor, goza, goza.
Quanto mais ele sussurrava em meu ouvido, mais o
orgasmo se prolongava.
Me sentia fora da órbita, minhas pernas não
conseguiam controlar meu corpo, então me vi nos braços
dele e fui colocada na cama em posição fetal.
— Trintas minutos e eu tiro isso de você, mas se
quiser tirar antes me chame — sussurrou em meu ouvido e
entrou no banheiro onde estávamos, e passados alguns
minutos, eu o ouvi, estava urrando e gemendo de forma
gutural dentro do banheiro.
LIV
Nunca me excitei tanto ao colocar um plug em uma
mulher, eu teria comido ela, me enfiado com força, mas
acabei entrando no banheiro e me masturbando até esvair
todas as minhas energias. Era apenas um plug pequeno,
mas teria o momento certo de fodê-la em uma dupla
penetração, eu estava louco para fazer isso, mas não faria
de primeira, não com a Donna, e por hora eu estava
satisfeito. No banheiro, gozei de uma forma tão violenta
que não consegui conter os gemidos de prazer e urrei feito
um animal escorado na parede.
Depois de um banho relaxante, senti os músculos do
meu corpo entrarem em uma espécie de repouso, passei
por Donna no quarto e ela dormia da mesma forma que a
deixei, estava em posição fetal, encolhida e nua, era linda
demais, então eu a cobri e saí do quarto deixando-a dormir
mais um pouco.
Não tinha mais volta, eu a amava do meu jeito e
faria qualquer coisa para protegê-la fosse do que fosse.
Vesti apenas uma cueca azul marinho e uma
camiseta branca e desci para o andar de baixo, acendi um
charuto e me servi de um copo de uísque, e fui me sentar
na varanda da cabana e ali passei alguns minutos
apreciando a beleza estonteante da natureza ouvindo o
som calmante de um riacho que passava por trás da casa.
Dei um trago generoso no charuto e lembrei-me de que
Donna odiava o cheiro, sorri sozinho e passei a pensar
onde me deixei levar com toda essa história.
Na noite anterior tentei fazer amor com ela do seu
jeito, ela queria ser amada, eu a amei, dei a ela uma boa
dose de sexo vanilla, porém, para minha surpresa ela não
se satisfez mais com tão pouco. Eu sabia que isso iria
acontecer uma hora ou outra, mas Donna me surpreendeu
antes mesmo que eu pudesse imaginar, e o que vivemos
na noite anterior foi intenso demais, foi a mistura deliciosa
de dois mundos, foi a entrega completa de duas almas
opostas, mas que caminhavam para a mesma direção, ao
menos existia indícios disso.
Conferi a hora em meu pulso e vi que já haviam se
passado cinquenta minutos desde que coloquei o plug em
Donna, então levantei-me, apaguei o charuto e subi
novamente até o quarto onde ela estava e entrei primeiro
no banheiro para pegar uma folha de lenço umedecido.
Caminhei descalço em direção a cama e Donna
ainda continuava na mesma posição que a deixei, deitada
de lado com as pernas encolhidas, mas estava com seus
lindos e enormes olhos abertos, parecia petrificada,
assustada.
— Como se sente, Donna? — questionei-a.
— Quer mesmo que eu diga como me sinto? Acho
melhor não — respondeu ríspida.
— Levante-se! — ordenei.
Donna suspirou alto e disse em seguida:
— Não consigo me levantar, não consigo me mexer,
será que não percebe?
Estreitei os olhos e questionei:
— Por que não? Tem algum problema com você?
— Tem! — respondeu em um quase sussurro sem
mover um único músculo.
— Está doendo?
— Não dói, e nem me dá prazer, mas ainda tem um
corpo estranho enfiado no meu ... — ela travou e fechou os
olhos — traseiro — conseguiu dizer em seguida.
— Donna, você pode se mexer, pode se sentar,
pode caminhar, pode ir ao supermercado com o plug se
quiser — expliquei com calma. — Vamos, levante-se!
— Eu preciso me sentar para levantar e isso vai
doer.
— Vou te coloca no chão e você vai caminhar com o
plug, vai ver que não é tão ruim como está pensando, ok?
— Já teve um desses enfiado no seu rabo para
saber?
Respirei fundo.
— Donna, não seja tão infantil, nunca tive um
desses enfiado em mim, mas já enfiei em muitas mulheres
e sei o que cada uma delas me relatou, então para com
isso e se levanta daí.
Donna foi se erguendo lentamente e se sentou na
cama, estendi minhas mãos em sua direção e ela não
hesitou, segurou em minhas mãos e se levantou.
— Vamos, caminhe normalmente! — falei.
Donna se virou de costas para mim e apanhou o
lençol branco em cima da cama e o enrolou em seu corpo,
se cobrindo:
— Donnaaaa! Vamos, para com isso! — ralhei.
Ela caminhou receosa pelo quarto, e assim
questionei-a:
— E então? É tão ruim assim?
Ela deu de ombros, e respondeu em seguida:
— Eu ainda sinto como se tivesse com um pau
enfiado no meu traseiro.
— Você está, e eu te juro, Donna, você me deixa
louco de tesão, tudo o queria era estar com o meu pau
enfiado no seu traseiro agora, e acredite, quando eu fizer
isso você não vai conseguir sentar direito por dias, então
não reclame de um simples plug pequeno, porque você vai
usar três tamanhos diferentes antes do meu pau te foder.
Donna me olhou assustada, e ficava linda e
engraçada ao mesmo tempo quando arregalava os olhos
daquela forma, então ordenei em um tom mais áspero.
— Tire o lençol!
Ela continuou segurando-o com a mão direita, havia
feito um amontoado de pano em seus dedos e segurava-o
com afinco.
— Estou bem assim! — respondeu afrontando-me.
Estreitei meu olhar encarando-a, dei um passo em
sua direção mantendo-a presa em meus olhos, eu
simplesmente enlouquecia com o jeito desafiador dela,
meu corpo entrava em ebulição e fervia. Assim que me
aproximei, estendi meu braço direito e levei minha mão
diretamente em seu pescoço, a adrenalina circulava
violenta em minhas veias e eu queria muito aqueles lábios
que me desafiavam, eu os tomaria a força, eram meus, e
dessa forma, eu a agarrei e fui afastando-a rumo a parede
e a encostei questionando-a entre os dentes e apertando
seu pescoço com a força controlada:
— Gosta de me provocar, não é, Donatella? —
busquei sua boca e a beijei com um desejo palpitante, pois
o que mais me excitava nela era sua audácia. — Vamos,
responda-me, gosta de me provocar?
Donna assentiu balançando a cabeça e dizendo:
— Muito, eu gosto muito de ver essa fúria nos teus
olhos, meu s e n h o r — ironizou a última palavra.
O som desafiador que saiu de seus lábios fez meu
pau ganhar vida em uma ereção incontrolável, não estava
nos meus planos perder o controle com ela àquela hora,
mas algo dentro de mim era mais forte, e assim apertei seu
pescoço com uma única mão enquanto a beijava
enlouquecido.
Devorava aquela boca sedutora tão sedento, que o
desejo foi crescendo vertiginosamente em todos os
sentidos conforme nossas línguas se sugavam, tirava
inclusive nosso fôlego. Meu pau doía como se não tivesse
gozado há uma hora, e eu estava pronto para fodê-la
naquele momento.
— Solte a porra do lençol! — rosnei com meus
lábios grudados aos dela, então o tecido despencou indo
parar em nossos pés e as mãos de Donna em meu
abdômen apertando-me com força.
Assim que o lençol caiu, tive acesso aos seios
volumosos e extremamente rijos dela, apertando-os em
minhas mãos e chupando-os, mordendo-os e devorando-os
entorpecido pela fúria de saciar a vontade de fodê-la.
Estávamos com nossos sentimentos à flor da pele, e
Donna se contorcia toda com seus dedos grudados em
meus cabelos.
Donna e eu tínhamos uma química explosiva, e o
que eu sentia com ela não senti antes com nenhuma
mulher, ela fazia o que nenhuma mulher fazia, meu
coração acelerar e o desejo chegar a níveis que me
entorpecia e fazia perder a razão.
Eu a virei de costas com rapidez pegando-a de
surpresa, e assim Donna ficou com as mãos e o rosto
escorados na parede, resfolegando com o traseiro virado
para mim, empinado e me mostrando a argola do plug que
estava socado no meio de suas nádegas, e aquela visão
me deu um apetite sem igual.
— Relaxa! — sussurrei no pé de seu ouvido. — Só
relaxa — ressaltei e enfiei meu dedo na argola e fui
puxando o plug lentamente.
Donna resmungou baixinho e se remexeu.
— Relaxa! — pedi, e quando ela menos esperou o
plug já estava fora de seu corpo, limpei-a com lenço
umedecido e, em seguida, enrolei o plug no papel e o
joguei de lado no chão. — Está tudo bem? — questionei
ainda no pé de seu ouvido.
— Não! Não está nada bem — respondeu-me.
— O que está sentindo? Diga-me.
— Estou me sentindo vazia, me fode logo pelo amor
de Deus, não aguento mais de vontade de você.
— Caralho, Donna, você quer me matar de tesão, é
isso?
— Só quero você dentro de mim logo de uma vez.
Levei minhas mãos nas suas e as ergui no alto,
segurando-as com força, enfiei meu dedo no meio da perna
dela e senti a umidade viscose em meus dedos, estava tão
molhada que fez meu pau se mexer dentro da cueca, então
tirei meu pau para fora vibrando duro feito ferro, empinei
sua bunda e dei um tranco duro e violento enquanto me
enterrei inteiro nela, sentindo sua umidade envolver meu
pau e me deixar mais louco ainda. Busquei a boca carnuda
e macia dela e fui me enterrando fundo com estocadas
fortes que a deixava na ponta dos pés e encostada na
parede, eu sentia as contrações das paredes de sua vagina
me apertando, me esmagando deliciosamente, e dessa
forma, eu a comi em pé no quarto de uma forma muito
bruta, enlouquecido de tesão, pois tinha perdido a razão de
vez. Aquela foda foi intensa, forte, movida por ímpeto
violento, visceral, e eu a mordi, lambi, tirei minha camiseta
do corpo e passei em volta de seu pescoço e fui apertando-
a como se fosse um lenço e fui fodendo-a de costas sem
piedade.
— Davi! Davi! — Donna sussurrava meu nome
enquanto eu a devorava viva, estocando, metendo,
entrando e saindo com força e louco para enfiar meu pau
no rabo dela, mas eu tinha que me controlar ou iria
machuca-la, então só o que enfiei no rabo dela foi meu
dedo enquanto eu a fodia.
Virei-a para mim, queria ver seus olhos, e então eu a
beijei de forma sufocante, tirando todo o ar que ainda
existia em seus pulmões, deixando-a mole, e enlouquecido
chupei os seios dela, apertei-os em meus dedos com força
enquanto levantei uma de suas pernas e empurrei meu pau
contra Donna encurralando-a na parede. Nossos barulhos
eram abafados por nossas bocas que permaneciam
grudadas, sufocadas uma pela outra. A cada enfiada, eu
sentia as unhas de Donna em meu pescoço se afundando
em meus cabelos. Estávamos indo ao extremo do nosso
prazer carnal, e assim, eu a ergui de vez e a fiz se encaixar
em minha cintura e continuei fodendo-a com uma explosão
de lubricidade, luxúria, carne com carne, fúria, tesão
acumulado que não foi esgotado por completo no banheiro.
Eu a devorei ali naquela parede com uma intensidade
monstruosa, metendo, empurrando fundo e forte sem
cessar. Donna estava extremamente excitada e molhada, e
cada fincada era mais prazerosa que a outra e a cada
bombeada eu sentia o prazer aumentando, pulsando e
crescendo no meu pau, e quando achei que iria ficar
impossível me segurar, Donna gozou gemendo baixinho no
meu ouvido, e eu sabia que ela estava em seu clímax, pois
senti meu pau ser esmagado pela contração de sua vagina
e ficar mais molhado ainda quando ela afundou suas unhas
em meu pescoço se contorcendo toda e gemendo. Naquele
momento meu prazer aumentou e foi impossível segurar
meu gozo, eu estava duro demais, meu pau parecia que
estava explodindo de tanto tesão que aquela mulher
despertou em mim com sua insolência, e sem precisar
segurar, senti a sensação arrebatadora que antecedeu meu
orgasmo, e em seguida, senti a explosão do rojão percorrer
meu pau naquele momento fugaz. Segurei o tesão, a
vontade de exteriorizar os gemidos guturais que estavam
presos na garganta afundando meu rosto entre os seios
fartos e suados dela enquanto me derramei dentro dela em
um orgasmo voraz, estremecendo, me esvaziando ao limite
de uma sensação única, uma liberdade e uma fraqueza
deliciosa. Eu estava arfando, suando, quente e extasiado
de prazer. Queimamos juntos as últimas gotas de
combustível que nos restava naquela tarde envoltos de
uma paixão entorpecente e desafiadora.
Donna era um delicioso desafio para mim.
Segurando em seu rosto, eu a beijei sem sair de
dentro dela, e a avisei:
— Amanhã terá o seu castigo!
— Queee? — perguntou quase sem forças na voz
se desmontando de vez em cima de mim.
LV
Eram seis horas da tarde do mesmo dia quando
acordei no quarto em que Vera me colocou no dia em que
chegamos aqui em Monte Verde, não me lembro em que
circunstâncias vim parar em cima dessa cama, só sei que
me sentia leve, flutuando. Meu corpo havia passado por
muitas coisas, era um único e interminável dia, pois já
havia feito uma longa caminhada na parte da manhã e
início de tarde, seguido por uma nova experiência que foi
ter tido meu traseiro penetrado por um objeto cônico e não
bastasse, fui nocauteada por um sexo intenso que me
deixou literalmente esgotada.
Suspirei, espreguicei-me e aspirei o ar volátil que me
trazia um cheiro maravilhoso, lembrando-me de que estava
faminta.
Fazia um friozinho característico da Serra, naquele
comecinho de noite, então levantei-me e me enfiei em um
vestidinho curto e solto, preto com bordados de flores
delicadas e mangas três quartos. Quando fui enfiar meus
pés em meu chinelinho, lembrei-me novamente de que
estava proibida de andar na casa com eles, e então, saí
caminhando no chão gelado de madeira a procura de Davi
e do cheiro delicioso que recendia pela casa, e novamente
o encontrei na cozinha, e pelo cheiro havia cozinhado algo
muito bom, então eu o questionei assim que adentrei no
ambiente, incorporando uma submissa ao me lembrar das
regras da troca de poderes:
— Me dá permissão para falar, senhor?
— Sente-se! — respondeu-me com sua frieza quase
que habitual.
Meu coração congelou quando parei e reparei em
suas vestimentas, ele estava todo de preto novamente,
calça social, camisa com os primeiros botões abertos e
uma única dobra na manga que me permitia ver seu relógio
prateado. Usava um cinto preto e sapatos social.
Seus cabelos estavam molhados e penteados para
trás, a barba por fazer estava perfeita, era a personificação
do diabo em pessoa.
Sentei-me como ordenou e ele disse-me logo em
seguida:
— Você tem permissão para falar.
Sem olhar em seus olhos, elogiei dizendo:
— O cheiro está muito bom, meu senhor!
— É um creme de abóbora com gengibre, é leve e
bem gostoso, você vai precisar estar bem alimentada para
hoje à noite.
— Hoje à noite? Achei que o dia já tivesse sido bem
intenso, meu senhor — respondi e o questionei em
seguida. — O senhor disse que meu castigo seria amanhã,
mudou de ideia?
— Sim, o dia foi bem intenso, você tem razão,
porém, ainda teremos nossa primeira sessão hoje, era para
ter acontecido ontem à noite, mas mudamos os planos, se
lembra? — explicou. — E não, seu castigo só começa
amanhã, hoje teremos apenas uma sessão que nada tem a
ver com seu castigo.
— Ahh! — suspirei profundamente de olhos baixos.
— Lembrei, como me esquecer de ontem à noite, na
verdade, como me esquecer da intensidade desses dois
dias que estamos aqui.
— Ótimo, então deve se lembrar que iríamos
começar com waxplay, teríamos sua iniciação com o
fisting, mas isso já fizemos hoje.
— Fisting! — sussurrei a palavra lembrando da
sensação de preenchimento do maldito plug enfiado em
mim. — Sim, me recordo, senhor!
Davi pegou um prato, colocou o creme laranja
dentro, colocou uma colherada de um creme branco por
cima que deduzi ser iogurte e salpicou ervas como
cebolinha e salsa e jogou um fio de azeite por cima e
dispôs o prato na minha frente, dizendo:
— Coma!
— Achei que eu é que devesse servi-lo, senhor —
falei antes de pegar a colher para comer.
— Só serve para ser servido quem sabe servir —
respondeu encarando-me sério.
Deixei a frase fazer sentido em minha mente e logo
o questionei:
— Posso, senhor? — apontei para o cesto de pão.
Davi esboçou um leve sorriso, e em seguida,
respondeu-me:
— Sirva-se!
Fiz como mandou, estava receosa pela combinação
exótica de abóbora e gengibre, mas assim que a mistura
dos sabores se mesclou em minha boca, eu me questionei
por que ainda não tinha provado algo tão bom antes.
— O que achou? — questionou com os cotovelos
em cima da mesa e as mãos unidas em abóboda.
— Surpreendente! É um sabor único — respondi
levando outra colherada na boca.
— Então coma tudo, e em seguida, vá para seu
quarto e se prepare para mim. Tome um banho frio por
cinco minutos e vista-se com a vestimenta e acessórios
que estão em cima de sua cama, e em seguida, fique de
quatro no centro do quarto — disse e se levantou da mesa
me deixando sozinha e sumiu de minhas vistas sem me dar
nem a oportunidade de questionar nada.
Banho frio! Minha mente repetiu as palavras e
tremeu em seu subconsciente. De quatro! Pensei
novamente imaginado que teria novamente algo sendo
enfiado em mim.
Eu ainda me encontrava dentro de meu casulo,
ainda estava tentando rompê-lo, mas quando a palavra de
quatro percorreu os pontos em meu cérebro, e em seguida,
se alojou no cantinho mais secreto de todos, senti que a
resistência ainda existia forte dentro de mim, e tudo o que
fazia naquele momento era unicamente e exclusivamente
para agradá-lo, e era para testar meus limites que
estávamos ali e que eu havia aceitado me submeter a ele,
mas até que ponto eu ia continuar, eu não sabia, mesmo
gostando muito de alguns pontos dessa relação, mesmo o
sexo com Davi sendo tão intenso e único.
Assim que terminei de fazer minha refeição, lavei os
utensílios que eu havia usado e fiz como Davi ordenou,
subi até meu quarto e caminhei lentamente até a cama.
Engoli a saliva e me curvei para pegar a peça de lingerie
preta que estava em cima da cama, era uma espécie de
body só que vazado, eram tiras entrelaçadas de veludo que
não cobriam meus seios, costas, e nem minhas partes
íntimas. Havia apenas um detalhe delicado de penas nas
alças dos ombros e nos quadris. Após analisar a peça que
não se parecia em nada com o que eu havia usado nos
outros dias, voltei meus olhos para a cama novamente e vi
que havia uma venda preta, peguei-a e senti a renda em
meus dedos, analisando cada detalhe dela. Na cama tinha
também amarras de pulsos e a coleira prateada.
Entrei no chuveiro, e ele já estava no frio, o toque
gelado da água em meu corpo me fez tremer
imediatamente, pois fazia frio aquele noite, e por um
instante, fiquei tentada a mudar para o quente e dar ao
meu corpo o calor merecido, mas vi o vulto corpulento de
Davi parado na porta, e me observava para constatar
minha obediência, dessa forma, fiquei embaixo do chuveiro
olhando atenta para o relógio que havia na parede e
quando os eternos cinco minutos se passaram, saí do
banheiro enrolada na toalha tremendo sem cessar. Davi
não estava mais no quarto, então me sequei tremendo de
frio. Em seguida, me enfiei no maldito body que não
ajudaria em nada a me aquecer, e assim, tremendo feito
uma condenada, foi que coloquei a coleira em meu
pescoço, as amarras em cada pulso e coloquei a venda em
meus olhos que me permitiam ter a visão de tudo, pois a
renda me permitia isso.
Fechei os olhos, encolhi-me e abracei-me com meus
próprios braços em busca de calor. Não fui até o chão
como ele havia me pedido, não fui capaz, eu estava
tremendo de forma incontrolável, pois fazia frio aquele
início de noite em Monte Verde.
Eu queria gritar, estava em pleno torpor em meio a
pensamentos torturantes, chorava de olhos fechados
quando ouvi o som de passos se aproximar de mim e
aninhar-me em seus braços quentes.
Então falei trêmula e gaguejando:
— Você é um monstro!
— Não! Não sou! Você se saiu muitíssimo bem,
aguentou firme no chuveiro.
Eu tremia incessantemente, e notei que Davi havia
ligado o aquecedor e aos poucos meu corpo começou a
aquecer nos braços dele que me prendia forte em seu peito
me passando seu calor, e quando a sensação horrível foi
passando, eu o empurrei dizendo:
— Eu não vou conseguir, tudo isso é demais para
mim, você me disse que não era um sádico.
— E não sou, Donna!
— O que foi isso então? Você ficou assistindo
aquele banho frio mesmo sabendo que aquilo estava sendo
uma tortura.
— Isso tudo é um treinamento de submissão, você
me obedeceu mesmo não suportando o frio que estava
castigando seu corpo e alma. Eu não quero sua dor, quero
sua obediência.
— E se eu não conseguir superar suas
expectativas? — questionei-o.
Davi se aproximou de mim, ergueu minha cabeça e
disse olhando em meus olhos:
— Você já superou todas as minhas expectativas
com relação a você, Donna, um exemplo pequeno disso
acabou de acontecer na mesa, você pediu permissão para
falar de uma forma muito espontânea.
— Como? Se amanhã serei castigada por que sou
incapaz de cumprir ordens simples, lembra-se? Nunca vou
conseguir ser como as outras que você teve e eu nem sei
ao certo se quero ser.
— Donna, não seja, seja só você, porque se você
não tivesse esse seu jeito, se você tivesse vindo pronta
para mim, eu não teria me apaixonado por você da forma
que me apaixonei. Se você fosse como as outras, você
seria só mais uma e acredite, não estaria sendo a única na
minha vida nesse momento.
Meu coração transbordou dentro do meu peito
naquele momento, e mais que nunca eu sabia que o
amava e queria muito satisfazê-lo.
— O que acontece se eu não quiser mais me
submeter a você? Vai romper comigo?
— Donna... — deu uma breve parada e fechou seus
dedos no cabo do que deduzi ser um chicote com caudas.
— Eu não vou mudar, e hoje você vai conhecer o Dom que
eu sou, e depois de hoje é você que vai decidir se continua
ou não comigo.
Minha alma tremeu dentro do meu corpo e várias
situações horríveis se passaram em minha mente, então,
Davi estendeu sua mão questionando-me:
— Você vem?
LVI
Em minha frente estava o homem mais envolvente
que já tive o prazer de me relacionar, robusto, vigoroso,
ávido, sensual e extremamente quente. Estava com a mão
direita estendida em minha direção esperando por uma
decisão minha, e assim, virei-me de costas e abracei-me
em meus próprios braços, confusa, indecisa, sentindo-me
nua na roupa extremamente sensual que eu usava.
Não sou masoquista, não sou! Pensei com a mente
gritando estridente.
Mesmo com minha mente criando diversas
situações que me faziam tremer internamente, eu não
podia fraquejar naquele momento, não havia chegado onde
cheguei para simplesmente me amedrontar e desistir.
Aceitei estar ali, sabia que naquela casa ele seria só o
Dom, fui informada sobre isso, e mesmo ele tendo me
surpreendido com uma noite de amor, ainda continuava
ostentando sua autoridade dominante, e isso exalava pelos
poros dele. Seus olhos eram duas bolas cinzentas
nebulosas em expectativa e que me fazia desejá-lo
loucamente, e não era só sexual meu desejo, ia muito além
disso.
Como resistir a imagem de um homem desses?
Não vou mentir dizendo que não estou com medo do
que pode vir acontecer, pode ser algo muito ruim e
doloroso, contudo, pode ser uma experiência boa, e a
única forma de descobrir é me deixar conhecer esse lado
dele por completo, afinal de contas, eu tinha tudo em
minhas mãos, tinha uma palavra de segurança que me
passava justamente isso, segurança. E tinha o mais
importante naquele momento, que era confiança no homem
que estava ali na minha frente com a feição mais serena
que já vi nele.
—Donna! — Davi sussurrou meu nome de forma
carinhosa tirando-me do turbilhão de pensamentos, e
quando imaginei que fosse gritar comigo, ele apenas
sussurrou, então deixei minha mente exteriorizar meus
pensamentos usando meus lábios ao dizer:
— Não sou masoquista! Não sei se quero continuar,
Davi.
Davi tocou em meus ombros gentilmente e me virou
em sua direção, dizendo:
— Sei que não é, tão pouco eu sou um sádico,
entenda de uma vez por todas que não sinto nenhum tipo
de prazer em infligir dor no seu processo de treinamento, o
único prazer que sinto com tudo isso é o poder, é o prazer
de dar prazer a você em cotas e poder controlar isso,
comandando e costurando isso da forma que te leve a ser
mais dócil aos meus comandos, e é por isso que existem
os castigos e a dor na nossa relação. Não vou obrigá-la a
me seguir, quero que me siga por vontade própria, essa é a
diferença crucial de um sádico e um dominador,
compreende? Sua dor física e psicológica não me dá
prazer, sua entrega sim, isso me dá prazer.
Apenas assenti.
— Donna, se eu quisesse uma masoquista estaria
com outra mulher e não com você — concluiu.
— Estaria com a Rew, não é?
— Não vamos colocar uma terceira pessoa nessa
nossa conversa, está bem?
— Me desculpa, meu senhor — respondi abaixando
o olhar e mirando em seus sapatos pretos e lustrosos.
— É isso que quero de você, Donna, apenas
submissão aflorada e não sofrimento, quero que feche
seus olhos, que respire fundo e aliviada, e que se imagine
despindo-se dessa armadura que você vestiu por cima do
seu body.
Naquele momento, fechei meus olhos, respirei fundo
como ele pediu e fui deixando sua voz me acalmar.
— Entregue-se a mim, confie em mim, submissão
prescinde a dor, entregue a direção da nossa relação a
mim e apenas aprecie as sensações e seus efeitos
colaterais, eu garanto que você vai gostar.
Davi conseguiu acalmar os batimentos do meu
coração, então ele ordenou:
— Abra os olhos.
Abri, e a imagem imperiosa de um Dominador ainda
se fazia irresistível em minha frente, então sem dizer mais
nenhuma palavra, ele deu passos em direção a porta do
quarto onde estávamos sem olhar para trás e
simplesmente o segui instintivamente.
Davi abriu a porta de um dos quartos o qual eu
ainda não havia entrado, e logo que cheguei na porta
deparei-me com a escuridão que foi se dissipando como
passe de mágica assim que pequenos fachos de luz
começaram a iluminar o ambiente, pois ele foi acendendo
várias velas.
— Entre! — ordenou com um tom de voz calmo.
Um passo, dois passos e eu estava indo novamente
para o desconhecido, pisando sobre pétalas brancas de
rosas, porém, dessa vez não havia espinhos, e novamente
a decoração do ambiente quase fúnebre me pegou de
surpresa, pois havia apenas uma cadeira no centro e
alguns aparadores nos cantos repletos de velas brancas,
umas acesas e outras esperando para terem a mesma
sorte das outras, e enquanto Davi acendia uma das velas
foi falando:
— Hoje teremos nossa primeira sessão juntos, não
se trata de castigo, não se trata de dor, se trata apenas de
entrega e de um prazer inigualável.
Fiquei caminhando curiosa pelo quarto quase escuro
observando cada vela e suas chamas tremulantes, todas
brancas, mas no centro ao lado da cadeira havia um
pedestal com três velas, uma branca, uma amarela e uma
vermelha.
Parei diante delas e então Davi se aproximou de
mim dizendo:
— Harmonia, entrega e amor. Branca, representa a
harmonia e a pureza que você necessita para ter paciência,
sabedoria e humildade; amarela é a sua entrega e que
deve ser exercitada com disciplina, e por fim, a vermelha
representa nossa paixão, nosso amor, sem o qual sua
entrega seria inútil.
Davi estendeu o acendedor de velas em minha
direção e eu o peguei de sua mão, era de metal polido.
—Acenda as velas, Donna!
Então fiz exatamente o que ele me pediu e uma a
uma acendi as velas.
Enquanto eu fazia como ele me pediu, disse:
—Que essas chamas iluminem o caminho de sua
entrega e que a escuridão não tire seu foco.
Devolvi o acendedor e ele disse com firmeza:
— Curve-se!
Meus olhos despencaram para o chão, não tinha
coragem de encará-lo e tão pouco de me curvar, então
novamente Davi tocou em mim direcionando-me para
baixo, fazendo-me ajoelhar em seus pés.
— Beije meus pés. — Voltou a falar.
Fiquei travada sem conseguir fazer o que me pediu
e novamente o som gelado saiu de seus lábios:
— Vamos, Donna, mostre a mim sua submissão,
seja minha!
Tudo aquilo parecia uma cerimônia, então levantei
meus olhos, o encarei e disse:
— Eu ainda não consigo, não consigo fazer isso, eu
estou tentando, meu senhor, mas... — Voltei a baixar minha
cabeça e focar meus olhos em seus sapatos pretos de bico
fino.
— Você consegue!
— Não! Não consigo.
Davi suspirou audivelmente, decepcionado e passou
a falar:
— Hoje vamos jogar um jogo chamado WaxPlay,
que nada mais é que uma prática sensual com uso de
velas no corpo da peça, vou pingar a parafina em partes do
seu corpo e depois irei retirá-las com a ajuda do flogger.
Usarei parafina com óleo mineral sem cor e sem cheiro,
alguns aditivos causam alergias e aumentam a temperatura
da vela, não queremos acidentes. Não irei amarrá-la na
sessão de hoje e nem a vendar ou amordaçá-la, quero que
sinta e veja tudo livremente. Está de acordo, senhorita
Donatella? — explicou, Davi.
— Sim, meu senhor! — respondi ainda de cabeça
baixa.
— Não tem nenhuma objeção?
— Não, senhor.
— Levante-se! — Cada ordem que saía dos lábios
dele com aquele tom de voz poderosa fluía como droga
para mim, eu lutava contra, mas simplesmente ia a loucura,
minha mente estava começando a entrar no clima, era uma
adrenalina correndo louca em minhas veias.
Fiz exatamente como ordenou-me, coloquei-me de
pé lentamente e não ousei olhar em seus olhos, o clima, o
cheiro das velas estavam me fazendo imergir em um
cenário como se fosse a peça de um teatro. Davi levou sua
mão em meu queixo, seu dedão acariciou minha pele
lentamente, contornando meus traços até tocar meus
lábios com aspereza e dizer:
— Olhe para mim!
Olhei, e seus olhos gélidos brilhavam.
— Vou colocar música para entrar no clima, gosto de
batidas pesadas e instrumentais, não se assuste, você vai
gostar — avisou.
— Precisa de batidas pesadas para incorporar o
diabo, meu senhor? — Quando dei por mim já havia
questionado, e assim voltei a sentir a mão dele em meu
rosto, apertando minha bochecha com força levando minha
boca até a dele, então falou tocando meus lábios com os
dele:
— Pareço o diabo para você?
— Sim, senhor! A personificação perfeita dele.
Davi apertou ainda mais meu rosto e me beijou com
gana enquanto me prendia em seus dedos, devorou-me, e
finalizou com uma mordida forte em meu lábio inferior
dizendo:
— O diabo é um anjo, eu não. — Sorriu malicioso.
Davi caminhou elegantemente até um dos
aparadores de madeira e apanhou algo de lá e voltou até
mim, entregou-me uma embalagem, era óleo de bebê,
então, antes que eu pudesse questioná-lo, ele disse:
— Use a cadeira para passar o óleo nas pernas e
corpo, nas costas eu passo, me seduza fazendo isso e
desligue-se desse mundo.
Ele se afastou, foi em um canto escuro e logo uma
batida pesada e conhecida começou a penetrar em minha
mente como se a adrenalina estivesse sendo injetada em
mim com uma seringa, eu conhecia aquela música, era
Going Under, da banda Evanescence, tinha mesmo uma
batida pesada de metal, composta de um ritmo contagiante
capaz de fazer o cérebro explodir.
Entrei na brincadeira e caminhei até o centro do
quarto com o vidro de óleo na mão, estendi minha perna e
coloquei meu pé no acento da cadeira, e de forma sensual,
comecei a espalhar o óleo de bebê nas pernas, sob o olhar
devorador de Davi e daquele som enérgico, aquela batida
não tinha nada de sensual, mas me excitava, e com Davi
caminhando em círculos ao meu redor com um flogger na
mão, como um leão prestes a dar o bote, fiz tudo como ele
mandou, espalhando o produto com cheiro de infância em
todos os cantos do meu corpo que eu podia alcançar.
Quando terminei, Davi grudou seus dedos em meus
cabelos de forma áspera e me fez caminhar até a cadeira e
me colocou sentada nela de frente para o encosto
deixando minhas costas expostas a ele, assim senti seus
dedos quentes deslizarem em minha pele quando ele
mesmo passou a espalhar óleo em minhas costas, então
fui submergindo, submergindo, desligando-me do meu
mundo e infiltrando-me no dele. Afoita, ansiosa, excitada,
essas são as palavras que conseguem descrever o que eu
sentia naquele momento. Ele embolou meus cabelos em
seus dedos, puxou com força e esfregou seus dedos em
meu pescoço, eu estava enlouquecida com o tesão que já
estava sentindo, era tudo sensual demais, eu sentia a
respiração quente dele me queimar.
Davi parou em minha frente com uma vela na mão,
acendeu-a e estendeu sua mão esquerda em minha
direção dizendo:
— Me dê a sua mão!
Estendi minha mão e a coloquei em cima da dele,
Davi levantou a vela a uma altura segura e questionou-me:
— Confia em mim?
— Sim, senhor!
Então, fechei meus olhos quando percebi que o
primeiro pingo de cera iria cair em minha mão, mas, Davi
falou pausadamente:
— Abra seus olhos!
Então respirei fundo e abri meus olhos, e quando o
primeiro pingo de cera quente ia cair, Davi levou sua mão
sobre a minha permitindo assim que o primeiro pingo
caísse sobre sua própria mão, e em seguida, pingou um
pouco mais acima da parte fina do antebraço dele.
— Não é tão ruim, posso? — indagou pedindo
permissão para pingar a cera em mim.
Assenti balançando a cabeça e assim o primeiro
pingo da cera caiu na palma da minha mão, não foi tão
ruim, na verdade, foi quente, mas quente de um jeito
diferente, tinha muita magia envolvida, as chamas, o
ambiente, o som, e o homem que estava me fazendo viver
aquela experiência. Era tudo muito mágico para ser ruim.
— Não esqueça de sua palavra de segurança —
alertou-me.
— Está bem!
E foi assim, envolta nesse clima delicioso que tive
minha primeira sessão de waxplay. A cera caía em meus
braços, ombros, costas e era nada além de um jogo quente
e prazeroso de troca de poder, ardia, mas ardia muito mais
meu desejo por ele que a pele em si, eu estava adorando
estar entregue a ele, enlouquecida de tesão. Quando ele
me fez sentar de frente na cadeira e jogou cera quente em
meus seios, meu corpo se contorceu todo instintivamente,
mas a dor foi aplacada pelos lábios de Davi que buscaram
os meus logo em seguida, impedindo-me de curtir a dor
que a cera provocou ali naquela região tão sensível.
Davi ia riscando meu corpo com a cera e
perguntando a todo momento se estava tudo bem, e a
coisa ficou ainda mais sensual quando me colocou de
quatro com os braços esticados para frente em cima de um
tapete de couro e os pingos de parafina caíam em minhas
nádegas, contudo, ali o ardor doeu ainda mais que nos
seios, visto que nos seios Davi evitou a aréola, acredito eu
que não queria me traumatizar logo na primeira sessão.
Doía? Sim, doía, mas todo o clima sensual não me
permitia parar para pensar na dor que naquele momento
era nada além de excitação, um prazer diferente, eu me
sentia uma tela e estava sendo pintada por meu Da Vinci,
não sei como explicar, mas me sentia quente, meu prazer
estava literalmente na minha entrega, eu estava me
sentindo extasiada por estar conseguindo me entregar a
ele de uma forma tão sublime e livre. Meu desejo era
insano, não o sexual, mas o de agradar aos desejos do
meu senhor, eu estava sentindo prazer em dar prazer a ele,
foi algo que me pegou completamente de surpresa e foi ali,
vivendo aquela experiência que descobri que estava pronta
para aceitar e vivenciar os desejos de Davi e os meus
próprios.
Davi finalizou nossa sessão me amarrando no
centro do quarto, com os braços estendidos para o alto,
então retirou toda a cera do meu corpo dando golpes leves
com um flogger, que nem de longe conseguiu doer mais
que alguns dos pingos das velas.
Davi sabia como ser cruel, mas era em igual
cuidadoso e a todo momento queria saber como eu estava
me sentindo, acariciando-me, beijando-me e
enlouquecendo-me completamente.
Quando me soltou, eu estava mole em seus braços,
ele olhou em meus olhos e sorriu satisfeito, estava tão
extasiado quanto eu.
— Apague as velas! — ordenou no fim da sessão, e
assim caminhei flutuando até as três velas no pedestal e
apaguei todas elas.
Depois de muitas faixas instrumentais de
Evanescence, percebi que estávamos mergulhados no
silêncio um do outro e em nossas respirações.
— Como está se sentindo, meu amor? —
questionou sendo carinhoso.
— Sua, estou me sentindo tão sua, meu senhor.
— É porque você é minha.
Os olhos dele brilhavam e assim falei:
— Não vai fazer amor comigo? Eu estou excitada
demais, meu senhor.
— Não! Nem toda sessão termina em sexo, Donna,
e além do mais, você já teve sua dose de prazer por esse
dia.
— Mas, Davi! Digo... Senhor! — resmunguei.
— Não se esqueça que amanhã começa seu
castigo, vai receber as instruções por escrito.
— É sério isso? — questionei imaginando que ele
pudesse ter desistido.
— Sim! Agora vamos, vou cuidar de você, que tal
um banho de banheira com gelo?
Minha pele estava queimando e levemente cor de
rosa, não me parecia uma má ideia uma banheira cheia de
gelo, só que não.
— Chega de banhos frios por hoje, meu senhor.
— Eu decido como vai ser seu banho! — deu a
palavra final.
Davi mais uma vez me surpreendeu com os
cuidados após a sessão, eu não queria confessar a ele,
mas gostava muito dessa parte; e depois de um banho
relaxante com uma água nem quente nem fria, ele passou
cremes em meu corpo com base em calmantes para a
pele, e enquanto fazia isso, tocou em um assunto delicado:
— Donna, não sei se já te falei isso, mas não sou
um Dom vinte e quatro horas por dia, nem você vai ser
minha submissa em tempo integral, mas eu quero que
entenda que não sou só um Dom, sou controlador também
e tudo que eu fizer relacionado a isso é porque eu a amo e
quero protegê-la, compreende?
— Não vou deixar você me controlar fora do seu
jogo — respondi taxativa.
Davi sorriu lindamente estreitando os olhos e
mostrando-me a perfeição de seus dentes, raramente o via
me dando o prazer de ver a expressão de divertimento em
sua face, então disse-me:
— Isso vai ser divertido.
Dormir em seus braços foi o melhor prêmio de
consolação antes do meu castigo, e mesmo sem saber o
que me esperava no dia seguinte, dormi na cama e nos
braços dele como se não houvesse um amanhã.
LVII
O ar entrava e saía dos pulmões do homem que me
aninhava em seus braços, era uma respiração tranquila,
suave. Minha cabeça estava em seu tórax e eu ouvia com
clareza o pulsar do coração dele em meus tímpanos. Sim!
Eu estava sonhando, só podia ser um sonho, e nele, Davi
me apertava em seu peito com tanta força que me
sufocava. Era um sonho, claro que era, pois a última
lembrança que tenho da noite passada é de Davi me deixar
na porta do meu quarto e se despedir de mim com um beijo
casto em minha testa e se retirar logo em seguida. Sonho
ou não, eu estava ali, na cama e nos braços fortes dele,
que mesmo em sonho parecia querer me proteger de
alguma coisa. Seria de si mesmo? Seria do castigo que
aplicaria assim que acordasse? Ali, ele não me parecia
nada com o diabo, era apenas o meu anjo enigmático me
guardando da sentença que me aguardava.
Abri os olhos novamente, e apenas o facho de luz
fraca vinda do banheiro clareava o ambiente. Acordei do
meu sonho com a mesma sensação de sufocamento, eu
ainda estava nos braços fortes do anjo, e ele ainda dormia
tranquilo enquanto me protegia de si mesmo em seus
braços. Me senti frágil e pequena diante de tamanho
homem, senti a musculatura firme de seu abdômen em
meus dedos atrevidos, estávamos encaixados,
deliciosamente, diga-se de passagem, de uma forma tão
gostosa que eu podia sentir sua virilidade dentro da box
preta tocando em minha barriga, estava em repouso
completo, mas ainda assim era volumoso e fiquei tentada a
tocá-lo, mas não o fiz.
Definitivamente eu não estava sonhando e acordar
nos braços de Davi aquela manhã podia ser maravilhoso,
mas algo me soou como um presságio ruim, era como se
Davi estivesse tentando me passar tranquilidade diante do
castigo que me esperava, era como se ao me apertar
daquela forma estivesse tentando me passar conforto,
segurança.
Será que vai me bater? Me espancar até sangrar?
Usar terapia de choque, me deixar em um quarto escuro,
presa, sem comida, sem água, nua. Já sei, vai me prender
de ponta cabeça, me fazer ajoelhar em milho ou arroz cru,
ou me torturar com vibradores sem permitir que tenha
orgasmo e na pior das hipóteses vai urinar em mim.
Nãooooo! Pensei olhando-o sereno e lindo com a barba
rente implorando para ser tocada, mas novamente me
contive.
Não sabia que diabos seria o tal castigo, mas pela
forma com que Davi me apertava e pelo fato de ter voltado
e deitado na cama comigo, o suposto castigo iria doer tanto
em mim quanto nele, não tinha outra explicação.
Eu precisava sair dos braços dele, estava louca para
fazer xixi, e assim fui me mexendo feito uma cobra até me
livrar por completo daquele poço de pecados.
Fui direto para o banheiro, mais um pouco presa
naqueles braços e a coisa teria ficado esquisita para mim.
Assim que o alívio tomou conta do meu ser, olhei para o
blindex do box e vi que havia um papel pregado nele, então
suspirei e retirei de lá a folha branca com escritos em preto:
Você será privada da minha companhia por
tempo indeterminado.
Sorri de nervoso sem entender nada do que ele quis
insinuar com aquelas palavras, saí do banheiro às pressas
e voltei para o quarto questionando-o em alto e bom tom:
— O que diabos significa esse bilhete?
Davi espreguiçou alongando todos os músculos de
seu corpo e abriu os olhos encarando-me com eles
semicerrados.
— Pode me explicar isso, Davi? — Mostrei a ele o
pedaço de papel chamando-o pelo nome, visto que já seria
punida mesmo.
Ele nada disse, apenas se colocou em pé e saiu
caminhando, ignorando-me em direção ao banheiro, e
claro, eu o segui, mas me arrependi no exato momento em
que ele tirou o GG para fora da cueca e começou a urinar
na minha frente.
— Ah que droga! — resmunguei constrangida e me
virei de costas saindo rapidamente do banheiro, resolvi
esperar ele terminar de fazer tudo que tinha para fazer lá
dentro.
Passados alguns minutos ele saiu de lá enxugando
o rosto com uma toalha azul-marinho, e conforme
movimentava os braços, seus bíceps ficaram
deliciosamente marcados.
Merda! Que delícia de homem, meu Deus! Pensei
apertando o bilhete e amassando-o em meus dedos.
— Que parte do recado você não entendeu,
senhorita Donatella? — Davi questionou-me formalmente
imerso em tranquilidade enervante.
— Todo ele. — Cruzei meus braços encarando-o.
— Você me desapontou gravemente, frustrou todas
as minhas expectativas ao cometer as falhas que apontei
como indisciplinas, você não se esforçou nem um pouco
em me agradar.
— Eu sei, eu sei, mas... — interrompeu-me.
— Mas nada, é por isso que a começar desse
momento, sem data e hora prevista para o término do
castigo, digo que não teremos nenhum tipo de interação,
não a quero aos meus pés, nem que isso seja uma vontade
livre e espontânea de sua parte.
— O quê?! — ralhei pasma gargalhando em
seguida.
— Vai ficar no seu canto longe de mim, presa e
amarrada a sua própria mente, a fim de refletir o quão
minha presença lhe faz falta, e assim irá aprender a se
policiar melhor obedecendo minhas futuras ordens.
— Davi, não, eu não vou suportar isso.
— Eu sei, segundo algumas peças que já tive esse é
o pior castigo de todos, o mais perverso que um Dom pode
impor a uma submissa. Há as que preferem uma punição
extrema com cane do que ser privada de seu senhor.
— E o que é cane, afinal? — questionei curiosa.
— São varetas finas de madeira, acredite, você não
ia gostar de conhecer.
— Meu Deus, isso é sério?
— Sim — respondeu monossilábico.
— Espera! Deixa ver se entendi. Você não vai me
ligar, não vai me chamar para ficarmos juntos, não vai me
mandar mensagens, não vai dar ordens e não vai me
proibir de nada e nem me beijar nos corredores do Palácio,
é isso?
— É isso — respondeu indiferente.
— Por quanto tempo? — repliquei.
— Indeterminado — concluiu severo.
Girei em meus calcanhares sem conseguir acreditar
no que estava ouvindo, então, tentei argumentei em minha
defesa:
— Eu sei que quebrei as regras em efeito dominó,
confesso que até conscientemente por ser divertido, mas
eu jamais imaginei que meu castigo seria ficar longe de
você por tempo indeterminado. Por Deus, Davi, isso é
cruel, eu não vou conseguir ficar sem sentir o calor do seu
corpo, sem a frieza deliciosa do seu olhar. — Caminhei até
ele e estendi minha mão em direção ao rosto dele, mas ele
segurou em meu punho impedindo-me de tocá-lo.
Davi me prendeu em seus dedos com gana, seus
olhos severos prenderam os meus e os mantiveram cativos
nas sombras, então seus lábios se moveram e sua voz
ecoou dentro de minha alma:
— Você foi irônica muitas vezes, fez birras, não se
importou nenhum pouco com as consequências, mesmo
sabendo que haveria uma, então agora, arque com os
efeitos que suas atitudes geraram, e depois, quem sabe
você se atente a cumprir minhas ordens com mais apresso.
— Soltou meu pulso e se virou de costas para mim, e
quando foi caminhando em direção a porta do quarto disse:
— Não quero mais ouvir sua voz, a partir de agora,
terá apenas o meu silêncio, portanto, esteja pronta para a
viagem de volta para São Paulo às duas da tarde em
ponto.
Engoli a seco sem responder absolutamente nada,
fiquei em choque, não estava acreditando que ficar longe
dele sabe-se lá por quanto tempo seria meu castigo, e
pensar em tal coisa me fazia preferir ser açoitada por ele.
Estava perdidamente apaixonada e não conseguia
imaginar como seriam os próximos dias longe dele, sem o
cheiro, toque, gosto, mandos e desmandos, as ordens
deliciosas que tanto me excitavam.
Caminhei sem norte até a poltrona no canto do
quarto e me sentei nela erguendo minhas pernas e
encolhendo-me ao prendê-las em meus próprios braços,
estava tentando digerir aquela notícia que caiu sobre mim
como uma sentença de morte.
Aquela manhã foi o início de uma tormenta, era só o
começo das dores, sentir a presença de Davi e não poder
dirigir-lhe a palavra, não ouvir mais o som delicioso de sua
voz, e sentir sua frieza nos pequenos encontros pela casa,
me fez sentir os primeiros sinais de arrependimento.
Podia ter me esforçado mais e acabei estragando
tudo, minha falta de dedicação e interesse naquilo que
aceitei viver aquele final de semana iam me custar muito
caro.
Davi correu na mata sozinho, chegou na cabana
suado, passou por mim como se eu fosse um espectro, e
foi assim também durante o almoço.
Da janela do meu quarto vi quando os seguranças
chegaram de São Paulo para fazer nossa escolta na
viagem de volta, desci para não me atrasar como Davi
havia me pedido, e assim terminou o final de semana mais
maravilhoso que vivi ao lado de um homem.
A viagem de volta foi marcada por um silêncio
doloroso e implacável, minha audição parecia mais
aguçada que nunca, ouvia a respiração de Davi como se
fosse uma canção de despedida.
Me encolhia no canto do banco tentando desviar
minha atenção dos sons involuntários que Davi fazia, mas
era impossível não me ligar nos batuques que ele fazia no
volante com os dedos.
Minha mente gritava em súplica.
Tentei ligar uma música para amenizar a dor que
aquele silêncio estava me causando, mas fui impedida por
ele que por um instante fugaz até me encarou, lançando-
me um olhar duro de reprovação. Nunca antes imaginei
que o silêncio doesse daquela forma, era um castigo
fustigante, e o pior era pensar que era só o início.

Durante a viagem o silêncio era amargo, era


sufocante, o único som que pairava entre nós era o da
respiração pesada de Donna. Eu sentia falta da presença
plena e contagiante dela, visto que a mesma estava
cumprindo minha ordem de ficar em silêncio, sendo que em
outras circunstâncias estaria falando sem parar.
Fechei minha mão em pulso ao ver Donna com a
fisionomia paralisada, encolhida e encostada na porta do
carro imersa em uma tristeza vidente e dolorosa, doía mais
em mim do que nela, e naquele momento quase estendi
minha mão para tocá-la em um carinho, mas retrocedi meu
desejo e por vezes pensei em quebrar o silêncio amargo
que criei entre nós, mas vê-la submissa e arrependida
daquela forma me dava mais prazer que qualquer coisa na
vida, e ao final desse castigo tenho certeza que estará
pronta a cumprir minhas ordens com perfeição, inclusive,
curvando-se diante de mim.
Quando chegamos em minha casa, Donna, desceu
do carro e me olhou, senti meu mundo ruir ao perceber a
falta de brilho em seu olhar, em um rosto angustiado e
dessa forma tive que me conter lutando para não voltar
atrás em minha decisão de forma tão rápida e aninhá-la em
meus braços.
Donna ficou ali, imóvel em minha frente como se
estivesse esperando eu mudar de ideia, enquanto meus
pensamentos me mortificavam e crucificavam-me.
Ela não é como as outras, Davi, não é.
Mesmo tendo consciência de tal fato, eu a deixar
partir, assistindo-a entrar em seu carro e partir para longe
dos meus olhos e de meus cuidados.
Jamais volto atrás, mesmo sabendo que o mais
castigado nessa história estaria sendo eu, pois não me vejo
mais vivendo longe da mulher que amo.
LVIII
Davi! Foi meu último pensamento antes de
adormecer depois de passar horas digerindo suas
palavras, e Davi, foi o primeiro pensamento que me
assolou assim que meus olhos se abriram pela manhã,
quando Meritíssimo passou a patinha em meu rosto me
acordando.
— Oi, meu amor! — abracei meu gato com força. —
Estava morrendo de saudades de você.
Apertei-o em meus braços como se ele fosse capaz
de apagar a sensação de impotência que me acometia
naquele momento, mas eu tinha certeza de que assim que
ligasse meu celular teria uma mensagem de texto de Davi,
e com esse pensamento, coloquei Meritíssimo em minhas
pernas e estendi meu braço ao alcance do meu celular no
criado mudo, então constatei que não havia nem vestígios
de Davi nele.
— É indiferença que você quer Vossa Excelência?
— questionei em tom alto. — Então vamos ver como se
sente sendo ignorado.
Levantei da minha cama, tomei meu banho, fui ao
quarto de meu pai dar-lhe bom dia e, em seguida, tomei
café com minha mãe que me fez milhões de perguntas de
como tinha sido meu fim de semana.
Era só uma manhã de segunda-feira após um
feriado prolongado, era para eu estar vestindo uma saia,
um terninho qualquer e um salto médio e confortável para
encarar o dia de trabalho, mas para mim não era uma
segunda-feira qualquer, era definitivamente a segunda-feira
que eu deixaria o conforto dos saltos mais baixos para
subir no salto literalmente, e assim escolhi um vestido
tubinho na cor gelo com arabescos em cinza, decote
quadrado um pouco franzido que valorizava demais meu
colo.
Estava terminando de me arrumar quando minha
mãe entrou em meu quarto dizendo:
— Uau! Está vestida para matar um certo
Desembargador em particular, filha?
— Não, estou vestida para postergar um.
— E posso saber por que deseja ignorar o homem
com quem passou o feriado?
Virei em sua direção, apanhei minha bolsa em cima
da cama, respondendo-a:
— Digamos que ele vai experimentar um pouco do
próprio veneno.
Minha mãe cruzou os braços e ficou lá com cara de
quem não entendeu nada.
Assim que entrei no Palácio da Justiça, caminhei
lentamente pelo enorme espaço livre entre as 16 colunas
de granito vermelho e bronze no tapete vermelho do
saguão dos Passos Perdidos, ali eu tinha o prazer de
vislumbrar o interior magnifico em mármore e granito
daquele edifício, enquanto conferia meus e-mails pelo
celular, era uma rotina caminhar por aquele espaço
aproveitando o tempo para colocar em dia as mensagens.
Poucas pessoas caminhavam por ali naquele momento,
passei por um ou outro magistrado que me
cumprimentaram discretamente, enquanto, que outros
faziam o mesmo que eu e estavam deveras distraídos. O
silêncio daquele lugar era uma benção, mas foi
simplesmente despedaçado e jogado ao vento quando uma
voz ecoou fina e irritante me chamando:
— Donninha! Espera aí, Donninha.
Fechei os olhos e girei em direção a voz afoita só
para que meus olhos constatassem aquilo que meus
ouvidos tinham a certeza.
E sim, era Dalvinha trajando seu uniforme de
trabalho preto e branco, e vinha toda apressadinha, e logo
que se aproximou de mim falou esbaforida:
— Bom dia, Donninha!
— Por Deus Dalva, não me chame de Donninha que
fico me sentindo uma Mustela.
— Uma o quê? — questionou estreitando os olhos
por baixo da armação vermelha de seus óculos sem
entender nada.
— Uma Mustela, é um pequeno mamífero, um furão.
Ela continuou com cara de não entendi nada.
— Dalvinha, uma Mustela é uma doninha, um
animal, um bichinho pequeno e fofo.
— Ahhh! Claro, entendi, me desculpa Doutora, não
foi minha intenção ofendê-la.
Continuei caminhando com ela ao meu lado falando
sem parar.
— Não me ofendeu — respondi.
— Mas me diga, como foi seu final de semana com
o Doutor GG dominador? A propósito, você está arrasando
no modelito, hein. — Fez sinal de positivo com o dedão.
— Foi... — parei para analisar sobre o final de
semana — Perfeito! — confessei.
— Uiiii! — fez um biquinho todo esquisito se
encolhendo toda em um gesto engraçado. — Como eu
queria um macho desses para me bater.
Parei abrupta e a encarei fechando o cenho sem
dizer nada.
— Você e a Sandrinha são mulheres de sorte. —
Incrível como Dalvinha gostava do diminutivo. — Se bem
que a Sandrinha não sabe aproveitar o macho que tem e
não gosta muito de levar umas palmadas do marido e vive
ameaçando denunciar o cara, mal sabe ela que tem um
Dom gostoso dentro de casa.
— Como é que é?
Peguei no braço esquerdo dela e fui arrastando-a
delicadamente para o fim do hall onde ficava o salão do
júri, que hoje em dia recebe apenas visitação. Subi as
escadinhas levando-a delicadamente na marra comigo e
assim que entramos remeti meus olhos no alto e avistei a
cruz de Cristo que permanece intacta naquele ambiente
lindo e maravilhoso guarnecido com seus móveis de
madeira de lei, símbolo das flores do café e tipologias de
anjos, uma referência gritante barroca brasileira e que
muito me encanta.
— Aí meu braço, Donninha — resmungou, Dalva.
— Desculpa, mas você me deixou muito preocupada
agora, você não deve e nem pode achar normal o fato de o
marido da sua amiga bater nela sem o consentimento dela.
— Mas eu acho que ele deve ser um dominador, e
ela não sabe.
Levei minha mão na testa e olhei em direção a
porta.
— Dalva, pelo amor de Deus, criatura! Você não
pode achar que todo homem que bate em uma mulher é
um Dom. Escute com atenção, se o marido dessa sua
amiga bate nela sem consentimento da mesma, ele não é e
nem jamais será um Dom, compreende? Se engana se
pensa que um Dom tem que ser intransigente, arrogante,
violento e espancador, ser um Dom vai muito além de
espancar mulheres Dalvinha, é muito mais complexo que
isso.
— Não estou entendendo você — retrucou incerta.
— Dalva, um Dom de verdade prima pela segurança
física e mental de suas submissas, mulheres essas que
estão ao lado desses homens porque desejam estar,
porque em sua grande maioria assinaram até contratos, e
tudo no relacionamento delas rege a lei do são, seguro e
consensual. Existem mulheres que gostam de viver uma
fantasia, ser a submissa de um Dom é a fantasia de
muitas, mas isso não tira a dignidade delas, o sentimento
de entrega e de pertencer a um dono é o prazer delas, e
essa entrega é o prazer de um Dom de verdade que se
preocupa em cuidar, proteger e dar segurança.
— Donninha, você está me confundindo.
— Minha amiga, entenda de uma vez, um Dom de
verdade precisa ter respeito, coerência, equilíbrio, não é
sair espancando uma mulher a torto e direito. Existem
muitos homens sem escrúpulos e mal intencionados por aí
e cabe só as mulheres saber apontá-los. Veja bem, se um
homem te bate sem sua permissão ele não é um Dom, é
um abusador, cafajeste, e precisa ser denunciado o mais
rápido possível, entendeu?
— Sim, acho que estou entendendo.
— Sua amiga precisa procurar a lei para se proteger
desse canalha, e ela precisa fazer isso o quanto antes. A
lei Maria da Penha está aí para isso minha amiga. Esse
homem, esse marido da sua amiga, é muito perigoso, ele
tem necessidade de dominação diferente de um Dom de
verdade, que se atenta antes de tudo as vontades da
mulher. Homens como esse da sua amiga, tentam dominar
mulheres na marra e se elas não se deixam dominar, eles
partem para as agressões físicas e mental chegando ao
ponto de matar.
— Meu Deus! A Sandrinha precisa se afastar dele.
— Sim, o quanto antes, e se ela desejar vamos
entrar com um pedido de medida protetiva urgente e tentar
ao menos evitar no pior dos casos um feminicídio.
— Agora você me assustou.
— Dalva, você mesma pode ligar para o 180 e fazer
a denúncia anônima se você tiver certeza das agressões, é
muito importante denunciar, até porque, muitas dessas
mulheres pedem um socorro silencioso por medo, o fato de
comentar com você é um pedido de socorro.
— Eu jurava que ele era um Dom do mundo do
BDSM.
— Olha, BDSM machuca, dói, faz chorar, faz a
mulher se sentir humilhada, violada e subjugada, só que no
universo BDSM, tudo isso é desejo da submissa, é um
prazer para a mulher, compreende? Ela quer passar por
isso, e se sua amiga está sendo subjugada sem vontade
própria, se não sente prazer em ser espancada pelo
marido, ela tem que se afastar e denunciar. Toda mulher
nasce livre e deve ser sempre tratada com dignidade,
esteja ela em um relacionamento normal ou em uma D/s.
— Entendi Donninha, vou falar com ela.
— Faça isso, mas tome cuidado, diga a ela que
estarei pronta a ajudá-la caso seja a vontade dela. — Abri
minha bolsa e retirei de lá um cartão com meu telefone e
entreguei a Dalva. — Entregue meu contato a sua amiga,
diga a ela que pode ligar quando quiser. Entendeu?
— Sim, sim, eu entendi.
— Ótimo, agora vamos trabalhar que é o que nos
resta.
Dalvinha e eu subimos pelo elevador privativo que
ela tomava conta, incrivelmente ela ficou quietinha sentada
em seu banco, estava pensativa e foi assim, sem falar
nenhum pio que ela abriu a porta para mim no andar que
eu trabalhava.
— Não esqueça de nada que lhe falei, está bem? —
questionei.
Dalvinha apenas assentiu fazendo um movimento
positivo de cabeça, acho que a decepcionei, então antes
de eu sair ela questionou me deixando sem reação:
— Você gosta, Donninha?
Paralisei de costas para ela, suspirei sem ter a
resposta para dar a ela naquele momento, e saí do
elevador sem deixar nenhuma única palavra escapar por
entre meus lábios, pois eu ainda estrava trabalhando tudo
isso em minha mente.
Nunca antes desejei tanto encontrar-me com Davi
pelos corredores do Palácio, olhei em meu pulso e conferi
as horas em meu Apple Watcher rose gold, e se os deuses
estivessem a meu favor eu encontraria com Davi cruzando
os corredores rumo à sua sala, e assim que virei o corredor
avistei Davi caminhando com Bruno rumo ao gabinete dele
e estavam conversando e caminhando lentamente.
Meu coração acelerou e minha mente alertou:
Não faça isso!
— Bruno! — Chamei sem pensar pela segunda vez.
Ambos pararam e olharam para trás, assim me
aproximei e falei:
— Bom dia Bruno, tudo bem? — abri um sorriso
olhando apenas na direção de Bruno como se ele estivesse
só, e como sempre trajava um terno cinza.
— Bom dia, Donna, estou bem obrigado, e você?
— Bem, obrigada.
Os olhos de Davi fizeram uma varredura em meu
corpo e se fixaram justamente na parte que mais chamava
atenção naquele momento, meus seios.
— Ótimo! — Bruno respondeu sem graça, pois o
clima ficou esquisito, Davi me encarava com as feições
fechadas como se quisesse com isso me passar um
recado. — Mas me conta, como foi seu feriado? — Bruno
questionou me pegando de surpresa.
Eu não esperava ter que responder sobre aquilo na
frente de Davi, então usei a primeira palavra que me veio à
mente:
— Inovador.
Bruno levantou as sobrancelhas e repetiu
inquerindo:
— Inovador?
— É, foi cheio de novidades — expliquei
rapidamente.
Bruno sorriu irônico, dizendo:
— Entendi.
— Me diga, o que vai fazer hoje á tarde depois do
expediente? — questionei Bruno encarando-o.
— Nenhum plano, tem algo bom?
— Preciso treinar. Vem comigo?
Assim que as palavras saíram de meus lábios, Davi
se mexeu inquieto, jogou o peso de uma perna para outra
enquanto meus olhos foram dirigidos para suas mãos e
presenciaram o exato momento em que seus dedos se
fecharam com força em punho.
— Podemos combinar. — Bruno, respondeu-me.
Davi deu um passo a esquerda e voltou a caminhar
em direção ao seu gabinete deixando-nos a sós, e estava
visivelmente irritado, pois seus passos eram largos e
ligeiros.
— O que está pegando entre você e o Dr. Davi? —
Bruno questionou assim que Davi se afastou. — É
impressão minha ou está querendo me usar para provocar
ciúmes no homem?
— Ciúmes? Claro que não Bruno, por que eu faria
isso?
— Não sei, me diga você.
— Eu não tenho por que tentar provocar ciúmes no
Dr. Davi.
— Você simplesmente agiu como se ele fosse um
fantasma.
— Mas é isso que ele é, não? — ironizei sarcástica.
— Donna, Donna, não brinque com ele — disse
sorrindo.
— Me desculpa, mas não tenho medo dele e de
nenhum outro homem, você tem?
Bruno abriu o botão do paletó e respondeu-me
dando um passo à frente a fim de ficar bem próximo do
meu ouvido e segredou-me seu medo:
— Posso ser transferido daqui por causa disso.
— Nãoooo! — retruquei.
Assim que coloquei meus pés dentro de minha sala
a notificação apitou em meu pulso, fazendo-me sentir
aquele famoso frio na espinha, e nela uma mensagem de
Davi, dizia:
Joguinho perigoso esse seu.
Sorri satisfeita visto que consegui chamar a atenção
dele mais rápido que imaginei, e embora minha vontade
fosse a de respondê-lo, eu simplesmente deixei passar
batido.
Ficar tão próxima do homem que amo e ter que
fingir que ele não existe é algo que chega a doer na alma,
é uma dor incompreensível, mas que eu sabia que não iria
durar muito tempo, não se dependesse de mim, é claro.
LIX
Com um sorriso mordaz estampando minha face,
coloquei meu celular em cima da minha mesa assim que
enviei uma mensagem para Donna, quebrando minhas
próprias regras novamente, pois se estava de castigo não
deveria manter nenhum tipo de contato com ela. Girei em
meus calcanhares sorrindo e me divertindo com a tentativa
frustrante de me afrontar e seduzir, não posso negar que
aquele decote me deixou com um tesão assustador, e que
em outra circunstância eu a teria arrastado para um canto
qualquer com os dedos cravados em seus cabelos e
arrancaria de seus lábios gemidos de dor e prazer ao baixar
o maldito decote e me deliciar com seus seios fartos ao
mordê-los e degustá-los em fúria. Simplesmente me via
mais e mais enlouquecido com o jeito afrontoso dela, visto
que a ideia de a dominar a meu bel-prazer me excitava
demais e quanto mais arredia, mais atiçava minha gana e
desejo. Não consigo evitar de me sentir atraído pelo
descompasso de Donna, nem por sua sagacidade e astúcia
em tentar me ludibriar com uma tentativa fracassada de me
deixar enciumado. E enquanto ela vinha com a uva, eu já
degustava o vinho com taninos fortes que deixam um gosto
amargo e uma adstringência e secura na boca sem nada
igual, e eu amava saborear os taninos de Donna.
Donna, como eu te desejo! Pensei.
Donna estava redondamente enganada se achava
que me conhecia a ponto de tentar me colocar em uma
situação desconfortante em uma cena patética de
provocação explícita. Eu ainda não conseguia entender sua
verdadeira essência, estava em dúvida se era uma Bratt,
alguém cujo prazer pela submissão passava longe, sentindo
apenas grande jubilo em me provocar, ou uma linda
borboleta rebelde em luta contra sua metamorfose. E fosse
como fosse as duas coisas muito me excitava, mas a
rebeldia dela despertava em mim um encanto surreal
mesmo sabendo que estaremos ambos medindo forças um
com o outro o tempo todo, contudo agora as cartas do jogo
já foram jogadas na mesa e só um sairá vencedor.

