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A marca de

uma lágrima
Pedro Bandeira

Elaboração e Organização Pedagógica


Maria José Nóbrega
e Samir Thomaz
SUMÁRIO
Carta ao Professor, 3

Propostas de atividades 1, 8

Propostas de atividades 2, 16

Aprofundamento, 25

Sugestões de referências complementares, 37

Bibliografia comentada, 44

©©Freepik
CARTA AO
P R O F E S S O R

Querida professora, querido professor,

Neste manual, oferecemos a você muitas sugestões


para apoiá-lo em seu trabalho na mediação de leitura
de A marca de uma lágrima. A finalidade primordial
destas propostas é estabelecer um intenso diálogo com
a obra, visando a compreensão de seu funcionamento e a
interpretação de seus efeitos.

Em conformidade com a BNCC – Base Nacional


Comum Curricular, a organização deste manual permite
diferentes níveis de aprofundamento em relação às
competências e habilidades estabelecidas pelo documento,
bem como a articulação com diferentes áreas e seus
componentes curriculares. Em função do tempo didático
disponível e das possibilidades de planejamento possíveis
em cada unidade escolar, é possível elaborar seu
planejamento e adicionar seu tempero didático de modo a
construir o roteiro mais adequado às necessidades de seus
estudantes.

Boa leitura e sucesso em seu trabalho!

3
ÁRVORES E TEMPO DE LEITURA
MARIA JOSÉ NÓBREGA

O que é, o que é,
Uma árvore bem frondosa
Doze galhos, simplesmente
Cada galho, trinta frutas
Com vinte e quatro sementes?1

Enigmas e adivinhas convidam à decifração: “trouxeste a chave?”.

Encaremos o desafio: trata-se de uma árvore bem frondosa, que tem doze
galhos, que têm trinta frutas, que têm vinte e quatro sementes: cada verso introduz
uma nova informação que se encaixa na anterior.

Quantos galhos tem a árvore frondosa? Quantas frutas tem cada galho?
Quantas sementes tem cada fruta? A resposta a cada uma dessas questões
não revela o enigma. Se for familiarizado com charadas, o leitor sabe que nem
sempre uma árvore é uma árvore, um galho é um galho, uma fruta é uma fruta,
uma semente é uma semente… Traiçoeira, a árvore frondosa agita seus galhos,
entorpece-nos com o aroma das frutas, intriga-nos com as possibilidades ocultas
nas sementes.

O que é, o que é?

Apegar-se apenas às palavras, às vezes, é deixar escapar o sentido que se


insinua nas ramagens, mas que não está ali.

Que árvore é essa? Símbolo da vida, ao mesmo tempo que se alonga num
percurso vertical rumo ao céu, mergulha suas raízes na terra. Cíclica, despe-se
das folhas, abre-se em flores, que escondem frutos, que protegem sementes, que
ocultam coisas futuras.

“Decifra-me ou te devoro.”

Qual a resposta? Vamos a ela: os anos, que se desdobram em meses, que se


aceleram em dias, que escorrem em horas.

Alegórica árvore do tempo…

A adivinha que lemos, como todo e qualquer texto, inscreve-se,


necessariamente, em um gênero socialmente construído e tem, portanto, uma
relação com a exterioridade que determina as leituras possíveis. O espaço da
interpretação é regulado tanto pela organização do próprio texto quanto pela
memória interdiscursiva, que é social, histórica e cultural. Em lugar de pensar que
a cada texto corresponde uma única leitura, é preferível pensar que há tensão entre
uma leitura unívoca e outra dialógica.
4
Um texto sempre se relaciona com outros produzidos antes ou depois dele:
não há como ler fora de uma perspectiva interdiscursiva.

Retornemos à sombra da frondosa árvore — a árvore do tempo — e


contemplemos outras árvores:

Deus fez crescer do solo toda espécie de árvores


formosas de ver e boas de comer, e a árvore da vida no meio do
jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal. […] E Deus
deu ao homem este mandamento: “Podes comer de todas as
árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do
mal não comerás, porque no dia em que dela comeres terás de
morrer”.2

Ah, essas árvores e esses frutos, o desejo de conhecer, tão caro ao ser
humano…

Há o tempo das escrituras e o tempo da memória, e a leitura está no meio, no


intervalo, no diálogo. Prática enraizada na experiência humana com a linguagem, a
leitura é uma arte a ser compartilhada.

A compreensão de um texto resulta do resgate de muitos outros discursos


por meio da memória. É preciso que os acontecimentos ou os saberes saiam do
limbo e interajam com as palavras. Mas a memória não funciona como o disco
rígido de um computador em que se salvam arquivos; é um espaço movediço,
cheio de conflitos e deslocamentos.

Empregar estratégias de leitura e descobrir quais são as mais adequadas


para uma determinada situação constituem um processo que, inicialmente, se
produz como atividade externa. Depois, no plano das relações interpessoais e,
progressivamente, como resultado de uma série de experiências, se transforma em
um processo interno.

Somente com uma rica convivência com objetos culturais — em ações


socioculturalmente determinadas e abertas à multiplicidade dos modos de ler,
presentes nas diversas situações comunicativas — é que a leitura se converte em
uma experiência significativa para os alunos. Porque ser leitor é inscrever-se
em uma comunidade de leitores que discute os textos lidos, troca impressões e
apresenta sugestões para novas leituras.

Trilhar novas veredas é o desafio; transformar a escola numa comunidade de


leitores é o horizonte que vislumbramos.

Depende de nós.

1
Meu livro de folclore, Ricardo Azevedo, Editora Ática.
2
Bíblia de Jerusalém, Gênesis, capítulo 2, versículos 9 e 10, 16 e 17.
5
Arquivo do autor

PEDRO BANDEIRA,
O AUTOR DE A MARCA DE UMA LÁGRIMA

Nascido em Santos em 1942, Pedro Bandei-


ra mudou-se para a cidade de São Paulo em 1961.
Trabalhou em teatro profissional como ator, diretor e
cenógrafo. Foi redator, editor e ator de comerciais de
televisão. A partir de 1983 tornou-se exclusivamen-
te escritor. Sua obra, direcionada a crianças, jovens
e jovens adultos, reúne contos, poemas e narrativas
de diversos gêneros. Entre elas, estão: Malasaventu-
ras – safadezas do Malasartes, O fantástico mistério
de Feiurinha, O mistério da fábrica de livros, Pântano
de sangue, A droga do amor, Agora estou sozinha..., A
droga da obediência, Droga de americana! e A marca
de uma lágrima. Recebeu vários prêmios, como Jabu-
ti, APCA, Adolfo Aizen e Altamente Recomendável, da
Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

6
SOBRE A OBRA
Isabel, uma jovem inteligente e criativa de 14 anos, apaixona-se por seu
primo Cristiano, que é apaixonado por Rosana, sua melhor amiga. Como seu
amor não é correspondido, Isabel encontra um caminho para declarar-se a ele:
escrevendo cartas de amor, que são assinadas pela amiga Rosana. Obcecada
por esse sentimento, a adolescente nem se dá conta de Fernando, que a ama e
está sempre por perto como um bom amigo.
O assassinato da diretora da escola muda os rumos dos acontecimentos, e
Isabel corre risco de vida por ter testemunhado mais do que devia. No hospital,
descobre seu verdadeiro amor por Fernando.
Adaptação moderna da obra Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, A
marca de uma lágrima lembra os eternos desencontros amorosos, sintetizados
no poema Quadrilha, de Drummond: Fernando ama Isabel, que ama Cristiano,
que ama Rosana. Mas discute, também, o amor idealizado, sonhado por Isabel,
e que não passa de uma quimera, de uma ilusão. E assim, entre lágrimas e dores
de amor, Isabel finge para si mesma o amor que deveras sente.

QUADRO-SÍNTESE

Gênero: Novela
Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, Filosofia, Sociologia, Arte, Biologia.
Competências Gerais da BNCC: 2. Pensamento científico, crítico e criativo;
3. Repertório Cultural; 7. Argumentação; 8. Autoconhecimento e autocuidado;
9. Empatia e cooperação.
Temas: Inquietações das Juventudes; A vulnerabilidade dos jovens; Bullying e
respeito à diferença; Protagonismo juvenil; Ficção, mistério e fantasia.

7
PROP O S TA S D E
ATIVIDADES
1

FIOS E LINHAS
MARIA JOSÉ NÓBREGA

Conta-se que Teseu, o maior herói ateniense, precisou, certa feita,


enfrentar um monstro que tinha o corpo de homem, a cabeça de touro e se
alimentava de carne humana fornecida, a cada vez, com o sacrifício de sete
moças e de sete rapazes da cidade de Atenas: era o terrível Minotauro.

Não era só a bestialidade do monstro que investia a tarefa de enorme


perigo, mas a dificuldade do percurso. O monstro vivia encerrado em um
labirinto, onde os caminhos se entrecruzavam, sem que, para alguns,
houvesse saída. Muitos antes de Teseu haviam tentado enfrentar o desafio,
mas foram derrotados pela fera ou, quem sabe, encurralados nas armadilhas
do labirinto.

Foi Ariadne, uma jovem enamorada, que, temendo pela vida do amado,
arquitetou, com a ajuda de Dédalo, um plano para demarcar o percurso,
possibilitando que Teseu atingisse o centro, enfrentasse o Minotauro e
voltasse seguro pelo mesmo caminho. Ela entregou ao herói um novelo que
continha um fio mágico, um fio que nunca acabava, sob medida para Teseu
desenrolar suas aventuras e retornar vitorioso e em segurança pela rota
assinalada. Um fio que desenrolava a história e permitia ao narrador retornar
para contá-la.

Teseu, não se sabe bem por que, vai abandonar Ariadne e viver outras
histórias. Tristes, mas necessárias rupturas.

Começamos esta conversa com um mito que fala de fios que costuram
amores e aventuras, que se entrelaçam e tecem os diferentes destinos. Mas
fios e linhas também enredam textos que se revelam nas diferentes leituras
de cada leitor.

Um texto traz sempre um convite: “Decifra-me!”. Um leitor é sempre


um desbravador de sentidos. As leituras, como os caminhos, podem ser, às
vezes, difíceis. Mas tudo fica mais fácil se outro leitor desenrola o fio que
costura o que se vai compreendendo a cada linha, revelando, como em um
bordado, imagens que antes pareciam ocultas.
8
O fio que desliza nos dedos de Teseu é de Ariadne, mas o
caminho não é dela, é dele. O percurso do herói-leitor não é o mesmo
de quem estabelece com ele os processos de mediação com o texto, de
quem desata os fios da compreensão e da interpretação dos labirintos
da linguagem escrita. As aventuras são próprias daquele que caminha e
retorna com histórias para contar.

O jovem leitor já construiu autonomia para decifrar as letras: não


precisa mais de fios que lhe revelem o que elas representam. Mas,
ingressando pelas veredas do mundo da escrita, precisará de outros tipos
de fios: há trilhas simples que seu grau de autonomia leitora alcança, mas
há outras mais complexas, prontas a desafiá-lo com linhas emaranhadas:
não há aventura se não há desafios.

Não se forma um leitor se não o encorajamos a ampliar seus


horizontes, porque há mais histórias... como a de Aracne, por exemplo,
tecelã que urdia suas narrativas em tapeçarias que eram tão lindas que
acabaram por despertar a inveja da deusa Minerva, que a transformou em
aranha, condenando-a a tecer por toda a eternidade. Teias de histórias que
se entrelaçam no território das palavras. Trouxeste o fio? Ou a chave?

