Lição 1
Lição 1
Lição 1
Começar o estudo de um livro da Bíblia é como fazer uma viagem. Você deve decidir antes para onde vai e o que
espera ver. A carta de Tiago é um livro prático. Esse livro é considerado o livro de Provérbios do Novo Testamento.
Tiago é mais pregador que escritor. É como se ele nos agarrasse pela lapela, fitasse-nos olhos e falasse conosco algo
urgente. Um dos grandes problemas que a igreja estava enfrentando era colocar em prática aquilo que eles
professavam. A vida estava divorciada da teologia. Esse também é o problema da igreja contemporânea. Daí, a
pertinência e a urgência de estudarmos Tiago.
O tema central de Tiago é: o nascimento (1.13-19a), o crescimento (1.19b-25) e a maturidade (1.26 - 5.6) do cristão.
Através das provas, pela paciência, recebemos a coroa.
A primeira ênfase de Tiago é sobre o novo nascimento (1.13-19a). Embora a velha natureza permaneça ativa (1.13-
16), o Pai nos trouxe ao novo nascimento pela Sua Palavra (1.17-19a).
A segunda ênfase é sobre o crescimento espiritual (1.19b-25). Nós crescemos pelo ouvir (1.19), receber (1.21) e
obedecer (1.22-25) a Palavra.
A terceira ênfase é sobre a maturidade espiritual (1.26 - 5.6). Há três notáveis desenvolvimentos que são
característicos da verdadeira maturidade cristã: 1) O controle da língua (1.26); 2) O cuidado dos necessitados
(1.27a); 3) A pureza pessoal (1.27b).
Por que Tiago escreveu esta carta? Para resolver alguns problemas:
1) Eles estavam passando por duras provações;
2) Eles estavam sendo tentados a pecar;
3) Alguns crentes estavam sendo humilhados pelos ricos, enquanto outros estavam sendo roubados pelos ricos;
4) Alguns membros da igreja estavam buscando posições de liderança;
5) Alguns crentes estavam falhando em viver o que pregavam;
6) Outros crentes estavam vivendo de forma mundana;
7) Outros não conseguiam dominar a língua;
8) Outros estavam se afastando do Senhor;
9) Havia crentes que estavam vivendo em guerra uns contra os outros.
Esses são os mesmos problemas que enfrentamos hoje. Para Tiago, a raiz de todos esses problemas era a
imaturidade cristã. Tiago fala-nos sobre algumas transformações que Deus opera em nós: Transformados de
incrédulos em servos de Cristo (Tg 1.1)
Quem é esse Tiago, autor dessa carta? O autor identifica-se como Tiago (1.1). Havia três deles: Tiago, apóstolo, filho
de Zebedeu, irmão de João; Tiago, apóstolo, filho de Alfeu; e, Tiago, irmão de Jesus, filho de Maria e José (Mt 13.55).
Essa carta não poderia ser do apóstolo Tiago, filho de Zebedeu, porque ele foi morto antes da carta ser escrita (At
12.2). Tiago, filho de Alfeu, não exerceu nenhuma influência notória na igreja cristã. Essa carta, portanto, foi escrita
por Tiago, irmão de Jesus. No começo, ele não cria em Jesus (Jo 7.2-5). Mais tarde, ele tornou-se um proeminente
líder na vida da igreja. Tiago foi uma das seletas pessoas para quem Cristo apareceu depois da ressurreição (ICo
15.7). Ele estava no cenáculo, com os apóstolos no Pentecostes (At 1.14). Paulo o chamou de pilar da igreja de
Jerusalém (G1 2.9). Paulo viu Tiago quando foi a Jerusalém depois de sua conversão (G1 1.19), bem como em sua
última viagem a Jerusalém (At 21.18). Quando Pedro saiu da prisão, falou para seus amigos contarem a Tiago (At
12.17). Tiago foi o líder do importante concílio de Jerusalém (At 15.13). Judas identificou-se simplesmente como o
irmão de Tiago (Jd 1). Tiago foi apedrejado em 62 d.C., pelo sinédrio. Embora amado pelo povo, Tiago era odiado
pela aristocracia sacerdotal que governava a cidade.
