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uma lágrima
Pedro Bandeira
Propostas de atividades 1, 8
Propostas de atividades 2, 16
Aprofundamento, 25
Bibliografia comentada, 44
©©Freepik
CARTA AO
P R O F E S S O R
3
ÁRVORES E TEMPO DE LEITURA
MARIA JOSÉ NÓBREGA
O que é, o que é,
Uma árvore bem frondosa
Doze galhos, simplesmente
Cada galho, trinta frutas
Com vinte e quatro sementes?1
Encaremos o desafio: trata-se de uma árvore bem frondosa, que tem doze
galhos, que têm trinta frutas, que têm vinte e quatro sementes: cada verso introduz
uma nova informação que se encaixa na anterior.
Quantos galhos tem a árvore frondosa? Quantas frutas tem cada galho?
Quantas sementes tem cada fruta? A resposta a cada uma dessas questões
não revela o enigma. Se for familiarizado com charadas, o leitor sabe que nem
sempre uma árvore é uma árvore, um galho é um galho, uma fruta é uma fruta,
uma semente é uma semente… Traiçoeira, a árvore frondosa agita seus galhos,
entorpece-nos com o aroma das frutas, intriga-nos com as possibilidades ocultas
nas sementes.
O que é, o que é?
Que árvore é essa? Símbolo da vida, ao mesmo tempo que se alonga num
percurso vertical rumo ao céu, mergulha suas raízes na terra. Cíclica, despe-se
das folhas, abre-se em flores, que escondem frutos, que protegem sementes, que
ocultam coisas futuras.
“Decifra-me ou te devoro.”
Ah, essas árvores e esses frutos, o desejo de conhecer, tão caro ao ser
humano…
Depende de nós.
1
Meu livro de folclore, Ricardo Azevedo, Editora Ática.
2
Bíblia de Jerusalém, Gênesis, capítulo 2, versículos 9 e 10, 16 e 17.
5
Arquivo do autor
PEDRO BANDEIRA,
O AUTOR DE A MARCA DE UMA LÁGRIMA
6
SOBRE A OBRA
Isabel, uma jovem inteligente e criativa de 14 anos, apaixona-se por seu
primo Cristiano, que é apaixonado por Rosana, sua melhor amiga. Como seu
amor não é correspondido, Isabel encontra um caminho para declarar-se a ele:
escrevendo cartas de amor, que são assinadas pela amiga Rosana. Obcecada
por esse sentimento, a adolescente nem se dá conta de Fernando, que a ama e
está sempre por perto como um bom amigo.
O assassinato da diretora da escola muda os rumos dos acontecimentos, e
Isabel corre risco de vida por ter testemunhado mais do que devia. No hospital,
descobre seu verdadeiro amor por Fernando.
Adaptação moderna da obra Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, A
marca de uma lágrima lembra os eternos desencontros amorosos, sintetizados
no poema Quadrilha, de Drummond: Fernando ama Isabel, que ama Cristiano,
que ama Rosana. Mas discute, também, o amor idealizado, sonhado por Isabel,
e que não passa de uma quimera, de uma ilusão. E assim, entre lágrimas e dores
de amor, Isabel finge para si mesma o amor que deveras sente.
QUADRO-SÍNTESE
Gênero: Novela
Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, Filosofia, Sociologia, Arte, Biologia.
Competências Gerais da BNCC: 2. Pensamento científico, crítico e criativo;
3. Repertório Cultural; 7. Argumentação; 8. Autoconhecimento e autocuidado;
9. Empatia e cooperação.
Temas: Inquietações das Juventudes; A vulnerabilidade dos jovens; Bullying e
respeito à diferença; Protagonismo juvenil; Ficção, mistério e fantasia.