Mas talvez quiséssemos saber mais a respeito de como aquele


novelo chegou às mãos amorosas da jovem Ariadne. Ela contou com a
engenhosa ajuda de Dédalo, criativo arquiteto, que por ter sido cúmplice
do amor de Ariadne por Teseu, despertou a ira dos Deuses e acabou
aprisionado no labirinto com seu filho Ícaro; mas, graças à sua enorme
capacidade inventiva, confeccionou enormes pares de asas e acabou
escapando.

Dédalo e Ícaro são personagens de outra bela história...

Como eles, leitores são espíritos livres que, tão logo podem,
soltam os fios e voam. Dependem apenas das mãos amorosas de seus
professores que, como Ariadne, encorajam e possibilitam o ingresso nos
labirintos da escrita.

9
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
Nesta seção, os professores de Língua Portuguesa encontram uma
sequência de atividades cuja finalidade é permitir a formação de um sujeito
leitor, responsável e crítico, capaz de construir sentidos de modo autônomo
e de argumentar a respeito de sua recepção da obra, constituindo-se como
uma personalidade sensível e inteligente aberta aos outros e ao mundo. Ao
partir da recepção do aluno-leitor, de sua leitura subjetiva, procura-se ampliar
suas competências com a aquisição de saberes sobre os textos e sobre si;
ao compartilhar essa experiência, em uma leitura colaborativa, procura-se
submeter o texto do leitor à arbitragem dos pares e à autoridade do texto.

As atividades de pré-leitura mobilizam a análise global


do texto (a partir do título, da capa, dos elementos
paratextuais, das ilustrações — se presentes), estimulando
predições bem como a mobilização dos conhecimentos
prévios necessários ao entendimento da obra.
Pré-leitura

1. Nessa fase, você deve aproveitar para


acostumar os alunos ao manuseio
do livro: identificar o autor e a editora,
verificar se o título é sugestivo, 2. Apresente a obra à classe. Informe
consultar o sumário, ler a quarta capa, aos alunos que eles vão ler A marca
observar as imagens e outros aspectos de uma lágrima, de Pedro Bandeira.
gráficos do livro (fonte, tipografia e Pergunte se já leram algum livro de
tamanho). Pedro Bandeira, se conhecem o autor e
se sabem alguma coisa sobre o assunto
do livro. Indague se já ouviram falar de
Cyrano, protagonista da peça Cyrano de
Bergerac, de Edmond Rostand, obra na
qual o autor se inspirou para escrever
A marca de uma lágrima.

10
3. Analise com os estudantes a capa do
livro, feita por Isabela Jordani e Rafael
Nobre. O que o título A marca de uma
lágrima sugere sobre o enredo? A que
marca o autor estaria se referindo? Como
seria a marca de uma lágrima? Com
base nesse primeiro contato com a obra,
organize com os alunos uma lista das
impressões e das sensações que foram
suscitadas pelos elementos da capa.
6. Explique aos alunos que o texto que
4. Chame a atenção dos estudantes
aparece no lado de trás do livro é
para a dedicatória do livro. Peça que
chamado de texto de quarta capa. Com
observem para quem o autor dedica a
base nas informações contidas nesse
história. O que a dedicatória revela? Por
texto, estimule os estudantes a criar
fim, pergunte: Por que a maioria dos
hipóteses a respeito do enredo da obra.
escritores, ao escrever uma história, a
dedica a alguém?
7. Comente com os estudantes que o
gênero a que o livro pertence, novela,
5. Apresente aos alunos o sumário do livro
não tem relação com as conhecidas
e, com base nos nomes dos tópicos e
novelas de televisão. Explique que, em
capítulos, estimule-os a criar hipóteses
geral, a novela literária (como é o caso de
sobre o que irão ler. Pergunte se algum
A marca de uma lágrima) é considerada
nome lhes chamou a atenção e por quê.
uma história intermediária entre o conto
(uma narrativa curta) e o romance (uma
narrativa longa), mas que, às vezes, uma
novela pode ser chamada de romance,
não havendo um critério rigoroso para
essas classificações.

11
As atividades de leitura implicam a compreensão do
conteúdo temático com a seleção das informações
relevantes para a construção de uma síntese e para a
checagem das predições feitas antes da leitura, para leitura
confirmá-las, reformulá-las ou refutá-las.

1. Chame a atenção dos estudantes para o história. Leve-os a fazer críticas ou


fato de que o texto é narrado em terceira elogios ao comportamento deles e a
pessoa e o narrador conta a história explicar o porquê de sua opinião. Que
conhecendo o que se passa na mente atitude de Isabel, segundo eles, é digna
de todos os personagens. Explique que de elogio ou de crítica? Por quê? E de
é isto o que possibilita ao narrador criar Cristiano? E de Fernando? E quanto às
as situações fictícias e estratégicas de professoras Virgínia e Olga?
modo a conduzir a trama de acordo com
os seus propósitos narrativos. Deixe 4. Estimule os estudantes a verificar se
claro, no entanto, que essas regras algumas das possibilidades levantadas
variam e costumam ser quebradas pelos por eles ao tomar contato com o
escritores, nem sempre sendo seguidas título da obra e com a capa do livro
rigorosamente por eles. estão sendo confirmadas pela leitura.
Acompanhe a leitura deles fazendo
2. Lembre aos alunos que a obra foi lançada sondagens esporádicas sobre o que
pela primeira vez em 1985, portanto, estão achando da história, se a obra
em uma época em que não existiam as lhes agrada, se a leitura é fácil ou
tecnologias da informação que temos difícil. Faça comentários estratégicos
hoje. Indague: o que isso significa, no levando-os a intuir como o autor, por
que diz respeito à história? Que marcas meio do narrador, constrói dinâmicas
socioculturais, históricas, linguísticas intertextuais. Elas fazem referência
esse fato deixa na obra? O que o enredo a aspectos socioculturais, históricos,
teria de diferente caso a obra fosse linguísticos, sociológicos, filosóficos,
escrita na época da internet e das redes científicos e econômicos sobre a
sociais? Que pistas sinalizam que a época em que se passa a história
história não se passa em nossa época? e constroem o tecido da narrativa,
Em que trechos isso fica evidente? explicitando situações e ocultando
Questione os estudantes sobre o outras, dando margem à dúvida para
porquê de certos modos de falar caírem manter o interesse do leitor.
em desuso com o tempo. Leve-os a
compreender que a língua é um elemento 5. A história de Isabel, embora seja
vivo, em constante transformação, em uma novela de amor e de suspense,
razão das mudanças socioculturais pelas é também a história de um problema
quais toda sociedade passa. de relacionamento entre pais e filhos.
Isabel é uma adolescente solitária.
3. Instrua os estudantes a observar as Seus pais são separados e quase não
atitudes dos personagens ao longo da têm tempo para ela. Problematize
12
a relação da personagem com a que opinem a respeito da composição
família. Pergunte se algum dos alunos desse e de outros personagens da
se identificou com os conflitos e as história. Ao final da leitura, volte a
incompreensões entre Isabel e sua mãe esse questionamento e indague: Quais
ou seu pai. Converse com eles a esse personagens confirmaram aquilo que o
respeito. Questione os alunos sobre o narrador afirmou ou sugeriu na primeira
tratamento dado pela mãe de Isabel à vez que apareceram na história? Quais
filha. Do mesmo modo, pergunte sobre surpreenderam os alunos? Quais os
o pai da menina. O que poderia ser frustraram? Pergunte se eles imaginaram
condenável em seu comportamento? um destino diferente para alguns dos
Sempre pedindo aos estudantes que personagens. Quais? Por quê?
justifiquem suas respostas.
7. Por se tratar de uma novela que envolve
6. Recomende aos alunos que observem um mistério, principalmente na parte
alguns aspectos que fazem parte final, estimule os estudantes a adotar
da composição fictícia da novela. A uma postura investigativa similar à de
Isabel e de Fernando, buscando indícios
começar pelo nome dos personagens.
do que pode haver nas entrelinhas da
Um exemplo é o personagem Brucutu.
história. Provoque-os pedindo hipóteses
O que a pronúncia de seu nome revela?
do que pode ter acontecido com dona
A sonoridade sugere suavidade ou
Albertina. Será que eles são bons leitores-
rudeza? Por quê? No entanto, devemos
-detetives? Comente que a famosa dupla
confiar na sensação que a sonoridade
de romance policial Sherlock Holmes
de um nome sugere? Será que, ao
e seu assistente Watson, criada pelo
fazê-lo, não estaríamos incorrendo em
escritor inglês Arthur Conan Doyle, pode
preconceito, que, como o nome indica,
simbolizar o comportamento do leitor do
é um “pré-conceito” sobre alguma coisa,
gênero: o tipo Sherlock deslinda a trama
ou seja, um juízo sobre ela antes de
antes ou com os detetives ficcionais;
conhecê-la? Continuando a observação,
o tipo Watson só compreende a trama
o fato de ele ser enorme e ter mãos
depois que o caso revelado é explicado.
enormes também não poderia nos
Converse com os estudantes, com base
induzir, como leitores, ao mesmo “pré- em suas deduções, sobre como a turma
-conceito” anterior, afinal, que mal há em se saiu na investigação.
ser “enorme” ou ter “mãos enormes”?
Por fim, o fato de ele ter sido carcereiro 8. Chame a atenção dos estudantes
cria que imagem para os leitores? Peça para um aspecto presente no livro: a
que expliquem. valorização da ética, da virtude, da
Comente com os alunos que a ideia amizade, da beleza, da justiça e do amor
dessa atividade não é exatamente entre os principais personagens. Peça
analisar o personagem Brucutu, mas a que identifiquem uma passagem em que
forma como o narrador cria expectativas um desses atributos humanos é
no leitor sobre seus personagens. Peça evidenciado.

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As atividades de pós-leitura promovem a reflexão sobre o
conteúdo temático ou expressivo da obra a partir de outras
referências que permitem identificar diferentes perspectivas
possíveis para o tema, estimulando uma resposta crítica que pode
envolver vários níveis de complexidade ou gerar novas perguntas, pós-leitura
que enriquecem e transformam a experiência leitora.