O sumo sacerdote Ananos levou Tiago ao sinédrio, sendo ele condenado e apedrejado, sobretudo pelas posições
severas que tomara contra a aristocracia abastada que explorava os pobres, e à qual Ananos pertencia (Tg 5.1-6).
De incrédulo a crente, de crente a líder, de líder a servo de Cristo. Ele não se apresenta como irmão do Senhor, mas
como seu servo. Ele é um homem humilde. Essa é a transformação que o evangelho produz! E impossível alguém
ser um verdadeiro cristão sem primeiro ser humilde de espírito.
Charles Spurgeon diz que Deus não deseja nada de nós, exceto nossas próprias necessidades. Não é o que temos,
mas o que não temos que é o primeiro ponto de contato entre nossa alma e Deus."
Elizabeth George, citando um especialista da língua grega diz, A palavra grega doulos (escravo, servo) refere-se a
uma posição de obediência completa, humildade absoluta e lealdade inabalável. A obediência era a tarefa, a
humildade, a posição, e a lealdade, o relacionamento que um senhor esperava de um escravo... Não há maior
atributo para o crente, que ser conhecido como servo de Jesus, obediente, humilde e leal.
Transformados em um povo especial, mas não em um povo isento de aflições (Tg 1.1)
As doze tribos referem-se aqui aos judeus cristãos (2.1; 5.7,8) que possivelmente se converteram no Pentecostes e
foram dispersos depois do martírio de Estêvão (At 8.1; 11.19). Por força ou por escolha, os judeus estavam vivendo
por toda parte do Império Romano. Eles são crentes, mas são perseguidos. Eles são cidadãos dos céus, mas vivem
dispersos na terra. Eles são crentes, mas tiveram seus bens saqueados. Eles são crentes, mas são pobres e, muitos
deles, estão sendo oprimidos pelos ricos (5.1-6). Eles são crentes, mas ficam enfermos (5.14). Eles são crentes, mas
sofrem (5.13). Vida cristã não é uma redoma de vidro, uma estufa espiritual, uma colônia de férias, antes, é um
campo de batalha. Não somos poupados dos problemas, mas nos problemas. Hoje fazemos as mesmas perguntas:
por que um crente fiel fica desempregado? Por que um crente fiel sofre com câncer? Por que um crente fiel enfrenta
o luto e passa por duras e amargas provações?
Tiago, falando sobre as provações da vida cristã, ensina-nos quatro verdades fundamentais: Em primeiro lugar, as
provações são compatíveis com a fé cristã (Tg 1.2). Por que os crentes sofrem? Por que um crente passa privações?
Por que sofre prejuízos? Por que fica doente em cima de uma cama? Por que são injustiçados? Deus nos adverte a
esperar as provações. A vida cristã não é um mar de rosas. Jesus advertiu: “No mundo tereis tribulações...” (Jo
16.33).
O apóstolo Paulo disse: “... por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus” (At 14.22). Ainda, Paulo
disse: “... todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2Tm 3.12). O grande
patriarca Jó disse: “... o homem nasce para a tribulação, como as faíscas voam para ima” (Jó 5.7).
Somos um povo na dispersão, enfrentamos muitas provações, somos peregrinos neste mundo, nossa Pátria
permanente não é aqui, nosso lar permanente não é aqui, nossa Pátria está no céu. As provações que enfrentamos
aqui visam a nossa maturidade espiritual.
As provações procedem: primeiro, de nossa humanidade. Pertencemos à raça humana sofremos doenças,
acidentes, desapontamentos. Segundo, as provações procedem da nossa pecaminosidade. Criamos problemas com
nossa língua, com nossas atitudes. Uma pessoa que morre de câncer, depois de ter fumado dezenas de anos, não
pode culpar a ninguém por sua morte. Muitas vezes, nosso sofrimento é resultado de nossas escolhas erradas.