7
PROP O S TA S D E
ATIVIDADES
1
FIOS E LINHAS
MARIA JOSÉ NÓBREGA
Foi Ariadne, uma jovem enamorada, que, temendo pela vida do amado,
arquitetou, com a ajuda de Dédalo, um plano para demarcar o percurso,
possibilitando que Teseu atingisse o centro, enfrentasse o Minotauro e
voltasse seguro pelo mesmo caminho. Ela entregou ao herói um novelo que
continha um fio mágico, um fio que nunca acabava, sob medida para Teseu
desenrolar suas aventuras e retornar vitorioso e em segurança pela rota
assinalada. Um fio que desenrolava a história e permitia ao narrador retornar
para contá-la.
Teseu, não se sabe bem por que, vai abandonar Ariadne e viver outras
histórias. Tristes, mas necessárias rupturas.
Começamos esta conversa com um mito que fala de fios que costuram
amores e aventuras, que se entrelaçam e tecem os diferentes destinos. Mas
fios e linhas também enredam textos que se revelam nas diferentes leituras
de cada leitor.
Como eles, leitores são espíritos livres que, tão logo podem,
soltam os fios e voam. Dependem apenas das mãos amorosas de seus
professores que, como Ariadne, encorajam e possibilitam o ingresso nos
labirintos da escrita.
9
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
Nesta seção, os professores de Língua Portuguesa encontram uma
sequência de atividades cuja finalidade é permitir a formação de um sujeito
leitor, responsável e crítico, capaz de construir sentidos de modo autônomo
e de argumentar a respeito de sua recepção da obra, constituindo-se como
uma personalidade sensível e inteligente aberta aos outros e ao mundo. Ao
partir da recepção do aluno-leitor, de sua leitura subjetiva, procura-se ampliar
suas competências com a aquisição de saberes sobre os textos e sobre si;
ao compartilhar essa experiência, em uma leitura colaborativa, procura-se
submeter o texto do leitor à arbitragem dos pares e à autoridade do texto.
10
3. Analise com os estudantes a capa do
livro, feita por Isabela Jordani e Rafael
Nobre. O que o título A marca de uma
lágrima sugere sobre o enredo? A que
marca o autor estaria se referindo? Como
seria a marca de uma lágrima? Com
base nesse primeiro contato com a obra,
organize com os alunos uma lista das
impressões e das sensações que foram
suscitadas pelos elementos da capa.
6. Explique aos alunos que o texto que
4. Chame a atenção dos estudantes
aparece no lado de trás do livro é
para a dedicatória do livro. Peça que
chamado de texto de quarta capa. Com
observem para quem o autor dedica a
base nas informações contidas nesse
história. O que a dedicatória revela? Por
texto, estimule os estudantes a criar
fim, pergunte: Por que a maioria dos
hipóteses a respeito do enredo da obra.
escritores, ao escrever uma história, a
dedica a alguém?
7. Comente com os estudantes que o
gênero a que o livro pertence, novela,
5. Apresente aos alunos o sumário do livro
não tem relação com as conhecidas
e, com base nos nomes dos tópicos e
novelas de televisão. Explique que, em
capítulos, estimule-os a criar hipóteses
geral, a novela literária (como é o caso de
sobre o que irão ler. Pergunte se algum
A marca de uma lágrima) é considerada
nome lhes chamou a atenção e por quê.
uma história intermediária entre o conto
(uma narrativa curta) e o romance (uma
narrativa longa), mas que, às vezes, uma
novela pode ser chamada de romance,
não havendo um critério rigoroso para
essas classificações.
11
As atividades de leitura implicam a compreensão do
conteúdo temático com a seleção das informações
relevantes para a construção de uma síntese e para a
checagem das predições feitas antes da leitura, para leitura
confirmá-las, reformulá-las ou refutá-las.
13
As atividades de pós-leitura promovem a reflexão sobre o
conteúdo temático ou expressivo da obra a partir de outras
referências que permitem identificar diferentes perspectivas
possíveis para o tema, estimulando uma resposta crítica que pode
envolver vários níveis de complexidade ou gerar novas perguntas, pós-leitura
que enriquecem e transformam a experiência leitora.