1. Em uma roda de conversa, discuta aquela que mais os emocionou. Peça


com os alunos a respeito da história e que justifiquem a escolha. Questione-
da experiência de leitura que tiveram. -os quanto à validade da arte (um livro,
Estimule-os a falar, fazendo as seguintes um filme, uma canção, uma obra de
perguntas: Sentiram-se desafiados arte, uma escultura, um balé, um grafite
pela trama? Conseguiram perceber o etc.) como forma de conscientizar
mal-entendido que levou Isabel a se as pessoas sobre questões sociais
iludir com Cristiano? Conseguiram importantes ou sobre o conhecimento
observar as entrelinhas da história do mundo e de si mesmas.
ou suspeitar do que havia por trás do
crime cometido contra dona Albertina? 3. Isabel conversa com frequência com
Quais foram os métodos empregados seu espelho, a quem o narrador chama
pelos personagens para tentar revelar de “inimigo” da garota, pois lhe diz
o enigma? Alguém se identificou com as verdades mais duras sem medir
Isabel? E com Fernando ou Cristiano? E palavras: Na página 13, a garota perde a
com Rosana? Instigue-os a justificar por paciência com o espelho:
que se identificaram com determinado “– Cale a boca!”
personagem, levando-os a analisar Pergunte aos alunos se eles também
aspectos humanos diversos, como os têm uma voz interior, um “inimigo”, que
éticos, os sociais, os psicológicos, os lhes diz coisas que não gostariam de
físicos, entre outros. Quem pode dizer, ouvir. Questione os alunos se o espelho
em poucas palavras, o que acontece pode ser visto como a consciência da
na história? Qual é, na verdade, o tema menina. E por que o narrador o chama
principal do livro? Quais são os temas de “inimigo”? Indague ainda: É melhor
secundários? Quais são as conclusões encarar a realidade ou fugir dela? Peça
que podemos tirar do final da história? que justifiquem as respostas.
Finais como o dessa novela costumam
sempre acontecer, ou se trata de um 4. Em uma roda de conversa com a turma,
final “literário”, de “conto de fadas”, pergunte aos alunos que artifícios
distante da vida real? Por quê? Por fim, narrativos o narrador usou para despistar
pergunte sobre quais são as conclusões a verdadeira autoria do crime. Escreva
que podemos tirar da história. na lousa os artifícios lembrados pelos
alunos e peça que discutam cada um
2. Pergunte aos estudantes, deles, tentando decifrar a que suspeita
informalmente, qual foi a cena da equivocada o narrador quis levá-los ao
história de que mais gostaram ou inserir esses artifícios na narrativa.
14
Leve-os a perceber, enfim, o arsenal ou defeitos percebem no narrador para
de possibilidades de que o narrador que ele consiga (ou não) esse efeito sobre
dispõe, de acordo com sua capacidade os leitores?
de imaginação, para criar o suspense da
história e manipulá-lo ao seu bel-prazer. 7. Pergunte a eles o que o depoimento de
Pedro Bandeira, no final do livro, agregou à
5. Isabel sente-se feia, acima do peso, leitura de A marca de uma lágrima. O que
ridícula e não acredita em seu poder eles acharam das declarações do autor
de sedução. Para piorar as coisas, o de que a personagem Isabel virou a filha
alvo de sua paixão, embora o negue, que ele não teve? Pode um personagem
no fundo dá muito valor à beleza física. significar tanto na vida de um autor a
Indague aos alunos: Vocês acham que ponto de se transformar quase em um ser
Isabel era realmente obesa ou gorda, humano? O que isso revela da paixão de
como ela dizia de si mesma? Acreditam um autor pela literatura e por suas obras?
que era uma menina feia, como se E da força da própria literatura como
achava? Por que ela se autodepreciava mobilizadora de sentimentos?
tanto? Acreditam que os “padrões de
beleza” impostos diariamente pelos 8. Ainda na parte Autor e obra, que traz uma
meios de comunicação de massa ou foto de Pedro Bandeira, chame a atenção
indústria cultural (telenovelas, cinema) e dos alunos para a explicação do autor
pela propaganda têm a ver com a baixa sobre como nasceu a ideia de escrever
autoestima de Isabel? Vocês concordam A marca de uma lágrima. Ele declara que
que existe uma “ditadura” desses o livro é uma adaptação moderna da obra
“padrões de beleza”? Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand.
É bem provável que os estudantes não
6. Leve os leitores a perceber que, a partir da conheçam essa obra, mas eles já podem,
terceira parte do livro, depois que a autoria com base nos comentários de Pedro
do assassino de dona Albertina é revelada, Bandeira, levantar alguns dados sobre
o narrador usa o recurso da retrospectiva ela: o argumento – a história de um
para explicar a razão ou as razões do espadachim feio e narigudo que escreve
crime e de que modo as várias situações e cartas de amor para sua amada em
diálogos descritos levaram os envolvidos nome de seu rival; o nome de dois outros
(e os leitores!) a ficar confusos e mesmo personagens – Roxane e Cristiano; o
a suspeitar de pessoas inocentes, gênero – peça de teatro.
como a professora Olga. Pergunte aos Pergunte se já leram obras literárias
alunos se, depois de saberem quem que foram inspiradas em outras, não
matou dona Albertina, a história ficou necessariamente do mesmo gênero. Em
menos interessante ou se diminuiu o caso afirmativo, peça que mencionem
suspense. Indague por que eles acham a obra. A mesma pergunta pode ser
que isso acontece; afinal, um suspense feita com relação a filmes, peças
não se soluciona com a revelação do de teatro, séries, HQs. Aprofunde o
criminoso – no caso, da criminosa? Que questionamento perguntando se são
atributo humano faz os leitores, apesar de válidas essas transposições, adaptações
descoberto o principal mistério, lerem a ou “releituras”. Que elementos do texto
história até a última linha? Que habilidades original devem ser preservados?
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PROP O S TA S D E
ATIVIDADES
2

POR MAIS “VERDADES DE MENTIRA”


NA SALA DE AULA
SAMIR THOMAZ

Em uma pequena e aclamada obra chamada A literatura em perigo,


o ensaísta e historiador búlgaro Tzvetan Todorov (1939-2017), um
apaixonado por literatura desde criança – seus pais eram bibliotecários –,
chama a atenção para o fato de que, em nossa época, a literatura corre o
risco de não mais participar da formação cultural e humana das pessoas.

Todorov se refere, de maneira crítica, à forma como a literatura é


ensinada nas escolas já há algumas décadas e ainda nos dias de hoje,
com base no formalismo-estruturalismo, que leva às conhecidas e muitas
vezes aborrecidas aulas em que os alunos são obrigados a memorizar a
periodização das escolas literárias e as teorizações sobre elas, ficando o
texto propriamente, ou seja, a literatura, relegada a segundo plano.

Nascido em uma Bulgária nos tempos do domínio soviético sobre


as repúblicas do leste europeu, se por um lado o jovem Todorov tinha
duas bibliotecas à disposição – a de seus pais –, por outro, à medida que
crescia e evoluía na escola – ele optou por cursar Letras –, era obrigado
a conter seu entusiasmo e fascínio pelos clássicos da literatura e prestar
reverência à ideologia oficial.

Para que seus estudos literários não fossem interrompidos (e


para escapar da censura), ele dirigiu seus primeiros trabalhos como
estudante, professor e escritor para as formas linguísticas do texto –
estilo, composição, foco narrativo, análise gramatical –, que são neutras,
despidas de ideologia.

Somente depois que foi para Paris – onde se fixou e concluiu seu
doutorado – é que pôde, enfim, ter uma relação mais livre e direta com a
literatura. “De meados dos anos 1970 em diante, perdi o interesse pelos
métodos de análise literária e passei a me dedicar à análise em si, isto é,
aos encontros com os autores”, afirma o ensaísta.

16
Leitor reprimido na juventude, a constatação de Todorov de que a
literatura está em perigo, no entanto, foi feita bem mais tarde, em uma
época, a nossa (seu livro é de 2007), na qual a maioria dos países vive em
democracias, ou seja, as crianças e adolescentes têm liberdade para ler
uma ampla variedade de autores, participam de feiras e bienais de livros e
frequentam uma escola cada vez mais preocupada com a pluralidade de
ideias, a liberdade de expressão, a diversidade cultural, o protagonismo
juvenil, a tolerância, os direitos humanos e a formação cidadã. Sem contar
as múltiplas possibilidades da internet, que democratiza o acesso à
informação e, por conseguinte, à leitura.

Esta é a realidade de um país como o Brasil. Não obstante suas


desigualdades socioeconômicas, que afetam dramaticamente não
apenas os níveis de leitura, mas a apreensão do conteúdo das demais
disciplinas do currículo escolar, os recentes programas governamentais
de fomento à educação e incentivo à leitura têm procurado diminuir essas
discrepâncias, fazendo com que crianças e adolescentes tenham cada
vez mais contato com os livros, com a cultura e com o conhecimento
letrado e científico.

Não é uma tarefa simples em um país continental. E, apesar dos


esforços, este é um jogo que estamos perdendo e precisamos virar. O
fato é que ainda se lê pouco em nosso país. Um dos reflexos disso são
os pífios resultados dos estudantes brasileiros no Pisa (Programme
for International Student Assessment), da OCDE, que avalia os
conhecimentos de matemática, ciência e leitura de estudantes de 15 anos
de idade. Na prova do Enem de 2019, chamou a atenção o fato de que, de
um total de mais de 3,9 milhões de candidatos, apenas 53 tiraram a nota
máxima em redação enquanto quase 150 mil zeraram3.

A razão pode estar, assim como na época do jovem Todorov, na


forma como a escola tem lidado com o ensino de literatura. Enquanto
na Bulgária dos tempos da guerra fria havia a repressão e a censura, no
Brasil atual a escola continua insistindo no modelo formalista-
-estruturalista de aulas, com ênfase em escolas literárias e análises
teóricas – o que, como defendem teses pontuais como as de Todorov,
tende a afastar os alunos do encanto, do prazer das descobertas, do
estímulo à crítica e à reflexão que a leitura dos bons autores proporciona.

Em um mundo no qual há um clamor pela ideia de verdade, mas


que, paradoxalmente, é dominado pela pós-verdade e pelas fake news,
os jovens talvez se ressintam da “verdade de mentira” que a literatura
(e o cinema, o teatro, as HQs) possibilitam. É preciso que eles enxerguem
3
BERMÚDEZ, Ana Carla. Enem 2019: 53 candidatos tiraram nota mil na redação; 143 mil tiraram zero.
UOL. Disponível em: <http://mod.lk/enem>.

17
na leitura (sobretudo na leitura de ficção) muito mais do que a obrigação
de se inteirar de um volume de informações cifradas contidas em algumas
dezenas de páginas (que é como muitos adolescentes veem os livros) com
o objetivo efêmero de serem aprovados no vestibular e passem a perceber
que a “verdade de mentira” escondida naquelas páginas é muito mais
do que um mero enredo ou um simples relato.

Essa “verdade de mentira”, ao viabilizar a imersão em outra lógica


de realidade, movida pela imaginação e pela fantasia, abre para eles
uma infinita gama de possibilidades. É o velho e conhecido “what if?”
dos escritores – em português, o “e se?”. E se isto acontecesse? E se
determinado fato não tivesse sucedido do modo como se deu? E se um
morto resolvesse escrever suas memórias póstumas? E se eu acordasse
transformado em uma barata?

O contato com os grandes prosadores não apenas amplia o repertório


cultural e de linguagem dos leitores, mas os contamina dessa amplitude de
reflexão e de pensamento e os liberta dos determinismos cotidianos de que
muitos jovens são vítimas em um país como o Brasil: “E se a minha vida
fosse diferente do que é?”.

Ao sair do real, a literatura nos traz um entendimento profundo do


que o mundo é, das dimensões nem sempre discerníveis do tempo e
do espaço, de quais coordenadas silenciosas regem nossas vidas em
sociedade. Enfim, a leitura dos bons autores, do presente e do passado,
nacionais e estrangeiros, nos dá uma consciência cidadã do nosso papel
como ser humano em um mundo em que os valores cada vez mais se
metamorfoseiam e se pulverizam.

Assim disse o jornalista e escritor José Castello, em uma entrevista


para o Caderno 2:

Queremos sempre estar quites com o mundo, mas nunca


conseguimos. Este “nunca conseguir” é a própria vida. Enquanto
a ciência perfura as coisas em busca de seu centro e a religião
se eleva na ilusão de vê-las por inteiro, a literatura dança em
torno delas. Ninguém escreve um romance para dizer a verdade,
ou chegar à verdade. Para a literatura, o mundo é um enigma em
torno do qual só nos resta girar e dançar.