Terceiro, as provações procedem de nossa vida cristã. Muitas tribulações enfrentamos exatamente por sermos
cristãos, pois Satanás, o mundo e a própria carne lutam contra nós. Quarto, as provações visam trazer glória ao
nome de Deus. João registra a cura de um homem cego de nascença. Ele nasceu cego para que nele fosse
manifestada a glória de Deus (Jo 9.3).
Em segundo lugar, as provações são variadas (1.2). A palavra várias vem do grego poikilos. Esta palavra significa
diversidades cores, multicolorido. As provações são policromáticas. Existem provações rosa claro, como esmalte de
noiva; provações rosa choque; provações cinza; provações tenebrosas. Deus tece todas essas provações e faz um
lindo mosaico. Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8.28). Para cada cor de
provação, existe a graça suficiente de Deus para sustentar-nos. A graça de Deus é multiforme {poikilos) (IPe 4.10).
Há provas fáceis e provas difíceis. Há provas que são maiores que nossas forças. Há provas que enfrentamos
sozinhos, como Jesus no Getsêmani. Deus sabe o que está fazendo em nossa vida. Ele é como um escultor. Ele está
esculpindo em nós a beleza de Jesus (Rm 8.29; 2Co 3.18).
Em terceiro lugar, as provações são passageiras (1.2). As provações não duram a vida inteira. Ninguém agüenta
uma vida inteira de provas, uma viagem inteira de turbulência. Depois da noite, vem a manhã. Depois do choro,
vem a alegria. Depois da tempestade, vem a bonança. Não vamos ficar estacionados na arena das provações.
Estamos passando por elas: alguns passam de avião supersônico, outros de trem bala, outros de automóvel, outros
de bicicleta, outros a pé, outros engatinhando, mas todos passam.
Em quarto lugar, as provações são pedagógicas (1.3,4). Nas provações da vida, nossa fé é testada para mostrar a
sua genuinidade. Quando Deus chamou a Abraão para viver pela fé, ele o testou com o fim de aumentar a sua fé.
Deus sempre nos prova para produzir o melhor em nós; Satanás nos tenta para fazer o pior em nós. As provas da
fé provam que, de fato, nascemos de novo. As provações de nossa fé trabalham por nós, e não contra nós, visto
que produzem perseverança. Deus está no controle de nossa vida.
Tudo tem um propósito. Diz o apóstolo Paulo: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que
amam a Deus...” (Rm 8.28). Paulo diz ainda que a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso
de glória (2Go 4.17). Em Efésios 2.8-10, Paulo diz que Deus trabalha por nós, em nós e através de nós. Ele trabalhou
em Abraão, José, Moisés antes de trabalhar através deles. E assim que Deus faz com você ainda hoje. A
perseverança visa nos levar à maturidade. Paulo diz em Romanos 5.3-5 que as tribulações são pedagógicas, levam-
nos à maturidade. A palavra hupomone significa paciência com as circunstâncias, ou seja, coragem e perseverança
em face do sofrimento e das dificuldades.^ Os crentes imaturos são sempre impacientes. A impaciência pode
acarretar graves consequências: Abraão coabitou com Agar, Moisés matou o egípcio, Sansão contou seu segredo
para Dalila e Pedro quase matou Malco. Maturidade não se alcança apenas lendo um livro, é preciso passar pelas
provas! As provações visam a glória de Deus. Jesus disse que o cego de nascença nasceu cego para que nele se
manifestasse a glória de Deus. De Lázaro, Jesus disse: “Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de
Deus...” (Jo 11.4). Depois de provado por Deus e restaurado por Ele, Jó disse: “Com os ouvidos eu ouvira falar de ti;
mas agora te vêem os meus olhos” (Jó 42.5). Qual deve ser a atitude com que vamos enfrentar as provações da
vida? Tiago responde: “... tende por motivo de grande gozo...”.
Em vez de murmurar, de reclamar, de ficar amargo, de enfiar-se em uma caverna, devemos nos alegrar
intensamente. Essa alegria é confiança segura na soberania de Deus, de que Ele está no controle, de que Ele sabe
o que está fazendo e sabe para onde está nos levando.