Eu estava bem, claro que estava, jamais iria deixar


Davi perceber o quanto a ideia de ficar dias afastada dele
estava me corroendo, eu já sofria com antecedência,
principalmente porque as reuniões com os
desembargadores sobre o caso do Juiz Medeiros
implicavam em sua presença e durante as horas que
passamos no mesmo ambiente, ele não dirigiu seu olhar a
mim em nenhum momento. Sua frieza era dilacerante e por
mais que eu tentava ser indiferente a ele, mais fraqueza eu
demonstrava, era impossível medir forças com ele e quanto
mais eu tentava, mais incomodada eu ficava.
Assim que saímos da sala de reuniões, Davi passou
por mim inebriando-me com seu cheiro que me desmontou
em pequenas peças de um quebra-cabeça. Em nenhum
momento se mostrou preocupado com nada e com
ninguém, simplesmente me lembrou o homem do salão dos
Passos Perdidos no dia em que me ajoelhei aos seus pés
literalmente, um homem poderoso, controlado e
completamente dominante. Exercia sobre mim um fascínio
tão grande enfiado em um terno preto bem cortado e
perfeitamente encaixado em seu corpo que me fazia perder
a linha do raciocínio a ponto de ficar paralisada observando-
o se afastar enquanto conversava tranquilamente com
Bruno, e em meio a esse desatento notei quando alguém se
esbarrou em mim desastrosamente fazendo um filme se
passar em minha mente quando papéis e mais papéis se
espalharam por todos os lados, lembrando-me do incidente
com Davi.
— Você não olha para onde anda sua desastrada? —
O tom de voz imperioso fez um frio subir minha espinha e
ressecar meus lábios deixando um gosto metálico em minha
boca.
Fechei meus olhos ao ouvir o tom rude saindo dos
lábios da mulher mais poderosa daquele tribunal, com
tantas pessoas circulando naquele prédio, eu tinha
justamente que esbarrar na Dra. Rew, na verdade, não
lembro de ter sido a culpada, eu estava deveras distraída
medindo os cortes do terno elegante de Davi, contudo, não
me recordo de ter sido a causadora do acidente e assim
olhei-a e falei sem medir muito as palavras.
— Perdão, mas não fui eu quem esbarrou na
senhora, e sim o contrário, sendo assim acho que a
desastrada seja a senhora.
A Desembargadora cresceu mais uns cinco
centímetros em cima de seus lindos saltos Louboutin, deu
um passo à frente e me encarou com um olhar tão
enraivecido que me petrificou ao sussurrar:
— Está me afrontando? É isso mesmo, Donatella?
Diga-me que entendi errado — sorriu de forma intimidadora.
— Não senhora, apenas constatando um fato, visto
que eu estava parada quando senti o impacto de um corpo
se esbarrando ao meu.
Não acredito que você falou isso. Minha mente
gritou.
— Você é bem corajosa, é petulante, deveria ter
medo de mim ao invés de olhar com essa postura e me
responder dessa forma, afinal de contas faço parte da mesa
que irá julgá-la no concurso caso venha a passar na parte
escrita.
— Está me ameaçando Excelência? — questionei
com um tom de voz mais manso.
— Entenda como quiser, querida.
Engoli em seco a vontade de confrontá-la por
motivos óbvios e disse apenas:
— Sinto muito, Dra. Rew, irei ajudá-la com seus
papéis — respondi fazendo menção de me abaixar para
recolher os papéis no chão, porém, assim que me curvei, fui
contida por mãos fortes que me impediram de me abaixar.
Fixei meus olhos na mão que me prendia, os dedos
longos e as veias saltadas e expostas nela me fizeram
arrepiar cada pelo existe em meu corpo, eu simplesmente
idolatrava aquela mão, e a pressão que aqueles dedos
fizeram em meus braços me fizera sentir um desejo
assustador.
— Bruno, ajude a Dra. Rew a recolher seus papéis.
Foi como ver um filme novamente se reprisando em
minha frente.
A voz de Davi saiu incisiva, penetrante e forte, tão
forte que senti que teria um orgasmo caso algo mais saísse
daqueles lábios enquanto ainda me mantinha cativa em
seus dedos fortes e presa em um olhar gélido e furioso.
— Pode deixar senhor! — Bruno respondeu
abaixando-se, e assim os dedos de Davi me deram
liberdade, e eu teria implorado para continuar me apertando
caso estivéssemos a sós, mas enfim, segui caminhando no
corredor sem olhar para trás, então ouvi quando Bruno
voltou a falar dizendo ao se dirigir a mim:
— Donna! Te espero no mesmo horário de sempre
no Parque.
Parei de forma abrupta, engoli a saliva e olhei com
receio em sua direção, porém, não foi para Bruno que
direcionei meu olhar e ao contrário do que imaginei, Davi
não demostrou nenhuma reação ao ouvir Bruno, estava
conversando com Rew em um canto mais afastado e ela
sorria de uma forma irônica fazendo meu sangue ferver de
vontade de esganá-la com minhas próprias mãos.
Nada respondi ao Bruno, pois fiquei cega em ódio,
caminhei a passos firmes pelo tapete vermelho que se
estendia de fora a fora no corredor, e uma sensação horrível
me corroía por dentro, uma náusea, ciúmes, um ódio que
transpassou todas as barreiras da naturalidade invadindo
minha alma e transformando minhas pernas em dois blocos
de pedra pesadas.
Quando entrei no elevador com Dalvinha, ela me
questionou com cara de espanto:
— Você está passando mal, Donninha? Está verde!
— Estou verde, azul, cor de rosa de ódio, mas não se
preocupe, isso vai passar.
— Assim espero, não quero fechar essa porta e
correr o risco de você vomitar em mim.
— Não vou! — apertei os dedos na alça da minha
bolsa afim de aplacar o ódio, mas logo aquele sentimento
se transformou quando meu olhar se cruzou com os olhos
de Davi e despencaram para o chão, não fui capaz de
manter contato visual com o homem que amo que estava ali
parado a alguns passos de mim. Tudo que eu mais
desejava naquele momento era que ele entrasse ali comigo
e realizasse a fantasia sexual que brotou em mim assim que
estive com ele pela primeira vez dentro daquele elevador.
Entre, entre! Nunca desejei tanto estar com ele em
um lugar fechado.
Dalvinha estava prestes a fechar a porta quando uma
voz entonou as palavras que fizeram um frio percorrer
minha espinha:
— Espere Dalva!
Meu coração parou na boca prestes a pular para fora
daquele elevador.
Fuja, pensei.
O ambiente pequeno do elevador foi inundado por
um aroma doce e forte.
— Boa tarde, Excelência — disse Dalva com um tom
respeitoso e sério.
— Boa tarde, querida! — Rew respondeu simpática.
Eu estava sufocada com a presença dela e enquanto
descíamos, ela me questionou de forma sussurrada:
— Está de castigo, querida? — sorriu maliciosamente
olhando para frente.
Mexi-me inquieta mudando o peso do corpo de um
lado a outro e questionei-a:
— O quê? Castigo? Do que a senhora está falando?
— Fingi demência.
— Vi o comportamento de ambos durante a reunião
de hoje, foi algo bem diferente do que presenciei das outras
vezes, hoje não trocaram olhares furtivos, eram como dois
estranhos, e o pior, vejo que está sofrendo com isso, eu sei
bem como é sofrer com o desprezo do nosso dono, esse é
um dos piores castigos pelo qual uma submissa pode
passar, sentir a frieza de nosso senhor dilacera a alma, nos
deixa perdida sem a pele do lobo que nos protege e
aquece.
— Não faço ideia do que a senhora está falando —
disse apenas.
A porta graças a Deus se abriu e ambas saímos do
elevador. Eu completamente apressada saí sem nem se
quer dizer tchau a Dalvinha.