Cabe à escola, no geral, e aos professores, de modo particular,


rever sua forma de atuar para atingir o coração e a mente do jovem do
século XXI, ávido de conhecimento, de verdades, de vida, mas também
das “verdades de mentira” com que a literatura, desde Homero, Dante,
Shakespeare, Cervantes, Victor Hugo, Machado vêm enriquecendo a alma
humana.
18
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
Nesta seção, os professores de Língua Portuguesa em diálogo com docentes
de outros componentes curriculares encontram sugestões para uma abordagem
interdisciplinar, estabelecendo conexões entre a invenção literária e outras formas
de discurso ou práticas do mundo social, considerando a obra literária como uma
estrutura móvel, capaz de dar respostas diversas em diferentes contextos. As
atividades propostas transitam entre o contexto de produção e de recepção da
obra literária, procurando refletir a respeito das expectativas de cada período, de
cada grupo social com o propósito de desenvolver a capacidade argumentativa e
inferencial dos estudantes.
Assim como na seção Propostas de atividades 1, aqui a organização também
se dá em atividades para os momentos de pré-leitura, leitura e pós-leitura.

As atividades de pré-leitura mobilizam a análise global


do texto (a partir do título, da capa, dos elementos
paratextuais, das ilustrações — se presentes), estimulando
predições bem como a mobilização dos conhecimentos Pré-leitura
prévios necessários ao entendimento da obra.

Língua Portuguesa Para que os estudantes


conheçam previamente a obra que inspirou A marca
de uma lágrima, sugira a eles que assistam na internet
à primeira adaptação para o cinema da peça Cyrano
de Bergerac escrita em 1897 por Edmond Rostand. É
possível assistir à produção norte-americana de 1950,
em preto e branco (legendada na internet, tradução de
Ceronte), com direção de Michael Gordon e Stanley
Kramer, ou o trailer legendado do filme Cyrano de
Bergerac, em produção francesa de 1991, que traz o
ator Gérard Depardieu como Cyrano, dirigido por Jean-
-Paul Rappeneau (na internet, os estudantes podem
encontrar algumas cenas do filme).
Trailer de Cyrano de Bergerac (1991)
Disponível em: <http://mod.lk/cyrano>.
Cyrano de Bergerac (1950)
Disponível em: <http://mod.lk/cyrano2>.

19
As atividades de leitura implicam a compreensão do
conteúdo temático com a seleção das informações
relevantes para a construção de uma síntese e para a
checagem das predições feitas antes da leitura, para leitura
confirmá-las, reformulá-las ou refutá-las.

“– Que cheiro bom, Rosana! Que


1. Língua Portuguesa Alguns poetas
perfume você está usando?
são mencionados em vários momentos
– Deixe de besteira, Isabel. É o
da novela. Indague aos alunos: Quem
mesmo que o seu.
são eles? O que escreveram?
Rosana estava linda, como sempre.
Organize a turma em grupos, de
Linda como de propósito para humilhar
maneira que cada equipe se encarregue
Isabel.” (p. 18)
de pesquisar um dos autores citados.
Comente com os estudantes que a
A tarefa é levantar alguns dados
beleza, ou melhor, o belo, que aparece
biográficos do autor, relacionar o que há
caracterizando alguns personagens da
dele na biblioteca e ler um poema ou um
história, é um dos temas estudados
trecho do que tenham escrito.
pela Filosofia. Explique que,
2. Língua Portuguesa Releia com a inicialmente, o grande questionamento
classe os poemas escritos por Isabel. sobre o belo era se a beleza estaria nas
Comente que são poemas singelos, nos coisas em si, ou se nossa mente (nosso
quais a garota fala de amor em versos olhar) é que construiria o sentido do
rimados, em geral, com sete sílabas que achamos belo.
poéticas, bem ao gosto da tradição Para dar concretude a essa questão
popular. Divida a turma em duplas e, se abstrata, pergunte se algo que eles
julgar produtivo, organize com os alunos acham bonito (uma pessoa, uma obra
um torneio de trovas de amor. de arte, um animal, um objeto, uma
paisagem, uma dança, um gol etc.)
3. Filosofia Logo no início da história, possui a beleza em si mesmo ou se é o
podemos ler este trecho, que discorre olhar deles que os faz ver aquilo como
sobre beleza, um tema recorrente no feio ou bonito. Peça que justifiquem
romance: suas respostas.

20
As atividades de pós-leitura promovem a reflexão sobre o
conteúdo temático ou expressivo da obra a partir de outras
referências que permitem identificar diferentes perspectivas
possíveis para o tema, estimulando uma resposta crítica que pode
envolver vários níveis de complexidade ou gerar novas perguntas, pós-leitura
que enriquecem e transformam a experiência leitora.

pesquisem algumas obras epistolares e


1. Língua Portuguesa Abra uma roda de
as comentem em sala de aula.
conversa com a turma e pergunte aos
A título de curiosidade, pergunte aos
alunos se Isabel idealizava Cristiano,
estudantes se esse tipo de literatura ou
ou seja, criava uma imagem do menino
de escrita seria possível nos dias de hoje,
influenciada pelas lentes de sua paixão.
Após ouvir as respostas, questione: com os e-mails e aplicativos de mensagens
Como saber se quando nos apaixonamos rápidas. Indague: O que se ganhou e o
por alguém estamos idealizando a que se perdeu com as atuais formas de
pessoa ou a enxergando pelos meios comunicação entre as pessoas?
racionais? Existem parâmetros seguros
para verificar isso? Você pode indagar
3. Língua Portuguesa Isabel gosta
de lembrar a história de amor entre
de outro modo: Se olharmos as pessoas
Abelardo e Heloísa; Fernando prefere
por meio da razão, será que nos
apaixonaríamos pela pessoa alvo de mencionar a história de amor de
nosso interesse? Nesse sentido, seria por Fernando e Isabel, reis da Espanha.
essa causa que Isabel não conseguia se Que tal saber quem foram Abelardo e
apaixonar por Fernando? Heloísa, esse famoso par de namorados
Com base nessa discussão da literatura, cuja história se baseia em
aparentemente sem uma resposta fatos reais? Sugira aos estudantes a
definitiva, peça aos estudantes que leitura de Correspondência de Abelardo e
escrevam uma dissertação cujo mote Heloísa, de Paul Zumthor, publicado pela
vem de um filósofo francês do século Editora Martins Fontes.
XVII, chamado Blaise Pascal: “O Comente que o romance Tristão
coração tem razões que a própria razão e Isolda, de Joseph Bédier, também
desconhece”. publicado pela Martins Fontes, é um
exemplo de amor cortês. Nessa história,
2. Língua Portuguesa Isabel não escreve os jovens amam-se perdidamente;
só poemas para Cristiano, que são no entanto, quando juntos, estão
entregues por Rosana, mas também separados, e quando separados, estão
cartas. Comente com os estudantes juntos. Instigue-os a procurar essa obra
que a história da literatura contém para saber mais sobre ela.
algumas obras que são feitas apenas
de cartas, e que essas obras são 4. Língua Portuguesa Explique aos
chamadas de epistolares, palavra que alunos que um dos recursos usados
vem de epístola, que significa “carta”. pelos escritores para criar suspense em
Solicite aos alunos que, em grupos, suas histórias é interromper a narrativa
21
em um momento de grande tensão, às lágrimas, muitas vezes) ou de nos
deixando uma cena suspensa, aguçando divertir, maior será o seu talento como
assim a curiosidade do leitor, levando-o ficcionista – ou como “mentiroso”. Por
a querer saber o que aconteceu fim, pergunte se, ao final da leitura de
na sequência, mantendo-o preso à A marca de uma lágrima, Pedro Bandeira
narrativa. Comente que Pedro Bandeira conseguiu fazê-los acreditar na história
faz isso de forma explícita em vários que foi contada e por quê.
momentos. Pergunte aos alunos se o
recurso funcionou com eles, ou seja, 6. Língua Portuguesa Atente para estas
se ficaram curiosos para saber o que afirmações da escritora Ana Maria
tinha acontecido e o que imaginaram Machado, em um texto que fala das
enquanto não souberam. potencialidades da leitura de ficção:
As narrativas de ficção possibili-
5. Língua Portuguesa Provoque os tam que as crianças tenham contato
estudantes perguntando a eles se um com outras realidades além da sua
escritor de ficção é um mentiroso. e vivenciem coisas muito diferentes
A pergunta poderá parecer estranha daquelas que seu cotidiano lhes ofe-
rece. Isso permite que projetem seus
e até zombeteira. Depois de ouvir a
temores e seus desejos, adquiram ex-
opinião deles, comece a desconstruir
periências emocionais que as ajudem
a imagem do senso comum que eles
a crescer. Permite também que saiam
têm de um autor de ficção. Pergunte, de si mesmas, indo além dos limites
problematizando o assunto: O que emocionais de cada um. Propicia opor-
os escritores de ficção escrevem tunidades para que se identifiquem
é de verdade ou de mentira? Por com os outros, sintam solidariedade
que acreditamos nas histórias que e compaixão, admiração e carinho por
escrevem, sabendo que são de mentira? pessoas que nem conhecem (e que
Por que precisamos sair da realidade e muitas vezes são apenas imaginárias,
puros personagens), mas nem por isso
entrar no mundo da fantasia? Em meio
as emoções que trazem são menos
a essas reflexões, peça que mencionem
intensas. Ou que enfrentem medos,
uma história de ficção de que gostaram
vergonhas e sentimentos difíceis, sem
– pode ser um romance, uma novela precisar passar por elas de verdade.
(literária ou de televisão), um filme, uma MACHADO, Ana Maria, Uma ponte
entre grandes e pequenos. In:
série, uma peça de teatro, uma HQ. Uma rede de casas encantadas,
Indague sobre que sentimento a história p. 14-15, São Paulo:Moderna, 2012.