Somente depois que foi para Paris – onde se fixou e concluiu seu
doutorado – é que pôde, enfim, ter uma relação mais livre e direta com a
literatura. “De meados dos anos 1970 em diante, perdi o interesse pelos
métodos de análise literária e passei a me dedicar à análise em si, isto é,
aos encontros com os autores”, afirma o ensaísta.
16
Leitor reprimido na juventude, a constatação de Todorov de que a
literatura está em perigo, no entanto, foi feita bem mais tarde, em uma
época, a nossa (seu livro é de 2007), na qual a maioria dos países vive em
democracias, ou seja, as crianças e adolescentes têm liberdade para ler
uma ampla variedade de autores, participam de feiras e bienais de livros e
frequentam uma escola cada vez mais preocupada com a pluralidade de
ideias, a liberdade de expressão, a diversidade cultural, o protagonismo
juvenil, a tolerância, os direitos humanos e a formação cidadã. Sem contar
as múltiplas possibilidades da internet, que democratiza o acesso à
informação e, por conseguinte, à leitura.
17
na leitura (sobretudo na leitura de ficção) muito mais do que a obrigação
de se inteirar de um volume de informações cifradas contidas em algumas
dezenas de páginas (que é como muitos adolescentes veem os livros) com
o objetivo efêmero de serem aprovados no vestibular e passem a perceber
que a “verdade de mentira” escondida naquelas páginas é muito mais
do que um mero enredo ou um simples relato.
19
As atividades de leitura implicam a compreensão do
conteúdo temático com a seleção das informações
relevantes para a construção de uma síntese e para a
checagem das predições feitas antes da leitura, para leitura
confirmá-las, reformulá-las ou refutá-las.
20
As atividades de pós-leitura promovem a reflexão sobre o
conteúdo temático ou expressivo da obra a partir de outras
referências que permitem identificar diferentes perspectivas
possíveis para o tema, estimulando uma resposta crítica que pode
envolver vários níveis de complexidade ou gerar novas perguntas, pós-leitura
que enriquecem e transformam a experiência leitora.
24
N D A M E N TO
APROFU
LITERATURA É APRENDIZADO
DE HUMANIDADE
DOUGLAS TUFANO
25
Porém, por circular na sala de aula junto com os textos escolares, muitas
vezes o texto literário acaba por sofrer um tratamento didático, que desconsidera
a própria natureza da literatura. O texto literário não é um texto didático. Ele não tem
uma resposta, não tem um significado que possa ser considerado correto. Ele é uma
pergunta que admite várias respostas; depende da maturidade do aluno e de suas
experiências como leitor. O texto literário é um campo de possibilidades que desafia
cada leitor individualmente.
26
Com essa iniciação literária bem planejada e desenvolvida, o aluno
vai adquirindo condições de ler bem os grandes escritores, brasileiros
e estrangeiros, de nossa época ou de outras épocas. Nesse sentido, as
noções de teoria literária aplicadas durante a análise de um texto literário
só se justificam quando, efetivamente, contribuem para enriquecer a leitura
e compreensão do texto, pois nunca devem ser um fim em si mesmas. A
escola de Ensino Fundamental e Médio quer formar leitores, não críticos
literários. Só assim é possível perceber o especial valor educativo da
literatura, que, como dissemos, não consiste em memorizar conteúdos mas
em ajudar o aluno a situar-se no mundo e a refletir sobre o comportamento
humano nas mais diferentes situações. Literatura é aprendizado de
humanidade.
27
Com essas orientações e subsídios, o
professor poderá organizar a sua leitura e apreensão
do fenômeno literário, para que possa explorar as suas
potencialidades e aplicá-las de forma proveitosa e
fecunda no contato com os estudantes, fazendo com
que a aula de literatura extrapole o âmbito meramente
daquele que sabe e daquele que aprende, mas se
transforme em um diálogo vivo, uma troca criativa e
inovadora que, sem dúvida, irá conduzir aquele que
aprende ao conhecimento da literatura, mas também
irá proporcionar àquele que sabe a experiência de
poder rever seus conhecimentos, ampliando-os, à luz
da comunhão que a leitura proporciona.