O castigo de Donna mal havia começado e o


castigado estava sendo eu, nunca antes me senti tão
tentado a voltar atrás de um castigo imposto a uma de
minhas submissas; mas o que eu estou dizendo? Donna
não é minha submissa, ao menos não ainda.
Dalva fechou a porta do elevador tirando de meus
olhos a visão da mulher que eu amava, seus olhos caíram
ao encontrarem os meus e tal gesto de Donna quase me
fizera perder a cabeça e entrar como um louco naquele
elevador, mas antes que tal desatino me acometesse, Rew
entrou antes de mim.
No carro, a caminho de casa dei uma ordem a Jonas
que mais uma vez fugia de forma rigorosa as minhas
próprias regras. O castigo de manter-me afastado de uma
submissa era claro, nenhum tipo de contato deveria ser feito
da minha parte com minhas peças e nem delas comigo,
mas nada mais fazia parte das minhas regras quando o
assunto era Donna.
— Jonas, assim que me deixar em casa, quero que
vá até a casa da senhorita Donatella fazer a segurança
dela, não a perca de vista em nenhum momento enquanto
estiver no parque correndo.
— Sim, senhor, pode deixar.
— Mantenha-me informado de tudo.
LX
Ódio, ódio e mais ódio me corroía durante o trajeto
para casa. São Paulo passando intensa em meus olhos em
meio a um trânsito caótico e pulsante que não ajudava em
nada no estado de espírito perturbado em que me
encontrava.
— Vaca, vaca, vaca! — trovejei em voz alta.
Eu simplesmente odiava aquela mulher, e ter que
sufocar esse sentimento ouvindo-a falar sem poder retrucar
me deixou com um nó na garganta que estava me
sufocando, não bastasse isso, ainda tinha a situação com
Davi que era torturante e isso que só tinha sido meu
primeiro dia de castigo e sabe-se lá quantos dias mais, eu
teria que aguentar pela frente, ele não me deu um prazo,
seria bem fácil se eu não tivesse que ficar nessa
expectativa.
Um dia, dois, um mês? Quanto tempo, meu Deus!?
Eu estava tão confusa quanto aos meus valores,
minha essência, minha identidade, pois eu jamais fui capaz
de viver as sombras de nenhum homem, sempre lutei e
corri atrás dos meus objetivos, sempre fui mestra da minha
própria vida, contudo, estou descobrindo um outro lado
meu. Você pode ser forte o quanto for, mas quando se trata
de paixão todas as suas forças viram cinzas, algo mais
forte domina minha mente nesse momento, não que eu vá
permitir que ele me molde a sua maneira, mas tudo nele
me atrai de forma assombrosa, a autoconfiança, o jeito de
andar, de olhar. Davi domina tudo ao seu redor com
destreza e quando está próximo demais de mim a
temperatura muda, os ventos se acalmam e tudo ao redor
parecer parar para ouvi-lo. Davi tem uma autoridade tão
marcante e singela ao mesmo tempo que faz tudo em mim
se arrepiar e calar. É inevitável não me sentir atraída a ele,
e todas as minhas forças caem por terra ao mínimo contato
visual.
Passar três dias ao lado dele, respirando-o, sentindo
seus toques, sua presença forte e territorial e do nada ser
privada disso era simplesmente angustiante, e por dentro
eu estava destruída.
Vasculhei minhas lembranças do fim de semana e
senti meu corpo estremecer ao me lembrar da intensidade
que vivi nos braços dele em Monte Verde.
... amor é aquilo se faz com quem se ama,
independente da intensidade do sexo, lembrei-me da frase
dita por ele e senti um frio invadir e balançar meu baixo
ventre.
— E quanta intensidade, Davi. — Pensei em voz alta
enquanto São Paulo passava barulhenta em meu caminho.
Quarenta minutos depois que saí do palácio cheguei
em casa, fui direto para meu quarto, precisava de um
banho para relaxar e tirar todo o estresse do dia, e logo
que o primeiro jato pesado de água caiu em minhas costas,
eu desmontei em lágrimas, pois ainda não conseguia
aceitar o fato de não poder estar com o homem pelo qual
eu estava perdidamente apaixonada. Um turbilhão de
pensamentos me atormentou e castigou durante o banho,
era um misto de ódio pela Rew e um sentimento de
impotência quanto a Davi.
Estava sentada na cama amarrando o tênis quando
minha mãe entrou no quarto dizendo com seu confortante e
acolhedor tom de voz:
— Se não venho até você, não te vejo, não é
mesmo? — Cruzou os braços com a expressão carrancuda
no meio do quarto.
— Mamãeee, eu ia te procurar antes de sair —
expliquei-me.
— Como foi seu dia hoje, meu amor? — Começou a
recolher as roupas espalhadas no quarto.
Refleti um pouco antes de respondê-la e por fim,
falei:
— Indigesto, mas prefiro não falar sobre isso mãe.
— Está bem, querida, sabe que gosto de respeitar
seus momentos, estou aqui para quando quiser conversar
— foi condescendente. — Mas me diga, vai correr no
parque? — sentou-se na ponta de minha cama.
— Eu ia correr no parque com o Bruno, mas meio
que mudei de ideia — respondi apertando o nó com força e
me levantando.
— Meio que mudou de ideia? O que significa esse
meio?
— Significa que ainda vou correr, só não com o
Bruno e nem no parque, vou só dar uma esticadinha aqui
pelo bairro mesmo.
— Entendi querida, e o Bruno já sabe dessa sua
mudança de planos?
Mal tive tempo em respondê-la quando ouvi meu
celular tocando, então o apanhei em cima da cama e
atendi:
— Oi!
— E aí gatinha? Está dez minutos atrasada, já estou
aqui no parque me aquecendo —Bruno falou.
— Bruno, eu já ia te ligar, me perdoe — olhei minha
mãe que se levantou e saiu—, fiquei presa no trânsito e
acabei mudando de ideia sobre ir ao parque, me desculpa.
— Podia ter me avisado antes, não?
— Bruno me perdoa, tá. Eu estou bem aérea hoje.
— Vocês brigaram, não brigaram? — especulou. —
Notei na sala de reuniões o clima estranho entre vocês,
mal se olharam.
— Não brigamos, apenas combinamos de sermos
discretos em nosso ambiente de trabalho, mais nada.
— Uau! A discrição de vocês é perturbadora,
conseguiram deixar a reunião amarrada e com cara de
velório. — Foi irônico ao belo estilo Bruno.
— Que bobagem, Bruno, a reunião transcorreu
normalmente — suspirei tentando manter uma calma que
eu nem sabia se tinha mais.
— Bom, vou fazer meu trajeto, se precisar de algo
estou aqui, você sabe — concluiu finalmente aquela
conversa chata e desnecessária.
— Bruno, obrigada por tudo, principalmente pela
paciência que vem tendo comigo.
— Amigos são para essas coisas, me avisa quando
realmente estiver a fim de treinar e não somente de fazer
ciúmes para o Davi.
Levei a mão livre em minha testa me sentindo
constrangida, ele havia notado minhas reais intenções.
— Bruno, não... — tentei consertar.
— Está tudo certo, Donna, sempre sobrevivo a você.
Até amanhã! — Desligou antes mesmo que eu pudesse me
desculpar novamente.
Bruno nunca conseguiu ganhar nenhum espaço em
meu coração que não fosse meramente de um bom amigo,
embora tenha sempre tentado se infiltrar como um intruso.
No bairro onde eu morava havia uma longa pista de
caminhada para minha sorte, um belo canteiro iluminado,
sendo assim, podia escurecer, que eu poderia fazer minha
corrida tranquilamente sem me preocupar com nada, e
dessa forma, iniciei meu fim de tarde enfiada em uma
legging preta, top preto e uma regata larga por cima. Antes
de começar a correr fiz alguns exercícios de alongamento,
tudo o que não precisava era de um estiramento.
O fim de tarde estava com um arzinho gelado, com o
céu parcialmente nublado, havia cheiro de chuva na
atmosfera, certamente estava chovendo em algum ponto
da cidade e o tempo com ares de instabilidade fizera com
que o movimento estivesse raleado na pista, mas isso não
me impediu de ter uma sensação horrível de estar sendo
vigiada, seguida por alguém, e a cada passo que eu dava,
eu olhava para trás para tentar entender porque diabos o
homem de moletom preto e capuz na cabeça não estava
me passando, ele vinha em uma constância com passadas
usuais que o mantinham bem próximo, o que certamente o
teria feito passar a frente, contudo ele insistia em
permanecer a poucos metros de mim.
Por que você não me passa? Pensei ficando
nervosa. Será um dos seguranças do Davi, meu íntimo
voltou a questionar, enquanto, que meu cérebro emitiu
sinais de pânico a meu corpo acelerando
consideravelmente as batidas do meu coração e
consequentemente minhas passadas, e quando dei por
mim havia passado de passadas moderadas a fortes.
Estava tão focada no homem que vinha colado a
mim que não percebi que além do homem havia um carro
preto me seguindo também e quando tomei ciência disso já
era tarde, visto que o mesmo parou bruscamente do meu
lado e teve suas portas abertas com tanta rapidez e
agilidade que demorei a perceber que se tratava de Jonas,
o segurança do Davi, e o mesmo fora direto para cima do
homem encapuzado que me seguia, jogando-o de costas
no chão. Uma ação rápida, tão rápida que fiquei perdida
sem entender o que estava acontecendo.
Jonas imobilizou o homem rapidamente
questionando-me:
— Você está bem, senhorita Donatella?
Quando meu cérebro processou a informação que
passaria adiante, o homem imobilizado falou em um
sussurro sufocado:
— Donna, sou eu, Alfredo!
Quando ouvi a voz arrastada de um senhor de idade
e vi seus olhos escuros imersos em medo, e sua barba
grisalha, rapidamente intervir puxando Jonas para atrás
dizendo:
— Solte ele, Jonas, é meu vizinho o Senhor Alfredo!
— exasperei-me.
Assustada com a possibilidade de estar sendo
seguida não me dei conta que podia ser o senhor Alfredo,
visto que ele corria ali todos os dias no mesmo horário
durante anos.
— Perdão senhorita, achei que ele estivesse
perseguindo-a — disse Jonas levantando o pobre do
senhor do chão que rugiu:
— Você está louco? Quem pensa que é para sair
derrubando as pessoas assim? Podia ter me quebrado
todo.
— Mil perdões senhor, sou o segurança da senhorita
Donatella.
— É?! — questionei arregalando os olhos em
espanto com a informação que não havia sido passada a
mim antes.
— Sim! — confirmou com os braços nas costas
escondendo a arma em punho.
Encarei-o e indaguei:
— Está de brincadeira comigo, não está?
— Não, não estou. — Jonas confirmou com uma
pose ereta e seus ombros largos.
— Afinal, esse homem é ou não seu segurança,
filha? — questionou o senhor Alfredo que olhava para mim
e olhava para o Jonas sem entender absolutamente nada,
e quando fomos respondê-lo, cada um falou uma palavra,
eu disse que não, e Jonas disse que sim.
— Não vou chamar a polícia e denunciá-lo por sua
agressão porque conheço essa menina desde que ela
andava de bicicleta com rodinhas por essas ruas.
— Obrigada, senhor Alfredo — agradeci aliviada.
Ele fez apenas um sinal de desdém com a mão e foi
se retirando e enquanto eu o observava se afastar eis que
o telefone de Jonas tocou e ele se afastou discretamente
dando-me as costas, mas, isso não evitou que eu o
escutasse com clareza.
— Alarme falso, senhor! — disse e logo imaginei
que falasse com Davi.
Jonas se virou novamente em minha direção e
voltou a responder:
— Sim senhor! Pode deixar, irei levá-la para casa
imediatamente.
Estreitei os olhos questionando:
— Vai o quê?
Sem tirar o celular da orelha ele me respondeu:
— Levá-la para casa, são ordens...
— Não interessa de quem partiu a ordem, eu não
vou com você a lugar algum, eu vim com minhas próprias
pernas e são elas que irão me levar para casa, diga isso a
seu patrão.
— Mas senhorit... — tentou argumentar.
— Não tem mais nem menos, e digo mais, o senhor
está dispensado desse seu posto de segurança, eu não
preciso disso, nunca precisei e não será agora.
— Senhor, ela...
Jonas cortou sua frase no meio, certamente que
Davi me ouviu e o impediu de repetir minhas palavras
como um papagaio.
— Sim, senhor! — ele respondeu.
Então Jonas desligou o celular e me olhou dizendo:
— Entre no carro senhorita, por gentileza, vou levá-
la para casa.
— Não, não vai não — retruquei e dei-lhe as costas
voltando a fazer meu trajeto em uma marcha mais lenta
que a que vinha mantendo antes do louco do Jonas pular
em cima do pobre do meu vizinho.
Corri por quarenta minutos com Jonas me
escoltando ridiculamente, mas foi entre uma passada e
outra que pensei em uma maneira sutil de não ser a única
castigada em toda essa história, minha prova iria acontecer
dentro de quatro dias, então tive uma ideia.
Assim que cheguei em casa fui direto ao celular
fazer uma ligação e depois de minutos estava tudo
acertado e resolvido.
Vamos ver quem sofre mais! Pensei sorrindo e me
jogando em cima da cama.
Davi tem lá suas regras e as manipula como lhe
convém, mas ele se esquece que não sou uma cariátides
da deusa Têmis, não sou, nem jamais serei uma estátua
que ele comprou e por isso empurra e coloca onde bem
quiser, não posso e não vou negar a paixão avassaladora
que me queima por dentro, mas também não vou permitir
ser moldada como um pedaço de argila qualquer, se bem
que pensar naquelas mãos de Davi escorregando sobre
meu corpo, me moldando em seus dedos me fazia mudar
ideia rapidamente sobre ser ou não um pedaço de argila, e
infelizmente quando ele está próximo de mim acabo
dizendo sim mesmo querendo dizer não. Confusão me
resumia nos últimos dias, porém, eu aceitei jogar o jogo
dele, só não avisei que eu sou uma excelente jogadora de
poker e que blefar é comigo mesma.
Vou apostar todas as minhas fichas, vou correr o
risco e me arriscar.
É distância que Vossa Excelência quer? Pensei
mordendo um pedaço de maçã na cozinha.
— Filha! Que risinho sombrio é esse estampado em
seu rosto? — questionou minha mãe que entrou de
surpresa.
Não interessa de quem partiu a ordem, eu não vou
com você a lugar algum, eu vim com minhas próprias
pernas e são elas que irão me levar para casa, diga isso a
seu patrão.
Desci do carro em meu jardim com o celular
pendurado em meus ouvidos, após ouvir com nitidez o que
Donna havia dito para Jonas, que por sua vez tentou
explicar-me:
— Senhor, ela...
— Ouvi perfeitamente o que ela disse, Jonas —
interrompi. — Leve minha mulher em segurança para casa,
está me entendendo? — falei debruçando-me e apoiando a
mão livre em cima do carro.
— Sim, senhor!
Donna, Donna, não brinque comigo, pensei
enraivecido.
Donna conseguiu me tirar do sério com sua
petulância exacerbada, contudo, eu via o que ela ainda não
conseguia enxergar dentro de si e mesmo negando, ela já
estava entregue, só que vinha lutando contra sua alma
escravizada, mas disso ela não vai conseguir continuar
fugindo.
Não vejo a hora de Donna se permitir ultrapassar
seus limites e encontrar o caminho em uma entrega
incondicional permitindo-me guiá-la a novos caminhos
nunca antes imaginado por ela.
Eu estava com raiva, mas também satisfeito em
saber que ela não esteve na companhia do Bruno aquela
tarde. Eu não confiava nele perto dela, e então, terminei
minha tarde no estande de tiros com a távola cravada de
balas e o suor escorrendo frio em minha testa naquele
início de noite fria.
Não confio em você, Bruno, não confio!
LXI
Dez e meia da noite, um banho quente era tudo que
eu precisava aquele fim de noite amena, meu corpo e
mente estavam exaustos, levei-os a exaustão, o corpo pelo
treinamento repetitivo no estande de tiros e minha mente
por sua luta interna e torturante quanto ao assunto
Donatella. Eu não havia estipulado um limite de dias para o
castigo imposto a ela, e minha mente parecia querer burlar-
me a todo custo logo de cara no primeiro dia do castigo,
sendo que com outras submissas dei castigos de 15 dias e
até mais longe de mim, só que com Donna eu estava
sentindo que não iria aguentar.
Exausto, eu estava com meu corpo e mente no
limite, tudo que eu queria e precisava naquele momento
era cair na cama e deixar seu aconchego me aquecer e
descansar a mente no sono dos justos se é que eu iria
conseguir parar de pensar nela.
Girei o registro e escorei minhas mãos na parede
quando me debrucei embaixo da ducha permitindo assim
que a água quente escorresse por cada canto do meu
corpo.
— Ahh, Donatella! — balbuciei sentindo a água em
minha face.
O vapor da água quente se espalhou com rapidez,
cada canto, cada espaço tomado pelas gotículas de ar
flutuando pelo banheiro e escorrendo pela parede e box,
dando assim um certo ar de suspense como em um filme
de terror. Uma névoa densa de vapor me abraçou
revigorante, e ali eu poderia ficar horas e horas relaxando.
A água escorria parte em meu corpo e parte no chão
produzindo um burburinho relaxante. Estava
completamente absorto, preso em meus pensamentos que
insistiam em me trapacear.
—Donna, onde você está agora, o que está
fazendo? — falei em voz alta no exato momento em que
senti a delicadeza de dedos finos tocar em minhas
omoplatas e responder:
— Não muito longe de Vossa Excelência. — A voz
macia me desmontou.
— Donna! — sussurrei de forma sôfrega. — O que
está fazendo? Não era para estar aqui, não era para falar
comigo — falei mole com o toque sutil daqueles dedos em
minha barriga ao me abraçar por trás.
— O senhor não me falou nada sobre não tocar em
você.
Suspirei nervoso com ela deslizando seus dedos
nos nós fortes e enrijecidos do meu abdômen que se
contraiu todo de tesão, e enquanto me tocava, beijava
minhas omoplatas e pescoço, fazendo assim meu corpo
entrar em ebulição num desejo assustador ao sentir os
bicos rijos de seus seios tocar em minhas costas.
— Você nunca me obedece, porraaaa! — tentei
transmitir raiva, porém sem veemência nenhuma.
— Não, nunca irei! — ela respondeu tocando-me
onde não deveria.
— Não faz isso Donna, estou sentindo o inchaço dos
seus seios me tocar, eu vou machucar você se continuar.
— Me machuque, meu senhor, morda-os com força,
eu quero e desejo sentir esse prazer — desafiou-me
insolente.
Virei-me em sua direção, estava linda, os cabelos
negros soltos e molhados, vestia o vestido branco
exatamente como a deusa Têmis, se molhando junto
comigo em meio ao nevoeiro do banheiro, deixando seus
seios intumescidos a mostra sobre o tecido.
Grudei meus dedos em seu pescoço e a fiz me
encarar, então sussurrei entre dentes:
— Donna, seu castigo vai se estender ainda mais,
você não me obedece, vou ter que puni-la com mais
altivez.
Seus olhos caíram e se fecharam, e eu desejei que
voltassem a me encarar com o desejo de antes, contudo
para minha surpresa, junto com seus olhos, seus joelhos
se dobraram diante de mim, sem que eu viesse a dizer
nenhuma palavra, nenhuma ordem, apenas desejo puro e
sublime dela mesma.
Engoli a saliva que se formou em minha boca, meu
corpo se arrepiou em jubilo e meu pau virou um mastro
duro e forte ao ter a mulher da minha vida curvada se
ajoelhando voluntariamente aos meus pés.
Fiquei inerte, sem reação, nunca imaginei perder a
fala diante da submissão de uma mulher, então sem olhar
para mim ela disse:
— Meu senhor! Eu sou sua.
As veias do meu pescoço inflaram, o sangue
circulou como veneno em meu corpo, a adrenalina fez as
batidas do meu coração pulsarem de forma frenética, achei
que fossem explodir, então deixei um sorriso malicioso se
formar em uma linha reta em meus lábios e puxei-a com
força para cima com meus dedos enfiados em seus
cabelos, encarando-a com voracidade.
— Caralhoo, Donna! Esperei tanto por esse
momento! — rosnei buscando sua boca carnuda num
movimento explosivo, devorei-a em um beijo insano e
urgente, louco e excitado, e enquanto a apertava sentia
sua língua tocar e acariciar a minha com avidez. Nossos
lábios se exploravam despudorados, minha língua ia fundo
violentando a dela, eu estava febril, louco, meu pau
pulsava nervoso; e assim rasguei a alça única de seu
vestido e fui explorando seu corpo, beijando e mordendo
seu pescoço, ombros, seu colo, beijando e sugando os
bicos de seus seios ao mesmo tempo que meus dedos
desceram para o meio de suas pernas e invadiram
deliciosamente sua entrada quente e viscosa, minha
ereção estava nervosa e viril como nunca, eu ia foder
Donna submissa de uma jeito nada planejado.
— Eu vou foder seu corpo e alma! — falei e levei
minha boca novamente em seu seio intumescido e passei a
sugá-lo vorazmente e a contornar minha língua em volta
dos bicos, circulando-os, devorando-os, um de cada vez
enquanto levantava meus olhos faiscando para encará-la e
ver o deleite de Donna me fazendo queimar em brasas.
Com nossos olhos fixos um no outro passei minha
língua com a ponta dura no mamilo esquerdo, Donna se
contorceu em meus braços jogando o pescoço para trás
embevecida de tesão, e foi nesse momento que suguei e
circulei a aréola com língua e mordi o bico logo em
seguida, com força, gana, e um tesão descontrolado. Meu
pau pulsava mais duro que aço, nervoso, quente, e quando
meus dentes a morderam, Donna fechou seus dedos com
força em volta do meu pescoço e gemeu sufocada com as
palavras que demostravam sua dor:
— Aiiii!
Um gosto metálico de ferro invadiu meus lábios,
afastei-me com urgência e olha-a em meio a toda a névoa
do chuveiro e tive a pior de todas as visões da minha vida,
o sangue escorria do seio esquerdo de Donna manchando
assim o tecido branco e imaculado de um vermelho vivo.
Ela me olhava assustada, não demorou a água no chão
passou a se mesclar com o mesmo vermelho.
Sangue!
Levei as mãos em minha cabeça em desespero e
falei:
— Donna me perdoa! Me perdoa, meu amor!
Já fiz uma submissa sangrar uma vez, mas só
porque ela insistiu muito, mas com Donna era inadmissível,
não no dia em que se ajoelhou aos meus pés por desejo
incondicional.
Ela me olhava assustada, segurando seu seio
esquerdo com a mão direita enquanto, que fiquei sem
reação, vendo o sangue descer pelo ralo do chuveiro
mesclado a água.
— Me perdoa! Me perdoa, meu amor! — implorei
enquanto vi o terror em seus olhos.
Meu coração parecia que ia sair pela boca, uma
angústia, um sentimento horrível de perda e uma
impotência sem saber como consertar aquela loucura que
havia cometido.
— Meu Deus, meu amor, diga que me perdoa! —
implorei olhando Donna se perder em um olhar distante e
dizer:
— Não toque mais em mim, você é um monstro! —
Vi ódio em seu olhar e ela sumir das minhas vistas em
meio a névoa densa.
— Donna! — exclamei consternado vendo-a sumir
— Donna! Eu não sou um monstro! — Gritei exasperado.
Acordei em um espasmo súbito na cama jogando
meu corpo para frente, transpirando e tremendo, levantei-
me com urgência e entrei no banheiro. Donna não estava
lá, nunca esteve, não havia fumaça, não havia névoa, nem
sinal de que estivesse estado lá, e o principal, não havia
sangue.
— Deus! Que porra foi essa?
Minha ficha caiu e constatei que peguei no sono
usando apenas o moletom preto que eu vestia na noite
anterior enquanto treinava tiros no estande, e tive notícias
de que nem havia jantado quando meu estômago roncou
de fome.
Suspirei aliviado, e aí sim, liguei o registro do
chuveiro para um banho, e quando a água caiu
reconfortante em meu corpo direcionei meus olhos em meu
pulso e constatei que era 06:30 a.m.
Dormi de exaustão e tive o melhor e o pior dos
pesadelos ao mesmo tempo.
— Porra Davi, que merda de sonho foi esse? —
questionei-me sentindo um alívio muito grande por saber
que tudo não havia passado de um maldito pesadelo.
Assim que entrei na sala de togas no Palácio da
Justiça, dei de cara com Bruno sentado no sofá com um
lenço vermelho nas mãos, e ele olhava o pedaço de tecido
completamente vidrado, já estava deverás trajado para
acompanhar-me a mais uma reunião que decidiria o futuro
do corrupto Juiz Medeiros, que estava sendo julgado em
segunda estância por três dos nossos melhores
desembargadores.
— Bom dia, Bruno! — falei tirando-o de sua
concentração.
— Bom dia, senhor! Como está essa manhã? —
questionou-me solicito como sempre.
— Estou muito bem, obrigado! O que é isso em sua
mão? — questionei sem conseguir conter-me a tal
deselegância.
— Um pedaço de tecido que vi na vitrine de uma loja
e comprei para uma amiga — respondeu-me colocando o
lenço na embalagem de papel.
— Um lenço, isso é um lenço — afirmei.
— Sim, é o que parece ser.
Dei um passo em sua direção e o questionei,
encarando-o:
— Que amiga pretende presentear com isso?
— Me desculpa, senhor, mas isso é coisa minha.
Assenti balançando a cabeça com o ódio tomando
posse do meu corpo só em imaginar que Donna tenha
passado na mente dele ao ver o lenço na vitrine.
Assim que vesti minha beca fui saindo da sala com
Bruno a tira colo, meus olhos estavam atentos ao corredor
a procura de Donna, e tive um sobressalto quando vi o
desembargador Afonso virar o corredor vindo em nossa
direção, mas para minha surpresa ele não estava
acompanhado de Donna, e sim de uma de suas
estagiárias, uma morena jambo, alta de cabelos longos e
curvas belíssimas.
Assim que nos aproximamos Dr. Afonso falou:
— Bom dia, Meritíssimo! Bom dia, Bruno!
— Bom dia, senhor! — respondi um tanto quanto
aéreo por não ver Donatella ocupando seu posto.
Onde ela está?
Assim que entramos no elevador fiquei tentando
questionar para a senhorita Dalva, se Donna já havia
chegado, mas obviamente não foi possível fazer tal
especulação e tive apenas que ficar me corroendo por
dentro em curiosidade pois Bruno estava comigo.
Nos últimos dias era uma rotina deliciosa trabalhar
com Donna no mesmo processo, e a sala sem ela parecia
maior que realmente era. Donna não estava
acompanhando o Dr. Afonso aquela manhã, e assim
tentando imaginar o motivo, fiquei disperso por demais a
ponto de chamar a atenção da Dra. Rew que me
questionou:
— Está tudo bem com o senhor Dr. Davi?
— Oi? O que foi que disse? — indaguei deitando a
caneta que eu usava enquanto fazia círculos irregulares em
um pedaço de papel.
— Perguntei se o senhor está bem? Começamos a
reunião há horas e até agora não ouvimos a sua voz,
deseja fazer uma pausa?
— Prossigam! — falei apenas.
De fato, eu estava disperso, não conseguia
esquecer o maldito sonho e nem entender o motivo de
Donna não ter vindo trabalhar, e assim muitas informações
circulavam em minha mente de forma torturante enquanto
a reunião continuou. Meu relógio nunca antes foi tão
consultado, as horas não passavam e quando o horário do
almoço chegou fui o primeiro a chegar no elevador.
— Bom dia, Dalva! Desça logo — ordenei com
urgência pois vi que Bruno vinha logo atrás.
— Mas, senhor... — tentou retrucar.
— Desça, Dalva — falei pausadamente.
— Está bem! — respondeu e assim fez como eu a
ordenei. — Dalva, sabe me dizer se a senhorita Donatella
veio trabalhar hoje?
— Senhor, eu não a vi hoje, se ela veio subiu pelas
escadas e desceu pela mesma, pois não vi a cara da
Donninha hoje. Opss! Digo, não vi a Donna hoje —
corrigiu-se.
Bufei.
— Obrigado!
Nos dois dias consecutivos não tive notícias dela,
meus seguranças dia e noite na porta dela e não a viram
sair em momento algum. No trabalho ela não deu as caras,
e simplesmente me mantive firme ao me corroer de
vontade de perguntar sobre ela para o Dr. Afonso ou até
ligar ou procurá-la pessoalmente.
Meu celular nunca antes teve tanto contato com
meus dedos, pois andava com ele de um lado a outro não
querendo dar o braço a torcer, mas foi na noite do segundo
dia de seu sumiço que toquei a campainha da residência
dela.
— Doutor Davi?! — Dona Helena atendeu a porta e
disse espantada ao me ver.
Certamente que ficou surpresa ao me ver, era tarde
da noite, mas minha ansiedade não me permitiu esperar, e
então, fui logo ao ponto que me levou até ali questionando
sem enrolação:
— Onde ela está?
LXII
Faltavam alguns minutos para às oito da noite e me
encontrava sentada em frente a tela do meu notebook, as
palavras estavam se misturando, embaralhando minhas
vistas e fazendo minha cabeça doer, passei muito tempo
estudando aquela quinta-feira. Eu havia feito planos de
revisões de todas as matérias para os três últimos dias
antes da prova, e como eu nunca estudava uma única
matéria por dia fui intercalando disciplinas que eu gostava
com as que eu detestava para não me cansar.
Naquele fim de noite ainda me faltava recapitular
alguns pontos de direito civil que não era minha matéria
preferida, já havia estudado direito penal e constitucional,
mas vi-me cansada demais para insistir e continuar
naquele momento.
O concurso de magistratura aconteceria no sábado,
e eu tinha agora apenas a madrugada para rever os pontos
que destaquei como sendo os mais importantes, pois no
dia seguinte, na sexta, eu planejava descansar. Havia
estudado durante meses de forma intensa, embora eu já
soubesse tudo suficientemente bem para passar nessa
primeira fase, criei uma expectativa muito grande quanto a
essa minha primeira tentativa, e de repente, não fosse
assim tão exequível, mas minha prioridade naquele
momento da minha vida era o concurso e tentar estressar-
me o mínimo possível, dessa forma, pedi dispensa de três
dias para o Dr. Afonso, desembargador a quem eu
assessorava, que não pensou duas vezes em me ceder os
dias que solicitei.
Um banho, você precisa de um banho, Donatella!
Sussurrou meu subconsciente cansado e entregue a sua
própria sorte e vontade.
Retirei os óculos da frente das minhas vistas, eu os
usava para perto, e assim esfreguei meus olhos com a mão
livre e joguei meu corpo para trás na cadeira afastando-a, a
fim de permiti-me sair de trás da mesa.
Quando me levantei dei-me conta do quanto estava
exausta, meu corpo todo doía desde os fios de cabelos aos
dedos dos pés, e dessa forma, arrastei-me descalça e
desmotivada até o banheiro, todo em granito rosa, tratava-
se de uma rocha linda e delicada de uma beleza visual
confortante. Cada passo mais lento e estudado que o
outro, desse modo, meus olhos foram acompanhando
meus pés desnudos como se estivesse na presença dele e
já estava há quase dois dias caminhando sem sapatos, era
uma forma de me manter focada nele.
Passei em frente a cuba do banheiro que era
lindamente encaixada na bancada de granito com o
espelho logo acima, olhei a imagem da mulher refletida e
confesso que me assustei com o desleixo que havia se
instalado em mim. Meus olhos estavam opacos, sem
nenhum brilho e com alguns sinais leves de olheiras, a pele
um tanto quanto pálida e cansada e meus cabelos
castanhos escuros amarrados no alto com um coque mal
feito, e, sobre minha vestimenta, eu usava um short branco
muito curto e uma camisa verde água de mangas
compridas com os primeiros botões abertos.
Encarei-me no espelho e falei:
— Se Davi te vir assim Donatella, vai repensar
seriamente sobre o que sente por você.
Toquei e apertei em meus dois seios sem sutiã,
primeiro com leveza e depois colocando um pouco mais de
força.
— Ah, Davi como eu queria te sentir — ofeguei
ruidosamente encarando-me no espelho.
Queria sentir a presença dele, precisava ouvi-lo, ler
uma mensagem que fosse, mas eu não iria fraquejar, não
daria meu braço a torcer, então na bancada da pia abri
uma das gavetas e apanhei de lá dois grampos pretos de
cabelos, e em seguida, voltei a apertar meus seios com
força, tocando por cima da camisa até que fui abrindo os
botões para que me dessem acesso mais livre a meus
mamilos, e assim, um a um os prendi com os grampos,
vindo a respirar fundo e sufocar a dor que castigou meu
corpo, mas fez-me lembrar de como era intenso estar com
Davi, e nenhuma dor física que eu viesse a sentir era igual
a dor de não tê-lo por perto e o que é pior, não saber por
quanto tempo, isso sim era uma dor real que lateja a alma,
sangra, destrói.
Não, não tinha nada a ver com prazer em sentir a
dor, não tinha nada a ver com masoquismo e nem com
autoflagelo, definitivamente eu ainda odiava sentir dor, mas
ali naquele momento era tudo que me fazia sentir a
presença de Davi.
Caminhei sentindo fortes pontadas agudas de dor
rumo a ducha e abri o box de blindex, contudo antes
mesmo de abrir o registro do chuveiro levei meus olhos
para a banheira que ficava no canto direito do banheiro,
assim como a cuba do banheiro, a banheira também ficava
lindamente encaixada entre as pedras do mesmo granito
de todo o banheiro, rosa. Bati meus olhos nas velas de mel
que estavam dispostas nas laterais do granito, eu amava o
aroma de mel e canela e para relaxar às vezes acendia
enquanto desfrutava da jacuzzi.
Sentei-me na ponta do granito e apanhei uma das
velas na mão e senti meu corpo se arrepiar todo com as
lembranças que vieram juntamente com o contato de meus
dedos com a parafina levemente amarelada.
Wax Play, lembrei-me do jogo prazeroso e quente
que tive o prazer de vivenciar nas mãos de Davi, e de olhos
fechados visualizei uma das cenas daquela noite e ouvi
sua voz quando me questionou:
— Confia em mim?
— Sim, senhor!
Tive lapsos de memória daquela noite maravilhosa,
e fui transportada para o momento em que abri meus olhos
temerosos e vi Davi deixar os primeiros pingos da cera cair
em suas próprias mãos antes de testar em mim.
Extremamente cuidadoso.
Baixei a alavanca da torneira que passou a despejar
jatos d’água em cascata dentro da banheira, assim
controlei a temperatura nos misturadores. Desejei como
nunca aquele banho, o desamino não me deixaria parar em
pé embaixo de um chuveiro, e sem pensar muito resolvi
que relaxaria ali mesmo dentro da banheira.
Conforme fui retirando minha roupa, desabotoando
os botões da camisa, fui procurando fósforos para acender
as velas, e assim que os achei voltei imediatamente para
próximo da banheira e acendi uma a uma das velas
dispostas ali, eram seis em seu total, e não demorou o
aroma delicioso de mel se espalhou pelo banheiro.
Aspirei sentindo paz, muita paz ouvindo uma voz
mansa e gentil vir alertar-me.
Não devemos acender velas em casa, Donna, pois
elas atraem os mortos, lembrei de minha avó Giulia dizer
isso com veemência, pois era uma italiana católica
fervorosa como nunca vi outra.
O fato é que a humanidade é fascinada pelo fogo
desde os primórdios e eu estava igualmente fascinada
pelas velas e seu fogo tremulante e fugaz.
Terminei de me despir, apaguei a luz do banheiro
deixando o ambiente bruxuleante e entrei na água
confortante.
Dizem que os poetas pensam a luz de velas, e o que
se sabe é que os seres são extremamente sensíveis a luz,
há até os que preferem se despir sobre as sombras fugindo
ao excesso de luz para seu amado, e assim as velas
causam um encantamento romântico e até certo ponto
erótico nas pessoas e desde que tive a experiência com
Davi e as velas, passei a acreditar piamente nisso.
Fechei os olhos relaxando quando meu corpo sentiu
a temperatura deliciosa o acariciar, a espuma o cobriu, e
então quando os abri, fixei-os nas chamas tênues dos
únicos fachos de luzes no banheiro.
Estendi minha mão e apanhei uma toalha em cima
do granito, enxuguei-as e apanhei meu telefone celular que
também estava próximo, e assim procurei em minha
playlist a música que Davi usou na noite da nossa primeira
sessão junto, a noite do WaxPlay.
Coloquei os fones de ouvido e deixei Going Under,
da banda Evanescence me possuir freneticamente, eu
necessitava sentir Davi ali, eu tinha necessidade de seu
toque sua presença sufocante que me esvaia de mim
mesma.
Davi tinha esse dom, de me deixar perdida em mim
mesma, confusa, sem saber ao certo onde me encontrar e
onde mesmo era o meu lugar, se ao seu lado ou longe.
Quando nos conhecemos ele me disse que eu nunca mais
seria a mesma, e ele estava completamente certo, eu não
era mais a mesma, mas ainda me encontrava perdida sem
saber ao certo até que ponto essa mudança mexia comigo.
Ao seu lado me sentia nula e odiava sentir isso,
longe me sentia vazia e perdida, e assim eu me sentia
presa a um conflito interno, perdida em uma luta cruel, e a
única coisa certa de toda essa confusão era que estava
perdidamente apaixonada e o que mais me assustava
naquele momento é que tudo nele me atraía de forma
fustigante, e ali naquela banheira em meio as velas, tudo
que conseguia sentir era um desejo cruel por tê-lo, e doía,
doía muito sua ausência, sua frieza, a falta de contato e de
notícias. Era torturante não receber uma mensagem, ouvir
sua voz mandona, e estando envolta nas sombras, estendi
minha mão direita e alcancei uma das velas.
Fiquei olhando o brilho da luz que atraía minha
atenção de forma irresistível, parecia ter vida própria e me
chamava para ela, me guiando a senti-la; segurando-a com
a mão direita ergui e abri a palma da mão esquerda e
deixei um pingo da cera cair a uma altura segura e
instintivamente fechei a palma da mão que sentiu apenas
um leve ardor.
Não brinque com fogo, Donna. Minha mente alertou-
me tarde demais, pois eu já estava no clima de curtir
sozinha aquele jogo, e deixei um pingo generoso da cera
quente pousar um pouco acima de meu pulso. Tudo
parecia perfeito, Amy Lee gritando em meus ouvidos,
Going Under, no exato momento em que gritei de dor e
afundei meu braço na água tentando aplacar a dor que me
castigou no exato momento em que a cera tocou na minha
pele a queimando. Ardeu como queimadura e em nada me
lembrou a experiência que tive com Davi.
— Droga! Droga! Que dor — falei saindo
rapidamente da banheira e enrolando-me em uma toalha.
Saí às pressas do meu quarto descendo as
escadas, precisava chegar até a cozinha onde minha mãe
guardava a caixa de primeiros socorros, mas assim que
desci dois degraus escutei a voz que fizera meu corpo
retesar e paralisar.
— Como assim foi viajar? Meus seguranças não
viram o carro dela sair daqui — questionou Davi, furioso, e
de onde eu estava ele não conseguia me ver.
— Espera um instante! — minha mãe exclamou
estarrecida. — Como é que é? — questionou assustada. —
O senhor está me dizendo que colocou seguranças na
porta de nossa casa para vigiar minha filha, é isso?
Davi a respondeu logo em seguida:
— Dona Helena, a senhora deve saber que Donna é
minha mulher e ...
Ela o interrompeu bruscamente questionando
furiosa:
— Sua mulher? Perdão, eu sei sobre vocês estarem
se conhecendo, agora, chegar ao ponto do senhor se achar
o dono dela, eu não estava sabendo.
— Eu posso explicar! — retrucou Davi que estava
parado próximo a porta de entrada, não estava nem fora e
nem dentro da casa.
— Acho muito bom! — replicou minha mãe que
cruzou os braços e quando cruzava os bravos era porque
estava furiosa. — Entre, doutor Davi!
Ahh não! Pensei subindo lentamente os degraus que
havia descido.
Davi estava lindo, vestia jeans e camiseta branca, e
se ficava lindo de preto imaginem de branco com os
cabelos molhados e penteados para trás.
Suspirei ao vê-lo.
— Dona Helena — iniciou Davi. — Não sou um
homem muito bem quisto por alguns sujeitos da nossa
sociedade, como juiz e desembargador, eu recebo
ameaças diariamente e isso implica ... — minha mãe o
interrompeu novamente.
— Ameaçaram minha filha?! — questionou
exasperada em um tom de voz aflitivo.
— Não, não é isso, não ameaçaram ainda, mas
poderão fazer se descobrirem nosso relacionamento, e é
por isso que tento protegê-la.
Escutei um suspiro de alívio vindo de minha mãe
que falou logo em seguida:
— Doutor Davi, a Donna sempre foi um espírito livre,
desde pequena sempre fez o que quer e quando quer, não
crie expectativas sobre domá-la a seu bel prazer, pois
minha filha é indomável.
Eu sou? Ri da situação, nunca pensei em mim como
indomável.
A resposta de Davi em seu belo tom absoluto fez
todos os pelos existentes do meu corpo se arrepiarem.
— Ninguém é indomável!
— É por isso que o senhor está aqui na porta da
minha casa? — ela o indagou ironicamente falando.
Tapei minha boca com uma mão e com a outra
segurei a toalha e o riso ao mesmo tempo, pois Davi
acabou de descobrir de onde vinha minha natureza, e
minha mãe o deixou mudo, sem resposta como nunca vi
antes.
— Então a senhora não vai mesmo me dizer onde
achá-la? — ele questionou em um tom de fim de papo.
— Não posso, ela me pediu assim.
Davi girou seu corpo sobre os calcanhares e com
ele os olhos e assim escondi-me para que não me visse no
topo da escada.
— Passe bem Dona Helena, a propósito, como está
o Doutor Luiz? — Davi perguntou de meu pai.
— Ele está bem, está numa fase muito boa.
— Poderia visitá-lo, aproveitando que estou aqui?
Não, não, não deixe mãe.
Se Davi subisse para o andar dos quartos saberia
que estou em casa, sentiria meu cheiro.
— Eu lamento, Doutor, mas ele repousa nesse
momento, e é uma benção muito grande quando consigo
fazer com que durma um pouco mais cedo.
— Volto outro dia. Boa noite, Dona Helena — disse
ele desistindo finalmente.
Fechei os olhos quando ouvi o barulho da porta se
fechando, chegou no mais profundo da minha alma me
atormentando.
Ainda dá tempo! O anjo bom soprou.
Não seja idiota! O anjo mau ruminou.
E assim, desci um a um os degraus indo em direção
a porta e fui devastada com o cheiro dele que ainda
pairava cítrico e picante pelo ar.
Olhei para minha mãe com os olhos cheios de
lágrimas e ela me disse:
— Ainda dá tempo! — apontou para a porta.
Virei para a porta e segurei na maçaneta, eu o
amava, ele tinha vindo atrás de mim, sinal de que o castigo
estava sendo cruel para ele também.
Girei a maçaneta, mas o não seja idiota gritou mais
alto e assim virei em direção minha mãe e escorreguei meu
corpo na porta aos prantos vindo a sentar no chão enrolada
apenas pela toalha.
Chorei de desespero sem saber como lidar com meu
orgulho.
— Donna, minha filha, não faz assim! — disse minha
mãe penosa. — Levante-se daí.
O cheiro de Davi era inebriante e cortava como uma
faca de dois gumes.
Quando minha mãe se abaixou em minha direção
para me segurar e tentar me levantar ela questionou aflita:
— Donna o que é isso em seu braço, filha?
Olhei em meu braço e lembrei-me da queimadura,
estava rosado.
— Me queimei com as velas da banheira, me
descuidei, mãe, não é nada grave.
— Meu Deus, quanta vezes te pedi para tomar
cuidado com as velas.
— Eu sei, eu sei — levantei-me.
— Vem! Vamos colocar uma pomada de queimadura
nisso aí.
— Eu já ia fazer isso quando ouvi a voz dele.
— Falamos sobre ele depois, agora vamos cuidar de
você. Ah se sua avó Giulia visse você acendendo velas
dentro de casa.
— Já sei, já sei, eu estou chamando os mortos, mas
eu e você sabemos bem que isso não passa de um mito
dos antigos para evitar incêndios em casas de madeira.
— E para evitar que se queimassem assim como
você fez aí.
Na cozinha não sei o que ardia mais, se meu braço
ou o remorso de não ter aberto a maldita porta que me
separava de Davi.
— Ele é mesmo o que dizem sobre ele? — minha
mãe questionou naturalmente.
— Queee!? — franzi o cenho com braços esticado
nas mãos dela.
— Um dominador. — Novamente falou com uma
naturalidade assustadora.
— Mãe, eu...
— Sei que não gosta de falar sobre seus
relacionamentos, mas eu não consigo evitar de querer falar
sobre isso com você, sei bem o que ouvi nas festas do Dr.
Davi, e se ele for mesmo um dom, me perdoe, mas não
consigo ver futuro nessa relação de vocês. Na verdade,
não consigo imaginar você sendo domada por ele.
— Por falar em domada, o que foi aquilo sobre
indomável? Você não pode ser irônica com um homem
daqueles.
— Quem disse que não?
— É, quem disse que não.
Ambas caímos na gargalhada e ela disse:
— Não sei se estou certa, mas ele está caidinho por
você filha, só tome mais cuidado com esse relacionamento
e com as velas também. Não vá se machucar!
— Não vou!
— Filha, relacionamentos são escolhas, lembra?
Você tem escolha.
— Eu sei mãe, eu sei — arfei.
Piscou para mim e me deixou na cozinha.
Minha mãe sempre dizia isso, que relacionamentos
são escolhas, eu tenho escolha, e estava escolhendo amar
um homem autoritário e dominador, e afastar-me dele não
era mais possível. A distância imposta por ele como castigo
estava castigando a ambos tenho certeza.
Estendi meu braço esquerdo, fechei a mão em
punho e olhei a mancha rosada três dedos acima de meu
pulso, então sussurrei:
— Aí, isso arde!
Não sei o que eu havia feito de errado, mas algo deu
ruim, talvez o tipo de vela não fosse o adequado, lembrei
de Davi explicar algo sobre as velas, mas estava tão
absorta aquela noite que não me lembro ao certo.
— Ahh Davi, ninguém é indomável, será?!
LXIII
Flor de cerejeira, pensei assim que o aroma sutil e
delicado me assolou no meio da sala da casa de Donatella,
jogando por terra a mentira que dona Helena havia
acabado de me contar.
Ouvi meus batimentos cardíacos baterem em meus
ouvidos e meus dedos se fecharem em punho no modo
automático, eu odiava mentiras.
Girei em meus calcanhares vasculhando os espaços
ao alcance de meus olhos, vi um vulto se afastar e se
esconder no topo da escadaria.
Donnaaa! Meu íntimo sorriu e respirou aliviado, pois
embora tivesse um dominador correndo em minhas veias,
eu a amava, pois o amor é feito de muitas faces, e acabei
descobrindo que quando duas pessoas se atraem
fortemente é inevitável ele acontecer e lutar contra é
bobagem, mas amá-la não fazia de mim menos dominante,
pelo contrário, fazia de mim mais possessivo e protetor, eu
queria e tinha que saber onde e com quem ela estava e
agora que eu já sabia o que precisava já podia voltar para
casa.
Jogado fora da caixinha, era assim que me sentia
naquele momento, ampliando barreiras, saindo fora dos
meus limites e das bordas do que vivi até hoje.
O sumiço de Donna no serviço me deixou
preocupado, não consegui conter a ansiedade que me
atormentava e a esse modo fui vencido a ponto de ir
procurá-la em sua casa, acontece que lá tive a
desagradável informação de que Donna estaria viajando,
porém, seu cheiro no ar entregou-me sua localização,
algum lugar muito próximo de mim dentro daquela casa,
dessa forma, joguei com a possibilidade de visitar o Dr.
Luiz, mas novamente senti que a mãe de Donna mentiu
para evitar que adentrasse mais em sua casa e
descobrisse que Donna ali se encontrava.
Resolvi ir embora deixando-a em seu canto, já me
dei por satisfeito em saber que ela estava na segurança de
sua casa e mãe. Não sou o tipo que desce do trono para
correr atrás de qualquer coisa que seja, não costumo
distorcer meus propósitos, sempre tive comigo que se um
homem autoritário que quer ser respeitado tem antes que
se dar ao respeito, e assim continuo soberano no universo
em que criei para mim.
Eu podia muito bem ter confrontado dona Helena e
sua mentira, e ido até Donatella no topo daquela escada,
mas preferi deixar quieto, o que é meu virá até mim, e
assim caminhei pelo belo jardim até a saída com uma
leveza monstruosa em meus ombros, pois reclusa, Donna
estava sem perceber me obedecendo ao tentar manter
distância.
Na porta do carro, sorri, abri a porta e dei uma última
olhada em direção as janelas do andar de cima da
belíssima casa dos Villas Boas.
Achei que todas as surpresas daquela noite já
haviam sido desvendadas a mim, mas assim que abri a
porta de minha casa me deparei com uma mulher
ajoelhada no chão da minha sala a uma distância que me
permitiu apenas dar dois passos e fechar a porta atrás de
mim. Ali estava uma mulher que sabia realmente o que era
ser submissa de um homem como eu, sabia exatamente
como me agradar; e a um primeiro rompante até encheu-
me de prazer tal cena, pena que era a mulher errada no
lugar errado.
Estava nua, usando apenas uma máscara preta de
renda, estava sentada em cima de suas pernas com as
mãos entrelaçadas em suas costas e cabeça baixa.
Quando me aproximei abriu levemente as pernas e levou
suas mãos com as palmas para cima, cada qual em cima
de um joelho, e assim seus lábios foram logo pronunciando
as palavras que eram quase um hino:
— Meu senhor! — Suas mãos foram diretas para
meus sapatos e começou a desamarrar o cadarço dos
mesmos em sinal de uma submissão tão natural quanto os
fios ondulados e castanhos de seus cabelos, mas no fundo
era tudo muito bem ensaiado.
Respirei afoito e questionei-a:
— O que faz aqui?
— Sinto muito sua falta, senhor.
Rew era de uma subserviência natural de deixar
qualquer Dom enlouquecido, e resistir a ela era como lutar
contra um urso pardo.
— Levante-se, Rew! — ordenei dando-lhe minha
mão em ajuda, e assim que se ergueu vi sua nudez
estampada em meus olhos e era sem sombra de dúvidas,
muito linda.
Rew manteve-se submissa, cabeça baixa e mãos
com as palmas estendidas na minha direção.
— Para com isso — afastei-me — Não sou mais o
seu senhor, vista-se.
— Mas pode voltar a ser, não? O senhor sempre
teve mais de uma submissa, se é que podemos chamá-la
de submissa. — Referia-se a Donna.
Peguei seu sobretudo marrom em cima do meu sofá
e entreguei a ela dizendo:
— Vista-se e saia!
Rew caminhou lentamente descalça e foi até a
garrafa de vinho que estava aberta em cima da mesa
central, encheu a taça com a bebida que imaginei ter sido
trazida por ela e voltou a caminhar nua em minha direção.
Segurava a taça com as duas mãos e voltou a se ajoelhar
no chão e estendeu a mim, mantendo-se submissa, seus
olhos não me encaravam, miravam constantemente para o
chão, então sussurrou sedutora:
— Beba, meu senhor! É o Cabernet que o senhor
mais gosta.
Peguei a taça de vinho de suas mãos e coloquei-a
ao lado da garrafa na mesa.
— O que pretende com isso tudo? Uma sessão de
Spanking hard?
— Quero tudo que, meu senhor, quiser, mas o que
mais anseio mesmo é ter minha paixão platônica
correspondida — retrucou serena.
Gargalhei e a respondi:
— Rew para com isso, chega, ok! Jogávamos juntos
e isso acabou, será que não entende? Amo outra mulher.
— Ama tanto que deu a ela o pior de todos os
castigos — replicou novamente, contudo, o tom das
palavras foi mais áspero.
Peguei a taça em cima da mesa e tomei um gole
generoso do vinho, suas palavras me deixaram nervoso.
— Do que está falando? O que sabe do meu
relacionamento com a Donatella?
Ela riu ironicamente vestindo seu sobretudo que ia
até a altura dos joelhos.
— Sei o que meus olhos me mostraram, e já passei
por esse castigo, lembra-se? Agiu com ela nas reuniões
exatamente como fez várias vezes comigo. É cruel!
Dei-lhe as costas, dizendo:
— A forma com que guio a Donatella não lhe diz
respeito.
— Ela não é uma submissa, deveria pegar mais leve
com ela ou irá perdê-la.
Virei-me rapidamente, segurei em seu queixo com
mais força do que gostaria e disse entre dentes:
— Cale-se!
— Eu adoro o manifesto da sua fúria, me excita, me
enlouquece.
Soltei-a rapidamente.
Rew deu alguns passos em minha direção e disse
tocando-me na face:
— Me alimenta, tenho fome e sede do meu senhor,
pois desperta em mim os desejos mais profundos de minha
alma submissa — implorou. — Açoita-me! Por favor,
Senhor!
Meu corpo se estremeceu ao ouvir aquelas palavras,
Rew sabia como mexer comigo, logo fechei meus dedos e
levei minha mão rente aos lábios.
Suspirei antes de responder:
— Sua alma não é submissa, é treinada, mas seu
corpo é escravo da dor, e eu já te falei que não me agrada
provocar a dor por dor apenas, se liberte dessas amarras
Rew, desse seu vício doentio.
— A dor possui encantamento estranho e delicioso
em mim, não vou negar, se as torturas e os flagelos vierem
de ti então, aumentam meu prazer, Davi. É doentio? É, só
que mais doentio é tentar transformar uma mulher como
aquela assessora em submissa.
— Eu não vou discutir meu relacionamento com a
Donatella com você, pois dominação para mim é algo sutil,
que flui naturalmente, e é isso que tenho com ela,
naturalidade.
Rew gargalhou de forma incontrolável.
— Naturalidade com uma baunilha? Queria até ver
vocês dois juntos em uma cena. Para Davi, quem é que
você está tentando enganar?
— Você entra na minha casa sem ser convidada,
força uma situação e ainda quer questionar? Donna não
age como um robozinho treinado e moldado pelas mãos de
vários sádicos carrascos.
— Ah! Davi, não me venha com julgamentos morais,
me diga, como é que age sua peça nova?
— Donna é absoluta, sagaz, nunca sei o que
esperar dela. Estamos em um processo de sedução onde
ela está tentando dar a mim o poder de usufruir de sua
submissão velada, e em breve, irá justificar e legitimar o
meu comando sobre ela.
— Cuidado para não esperar demais dela, você
pode se decepcionar amargamente e perder a majestade,
Vossa Excelência. Não vá o senhor cair de joelhos aos pés
dela.
— Você me conhece, Rew?
— Sim, conheço bem, por isso estou estranhando
seu comportamento, amar é para os fracos, não é? Amar
coloca ela em perigo, esse sempre foi seu discurso. O que
foi, perdeu o medo? Esqueceu do que aconteceu com a
Elisa?
— Saia! — fiz um sinal sutil com a cabeça em
direção a porta. — Saia! — reforcei com mais veemência.
Rew pegou seu par de sapatos no chão da sala e foi
indo em direção a porta, então quando ela mesma abriu a
porta e cumprimentou alguém falou em alto e bom tom:
— Você?
LXIV
E as surpresas não paravam de acontecer naquela
noite de quinta-feira, quando finalmente achei que iria
poder comer alguma coisa em paz e trabalhar sossegado,
eis que Bruno aparece em minha porta em uma hora
completamente imprópria.
— Sim, sou eu, Meritíssima. Como vai a senhora?
— respondeu e questionou Rew que estava parada na
porta.
— Nunca estive tão bem! — ela o respondeu com a
cara fechada e passou por Bruno que se descolocou dando
espaço para que ela passasse e saísse de uma vez por
todas de minha casa.
— Entre, Bruno! — convidei-o.
Bruno entrou e fechou a porta atrás de si,
constrangido, levantou seus óculos com o indicador e falou:
— Me desculpe, senhor, mas acabei levando comigo
partes importantes do processo que o senhor ia assinar
essa noite, então achei que fosse querer que os trouxesse
até aqui. — Raramente o vi vestido de forma tão informal,
usava uma camiseta preta, calça jeans desbotada e tênis.
— Achou certo! — respondi estendendo minha mão
direita apanhando o montante de papéis numa pasta preta.
— Perdoe-me a indelicadeza do horário, não
imaginei que o senhor pudesse estar com visita — disse
ele olhando o vinho em cima da mesa, em seguida, levou
seus olhos para cima do sofá e viu lá algo que nem eu não
tinha reparado, era uma cane, uma vara fina usada para os
açoites de spank, sem dúvida nenhuma um dos objetos de
suplícios mais hards e o preferido de Rew, por concentrar a
dor em um único ponto fazendo com que a dor seja
extrema e as marcas em golpes mais fortes durarem
semanas para sumir.
Bruno foi discreto e não teceu nenhum comentário,
mas certamente que estava imaginando um milhão de
coisas.
— Não se desculpe, teria que se desculpar se não
tivesse vindo trazer esses papéis, vou trabalhar em cima
deles essa noite e não ia gostar nada de descobrir que
partes do processo não estavam comigo — respondi.
Assim que terminei de falar, Vera, minha governanta
adentrou na sala explicando-se:
— Doutor Davi, me desculpe, o senhor a conhece,
sabe como é atrevida e abusada. Ela foi simplesmente me
empurrando e entrando, não consegui conte-la —
argumentou.
— Sei bem como ela é, Vera! Vou dar ordens para a
segurança não permitir mais a entrada dela sem me
consultar.
— Faça isso, senhor! — disse Vera — O senhor
precisa de alguma coisa? — questionou.
— Sim, leve essa garrafa e essa taça daqui—
respondi dando sinal com a cabeça.
— Sim, senhor! — respondeu ela recolhendo a
garrafa.
— Bom! Me desculpa novamente senhor — disse
Bruno em tom de despedida. — Precisa de ajuda com
alguma coisa? — indagou-me solícito.
— Não, obrigado! Infelizmente esses papéis
precisam apenas da minha assinatura e isso só eu posso
fazer — falei com a voz monótona.
— Então estou indo, passe bem, Meritíssimo. —
Voltou a analisar a cane em cima do sofá e logo em
seguida, dirigiu-se a porta de saída.
Completamente constrangido, foi assim que aquela
mulher conseguiu me deixar aquela noite que para mim
estava só começando, pois tinha uma pilha de papéis para
assinar.
Depois de me deliciar com um delicioso medalhão
com batatas coradas ao molho de alecrim que Vera havia
mandado preparar para meu jantar, passei pela sala e
apanhei os papéis que Bruno havia me trazido, então subi
as escadas rumo aos quartos, e no corredor senti meu
corpo trepidar assim que passei na porta do quarto de
disciplina de Donna. Fui assolado por lembranças assim
que minha mão tocou na maçaneta, podia sentir a mão
gelada de Donna embaixo da minha na noite que a trouxe
aqui pela primeira vez.
Abri a porta e entrei, no interior do quarto caminhei
até as hastes paralelas de madeira, toquei-as saudoso e
deslizei meus dedos pelas amarras sentindo uma ereção
pegar-me em súbito só de me lembrar de Donna presa ali.
Ser um dominador vai muito além das práticas
enquadradas com a sigla BDSM, é emocional e racional ao
mesmo tempo. O prazer em ter o poder sobre o outro é
inigualável, vem de alma, é natural do meu ser, é um
desejo quase que surreal e que não pode ser vivido por
qualquer um, pois implica em assumir responsabilidades
por seus atos, sejam erros ou acertos. Nunca errei com
uma mulher presa em hastes como essas ou em qualquer
outro lugar como uma cruz de Santo André, sempre há um
limite, e esse quem dita é sempre a mulher que transferiu a
mim o poder de fazer o que desejo com elas.
Não existe a submissa ideal, mas existe a ideal para
mim e nesse momento da minha vida, Donna era a única
ideal em potencial que eu conseguia querer, por isso, Rew
deixou de ser atrativa a mim.
A noite foi longa e cansativa, e driblar a vontade
incessante de mandar uma mensagem a Donna foi uma
tarefa mais árdua e complicada do que as horas que passei
analisando e assinando o maldito processo.
De pijama creme e preto, com as mangas compridas
me encontrava sentada no chão da sala com as pernas
cruzadas em posição de lotus mexendo e remexendo meu
yakisoba com os hashis dentro da tigela oval preta,
tentando organizar minhas ideias. Eu era louca por comida
japonesa, mas aquele fim de noite nem o Oriente
conseguia me fazer comer.
Meus olhos não saiam da porta, a mesma que deixei
de abrir para ir atrás do homem que amo e que mais
desejava ver naquele momento, ela ia se abrir e ele iria
entrar.
Se força de pensamento funcionasse a porta iria se
abrir e Davi estaria atrás dela, porém, minutos e minutos se
passaram e ele não voltou, claro que não voltou, imagina
se o Dr. Davi Luiz voltaria.
Suspirei, baixei os olhos e voltei a me concentrar no
macarrão de sobá frito mergulhado no molho entre os
legumes coloridos.
— Donna! Filhaaa, não comeu ainda? Agora deve
ter esfriado — resmungou dona Helena tirando-me dos
meus devaneios.
Coloquei a tigela em cima da mesinha que se
encontrava em minha frente e fui logo respondendo-a:
— Já comi o suficiente, mãe. — Menti, pois não
sabia nem o gosto da comida.
Minha mãe afastou a tigela e se sentou na
beiradinha dizendo:
— Donna, pensa que não percebi que você não está
se alimentando? Isso é ruim. — Teceu seu primeiro
comentário e eu tapei os ouvidos como quando criança.
— Só estou sem fome por causa da prova —
justifiquei sem vontade alguma de explanar o assunto.
— Não, vejo você deprimida e instável — segundo
comentário desnecessário. — Tem certeza de que essa
sua tristeza aparente nada tem a ver com o Doutor Davi?
— voltou a questionar e antes que eu pudesse pensar em
uma resposta, ela emendou. — Donna, o amor precisa de
temperos na medida certa, sal demais, açúcar demais
acaba estragando o paladar.
— Mãe, mãe, mãe, para! — implorei perdendo a
paciência.
— Você está deprimida!
— Nã... — Não consegui terminar a frase que
formulei na mente, a campainha tocou fazendo meu
coração disparar louco em meu peito e meu corpo dar um
pulo em direção a porta e abri-la rapidamente e assim
meus olhos não acompanharam meus lábios.
— Davi!
— Caramba! É a segunda vez nessa noite que me
recebem de forma estranha.
Cruzei os braços e encarei, Bruno, sem reação, ele
era tudo que eu não queria ver naquela noite.
— Oi, Bruno!
— Oi, Donna! Vai me deixar assim do lado de fora?
— indagou segurando uma sacolinha dessas de presente.
— Não, claro que não, entre por favor! — Abri mais
a porta para que passasse.
— Como vai dona Helena? — cumprimentou minha
mãe gentilmente que o respondeu e logo em seguida,
pediu licença para ir ver meu pai.
Bruno estava bem formal, usava jeans e tênis.
— É para você. — Ele estendeu a mão com a sacola
entregando-me.
— O que é?
— Olhe você mesma, achei sua cara, por isso, não
resisti e comprei.
Rasguei a etiqueta da loja famosa e em seguida,
tirei da sacola um lenço vermelho.
Sorri dizendo:
— Um lenço. É lindo, obrigada!
Me virei dando-lhe as costas levando o lenço na
altura de meu nariz ao me lembrar de como Davi usava
aquela peça tão simplória.
Meus pelos se eriçaram.
— Está ansiosa para a prova? — Bruno roubou meu
momento.
— Hã? — questionei voltando para o presente
momento. — Estou preparada — respondi apenas.
Bruno caminhou de um lado a outro pela sala,
passou a mão nos pelos de Meritíssimo que estava no sofá
me fazendo companhia.
— Meritíssimo, não é? — questionou.
— Sim!
— Por falar em Meritíssimo, estou vindo da casa do
Doutor Davi. Por acaso vocês romperam relações? —
questionou de forma despretensiosa.
— Bruno, eu...
— Já sei, não fala sobre seus relacionamentos, me
perdoe, é só que ele...
— É, que bom que se lembra. — O interrompi. —
Como ele está, o Dr. Davi? — Não consegui me conter.
— Fui lá levar uns papéis para ele assinar e o
encontrei muito bem acompanhado.
Mexi-me inquieta e levei uma mecha de meus
cabelos para trás das orelhas e novamente não me contive
e falei:
— Acompanhado?!
— Sim! Diga-se de passagem, por algo bem gostoso
e encorpado.
As veias em meu pescoço pularam e um nó se
formou em minha garganta e estômago.
Não acredito que foi suprir suas necessidades com
outra.
—Eu teria tomado um gole daquele Cabernet
Sauvignon se não estivesse dirigindo, fiquei com água na
boca. — Pegou um porta-retrato com uma foto minha de
um dos aparadores da sala. — Linda como sempre!
Cabernet é o preferido dele, pensei sorrindo sem
conseguir disfarçar o alívio que senti ao saber que sua
companhia era um vinho e não uma mulher.
Arfei de forma audível.
— Obrigada! Bruno, você vai me perdoar, mas eu
preciso voltar para minhas revisões, essa é minha última
noite de estudos.
— Isso significa que amanhã a senhorita está livre
para relaxar, e sendo assim, que tal um chopinho? —
piscou para mim.
— Está maluco, não é? Não vou ingerir bebida
alcoólica na noite anterior a uma prova de magistratura.
— Caramba, Donna, quando é que você vai deixar
de ser tão certinha assim?
— No dia em que eu for a Presidente do TJ.
Bruno caiu na gargalhada e enquanto ria fui até ele,
virei seu corpo em direção a porta e fui empurrando-o para
fora de forma indelicada mesmo.
— Eu preciso estudar e descansar, até mais, Bruno.
— Ah é assim é? Estou sendo enxotado de sua
casa? — questionou brincalhão.
— Está! — coloquei-o para fora e fechei a porta
sorrindo feito boba enquanto pronunciei as palavras. —
Cabernet Sauvignon.
O dia seguinte foi só para relaxar e aproveitar da
companhia do meu pai, que naquela sexta estava fora de
seu corpo, viajando e explorando seu subconsciente, e
embora, ele não estivesse presente ali comigo, foi
gratificante e relaxante passar o dia todo interagindo com
ele, fosse em seu banho, alimentação e passeios pelo
jardim para seu banho de sol, e assim a sexta-feira passou
que nem percebi, mas não evitou em momento algum que
eu sentisse demais a falta de contato com Davi.
As luzes do meu quarto eu apaguei, mas não as de
minha mente que o buscava a cada minuto durante a
tentativa de dormir, e assim analisei meu ser em busca de
respostas quanto até que ponto ele estaria certo quanto ao
meu eu submisso, até onde eu iria nesse relacionamento; e
antes de cair no sono na noite em que antecederia um dos
dias mais importantes da minha vida eu murmurei
respondendo minha mente:
— Não, você não vai me dominar Vossa Excelência.
LXV
Então o dia da prova chegou, a primeira etapa de
cinco para o concurso de Juiz substituto de SP, um dos
mais prestigiados e concorridos para Juiz de Direito do
país. Primeira etapa, tratava-se da prova objetiva seletiva,
composta por 100 questões de múltipla escolha dividida em
3 blocos:
Bloco I: Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito
do Consumidor e Direito da Criança e do Adolescente
Bloco II: Direito Penal, Direito Processual Penal,
Direito Constitucional e Direito Eleitoral
Bloco III: Direito Empresarial, Direito Tributário,
Direito Ambiental e Direito Administrativo
Estava preparada, focada e obstinada para
concorrer a uma vaga no maior tribunal do mundo, era sem
dúvida nenhuma a etapa mais fácil de todas na minha
opinião.
Eram 310 vagas e 400 candidatos disputando cada
uma delas; cinco horas de prova, o que me obrigava a
resolver 20 questões por hora.
Acordei cedo e me preparei, um banho quente e
demorado seguido por roupas leves e confortáveis como
jeans e uma camisete três quartos branca, e por fim, um
café da manhã farto preparado com carinho por minha
mãe.
— Boa sorte, meu amor! — disse minha mãe
levando sua xícara de café fumegante aos lábios.
— Obrigada, mãe, mas está tudo sobre controle —
respondi dando-lhe um beijo de despedida.
Cheguei cedo ao local da prova, um Campus com
árvores, coqueiros e um pequeno jardim, caminhei
lentamente até as portas de vidro que já estavam abertas
com alguns agentes que auxiliavam os concorrentes.
Na sala onde eu faria a prova tinha mais ou menos
80 cadeiras com mesas acopladas e muitas das quais já
estavam ocupadas por pessoas tão ou mais ansiosas como
eu, visto que também chegaram muito cedo, e uma delas
me chamou atenção de forma assustadora, estava
cabisbaixo, rabiscando círculos em uma folha branca,
então, caminhei até ele e falei seu nome com tom de
surpresa:
— Bruno!?
Ele levantou a cabeça lentamente e me olhou por
trás das lentes de seus óculos, dizendo-me:
— É, Bruno sou eu. — sorriu timidamente.
— Muito engraçado. O que faz aqui, posso saber?
— O mesmo que você.
— Vai fazer a prova e não me contou? Estou
surpresa! — falei colocando minhas coisas na mesa logo
atrás dele.
— Não te contei por que não tinha certeza se era
isso que eu queria, fiz a inscrição no último dia do prazo e
deixei rolar.
Balancei a cabeça com a mesma mergulhada em
confusão.
— Dessa vez você se preparou pelo menos? —
questionei-o, sentando-me.
— Sim, e além do mais, já prestei esse concurso
tantas vezes que já sei tudo.
— Ótimo, boa sorte então.
— Não ficou chateada, ficou?
— Surpresa sim, chateada não, afinal de contas
você é meu amigo e quero seu bem.
De fato, me senti traída pelo meu amigo, não por ele
ser um concorrente em potencial, mas por ter me
escondido isso, se bem que não o culpo, nos afastamos
bem depois que fiquei com Davi.
A prova ocorreu dentro da normalidade,
simplesmente, tirei de letra, afinal de contas, me preparei
para ela feito uma louca e ao final da prova, o céu
desabava em São Paulo, um temporal castigava a cidade
como há tempos não via, certamente que os noticiários de
mais tarde estariam repletos de notícias tristes e
calamitosas.
No dia seguinte, ou seja, na segunda-feira, a cidade
parecia ter sido devastada por um tornado, São Paulo
estava fria, nublada e suja, literalmente suja. Havia árvores
caídas por todos os cantos e os funcionários da Prefeitura
já estavam a todo vapor, tentando devolver a ordem a
cidade e isso gerou um certo atraso em meu caminho até o
Palácio da Justiça.
Aquela manhã acordei leve, nada no mundo iria me
fazer perder o bom humor, e então vesti uma chamise Lia
Cohen na cor salmão, prendi meus cabelos em um rabo de
cavalo mais frouxo mantendo as gavinhas na frente e
passei o lenço vermelho que havia ganhado do Bruno em
meu pescoço. Deixei o tom monocromático de sempre de
lado e usei batom vermelho, matifiquei a pele e adicionei
blush às bochechas, de apagado já bastava o dia, e para
terminar saltos nude.
Várias árvores haviam caídas no centro de São
Paulo, e nas proximidades do Palácio, o caos estava
estabelecido, porém, a vida continuava e assim alguns
minutos atrasada entrei apressada no TJ.
No elevador, Dalva abriu um lindo sorriso assim que
me viu e foi logo dizendo:
— Bom dia, Donninha! Atrasadinha hoje, hein! Como
foi a prova? — questionou.
— Bom dia, querida! Tirei a prova de letra, tenho
certeza de que fui muito bem, na verdade, essa primeira
fase nunca me preocupou.
— Eu sabia que você se sairia muito bem, é muito
inteligente.
Sorri balançando a cabeça.
Enquanto subíamos para o andar que eu trabalhava
comentei:
— Meu Deus, que chuva foi aquela de ontem, hein!?
A cidade está um caos, por isso me atrasei.
— Pois é, teve até um problema com o sistema
elétrico aqui do prédio, me avisaram que o expediente hoje
será interrompido às três da tarde, porque irão fazer
manutenção.
— Sério? Vou aproveitar para fazer umas compras
então.
— Sim, é sério — respondeu apertando o botão para
abrir a porta. — Ele já passou aqui, um cheiroooo... —
Dalvinha fechou os olhos ao falar.
— Ele quem? — fiz-me de desentendida.
— Vossa Excelência, Doutor Davi, quem mais
poderia ser?
— Hum! — respondi com desdém, saí do elevador e
a deixei.
Os corredores com seus tapetes vermelhos e seus
bancos em madeira escura estavam desertos, eu estava
atrasada, e nem passei em minha sala fui direto para a sala
de reuniões que é onde eu sabia que os desembargadores
estariam em mais uma reunião para decidirem o futuro do
Juiz Medeiros.
Assim que abri a porta todos os olhares caíram
sobre mim, até os que estavam sentados de costas na
mesa oval se viraram para me olhar, quer chamar atenção
é só chegar atrasada.
— Bom dia, senhores e senhora! — Rew também
estava presente, e infelizmente tive que me dirigir a ela em
particular.
Todos responderam com exceção de Davi que me
olhava de um jeito que me fizera sentir-me nua e amarrada
prestes a ser castigada.
Levei meus olhos a mesa e para minha surpresa o
único lugar vago era ao lado dele, de Davi, e desse modo,
não tive outra escolha a não ser caminhar até a cadeira
vazia e me sentar próxima a ele de seu lado esquerdo.
Simplesmente meu coração disparou, ele estava
lindo em um de seus ternos elegantíssimos preto com
riscas quadriculadas de giz, uma camisa branca por baixo,
sem gravata e em seu pulso um relógio prateado, e com a
barba por fazer. Estava com o corpo jogado para frente
com os cotovelos apoiados em cima da mesa e os dedos
entrelaçados, então quebrou o pescoço para meu lado e
encarou-me com seus olhos acinzentados e analisou-me
de cima a baixo sem nenhuma discrição demorando-se um
pouco no adereço do meu pescoço, o lenço vermelho que
ganhei de Bruno. Senti a pele do meu rosto esquentar
assim que nossos olhos se encontraram, havia faíscas
saindo dos olhos dele, eu não estava enganada e o mesmo
calor que me apossou também estava nele, eu tinha
certeza disso. O cheiro dele, o mesmo que senti
contaminando minha sala viajou volátil e me atingiu de um
modo que me fizera apertar as coxas e contrair a vagina
em um desejo quase que insuportável de me atirar em
seus braços. Queria sentir sua barba na minha pele, estava
louca de saudades dele.
Estávamos próximos demais, a química que existia
entre nós era palpável, e assim, a reunião transcorreu entre
trocas de olhares fervorosos entre nós e olhares cheios de
ódio de Rew, confesso que aquela mulher me assustava,
Bruno também parecia uma coruja a nos vigiar.
No almoço, comi apenas uma salada de rosbife, e
voltei rapidamente para o TJ, visto que o Dr. Afonso me
encheu de trabalho, e logo que todos voltaram para a sala
de reuniões, eu já estava lá há tempos trabalhando em
meu notebook e antes de voltarem ao foco do trabalho
ficaram conversando à espera da Presidente do TJ. Davi e
eu não trocamos uma única palavra se quer um com o
outro e nem era necessário, pois nossos olhares falavam
por si só, estávamos louco de desejo um pelo outro, os
olhos de Davi brilhavam encarando-me profundamente e
aquilo transbordava pelos poros, mal conseguia prestar
atenção no que estava sendo discutido na reunião, e toda
vez que Davi se manifestava com seu tom de voz
imperioso, minha libido deixava meu ventre de ponta