provocou neles. Em seguida, questione Com base neste trecho, crie


se o que sentiram era de verdade ou estratégias para sondar se as
de mentira. A ideia é conduzi-los à potencialidades mencionadas por Ana
percepção de que, quanto mais um Maria Machado, ou ao menos parte
autor tiver o poder de nos fazer acreditar delas, foram alcançadas pelos alunos
em uma verdade que sabemos ser de após a leitura de A marca de uma
mentira, ou seja, quanto mais ele nos lágrima, de Pedro Bandeira.
fizer esquecer a realidade e mergulhar
na história de ficção que está sendo 7. Biologia A personagem Dona Albertina
contada, a ponto de nos emocionar (até era obesa. Comente com os alunos
22
que a obesidade é, antes de tudo, uma ou ficar em silêncio, ou entre ficar com
questão de saúde. Sugira a eles que, Fernando ou com Cristiano.
em grupos, façam uma pesquisa sobre
esse tema. A divisão dos grupos pode 10. Sociologia As teorias da professora
ser feita de acordo com os problemas Olga sobre educação subliminar são
que envolvem a obesidade, mediante mencionadas e detalhadas no enredo:
pesquisa feitas pelos próprios alunos. “– Sei. Olga discutia certas teorias de
Monitore a discussão, porém, para que forçar pacientes a aprender sem pensar,
não venham à tona ideias pejorativas, induzidos por métodos subliminares.
ofensivas ou preconceituosas sobre a [...]” (p. 196)
obesidade. Questione os alunos: É possível
aprender alguma coisa sem pensar?
8. Filosofia Com base no amor que Algo que se aprende ou se conquista
Isabel alimentou por Cristiano ao sem trilhar “o caminho das pedras” tem
longo da história, solicite aos alunos valor?
que busquem saber o que significa
e de onde surgiu a expressão “amor 11. Sociologia Solicite aos alunos que
platônico”, aquele amor cultivado releiam esta fala do pai de Isabel:
em segredo, mais espiritual do “– Aí está. Eu entendo dessas coisas.
que físico, que faz parte da vida de Nada como uma tarde de compras para
muitos adolescentes. Peça ainda mudar o humor da minha garotinha. É
que respondam se já sentiram amor um presente extra do papai. Procure uma
platônico por alguém, descrevendo loja elegante e compre alguma coisa bem
essa sensação em seguida: é algo bom bonita.” (p. 145).
ou ruim? Peça que expliquem suas Questione os alunos: Como se
respostas. sentiriam se estivessem no lugar de
Isabel? O que acham que a menina
9. Filosofia Isabel vive um conflito de esperava do pai naquele momento? E
consciência na história, do qual o leitor vocês, consideram-se consumistas? Por
fica sabendo por meio do seu fluxo de quê? É possível se vigiar para não ter um
pensamento. comportamento consumista? De que
Pergunte aos alunos se eles já maneira? Quais são as consequências
viveram algum tipo de conflito de do consumismo das pessoas para elas
consciência. Explique que isso acontece próprias, para a sociedade em que vivem
quando não temos certeza sobre que e para o planeta?
decisão tomar diante de uma situação
que, de algum modo, exige uma 12. Sociologia Em alguns momentos
escolha. Comente que nossa vida é feita da história, a personagem Isabel
de escolhas, e que dilemas éticos ou de cogita colocar um fim à própria
consciência só são possíveis porque vida, amargurada pelo amor não
somos dotados de liberdade para correspondido de Cristiano. Solicite aos
decidir, uma vez que somos humanos. estudantes que, em grupos, coletem
Por essa razão, Isabel pondera todas as na imprensa eletrônica e na mídia
consequências entre falar o que sabe impressa reportagens sobre o aumento
23
de casos de suicídio no Brasil e no Referências Complementares, mais
mundo, principalmente entre jovens, e adiante neste material.
tragam para discussão em sala de aula. Piscar o olho, de Tiê.
A pesquisa deve investigar questões Disponível em: <http://mod.lk/tie>.
como: O que estaria por trás desse
Amor I love you, de Marisa Monte e
ato? Quais são as principais causas
Carlinhos Brown.
constatadas de suicídio? Quais são os
Disponível em: <http://mod.lk/marisa>.
sinais mais comuns e as formas de
prevenção ao suicídio? Quais são as Monte Castelo, de Renato Russo
melhores formas de agir e quais são com Legião Urbana.
as campanhas que têm sido feitas Disponível em: <http://mod.lk/legiao>.
sobre o assunto? Sonde os alunos Flores em você, de Edgard Scandurra
(se achar pertinente, pois trata-se de com a banda Ira!.
um assunto bem delicado) sobre se Disponível em: <http://mod.lk/ira>.
tomaram contato de algum modo com Menor abandonado, de Cazuza e Frejat
algum caso em que alguém, jovem com a banda Barão Vermelho.
ou não, tirou a própria vida. Procure Disponível em: <http://mod.lk/cazuza>.
identificar os pontos que mais tocam
os alunos sobre o tema, conduzindo o 14. Arte Cristiano pede a Isabel que
debate do ponto de vista deles próprios, escreva cartas por ele para impressionar
uma vez que são adolescentes, e Rosana. Comente com os alunos que
aproximando a conversa do enredo do o hábito de escrever cartas para outra
livro que acabaram de ler, sobretudo dos pessoa não é tão incomum quanto
sentimentos de Isabel.
possa parecer. Sugira aos alunos que
assistam ao filme Central do Brasil, que
13. Arte Promova, se possível, a audição
mostra pessoas ditando suas cartas,
das músicas a seguir, ou de parte delas.
escritas por terceiros pelos mais
As canções podem ser exploradas de
variados motivos, inclusive cartas
diversas maneiras em sala de aula, de
de amor.
acordo com a sua estratégia didática:
Outro filme que aborda um tema
a) podem servir de tema de redação, na
qual os estudantes devem escrever de parecido é Shakespeare apaixonado. No
forma crítica sobre o que diz a letra; final do século XVI, o jovem Shakespeare
b) podem ser objeto de discussão está sofrendo um bloqueio criativo: não
em sala de aula; c) podem servir de consegue escrever uma linha. Quando
sensibilização para o início de uma aula conhece a nobre e bela Viola, apaixona-se
sobre algum tema explorado no livro. Se imediatamente e começa a recuperar a
possível, peça aos estudantes que tragam inspiração.
de casa a letra da canção impressa. Central do Brasil. (Brasil/França, 1998).
Estimule-os a buscar informações sobre Direção de Walter Salles. Duração:
os compositores e intérpretes, além dos 1h53min.
gêneros musicais apresentados. Shakespeare apaixonado. (EUA, Reino
Você encontra mais informações sobre Unido, 1999). Direção de John Madden.
as canções na seção Sugestões de Duração: 2h3min.

24
N D A M E N TO
APROFU
LITERATURA É APRENDIZADO
DE HUMANIDADE
DOUGLAS TUFANO

A literatura não é matéria escolar, é matéria de vida.

A boa literatura problematiza o mundo, tornando-o opaco e incitando à reflexão.


É um desafio à sensibilidade e à inteligência do leitor, que assim se enriquece a cada
leitura. A literatura não tem a pretensão de oferecer modelos de comportamento
nem receitas de felicidade; ao contrário, provoca o leitor, estimula-o a tomar posição
diante de certas questões vitais. A literatura propicia a percepção de diferentes
aspectos da realidade. Ela dá forma a experiências e situações que, muitas vezes,
são desconcertantes para o jovem leitor, ao ajudá-lo a situar-se no mundo e a refletir
sobre seu próprio comportamento.

Mas essa característica estimuladora da literatura pode ser anulada se, ao


entrar na sala de aula, o texto for submetido a uma prática empobrecedora, que reduz
sua potencialidade crítica.

Se concordarmos em que a escola deve estar mais atenta ao desenvolvimento


da maneira de pensar do que à memorização de conteúdos, devemos então admitir
que sua função mais importante é propiciar ao aluno atividades que desenvolvam
sua capacidade de raciocínio e argumentação, sua sensibilidade para a compreensão
das múltiplas facetas da realidade. A escola, portanto, deveria ser, antes de tudo, um
espaço para o exercício da liberdade de pensamento e de expressão.

E se aceitarmos a ideia de que a literatura é uma forma particular de


conhecimento da realidade, uma maneira de ver o real, entenderemos que ela
pode ajudar enormemente o professor nessa tarefa educacional, pois pode ser
uma excelente porta de entrada para a reflexão sobre aspectos importantes do
comportamento humano e da vida em sociedade, e ainda permite o diálogo com
outras áreas do conhecimento.

O professor é o intermediário entre o texto e o aluno. Mas, como leitor maduro


e experiente, cabe a ele a tarefa delicada de intervir e esconder-se ao mesmo tempo,
permitindo que o aluno e o texto dialoguem o mais livremente possível.

25
Porém, por circular na sala de aula junto com os textos escolares, muitas
vezes o texto literário acaba por sofrer um tratamento didático, que desconsidera
a própria natureza da literatura. O texto literário não é um texto didático. Ele não tem
uma resposta, não tem um significado que possa ser considerado correto. Ele é uma
pergunta que admite várias respostas; depende da maturidade do aluno e de suas
experiências como leitor. O texto literário é um campo de possibilidades que desafia
cada leitor individualmente.

Trabalhar o texto como se ele tivesse um significado objetivo e unívoco é


trair a natureza da literatura e, o que é mais grave do ponto de vista educacional,
é contrariar o próprio princípio que justificou a inclusão da literatura na escola.
Se agirmos assim, não estaremos promovendo uma educação estética, que, por
definição, não pode ser homogeneizada, massificada, despersonalizada. Sem a
marca do leitor, nenhuma leitura é autêntica; será apenas a reprodução da leitura
de alguma outra pessoa (do professor, do crítico literário etc.).

Cabe ao professor, portanto, a tarefa de criar na sala de aula as condições


para o desenvolvimento de atividades que possibilitem a cada aluno dialogar com
o texto, interrogá-lo, explorá-lo. Mas essas atividades não são realizadas apenas
individualmente; devem contar também com a participação dos outros alunos
– por meio de debates e troca de opiniões – e com a participação do professor
como um dos leitores do texto, um leitor privilegiado, mas não autoritário, sempre
receptivo às leituras dos alunos, além de permitir-lhes, conforme o caso, o acesso
às interpretações que a obra vem recebendo ao longo do tempo.

Essa tarefa de iniciação literária é uma das grandes responsabilidades da


escola. Uma coisa é a leitura livre do aluno, que obviamente pode ser feita dentro ou
fora da escola. Outra coisa é o trabalho de iniciação literária que a escola deve fazer
para desenvolver a capacidade de leitura do aluno, para ajudá-lo a converter-se num
leitor crítico, pois essa maturidade como leitor não coincide necessariamente com a
faixa etária. Ao elaborar um programa de leituras, o professor deve levar em conta as
experiências do aluno como leitor (o que ele já leu? como ele lê?) e, com base nisso,
escolher os livros com os quais vai trabalhar.

26
Com essa iniciação literária bem planejada e desenvolvida, o aluno
vai adquirindo condições de ler bem os grandes escritores, brasileiros
e estrangeiros, de nossa época ou de outras épocas. Nesse sentido, as
noções de teoria literária aplicadas durante a análise de um texto literário
só se justificam quando, efetivamente, contribuem para enriquecer a leitura
e compreensão do texto, pois nunca devem ser um fim em si mesmas. A
escola de Ensino Fundamental e Médio quer formar leitores, não críticos
literários. Só assim é possível perceber o especial valor educativo da
literatura, que, como dissemos, não consiste em memorizar conteúdos mas
em ajudar o aluno a situar-se no mundo e a refletir sobre o comportamento
humano nas mais diferentes situações. Literatura é aprendizado de
humanidade.

Nesta seção, apresentamos aos professores


de Língua Portuguesa orientações e subsídios
que podem ajudá-los a ter claras as definições
conceituais do cânone literário, já estudadas em
seus anos de formação, mas sempre sujeitas a
controvérsias (como veremos adiante), bem como
às rupturas formais e instrumentais que a literatura,
em sua dinâmica própria, estabeleceu ao longo dos
séculos até os dias de hoje. Ao fazer da experiência
humana matéria-prima de sua atividade, não se
pode esperar que a literatura se deixe aprisionar em
conceitos abstratos. No entanto, e sobretudo na
escola, em que os alunos estão muitas vezes tendo o
primeiro contato com a sistematização desse estudo,
é preciso que eles conheçam as conceituações
básicas, para que, com base nelas, ampliem e
aprofundem o seu conhecimento.

27
Com essas orientações e subsídios, o
professor poderá organizar a sua leitura e apreensão
do fenômeno literário, para que possa explorar as suas
potencialidades e aplicá-las de forma proveitosa e
fecunda no contato com os estudantes, fazendo com
que a aula de literatura extrapole o âmbito meramente
daquele que sabe e daquele que aprende, mas se
transforme em um diálogo vivo, uma troca criativa e
inovadora que, sem dúvida, irá conduzir aquele que
aprende ao conhecimento da literatura, mas também
irá proporcionar àquele que sabe a experiência de
poder rever seus conhecimentos, ampliando-os, à luz
da comunhão que a leitura proporciona.