28
O GÊNERO DA OBRA
NOVELA
Há quem defina a novela, de forma simplista (sem que esse simplismo se distancie
necessariamente da verdade), como uma narrativa menor do que o romance em número de
páginas (e, por extensão, maior do que um conto). Como base para comparação, o romance é
uma narrativa em prosa, geralmente longa com vários personagens que vivem diferentes conflitos
e cujos desfechos se cruzam. Ele coloca em cena problemas de relações humanas, mas não
necessariamente amorosas, como pode sugerir o sentido mais usual da palavra romance. Além
disso, ele pode apresentar diferentes temas e contextos, por isso é possível falar de romance
histórico, romance policial, romance de aventuras etc. De fato, se tomarmos novelas como A
metamorfose, de Franz Kafka, ou Um copo de cólera, de Raduan Nassar, a primeira impressão que
teremos dessas obras, antes mesmo de começarmos a lê-las, é que se trata de narrativas de pequeno
fôlego, com base na pequena “grossura” dos volumes, perceptível pelo contato tátil.
Levando em conta essas discussões, para as quais em geral o leitor comum passa ao largo –
ele quer apenas ler uma boa história, seja romance, novela ou conto –, a novela pode ser definida,
grosso modo, como uma narrativa articulada em torno de um pequeno número de personagens e de
conflitos – na maior parte das vezes um conflito move toda a história. A limitação dos conflitos e dos
personagens, no entanto, não são necessariamente proporcionais à densidade da carga narrativa,
que, a despeito da necessidade de um desfecho relativamente rápido, pode ser mais intensa do que
um alentado romance.
29
Outra definição possível é a de que a novela é composta de capítulos ou unidades não
autônomas, mas que estão interligados: cada um traz em si certas motivações que serão depois
desenvolvidas nos capítulos seguintes e assim por diante, numa sucessão que manterá a atenção
e a curiosidade do leitor e levará ao epílogo. Um exemplo típico de novela que apresenta essa
estrutura é D. Quixote de la Mancha, do escritor espanhol Miguel de Cervantes, publicada no início
do século XVII.
Quando se diz que a obra de Miguel de Cervantes “inaugura” o romance moderno, ainda que
seja “oficialmente” uma novela, se quer dizer que ela traz elementos novos à forma de narrar. Essa
forma de narrar criou um “modelo” de contar histórias que será incorporada, nos séculos seguintes,
à forma de se contar uma história literária. Essa forma de se contar uma história conhecerá o
seu apogeu no século XIX, com o francês Gustave Flaubert – que escreveu romances, novelas e
contos – e os romances e novelas de folhetim. A marca de uma lágrima, de Pedro Bandeira, a
novela juvenil que os alunos leram, é herdeira dessa forma de contar histórias, que nasceu com
Dom Quixote.
Para concluir, é preciso dizer que a discussão sobre o que é romance, novela e conto
envolve também a forma como uma obra é construída e apresentada ao público. A definição
de que a novela é composta de unidades não autônomas interligadas pode ser problemática se
não levarmos em conta a forma como houve isso que estamos chamando de “interligação”. O
conhecido romance Vidas secas, do escritor alagoano Graciliano Ramos, publicado na primeira
metade do século XX, nasceu como unidades autônomas e só depois foi organizado em um volume
único, ao qual o autor conferiu certa organicidade narrativa. É só um exemplo, entre muitos.
Portanto, tão importante quanto a leitura da obra em si mesma é a curiosidade, prévia ou posterior
à experiência do contato com a história, do aluno para que tenha uma compressão que extrapole o
mero enredo, e do professor, para que possa explorar as potencialidades da obra como produto do
engenho criativo humano, influenciado por sua época, mas que vai muito além dela.