cabeça, então, em um desses momentos levei minha mão
direita para baixo da mesa e a levei em sua coxa e não
demorou nada senti a mão dele cobrir a minha e
entrelaçar-se com meus dedos. Engoli a saliva quando
senti as palpitações acelerarem em meu peito.
Ele simplesmente correspondeu ao meu toque.
Davi tirou sua mão de cima da minha, pois precisou
usá-la em seu notebook, senti uma sensação de vazio, um
abandono, e a falta de seu calor me fizera subir com minha
mão ousadamente até onde eu não deveria, não se tivesse
um pouco de juízo.
Todos estavam deveras distraídos naquele momento
enquanto Rew discursava sobre o tema, então, depois de
passar meus olhos em um por um, subi com minha mão e
o alisei por cima calça, e nesse momento, Davi se esticou
todo no assento e moveu-se inquieto ao levar as duas
mãos nos braços da cadeira. Enquanto deslizava meus
dedos discretamente sobre o pau dele, senti-o crescer em
minha mão de forma deliciosa, Davi tinha uma
masculinidade avantajada e senti-la crescendo firme e forte
em minha mão me deixou em chamas flamejantes. Estava
distraída olhando para frente tentando disfarçar o que
estava fazendo quando meu celular vibrou na mesa e
dessa forma, apanhei-o e vi de cara na notificação uma
mensagem de Davi que dizia:
“O que está fazendo?”
“Tocando em você.”
“Quem disse que pode me tocar? Você ainda
está de castigo.”
“Não me lembro de ter me proibido de tocá-lo.”
E assim as mensagens cessaram quando baixei seu
zíper e levei minha mão para dentro de sua cueca e toquei-
o pele com pele, sentindo-o latejar em minha mão. Estava
úmida só em sentir a circunferência avantajada enquanto
subia e descia alisando sua extensão, alisando-o
centímetro por centímetro por baixo da mesa com Davi
encarando-me sôfrego.
Sorri para ele por saber que o estava deixando louco
e quando passei o dedo em sua glande e senti o líquido
viscoso sair da cabeça, meu ventre se revirou dando-me
uma fisgada deliciosa.
Então senti uma mão forte segurar a minha com
força, olhei em sua direção e seus olhos diziam: “Pare!”
Mas foi pelo celular que li algo que me deixou mais quente
ainda.
Pare ou vou gozar!
Abaixei os olhos e sorri travessa tirando minha mão
dele.
Davi suspirou de forma audível, fazendo com que
todos direcionassem os olhares para ele.
— Está entediado, Dr. Davi? — Rew questionou-o.
— Não, de forma alguma, muito pelo contrário —
respondeu enquanto jogou o paletó por cima de seu pau.
Pouco antes das três da tarde, todos começaram a
deixar a reunião para irem embora, visto que o prédio todo
ficaria sem energia e quando já estava no corredor, senti a
energia de Davi pulsar atrás de mim quando levou uma de
suas mãos em minhas costas guiando-me silenciosamente
em direção ao elevador, cada passo mergulhado em um
silêncio assustador, pois nem eu falei e nem ele.
Jamais imaginei ser tocada por ele em público em
uma conduta tão íntima e assim que paramos diante do
elevador, Dalvinha foi logo dizendo:
— Me perdoe, Meritíssimo, mas não podem descer
pelo elevador. Recebi ordens de instruir todos a descer
pelas escadarias.
— Não desligaram a energia ainda. — Davi retrucou.
— Mas estão prestes a fazer e se eu descer com
vocês posso perder meu emprego.
— Não quero que desça conosco — disse Davi. — E
se perder seu emprego, senhorita Dalva, pago o triplo para
você trabalhar na minha casa.
Dalvinha arregalou os olhos surpresa e questionou
séria:
— O senhor tem elevador na sua casa?
Davi conteve um riso e a respondeu em seguida:
— Não tenho, mas posso providenciar um.
Olhei para ele com um ponto de interrogação na
cara, querendo recriminá-lo por enganar a coitada, é claro
que ele não colocaria um elevador em sua casa.
Dalvinha se virou de costas e disse enquanto fazia
sinal com as mãos para que entrássemos logo no elevador:
— Desçam pelas escadas, por favor, o serviço de
elevador está temporariamente suspenso.
Davi me olhou ardentemente, como se estivesse me
fazendo um convite silencioso a entrar no elevador, em
seguida, voltou a tocar em minhas costas, empurrando-me
para dentro, então apertou para subir ao invés de
descermos.
— O que está fazendo? — Primeiras palavras que
dirigi a ele durante todo o dia.
— Te levando para o céu ou inferno, vai depender
do seu ponto de vista.
LXVI
Eu não sabia as dimensões da cabine do elevador,
mas sabia que era pequena e se parasse para pensar era
claustrofóbica, e ela ficou ainda menor com Davi vindo
corpulento em minha direção, obrigando a me encolher em
um dos cantos, e, enquanto me encurralava, encarando-me
com profundidade e as pupilas dilatadas, questionou:
— Por que aceitou o presente?
Balancei a cabeça fingindo incerteza e questionei:
— Que presente?
— Não se faça de besta, o lenço em seu pescoço —
respondeu incisivo.
— Como sabe que foi presente?
— Sei tudo sobre você, esqueceu?
— Não, não me esqueci de nada não, apenas não
posso recusar o presente de um amigo por causa dos seus
ciúmes.
— Não sou homem de sentir ciúmes, Donatella, não
percebeu isso ainda?
Sorri balançando a cabeça e cruzando os braços ao
questioná-lo:
— Isso é o que então? Senão uma demonstração
patética de ciúmes?
— Não gosto da forma com que ele te olha e cobiça,
e só me dei conta de que ele é dissimulado e perigoso
quando me aproximei de você.
— Perigoso? Você só pode estar brincando —
ralhei.
Davi foi chegando mais e mais próximo e quando
levou o braço direito na parede e me manteve cativa, falei
sentindo-me pequena perto daquele homem enorme com
um cheiro que me deixava atordoada.
— Cuidado com a câmera. — Olhei em direção a ela
e Davi fez o mesmo sem se afastar de mim.
Voltou a me encarar furioso e indagou:
— Vamos, quero saber por que diabos está usando
a porra do lenço vermelho que ganhou do Bruno? —
perguntou com aquele tom severo que só ele sabia como
dominar, o olhar gelado era penetrante e feroz, e eu não
tenho como negar que muito me excita vê-lo nervoso e por
isso adoro provocá-lo.
Minha pulsação aumentou consideravelmente com
tamanha aproximação, então o respondi:
— Combinava com o tom da minha roupa. — Baixei
os olhos fitando meus pés, mas imediatamente, senti seus
dedos tocar em meu queixo e me obrigar a encará-lo.
Davi sorriu caustico, mostrando-me seus lindos
dentes brancos e corroendo minha alma ao dizer:
— Olhe para mim! — O tom de comando era
demasiado excitante. — Mulher minha não aceita
presentes de homens apaixonados — completou.
Umedeci meus lábios de nervoso. Merda! Não
conseguia controlar meu nervosismo.
— Vai me castigar por isso também, Davi? —
questionei sem desviar o olhar, encarando-o para tentar
camuflar o quanto ele mexia comigo.
— Pode apostar que sim, será castigada por mim
todas às vezes que sair da linha e tentar me desafiar, será
castigada, inclusive, por me deixar excitado na sala de
reuniões na frente daquelas pessoas.
Não consegui conter o riso, então falei:
— Você estava gostando, quase perdeu o controle.
Davi disse as palavras seguintes de forma pausada,
enfurecido:
— Eu jamais perco o controle!
— Não foi isso que vi lá dentro, você perdeu o
controle muito fácil — retruquei.
Então ele voltou a me tocar e dessa vez, levou suas
mãos grandes e quentes em meu rosto ladeando-o e
questionou:
— Você gosta de me desafiar, não é? Sente prazer
nisso. — Seus dedos passearam com força comedida em
meus lábios enquanto seus olhos acompanhavam os
movimentos de seus dedos. Tinha tesão demais em seus
olhos.
Prendi o ar em meus pulmões ao sentir uma
sensação fustigante em meu estômago e um calor me
possuir como fogo, como um homem pode ser tão gostoso
quando está com o olhar faiscando em fúria e desejo
misturados ao mesmo tempo? Sua boca estava muito
próxima da minha, lasciva, me deixando louca a cada
movimentação enquanto falava, sentia seu hálito com
aroma de alguma bala forte, puta que pariu, eu só queria
ser beijada naquele momento, nada além disso.
Eu estava cheia de desejo, trêmula e sensível
demais, ele conseguia me desestruturar completamente,
estava sufocada, sem ar e louca de vontade de tocar em
sua barba e sentir a aspereza daqueles pelos que meus
dedos já conheciam, mas que estavam saudosos.
O elevador deu um tranco e parou no último andar,
então ergui-me na ponta dos dedos e coloquei meu
pescoço em seu ombro e o instiguei sussurrando:
— Pode me castigar pelo que quiser senhor,
contanto que seja com você me tocando de alguma forma.
— Eu decido como serão os seus castigos, a
propósito, motivos não me faltam, achou mesmo que iria
me atingir fingindo uma viagem? — sorriu sarcástico—
Você se comportou muito bem ficando quietinha dentro de
casa. Boa menina!
— O quê? — Fiz cara de desentendida.
— Vi você, Donatella, no topo da escada quando fui
em sua casa, sei que não viajou merda nenhuma.
— Eu... Só precisava estudar.
— Não, não precisava não, você precisa me punir, e
conseguiu, minha deusa malvada.
— Isso não é ... verdade.
— Xii! — Ele cortou minha frase levando o dedo
indicador em meus lábios e voltou a contorná-los, então
abri a boca e chupei dois de seus dedos fazendo-o gemer
e murmurar. — Donna, estou louco pra te comer, te morder,
chupar, beijar essa sua boca, mas você precisa aprender a
me respeitar.
Fiquei completamente aturdida com o tom de voz
desejoso sussurrado por ele e quando ia respondê-lo as
luzes da cabine começaram a oscilar, piscando de forma
bruxuleante até que apagaram de vez.
— A energia, meu Deus, a energia acabou e ficamos
presos aqui — falei desesperada entrando em pânico, pois
odiava escuro e estar presa num espaço tão pequeno. —
Davi eu não suporto escuro, me tira daqui.
Bati na porta do elevador surtando e dizendo:
— Socorro, ainda estamos aqui, abram essa porta,
por favor! Vou morrer sem ar.
Imediatamente Davi puxou-me para seus braços e
aconchegou-me com força dizendo-me:
— Hei, hei, calma, meu amor! Serão só alguns
minutos, estou aqui com você, vou cuidar de você, vem cá!
Vem cá! Vai ficar tudo bem. — Levou seus dedos ao redor
do meu pescoço dizendo. — Essa porcaria vai ter que
servir para alguma coisa. — Tirou o lenço de mim. —
Feche os olhos e vire-se de costas para mim.
Davi me passava segurança, e assim, toda a
resistência que tentava criar para me sentir segura caía por
terra quando ele me tocava. O desejo que eu sentia por ele
sempre falava mais alto.
Fiz exatamente como mandou, virei-me e encostei
meu corpo ao dele e fui vendada com o lenço vermelho
enquanto dizia ao pé do meu ouvido em um sussurro
quente encostando sua barba em minha pele:
—Me escute com atenção! Não está escuro, você
está apenas vendada para mim, relaxa, respire fundo,
sinta-me, estou aqui, nada vai acontecer. Entendeu?
Engoli a saliva e apenas meneei a cabeça.
— Respire fundo, deixe o ar entrar nos seus
pulmões, vamos — instigou-me.
Davi colocou sua mão em meu peito dizendo:
— Puxe o ar com força e sinta-o entrando, não vai
faltar ar aqui, confie em mim.
O tom de sua voz me fazia esquecer tudo, seu
cheiro bom me deixava tonta, não havia mais escuro, não
havia mais medo, o ar entrava e saia de meus pulmões
normalmente e assim fui relaxando e amolecendo em seus
braços. Davi grudou sua mão em meu queixo e levou meu
pescoço pra trás e cobriu meus lábios com os dele me
devorando em um beijo embevecido de luxúria, seus lábios
chupavam os meus experimentando-os, sedento. Sua
língua suave invadiu minha boca e roçava na minha, era
quente demais, os movimentos dos nossos lábios
misturados aos de suas mãos que me seguravam na face,
me tiraram do ar e me enfraqueceram. Eu estava
dolorosamente excitada, um desejo abrasador e ardente
me deixou molhada e pronta para receber seu pau enorme
dentro de mim, e enquanto me possuía em seus lábios,
usava a mão livre para torturar meus mamilos rígidos e
saltados apertando-os com uma força esmagadora, doía,
mas refletia em meu ventre de forma deliciosa.
Levantei meu braço direito e passei envolta de seu
pescoço e nesse momento senti meus seios serem
amassados e seus bicos apertados com força pelas pontas
dos dedos dele, não tem explicação, mas aquela dor me
deixava com muito mais tesão. Seus dedos tatearam meu
corpo descendo em direção ao meio de minhas coxas,
entrando e enfiando-se dentro de minha calcinha e
tocando-me, abrindo os lábios da minha vulva e
escorregando-os para meu interior úmido, fazendo-me
sentir um formigamento intenso.
— Ah...
Gemi assim que seus dedos voltaram em direção a
saída e acariciaram meu clitóris intumescido com
suavidade.
Nessa altura já não sentia minhas pernas, estava
molhada e mole nos braços dele, tremendo, tentando a
todo o custo tocar em seu pau para poder senti-lo em meus
dedos e assim que consegui contato não senti nenhuma
alteração no volume em suas calças.
— Acha mesmo que não consigo me controlar? —
ele sussurrou mordendo meu lóbulo. — Lá na sala fui pego
de surpresa, nada além — argumentou seguro.
— Você não sai de dentro dessa casca grossa
nunca?
— Vamos, tente me fazer perder o controle e te
foder aqui dentro desse elevador. Você quer isso, não
quer? Assuma. — Seus dedos voltaram a se enfiar fundo
dentro da minha vagina e eu gemi me contorcendo na
ponta de seus dedos enormes enquanto equilibrava-me na
ponta dos meus pés.
— Ah...
— Isso, geme. — Circulou o dedo em meu clitóris
massageando e foi cruel quando voltou a enfiar o dedo em
mim buscando a umidade para novamente voltar a castigar
meu clítoris enquanto mordia meus ombros com força que
naquela altura já estavam nus. — Me diz, quem aqui perde
o controle muito fácil, hein!?
— Davi! — balbuciei seu nome abrindo ainda mais
minhas pernas enquanto ele buscava meus fluídos e usava
a seu favor afligindo-me com movimentos torturantes.
— Caralho, Donna, você está tão quente — falou e
introduziu um segundo dedo dentro de mim e foi fundo com
eles, tão fundo que desejei muito ser penetrada por Davi, e
assim fui dizendo:
— Quero você dentro de mim.
— É? Você quer? Implore pelo seu senhor!
— Não, não vou implorar — falei virando os olhos
quando seus dedos voltaram a se concentrar em meu
clitóris enrijecido fazendo um movimento de vaivém ritmado
e torturante.
Meus dedos se apertaram em seu pescoço e minhas
unhas se enfiaram na sua nuca, eu tremia sem forças nas
pernas, serpenteava insana em busca dos movimentos
quentes enquanto Davi beliscava com gosto um de meus
mamilos que estava duro, inchado e sensível demais.
Eu estava em êxtase, flutuando, remexendo meu
corpo em busca de seu dedo enorme em movimento que
me fodia sem clemência dentro daquele elevador, tocando
com primor no meu ponto G.
— Gosta assim? Diga para o seu senhor, vamos!
Não respondi sua pergunta, ao invés disso fui
novamente em busca de sua excitação, e nada, seu pau
estava comportadíssimo dentro das calças.
— Quero que saiba que não sou um moleque que
não consegue controlar uma ereção — falou.
— Já entendi, já entendi senhor, agora pode deixá-lo
reagir e me foder — falei quase sem ar.
— Não! Só quando eu quiser — disse em um tom de
voz severo e voltou a segurar em meu queixo com força e
me beijar desesperado, possessivo, mordendo-me e
levando todo o último resquício de sanidade que ainda
existia em mim.
Ofegamos juntos em meio a intensidade daquele
beijo, era insano, violento, e eu iria gozar a qualquer
momento se continuasse sendo masturbada daquela
forma. Nossos lábios se moviam ensandecidos com o
desejo a flor da pele, intenso e regido com maestria por
seus dedos cumpridos e ágeis que iam fundo em busca
dos meus fluídos e voltavam cruéis para explorar meu
ponto fraco, meu clitóris, em movimentos intensos e
devastadores.
Davi respirava forte e ofegante e estava me
deixando quase sem ar quando afastou seus lábios dos
meus bruscamente, deixando-me mole e de olhos
fechados, então disse:
— Você precisa ser castigada.
— Mais? Vai me deixar sem gozar de novo, é isso?
Me diz — questionei em tom de deboche.
— Cale-se, Donna! — emitiu um comando ríspido, e
não sei explicar, mas aquilo me deixava em transe. — Qual
sua palavra de segurança? — questionou logo em seguida.
— Porquê? O que vai fazer?
— Subjugá-la.
— O queeee?
— A palavra, Donna, diga-me apenas o que te
pergunto.
— Me fode, me fode, Davi — falei sem nem pensar.
— Sua palavra não é essa, fale Donatella! — exigiu.
— Me ame, me ame! — murmurei as malditas
palavras sem forças.
— Use-a se precisar! — disse e se afastou de mim
me deixando nervosa.
— Por que diabos tem sempre que estar sobre o
controle de tudo?
— Porque sou um dominante, você sabe.
O escuro, a ansiedade por não saber o que viria a
seguir fizeram minha pulsação acelerar, eu conseguia ouvir
as batidas do meu coração, e quando ele voltou a me tocar,
pegou em meu pulso com força e passou algo em volta
dele que parecia de couro.
— O que é isso, senhor?
— Meu cinto!
— Planejou isso nesse elevador?
— O fator elevador também é uma surpresa pra
mim, meus planos eram outros.
— Eu...
Outra vez tive minha frase interrompida quando senti
que fui amarrada em algum lugar que não fazia ideia qual
era até ter meu corpo curvado e minhas mãos apoiadas em
algo macio que deduzi ser o banco que Dalvinha usava. Ali,
amarrada ao banco, com a bunda empinada para trás, não
existia mais medo, apenas uma crescente vontade de ser
preenchida por ele, ele iria me foder, claro que iria, e dessa
forma, a tensão foi apenas crescendo à espera do que viria
a seguir e em qual momento ele iria me invadir.
Por ele não me come logo de uma vez? Pensei com
o corpo em ebulição.
Quando tive esse pensamento, senti meu vestido
ser levantado na altura da minha cintura e minha calcinha
ser levada para baixo ao mesmo tempo que Davi
arranhava e beijava minhas pernas enquanto me despia,
enlouquecendo-me de vez e fazendo minha vagina latejar e
pulsar violenta no meio das minhas pernas, mais um toque
dele e eu certamente gozaria.
Estava certa de que ele entraria em mim, contudo,
ele passou sua língua em minha vulva e me chupou de
baixo para cima com força estremecendo-me toda e
deixando-me de pernas bambas.
— Deus! — balbuciei, baixando e encostando minha
cabeça no banco, blasfemando.
Não use o nome de Deus em vão.
Novamente senti seus dedos se fecharem em meu
queixo com Davi grudado em minhas costas, senti seu
pênis duro, forte roçar em minha bunda, pois estava
explodindo de desejo.
Puxou meu pescoço para trás e voltou a me beijar e
morder meus lábios, suspirando exasperado, então passou
a mão suavemente sobre a curva da minha bunda e
apertou-a carinhosamente, e fez o mesmo movimento
repetidamente até que meus pés se levantaram e se
equilibraram em suas pontas no momento em que senti o
peso da mão de Davi pousar e estalar dolorosamente em
uma das polpas de minhas nádegas.
O “aí “saiu sufocado entre meus lábios, ele me deu
uma palmada ao invés de dar o que nossos corpos exigiam
por direito.
LXVII
Controle-se, controle-se, minha mente exigia, eu
tinha o controle, era dono dele e nada que Donna fizesse
iria me fazer perdê-lo.
Arfei com meus lábios grudados aos dela assim que
ela soltou um gritinho de dor abafado em minha boca. Meu
pau reagiu de imediato entre minhas coxas, um fogo
repentino e perigoso se apossou de mim, tê-la em minhas
mãos em uma posição completa de entrega me deixava
com os nervos aflorados, no caso, os nervos do meu pau.
Encostei meus lábios no lóbulo dela e falei ao fechar
meus dedos com força em seus cabelos:
— Diga-me, quem é o seu senhor?
— Você é, só você, meu senhor! — respondeu
enchendo-me de júbilo.
— Então você sabe o porquê está sendo castigada
agora, não sabe? Fala, quero ouvir.
— Sim, eu sei, senhor — respondeu completamente
entregue a mim.
Falei pausadamente com rispidez:
— Então falaaa!
— O presente, eu não deveria ter aceitado.
— E o que mais? Hein!
— Deixá-lo com tesão na sala de reuniões. — Ela
respondeu com bastante seriedade dessa vez.
Segurei em sua mão e ela tremia, havia um certo
nervosismo, medo, não sei dizer, só sei que quanto mais
Donna se mostrava insegura, mais desejo de discipliná-la
eu tinha.
Ela estava provocantemente linda com aquele
vestido salmão que mais parecia uma camisa que um
vestido, suas pernas longas e morenas me deixavam louco
e seus lábios fartos e já vermelhos dos meus beijos e
mordidas faziam meu pau pulsar de ansiedade de estar
dentro dela, mas eu tinha que me segurar.
— É... Não deveria ter aceitado nada daquele cara,
e não deveria ter me provocado em público, você precisa
saber que cada ação tua ao meu lado irá gerar uma reação
minha, seja de punição ou recompensa — expliquei.
Donna arfou puxando o pulso preso em uma ação
repentina de revolta.
— Quer que eu te solte, você sabe que é só pedir e
eu paro, sabe que o poder de decidir quando devo parar é
só teu, não sabe?
Donna apenas assentiu com a cabeça.
— Devo parar minha deusa?
— Não! — disse enérgica e corajosa.
Grudei minha mão nos fios de seu rabo de cavalo
apertando-os em meus dedos com força ao mesmo tempo
em que cerrei os dentes, tinha um prazer em certo gesto
que não sei como explicar, então encostei meu nariz em
seu pescoço sentindo seu cheiro doce, minha mente entrou
em colapso, meu pau queria fodê-la a todo custo e minha
razão tinha que discipliná-la.
Controle-se!
— Diga-me, você merece ser punida ou
recompensada?
— As duas coisas — murmurou.
— Então acha que merece uma recompensa? Diz o
motivo.
— Sou uma boa menina, lembra senhor?
Donna era astuta e usou de minhas próprias
palavras para me desarmar.
O quase escuro da cabine, o ar quente e sedutor
que nos cercava e a delícia de estar preso com Donna
naquele elevador com suas pernas longas sendo
equilibradas em saltos altos me fazia querer fazer loucuras
ali dentro.
Gostosa demais, porra!
Donna se mexia e se contorcia incomodada por
estar presa pelo meu cinto, naquela altura eu não
conseguia mais controlar minha ereção, e queria que ela o
sentisse, e enlacei meus dedos em sua cintura e encostei-
me nela, permitindo que sentisse como estava por causa
dela, Donna suspirou quando me sentiu e empinou seu
rabo ainda mais em minha direção. O calor de seu corpo
me desfocava, então engoli a saliva que se formou em
minha boca, concentrando-me e voltei a tatear a pele
morena e macia de suas nádegas.
— Presta atenção, escuta minha voz, sinta meu
toque, e reflita sobre os motivos que me levaram a te punir
novamente, você não pode tentar me enganar, e não pode
nos expor em lugares públicos de forma alguma. Diga que
entendeu!
Donna sussurrou:
— Sim, meu senhor!
Meu pau pulsava de fervor cada vez que ela falava
“sim, senhor” enquanto minha mão passeava livre pelas
curvas lindas e perfeitas do corpo dela, sentindo seus
arrepios de antecipação e medo sem saber o que viria a
seguir. Eu queria mais que tudo me enfiar inteiro dentro
dela, mais não permitiria que ela me fizesse perder meu
autocontrole, então fechei meus olhos e voltei a passar a
palma da minha mão em sua bunda, acariciando-a,
sentindo a maciez e receptividade do seu corpo rendido e
entregue a mim, e assim, voltei a dar um novo golpe em
sua bunda, usando de uma pressão moderada em meus
dedos, mas o bastante para que a fizesse sentir e se mexer
silenciosa.
— Tudo bem, Donna?
Donna, apenas balançou a cabeça em positivo, e a
esse modo, segurei novamente em seus cabelos puxando-
a para trás e coloquei um pouco mais de força no tapa
seguinte que desferi na mesma nádega, e novamente ela
se pós nas pontas dos pés, deixando-me louco, mas
manteve-se em um silêncio desafiador. Podia sentir o calor
da sua pele a cada palmada que desferia nela, e entre um
tapa e outro deslizava meus dedos entre suas nádegas e
descia rumo a sua vagina e acariciava e beliscava seu
clitóris penetrando-a em seguida, enfiando um dedo, dois
dedos, fazendo a gemer e se contorcer toda em minhas
mãos, completamente entregue e submissa a mim.
— Vamos, implore a seu senhor e te dou sua
recompensa!
— Não, não! —Ainda lutava contra sua entrega.
— Mantenha sua respiração e use sua palavra se
precisar.
Avisei-a e passe a bater de verdade em suas
nádegas, subindo e descendo meu braço levando minha
palma a causar um atrito delicioso com a pele que imaginei
já estar bem rosada, e eu adoraria poder apreciá-la,
maldito escuro. Mantive um ritmo nas palmadas e Donna
não emitia um “aí” se quer, era muito forte e obstinada, por
certo se emitisse sinais de dor se sentiria fraca, mas eu
sabia que ela estava sentindo as palmadas, contudo, eu
batia e assoprava ao mesmo tempo que a estimulava em
seu sexo quente e encharcado e assim eu soube que
Donna estava prestes a entrar no subespaço quando
novamente ela chamou por Deus, gemendo e sussurrando:
— Oh... Deus!
Donna me afetava sem precedentes, mas naquele
momento, eu tinha que me manter firme, teria muito tempo
para estar dentro dela e satisfazer a mim mesmo.
Minha mente estava flutuando, passei a acompanhar
o ritmo das mãos de Davi em minha bunda, e de um certo
momento passei a não sentir mais nada, foi quando
novamente me senti perdida entre a dor e o prazer que
sentia quando ele me penetrava com seus dedos, batendo
na minha carne e estimulando-a ao prazer ao mesmo
tempo.
Minha mente foi se esvaziando e a sensação de
fraqueza se apoderou dos meus membros, eu não tinha
mais controle nenhum sobre meu corpo, senti que estava
empalidecendo, e uma onda quente de prazer foi
crescendo, crescendo tomando conta do meu corpo e
alma. Davi enfiou seu dedo fundo em mim e voltou
deslizando ao ritmo que meus quadris acompanhavam
movimentando-se mais e mais rápido indo e vindo em
busca do clímax. Eu não podia dar nenhum sinal a ele de
que iria gozar, caso contrário, ele pararia e me deixaria na
mão, assim permaneci em meu silêncio doloroso e
delicioso ao mesmo tempo e quando Davi sussurrou no
meu ouvido:
— Você já foi castigada, meu amor, agora goza pra
mim e tenha sua recompensa.
E quando enfiou novamente dois dedos dentro mim,
todo meu corpo se retesou em uma explosão gigantesca
de prazer, tudo em mim se contraiu deliciosamente em
tremores que iam da minha vagina até minha alma,
cegando-me e me tirando da minha realidade, e então
quando gozei infinitamente foi que me permiti falar:
— Oh... Deus!
Davi continuou com suas mãos enormes dentro de
mim, esfregando, movimentando os dedos dentro de mim
ao tempo em que castigava meu clitóris em um vai e vem
enlouquecedor que fazia meu prazer se tornar cada vez
mais quente e agudo, intensificando-o, levando-me do céu
ao inferno em segundos. Eu ainda tremia de prazer, estava
em órbita, não sentia minhas pernas e só não caí porque
estava presa com meus seios sendo esmagados pelo
banco. Ofegava sentindo o chão se abrir embaixo dos
meus pés e me engolir, entrei em pânico e comecei a
tremer, estava sem fôlego e com a garganta seca.
— Água, quero água, me ajuda, me ajuda! Estou
exausta, vou morrer — falei sem entender a sensação
horrível que me acometeu segundos após ter tido um
orgasmo muito intenso.
— Calma, é o torpor, lembra? Uma descarga forte
de endorfina te entorpecendo, vai passar, eu prometo.
Assenti balançando a cabeça incessantemente
enquanto Davi me soltou do banco e me pegou em seus
braços, eu não sentia minhas pernas, um tremor interno e
incontrolável.
— Minha bolsa, abra, abra, água! — Foram as
últimas palavras com um pouco de sentido que consegui
balbuciar antes do meu corpo se desconectar
completamente da minha mente. Quando despertei algum
tempo depois, que não sei ao certo quando foi, eu estava
deitada no colo de Davi que estava sentado no chão do
elevador me acolhendo em seus braços. Ele havia me
coberto com o paletó.
Abri meus olhos e o vi, lindo, me segurando firme
em seus braços, sorri e falei:
— Aquilo foi muito bom! — Eu estava
completamente relaxada.
Davi sorriu dizendo:
— Você é tão minha!
— Está claro aqui.
— Meu celular. — Davi respondeu sem desviar seus
olhos do meu.
— A porta, ainda não se abriu?
— Não, mas creio que logo abrirá.
Quando Davi soletrou as últimas palavras ouvimos
um silvo e a energia voltou no elevador, então ele disse:
— Pronto, já podemos sair.
Suspirei aliviada e fui me levantando.
— Como se sente, Donna? — Davi me questionou
após colocar-se de pé.
— Estou como se tivesse passado por uma sessão
intensa de massagem.
— Muito bom, vamos para minha casa.
— Não, eu não posso, preciso de um banho e
roupas limpas.
— Tem chuveiro no meu quarto, lembra? Não
terminei com você ainda.
Arfei e questionei:
— Pretende me castigar de novo?
— Não, quero sua companhia, só isso, e no mais,
passei muito tempo sem você e a noite é uma criança.
— Vai me colocar para brincar no seu parquinho,
senhor?
— Vou te colocar para subir na minha roda gigante.
— Piscou delicioso para mim e sorriu de forma
encantadora, ele, o homem que acabará de me castigar
conseguindo ser encantador como sempre.
LXVIII
No carro, a caminho da casa de Davi,
espantosamente ele me aninhou em seus braços de forma
afável, e só então entendi o que ele quis dizer certa vez
com submissão ser ato de amor, pois precisa muito amor
para se permitir estar nos braços de um homem intenso e
controlador como Davi, e as mesmas mãos que me
castigaram há minutos atrás, agora me tocavam de forma
sagrada e afagava minha pele e alma de forma terna. Não
me recordo de como foi que cheguei até o carro, mas
estava ali, com a mente ainda em torpor mergulhada em
silêncio.
No elevador, senti que o mundo me engoliu, tudo
desapareceu existindo apenas, Davi, e eu, dissipando
assim o pânico que tive quando o elevador parou.
Novamente o misto de prazer e dor me deixou flutuando
em um êxtase do qual não sei explicar com palavras, era
como estar por efeitos de drogas, leve e feliz, e dessa
forma não existia dor, apenas uma incoerência entre o
certo e o errado. Estava imersa em uma felicidade que me
fazia querer ficar lá eternamente, e só senti algo assim a
primeira vez que fui submetida a dor e ao prazer, era tão
surreal e bom que me fazia entender os motivos que
levavam, Rew, a ser viciada em dor. Eu estava voando, e
me sentia pousando suavemente com o corpo pesado em
um profundo cansaço, eu estava deliciosamente exausta
em algum lugar do tal de subespaço e do mesmo jeito que
não vi como entrei no carro, não vi como vim parar nessa
cama em meu quarto na casa dele.
Estava deitada de bruços abraçada ao travesseiro
completamente confortável, e ainda me encontrava vestida
como saí de casa pela manhã.
— Que horas são? — balbuciei para mim mesma
girando meu corpo na cama a procura do meu celular e o
encontrei no criado mudo ao meu lado.
Sobressaltei ao conferir as horas e descobrir que já
eram oito da noite, e dessa forma, fui até o banheiro me
lavar e quando saí de lá enrolada em uma toalha branca e
cheirosa foi que me dei conta de que não tinha nada para
vestir. Olhei minha calcinha em cima da cama e cocei
minha testa com as pontas dos dedos ao pensar que eu
havia usado ela o dia todo e que não tinha nenhuma
possibilidade de voltar a colocá-la no meu corpo, então
caminhei até o quarto de Davi e lá vesti uma camiseta
preta dele que cobria minhas partes íntimas. Minha barriga
roncou de fome e fui até a cozinha da enorme casa sem
encontrar uma viva alma nela e foi na porta do refrigerador
de inox que vi resquício de humanidade naquela casa.
Tem seu suco preferido na geladeira, caju, e tem
também frios e patês para que possa fazer um lanche
antes do jantar. Estou no estande de tiros, não me demoro.
Davi tinha uma letra linda e sorri passando a mão no
bilhete que nem mesmo foi assinado, em seguida abri o
refrigerador e servi-me de um pouco do delicioso suco de
caju que estava tão gelado que suspirei assim que tomei
um gole generoso da minha bebida predileta. Não quis
comer nenhum lanche então apanhei um cacho de uva e
saí deliciando-me dos bagos enquanto caminhava descalça
e quase nua pela casa a procura do estande de tiros.
Constatei que não havia ninguém na casa além de
Davi e eu, e após caminhar por quase toda a casa a
procura dele, cheguei à conclusão que não sabia onde
ficava o bendito estande de tiros e assim subi novamente
as escadas de mármore que me levariam aos quartos e
novamente meus passos foram abafados pelos belíssimos
tapetes turcos em tons terrosos que adornava os
corredores do andar superior da casa, e ali, haviam portas
as quais eu ainda não tinha aberto, contudo não foi
nenhuma delas que prendeu minha atenção, e sim, a porta
onde já havia estado por duas vezes e assim caminhei em
sua direção e a abri sem titubear afinal de contas era meu
quarto de castigos.
Entrei, acendi as luzes e engoli em seco olhando
para o interior do quarto de boca aberta ao notar algumas
mudanças em seu interior, atentei-me logo de cara a uma
belíssima coluna jônica branca que fora construída bem no
centro do quarto e que muito me lembrou as colunas do
salão dos Passos Perdidos do TJ.
—Davi, Davi ... — balbuciei com um sorriso no rosto,
passei meus dedos na coluna circulando-a e segui
caminhando analisando as mudanças nada sutis.
No fundo do quarto havia uma grade metálica que
fora instalada no canto do cômodo indicando claramente
que ali serviria de cárcere e no chão havia apenas um
colchonete fino.
Ele vai me prender ali!? Pensei sem condições de
proferir as palavras em voz alta, pois imaginar-me presa
naquele espaço me deixou sem fala.
Levei meus olhos para outro aparato diferente no
quarto, e era uma espécie de mural cinza que continha
pendurado nele alguns apetrechos como cane, chicotes de
vários tipos, cujo, não sei pronunciar o nome de cada um
com clareza. Havia também uma daquelas mordaças de
esfera com tiras em couro marrom e, curiosa, me equilibrei
na ponta dos pés e a tirei do mural, ela era de couro
legítimo com costuras em branco que davam um certo
charme a peça, se é que algo que será usado para te
amordaçar pode ser chamado de elegante, enfim, a bola
era macia com furos na parte traseira e dianteira, bem
diferente das mordaças que vi nas pesquisas que fiz sobre
o tema, imaginei que aquela era para iniciantes. No mural
também havia cordas, e até um par de algemas e
novamente estiquei-me e a tirei do painel e saí do quarto
de castigo carregando-a comigo.
Novamente no corredor, segui reto e dei de topo
com uma porta que eu ainda não havia entrado e assim
que a abri descobri que se tratava de uma escadaria, então
restou-me apenas descê-la com dois lances de degraus
que me levou direto a um corredor onde não havia tapetes
apenas o piso gelado de madeira que ressoava cada passo
meu e ao final do corredor cheguei a uma porta que pelo
som abafado julguei ser o estande de tiros.
O som só podia ser ouvido ali bem próximo da porta
e mesmo assim muito abafado, a acústica do que estava
do lado de lá da parede era incrível. Abri a porta, receosa,
pois não sabia se deveria invadir o espaço dele assim, e
quando o vi, ele estava parado com as pernas um pouco
afastadas, braços esticados mirando os alvos de papel a
sua frente, uma posição que o deixou ainda mais sexy.
Vestia um moletom preto, regata branca que permitia que
sua tatuagem da deusa Themis ficasse amostra em suas
costas e estava descalço. Usava também um daqueles
abafadores de som estilo headset.
O interior do estante não tinha nada de rústico como
imaginei, era um espaço elegante que mantinha a linha dos
tons terrosos, havia apenas um box de tiro, e atrás de Davi
tinha uma bancada de apoio larga com tampão preto que
imaginei ser de formica, era como se fosse o balcão de um
bar e tinha até um banco atrás. No canto dela estava uma
espingarda sobre apoios que a mantinha mirada para os
alvos, e no chão encarpetado na cor camurça havia várias
capsulas deflagradas.
Davi não notou minha aproximação, e assim
disparou no alvo de papel provocando um estampido muito
alto. Meu corpo todo se retesou automaticamente com o
som ensurdecedor do tiro, foram vários disparos seguidos
e todos fizeram meu corpo pular e se encolher.
Coloquei as algemas que segurava em cima do
banco e tapei meus ouvidos.
Só quando descarregou a pistola toda foi que Davi
se virou em minha direção e me viu ali encolhida em sua
frente.
— Donna! — falou meu nome assustado. — O que
faz aqui? — Tirou os fones de seu ouvido, colocou a pistola
em cima da bancada, tirou as luvas e se aproximou de mim
parando a dois passos de me tocar.
— Me desculpa, estava procurando você —
respondi.
— Não se desculpe, você está bem? — questionou-
me.
— Sim, estou!
— Se alimentou?
— Chupei um cacho de uvas e tomei suco, a
propósito, obrigada por se lembrar do meu preferido.
Davi deu-me as costas, apanhou um pano em cima
da bancada e passou a limpar as mãos pensativo, nunca
desejei tanto saber o que se passava em sua cabeça
naquele momento, então falei:
— Obrigada por ter me feito esquecer que
estávamos presos naquele elevador, você agiu muito
rápido, não sei se conseguiria controlar o medo sem você.
— Quando vi seu desespero só pensei em te
desconectar da realidade, e a venda serve justamente para
desconectar uma submissa da realidade.
Um pensamento fortuito me assolou e saiu pelos
meus lábios enquanto balancei a cabeça negando:
— Não sei se me enquadro com a palavra submissa,
ainda estou confusa, me sinto fraca cambaleando em um
muro que embaixo existisse chamas de fogo.
— Donna, escuta o que vou te falar, você está me
surpreendendo, eu não esperava essa sua entrega mesmo
que parcial, já te falei isso uma vez, ninguém dá aquilo que
não tem, você só me dá o poder, por que tem poder, você
não é fraca, mulheres fracas não se entregam porque tem
medo e o medo é a maior de todas as fraquezas do ser
humano.
Suspirei e apertei meus braços em minha cintura.
— Não sei se conseguirei ser a submissa perfeita
para você, não sei se me enquadro nesse tipo de relação,
Davi, mesmo tentando para te agradar ou até mesmo para
descobrir meus limites. Eu realmente não sei.
— Uma relação de dominação e submissão só se
constrói com o tempo, quem me dera poder moldar você
como se molda gesso ou até mesmo argila, mas como não
posso, estou sendo paciente e me divertindo com esse seu
jeito meio brat de ser.
Sorri desconcertada e assumi dizendo:
— Estive pesquisando sobre elas e talvez eu tenha
me esforçado demais para ser uma, tudo para me
enquadrar na sua vida sem abrir mão da minha.
Davi tocou em meu rosto afastando mechas do
cabelo em meu rosto, então disse-me:
— Certa vez uma submissa me disse que só
conseguia se sentir submissa quando descobria que seu
corpo, alma, medos e desejos não pertenciam mais a ela e
sim ao seu senhor.
Dei-lhe as costas, dizendo:
— Isso é perder totalmente a liberdade, não estou
pronta para perder a minha — retruquei imediatamente.
— Liberdade só existe quando vamos de encontro
com nossos desejos, não existe liberdade se você deseja
algo que parece errado aos olhos de uns e que por conta
disso se polícia e não vive o que gosta de viver. Sempre
desejei estar no controle absoluto de uma relação, sempre
foi assim comigo, Donna, e se a mulher não se entrega de
corpo e alma a mim, eu não consigo sentir prazer na
relação, e isso não tem nada a ver com sexo,
compreende? Não tem nada a ver com dor, tem a ver com
entrega e eu sinto esse desejo em você, de se entregar e
experimentar suas fantasias e viver com um homem no
controle.
Neguei tal afirmação imediatamente:
— Não quero você controlando a minha vida, nem
me dizendo o que fazer e quando fazer — voltei a encará-
lo —, uma coisa é me entregar a você quando estamos
entre quatro paredes, outra é você querer me dizer com
quem posso ter contato e de quem devo aceitar meus
presentes.
Vi sua irritação florescer pela inclinação sutil de seus
lábios, ele arfou, e em seguida, indagou-me:
— O que você diria se eu continuasse mantendo
contato com a Rew, aceitando presentes dela e tudo mais
que ela tem a me oferecer?
Meu corpo ficou tenso e meus pés deram dois
passos atrás.
É estranho quando somos confrontados com nossos
medos que nem mesmo sabíamos que existia, e enquanto
minha mente processava com cuidado o questionamento
de Davi, eis que ele jogou outra informação ao contar-me:
— Rew esteve aqui em minha casa dia desses,
trouxe uma garrafa de vinho e uma cane implorando que
dessa a ela uma sessão hard de spanking.
Um calor subiu em meu rosto e uma raiva se
apossou de mim.
— Só agora está me contando isso?
Davi se aproximou de mim lentamente e parou cara
a cara comigo, argumentando e me desestruturando
completamente com seu tamanho que me deixava
minúscula.
— Estava no seu castigo, lembra-se?
— Teria me contado isso se não estivéssemos
distantes um do outro? — indaguei olhando dentro de seus
olhos cinzas como nuvens.
Ele sorriu discretamente, estendeu suas mãos ao
lado do meu rosto, segurando-me enquanto seus olhos
analisaram meu rosto com um brilho indecifrável e então
questionou-me:
— Não estou te contando agora? — puxou-me em
sua direção e cobriu meus lábios com os dele em um
selinho carinhoso em um gesto terno que jamais imaginei
receber dele.
— Vi o que fez no quarto de castigo — confessei.
— Era surpresa!
— Me perdoe, passei pela porta e quis entrar, foi
mais forte que eu.
— Tudo bem, Donna. Vou deixar você me pedir para
voltar lá.
— Tenho medo de perder minha essência.
— Não perca sua essência, encontre-a.
Arfei tentando entender a tão frase.
— Não entendi, o que quis dizer com isso? —
perguntei.
— Não quero que perca nada, Donna, quero que
encontre e assume o que tenta esconder. — Davi se
afastou de mim e saiu caminhando rumo aos alvos de
papel chamuscados de tiros e passando a mão nos
buracos ele perguntou. — Você gostaria que eu perdesse
minha essência para te agradar tornando-me um baunilha
bobão?
— Não quero que se torne um baunilha bobão,
gosto de você como é.
— Que bom, porque não existe nenhuma chance de
isso acontecer, o máximo que posso chegar de um
baunilha é me manter monogâmico.
Não consegui conter o riso que brotou em meus
lábios ao ouvir dos lábios dele de que seria só meu.
Davi olhava firme para os alvos de papel como se
estivesse analisando seu desempenho no treino, então
falei:
— Me ensina!
Olhou-me com os olhos apertados e indagou-me
com um meio sorriso estampando os lábios:
— Ensinar o quê?
Dei três passos à frente e fiquei na reta do alvo de
papel em minha frente, parada ao lado esquerdo de Davi e
olhando fixo para frente apontei com o dedo indicador
dizendo:
— Atirar!
Davi me olhou de soslaio, cruzou os braços e voltou
a olhar para frente como se estivesse analisando meu
pedido, então sem dizer nada caminhou rumo a bancada e
carregou a pistola.
— Venha aqui! — falou com um tom calmo, porém
controlador, e aquilo fazia meu coração bater e minha
respiração parar, pois aquele ar de homem forte e mau me
excitava mais que a passividade e bondade de alguns
homens.
Tenho que confessar, homens bonzinhos e melosos
demais nunca me atraíram, nunca confie em homens
dóceis demais, Davi me faz sentir protegida, é imprevisível
e seguro, isso me enlouquece.
— Desse ponto até o alvo são 7 metros — explicou
colocando o fone em meu ouvido e assim começou uma
série de explicações sobre a arma em sua mão e tudo que
eu precisava saber inicialmente.
Davi entregou a pistola em minha mão e se
posicionou bem atrás de mim, afastando minhas pernas
com a sua e arrumando minha postura, mostrando-me a
posição certa dos braços e empunhadura. Quando ele
levantou meus braços senti o ar gelado percorrer mais
evidente no meio das minhas pernas, só então me lembrei
que estava sem calcinha.
Meu rosto queimou envergonhado, metade das
minhas nádegas ficaram expostas ao ar gelado do estande
e certamente aos olhos de Davi, que só não percebera
porque estava com sua cabeça bem rente ao meu ombro
enquanto me cobria com seus braços ensinando-me os
últimos detalhes de como deveria segurar a arma.
— Segure firme, respire e esqueça tudo a seu redor.
Prepara-se para o recuo, não se assuste com o coice,
assim que disparar você sentirá uma forte pressão
tentando te jogar para trás. — Davi falava bem ao pé do
meu ouvido e concentração era tudo que eu não ia
conseguir ter com ele tão bem perto com seu cheiro
másculo e viril atingindo meu olfato. — Mantenha uma boa
respiração, respire fundo antes de disparar.
— Sentiu minha falta quando estava de castigo? —
questionei fugindo do foco do momento.
— Sim, me perdia no tempo pensando em você—
confessou — , agora se concentre, Donna! — respondeu.
Fiz como ele mandou e fiz alguns exercícios de
respiração enquanto sentia o peso da pistola em minhas
mãos.
— Vamos lá, mantenha os braços esticados,
alinhados e firmes pelo tempo necessário que anteceda o
disparo. Agora preste atenção — afastou-se mim. — Não
foque diretamente no alvo, alinhe seu olhar na linha da
arma, tente imaginar a trajetória do projétil.
— Entendi, vou tentar. — Fiz exatamente como ele
me disse.
— Conseguiu visualizar a trajetória sem focar muito
no alvo? — questionou.
— Acho que sim.
— Então mantenha a arma firme em sua
empunhadura e use essa distância e posicionamento até o
alvo. Aperte o gatilho! — ordenou e eu apertei.
O primeiro tiro foi como se eu tivesse levado um
chute de alguém e o tiro foi parar na parede do estande.
— Vai precisar treinar muito para melhorar o reflexo
e a precisão — disse aproximando-se de mim por trás e
novamente vindo a segurar em minha mão apontando a
pistola para o alvo, então não sei como ele fez, mas
apertou o gatilho segurando minha mão e acertou na
cabeça do boneco do alvo, e em seguida, sussurrou no
meu ouvido. — Fez isso de propósito, não fez? — Pegou a
arma da minha mão e a colocou na bancada.
— O que eu fiz? — balbuciei sentindo o calor tomar
conta de cada partícula do meu corpo quando voltou a se
aproximar por trás e suas mãos me puxaram para junto de
seu corpo quente. Seus lábios tocavam minha pele em
minhas omoplatas, ele a mordeu esfregando-se em mim e
me fazendo tomar ciência de sua excitação que crescia
vertiginosamente no meio de suas pernas.
— Você é uma garota má, Donatella, veio aqui sem
calcinha só para me provocar — sussurrou e me virou
abrupto em sua direção e enquanto esperava minha
resposta defensiva, seu olhar voluptuoso ia dos meus olhos
aos meus lábios, devorando-me com voracidade,
ludibriando-me e fazendo meu coração bater
primitivamente.
— Não tinha calcinha limpa para usar após o banho
— expliquei.
— Hum!
Davi passou seus dedos ao redor da minha nuca e
aproximou-se dos meus lábios trêmulos e nervosos,
dizendo entredentes de forma mansa, porém absoluto:
— Você conseguiu!
— Queee?
— Me descontrolar!
Não tive tempo de processar a informação e quando
dei por mim já estava presa em seus braços fortes sendo
tomada por um beijo devastador. Gemi em seus lábios
sentindo seu sabor me atingir como um vendaval de luxúria
e seu corpo rígido me moldar e apertar contra si,
permitindo-me sentir todo o comprimento de sua ereção
dura e volumosa fazendo meus mamilos sensíveis
endurecerem de desejo. Davi devorou minha sanidade em
seus lábios até me fazer entrar em combustão e sentir
trepidações por todo meu corpo.
Estava tão enlouquecida que não percebi que já
estava nua sem a camiseta que vestia, ela foi arrancada do
meu corpo e nem notei.
Davi mordeu meu lábio inferior fazendo-me
murmurar e ofegar e antes que a dor pudesse se fazer
notada sua língua se enfiou dentro da minha boca, fazendo
um calor devasso percorrer meu corpo e incinerou os
músculos tensos da minha vagina fazendo meu ventre virar
brasas.
— Ah, Deus! — gemi balbuciando.
— Você me faz perder o juízo, curve-se, curve-se
para mim, Donna!
Fui pega de surpresa pelo pedido que soou como
súplica.
Engoli em seco, afastei-o, saí dos seus braços e
caminhei até o banco que estava atrás da bancada de
suporte e olhei fixo para as algemas que eu havia levado
comigo quando saí do quarto de castigo, então, após
ponderar um pouco eu as apanhei e voltei para perto de
Davi com as mãos nas costas.
Eu ainda não conseguia me ajoelhar aos seus pés,
nem tão pouco sabia se conseguiria fazer isso algum dia,
mas de uma coisa eu sabia, que podia jogar o jogo dele e
ceder um pouco, afinal de contas, eu tinha fantasias, e
dessa forma, abaixei minha cabeça em submissão e
estendi minhas mãos para frente com as palmas para cima
oferecendo-lhe as algemas em escravidão.
— Vamos jogar, senhor.
LXIX
Puta que pariu que perdi minha cabeça vendo,
Donna, em posição de tiro com metade da bunda pra fora,
aquilo era demais até para mim e tudo que consegui foi
imaginá-la de joelhos aos meus pés daquele jeito, trajando
apenas uma camiseta preta com os cabelos soltos e
ondulados, mas ao invés de vê-la se ajoelhando para mim,
eu a vi fazer algo que me desarmou como ela nunca fizera
antes. Donna se afastou de mim colocando meu coração
em minhas mãos, contudo, voltou para mim e estava
cabisbaixa com as mãos para trás em perfeita servidão, e
quando achei que aquela cena não podia ficar melhor, eis
que ela estendeu suas mãos a mim com as palmas para
cima oferecendo-me um par de algemas prateadas,
dizendo:
— Vamos jogar, senhor!
Minha mente entrou em colapso ao mesmo tempo
que todos os pelos do meu corpo se arrepiaram de tesão
levando-me novamente a uma incontinência animal.
Arfei tentando fazer com que o pouco ar da minha
respiração preenchesse meus pulmões e suprisse a falta
que me fez tamanha a surpresa que me acometeu naquele
momento, eu esperava tudo de Donna, menos sujeição
voluntária.
Sorri orgulhoso, caminhei circulando-a, observando
atentamente seu corpo nu maravilhoso e tentando eternizar
aquele momento. Ela ainda não estava de joelhos, mas de
alguma forma sua alma já estava entregue a mim da
maneira mais sublime que um Dom pode desejar.
— Você é maravilhosa! — falei dando passos lentos
devorando-a com água na boca ao analisar sua nudez
perfeita e o tom rubro em suas bochechas, que fez minha
excitação alcançar o ápice do inferno. Meu pau não me
obedecia e se alongou extenso ao longo da minha coxa
direita como um bastão dentro da minha cueca, louco de
vontade de se afundar no meio daquelas coxas e ser
engolido por seu calor e viscosidade.
Donna estava linda demais, uma deusa romana com
olhos negros radiantes, cabelos longos e negros caindo
sobre as costas de seu corpo voluptuoso esculpido em
curvas delineadas e perfeitamente encaixadas em sua
simetria. A pele morena, os seios fartos e eriçados pela
cobiça do meu olhar que a acariciava sem tocá-la era
Themis submetendo-se a mim.
Sujeição? Diversão? Eu queria muito acreditar na
primeira opção.
Me aproximei e a cheirei exalando seu cheiro
intoxicante, fechei os olhos e traveis os dedos em punho
visto que descobri que seria impossível controlar minha
ereção furiosa.
Foco, Davi, mantenha o foco! Minha mente
controladora gritava, mas meu corpo saudoso não a
obedecia, pois, meu pau pulsava e latejava furioso, meus
testículos doíam de tesão e tudo que eu desejava era fodê-
la sem dó.
Eu estava com palpitações, ofegante, com o coração
rufando forte no peito, então parei em sua frente e ela não
ousou me olhar, continuou em sua postura estática com o
queixo rente ao peito, mirando seus pés. O que Donna
dava a mim naquele momento era uma sujeição física,
lenta e comedida que só seria completa quando sua alma
por fim se curvasse a mim, contudo, o pouco que ela me
oferecia ali naquele instante deixou-me em jubilo mudando
meus planos para aquela noite.
Segurei na barra da minha regata e a tirei do meu
corpo, voltando a encará-la, assim que me desfiz das
peças de roupa ficando nu igualando-me a ela.
Peguei o par de algemas de suas mãos e levei
minha mão em seu queixo, levantei seu rosto obrigando-a
me encarar, seus olhos escuros brilharam ao se
encontrarem aos meus, naquele exato momento eu quis
gritar o quanto a amava e desejava cuidar e protegê-la.
Ao invés disso, ordenei:
— Olha para mim! — Donna obedeceu prontamente,
encarando-me com olhos escuros e brilhantes de luxúria,
seus lábios do pecado se curvaram em um sorriso tímido
de puro deleite, dando-me a entender que gostava de
submeter-se a mim. — Eu decido como e quando jogar,
não você! — Fui duro. — Mas isso você ainda vai aprender
— enfatizei vendo o brilho do seu olhar se tornar opaco.
Sem desviar seu olhar, Donna, levantou seu braço
direito e ameaçou levá-lo ao meu rosto, dizendo:
— Me desculpe, Davi!
Antes mesmo de conseguir me tocar, seu punho
direito já estava preso na algema, e assim eu a corrigi:
— Senhor! Quantas vezes tenho que dizer?
Imediatamente, vi seus olhos caírem novamente
enquanto respondeu-me em um tom quase inaudível, um
sussurro delicado, ressentida, se corrigindo:
— Me desculpe, senhor!
Apenas uma submissa de verdade conseguiria
demonstrar sentimento de dor ao seu senhor perante um
erro cometido, e perante tal demonstração meu pulso
acelerou, estremeci e o desejo se agitou ainda mais
enervante entre minhas coxas e foi difícil me controlar.
— Porra, como eu quero você! — rugi fechando a
outra algema em meu próprio punho esquerdo, unindo-me
a ela, puxando-a para mim com a mão esquerda grudada
com força em seus cabelos, enrolando-os em meu punho e
trazendo-a para meus lábios com avidez. A força exercida
em meu punho era apenas para que entendesse que
estava em minhas mãos.
Estava louco de desejo, saudoso, e assim passei a
roubar todo o fôlego dela beijando-a como se não fosse
existir um novo dia. Donna gemia em minha boca,
enquanto nossos lábios e corpos se exploravam
desesperados com gana e fome.
Afastei nossos lábios e voltei a olhar dentro
daqueles olhos iluminados pelo desejo e mergulhados em
adrenalina:
— Hoje quero foder você assim, presa a mim, olho
no olho, pele com pele.
Estava literalmente amarrada a Davi, ele algemou
meu pulso direito ao esquerdo dele, pegando-me de
surpresa.
Seus ombros eram incrivelmente largos e seu
imenso corpo frente a frente ao meu me atraía
instintivamente e me fazia sentir protegida. Meu pulso
estava acelerado, e tudo em mim pulsava na batida do meu
coração e aquele olhar de aço me oprimindo me deixou
queimando entre as coxas. Meu corpo parecia reagir
involuntário ao domínio dele ao tempo que minha mente
ainda batalhava internamente em um estado de negação.
Não é submissão, é só sexo! Fuja.
Eu podia fugir, podia desistir, mas não conseguia,
queria estar ali, agradá-lo e por mais que meu anjo interior
tentasse me alertar, o diabinho em mim queria estar ali
naqueles braços.
Davi deu um passo à frente deixando-me ainda mais
diminuta, fazendo-me tomar ciência de sua largura e altura,
e a expressão dura em sua face o fez parecer mais
malvado do que realmente era.
— Entregue-se, Donna! — disse com os lábios
grudados aos meus empurrando-me com seu quadril
levando-me com força para a parede.
O beijo desesperado me inundou, nossas línguas se
consumiam em uma explosão de um impulso violento, seu
gosto, seu corpo nu e forte, músculos rígidos me
prensando e se moldando a mim violentamente em uma
excitação visceral, fazendo-me senti-lo duro encostando
firme em minha barriga.
Sem desgrudar sua boca da minha, senti sua mão
direita deslizar no meu corpo passando pelo meu seio
direito e apertando o bico com uma leve pressão que fez
com que meu corpo se esticasse todo na ponta dos pés.
Não satisfeito, sua mão continuou descendo até o meio das
minhas coxas obrigando-me a me abrir para ele, e a esse
modo fui jogada de vez no inferno quando seus dedos
ultrapassaram os lábios molhados da minha vulva e se
enfiou dentro de mim em busca dos meus fluidos indo em
seguida de encontro a meu clítoris. Minhas pernas
fraquejaram, minha mente ficou vazia, suspirei ao
mergulhar em uma sensação deliciosamente fustigante
quando seus dedos passaram a se movimentar em vai e
vem no meu clitóris turgido e sensível.
Meu corpo ardia em um desejo agudo e se
preparava para recebê-lo tornando-se cada vez mais
umedecido. Novamente fui invadida por um dedo e ele foi
mais profundo dessa vez, e eu sabia que ele estava
apenas tentando buscar a viscosidade da minha
lubrificação, então tirou o dedo da minha entrada e o levou
em minha boca, e assim chupei-o sem nenhum pudor.
— Tão úmida e quente! — Davi sussurrou deleitoso
enquanto me torturava, com olhos atordoados e pupilas
dilatadas.
Meu clitóris estava dolorido, rígido e minha vulva
completamente inchada, eu sentia a sensibilidade violenta
a cada investida dos dedos dele.
Simplesmente não conseguia pensar direito, tudo
que me vinha a mente era ser penetrada por ele o quanto
antes, ansiava por isso, nossos corpos ansiavam.
Ele enfiou seus dedos em meus cabelos e puxou
minha cabeça para trás e me tomou novamente em um
beijo que tinha brasas, senti sua língua invadir minha boca
com voracidade, movimentos rápidos e profundos ao sugar
minha língua aumentando mais e mais o meu desejo. Ele
respirava nervoso, remexendo contra mim, extasiado, e me
devorando em seus lábios, nos excitando em um desejo
insaciável. Passou a mão livre para trás e grudou em
minha bunda com força, puxando-me para mais perto de
sua ereção sólida, latejante, febril, forte e avantajada, então
sussurrou em meu ouvido com o hálito quente:
— Entregue-se a mim.
— Já estou, já estou! — falei esbaforida.
— Eu sei! — sorriu.
— Por favor, senhor, por favor, eu preciso disso.
— O que quer? Diz pra mim, diz! — questionou
pressionando o polegar em meu clítoris deixando-me mole
e entregue.
— Você dentro de mim. — Davi oprimiu-me em um
olhar cinza e penetrante. Sua mão direita alisou minha
perna esquerda e a levantou mantendo-a presa na altura
de sua cintura fazendo-me levar minha mão livre a enlaçar
seu pescoço automaticamente, e ainda encarando-me
severo ele perguntou:
— Assim? — deu um tranco para frente fazendo
meus pés se levantarem instintivamente quando fui
penetrada por ele, invadida, preenchida com luxúria, sendo
aos poucos moldada por seu pau que se enfiou em mim
sem nenhum aviso de antecipação, pele com pele como
ele bem disse e um desejo enlouquecedor que nos aquecia
naquele momento, éramos cúmplices de um amor que
exalava paixão e não existiam barreiras que privassem
nossos sentidos, nosso calor, o toque de nossas peles e o
atrito delicioso de nossos corpos se encaixando e se
tornando uma único ser.
— Você é minha! — sussurrou se mexendo devagar
dentro de mim. — Só minha e eu sou capaz de matar por
você. — Fechei os olhos e passei a acompanhar suas
estocadas cadenciadas, entrando e saindo de mim com a
paixão evidenciada a cada movimento que fazíamos um ao
encontro do outro, quente, sensual e explosivo.
Davi me possuía em pé naquela parede, me
segurando pela coxa e me estocando lentamente
mantenho meu braço direito preso ao dele e em minhas
costas, pois ele estava com a mão dele presa em minha
bunda enquanto me forçava em direção a seu pau. Ele
entrava e saía de mim enlouquecido de tesão, suas mãos
apertavam minha pele com um desejo fuzilante que fazia
doer.
Não tirava os olhos do meu.
Davi levou suas mãos em minhas nádegas e
grudou-as com força levantando-me e me fazendo circular
as pernas sobre sua cintura, e beijando-me foi que voltou a
me penetrar, entrando com força e investindo fundo em
mim. Meu braço esquerdo segurava com força em sua
nuca, e assim, ele me comeu de pé, encostada na parede,
entrando e saindo de mim, me beijando, gemendo alto e
ofegando gostoso.
Meu corpo prensado contra a parede fria, subindo e
descendo com a força que Davi fazia para sustentar-me
presa a ele e assim não parava de entrar e sair imerso em
uma gana desesperadora, me beijando e batendo minhas
costas na parede a cada investida violenta e funda. Os
sons saiam de nossos lábios sem cessar, eram os ruídos
mais excitantes e guturais, e eu o arranhava todo em um
frenesi delicioso, e então ele diminuiu o ritmo e parou de se
mexer, estava atolado em mim até o talo, levou suas mãos
em meu rosto afastando meu cabelo ao dizer:
— Eu te amo, Donna!
— Idem — sussurrei sorrindo e buscando seus
lábios, eu estava em chamas, literalmente pegando fogo,
meu rosto queimava.
— Caralho! Gostosa demais! — mordeu meu lábio
me fazendo sentir uma dor deliciosa, e em seguida,
devorou minha boca.
Nossos corpos voltaram a se mexer intensamente,
Davi me encarava despejando em mim toda sua
intensidade, entrando, saindo, metendo, metendo, me
dilacerando em estocadas fortes e profundas.
Caminhou comigo em seus braços e levou-me para
cima de um tapete que enfeitava o estande, então me
deitou nele consequentemente vindo corpulento para cima
de mim me cobrindo com urgência e tomando meus lábios
em um beijar voraz. Estávamos afoitos, sua ereção estava
firme roçando em minha barriga, fazíamos sons
sussurrados de prazer a todo tempo sem parar, e fui a
loucura quando novamente fui invadida e penetrada por ele
ao senti-lo empurrando em mim com brandura, me
preenchendo sem pressa enquanto me prendia entre seus
braços e me beijava com um excesso de prazer, ardente e
faminto.
— Ohhh! — ele gemeu assim que entrou inteiro em
mim, e a sensação de ouvi-lo gemendo com os lábios
grudados aos meus foi arrebatadora, eu estava em estado
de ebulição e iria ferver a qualquer momento, e assim
meus dedos se afundaram em sua carne quando a
segunda arremetida foi funda e maravilhosa.
— Ah, senhor! — balbuciei tremulando.
Assim que nossos corpos se fundiram, tornando-se
um, partilhando do mesmo sentimento, senti como se um
fio de energia intensa e profunda tivesse nos ligando.
Todos os meus sentidos foram aguçados ao limite, paladar,
tato, visão e audição e assim em um misto delicado de
prazer.
Davi já havia me levado ao ápice quando me
degustou de forma tão voluptuosa no elevador, eu estava
sensível demais, excitada ao extremo; e sem conseguir
prolongar a sensação maravilhosa que estava prestes a
explodir, sussurrei arfando:
— Senhor! — disse esbaforida — Não vou aguentar,
eu vou gozar.
— Não, não vai não! — mergulhou em meus lábios
novamente e trocávamos fluidos e energias por todas as
esferas possíveis de prazer.
Davi passou a me estocar com mais intensidade,
segurou em meu pescoço com força e voltou a me beijar
na boca, no pescoço, no queixo, me mordendo e me
enlouquecendo com as fincadas ritmadas, entrando e
saindo fundo de mim. Ele controlava com maestria o ritmo
e o impulso das arremetidas, dessa forma, meu clitóris já
sensível demais era deliciosamente friccionado e castigado
pela voracidade das investidas dele naquele momento.
Estávamos enlaçados, nossas carnes em conjunção e
nossas almas em alento, e com o tesão crescente
estimulando meu cérebro com violência até meu limite
máximo, meu corpo não aguentou e respondeu retraindo
minha vagina e meu clítoris em um êxtase intenso sem que
eu pudesse controlar veio a explosão devastadora de um
orgasmo que me levou direto ao inferno em alguns
segundo que pareciam a eternidade, enchendo meu corpo
de tremores e levando-me a perder a cabeça esvaindo-me
de mim mesma em um vazio único e inexplicável. Me senti
plena, leve e completa. Meus gemidos de prazer foram
abafados nos lábios de Davi enquanto me beijava sugando
de mim gota por gota do meu prazer sem cessar seus
movimentos que passaram de vorazes a lentos e ternos.
— Você não me obedeceu — ralhou.
— Impossível! — balbuciei esbaforida, arquejando,
com todas as minhas forças exauridas e meu coração
descompassado.
— Vou ter que castigá-la — sussurrou aos pés do
meu ouvido, beijando-me, mordiscando e movimentando
seu corpo em cima do meu em um vai e vem lento e
profundo, sem perder o tesão enquanto esperava com que
eu me recuperasse do orgasmo que transbordou e me
destruiu levando minhas forças.
— Vai fundo! — respondi.
— Eu vou, pode apostar! — disse entredentes e
esticou-se ficando ereto de joelhos no tapete se sentando
em cima das próprias pernas.
Suas mãos fortes me puxaram para cima segurando
em meus quadris levando-me em direção a ele, fazendo-
me enlaçar seu corpo com minhas pernas. Olhos nos
olhos, respiração com respiração, e assim envolvi meu
braço livre em seu pescoço quando ele me suspendeu
segurando-me pelas costas fazendo-me sentar fundo em
seu pau ereto, invadindo-me enquanto me beijava em um
encontro mais íntimo de almas, pois ali estávamos cara a
cara e foi assim, sem tirar seus olhos do meu que começou
a me comer novamente, empurrando fundo se encaixando
deliciosamente em mim.
— Daviiiii! — falei seu nome esticando-me toda para
trás de tanto prazer ao ser preenchida por ele como uma
taça vazia em um temporal.
Algemada a ele, meu braço direito ficava o tempo
todo em minhas costas, estávamos de mãos dadas e
naquele momento tive a mais prazerosa de todas as visões
de Davi, lindo, me amando, os músculos entalhados com
perfeição, e as veias inchadas em seu corpo riscado. Era
um homem enorme, em todos os sentidos e vê-lo ali, com
aquelas expressões de tesão em seu rosto simplesmente
me enlouqueciam, e com aquela visão de estar sendo
possuída pelo deus do tribunal, fui voltando a um nível de
excitação máximo. Sufocados de prazer, nossos gemidos
saiam como ruídos enquanto ele me comia com estocadas
firmes e fundas, fazendo-me senti-lo ir muito fundo e duro
dentro de mim, forte e ávido por prazer, metendo, entrando
e saindo, se enfiando fundo enquanto me levava para ele
com voracidade ao me puxar pela bunda. Sua mão buscou
meu seio e o apertou com gana. Sua pele brilhava, pois
suava levemente. Davi buscou meus lábios e ao invés de
me beijar, lambeu-os e os chupou me enlouquecendo de
tesão, grudei em seu pescoço e suguei sua língua em um
ardor violento, eu queria aquela boca macia, sentir os pelos
de barba.
E assim, passou a me comer daquela forma com
mais intensidade, entrando e saindo de mim com
arremetidas fortes e rápidas. Agora podia sentir o calor do
corpo dele emanando pelo meu, seu cheiro, sua boca
sugando os fluidos da minha em beijos tórridos enquanto
nos movimentávamos ávidos um ao encontro do outro, e
com Davi segurando firme em minhas costas galopei em
seu corpo loucamente, engolindo-o inteiro que enterrava,
enterrava e empurrava em mim com muita intensidade. Ele
me puxava pela cintura em direção a ele, me comendo, me
amando e me fitando ensandecido de tesão. Eu sabia o
que ele queria, sabia que seu tesão estava para explodir,
então grudei novamente em seu pescoço e passei a
cavalgá-lo com intensidade, ouvindo nossos corpos
emitirem gemidos de forma ardente e suplicante.
Davi sussurrava e gemia de prazer intenso, estava
ensandecido atrás de seu orgasmo, suando, vermelho,
arfando, e assim, me beijando ele intensificou ainda mais
as estocadas, empurrando meu corpo contra o dele,
entrando com força em mim, louco de tesão, abrasivo,
explodindo, forte, , fundo, sem ar, gemendo baixinho, e de
repente, se despejando quente dentro de mim, fazendo um
movimento mais lento de gangorra com as pernas
enquanto libertava o animal preso dentro dele, gota por
gota; inclinou sua cabeça em meu ombro e me mordeu
gemendo e se contorcendo todo, estocando-me de forma
violenta, despejando seu sêmen quente em mim, gozando
e urrando de tesão enquanto sussurrava meu nome:
— Donatella! Caralho, caralho, amor!
Ouvir o som rouco e gutural de seus gemidos de
prazer em meu ouvido enquanto ele estava em seu torpor
me fez delirar e me levou à loucura, e enquanto ele
continuava se movimentando dentro de mim, senti um
tesão tão forte que fechei meus olhos e inclinei meu corpo
para trás segurando firme em seu pescoço recebendo e
sentindo suas investidas e estocadas, uma, duas, quente,
grosso, e assim o atrito de nossas peles foi me levando ao
êxtase. Davi percebeu que eu estava quase gozando de
novo e passou a se mexer com as mãos firmes em minhas
costas, levando-me diretamente para suas estocadas, e eu
ajudava, galopando deliciosamente naquele pau que
ocupava cada espaço da minha vagina.
— Vamos! Rebola no meu pau! — rugiu ofegante. —
Goza de novo para mim, goza! — ordenou.
Então passei a subir e descer no pau dele
determinada, mexendo, rebolando e galopando
deliciosamente nele, com sua boca chupando meus seios e
me enlouquecendo quando passava a língua em volta
deles e encarava-me com cara de mau. Davi ainda se
mantinha duro, e estar por cima naquela posição já me
tirava fora do ar, pois o contato do meu clitóris se
esfregando nele já era enlouquecedor, e com Davi sugando
meus seios e passando a língua sobre a auréola ficava
ainda melhor, minha mente delirava, meus olhos reviraram
e ele estocava, estocava, metia, metia. E quando grudou
seus dedos em meus cabelos e me levou até seus lábios,
estocando, gemendo, transpirando, minha mente anuviou,
meu corpo se enfraqueceu, e enfim, os tremores
enlouquecedores, que percorreram meu corpo fizeram
todas as terminações da minha vagina se apertarem e me
destruírem em um segundo orgasmo aniquilador. Eu não
estava mais ali, minhas forças se esvaíram de mim, e eu
gemi enlouquecida.
Davi arfava exausto, estava exaurido, então pendeu
seu corpo para frente e me colocou deitada no tapete
novamente cobrindo-me e enchendo-me de beijos, então
questionou arfando:
— Isso não foi um castigo, foi?
— Preciso responder, senhor?
— Não! Claro que não.
Esse homem me deixa insaciável, viciada,
submissa, suscitando em mim sentimentos que jamais
imaginei ser capaz ter.
LXX
Eu a cobria como se fosse um manto sagrado
enquanto o silêncio e a exaustão nos consumiam. Meus
braços circundavam sua cabeça, seus olhos escuros e
iluminados me atraiam como chamas na escuridão.
Tão linda, toda mole e rosada.
Meu corpo estava tremendo, e eu não conseguia
entender o que havia acontecido, só sabia que uma
necessidade muito grande de possuir sem exercer nenhum
tipo de jogo de poder havia tomado conta de mim,
resultando em um sexo desregrado e delicioso. Não vou
negar que estava desnorteado com tal situação e que
Donna mexia comigo de um jeito que nenhuma mulher
mexeu antes. As algemas davam a impressão de que
estava jogando com ela, mas estávamos tão livres e unidos
que jogar um com o outro foi tudo que não fizemos.
— Você não imagina como me deixa submetendo-se
aos meus desejos e aos seus próprios — falei, enchendo-a
de beijos e encarando-a com o peso do meu corpo ainda
em cima do dela, sentindo seu cheiro adocicado misturado
ao cheiro de suor e sexo, me desestruturando.
Donna apenas sorriu.
A respiração entrecortada dela indicava que eu
estava-a sufocando, dessa forma, joguei o peso do meu
corpo para o lado, sentindo imediatamente falta do calor de
seu corpo no meu.
Ainda estávamos presos um ao outro e como eu já
esperava, Donna questionou-me:
— Você tem as chaves disso — ergueu nossos
braços mostrando-me as algemas —, não tem?
Virei meu corpo um pouco para o lado, acariciei seu
rosto pálido tirando o cabelo suado de sua face e respondi,
sorrindo:
— Sim, claro que sim, maas...
— Mas, o quê, senhor? — estreitou os olhos
preocupada.
Sorri um tanto quanto maquiavélico ao imaginar a
cena de cortar parte da casa com Donna presa a mim por
aquele par de algemas e eu não iria perder a oportunidade
de sair puxando-a e subjugá-la ao invés de caminhar lado a
lado com ela.
Donna revirou os olhos e eu gargalhei por dentro,
não exteriorizei meu sentimento de diversão ao ver sua
cara porque realmente a situação me agradava e eu iria
certamente me deliciar.
— As chaves estão no mesmo lugar que você
apanhou as algemas, vamos ter que ir até lá assim...
algemados.
— Ótimo, vou adorar você me carregando nesses
braços fortes — disse ela, fazendo-me conter o riso
novamente.
Donna mexia comigo, movimentava meu imaginário
de um jeito diferente, eu gosto dela, gosto muito das coisas
que me faz sentir e definitivamente isso está me
demolindo, e por mais que tente manter o controle com ela,
internamente eu já o perdi há tempos.