As orientações e subsídios a seguir contemplam ainda o


diálogo que as obras literárias, naquilo que possuem de específico
e de universal, estabelecem com as produções artísticas de outros
gêneros, literários ou não, contemporâneas ou de outro tempo.
Na já referida dinâmica própria do fazer e do fruir literários, que
se acentuaram nos últimos séculos com o advento de novas
formas de arte – haja vista as possibilidades que a revolução
digital tem proporcionado tanto a quem lê quanto a quem produz
literatura em nossos dias –, não é mais razoável nem satisfatório
que a experiência dos alunos com os livros se circunscreva
apenas ao âmbito das palavras, por mais ricas e infinitas que
sejam. É necessário que eles adquiram um olhar pragmático para
compreender de que modo aquilo que o escritor, dramaturgo ou
poeta colocou em sua obra, com toda a sutileza e a singularidade
com que foi concebido, pode ser visto de outros prismas estéticos,
outras concepções artísticas, outros ângulos epistemológicos,
enfim, outros olhares, sem deixar de ser fiel à “espinha de peixe” –
expressão usada pela cineasta Suzana Amaral, pródiga em transpor
obras literárias para o cinema, para se referir ao manancial de
conhecimento do mundo ímpar que toda obra literária traz.

28
O GÊNERO DA OBRA

NOVELA

Há quem defina a novela, de forma simplista (sem que esse simplismo se distancie
necessariamente da verdade), como uma narrativa menor do que o romance em número de
páginas (e, por extensão, maior do que um conto). Como base para comparação, o romance é
uma narrativa em prosa, geralmente longa com vários personagens que vivem diferentes conflitos
e cujos desfechos se cruzam. Ele coloca em cena problemas de relações humanas, mas não
necessariamente amorosas, como pode sugerir o sentido mais usual da palavra romance. Além
disso, ele pode apresentar diferentes temas e contextos, por isso é possível falar de romance
histórico, romance policial, romance de aventuras etc. De fato, se tomarmos novelas como A
metamorfose, de Franz Kafka, ou Um copo de cólera, de Raduan Nassar, a primeira impressão que
teremos dessas obras, antes mesmo de começarmos a lê-las, é que se trata de narrativas de pequeno
fôlego, com base na pequena “grossura” dos volumes, perceptível pelo contato tátil.

No entanto, se verificarmos obras como O alienista, de Machado de Assis, ou Bartleby, o


escrivão (ou o escriturário, depende da tradução), de Herman Melville, que modernamente são
classificadas como novelas, mas que, originalmente, são definidas como contos, teremos noção
das controvérsias que envolvem as fronteiras do que é uma novela literária em relação ao romance
e mesmo ao conto. Sem contar que, para confundir um pouco mais as coisas, hoje em dia, quando
se fala em novela, a primeira noção para a qual o senso comum nos leva é a das conhecidas novelas
de televisão.

Levando em conta essas discussões, para as quais em geral o leitor comum passa ao largo –
ele quer apenas ler uma boa história, seja romance, novela ou conto –, a novela pode ser definida,
grosso modo, como uma narrativa articulada em torno de um pequeno número de personagens e de
conflitos – na maior parte das vezes um conflito move toda a história. A limitação dos conflitos e dos
personagens, no entanto, não são necessariamente proporcionais à densidade da carga narrativa,
que, a despeito da necessidade de um desfecho relativamente rápido, pode ser mais intensa do que
um alentado romance.

29
Outra definição possível é a de que a novela é composta de capítulos ou unidades não
autônomas, mas que estão interligados: cada um traz em si certas motivações que serão depois
desenvolvidas nos capítulos seguintes e assim por diante, numa sucessão que manterá a atenção
e a curiosidade do leitor e levará ao epílogo. Um exemplo típico de novela que apresenta essa
estrutura é D. Quixote de la Mancha, do escritor espanhol Miguel de Cervantes, publicada no início
do século XVII.

Também aqui, no entanto, temos polêmicas. Há um certo consenso entre os estudiosos de


que a obra de Cervantes inaugura o romance moderno na história da literatura. Isso significa que
esse livro rompeu certos paradigmas que vinham das novelas de cavalaria, a forma preferida dos
leitores daquela época até então – haja vista a fanática admiração do personagem Dom Quixote
pela figura do cavaleiro andante, um personagem típico desse tipo de história. Mas como Dom
Quixote pode “inaugurar” o romance moderno sendo uma novela? Eis a polêmica.

Quando se diz que a obra de Miguel de Cervantes “inaugura” o romance moderno, ainda que
seja “oficialmente” uma novela, se quer dizer que ela traz elementos novos à forma de narrar. Essa
forma de narrar criou um “modelo” de contar histórias que será incorporada, nos séculos seguintes,
à forma de se contar uma história literária. Essa forma de se contar uma história conhecerá o
seu apogeu no século XIX, com o francês Gustave Flaubert – que escreveu romances, novelas e
contos – e os romances e novelas de folhetim. A marca de uma lágrima, de Pedro Bandeira, a
novela juvenil que os alunos leram, é herdeira dessa forma de contar histórias, que nasceu com
Dom Quixote.

Para concluir, é preciso dizer que a discussão sobre o que é romance, novela e conto
envolve também a forma como uma obra é construída e apresentada ao público. A definição
de que a novela é composta de unidades não autônomas interligadas pode ser problemática se
não levarmos em conta a forma como houve isso que estamos chamando de “interligação”. O
conhecido romance Vidas secas, do escritor alagoano Graciliano Ramos, publicado na primeira
metade do século XX, nasceu como unidades autônomas e só depois foi organizado em um volume
único, ao qual o autor conferiu certa organicidade narrativa. É só um exemplo, entre muitos.
Portanto, tão importante quanto a leitura da obra em si mesma é a curiosidade, prévia ou posterior
à experiência do contato com a história, do aluno para que tenha uma compressão que extrapole o
mero enredo, e do professor, para que possa explorar as potencialidades da obra como produto do
engenho criativo humano, influenciado por sua época, mas que vai muito além dela.

30
SOBRE OS ESTILOS LITERÁRIOS

Para introduzir a questão da arte moderna, e, por


extensão, da literatura moderna, seria bom considerar
este comentário de 1956, do poeta pernambucano João
Cabral de Melo Neto, que expressa uma concepção
com que qualquer artista moderno ou contemporâneo
concordaria:

“O autor de hoje trabalha à sua maneira, à maneira que


ele considera mais conveniente à sua expressão pessoal. Do
mesmo modo que cria sua mitologia e sua linguagem pessoal,
ele cria seu conceito de poema e, a partir daí, seu conceito de
poesia, de literatura, de arte. Cada poeta tem a sua poética. Ele
não está obrigado a obedecer a nenhuma regra, nem mesmo
àquelas que em determinado momento ele mesmo criou, nem a
sintonizar seu poema a nenhuma sensibilidade diversa da sua.
O que se espera dele, hoje, é que não se pareça a ninguém, que
contribua com uma expressão original. [...]
Para empregar uma palavra bastante corrente na vida literária
de agora, o que se exige de cada artista é que ele transmita
aquilo que em si é o mais autêntico, e sua autenticidade
será reconhecida na medida em que não se identifique com
nenhuma expressão já conhecida. Não é preciso lembrar que,
para atingir essa expressão pessoal, todos os direitos lhe são
concedidos. [...]
Pode-se dizer que hoje não há uma arte, não há a poesia,
mas há artes, há poesias. Cada arte se fragmentou em tantas
artes quantos forem os artistas capazes de fundar um tipo de
expressão pessoal."
NUNES, Benedito (org.). João Cabral de Melo Neto. Petrópolis/RJ: Vozes, 1971,
p. 190-191. (Coleção Poetas Modernos do Brasil)

31
Como se vê, chegou ao fim a noção de “estilo”,
“escola” ou “convenção” literária, tal como se concebia nos
séculos anteriores. Esse é um processo que começa com o
Romantismo, no século XIX, e atinge seu maior desenvolvimento
no século XX. É a proclamação da independência estética do
artista moderno, fenômeno que se verifica em praticamente
todos os campos artísticos, da música à literatura e às artes
plásticas. Cada artista cria sua própria concepção de arte. Daí a
sensação de “estilhaçamento” quando observamos o panorama
da literatura moderna e contemporânea. Hoje, estudamos
autores e não grupos ou gerações literárias.

Isso não quer dizer que os escritores de hoje não tenham


nada a ver com a tradição. Têm, sim, mas a diferença agora
é que a forma de apropriação da tradição é feita de maneira
absolutamente pessoal.

Os primeiros vinte anos do século XX, na Europa,


assistiram a essa desintegração total dos chamados “estilos
de época”, com repercussões profundas no Brasil a partir
principalmente da década de 1920. A Semana de Arte Moderna
de 1922 pode ser vista como um ponto de referência desse
processo de transformação.

Ao falar da poesia brasileira do século XXI, Manuel da


Costa Pinto reitera o que disse João Cabral, cinquenta anos
antes. Sobre os poetas que selecionou para sua Antologia, diz
ele: “[...] sem esquecer, é claro, que todo escritor possui uma
singularidade irredutível a influências e recortes teóricos”.
(Antologia comentada dos poetas brasileiros do século 21,
Publifolha). É o reconhecimento do fim dos estilos que
englobavam escritores de uma mesma geração ou época.

32
O QUE É LITERATURA?

Seria importante que os professores levassem o aluno a perceber que


literatura é construção da linguagem. Isto é, ainda que tenha como referência o
mundo real, a marca da literatura é o fato de ser ficção, ela é fruto da inventividade do
autor. Literatura é, pois, recriação da realidade e não, como muitas vezes se diz, um
“retrato” da realidade. E nessa recriação o autor tem plena liberdade, como disse João
Cabral. Pode explorar formas de linguagem, criar palavras, imaginar enredos – nada
o prende à realidade imediata. E é exatamente essa liberdade que torna a literatura
um campo de possibilidades virtualmente infinito. Ao entrar nesse universo fictício,
o leitor sabe que qualquer coisa pode acontecer. Não é um jogo de cartas marcadas,
mas um espaço desconhecido a ser percorrido e descoberto.

Desenvolver esse novo conceito de literatura como uma “aventura” intelectual


talvez seja o grande desafio da escola. O aluno não deve ler como se fizesse uma
prova ou um questionário (como ocorre nos vestibulares, por exemplo). Deve ler
como uma conquista, porque isso pode abrir seu horizonte existencial. Essa é a
dimensão educativa da literatura.

O declínio da importância das “escolas literárias” levou ao declínio também


da preocupação em reconhecer as características de cada uma, como uma lista
a ser decorada. Por isso, hoje a literatura deve ser trabalhada como forma de
enriquecimento e ampliação do universo emocional e intelectual do aluno. Esse deve
se o resultado das leituras feitas no Ensino Fundamental e Médio.

Nesse sentido, a diversidade de gêneros literários é importante para a formação do


leitor, para abrir o seu horizonte, para mostrar-lhe o que ele pode usufruir ao longo de sua
vida, e não apenas durante os anos escolares. A escola é apenas o ponto de partida, e
não o ponto de chegada.

Por isso, mesmo um livro escrito há vários séculos, como D. Quixote, permanece
atual. Porque proporciona essa aventura intelectual, esse voo da imaginação.
Não para alienar o leitor, mas para fazer com que ele, no fim da leitura, volte à sua
realidade e a veja com outros olhos. O diálogo da obra com o mundo em que vive o
aluno é fundamental para que a literatura exerça seu papel educativo.

