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NORTE – DF
RESUMO
Este estudo teve como objetivo realizar uma análise crítica mecanicista do projeto de pavimentação do Corredor
Eixo Norte, Brasília – DF, destinado à implantação do Bus Rapid Transit (BRT). Para isso, foram avaliados
trechos deste pavimento rígido, estudados por Ferreira e Martins (2014), referentes à obra do BRT. O BRT é
uma das medidas voltadas a reverter o modelo atual problemático de mobilidade urbana nas capitais brasileiras.
A análise desta superestrutura teve como auxílio o programa computacional EverFe. O desenvolvimento desta
análise permitiu aferir a eficiência do pavimento quanto aos esforços solicitantes, bem como a eficácia do seu
dimensionamento em relação ao carregamento imposto. Esta verificação foi realizada em relação às tensões de
tração atuantes na placa de concreto e o tráfego imposto ao pavimento. Concluiu-se, diante da análise proposta,
que seria possível a adição de melhorias na superestrutura obtendo-se um pavimento seguro estruturalmente,
mais econômico e com maior qualidade técnica.
ABSTRACT
This study aimed to perform a mechanistic critical analysis of the paving project of the Northern Axis Corridor,
Brasília - DF, for the implementation of Bus Rapid Transit (BRT). For this, sections of rigid pavement were
studied, studied by Ferreira and Martins (2014), referring to the work of BRT. BRT is one of the measures aimed
at reversing the current model of urban mobility in Brazilian capitals. The analysis of this superstructure was
aided by the EverFe computational program. The development of this analysis made it possible to ascertain the
efficiency of the pavement in terms of the applicant's efforts, as well as the efficiency of its design in relation to
the loading imposed. This verification was performed in relation to the tensile stresses acting on the concrete
slab and the traffic imposed on the pavement. It was concluded, in view of the proposed analysis, that it would
be possible to add improvements in the superstructure, obtaining a structural floor, economically and with a
higher technical quality.
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, cresceu o questionamento e o debate relacionados à mobilidade urbana
quanto aos serviços prestados e sua eficiência para solucionar ou, ao menos, reduzir os
congestionamentos nas grandes cidades. Uma das propostas trata-se da implantação de
sistemas de transporte de ônibus de alta qualidade, conhecidos pela sigla em inglês BRT (Bus
Rapid Transit).
Atualmente, os modelos estruturais para análise de pavimentos rígidos estão mais avançados
do que os modelos utilizados nos métodos da PCA (Portland Cement Association). Vários
programas de elementos finitos podem ser usados como modelos estruturais, porém a maior
parte dos modelos de defeitos são equações de regressão derivadas empiricamente, com
grande dispersão dos dados. Os principais tipos e defeitos a serem modelados nos pavimentos
rígidos incluem: trincamento por fadiga, erosão, bombeamento e escalonamento nas juntas
transversais (Gondim, 2008).
Segundo Pitta (1998), o método da PCA/84 aplica-se tanto a pavimentos de concreto simples
e com barras de transferência, quanto aos dotados de armadura distribuída, descontínua, e usa
um modelo de análise estrutural por elementos finitos. O sistema permite combinar facilmente
diferentes fatores de projeto, propiciando a análise acelerada de muitas soluções alternativas.
Este método considera as características de fundação do pavimento através da medida do
módulo de reação/coeficiente de recalque (assim chamado por Westergaard), simbolizado
pela letra k, o qual é determinado diretamente por uma prova de carga estática sobre a
fundação preparada e avalia a pressão necessária para produzir uma deformação unitária no
terreno. Esse ensaio pode ser substituído, segundo o método, pela fixação do valor de suporte
por procedimento mais simples, cujos resultados tenham correspondência numérica com o
valor de k; por sua difusão generalizada. A ABCP (Associação Brasileira de cimento
Portland) recomenda o ensaio de Índice de Suporte Califórnia (ISC ou CBR) para a
determinação do valor de k, cuja precisão é satisfatória para fins de dimensionamento.
Anguas (2004) desenvolveu um modelo em que apresenta uma visão geral das metodologias
mecanicistas para análise estrutural e dimensionamento de pavimentos, com ênfase nas
variáveis fundamentais de entrada no processo. Esse modelo realça as limitações existentes
em metodologias de natureza empírica, atuando de modo à corriji-las, garantindo pavimentos
que tenham melhor desempenho. A abordagem mecanicista tem a capacidade de prever
diretamente os indicadores críticos de desempenho do pavimento, enquanto explica a base
científica para a deterioração do pavimento. Esse modelo permite prever corretamente a
evolução ao longo do tempo das diferentes deteriorações que podem ocorrer no pavimento
aumentando a confiabilidade dos projetos. Com isso, proporcionaria otimização dos custos de
manutenção, de reabilitação, bem como dos custos de operação dos usuários dos pavimentos.