Davi me ajudou a levantar, e quando fiquei


novamente cara a cara com ele, tive a mesma sensação de
pequenez ao notar como era alto e corpulento perto de
mim. Seus olhos cinzas estavam com um brilho diferente,
de repente, estava sombrio, existia maldade circulando por
eles novamente. Inspirei para sentir seu cheiro de alento e
mantive-me em um momento fugaz de enlevo enquanto o
endeusava. Seus lábios estavam vermelhos, de imediato
lembrei-me do motivo, beijos cálidos e devastadores
enquanto me amava a seu modo, e lembrar-me disso fez
um frio percorrer minha espinha e desejar que me beijasse
com tanto desejo novamente, mas ao invés disso, ele
apanhou sua camiseta regata do chão e começou a torcê-
la fazendo dela uma tira fina, então, levantou meu braço
junto com o dele e vendou-me com a camiseta, inebriando-
me com seu cheiro másculo atingindo diretamente meu
olfato.
— Vamos! — disse e saiu puxando-me as escuras.
Minha mente vazia, de repente, se encheu de
informações quando se viu sendo arrastada pelo homem
que deveria estar me carregando no colo naquele
momento.
Não bastasse a sensação desconfortante de estar
algemada a ele, de não poder fugir, fui vendada e tive
minha visão deliciosa dele privada, e simplesmente não sei
explicar o que era pior, se não poder vê-lo, pois ele era a
melhor parte de tudo aquilo ou se era o pânico que instalou
em mim, fazendo-me perder noção de tudo.
Minha respiração passou a acelerar e a adrenalina
voltou a circular em meu sangue, então meu corpo quis
rejeitar a ideia de acompanhá-lo às cegas, mas Davi
rapidamente percebeu e falou:
— Acalme-se, estou aqui, não vou fazer nada que
não queria, lembra? — O som daquela voz era um deleite,
e só em ouvi-la, já me sentia mais tranquila, mesmo sem
saber o que viria a seguir.
— Degraus, se atente a eles! — avisou com uma
voz fria, e foi dessa forma que foi me puxando rumo as
escadas como se estivesse com uma escrava fugitiva
presa em uma corda. Me fez subir degrau por degrau em
meio a ansiedade e a escuridão temendo cair e me
machucar. — Isso requer confiança, Donna, confie em mim
e tudo vai dar certo — concluiu.
Já com os passos lisos no que deduzi ser o
corredor, visto que meus pés passaram a sentir a maciez
dos tapetes, falei:
— Achei que não fossemos jogar hoje.
— E não vamos!
— Então por que estou vendada?
— Porque estou treinando sua alma a se portar de
maneira adequada perante a mim. Estou tentando lapidá-la
a tais comportamentos, quero que assimile as formalidades
da subserviência, isso é um teste para saber até que ponto
você é obediente a mim, pois da escravidão da alma você
não consegue fugir.
— Teste? Por Deus homem, eu estou exausta, meu
corpo mal responde ao meu cérebro, meus músculos estão
flácidos, sem forças, preciso descansar.
— Você ainda está sob os efeitos da adrenalina e
talvez algum vestígio de endorfina, e nisso consiste meu
teste, perceba que mesmo com o corpo cansado e
relaxado, você está entregue de uma forma sublime em
sua plenitude, passo a passo me seguindo, quando poderia
simplesmente travar e se recusar a me seguir.
— Você não deveria cuidar de mim? — questionei.
— Não jogamos, fizemos sexo apenas!
Travei meu corpo e ralhei:
— Você é um filho de uma mãe, Davi. — Tirei a
camiseta dos meus olhos e a luz fraca do ambiente me
mostrou que estávamos no quarto de castigos em frente ao
painel de onde eu havia tirado as algemas.
Davi balançou a cabeça negativando e expressou
sua indignação:
— Quando penso que avançamos alguns passos
você solta uma dessas. Decepcionante! — falou enfiando
uma chavinha na algema, nos soltando.
Davi se afastou de mim e me senti vazia, o calor do
seu corpo esvaiu, me deixando imersa em tristeza.
O que você fez, Donna? Pensei. Seu ímpeto sempre
estraga tudo.
— Você sabe como machucar, agora eu entendo
sobre ser espinhos ao meu redor — conclui.
Ele voltou a me encarar e argumentou:
— Nunca disse que seria tudo lindo, muito pelo
contrário, Donna. E sim, eu sou espinhos ao seu redor, eu
assumo, mas apenas porque quero protegê-la a qualquer
custo, você é minha flor, sabe disso, e eu não sou nada se
não puder proteger você.
— No momento está me protegendo de quem? De si
mesmo? — questionei relutante.
Davi ficou furioso e levou seu punho fechado
próximo dos lábios, e assim continuei falando:
— Não entendo você, acalenta e depois bate, eu
não compreendo isso. — Virei de costas, esfregando o
pulso que esteve preso, visto que doía.
— Você é minha posse, completamente minha, e é
assim que você precisa ser tratada, confesso que estou
sendo paciente demais com você, Donatella, se fosse outra
mulher, eu já teria chutado a bunda dela há tempos.
— Meus sentimentos por você são duramente
corrompidos, parece que estou dentro de uma montanha-
russa — respondi em seguida.
Davi pegou sua camiseta e me vestiu com ela
falando de forma ríspida:
— Você se sente assim porque insiste em se manter
firme dentro da porra desse casulo em que se enfiou. Está
metida em uma meia entrega e isso corrompe não só os
seus sentidos, mas os meus também. Eu quero você, amo
você, mas tenho a necessidade de que se renda a mim
completamente em uma entrega pura, obediente, servil e
dócil. Não quero encenações, quero uma submissão
concedida e uma troca de poder real. O que você precisa
entender de uma vez por todas é que tem um dono, mas
ainda assim é dona de si mesma, eu até posso te
machucar como você bem disse, só que dói mais em mim
que em você.
— Eu estou tentando me adaptar a tudo isso, só que
às vezes a mudança brusca do quente para o frio me dão
choque térmico, tente entender — retruquei chorando.
Davi ficou em silêncio, respirou fundo, rodou sobre
seus calcanhares e me puxou bruscamente para seus
braços, dizendo:
— Ah, Donna! — Abraçou-me forte, me afagando
em seus braços quentes, confortando-me, e a verdade é
que nem Davi, nem eu estava sabendo lidar com nossas
mudanças.
Olhei para cima e o fitei, então mudei de assunto
para tentar salvar nossa noite, afinal de contas, eu acabo
sempre estragando tudo:
— Eu estou morta de fome, comeria um cachorro-
quente do Mister Dogão sem nenhuma culpa.
Davi fez um movimento com os cantos da boca em
um leve sorriso, parecia ter gostado da ideia, e disse-me:
— Vamos ligar e pedir cachorros-quentes de sei lá
quem — estreitou os olhos pensativos e mudou de ideia. —
Não, vamos fazer muito melhor, vamos até lá comer esse
cachorro-quente. Faz anos que não faço algo assim.
— Vamos sair? Só pode estar brincando comigo —
indaguei sem conseguir acreditar.
— Não, não estou não, por que estaria?
— Primeiro que não podemos ser vistos juntos por
aí, lembra? E segundo que não tenho roupas para vestir.
— Hum! Você precisa trazer roupas aqui para casa,
e... Bom, eu resolvo sobre não sermos vistos, pelo menos
não o Desembargador.
— E o que vai fazer?
— Nada que um boné e óculos não resolva —
explicou-se.
— Falou o Clark Kent. — Finalmente consegui tirar
risos daquele homem que me apertou em seus braços e
me beijou.
Definitivamente, Davi era uma incógnita que eu
precisava decifrar, e me peguei questionando quem estava
dentro do bendito casulo a que ele se referia, e era muito
bom quando por breves momentos, eu conseguia penetrar
em sua casca dura e tocá-lo de alguma forma.
Acabei vestindo as roupas que saí de casa pela
manhã e que cheguei na casa dele, bom seria se Davi
fosse um daqueles mocinhos dos livros que aparecem do
nada com roupas de grifes compradas para suas amadas,
enfim, ele não era de nenhum livro.
Quando Davi e eu chegamos à guarita de sua casa,
dentro de um de seus carros preto, uma SUV, para ser
mais exata uma Range Rover, fomos interceptados por um
de seus seguranças que bateu no vidro do carro para que
Davi abaixasse o vidro.
— Não disse que sairia, senhor! Aguarde só um
minuto que iremos na sua escolta — disse Jonas, o chefe
da segurança dele.
— Não vou precisar de vocês hoje, Jonas —
respondeu Davi.
— Me perdoe, senhor, mas isso é um tipo de
brincadeira? — Sua face mudou.
— Não te pago para me questionar, Jonas. — Davi
respondeu, sisudo.
— Me paga para protegê-lo, senhor, e pretendo
fazer isso com minha vida, caso seja necessário —
respondeu o homem estufando o peito e se mantendo em
uma postura ereta em suas vestimentas pretas e escuta
nos ouvidos.
— Estou bem disfarçado, Jonas, não se preocupe.
— Mas ainda é o desembargador Davi Campos. —
Jonas retrucou.
— Por coincidência, o homem que paga seu salário
— replicou Davi.
— Então me deixe fazer o meu trabalho, senhor! —
insistiu o chefe da segurança, deixando-me nervosa, então
intervim:
— Davi, deixa ele fazer o serviço dele.
Ele me olhou ponderado, colocou seus óculos e
ordenou:
— Abra logo esse portão, Jonas!
— Mas, senhor...
— Eu só vou comer um cachorro-quente e levar
Donna em sua casa. Não vai acontecer nada homem —
argumentou Davi.
Jonas abaixou a cabeça, levantou o braço e apertou
um botão em sua escuta grudada em seu paletó preto,
dizendo ressentido:
— Abra o portão para o doutor Davi passar.
Por fim, o portão foi aberto e juntos saímos sozinhos
sem escolta, era quase onze da noite, o asfalto estava
úmido, pois havia chovido em São Paulo. Eu adorava ver
Davi no volante, mas aquela noite fiquei temerosa pela
preocupação excessiva do segurança. Davi e eu comemos
como duas crianças, bebemos Coca-Cola e até
derrubamos mostarda em nossas roupas.
O Dogão ficava próximo ao parque do Ibirapuera, e
depois de comermos ainda caminhamos um pouco em
suas redondezas.
— Achei que algo assim nunca fosse acontecer,
Davi, não deveríamos brincar com... — Puxou-me em seus
braços e me calou com um beijo.
Eu estava radiante por ter tido um fim de noite
normal com o homem que amo, sentar em uma mesinha
em frente de um Food Truck e comer cachorro-quente com
Davi foi algo que nunca me passou nem em sonhos, e se
aquilo era um sonho ou não, ele acabou com Davi abrindo
a porta da minha casa com minha chave.
— Sã e salva, senhorita Donatella — disse ele com
as mãos presas em minha cintura, encarando-me.
— Nossa, confesso que você me surpreendeu hoje.
Cadê o homem que disse que nunca sairia comigo em
público por segurança?
— Você vem me surpreendendo a cada dia, por que
não posso te surpreender?
Sorri acariciando sua barba áspera.
— Eu quis tanto isso, tanto sair em público com você
por aí, que agora me sinto culpada.
— Está se sentindo culpada do quê?
— Você sabe que arriscamos fazendo isso, e que eu
estou segura em casa, mas e você?
— Vou estar seguro na minha casa em alguns
minutos. Fica tranquila, Donna, vou te ligar assim que
chegar, está bem? — Tocou-me novamente com seus
lábios me puxando em direção a seu corpo enorme.
Assenti, mas só ficaria tranquila quando o celular
tocasse e ele me avisasse que estava em segurança.
— Te vejo amanhã, futura juíza de direito e mais
gostosa do TJ.
Cruzei os braços e sorri, dizendo:
— Até amanhã, Vossa Excelência.
— Antes de ir, queria que soubesse que sinto muito
prazer em ter você do meu lado, em cuidar, ensinar e
proteger você, e se deixar, vou guiá-la até encontrar sua
verdadeira essência, nem que eu tenha que abrir mão de
alguns dos meus interesses.
Dei um passo à frente, joguei meus braços sobre os
ombros dele e falei:
— Eu te amo, Excelência, e vou dar meu tudo para
que o senhor não tenha que renunciar a muitos interesses.
Davi segurou firme em minhas costelas
possessivamente e me puxou para ele, fazendo com que
um arrepio me atordoasse, questionando-me:
— Ah, é? Acho bom mesmo — encostou seus lábios
nos meus e mordiscou, sorrindo e fazendo meu baixo
ventre se contorcer antes de me beijar e me deixar com as
pernas moles novamente. Meus dedos mergulharam em
seus cabelos, retribuindo o beijo sem nenhuma dificuldade,
e novamente nossas línguas se amaram luxuriosas; dizem
que o sexo começa pelas línguas. — Caralho, Donna, que
vontade de te foder de novo. — Novamente um frio
castigou meu ventre em uma fisgada deliciosa e minhas
coxas se contraíram de desejo.
Quando ia dizer para ele entrar e irmos terminar
aquilo no meu quarto, eis que minha mãe questionou de
dentro da casa:
— Donna, é você minha filha?
Fechei os olhos e joguei a cabeça para trás
respondendo-a, desgostosa:
— Sim, mãe, sou eu.
— Então trate de entrar logo, está frio aí fora.
Davi balançou a cabeça concordando com minha
mãe e sorriu mostrando-me a brancura de seus dentes,
dizendo:
— Vai lá, meu amor, nos falamos assim que eu
chegar em casa, ainda tenho que analisar algumas partes
do processo do Medeiros, amanhã será um dia longo no
TJ. — Me deu um selinho e se desgrudou de mim deixando
um vazio enorme ao se afastar levando seu calor e seu
corpo perfeito para longe.
Davi estava gato demais todo informal daquele jeito,
usando jeans, camiseta preta, boné e óculos, ninguém
jamais diria que se tratava do desembargador Davi
Campos, pois estava completamente diferente do homem
cheio de poses e elegância que estávamos acostumados a
ver no TJ.
Soltei um suspiro de pesar e falei:
— Tome cuidado!
— Pode deixar. — Piscou para mim e se dirigiu a
saída.
Fiquei com meu coração apertado, o excesso de
cuidado do chefe de segurança dele me deixou
preocupada e enquanto ele não me ligasse dizendo que
estava tudo bem e em segurança eu não iria conseguir
dormir.
Meia hora depois, em meio a um silêncio
desesperador deitada em minha cama, olhei em meu
celular e resmunguei baixinho:
— Me liga, meu amor, me liga, Davi!
LXXI
Faltava pouco para meia-noite e meia quando por
fim, Davi me ligou, dando-me o calmante que eu precisava
para desligar e dormir. Assim que meu celular vibrou senti
como se uma dose de adrenalina tivesse sido injetada em
minha veia.
— Meu Deus, Davi, quer me matar de preocupação?
— questionei assim que ouvi sua voz, dizer:
— Calma, eu estou bem, só desviei um pouco a rota
porque achei que estava sendo seguido — explicou-se.
— E você estava? — questionei cruzando as pernas
em cima da cama com o coração aflito só de pensar na
hipótese.
— Não, não estava, era o teimoso do Jonas que nos
seguiu a distância o tempo todo.
Respirei aliviada fazendo um ruído audível deixando
meu corpo tombar relaxado para trás da cama.
— Que bom que ele é teimoso — falei.
— Vai dormir, Donna, teremos um longo dia amanhã.
— Isso é uma ordem, meu senhor? — questionei
sussurrando, provocando-o.
— Donna não me provoque — disse com um tom de
voz relaxado.
— Diga-me, senhor, quando é que vamos jogar no
meu quarto de castigo? Fiquei curiosa com alguns objetos
que vi por lá.
A coluna no meio do quarto, as correntes, o painel
cheio de apetrechos, acordou em mim curiosidades que
jamais pensei em ter e só de me imaginar lá dentro com
Davi, minha imaginação ia longe demais.
— Quando estiver pronta — respondeu seco.
— Acho que estou pronta.
— Não, Donna... Não lido com achismos, e não
acho que esteja pronta, além do mais, já te disse que eu
decido quando e como vamos jogar.
O tom de sua voz estava sério demais, dessa forma,
resolvi me despedi dele:
— Está bem, boa noite, meu amor.
— Boa noite, Donna — respondeu taciturno, e logo
percebi que ele estava preocupado com alguma coisa, mas
o importante era que chegou bem em sua casa colocando
fim a angústia em meu peito.
Na manhã seguinte, acordei bem disposta, após
Davi me ligar, foi como tomar um ‘boa noite, Cinderela’, a
mente se esvaziou, o corpo relaxou e me proporcionou
uma noite de sono como há meses não vinha tendo.
Acordei tão bem que calcei os tênis e vesti uma roupa de
caminhada e fui ao parque correr e treinar um pouco.
Estávamos na primavera, estação das flores, a temperatura
estava amena, mas o tempo nublado logo nas primeiras
horas do dia indicava que teríamos pancadas de chuvas à
tarde, típicas dessa estação do ano, e que eu
simplesmente amava por conta da mistura do clima do
inverno com o verão, nem muito quente, nem muito frio. Eu
adorava o Ibirapuera por conta da atmosfera tranquila e
silenciosa imersa a tanto verde, para mim um refúgio, um
oásis no meio da caótica selva de pedras que é São Paulo,
diria que se tratava do pulmão da mesma, e por assim ser,
conseguimos um pouco de ar puro em meio a essa
natureza. Depois de correr alguns minutos na pista, escolhi
uma boa sombra na Praça da Paz e passei alguns minutos
tentando meditar, mas com a mente cheia em Davi, que
mal conseguia distinguir sua ausência e presença, visto
que estava sempre na minha cabeça, eu não consegui me
concentrar o suficiente para parar de pensar nele e desligar
a mente.
Naquela hora do dia o silêncio era total, como se
São Paulo estivesse prendendo o ar e tivesse parado de
respirar, mas era só um momento ímpar, pois não iria
demorar para o parque ficar ruidoso com o aumento de
pessoas circulando por ele. Descruzei minhas pernas e
coloquei-me a pensar em Davi e nas possíveis mudanças e
adaptações que eu teria que fazer na minha vida para
encaixar-me a dele, e a ideia de uma mudança de hábitos
tão brusca me parecia desconfortante, porém, poder tê-lo
só para mim talvez valesse o esforço, visto que aquele
homem havia se tornado meu ar, mesmo que no sentido
oposto, e ao invés de preencher-me os pulmões, ele
esvaziava-os.
Sorri ao me lembrar de seu jeito controlador e
dominador, um arrepio involuntário me tomou de assalto só
de pensar em seu tom de voz, mandos e desmandos, e
não conseguia mentir para mim mesma, aquilo muito me
excitava, eu gostava muito de cada detalhe do
temperamento dele e da forma com que me abordava, por
fim, ninguém é perfeito e talvez isso some e me complete,
só que para isso acontecer, ele me completar de vez, eu
preciso querer de verdade e me entregar nesse
relacionamento de corpo e alma sem ressalvas.
Davi é astuto e soberano, ele tem uma leitura bem
precisa de mim, sinto que me conhece melhor que a mim
mesma e que vê em mim algo que ainda é muito obscuro
aos meus olhos, como se existisse um “eu” que somente
ele conseguisse enxergar. Também não posso negar que
exista um fascínio muito forte entre nós, uma atração
surreal que me consome, uma necessidade emergencial
em tê-lo que fugia as minhas razões e que por mais que eu
tente entender não consigo. Jamais permitirei que Davi dite
regras na minha vida fora de quatro paredes, aonde vou,
com quem vou, o que faço e com quem faço, mas no que
diz respeito ao Dom Davi, minha alma já estava curvada
aos seus pés e ele já sabia disso.
Submissa? Ainda não sei até que ponto, mas algo
eu sabia, eu já era dele.
Nos dias em que estivemos separados pelo maldito
castigo, me peguei pensando constantemente na
possiblidade de cair de joelhos aos seus pés, parecia muito
claro esse desejo em mim, mas ainda estava confusa, era
o orgulho feminista que gritava se sobressaindo aos meus
desejos secretos, insistindo em me fazer achar tudo muito
degradante e humilhante. O castigo me ensinou que
dominação e submissão vão além de um sexo mais
violento, dos chicotes e amarras, vai além da dor e do
prazer, é confiança um no outro, é mental, emocional. E
acabei aprendendo com Davi que ele só tem poder sobre
mim apenas porque eu permito que seja assim, é
consensual não um abuso; e é imersa a esses novos
sentimentos, que quero que ele me domine, e depois de
ontem, do medo de que algo errado acontecesse a ele por
estar sozinho naquele carro, foi que tomei a decisão de me
permitir e me entregar a ele de verdade.
Estarei aos teus pés, Vossa Excelência.
Sorri após ser atropelada por esse furtivo
pensamento, suspirei e olhei em meu pulso dando-me
conta de que tinha passado mais tempo dissecando meus
últimos dias com e sem Davi que acabaria tendo que me
apressar para não me atrasar no trabalho, visto que hoje
seria um dia importante para os desembargadores que
julgavam o Juiz Medeiros, e eu como assessora do Dr.
Afonso não poderia me atrasar.
Pouco antes das nove da manhã cruzei o hall do
Palácio da Justiça caminhando com tranquilidade e com
um sorriso estampando no meu rosto ao cumprimentar um
e outro juízes, desembargadores e advogados que também
chegavam para cumprir horas de seus expedientes.
Notei que meus saltos agulhas ressoavam passos
atípicos no Salão dos Passos Perdidos, então, dei-me
conta que os tapetes vermelhos foram retirados do hall por
algum motivo, e aquele salão voltou a fazer jus ao nome
que recebia.
Nada nem ninguém no mundo seria capaz de tirar
de mim a felicidade que me consumia naquele momento, e
se felicidade é mesmo um estado de espírito o meu estava
plenamente satisfeito, mesmo que fosse efêmero, naquele
instante, eu estava feliz por ter, enfim, me decidido sobre
como prosseguir em meu relacionamento com Davi.
Dentro de quatro paredes eu iria permitir que ele me
lapidasse, mas que ficasse claro, só entre paredes seria
meu dono, fora delas, eu seria senhora da minha vida.
Se eu não tivesse tão dentro do horário até
arriscaria subir pelas escadas para evitar o comentário de
Dalvinha dentro do elevador que disse assim que bateu
seus olhos em mim:
— A que se deve essa plaquinha de “Não perturbe,
eu estou feliz?” Não... Não me responda, acho que o dono
da sua felicidade acabou de sair desse elevador — sorriu
pretenciosa.
— Dalva, Dalva, juro que ia pedir a sua cabeça se
você não alegrasse minhas manhãs e tardes.
— Hum... — resmungou cruzando os braços. — Dr.
Davi estava tão sério hoje, Donninha, pelo jeito sua
felicidade não o afetou.
— Só está preocupado com o trabalho, só isso —
respondi.
Dalvinha deu de ombros e eu segui rumo ao meu
escritório no gabinete e assim que abri a porta, a primeira
imagem que encheu meus olhos e meu coração foi um
lindo botão de rosa branca em cima da minha mesa.
Davi. Pensei sorrindo, e podia jurar que meus olhos
brilhavam naquele momento.
Coloquei a bolsa em cima da mesa, minha pasta,
meu frappuccino da Starbucks e peguei o delicado e
aveludado botão branco e sorrindo o levei diretamente em
meu nariz no modo automático, pois é sempre a primeira
coisa que fazemos quando pegamos em uma flor e aquela
tinha um cheiro doce agradável que me remeteu
imediatamente uma fala de Davi.
Esse botão branco representa você para mim, por
enquanto, sua alma ainda é imaculada como essa rosa,
mas isso vai mudar, Donna, acredite, quando você provar
do que tenho para te dar, essa sua pureza vai acabar e
você não vai mais se contentar com o que te dei ontem à
noite.
A noite em questão foi nossa primeira juntos e foi
sorrindo feito uma boba que vi um papel avulso em cima da
mesa, e certamente que ali teria alguma orientação do meu
senhor.
Comecei a ler o bilhete num misto de ansiedade, e
assim que as palavras foram fazendo sentido, minhas
vistas embaçaram e uma confusão se formou em minha
cabeça ao mesmo tempo em que não conseguia respirar e
a minha pulsação tamborilou em meus ouvidos. Meu corpo
se arqueou com a fraqueza que se fez notar em meus
joelhos e uma ânsia de vômito se fomentou em meu
estômago.
— Davi! — As notas de seu nome saíram
engasgadas de meus lábios junto com a lágrima que
desceu dolorosa e escorreu até eles. — Não, não! —
Balançava a cabeça em negação girando em meus
calcanhares e com uma dor dilacerando a alma foi que
amassei o maldito botão de rosas brancas despencando
suas pétalas.
Saliva se juntou em minha boca e eu sabia que iria
vomitar e assim saí correndo da minha sala e fui até o
banheiro do gabinete, e por pouco quase não consegui
chegar ao vaso sanitário. Eu estava tremendo, suando frio
e mal conseguia parar de pé em frente a pia, chorando sem
conseguir me controlar. Depois que saí do banheiro, após
vomitar todo o café da manhã, para minha infelicidade o Dr.
Afonso estava a minha espera do lado de fora.
— Donna, minha querida, você está bem? —
questionou preocupado.
— Não se preocupe, doutor. Foi só um lanche que
comi ontem à noite que me fez mal.
— Se não se sente bem deveria ir para casa —
disse ao colocar um amontoado de papéis embaixo do
braço. — Estou indo para a reunião, acredito eu que a
última desse processo.
— Só vou me recompor e já vou também, senhor —
falei sem conseguir me imaginar na presença de Davi.
— Deveria ir para casa, filha — insistiu.
— Não, não posso perder a reunião de hoje, não se
almejo tanto chegar ao patamar do senhor.
Ele sorriu e foi se retirando da sala sem dizer mais
nada.
O mundo estava girando ao meu redor, o pânico
criou formas e eu não conseguia organizar as ideias.
Desolada voltei até minha sala e apanhei o bilhete que me
deixaram e o li novamente caindo em um choro
desesperador.
— Isso não está acontecendo, não está... —
Encolhi-me toda em um canto e entrei em desespero sem
conseguir pensar como agir, só chorar.
Eu não conseguia respirar e chorei de soluçar até a
porta de minha sala se abrir e uma imagem embaçada,
falar assustada:
— Donna! Meu Deus do céu! O que está
acontecendo?
— Bruno! Bruno! — falei seu nome em prantos
sentindo-me aliviada por ser ele e não Davi, e ele veio até
mim e me levantou aninhando-me em seus braços
gentilmente. Afundei meu rosto em seu peito e ali chorei
em demasia sem que ele me perguntasse nada, apenas
me permitiu chorar em seus braços.
Sem condições de ir a reunião, depois de me
desesperar e muito chorar nos braços do meu amigo,
afastei-me dele e recostei-me na janela e fiquei em uma
espécie de transe segurando o maldito papel entre os
dedos.
Bruno não sabia o que fazer e por um tempo só me
deixou quieta e após alguns minutos sua voz ecoou em
minha mente devolvendo minha lucidez ao questionar-me:
— O que houve? O Dr. Afonso disse-nos que você
estava passando mal, mas estou vendo que é algo bem
mais grave.
— Foi só o cachorro-quente que comi ontem, Bruno
— menti. — O que veio fazer aqui? Não deveria estar na
reunião com o Davi?
— Dr. Davi não podia deixar a sala, então, acabou
me pedindo disfarçadamente para saber o que estava
acontecendo com você. Consegue imaginar isso?
— Não! Eu não consigo imaginar nada.
— O que houve com essa rosa?
— Morreu!
— O que morreu, Donna? O que está acontecendo,
me fala, foi algo com seu pai? — questionou aflito.
Fechei os olhos e novamente lágrimas ácidas
escorreram amargas em direção aos meus lábios que
balbuciaram a palavra “não” quando cerrei meus punhos e
amassei o papel em meus dedos e o joguei no chão.
Bruno o apanhou e virou de costas para mim ao ler
seu conteúdo, então um breve silêncio e depois se virou,
retirou seus óculos e coçou seus olhos, dizendo:
— Donna, nós vamos resolver isso, ok? O Dr. Davi
vai saber o que fazer.
— Não! Você leu o que está escrito aí? Eu vou saber
o que fazer, sozinha — ralhei.
— Elisa também sabia o que estava fazendo, e veja
no que deu — retrucou.
— Dessa vez é diferente, eu não tenho escolha, ela
tinha. Ninguém vai morrer por minha causa, Bruno —
enfatizei.
— Você não pode esconder isso do Davi, quem
plantou esse papel aqui tem acesso livre aos gabinetes do
TJ, será que não percebe a gravidade da situação? Esse
recado é idêntico ao que Elisa recebeu, apenas mudaram a
abordagem.
— Sim, para evitar que eu fizesse o mesmo que a
Elisa.
— Donna, quem está fazendo isso não brinca, e não
quer você ao lado do Davi.
— Achei que aquela facção havia assumido o
assassinato da Elisa.
— Sim, e disseram que fariam o juiz sofrer e pagar
muito caro.
— Não faz sentido nenhum isso — murmurei
meneando a cabeça.
Bruno olhou em seu relógio e disse-me:
— Vai para casa. Vou dizer ao Davi que você só
estava passando mal por conta de algo que comeu. Assim
que der, eu vou até você para decidir o que faremos.
Girei dando-lhe as costas e fiz um gesto de negativo
com a cabeça abraçando-me em meus próprios braços,
aflita, mas o respondi com a frieza necessária que eu teria
que ter para encarar aquela situação.
— Eu já sei o que farei e como farei, não se meta
nisso, Bruno.
Bruno segurou em meus ombros e me girou em sua
direção, então disse obrigando a encará-lo:
— Davi não vai aceitar uma separação sem uma
explicação lógica, precisa contar a ele, não tem outro jeito
e se você não fizer, eu farei.
— Você não vai fazer nada, nada... Entendeu? A
vida é minha, o problema é meu e eu vou resolver.
— Você está sendo burra! Inconsequente. Porraa! —
rugiu nervoso.
— Dane-se! Bruno — exasperei-me. —Vamos
trabalhar. — Peguei minha pasta de cima da mesa e fui
saindo apressada, pois não ia deixar um pedaço de papel
com colagens de recortes de revista atrapalhassem a
minha carreira.
Eu estava destruída por dentro, mas por fora tinha
que manter as aparências, e tinha que se forte naquele
momento.
Eu estou pronta, Vossa Excelência... Estou pronta!
Pensei repetindo isso em minha mente enquanto
caminhava sobre os pisos de madeira do TJ que ecoavam
meu destino. A sensação de estar sendo vigiada me deixou
apavorada, qualquer um ali dentro poderia ter colocado
aquela rosa em minha sala, mas quem?
O caminho até a sala onde estava acontecendo a
reunião dos desembargadores nunca antes havia sido tão
longo, aqueles corredores materializavam as atividades
jurisdicional do Estado e carregavam em cada canto
bagagens e experiências de vidas inteiras, pois ali ficava
claro que não eram as Moiras que teciam destinos em seus
teares, mas sim, os homens de toga preta que julgavam e
decidiam o destino de outras pessoas, e era isso que
faziam naquele momento, Davi e outros dois
desembargadores, estavam cortando e tecendo o destino
do Excelentíssimo, não tão excelente assim Juiz Medeiros.
Assim que entrei na sala de reuniões, seguida por
Bruno, Davi ajeitou-se na cadeira, desapertou o nó de sua
gravata como se a mesma o estivesse estrangulando e me
olhou com uma súplica em seu olhar intenso acinzentado,
era como se seus olhos falassem e me questionassem o
que não podia fazer com os lábios naquele momento.
Donna, está tudo bem?
Mantive o contato visual por alguns segundos,
queria correr para os seus braços, contar-lhe o que estava
acontecendo, e mesmo a sala estando barulhenta, pois os
desembargadores discutiam de forma acirrada, tudo em
minha volta foi desaparecendo, e ali erámos apenas Davi e
eu, olho no olho, prendendo minha atenção e me tornando
absorta a tudo que estava ao meu redor. Davi e eu
estávamos conectados como imãs, ele me conhecia muito
bem, tão bem que me incomodava a forma como analisava
e inquiria minha alma de forma silenciosa.
Soltei o ar que estava prendendo nos pulmões, os
olhos de Davi roubavam meu fôlego, então pisquei e olhei
para Rew sentada em uma das cabeceiras da mesa, com
os cotovelos em cima da mesma e ela era a única
prestando atenção sobre mim e Davi. Senti um repúdio tão
grande por ela que meu estômago embrulhou novamente,
contudo, me segurei e agi como se nada de errado
estivesse acontecendo.
Seja forte, seja forte!
LXXII
A vida está sempre nos testando, criando caminhos,
bifurcações dos quais temos que escolher para onde seguir
e como, e de todas as escolhas que fiz na vida, a mais
difícil estava sendo essa, porém, a coisa mais certa nesse
momento era me afastar de Davi e eu faria sem titubear.
Não irei fraquejar! Não irei!
Durante toda a manhã, Davi e eu trocamos olhares,
estávamos frente a frente na mesa e ele me olhava
preocupado com pontos de interrogação em sua testa. No
horário do almoço, mandou mensagens me questionando
sobre eu ter passado mal e se isso não podia ser uma
gravidez, então, lembrei-o que isso não era possível, visto
que tomo meu remédio catolicamente. Ele sabia bem disso,
pois controlava meu ciclo melhor que eu mesma.
Passei boa parte do dia tentando não transparecer
preocupação, contudo, Bruno estava aéreo, nervoso
demais com a situação, e em meio a uma discussão tão
acalorada sobre o processo de cassação do Juiz Medeiros,
eu mal tive tempo de ficar pensando no que estava escrito
no maldito bilhete.
Devido a faculdade fui dispensada pelo Dr. Afonso,
às cinco e meia, nunca participava das reuniões após o
expediente e pelo que pude perceber eles só saíram do TJ
quando chegassem a um consenso sobre o Juiz corrupto.
Desci as escadarias do Palácio com rapidez, estava
aflita e com medo de estar sendo vigiada, meu coração
estava acelerado, não vou negar, estava em pânico e com
pressa de chegar ao meu carro, porém, assim que toquei
na maçaneta reparei algo no para-brisas e fui ver o que era
e novamente deparei-me com um botão de rosas branco
preso do limpador de vidro e junto um bilhete que dizia:
“Estarei sempre por perto.”
Girei o corpo olhando ao redor, em seguida, fechei
os olhos, recostei-me na porta do meu carro, e no exato
momento que uma lágrima escorreu em meu rosto, os
sinos da Catedral da Sé começaram a ressoar, era como
um chamado para mim, um conforto momentâneo, então
joguei a flor no chão e atravessei a rua indo em direção à
Praça da Sé, o marco zero da cidade de São Paulo.
Estava chuviscando, e a grande maioria dos
pedestres circulando ali usavam guarda-chuvas, menos eu,
que caminhava rumo a entrada flanqueada pelos coqueiros
enormes. A Catedral em estilo neogótico me enchia os
olhos, não era uma construção qualquer no centro de São
Paulo, era um totem erguendo-se imponente em meio a
densa e barulhenta massa urbana e acelerada.
Sua opulência nos induzia logo de cara a olhar para
o alto e notar a grandiosidade divina de suas torres altas
como que se quisessem tocar o céu e alcançar Deus.
Sempre fui apaixonada por belezas arquitetônicas góticas e
assim olhei para ela encantada com o esplendor que a
compõe, como a beleza de sua cúpula e o arco ogival, de
seus vitrais e mesmo suas escadarias. Ela tem o formato
de uma cruz latina e em sua fachada um enorme portal
principal com três portas encimado por uma belíssima
rosácea flanqueado por duas torres altas. Assim que
adentrei em seu interior, fui agraciada com sua
luminosidade e silêncio, fui tomada por uma paz
inenarrável provocada pelo brilho encantador dos belos
vitrais.
Caminhei pela nave em direção ao altar pisando e
admirando o belíssimo piso em mármore, e na primeira
fileira de bancos foi onde me ajoelhei e despenquei a
chorar sem conseguir me conter. Ali, sentada no banco,
fiquei olhando para o altar admirando sua beleza,
pensando, e tentando imaginar quem estaria por trás dos
botões de rosa, visto que não tinha como ninguém saber
que para Davi eu era seu botão de rosa branca e por algum
motivo não plausível, veio-me Rew na mente e uma
lembrança me acometeu, trazendo-me a imagem da
desembargadora se abaixando na biblioteca e pegando as
pétalas despedaçadas da rosa que Davi havia colocado em
minha mesa minutos antes de nos encontrarmos na
biblioteca, contudo, minha mente atenta me levou para
minutos antes de Rew pegar as pétalas e então, lembrei-
me de que Bruno havia pisado na rosa semiaberta minutos
antes. Definitivamente aquele não era o dia daquela pobre
rosa.
Bruno me confirmou que o bilhete que recebi era
exatamente igual ao que Elisa recebeu, e que pedia a ela
para se afastar do Desembargador Davi ou ela morreria, a
diferença dos bilhetes estava no conteúdo e não seria eu a
morrer se persistisse nesse relacionamento.
Saí da claridade da Catedral para o início do cair da
noite em São Paulo e no céu o tempo foi ficando
assustador, estava formando nuvens carregadas e os
relâmpagos avisavam que muita água ia cair.
Preciso chegar em casa antes dessa chuva.
O trânsito estava caótico, buzinas ensurdecedoras,
não bastava esse ser o pior horário para se locomover em
São Paulo, a chuva vinha se aproximando opressiva em
cima de nossas cabeças e todos queriam fugir dela. O
mundo ia desabar em alguns segundos, e eu jamais iria
conseguir chegar em casa antes que toda aquela água
caísse do céu.
Eu amava chuva, mas odiava dirigir no meio dela.
Soluçando e com as lágrimas escorrendo insistentes
em meu rosto, tudo estava embaçado, eu não conseguia
me imaginar longe de Davi, do meu senhor e amor, mas
fosse como fosse não podia arriscar perdê-lo para sempre
por minha culpa, e eu faria exatamente o que foi pedido no
bilhete, independente de quem o tenha mandado, visto que
quem o fez não brincou quando avisou Elisa.
Não demorou e o céu virou um breu completo, a
noite caiu e junto com ela as gotas de chuva passaram a
cair pesadas e insistentes, mas por sorte, eu estava bem
próxima de casa quando ela realmente engrossou. Havia
uma angústia, um aperto em meu coração e um nó
sufocante na garganta que só seria desfeito quando
finalmente eu contasse toda a verdade para Davi, mas no
momento isso era impossível, antes eu tinha que descobrir
o autor dos bilhetes e para isso, eu teria que ser muito forte
para me afastar dele.
Maldita, Rew, sua maldita!
Algo me dizia que ela era a responsável, e seu
nome martelava em minha mente sem parar enquanto meu
coração não voltava ao normal, eu estava tremendo, com
medo, insegura.
— Desgraçada! — gritei de ódio, Rew não saía da
minha mente e nem a ideia de ter sido ela a assassina de
Elisa e não nenhuma facção.
Quanto mais pensava em Rew, mais ódio me dava,
mais cega eu ficava, minha vontade era de voltar no
Palácio e estrangulá-la com minhas mãos em plena
reunião na frente de todos.
— Droga, droga! — Estava completamente sem
norte, mas uma coisa eu sabia, não colocaria a vida do
homem que amo em risco e eu já sabia quais seriam meus
próximos passos, e decidi que seriam as últimas lágrimas
que eu derrubaria aquela noite.
Assim que cheguei segura em casa, primeira coisa
que fiz foi desligar meu celular, não tinha cabeça para falar
com Davi naquele momento, e eu tinha certeza de que pelo
menos por mensagem ele tentaria entrar em contato.
Depois de dar um pouco de carinho para meu gato e
passar apressada pela cozinha para comer um pedaço de
bolo de laranja com um copo de achocolatado, fui direto
para meu quarto tomar um banho, e foi embaixo do
chuveiro que deixei minha fraqueza se esvair em lágrimas,
pois eu deixaria que as águas a levassem para longe de
mim, pois tudo que eu não precisava era ficar me
ressentindo, eu tinha que agir e não chorar, porém, naquele
momento me sentia tão sozinha, do tamanho de uma
formiguinha, tendo em vista o tamanho da leoa ou leão que
me espreitava.
Ainda no meu quarto arrumei uma mala e duas
necessaire, me enfiei em um jeans rasgado, uma regata
branca e um casaquinho preto e fui ao quarto do meu pai
vê-lo, mas cheguei tarde, minha mãe estava arrumando o
travesseiro com cuidado embaixo da cabeça dele que já
dormia.
Me aproximei e dei um beijo em sua testa, dizendo:
— Eu amo você, meu amor, dorme com os anjos,
papai. — Respirei fundo e segurei o choro, na verdade, eu
o engoli.
— Andou chorando, filha? — questionou minha mãe
fitando-me enquanto terminava de arrumar o cobertor em
cima do meu pai.
— Chorando? Eu? Claro que não, mãe. — Me virei e
fui em direção a porta do quarto e ela veio atrás.
— Eu te conheço muito bem, Donna. — Bateu os
olhos em minha mala e falou:
— Mal chegou e já vai sair de novo? Que mala é
essa? — questionou assustada.
— É mãe, são só algumas peças de roupa para
levar para casa do Davi, é muito ruim não ter calcinhas
limpas para usar lá, entende? — Sorri envergonhada,
abraçando-a.
— Ah, eu entendo sim, meu amor, cheguei a me
assustar por um momento.
— Olha, estou querendo fazer uma surpresa para o
Davi, então, se ele me ligar ou vir até aqui, diga que fui em
uma farmácia.
Ela estreitou o olhar e indagou:
— Está tudo bem mesmo, filha?
— Sim, claro que está, é só uma mentirinha que terá
que dizer a ele.
— Como da outra vez?
— É mãe, consegue fazer isso?
Ela balançou a cabeça incerta, e eu sabia o quanto
lhe custava mentir para alguém, ela odiava isso.
— Não é nada agradável mentir para aquele
homem, cara a cara então nem se fala.
Ladeei seus ombros com minhas mãos e implorei,
fitando-a:
— Só mais essa vez, mãe. É importante, quero
surpreendê-lo. Além do mais, duvido muito que ele venha
até aqui, deve estar exausto, no máximo ele vai ligar.
— Está bem, meu amor — respondeu com um meio
sorriso.
Eu tinha uma escolha a fazer, já havia feito na
verdade e não havia nada nem ninguém que fosse me
fazer voltar atrás, pois jamais permitirei que façam
escolhas por mim.
No carro da minha mãe, fechei os olhos, respirei
fundo acalmando minha mente e dei a partida.
Não havia nada diferente para ser feito e assim
passei pelo carro dos seguranças de Davi sem levantar a
suspeita deles, tendo em vista que meu carro não saiu da
casa, e sim, de minha mãe.
LXXIII
Perdi contato com a Donna depois que ela saiu do
TJ, mandei mensagens, liguei e nada dela responder.
Porra, Donatella, onde se meteu?
Falei com dona Helena e a mesma me disse que a
filha havia passado em casa, mas que havia saído
novamente, meus seguranças me garantiram que o carro
da Donna não saiu mais da casa dos Villas Boas e que o
único veículo que passou por eles foi da mãe dela, então,
supus que Donna os havia enganado.
Otários!
Informações desencontradas, alguma coisa estava
errada.
Era para ter sido a última reunião para decidirmos o
futuro do Medeiros, mas com a cabeça a mil e os nervos à
flor da pele, não pude me concentrar no processo e acabou
que mais um dia não chegamos a um denominador
comum, pois meu voto seria o de minerva, iria desempatar
e decidir o futuro do Juiz mais sujo que tive o desprazer de
conhecer, e com isso, todo a presteza e esmero que
sempre tive o prazer de cultivar em meu trabalho ficaram
em segundo plano.
O fato de Donna ter passado mal durante o período
da manhã me deixou cismado o dia todo, e mesmo ela me
garantindo que uma gravidez estava descartada, senti que
ela estava me escondendo algo, e manter o celular
desligado só reforçava isso, deixando-me profundamente
irritado, não suporto a ideia de perder o comando sobre
nada que faz parte da minha vida, não gosto que nada saia
da normalidade, por mais ínfima que seja a situação.
Entrei em casa pisando alto, perder o controle sobre
os passos de Donna me deixou soltando fogo pelas ventas,
e enquanto voltávamos para casa, pedi a Jonas para
substituir os incompetentes que estavam responsáveis de
fazer a segurança dela, já que ela saiu de casa e eles não
sabiam de seu paradeiro.
Havia um silêncio perturbador dentro de casa, mas
do que de costume, caminhei pela sala tirando o paletó do
corpo e indo em direção a cozinha.
— Vera! — chamei uma, duas, três vezes sem obter
nenhum tipo de resposta, conferi as horas em meu pulso e
notei que já passava das nove, então entendi o motivo do
silêncio, Vera já tinha ido embora.
Eu estava faminto, então cheguei próximo da ilha
central da cozinha e constatei que ela havia deixado
comida pronta no fogão e o cheiro estava muito bom.
Preciso de um banho. Pensei indo em direção as
escadarias, com o paletó pendurado no ombro, todavia,
quando pisei no primeiro degrau havia pétalas de rosas
brancas espalhadas formando um caminho que ao seguir
me levou direto para o quarto de castigo de Donna, e sem
pensar duas vezes abri a porta ansioso com a pulsação
acelerando, e a imagem que se desenhou para mim
parecia mais um sonho que realidade. Última vez que tive
Donna povoando meus sonhos, eu a fiz sangrar. Não, ali
naquele momento, não era um sonho.
Expirei o ar preso nos pulmões e sorri indulgente,
esquecendo-me de todo sentimento de fúria que me
consumia há minutos atrás. Levei as mãos nos bolsos da
calça preta social e a observei com muito escrutínio,
constatando que, Donna estaria nua se não fosse pelo
lenço de seda preto que adornava seu pescoço, contudo,
não foi o adorno que chamou minha atenção, e sim, sua
pose de obediência no centro do quarto, e eu nem havia
ensinado isso a ela ainda, e mesmo assim, estava de
joelhos, com as pernas abertas em V, demonstrando
confiança e segurança, cabeça baixa em respeito ao seu
senhor, e por fim, mãos em cima dos joelhos, com as
palmas viradas para cima demostrando sua completa
entrega. Os cabelos volumosos e escuros cobriam seu
rosto, e ela não ousou dizer nenhuma palavra e nem
levantar sua cabeça para me olhar.
Tal cena me fez morder o lábio inferior e sorrir em
júbilo, não havia nada mais excitante que uma mulher nua
e submissa à sua espera em posição de obediência, ao
menos não para um homem que gosta do controle e do
poder, e naquele momento, eu me sentia mais viril que
nunca.
Donna estava se autodescobrindo e caminhando a
passos rápidos demais para meus caprichos, parecia
determinada a ser castigada, visto que provocou minha irá
conscientemente com seu sumiço.
Ela sabia o que queria, e se queria, iria ter.
Dei alguns passos em sua direção e parei em sua
frente, curvei-me e a toquei, retirando os fios grossos de
cabelos de seu rosto e levantei seu pescoço, encarando
seus enormes olhos escuros questionando-a em um tom
seco:
— O que significa isso?
Seus olhos brilharam ao encontro dos meus, e de
alguma maneira, só consegui ver verdades nas palavras
que ela balbuciou em seus lábios carnudos com um leve
brilho pintados de forma sedutora:
— Estou pronta, meu senhor! — respondeu-me com
um tom aveludado e uma confiança que arrepiou até minha
alma.
Havia sinceridade nas palavras, uma naturalidade
em sua fala e pose que me fizeram realmente acreditar que
estivesse mesmo pronta, então, estendi minha mão em sua
direção e a ajudei se levantar.
Donna despertou o Dom que havia em mim, eu
estava nervosamente excitado, mas engoli a saliva que se
juntou em minha boca e a encarei, dizendo:
— Me deixou aflito o dia todo. Por que desligou o
celular? — questionei áspero.
— Queria te fazer uma surpresa.
— Uma surpresa? — Fechei os olhos e quebrei o
pescoço para o lado respirando forte. — Me deixando
irritado bem ao seu estilo?
Donna tocou em minha gravata e passou a desfazer
o nó afrouxando-o com destreza e naturalidade, abriu o
primeiro botão da minha camisa branca, e em seguida,
desabotoou os punhos das mangas, tudo isso enquanto
falava em um tom manso:
— Sim, queria surpreendê-lo e não seria eu se não
fizesse isso do meu jeito, seria, senhor? — Sorriu sem
mostrar os dentes e sem me olhar.
— Não, não seria — concordei, com um meio
sorriso. — E por acaso sua surpresa, inclui ser castigada?
Donna fechou os olhos, baixou a cabeça e
respondeu:
— Se eu merecer, que seja feito como é de sua
vontade, senhor.
Balancei a cabeça positivando e a questionei:
— Onde aprendeu a liturgia de obediência?
A forma com que fui recebido por Donna fazia parte
de gestos e posturas com as quais submissas experientes
esperam seus donos pacientemente ao chegarem em
casa.
— Estudei o livro que me deu, não foi para isso que
o entregou a mim, senhor?
— Sim — estava boquiaberto —, e fico feliz de saber
que andou fazendo a lição de casa, boa menina. — Levei
meu polegar em seus lábios e o contornei fazendo pressão.
— Posso mostrar, meu senhor? — questionou com
as mãos cruzadas na altura da barriga.
Franzi a testa, surpreso.
A espontaneidade que fluía em seus gestos e fala
fez um sorriso implícito brotar em meus lábios, eu estava
admirando e adorando sentir sua entrega em cada palavra
e movimento.
— Mostre-me! — respondi.
Era um sofisma da minha parte achar que Donna
estaria encenando tudo aquilo, pois anos e anos lidando
com mulheres obedientes, eu sabia perfeitamente distinguir
quando uma situação estava sendo forçada.
Dominar para mim nunca foi um fetiche, sempre foi
meu estilo de vida e nesse contexto existe uma hierarquia
onde me encontro no topo e também estão inseridas
algumas liturgias das quais jamais abriria mão e iria inseri-
las na minha relação com Donna passo a passo, mas pelo
visto, ela resolveu me surpreender.
Donna empurrou-me com delicadeza, fazendo-me
andar de fasto e sentar na poltrona que ficava próxima a
janela, então colocou-se de joelhos aos meus pés e um a
um retirou os sapatos e as meias deles, questionando-me
com naturalidade:
— Como foi a reunião, chegaram a um consenso,
senhor?
Suspirei audível, explicando:
— Não, eu não estava com cabeça para votar em
nada hoje, minha preocupação era com você.
Donna se sentou em cima de seus joelhos no meio
das minhas pernas e enlaçou uma delas enquanto deitou
sua cabeça em minha coxa e me levando ao delírio ao
dizer:
— Me perdoe, meu senhor, eu não tive a intenção
de preocupá-lo.
Pela primeira vez me vi nervoso perante uma
mulher, além da forte excitação que crescia descontrolável
por tê-la nua e entregue daquela forma, existia uma
necessidade em protegê-la que eu não sabia de onde
estava vindo, não era a necessidade de um Dom em
proteger sua submissa, era a necessidade do Davi em
proteger a Donatella, mas por quê?
Passei minhas mãos em seus cabelos levemente
úmidos cheirando a flor de cerejeira que tanto amava e
afaguei dando-lhe carinho, pois um dono tem sempre que
saber dosar a força das mãos e saber discernir o momento.
E, naquele momento, aquelas palavras de Donna
soaram com uma verdade incrustrada nelas, eu sabia
reconhecer quando a entrega e o sofrimento de uma
submissa era verdadeiro, e embora, eu soubesse que
Donna estava aos meus pés por um desejo próprio, cujo
reprimiu a todo custo, eu sentia que tinha um gatilho, algo
maior que seu desejo a expulsando de seu casulo de forma
brutal, e como dizia o sábio teólogo Rubem Alves “Não
haverá borboletas se a vida não passar por longas e
silenciosas metamorfoses.”
Será mesmo que você está pronta, Donna? Pensei
passeando com minha mão explorando cada centímetro ao
longo de seu corpo curvilíneo nu que se estendia tentador
entre minhas pernas.
— Você é tão linda, Donatella!
Engana-se quem pensa que existe fraqueza em uma
submissa, pois ali estava uma mulher determinada e com
uma personalidade forte incontestável, e é justamente isso
que me fazia sentir muito tesão em vê-la aos meus pés
daquela forma, pois a graça está em receber o poder e
dominar alguém que não se deixa ludibriar nem controlar
tão fácil.
Donna finalmente estava se entregando a mim de
alma, corpo e coração de uma forma plena e sublime, e foi
ali naquele momento, com ela me pedindo perdão de forma
tão espontânea que me senti seu dono de verdade, pois
consegui transformar uma mulher impetuosa em uma
capaz de sentir dor ao me desapontar, e vendo-a, entregue
daquela forma, eu tive a certeza que Donna faria qualquer
coisa que eu pedisse sem pensar, só obedecer como uma
submissa natural é capaz de fazer.
— Preciso de um banho — falei afastando-a de mim
e me levantando, deixando-a no chão, não queria que
percebesse o quanto seus gestos haviam mexido comigo.
— Preparei o seu jantar, senhor. — Travei quando
soube que havia sido ela a preparar a comida e não Vera.
— Então desça e arrume a mesa, já desço para
jantarmos.
Donna se levantou e pegou um hobby branco que
estava pendurado em um dos ganchos no painel de
instrumentos de suplício ao lado das algemas. Aquele
painel deveria lhe causar medo, repulsa, mas ao invés
disso, ela pendurou seu hobby lá junto com os demais
aparatos, e confesso que gargalhei por dentro quando vi
tamanha ingenuidade, ou não.
— Coloque o hobby onde tirou, quero você nua lá
embaixo — ordenei.
— Sim, senhor! — Colocou a peça de volta no lugar
esticando-se na ponta dos pés para alcançar o gancho, e
puta merda, como era gostosa, tive que me segurar para
não a prensar contra a parede e fodê-la, mas ao invés de
seguir as ordens do meu pau, eu simplesmente avisei:
— Hoje vamos descobrir se você está mesmo pronta
para esse quarto ou não. Se prepara para jogar com força.
Donna se virou em minha direção, me olhou com
aquele olhar travesso, respondendo-me debochada:
— Se não for com força nem quero, meu senhor!
Uma coisa era fato, mesmo se submetendo a mim,
ela não deixava de ser voluptuosamente afrontosa, e eu
adorava aquilo, me excitava, me dava água na boca,
despertando o caçador que existia dentro mim. Estreitei
meu olhar e caminhei lentamente em direção a ela abrindo
os botões da minha camisa e tirando-a de dentro do cós da
calça em um tranco forte. Donna ficou pequena diante de
mim enquanto caminhava de fasto rumo a parede mais
próxima, era o caçador encurralando a caça, por
conseguinte, ela acabou que se esbarrou no recamier
branco, estilo greco-romana alongada e elegante com
detalhes em vermelho revestida de metais e ornamentada
com anjos, primeira peça que coloquei naquele quarto.
Estendi meu braço e segurei o braço esquerdo dela com
minha mão direita, apertando-a com força no momento em
que tropeçou no móvel, então a trouxe para junto do meu
corpo e falei sem soltá-la, com a boca a centímetros do seu
ouvido:
— Mudei de ideia. Sua afronta me deu um tesão
surreal, vamos começar a jogar agora mesmo. — Encostei
meus lábios em seu lóbulo e aspirei seu cheiro excitante,
concluindo. —Vamos ver se você está pronta como diz,
senhorita Donatella. — Soltei-a e bati com a mão na
espreguiçadeira dizendo:
— Suba aqui, faça isso lentamente, ajoelhe-se e
mantenha suas mãos apoiadas no encosto, a partir de
agora você só abre essa boca gostosa e desaforada
quando eu te fizer alguma pergunta, entendeu? Não
permitirei questionar uma ordem ou comando meu, ficou
claro?
Donna olhou-me de forma dúbia e respondeu em um
tom gostoso, quase um sussurro:
— Entendi, senhor!
— Ótimo! Seu castigo começa agora.
LXXIV
A luz do quarto estava ténue, Donna espalhou e
acendeu algumas velas, certamente lembrou-se das vezes
que esteve aqui em seu quarto da disciplina.
Havia uma energia pulsante e extremamente sexual
no ar, um desejo louco e desenfreado, mas não tocaria
nela envolto em desejos sexuais.
Ela caminhou linda e nua até a cadeira e subiu nela
exatamente como mandei, primeiro curvou-se em direção
ao apoio usando sua mão esquerda para segurar o encosto
ao mesmo tempo que apoiou o joelho direito no assento da
cadeira, e que imagem infernal foi aquela, Donna de quatro
na cadeira com as mãos segurando no encosto e cabeça
baixa me deixou hipnotizado, naquele momento, eu era o
dominador e ela a submissa. Doggy style me enlouquecia,
pois, a visão de uma mulher por esse ângulo é
extremamente excitante.
Os lábios de sua boceta eram lindos e salientes e
ver sua vulva e ânus completamente depilados fez meu
pau emitir um sinal de alerta, e a excitação circulou em
meu corpo de forma voraz, era tentação demais para ele.
Fui em sua direção e alisei seu traseiro e subi meus dedos
na curva de suas costas então voltei a deslizar para baixo
enfiando meu dedo do meio entre suas nádegas, descendo
até seus lábios, dizendo:
— Está lisinha para mim, que delícia! — Quando tirei
minha mão do meio de sua bunda, Donna se contorceu
arrebitando sua bunda para mim e soltou um chio de seus
lábios que julguei ser um gemido de prazer, dessa forma,
continuei alisando seus glúteos e de surpresa ergui meu
braço e soltei a mão dando-lhe um tapa usando apenas a
palma com força moderada, fazendo com que ela sentisse
apenas uma leve ardência, a intensão era deixá-la ligada e
excitada.
— Aí! — Donna soltou numa espécie de murmúrio.
Sorri confessando:
— Não estava nos meus planos castigá-la hoje,
fosse lá pelo que fosse, mas você conseguiu mudar isso
quando resolveu me tirar do sério sumindo da maneira que
sumiu sem me dar notícias, me deixando aflito.
— Eu sinto muito, senhor! —disse Donna.
Caminhei rumo ao painel dos apetrechos que havia
colocado no quarto de disciplina dias antes. Donna estava
virada para mim e o painel, e viu com clareza o momento
em que passei meus dedos pelos objetos ali dispostos,
escolhendo um, e assim deixei-os passear pelos chicotes,
floggers, pela cane, mas pensei logo que uma punição
extrema não era o caso naquele momento, desse modo, foi
na palmatória que toquei com um pouco mais de afinco,
então a tirei do painel e voltei em direção a Donna. Deixei
meus dedos sentirem a maciez da pele morena de seus
glúteos que foi se arrepiando ao meu toque sutil, subindo
pelas costas, acompanhando as curvas perfeitas até
chegar no pescoço, e desfiz o nó do lenço de seda preto, o
mesmo do nosso primeiro encontro e o tirei de seu corpo,
perguntando com mansidão:
— Você sabe como me provocar, não é?
Donna nada respondeu, então grudei meus dedos
em seus cabelos e forcei seu pescoço pra atrás insistindo e
dizendo ao pé de seu ouvido com um tom de voz deleitoso,
porém, mais ríspido, cheio de água na boca:
— Não é, Donatella?
Sufoquei seus lábios com os meus no exato
momento em que ela sorriu, respondendo-me com um
“Sim, Senhor” provocativo. Minha língua deslizou para
dentro de sua boca e se deliciou, degustando sua boca
tesuda ao tomar para mim um beijo lascivo de forma
ardente e impetuosa.
Donna corou e o corpo ferveu de desejo, levei minha
mão no meio de suas coxas e passei o dedo em sua
boceta conferindo a umidade nela. Era assim que eu a
queria, quente, molhada e receptiva.
— Você me provoca de um jeito bom, me deixa
louco.
Libertei-a de meus dedos e passei a provocá-la com
a palmatória, alisando-a primeiramente nas costas,
descendo para os glúteos, e ali, alisei-os mais
demoradamente criando assim em Donna uma tensão e
excitação visível a mim, pois sua pele se encheu de micros
pontinhos de arrepios, um frisson delicioso, e que chamo
de orgasmo da pele.
Rodeei-a caminhando lentamente envolta da
recamier, tocando-a com a palmatória, e enquanto fazia
isso, fui manipulando a conversa e questionando-a:
— Posso bater em você, Donatella? Você acha que
merece apanhar hoje?
— Sim... Acho sim, meu senhor! — respondeu-me
sem titubear dessa vez.
— Você é muito corajosa, gosto disso em você,
gosto muito!
— Que bom, senhor! — O som saiu tímido de seus
lábios.
Eu sabia que ela estava nervosa, esperando que eu
a açoitasse a qualquer momento, e isso criava uma
expectativa tamanha que a deixava com os músculos de
seu corpo tensos, e eu sentia essa tensão quando tocava
em seu corpo.
— Como se sente? Quero saber!
— Estou bem, senhor.
— Está nervosa? Com medo? Diga.
Instiguei e sua voz saiu trêmula ao responder:
— Ansiosa talvez, com medo não, na verdade não
sei direito, senhor. — Donna parecia ter aprendido a usar o
senhor, estava bem focada dessa vez.
— Muito bem, entendi — sorri e me posicionei bem
na sua frente. — Está vendo esse objeto na minha mão,
esse que você está sentindo tocar sua pele?
— Estou vendo, meu senhor.
— Se chama palmatória — mostrei o objeto a ela —,
trata-se de um pedaço longo e achatado de madeira, essa
aqui é revestida de couro, o impacto é mais excitante e
menos doloroso. — Toquei com a palmatória em seus
mamilos, alisando ambos os seios, e em seguida, passei
meus dedos sentindo sua reação imediata, os bicos
ficaram deliciosamente rígidos e sensíveis crescendo em
meus dedos e me enchendo de tesão.
— Como sabe disso, senhor? — ousou questionar-
me.
— Como sei o quê?
— Como sabe que é menos doloroso, meu senhor?
Sorri balançando a cabeça, pois novamente senti
um tom de falta de decoro, pois arrastava o “r” de forma
provocativa.
— Tenho anos de prática usando isso, e acredite, eu
sei diferenciar um gemido quando uso uma palmatória de
madeira crua, uma revestida de vinil e uma de couro, mas,
descobri que dor é algo muito subjetivo, Donna, e o que dói
muito em uma, pode não doer nada em outras.
Passei a palmatória nas solas dos seus pés,
primeiro em um e, em seguida, no esquerdo.
Senti a tensão em seu corpo que se curvou e ela
conteve o riso.
— Não vai achar graça se eu usar isso na sola dos
seus pés, acredite.
— Senhor, eu ...
— Xiii! — tapei seus lábios impedindo que falasse.
— Quietinha, já disse que você não fala se eu não
perguntar.
Voltei para suas costas e passei a alisar suas
nádegas com as pontas dos dedos, esquentando-as
novamente, e quando fiz isso, vi que Donna apertou seus
dedos no assento da cadeira longa e certamente que
fechou os olhos, então questionei para estimular ainda a
tensão em seus músculos e mente:
— Está preparada? Posso começar?
Donna soltou o ar de seus pulmões e respondeu
segura:
— Estou, senhor!
Era incrível a forma com que encarava a situação,
outras mulheres costumam hesitar em suas respostas, mas
Donna parecia saber o que queria.
— Então diga-me sua palavra de segurança, Donna.
— Me ame!
Aquelas palavras provocaram um arrepio em minha
coluna e quando saíram presas de seus lábios, deixei meu
braço descer e uma primeira lapada com a palmatória
produziu um som sólido na pele lisa e arrepiada.
Donna se curvou e gemeu em um grito quase hilário,
dizendo um palavrão:
— Porra! Isso ardeee!
— É para arder mesmo!
— Tanto assim?
— Tanto assim o quê, Donna? — ralhei.
— Tanto assim, senhor?
— Isso não foi nada, é só um prelúdio.
— Porque não foi na sua bunda!
— Cale-se! — ordenei.
Donna baixou a cabeça arfando, se preparando para
uma seguinte palmada.
— Não gosto de marcas — alisei a pele com um
leve tom avermelhado—, nem me sinto feliz em te provocar
dor como se fosse um sádico doente, mas sobre isso
falamos quando eu voltar.
— Aonde vai, senhor? — O tom de sua voz saiu
serena, como se estivesse se sentindo aliviada por
perceber que eu pararia por ali.
— Vou tomar um banho e você vai ficar aqui de
castigo nessa posição até que eu volte para jantarmos
juntos. Abra a boca! — ordenei e Donna atendeu, então
coloquei a palmatória em sua boca, presa em seus dentes
e falei:
— Espero que pense no motivo que a deixou aqui
de castigo e que não volte a se repetir, não suporto não
saber dos seus passos, e é para isso que servem seus
seguranças, os que você despistou sendo esperta demais.
Outra coisa, se romper a posição será punida novamente.
Donna fechou os olhos e abaixou a cabeça,
complacente.
—Teremos uma longa noite juntos, agora vou tomar
um banho, enquanto isso, medite sobre estar mesmo
pronta para se curvar diante de mim, entregando-se de
corpo e alma. Ah... Não irei vendá-la, quero que analise
todos os objetos pendurados no seu painel e espero que
ainda esteja com a palmatória onde deixei quando eu
voltar.
LXXV
Dez minutos, vinte, meia hora, uma hora, não sei
dizer ao certo, só sei que estar de quatro naquele sofá,
cadeira, sei lá o que, parecia uma eternidade incalculável.
O cheiro de couro novo da bendita palmatória impregnou
no meu nariz e eu juro que queria tirar aquela coisa da
minha boca. Nos primeiros minutos minha bunda ardia, e
tinha sido uma única palmada, fiquei a imaginar como
estaria agora se Davi tivesse mesmo me batido com essa
porcaria de objeto de suplício.
Meu corpo estremecia de ansiedade, medo e
excitação, eu estava nua, de joelhos numa espécie de divã,
de castigo, tendo que meditar e ruminar os motivos que me
levaram a estar naquela situação, e a esse modo, olhando
para o quarto que havia sido montado para mim, para ser
disciplinada, me vi derramando algumas lágrimas ácidas
envoltas num ódio tão grande de mim mesma e do que
estava disposta a fazer para afastar Davi de mim e assim
mantê-lo seguro. A angústia que me consumia eclodiu do
fundo da minha alma e um grito sufocado saiu da minha
boca, me fazendo morder forte à palmatória e tombar o
corpo de lado no móvel, me deitando e tentando segurar o
choro incontrolável que queria sair, e então, tive que
respirar fundo várias vezes.
Conte a ele, conte tudo a ele. Meu subconsciente
clamava.
Doía demais saber o que faria no final daquela noite,
doía imaginar o quando Davi sofreria e me odiaria sem
entender nada, mas eu não tinha outra escolha, iria doer,
mas era um bom motivo, eu não sabia com quem estava
lidando e como eu iria arriscar a vida do homem que eu
amava? Pensei muito em como seria a reação de Davi; e
todos os caminhos me levavam na mesma direção. Saber
de uma nova ameaça o afastaria de mim de qualquer jeito,
então não iria arriscar.
Quando por fim, Davi passou novamente pela porta,
encarou-me efusivamente e sorriu apenas com o olhar
quando me viu na mesma posição lúbrica que havia me
deixado. Ergui minha cabeça em direção a porta e o vi
lindo vestido de preto e cabelos úmidos penteados para
trás como da primeira vez que me castigou. Tinha nas
mãos um copo com o que julguei ser água e gelo.
Meu Deus... Que delícia! Pensei e me arrepiei toda
ao vê-lo vestido como dom.
Ele despertava em mim sentimentos para lá de
contraditórios, eu estava fascinada e ao mesmo tempo
aquela imagem me amedrontava.
Davi caminhou até mim, tirou a bendita palmatória
da minha boca e virou o copo com água e gelo nos meus
lábios, dizendo:
— Beba!
Eu estava mesmo precisando me hidratar e aquela
água desceu deliciosamente em minha garganta já seca.
— Obrigada, senhor!
— Por ter ficado como mandei, vou cobrir seu corpo
um pouco — disse e foi até o maldito painel; senti meu
corpo voltar a tremer por dentro, e então, ele pegou meu
hobby do gancho e veio até mim, me ajudou a descer da
cadeira e me vestiu com a peça branca que eu havia
trazido de casa. — Uma deusa, minha deusa Têmis.
Vamos comer?
Balancei a cabeça assentindo.
Davi voltou até o painel e retirou de lá minha coleira
de treinamento, a mesma que usei das outras vezes, e era
prata, protegida por camurça na parte de dentro, e
enquanto ele a colocava em mim, falou:
— Se continuar assim, logo estarei colocando uma
coleira de propriedade em você, que para mim se compara
a troca de alianças dos casais normais e teremos uma
linda cerimônia para marcar esse acontecimento.
— Uma cerimônia, senhor? — questionei curiosa. —
Como a cerimônia de um casamento?
— Sim, só que muito mais intima, e a meu ver mais
linda, simbolizando o comprometimento eterno.
— Elisa teve uma cerimônia dessas?
Davi terminou de fechar a coleira em meu pescoço e
se virou de costas para mim, respondendo-me:
— Não tivemos tempo — respondeu taciturno e se
virou em direção a porta, mandando:
— Vamos, ande logo, estou faminto.
Davi caminhou na minha frente o tempo todo, assim
tinha que ser, e eu o segui descendo as escadas até
chegarmos à cozinha, e lá, ele foi logo se sentando à mesa
e dizendo:
— Sirva-me algo para beber e comer. — Estava
gélido.
— Sim, meu senhor! — respondi e logo em seguida
caí na besteira de falar demais. — Perdoe-me ter tocado
naquele assunto, eu...
Davi levou seus dedos na testa e respondeu-me,
seco:
— Donna, eu estou com fome, só me sirva.
— Sim, senhor! Vou ser uma boa escrava! — falei
olhando para baixo, eu sabia que assim que tinha que ser,
jamais olhar para meu senhor nos olhos.
Davi bufou e retrucou desgostoso a bobagem que
falei:
— Donna, quero que entenda que não quero uma
escrava, quero uma boa submissa, só isso. Não gosto de
escravas porque não gosto de impor nada a ninguém,
gosto de conquistar a submissão de uma mulher, não a
obrigar tal ato. Compreendeu?
— Sim, compreendi, senhor!
— Ótimo!
Tapada, imbecil, sua idiota, por que diabos tinha que
ter tocado no nome da Elisa? Hein! Minha mente ralhava
enquanto no fogão esquentei nosso jantar, pois havia
esfriado um pouco devido à demora do banho dele.
Após colocar a mesa, abri uma garrafa de vinho e fui
servir a ele, que negou veemente a bebida, questionando-
me:
— Não devemos beber essa noite, lembra-se?
— Ah... É claro, havia me esquecido que o senhor
não bebe antes de...
Realmente me esqueci que quando estamos como
submissa e dom não deve haver nenhuma influência
alcoólica nem de drogas e remédios.
— Se preparou algo não alcoólico para bebermos,
sirva-me, e se não, traga-me água.
Por sorte, enquanto fiz o jantar, Vera preparou um
suco de laranja, dizendo ser o preferido do Davi, então eu o
servi com o suco e em seguida o jantar.
Quando coloquei seu prato ele questionou:
— Como sabia?
— Vera me deu uma ajudinha, perguntei a ela o que
fazer para te agradar numa noite chuvosa e ela me disse
que um bom caldo ou uma sopa de feijão com pão italiano
te agradava bastante, então me lembrei da sopa de feijão
mexicana que minha mãe prepara.
— Excelente! O cheiro está ótimo.
Fiquei parada ao seu lado em silêncio, esperando
que me dissesse o que fazer, então quando ele me disse:
— Sente-se. — Me sentei no chão com ambas as
pernas flexionadas para o lado esquerdo, pois no livro que
recebi de Davi, aprendi que uma submissa não senta à
mesa com seu dono a menos que ele diga explicitamente
que você pode.
Davi me olhou e sorriu satisfeito, se o sorriso dele já
era maravilhoso, imagina quando vinha acompanhado de
brilho em seu olhar.
— Está fome? — questionou-me, assim que
experimentou a sopa.
— Sim, senhor! — suspirei e sorri de cabeça baixa,
eu queria dizer o quanto estava com fome e o cheiro bom
estava me matando.
Davi se levantou, e no armário pegou uma tigela de
servir sopa, por algum motivo ele não pegou o prato que
deixei para mim em cima da mesa, e então, apoiado a um
pano de copa ele entregou a mim a sopa de forma gentil.
Não, ele não me convidou para sentar à mesa com
ele, apenas disse:
— Fique à vontade durante o jantar, relaxa.
— Posso falar?
— Sim.
— E me sentar com as pernas cruzadas?
Davi balançou a cabeça sorrindo e dizendo:
— Sente-se como quiser, Donna, o fato de ter se
sentado no chão e não a mesa já teve sua dose de
encanto.
Me sentar ao chão para comer não era nenhum
sacrifício, eu adorava e fazia isso sempre que possível na
sala de casa, então cruzei minhas pernas em meia posição
de lotus e comecei a comer junto dele.
— Achei que fosse me castigar hoje, eu jurava que
de hoje ia ficar com o corpo todo dolorido.
Davi olhou-me de cima para baixo e questionou em
tom de espanto:
— Você não foi castigada hoje? O que esperava?
— Não sei, que fosse ser espancada pela tal de
cane.
— Primeiramente, você já foi castigada, vai me dizer
que se sentiu confortável ao passar uma hora de quatro
naquela posição com uma palmatória na boca?
É... Bem, não passei todo esse tempo.
— Não! Realmente aquilo foi horrível, não via a hora
de você abrir a porta, acho até que preferiria a tal da vara.
— Segundo, você não está preparada para encarar
uma cane, tive submissas que na escala de 0 a 10 em dor
deram 20 para ela, sua dor é seca, não arde, é muito
intensa e extremamente dolorosa. Não creio que esteja
pronta para encarar esse tipo de castigo, ainda que eu te
ache uma mulher muito corajosa.
— Então, hoje o castigo acabou?
Davi estreitou os olhos, questionando-me:
— Você quer mais?
Dei de ombros e falei:
— Bom, nem chegou a doer.
Davi gargalhou prazeroso, eu amava vê-lo
gargalhando daquele jeito, então quando parou de rir disse-
me:
— Donna, Donna, a dor existe na nossa relação
porque preciso te disciplinar, contudo, dominação não se
trata só de dor, muito pelo contrário, ainda que muitos
castigos e práticas envolvam a dor, nem sempre ela vai
estar presente, até porque, como já lhe expliquei várias
vezes, não sou um sádico em busca do prazer através da
dor de outrem. Veja bem, meu foco não é e nem nunca foi
te causar dor, nem tão pouco baseado apenas em prazer
sexual, do contrário eu seria um sádico ou um fetichista,
meu foco é único e exclusivo em sua obediência, na
dominação e submissão que tem seu Norte justamente
nisso que te falei, obediência e hierarquia, e nesse
universo, nesse estilo de vida existe uma enorme gama de
ações que não demanda nenhum tipo de dor e nem sexo,
apenas respeito, confiança e subserviência. Quer exemplos
do que estou te falando?
Assenti balançando a cabeça.
— Sua submissão voluntária de hoje, seus gestos,
fala, nada me deu mais prazer que ter sido recebido por
você em posição de obediência, nada me deu mais prazer
do que a ver se sentar ao chão para jantar comigo. O fato
de você reconhecer seu papel na nossa relação, no jogo,
me deixa louco de prazer, isso me dá prazer, não sua dor.
Sua humildade me agrada mais que qualquer gemido de
dor. Ser submissa virou um fetiche, Donna, está na moda,
mas servir de verdade a um Dom, ninguém quer, porque
não vem de dentro, e sim, de conveniências exteriores.
Entenda, para uma submissa de verdade, ser subjugada é
uma necessidade, ela quer ser mandada, gosta, e por isso
simplesmente abdica de seu livre arbítrio para ser usada
pelo dono e isso só se alcança em plenitude quando se
abre mão de si mesma em favor do seu Dom.
— Não pretendo abrir mão de mim mesma fora de
quatro paredes, já falei isso.
— Olha ao seu redor, estamos ou não estamos entre
paredes?
— Sim, senhor, estamos.
— Então, é disso que estou falando, não quero e
não pretendo diminuí-la fora dessas paredes, mas
enquanto estivermos aqui, eu sou seu dono — suspirou. —
Agora vamos comer em paz antes que tenhamos que
esquentar novamente.
Davi e eu jantamos e conversamos muito à vontade
sobre muitas coisas relacionadas a esse universo chamado
BDSM, protocolos, normas, regras, cerimônias e rituais e
muitas, muitas práticas das quais fiquei curiosa. Contou-me
sobre livros sobre o tema, como A vênus das peles até me
prometeu um livro que segundo ele retrata sem pudores
uma verdadeira escrava, A história de O, que conta a
história de uma mulher que descobre que submissão e
prazer andam de mãos dadas.
— É uma história muito forte, não é qualquer mulher
que tem estômago para ler — disse-me ele. — BDSM não
é lugar para se escorar em zonas de conforto, Donna,
ninguém chega no céu sem passar antes pelo inferno, falo
das delícias liberadas em seu corpo como endorfinas e
adrenalina, você sabe bem.
Quando dei por mim estava com minha tigela de
sopa vazia, e eu ficaria ali ouvindo-o à noite toda, mas ele
me pediu para subir e me preparar para jogar com ele,
questionando-me:
— Está pronta para deixar sua zona de conforto?
— Vai me fazer sangrar? — questionei desejando
muito sangrar por fora, pois por dentro eu já estava
sangrando e depois da noite de hoje, eu precisava muito
ter onde me escorar, não seria fácil, mas era necessário.
— Chorar talvez, sangrar jamais — piscou para mim
e me deixou sozinha lá embaixo. — Vou te esperar no
quarto, você tem cinco minutos para estar pronta para mim.
— Isso mal me dá tempo de escovar os dentes...
Senhor!
Passei a mão em meu pescoço e só então dei-me
conta que usava uma coleira, então ri e chorei ao mesmo
tempo subindo para o andar de cima, torcendo que Davi
me desse motivos para deixá-lo.
LXXVI
“Você nunca mais vai ser a mesma.” A voz da
Doutora Rew reverberou em minha mente e nunca achei
que fosse concordar com ela, visto que eu não era mais a
mesma.
Parada na frente da porta do quarto, estendi minha
mão e toquei na maçaneta, baixei a cabeça e suspirei
tentando buscar forças para prosseguir, pois assim que eu
a abrisse estaria entrando na minha nova zona de conforto,
uma nova Donatella estaria passando por ela, e não teria
mais volta, não estava nascendo uma Donatella mais fraca,
muito pelo contrário, nascia uma mais forte ainda, pois não
foi nada fácil transcender e sair do meu casulo para
finalmente me tornar uma linda borboleta, e eu não
permitiria ter minhas asas podadas, não agora que poderia,
enfim, alçar grandes voos. Confesso que estive oscilando
entre esses dois mundos, o de uma vanilla e o de
submissa, contudo, tive minha verdadeira natureza aflorada
por Davi, não foi uma transição fácil, doeu e doeu muito, e
agora tenho plena consciência de que jamais voltaria a ser
a mesma de antes, nem que quisesse, ao menos no âmbito
sexual.
Me sentia plena e orgulhosa da mulher que me
tornei, forte, determinada e segura. Eu sabia o queria, e iria
até o fim.
Estendi minhas asas, abri a porta e dei um passo à
frente, entrando para o mundo que escolhi viver de agora
em diante, e assim que a porta se fechou atrás de mim, a
velha Donatella ficou lá fora.
Meus olhos varreram o quarto a procura dele, do
meu homem, do meu dono e senhor. Davi estava
encostado próximo da janela e observava a chuva cair,
estava concentrado, em sua eterna postura de dominador.
Assim como quando tudo começou, ele ainda
exalava poder.
Estava com as mãos enfiadas nos bolsos da calça, e
quando o vi, lindo, todo de preto, forte, seguro de si,
esperando por mim, tive a certeza de que pertencia a ele
mais do que ele podia imaginar, pois me ganhou por sua
capacidade plena em seduzir e conduzir todo nosso
relacionamento, e ninguém melhor para saber o poder de
um dominante do quem se submete a ele e lhe dá o devido
poder.
Caminhei lentamente até próximo a ele e parei em
sua frente dizendo:
— Estou aqui, senhor!
Davi sorriu lindamente mostrando-me todos os
dentes, às vezes ele me dava esse prazer, em seguida,
mordeu seu lábio inferior e tocou nos meus dizendo e me
fazendo manter contato visual:
— Têmis.
— Eu pertenço a você, senhor! — Nunca disse nada
tão verdadeiro a ele.
— Então curve-se diante de mim, Donatella —
ordenou.
Ao ouvir o comando absoluto, minha alma já estava
de joelhos há muito tempo, já estava preparada, então,
sem hesitar, baixei minha cabeça, curvei meu corpo e
dobrei meus joelhos caindo aos seus pés literalmente.
Repousei minhas nádegas na panturrilha, levando
meus braços para frente e com as palmas viradas para
fora. Me sentia plena e feliz por, enfim, ter conseguido
mostrar a ele todo meu respeito e amor, pois sem amor, eu
jamais teria conseguido me entregar a um Dom.
Davi estendeu sua mão enorme em minha direção e
colocou meu queixo todo em sua palma sutilmente, em
seguida, o ergueu fazendo-me olhá-lo, e ele era
simplesmente enorme e corpulento, senti-me uma
formiguinha indefesa, então disse-me:
— Finalmente venceu o seu casulo, está livre para
viver o seu melhor. — Levou sua mão direita próximo dos
meus lábios, e eu beijei em sinal de minha devoção e
submissão, e em seguida, enlacei sua perna e segurei em
seu calcanhar, apertando forte, e uma vontade louca de
pedir socorro a ele se aflorou, e nesse momento, uma
lágrima caiu sem permissão dos meus olhos, mas foi
imediatamente devorada pelo tecido da calça dele.
— Levante-se. — Segurou em meus cabelos e fez
um rabo de cavalo com os fios forçando-me a levantar e
disse:
— Vamos fortalecer suas asas.
Davi caminhou a passos lentos até a cadeira onde
passei uma hora de castigo, lá ele sentou e falou,
encarando-me:
— Venha aqui! — ordenou com a voz suave, mas
com a entonação imperativa, ríspida e seca, fazendo minha
alma se arrepiar, e eu simplesmente amava quando
mandava e não pedia.
Caminhei lentamente até ele, parei em sua frente e
ele foi logo levando seus dedos na fita branca de cetim que
prendia meu hobby e desfez o nó abrindo as partes da
única peça de roupa que me cobria, me fazendo sentir o ar
frio da noite chuvosa atingir minha pele nua, e em contraste
os dedos de Davi deslizaram e passearam leves por minha
barriga e alcançaram meus seios que intumesceram ao
contato quente e forte de seus dedos que primeiro acaricio-
os suavemente dizendo:
— Seus seios, são lindos! — Então apertou-os
fazendo uma pressão considerável, a ponto de me fazer
estremecer e gemer intrépida, mas logo a dor se
transformou em prazer assim que meu seio foi parar em
seus lábios e ele chupou e os lambeu logo em seguida,
deixando-me completamente aturdida e quente.
Meu corpo tremia, meu coração rufava, e meu
desejo só aumentava.
Davi tinha um poder surreal sobre mim, ele tocava
minha alma antes de tocar meu corpo e quando me tocava
não tinha mais como fugir, ele despertava em mim os
desejos de carne mais insanos. Eu tinha prazer em fazer
suas vontades, tinha prazer em dar prazer a ele.
Segurando-me firme pela cintura, ele explorou meu
corpo, lambendo-o e mordicando, estava se embebecendo
de mim, então suas mãos tocaram em meus ombros e
levaram com elas o tecido branco que ainda me cobria
parcialmente, deixando-me completamente nua.
— Tenho um presente para você —informou. — Não
era para te dar hoje, mas como você despertou um
interesse muito grande por bondage, e em especial, por
Strappado, vou fazer uma sessão com você. Pegue a caixa
— mandou, e dei dois passos para o lado e apanhei a
caixa de presente preta com uma fita de cetim branca, era
uma caixa grande, julguei ter uns 15 cm de profundidade.
— Seus presentes me dão medo, senhor!
— Vai gostar desse, embora não sabemos se irá
gostar da forma que usaremos.
— O que é? — questionei curiosa.
— Abra!
Puxei a fita branca e abri a tampa, de primeiro
momento vi um tecido, então toquei e senti a maciez do
toque acetinado da twill de seda pura e branca, era um
tecido encorpado e pesado com um brilho sutil, notei que
se tratava de uma seda nobre.
Sorri ao perceber que era um lenço.
— Um lenço? — questionei aturdida.
— Quase isso, tire-o da caixa — ordenou.
Então quando tirei o lenço da caixa, parecia que eu
estava puxando o próprio fio de seda do casulo, não
parava mais de sair seda de dentro da caixa, então notei
que não era um simples lenço, eram metros e mais metros
de tecido, só que bem mais estreito que um lenço, era
como se fosse uma corda só que muito mais nobre e bonito
visivelmente.
— Ainda quer jogar comigo? — questionou-me,
gentil.
— Muito, quero muito isso.
— Lembra que lhe disse que posso ser muito
perigoso com um lenço nas mãos?
— Sim, me recordo, foi no elevador senhor. — Sorri
ao me lembrar da cena.
Davi se levantou da cadeira e ficou cara a cara
comigo, levou sua mão direita em minha nunca e
novamente juntou meus cabelos em seus dedos e puxou-
me em sua direção questionando ao pé do meu ouvido:
— Você confia em mim, Donatella?
— Sim, meu senhor!
— Mesmo com uma fita dessas na mão? Sem saber
o que farei com ela?
— Sim.
— Eu posso querer passá-la em volta do seu
pescoço e te foder privando-a de ar, o que acha?
Um frio involuntário subiu e desceu em minha
espinha, engoli em seco, pensando em tal cena, então
falei:
— Confio em você, senhor.
Eu estava nervosa, confiava nele, mas ainda assim
sentia medo.
Senti seus dedos se apertarem ainda mais em meus
cabelos, então, fez-me ajoelhar novamente aos seus pés,
na frente do divã e em cima de toda a seda que estava no
chão, dizendo:
— Olha para abaixo, não me busque com os olhos.
Dessa vez apenas assenti com a cabeça e ele
puxou meu pescoço para trás dizendo duro:
— Quero respostas, quero sim, senhor e não,
senhor, compreendeu?
— Sim, senhor!
Deu-me um beijo.
Fiz como me mandou e fixei meus olhos em meus
joelhos, e assim ele saiu do meu campo de visão e não
ousei olhar, só escutava seus passos, e quando o senti
perto de mim novamente, ele se abaixou em minhas costas
e me vendou dizendo:
— Concentre-se apenas no meu toque e na minha
voz, consegue fazer isso, Donatella? — interrogou.
Mais que tanto me chama de Donatella, que ódio.
Pensei me sentindo a própria tartaruga ninja.
— Sim, senhor — respondi me concentrando e
sentindo seu toque, suas mãos percorrerem os sulcos das
minhas costas e ombros e descerem em direção aos meus
seios que foram torcidos, ambos, e eu quis gritar e dizer
um palavrão novamente, mas a sedução do momento não
me permitiu estragar tudo, pois notei que ele estava de
joelhos atrás de mim, e quando suas mãos desceram em
direção ao meu abdômen e deslizaram para o meio das
minhas coxas invadindo-me, esqueci-me de tudo. Seus
lábios tocavam em meu lóbulo e ele ia sussurrando
palavras, enquanto seus dedos invadiam minha vulva e
vagina.
— Vou amarrá-la com as mãos para trás usando o
lenço, está de acordo?
— Sim, estou, senhor!
— Sua palavra de segurança é me ame não deixe
de usá-la em momento algum se achar que estou
passando dos seus limites. Use-a se pressentir que irá
entrar em pânico, não espere isso acontecer,
compreendeu?
— Simm, senhor! — murmurei sentindo-me
esquentar.
Meu corpo estava explodindo à mercê da
intensidade das sensações, minha mente oscilava e tudo
que sabia dizer era, sim, senhor.
Davi estava me masturbando, me deixando molhada
e receptiva.
— Não vou amordaçá-la, não desta vez. — Cada
palavra sussurrada ao pé do meu ouvido era uma descarga
de eletricidade no meu corpo, era tesão demais, tentação
demais, tudo misturado ao seu maldito e delicioso toque, e
assim já estava mole em seus braços me remexendo ao
encontro de seus dedos.
— Você não vai gozar, não até eu disser que você
pode, entendeu? — Seu dedo focou em meu clitóris e eu
quis dizer, sim, seu filho de uma puta gostoso, mas disse
apenas:
— Não sei se consigo controlar.
Ele mordeu o lóbulo da minha orelha com força,
dizendo-me:
— Vou te ajudar a controlar.
De fato, a dor cortava a sensação deliciosa de
querer gozar, mas não durou um segundo e eu estava
enlouquecida em seus dedos novamente, que se
dedilhavam naquele maldito vai e vem torturante.
— Se sentir sede, me peça, se perceber que sua
circulação está lhe incomodando me diga, fui claro,
Donatella?
— Sim, senhorrr. — Estava mole, louca de vontade
de experimentar as sensações de como era ser amarrada.
Seus lábios chuparam minha orelha e eu entrei em
colapso, meu baixo ventre se contorceu em luxúria e
volúpia.
— Donna, preste bem atenção, se não estiver
confortável quando eu estiver amarrando-a, pare tudo
imediatamente, não pense em mim e me agradar em
nenhum momento, apenas em você e em sua segurança.
Diga sua palavra de segurança — exigiu.
— Me ame!
— Perfeito!
Puxou meu pescoço para trás e me beijou, e quando
me beijava de forma terna, minha mente oscilava
drasticamente, me deixando confusa sem saber diferençar
o certo do errado, e tudo me parecia muito certo e eu
queria mais e mais daquela sensação ardente que
reverberava loucamente em minha vagina e assim o jogo
era mais mental que físico.