Essa nova concepção de leitura e formação do leitor é fundamental para as


escolas criarem seus projetos de leitura, isto é, a seleção de livros que os professores
devem ler junto com os alunos. Podemos identificar o conceito de educação de uma
escola com base nos livros que ela indica e nos livros que ela não indica.

Por isso, o mestre Antonio Candido dizia que o acesso à literatura deveria ser
um direito básico do ser humano.
33
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
DE APROFUNDAMENTO
Em Atividades de aprofundamento, são apresentadas propostas que
permitem compreender o funcionamento contemporâneo das convenções
literárias relacionadas à obra, apoiar a leitura crítica, criativa e propositiva para
explorar as potencialidades da escrita literária com os estudantes. Nessa seção,
indicam-se também produções contemporâneas de outros gêneros (literários
ou não) que permitem um diálogo intertextual com diferentes aspectos
da organização da expressão literária e sua articulação com a experiência
individual e social.

1. Sociologia Solicite aos estudantes que revejam as referências aos contos


de fada O príncipe e o sapo, no capítulo A sombra de um pesadelo, e
A bela adormecida e Branca de Neve, no capítulo Não há salvação. Apesar de
inteligente e boa aluna, Isabel é uma garota romântica sonhadora, perdida
em sonhos com príncipes encantados. Discuta com os alunos as mudanças
do comportamento feminino nas últimas décadas em relação à iniciativa das
conquistas amorosas: hoje, em geral, as garotas não aguardam passivamente
que alguém se interesse por elas, elas tomam a iniciativa e possuem mais
autonomia tanto para agir quanto para recusar, quando é o caso.
Outra questão que perpassa a história de Isabel é o sentimento de posse
nas relações, tão enraizado em nossa cultura e tão estimulado pelas novelas,
filmes e músicas românticas, que influencia várias gerações. Atualmente, em
uma perspectiva crítica, esse sentimento vem sendo considerado um dos
responsáveis pela violência contra as mulheres, que, em sua consequência
mais extrema, tem levado muitas delas à morte. Relembre para os alunos a
fala de Rosana, na página 129:
“– Somos um homem e uma mulher, Isabel. Perdidamente apaixonados um
pelo outro. Isso basta.”

34
Em uma roda de conversa, problematize as relações amorosas
com os alunos, sem tirar, porém, o encantamento que as pessoas
sentem quando estão apaixonadas ou são amadas por alguém. Deixe
claro – e eles certamente sabem disso – que o amor entre duas pessoas,
principalmente se correspondido, é um dos sentimentos mais prazerosos
que um ser humano pode experimentar. Mas que o amor não combina
com uma relação abusiva, em que há desrespeito e sentimento de posse,
mas com liberdade para deixar o companheiro ou a companheira livre,
inclusive para não continuar a relação, caso um deles assim o deseje.
Provoque-os a esse respeito, fazendo perguntas como: Vocês já viveram
uma relação em que havia sentimento de posse? Como se sentiram?
Vocês se controlam para que o amor não se transforme em sentimento
de posse pela outra pessoa? O que pensam sobre o ciúme? Como fazer
para preservar a liberdade da pessoa que amamos?
Diante dessas ponderações e indagações, peça que emitam uma
opinião crítica sobre a relação entre Cristiano e Rosana, Isabel e Cristiano
e, por fim, entre Isabel e Fernando. De que atitudes eles gostaram?
Que atitudes reprovaram? Em que momento a relação foi abusiva e em
que momento identificaram respeito pela liberdade do outro? Peça que
expliquem suas respostas.

2. Sociologia A obesidade já foi discutida neste encarte, com ênfase no


ponto de vista da medicina e da saúde. Agora, vamos focar no ponto de
vista da sociologia. Antes de abrir uma roda com a turma para um debate,
solicite dos alunos que releiam este trecho, da página 55, em que Isabel
divaga e se autodeprecia, uma situação frequente na história:
“Idiota que fui. Pensar que Cristiano pudesse se apaixonar por mim,
por mim, a gorducha...”

35
Questione os estudantes sobre se podemos dizer
que Isabel praticava contra si mesma o que atualmente
é chamado de “gordofobia”, o preconceito contra pessoas
obesas. Comente com os alunos que, nos anos 1980,
década em que a obra foi lançada, não havia a crítica
contra a verbalização desse tipo de preconceito, bem
como não se recriminava a discriminação contra mulheres,
negros, homossexuais, entre outras categorias humanas
historicamente reprimidas e depreciadas – ou, para usar um
termo da antropóloga e historiadora Lília Moritz Schwarcz,
“as maiorias minorizadas4”.
Indague aos alunos se, aos olhos da sociedade de hoje,
com o olhar crítico e com o realinhamento de posturas agora
consideradas condenáveis, as quais permeiam as relações
sociais, os meios de comunicação, o mundo do trabalho
etc., quais críticas poderiam ser feitas ao comportamento de
Isabel, não apenas em relação à sua suposta “gordofobia” –
que não era só sua, pois, se ela recriminava a si mesma por
ser gorda devia recriminar as pessoas que também tivessem
essa compleição física –, mas também às outras formas de
diversidade humana ou “diferenças” que não se enquadrassem
no seu “modelo de perfeição”.

4
SCHWARCZ, Lilian Moritz: Maiorias minorizadas: a democracia do Brasil como “mal entendido”.
Nexo Jornal. Disponível em: http://mod.lk/nexojorn.

36
E R E F E R Ê N C I A S
SUGESTÕES D
E N TA R E S
COMPLEM
PARA O ALUNO

LLIVROS
BÉDIER, Joseph. O romance de Tristão e Isolda.
5. ed. Trad. Luiz Castro de Castro e Costa. São
Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.
História lendária que se passa na região da
Cornualha, na Irlanda, narra o amor trágico
entre o cavaleiro Tristão e a princesa irlandesa
Isolda.

CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Trad.


Nilson Moulin. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007. (Companhia de Bolso)
Nesta obra, o escritor italiano Italo Calvino
(nascido em Cuba, mas levado à Itália
logo após o nascimento) comenta com
aguda percepção alguns dos autores mais
importantes da tradição literária do Ocidente,
mesclando gosto pessoal com nomes
fundamentais do cânone literário universal,
como Stendhal, Balzac, Flaubert, Tolstói e
Borges. Calvino ainda fornece subsídios
para compreender a controversa indagação
sobre por que uma obra é considerada um
clássico e por que lê-la, em ensaios que
começaram a ser escritos no início da
década de 1980 e até sua morte, em 1985.

37
LAJOLO, Marisa. O que é literatura. 8. ed. São
Paulo: Brasiliense, 1982.
Pequena obra introdutória pelos caminhos
da literatura, da ficção e de seus elementos
constituintes.

LLOSA, Mario Vargas. Cartas a um jovem


escritor. Trad. Regina Lyra. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2006. (Coleção Carta a um jovem…)
MACHADO, Ana Maria. Uma rede de casas
Obra escrita em linguagem coloquial por um
encantadas. São Paulo: Moderna, 2012.
dos grandes escritores da atualidade, prêmio
Cinco ensaios em que a escritora Ana Maria
Nobel de Literatura em 2010, o peruano
Machado discorre sobre literatura, literatura
Mario Vargas Llosa aconselha em capítulos
infantojuvenil, poesia e o seu processo de
temáticos um imaginário jovem escritor que
criação literária com base em sua trajetória
está dando os primeiros passos na literatura,
de mais de cinco décadas como escritora,
fornecendo dicas importantes nascidas da
educadora, intelectual e jornalista.
vasta experiência de Llosa com a escrita de
romances, novelas e contos. RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta.
Trad. Pedro Süssekind. Porto Alegre: L&PM,
MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os
2009.
clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2009. Nessas cartas, escritas entre 1903 e 1908,
publicadas pela primeira vez em 1929, o poeta
Cartografia da leitura elaborada por Ana Maria
alemão Rainer Maria Rilke dá conselhos ao
Machado, premiada escritora brasileira, que
jovem poeta tcheco Franz Xavier Kappus,
nesta obra apresenta aos jovens leitores um
abordando temas ligados à produção poética,
passeio apaixonado pelos textos clássicos da
mas também a temas existenciais, como
literatura universal.
a solidão, o sexo, Deus, a necessidade de
escrever, com base em sua experiência como
poeta e ser humano.

ZUMTHOR, Paul. Correspondência de Abelardo e


Heloisa. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
Nesta obra, Paul Zumthor, historiador e
linguista suíço, especialista em Idade Média,
comenta as cartas entre Pedro Abelardo,
filósofo e professor, e Heloísa de Argenteuil,
sua aluna. Eles acabam se apaixonando e se
envolvendo em uma história de amor proibido
que acaba em tragédia.

38
Lfilmes
A escolha de Sofia. (EUA, 1982). Direção
de Alan Pakula. Duração: 1h53min.

O filme mostra o drama de Sofia, mulher


polonesa filha de pai antissemita, que
se encontra presa em um campo de
concentração durante a Segunda Guerra
Mundial e é forçada é forçada por um Central do Brasil (Brasil/França, 1998).
soldado nazista a fazer uma difícil escolha Direção de Walter Salles. Duração: 1h53min.
que afetaria profundamente sua vida. Esse premiado filme conta a história de
Dora, professora aposentada que ganha
a vida escrevendo cartas para pessoas
analfabetas na estação Central do Brasil,
no Rio de Janeiro.

Shakespeare apaixonado (EUA/Reino Unido,


1999). Direção de John Madden.
Duração: 2h3min.

O dramaturgo inglês William Shakespeare, Cyrano de Bergerac (França, 1990). Direção:


autor de Hamlet e de Romeu e Julieta, Jean-Paul Rappeneau. Duração: 2h15min.
precisa escrever uma nova peça de teatro, Cyrano de Bergerac, poeta e hábil duelista,
mas está com bloqueio criativo e necessita foi objeto de muitos trabalhos de ficção
que uma musa lhe traga de volta a feitos sobre sua vida, nos quais é sempre
inspiração. Essa musa é Lady Viola, graças retratado com um grande nariz. Na história,
à qual ele consegue escrever Romeu e ele se apaixona por Roxane, mas tem
Julieta. vergonha de sua aparência. Ao perceber
que não teria chances com Roxane, Cyrano
resolve ajudar Christian (um jovem que
também a amava, mas que não possuía
o dom da palavra) a conquistar a mão da
donzela.

39
LCanções
Piscar o olho, de Tiê.

Canção lírica com um eu poético


feminino que descreve os sentimentos
de alguém que percebe a chegada da
paixão e se deixa levar por esse
sentimento, mas dando a entender que
já teve experiências amargas com o
amor (“dessa vez não tive medo...”),
e por isso se cerca de cuidados.

Disponível em: <http://mod.lk/tie>.

Amor I love you, de Marisa Monte e


Carlinhos Brown.

Música impregnada de muito


romantismo, de um eu lírico que não
cabe em si de paixão e que passar as
horas envolvida, quase sufocada pelo
amor.
Monte Castelo, de Renato Russo com
Disponível em: <http://mod.lk/marisa>.
Legião Urbana.

Canção cuja letra tem origem em um


soneto de Camões e ao qual o músico
Renato Russo conseguiu combinar
uma melodia que resultou em uma
grande apologia ao amor, digna desse
sentimento e fiel ao tom bíblico que a
letra possui.

Disponível em: <http://mod.lk/legiao>.