Nesse contexto, o trabalho proposto teve por objetivo desenvolver uma análise mecanicista do
projeto de pavimentação do Corredor Eixo Norte para implantação do BRT no Distrito
Federal. A análise desta superestrutura teve como auxílio o programa computacional EverFe
2.25. Para a realização das análises mecanicistas do pavimento rígido foi utilizado o Método
dos Elementos Finitos (MEF), que permite avaliar os efeitos de cargas de veículos em
estruturas de pavimentos com a finalidade de apontar soluções para melhoria da descrição do
comportamento mecânico e do dimensionamento estrutural do projeto em questão. Concluiu-
se, diante da análise proposta, que seria possível a adição de melhorias na superestrutura
obtendo-se um pavimento seguro estruturalmente, mais econômico, mais viável e com maior
qualidade técnica.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
O Corredor Eixo Norte objetiva dotar as populações das cidades de Planaltina, Sobradinho,
Sobradinho II, Varjão, Planaltina de Goiás, Formosa e as populações residentes na divisa
norte/nordeste do Distrito Federal de um sistema de transporte moderno, confortável, rápido e
confiável, a custos reduzidos. A população a ser atendida corresponde a, aproximadamente,
300 mil habitantes, que representam cerca de 12% da população do DF.
Para o cálculo deste pavimento, usou-se como ônibus tipo, o urbano articulado, com três eixos
e os seguintes pesos por eixos:
Eixo simples dianteiro = 6 tf;
Eixo simples intermediário = 10 tf;
Eixo simples traseiro = 10 tf.
A análise do dimensionamento se deu por trechos, nos quais se realizou uma análise
mecanicista das tensões de tração atuantes na parte inferior das placas de concreto, interface
com a subbase, verificando se atende à tensão de tração que o concreto suporta (fctm) e ao
tráfego imposto ao pavimento. Após análise do projeto original, Martins e Ferreira (2014)
identificaram divergências entre os valores adotados no mesmo, portanto estas efetuaram um
redimensionamento da superestrutura. Para o redimensionamento proposto tem-se barras de
ligação com diâmetro de 12,5 cm, comprimento de 76 cm e espaçamento de 92,50 cm e as
espessuras das placas de concreto apresentadas na Tabela 1 acima.
Figura 1: Aspecto da tela gráfica para inserção dos dados geométricos da placa.
A análise mecanicista se desenvolveu em uma placa de concreto com dimensões de 5,8 x 7,0
m, com espessuras variadas conforme Tabela 1. A base do projeto original é composta por
uma camada de 10 cm de brita graduada simples e 10 cm de concreto rolado. Foi proposto no
redimensionamento de Martins e Ferreira (2014) que a base fosse considerada composta
apenas pela camada de concreto rolado, já que é sabido e normatizado pelo Manual de
Pavimentos Rígidos (DNIT, 2005), que este tipo de pavimento não possui camada de base.
Foi adotada a placa de concreto aderida à base/sub-base de concreto rolado com espessura de
10 cm. O subleito foi definido com uma profundidade de 2 m, já que o software não tem a
opção de considerá-lo como semi-infinito.
Figura 2: Aspecto da tela gráfica para inserção dos dados físicos do pavimento.
Para o veículo tipo considerado no projeto original do pavimento, o eixo mais carregado será
o eixo simples de roda dupla (ESRD), que possui carregamento de 10 tf. As dimensões do
pneu foram calculadas pelas formulações apresentadas por Rodrigues e Pitta (1998), com
pressão de enchimento igual a 0,7 MPa.
Foram consideradas 3 hipóteses de carregamento na placa, sendo: CASO I: carregamento no
centro da placa de concreto; CASO II: carregamento próximo à junta entre placas; CASO III:
carregamento no bordo livre da placa de concreto.
Figura 4: Aspecto da tela gráfica para inserção dos dados das barras de transferência.
A Figura 5 mostra a malha de elementos finitos ao longo da espessura e superfície, utilizada
pelo software para os cálculos de tensão e deformação. O número de elementos na direção x
para cada coluna e na direção y para cada linha, na placa, é especificado de forma
independente.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os valores das tensões de tração atuantes na face inferior das placas de concreto,
considerando-se a espessura de cada trecho, foram obtidas a partir do software EverFe e
comparados a resistência de ruptura à tração na flexão de 4,5 MPa, de acordo com o projeto.
Para obtenção da tensão crítica em cada trecho, o eixo com maior carregamento, no caso, de
10 tf, foi posicionado nas posições mais solicitadas. Ou seja, no bordo livre da placa, no
centro da placa e tangenciando a junta, obtendo-se assim três valores de tensão para cada
trecho, sendo a tensão crítica do trecho a maior dentre eles. Os resultados obtidos pelo
programa EverFe estão apresentados na Tabela 3.