Tirei a camisa do meu corpo e ajoelhei-me em suas


costas, e agora, Donna estava entregue em meus braços,
havia se entregado a mim de forma plena ao se ajoelhar
após uma ordem minha, e naquele momento me senti o
homem mais realizado de todos. Estava em êxtase
preparando-a para uma sessão de strappado e tinha que
deixá-la mais receptiva e excitada possível.
— Posso começar? — indaguei.
— Sim, senhor!
— Quer mesmo isso? — sussurrei ao pé de seu
ouvido com os dedos cravados em sua cintura.
— Sim, quero muito! — confirmou.
Deslizei meus lábios em seu pescoço, beijando-a e
mordendo-a enlouquecido de tesão ao ouvir sua resposta,
eu estava tentando controlar minha excitação por sentir
que Donna estava completamente mole entregando-se a
mim sem nenhuma resistência.
— Não vou usar cordas nessa sessão, vou usar a
seda que terá um toque mais sutil e menos intimidador na
sua pele, está bem?
Antes de imobilizá-la, passei a fita envolta de seu
pescoço e fui apertando lentamente até simular um
enforcamento, iria iniciá-la no breath play, jogo de
respiração, e assim, fui falando mansamente:
— Relaxa! Sinta o toque da seda, respira, respira,
Donna —estimulei-a.
Seu corpo se esticava nos meus braços em busca
de ar e Donna se remexia excitada, então puxei seu corpo
para trás e a encostei em meu peito nu e tirei a fita de seu
pescoço sentindo Donna puxar o ar com gana para dentro
de seus pulmões, então a deixei respirar enquanto
lentamente substitui a fita por minha mão esquerda e assim
falei:
— Mantenha sua respiração sincronizada a minha,
toque minha mão sempre que quiser que eu pare, seu
limite será respeitado. — Senti seu peito se encher em
busca de ar.
— Isso, respire profundamente, Donna e confie em
mim, vou contar até cinco — falei, e quando ela aspirou o
ar fortemente fui apertando seu pescoço e contando os
segundos enquanto a masturbava ao mesmo tempo,
privando-a de ar. Um, dois, três, quatro, cinco.
Donna se remexia em meus dedos, parecia estar
gostando da privação de ar, pois a asfixia sexual faz com
que o cérebro diminua o seu nível de oxigênio, causando
na pessoa uma sensação de prazer muito parecida com o
orgasmo e ao misturar com uma masturbação ou
penetração isso fico intenso demais.
— Está confortável? Posso continuar? — questionei-
a.
— Sim, estou bem, senhor.
Eu já conhecia o corpo de Donna bem o suficiente e
o prazer em dominá-la daquela forma era extremamente
excitante, a confiança que depositava em mim me deixava
ensandecido, e meu coração estava num descompasso
animal, controlar o ar que ela respirava numa sessão de
breath play me dá uma sensação de poder única. Eu sei
que está tudo sobre meu controle, como se estivesse
dirigindo perigosamente em velocidade alta.
Seu peito se enchia ganancioso atrás de partículas
de ar, Donna respirava com dificuldade e eu já havia
explicado tudo a ela minuciosamente enquanto
jantávamos, e ela simplesmente me implorou para ter uma
sessão dessas comigo e assim, estabelecemos os limites
consensuais durante o jantar e a única exigência de Donna
era de que eu não batesse em seu rosto com tapas.
Continuei asfixiando-a até que senti suas pernas
fraquejarem e ela se mexer inquieta em meus dedos e
tocar em minha mão desesperada.
Meu pau doía latejando cochando-a por trás, Donna
me fazia perder o prumo.
— Não goze, não goze! — falei afrouxando meus
dedos em volta de seu pescoço.
Donna sugou o ar para dentro de seus pulmões com
muita gana, suspirou e por fim, assentiu, e dessa forma,
esperei que se recuperasse, e só depois puxei um de seus
braços para trás e comecei o processo de imobilização
passando a fita de seda em seus braços e punhos e
prendendo-os para uma pequena suspensão em
strappado. Passei também em seu torso e dei a volta em
sua cintura bem abaixo dos seios, apertando a fita e
demarcando-os; Donna tinha belos seios fartos com os
mamilos rosados e lindos. Estavam rígidos e inchados
naquele momento.
Em todo esse processo não deixei de acariciá-la,
queria que se sentisse à vontade, amada e excitada, eu
fazia questão de manter meu corpo o mais próximo do
dela, abraçando-a a cada volta que dava com a fita em seu
corpo. Sussurrava em seus ouvidos, beijava seus ombros,
manipulando-a a meu bel-prazer, e como era prazeroso tê-
la tão entregue em minhas mãos, a confiança era algo que
não tinha preço para mim.
— Está confortável? Está comigo, Donna?
— Sim, estou bem, continue, continue... — dizia
excitada.
Deitei-a imobilizada em minhas coxas, ela estava
sem seus sentidos visuais, e assim, a aflição certamente a
faria buscar outras formas de entender o que se passava,
então peguei de dentro de uma caixinha os niplles que
havia dado a ela de presente em outra oportunidade e
passeei com eles pelo seu corpo, primeiro descendo pelo
pescoço e indo tocar seus seios apertados pela fita, e toda
sua pele sua arrepiou ao toque dos grampos de mamilos
que foram descendo e tocando sua barriga.
— O que é isso? O que é senhor? — questionou
aflita.
— Xii, calma, não é nada que você não conheça. —
Continuei estimulando seus sentidos enquanto provocava
sua pele com os grampos de metal.
Tirei-a de meu colo e a coloquei em pé, então voltei
a manusear a fita deixando tudo fluir enquanto a prendia no
gancho suspenso por uma corrente no teto e fui puxando a
fita, e consequentemente, os braços de Donna para trás,
deixando seu corpo curvado para frente e a bunda
empinada.
A visão da dominação e entrega é algo
incompreensível, a adrenalina não circula somente na
submissa, ela despeja descargas em meu corpo e isso
corre viciante em minhas veias.
Dizem que quanto mais intensa a sensação de
desconforto, maior é o êxtase sexual, e eu queria
proporcionar o maior prazer a ela, e saber que posso
controlar isso me deixa loucamente excitado, o poder me
excita. A aflição de estar amarrada obriga o sistema
nervoso liberar endorfinas bloqueando assim sensações
incômodas, gerando um sentimento de euforia, semelhante
ao proporcionado por drogas como a morfina, é um
estimulante natural, e o que parece ser ruim, torna-se
prazeroso.
Donna era inteiramente minha naquele momento,
estava linda imobilizada pela fita branca que a prendia, sua
nudez era encantadora e excitante demais para mim, e eu
jamais esqueceria aquele momento, era intenso demais,
prazeroso e a confiança que Donna tinha em mim era
maravilhosa.
Passei as mãos em seus seios e senti que os bicos
estavam túmidos, então os torci preparando-os para
receber os nipples, e assim o fiz, coloquei um dos grampos
em um dos mamilos e observei sua reação, Donna não
disse um ‘ai’, parecia concentrada e então coloquei o outro.

Não bastasse a sensação desconfortante de estar


amarrada, de não pode fugir dessa vez, senti o beliscão
doloroso em meus seios, eu já conhecia aquela sensação,
ele colocou grampos nos bicos dos meus seios. A máscara
cobria meus olhos, tinha minha visão deliciosa de Davi
privada, e simplesmente não sei explicar o que era pior, se
não poder vê-lo, pois ele era a melhor parte de tudo aquilo,
ou se eram as pontadas de dor que me faziam perder
noção de tudo, de espaço e tempo.
Minha respiração passou a acelerar instintivamente,
eu estava eufórica, então forcei meus pulsos para baixo
tentando me libertar, contudo, já era tarde demais.
Davi chegou perto de mim e sussurrou:
— Acalme-se, estou aqui, não vou fazer nada que
não queira, lembra? — O som daquela voz era um deleite,
e só em ouvi-la já me sentia mais tranquila, mesmo sem
saber o que viria a seguir.
Segurou meu rosto em sua mão de uma forma forte,
porém, moderada, de um jeito delicioso e extremamente
excitante, então senti sua língua tocar e deslizar sobre meu
rosto, e em seguida, minha boca foi chupada e beijada.
— Caralho, Donna, estou de pau duro, quer sentir?
— Sim, eu quero sentir você todo, senhor.
A sensação de estar amarrada com os braços para
trás era realmente instigante, e quando senti os dedos
quentes dele no meu rosto e logo depois seu pau já com a
ponta molhada passar pelos meus lábios, logo salivei e
passei rapidamente a língua, mas ele retirou antes que eu
o chupasse, e foi para trás de mim e segurou firme na
minha cintura e roçou seu pau duro como aço em minha
bunda e eu fui ao delírio, e ali, ele me mordeu, beijou no
meio das nádegas e chupou minha vulva me matando de
tesão.
Tudo era expectativa, não sabia nada que ele iria
fazer, e quando senti ele passando tiras no meu corpo do
que imaginei ser de um chicote ou flogger, eu sabia que
seria minha hora, ele me bateu de leve, esfregou a mão na
minha bunda em seguida, dizendo:
— Você achou que seu castigo foi pouco, então
vamos corrigir isso. — Deu outra lapada na minha bunda
empinada para ele, e aquilo ardia demais da conta, mas
logo veio outro carinho, seguido de beijos e toques quentes
em minha vulva, e logo em seguida, senti as tiras tocarem-
na ardidas, e ter um chicote batendo em meu sexo era um
misto terrível de dor e tesão.
Eu estava úmida, encharcada na verdade, queria
muito que ele me penetrasse e acabasse logo com aquela
aflição, mas ao invés disso, ele deu outra lapada em mim,
e dessa vez em minha barriga e a sensação era
inexplicável, dolorosamente deliciosa, e enquanto eu curtia
e assimilava o impacto de cada toque em meu corpo, o
som das tiras acertando fortes em minha pele era
assustador e ao mesmo tempo encantador, então, eis que
ele fez algo inesperado que quase me levou ao êxtase, deu
um tapa no meio de minhas coxas acertando meus
grandes lábios e sussurrando entre os dentes "Não goze".
Aquelas sensações estavam sendo maravilhosas e eu
sentia o temor do que eu teria que abdicar e o prazer de
me submeter para aquele homem. E quando ele desferiu o
flogger entre as minhas coxas novamente, e deslizou o
cabo entre os lábios de minha vulva, amoleci e tremi com
as pernas bambeando. Gemi alto me contorcendo, e eu
queria mais, queria Davi e sua vara dentro de mim pela
última vez. Então ao pensar nesse desejo entorpecido e
em seu misto de prazeres, passei a lembrar dos bilhetes e
das rosas, então uma lágrima caiu dos meus olhos, mas
dessa vez Davi estava atento demais para deixar passar e
beijou meus lábios experimentando a lágrima que foi parar
na boca, balbuciando:
— Lábios com gosto de lágrimas são os mais
gostosos.
Ai mesmo que despenquei a chorar sem conseguir
controlar.
— Não quero que goze! — Davi falou e voltou a me
chupar com voracidade e a cada vez que sua língua ia
fundo em minha vagina, eu sentia que ia explodir e gozar.
Aquilo era muita maldade, Davi me estimulava, me
acariciava e me tocava de um jeito perturbador, e depois
parava me deixando desesperada para gozar, mas sem o
devido estímulo era impossível, como eu queria estar com
as mãos soltas e me tocar até gozar e gritar.
— Davi! Não vou aguentar. — Senti outra lapada na
minha bunda arder e me fazer gemer baixinho.
— Senhor! — ralhou ríspido. — Você estava tão indo
tão bem. — disse enlouquecido vindo a me beijar e morder
logo em seguida. — Você me enlouquece, me enlouquece.
Davi simplesmente me torturava de uma forma sexy
e excitante, eu sentia sua ereção dura me tocar, e com
tanto frenesi e excitação eu só queria ceder aos meus
impulsos vorazes e urgentes, eu precisava senti-lo dentro
de mim, mas não podia permitir, porque se começasse não
conseguiria parar, eu precisava acabar com aquilo o mais
rápido possível antes que ele percebesse que eu estava
louca de tesão, amando todas as sensações, então esperei
a próxima oportunidade e quando as tiras do flogger
voltaram a queimar na minha pele de uma forma que
alcançou dolorosamente o bico do meu seio, balbuciei:
— Davi, Davi... — aspirei o ar com necessidade —,
não consigo respirar, não consigo respirar — simulei uma
respiração cortada e disse com o coração partido as duas
palavras mais significativas da minha vida. — Me ame, me
ame! — As lágrimas escorriam em meu rosto, mas não
vinham do meu canal lacrimal, e sim, da alma, pois doía
muito mais fingir uma situação do que o toque quente do
açoite em minha pele.
Davi não disse uma única palavra, e em questão de
segundos, eu estava caída em seus braços no chão, ele
havia me soltado tão rápido que mal tive tempo de
assimilar suas ações. Novamente eu podia ver o homem
que amava, o homem para o qual eu seria capaz de
sacrificar todos os meus desejos em prol de sua
segurança.
— Está tudo bem agora, meu amor, está tudo bem,
você está bem! — disse-me, afagando-me em seu corpo
quente.
Eu sentia seus batimentos acelerados.
Fechei meus olhos e chorei em seus braços até
soluçar, Davi apenas me confortava em silêncio, e me senti
segura em um ninho quente e macio.
Davi era um homem arrogante? Sim, extremamente
arrogante, mas era que o mais me excitava nele, era o que
mais me encantava e eu estava disposta a tudo, até perdê-
lo para não o perder para sempre.
Ali, naquele momento o peso do fracasso recaiu em
minhas costas, o não lutar é uma morte lenta e dolorosa.
LXXVII
Davi cuidou de mim, me hidratou, me deu banho,
passou óleos calmantes em minha bunda e com isso, fez
com que eu me sentisse o pior dos seres humanos. Foi
gentil e carinhoso o tempo todo, me disse que o fato de eu
ter usado minha safeword só provou meu amadurecimento,
e que ele jamais me perdoaria se eu não a usasse. Eu a
usei, e jamais pensei que a usaria dessa forma, pois eu
estava simplesmente amando a sessão e jamais teria
usado naquele momento. Dormi nos braços dele no meu
quarto, não no de disciplina, mas no que pertencia a mim.
De madrugada quando acordei, dei graças a Deus
de Davi não estar mais ali ao meu lado, certamente que
havia ido para seu quarto, então me troquei, arrumei
minhas coisas, usei o banheiro e fui para as escadas.
Sim, eu iria sair da casa dele do mesmo jeito que
entrei, sem avisar.
O silêncio na casa era agourento, naquele momento
apenas as batidas disparadas do meu coração podiam ser
ouvidas por mim, minhas mãos suavam, estavam geladas
e a angústia me sufocando a cada degrau que eu descia
no quase escuro, apenas o facho de luz das janelas
iluminavam o ambiente.
Quando cheguei no último degrau da escada respirei
profundo e dei graças por ter conseguido descer sem que
Davi me visse tentando ir embora, mas meu alívio durou
pouco, tão pouco, que, mal toquei meus pés no chão da
sala e a luz da mesma foi acessa, clareando tudo e
incomodando minhas vistas.
A claridade trouxe com ela a imagem mais
maravilhosa e perturbadora daquele momento, Davi estava
em pé, usando apenas uma calça de moletom cinza, e
estava em um canto com um copo de uísque nas mãos.
Tinha as feições de seu rosto indecifráveis e me fizera
congelar quando questionou:
— Vai sair da minha casa do mesmo jeito que
entrou, Donatella?
Minha garganta secou, e imediatamente senti aquele
gosto metálico na boca de quando somos surpreendidos
fazendo coisa errada. Nunca imaginei que ele estivesse
acordado, e de repente, me vi em perigo como se tivesse
me atirado num precipício sem nenhuma proteção, minha
mente estava cheia de bifurcações, a adrenalina circulou
feroz em meu corpo e eu não tinha planejado uma resposta
para isso, então fui logo tentando me explicar,
desastrosamente:
— Davi, eu...
— Estou ouvindo — disse impassível, me fitando
profundo com seus olhos cinzas e gélidos.
Fiquei inerte em sua frente, meu coração se apertou
com as lágrimas se juntando em meus olhos pela iminência
do que sairia dos lábios a seguir, então, falei:
— Eu... Preciso de um tempo, estou confusa, tive
medo de morrer hoje, eu... — Todo o meu corpo tremia,
minhas mãos gelaram e meu coração tamborilava em
meus ouvidos e uma lágrima ácida escorreu grosseira dos
meus olhos. Não seria gaguejando que eu o convenceria
do que quer que fosse.
Davi esticou o corpo, puxou o ar de seus pulmões e
passou a mão direita em sua testa, todos os sinais que seu
corpo me transmitiu antes de sua fala eram
desesperadores, mas sua resposta me surpreendeu:
— Estava esperando você fazer isso, eu sabia que
faria.
Fiquei calada tentando assimilar o que acabará de
ouvir, então engoli a saliva, sentindo meus lábios secarem
e minhas mãos tremerem de nervoso, confusa, coloquei
minhas coisas no chão e levei minha mão na testa, eu tinha
certeza de que estava pálida, então trêmula perguntei:
— Sabia? Do que está falando?
— O dia todo hoje você agiu de forma atípica,
passou mal pela manhã, me garantiu que não é uma
gravidez, e depois sumiu para me deixar irritado e
preocupado, então aparece do nada na minha casa agindo
como uma legítima e perfeita submissa. — Tomou um gole
da bebida. — Achou mesmo que ia me enganar?
— Davi eu não menti para você em nenhum
momento — esclareci. — Eu fui espontânea o tempo todo,
eu realmente achei que estava pronta, mas vi que não
estou. — O ar parecia me faltar nos pulmões, um nó e um
grito preso na garganta me sufocavam.
— Confiei em você, Donatella, e sempre tive para
mim de que a confiança é o vínculo mais forte em uma
relação, tudo pode ser quebrado, menos isso.
Davi estava calmo, falava com mansidão e
propriedade.
—Eu confiei em você também, Davi.
— Confiou? Confiou em mim? — Me rondava feito
um leão, então do nada ele rugiu e atirou o copo que
estava bebendo uísque na parede.
Ele ficou furioso e senti meu corpo se arrepiar todo,
tive medo.
— Preferiu armar todo o teatrinho de hoje ao invés
de me contar o que realmente estava acontecendo com
você. Sério mesmo que achou que eu não iria descobrir?
— Do que está falando? — questionei tremendo
internamente, as lágrimas me cegavam naquele momento,
era um excesso que se copiava sem limites e eu havia
jurado que não choraria.
— Eu vou te fazer uma pergunta e você vai me
responder com muita sinceridade — falou.
— Davi, só me deixa ir embora — implorei.
Ele arfou e respondeu:
— Vai — apontou para a porta. — Mas tem um
porém, se você passar daquela porta, não vai ter volta, não
vou te perdoar.
— Não sabe como me sinto, eu só preciso resolver
as coisas do meu jeito, descobrir se me encaixo mesmo na
sua vida.
Davi gargalhou nitidamente nervoso, dizendo:
— Você já descobriu isso, você pode não confiar em
mim, mas hoje, só vi verdades nos seus olhos, falas e
gestos. Você foi tão perfeitamente minha, sua alma estava
transparente para mim, não existiu mentira nos seus atos
até o momento que usou a palavra de segurança. Ali,
naquele momento, você mentiu, e foi ali, naquele instante
que percebi que tinha alguma coisa errada com você, e por
algum motivo não me deixou continuar nossa sessão.
— Não menti para você — sussurrei desolada.
— Então por que não me contou sobre os bilhetes?
Tudo girou ao meu redor, estava desesperada sem
saber como agir, sem saber o que fazer, ou falar, o mundo
desabou aos meus pés e eu me sentia afundando em areia
movediça, apavorada e com os pensamentos todos se
confundindo, e sem conseguir segurar o que estava preso
em minha garganta, liberei a raiva gritando, chorando e
confessando:
— Eu só queria proteger vocêêê! — Enlacei-me em
meus próprios braços.
Naquele momento, Davi me abraçou com muita
força, e ali, simplesmente despenquei nos braços dele e
chorei em demasia, apertando-o com força e me desfiz em
um sofrimento que lancinava minha alma, e desse modo,
ele disse:
— Eu é que tenho que proteger você, meu amor, eu
é que tenho que te proteger, mas para isso você precisa
confiar sempre em mim. — Deu um beijo em minha testa.
—Você só precisava ter confiado em mim, porra! —
falou furioso. —Donna... Eu sou louco por você, achou
mesmo que eu não notaria que tinha algo de errado? Olha,
vamos descobrir isso juntos, ok?
Lágrimas escorreram frias em minha face, encolhi-
me dentro de mim mesma e me senti tão pequena e
egoísta quando escutei tudo aquilo, eu queria
desesperadamente sumir.
— Não podemos, não cabe a você decidir isso
agora, é minha decisão, é minha escolha e não vou
cometer o mesmo erro da Elisa.
Davi pegou meu rosto em suas mãos e esclareceu:
— Olha, nós não vamos cometer o mesmo erro, nós
vamos sentar e conversarmos como dois adultos que
somos, as ameaças naquele maldito papel não são para
você, e sim, para mim. Você me fez perder um dia, sendo
que eu poderia estar resolvendo isso, colocando as
pessoas certas para investigar o autor disso. Donna, eu
recebo dezenas de ameaças como essas todos os dias.
Inspirei e questionei:
— Idênticas as que Elisa recebeu, com o mesmo
tipo de bilhete?
Davi me soltou e se sentou no braço do sofá italiano,
pensativo, então indagou-me:
— Como sabe que esse bilhete é igual ao da Elisa?
— perguntou pasmado.
— Bruno me disse, hoje pela manhã, mas... Como
você soube do meu bilhete? Não me diga que o Bruno...
NÃOO, ele não fez isso, fez?
— O Bruno não me disse nada — respondeu áspero
—, mas eu sabia que tinha alguma coisa errada com você,
só não sabia o que era, e desconfiado de que você
pudesse estar grávida, eu mexi na sua bolsa atrás de um
exame de gravidez, ao invés disso, achei os bilhetes.
— Mexeu nas minhas coisas? — exasperei.
— Eu tinha que descobrir por que você estava
agindo daquela forma.
— Eu estava desesperada, não sabia o que fazer —
retruquei.
— Donna — segurou em meus braços olhando em
meus olhos. — Eu acredito que esteja, mas você precisa
de um pilar de sustentação nesse momento, como pode
pensar em agir sozinha se estamos juntos nisso? E o que é
pior, no meio de bandidos que agem de verdade. Eles
ameaçam e cumprem a promessa.
— Por isso escolhi me afastar de você.
— Só que fez a pior escolha possível, merda! —
ralhou.
Ao ouvir aquilo senti minhas pernas ficarem bambas
e minha cabeça rodar.
— Eu suspeito de duas pessoas — avisei.
Davi estreitou os olhos, indagando-me, surpreso:
— O quê? Está falando de quem?
— Estou falando da Rew e até do Bruno.
Davi gargalhou girando sobre seus calcanhares,
estava descalço.
— Que besteira é essa? Pelo amor de Deus, Donna,
não infantilize uma situação séria dessas.
— Junto com esses bilhetes tinham rosas brancas, o
primeiro na minha mesa, no gabinete do Dr. Afonso, e o
segundo no para-brisas do meu carro.
— E o que tem as rosas com isso?
—Tem que no dia que você deixou o livro na minha
mesa e me pediu para ir até a biblioteca, você também
deixou um botão de rosa branco, e, Bruno viu o botão,
pisou nele sem querer, só que ele não foi o único, pois Rew
também o viu na biblioteca e até recolheu do chão seus
restos, lembra-se?
— Está me dizendo que um desses dois pode estar
envolvido com isso? — questionou.
— Sim, estou.
— Donna, faz ideia do que está me dizendo?
— Inclusive, quem está fazendo isso, matou a Elisa.
Davi cruzou os braços e ficou balançando a cabeça
incrédulo, então ponderou:
— Conheço a Rew, e sei que ela jamais seria capaz
de matar a Elisa, o Bruno me coloca em estado de alerta,
mas jamais seria capaz de matar ninguém, é um imbecil
completo, e no mais, Bruno não tinha motivos para matar a
Elisa.
— Mas Rew tinha, despeito, ressentimento por você
ter escolhido a Elisa e não ela.
— Não! Não! A Rew é uma mulher bem resolvida, é
inteligente, não é nem um pouco passional, jamais seria
capaz de matar alguém por ciúmes ou algo do tipo. E tem
mais uma, quem matou a Elisa assumiu o crime, e Rew é
qualquer coisa, menos integrante de alguma facção
criminosa. Não! Rew está descartada.
— E Bruno também, porque assim que ele viu o
bilhete já foi logo me obrigando a contar para você, dizendo
que se eu não o fizesse, ele faria.
— Acontece que passei o dia todo e parte da noite
ao lado dele e ele não disse absolutamente nada.
— Implorei para ele não dizer.
— Alguém está plagiando o bilhete da Elisa, mas
quem? Quem, porra?!
— Já parou para pensar que pode não ter sido
nenhuma facção? Você acredita mesmo que o líder de uma
organização criminosa iria se dar ao trabalho de te fazer
sofrer ao invés de te matar logo de uma vez? — questionei.
— Isso me parece muito pouco provável, você não acha?
— Amanhã vou pedir para analisarem as câmeras,
vamos ver quem tanto entrou no gabinete do Dr. Afonso,
vamos começar por aí.
— E eu vou confrontar a Rew, quero ver o que ela
diz sobre isso.
— Tenho certeza absoluta de que se fizer isso ela
vem a mim imediatamente.
— De qualquer forma, vamos ter que nos afastar, ao
menos fingir um afastamento. Não sabemos de onde partiu
a ameaça, até sabermos que se trata de um blefe ou não,
precisamos ter cuidado.
Davi veio até mim e novamente me aninhou em seu
corpo enorme, abraçou-me com força, me fazendo relaxar
e se render ao toque de seu corpo no meu. Me sentia
segura, protegida, e ele disse:
— Não vou aguentar ficar longe de você.
— Encare como se estivesse me dando um castigo
de afastamento.
— Aquilo me castigou também, Donna.
— Está me confessando isso, Dom Davi? —
perguntei sorrindo disfarçadamente.
— Estou... Agora me responda uma coisa.
— Sim, pergunte.
— Teria usado sua safeword, ontem?
— Não sei dizer, só sei que até aquele momento eu
estava gostando, amando na verdade.
— A é? — sussurrou em meu ouvido com aquele
tom perverso e sexual.
— É.
Davi me beijou de uma forma terna, dissipando toda
nossa tensão, então encaixou-me em sua cintura com um
desejo irrefreável. Eu o desejava, com tanto calor que até
doía, queimava, então afastou-me de seus lábios, e ficou
me olhando-me especulativo de uma forma tão quente que
me senti nua e acariciada. Davi era sensual demais sem
fazer nenhum esforço, suas palavras, seu olhar fuzilante,
seu sorriso comedido e sua postura autoritária, me
enlouqueciam.
— Fala para mim, fala, Donna, sua palavra de
segurança, quero ouvir — sussurrou, caminhando comigo
presa em seu quadril e acariciando meu lábio inferior.
— Me ame!
Davi me olhou de uma forma quente, tinha o sexo
dentro de seus olhos, que me despiram cheios de desejo.
Ele me queria tanto quanto eu o queria, e para saber disso
ele não precisou emitir nenhum som, seus olhos me
disseram tudo, mas foram as palavras que saíram de seus
lábios que fizeram meu ventre se contrair, dando-me a
sensação deliciosa e abrasadora de um tesão
incontrolável.
— Vou te foder enquanto amo você, pode ser? —
sorriu enquanto dizia isso, e eu amava quando sorria
malicioso daquele jeito. — Preciso te foder para aguentar a
distância.
Soltei um suspiro, trêmula, e enfiei meus dedos em
seus cabelos e busquei seus lábios, dizendo com nossas
bocas grudadas:
— Eu também te amo.
Meu beijo foi retribuído com paixão, ardência, e o
tesão que já circulava desenfreado em nossas veias e
misturados ao gosto de uísque nos lábios dele que me
inebriava, e dessa forma, excitado ao extremo me jogou
em cima do sofá, e ali fez amor comigo, me possuindo
enlouquecidamente.
O mundo não iria acabar, mas era como se fosse,
era um misto entorpecido de saudade antecipada, de
tesão, desejo e sofrimento, que faziam nossos corpos
suarem e exalar o odor afável da mistura de nossos
cheiros, com o do sexo maravilhoso que fizemos em
despedida e em dose dupla.
Nada nunca saiu como planejei, mas pelo menos
agora tínhamos munição para lutarmos juntos.
LXXVIII
*Este capítulo contém narrativa de abuso infantil.
Caso não fique confortável, não leia.