40
Flores em você, de Edgard Scandurra
com a banda Ira!.

A letra de Edgard Scandurra mostra um


eu lírico reflexivo, que faz uma espécie
de inventário de seus sentimentos,
como costuma acontecer às pessoas
apaixonadas, e conclui que vê flores na
pessoa amada. O arranjo da melodia, no
qual sobressai o som do violino, sugere
um clima de música clássica, que só
empresta mais romantismo à canção.
Menor abandonado, de Cazuza e Frejat
Disponível em: <http://mod.lk/ira>. com a banda Barão Vermelho.

Em tom bem humorado, o eu poético


da letra revela sua carência amorosa e
revela aceitar qualquer coisa (“migalhas
dormidas do seu pão; raspas e restos me
interessam”) para sair desse estado de
abandono.

Disponível em: <http://mod.lk/cazuza>.

LReportagens
CANCIAN, Natália. Obesidade volta a
crescer no país e atinge maior índice em
13 anos. Folha de S.Paulo, 25 jul. 2019.

Reportagem que traz números


atualizados (até 2018) sobre a
obesidade, seus problemas e suas
consequências para a população.

Disponível em: <http://mod.lk/obesidad>.

41
PARA O PROFESSOR
LLIVROS
ARISTÓTELES, HORÁCIO, LONGINO. A poética
clássica. Tradução do grego e do latim Jaime
Bruna. São Paulo: Cultrix, 2014.
Coletânia de obras clássicas que estão na
origem dos estudos literários sobre a ficção e KUNDERA, Milan. A arte do romance. Trad.
seus elementos de composição. Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009.
ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques
Confissão nascida da experiência prática do
da ficção. Trad. Hildegard Feist. São Paulo:
romancista Milan Kundera, na qual ele discute
Companhia das Letras, 1994.
os aspectos centrais do romance.
Seis conferências de Umberto Eco ministradas
na Universidade de Harvard, em 1993, sobre o LONTRA, Hilda Orquídea H. (org.). Histórias
texto de ficção, leitura, leitores e literatura. de leitores. Brasília: Editora Universidade de
Brasília/Oficina Editorial do Instituto de Letras
JOUVE, Vincent. Por que estudar literatura? UNB, 2006.
Trad. Marcos Bagno e Marcos Marcionilo. São
Obra que reúne textos que tratam do
Paulo: Parábola, 2012. (Coleção Teoria Literária)
processo de constituição da identidade pela
Obra dirigida aos pesquisadores em teoria leitura, recuperando vivências permeadas de
literária e da arte, aos professores e afetividade que têm em comum o resgate do
estudantes de literatura e a todos os amantes prazer do convívio com os textos literários.
da literatura. Discorre sobre a arte literária e
seus elementos de formação. PAMUK, Orhan. A maleta do meu pai. Trad.
Sérgio Flaksman. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007.
Em três discursos – incluindo o da cerimônia
do prêmio Nobel de Literatura –, o escritor
turco Orhan Pamuk fala do papel do escritor
na atualidade e investiga seu processo criativo
em busca de uma chave que explique a
literatura e o fascínio que ela exerce.

42
TERZI, Sylvia Bueno. A construção da leitura –
Uma experiência com crianças de meios
iletrados. Campinas, SP: Pontes; Editora da
Unicamp, 1995.
A autora relativiza a ideia de que toda criança,
ao chegar à escola, já traz consigo um
conhecimento sobre a escrita – segundo ela,
é preciso considerar a sua origem familiar e
social e modular o aprendizado e a construção TEZZA, Cristóvão. Literatura à margem. Porto
da leitura. Alegre: Dublinense, 2018.
Sete conferências do romancista Cristóvão
TEZZA, Cristóvão. O espírito da prosa – Uma Tezza sobre a criação literária, as fronteiras
autobiografia literária. Rio de Janeiro: Record, entre a ficção, a biografia e o ensaio, e os
2012. sentidos da ficção no mundo contemporâneo.
Cristóvão Tezza, romancista e ensaísta
brasileiro contemporâneo, faz nessa obra TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. 3. ed.
uma autobiografia com foco em sua formação Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro: Difel, 2010.
como escritor e nas subjetividades que cercam Todorov faz a crítica do ensino de literatura
o ofício de escrever. na atualidade, baseado no formalismo-
-estruturalismo, ao mesmo tempo que defende
a leitura e a literatura como campos de
aprendizado e de formação humana.

L A r t i g o s
eatro
n o d e B e rg e rac. Cia. de T
x. Cyra
RIBEIRO, Ale
ue Gosto.
Assisto Porq um
r, p s ic ó lo g o e poeta faz
, o ato
Neste artigo tre ia da peça Cyra
no de
nado d a e s
texto apaixo s ta n d, em 1897, e
do
Edm o n d R o
Bergerac, de ta.
o m ê n fa s e no protagonis
enredo, c
ergerac>.
: <http://mod.lk/b
Disponível em

43
BIB L I O G R A F I A
C O M E N TA D A
LIVROS COSSON, Rildo. Letramento literário – Teoria e prática.
BLOOM, Harold. Como e por que ler. Trad. José Roberto São Paulo: Contexto, 2009.
O’Shea. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Obra voltada para professores que buscam fazer do
Neste livro, Harold Bloom, um dos principais críticos letramento literário uma atividade significativa para
literários da atualidade, convida o leitor a uma si e para os estudantes. No livro, o autor e professor
saborosa viagem por grandes obras da literatura Rildo Cosson, do Departamento de Literatura da
universal, como Dom Quixote de La Mancha, de Miguel Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mostra
de Cervantes, Crime e castigo, de Dostoiévski, Em como reformular, fortalecer e ampliar o estímulo
busca do tempo perdido, de Marcel Proust, Hamlet, de à leitura no ensino básico para além das práticas
Shakespeare, entre muitas outras. usuais. Ele também analisa a relação entre literatura e
educação, propondo a construção de uma comunidade
CANDIDO, Antonio et al. A personagem de ficção. São
de leitores nas salas de aula e sugerindo oficinas
Paulo: Perspectiva, s.d. (Série Debates: Literatura)
para o professor adaptar seu trabalho ao letramento
Ensaios de Antonio Candido, Anatol Rosenfeld, Décio
literário, orientando, assim, a produção de sequências
de Almeida Prado e Paulo Emílio Salles Gomes,
de atividades com foco na leitura literária.
importantes nomes na formação de sucessivas
gerações de estudantes de Letras e de Artes. A obra FAZENDA, Ivani C. Arantes. Interdisciplinaridade: História,
traz atualidade nas análises e na discussão crítica das teoria e pesquisa. 18. ed. Campinas, SP: Papirus, 2012.
modernas leituras estéticas, que tocam campos do (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico)
saber como a linguística e a filosofia, entre outros. Estudiosa das questões que envolvem a
interdisciplinaridade desde os anos 1970, formada pela
COSSON, Rildo. Círculos de leitura e letramento literário.
USP, mestre em filosofia da educação pela PUC-SP e
São Paulo: Contexto, 2014.
doutora em antropologia cultural pela USP, a professora
O que é um círculo de leitura? É um grupo de pessoas
Ivani Fazenda acredita que, “ao buscar um saber mais
que se reúne com o objetivo de discutir a leitura
integrado e livre, a interdisciplinaridade conduz a uma
de uma obra em um lugar qualquer – na escola,
metamorfose que pode alterar completamente o curso
na biblioteca, em cafés ou livrarias, na casa de
dos fatos em Educação; pode transformar o sombrio
amigos e até mesmo em discussões on-line. Nesta
em brilhante e alegre, o tímido em audaz e arrogante e
obra, Rildo Cosson, professor na área de Literatura
a esperança em possibilidade”.
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
apresenta uma proposta de organização e de RODRIGUES, Sérgio. O homem que matou o escritor. São
funcionamento de um círculo de leitura. Ele orienta e Paulo: Companhia das Letras, 2000. (Selo Objetiva).
fornece embasamento para a criação de atividades A obra parte da premissa de que, se todas as histórias
que possam auxiliar educadores e leitores, ampliando do mundo já foram escritas, é hora de “matar o
a grande diversidade de interesses que existe na escritor”. Por meio de seus requintados contos, o
atividade de leitura, e convida o leitor a formar o seu autor sugere as novas tendências literárias do século
próprio círculo de leitura. XXI (a obra foi lançada no ano 2000): “vertiginosa

44
como a vida urbana; afiada como uma memória RAM; WOOD, James. A coisa mais próxima da vida. Trad. Célia
reflexiva, como esses dias de cão; chula e erudita, Euvaldo. São Paulo: Sesi-SP Editora, 2017.
dominando todas as situações; humorada, porque Os textos desta obra de James Wood, professor da
sem a graça a vida é muito chata”. Embora composto Universidade de Harvard e ensaísta na revista The
por contos, o livro de Sérgio Rodrigues pode ser New Yorker, buscam identificar e comentar as relações
enquadrado em várias outras categorias, como policial, entre literatura e realidade, discorrendo sobre temas
metalinguístico, drama, comédia e farsa. como religião, morte, exílio, detalhe, mostrando de
que modo a literatura percorre todos esses âmbitos da
ROSENFELD, Anatol. Texto/Contexto I. São Paulo,
experiência humana.
Perspectiva, 1996. (Série Debates: Crítica)
Com base no tema da ambiguidade humana, Anatol WOOD, James. Como funciona a ficção. Trad. Denise
Rosenfeld, um dos maiores críticos brasileiros, revela as Bottmann. São Paulo: Sesi-SP Editora, 2017.
conexões entre a literatura, o teatro, a poesia, o cinema Professor de crítica literária na Universidade de
e a pintura, estabelecendo painéis críticos que ainda Harvard e conhecido por seus brilhantes ensaios na
hoje impressionam por sua originalidade e inovação. revista The New Yorker, nesta obra, o inglês James
Wood (radicado desde os anos 1990 nos Estados
SOARES, Angélica. Gêneros literários. 4. ed. São Paulo:
Unidos) esmiúça os meandros da ficção e questiona os
Ática, 1997. (Série Princípios)
limites entre artifício e verossimilhança, entre outros
Nesta obra introdutória ao tema, a professora da
elementos fundamentais do texto ficcional.
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Angélica Soares retoma a discussão iniciada por ARTIGOS:
Platão e Aristóteles na Antiguidade grega sobre os NEVES, Cynthia Agra de Brito. “Slam” é a voz de
gêneros literários e a natureza da obra literária, seja identidade e resistência dos poetas contemporâneos.
ela a epopeia, o conto, a crônica, o ensaio, a novela, Jornal da USP, 23 nov. 2017.
perpassando as formas dramáticas (tragédia, comédia Neste artigo, Cynthia Agra de Brito Neves, professora
e drama) e contemplando as recentes rupturas de da Universidade de Campinas (Unicamp) apresenta a
paradigma trazidas pelo advento do pensamento poesia slam, também chamada de poetry slam, uma
pós-moderno nas letras e nas artes. nova modalidade de poesia, falada, criada nos anos
1980, em Chigado, Estados Unidos, e que chega ao
TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. 3. ed. Trad.
Brasil reivindicando a cultura jovem, popular e negra.
Leyla Perrone-Moisés. São Paulo, Perspectiva, s.d. (Série
Debates: Literatura) Disponível em: <http://mod.lk/slam>.
Obra de grande utilidade para quem estuda literatura, (Todos os links de páginas da internet presentes neste material
apresenta as teses dos formalistas russos e foram acessados em 23 out. 2020).

do estruturalismo linguístico, fornece ao leitor


ferramentas para descobrir as estruturas subjacentes
nas narrativas, trazendo reflexões da ótica da
linguística contemporânea.

45

Você também pode gostar