30
SOBRE OS ESTILOS LITERÁRIOS
31
Como se vê, chegou ao fim a noção de “estilo”,
“escola” ou “convenção” literária, tal como se concebia nos
séculos anteriores. Esse é um processo que começa com o
Romantismo, no século XIX, e atinge seu maior desenvolvimento
no século XX. É a proclamação da independência estética do
artista moderno, fenômeno que se verifica em praticamente
todos os campos artísticos, da música à literatura e às artes
plásticas. Cada artista cria sua própria concepção de arte. Daí a
sensação de “estilhaçamento” quando observamos o panorama
da literatura moderna e contemporânea. Hoje, estudamos
autores e não grupos ou gerações literárias.
32
O QUE É LITERATURA?
Por isso, mesmo um livro escrito há vários séculos, como D. Quixote, permanece
atual. Porque proporciona essa aventura intelectual, esse voo da imaginação.
Não para alienar o leitor, mas para fazer com que ele, no fim da leitura, volte à sua
realidade e a veja com outros olhos. O diálogo da obra com o mundo em que vive o
aluno é fundamental para que a literatura exerça seu papel educativo.
Por isso, o mestre Antonio Candido dizia que o acesso à literatura deveria ser
um direito básico do ser humano.
33
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
DE APROFUNDAMENTO
Em Atividades de aprofundamento, são apresentadas propostas que
permitem compreender o funcionamento contemporâneo das convenções
literárias relacionadas à obra, apoiar a leitura crítica, criativa e propositiva para
explorar as potencialidades da escrita literária com os estudantes. Nessa seção,
indicam-se também produções contemporâneas de outros gêneros (literários
ou não) que permitem um diálogo intertextual com diferentes aspectos
da organização da expressão literária e sua articulação com a experiência
individual e social.
34
Em uma roda de conversa, problematize as relações amorosas
com os alunos, sem tirar, porém, o encantamento que as pessoas
sentem quando estão apaixonadas ou são amadas por alguém. Deixe
claro – e eles certamente sabem disso – que o amor entre duas pessoas,
principalmente se correspondido, é um dos sentimentos mais prazerosos
que um ser humano pode experimentar. Mas que o amor não combina
com uma relação abusiva, em que há desrespeito e sentimento de posse,
mas com liberdade para deixar o companheiro ou a companheira livre,
inclusive para não continuar a relação, caso um deles assim o deseje.
Provoque-os a esse respeito, fazendo perguntas como: Vocês já viveram
uma relação em que havia sentimento de posse? Como se sentiram?
Vocês se controlam para que o amor não se transforme em sentimento
de posse pela outra pessoa? O que pensam sobre o ciúme? Como fazer
para preservar a liberdade da pessoa que amamos?
Diante dessas ponderações e indagações, peça que emitam uma
opinião crítica sobre a relação entre Cristiano e Rosana, Isabel e Cristiano
e, por fim, entre Isabel e Fernando. De que atitudes eles gostaram?
Que atitudes reprovaram? Em que momento a relação foi abusiva e em
que momento identificaram respeito pela liberdade do outro? Peça que
expliquem suas respostas.
35
Questione os estudantes sobre se podemos dizer
que Isabel praticava contra si mesma o que atualmente
é chamado de “gordofobia”, o preconceito contra pessoas
obesas. Comente com os alunos que, nos anos 1980,
década em que a obra foi lançada, não havia a crítica
contra a verbalização desse tipo de preconceito, bem
como não se recriminava a discriminação contra mulheres,
negros, homossexuais, entre outras categorias humanas
historicamente reprimidas e depreciadas – ou, para usar um
termo da antropóloga e historiadora Lília Moritz Schwarcz,
“as maiorias minorizadas4”.
Indague aos alunos se, aos olhos da sociedade de hoje,
com o olhar crítico e com o realinhamento de posturas agora
consideradas condenáveis, as quais permeiam as relações
sociais, os meios de comunicação, o mundo do trabalho
etc., quais críticas poderiam ser feitas ao comportamento de
Isabel, não apenas em relação à sua suposta “gordofobia” –
que não era só sua, pois, se ela recriminava a si mesma por
ser gorda devia recriminar as pessoas que também tivessem
essa compleição física –, mas também às outras formas de
diversidade humana ou “diferenças” que não se enquadrassem
no seu “modelo de perfeição”.