Palácio da Justiça, 5º andar, sala 501, Presidência,


era a porta onde eu estava parada tentando criar coragem
para bater, e quando a coragem apareceu e levei meu
punho fechado em direção a porta, a maçaneta girou e
alguém abriu e cumprimentou-me:
— Como vai senhorita, Donatella? — disse um dos
juízes e assessor da Dra. Rew, que tinha três assessores,
todos juízes.
— Estou bem, Excelência, obrigada.
— Precisa de alguma coisa? — questionou-me o
homem alto, magro de olhos verdes e cabelos cor de mel,
enfiado em sua toga preta.
— Gostaria de falar com a Dra. Rew. Será que ela
pode me receber?
— Só um instante, vou avisá-la de sua presença
aqui.
— Muito obrigada, senhor.
Eu estava aflita, angustiada naquele corredor com
medo de que a qualquer momento Davi passasse por ali e
me visse naquela situação suspeita. Conferi as horas em
meu Apple Watch e disfarcei acessando meus e-mails,
enquanto meu salto insistia em martelar o chão de nervoso,
mas para meu alívio, o assessor daquela mulher voltou e
me permitiu entrar na sala da Presidente.
Fechei os olhos e suspirei quando a porta se fechou
atrás de mim, e ali estava eu no gabinete da Toda
Poderosa do TJ, e se eu tivesse um pingo de juízo, sairia
dali naquele momento, mas esse pensamento me passou
um pouco tarde demais ou foi a Desembargadora que se
apressou e abriu sua porta cedo demais, dizendo meu
nome, surpresa:
— Donatella! — sorriu solicita. — Entre! — Apontou
para dentro de sua sala e me deu espaço para passar.
Varri sua sala com o olhar e fiquei impressionada
com a quantidade de livros que ficavam em uma estante
atrás de sua mesa.
— O que faz aqui tão cedo em minha sala? Dr.
Afonso te mandou aqui por algum motivo relacionado ao
processo? Não pretendo mudar meu voto, diga isso ao
Meritíssimo.
— Não. Não vim aqui a mando de ninguém.
Ela cruzou os braços e recostou-se em sua mesa
abarrotada de papéis.
Era uma perua circulando em um meio tão
conservador, pois seus lábios enormes estavam pintados
de vermelho bem vivo e vestia uma saia creme um pouco
abaixo dos joelhos, regatinha branca, colar de pérolas no
pescoço e nos pés um Prada acetinado vermelho. Não
pude deixar de admirar o belíssimo par de sapatos.
— Não veio aqui para admirar meus pés, veio,
Donatella?
Sorri e respondi irônica:
— O que é bonito é para ser admirado, não é,
Meritíssima?
Ela fez um bico desgostosa e questionou:
— Se não veio pelo desembargador Afonso e nem
pelos meus sapatos, veio por quê? — virou de costas e
começou a mexer nos papéis em cima de sua mesa,
dizendo. — Você acha que é fácil manter a ordem e o
decoro nesse tribunal?
Joguei a maldita carta que eu havia recebido em
cima da mesa dela, dizendo:
— Por isso. Vim por causa dessa cartinha ridícula
que me mandou, sei que foi você, Dra. Rew.
Ela pegou o pedaço de papel, leu em voz alta as
últimas palavras, “ELE VAI SOFRER MUITO ANTES DE
MORRER” e passou alguns segundos olhando para o
mesmo sem dizer nenhuma palavra, então, quando voltou
a me olhar, questionou-me, atônita, ou estava fingindo
surpresa.
— Quando foi que recebeu isso, Donatella? — Seu
semblante era de pavor e sua voz alarmada. — Essa
ameaça é idêntica à que Elisa recebeu anos atrás.
— Ontem, mas, Vossa Excelência sabe bem disso.
— Não acha mesmo que eu seria capaz de te
mandar algo assim, acha?
— Acho!
— Espera um pouco, deixa ver se eu entendi bem,
você entrou aqui na minha sala e está me chamando de
assassina, é isso?
— Quem mais teria interesse em tirar Elisa e eu do
caminho de Davi?
— Donatella, eu poderia acabar com sua carreira
judiciária agora mesmo, pois está fora de si, agindo de
forma temerária e abusiva ao acusar-me expressamente
dessa forma — explanou. — Não seja tão insensata.
— Estamos apenas nós duas aqui, doutora.
— E nem tão ingênua — replicou.
— Essa carta não veio sozinha, ela veio
acompanhada de um botão de rosas, e você viu a rosa na
biblioteca no dia que surpreendeu Davi e a mim, lá.
Ela estreitou o olhar delineado tentando se lembrar e
disse por fim:
— Me lembro desse episódio, mas não sei de que
rosa você está falando. A rosa branca semiaberta tem um
significado litúrgico no universo BDSM, imagino que
conheça, não?
— Não vim aqui discutir rituais nenhum com você —
ralhei.
— Donna, creio que já tenha mostrado isso ao Davi
e a polícia ...
— Não, claro que não mostrei nada ao Davi e nem
pretendo mostrar —interrompi bruscamente, tudo o que eu
não queria era colocar Davi no meio daquilo.
Rew se virou em direção a sua mesa e apoiou as
mãos na mesma, dizendo em um tom suave e claro:
— Você não tem noção da gravidade dessa ameaça,
tem? Foi por agir de forma inconsequente e imatura que
Elisa morreu esperando um filho dele.
— Não vou agir como a Elisa, vou fazer exatamente
o que pede essa carta.
Rew se virou para mim, indagando-me com cara de
espanto:
— Vai deixá-lo sem contar sobre a ameaça?
— Elisa não contou e continuou ao lado dele porque
carregava um filho deles.
— Ela subestimou os autores da ameaça, mesmo
sabendo que Davi recebia ameaças dia sim e dia não.
— Não estou subestimando nada, mas Davi não
precisa saber e a vida vai seguir.
— Está redondamente enganada, essa carta
ameaça tirar a vida dele com requintes de crueldade, ele
precisa saber para se proteger e tomar as devidas
providências.
— Ele não precisa saber se eu me afastar —
vociferei.
Rew deu dois passos em minha direção e disse
encarando-me em um tom severo:
— Ele vai saber, Donatella, seja por você ou seja por
mim.
Comecei a rir falando ironicamente:
— Eu quase acreditei em você, mas não, eu não
acredito que você não esteja metida nisso, Meritíssima.
Você é a ex que não se conformou em perdê-lo para a
Elisa e nem para mim.
— Tem razão — balançou a cabeça em positivo. —
Apresentei Elisa a ele, e acabei perdendo-o para ela, mas
eu soube ser paciente e esperei o meu momento chegar, e
ele chegou, e eu aproveitei cada segundo. Não sou uma
assassina, jamais faria nada de mal a ninguém além de
mim mesma.
— Sabe, me admira ver alguém como você se
submetendo, se me contassem por esses corredores que a
Toda Poderosa do TJ é uma submissa, eu jamais
acreditaria.
— Donna, a minha sexualidade independe do papel
social que eu exerço, o prazer é individual e intransferível,
e não é difícil encontrar submissas que ocupam cargos de
comando e que são extremamente autoritárias nas mais
diversas áreas profissionais. O que faço entre quatro
paredes só cabe a mim, as fantasias, a entrega de poder e
os desejos são frutos do meu livre arbítrio, eu optei pela
submissão em minha sexualidade — encheu a boca para
dizer —, eu gosto assim, mesmo sendo oriunda de uma
carreira proeminente. Eu amo me entregar ao meu dono,
ser usada por ele, ser objeto dele e das fantasias mais
sádicas e perversas. Eu adoro agradar meu mestre e ser
sua cachorrinha e realizar suas vontades revelando a ele
os meus desejos mais recônditos. Acredite, ninguém é
obrigado a se submeter a ninguém, pessoas buscam o
prazer cada um a seu modo, e para mim, o BDSM vai
muito além das algemas, cordas, gag ball, flogger, e até
mesmo sexo. Sempre busquei por um porto seguro, um
homem que me compreendesse e que fosse sereno, me
permitindo suprir minhas necessidades.
— Você é doente, é uma masoquista viciada em dor
— respondi pasmada.
Rew me olhou furiosa, e então falou enraivecida:
— O que sabe da minha vida? — questionou. — O
que sabe da minha vidaaaa? — aumentou gradativamente
o timbre da voz. — Você não sabe nada da minha vida, não
sabe das minhas dores e do meu sofrimento, então não
ouse me julgar, nem tão pouco me acusar injustamente. —
Seus olhos lacrimejaram e assim, ela se virou de costas e
cruzou os braços colocando-se numa posição estática. —
Sabe, Donatella, com oito anos de idade, eu tinha uma
coleção de Barbie, ganhava uma boneca todo sábado
quando era deixada no sítio da minha avó, pois meus pais
iam ministrar palestras jurídicas. De madrugada, quando o
silêncio era agourento, eu me cobria na cama achando que
ia conseguir fugir do meu tio, mas ele sempre me achava lá
embaixo, ele sempre cochichava em meus ouvidos:
“Vamos brincar com o titio? Você vai gostar, mas se contar
para o papai e a mamãe, o titio vai ter que matar eles e
você”, então ele sempre me virava de bruços e o líquido de
algum óleo escorria pela minha bunda e descia até minha
vagina. Ele erguia meus quadris e mantinha minha cabeça
presa no travesseiro tapando minha boca com a mão
quando penetrava em meus ânus. “Quietinha bonequinha
gostosa do titio, vai doer só um pouquinho”. Eu sinto o
cheiro dele até hoje, o gosto dos beijos na minha boca, o
hálito, o cheiro nojento de cigarro.
Suspirei tentando não chorar e ela continuou seu
desabafo:
—Toda minha infância foi ceifada de mim, me tornei
uma criança depressiva, autodepreciativa e irritada com
tudo, o isolamento na fase da adolescência foi inevitável,
eu me mutilava atrás de sentir aquela dor gostosa que eu
sentia com meu tio, e assim, eu me vi presa a um círculo
vicioso atrás da dor e prazer, pois ela me acalmava, me
deixava extasiada. Com o tempo, eu notei que era incapaz
de sentir prazer em relacionamentos baunilhas, era uma
angústia atrás do orgasmo, mas ele não vinha nunca. Meu
tio me fazia gozar enquanto me estuprava, ele acariciava
meu clitóris enquanto me penetrava por trás.
— Rew, por favor! — falei com os olhos cheios de
lágrimas. — Pare!
— Por favor digo eu, não me olhe com essa cara de
compaixão, nunca tive autocomiseração e nem estou me
fazendo de coitadinha para você, estou apenas relatando
fatos passados para fazê-la me entender — respondeu
ácida como só ela sabia ser.
Deixei meus olhos cair em meus sapatos e me
questionei no íntimo, mordendo o cantinho da boca.
Autocomiseração! Você não tem pena de si mesma,
mas eu tenho de você. Pensei, e Rew simplesmente me
tirou de meus pensamentos persistindo em sua história
nada agradável:
— No início doía muito, com o tempo passou a doer
mesmo e depois não doía mais nada, só que já era tarde,
eu queria sentir aquela dor, eu passei a sentir necessidade
dela e a gostar muito.
Meu tio acabou induzindo em mim uma visão adulta
e já tão jovem eu me sentia uma mulher com uma visão tão
madura e própria do mundo que mulheres adultas não
tinham. Meus pais não entendiam por que eu era tão
precoce e rancorosa daquele jeito, me levaram a
psicólogas, psiquiatras e o diabo a quatro. Nada nunca foi
capaz de me ajudar.
Eu ainda tenho pesadelos e insônias, na minha
adolescência eu me sentia suja e impura, mas hoje eu me
sinto plena e realizada no universo a qual me encontrei, e
sim, eu sou uma masoquista, eu amo a aflição, ela faz com
que meu sistema nervoso libere endorfinas e bloqueie as
sensações ruins e incômodas que me atormentam. Isso
gera um sentimento de euforia semelhante ao uso de
drogas e morfina. Acredite, eu descobri isso quando estava
sendo violentada por aquele monstro e depois disso nunca
mais achei tão ruim.
— Onde está esse homem agora? — questionei
engasgada, completamente atordoada com a história dela.
— No inferno, se é que existe mesmo um, mas
antes ele pagou cada centavo de seu maldito pecado aqui
mesmo em vida, preso em um corpo que fedia e que o
comia de dentro para fora.
— Câncer? — ciciei a palavra.
— Sim, ele definhou em cima de uma cama com a
garganta aberta. Eu via as cordas vocais dele moverem
quando tentava falar alguma coisa comigo, e via o pavor
em seu olhar quando eu entrava em seu quarto. Fazia
questão de visitá-lo quando meus pais iam lá.
— Nunca contou nada a ninguém?
— Não... Só você e meu analista sabem disso. Ele
morreu quando eu tinha 16 anos.
Suspirei audível, sentando-me em uma cadeira e
falei tentando amenizar o clima:
— Meu Deus do Céu! Por que sempre tem que ter
uma ex? Isso é tão clichê.
Rew gargalhou e respondeu-me:
— A vida é um verdadeiro clichê, Donatella, o amor
virou um grande chavão, repare que até o “eu te amo”,
tornou-se tão banal e superficial e tudo que envolve o
mesmo.
— Eu discordo de você, nenhuma forma de amar é
clichê.
—Não há nada embaixo da terra que já não tenha
sido feito e repetido milhares e milhares de vezes, desse
modo algumas coisas seguem padrões porque é inevitável,
assim como um ex brinquedinho como sou eu para o seu
dono.
— Ele não é meu dono! — ralhei.
Rew cruzou os braços e me olhou divertida,
questionando-me:
— Ele já sabe disso?
— Ele sabe que me tem dentro de quatro paredes,
nada além disso.
— Engraçado, eu me vejo em você, Donatella, é
como se tivesse me olhando diante de um espelho, forte,
afrontosa, destemida e atrevida, e até o homem que nos
faz cair de joelhos perante a humilhação é o mesmo.
— A diferença é que ele me ama — falei.
— Não existe espaço para o amor no coração do
Dom Davi, será que ainda não percebeu isso?
— Não existe espaço para você, para o seu tipo de
amor doentio — respondi sem pena. — Além do mais, não
estou falando do Dom, e sim do Davi.
Rew meneou a cabeça dizendo enquanto juntou
alguns papéis e colocou dentro de uma pasta pegando sua
bolsa logo em seguida:
— Está cometendo um grande erro, querida, não
separa o Dom do homem, pois o homem em questão é um
Dom Nato, você não vai conseguir mudar isso, nem tente,
é perda de tempo.
Rew se dirigiu até a porta, colocou a mão na
maçaneta e disse antes de abri-la:
— Olha, quero que saiba que eu jamais usaria um
recorte de revista para ameaçar alguém, se eu fosse me
prestar a um papel torpe como esse, eu usaria um jeito
mais original de fazer a coisa e só não vou acabar com a
sua carreira pela consideração que tenho ao Davi, e outra
coisa, conte a ele o que está acontecendo ou eu mesma
vou fazer, acredite, não vou titubear.
Abriu a porta e me deixou lá sozinha vendo navios,
submergindo em dúvidas que ela havia plantado em minha
mente.
— Meu Deus, se não foi ela e nem o Bruno, quem
foi? — balbuciei confusa.
Saí da sala apressando os passos atrás dela no
corredor, e ladeando-a, falei:
— Por favor, Dra. Rew, não conte nada do que lhe
disse para o Davi.
Ela parou abrupta no corredor e encarou-me com os
olhos verdes esfumados por uma sombra marrom e com as
pálpebras inferiores bem marcadas que deixavam seu
olhar mais marcante e noturno.
— Faz ideia da gravidade desse seu pedido? —
questionou-me sussurrando.
Engoli em seco, olhei ao nosso redor e confessei:
— Sim, eu sei sim, mas se não foi você a autora do
bilhete, ele está aqui dentro do Palácio e eu preciso
descobrir quem foi.
— Há! Isso me soa como piada — disse rindo
forçado. — Quer um conselho, Donatella? Afaste-se do
Davi enquanto pode fazer isso sem derramar o sangue
dele. Eu... — suspirou e fez uma pausa—, não vou te
garantir que não irei contar a ele sobre o perigo iminente —
concluiu e voltou a se mover elegante.
Segurei em seu braço esquerdo a fim de que
parasse para me ouvir mais um instante e ela levou seus
olhos para minha mão como se dissesse: “me solte”, então,
eu a soltei e falei:
— Vou me afastar, eu prometo, até já terminei tudo
com ele.
Ela sorriu e disse em tom de fim de conversa:
— Você gosta dele, gosta da forma com que ele te
trata, não é? Do contrário não teria aceitado se submeter a
ele e teria caído fora logo após o primeiro encontro.
Suspirei inerte, demorando a respondê-la, então
voltei a falar replicando-a quando ela se virou dando-me as
costas:
— Eu o amo!
Rew respondeu-me sem se virar:
— Então faça o que tem que ser feito, ou eu mesma
farei.
Quando pensei em me virar e seguir para outro
caminho, Davi virou o corredor dando de topo com Rew,
com uma bola de papel entre os dedos e em seus olhos
havia uma fúria que fizera minha alma se encolher, então
se colocou em meu caminho questionando-me em um tom
imperativo, ríspido e seco:
— O que significa isso? — Mostrou-me um papel
feito uma bolinha.
No corredor só havia nós três, mas mesmo assim,
falei sussurrado:
— Vamos conversar sobre isso em outro lugar, Davi,
por favor.
Rew estava ao meu lado como se fosse um cão de
guarda.
Ele simplesmente ignorou o que eu disse e
questionou:
— Faz ideia de como me senti quando fui em seu
quarto e encontrei isso em seu lugar? — O tom de voz
ainda era indelicado.
Davi estava tão convincente que até eu estava
acreditando.
E quando fui respondê-lo, Rew entrou no meio da
conversa.
Ela o tocou no ombro, dizendo:
— Davi, deixa-a em paz, não é hora nem o lugar
para vocês terem uma desinteligência, e do mais, se você
não aparecer naquela sala em vinte minutos, vou afastá-lo
da comissão julgadora.
Davi esticou-se todo, jogou o papel no chão e cerrou
os punhos me olhando com muito ódio, então disse-me:
— Quero você na minha sala agora. — Intimidou e
virou as costas afastando-se de mim, caminhando a
passos largos pelo corredor.
Abaixe-me e apanhei o bilhete antes que Rew o
fizesse.
— É melhor que seja assim! — Rew disse suas
últimas palavras antes de tomar o mesmo curso de Davi.
Ver a silhueta do homem que eu amava desaparecer
na curva do final do corredor, sabendo que ele estava
ameaçado de morte por minha causa sem poder diminuir
sua dor foi como ter uma lança transpassando o meu
coração.
Embora ele fosse muito forte, eu sabia que não era
fácil para ele sentir uma ameaça dessas rondando a gente.
Abri o papel que ele jogou no chão, só por
curiosidade e os músculos do meu rosto se esticaram
involuntários em um sorriso ao ler:
Eu te amo!
Fechei os olhos e senti uma lágrima ingrata escorrer
na minha face, mas eu a enxuguei com a palma da mão,
respirei fundo e segui meu caminho.
Força, você precisa ser forte, pensei odiando a voz
interna que sussurrou isso na minha mente.
LXXIX
Toda essa situação, essa ameaça me fizeram perder
a noite, fiquei velando o sono da Donna na minha cama
com a cabeça trabalhando a mil. Tínhamos feito amor duas
vezes aquela madrugada, primeira vez no sofá, eu a amei
de forma sensual e apaixonado, ali estávamos permitindo
que nossos corpos se despedissem momentaneamente e
não satisfeito fizemos um sexo mais hard no quarto que
nos deixou destruídos, a ambos.
Naquela manhã, cheguei um pouco mais cedo no
Palácio e fui logo falar com o chefe da segurança e pedi
que me mostrasse a filmagem das câmeras dos
corredores, em particular a do corredor que ficavam meu
gabinete e o do Dr. Afonso, onde Donna trabalha.
Ninguém, absolutamente ninguém diferente esteve naquele
gabinete no dia em que Donna achou o bilhete, nem no dia
anterior, visto que o maldito papel e a rosa poderiam ter
sidos plantados lá assim que Donna encerou seu
expediente.
Tirando as pessoas que circulavam no gabinete
porque trabalham nele, apenas Rew e Bruno entraram e
saíram de lá várias vezes, dessa forma, na sala das becas
joguei um verde para cima do Dr. Afonso tentando saber os
motivos que levaram a Presidente ao seu gabinete, e a
mim fora dito que a mesma estava tentando mudar o voto
dele no caso do juiz Medeiros, visto que o Dr. Afonso era
favorável a não cassação e Rew queria unanimidade no
colegiado.
Durante a manhã, enquanto tomávamos café,
Donna e eu armamos toda uma estratégia para tentarmos
descobrir se as desconfianças dela faziam algum tipo de
sentido, e muito embora eu não acreditasse que Rew ou
mesmo Bruno fossem assassinos, resolvi começar por
eles, desse jeito iniciamos com Rew e com Donna lhe
fazendo uma visitinha logo nas primeiras horas da manhã e
foi no corredor em frente a sua sala que Donna e eu
começamos a montar o palco para a peça que
encenaríamos. Faríamos todos que tinham ciência do
nosso relacionamento acharem que havíamos nos
separado, esse era o plano primordial e que teria que
funcionar, visto que não tínhamos certeza de nada.
Nunca subestimei nenhuma das ameaças que foram
feitas a mim durante todos os anos como Juiz, e olha que
não foram poucas, mas elas nunca me fizeram questionar
minha escolha e minha carreira no judiciário, e se eu
tivesse a chance de voltar atrás e refazer a escolha, eu
escolheria mil vezes o meio jurídico.
Sempre fui um juiz calmo, equilibrado e imparcial,
nunca, jamais, e em nenhum momento condenei alguém
motivado por razões pessoais, sempre fui capaz de
me abster de todos os meus julgamentos internos e
convicções morais, não permitindo assim que meus
princípios individuais influenciassem em minhas sentenças,
e por isso, sempre me orgulhei e exaltei minha mente
racional. Em minhas mãos sempre estiveram todos os
direitos e deveres dos cidadãos, e isso me deixou mestre
em lidar com pressões e responsabilidades. Portanto,
ninguém que tenha sido condenado por mim teve sua
liberdade ceifada injustamente.
Bateram em minha porta e pedi que entrasse.
— Bom dia, Dr. Davi — disse Bruno entrando em
minha sala preparado para mais um dia de trabalho junto
ao colegiado.
— Bom dia — respondi seco com a mão no bolso e
mirando a rua pela janela.
— Está tudo bem, senhor? Precisamos ir a reunião.
— Sei bem das minhas obrigações, Bruno —
respondi apático.
Novamente alguém bateu na porta, e conforme
combinado, Donna deveria entrar em meu gabinete assim
que visse Bruno entrando.
— Entre! — falei.
Assim que a porta se abriu, vi a mulher que eu
amava usando uma calça jeans, saltos pretos e uma
camisa branca com listras finas em azul marinho, estava
linda e bem informal. Estava com os cabelos pretos soltos
e pouca maquiagem, a impressão que tive foi que esteve
sem ânimo para se produzir.
— Bom dia, senhores! — disse ela.
Ambos a respondemos em uníssono.
— Pode nos dar um minuto, Bruno? — Donna pediu
dirigindo-se ao amigo.
Bruno olhou para mim e assim que assenti, ele
seguiu em direção a porta, mas não antes de encarar
Donna com profundidade como se estivesse tentando
passar uma mensagem subliminar.
Donna e eu sabíamos que Bruno escutaria tudo que
disséssemos ali em alto e bom tom, então assim que a
porta se fechou, falei:
— Achei que já tivesse dito tudo ontem. — Caminhei
para próximo dela e a encarei louco de vontade de beijar
aqueles lábios fartos e levemente rosados.
Nossos olhos falavam coisas que não condiziam
com nossos lábios e encarando-me, ela respondeu:
— Eu sei o que disse ontem, mas...
— Mas, o quê? Mas o quê, senhorita Donatella? —
aumentei o tom da voz de forma considerável. — Qual
parte de “não é isso que quero para minha vida” a
senhorita acha que não esclareceu?
Donna me olhou desafiadora e mordeu o lábio
inferior e esticou a boca em um sorriso ainda com aquele
pedaço de carne tentador entre os dentes e tudo que
desejei naquele momento foi consumi-los em um beijo.
Meu pau reagiu violento.
— Eu sei o que falei ontem — respondeu tentado
manter a seriedade —, apenas não queria que ficasse
nenhum clima ruim entre a gente, até porque estaremos na
mesma sessão e temos que ser cordiais.
Aproximei-me e a fitei agudamente, morder os
lábios, me provocando enquanto sorria, não foi uma boa
ideia, e eu simplesmente a estava penetrando forte com
olhos, olho-no-olho e seu olhar produziu em mim uma
excitação monstruosa. Um fogo repentino e perigoso tocou
conta de mim.
— Dane-se a cordialidade, sou o relator desse
processo e posso inclusive pedir ao Dr. Afonso para afastá-
la.
Donna arqueou a sobrancelha e questionou:
— Não faria isso? Faria?
— Não farei porque não sou canalha a esse ponto.
Agora... não sei o que está fazendo aqui.
Ela sorri, e diz em seguida, me provocando
novamente:
— Sabe, eu só queria que fosse um cara normal, só
de vez em quando, mas acho que esperar isso de você é
demais, não é?
Aquilo estava indo pro lado pessoal, Donna estava
usando nossa falsa discussão para colocar seus
sentimentos reais em jogo; então furioso, dei um passo à
frente e eu a segurei pela cintura afundando meus dedos
em seu corpo e a puxei para mim, replicando-a em voz
alta:
— Eu sou um cara normal, Donatella, pena que não
conseguiu enxergar isso. Agora, se não sou o cara certo
para você, se não sou bom o suficiente, saia da minha sala
e me deixe em paz logo de uma vez. — Apertei ainda mais
meus dedos em sua cintura e o clima entre nós estava
esquentando, eu sentia seu cheiro, seu hálito e tudo o que
menos queria era um novo afastamento entre nós, não
agora que Donna havia saído de seu casulo.
— Não! Você não é um cara normal, e não pertenço
a você, não serei jamais um objeto que você usa e faz o
que quer.
— Veio aqui só para ratificar isso?
— Vai ser melhor assim! — afirmou com tom severo
que não condizia com seus olhos quentes e luxuriosos.
— Some da minha frente, Donatella — proferi em
voz aguda.
Estendi minha mão e levei em sua nuca trazendo
seu rosto para bem próximo do meu, e encostando meus
lábios em seu lóbulo sussurrei:
— Se vamos mesmo fazer isso, temos que ser
convincentes, não vamos poder nos ver até que tudo isso
seja esclarecido.
Donna me olhou por trás de seus lindos cílios
enormes, e naquele momento seus olhos me entregaram
sua ansiedade e sofrimento, e por mais que ela tenha
tentado sorrir e disfarçar, eu podia ler seus olhos com muita
facilidade, pois Donna era transparente demais, e aquele
brilho era de tristeza, das lágrimas que tentou camuflar.
— Vai dar tudo certo, confie em mim — sussurrei e
selei seus lábios com os meus e a soltei logo em seguida,
vociferando:
— Saia logo da minha sala, tenho mais o que fazer.
— Davi, eu...
— SAIA! —exasperei a fim de ser ouvido com
clareza por Bruno.
Donna fechou os olhos e uma lágrima escorreu de
seus olhos, então puxei-a para mim novamente e a beijei
com força mantendo nossos lábios grudados, e ali naquele
breve momento, senti-me incapaz e culpado.
Donna abriu a porta e saiu, e quando fui fechar a
porta atrás dela reparei que Bruno estava com cara de
espanto, tentando disfarçar ao mexer na pilha de papéis
em cima da mesinha, então me olhou de uma forma
triunfante, aproximou-se dela e questionou a ela, tocando-
a:
— Donna, está tudo bem com você?
Ao ver seus dedos em cima da minha mulher, senti
meu pulso acelerar e os cerrei, logo, aspirei o ar sutilmente
e precisei controlar meus impulsos ou teria voado em seu
pescoço. Bruno não me convencia em seu papel de bom
moço.
Fechei a porta antes que eu estragasse tudo.
As cartas foram jogadas na mesa, e enquanto
estivéssemos jogando, teríamos que tomar cuidado até
descobrirmos ao certo qual dos dois estava plagiando o
bilhete que Elisa recebeu na época de sua morte. Rew ou
Bruno estavam usando o mesmo tipo de chantagem para
nos separar, mas qual dos dois estava se prestando a um
papel tão sujo? Ambos tinham motivos para querer nos
afastar, e até onde me consta eram os únicos que tiveram
acesso ao gabinete do Dr. Afonso e que teriam motivos
reais, contudo, eu tinha quase certeza de que Rew jamais
se prestaria a um papel como esses. Eu a conhecia bem, já
Bruno sempre fora uma incógnita para mim.
LXXX
Uma semana sem estar nos braços de Davi, sem
sentir seu cheiro, seu gosto, seu toque e o principal, seu
olhar fuzilante, isso era uma tortura real, latejava, sangrava
e me destruía, pois os dias no Palácio eram intermináveis e
as noites sem ele eram um martírio que eu já havia
experimentado antes, só que dessa vez a vida é que
estava nos castigando.
Eu estava literalmente em choque com tudo que
estava acontecendo, não conseguia mais dormir direito,
não tinha fome e nem tão pouco estudar para as outras
etapas do concurso, ficava o tempo esperando o próximo
bilhete.
Nos três primeiros dias consecutivos ao meu
suposto término com Davi, os bilhetes continuaram
surgindo, mas não em minha sala no TJ, quem os estava
mandando passou a colocar os bilhetes na caixa de
correspondência em minha casa, mas depois eles
simplesmente pararam de chegar, e assim mesmo Davi
aumentou nossa segurança de forma considerável, tanto a
minha quanto a dele. Nos falávamos pelo celular
diariamente, e mesmo com a ameaça que sofremos, ele
dava um jeito de jogar e me controlar a distância, tudo
claro, com meu consentimento, e eu amava.
Sentia muito a falta física dele, mas estou falando de
um sentimento que me invade e toma conta do meu corpo
e alma. Eu sentia falta dos seus carinhos, dos poucos, e do
seu toque mais poderoso, da segurança que ele me
passava quando estávamos juntos, e sem ele me sentia
uma taça vazia. Um sorriso que ele conseguia me dar nos
corredores do Palácio, já me alimentava o dia todo.
Eu nutria por Davi uma admiração enorme, e
supervalorizava cada gesto dele, e seria capaz de me
lançar de um abismo certa de que ele estaria embaixo para
me segurar. Entreguei-me completamente a esse amor e
as novas descobertas que vieram com ele e que
continuavam mesmo a distância.
Assim que tomou ciência da ameaça, Davi entrou
em contato com a Polícia Federal que passou a investigar
os bilhetes e as filmagens do TJ, tanto as internas, quanto
as externas, e eles não descartavam ninguém que havia
estado no gabinete do Dr. Afonso no dia em que recebi o
primeiro bilhete com as ameaças, e por isso, eu caminhava
pelo interior do Palácio da Justiça e até mesmo no gabinete
onde assessorava o Desembargador Afonso, sempre com
o coração na mão, olhando para todos os cantos e rostos
procurando um suposto culpado, mesmo que não saísse
da minha cabeça que Rew era a autora.
Ela não me convenceu nem com toda aquela
história triste.
Era manhã de quarta-feira, entrei no elevador da
Dalvinha, e ela foi logo me bombardeando como sempre:
— Bom dia, Donninha! Sabe quem saiu desse
elevador agorinha?
Eu não sabia, mas já imaginava, era sempre a
mesma coisa, contudo o cheiro dele não estava no ar,
então falei:
— Bom dia, Dalvinha, hoje vou ficar te devendo, não
sinto o cheiro do Dr. Davi.
— Hã! — fez uma cara engraçada. — Olha como
estamos... depois que terminaram ele agora é o Dr. Davi e
você não reconhece mais o cheiro do homem ou é porque
se misturou ao da Toda Poderosa?
— Dalva, me poupe, está bem? — ralhei com ela e
só depois liguei a informação. — Os dois estavam juntos?
— questionei, e pensar em Davi próximo da Rew me dava
náusea, mas havia um propósito, e eu sabia qual era,
então não tinha motivos para ciúmes sem sentido, mas
ainda assim, senti ódio.
— Sim, estavam, e eu vi muito bem quando ela o
chamou e pediu para que a esperasse para subirem juntos.
— Hum...
— Donninhaaaaa! Você tinha que ver a cara do
homem, estava uma fera. Não acredito que não vão
mesmo voltar, vai deixar um homem como ele de graça
para aquela uma? E tudo por causa de umas palmadinhas?
Dei um passo à frente e falei em tom baixo:
— Você não aguentaria meia hora com um homem
como ele.
Dalvinha segurou na pontinha da armação de seus
óculos vermelhos e o abaixou me olhando por cima,
dizendo desaforada:
— Hum! Sabe de nada inocente — respondeu
debochada e eu caí na gargalhada saindo do elevador.
E mal coloquei meus pés para fora do elevador já
dei de cara com Davi, e eu até já sabia o que ele queria
averiguar, ele se afastou alguns metros, não demorou e
senti meu celular vibrar em meus dedos, e com a mesma
rapidez que bati os olhos na tela, Dalvinha questionou-me
curiosa:
— Será que é o gato e gostoso?
Estreitei os olhos, fitando-a e a respondi:
— Dalva... eu desisto de você, sério mesmo.
Dei alguns passos no corredor e abri a mensagem
que dizia:
“Porra, Donna! Vermelho?”
Olhei para os lados e não o vi mais, então olhei para
o meu vestido e sorri balançando a cabeça enquanto
caminhava e digitava a resposta:
“Gostou?”
“Muito! Vestido vermelho é covardia, meu pau
não aguenta isso.”
“Ah é? E se ele souber que estou exatamente
como o senhor me pediu?”
Mesmo sem nos vermos, Davi fazia joguinhos
comigo, e na noite anterior passei 2 horas com um plug
anal e antes de dormir ele me deu a ordem para vir
trabalhar de vestido e sem calcinha, e mesmo sendo uma
tortura, eu o obedeci.
“Eu não pedi nada, eu mandei.”
Senti os pelos do meu corpo se eriçarem quando li
aquilo. Parei no meio do corredor e digitei provocando-o:
“Você manda e eu obedeço, meu senhorrrr.”
“Donna, se eu te pego, faço você engolir esse
senhorrrr.”
“Humm, é mesmo? E ele vai muito fundo na
garganta?”
“Caralho, preciso te foder, minhas bolas vão
explodir.”
“Você sabe muito bem se aliviar, Vossa
Excelência.”
“Acha que já não fiz isso?
“Não podemos, é muito arriscado, você sabe.”
“Não tem ninguém no meu gabinete ainda e se
eu não te comer dentro desse vestido vermelho, eu vou
enlouquecer.”
Embora o TJ fosse o lugar de trabalho de milhares
de pessoas, os corredores estavam quase sempre vazios,
visto que cada um que chegava ia direito para sua sala.
” Mas irão chegar, não brinque com isso.”
“É uma ordem.”
“Não vou cumprir.”
“Donnaaa! Estou louco, morrendo de saudade!”
“Não podemos correr o risco de sermos vistos,
sabe disso, portanto, dê um jeito você mesmo nas suas
bolas.
“Está me provocando, é isso?”
“É sim, pode me castigar se quiser.”
“Não brinca comigo, você sabe que não
aguenta.”
Segui caminhando pelo corredor com sua
iluminação ligeiramente abatida. Meus saltos produziam
um burburinho chato e irritante pelo piso, e naquela hora da
manhã havia um silêncio e uma contenção quase
conventual, e os poucos togados que ali se encontravam já
estavam reclusos em seus salões, então quando quebrei o
corredor passei a ouvir não só o barulho dos meus saltos,
mas os de sapatos masculinos também, e quase derrubei
meu celular no chão quando ele tremeu em meus dedos
com uma nova mensagem de Davi.
“Entre na sala dos retratos!”
A sala 509 do Palácio da Justiça ostenta em suas
paredes retratos de todos os Magistrados da história do
Judiciário paulista e naquela sala ninguém se sentia
sozinho com tantos olhos nos viajando.
“Está brincando comigo?”
Passei reto pela sala e segui em frente.
“Porra, Donna! Por que não entrou na sala?”
Olhei para trás e constatei que Davi estava bem
atrás de mim, coladinho, e quando diminuí o ritmo para
respondê-lo fui parada abruptamente por sua mão que se
fechou com força em volta do meu braço, ordenando em
um tom suave e autoritário:
— Para com isso... — Naquele momento senti meu
fôlego falhar em meus pulmões:
— O que está fazendo? Está louco?
— Só queria saber se está me obedecendo mesmo.
Ele estava usando uma camisa branca com as
mangas dobradas e quando soltou meu braço e passou o
seu pela minha cintura puxando-me para ele, estremeci
quando olhei para sua mão enorme e seu antebraço
musculoso. Aquelas mãos me davam um tesão surreal e
me fazia imaginar mil coisas. Davi empurrou seu corpo
contra o meu, e por conta dos saltos, ficamos
perfeitamente alinhados e isso fez com que eu pudesse
sentir seu pênis estendido e duro, e pude sentir até seus
testículos me fazendo perder o ar com a evidência de sua
excitação monstruosa e total. Mal nos tocamos e ele já
estava loucamente excitado.
—Deus, eu preciso te foder! — disse entredentes,
com raiva, antes de me beijar enfurecido, e de repente,
senti-me como se estivesse no meio de um incêndio. A
força dele, seu gosto e cheiro me inundava.
Cambaleei um pouco em meus calcanhares, e ele
me segurou com força, então resmunguei de forma quase
ininteligível:
— Não acredito... que colocaremos tudo a perder
por causa de uma calcinha.
Meu coração se agitava de uma forma primitiva e
instintiva contra meu peito.
Estávamos quase na frente de seu gabinete, então,
Davi me puxou e estendeu o braço esquerdo e abriu a
porta e sem me soltar me puxou para dentro.
Ele encostou seu queixo no meu ombro e aspirou
profundamente minha pele exalando meu perfume e
sussurrando:
— Seu cheiro... só me deixa sentir esse cheiro. — O
braço que me prendia, puxou-me novamente para trás me
fazendo tomar ciência novamente da força daquela ereção
ao encostar em minha bunda.
Fechei os olhos e meu pescoço pendeu para trás
assim que senti sua mão descendo e indo parar debaixo da
saia do meu vestido, tocando minha pele quente.
— Você me enlouquece quando me obedece —
balbuciou com a boca grudada em meu lóbulo e os dedos
cumpridos deslizando e se enterrando entre os lábios do
meu sexo, e ele gemeu quando sentiu minha excitação e
meus fluidos revestirem seus dedos.
— Davi... — engoli a saliva. — Davi, pelo amor de
Deus, não brinque com isso.
Com a mão esquerda ele puxou meu rosto e mordeu
meu lábio inferior e chupou fazendo-me abrir a boca,
ofegante. Sua língua afundou em minha boca e o calor
percorreu fervendo por todo meu corpo.
— Temos que parar! Agoraaa! — Exigi com os lábios
grudados aos dele e então ele murchou no calor do nosso
desejo e resmungou, tirando seus dedos de mim e me
deixando vazia ao imediatismo da minha necessidade
gritando e ardendo como um tapa contra os músculos
tensos do meu corpo.
Então após tomar noção da gravidade daquilo, ele
disse:
— Quero que você saiba...—com a boca encostada
aos meus lábios trêmulos e sensíveis —, que independente
de qualquer coisa, eu a amo e não vou deixar nada e nem
ninguém separar a gente. — Soltou-me e eu cambaleei
sem ar quase caindo das pernas.
Busquei ar para me recompor antes de sair de seu
gabinete e fiquei observando-o, como estava lindo de
branco, fechei os olhos e respirei fundo tentando recuperar
a sanidade que aquele homem me fazia perder e se de
preto me enlouquecia, de branco me deixava indecorosa.
— Eu te amo! — falei e me virei para sair antes que
cometêssemos uma loucura maior no nosso âmbito de
trabalho.
— Vai dar tudo certo! — falou sorrindo e piscou
daquele jeito para mim com a cara mais ordinária do
mundo.
Assenti sem olhar para trás.
— Cuidado como senta com esse vestido por aí —
falou me provocando.
— Único lugar que eu queria sentar agora era no
GG.
— Donnaaa? — disse meu nome interrogando.
Saí gargalhando de sua sala e ele questionou:
— Que porra é essa de GG? Você e a Dalva...
Fechei a porta do gabinete dele rindo muito, e
quando me virei para tomar meu caminho dei de topo com
Bruno, que estava com as feições indecifráveis.
— Bruno! — falei assustada naquele primeiro
impacto de quando somos surpreendidos, e por mais que
tentasse disfarçar tinha certeza de que estava com o rosto
rubro, não pelo susto é claro.
— Vocês não tinham se afastado? — questionou-me
logo de cara.
— Só vim entregar uma documentação que o Dr.
Afonso pediu para o Dr. Davi.
Bruno grudou em meus cotovelos e foi me
arrastando e me afastando da porta do Davi, então falou:
— Donna, eu não sou idiota... e se você quer
continuar com esse joguinho, colocando a vida de um
desembargador, cotado a ser o próximo Presidente do TJ,
em perigo o azar é seu, só que eu não vou deixar isso
acontecer.
— Bruno, não tenho mais nada com o Davi além de
trabalho.
— Seu rosto não menti, Donna.
Suspirei nervosa, girei e me virei dando-lhe as
costas, então ele indagou petulante:
— Vai voltar lá dentro e abrir o jogo com ele ou
prefere que eu mesmo faça isso?
— Você não tem nada a ver com isso, não se mete
Bruno — falei exasperada e me calei assim que três juízes
passaram do seu lado no corredor, então quando abri
minha boca novamente foi segredando:
— Bruno, Davi e eu não temos mais nada, acredite
em mim.
— Não foi o que percebi quando vi você saindo do
gabinete dele com cara de quem tinha sido comida.
O sangue ferveu em minhas veias e quando dei por
mim já estava com a palma da mão ardendo com o tapa
que desferi em seu rosto, e o estalo foi tão notável que os
homens no final do corredor olharam para trás devido ao
estalo.
A boca de Bruno formou um círculo e, em seguida,
ele disse com a mão em seu queixo e uma ponta de
decepção em sua voz.
— Não esperava isso de você, Donna.
— Bruno, eu... Me desculpa, está bem? — Entrei em
desespero, queria sumir naquele momento.
— Você está agindo exatamente como agiu Elisa, só
que no caso, ela tinha uma escolha e escolheu se colocar
na linha de tiro das pessoas que a estavam chantageando.
Ela pediu pelo o que aconteceu, ela escolheu, mas e o
Davi, está tendo o direito de escolha? De decidir?
— Só me dá um tempo, está bem?
— Eu? — gargalhou aparentemente nervoso. —
Não sou eu que tenho que te dar tempo nenhum, Donna,
não sou eu quem está te chantageando. Só que se você
quer continuar brincando com a sorte. Davi deveria saber
que está sendo ameaçado de morte e assim decidir se
quer ou não continuar correndo perigo.
— Bruno, por favor, não conte nada a ele ainda.
Bruno girou em seus calcanhares e levou as mãos
em sua cintura abrindo assim o seu paletó preto, e ele
estava visivelmente nervoso com tudo e eu simplesmente
me assustei com sua reação inesperada.
— Donna, sabemos que o autor das ameaças
circula por esses corredores, poderia não ser eu a ter visto
vocês dois juntos, e sim a pessoa que os quer separados,
já pensou nisso? — Segurou em meus braços com força
fazendo-me encará-lo, e vi algo em seus olhos que não vi
jamais.
Por sorte a porta do gabinete do Davi se abriu e o
mesmo saiu de lá de dentro, dizendo:
— Que bom que já chegou, Bruno, se apresse,
tenho uns assuntos para tratar com você antes do início da
sessão.
Bruno fez sinal de já estou indo com a mão e disse
por fim:
— Me desculpe, mas vou abrir o jogo com ele,
lamento.
Deu-me as costas e saiu rumo ao gabinete e entrou
sem olhar para trás.
Não estava nos nossos planos essa parte de sermos
vistos juntos novamente, nem por Bruno e nem por
ninguém que estivesse sendo investigado pela polícia, e
naquela altura do campeonato, se Bruno abrisse o jogo
com Davi, só provaria sua inocência, coisa da qual jamais
duvidei em nenhum momento.
LXXXI
Bruno fez exatamente o que prometeu, abriu o jogo
sobre as ameaças com Davi, para meu alívio e desespero
de Davi, que tinha quase 100% de certeza de que Bruno
estava metido com as ameaças que ele chama de fake.
Para Davi, alguém que tinha visto o bilhete que Elisa
havia recebido dias antes de sua morte é que estava
plagiando, isso por se tratar de alguém que tinha livre
acesso ao TJ e a minha sala em particular. E se não era
Bruno, só restava Rew, ao menos na minha cabeça,
ninguém mais além dela teria fortes motivos para fazer tal
coisa, inclusive acabar com a vida da pobre da Elisa para
ter o objeto de seus desejos somente para si.
Davi e eu não voltamos a nos ver durante à tarde, já
havíamos sido imprudentes demais, podendo ter sido Rew
ao invés do Bruno a nos ver juntos e não sabia do que ela
seria capaz de fazer ao saber que estava sendo enganada,
e desse jeito não tínhamos outra forma de comunicação a
não ser por trocas de mensagens, e vez ou outra me
pegava queimando entre as pernas só de me lembrar dos
toques dele e do cheiro.
Depois dos bilhetes e das rosas, eu estava sempre
alerta demais e por mais que a polícia trabalhasse com
suspeitos, eu não conseguia deixar de pensar que as
mesmas pessoas que mataram a Elisa pudessem, sim,
estarem envolvidas em tudo aquilo, mas quem eram elas e
como tinham acesso ao TJ tão facilmente?
No fim daquele dia mais que conturbado, único jeito
que achei de conseguir relaxar foi tomando algumas taças
de vinho enquanto brincava com Meritíssimo na sala de
estar, ele amava bolinhas de lã e assim o deixei jogado no
chão tão cansado que o pobrezinho ficou, pois estava
obeso. Olhei em meu pulso e conferi meu watch pela
milésima vez e desde às oito da noite, Davi não me
mandou mais nenhuma mensagem e já era quase meia-
noite, então resolvi deixar a taça na cozinha e ir me deitar,
o dia seguinte seria longo, finalmente sairia a sentença no
caso do Juiz Medeiros. Fui direto para a escada, o sono
havia chegado e minha mãe já havia se recolhido algumas
horas. Minhas pernas estavam pesadas, pudera, o vinho
estava fazendo efeito e eu estava mole, o que me fizera
encarar aqueles degraus como se fossem os últimos
passos de uma maratona.
Nossa! Relaxei com meus treinamentos. Pensei e
ergui a perna para encarar mais um degrau, e quando fui
tentar assimilar o próximo pensamento, fui agarrada pela
cintura e tive mãos enormes tapando minha boca o que de
imediato fizera com que minha pulsação alterasse
demasiadamente, e assim me debati debilmente. Não
fosse o cheiro que me nocauteou, eu teria desmaiado de
pânico, então a voz conhecida sussurrou em meu ouvido,
acalmando-me:
— Xiii! Quietinha — entoou a voz aguda. — Me leva
pro seu quarto — sussurrou em meu ouvido, fazendo um
calafrio se apossar de mim.
Terminei de subir as escadas e no corredor entrei na
segunda porta, meu quarto, e quando a porta se fechou as
mãos que me prendiam se afrouxaram na minha cintura e
saíram da minha boca, então interroguei, pasmada:
— Como foi que entrou aqui?
Mostrou-me as chaves e sorriu.
Fui para cima dele e passei a dor socos de leve em
seu tórax rijo e falando:
— Você queria me matar de susto, seu filho da
mãe?
— Aíí! — resmungou e gargalhou espontâneo.
Davi estava ali comigo, e estava lindo demais com o
cabelo desalinhado, calça jeans e uma camiseta básica
branca de gola V, nem parecia o desembargador
dominador e engravatado cheio de marra que eu conhecia.
Puxou-me novamente pela cintura levando-me até
seu corpo, dizendo:
— De susto não, mas de prazer... — Sorriu
lindamente, me surpreendendo com aquela surpresa e me
beijando. — Hum! Vinho — sussurrou e voltou a degustar
minha boca.
— Você está louco, só pode? — falei, extasiada.
Ele estendeu seus braços fortes em direção a meu
rosto e seu bíceps se enrijeceu apertando assim a manga
da camiseta, e tocou em minha face de forma carinhosa,
dizendo:
— Não... Não é loucura, é vontade louca de você. —
Abruptamente segurou firme no meu queixo e levou-me
para o encontro de seus lábios ávidos e eufóricos. Agarrei
forte em seus cabelos e o puxei cada vez mais para mim
correspondendo ao beijo desesperado cheio de saudades
e desejo. Davi me devorara em seus lábios com muita
gana, como se aquele beijo voraz fosse ser nosso último,
como se não fosse existir um próximo. Sua língua buscava
a minha e a chupava de uma forma deliciosa e a saudade
nos fazia querer devorar um ao outro ensandecidos até que
nos faltasse ar. Ele me puxava pela cintura contra seu
corpo, e foi caminhando comigo até me prensar na parede
do meu quarto ali empurrava seus quadris contra mim
tirando-me o ar ao me fazer sentir toda sua excitação pois
estava tão duro que o sentia pulsar em minha barriga.
Respirávamos eufóricos, era aflição demais, desespero e
paixão acumulados todos os dias do nosso afastamento.
— Como eu te amo, te amo! — disse com nossos
lábios grudados e mãos eufóricas em meu corpo.
Sem entender o motivo meu coração se apertou no
peito e chorei sem controlar com nossas bocas grudadas
em um frenesi assustador.
Davi era enorme, e me fazia sentir pequena e
indefesa, então mordi seu lábio inferior e ele sorriu e
gemeu sufocado na minha boca, e naquele momento, um
jato de lubrificação jorrou de mim e tê-lo dentro de mim era
tudo que meu corpo desejava e ansiava. Eu estava tão
molhada que podia sentir na pele.
Estava tão atordoada que nem me lembrava onde
estava, então Davi me afastou de seu corpo e enfiou a mão
no bolso da calça e tirou de lá um lenço branco de seda, e
eu jurava que ali não teríamos nenhum tipo de privação
sensorial. Ele sorriu quando percebeu minha surpresa e
balançou o lenço no ar me fazendo ter uma espécie de
déjà vu ao me lembrar de todas às vezes que fui vendada
por ele e assim senti a adrenalina circular em meu corpo.
Eu ainda estava tentando me acostumar com esse jeito
dele, mas confesso que ele me deixava mais excitada
quando me pegava de forma impetuosa, eu estava
começando a gostar de senti-lo me dominando daquele
jeito, já sentia até falta, e com minha respiração eufórica,
eu o perguntei:
— Vamos jogar, aqui no meu quarto, senhor?
Davi negou com a cabeça, respondendo-me:
— Hoje sou só o Davi para você.
— Ah é? E por que o lenço? — questionei eufórica.
— Você vai descobrir.
Fiquei observando-o com cobiça, enquanto tirava a
roupa com rapidez e agilidade, exibindo todo seu corpo
moreno, alto e forte. Olhava-o fixamente, revisando cada
músculo proeminente de seu peito nu, as veias grossas em
seus braços e suas mãos que me enlouqueciam e não
conseguia tirar os olhos de seu pau marcando a calça de
uma forma muito sexy por conta da ereção virtuosa que
despontava para fora e que ele ostentava com um olhar de
predador.
Olhei para seus pés já descalço tentando não surtar
com a cabeça rosada do pau dele que estava querendo
saltar para fora do seu jeans com o botão e o zíper já
abertos. Eu estava literalmente com água na boca, pois eu
amava vê-lo de jeans e descalço na minha frente, ali
estava um fetiche delicioso.
Fui pega de surpresa por ele e estava usando uma
daquelas camisolas de algodão que mais se pareciam com
camisetas, era cinza com o desenho rosa de um gatinho
dormindo, juro que teria me preparado se soubesse que
teria uma visita como aquela. Suas mãos deslocaram para
minha cintura e tirou minha camisola e expôs meu corpo
quase nu, então segurou no meu pescoço e sussurrou no
pé do meu ouvido questionando com um tom de voz que
me embriagava:
— Você vai ficar quietinha?
— Pode apostar — respondi sem nenhuma
hesitação.
— Claro que vai! — disse ele, vindo até mim com o
lenço na mão e me virou de costas e levou o tecido macio
em minha boca e me amordaçou. — Isso é só para sua
mãe não nos ouvir, não se preocupe, não precisará usar
sua palavra de segurança hoje.
Abri a boca para tentar falar, mas ele já havia
amarrado o lenço, e não sei explicar como as sensações
acontecem, mas aquilo me deixou extremamente excitada
e despertava em mim instintos primitivos e manifestações
de meus desejos e emoções guardadas bem no íntimo, e
Davi sabia bem como despertá-los.
Então deslizou suas mãos firmes em minhas coxas
arranhando-me quando deslizou minha calcinha para baixo
até tirá-la do meu corpo assim que ergui meus pés
livrando-me da lingerie.
Então se ajoelhou-se diante mim, minha vagina se
contraiu em antecipação e pulsou quando ele olhou para
mim de forma tão febril enquanto suas mãos acariciavam
minhas coxas e quadris, e me senti aquecer ainda mais
quando ele disse:
— Eu vou chupar você, fique quietinha.
Eu estava zonza, mole e completamente
entorpecida de tesão e isso só piorou quando ele subiu
beijando minha perna e me tocando com delicadeza,
alternando entre beijos, toques e mordidas leves, subindo,
subindo. Gemi me contorcendo ludibriada tentando achar
um lugar para me segurar quando sua boca chegou no
meio de minhas coxas e ele ergueu minha perna e a
passou por cima de seu ombro, deixando minha boceta
completamente na cara dele, ao seu bel-prazer. Então fui
ao delírio quando sua barba cerrada encostou em minha
vulva preludiando a sensação que me matou tesão assim
que sua boca alcançou meu sexo chupando e sugando, e
com a língua que foi logo me lambendo, sem dó, e assim
grudei em seus cabelos e gemi me contorcendo toda
quando foi mais funda me penetrando.
— Puta merda! Como você é gostosa.
Arfei sentindo-me no céu, eu já estava a flor da pele,
pelo tesão que ele me fazia sentir em seus beijos, e estar
ali sendo degustada, lambida, invadida pela boca dele não
iria durar tempo demais, eu já estava em um grau de
excitação muito elevado. No início, sua língua me fodia,
indolente e lenta, mas não demorou e passou a me torturar
mais vigorosamente, visto que meus quadris se moviam
frenéticos para frente e para trás contra sua boca. Davi
gemia, apertando suas mãos enormes sobre meus quadris,
seus dedos cravando fortes em minhas nádegas
segurando-me firme enquanto me possuía e me destruía.
Ia ao píncaro do prazer quando ele simplesmente engolia
toda minha vulva, e sua língua se enfiava profundamente
dentro da minha vagina, e depois fazia forte pressão com a
ponta dura de sua língua sobre meu clitóris
enlouquecendo-me e me fazendo desejá-lo dentro de mim
desesperadamente.
Me fode, me fode pelo amor de Deus! Minha mente
choramingava e meu corpo entrava em ebulição.
Era tortura demais, era bom demais ter um homem
aos meus pés e enfiado no meio das minhas pernas me
devorando avidamente em seus lábios, era como ser
beijada e destruída em gotículas de uma volúpia
despudorada.
Davi se movia bruscamente, entre minhas coxas,
estimulando-me sem pressa e com muita precisão, ele
sabia exatamente como fazer aquilo. Meus olhos se
reviravam e ele me olhava de boca aberta quando estava
me estimulando só com os dedos, eu estava quase
explodindo em sua boca, queria muito que se enfiasse logo
de uma vez em mim e nem podia pedir, implorar para que
me penetrasse e assim o sofrimento me fustigava de uma
forma inexplicável entre gemidos sufocados, e então,
quando voltou a me estimular com a ponta da língua dura
explorando meu clitóris, eu simplesmente me senti
desmontando em partículas, meu corpo se arrepiou e meus
olhos giraram na órbita. Meus dedos se afundaram em
seus cabelos quando ele enfiou a língua inteira em minha
vagina e os espasmos vieram intensos me fazendo
tremular e gemer, gozando em sua boca.
Meu orgasmo se prolongava na ponta da língua
quente e voraz se enterrando entre meus lábios,
esfregando e dilacerando meu clitóris. Choramingava
agarrada em seu cabelo grosso me sentindo a própria
deusa Perséfone em seu despertar de sua sexualidade.
Minha cabeça caiu para trás em meio a um orgasmo
furioso de um êxtase voluptuoso e eu gemia enlouquecida
sem emitir um som alto.
— Isso, goza, goza na minha boca.
Quanto mais ouvia o som daquela voz rouca e sem
forças, mais meu corpo emitia ondas de prazer em meu
útero, me fazendo simplesmente sair de mim naquele
momento. E aquele orgasmo foi forte e violento que me
senti literalmente despejando na boca dele enquanto ele
bebia.
Davi me mantinha presa em seu ombro, estava
mole, sem forças e mesmo assim, sua boca continuava me
sugando com uma força comedida, sugando cada explosão
e gota do meu prazer, e dos tremores do meu corpo. E
quando por fim, meu corpo se acalmou, ele me lambeu
uma última vez sugando cada fluido da minha luxúria e
sexo. Então ele se colocou de pé estremecendo, e tirou a
mordaça, me acariciando ao tirar os cabelos do meu rosto,
questionando-me:
— Tudo bem, meu amor? — Seus olhos cinzas
faiscavam.
Eu estava como bêbada em seus braços, e não era
do vinho, isso eu podia garantir, e sobre sua pergunta só
consegui assentir balançando a cabeça.
Davi era intenso, sombrio e poderoso demais
quando se tratava de sexo, ele sorriu e me puxou para ele,
pressionando um beijo úmido com meu próprio gosto
contra meus lábios e assim nos beijamos novamente, e a
gana com que fui tomada era o reflexo de toda nossa
paixão e luxúria, e desse modo, novamente nossos corpos
foram experimentando a força da crescente excitação, ele
duro demais pressionando em minha entrada quente e
pulsante, eu voltando a me excitar com seus beijos que
exploravam cada canto do meu corpo terminando em meus
seios, que ele os engolia e passava a língua me deixando
completamente pronta para ele novamente.
— Meu pau precisa de você. — Mal tive tempo de
assimilar as palavras e curtir o frio que elas provocaram em
meu estômago, tive minha perna levantada e já o senti se
atolar inteiro em mim, penetrando-me com força em uma
estocada funda que me fez gemer sem saber se de dor ou
se de puro tesão, com a adrenalina e o tesão circulando
feroz em meu corpo me fazendo morder seu ombro e
gemer:
— Ah!
Levou seu dedo úmido com o líquido do meu sexo
em minha boca e o enfiou nela, e assim, eu o chupei
sentindo meu gosto.
— Você gosta né? Gosta do seu gosto. — Estocou
forte novamente incitando assim uma sequência de
investidas duras, socando, metendo, me apertando e
mordendo minha orelha, enquanto bombeava
enlouquecido, me comendo sem dó e de pé com as costas
batendo na parede fria do meu quarto.
Em um movimento abrupto, agarrou-me pela cintura
impulsionando-me a grudar em seu quadril com minhas
pernas, e assim senti sua ereção febril me invadir
novamente. Eu estava enlouquecida por ele, o mundo
podia acabar lá fora que nada mais me importava, só estar
nos braços do meu homem, que naquele momento, estava
completamente ereto e excitado dentro de mim, me
fodendo sem parar, comigo agarrada em seu pescoço.
Davi caminhou comigo, grudada em seu quadril pelo
quarto e se sentou em minha cama, e eu fiquei
deliciosamente encaixada e por cima de seu pau. Ele
continuou a me beijar de forma desesperadora, chupava
meus lábios e descia a boca nos meus seios, chupando-os
com vontade e gana. Quando senti seus lábios quentes em
meus mamilos, soltei um gemido estremecido jogando
minha cabeça para trás.
Suas mãos queimavam em meus quadris, eu estava
febril e ele foi me rasgando, novamente, invadindo-me aos
poucos e acomodando-se ao mesmo tempo, em que eu o
recebia calorosa e me moldava a ele. Só aquela
penetração já teria me feito gozar, se eu não estivesse me
segurando, pois eu senti fortes pontadas de tesão. Davi
grudou em minha face com as mãos e beijou-me com fome
novamente, e enquanto eu o beijava, grudei em seus
cabelos e passei a me soltar em cima dele, me mexendo,
exigindo, e assim ele grudou em meu quadril e passou a
ditar o ritmo da minha cavalgada em cima dele. A
velocidade que Davi impôs me deixou louca, ele se
enterrava em mim com muita voracidade, parecia um
animal no cio, meus movimentos circulares ao redor do seu
pau foi se intensificando, e eu subia e descia explorando
todo o comprimento dele.
— Donna, como você é gostosa — falou e apertou
meu quadril exigindo ainda intensidade em suas estocadas
que iam ainda mais fundo com a força que ele fazia em
meus quadris mantendo um ritmo alucinante de estocadas.
Aquele pau era tão grande que o sentia tocar em meu
útero, ao mesmo tempo que sentia-me ser invadida em
meus ânus por seu dedo do meio.
— Vai gozar de novo para mim, vamos, busque o
que quer.
Suas mãos estavam afundadas em minhas nádegas
me puxavam diretamente para suas investidas perfeitas, eu
amava a forma dele de me pegar, me foder e me amar na
mesma proporção, e assim me comeu ali investindo cada
vez mais rápido, e me apertando os seios, mordendo-me
nos ombros e me fazendo sentir o alento do calor do corpo
a cada estocada desferida contra mim.
Davi era um homem forte, os músculos bem
acentuados, sem exageros e quando se aproximava do
meu ouvido para me morder ou gemer e me enlouquecer,
eu sentia seus músculos me tocarem firmes e torneados. O
som, o cheiro do nosso sexo, tudo ia se juntando em uma
volúpia que eu amava, seus dedos explorando cada canto
do meu quadril e me guiando com maestria. Poder cavalgar
naquele corpo e ainda observar as expressões de tesão
em sua face febril, me dava um tesão surreal. Ele era lindo
demais, poderoso, inteligente e sagaz. Davi gemia baixo,
rouco, e metia sem parar me comendo e me torturando.
Me virou para a cama e me colocou deitada de
bruços, virando-me de bunda para ele com a mesma
fugacidade, e passou a beijar minhas costas, me fazendo
sentir sua ereção cutucando-me, procurando minha
entrada novamente, e, de repente, ele me invadiu e voltou
a dar fortes e frenéticas estocadas em mim. Aquele homem
era sem dúvida o deus do sexo, ele sabia o que estava
fazendo; então dei fortes indícios de que iria gozar, mas ele
interrompeu as estocadas quando viu que eu iria gozar, só
para me torturar ainda mais. Eu gemia, baixinho, mas
queria gritar, queria explodir novamente.
Ele debruçou seu corpo quente em cima das minhas
costas e me enlaçou fazendo-me ficar ereta, assim nossos
corpos em ebulição se uniram e ele continuou socando
forte, e metendo de forma cadenciada. Ergueu meu braço
esquerdo a fim de encontrar meus lábios sedentos e
continuou a se enfiar em mim com a voracidade de um leão
faminto; suas estocadas eram frenéticas e cada vez que
socava em mim seu pau enorme e grosso, eu me via mais
perto do meu orgasmo. Ele gemia nos meus lábios
enquanto segurava forte em meu pescoço, asfixiando-me.
Me comia, me devorava, e me sufocava ao mesmo tempo.
Eu estava amando aquela forma de ser amada e dominada
ao mesmo tempo, e enquanto mantinha suas mãos
enormes no meu pescoço, me comia com estocadas cada
vez mais fortes e violentas. Estávamos extasiados de
prazer.
— Geme para mim — dizia ao pé do meu ouvido de
uma forma sufocada. — Geme e vamos gozar juntos.
— Oh! — Ele nem precisava pedir, meu prazer saía
em forma de sussurros de meus lábios de forma
involuntária.
Eu não estava mais aguentando, eu iria gozar pela
segunda vez, então Davi segurou em meu rosto e o virou
em sua direção e beijou-me enlouquecido, e quando sugou
minha língua de uma forma que ninguém havia feito antes,
dei um grito sufocado e gemi em sua boca enquanto ele se
enfiava cada vez mais grosso dentro de mim. Senti meu
corpo ficar mole, com espasmos e tremores deliciosos, eu
estava em êxtase, eu estava tendo o orgasmo mais
maravilhoso que já tive, explodi com seus lábios grudados
nos meus, que me levaram a ficar fora de órbita. Tudo
estava em câmera lenta.
— Ohhh!
— Isso, amor, goza no meu pau, goza para mim,
minha Têmis, gozaaaa — mandava e eu gozava, ele
estocava mais rápido e voraz, ele estava louco atrás de
seu clímax, e seu suor me molhava.
Eu fiquei entregue a ele, estava com meu corpo
mole, e sentia-me inundada. Davi perseguia seu orgasmo
de forma desesperadora, chupava meus lábios e apertava
meus seios com uma das mãos e me comia com força,
bombeava, e socava mais forte e mais forte, em uma
violência frenética, até que soltou um gemido gutural e
selvagem no meu ouvido, gozando e se contorcendo todo
em minha vagina, e quando eu ouvi aquele gemido
delicioso, que ele soltou grudado em meu pescoço,
aconteceu-me algo que nunca nenhum homem havia
conseguido antes, eu simplesmente gozei novamente, e
senti minhas pernas bambearem enquanto ele se contorcia
todo dentro de mim, gozando e dando estocadas mais
leves e gemidos torturantes de um orgasmo pleno e
arrebatador.
— Ohhh, Donna — gemia com à respiração
entrecortada. — Que delícia, que porra de mulher gostosa.
Davi estava com a respiração ofegante, grudado em
mim como um animal, raspando sua barba por fazer em
meu pescoço.
Eu gemi de prazer novamente com meu corpo
tremendo todo, eu fechei meus olhos e minha boca se
encheu de água, babei de tanto prazer em minha cama.
— Gozou de novo para mim! — sussurrou e caiu
exausto de lado em minha cama e puxou-me para seus
braços, grudou em meus lábios e beijou-me deliciosamente
de uma forma mais mansa, ofegante com o peito subindo e
descendo.
— Caralho, o que foi isso? — perguntou-me.
— Saudade, só saudade, meu amor.
Ficamos os dois recuperando nossas energias. Davi
pingava um suor delicioso e cheiroso. O cheiro no
ambiente era de um sexo animal, qualquer um que
entrasse ali naquele momento, saberia que alguém esteve
transando. Aquela foi a melhor transa de toda minha vida,
até aquele presente momento. Davi com aquele corpo do
pecado prometia outras muitas com tanta ou maior
intensidade.
Davi se levantou e caminhou pelado até o banheiro,
cheio de luxúria com aquele traseiro deliciosamente
definido. Eu nunca vi tanta perfeição em um só homem e
quando voltou do banheiro, me pegou em seu colo e me
carregou até a banheira que ele havia ido encher, eu ainda
estava mole do êxtase dos orgasmos seguidos. Adorava a
parte de tomar banhos com ele após o sexo.
Acordamos os dois em minha cama com minha mãe
batendo em minha porta e dizendo:
— O café dos pombinhos já está servido.
Olhei para Davi com os olhos arregalados e senti-
me queimar de vergonha, então falei:
— Como ela sabia que você estava aqui?
Davi sorriu, e disse:
— Você acha que peguei a chave da sua casa? —
piscou para mim.
— Meu Deus! — tapei os olhos com a mão. — Que
vergonha!
— Temos que levantar, hoje é o último dia do
julgamento do Medeiros — disse ele se colocando de pé e
deliciosamente nu na minha frente. — Não deveria ter
dormido aqui, não posso ser visto saindo.
— Tarde demais, Vossa Excelência.
LXXXII
Acordar ao lado de um deus como Davi fazia-me
sentir uma deusa, definitivamente me sentia uma nova
mulher, sacrifiquei as características da Donna passiva e
resignada para me entregar verdadeiramente aos meus
desejos mais ocultos e imorais aos olhos da sociedade, e
assim me sentia plena, não somente em relação aos atos
sexuais, mas em um todo. O fato de ter admitido e aceito
meus desejos de prazer abrindo mão da velha Donna,
equilibrando assim a sedução e a transparência, prazer e o
amor me deixava radiante, eu realmente havia encontrado
o equilíbrio nessa relação com Davi ao despertar a deusa
em mim.
Davi e eu tomamos café juntos na cozinha, ele e
minha mãe pareciam se dar muito bem, e enquanto minha
cara queimava de vergonha por toda a situação de ter sido
descoberta por minha mãe, os dois agiam com uma
naturalidade surreal, na verdade, minha mãe sempre fora
um passo à frente de mim. Falava e tratava de certos
assuntos com a mente mais aberta.
Enquanto me trocava, Davi pediu para ver meu pai,
e só foi permitido a ele entrar no quarto depois do banho e
de toda a higienização, e da porta do quarto fiquei
observando o encontro dos meritíssimos da minha vida.
Meus olhos se encheram de lágrimas ao ver a forma
com que Davi conduzia aquela conversa e por vezes eu até
achava que meu pai estava se lembrando do Davi.
— O senhor se lembra de quando pisei a primeira
vez no Palácio? Eu era só um promotor e o senhor já era o
Presidente do TJ — perguntou Davi.
— Presidente! — Meu pai repetiu a palavra
exclamando, como se a palavra lhe trouxesse muitas
lembranças. — Eu sou o presidente — afirmou com muita
certeza.
Davi virou o pescoço me procurando e sorriu
piscando para mim, e então se voltou novamente para meu
pai dizendo:
— Sim, o senhor é um presidente imortal, o melhor
que já caminhou por aqueles corredores.
— Corredores... tapetes vermelhos, eu me lembro
do barulho dos Passos Perdidos que nos leva ao salão do
júri e são 16 colunas... — balbuciou arrastado meu pai.
— Sim... — Davi sorriu e me olhou. — São 16
colunas de granito vermelho, Excelência.
Meu pai suspirou e uma lágrima escorreu de seus
olhos saudosos.
— Donna — chamou e me olhou de uma forma tão
profunda que achei que tinha me reconhecido, mas aí
repetiu a frase que vinha escutando há mais de um ano. —
Papai vai trabalhar a madrugada toda, não vou poder
colocar você na cama hoje.
Fui até próximo da cama, segurei em sua mão e
falei:
— Está bem papai. — Então ele voltou a usar frases
que repetia sempre.
— Traga minha toga, Helena, vou me atrasar, hoje
darei a sentença mais difícil da minha vida, vou tirar um
peso enorme das minhas costas. — Ele sempre pedia a
toga para minha mãe, sempre voltava no dia em que julgou
o assassinato de Cristina Alencar, que fora morta por seu
ex marido de forma brutal. Acredito eu, que esse
julgamento tenho marcado muito a vida de meu pai, e se
eu não estiver errada, ele iria proferir agora palavras desse
dia tão marcante para ele, e não deu outra, ele passou a
citar partes da sentença, dizendo de forma embargada:
— O motivo do crime foi torpe... Consistente no
rompimento do relacionamento amoroso. Muitos crimes
são cometidos em nome do amor. Mas que tipo de amor é
esse que se transforma em obsessão? Pois o que se quer,
no fundo, é subjugar a pessoa, que se diz amar agindo
assim de forma cruel e fria. — Abracei-me em mim mesma
e baixei a cabeça enquanto ele continuou deferindo a
sentença. — Conforme mencionado alhures, reconheço a
qualificadora do recurso que dificultou ou impossibilitou a
defesa da vítima como circunstância agravante (art. 61, II,
“c”, do CP), passando a reprimenda ao patamar de vinte
anos de reclusão. Sanção que torno definitiva à míngua de
outros elementos que justifiquem qualquer alteração.
Ele sempre repetia essa parte da sentença,
condenando há 20 anos um homem que matou sua esposa
com requintes de crueldade, vindo a picar as partes do
corpo da mesma, caso esse que mexeu profundamente
com o Brasil e com meu pai a ponto de não permitir o
esquecimento.
Tapei a boca quando a lágrima escorreu sem
reserva dos meus olhos, meu pai era tão novo para estar
em uma condição tão triste quanto a que se encontrava,
eram apenas 69 anos de uma vida cheia de grandes e
louváveis conquistas, e todo o tempo que poderia estar
aproveitando de sua aposentadoria estava sendo devorado
em cima de uma cama por uma enfermidade ingrata como
era o Alzheimer.
— Me lembro dessa sentença — disse Davi —, caso
Cristina Alencar, não é à toa que ele tenha essas palavras
bem vivas em sua memória, foi um julgamento bem
memorável.
— Sim — suspirei. — Tem dias, que ele refaz todas
as partes da sentença, pelo menos as partes em que
discorreu sobre o amor, e é lindo demais ouvir, sabe?
Davi se emocionou, eu me emocionei mais uma vez,
e o pior, Davi estava prestes a dar uma sentença logo mais
tarde.
LXXXIII
No final daquela tarde, após inúmeras sessões de
julgamento, o desembargador Carlos Henrique Medeiros,
vice-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, foi
condenado por cobrar propina para beneficiar uma
candidata à Prefeitura de São Paulo. O magistrado foi
afastado de suas funções por determinação judicial em
primeira instância, sendo assim, condenado a seis anos de
prisão em regime fechado e teve seu caso revisado pelos
juízes de segunda instância, tendo o desembargador Davi
Campos como relator, que votaram por manter a pena,
restando claro a decretação da perda do cargo e a
consequente cassação da aposentadoria compulsória,
aplicada como pena, decorrente do acórdão transitado em
julgado que expressamente determinou a perda do cargo
do desembargador por crime de corrupção passiva
descoberto no curso das investigações.
O dia foi longo, já era quase sete da noite, estavam
todos exaustos, mas eufóricos e felizes por finalmente ter
encerado o processo que se estendeu mais que deveria; e
eu só queria um banho, algo quentinho para comer, minha
barriga estava roncando, e cama. Parabenizei todos os
envolvidos, incluindo Rew e Davi e segui satisfeita para a
escadaria do Palácio, visto que não havia ascensorista
àquela hora, e para mim, era sempre um prazer apreciar a
beleza nobre da Escadaria das Princesas, com seus
degraus em mármore Carrara e corrimãos de mármore
português.
Estava distraída olhando e apreciando o luxuoso
teto e seus vitrais coloridos e ornamentados quando Bruno
me alcançou apressado no primeiro lance da escada,
dizendo nervoso:
— Donna, espere um instante, estou o dia todo
querendo falar com você, preciso te mostrar uma coisa
muito importante.
— O que é tão importante que não pode esperar até
amanhã? Hein? Estou exausta, Bruno.
Bruno olhou para trás e parou o que ia dizer assim
que Rew passou por nós, estava apressada demais,
falando em seu celular e nem nos dirigiu nenhuma palavra
se quer.
— Essa mulher me assusta — falei e continuei a
descer os degraus
— Isso porque você não sabe o que descobri hoje à
tarde quando estávamos usando o elevador juntos, eu e
ela.
Parei abrupta, arregalei os olhos e questionei:
— Do que está falando, Bruno?
— Não vou falar, vou te mostrar, venha comigo.
Assim que pisamos no hall de circulação central do
Palácio, o Salão dos Passos Perdidos, Bruno segurou em
meu braço, e ao invés de me guiar para a porta de saída
do TJ, ele me guiou para a direção contrária,
derradeiramente, ao Salão do Júri e assim que ergui meus
pés para subir os degraus que me levariam para um local
onde só havia uma saída, senti meu coração bater de
forma instintiva, não sabia o motivo, mas não deveria entrar
naquela sala com ele.
Assim que adentrei no salão e caminhei
eventualmente sobre o piso, reparei que daquele ambiente
também havia sido retirados os tapetes vermelhos, e dessa
forma, meus olhos foram logo direcionados ao crucifixo,
pois era automático entrar ali e termos nossa visão inicial
levada ao cristo, em seguida, olhei para o vitral da deusa
da justiça, Têmis, e senti um frio percorrer minha espinha
ao vê-la vendada com as mãos apoiadas a espada que
tocava o chão. É impossível não se encantar com a beleza
daquele lugar, que está desativado há anos, servindo
atualmente apenas para eventos especiais da magistratura,
palestras e concursos. É uma sala deslumbrante, toda
revestida de lambris de madeira de lei, entalhada por
artífices do liceu de artes e ofícios, decorado com
características renascentistas, principalmente no teto onde
encontra-se uma belíssima claraboia com vitrais, lustres de
bronze e alabastro, já havia me cansado de ouvir tudo isso
nas muitas visitas monitoradas que aconteciam ali e que
por vez ou outra eu parava para ouvir atentamente as
explicações históricas.
Após o primeiro impacto de estar ali dentro, coisa
que raramente eu fazia, virei-me para Bruno e questionei:
— O que estamos fazendo aqui?
— Não podia te mostrar isso em qualquer lugar. —
Tirou do bolso interno de seu paletó preto um bilhete
exatamente como os que eu vinha recebendo, e duas
pétalas brancas de rosa.
Peguei em minha mão e li aterrorizada os recortes
de revistas que dizia:
“Sei que está mentindo para mim, aguente as
consequências”
Senti meu coração bater em meus ouvidos, minhas
mãos tremeram e o papel caiu no chão quando o gosto
amargo e metálico conhecido se espalhou em minha boca
quando consegui questionar:
— O que significa isso, Bruno?
Ele me olhava assustado, a expressão em seu rosto
falava mais que seus lábios, e assim explicou-se:
— Quando voltei do almoço, subi pelo elevador
coincidentemente junto com a Dra. Rew Maria, e distraída,
mexendo em sua bolsa a procura de seu aparelho celular
ela deixou cair esse papel e duas pétalas. Donna, ela não
se deu conta e eu rapidamente apanhei para devolver a
ela, mas quando vi o que tinha no papel, tratei logo de
guardar em meu paletó.
Girei ao redor de mim mesma, a cabeça girando a
mil, e aturdida sentei-me em uma cadeira e questionei
confusa e chocada:
— Por que esperou o dia todo para me mostrar
isso? — indaguei-o catatônica.
— Procurei por você, mas quando a encontrei você
já estava na sala do julgamento, então preferi esperar.
Levantei-me e caminhei de um lado a outro sem
saber o que fazer, então Bruno disse:
— Precisamos mostrar isso ao Dr. Davi, você
entende a gravidade desse bilhete, Donna? Parou para
pensar que a Dra. Rew pode ter matado...
Antes de Bruno conseguir terminar sua frase, uma
voz feminina e aveludada ecoou pelo salão chamando
nossa atenção para a porta:
— Saia de perto dela, Bruno, saia agora! — exigiu
vociferando.
A ordem fora dada pela dona do papel que eu
segurava entre os dedos trêmulos, então Bruno respondeu,
dizendo:
— Abaixe essa arma, Rew, vamos conversar, não
faça nenhuma besteira, está bem?
— Cala sua boca e saia de perto dessa mulher ou
eu acabo com você antes que consiga piscar — respondeu
apontando a arma em nossa direção enquanto avançava
alguns passos à frente em cima de um salto elegante e
preto, cujo barulho produzido no silêncio do salão era
assustador, e nunca antes tinha tido minha audição
aguçada tão assombrosamente por barulhos de salto
agulha, e assim fiquei focada no tec, tec, produzidos por
ela ao se aproximar lentamente.
Rew usava um conjunto de terninho preto
acinturado, uma camisa branca por baixo e a saia afunilada
até os joelhos, estava elegantemente linda e altiva como
sempre em um rabo de cavalo.
Eu estava atordoada, minha mente não teve tempo
suficiente para tentar entender o que estava se passando
ali, e conforme Rew marchava em nossa direção com uma
arma em punho, foi discorrendo:
— Achou que eu não fosse ver você se abaixando e
recolhendo o papel, Bruno? — gargalhou insolente — Você
foi bem fugaz querido, mas eu vi claramente. Nunca...
jamais... subestime a atenção de uma mulher,
principalmente de uma juíza.
— Não subestimo as mulheres, pelo contrário, eu as
estimo ao máximo — respondeu desafiador, enquanto eu
tremia violentamente por dentro, sem conseguir controlar
aquela sensação fustigante.
—É mesmo? E é por isso que você está aqui todos
esses anos? Por causa de uma mulher que cruzou seu
caminho?
— Não sei do que está falando, doutora — Bruno
disse sedoso e calmo, aliás, estava calmo demais para o
meu gosto.
— Não se faça de idiota, Bruno. — Ela deu um
sorriso largo.
O clima estava tenso, o ar estava denso e
carregado, e eu não conseguia entender o motivo de
ninguém ainda ter entrado no salão para tentar conter
aquela louca, mas quando minha mente se permitiu pensar
nisso, questionando onde estavam todos, e em Davi, meus
olhos foram direcionados rapidamente para a porta,
quando a voz dele cruzou a sala e chegou até nossos
ouvidos, aflita “Donnaaa!”
Rew girou seu corpo instintivamente em direção a
porta e em fração de segundos ouvi um ruido ensurdecedor
tomar conta do salão do júri seguido de um grito agudo:
— Nãooo!
Tudo aconteceu rápido demais, o pavor tomou de
mim enquanto toda a cena foi se juntando em migalhas na
minha cabeça tomada por um zumbido em meus ouvidos.
Rew estava nos braços de Davi, se debatendo em agonia
enquanto o sangue jorrava de seu abdômen manchando a
camisa branca. Davi levou seus dedos na jugular dela a fim
de sentir seus batimentos cardíacos e sua voz embargada
disse enquanto olhava em direção a porta:
— Alguém, ajuda aqui, chamem o socorro, pelo
amor de Deus!
Meus olhos se encheram de terror diante de toda a
cena se passando em uma espécie de câmera lenta na
minha frente, e só então dei-me conta de que estava nos
braços de Bruno, ou melhor, seu braço estava envolta do
meu pescoço e eu tinha uma arma apontada para minha
cabeça. Ele havia atirado em Rew quando ela se distraiu e
virou para olhar para Davi.
Fechei meus olhos e uma lágrima escorreu ao
perceber tudo que estava acontecendo bem diante deles, e
não acredito que em algum momento pensei em Rew como
assassina, sendo que o assassino estava do meu lado o
tempo todo.
— Saia de perto dessa vaca nojenta, Davi. — Bruno
ordenou.
— Bruno, calma, cara, me deixa socorrer a Dra.
Rew, por favor. — Davi implorou.
— Não, essa cadela vai morrer as minguas aí no
chão, e se alguém ousar pisar aqui dentro do salão eu
acabo com a vida da sua namoradinha.
— Cara, por favor, só me deixa tirar ela daqui e
depois conversamos, ok? — Davi se abaixou e fez menção
de pegar Rew no colo.
— Tira a porra das mãos de cima dela, caralhooo! —
Bruno rosnou enfurecido me apavorando e se mostrando
um monstro que eu não conhecia.
— Tudo bem... Tudo bem, Bruno Melo — disse Davi
ironizando e suspendendo as mãos para cima e levantando
lentamente ao citar um sobrenome que não era o de Bruno.
— Do que foi que me chamou? — Bruno questionou
perplexo.
Davi voltou a olhar para Rew no chão e respondeu
em seguida:
— Você sabe muito bem — Davi sorriu. —E não foi
difícil descobrir quem era o autor das ameaças feitas a
Donna, visto que desta vez você foi bem imaturo colocando
o bilhete em cima da mesa de trabalho dela e assim todos
que entraram e saíram daquele gabinete foram
investigados minuciosamente, começando pelas
impressões digitais, que nos levaram até você, Bruno Melo.
— É, vacilei... — concordou. — Sabe, Davi,
agradeça a essa mulher aqui o fato de você ter sobrevivido
por tanto tempo, pois se não fosse eu ter me apaixonado
por ela, você já estaria embaixo de sete palmos junto com
Elisa. Porque se eu te matasse não iria mais ter como
continuar trabalhando aqui.
— Bruno, eu nunca cometi nenhuma injustiça com
você, acredite, seu pai tinha que pagar pelos crimes
cometidos e viver trancafiado o resto da vida.
— Meu pai pagou, seu calhorda desgraçado —
Bruno, vociferou —, e por sua culpa ficou mais cinco anos
que o máximo permitido por lei, até morrer trancafiado
naquela maldita casa de custódia, porque você o condenou
de novo.
— Seu pai não era só um dos maiores
narcotraficantes desse país, ele era um assassino
psicopata de auto periculosidade que matava e
esquartejava seus desafetos, isso quando não os
queimava vivos. Tinha uma mente doentia, picou a amante,
e uma vez psicopata, sempre psicopata e é por isso que
ele não foi devolvido ao convívio social depois de cumprir
os trinta anos, tonando-se assim um parasita encarcerado.
— Eu jurei para meu pai que ia te fazer sofrer e
aquele outro juiz filho da puta, seu desgraçado, e fiz,
mandei dar fim naquela filha do juiz Oliveira e na sua Elisa,
só que quando me cansei do joguinho e ia acabar de vez
com você, a Donna apareceu aqui no palácio me fazendo
adiar meus planos porque me apaixonei por ela.
— A meu ver então você não é menos doente que
seu pai, e se eu estiver errado me deixa tirar a Rew daqui
— Davi respondeu, mantendo uma calma alarmante.
Rew ainda agonizava no chão, mas logo começou a
jorrar sangue pela boca e desesperado Davi se ajoelhou
perante ela novamente, dizendo:
— Aguenta firme, Rew, aguenta firme. — Davi,
mantinha-se incrivelmente calmo e racional, então voltou a
encarar Bruno, e tinha um sofrimento palpável em seus
olhos, quando implorou. — Por favor, Bruno.
Bruno fez um gesto com a cabeça dando a Davi
permissão para socorrer a Presidente do TJ, mas disse:
— No seu lugar deixaria ela morrer, sabemos que
será eleito o próximo presidente do TJ se isso acontecer —
apertou o braço em meu pescoço e concluiu. — Claro, se
eu deixar você sair vivo daqui — gargalhou.
Eu estava em transe, completamente apavorada e
estática, temia por minha vida e pela vida de Davi, não
tinha como prever o que estava se passando pela cabeça
do até então meu melhor amigo quando ele mantinha uma
arma encostada em minha têmpora.
Davi ergueu o corpo desfalecido de Rew em seus
braços, colocou novamente o dedo em sua jugular e olhou
para Bruno com fúria, então baixou os olhos e falou com o
tom de voz de dor:
— Está morta... Seu covarde miserável! — gritou
enraivecido com as feições de seu rosto transformadas em
um ódio palpável.
Suspirei de tristeza, meu corpo antes fazendo força
agora estava mole, era tudo culpa minha.
Davi deu-nos as costas carregando Rew em seus
braços, e a entregou na porta para um de seus
seguranças, Jonas, e retornou para dentro do salão do júri.
Nunca imaginei que fosse derrubar lágrimas por aquela
mulher, mas chorei, e chorei de remorso, ela tentou me
salvar.
— Bruno, solte a Donna, chega cara, você já terá
três homicídios em suas costas, não precisa de mais um.
— Você vai pagar por ter condenado meu pai a
passar o resto da vida trancafiado naquela casa de
custódia — alertou Bruno — Você o condenou à morte, seu
miserável — Bruno gargalhou. — Como pôde condená-lo
de novo? Ele já tinha cumprido os 30 anos por conta do
corno do Oliveira, que bateu o martelo o condenando há
risíveis 212 anos.
— Para que faça cumprir a lei, para que caras como
seu pai não usufruam de concessões nem de progressão
de regime em liberdade, mas isso você sabe muito bem,
Bruno. Seu pai era um psicopata e eu o teria condenado a
morte, se assim nosso código penal permitisse, meu caro
assessor.
— Eu estudei muito para chegar até você, seu
miserável, falsifiquei meus documentos, aprendi atirar
como ninguém e me preparei para pegar você
pessoalmente, sem mandantes. Seu dia chegou seu juiz de
merda.
Davi levantou as mãos dizendo:
— Ótimo, se teu único foco sou eu, solte-a, por
favor, Bruno, eu imploro.
Bruno grudou em meus cabelos com força,
automaticamente levei minhas duas mãos e coloquei em
cima das dele na tentativa de fazer doer menos, dizendo e
gaguejando:
— Bruno... Por favor, vamos conversar, só nós dois
— tentei dialogar.
— É assim que gosta, Donna? — Doía, e doía
muito. — Quer que eu puxe com mais força até você sentir
o couro cabeludo se desgrudando da cabeça? Responde
vagabunda — falava com tom de voz alterado, apertando
seus dedos em meus cabelos.
Mal consegui raciocinar para responder, mas vi
quando Davi deu um passo à frente e logo Bruno o alertou:
— Fica quietinho aí, meritíssimo, ou estouro os
miolos dela.
Fechei meus olhos, meu corpo tremia.
— Tire o paletó, Vossa Excelência — Bruno,
ordenou.
Naquele momento os seguranças de Davi
adentraram no salão e falaram algo com Davi que não
conseguimos ouvir, então Bruno logo alertou:
— Se esses caras derem mais um passo, sua
mulher morre. Saiam! Saiam! — gritou nervoso.
— Saiam da sala! — Davi ordenou aos seus
seguranças, três no total.
Davi fez exatamente como Bruno ordenou, tirou seu
paletó e o colocou em uma cadeira do lado esquerdo do
corredor.
— Erga a camisa, e tire a arma do coldre e a chute
aqui para mim. — Bruno voltou a exigir.
— Não estou armado — respondeu Davi.
— Ah, Excelência! — Bruno disse irônico. — Para
cima de mim, não né... Conheço sua rotina, sei que deve
estar usando uma arma.
— Não estou armado hoje, Bruno. — Davi levantou
a camisa até a altura do tórax e girou em seus calcanhares,
não tinha nenhuma arma com ele.
— Levante as pernas das calças.
— Já disse que não estou armado — Davi
respondeu tranquilo levantando as pernas de ambas as
calças. — Não ando armado quando estou com a
segurança, você sabe bem disso.
— Ajoelhe-se sua cadela! — Bruno me forçou e caí
de joelhos aos seus pés virada para Davi que estava a
poucos metros de mim — Boa menina! — Passou a mão
em meu rosto e enxugou minhas lágrimas. — Não chore,
eu sei que você gosta de ficar de joelhos. Isso te deixa
doidão, Excelência? Te deixa de pau duro, é?
— Bruno, pare, por favor! — falei.
— Cala a bocaaaa, vadia! — gritou estremecendo-
me e voltou a se dirigir a Davi — Sabe, Excelência, não é
que é muito excitante mesmo ter uma mulher de joelhos
aos nossos pés — falava em tom de deboche e eu
simplesmente entrei em pânico quando acariciou meus
cabelos, e em seguida, deu um tapa na minha cara com
tanta força que minha pele ardeu e queimou.
Fechei os olhos e cerrei os punhos assim que Bruno
bateu em Donna, e quando ameacei dar um passo na
direção deles, vi o terror nos olhos de Donna quando
balançou sua cabeça negando tal ato, pedindo-me
silenciosamente para não agir, e graças a Deus fui
segurado pelo ombro e a voz de um dos meus seguranças
soou como um clarão para minha razão:
— Senhor, fique calmo, já fizemos o que pediu, a
delegada Satto já foi avisada.
— Porraaaa! Já falei que quero esses caras longe
daqui. — Bruno falava com a arma apontada para a cabeça
de Donna o tempo todo, e ela estava de joelhos virada para
mim e nunca me odiei tanto por ter colocado novamente o
amor da minha vida em perigo.
— Tudo bem, Bruno, eles vão sair, ok? Solte ela, ou
faça uma troca, sou eu que você quer, então, se você a
ama como diz, deixa-a sair daqui em segurança que eu
garanto a sua.
Bruno não respondeu nada, apenas tirou a gravata
usando apenas uma mão no seu pescoço e a atirou no colo
de Donna, dizendo:
— Use a gravata como venda, quero você bem
gostosa e submissa a mim — ordenou. — Na verdade, não
quero que veja o que vai acontecer aqui, gatinha.
Donna me olhou, e o medo estava evidenciado em
cada traço de sua face, os olhos tinham um brilho de pavor
e, dessa vez, fui eu quem fez sinal com a cabeça
assentindo para que fizesse exatamente o que ele
mandasse.
Então, ela passou a gravata preta em seus olhos e a
amarrou atrás.
— Isso, ficou linda! — disse Bruno, estava nas
costas dela — É assim que você gosta de foder ela,
Meritíssimo? Cara... Fiquei de pau duro, o senhor não?
Agora eu entendo você, Davi, isso dá um tesão da porra.
— Bruno, para com isso, deixa-a sair — falei
tentando manter a calma. — Me tome no lugar dela, eu
garanto que você vai sair daqui vivo.
— Sair? No melhor da festa? Não mesmo, ela só vai
sair daqui comigo e se eu não sair, ela também não.
— Bruno, você matou uma desembargadora, a
polícia já foi acionada, se entregue logo cara.
— Cala essa boca seu juiz de merda! — gritava
agitado —Não cheguei até aqui para ter o mesmo destino
do meu pai não. Você e o juiz Oliveira tiraram tudo da
minha família, destruiu minha vida e a da minha mãe que
foi morta quando tentaram tomar o poder do meu pai.
— Eu e o Oliveira não somos responsáveis pelos
atos do seu pai, ninguém é.
— Aproxime-se, Vossa Excelência, mas sem tentar
nenhuma gracinha ou terá que recolher os miolos do seu
brinquedinho pelo chão.
O silêncio era assombroso dentro do Salão do Júri,
ali, nunca tive o prazer de presidir nenhum julgamento, e
naquele momento, me sentia caminhando em direção ao
banco dos réus.
Parei a dois passos de Donna, que estava de
joelhos, com seus sentidos privados e totalmente indefesa,
e eu só queria pegá-la em meu colo, protegê-la e dizer que
estava tudo bem e que a amava mais que tudo.
— Donna... — falei.
— Não se dirija a ela seu merda. — Rugiu, Bruno.
— O que quer com tudo isso afinal? — questionei
tentando ter uma visão mais ampla e precisa de todo o
cenário que se formava ali, e claro, tentando ganhar tempo.
— Inicialmente, separar vocês dois e ter a mulher
que eu amo só para mim, só que ela — Bruno ergueu a
cabeça de Donna puxando-a pelos cabelos —, mentiu para
mim, tentou me enganar, essa vadia. Aliás, os dois
tentaram, né, fingindo que estavam separados quando no
fundo estavam só armando, se encontrando as escondidas
como fizeram nessa madrugada.
— Donna e eu nos amamos, estávamos nos
resguardando para tentar descobrir de onde partiu as
ameaças, e acredite, você nunca foi a opção dela, mas
sempre foi a minha. Tinha algo em você que não me
convencia, Bruno, e eu estava certo. Não consegui ver
sinceridade em você nem quando veio até mim ontem me
contar dos bilhetes e abrir o jogo, ao contrário de Rew que
fez o mesmo, só que foi muito mais convincente que você.
Bruno tinha um sorriso dissimulado que não passava
nenhum tipo de emoção, e aquilo me assustava, pois eu
sabia que a qualquer momento ele poderia tirar a vida da
Donna somente para me atingir novamente.
— Sente-se na cadeira do réu, Meritíssimo, quero
ver como se sente sentado nela — disse, apontando para
mim com a arma indicando a cadeira.
Não pensei duas vezes e me sentei na cadeira dos
réus de madeira escura; e assim, Bruno não se deu conta
que estaria cometendo seu maior erro.
— Pronto, já estou na condição de réu, agora me
julgue, não a Donna, solte-a, por favor, Bruno.
Bruno gargalhou com um olhar tenebroso, estava
transtornado, e quando apontou a arma para mim, dizendo:
— Mantenha os olhos bem abertos, Meritíssimo. —
O cheiro metálico de sangue estava impregnado em mim,
cerrei os punhos ensanguentados, e o encarei, de costas
para a porta da entrada lateral do salão do júri. — Eu já o
julguei culpado há muitos anos, senhor juiz, sua sentença
saiu quando meu pai morreu trancafiado igual a um animal
e depois de ter cumprido toda a porra da pena.
Não estava acostumado a ter o fio da minha vida
nas mãos de outras pessoas, meu coração parecia que iria
saltar pela boca, a arma apontada para mim, minha
audição estava aguçada e em meu plano de visão
acompanhei cada passo sendo traçado minuciosamente
pelas costas de Bruno, eu não piscava, a boca seca, a
adrenalina circulando voraz em minhas veias e o suor
escorrendo em minha testa, e quando Bruno voltou a falar,
ele simplesmente abaixou a posição da arma voltando a
ter, Donna em sua linha de tiro, dizendo:
— Em razão de todo ardil pelo senhor juiz
empregado contra meu pai, eu o condeno a morte.
Fechei meus olhos no momento do disparo, não
queria assistir a uma cena tão triste, mas imediatamente fui
forçado a abrir os olhos quando meus ouvidos apuraram o
disparo de dois tiros, um desferido por Jonas, meu
segurança, que veio pelas costas de Bruno e o alvejou com
um tiro certeiro na cabeça, e o outro, constatei ter sido
disparado por Bruno.
— Donnaaaaaaaa!
LXXXIV
Por mais que eu conhecesse os riscos de amar
alguém com tanta entrega e devoção, estando eu na
situação em que me encontrava, um homem que vivia à
mercê de ameaças, nada me preparou para tantas perdas,
por mais que achasse que a vida havia me moldado,
sempre havia um retoque a ser feito, e Donatella havia
derrubado o muro que ergui, e assim, acabei abrindo a
guarda e me ceguei perante a ameaça iminente que se
passava por um amigo e assessor. Desde a morte de Elisa,
eu não me permitia chorar, sofrer e me desesperar, mas
quando vi a morte nos olhos de Bruno, eu soube que a
fraqueza não está em desesperar, mas sim, em tentar se
camuflar perante as adversidades que a vida coloca em
nossos caminhos. Foram minutos que pareciam a
eternidade, foram decisões arriscadas tomadas a beira do
desespero, mas que eu não faria diferente se tivesse a
mínima chance de salvar a mulher que eu amava
loucamente.
Havia acabado de chegar de um enterro, estava
destruído por dentro, embora não nutrisse por Rew
nenhum tipo de sentimento relacionado a amor, eu a tinha
como amiga, a respeitava e admirava. Era uma profissional
ímpar, justa e integra. Morreu tentando proteger a Donna,
sem entrar em méritos amorosos, apenas fez o que achou
estar ao seu alcance, e por minha causa, por minhas
escolhas, mais alguém perdeu a vida.
Eu estava em pé, olhando o movimento pela janela
no hospital Israelita no Morumbi, quando meu coração
disparou ao som de uma voz doce, mansa e sem forças:
— Então é assim no céu? — Donna me questionou
abrindo os olhos pela primeira vez após a cirurgia a qual foi
submetida para retirar a bala de seu ombro direito.
Sorri e caminhei até a cama, com a cabeceira semi-
erguida. Donna estava com uma roupa azul e coberta por
um lençol branco até a altura do peito com o braço
esquerdo estendido ao lado de seu corpo e assim a toquei
e apertei sua mão sentindo seu calor.
— Oi, meu amor. — Alisei sua palma.
— E então, nós morremos? — Donna questionou —
E eu ainda estou na salinha de recuperação pós morte?
Gargalhei limpando a lágrima que não consegui
evitar ao ouvir o som de sua voz. Sempre muito espirituosa
e eu amava aquilo nela.
Toquei em seu rosto, contornando as feições
pálidas, os lábios sem cor e ressecados, curvando-me e
tocando-os lentamente com os meus.
— Não, não morremos, e... graças a Deus não
estamos no céu, só no hospital mesmo.
Donna tentou se mexer na cama e gemeu dizendo:
— É, acho que não estamos no céu, duvido muito
que lá exista dor.
Sorri respondendo-a:
— Acho que não — disse acariciando-a tentando
conter a emoção de ter a mulher da minha vida sã e salva
ali na minha frente, agradecendo não ter sido ela a ter
perdido a vida.
— Eu sinto muito pela Rew — disse, com a voz
embargada. — Eu sinto muito mesmo, talvez se eu tivesse
escutado você, sobre Bruno...
—Xiii... —Tapei os lábios dela com o dedo. — Se, é
uma palavra muito vaga, não existe, e infelizmente as
coisas tomaram o rumo que tinham que tomar. Donna, nós
não somos perfeitos, somos humanos passiveis de erros,
não vamos tentar justificar os acontecimentos, nem as
decisões que tivemos que tomar no calor dos sentimentos.
Vamos apenas aprender com tudo o que vivemos, sem
lamentar. Estamos aqui, não estamos? Não temos como
voltar no tempo, não existe segunda instância para esse
caso, então vamos só crescer com tudo isso.
— Eu tive tanto medo, medo por mim, por você, eu
achei que ele tivesse atirado em você, foi tudo tão confuso,
estava escuro.
— Não, ele não estava com a arma apontada para
mim no momento dos disparos.
— Ele ia me matar?
Virei de costas alisando uma mão na outra e a
respondi:
— Amor, deixa isso para outra hora, hã... Não
vamos falar sobre isso agora, você precisa descansar.
— Ele está preso? O Bruno foi preso? — interrogou.
Levei a mão em minha nuca e girei em meus
calcanhares, respondendo-a:
— Não, ele não está preso.
— Conseguiu fugir?
— Donna, para salvar você... — fechei os olhos e
suspirei antes de prosseguir. — Jonas precisou usar de
medidas extremas, compreende? Foi arriscado, você foi
ferida, mas está viva e isso é o que importa agora.
— Ele está morto? O tiro que eu ouvi não foi em
você, e sim, nele?
— Exatamente — admiti.
Donna tombou o pescoço para o lado e respirou
profundo não se permitindo chorar, e eu entendia que ela
sofria, pois eram amigos.
— Antes ele que eu, não acha? — questionei.
Donna voltou a me olhar, e tinha um brilho lacrimal
em seus olhos, e assim ela respondeu:
— Acho, acho sim, meu senhor.
Suspirei emocionado envolto em uma maré de
sentimentos.
— Vou avisar sua mãe que você acordou, está bem?
— Davi. — Segurou minha mão.
— Sim, diga.
— Durante todo aquele momento... aquele terror. —
Umedeceu os lábios e buscou ar. — Eu só me via aos seus
pés, era de joelhos para você que eu estava e se eu
morresse ali naquele momento, seria aos pés do homem
que escolhi amar, mesmo ele me amando a seu modo.
Tirei alguns fios de seus cabelos escuros de sua
testa, enquanto falava, e eu amava sentir os fios sob meus
dedos:
— Donna, eu não te amo a meu modo, eu te amo
como se ama, com toda a minha força e alma. A forma com
que lido com a sexualidade não implica em nada em meus
sentimentos, e eu não te amo menos porque sinto prazer
na sua entrega e nem te amo mais por se ajoelhar aos
meus pés, eu só te amo, te guio, e vou te proteger sempre,
nada nem ninguém nesse mundo vai tocar em você. E foi
por causa desse amor, que eu dei a ordem mais absurda
que eu poderia dar naquele momento. Você poderia ter
morrido com a ação do Jonas, mas eu tinha que tentar
protegê-la a qualquer custo, e se eu não tentasse, se não
tivesse dado a ordem dele invadir pela lateral, talvez hoje
estaríamos de fato no céu, eu e você, por que eu vi a
nossa morte nos olhos dele, ele iria te matar e em seguida
me mataria, mas foi por te amar demais que corri o risco.
— Obrigada! — disse apertando minha mão.
— Casa comigo, senhorita Donatella?
Novamente vi um brilho lacrimal em seus olhos, e
dessa vez, Donna não conteve.
— Assim, casar, casar mesmo? — franziu o cenho.
— Na igreja com direito a alianças e tudo mais?
Sorri e respondi:
— Não necessariamente, mas não menos
importante, e então, é sim ou não? Deseja ter comigo um
vínculo eterno?
LXXXV
Eu cresci ouvindo que sonhos foram feitos para
serem realizados, e qual mulher não sonhou um dia em
pisar em uma igreja toda linda e enfeitada com um vestido
branco com a grinalda que pegasse a nave toda da igreja?
E, é claro, aquela recepção movida a bebidas, muitos
convidados e um bolo de torre gigantesco. Tá bom que
nem todas devam ter sonhado com algo assim, e eu era
uma dessas que jamais sonhou com grandes
confraternizações e vestidos pomposos e caríssimos feitos
pelas mãos dos melhores estilistas. Ali estava eu, dois
meses depois de ter sido baleada, e ter vivido o dia mais
difícil da minha vida.
Já era noite em Monte Verde, o som não era o de
uma marcha nupcial, era o dos grilos, e a luz vinha das
velas guiando-me para uma linda tenda com motivos
gregos armada com tecidos transparentes ao ar livre
próxima da cabana. Não era uma igreja, não tinha uma
multidão de amigos, e meu vestido não era o mais luxuoso,
pelo contrário, ele refletia a humildade de que uma
submissa deveria se revestir, e assim, optei por ser uma
deusa discreta usando um vestido branco sensual de
decote profundo e alças torcidas com um caimento
esvoaçante impecável, inspirado nos clássicos gregos,
afinal de contas eu era a Têmis dele. Não era o grande
evento do ano, mas era um ritual litúrgico divino e cheio de
significados e eu ainda nem tinha passado por ele e já não
o considerava apenas como um ritual, para mim seria a
consolidação da minha transformação.
A cerimônia das rosas costuma ser bem privada, em
sua maioria apenas o Dom e Submissa participam, mas ali
conosco tínhamos as testemunhas perfeitas, e ladeando
Davi, estava Klaus, seu melhor amigo e Duda, a submissa
de Klaus. Estava tudo tão lindo, flores cobriam o chão e
enfeitavam os pilares jônicos de sustentação da tenda, e
no canto esquerdo um lindo braseiro com chamas.
Com uma rosa branca semiaberta em minhas mãos,
significando minha entrega e submissão, caminhei
descalça, linda e plena sobre um caminho de pétalas
brancas e vermelhas que me levavam diretamente ao meu
dono, que me esperava estático todo vestido de preto e
com seus cabelos com aparência molhada jogados para
trás, como não poderia ser diferente. Davi segurava em
sua mão a rosa vermelha aberta e igualmente a minha,
havia espinhos em sua haste.
Duda havia me ensinado todo o significado daquela
cerimônia e igualmente ao casamento tradicional, só era
realizada por casais que pretendiam manter um vínculo
eterno na vida e pós vida, e então me ensinou que a rosa
branca simboliza a submissão, a pureza, e o motivo de não
estar completamente aberta é pelo fato de a submissão
não ter sido completa ainda e segundo a Duda, nunca
estará, pois, uma submissa vai estar sempre em processo
de entrega, sempre crescendo e dando mais e mais poder
ao seu Dom. Já a rosa vermelha aberta significa a
dominação, a paixão do dominador em possuir e proteger a
sua submissa a todo custo, até mesmo com seu próprio
sangue.
Assim que parei na frente de Davi, com as mãos
para trás segurando a rosa, ficamos nos olhando, olhos
nos olhos e ele sorriu contido, vi brilho em seus olhos, e
naquele momento, movida por uma carga de emoção que
me invadia, me curvei e prostei-me rendida diante dele.
Eu ainda acordava gritando durante à noite, suando
e tremendo, e minha psicóloga alertou que talvez fossem
anos para superar e passar pelo distúrbio pós-traumático,
pois eu ainda revivia o episódio com Bruno todos os dias, e
era como se tudo estivesse acontecendo naquele exato
momento, a dor, a ansiedade e o sofrimento eram uma
revivescência dolorosa.
Davi me olhou complacente, e assim deixei meus
olhos mirar seus pés.
Depois do que passei com Bruno, Davi não mais me
pediu para curvar-me diante dele, eu estava em um
processo de recuperação do trauma sofrido, mas eu era
resiliente demais e naquele momento descobri que eu tinha
prazer em estar aos pés do homem que eu amava, pois,
aquele gesto lhe dava prazer, sendo assim, dava prazer a
mim também, e eu não me sentia mais humilhada, sentia-
me desejada, protegida e amada.
Ele retirou a coleira do meu pescoço, a que ganhei
em minha cerimônia da coleira, e foi rumo ao braseiro onde
passou a coleira rapidamente pelas chamas, purificando
todas suas imperfeições, e a devolveu ao meu pescoço,
dizendo:
— Deste momento em diante, tomo seu destino em
minhas mãos, para sempre a proteger e guiá-la por toda a
eternidade.
Duda me explicou, que todas as influências
exteriores são queimadas no calor do desejo que o Dom
tem de proteger e defender sua submissa e ao devolver-me
a coleira ele ratifica esse desejo.
Davi ajudou a me levantar, então pediu minha mão e
eu a estendi para ele que segurou no caule da rosa e furou
meu dedo do meio deixando assim duas gotas do meu
sangue pingar sobre minha rosa branca.
Como instruída a fazer, ofereci a ele minha rosa, e
desse modo, ele mesmo tratou de furar seu dedo com o
espinho e novamente pingou duas gotas na rosa branca, e
logo em seguida, unimos nossos dedos na união de nossa
carne e sangue enquanto dissemos juntos:
— Faço desse ato o símbolo da nossa união, e que
nesse momento toda a energia de nossos corpos se una,
fazendo eterno nosso Amor.
Davi uniu as duas rosas permitindo que
mantivessem contato, beijando-se. Era tudo lindo demais
de ser vivido, eu estava envolta em emoções que não sei
como descrever em palavras.
O sangue também tinha seu simbolismo, e furar o
dedo da submissa representa sua entrega, e significa que
ela sangrou ao se entregar ao seu Dom. Ao furar o próprio
dedo, o Dom está provando que a protegeria e defenderia
com seu próprio sangue caso fosse necessário, e assim, as
gotas de sangue nas rosas significam nossa união.
Estávamos nos olhando quando Klaus e Duda
passaram uma corrente de metal pelo fogo para purificá-la
e em seguida passou-a em torno de Davi e eu,
simbolizando nosso elo e nossa forte união, dessa forma,
todas as coisas ruins são queimadas no esquecimento e
apenas as boas permanecem. Aquelas correntes eram o
presente de Klaus para Davi, haviam sido usadas em sua
própria cerimônia com Duda e se um dia achássemos
quem as merecessem faríamos o mesmo.
Envolver o casal na corrente é um simbolismo visual
da união de duas almas em uma e assim realizamos
nossos votos entrelaçando nossas mãos unindo nossas
rosas novamente, e naquele momento, trocamos as rosas
como se trocam alianças, simbolizando a entrega de um ao
outro.
Não consegui evitar de chorar.
Klaus e Duda retiraram a corrente, e depois Duda
pegou nossas rosas e as colocou em uma urna aveludada
de vermelho e a entregou a Davi, significando o fim da
cerimônia ali encenada, e, mais tarde, quando
estivéssemos a sós iríamos despetalar as rosas.
Se não bastasse tudo estar perfeito demais, Davi
pegou em minhas mãos, puxou-me em sua direção e deu-
me um beijo na testa, então encostou-se em mim e me
aninhou em seus braços, abraçando-me forte.
— Eternamente minha! — disse ele.
Diferentemente de casamentos convencionais, após
a cerimônia das rosas não existe festa para os amigos e
parentes, então nos restou apenas receber as felicitações
das nossas testemunhas.
Klaus deu abraço de urso em Davi, dizendo:
— Meus parabéns, meu amigo, achei que não
viveria para vê-lo criando vínculos eternos com alguém —
terminou de falar e fez um entre aspas com os dedos e
piscou para mim.
Direcionando-se a mim, ele fez apenas uma
mensura dizendo:
— Donatella!
Duda me abraçou e disse enquanto me apertava
sutilmente:
— Uma linda e nova borboleta.
— Obrigada, Duda, por tudo, por ter me ajudado no
dia de hoje.
— Foi um prazer inenarrável ter tido a honra de
presenciar tão bela entrega em uma cerimônia das rosas, e
como te falei logo pela manhã, esteja preparada para a
beleza e o caos da relação D/s.
Davi se intrometeu dizendo:
— É na beleza e no caos que está a magia do
BDSM.
— Sim, senhor! — Duda concordou serena.
— Foi um rito muito lindo, muito especial para mim,
foi como se a velha Donatella estivesse abrindo passagem
para a nova. — falei.
— Foi sim, tudo muito lindo. — Duda concordou.
— Eu realmente desejo ser enterrada com as
pétalas dessas rosas. — conclui.
Davi sorriu e pegou em minha mão e me puxou para
perto de seu corpo, dizendo:
— Será um desafio e tanto.
— Os desafios são os melhores nobre amigo —
respondeu Klaus, dando dois tapinhas nas costas do Davi.
— Vamos, amor, porque o casalzinho aqui quer ir
comemorar em Vegas, e já sabemos que o que acontece
em Vegas, fica em Vegas — piscou para Davi.
Ninguém tinha contado nada sobre ir comemorar em
Las Vegas, mas eu não achei ruim.
E assim Klaus e sua escrava se retiraram da nossa
presença.
— Vamos para Las Vegas? — questionei
entusiasmada.
Davi gargalhou daquele jeito que só ele sabia fazer
e disse:
— Vegas citada por Klaus é qualquer lugar que
estaremos sozinhos, fazendo coisas que não ousamos
fazer do lado de fora de um quarto por exemplo, e somente
nós dois saberemos e jamais revelaremos a ninguém —
sorriu e piscou daquele jeito que me deixou quente.
Fiz um bico e bufei, dizendo:
— Poxa, já achei que fosse nossa lua de mel.
— Você terá sua lua de mel, mas agora, Vegas é
logo ali — apontou para a cabana. — E lá, meu amor, entre
quatro paredes, você será só minha.
— Já sou sua, meu senhor!
Eu não sabia o que me esperava, mas já estava
ansiosa.
— Eu sei — disse e estendeu a mão para mim.
Só não me sentia mais completa porque conforme
Duda me explicou, eu nunca seria totalmente, ela não era,
pois sempre havia mais para ceder, pois o que me parecia
terrível hoje, amanhã posso desejar ardentemente.
— Podemos ir para Vegas depois que eu comer
alguma coisa?
Davi estreitou o cenho e não deu nenhum indicativo
que eu poderia comer algo antes, só de que eu seria a
própria comida.
Estávamos deliciosamente sozinhos e isolados em
uma cabana no alto de uma montanha. Tudo era mágico
demais, e o fato de ter me casado de forma simbólica nos
ritos BDSM só deixava tudo mais perfeito ainda, e não
saber o que viria logo a seguir me deixava ansiosa, pois
com Davi tudo era sempre novo.
— Obrigada por hoje — falei olhando em seus olhos
cinzentos, que agora eram menos gélidos para mim. —Foi
tudo muito perfeito, faltou minha mãe, é claro, mas foi tudo
tão lindo — suspirei emocionada.
Davi tocou em meu rosto de forma terna e
respondeu:
— Vamos nos casar conforme a lei dos homens, e
isso sua mãe poderá testemunhar.
Sorri e desviei meu olhar para seus sapatos pretos e
brilhantes.
Eu não sabia dizer o motivo ao certo, mas ainda não
conseguia encará-lo por tempo demais, pois ele tinha o
dom natural de despertar em mim a submissa que nem eu
sabia que era. Tudo foi se transformando dentro de mim de
forma natural, e na presença dele, diante dos seus olhos
penetrantes, eu não conseguia negar minha natureza, eu
simplesmente amava me submeter a ele.
Lembro-me de Davi dizer que eu não seria mais a
mesma depois que me entregasse a ele, e ele estava certo.
Não entendi na época, mas hoje eu compreendo, não sei
se me tornei submissa a ele ou se sempre fui e não sabia,
mas uma coisa era certa, todos os limites estavam em
minhas mãos, eu que ditava o tom da intensidade, embora
as nuances estivessem sempre fora de controle. Davi e eu
desenvolvemos laços profundos e imprescindíveis de
confiança e eu amava o poder que ele exercia sobre mim,
eu tinha necessidade disso, contudo, nunca permitiria que
os poderes de dominação dele sobre mim saíssem de
quatro paredes.
— Amo quando baixa o olhar para mim assim, você
não faz ideia como me sinto — ergueu meu rosto para que
nossos olhares se encontrassem, então falou. — Vamos
entrar, está frio aqui fora.
Realmente a temperatura amena da serra começou
a nos atingir, fazia um friozinho gostoso, e desse modo,
Davi segurou em minha mão e foi puxando-me em direção
a cabana, e era algo automático, eu sempre estava atrás
dele, nunca lado a lado com o meu senhor.
No chão as folhas das árvores farfalhavam embaixo
dos meus pés descalços, e quando passamos pela porta
dos fundos que dava acesso direto a cozinha, vi que na
sala de jantar havia uma mesa preparada para um jantar, e
meu estômago agradeceu.
— Achou mesmo que eu ia te deixar com fome na
noite do nosso casamento? — ele questionou e piscou
para mim.
Caminhei rumo a mesa, disposta com dois pratos e
taças, e enquanto peguei o bago de um cacho de uvas e
levei até minha boca, Davi abriu um Dom Perignon e serviu
em duas taças, oferecendo uma.
— Jurava que não fossemos beber nada nessa noite
— comentei estendendo minha mão e apanhando a taça.
— Só um gole, para brindar nossa união —
respondeu gentil.
Levei a taça com o líquido amarelo claro até meus
lábios, e primeira sensação que tive não foi sentida por
meus lábios, e sim por meu olfato que foram rapidamente
atacados por notas florais deliciosas e de frutas
cristalizadas. Em seguida, meus lábios sentiram um sabor
aéreo e delicado, opulento, sedoso e voraz ao mesmo
tempo, eu amava a sensação explodindo na minha boca.
Davi ergueu sua taça em minha direção dizendo:
— A nós. — Então levou a bebida aos seus lábios e
completou retirando a taça da minha mão. — Dizem que o
monge Dom Perignon, que supostamente criou essa
bebida, dizia estar bebendo as estrelas.
Sorri contida respondendo:
— Eu concordo com ele.
— Concorda? — indagou com a voz cheia de
deleite.
— Sim, concordo.
— Está com muita fome, Donatella?
Todos os pelos existentes em meu corpo se
arrepiavam quando ele soletrava meu nome completo, para
mim era o indicativo de que havia ligado o modo
dominador.
— Sim, muita fome, senhor.
— Vou te alimentar. — Enfiou as mãos no bolso da
calça preta social e deu um meio sorriso em seus lábios
lascivos e deliciosos. Ah como eu queria beijá-los.
O olhar de Davi foi se transformando, o cinza claro
se tornou intenso, e eu já conhecia aquele olhar me
prescrutando de forma voraz e palpável. Davi girou seu
corpo e deixou sua taça na mesa após ingerir um gole
generoso da bebida, vindo a tocar em meus lábios com seu
polegar, primeiro de forma suave, contornando os traços da
minha boca e, em seguida, colocou força em seu toque à
medida que seus olhos se transformaram em um desejo
sombrio e delicioso, que me queimava e incinerava por
dentro, despertando em mim um desejo febril e urgente por
seus toques, me fazendo esquecer até que estava com
fome.
— Curve-se! — ordenou com o tom autoritário que
me enlouquecia, e sem titubear e olhar em seus olhos,
ergui a saia do meu vestido branco e prostei-me rendida,
caindo de joelhos aos seus pés, com meus braços
estendidos em sua direção e minha cabeça baixa, e eu não
me sentia mais humilhada, não me sentia perturbada e
diminuída por estar aos pés do homem que me escolheu
para ser dele, do homem que me escolheu para ser meu
dono, e se eu estava ali aos seus pés, com uma coleira em
meu pescoço, sinal de nossa união, é porque agora
pertencia a ele sem reservas, e ele a mim.
Naquela noite, o segui descendo pelos degraus
gelados de uma escada para o subsolo, e assim que
coloquei meus pés no primeiro degrau já me senti imersa
em outra época, uma aonde reis carrascos ou não,
reinavam sobre seus súditos. A saia branca do meu vestido
foi se arrastando degrau por degrau até chegar a um
enorme corredor de pedras que nos levou até um dos
quartos da cabana, que de cabana mesmo não tinha nada.
Antes de vendar-me, tive o prazer ou desprazer de poder
apreciar o ambiente do quarto ao qual fui levada, e
diferente do meu quarto de castigo, aquele parecia
verdadeiramente um calabouço, de pedras, madeira e
argila, o clima era frio e antigo, a iluminação tênue e
escassa, uma penumbra, tenebroso, mas lindo eu diria, e a
cor era quente, suave, lembrando-me um fosso em
chamas, a iluminação me remetia a fogo. De imediato a
visão me gerou medo e tensão, pois ali, vislumbrei todo um
universo do qual ainda não havia sido submetida, e a
primeira coisa que meus olhos focaram foi em uma cruz de
madeira crua, presa na parede de tijolos velhos com
amarras presas em cada uma de suas pontas, e um a um
fui passando os olhos nos aparatos espalhados no que
deduzi ser uma masmorra, e haviam muitas correntes, e
até um daqueles cavaletes que certamente serviriam para
espancar e, por fim, a banheira rústica antiga com
aparência de velha, iluminada por uma luz branca me deu
um certo acalento, ao menos se fosse passar um tempo ali
pelo menos banho eu tomaria.
— Não imaginei que você tivesse algo assim — falei
boquiaberta.
— Essa é uma réplica fiel do calabouço que tenho
na mansão, um dom não é um dom sem um calabouço, e
aqui, durante esse final de semana, vamos atingir juntos o
ápice de toda a liturgia da verdadeira dominação e
submissão. Aqui, serei o seu dono e você minha escrava.
Tudo bem para você?
— Sim, meu senhor!
Ali, senti uma energia tão única que me remeteu
imediatamente a uma escrava de verdade, entregue as
mãos de seu senhor, foi como entrar em outro plano de
vida, uma atmosfera nova e rica em detalhes que me jogou
literalmente para fora da realidade e me colocou
diretamente dentro do universo BDSM, e literalmente
dentro de um calabouço romano e por trás de grades,
existia uma cama de madeira com dossel que mais parecia
um grande cubo.
Com Davi mergulhei de vez no mundo dos fetiches,
e eu, como qualquer outra mulher tinha muitos os quais
nunca imaginei que os colocaria em prática, e vale
ressaltar que tudo que Davi e eu fazíamos era de forma sã,
segura e consensual. Dizem que os fins justificam os
meios, e na minha relação com Davi, a dor é só o meio
pelo qual percorro para sentir um prazer inigualável e não é
qualquer prazer, não é qualquer orgasmo, é inexplicável o
que se sente e extremante prazeroso só vivendo para
saber.
Ao final daquela noite, depois de ser submetida a
uma sessão deliciosa regada a velas, gelo, plugs e
finalmente nossa tão esperada sessão de anal play,
deliciosa, diga-se de passagem, pegamos as rosas e
demos continuidade a cerimônia das rosas ao despetalar
as mesmas e fazer a junção de ambas, branca e vermelha,
significando assim a mistura de nossas vidas, em seguida,
as colocamos em uma urna de madeira, que seria onde
seriam mantidas até nossas mortes, a fim de serem
enterradas uma porção com cada corpo simbolizando
nossa união eterna, se assim os percalços da vida a dois
nos permitir.
Davi me deixou amarrada na masmorra, e foi
simplesmente uma experiência única e maravilhosa.
Aprendi que dominação e submissão vão muito além de
sexo forte, de cordas e algemas, é antes de qualquer coisa,
confiança, e ele só tinha tanto poder sobre mim e só podia
ir tão longe porque assim eu permitia que fosse, não existia
qualquer abuso na nossa relação, pois era tudo consentido
por mim, e eu confiava nele de olhos vendados.
Davi e eu estávamos viciados um no outro, eu em
sua dominação e ele em minha rendição, e render-me não
fazia de mim uma mulher fraca, muito pelo contrário, eu me
sentia cada dia mais forte por resistir a cada uma de
nossas sessões e castigos. Nem Davi e nem eu tinha
nenhum tipo de problema psicológicos, apenas exprimimos
e experimentamos colocando para fora nossos desejos
mais obscuros. Foi me dando muito prazer que Davi
costurou minha submissão, me controlando e me
dominando conduzindo-me exatamente a seu bel-prazer e
para seu prazer. Ele sabe exatamente o que fazer e
quando fazer, oferecendo-me cotas de prazer, tornando-me
assim mais dócil e suscetível a seus comandos ao me
oferecer recompensar prazerosas durante o processo de
disciplina.
Davi agora era meu dono, e eu queria estar ali, não
era obrigada a estar.
— Levante-se! — ordenou.
— Sim, meu senhor!
A convivência com Davi me fez conhecer coisas
sobre ele que minha mente obcecada pelo homem
poderoso e impenetrável não me permitia ver. Eu o havia
endeusado a tal nível que jamais imaginei vê-lo sofrendo
por nada, para mim ele era um super homem. Sempre que
o olhava antes de ter uma convivência tão próxima dele, eu
apenas via força, poder e sabedoria. Mas foram os
percalços do dia a dia que me fizeram vê-lo como um ser
humano e não um deus. Ele sentia frio e me chamava para
sua cama quando isso acontecia, ele sentia fome e
comíamos juntos e até brincávamos com a comida como
qualquer outro casal. Davi era um homem de carne e osso
maravilhoso, que se estressava com os processos e corria
para o estande de tiros para descarregar as frustrações e
que perdia a paciência com seus seguranças e até comigo
quando o irritava. Ele é passível de erros também e um
deles era o maldito afastamento que ela matinha dos pais,
mas isso acabei por resolver, e agora visitávamos sua
família no interior sempre que possível e Dona Leonor e
seu Pedro, eram pessoas maravilhosas, como o filho.
Davi passou de personificação do deus que me
supria, ao homem que me amava e protegia como havia
prometido em nossos votos.
O homem, não o deus, em solenidade de posse da
presidência do TJSP conquistou durante a eleição para
ocupar o lugar da desembargadora Rewmaria, e Davi não
quis nenhum tipo de formalidades devido a tristeza a que
se deu a eleição que o agraciou com o cargo. No mesmo
dia de sua posse, Rew teve seu retrato inaugurado em uma
cerimônia na sala dos retratos, e ali, ela teve sua história
eternizada na tradicional Cerimônia do retrato. A
magistrada teve sua fotografia incluída no rol dos ex
ocupantes no cargo de Presidente, e foi um momento
ímpar de muita emoção produzido pelas palavras de Davi,
que falou pouco, mas que marcou cada um dos presentes
na solenidade, inclusive a mim, que me senti culpada pelas
palavras duras que disse a ela, inclusive, sendo muito
preconceituosa naquele momento fazendo julgamentos
sobre sua personalidade. Hoje, eu entendo perfeitamente o
que ela quis dizer sobre prazer ser algo individual e
intransferível, e o que fazemos entre quatro paredes não
tem nada a ver com os cargos que ocupamos na
sociedade. Só queria ter tido tempo de me desculpar com
ela, e eu lamento muito por isso.
Devido ao ferimento no meu braço, não consegui
competir na maratona de New York, mas isso estava
novamente nos planos e Davi me ajudava com os treinos
sempre que possível; e um dia eu ia cruzar a linha de
chegada em primeiro lugar. Só que nãooo!
Eu, bom, passei para juíza substituta e estava
participando naquele momento da minha própria cerimônia
de posse, que estava acontecendo no salão nobre do
Palácio da Justiça de São Paulo. A solenidade estava
sendo conduzida pelo Presidente do TJ, Vossa Excelência,
Davi Campos, e como primeira colocada no concurso, seria
eu a prestar o compromisso na tribuna e discursar naquela
noite em nome de todos os juízes aprovados.
E após a palavra do Presidente do TJ, meu coração
saltou no peito e meus olhos brilharam quando ele mesmo
vestiu a toga preta e vermelha em mim, dizendo:
— Parabéns, meu amor.
Sem palavras pela emoção aflorada, eu apenas
sorri, e aquele foi um momento tão especial que eu não
cabia em mim, estava transbordando, pois como sonhei,
passei de primeira e em primeiro lugar no concurso.
Naquela noite, meu coração veio à boca quando
ouvi do cerimonialista:
— Convido a todos os empossados que por favor se
levantem, e convido a Dra. Donatella Villas Boas Campos,
a vir à tribuna prestar o compromisso. — Ah, esqueci de
dizer que Davi e eu nos casamos formalmente perante um
Juiz de Paz, sendo assim, eu era a senhora Campos e tive
a lua de mel mais maravilhosa nas ilhas da Grécia, e lá,
Davi me fez sentir uma verdadeira deusa.
Estava eu na primeira fileira de cadeiras, justamente
porque seria a única a prestar o compromisso na tribuna,
os demais prestariam o compromisso de suas cadeiras
mesmo, sendo assim, me levantei e fui até a tribuna, e
enquanto me encaminhei até o púlpito, ouvimos uma voz
gritar do fundo do salão nobre.
— Vai lá, Donninha, arrasa! — Pela voz qualquer um
saberia se tratar da Dalvinha, assim tentei conter a
gargalhada que ficou presa na garganta.
— Senhoras e senhores, gostaria de pedir o silêncio
durante a cerimônia — pediu o desembargador que
presidia a posse.
Parada em frente ao púlpito, olhei para Davi na
mesa, e ele assentiu, eu estava nervosa, arrumei o
microfone e então passei a prestar o compromisso,
dizendo:
— Compromisso — aspirei o ar. — Prometo cumprir
com retidão, amor a justiça, fidelidade às leis, e as
instituições de lei, os deveres do cargo de juíza substituta.
Após prestar meu compromisso, assinei o termo de
posse com as mãos tremendo, e só depois que todos os
empossados prestaram seus compromissos de posse, foi
que voltei a tribuna para então discursar:
Olhei para Davi na mesa e falei:
— Excelentíssimo, Sr. Desembargador Davi Luiz
Campos, digníssimo Presidente do Tribunal do Estado de
São Paulo, cumprimento todos os membros da mesa e
demais autoridades aqui presentes. Queridos familiares e
amigos, caros 68 colegas juízes substitutos aqui presente,
a quem tenho a honra de representar. Primeiramente,
gostaria de agradecer a Deus e minha família. — Fechei os
olhos e respirei fundo, mas os olhos encheram-se de
lágrimas. — Hoje, é um momento ímpar, nas nossas vidas.
A gente não consegue controlar muito a emoção, pois
passa um filme na cabeça. É muito emocionante e
gratificante. Eu só tenho palavras para agradecer a
receptividade de todo o Tribunal de Justiça de São Paulo. É
uma alegria inenarrável, estamos todos muito felizes,
posso falar por mim e por todos os meus colegas aqui
presentes. Cada um de nós sabe as dificuldades e a
entrega que foi passar por todo o processo até chegarmos
aqui. Somos mais que vencedores, somos heróis.
Parabéns para nós.
Ouve uma salva de palmas.
Olhei para todos os presentes nas cadeiras e avistei
minha mãe, linda e sozinha na cadeira, naquele momento,
senti como se um titã estivesse apertando meu coração
com as próprias mãos, mas mesmo assim eu falei:
— Por falar em heróis da magistratura, quero
agradecer ao Desembargador Luiz Villas Boas, meu pai, o
maior exemplo de ombridade e heroísmo que tive na vida.
Ele não teve tempo de estar aqui comigo — engoli o choro
por alguns segundos emocionada —, não pude ver o brilho
em seu olhar ao me ver aqui nessa posição tão sonhada,
mas... — minha voz embargou novamente e a lágrima
escorreu em minha face. — De onde quer que esteja, ele
está me vendo, aplaudindo e dizendo “Você conseguiu”.
Meu pai faleceu alguns dias depois que recebi que a
notícia que havia passado no concurso, ele morreu, mas
não sem saber que eu havia consigo, que iria traçar seu
caminho na magistratura, e então falei para ele que agora o
sonho continuava e que eu seria uma desembargadora
muito em breve e em seu rosto um sorriso se formou
indicando que havia me entendido.
— Por que escolhi ser juíza? Porque não me
conformo. Sou uma inconformada com o que há de errado
no mundo. Mas também sou agradecida. E agradeço a
este Tribunal a oportunidade de poder fazer justiça.
Preparei um discurso enorme, mas sem condições
de prosseguir devido à forte emoção, encerrei dizendo:
— A partir de hoje, caros colegas juízes substitutos,
teremos o dificílimo dever de julgar. Que cada um de nós
tenha serenidade e sensatez, sem nunca perder de vista o
aspecto humano. Parabéns e obrigada.
Me retirei da tribuna, ao som da salva de palmas
que recebi, e completamente emocionada fui me sentar ao
lado de minha mãe.
— Você foi perfeita, meu amor, seu pai deve estar
muito orgulhoso — disse-me apertando minha mão.
Eu sonhava com meu pai ali, naquele momento,
mas nem todos os sonhos se tornam realidade na vida, eu
o perdi, mas o sentia ali comigo.
Ao final da cerimônia, topei com Dalvinha no Salão
dos Passos Perdidos, estava linda, irreconhecível usando
um vestido belíssimo, saltos, toda produzida, então foi logo
me abraçando e cumprimentando:
— Meus parabéns, Donninha, e obrigada você ter
me convidado para assistir sua posse, eu sempre soube
que você conseguiria.
— Obrigada, minha amiga. Você está linda, quase
não te reconheci sem aquele uniforme.
— Não sou sempre a ascensorista, né? —
questionou balançando a cabeça de modo engraçado.
Davi estava abraçado a mim, e assim do nada
apareceu um homem muito estiloso, elegante, loiro de
olhos claros, chegou por trás abraçando a Dalvinha, e
quando ela abriu a boca:
— Amor, esse aqui é o ...
— Dom Davi? — O homem disse espantado, então
Davi perguntou em tom de deboche:
— Dom Olavo?
Os dois se abraçaram e se cumprimentaram como
se fossem bons amigos, e assim Dalvinha me puxou de
lado e disse-me:
— Não te disse que um dia eu achava um só pra
mim?
— Dalvinhaaaaa! — falei de boca aberta, tapando
minha boca com a mão, tamanho foi meu espanto.
— Dom Olavinho me adora, sou a Little dele e ele é
meu caregiver. Meu doador de carinho, como se fosse meu
pai, sabe?
Estreitei os olhos e questionei:
— Little? O que seria uma little?
— Sou uma criança muito desobediente e sensível.
— Sorriu fazendo um biquinho ao explicar.
Fiz um O com a boca, pasma e gargalhei dizendo:
— Ah, entendi, Age Play, mas acredito que isso não
seja muito difícil para você, não é? — gargalhamos as
duas.
Aquela noite foi memorável, Davi convidou o tal Dom
Olavinho para jantarmos, e passamos bom momentos ao
lado daquele casal nada típico, e não bastassem toda a
dose de emoção, assim que pisamos em casa, mas
propriamente dito, em nosso quarto, Davi teve uma
surpresinha quando se aproximou da nossa cama, pois o
melhor daquela noite ainda estava por vir, e deixei em cima
da cama antes de irmos para o TJ, uma caixa branca
enrolada por fitas de cetim, então quando ele se aproximou
da cama questionou:
— Hummm, quer jogar com algum brinquedinho
diferente, senhora juíza de direito?
Pisquei dizendo:
— Eu sempre quero jogar com você, meu senhor.
Davi veio em minha direção, puxou-me pela cintura
dizendo enquanto me beijou:
— A é? Já fiquei com o GG todo animadinho.
— Sim, então acho melhor, o meu senhor, abrir a
caixa.
— Adoro brinquedinhos novos. — Caminhou até a
cama, pegou a caixa e abriu falando em um tom de
diversão:
— Age Play, Donna? Porraaa, chupeta é covardia.
— Pegou a chupeta na mão e veio próximo a mim dizendo:
— Esse fetiche é novo para mim.
— Leia o que está escrito na tampa da caixa, meu
senhor.
Então passou a ler atentamente cada palavra que
estava escrito:
“Papai Davi, agora dentro da mamãe batem dois
corações que são loucos e apaixonados por você.
Logo, logo estarei chegando, e mamãe me disse que
você será o melhor papai do mundo.”
A caixa despencou das mãos dele, e ele me olhou
de um jeito, com os olhos lacrimejando. Me puxou pela
cintura gritando:
— Donnaaaaaaaa! Meu Deus do céu, eu vou ser
pai? É isso mesmo?
— Sim, Vossa Excelência, o senhor vai ser papai.
— Como isso aconteceu? Como, meu amor?
— Tenho mesmo que explicar?
O homem e não o deus, estava enlouquecido com a
notícia de que seria pai.
— Me diz, será uma Donninha ou um pequeno
Davi?
— Donninha nãooooo!