Tabela 3: Tensões máximas na base da placa de concreto obtidas no EverFe
Espessura da Tensões (MPa)
placa de
Região Trecho
concreto H Caso I Caso II Caso III
(cm)
S1 B 22 0,253 0,193 0,373
S2 C1 20 0,268 0,196 0,407
S2 C2 e 4 20 0,268 0,196 0,407
Pla 1a 22 0,253 0,193 0,373
MD 2eA 20 0,267 0,196 0,406
Bg D 24 0,238 0,188 0,355
S1-Pla 3 e 1b 25 0,232 0,188 0,347
S2-S1 5 25 0,231 0,185 0,346
DF-S2 6 25 0,231 0,185 0,346
DF 7 24 0,239 0,188 0,355
Pode-se notar que as tensões de tração atuantes na parte inferior da placa de concreto obtidas
pelo software foram no mínimo 10 vezes menores que à tensão máxima de tração que o
concreto suporta (fctm) de 4,5 Mpa.
SR = S/MR (2)
Em que: N: número de repetições da carga padrão o pavimento suportará;
SR: relação de esforços;
S: máxima tensão de tração encontrada na base da placa de concreto;
MR: módulo de ruptura que corresponde à resistência à tração na flexão (fctm).
Pelas análises mecanicistas realizadas em cada trecho, notou-se que o valor do número N
obtido foi significativamente maior ao especificado em projeto. Com isso, pode-se concluir
que o pavimento suportará um número de passadas do eixo padrão maior do que referido ao
período de projeto, sugerindo de acordo com a análise mecanicista um superdimensionamento
da estrutura. Em relação às tensões máximas calculados pelo EverFe, o número N de
solicitações obtido pelo método da PCA 1984 seria de aproximadamente 5,50 x 108. Apesar
do valor obtido ser superior ao N de projeto (5 x 107), este apresentou-se significativamente
inferior ao número de repetições suportados pelo pavimento projetado.
Pelo dimensionamento através da PCA 1984, calculado por Martins e Ferreira (2014), foram
definidas espessuras de placas entre 20 a 25 cm. Através das análises realizadas pelo
programa EverFe 2.25, pode-se constatar que o pavimento poderia ter menores espessuras que
as calculadas pelo método utilizado atendendo as mesmas solicitações impostas pelo tráfego
previsto no projeto. Diante disso, a espessura da placa de concreto, correspondente as tensões
máximas obtidas através do software, seria de aproximadamente 6 cm assegurando que a
placa resistisse sem a ocorrência de ruptura por fadiga, sendo, portanto quase 5 vezes menor.
Para fazer um melhor refinamento nos dados, seria necessária a inclusão de diferenciais de
temperatura na análise mecanicista, visto que, devido a esta variação de temperatura atuante
entre a base e o topo da placa, ocorrem tensões de tração que devem ser acrescidas na análise
da base da placa de concreto. Como estas tensões são significantes a nível de
dimensionamento, é necessário a obtenção destes dados referentes a região de implantação do
projeto, porém esses diferenciais de temperatura não foram analisados/quantificados nesse
artigo.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização de análises mecanicistas tem grandes vantagens sobre o método da PCA (1984),
sendo as principais delas o uso de modelagem mais realista possibilitando redução de custos,
evitando superdimensionamento de obras de pavimentação. Na análise do estudo de previsão
do tráfego estimado para o Corredor Eixo Norte, segundo Martins e Ferreira (2014),
verificou-se que os dados se encontram excessivos para o período de projeto considerado,
pois o pavimento suportaria um número maior de solicitações do eixo padrão.
Pode-se notar que as tensões de tração atuantes na parte inferior da placa de concreto obtidas
pelo software foram no mínimo 10 vezes menores que à tensão máxima de tração que o
concreto suporta (fctm), implicando em um numero N de solicitações do eixo padrão bastante
superior ao do projeto. Considerando-se essas tensões máximas calculadas pelo EverFe, o
número N de solicitações obtido pelo método da PCA 1984 seria, ainda, significativamente
inferior ao número de repetições suportados pelo pavimento projetado.
Através das análises realizadas pelo programa EverFe 2.25, pode-se constatar que o
pavimento poderia ter menores espessuras que as calculadas pelo método utilizado atendendo
as mesmas solicitações impostas pelo tráfego. Diante disso, a espessura da placa de concreto,
para as tensões máximas obtidas através do software seria 5 vezes menores assegurando que a
placa resista sem a ocorrência de ruptura por fadiga.
Agradecimentos
DTECH/UFSJ, Grupo de Pesquisa em Infraestrutura de Transportes e Obras Geotécnicas – INFRAGEO e
FAPEMIG.
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__________________________________________________________________________________________
Juliana de Paula Rezende ([email protected])
Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa
Av. Peter Henry Rolfs, s/n – Campus Universitário, Viçosa, MG, Brasil
Tales Moreira de Oliveira ([email protected])
Maicon de Ávila Fernandes ([email protected])
Leandro Neves Duarte ([email protected])
Universidade Federal de São João Del Rei
Rod. MG 443, KM 7 – Campus Alto Paraopeba, Ouro Branco, MG, Brasil