4
SCHWARCZ, Lilian Moritz: Maiorias minorizadas: a democracia do Brasil como “mal entendido”.
Nexo Jornal. Disponível em: http://mod.lk/nexojorn.
36
E R E F E R Ê N C I A S
SUGESTÕES D
E N TA R E S
COMPLEM
PARA O ALUNO
LLIVROS
BÉDIER, Joseph. O romance de Tristão e Isolda.
5. ed. Trad. Luiz Castro de Castro e Costa. São
Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.
História lendária que se passa na região da
Cornualha, na Irlanda, narra o amor trágico
entre o cavaleiro Tristão e a princesa irlandesa
Isolda.
37
LAJOLO, Marisa. O que é literatura. 8. ed. São
Paulo: Brasiliense, 1982.
Pequena obra introdutória pelos caminhos
da literatura, da ficção e de seus elementos
constituintes.
38
Lfilmes
A escolha de Sofia. (EUA, 1982). Direção
de Alan Pakula. Duração: 1h53min.
39
LCanções
Piscar o olho, de Tiê.
40
Flores em você, de Edgard Scandurra
com a banda Ira!.
LReportagens
CANCIAN, Natália. Obesidade volta a
crescer no país e atinge maior índice em
13 anos. Folha de S.Paulo, 25 jul. 2019.
41
PARA O PROFESSOR
LLIVROS
ARISTÓTELES, HORÁCIO, LONGINO. A poética
clássica. Tradução do grego e do latim Jaime
Bruna. São Paulo: Cultrix, 2014.
Coletânia de obras clássicas que estão na
origem dos estudos literários sobre a ficção e KUNDERA, Milan. A arte do romance. Trad.
seus elementos de composição. Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009.
ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques
Confissão nascida da experiência prática do
da ficção. Trad. Hildegard Feist. São Paulo:
romancista Milan Kundera, na qual ele discute
Companhia das Letras, 1994.
os aspectos centrais do romance.
Seis conferências de Umberto Eco ministradas
na Universidade de Harvard, em 1993, sobre o LONTRA, Hilda Orquídea H. (org.). Histórias
texto de ficção, leitura, leitores e literatura. de leitores. Brasília: Editora Universidade de
Brasília/Oficina Editorial do Instituto de Letras
JOUVE, Vincent. Por que estudar literatura? UNB, 2006.
Trad. Marcos Bagno e Marcos Marcionilo. São
Obra que reúne textos que tratam do
Paulo: Parábola, 2012. (Coleção Teoria Literária)
processo de constituição da identidade pela
Obra dirigida aos pesquisadores em teoria leitura, recuperando vivências permeadas de
literária e da arte, aos professores e afetividade que têm em comum o resgate do
estudantes de literatura e a todos os amantes prazer do convívio com os textos literários.
da literatura. Discorre sobre a arte literária e
seus elementos de formação. PAMUK, Orhan. A maleta do meu pai. Trad.
Sérgio Flaksman. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007.
Em três discursos – incluindo o da cerimônia
do prêmio Nobel de Literatura –, o escritor
turco Orhan Pamuk fala do papel do escritor
na atualidade e investiga seu processo criativo
em busca de uma chave que explique a
literatura e o fascínio que ela exerce.
42
TERZI, Sylvia Bueno. A construção da leitura –
Uma experiência com crianças de meios
iletrados. Campinas, SP: Pontes; Editora da
Unicamp, 1995.
A autora relativiza a ideia de que toda criança,
ao chegar à escola, já traz consigo um
conhecimento sobre a escrita – segundo ela,
é preciso considerar a sua origem familiar e
social e modular o aprendizado e a construção TEZZA, Cristóvão. Literatura à margem. Porto
da leitura. Alegre: Dublinense, 2018.