Oito meses depois, nosso pequeno Davi Luiz


Campos Filho veio ao mundo, e não tinha espaço dentro de
Davi tamanha era sua felicidade, e observando-o brincar
com nosso filho no berço, admirando-o como pai babão,
esposo e além de tudo, como homem, foi que me dei conta
da maior de todas as verdades, ele morreria por nós.
A cada dia que passava, eu me descobria mais e
mais submissa a ele, eu simplesmente amava agradá-lo
dentro de quatro paredes, e agia como uma brat, não tinha
como ser diferente, eu o provocava e ele amava e me
castigava deliciosamente e juntos vivíamos as mais loucas
sessões no mundo do BDSM. Fora da nossa casa, era
apenas a Juíza de direito Donatella Campos que
continuava assessorando o Desembargador Afonso no
Palácio da Justiça de São Paulo.
Davi era um Dom nato, isso era inquestionável, mas
era um ser humano que sabia sentir amor como qualquer
outro, e a mim cabia amá-lo e agradá-lo como uma boa
submissa, e o prazer que sinto fazendo suas vontades é
inenarrável, pois como disse Caetano Veloso:
“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.”
Nada na vida me preparou para a mulher como
Donatella, que chegou em minha vida caindo de joelhos
aos meus pés sem imaginar que aquela cena despertaria o
dominador que há em mim, eu a desejei e a preparei para
ser minha desde aquele momento. Quanto mais relutante
ela se mostrava, mais deliciosamente motivado a tê-la eu
ficava, e durante todo o processo de sua lapidação, eu
percebi que a amava da forma bruta e geniosa como era, e
assim conformei-me a ter apenas uma rosa que foi
desabrochando aos poucos e se abrindo em minhas mãos,
e hoje ela ainda é uma flor semiaberta que se entrega a
mim cada dia mais, e seu processo de disciplina ainda é
longo. Eu adoro castigá-la e ela ama ser castigada.
Depois da morte de Bruno, percebi que em nada
adiantava me privar de viver os prazeres da vida, e privar
Donna e a mim de momentos como ir a um cinema, uma
ópera e até mesmo um restaurante, era besteira, e desde
então, vivíamos as delícias de todo e qualquer casal, e
mesmo cercado de seguranças éramos felizes. Aquela
mulher me reaproximou até de meus pais, cujo para
protegê-los eu evitava manter contato com eles.
Donna se tornou uma juíza exemplar e no início de
sua carreira preferiu continuar aprendendo ao lado do Vice
Presidente do Tribunal de São Paulo, o Desembargador
Afonso, e após ganhar uma carga de experiência
promissora tornou-se juíza da vara de violência doméstica
e familiar contra a mulher, indo na contramão de seus
planos de carreira inicial, se transformando e reconstruindo
valores não só de dignidade, mas de respeito, pois quem
vai até ela, não vai apenas com um pedido de justiça, vai
com um pedido de reconstrução de suas próprias famílias e
nessa função Donna se tornou exemplar se destacando
como juíza, e não duvido que por mérito um dia chegará ao
cargo de desembargadora.
Donna deu a mim o maior de todos os presentes
que um homem pode receber, e ser pai do pequeno Davi
fazia de mim um homem completo e pleno, e pelo gênio
dele havia puxado ao pai.
Com relação ao meu lado dominante, esse eu
exerço com maestria ao lado de Donna, que a cada toque
de minhas mãos se torna cada dia mais dócil e suscetível
aos meus mandos e desmandos como seu senhor, e
juntos, descobrimos dentro da minha masmorra as delícias
de ser o que somos, ela minha submissa e eu o seu dono,
pois cada um de nós dois exerce seu papel de forma sutil,
fluída e racional. Donna é sempre absoluta quando
estamos em uma sessão, ela diz pare e então paramos
tudo, e assim vivemos a totalidade do universo D/S sem
ultrapassar limites do são, seguro e consensual.
Vou ao delírio quando ela cai aos meus pés, quando
obedece a meus mandamentos e implora por perdão
quando me magoa, esses são para mim, prazeres
requintados que só quem vive entende, e quanto mais
Donna me brinda com sua submissão, mais inflamado meu
ego fica.
Sou o único que pode usufruir de sua submissão de
forma genuína, legitimando assim meu poder sobre seu
corpo e alma que conquistei através de um processo de
sedução delicioso.
Meus espinhos a perfuram, mas a protegem, e eu
morreria por ela. Eu sou um dominador e tenho orgulho de
ser um animal predador e dono da mulher que controlo e a
quem dirijo meus desejos e cuidados, e quando estamos
juntos como Dom e Submissa, não há céu nem inferno,
pois eu sou um dominador nato, e meu desejo é de que
curve-se diante de mim, pois eu sou o seu dono. Meu
nome é Davi Campos, e eu ainda sou um Dominador.
Outras Obras da Autora Julia Mendez
CONTOS:

SEQUESTRADA PELA PAIXÃO


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QUEM É VOCÊ?
https://www.amazon.com.br/dp/B07F7MQPCT

AMIGOS PERFEITOS (Spin-off Peão Perfeito)


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BEIJO DA MEIA-NOITE
https://www.amazon.com.br/dp/B07M6DHCC3

BEIJO DE CARNAVAL
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SÉRIE HOMENS PERFEITOS:

CUNHADO PERFEITO Parte 1


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PADRASTO PERFEITO
https://www.amazon.com.br/dp/B07C1BCW8N

PEÃO PERFEITO
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MILIONÁRIO PERFEITO
https://www.amazon.com.br/dp/B07H6JD568

CUNHADO PERFEITO parte 2


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Outros:
Livro A FERRO E FOGO
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VALLENTIN
http://amz.onl/fih76Sy
Biografia e Redes Sociais
Júlia Mendez, é natural do interior de São Paulo,
começou a usar esse pseudônimo para embarcar na
escrita hot.
Ela é casada e tem um filho, e por toda sua timidez,
prefere manter seu verdadeiro "eu", como ela diz, em
segredo. Mas, é uma escritora brilhante e com vasta lista
de livros e temas fantásticos.
Fã da escrita russa e livros de mistérios e suspense.
Seu amor pela leitura e escrita começou com a influência
de seu pai.
Começou com o conto erótico Sequestrada pela
paixão.
E logo após, deslanchou com o primeiro livro,
Cunhado Perfeito, da Série de sucesso Homens Perfeitos.
A carreira como Júlia Mendez é cercada pela sua
escrita com temas polêmicos, como é o caso do livro
Padrasto Perfeito e com sua descrição erótica diferenciada,
que as leitoras mais chegadas apelidaram-na de "a rainha
do pof, pof, pof…"
Assim como Padrasto Perfeito é um livro criticado
pelo título, nem tudo é o que parece na história, e Greg,
personagem do livro, é um dos queridinhos das leitoras.
Além de Theodoro (Cunhado Perfeito 1 e 2) e Greg
(Padrasto Perfeito), a Série Homens Perfeitos também
conta a história de Lucas (Peão Perfeito), que tem sua
participação em Padrasto Perfeito e que fez tanto sucesso
que ganhou um livro especial e também é querido pelos
leitores. Depois, temos o conto Amigos Perfeitos, que narra
a descoberta do amor entre os filhos de Greg e Lucas.
E para completar a série, não podemos esquecer do
lindo Eric Mason e sua Cenourinha Ana, em Milionário
Perfeito. Uma história de amor perdido, sofrimento, culpa,
superação e muito amor.
Outro sucesso da Autora Julia Mendez, sem
dúvidas, é o livro A Ferro e Fogo, que conta a história de
Íris e James, que foram separados pela ganância e
orgulho, e que levaram uma década para o reencontro e
tentam novamente desabrochar esse amor.
Não podemos esquecer dos contos incríveis da
Autora, Quem é você? E a hilária história de Heloísa e Zé
Renato, em Beijo da meia-noite e Beijo de Carnaval.
Depois de provar que poderia apresentar algo
diferente para suas leitoras, a Autora se apresentou com
um outro nome, fez a "Pegadinha do Malandro" e nos
mostrou que sabe fazer bonito. E nos presenteou com
Vallentin, abordando temas fortes, como abuso, traição,
morte, vingança e também muita superação.

Contatos da Autora Julia Mendez:


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Mendez
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[1]
Livro fictício, criado pela a autora Julia Mendez.

[VPdSJ1]

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