Sete conferências do romancista Cristóvão
TEZZA, Cristóvão. O espírito da prosa – Uma Tezza sobre a criação literária, as fronteiras
autobiografia literária. Rio de Janeiro: Record, entre a ficção, a biografia e o ensaio, e os
2012. sentidos da ficção no mundo contemporâneo.
Cristóvão Tezza, romancista e ensaísta
brasileiro contemporâneo, faz nessa obra TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. 3. ed.
uma autobiografia com foco em sua formação Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro: Difel, 2010.
como escritor e nas subjetividades que cercam Todorov faz a crítica do ensino de literatura
o ofício de escrever. na atualidade, baseado no formalismo-
-estruturalismo, ao mesmo tempo que defende
a leitura e a literatura como campos de
aprendizado e de formação humana.
L A r t i g o s
eatro
n o d e B e rg e rac. Cia. de T
x. Cyra
RIBEIRO, Ale
ue Gosto.
Assisto Porq um
r, p s ic ó lo g o e poeta faz
, o ato
Neste artigo tre ia da peça Cyra
no de
nado d a e s
texto apaixo s ta n d, em 1897, e
do
Edm o n d R o
Bergerac, de ta.
o m ê n fa s e no protagonis
enredo, c
ergerac>.
: <http://mod.lk/b
Disponível em
43
BIB L I O G R A F I A
C O M E N TA D A
LIVROS COSSON, Rildo. Letramento literário – Teoria e prática.
BLOOM, Harold. Como e por que ler. Trad. José Roberto São Paulo: Contexto, 2009.
O’Shea. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Obra voltada para professores que buscam fazer do
Neste livro, Harold Bloom, um dos principais críticos letramento literário uma atividade significativa para
literários da atualidade, convida o leitor a uma si e para os estudantes. No livro, o autor e professor
saborosa viagem por grandes obras da literatura Rildo Cosson, do Departamento de Literatura da
universal, como Dom Quixote de La Mancha, de Miguel Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mostra
de Cervantes, Crime e castigo, de Dostoiévski, Em como reformular, fortalecer e ampliar o estímulo
busca do tempo perdido, de Marcel Proust, Hamlet, de à leitura no ensino básico para além das práticas
Shakespeare, entre muitas outras. usuais. Ele também analisa a relação entre literatura e
educação, propondo a construção de uma comunidade
CANDIDO, Antonio et al. A personagem de ficção. São
de leitores nas salas de aula e sugerindo oficinas
Paulo: Perspectiva, s.d. (Série Debates: Literatura)
para o professor adaptar seu trabalho ao letramento
Ensaios de Antonio Candido, Anatol Rosenfeld, Décio
literário, orientando, assim, a produção de sequências
de Almeida Prado e Paulo Emílio Salles Gomes,
de atividades com foco na leitura literária.
importantes nomes na formação de sucessivas
gerações de estudantes de Letras e de Artes. A obra FAZENDA, Ivani C. Arantes. Interdisciplinaridade: História,
traz atualidade nas análises e na discussão crítica das teoria e pesquisa. 18. ed. Campinas, SP: Papirus, 2012.
modernas leituras estéticas, que tocam campos do (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico)
saber como a linguística e a filosofia, entre outros. Estudiosa das questões que envolvem a
interdisciplinaridade desde os anos 1970, formada pela
COSSON, Rildo. Círculos de leitura e letramento literário.
USP, mestre em filosofia da educação pela PUC-SP e
São Paulo: Contexto, 2014.
doutora em antropologia cultural pela USP, a professora
O que é um círculo de leitura? É um grupo de pessoas
Ivani Fazenda acredita que, “ao buscar um saber mais
que se reúne com o objetivo de discutir a leitura
integrado e livre, a interdisciplinaridade conduz a uma
de uma obra em um lugar qualquer – na escola,
metamorfose que pode alterar completamente o curso
na biblioteca, em cafés ou livrarias, na casa de
dos fatos em Educação; pode transformar o sombrio
amigos e até mesmo em discussões on-line. Nesta
em brilhante e alegre, o tímido em audaz e arrogante e
obra, Rildo Cosson, professor na área de Literatura
a esperança em possibilidade”.
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
apresenta uma proposta de organização e de RODRIGUES, Sérgio. O homem que matou o escritor. São
funcionamento de um círculo de leitura. Ele orienta e Paulo: Companhia das Letras, 2000. (Selo Objetiva).
fornece embasamento para a criação de atividades A obra parte da premissa de que, se todas as histórias
que possam auxiliar educadores e leitores, ampliando do mundo já foram escritas, é hora de “matar o
a grande diversidade de interesses que existe na escritor”. Por meio de seus requintados contos, o
atividade de leitura, e convida o leitor a formar o seu autor sugere as novas tendências literárias do século
próprio círculo de leitura. XXI (a obra foi lançada no ano 2000): “vertiginosa
44
como a vida urbana; afiada como uma memória RAM; WOOD, James. A coisa mais próxima da vida. Trad. Célia
reflexiva, como esses dias de cão; chula e erudita, Euvaldo. São Paulo: Sesi-SP Editora, 2017.
dominando todas as situações; humorada, porque Os textos desta obra de James Wood, professor da
sem a graça a vida é muito chata”. Embora composto Universidade de Harvard e ensaísta na revista The
por contos, o livro de Sérgio Rodrigues pode ser New Yorker, buscam identificar e comentar as relações
enquadrado em várias outras categorias, como policial, entre literatura e realidade, discorrendo sobre temas
metalinguístico, drama, comédia e farsa. como religião, morte, exílio, detalhe, mostrando de
que modo a literatura percorre todos esses âmbitos da
ROSENFELD, Anatol. Texto/Contexto I. São Paulo,
experiência humana.
Perspectiva, 1996. (Série Debates: Crítica)
Com base no tema da ambiguidade humana, Anatol WOOD, James. Como funciona a ficção. Trad. Denise
Rosenfeld, um dos maiores críticos brasileiros, revela as Bottmann. São Paulo: Sesi-SP Editora, 2017.
conexões entre a literatura, o teatro, a poesia, o cinema Professor de crítica literária na Universidade de
e a pintura, estabelecendo painéis críticos que ainda Harvard e conhecido por seus brilhantes ensaios na
hoje impressionam por sua originalidade e inovação. revista The New Yorker, nesta obra, o inglês James
Wood (radicado desde os anos 1990 nos Estados
SOARES, Angélica. Gêneros literários. 4. ed. São Paulo:
Unidos) esmiúça os meandros da ficção e questiona os
Ática, 1997. (Série Princípios)
limites entre artifício e verossimilhança, entre outros
Nesta obra introdutória ao tema, a professora da
elementos fundamentais do texto ficcional.
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Angélica Soares retoma a discussão iniciada por ARTIGOS:
Platão e Aristóteles na Antiguidade grega sobre os NEVES, Cynthia Agra de Brito. “Slam” é a voz de
gêneros literários e a natureza da obra literária, seja identidade e resistência dos poetas contemporâneos.
ela a epopeia, o conto, a crônica, o ensaio, a novela, Jornal da USP, 23 nov. 2017.
perpassando as formas dramáticas (tragédia, comédia Neste artigo, Cynthia Agra de Brito Neves, professora
e drama) e contemplando as recentes rupturas de da Universidade de Campinas (Unicamp) apresenta a
paradigma trazidas pelo advento do pensamento poesia slam, também chamada de poetry slam, uma
pós-moderno nas letras e nas artes. nova modalidade de poesia, falada, criada nos anos
1980, em Chigado, Estados Unidos, e que chega ao
TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. 3. ed. Trad.
Brasil reivindicando a cultura jovem, popular e negra.
Leyla Perrone-Moisés. São Paulo, Perspectiva, s.d. (Série
Debates: Literatura) Disponível em: <http://mod.lk/slam>.
Obra de grande utilidade para quem estuda literatura, (Todos os links de páginas da internet presentes neste material
apresenta as teses dos formalistas russos e foram acessados em 23 out. 2020).
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